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Gengis Khan (em mongol: Чингис Хаан; romaniz.

:Tchingis Khaan; 1162 — 18 de agosto de


1227), também grafado como Gengis Cã,[1][2] Gêngis Cã[3][4] ou Gengiscão,[5][6] foi o
primeiro grão-cã e o fundador do Império Mongol.

Nascido com o nome de Temudjin nas proximidades do rio Onon, perto do lago Baical,[7]
inicialmente enfrentou a rejeição de sua família por seu próprio clã, mas conseguiu conquistar
sua liderança, vencer seus rivais e unificar os povos mongóis sob seu comando. Estrategista
brilhante, com hábeis arqueiros montados à sua disposição, venceu a Muralha da China,
conquistou o Império Tangute e lançou as bases para a conquista do restante da China. Na
sequência, estendeu o seu império em direção ao oeste e ao sul e tornou-se o líder militar que
mais conquistou territórios na história, controlando quase vinte milhões de km².[8]

Gengis morreu antes de ver seu império alcançar sua extensão máxima, mas todos os líderes
mongóis posteriores associariam sua própria glória às conquistas de Gengis, "que foi um dos
comandantes militares mais bem-sucedidos da história da humanidade".[9] As suas campanhas
foram normalmente acompanhadas por massacres em larga escala das populações civis, sendo
estimado que causou a morte de trinta a sessenta milhões de pessoas.[9] Teve cerca de
quinhentas esposas e concubinas.[9]

Juventude

Temudjin nasceu na Mongólia na década de 1160, provavelmente em 1162. Supõe-se que seja
descendente de um líder mongol conhecido como Cabul Cã, do clã Bojigin, que por breves anos
obteve controle sobre uma Mongólia unificada. Entretanto, na época do nascimento de
Temudjin, os mongóis estavam divididos em diversas tribos e clãs, cada uma governada por um
cã, ou "Senhor", que se impunha mais pela força do que pela ascendência nobre.[7] Com
Temudjin não seria diferente. Quando tinha nove anos, Temudjin foi ao clã dos Merquitas para
escolher uma esposa e refazer a paz entre os clãs (há muito tempo, seu pai havia roubado a
esposa do Cã dos Merquitas e se casado com ela, ela era a mãe de Temudjin), mas no caminho,
parou para pernoitar num clã aliado, os Onggirat, aonde se apaixonou por Borte. Pediu ao pai
para praticar a escolha de esposas ali, porém, ao invés de apenas praticar, escolheu
oficialmente Borte como sua noiva. No caminho de volta, seu pai, Yesugei, foi envenenado por
membros da tribo dos tártaros. Sem que os filhos de Yesugei tivessem idade para assumir o
controle da tribo, esta passou a ser comandada por um novo cã, Targutai, ex-soldado de
Yesugei, que expulsou a família do clã para evitar futura contestação de sua liderança,
forçando-os a sobreviver nas estepes, sem gado ou cavalos.

Passou a infância inteira tentando fugir do algoz Targutai. Quando tinha 16 anos, a fim de
cimentar alianças entre a sua tribo e tribo de sua esposa, Börte, teve quatro filhos que
receberam os nomes: Jochi (1185-1226),[nota 1] Chagatai (1187-1241), Gedei (1189-1241), e
Tolui (1190-1232).[10] Ele também teve outros filhos de outras mulheres, mas seus nomes não
são lembrados porque não recebem uma herança que lhes daria autoridade no clã. Aos 17
anos conseguiu reencontrar Börte, casando-se.[nota 2]

Ascensão
Mapa mostrando o domínio de Gengis (tracejado em laranja) no século XIII

Como quase todos os mongóis, Temudjin provavelmente tinha sido treinado como arqueiro
montado desde muito jovem. A habilidade na montaria, comandada apenas com os joelhos e a
destreza no arco e flecha, aliada a uma vida dura nas estepes tornavam os guerreiros mongóis
muito temidos e respeitados. Depois de casar-se com Borte, Temudjin seguiu com ela por um
caminho incerto pela Mongólia, até que, um dia, os dois foram encontrados por um grupo de
merquitas comandados por Chitedu (ex-marido da mãe de Temudjin), que queria a esposa de
Temudjin como vingança pela ofensa que seu pai havia feito antigamente. Temudjin reuniu
alguns homens e foi até Jamuca pedir ajuda para resgatar Borte.

Ao destruir os merquites, Temudjin encontrou provavelmente Börte Ujin grávida, fazendo sua
primeira paternidade ser duvidosa.[11] Após restabelecer seu clã (formado por seus homens
que sobreviveram à guerra e pelo remanescente do povo dos merquites), Temudjin seguiu
como nômade pela Mongólia, porém alguns homens de Jamuca se uniram a ele, ganhando o
rancor de Jamuca, que ordenou a seus homens escravizarem e levar Temudjin até a China.

Temudjin foi preso e humilhado pelos Chineses.

Sua esposa Borte consegue resgatá-lo e não quis voltar à Mongólia, afirmando que ela estava
corrompida e sem leis. Determinado a unificar a Mongólia, Temudjin determinou as leis dos
mongóis. Nessa época, a força de Temudjin era conhecida em toda a Mongólia. Temudjin
seguiu pregando a unificação da Mongólia nos clãs e muitos cãs se uniram a ele, porém, a
maioria dos clãs se uniram a Jamuca, que pregava a destruição de Temudjin. Finalmente, a
Mongólia estava dividida em duas: o exército de Temudjin e o exército de Jamuca. Os dois
exércitos se encontraram para a batalha final na qual Temudjin foi o vencedor.

Em 1206, uma assembleia entre os chefes de todas as tribos das estepes proclamou Temudjin,
então com quarenta e cinco anos, como Gengis Khan, o "cã dos cãs". Criou-se uma hierarquia
administrativa e militar e um exército foi treinado e organizado. Para comandar um exército de
milhares de homens e diminuir o poder dos antigos cãs, Gengis criou uma hierarquia militar
baseada na unidade mínima de dez homens comandadas por um deles. Dez unidades de dez
homens cada seriam comandadas por um novo líder, que por sua vez faria parte de um grupo
de mil sujeitos a um comandante determinado; este, por sua vez, obedecia a um general que
tinha sob seu controle dez mil homens. Acima dos generais, apenas Gengis Khan.

Com um exército tão poderoso, Gengis resolveu partir para o sul e invadir as terras do reino de
Hsi Hsia, também chamado de Xixia, vassalos do império chinês, que, nessa época, se dividia
em duas dinastias: o império Jin, ao norte e o império Song, ao sul. Pela primeira vez, os
mongóis tiveram de enfrentar cidades muradas. Sem ainda conhecerem ou dominarem as
máquinas de cerco, a capital não pôde ser conquistada. Porém, diante da recusa do império Jin
em mandar um exército ao auxílio ao reino Xixia, este se submeteu ao poderio militar dos
mongóis e lhes pagou um grande tributo que incluiu a filha de seu governante, dada como
segunda esposa a Gengis.[7]

Táticas de guerra

Ver artigo principal: Exército Mongol

Gengis criou táticas de guerra revolucionárias para as batalhas nas estepes e também é
considerado um dos percussores da Guerra humanitária junto com Átila segundo Noam
Chomsky.[12] Seu exército era disciplinado, temido e impiedoso. A arma tradicional dos
mongóis era o arco mongol, espécie de arco recurvo composto por madeira, cola e chifres de
animais, que possibilitava que com a redução de força relativa ao arco longo, os arqueiros
conseguissem atirar com mais agilidade e mais precisão. O tamanho relativamente menor em
relação ao arco longo, também possibilitava maior portabilidade em cima da montaria, com
isso tornou obrigatório o treinamento dessa arma. Os cavaleiros eram treinados para atirar a
flecha com o cavalo em movimento. Um detalhe era que, para maior precisão, a flecha era
disparada no momento em que o cavalo estivesse em pleno galope. Esses cavaleiros, os
chamados mangudais, eram uma arma poderosa contra a infantaria inimiga, já que juntavam
dois princípios: arco e flecha e cavalaria, ou seja, um mangudai poderia ser rápido e preciso
para atingir os inimigos mesmo estando longe. O arco mongol era até mais potente que os
arcos longos utilizados pelos ingleses e galeses com grande êxito em batalhas contra os
franceses durante a Guerra dos Cem anos.

Conquistas

Em 1207-1208, os mongóis foram forçados a expandir seu território de pastagem devido a


algum problema climático nas estepes e conquistaram o reino tangute de Hsi Hsia. Em seguida,
atravessaram a muralha contornando-a e chegaram à China, cujo reino estava dividido entre as
dinastias Jin, ao norte e Song, ao sul. As vastas plantações de arroz e a riqueza da cidade
atraíram mais a atenção de Genghis do que a possibilidade de se tornar senhor da China. Na
conquista do reino Jin, Gengis recrutou um jovem chinês chamado Yeh-lu Ch'u-ts'-ai como seu
conselheiro pessoal. A sua influência tornou Genghis mais tolerante e menos agressivo em
batalha, estimulando-o a evitar esforços exagerados na guerra e conservar as terras cultivadas
ao invés de transformá-las em pastagens.

Gengis marchou até Pequim, o mais avançado centro urbano daquela época e, quando viu que
a cidade era cercada de muralhas de doze metros de altura, descobriu que suas táticas de
guerra em campo aberto, nas estepes, não o ajudariam naquele momento. Desse modo, não
teve pressa e acampou seu exército, cercando a cidade e impediu que os suprimentos
entrassem em Pequim. Esses suprimentos foram usados para suprir seu exército. Com a ajuda
de engenheiros chineses dissidentes, construiu catapultas e outros artefatos bélicos e
finalmente invadiu e dominou Pequim.
Gengis, após o ataque inicial aos Jin, retirou-se para a Mongólia, enquanto seus generais se
encarregavam de estabelecer seu domínio na China Jin. Em 1218, um acidente diplomático
provocou a ira de Genghis sobre o Império Corásmio, no norte da Pérsia: um mensageiro
trouxe-lhe a cabeça de um de seus generais enviado em missão diplomática à Pérsia. O Cã
cavalgou à frente de mais de duzentos mil homens e cerca de dez mil máquinas de assédio
adquiridas dos chineses. Houve poucas batalhas campais e os mongóis empreenderam guerras
de cerco às cidades fortificadas da Pérsia, que capturaram uma a uma. Algumas, como Bucara e
Samarcanda se tornariam, no futuro, espelhos longínquos da presença mongol no sudoeste da
Ásia. A velha cidade de Nixapur foi arrasada e nem mesmo os animais ali sobreviveram ao
ataque mongol. O exército de Genghis matou mais de um milhão de persas.

As perdas humanas em Corásmia contavam-se aos milhares. Genghis e seus generais


impunham punições brutais aos inimigos. A proximidade da Pérsia com a Europa gerou a fama
de selvageria dos mongóis que assombraria o continente pelas décadas seguintes.

Em 1227, enquanto os generais de Gengis conquistavam territórios no sul da Rússia e na


Ucrânia, o Grande Cã foi forçado a retornar para as estepes para conter uma revolta de Hsi
Hsia, que havia recusado a convocação para a campanha contra a Corásmia. Após vencer os
tangutes, Gengis morreu acometido por uma febre alta e dores na cabeça.

Morte

A história de Yuan, um texto histórico encomendado durante a dinastia Ming da China. afirmou
que, de 18 a 25 de agosto de 1227, durante a última campanha de Genghis Khan contra o Xia
Ocidental, ele se sentiu mal com uma febre que o matou oito dias após o início da doença.[13]
Pesquisas anteriores sugeriram que ele contraiu febre tifóide, mas outros pesquisadores
observaram que não houve menção a outros sintomas típicos da doença, como dor abdominal
e vômitos. Os cientistas diagnosticaram Genghis Khan não apenas observando seus sinais
clínicos, mas também usando informações sobre as doenças que as tropas mongóis e seus
inimigos sofriam na época, bem como conhecimentos modernos sobre os tempos de
aparecimento de doenças transmissíveis.[14] Eles descobriram que seus sintomas
correspondiam aos da peste bubônica que prevalecia naquela época.[15]

Legado

Gengis

Antes da morte de Gengis, este estabeleceu seu filho, Ogedai Khan, como seu sucessor. Ogedai
encarregou-se de expandir o território mongol ao máximo, da Síria à Indochina, da Pérsia à
Sibéria, da Hungria à China. Posteriormente, o grande império seria dividido em 4 partes, entre
filhos e netos de Genghis, porém nenhum destes novos reinos, ou canatos, teria uma existência
longa.
No início do século XIV, Tamerlão, alegando ser descendente de Gengis, se tornaria o Cã de um
breve império mongol que abarcaria toda a Mesopotâmia, a Pérsia, o Afeganistão, o Paquistão
e o norte da Índia. Ainda nesse século, os tártaros ressurgiriam, inspirados pelas conquistas de
Genghis, para tomar o território do dissolvido Canato da Horda Dourada, na Rússia. Vários
outros levantes mongóis de menor importância tomariam lugar nos séculos seguintes, mas o
meio de vida nômade e a incapacidade de estabelecer uma indústria armamentista logo
tornaria os hábeis cavaleiros montados obsoletos frente às novas artilharias dos países que ali
faziam fronteiras.

Na Mongólia atual, Gengis é considerado o herói máximo e o pai daquela nação, cujo culto à
imagem jamais se deixou apagar, mesmo durante o regime comunista, cujo legado foi replicado
em países como China e Rússia.[16] O aeroporto da capital do país foi renomeado para
Aeroporto Internacional Gengis-Khan, em homenagem ao imperador.

Contam as lendas que todos os envolvidos no enterro de Gengis foram mortos para manter em
segredo o local onde ele foi enterrado. E esse local realmente jamais foi encontrado.

Gengis foi citado como exemplo no célebre discurso de Hitler aos seus comandantes antes da
invasão da Polónia em 1939 que tentou repetir o feito da conquista da Rússia:[17] "A nossa
força está na nossa rapidez e na nossa brutalidade. Gengis matou milhões de mulheres e
crianças por sua própria vontade e com um coração jovial. A história só vê nele um grande
construtor estatal".[18] Os Estados Unidos também copiaram táticas militares dele durante a
Guerra Fria e no Século XXI.[19][20]

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