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CRESCIMENTO DA IGREJA
RESUMO
Como é possível descrever com palavras a importância da pregação? Todos os
atos do culto são importantes e foram ordenados por Deus, entretanto, o apóstolo Paulo
afirma que a profecia é o ato de maior importância no culto, pelo fato de que por este
meio, a igreja é edificada (1 Co 14.5). A sua importância é vista também por ser a
pregação o meio pelo qual a fé é comunicada ao coração do pecador (Rm 10.13-17).
As igrejas hoje precisam ser recuperadas, colocando mais uma vez a Palavra de
Deus no centro, e, isso acontece principalmente por meio da pregação. A volta da
pregação expositiva num período marcado pela superficialidade no púlpito e pelo
analfabetismo bíblico nos bancos da igreja é uma necessidade urgente. A pregação
expositiva é um modelo que busca o sentido da passagem bíblica, apresentando com
fidelidade a mensagem central da passagem. A mensagem expositiva é sem dúvida, a
explicação da passagem rumo a uma aplicação prática. A proposta deste trabalho é
afirmar que a pregação expositiva é um dos mais eficazes instrumentos para produzir o
crescimento sadio da igreja.
Palavras-Chave: Pregação Expositiva, Crescimento da Igreja, Homilética.
ABSTRACT
How is it possible to describe in words the importance of preaching? All acts of
worship are important and have been ordained by God, however, the apostle Paul says
that prophecy is the act of utmost importance in worship, by the fact that in this way, the
church is built (1 Cor 14.5). Its importance is also seen to be preaching the means by
which faith is communicated to the heart of the sinner (Rom 10.13-17).
Churches today need to be recovered by putting again the Word of God at the
center, and this happens mainly through preaching. I believe that the return of expository
preaching in a period marked by superficiality in the pulpit and the biblical illiteracy in
the pews is an urgent need. Expository preaching is a model that seeks the meaning of
Scripture, presenting faithfully the central message of the passage. Expository message is
undoubtedly the explanation of the passage towards a practical application. The purpose
of this work is to assert that expository preaching is one of the most effective tools to
produce the healthy growth of the church.
Keywords: Expository Preaching, Church Growth, Homiletics.
1 Graduação em Teologia. Pós-Graduando em Teologia e Ministério Pastoral pela Universidade Luterana do Brasil
(ULBRA), campus Canoas/RS. Professor Orientador: Me. Paulo Proske Weirich. Mestre em Teologia Prática,
Concórdia Theological Seminary, Fort Wayne, EUA (1982), Doutorando em Teologia Sistemática, Concordia Seminay,
St. Louis, USA. Professor de Teologia na ULBRA (1999). Professor de Teologia no Seminário Concórdia, São
Leopoldo (2001).
INTRODUÇÃO
Se muitos pregadores hoje se sentem frustrados no púlpito por não terem
autoridade, a teologia moderna não oferece mais do que sugestões santificadas e muitos
pregadores receiam que seus ouvintes tenham mais fé nos palpites da ciência do que na
palavra de Deus na pregação. A despeito disto, para os escritores do Novo Testamento, a
pregação é o evento pelo qual Deus opera. Paulo afirma que “a fé vem pela pregação e a
pregação pela palavra de Cristo” (Rm 10.17).
O pregador deve vencer a tentação de pregar outra coisa que não a Palavra de
Cristo, às vezes um sistema político (de esquerda ou de direita), uma filosofia ou mesmo
uma tendência da psicologia. Quando um pregador deixa de pregar a Palavra de Deus
perde sua autoridade. O Dr. Martyn Lloyd Jones2 afirma que “a pregação é a tarefa
primordial da igreja e do ministro” ressaltando este ponto pela “tendência, hoje, de
depreciar a pregação em prol de outras formas de atividades.”3
2 JONES, D.M. Lloyd. Pregação e Pregadores. 2ª ed. São José dos Campos: Editora Fiel, 2011. p. 26. (Foi um
teólogo calvinista pastor da Capela de Westminster em Londres, um dos líderes da ala reformada do movimento
evangélico inglês, conhecido como um dos maiores pregadores expositivos do século XX [1889-1981]).
3 Ibidem. 26
4 RUNIA, Klass. (1926-2006). Clérigo da Igreja Reformada Holandesa e professor de Teologia na Universidade de
Kampen.
5 RUNIA, Klas. The Sermon Under Attack. British Library Cataloguing: The Paternoster Press, 1983. p. 9.
Um crescimento em quantidade, qualidade e profundidade da igreja com certeza
corrige os sérios problemas que a igreja evangélica brasileira enfrenta atualmente:
A pregação é sem dúvida uma interação viva em que estão envolvidos Deus, o
pregador e a congregação. John MacArthur7 destaca a importância do ministério da
pregação afirmando que:
6 LIEFELD, Walter. Exposição do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2008. p. 29.
7 MACARTHUR. John Jr (1939-). Pastor e teólogo calvinista dos EUA, presidente do The Master's Seminary.
8 MACARTHUR. John Jr. Ministério Pastoral. São Paulo: CPAD, 2004. p. 279.
9 Ibidem
“o ensino saudável é a melhor proteção contra as heresias que assolam à direita e a
esquerda entre nós.”10
As pessoas não recordam aquilo que você pregou; por isso, a maior parte da
pregação é perda de tempo. Procurarei fazer melhor no próximo ano, ele
escreveu. Isto significa desperdiçar menos tempo ouvindo sermões demorados
e gastando mais tempo preparando sermões curtos. As pessoas, eu descobri,
perdoarão uma teologia pobre, se o culto matinal terminar antes do meio-dia.11
Isto resume com perfeição a atitude que predomina na igreja moderna. Existe uma
semelhança entre esse tipo de pregação e os comerciais de jeans, perfume e cerveja na
televisão. Assim como os comerciais, a pregação moderna tem o objetivo de criar uma
disposição íntima, evocar uma resposta emocional e entreter, mas não o de comunicar
10 Ibidem
11 Joel Nederhood “Pulpit Freedom” – Westminster Seminary in Califórnia, vol. 5 2001 ,pg. 32
necessariamente algo da essência das Escrituras. Esse tipo de pregação é uma completa
acomodação a uma sociedade educada pela televisão. Segue o que é agradável, porém
revela pouca preocupação com a verdade. Não é o tipo de pregação ordenada nas
Escrituras. Temos de pregar a Palavra (2 Tm 4.2); falar o que convém à sã doutrina. (Tt
2.1); ensinar e recomendar o ensino segundo a piedade. (1 Tm 6.3). É impossível fazer
estas coisas se nosso alvo é entreter as pessoas.
13 Os chamados cinco pontos resumem os pontos mais salientes da doutrina reformada ou calvinista, a saber: 1)
Depravação total (ou radical) da natureza humana) cf. Gn 2:17; 6:5; 8:21; 1 Rs 8:46; Sl 51:5; 58:3; Ec 7:20; Is 64:6; Jr
4:22; 9:5-6; 13:23; 17:9; Jo 3:3,19,36; 5:42; 8:43-44; 14:4; Rm 3:10-11; 5:12; 7:18,23; 8:7; 1 Co 2:14; 2 Co 4:4; Ef 2:3;
4:18; 2 Tm 2:25-26; 3:2-4; Tt 1:15., 2) Eleição incondicional e soberana, cf. Dt 4:37; 7:7-8; Pv 16:4; Mt 11:25; 20:15-
16; 22:14; Mc 4:11-12; Jo 6:37,65; 12:39-40; 15:16; At 5:31; 13:48; 22:14-15; Rm 2:4; 8:29-30; 9:11-12, 22-23; 11:5,8-
10; Ef 1:4-5; 2:9-10; 1 Ts 1:4; 5:9; 2 Ts 2:11-12; 3:2; 2 Tm 2:10,19; Tt 1:1; 1 Pe 2:8; 2 Pe 2:12; 1 Jo 4:19; Jd 1:3-4; Ap
13:8; 17:17; 20:11-21:8.3) Expiação particular (ou limitada) cf. 1 Sm 3:14; Is 53:11-12; Mt 1:21; 20:28; 26:28; Jo 10:14-
15; 11:50-53; 15:13; 17:6,9-10; At 20:28; Rm 5:15; Ef 5:25; Tt 3:5; Hb 9:28; Ap 5:9., 4) Graça irresistível cf. Jr 24:7;
31:3; Ez 11:19-20; 36:26-27; Mt 16:17; Jo 1:12-13; 5:21; 6:37,44-45; At 16:14; 18:27; Rm 8:30; 1 Co 4:7; 2 Co 5:17;
Gl 1:15; Ef 1:19-20; Cl 2:13; 2 Tm 1:9; Hb 9:15; 1 Pe 2:9; 5:10., 5) Perseverança dos Santos. Cf. Is 54:10; Jr 32:40;
Mt 18:14; Jo 6:39-40,51; 10:27-30; Rm 5:8-10; 8:28-39; 11:29; Gl 2:20; Ef 4:30; Fp 1:6; Cl 2:14; 2 Ts 3:3; 2 Tm 2:13,19;
Hb 7:25; 10:14; 1 Pe 1:5; 1 Jo 5:18; Ap 17:14.
teologia. A teologia reformada e especialmente os teólogos puritanos tem o
entendimento que o sermão evangelístico não é uma classe particular de sermão.
Defende antes que toda a Escritura dá testemunho de Cristo e que todo o sermão
obrigatoriamente tem que apontar para Cristo sendo assim obviamente
evangelístico. Desta forma, o sermão deve ser textual e expositivo, prático e
aplicativo, analítico e completo. Diz James I. Packer “A visão puritana era que
pregar sermões evangelísticos significava ensinar toda a doutrina cristã – o
caráter de Deus, a Trindade, o plano da salvação, a obra da graça em sua
totalidade.”14
Foi sobre o alicerce da Escritura que a Reforma foi estabelecida. Um dos pilares
da Reforma é o “sola Scriptura”. A Reforma Protestante foi uma volta à Palavra de Deus.
Os reformadores entendiam que a Escritura é a Palavra de Deus. A Reforma envolveu
uma redescoberta da Pregação.
14 PACKER, James. Entre os Gigantes de Deus: uma visão puritana da vida cristã - 1ª Ed. São José dos Campos:
Editora Fiel, 1996. p. 184.
15 BARBOSA, Paulo André. Teologia Sistemática. v. IV, 1ª Ed. Porto Alegre: IBE. 2006. p. 128.
Hernandes Dias Lopes comenta que Calvino “explicava a Escritura palavra por
palavra, ele a aplicava sentença por sentença à vida e experiência de sua congregação”.16
Como pastor titular em Genebra, Calvino pregava duas vezes no domingo e todos os dias
da semana em semanas alternadas de 1549 até sua morte em 1564. Pregou mais de dois
mil sermões só no Antigo Testamento, passou um ano fazendo a exposição de do livro de
Jó e mais de três anos expondo Isaías. Foi calculado que Calvino teria pregado
pessoalmente numa média de 290 sermões por ano.17 O reformador afirma que a Palavra
pregada é o cetro pelo qual Cristo estabelece seu domínio sobre a mente e o coração do
seu povo. O púlpito é o trono de Deus, do qual ele governa nossas almas.
16 LOPES, Hernandes Dias. Pregação Expositiva. São Paulo: Editora Hagnos, 2008. p. 48.
17 Calvino pregou sobre todos os livros da Bíblia exceto Ester, parte de Ezequiel, Judas e Apocalipse.
2.3- O que é Sermão Expositivo
Contudo, qualquer que seja o sermão tópico, textual ou lectio continua18, ela pode
ter caráter expositivo, pois o sermão expositivo tem o propósito de explicar o texto da
Escritura segundo o seu significado histórico, contextual e interpretativo, transmitindo
aos ouvintes contemporâneos a clara mensagem da Palavra de Deus com aplicação
pertinente. É possível classificar a pregação expositiva como pregação expositiva textual,
pregação expositiva tópica e pregação expositiva lectio continua.
Exposição19 é trazer à luz o que existe. O sermão expositivo é o tipo mais eficaz
de sermão, porque, com o tempo produz uma congregação arraigada na Bíblia,20 este tipo
de sermão é basicamente interpretativo. O sermão expositivo é aquele em que uma porção
mais ou menos extensa da Escritura (perícope) é interpretada em relação a um tema ou
assunto. A maior parte do material deste tipo de sermão provém diretamente da passagem,
e o esboço consiste em uma série de ideias progressivas que giram em torno de um
capítulo inteiro ou mais de um capítulo.
18 Refere-se à prática da leitura das Escrituras em sequência ao longo de um período de tempo. Cada leitura (que
pode ter lugar a cada dia ou a cada domingo) etc. começa onde terminou a sessão anterior.
19 A palavra exposição vem do termo latino “expositio” que significa “divulgar, publicar” ou “tornar acessível”.
20 Esta foi a experiência do autor na Assembleia de Deus Vila Iolanda Guaíba/RS onde pastoreou por 6 anos; neste
tempo pregou expositivamente e versículo por versículo sobre o Livro de Jó, Provérbios, Eclesiastes, todo o epistolário
do NT, o livro de Apocalipse, o Sermão do Monte e o Evangelho de João.
“A pregação expositiva autêntica requer a apresentação da Palavra de Deus
como o objetivo central. O propósito do pregador é ler, interpretar, explicar e
aplicar o texto. Portanto, o texto conduz o sermão do começo ao fim. (...).
Exposição verdadeira toma tempo, preparação, dedicação e disciplina. O
fundamento da pregação expositiva é a confiança de que o Espírito Santo irá
aplicar a Palavra aos corações dos ouvintes. (...) Esse ministério – tão vital para
o povo de Deus – está faltando ou foi minimizado em muitas congregações
evangélicas. O debate atual sobre a pregação pode abalar as congregações, as
denominações e o movimento evangélico; mas saiba disto: a recuperação e a
renovação da igreja nesta geração virão apenas quando, de púlpito a púlpito, o
arauto pregar como se nunca fosse pregar novamente, e como um homem
morrendo pregando a outros homens morrendo também.21
A pregação expositiva não é mero comentário falado sobre determinada passagem
do texto bíblico, antes, é a pregação que tem como foco aquela verdade salientada em
uma passagem específica da Escritura. O pregador abre a Escritura e a expõe ao povo de
Deus. Quando o sermão não é expositivo, tende a ser constituído apenas dos tópicos que
interessam o pregador.
Pregar é ler a Palavra, interpretar e dar o sentido para que o povo entenda o
que está escrito. A Palavra é a fonte, a Palavra é a matéria, e o conhecimento
da Palavra é a finalidade. Isto traz grande proveito para o povo, como lemos
em Neemias 8.12: Então todo o povo saiu para comer, beber, repartir com os
que nada tinham preparado e para celebrar com grande alegria, pois agora
compreendiam as palavras que lhes foram explicadas. A pregação bíblica muda
a vida dos ouvintes.22
O Senhor Jesus usou o sermão expositivo, pois, tomava um trecho da Escritura e
interpretava o seu significado para seus ouvintes (Lc 4.16-21). Os apóstolos usaram este
tipo de sermão, como Pedro no dia de Pentecostes (At 2), Estevão (At 7,8) e Paulo utilizou
este método com maestria.
21 MOHLER, Albert Mohler. Deus não está em silêncio: pregando em um mundo pós-moderno. São José dos
Campos: Editora Fiel, 2011. p. 142.
22
Extraído do site: wwwibcambui.org.br – dia 07 de novembro, de 2015.
conveniente onde pendurar um saco esfarrapado de pensamentos diversos, mas antes um
mestre que determina e controla tudo o que é dito. Em resumo, a natureza essencial da
exposição consiste em deixar claro o significado de uma evento ou mensagem, onde
alguma coisa que está obscura, ou difícil de ser entendida é explicada de maneira
satisfatória. O propósito da pregação expositiva é inferido da palavra em Lucas 24.27,23
fazer com que o ouvinte compreenda com o coração e sinta como Deus quer que ele sinta.
Não é um mero comentário de textos bíblicos e, sim, uma análise pormenorizada e lógica
do texto sagrado. O pregador não deve impor sobre os textos bíblicos sentidos que estes
não contém, antes sua tarefa é extrair dos textos o que Deus imbutiu nele.
D. M. Lloyd Jones sugere que por trás da pregação expositiva praticada por
Calvino, Knox e os puritanos, está a compreensão que, “enquanto as religiões geralmente
enfatizam o papel humano na adoração a Deus, o cristianismo enfatiza a necessidade de
ouvir Deus falando na pregação”.24 A pregação expositiva é de grande valor para o
desenvolvimento - do poder espiritual e da cultura teológica do pregador e de sua
congregação. A pregação expositiva inclina-se mais à interpretação histórico-gramatical
das Escrituras do que à alegórica.
23 “E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras”
(Lucas 24.27).
24 JONES, op. cit., p. 385.
inspiração, autoridade, necessidade e suficiência, e sobre a natureza do ofício do pregador
como porta-voz de Deus? A autoridade da Bíblia e o ofício do pregador demandam
pregação expositiva.
25 ANGLADA, Paulo. Introdução à Pregação Reformada. 1ª Ed. Ananindeua: Knox Publicações, 2005. p. 147.
recebidas por aqueles que mais precisam delas. A pregação expositiva sequencial
preserva o pregador de todos esses riscos.
O pregador deve ser dedicado ao estudo da Palavra de Deus. Quem não busca
aprender não terá nada para ensinar. A vida de estudo do pregador deve ser disciplinada.
Nenhum pregador pode pregar com eficácia sem mergulhar fundo no estudo das
Escrituras. D. M. Lloyd Jones diz que:
Quando Davi degola o gigante, ele diz que o mundo inteiro saberá que “existe um
Deus em Israel.” Isso acontecerá, diz Davi para que todos saibam que “o SENHOR salva,
não com espada, nem com lança; porque do SENHOR é a guerra, e ele vos entregará
nas nossas mãos” (1 Sm 17.47). A lição do episódio depende do entendimento que Davi
tinha e do que nós temos das verdades doutrinárias a respeito da pessoa e obras de Deus.
Infelizmente no contexto pentecostal e neopentecostal mensagens do tipo, Davi derrubou
Golias, você pode derrubar o seu gigante são frequentes, o que com certeza, não faz
justiça ao texto bíblico.
A Bíblia é mais que uma narrativa relatando a história humana. Existe uma
história maior por trás da história. A Bíblia não é sobre mim, ou meus problemas,
tampouco um manual de autoajuda, mas, a Bíblia é a história de Deus e sua linha de
27Jesus entendia todo o Antigo Testamento como que falando de modo real sobre ele (Lc 24.44-45).
28Os autores apostólicos são extremamente cuidadosos para que seus leitores não abstraiam qualquer parte de seus
escritos da pessoa e obra de Cristo.
história é o evangelho, isto é, o plano de Deus de redimir um povo para si e restaurar sua
criação caída por meio de Cristo.
Talvez não exista um exemplo mais forte sobre a centralidade da obra de Cristo
na Escritura que Lucas 24.25-27. De modo mais simples, todo o texto bíblico é predicado
sobre a obra de Cristo, preparado para obra de Cristo, refletivo da obra de Cristo, e/ou
resultado da obra de Cristo. Contudo, não somos chamados a importar alguma conexão
artificial com Jesus quando lemos ou ensinamos um trecho das Escrituras. O oposto é
verdadeiro. Somos chamados a entender e a fazer a exposição de modo específico em que
as perícopes apontam para Cristo, e Jesus pressupõe com suas palavras que, na verdade,
toda passagem aponta para ele. Para que nossa leitura seja centrada no evangelho, como
deve ser sempre o pregador deverá olhar e focar em Jesus. É tão possível fazê-lo quando
tratamos o Novo Testamento quanto quando lidamos com o Antigo Testamento.
A Bíblia não apenas reconta a história; ela também a interpreta. A Escritura vem
até nós em forma de declarações, promessas, provérbios, convocações e outras formas,
entretanto, inspirada por Deus em todas as suas partes. Se a Escrituras for lida como
narrativa contínua a linha de sua história é queda, redenção, e restauração. Se for lida
como uma coletânea de perspectivas teológicas, os temas em relevo são Deus, o pecado,
Cristo e a fé. A mensagem de ambas as leituras não são contraditórias, mas
complementares, pois, ambas enxergam o triunfo do propósito redentivo eterno de Deus.
Paulo diz que o evangelho é “poder de Deus para a salvação” (Rm 1.16). A
Fórmula de Concórdia define o evangelho como: “a pregação da clemência de Deus por
causa de Cristo, pela qual os convertidos a Cristo foi perdoada e remetida a incredulidade
na qual, anteriormente, estavam atolados e que a lei de Deus perdoou.”30
Não é tão fácil distinguir Lei e Evangelho. Lutero diz: “se alguém fosse bem
versado nesta arte, quero dizer, que souber fazer esta distinção corretamente, merecerá
ser chamado de Doutor em Teologia.”31 A lei ordena a justiça que tem de ser cumprida.
O evangelho aponta para Cristo que cumpriu toda a justiça requerida pela lei que é
recebida por fé. Na lei, Deus exige; no Evangelho, Deus concede. A lei acusa e condena,
mostrando ao pecador sua verdadeira condição.
No evangelho, Deus anula a condenação dos que estão sob a lei, por havê-la
eliminado completamente na cruz, para a salvação do pecador. No entanto, a lei aponta
para o homem caído à luz do evangelho. É a partir dele que a lei torna-se pedagogo que
leva a Cristo. Em decorrência, a correta teologia depende da exata distinção entre lei e
evangelho, pois, o homem sempre corre o risco de misturar e confundir lei e evangelho,
invalidando assim a Palavra de Deus, não apontando para Cristo e fazendo do homem seu
próprio salvador (moralismo).
29 FÓRMULA DE CONCÓRDIA, Declaração Sólida. Livro de Concórdia. 6ª ed. Porto Alegre: Concórdia; São
Leopoldo: Sinodal; Editora da Ulbra: Canoas, 2006, p. 601.
30 FÓRMULA DE CONCÓRDIA, Declaração Sólida. Livro de Concórdia. 6ª ed. Porto Alegre: Concórdia; São
a) Bíblico
b) Cristocêntrico
32 LUTERO, Martinho Obras Selecionadas Das Boas Obras, Volume 2, 2ª Edição 2000 Porto Alegre: Editora
Concórdia e São Leopoldo: Editora Sinodal. págs. 127-128
33 ANGLADA, op. cit., p. 119.
34 Bíblia de Estudo de Genebra. 2ª Ed. Revista e Ampliada. São Paulo: Cultura Cristã ; Barueri: Sociedade Bíblica do
c) Teológico
Pelo fato de a Bíblia ser a palavra inspirada de Deus e acerca de Deus, a pregação
expositiva é necessariamente teológica. Na pregação reformada, portanto, o pregador
eficaz deve ser teólogo. Não necessariamente no sentido acadêmico, mas no sentido da
busca do conhecimento e a proclamação de Deus como ele se apresenta na Escritura.
d) Evangélico
Não por obras da lei, mas pela pregação da fé, é um lema da pregação reformada.
Isso não quer dizer, no entanto, que a lei não deva ser pregada. A lei não salva; ela revela
o pecado, avulta o pecado e condena o pecador (Rm 3.19-20; 5.20). A lei expressa a
santidade de Deus, e em si mesma é santa, justa e boa (Rm 7.12,16). O problema não é a
lei em si, mas no mau uso que o homem em sua natureza corrompida faz da lei. Assim, a
lei é o instrumento empregado pelo Espírito para revelar a pecaminosidade do coração
humano e convencê-lo da culpa, gerar arrependimento e conduzi-lo a Cristo (Gl 3.24).
João Calvino distingue três usos ou ofícios da lei: (1) Revelar a corrupção,
conduzindo pecadores a Cristo (o uso pedagógico - Gl 3.24); (2) Reprimir as
manifestações do pecado, nos ímpios “por temor ou vergonha” (o uso político ou civil -
1 Tm 1.8-11); (3) Ensinar ao cristão a vontade de Deus, regulando sua vida e motivando
sua obediência (O uso didático ou normativo - Sl 1.2; 19.7; 119.105; 1 Jo 5.3).36
35 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. 1ª Ed. Campinas: Editora Luz para o Caminho, 1990. p. 730.
36 CALVINO, João. As Institutas. 1ª Ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. v. 2. p. 6-12.
o entendimento reformado quando exorta todo ministro a fazer do arrependimento e da
fé, temas essenciais da pregação. “O arrependimento para vida é uma graça evangélica,
doutrina esta que deve ser pregada por todo ministro do evangelho, tanto quanto o da fé
em Cristo.”37
Todo pastor anseia ver sua igreja crescer. A igreja deve crescer, precisa crescer.
Se ela não cresce é porque está enferma. Muitas vezes fazemos a pergunta errada: o que
devo fazer para a minha igreja crescer. A pergunta certa seria: o que está impedindo a
minha igreja de crescer. Há dois extremos perigosos quanto ao crescimento da igreja:
37 CONFISSÃO DE WESTMINSTER : Capítulo XV - 1. In.: Bíblia de Estudo de Genebra – 2ª Ed. Revista e Ampliada.
São Paulo: Cultura Cristã ; Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009. p. 1793.
O Movimento de Crescimento da Igreja confunde-se com a história do missionário
Donald MacGravan e a Escola de Missões Mundiais do Seminário Fuller. MacGravan,
nasceu na Índia filho de missionários, era membro da Igreja dos Discípulos de Cristo.
Não é possível medir o crescimento da igreja apenas pelo aspecto numérico. Cristo
não se impressionava com as multidões que o seguiam com motivações erradas (Jo 6.60-
71). Evidentemente como ministros devemos buscar o crescimento numérico da igreja,
contudo, a metodologia utilizada para alcançar este fim precisa passar pelo filtro das
Escrituras. A base do crescimento da igreja primitiva era pregação e oração (At 6.4).
É claro que como pastores não podemos nos satisfazer com a esterilidade da igreja.
Entretanto, aplauso, popularidade não passam de vaidade. Toda igreja em verdadeiro
crescimento tem um púlpito acima da média. Observando o Novo Testamento,
especialmente Atos dos Apóstolos percebemos que não é possivel crescimento sem
pregação. A igreja cresce a medida que a Palavra cresce na congregação. A igreja cresce
quando a Palavra se multiplica, se espalha e prevalece.
38 "Da perspectiva puramente teológica, alguém se torna discípulo quando o poder do Espírito vem até esta pessoa
e faz uma nova criatura (2 Co 5.17). Isto é salvação. O Novo Nascimento. É o momento em que o nome de uma
pessoa é escrito no Livro da Vida do Cordeiro (sic) . . . mas embora isto seja válido teologicamente, estrategicamente
não ajuda muito" (Wagner, Estratégias, 57).
39 Ibidem
40 "Pragmatismo Consagrado" seria a concentração nos fins, como justificadores de quaisquer meios, na tarefa de
transmissão do evangelho, com a única restrição àqueles meios que explicitamente fossem "moralmente
questionáveis". Esta posição é abertamente defendida por Peter Wagner que afirma: "Deus quer que sejamos
pragmáticos" (Estratégias, 28-30). A falácia da proposição é evidente, pois meios podem até ser moralmente
aceitáveis, mas teologicamente questionáveis.
A mesma realidade vista em Atos dos Apóstolos pode ser confirmada em Genebra
no ministério de João Calvino. O reformador era acima de tudo um expositor das
Escrituras. Calvino entendia que o púlpito é o trono de onde Deus governa a sua igreja.
De Genebra, Calvino influenciou o mundo cristão de várias formas. A cidade tornou-se
um refúgio para protestantes perseguidos. Alunos vinham de todas as partes da Europa
para estudar e serem treinados para o ministério.
Muitas igrejas sacrificam seu compromisso com a Palavra de Deus para ganhar
mais membros. Outras adotam estratégias de marketing, mudando a mensagem para atrair
mais pessoas a seus templos. Pregam o que as pessoas querem ouvir, não o que elas
precisam ouvir. Tais igrejas pregam mensagens emocionais e sensacionalistas, fazendo
promessas às pessoas sobre o que Deus não promete nas Escrituras, anunciando em nome
de Deus o que ele não disse (Jr 23.25-32). Assim, quando vemos grandes multidões nessas
igrejas que adulteram o evangelho, não existe uma representação genuína de crescimento
de igreja.
CONCLUSÃO
Analisando o tema deste artigo cheguei a várias conclusões que apontam a importância e
o papel preponderante da pregação expositiva para a igreja de hoje. Em primeiro lugar,
há uma correlação entre o compromisso com a absoluta supremacia da Escritura, a
primazia da pregação e o crescimento da igreja, pois:
No passado este estilo de pregação foi o meio pelo qual a igreja manteve seu
equilíbrio no que diz respeito ao crescimento. Os grandes pregadores depois da era
apostólica como João Crisóstomo e Agostinho eram hábeis expositores da Bíblia. A
Reforma restaurou a centralidade da pregação sob a bandeira do sola scrptura.
Reformadores como Calvino, Knox, Bucer e Zwinglio eram pregadores expositivos, bem
como os puritanos. A maioria dos conhecidos pregadores modernos como D. M. Lloyd
Jones, John Stott, John MacArthur, John Piper, Donald Carson, R.C. Sproul, e no Brasil,
Hernandes Dias Lopes, Augustus Nicodemus, Antônio Elias, Nilson Faninni, João F.
Soren, Russel Shedd também são pregadores expositivos. Todos os citados como uma
nuvem de testemunhas passaram o bastão da pregação expositiva as gerações seguintes.
A pregação expositiva não é inovação, mas um retorno à herança bíblica e histórica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS