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Brasília-DF
Inep/MEC
2023
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)
É permitida a reprodução total ou parcial desta publicação, desde que citada a fonte.
INTRODUÇÃO..............................................................................................................................................................5
Aspectos gerais do PIRLS ....................................................................................................................................5
2.1 Introdução.................................................................................................................................................. 25
2.2.1 População-alvo............................................................................................................................... 26
Gradiente Socioeconômico...................................................................................................................... 50
4.1 Introdução.................................................................................................................................................. 53
4.2.1 Sexo................................................................................................................................................ 54
4.2.3 Raça/cor.......................................................................................................................................... 59
4.3 O clima escolar sentido pelos estudantes, o envolvimento escolar e a sua relação com o
desempenho em compreensão leitora................................................................................................... 60
CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................................................................... 70
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................................................................. 72
ANEXOS.................................................................................................................................................................... 77
1
Detalhes sobre os fundamentos teóricos dos testes do PIRLS 2021 são apresentados no Capítulo 1.
QUADRO 1
Fonte: Elaborado pela Daeb/Inep com base na Encyclopedia PIRLS (Reynolds et al., 2023).
Nota: Os países ou participantes de padrões de referência que aplicaram a avaliação em papel estão sinalizados com (p); aqueles que
aplicaram em meio digital estão sinalizados com (d).
2
Detalhes sobre o plano amostral do Brasil são apresentados no Capítulo 2.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) é uma autarquia federal
cuja missão institucional reside na produção de conhecimento científico e de informações oficiais para
o aprimoramento das políticas públicas educacionais, a fim de contribuir para o desenvolvimento social e
econômico do País. Para tanto, o Inep concebe e operacionaliza o Sistema de Avaliação da Educação Básica
(Saeb), os censos educacionais e diversas outras avaliações, exames e estudos relativos à educação básica
e à educação superior brasileiras. Com o intento de obter dados sobre a realidade nacional em comparação
com aquela presenciada em outros países, o Inep é também signatário de algumas avaliações internacionais,
entre as quais: o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes – Programme for International
Student Assessment), realizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico);
o TIMSS (Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências – Trends in International Mathematics
and Science Study); o ICCS (Estudo Internacional de Educação Cívica e Cidadania – Internacional Civics and
Citizenship Education Study da IEA); e o Erce (Estudo Regional Comparativo e Explicativo), ligado à Unesco
(Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
Assim como nos demais estudos e avaliações internacionais dos quais participa, competem ao Inep
responsabilidades específicas, tais como: representar o Brasil perante organismos internacionais (no caso do
PIRLS, a IEA); colaborar com a definição do plano amostral e da seleção de amostra; coordenar a tradução dos
instrumentos de avaliação, a aplicação desses instrumentos nas escolas amostradas, a coleta das respostas
dos participantes e a codificação dessas respostas; processar e consolidar os dados dos testes e questionários
por meio de softwares específicos fornecidos pelo consórcio internacional; e contribuir para a análise e
disseminação dos resultados da avaliação.
A adesão do Brasil ao PIRLS 2021 foi formalizada a partir da articulação entre a Secretaria de
Alfabetização (Sealf) do Ministério da Educação (MEC), e o Inep, em 2019, na expectativa de que a participação
O Relatório Nacional tem como principal objetivo apresentar os resultados do Brasil em sua primeira
participação no PIRLS, trazendo as especificidades do caso brasileiro para além dos dados comparativos
apresentados no Relatório Internacional. O Relatório Nacional se propõe a oferecer um diagnóstico do
desempenho em compreensão leitora dos estudantes brasileiros do 4º ano do ensino fundamental.
Parte-se do entendimento de que as pontuações dos estudantes nas provas cognitivas do PIRLS, por
si só, não são suficientes para fornecer um rico diagnóstico do sistema educacional e, portanto, devem ser
interpretadas conjuntamente com o amplo rol de informações de contexto trazidas pelos questionários
respondidos pelos estudantes, pais ou responsáveis, professores e diretores escolares. Desse modo, é possível
entender o que está por trás do desempenho cognitivo dos estudantes e, consequentemente, pensar em
intervenções políticas que busquem promover e garantir a educação inclusiva.
Nesse diagnóstico, são consideradas questões relevantes sobre a equidade educacional, uma das
principais preocupações do Brasil atual. Ademais, são apresentadas percepções sobre os pontos fortes e fracos
dos estudantes brasileiros à luz da escala pedagógica, com o objetivo de trazer interpretações que possam
ajudar os gestores educacionais a refletirem sobre políticas e práticas escolares, que promovam o alcance
de habilidades fundamentais para aprimorar o desenvolvimento leitor das crianças. O relatório traz também
associações entre o desempenho dos estudantes em compreensão leitora e suas características individuais,
familiares e escolares.
O Relatório Nacional está organizado em outros 4 capítulos, além desta Introdução: o Capítulo 1 tem
o objetivo de apresentar os fundamentos teóricos do PIRLS 2021; o Capítulo 2 apresenta uma descrição
detalhada das definições acerca do plano amostral brasileiro; o Capítulo 3 analisa os resultados gerais do
Brasil e sua comparação no contexto internacional, buscando apresentar resultados relacionados à equidade
educacional; e o Capítulo 4 traz associações entre os resultados do Brasil e as características sociodemográficas
dos estudantes, além de apresentar resultados sobre o envolvimento do estudante com a escola e suas
atitudes em relação à leitura.
3
A Política Nacional de Alfabetização (PNA) foi instituída pelo Decreto nº 9.765, de 11 de abril de 2019.
O PIRLS define como foco de avaliação o letramento em leitura, o qual se relaciona às razões de ler,
o que significa que a leitura pode representar a possibilidade da leitura pela fruição ou para aquisição de
conhecimento e informações.
O letramento em leitura refere-se, portanto, à construção de sentido pelos sujeitos, a partir de uma
variedade de tipos e formatos de textos, compreendendo também a capacidade de aplicar o que foi lido em
diferentes situações. As diferentes formas de leitura envolvem os suportes tradicionais como livros, revistas e
documentos, que normalmente são lidos de forma linear e nos quais o percurso de leitura já está, normalmente,
definido. Envolve também as formas digitais que pressupõem percursos de leitura não lineares, típicos dos
ambientes virtuais, em que o leitor estabelece seu próprio caminho.
No PIRLS entende-se o letramento em leitura como um processo construtivo e interativo, no qual o
sentido é elaborado pelo leitor de forma ativa na interação e no diálogo estabelecido com o texto, bem como
por meio de estratégias desenvolvidas para a leitura e pelas reflexões por ela suscitadas. Utiliza-se como
conceito de letramento em leitura:
[...] a habilidade de entender e utilizar as formas da linguagem escrita exigidas pela sociedade e/ou
valorizadas pelo indivíduo. Os leitores são capazes de construir sentido a partir de textos em uma variedade
de formas. Eles leem para aprender, para participar de comunidades de leitores na escola e na vida diária e
por prazer (Mullis; Martin, 2021, p. 14).
Adota-se, portanto, uma concepção em que a leitura atende a uma multiplicidade de objetivos. Lê-se,
por exemplo, para aprender, para a inserção dos sujeitos na comunidade e pelo prazer que é proporcionado.
Considerando esses aspectos, o PIRLS investiga a compreensão leitora a partir de dois propósitos
principais de leitura e quatro estratégias de compreensão leitora, tal como explicitado na Matriz de Referência
do PIRLS (Mullis; Martin, 2021), apresentada no Quadro 2:
Propósitos de Leitura
Experiência literária
Processos de Compreensão
Processo de
Caracterização
compreensão
A inferência direta demanda que o estudante alcance uma compreensão além do sentido dado,
relacionando informações que, sozinhas, podem estar explícitas no texto, mas não a relação entre
elas. O processo pode se dar tanto de forma localizada (em uma palavra ou frase) quanto global
(considerando-se todo o texto).
Interpretar e articular ideias e informações requer que o estudante busque realizar generalizações
de informações, as quais não são apresentadas explicitamente no texto, a fim de que alcance o
objetivo de compreender a intenção do autor. Esse processo requer uma compreensão do sentido
mais completo do texto e envolve relacionar experiências e conhecimentos próprios com o
significado do texto.
Interpretar e
articular ideias e Tarefas que ilustram este processo de compreensão:
informações • discernir a mensagem ou o tema principal de um texto;
• pensar em uma alternativa para as ações das personagens;
• comparar e contrastar informações do texto;
• inferir a atmosfera ou o clima de uma história;
• interpretar uma aplicação real de informações do texto; e
• comparar e contrastar informações apresentadas em um ou mais textos.
Processo de
Caracterização
compreensão
QUADRO 4
O Quadro 4 demonstra que os propósitos de leitura são considerados igualmente relevantes, uma vez
que representam aqueles usualmente direcionados aos estudantes dos anos iniciais, seja dentro ou fora da
escola. Quanto aos processos de compreensão, há um predomínio dos processos de fazer inferências diretas
e de articular e interpretar ideias e informações, por serem tidos como aqueles mais característicos da etapa
Além de medir tendências de desempenho em compreensão leitora dos estudantes a partir da aplicação
de testes cognitivos, o PIRLS também coleta dados sobre o contexto escolar e familiar dos estudantes. A coleta
objetiva levantar fatores que podem influenciar no desenvolvimento da compreensão leitora dos estudantes,
de modo a apresentar a caracterização dos contextos educacionais dos países participantes, tornando ainda
mais relevantes os resultados dos testes, ao apresentar fatores que podem estar associados ao desempenho
dos estudantes – o que pode subsidiar/instrumentalizar a atuação de gestores e profissionais da educação em
torno da melhoria da educação em leitura.
Para a realização da coleta de dados contextuais, o PIRLS utiliza quatro questionários:
iii Questionário da Escola: preenchido pelo diretor de cada escola participante. Objetiva a coleta de
dados sobre o contexto escolar (ambiente/recursos e tecnologias disponíveis na escola) e sobre os
dados demográficos dos estudantes.
iv Questionário do Estudante: preenchido por cada um dos estudantes avaliados. Objetiva a coleta
de informações sobre o estímulo à aprendizagem no ambiente doméstico; o ambiente (e o clima)
escolar; o ensino de leitura na escola; e os hábitos e atitudes em relação à leitura no ambiente
extraescolar.
Em relação ao Questionário do Estudante, cabe ressaltar que, para sanar eventual dificuldade de
leitura pelos estudantes, o aplicador do teste é quem realiza a leitura das questões para o preenchimento do
instrumento pelos estudantes.
A Matriz de Referência para Questionários de Contexto do PIRLS 2021 é organizada em torno de cinco
eixos considerados como influentes no desenvolvimento da leitura dos estudantes, conforme o Quadro 5:
Sumário contendo as especificações de dados coletados nos Questionários de Contexto do PIRLS 2021
é apresentado no Quadro 6:
QUADRO 6
Eixos Detalhamento
Recursos para aprendizagem em casa
Ambiente para a Pais que gostam de ler
aprendizagem
Língua falada em casa
Contextos Atividades de letramento na primeira infância
domésticos
Educação infantil
Ênfase em letramento
Tarefas de letramento ao começar o ensino fundamental
Eixos Detalhamento
Disciplina na escola
Disciplina e segurança na Segurança e organização da escola
escola
Contextos Bullying
Escolares
Ênfase em habilidades e estratégias de leitura nos primeiros anos
Ênfase da escola no ensino de escolares
leitura
Tempo dedicado ao ensino de língua e leitura
Dever de casa
Contextos de Avaliação em sala de aula
sala de aula
Acesso a computadores em sala de aula para o ensino de leitura
Tecnologia da informação na Uso de tecnologia
sala de aula
Ensino de leitura on-line
Gênero
Dados demográficos dos
estudantes Idade
Eixos Detalhamento
Línguas de ensino no País
Quanto aos dados sobre as políticas curriculares dos países, esses são encontrados em um documento
a que o PIRLS dá o nome de Encyclopedia. A Encyclopedia PIRLS, elaborada para cada ciclo de avaliação, agrega
e sistematiza informações sobre os sistemas educacionais, descrevendo o currículo e elementos relacionados
ao ensino de leitura de cada um dos países participantes. Essas informações também dão subsídio para a
atualização da Matriz de Leitura do PIRLS a cada nova edição da avaliação.
Como descrito na seção anterior, a avaliação de leitura para estudantes do 4º ano do ensino fundamental
é planejada para aferir a capacidade dos estudantes em construir significados a partir de uma variedade de
textos que se relacionam ao propósito literário ou informativo, engajando-se em uma gama de processos
de compreensão.
Esses propósitos de leitura orientaram a seleção dos textos que compuseram a avaliação e, dentro de
cada um desses propósitos, foram avaliados os diferentes processos de compreensão: localizar e recuperar
informações explícitas; fazer inferências diretas, interpretar e articular ideias e informações; e avaliar e analisar
criticamente o conteúdo e elementos textuais. Ressalta-se, ainda, que cada item do teste foi elaborado para
avaliar um desses quatro processos de compreensão.
Como forma de possibilitar uma perspectiva ampliada da compreensão leitora, a avaliação do PIRLS
2021 buscou abarcar uma variedade de textos para cada uma dessas finalidades (literária e informativa).
A avaliação foi constituída por 18 textos – sendo nove referentes ao propósito literário e nove referentes ao
propósito informativo. Cabe ressaltar, entretanto, que o teste de cada estudante foi composto por dois textos
apenas – um literário e outro informativo, seguindo um procedimento sistemático de rotação de testes que
possibilita a testagem de todo o conjunto de textos entre os estudantes, sem que cada um precise responder
a todos os textos.
O estudo utilizou o “desenho adaptável a grupos”, que consiste em estabelecer três níveis de dificuldade
de texto (difícil, moderado e fácil), os quais são combinados em dois níveis de dificuldade de teste. O objetivo
dessa metodologia é melhorar a correspondência entre a dificuldade da avaliação e as competências
demonstradas pelos estudantes de cada país, possibilitando a adoção de testes mais difíceis em países com
desempenho relativamente alto e de testes menos difíceis nos países com desempenho relativamente baixo.
QUADRO 7
Nível de
Propósito de leitura Código do texto* Nome do texto*
dificuldade
LitD1 (06) Luz Dourada (06)
Fácil LitF2 (11) O verão em que meu pai tinha 10 anos (11)
4
Textos âncora são aqueles utilizados em edição anterior e que, por isso, apoiam a aferição de tendência e permitem a comparabilidade
entre os dados obtidos entre edições.
QUADRO 8
Textos da Textos da
Testes por nível de dificuldade
Parte 1 do teste Parte 2 do teste
Teste 1 InfM1 (16) LitD1 (11)
Teste 2 LitD3 (21) InfD2 (16)
Teste 3 LitM1 (16) InfD1 (11)
Teste 4 InfM2 (21) LitD2 (16)
Testes mais difíceis Teste 5 LitD1 (11) InfD3 (21)
Teste 6 LitM2 (21) InfD2 (16)
Teste 7 InfM3 (11) LitD3 (21)
Teste 8 InfD1 (11) LitD2 (16)
Teste 9 LitM3 (11) InfD3 (21)
Teste 10 LitF1 (21) InfM1 (16)
Teste 11 InfF2 (11) LitM2 (21)
Teste 12 InfF1 (21) LitF3 (16)
Teste 13 LitF2 (11) InfM2 (21)
Testes mais fáceis Teste 14 InfF3 (16) LitM3 (11)
Teste 15 LitF1 (21) InfF2 (11)
Teste 16 LitF3 (16) InfM3 (11)
Teste 17 InfF1 (21) LitM1 (16)
Teste 18 LitF2 (11) InfF3 (16)
Fonte: Mullis e Martin (2021, p. 86).
Nota: * O número entre parênteses é o ano da avaliação em que o texto foi usado pela primeira vez.
Ressalta-se que todos os 18 textos compõem os testes de todos os países participantes do estudo,
garantindo-se a mesma avaliação a todos eles. Porém, conforme o documento de Fundamentos Teóricos
do PIRLS 2021 explicita, “a proporção de testes mais difíceis ou menos difíceis varia conforme o nível de
desempenho em leitura dos estudantes de cada país” (Mullis; Martin 2021, p. 80).
O nível de desempenho de cada país é estimado a partir de seus resultados no estudo em edições
anteriores ou no pré-teste da edição, no caso de primeira participação. Cabe destacar, entretanto, que pelo
fato de o Brasil não ter podido participar do pré-teste, em função da pandemia, estabeleceu-se a proporção de
testes 50% difíceis e 50% fáceis, conforme recomendação da IEA.
QUADRO 9
PLANO DE ATRIBUIÇÃO DOS TESTES PARA PAÍSES COM DESEMPENHO ALTO, MÉDIO E BAIXO
Mais alto
70% 30%
(acima de 550 na escala PIRLS)
Médio
50% 50%
(entre 450 e 550 na escala PIRLS)
Mais baixo
30% 70%
(inferior a 450 na escala PIRLS)
As Figuras 1 e 2, a seguir, apresentam exemplos de itens utilizados no PIRLS 2021 para a avaliação da
compreensão leitora dos estudantes. Os exemplos se referem a textos disponibilizados pela IEA para ilustrar os
propósitos de leitura (literária ou informativa), os processos de compreensão e tarefas demandadas na edição
de 2021 do estudo.
A aplicação do PIRLS, no Brasil, abrangeu uma amostra de escolas públicas e privadas de todo o
território nacional. Participaram da avaliação 4.941 estudantes do 4º ano do ensino fundamental de 187
escolas (públicas e privadas) de todas as regiões do Brasil, no período de 26 de novembro a 3 de dezembro de
2021.
Toda a organização da aplicação do estudo, no Brasil, foi realizada com apoio de empresa contratada
pelo Inep, seguindo trâmites adotados pelo Instituto na condução das avaliações nacionais e internacionais
que gerencia.
Conforme indicado em seção anterior, o PIRLS 2021 foi constituído por 18 testes, cada qual formado
por dois textos distintos – um literário e outro informativo. Cada estudante recebeu apenas um desses testes.
QUADRO 10
Atividade Tempo
O aplicador realiza a:
- organização da sala;
Preparação da sala 10 minutos
- distribuição nominal dos testes; e
- leitura das orientações para o primeiro bloco do teste.
O aplicador:
- conduz os estudantes para o bebedouro e para o banheiro;
Intervalo/preparação 15 minutos
- acomoda os estudantes nas carteiras; e
- realiza a leitura das orientações para o segundo bloco do teste.
O aplicador:
- conduz os estudantes para bebedouro e banheiro;
Intervalo/preparação - acomoda os estudantes nas carteiras; 20 minutos
- faz a distribuição nominal dos questionários; e
- realiza a leitura das orientações sobre o questionário.
Após a aplicação dos instrumentos, todo o material foi encaminhado, em condições de sigilo e
segurança, para a empresa aplicadora – responsável pelo processamento dos dados coletados e pela realização
da codificação dos itens de resposta construída (ou itens de produção escrita dos estudantes).
Após a checagem de consistência, esse conjunto de dados coletados foi encaminhado para a IEA, para a
realização de procedimentos de análise e preparação de resultados da avaliação de cada país.
Cabe, ainda, ressaltar que todas as etapas5 referentes à realização do PIRLS seguiram os parâmetros
e orientações fornecidos pela IEA, de modo a manter a padronização do estudo nos diferentes países
participantes.
5
Etapas da pré-aplicação: desenho da amostra; tradução de instrumentos; organização logística da aplicação; e treinamento de
profissionais de aplicação. Etapas da aplicação: aplicação dos instrumentos nas escolas; preenchimento de formulários e relatórios; e
monitoramento da qualidade da aplicação. Etapas pós-aplicação: retorno de materiais pedagógicos e administrativos em condições
de sigilo; processamento de dados; codificação de respostas escritas dos estudantes; e envio de dados para a IEA. Etapa de preparação
de resultados: análise de dados; e preparação de relatórios.
Diferentes tipos de itens são usados no PIRLS para avaliar a compreensão leitora sobre os textos. Esses
itens se subdividem entre itens fechados e itens abertos. O grupo de itens fechados é composto por itens
de múltipla escolha, resposta múltipla, preenchimento de lacunas, ordenação e associação de informações.
Na categoria de itens abertos, por sua vez, estão os itens de resposta construída, que se referem àqueles
respondidos pelos estudantes mediante produção escrita.
Com exceção dos itens de múltipla escolha, todos os demais tipos de itens demandam a atuação de
profissionais devidamente treinados e capacitados para codificar as respostas fornecidas pelos estudantes.
Considerando-se que as respostas fornecidas pelos estudantes aos itens abertos não são previamente
estruturadas ou pré-formatadas, a codificação para esse tipo de item representa maior complexidade. O
Quadro 11 apresenta a caracterização de cada um dos tipos de itens utilizados no PIRLS 2021.
QUADRO 11
Os itens abertos (também chamados de itens de resposta construída) representam uma parte
substancial da avaliação do PIRLS. Portanto, a confiabilidade e a validade da codificação desses itens são
consideradas fundamentais para a qualidade dos resultados do PIRLS. O atendimento a esses parâmetros
requer que os avaliadores sigam rigorosamente os critérios determinados, a fim de assegurar que o mais alto
nível de qualidade seja mantido no processo de codificação. Considera-se que, se a codificação/pontuação
atribuída não for confiável e consistente, a validade da avaliação também não o será.
Ressalta-se que a codificação dos itens de resposta construída do PIRLS foi realizada pelo consórcio
aplicador, sob supervisão do Inep, atendendo-se aos critérios específicos para a atribuição de determinada
pontuação por tipologia e conteúdo de resposta, conforme diretrizes definidas pela IEA.
Esses critérios se relacionaram à análise das evidências de compreensão de leitura demonstradas
pelos estudantes, não focando na qualidade da escrita como requisito para a pontuação, uma vez que o PIRLS
trata de avaliação da compreensão leitora, e não da capacidade de escrita do estudante. Considerando que
o teste é aplicado de modo cronometrado, a chamada “escrita de primeira tentativa” – com eventuais erros
ortográficos, uso de palavras não tão adequadas, ou mesmo a escrita de frases confusas – é compreendida
como já esperada, não penalizando a pontuação do estudante.
2.1 Introdução
O PIRLS é uma pesquisa amostral desenhada para fornecer medidas válidas e confiáveis da compreensão
leitora dos estudantes do 4º ano de escolarização básica. A precisão dos resultados da avaliação depende da
qualidade da informação populacional em que a amostra se baseia, bem como da definição dos procedimentos
de amostragem.
A IEA, em conjunto com o Statistics Canada, empresa do consórcio internacional responsável
pelo planejamento, delineamento e controle das amostras dos países participantes, estabelece critérios
padronizados e rígidos sobre a cobertura da população-alvo, taxas de resposta e procedimentos para a seleção
das amostras nacionais. O alcance desses importantes critérios técnicos é essencial para assegurar que os
estudantes avaliados representem populações-alvo comparáveis entre os países participantes.
No PIRLS 2021, o Brasil contou com a participação de 187 escolas, 248 turmas de 4º ano do ensino
fundamental e 4.941 estudantes avaliados, distribuídos em 24 unidades da Federação6 (UFs) e em 143
municípios. No que tange à amostra internacional, o PIRLS avaliou mais de 400.00 estudantes em mais de
13.000 escolas, em 57 países e 8 regiões especiais e de referência.
O objetivo deste capítulo é fornecer informações sobre o planejamento amostral brasileiro no PIRLS
2021 e apresentar as características da amostra de escolas, turmas e estudantes selecionados.
6
Embora tenham sido selecionadas escolas em todas as 27 unidades da Federação, as escolas amostradas no Acre (3), Piauí (3) e Roraima
(1) não participaram da avaliação por diversos motivos, dentre os quais o fato de estarem lecionando apenas remotamente devido à
pandemia de covid-19.
2.2.1 População-alvo
O desenho amostral tem início a partir da definição da população-alvo, entendida como o conjunto
de todos os elementos que a pesquisa pretende abranger. A Figura 3 apresenta a definição completa da
população-alvo do PIRLS 2021:
FIGURA 3
No PIRLS, cada país participante é responsável por fornecer ao consórcio internacional um sistema
ou cadastro de referência, instrumento pelo qual os elementos de uma população-alvo são identificados.
No Brasil, o sistema de referência é o Censo Escolar da Educação Básica, e as unidades de análise são as
QUADRO 12
O Quadro 12 apresenta a distribuição das escolas nos estratos explícitos e fornece informações sobre o
número de escolas participantes e não participantes.
7
As escolas de reposição foram selecionadas para compor a amostra apenas em contextos específicos, como nos casos de recusa das
escolas originais.
DISTRIBUIÇÃO DA AMOSTRA INICIAL DO BRASIL NO PIRLS 2021, SEGUNDO ESTRATOS EXPLÍCITOS E STATUS
DE PARTICIPAÇÃO
Escolas não
Escolas Participantes
Amostra total Escolas participantes
Estratos explícitos
de escolas inelegíveis 1ª 2ª
Originais Recusa Excluídas
reposição reposição
Escolas Federais (Brasil) 24 0 2 0 0 22 0
Norte e Pública Estadual 14 1 10 1 0 2 0
Norte e Pública Municipal 12 0 10 1 0 1 0
Norte e Privada 12 0 9 2 1 0 0
Nordeste e Pública Estadual 12 1 6 1 0 4 0
Nordeste e Pública Municipal 32 0 19 9 0 4 0
Nordeste e Privada 10 0 5 3 1 1 0
Sudeste e Pública Estadual 10 1 9 0 0 0 0
Sudeste e Pública Municipal 36 0 24 2 2 8 0
Sudeste e Privada 12 0 6 2 0 4 0
Sul e Pública Estadual 12 0 10 1 0 0 1
Sul e Pública Municipal 14 0 9 2 0 3 0
Sul e Privada 10 0 7 2 0 1 0
Centro-Oeste e Pública
12 0 12 0 0 0 0
Estadual
Centro-Oeste e Pública
12 0 10 0 0 2 0
Municipal
Centro-Oeste e Privada 10 0 8 0 1 1 0
Total 244 3 156 26 5 53 1
Fonte: Elaborada pela Daeb/Inep.
Do total de 244 escolas inicialmente amostradas para o PIRLS 2021, 187 participaram da avaliação,
somando-se as escolas originais e reposições. Três escolas amostradas se tornaram inelegíveis por não
ofertarem o 4º ano do ensino fundamental no momento da avaliação. Do total de 54 escolas não participantes,
47 se recusaram a participar ou não responderam às diversas tentativas de contato, e o principal motivo foi o
fato de estarem lecionando remotamente devido à pandemia de covid-19. A propósito, o impacto da pandemia
de covid-19 no funcionamento das escolas trouxe um grande desafio para a equipe técnica do PIRLS, que
precisava garantir a participação mínima necessária para ter a amostra de escolas participantes validada
pelo consórcio internacional. Ainda, do total de 54 escolas, seis tiveram, pelo menos, uma das turmas com
taxa de participação abaixo de 40% e foram, portanto, consideradas como não participantes pelo consórcio
internacional, conforme requerimentos internacionais.
A elevada taxa de não participação, devido à pandemia de covid-19, prejudicou o nível de precisão das
estimativas para os estratos explícitos. A Tabela 2 apresenta o erro-padrão da estimativa do desempenho médio
em compreensão leitora para as cinco regiões geográficas e as quatro redes de ensino, em que se observam
erros-padrão maiores que os sete pontos previstos pela equipe de amostragem do consórcio internacional
para as estimativas das médias.
Uma vez amostradas as escolas, o segundo estágio da amostra do PIRLS 2021 é dado pela seleção
das turmas de 4º ano do ensino fundamental. O fato de a metodologia do PIRLS optar por amostrar turmas
inteiras, em vez de estudantes dentro das turmas, tem como objetivo que a avaliação reflita a estrutura do
currículo e estabeleça uma ligação direta entre os estudantes e os seus professores. Para cada turma sorteada,
o professor de leitura daquela turma é selecionado para responder a um questionário, o qual fornece
informações contextuais importantes sobre estratégias de ensino, instruções de leitura, materiais de aula,
além das características dos professores. Essas informações oferecem uma oportunidade para interpretar
conjuntamente os resultados dos estudantes com o contexto de aprendizagem em sala de aula. Do total de
248 professores selecionados, 225 (91%) responderam ao Questionário do Professor.
Para cada uma das 187 escolas que participaram da avaliação, foram sorteadas de uma a duas turmas
do 4º ano do ensino fundamental, a depender da quantidade de estudantes elegíveis na escola. Uma vez
sorteada a turma, todos os estudantes matriculados nas turmas se tornaram elegíveis para fazer o teste. No
total, foram amostradas 248 turmas do 4º ano do ensino fundamental, sendo que 126 escolas tiveram apenas 1
turma amostrada (50,8%) e 61 escolas tiveram duas turmas amostradas (49,2%). As 248 turmas apresentavam
6.314 estudantes matriculados.
Do total de 6.314 estudantes matriculados nas 187 escolas participantes, participaram efetivamente da
avaliação apenas 4.941. A Tabela 3 resume os motivos de não participação.
TABELA 3
CONTAGEM DA AMOSTRA E AMOSTRA PONDERADA DOS ESTUDANTES NÃO PARTICIPANTES DO PIRLS 2021
Por ser uma avaliação aplicada em pleno período pandêmico, a baixa participação dos estudantes
pode ser explicada por três motivos principais: do total de 1.373 estudantes não participantes, 618 (45%) se
ausentaram no dia da prova e não foi possível recuperá-los nas sessões extra de prova8; 330 (24%) estudantes
de turmas amostradas haviam sido transferidos para outra escola que não fazia parte da amostra selecionada;
e 266 estudantes (19%) não participaram por razões como a não permissão dos pais.
8
Uma sessão extra de avaliação do PIRLS é agendada com a escola participante sempre que o total de estudantes presentes na turma
selecionada no dia da avaliação, for inferior a 90% dos alunos previstos.
TAMANHO DA AMOSTRA E AMOSTRA PONDERADA DOS ESTUDANTES PARTICIPANTES DO PIRLS 2021 - BRASIL
Amostra Ponderada de
Amostra Final
Estratos explícitos Estudantes
Escolas Estudantes N %
De acordo com as determinações da IEA, cada país participante precisa alcançar uma taxa mínima de
participação das escolas originais de 85%; de turmas, de 100%; e de estudantes, de 85%. Como alternativa,
o manual internacional também estabelece uma taxa combinada de 75% de participação entre as escolas
originais, as turmas e os estudantes. A Tabela 5 apresenta as taxas de participação não ponderada e ponderada
alcançadas pelo Brasil.
As taxas de participação ponderadas mostram que o Brasil atingiu 85% de participação das escolas,
somadas as originais e as reposições. Diversas escolas se encontravam no ensino remoto, o que dificultou o
alcance da taxa requerida com base apenas nas escolas originais. Assim, a taxa de participação das escolas
foi alcançada com o uso das reposições e foram alcançadas as taxas de participação requeridas para turmas
e estudantes. Vale esclarecer que a taxa de participação dos estudantes não considera no denominador os
estudantes público-alvo da educação especial que não realizavam o teste com autonomia, os estudantes que
não se encontravam mais matriculados na escola (transferidos) e aqueles excluídos após a avaliação (porque
há turmas que não alcançaram a taxa mínima de participação de 40%).
TABELA 6
Amostra ponderada
Variáveis Amostra
N %
Sexo
Feminino 2.387 1.398.914 48,8
Masculino 2.543 1.461.947 51,0
Sem informação 11 5.614 0,2
Amostra ponderada
Variáveis Amostra
N %
Idade
7 anos 2 492 0,1
8 anos 23 11.516 0,4
9 anos 1.910 1.100.279 38,4
10 anos 2.628 1.491.544 52,0
11 anos 250 169.991 5,9
12 anos 74 54.437 1,9
13 anos 21 14.752 0,5
14 anos 10 6.031 0,2
Sem informação 23 17.433 0,6
Dependência administrativa
Federal 48 1.236 0,0
Estadual 1.484 354.324 12,4
Municipal 2.395 2.038.002 71,1
Privada 1.014 472.913 16,5
Região geográfica
Norte 968 288.388 10,1
Nordeste 1.130 961.177 33,5
Sudeste 1.301 1.042.575 36,4
Sul 730 339.578 11,8
Centro-Oeste 812 234.757 8,2
Brasil 4.941 2.866.475 100
Fonte: Elaborada pela Daeb/Inep.
Este capítulo apresenta o desempenho dos estudantes brasileiros em leitura e compara-o com o
desenvolvimento dos demais países participantes do PIRLS 2021. São analisados os resultados das médias
de desempenho e o percentual de estudantes por nível de desempenho, de acordo com a escala pedagógica
global de compreensão leitora. Ademais, são apresentados os resultados dos estudantes contextualizados
com informações sobre o nível socioeconômico, com o objetivo de fazer uma breve análise da desigualdade
nos resultados educacionais.
Como já descrito anteriormente, o objetivo do PIRLS é diagnosticar e monitorar o nível de desempenho
em leitura dos estudantes do 4º ano do ensino fundamental, ano de escolarização escolhido pela IEA porque
corresponde ao momento na trajetória escolar em que os estudantes geralmente já consolidaram o seu
aprendizado em leitura e, assim, transitam do aprender a ler para o ler para aprender.
Os resultados apresentados neste capítulo possibilitam alguma compreensão sobre o atual estágio do
domínio da competência leitora dos estudantes brasileiros ao final do ciclo de alfabetização. Como os testes
foram aplicados quase dois anos após o início da pandemia de covid-19, é importante dizer que a grande
maioria dessa coorte de estudantes do 4º ano avaliada em 2021 fez seus primeiros dois anos de escolarização
(1º e 2º anos do ensino fundamental) de forma presencial, mas foi drasticamente impactada pela ruptura das
aulas presenciais quando estava iniciando o seu 3º ano de escolarização.
Como na maioria das avaliações internacionais, o PIRLS usa uma “amostra representativa” de uma população para
avaliar o desempenho em compreensão leitora da população como um todo. No caso do Brasil, as pontuações do
teste de 4.941 estudantes do 4º ano do ensino fundamental foram usadas para dar uma boa estimativa, embora não
perfeita, da compreensão leitora de todos os estudantes brasileiros matriculados no 4º ano do ensino fundamental
em 2021. Como são estimativas, há uma margem de erro para a estimativa pontual média de cada país. Ao comparar
as estimativas pontuais médias, é preciso considerar três elementos: a diferença na pontuação média, os erros-
padrão e os intervalos de confiança. Todos esses três elementos informam se a diferença existente importa, ou seja,
se é estatisticamente significativa. Importante registrar que todas as estatísticas apresentadas neste relatório foram
geradas por meio do software IDB Analyzer, disponibilizado pela IEA em https://www.iea.nl/data-tools/tools.
SIGNIFICÂNCIA ESTATÍSTICA
Uma diferença estatisticamente significativa é aquela que um teste estatístico estabeleceu como improvável ser
devido ao acaso. De forma aproximada, uma diferença de dois ou três pontos nas pontuações médias raramente é
estatisticamente significativa.
ERRO-PADRÃO (EP)
As amostras são usadas para estimar a pontuação média de uma população, mas a precisão da estimativa pode
variar consideravelmente dependendo da amostra (por exemplo, amostras muito pequenas de uma população
muito heterogênea ou amostras tendenciosas não fornecerão boas estimativas). Assim, é preciso considerar o erro-
padrão – uma medida de quão precisamente a média da amostra reflete a média da população. Quanto menor for o
erro-padrão, maior a probabilidade de a média da amostra estar próxima da média da população. De acordo com o
manual técnico de operacionalização do PIRLS 2021, a amostra de estudantes deve garantir um nível de precisão para
as estimativas populacionais de ± 7 pontos para as estimativas de desempenho médio e ± 3,5% para as estimativas
percentuais, considerando um intervalo de confiança de 95%.
INTERVALOS DE CONFIANÇA
As pontuações médias e os erros-padrão se combinam para produzir intervalos de confiança (uma faixa de pontuação
dentro da qual a pontuação “verdadeira” da população tem grande probabilidade de estar contida). Se os intervalos
de confiança não se sobrepõem, as pontuações são significativamente diferentes. Para um cálculo aproximado de um
intervalo de confiança, basta multiplicar o erro-padrão por 2 e adicionar esse valor para cima e para baixo da pontuação
média. Por exemplo, se uma pontuação média for 520 e o erro-padrão igual a 1,5, o intervalo de confiança será
517-523. Se comparada com uma pontuação média de 523 e o erro-padrão igual a 1,0, é improvável que a diferença
entre as médias seja estatisticamente significativa, pois o intervalo de confiança em torno da segunda média é 521-
525 – ou seja, os dois intervalos se sobrepõem.
O Brasil alcançou uma pontuação média de 419 pontos em compreensão leitora no PIRLS 2021, resultado
significativamente inferior a 58 do total de 65 países e regiões de referência participantes dessa avaliação,
conforme mostra a Tabela 7. O desempenho dos estudantes brasileiros não é significativamente diferente do
desempenho dos estudantes de Kosovo (421) e Irã (413), mas é estatisticamente superior ao desempenho da
Jordânia (381), Egito (378) e África do Sul (288).
TABELA 7
Países com desempenho significa�vamente menor que o Brasil Legenda da escala pedagógica
É preciso ter um cuidado especial ao comparar os dados do PIRLS para os países cujos estudantes foram avaliados
no final do 4º ano de escolarização (como o Brasil e a maioria dos países participantes) e estudantes que foram
avaliados no 5º ano de escolarização (como a Irlanda, Irlanda do Norte, Estados Unidos, por exemplo), pois os
estudantes do 5º ano de escolarização são, em média, seis meses mais velhos que os estudantes que fizeram o teste
quando estavam finalizando o 4º ano de escolarização. Resultados apresentados no Capítulo 4 mostram que há uma
associação, mesmo que fraca, entre idade e os resultados médios de compreensão leitora do PIRLS 2021
.
2) Informa�vo: ao ler textos informa�vos predominantemente di�ceis, os estudantes
podem
:
FIGURA 4
A pontuação média alcançada pelos estudantes brasileiros (419) se localiza no nível baixo da escala
pedagógica. Esse resultado evidencia que os estudantes, ao lerem predominantemente textos literários e
informacionais com nível de dificuldade “fácil”, são capazes de localizar e recuperar informações explícitas, o
que requer uma compreensão praticamente imediata ou automática das palavras, expressões ou frases, em
combinação com o reconhecimento de que elas são relevantes para as informações procuradas. Também são
capazes de fazer inferências diretas sobre alguma ação do personagem (textos literários) ou sobre a razão para
um determinado resultado (textos informativos).
A Figura 5 apresenta o exemplo de um item que os estudantes brasileiros do 4º ano do ensino
fundamental, na média, possuem alta probabilidade de responderem corretamente. Nesse item específico, os
estudantes brasileiros que receberam o caderno de prova com o texto informativo “O incrível polvo” (N = 542
estudantes) alcançaram um percentual de acerto igual a 71,7%. Considerando outros países que fizeram o teste
em papel, esse percentual variou de 89% (Irlanda) a 36,1% (África do Sul). No que tange ao índice de omissão,
cerca de 11% dos estudantes brasileiros deixaram de responder esse item. Nos países que tradicionalmente
possuem resultados elevados nas avaliações internacionais de aprendizagem, o índice de omissão foi mais
baixo, como na Irlanda e Inglaterra, com 3,9%.
As descrições das competências em leitura dos estudantes nas quatro referências internacionais,
juntamente com o percentual de estudantes que atingem as sucessivas marcas, fornecem um perfil do alcance
do desempenho em leitura em cada país. A Figura 6 apresenta a distribuição dos estudantes de todos os países
associada a cada um dos marcos pedagógicos da escala de desempenho do PIRLS 2021, e a Tabela 8 apresenta
os resultados com foco apenas para o Brasil:
DISTRIBUIÇÃO DOS ESTUDANTES DOS PAÍSES PARTICIPANTES DO PIRLS 2021 EM CADA NÍVEL
DA ESCALA PEDAGÓGICA INTERNACIONAL
Fonte: Mullis et al. (2023, p. 73).
DISTRIBUIÇÃO DOS ESTUDANTES BRASILEIROS NOS NÍVEIS DA ESCALA DE DESEMPENHO DO PIRLS 2021
Fonte: Elaborada pela Daeb/Inep, com base nos microdados do PIRLS 2021/IEA.
Nota: pequenas divergências nos totais estão relacionadas ao arredondamento da média dos cinco valores plausíveis.
Aproximadamente 38% dos estudantes brasileiros não dominavam as habilidades mais básicas de
leitura (por exemplo, recuperar e reproduzir um pedaço de informação explicitamente declarada no texto,
como no exemplo da Figura 5, mostrado anteriormente). Em 21 países, esse percentual de estudantes
sem qualquer domínio sobre a compreensão leitora não passa de 5%, como Irlanda (2%), Finlândia (4%),
Inglaterra (3%), Singapura (3%) e Espanha (5%), por exemplo. Em mais da metade dos países participantes,
esse percentual não passa de 10%. Esse resultado mostra que o Brasil está muito distante de uma educação
inclusiva, que significa garantir a todos os estudantes brasileiros, pelo menos, o nível básico de proficiência
em compreensão leitora.
Cerca de 24% dos estudantes brasileiros dominavam apenas as habilidades mais básicas de leitura.
Esse percentual, somado ao dos estudantes que estão abaixo do básico, representa 62% da população de
estudantes do 4º ano do ensino fundamental. Em outras palavras, quase dois terços dos estudantes do 4º ano
de escolarização, no Brasil, possuem habilidade muito limitada de entender e utilizar as formas da linguagem
escrita exigidas pela sociedade e/ou valorizadas pelo indivíduo.
Apenas 13% dos estudantes brasileiros podem ser considerados proficientes em compreensão leitora
no 4º ano de escolarização – são aqueles que alcançam nível alto ou avançado de proficiência. Na Espanha e
em Portugal, por exemplo, esse percentual atinge a marca de 36% e 35%, respectivamente. As Figuras 7 e 8
apresentam exemplos de itens com nível de dificuldade alto e avançado, nos quais os estudantes brasileiros
possuem baixa probabilidade de acerto.
Descrição: Avaliar ideias e informações ao longo do texto para fazer uma previsão.
Para responder esse item, é preciso a leitura na íntegra do texto “Onde está o mel”.
FIGURA 8
No item específico da Figura 8, apenas 26% dos estudantes brasileiros que receberam o caderno de
prova com esse texto (N = 544) responderam o item corretamente. Esse valor encontra-se abaixo da média
internacional dos 32 países e participantes de padrões de referência cujos estudantes receberam o texto “Onde
está o mel?” em papel, onde o percentual de acerto foi de 32% (N = 17.069). Em nações mais desenvolvidas,
o percentual de acerto foi mais elevado, como nos Estados Unidos (53%; N = 412) e na Inglaterra (52%; N = 465).
Em relação à omissão deste item, no Brasil 24% dos estudantes que receberam o caderno de prova
com ele omitiram a resposta e 18% nem sequer chegaram até esse item, ou seja, finalizaram a prova antes
de alcançá-lo. Em contraste, na Albânia, Inglaterra e Áustria, por exemplo, o percentual de não alcance desse
último item da prova foi de 0,9%, 2,3% e 3,9%, respectivamente. O item não alcançado é aquele que o estudante
não tentou responder, principalmente pelo esgotamento do tempo de prova. Os itens não alcançados são
sucedidos por itens não respondidos.
O desempenho médio em compreensão leitora das crianças, sem devida contextualização, é uma
medida que não traz muita informação sobre o meio em que o processo de aprendizagem ocorre. Nem todas
as crianças possuem acesso às melhores oportunidades educacionais. A garantia da equidade na educação,
há muito tempo, é um aspecto de grande preocupação entre especialistas educacionais no Brasil e demais
países no mundo, e tornou-se uma questão ainda mais relevante após o aprofundamento das desigualdades
educacionais trazidas pela pandemia de covid-19. Importante lembrar que os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) das Nações Unidas para 2030 defendem garantir uma educação de qualidade inclusiva e
equitativa e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. Equidade não significa
que todos os estudantes tenham resultados iguais, mas que quaisquer variações que possam existir nos
resultados educacionais não estejam associadas às origens socioeconômicas dos estudantes, ao sexo ou à
cor/raça, por exemplo.
O PIRLS 2021 fornece vários indicadores importantes para analisar a equidade, em especial o indicador
de “nível socioeconômico” e o indicador de “recursos para aprendizagem em casa”. Este último expande a
concepção tradicional do status socioeconômico, na medida em que inclui recursos existentes nos domicílios
dos estudantes, que possam promover o seu aprendizado, como a disponibilidade de livros, livros infantis e
materiais de estudo.
Para avaliar a relação entre os recursos para aprendizagem em casa e o desempenho dos estudantes, a
Figura 9 apresenta graficamente os coeficientes da regressão do indicador de recursos para aprendizagem em
casa com os resultados da aprendizagem dos estudantes. Os resultados mostram que os sistemas educacionais
com os melhores resultados educacionais são aqueles que combinam alta qualidade e equidade, como
Finlândia, Holanda e Portugal, e grandes cidades como Moscou, Hong Kong e a província Quebec, do Canadá.
Em tais localidades, a grande maioria dos estudantes pode alcançar desempenhos elevados sem que esse
resultado de sucesso escolar dependa de sua origem socioeconômica e dos recursos para aprendizagem em
casa. O Brasil é um país que se destaca com baixa qualidade e equidade, assim como África do Sul.
40
Emirados Árabes
Brasil
África do Sul
Dubai
30
Singapura
20
Finlândia
Portugal
Marrocos Holanda Moscou
Quebec (Canadá)
Egito Arábia Saudita Macau Hong Kong
10
0
FIGURA 9
Em relação ao indicador de nível socioeconômico do PIRLS (que considera em seu cálculo a escolaridade,
a ocupação dos pais e a posse de livros em casa), em nível internacional, 30% dos estudantes, em média, foram
classificados na categoria “Alto NSE”; 48% foram classificados na categoria “Médio NSE”; e 22%, na categoria
“Baixo NSE”. No Brasil, a distribuição dos estudantes nas categorias “Alto NSE”, “Médio NSE” e “Baixo NSE” foi
de, respectivamente, 5%, 31% e 64%. O grupo formado pelos 64% de estudantes brasileiros com “Baixo NSE”
alcançou uma estimativa média de desempenho em compreensão leitora igual a 390 pontos, muito aquém da
média alcançada pelos estudantes mais vulneráveis de Portugal (488) e Espanha (488), por exemplo, conforme
mostra a Figura 10.
Gradiente Socioeconômico
A análise da relação entre um resultado social, que pode ser a medida de um traço latente, como o
desempenho cognitivo nos testes padronizados, e o status socioeconômico dos indivíduos é conhecida
como gradiente socioeconômico (Willms, 2003). Os gradientes socioeconômicos são um meio de caracterizar
a equidade e fornecer orientações para a política educacional. A literatura nacional e internacional mostra
que o Brasil é um dos países onde a origem social dos estudantes está mais fortemente associada aos seus
resultados de aprendizagem (Alves; Soares; Xavier, 2014, 2016). A superação das desigualdades educacionais
e a promoção dos princípios de respeito aos direitos humanos, como o direito à educação de qualidade, e de
respeito à diversidade são diretrizes do Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024.
A Figura 11 apresenta o gradiente socioeconômico do Brasil em 2021, considerando os estudantes de
4º ano do ensino fundamental avaliados em compreensão leitora, e a Tabela 9 apresenta as estatísticas
derivadas dessa regressão.
800
Desempenho em compreensão Leitora no PIRLS
Avançado
600
Alto
Intermediário
Básico
400
Abaixo do Básico
200
0
4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Índice de Nível Socioeconômico do PIRLS
FIGURA 11
Intercepto Coeficiente R2
PIRLS
Medida EP Medida EP Medida EP
Fonte: Elaborada pela Daeb/Inep com base nos microdados do PIRLS 2021/IEA.
Uma outra análise possível é avaliar a associação entre o resultado educacional médio de determinada
escola e o seu contexto socioeconômico, dado pelo nível socioeconômico médio dos alunos da escola.
9
A Figura 12 apresenta esta relação, que é claramente positiva: quanto maior o nível socioeconômico médio da
escola, maiores as médias do desempenho em compreensão leitora.
Evidencia-se uma divisão muito clara no alcance escolar das crianças matriculadas em escolas públicas
e privadas. Todas as escolas com um desempenho médio abaixo do nível “Básico” na escala pedagógica são
escolas públicas, cujas crianças matriculadas no 4º ano do ensino fundamental se encontram em situação
de vulnerabilidade socioeconômica (situam-se no nível Mais Baixo da escala do NSE: <= 8,5). Na outra ponta
estão as escolas privadas, com um contexto escolar privilegiado (estudantes com nível socioeconômico entre
Médio e Alto na escala do NSE), cujo desempenho médio dos estudantes ultrapassa a média de 500 pontos e
chega a alcançar o desempenho médio obtido por países que se destacam nas avaliações internacionais de
aprendizagem, como Finlândia (549), Alemanha (524) e Portugal (520).
9
Não é objetivo do PIRLS 2021 fornecer resultados representativos por escola. Entretanto, para fins de pesquisa, é interessante explorar
algumas associações.
Nível Alto
600
Nível Intermediário
500
Nível Básico
400
6 7 8 9 10 11 12
Índice de Nível Socioeconômico do PIRLS
FIGURA 12
DESEMPENHO MÉDIO EM COMPREENSÃO LEITORA DAS ESCOLAS PÚBLICAS E PRIVADAS NO BRASIL, PIRLS 2021
Fonte: Elaborada pela Daeb/Inep com base nos microdados do PIRLS 2021/IEA.
Essa grande disparidade entre escolas públicas e privadas reflete as vantagens decisivas que possuem
os estudantes mais favorecidos, que frequentam as escolas pagas – são estudantes com melhores condições
sociais e econômicas, que favorecem o seu maior envolvimento com a educação, bem como o apoio da família
no acompanhamento e orientação da educação dos filhos. Acentua-se a necessidade de o sistema de ensino
ser capaz de garantir aos estudantes menos privilegiados a possibilidade de superarem o baixo alcance nos
resultados educacionais por meio de políticas compensatórias que visam produzir maior justiça escolar
(Dubet, 2004).
Vale observar que há escolas com estudantes de elevada vulnerabilidade socioeconômica (NSE médio
abaixo de 6,5) que apresentam resultados médios superiores à média nacional de 419. Agendas futuras de
pesquisa são necessárias para explicar, com mais detalhes, casos específicos de alto desempenho e baixo nível
socioeconômico, com o objetivo de avaliar se há alguma relação com práticas pedagógicas diferenciadas ou
com o envolvimento familiar, por exemplo. Resultados do Pisa 2018 revelam que estudantes com baixo nível
socioeconômico e bons resultados na avaliação são aqueles cujos responsáveis possuem maior interesse pelas
atividades escolares dos seus filhos, que fortalecem a autoconfiança dos estudantes diante de dificuldades
escolares e aqueles que incentivam o hábito de leitura (Inep, 2020). Soares e Collares (2006), com o uso dos
dados do Saeb, constatam que o impacto da ação dos pais na vida escolar dos filhos pode ser potencializado
pela ação da escola através de programas específicos. Os achados parecem apontar para a necessidade de
maior valorização da família desde o espaço escolar e a necessidade de políticas escolares que incentivem o
diálogo família-escola e auxiliem os pais ou responsáveis no envolvimento no cotidiano escolar de seus filhos,
especialmente em famílias em que as barreiras ao aprendizado são maiores, seja por questões financeiras ou
por questões culturais.
4 CARACTERÍSTICAS DEMOGRÁFICAS,
ENVOLVIMENTO COM A ESCOLA E
ATITUDES DE LEITURA
4.1 Introdução
Este capítulo apresenta os resultados de compreensão leitora dos estudantes do 4º ano do ensino
fundamental avaliados no PIRLS 2021 e sua relação com algumas das diversas variáveis coletadas no
Questionário do Estudante. Cada estudante recebeu um questionário em papel, contendo itens de
caracterização sociodemográfica, hábitos de leitura fora do ambiente escolar, estímulo à atividade leitora
em casa, envolvimento com a escola, entre outros. Os estudantes tiveram até 20 minutos para responder às
questões e, ao finalizarem o questionário, devolviam-no ao aplicador do teste. Do total de 4.941 estudantes
participantes dos testes cognitivos, 52 (1,1%) não preencheram o Questionário do Estudante e foram excluídos
das análises apresentadas. Assim, os resultados apresentados neste capítulo se baseiam em uma amostra de
4.889 estudantes.
Um dos módulos essenciais dos questionários aplicados aos estudantes nas avaliações em larga escala,
como o PIRLS, é aquele que coleta informações sobre as características demográficas da população em
estudo, como o sexo e a idade. A literatura aponta para uma estreita relação entre os dois campos de estudo –
educação e demografia –, uma vez que a educação pode ser entendida como um processo intergeracional e,
portanto, dependente da idade – uma das mais importantes variáveis demográficas (Barakat e Blossfeld, 2010;
Barakat, 2012; Barakat et al., 2014). A idade é também uma variável-chave na legislação educacional, pois o
sucesso na conclusão de uma etapa de ensino depende da regularidade na trajetória escolar – o que significa
a entrada no sistema de ensino e sucessivas progressões na idade certa (Brasil, 1996).
Para além dessas duas variáveis que constam na coleta de dados do PIRLS 2021, este relatório traz
também uma outra importante variável do campo de estudo da demografia – raça/cor –, que foi incluída10
10
A variável raça/cor não é um item coletado no questionário internacional dos estudantes do PIRLS.
4.2.1 Sexo
Ao longo dos últimos quatro ciclos do PIRLS, as diferenças de sexo no desempenho em leitura foram
favoráveis às meninas na maioria dos países participantes (Mullis et al., 2017). No PIRLS 2021, conforme dados
mostrados na Figura 13, as meninas tiveram melhor desempenho que os meninos em todos os 57 países e
8 participantes de padrões de referência, refletindo um padrão observado em outras pesquisas nacionais e
internacionais (Carvalho, 2012; Voyer; Voyer, 2014; OECD, 2015).
DESEMPENHO MÉDIO POR SEXO NOS PAÍSES E REGIÕES ADMINISTRATIVAS PARTICIPANTES DO PIRLS 2021
Fonte: Mullis et al. (2023, p. 79).
As diferenças médias no desempenho entre meninas e meninos também foram comparadas em cada
um dos propósitos de leitura e processos de compreensão leitora, como mostrado na Tabela 10. As meninas
possuem desempenho médio significativamente superior ao desempenho médio dos meninos nos textos
literários e textos informativos, embora a diferença pontual seja menor nos textos informativos (21 pontos de
diferença). As meninas também se sobressaem em todos os processos de compreensão leitora.
Diferença de
Total Meninas Meninos
Área avaliada médias
Propósito de leitura
Experiência literária (textos literários) 418 5,2 432 5,6 405 6,3 26,5* 6,0
Obter e utilizar informações (textos
421 5,0 432 5,9 410 5,6 21,4* 5,8
informativos)
Processos de compreensão
Localizar e recuperar informações
418 5,2 431 5,9 406 6,3 25,1* 6,6
explícitas; fazer inferências diretas
Interpretar e articular ideias e
informações; avaliar e analisar
420 5,3 430 5,7 411 6,4 18,3* 6,1
criticamente o conteúdo e os elementos
textuais
Fonte: Elaborada pela Daeb/Inep com base nos microdados do PIRLS 2021/IEA.
*Diferença estatisticamente significativa.
A idade média dos estudantes que participaram do PIRLS 2021 em todos os países e regiões de referência
é de 10,2 anos, que é exatamente igual à idade média dos estudantes participantes no Brasil. Entretanto, a
diferença na idade média dos países com estudantes mais novos e mais velhos é de mais de um ano, com
estudantes na Itália, Omã, Chipre e Canadá (Columbia Britânica) alcançando a idade média de 9,8, enquanto
estudantes na Dinamarca e Polônia possuem idade média de 10,9. Estudos mostram que uma diferença média
de mais de um ano nessa fase do desenvolvimento representa uma grande diferença de maturidade, a qual é
preciso considerar ao interpretar as diferenças médias de desempenho entre os países (Mullis, 2017).
A Figura 14 apresenta a idade média dos estudantes (eixo y) e o desempenho médio no PIRLS (eixo
x) para cada país ou região participante do PIRLS no 4º ano do ensino fundamental11. As linhas verticais
vermelha, amarela, verde claro e verde escuro representam os pontos de corte na escala pedagógica: 400 =
baixo, 475 = intermediário, 550 = alto, 625 = avançado, respectivamente. Ademais, foi adicionada a linha de
tendência linear representando o desempenho médio desse conjunto de países condicionada à idade média
de seus estudantes. Essa linha de tendência mostra que os países com idades médias mais altas tendem a ter
pontuações médias mais elevadas no PIRLS 2021, embora seja uma correlação fraca (0,29). Os países muito
11
Foram excluídos da Figura 13 os países cujas coortes do 4º ano foram avaliadas apenas quando estavam matriculadas no 5º ano de
escolarização, devido às dificuldades trazidas pela pandemia de covid-19 e, portanto, apresentam idade média muito superior aos
estudantes avaliados no 4º ano do ensino fundamental. Foi excluída também a África do Sul com estudantes avaliados no 6º ano de
escolarização, mas mantida a África do Sul com os estudantes avaliados no 4º ano do ensino fundamental.
Polonia
10.8
Finlândia
Idade média dos estudantes
Moscou
10.6
Uzbequistao
10.4
Singapura
10.2
Oma Italia
9.6
FIGURA 14
DESEMPENHO MÉDIO EM COMPREENSÃO LEITORA POR IDADE MÉDIA DOS ESTUDANTES, PAÍSES E REGIÕES DE
REFERÊNCIA PARTICIPANTES DO PIRLS 2021
Fonte: Elaborada pela Daeb/Inep com base nos microdados do PIRLS 2021/IEA.
Em países em que os estudantes são admitidos no ensino fundamental com base apenas na idade, os
alunos mais velhos podem ter habilidades cognitivas para maior amadurecimento. No entanto, dependendo
das políticas de repetência, os estudantes mais velhos que repetiram de ano podem ter mais dificuldade na
compreensão leitora do que os que não repetiram, como é o caso do Brasil. No Brasil, estudantes de diferentes
idades podem ter desempenhos distintos no PIRLS, e esse resultado pode estar associado à sua trajetória
escolar. O marco legal para a admissão no 1º ano do ensino fundamental é essencial para entender as diferenças
no desempenho e a variação na idade dos estudantes que frequentam o 4º ano do ensino fundamental. No
Brasil, a Resolução CNE/CEB/ nº 2/2018 estabeleceu que “é obrigatória a matrícula no Ensino Fundamental de
crianças com 6 (seis) anos completos ou a completar até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula”.
Como o PIRLS foi aplicado a uma amostra de estudantes matriculados no 4º ano do ensino fundamental
em 2021, independentemente da idade, é sabido que há estudantes que estão regulares na trajetória e
TABELA 11
Fonte: Elaborada pela Daeb/Inep com base nos microdados do PIRLS 2021/IEA.
TABELA 12
4.2.3 Raça/cor
Há uma vasta literatura nacional que evidencia a estreita relação entre a raça/cor do estudante e os
seus resultados educacionais (Soares; Alves, 2003; Marteleto, 2012; Alves et al., 2006; Marteleto, 2016; Brasil.
Inep, 2020; Fonseca et al., 2023; Bof et al., 2023). A cada nova pesquisa ou avaliação realizada, observa-se
a paulatina manutenção dessas desigualdades. Evidenciá-las é importante para fortalecer a agenda de
promoção da equidade racial na área da educação, por meio da implementação de estratégias efetivas de
redução da defasagem nos grupos historicamente excluídos. Um exemplo de política é a recente Lei do Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação
(Fundeb), Lei nº 14.113/2020, que, em seu artigo 14, estabelece que a metodologia de cálculo dos indicadores
de aprendizagem deve levar em conta a mensuração explícita das desigualdades raciais, entre outras.
Basso e Rodrigues (2023) apresentam os resultados de alfabetização mais recentes do Saeb 2º ano
do ensino fundamental, 2019 e 2021, os quais evidenciam diferenças estatisticamente significativas na
alfabetização entre crianças brancas (branca + amarela) e não brancas (preta + parda + indígena). Também
em 2021, dados do PIRLS, apresentados na Tabela 13, mostram a magnitude da diferença no desempenho em
compreensão leitora entre esses dois grupos. Os primeiros resultados apresentados são desagregados para
cada uma das cinco categorias de raça/cor – branca, preta, parda, amarela e indígena –, além da categoria
de resposta “não declarada”. Considerando as duas categorias de maior representatividade na amostra12
– os estudantes brancos (34,4%) e os estudantes pardos (36,4%) –, observa-se uma diferença de médias de
58 pontos a mais para os estudantes brancos.
12
Como já foi dito no início do Capítulo 4, os dados sobre raça/cor não são originalmente coletados no questionário do PIRLS. Foi feito um
esforço no sentido de trazer essa informação do Censo Escolar 2021, pois reconhece-se a importância dessa análise. Não obstante, o
alto percentual de raça/cor não declarado no Censo Escolar e o pequeno tamanho amostral dentro de categorias com menor população
(preta, amarela e indígena) comprometem, em alguma medida, a comparabilidade dos resultados.
Os resultados do PIRLS 2021 também evidenciam que a desigualdade racial não é homogênea entre
estudantes do intragrupo definido pelas condições socioeconômicas. A Tabela 14 apresenta o desempenho
médio em compreensão leitora dentro dos recortes de cor/raça e nível socioeconômico. A comparabilidade
dos resultados dos brancos e pardos na categoria “Alto NSE” fica comprometida, dada a baixa dos estudantes
brasileiros de origem social mais favorecida (apenas 5%, conforme apresentado no Capítulo 3). Entre aqueles
nas categorias “Médio NSE” e “Baixo NSE”, é possível ver que os estudantes brancos possuem melhor resultado
educacional quando comparados aos pardos. No caso dos estudantes com “Baixo NSE”, os brancos, em
média, possuem uma estimativa pontual do desempenho de 421 pontos (nível “Baixo” na escala pedagógica),
enquanto os pardos possuem uma estimativa pontual igual a 382, situando-se no nível “Abaixo do Baixo” na
escala pedagógica.
TABELA 14
Observa-se que a desigualdade racial existe mesmo intragrupo (estudantes com NSE similares), o
que evidencia que o NSE por si só não é capaz de explicar as desigualdades raciais no campo educacional.
Há outros fatores intrínsecos que podem estar associados à discriminação racial (Abramovay; Castro, 2006).
Esta seção faz uma análise de diferentes indicadores calculados para os estudantes avaliados no 4º ano
do ensino fundamental, os quais procuram mensurar como o clima escolar sentido pelos estudantes e o seu
envolvimento com a escola estão associados com o resultado acadêmico em compreensão leitora. Embora
não haja consenso sobre o que significa o “clima escolar”, o conceito é comumente compreendido como a
interação entre as percepções dos atores escolares com um determinado ambiente e as relações que lá são
estabelecidas (Moro; Vinha; Morais, 2019). Ademais, esses estudos indicam que um bom clima escolar enseja
altos níveis de segurança, comprometimento com a tarefa, bem-estar e senso de pertencimento. Uma primeira
análise é feita comparando os resultados do Brasil com os demais países avaliados no PIRLS. Em um segundo
momento, procura-se detalhar a análise do Brasil ao examinar a relação desses indicadores com a trajetória
escolar dos estudantes.
O senso de pertencimento dos estudantes à escola pode ser entendido como a necessidade de se formar
e manter relações interpessoais no ambiente escolar, seja com colegas ou professores, baseadas na confiança,
na aceitação, no amor e no suporte (Baumeister; Leary, 1995). A escala criada em 2016 demonstrou, à época,
existir uma correlação positiva entre o desempenho acadêmico e a denominada “conectividade escolar”, o
que confirma a ideia de alguns estudos internacionais de que há alguns qualificadores do ambiente escolar
que impactam diretamente no desempenho acadêmico dos alunos – por exemplo, se a criança possui amigos
na escola (item adicionado na edição de 2021), se os professores são justos com ela e se ela se sente segura e
feliz em pertencer àquela comunidade escolar (Mullis; Martin., 2021).
No questionário dos estudantes do PIRLS 2021, a questão G10 é composta por seis itens que procuram
captar o sentimento de vínculo do estudante com a comunidade escolar, conforme apresentado na Figura
15. Com base nesses itens, é construída, via Teoria de Resposta ao Item (TRI), uma escala (variável contínua e
ordinal) que mede o construto latente “senso de pertencimento dos estudantes à escola”. Assim como ocorre
nos níveis pedagógicos da escala de proficiência, essa escala classifica os estudantes em três categorias
correspondentes aos valores “alto senso de pertencimento”, “médio senso de pertencimento” e “baixo senso
de pertencimento” (variável discreta e nominal). Para facilitar a interpretação dessas categorias, os pontos
de corte que as delimitam foram definidos em termos de combinações dos itens de resposta. Estudantes
com “alto senso de pertencimento” têm pontuação igual ou superior a 9,8 na escala. Esse ponto de corte é
correspondente a três itens respondidos como “concordo muito” e dois itens respondidos como “concordo um
pouco”, em média. No outro extremo estão os estudantes com “baixo senso de pertencimento”, com pontuação
igual ou inferior a 7,3 na escala. Esse ponto de corte é corresponde a três itens respondidos como “discordo
um pouco” e dois itens respondidos como “concordo um pouco”. Todos os outros estudantes possuem “algum
senso de pertencimento” à escola.
FIGURA 15
ITENS QUE COLETAM INFORMAÇÕES SOBRE O SENTIMENTO DE PERTENCIMENTO DOS ESTUDANTES À ESCOLA E
PONTOS DE CORTE NA ESCALA, PIRLS 2021
Fonte: Yin e Reynolds (2023, p. 15.60).
Os resultados mostram que, de maneira geral, os estudantes dos países e regiões de referência
participantes do PIRLS 2021 relatam um senso positivo de pertencimento à escola. Em média, 62% dos
estudantes se enquadram na categoria de alto senso de pertencimento, o que indica que esses estudantes se
sentem acolhidos e possuem um bom relacionamento com seus pares e professores na escola.
A Figura 16 apresenta a relação entre o senso de pertencimento dos estudantes e o desempenho em
leitura nos diversos países participantes da avaliação. É possível perceber, via análise gráfica, que a relação
sugerida pelo construto “senso de pertencimento dos estudantes à escola” nem sempre se mostrará positiva.
Nas cidades de Moscou ou Hong Kong, por exemplo, onde o desempenho acadêmico esteve acima da média
na escala de resultado do PIRLS 2021, há também um baixo senso de pertencimento à escola. Nesse caso, seria
necessário considerar hipóteses sociológicas sobre um baixo senso de pertencimento à comunidade na qual a
criança está inserida, e não apenas àquela escola. É possível que o entorno do estudante esteja sendo afetado,
por exemplo, por crises econômicas, guerras, falta de perspectiva de futuro. Embora haja uma compreensão
de que o senso de pertencimento escolar possa ser uma variável do próprio senso comunitário, os resultados
– vistos sob a ótica de apenas um construto – sugerem que deve haver outras variáveis que possam explicar
um alto desempenho em um ambiente talvez não tão favorável, como as expectativas culturais relacionadas
ao desempenho escolar ou mesmo a ênfase da escola no sucesso acadêmico, que suplante um baixo senso de
conectividade escolar.
11.5
Uzbequistao Portugal
11
Oma
Espanha
10.5
Singapura
9.5
Polonia
Hong Kong SAR
Croacia Moscou
9
DESEMPENHO MÉDIO EM COMPREENSÃO LEITORA POR SENSO DE PERTENCIMENTO DOS ESTUDANTES À ESCOLA,
PIRLS 2021
Fonte: Elaborada pela Daeb/Inep, com base nos microdados do PIRLS 2021/IEA.
A Tabela 15 apresenta resultados com foco no Brasil, desagregados também por raça/cor e rede de
ensino. Devido ao baixo tamanho da amostra nos cruzamentos analíticos, o erro das estimativas pontuais da
média tende a ser mais elevado. Entretanto, é possível observar diferenças significativas na estimativa pontual
média do desempenho, dentro de uma mesma rede de ensino, por exemplo, entre estudantes das escolas
municipais que reportam alto senso de pertencimento (434 pontos) e aqueles que reportam baixo senso de
pertencimento (364 pontos).
TABELA 15
DESEMPENHO MÉDIO EM COMPREENSÃO LEITORA DOS ESTUDANTES DO 4º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL POR
CATEGORIA DO SENSO DE PERTENCIMENTO À ESCOLA, BRASIL, 2021
TABELA 16
O bullying é um tipo específico de comportamento agressivo, que envolve ações negativas e indesejadas
nas quais alguém, intencional e repetidamente, prejudica e incomoda outra pessoa que tem dificuldade de se
defender. O bullying pode ser físico (empurrar, bater e chutar), verbal (xingar, roubar, ameaçar etc.), relacional
(envolver-se em formas de humilhação pública, exclusão social etc.). No atual contexto, com o uso generalizado
de tecnologias de informação e comunicação (TIC), o cyberbullying tornou-se outro tipo de assédio entre os
estudantes, ocorrendo por meio de dispositivos e ferramentas digitais (OECD, 2019).
O PIRLS começou a coletar os dados sobre bullying em 2001. Em 2011, criou-se uma escala sobre o
tema com base nas respostas dos estudantes sobre a frequência com que sofrem variados comportamentos
de bullying, desde humilhação até agressão física. Com a constante presença da internet e do cyberbullying,
a escala “Bullying em estudantes” foi ampliada em 2016 e novamente em 2021. Comportamentos de
cyberbullying incluem enviar ou compartilhar mensagens ofensivas ou maldosas pela internet (Mullis; Martin,
2021).
A Figura 17 apresenta os itens do questionário contextual dos estudantes, que buscam coletar
informações sobre experiências de bullying, presentes na questão G11. Com base nesses dez itens, é construída
uma escala que busca medir o construto latente em questão, classificando os estudantes em três categorias
correspondentes à frequência com que relatam os comportamentos de bullying: nunca ou quase nunca,
mensalmente e semanalmente. Estudantes que “nunca ou quase nunca” sofreram bullying tiveram pontuação
igual ou superior ao ponto de corte 9,2, que representa metade dos itens (cinco itens) respondidos na categoria
ITENS QUE COLETAM INFORMAÇÕES SOBRE EXPERIÊNCIAS DE BULLYING DOS ESTUDANTES E PONTOS DE CORTE
NA ESCALA, PIRLS 2021
Fonte: Yin e Reynolds (2023).
Albânia
11
Finlândia
Irlanda
Croácia
10
Brasil
Singapura
Portugal
9.5
Moscou
9
8.5
África do Sul
8
FIGURA 18
A Tabela 17 apresenta os resultados apenas para o Brasil e mostra que 40% dos estudantes brasileiros
relataram sofrer episódios de bullying mensalmente e/ou semanalmente. A estimativa pontual do desempenho
médio em compreensão leitora dos estudantes que sofrem bullying semanalmente (333 pontos) é 124
pontos menor que os estudantes que relatam quase nunca serem vítimas de comportamentos agressivos (
457 pontos). Há diferenças nos relatos de bullying entre estudantes brancos, pretos e pardos. Entre os
estudantes brancos, 35% relatam terem sido vítimas mensalmente ou semanalmente, enquanto entre
os estudantes pretos e pardos essa ocorrência é de 45%.
DESEMPENHO MÉDIO EM COMPREENSÃO LEITORA DOS ESTUDANTES DO 4º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL PELA
FREQUÊNCIA COM QUE EXPERIMENTAM BULLYING NA ESCOLA, BRASIL, 2021
Cor/raça
Experiências de Total
Branco Preto e Pardo
bullying
% Média EP % Média EP % Média EP
Quase nunca 55,5 457 5,1 61,9 482 5,8 51,4 442 8,2
Mensalmente 24,4 420 5,8 24,4 449 10,1 24,7 402 9,9
Semanalmente 15,5 333 7,6 11,6 375 16,2 17,3 314 10,7
Sem informação 4,5 269 9,5 2,1 294 16,8 6,6 280 12,8
Fonte: Elaborada pela Daeb/Inep, com base nos microdados do PIRLS 2021/IEA.
A escala “confiança dos estudantes em leitura” tem demonstrado que a autoimagem do estudante como
leitor é preditora, tanto do seu desempenho em compreensão leitora quanto da sua capacidade de cumprir
determinada tarefa. A medida “autoimagem em leitura” é coletada desde 2011, e os estudantes são convidados
a responder às questões: “ler é fácil” e “geralmente me saio bem em leitura”. Os dados dos questionários
da avaliação vêm sistematicamente demonstrando que os estudantes que possuem boa proficiência leitora
geralmente são aqueles que apresentam um autoconceito forte em relação ao seu próprio desempenho; o que
também sugere que os estudantes que gostam de ler, e que já possuem hábito leitor, serão aqueles que, por
possuírem alta perspectiva sobre seu desempenho, desenvolveram melhor proficiência leitora (Mullis; Martin,
2021).
A Figura 19 apresenta os seis itens do questionário contextual dos estudantes que buscam coletar
informações sobre “autoimagem em leitura”, presentes na questão R8. Com base nesses seis itens, é construída
uma escala que busca medir o construto latente em questão. Dois pontos de corte dividem essa escala em
três categorias: “confia muito”, “confia um pouco” e “não confia”. Estudantes que “confiam muito” no seu
desempenho leitor estão localizados no ponto de corte 10,2 ou acima. Esse ponto de corte corresponde a três
itens respondidos como “concordo muito” e os outros três itens respondidos como “concordo um pouco”.
Estudantes que “não confiam” no seu desempenho leitor estão localizados no ponto de corte 8,2 ou abaixo.
Esse ponto de corte corresponde a três itens respondidos como “concordo um pouco” e os outros três itens
respondidos como “discordo um pouco”. Todos os outros estudantes são considerados como estudantes que
confiam um pouco em seu desempenho leitor.
FIGURA 19
ITENS QUE COLETAM INFORMAÇÕES SOBRE A AUTOCONFIANÇA DOS ESTUDANTES NO SEU DESEMPENHO
LEITOR, PIRLS 2021
Fonte: Yin e Reynolds (2023).
A Figura 20 mostra que há uma correlação moderada (0,42) entre a autoconfiança leitora dos estudantes
e o seu desempenho nos testes de compreensão leitora para todos os países participantes do PIRLS 2021.
A Irlanda e Finlândia estão entre os países cujos estudantes mais confiam na sua capacidade de leitura e estão,
também, entre os países com maiores estimativas pontuais médias no PIRLS 2021. Os estudantes brasileiros
do 4º ano do ensino fundamental possuem uma baixa confiança no seu potencial leitor, uma das menores
dentre todos os países avaliados.
10.5
Autoconfiança dos estudantes Finlândia
Alemanha Singapura
Irlanda
10
Moscou
Portugal
9.5
África do Sul
8.5
FIGURA 20
A Tabela 18 mostra que apenas 29% dos estudantes brasileiros confiam muito em seu desempenho leitor.
Esses estudantes possuem uma estimativa pontual média no teste do PIRLS de 496 pontos, o que representa
estudantes com nível intermediário de desempenho na escala pedagógica, comparável a países como
Alemanha e Portugal. No outro extremo estão os 33,5% de estudantes que apresentam muitas dificuldades na
leitura, segundo sua própria percepção, os quais apresentam uma estimativa pontual média do desempenho
no PIRLS igual a 357, colocando-os no nível “abaixo do básico” na escala pedagógica de leitura do PIRLS.
TABELA 18
Fonte: Elaborada pela Daeb/Inep, com base nos microdados do PIRLS 2021/IEA.
Para compreendermos os resultados apresentados neste Relatório Nacional do PIRLS 2021, registram-se
aqui algumas considerações necessárias para um melhor entendimento sobre como as avaliações de
desempenho em larga escala podem auxiliar na implementação e no monitoramento de políticas públicas
educacionais.
As avaliações educacionais em larga escala pretendem-se diagnósticas dos sistemas educacionais
e, quando realizadas entre diferentes sistemas ou países, são consideradas avaliações comparáveis
internacionalmente. Como avaliações diagnósticas, elas podem apenas medir quantitativamente os resultados
dos sistemas, e não dos estudantes individualmente. Nesse sentido, a avaliação formativa do estudante é mais
bem conduzida pelo professor, quem melhor compreende os diferentes níveis de proficiência dos educandos,
os diferentes estágios em que se encontram, bem como o modo como ele deve intervir pedagogicamente a fim
de que nenhuma criança seja negligenciada ao longo do processo educacional. Sendo assim, a avaliação em
larga escala é de suma relevância ao Estado de Direito, mas não pode servir para responsabilizar a escola ou os
professores por políticas de Estado.
Ademais, os resultados apresentados pelos sistemas constituem-se na caracterização da realidade
naquele ponto em que a avaliação foi efetivada. Avaliações em larga escala, realizadas com um largo intervalo
de tempo entre edições, no caso do PIRLS, a cada cinco anos, possuem por objetivo permitir que o Estado possa
realizar análises detidas sobre seus sistemas a fim de implementar políticas públicas que visem incrementar a
qualidade da educação. Quer dizer: ainda se faz necessário reforçar o fato de que a avaliação diagnóstica serve
para dar subsídios aos gestores públicos imbuídos em formulação e avaliação das políticas públicas. Nesse
sentido, o governo federal e as redes estaduais e municipais são convidados a atuarem auxiliando as escolas
de modo a fornecer meios e recursos, financeiros e pedagógicos, que contribuam para que todas as crianças
tenham direito à educação, e não apenas ao letramento em Língua Portuguesa e Matemática.
Ainda, relativamente às avaliações em larga escala, faz-se necessário apontar para o fato de que o
PIRLS possui quatro níveis na escala pedagógica (baixo, intermediário, alto e avançado), que descrevem a
progressão da compreensão leitora. Embora haja uma compreensão de que a escala possa apenas referendar
o nível de proficiência do estudante relativamente àquilo que está sendo medido, é importante considerar que
os pontos de corte facilitam a compreensão do domínio de habilidades de menor e maior complexidade dos
estudantes nos testes padronizado em larga escala. As análises conjuntas dos fatores associados – coletados
via questionários – e uma leitura sociológica da realidade podem trazer diagnósticos e subsídios para as
políticas educacionais, que pretendem gerir sobre aqueles estudantes que não foram alfabetizados na idade
certa ou não conseguiram finalizar o ciclo de alfabetização a contento.
Embora os dados do Saeb, gerido pelo Inep, venham sistematicamente indicando que parcela
significativa de crianças conclui os anos iniciais do ensino fundamental com defasagens no processo de
alfabetização, até a conclusão da pesquisa Alfabetiza Brasil (conjunto de ações que objetivou identificar o
ponto de corte de uma criança alfabetizada na escala de proficiência do Saeb 2º ano), no primeiro semestre de
2023, o MEC, juntamente com o Inep, não havia ainda enfrentado o desafio que é a qualificação dos pontos de
corte nas escalas de proficiência dos 12 testes aplicados pelo Saeb.
Isso exposto, é importante salientarmos que é a primeira vez que uma avaliação deflagra os níveis
da escala de proficiência em leitura dos estudantes brasileiros. E a despeito das considerações já realizadas
sobre como devemos olhar para as avaliações em larga escala, os efeitos da pandemia de covid-19 sobre o
processo de aprendizagem dos estudantes, as desigualdades educacionais relativas a sexo, cor/raça e nível
socioeconômico, ou mesmo as considerações aportadas no presente Relatório sobre a garantia da equidade
na educação, faz-se necessário repisar o fato de que 62% das crianças brasileiras, no 4º ano de escolarização,
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