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Crase

Prof. Me. Júnior

Uso de Crase

Crase é uma palavra de origem grega que significa mistura ou fusão. Em


Língua portuguesa, é esse o nome da fusão de dois sons idênticos, duas
vogais a, marcada pelo acento grave.

Os termos diante dos quais ocorre a crase exercem as funções sintáticas de


complementos (objeto direto, objeto indireto, complemento nominal e adjunto
adverbial).

É preciso conhecer regência de verbos e nomes para saber se determinada


palavra exige preposição. Também se deve saber se a palavra regida admite
artigo.

A noite estava fria. (sujeito)


À noite, fazia frio. (Adj. Adv.)

Regra Básica

a+a=à

Encontrando-se a preposição (a) com o artigo (a / as) ou com o pronome


demonstrativo (a / as), bem como com o (a) de aquele(s), aquela(s), aquilo, a
qual, as quais, fundem-se os dois sons em um só, que, na linguagem escrita,
se assinala atualmente com o acento grave.

Vou a + a cidade = Vou à cidade.

a = preposição que introduz o adjunto adverbial do verbo ir


a = artigo que determina o substantivo cidade
a craseado, a que se aplica o acento grave

Refiro-me à prima de Leonardo.


(a+a)

-Não raro, o (à) vale como redução sintática da expressão à moda de (= à


maneira de, ao estilo de):

Mas o major? Por que não ria à inglesa, nem à alemã, nem à francesa, nem à
brasileira? Qual o seu gênero? (Monteiro Lobato, U, 117.).

Danças à espanhola. (Danças à moda espanhola).


Chapéu à Napoleão. (Chapéu à moda de Napoleão).
Cortou o cabelo à Ronaldinho.
-A crase da preposição a com o artigo a, as somente pode dar-se – é obvio –
antes de palavras femininas, expressa ou oculta, que esteja acompanhada de
artigo e constitua com a preposição um complemento do antecedente desta.

Sua frequência às aulas é muito irregular.


Eles irão à justiça. (A justiça prevalecerá).

Basta que tal palavra, ainda que feminina, desaceite o artigo, para não haver
crase.

Voltarei a Paris ainda este ano. (não tem crase, porque a palavra Paris,
mesmo feminina, repele o artigo, como se vê nas construções seguintes: vive
em Paris, jamais saiu de Paris, o avião passa por Paris).

Obs. Palavras femininas determinadas por pronomes não podem trazer o


artigo, razão pela qual não admitem crase.

Entregue a pasta a qualquer pessoa da casa.


Não comparecerei a esta cerimônia.
É uma jovem a cuja inteligência faço justiça.

(pessoa, cerimônia e inteligência, todos femininos, estão determinados por


qualquer, esta e cuja, razão pela qual não podem trazer também o artigo).

-As palavras femininas empregadas em sentido absolutamente geral ou


indeterminadas, não são regidas pelo artigo, por isso, não admitem crase.

Ele vive entregue a tristeza profunda.


(tristeza é feminino, mas está num sentido geral).
Todo funcionário tem direito a licença.
(licença é feminino, mas está num sentido geral).
Não dê atenção a pessoas suspeitas.

1 Sempre Ocorre Crase

-Nas indicações de horas, desde que, trocando-se o número de horas por


meio-dia, obtenhamos a expressão ao meio-dia. [Antes de numeral seguido da
palavra hora]. Hora determinada.

Chegou para a chamada do CTSP às sete horas. (Chegou ao meio-dia).


Saiu à uma hora em ponto. (Saiu ao meio-dia em ponto).
O julgamento terminou à zero hora.

-Nas locuções adverbiais, conjuntivas e prepositivas formadas por palavras


femininas (à tarde, à noite, às escuras, à vontade, à vista, às pressas, à medida
que, à proporção que, à cara de, à semelhança de, à guisa de, à beira de, etc.).

Saiu à tarde e voltou à noite.


Caminhava às pressas pela rua.
À medida que caminhava, o soldado ficava mais cansado.

-Nas demais expressões, por tradição no idioma: à maneira de, à medida que,
à míngua de, à proporção que, à semelhança de, à toa, à ventura, à vista, à
vista de.

2 Nunca Ocorre Crase

-Antes de palavras masculinas.

Iluminação a gás. (o gás = palavra masculina).


Todo empregado tem direito a descanso. (o descanso = palavra masculina).
Pintura a óleo. (o óleo = palavra masculina).

-Antes de verbos.

Estou disposto a estudar com afinco.


Preferiu morrer a entregar-se.
Fiquei a contemplá-la.

-Quando o artigo a estiver no singular diante de uma palavra feminina no plural.

Não compareço a festas públicas nem a reuniões.


Refiro-me a alunas estudiosas.

-Nas expressões formadas por palavras repetidas.

O soldado e o bandido ficaram cara a cara.


O líquido caia gota a gota.

-Antes de artigo indefinido, de pronome de tratamento, de pronome pessoal; de


pronome indefinido, de pronome relativo e de pronome interrogativo.

Você faz jus a uma recompensa.


O concerto será dedicado a você.
Vimos trazer nossos cumprimentos a Vossa Senhoria.
Trata-se de pessoas a quem respeito muito.
Ali havia uma arvore a cuja sombra descansou.
Recorreram a mim. (a nós, a ela, a dona Marta).

Exceções: Diante das palavras senhora e senhorita, pois estes pronomes de


tratamento admitem artigo.

Peço à senhora que tenha paciência.


-Diante de nomes de parentesco, precedidos de pronome possessivo.

Recorria a minha mãe. / Peça desculpas a sua irmã.


A quem puxaste? A teu pai ou a tua mãe?

-Diante de nomes próprios (menção formal ou personalidade pública).

O historiador referiu-se a Joana D’Arc.


Fizemos uma homenagem a Euclides da Cunha.
A reportagem referia-se a Ângela Merkel, chanceler da Alemanha.

Obs. Se o nome próprio for adjetivado haverá crase.

A jovem tinha devoção à virgem Maria.


Referia-se frequentemente à grande Clarice Lispector.

Obs. Se a menção for afetiva, haverá crase.

À Profa. Maria Lima e Silva, por sua amizade;


Ao Renato Cruz e Sousa, pelo companheirismo;
Na carta, referia-me à Isabel, minha melhor amiga.

3 Casos Facultativos

-Antes de nomes próprios femininos.

Paula é muito bonita. Laura é minha amiga.


A Paula é muito bonita. A Laura é minha amiga.

Obs. No Brasil, o uso do artigo diante de nomes de pessoas tem um caráter


regionalista, e não só de familiaridade.

-Antes de pronomes possessivos femininos.

Fiz alusão a (ou à) minha carreira profissional.


Dirija-se a (ou à) sua sala de aula.

Obs. Ocorrendo a elipse do substantivo, haverá crase.

Ele referia-se à desgraça do amigo e não à sua. [à sua desgraça]

4 Outros Casos

-Diante de nomes de lugar. Há duas possibilidades: com crase ou sem crase.


a) Com crase: Com os verbos vir e chegar que admitem as preposições de,
em, ocorre o seguinte: se ao usarmos esses verbos, suas preposições (de, em)
se contraírem com o artigo a formando da, na – ocorrerá a crase.

Fui à Bahia. (Estou na Bahia; vim da Bahia).


Dirijo-me à Itália. (Cheguei da Itália).
Irei à Tijuca. (Vim da Tijuca; moro na Tijuca).

• Dica: Vou à
Vim da
Crase há

Vou a
Volto de
Crase pra quê?

b) Sem crase: tomando o caso anterior, se não ocorrer a contração das


preposições (de, em) com o artigo a, não haverá crase.

Irei a Copacabana. (Vim de Copacabana; Moro em Copacabana).


Fui a Salvador em pleno carnaval. (Estou em Salvador; cheguei de Salvador).

Obs. Haverá crase, porém, se o substantivo vier acompanhado de adjunto que


o modifique.

Ela se referiu à saudosa Lisboa.


Vou à Curitiba dos meus sonhos.

-Diante das palavras casa e terra podem ocorrem as seguintes situações:

a) Será obrigatória a crase se a palavra casa vier determinada de qualificativo


(estabelecimento comercial, hospital, residência oficial, pessoa, etc.).

Visitei à casa da Moeda em Brasília.


O presidente americano voltou à Casa Branca.
Voltarei à casa de Silvana antes do almoço.

b) Não se dará a crase se a palavra casa não tiver nenhuma determinação.

Não voltarei a casa para almoçar.


Chegamos tarde a casa.
Assim que cheguei a casa, recebi o seu recado.

c) Se a palavra casa vier acompanhada de adjetivo ou locução adjetiva, terá


crase.

O filho pródigo voltou à casa paterna.


Fiz uma visita à velha casa de meu avô.
Chegamos cedo à casa de nossos amigos.
d) A palavra terra, no sentido de planeta terra, tem crase. E também no sentido
de pátria e região quando estiver especificada.

Após seis meses no espaço os astronautas voltaram à Terra.


Voltaram à terra de seus pais.

e) A palavra terra, no sentido de terra firme (continente) sem estar


especificada, não tem crase. Antônima de bordo.
Os marinheiros, após se perderem no mar, voltaram para a terra.
Os pescadores desejaram voltar a terra.
As aves voam rente a terra.

-Crase com os pronomes demonstrativos aquele (s), aquela(s), aquilo, ocorre


quando completam o sentido de um verbo que exija preposição.

Iremos a - aquele jogo. Iremos àquele jogo.


Chegamos a - aquela cidade. Chegamos àquela cidade.
Fiz referência a - aquilo. Fiz referência àquilo.

Entregou o prêmio àquele aluno.

5 Perguntas Frequentes

-Ocorre crase diante de horas?


Sim, sempre na indicação de horas exata, determinada.

A palestra será às 15h30min.


O trem chegou à estação às 18 horas.
Saímos às 20h.

Obs. Contudo, há que ressaltar que nem sempre esse uso (o da preposição
“a”) é frequente, pois pode ocorrer o uso de outra preposição, tais como as
demonstradas nos exemplos subsequentes.

Eles chegaram após as 18h30min.


Estamos aqui desde as 20h.
A companhia energética avisa que faltará energia entre as 12h e as 14h.

-Ocorre crase entre dias da semana, ou entre meses?


Não.

As aulas serão de segunda a sexta-feira, de março a dezembro.

-Com a palavra distância, ocorre crase?

a) Coloca-se crase sobre a expressão à distancia de com ou sem


determinação.
Achava-me à distância de cem metros.
Paramos à distância de alguns metros.

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