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Resende Ferreira
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juntarem a nós e aceitarem nossa orientação prática, logo poderemos não só
expulsar os demônios brancos de nossa Ásia, mas também conquistar suas
terras e estabelecer o verdadeiro Reino do Meio em todo o mundo. Vocês
têm razão em seu orgulho nacional e seu desprezo aos europeus, mas
precisam alimentar esses sentimentos com ações e não com sentimentos.
Nesse sentido, estamos muito à frente de vocês e devemos lhes mostrar o
caminho do ganho mútuo. Se olharem ao redor, verão quão pouco ganharam
com sua política de autoafirmação e desconfiança de nós, seus amigos e
protetores naturais. Vocês já viram como a Rússia, a Inglaterra, a Alemanha
e a França quase repartiram seu país, e como todas as suas tentativas de
reação só puderam expor a inofensiva cauda da serpente”.
Após deixar algumas de suas forças na Rússia, para que nenhum novo
exército nascesse naquele país – e também para destruir os inúmeros focos
de guerrilha – o Imperador atravessou a fronteira da Alemanha com três
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exércitos. Mas desta vez houve tempo suficiente para os preparativos e um
dos exércitos mongólicos foi brutalmente derrotado. No entanto, um partido
revanchista se encontrava então no poder em França e logo os alemães se
depararam com um exército de um milhão de baionetas em sua retaguarda.
Disposto entre a foice e o martelo, o exército alemão foi forçado a aceitar os
termos de paz honrosos oferecidos pelo Imperador chinês. Os exultantes
franceses fraternizavam com as faces amarelas que se espalhavam pela
Alemanha e logo perderam qualquer arremedo de disciplina militar.
Aproveitando a ocasião, o Imperador ordenou que seu exército executasse
todos os aliados que não fossem mais úteis, uma ordem que foi executada
com toda a pontualidade chinesa.
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da desunião dos Estado europeus, uma grande e gloriosa independência foi
atingida pela organização internacional das forças conjuntas de toda a
população européia. Como consequência, a antiga organização dos Estados
individuais foi destituída de sua importância por todos os lados, e os últimos
traços das antigas instituições monárquicas gradualmente desapareceram. A
Europa do século 21 era uma aliança de nações democráticas em maior ou
menor grau – os Estados Unidos da Europa. O progresso da cultura material,
em vários sentidos interrompido pelo jugo mongol e a guerra de libertação,
agora se desenrolou com força ainda maior.
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culpado, sendo tão dotado da graça divina, de enxergar nesses dons os
sinais da especial benevolências dos Céus para com sua pessoa, como se
acima dele só se elevasse o próprio Deus? Em uma palavra, ele acreditava
ser aquilo que em realidade somente o Cristo era. Mas essa concepção do
seu alto valor se mostrava na prática não no exercício do dever moral para
com Deus e o mundo, mas na conquista do privilégio e da admiração à custa
de outros, e especialmente do Cristo. A princípio não guardava sentimentos
hostis contra o Cristo. Reconhecia sua importância messiânica e seu valor,
mas era sincero em ver nele somente seu maior precursor. A realização
moral do Cristo e aquilo que o tornava único eram realidades acima de um
intelecto tão turvado pelo amor próprio. Então pensou: “Cristo veio antes de
mim, e eu depois. Mas o que, na ordem do tempo, aparece tardiamente, é,
em essência, de maior importância. Eu vim por último, no fim da história, e
por essa razão sou o mais perfeito. Sou o salvador final do mundo, e o Cristo
meu precursor. Sua missão foi me preceder e preparar o terreno para minha
chegada”.
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passado dos trinta anos. Três anos mais passaram. Subitamente, um
pensamento atravessou sua mente e o comoveu no centro de seu ser. “ E
se,” pensou ele, “ por algum acidente não sou Eu, mas o outro… o Galileu. E
se ele não for meu anunciador, mas o verdadeiro salvador, o primeiro e o
último? Neste caso, ele deve estar vivo… Mas onde está então? E se vier
subitamente até mim, aqui e agora? O que direi a Ele? Não serei forçado a
dobrar meus joelhos diante dele como o mais ridículo dos cristãos, como um
camponês russo que diz sem compreender: “Senhor Jesus Cristo, perdoa-
me, este homem pecador? Não serei forçado, como uma velha polonesa, a
me prostrar? Eu, o gênio sereno, o super-homem! Não pode ser! E aqui, ao
invés de seus antigos raciocínios e reverência fria a Deus e a Cristo, um
medo repentino nasceu e cresceu em seu coração, seguido de uma inveja
flamejante que consumiu todo o seu ser, e por um ódio ardente que acabou
com todo o seu fôlego. “Sou Eu, sou Eu, e não ele! Ele está morto- e assim
ficará por toda a eternidade! Ele não – não, não se levantou” Ele apodrece
em seu túmulo, apodrece como os perdidos…”. Com sua boca espumando,
apressou-se convulsivamente para fora da casa, através do jardim, e correu
por um caminho pedregoso no silêncio da negra noite.
Mas algo firme como uma coluna d’água o susteve no ar. Sentiu um choque
como que elétrico e algum força desconhecida o lançou de volta ao rochedo.
Por um momento ficou inconsciente. Quando voltou aos seus sentidos
percebeu que estava ajoelhado a alguns passos do precipício. Uma estranha
figura brilhante como uma luz fosforescente se erguia diante dele, e seus dois
olhos atravessavam sua alma com um brilho doloroso e penetrante. Viu
esses dois olhos perscrutadores e escutou uma voz pouco familiar vindo de
dentro ou de fora dele – não podia distinguir – uma voz sem graça e
diminuída, mas distinta, metálica e informe como uma gravação. E a voz lhe
disse: “ Ó, meu filho amado! Que toda minha benevolência esteja contigo!
Por que não vieste a mim? Porque paraste para adorar o outro, o malicioso, e
seu pai? Eu sou seu deus e pai. E aquele mendigo crucificado – ele é um
estranho tanto para mim quanto para vós. Eu não tenho outro filho que vós.
Tu és o único, o único gerado por mim, igual a mim. Eu vos amo, e nado
peço a vós. Tu és tão belo, grande e poderoso. Faça vosso trabalho em
vosso próprio nome, e não meu. Não tenho qualquer inveja de vós. Amo-vos.
Nada exijo de vós. Aquele que vós considerais como Deus, exigiu de seu
filho obediência, a obediência absoluta – até a morte na cruz – e até mesmo
naquele momento não o ajudou. Nada exijo de vós, e ainda vos apoiarei. Por
vós mesmo, por vossa própria dignidade e excelência, e por meu próprio
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amor desinteressado por vós, eu irei vos ajudar! Receba o meu espírito!
Assim como meu espírito vos deu nascimento em beleza, agora ele vos dará
nascimento no poder”.
Mas seu novo livro trouxe para seu lado até mesmo os antigos críticos e
adversários. Esse livro, composto após o incidente no precipício,
demonstrava uma genialidade pouco evidente no passado. Era uma obra que
tudo abraçava e tudo resolvia. Unia um nobre respeito às tradições e
símbolos antigos com um radicalismo ousado em questões sociais e
políticas. Juntava uma liberdade de pensamento sem limites com a mais
profunda apreciação de tudo que fosse místico. O individualismo absoluto se
encontrava lado a lado com um zelo ardente pelo bem comum, e o mais
elevado idealismo dos princípios se combinava delicadamente com uma
perfeita objetividade nas soluções práticas para as necessidades da vida.
Tudo isso combinado e sedimentado com um gênio artístico tal que todo
pensador e homem de ação, não importando quão sectário fosse, podia
facilmente ver e aceitar a totalidade desde seu ponto de vista particular, sem
que precisasse sacrificar nada no altar da verdade, se elevar acima de seu
ego, nem renunciar realmente a seu sectarismo e todas as suas deficiências
e inadequações.
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todo o globo naquele momento – ressoava com a glória do grande, do
incomparável, do único!
Ninguém ergueu sua voz contra o livro. Por todos os lados foi aceito como a
revelação da verdade completa. Nele, todo o passado era recebido com
plena e completa justiça, o presente era avaliado com toda imparcialidade e
catolicidade, e o mais feliz dos futuros era descrito de modo convincente e
prático, levando todos a dizer: “Finalmente temos o que precisamos. Aqui
está o ideal que não é uma Utopia. Aqui está um plano que não é um sonho”.
E o maravilhoso autor não somente impressionou a todos, como também
soube ser maleável a todos, de forma que palavra do Cristo se realizou: “
Venho em nome do Pai, e vós não me aceitais. Outro virá em seu próprio
nome – e ele vós ireis aceitar”. Pois é necessário ser maleável para ser
aceito.
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Estados Unidos da Europa. E quando ele apareceu no palco em todo o
glamour de sua beleza e poder sobre-humanos e, com eloquência inspirada,
expôs seu programa universal, a assembléia foi tomada pelo encanto de sua
personalidade e, em uma efusão de entusiasmo, decidiu, mesmo sem
votação, dar a ele a mais elevada honra como Imperador Romano. O
congresso se encerrou em meio ao júbilo geral, e o grande homem publicou
um manifesto que começava com as seguintes palavras: “ Nações do Mundo!
Dou-lhes a minha paz,” e concluía, “Nações do Mundo! As profecias foram
cumpridas! Uma paz eterna e universal foi assegurada. Toda tentativa de
destruí-la se deparará com uma oposição determinada e irresistível, já que
um poder moderador se estabeleceu sobre a Terra, sendo ele mais poderoso
que todos os outros poderes, em conjunção ou separados. Esse poder
inconquistável e insuperável pertence a mim, o escolhido da Europa, o
Imperador de todas as suas forças. A lei internacional finalmente garantiu um
poder de sanção há muito em falta. Doravante, nenhum país ousará dizer
“Guerra” quando eu disser “Paz”! Povos do mundo, paz a todos!”
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muitos problemas aos ricos. Todos recebiam agora de acordo com suas
capacidades e toda capacidade de acordo com seu trabalho e mérito. O novo
senhor do mundo era acima de tudo um filantropo de coração gentil e não
somente um filantropo, mas até mesmo um filozooísta, um amante da vida.
Era vegetariano, proibiu a vivissecção e instituiu uma dura supervisão sobre
os abatedouros, ao mesmo tempo que as sociedades de proteção dos
animais recebiam grande encorajamento de sua parte. Mas havia algo mais
importante do que esses detalhes: a forma mais fundamental da igualdade se
estabeleceu no seio da humanidade, a igualdade da saciedade universal.
Isso se deu no segundo ano do reinado. Os problemas sociais e econômicos
foram finalmente resolvidos. Mas se a saciedade é questão de primeira
importância para os famintos, deixa de sê-lo para os que já estão satisfeitos.
Até mesmo os animais saciados desejam algo além do sono: querem brincar.
E isso vale ainda mais para a humanidade que sempre buscou o circo após o
pão.
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ao Cristianismo por qualquer laço espiritual não eram mais contados como
cristãos. As diversas denominações cristãs tinham diminuído igualmente em
número, e assim a relação proporcional entre elas permanecera quase que
intocada. Quanto aos sentimentos mútuos, a hostilidade não tinha dado lugar
inteiramente a sentimentos mais amenos, mas tinha diminuído
consideravelmente, e pontos de conflito tinham perdido muito de sua antiga
vivacidade. O Papado há muito fora expulso de Roma, e após muito vaguear
encontrou refúgio em São Petesburgo, com a condição de evitar qualquer
proselitismo ali e em todo o país.
Mas no terceiro ano, assim que o grande mágico fez sua aparição, sérios
temores e antipatia começaram a crescer nas mentes de muitos ortodoxos,
católicos e protestantes. O Evangelho e os textos apostólicos que falavam do
Príncipe deste Mundo e do Anticristo eram agora lidos com mais cuidado e
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davam margem a conversas acaloradas. O Imperador logo percebeu alguns
sinais de que uma tempestade estava se formando e resolveu encerrar o
assunto apressadamente. No começo do quarto ano de seu reinado, publicou
um manifesto a todos os verdadeiros cristãos, sem distinção de igrejas,
convidando-os a eleger ou apontar representantes de peso para o congresso
mundial a ser realizado sob sua presidência.
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O líder efetivo, mas não oficial, dos membros ortodoxos era o Ancião João,
muito conhecido do povo russo. Oficialmente, ele era considerado um bispo
aposentado, mas não vivia em um monastério, permanecendo sempre em
viagem ao redor do mundo. Muitas histórias lendárias circulavam sobre ele.
Algumas pessoas acreditavam que era Feodor Kuzmich, isto é, o Imperador
Alexandre I, que tinha falecido há três séculos e agora retornava à vida.
Outros iam além e diziam que ele era o verdadeiro Ancião João, isto é, o
apóstolo João, que nunca morrera e que agora reaparecera nos últimos dias.
Ele próprio nada dizia de sua origem e juventude. Era agora um homem
muito velho mas vigoroso, com cabelos brancos e uma barba dotada de um
tom meio amarelado, meio esverdeado, alto, magro de corpo, com
bochechas rosadas e plenas, olhos vivos e expressão gentil e amorosa em
sua face e sua fala. Vestia-se sempre com roupas brancas e um manto.
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Meu amor sincero, meus caros irmãos e irmãos, exige reciprocidade. Desejo
ser reconhecido como seu verdadeiro líder em toda e qualquer iniciativa
executada para o bem-estar da humanidade, não por um mero senso de
dever, mas sim pelo amor que vocês têm por mim. Portanto, além do que
faço para todos, estou prestes a lhes mostrar a minha benevolência especial.
Cristãos! O que posso lhes dar? O que posso lhes dar, não como súditos,
mas como correligionários, meus irmãos e irmãs! Cristãos! Digam-me o que é
a coisa mais preciosa do Cristianismo para vocês, afim de que direcione
meus esforços neste sentido!
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inclinando humildemente suas cabeças diante do Imperador, tomaram seus
assentos.
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“E hoje, simultaneamente como o decreto do Museu de Arqueologia Cristã,
assinei outro decreto estabelecendo um instituto mundial para o livre exame
das Sagradas Escrituras de todos os pontos de vistas e em todas as direções
possíveis, e para o estudo das ciências subsidiárias – para cujo fim reservo
aqui e agora um milhão e meio de marcos. Conclamo a todos que olham com
sinceridade para esse ato de boa vontade de minha parte e que são capazes
de reconhecer-me, com sentimento verdadeiro, como líder soberano, que
subam até o novo Doutor em Teologia.”
Foi aí que o Ancião João se levantou com uma vela branca e respondeu
calmamente: “Grande Soberano! O que mais valorizamos no Cristianismo é o
próprio Cristo – em sua pessoa. Tudo vem dele, pois sabemos que nele
reside a plenitude da Divindade em carne. Estamos prontos, senhor, para
aceitar toda dádiva de sua parte, desde que reconheça a mão do Cristo em
sua generosidade. Nossa cândida resposta à sua pergunta, sobre o que pode
fazer por nós, é esta: Confesse agora e diante de nós o nome de Jesus
Cristo, o Filho de Deus, que veio na carne, se ergueu, e que retornará –
Confesse seu nome, e nós o aceitaremos com todo amor como o antecessor
de sua gloriosa segunda vinda”
O Ancião terminou sua fala e fixou seus olhos na face do Imperador. Uma
mudança terrível tinha se operado nela. Uma tempestade infernal agitava seu
interior, como aquela que ele experimentou na fatídica noite. Tinha perdido
completamente seu equilíbrio interior, e concentrava todos os seus
pensamentos na preservação do controle exterior, para não se trair de forma
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inoportuna. Estava realizando um esforço sobre-humano para não se lançar
com urros selvagens sobre o Ancião João e despedaçá-lo com seus dentes.
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de cristãos quase mortos de medo. A única pessoa que não perdeu o
controle sobre si mesmo foi o Professor Pauli. O horror geral parecia ter
elevado nele todos os poderes de seu espírito. Ele até mudou de aparência;
seu semblante se tornou nobre e inspirado. Com passos determinados,
caminhou até a plataforma, tomou um dos assentos antes ocupados por
algum oficial, e começou a escrever em um pedaço de papel.
Quando terminou, ergueu-se e leu em voz alta: “ Para a glória de nosso único
Salvador, Jesus Cristo! O Concílio Ecumênico das igrejas de Nosso Senhor,
reunindo-se em Jerusalém, com nosso abençoado irmão João, representante
da Cristandade do Oriente, expôs o enganador, o inimigo de Deus como o
verdadeiro Anticristo previsto nas Escrituras; e depois nosso abençoado pai,
Pedro, representante da Cristandade do Ocidente, com toda a justiça e
legalidade o expulsou para sempre da Igreja de Deus; agora, diante dessas
duas testemunhas de Cristo, assassinados pela verdade, este Concílio
Ecumênico decide: cessar toda comunhão com o excomungado e sua
assembléia abominável, e ir para o deserto e ali esperar pelo retorno
inevitável de nosso verdadeiro Senhor, Jesus Cristo.”
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Quando os oficiais terminaram sua leitura, oito soldados, ao sinal do oficial,
aproximaram-se das macas que carregavam os corpos. “Que se cumpra
aquilo que foi escrito”, disse o professor Pauli. E os cristãos que seguravam
as macas passaram-nas silenciosamente para os soldados, que foram
embora através do portão noroeste.
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Aruah”, “ o domo das almas”, onde, de acordo com a crença islâmica, se
escondia a entrada do inferno.
Disse então o Ancião João: “ Ah, meus pequeninos, não partimos de forma
alguma! Direi a vocês o seguinte: é hora de realizarmos a última oração de
Cristo a seus discípulos – que eles possam ser um, assim como ele é um
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com seu Pai. Para essa unidade em Cristo, honremos nosso amado irmão
Pedro. Deixem que ele finalmente pastoreie os rebanhos de Cristo. Ai está,
irmão!” E colocou seus braços ao redor de Pedro. Então se aproximou o
Professor Pauli. “ Tu est Petrus!”(“ Tu és Pedro!”) disse ao Papa, “Jetzt ist es
ja grundlich erwiesen und ausser jedem Zweifel gesetzt”. “ ( Agora isso foi
provado e colocado para além de qualquer dúvida”). E segurou firmemente a
mão de Pedro com sua mão direita enquanto estendia a mão esquerda a
João dizendo: “ So also Vaterchen nun sind wir ja Eins in Christo”(“ Agora,
caro pai, somos um em Cristo”).
Essa nação, cujo número tinha chegado a trinta milhões, não ignorava os
preparativos para a consolidação do sucesso mundial do super-homem.
Quando o Imperador transferiu sua residência para Jerusalém, espalhando
secretamente entre os judeus o rumor de que seu principal objetivo era
realizar a dominação do mundo por Israel, os judeus o proclamaram seu
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Messias, e sua exultação e devoção a ele não conhecia limites. Mas agora
tinham se erguido subitamente, cheios de fúria e sedentos de vingança. Essa
reviravolta nos eventos, prevista tanto nos Evangelhos quanto na tradição da
igreja, foi narrada pelo Padre Pansófio com grande simplicidade e realismo.
Aqui, o Padre Pansófio desejava encerrar sua narrativa, que tinha por fim não
um cataclismo universal da criação, mas a conclusão de nosso processo
histórico que consiste na aparição, glorificação e destruição do Anticristo.
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escrito até o fim, e nem os atores, nem a audiência terão o poder de mudar
qualquer coisa. Senhora – Mas qual o sentido absoluto desse drama? Eu não
entendo porque o Anticristo odeia tanto a Deus, já que ele mesmo é
essencialmente bom e não mau. Sr.Z – Esse é o ponto. Ele não é
essencialmente mau. Esse é todo o significado. Retiro minhas prévias
palavras de que “Não se pode explicar o Anticristo somente por provérbios”.
Ele pode ser explicado por um simples provérbio, “Nem tudo que brilha é
ouro”. Vocês conhecem bem o brilho do ouro falso. Retire-o e nenhuma força
real permanece – nenhuma. General – Mas notem vocês, também, de que
forma caem as cortinas desse drama histórico – com a guerra – o encontro
de dois exércitos. Nossa conversa termina onde começou. Como isso lhe
agrada, Príncipe? Meu Deus! Onde está o príncipe? O político – Você não
notou? Ele saiu calmamente durante aquela passagem comovente onde o
Ancião João joga o Anticristo contra a parede. Eu não queria interromper a
leitura naquele ponto e depois me esqueci. General: Eu aposto que ele fugiu
– e pela segunda vez! Ele se controlou na primeira vez e retornou, mas tudo
isso foi muito para o coitado. Não podia aguentar. Pobre de mim! Pobre de
mim!
Fim.
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