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DIVISIBILIDADE

&
PRIMOS

Teorema (O Algoritmo da divisão)


Dados quaisquer inteiros a,b, com a  0 , então existem inteiros únicos q,r tais que
b  qa  r, 0  r  a
O número q é chamado quociente e o número r é chamado resto.

Assim, por exemplo, temos


35  311 2 e 51   8  7  5

Definição
Um inteiro b é divisível por um inteiro a  0 , se existe um inteiro c tal que b  ac .
Dizemos também que a é um divisor de b , que a divide b ou ainda que b é múltiplo de a e escrevemos
a| b . Escreveremos a|b para indicar que a não divide b .

Propriedades Fundamentais da Relação de Divisibilidade


(i) a| 0 , 1| a e a| a
(ii) se a|1 então a  1
(iii) se a| b e a| c então a| bx  cy .
(iv) se a | b então a| bc .
(v) se a| b e b | c então a| c .
(vi) se a  0 e b  0 então a| b implica em a  b .
(vii) a | b e b | a implica em a  b .
(viii) Se quaisquer dois termos na igualdade a  b  c são divisíveis por d , o terceiro também será divisível por d .

Seja n um inteiro positivo. Denotaremos por d n o número de divisores de n . Conforme vimos 1 e n são

sempre divisores de um número n maior que 1 assim, d 1  1 e d n  2 para n  1.

Definição
Um inteiro positivo n é primo se, e somente se, d n  2 . Um inteiro n  1 que não é primo é chamado
um número composto. Observemos que um inteiro positivo maior do que 1 é primo se, e somente se, seus únicos
divisores positivos são ele mesmo e 1 . Daqui para frente reservaremos a letra p para representarmos os números
primos.
Assim por exemplo, 2,3,5,7,11,13 são primos; 1,4,6,8,9,10 não são primos; 4,6,8,9,10 são números
compostos.

Teorema Fundamental da Aritmética


Todo inteiro positivo n  1 pode ser expresso como um produto de números primos (com talvez somente um fator),
isto é:
n  p1  p 2  pk
ou abreviadamente
k

p
i1
i , k  1.

onde. p 1,p 2 , ,p k são primos distintos. Esta fatoração é única salvo a ordem dos fatores primos.

Prova:
Se n  2 , a afirmativa é verdadeira porque 2 é um número primo. Seja n  2 e suponhamos que todo inteiro positivo
menor do que n seja um produto de números primos. Se o próprio n for primo a afirmativa é claramente verdadeira.
Se n for composto, escrevamos n  ab onde 1 a,b  n . Mas por hipótese a e b são eles próprios um produtos de
primos. Justapondo-se estes produtos temos uma fatoração de n em primos.
Os números primos na decomposição de um número n  1 não são necessariamente distintos e nem estão
arrumados em uma ordem particular. Se os arrumarmos em ordem crescente e agruparmos os conjuntos de primos
iguais em um único fator e mudando para uma notação apropriada obtemos
n  p 1 1  p 2 2   p k k
onde  1  0,  2  0, e p1  p 2 
ou abreviadamente
k
n   p i i
i1

esta decomposição é chamada a decomposição canônica de n e dizemos então que n está expresso na forma
convencional ou na forma padrão.

Teorema (Euclides)
Existem infinitos números primos.

Prova:
Suponhamos que exista somente um número finito de primos p 1,p 2 , ,p r  . Formemos então o inteiro
n  1 p 1p 2 p r . Uma vez que n  p i para todo i ele deve ser composto. Seja q o menor primo de n . Como
p 1,p 2 ,...,p r representam todos os primos existentes então q é um deles digamos q  p 1 e n  p 1m . Podemos então
escrever
1  n  p 1p 2 p r  p 1m  p 1p 2 p r  p 1 m  p 2 p r  Chegamos à conclusão que p 1  1 é um fator de 1 o que é uma
contradição.

Proposição
Existem n inteiros consecutivos compostos para todo n  1.

Prova:
Podemos tomar, por exemplo, a seqüência
n  1! 2, n  1! 3, n  1! 4, , n  1! n  1 Lembrando que k!  1 2  3   k , nenhum destes números é primo
porque i divide n  1! i para 2  i  n  1.

Proposição(Crivo de Eratosthenes)
Seja n um número composto. Então existe um número primo p tal que p | n e p  n .

Prova: Como n é composto, n  ab com 1 a,b  n . Se a,b  n então ab  n . Daí, pelo menos um fator, digamos
a , satisfaz a a  n . Daí todo divisor primo p de a será como desejado isto é, p | n e p  n .
Deste modo, para nos certificarmos se um dado número inteiro n  1 é um número primo, é suficiente
verificar se n é divisível por qualquer número primo p  n (senão n é um número primo). Isto em geral economiza
um monte de trabalho.
Por exemplo, será n  271 um número primo? Bem 16  271  17 e assim 271 é um número primo ou
existe um número primo p  16 tal que p | 271 . Os números primos menores ou iguais a 16 são 2,3,5,7,11 e 13 .
Devemos agora ter algum trabalho para verificar se algum destes primos divide exatamente 271 . Como nenhum
deles divide, então 271 é um número primo.
A idéia acima pode ser posta em prática para gerar números primos. O resultado obtido é o Crivo de
Eratosthenes. Suponhamos que desejemos encontrar todos os números primos menores do que 60. Comecemos com
uma lista dos primeiros 60 inteiros. Os primos menores do que 60 são 2,3,5 e 7. Assim, eliminamos da lista a cada
vez os números:1, depois cada segundo número começando pelo 4 a seguir cada terceiro número começando pelo
9, depois cada quinto começando pelo 25 e finalmente todo sétimo número começando pelo 49. Os números que
restam, 17 no total, são os primos menores que 60.
1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57
2 6 10 14 18 22 26 30 34 38 42 46 50 54 58
3 7 11 15 19 23 27 31 35 39 43 47 51 55 59
4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48 52 56 60

A disposição dos números na tabela acima imaginada continuando indefinidamente para a direita sugere algumas
questões sobre a distribuição dos números primos. Sabemos que um número infinito de colunas da tabela extendida
conterá um número primo. O que não sabemos é se existe um número infinito de colunas contendo dois primos. O
conjunto infinito de primos ímpares está dividido entre a primeira e a terceira linhas da tabela acima e pelo menos
uma destas linhas deve conter um número infinito de primos. Qual é? Observe que a i-ésima linha consiste dos inteiros
da forma i  4k , k  0,1,2, Temos então:

Teorema
Existe um número infinito de números k  0 tais que 3  4k é primo.

Prova:
Sejam p 1,p 2 , ,p k uma lista de primos da forma 3  4k e n  4p 1p 2 p k  1 . Como n é ímpar, todos os seus divisores
primos são da forma 1 4k ou 3  4k . Um exercício fácil mostra que qualquer produto de inteiros da forma 1 4k
possui também a forma 1 4k . Uma vez que n não possui esta forma, ele deve ter um divisor primo q da forma
3  4k e como q | n , mas p i |N , o primo q deve ser diferente de p 1,p 2 , ,p k e mostramos então que toda lista finita
de números primos da forma 3  4k está incompleta.

Teorema (Dirichlet)
Sejam a,b  com a  1 . Se não existe nenhum número primo que divida simultaneamente a e b , então an  b é
um número primo para infinitos inteiros positivos n .

Os números de Fermat e Mersenne


Os números de Fermat são os números que possuem a forma Fn  22  1 .
n

Assim, por exemplo, F1  5 , F2  17 , F3  257 , F4  65537 e F5  4294967297 . Os quatro primeiros


números de Fermat são primos e Fermat conjecturou que todos seriam primos. Entretanto, Euler provou em 1732
que F5  641 6700417 .
Se n  1 e an  1 é primo então, a  2 e n é primo. De fato, se a  2 então a  1 | an  1 ; e se a  2 e
  
n  kl então 2 k  1 | 2 n  1 . Deste modo, a primalidade de an  1 está assim reduzida à primalidade de 2 p  1 . Em
1644 Mersenne afirmou que os números da forma M p  2p  1 , os chamados números de Mersenne, são primos para
p  2,3,5,7,13,17,19,31,67,127,257
e compostos para os outros 44 valores de p menores que 257 . O primeiro erro na afirmativa de Mersenne foi
descoberto em 1866 quando foi provado que M 61 é primo. Mais tarde, em 1903 foi provado que
M 67  193707721 761838257287
onde cada um destes fatores é primo. Sabe-se atualmente que M p é primo para
p  2,3,5,7,13,17,19,31,61,89,107,127
e composto para todos os valores de p até 257 inclusive. Havia, portanto cinco erros na afirmativa de Mersenne
correspondentes a
p  61,67,89,107,257
Atualmente, janeiro de 2010 , são conhecidos 47 Primos de Mersenne sendo 2 43.112.609  1 o 47 o destes
que além de ser o maior número primo conhecido possui 12.978.189 dígitos.

O número de divisores de n
Seja n  p 1  p 2  p k onde os p i são primos distintos e os  i são inteiros positivos. Se d é um divisor
1 2 k

de n isto é, n  dm para algum m então


n  dm  p 1 1  p 2 2   p k k
Como a decomposição em fatores primos de n é única, d não pode ter em sua fatoração em primos um primo que
não esteja entre os primos p 1,p 2 , ,p k . Além disso, um primo p i da decomposição em fatores primos de d não pode
ter um expoente maior do que  i e, portanto
d  p 1 1  p 2 2   p k k , 0   i   i , i  1,2, ,k

Teorema
O número de divisores positivos de n é
dn   1  1  2  1   k  1
Prova:
De fato, temos exatamente  i  1 possibilidades para escolher um valor para  i a saber, 0,1,2, , i . Assim, o
número total de divisores será exatamente o produto
 1  1  2
 
1 k  1 .

Definição
Os números kn onde k  0, 1, 2, são chamados múltiplos de n isto é, os elementos do conjunto
 , kn, , 2n, n,0,n,2n, ,kn, 
que denotaremos por n .
É claro que todo múltiplo de n  p 1  p 2  p k possui a forma
1 2 k

1 2 k
m  kp  p1 2  p ,  i   i , i  1,2,
k ,k
onde k não possui nenhum dos primos p 1,p 2 , ,p k em sua decomposição. O número de múltiplos de n é infinito.

MÁXIMO DIVISOR COMUM e MÍNIMO MÚLTIPLO COMUM


Sejam a e b dois inteiros positivos. Se d é um divisor de a e também um divisor de b dizemos que d é um
divisor comum de a e b. Como o número de divisores comuns é finito existe um máximo divisor comum, denotado
por mdc a,b . O número m é dito um múltiplo comum de a e b se m é um de a e também um múltiplo de b. Entre
todos os múltiplos comuns existe um mínimo. Ele é chamado de mínimo múltiplo comum e é denotado por mmc a,b
.
Na decomposição de um número n em fatores primos, tem-se que todos os expoentes de seus fatores
primos são positivos, entretanto, algumas vezes é conveniente considerar alguns expoentes como sendo iguais a zero.
Isto é especialmente conveniente quando consideramos a fatoração de dois números a e b para os quais estamos
interessados no mdc a,b e no mmc a,b onde podemos assumir que tanto a quanto b possuem o mesmo conjunto
de fatores primos.

Teorema
Sejam
a  p 1 1  p 2 2  p k k e b  p 1 1  p 2 2  p k k
onde  i  0 e  i  0 são dois inteiros positivos quaisquer. Então,
mdca,b  p1min1,1  p min
2
 2 , 2
  p min
k
 k , k 

e
mmca,b  p1max1,1  p max
2
 2 , 2
  p max
k
 k , k 

Além disso,
mdc a,b  mmc a,b  a  b

Prova:
As fórmulas do mdc a,b e mmc a,b são conseqüências imediatas de nossas definições de divisor comum e de
múltiplo comum. Par provar a última fórmula basta observar que min  i , i   max  i , i    i   i .
A decomposição em fatores primos é uma coisa computacionalmente difícil e não conhecemos ainda
algoritmos fáceis para isto. Felizmente, o máximo divisor comum dos números a e b podem ser encontrados sem
conhecermos a decomposição em fatores primos de a e b. Este algoritmo foi descoberto por Euclides.

Teorema(O Algoritmo de Euclides)


Sejam a e b inteiros positivos. Usaremos o algoritmo da divisão várias vezes para encontrar:
a  q 1b  r1 0  r1  b,
b  q 2r1  r2 0  r2  r1,
r1  q 3r2  r3 0  r3  r2 ,

rn2  q nrn1  rn 0  rn  rn1,


rn1  q n1rn
Então, rn  mdc a,b .
Prova:
Isto se baseia no fato de que se a  qb  r então mdc a,b  mdc b,r  . De fato, se d é um divisor comum de a e b
então a  a' d e b  b' d e daí
r  a  qb  a' d  qb' d  a'  qb'  d
e portanto d é também um divisor de b e r. Além disso, se d é um divisor comum de b e r então b  b' d e r  r' d
daí,
a  qb  r  qb' d  r' d  qb'  r'  d
donde concluímos que d é um divisor comum de a e b. Fica claro então que
mdc a,b  mdc b,r1  mdc r1,r 2    mdc rn1,rn   rn
Teorema(O Algoritmo de Euclides Extendido)
Escrevamos a seguinte tabela com duas linhas R1 e R2 e três colunas
 a 1 0
 b 0 1

De acordo com o Algoritmo de Euclides, façamos as seguintes operações com as linhas desta tabela. Primeiro
criaremos a terceira linha R3 subtraindo da primeira a segunda multiplicada por q 1 e denotaremos isto por
R3  R1  q 1R2 . Da mesma forma, criamos a quarta linha R4  R2  q 2R3 e continuamos com este processo da seguinte
maneira: a criação de Rk é obtida subtraindo-se Rk 1 vezes q k 2 de Rk  2 o que pode ser escrito simbolicamente como
Rk  Rk 2  q k 2Rk 1 . Finalmente obtemos a tabela
a 1 0 
b 0 1 
 
 r1 1 q 1 
 r q 1  q q 
 2 2 1 2

 
 
 rn m n 
Então mdc a,b  rn  am  bn .
Prova:
Provaremos isto por indução. Suponha que a k-ésima linha da tabela seja Rk  u k ,v k ,w k  e que u i  av i  bw i
para todo i  k .
Isto certamente é verdade para i  1,2 . Então, pela hipótese de indução
u k  u k 2  q ku k 1  av k 2  bw k 2  q k av k 1  bw k 1  
a v k 2  q k v k 1   b  w k 2  q k w k 1  av k  bw k .
Assim a afirmativa u i  av i  bw i é verdadeira para todo i. Em particular, isto é verdadeiro para a última linha o que
nos dá rn  am  bn .

Assim por exemplo dados a=321 e b=843, determine o mdc a,b o mmc a,b e escreva o máximo divisor
comum de a e b como uma combinação linear de a e b
O Algoritmo de Euclides nos fornece:
321  0  843  321
843  2  321 201
321  1 201 120
201  1 120  81
120  1 81 39
81  2  39  3
39  13  3  0
e portanto,
mdc 321,843  3
e
321 843
mmc321,843   107  843  90201
3
O Algoritmo de Euclides Extendido nos fornece:
321 1 0
843 0 1
321 1 0
201 2 1
120 3 1
81 5 2
39 8 3
3 21 8
Obtemos assim a combinação linear
mdc 321,843  3   21  321 8  843

Definição
Se mmc a,b  1 os números a e b são ditos primos entre si (ou coprimos).

Lema
Se a e b são primos entre si isto é, se mdc a,b  1 então tem-se que:
1. a e b não possuem fatores primos comuns em suas decomposições em fatores primos.
2. Se c é um múltiplo comum de a e b então c é um múltiplo de ab.
3. Se ac é um múltiplo de b então c é um múltiplo de b.
4. Existem inteiros m,n tais que ma  nb  1

Teorema (Teorema do resto chinês)


Sejam a e b dois números primos entre si e 0  r  a e 0  s  b . Então, existe um único número N tal que 0  N  ab
com
N  aq 1  r e N  bq 2  s

Prova:
Provemos primeiramente que existe no máximo um inteiro N que deixa restos r e s quando dividido por a e b
respectivamente. Supondo o contrário isto é, que existam dois inteiros N1 e N2 para os quais tenhamos 0  N1  ab
, 0  N2  ab e
N1  aq1  r, N2  aq1'  r e N1  bq 2  s, N2  bq 2 '  s Suponhamos que N1  N2 . Então o número M  N1  N2
satisfaz a 0  M  ab e M  k 1a e M  k 2a para alguns inteiros k 1 e k 2 . Pela parte 3 do lema anterior, M é divisível
por ab portanto M  0 e N1  N2 .
Agora encontraremos um inteiro N tal que N  aq 1  r e N  bq 2  s ignorando a condição 0  N  ab .
Como sabemos, existem inteiros m e n tais que mdc a,b  1  ma  nb . Multiplicando esta equação por r  s temos
r  s  r  sma  r  snb  m' a  n'b
Agor é claro que o número N  r  m' a  s  n'b satisfaz às condições do Teorema . Se N não satisfizer a 0  N  ab ,
dividimos N por ab obtendo N  q  ab  N1 . Agora N1 satisfaz ás condições do teorema e este está provado.

A Função  de Euler

Definição
Seja n um inteiro positivo. O número de inteiros positivos menores ou iguais a n que são primos com n é denotado
por  n , Esta função é chamada a função  de Euler.

Denotemos n  0,1,2, ,n  1 e por 


n o conjunto dos inteiros não nulos de n que são primos com
n . Então,  n é o número de elementos de 
n isto é  n  #  
n .
Assim por exemplo, se n  20 então 
20  1,3,7,9,11,13,17,19 e  20  8 .

Lema
Se n  p k , onde p é um número primo, então
 1
 n  p k  p k 1  p k 1  .
 p

Prova:
É fácil listar todos os inteiros menores ou iguais a p k que não são primos com p k . São eles, p,2p,3p, ,p k 1  p . Temos
exatamente p k 1 deles daí, p k  p k 1 inteiros não nulos de n serão primos com n , portanto  n  p k  p k 1 .

Uma importante consequência do teorema do resto chinês é que a função  n é multiplicativo no seguinte
sentido:

Teorema
Sejam m e n dois inteiros positivos primos entre si. Então
 mn   m  n

Prova:
Sejam 
m 
 r1,r 2 , ,r m e 
n 
 s1,s2 , 
,s n . Pelo teorema do resto chinês, existe um único inteiro positivo Nij
tal que 0  Nij  mn ; Nij  qm  ri e Nij  kn  si em particular, para alguns inteiros a e b tem-se que
Nij  am  ri e Nij  bn  s j

Como vimos na prova do Algoritmo de Euclides, mdcNij ,m  mdcm,ri   1


e
 
mdc Nij ,n  mdc n,s j  1  

Isto é, Nij é primo com m e com n e como eles são primos entre si, Nij é primo com mn e daí Nij  mn . Claramente
diferentes pares i, j e k,l produzem números diferentes Nij e N kl .
Suponhamos um número N  Nij para todos i e j . Então N  q 1m  r e N  q 2n  s onde ou r não pertence
a 
m ou s não pertence a 
n . Supondo que seja o primeiro, temos que mdc r,m  1 . Mas então
mdc N,m  mdc r,m  1 e N não pertence a 
mn . Isto nos mostra que somente os números Nij formam 
mn .
Mas eles são exatamente  m  n dos números Nij , exatamente tantos quantos são os pares ri ,s j  e, portanto
 mn   m  n .

Teorema
Seja n um inteiro positivo tal que
n  p 1 1  p 2 2   p k k
Então
 1 1  1
 n  n 1  1  1
 p1  p 2   p  k

Prova:
Pelo exposto no teorema e no lema anterior para determinarmos  n temos:
   
 n   p 1 1  p 2 2  
 p k k
ou
 1  1  1
 n  p 1 1 1  p 2 2 1  p k k 1 
 p 1  p 2  p k

e finalmente
 1 1  1
 n  n 1  1  1 p 
 p  p 
1 2 k

Assim por exemplo,


    
 264    2 3  3  11  264 12 2 3 1011  80 
Congruências
Se a e b são inteiros quaisquer e m um inteiro positivo escrevemos a  b modm e dizemos que
a é congruente a b segundo o módulo m se, e somente se, a e b deixam o mesmo resto quando divididos por m
.
Assim por exemplo tem-se que 41  80 mod13 , 41  37 mod13 e 41 7 mod13 .

Lema
Sejam a e b são dois inteiros e m um inteiro positivo então
(a) a  b modm se, e somente se a  b é divis´vel por m ;.
(b) Se a  b modm e c  d modm então, a  c  b  d modm ;
(c) Se a  b modm e c  d modm então, ac  bd modm ;
(d) Se a  b modm e n é um inteiro positivo, então an  b n modm ;
(e) Se ac  bc modm e os números c e m são primos entre si, então a  b modm

Prova:
(a) Pelo algoritmo da divisão tem-se que
a  q 1m  r1, 0  r1  m e b  q 2m  r2 , 0  r2  m
Assim,
a  b  q 1  q 2 m  r1  r2  onde m  r1  r2  m Vemos então que a  b é divisível por m se, e somente se, r1  r2
é divisível por m mas isto só ocorre,se e, e somente se, r1  r2  0 isto é se r1  r 2 .
(b) é deixada como exercício.
(c) Se a  b modm e c  d modm então, m | a  b e m | c  d isto é, a  b  k 1m e c  d  k 2m para alguns
inteiros k 1 e k 2 . Então
ac  bd  ac  bc  bc  bd  a  b c  b c  d ou ac  bd  k 1cm  k 2bm  k 1c  k 2bm e daí, ac  bd modm .
(d) é uma consequência imediata de (c).
(e) Supondo que ac  bc modm e mdc c,m  1 então existem inteiros u e v tais que cu  mv  1 ou
cu  1modm . Então, por (c) tem-se que a  acu  bcu  b modm e portanto,
a  b modm como queríamos.

Teorema (O pequeno teorema de Fermat)

Seja p um número primo. Se um inteiro a não é divisível por p então, ap 1  1modp . Além disso, ap  amodp
para todo a .

Prova:
Seja a primo com p e considere os números: a,2a, , p  1 a . Todos possuem diferentes restos na divisão por p .
De fato, supondo que para alguns 1 i  j  p  1 tenhamos ia  jamodp então pela lei do cancelamento o
a pode ser cancelado e daí i  j modp o que é impossível. Portanto, estes restos são 1,2, ,p  1 e
a 2a  p  1 a  p  1! modp
que é
p  1! ap1  p  1! modp
Como p  1! é primo com p ,pela lei do cancelamento, ap 1  1modp .

Teorema (O teorema de Euler)


Seja n um inteiro positivo. Então,
an  1modn
para todo a primo com n .

Prova:
Seja 
n 
 z 1,z 2 , 
,z n . Considere os números
z1a,z 2a, ,z na . Como tanto z i quanto a são primos com n então, z ia é também primo com n . Suponhamos que
z ia  ri modn . Como
mdc z ia,n  mdc ri ,n tem-se que ri  
n e estes restos são todos diferentes. Além disso, supondo que ri  r j para
alguns 1 i  j  n então zia  z jamodn e pela lei do cancelamento a pode ser cancelado obtendo zi  z j modn
o que é impossível. Portanto, os restos r1,r2 , ,z n coincidem com z1,z 2 , ,z n a menos da ordem na qual estão
listados e assim
z1a z 2a  z na  r1  r2   rn  z1  z 2   z n modn que é igual a
Z an  Zmodn
onde Z  z1  z 2   z n e como Z é primo com n ele pode ser cancelado e obtemos então an  1modn .

O Sistema Decimal Clássico Posicional


Existe uma distinção importante entre os números e suas representações. No sistema de numeração
decimal, o zero e os nove primeiros inteiros positivos são denotados pelos símbolos 0,1,2, ,9 respectivamente.
Estes símbolos são chamados algarismos ou dígitos e são utilizados para representar todos os inteiros. O décimo
inteiro é representado por 10 e um inteiro N qualquer pode ser representado sob a forma
N  an  10 n  an1  10 n1   a1  10  a 0
onde a0 ,a1, ,an1,an são inteiros que podem ser representados por um único dígito 0,1,2, ,9 . Por exemplo,
2  10 3  0  10 2  1 10  2
Pode ser abreviado para 2012 10 ou simplesmente 2012 sempre tendo em mente o sistema decimal. Os dois
símbolos " 2" estão situados nas unidades simples e nas unidades de milhar e por isso seus significados são diferentes.
Em geral, escreveremos um número N como o dado pela expressão acima da seguinte forma
N  anan1 a1a0  10
para enfatizar o papel excepcional do 10 . Esta é a chamada notação posicional. Sua invenção, atribuída aos Babilônios
e seu desenvolvimento posterior pelos Hindus teve um enorme significado para a civilização. No simbolismo Romano
por exemplo, escreveríamos
MMXII  mil  mil  dez  um  um
É claro que mais e mais novos símbolos tais como I, X, M são necessários para representar números maiores
enquanto que com o sistema posicional Hindu utilizado atualmente precisamos apenas dos numerais Arábicos
0,1,2, ,9 independente de quão grande seja o número.

Outros Sistemas Posicionais


Matematicamente não há nada de especial no sistema de numeração decimal. O uso do dez como base
remonta ao surgimento da civilização e é atribuído ao fato de termos dez dedos nas mãos embora qualquer outro
número possa ser usado como base. Assim,

Teorema
Seja b  1 um inteiro positivo. Todo inteiro positvo N pode ser univocamente representado sob a forma
N  d 0  d 1b  d 2b 2   d nb n
onde os “dígitos” d 0 ,d 1, ,d n são tais que 0  d i  b  1 para todo i .

Prova:
A prova é por indução sobre a representação do número N . Claramente a representação 1  1 para 1 é única.
Suponhamos indutivamente que todo inteiro 1,2, ,N  1 seja univocamente representável e consideremos agora o
inteiro N . Se d 0  Nmodb então N  d 0 é divisível por b
 N d0 
e seja N1  b . Como N1  N , pela hipótese de indução N1 é univocamente representável na forma
N d0
N1   d1  d 2b  d 3b 2   d nb n1
b
E então claramente,
N  d 0  N1b  d 0  d 1b  d 2b 2  d 3b 3   d nb n
Finalmente, suponha que N possua alguma outra representação também desta forma isto é,
N  d 0  d 1b  d 2b 2   d nb n
 c 0  c 1b  c 2b 2   c nb n
Então, d 0  c 0  r uma vez que eles são iguais ao resto da divisão de N por b . Agora o número
N r
N1   d 1  d 2b  d 3b 2   d nb n1
b
 c1  c 2b  c 3b 2   c nb n1
Possui duas representações diferentes o que contradiz hipótese indutiva uma vez que supomos a veracidade do
resultado para todo N1  N .

Corolário
Usaremos a notação
N  d nd n1 d1d 0  b
para expressar N  d 0  d 1b  d 2b 2   d nb n . Os dígitos d i podem ser determinados através de aplicações
sucessivas do algoritmo da divisão da seguinte maneira
N  q 1b  d 0 , 0  d 0  b 
q1  q 2b  d 1, 0  d 1  b

qn  0 b  dn 0  d n  b 

Assim, por exemplo, o sistema posicional de base 5 utiliza os dígitos 0,1,2,3,4 e podemos então escrever
201210  3  5 4  1 5 3  0  5 2  2 5  2
Entretanto, na era dos computadores, é o sistema binário (base 2) que se apresenta como o mais importante. Nele
temos somente dois dígitos 0 e 1 e uma tábua de multiplicação muito simples embora no sistema binário as
representações dos números fiquem muito extensas como por exemplo,
86 10  1 2 6  0  25  1 2 4  0  2 3  1 2 2  1 2  0
 1010110 2

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