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lua! Os doi, neatimeis do hone: “Tass ci tat | Auge npn + Bett Spine Rio de jontine | Via, Uuide. aout ia, como ele aguardou o esperado! Uinha a garantia de Deus. E & também o rotétipo do homem 2 A l Como aquele que, embora seja 0 sonhador, precisa ver seus S0- IG 1 MV RINA-COPIAS far das condies contrtias, porque ele era um homem dec rite mostra essa condiZo propria dos homens: fecunder Seu sucifcio ¢ paradigmético porque é 0 exemplogrtante 3 No inicio da profissdo, o terapeuta frequentemente sente- ‘do pergunta: “Mas, Senhor, qual ¢0 sentido disso? Por que essa se pressionado diante de questdes que Ihe sao ditigidas referen- tesdeficdcia da terapia, Essas questes surgem em conversas co- tidianas e muitas vezes sao postas elo paciente que o procura, muito demorado, NNesie momento, se ele trabalhar com um referenclal da Psicologia comportamental, por exemplo, ele encontrarf mais facllmente respostas, Mas, se ele ester no referncial ce Da- data: ROBINS =e. | matieseieos REZ KGBNeABeS Em) icslosla Il Nelccceer ‘80 se avalia? Quas sdo os seus crtérios? Hi alguma medits objetiva que possa avaliar se a terapia produzin amudanga, seela correspondeu a demanda inicial? 123 ‘ compreensivel que surjam esis questoes PO's elas fare sentido em nossa Epoca. Todos nés estamos imersos no Re indo xe encalxa nos parimetros que vigoram fm que as palavras de ordem sfo obetvidade, Press controle. Como é que se tem o “controle de qualidade” da terepia? Qual ¢ o “produto” due ela oferece? Diante dessas questies todas, é importante que pensemos tam pouco a respeito do que é isso que estamos chamando de mundo da técnica. + portneo, porém, ‘ndo é simplesmente isso, ela nfo € um reer fever mano. Hla nfo & também apenas una dimensto entre tantas outras que compem 0 10880 mundo. de partida o pensamento heldeggeria- nica 60 que a toda hora e se impdem rapidamente. Nossa época tornow-s6 & época na qual néo hé mais luger para mistérios, para nenhuma dimenséo Teoberta, para nada que recue diante do poder da ra- zo e da vontade. Se nfo se conhece ou no se: sabe algo, és6 uma questio de tempo; é porque ainda falta pesquisar mais, aprimo- tar os cflcuilos, pois tudo é uma questio de cdleulo, eas conquis- rar clendfcas etio af e provam o poder do homem para produ vir conhecimento iti ao progreso, para produair mats téenicas vids securss para que tudo funcione melhor, para trazer faci 124 side, felicidad; para controlar as varidveis terferir no desenrolar-se das jes, dos Thora para que funcione, pois @ homem est con- ‘do funcionamento, a olhar para a natureza como ft matéria-prima a set tranformada para produzir todas 28 for i para manter © mundo funcionando; & fundo de reserva a ser explorado, transformado, arm: usado e, mais recente- mente, reciclado. Nao 86a ‘natureza, mas todo 0. real é visto como: tate qe subsist par ser exporado, Mesmo o homer, af dle estd incluido como 0 ‘material humano, também como fundo de reserva a ser convocado pélas exigéncias da técnica. ‘Em outros tempos, na Grécia dos fildsofos, a palavra téc- nica significava outra cose. Techne designava oc de um processo de produgio e inclufa também as artes. O importan- te da técnica nio era o fato de empregar meios, mas o fato de que, ao produzir alguma coisa, essa alguma coisa, que até aquele momento néo existia como realidade, estava no encobrimento, assava a ser real, era trazida & luz; alguma coisa que ainda néo era passava a ser. Isso era produzir (poiesis) e produzir implica- va a presenga de uma techne. Ao mesmo tempo, também faia arte daquele mundo a compreensio de que havia coisas que nio eram produzfveis, Em nossa époce, porém, tudo, em principio, é produztvel. Hoje tudo o que faz parte da realidade é visto ou como producéo ou como matéria-prima para a produgio, tudo se enquadra nesse esquema, e o que nio se enquadra nao ¢ dig- no de ser pensado, Nao ha espaco para o que nio se encaixa no pensamento calculador. Néo hé espaco para o mistério, para o sagrado; tudo, em principio, esté ao alcance da razio e da vonta- de. O pensavel reduziu-se ao imediato, encolhéu-se o horizonte. Nao cabem mais aquelas perguntas que jé fizeram parte das pre- ‘ocupagées filoséficas no decorrer da histéria da filosofia: Que é ser? Que €0 ente? © progresso cientifico tem permitido cada vez mais um aumento do controle em todos os ambitos, e a yontade de que tudo possa ser controlado s6 aumenta. Para controlar uma si- tuagdo é preciso ter sobre ela um conhecimento até onde for possivel objetivo, estabelecer com preciséo exatamente as metas a serem atingidas, . Técnica, entdo, atualmente, ndo é simplesmente sinénimo de procedimento, Um procedimento pode ter caracterfsticas pessoais, pode ser um jeito préprio de alguém realizar alguma coisa. Mas a técnica é impessoal, ela é autdnoma com relacéo . Uma técnica deve poder ser usada por néo importa quem, contanto que seja bem aprendida, B o que ela produztam- bém deve servir para qualquer pessoa que pertenca ao piblico a0 qual seu produto é destinado, O importante é que‘haja um ob- jetivo bem definido, a especificacao dos meios, dos instrumentos 126 pelos quais o objetivo seré atingido, Bla deve chegar ao\fesultado previsto com exatidéo, seguranca e rapidez. Deve poder ser ava- liada por meios previamente definidos com objetividade e, por {sso, é importante a padronizacéo em seu processo, Uma técnica é avaliada como itil quando é eficiente em vista do que se propde atingir e quando o faz sem ou com o minimo de efeitos colate- tals, o que pode ser evidenciado por meio de pesquisas e com 0 emprego da estatistica. que o mundo da técnica produz, seja o que for, um au- tomével ou um preceito para que sejamos mais felizes, é sem- pre um produto disponfvel no mercado, Eas diversas técnicas, elas mesma, também sio produtos a serem vendidos, elas so transferiveis, Pelo fato de ser tdo eficiente na obtencio de resultados, a ‘técnica representa um poderoso instrumento de controle das mais diversas situasdes, e ter 0 controle é tr 0 poder. Ein todos 08 stores do mundo atul a técnica etd presente nig 6 mas ossivel imaginar 0 mundo sem ela, A histéria do mundo caminhou nessa dtregio sem volta, e tudo isso que compée esse estado de coisas a que chamamos ‘técnica jé se estruturou de tal modo que agora funciona de uma ‘maneira autnoma: a propria técnica gera mais técnica. Sua grandiosidade se espalha e se mostra por todos os lados,;¢ ela se ‘impSe como aquilo que dé a cara do mundo contemporaneo. Diante desse panorama que compe a época em que vi- vemos, é compreenstvel que 0 processo de terapia também seja visto ¢ avaliado dentro dessa mesma perspectiva, pelos mesmos pardmetros: precisio de objetivos, eficacia, rapidez, apresentacio de resultados. Terapia funciona? Fazendo terapia, ganha-se um controle maior de si mesmo e das situagdes da vida? E, entio, aquelas questées que sio postas a respeito de'sua eficécla tm sentido, As necessidades de controle, de dominio, por exemplo, 127 aque estio presentes em todos os setores no mundo da téenics, aparecem também nas palavres daquele que procure a terapla TH& aqueles que chegam ¢ reclamam das pessoas com as aquais convivem, cOnjuges,filhos, pais, chefes, subordinados, ou seja,o problema estd nas relagbes em que esto em jogo questOes de poder, de definir quem manda, ¢ af surge, ainda que velada- mente, um desejo de exercer melhor o poder por meio do con- trole das situacdes. BhAos que reclamam de si mesmos e buscam o autodom{- nnjo, Alguns precisam dominar 0 corpo.’ necessidade de con- trolar 0 corpo aparece em exemplos como estes: “Nao gosto da apartncla do meu corpo, quero set magro, preciso aprender ¢ dominar a minha vontade de comer, me ensine um jeito, pois dizem que tem gente que come por ansiedade, me livre da an- siedade, Ou voot me aconselha uma cirurgia de estomego? Ha técnicas novas para isso; 0 que voct acha?” O desejo de dominio pode ser relative a certos estados do corpo: “Zranspiro exces- sivamente, isso deve ser emocional, porque acontece quando ‘estou nervoso numa situagio, eu quero saber como se faz para controlar essa coisa tio chata” Outro ainda chega ¢ diz: “Meu problema é que eu tenho ejaculagio precoce preciso controlar {sso logo, porque est sendo um complicador no meu relacio- namento” HA aquela mulher que quer poder dominar as dores aque sente:"“Meu corpo todo déi, e meu médico disse que & psi- cossomitico; ele falou para eu procurar um psicblogo, entdo eu espero que, vindo aqui, voc# consiga fazer com que eu pare de sentir essas dores” Outros dizem que precisam dominar as emoc6es, as fanta- sias, os momentos de angistia, de ansiedade. Nao querem sentir raiva, tristeza, inveja, pois nesses momentos eles se sentem mal, ce preciso cultivar as emogées “positivas’. Alguns vém em bus- ca de um jelto de modificar seus comportamentos agressivos, sua impulsividade, esse tipo de coisa que os atrapalha na vida social ¢ no trabalho, Outros querem afastar a falta de animo, 128 {sso diminul muito a produtividade. Hé os que buscam adquirir ‘ais calma, pois estio explodindo em casa eno escritério, o que no é bom, isso esté funcionando como um autob m sta carreira. Aguele outro precisa aprender no ficar téo absor- ‘vido por preocupacdes. Outros ainda precisam urgentemente controlar a compulsio: pela comida, pelo sexo, pelo trabalho. hi a busca aflitiva daqueles que precisam conseguir dominar erminado TOC. le opressio, Mas é ainda mais softido quando o que exis- te é um sentimento de estranheza: “Eu nao consigo entender © que esté acontecendo comigo, nao estou me reconhecendo, do sei o que ett quero. Estou ficando diferente de todo mundo, ite, estou agressivo & toa, outra hora baixa um: incontrolével” Ele sente que {sso que estd se passando com nfo sabe 0 que é Sofre como alguém que foi dominado por algo. Ele precisa se livrar disso, precisa poder dominar esses sentimentos estranhos. chegar expressa seu desejo de que o terapeuta seja capaz de livré- 4a de alguma coisa que estéatrapalhando e precisa ser extirpada de sua vida... e depressal Ali existe certamente uma questio hu- ‘mana em jogo, cujo sentido mais amplo fica perdido na maneira come 0 mundo da técnica costuma se aproximar do humano. O modelo de técnica faz-se notar na psiquiatria, na psico- logia. Ai estdo presentes a necessidade do diagnéstico para ser definido com preciséo o que se pretende atingir, a escolha do tipo de intervencio, a estimativa da eficiéncia do tratamento, a minimizagao de efeitos colaterais, Espera-se que o profssional esponsével pelo emprego dessa técnica tenha seguranca de que © resultado esperado seja atingido, Na clinica, de modo geral, ‘quem procura o tratamento vai em bused do médico ou do te- rapeuta como alguém que poderd liberté-lo de um mal, pols, afinal, esse profissional deve ter uma técnica eficaz para domi. ‘ar ou controlar aquilo que o faz sofrer, ¢ o profissional tende a correspondera essa ideia Ele procura detectar qual é 0 mal, qual € a doenga, qual ¢ o distizbio. Ambos concordam que é preciso dominar esse mal, No entanto, no caso de a terapia procurada ter por base a Daseinsanalyse, como se situa o terapeuta? Obviamente, esse te- rapeuta compartilha o mesmo mundo da técnica, éaf que ele vive seu cotidiano, sua rotina dria, usufruindo das comodidades que a técnica prove. Entretanto, tendo se aproximado das experién- cias de mundo e de ser humano préprias da Daseinsanalyse, le insiste em pensar que o mundo, como horizonte a partir do qual todos os entes podem ser, inclusive a técnica, sempre recua para ‘mais longe, ganha uma distancia, néo esté contido no ambito da técnica; ele insiste em pensar gue o ser humano, em sua condi- ‘Go de ser o Dasein, o ser-at, aquele para quem todos os entes se manifestam, tem uma destinagio existencial que o distingue de todos os outros entes, ou sea, ele & chamado a sero poder-ser que 130 cle. E esse poder-ser nfo se limita a corresponder as solicitagées feitas pela técnica, mas se abre para muito além disso. Ao receber o paciente, o terapeuta compreende as razdes pelas quais ele foi procurado, mas deve saber que ali esté s6 0 ‘Com que a chamna do esforgo se femora, B ontra vez.conquistemos a Distancia — Do mer ou outra, mas que seja nossa" INSANALYSE E CLINICA [No campo da psicologia, o que é entendido como clinica é principalmente a psicotrapi, ou sj 0 trabalho clinico no con- fultério, Mas esse trabalho clinico pode ter como base concep goes prcologicas diferentes, das quaisresultardo diversas formas de psicoterapia. Assim, torna-se diffe dizer com precisio o que a clinica. No s6 variam aqui as teotias psicol6gicas, mas 0 pr6~ prio conceto de palcologia nem sempre fica muito claro, Por isso, {quero me deter aqui na compreensio dessa palavra psicologia "Af encontramos, etimologicamente, logos e psique. Pense- ‘mos um pouco na histéria desses dois termos Podemos ver no livro de Heidegger, Herdclito, que a pala- ‘ra logos jé aparece no século 6 2.C, com Heréclit, Esse filbsofo ddizia em seu framento de nimero 50: “Auscultando nao a mim, sas a0 logos, 6 sibio dizer que tudo € um! Se pensarmos o “um” tomo 0 que unifca ou reine, compreenderemos o sentido de 6 FESSOA Fesando, Oba pola lo dani: Companhia Jot Agu Jar Baitora, 1969, p.83- 40 7 Herkclta Fragmento 50, em: Pensadores Orginrios Petropolis: Votes, 1988 aa

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