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A Igreja e a Missão de Ensinar

Introdução

Igreja é a comunidade dos santos, os congregados, o conjunto de cristãos que


representam um corpo, do qual Cristo é a cabeça. A palavra grega “ekklesia” usada no
Novo Testamento, em sua maior parte faz menção a palavra hebraica “qahal” do
Antigo Testamento utilizada em Dt 5:22: “Estas palavras falou o Senhor a toda a vossa
congregação no monte”.
Barker1 diz que “da mesma maneira o qahal ou ekklesia do Novo Testamento
foi convocada por Deus [...] Ela também foi criada como uma comunidade de aliança.”
James Barr2 afirma que “o principal ministério da igreja consiste em servir ao seu
Senhor (At 13,2), adorá-lo com sacerdote por meio do Espírito que habita dentro de
cada um (Fp 3:3) e fazer sua vontade na terra, realizando sua obra por meio do poder
do seu Espírito (Jo 14: 12, 16,17).”
Partindo do principio que Cristo é tanto o inaugurador quanto Senhor da igreja,
a missão de ensinar é designada pelo próprio quando diz: “fazei discípulos...
ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (Mt 28:20).
Assim, a abordagem da qual apresentaremos o tema é a seguinte: “Servir
nosso Senhor, fazer sua vontade na terra, adorá-lo e realizar sua obra”. Temos uma
missão vertical e horizontal - servir a Deus e ao próximo, sendo que a necessidade do
ensino-aprendizagem é intrínseca da humanidade, pois enquanto vivemos ensinamos
e aprendemos. Para atualidade é necessário que os capacitados por Deus ao ofício de
ensinar sejam notórios e persuasivos na mensagem a qual lhe foi confiada.
Apresentaremos primeiro a missão de ensinar em Cristo e em seguida suas implicações
na vida prática da igreja.

I. Cristo é a Missão
1
Dicionário Bíblico Wycliffe, CPAD, 2009, p.950.
2
IDEM, p.952.
Ensinar é um oficio que não se encaixa nas alternativas imediatistas da
atualidade. Quem ensina deve ter consigo a convicção de que está envolvido em um
projeto de longo prazo e que precisará de tempo e paciência para executá-lo.
Parecem contraditórias estas afirmativas ao falarmos de Cristo que teve pouco
tempo (três anos) de ministério, mas se levarmos em consideração toda sua vida antes
(preparação) e também pensarmos que sua estadia entre os homens inaugurava uma
missão que deveria ser continuada por seus seguidores, faz todo sentido.
Jesus é o mestre dos mestres, o excelente. A realidade de sua missão baseada
no ensino é claramente demonstrada em muitas narrativas, a exemplo: “E lhe ensinava
muitas coisas por parábolas” (Mc 4: 2); “E ensinava nas suas sinagogas” (Lc 4: 15); “E
ele começou a ensiná-los” (Mt 5: 1-2); “... porque os ensinava com autoridade” (Mc
1:22); “Ensinando em Cafarnaum” (Jo 6: 59).
Jesus o que cura, opera milagres e prodígio é muitas vezes esquecido no
aspecto mais lembrado nos Evangelhos acerca do seu ministério. Podemos dizer que
tudo que Jesus fazia tinha o intuito de apresentar suas posições, seu ensino.
Nicodemos, homem fariseu e um dos principais dos judeus (Jo 3:1), ao ter com
Jesus afirma algo que nos na atualidade insistimos em dizer ao contrário, ele disse:

"Mestre, sabemos que ensinas da parte de Deus, pois ninguém pode realizar os sinais
miraculosos que estás fazendo, se Deus não estiver com ele". João 3:2.

Os sinais miraculosos que o professor (mestre – rabi) Jesus realizava dava


autenticidade ao seu ensino, demonstrava que Ele havia vindo da parte de Deus.
Atualmente temos ouvido algumas argumentações sobre o professor que difere do
que Nicodemos reconheceu em Cristo. Vamos examinar melhor esse assunto dentro
de dois pontos: sua autoridade e eficácia para ensinar.

1. Autoridade
“As multidões estavam maravilhadas com seu ensino, porque Ele ensinava
como quem tem autoridade”, assim o evangelista Mateus (7: 28-29) disse acerca de
Jesus. A autoridade3 é a sua consciência de Deus.

Eles (os escribas) consumiram muito do seu tempo em disputas inúteis. Jesus estava
acessível, sua mensagem é simples e útil, entregando a verdadeira palavras de Deus;
não gastou seu tempo em disputas insignificantes e debate de questões sem
importância, mas confirmou sua doutrina por meio de milagres e da pregação;
ensinando com todo poder, e não da maneira vã e tola dos mestres judeus. Ele
mostrou que tinha autoridade para explicar, para fazer cumprir, e mudar as leis
cerimoniais dos judeus. Ele veio com autoridade, tal como nenhum homem poderia
ter, e não é notável que seu ensino os surpreendesse 4.

Autoridade é o poder, domínio ou influência em algo. A capacidade de ensinar


de Cristo, mesmo que de forma simples, mas com domínio do que fala, não apenas
teoria ou discursos vazios, sem querer manipular ninguém ou apresentar banalidades,
manifestou a autoridade da presença de Deus entre os homens. Diferente de muitos
mestres que apresentou os rituais da lei ou até mesmo um falso moralismo, Cristo é o
professor que empenha pela proclamação de um ensino que produz entusiasmo para
uma vida honrosa, apresenta as verdades de Deus em atitudes e palavras.

2. Eficácia

A eficácia é o efeito produzido pelo ensino de Cristo. Enquanto Jesus viveu seu
ensino em grande parte está relacionado ao “reino”. Marcos 1: 15 diz que Jesus veio
“pregando o Evangelho do Reino de Deus” e Mateus 4: 23 apresenta: “Jesus foi por
toda a Galileia, ensinando nas sinagogas deles, pregando as boas novas do Reino...”
Entendendo que eficácia está relacionada a fazer as coisas certas, diferente de
eficiência que consiste em fazer certas coisas, o ensino de Cristo torna-se eficaz na

3
Do grego exousia, “poder” ; “autoridade”. Em um sentido quase pessoal, derivado do judaísmo
posterior, significa: de um poder espiritual, e, portanto, de um poder terreno (STRONG).
4
Notes on the Bible by Albert Barnes [1834]. Text Courtesy of Internet Sacred Texts Archive.
igreja que entende os princípios do Reino de Deus e obedece a sua vontade. É
exatamente disso que se trata Hebreus 4: 11-12:

Procuremos, pois, entrar naquele repouso, para que ninguém caia no mesmo exemplo de
desobediência. Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada
alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e
é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração.

II. A Missão da Igreja é a Missão de Deus

Missão é a tarefa recebida pela igreja, é a continuidade da missão de Cristo, é a


própria missão de Deus concedida a agentes (vocacionados) para executa-la no poder
do Espírito.
Vamos tomar como referência o texto de Mateus 28: 18 – 20 para pensarmos
nesta continuidade e na atualidade dessa missão:

Então, Jesus aproximou-se deles e disse: "Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra.
Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e
do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre
com vocês, até o fim dos tempos".

Os três princípios: ide (vão / indo), batizando e ensinado norteia a missão da


igreja. A tradução “ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei” é
claramente uma indicação de continuidade.
Devemos ressaltar que este ensino não é baseado em nossos conhecimentos
ou o que achamos certo ou errado, nem em nossas tradições, mas sim baseado nas
ordenanças de Cristo. O Reino de Deus foi proclamado e inaugurado na terra pela
presença e mensagem de Jesus, agora temos as instruções e a vida prática desse reino
na igreja, esses princípios que temos de ensinar.
Gary Crampton5 diz:
5
Disponível em:
http://www.monergismo.com/textos/bibliologia/ensinando_palavra_deus_crampton.pdf (Consulta dia
Somos informados na Bíblia que o proposito primário da igreja é ensinar ao povo de
Deus a palavra de Deus. Por exemplo, Paulo diz a Timóteo: “Escrevo – te ... para que
saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e
firmeza da verdade” (1 Tm 3: 14-15). [...] Em seu comentário, João Calvino escreve: “A
igreja é a coluna da verdade porque, através do seu ministério, a verdade é preservada
e difundida... o ofício de ministrar a doutrina que Deus pôs em suas mãos é o único
meio para a preservação da verdade, a qual não pode desaparecer da memória dos
homens”.

Professores, pregadores e demais agentes do ensino cristão devem ser mestres


fiéis a Palavra, vocacionados para ensinar todo conselho de Deus para edificação da
igreja e evangelização do mundo.

Implicações Na Vida Prática da Igreja

A fins conclusivo, é preciso pensar esta tarefa na igreja atual. Temos vivido tempos
de corrupção da mensagem e de cumprimento da Palavra, entre elas Mateus 24: 11 –
13 que afirma: “e numerosos falsos profetas surgirão e enganarão a muitos. Devido ao
aumento da maldade, o amor de muitos esfriará, mas aquele que perseverar até o fim
será salvo”, mas não podemos nos esquecer do verso 14 que diz “E este evangelho do
Reino será pregado em todo o mundo como testemunho a todas as nações, e então
virá o fim”, ou seja, independente do que está acontecendo, o Evangelho do Reino
deve continuar a ser pregando (ensinado).
O grande desafio para nós é assumirmos nossa função de professores de Bíblia.
Uma necessidade urgente para atualidade. Não podemos simplesmente assistir as
atrocidades que o texto bíblico vem sofrendo pelos pregadores da prosperidade que
requerem para si conceitos distantes dos ensinamentos de Cristo, entre tantas outras
heresias que ofendem a Deus e os princípios do Reino.
Cabe à igreja ensinar e não omitir, instruir com autoridade e eficácia a verdade
frente à mentira e o engano que o mundo tem produzido e tentado de todas as formas

13/06/2016), Tradução Felipe Sabino de Araújo Neto.


afetar a igreja principalmente com a sutileza apresentada nas frases: “Deus é o
mesmo”; “não fale nada pra não perder a amizade”; “Deixa pra lá, melhor continuar do
jeito que está do que criar uma situação com as pessoas”, entre outras ciladas que faz
a igreja se calar ou se omitir enquanto deveria estar ensinando o que Cristo ordenou.
Especialmente aos vocacionados ao ensino, dedique – se a cumprir essa tarefa
árdua, mas de grande valor. Sugiro: 1) Leia toda Bíblia, durante toda vida; 2) Aplique-se
na pesquisa bíblica; 3) Comprometa-se a obedecer antes de ensinar; 4) Promova o
ensino; 5) A mesma disposição em ensinar, tenha em orar pela recepção da Palavra.

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