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RESUMO
O mundo dos negócios, vem ao longo das últimas décadas, se ressignificando, dando uma
nova notoriedade para a sustentabilidade, que tem incluído atualmente, em sua essencialidade,
a transformação social além da preservação e uso consciente de recursos, com o conceito slow
fashion, que situa a economia em novos tempos de produção e consumo. A partir dessa
realidade proposta, fora analisado o Caso Okoko e Abel, marca de calçados do Rio Grande do
Sul, que aplica o empreendedorismo sustentável de forma prática através do slow fashion. O
propósito principal desta pesquisa permeia identificar o que seria empreendedorismo
sustentável na visão prática dos gestores da Okoko e Abel conhecendo o seu processo de
criação, produção e comercialização através de entrevista, assim como parte do histórico da
marca, correlacionando as experiências reais com materiais teóricos, apresentados a partir de
pesquisa bibliográfica abordando definições a respeito do pensamento sustentável e sua
aplicabilidade. O método utilizado para tal finalidade fora a pesquisa qualitativa, em caráter
de amostragem através de uma entrevista com dois gestores tendo como base um roteiro com
perguntas pré-definidas resultando em um estudo de caso. A marca Okoko e Abel teve seu
início já com uma mentalidade de desconstruir a tradicionalidade em suas convicções pessoais
e empreendedoras, optando por inovar no ramo industrial intentando manifestar, através do
vestuário, um comportamento de ativismo e resistência contra padrões de consumo impostos
pela sociedade, assim desenvolvendo por meio do seu modelo de empreendedorismo a
diversidade e hospitalidade além do que entende-se ser o convencional do tripé sustentável.
1. INTRODUÇÃO
1
Artigo apresentado à Universidade de Passo Fundo – UPF, como parte dos requisitos para a obtenção do
título de pós-graduada em Marketing e Gestão de Negócios, em 2019.
2
Publicitária formada pela Faculdade de Artes e Comunicação da Universidade de Passo Fundo e pós-
graduanda do MBA em Marketing e Gestão de Negócios da Universidade de Passo Fundo. E-mail:
camiteixeira@upf.br
3
Professor Orientador, docente na Universidade de Passo Fundo – UPF. Publicidade e Propaganda pela
Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. Mestre em Administração – Marketing pela Universidade Federal
do Rio Grande do Sul - UFRGS. E-mail: tarso@upf.br
2
sustentabilidade nos negócios, com projeção do fim do mundo empresarial no prazo de dez
anos para empresas que não igualarem resultados ambientais e sociais na mesma proporção
que os resultados econômicos. Acredita-se que seja possível, de acordo com as palestras de
Stuart Hart e Pedro Luís Passos (2013), que os empreendimentos gigantescos e tradicionais,
percam espaço para pequenos negócios que estão intimamente ligados aos valores da
sustentabilidade e enxergam nesses valores novas formas de fazer negócios sem maiores
prejuízos ao ambiente, aos seres humanos e á gerações futuras.
Hart (2013) conceitua que os pequenos empreendimentos estão recriando e até mesmo
restaurando uma nova economia, baseada em um olhar mais humano e desacelerado na
concepção e produção de um bem de consumo, dando prioridade para valores ligados a viver
melhor consumindo menos e com mais qualidade, opondo-se aos excessos da padronização
em grande escala. Este desacelerar na economia e na produção de consumo adquire o termo
slow, que segundo Mota e Paiva (2016) iniciou na Itália em 1986 no ramo da alimentação por
Carlo Petrini, e hoje inspira outros segmentos como na moda, com o slow fashion.
Este estudo trata de uma marca de calçados que tem em sua produção o slow fashion
como uma diretriz. O slow fashion conforme Mota e Paiva (2016) se propõem a desafiar as
grandes indústrias do mercado da moda propondo a ideia de um bem fazer produzindo em
pequena escala, valorizando técnicas tradicionais de confecção artesanal, e da procura por
materiais que estejam disponíveis no mercado local e regional. No entanto para atender essa
forma de produção, uma empresa precisa ter um caráter sustentável em seu negócio.
Neste sentido destaca-se o perfil do empreendedor, aquele que sempre foi visto como
um indivíduo capaz de ser um transformador social e desenvolvedor da economia, agora
também possa ser um colaborador do desenvolvimento sustentável por meio de suas práticas
de gestão e produção. No entanto, o conceito claro do que seja um empreendedorismo
sustentável ainda é pouco estudado (BORGES et al, 2013).
A partir da contextualização exposta, apresenta-se aqui o objeto de estudo deste artigo,
a marca gaúcha de calçados slow fashion Okoko e Abel, localizada na cidade de Porto Alegre-
RS, fundada por dois jovens designers e pequenos empreendedores que atuam desde a criação
até a gestão do seu negócio, negócio este que aparenta aproximar-se de um possível conceito
de empreendedorismo sustentável pelos valores e o seu processo quando divulga em suas
redes como instagram e nas produções midiáticas em que aparece.
Diante disso, foi realizado um estudo de caso na Okoko e Abel. Para que se possa
entender o seguinte problema de pesquisa: O que seria empreendedorismo sustentável na
visão prática da marca slowfashion Okoko e Abel correlacionando com a concepção
3
teórica de autores que abordam o assunto? A partir disso delimitaram-se os objetivos deste
estudo, sendo que o objetivo geral é identificar o que é empreendedorismo sustentável na
visão prática da marca slowfashion Okoko e Abel, correlacionando com a concepção teórica
de autores que abordam o assunto. Como objetivos específicos têm-se: (I) realizar um
levantamento bibliográfico de conceitos acerca do assunto empreendedorismo sustentável, (II)
investigar por meio de uma entrevista in loco com os gestores da Okoko e Abel dados
referentes ao processo prático de trabalho da Okoko desde o início do seu empreendimento,
(III) analisar qualitativamente os dados da entrevista a fim de visualizar aspectos que a Okoko
e Abel responde enquanto empreendedorismo sustentável de acordo com a teoria, (IV)
apresentar um possível panorama dos diferenciais práticos da Okoko e Abel que se aplicam ao
empreendedorismo sustentável.
Este artigo conta com cinco capítulos: um capítulo introdutório de contextualização do
assunto estudado. O segundo capítulo em que desenvolve os conceitos que discorrem da
compreensão de autores e a hipótese deste estudo, um terceiro que apresenta as técnicas
metodológicas e seus passos utilizados para realizar a pesquisa, um quarto capítulo para
analisar os dados levantados e por fim, um quinto e último para apresentação das
considerações finais e sugestões para próximas pesquisas.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Para que seja possível correlacionar teoria com a prática do caso estudado, considera-
se necessário o levantamento bibliográfico dos conceitos aqui descritos, afim de que se
construa uma ordem de entendimento sobre cada termo. O empreendedorismo sustentável
referenciado neste capítulo abarcará o conhecimento prévio sobre sustentabilidade e
movimento slow fashion com o propósito de em seguida servir como uma “chave’’ sobre a
forma de gestão da Okoko e Abel, que será apresentada no capítulo da metodologia.
índice dos impactos de produção e consumo que afetavam o sistema ecológico, acelerados
pela revolução industrial.
Vezzoli (2010) afirma que foi nos anos 80 que passou-se a ter iniciativa prática e
ativismo sustentável, para então em 1987 o Programa Ambiental das Nações Unidas publicar
a primeira definição de desenvolvimento sustentável, como aquele que atende às necessidades
do presente sem comprometer às necessidades das gerações futuras. Nos anos 90 o conceito
evolui para a prática que beneficia o ser humano na mesma proporção que os ecossistemas,
respeitando seus limites e o protegendo.
Veiga (2010) revê a trajetória histórica de Vezzoli (2010), afirmado que o
desenvolvimento sustentável e sustentabilidade hoje entendidos e praticados como um
conceito bacana, fazem parte da geração de termos que são empregados coloquialmente, sem
saber da sua censura e luta para se tornar além de conceito, um novo valor. O autor acredita
ser um erro tentar definir o que é sustentabilidade e seu desenvolvimento em uma coisa só.
Conceituá-los em uma normativa, restringe e impede que os significados da sua noção
progridam na sociedade, até por sustentabilidade estar mais ligada a desconstrução do que já
está sólido e imposto.
Contudo, de nada adiantou cognitivamente ter-se um entendimento específico de
desenvolvimento sustentável no decorrer das décadas já que o mesmo acabou se estagnando
enquanto discurso. A ideia de desenvolvimento ainda é ligada e impera como conceito de
crescimento econômico. Enquanto as definições feitas pelas Nações Unidas que envolviam a
melhoria de qualidade de vida humana e dos ecossistemas, contextualizada pela trajetória de
Vezzoli (2010), aparentaram ter se tornado mais falácia utópica do que prática. Veiga (2010)
questiona: Será que desenvolvimento estará sempre atrelado unicamente à ideia de
crescimento econômico e não a sustentabilidade? Estes são caminhos isolados quando se visa
a produtividade?
Aquino e Garcia (2017) procuraram entender como a sustentabilidade e seu
desenvolvimento poderia ser definido como força transformadora em padrões insustentáveis,
ideologia ou utopia. O autor esclarece que a força transformadora da sustentabilidade reside
nas suas “utopias” permitindo a materialização do que é desejável nas suas ramificações
ecológicas, econômicas, sociais e tecnológicas, servindo como resistência a realidade
insustentável que por sua vez é focada no cumprir cotidiano, sem dar abertura para imaginar,
constituir e agir pelo bem comum.
A sustentabilidade foi eleita o paradigma de vida no século XXI, concordando que as
materializações utópicas também precisam ter racionalidade para que se empreendam ideias e
5
atitudes humanas com a finalidade de efetivar seus projetos transformadores com os três
imperativos de nossa época: cuidado, hospitalidade e fraternidade. Para que então ela
promova um pleno desenvolvimento para todos, beneficiando o cenário de intolerâncias, bem
como desrespeito á pluralidades falta de reconhecimento da natureza como ser próprio e vivo
(AQUINO E GARCIA, 2017).
Leonardo Boff (2017) revisita o discurso tradicional de desenvolvimento sustentável
adotado como modelo de negócio de empresas. Este modelo sugere que para ser sustentável o
desenvolvimento deve ser economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente
correto, nada além do tripé ou dos três pês, “Profit, People, Planet’’ (produto/renda,
população e planeta) conhecidos por serem os “sustentáculos” da sustentabilidade. No que se
entende pela palavra desenvolvimento e sustentabilidade, Boff identifica falhas práticas que
corroboram com o pensamento de Veiga (2010). A ideia de desenvolvimento ainda obedece a
regra industrial de crescimento econômico, exploração de recursos, e consumo exacerbado,
enquanto a sustentabilidade é coletiva e não individual, coopera e não compete, co-evolui e
inter-relaciona-se, não considerando a evolução apenas do mais apto.
Boff (2017) faz questão de especificar as propostas da sustentabilidade, para não
pender para a armadilha do desenvolvimento sustentável enquanto expressão política de
instituições, ou seja, utilizando a sustentabilidade apenas para mascar o que se assume como
ideal de desenvolvimento, ideal este baseado nos velhos moldes tradicionais da indústria. Para
que a sustentabilidade seja respeitada como um desenvolvimento, é preciso ter clareza á
respeito da antiga lógica capitalista que está impregnada na consciência da maioria da
população e visiona o lucro.
Boff (2017) também não acredita que a sustentabilidade seja sempre correspondida
com seu tripé ambiental, econômico e social de modo padrão. Para atende-la como modelo
atual, se agregam características holísticas e psicológicas do próprio ser humano, e acredita-se
que partem de uma gestão da mente sustentável, ou seja, um novo design metal para que ele
supere a compulsão por crescimento, produtivismo e consumismo; generosidade para que se
reconheça como um ser social que comparte, distribui conhecimentos e experiências sem
esperar nada em troca; cultura para que dentro da produção e consumo também existam
formas de favorecer o cultivo da arte, criatividade, inovação e expressões estéticas; cuidado
essencial, pois sem este o ser humano não teria sua existência garantida e sustentada. Essa
contextualização de Boff (2017) serve como um complemento para a ideia de um
desenvolvimento mais sadio no planeta, evidenciado por Aquino e Garcia (2017).
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contesta o ritmo intenso das metrópoles, o que ocasiona uma reflexão no método e no modelo
de produção sobre os impactos da industrialização e do consumismo na vida contemporânea
(CASTRO, FERREIRA e MARTINS, 2019).
Contudo, Kate Fletcher em entrevista na Global Fashion Conferece, uma das maiores
referências em moda e sustentabilidade, salientou que a mensagem slow que deve ser
trabalhada não é a lentidão e sim sobre um engajamento diferente que existe em seu processo
produtivo. Kate Fletcher também atenta que uma marca slow fashion deve se transformar em
um estilo de “empreendimento social’’, visto que a importância do ativismo slow está no
estado ativo e na busca por mudança de dentro para fora, não priorizando-se o lucro em
primeiro plano.
sociais e culturais que esta inserido. Pois ideias ultrapassadas não se ajustam á este modelo de
negócio.
Boszczowski e Teixeira (2012) atentam que esta forma de empreendedorismo
enquanto campo de estudo busca entender como oportunidades de desenvolver bens e
serviços são descobertas, criadas e exploradas. Ainda engloba as consequências econômicas,
sociais, psicológicas e ambientais do produto gerado. Para as autoras este processo de
descoberta requer uma avaliação econômica de oportunidades de inovação, a partir das falhas
de mercado provocadas pela não existência da sustentabilidade. Ainda complementam que o
objetivo principal do empreendedorismo sustentável é promover o desenvolvimento
sustentável, sendo que os objetivos sociais, econômicos e ambientais permanecem em
segundo plano.
No entanto para que este diálogo possa existir e ser disseminado, não somente ao
mercado, mas também para a sociedade, faz parte da condição de empreendedor sustentável
convergir e criar valores mútuos orientados por princípios da sustentabilidade, enraizando e
propagando estes valores para todos os seus atores sociais ou stakeholders. Visto que é para
estes que os valores econômicos, sociais e ambientais estão sendo gerados, e eles são os
responsáveis para a consolidação de um negócio, definindo se todos os valores sustentáveis
estão de fato sendo cumpridos e promovendo transformações (NOBRE; ORSIOLLI, 2016).
Estas transformações, em especial dos stakeholders, podem ter como cenário um
ecossistema empreendedor. Um ecossistema empreendedor para Brito, Dantas e Valente
(2018) é a presença de múltiplos atributos e instituições que em rede estimulam atividades
empreendedoras entre si para que cresçam e evoluam. Os ecossistemas costumam se
desenvolver em torno de uma universidade de referência, de um conjunto de grandes
empresas, de uma indústria, e da densidade de pequenas e médias empresas ligadas a uma
atividade econômica. Estes ecossistemas têm raízes históricas locais e características próprias,
vinculadas á cultura e idiossicracias da região.
Bueno (2018) traz a concepção de que ecossistemas de empreendedorismo costumam
ter um perfil criativo. Os processos criativos e colaborativos são concebidos por inter-
relações entre grupos de pessoas que com o potencial de gerar dispositivos para a
transformação do mundo. O grupo criativo, estando em um contexto turbulento e em ebulição,
promove inovações e rupturas em lógicas dominantes. Um ecossistema de empreendedorismo
com uma essência criativa pode ser formado por designers ou não-designers, que além do ato
de criar, promovem inovações e negócios orientados para a sustentabilidade.
O empreendedor em um ecossistema criativo e sustentável analisa o contexto interno e
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externo, reflete sobre ele e realiza suas críticas em forma de produtos e serviços, e possui
senso de criticidade, não consentindo com o que é inaceitável frente aos seus valores. Em um
mar de sustentabilidade os arquipélagos que os desenvolvem são estes ecossistemas,
abastecidos por atividades empreendedoras preferencialmente sustentáveis (BUENO, 2018).
Quanto às oportunidades e requisitos para criar um negócio sustentável e empreende-
lo, torna-se claro, que as características do empreendedor sustentável são desenvolver
capacidades durante a sua trajetória de vida, que o habilitem a criar novos negócios. Para em
um segundo momento identificar uma necessidade ou problema, seja ele no âmbito social ou
ambiental. A partir da identificação do problema, cabe á esse empreendedor procurar os meios
de atendê-lo, criando valor social e ambiental a partir da geração de valor econômico. Por fim,
compreende-se que a resultante disso deve ser coerente com o seu processo de ideação, para
então ser chamado de oportunidade de negócio sustentável (BOSZCZOWSKI; TEIXEIRA,
2012).
Borges (2013) criou indicadores para definir os tipos de empreendedorismo
sustentável de acordo com o nicho que ele atende, ou seja, se é ambiental ou social. No caso
ambiental integram-se, as escolhas de vida alternativa, como produção de alimentos
orgânicos, movimentos “slow”, reciclagem, artesanato. No âmbito social compõe-se a criação
de produtos para grupos com necessidades especiais e comércio justo, criando parcerias entre
produtores e consumidores. No entanto, o nicho atendido pode ser hibrido.
Os outros indicadores estão atrelados ao entendimento do papel da sustentabilidade
nesse empreendedorismo, se ela será um meio ou objeto, conferindo ou não responsabilidade
social empresarial. Para alguns o objetivo principal do empreendimento é o lucro e a
exploração dos recursos naturais ou sociais. No entanto este tipo de empreendedorismo não se
conceitua como sustentável. Todavia, para o empreendedor que objetiva colaborar para o
desenvolvimento sustentável, o lucro é o meio de manter a empresa e condições compatíveis
com os valores da sustentabilidade. São estes empreendedores que criam valores sociais ou
ambientais pelo produto ou serviço que oferecem. Quanto á responsabilidade social
empresarial não significa necessariamente que todos os empreendedores sustentáveis a
estendem, ela é vista como um importante elemento adicional para criação de mais valores
para sociedade (BORGES, 2013).
Há considerações importantes feitas por Borges (2013) referente á estudos futuros
respeito do empreendedorismo sustentável. Existe uma série de particularidades no processo
empreendedor sustentável, independente da motivação, se é meio ou objetivo, e do nicho
ambiental, social, ou híbrido. Segundo o autor existem também indícios de que os
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2.4 Hipótese
H1: A marca de calçados Okoko e Abel pode estar empreendendo de modo sustentável
desenvolvendo a partir de seu sistema prático de produção slow fashion não só os conceitos
tradicionais como outras evoluções de conceitos e aplicabilidades para o tripé: ambiental,
econômico e social.
H1a: A partir da diversidade de identidade de gênero na moda, procura promover
outros atributos sustentáveis, como conceitua o autor Leonardo Boff (2017).
H1b: Assim como responde em seu processo as perguntas sobre a formação,
obstáculos e fatores de sucesso de um empreendedorismo sustentável, feitas por Borges
(2013).
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
4. RESULTADOS
Passo 1: Desenvolver capacidades durante sua trajetória de vida que o habilitem a criar
novos negócios (BOSZCZOWSKI; TEIXEIRA 2012).
A partir dos estudos teóricos do seu TCC sobre moda, Vinícius identificou que não era
mais sustentável como o processo de mercado de moda evoluía e que não se conectava mais
às pessoas como no modo artesanal. Começou a ver a sustentabilidade sendo falada e
retratada na moda despontando em 2012, com pequenas marcas em vários lugares do mundo,
criando projetos e produtos diferentes por meio do slow fashion. Entendeu que com uma
produção slow fashion, sustentável, é possível atender um grupo específico por uma causa
específica e mostrar como se pode iniciar um negócio de calçados tendo 15 mil e não
precisando ter 1 milhão, o que geralmente uma empresa precisa já que o custo do calçado é
caro.
Produzir sapatos que possam dentro da lógica de desconstrução e slow, atender
também à públicos desprivilegiados socialmente e pelo mercado de moda fast, com
numerações que vão do 34 ao 44, e que possam ser fabricadas sob medida auxiliando no
empoderamento de um indivíduo que esteja passando por uma transição de identidade de
gênero como transexuais, não-binários e drag queens.
muitos dos seus consumidores atendidos são veganos, e que segundo Vinícius e Ana um dos
atributos que mais avaliam na compra é se o calçado foi feito de couro .
Passo 3: Procurar meios de atendê-lo criando valor social, ambiental a partir da geração
de valor econômico (BOSZCZOWSKI; TEIXEIRA, 2012).
No entanto, o quarto e último passo de Boszczowski e Teixeira (2012) onde o
“resultante” deve ser coerente com o processo de ideação para então se denominar um
empreendedorismo sustentável, mostrando se ele está dando certo e transmitindo os valores
que se propôs como produto e serviço, para que assim o desenvolvimento sustentável ocorra
como objetivo principal como as autoras também apontam, Vinícius e Ana trazem feedbacks
que receberam tanto do lado do fornecedor artesão quanto do seu consumidor entre outras
experiências.
Primeiramente quando a “Botox” foi lançada, houve uma procura por parte de uma
produção de moda, pois a Okoko e Abel trabalha com 15 a 20 produtores de moda no Brasil
tendo um forte acervo de produtos disponíveis para editoriais de moda e clipes musicais em
São Paulo. Foi então que a Botox foi parar nos pés da personagem digital influencer, “Vivi
Guedes” em uma cena, interpretada pela atriz Paolla Oliveira na novela global das 21h, “A
Dona do Pedaço”. Logo após a cena ter ido ao ar, Vinícius e a Ana receberam uma mensagem
da esposa de um dos fornecedores comentando sobre a cena com entusiasmo. Para Ana este
momento significou, após muitos embates de ideias e diferentes concepções e formatos
econômicos de mercado com os fornecedores e artesãos, que tinha valor e seriedade naquela
“loucura” que estavam fazendo.
Com isso, supõem-se a partir de outros exemplos práticos de Vinícius e Ana, o que o
resultante do seu empreendedorismo está desenvolvendo em termos sustentáveis a partir de
algumas das perspectivas de Boff (2017), Aquino e Garcia (2017) conforme esquema abaixo.
significado único para o consumidor, e não um produto similar a outro sem a preocupação da
durabilidade. Assim, um erro no slow fashion não significa uma perda de dinheiro catastrófica
como no modelo fast. Destaca-se que a mentalidade do fornecedor que trabalha para Ana e
Vinícius é a mesma mentalidade que trabalha em grande escala para a marca Arezzo e de
acordo com a dupla, a luta é mudar o pensamento de que é preciso produzir algo rápido de
montar, fácil, prático e que eles ganhem tempo.
Generosidade:
Vinícius e Ana se reconhecem e reconhecem os seus stakeholders quanto à um ser
social. Apesar de qualquer diferença de opinião, afirmam persistir no fornecedor e no artesão
por enxergar neles uma escola e entender que com a crise e falência que um dia sofreram na
indústria de calçados nos anos 80 quando este mercado competiu com a China, e por terem se
bitolado ao “formatão” do passado como Vinícius diz, com a ideia de que produzir 5 mil pares
é melhor do que produzir 30, 40, 60 como a Okoko e Abel produz, torna-se uma dúvida e um
medo investir em algo que pode estagnar ou retrair como um dia aconteceu nas cidades de
Novo Hamburgo, Sapiranga, Nova Hartz e Campo bom, onde eles trabalham em conjunto.
Outro stakeholder do qual eles compartem e trocam conhecimentos e experiências são com
outros produtores de moda ou algum outro pequeno empreendedor do ramo que esteja
começando e deseja visita-los ou ter alguma parceria. Eles se mostram abertos, pois
relembram que um dia já passaram pelas mesmas situações e tiveram um começo.
Cultura:
Neste quesito para Vinícius e Ana todas as coleções são baseadas em promover o
pensamento contemporâneo da sociedade e de suas transformações. Para isso estão sempre
escutando músicas, assistindo a séries e filmes que seus consumidores em geral estão
consumindo, a fim de que se traduza em uma linguagem em formato de calçado. Vinícius e
Ana acreditam que culturalmente o seu viés enquanto designers favorece o trabalho autoral
independente dele ser vendido para o consumidor final ou não. No entanto Vinícius e Ana
acreditam estarem favorecendo muito a cultura do consumidor no que se refere ao caráter
noite. O desafio para a coleção é pensar e testar em um produto com o caráter dia, para isso
afirmam que precisam estudar o caráter dia desse consumidor.
Diversidade e hospitalidade:
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Hospitalidade foi um termo levantado por Aquino e Souza (2017) sem detalhar em
específico, mas que caberá como exemplo para a Okoko e Abel no que ela de fato está
promovendo de novo, além do que se considera tradicional no entendimento de
desenvolvimento sustentável. É o que se constata quando Vinícius relata que é o que os move
enquanto microempreendedores, entendendo que desafiaram o mercado com a produção slow
fashion com uma grade de produção do 34 ao 44, e de alguma forma mostrando que sapato é
sapato, não tem gênero feminino e nem masculino e que quando alguém gosta, ele compra,
usa e é dele. Independente da identidade que se tenha.
Foi manifestando a diversidade no produto e na comunicação, optando produzir
sapatos para editoriais de celebridades que tem em si um ativismo, uma causa pela qual lutam
e são resistentes, como as cantoras Pablo Vittar, Luísa Sonza, Karol Conka, Iza e Glória
Groove. A partir do senso de diversidade, de acordo com Vinícius, elas criaram um senso de
comunidade de pessoas que se conectam de diferentes regiões do Brasil, muitas vezes unidas
pela mesma causa, e comprar um sapato de R$ 475,00 em média é um esforço para se
empoderar enquanto indivíduo, seja pela sua identidade de gênero, como por outras questões
que convergem para o empoderamento. Estas pessoas costumam se encontrar no instagram da
Okoko e Abel para elogiar o trabalho da marca e comentar “Obrigada pelo o que vocês estão
fazendo”, segundo Vinícius.
Vinícius e Ana ainda relembram um caso que fez eles enxergarem que estavam
promovendo a diversidade no negócio: Receberam uma mensagem de um cliente que
precisava marcar uma reunião com eles dois para falar sobre a encomenda. Tratava-se de uma
drag queen, com 2,03 de altura, que precisava de um calçado da linha “Botox” na numeração
48. Ana e Vinícius contataram então um fornecedor que alugou uma máquina maior e
específica, e produziram um sapato de salto, o primeiro deste cliente, que não o deixaria mais
alto, mas realizaria o sonho desta pessoa.
Ana e Vinícius em termos não só da diversidade promovida, mas da hospitalidade
comentam que o seu empreendimento, recebia no período pré-eleições em 2018,
consumidores que estavam em uma histeria coletiva, com medo dos rumos que o país iria
tomar de acordo com a sua condição de gênero. E os gestores paravam suas atividades para
ouvir os medos e as histórias dos seus clientes. Isso também fortificou a criação e
comercialização de uma linha de bonés com o escrito “Okoko Company”, havendo muitos
pedidos. O que corroborou com o que Ana afirma sobre “Vender Estilos de vida”.
Um desafio da Okoko e Abel enquanto diversidade é tentar estudar causas que não são
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específicas do entendimento deles. Um dos próximos desafios é criar calçados para diferentes
tipos de tornozelo. Ana e Vinícius finalizam dizendo que toda diferença é linda, e isso é o que
faz o plural do ser humano e deve ser respeitado no mercado de moda ainda insustentável.
Quanto ao impacto econômico da Okoko, para Ana e Vinícius ainda é uma dificuldade
gerir os ganhos e cuidar de um fluxo de caixa. Reconhecem que nisso pecam, pois a formação
deles não foi administrativa e que futuramente em sua equipe necessitam de alguém nessa
área para que possam ter um pouco mais de lucro. A dupla já conseguiu ser reconhecida pela
sua missão, levar esta missão de desconstrução expondo suas produções em sites, revistas e
eventos de moda, como a Vogue, e promover a diversidade pela sua produção slow fashion. O
que falta é um melhor gerenciamento financeiro da Okoko.
Atualmente, para desenvolver as vendas a empresa promove festas temáticas, que os
gestores apontam como uma oportunidade de atrair novos consumidores. Durante o evento os
convidados podem provar os calçados no espaço da loja, bem como conhecer os processos de
criação e sentir a marcar dentro do espaço do ateliê. Finalizando com a venda de produtos. As
festas temáticas são uma forma que encontraram para conseguir mais uma fonte de renda pra
manter seu empreendimento, o que na visão de Nobre e Orsiolli (2016) também pode ser uma
propagação de seus valores enquanto empreendedorismo sustentável.
Na fala de Ana e Vinícius sobre o a localização do empreendimento há um fato que se
aproxima do conceito de ecossistema empreendedor defendido por Brito, Dantas e Valente
(2018) e Bueno (2018). Normalmente um ecossistema empreendedor se desenvolve há várias
outros empreendimentos do mesmo caráter que respeitam e assumem de forma semelhante as
características daquele local, como sua história, suas raízes e cultura. O bairro Bom Fim
escolhido para o empreendimento de acordo com Vinícius, possui vários outros
empreendimentos de produção slow e artesanal que poderiam posteriormente trocar ideias e
construir parcerias. Também por que a diversidade que gostariam de promover está em um
bairro que já traz isso em sua história, foi construído por ex- escravos negros e depois por
judeus. A história cultural do bairro ajuda a promover o conceito de diversidade.
Por fim, Ana e Vinícius, ainda pretendem seguir empreendendo desta maneira,
acreditando nos ideais de preocupação sustentável e produção slow fashion com um trabalho
autoral. Acreditam que ainda existe muito que ser descontruído por eles enquanto
empreendedores sustentáveis. Mostrando que é possível abrir um negócio com poucos
recursos financeiros, como também a definição de um público-alvo pode acontecer
naturalmente, primeiro testando e experimentando um projeto, um negócio, de modo genuíno,
que por vezes se perde no mundo dos negócios.
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Figura 1:
Esquema do que o empreendedorismo sustentável da Okoko desenvolve
Fonte: Autora (2019) adaptado de Leonardo Boff (2017) e Aquino e Sousa (2017).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde o princípio o propósito desde estudo foi procurar entender qual era o fenômeno
por de trás das práticas da marca slow fashion Okoko e Abel. Deste modo fazia-se necessário
conhecer quem eram os gestores da marca e como era de fato o seu empreendimento, que
suspeitava-se ser sustentável. Neste contexto, a pergunta que norteou este trabalho buscava
entendimento de empreendedorismo sustentável na visão prática da Okoko e Abel,
correlacionando com autores que abordavam o assunto. Buscando identificar elementos da
atividade da marca para então analisar com os dados teóricos. Para isso, considerou-se
importante a fundamentação teórica para que conhecer e repensar conceitos, ainda por se
tratar de sustentabilidade, termo que Veiga (2010) descreve como algo banalizado pelo
mercado, sem entender-se de fato a essência verdadeira.
A partir da coleta de dados com os dois gestores da Okoko e Abel, tendo por
metodologia um estudo de caso, percebeu-se que sim, a Okoko e Abel se relaciona com boa
parte do que estrutura ser um empreendedorismo sustentável, descrita por Boszczowksi e
Teixeira (2012). A “resultante” disso é o desenvolvimento de uma sustentabilidade, além do
padrão, e mais holística, como Boff conceitua (2017).
Um dado teórico que também confirma-se no perfil de trabalho da Okoko e Abel é a
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obstinação pelo novo e desconstrução de paradigmas apontados por Zenone (2015) como
característica do empreendedor sustentável. A Okoko e Abel desde o início queria
desconstruir a tradição do sapato tradicional gaúcho, mas hoje pode-se verificar que com a sua
gestão de mente sustentável que descontrói além do sapato, mas também o mercado
tradicional calçadista gaúcho. A empresa é procurada por celebridades, estilistas e stylists
para parcerias de nível nacional, e desenvolve o espírito de cooperação enquanto mercado de
moda slow, procurando crescer na indústria da moda de forma cooperativa.
Este estudo responde aos objetivos propostos e as sua hipótese se confirma, porém
enquanto limitações de estudo encontram-se a falta de clareza sobre a gestão econômica do
empreendimento e de como realizam e organizam o seu balanço patrimonial, pois nota-se que
não exercem controle das variáveis financeiras, nem mesmo um trabalho de vendas mais
orientado em seu e-commerce. Na questão social, a marca desenvolver mais ações voltadas á
diversidade que defende. Sugere-se auxiliar ONGS de pessoas que passaram por transição de
gênero, não compreendidas e expulsas de casa e dar à elas o conhecimento e a oportunidade
de trabalho, para que essas pessoas não sejam marginalizadas ás condições das ruas e da
prostituição, que por vezes impera.
No decorrer deste estudo de caso pode tentar responder a queixa de Kate Flatcher ao
afirmar que as marcas slow precisam realizar mudanças ativas de dentro pra fora vendendo
um estilo de vida, que pode ser diverso graças à uma produção sustentável. Além das
perguntas de Borges et al, (2013) que se referem como nascem as empresas, se já nascem com
a cultura de sustentabilidade, os obstáculos que enfrentam e os fatores de sucesso desses
novos empreendimentos.
De acordo com os indicadores de tipos de empreendedorismo sustentável teorizado
por Borges (2013) conclui-se que a Okoko e Abel atende um nicho híbrido (ambiental e
social), e como empreendedores estão criando valor ambiental e social pelo produto que
oferecem, porém ainda não possuem uma responsabilidade social empresarial mobilizada
pelos seu negócio.
Sugerem-se pesquisas futuras que estudem empreendimentos semelhantes para ter um
melhor entendimento e comparar empreendimentos sustentáveis. Também sugere-se estender
o estudo para mensurar os impactos sociais e ambientais da Okoko e Abel na vida de seus
stakeholders, dando continuidade á este trabalho.
REFERÊNCIAS
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https://www.modefica.com.br/entrevista-kate-fletcher/#.XboyoJpKjIU, Acesso em 28 de set.
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in 9º Colóquio de Moda, Fortaleza(CE), 2013.
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4, p. 419-430, 2006.
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