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Capa NTFS no Linux

Acessar as outras partições


em sistemas dual-boot
de forma rápida pareceu,
durante anos, um bicho
de sete cabeças. Com
um pouco de trabalho, é
possível fazer isso tanto no
Linux quanto no Windows®.
por Thoralf Polet
Acessando partições do Windows® em sistemas dual-boot

Coexistência pacífica
O
s usuários de sistemas com dual- Jan “Lace” Kratochvil criou uma varian- Isso ocorre na assim chamada “caixa de
boot Windows/Linux enfrentam te chamada captive-ntfs [2] para possibilitar areia” (sandbox), um espaço necessário
um problema cada vez mais gra- a gravação de dados em partições NTFS. para emular um subsistema do kernel
ve: a difusão crescente do sistema de ar- Kratochvil é responsável por uma série de W32 (o núcleo do Windows em 32 bits)
quivos NTFS, que não pode ser alterado programas, entre eles o Surprise, que serve, e para conferir estabilidade ao sistema
a partir do Linux. Para a troca de dados entre outras coisas, para administrar e geral em operações contíguas de hard-
entre os sistemas operacionais ou para redimensionar partições Linux e FAT [3]. ware. São necessários, para a aplicação
o acesso de escrita compartilhado, res- A última versão, 1.1.5, do Captive NTFS do Captive, o driver NTFS ntfs.sys e o
ta como solução somente uma partição foi lançada no início do ano e fez bastante kernel ntoskrnl.exe.
FAT. Entretanto, mais e mais usuários sucesso entre os usuários – sobretudo os Além disso, uma parte das rotinas foi
estão optando por partições NTFS no do Knoppix a partir da versão 3.4, bem descoberta pelos desenvolvedores no
lado Windows® – mais lentas, porém como os de outros sistemas baseados em projeto ReactOS [4] , um clone livre do
estruturalmente melhor concebidas [1] . Knoppix, como o LinuxDefender Live! da Windows NT (visite e contribua!). Ao
Além disso, muitos computadores novos BitDefender. Os administradores de siste- contrário do Wine, implementa-se o Cap-
comprados em supermercados e lojas mas são os principais beneficiados com a tive somente no espaço de usuário. Em
vêm com o Windows XP pré-instalado possibilidade de gravação, principalmente vez de ampliar o Wine conforme origi-
– e, invariavelmente, com os discos for- nas tarefas de recuperação de sistemas. nalmente planejado, Kratochvil usou o
matados em NTFS. ReactOS, que disponibilizava as rotinas
O kernel Linux dispõe há muitos anos Acesso negado necessárias.
de um módulo para a integração das par- Para a Microsoft, o NTFS está na categoria O Captive integra os drivers como o
tições NTFS com acesso de escrita, per- dos segredos operacionais estritamente sistema de arquivos LUFS(UserLand Fi-
mitindo o acesso aos dados do Windows confidenciais – como praticamente todos leSystem) [5]. Este último deve necessa-
NT, do Windows 2000 e do Windows XP os seus protocolos e formatos de arquivos riamente ser instalado. O Captive NTFS
(e, possivelmente, do Windows 2003 e do – já que isso impede que outros programas está disponível na página do projeto
Longhorn, ops, Vista, ops… quem sabe?). ou sistemas operacionais o acessem. Por tanto em código fonte quanto em pacote
Entretanto, os próprios desenvolvedores isso, a comunidade Linux usa um pe- RPM para download; em [6] encontra-se
do módulo desaconselham seu uso, pois queno truque, no qual são utilizados os um pacote do Debian (captive-static-
há risco real de perda de dados. drivers originais do Windows®. 1.1.5-1.deb, Tamanho: 9,6 MB). Como

24 setembro 2005 edição 12


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de costume, a instalação ocorre com o usa uma “caixa de areia” e roda em uma
seguinte comando: dpkg -i captive- emulação, portanto espere uma queda
static-1.1.5-1.deb. acentuada de desempenho no sistema e
Essa instalação pode ser executada de uma velocidade pífia de acesso à partição
maneira mais simples com o utilitário apt- ou disco NTFS.
get: abra sua lista de repositórios Debian O setup acessa alguns arquivos com-
(arquivo /etc/apt/sources.list) com plementares do Windows® (mais precisa-
seu editor de textos preferido e insira no mente, são eles: cdfs.sys, ext2fsd.sys,
final dele a linha a seguir: fastfat.sys, ntfs.sys e ntoskrnl.exe).
Para evitar dissabores com a Microsoft,
deb http://www.kruyt.org/debian / uma cópia legal do Windows® deve ser
usada como fonte destes arquivos. Às
Agora basta digitar os comandos vezes a Microsoft persegue também a Figura 1: O programa de instalação procura
pelos drivers disponíveis no sistema.
apt-get update && apt-get install utilização ilegal de arquivos individuais.
captive-native, pra resolver todo o Lembre-se da confusão criada a respeito
problema. Entretanto, durante a criação do arquivo mscdex.exe: os fabricantes de utilitário permite baixá-los do site da
deste artigo, o servidor estava fora do ar. CD-ROM não podiam entregá-lo com os Microsoft (são parte do Windows XP
Nesse caso, o pacote RPM da página do respectivos drivers. Service Pack 1), desde que você confirme
projeto (em [2]) deve ser convertido para O script captive-install-acquire ter uma licença válida. Até o momento
o formato DEB com o Alien: providencia a busca dos arquivos a Microsoft, aparentemente, tolera esse
necessários. Como infelizmente o pro- procedimento. Entretanto, nunca se sabe
alien captive-static-1.1.5-0.i386.rpm grama em modo gráfico trava de vez em quando o vento vai mudar de direção.
quando durante a busca, existe como al-
e então instalado com o comando: ternativa a opção --text para forçar sua
execução em modo texto. Nesse modo, o
dpkg -i captive-static_1.1.5_1.i386.deb programa exibe várias mensagens sobre
o processo de instalação.
Obviamente, se preferir, compile o cap- Uma alternativa é colocar cópias dos
tive a partir do código fonte. arquivos da partição do Windows® acima
Antes da ativação do driver é uma mencionados diretamente em /var/lib/
boa idéia fazer um backup da partição captive de forma a economizar tempo
NTFS para se prevenir contra possíveis e esforço, pois o processo de busca é ex-
acidentes. Apesar dos relatos de expe- tremamente demorado.
riências positivas, não se pode excluir Kratochvil faz, na página do projeto,
a possibilidade de eventuais problemas, a observação de que são exigidos uma
pois os desenvolvedores não conhecem licença de Windows XP válida e a acei- Figura 2: Como alternativa, é possível baixar
os drivers do website da Microsoft. Entretanto,
todas as especificações devido à política tação do Contrato de Licenciamento de
isso exige uma licença válida para a versão do
de “não-informação” da Microsoft. Te- Usuário Final (EULA) do sistema para Windows® utilizada.
nha em mente, também, que essa solução que se possam utilizar os arquivos. Um

Listagem 1: Mensagens do captive-install-fstab


Found NTFS disk partitions are prepared in /etc/fstab. You can mount them by commands mount(8) or usermount(1) such as:
mount /mnt/captive-LABEL_C
Available captive-ntfs partitions:
/mnt/captive-noname
/mnt/captive-noname2
/mnt/captive-noname3
/mnt/captive-noname4

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Listagem 2: Itens do fstab para NTFS uma solução viável com custo zero. Se
/dev/hda5 /mnt/captive-noname captive-ntfs defaults,noauto 0 0 for imprescindível a escrita contínua no
/dev/hda6 /mnt/captive-noname2 captive-ntfs defaults,noauto 0 0 disco e também que o desempenho do
/dev/hda12 /mnt/captive-noname3 captive-ntfs defaults,noauto 0 0 sistema não seja afetado, deve-se con-
/dev/hda1 /mnt/captive-noname4 captive-ntfs defaults,noauto 0 0 siderar fortemente o uso de um produto
comercial como o Paragon NTFS para
Linux, que custa em média 70 Euros
Em 31 de outubro 2004, Kratochvil (mais ou menos R$ 250,00).
anunciou em sua lista de discussão o
fim do desenvolvimento do Captive. Com Acesso ao Linux
a última versão lançada, o software já O caminho inverso é muito mais fácil:
tem, do ponto de vista do desenvolve- o Linux é um sistema aberto, todas as
dor, os recursos mais importantes. Falta especificações são conhecidas e, dessa
apenas o suporte para os arquivos (dri- forma, não há nenhum obstáculo para
vers) distribuídos com o Service Pack 2 o acesso a partir do Windows®. Um ve-
do Windows XP. Se este já estiver ins- lho conhecido é o Explore2fs, de John
talado, os drivers nativos não poderão Newbigin [7], programa que permite a
serão aproveitados. leitura e escrita de dados em partições
Figura 3: Preparar, apontar, fogo!
Após uma atualização do Windows Ext2 e Ext3 no Windows. Ele desenvolveu
XP® para o Windows XP® Service Pack o software originalmente para o Windo-
O programa /usr/sbin/captive-ins- 1, os drivers antigos se encontrarão no ws NT®, mas agora oferece suporte para
tall-fstab registra as partições encon- diretório de backup da instalação, que todas as versões do Windows® a partir
tradas no arquivo /etc/fstab. Finalmente na maioria dos casos é C:\Windows\ do Windows 95®.
elas são disponibilizadas ao usuário com $NtServicePackUninstall$. Nesse caso, Nos últimos anos houve basicamente
um simples comando de montagem. Se aconselha-se a já descrita cópia manual pouquíssimas alterações nas “engrena-
o reconhecimento das partições for bem- ou, alternativamente, o download dos gens” do programa. A maior, e também
sucedido, o script mostrará um resultado drivers. No caso de sistemas com o Ser- mais conveniente, melhoria dos últimos
como o da listagem 1. vice Pack 2 (ou posterior) já instalado, o anos foi a leitura da fstab para visua-
As linhas no arquivo /etc/fstab cor- download dos arquivos é indispensável. lizar o ponto de montagem, em vez de
respondentes ao nosso exemplo são mos- Exceto por alguns pequenos problemas, apenas especificar de forma críptica o
tradas na listagem 2. como o da velocidade e a instalação com- dispositivo. A interface lembra bastante
Por motivos de segurança, não se acon- plicada de drivers, o Captive representa o Windows Explorer do Windows® 9x/NT.
selha uma montagem automática das
partições. Em vez disso, cada partição
utilizada deve ser montada manualmente
somente em caso de necessidade, como,
por exemplo, com o comando mount /
mnt/captive-noname2. Kratochvil acon-
selha explicitamente a desmontagem ma-
nual das partições NTFS com o comando
umount antes de fazer “logout” ou reini-
ciar o sistema.
Não há nada de mau em utilizar pontos
de montagem já existentes. É necessário
somente alterar manualmente as configu-
rações no arquivo fstab. O Captive cria
tanto um usuário quanto um grupo com
o mesmo nome (captive) no sistema. Figura 4: A interface do Explore2fs lembra bastante o Windows Explorer no Windows® 9x/NT.

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Figura 5: O Ext2IFS permite a integração das partições Linux como drives comuns do Windows.

Nas opções do programa você pode ativar Ferramentas adicionais para o acesso às
o suporte a gravação de dados, porém por partições Reiser podem ser encontradas
sua própria conta e risco. em [10],[12] e [13]. ■
O Explore2fs reconhece partições Rei-
serFS, mas não exibe o seu conteúdo. O Informações
desenvolvedor integrou também o suporte [1] Verbete da Wikipedia sobre o NTFS, em
experimental para o LVM2 (usado no Re- português: pt.wikipedia.org/wiki/NTFS
dHat Enterprise Linux 3 e Fedora Core 3) [2] Página do Captive (em inglês):
na última versão 1.07. www.jankratochvil.net/project/captive
Uma alternativa é o Ext2IFS [8], um [3] Todos os projetos de Jan Kratochvil (em
driver do Windows® para partições Ext2/ inglês): www.jankratochvil.net
Ext3. Após a instalação, surge o ícone
[4] ReactOS: www.reactos.com
Dispositivos IFS no painel de controle do
[5] LUFS Userland Filesystem:
Windows®. Ele mostra todas as partições
lufs.sourceforge.net/lufs
reconhecidas e oferece a possibilidade de
[6] Pacote Debian do Captive:
atribuir uma letra não usada de drive às
www.kruyt.org/?sub_item=46
partições Ext2/Ext3 – e você pode acessar,
no Windows, a partição do Linux pelo [7] Explore2fs: ]uranus.it.swin.edu.au/~jn/linux
drive L:, por exemplo. [8] Driver Ext2 para Windows®:
Com o Ext2IFS você pode ler e gravar www.fs-driver.org
partições Ext2/Ext3 no Windows como [9] Plugins para o Total Commander (em inglês,
se fossem discos NTFS/FAT comuns. É alemão e francês): ghisler.com/plugins.htm

realmente sopa no mel. [10] Visualrfstool:


sourceforge.net/projects/visualrfstool
Para melhorar, dá-lhe plugin [11] Rfstool:
Para simplificar ainda mais a integra- www.p-nand-q.com/download/rfstool.html
ção, há também o plugin Ext2+Reiser [12] RFSGUI: www.wolfsheep.com/map/#RFSGUI
1.2 para o gerenciador de arquivos To-
[13] LTOOLS (em inglês e alemão)
tal Commander [9], que acessa, além de www.it.fht-esslingen.de/~zimmerma/
partições Ext2 e Ext3, também parti- software/ltools.html
ções ReiserFS. Entretanto, esse software
somente oferece o acesso de leitura às
partições Linux. Dois semestres de aulas de Unix na
Sobre o autor

A única falha dos drivers e programas universidade entre 1993 e 1994 foram
apresentados para o acesso a partições a “porta de entrada” para Thoralf Polet.
Linux é que eles violam as permissões de Desde 1996 ele é um “linuxer” ativo e
acesso do Unix, ou seja, ignoram comple- interessa-se, além de outros aspectos,
tamente coisas como usuários e grupos, sobretudo pela aplicação do pingüim na
dando acesso total ao conteúdo do disco. área acadêmica.

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