Você está na página 1de 13

REVISÃO

Treinamento resistido manual e sua


aplicação na educação física
Manual resistance training and his application in the
physical education

Cauê Vazquez La Scala Teixeira*, Ricardo José Gomes**

*Departamento de Biociências, Universidade Federal de São Paulo, Santos/SP, Faculdade de Educação


Física, Faculdade Praia Grande, Praia Grande/SP, Seção de Avaliação Física, Prefeitura Municipal de
Santos, Santos/SP,**Departamento de Biociências, Universidade Federal de São Paulo, Santos/SP

Resumo
Treinamento resistido manual (TRM) é uma forma mais diversos segmentos da Educação Física, fato que
alternativa de treinamento resistido sem equipamentos sugere o encorajamento de mais pesquisas com maior
específicos, em que os exercícios são realizados em du- rigor metodológico. Os estudos analisados permitem
plas, e uma pessoa exerce resistência manual contra a concluir que, em comparação com formas tradicionais
outra. Devido à sua boa relação custo-benefício, alguns de treinamento resistido, o TRM apresentou eficiência
autores sugerem sua aplicação em diferentes segmentos semelhante nas adaptações funcionais e estruturais.
da Educação Física. Sendo assim, o objetivo deste es- Quanto à sua utilização em segmentos relacionados à
tudo foi analisar as publicações relacionadas ao TRM licenciatura em Educação Física, o TRM proporcionou
nos diversos segmentos de atuação dos profissionais de melhora na aptidão física de escolares. Já em segmentos
Educação Física e discutir os resultados com relação à relacionados ao bacharelado, quantidade limitada de
eficiência. Foram realizadas buscas em bases de dados publicações envolvendo treinamento personalizado,
digitais e bibliotecas. A inclusão de referências levou preparação física desportiva e grupos especiais apresen-
em consideração a relação direta com o método obje- taram resultados interessantes relacionados à melhora
to de investigação desta revisão e a sua aplicação em da aptidão muscular.
ambientes/situações de atuação dos profissionais de
Palavras-chave: treinamento físico, musculação,
Educação Física, contemplando licenciatura e bacha- treinamento de força.
relado. Os resultados revelaram limitações quantitativas
e qualitativas das publicações envolvendo TRM nos

Recebido em 19 de novembro de 2014; aceito em 30 de junho de 2015.


Endereço para correspondência: Cauê Vazquez La Scala Teixeira, Praça Engenheiro José Rebouças, S/N Ponta
da Praia 11030-000 Santos SP, E-mail: contato@caueteixeira.com.br
24 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2016 - volume 15 - número 1

Abstract blications about MRT in different segments of Physical


Manual resistance training (MRT) is an alternative Education. It suggests encouraging more researches
form of resistance training without specific devices. The with greater methodological rigor. The analyzed studies
exercises are performed in pairs and manual resistance support the conclusion that the MRT showed similar
is imposed by a second person. Due to the cost-benefit efficiency in functional and structural adaptations than
ratio, some authors suggest to perform it in different traditional forms of resistance training. With respect
segments of Physical Education. Thus, the aim of this to the use of MRT on Physical Education classes, it
study was to analyze publications about MRT in di- has provided improved physical fitness of students.
fferent segments of Physical Education and to discuss In the baccalaureate, limited amount of publications
the results with respect to efficiency. A search in digital involving personal training, sports fitness and special
databases and libraries was carried out. The inclusion of groups showed interesting results related to improving
references was based on the direct relationship with the muscle fitness.
MRT and its application in environments/situations of Key-words: physical training, resistance training,
action of Physical Education professionals. The results strength training.
showed quantitative and qualitative limitations of pu-

Introdução lidade de equipamentos específicos, a dificul-


dade de transporte dos mesmos e o alto custo.
Treinamento resistido (TR) é um método Essa realidade é comum na Educação Física
especializado de condicionamento que envol- (EF), haja vista que em muitos segmentos da
ve o uso progressivo de uma gama de cargas profissão, não há disponibilidade de equipa-
resistivas e uma variedade de modalidades de mentos específicos para aplicação dos exercí-
treinamento designadas para melhorar a saúde cios resistidos. Assim, seria interessante que os
e/ou o desempenho esportivo, com base na profissionais de EF atuantes nesses segmentos
melhora da força muscular em suas diferentes dominassem ferramentas alternativas para apli-
manifestações [1]. cação dos exercícios resistidos em seus alunos/
Atualmente, o treinamento resistido é atletas/clientes, possibilitando a prescrição de
recomendado por diversas organizações de programas de treinamento mais completos e
saúde e medicina esportiva do mundo como eficientes.
parte integrante de quaisquer programas de Segundo Teixeira [5], o treinamento resis-
exercícios físicos para promoção de saúde em tido manual (TRM) se apresenta como uma
crianças [1], adultos [2], idosos [3], saudáveis dessas opções, pois permite a aplicação dos
[2] e/ou com certas patologias [4]. exercícios de musculação, sem que haja depen-
Os ambientes mais populares para aplicação dência de equipamentos. O mesmo autor cita
do treinamento resistido são as academias de o TRM como uma opção viável para utilização
musculação, presentes em grande parte dos nos segmentos de treinamento personalizado
centros e clubes esportivos. Nesses ambientes, (em domicílio e/ou ao ar livre), EF escolar,
equipamentos específicos como pesos livres ginástica laboral, preparação física desportiva e
e aparelhos são utilizados para execução dos treinamento com certos grupos de populações
exercícios, o que torna a musculação um dos especiais.
locais mais eficientes e seguros para treinamen- TRM é um conceito que utiliza uma
to da força muscular. resistência de natureza humana durante os
No entanto, devido à relevância do treina- exercícios resistidos [5]. Segundo Hedrick [6],
mento resistido para a saúde e o desempenho é definido como uma forma de treinamento
esportivo, o mesmo não deve ficar restrito às de força na qual os exercícios são executados
academias de musculação. Nesse aspecto, um contra resistência imposta por outra pessoa, e
grande limitante da aplicação dos exercícios essa última emprega força na direção contrária
resistidos fora das academias é a indisponibi- ao movimento que está sendo realizado pelo
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2016 - volume 15 - número 1 25

executante, de modo manual. Assim, os exer- A inclusão de referências levou em consi-


cícios são realizados em duplas, nas quais um deração a relação direta com o método objeto
exerce tensão contra o outro (figura 1). de investigação desta revisão e a sua aplicação
em ambientes/situações de atuação dos pro-
Figura 1 - Exemplo de exercício de TRM: posição fissionais de Educação Física, excluindo-se os
inicial (A) e final (B) do exercício “crucifixo” rea- estudos que não apresentavam relação direta
lizado com resistência manual. com o treinamento resistido manual ou que
utilizaram o método para fins de reabilita-
ção. Devido à quantidade limitada de artigos
encontrados com relação direta ao método,
foram também incluídos nesta revisão resumos
publicados em congressos internacionais. Os
trabalhos selecionados datam de 1987 a 2015
(figura 2).
Estudos prévios avaliaram os efeitos crôni-
cos dessa intervenção e observaram resultados Figura 2 - Método de busca e inclusão de referências
interessantes relacionados ao aumento da força para a revisão.
muscular [7,8]. Porém, a quantidade de estu- Busca
inicial
dos relacionados à aplicação do TRM nos mais
diversos segmentos da EF é limitada. Scholar
PubMed Scielo Google
Sendo assim, o objetivo do presente estudo
é analisar as publicações científicas relacionadas 33 Nenhuma 163
referências referência referências
à aplicação do TRM em diversos segmentos de encontradas encontrada encontradas
atuação do profissional de EF, discutindo os Nenhuma
Exclusão referência Exclusão de
resultados com relação à eficiência. de repetidos incluída repetidos

Exclusão de não Exclusão de não


relacionados
Métodos com o método
relacionados
com o método

3 artigos 11 artigos e
Foram realizadas buscas nas bases de dados incluídos 5 resumos
incluídos
Pubmed, Scholar Google e Scielo, através
dos termos, entre aspas, “Manual resistance Além da busca digital, utilizaram-se dois
training”, “Manual resistance exercise”, “Trei- livros-texto que fazem menção ao método.
namento resistido manual”.

Tabela I - Tópicos e subtópicos abordados no estudo.


Tópico Subtópico
Treinamento resistido manual vs. treinamento resistido com
pesos livres
Treinamento resistido manual vs. treinamento
Treinamento resistido manual vs. treinamento com peso
resistido tradicional
corporal
Treinamento resistido manual vs. treinamento isocinético
Treinamento resistido manual e sua aplicação
Treinamento resistido manual na Educação Física escolar
para os licenciados em Educação Física
Treinamento resistido manual no treinamento personalizado
Treinamento resistido manual na ginástica laboral
Treinamento resistido manual e sua aplicação
Treinamento resistido manual na preparação física despor-
para os bacharéis em Educação Física
tiva
Treinamento resistido manual em grupos especiais
26 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2016 - volume 15 - número 1

As referências incluídas foram divididas em a força e resistência musculares, sem diferença


tópicos relacionados à área da Educação Física, estatística entre eles.
conforme tabela abaixo: Uma das supostas desvantagens da utiliza-
ção do TRM é a mensuração da intensidade do
Resultados e discussão treinamento. No estudo supramencionado, os
autores procuraram minimizar esse problema,
equiparando a intensidade entre os grupos
Treinamento resistido manual versus através da adoção de zona de repetições má-
treinamento resistido tradicional ximas. Dessa forma, a execução do exercício
é interrompida diante da fadiga voluntária
Os meios tradicionais para aplicação de e a mesma deve ocorrer dentro da zona de
exercícios resistidos incluem pesos livres, apare- repetições estipulada. Esse método parece
lhos de musculação, elásticos e o peso corporal adequado e é recomendado por alguns autores
[1]. No tocante à comparação entre os efeitos [9]. No entanto, os autores assumem que para
agudos e crônicos do TRM e do TR tradicional, um melhor aproveitamento dos estímulos do
foram encontrados sete estudos que fizeram treinamento, faz-se necessária boa experiência
utilização de treinamento com pesos livres e por parte de quem aplica a resistência manual.
peso corporal. Cabe ressaltar previamente que, Outra forma sugerida para controle de
dos sete estudos encontrados, apenas dois [7] intensidade no TRM é a utilização de percep-
foram publicados em forma de artigo, o que ção subjetiva de esforço. Teixeira et al. [10]
limita a análise crítica da metodologia e dos compararam as respostas de lactato e fadiga
resultados. percebida entre protocolos de TRM e TRPL
em adultos saudáveis. Os voluntários foram
Treinamento resistido manual vs. submetidos a sessões únicas de TRM e TRPL,
treinamento resistido com pesos que contemplavam 7 exercícios em ordem
livres alternada por segmento, 3 séries de 10 repeti-
ções com 1 minuto de intervalo entre séries. O
Dorgo et al. [7] compararam os efeitos controle de intensidade se deu por percepção
sobre a força e resistência musculares decor- subjetiva de esforço (0-10), adotando-se zona
rentes do TRM e do treinamento resistido com entre 5 e 7 (relativamente difícil). Em ambas
pesos livres (TRPL). A amostra contou com as sessões de treinamento, níveis de lactato
84 jovens universitários que foram submetidos capilar e fadiga percebida foram coletados antes
a 14 semanas de treinamento, divididos em e imediatamente após. Os resultados revelaram
dois grupos (TRM e TRPL). A intervenção aumento significativo nos níveis de lactato e
foi realizada 3 vezes por semana e cada sessão fadiga após ambas as intervenções, porém o
de treino continha 6 exercícios (2 tri-sets), nos aumento do lactato foi maior após o TRM,
quais eram realizadas de 2 a 4 séries de 8 a 12 sugerindo que o método pode impor maior
repetições máximas, e os exercícios, volume e estresse ao organismo em relação ao TRPL,
intensidade eram o mais semelhante possível quando se equipara a intensidade pela PSE.
para ambos os grupos. No grupo TRM, o Em outro estudo, Vaughn et al. [8] compa-
treinamento era realizado em duplas: um dos ram os ganhos na força máxima dos rotadores
sujeitos fazia resistência contrária ao movi- externos de ombro entre TRM e TRPL em
mento. Para avaliação da força e resistência 10 sujeitos saudáveis sem histórico de lesão
musculares, os autores utilizaram os testes de no ombro. Um único indivíduo serviu como
1 repetição máxima (1RM) e de repetições controle. Após 8 semanas de intervenção, am-
máximas com 70% 1RM nos exercícios de bos os grupos aumentaram a força em iguais
supino e agachamento com pesos livres. A proporções, sem diferença estatística entre os
análise estatística foi adequada e os resultados mesmos. Os autores concluíram que ambos,
revelaram que ambos os grupos aumentaram TRM e TRPL, são meios de TR igualmente
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2016 - volume 15 - número 1 27

eficazes para o fortalecimento dos músculos do citados foram conduzidos pela mesma equipe
manguito rotador e que o TRM pode ser uma de autores, aplicando-se as mesmas limitações
alternativa segura e eficiente. O referido estudo aos dois [11,12].
não traz informações sobre a metodologia de
treinamento, o que limita sua reprodução e Treinamento resistido manual vs.
aplicação prática. Os autores reconhecem as treinamento com peso corporal
limitações e afirmam ser necessários estudos
com amostras maiores e grupo controle. Dombroski e Henderson [13] examinaram
Dorgo et al. [11] analisaram os efeitos os efeitos do TRM e de exercícios que utilizam
sobre a composição corporal decorrentes do o peso corporal como resistência (calistênicos,
TRM e TRPL. 79 indivíduos (45 homens, 34 ex. flexão de braço, flexão em barra fixa) sobre
mulheres) fisicamente ativos foram submetidos desempenho de força muscular em uma amos-
a 14 semanas de treinamento de alto volume tra de 1.100 jovens soldados americanos. O
e moderada intensidade. As sessões de treino protocolo de treinamento durou 12 semanas
eram igualmente compostas entre os grupos, e as sessões eram realizadas em meio às aulas
incluindo entre 6 e 9 exercícios, 2 a 4 séries, 8 de condicionamento físico dos soldados em
a 12 repetições e frequência semanal de 3 vezes. serviço. Os achados do estudo revelaram que
Os resultados revelaram alterações positivas na o TRM foi mais efetivo que os exercícios calis-
composição corporal do grupo TRM feminino tênicos em proporcionar aumento no desem-
em todas as variáveis analisadas (percentual penho dos testes de força de preensão manual
de gordura, massa livre de gordura e massa com dinamômetro, arremesso de Medicine Ball
de gordura). No grupo TRPL feminino foi e flexão de braços em 2 minutos. Por se tratar
observado somente aumento da massa livre de de um estudo que utilizou duas formas de
gordura. Os grupos masculinos não apresen- treinamento que não possibilitam mensuração
taram diferença estatística entre os momentos direta da intensidade, a principal limitação
pré e pós-treinamento. Como conclusão, os do trabalho consiste na falta do detalhamento
autores afirmam que o TRM de curta duração sobre a forma de quantificação da intensidade
(14 semanas) pode ser uma ferramenta de óti- nos grupos, além da não descrição das variáveis
mo custo-benefício para promover benefícios de treinamento (exercícios, séries, repetições,
na composição corporal de mulheres. Já para intervalos, etc.).
homens, os autores sugerem que estudos mais Outro estudo [14] analisou os efeitos de 4
longos devam ser conduzidos. Uma importante tipos de treinamento sobre a potência de mem-
limitação do estudo consistiu na mensuração bros superiores de mulheres jovens. Para tanto,
da intensidade, haja vista que os autores sessenta mulheres foram submetidas a 6 meses de
mencionaram uma zona de repetições, porém, treinamento, divididas nos grupos: treinamento
sem esclarecer se foram repetições máximas. tradicional de força/potência (TFP) (3-8 RM),
A mesma equipe de pesquisadores, em ou- treinamento tradicional de hipertrofia (TH) (8-
tro estudo [12], avaliou a efetividade do TRM 12 RM), treinamento com resistência manual e
e do TRPL sobre a potência aeróbia de 80 in- exercícios calistênicos (TRMC) e treinamento
divíduos (44 homens, 36 mulheres). A amostra aeróbio (TA). Toda a amostra foi submetida às
foi submetida a 14 semanas de treinamento, avaliações de carga máxima dinâmica e potência
com sessões contendo entre 6 e 9 exercícios, 2 de membros superiores no supino (pico de po-
a 4 séries, 8 a 12 repetições, 30 a 60s de inter- tência, potência média e taxa de desenvolvimento
valos, sendo idênticas entre ambos os grupos. de força) nos períodos pré e pós-treinamento.
A avaliação da potência aeróbia (VO 2máx) Ao final do estudo, os pesquisadores observaram
foi obtida através do método de calorimetria melhores resultados no grupo TFP quando em
indireta. Os resultados revelaram aumento no comparação aos demais grupos, porém os resul-
VO2máx somente no grupo TRM feminino. tados observados nos grupos TH e TRMC foram
Os últimos dois estudos anteriormente semelhantes e significativamente maiores que
28 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2016 - volume 15 - número 1

os do grupo TA, indicando que para aumento nados pelo TRM foram pouco menores para
de força e potência de membros superiores, o membros superiores e ligeiramente maiores
TFP é superior (princípio da especificidade), para membros inferiores, quando comparados
porém, TH e TRMC parecem semelhantes para com três estudos que utilizaram treinamento
essas variáveis. Cabe ressaltar que os autores não isocinético com características (amostra, volu-
detalharam as variáveis relacionadas a volume e me e avaliações) semelhantes.
intensidade no grupo TRMC, o que impossibilita Com base no que foi exposto pelo autor
uma análise crítica, bem como a reprodução do acima [7], salientando que esses foram os únicos
estudo. Também não foi informado o nível prévio achados indiretos de comparação entre os efeitos
de condicionamento físico da amostra, o que pode do TRM e do treinamento isocinético sobre a
interferir nos resultados. força muscular, o TRM pareceu ser ligeiramente
menos eficiente em aumentar a força de membros
Treinamento resistido manual vs. superiores, mas ligeiramente mais eficiente em
treinamento isocinético aumentar a força de membros inferiores, ao me-
nos, durante o período de intervenção utilizado
Adamovich e Seidman [15] definem o TRM nos estudos (8 a 20 semanas). Ressalta-se que
como a execução de exercícios com resistência esse tipo de comparação é possível e comum na
manual acomodativa, pois afirmam que a literatura científica, principalmente, através de
resistência manual, principalmente, quando meta-análises, um tipo de estudo que analisa e
empregada em movimentos angulares, assume faz comparações entre estudos prévios com base
característica acomodativa, ou seja, variando de em cálculos estatísticos. No estudo de Dorgo et
acordo com a posição do segmento e a tensão al. [7], nenhum critério estatístico foi utilizado
gerada. para tais comparações, portanto, sendo apenas
Essa característica de resistência variável especulações.
e acomodativa confere, ao exercício, segundo Dessa forma, faz-se necessária a realização
alguns autores [5,15], esforço máximo ou de estudos originais para que conclusões pos-
próximo do máximo durante toda a amplitude sam ser tiradas acerca da efetividade do TRM
de movimento, pois a resistência se adequa às em comparação ao treinamento isocinético.
curvas de força dos músculos envolvidos. De
acordo com os mesmos autores, isso só seria Síntese dos achados
possível com a utilização de equipamentos
caros, como os isocinéticos. Em suma, considerando as limitações dos
Dorgo et al. [7] corroboram a ideia acima, estudos prévios, os resultados demonstraram
afirmando que o TRM incorpora o conceito que o TRM pode proporcionar efeitos crônicos
de resistência acomodativa, assemelhando-se às semelhantes ao TRPL no que diz respeito às
características dos equipamentos isocinéticos diferentes manifestações da força muscular,
e dos aparelhos de musculação com polias composição corporal e potência aeróbia.
excêntricas. Quanto às respostas agudas de lactato, o TRM
Em nossa pesquisa bibliográfica, não foram parece promover elevações mais acentuadas em
encontrados estudos que comparassem efeitos relação ao TRPL em intervenções com inten-
do TRM ao treinamento isocinético ou com sidade controlada por PSE. Esses resultados
quaisquer outras formas de resistência variável. podem ser atribuídos à característica de resis-
Porém, Dorgo et al. [7], na discussão de seu tência acomodativa presente no TRM, que se
trabalho, compararam os resultados do TRM assemelha ao treinamento isocinético, porém
encontrados no mesmo aos encontrados em não foram encontrados estudos comparando
outros estudos prévios que utilizaram inter- TRM e treinamento isocinético. Quando
venções semelhantes, todavia, com a utilização em comparação com exercícios calistênicos,
de equipamentos isocinéticos. Os autores o TRM se mostrou superior para promover
observaram que os ganhos de força proporcio- aumento na força muscular. Quando em as-
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2016 - volume 15 - número 1 29

sociação com os calistênicos, parece promover duração de 3-4 seg. (TRM). O grupo TRTP
efeitos semelhantes à forma tradicional de realizou 3 séries de 4 a 6 repetições até a falha
treinamento de hipertrofia. Salienta-se que a concêntrica. Já o grupo TRM realizou até 12
grande maioria dos estudos não detalhou as repetições, com ênfase na falha excêntrica. Ao
características da amostra quanto ao nível pré- final do período de treinamento, ambos os
vio de condicionamento físico, fator que pode grupos experimentais aumentaram significati-
influenciar diretamente nos resultados. Além vamente os níveis de força em relação ao con-
disso, informações relacionadas às variáveis de trole, sem diferença estatística entre ambos. Os
treinamento também não foram explicitadas autores concluíram que o TRM pode ser eficaz
em grande parte dos estudos analisados. Com em situações nas quais a disponibilidade de pe-
exceção de dois estudos [7,10], os demais não sos para treinamento é limitada, como no caso
mencionaram as estratégias utilizadas para da Educação Física escolar. Como os resultados
controle da intensidade, variável fundamental são dependentes das variáveis manipuladas no
para as adaptações do treinamento. Dessa treinamento, a comparação da eficiência entre
forma, estudos com mais rigor metodológico as ferramentas fica prejudicada, haja vista que
são necessários a fim de possibilitar uma com- volume e intensidade não foram equiparados
paração mais precisa entre os efeitos do TRM nos grupos, tornando o estudo inconclusivo
e treinamento resistido tradicional. sob a nossa perspectiva de análise.
Dorgo et al. [17] conduziram estudo que se
Treinamento resistido manual e sua assemelha mais à realidade da Educação Física
aplicação para os licenciados em escolar brasileira, tendo em vista a escassez de
Educação Física equipamentos específicos para o treinamento
resistido. Com a hipótese de que o TRM possa
A licenciatura em Educação Física habilita promover melhorias mais evidenciadas na ap-
os profissionais a atuarem, exclusivamente, na tidão física de crianças e adolescentes quando
área escolar, contemplando educação infantil, em comparação com as atividades tradicionais
ensino fundamental e médio. Com relação à da Educação Física escolar, os autores verifica-
aplicação do treinamento resistido manual na ram os efeitos da adição do TRM nas aulas de
Educação Física escolar, dois trabalhos foram Educação Física escolar sobre o desempenho de
encontrados envolvendo adolescentes. testes de aptidão física e a composição corporal
de escolares.
Treinamento resistido manual na Uma amostra de 222 estudantes adoles-
Educação Física escolar centes foi dividida em um grupo controle e
dois grupos experimentais. O grupo controle
Yuktasir e Tuncel [16] compararam o efeito continuou praticando as aulas normais de
de dois programas de treinamento resistido Educação Física, enquanto um dos grupos
com duração de 8 semanas sobre a força experimentais fazia o TRM durante as aulas
máxima estática e dinâmica de 47 estudantes (TRM) e o outro grupo, o TRM acrescido de
do sexo masculino (16-17 anos), saudáveis e mais 20-30 minutos de treinamento cardior-
destreinados. Os adolescentes foram dividi- respiratório (TRM+C). O TRM foi executado
dos em três grupos, sendo um controle e dois em duplas de estudantes. Para as avaliações pré
experimentais. Um dos grupos experimentais e pós-intervenção, os pesquisadores utilizaram
realizou treinamento resistido tradicional pro- 6 testes de aptidão física selecionados da ferra-
gressivo (TRTP), no qual se utilizaram cargas menta Fitnessgram, mensuração do Índice de
de 80-85% 1RM, sendo ajustadas a cada duas Massa Corporal (IMC) e de dobras cutâneas
semanas, e o outro grupo realizou o TRM em para análise da composição corporal.
adição ao treinamento tradicional com 60-65% Após 18 semanas de intervenção, os resulta-
1RM, e a resistência manual era acrescentada dos revelaram que ambos os grupos experimen-
ao movimento em sua fase excêntrica, com tais aumentaram o desempenho nos 6 testes
30 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2016 - volume 15 - número 1

de aptidão física analisados e esses aumentos e necessidades dos clientes. Nesse sentido, di-
foram significativamente maiores que os ob- ferentes formas de treinamento são exploradas
servados no grupo controle. Os resultados do na prática, tanto para maximizar os resultados
grupo TRM+C foram superiores ao TRM em relacionados ao treinamento, como para elevar
apenas um dos testes (teste de 1 milha) devido os níveis de motivação para realização dos exer-
à especificidade do teste. Nenhum dos grupos cícios. Recentemente, o Colégio Americano
apresentou alteração na composição corporal. de Medicina do Esporte, através de publica-
Os autores concluíram que o TRM pode ser ção direcionada aos profissionais atuantes no
uma boa prática complementar às atividades segmento de treinamento personalizado [18],
tradicionais da Educação Física escolar, pois sugeriu a utilização do TRM como forma de
promove maiores benefícios à aptidão física dos diversificar o treinamento.
adolescentes e não depende de equipamentos. Apenas dois estudos que analisaram a apli-
cação do TRM no treinamento personalizado
Síntese dos achados foram encontrados, um foi publicado em
forma de artigo, concentrando a análise sobre
Em suma, a inserção do TRM na Educação os profissionais e outro, em forma de resumo
Física escolar pode promover benefícios rela- estendido, comparando os efeitos do TRM e
cionados à aptidão física de adolescentes, em do TRPL em homens treinados.
especial, seguindo o modelo proposto por Dor- Teixeira [19] conduziu pesquisa baseada
go et al. [17], quando os estudantes treinam em em entrevista realizada com profissionais de
duplas, parece viável e eficaz, considerando os EF atuantes no segmento de treinamento per-
resultados apresentados. Como ressaltado pelos sonalizado em diversas cidades do Brasil. O
autores, uma familiarização prévia é necessária autor analisou a quantidade de profissionais
para melhor aproveitamento do treinamento. que aplicavam o TRM durante as suas aulas
de treinamento personalizado, o nível de acei-
Treinamento resistido manual e sua tação dos alunos percebido pelo profissional e
aplicação para os bacharéis em Edu- a percepção subjetiva de esforço do treinador
cação Física após aplicar resistência manual em seus alunos.
Em uma amostra de 108 treinadores (68
O Bacharel em Educação Física está habili- homens, 40 mulheres), o autor identificou
tado a atuar no planejamento e organização de que 46,3% dos profissionais aplicavam TRM
programas de exercícios físicos com objetivos de em seus alunos, ou como método exclusivo,
promoção de saúde e aprimoramento do desem- ou como método complementar, porém a
penho esportivo. Assim, seu campo de atuação utilização do TRM foi menos frequente em
contempla todas as formas de treinamento físico profissionais do sexo feminino com menos de
praticados em ambientes externos à escola. Com 1 ano de atuação no segmento. Com relação à
relação à aplicação do TRM nesses ambientes, fo- aceitação dos alunos sob a ótica do treinador, os
ram encontradas 11 publicações, sendo 8 artigos, entrevistados relataram que o nível de aceitação
1 resumo de congresso e 2 livros, contemplando ficou entre boa e muito boa, totalizando 84%
os segmentos de treinamento personalizado, da amostra que utilizava o TRM. Já quanto à
ginástica laboral, preparação física desportiva e percepção subjetiva de esforço do treinador,
treinamento para grupos especiais. identificada através da escala de Borg após
aplicar resistência manual em seus alunos, o
Treinamento resistido manual no nível médio relatado foi de 11,16 + 2,74, o que
treinamento personalizado corresponde a um esforço “relativamente fácil”.
Em conclusão, o autor afirma que, pela
O treinamento personalizado é caracteri- visão do profissional, o TRM parece ser uma
zado pela individualização do programa de interessante ferramenta alternativa de trabalho
exercícios, no intuito de atender aos objetivos para os treinadores pessoais, principalmente
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2016 - volume 15 - número 1 31

em situações em que não há disponibilidade desde a manutenção postural até os trabalhos


de equipamentos, como em domicílio e/ou ao braçais (especificidade).
ar livre, pois é bem aceito pelos alunos e gera Como, geralmente, no ambiente de tra-
baixo esforço físico no profissional. balho não há equipamentos específicos para
Outro estudo [20] comparou os efeitos do aplicação de exercícios resistidos, o TRM
TRM e TRPL sobre força e resistência muscu- pode se tornar uma alternativa. Porém, até o
lares de 20 homens saudáveis treinados. Para momento, não foram encontrados estudos que
avaliação, os exercícios supino e puxada em relacionem o TRM à ginástica laboral, o que
polia alta foram utilizados, os quais compu- impossibilita conclusões acerca da aceitação e
seram também os programas de treinamento, adesão por parte dos trabalhadores, bem como
que contou com 3 séries de 8 repetições, 1 da eficiência da atividade para esse público e
minuto de intervalo, intensidade 8 em es- ambiente. Para confirmação dessa sugestão,
cala de percepção subjetiva de esforço de 0 estudos são necessários.
a 10. No grupo TRM, a resistência manual
foi aplicada por um treinador personalizado Treinamento resistido manual na
experiente. Após 8 semanas, ambas as inter- preparação física desportiva
venções proporcionaram aumentos percentuais
nas variáveis analisadas, porém sem diferença Na busca por estudos que analisassem os
estatística entre os momentos pré e pós, bem efeitos do TRM na preparação física de atletas,
como entre grupos. Os autores concluíram foram excluídos os artigos relacionados à área
que o TRM apresenta resultados semelhantes da reabilitação.
ao TRPL em homens treinados e que pode ser Vetter e Dorgo [22] analisaram os efei-
uma ferramenta alternativa para manter a força tos do TRM (denominado pelos autores de
e resistência musculares em homens treinados treinamento com resistência improvisada de
submetidos ao treinamento personalizado. Os parceiros) sobre a força muscular, percentual
autores atribuem a não diferença significativa de gordura e perímetros corporais de dança-
entre pré e pós ao curto período de interven- rinas. Participaram do estudo, 18 dançarinas
ção, considerando que a amostra foi composta que foram divididas em dois grupos: TRM (n
por indivíduos treinados e a análise estatística = 10) e controle (n = 8). A justificativa dos
empregada foi adequada. autores para utilizar o TRM foi a carência de
equipamentos específicos para o treinamento
Treinamento resistido manual na resistido no local de treinamento das atletas. O
ginástica laboral programa de treinamento contou com sessões
de 1 hora de duração, três vezes por semana,
Teixeira [5] sugere a aplicação do TRM durante 8 semanas. As avaliações foram reali-
em segmentos da Educação Física nos quais zadas nos momentos pré e pós-intervenção. A
o profissional não dispõe de equipamentos. força muscular foi avaliada através do teste de
Um dos segmentos sugeridos pelo autor é a 1RM em sete exercícios e a composição cor-
ginástica laboral, que é a intervenção baseada poral foi analisada através de pesagem hidros-
em exercícios físicos realizados no ambiente tática. Ao final do experimento, observou-se
de trabalho. no grupo experimental aumento de força em
A aplicação do TRM nesse segmento da todos os exercícios, com diferença estatística
Educação Física parece ir ao encontro de uma em cinco sobre o grupo controle. Com relação
necessidade apresentada por Coury et al. [21], à perimetria, somente o grupo TRM mostrou
que afirmam que a aplicação de exercícios diminuição das medidas de cintura e quadril.
resistidos no ambiente de trabalho é essencial Não foram observadas alterações no percentual
para a saúde do trabalhador e a prevenção de de gordura corporal em ambos os grupos. Os
algumas doenças, haja vista que as atividades autores concluíram que o programa de TRM
laborais, em geral, demandam níveis de força, foi efetivo para aumentar a força e diminuir os
32 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2016 - volume 15 - número 1

perímetros de quadril e cintura em dançarinas. Hedrick [23,24] corrobora a ideia, relatan-


No entanto, o principal viés do trabalho foi a do a utilização do TRM na preparação física
ausência de avaliação de desempenho especí- de atletas da equipe olímpica americana de
fico da modalidade. É coerente pensar que o luta Greco-Romana [23] e de um medalhista
aumento no nível de força possa proporcionar olímpico na modalidade [24]. Apesar de ambos
melhora no desempenho da modalidade, no os trabalhos não se tratarem de investigações
entanto, a associação de causa e efeito carece originais (relatos de experiência), o autor con-
de confirmação através de testes específicos. clui que o modelo de treinamento adotado foi
Hedrick [6] relata sua experiência na apli- eficiente haja vista que os atletas melhoraram
cação do TRM em atletas de futebol americano posições em seus respectivos rankings durante
da Academia da Força Aérea Americana. O au- a temporada analisada. Todavia, diferentes
tor cita que, devido às exigências relacionadas variáveis podem influenciar direta ou indi-
à força e potência observadas no futebol ame- retamente no desempenho esportivo, tanto
ricano, exercícios resistidos dos mais variados associadas à melhora do próprio atleta como
tipos se fazem presentes durante a temporada à piora de seus adversários. Portanto, não é
de treinamento desses atletas e a variação dos possível estabelecer uma relação direta entre o
meios e métodos é necessária para promover método de treinamento adotado e a melhora
estímulos fisiológicos e motivacionais variados. na posição do ranking.
Nessa abordagem, o autor cita que o TRM O mesmo autor sugere ainda a utilização
geralmente é aplicado nas fases “fora de com- do TRM como parte dos programas de treina-
petição” (off season), sendo essa uma prática mento para atletas de hockey no gelo [25], além
comum na maioria das equipes de futebol de atletas de outras modalidades que desejam
americano e rugby. Porém, apesar de parecer melhorar sua forma física geral [26], porém,
uma prática comum, não foram encontrados sem citar investigações originais que suportem
estudos originais que investigassem os efeitos as afirmações.
do TRM nesses atletas, concluindo que sua
aplicação, até então, é empírica. Treinamento resistido manual em
Teixeira [5] cita que o TRM também grupos especiais
parece ser interessante para atletas de mo-
dalidades de luta, principalmente, naquelas No que concerne a grupos especiais, um
em que há luta “agarrada”. O autor justifica único estudo foi encontrado analisando os
sua afirmação com base no princípio da es- efeitos do TRM em idosos, excluindo-se o
pecificidade, pois, a resistência encontrada âmbito da reabilitação. Tokumaru et al. [27]
por esses atletas durante as lutas é de origem investigaram os efeitos do TRM sobre a força
manual (adversário), portanto, a única forma muscular de membros inferiores de idosos
de reproduzi-la nos treinamentos seria através moradores de uma casa de repouso no Japão.
da utilização do TRM. Ainda com relação à No referido estudo, 53 idosos (maiores
justificativa para aplicação do TRM, o mesmo de 65 anos) foram divididos em dois grupos:
autor afirma que os equipamentos tradicionais experimental e controle. O grupo experimen-
para o treinamento resistido são inanimados e tal recebeu intervenção de 24 semanas, com
possibilitam o controle voluntário do movi- frequência semanal de uma vez nas primeiras
mento, sem grandes perturbações. Já, quando 12 semanas e duas vezes nas semanas restantes
se utiliza resistência manual, as perturbações ao e intensidade dos estímulos entre 13 e 15 na
movimento podem se fazer presentes e isso as- escala de Borg. Os resultados demonstraram
semelharia o exercício à situação de luta. Cabe aumento de força isométrica de extensores
também citar que essa é uma hipótese baseada do joelho no grupo TRM de 13,2% após 12
na teoria do treinamento desportivo (princípio semanas e de 29% após 24 semanas. No grupo
da especificidade), carecendo de confirmações controle, a força diminuiu em 6,3% após 24
através de investigações originais. semanas.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2016 - volume 15 - número 1 33

A mensuração da intensidade no estudo respectivos autores, baseados em vasta experi-


citado acima se deu através da percepção sub- ência prática, investigações originais se fazem
jetiva de esforço (PSE), uma forma alternativa necessárias para assegurar a eficácia da aplica-
para quantificação de cargas quando não se ção do TRM sobre o desempenho específico
podem mensurar diretamente as mesmas. de atletas de diferentes modalidades.
Nakamura et al. [28] consideram adequada a Com relação à aplicação do TRM em
utilização da PSE para quantificação de carga grupos especiais, um único estudo investigou
interna de treinamento, ressaltando a neces- os efeitos da aplicação dos exercícios sobre a
sidade de mais estudos. Cabe ressaltar que força isométrica de extensores de joelhos de
recente estudo encontrou diferentes respostas idosos, apresentando aumento significativo
de lactato sanguíneo após intervenções agudas nessa variável. Faz-se necessária a realização
de TRM e TRPL com intensidade controlada de pesquisas envolvendo diferentes populações
por PSE [10]. especiais, como hipertensos, diabéticos, obesos,
Os autores [27] concluíram que o TRM entre outros.
proporcionou aumentos de força similares
aos encontrados em estudos prévios que se Conclusão
utilizaram de outras formas tradicionais de TR,
portanto se apresenta como uma ferramenta Com base nas publicações analisadas,
interessante para utilização nesse público, conclui-se que:
principalmente em ambientes nos quais não a maioria das publicações acerca do tema
se dispõe de materiais específicos. estão em formato de resumo, impossibilitando
análises mais específicas; publicações em for-
Síntese dos achados mato de artigo devem ser incentivadas, devido
à maior quantidade de informações expressas e
Com base no exposto, apesar da quantidade maior rigor metodológico exigido;
limitada de investigações envolvendo o TRM TRM vs. TR tradicional: TRM pode
no bacharelado em Educação Física, o TRM proporcionar efeitos crônicos semelhantes ao
parece ser uma ferramenta alternativa viável TRPL sobre força muscular, composição cor-
para o treinamento personalizado, sendo ne- poral e potência aeróbia. Quanto às respostas
cessárias mais investigações envolvendo perfis agudas de lactato, o TRM parece promover
distintos de clientes e mais variáveis funcionais, elevações mais acentuadas em relação ao TRPL
morfológicas e fisiológicas. em intervenções com intensidade controlada
Na ginástica laboral, considerando a impor- por PSE. Apesar de alguns autores sugerirem
tância dos exercícios resistidos para promover que o TRM apresenta resistência acomodativa
a saúde do trabalhador e a ausência de equipa- semelhante às apresentadas pelos equipamentos
mentos específicos para aplicação de exercícios, isocinéticos, não foram encontrados estudos
o TRM pode se tornar uma alternativa. Porém, comparando TRM e treinamento isocinético.
não foram encontrados estudos envolvendo a Quando em comparação com exercícios ca-
temática, o que impossibilita conclusões acerca listênicos, o TRM se mostrou superior para
da aceitação e adesão por parte dos trabalhado- promover aumento na força muscular. Quando
res, bem como da eficiência da atividade para em associação com os calistênicos, parece pro-
esse público e ambiente. mover efeitos semelhantes à forma tradicional
Na preparação física desportiva, somente de treinamento de hipertrofia. Salienta-se que
um trabalho envolvendo dançarinas mostrou a grande maioria dos estudos não detalhou
eficiência do TRM em aumentar a força da as características da amostra quanto ao nível
amostra, mesmo assim, sem investigar a me- prévio de condicionamento físico, além de
lhora no desempenho específico da modalida- não detalhar informações sobre variáveis de
de. Quanto às demais publicações analisadas, treinamento e controle de intensidade;
apesar dos argumentos apresentados pelos TRM para os licenciados em Educação
34 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2016 - volume 15 - número 1

Física: a inserção do TRM em duplas na Edu- 5. Teixeira CVLS. Treinamento resistido manual:
cação Física escolar pode promover benefícios a musculação sem equipamentos. São Paulo:
relacionados à aptidão física de adolescentes; Phorte; 2011.
TRM para os bacharéis em Educação Física: 6. Hedrick A. Manual resistance training for
football athletes at the U.S. Air Force Academy.
o TRM parece ser uma ferramenta alternativa
Strength Cond J 1999;21(1):6-10.
viável para o treinamento personalizado, sen- 7. Dorgo S, King GA, Rice CA. The effects of
do necessárias mais investigações envolvendo manual resistance training on improving mus-
perfis distintos de clientes e mais variáveis cular strength and endurance. J Strength Cond
funcionais, morfológicas e fisiológicas. Na Res 2009;23(1):293-303.
ginástica laboral, não foram encontrados 8. Vaughn RL, Sonntag CJ, Van Duser BL.
estudos envolvendo a temática, o que im- Comparison of strength gains in shoulder ex-
possibilita conclusões acerca da aceitação e ternal rotation between manual resistance and
adesão por parte dos trabalhadores, bem como traditional free weight training programs. Res
Q Exerc Sport 2003;74:suppl.
da eficiência da atividade para esse público e
9. Kraemer WJ, Fleck SJ. Optimizing strength
ambiente. Na preparação física desportiva,
training: designing nonlinear periodization
somente um trabalho envolvendo dançarinas workouts. Champaign: Human Kinetics; 2007.
mostrou eficiência do TRM em aumentar a 10. Teixeira CVLS, Ferreira SE, Gomes RJ. The
força da amostra, mesmo assim, sem investigar influence of subjective intensity control on per-
a melhora no desempenho específico da moda- ceived fatigue and capillary lactate in two types
lidade. Com relação à aplicação do TRM em of resistance training. Rev Bras Cineantropom
grupos especiais, um único estudo investigou Desempenho Hum 2015;17(3):309-317.
os efeitos da aplicação dos exercícios sobre a 11. Dorgo S, King GA, Rice CA. The effectiveness of
força isométrica de extensores de joelhos de a manual resistance vs. a weight resistance training
program on body composition. NCSA 2006 Confer-
idosos, apresentando aumento significativo
ence Abstracts. J Strength Cond Res 2006;20(4):e26.
nessa variável. 12. King GA, Dorgo S, Rice CA. The effectiveness
of a manual resistance vs. a weight resistance
Referências training program on aerobic power. NCSA
2006 Conference Abstracts. J Strength Cond
1. National Strength and Conditioning Associa- Res 2006;20(4):e27.
tion (NSCA). Youth resistance training: update 13. Dombroski RT, Henderson JM. Partner Resis-
position statement paper from the National tance Exercises versus Calisthenics for Upper
Strength and Conditioning Association. J Body Strength Improvement. Third annual
Strength Cond Res 2009;23(s5):560-79. meeting of American Medical Society of Sports
2. American College of Sports Medicine (ACSM). Medicine. Ranch Mirage, CA; 1994.
Quantity and quality of exercise for developing 14. Mazzetti SA, Kraemer WJ, Volek JS, Nindl BC,
and maintaining cardiorespiratory, muscu- Gotshalk LA, Gómez AL. The effects of differ-
loskeletal, and neuromotor fitness in appar- ent training programs on upper body power in
ently healthy adults: guidance for prescribing women. Med Sci Sports Exerc 2000;32(5):s665.
exercise. Position stand. Med Sci Sports Exerc 15. Adamovich DR, Seidman SR. Strength training
2011;43(7):1334-59. using MARES (manual accommodating resis-
3. Nóbrega ACL, Freitas EV, Oliveira MAB, tance exercises). NCSA Journal 1987;9(3):57-9.
Leitão MB, Lazzoli JK, Nahas RM, et al. Po- 16. Yuktasir B, Tuncel F. Comparison of weight
sicionamento oficial da Sociedade Brasileira t r a i n i n g m e t h o d s . Ne w St u d At h l e t i c s
de Medicina do Esporte e da Sociedade Bra- 1998;13(1):41-6.
sileira de Geriatria e Gerontologia: atividade 17. Dorgo S, King GA Candelaria NG, Bader JO,
física e saúde no idoso. Rev Bras Med Esporte Brickei GD, Adams CE. Effects of manual
1999;5(6):207-11. resistance training on fitness in adolescents. J
4. American College of Sports Medicine (ACSM). Strength Cond Res 2009;23(8):2287-94.
ACSM’s guidelines for exercise testing and 18. American College of Sports Medicine. ACSM’s
prescription. 7th ed. New York: Lippincott resources for the personal trainer. 4th ed. Phila-
Williams & Wilkins; 2006. delphia: Lippincott Williams & Wilkins; 2014.
Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - ano 2016 - volume 15 - número 1 35

19. Teixeira CVLS. Treinamento resistido manual: 24. Hedrick A. Olympic quest-training for an
aplicação e aceitação no treinamento perso- Olympic medal in Greco-Roman wrestling.
nalizado. Revista Brasileira de Fisiologia do Strength Cond J 1997;19(4):28-38.
Exercício 2013;12(2):94-9. 25. Hedrick A. Training for high-performance
20. Chulvi-Medrado I, Rial T, Masiá-Tortosa L, collegiate ice hockey. Strength  Cond J
Cortell-Tormo JM. Manual resistance, can be 2002;24(2):42-52.
effective tool for personal trainers? NSCA IV 26. Hedrick A. Manipulating strength and con-
International Conference 2014;9(25):s114. ditioning programs to improve athleticism.
21. Coury HJCG, Moreira RFC, Dias NB. Efeti- Strength Cond J 2002;24(4):71-7.
vidade do exercício físico em ambiente ocupa- 27. Tokumaru K, Taniguchi C, Morikawa S, Yama-
cional para controle da dor cervical, lombar e saki Y, Shimada T. The effects of manual resis-
do ombro: uma revisão sistemática. Rev Bras tance training on improving muscle strength
Fisioter 2009;13(6):461-79. of the lower extremities of the Communit
22. Vetter RE, Dorgo S. Effects of partner’s Dwelling Elderly – a clinical intervention
improvisational resistance training on danc- study with a control group. J Phys Ther Sci
ers’ muscular strength. J Strength Cond Res 2011;23(2):237-42.
2009;23(3):718-28. 28. nakamura fy, moreira a, aoki ms. Monito-
23. Hedrick A. Training Greco-Roman wrestlers ramento da carga de treinamento: a percepção
at the U.S. Olympic Training Center. Streng- subjetiva do esforço da sessão é um método
th Cond J 1996;18(5):54-61. confiável? Revista da Educação Física (UEM)
2010;21(1):1-11.

Você também pode gostar