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As lembranças e as

histórias de vida
Ano 010 Número 549 R$ 3,00

Alagoas 27 de agosto
a 2 de setembro 2023

dos moradores

CAMPUS
da grota

Manoel Ferreira e Dona Luzia

Dois Podemos afirmar que esse texto é fruto de um pedido do professor Sávio ao Railton
Texeira da Silva. Trata-se de parte de uma série de entrevistas, cujo objetivo era ouvir

dedos lembranças e histórias de vida de pessoas mais velhas, principalmente tentando iden-
tificar os saberes e as práticas populares escondidas nas grotas de Maceió. Neste artigo,
Railton traz os testemunhos de Manoel Ferreira da Silva (seu pai) e Dona Luzia, dois dos
de moradores mais antigos da Grota do Cigano.

prosa Amaro Hélio Leite da Silva


2 O DIA Alagoas 27 de agosto a 2 de setembro | 2023

ARTIGO | Railton Teixeira Da Silva Apanhador de Lembranças e Costumes. mais1.dasilva.jornalista@gmail.com

EXPEDIENTE

Eliane Pereira
Diretora-Executiva

Deraldo Francisco
Editor-Geral

Conselho Editorial
Jackson de Lima Neto
José Alberto Costa
Jorge Vieira

CAMPUS

Rua Amaro Feitosa, onde moravam Manoel Ferreira e Dona Luzia

Amaro Hélio L. da Silva As lembranças e as histórias de vida dos moradores da Grota


Coordenador de Campus
Algumas palavras a título de introdução das pessoas mais velhas, principalmente tentando identificar os
Jobson Pedrosa Nove anos se passaram desde a publicação destas duas saberes e as práticas populares escondidas em uma Maceió vista
Diagramação narrativas em Campus/O Dia Alagoas e, agora, as trago às nos noticiários como perigosa, traficante, violenta e assassina.
luzes novamente. Foram uma das primeiras publicações deste As lembranças a seguir foram apanhadas em uma tarde do
caderno e lembro o saudoso professor Luiz Sávio de Almeida me início de 2014, na casa de dona Luzia, na Rua Amaro Feitosa, na
Iracema Ferro pedindo para entrevistar dois moradores da Grota do Cigano. Já Grota do Cigano. Não lembro a data, pois o material que tinha
Edição e Revisão tinha um levantamento da história de que as primeiras mora- desta época se perdeu em um notebook levado em assalto. Mas,
dias foram construídas pelo Seu Silva – José Sebastião da Silva são as lembranças de duas saudosas e amadas pessoas com
- após aquisição da área de mata ao lado do Lar São Domingos, e quem convivi e ouvi muitas histórias ao longo das ruas do que
Adauto Santos da Rocha hoje é uma das periferias de Maceió, mas que trazem em suas
que Dona Luzia era quem olhava as casas. De pronto, uni Dona
Alex Machado Luzia e um antiguíssimo morador que veio de Correntes, no narrativas as histórias de um povo que lutou para construir esse
Ana Luiza Pimentel Agreste de Pernambuco, fazer a vida em Maceió. Este homem é território tão importante para a rota de acumulação, uma vez
meu saudoso pai, que nos deixou em 2021 após quase 40 anos de que eles só têm a força de trabalho como instrumento de troca.
Artemísia Soares uma história escrita no chão da Grota do Cigano. Espero que essas lembranças possam contribuir para uma
Claudemir M. Cosme Isso era 2014, havia concluído a graduação em Jornalismo, discussão sobre uma Maceió pouco ou quase nada falada. Na
Eduardo Bastos onde Luiz Sávio de Almeida era o meu orientador, e à época verdade, é uma singela homenagem à memória do meu pai,
Maceió figurava nas crescentes taxas de homicídios destacando, Manoel Ferreira da Silva, da dona Luzia e a do amigo Luiz Sávio
Edvaldo Nascimento inclusive, a Grota do Cigano como a mais homicida da capital. de Almeida. Grato pelos conhecimentos e partilhas. Um salve
Flávio A. de A. Moraes Pouco tempo antes havia iniciado uma série de entrevistas com do apanhador de lembranças e costumes! Vamos deixar de
base na minha paixão por ouvir lembranças e histórias de vida conversa e vamos a leitura...
Íria Almeida
Josielda Cristo
Lúcio Verçoza
Mônica C. de Almeida
Thiago Matias

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Grota do Cigano vista das suas escadarias


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As narrativas de Manoel Ferreira da Silva Foi uma decisão minha, mas não foi simples. que até hoje tem por trás da casa que agora é da
Muitas lembranças ainda tenho do tempo que Falei com meu pai: ‘olha, pai, vou procurar serviço minha família.
aqui cheguei até hoje. Quando vim morar na Grota em Maceió’. Perguntei ao meu irmão João, ‘vamos Quando foi em dezembro, faltando poucos dias
do Cigano, a moradora mais conhecida era a Dona embora para Maceió? Se você for iremos tal dia’. para o fim do ano, minha tia Rita me chamou para
Luzia. A grota era uma imensidão de mata e em um Chegamos em Maceió e nos dirigimos para a casa visitar um filho dela, chamado Pedro, que morava
espaço pequeno, poucas casas. Os Ciganos mora- de um amigo chamado Zé Prego, que morava no aqui em Maceió. Eu disse ‘vou não’, mas ela ficou
vam lá por onde hoje é a Igreja Nossa Senhora de Reginaldo. Ele era casado com uma prima. Foi só aperreando ‘bora, bora, vai eu, você e Hilton’. Hilton
Fátima. Muita coisa mudou, principalmente essa chegando, descansando e no outro dia fui procurar é seu filho e atualmente é padre em um interior
rua aqui. As casas aqui pra cima era todas vazias. serviço, lá na Salgema, naquele cais do Porto, que de Pernambuco. Aí aceitei. Passei final de ano em
Não tinha ninguém. à época ainda estava em construção. Não queria Maceió, entre os anos de 1983 e 1984, passei o final
Eu era solteiro. Na época tinha 25 anos; com 26 Recife porque tinha a fama de cidade perigosa. de ano e aproveitei e falei para o Pedro que se ele
comecei a construir a minha casa, no mesmo ano Sempre me chamaram para ir para São Paulo, eu arrumasse um emprego aqui, só era falar comigo
me casei e comecei a morar. Foi uma casa de taipa, dizia ‘quero nada’. Tinha uma simpatia por Maceió que eu viria. Depois do final de ano, dois dias depois
de barro e madeira. Muito sacrifício... Fiz uma casi- e vim para cá. voltamos, eu e minha tia Rita, Hilton ficou.
nha separada. Saia para trabalhar e a mulher ficava Depois de um tempo João voltou para Corren- Chegando em Correntes, no segundo dia quei-
sozinha com os filhos. Mas era pouca violência. tes e eu fiquei, aí consegui um trabalho em um mei a caieira dos tijolos tudinho, quando foi no
Mas a decisão para vim morar em Maceió, princi- prédio. Vim apenas com a passagem de ida e volta. outro dia Hilton chegou, isso em janeiro de 1984. Ele
palmente na Grota do Cigano, não foi fácil. Pois sou Quando estava completando oito dias, havia traba- disse: ‘Oia, Pedro mandou tu ir trabalhar, ele já arru-
filho natural do município de Correntes, próximo lhado a semana todinha, o Zé Prego tinha tomado mou vaga para tu lá em Maceió’. Eu disse ‘foi mesmo,
à cidade de Garanhuns, em Pernambuco. Morei uma cachaça, a noite não dormiu, queria matar a rapaz?’, olhei para o meu pai assim e disse ‘oiá, pai, o
no Sítio São João, com outros onze irmãos. Sempre mulher, pensei ‘homem aqui não vai dar certo não’. senhor pegue esses tijolos, venda, dê, empreste faça
ouvia falar de Maceió e sempre tive vontade de Quando foi no domingo eu peguei o ônibus e voltei o que o senhor quiser’, parece que foi Deus que disse
buscar melhores condições de vida e uma forma de para Correntes. assim, que iluminou os meus caminhos e disse que
ajudar a alimentar os meus familiares que perma- Isso foi em setembro. Voltei e falei com o meu eu viajasse. Aí meu pai disse ‘tá certo’. Eu viajei para
neciam no sítio. Com 24 anos tive uma conversa pai: ‘vou bater o tijolo, fazer a minha casa e vou Maceió, quando foi no dia 28 de janeiro cheguei e
com um irmão, chamado João, que havia chegado embora para quando eu casar venho morar aqui’. comecei a trabalhar em uma pizzaria, em poucos
de São Paulo e o chamei para vim para Maceió Aí meu pai disse ‘tá certo’. Fiz dez milheiros de tijo- dias eles ficharam a minha carteira, até hoje graças
procurar serviço. los, no local aproveitamos para fazer um açude, a Deus estou em Maceió.

Railton Texeira da Silva (bebê) e sua mãe, na casinha de Local onde foi feito o primeiro
taipa feita por Manoel Ferreira, no início dos nos 1980 galpão de construção de tijolos

Comecei a trabalhar como ajudante do meu Fechado o negócio fui para o interior conversar Mas, com apenas um mês com o terreno adqui-
primo Pedro, pois ele era pizzaiolo. Comecei a com meu pai, vender uns negócios que tinha lá. rido sai do trabalho, passei 30 dias desempregado,
dormir na pizzaria, tinha um quarto, ficava lá sozi- Vendi dois garrotes que tinha, que deu menos da sobrevivi com a rescisão do contrato de trabalho e
nho. Todo dinheiro que eu pegava na semana eu metade do valor. Cheguei aqui, faltando 20 cruzei- fui contratado para trabalhar em um restaurante
mandava para a minha família, no interior. Às vezes ros para completar a metade do valor, que era 350. famoso na época no bairro da Ponta Verde, assim
eu ficava sem nenhum centavo. Isso era para meu Vim no dono, falei com ele e disse que não iria ficar tive a oportunidade de ter qualificação e, inclusive,
pai fazer a feira, naquele tempo não era fácil. Nesse com o terreno, pois não tinha dinheiro: ‘o dinheiro na carteira, de ajudante para cozinheiro. Depois
período um colega de trabalho chegou e disse que que tenho aqui é 330 cruzeiros, então não vou poder parti para trabalhar em hotel, como cozinheiro, mas
tinha um senhor vendendo terreno no Jacintinho, comprar o terreno’. Ele disse que o negócio era meu, morava na minha casa. Nessa época ainda vieram
na Grota do Cigano, em parcelas. Como não podia perguntou se eu queria, disse que eu era uma pessoa sete primos que também queriam uma oportuni-
comprar à vista, ‘vou lá comprar parcelado’. Quando de bem: ‘vou colocar no papel que você deu os 350 e dade em Maceió. Mas depois que casei e cada um
cheguei, Dona Luzia me mostrou uns terrenos daqui a 20 dias você dá o que falta”. foi para o seu canto.
nessa rua. O primeiro apresentado foi o que hoje Com seis meses eu tinha que arrumar a outra A grota cresceu... O pessoal veio através da
é a Igreja Assembleia de Deus. Não gostei, ela me metade para concluir a negociação. Fui bata- informação. Eram terrenos vazios, mais baratos;
apresentou outros três terrenos, aí eu disse que não lhando, tomei dinheiro emprestado com um, com vieram comprando, comprando e foram se espa-
queria, porque todos eram perto do riacho. outro, fui até quando consegui o restante e fechei lhando até quando encheram aqui a grota todi-
Até quando ela me apresentou ao que hoje é a a primeira parte da negociação com ele. Fiz uma nha; e aqui no início só era barro, a passagem era
minha residência. Isso por ser mais alto. Os outros casa de taipa que era um ambiente só, de quatro muito dificultosa, carro não passava; no verão
terrenos não despertavam interesse porque quando metros quadrado. Não tinha nada de quarto, cozi- passava, no inverno voltava tudinho. De uns
chovesse iria entupir o rio e chegar até a minha casa, nha. A região era desabitada, de um lado só mato, tempos para cá, começou passando as máquinas;
quanto mais alto melhor. Conversei com o dono, árvores frutíferas e, do outro, tipo um conjunto depois passaram calçamento e virou essa grota
que era o seu Silva, na hora fechei o negócio e dividi de casas construídas pelo seu Silva. Ele fez várias aqui.
o valor do pagamento em duas vezes. O terreno foi casinhas para alugar, mas nessa época não tinha Esse pessoal trabalhava de construção civil.
700 cruzeiros. Na época eu recebia 20 cruzeiros, ou quase ninguém a não ser dona Luzia e seus filhos. Começaram a trabalhar em construções. Longe
seja, cinco por semana. Mandava tudo para o inte- Lá embaixo na grota alguns ciganos e uns parentes daqui... Morava aqui e trabalhava fora, até quando
rior. As vezes ficava com um cruzeiro. de seu Silva, mas lá embaixo. chegou essa população todinha.
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As narrativas de Luzia Santana


Faz 35 anos que eu cheguei. Não sou das primei-
ras, não. Quando cheguei, tinha um monte de gente;
lá embaixo, eram os ciganos. Por isso, que é Grota do
Cigano. Isso era mato, grota esquisita, sem muitas
pessoas. Só sabia da fama e do medo dos ciganos.
Ainda vi uma das mulheres, das mais novas. Nunca
tive intimidade. Eles eram um pessoal malcriado,
tão brabo... Deles morando por detrás da igreja.
Vim tomar conta de umas casas de aluguel,
do meu patrão chamado José Sebastião da Silva,
conhecido como Seu Silva. Cuidava de 33 casas.
Ia do Galego do Pastel até sair na São Domingos.
Tinha uma casinha aqui e outra acolá. Depois que
eu cheguei foi que ele andou vendendo uns lotes.
Quem fez a limpeza da construção desses barraqui-
nhos aqui já fui eu.
Às vezes entrava alguém que já vinha correndo
de lá para cá e entrava na grota; acontecia de vez em
quando, mas nem eu via.
Quando nós chegamos, aqui não tinha água;
a água só descia até o bar da Dona Cícera. Depois
que eu comecei a trabalhar com o Seu Silva, puxei a
água. Depois, peguei o nome do povo e levava para
a Casal; assim é que eu consegui colocar água. Dali
da Dona Cícera até o terreno do ‘véio’ lá embaixo,
na Marinete.
Aí o pessoal já vinha de fora comprar água a
mim, aqui. Carreguei um bocado, mas também
vendi muitas latas d’água (riu). E luz também não
tinha. Tinha sim, mas era emprestada, ele (Seu
Silva) pegou um conhecimento com uma mulher Casa onde morou Manoel Ferreira no início dos anos 1980
na Rua Santo Antônio e fez uma ligação que vinha
por dentro do capim aqui e acolá, ele enfiava um das Graças. Porque ela começou andando; ela ia zinho, devagarzinho, porque hoje tá o que tá. Você
pau e colocava o linho, aí descia os fios; desse jeito vendo o povo, e, aí, Deus tocou no coração dela; chega na chã, olha essa grota aqui...
foi que chegou a energia nas casas. ela optou em fazer uma capelinha, uma igrejinha, A pracinha, no meio da grota, da cabeça daquela
Era feito tipo um chalé; as casas eram chamadas que é aquela hoje que nós andamos (a Igreja Nossa ladeira para sair na Mangabeiras era mata, era mata
de chalé antigamente. A casinha já estava velha, Senhora de Fátima); aí saímos procurando quem escura. Era uma pontinha de mata escura, não tinha
feita de taipa. Eu morando na casa... Quando penso tinha um terreno para vender, coisa e tal. Aí encon- casa, não tinha nada, só tinha a trilha; você entrava
que não, ela começou a estalar; fiquei assustada. trou aquele terreno ali; aí ela comprou e quando aqui, colocava a cabeça na boquinha da mata até
Quando foi à noite, chamei a Zefinha, minha filha, acabou formou a igreja. quando chegar naquele negócio de alumínio, o
que trabalhava no escritório com ele e disse: ‘Zefi- Ela começou o terreno, mas para eu ir mesmo Ornato Box, pois menino, ali era mata.
nha, tu diz ao Silva que essa casa tá estalando e eu frequentar a igreja, não fui logo. Ela passava ‘Luzia, Quando eu cheguei aqui, o meu filho veio
tô com medo. Será que ela vai cair? Eu nunca vi vamos para a igreja, minha fia; vamos para a igreja!’ primeiro, ficou na casa de um tio; aí depois adoeci
uma casa cair’. Ele disse: ‘ah, é porque ela é velha e Agora, eu ajudava no que ela me pedia. Porque de uma perna, vim para me tratar, enquanto não
é assim mesmo; você diga a ela que passe para um quando nós chegamos aqui, o Zé Silva mandou a fui operada eu saia de casa para levar comida para
quarto em frente que tá desocupado’. Aí passei para gente fazer um galpão naquela casa que é hoje o o Reginaldo, lá embaixo o pessoal subindo aquele
o quarto, inclusive, onde mora hoje a Dona Piedade. lugar da igreja de crente, para fazer tijolo; ele ensi- prédio, ao lado da lagoa, onde tem até o primeiro
Quando começou, o lugar não tinha benfeitoria nou os meninos a fazer tijolo pronto; ele dizia: hotel que eu me esqueci do nome dele, acho que é
nenhuma. Não tinha estrada, era barro, isso quando ‘Vocês façam tijolo, que é um meio de vida. Eu vou Jatiúca, a gente descia aqui em frente, atravessava
chovia e descia que se não tivesse cuidado quebrava ensinar, vocês fazem e, quando alguém por aqui e chegava na Mangabeiras, já fica aqui na beira da
uma perna, nessa ladeira. E olhe que era mais zelada, quiser tijolo, vocês já vendem. É negócio para vocês’. praia mesmo. Era muita dificuldade a ser superada,
pois era onde ele descia o carro até aqui. E daí do Ele ensinou os meus meninos; aí a gente se ainda falta hoje muito acesso.
terreno dele pra lá para baixo, era só um caminho, reuniu, compramos madeiras e formamos uma A prefeitura, quando a gente abusava, ela
uma trilha, não tinha uma estrada bem feita e as casa, um galpão, só não tinha parede; colocamos mandava um pedaço, mas a gente caminhamos
casas é uma passando da outra. Porque não tinha umas assim, cobrimos com brasilit essas coisas... tanto para adquirir isso daqui e foi nós, nossa
nível; cada um chegava e fazia onde a cabeça dava, aí os meus meninos trabalhavam ali fazendo tijolo cabeça. A irmã disse: ‘Lú, já que você é a mais velha
entendeu? Vou fazer a minha casa, comprei esse próprio. Aí, quando ela (a irmã Maria das Graças) aqui, já trabalha, sei que você é inteligente, vamos
terreno, vou fazer para trás, para frente... Pode pres- queria alguma coisa, ela vinha aqui: ‘Lú, me trabalha para nós descer a luz e a água para sua casa
tar atenção: essa rua que tem esse lado assim é mais empresta madeira, as madeiras que os meninos até chegar na igreja!’.
ainda é mais aleijada que o lado de cá. pegaram andando!’. Andamos fazendo os planos O esgoto a gente pediu muito, também. Quando
Já depois que a gente estava no lugar, essa pista de comprar um terreno aqui, também, no plano; a gente ia pedir, a gente pedia tudo. E eles manda-
foi construída por Deus e abaixo de Deus, pela irmã mas era muito caro, tinha chegado aqui um pouco ram fazer. Eles começaram a fazer, que o calça-
Maria das Graças, que nessa moradia que estava cansada, aí a gente achou que as possibilidades não mento do esgoto veio até atrás da igreja, começaram
rolando, aí desceu duas criaturas mandadas por davam para comprar. na Mangabeiras e veio até atrás da igreja. Eu não vi
Deus, freiras, para querer rezar, ensinar as coisas Mas, aí, Seu Silva mandou a gente comprar em não, mas escutei, diz que eles pararam, os trabalha-
boas e começou lá embaixo onde termina as duas três partes, em qualquer altura na ladeira. Eu disse: dores que vinham trabalhar, e disse para o governo
estradas que depois faz uma só, do outro lado, a ‘não quero, do mundo de ladeira venho correndo’. na época, dizendo que ia parar com a obra, porque
ruinha vai que se acaba, assim do lado de lá, a gente Aí estávamos naquele jogo, enfrentamos nessa vila não vale a pena não ‘o pessoal são tão mal-educado
pegava rezava dali e subia por aqui afora. A irmã aqui e dissemos que íamos ficar com essa vila. que a gente tá trabalhando e eles vem com o lixo,
rezando o terço e ensinando, fazendo o catecismo A grota foi se construindo, Deus soltou o pessoal com três, quatro, chega na beira e sacode nas costas
e era a maior coisa do mundo. do Agreste, porque o pessoal dessa grota é todinho da gente, a gente tá trabalhando, eles vão e sacode
Quem começou foi ela só, depois com muito do Sertão, do Agreste, das matas, das Caatingas. Vi na gente, (barulho com a boca), na cabeça e eles não
tempo, depois com a igreja feita, começou a apare- muitas mudas descerem nos buracos dessa ladeira querem nem saber, então aquilo dali é um local de
cer padre, missionário, mas quem começou do aqui para baixo. Chegaram muitas mudanças, mal-educados’. Aí encheram a cabeça do governo, aí
chão, do bruto mesmo foi à irmã. Sim, a irmã Maria muitas gentes. Foi enchendo aos poucos, devagar- acabou parando o serviço.

GRUPOS E INSTITUIÇÕES PARCEIRAS DE CAMPUS:


Alagoas: poder e conhecimento Instituto Feminista Jarede Viana
Campus do Sertão – Ufal/Delmiro Gouveia Neabi – Ifal/Campus Maceió
CIMI: memória indígena em Alagoas Neabi – Ifal/Campus Piranhas
Especialização em História de Alagoas – Ifal/Campus Maceió Oeste alagoano: ampliando olhares
Etnohistória indígena de Alagoas

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