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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA - CAMPUS PEDRA BRANCA

CURSO DE PSICOLOGIA

BEATRIZ SOMMER

BRIANA EVELYN MARTINS NUNES

BRUNO MEURER

FERNANDA ALVES

JULIA EYNG

RELATÓRIO FINAL DE INTERVENÇÃO REALIZADA COM UM GRUPO DE


ADOLESCENTES USUÁRIOS DO CAPS

PALHOÇA – SC

2022
1 INTRODUÇÃO

1.1 APRESENTAÇÃO DO PROJETO, CARACTERIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO E


LEVANTAMENTO DAS NECESSIDADES PSICOSSOCIAIS

O presente trabalho foi um projeto de intervenção planejado para um grupo


de adolescentes usuários de um centro de atenção psicossocial em saúde (CAPS),
apresentado para a unidade de aprendizagem “Planejamento, Avaliação e
Intervenção em Psicologia Social”, como requisito para o Estágio Básico.
Segundo a portaria 336/GM de 2002, os CAPS devem ser constituídos por
modalidades de acordo com o número populacional. Para a implementação do
CAPS I, o número de habitantes deve ser de pelo menos 15 mil, e a partir de 70 mil
já passa a ser o CAPS II. Os serviços devem ser oferecidos em modalidades, de
forma que o CAPS ad, oferece serviços de saúde mental para para usuários de
álcool e outras drogas e o CAPSI para crianças e adolescentes.
Desta maneira, foi possível compreender que o CAPS, sugerido por um
dos membros da equipe para a realização do trabalho, é uma unidade relativamente
pequena. Segundo o psicólogo entrevistado, o município tem aproximadamente 20
mil habitantes e a unidade é caracterizada por ser um CAPS I Microrregional, pois
oferece serviços de saúde mental para a população de 06 municípios diferentes.
O CAPS oferece serviços de psicoterapia individual e em grupos para
aproximadamente 250 pessoas, dentre eles adolescentes, jovens e adultos. Os
serviços são oferecidos com intuito de promover a reabilitação social e promoção da
saúde mental, por meio também de oficinas terapêuticas e grupos de convivência. A
equipe é composta por dois psicólogos, uma assistente social, uma enfermeira e
uma técnica de enfermagem. Por ser um CAPS de porta aberta, os profissionais
oferecem acolhimento diariamente a população em geral, sem agendamento prévio,
com a exceção de crianças, por não terem disponível um profissional especializado
em psicoterapia infantil e espaço laboral para atender esta demanda.
De acordo com o entrevistado, o nível de aderência está relacionado com a
capacidade de manter vínculos, relatando que o usuário que consegue manter um
vínculo mais forte com a equipe e com os outros membros, frequenta com mais
regularidade os grupos. Hoje o grupo de adolescentes, coordenado pela enfermeira
e técnica de enfermagem, é o que possui maior nível de aderência, de modo que os
adolescentes costumam manter certa frequência.
Diante das informações levantadas a partir da entrevista, sugeriu-se ao
psicólogo da unidade uma intervenção com o grupo de adolescentes. O profissional
levantou novamente a dificuldade da criação de vínculo, usando como justificativa
para a negativa da intervenção o contato breve dos estagiários com os usuários.
Devido o tempo limitado, a intervenção seria realizada em uma única visita, o que foi
reconhecido como um possível fator estressante para os adolescentes, que não
conhecem o grupo de estagiários e nem manteriam o contato nas intervenções
posteriores.
O grupo compreendeu os motivos expostos pelo psicólogo, que se colocou
à disposição para novas entrevistas. Devido ao tempo aguardado para a primeira
entrevista, os estagiários entenderam que, neste contexto, uma atividade alternativa
considerada como melhor opção foi a construção de uma intervenção para ser
realizada com o grupo de adolescentes usuários do serviço. Após a construção da
atividade, que teve como foco o reforço dos vínculos e autonomia, pontos elencados
como importantes na conversa com o psicólogo, o plano de intervenção foi
disponibilizado para esta unidade do CAPS, ficando da escolha dos profissionais a
realização do mesmo.

1.2 MARCO TEÓRICO

No contexto dos atendimentos em CAPS, onde ocorrem a construção de


grupos de mediação, os atendimentos em grupo são ferramentas importantes para
as demandas substitutivas em saúde mental que atentam à multiplicidade e à
sociabilidade dos usuários e profissionais (Ministério da Saúde, 2010). Neste
sentido, os grupos são uma possibilidade do surgimento de um sentido comum onde
há distintas perspectivas, de gestores, trabalhadores, familiares e usuários da
saúde. Busca-se nesse sentido, sair do olhar engessado da ótica médico/paciente,
visando um olhar mais linear entre os espaços ocupados por profissionais e
usuários do serviço buscando assim uma ruptura no distanciamento dessas
relações, propiciando uma qualidade de serem pessoas que compartilham de uma
experiência (ROCHA et al, 2017).
A característica do adolescente de procurar o convívio de seus pares torna
o atendimento grupal um ambiente privilegiado para que ele possa expressar seus
sentimentos e promover a troca de informações e experiências (MENEZES et al,
2020, apud Almeida et al., 2014). Sendo assim, a criação de grupos dentro do
CAPS torna-se uma ferramenta que busca acolher esse grupo que encontra-se em
algum nível de vulnerabilidade social. Sendo assim, as práticas de grupo são
atividades desenvolvidas coletivamente, como recurso terapêutico, para promoção
de socialização, uma vez que consistem em atividades mediadoras de relações que
possibilitam o compartilhamento de experiências, o sentimento de pertencimento, a
troca de afetos, a autoestima, a autonomia e, consequentemente, o exercício de
cidadania (MENEZES et al, 2020. apud Brasil, 2015).
Para Zimerman (2000), trabalhar com grupo de adolescentes constitui três
práticas. A primeira é de aliviar a ação ansiogênica existente nas fantasias
inconscientes, interpretando as situações relatadas. A segunda consiste em
promover a livre manifestação dos sentimentos e ações dos adolescentes. E a
terceira consiste na atividade grupal onde se proporciona a socialização entre os
membros, tornando-se espaços que permitem as trocas sociais de forma que se
possa auxiliar na reabilitação das pessoas. Trata-se, portanto, de um local de
reprodução do modelo social das instituições nas quais o indivíduo está inserido,
como a família, a igreja, as associações de bairros, a escola, entre outras. Neste
contexto é estabelecido as relações dos sujeitos entre si, com o propósito de
promover a aprendizagem e gerar a transformação social diante de uma
problemática (MENEZES et al, 2020).

2 . DESENVOLVIMENTO

2.1 PLANEJAMENTO DA ATIVIDADE GRUPAL

O método pensado foi a prática reflexiva e dialógica. O instrumento principal do


encontro foi uma atividade em grupo, que foi criada pelos estagiários, com foco na
criação de vínculos, estímulo da criatividade e da fala.
Para a atividade serão utilizadas imagens de objetos e elementos diversos - sol,
mar, nota de música, etê, bolo, cacto, pássaro, aquário, balanço, diário, mala,
cabana, universo, livro, espelho, chave de fenda, pincel, tesoura, celular e
mamadeira. Será orientado que cada adolescente e coordenadoras escolham
individualmente uma figura que faça sentido para si. Feito isso, será criada uma
história, onde cada participante precisa incluir sua figura no contexto, dando
continuidade na história criada até então pelos demais membros (sugere-se que as
coordenadoras iniciem a atividade para servir de exemplo e sejam ativas na
dinâmica, não ficando apenas como observadoras - criação de vínculo com as
profissionais). Concluída a história, será feito um compartilhamento do por quê cada
integrante escolheu aquela figura, contextualizando com sua vida.
Entende-se que o vínculo será bastante estimulado com a necessidade de
ouvir a história do colega para poder encaixar sua figura e contribuir com a
narrativa, bem como a participação ativa das coordenadoras, promovendo uma
posição de horizontalidade, e por fim trazer um sentido para as figuras e promover a
fala.

2.2 CRONOGRAMA DA ATIVIDADE

Momento do
Ações
encontro
Recepção dos adolescentes - caso
tenham novos integrantes será
necessário nova apresentação do grupo
Inicial
e coordenadoras, bem como relembrar
as regras do grupo (sigilo, respeito,
participação)
Explicação das atividades do encontro, a
Desenvolvimento
começar pela atividade das figuras;
da atividade
realização desta atividade.
Promover uma roda de conversa para
que cada membro exponha os motivos
da sua escolha por determinada figura e Reflexão
como aquele elemento/objeto está
relacionado com a sua vida.
Encerramento com Feedback; relembrar
dia e horário do próximo encontro; Fechamento
despedida.
2.3 RELATO DA INTERVENÇÃO

Conforme já mencionado, a intenção inicial era a intervenção diretamente dos


estagiários com o grupo de adolescentes, mas devido ao posicionamento do CAPS
foi necessário uma nova estratégia. O grupo de estagiários criou, então, um projeto
de intervenção, considerando a realização de um encontro. Ao invés de aplicar a
atividade, foi feito um segundo momento de conversa com profissionais do referido
CAPS, agora com a enfermeira e técnica de enfermagem, que são as responsáveis
por coordenar o grupo de adolescentes.
Participaram da conversa duas integrantes do grupo de estagiários e o
momento durou aproximadamente 1 (uma) hora, no modelo de entrevista não
estruturada, onde foram abordados pontos do cotidiano do CAPS e a apresentação
do projeto. As técnicas relataram que os adolescentes são um público agitado,
porém bastante receptivos às atividades. Apesar das profissionais planejarem
previamente a atividade de cada encontro, há a possibilidade de remanejar, pois foi
levantada a necessidade de “sentir” como o grupo está no dia, visto que por vezes
eles chegam muito falantes, no outro dia nem tanto, e assim segue.
As atividades podem ser planejadas por ambas as técnicas ou em conjunto
com os psicólogos que lá atuam. Para as ideias de atividades é bem flexível,
fazendo uso de indicações de profissionais, livros e outros, sempre buscando
trabalhar temas que se mostram importantes para o grupo. Por exemplo, a
enfermeira relatou que uma das adolescentes deixou uma carteira de cigarro cair da
mochila em um dos encontros. Naquele momento nada foi falado a respeito, mas
percebeu-se a necessidade de trabalhar determinado tema, como as drogas (lícitas
e ilícitas). A partir do ocorrido estão pensando em uma forma de levar o conteúdo
sem que pareça uma aula e, consequentemente, um motivador do enfraquecimento
de vínculo com esses adolescentes. Mas entende-se que não se pode ignorar a
necessidade desse tema.
As profissionais reforçaram bastante que os grupos são pensados e
conduzidos de forma a ser uma atividade bastante “leve”, para que seja de fato um
momento prazeroso para aqueles adolescentes. Foi mencionado também que hoje
eles trabalham com atividades diversas, como dramatização, pintura, atividades
externas (estas são muito bem aceitas pelos participantes, como por exemplo o
piquenique).
A partir dos relatos percebeu-se que o projeto de intervenção proposto está
alinhado com a realidade do CAPS. Além disso, foi reconhecida como uma atividade
“leve” e que dela podem emergir assuntos até então não conversados. Ou seja, no
segundo momento do encontro, quando do compartilhamento do motivo da escolha
de determinada figura e relacioná-la com sua vida, os adolescentes podem trazer
gostos, sonhos, autoimagem, traumas, experiências, que em momentos anteriores
talvez ainda não tenham sido expostos.
As profissionais gostaram da atividade sugerida e disseram que será
realizada com o grupo de adolescentes. Ficou combinado que após a execução elas
encaminharão um feedback para os estagiários. Se mostraram satisfeitas, pois
trouxeram em suas falas a dificuldade de criar e conseguir dinâmicas para tantos
encontros.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estágio é visto como um instrumento fundamental e articulador entre a


teoria repassada nas aulas e a prática profissional (SOUZA; AMORIM; SILVA,
2011). A disciplina que mescla teoria e prática consegue ser muito mais efetiva.
Exemplo que confirma isso é a pirâmide da aprendizagem do psiquiatra William
Gassler, que expõe o percentual de aprendizagem a partir da técnica adotada: 10%
de aprendizagem do que lemos, 20% do que ouvimos, 30% do que
observamos, 50% do que vemos e ouvimos, 70% quando conversamos com outros,
80% quando praticamos e 95% quando ensinamos aos outros (SILVA; MUZARDO,
2018).
O desenvolvimento do projeto foi desafiador no sentido de aceitação das
instituições, o que inclusive demandou uma atualização de estratégia, porém isso
também favoreceu a adaptabilidade às circunstâncias, no sentido de ter uma
estratégia quando algo não acontece como esperado.
Apesar de não haver o contato direto com os usuários do CAPS, a troca com
os profissionais, para os estudantes que puderam comparecer, foi uma experiência
bastante enriquecedora, pois foi um momento de bastante troca e conhecimento.
Planejar o encontro também foi desafiador, pois dinâmica é algo que demanda
criatividade, bem como conhecer o grupo para ver se está adequado ao perfil.
Apesar da falta de experiência profissional na área e de não conhecer os
adolescentes diretamente, a atividade elaborada pareceu ser bastante aplicável à
realidade do grupo. Com certeza finalizamos a disciplina felizes com a experiência e
ansiosos pelo feedback que as coordenadoras combinaram de passar após a
realização da atividade.

REFERÊNCIAS

MENEZES, Etiene Silveira de et al . Grupo de adolescentes em serviços de saúde


mental: uma ferramenta de reabilitação psicossocial. Vínculo, São Paulo , v. 17, n. 2,
p. 118-140, dez. 2020 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S1806-24902020000200007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 02
nov. 2022. http://dx.doi.org/10.32467/issn.19982-1492v17n2p118-140.

Ministério da Saúde. (2010). Relatório Final da IV Conferência Nacional de Saúde


Mental - Intersetorial. Brasília, DF: Autor. Recuperado de
http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/Relatorios/relatorio_final_IVcnsmi_cns.pdf
http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/Relatorios/relatorio_final_IVcnsmi_cns.pdf

Rocha, Rita Martins Godoy e Cardoso, Cármen Lúcia. A experiência fenomenológica e o


trabalho em grupo na saúde mental. Psicologia & Sociedade [online]. 2017, v. 29
[Acessado 2 Novembro 2022], e165053. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1807-
0310/2017v29165053>. Epub 07 Maio 2018. ISSN 1807-0310. https://doi.org/10.1590/1807-
0310/2017v29165053.

SILVA, Fábio Luiz da; MUZARDO, Fabiane Tais. Pirâmides e cones de aprendizagem: da
abstração à hierarquização de estratégias de aprendizagem. Dialogia, [S.L.], n. 29, p. 169-
179, 24 ago. 2018. University Nove de Julho. http://dx.doi.org/10.5585/dialogia.n29.7883.

SOUZA, V. L. P.; AMORIM, T. N. G. F.; SILVA, L. B. O estágio: ferramenta fundamental


para a inserção no mercado de trabalho? Race: Revista de administração, contabilidade
e economia, [s.l.], v. 10, n. 2, p. 269-294, 2011. Disponível em:
<https://editora.unoesc.edu.br/index.php/race/article/viewFile/1725/pdf>. Acesso em: 21 nov.
2022.

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