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Estágio Cecco– 2ºsemestre – 2019

Mariana Turra

Relatório Final

A minha experiência no projeto da Oficina vivências intergeracionais: um fazer


junto e misturado foi enriquecedora e nos apresentou muitos desafios por ser uma
experiência nova para todos. Esse projeto consiste em possibilitar encontros entre
crianças e idosos, em que ambos pudessem se reconhecer com potencialidades diversas
através de compartilhamentos de saberes e interações durante as atividades.

O meu percurso nesse projeto me fez perceber que era necessário investir na
produção de encontros e se possível, bons encontros. Assim, notei que o meu principal
papel era mediar modos de aproximações entre os idosos e as crianças para a criação de
relações entre eles. Isso significava o nosso grande desafio desde o momento do
planejamento da atividade até no momento da execução.

A oficina de vivências intergeracionais está ocorrendo no Centro de Convivência


e Cooperativa (Cecco) Parque Previdência e na Escola¸ apenas uma oficina ocorreu na
Casa de Cultura Butantã devido ao baile dos idosos. Nós planejamos atividade numa
semana anterior fazendo uma reunião depois da realização da oficina, por volta de uma
hora e meia para pensarmos juntos. O grupo era composto de duas profissionais do
Cecco, a Fabiane (assistente social) e a Cibele (terapeuta ocupacional), os residentes de
diversas áreas de conhecimento e nós quatro estagiárias de T.O. todos poderiam
colaborar e opinar para o planejamento. Notei que fui me sentindo mais à vontade para
expor minha opinião nos últimos encontros, acredito que seja por ser um grupo que
estava se constituindo e eu estava o conhecendo, entendendo a sua dinâmica e o meu
papel.

Assim, fui colaborando com maior intensidade com o decorrer do


desenvolvimento das oficinas. Notei que para mediar esses encontros era necessária
uma presença disponível para a escuta e acolhimento, principalmente, com idosos e
ainda reconhecer esse distanciamento entre as crianças e os idosos. Ao longo dos
encontros fui refletindo que esse estranhamento entre eles é uma construção social e não
algo já dado. A demasiada valorização dos jovens em detrimento dos idosos penso que
pode ser pelo fato dos idosos não serem mais produtivos e apresentarem dificuldades
funcionais.
Durante as atividades buscávamos diminuir a distância entre os idosos e as
crianças, como por exemplo, solicitava a criança ou o idoso fazer algo entre eles. Como
pedir para o idoso ler a história para a criança, ou ainda convidar a criança para fazer
massagem no idoso, pois constantemente tanto a criança, como o idoso solicitava ajuda
ou vinham conversar com nós coordenadores e não interagiam entre eles. Desse modo,
foi um trabalho de tecer essas relações com muita delicadeza.

Aos poucos eles foram se aproximando, fomos percebendo isso durante os


encontros. Notei que o Sr.T. e Sr.J. estavam falando mais com as crianças e brincando
com elas, assim como A. ficou com uma criança no colo, enquanto ela estava chorando.
Isso se evidenciou numa oficina que tivemos apenas com os idosos em que o objetivo era
escutar os idosos sobre a sua opinião, impressões e sugestões sobre os encontros.

Nessa oficina os idosos disseram que o encontro foi bom. Sr. J. acrescentou que
o menino R. o ajudou a fazer a boneca abayomi, achei esse relato interessante pareceu
que foi uma ação espontânea do R. e que inverte a relação unidirecional que somente o
idoso ajuda a criança. Importante reconhecer que a criança também pode auxiliar o
idoso. Outra expressão dessa interação entre idosos e crianças se sintetizou na fala do Sr.
Z.R. “eu recebi um abraço, foi um encontro de dois mundos”, fiquei emocionada com a
sua colocação esse Sr. é morador de uma ILPI, acredito que nessa condição de moradia
ainda é mais dificultoso se encontrar com uma criança.

Além disso, o idosos Sr. T. me disse “Isso aqui me lembra quando era criança, fui
um pestinha risos”, outros relatos como esse apareceram ao longo das oficinas
expressando lembranças e reflexões acerca do que é ser criança e ou idoso. Importante
para pensarmos nos papéis que temos em cada fase da vida e reviver momentos
passados ou imaginar momentos futuros.

Considero que eu e minhas colegas da prática no Cecco tivemos uma boa relação
de cooperação e companheirismo, acredito que conseguimos compartilhar tarefas para
nos organizar para as ações no Cecco e nas atividades da disciplina. Dentre as atividades
que realizamos conjuntamente, além da atuação na oficina, fizemos uma síntese com
nossas impressões para o relatório de atividades do Cecco, preparação e apresentação
dos seminários e a coordenação das atividades em uma oficina. Importante ressaltar que
as nossas conversas sobre as práticas no Cecco extrapolavam momentos da supervisão,
sentíamos a necessidade de compartilhar as experiências e refletir sobre elas
conjuntamente. Devido a isso penso que precisávamos de mais momentos de
supervisão.
Conforme ocorriam as práticas no Cecco fui compreendendo a importância deste
equipamento para entender a concepção de saúde ampliada. Este serviço público
municipal tem atividades gratuitas com intuito de promover a inclusão social de grupos
historicamente excluídos, a produção de encontros, convivências e espaços de
socialização possibilita a produção de saúde e cuidado, assim como, a prevenção e
promoção da saúde. Apesar do Cecco enfrentar um momento de sucateamento deste
serviço, com diminuição de financiamento e por consequência redução do quadro de
funcionários e poucos recursos para efetivar suas ações, ainda permeia práticas de saúde
importante para a Rede de Atenção à Saúde.

No trabalho em equipe no cotidiano das oficinas enfrentávamos o desafio de


desenvolver um trabalho interdisciplinar. Conforme explicitado anteriormente a equipe
é composta de diversos profissionais de diferentes campos de conhecimento, além das
coordenadoras da área de assistência social e terapia ocupacional, dentre os residentes
tínhamos profissionais da área de biologia, psicologia, farmácia e nós estagiárias de
terapia ocupacional. Compreendo a importância da interdisciplinaridade para articular
conhecimentos para promover intervenções que abrange a complexidade das demandas
das pessoas que extrapolam a área da saúde, à vista disso:

A interdisciplinaridade é um pressuposto contemporâneo na


consolidação dessas práticas e exige estudos que integrem múltiplos
campos do conhecimento, o que demanda um trabalho por etapas
aproximativas e a construção de uma rede interligada de parceiros e
de conceitos mutuamente consistentes que permitem abordar os
problemas de forma a favorecer avanços e inventividade necessárias
(CASTRO et al., apud CARVALHO, 1992)

No exercício do trabalho em equipe era importante tanto as mediações nas


relações entre os participantes, como também, pensarmos anteriormente
posicionamentos das pessoas para facilitar as interações durante a atividade, já que os
idosos ficavam num “canto” e as crianças noutro. Além da importância de sugerir
atividades que fossem pertinentes aos idosos e as crianças buscando uma linguagem e
comunicação que contemplasse as duas populações. Notamos que estávamos
preenchendo as oficinas com muitas atividades era necessário um tempo maior entre
uma atividade e outra, para dar espaço para ocorrer essas interações de modo mais
espontâneo e leve.

Assim, acredito que o nosso grupo de estagiárias contribuiu com o grupo para
flexibilizarmos mais o planejamento das atividades segundo a emergência de interesses
e vontades dos participantes e possibilitar espaços para a cooperação e criação deles
próprios. Enfatizamos esse aspecto na oficina que coordenamos as ações, pois
modificamos a dinâmica da ciranda conforme a sugestão do Sr. T. e cantamos músicas
conforme o interesse de alguns participantes e incluímos brincadeiras que não estavam
prescritas no planejamento. Assim acredito que cumprimos o papel como futuros
terapeutas ocupacionais em fazer a interlocução entre os participantes da oficina e os
coordenadores dos espaços no Cecco.

Outro aspecto que notamos é que os idosos necessitavam de um momento de


acolhimento e uma escuta mais intensificada. Quando conversamos com dois idosos
para entender as suas circulações no território, fluíram outros assuntos que resgataram
a história de vida deles, assim, compreendemos o contexto desses idosos. Notamos
também que isso contribuiu para maior engajamento dos idosos nas oficinas, como Sr.
A. não se mantinha muito tempo nas atividades e com essa aproximação ele começou a
se envolver mais com as oficinas.

Foi interessante observar o diálogo entre os setores do Cecco, a escola EMEI


Antônio Bento e a Instituição de longa permanência do serviço municipal. A
intersetorialidade que pretende a articulação de saberes, sujeitos e instituições para
atender demandas complexas da população e possibilitar a integralidade da atenção é
um desafio para nós futuros profissionais de saúde. Conforme os autores, para à
construção da intersetorialidade é necessário analisar alguns aspectos que implicam
nesse processo " aos paradigmas do conhecimento, ao planejamento, aos processos de
descentralização, à integração de instituições e de práticas no âmbito da gestão e
prestação de serviço" (SCHUTZ F.; MIOTO R.C.T., p.64, 2010).

Ao refletir as oficinas intergeracionais e as práticas intersetoriais penso que


houve pouca articulação com os professores, apesar da boa articulação entre as
instituições. Numa oficina em que ocorreu uma breve atitude de integração dos
profissionais do Cecco com os saberes dos professores lembro que consistia em o
professor trazer o livro que achou interessante para a atividade e acabou esquecendo-o
no carro, assim como, muitas professoras ficavam passivas durante o desenvolvimento
da oficina. Assim, penso que poderíamos ter aberto espaço para uma escuta dos
professores e buscar uma construção conjunta com eles, realizando breves reuniões para
integrar mais as ações das oficinas com a escola, apesar de algumas iniciativas isoladas
de articulações.

Com a minha participação das aulas, seminários e por meio da leitura dos textos
a compreensão conceitual de rede e suas características são fundamentais para entender
as suas potencialidades e dificuldades nas práticas de atenção à saúde. Entendo que há
uma dificuldade estrutural a ser enfrentada pela Rede de Atenção à Saúde, a origem do
Sistema de Saúde foi a partir de um gama de serviços de variados, já existentes e
contratados pelo Inamps. Conforme Magalhães esses serviços " não seguiram nenhuma
lógica ou sistema de planejamento e organização, portanto, não teve por base qualquer
indício do conceito de rede articulada e integrada da atenção"(MAGALHÃES J., 2014,
p.52). Devido a essa estruturação o SUS enfrenta desde do início da sua
concepção problemas como a fragmentação, baixa cooperação e participação na gestão
dos serviços e das necessidades da população, assim, é necessário alargar o mecanismo
de participação e compreender a importância da construção e fortalecimento das redes
pelos profissionais de saúde e diversos atores sociais.

Por outro lado, conhecer e estudar o conceito Rede Vivas ampliou a visão sobre
o conceito rede e o entendimento do protagonismo do usuário na produção de saúde.
No decorrer da experiência cotidiana os usuários criam as suas redes configurando-se
com diferentes conexões e os profissionais podem reconhecer que “os usuários são Redes
Vivas de si próprio” e assim colaborar com o seu processo de construção de projetos de
existência e produção de cuidado. (MERHY et al., 2014)

Portanto de modo geral acredito que o meu percurso nas práticas


supervisionadas foi bom, principalmente, no trabalho de campo em que busquei
colaborar durante os processos de planejamento, preparação e ação das oficinas no
Cecco. Colaborei na preparação de seminários e leituras dos textos, apesar de ter tido
algumas faltas, por motivos de condições de saúde devido a conjuntivite e atividades do
centro acadêmico. No entanto, sinto que tive um bom aprendizado para minha futura
prática profissional.

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