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Esporte como instrumento de direitos

humanos:
Guerras, Apartheid, organização e
par9cipação em grandes eventos.
Professor Titular: Dr Paulo Sérgio Feuz
Aluno: André Galdeano Simões
Regulamento NacionalRA:
de00289426
Registro de Transferência
Mestrando 1º semestre 2022
André PUCSPSimões
Galdeano
Introdução:
O Esporte como fenômeno de socialização

O esporte como fenômeno social tem importante papel na sociedade visto que abrange diversos setores
exercendo relevante papel inclusivo, sendo fundamental para saúde, educação, turismo e outros setores. A prá>ca
espor>va desenvolve habilidades @sicas, sociais, cogni>vas que independem de raça, cor, religião e nacionalidade.
O uso político do esporte

“As a>vidades atlé>cas sempre es>veram relacionadas a ins>tuições nas sociedades passadas. Na Grécia An>ga elas
faziam parte da religião e da educação grega. Na época do Império Romano, os Jogos Públicos foram u>lizados para
alienar o povo, evitando insurreições populares, na chamada ‘Polí>ca do Pão e Circo’ (...) A regulamentação de jogos
populares na Inglaterra fez surgir, em meados do século XIX, o Esporte Moderno. Este, impregnado de valores da
Revolução Industrial, foi u>lizado pela burguesia industrial para disciplinar os operários. Os Jogos Olímpicos da era
moderna propagaram o esporte por todo o mundo. (...) Com o desenvolvimento da mídia, o esporte foi englobado
pelas estruturas econômicas do mundo capitalista e tornou-se uma mercadoria da indústria cultural.”
(SIGOLI. Marcio André, “A história do uso polí<co do esporte.” in RBCM, Vol. 12 – junho de 2004).
Apartheid e o esporte
Oficializadas em 1948, as políticas de segregação racial da África do Sul — o Apartheid — geraram uma série de
pressões da comunidade internacional. Num primeiro momento, porém, o Comitê Olímpico Internacional (COI)
não se envolveu e permitiu que os sul-africanos participassem dos Jogos Olímpicos entre aquele ano e 1960.
Apenas atletas brancos eram inscritos para as competições.
A pressão subiu em março de 1960, com o assassinato de 69 manifestantes no massacre em Sharpeville. A
Organização das Nações Unidas (ONU), então, adotou resoluções para dificultar as relações dos países com o
governo sul-africano enquanto durasse o Apartheid.
Essas primeiras pressões tiveram efeito limitado, mas foram suficientes para que o COI desse um ultimato ao
Comitê Olímpico Sul-Africano: ou eles se colocariam contrários às políticas de Apartheid, que afetava também o
esporte, ou estariam fora dos Jogos Olímpicos de 1964.
Sem uma manifestação contrária ao regime segregacionista, então, o COI retirou o convite à África do Sul. O país
ficaria banido das Olimpíadas até 1992, quando competiu com uma bandeira especial após o início da saída do
apartheid.
Até o fim do Apartheid, as pressões internacionais contra o governo sul-africano continuaram, e trouxeram outras
consequências aos Jogos Olímpicos: Em 1976, o COI se negou a expulsar os neozelandeses que haviam realizado
amistoso de rúgbi com os sul-africanos, argumentando, entre outras coisas, que o rúgbi não era esporte olímpico
na época. Então em protesto, 29 países, a maioria africanos, anunciaram um boicote aos Jogos Olímpicos de
Montreal — o primeiro boicote em larga escala na história das Olimpíadas.
Apartheid e o esporte
Símbolo da luta pela igualdade racial na África do Sul, Nelson Mandela usou o esporte como grande arma para
unir negros e brancos num país historicamente dividido pelas diferenças étnicas.
Uma nação que ficou quase 50 anos (1948 – 1994) segregada pelo regime chamado Apartheid – que permitiu
que a minoria branca se mantivesse no poder e isolasse as outras etnias da vida política do país – se viu unida
novamente por ocasião de um evento esportivo, a Copa do Mundo de Rúgbi.
A África do Sul estava marcada para sediar o principal torneio de rúgbi do mundo, um ano depois que Mandela
foi eleito presidente.
O contexto da África do Sul em 1995, porém, ainda contradizia os ideais do novo líder sul-africano. O
preconceito entre brancos e negros ainda predominava nas ruas e havia até mesmo a tensão de que, a qualquer
momento, uma guerra racial pudesse acontecer.
Mandela viu em um dos esportes mais praticados no país a grande oportunidade de unir a nação inteira pelo
mesmo objetivo.
E usou a própria seleção do país para isso. No time que disputou a Copa do Mundo de rúgbi e que,
historicamente, era formada somente por jogadores brancos, houve um integrante negro que ajudou Mandela a
trazer todas as raças juntas na torcida pela equipe nacional. O resultado foi o histórico e inédito título do
torneio.
Cabendo lembrar, ainda, que a África do Sul foi o primeiro país do território africano a sediar uma Copa do
Mundo da FIFA, em 2010, fato que segmentou a união racial naquele país.
As Guerras e Cancelamento
Anos 40: A década sem Copa do Mundo e os três cancelamentos
dos jogos olímpicos de 1916, 1940 e 1944.
O início dos conflitos na Europa em 1914 impediram a realização dos jogos olímpicos designados para Berlim em
1916, sendo realizados apenas em 1920 na cidade de Antuérpia na Bélgica, em razão do impedimento de
participação dos países derrotados na primeira guerra mundial (Império Otomano).

Embora tenha sido o primeiro país asiático a sediar os jogos olímpicos de 1932, o Japão teve seus planos frustrados
em razão do conflito com a China em 1938 que se estenderam até 1945.
Desta forma, os jogos olímpicos de 1940 foram sediados em Helsinque na Finlândia, porém tendo suas pretensões
frustradas com o inicio da segunda guerra mundial que durou entre 1939 até 1945.

Os jogos olímpicos de 1944, designados para Londres, teve sua realização frustrada em função da continuidade da
segunda guerra mundial, porém a capital inglesa obteve o direito de sediar os jogos olímpicos de 1948.

A quarta edição da Copa do Mundo de 1942, além da edição subsequente deixaram de ser realizadas em razão dos
conflitos da segunda grande guerra e suas consequências apesar do pós-guerra em 1946, mesmo com os conflitos já
finalizados. A questão era que muitos países europeus estavam muito fragilizados, e o momento não era para se
Boicote e Guerra Fria
Mesmo após o término da segunda guerra mundial, os Estados Unidos e o
bloco dos países aliados a União Soviética protagonizaram a denominada
“Guerra Fria” que durou entre 1945 até 1991.

Apesar de períodos mais pacíficos, a invasão soviética ao Afeganistão em 1979 culminou com o boicote aos jogos de
Moscou em 1980 por ordem do Presidente americano Jimmy Carter. Alguns países aliados ao governo norte americano
chegaram a competir sob a bandeira neutra (Austrália) ou de seus comitês olímpicos (Espanha e Portugal). A Alemanha
Ocidental, China e Japão se retiraram dos jogos cedendo a pressão oriunda da Casa Branca.

As Olímpiadas de 1984, em Los Angeles, como era de se esperar houve a “retribuição” de boicote agora pela União
Soviética e seus aliados através de comunicado feito pelo Kremlin poucos meses antes da cerimônia de abertura. Foram ao
todo 17 países que desistiram, entre eles cabe destacar Cuba, Polônia e Alemanha Oriental.
A Romênia furou o boicote e acabou se beneficiando com a segunda colocação no quadro de medalhas, atrás apenas do
anfitrião.

Os líderes soviéticos não alegaram abertamente um boicote aos jogos, mas disseram que apenas temiam pela segurança
de seus atletas.
Terrorismo em Munique (1972)
A Alemanha buscava através dos jogos olímpicos de 1972 transmi>r uma
imagem desassociada dos brutais crimes ocorridos nas décadas anteriores
Durante a segunda grande guerra.
Entretanto, os Jogos Olímpicos daquele ano acabaram marcados por um massacre: terroristas da facção Pales>na
Setembro Negro invadiram a vila olímpica e fizeram reféns um grupo de atletas e técnicos da delegação de Israel.

Os criminosos exigiam a libertação de 200 pales>nos presos em solo israelenses e pediam um avião para fugir de
Munique. O governo de Israel não cedeu, e autoridades alemãs ofereceram dinheiro para resgate e outras saídas
diplomá>cas, mas nada sur>a efeito. Durante as negociações, um dos reféns foi morto.
Em uma tenta>va de emboscada, a polícia alemã atraiu os sequestradores até o aeroporto, com a promessa de dar a eles
um avião. Com os terroristas já na pista, as forças de segurança abriram fogo, mas os criminosos devolveram os >ros e
mataram os reféns. No fim, a ação resultou na morte de 11 reféns israelenses, um policial alemão e cinco
sequestradores.

A possibilidade de interromper ali os Jogos de Munique chegou a circular pelos organizadores, mas o COI decidiu seguir
adiante após um dia inteiro sem nenhuma compe>ção. Uma cerimônia no estádio olímpico homenageou os atletas
mortos no massacre, as bandeiras foram colocadas a meio mastro, e as compe>ções foram retomadas no dia seguinte.
Iugoslávia
Após a morte do marechal e estadista Josip Tito, em 1980, as disputas nacionalistas
entre as repúblicas que formavam a unidade da Iugoslávia.

Em 1991 incitaram a guerra de independência com Bósnia-Hezergovina, Croácia e Eslovênia.


Diversos crimes de guerra repercutiram mundialmente e houve forte pressão em relação ao Conselho de Segurança da ONU
que culminaram com uma série de sanções e embargos contra o governo iugoslavo.

No âmbito desportivo, a Iugoslávia fora banida de dois grandes eventos esportivos no ano de 1992.
A UEFA proibiu a participação dando lugar para Dinamarca que se sagraria campeã daquele torneio em território sueco. A
Dinamarca fora escolhida por ter sido a equipe segunda colocada em seu grupo, cuja a Iugoslávia liderou e havia
conquistado a vaga.

Quanto aos jogos olímpicos de Barcelona, o COI encontrou uma solução para que os atletas classificados pudessem
competir. Usando a bandeira olímpica e utilizando o nome de “Participantes Olímpicos independentes” conquistando um
total de 3 medalhas (uma de prata e duas de bronze).

Por outro lado, os recém independentes Bósnia-Hezergovina, Croácia e Eslovênia realizaram suas estreias em jogos
olímpicos.
Coréia do Norte
Doze anos após boicotar os Jogos Olímpicos de Seul (1988) por rusgas polí>cas com
os vizinhos, a Coreia do Norte concordou em desfilar em conjunto com a Coreia do
Sul na cerimônia de abertura de Sydney-2000.
As duas delegações representando países teoricamente em guerra — há apenas um cessar-fogo em vigor, mas ambos têm
seus exércitos mobilizados — foram ovacionadas ao entrar no Estádio Olímpico segurando uma bandeira neutra com o
desenho da Península Coreana em azul. Posi>va, a experiência se repe>u apenas nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004.

Antes dos jogos olímpicos de Tóquio, inicialmente programados para 2020 porém adiados em razão da pandemia da Covid-
19, foram programados para o ano subsequente. Em parte por questões polí>cas que separam os norte coreanos dos
japoneses.

Em abril de 2021, poucos meses antes da realização dos jogos o governo norte coreano anunciou que deixaria de par>cipar
alegando temores relacionados a pandemia do corona vírus - sendo a primeira desistência desde 1988 pela própria Coreia do
Norte.
Pela ausência em Tóquio, o Comitê Olímpico Internacional suspendeu os norte-coreanos até o final de 2022. Segundo o
alemão Thomas Bach, presidente da en>dade, a Coreia do Norte deixará de receber a ajuda financeira que o COI distribuí aos
filiados. Contudo, assegura que os atletas serão preservados para qualquer um que es>ver classificado aos Jogos de Inverno
de Pequim.
China x Taiwan

A Revolução Comunista Chinesa de 1949 terminou da seguinte forma: os comunistas, liderados por Mao Tsé-Tung,
dominaram todo o território continental e proclamaram a República Popular da China — nome completo do país que
conhecemos hoje por China. Os nacionalistas, confinados na ilha de Taiwan, mantiveram lá a República da China —
como um governo em exílio.
Entre os anos 1950 e 1960, a ONU e o Ocidente consideravam Taiwan o verdadeiro representante da China. Atletas da
ilha competiam sob o nome República da China nos Jogos Olímpicos.
Mas a situação mudou em 1971, quando a ONU deixou de reconhecer Taiwan como a representação legal dos chineses
e transferiu a vaga para os comunistas de Pequim.
Isso ocorreu em meio ao congelamento das relações da China comunista com a União Soviética e a consequente
aproximação de Pequim com os EUA. Os novos laços entre chineses e americanos levaram até à desistência da China em
participar das Olimpíadas de Moscou, como parte do boicote ocidental aos soviéticos em 1980.
A solução encontrada para Taiwan, que não poderia usar mais o nome China, foi passar a competir com a
nomenclatura “Taipé Chinesa” a partir de 1984 não só nos Jogos Olímpicos, mas também em outros eventos.
O paradoxo dos direitos humanos
nos grandes eventos espor4vos

Enquanto o mundo assiste apreensivo o avanço da Guerra da Ucrania,pressão vinda do esporte também cresce.
“A fim de proteger a integridade das competições esportivas globais e para a segurança de todos os participantes, o comitê executivo
do COI recomenda que as Federações Esportivas Internacionais e os organizadores de eventos esportivos não convidem ou permitam a
participação de atletas e oficiais russos e bielorrussos em competições internacionais”- diz um trecho do comunicado do COI.
Cada vez mais importancia dos regulamentos esportivos que precisam cada vez mais dialogar com princípios de direitos humanos. Pode
proibir alguém de trabalhar por causa de uma guerra em que ele também é uma vítima? Atletas transexuais podem perder o direito de
competir? Uma federação internacional, pode obrigar um atleta a se manifestar contra ou a favor de uma guerra? Ele pode ser banido
por sua nacionalidade? – dentre outros
Questionamentos estes, importantes e inerentes ao momento; mas o esporte, sempre atuou como incentivo ao dialogo, e aos direitos
humanos.
De acordo com a Carta Olímpica, o COI as Federações Internacionais dos Esportes e os Comitês Olímpicos Nacionais devem trabalhar
juntos para promover este movimento. Unidas, estas entidades contribuem para a construção de um mundo melhor pautado em uma
consciência democrática, humanitária, cultural e ecológica por meio da prática esportiva.
O Barão Pierre de Coubertin recriou os Jogos Olímpicos da Antiguidade com o intuito de propagar estes valores. Além do caráter
ideológico da iniciativa, ele acreditava que a realização da competição era necessária para incentivar a integração entre as nações e
seus povos – uma tendência crescente no fim do século XIX.
Os antigos ideais olímpicos gregos inspiraram Coubertin, que criou a noção moderna de Olimpismo – filosofia que norteia as ações do
Movimento Olímpico rumo ao objetivo maior de aperfeiçoamento do ser humano.
André Galdeano
@galdeanoandre
andre.galdeano@flamengo.com.br
(21) 98700-3000

OBRIGADO!

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