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DESEJO
INCONTROLÁVEL
(Título original: The Bellini Bride)
Michelle Reid
Projeto Romances 1
Desejo Incontrolável Michelle Reid
CAPÍTULO 1
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Desejo Incontrolável Michelle Reid
Projeto Romances 3
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por que aquele homem se sentia compelido a preservar sua nudez em quadros.
Durante anos, Antônia aparecera em todas as suas pinturas, não
necessariamente como o tema principal, mas sempre como uma figura nua a se
revelar como uma marca registrada nos quadros de Kranst.
Entretanto, em seu desejo de imortalizar Antônia, ele a havia
elevado à condição de fantasia erótica de muitos homens. Suas formas fluas
adornavam as paredes de mansões de todos os ricos e famosos.
Quando ela entrava em algum lugar, todos a reconheciam como se a
conhecessem intimamente.
E ela se importava com isso? Não. Ela se embaraçava com isso e se
escondia envergonhada? Não! Aquela mulher se sentia totalmente à vontade com
o seu corpo, tal como se sentia confortável com todos que disputavam os seus
quadros.
E quanto a ele? Marco estava consciente de que a notoriedade de
Antônia, como a famosa modelo de Kranst, e propiciava uma certa inveja entre a
turba de admiradores. Mas isso não o agradava; somente aprendera a aceitar tal
fato. De certa forma, tal como Kranst, estava obcecado por aquela mulher,
apesar de não permitir que sua sedução ultrapassasse os limites do corpo.
Chegando-se a ele, Antônia não disse nada, apenas olhou-o
diretamente nos olhos, enquanto lhe envolvia os dedos morenos que seguravam a
xícara de café com os seus dedos longos e brancos. Seus olhos brilhavam como
topázios ao sol. Marco sorriu quando ela levou a xícara aos lábios sorvendo um
gole de café para depois a levar aos seus lábios.
Mais do que feliz por participar daquele pequeno jogo de sedução,
Marco, obedientemente, bebeu o café. Depois, ambos, com os lábios umedecidos
pela bebida, deixaram a xícara de lado e se beijaram.
O aroma de café pairava no ar, e seu sabor excitante lhes
impregnava os lábios. O bico dos seios de Antônia roçava o peito de Marco, que,
debaixo da toalha, sentia o corpo começar a corresponder.
Era como se estivessem fazendo amor com uma intimidade nunca
antes experimentada.
Os olhos de Antônia revelavam uma promessa. Talvez ele a pudesse
ter naquele minuto, mas, por enquanto ele se contentava em desfrutar o prazer
de se sentir passivo naquele jogo de sedução.
Ela principiou acariciando-lhe a curva das costas.
—Você tomou banho sem mim — ela se queixou.
Ele sorriu indolentemente.
—Você estava dormindo.
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para que ela resolvesse deixá-lo. Amava-o demais e já estava com ele muito
tempo para se livrar assim tão facilmente. O que não significava que lhe
perdoaria, ela pensou ao entrar no boxe do chuveiro. Mas o perdão teria um
preço, e Marco teria de pagá-lo, tendo até mesmo de se submeter a algumas
sérias humilhações.
A idéia de fazer o arrogante Marco Bellini se humilhar lhe trouxe
um sorriso aos lábios.
Ele já havia se retirado do quarto, quando ela saiu do banheiro. E
também da vila, ela percebeu quando desceu para encontrar Nina, a empregada,
retirando o prato e a xícara dele de sobre a mesa de desjejum.
—O sr. Bellini foi para Milão há dez minutos, signorina — ela
informou. — Ele me disse para lembrá-la da festa de hoje à noite e para que a
senhora dirija com cuidado, já que o trajeto até Milão é muito perigoso.
Antônia agradeceu a jovem, e sorriu ao perceber que Marco
demonstrava tanto cuidado por sentir remorso pelo que havia dito a ela,
deixando, ao mesmo tempo, o canal de comunicação aberto ao se ir.
Por quê? Porque para um grande administrador de empresa, com a
reputação de ter um coração de pedra e uma língua de aço, quando se tratava
dela, ele detestava desentendimentos. Ele podia não a amar, mas a queria o
suficiente para se sentir mal quando a aborrecia. E, sendo um homem muito
egoísta, Marco gostava de se sentir confortável em sua vida privada.
Por isso deixara o recado para ela dirigir com cuidado e não se
esquecer da festa para aquela noite. Era Marco, desfazendo as barreiras que ele
próprio levantara, para preservar a sua tranqüilidade. Outros fatos semelhantes
iriam acontecer de tempo em tempo, foi o que Antônia pensou, ao se sentar para
o desjejum. Era a primeira vez que comeria sozinha na semana que haviam
passado juntos naquele lugar, sem fazer nada, a não ser se amar e dormir.
Ele lhe propiciara aquela deliciosa estada como surpresa por seu
aniversário, além do Lótus vermelho que agora estava estacionado no pátio, e que
ela iria dirigir de volta para Milão. No ano anterior, ele lhe havia dado um pequeno
e adorável Fiat, pois estavam juntos havia apenas um mês então, portanto o valor
do presente refletira aquele breve tempo.
Como um bônus pelo tempo acrescido, ela apreciou o presente
e ficou a imaginar qual poderia ser o presente adequado para o
aniversário que se seguiria.
Se ainda estivesse com ele, Antônia pensou, o que fez com que seu
coração desse um pulo e ela se levantasse e subisse as escadas para arrumar
suas coisas e partir.
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CAPÍTULO 2
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Aquela era a opinião geral das mesmas pessoas que também eram
rápidas em afirmar que quando Marco Bellini se casasse seria com uma mulher
da sua mesma condição social. Alguém com dinheiro e classe, que tivesse uma
linhagem que combinasse com a dele. E, o mais importante, alguém que seus pais
recebessem de braços abertos.
Certamente não uma inglesinha qualquer que nem mesmo conhecia
seu próprio pai. Uma mulher que não podia permanecer na mesma sala com
qualquer um dos seus parentes. E pior ainda, uma mulher que não se importava
em expor o corpo ao mundo.
—O que é isso?
A pergunta de Marco a fez voltar à realidade, e ela teve de piscar
várias vezes antes de encará-lo. Viu-o de pé com uma caixa dourada nas mãos.
—Oh, é um presente para Franco e Nicola — explicou AntOnia, para
depois acrescentar: —Percebi que não havíamos providenciado nada, e por isso
fui comprar esse presente, antes de vir para cá.
Ela estivera fazendo compras! Por instantes, Marco ficou imóvel.
Sentia remorso pela segunda vez naquele dia. Enquanto ficara
remoendo a suspeita de que ela estava se encontrando secretamente com
Stefan, Antônia havia ido procurar um presente para os amigos que eram dele.
Ele não sabia o que fazer. Não sabia o que dizer para compensar o
erro que novamente havia cometido.
—Sinto muito, cara — pareceu ser a única coisa a dizer. —Era eu
quem deveria ter pensado nisso.
Havia um duplo sentido na última parte da afirmação, apesar de ele
se sentir aliviado por Antônia não saber. Marco percebeu que ela estremecera
ao ouvir o tratamento carinhosos, mas que não se importara com o resto.
—Não foi nada. Paguei com o seu dinheiro. —Ao dizer isso, ela se
afastou, deixando de aceitar a mão que ele lhe oferecia.
Recriminando-se pela suspeita infundada, Marco a seguiu, decidido
a manter a boca fechada, porém sentindo-se seguro de que mais uma vez
conseguira se sair bem.
Ela estava linda e desejável, no vestido curto, vermelho e muito
sexy, que lhe moldava as curvas. Marco não se sentiu encorajado a elogiá-la.
Desejou acariciá-la, mas isso seria um prazer que ele dor próprio se negara
devido ao próprio mau humor.
Entraram no elevador, postando-se cada qual em lados opostos, lhe
e ambos sentiram a atmosfera muito carregada.
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Uma das habilidades dos ingleses era manter uma pessoa a distância
com extrema frieza, e isso ele podia constatar ao vê-la com uma expressão
glacial no rosto.
—Quer que eu me desculpe por descarregar o meu mau humor a em
você? — ele perguntou, por fim.
—Novamente? — ela murmurou. A seguir, acrescentou: —Não, isso
não importa. — E antes que ele pudesse dizer alguma coisa,
continuou: — Não vai demorar muito para você agir da mesma
maneira. Pedir desculpas não vai adiantar nada.
Marco concordou que talvez ele merecesse aquela recriminação,
mas a irritação começou a dominá-lo novamente. Não gostava de ser tratado
assim só porque cometera um erro.
Marco agora sabia que ela não havia passado a tarde com Kranst,
mas isso não significava que Antônia não sabia que ele estava em Milão!
Decidiu que não diria nada, isso porque, se ela já soubesse, ele teria
de enfrentar a situação e não gostaria de pôr em risco o seu relacionamento com
Antônia. Pelo menos até se decidir sobre qual seria a melhor maneira de agir.
Dessa forma, manteve-se calado durante a descida. Ao chegarem,
saíram do elevador, lado a lado, e dirigiram-se para a fileira de carros
estacionados em direção à Ferrari de Marco, passando pelo Lótus vermelho de
Antônia, sem que nenhum dos dois lhe lançasse um olhar.
Ela o ganhara havia apenas três dias e nem mais se importava com
ele, o que significava um outro gesto desperdiçado da sua parte, Marco ponderou.
Ela ficara estática quando ele a levara para uma semana de férias como presente
de aniversário, mas, ao lhe dar o carro, recebera apenas os agradecimentos de
praxe que indicava desinteresse.
Cavalheirescamente, ele abriu a porta do lado dos passageiros da
Ferrari e permaneceu à espera de que ela se acomodasse em seu interior. Por
alguns instantes, ficaram bem próximos; mais, talvez, do que haviam ficado
naquela manhã no balcão em Portofino. Ele percebeu isso, ao sentir o delicado
perfume que ela irradiava, sentindo a mesma excitação de sempre.
Soturnamente, ignorou o próprio sentimento, lembrando-se que no
dia anterior pudera dar vazão ao seu desejo.
Com a expressão contida, ele colocou o presente de Franco e Nicola
no colo de Antônia e fechou a porta. Rodeou o carro e se sentou à direção, dando
partida no motor.
O silêncio entre eles ainda permanecia intenso, tornando-se um
empecilho até para se moverem. Ele não pôde suportar mais.
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durante aquele ano. Antônia até cogitara a idéia de abandonar Marco, mas não
gostaria de fazê-lo na noite de comemoração do aniversário de casamento de
Nicola pois não queria prejudicar a festa da amiga.
E, além disso, ela admitiu para si mesma enquanto esperava que
Marco viesse ao seu encontro, ela queria estar ah. Queria terminar aquele
relacionamento com um sorriso nos lábios e a cabeça erguida. Não às escondidas
como um cachorrinho abandonado pelo dono.
Decidiu que partiria no dia seguinte, justamente quando Marco
chegou ao seu lado e pousou a mão em suas costas. A manga do paletó roçou seu
braço nu, e seu corpo estremeceu ao contato daquele magnetismo masculino que
nunca a deixara de excitar, independente da situação em que se encontrassem.
Estavam muito próximos, e Antônia não pôde deixar de apreciar a
fragrância masculina que ele exalava.
Dentro da casa, o ambiente estava animado, cheio de música e
risadas. No momento em que cruzaram a porta, era como se houvessem entrado
em um mundo novo. Antônia parou por alguns segundos e piscou várias vezes, para
se adaptar à transição entre a hostilidade e escuridão e a alegria e luz.
Depois, um grito de alegria se elevou, e ela viu sua anfitriã se
separar de um grupo de pessoas com que estivera conversando. Acompanhando-
a estava o homem com quem se casara havia um ano.
Alto e moreno, bonito e elegante, Franco de Maggio tinha a mesma
sofisticação de Marco. Poderiam ter sido rivais naturais, mas a verdade era
outra. Haviam se conhecido nos primeiros anos de escola e se tornado amigos
desde então.
Com os longos e escuros cabelos soltos, olhos negros maravilhosos,
vestida em um crepe de seda preto que emoldurava a sua figura sensacional,
Nicola de Maggio era tudo o que Antônia não era. Era italiana, rica, e o seu lugar
ao lado de Franco ou de qualquer outro homem da estirpe dele sempre estivera
garantido desde o dia em que nascera para urna vida privilegiada.
Pertencia àquele lugar. Para Nicola, ser parte daquela sociedade era
tão natural quanto o ar que respirava, o que fazia com que as pessoas gostassem
dela instintivamente e apreciassem sua presença.
Antônia gostara dela desde o momento em que se viram pela
primeira vez; ela como a nova amante de Marco, e Nicola como a noiva de Franco.
A simpatia mútua se desenvolvera para uma afeição verdadeira, e haviam se
tornado amigas íntimas, da mesma forma como Marco e Franco, apesar de
Antônia não deixar de ter consciência de que era uma estranha no ninho.
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algo que ele desconhecia estava acontecendo. Está certo que Antônia estava
aborrecida, e talvez ele merecesse tal tratamento. Mas fosse o que fosse que
ela dissera para Nicola, deveria ter sido algo mais do que uma simples queixa
sobre o seu mau gênio. A esposa do seu amigo demonstrara estar realmente
chocada e horrorizada.
Percebeu que Nicola estava falando nervosamente, certamente
dizendo que Marco as observava. Nesse momento, Antônia voltou-se e Marco
pôde ver um olhar de desafio e antagonismo no belo rosto. Olharam-se, e Marco
ergueu o seu cálice em um brinde silencioso, para demonstrar que não se
importava a mínima com o que elas pudessem estar conversando.
Mas não era verdade. E esse era o grande problema no que dizia
respeito a Antônia. Mesmo então, enquanto trocavam olhares inamistosos
através da sala cheia, ele sentia tanta atração por ela, que se houvesse uma
forma polida de agir, ele a levaria para longe dali, para poder demonstrar quanto
ela o afetava.
E isso dizia tudo sobre a grande luta íntima que ele travava consigo
próprio. Ele a queria. Sempre a quisera! Com raiva ou não.
Sala cheia ou não!
Por que desistir de algo que ele desejava daquela forma?
No momento em que se conscientizou disso, percebeu que não era a
única pessoa a poder fazer uma escolha naquela relação.
Uma breve movimentação junto à porta chamou a atenção de
Antônia. Ela olhou naquela direção, e Marco lhe seguiu o olhar. Foi quando se
sentiu esmorecer completamente ao ver Stefan Kranst em pessoa.
No momento em que o viu, o belo rosto de Antônia se iluminou, sua
boca maravilhosa se abriu no mais belo dos sorrisos, e ela se apressou em direção
de Kranst como a ave que reconhece o ninho.
CAPÍTULO 3
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Mas aquilo não era aceitável, e ela deveria saber. Deveria saber que
se comportar assim com um homem que fora seu amante antes de Marco somente
a faria parecer vulgar, e ele um idiota!
Será que ela estava fazendo aquilo deliberadamente? Seria a
maneira de fazer com que ele percebesse que não era o único na jogada?
Algumas vezes, Marco a odiava de tal forma que se espantava de
perceber, logo depois, que a desejava tanto. Ela não era o seu tipo de mulher.
Nunca fora. Era jovem demais, sem estudo e muito livre! Seria por isso que
escolhera se expor como uma flor exótica em um vestido de seda vermelho,
enquanto todas as outras mulheres da sala se vestiam de preto clássico e chique?
Alguém se aproximou de Marco.
—Bem, caro, não há dúvida de que ela sabe como dar as boas-vindas
a um homem — soou uma voz feminina, cheia de zombaria.
Cerrando os dentes, Marco ignorou a indireta aveludada de Louisa
Florenza, mantendo-se quieto enquanto via Kranst conduzir Antônia até o
pequeno tablado de dança.
A mão de Antônia permanecia apoiada na nuca de Kranst que a
segurava pelos quadris enquanto se moviam ao ritmo da música, conversando.
Estavam tão concentrados um no outro que se percebia claramente que Antônia
havia se esquecido completamente do homem com quem chegara à festa.
—Você sabe que é impossível não se impressionar com a completa
falta de malícia dela. —Louisa alfinetou. —A maioria das mulheres morreria de
constrangimento ao se defrontar com o ex-amante em uma sala repleta de
amigos do seu atual amante. Entretanto, ela nem parece se importar!
—Como pode ver, cara — Marco disse, —não estou nem um pouco
embaraçado.
Como resposta, Louisa enlaçou o braço no braço dele.
—Já tivemos bons tempos juntos, não foi Marco? —ela murmurou
sonhadoramente.
Bons tempos? Observando Antônia dançar sensualmente ao som da
música, ele teve a certeza de que se a distância entre os dois ficasse ainda
menor, ele iria até lá e...
—Você era uma gata com garras, Louisa — ele disse, secamente. —
O que fez com que aqueles tempos não fossem tão bons e freqüentes.
—Mesmo assim, eu costumava ronronar na sua cama —ela sussurrou
maliciosamente.
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Aquela possibilidade lhe era tão impossível que não sabia o que
pensar. Em sua lembrança, nenhuma mulher fora capaz de deixá-lo, a não ser que
ele o permitisse!
Não, não seria possível! Marco desfez-se da idéia, com uma certeza
que beirava a arrogância. Ela o adorava. Sempre o adorara. Se caminhasse até
eles naquele instante, e a tomasse nos braços, Antônia voltaria a ser a sua
adorável sereia, em segundos, e Kranst seria deixado de lado.
—Ele não é de se jogar fora, caro. — Novamente Louisa interrompeu
os seus pensamentos. —Tem um corpo invejável, e dizem que é um amante
incrível. E, apesar de não ter a sua posição social, possui a fama que neutraliza o
nome Bellini. De fato — ela concluiu, —a única coisa que você tem a seu favor é
a riqueza da qual você diz que Antônia não tira proveito. Mas é interessante como
tudo sempre volta a girar em torno do dinheiro, não?
Mesmo para própria surpresa, Marco teve um acesso de riso ao se
lembrar de Antônia passando pelo Lótus vermelho naquela noite sem nem mesmo
olhar para ele. Lembrou-se das inúmeras jóias que ela deixava de usar porque às
vezes se encantava com imitações, como a pulseira que brilhava em seu braço.
Lembrou-se ainda da conta que mantinha no banco, na qual depositava dinheiro
que ela raramente usava.
Assim, realmente a cobiça não constituía o pecado de Antônia. Mas
o que Louisa dissera servira pelo menos para fazer voltar o seu bom humor. Por
isso, ele, em reconhecimento, inclinou-se e lhe deu um beijo na boca. Ela se
agarrou a ele, o que não o surpreendeu, apenas deixou-o indiferente, o que era
uma vergonha, já que Louisa seria a mulher que sua mãe gostaria de ter como
nora.
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na frente dos amigos — ele declarou cheio de preocupação. —Ele vai lhe dar um
troco tão violento que você não vai perceber o que foi que a atingiu.
Com o canto dos olhos, ela viu Marco se juntar aos casais no salão
de dança, levando Louisa pelo braço. Enquanto Stefan a conduzia, Antônia viu
Nicola de pé observando-os cheia de ansiedade, enquanto que ao lado dela,
Franco demonstrava raiva. Percebendo que havia uma atmosfera desfavorável no
ar, ela se deu conta da razão de Stefan ter feito a advertência.
Uma tormenta estava se formando na sala de Nicola, que em sua
ansiedade por ajudar, havia sido a causadora de tudo.
—Como você conseguiu um convite para esta festa? — Antônia
perguntou a Stefan, percebendo subitamente que nem Franco e nem Nicola
teriam sido tão insensíveis a ponto de convidá-lo, sabendo do seu relacionamento
passado com a atual amante do seu melhor amigo.
Ele deu um sorriso.
—Vim com Rosetta Romano — ele explicou, citando a famosa
proprietária da Galeria Romano no Quadrilátero. —Fui o suficientemente bom
para substituir um artista que cancelou sua apresentação na galeria em um
ataque temperamental. E exibir-me nos locais da moda de Milão é a sua maneira
de fazer publicidade gratuita antes de a amostra começar.
—Obviamente, a signora Romano não estava sabendo que poderia
estar cometendo uma gafe incrível ao reunir você, eu e Marco em um mesmo
espaço — Antônia disse, secamente.
—De certo que sabia. — Stefan disse, rindo. —Quanta publicidade
de graça você acha que ela vai ter montando este cenário explosivo?
—E a publicidade não será apenas para a Galeria Romano —ela
acrescentou, querendo dizer que Stefan Kranst também não se opunha a se
expor à notoriedade em beneficio do seu trabalho.
Seu arquear de ombros constituía uma arrogante demonstração de
que tinha consciência de seus atos.
—Sou um pintor e não um diplomata. E, de qualquer jeito —ele
acrescentou, olhando-a nos olhos, —estava querendo vê-la, mas tentar fazê-lo
pelos meios normais é praticamente impossível. Tenho deixado recados com a
sua caseira durante toda a semana, Antonia. Você não os recebeu?
—Estivemos fora durante toda a semana de férias — ela explicou
—E só voltamos hoje à tarde. Hoje é o dia de folga da caseira. Não tenho visto
Carlotta e nem tive a oportunidade de checar os recados ou fazer outra coisa
senão me preparar para esta festa.
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Antônia praguejou. Marco podia não querer mais nada com ela, mas
seu ego imenso não iria permitir vê-la com um homem que sempre a desejara!
—Eis —Stefan lhe ofereceu uma taça de champanhe — Beba. Vai se
sentir melhor.
Deixando de lado o pensamento de que já tivera champanhe
suficiente para uma noite, ela aceitou a bebida e a bebeu toda em grandes goles.
O champanhe começou a se misturar com a raiva que sentia, em uma
combinação perigosa.
—Acho que o odeio! — ela exclamou, com uma profunda sensação
de felicidade por ter pronunciado as palavras em voz alta.
—Bem... Nesse caso os próximos minutos deverão ser muito
interessantes — Stefan murmurou. Olhando por sobre o ombro dela, ele
acrescentou à veemência dela um desafio. —Este pode ser um bom momento para
que demonstre quanto o odeia. A guerra acaba de ser declarada.
Ela percebeu que ele devia estar se referindo a Marco, e começou
a sentir os efeitos do champanhe. Entreabriu os lábios e seus olhos se
enevoaram, deixou a taça vazia e procurou outra cheia.
Com um suspiro, Stefan sacudiu a cabeça.
—Doce idiota — ele murmurou, —não lhe passou pela cabeça nem
uma única vez que não deve se envolver em nenhuma confrontação com ele?
Aquela era uma pergunta pertinente e ao mesmo tempo dolorosa,
porque, nessa manhã, ela considerara e aceitara a idéia de não estar pronta para
nenhuma definição quanto ao relacionamento deles. Agora, lá estava ela pronta
para uma cena, em uma sala cheia de aliados leais de Marco.
Antônia sentiu-se como um pássaro fora do ninho.
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exatamente igual, sem precisar que a modelo pousasse, era muito perturbador
ouvir Stefan sugerir a Marco que havia voltado a incluí-la em seus trabalhos. O
que a levava diretamente a outra indagação que a deixou temerosa enquanto
olhava para a sua face sorridente.
Será que Stefan deixara de cumprir a promessa que lhe fizera?
Stefan ignorou o seu olhar indagador. Ao seu lado, Marco estava
agindo tão naturalmente, que Antônia se indagou se ele estava preocupado. Mas,
já que estavam prestes a se separar, por que ele haveria de se importar?, ela se
perguntou. E, da mesma forma como agira pela manhã, Antônia simplesmente se
voltou e se afastou dali, sem poder mais suportar aquele jogo.
Só que dessa vez, Marco não a deixou ir muito longe, e quando a
pegou pela mão, ela tentou se desvencilhar.
—Pare com isso — ele disse, fazendo com que ela o encarasse.
Ela estava pálida, os olhos ensombrecidos, os lábios trêmulos.
Marco a conhecia, sabia que ela estava sofrendo, o que naquele
momento não o incomodou.
Intimamente, ele gostaria de socar Stefan por ter sido tão
insensível ao mencionar o Mulher no Espelho, quando Marco tinha certeza de que
ele devia saber como isso a poderia afetar. Por outro lado, gostaria de censurá-
la por ainda ser tão vulnerável a algo que fizera, no auge da sua beleza física.
—Você colhe o que plantou, cara — ele disse com a expressão
fechada, enquanto lhe tirava a taça de champanhe da mão. Depois, afastou-se
com ela, tomando-a nos braços. — Agora, vamos dançar — ele ordenou,
pressionado-a contra si, ao mesmo tempo em que ela procurava se safar. —
Lembre-se de onde você está, e a quem irá magoar se provocar uma cena.
Como se adivinhando o impasse, Franco e Nicola se aproximaram
deles, dançando.
—Ciao — Nicola os saudou apreensiva. — Estão se divertindo?
—Estamos tendo uma ótima noitada — Antônia respondeu,
sorridente, pousando a mão intimamente no pescoço de Marco, cravando-lhe as
unhas na nuca. — Adoro quando Marco demonstra todo o seu poder.
Franco olhou para Marco, com uma expressão de sarcasmo. Nicola
desviou o olhar.
—Conquanto que vocês estejam felizes — a anfitriã murmurou,
respirando aliviada quando o marido a afastou dali.
—Ela odeia cenas — Marco disse. — Sempre odiou.
—Eu o odeio — Antônia respondeu. —Isso significa que eu também
mereço um pouco de simpatia?
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barreira e abria-se totalmente para lhe dar livre acesso. Entretanto, o triunfo
verdadeiro veio quando ela, trêmula, fez-lhe um convite silencioso.
Na cabeça de Marco, a batalha estava ganha. Assim, abruptamente,
como a havia começado, ele a terminou, ficando a observar Antônia, com um
sorriso nos lábios, enquanto ela se apoiava lânguida contra ele, tonta e
desorientada, incapaz de se sustentar por si própria.
—Você me quer, Antônia — ele declarou, com uma voz impessoal e
fria que a fez gelar. —Assim, deve aprender a não me provocar ciúme com outro
homem, só para apimentar as coisas entre nos dois.
Uma advertência direta.
Ali de pé, em seus braços, Antônia não disse nada. Ele havia
procedido daquela forma só para demonstrar a sua força.
Era humilhante!
Depois de alguns momentos, ele deu um suspiro e a soltou. Ela
recobrou o equilíbrio e se manteve imóvel, enquanto ele se encaminhava para a
porta. Qual seria a imagem que ele estaria levando dela?, Antônia se perguntou
ao vê-lo sair.
Ela estava ali, de pé, vestida com um robe de seda vermelha, que
pendia preso à cintura pelo cinto, seus seios ainda palpitantes, tal como a sua
boca, como o seu sexo!
Nunca se sentira tão enojada em toda a vida. Por causa dele e por
si própria. Enojada por saber que ambos não prestavam. Marco só sabia receber
e receber, e ela permitia que ele agisse assim.
—Eu o odeio — ela sussurrou, sem ter certeza se a afirmação se
destinava a ela própria ou ao homem que estava saindo.
Como quer que fosse, ele ouviu, parou e se voltou. Havia desprezo
no rosto bonito. Desprezo suficiente para fazê-la corar.
—Aceite o meu conselho, cara, e considere de onde vem o seu
sustento. Mulheres bonitas não faltam hoje em dia. — O cinismo dele era
suficiente para ela sentir o sangue ferver. —Qualquer uma pode ser
perfeitamente substituída.
Ao estalar dos longos dedos morenos, Antônia estremeceu. Marco
fez um leve sinal com a cabeça como se pondo um fim na conversa, e saiu do
quarto.
Levou consigo a imagem dela de pé, semidespida, e suspirou
novamente, ao fechar a porta do escritório. Apesar da rudeza com que a tratara,
a atitude dela de não se cobrir parecia lhe dar a última palavra, o que era muito
perturbador.
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Será que Antônia ficaria contente em saber que mais ele guardava
naquele lugar? ele pensou enquanto, com o copo na mão, passava pelos mestres,
fixando sua atenção somente na obra de Stefan Kranst, Mulher no Espelho.
Era um quadro de uma série que o artista produzira ao longo dos
anos. Cada pintura era diferente, mas o tema era sempre o mesmo: a perfeição
vista através do reflexo de um espelho.
O que Kranst pretendera realmente dizer quando pintara Antônia
daquela forma? Marco ponderou pensativamente. Que o espelho refletia a
perfeição que a realidade não era capaz de refletir? Ou que Kranst fora
simplesmente um voyeur, capturando na tela somente algo que de outra forma
nunca poderia ter?
Ficou conjeturando sobre qual teria sido a real intenção do artista.
A idéia de que fosse um mero voyeur, por exemplo, caia por terra no momento
em que se lembrava dos dois juntos. Conheciam-se mútua e intimamente.
Intimidade essa que ele nunca presenciara antes em relação a outras pessoas, a
não ser entre ele próprio e Antônia.
Quando à perfeição da imagem que se via no espelho, a pintura não
mentia. Antônia era tão perfeita na vida real quanto na forma como Kranst a
havia pintado.
Mulher no Espelho era o melhor quadro da série, fato que levara
Marco a comprá-lo. Era também o mais perturbador, já que era o único em que
Antônia se via em pleno foco. Fora retratada em um balcão. Um balcão inglês, ele
pensou, fazendo uma careta. Bela e elegante, nua e sensual, com o sol da manhã
acariciando-lhe a pele dourada. Ela se encontrava olhando para trás, por sobre o
ombro, para o espelho, demonstrando uma terrível tristeza nos belos olhos.
Passou o dedo pela tela, em uma carícia incomum. Depois, voltou a
atenção para aquele olhar, de expressão vazia e desafiadora. O que estaria vendo
quando olhou para o espelho daquela forma? Ela própria? O artista? Algo nunca
visto por alguém daquele ângulo?
Uma vez perguntara a Antônia o porquê daquele olhar.
—A vida — ela respondera laconicamente. —Ela está vendo a vida.
—Depois, dera de ombros e saíra dali para nunca mais pedir para ver a pintura
outra vez.
Fora uma resposta inesperada para alguém que não demonstrava
qualquer sinal de embaraço diante da própria nudez nos inúmeros quadros que se
seguiram. Reproduções em calendários, cartões-postais e demais trabalhos
gráficos, que foi o modo com o que o artista ganhou fama e fortuna.
Projeto Romances 39
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Projeto Romances 40
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silenciosamente, para se livrar dos efeitos da bebida com um banho frio. Refeito,
voltou para o quarto.
Desejava acordá-la, surpreendendo-a com uma série de beijos em
lugares estratégicos. Ela iria ficar amuada, de certo, mas ele contornaria a
situação. Antônia também lutaria com Marco, afinal era de se esperar. Ele iria
se humilhar um pouco, mas ela merecia essa desforra, antes que pudesse
mergulhar no mais doce dos prazeres já criado para ser partilhado entre o
homem e a mulher.
Naquele instante, parou e franziu os olhos ao se descobrir olhando
para a suavidade de uma cama acolhedora e vazia.
CAPÍTULO 5
Projeto Romances 41
Desejo Incontrolável Michelle Reid
Era o uísque, ele disse para si mesmo. Assim mesmo, sentia vontade
de matá-la, por assustá-lo daquela forma. Começou a abrir e fechar portas, até
que chegou à uma porta trancada que dava para um dos quartos vagos.
Aliviado, enfureceu-se com a atitude dela. Esquecendo-se da sua
própria culpa, bateu na porta com força.
—Se não abrir esta porta, vou arrombá-la! — ele ameaçou e
continuou a esmurrar a porta, até que ela se abriu repentinamente.
Antônia já estava se afastando, antes mesmo de ele entrar.
—Nunca mais faça isso — ele reclamou, aproximando-se dela.
—Nada tenho a falar com você — ela replicou, em um tom
indiferente que o deixou gelado.
O desejo de recriminá-la desapareceu, restou apenas a necessidade
de lembrá-la quem ditava as ordens naquela casa.
Chegando junto da cama, ela se preparou para deitar. Adiantando-
se, ele a impediu, segurando-a pelos pulsos. Ignorou-lhe os protestos e as
tentativas que ela fazia para se libertar. Determinado e sem dar uma palavra,
ele a pegou no colo e carregou para fora do quarto.
—Você é um primitivo, debaixo dessa camada de civilização —ela
gritou, debatendo-se.
Ele parou e, inclinando a cabeça, beijou-a, tão violenta e
imperativamente que ela se sentiu sufocada,
—Fui o suficientemente primitivo? — ele perguntou, sem se
demonstrar ofendido pelo tratamento. Ao contrário, ele estava gostando de tudo
aquilo, já que começava a se sentir primitivamente excitado.
Marco fechou a porta atrás de si com o pé. A cama os esperava.
Jogou-a sobre a colcha azul, e se atirou sobre ela.
Os olhos de Antônia dardejavam todo o ódio que lhe ia na alma.
Com os cabelos desfeitos, ela tentou se defender com os punhos
cerrados.
—Saia de cima de mim — ela gritou. —Você não passa de um grande
bruto, e está cheirando a uísque!
—E você tem o gosto de champanhe e de mulher. Minha mulher! —
Marco rosnou, gostando imensamente do papel de homem primitivo, que lhe
permitia o raro luxo de ser o dominante.
Os seios de Antônia ondulavam debaixo do sólido peito de Marco, e
o seu baixo ventre estremecia deliciosamente debaixo da virilha dele. Sentiu a
rigidez do seu desejo e lutou ainda mais. Ele a conteve e se manteve senhor da
situação, com um sorriso cínico.
Projeto Romances 42
Desejo Incontrolável Michelle Reid
Projeto Romances 43
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com beijo, carícia com carícia, prosseguindo nas mais intrincadas carícias, que os
levaram a prazeres jamais experimentados.
Quando ele voltou a ocupar a posição que lhe competia, por cima e
profundamente mergulhado nela, a derradeira viagem começou. Quentes,
banhados de suor e completamente fora deste mundo, perseguiram a escalada
do prazer com uma compulsão que não os deixava perceber mais nada ao redor.
Ele chegou ao clímax primeiro, já que ela estava determinada que
isso acontecesse. Seguiu-o segundos depois, e ficaram unidos por longo tempo
depois do orgasmo.
Sim! Ele pensou com profundamente satisfeito, enquanto jazia
pesado sobre ela, procurando recobrar a respiração. Aquilo era o elixir da vida,
e que Kranst fosse para o inferno. Que fosse para o inferno sua própria mãe que
desaprovava aquele relacionamento! ele acrescentou, sem poder repetir a
maldita ameaça de seu pai. Intimamente a percepção de que deveria se manter
ao lado de Antônia começava a suplantar qualquer outra certeza.
Debaixo dele, completamente envolvida por seu corpo e cheiro,
Antônia imaginava se teria forças para se mover. Sentia-se drenada de energia,
e seus músculos pareciam não corresponder ao seu comando.
Não conseguia entender era como pudera corresponder àquelas
carícias depois de tudo o que acontecera. Deveria ter sentido repulsa pelo seu
toque, deveria ter permanecido como uma estátua debaixo dele. Mas isso não
acontecera...
Fraca. Você é uma fraca, ela se incriminou, miseravelmente,
fazendo um movimento para que ele se lembrasse de que ela ainda estava lá, em
caso de ele ter se esquecido, perdido que estava no próprio prazer.
Com um beijo na testa, ele demonstrou consciência da sua presença
e depois a livrou do seu peso, posicionando-se bem juntinho ao lado dela.
—Você se mexe como nenhuma outra mulher — ele murmurou, com
a voz rouca.
Seria aquilo um elogio? ela se perguntou. Não pretendia ser
rotulada e avaliada de acordo com o seu desempenho sexual. De fato, se
estivesse em condições, teria se levantado e ido embora, seriamente ofendida!
Mas estava sem energia, aquele era o grande problema. Precisava
estar com ele, embora não quisesse. Ele era arrogante, egoísta, insensível e...
Suspirou junto ao pescoço de Marco, que, voltando-se a beijou.
Quando o beijo terminou, ela cariciou-lhe os lábios com os dedos, sem poder crer
que ele pudesse beijar tão suavemente e não sentir algo mais profundo do que
um simples desejo por ela.
Projeto Romances 44
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Projeto Romances 48
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as mãos sobre o colo para que não demonstrassem o seu tremor. Sentou-se
rígida, e lhe devolveu o olhar.
—Você prefere ficar aqui?
Havia desafio na sua expressão. Se respondesse que sim, ela estaria
mentindo, sem se esquecer de que seria também uma confirmação das suas
suspeitas. Dizer que não iria alimentar o seu ego, o que ela não desejava, pelo
menos naquele momento.
Ela preferiu abrir o jogo.
—Stefan é meu amigo. Por que você não pode aceitar isso?
Ele continuou a olhá-la firmemente.
—Você prefere ficar? — ele repetiu.
Entretanto, Antônia desviou o olhar, demonstrando irritação.
—De certo que gostaria ir com você — ela disse, dando um suspiro.
— Mas, não sob pressão, não porque você acha que deve ser assim.
—Eu poderia jogá-la para fora de minha vida. Essa é uma outra
opção.
—Eu poderia sair por minha própria vontade! — ela exclamou. —
Acho que seria a melhor das opções.
—Você virá comigo? — Aquele homem não cedia nem um pouco que
fosse.
—Sim! — ela respondeu, levantando-se impulsivamente, cheia de
raiva.
Ele a olhou com uma expressão de caçoada.
—Então, coma a sua fruta e beba o seu café ele sugeriu, afastando-
se novamente. — Passe pelo meu escritório quando estiver pronta.
—Não vou precisar mais de dez minutos para arrumar tudo aqui
antes de ir — ela dardejou impacientemente.
—Por você, mi amante, poderei até mesmo atrasar o nosso vôo!
Magnânimo na vitória, ele a deixou parada, sem saber se ria ou
esbravejava. Ganhou o sorriso. Vinte minutos depois, ela estava com raiva
novamente porque ele não lhe havia dito que iriam pernoitar em Veneza, e ela não
pudera fazer as malas.
—Compre o que precisar, quando estivermos lá — Marco disse,
demonstrando que para ele dinheiro não significava muito.
—Querer apenas mais cinco minutos não me parece extravagância
— ela se queixou.
—Tempo é dinheiro para mim, cara — ele respondeu.
Projeto Romances 49
Desejo Incontrolável Michelle Reid
—Então, sinto muito o dinheiro que lhe custei por me esperar —ela
acrescentou ironicamente. —Só lhe causo problemas.
Com sarcasmo ou não, ele riu para ela.
—O meu maior problema vai ser manter a minha atenção centrada
nos negócios, tendo-a por perto — ele murmurou preguiçosamente.
—Espero então que você passe todo o tempo em um estado de
permanente concentração.
—Enquanto isso, você vai ficar fazendo o quê?
—Gastando o seu dinheiro, o mais rápido possível — respondeu ela.
Ele riu e a beijou até que o elevador chegasse. Antônia finalmente
deixou de se importar com a idéia de que ele estava procedendo daquela forma
somente para mantê-la afastada de Stefan. A harmonia entre eles estava de
volta, e ela estava feliz. Feliz por toda a sorte de atenções que Marco lhe
propiciou durante a breve viagem para Veneza, e durante o trajeto para o hotel,
através dos canais. As pessoas se voltavam e olhavam, por ela estar com Marco
Bellini. Tudo se tornava mais fácil, as pessoas mais atenciosas. Ele era rico,
conhecido, bonito e solteiro. As mulheres a invejavam, e os homens gostariam de
desfrutar de todas as vantagens que ele tinha.
Deixando-a em segurança no hotel, ele saiu para tratar dos seus
negócios. Antônia fez compras e comprou a mais não poder. Gastou o tempo
restante percorrendo os roteiros turísticos, no meio da turba que derretia no
calor do verão.
Quando voltou à suíte do hotel, estava tão cansada que apenas
ocupou-se em encher a banheira de água quente e mergulhar nela.
Sobre a cama as compras e no chão as roupas que havia tirado.
Atrasando-se um pouco para voltar, Marco sorriu ao ver as
evidências do que ela estivera fazendo. Antônia era desorganizada por natureza,
apesar de se esforçar para se corrigir a fim de não irritá-lo.
Mas ele não ficou irritado. Na verdade, gostava de andar pelo
quarto e sentir a presença dela. A porta do banheiro estava entreaberta, e ele
podia ouvir os ruídos que indicavam o que ela estava fazendo.
Foi a coisa mais fácil do mundo, ele se despir e ir se juntar a ela.
Imersa até o pescoço na espuma aromática, ela sorriu ao vê-lo se aproximar.
Ergueu os joelhos para que ele tivesse espaço na outra extremidade da banheira.
Depois, dando um suspiro de satisfação colocou os pés no peito dele, enquanto
Marco estendia as longas pernas de ambos os lados dela.
—Teve um dia atarefado? — ele perguntou.
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Projeto Romances 51
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CAPÍTULO 6
Projeto Romances 53
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—Você não deveria ter feito isso — ela sussurrou, sentindo os olhos
arderem, enquanto Marco estendia a mão para tocar o quadro. Era como se ele a
tocasse.
—Nunca vou perdoá-lo —ela disse para Stefan, distanciando-se
dele e aproximando-se do homem que lhe era tão importante.
Marco se voltou para ela. O rosto parecia talhado em mármore.
Depois, olhando diretamente para Stefan, exclamou:
—Você não pintou isso!
Era uma acusação clara e definitiva.
—É um conhecedor quem está dizendo. — Stefan sorriu. —
Realmente, não fui eu — ele admitiu. — Foi...
—Fui eu — Antônia interferiu. — É meu! — Ela olhou para Marco,
procurando compreensão.— Esse quadro me pertence! Ninguém...
Marco a olhou com uma expressão concentrada.
—Quem foi que o pintou? — ele perguntou.
—Isso importa? ela suplicou. — Nunca foi exposto publica-mente e
nem nunca será, Marco! Eu nunca...
—Não perguntei se ele já foi exposto — ele a interrompeu. —
Perguntei quem o pintou!
Ele estava furioso. Antônia recuou, espantada.
—Acho que você não está entendendo, Marco Stefan acrescentou,
rapidamente. Não lhe mostrei este quadro para...
Aconteceu tudo tão de repente que Stefan não teve tempo de
reagir. Com um movimento inesperado, Marco balançou o corpo e impulsionou o
braço, dando um soco no queixo do pintor.
Stefan deu um gemido e se estatelou aos pés de Marco. Com um
grito, Antônia se lançou para acudir.
—Por que você fez isso? ela soluçou, enquanto se ajoelhava ao lado
de Stefan.
—Por se intrometer na sua vida, e por se intrometer na minha vida!
— ele exclamou irado, dirigindo-se para a porta.
Antônia o ficou olhando ir embora, sem saber o que fazer. Dando
um gemido, Stefan sentou-se e pôs a mão no queixo. Sacudiu a cabeça, como se
não acreditasse que aquilo houvesse acontecido.
—Olha só o que fez comigo! — Antônia soluçou.
—Realizei um dos seus maiores desejos e levei um soco na cara —
Stefan respondeu secamente.
Sem qualquer vontade de brincar, ela se ergueu e o ajudou a se
Projeto Romances 59
Desejo Incontrolável Michelle Reid
levantar.
—Ele o machucou? — ela perguntou.
—Não pareça tão compadecida assim — Stefan respondeu com
ironia. — Só cortou o meu lábio — ele explicou, começando a gargalhar.
Isso a deixou furiosa.
—Pare! — Ela soluçou. — Como ousa rir em um momento como este?
O que você fez para mim, Stefan? Por que fez isso? — As lágrimas começaram a
rolar pela face, enquanto ela ficou olhando para a porta fechada. — Ele jamais
me perdoará por causa disso. Você sabe! — ela exclamou transtornada. — Foi
embora, deixando-me aqui!
—Não aquele homem — Stefan disse, demonstrando certeza.
—Dê-me um minuto para pôr gelo no lugar do soco, e iremos atrás
dele. Prometo — ele disse, preocupado com a expressão preocupada de Antônia.
— Ele vai estar lá...
Mas Marco não queria que o encontrassem. Depois da cena, ele
estava na frente da Galeria, flexionando os dedos, e se preparando para
enfrentar mais problemas.
Sua mãe havia chegado. Deus sabe de onde e por que motivo, quando
ele imaginava que ela deveria estar segura na Toscana. Mas lá estava ela, no meio
da ante-sala, cercada por uma porção de velhos amigos e conhecidos.
Com o péssimo estado de ânimo em que se encontrava, ele fingiu não
vê-la, saindo rapidamente antes que ela o visse.
Só que não pretendia ir embora sem Antônia, ele decidiu, com uma
certeza que prometia causar mais problemas para alguém. E o pouco bom senso
que restava lhe dizia que não seria possível deixar de falar com a mãe!
Um encontro dela com Antônia? Gelou só de pensar nessa
possibilidade. Dissimulou a raiva que estava sentindo, e se dirigiu para onde a
mãe se encontrava, com a intenção de falar com ela antes que Antônia decidisse
aparecer na companhia do famoso ex-amante.
Entretanto, a sorte não estava trabalhando a favor de Marco
naquela noite. O salão estava repleto de pessoas da alta roda de Milão. Gente
que se conhecia pelo primeiro nome. Isabella Bellini era muito conhecida e
apreciada por muitos.
Quando o filho se aproximou, ela se abriu em um sorriso adorável,
Embora forçado, ele sorriu e a abraçou, oferecendo-lhe a face que ela encheu
de beijos.
Projeto Romances 60
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Projeto Romances 61
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Projeto Romances 62
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Projeto Romances 63
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De fato, Marco desejava que ela se quebrasse, para que ele pudesse
descobrir a mulher real, já que aquela se tornara uma completa estranha para
ele!
Com um suspiro, soltou-a, ergueu-se e fechou a porta. Foi se sentar
à direção e deu partida no carro. Com o rosto contraído, dirigiu pelas ruas de
trânsito caótico de Milão.
Estava com muita raiva! Raiva de Kranst e das suas artimanhas.
Raiva da imperdoável atitude da sua mãe! E raiva de Antônia por permitir que ele
acreditasse que a pintura que tinha no apartamento fosse dela!
E agora havia acontecido aquele incidente na porta da galeria.
Apesar de ter demonstrado o contrário, ele havia reconhecido aquele homem.
Seu nome era Anton Gabrielli, um rico industrial recluso, que raramente se via
em público, desde a morte da mulher, havia alguns anos.
Ele podia ter chamado Antônia de Anastasia, mas o erro era
irrelevante. O que importava era que ele a conhecia! E, o mais relevante, Antônia
o havia reconhecido!
—Como você conheceu Anton Gabrielli? — ele perguntou.
Era como se estivesse falando com um fantoche.
—Eu nunca o encontrei antes em minha vida — ela respondeu
baixinho.
—Não minta! — ele gritou. —Ele pode tê-la chamado pelo nome
errado, mas vocês se reconheceram. O espanto mútuo foi muito revelador.
—Já disse que nunca o encontrei antes! — ela gritou descontrolada.
Diante da flagrante mentira, ele a olhou de soslaio. Ela estava
tremendo tanto que o diamante do seu colar reverberava. Dando um pequeno
soluço, ela virou o rosto para o outro lado, para que ele não a pudesse ver.
Mantendo-se calado, ele voltou a atenção para o tráfego, enquanto
mais suspeitas começavam a surgir. Anton Gabrielli era da mesma idade de
Kranst. Se ela apreciava ter Kranst como amante, por que não Gabrielli? Afinal
de contas o que sabia da vida de Antônia antes do seu caso com Stefan?
Absolutamente nada, ele percebeu.
Quando o monstro do ciúme já começava a tomar-lhe o coração,
finalmente chegaram à garagem do apartamento. Desligou o motor do carro e,
com a mão pesada sobre a coxa de Antônia, impediu-a de soltar o cinto de
segurança.
—Espere — ele ordenou. Ela não iria deixá-lo ali, para se dirigir
sozinha para o elevador, como fizera anteriormente.
Projeto Romances 64
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CAPÍTULO 7
Projeto Romances 65
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Projeto Romances 66
Desejo Incontrolável Michelle Reid
Sim — ela admitiu abertamente a fraude. Quer saber se eu posei nua para Stefan
para que ele fingisse que eu era a minha mãe? Não. Eu não fiz isso — ela negou.
— Stefan e minha mãe foram amantes durante dez anos! Ele a adorava. E
respondo não novamente, antes que você tire conclusões errada, — ela
acrescentou friamente. — Stefan não partilhou da cama da minha mãe ao mesmo
tempo em que partilhou da minha!
—Eu nunca imaginei isso... — Marco começou a se justificar.
Entretanto, ela o interrompeu, cheia de ressentimento.
—Você sempre imaginou isso! — ela exclamou. — Desde o começo,
você imaginou que nós dois éramos amantes. Stefan é meu amigo! — ela
acrescentou. — Um amigo querido que chegou cm nossa vida quando realmente
precisávamos de alguém carinhoso e generoso como ele! Nós dois cuidamos de
minha mãe durante a sua interminável e miserável doença. E qual foi o resultado
daqueles anos de escuridão? —Ela fez um gesto com a mão, indicando a pintura.
— Minha mãe queria que ele sempre se lembrasse dela. Mas, não destruída e
acabada como ficara quando estava perto do fim!
As lágrimas inundaram os seus olhos, o corpo sacudido pelos soluços
incontroláveis.
—Então, ele pintou uma mentira — Marco disse taciturnamente.
—E se for isso? — ela replicou. — O que importa aos outros se a
imagem não corresponder à realidade cruel?
—Por isso o espelho!
Marco era muito bom em interpretar obras de arte, e Antônia tinha
de reconhecer isso.
—Reflete o que era — ela confirmou. — Stefan poderia pintá-la,
ainda agora, exatamente assim. Ele a amava muito...
—Ainda que fosse rápido em vender os quadros quando a
oportunidade surgia — Marco acrescentou cinicamente. — E se apressou em
fazer com que você se passasse por ela, para conseguir notoriedade às vendas!
—Eu não disse que ele era perfeito — ela redargüiu. — E as pinturas
foram exibidas antes que minha mãe morresse! — ela esclareceu. — A seu pedido!
Para prazer dela! Ela se divertia quando as pessoas me tomavam por ela! E tudo
o que a tornasse feliz, eu e Stefan fazíamos! — Os olhos de Antônia brilhavam
ao dizer isso, sem vislumbre de arrependimento.
Marco, entretanto, estava amargurado.
—Tudo bem... Mas você não acha que devia me dizer a verdade?
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suficientemente forte para fazer com que você gostasse de mim! Mas isso nunca
aconteceu. Não foi, Marco? — Seus olhos começaram a brilhar como o diamante
que levava preso ao colar. —E mesmo depois de um ano de vida em comum, você
se envergonha de mim e recua de medo diante da desaprovação da sua mãe.
—Eu não me envergonho de você! — ele redargüiu enraivecido. —
Envergonho-me da minha mãe!
Mas Antônia a já não estava ouvindo. Saíra do escritório, depois de
dizer suas últimas palavras. Por alguns momentos, ele permaneceu ali, permitindo
que ela se fosse para manter a dignidade. Lembrou-se depois da maleta jogada
no chão do quarto e calculou quanto tempo ela precisaria para refazê-la.
Tomado de raiva, começou a praguejar. Odiava se sentir assim!
Ela estava no quarto, de pé com a maleta na mão.
—Está bem! — ele exclamou. — Case-se comigo! Se isso vai fazer
com que você esqueça esta idiotice. Case-se comigo!
Ela se voltou para olhar para ele, com uma expressão indefinida nos
olhos.
Abalado profundamente pela própria proposta e à espera da
resposta, ele a observou se aproximar com uma expressão enigmática.
—Vá para o inferno, Marco — ela murmurou vagarosamente,
forçando-o a lhe dar caminho para passar.
Demorou para que ele se desse conta do que havia acontecido. Ouviu
a porta do hall se fechar. Olhando ao redor, para o caos que ela havia deixado,
sentiu-se como um homem no meio de ruínas, sem saber como tudo havia
terminado.
Finalmente, conseguiu se mover e caminhar através das roupas
atiradas no chão. Sentou-se na cama e inclinou-se para frente, com a cabeça
entre as mãos.
Ele poderia agir como fizera anteriormente e ir atrás dela. Mas isso
não lhe parecia uma boa opção dessa vez. Ela precisava se acalmar, e ele
precisava retomar as rédeas dos acontecimentos!
Em um minuto era ele quem tinha todas as razões, no seguinte fora
Antônia que descarregara todas as queixas contra ele. Suspirou profundamente,
procurando se desfazer da raiva e da frustração, já que muito do que ela dissera
era verdade!
A mãe dela... Ele ergueu-se repentinamente. Dirigiu-se de volta para
o escritório, e parou de frente para o quadro, de onde ficou olhando para o rosto
que ele acreditara conhecer. Entretanto, as diferenças já se manifestavam
claras, como se alguém houvesse alterado certos detalhes com um pincel. A curva
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Projeto Romances 70
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Projeto Romances 71
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encontrado e nem queria isso. De fato, ela preferia continuar a ser conhecida
como a famosa Mulher do Espelho do que reclamar a paternidade de um homem
que havia abandonado a sua mãe, logo que soubera que ela estava grávida.
E qual fora o argumento dele? Homens como eu não se casam com a
amante. Não é a sua função.
Por Deus, como o odiava!
Portanto, devia odiar Marco também, já que ele usara palavras
semelhantes, não havia muito tempo. O que sua mãe diria se soubesse sobre
Anton Gabrielli? Ela poderia alegar que Antônia herdara o pecado da mãe. A
mesma aparência, as mesmas pinturas, a mesma atração por milionários italianos
altos e morenos!
A amargura e as lágrimas a embalavam. Ela se voltou para a porta,
com a intenção de se manter fiel à decisão primeira de ir embora dali!
Mesmo quando chegou junto da porta, sentiu que não podia fazer
aquilo! Oh, o que seria dela se não conseguisse partir, quando não restava mais
nada para ela ali?
Eu estou aqui, dissera Marco.
Envolvendo-se nos próprios braços, ficou a repetir aquelas palavras
como uma cantiga monótona, enquanto se encaminhava para as portas amplas que
davam acesso ao terraço.
Abrindo uma delas totalmente, saiu para o ar fresco, com a intenção
de se recompor da extrema confusão em que se achava. Dirigiu-se para uma
espreguiçadeira, tirou os sapatos, sentou-se com os joelhos dobrados, apoiando
o queixo sobre eles.
O terraço era uma das partes mais agradáveis do apartamento que
abrangia toda a extensão do prédio. Quando Marco oferecia alguma das suas
festas extravagantes, todas as portas eram abertas, de modo que todas as salas
que davam para o terraço podiam ser usadas para as mais diferentes atividades,
e o som da música e as risadas ecoavam por toda parte.
Entretanto, naquela noite tudo estava silencioso, como ela nunca
vira. Mesmo o constante tráfico de Milão, abaixo dela, parecia ter diminuído.
Ou talvez fosse ela quem estivesse diferente, Antônia ponderou,
tristemente. O destino a havia tratado naquela noite de maneira a fazê-la
aceitar sua própria realidade.
Mas ela não queria a dura realidade, ela pensou dando um suspiro.
Queria que as coisas voltassem a ser como antes, mesmo com mentiras,
incertezas e tudo o mais.
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CAPÍTULO 8
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silenciosa porque sabia que não podia permitir que ele se aproximasse dela
daquela forma, embora não conseguisse se afastar.
Marco era o seu ponto fraco. E sempre seria.
Antônia notou, quando adentraram o quarto, que suas roupas e sua
maleta haviam sido removidas do aposento. Viu também a cama desarrumada,
testemunha do que acontecera.
Ainda silenciosos, eles aproximaram-se da cama e Marco a fez se
virar para poder dar um jeito no zíper que havia emperrado. O vestido era preto
assim como o zíper, por isso ele levou algum tempo para conseguir desprender
uma ponta de tecido que ficara presa no dente do fecho. Quando terminou,
Marco sentiu que ela conteve a respiração, e se afastou para se desvestir.
Ele sorriu e conteve o desejo de envolvê-la em um forte abraço, o
que sempre lhe dava prazer. Ao invés disso, ficou contemplando o amarrotado
dos lençóis, muda testemunha das intranqüilas horas que passara sozinho ali.
Quando se voltou, ela já havia se despido e estava de pé vestida apenas com as
roupas íntimas de seda preta que contrastavam com sua pele clara. E, apesar de
estar escuro, ele podia jurar tê-la visto corar, e isso o comoveu porque não se
lembrava de outra vez em que ela demonstrara timidez na frente dele.
A não ser na primeira vez em que fizeram amor. Se não lhe
conhecesse a história, poderia jurar que ele era o seu primeiro amor.
Mas, o pior estava por vir, quando ele a viu se deitar sem tirar mais
nada. Culpa daquelas pinturas? Da sua mãe? Ou sua própria culpa por ela querer
esconder sua nudez com a qual sempre se sentira tão confortável?
—Não — ele disse em um tom de protesto que se transformou em
uma súplica.
Ao vê-la hesitar, ele se aproximou e soltou o fecho do sutiã, que
caiu, deixando livre os belos seios de pele acetinada. Ela retirou a calcinha, sem
fazer comentários, e deslizou para debaixo dos lençóis. Tudo sem fitá-la
diretamente.
Excitado, ele tirou o robe e se juntou a ela. Silenciosamente,
encaixou-se nas curvas do seu corpo, e ela permaneceu quieta, demonstrando que
um turbilhão de emoções não lhe permitia corresponder.
A necessidade de dizer alguma coisa foi maior e, mesmo com o risco
de provocar uma outra cena, ele falou:
—Não gosto de brigar com você — Marco disse, mergulhando o
rosto na massa de cabelos sedosos.
—Eu sei — ela replicou.
Projeto Romances 76
Desejo Incontrolável Michelle Reid
Ele percebeu que era verdade. Teve de admitir que Antônia sabia
muito sobre ele.
— Mas isso não muda em nada as coisas, Marco — ela acrescentou.
Será que ela estava falando sobre deixá-lo? Com aquele pensamento
desagradável, ele tomou-lhe os seios nas mãos, e colocou uma das suas pernas
sobre ela, no intuito de mantê-la junto de si.
—Durma — ele disse, dando um suspiro profundo, tentando fazer o
mesmo.
Entretanto, não era possível, permanecer tão próximo da mulher
desejada que pretendia abandoná-lo, sem procurar dissuadi-la. Debaixo da palma
das mãos sentiu os mamilos se enrijecerem, como uma resposta natural à carícia
implícita. Iniciou, então, um movimento circular com os dedos ao redor dos
mamilos túrgidos. Percebeu que ela começava a respirar mais rapidamente, e que
sua pulsação se acelerava. Em um ímpeto, mergulhou ainda mais o rosto nos
cabelos até desvendar a nuca.
Como resposta, ela se virou até estar de frente para ele, e seus
olhares se encontraram.
—Você não está jogando limpo! — ela protestou.
—Grazie — ele replicou, como se ela lhe houvesse feito um elogio,
beijando-a de forma a impedir qualquer outro tipo de argumentação.
O que se seguiu foi uma demonstração do inevitável. À virilidade de
Marco se contrapôs a suavidade de Antônia.
Ela era linda, e Marco a adorava. Nenhuma mulher o fizera se sentir
assim antes. Beijou-lhe o corpo todo, até ela desistir de tentar resistir, para,
com um suspiro, começar a corresponder plenamente. No momento em que a
posse se concretizou, ele teve certeza de que ela lhe pertencia por completo.
Não havia dúvida. Ele a viu perseguir o prazer até quase chegar ao clímax. Com
os dentes cerrados e o sexo intumescido, ele a manteve naquele ponto, o mais
que pôde. Somente quando ela finalmente abriu os olhos em uma indagação
aturdida foi que ele se rendeu e se entregou desencadeando o clímax final.
Entregara-se como nunca antes.
Aquele fora um momento perfeito para desfazer tudo o que passara
e para terem a certeza de que haviam partilhado algo especial.
Deitada satisfeita, com a face apoiada no peito de Marco e a mão
espalmada em seu peito, sentindo-lhe o palpitar do coração, Antônia queria
apenas dormir.
Entretanto, Marco não concordou. Voltara-lhe a velha e conhecida
autoconfiança o que lhe dava confiança para desfazer aquela relativa paz.
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Projeto Romances 78
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Tudo foi muito intenso e possessivo, mas o sexo não era uma solução
mágica para todos os problemas. Não havia dúvida de que na cama os dois eram
compatíveis, mas o que dizer fora dela?
Nada podia mudar aquela maneira de ser. Marco queria consertar o
que não podia ser consertado, razão pela qual Antônia não havia lhe contado toda
a verdade sobre Anton Gabrielli. Podia amá-lo, mas certos segredos somente
podiam ser confiados a alguém que continuaria a amá-la apesar de todas as
confidências.
E Marco não a amava dessa forma.
Antônia dormiu após o cansaço do desejo satisfeito. Entretanto,
Marco continuou acordado, agitando-se até o fim da madrugada, quando a luz do
sol começou a se infiltrar pelas frestas das janelas. Desgrudando-se de Antônia,
ele deslizou para fora da cama.
Projeto Romances 79
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CAPÍTULO 9
Projeto Romances 81
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—Do seu caso com a minha mãe? Sim. Ela não via razão para
esconder.
Ele balançou a cabeça.
—Talvez tenha sido lamentável a forma como nos encontramos na
noite passada.
—Lamentável? Acho que o choquei — ela considerou. — E sinto
muito por isso.
Ele tinha uma expressão cínica diante do pedido de desculpa.
—Até vê-la, acreditava que as pinturas de Stefan Kranst se
tratavam de sua mãe. Mas, até então, não sabia que você existia.
Pela primeira vez, alguém presumira o certo em relação ao modelo
de Stefan. Era irônico perceber que ele estava agora mudando de opinião em
relação ao que os outros acreditavam.
—Nós éramos extremamente parecidas — ela disse. — Poucas
pessoas podiam notar a diferença.
—Onde...? — ele perguntou repentinamente, sem forças para
concluir seu pensamento.
—Minha mãe morreu dois anos atrás — ela explicou.
—Sinto muito — ele murmurou polidamente.
—Obrigada — ela replicou.
Aquela formalidade começava a incomodar Antônia. Ela não deveria
estar sentindo alguma coisa? Não deveria sentir pelo menos alguma ligação
genética, por menor que fosse? Percebendo que ainda estava de pé na soleira da
porta, ela adiantou-se. Percebeu que ele reagia como um homem em guarda. O
que ele estaria imaginando? Que iria atacá-lo fisicamente?
—Até no andar, vocês se parecem — ele afirmou.
Antônia ofereceu-lhe um leve sorriso. Ele não ia dizer nada que ela
já não soubesse. Parecia-se com a mãe, andava como ela...
—Não gostaria de se sentar — Antônia o convidou educadamente.
— Aceita um drinque, um café, ou...
—Eu sou o seu pai — ele disse inesperadamente, fazendo com que
ela parasse de falar. Depois, com um estalar de dedos, prosseguiu: — Agora,
podemos falar francamente, sem qualquer cerimônia. O que quer?
—Como disse? — Antônia perguntou atônita.
—Você me ouviu — Anton insistiu. — Quero saber o seu preço.
Antônia não podia acreditar no que estava ouvindo e o criticou.
—Mas foi o senhor quem veio me procurar — ela o recordou.
—Eu não...
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Projeto Romances 85
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Sinto muito, Marco, mas estou muito doente e tenho juízo suficiente para não
aceitar essa incumbência.
No entanto, ele não parecia tão doente quanto Marco imaginara
encontrá-lo.
—O senhor está com melhor aparência — ele observou.
—Obrigado por notar — o homem respondeu.
Na altura, aparência, e em outros aspectos físicos, Marco se
parecia muito com o pai. Entretanto, alguns meses atrás, um vírus havia
enfraquecido a vitalidade de Federico Bellini. Quando os médicos conseguiram
estabilizar sua situação, ele já havia perdido metade do peso, sofrera
complicações sérias em um pulmão, com conseqüências no coração, fígado e rins.
—Novas drogas — o homem disse com um tom de desprezo sempre
que mencionava os medicamentos que o mantinham vivo.
—Quem é essa mulher a quem sua mãe tem tanta aversão a ponto
de destratá-la em público?
—O senhor sabe quem ela é — ele disse, com um suspiro impaciente.
— Está vivendo comigo faz um ano.
—Está querendo dizer que ainda está com a mesma mulher?
Federico fingiu estar surpreso, mas não enganou Marco que, assim
mesmo, sorriu. — Não é à toa que sua mãe está em pânico.
—Não é para tanto.
—Vou repetir a pergunta. Quem é ela? — o pai perguntou com
audível ênfase no quem.
Enfiando a mão no bolso interno do paletó, Marco retirou uma
fotografia, tirada no casamento do seu melhor amigo. Depositou-a sobre a
escrivaninha na frente do pai. Federico pegou-a e a estudou.
—O seu bom gosto nunca foi posto em dúvida — ele disse, com
ironia.
—Mas? — Marco o interrogou
—Posso não ter participado de muitos eventos sociais nesse último
ano, mas vi a pintura — Federico disse. — Ela tem um corpo lindo e olhos tristes.
Marco nada disse, apesar de que poderia ter se aproveitado daquele
momento para contar a verdade. Talvez não fizesse diferença...
Antônia estava certa, ele percebeu. Quem olhasse para a mãe nua
estaria vendo a filha nua, por isso não importava o que se contasse para as
pessoas.
Projeto Romances 86
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Projeto Romances 88
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O primeiro soluço chegou sem ela notar, e logo foi seguido de outro,
mais outro. Sentando-se em frente à penteadeira, cobriu o rosto com as mãos e
chorou desesperadamente.
Quando terminou, ergueu-se. Levou alguns minutos para se
recompor e decidiu o que seria preciso fazer antes de ir embora...
—Você tem de fazer isso por mim, por favor! — Antônia estava com
Stefan, e suplicou. — Deve-me isso, depois do fiasco da noite passada!
—Isabella Bellini se arrependeu da maneira como agiu — ele lhe
disse.
—Isso não me importa! — Gritou enquanto soluçava. — Não faz
diferença alguma. Já resolvi, estou deixando Milão.
—E Marco também? — ele perguntou.
Projeto Romances 89
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Projeto Romances 90
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pensar nele, justo naquele momento quando ainda poderia ser tentada a mudar
de idéia.
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CAPÍTULO 10
Projeto Romances 93
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O celular deu um sinal. Marco olhou para ele e viu que havia uma
mensagem em inglês escrita no visor. Uma mensagem que ela havia deixado para
ele. “Sinto muito”, era tudo.
Por vezes ele se esquecia de que ela falava inglês, tão bom era o seu
italiano. Entretanto, dessa vez o sinto muito parecia dizer mais do que mi
despiace.
Aquilo era pouco para ele. Queria saber mais. Será que ela não
poderia ter confiado nele e esperado somente mais um dia?
—Quando foi que ela partiu? — Ele percebeu Carlotta de pé junto
à porta, olhando-o ansiosamente. Obviamente, ela deveria ter algo para lhe dizer,
já que o interrompera em um momento tão crucial.
—Logo depois que o signor saiu... — a governanta começou a dizer.
Signor? Marco se voltou rapidamente.
—O signor Kranst? — ele perguntou ansiosamente.
Carlotta sacudiu a cabeça em um sinal de negação.
—Um tal de signor Gabrielli — ela respondeu. — Acho que
discutiram — ela acrescentou, parecendo desconfortável ao dizer aquilo. — A
signorina me pediu para acompanhá-lo até a porta. Foi quando ele me deu um
cheque para que entregasse à signorina Antônia. —Seus olhos se voltaram e se
fixaram no cesto de lixo ao lado da penteadeira. —Ela estava muito contrariada
— ela acrescentou, enquanto Marco olhava para o mesmo lugar.
O interfone soou indicando que alguém estava querendo subir.
—Não quero receber ninguém — Marco lhe disse, com a expressão
sombria.
Com um gesto de compreensão, Carlotta saiu, deixando-o sozinho
para ir examinar o conteúdo da lixeira.
Projeto Romances 94
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Ela olhou para a maleta de mão quase vazia, mesmo depois de viver
quase um ano em Milão. Quando partira de Londres, tinha em mente mandar vir
mais coisas quando estivesse morando com Marco, mas ele não permitira, e lhe
comprara coisas novas.
Ela sacudiu a cabeça em sinal negativo para o atendente que estava
checando as passagens.
—Isso é tudo que levo — ela disse, e acrescentou silenciosa-mente
para si mesma: e um coração cheio de tristeza.
Projeto Romances 95
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Projeto Romances 98
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Antônia havia mudado de idéia no último instante. Não sabia por que
havia feito aquilo, mas instintivamente, lembrou-se de que deveria evitar que
Stefan esvaziasse o seu ateliê, já que não iria mais embora. Assim, pediu ao
motorista que mudasse de direção e se dirigisse para o estúdio. Entretanto, ao
chegar, percebeu que não estava mais com as chaves para entrar no prédio.
Felizmente, um dos inquilinos estava saindo naquele momento.
Ele a reconheceu e, com um sorriso, cedeu passagem para que ela
entrasse.
—A senhorita tem visitas — ele disse.
Stefan!
Ela sorriu.
—Grazie — ela respondeu, deixando que ele fechasse a porta atrás
dela.
Sua maleta não era pesada, mas ela arfava quando chegou no último
andar. A porta estava semi-aberta. Abrindo-a totalmente, ela parou para pôr a
maleta no chão, justamente no momento em que Marco dizia com um leve tom de
censura.
—O que ela acha que eu ia fazer. Rir dos trabalhos dela?
Ela ficou parada, a boca seca e os olhos arregalados. Marco estava
lá, juntamente com Stefan. Parecia que o destino continuava a determinar a sua
própria sorte.
—Bem — ela conseguiu sussurrar. — São vocês?
Ele se voltou para olhá-la. Fez-se silêncio. A tensão estava
estampada no rosto de todos. A claridade do sol fazia brilhar os cabelos escuros
e sedosos de Marco. Ele estava usando um terno cinzento combinando com
camisa um tom mais claro e gravata quase preta. Sua pele tinha um brilho
Projeto Romances 99
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Antônia ficou tensa, ainda não se sentia pronta para o que estava
para acontecer. Tentou distraí-lo.
—Marco, precisamos conversar.
Mas, já era tarde demais.
—Agora vamos ver o que temos aqui — ele murmurou
vagarosamente. Com um alçar de mão, pegou a pintura e a levou para um cavalete.
Ela se manteve imóvel. Tinha o rosto em fogo. Afastando-se, ele se
pôs a estudar a pintura do seu próprio corpo nu, pintado com todos os detalhes
que só podiam ser conhecidos por alguém que o conhecesse muito intimamente.
Quando ele começou a rir, ela sentiu vontade de sair correndo atrás
de Stefan. Mas, a forma como ele se observava no quadro a deixou
desconcertada.
—Está tudo errado — ela exclamou. —Está fora de proporção. O
seu nariz está parecendo o de César, e o seu torso está muito longo!
—Acho que está perfeito.
Ele até poderia estar gostando, ela pensou, cheia de raiva.
—Odeio quando as pessoas olham para o que estou pintando, antes
que esteja terminado!
—Você quer dizer que odeia que eu veja esta pintura? — O humor
de Marco mudou tão rapidamente que a pegou desprevenida. Subitamente
tomado de fúria, ele perguntou: —Por quê? Por que não podia me dizer que
pintava assim? Pensei que a conhecesse, mas estive vivendo com uma completa
desconhecida! Sua mãe está dependurada na minha parede, mas você não se
importa em me dizer! O seu ex-amante nunca foi o seu ex-amante! Na realidade,
aposto que você nunca teve amante algum antes de mim. Teve?
Ela enrubesceu e sacudiu a cabeça negativamente, o que o
enfureceu ainda mais.
—O seu pai é um rato, e você tem um talento artístico que procura
me esconder! — Marco esbravejou.
—Você possui um Rembrandt! — ela retrucou na defensiva.
—Eu também tenho um Kranst! — ele respondeu. — E muitos
trabalhos de artistas totalmente desconhecidos. E por que citou o Rembrandt!
Está querendo dizer que além de ter todas as outras falhas, ainda sou um esnobe
em termos de arte?
—A sua opinião me era muito valiosa! — ela exclamou. — Por isso
achei melhor não lhe mostrar!
Naquele instante, ele a agarrou e a beijou. Não sem tempo, ela
pensou, correspondendo ao beijo como uma mulher faminta.
Quanto ao nome Gabrielli, você não precisa dele, já que vai adotar o nome de
Bellini, quando se casar comigo. E se você não o quer como pai, ótimo. — Ele
encolheu os ombros. — Porque meu pai se sentirá muito bem em acompanhá-la.
Além disso, apesar da opinião que você possa ter sobre os meus pais, posso lhe
dizer que são bons. O único e grande problema é que eles me amam
demasiadamente. Mas, com o tempo, pretendo fazer com que esse amor se divida
pelos novos membros da família.
—Sua mãe me odeia...
—Minha mãe — Marco a interrompeu — estava tão arrependida
quando a vi esta tarde, a ponto de querer vir comigo para se desculpar.
Felizmente — ele acrescentou, — consegui dissuadi-la. Caso contrário, ela teria
presenciado o que aconteceu. Isso diz alguma coisa? — ele perguntou baixinho.
Antônia sentiu os olhos se encherem de lágrimas de
arrependimento, e sua boca começou a tremer.
Lutando contra o desejo de beijá-la, Marco pôs o anel no bolso.
Antônia ficou olhando e ele ficou muito feliz em perceber a
expressão de desapontamento em seus olhos. Ela podia invocar todas as razões
do mundo para justificar não querer o anel, mas estava mentindo. Desejava-o
com a mesma intensidade com que o queria.
Entretanto, agora teria de esperar. Exceto se primeiro...
Ele pegou uma folha de papel marrom e um rolo de fita adesiva. Ela
estava diante da janela vendo a paisagem que se descortinava e que lhe dera
motivo para escolher aquele lugar. Ignorando-a ele pegou a pintura em que
aparecia nu, e, com a eficiência de quem sabia manusear uma tela ainda sem
moldura, embrulhou-a para ser transportada.
Voltando a cabeça, ela nem mesmo tentou protestar, dizendo
apenas:
—Ainda não está terminado.
—Você terá todo o tempo do mundo para terminá-lo quando
voltarmos ao apartamento — ele replicou. — Vamos transformar um dos quartos
de hóspede em estúdio — ele disse, enquanto terminava de passar a fita adesiva
no embrulho.
—Marco...
—Há alguma coisa que você queira levar consigo agora? — ele a
interrompeu, olhando para ela.
Apesar dos raios de sol estarem esmaecidos naquele entardecer, a
forma como incidia sobre a pele e os cabelos de Antônia, fazia-o se lembrar do
auto-retrato que ela fizera. Entretanto, a expressão dos olhos poderia ser a da
própria mãe. Era triste perceber que ela não acreditava que houvesse esperança
para eles.
—Você voltou, cara — ele a lembrou. — Mas para uma nova ordem
de coisas. E isso não pode ser evitado só porque você tem medo das mudanças
que vão acontecer.
—Poderia ser evitado, se você permitisse — ela respondeu.
Ele sacudiu a cabeça.
—Eu não quero mais voltar à forma devida que tínhamos antes!
Marco exclamou determinado.
Era óbvio que ela estava ciente da escolha a que ele estava se
referindo. Devia deixá-lo novamente ou encarar um futuro com todas as
implicações.
Mas ela havia voltado, ele pensou aliviado, e essa era a única coisa
que o impedia de prometer qualquer coisa em troca da presença dela.
Era uma sensação estranha, aquele medo de perdê-la.
—Está pronta? — ele perguntou.
Ela baixou os olhos, virou-se e se abraçou, deslizando as mãos
braços acima em uma tentativa de se preservar. Coragem? Medo?
Amor que ele sabia que ela sentia por ele? A necessidade de
acreditar que ele sentia a mesma coisa por ela?
Já era tempo de ela começar a acreditar no amor, ele pensou,
melancolicamente. Já era tempo de começar a confiar nele.
—Sim, estou pronta — ela respondeu baixinho.
Ele sentiu um alívio, mas esforçou-se para não demonstrar a
emoção.
—Então, vamos embora. — Ainda segurando o embrulho da pintura,
ele foi pegar o pouco de bagagem que ela possuía. Quando Antônia se aproximou,
Marco lhe passou a bolsa tiracolo pelo ombro. Depois, silenciosamente,
encaminhou-se para a porta.
CAPÍTULO 11
de recepção. Antônia seguia ao seu lado, e os pais logo atrás. Um mordomo abriu
a porta de par em par, para revelar uma imensa sala iluminada por um candelabro
suntuoso de cristal. Marco deteve-se para que Antônia pudesse se acostumar
com a grandeza do lugar e com as pessoas que os estavam esperando.
O ruído da conversação deu lugar ao silêncio. Antônia sentiu o
impacto do momento. Marco manteve-se quieto, apenas esperando que ela
percebesse o que ele havia preparado para ambos naquela noite.
Finalmente, ela os viu, dispostos em par, no seu atrevimento e
despudor. Os lábios vermelhos descerram-se em um arfar só perceptível por ele.
A surpresa a fez apertar-lhe mais a mão. Depois, ela simplesmente ficou ali, sem
quase respirar. Ele chegou a pensar se havia cometido um grande erro.
Aquilo não podia estar acontecendo, Antônia se dizia. Estava
vivendo um pesadelo. Em um minuto, todas aquelas pessoas começariam a rir,
dizendo-lhe para ir embora e nunca mais se aproximar novamente. Era assim que
os sonhos como aquele terminavam. Era a única forma de entender o que estava
se passando.
Mas aquele não era um sonho. Sabia porque sentia Marco ao seu
lado, vibrando de expectativa. Tentou engolir, mas não conseguiu. Tentou se virar
para olhar para ele, mas não pôde desviar os olhos.
Dependurados na parede da casa dos pais de Marco, para que todos
vissem, estavam dois nus pintados em óleo e enquadrados em molduras
semelhantes. Um era dela própria, esguia e sedutora. O outro era de Marco,
irreverente e arrogante em sua nudez, como ela sempre o conhecera.
Ela sentiu o coração disparar ao ver os dois representados tão
impudicamente. E, repentinamente, o vestido começou a fazer sentido, bem como
todos aqueles diamantes. Marco estava tentando dizer aos pais, amigos e demais
que amava aquela mulher que era capaz de se exibir publicamente daquela forma.
Se você não pode vencê-los, alie-se a eles, era o que ele estava
tentando lhe dizer. Mostre-lhes essas duas pinturas e os deixe pensar o que
quiserem!
— Se você pode, eu também posso — Marco murmurou ao lado dela.
Sua voz era suave, cheia de humor e desafio.
Ela conseguiu forças para fitá-lo, com urna expressão de quem
queria entender o porquê de tudo aquilo, mas, de repente, sentiu vontade de rir.
Ele percebeu e a olhou com uma expressão de cumplicidade. Aquela era a maneira
de ele procurar desfazer as diferenças que havia entre eles. Uma demonstração
de que ele descia os degraus da sua posição, ao mesmo tempo em que ela subia
ao seu encontro.
A mão que ele colocou em sua cintura a fez sentir uma excitação
cada vez maior à medida que ele a deslizava pelo corpo feminino, em uma
demonstração clara de posse.
—Ainda há mais — ele a advertiu, baixinho.
Antônia sentia as pernas bambas. Sua pulsação estava disparada, e
ela se encontrava presa de um espanto mesclado com uma deliciosa sensação de
liberdade. Passaram por entre rostos sorridentes, faces acusadoras, e faces
familiares como as de Franco e Nicola. Naquele enlevo, Antônia viu Stefan
sorrindo com uma expressão de cumplicidade, enquanto que uma mulher ao seu
lado a olhava com curiosidade. Era alta e de pele escura, tão bonita que fez com
que Antônia se detivesse por instantes para lhe dirigir um sorriso caloroso.
—Tanya — ela sussurrou o nome da mulher.
—Mais tarde — Marco lhe disse, impulsionando-a para frente.
Do outro lado do salão, finalmente pararam. Exatamente entre as
imagens deles dois. A luzes brilhavam, os diamantes cintilavam, e as pessoas
observavam quando eles se voltaram.
Prendendo a atenção de todos, ele a olhou fundo nos olhos, fazendo
com que a expectativa aflorasse corno uma energia coletiva.
—Agora — ele anunciou com a voz rouca — chegou a hora...
—Outra surpresa? — ela sussurrou, consciente de que ele estava
deliberadamente retardando o momento.
Olhou para baixo e teve de piscar várias vezes para focalizar o anel
que ele estava lentamente deslizando em seu dedo. De ouro e platina, era um
entremear intrincado de metais que formavam a base para um diamante.
Instintivamente, ela percebeu que não se tratava de um diamante qualquer, que
aquele cintilar amarelado só podia ser o de uma pedra rara.
—Que acha?
Profunda e perturbadoramente rouca, a voz de Marco provocou-lhe
ondas de excitação.
—É lindo — ela murmurou.
—Com o risco de parecer prosaico, posso dizer que me lembra o
brilho dos seus olhos — ele murmurou enlevado. — Mas, tudo tem um preço... —
acrescentou.
—Já imagino — ela disse baixinho, em uma tentativa de brincar. Mas
não conseguiu, já que estava imaginando o que ele poderia estar preparando para
ela.
—Humm — ele murmurou. — Ao receber este anel, mi amore, você
estará prometendo-me que confiará em meu amor pelo resto da minha vida.
Fim