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Fichamento Pierre Milza (Sport et Relations Internationale 1984)

Introdução

● Milza inicia seu texto citando a questão do boicote ao Mundial de 1978 feito por
alguns países que não interferiu na participação francesa no torneio. Todavia, as
autoridades francesas anularam a tournée da seleção sul-africana de Rúgbi em
território francês por achar “imprópria” assim como a ida da equipe francesa à África
do Sul três anos depois.

● O autor prossegue trazendo à tona acontecimentos esportivos com viés geopolítico por
trás do contexto.

● A citação de uma série de características do esporte: um fenômeno das massas que é


atravessado por diversas ideologias, serve para medir a potência ou o declínio de uma
nação, pode revelar ou manipular o sentimento público.

1. Um componente e um reflexo da vida internacional

● Discorre sobre o pensamento de Claude Mossé que aborda uma contextualização


histórica sobre a utilização do esporte como instrumento político para alianças ou
guerras nos tempos da Grécia e Roma Antiga, não é um fenômeno da modernidade

● Séculos mais tarde, Milza argumenta que iniciou-se a tendência do esporte de


competição vinculado a um patriotismo exacerbado de crer que a tua nação é a melhor.
Isso foi apropriado pelos financiadores, ditadores ou pelos partidos de massa. Práticas
como utilização de drogas e anabolizantes virou algo comum entre os esportistas de
alto nível (bem distante do ideal proposto pelos teorizadores do esporte)

● Teóricos do Esporte como Thomas Arnold acreditavam que a prática esportiva tinha
como objetivo desenvolver responsabilidade, proatividade entre os praticantes,
sobretudo os mais jovens. A disciplina do corpo e da alma, a convivência em
sociedade são fatores que dialogam com os ideais positivistas de progresso pela
educação que foram célebres nas últimas décadas do século XIX na França, momento
onde o modelo britânico do esporte começa a aparecer no território francês.

● Contexto do final do século XIX e início do século XX caracterizado por diversas


transformações sociais, ascensão dos nacionalismos (imperialista e agressivo) e
concomitantemente a ideia de darwinismo social e racial que exalta a cultura dos
heróis, força e virilidade.

● O esporte como um reflexo deste contexto conturbado do final do século XX e início


do século XX que evoluiu e se encontra presente nas relações entre os países.

● Milza considera dois momentos marcantes de eventos esportivos e as Relações


Internacionais: 1º Jogos Olímpicos de Berlim em 1936, comprovou o elo entre o
olimpismo e a política, contrariando o ideal apolítico pensado por Pierre Coubertin.
Trata-se da política por outros meios, esta edição dos jogos serviu para exaltar a
propaganda nazifascista. O COI só solicitou que não houvesse discriminação dos
atletas e do público judeu.

● O caso dos JOs de Helsinque 1952: tensão entre leste/oeste estava mais acirrada.
Primeira participação soviética, o autor questiona o motivo da participação.
● O segundo ponto aborda os elos entre os Direitos do Homem com ideologia e a
Realpolitik (iniciativas governamentais, movimentos a favor e contra os Jogos de
Berlin de 1936. Milza fala sobre o boicote dos JOs de Moscou em 1980.
● Milza discorre da pauta doss direitos humanos ganhando cada vez mais notoriedade
(presidência Carter) nas relações internacionais (boicote de 1978 copa do mundo na
Argentina)

● Dialética que Milza aponta sendo o esporte como componente e também reflexo das
relações entre os estados e povos.

2. O esporte como meio da política externa

Na perspectiva de Pierre Milza, o esporte serve nos objetivos da PE em três níveis de


intervenção:
1º - preparação para a guerra:

● Traz a tese de doutorado de Marcel Spivak sobre o papel do esporte como meio
formador físico, moral e cívico da juventude francesa antes de 1914.

● Ideia de militarização da juventude rejeitada pela opinião pública francesa mas deixa
livre para a crescente des sociétes de gymnastique et de tir

● O autor acredita que os princípios esportivos se relacionam bem com a lógica de uma
corrida à forjar tendo vista as dificuldades da guerra. Uma tendência não tão adepta
entre as democracias liberais antes de 1914 mas que assume um papel fundamental no
nazifascismo.

● O esporte é um meio de controlar o povo e principalmente a juventude. Milza enxerga


como um mecanismo especial capaz de construir consenso, integrar as massas e para
elas oferece prestígio e oportunidades como moeda de troca.

2º A tentativa dos atores de projetar a imagem deles próprios na esfera internacional e ao


mesmo tempo dos outros.

● Milza discorre sobre o esporte como propaganda do Estado-Nação. Trata-se de uma


propaganda que busca associar as conquistas dos atletas com o prestígio da nação.

● Demonstrar a força militar e a eficácia econômica através do esporte nos espetáculos


planetários como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos que são acompanhados por
milhões de pessoas e envolvem milhões de dólares.

● Milza cita como exemplo a participação da URSS nos JOs de Helsinque em 1952
como uma prova de força da pátria socialista mesmo com o cenário destrutivo ao fim
da SGM. Além disso, a participação de atletas como Emil Zatopek como porta-vozes
da estratégia soviética de se apresentar como um país pacífico.
● O autor argumenta sobre o esforço de cada país de construir sua imagem utilizando o
prestígio internacional dos esportes. No caso francês, Milza aponta sobre o contexto
da década de 40 e a década de 50. Conseguiu o terceiro lugar no quadro geral dos JOs
de 1948 em Londres. Em particular o caso do campeão olímpico francês de peso
médio Marcel Cerdan que o governo utiliza essa conquista como propaganda francesa.

● Um declínio aceitável na visão de Milza sobre o desempenho francês nos JOs


seguintes mas ao mesmo tempo uma expectativa por renovação na década “gaullista”.

3º O fato esportivo como condutor da política externa


● Milza realiza uma comparação entre o fato esportivo equivalente às visitas
diplomáticas do século XIX. Ex: A “diplomacia do ping-pong” e a aproximação
sino-americana ou a ida dos jogadores de rúgbi britânicos à África do Sul com a
“benção” da então primeira-ministra Thatcher.

3. O esporte como revelador do sentimento público


● Milza encerra o seu artigo abordando o cenário onde a opinião pública utiliza a
manifestação esportiva como forma de expressão diante dos grandes problemas
internacionais entre os povos e nações.

● O autor ressalta a importância de analisar com serenidade a opinião do público


esportivo e não generalizar os acontecimentos. Pierre discorre que muitas vezes os
veículos midiáticos ligados aos detentores de poder tornam o ambiente mais caloroso e
tenso para o público.

● O fato esportivo reforça em algumas situações mitos e estereótipos criados pela


sociedade. O autor cita o caso do público parisiense na partida de futebol entre França
e Alemanha em 1931, primeira encontro entre as seleções após o fim da PGM. A
mídia francesa dias antes já incitava um espírito antigermânico na população fazendo
críticas aos turistas alemães. Tendo como consequência incidentes nas arquibancadas
entre os torcedores dos dois países.

Conclusão
● A relação entre esporte e relações internacionais trata-se de um campo amplo a ser
explorado não somente pelo historiador das RIs. Milza incita uma série de questões
para se refletir e a necessidade de se examinar com mais precisão a articulação entre
política nacional, política estrangeira que é algo bastante complexo.

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