Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
b r
Rua Pamplona, 518 • Jardim Paulista • São Paulo (SP) Edição 5 • Ano 3 • Janeiro a março de 2007
E mais: História de vida: Josiane Zanguetin, 26 anos, portadora de talassemia major - pág. 7
O doutor explica sobre a relação entre talassemia e osteoporose - pág. 8
Alianza Latina reúne organizações de apoio a pacientes hematológicos - pág. 8
2
Foto: Arquivo
Agenda ABRASTA
Programe-se VER E OUVIR
As visitas do projeto que
EDITORIAL
Programação 2007
Infância e Adolescência
As crianças costumam di- quelante, e com acompanha- seu tratamento terão efeito lhos e escondê-los só dificulta
zer que vida de criança não é mento médico regular, o por- crítico sobre o desenvolvimen- sua integração à sociedade:
fácil: tem que estudar, fazer tador de talassemia certamen- to destes indivíduos”. “Assim como em qualquer si-
dever de casa, dormir cedo e te terá excelente qualidade de Ela conta que muitas famí- tuação, se o problema for en-
comer legumes e verduras. A vida”, diz Veríssimo. Praticar lias escondem a talassemia de carado de frente e a vida le-
adolescência, transição entre esportes, viajar e sair com os amigos e vizinhos. “Quando vada da forma mais natural
a infância e a vida adulta, é amigos são atividades possí- a doença permanece em se- possível, menos barreiras a
considerada a fase mais com- veis para crianças, adolescen- gredo, o indivíduo e sua fa- serem superadas existirão”.
plicada da vida. Algumas cri- tes e adultos. mília ficam sem acesso aos Para a mãe de Luiza, os pais
anças e adolescentes convi- A médica ressalta ainda a recursos necessários a um tra- são o modelo que os filhos
vem com um fator a mais de importância da participação de tamento adequado, prejudi- têm para seguir: “Temos que
dificuldade, mas nem por isso uma equipe multidisciplinar no cando assim não apenas o tra- passar força para eles. Se não
deixam de viver como seus tratamento. “O acompanha- tamento como seus relaciona- aprenderem com a gente,
amigos de mesma idade: são mento psicológico, por exem- mentos”, analisa. aprenderão com quem? Se
portadores de talassemia. plo, deve ser feito não só com Superproteção e segredos quisermos filhos fortes e pre-
A convivência com uma os pacientes como também não têm vez com Analucia parados para a vida, temos
doença crônica exige uma dis- com seus pais que, mesmo sem Bertola e José Vicente Ador- que ser fortes também. Está
na escola e a imagem
que passa é a de uma
criança inteiramente
normal”
o
– Gustavo, pai de Pedrinh
“Minha fi
lh
lição de v a é uma
ida. Temo
muito a a s
prender
com ela”
– Ana lucia, mã
e de Luiz
a
ciplina que deve começar querer, acabam por prejudicá- no, pais de Luiza, que está em nossas mãos”.
cedo, e incentivada pelos pais. los, quando os protegem ex- com cinco anos de idade, e Muito novo, Pedrinho ain-
De acordo com a hema- cessivamente”, opina. Ayne e Gustavo Nogueira, da não tem consciência sobre
tologista e hemoterapeuta Ponto de vista partilhado pais de Pedrinho, de três anos. o que tem. “O tratamento com
pediátrica Mônica Veríssimo, por boa parte dos profissionais As duas crianças têm muito em ele é feito de forma lúdica.
coordenadora do Programa que lidam com talassemia. Psi- comum: são naturais do esta- Quando o levamos para a
de Talassemia e responsável cóloga da ABRASTA, Eugênia do de São Paulo (Luiza da ca- transfusão, dizemos que ele
pelo Banco de Sangue do Pires, em seu artigo “Talas- pital e Pedrinho de São José vai abastecer o tanque, e que
Centro Infantil Boldrini (Cam- semia e o ciclo vital”, que ana- do Rio Preto), freqüentam a o quelante é a vitamina que
pinas, SP), o portador de lisa a questão do envolvimento escola maternal e têm pais fará com que cresça e fique
talassemia pode levar uma da família no tratamento de que os encorajam a levar a forte”, conta Gustavo Noguei-
vida perfeitamente normal. um de seus membros, nas di- sério o tratamento de talas- ra. Segundo ele, seu filho
“Se o tratamento for feito ferentes fases de sua vida, diz semia major desde cedo. “tira de letra” o tratamento e
da maneira correta, respeitan- que “o reconhecimento e a O pai de Pedrinho acredi- a nova fase. “A adaptação à
do-se transfusões e terapia aceitação da patologia e de ta que proteger demais os fi- rotina escolar foi difícil para o
5
meu filho como para qualquer A importância de se tratar que Renata segue à risca o tra- ainda tem dúvidas quanto ao
criança que começa a ficar corretamente deve ser ensina- tamento. Como ela gosta de futuro. “As coisas vão acon-
fora de casa. Na escola, da aos filhos desde a infân- sair à noite, dançar e viajar, tecendo naturalmente, deixo
Pedrinho já fez amigos e a cia, para que quando se tor- elegeu sexta e sábado como a vida me levar”, assim
imagem que passa aos pro- nem adultos tomem o contro- os dias em que não faz a define sua posição.
fessores e outros pais é a de le pelo seu tratamento com a quelação, que é realizada cin- Enquanto o futuro não
uma criança inteiramente nor- mesma dedicação. E é na co vezes por semana. chega, Paulo continua com
mal. Eles só ficam saben- adolescência que essa res- Seus amigos e namorado suas partidas diárias de
do da talassemia quando ponsabilidade deve ser assu- sabem de seu tratamento, por basquete com os amigos de
contamos”, diz. mida pelo próprio portador isso Renata convoca todos a escola, e vai sempre ao ci-
Descrita como valente por de talassemia. doarem sangue assim que nema, um de seus progra-
sua mãe, Luiza leva o trata- “Felicidade é poder estar completam 18 anos (idade mas preferidos.
mento “numa boa”. Analucia em qualquer lugar com quem mínima para doação). No Mas sobre uma coisa ele
Bertola conta que ensina à fi- você gosta, ainda mais com ano passado, quando ainda tem certeza: a importância de
lha que as transfusões e a pessoas que realmente te era aluna colegial, ensinou se cuidar. “É o principal. Al-
quelação fazem parte de sua amam”. Este é o lema da seus colegas de sala sobre gumas atitudes podem evitar
rotina, assim como escovar os paulistana Renata Nieto, em talassemia, durante uma aula vários problemas. É preciso ter
dentes. “Às vezes ela pergun- seu diário virtual na Internet. de genética. consciência de que devemos
ta por que tem que se tratar e Ela tem 17 anos, é portadora Explicou, entre outras coi- fazer o que deve ser feito. O
a irmã não, e eu respondo que de talassemia major e no fim sas, que é possível ter talas- tratamento pode não ser o
ninguém é igual a ninguém. do último ano encerrou uma semia e formar uma família. mais simples, por vezes dolo-
Lhe digo que deve se cuidar importante fase de sua vida, E ela já tem até nome para o roso, mas vale a pena. Afinal,
para ficar sempre forte e bo- terminou a escola, e acaba sonhado filho: Henrique. com saúde não se brinca”, as-
nita”, conta Bertola. de iniciar uma nova: está “Quero ter um casal, um ge- segura o adolescente.
acontecendo
naturalmente, deixo
a vida me levar”
- Paulo Roberto
“Felicidade é estar
com quem você gosta,
com pessoas que
realmente te amam”
– Renata
A pequena guerreira tem estudando moda. rado por mim e outro adota- Dra. Mônica Veríssimo
entre suas atividades preferi- A futura estilista planeja ir do”, adianta. enfatiza a participação dos
das nadar, ir ao sítio da famí- à Europa, visitar Espanha e E Renata não pára. Além pais na criação dessa cons-
lia e brincar com sua cachor- França, países que considera do curso de moda, tem au- ciência. “Cabe a eles lem-
ra, Branquinha. Luiza adora ir paradas obrigatórias para las de violão e canto, joga brar aos filhos que existe um
à escola, onde tem muitos quem quer seguir a carreira. vôlei e cria números de problema, mas que também
amigos. Esperta e interessada, Renata quer abrir duas lojas, dança com os amigos. Não há uma solução para ele, o
ela nem chegou à classe de aqui mesmo em seu país, é à toa que ela se define tratamento”, ressalta a mé-
alfabetização e já está apren- uma delas de alta costura. como “elétrica”. dica, para quem a talassemia
dendo a ler por conta própria, “São sonhos ainda distantes, Vida normal também leva não deve ser encarada como
auxiliada por sua irmã mais mas vou trilhando cada pas- o paranaense Paulo Roberto um bicho de sete cabeças. E
velha. “Minha filha é uma li- so deste caminho. Um dia eu Rogoski, de 15 anos, que que os pais devem mostrar
ção de vida. Temos muito a chego lá”, garante a promis- cursa o ensino médio do cur- aos filhos que eles têm óti-
aprender com ela”, se derrete sora estudante. so técnico de mecânica. mas perspectivas. E uma lon-
a mãe, orgulhosa. E é pensando no futuro Como qualquer adolescente, ga vida pela frente.
6
Tratamento
História de Vida
Apoio ao Paciente