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O QUARTO DE JACK

A trama “O quarto de Jack” gira em torno de Joy, vinte e quatro anos e


Jack, seu filho de cinco anos. Joy, foi sequestrada aos dezessete anos e há sete
é refém de um homem a quem deu o nome de “velho Nick”, um psicopata para
quem serve de escrava sexual.
O “velho Nick” os mantém isolados em cativeiro dentro de um quarto de
dez metros quadrados, sem janelas, à prova de som e com trava elétrica cujo a
chave é uma senha. O velho Nick e uma claraboia por onde eles olham o céu,
são as únicas visões que possuem do mundo exterior.
Apesar de todo terror daquele cativeiro, Joy faz tudo que é possível para
tornar a vida ali agradável ao seu filho. Desde colocá-lo para dormir dentro de
um armário, evitando assim que a veja sendo abusada sexualmente pelo “velho
Nick”, até criar um universo paralelo, dizendo que atrás da parede está o espaço
sideral, que somente aquilo que há dentro do quarto, o velho Nick e eles dois
são reais.
Joy ainda o amamenta em seu seio, o educa pacientemente, afirmando
sempre que tudo que eles podem ver através da televisão, são irreais! Cria um
mundo de fantasias, menos sofrido, para que a vida seja mais suportável para
seu filho, embora seja a cada dia mais desesperadora para ela. Tão
insuportavelmente desesperadora que quando Jack completa cinco anos, decide
contar a ele que existe sim um mundo enorme, lindo, cheio de muitas coisas e
pessoas atrás daquela parede. Conta que tudo, absolutamente tudo tem dois
lados, o que o deixa confuso, assustado e com medo de toda aquela
grandiosidade que sua Mã (como ele a chama), o está apresentado.
Joy convence o filho que inventou aquelas histórias sobre o mundo
exterior por que ele era muito pequeno, inocente, mas, que já tinha cinco anos e
era suficientemente inteligente para entender o que havia atrás da parede, e
assim, ajuda-los a fugir dali. Ela explica todas as artimanhas que o “velho Nick”
fez para enganá-la e sequestrá-la, que ele tem um vovô e uma vovó, em uma
casa com rede na varanda.
Este é um momento em que ela precisa ser forte, um pouco rude, para
que o pequeno tenha noção da gravidade da situação e tenha certeza que
somente com a ajuda dele poderão ter uma chance de liberdade. Mas, teme
muito qual será a reação do filho diante da imensidão que o espera. Mesmo
frente a tantas informações e as vezes até aspereza, é importante observar a
paciência e amor que ela teve dando ao pequeno filho, tempo para refletir sobre
tudo e também a calma que expressava ao contar a ele que tinha um plano de
fuga.
Ela elabora o plano, aquece o rosto do filho com água bem quente, e o
ensina a fingir que está muito doente para que o “velho Nick” o leve ao hospital,
chegando lá, ele entregaria a alguém um bilhete contando sobre o sequestro
para que fossem libertados. Porém, o plano é frustrado quando o “velho Nick” se
recusa a socorrer o menino, dizendo que trará remédios! Então, Joy elabora
outro plano: ensinar o filho a fingir que está morto, para que quando o “velho
Nick” seja obrigado a levar seu corpo na caçamba do seu carro, ele consiga fugir
para pedir ajuda. E assim acontece.
Porém, o menino realmente fica atordoado com a enormidade que
visualiza e é flagrado pelo maldoso Nick pulando do carro, o que causa uma
tremenda confusão entre um rapaz que está passeando com seu cachorro e
eles, o que faz o sequestrador abandonar o menino jogado na calçada.
A polícia é chamada, uma adorável policial conversa com o pequeno Jack
pacientemente, até conseguir informações suficientes para encontrar o cativeiro
onde está sua Mã e libertá-la.
Porém, Joy não encontra fora do cativeiro o mundo como era quando foi
sequestrada, seus pais haviam se separado e ela estava experimentando uma
realidade a qual não estava mais acostumada: conviver com outras pessoas.
Pois durante sete anos, havia apenas seu filho como companhia diária.
Deprimida, estava ríspida e vulnerável. E mesmo diante de uma depressão
profunda, teve que lidar com o fato de o seu pai, não olhar o neto nos olhos,
afinal de contas ele era fruto da dor e do sofrimento dela e deles, os pais, fruto
de incontáveis estupros.
Joy havia criado um universo paralelo não só para seu filho, mas também
para ela, ela ignorava o fato dele ser fruto desses abusos. Não contabilizava o
que tinha entre o “velho Nick” e ela como um “relacionamento” e se colocava
como a única responsável pelo nascimento de Jack, desconsiderando tudo que
pudesse causar dor a ela com a concepção dele. E a liberdade que conquistou
com a fuga, não proporcionou apenas dias de clamaria e paz, mas também, esse
encontro face a face com a realidade que ela mascarou durante todo o tempo
que esteve naquela clausura sob a tirania do seu sequestrador.
O choque de realidade foi tão devastador, que Joy tentou tirar a própria
vida. Porém, durante sua hospitalização, mais uma vez foi salva pelo filho. Jack
a presenteou com seus longos cabelos que detinham toda a sua a força, para
dar força a sua Mã.
Jack também se mostra muito sensível a nova realidade, ao tamanho
gigantesco do céu, a tudo que tem a oportunidade de experimentar que antes
não conhecia e a tudo que está aprendendo, até mesmo, subir uma escada. Jack
está fazendo amigos, realizando sonhos, como por exemplo ter um cachorro real,
já que no “quarto” tinha um “de mentirinha”.
A última cena, é muito impactante. Jack pede a mãe pra irem “ao quarto”,
o cativeiro, e vão, acompanhados de policiais. Há um sofrimento visível nos dois
ao entrar naquele local novamente, mas, muitas vezes é sim necessário retornar
e se despedir de alguém ou algum lugar que nos trouxe dor, é como fechar um
ciclo, para prosseguir dali em diante.
O Quarto de Jack é um filme que trata uma demanda a qual temos contato
em muitos meios de comunicação. Não é incomum ficarmos sabendo de
psicopatas sequestradores que retém suas vítimas em cativeiros por anos à fio
e as engravidam. Mas, não temos a menor ideia de como essas pessoas lidam
com a realidade depois de serem libertadas e, o filme nos dá parte desta
dimensão, nos concede alguma noção da dor, da angustia, do sofrimento pós
submissão que as assolam.
O filme nos permite refletir se realmente um dia serão livres, mesmo
estando fora de onde foram mantidas cativas, se ao abandonarem quem as
causou dor, abandonarão também as sensações que as perturbaram, para
assim, seguirem suas vidas com cicatrizes de uma ferida possível de ser curada.

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