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&
PRIMOS
Definição
Um inteiro b é divisível por um inteiro a 0 , se existe um inteiro c tal que b ac .
Dizemos também que a é um divisor de b , que a divide b ou ainda que b é múltiplo de a e escrevemos
a| b . Escreveremos a|b para indicar que a não divide b .
Seja n um inteiro positivo. Denotaremos por d n o número de divisores de n . Conforme vimos 1 e n são
Definição
Um inteiro positivo n é primo se, e somente se, d n 2 . Um inteiro n 1 que não é primo é chamado
um número composto. Observemos que um inteiro positivo maior do que 1 é primo se, e somente se, seus únicos
divisores positivos são ele mesmo e 1 . Daqui para frente reservaremos a letra p para representarmos os números
primos.
Assim por exemplo, 2,3,5,7,11,13 são primos; 1,4,6,8,9,10 não são primos; 4,6,8,9,10 são números
compostos.
p
i1
i , k 1.
onde. p 1,p 2 , ,p k são primos distintos. Esta fatoração é única salvo a ordem dos fatores primos.
Prova:
Se n 2 , a afirmativa é verdadeira porque 2 é um número primo. Seja n 2 e suponhamos que todo inteiro positivo
menor do que n seja um produto de números primos. Se o próprio n for primo a afirmativa é claramente verdadeira.
Se n for composto, escrevamos n ab onde 1 a,b n . Mas por hipótese a e b são eles próprios um produtos de
primos. Justapondo-se estes produtos temos uma fatoração de n em primos.
Os números primos na decomposição de um número n 1 não são necessariamente distintos e nem estão
arrumados em uma ordem particular. Se os arrumarmos em ordem crescente e agruparmos os conjuntos de primos
iguais em um único fator e mudando para uma notação apropriada obtemos
n p 1 1 p 2 2 p k k
onde 1 0, 2 0, e p1 p 2
ou abreviadamente
k
n p i i
i1
esta decomposição é chamada a decomposição canônica de n e dizemos então que n está expresso na forma
convencional ou na forma padrão.
Teorema (Euclides)
Existem infinitos números primos.
Prova:
Suponhamos que exista somente um número finito de primos p 1,p 2 , ,p r . Formemos então o inteiro
n 1 p 1p 2 p r . Uma vez que n p i para todo i ele deve ser composto. Seja q o menor primo de n . Como
p 1,p 2 ,...,p r representam todos os primos existentes então q é um deles digamos q p 1 e n p 1m . Podemos então
escrever
1 n p 1p 2 p r p 1m p 1p 2 p r p 1 m p 2 p r Chegamos à conclusão que p 1 1 é um fator de 1 o que é uma
contradição.
Proposição
Existem n inteiros consecutivos compostos para todo n 1.
Prova:
Podemos tomar, por exemplo, a seqüência
n 1! 2, n 1! 3, n 1! 4, , n 1! n 1 Lembrando que k! 1 2 3 k , nenhum destes números é primo
porque i divide n 1! i para 2 i n 1.
Proposição(Crivo de Eratosthenes)
Seja n um número composto. Então existe um número primo p tal que p | n e p n .
Prova: Como n é composto, n ab com 1 a,b n . Se a,b n então ab n . Daí, pelo menos um fator, digamos
a , satisfaz a a n . Daí todo divisor primo p de a será como desejado isto é, p | n e p n .
Deste modo, para nos certificarmos se um dado número inteiro n 1 é um número primo, é suficiente
verificar se n é divisível por qualquer número primo p n (senão n é um número primo). Isto em geral economiza
um monte de trabalho.
Por exemplo, será n 271 um número primo? Bem 16 271 17 e assim 271 é um número primo ou
existe um número primo p 16 tal que p | 271 . Os números primos menores ou iguais a 16 são 2,3,5,7,11 e 13 .
Devemos agora ter algum trabalho para verificar se algum destes primos divide exatamente 271 . Como nenhum
deles divide, então 271 é um número primo.
A idéia acima pode ser posta em prática para gerar números primos. O resultado obtido é o Crivo de
Eratosthenes. Suponhamos que desejemos encontrar todos os números primos menores do que 60. Comecemos com
uma lista dos primeiros 60 inteiros. Os primos menores do que 60 são 2,3,5 e 7. Assim, eliminamos da lista a cada
vez os números:1, depois cada segundo número começando pelo 4 a seguir cada terceiro número começando pelo
9, depois cada quinto começando pelo 25 e finalmente todo sétimo número começando pelo 49. Os números que
restam, 17 no total, são os primos menores que 60.
1 5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57
2 6 10 14 18 22 26 30 34 38 42 46 50 54 58
3 7 11 15 19 23 27 31 35 39 43 47 51 55 59
4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48 52 56 60
A disposição dos números na tabela acima imaginada continuando indefinidamente para a direita sugere algumas
questões sobre a distribuição dos números primos. Sabemos que um número infinito de colunas da tabela extendida
conterá um número primo. O que não sabemos é se existe um número infinito de colunas contendo dois primos. O
conjunto infinito de primos ímpares está dividido entre a primeira e a terceira linhas da tabela acima e pelo menos
uma destas linhas deve conter um número infinito de primos. Qual é? Observe que a i-ésima linha consiste dos inteiros
da forma i 4k , k 0,1,2, Temos então:
Teorema
Existe um número infinito de números k 0 tais que 3 4k é primo.
Prova:
Sejam p 1,p 2 , ,p k uma lista de primos da forma 3 4k e n 4p 1p 2 p k 1 . Como n é ímpar, todos os seus divisores
primos são da forma 1 4k ou 3 4k . Um exercício fácil mostra que qualquer produto de inteiros da forma 1 4k
possui também a forma 1 4k . Uma vez que n não possui esta forma, ele deve ter um divisor primo q da forma
3 4k e como q | n , mas p i |N , o primo q deve ser diferente de p 1,p 2 , ,p k e mostramos então que toda lista finita
de números primos da forma 3 4k está incompleta.
Teorema (Dirichlet)
Sejam a,b com a 1 . Se não existe nenhum número primo que divida simultaneamente a e b , então an b é
um número primo para infinitos inteiros positivos n .
O número de divisores de n
Seja n p 1 p 2 p k onde os p i são primos distintos e os i são inteiros positivos. Se d é um divisor
1 2 k
Teorema
O número de divisores positivos de n é
dn 1 1 2 1 k 1
Prova:
De fato, temos exatamente i 1 possibilidades para escolher um valor para i a saber, 0,1,2, , i . Assim, o
número total de divisores será exatamente o produto
1 1 2
1 k 1 .
Definição
Os números kn onde k 0, 1, 2, são chamados múltiplos de n isto é, os elementos do conjunto
, kn, , 2n, n,0,n,2n, ,kn,
que denotaremos por n .
É claro que todo múltiplo de n p 1 p 2 p k possui a forma
1 2 k
1 2 k
m kp p1 2 p , i i , i 1,2,
k ,k
onde k não possui nenhum dos primos p 1,p 2 , ,p k em sua decomposição. O número de múltiplos de n é infinito.
Teorema
Sejam
a p 1 1 p 2 2 p k k e b p 1 1 p 2 2 p k k
onde i 0 e i 0 são dois inteiros positivos quaisquer. Então,
mdca,b p1min1,1 p min
2
2 , 2
p min
k
k , k
e
mmca,b p1max1,1 p max
2
2 , 2
p max
k
k , k
Além disso,
mdc a,b mmc a,b a b
Prova:
As fórmulas do mdc a,b e mmc a,b são conseqüências imediatas de nossas definições de divisor comum e de
múltiplo comum. Par provar a última fórmula basta observar que min i , i max i , i i i .
A decomposição em fatores primos é uma coisa computacionalmente difícil e não conhecemos ainda
algoritmos fáceis para isto. Felizmente, o máximo divisor comum dos números a e b podem ser encontrados sem
conhecermos a decomposição em fatores primos de a e b. Este algoritmo foi descoberto por Euclides.
De acordo com o Algoritmo de Euclides, façamos as seguintes operações com as linhas desta tabela. Primeiro
criaremos a terceira linha R3 subtraindo da primeira a segunda multiplicada por q 1 e denotaremos isto por
R3 R1 q 1R2 . Da mesma forma, criamos a quarta linha R4 R2 q 2R3 e continuamos com este processo da seguinte
maneira: a criação de Rk é obtida subtraindo-se Rk 1 vezes q k 2 de Rk 2 o que pode ser escrito simbolicamente como
Rk Rk 2 q k 2Rk 1 . Finalmente obtemos a tabela
a 1 0
b 0 1
r1 1 q 1
r q 1 q q
2 2 1 2
rn m n
Então mdc a,b rn am bn .
Prova:
Provaremos isto por indução. Suponha que a k-ésima linha da tabela seja Rk u k ,v k ,w k e que u i av i bw i
para todo i k .
Isto certamente é verdade para i 1,2 . Então, pela hipótese de indução
u k u k 2 q ku k 1 av k 2 bw k 2 q k av k 1 bw k 1
a v k 2 q k v k 1 b w k 2 q k w k 1 av k bw k .
Assim a afirmativa u i av i bw i é verdadeira para todo i. Em particular, isto é verdadeiro para a última linha o que
nos dá rn am bn .
Assim por exemplo dados a=321 e b=843, determine o mdc a,b o mmc a,b e escreva o máximo divisor
comum de a e b como uma combinação linear de a e b
O Algoritmo de Euclides nos fornece:
321 0 843 321
843 2 321 201
321 1 201 120
201 1 120 81
120 1 81 39
81 2 39 3
39 13 3 0
e portanto,
mdc 321,843 3
e
321 843
mmc321,843 107 843 90201
3
O Algoritmo de Euclides Extendido nos fornece:
321 1 0
843 0 1
321 1 0
201 2 1
120 3 1
81 5 2
39 8 3
3 21 8
Obtemos assim a combinação linear
mdc 321,843 3 21 321 8 843
Definição
Se mmc a,b 1 os números a e b são ditos primos entre si (ou coprimos).
Lema
Se a e b são primos entre si isto é, se mdc a,b 1 então tem-se que:
1. a e b não possuem fatores primos comuns em suas decomposições em fatores primos.
2. Se c é um múltiplo comum de a e b então c é um múltiplo de ab.
3. Se ac é um múltiplo de b então c é um múltiplo de b.
4. Existem inteiros m,n tais que ma nb 1
Prova:
Provemos primeiramente que existe no máximo um inteiro N que deixa restos r e s quando dividido por a e b
respectivamente. Supondo o contrário isto é, que existam dois inteiros N1 e N2 para os quais tenhamos 0 N1 ab
, 0 N2 ab e
N1 aq1 r, N2 aq1' r e N1 bq 2 s, N2 bq 2 ' s Suponhamos que N1 N2 . Então o número M N1 N2
satisfaz a 0 M ab e M k 1a e M k 2a para alguns inteiros k 1 e k 2 . Pela parte 3 do lema anterior, M é divisível
por ab portanto M 0 e N1 N2 .
Agora encontraremos um inteiro N tal que N aq 1 r e N bq 2 s ignorando a condição 0 N ab .
Como sabemos, existem inteiros m e n tais que mdc a,b 1 ma nb . Multiplicando esta equação por r s temos
r s r sma r snb m' a n'b
Agor é claro que o número N r m' a s n'b satisfaz às condições do Teorema . Se N não satisfizer a 0 N ab ,
dividimos N por ab obtendo N q ab N1 . Agora N1 satisfaz ás condições do teorema e este está provado.
A Função de Euler
Definição
Seja n um inteiro positivo. O número de inteiros positivos menores ou iguais a n que são primos com n é denotado
por n , Esta função é chamada a função de Euler.
Lema
Se n p k , onde p é um número primo, então
1
n p k p k 1 p k 1 .
p
Prova:
É fácil listar todos os inteiros menores ou iguais a p k que não são primos com p k . São eles, p,2p,3p, ,p k 1 p . Temos
exatamente p k 1 deles daí, p k p k 1 inteiros não nulos de n serão primos com n , portanto n p k p k 1 .
Uma importante consequência do teorema do resto chinês é que a função n é multiplicativo no seguinte
sentido:
Teorema
Sejam m e n dois inteiros positivos primos entre si. Então
mn m n
Prova:
Sejam
m
r1,r 2 , ,r m e
n
s1,s2 ,
,s n . Pelo teorema do resto chinês, existe um único inteiro positivo Nij
tal que 0 Nij mn ; Nij qm ri e Nij kn si em particular, para alguns inteiros a e b tem-se que
Nij am ri e Nij bn s j
Teorema
Seja n um inteiro positivo tal que
n p 1 1 p 2 2 p k k
Então
1 1 1
n n 1 1 1
p1 p 2 p k
Prova:
Pelo exposto no teorema e no lema anterior para determinarmos n temos:
n p 1 1 p 2 2
p k k
ou
1 1 1
n p 1 1 1 p 2 2 1 p k k 1
p 1 p 2 p k
e finalmente
1 1 1
n n 1 1 1 p
p p
1 2 k
Lema
Sejam a e b são dois inteiros e m um inteiro positivo então
(a) a b modm se, e somente se a b é divis´vel por m ;.
(b) Se a b modm e c d modm então, a c b d modm ;
(c) Se a b modm e c d modm então, ac bd modm ;
(d) Se a b modm e n é um inteiro positivo, então an b n modm ;
(e) Se ac bc modm e os números c e m são primos entre si, então a b modm
Prova:
(a) Pelo algoritmo da divisão tem-se que
a q 1m r1, 0 r1 m e b q 2m r2 , 0 r2 m
Assim,
a b q 1 q 2 m r1 r2 onde m r1 r2 m Vemos então que a b é divisível por m se, e somente se, r1 r2
é divisível por m mas isto só ocorre,se e, e somente se, r1 r2 0 isto é se r1 r 2 .
(b) é deixada como exercício.
(c) Se a b modm e c d modm então, m | a b e m | c d isto é, a b k 1m e c d k 2m para alguns
inteiros k 1 e k 2 . Então
ac bd ac bc bc bd a b c b c d ou ac bd k 1cm k 2bm k 1c k 2bm e daí, ac bd modm .
(d) é uma consequência imediata de (c).
(e) Supondo que ac bc modm e mdc c,m 1 então existem inteiros u e v tais que cu mv 1 ou
cu 1modm . Então, por (c) tem-se que a acu bcu b modm e portanto,
a b modm como queríamos.
Seja p um número primo. Se um inteiro a não é divisível por p então, ap 1 1modp . Além disso, ap amodp
para todo a .
Prova:
Seja a primo com p e considere os números: a,2a, , p 1 a . Todos possuem diferentes restos na divisão por p .
De fato, supondo que para alguns 1 i j p 1 tenhamos ia jamodp então pela lei do cancelamento o
a pode ser cancelado e daí i j modp o que é impossível. Portanto, estes restos são 1,2, ,p 1 e
a 2a p 1 a p 1! modp
que é
p 1! ap1 p 1! modp
Como p 1! é primo com p ,pela lei do cancelamento, ap 1 1modp .
Prova:
Seja
n
z 1,z 2 ,
,z n . Considere os números
z1a,z 2a, ,z na . Como tanto z i quanto a são primos com n então, z ia é também primo com n . Suponhamos que
z ia ri modn . Como
mdc z ia,n mdc ri ,n tem-se que ri
n e estes restos são todos diferentes. Além disso, supondo que ri r j para
alguns 1 i j n então zia z jamodn e pela lei do cancelamento a pode ser cancelado obtendo zi z j modn
o que é impossível. Portanto, os restos r1,r2 , ,z n coincidem com z1,z 2 , ,z n a menos da ordem na qual estão
listados e assim
z1a z 2a z na r1 r2 rn z1 z 2 z n modn que é igual a
Z an Zmodn
onde Z z1 z 2 z n e como Z é primo com n ele pode ser cancelado e obtemos então an 1modn .
Teorema
Seja b 1 um inteiro positivo. Todo inteiro positvo N pode ser univocamente representado sob a forma
N d 0 d 1b d 2b 2 d nb n
onde os “dígitos” d 0 ,d 1, ,d n são tais que 0 d i b 1 para todo i .
Prova:
A prova é por indução sobre a representação do número N . Claramente a representação 1 1 para 1 é única.
Suponhamos indutivamente que todo inteiro 1,2, ,N 1 seja univocamente representável e consideremos agora o
inteiro N . Se d 0 Nmodb então N d 0 é divisível por b
N d0
e seja N1 b . Como N1 N , pela hipótese de indução N1 é univocamente representável na forma
N d0
N1 d1 d 2b d 3b 2 d nb n1
b
E então claramente,
N d 0 N1b d 0 d 1b d 2b 2 d 3b 3 d nb n
Finalmente, suponha que N possua alguma outra representação também desta forma isto é,
N d 0 d 1b d 2b 2 d nb n
c 0 c 1b c 2b 2 c nb n
Então, d 0 c 0 r uma vez que eles são iguais ao resto da divisão de N por b . Agora o número
N r
N1 d 1 d 2b d 3b 2 d nb n1
b
c1 c 2b c 3b 2 c nb n1
Possui duas representações diferentes o que contradiz hipótese indutiva uma vez que supomos a veracidade do
resultado para todo N1 N .
Corolário
Usaremos a notação
N d nd n1 d1d 0 b
para expressar N d 0 d 1b d 2b 2 d nb n . Os dígitos d i podem ser determinados através de aplicações
sucessivas do algoritmo da divisão da seguinte maneira
N q 1b d 0 , 0 d 0 b
q1 q 2b d 1, 0 d 1 b
qn 0 b dn 0 d n b
Assim, por exemplo, o sistema posicional de base 5 utiliza os dígitos 0,1,2,3,4 e podemos então escrever
201210 3 5 4 1 5 3 0 5 2 2 5 2
Entretanto, na era dos computadores, é o sistema binário (base 2) que se apresenta como o mais importante. Nele
temos somente dois dígitos 0 e 1 e uma tábua de multiplicação muito simples embora no sistema binário as
representações dos números fiquem muito extensas como por exemplo,
86 10 1 2 6 0 25 1 2 4 0 2 3 1 2 2 1 2 0
1010110 2