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LIÇÃO 12 - O PAPEL DA PREGAÇÃO NO

CULTO (2 T m 4 .2)
Prof. Pr. Wesllen Silva
Objetivos específicos

I) Apresentar o Ministério da Palavra e seu propósito; II) Enfatizar a importância do


Ministério da Palavra; III) Explicitar a fundamentação do Ministério da Palavra.

Introdução

Nesta lição, veremos a importância da pregação bíblica, denominada também


como “Ministério da Palavra”. Nesse aspecto, para refletir a glória de Deus, a
pregação precisa manter o propósito para a qual foi estabelecida: revelar Deus e
educar a igreja. Por isso, podemos afirmar que o Ministério da Palavra é importante,
pois assim a igreja é edificada e moldada pelos valores do Reino. Uma igreja em
que a Palavra de Deus não tem a primazia, tanto na ação evangelística quanto na
discipuladora, é uma igreja fraca. Portanto, a natureza da pregação precisa ser
bíblica e cristocêntrica. Em outras palavras, deve possuir sólidos fundamentos.

1. MINISTÉRIO DA PALAVRA E SEU PROPÓSITO

1.1 A pregação como proclamação.

O verbo grego traduzido como "proclamar", kerysso, de acordo com os léxicos


de Bauer e Kittel, refere-se à "pregação do evangelho como a palavra autorizada
(obrigatória) de Deus, trazendo responsabilidade eterna a todos que a ouvem"1

A palavra grega, κηρύσσω, usado por Paulo em 2 Timóteo 4: 2 significa “agir


como arauto e fazer um anúncio oficial, proclamar em voz alta, fazer declarações
públicas”. O arauto da cidade que entrava em uma aldeia, chamava a atenção de
todos tocando uma buzina ou sinalizando para que todos se reunissem e, então,
imediatamente após o silêncio das pessoas, ele faria uma declaração pública em
nome do rei e com a autoridade do próprio rei.

Citando Bernard Manning, Robson Marinho conceitua pregação como “a


manifestação do Verbo encarnado, a partir do verbo escrito, por meio do verbo

1
GONÇALVES, José. O CORPO DE CRISTO: Origem, Natureza e Vocação da Igreja no mundo. Rio
de Janeiro. CPAD. 2024, p. 131.
falado. E acrescenta: “A pregação é, acima de tudo, o testemunho do Deus que fala,
do Filho que salva e do Espírito que ilumina”2

JI Packer escreveu certa vez: “A pregação aparece na Bíblia como uma


retransmissão do que Deus disse sobre Si mesmo e Seus feitos, e sobre os homens
em relação a Ele, além de uma pressão de Seus mandamentos, promessas,
advertências e garantias, com uma visão para ganhar o ouvinte ou ouvintes ... para
uma resposta positiva.”3

A pregação é a palavra de Deus sendo anunciada, pois nas sagradas


escrituras não há defeitos, ela é inerrante “a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais
cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir
alma e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propósitos
do coração” (Hb 4.12).

Pregar o evangelho é ter relacionamento constante com Jesus.

Pregar não é produto de algumas poucas horas de estudo por semana; é o


fluxo de uma vida inteira de relacionamento com Cristo. É no quanto secreto
com Ele é que recebemos a verdade em nosso espírito e mente. Ali o
Espírito Santo ilumina a palavra. Compreensão adequada da relevância
bíblica para as necessidades contemporâneas deve estar no âmago de toda
mensagem. Só então os princípios podem ser aplicados no viver diário.4

Hernandes Dias Lopes disse que “O pregador não sobe ao púlpito para
entreter ou agradar a seus ouvintes, mas para anunciar-lhes todo desígnio de Deus.
Sem pregação fiel não há santidade. Sem santidade não há salvação. Sem
santidade ninguém verá a Deus”.5

1. 2 O caso emblemático de Lídia (At 16.14).

Enquanto Lídia ouvia a pregação feita por Paulo, o Senhor abriu-lhe o


coração. A pregação foi o instrumento que Deus usou para se revelar àquela mulher
e o resultado disso foi a sua conversão. "E uma certa mulher, chamada Lídia,
vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a Deus, nos ouvia, e o
2
Robson M. MARINHO. A arte de pregar: a comunicação na homilética, p. 125.
3
JI Packer, Preaching a Biblical Interpretation in Inerrancy and Common Sense, ed. Roger Nicole e J.
Ramsey Michaels, (Grand Rapids: Baker, 1980), 189.
4
CARLSON, R. et al. Pastor Pentecostal: Teologia e Práticas Pastorais. 3. ed. Rio de Janeiro: CPAD,
2005, p. 595.
5
LOPES, Hernandes Dias. De pastor a pastor: Princípios para ser um pastor segundo o Coração de
Deus. São Paulo: Hagnos, 2008, p.177.
Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia" (At
16.14).
A pregação do evangelho, portanto, é o instrumento que o Espírito usa para
gerar o novo nascimento.

i. Jesus Cristo valeu-se da pregação para proclamar libertação aos cativos (Lc
4.18);
ii. Jesus andava nas sinagogas "pregando o evangelho" (Mt 4.23);
iii. Jesus enviou os apóstolos "a pregar o Reino de Deus e a curar os enfermos"
(Lc 9.2).
iv. Filipe foi à cidade de Samaria, “pregava a Cristo" (At 8.5);
v. Paulo, após sua conversão, "pregava a Jesus” (At 19.20);

A história da Igreja cristã tem sido moldada pela pregação desde o tempo
dos apóstolos. A pregação bíblica exercia um papel central nas reuniões
regulares da Igreja Primitiva (Atos 2:42). Os apóstolos eram liberados das
responsabilidades de uma igreja crescente para se concentrarem em oração
e pregação (Atos 6:3-4). Pedro modelou a pregação bíblica usando as
Escrituras do Antigo Testamento para revelar a centralidade de Jesus Cristo
no plano de Deus para redimir seu povo (Atos 2:14-36). Como missionário,
Paulo usou a pregação como seu meio de espalhar o evangelho por todo o
mundo conhecido. A proclamação de Paulo era doutrinai e apologética,
argumentava em prol da ressurreição e apelava aos fiéis para que levassem
vidas ressurretas (Colossenses 3:1-3). Paulo transmitiu o legado da
pregação para os seus discípulos, exortando-os a pregar a Palavra e
encarregar outras pessoas fiéis da mesma tarefa (2Timóteo 2:2; 4:2)6

Devemos nos conscientizar de que a pregação da Palavra de Deus é mais do


que uma simples exposição de ideias, mais do que um discurso inflamado; ela é o
canal pelo qual Deus se revela ao coração endurecido. “A pregação é aquele
processo único pelo qual Deus, mediante seu mensageiro escolhido, se introduz na
família humana e coloca pessoas perante si, face a face. Sem esta confrontação não
é pregação verdadeira” (Charles W. Koller).

1. 3 A pregação como instrução

6
FORREST, Benjamin K; KING, Kevin, L; CURTIS, Bül; MILLIONI, Dwayne. História da Pregação: a
vida, teologia e método dos maiores pregadores da história. São Paulo: Thomas Nelson, 2020.
As pessoas que foram alcançadas pela proclamação da Palavra precisam
crescer e amadurecer no Evangelho, ou seja, necessitam ser discipuladas,
instruídas. “Antes de discipular outras pessoas, precisamos nos tornar discípulos.
Precisamos nos certificar de que seguimos Jesus. 7 Ser discípulo é ser um seguidor,
é ser um aprendiz, é aprender, é seguir a instrução de alguém, o maior é exemplo é
Jesus, Ele não apenas ensinou Ele formou discípulos
É significativo o fato de que o ministério de Jesus tenha o ensino como um
dos fundamentos:
i. “E percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas suas sinagogas” (Mt
4.23).
ii. No sermão do Monte, Jesus também “ensinava” seus discípulos (Mt
5.2).
iii. Assim também o apóstolo Paulo gastou grande parte de seu tempo
ensinando os crentes (At 18.11).
iv. Paulo chegou mesmo a exigir de alguém que tivesse pretensão
ministerial que fosse “apto para ensinar” (1Tm 3.2). Tudo isso mostra a
importância do ministério do ensino e a responsabilidade de quem o
exerce.

O papel do discipulador é compartilhar a vida de Jesus, reproduzindo os


ensinamentos do Mestre Jesus a outras pessoas. “Um relacionamento entre mestre
e aluno está baseado no modelo de Cristo e seus discípulos, no qual o mestre
reproduz tão bem no aluno a plenitude da vida que tem em Cristo que o aluno é
capaz de treinar outros para que ensinem outros”8

Por isso, a Igreja deve ter a pregação e o ensino das escrituras. A pregação
reforça o ensino e o ensino reforça a pregação.

Não é nenhum segredo que a Igreja de Cristo não tem boa saúde em muitos
lugares do mundo. Ela tem definhado porque foi alimentada, como diz a
linha atual, “junk food”; todos os tipos de conservantes artificiais e todos os
tipos de substitutos não naturais foram servidos a ela. Como resultado, a
desnutrição teológica e bíblica afligiu a própria geração que deu passos
gigantescos para garantir que sua saúde física não fosse prejudicada pelo
uso de alimentos ou produtos cancerígenos ou de alguma forma prejudiciais
ao corpo físico. Simultaneamente, uma fome espiritual mundial resultante da
7
Dever, Mark Discipulado: como ajudar outras pessoas a seguir Jesus / Mark Dever; tradução de
Rogério Portella. 1º Ed. - São Paulo: Vida Nova, 2016, p. 18
8
Keith Phillips, A formação de um Discipulado. Editora Vida, 2008, p. 20.
ausência de qualquer publicação genuína da Palavra de Deus (Amós 8:11)
continua a correr solta e quase inabalável na maioria das partes da Igreja.9

2. O MINISTÉRIO DA PALAVRA E SUA IMPORTÂNCIA

2.1 A edificação da igreja

A Palavra tem a importante função de edificar a igreja. Essa edificação vem


pelo confronto que o Espírito Santo traz pelo ministério da Palavra, que exorta e
consola. Às vezes isso pode vir em um tom de elogio (1 Co 11.2) ou em uma forte
repreensão (1 Co 11.17). O termo grego paraklésis, traduzido como “ exortar” e “
consolar”, significa um “ chamado para “ ajudar” e “encorajar”.

2.2 Formação de valores

A pregação é importante instrumento para formação de uma consciência


cristã. A guerra cultural travada nos últimos anos contra a fé cristã mostrou a
necessidade de a igreja firmar cada vez mais os seus valores.

Como seguidores de Jesus, devemos nos envolver nas guerras culturais.

i. Devemos lutar contra o aborto.


ii. Devemos nos opor ao racismo.
iii. Devemos enfrentar a injustiça
iv. Devemos nos opor ao ativismo LGBTQ+

A igreja precisa mostrar, de forma bem didática, sua forma de pensar, crer e
agir, ou seja, é preciso definir sua cosmovisão10, isto é, sua visão de mundo. O
cristão, hoje mais do que nunca, há de estar preparado para vencer a guerra
cultural.

2.3 Resistindo diante de uma cultura sem Deus.

Jesus censurou seus discípulos, chamando-os de “geração perversa” porque


os viu agindo com incredulidade (Mt 17.17). A influência de uma cultura sem Deus
havia atingido negativamente os que andavam com Jesus.

9
Walter C. Kaiser, Jr., Toward An Exegetical Theology (Grand Rapids: Baker Book House, 1981), 7-8.
10
Cosmovisão, visão de mundo, mundividência ou, na forma original em alemão, Weltanschauung, é
um conjunto ordenado de valores, crenças, impressões, sentimentos e concepções de natureza
intuitiva, anteriores à reflexão, a respeito da época ou do mundo em que se vive.
Os primeiros cristãos foram perseguidos por causa da mensagem que
anunciavam e por aquilo que eram. Também seremos perseguidos. Eles
foram mal compreendidos pela sociedade em que viviam. Também seremos
mal compreendidos. Os outros grupos religiosos os rejeitaram, por causa da
posição dogmática de que Jesus Cristo é o Senhor ressurreto e está
ativamente envolvido nos assuntos da igreja. Nós também seremos
rejeitados.”11

3 O MINISTÉRIO DA PALAVRA E SUA FUNDAMENTAÇÃO

3.1 Deve ser cristocêntrico.

A Bíblia diz que “descendo Filipe à cidade de Samaria, lhes pregava a Cristo”
(At 8.5). A pregação precisa ser cristocêntrica. Cristo é 0 centro da Bíblia (Lc 24.27).

Em muitos púlpitos infelizmente já vemos mensagens antropocêntricos


(centralizando o homem). A mensagem deve ser 100% Cristocêntrica, isto é, que
envolva a centralidade de Cristo na exposição do evangelho, conforme Westminster
“a verdadeira pregação expositiva precisa anunciar e defender a doutrina de que o
fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre, e não o
contrário”12
Dito isto, há uma necessidade gritante e urgente de voltamos ao verdadeiro
evangelho puro.

3.2 Deve ser bíblico

Vivemos em um tempo em que a pregação em muitos espaços virou um modismo.


“O púlpito está sendo "psicologizado". A pregação está sendo utilizada para fins
unicamente terapêuticos, e não para propósitos espirituais. Estamos subjetivando a
Bíblia, adequando a mensagem a nosso bel-prazer”13,.
Já não se ver mais a exposição da palavra do Senhor. O que tem visto em
muitos púlpitos são entretenimento menos a exposição Bíblica.

A pregação virou entretenimento. A ideia que existe é: o pregador precisa


magnetizar os ouvintes com os seus dotes artísticos. A mensagem atual do
11
CARLSON, Raymond; TRASK, Thomas E. et al. O Pastor Pentecostal: Teologia e Práticas
Pastorais. 1ª Edição. Rio de Janeiro: CPAD, 2023, p.99.
12
WATSON, Thomas. A fé cristã: estudos bíblicos baseados no breve catecismo de Westminster. São
Paulo: Cultura Cristã, 2009.
13
THIAGO, Israel. Pregação em crise: A urgência de proclamar-se o genuíno evangelho. CPAD,
2019, p. 2.
evangelho está recreando, e não advertindo. O discurso tornou-se
farmacodinâmico. Na maioria das vezes, a pregação dos dias de hoje
apenas ameniza os problemas do homem, mas não gera cura, porque está
distraindo a dor em vez de tratar os pontos nevrálgicos da alma humana.14

Atualmente estamos vivendo um colapso na esfera da pregação afetando o


verdadeiro ensino das escrituras sagradas em alguns ambientes religiosos. Haja
vista isso, há uma distorção na essência da pregação, os homens estão se
perdendo em caminhos egocêntricos, cheios de si, sem compromisso com os
oráculos de Deus, em concordância LOPES diz: “o que estamos acompanhando é
um verdadeiro comércio das Escrituras, onde o evangelho se torna um produto, o
púlpito um balcão e os crentes consumidores”.15

CONCLUSÃO

Após a exposição desta lição, constatamos que a igreja precisa manter-se fiel ao
ministério da Palavra. Isso só pode ser feito por meio de uma pregação
genuinamente bíblica que reflita os valores do Reino de Deus. Para isso, não há
atalhos. Numa cultura cada vez mais hostil à fé cristã, a igreja necessita proclamar
as verdades do Reino por meio da poderosa pregação da Palavra de Deus.

14
THIAGO, 2019, p. 3
15
LOPES, Hernandes Dias. De pastor a pastor: Princípios para ser um pastor segundo o Coração de
Deus. São Paulo: Hagnos, 2008, p. 43

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