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Apresento alguns mitos da tradição oral do Povo Ticuna e onde estão localizados. Foi Yo'i
quem pescou os primeiros Ticunas nas águas vermelhas do riacho Eware. Os Magüta
(“grupo de pessoas pescadas com vara”) que passaram a morar nas proximidades da casa
de Yo'I, na montanha chamada Taiwegine. Os Mitos Ticuna são originários do igarapé
Eware, localizado nas nascentes do córrego São Jerônimo (Tonatü), afluente da margem
esquerda do Rio Solimões. Ticunas viviam no topo dos afluentes da margem esquerda do
rio Solimões. Alguns indígenas desceram o rio até Tefé e outros municípios do médio
Solimões.
No alto Solimões, porém, os Ticuna estão presentes em todos os seis municípios da região.
É encontrada em seis municípios: Tabatinga, Benjamim Constant, São Paulo de Olivença,
Amaturá e Santo Antônio do Içá.
A língua Ticuna é amplamente falada em uma grande área por numerosos falantes cujas
comunidades estão distribuídas em três países: Brasil, Peru e Colômbia. Do lado
brasileiro, o número de comunidades equivale a um elevado número de aldeias. A maioria
das aldeias está localizada ao longo do Rio Solimões.
Os mitos das etnias Ticunas estão ligados às mitologias analisadas do antropólogo Claud
Lévi- Strauss. Trouxe três (3) mitos para analisar, como: Ucae, Metare e Wücütcha. Esses
três (3) elementos cada momentos vão aparecer de diferente de forma, ou nome. Fiz
alguns ajustes nos mitos na narrativa de tradução.
UCAE
Yo’i e Ipi, foram caçar. Quando chegaram ao mato, encontraram a armadilha que Ucae
havia feito para pegar Cutia. Ipi caiu na armadilha e disse com raiva:
E Yo’i foi para casa. Ucae mirou para sua armadilha e viu que um veado já estava
pendurado ali.
Ucae pegou o veado, mas não conseguiu tirar a corda do pescoço. Decidiu então procurar
envira para transportar veado. Ao tentar puxar a matamatá, cometeu um erro e puxou-a
de baixo para cima. Os galhos do arvore se abriram, e a envira se enrolou em torno dele,
sendo que é difícil de tirar.
Ucae diz:
Mas nessa hora o veado ganhou vida e fugiu. Ucae ainda o segue. Mas o veado
desapareceu rapidamente.
Outro dia, Yo’i e Ipi foram caçar novamente e encontraram a mesma armadilha no
caminho.
Ipi reclama:
- Uai, quem foi louco o suficiente para montar essa armadilha aqui?
Ipi então se virou e peidou na armadilha. E a corda ficou presa em seu pescoço novamente
e ele se transformou em um veado e ficou preso. Yo'i o deixou lá e foi para casa.
Ucae veio ver sua armadilha. Desta vez trouxe uma clava para acertar o veado. Ao bater,
o veado virou folha de patauá e ficou parecido com um aturá. Não muito depois ele se
transformou em um veado e fugiu.
Na terceira vez que Yoi e Ipi foram caçar, Ucae pegou o veado novamente. Ele foi morto
e levado para casa.
Dois bichos vivem na casa de Ucae que é Deatchametü ("cara amarela") e Ngetacatchi.
Ucae começou a tratar o veado. Ele pegou o bucho e fatiou tudo em pedaços pequenos, e
começou a comer.
- Vamos comer.
Deatchametü:
- Não quero comer porque tenho medo do irmão dele. Ele pode estar aí.
Ngetacatchi:
Não vou comer porque tenho pavor desse irmão do veado, Yatatchiwe. Ele pode estar aí.
Todos os bichos estavam do lado de fora e não podiam ver nada da cena da morte.
Acharam que Ucae não apareceu porque estava no mato removendo olho de Paxiúba. Mas
quando souberam que Ucae estava morto, escaparam com pavor.
Berrou Ipi:
Resumo:
Dois irmãos são caçadores Yo’i e Ipi foram caçar. Ao chegarem no mato, encontraram a
armadilha que Ucae havia feito para pegar Cutia. Ipi caiu na armadilha e a corda da
armadilha se enrolou em seu pescoço, ele se transformou em um veado e morre.
Ucae olhou na armadilha e viu que tem veado pendorado, mas não conseguiu tirar a corda
do pescoço. Ele então decidiu procurar a envira para transportar veados. Ao tentar puxar
o matamatá, errou e puxou de baixo para cima. Os galhos da árvore se abriram e a árvore
se enrolou do veado e ganhou vida e fugiu e desapareceu rapidamente.
Yo'i e Ipi foram caçar novamente e encontraram a mesma armadilha no caminho. Ipi então
se virou e peidou na armadilha. E a corda ficou presa em seu pescoço novamente e ele se
transformou em um veado e ficou preso. Yo'i então foi para casa e deixou Ipi na
armadilha. Ucae veio ver sua armadilha. Desta vez ele trouxe uma clava para acertar o
cervo. Ao ser atingido, o veado virou folha de patauá e ficou parecido com um aturá. Não
muito tempo depois, ele se transformou em um veado e fugiu.
Na terceira vez que Yo’i e Ipi foram caçar, Ucae pegou o veado novamente, é morto e
levado para casa. Na casa de Ucae moram dois bichos, que são Deatchametü (cara
amarela) e Ngetacatchi. Ele então começou a tratar e comer o veado, e ofereceu por dois
bichos. Mais os dois bichos recusaram e ficaram com medo do Yo’i, que é irmão do Ipi.
Além de Ngetacatchi e Deatchametü, existem outros bichos que moravam na casa de
Ucae, e só comia dos intestinos do veado. Enquanto preparava a carne, Yo'i estava logo
atrás de Ucae, e acerta nas costas com um taco e a mata.
Yo'i coleta a carne de veado e reviveu o irmão Ipi, e voltaram para moradas.
METARE
Witchicü era um bicho, matava todos os genros que se casam com sua filha, e matou
cinco. Um deles chamou Witchicü para comer o beijú que sua filha lhe deu. Mas antes
que o genro coma, diz a ele para pegar uma corda e subir na árvore de abacaba. Witchicü
disse a ele para colocar uma corda em volta do pescoço. Quando o genro estava lá, ele
puxou a corda, cai e morre. Witchicü comeu com beiju imediatamente o genro. O último
genro de Witchicü foi Metare.
Metare pensou: “Agora é a minha vez. Vou me casar-se com a filha de Witchicü. "
Witchicü respondeu:
- Minha filha está aqui e quem quiser se casar com ela será bem-vindo,
Metare se casou e Witchicü logo ordenou que sua filha fizesse pamonha. E chamou o
genro para ir no mato buscar a abacaba. Quando chegou lá Witchicü, então ordenou ao
genro que cortasse cipó. Disseram-me para não ir para o outro lado porque tinha muita
formiga de fogo. Metare engana o sogro e passa para o lado proibido. Ao chegar, viu os
ossos dos outros genros que Witchicü havia comido. Quando ele voltou, Witchicü disse-
lhe para enrolar o cipó no pescoço para pegar a fruta. Porém, Metare apenas colocou o
cipó em seu ombro. Witchicü viu e ordenou que ele o colocasse novamente no pescoço.
Japó ficou em um galho. Witchicü pensou: “Minha comida se foi, e agora o que devo
comer com a pamonha?”
O japó cantou:
Ao ouvir o canto Witchicü comera a carne de uma de suas pernas. Ele não sabia que estava
comendo seu corpo. O japó começa a cantar novamente. E Witchicü come a outra perna.
Na terceira vez ele devora a coxa. Na próxima vez, ele devora o resto da outra perna.
Então ele devora seu estômago. A última vez que o japó canta, Witchicü almoçara seus
braços. As únicas coisas que lhe restaram foram os ossos, a cabeça e o coração. Mas ele
ainda está vivo.
MUSEU NACIONAL. Torü Ngenpatü. Nosso povo. Rio de janeiro. 1985, p. 57 – 58.
Resumo:
Witchicü era um ser que matava todos genros. Após se casarem com sua filha, ele os
chamava para colher abacabas, pedia para que colocassem uma corda de cipó no pescoço
e subissem para apanhar a fruta. Quando o genro estava em cima da árvore, Witchicü
puxa a corda e mata-o enforcado. Posteriormente Witchicü se alimenta do corpo do genro
juntamente com a comida que sua filha oferecia ao genro.
Metare se pediu permissão para casar com a filha de Witchicü, sendo que a bênção para
o matrimônio foi concedida por ele. Em um certo dia Witchicü pede para que sua filha
cozinhe pamonha e chama Metare para colher abacabas, repetindo a mesma tática que
utilizou com os genros anteriores. Chegando na mata, o sogro pede para que Metare corte
cipó, porém aconselha a não ir para um lado específico por haver formigas de fogo.
Metare desconfia e vasculha a região, identificando os ossos dos genros assassinados. Ao
voltar com o cipó, Witchicü pede para que Metare amarre-o no pescoço e suba na árvore
para apanhar a fruta. Contudo, Metare colocou a corda no ombro, Witchicü percebeu e
ordenou que ele colocasse no pescoço.
Metare se transforma em um japó (ave). Witchicü fica aborrecido. Porém, ao ouvir os
sons do japó, ele o captura e começa a se alimentar de seu corpo, iniciando pelas pernas,
coxa e estômago, sendo que Witchicü não percebe. Quando Metare canta pela última vez,
Witchicü se alimenta de seus braços.
WÜCÜTCHA
Wücütcha sempre trazia ovos de tartaruga para a avó. Esses ovos então se transformavam
crianças. Ele também assassinou o pai e a mãe das crianças. Ele assassinou a mãe
enquanto ela ainda estava grávida e levou a criança embora. Esta criança mais tarde se
converteu em um ovo de tartaruga.
Um dia Wücütcha trouxe sete ovos para a avó. Quatro meninos e três meninas surgem do
ovo. À medida que crescem, as crianças dizem:
- Agora vamos matar a avó do Wücütcha porque ele assassinou nossos pais.
Eles mataram a velho e desmembraram seu corpo. Eles então jogaram os fragmentos ao
longo do caminho pelo qual o Wücütcha havia passado. Então as crianças viraram
pássaros e ficaram nos galhos esperando Wücütcha.
Quando voltou da caça, Wücütcha não conseguiu encontrar sua avó, então saiu em busca
dela. Gritou:
- Olá vó! Onde você está? Então os pedaços espalhados pela estrada responderam.
- Uh! o que!
Wücütcha olhou e não viu nada. Acabei de ouvir uma voz. Ele voltou duas vezes para
onde ouviu o som, mas não viu nada. Pela terceira vez ouviu o canto dos sete pássaros:
- Agora você paga pelo que fez, Wücütcha! Está pagando pela morte de nossos pais e
mães!
Ele foi para casa, pegou sua zarabatana, pensou: “Vou matar todos eles...” e atirou uma
flecha, mas errou. Com o trespassar do dia ele continuou a fazer mais flechas. E ele
continuou disparando. Mas ele nunca acertou. Durante cinco dias ele fez flechas para
pegar os pássaros.
Wücütcha não queria mais comer. Foi muito fraco. Ele quase morreu.
Havia um caititu morto em sua casa, e ele deixou apodrecer. Não tinha mais energia para
comer.
MUSEU NACIONAL. Torü Ngenpatü. Nosso povo. Rio de janeiro. 1985, p. 61 – 62.
Resumo:
Wücütcha sempre trazia ovos de tartaruga para sua avó. Esses ovos crianças
transformadas que foram roubadas de mães grávidas, sendo que ambos os pais eram
assassinados.
Dos sete ovos trazidos por Wücütcha, quatro se transformaram em meninos e três em
meninas. Eles decidiram matar a avó por causa da morte dos seus pais, dividindo-a em
sete pedaços e jogando as partes do corpo ao longo do caminho por onde Wücütcha havia
passado. Após matarem a avó, as crianças se transformaram em pássaros e aguadaram por
Wücütcha.
Após retornar da caça Wücütcha procurou sua avó e não a encontrou. Chamou por ela e
a voz vinha de onde os fragmentos do corpo haviam sido jogados pelas crianças. Depois
de ouvir vozes e sons por três vezes, Wücütcha percebeu que eram os pássaros que
estavam emitindo os sons e percebeu que sua avó havia falecido.
Emocionalmente abalado, Wücütcha exclamou que iria matar as crianças. Por cinco dias
Wücütcha tentou matar as crianças transformadas em pássaros com flechas, mas sem
sucesso. Frustrado e abatido, Wücütcha parou de comer e ficou enfraquecido.
Durante analises dos mitos UCAE, METARE e WÜCÜTCHA, posso começar pelo
qualquer dos textos narrativos.
Então, esses três Mitos Ticunas, há ligação com Mitos do Bororo. O herói do mito bororo
seria o Yo’i. E outra coisa que também vejo bastante nos mitos, sobre o poder se
transforma de forma animal ou de aves, e qualquer pode se converter de novamente em
humano.
Nesses três Mitos, o herói Yo’i munda de nome. No segundo texto narrativa Yo’i é o
Metaré, e em terceiro texto foi umas das crianças. Já a filha de Witchicü, seria Ipi. Tem
momentos que cada mitos citam outros elementos, como no M1 cincos genros, M2
Deatchametü e Ngetacatchi e outros Bichos, M3 os pais.
Esses são alguns mitos da Etnia Ticuna, que trouxe para fazer análise. Os mitos já estão
no livro que é “Torü Duü’ügü (Nosso Povo). Metare e Wücütcha tinha continuação, com
outro Bicho e narração.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MUSEU NACIONAL, UFRJ, SEC, MEC, SEPS, FNDE. Torü duü'ügü: Nosso Povo.
Rio de Janeiro: Memórias Futuras Edições, 1985. p. 43-62.