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Canto dos Palmares - Solano Trindade [...

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Meus canaviais
Eu canto aos Palmares ficam bonitos,
sem inveja de Virgílio de Homero meus irmãos fazem mel,
e de Camões minhas amadas fazem doce,
porque o meu canto e as crianças lambuzam os seus rostos
é o grito de uma raça e seus vestidos
em plena luta pela liberdade! [...] feitos de tecidos de algodão
tirados dos algodoais
Eu canto aos Palmares que nós plantamos.
odiando opressores
de todos os povos de todas as raças Não queremos o ouro
de mão fechada contra todas as tiranias! porque temos a vida!
e o tempo passa,
Fecham minha boca sem número e calendário...
Mas deixam abertos os meus olhos O opressor quer o corpo liberto,
Maltratam meu corpo mente ao mundo,
Minha consciência se purifica e parte para
Eu fujo das mãos prender-me novamente..
Do maldito senhor! [...]

[...]Nova luta. Mas não mataram


As palmeiras meu poema.
ficam cheias de flechas, Mais forte
os rios cheios de sangue, que todas as forças
matam meus irmãos, é a Liberdade...
matam as minhas amadas, O opressor não pôde fechar minha boca,
devastam os meus campos, nem maltratar meu corpo,
roubam as nossas reservas; meu poema é cantado através dos séculos,
tudo isso, minha musa
para salvar esclarece as consciências,
a civilização e
a fé.... Zumbi foi redimido…
Contexto histórico- cultural de Solano Trindade:
Após a abolição da escravidão em 1888 e a proclamação da República em 1889, a
elite brasileira implementou políticas baseadas no "racismo científico" e "darwinismo
social," visando "branquear" a população através da imigração europeia. Esse contexto
resultou na exclusão dos afro-descendentes do pleno exercício da cidadania, enfrentando
dificuldades no acesso a emprego, moradia, educação, saúde e participação política. Em
resposta, surgiram movimentos de mobilização racial
Em um segundo momento do movimento negro na era republicana (1945-1964),
marcada por organizações como a União dos Homens de Cor e o Teatro Experimental do
Negro (que o Solano Trindade fundou), houve uma transição significativa. O movimento
retomou a atuação no campo político, educacional e cultural, concentrando-se na luta
pelos direitos civis. Durante essa fase, a ênfase nas atividades políticas e educacionais
visava desafiar as barreiras discriminatórias e promover uma maior integração social.
Essa mudança de abordagem sinalizou uma evolução na busca por igualdade,
contribuindo para moldar a trajetória do movimento negro nas fases subsequentes, nas
quais a adaptação às demandas específicas de cada contexto histórico se tornou uma
característica marcante.

Literatura marginal periférica


No início dos anos 2000, o termo ‘marginal’ aparece associado a um perfil sociológico de
produção literária: autores que moravam ou já haviam morado nas grandes periferias do espaço
urbano brasileiro, em sua grande maioria, da periferia de São Paulo, que começaram a ganhar
espaço no cenário editorial. Temas como o cotidiano das favelas, a violência, a falta de recursos, o
descaso e abuso das autoridades, entre outros, passaram a fazer parte de uma narrativa, até então,
carente de notoriedade na literatura brasileira.
A linguagem utilizada nas obras também é uma característica marcante dessa vertente da
produção literária contemporânea: marcada pela língua coloquial, gírias específicas das
comunidades e do cenário hip-hop, muitas vezes aproximando-se da oralidade e se contrapondo
provocativamente à norma culta. Com o aumento da visibilidade, a literatura marginal periférica não
pode mais ser considerada à margem da tradição literária brasileira, ou do mercado editorial, mas é
produzida por quem foi excluído social e economicamente. O principal aspecto seria, nesse sentido,
o fato de ser produzida por autores da periferia, permitindo um olhar interno sobre a experiência da
marginalização social e cultural e uma estética própria que dialogue com essa realidade. Outro fator
de destaque é o engajamento político e social presente não apenas nas obras literárias, mas na
constante preocupação com a sua circulação e com o acesso a diferentes formas de bens culturais

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