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Apresentação:

Secretaria de
Cultura
Alvaro Henrique (Diretor Musical/Proponente)
Equipe Jade Produções
Ficha técnica completa no facebook e no site
Car lha do Projeto “Violão de Todos os Tempos”
O Projeto “Violão de Todos os Tempos” visa a confecção de um DVD contando a história
do violão desde a Babilônia até a modernidade, em formato didá co.

Para o DVD, serão filmados trechos de oficinas em escolas públicas, de onde sairão a
maior parte do conteúdo didá co. São apresentadas composições desde a primeira
publicação para violão na história (El Maestro, de Luys Milán, impresso em 1536) à
modernidade, tocadas em réplicas de instrumentos dos séculos XVI, XVIII, XIX e num
violão moderno, confeccionado com uso de fibra de carbono e madeira.

Origem do Instrumento
Apesar de muitos instrumentos musicais terem relação com o violão desde a pré-história,
o registro mais an go de um instrumento com as caracterís cas de um violão é de um
alto relevo¹ de cerca de 1430-1180 a.C., do Império Hi ta, encontrado na Turquia.

O império Hi ta foi, ao lado dos Egípcios e Babilônios, um


dos três grandes impérios dos séculos XII-XIV a.C. Dominou
uma área que corresponde à Turquia e parte do Oriente
Médio. Com sua decadência, seu território foi dominado
pelos egípcios e pelos Babilônios. Entre sua principais
contribuições para a humanidade estão o uso do ferro, do
cavalo, e da roda com raios.

Origem do nome violão


O Brasil é o único país do mundo que chama um instrumento musical de violão. Nos
demais países, inclusive em Portugual, o violão é chamado de guitarra. O que
chamamos de guitarra, por sua vez, é chamado de guitarra elétrica. Adiante vamos
entender o porquê.

A palavra guitarra vem do sânscrito an go, idioma falado pelos babilônios, persas
e hindus.A palavra “tar” significa corda, e eles nomeavam os instrumentos adicionando
como prefixo o número de cordas. Um instrumento com duas (“do” em sânscrito) cordas
era o “dotar”; com três (“se”), “setar”; comquatro (“char”), “chartar”. Vem daqui o nome
de dois instrumentos: a cítara e a guitarra.

¹Você sabia?
Alto-relevo é um tipo de relevo, uma escultura onde a forma se projeta à frente. Embora se mantenham presas ao bloco de fundo. Com
grande efeito decorativo, é muito utilizado em placas, e fachadas de edificações .
O violão teve, durante séculos, apenas quatro cordas (mi si sol ré, do agudo pro grave²).
Era um instrumento popular, que acompanhava outros instrumentos. Nessa mesma
época, o alaúde era o instrumento musical de maior pres gio.

O alaúde tem origem árabe e até hoje é usado na música religiosa e folclórica desse povo.
A Idade Média marca o apogeu da cultura árabe. Eles foram os primeiros a desenvolver
aparelhos e procedimentos cirúrgicos, criaram as primeiras
universidades, pesquisaram a filosofia grega, e dominaram
um território que se extendia por três con nentes.

Vihuela: jei nho espanhol

Com a expulsão dos árabes da Espanha, os reis espanhóis determinaram o banimento de


toda cultura árabe. Os alaudistas da corte, que tocavam um instrumento de origem
árabe, se viram na iminência de ficar desempregados. Eis que veram uma ideia genial:
adaptar ao violão o mesmo número de cordas, afinação e
[foto de vihuela
tamanho do alaúde. Dessa forma, eles nham um
que será tocada]
instrumento que não parecia árabe, mas soava como um
alaúde, era tocado como um alaúde, e permi a aos alaudistas con nuar com sua arte.
Esse novo instrumento foi chamado de “vihuela”.Em Portugal, recebeu o nome de “viola”.
As famosas “violas de Queluz”, instrumentos folclóricos portugueses, são descendentes
diretos da vihuela espanhola.³

A vihuela ocupou, na Península Ibérica, o local de pres gio que o alaúde ocupava. A mais
an ga par tura específica para um instrumento de cordas dedilhadas foi justamente um
método de ensino de vihuela, o Libro de música de vihuela de mano in tulado
El Maestro.Chamado hoje como “El Maestro”,o livro foi publicado em 1536, em
“El Maestro”,o livro foi publicado em 1536, em galego, e dedicado
ao Rei de Portugal D. João III. A publicação de qualquer livro era
muito cara, somente com o patrocínio de um nobre era possível
imprimir par turas, e o patrocinador era sempre o dedicatário. O
rei D. João III, dedicatário de “El Maestro”, foi o mesmo rei que
colonizou o Brasil publicou o primeiro livro de cordas dedilhadas do
mundo. À época, o idioma oficial de Portugal era o galego.

²Você sabia?
Na música, sempre contamos do agudo pro grave. Por isso que, na música sertaneja, a primeira voz é mais aguda que a segunda voz
e o primeiro violino de uma orquestra toca notas mais agudas que o segundo violino. A corda mais aguda de qualquer instrumento
será considerada a primeira.
³Você sabia?
Portugal era um condado (território no qual um conde é o equivalente a um governador e o rei é o equivalente ao presidente),
submetido ao Rei da Espanha. Mesmo após sua independência, em vários momentos teve ligação política com a Espanha. Por
exemplo, o Rei Filipe II também foi rei de Portugal durante 1581 a 1598.
Enquanto isso, no mundo do violão...

O violão con nuou sendo um instrumento de quatro cordas,


enquanto a vihuela reinava na Espanha, e o alaúde nos
demais países Europeus. Alonso Mudarra, em 1546,
publicou a primeira par tura original para violão, em seu
“Tres libros de música en cifra para vihuela”.

Na Renascença a maior parte da população era analfabeta, incluindo nobres e mesmo


reis. A música era escrita num sistema de tablatura, no qual cada linha horizontal
representava as cordas do instrumento (a superior sendo a mais aguda), e os números
representam as casas em que o dedo deveria tocar. Parecem as tablaturas modernas
para guitarra elétrica, mas as tablaturas an gas nham, há mais de 400 anos, notação
de tempo. Dessa forma, é possível tocar uma música sem nunca ter ouvido-a antes,
enquanto as tablaturas atuais exigem que o guitarrista já conheça a música que quer
tocar.

A Renascença foi um período de muita experimentação na construção de instrumentos


musicais. É nesse período que vários instrumentos de sopro conseguiram tocar mais
notas , e surgiram os primeiros instrumentos de teclado. O violão também sofreu várias

modificações. Nos séculos XVI e XVII era comum


o músico fazer o próprio instrumento. Dessa
forma, ao surgir uma necessidade musical nova,
como precisar tocar mais notas graves, o músico
já construía um violão novo com uma corda grave
a mais. Ao constatar que essa corda grave soa
muito fraca num corpo pequeno, outro músico
melhorava a ideia fazendo um violão com uma
corda grave e com uma caixa maior. Pouco a
pouco algumas mudanças foram se consolidando,
mas ainda havia mais personalização que
padronização dos instrumentos.
Entre as mudanças que se consolidaram, estão a do
violão ganhar um par de cordas mais graves, passando
a ter cinco ordens. A afinação fica em mi si sol ré lá
(contamos sempre iniciando do agudo). O violão que será tocado no projeto é um desses
⁴Você sabia?
Os primeiros instrumentos que deram origem ao trompete, à trompa e ao trombone só conseguiam tocar de 3 a 8 sons. Eles surgiram
para uso militar, devendo emitir sinais de fácil compreensão. Na renascença eles começaram a ser aprimorados para tocar melodias
instrumentos personalizados, adaptados para melhor tocar ópera.

Com a Ópera começou o Barroco

O marco do início do do período Barroco é a estreia da primeira ópera. Dafne foi


estreada no Palácio Corsi (Florença, Itália), no Carnaval de 1597. O texto é de Jacobo
Peri e a música de Giulio Caccini. Na ópera ouvimos muitas das caracterís cas da música
barroca: cada música precisa transferir um sen mento (e apenas um), diferença clara
entre melodia e acompanhamento, e predomínio da música instrumental. Até o barroco,
os instrumentos imitavam a voz. No Barroco, a voz passa a imitar os instrumentos, e
começa a surgir a figura do virtuose, do músico com um grau de excelência superior aos
demais.

A sociedade como um todo se engaja na busca pela excelência. Aumenta a prá ca de


esportes, a escolarização, o cul vo das artes, a pesquisa cien fica. Foi nesse período
que viveu Isaac Newton, surgiu o papel-moeda na Europa, foi inventado o sorvete…
Ser culto passa a ser valorizado. Uma boa família deveria ter em casa livros, música,
instrumentos cien ficos. Uma boa igreja deveria ser ar s camente decorada e com
muita música. Uma corte pujante deveria ter espetáculos vibrantes, estudiosos de
todas as áreas, cien stas e inventores.

Donzelas, Plebeus e Missionários

No norte da Europa, o violão se transforma no instrumento preferido das mulheres. Com


o advento de instrumentos novos, mais fortes, o violão passa a ser um instrumento
caseiro, para a prá ca musical do dia-a-dia e apresentações para seletos convidados. No
sul da Europa, é o instrumento portá l preferido dos boêmios, enquanto na América do
Sul os jesuítas transportavam o violão nas florestas para catequizar os índios. O violão
vira o instrumento de Donzelas, Plebeus e Missionários.

Uma dessas donzelas foi Maria Bárbara de Bragança, filha de D. João V e rainha da
Espanha, que estudou música com Domenico Scarla . Um desses boêmios é Gaspar Sanz,
violonista espanhol que compôs música para festas de carnaval, entre outras obras. O
maior missionário da música, quem melhor usou essa linguagem para catequizar, foi
Johann Sebas an Bach.

⁵Você sabia?
No século XVIII, os médicos achavam que as doenças eram causadas pelo desequilíbrio dos quatro líquidos (também chamados de
humores) do corpo. A cada líquido estava associado um sentimento (amor, ira, melancolia e calma). Entre as formas de reequilibrar
os humores, estava ouvir música que estimulava o sentimento correspondente.
Na coração de rainhas, um espaço para o violão

Mais e mais donzelas se dedicaram ao violão, que seguiu se desenvolvendo com


a adição de uma corda grave a mais e um corpo ainda maior. No século XVIII o instrumento

desfruta de pres gio nas cortes, e são comuns concertos privados para um público
exclusivo. Entre essas donzelas, tem especial destaque a rainha da França Maria
Antonieta, que apreciava música em seu castelo par cular, o Pé t Trianon.

Esse interesse faz surgir a primeira geração de violonistas virtuoses. Todos têm o mesmo
currículo: aprendizagem informal do violão com a mãe em casa, e aprendizagem formal
em outro instrumento em uma escola de música. É nesse período que surgem as
primeiras escolas públicas , e as primeiras escolas dedicadas a ensinar apenas música.
Há um avanço tão grande no ensino musical que vários princípios pedagógicos e
metodologias de ensino que surgiram nesse tempo são usados até hoje. Cada um desses
primeiros virtuoses escreve métodos, nos quais adaptam ao violão técnicas do
instrumento que eles estudaram formalmente. Por exemplo, Mauro Giuliani estudou
violoncelo, e adaptou ao violão fraseados mudanças de dinâmica próprias do cello.

Com a cabeça dos Reis, caiu junto o violão

A revolução francesa causou um grande despres gio da monarquia, e vários hábitos das
cortes do século XVIII entraram em desuso. Tocar violão foi um deles. No início do século
XIX só seguiu se dedicando ao violão pequenos comerciantes com tempo disponível.
O violão solista quase morreu. Na Península Ibérica, felizmente, ainda seguia a tradição
popular de tocar violão em festas e tavernas, e dessa tradição que o violão ressurge mais
tarde.

Outra mudança causada pela Revolução Francesa foi a fuga da corte portuguesa para o
Brasil. Com a chegada da corte, os brasileiros que só conheciam a vihuela (viola em
português) foram apresentados a um instrumento com uma corda a mais, maior, mais
potente. Em resumo, uma viola grande, um verdadeiro violão. É por isso que somos o
único país do mundo a chamar esse instrumento de violão.

⁶Você sabia?
Até o final do século XVIII, todas as escolas eram religiosas. Nobres e ricos pagavam tutores para ensinar a seus filhos em sua casa.
Da Espanha para o mundo

No século XIX o violão vive uma situação delicada. A perda de pres gio o transforma num
instrumento de amadores. No norte da Europa, vira o instrumento da classe média.
Professores, comerciantes, autônomos foram responsáveis por manter viva uma tradição
de excelência na construção artesanal de violões. Desde então, os violões alemães estão
entre os melhores do mundo. É dessa tradição alemã que chegaremos às guitarras
elétricas modernas.

Na Espanha e nas Américas o violão é man do pelas classes mais baixas, que contribuem
com o repertório ligado à música folclórica e adaptações para o violão de musicas
originais para outros instrumentos e árias de ópera.

Dessa tradição veio a contribuição do


repertório e dos virtuoses, que tem entre
suas principais referências Francisco
Tárrega. Ou seja, o cenário de excelência
do violão passa a ser complementar
mundialmente: fabricantes alemães e
instrumen stas ibero-americanos.
Nas Américas a necessidade de virtuosismo era ainda maior. Em diversas cidades a vida
musical dependia exclusivamente do violão, que era ouvido por plateias que também
conhecia ópera e o repertório do piano. Os violonistas nha, portanto, de dominar seu
próprio repertório e ainda adaptar as músicas de outros instrumentos. Saiu das florestas
paraguaias o primeiro virtuose das Américas, Agus n Barrios . Barrios morou
temporariamente no Brasil, foi uma grande referência para os violonistas do início do
século anterior, entre eles Dilermando Reis.
O violão em Brasília
Dilermando Reis, por sua vez, foi um dos músicos mais
famosos de seu tempo. Num Brasil que não conhecia a TV,
ele nha um programa na rádio de maior audiência. Um de
seus vários admiradores foi o presidente Juscelino Kubstchek,
eprovavelmente as primeiras notas musicas de Brasília foram
ao som de Dilermando. Brasília tem se consolidado como um
importante pólo do violão nacional.
⁷Você sabia?
Agustin Barrios viajou por toda a América Central e do Sul, morando por algum tempo em algumas cidades. Ao longo da carreira,
ele adotou um sobrenome indígena, Mangoré, ao seu
nome artístico.
Além de cursos livres, técnicos e universitários, aqui tem a única associação de violão
da América do Sul parceira da Guitar Founda on of America. Violonistas de Brasília
tem conseguido sucesso no Brasil e no exterior. Os violonistas brasilienses que hoje
têm uma carreira internacional são Alvaro Henrique, Fabiano Borges, Pedro Rogério, e
Victor Santana. A construção do violão: além da madeira

Ao longo do século XX a construção do violão mudou muito com novas tecnologias e


pesquisas cien ficas. Madeiras de todos os con nentes começaram a ser empregadas.
Algumas delas, como o ébano (da África) e o cedro (das Américas) se tornaram padrão
para construção em todo o mundo. Novas tecnologias de produção de cordas fazem o
violão se ramificar, e hoje um violão de cordas de aço é cada vez menos parecido com
um de cordas de nylon em construção, sonoridade, técnica e repertório. O avanço na
elétrica e eletrônica faz surgir a guitarra elétrica a par r do violão, que já se consolidou
como um instrumento diferente em todos os aspectos.

Pesquisas mais recentes na construção de violão incluem o uso de materiais sinté cos,
como a fibra de carbono e o nomex. A Áustralia assume a vanguarda no uso de
materiais novos, e hoje os violões australianos estão entre os melhores do mundo. Na
atualidade, os violões mais caros são feitos artesanalmente pelo australiano Smallman
e pelo alemão Ma hias Damann.

Aonde essa estória vai parar, não sabemos. Mas, como antes, o violão segue encantando
gerações. Como você imagina que será o violão do futuro?
/violaodetodosostempos
violaodetodosostempos.com.br
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Apresentação:

Secretaria de
Cultura

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