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INTRODUÇÃO
Ora, como entender que a prisão civil não é medida de exceção? A própria
Constituição Federal assim o refere, ao usar a expressão “salvo se...”. A clássica
doutrina referente à matéria sempre aconselhou a deixar como última opção a coação
pessoal. No entanto, verifica-se um maior cuidado e pudor na determinação da
expropriação de renda para pagamento dos valores atrasados do que na decretação da
prisão do devedor. Ainda é sentido o paradigma patrimonialista na aplicação da regra
jurídica, muitas vezes em detrimento do próprio direito básico da liberdade.
Por outro lado há uma negativa veemente na doutrina de que a prisão civil do
devedor de alimentos não é uma pena. Ou seja, aponta-se reiteradamente apenas a
finalidade coativa do preceito legal. No entanto, em vários momentos da aplicação da
norma, a tomada de decisão implica numa analogia com a natureza jurídica da
penalidade penal. Um exemplo concreto é “recomendação” expressa nos Ofícios-
Circulares 21/93 e 59/99 da Corregedoria Geral de Justiça do Tribunal de Justiça do Rio
Grande do Sul, que se refere ao cumprimento da prisão em “regime aberto”, em outras
palavras, o devedor apenas pernoitará no albergue1.
Apesar das controvérsias sobre o tema, é preciso que a questão da prisão civil do
devedor de alimentos, hoje a única nessa modalidade no direito brasileiro, seja objeto de
reflexão à luz de uma hermêutica constitucional, não com intuito de simplesmente negá-
la, mas para que a sua forma de aplicação tenha critérios definidos e justos e seja
superada a standartização das decisões. Não basta o senso comum teórico, por mais
sedutora que seja a sua argumentação, quando um dos maiores bens jurídicos está em
risco: o direito à liberdade.
5
GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Direito civil- família. São Paulo: Atlas, 2008, p.530.
Observa-se assim, que a obrigação alimentar pode ter diversas fontes, variando
seus efeitos de acordo com essa natureza. As referidas origens também podem dar
forma a diferentes espécies de alimentos definidos na legislação: aqueles que são
considerados como regra geral, chamados de alimentos civis ou côngruos, que
objetivam além do sustento, a manutenção da condição social, e aqueles que seriam a
exceção, sendo inclusive questionados quando a sua constitucionalidade, chamados de
alimentos necessários ou naturais, que visam apenas o quantum indispensável à
sobrevivência, reservados para aqueles credores que, por sua própria culpa, passaram a
ter necessidade do auxílio.
Os citados autores classificam a prisão civil como uma medida de força, restritiva
da liberdade humana, que, sem conotação de castigo, serve como meio coercitivo para
forçar o cumprimento de uma determinada obrigação7. Os doutrinadores expressam sua
opinião no sentido de que a medida da prisão civil para o devedor de alimentos é
salutar, pois a experiência demonstra que muitos devedores somente pagam mediante
essa ameaça. Porém, destacam que o inadimplemento deve ser voluntário e inescusável,
aliás, como se refere o próprio texto constitucional.
A dívida passível de cobrança por meio da coação pessoal deve ser a atual,
considerando a emergência da solução para o problema que envolve a própria
sobrevivência do credor. A súmula 309 do STJ assim consolida esse entendimento com
o texto o débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é a que
compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as que se
vencerem no curso do processo.
6
GAGLIANO Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO Rodolfo. Novo curso de direito civil- obrigações- vol
II. 7 ed. São Paulo: Saraiva. 2006.
7
Op cit, p. 308
medida da privação da liberdade não mais se justifica. Deve-se, nesses casos, levar em
consideração a técnica da ponderação.
Não se aplicam nos exemplos citados o principal argumento usado nas decisões:
no confronto do direito à liberdade do devedor e a sobrevivência do credor, deve-se
optar pelo sacrifício do primeiro. Muitas vezes não é a sobrevivência que está em risco,
mas apenas a manutenção de uma condição social. No entanto, não é assim que os
nossos tribunais entendem. A regra geral é pela não aceitação da justificativa
apresentada. Não é oportunizada a análise mais apurada das questões, nem uma
tentativa de conciliação das partes na busca de um acordo amigável.
Barbosa Moreira refere que essa medida não se trata de punição, mas de
providência destinada a atuar no âmbito do executado, a fim de que ele realize a
prestação, é natural que, se ele pagar o que deve, determine o juiz a suspensão da
prisão (art. 733§3), quer já tenha começado a ser cumprida, quer no caso contrário8.
O jurista alemão Claus Roxin apresenta uma análise crítica da função punitiva,
quando apresenta uma fórmula (tripartida) atribuindo à pena fins distintos, conforme a
fase ou momento de que se trate. Quando é cominada abstratamente tem uma finalidade
10
CAHALI, Yussef Said. Dos Alimentos. São Paulo: RT. 1984, p. 625.
11
NORONHA, Magalhães. Direito Penal-vol. 1. 17 ed. São Paulo: Saraiva. 1979, p. 39.
12
BRUNO, Aníbal. Das Penas. Rio de Janeiro: Rio. 4 ed, 1976, p.14 a 17.
13
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Tradução de Torrieri Gumarães. 11 ed. São Paulo:
Hemus. 1998, p. 97
preventiva geral de intimidação ou de atenção à relevância do bem jurídico. Na sua
aplicação, passa a ter uma finalidade preventiva geral, repressiva e preventiva especial
(quando considera questões específicas do caso concreto), enquanto na fase da execução
apresentaria a prevenção positiva, visando à ressocialização 14. Pode-se identificar a
função da prisão civil na primeira fase descrita pelo doutrinador, já na segunda fase,
quando da aplicação, ocorre um distanciamento, uma vez que não são levados em
consideração as peculiaridades do caso concreto, pelo menos na grande maioria das
decisões.
Quando uma decisão judicial menciona que o alimentante não cumpriu com uma
obrigação reconhecida e constituída pelo próprio Judiciário, sem investigar as razões
que comprovadamente o levaram a não cumpri-la, está concretizando aquela cultura,
amenizada e justificada no discurso da sacralização do direito do alimentando. E, assim,
maquiada por um discurso jurídico-legitimador, aquela decisão perpetua a cultura do
castigo e, na prática se utiliza do instituto penal, não somente no seu caráter preventivo,
mas também retributivo, como se verdadeira pena fosse.
Arnaldo Martmitt15, autor de uma das únicas obras específicas sobre o tema,
refere-se sobre a controvérsia sobre o momento oportuno para decretar a prisão civil do
alimentante.
No entanto, essa não é a prática usual. O próprio STJ entendeu que a prisão por
alimentos não depende de decisão transitada em julgado. A Terceira Turma do Superior
Tribunal de Justiça, ao analisar pedido de habeas corpus apresentado em um caso de
prisão civil ocorrido no estado de São Paulo, referiu que o princípio constitucional de
“ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória” não se aplica à execução de prestações alimentares. Segundo o relator,
ministro Paulo de Tarso Sanseverino, a prisão civil, diferentemente da penal, possui
natureza eminentemente coercitiva, e não punitiva e exigir o trânsito em julgado da
decisão que determinou a prisão, para só então se poder cumpri-la, iria de encontro à
sua finalidade, qual seja, compelir o devedor ao imediato adimplemento de sua
obrigação alimentar18.
20
MARMITT, Arnaldo. Prisão Civil- por alimentos e depositário infiel. Rio de Janeiro: Aide
1989, p. 32.
21
Op cit, p. 33
22
Op cit, p. 39
Luiz Vicente Cernichiaro23, após expor os regimes de pena previstos no Código
Penal, tendo em vista a qualidade e a quantidade da sanção, defende a necessidade de
se ponderar a severidade maior da sanção penal em confronto com a sanção civil:
A sanção civil não pode ser mais rigorosa do que a sanção penal. Se
esta enseja o regime aberto, a pena é cumprida em casa de albergado
ou estabelecimento adequado (CP art.33, § 1̊, c). O condenado, com
isso, resgata a sanção fora do estabelecimento de segurança máxima
ou média, próprio para o regime fechado, e de colônia agrícola,
industrial ou estabelecimento similar, adequado ao regime semi-
aberto. Daí, uma conclusão se impõe: o cumprimento da prisão civil
será, necessariamente menos rigoroso do que a sanção penal. O
inadimplente da prisão civil, certo, não pode ser trancafiado no
estabelecimento prisional comum. Caso contrário, ocorrerá
contradição lógica, o que será contra-senso jurídico.
23
Apud WELTER, Belmiro Pedro. Alimentos no código civil. 2 ed. SP: IOB-Thompson, 2004, p. 347
24
Op cit, p. 350
detrimento do direito fundamental dos alimentandos à uma
sobrevivência digna25.
.
O Tribunal gaúcho manifestou-se em várias oportunidades no sentido da
atribuição de 30 dias de prisão civil para devedores de alimentos26, além de entender que
a segregação do devedor de alimentos deve ser em regime aberto, para permitir o
exercício da atividade laboral, pela recomendação da Corregedoria-Geral da Justiça do
RS (Of. Circular 59/99)27. Em decisão da Oitava Câmara Cível onde foi reduzida a pena
de prisão civil para trinta dias, o relator justificou seu posicionamento pelo fato de que
era a primeira execução proposta contra o devedor, além de determinar o cumprimento
da pena no Comando Regional do Corpo de Bombeiros 28, atendendo às peculiaridades
do caso.
25
BRASILIA.STJ. HC 181231 / RO, Habeas Corpus, 2010/0143236-8, relator Vasco Della Giustina
(desembargador convocado do TJ/RS), j. 05.04.2011.
26
RIO GRANDE DO SUL. HC Nº 70037013232, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: José Conrado Kurtz de Souza, julgado em 01/09/2010; Agravo de Instrumento Nº 70010661122,
Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Maria Berenice Dias, Julgado em 23/03/2005;
Habeas Corpus Nº 70024659484, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ricardo
Raupp Ruschel, julgado em 06/06/2008; Agravo De Instrumento, N. 70031154073, Oitava Câmara
Cível.Disponível em:
http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=proc, acesso em 25 de agosto de 2011.
27
Ver Nota de rodapé 1.
28
RIO GRANDE DO SUL. HABEAS CORPUS. ALIMENTOS. EXECUÇÃO SOB O RITO DO ART.
733 DO CPC. O prazo máximo da prisão civil do devedor de alimentos é de 60 dias. Assim, tratando-se
de primeira execução, não sendo o executado devedor contumaz, adequada a fixação do prazo da prisão
em 30 dias.CONCEDERAM A ORDEM. UNÂNIME (Habeas Corpus Nº 70040993610, Oitava Câmara
Cível, TJRS, Relator: Des. Luiz Felipe Brasil Santos, j. 24 de fevereiro de 2011).
Acesso em 23 de agosto de 2011. Disponível em
http://www.tjrs.jus.br//site_php/consulta/consulta_julgamento.php?
entrancia=2&comarca=700&num_processo=70040993610&code=6733.
É preciso considerar que existem situações de real impossibilidade desse
adimplemento, quando a ameaça deixa de ser uma mera coação e passa a ser uma cruel
realidade. Nesse momento a aplicação da medida prisional passa a ser uma punição não
somente para o próprio devedor, mas também para toda a sua família e até mesmo para
o credor, eis que seu problema não encontrou solução e o litígio entre as partes tende a
se acentuar.
O caso divulgado intensamente pela mídia é uma amostra de grande parte dos
processos com o rito da coerção pessoal, pois, se a lei aponta a revisional de alimentos
como caminho para análise da discussão da mudança de possibilidade financeira do
devedor, isso não altera em nada o prosseguimento da ação executiva sob o rito do
artigo 733 do Código de Processo Civil, que permanece relacionada ao débito anterior,
ou seja, as três últimas prestações anteriores ao ingresso da ação e mais as vincendas.
29
RIO GRANDE DO SUL, Ac. 8ª Câm. Cív., AgInstr. 595.166.810, Rel. Des. Sérgio Gischkow Pereira, j.
23.5.96, v.u.
30
PRISÃO DE DEVEDOR DE ALIMENTOS-REPORTAGEM NA REDE GLOBO. Disponível em
http://dirfam.blogspot.com/search?updated-max=2011-08-08T14%3A28%3A00-03%3A00&max-
results=7, acesso em 25 de agosto de 2011.
31
APÓS PRISÃO, ZÉ ELIAS ABRE DIÁRIO E REVELA DOR, TROTES E ATÉ LADO
PSICÓLOGO. Disponível em http://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2011/08/apos-prisao-ze-
elias-abre-diario-e-revela-dor-trotes-e-ate-lado-psicologo.html, acesso em 25 de agosto de 2011.
32
WELTER, Belmiro Pedro. Alimentos no código civil. 2 ed. São Paulo: IOB-Thompson, 2004, p. 316.
Porém, algumas vezes encontram-se entendimentos diversos, como as dos
Agravos de Instrumento 70036344984, 70034788695 e o Habeas Corpus 70029653680,
todas da Oitava Câmara Cível do TJRS, tendo como relator o Des. Rui Portanova, que,
analisando detidamente os casos concretos, à luz do preceito constitucional, defende que
se o inadimplemento é escusável estamos diante de um decreto prisional ilegal.
Noticiado no dia 26 de junho de 2011, no site do STF. Acesso em 27 de agosto de 2001, disponível em
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=182559&caixaBusca=N
36
AIDAR Antônio Ivo; SILVA, Ana Gabriela López Tavares da. Prática no direito de família, São
Paulo: Quartier Latin, 2009, p. 132.
Os remédios de defesa do devedor, cuja prisão foi determinada, são o Agravo de
Instrumento e o Habeas Corpus. O decreto prisional deve ser sempre fundamentado sob
pena de nulidade, conforme ampla manifestação jurisprudencial. Naturalmente no
primeiro recurso deve-se buscar o efeito suspensivo, o que raramente se consegue. Esse
é o meio adequado para produção da ampla argumentação defensiva. Já no remédio
constitucional, o STJ definiu que serão apreciadas apenas as formalidades legais e a
legitimidade, apreciando-se apenas as questões de legalidade ou não da medida. É o
ensinamento de Yussef Cahali37 que cita como exemplos de questões a serem apreciadas
em sede de Habeas Corpus: ausência de competência; legitimação ad causam e ad
processum do requerente da medida, inexistência de cálculo, inobservância do direito de
defesa (justificativa), ausência ou carência de fundamentação do decreto, entre outras.
Tais dados, que proporcionalmente não devem destoar da realidade dos demais
Estados, apontam para a ineficácia da medida, eis que o intuito coativo do decreto
prisional nestes casos não resolveu a questão e ainda é criado um enorme problema
administrativo, eis que o cumprimento total dos mandados de prisão é medida
impossível de ser realizada.
A decisão pela prisão civil deve ser revestida do maior cuidado e prudência,
uma vez que afeta um dos mais importantes direitos fundamentais da pessoa: sua
liberdade. Yussef Cahali refere que não cumprida a obrigação alimentar, mas havendo
justificativa não desprezível de plano, por impossibilidade presente de pagar, constitui
constrangimento ilegal o decreto de prisão sem apreciação expressa dos fatos e sem
nenhuma investigação das reais condições econômicas do paciente que pediu e
protestou por provas.42
Todo mundo acha que o pai é preso porque não paga a pensão e não
é isso. Tinha um rapaz que pagava diariamente, vivia com a filha
porque a mulher era drogada e estava lá. Tudo isso porque a mulher
41
BOECKEL, Fabrício Dani de. Tutela jurisdicional do direito a alimentos. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2007, p. 133.
42
CAHALI, Yusssef. Dos alimentos. São Paulo: RT, 3.ed.,1999, p. 784.
43
APÓS PRISÃO ZÉ ELIAS ABRE O DIÁRIO E REVELA DOR, TROTES E ATÉ TRAUMA
PSICOLÓGICO. Disponível em http://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2011/08/apos-prisao-ze-
elias-abre-diario-e-revela-dor-trotes-e-ate-lado-psicologo.html, acesso em 25 de agosto de 2011.
não tinha dado baixa no processo e ele acabou ficando preso. Conto a
história de outras pessoas para entenderem o que acontece com os
pais, o desespero para sair porque não aguentam. Conversei com pais
que falaram que queriam se matar. Ai, quem está ali, começa a vigiar
o amigo. Em oito dias, conversei com três pais para não acontecer
nada.
44
DECRETAÇÃO DE PRISÃO PELO JUIZ DA VARA DE FAMÍLIA. Disponível em
http://www.blogger.com/comment-published.g?blogID=8211916834791933644, acesso em 25 de agosto
de 2011.
45
RIO GRANDE DO SUL. AC. 70039100128. 7 Câmara Criminal, rel. Des. CARLOS ALBERTO
ETCHEVERRY, j.28.07.2011, disponível em http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=proc, acesso em 28 de
agosto de 2011.
para uma penal. Qual a mais justa? Ou, pelo menos, qual a que melhor avalia a
singularidade do caso?
Belmiro Welter47 ministra que no âmbito do direito de família não pode ser
examinada tão-só a generalidade, mas a singularidade do caso dos autos, sob o juízo da
proporcionalidade, porque a lei não quer o perecimento do alimentado, mas também não
deseja o sacrifício do alimentante.
De fato, a Lei Maior abomina a prisão civil por dívida, erigindo a sua
impossibilidade à altitude de garantia constitucional,
excepcionalmente referida em casos expressos. Todavia, a outro giro,
é o mesmo Texto Constitucional que realça o valor da solidariedade
social e da erradicação da pobreza e eliminação das desigualdades
sociais, além de fundar o sistema jurídico a partir da dignidade
humana, A questão, desse modo, evidencia uma intensa tensão; “se
não é justo permitir amplamente a prisão civil por dívida alimentar,
reclamando-se, naturalmente, limitações ao exercício de cobrança do
pensionamento, evitando abusos por parte daquele que não precisa dos
alimentos, também não é razoável que um contumaz devedor de
alimentos, que, dolosamente, deixa de pagar dois anos de pensão, se
46
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias. 2 ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2010. p. 774.
47
WELTER, Belmiro Pedro. Alimentos no código civil. 2 ed. São Paulo: IOB-Thompson, 2004, p. 360
48
GAGLIANO Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO Rodolfo. Novo curso de direito civil- obrigações- vol
II. 7 ed. São Paulo: Saraiva. 2006, p.311
49
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias. 2 ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2010, p. 776
veja livre da coerção pessoal como o mero depósito das três parcelas
mais recentes.
Existem alternativas que podem ser buscadas para a solução do conflito pelo
dever alimentar. Waldyr Grisard Filho, em texto monumental apresentado no V
Congresso de Direito de Família51, referiu sobre a atualidade, a (duvidosa) eficácia da
prisão no plano prático, pois o devedor pode cumprir a pena e continuar inadimplente.
Ainda fez referência que a prisão por dívida de alimentos, atenta contra a dignidade da
pessoa humana e só aumenta o abismo moral e afetivo nas relações familiares
rompidas. O renomado professor convoca os operadores do Direito para que busquem
novos caminhos e alternativas que confiram efetividade ao cumprimento da obrigação
alimentar, deixando a constrição corporal como último recurso. Conclui brilhantemente
suas observações da seguinte forma:
50
BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Tradução de Torrieri Gumarães. 11 ed. São Paulo:
Hemus. 1998, p.80.
51
GRISARD FILHO, Waldyr. O futuro da prisão civil do devedor de alimentos: caminhos e
alternativas, in Família e dignidade humana/ V Congresso Brasileiro de Direito de Família;
Rodrigo da Cunha Pereira (coord). São Paulo: IOB Thompson, 2006, p. 892
52
Op cit, p. 907
53
GARAPÓN, Antoine; GROS, Frédéric; PECH, Thierry. Punir em democracia- e a justiça
será. Tradução Jorge Pinheiro. Porto Alegre- Instituto Piaget, 2002, p 342.
Cabe ao juiz não apenas julgar pessoas, mas oportunizar o encontro
entre os litigantes, transformando esse evento em partilhas iguais . O
processo é a ligação necessária do irreconciliável, ele é o lugar vivo
do reencontro dos mesmos protagonistas. O direito é o lugar da
partilha. Não tem a função de agir, mas de permitir agir. Retomando a
metáfora da Hannad Arend, “ é a mesa das nossas trocas, sem a qual
os homens cairiam uns sobre os outros. Em torno desta mesa, discuta-
se, delibera-se, conversa-se. Partilham-se riscos. A única alternativa
ao inferno da pena é teatralizar nosso espaço público por mais dramas
para se referir, para melhorar o habitat com relatos comuns e repovoá-
lo com símbolos vivos. E far-se-á justiça”.
O que aqui se pretendeu foi defender e clamar por um olhar diferenciado para a
questão, que não predomine a padronização das decisões, que a necessidade da mudança
seja percebida e que exista coragem para mudar. A ferramenta para a busca da justiça,
superando-se a realidade que deve ser transformada, é a crítica e o pensamento reflexivo
emancipador. Para tanto, não se deve limitar as decisões em fundamentações do senso
comum ou nas visões simplistas de antigos enunciados. A verdadeira justiça exige
escolhas valorativas, inovadoras e corajosas, fundamentadas constitucionalmente, mas
tomadas a partir do real e efetivo conhecimento minucioso da questão posta.
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Paulo: Quartier Latin, 2009.
APÓS PRISÃO, ZÉ ELIAS ABRE DIÁRIO E REVELA DOR, TROTES E ATÉ LADO PSICÓLOGO.
Disponível em http://globoesporte.globo.com/futebol/noticia/2011/08/apos-prisao-ze-elias-abre-diario-e-
revela-dor-trotes-e-ate-lado-psicologo.html, acesso em 25 de agosto de 2011.
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DO CPC. O prazo máximo da prisão civil do devedor de alimentos é de 60 dias. Assim, tratando-se de
primeira execução, não sendo o executado devedor contumaz, adequada a fixação do prazo da prisão em
30 dias.CONCEDERAM A ORDEM. UNÂNIME (Habeas Corpus Nº 70040993610, Oitava Câmara
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Acesso em 23 de agosto de 2011. Disponível em
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RIO GRANDE DO SUL, Ac. 8ª Câm. Cív., AgInstr. 595.166.810, Rel. Des. Sérgio Gischkow Pereira, j.
23.5.96, v.u.
RIO GRANDE DO SUL- CENTRO DE ESTUDOS DO TJ-Enunciado 28ª – Em sede de habeas corpus,
inocorrente ilegalidade ou abuso de poder na decretação da prisão civil, não cabe a apreciação do mérito
de justificativa apresentada por devedor de alimentos nos autos de execução coercitiva. (Unanimidade).
Acesso em 27 de agosto de 2011, disponível em
http://www1.tjrs.jus.br/site/poder_judiciario/tribunal_de_justica/centro_de_estudos/conclusoes.html.
RIO GRANDE DO SUL- CENTRO DE ESTUDOS DO TJ-Enunciado 6º. - Não cabe agravo regimental
ou agravo interno da decisão do Relator que nega ou concede efeito suspensivo ao agravo de instrumento,
bem como daquela em que o Relator decide a respeito de antecipação de tutela ou tutela cautelar. –
REDAÇÃO ALTERADA EM 07.04.1999. Acesso em 26 de agosto de 2011, disponível em
http://www1.tjrs.jus.br/site/poder_judiciario/tribunal_de_justica/centro_de_estudos/conclusoes.html.
RIO GRANDE DO SUL. AC. 70039100128. 7 Câmara Criminal, rel. Des. Carlos Alberto Etcheverry,
j.28.07.2011, disponível em http://www1.tjrs.jus.br/busca/?tb=proc, acesso em 28 de agosto de 2011.
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