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INTRODUÇÃO

O serviço a Deus tem sido um dos assuntos mais freqüentes na ordem do dia das
igrejas. Um grande número de simpósios, seminários e fóruns de debates tem
ressaltado o tema, visando levar a efeito o mandamento do Senhor Jesus, publicado
pouco antes de ascender aos céus: “Portanto ide, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os
a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado...” (MATEUS 28.19). A ordem
é clara e precisa ser cumprida sem demora. Porém, antes desta ordem, o Mestre
estabeleceu outros estatutos, os quais servem de esteio e fundamento para que a
primeira seja cumprida: Amor - “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns
aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis.
Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.”
(JOÃO 13.34-35); Rompimento com o passado - “E Jesus lhe disse: Ninguém, que
lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus.” (LUCAS 9.62);
ou ainda: Renuncia total - “E, chamando a si a multidão, com os seus discípulos,
disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz,
e siga-me.” (MARCOS 8.34). A urgência no cumprimento do serviço eclesiástico não
deve resultar em negligência os comandos do Senhor citados acima.

O serviço ao Senhor, seja fazer missões, evangelismo, pastorear, ou adorar a Deus,


não tem como objetivo o ativismo eclesiástico, ou ainda aumento da membresia,
porém, é a conseqüência da transformação que ocorre na vida do crente por
intermédio da operação do Espírito Santo. Este serviço, pois, é, ou pelo menos
deveria ser a manifestação visível dessa transformação. É possível ainda observar a
presença de outros estatutos que fazem parte do ordenamento divino, e que
contribuem para a formação do caráter cristão, quando o Apóstolo Paulo assim se
expressa:
Aquele que furtava, não furte mais; antes trabalhe, fazendo com as mãos o
que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade. Não
saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para
promover a edificação, para que dê graça aos que a ouvem. E não
entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da
redenção. Toda a amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfêmia e toda a
malícia sejam tiradas dentre vós, antes sede uns para com os outros
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benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também


Deus vos perdoou em Cristo. (EFESÍOS 4.28-32)

O caminho é o mesmo: Cristo. E é por Ele que a obra é realizada, sem se recorrer a
subterfúgios, ou simplesmente para satisfazer interesses pessoais. Submissão
completa ao Senhor é o caminho para o servo, para isso, um retorno ao Seminário
do Mestre se faz propício. Segundo Coleman (1964), a tarefa é demasiadamente
grande e, conforme o modelo de Jesus, terá que ser empreendida recorrendo-se ao
exercício de algumas práticas específicas, a fim de estimular no discípulo o sentido
de obediência, com vistas a que seja tratado e possa realizar a obra ministerial de
maneira irrepreensível.

A partir de uma nova visão no meio daqueles que compõem a liderança, tais como
pastores, missionários, evangelistas, professores, será possível uma
conscientização da igreja de que é mister realizar a obra de Deus nos moldes dos
apóstolos, para que assim, tanto o que prega quanto o que ouve, absorva a
essência dos ensinamentos do Mestre à luz do Espírito Santo assimilando o método
validado por Jesus, o qual imprime Sua marca àqueles que se deixam moldar por
Sua ação, que também pode ser traduzido por caráter do Senhor imprimido na vida
do obreiro. “Cristo em vós, a esperança da Glória!”. (COLOSSENSES 1:27b).

Desde a grande comissão ordenada pelo Senhor Jesus aos seus discípulos, há mais
de dois mil anos atrás, muito tem se perdido do eco santo que ressoou no cume do
Monte das Oliveiras:

Ide, portanto, fazei discípulos, de todas as nações, batizando-os em nome


do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as
coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até
à consumação dos séculos. (MATEUS 28.19-20).

Esta ordem explícita ainda ecoa nos dias atuais, porém, os discípulos carecem de
um revestimento completo. A obra não pode ser realizada na força humana, e sim,
no poder do Espírito Santo, mediante a ação do qual o obreiro recebe os elementos
básicos para serem utilizados como instrumento na proclamação do evangelho.
Assim é que o próprio Mestre promete: “Mas recebereis poder, ao descer sobre vós
o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a
Judéia e Samaria e até os confins da terra”. (ATOS 1:8). Este poder é a capacitação
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para que, a partir da conversão e da submissão ao Espírito Divino, seja forjado no


servo o caráter do Senhor:

[...] Alicerçados no poder eterno que Jesus detém e que prometeu exercer
em prol da Sua obra, na qual Seus servos participam, os discípulos
receberam a incumbência de evangelizar o mundo. Sua missão consistia
em levar as almas à conversão, batizar os convertidos para fazerem parte
da Igreja de Cristo e ensiná-los a viver segundo Seus ensinamentos e no
Seu poder, sentindo Sua presença espiritual acompanhando cada um dos
seus [...] (SHEDD, 2001, p.1382)

Para ser um genuíno “fazedor” de discípulos, portanto, torna-se necessário, uma


conversão genuína, um caráter ilibado e uma vida de santidade, para então, poder
levar a Palavra de Deus, tendo em Jesus Cristo o seu exemplo maior.

No século XXI, a missão entregue por Jesus aos seus discípulos, ainda não foi
cumprida totalmente. Qual será o motivo? O que acontece nos arraiais evangélicos?
Qual interesse tem prevalecido? O que se tornou mais importante do que obedecer
à voz do Mestre? O que esta faltando?

O que se percebe é que o plano de Jesus precisa ser seguido, primeiramente pela
liderança, e, por conseguinte, pelos liderados. Por intermédio desta liderança
consciente de sua responsabilidade e compromisso com o “Ensinador de todas as
coisas” e a partir desta, a capacitação se tornará mais presente no seio da igreja.
Foi assim com a Igreja Primitiva e assim será com a Igreja da atualidade, pois o
plano é o mesmo, e a sua eficácia também o é. Um retorno às bases do ensino de
Jesus é fundamental:

Eis por que é tão importante observar o caminho pelo qual Jesus manobrou,
a fim de atingir os Seus objetivos. O Mestre desvendou a estratégia de Deus
para conquistar o mundo. Cristo tinha confiança no futuro, precisamente
porque vivia de conformidade com esse plano sempre à Sua frente. Assim,
pois, nada havia que se fizesse por acaso, em Sua vida – não havia palavra
inútil. Estava sempre atarefado no trabalho de Deus (ver Lucas 2:49). Jesus
viveu, morreu e ressuscitou tudo de acordo com o que fora previamente
determinado. Tal como um general que seguisse o Seu plano de batalha,
assim também o Filho de Deus planejou para vencer. Não lhe era dada
oportunidade de arriscar-se. Pesando cada fator variável e cada alternativa
da experiência humana, Ele concebeu um plano que não poderia falhar.
(COLEMAN, 1964, p. 16).

Olhando para o Mestre que tinha convicção da vitória da sua missão previamente
planejada é que a igreja marchará triunfante contra todas as ciladas do arquiinimigo
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de Cristo e dos seus. É através da marca do caráter de Cristo impresso nos obreiros
(todos os envolvidos na obra ministerial) é que se realizará de maneira eficaz a
tarefa inacabada, a começar naquele que nasceu de novo.

Quando essa regeneração ocorrer no seio da Igreja, toda sociedade ganhará. Antes
de conquistar o mundo deve-se conquistar a si próprio, pois só assim o Evangelho
será levado à sociedade com poder para transformá-la em todas as suas bases. Não
foi assim com os apóstolos? Todos não foram transformados no âmago do seu ser?
Foram transformados e puderam levar o encargo sagrado. Eles foram trabalhados
durante todo o ministério de Cristo aqui na terra. Não deveriam olhar para a obra
missionária como se esta fosse uma profissão que veio substituir a que outrora
exerceram, mas uma missão que alcançaria homens e mulheres, jovens e adultos,
anciãos e crianças, e todos seriam redimidos em conseqüência ao esforço sacrifical
daqueles que se tornaram, por livre e espontânea vontade, imitadores de Cristo. E,
em decorrência deste entendimento colocado em prática, revolucionaram a
sociedade da época. “[...] Estes homens que tem alvoroçado o mundo, chegaram até
aqui!”. (ATOS 17:6b).

Obediência, submissão, resignação, perseverança, fé e sobretudo, amor: eis as


palavras que não podem faltar nas mentes e nos corações daqueles que querem,
assim como Jesus, transformar o mundo. E a ação destes elementos somente
poderá ser evidente a partir da transformação do caráter do servo.

O presente trabalho visa ressaltar a importância do caráter de Cristo na vida daquele


que se propõem a realizar a obra de Deus, e a necessidade urgente de que sejam
forjados líderes que absorvam o entendimento de que não há como cumprir o Ide de
Jesus na sua integralidade, sem o trato imprescindível e a formação do caráter do
servo nos moldes do caráter do seu Senhor.

Diante do desafio que o tema propõe, a pesquisa bibliográfica contribuirá para


nortear a linha de pensamento, a partir dos comentários às referências teóricas,
como fontes relevantes. Contribuições missiológicas e teológicas sobre o assunto,
palestras, bibliografias de homens que se doaram ao serviço da obra ministerial,
suas lutas, suas vitórias, suas realizações, servirão de subsídios para ressaltar
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pontos fundamentais. Por fim, ponderar-se-á acerca das distorções trazidas pelo
hedonismo e mundanismo para meio evangélico, descaracterizando o seu modo de
ser e de agir, portanto descaracterizando o modelo de caráter almejado para o povo
“separado”, vale dizer, santo. Concluindo-se com a explicitação do modelo traçado
por Deus, o qual é composto de elementos que serão individualmente abordados.

1. CARÁTER
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1.1. Definição

A definição do vocábulo caráter, em alguns momentos pode ser confundida com


outros como: personalidade, moral e ética, porém embora sejam termos
intrinsecamente ligados, cada um tem seu valor conceitual individual. A origem ou
raiz grega ou latina destas expressões lhes conferem uma conotação inter-
relacionada, que abrange um universo de significados que contribuem para a
compreensão do propósito de Deus na vida de todo homem formado por Ele. Assim
é que para melhor entendimento do tema na atualidade, é importante que se recorra
aos conceitos estabelecidos na Grécia Antiga.

A origem da palavra ética vem do termo grego ethos, que significa modo de
ser, o caráter. Os romanos traduziram esse termo (ethos), para o termo
latim mos (ou mores), que quer dizer "costume", de onde vem a palavra
moral. Tanto ethos (caráter) como mos (costume) indicam um tipo de
comportamento propriamente humano que não é natural. Os indivíduos não
nascem com ele. É adquirido ou conquistado por hábito, no convívio social.
Ética e moral, pela própria etimologia, diz respeito a uma realidade humana
que é construída histórica e socialmente a partir das relações coletivas dos
seres humanos nas sociedades onde nascem e vivem. (SANTOS, 2007). 1

E, o que vem a ser personalidade no seu sentido conceitual? Personalidade,


segundo a Wikipedia (2008), é tudo aquilo que distingue uma pessoa das outras, ou
seja, as características psicológicas próprias de cada indivíduo que o faz ser um ser
único na sociedade da qual ele faz parte.

O conceito grego do homem de personalidade completamente


desenvolvida, era tão amplo quanto o nosso. [...] Aos gregos devemos o
primeiro esforço para assegurar o desenvolvimento intelectual da
personalidade. [...] Consequentemente os gregos chegaram ao conceito
moral de personalidade. Cada indivíduo encontrava na sua natureza
racional o direito de determinar os seus próprios fins na vida; e, em sua
natureza moral, o conceito desses fins achava-se traçado por seu próprio
ser. (MONROE, 1972, pp. 27, 28).

No Minidicionário Luft da língua portuguesa, a palavra caráter esta definida como


sendo: “[...] 1. Marca; cunho; sinal distintivo. 2. Conjunto de traços psicológicos da
individualidade; índole. 3. Força de vontade; firmeza. 4. Retidão; honestidade. [...]”.
(LUFT, 1999, p. 146). A palavra ética, por sua vez, aparece como: “[...] Conjunto de
1
http://pt.shvoong.com/law-and-politics/1710303-%C3%A9tica-moral/
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regras e de valores ao qual se submetem os fatos e as ações humanas, para


apreciá-los e distingui-los; moral.” (LUFT, 1999, p. 309). A Etimologia revela a
origem da palavra caráter,2 nasceu na língua Grega e significa “ethos”, ou seja, ética.
Percebe-se, nesse plano principal, uma forte relação entre os dois vocábulos na
linguagem ocidental. Nota-se uma colaboração entre elas no contexto sócio-
econômico, como também nas vertentes que abrangem as inter-relações pessoais
nos negócios, lazer, religião, política, educação, cultura, mídia e outros, todos num
plano comum de atuação interativa.

Algumas divergências giram em torno do conceito de personalidade. Um dos pontos


pacíficos e óbvios, é que ela é inerente ao homem. Já em outros pontos, o consenso
esta distante de existir, como, por exemplo, a idéia de que caráter e personalidade
têm o mesmo significado. De oportuna lembrança é a definição de que
personalidade é “organização dinâmica que integra as características psicológicas
de cada pessoa, determinando a orientação de seu comportamento bio-psico-
social”. (RODRIGUEZ, 2007, p.17). Mais adiante esse assunto será retomado
trazendo maiores esclarecimentos.

E a moral? A moral já está relacionada com agentes externos que compõem uma
cultura de uma sociedade. É o conjunto de opiniões, ou regras que norteiam a
conduta de um grupo de indivíduos ou toda uma sociedade, que determina como
válidas ou inválidas sua ações e que deve ser observado e seguido por todos. Está
intimamente relacionado com o contexto histórico, geográfico e cultural de uma
determinada sociedade. O que, no Brasil, é estabelecido como imoral, no que diz
respeito ao casamento, na Índia pode ser considerado como moral e até mesmo
legal, como, por exemplo, o sistema de castas. A moral não compõe o cerne do ser
humano, porém pode ajudar a moldá-lo no desenvolvimento do seu caráter.

A ética atua na área dos valores, do julgamento entre o que é certo ou errado. Ela
opera como um árbitro, avaliando e disciplinando os relacionamentos na sociedade.
Percebesse também, que semelhante a moral, a ética é um elemento exterior que
contribui para a formação do ser humano, pois este se utilizará dela para julgar
situações relacionais, que já foram convencionadas pela sociedade como
2
Grifo nosso
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“politicamente corretas”. A ética seria a ciência da moral, e como ciência também


influenciaria o ser humano na sua formação.

Por fim, o caráter, esse que faz parte da personalidade, e que difere da ética e da
moral, pois é inerente a alma do homem, ou seja, ele compõe o íntimo do ser
humano; ele pode ser moldado, através da ética e também da moral, além de outros
fatores, porém, a decisão final acerca da submissão, ou não, a estes
condicionadores sociais de ensino está no campo da escolha do próprio ser
humano.

O caráter é a distinção que cada ser humano carrega consigo a qual se manifesta na
sua conduta diante dos relacionamentos do dia-a-dia no meio da sociedade. Ele
pode ser moldado por agentes internos e externos: valores, virtudes, limitações e
fraquezas, que também, fazem parte dos elementos que integram o caráter.

1.2. Formação do Caráter

O individuo, no seu processo existencial, se desenvolve moralmente desde os


primeiros contatos sociais. É um ciclo que começa na família, passa pelo contato
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dos amigos, pelo relacionamento com o contexto escolar, e por outros contatos que
vão fornecendo sua colaboração educacional, para que o individuo tenha o seu
caráter modelado de forma gradual (o ciclo habitual), o qual só termina com a sua
morte. É um processo de amadurecimento que ocorrerá em um plano cadenciado, e
isso, com o auxílio da educação em todas as suas nuances, pois é ela que formará o
homem-moral, mediante a intervenção dos paradigmas que lhe são impostos pela
sociedade. Isto porque os valores nomeados por ela, servem de padrões meritórios
para reger a conduta do ser moral dentro de um ambiente racional. Ou seja, é ela
quem nomeia e aquilata as questões morais e éticas oriundas de cada sociedade
em todas as épocas.

O ramo da ciência que estuda o caráter é a psicologia. É ela que promove uma
exegese pormenorizada que percorrendo duas vertentes, tem poderes para adentrar
nesse componente de estudo. Ela descreve cada individuo na sua essência e com
todas as suas peculiaridades, e ainda, faz o “raio -X” do ser humano, o qual é único
no seu modo de ser, e será identificado por sua maneira de externar-se no seu
cotidiano. Criado por Deus, sendo o único exemplar no meio de bilhões de
semelhantes, que muitas vezes são parecidos, porém nunca idênticos:

O caráter inclui as características morais do homem. É constituído das


expressões naturais e sociais da alma, qualidades boas e ruins. A
psicologia, para estudar a formação do caráter, defende duas vertentes – a
genética e a ambientalista – com ênfase em uma ou em outra. A verdade é
que os valores, crenças, virtudes, fraquezas e distúrbios que formam o
caráter são tanto herdados com aprendidos. (BEZERRA, 2007, p. 28)

Conforme Rodriguez (2007), no campo dos estudos psicológicos, o homem é visto


como uma unidade biopsicossocial. E é dentro desta unidade, que existe um sistema
integrador e regulador dos processos e condições psicológicas. Esse sistema seria o
próprio processo de desenvolvimento da personalidade. É a ação em si mesma. Ela,
por sua vez, é composta de subdivisões da unidade citada, a qual faz parte de todos
os indivíduos. São elas:

1- caráter;
2- temperamento;
3- capacidades;
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4- Autoconsciência.

As diferenciações entre as pessoas podem ser analisadas de forma empírica pelos


métodos psicológicos, que ira avaliar e analisar o fator de preponderância em cada
ser humano. Cada pessoa tem sua marca, o seu registro interior, que se apresenta
exteriormente na manifestação do caráter:

[...] Este elemento da personalidade é especificamente quem estabelece as


diferenças entre uma pessoa e outra; por tal razão, o termo “caráter” em
grego antigo (língua da qual se deriva) quer dizer “selo”, “carimbo” pois se
refere aos posicionamentos estáveis e freqüentes que cada pessoa assume
em determinadas situações de tal forma, que constituem padrões de
comportamentos pelos quais se reconhece a pessoa, podendo inclusive,
predizer o comportamento que assumirá numa situação específica.”
(RODRIGUEZ, 2007, p.17).

O regente do ser humano nos seus traços e no seu jeito de ser, constitui-se numa
somatória do seu próprio desenvolvimento pessoal. Os elementos que compõe este
regente, que pode ser a família, a escola, a igreja, ou própria sociedade, são
integrados e desenvolvem o processo em períodos e momentos diferentes ou não,
porém, cumprem o seu papel como agentes formativos na vida de cada indivíduo:

O sentido de identidade de uma pessoa é formado pelas experiências


cumulativas da vida numa determinada cultura. É formado, primeiramente, na
infância, quando a vida do individuo se concentra em especial no lar e em que
a interação se limita aos pais, irmãos, babás e amigos da família. Mas tarde,
os iguais do individuo começam a assumir mais importância, particularmente
depois do início da puberdade. Os professores, administradores, sacerdotes e
outras figuras de autoridade também entram na vida do jovem. A tendência
do individuo para se identificar com os valores de sua classe social, religião,
nacionalidade, e os valores dominantes de sua comunidade conduzem à
internalização de certas atitudes e padrões. Um dos fatores muito
importantes, atualmente, na vida dos jovens é o dos mass media (meios de
comunicações de massa). (CATÃO, 1995, p. 37)

A regência do caráter nos relacionamentos humanos é uma necessidade para a


estruturação da sociedade. Ela é quem tenta equilibrá-los no cotidiano. Porém, em
se tratando do serviço cristão, é impraticável apenas considerar o aspecto ético e
moral, porque, no geral, a matéria cientifica descarta a pessoa de Deus, ligando-o ao
misticismo e ao que é retrogrado, como ensinavam os pensadores do iluminismo
(século XVII). Esse pensamento centrado no homem é danoso para formação
saudável a nível espiritual. O que os filósofos entendem por misticismo, não
menospreza e nem tampouco, afeta o valor real e racional da pessoa de Deus,
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porque a apologia feita ao racional sem a intervenção divina esta fadado ao


fracasso, como bem se percebe nos dias atuais. O que se observa é uma crise sem
precedentes pelo fato do homem ter desprezado a direção de Deus e seus
conselhos para a formação ética na sociedade. O homem preferiu conduzir-se por
conta própria a mercê do mundo e de Satanás. Mesmo assim, pode-se perceber
uma acanhada tendência ao retorno às bases espirituais, no intuito de fazer
retroceder o processo do caos que foi desencadeado pela falta de Deus no cotidiano
humano:

A partir do momento, porém, em que se reconhece Deus, na sua


Transcendência, como Criador, que sustenta o universo com sua Palavra e
a tudo dá energia e vida, por meio de seu Espírito, não se pode
absolutamente argüir de heteronomia. Pelo contrário, a presença e a ação
da Transcendência no mais íntimo de todos os seres, sustentando-lhes
precisamente na existência e na ação, é a garantia e a certeza de que o ser
humano só pode existir como criatura e crescer como humano na
dependência de Deus, na medida em que lhe acolhe de bom grado a
Palavra, no fundo do coração, e se deixa penetrar por seu Espírito.
(CATÃO, 1995, p. 26).

O pressuposto para ser um dos discípulos de Cristo é uma verdadeira conduta


cristã. Ou seja, uma conversão genuína que é refletida no amadurecimento nos
elementos do caráter cristão. É por causa disso que, o trato etimológico fica a
desejar no que se refere ao serviço a Deus, porque vai além do termo técnico –
cientifico. O designo chega aos átrios da perfeição divina: “Mas, como é santo
aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de
viver. Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo.” (I PEDRO 1.15-
16). Embora se observe que o padrão do mundo para atribuir a alguém uma
condição de destaque dos demais, seja a esperteza, a sagacidade e a inteligência, o
crivo de Deus requer muito mais daqueles que aspiram palmilhar os caminhos
percorridos pelo Senhor Jesus Cristo, que é o padrão de perfeição, o qual foi
aprovado em tudo pelo Senhor Deus Todo-poderoso. O Padrão do mundo pode até
ser considerado como “bom”, mas não compõe os elementos necessários àquele
que almeja fazer a obra requerida pelo Senhor. Mateus reproduziu a fala de Jesus,
quando disse: “Vocês nunca leram nas Escrituras: ‘A pedra que não foi aceita pelos
construtores tornou-se a pedra respeitada, que é a de esquina. Que notável! Que
coisa admirável o Senhor fez!’ ?”. (MATEUS 21.42). Ou ainda:
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Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim.
Se vós fósseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não
sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos
odeia. (JOÃO 15. 18-19).

O padrão de Deus e o do mundo são antagônicos. Logo, o mundo odeia o padrão de


Deus e, por conseguinte, Deus abomina o padrão do mundo. Oportuna é a
recordação do conselho do Senhor:

Não ameis o mundo e aquilo que no mundo há, se alguém amar o mundo, o
amor do Pai não está nele. Porque tudo que está no mundo, a
concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida,
não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem
como sua concupiscência, porém, aquele que faz a vontade de Deus
permanece eternamente. (I JOÃO 2.15-17).

E ainda: “[...] Não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus?


Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”. (TIAGO
4:4).

1.3. Educação Moral e Crise

Diante das necessidades que são propostas e impostas pela sociedade


contemporânea aos seus indivíduos, percebe-se a ocorrência de uma crise de cunho
mundial sem precedentes em diversos seguimentos da sociedade, que tem levado
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os cientistas sociais, pedagogos e outros técnicos ligados ou não a área educacional


a um embate no campo ético, com uma abordagem séria sobre a formação e o
desenvolvimento do caráter. Assim se observa:

A atenção dispensada à ética não decorre de algum modismo teórico, mas


da preocupação com problemas sociais, ecológicos e comportamentais
muito concretos que se originam, de um lado, do enorme poder de
intervenção científico tecnológico e, de outro, da desestabilização dos
valores tradicionais que serviam de orientação para a relação dos homens
com a natureza e dos homens entre si. (GOERGEN, 2001, p. 148)

Os grandes escândalos nos rincões políticos, em âmbito local e nacional, as ações


de pedofilia no meio eclesial, a justiça que é comprada em detrimento do direito dos
excluídos socialmente, tudo isto se constitui em uma preocupação global. São
questões de cunho fundamental para o progresso social. Esses fatos incontestes,
além de outros não mencionados aqui, apontam para uma real necessidade de
ensinar ao homem a relacionar-se consigo mesmo, com o semelhante, com a
sociedade e com Deus. Segundo o Sociólogo Goergen (2001), a educação moral
nos moldes tradicionais está ultrapassada, sendo necessário um debate acerca
dessa educação no ambiente escolar num contexto ético, despertando-se para as
questões morais e a gênese de uma subjetividade que colabore com a solução
destes problemas. Essa concepção é um dos fatores que dão ao homem subsídio
para se afastar de Deus, pois quando são banidos os “moldes tradicionais”, abole-se
o fator “Deus”, que é a base para a construção da sociedade, e, por conseguinte,
Sua Pessoa é indispensável para qualquer formação na esfera humana. O problema
está em não se permitir a “permanência” de Deus no cenário social, por se temer
uma regressão da racionalidade e da cultura atribuída à presença da religião (e,
portanto, de uma concepção de Deus), seja nas escolas e seja na própria sociedade
como um todo:

As matizes culturais não se tornam outras do dia para noite. A revolução


não é a regra da evolução em nenhuma esfera da vida seja ela biológica,
psicológica ou social. Muito menos na esfera cultural e religiosa. Mas as
ondas de novidades vão aos poucos modificando a paisagem cultural-
religiosa. Foi assim que, na modernidade, começaram a surgir novas formas
de cristianismo, atendendo à nova consciência cultural em desenvolvimento.
(CATÃO, 1995, p. 27).

Por ser um marco não modista, como afirma Goergen (2001), percebesse a
necessidade de se tratar do assunto por todos os indivíduos, num processo de
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reestruturação da sociedade, a qual já demonstra sinais de uma crise no campo


ético-moral sem precedentes antes vistos:

É o que preocupa. Uma das queixas mais freqüentes que se faz hoje em dia é
a falta de ética na sociedade, na política, na indústria, no comércio e nas
finanças, e até nas esferas esportivas, culturais e religiosas. Parece imperar a
busca desenfreada das vantagens que se podem auferir de todos os aspectos
da vida, o espírito de burlar a lei sempre que possível, sonegar os impostos,
aproveitar-se dos outros e usufruir o máximo da impunidade de que gozam os
poderosos. Ninguém dá maior importância aos critérios éticos. A violência
tornou-se o modo de agir característico, em particular, das classes
dominantes. (CATÃO, 1995, p. 11).

Os valores morais, na atualidade, têm sido pontuados, porém, sob tentativas de se


abolir os mandamentos divinos. As bases do antropocentrismo, que é filosofia
segundo a qual o homem é o centro de tudo, situam-se como mantimento de uma
sociedade que tem provado anomalias humanas e espirituais. Foram os gregos que
deixaram um legado para a humanidade que, provavelmente, não se tornará
obsoleto por muito tempo: o esclarecimento das razões do viver; a compreensão do
mundo a sua volta evocando a razão é importante, porém, abri-se a porta para o
hedonismo que tem aflorado muito mais nos tempos de hoje do que naquela época.
O Homem natural sempre resistiu a Deus:

A rejeição moderna aos mandamentos de Deus tem suas raízes no


secularismo materialista e narcisista. A intensificação do individualismo, a
busca pela auto-realização, tem levado muitos, inclusive cristãos, a criarem
um mundo exclusivo onde o sentir-se bem é o valor supremo, e, neste
mundo, os mandamentos e o temor a Deus têm de desaparecer. Em nome da
liberdade vamos nos tornando mais tolerantes, um vez que os interesses
pessoais se sobrepõem aos mandamentos divinos. A tendência moderna de
rejeição aos mandamentos seria percebida de forma insuficiente se não
considerássemos o conflito que se encontra por trás dela: a negação a Deus
e a assumida autonomia humana. É assim que o salmista descreve esta
realidade: “Os reis da terra se levantaram contra o Senhor e contra o seu
Ungido, dizendo: Rompamos os laços e sacudamos de nós as suas algemas”
(Sl 2.2-3). Este é o horizonte maior sobre o qual nossos olhos devem se
concentrar. (SOUSA, 2007, p. 50)

Os mandamentos de Deus devem ser considerados, pois eles estão acima da visão
grega. Esta, por sua vez, pelo menos em um de seus aspectos, é precisa na
ponderação que faz sobre o homem na contemporaneidade, pois para se
diagnosticar as mazelas, é necessário se fazer um levantamento acurado do objeto
de estudo, e assim, concluir-se pelo tratamento adequado. Nesse caso o objeto
seria o próprio homem. “A educação diz respeito ao homem, não a coisas; assim,
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para saber se os programas e práticas educacionais são eficazes, devemos


considerar a pessoa a ser educada.” (RICH, 1975, p. 18). No entanto, não há como
rechaçar a verdade bíblica absoluta da necessidade da presença divina no contexto
histórico e social do ser humano. Pois Ele mesmo é quem ensina: “Sem mim, nada
podeis fazer”. (JOÃO 15.5c). E ainda: “Como purificará o jovem o seu caminho,
observando-o conforme a Tua Palavra”. (SALMOS 119. 9).

Na atualidade, porém, os dispositivos que aferem o nível de moral na sociedade


estão abaixo da linha do aceitável como normal. É com esse pano de fundo que o
mundo globalizado com a sua política neoliberal, favorece aos mais diversos níveis
de competição não só nos mercados, mas também nas instituições, que
semelhantemente à escola, vão perdendo o seu teor tradicional, sendo substituído
por caracteres meramente especulativos e financeiros. O pensamento neoliberal
para a educação pode ser resumidamente explicado da seguinte forma: “ênfase no
ensino privado, na escola diferenciada/dual e na formação das elites intelectuais;
formação para o atendimento das demandas/exigências do mercado.” (LIBÂNEO,
2008, p. 89). Diante do exposto, onde se percebe o cunho meramente
mercadológico, não seria necessário se pensar na formação do homem com uma
nova consciência baseada em padrões mais relacionais, humanos, e principalmente,
espirituais? É basilar a busca da identidade nesse processo, pois, a cadeia da moral
se partiu no Éden com a queda da raça humana, tornando o ser humano
independente de Deus. (GÊNESIS 3).

Tanto na família como na escola, a educação moral vai dando forma ao individuo,
inculcando valores que fazem parte da cultura em suas diversas épocas, mas que
não deixam também de ser soluções tecidas nos diálogos subjetivos e nas
problemáticas que afetam a sociedade. Deduz-se que o educador tem no seu bojo
esses valores morais que servem como exemplo para seus discípulos, se bem que
os grandes pensadores (Sócrates, Platão, Protágoras) advogam a vertente que:

A virtude não pode ser ensinada e compara sua função à de uma parteira.
Diz-se ignorante se dele se esperasse algum conhecimento ou receita no
campo da moral. Não faz longos discursos sobre a moral como os sofistas,
mas apenas perguntas perturbadoras que desestabilizam os jovens nas
suas opiniões e os induzem a buscar, eles mesmos, a solução de seus
problemas. Com isso, os jovens percebiam que a virtude não decorre de um
processo racional de explicações conceituais, senão que de uma reflexão
25

pessoal e autônoma sobre as decisões práticas mais corretas. Competência


moral só alcança aquele que aprende, por meio de esforço próprio, a agir
com responsabilidade e não aquele que aprendeu fórmulas teóricas sem
relevância prática. Para Sócrates, há uma relação intrínseca entre ética e
educação, porquanto o conhecimento ético deve orientar o agir. Não sobre
o educador e seus ensinamentos, mas sobre si mesmo é que o aluno deve
fixar sua atenção para que aprenda a conduzir seu agir segundo a idéia de
Bem. O educador não atua nem como exemplo nem como autoridade, mas
como aquele que ajuda o educando a agir segundo a idéia de virtude (Bem)
que se encontra em seu interior. (GOERGEN, 2005, p. 990)

Percebesse uma preocupação com o tema desde os primórdios na humanidade. E


qual seria o papel da educação na formação moral do individuo, numa esfera
secular? Nos dias atuais, a escola apresenta certa dissonância com a necessidade
latente do individuo. Críticas são necessárias aos seus métodos de seleção ou
sistema de avaliação, os quais tendem a discriminar de uma maneira nociva e
excludente, como afirmam Barrere e Martucceli (2001). É o que se observa num
endeusamento ao desempenho e o valor dado ao narcisismo, os quais se associam
contra a sobrevivência da ordem moral. A competitividade entre os indivíduos tem
sua iniciação, a priori, nos primeiros anos escolares. Uma seleção que, muito
distante de ser justa, aproxima-se do imoral.

Se porventura a escola não seja a principal ensinadora da moral - por mais relevante
que seja a situação - é como se ela andasse na contramão da urgente mobilização
em fomentar essa educação. É ela, ainda, um dos canais privilegiados para
mobilizar a sociedade para um debate em torno da questão que sinaliza a ponta do
iceberg moral: professores, alunos e comunidade ao erigir o diálogo como solução,
não se eximem dos seus papeis no cenário de transformações econômica, política,
cultural e educacional, em que a moral tem seu lugar de destaque, pois é ela
essencial para o desenvolvimento de todas as lides sociais, dando a Deus o lugar
que sempre lhe pertenceu, para que os debates acerca do tema, produza mudanças
benéficas.

As propostas de educadores, psicólogos e tantos outros profissionais que


se interessam pela solução dos grandes temas nacionais têm valor; mas a
atitude consciente ou não de rompimento com os mandamentos divinos
encontra-se na base destes grandes temas. Nossos olhos já não estão mais
voltados exclusivamente para Deus em adoração e obediência;
banalizamos o seu nome; atropelamos o tempo e não celebramos o
descanso como expressão da confiança na providência divina; não damos
mais a honra devida aos pais e aos idosos; matamos e destruímos a
dignidade do outro com palavras e gestos; perdemos a capacidade de
26

permanecer fiéis, de nos contentar com o que temos, de fazer da nossa


palavra um testamento e não desejar nada que não seja nosso. (SOUSA,
2007, p. 51).

Por fim, para ensinar efetivamente valores morais na escola, universidades,


institutos e nas demais esferas educacionais, em primeiro lugar há que se igualar os
desiguais, os menos favorecidos, os que estão excluídos da sociedade desde o seu
nascimento, em razão de sua condição social, racial, religiosa ou econômica. O
sistema educacional precisa ser revisto, pois a sua conjuntura está voltada para a
alimentação do princípio que tem regido o mundo, a valorização do capital, em
detrimento aos valores humanos e divinos. O foco é a capacidade e os tipos de
aproveitamento que o individuo pode fornecer ao sistema, sem se importar com a
sua estrutura emocional e espiritual. E estando o homem em crise, toda a sociedade
também estará.

1.4. Caráter no Mundo Globalizado

No mundo Globalizado, onde as estruturas sociais são afetadas por esse processo
que traz consigo a competitividade e exacerbada atuação da lei da sobrevivência,
têm surgido escolas nas quais se educam o individuo para desenvolverem seus
27

caracteres, visando tão somente contribuir com as empresas, nas gestões


operacionais no âmbito relacional. Nota-se uma preocupação, não em favor do
homem e suas questões e anseios existenciais, mas da empresa à qual ele está
vinculado como força de trabalho. Neste contexto, o ensino da ética, visa forjar o
caráter do indivíduo não para seu próprio crescimento e benefício, mas como
instrumento otimizador da empresa. A distorção, porém, do objetivo do ensino da
ética não anula sua importância para a constituição do caráter do ser humano. É
certo que o ensino da ética contribui para a formação desse caráter. Como afirma
Kolp (2003), não existe um desmembramento dos dois elementos. E ele ainda
conclui, dizendo existir duas maneiras de ensinar caráter. A primeira é quando ele é
ensinado a todo instante no dia-a-dia, em meio às relações interpessoais. E a
segunda, é quando ele é ensinado nas salas de aula, nos simpósios, congressos e
seminários.

As grandes empresas e profissionais liberais têm procurado descobrir valores


pessoais em seus colaboradores que vão além da excelência de uma boa formação
acadêmica. Além dela, é necessário aos atores na esfera socioeconômica, que
saibam trabalhar em grupo e ainda, que detenham um diferencial maior que os
demais. Esses seriam aqueles que não se dobrariam diante das propostas
irrecusáveis, que vestiriam a “camisa da empresa”, e que deixariam de viver o
individualismo para viver o coletivo, e na luta contra a falta de caráter, venceriam,
tornando a sociedade atual purificada da mancha da corrupção, pelo menos naquele
momento. Esta busca por este padrão de profissionais, inerente ao homem moral,
leva empresas a investirem nos seus funcionários para lucrarem mais, conforme
esboça a assertiva de que:

Apesar das diferenças evidentes entre brasileiros e norte-americanos, tanto


culturais, quanto na prática de negócios, novas preocupações relacionadas
à ética de negócios podem ser abordadas, em ambos os países, por meio
de um método usado na Grécia Antiga: caráter ensinado como virtude (ética
clássica). Considerar o caráter como virtude é importante para que os
negócios somem valor (foco central da educação de negócios), pois um
profissional competente sem caráter pode causar tantos problemas quanto
um incompetente bem intencionado.”. “[...] Caráter é formado. Certamente
inclui informação, mas é mais do que conhecimento intelectual. Assim,
formar caráter é eticamente ‘construir’ uma pessoa.”. (REA, 2003, p. 16).
28

Um profissional de caráter tem sua identidade, sua marca, que é reconhecida e


disputada em qualquer que seja a área de atuação. São esses que as grandes
empresas buscam para se situarem como seus representantes no mundo do capital,
(nos mercados financeiros nacionais e internacionais) de maneira sólida e, com seu
foco no crescimento econômico e na seriedade da sua reputação empresarial é que
elas visam à projeção da sua imagem e sempre contratam os melhores para serem
os seus porta-vozes:

Líderes de corporações que demonstram que podem somar valores


(competência) aos acionistas devem também ter a confiança destes,
atraindo assim capital. Quem quer investir em uma empresa liderada por um
gerente que não merece confiança? Quando as responsabilidades
fiduciárias não são alcançadas, os acionistas querem justiça. “Lei e justiça”
formam uma entidade legal realmente justa. Mas justiça é primariamente
vista como uma virtude, uma dimensão do caráter. Como uma virtude, a
justiça desenvolve-se em direções legais e também políticas e religiosas.
Além disso, a lei deriva-se da justiça, ou melhor, expressa o que ela é.
(KOLP, 2003, p. 17).

Outro fator a ser considerado é que a globalização 3 trouxe alterações


socioeconômicas que modificou o cotidiano das classes sociais: baixa qualidade no
ensino, desemprego, subemprego, remuneração precária e a informalidade
profissional. Tudo isso são fatores que propícia uma alteração comportamental nos
indivíduos. Um ponto de adequação é justamente a qualificação profissional. O
mercado de trabalho exige capacitações cada vez mais versáteis e, ao mesmo
tempo profundas, numa velocidade que a própria educação muitas vezes não
consegue alcançar.

É nesse ínterim, que a ética e a moral são colocados à prova. A competitividade


torna-se necessária para se detectar um diferencial entre pessoas que irão assumir
uma posição de excelência, ou serão descartados pelo sistema capitalista e, neste
momento é que os ensinamentos absorvidos pelo o indivíduo no seio da família,
escola, igreja e no seu ambiente de trabalho são posto à prova ou afloram, diante de
uma postura ética ou não. É a hora do teste do caráter. O Obreiro de Deus deve
lembrar-se, sempre, que o seu mundo não é aqui. E que o seu alvo é o reino de
Deus e deve estar sempre pronto, se necessário for, para perder os tesouros desse
3
Globalização [...] Fenômeno observado na atualidade que consiste na maior integração entre os mercados
produtores e consumidores de diversos países.
29

mundo, se os princípios do reino a que ele pertence forem colocados em xeque.


“Nós, porém, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e uma nova terra,
nos quais habita a justiça.” (II PEDRO 3.13).

Até que ponto o ser humano se mantém integro diante de uma necessidade licita,
mas que só pode ser satisfeita se forem utilizados meios espúrios? Constantemente
é necessário decidir entre o certo e o errado, e muitas vezes o prêmio não se
traduzirá em lauréis, ou mesmo em bônus financeiro, mas, a simples satisfação de
fazer o que agrada a Deus. “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas
convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por
nenhuma delas.” (I CORINTIOS 6.12).

Quantas vezes a honestidade é manchete em telejornais, como algo extraordinário.


Ao se veicular o que é correto, se revela a presença de um caráter ilibado no meio
de tantas discrepâncias sociais e morais, que tentam assumir o lugar do comum e
do normal no meio da sociedade. O Senhor Jesus ensinou que se deve tratar a
todos os homens da mesma maneira como se almeja ser tratamento. (LUCAS 4.31).
É desejar ao próximo os mesmo direitos e a mesma justiça. “Igualdade relaciona-se
com imparcialidade e igual distribuição.”. (KOLP, 2003, p. 18).

O desafio estar em procurar viver a justiça mesmo diante dos desejos que se
mostram de forma ilegítima, porém, tentadora:

[...] enquanto a meta de vida for autoconhecimento, a barreira para atingi-la


é a autodesilusão. Precisamos de discernimento para combater a
autodesilusão, para que possamos ver a diferença entre uma rápida
satisfação que distorce o significado do sucesso e as virtudes que podem
nos sustentar em épocas difíceis. Decisões éticas fluem do ser que somos e
de como expressamos nosso caráter. (KOLP, 2003, p. 18).

Em tempos difíceis, a ética, a moral e o caráter cristão não devem sofrer variações
no seu elevado padrão. Pois é esse padrão que requer dos obreiros um bom porte,
diante das mazelas, ou querelas da vida, com ou sem globalização:

Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de
Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por
Deus. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria
humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com
30

coisas espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de


Deus, porque são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se
discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas,
mas ele mesmo não é julgado por ninguém. Pois, quem conheceu a mente
do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo. (I
CORINTIOS 2.12-16).

Se, para o mundo a evidência é que o melhor profissional é aquele que consegue,
além de absorver as recomendações técnicas, trabalhar em equipe e manter-se
eticamente irrepreensível, o padrão celestial anseia por tudo isso e muito mais,
mediante o modelo da pessoa de Jesus Cristo. O referencial globalizado não é
padrão para os valores que são inerentes aos cidadãos do Céu, os quais devem
fazer:

[...] todas as coisas sem murmurações nem contendas; para que sejam4
irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis, no meio de uma
geração corrompida e perversa, entre a qual resplandecem5 como astros no
mundo; (FILIPENSES 2.14-15).

O padrão globalizado, portanto, não deve compor o padrão da Igreja de Cristo. Em


primeiro plano, porque a Igreja não é uma empresa. E segundo, porque, no âmbito
eclesial não devem existir rivais, ou competidores, mas somente colaboradores de
Cristo; cada um com sua participação e contribuição na edificação do Corpo, com
dons e talentos, de maneira a que toda a construção do edifício espiritual da Igreja
seja beneficiada. “Porque nós somos cooperadores de Deus;” (I CORÍNTIOS 3.9).
No serviço a Deus, não somente cooperam com o Senhor da Seara, como também
se auxiliam mutuamente na formação uns dos outros, como co-participes da mesma
Graça.

Mesmo diante do desafio da globalização, o crente em Jesus Cristo, tem que brilhar,
recordando-se sempre que não é detentor de luz própria, porém a luz que está nele
é o reflexo da Glória do Pai que está nos Céus. É o Senhor quem opera, por
intermédio da Sua Palavra, a construção do caráter de Cristo no obreiro. Porque o
querer é do homem, mas o efetuar é de Deus, e Deus opera tanto o querer quanto o
efetuar (FILIPENSES 2.13). A palavra chave nos tempos atuais é formação. É
através dela que o líder cristão será submetido ao padrão de Deus e percorrerá a

4
adaptado- no original sejais e resplandeceis.
5
idem.
31

Seara no poder do Espírito Santo. Deus quer os seus filhos capacitados para
enfrentar a maior de todas as batalhas que a Igreja já atravessou: o secularismo.

No entanto, uma realidade desfavorável ao crescimento espiritual da Igreja nos dias


atuais tem sido observada. A falta de investimento das igrejas locais em seus
discípulos e vocacionados, não somente investimento financeiro, no custeio de
cursos teológicos, mas principalmente no investimento em acompanhamento
pastoral do desenvolvimento do seminarista e na formação do seu caráter,
propiciando, para isto, uma participação mais efetiva daquele futuro líder nas
diversas atividades eclesiais. O suporte não tem sido suficiente para gerar líderes
aptos para a frente de combate.

É certo que a Igreja não é uma empresa, porém, muitas instituições empresariais
tem desenvolvido esforços no sentido de investir no preparo de seus futuros líderes,
demonstrando assim sabedoria. “E louvou aquele senhor o injusto mordomo por
haver procedido prudentemente, porque os filhos deste mundo são mais prudentes
na sua geração do que os filhos da luz.” (LUCAS, 16.8). Enquanto líderes locais tem
falhado nesse aspecto, olhando o futuro obreiro como uma ameaça à sua liderança
e não como aquele que contribuirá para dar continuidade à obra. Preciosa é a lição
do Apóstolo Paulo: “[...] Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento vem de Deus.
De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus, que dá
o crescimento.” (I CORÍNTIOS 3.6-7).

2. O MOLDE DE DEUS

2.1. Educação Teológica: Formadora do Caráter Cristão.


32

A igreja hodierna, ao ponderar sobre missões, evangelismo e ensino, não pode


esquecer os envolvidos na obra ministerial. O suporte para esses tem que ser
constante, num acompanhamento sério e ativo. A Igreja tem acima de tudo, que
contribuir para que o caráter do obreiro passe pelo crivo de Deus. Ela deve ainda,
procurar despertar nele um verdadeiro compromisso com Cristo, que é o maior
exemplo de serviço. Porque, sem o devido preparo é trôpego o realizar da obra
ministerial. Deve-se investir no material humano nos moldes exercitados por Cristo.
Uma boa formação acadêmica, missionária, espiritual e ministerial propiciam ao
obreiro capacitação para poder realizar a “Grande Comissão”. Esses três se
entrelaçam e é necessário o magma6 do Espírito Santo para sedimentar os
ensinamentos e solidificar o aspirante ao ministério. É nesse processo de formação
do caráter cristão na vida do homem e da mulher de Deus, que o trabalho toma um
novo curso na história da Igreja na formação dos seus líderes.

A ênfase para a realização do trabalho ministerial, têm sido, muitas vezes, baseada
em técnicas humanas que, na maioria das vezes, não são abalizadas pelo Espírito
Santo. São métodos que substituíram a essência do Evangelho de Jesus por
interesses, religiosidades e programas tão bem elaborados que o exigido ao líder é
que ele pregue bem, e leve a multidão a uma tão grande emoção que lhes
despertem o interesse de estar dominicalmente de volta à igreja local, para buscar a
“benção”. Ora, o que se requer do líder não é um desempenho de um apresentador,
e sim, que o caráter de Cristo seja uma marca evidente na sua vida. “Porque já é
manifesto que vós sois a carta de Cristo, ministrada por nós, e escrita não com tinta,
mas, com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de
carne do coração”. (II CORÍNTIOS, 3.3). A ênfase deve ser Cristo e o seu evangelho
como único poder para transformar a multidão que participa dos cultos. “Até que
Cristo seja formado em vós". (GALATAS 4. 19).

A porta de Deus para preparar o obreiro são os seminários teológicos. Porém, outras
instituições têm tomado para si esse ofício que remonta a época dos profetas (II
REIS 6.1-2). Com a promulgação da Lei nº. 9.394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB)7 houve uma abertura para a exploração no âmbito da
6
S.m. 1. Massa natural Ígnea do interior da terra. LUFT, Celso Pedro, Minidicionário Luft. 19ª. Ed. São Paulo:
Ática, 1999, p. 309.
7
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm
33

educação superior, voltada para formação teológica, onde as instituições privadas


na área educacional, puderam formar seus currículos e oferecer os cursos, levando
apenas em consideração o preenchimento das exigências legais e técnicas. Eis aí,
um dos grandes fatores na crise de formação de obreiros. Pois quando se ensina
matérias como, arquitetura, administração ou pedagogia não se requer
conhecimento nem prática espiritual, pois são áreas de conhecimento seculares, que
não envolvem diretamente a formação de um obreiro eclesiástico, o que não se
afirma quando se trata da área do ensino da teologia, que é a tentativa de se estudar
Deus. Verifica-se em muitas dessas instituições de nível superior a presença, em
seus quadros profissionais de professores, mestres e doutores que são qualificados
tecnicamente, mas que diante de Deus são reprovados, até porque, muitos nem
passaram pelo novo nascimento. Com poderá um professor que adota uma religião
ocultista, por exemplo, ensinar teologia sistemática ou um psicólogo ateu ministrar o
curso de aconselhamento pastoral? O que se pode observar é que, algumas destas
instituições visam apenas o lucro econômico em detrimento de uma educação
teológica com vistas a propiciar um melhor conhecimento de Deus por parte dos
seus educandos, além do preparo de alguém que estará servindo a este Deus, e a
formação do seu caráter.

É obvio que ao ensinar acerca de Deus e dos seus preceitos, não se deve perder o
foco do grau da importância com a matéria a ser tratada. E, pelo menos dois
pressupostos devem ser analisados de forma mais direta: 1 - A capacidade de
absorção do aluno, no conhecimento a ser aplicado e seu anseio em adquirir aquele
conhecimento. Ele de per si, deve desejar aprender e se submeter ao ensino que lhe
é ministrado, pois somente dessa forma poderá amadurecer na formação do seu
caráter e, consequentemente ser útil na obra de Deus. Além do que, o ensino
teológico é a preparação para a aplicação das bases no trato com a Palavra do
Senhor e na sua aplicação na vida do obreiro e na causa.

Ted Ward, conhecido erudito na área da Educação, há muitos anos em


palestra proferida em São Paulo, afirmou que o ensino só se efetua quando
o aluno muda de comportamento. Quando os fatos apenas informam ou
alcançam o intelecto, o ensino carece do elemento essencial na educação
teológica. (SHEDD, 2007, p.21).
34

2 - Outro ponto importante é quem ensina. Qual a preocupação com a formação do


caráter de Cristo no corpo discente. O professor que ministra os oráculos de Deus
deve, acima de tudo, conhecer ao Senhor a quem ele serve e ser dedicado ao
ensino, lembrando sempre que o seu serviço é um ministério. Deve ainda saber
aplicar bem, a Palavra de Deus, baseado no fundamento dos apóstolos e na pessoa
de Cristo, exemplos inseparáveis para aquele que instrui. Sem esquecer do Espírito
Santo que, ao revestir o professor, trará à luz, o que a inteligência humana jamais
poderia de per si alcançar. “De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça
que nos é dada, se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; Se é ministério, seja
em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino;” (ROMANOS 12.6-7).
Ocorrerá na vida do aluno uma espécie de influência do professor na sua formação
intelectual e moral. O educador é humano e está, assim como o aluno, sendo tratado
por Deus, sendo aperfeiçoado a cada dia, inclusive na interação professor-aluno.

A liderança exige o conhecimento e o treinamento. Paulo usa a frase: "apto


para ensinar" (1Tm 3.2). A habilidade para ensinar depende do desejo
contínuo de aprender. Uma pessoa nunca deve dizer que já aprendeu,
como se não precisasse mais crescer em entendimento. Depois de 80 anos
de aprendizado na escola de Deus, o Senhor prometeu a Moisés: "Vai, pois,
agora, e eu serei com a tua boca e te ensinarei o que hás de falar" (Ex
4.12). Quando Tiago avisa que um "maior juízo" aguarda mestres cristãos, é
provável que não se referia aos erros daqueles que deliberadamente
distorcem a verdade, mas daqueles que, através da preguiça e da
ignorância, dão opiniões humanas, em vez da infalível Palavra de Deus. É
tão comum ouvir em nossos dias mensagens que apresentam pouca
profundidade e reflexão e raro interesse em expor o sentido verdadeiro do
texto bíblico. (SHEDD, 2000, p.18).

Nessa linha pujante, em que é percebida uma trilogia - Deus, professor e aluno,
nota-se a posição que cada um assume na formação do caráter cristão na vida do
discente. Será esse que deverá estar preparado para enfrentar os “fundamentos
cristãos” na atualidade, em face do imediatismo e do resultado proposto pela
teologia da prosperidade8. Os seminários e faculdades comprometidas com Deus e
a sua Palavra, vêem um grande fluxo de ensinos espúrios que penetram seus
arraiais e nas próprias igrejas. O ensino teológico é relegado, ficando em segundo
plano, que cede lugar as experiências sensoriais dos fiéis, os quais, erroneamente,
atribuem isso ao avivamento do Espírito Santo.
8
Teologia da prosperidade, também conhecida como confissão positiva, palavra da fé, movimento da fé e
evangelho da saúde e da prosperidade, é um movimento religioso surgido nas primeiras décadas do Século XX
nos Estados Unidos da América. Sua doutrina afirma, a partir da interpretação de alguns textos bíblicos como
Gênesis 17.7, Marcos 11.23-24 e Lucas 11.9-10, que os que são verdadeiramente fiéis a Deus devem desfrutar de
uma excelente situação na área financeira, na saúde, etc.
35

A base bíblica para toda esta efervescência avivamentista depende de


textos bíblicos que, supostamente, garantem a vida melhor que todos
almejam. Um estudo cuidadoso da Bíblia para descobrir a verdade revelada
por meio de exegese e teologia bíblica não interessa muito. (SHEDD, 2007,
p.17).

O chamado do Mestre aos seus discípulos foi para promoverem uma obra especifica
na qual não se poderia levar em consideração em primeiro plano os interesses
pessoais dos obreiros, ou de grupos religiosos. A prioridade era o ensino, pois
através dele o objetivo seria alcançado:

Jesus colocou o ensino (em forma verbal) no centro da Grande Comissão.


“Ensinando-os (didaskontes) a guardar (terein) todas as coisas que vos
tenho ordenado (eneteilamen) [...]” (Mt 28.20). Os missionários da
antiguidade foram incumbidos da responsabilidade, não apenas de batizar
os neófitos na fé, mas de manter o alvo sempre em vista, isto é, a
responsabilidade de passar adiante tudo o que Jesus lhes ensinara e insistir
na obediência dessas instruções. (SHEDD, 2000, p.17).

Eles seriam mestres, evangelistas, que com fidelidade apontariam o caminho - que é
Cristo - para todas as pessoas. Não haveria lugar para outra instância além da
proposta de Cristo: "Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome a
sua cruz, e siga-me.". (MARCOS 8. 34). A Bíblia deve sempre ser o centro do ensino
teológico de base. Fora disto, isso, o que se tem é um outro evangelho. “Toda a
Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para
corrigir, para instruir em justiça;” (II TIMÓTEO 3.16).

2.2. Chamado para Realizar a Obra

Ao dar início a sua missão aqui na terra, Jesus sabia que teria que traçar uma
estratégia para alcançar o seu objetivo, que foi a implantação do reino de Deus entre
os homens. Dentre as táticas empregadas por Jesus, estava o de preparar líderes
capazes de guiar as massas humanas. Embora Ele pregasse e ensinasse às
multidões, a prioridade era o preparo do pequeno grupo.
36

A seleção feita por Jesus na escolha dos seus apóstolos, carece de uma análise um
pouco mais profunda para penetração dos métodos de seleção de Jesus, pois o fim,
fundamental era: arregimentar homens que pudessem ser tratados e moldados em
seu caracteres. Seriam pescadores de homens aptos para serem discípulos do
Mestre:

Jesus escolheu os futuros líderes dentre homens que trabalhavam. Não


eram da sociedade menos favorecida nem dos líderes religiosos da nação.
Eram pescadores, um cobrador de impostos, um sicário (revolucionário) e
outros cujas posições na sociedade não eram detalhadas. Aparentemente,
isso não importava muito. Sabiam ler e falar grego.
O convite de Jesus para Simão e André incluiu dois elementos. Primeiro,
deviam seguir Jesus, isto é, passar bastante tempo em sua companhia (Mt
4.18; Mc 3.14); segundo, Jesus declarou o propósito desta caminhada: ‘(...)
eu vos farei pescadores de homens’ (Mt 4.18). [...] Convenceriam os
perdidos a se tornarem candidatos do reino. (SHEDD, 2008, pp. 18, 19)

Jesus começava assim a mostrar o seu empreendimento para pessoas que se


destacavam das demais. Esses homens possuíam alguns pontos em comum, tais
como: fazerem parte de uma camada social ordinária na sociedade da época; e
ainda, serem obedientes ante ao chamado do Mestre.

O fato que aqueles homens faziam parte da camada social comum da


humanidade, não servia de empecilho de forma alguma. Tão-somente
serviu para lembrar-nos do grande poder do Espírito de Deus, que realiza o
Seu propósito em homens plenamente rendidos ao Seu controle. Afinal de
contas, o poder reside no Espírito de Cristo. Não é quem nós somos, mas
quem Ele é, que faz toda a diferença. (COLEMAN, 1985, p. 77).

É o poder de Deus que vai entrar em operação no caráter dos discípulos: “E disse-
me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza.” (II
CORÍNTIOS 12:9a). É Deus chamando, capacitado e enviando pela sua Graça.

Houve uma escolha, não aleatória, mas, Cristo através da orientação divina, os
escolheu: “E aconteceu que naqueles dias subiu ao monte a orar, e passou a noite
em oração a Deus. E, quando já era dia, chamou a si os seus discípulos, e
escolheu doze deles, a quem também deu o nome de apóstolos”. (LUCAS 6.12-13).

A Bíblia diz que aqueles homens foram escolhidos por orientação divina, porém suas
aptidões naturais não foram relegadas. Eles seriam tratados na formação do caráter.
Esses, depois de prontos, seriam os sucessores do Senhor Jesus para continuar a
37

obra do Reino de Deus aqui na terra. O estágio preparatório foi desenvolvido no


período aproximado de três anos e meio. No final do processo, a maioria, com
exceção de Judas Iscariotes, já detinham algumas características do Mestre, aptos
para a disseminação das Boas Novas de Salvação. “Deus escolhe e molda o caráter
dos homens e das mulheres que ele quer para liderar seu povo, tanto pelo
nascimento como pela oportunidade”. (SHEDD, 2000, p. 6).

Jesus no final do seu ministério terreno atestou a qualificação dos discípulos que
seriam os seus sucessores. Eles seriam os instrumentos de Deus para dar
prosseguimento à obra iniciada por Cristo, porque foram moldados pelo próprio
Mestre. Eles teriam a autoridade de Jesus e seriam semelhantes a Ele no
cumprimento de sua tarefa. Até a perseguição sofrida pelo Mestre eles também
sofreriam:

Se vós fósseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não
sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos
odeia. Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o
seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se
guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. (JOÃO 15. 19, 20)

É necessário que o discípulo de Cristo evidencie uma postura semelhante a do seu


Mestre: Equilibrada e permeada de maturidade. Como, pois, seria admissível uma
atitude diferente da que se espera de uma nova criatura? O próprio Mestre disse:

Por seus frutos os conhecereis. Porventura se colhem uvas dos espinheiros


ou figo dos abrolhos? Assim toda árvore boa produz bons frutos, e toda
árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem
a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta e
lança-se no fogo. (MATEUS 7: 16 a 19)

Nos dias hodiernos, como em tempos antigos, é almejada uma postura elevada dos
obreiros nos seus inter-relacionamentos e uma postura ética, tanto nos negócios
quanto nas diversas áreas de sua atuação social. O nome do Senhor deve ser
glorificado na atitude daquele que diz servi-lo. Segundo Araújo (2007), se, nas
relações seculares, o caráter, é indispensavelmente requerido e, ainda louvado pela
sua pureza, diante do mar de lama social que se observa atualmente, quanto mais
no Reino de Deus. Ele transcende todos os limites da ética e da moral, para além
dos ditames que estes propõem à conduta do homem. O alvo aqui é ser semelhante
38

a aquele que tem o caráter mais perfeito de todas as épocas - Jesus Cristo. E isto,
na verdade deve ser observado de maneira integral, pois o servo não deverá viver
uma vida dupla, uma secular e outra eclesial, mas uma evidência universal do
caráter de Cristo impresso no seu, em todos os aspectos e áreas de sua vida.

Uma das expressões do Apóstolo Paulo que demonstra uma ousadia muito grande,
é: "Sede meus imitadores como eu sou de Cristo." (I Coríntios 11.1). Ele requer dos
seus discípulos, uma atitude similar a que ele teve em relação ao conhecimento e
experiência adquirida da pessoa de Cristo. É obvio que a proposta paulina não tem o
efeito imediato, e sim, mediante um preparo que corresponde a um processo, e se
manifesta “de um degrau de glória a outro degrau de glória até a medida da estatura
de Cristo” aprendendo lições de caráter, santidade e abnegação.

O seminário do Mestre é pautado, pelo menos, em três bases específicas para que
se possa legitimar o servo na obra de Deus: conversão, ou novo nascimento,
consagração e santificação. A Bíblia diz: “E assim, se alguém está em Cristo, é nova
criatura: as coisas antigas já passaram; eis que tudo se fez novo.” (II CORÍNTIOS
5.17). Ser nova criatura, ser criado por Deus, ser salvo por Jesus, se revela em
demonstrar isso na prática, mediante a apresentação de um caráter ilibado. Os
discípulos trilharam esse caminho e foram aprovados pelo Mestre, mesmo com suas
limitações inerentes à condição humana. Jesus reservava os ensinos mais
importantes para eles, para que pudessem transmitir mais adiante, e assim também
fazer discípulos. Eles, como transmissores das Boas Novas de salvação, receberiam
um privilegio maior que as multidões que seguiam o Mestre, qual seja, sua presença
pessoal e corpórea na ministração do curso de formação do caráter cristão.

É importante que se diga que o êxito da tarefa de construção deste caráter somente
será possível com a ajuda do Espírito Santo, é Ele o presente de Deus para os
discípulos. E também é Ele quem transforma o individuo e faz com que a obra de
Deus seja concretizada na vida do homem:

Apesar de tudo, é conveniente mencionar uma vez mais que somente


aqueles que serviram a Jesus por todo o caminho vieram a conhecer a
glória dessa experiência. Os que seguiam ao Senhor à distância, tal como
as multidões, bem como aqueles que negavam obstinadamente a andar na
luz de Sua Palavra, a exemplo dos fariseus, nem ao menos ouviram falar na
39

obra do bendito Consolador. Conforme já tivemos ocasião de observar,


Jesus jamais lançou as Suas pérolas diante daqueles que não as queriam.
Essa atitude caracterizou o Seu ensino durante toda a Sua vida. Jesus,
propositalmente, reservou, para Seus poucos discípulos escolhidos, e,
particularmente, para os doze, os Seus ensinos mais reveladores.
(COLEMAN, 1985, pp. 77, 78)

Os servos não podem perder de vista o privilégio que existe em realizar a obra de
Deus. Pois foi no meio das multidões que foram içados para seguirem o Mestre, e tal
tarefa não pode ser confundida como uma atribuição comum, pois ao serem
destacados por Cristo para a realização do ministério cristão, assumiram a posição
de “servos de todos”, como um instrumento nas mãos do artista, promovendo
harmonia em um mundo caótico.

O ministério não poderia ser visto, ou tido, como um meio de subsistência. Embora
seja o Senhor quem sustente os seus escolhidos. Isso também seria mais uma
prova de confiança naquele que convocou os trabalhadores para a Seara Santa.
Confiar o seu sustento a Ele é prova inconteste de convicção no seu chamado. Eis
mais uma maneira de ser aperfeiçoado o caráter do obreiro, porque em meio às
necessidades, os fins podem até mesmo ser lícitos, porém se os meios não forem
puros, e o líder lançar mãos deles, a reprovação desse obreiro é correta e
necessária. “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas me convêm;
todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas me edificam.” (I
CORINTIOS 10. 23). O líder de Deus precisa sempre perguntar: “Em meus passos o
que faria Jesus?” 9. Qual a intenção do meu coração?

Somente mediante o confronto com a Palavra de Deus, poderá o homem observar e


conhecer o que realmente há no seu coração. É ela mesmo que afirma:

Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer


espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito, e de
juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do
coração. (HEBREUS, 4.12)

A meditação da Palavra de Deus, portanto, deve ser uma constante na vida do líder
cristão. Ela é instrumento de Deus para discernir as intenções do ser humano e
proporcionar uma formação perfeita do caráter de Cristo na vida do líder. Pois, como

9
Em seus passos o que faria Jesus foi escrito por Charles M. Sheldon, em 1896.
40

sendo uma espada “corta” na perfeição de Deus, tanto na alma de quem fala, quanto
na de quem ouve. A obra de Deus é feita pelo seu poder através da submissão do
homem aos seus mandamentos:

Á medida que escavamos, precisamos pedir a Deus que nos dê


discernimento. Em última análise, somente Deus pode nos abrir os olhos
para enxergarmos a verdade espiritual e depois nos habilitar a aplicar essa
verdade à nossa vida (Efésios 1.18). Á medida que Deus preenche nossa
mente com sabedoria, nosso caráter vai se desenvolvendo e, assim,
adquirimos a capacidade de constantemente fazer escolhas certas – justas,
honestas e morais [...]. (BOA, 2001, p.29)

A Palavra de Deus é o principal instrumento utilizado pelo Espírito Santo para


preparar o homem para uma regeneração, que se inicia com o novo nascimento e
vai até o final da sua carreira aqui na terra. “A minha alma está quebrantada de
desejar os teus juízos em todo o tempo.” (SALMO 119.20). Vale ressaltar que:

O líder cultiva o caráter ao adquirir sabedoria e discernimento. Tais


riquezas, evidentemente, não são obtidas de graça. Elas exigem o trabalho
árduo, dedicado e paciente necessário à escavação de ouro e prata. Os
líderes precisam “garimpar” diligentemente a sabedoria que jaz enterrada na
Palavra de Deus, como um tesouro coberto por várias camadas de terra e
pedras. Isso significa utilizar as ferramentas certas, exercitar a paciência e a
diligência durante o tempo que permanecemos imersos nesse livro que
transforma vidas. (BOA, 2001, p. 28)

2.3. Regeneração

A regeneração, ou conversão genuína é um precedente para as demais fases que


se instalará na vida dos servos de Deus. Todos os que almejam servir a Deus
precisam ter essa experiência nas suas vidas.

A palavra Metanoia tem sua origem na língua grega e significa, “arrependimento,


conversão tanto espiritual, bem como intelectual, mudança de direção e mudança de
mente; mudança de atitudes, temperamentos; caráter trabalhado e evoluído.”
41

Wikipédia, (2008). O termo é usado, no mínimo, para indicar o início do processo de


uma total mudança na vida do ser humano, conceito que pode perfeitamente ser
aplicado ao novo nascimento.

Esse procedimento tem uma bilateralidade para que se conclua: de um lado, Deus, e
do outro, o homem. É Deus que através da Sua Graça e Misericórdia, atua mediante
a fé do individuo. E a atitude de decidir mudar, é do homem. É nessa hora que se
opera o maior milagre de todos os tempos em todas as épocas - o novo nascimento.
No diálogo de Jesus com Nicodemos, relatado no Evangelho de João, Capítulo 3, é
tratado dessa nova vida, que seria a necessidade de uma nova postura, um
indivíduo recriado por Deus em seu espírito. Embora Nicodemos não conseguisse
entender o que Jesus propunha a ele, não o isentou de que, se quisesse ver e entrar
no reino de Deus deveria cumprir a prerrogativa básica:

A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém


não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. Perguntou-lhe
Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode,
porventura, voltar ao ventre materno e nascer segunda vez? Respondeu
Jesus: Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do
Espírito não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é
carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te maravilhes de te ter
dito: Necessário vos é nascer de novo. (JOÃO 3.3-7).

Jesus deixa claro que, a menos que alguém passe pelo processo do novo
nascimento, jamais entrará no reino de Deus. Ora, se para ver e entrar no reino de
Deus é necessário adentrar a porta da conversão, quanto mais o desenvolver
qualquer que seja o serviço ou tarefa na obra de Deus. A pessoa só pode oferecer
algo que possua, ou então, sobre o qual tenha recebido ordem expressa de alguém
que lhe é superior e seja proprietário, autorizando a dar. A necessidade dessa
regeneração é porque, sem ela, o pecador não pode ser salvo e, por conseguinte,
ser usado na obra de Deus:

O problema do pecador é, pois, a sua natureza corrompida. Ela pode até


por algum tempo praticar a justiça humana, e ter um bom comportamento,
pressionado pelas leis, por algum tipo de coerção, por interesse financeiro
ou por falta de circunstância oportuna para agir. Mas, logo que tenha
oportunidade, revelará a sua natureza pecaminosa. (ARAÚJO, 2007, p. 37)
42

Tudo na vida tem um ciclo natural e ordenado, um objetivo especifico: o sol cumpre
seu papel de inundar a terra com sua luz, as estrelas, o mar e todo o universo,
cumprem todo processo designado por Deus do início ao fim de cada dia. Assim
também acontece no mundo espiritual. O princípio da caminhada do cristão na
formação moral e espiritual, começa com a regeneração.

Deus não aperfeiçoa pecadores. Deus aperfeiçoa santos. (Ef. 4.11).


Aperfeiçoar significa dar acabamento ao que já está concluído. Aperfeiçoar
pecadores é como dar verniz a móvel que está com cupim.”. (ARAÚJO,
2007, p. 38).

No serviço a Deus, todos os passos devem ser observados, porque não fazendo
isso, o ministério desse obreiro, que não foi regenerado, causará sérios danos à
proclamação do Evangelho de Jesus Cristo entre os homens, mesmo que esse
esteja repleto das melhores intenções em relação à obra. Ele pode até transcorrer
todo o seu tempo terreno dentro de uma igreja, trabalhando nela, porém se não
transpor a porta do novo nascimento, continuará sem ter Deus na sua vida e
consequentemente, sem salvação.

2.4. Aperfeiçoados em Cristo

Segundo Araújo (2007), Deus é perfeito e tem se empenhado para aperfeiçoar o


caráter cristão nos seus filhos, os quais já passaram pela experiência do novo
nascimento (primeiro estágio na vida do crente em Cristo). Muito mais do que
preparar homens para a sociedade, o propósito divino tem o tempo de começar e o
de terminar, porque Deus não deixa sua obra inacabada. Ele leva a termo aquilo que
43

se propôs a realizar na vida daqueles que se submetem ao seu prumo, o qual


promove uma real perfeição no caráter do obreiro.

O programa de aperfeiçoamento de Deus para os líderes, percorre um processo,


estabelecido por Jesus e os apóstolos, que possui basicamente alguns elementos
fundamentais para a manifestação da Graça restauradora que atua diretamente na
formação do caráter cristão:

Precisamos enfatizar os temas atuais do período da graça, como seja:


Regeneração e Novo Nascimento; - Aperfeiçoamento dos Santos; - Dons
Espirituais; - Ressurreição dos Santos; - Formação do Novo Homem; e
Reino dos Céus. [...] Observamos que esses temas não eram dantes
conhecidos no Antigo Testamento e, por isso, precisam ser melhor
estudados e enfatizados, agora, no período da graça. (ARAÚJO, 2003, p.20)

O apostolo conhecia o processo de aperfeiçoamento de Deus para a vida de todo


crente: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de
completá-la até ao Dia de Cristo.”. (FILIPENSES 1.6). Ora, a convicção de Paulo
acerca desse assunto, se dava pelo fato dele perceber e vivenciar esse processo na
sua própria vida. Ele sabia não apenas de modo teórico, porém, prático. Sua
compreensão era de que, na reestruturação do caráter dos indivíduos numa
perspectiva cristocêntrica, a obra de Deus se completa atingindo o seu objetivo
plenamente.

O Deus perfeito requer perfeição dos seus filhos. É a vida de Deus que estabelece
essa perfeição. (JOÃO 10.10). É relevante, no entanto que se diga a recusa à
intervenção divina, é negar a própria natureza e a ligação com Cristo. Porém
existem fatores unilaterais (fatores carnais) que podem atrasar, ou até paralisar o
processo. Esse por sua vez, não deve ser impedido, pois é essa a vontade de Deus:

E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para
evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o
aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do
corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao
conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura
completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes,
levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que
com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em
amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, [...].
(FILIPENSES 4.11-15)
44

Da parte de Deus não existe nenhum empecilho, basta o homem submeter-se ao


processo divino. Essa técnica possui pressupostos que se constituem em um grande
privilégio que é o de se submeter à metodologia divina de aperfeiçoamento, a fim de
alcançar o perfeito caráter de Cristo:

Quando Deus começa um projeto, Ele o conclui! Como aconteceu com os


filipenses, Deus o ajudará a crescer na Graça até que tenha concluído a
obra em sua vida. [...] Ele prometeu concluir a obra que começou. Quando
se sentir incompleto ou perturbado por suas fraquezas, lembre-se da
promessa e da provisão de Deus. (BÍBLIA APLICAÇÃO PESSOAL, 1995,
p.1661).

Na Carta aos Gálatas, o apóstolo Paulo se reporta à necessidade do obreiro ser


formado no fundamento de Cristo: “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e
dos profetas, tendo Jesus Cristo como pedra angular, na qual todo edifício é
ajustado e cresce para torna-se um santuário santo do Senhor.”. (Efésios, 2. 22-23).

A idéia paulina é a de que, se o indivíduo já experimentou o início da Graça, ele


deve ser edificado e fundamentado na doutrina de Cristo e dos apóstolos. Não há
dúvidas acerca do objetivo divino, de que cada convertido deve ser um santuário
vivo do Senhor:

Que é, pois, aperfeiçoamento? Diz-nos um pequeno dicionário que


aperfeiçoar é concluir com perfeição, melhorar. E podemos acrescentar
ainda que aperfeiçoar é dar acabamento, polimento, tornar as coisas
melhores do que são tanto no funcionamento quanto na aparência, é tirar os
pequenos defeitos, é buscar a perfeição integral. (ARAÚJO, 2007, pp. 34,
35)

E assim, o aperfeiçoamento dos regenerados têm que ser algo notório, visível para
eles mesmos e para toda a sociedade, que verá Cristo revelado no caráter de cada
um desses. Esse procedimento poderia ser comparado ao vaso que é moldado pelo
oleiro. A submissão, a entrega total nas mãos do Mestre, proporcionará o alcance de
um outro degrau da carreira cristã, que é uma vida separada para o uso de Deus,
que resulta da santificação.
45

2.5. Santificação

A Bíblia é taxativa quando trata de questões de ordem que são fundamentais para o
para o desenvolvimento daqueles que desejam ser aperfeiçoados. E não só desses,
46

mas também de todos os que são alvo do concerto do Senhor, pois o alcance deste
objetivo é de sublime necessidade para o crescimento da obra de Deus:

Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o


Senhor; tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que
nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se
contaminem. (HEBREUS 12. 14 - 15)

A santificação toma um lugar especial na vida do crente, nesta caminhada em


direção à perfeição requerida pelo Senhor de todas as coisas. Ela é um processo de
amadurecimento do caráter que se inicia no novo nascimento e vai até o fim da
carreira do discípulo de Cristo. Diferente no novo nascimento que é instantâneo, a
santificação é processual e desenvolve-se em cada um de forma diferente, pois
demandará dos indivíduos uma entrega total, e uma ação divina específica em cada
ser individualmente, no conjunto de suas características, suas necessidades mais
íntimas e limitações, no complexo de suas virtudes e defeitos. Tanto na experiência,
como no amadurecimento individual é uma transformação paulatina que tem como
agente o Espírito Santo. Nesse processo, não há escolha para o convertido em
abdicar a formação proposta por Deus para sua vida:

No novo nascimento opera-se uma instantânea mudança, quando o espírito


recebe o novo princípio de vida, que atinge profundamente o nosso ser,
iniciando-se necessariamente o processo de santificação, efetivado pelo
discipulado que marcará profundamente o caráter. Isso não pode ser
confundido com a moralização dele. Diferente da personalidade, o caráter
pode e deve ser transformado. E essa transformação segue toda vida para
construir a nossa espiritualidade. (BEZERRA, 2007, p. 26)

Existe um elo entre Deus e seu povo através do sangue de Cristo. Jesus chamou os
discípulos para serem santos, conforme é Santo o Deus Todo-Poderoso. Na sua
Carta aos Romanos, o Apóstolo Paulo instrui: “[...] de cujo número sois também vós,
chamados para serdes de Jesus Cristo. [...] amados de Deus, chamados para
serdes santos10[..].” (ROMANOS 1. 6a – 7a).

A expressão “chamados para serdes santos,” no grego, corresponde à palavra


“hagios”, e assume dois sentidos: 1- separados para o uso de Deus e para realizar a
sua obra. É uma posição conquistada por Cristo para os salvos. O obreiro pertence
ao seu Senhor para ser usado no seu serviço real. 2- separados do sistema
10
Grifo nosso
47

pecaminoso desse mundo, ou seja, uma santificação progressiva que proporciona


purificação, aperfeiçoamento do caráter, integridade no relacionamento e na
comunhão com Deus.

A primeira exigência de um líder cristão é santidade. Ele precisa ser


sensível ao pecado que outros possivelmente consideram aceitável. Isaías
tornou-se sensível a sua fala impura logo que viu o Senhor exaltado no
templo. O tremendo som da repetição de "santo é o Senhor dos Exércitos"
pelo serafim, estarreceu-o (ls 6.1-3). Ele gritou: ”Ai de mim! Estou perdido!"
(v.5). Esse foi o efeito que a visão teve no jovem profeta. (SHEDD, 2000, p.
20).

A santificação proporciona ao servo o entendimento de que, diante da extensão


santidade de Deus, não há como permanecer na prática do pecado, pois “sem
santificação ninguém verá a Deus”. Uma vez confrontado pela Palavra Sagrada e
tendo exposta a sua condição pecaminosa, ao obreiro cabe rejeitar sua vida de
pecado e abraçar a santificação, dia-a-dia, até que o caráter de Cristo seja formado
em seu interior. Transigir com o pecado é negar a necessidade de abominá-lo como
é feito pelo Senhor. Para o líder cristão, acostumar-se com práticas pecaminosas
significa rejeitar o chamamento do Mestre.

3. OS OBREIROS NA ATUALIDADE

3.1. Conseqüência de uma Má Formação do Caráter

Nesses últimos tempos, a Igreja em todo o mundo tem sentido o que o Apóstolo
Paulo descreve na sua Segunda Carta a Timóteo:
48

Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos.
Porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos,
soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem
afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor
para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos
deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando
a eficácia dela. Destes afasta-te.” (II TIMÓTEO 3.1-5).

O texto paulino não traria tanto alarde se ele estivesse se referindo, exclusivamente,
a aqueles que vivem no mundo e fora da Igreja, porém é justamente por se tratar de
pessoas cujos nomes se encontram no rol de membros de uma igreja local é que se
faz-se necessária uma reflexão maior. A lista de quase vinte elementos, que se
subdividem em adjetivos e termos que caracterizam esses indivíduos, estarrece pela
carga negativa que comportam e que se contrapõem ao modelo de caráter cristão.

A Igreja deve intensificar os esforços no sentido de perceber aqueles que estão


dentro dela e que aderem a tais práticas, até porque, como uma erva daninha,
acabam por “contaminar” a plantação do Senhor. Jesus e os apóstolos alertaram
acerca dos lobos devoradores que se transfigurariam em ovelhas. Homens e
mulheres que só tem compromisso consigo mesmos e com seus interesses
excusos, que, em decorrência disto, transtornam a obra de Deus. Seus ministérios e
ações, muitas vezes, baseiam-se na eloqüência e na aparência de um trabalho
fantasioso, movido pela a emoção dos sentidos, aliados à sagacidade e ao poder de
mobilizar as massas através do discurso inflamado e das palavras de ordem, os
chamados “chavões evangélicos”. Tais práticas, longe de levar o povo ao
quebrantamento, arrependimento e, por conseqüência, a um avivamento genuíno
caracterizado por uma grande colheita missionária e evangelística, induz, na maioria
das vezes, às heresias. O apóstolo Pedro também avistou esse tempo quando
afirmou:

E também houve entre o povo falsos profetas, como entre vós haverá
também falsos doutores, que introduzirão encobertamente heresias de
perdição, e negarão o Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos
repentina perdição. E muitos seguirão as suas dissoluções, pelos quais será
blasfemado o caminho da verdade. E por avareza farão de vós negócio com
palavras fingidas; sobre os quais já de largo tempo não será tardia a
sentença, e a sua perdição não dormita. (II PEDRO 2.1-3).

Ministérios que antes eram desenvolvidos pelo amor, hoje, são apenas uma
caricatura do que fora outrora. Os líderes que se utilizam do ministério para auferir
49

proveito meramente material têm se multiplicado. São homens que afirmam que os
fins justificam os meios. Eles se utilizam da argumentação pragmática para trazer
respaldo ao resultado final que alcançaram, sem se importar com os valores éticos e
morais que estão estabelecidos na Palavra de Deus. Na escola de formação de
caráter do Mestre, o ensino anda na contramão da sabedoria humana:

Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e


sentimento faccioso, nem vos glories disso, nem mintais contra a verdade.
Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; antes, é terrena, animal e
demoníaca. Pois, onde há inveja e sentimento faccioso, aí há confusão e
toda espécie de coisas ruins. (TIAGO 3.14-16).

Os que buscaram a Deus encontraram uma vida nova. Tomaram as suas cruzes,
negaram a si mesmos e seguiram a Jesus. A tônica sempre foi a santidade e a
abnegação total ao Senhor. Como então, se medir o grau de espiritualidade, ou
caráter de um líder pela eloqüência de suas pregações? Como calcular o poder de
Deus sobre uma igreja pelas “glórias e aleluias” que são dadas a plenos pulmões?
Ou ainda, como medir a “benção do Senhor” sobre uma igreja local tomando-se por
base o seu relatório financeiro mensal? Esses maus obreiros se apoderam de
argumentos estereotipados para continuarem como células malignas no meio do
corpo salutar da Igreja. Deus não está indiferente a toda essa situação, mas,
aguarda o momento estabelecido por Ele mesmo, para dar a cada um o pagamento
por sua obra, quer boa, quer má:

Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim,
malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; porque
tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber;
Sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e
enfermo, e na prisão, não me visitastes. Então eles também lhe
responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou
estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos? Então lhes
responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, quando a um destes
pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim. E irão estes para o
tormento eterno, mas os justos para a vida eterna. (MATEUS 25. 41-46).

A ausência de compromisso por parte daqueles que não tiveram seus caracteres
moldados mediante o modelo de Cristo, leva muitos a desenvolverem atividades que
não trazem em seu bojo a intenção de expandir o Reino, mas de autopromoção.
Alguns gravam músicas evangélicas, porém diante do público secular negam sua
identidade cristã afirmando que apenas cantam musica “gospel”. Para estes há um
público certo, aqueles que apenas ouvem músicas evangélicas, compram os cds,
50

porém não querem nenhum compromisso com Deus e Sua Palavra. Seguindo essa
mesma linha, pregadores têm enxergado a obra ministerial como o meio de se
empregar. São esses que abarrotam seminários duvidosos, os quais trazem sua
parcela de contribuição, incentivando esses indivíduos, para que se formem como
“ministros” de Deus e “proclamadores” da Verdade.

A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque


pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um.
Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá
galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal
será salvo, todavia como pelo fogo. (I CORINTIOS 3.13-15)

Por fim, Deus sempre teve na terra um remanescente, o qual sempre foi seu
instrumento para envergonhar os que não se agradaram Dele. O Senhor Jesus
alertou acerca dos hipócritas que exteriorizam algo de bom, mas que na prática são
uma falácia. “Pelos frutos conhecereis”. (MATEUS 7.20). O líder cristão que carrega
as marcas de Cristo atesta que de fato suas qualidades comprovam a integridade do
seu caráter restaurado pelo Espírito Santo. Esses são “sal da terra e luz do mundo”,
(MATEUS 5.13) os quais preservam a semente integra do Evangelho numa conduta
ilibada, a qual aflora nos frutos do seu caráter que é atestado por muitos que vivem
a sua volta, declarando serem esses líderes, homens e mulheres comprometidos
com Deus.

3.2. Obreiro Aprovado e os Elementos do Seu Caráter

Os elementos que compõem o caráter de um verdadeiro líder cristão foram


detalhados pelo Senhor Jesus no célebre “Sermão do Monte”. Lá, o Senhor os
expõe individualmente, dando ênfase a uma caminhada de compromisso e doação
constante a Deus, onde se procuraria respeitar, observar e amar os estatutos
estabelecidos por Ele. “Seja reto o meu coração nos teus estatutos, para que não
51

seja confundido.” (SALMOS 119.80). Os valores morais, também ocupam um lugar


de destaque na vida deste obreiro. Jesus ensinou que o amor ao próximo é
mandamento, e, portanto, deve ser obedecido. “Amarás o teu próximo como a ti
mesmo.” (MATEUS 22.37). Deus é glorificado nas atitudes práticas do dia-a-dia de
seus servos, quando provam que O amam, demonstrando o apreço, a consideração
a misericórdia, a solidariedade, dispensados ao próximo. Tal tesouro bem nenhum
no universo pode suprir. “Esses valores do caráter cristão podem ser considerados
a maior riqueza de um servo de Deus, porque são os motivadores da felicidade.”
(BEZERRA, 2007, p. 32).

3.2.1. Humildade (MATEUS 5.3; 11.29)

O primeiro dos elementos do caráter formado por Deus no líder cristão, proferidos
por Jesus no “Sermão do Monte”, foi a humildade.

De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em


Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser
52

igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo,


fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem,
humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por
isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é
sobre todo o nome; (FILIPENSES 2.5-9).

O líder cristão deve possuir esse elemento imbuído no seu caráter. Ele deve estar
pronto para, a exemplo de Jesus abrir mão da sua posição, se for necessário, pra
melhor fazer a obra de Deus.

Outro procedimento do humilde de espírito é a consciência que ele tem da sua total
dependência de Deus para poder guiar a sua vida. Ele sabe que é Deus que realiza
em nós e por nós obra através Dele, e por causa disso, não pode existir lugar para a
soberba no seu coração. “Humildade refere-se simplesmente a enxergar como
realmente somos, nem mais alto, nem mais baixo.” (ERWIN, 2005, p. 69).

O rei Davi foi conhecido como “o homem segundo o coração de Deus”. Ele aprendeu
o caminho para o coração do Pai: “Também da soberba guarda o teu servo, para
que se não assenhoreie de mim. Então serei sincero, e ficarei limpo de grande
transgressão”. (SALMOS 19.3). Embora tenha sido um homem de grandes posses,
a sua confiança estava no Senhor. Um bem-aventurado, “um homem pobre de
espírito”.

3.2.2. Choro dos Bem-Aventurados (MATEUS 5.4)

O homem de Deus carrega no seu caráter a virtude de derramar lágrimas por não
poder alcançar objetivos mais significativos para o Reino de Deus. Conforme Shedd
(2007), a tristeza desse obreiro é diferente da tristeza que é produzida por
separações prolongadas, dores, ou sofrimentos que produzem a morte. Porém a
ênfase dessa tristeza é o zelo pela Igreja e o amor pelas almas perdidas. É não
53

aceitar a situação de pecado, acomodando-se diante da invasão do secularismo no


seio da Igreja: “O perigo que avisto em nossos dias é o de produzir profissionais que
não sabem emocionar-se pelos pecados próprios nem pelos pecados dos membros
da igreja local, como quem deve prestar contas (Hb 13.17).”. (SHEDD, 2007, p. 25).
O Senhor Jesus ao contemplar Jerusalém, chorou e exclamou:

Ah! se tu conhecesses também, ao menos neste teu dia, o que à tua paz
pertence! Mas agora isto está encoberto aos teus olhos. Porque dias virão
sobre ti, em que os teus inimigos te cercarão de trincheiras, e te sitiarão, e
te estreitarão de todos os lados; E te derrubarão, a ti e aos teus filhos que
dentro de ti estiverem, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, pois que não
conheceste o tempo da tua visitação. (LUCAS 19.41-44).

O Choro que brotou do Senhor Jesus, ante aquela situação foi a dor em vislumbrar o
destino cruel que aguardava aos moradores daquela cidade. O pecado traz
conseqüências destruidoras para a Igreja, e a sua presença no meio do povo de
Deus deve ser motivo de tristeza profunda, e desejo de mudança na vida do líder
marcado com o caráter de Cristo.

3.2.3. Mansidão (MATEUS 5.5)

No Sermão do Monte, Jesus afirma que os mansos herdarão a terra. Essa promessa
feita pelo Mestre está ligada ao domínio de si mesmo, ou seja, o autoconhecimento.
Segundo Shedd (2007 apud, HILTON, 2001, p. 26), a mansidão foi posta em
primeiro lugar na escala da perfeição, e o amor ficou num lugar mais elevado. Ele
ainda diz que, “A criatura humana, para descobrir que tipo de pessoa é, necessita
54

descobrir o que ela mais ama e de que maneira expressa esse amor. “Realmente
manso é quem verdadeiramente se conhece e fica consciente de si mesmo, daquilo
que ele é.”. (JEFREY, 1992, apud SHEDD, 2007, p. 26). “Só é manso quem é
autêntico e só é autêntico quem é consciente da sua realidade.” (BEZERRA, 2007,
p.36).

3.2.4. Fome e Sede de Justiça (MATEUS 5.6)

O líder cristão carrega consigo, ou ao menos deve nutrir em si, esse anseio por
justiça. A referência feita por Jesus nesse trecho diz respeito à virtude da busca por
55

ser justificado. É o desejar a solução para a imperfeição diante do Todo-Poderoso


de maneira ardente:

A fome de justiça não difere da fome de leite genuíno, espiritual (IPe 2.2-3).
Jesus falou da necessidade de trabalhar pela comida que não perece mas
subsiste para a vida eterna (Jo 6.27). Essa comida refere-se a Jesus
mesmo,cuja carne é verdadeira comida e cujo sangue é verdadeira bebida
para todo discípulo verdadeiro (Jo 6.54). (SHEDD, 2007, p.27)

Segundo Bezerra (2007), os servos de Deus sentem uma real necessidade em


agradar ao Senhor, porém o lugar contínuo desta busca não elimina totalmente o
pecado. Existe uma barreira de impossibilidade em relação ao homem poder, por si
só, sobrepujar o pecado. É nesse momento que a fome e a sede de justiça apontam
para Cristo, pois é Ele que tem poder para justificar o homem.

3.2.5. Misericórdia (MATEUS 5.7)


56

A misericórdia é o amor em ação. É ela que é marca latente na pessoa do Senhor


Jesus. Todos os que foram até Jesus com algum problema, conheceram o
significado desse vocábulo na prática.

O Mestre também ensinou como se deveria exercer a misericórdia: Alguém na


multidão lhe perguntou quem seria o seu próximo para que ele pudesse amá-lo, e
então o Senhor Jesus contou a parábola do bom samaritano. (LUCAS 10.29).

O Senhor Jesus usa a figura do sacerdote e a do levita para mostrar como


temos tendência a exercer a nossa missão priorizando os nossos rituais e
programas eclesiásticos, deixando em segundo plano o homem, que é o
objeto do amor de Deus. (BEZERRA, 2007, p. 39).

Jesus, no Sermão do Monte, atrela a obtenção dela, como conseqüência para


aquele que exerce a misericórdia. A contrapartida é, “alcançará misericórdia”. O
caráter do obreiro formado por Deus não pode negar-se a preencher-se da
misericórdia.

O homem de Deus deve ter essa mesma virtude que levava o Mestre a se doar
constantemente em prol dos pecadores: curando-os, ensinando-os e caminhando
com eles. Ele ainda deve se colocar no lugar do outro, como intercessor, pois
também é uma expressão da compaixão e o trilhar do caminho do sacrifício. “Sentir
a dor do outro” e, se possível, socorrê-lo.

3.2.6. Pureza de Coração (MATEUS 5.8)


57

Este aspecto já foi analisado, anteriormente, no sub tema que versa sobre a
santificação, porém nunca é demais recordar o que o mestre ensina com respeito
este elemento.

A recompensa para os limpos de coração é que eles verão a Deus. Deus é Santo e
requer santidade de todos os que são dele. Segundo Shedd (2008), o perigo é que
os redimidos dão lugar aos pensamentos impuros e, por conta disso, a
vulnerabilidade do homem de Deus se torna uma realidade, uma vez que Deus não
comunga com nenhuma sorte de pecado. A limpeza de coração diz respeito a
conservar-se puro diante do Pai até mesmo nos pensamentos e intenções, pois é
Ele quem “sonda os rins e os corações, para dar a cada um segundo suas obras”.
(APOCALIPSE 2.23). Do coração procedem as saídas da vida e é nele que ocorre o
pecado antes de ser materializado, conforme o ensinamento do Mestre com respeito
ao adultério e outros pecados. “Porque do coração procedem os maus
pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e
blasfêmias.” (MATEUS 15.19). Conservar-se puro, propicia uma grande
oportunidade de ser vaso nas mãos de Deus. Nem mesmo o ser humano se agrada
de servir-se de um objeto com impurezas e sujeiras. Quanto mais Aquele que é
Santo, Santo, Santo.

3.2.7. PACIFICAÇÃO (MATEUS 5.9)


58

Segundo Bezerra (2007), o pacificador busca compreender o outro na sua maneira


de agir. Ele não guarda rancores, e está sempre pronto a liberar o perdão:

Muitas são as circunstâncias conflitantes que quebram a comunhão e


geram um ambiente desfavorável à paz. Conscientes do dever da
pacificação, façamos a nossa parte, oferecendo o perdão e buscando
restaurar a relação. (BEZERRA, 2007, p. 41).

O líder cristão é um instrumento de Deus aqui na terra para promover a paz. A sua
atitude deve ser pautada na ponderação e na solução dos problemas sem fomentar
mais conflitos no meio dos irmãos. O Apóstolo Paulo exorta a Igreja com respeito a
seguir a paz com todos e para que não aceite determinados “irmãos” que estavam
semeando contendas no meio dela. Esta atitude é uma das que O Senhor mais
odeia:

“Estas seis coisas o SENHOR odeia, e a sétima a sua alma abomina: Olhos
altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, o coração
que maquina pensamentos perversos, pés que se apressam a correr para o
mal, a testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas
entre irmãos.” (PROVÉRBIOS, 6.16.19).

Os líderes formados com o caráter de Cristo são os atalaias do ministério da


reconciliação, chamados em Cristo para realizar essa tão grande obra. Ser
pacificador é promover o entendimento quando a dissensão e a discórdia se
avizinham ou já se encontram instaladas. Este terá ainda que exercer domínio
próprio para conter sua fala, e para que, na unção do Espírito Santo, profira palavras
que surtam um efeito semelhante ao de um jato de água sobre uma chama que
tende a se transformar em uma fogueira. É pelo poder das palavras que esta
fogueira será alimentada ou detida. No Livro de Tiago encontra-se uma advertência
com respeito à língua e esta é comparada a uma fagulha que incendeia todo um
bosque. E mais: “[...] A língua também é um fogo; como mundo de iniqüidade, a
língua está posta entre nossos membros e contamina todo o corpo, e inflama o
curso da natureza, e é inflamada pelo inferno”. (TIAGO 3.6). A exortação no Livro
dos Provérbios é que “A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita
a ira”. (PROVÉRBIOS 15.1).
3.2.8 PERSERGUIÇÃO POR CAUSA DA JUSTIÇA (MATEUS 5.10)
59

Esta perseguição pode ser analisada, pelo menos sob três aspectos: 1- O do
sacrifício individual de cada um em levar a sua própria cruz. Segundo Barreto
(2007), não há justificação sem calvário. A justificação mediante a fé não pode ser
confundida com uma determinada doutrina praticada por alguns grupos não
evangélicos da purificação da alma por intermédio do sofrimento. Calvário
representa lugar de sacrifício, mas de sacrifício do próprio eu, onde a inimizade
existente entre o homem e Deus por causa do pecado é vencida pela justificação:
“Sendo, pois justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus
Cristo [...]”. (ROMANOS 5.1).

2- O aspecto da intervenção do obreiro no contexto social e político em que vive.


Quando se busca propagar a boa semente, há que se levar em conta que o
Evangelho de Jesus é integral e visa o benefício do homem em todos os aspectos
de sua vida, tanto a eterna quanto a terrena. Faz-se necessário que o servo fiel
promova a melhoria de vida daqueles que se almeja alcançar para introduzi-los no
reino de Deus, como também daqueles que já foram alcançados. É muito natural,
portanto, e de suma importância que a Igreja desenvolva promoções no sentido de
propiciar aos menos favorecidos uma melhor qualidade de vida, mediante a
implantação de benfeitorias em seu habitat. Com efeito, se percebe que estes
interesses nem sempre se coadunam com o de líderes comunitários e governantes,
os quais, muitas vezes, visam interesses escusos e não o benefício de uma
determinada comunidade, logo, o líder cristão que aponta para estas discrepâncias,
com certeza encontrará oposição. No entanto, faz-se necessário que este não perca
de vista o ensinamento: “E não vos esqueçais da beneficência e comunicação,
porque com tais sacrifícios Deus se agrada.” (HEBREUS 16.6).

3- Há perseguição à Igreja do Senhor Jesus por ser missionária e se opor às trevas


que tem dominado as nações. Desde os primórdios do cristianismo, a igreja foi
perseguida, e, nos dias atuais, muito se tem notícia das perseguições sofridas por
missionários, evangelistas itinerantes, pela igreja doméstica em países que cujas
tradições religiosas se opõem ao Evangelho de Jesus Cristo e até mesmo ao
trabalho social que algumas frentes missionárias desenvolvem nestes rincões. O
servo que deseja ser aprovado não deve temer esta perseguição, porém deve
60

entendê-la como bem-aventurança. Líder local comprometido com o Senhor da


Seara deve empreender esforços no sentido despertar sua comunidade eclesial para
a necessidade de, não somente apoiar a igreja perseguida financeiramente,
procurando auxiliar na manutenção de projetos missionários nestes lugares de
perseguição e no sustento dos missionários que estão em linha de frente, como
também, e principalmente, interceder por aqueles que têm sofrido na pele
perseguição por causa da justiça. “Lembrem-se dos que estão na prisão, como se
aprisionados com eles; dos que estão sendo maltratados, como se vocês mesmos
estivessem sendo maltratados.”. (HEBREUS 13.3).

Por fim, observasse que todas essas virtudes somadas, umas as outras, são os
elementos que formam o caráter cristão. Jesus as evidenciou na prática, cada uma
delas. Por conseguinte, é a vez dos seus seguidores realizarem a obra no poder do
Espírito Santo e na plenitude do caráter moldado por Deus. Como o Apóstolo Paulo
orientou: "Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que
se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade." (II TIMÓTEO 2.15).

4. Conclusão
61

Ao final do presente estudo, chega-se à conclusão de que para poder realizar a obra
de Deus, de maneira produtiva e eficaz e, sobretudo, aprovado por Ele, é necessário
se submeter aos seus ensinos, os quais têm como objetivo principal o de formar o
caráter de Cristo em nós. Concluímos também que a necessidade de um
investimento financeiro e um maior acompanhamento da igreja local na formação do
caráter de Cristo na vida de seus futuros líderes é de suma importância, para o êxito
da continuidade da obra, pois os que estão sendo formados substituirão os líderes
atuais.

Impõe-se tratar exaustivamente do tema, com vistas a forjar no meio evangélico o


conhecimento da necessidade que há em se ter líderes que estejam dispostos a se
consagrarem a Deus para poder vencer o secularismo que tem abraçado a Igreja e
isso muitas vezes com uma falsa aparência de decência e moral. O caráter é uma
marca, sinal e só os que têm esta marca forjada por Cristo vence o mundo, porque
nasceram de Deus.

Ao se ponderar acerca da necessidade do caráter de Cristo impregnado na vida do


líder cristão, observa-se a sua fundamental relevância para vencer nos dias atuais.
Qual a importância que Jesus tem dispensou ao preparar os discípulos para ensinar-
lhes mais que caráter? Sua atenção teve a aprovação do Pai? Jesus investiu
naqueles que Ele chamou e trabalhou para aperfeiçoá-los, pois sabia que era essa a
vontade de Deus. A igreja local hoje precisa percorrer esse caminho apontado pelo
Mestre para poder realizar a obra santa: Tratar o caráter dos seus membros e em
especial os seus líderes. A construção do novo ser em Cristo, começa com a ação
do Espírito Santo desconstruindo a formatação que o indivíduo possui de valores
morais e éticos baseado no modelo desse mundo. Pois quê, a exigência do Senhor
é sempre maior e melhor.

Uma Igreja que queira estar em conformidade com os mandamentos do Senhor,


precisa passar pelas mãos do Espírito Santo, o qual produzirá um novo caráter na
vida dos líderes que assim lhe permitem fazê-lo. Ao se ingressar na obra de Deus
não se pode, sequer, olhar para trás. O caminho de Deus para o obreiro cristão é
sempre rumo ao céu e uma coroa de glória que está prometida aos que se deixarão
62

ser marcados por Deus, pois no âmago das suas almas brota a semente divina. É a
marca de Deus em nós: - seu caráter - sem o qual não estamos completamente
habilitados para fazer qualquer tarefa no reino de Deus, por menor que seja.

É certo que este estudo constituí-se uma pequena centelha, frente às necessidades
que existe no meio ministerial evangélico, porém como já fora dito pelo apóstolo
Paulo: “[..] o que desejamos é a vossa perfeição.” (II CORÍNTIOS 13:9b).

5. Referências Bibliográficas:
63

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64

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6. ANEXO

As mais belas qualidades tornam-se inúteis, quando a força do caráter as não


sustenta. (Théophile Gautier - 31 de agosto de 1811 - outubro de 1872)
65

O caráter de um homem é medido exatamente por suas reações diante das


injustiças da vida. (Anônimo)

Nem as maiores riquezas podem resgatar a pobreza de caráter. (Anônimo)

A reputação é preciosa, mas o caráter não tem preço. (Anônimo)

Reputação é o que os homens pensam que você é; caráter é o que Deus sabe que
você é. (Anônimo)

As circunstâncias nunca formam o caráter; elas meramente o revelam. (J. Blanchard


– 8 de Agosto de 1942)

Tudo na vida é um teste para o caráter. (J. Blanchard)

O que és aos olhos de Deus, é o que tu verdadeiramente és. (Thomas à Kempis -


1380 - 25 de julho de 1471)

A felicidade não é a finalidade da vida, mas sim o caráter. (Henry Ward Beecher - 24
de junho de 1813 - 8 de março de 1887)

O fruto do Espírito não é entusiasmo nem ortodoxia; é caráter. (G. B. Duncan - 10 de


outubro de 1861 - 15 de março de 1950)

O caráter, assim como uma cerca, não pode ser fortalecido por uma caiação. (Paul
Frost)

Homens e irmãos, a simples confiança em Deus é o ingrediente mais importante da


grandiosidade moral do caráter. (Richard Fuller – nascido em 1947)

O melhor teste do caráter é verificado na intensidade e força de gratidão que temos.


(Milo H. Gates - 1886)

O Senhor conhece pelo nome aqueles que são seus, mas nós os reconhecemos
pelo caráter. (Matthew Henry - 18 de Outubro de 1662 - 22 junho 1714)

A reputação de muitos homens não conheceria seu caráter se o encontrasse na rua.


(Elbert Hubbard - (19 de junho de 1856 - 7 de maio de 1915)

A abundância material sem caráter é o caminho mais certo para a destruição.


(Thomas Jefferson - 13 de Abril de 1743 - 4 de Julho de 1826)

O caráter é como uma árvore, e a reputação é como sua sombra. A sombra é o que
nos faz lembrar da árvore, a árvore é o objeto real. (Abraham Lincoln - 12 de
fevereiro de 1809 - 15 de abril de 1865)

Caráter é o que o homem é no escuro. (D. L. Moody - 5 de fevereiro de 1837 - 22 de


dezembro de 1899)
66

A ortodoxia de palavras é blasfêmia, a menos que seja sustentada pela


superioridade de caráter. (Blaise Pascal - 9 de Junho de 1623 - 19 de Agosto de
1662)

Os homens mostram seu caráter de maneira mais clara nas trivialidades, quando
não estão sendo observados. (Arthur Schopenhauer - 22 de Fevereiro 1788 - 21 de
Setembro 1860)

A graça de Deus fará muito pouco por nós se resolvermos não fazer nada por nós
mesmos. (W. Graham Scroggie - 1901 - 1989)

Deus chama-nos para cooperarmos com Ele no aperfeiçoamento do caráter. (W.


Graham Scroggie)

O caráter humano é inútil na proporção em que lhe falta aversão ao pecado. (W. G.
T. Shedd - 21 de junho de 1820 - 17 de novembro de 1894)

As ações dos homens formam um indicador infalível de seu caráter. (Geoffrey


Wilson - 11 junho 1903 - 11 de Abril de 1975)

O caráter não é esculpido em mármore, não é algo sólido e inalterável. É algo vivo e
mutável, e pode tornar-se doente, como se torna doente o nosso corpo. (George
Eliot)

Todo o homem tem três caracteres: o que ele exibe, o que ele tem e o que pensa
que tem. (Alphonse Karr - 24 de novembro de 1808 - 29 de setembro de 1890)

A medida do caráter de um homem é o que ele faria se soubesse que nunca seria
descoberto. (Thomas Macaulay - 25 outubro 1800 - 28 dezembro 1859)

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