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EM BUSCA DA CONSCIÊNCIA PERDIDA

POR QUE MUDAR A LINGUAGEM ESPÍRITA?

CONCIÊNCIA
PAZ AMOR
ALEGRIA EQUILÍBRIO
ENTENDIMENTO
INCONSCIÊNCIA
PECADO CARMA
DÍVIDA RESGATE
SOFRIMENTO
EM BUSCA DA
CONSCIÊNCIA PERDIDA

Por que mudar a linguagem espírita?

© 1993 by José Antônio Cunha e Silva

Digitação e Diagramação
Luís Cavalcanti

2013

José Antônio Cunha e Silva


José Antônio Cunha e Silva nasceu em
Delfinópolis (MG), entre os contrafortes da
Serra das Sete Voltas, nas proximidades do
Rio Grande.
Nasceu exatamente onde viveu sua últi-
ma vida no mundo físico.
Em fins de 1980, após intensa procura de
acesso ao mundo espiritual e ao seu passa-
do distante, conheceu a Técnica Física pa-
ra a Conquista da Autoconsciência (TFCA).
Fato esse que o levou a mudar o entendi-
mento sobre o próprio espiritismo e a co-
nhecer a verdadeira razão de sua criação.
Assim, ao longo desses treze anos de prá-
tica da TFCA, foi possível vivenciar o des-
pertamento da consciência onde tudo pode
ser reaprendido e o entendimento da gran-
de sinfonia da vida pode ser ampliado de
forma ilimitada.
ÍNDICE

NOTA DO AUTOR................................................... 8
COMO TUDO ACONTECEU ............................10
PREFÁCIO ...............................................................16
INTRODUÇÃO .......................................................23

CAPÍTULO 1
FATOS OCORRIDOS ANTES
DO SURGIMENTO DO ESPIRITISMO...........29
QUESTÕES RELATIVAS AO TEMA.................36

CAPÍTULO 2
O SURGIMENTO DO ESPIRITISMO...............48
QUESTÕES RELATIVAS AO TEMA.................58

CAPÍTULO 3
O ESPIRITISMO NO TEMPO.............................66
CAPÍTULO 4
A REENCARNAÇÃO.............................................86
QUESTÕES RELATIVAS AO TEMA.................96

CAPÍTULO 5
O CARMA OU LEI DE
CAUSA E EFEITO ............................................. 132
QUESTÕES RELATIVAS AO TEMA...............152

CAPÍTULO 6
O BEM E O MAL...................................................159
QUESTÕES RELATIVAS AO TEMA...............168

CAPÍTULO 7
A FÉ E O CONHECIMENTO...........................204
GLOSSÁRIO...........................................................218
EM BUSCA DA CONSCIÊNCIA PERDIDA
não é uma obra circunscrita aos atuais li-
mites do espiritismo. Tem a ousada pre-
tensão de dar início às mudanças, necessá-
rias, à linguagem espírita. Procura, também,
não perder de vista o ponto fundamental
da questão que é o despertar da consciên-
cia do Ser Humano.
Traça um paralelo entre os princípios bá-
sicos constantes do LIVRO DOS ESPÍRITOS e
os ensinamentos recebidos pelo autor, nos
mundos físico e extrafísico, sobre o assun-
to. Revela notar que esse entendimento é,
muitas vezes, complementar e outras ve-
zes divergente do disposto no LIVRO DOS
ESPÍRITOS.
Entendemos que a grande obra chamada
“ESPIRITISMO” precisa ser revista em seus
fundamentos básicos, para que possa re-
tornar à sua trilha de origem. Esse desvio
deve ser creditado ao próprio homem que
na sua ânsia de saber muito acrescentou à
ÁGUA PURA DA FONTE.
O fato que faz a diferença entre uma obra
e outra é o nível de contribuição para ele-
vação da consciência do Ser Humano em
uso de matéria.
Para se chegar ao caminho da consciência
é preciso estabelecer um divisor de águas,
situando de um lado aquilo que caracterize
atividade secundária e do outro o somató-
rio das ações que efetivamente contribuem
para elevar o entendimento do Ser Huma-
no sobre o semelhante, sobre a vida que o
cerca e finalmente sobre o próprio Criador.
O passo seguinte é dar o justo valor a cada
parte. Aí reside o grande segredo.
NOTA DO AUTOR

Para facilitar a compreensão do funda-


mento desta obra, achamos por bem colo-
car esta nota que nomeia as fontes e escla-
rece ao leitor o tipo de leitura que ele tem
pela frente.
Este livro tem a pretensão de trazer para
o seio do espiritismo uma nova visão sobre
seus princípios básicos, alterando a forma
pela mudança da linguagem para que a es-
sência resplandeça com o brilho do novo
entendimento. Esse caminho da mudança
é rota obrigatória por onde precisa passar
o espiritismo, pois a inércia particular é es-
tagnação quando todo o conjunto avança.
O conteúdo do livro tem como fontes
• Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos.
8
São Paulo: Allan Kardec, 1957. 425p.
• M.A.O, Bianca. As Possibilidades do In-
finito: de um Contato de Terceiro Grau à
Conquista da Autoconsciência. São Paulo:
Kopyin, 1987.119p.
• M.A.O, Bianca. A Vida Dentro da Vi-
da. São Paulo: Kopyon, 1990.119p.
• O conjunto de ensinamentos ministra-
dos tanto no mundo físico como no mun-
do extrafísico que formam a própria base
filosófica da “TFCA – Técnica Física para
a Conquista da Autoconsciência”.
• A experiência vivenciada e os ensina-
mentos recebidos pelo autor em mais de
doze anos de aprendizagem no mundo es-
piritual durante as saídas do corpo físico.
• A participação nos trabalhos espíritas
tanto no mundo material como no mundo
espiritual.

9
COMO TUDO ACONTECEU

Pelos idos de 1979, após intensa procu-


ra de conhecimento sobre o mundo espi-
ritual, tornei-me espírita. Antes, porém, ti-
ve a oportunidade de ler muitos livros so-
bre o assunto. Filiei-me, inclusive, a várias
organizações espiritualistas, frequentei cur-
sos de parapsicologia, viagem astral, enfim
procurei conhecer tudo que se relacionas-
se ao espírito e ao mundo espiritual.
Sobre a doutrina espírita consegui ao lon-
go dos anos razoável conhecimento tanto
pelo estudo das obras básicas como tam-
bém pelas experiências vividas nos traba-
lhos espiritistas de orientação kardecista e
umbandista.
Mesmo sendo espírita e ter conseguido
obter a certeza da continuidade da vida no
10
mundo espiritual, dentro de mim ainda
havia ânsia e desejo de descobrir uma for-
ma de acesso ao mundo espiritual. Acredi-
tava eu que, assim procedendo, obteria to-
das as informações que desejasse sobre mi-
nha pessoa.
Foi com esse estado de espírito que, em
fins de 1980, tive contato com a “TÉCNI-
CA FÍSICA PARA A CONQUISTA DA AUTO-
CONSCIÊNCIA”. Em pouco tempo de prá-
tica dos exercícios ensinados, tive a oportu-
nidade de comprovar a eficiência do méto-
do. Descobri que além de ser um caminho
objetivo e seguro para contato com o mun-
do espiritual, era também uma via de aces-
so à minha própria pessoa tanto na confi-
guração atual, como também na de outras
vidas que vivi em outras eras, em corpos
diferentes. Enfim, era a minha história que
se descortinava à minha frente e eu, como
11
um espectador solitário, podia reaprendê-
-la em todos seus detalhes.
Transcorreram-se os anos e os ensina-
mentos e experiências do mundo espiritual
foram se avolumando, trazendo, por conse-
quência, um maior entendimento sobre os
mundos material e espiritual. Ensinamen-
tos nunca antes imaginados foram recebi-
dos durante o período de repouso da mi-
nha matéria (corpo físico), formando no-
vos registros em minha memória. Novo ân-
gulo se abriu por onde eu podia ver a vida
em cores novas, convidando-me, de forma
imperativa, a mudar. Mudança essa, neces-
sária do meu próprio conceito de passa-
do, presente e futuro. Da mesma forma, a
compreensão das dimensões material e es-
piritual foi se tornando cristalina, afastan-
do para longe as incômodas interrogações.
Esses ensinamentos que venho receben-
12
do nos momentos em que saio do meu cor-
po físico e entro na dimensão espiritual, le-
varam-me a compreender que a vida é úni-
ca e interpenetra dois mundos semelhantes,
o material e o espiritual, que se individua-
lizam apenas pela frequência vibratória. É
obedecendo a esse princípio que o Ser Hu-
mano se acopla, em essência, a uma maté-
ria (corpo) de outra frequência (material),
cujo processo chamamos ENCARNAÇÃO.
É fácil imaginar que meu entendimento
como espírita fatalmente iria mudar. Isso
ocorreu de uma forma muito acentuada,
pois tive a grata oportunidade de assistir,
diretamente no mundo espiritual, a vários
fenômenos descritos nos livros da doutri-
na. Essas experiências e ensinamentos ad-
quiridos nos momentos em que deixei meu
corpo físico contribuíram de maneira de-
cisiva tanto para aumentar meus conheci-
13
mentos como também para alargar meus
horizontes pessoais.
Em meados de 1988, em reunião no mun-
do espiritual, fui convocado por um espíri-
to que lidera o movimento espírita na Ter-
ra a cooperar com o espiritismo de forma
mais direta e objetiva. De início, deveria es-
crever sobre esse outro lado da vida, enfo-
cando pontos importantes dos ensinamen-
tos espíritas, dentro do meu entendimento
adquirido nas experiências extracorpóreas.
Em um segundo momento, deveria então
dar início aos trabalhos práticos dentro do
espiritismo já utilizando uma nova lingua-
gem. Essa nova forma de intercâmbio com
o mundo espiritual se processará de manei-
ra bem diferente da atual. As pessoas que
estão do outro lado da vida e que irão atu-
ar no mundo físico se apresentarão como
elas realmente são. Não haverá necessidade
14
de representarem um papel, usando inclu-
sive nomes fictícios como, em geral, ocor-
re em nossos dias.
A convocação, sem aviso prévio, causou-
-me surpresa. Tomei, no entanto, a resolu-
ção de aceitar o encargo, mesmo sabendo
que fico muito a dever a pessoal ideal para
o trabalho. Procurei, por outro lado, enca-
rar a questão como uma tarefa que alguém
teria que realizar. Assim, dentro dos meus
limites, propus-me cumprir esse compro-
misso, oferecendo o melhor de meus es-
forços.

15
PREFÁCIO

Muitos anos, doze ao todo, vivo o que


poderíamos chamar de uma maravilhosa
aventura de um caçador. Transformei-me,
ao longo do tempo, em um caçador de mim
mesmo. Se antes eu era a caça assustada
frente aos embates da vida, sem destino
certo, a caminhar por onde caminhassem
as outras pessoas, hoje sou o caçador que
finalmente encontrou sua caça. Mas, e o
futuro? O futuro eu o tenho preso em mi-
nhas mãos.
Mas é de todo importante testemunhar o
que ocorre com a pessoa quando ela, cons-
cientemente, tem a oportunidade de pre-
senciar a chegada de consciência. São inú-
meras as mudanças de profundidade que
vão acontecendo ao longo do tempo, tanto
16
no corpo físico como no próprio Ser Hu-
mano que o possui. Pode-se distingui-las
umas das outras de forma perfeita.
Inicialmente quase tudo é imperceptível.
É muito sutil para que os sentidos bastante
adormecidos possam perceber tantas mu-
danças. Mas ao prosseguir na grande via-
gem da busca da consciência começa-se a
perceber o imperceptível, a sentir o insen-
sível e a ver o que antes era invisível. Uma
grande certeza de que realmente somos se-
res humanos paira sobre nós. Um grande
sentimento de conhecimento ao Criador se
aloja em nosso interior, trazendo uma va-
ga lembrança de que o conhecíamos antes
e que o tínhamos esquecido, mas que ago-
ra novamente o encontramos.
Podemos representar a caminhada em di-
reção à autoconsciência como uma estra-
da que circula ao redor de nós mesmos. A
17
cada volta que percorremos em vez de nos
afastarmos de nós mais nos aproximamos
e, por outro lado, passamos a enxergar mais
longe.
Com isso nos sentimos melhores do que
as demais pessoas que nos rodeiam? Não,
mas passamos a entender com maior pro-
fundidade a enormidade dos problemas que
afligem o Ser Humano. Dentre eles o mais
terrível: A INCONSCIÊNCIA.
Mas atravessar o pântano da inconsciên-
cia para singrar os mares da consciência
plena não é tarefa fácil. É abrir as próprias
entranhas, é rasgar o livro da morte e rees-
crever o livro da vida. É morrer e nascer de
novo no mesmo corpo.
Nessa aventura temos que nos despir de
todos os nossos agregados psicológicos, te-
mos que expulsar os nossos egos, retirar e
lançar fora as nossas máscaras e extinguir
18
a vida de todas os nossos personagens pa-
ra que vivamos somente “nós”, seres hu-
manos eternos.
É uma luta de David e Golias? Verdadei-
ramente é. A vitória, no entanto, está ao al-
cance de todos aqueles que ousam querê-la.
Toda boa luta conduz a uma grande vitó-
ria, sabendo onde nos levam os nossos pas-
sos, tudo fica mais fácil, as dificuldades na-
turais da caminhada se nos apresentam co-
mo contratempos de uma viagem que tem
tempo para terminar.
Quando nos pomos a caminho ao nascer
do sol a noite jamais nos alcançará.
É o voo da águia que eternamente irá
voar.
Verdadeiramente precisamos quebrar o
ciclo do NASCE/RENASCE. E para isso mu-
dar é preciso. A mudança inicia quando o
homem começa a conhecer a si mesmo,
19
pois nele está o conhecimento de seu se-
melhante, os mistérios da vida e o possível
entendimento do próprio Criador.
Para o planeta Terra só existe uma saída:
A HUMANIDADE SE TORNAR CONSCIENTE.
Para a humanidade só existe uma saída:
O HOMEM SE TORNAR CONSCIENTE.
Para o homem só existe uma saída: ELE
SE TORNAR CONSCIENTE.
Essas três afirmações nos conduzem a
uma conclusão: todos os desequilíbrios, as
anormalidades, os desvios, as mazelas, o so-
frimento e a dor que afligem o Ser Huma-
no têm uma única origem e um único res-
ponsável: A INCONSCIÊNCIA HUMANA. Tu-
do o mais que se atribui como causa e co-
mo responsável por esses fatos que ocor-
rem com a nossa humanidade é apenas uma
tentativa de encontrar uma explicação pa-
ra o que não se conhece e ao mesmo tem-
20
po responsabilizar alguém por uma culpa
que não existe.
Essa afirmação derruba por terra toda
cultura humana relacionada ao DESTINO,
AO CARMA, À LEI DE CAUSA E EFEITO, AO
PECADO E AO CASTIGO.
Na escuridão da inconsciência não pode
ser culpado aquele que se desvia do cami-
nho, ou que fere alguém por não o reco-
nhecer como irmão.
A luz da consciência não pode ser doada,
mas sim conquistada. Isto porque a con-
quista significa aquisição de forma paula-
tina e a consequente adaptação, enquan-
to a doação significa a mudança, de forma
abrupta, da escuridão para a luz o que le-
varia a pessoa à cegueira, ao desequilíbrio
e provavelmente à loucura.
O espiritismo é um socorro que veio do
“alto”. É um caminho suave que permite
21
ao mundo espiritual vir até ao mundo físi-
co, refazendo a ligação entre o homem e a
sua origem, preparando-o para a chegada
da consciência.
Quando o homem avança e sobe os de-
graus da consciência ele precisa voar e o es-
piritismo nesse momento deve fornecer as
asas que o conduzirão aos campos do ver-
dadeiro entendimento e da sabedoria maior.

22
INTRODUÇÃO

Uma triste realidade se apresenta ao ho-


mem no ocaso da vida física e uma interro-
gação paira em sua mente: qual será o seu
destino após o fenômeno chamado morte?
Mediante simples retrospecto ao passado
ele conclui, de forma irremediável, que du-
rante o estágio na matéria densa não obte-
ve o conhecimento e preparo para esse mo-
mento de tão grande importância. Daí sur-
gem dramas e tragédias, pois o desconheci-
do lhe causa medo, angústia e sofrimento.
Nada mais aterrador do que perder a indi-
vidualidade na estrutura íntima do ser, ex-
pulsando para terras distantes o bom sen-
so e a razão.
Nesse estado de quase desespero men-
tal, procura agarrar-se às ideias antigas que
23
sempre ouviu; ora o paraíso maravilhoso e
indolente que se lhe apresenta; ora é Lúci-
fer, convidando-o para o resgate iminente
de seus pecados nos caldeirões do inferno.
De repente, de sua mente encurralada, sur-
ge uma esperança salvadora: o sono eterno.
Sim, como tantas vezes ouvira falar, o so-
no eterno o conduzirá ao porto seguro do
juízo final, quando então – milagre dos mi-
lagres – mesmo morto em matéria, ergue-
rá seus andrajos humanos e voltará à vida.
Apesar de essas ideias desfilarem por sua
mente cansada e sofrida, no mais íntimo do
seu ser ecoa um pungente pedido de socor-
ro, pois o espírito imortal sabe que, assim
como o náufrago precisa de algo sólido pa-
ra se apoiar, ele precisa da verdade para se
sustentar.
Toda essa conduta do homem perante
a inevitável perda da vestimenta física foi
24
analisada em profundidade pelos líderes do
mundo espiritual. A análise não se restrin-
giu ao crepúsculo da vida material, mas se
estendeu ao comportamento do Ser Hu-
mano, enquanto encarnado, onde se verifi-
cou que a razão cedia lugar aos instintos e
os sentimentos se transformavam em pai-
xões cegas, filhas diletas da matéria. Tal ati-
tude contrariava as leis naturais conferidas
pelo Criador, ao mesmo tempo que preju-
dicava o próprio homem na sua caminha-
da em direção ao CONHECIMENTO MAIOR.
Foi assim, que esses líderes do Mundo
Espiritual decidiram criar um plano que pu-
desse constituir-se em um seguro contra
essa programação nefasta imposta ao Ser
Humano encarnado, ao mesmo tempo que
propiciaria a cura dos seus efeitos pernicio-
sos. Esses ensinamentos distorcidos e dis-
tantes da grande realidade que permeia as
25
dimensões material e espiritual são tão da-
nosos, que além de afetar a vida física, se in-
corporam à pessoa humana, acompanhan-
do-o até o mundo espiritual após a per-
da do corpo físico, onde passam a consti-
tuir verdadeiras prisões mentais. Chega-se
ao ponto de pessoas desencarnadas perma-
necerem “mortas” na dimensão espiritual
em virtude das “orientações” recebidas no
mundo físico. O despertar dessas pessoas é
difícil e doloroso e só se torna possível pe-
la colaboração abnegada dos trabalhadores
do mundo espiritual, que não medem es-
forços para auxiliar o homem a readquirir a
sua consciência. A aceitação desses ensina-
mentos distorcidos só acontece devido ao
estado de inconsciência humana, pois uma
pessoa que tem consciência plena não dá
guarida a esse tipo de ensinamento.
Esse auxílio espiritual foi e ainda é neces-
26
sário, “pois um acidente planetário tornou
o homem inconsciente” e a noite da incons-
ciência roubou o seu passado e o seu co-
nhecimento. Urgia, desse modo, auxiliar-lhe
a enfrentar o grande desafio de viver sem
saber “QUEM ERA, O QUE ERA e POR QUE”
estava aqui na matéria, encarnado em um
mundo cheio de contradições onde a fra-
gilidade da razão caminhava ao lado de po-
derosos sentimentos e emoções doentios.
Assim nasceu o espiritismo, movimento
integrador do Ser material e espiritual. Um
consolador.
O espiritismo assim criado foi se consti-
tuindo em linha de trabalhos com suas co-
res próprias, muitas vezes de difícil aceita-
ção pelo nosso pequeno entendimento, mas
nem por isso distante do objetivo primeiro
que é a busca da consciência perdida.
A história da semente do espiritismo,
27
no entanto, se perde na noite dos tempos.
“Das onze raças que iniciaram o povoa-
mento da Terra foi somente a raça negra,
por suas características de bondade e pas-
sividade, que manteve o registro do mun-
do espiritual. Foi através dessa raça que o
nosso contato com a dimensão extrafísica
pôde ser reiniciado e mais tarde estrutura-
do o próprio espiritismo com suas diver-
sas linhas de trabalho. O grupo de pesso-
as que tinha como objetivo o trabalho nos
mundos físico e espiritual, ao mesmo tem-
po, escolheu a matéria negra para suas en-
carnações, uma vez que ela possuía aque-
les atributos já mencionados.”

28
Capítulo 1

FATOS OCORRIDOS ANTES


DO SURGIMENTO DO ESPIRITISMO

Para todo fato ou efeito existe uma causa


e para dar a explicação do porquê do espiri-
tismo, temos que retornar no tempo, viajar
ao passado, navegando o rio dos milênios
até o momento em que o homem habitava
a Terra e era senhor do seu destino porque
era autoconsciente e tinha o CONHECIMEN-
TO. “O Ser Humano dessa era provinha de
onze raças originárias de onze planetas di-
ferentes.” Tinha o corpo físico em perfeito
funcionamento, o que lhe permitia manter
intactos os seus registros cerebrais quando
29
realizava a troca de matéria (morte e nasci-
mento). Esse perfeito funcionamento ce-
rebral lhe permitia manter todo o conhe-
cimento adquirido nas encarnações passa-
das. Era, portanto, autoconsciente.
“No início, antes dessas raças se fixarem
aqui, foram trazidas primeiro as espécies
da flora e fauna desses planetas, que aqui
prosperaram e se multiplicaram, comple-
mentando a formação de nossos mundos
vegetal e animal. Logo que aqui chegaram,
verificaram que já existia o mundo espiri-
tual, mas não existia a vida do homem na
matéria. Iniciaram, a partir desse momento,
a produção de matéria, ou seja, corpos físi-
cos para que os espíritos próprios do nosso
planeta pudessem iniciar as encarnações”.
Cabe aqui uma explicação do por quê des-
se procedimento. Na formação dos plane-
tas, primeiro forma-se o mundo espiritual
30
e depois a massa material do globo. Pron-
to o mundo físico, faltam, no entanto, cor-
pos materiais para que os espíritos que for-
mam a população extrafísica possam iniciar
suas romagens no mundo material. É nesse
momento que a colaboração dos habitantes
de outros planetas se faz necessária, ofere-
cendo aos espíritos do orbe iniciante cor-
pos físicos para que através do nascimento
tenham suas primeiras vivências no mundo
material. Esse início não seria possível sem
a participação de outros mundos habitados
pelo homem filho do mesmo CRIADOR.
Importante observar que “as onze raças
que iniciaram o povoamento da Terra fo-
ram distribuídas por diversas áreas geográ-
ficas, observando-se a semelhança entre os
diversos fatores ambientais do nosso orbe
tais como: clima, relevo e vegetação aos de
seus ambientes de origem”. Assim se ex-
31
plica a razão de existirem tantas raças em
nosso planeta com diferenças tão marcan-
tes entre elas.
Foi no decorrer dessa era que “o nosso
planeta sofreu um terrível acidente moti-
vado por explosões solares que romperam
a camada atmosférica protetora da Terra”,
fato que é observado até os dias atuais e
preocupa a comunidade científica de vá-
rios países. Esse rompimento permitiu a
passagem de grande quantidade de radia-
ção, o que causou, e continua causando até
os nossos dias, danos irreparáveis ao ho-
mem que aqui habitava a matéria. O corpo
físico sofreu grandes prejuízos, mas os da-
nos causados ao cérebro humano foram in-
calculáveis. Todos os registros que forma-
vam a memória foram apagados e o homem
mergulhou na terrível era da inconsciência.
Não mais sabia sua origem e tampouco seu
32
passado. Todo seu conhecimento foi blo-
queado. De todos os registros de sua me-
mória apenas um permaneceu, a lembran-
ça de que o socorro vinha do CÉU – prin-
cípio que até hoje norteia muitas religiões.
Cabe uma explicação para o fato; naquela
época os diversos planetas que participa-
ram da colonização da Terra enviavam, de
tempos em tempos, equipes para acompa-
nhar o desenvolvimento dos que aqui per-
maneceram. As naves que visitavam a Ter-
ra seguiam por rotas especiais de navegação
espacial e quando aqui chegavam desciam
do alto, ou seja, do céu. Assim ficou o re-
gistro, lembrando ao homem que o auxílio
vinha “DO ALTO”. Com o passar do tem-
po passou-se a acreditar que esse “DO AL-
TO” ou “DO CÉU” se referia a Deus.
Com o acidente ocorrido as naves ficaram
impedidas de vir até nosso planeta porque
33
as “rotas especiais” de navegação espacial
que as conduziam até a Terra tinham sido
bloqueadas pelas explosões solares. Muito
tempo transcorreu até que pudessem voltar
ao nosso planeta. Quando aqui finalmente
as equipes retornaram encontraram o ho-
mem em estado deplorável: havia se torna-
do inconsciente e não mais se lembrava do
passado e de sua origem. Em razão disso,
as pessoas que compunham essas equipes
foram adoradas como deuses. Por mais que
tentassem explicar o que tinha ocorrido, só
conseguiram despertar a fúria daqueles que
queriam adorá-las. A consequência imediata
desse comportamento foi a suspensão ne-
cessária e por longo período, do envio de
novas equipes à Terra.

34
QUESTÕES E RESPOSTAS

Ao final de cada capítulo foi adicionada


uma série de questões relativas ao tema ali
desenvolvido. Essas perguntas foram ex-
traídas do Livro dos Espíritos e as respos-
tas originais foram assinaladas com “LE”
(Livro dos Espíritos), seguidas de “comen-
tários” do autor, onde se procura mostrar,
muitas vezes uma abordagem nova, utili-
zando uma linguagem atualizada e mais
consentânea com o entendimento do ho-
mem de nossos dias. Essas respostas estão
calcadas no aprendizado espírita nos mun-
dos físico e espiritual, nos ensinamentos
que norteiam a Técnica Física para a Con-
quista da Autoconsciência, bem como no
conteúdo das obras relacionadas, no início,
na Nota do Autor.

35
QUESTÕES RELATIVAS AO TEMA

1. Quando a Terra começou a ser povoada?


LE: No começo tudo era o caos; os ele-
mentos estavam fundidos. Pouco a pouco
apareceram os seres vivos.
Comentário: A Terra foi povoada por se-
res humanos de outros planetas. Assim que
aqui chegaram encontraram o mundo espi-
ritual já formado, mas não havia vida hu-
mana na matéria. Iniciaram então a produ-
ção de corpos físicos para que pudessem
dar início às encarnações dos espíritos pró-
prios do Planeta.
2. De onde vieram os seres vivos para a Terra?
LE: A Terra continha os germes em esta-
do latente. No momento certo os seres de
cada espécie se reuniram e multiplicaram.
Comentário: Boa parte dos seres vivos foi
trazida de diversos planetas e colocada so-
36
bre a Terra para se multiplicarem. O pró-
prio homem, vindo de fora, aqui deu início
ao povoamento de nosso orbe.
3. A espécie humana se achava entre os ele-
mentos orgânicos do globo terrestre?
LE: Sim e veio a seu tempo.
Comentário: A espécie humana (matéria)
não se achava entre os elementos do globo
e teve sua origem fora da Terra.
4. Se o germe da espécie humana se encon-
trava entre os lementos do globo, por que os ho-
mens não mais se formam espontaneamente,
como em sua origem?
LE: Os homens absorveram em si mes-
mos os elementos necessários à sua forma-
ção, para transmiti-los segundo a lei da re-
produção.
Comentário: Como já afirmamos ante-
riormente, o germe da matéria humana não
37
se encontrava entre os elementos formado-
res da Terra, mas foi iniciada aqui a forma-
ção dessa matéria, por seres humanos pro-
venientes de outros planetas.
5. De onde vêm as diferenças físicas e morais
que distinguem as variedades de raças huma-
nas na Terra?
LE: Do clima, da vida e dos hábitos.
Comentário: As diferenças raciais hoje
existentes entre os povos que habitam a
Terra tiveram origem no fato de ela ter si-
do povoada, no início, por onze raças pro-
venientes de onze planetas diferentes. Es-
sas raças foram as formadoras das caracte-
rísticas físicas atuais do nosso ser humano.
6. O homem apareceu em muitos pontos do
globo?
LE: Sim, e em diversas épocas, e é essa
uma das causas da diversidade de raças.
38
Comentário: As onze raças que deram
origem à população da Terra vieram de pla-
netas que guardavam semelhanças ambien-
tais com certas regiões do globo terrestre.
Obedecendo a essas semelhanças com seus
planetas de origem as raças foram distribuí-
das sobre a superfície da Terra. Dessa for-
ma, a raça negra, por exemplo, situou-se
basicamente na região que guardava seme-
lhança com o seu planeta de origem, a raça
branca da mesma forma e assim por diante.
7. Essas diferenças representam espécies dis-
tintas?
LE: Não. Todos pertencem à mesma fa-
mília.
Comentário: Representavam raças distin-
tas provenientes de planetas distintos, com
características próprias. Esse fato, no en-
tanto não pode nos conduzir à ideia de que
a ocupação se deu de forma isolada. Tudo
39
foi realizado dentro de um plano maior on-
de o trabalho foi a tônica. Esse trabalho de
povoamento da Terra era muito importan-
te para dar suporte às viagens interplane-
tárias empreendidas pelos habitantes des-
ses planetas.
8. A alma dos animais conserva, após a mor-
te, sua individualidade e a consciência de si
mesma?
LE: Sua individualidade, sim, mas não a
consciência de si mesma. A vida inteligen-
te permanece em estado latente.
Comentário: Os animais foram criados
perfeitos para suas finalidades, mas suas vi-
das se iniciam com o nascimento e se en-
cerram com a cessação da vida orgânica. A
energia que sustenta a organização material
se dissipa com a cessação da vida. Após a
morte nada restará de um animal em parti-
cular porque a própria energia que se dissi-
40
pa é assimilada por outros animais ou pela
própria matéria do Ser Humano.
9. Pois se os animais têm uma inteligência
que lhes dá certa liberdade de ação, há neles
um princípio independente da matéria?
LE: Sim, e que sobrevive ao corpo.
Comentário: O animal possui apenas o
chamado instinto de sobrevivência e apti-
dão para aprender. Cessada a atividade fí-
sica também cessa a vida.
10. Os animais progridem como o homem,
por sua própria vontade, ou pela força das coi-
sas?
LE: Pela força das coisas; e é por isso
que, para eles, não existe expiação.
Comentário: Os animais foram criados
perfeitos para as finalidades a que se desti-
nam. Não há portanto progresso e mesmo
que houvesse seria perdido logo que o ani-
41
mal perdesse a vida. Isto dentro do princí-
pio de que a existência do animal se inicia
com o nascimento e se encerra definitiva-
mente com a morte física.
11. Ficou dito que a alma do homem, em sua
origem, assemelha-se ao estado de infância da
vida corpórea, que a sua inteligência apenas
desponta, e que ela se ensaia para a vida. On-
de cumpre o espírito essa primeira fase?
LE: Numa série de existências que pre-
cedem o período que chamais humanidade.
Comentário: O Criador criou o Ser Hu-
mano perfeito, distinguiu a uns com o “re-
gistro de matéria”, que seguem o caminho
da encarnação; e outros, sem esse registro,
que os distancia do uso da matéria. Não fo-
mos criados animais para chegarmos a Ser
Humano. Quando o Criador quis criar o
animal ele o criou, quando quis criar o Ser
Humano ele assim o fez.
42
12. Parece, assim, que a alma teria sido o
princípio inteligente dos seres inferiores da cria-
ção?
LE: Não dissemos que tudo se encadeia
na natureza e tende à unidade? É nesses
seres, que estais longe de conhecer inteira-
mente, que o princípio inteligente se elabo-
ra, se individualiza pouco a pouco, e se en-
saia para a vida, como dissemos...
Comentário: A obra do Criador tem uma
lógica suprema, mas não se encadeia da for-
ma que muitas vezes ousamos pensar. Des-
se modo, o Ser Humano não é um produ-
to da evolução dos reinos animal, vegetal e
mineral, mas ao contrário ele é o guardião
desses reinos, como participante da gran-
de administração universal.
13. Esse período da humanidade começa so-
bre a nossa Terra?
LE: A Terra não é o ponto de partida da
43
primeira encarnação humana. O período de
humanidade começa em geral, nos mundos
inferiores. Essa entretanto, não é uma re-
gra absoluta, e poderia acontecer que um
espírito, desde o início humano, esteja apto
a viver na Terra. Esse caso não é frequen-
te, e seria antes uma exceção.
Comentário: Entendemos que dentro
da obra do Criador não existem mundos
com os atributos de superiores ou inferio-
res, existe isto sim, mundos em formação,
mundos não habitados e mundos habita-
dos pelo Ser Humano. Quanto ao fato de
um espírito habitar determinado planeta is-
to é antes uma escolha voluntária e não um
prêmio ou uma imposição. Esse é o nosso
caso em relação à Terra porque todos que
hoje a habitam foram voluntários e assumi-
ram o planeta como sua morada.
14. O espírito tendo entrado no período da
44
humanidade, conserva os traços do que havia si-
do precedentemente, ou seja, do estado em que
se encontrava no período que se poderia chamar
anti-humano?
LE: Isso depende da distância que separa
os dois períodos e do progresso realizado.
Durante algumas gerações ele pode con-
servar um reflexo mais ou menos pronun-
ciado do estado primitivo, porque nada na
natureza se faz por transição brusca...
Comentário: Fomos criados como seres
humanos e assim permaneceremos. Nes-
se caso houve certa confusão entre o Ser
Humano e a matéria da qual esse se utili-
za, pois o espírito (Ser Humano) não pas-
sa por gerações, já que essa é uma caracte-
rística da matéria humana.
15. Do ponto de vista puramente físico, os
corpos da raça atual são uma criação especial,
ou procedem dos corpos primitivos, por via da
45
reprodução?
LE: A origem das raças se perde na noite
dos tempos, mas, como todas pertencem à
grande família humana, qualquer que seja
o tronco primitivo de cada uma, puderam
mesclar-se e produzir novos tipos.
Comentário: Das onze raças provenien-
tes de onze plantas distintos que iniciaram
a reprodução de corpos físicos aqui na Ter-
ra, tiveram origem, através dos tempos, os
nossos corpos atuais.
16. Nos mundos onde a organização é mais
apurada, os seres vivos têm necessidade de ali-
mentação?
LE: Sim, mas os seus alimentos estão em
relação com a sua natureza. Esse alimen-
to não seria tão substancial para os vossos
estômagos grosseiros; da mesma maneira,
eles não poderiam digerir os vossos.
Comentário: A matéria (corpos físicos)
46
que usamos na Terra é a mesma matéria
usada em outros planetas, excetuando-se
apenas alguns atributos próprios de cada
povo. Por outro lado, devemos lembrar que
os corpos físicos dos habitantes de outros
planetas não têm os graves defeitos que têm
os nossos, defeitos esses originados pelo
grande acidente planetário aqui ocorrido
há vários milênios.
No tocante à alimentação as pessoas de
outros planetas se utilizam, praticamente,
de todos os nossos alimentos básicos. Não
poderia ser de outra forma, pois os nossos
alimentos foram trazidos por eles dos seus
planetas de origem, quando aqui chegaram
e iniciaram o processo de reprodução da
matéria humana.

47
Capítulo 2

O SURGIMENTO DO ESPIRITISMO

Após o acidente mencionado a roda do


tempo girou incansavelmente, formando
a corrente dos séculos até alcançar o mo-
mento em que o homem teria que iniciar
o aprendizado novamente, já que ele tinha
se tornado inconsciente devido a um aci-
dente planetário espontâneo e incontrolá-
vel. Passou, a partir daí, a utilizar uma ma-
téria defeituosa. Seguiu através dos séculos
a produzir matéria da mesma forma preju-
dicada. Em outras palavras, todos os corpos
de crianças que nasceram a partir desse aci-
dente herdaram esse defeito físico. Assim,
48
a matéria no seu automatismo não corrige
seus próprios defeitos, pois esse trabalho
só pode ser realizado pelo espírito imortal.
Esse bloqueio das matérias recém-nascidas
não permitia que os espíritos reencarnantes
permanecessem com seus conhecimentos
e lembranças de quando não tinham maté-
ria. Portanto, a cada nova reencarnação ou
troca de matéria, o homem tinha (e tem) de
reaprender tudo novamente.
Convém nesse ponto abrir um parênte-
se para esclarecer uma questão que inco-
moda o ser humano: é a razão por que ele
não se lembra dos fatos e acontecimentos
de outras vidas. A resposta é simplesmen-
te uma: porque ele utiliza uma matéria com
bloqueios, centralizados principalmente na
região cerebral, que não lhe permitem man-
ter o conhecimento anteriormente adqui-
rido. Não se trata, portanto, de um “casti-
49
go”, e tampouco do benefício do esqueci-
mento, pois melhor seria que se lembras-
se de tudo, inclusive dos fatos desagradá-
veis, pois desta forma, seria mais fácil evi-
tar a sua repetição.
Mas outras questões de foro íntimo afli-
giam ao homem, principalmente aquelas
que diziam respeito à sua origem e ao seu
destino futuro. No decorrer do tempo vá-
rias organizações ocultas, esotéricas e reli-
giosas criadas procuraram fornecer respos-
ta para esse tipo de indagação. A partir daí
iniciou-se um processo de programação do
ser humano, que no seu estado de inconsci-
ência não teve o discernimento necessário
para saber se as respostas oferecidas aten-
diam às perguntas formuladas. Muitos dos
ensinamentos ministrados pelas organiza-
ções criavam, e ainda criam certos clichês
mentais, dando origem a novos registros
50
que uma vez gravados na memória aí per-
manecem além da vida física. Muitos des-
ses novos registros em nada contribuíam
para o despertar do homem, ao contrário
levava-o a se identificar cada vez mais com
a própria matéria, que em resumo é apenas
uma parte dele e não totalmente ele. Essa
identidade com a matéria é a responsável
pela maior parte do sofrimento que o afli-
ge. Com essa identificação, o corpo físico
passou da condição de “parte” para ser o
“todo”. Deixou de ser instrumento para ser
comando.
OS ANIMAIS FORAM CRIADOS PERFEI-
TOS PARA AS FINALIDADES A QUE SE DES-
TINAM. NÃO EVOLUEM, MAS SUAS CARAC-
TERÍSTICAS SÃO SUSCEPTÍVEIS DE SEREM
ALTERADAS PELO SER HUMANO.

O homem quando era consciente tinha


uma ponte que o ligava diretamente ao
51
mundo espiritual. Essa ponte foi destruí-
da com o acidente e nos tempos que se se-
guiram foi criada, em seu lugar, uma mura-
lha de inverdades que o aprisionou mais e
mais à matéria. Tanto que nos dias de ho-
je é clara essa simbiose doentia do homem
e a sua matéria, não admitindo aquele que
esta não seja ele, mas apenas parte dele.
O Ser Humano assim “orientado”, mesmo
após a morte física, passou a se compor-
tar de acordo com os ensinamentos rece-
bidos. Muitas dessas organizações ensina-
vam, e ainda ensinam que a vida espiritual
e a reencarnação não existiam e que a volta
à matéria se daria através do próprio corpo
que um dia se ergueria do sepulcro e vol-
taria à vida. O homem assim programado
se recusava a despertar, após a morte físi-
ca, para sua nova condição de vida, não to-
mando conhecimento que o seu estado de
52
“ser vivo” continuava, apenas tinha muda-
do da dimensão física para a dimensão es-
piritual, onde seus atos eram também reais
e concretos, porém pertencentes a uma ou-
tra frequência vibratória.
Convém notar nesse ponto que muitos
ensinamentos e acontecimentos prejudiciais
“registrados” na matéria só podem ser en-
tendidos e desfeitos na própria matéria. Por
aí se vê que o caminho natural para se des-
fazer esses registros é a reencarnação. Não
se trata aqui da ação da lei de causa e efeito,
mas de criar as mesmas condições de quan-
do o registro foi efetivado para que então
se dê o entendimento. É importante notar
nessa explicação a mudança de linguagem,
estamos descaracterizando a dívida e o res-
gate e mostrando a repetição da experiência
na matéria para buscar o ENTENDIMENTO.
A isso podemos chamar de AQUISIÇÃO DE
53
CONSCIÊNCIA.
Assim, observando o comportamento do
homem antes e após a morte física, líderes
do mundo espiritual julgaram por bem ela-
borar um plano que viesse ao mesmo tem-
po confortar, orientar e conscientizar os se-
res humanos pertencentes ao planeta Ter-
ra. Desse modo, foi criado o espiritismo,
que CONFORTA porque dá a certeza de que
a vida continua e que a morte do corpo fí-
sico é apenas e tão somente um aconteci-
mento da vida na matéria; ORIENTA por-
que traz ensinamentos essenciais para o en-
tendimento da vida nos mundos material
e espiritual; CONSCIENTIZA porque cons-
trói novamente a ponte que liga o homem
ao mundo espiritual, levando-o a reconhe-
cer-se imortal e entender que “a matéria é
apenas parte dele e não totalmente ele”, e
que já viveu antes e viverá depois.
54
O homem que passara a viver com os fa-
tos e lembranças da vida material, come-
çou a presenciar e a conhecer os fenôme-
nos que demonstravam uma outra realida-
de que estava por trás do mundo visível,
realidade essa que mesmo invisível mos-
trava-se rica em detalhes reveladores capa-
zes de desafiar os céticos mais renitentes e
as inteligências mais avançadas. Dessa for-
ma, em um processo ininterrupto o espiri-
tismo foi se expandindo por cidades e paí-
ses, buscando realizar o despertamento do
homem. A partir daí o Ser Humano encar-
nado passou a contar com a referência do
mundo espiritual para se posicionar fren-
te à vida.
Com a propagação do espiritismo o ho-
mem tomou contato com um mundo novo,
pleno de realidades novas, cheio de fenô-
menos incontestáveis, mas ao mesmo tem-
55
po inexplicáveis pelo conhecimento cien-
tífico.
Surgiu a medicina espiritual com as curas
e cirurgias que cumprem dois objetivos a
um só tempo: em primeiro plano atestar a
existência do mundo espiritual e a sua in-
terligação com o mundo material; e em se-
gundo lugar trazer benefícios ao homem
quando enfermo. Outras formas de inter-
câmbio com a finalidade de conscientizar
são utilizadas, a exemplo da psicografia, a
psicofonia, materializações, dentre outras,
que muito contribuem para melhorar o en-
tendimento humano.
Importante observar, neste ponto, que
o espiritismo surgiu primeiro pelos fatos e
depois pela doutrina, consolidando-se tan-
to pelo valor dos ensinamentos, como tam-
bém pelo caráter lógico e científico de seus
pressupostos.
56
Convém observar que dentro do espi-
ritismo tudo que não passar pelo crivo da
razão deve ser deixado de lado, mostrando
assim que todo fato ou ensinamento deve
primeiro ser entendido e depois aceito em
nosso mundo interno.
A diferença maior entre o espiritismo e
outros grupos religiosos é o caminho segui-
do. Enquanto muitas organizações buscam
“O caminho da fé”, ele percorre “O cami-
nho da razão”, levando ao homem primei-
ro o entendimento e depois a crença. Des-
sa forma, a crença proveniente do enten-
dimento se transforma na luz do saber, en-
quanto a crença filha da fé permanece ape-
nas como crença.
No espiritismo também deve haver a fé,
mas a fé raciocinada, aquela que passa obri-
gatoriamente pela trilha da razão, pois não
sendo assim não é uma “fé espírita”, mas
57
simplesmente fé. O homem que entende
realmente sabe, ao passo que o homem que
tem fé simplesmente acredita.
“O SER HUMANO É PERFEITO E O CRIA-
DOR NÃO VÊ DEFEITO EM SUA OBRA.”

QUESTÕES RELATIVAS AO TEMA

1. Por que o espírito encarnado perde a lem-


brança do seu passado?
LE: O homem nem pode nem deve tudo
saber; Deus assim o quer, na sua sabedo-
ria. Sem o véu que lhe encobre certas coi-
sas, o homem ficaria ofuscado, como aque-
le que passa sem transição da obscuridade
para a luz. Pelo esquecimento do passado
ele é mais ele mesmo.
Comentário: O homem deve saber tudo
para melhor situar-se no grande concerto
da criação. Entendemos que o Criador na
sua suprema sabedoria deve querer sempre
58
o máximo e o melhor para seus filhos. Se o
homem não se lembra de seu passado, de
sua origem e por que ocupa um corpo físi-
co com defeito aqui na Terra, isso tem por
causa um acidente e não por que o Criador
assim determinou. Comentamos anterior-
mente esse acidente planetário que causou
grande dano à organização física da popu-
lação terrestre. Portanto, não devemos con-
fundir a escuridão da inconsciência aciden-
tal com defeitos da obra divina do Criador.
Não se trata assim de uma inferioridade do
espírito encarnado, mas sim de um defeito
temporário do corpo físico.
2. Como pode o homem ser responsável por
atos e resgatar faltas dos quais não ser recorda?
Como pode aproveitar-se da experiência adqui-
rida em existências que caíram no esquecimen-
to? Seria concebível que as tribulações da vida
fossem para ele uma lição, se pudesse lembrar-
59
-se daquilo que as atraiu, mas desde que não
se recorda, cada existência é para ele como se
fosse a primeira, e é assim que ele está sempre
a recomeçar. Como conciliar isto com a Justi-
ça de Deus?
LE: A cada nova existência, o homem
tem mais inteligência e pode melhor dis-
tinguir o bem e o mal. Onde estaria o seu
mérito, se ele se recordasse de todo o pas-
sado? Quando o espírito entra em sua vi-
da primitiva (a vida espírita), toda a sua vi-
da passada se desenrola diante dele: vê as
faltas que cometeu e que são causas do seu
sofrimento...
Comentário: Nesse caso em particular
entendemos que a pergunta devesse ser a
resposta, pois ali está em essência, a ver-
dade. Reafirmamos que se o homem não
se lembra de seu passado de nada adianta
atribuir-lhe castigos cujo efeito pode ser a
60
revolta por se sentir injustiçado, já que ele
de nada se recorda. Dessa forma, aos fatos
relacionados à própria vida material estão
sendo atribuídas causas situadas em outras
existências passadas. Comparamos a ques-
tão ao caso de um homem ao qual fosse
atribuída uma tarefa a cumprir. Teria que
percorrer um longo caminho cheio de aci-
dentes, tais como montanhas, vales, rios e
planícies. Cruzaria no caminho com outros
tantos homens e deveria guardar-lhes as fei-
ções, seus trajes e todos os seus atributos
físicos. No retorno de sua jornada deveria
esse homem relatar tudo o que viu, apesar
de ter feito o trajeto de olhos totalmente
vendados.
3. Podemos ter algumas revelações sobre as
nossas existências anteriores?
LE: Nem sempre. Muitos sabem, entre-
tanto, o que foram e o que fizeram; e se lhes
61
fossem permitido dizê-lo abertamente, fa-
riam singulares revelações sobre o passado.
Comentário: Saber sobre nossas vidas an-
teriores significa saber “quem somos”. Em
outras palavras significa ter acesso a nós
mesmos tanto nos aspectos da vida atual,
como também sobre os detalhes a respei-
to do que nós fomos em outras vidas. Isto
se consegue trabalhando a nossa condição
cerebral e o nosso nível energético geral.
4. Nas existências corpóreas de natureza mais
elevada que a nossa, a lembrança das existên-
cias anteriores é mais precisa?
LE: Sim, à medida que o corpo é menos
material, recorda-se melhor. A lembrança
do passado é mais clara para aqueles que
habitam os mundos de uma ordem supe-
rior;
Comentário: Nos mundos onde as pes-
soas usam corpos físicos perfeitos, sem os
62
bloqueios atuais de nossas matérias, a lem-
brança das nossas vidas anteriores é fato
comum. Nesses mundos as pessoas em ver-
dade não morrem como nós entendemos
aqui, mas trocam de corpos, após se utiliza-
rem deles por muitos e muitos séculos. Is-
so se dá não por que o mundo é superior,
mas porque não passou por um acidente
das proporções do que nós passamos. Se
acaso passassem por um acidente incontro-
lável como o ocorrido aqui, também pode-
riam se tornar inconscientes e não mais se
lembrarem de suas vidas passadas. Dentro
do que aprendemos a morte de nossos cor-
pos físicos por esgotamento de sua vitali-
dade é, antes de tudo, uma doença curável
e não uma fatalidade.
5. Por que não nos recordamos sempre dos so-
nhos?
LE: Nisso que chamas sono não há mais
63
do que o repouso do corpo, porque o es-
pírito está sempre em movimento. No so-
nho, ele recobra um pouco de sua liberda-
de e se comunica com os que lhe são caros
seja neste ou em outros mundos.
Comentário: Não nos lembramos com
nitidez de todos os nossos chamados “so-
nhos” porque temos nosso “cérebro seria-
mente prejudicado, com poucos impulsos
energéticos, baixa frequência e pequena vi-
bração”. Durante a noite quando nos des-
locamos de nossos corpos físicos temos
contatos com outras pessoas encarnadas
ou não; recebemos informações e presen-
ciamos muitos acontecimentos. Quando
retornamos aos nossos corpos a baixa vi-
bração cerebral apaga todas as nossas lem-
branças. Isso às vezes não ocorre e conse-
guimos lembrar muito do acontecido. Esse
fenômeno só é possível devido a certos pi-
64
cos de energia no cérebro que permitem o
registro, no corpo físico, dos fatos ocorri-
dos com a pessoa na dimensão extrafísica.
NÃO NOS LEMBRAMOS DE NOSSAS VIDAS
PASSADAS PORQUE ESTAMOS UTILIZANDO
UM “CORPO FÍSICO COM GRAVES DEFEITOS
NA REGIÃO CEREBRAL, QUE POR UM ACI-
DENTE PLANETÁRIO, PASSOU A FUNCIO-
NAR COM POUCOS IMPULSOS, BAIXA FRE-
QUÊNCIA E PEQUENA VIBRAÇÃO”.

65
Capítulo 3

O ESPIRITISMO NO TEMPO

Devemos entender o espiritismo como


um plano elaborado, visando o entendi-
mento do homem e por consequência tra-
zer a sua autoconsciência. Não é objetivo
do movimento espírita manter o Ser Huma-
no na ignorância, mas habilitá-lo a tomar as
rédeas de seu destino nas mãos e tornar-se
senhor de seus próprios passos. Isso ocor-
rendo, permite-lhe percorrer o caminho de
sua preferência, ditado apenas por sua von-
tade soberana e não o caminho escolhido
por outros. Todos nós temos nossos obje-
tivos pelos quais lutamos sempre; se outros
66
determinam nossos caminhos com certe-
za não trilharemos os nossos, mas os deles.
É importante notar que o espiritismo
possui uma estrutura espiritual de orienta-
ção e apoio, assim como todos os grupos
religiosos e espiritualistas possuem o seu
grupo espiritual de onde emanam as orien-
tações. Não importa se esse grupo, que es-
tá na matéria, acredita ou não na existên-
cia do espírito, sempre haverá o apoio do
lado espiritual.
O espiritismo, por se tratar de uma dou-
trina calcada em bases científicas e ter por
fundamento o despertar do homem para a
realidade do mundo espiritual, sempre foi
combatido pela maioria das religiões. Nesse
combate ao espiritismo sempre foram usa-
das todas as armas, mesmo aquelas que fe-
rem pela inverdade, com o fim específico
de causar dano. A nossa reação a respeito
67
deve ser sempre a de estender o manto de
nossa compreensão sobre esses aconteci-
mentos, mesmo porque, conforme já dis-
semos, as religiões têm seus ensinamentos
e seus pressupostos, como se fossem fre-
quências próprias, que só podem ser enten-
didos pelas pessoas que possuem frequên-
cias cerebrais semelhantes. Assim, quan-
do existe essa compatibilidade de frequên-
cia há o entendimento, ocorrendo então a
aceitação. Dessa forma, a frequência do es-
piritismo torna difícil o entendimento de
seus ensinamentos por outros grupos reli-
giosos, pois eles se situam em frequências
muito diferentes.
Cabe frisar mais uma vez que o espiri-
tismo tem por objetivo o despertar do ho-
mem e esse despertar só interessa a ele pró-
prio, vez que em boa verdade a ignorância
do Ser Humano encarnado é fonte de po-
68
der para muitos.
Convém lembrar, nesse momento, a rea-
ção do homem frente aos fenômenos des-
conhecidos. Reação às vezes insana quan-
do tem por suporte apenas a fé e não a ra-
zão. Foi assim que muitos fenômenos es-
píritas foram tratados como “coisa do Dia-
bo”, e as pessoas neles envolvidas simples-
mente eliminadas, tudo em nome de Deus
“infinitamente bom e justo”. Isso mostra
de maneira insofismável que a inconsciên-
cia do homem era tamanha que sua razão
tornara-se falha e lamentavelmente pobre.
O espiritismo tinha que iniciar o seu traba-
lho junto à humanidade e para que isso se
desse nada melhor que a ocorrência do fa-
to incontestável para que o homem desper-
tasse para a existência do mundo espiritual.
Assim foram surgindo os fenômenos espi-
rituais nos mais diversos lugares como for-
69
ma de chamar a atenção para o desconheci-
do, mas que em síntese faz parte de todos
nós. De início os acontecimentos foram ne-
gados e tentadas todas as formas para jus-
tificá-los ou mesmo classificá-los como fe-
nômenos ligados ao próprio mundo físico.
Tudo em vão. As evidências eram tão claras
e inusitadas que negar os fatos era impos-
sível. Mesmo sobre rigoroso controle cien-
tífico os fatos ocorriam de maneira perfei-
ta. Com o tempo foi surgindo a literatura
espírita com a linguagem e conceitos mui-
to ao nível do entendimento do homem
da época. Foi observada nesse momento a
capacidade de compreender que o Ser Hu-
mano possuía. Essa capacidade de enten-
der é o ponto fundamental no tocante às
religiões. É de todo providencial e oportu-
no que afirmemos a importância de cada
religião, mas elas só existem devido ao es-
70
tado de inconsciência do homem. A capa-
cidade de entender é dada pela condição
da matéria, principalmente a energia cere-
bral. Como mencionamos anteriormente,
os impulsos cerebrais formam a frequên-
cia e esta a vibração cerebral que vai deli-
near um campo maior ou menor de enten-
dimento de acordo com a sua intensidade.
Daí a afirmação de que as religiões reúnem
os homens por faixa vibratória, ou seja, na
exata capacidade de entender.
Quando se iniciou a mensagem espíri-
ta houve a preocupação em dosar a essên-
cia, para que houvesse a absorção necessá-
ria, e utilizar uma forma de linguagem que
se adequasse à capacidade de compreensão
que possuía a humanidade naquele momen-
to. Mas o espiritismo não é obra pronta e
acabada, e por isso precisa redimensionar a
essência e atualizar a forma, para que mui-
71
tos ensinamentos possam ser levados ao
homem de maneira mais objetiva e racio-
nal. Isto sempre dentro do pressuposto de
que a capacidade de entender do homem
de hoje é muito maior do que a de antes.
Dentro do movimento espírita ainda exis-
te muito misticismo que precisa ser expur-
gado para que a doutrina possa ser clara e
inteligível para todos. É neste ponto que os
espíritos mais insistem, pois pretendem eles
trabalhar junto aos encarnados de manei-
ra natural, sem rituais e encenações desne-
cessários, usando, inclusive, seus próprios
nomes. No tocante à linguagem eles infor-
mam que está na hora de abandonar cer-
tas formas pitorescas de falar que não são
mais necessárias e hoje só atrapalham a co-
municação entre o mundo físico e o espi-
ritual. É bom lembrar que se essas formas
existem até os dias de hoje a responsabili-
72
dade é exclusiva do homem encarnado que
não soube se desfazer de mecanismos utili-
zados quando o seu entendimento era ain-
da muito precário. Tornou-se assim depen-
dente dessas formas antigas e já desnecessá-
rias, pois só assim se sente confiante na re-
al presença da pessoa desencarnada. Desse
modo, as pessoas que estão no mundo es-
piritual querem essas mudanças, pois acre-
ditam que o homem precisa ser conscienti-
zado da realidade da outra vida, e não rece-
ber informações veladas que causam maio-
res interrogações e falta de entendimento.
Em resumo, precisa-se adequar o espiritis-
mo de ontem ao homem de hoje. É bom
ressaltar que quando falamos no espiritismo
de ontem não estamos querendo dizer que
o GRANDE PLANO elaborado pelo mundo
espiritual contenha falhas ou erros. Quere-
mos, sim, afirmar que o homem na sua in-
73
consciência muito acresceu de impureza à
“ÁGUA PURA DO CÂNTARO”, direcionando
os ensinamentos de acordo com sua von-
tade e seu entendimento restrito.
A respeito dessa necessidade de mudar
é bom ressaltar que a maioria das religi-
ões já promoveu profundas reformas tan-
to de caráter interno como externo, para se
adaptar aos novos anseios da humanidade
do presente. O homem dos tempos atuais
busca com maior intensidade respostas no-
vas para perguntas velhas. Demonstra des-
se modo que seu interior continua insatis-
feito com o nível e a qualidade das infor-
mações sobre as questões transcendentais
da vida. Nesse ponto o espiritismo precisa
relançar-se como um caminho mais aber-
to e claro para que o homem atinja o seu
despertamento espiritual. É preciso que as
pessoas deixem de ver o espiritismo como
74
uma prática espiritual onde predomina o
mistério e passem a perceber que esse in-
tercâmbio entre os mundos material e es-
piritual é uma atividade natural e deve ser
visto como um prolongamento de nosso
aprendizado na matéria.
O natural para o Ser Humano é tudo aqui-
lo que ele, através da sua estrutura mental,
consegue entender. O sobrenatural, ao con-
trário, foge ao seu entendimento por mais
que acione o seu mecanismo de raciocínio.
Não entendendo o fato, mas ocorrendo a
sensibilização de seu mundo emocional há
então a aceitação, a submissão e o devota-
mento, instalando-se aí o domínio da fé.
Mas o espiritismo, como já dissemos, não
busca a crença pela fé mas a crença pelo en-
tendimento. A verdadeira liberdade é aque-
la que tem como lastro a capacidade de en-
tender. É de todo oportuno lembrar aque-
75
la sábia inscrição “CONHEÇA A VERDADE
E ELA VOS LIBERTARÁ”. Isso significa que
devemos conhecer e não apenas acreditar,
pois quem verdadeiramente conhece enten-
de independentemente de qualquer ensina-
mento doutrinário que tenha recebido. O
homem do terceiro milênio precisa enten-
der que o verdadeiro caminho que conduz
a todos os pontos desejados, o livro que
contém todas as lições necessárias e o ma-
go capaz de realizar todos os seus sonhos
se encontram reunidos no seu mundo in-
terno. Para o Ser Humano só existe um se-
gredo: ele próprio. Desvendando esse gran-
de segredo tudo o mais se torna simples e
de fácil entendimento.
Devemos, como espíritas, meditar pro-
fundamente sobre tudo que já foi dito, es-
crito e aprendido sobre a doutrina até o
momento, lembrando sempre que a razão,
76
muito mais que nossos sentimentos, deve
ter a última palavra. Nesse balanço de tu-
do que aprendemos não vale acreditar mas
entender. O verdadeiro conhecimento vem
do entendimento e não da crença. É dessa
análise retrospectiva que surgirão os frutos
que o espiritismo precisa. O espiritismo foi
criado perfeito por líderes do mundo espi-
ritual, mas para chegar até o homem teve
que passar pelo juízo do próprio homem.
Nesse momento houve a mistura do joio
ao trigo, agregando-se aos princípios muitas
práticas e conhecimentos alheios ao espiri-
tismo. Essa incorporação de regras e ensi-
namentos estranhos aos princípios espíritas
é extremamente prejudicial às pessoas que
buscam o amparo no espiritismo. A exem-
plo disso podemos citar casos de pessoas
de nosso conhecimento que após ingres-
sarem em certos grupos espíritas se senti-
77
ram de tal forma tolhidas por tantos “en-
sinamentos” cerceadores de sua liberdade
individual que culminaram no afastamen-
to delas do espiritismo. Após se afastarem
essas pessoas argumentavam que “agora se
sentiam mais livres para pensar, escolherem
seu modo de vida e os objetivos que que-
riam alcançar”; desse modo, abandonando
o espiritismo voltavam a ter uma vida nor-
mal. Dentre esses agregados ao espiritismo
podemos citar a chamada “LEI DE CAUSA
E EFEITO” ou “CARMA”, que em síntese é
uma camisa de força colocada no homem
que de forma mansa e passiva se deixa guiar
como um cordeiro, sempre na direção que
os outros querem. Repetimos, não foi pa-
ra isso que o espiritismo foi criado. Não foi
para restabelecer o reinado do lobo sobre
o cordeiro, nem do senhor sobre o escra-
vo. Foi criado sim para trazer luz à escuri-
78
dão de nossa inconsciência, construindo de
novo a “ponte luminosa que liga o MUNDO
DA MATÉRIA AO MUNDO DO ESPÍRITO. É
bem verdade que muito tem feito o espiri-
tismo em benefício da humanidade, não se
nega isso. Pessoas abnegadas têm dedicado
suas vidas, tanto aqui como no mundo espi-
ritual, a essa nobre causa. Mas por que não
atender ao chamamento desses dedicados
guardiões das leis do CRIADOR? Por que
não permitir que o espiritismo leve avante
sua obra conforme foi planejado? Por que
não corrigir o que está incorreto? Por que
não permitir que o espiritismo traga con-
solo e auxílio a todos que necessitam, mas
respeitando acima de tudo o direito à li-
berdade de escolherem seus próprios ca-
minhos, seus modos de vida, suas manei-
ras de ser, enfim seus próprios destinos? A
esse respeito afirmamos: “nenhum homem
79
pode dizer a outro o que deve fazer.” Ca-
da um deve seguir seu caminho guiado ape-
nas pela sua consciência. É verdadeiramen-
te importante observar o paralelo que exis-
te entre a maioria dos grupos religiosos no
tocante às ideias de culpa e pecado, dívida
e regate. Pairando sobre tudo isso e com-
pletando o esquema de dominação do ho-
mem, muitos grupos adotaram ainda a figu-
ra do Diabo, deus do mal, vingativo impie-
doso com os pecadores. Essa ideia do Dia-
bo foi tão longamente inculcada na men-
te do Ser Humano que se transformou em
um registro perene, aprisionando grande
parte da humanidade a essa imagem criada
por poucos para ter o domínio de muitos.
Nesse ponto o espiritismo precisa mudar
o seu enfoque quando tratar do comporta-
mento do homem. Quando se referir à cul-
pa ou dívida deve substituir por EXPERIÊN-
80
CIA NO MUNDO FÍSICO, ao mesmo tempo
quando tratar do chamado resgate utilizar
o termo BUSCA DE ENTENDIMENTO, que
é a expressão mais adequada ao processo
de conscientização do Ser Humano.
O movimento espírita deve ser varrido
e limpo de todo ensinamento ou concei-
to que subjugue, amedronte ou pressione
o homem para agir ou pensar de modo de-
terminado, sem que isso seja de sua livre es-
colha. É bom lembrar mais uma vez que o
espiritismo foi criado justamente para au-
xiliar o homem a se livrar desses tipos de
ensinamentos errôneos que nada têm a ver
com a realidade da vida.
O ESPIRITISMO FOI CRIADO PARA ACOR-
DAR OS “MORTOS VIVOS” QUE DORMEM O
“SONO ETERNO”, CRIADO PELO PRÓPRIO
HOMEM INCONSCIENTE.

81
Reputamos de grande importância o es-
piritismo se desincorporar desses concei-
tos de ontem que não servem para o ho-
mem de hoje. Como dissemos alhures, ou-
ve um tempo em que o Ser Humano tinha
sua matéria tão prejudicada que seu com-
portamento muito se aproximou do ani-
mal bruto. Nesse momento esses conceitos
subjugadores e restritivos da liberdade fo-
ram utilizados e até permitidos pelos nos-
sos líderes espirituais, mas porque no final
se convertiam em benefícios para o pró-
prio Ser Humano encarnado. Hoje, no en-
tanto, a moeda tem outro valor, o homem
tem outro comportamento, outro nível de
consciência. Dessa forma, as figuras da cul-
pa, da dívida e do resgate e similares não
contribuem para aproximar as pessoas do
mundo espiritual, tampouco para aumen-
tar o nível de consciência. Por outro lado,
82
impedem e direcionam as experiências na
matéria, levando os homens a agirem de
acordo com a vontade alheia, e não con-
forme seus próprios livres-arbítrios. Por aí
se vê que esses conceitos não podem fazer
parte de um conjunto de ensinamentos que
pretendem cooperar na conscientização da
humanidade.
Existem no seio do espiritismo outras du-
as figuras que carecem de uma análise acu-
rada. Referimo-nos à dor e ao sofrimento.
Existe um ensinamento que afirma ser a
dor e o sofrimento importantes para nossa
evolução. Contrariamente entendemos que
essa afirmação não resiste ao menor argu-
mento, senão vejamos: por que algo que
nos maltrata e nos prejudica é importante
para o nosso crescimento espiritual? Será
que fomos criados para percorrermos tão
dolorosos caminhos, sem que o nosso li-
83
vre-arbítrio possa alterar o curso dos acon-
tecimentos? Será que temos que sofrer pa-
ra aprender ou será que temos a capacida-
de para aprender de forma natural sem so-
frermos castigos atrozes?
Temos a convicção de que esse conceito
apologético da dor não tem agasalho den-
tro da lógica. Se porventura sofremos não
devemos creditar esse fato a uma necessi-
dade de sofrer, mas simplesmente por ter-
mos perdido a nossa autoconsciência e con-
sequentemente o domínio da matéria. As-
sim, o sofrimento e a dor não fazem par-
te da programação de nosso aprendizado.
Objetivando clarear melhor o assunto re-
corramos ao seguinte exemplo: um espíri-
to no momento de reencarnar, ou seja, as-
sumir um corpo material, verifica que esse
corpo contém um grave defeito congênito;
mesmo assim ele acredita que poderá resol-
84
ver esse contratempo. Ao assumir o corpo,
no entanto, constata que nada pode fazer
a não ser amargar o seu sofrimento até o
fim daquela matéria. Isto porque estando
dentro dela, ele não sabe mais resolver os
problemas que ela possui devido à escuri-
dão da inconsciência. Como já foi citado
anteriormente o corpo físico utilizado atu-
almente pelo homem da Terra não oferece
condições para que o Ser Humano, ao en-
carnar, faça uso de seus conhecimentos ad-
quiridos ao longo de suas vidas pretéritas.
Dessa forma, ao assumir uma nova ma-
téria o conhecimento anteriormente adqui-
rido é isolado e não é utilizado de forma
consciente devido ao bloqueio energético
do cérebro humano.

85
Capítulo 4

A REENCARNAÇÃO

Um dos pressupostos básicos do espiri-


tismo é a reencarnação. Aprendemos que
o homem reencarna para resgatar suas dí-
vidas pretéritas, aprender e evoluir.
A esse respeito, podemos dizer que a hu-
manidade pode ser dividida em dois gran-
des grupos. Um que desde o início recebe
o “registro de matéria” e percorre o cami-
nho do crescimento, utilizando a encarna-
ção em vidas sucessivas. Esse grupo com
“registro de matéria” sempre voltará à vi-
vência no meio físico. O segundo grupo
constitui-se daquelas pessoas (espíritos) que
86
foram criadas sem “registro de matéria” e
não têm como caminho natural a reencar-
nação, ou seja, a participação direta da vi-
da na matéria. Essa parte da humanidade,
não tendo “registro de matéria” permanece
sempre no mundo espiritual e constitui os
guardiões do conhecimento humano. É a
esse grupo que pertencem os ORIXÁS, por-
tadores do CONHECIMENTO. Essa classe de
Seres Humanos, pelo grande conhecimen-
to que possui é habilitada a melhor enten-
der as leis emanadas do CRIADOR.
Mas o que nos interessa no momento é o
primeiro grupo, aquele que utiliza um cor-
po físico para suas experiências no mundo
material. A reencarnação, portanto é uma
forma de fixar o espírito, que pertence à di-
mensão espiritual, a um corpo físico da di-
mensão material. Por outro lado, não é pelo
simples fato de ocorrer um nascimento de
87
um corpo físico que houve uma reencarna-
ção. Para que ela se dê é necessário que um
espírito assuma essa matéria, mesmo por-
que em certas condições existem corpos vi-
vos que não foram assumidos por alguém,
sendo ainda assim aparentemente pessoas
como as demais. A assunção de matéria se
dá de forma paulatina, pois quando ocor-
re o nascimento de um corpo “a ligação do
espírito se dá de forma lenta e gradual, de
maneira que o processo só se encerra por
volta dos 14 anos”. Nessa idade cronoló-
gica da matéria o espírito tem então todas
as condições para assumi-la por completo.
Dessa forma, somente após essa idade é
que a matéria passa a fazer parte efetiva do
Ser Humano. Observando a criança quan-
do se aproxima da idade de 14 anos verifi-
cam-se grandes mudanças tanto no aspec-
to físico como principalmente alterações
88
de ordem psicológica, sendo evidente as-
sim que antes não havia a total investidura
na matéria. A esse respeito cabe a seguinte
interrogação: por que essas transformações
só ocorrem, via de regra, próximo aos 14
anos de idade, por que não aparecem aos
cinco, ou aos dez ou mesmo aos 18 anos,
por exemplo? A resposta é aquela que co-
locamos anteriormente: porque a partir dos
14 anos de idade material é que o espírito
reencarnante, assumindo por completo o
corpo físico, imprime com maior firmeza
e profundidade os seus caracteres particu-
lares, tais como: preferências de toda natu-
reza, comportamento e principalmente os
aspectos da personalidade.
Dissemos anteriormente que a reencar-
nação, além de ser UM CAMINHO DE RE-
TORNO À NOSSA CASA, é solução para mui-
tos problemas da pessoa humana. Existem
89
muitos acontecimentos perturbadores que
permanecem registrados na memória do
homem e que somente através da reencar-
nação podem ser resolvidos. A solução se
dá pelo entendimento. Uma vez entendido
o porquê da ocorrência daquele fato deixa
de haver a perturbação porque a causa foi
eliminada. Voltamos a afirmar que se o fa-
to ocorrido na matéria for de grande rele-
vo, no mundo espiritual torna-se muito di-
fícil o entendimento, porque a ocorrência
do fato se deu em outra dimensão, sob as
leis que regem a matéria. Desta forma, há
que se restabelecerem as mesmas condi-
ções de antes, ou seja, de quando o espíri-
to habitava a matéria para se dar o devido
esclarecimento e consequentemente o en-
tendimento do fato ocorrido. Essas con-
dições são então restabelecidas com a re-
encarnação e os acontecimentos traumáti-
90
cos têm solução pela via do entendimento,
ocorrendo assim o aprendizado pela vivên-
cia no meio físico.
Existe, por outro lado, outra maneira de
resolver ou amenizar muitos traumas adqui-
ridos pelo Ser Humano na vida física. Refe-
rimo-nos aos trabalhos espíritas, que utili-
zando médiuns fornecedores de energia fí-
sica proveniente de seus próprios corpos,
permitem aos desencarnados, por meio de
um choque energético, despertar e enten-
der sua condição de espírito imortal. Nes-
ses casos traumáticos está incluído o pro-
blema do sono após a morte do corpo fí-
sico. Muitas pessoas após perderem seus
corpos materiais simplesmente dormem e
não acordam por si mesmas. Isso em vir-
tude dos ensinamentos recebidos quando
estavam encarnadas. Essas mensagens são
tão engenhosamente ministradas às pes-
91
soas que permanecem surtindo seus efei-
tos deletérios mesmo no mundo espiritu-
al. “Ao ingressarem na pátria do espírito
essas pessoas inconscientemente seguem
a programação recebida no mundo mate-
rial, como é o caso típico do sono eterno,
em que as pessoas desencarnadas perma-
necem dormindo. Formam estranha popu-
lação de mortos-vivos a habitar região pró-
pria da dimensão espiritual. Esses mortos-
-vivos, na condição de SONO ETERNO são
despertados pelos abnegados trabalhadores
espíritas tanto do mundo material como do
espiritual. O espiritismo, como já foi dito
anteriormente, teve como razão principal
de sua criação servir de instrumento para
o despertamento dessas pessoas que mes-
mo após a perda do corpo material perma-
necem inconscientes no plano espiritual.”
Retomamos neste ponto à discussão do
92
porquê da reencarnação. Afirmam mui-
tos que reencarnamos para resgatar dívi-
das passadas. Isso a nosso ver não combi-
na com a racionalidade do espiritismo. No
caso de haver dívidas passadas a pagar em
vidas futuras o indivíduo nunca saberia a
quem pagar e nem o que pagar, pois o ho-
mem está inconsciente há milênios, e como
tal ele não se lembra de quem era, nem por
que e para que está aqui reencarnado. Na
hipótese de estarmos pagando dívidas is-
so de nada valeria para o nosso crescimen-
to espiritual ou mesmo para nossa cons-
cientização, pois nem mesmo sabemos se
estamos pagando alguma dívida. De outra
forma, também entendemos que dentro da
inconsciência não há devedor nem credor.
Já os atos praticados de forma consciente,
apesar de não gerar dívidas a resgatar, se si-
tuam dentro do campo da responsabilida-
93
de individual de cada um.
Julgamos de todo importante esclarecer
alguns pontos para que as pessoas possam
melhor entender a questão do pecado, do
carma e do chamado resgate de dívidas. Pri-
meiro não é só pelo fato de a pessoa deixar
o corpo físico e ingressar no mundo espi-
ritual que ela passa a entender a grande re-
alidade da vida. Tanto é que existem na di-
mensão espiritual muitos grupos de pes-
soas que ensinam e defendem a existência
do carma, da dívida e do resgate, bem co-
mo a necessidade da dor e do sofrimento
para a evolução espiritual. Acreditam ain-
da que esses INSTRUMENTOS foram criados
pelo Criador para nos tornar seres evoluí-
dos. Esquecem, no entanto, que esses con-
ceitos foram originados aqui na matéria e
vieram todos da mesma fonte: A INCONSCI-
ÊNCIA HUMANA. Assim, ao sermos atingi-
94
dos pelo acidente planetário e tornados in-
conscientes, tentamos criar explicações pa-
ra tudo o que nos acontecia. Nessa busca
de explicações, os mais inteligentes inven-
taram o véu e o conto. Enquanto o véu es-
conde da multidão o que lhe é convenien-
te ver, o conto fornece a explicação julga-
da, por eles, mais adequada. Assim criou-
-se, ao longo do tempo, o teatro da vida on-
de os homens permanecem imobilizados
na inconsciência no decorrer das vidas su-
cessivas e não encontram a luz que ilumi-
na o caminho que conduz à autoconsciên-
cia, onde o véu é rasgado e o conto calado.
A reencarnação, ou seja, o uso de matéria
é um caminho para o crescimento integral
do Ser Humano. Significa que do rebanho
total do Criador fomos apontados desde a
criação para seguirmos a jornada material,
na grande escalada em direção ao infinito.
95
QUESTÕES RELATIVAS AO TEMA

1. Qual a finalidade da encarnação dos es-


píritos?
LE: Deus a impõe com o fim de levá-los
à perfeição: para uns é uma expiação; pa-
ra outros, uma missão. Mas, para chegar à
perfeição, eles devem sofrer todas as vicis-
situdes da existência corpórea: nisto é que
está a expiação.
Comentário: O homem encarna, ou seja,
assume um corpo físico primeiro porque é
uma contingência do próprio Ser Humano
que foi criado com “registro de matéria”;
segundo porque no mundo físico aprende-
mos sentindo a matéria, comungando uma
união estreita entre as dimensões física e ex-
trafísica; e terceiro porque temos necessi-
dade de um corpo físico e isso independe
do conhecimento, sabedoria ou outro atri-
buto que se dê ao Ser Humano. “Ele sem-
96
pre sentirá necessidade da matéria e só es-
tará completo com ela.” Como se vê não
encarnamos em um corpo físico para so-
frer ou para expiar qualquer culpa. Encar-
namos em um corpo físico porque esse é o
caminha natural e desejado por todos nós
que temos “registro de matéria”.
2. Os espíritos que, desde o princípio, segui-
ram o caminho do bem, têm necessidade de en-
carnação?
LE: Todos são criados simples e ignoran-
tes e se instruem através das lutas e tribu-
lações da vida corporal. Deus, que é justo,
não podia fazer felizes a uns, sem penas e
sem trabalhos e por conseguinte sem mé-
rito.
Comentários: “Os espíritos são criados
perfeitos e o Criador não vê defeitos em sua
obra.” Crescem em conhecimento através
de experiências adquiridas, nas suas vidas
97
sucessivas em contato com o mundo físico.
Não são penas, expiações, dor e sofrimen-
to o que aumentará o mérito de suas con-
quistas. Até mesmo para os nossos animais
está caindo em desuso a utilização de cas-
tigos e maus-tratos no processo de aman-
samento, substituindo-se com grande van-
tagem a violência da chibata pela força da
paciência e do afago. Daí se conclui que o
homem que também possui, em essência,
a mesma matéria animal também aprende
melhor na escola da compreensão, da ale-
gria e do carinho.
3. Que dizer da teoria segundo a qual, na
criança, a alma vai se completando a cada pe-
ríodo da vida?
LE: O espírito é apenas um, inteiro na
criança, como no adulto; são os órgãos os
instrumentos de manifestação da alma, que
se desenvolvem e se completam;
98
Comentário: O fato puro e simples do
nascimento de um corpo de criança não
significa que houve uma encarnação ou re-
encarnação. É preciso que uma pessoa (es-
pírito) sem um corpo físico assuma esse no-
vo corpo. Isto se dá por meio de um pro-
cesso gradativo que se inicia com o nasci-
mento e se completa por volta dos catorze
anos de idade.
4. A alma não leva nada deste mundo?
LE: Nada mais que a lembrança e o de-
sejo de ir para um mundo melhor.
Essa lembrança é cheia de doçura ou
amargor, segundo o emprego que tenha da-
do à vida. Quanto mais pura for, mais com-
preenderá a futilidade daquilo que deixou
na Terra.
Comentário: A pessoa ao desencarnar e
deixar o mundo material leva consigo pri-
meiro o pesar de deixar o corpo físico que
99
lhe era tão caro; segundo leva todas as sen-
sações da matéria o que lhe causa uma sé-
rie de necessidades físicas como se nela ain-
da estivesse e terceiro incorpora ao arquivo
próprio do Ser Humano tudo o que apre-
endeu em sua experiência na matéria.
5. Todos os espíritos experimentam, no mes-
mo grau e pelo mesmo tempo, a perturbação da
alma e do corpo?
LE: Não, pois isso depende da sua eleva-
ção. Aquele que já está depurado se reco-
nhece quase imediatamente, porque se des-
prendeu da matéria durante a vida corpó-
rea, enquanto o homem carnal, cuja consci-
ência não é pura, conserva por muito mais
tempo a impressão da matéria.
Comentário: O estado de consciência
da pessoa que deixa o corpo em definiti-
vo depende do tipo de morte que deu cau-
sa ao desencarne. Certos tipos de doença
100
que causam o esgotamento físico de for-
ma lenta e gradual torna o transe pós-mor-
te menos profundo e de mais curta dura-
ção. Ao contrário, os desencarnes por aci-
dentes ou por outros tipos de morte súbi-
ta podem levar a pessoa a um estado de in-
consciência mais longo e profundo.
6. Como pode a alma, que não atingiu a per-
feição durante a vida corpórea, acabar de se de-
purar?
LE: Submetendo-se à prova de uma no-
va existência.
Comentário: Depurar significa “tornar
puro, limpar, purificar”. O homem encar-
na para participar da vida na matéria e con-
tinuar aprendendo sempre. Para a humani-
dade que habita o planeta Terra ela reencar-
na também para buscar a autoconsciência,
pois somente ela é capaz de mostrar o ca-
minho que leva à perfeição. No sentido mo-
101
ral ninguém encarna para se depurar, pois
se isso fosse verdade teríamos que colocar
em dúvida a capacidade criadora do Cria-
dor que teria criado uma obra tão imper-
feita que necessita de reparos, ou seja, de
limpeza e purificação.
7. Qual a finalidade da reencarnação?
LE: Expiação, melhoramento progressi-
vo da humanidade.
Comentário: A reencarnação, ou seja, a
vivência no meio físico é inerente a todo
Ser Humano que tem “registro de matéria”.
No momento da criação o Criador atribuiu
a uns o “registro de matéria”, significando
que para essas pessoas a eterna caminhada
se fará de braços dados com a matéria; pa-
ra os outros o nascimento na matéria den-
sa não é regra geral, mas a exceção. Isso
não por privilégios especiais, mas por não
possuírem o “registro de matéria”. A reen-
102
carnação assim ocorre por um desígnio da
criação e tem por finalidade o nosso infi-
nito aprendizado através das vidas sucessi-
vas na matéria.
8. O número de existências corpóreas é limi-
tado, ou o espírito reencarna perpetuamente?
LE: A cada nova existência, o espírito dá
um passo na senda do progresso; quando
se despojou de todas suas impurezas, não
precisa mais das provas da vida corpórea.
Comentário: O número de existências
corpóreas do espírito é ilimitado, mas nem
uma única é destinada a lavar impurezas,
ou seja, para purificar. Se isso fosse verda-
de, seria tempo perdido, pois teríamos que
sempre vir limpar impurezas, assim como
ocorre no banho nosso de cada dia, isso
porque sempre nos envolvemos em expe-
riências na matéria passíveis de ser enten-
didas, erroneamente, como carreadoras de
103
impurezas para nossa organização espiri-
tual.
9. Em que se transforma o espírito depois de
sua última encarnação?
LE: Em espírito bem-aventurado; um es-
pírito puro.
Comentário: Como já foi dito anterior-
mente, não existe a última encarnação. Sem-
pre haverá outra.
10. Sobre o que se funda o dogma da reen-
carnação?
LE: Sobre a justiça de Deus e a revelação,
pois não nos cansamos de vos repetir: um
bom pai deixa sempre aos seus filhos uma
porta aberta ao arrependimento... O ho-
mem tem consciência de sua inferioridade...
Comentário: Todo aquele que tem sede
se utiliza do líquido. Todo aquele que tem
“registro de matéria” usa a reencarnação.
104
O homem não é inferior e afirmar o con-
trário é não reconhecer a grandeza do pró-
prio Criador. Somos perfeitos, como tudo
que ele criou, apenas estamos, temporaria-
mente, utilizando um corpo físico com gra-
ves defeitos.
11. A reencarnação é, portanto, uma necessi-
dade da vida espírita, como a morte é uma ne-
cessidade da vida corpórea?
LE: Seguramente, assim é.
Comentário: A reencarnação é em verda-
de uma necessidade de todo aquele que tem
“registro de matéria”. A morte, ao contrá-
rio, não é uma necessidade da vida corpó-
rea, mas é antes uma doença, isso dentro do
que se chama morte natural. Excetuando,
portanto, a morte acidental ou provocada.
12. Nossas existências corpóreas se passam
todas na Terra?
105
LE: Não, mas nos diferentes mundos. As
deste globo não são as primeiras nem as úl-
timas, mas as mais materiais e distanciadas
da perfeição.
Comentário: Antes da criação do mundo
físico se dá a formação do mundo espiri-
tual, onde seres humanos aguardam o mo-
mento propício para o início das encarna-
ções. Quanto ao estado de perfeição, não
são atributos do planeta que o determinam,
mas do estado de consciência do Ser Hu-
mano que o habita. No tocante ao aspecto
de ser mais ou menos material, todo mun-
do físico assim o é simplesmente, não ca-
bendo portanto a graduação de mais ou
menos material.
NENHUM ESPÍRITO REENCARNA PARA
RESGATAR DÍVIDAS, MAS PORQUE TEM
“REGISTRO DE MATÉRIA E SÓ NA MATÉ-
RIA ELE ESTÁ COMPLETO”.
106
13. A cada nova existência corpórea a alma
passa de um mundo a outro, ou pode ela viver
muitas vidas num mesmo globo?
LE: Ela pode viver muitas vezes num
mesmo globo, se não estiver bastante adian-
tada para passar a um mundo superior.
Comentário: Os mundos não são supe-
riores uns aos outros, mas apenas diferen-
tes dentro do grande concerto da criação.
Os homens no entanto podem ter enten-
dimento diferenciado sobre a vida e tudo
que o rodeia, como é o nosso caso e que
foi motivado por um acidente.
14. É uma necessidade reviver na Terra?
LE: Não, mas se não progredirdes, po-
deis ir par outro mundo que não seja me-
lhor, e que pode mesmo ser pior.
Comentário: O Ser Humano só é com-
pleto quando encarnado na matéria. Assim,
entendido, temos necessidade da matéria.
107
No caso específico da Terra, para aqui vie-
mos como voluntários e aqui ficaremos até
conseguirmos livrar a matéria do globo ter-
restre de toda anormalidade. Isso também
é nossa responsabilidade e como seres eter-
nos pesa sobre todos nós essa obrigação.
15. Há vantagem em voltar a viver na Terra?
LE: Nenhuma vantagem particular, a não
ser que se venha em missão, pois então se
progride, como em qualquer outro mundo.
Comentário: A Terra é o nosso mundo,
que abraçamos por vontade própria e com
ele temos um pacto de torná-lo perfeito co-
mo era antes. Por outro lado, o celeiro fí-
sico é o depositário das experiências terre-
nas e somente nele adentrando temos a be-
néfica ousadia de vivenciá-las.
16. Não seria melhor continuar como espíri-
to?
108
LE: Não, não! Ficar-se-ia estacionário, e
o que se quer é avançar para Deus.
Comentário: Mesmo como espíritos te-
mos condições e oportunidades de apren-
der sempre, mas continuamos sedentos da
matéria, pois é nela que se desenrola a nos-
sa grande batalha para a aquisição do co-
nhecimento do Criador e da criatura.
17. Os seres que habitam os diferentes mun-
dos têm corpos semelhantes aos nossos?
LE: Sem dúvida que eles têm corpos, por-
que é necessário que o espírito se revista de
matéria para agir sobre ela; mas esse envol-
tório é mais ou menos material, segundo o
grau de pureza a que chegaram os espíritos,
e é isso que determina as diferenças entre
os mundos que temos de percorrer...
Comentário: “Semelhantes” é bem a pa-
lavra, mas não iguais. Muitas pessoas de ou-
tros planetas possuem corpos semelhan-
109
tes aos nossos, mas com certos atributos
que o homem que habita a Terra não pos-
sui. Além disso, a humanidade terrestre es-
tá atípica com relação a outros seres huma-
nos, pois está utilizando um organismo fí-
sico com problemas extremamente graves.
Quanto ao aspecto moral de pureza esse
conceito não se aplica aos mundos onde o
Ser Humano é consciente na matéria, mas
prospera entre nós onde o homem confun-
de inconsciência na matéria com inferiori-
dade espiritual, ou seja, confunde a lâmpa-
da que ilumina com a energia que produz
a luz. Se a lâmpada está queimada, a ener-
gia por mais forte que seja não produz luz.
18. Passando de um mundo para outro, o es-
pírito passa por nova infância?
LE: A infância é por toda parte uma tran-
sição necessária, mas não é sempre tão es-
túpida como entre vós.
110
Comentário: Em todos os mundos físi-
cos habitados o processo natural da reen-
carnação ou troca de matéria é sempre o
mesmo. Com isso não estamos afirmando
que o processo é rigorosamente o mesmo
que se conhece aqui.
19. O estado físico e moral dos seres vivos é
perpetuamente o mesmo em cada globo?
LE: Não; os mundos também estão sub-
metidos à lei de progresso. Todos come-
çaram como o vosso, por um estado infe-
rior, e a Terra mesma sofrerá uma transfor-
mação semelhante, tornando-se um paraí-
so terrestre, quando os homens se fizerem
bons. É assim que as raças que hoje povo-
am a Terra desaparecerão um dia e serão
substituídas por seres mais perfeitos. Es-
sas raças transformadas sucederão a atual,
como esta sucedeu a outras que eram mais
grosseiras.
111
Comentário: O corpo físico dos seres hu-
manos recebe cuidados especiais nos mun-
dos onde predomina a consciência plena. O
próprio deperecimento acelerado da maté-
ria já foi equacionado. No tocante à nossa
moral ela só existe onde existe o estado de
inconsciência. A moral faz parte dos me-
canismos desenvolvidos aqui ao longo dos
tempos, objetivando direcionar o compor-
tamento do homem, limitando o campo de
suas ações de modo a satisfazer certas re-
gras de conduta criadas no meio social.
20. Por que a vida se interrompe com frequ-
ência na infância?
LE: A duração da vida da criança pode
ser, para seu espírito, o complemento de
uma vida interrompida antes do termo de-
vido, e sua morte é frequentemente uma
prova ou uma expiação para os pais.
Comentário: O grande aproveitamento
112
da reencarnação se dá após o período da in-
fância quando o espírito que assumiu aque-
le corpo efetivamente se liga a ele. Tal fa-
to se dá por volta dos catorze anos de ida-
de. Assim, podemos afirmar que acontece
grande número de mortes na infância devi-
do à pouca resistência da matéria frente aos
fatores adversos, como também pelo fato
de que o dono da matéria quase não tem
condição de prover a sua segurança, pois
ELE NÃO ESTÁ NELA, MAS PRÓXIMO DELA.

21. Os espíritos têm sexo?


LE: Não como o entendeis, porque os
sexos dependem da constituição orgânica.
Há entre eles amor e simpatia, mas basea-
dos na afinidade de sentimentos.
Comentário: Os seres humanos são cria-
dos com os sexos definidos. O espírito é o
molde e o corpo físico é dotado de todos
os elementos que já fazem parte da orga-
113
nização espiritual.
22. O espírito que animou o corpo de um ho-
mem pode animar o de uma mulher, numa no-
va existência, e vice-versa?
LE: Sim, pois são os mesmos espíritos
que animam os homens e as mulheres.
Comentário: Não é regra geral, mas o es-
pírito pode assumir um corpo de sexo di-
ferente do seu. Isso acontece quando o es-
pírito vê a importância do seu trabalho a
ser desenvolvido,acima do atributo sexual.
Existem várias características que são do
espírito, como é o caso do sexo.
23. Quando somos espíritos, preferimos encar-
nar num corpo de homem ou de mulher?
LE: Isso pouco importa ao espírito; de-
pende das provas que ele tiver de sofrer.
Comentário: Preferimos sempre seguir a
harmonia da vida, encarnando em um cor-
114
po que possamos usar na sua plenitude.
24. Por que é que pais bons e virtuosos têm
filhos perversos? Ou seja, por que as boas qua-
lidades dos pais não atraem sempre, por simpa-
tia, bons espíritos como filhos?
LE: Um mau espírito pode pedir bons
pais, na esperança de que os seus conselhos
o dirijam por uma senda melhor, e muitas
vezes Deus o atende.
Comentário: No grande concerto da vi-
da não existe o mau e o perverso, existe is-
to sim, o desequilíbrio que mancha a rea-
lidade.
25. Qual é a origem das faculdades extraor-
dinárias dos indivíduos, que, sem estudo prévio,
parecem ter a intuição de certos conhecimentos,
como as línguas, cálculos, etc.?
LE: Lembrança do passado; progresso
anterior da alma, mas do qual ela mesma
115
não tem consciência.
Comentário: As aptidões de certos indi-
víduos para certas atividades aqui no mun-
do físico vêm da combinação das matérias
do pai e da mãe que lhe propiciam um cor-
po físico com áreas cerebrais favoráveis à
lembrança daqueles conhecimentos adqui-
ridos em outras vidas. Não existe gênio em
assunto para ele desconhecido.
26. Com a mudança dos corpos, podem per-
der-se certas faculdades intelectuais, deixando-
-se de ter, por exemplo, o gosto pelas artes?
LE: Sim, desde que se tenha desonrado
essa faculdade, empregando-a mal.
Comentário: Perder não é o caso, mas es-
quecer temporariamente. Mas, por outro la-
do, temos sempre a sensação de que sabe-
mos fazer ou realizar aquela atividade.
27. Como a alma é recebida, na sua volta ao
116
mundo dos espíritos?
LE: A do justo, como um irmão bem-
-amado e longamente esperado; a do mau,
como um ser que se despreza.
Comentário: A pessoa após a perda da
matéria é recebida na dimensão extrafísi-
ca como o viajante que regressa, depois de
longa viagem, ao seio de seus amigos e fa-
miliares.
28. As almas que devem unir-se estão predes-
tinadas a essa união, desde a sua origem, e ca-
da um de nós tem, em alguma parte do univer-
so, a sua metade, à qual algum dia se unirá fa-
talmente?
LE: Não; não existe união particular e fa-
tal entre duas almas. A união existe entre
todos os espíritos, mas em graus diferen-
tes, segundo a ordem que ocupam...
Comentário: Trata-se de assunto de ex-
trema complexidade, mas pode-se dizer que
117
todos nós desde a criação somos dois em
um. Temos a nossa alma gêmea, que é tu-
do que nós somos, guardando porém po-
laridade contrária à nossa.
29. Poderia acontecer que uma criança, que
deve nascer não encontrasse espírito que quises-
se encarnar-se nela?
LE: Deus proveria isso. A criança, quan-
do deve nascer para viver, tem sempre uma
alma predestinada: nada é criado sem um
desígnio.
Comentário: Já dissemos anteriormen-
te que o simples nascimento de um corpo
não caracteriza uma reencarnação.Existem
mesmo muitos corpos que sobrevivem por
muito tempo sem que um espírito esteja ne-
le encarnado. Esse fato não é notado pe-
las pessoas que convivem com essas maté-
rias que têm apenas vida física. No entanto,
quando é gerado o corpo para uma criança
118
e que ainda não foi assumido por alguém,
normalmente um voluntário o assume, is-
so em respeito à matéria humana.
30. O momento da encarnação é seguido de
perturbação semelhante ao que se verifica na
desencarnação?
LE: Muito maior, e sobretudo mais lon-
ga. Na morte, o espírito sai da escravidão;
no nascimento, entra nela.
Comentário: À medida que o corpo físico
da criança vai atingindo a idade que permite
ao espírito assumi-lo, vai ocorrendo um es-
quecimento do mundo espiritual e, ao mes-
mo tempo, uma conscientização da matéria.
É como se o espírito “apagasse” no mundo
espiritual e “acendesse” no mundo físico.
31. Em que momento a alma se une ao corpo?
LE: A união começa na concepção, mas
não se completa senão no momento do
119
nascimento.
Comentário: A união do espírito à ma-
téria não ocorre com a concepção e tam-
pouco com o nascimento. Essa união só
se completa quando o corpo físico atinge
os catorze anos. É justamente nesse perí-
odo que ocorrem as grandes transforma-
ções de ordem psicológica. Enquanto não
se dá essa união o espírito apenas assiste à
matéria, ligado energeticamente a ela. Es-
sa tarefa inclusive pode ser delegada a ou-
tro espírito se o dono do corpo físico pre-
cisar se afastar temporariamente por algum
motivo.
32. A união entre o espírito e o corpo é defi-
nitiva desde o momento da concepção? Duran-
te esse primeiro período o espírito poderia re-
nunciar a tomar o corpo que lhe foi designado?
LE: A união é definitiva, no sentido de
que outro espírito não poderia substituir o
120
que foi designado para o corpo...
Comentário: Como foi dito anteriormen-
te o espírito apenas exerce uma “vigilância”
sobre a matéria, enquanto não se completa
a sua total formação, o que se dá por volta
dos catorze anos. Nesse intervalo de tem-
po, se houver necessidade, o próprio espí-
rito reencarnante pode ser substituído por
outro sem nenhum prejuízo para a matéria.
33. No intervalo da concepção ao nascimen-
to, o espírito goza de todas suas faculdades?
LE: Mais ou menos, segundo a época,
porque não estáainda encarnado, mas liga-
do ao corpo.
Comentário: No lapso de tempo que me-
deia a concepção e o nascimento o espíri-
to reencarnante tem total liberdade, pois é
apenas um observador atento ao processo
de formação de sua futura matéria.
121
34. Há, como indica a ciência, crianças que
desde o ventre da mãe não têm possibilidade de
viver? E com que fim isso acontece?
LE: Isso acontece frequentemente, e
Deus o permite como prova, seja para os
pais, seja para o espírito destinado a encar-
nar.
Comentário: A natureza de forma inexo-
rável segue seu curso independentemente
de nossos desejos. Existem certas anoma-
lias ou doenças hereditárias, já devidamen-
te caracterizadas pela nossa ciência médica,
que não permitem o prosseguimento nor-
mal do processo de gestação. Esse fato é
também observado no processo reproduti-
vo dos animais. Não podemos assim credi-
tar esses acontecimentos naturais a um pro-
cedimento de apenação de alguém, mesmo
porque muitos desses casos quando subme-
tidos a um tratamento criterioso são sana-
122
dos e a gestação é coroada de êxito.
35. Há crianças natimortas, que não foram
destinadas à encarnação de um espírito?
LE: Sim, há as que jamais tiveram um es-
pírito destinado aos seus corpos: Nada de-
via cumprir-se nelas. É então somente pe-
los pais que essa criança nasce.
Comentário: A morte intrauterina ocorre,
via de regra, por problemas de ordem mate-
rial ou mesmo por acidente e não por falta
de designação de um espírito para ocupar
o corpo. A bem da verdade, o corpo pode
nascer com vida e assim permanecer por
muito tempo sem que haja um espírito de-
signado para ocupá-lo.
36. Toda criança que sobrevive tem, portanto,
necessariamente, um espírito encarnado em si?
LE: Que seria ela sem o espírito? Não se-
ria um ser humano.
Comentário: Em todos os casos em que
123
o corpo físico sobrevive sem que haja uma
pessoa para assumi-lo, aí não existe o Ser
Humano, mas apenas matéria animal.
37. O aborto provocado é um crime, qual-
quer que seja a época da concepção?
LE: Há sempre crime, no momento em
que se transgride a lei de Deus. A mãe, ou
qualquer outro, cometerá sempre um cri-
me, ao tirar a vida à criança, antes do seu
nascimento, porque isso é impedir a alma
de passar pelas provas de que o corpo de-
via ser instrumento.
Comentário: O aborto se situa no campo
da moral e, em segundo plano, nos campos
econômico e político. Sob o manto da mo-
ral muitas nações definem o aborto como
crime e criam as penas correspondentes ao
delito. Enquanto isso outras nações fron-
teiriças admitem a prática do aborto. Uma
observação mais criteriosa vai revelar que
124
as nações com grandes espaços vazios a se-
rem ocupados proíbem o aborto, enquanto
que as nações com excesso de população
quase sempre o admitem. Presentes esses
fatos pergunta-se onde está o certo e o er-
rado? Estaria por acaso na inspiração dos
legisladores ou na vontade dos governan-
tes? Acima disso tudo paira uma verdade:
todo o processo de concepção e gestação é
ato voluntário e nunca uma obrigação. Em
um estado em que a pessoa esteja conscien-
te de seus atos, ninguém deve dizer a ela o
que deve ou não deve fazer.
38. Qual o caráter dos indivíduos em que se
encarnam os espíritos brejeiros e levianos?
LE: São estouvados, espertos, e algumas
vezes, seres malfazejos.
Comentário: Entendemos que tanto as
pessoas sem matéria, ou seja, que estão
temporariamente no mundo espiritual co-
125
mo também aquelas que estão ocupando
um corpo físico não devem ser rotuladas.
Ao proceder-se desta forma, sujeita-se a co-
meter sérios enganos, pois como bem se vê
trata-se de um julgamento exterior da pes-
soa. A análise em profundidade das causas
e razões do seu comportamento revelaria
uma realidade totalmente diversa do julga-
mento inicial.
39. É o mesmo espírito que dá ao homem as
qualidades morais e as da inteligência?
LE: Seguramente que é o mesmo, e na
razão do grau a que tenha chegado. O ho-
mem não tem em si dois espíritos.
Comentário: As chamadas “qualidades
morais” como já dissemos depende tanto
das últimas encarnações como da presen-
te vida na matéria. Se, por acaso, viveu em
um meio ambiente – espaço e tempo – em
que havia costumes baseados em uma mo-
126
ral severa, o espírito irá levar para a vida fu-
tura esses princípios como “registros” ad-
quiridos no caminho percorrido. Esses re-
gistros não devem ser classificados como
bons ou ruins, mas apenas “registros” de
experiências vividas. A criança, criada den-
tro de padrões rígidos de comportamento,
via de regra irá se pautar, na idade adulta,
dentro daqueles padrões gravados em sua
memória. Dessa forma, as “qualidades mo-
rais” não são do espírito, mas foram agre-
gadas a ele. O ser humano em estado de
consciência desperta não necessita de nos-
sos ensinamentos morais, pois ele tem gra-
vado no âmago do seu ser todo o ideal di-
vino no ato da criação.
Quanto à inteligência, que não devemos
confundir com conhecimento, ela é atri-
buto de todo espírito, mas para expressá-
-la no mundo material é necessário um ve-
127
ículo físico que forneça condição para isso.
O que se observa é que raramente encon-
tramos alguém realmente inteligente, mas
por outro lado, encontramos muitas pes-
soas que têm conhecimento invulgar so-
bre algum aspecto da vida. Esse fato se de-
ve aos graves problemas que possuem nos-
sos corpos, não permitindo a manifestação
plena da inteligência. Mas o espírito é sem-
pre inteligente.
40. As faculdades do espírito se exercem com
toda a liberdade, após a sua união com o corpo?
LE: O exercício das faculdades depende
dos órgãos que lhes servem de instrumen-
to; elas são enfraquecidas pela grosseria da ma-
téria.
Comentário: As pessoas quando estão na
matéria usam suas faculdades e exercem su-
as capacidades de acordo com as possibili-
dades do corpo físico, que são propiciadas
128
principalmente pelas áreas do cérebro que
estão em funcionamento. Como na maio-
ria dos casos as áreas cerebrais estão qua-
se todas inativas, o uso das potencialidades
do espírito fica muito limitado.
41. Qual o objetivo da mudança que se ope-
ra no seu caráter a uma certa idade, e particu-
larmente ao sair da adolescência? É o espírito
que se modifica?
LE: É o espírito que retoma a sua natu-
reza e se mostra qual era.
Comentário: As mudanças psicológicas
que ocorrem na adolescência se devem ao
fato de ser esse o momento em que o es-
pírito reencarnante assume efetivamente o
corpo físico. Nessa oportunidade ele impri-
me seus caracteres particulares à matéria.
42. O espírito encarnado permanece volun-
tariamente no seu envoltório corporal?
129
LE: É como se perguntasse se o prisio-
neiro está satisfeito sob as chaves. O espí-
rito encarnado aspira incessantemente à li-
berdade, e quanto mais grosseiro é o envol-
tório, mas ele deseja ver-se desembaraçado.
Comentário: O espírito permanece vo-
luntariamente no seu corpo físico porque
gosta dele. É ele que lhe permite atuar na
matéria. Se observarmos as pessoas cujos
corpos estão em péssimo estado de con-
servação, apresentando exaustão quase to-
tal das forças e portanto ainda doenças gra-
ves, ainda assimelas lutam ferrenhamente
para neles permanecer.
43. Durante o sono, a alma repousa como o
corpo?
LE: Não, o espírito jamais está inativo.
Durante o sono, os liames que o unem ao
corpo se afrouxam e o corpo, não mais ne-
cessitando do espírito, percorre o espaço
130
e entra em relação mais direta com os ou-
tros espíritos.
Comentário: Boa parte do tempo de re-
pouso da matéria, o espírito está fora de-
la em seus afazeres extrafísicos. Muitas ve-
zes, porém, o espírito tem necessidade de
repousar na matéria, sentindo-se bem com
isso.

131
Capítulo 5

O CARMA OU LEI DE CAUSA E EFEITO

Carma deriva do sânscrito Kri, ou seja,


fazer. Os povos hindus são os que mais em-
pregam esta palavra, considerando-a como
vocábulo técnico mais apropriado para de-
signar a ação e o seu efeito corresponden-
te nas encarnações sucessivas do espírito
na Terra. Para eles toda ação é carma; qual-
quer trabalho ou pensamento que produzir
efeito posterior é carma.
É a lei de causa e efeito, espelhando sal-
do credor ou devedor na vida do espírito
encarnado.
Ainda dentro desse entendimento, a lei de
132
causa e efeito registra as ações boas e más;
a lei do carma, por sua vez, elabora o ba-
lanço dessas ações registradas e dá a cada
pessoa o resultado que lhe cabe, seja posi-
tivo ou negativo.
No sentido metafísico, a palavra carma
diz respeito ao destino traçado e impon-
derável, que atua tanto nas coisas animadas
como inanimadas, pois rege e disciplina to-
dos os ciclos da vida, do finito ao infinito,
do átomo ao planeta e do homem ao uni-
verso. Assim, é entendido que existe, pela
tradição esotérica, o carma do homem, o
da família, o da nação, o do continente, o
da humanidade e outros.
Somente à luz do verdadeiro entendimen-
to pode-se dar a clareza necessária à histó-
ria do carma. Ela se inicia de forma mui-
to parecida com a de outros princípios re-
ligiosos existentes na face da Terra.
133
O fundamento do carma guarda estrei-
ta analogia com outros ensinamentos basi-
lares de certas seitas ou grupos religiosos
que, no fundo, procuram manter as pesso-
as em um comportamento padrão capaz de
induzi-las, com facilidade, a proceder como
um grande rebanho. Desse modo, agindo
conforme é determinado ao grupo a que
pertence, o homem é conduzido pelos ca-
minhos que lhe são impostos e nunca por
onde está o objetivo de sua vida na matéria.
Em outras palavras, o livre-arbítrio não é
respeitado, isso em nome de certas leis que
se apregoa emanadas do Criador.
“O carma, em boa verdade, surgiu de
uma interpretação errônea do princípio da
energia causal. Essa energia faz parte de um
conjunto de sete energias responsáveis pe-
la existência de tudo, inclusive pela vida na
dimensão física e espiritual. A energia cau-
134
sal, com sua força, faz girar a roda da vida,
dando origem à multiplicação constante pe-
la reprodução.” O homem encarnado fez,
de acordo com seu entendimento da época,
uma adaptação do conceito dessa energia,
transformando-a em uma lei que passou a
imperar entre os homens. Os líderes espiri-
tuais encarregados da orientação de nossa
humanidade tudo observaram. Dentro de
um objetivo maior foi permitido que aque-
le entendimento errôneo da energia causal
permanecesse porque era útil. Essa lei do
carma, criada pelo homem, era útil porque
serviu para criar nele um comportamento
mais civilizado. A partir daí, as religiões e
seitas passaram a incorporar esse princípio
do carma, seja de forma direta ou sutil. O
espiritismo, por sua vez, adaptou esse prin-
cípio, incorporando-o como a LEI DE CAU-
SA E EFEITO, tão conhecida de todos nós.
135
A própria figura do pecado guarda em sua
essência a lei do carma, pois conforme en-
sina a doutrina de algumas religiões, o pe-
cador será julgado e poderá pagar seus pe-
cados nas regiões infernais.
Há que se destacar nesse ponto, o fato
de que o livre-arbítrio do homem encar-
nado é respeitado pelas entidades superio-
res, no momento de transmitir ensinamen-
tos ou mesmo permitir que certos entendi-
mentos errôneos permaneçam ao longo do
tempo, até o momento em que a consciên-
cia do Ser Humano possa assimilar o ver-
dadeiro sentido desses ensinamentos.
Mas o que nos interessa mais de perto,
dentro da doutrina espírita, é a lei de causa
e efeito. Ela está presente em toda a litera-
tura espírita, constituindo-se em uma ignó-
bil apologia à dor e ao sofrimento. De início
patenteamos nosso entendimento de que a
136
dor e o sofrimento são mazelas humanas
exclusivamente materiais, e como tais, têm
suas origens nessa vida e seus efeitos se en-
cerram aqui na matéria. Dessa forma, o ba-
lanço de nossos atos se encerra nesta vida
e neste corpo físico. Para as vidas futuras
não restam quaisquer dívidas a pagar. Den-
tro desse entendimento, a afirmação de que
o sofrimento é necessário à nossa evolu-
ção não resiste a qualquer argumento lógi-
co. O sofrimento é um produto de doenças
e deve ser banido da face da Terra. Admi-
tindo-se, para fins de raciocínio, que o so-
frimento fosse necessário ao homem, terí-
amos obrigatoriamente que saber por que
sofremos. Caso contrário jamais aprende-
ríamos a lição e sempre estaríamos nos jul-
gando injustiçados. A esse respeito é co-
mum ouvirmos afirmações de que os filhos
pagam pelos pais. Dentro de nosso enten-
137
dimento isso não tem fundamento quando
se trata de vidas sucessivas. O que se dá é
que no mundo da energia o mais frágil po-
de receber alquilo que não lhe é endereça-
do. Dessa forma, a criança pode ser atingi-
da por algum sofrimento que era destina-
do aos pais; isso não caracteriza um casti-
go de Deus, mas apenas resultado de ações
entre os homens no mundo material. Por
outro lado, porém, esses acertos de contas
que acontecem entre os homens não ultra-
passam uma vida para atingir a reencarna-
ção seguinte. Se isso acontecesse, o chama-
do resgate de vidas passadas seria um fato
verdadeiro.
Cabe, no momento, a abertura de um pa-
rêntese para esclarecer uma questão: exis-
tem certos acontecimentos de uma encar-
nação que só podem ser desfeitos na pró-
pria matéria. Não se trata aqui de pagar dí-
138
vidas de outras vidas, mas sim de vivenciar
fatos já ocorridos em outras vidas para que
a pessoa possa compreendê-los. Os traumas
ocorridos em nossas vidas passadas são re-
solvidos à medida que nós entendemos os
fatos que lhes deram origem. É a terapia
do verdadeiro entendimento. A esse respei-
to, a título de exemplo citamos os casos de
crimes hediondos que acontecem ao nos-
so redor. Nossa primeira reação é condenar
o autor do delito, nos esquecendo que no
passado ocorreram bárbaros massacres de
pessoas – como nossos índios – que per-
deram seus corpos em meio a terrível vio-
lência, causando-lhes sérios desequilíbrios
psicossomáticos. Regressam, agora, à maté-
ria na condição de celerados, porque guar-
dam esses registros deletérios, até o mo-
mento em que conseguirem compreender
o porquê de seus comportamentos. Poderí-
139
amos chamar isso de carma? Não, pois aqui
não há dívida a pagar nem resgate a cum-
prir, mas sim, registros desequilibrantes que
precisam ser compreendidos e eliminados
os seus efeitos nocivos. Entendemos que
a adoção da lei de causa e efeito, pelo es-
piritismo, trouxe desvios na verdadeira ro-
ta que a doutrina devia seguir. Foi uma pe-
quena parada em certo momento do tem-
po para incorporar um conceito já reinan-
te à época no seio da humanidade.
Mas, como nada se perde, tudo se apro-
veita, o conceito serviu nos primeiros tem-
pos para obrigar o homem a meditar sobre
suas ações. A lançar-se no espelho do futu-
ro e reconhecer que havia o imperativo de
mudar. O presente era o momento de plan-
tar a semente desse futuro. Vê-se, portanto,
que em geral o homem melhora sua condu-
ta pessoal não pelo entendimento que bro-
140
ta da luz da consciência desperta, mas sim-
plesmente por temor. O homem tem me-
do de que suas ações contrárias ao grande
concerto da vida possam lhe trazer conse-
quências danosas.
Retomando a nossa argumentação, a dou-
trina espírita ao fazer essa pausa no tempo
permitiu que o homem chegasse à altura de
seus postulados, utilizando a escada de seu
conhecimento e entendimento. Apesar do
aparente contrassenso, essa abertura permi-
tiu, ao homem, a aceitação dos pressupos-
tos espiritistas. Assim, a lei de causa e efeito
se agregou ao espiritismo até o momento
em que o homem pudesse dispensá-la pe-
lo verdadeiro entendimento dos princípios
basilares da doutrina. Importante lembrar
também que o espiritismo sofreu influên-
cia, como não poderia deixar de ser, da cul-
tura religiosa vigente ao longo de sua exis-
141
tência. Incorporou, inclusive, certos princí-
pios e rituais de religiões contemporâneas.
Com o início da difusão da doutrina atra-
vés da literatura o homem teve acesso a far-
to material contendo os princípios espíri-
tas atuais. A literatura básica contém en-
sinamentos sobre o mundo espiritual que
talvez fossem adequados ao entendimento
da humanidade daqueles tempos mas que
não se ajustam ao homem de hoje. Como
é natural, o Ser Humano teve um grande
crescimento na sua capacidade de entender
o mundo espiritual e a interligação com a
matéria. Isso nos leva a concluir que o es-
piritismo e seus princípios precisam se ade-
quar, através da mudança da linguagem, a
esse homem da era do átomo e das viagens
interplanetárias.
A lei de causa e efeito, como um princí-
pio do espiritismo, precisa ser revista para
142
permitir que o Ser Humano, quando tiver
acesso aos seus registros particulares, des-
ta e de outras vidas, não queira contabili-
zar como prejuízos muitas experiências lu-
crativas e nem como dívidas para o futuro,
fatos que na verdade são apenas aconteci-
mentos circunscritos aos limites da matéria.
Essa lei traz em seu bojo um ponto que a
nosso ver não combina com a ideia que te-
mos do Criador. De acordo com ela o ho-
mem é levado a aceitar passivamente a dor
e o sofrimento, deixando de buscar no seu
interior a luz do entendimento que leva à
conclusão de que é inconcebível o Pai criar
o filho para o sofrimento. O contrário, no
entanto, é de fácil aceitação e de clarividen-
te lógica. O Criador nos criou para cres-
cermos e sermos felizes. Se assim não so-
mos devemos creditar isso aos defeitos de
nossas matérias que não permitem o nos-
143
so acesso ao mundo espiritual e a nós mes-
mos. Portanto, a inaceitação dessa situação
é de vital importância, pois isso significa
que devemos lutar com toda nossa capa-
cidade até atingirmos o domínio da maté-
ria e sermos, então, senhores do sofrimen-
to e da dor.
De acordo com a lei do carma quase tu-
do que acontece ao homem que lhe seja
desfavorável é atribuído a fatores pretéri-
tos. Desde o nascimento em lar privado do
mínimo conforto até o desencarne em situ-
ação de sofrimento pode ser enquadrado à
conta de resgate de vidas passadas.
A esse respeito cabe a interrogação: De
que vale castigar o criminoso por um cri-
me de que ele não tem a menor lembrança?
Dentro do nosso conceito de justiça, isso
seria justo? Entendemos que no estado de
inconsciência não há culpado nem dívida
144
ou mesmo mal. Somente sabemos se esta-
mos agindo de acordo com a grande reali-
dade da vida quando temos acesso aos nos-
sos registros pela autoconsciência.
A humanidade ainda levará muito tempo
para se livrar da doença do pecado que é o
irmão gêmeo do carma.
Mais uma vez é bom lembrar que o Cria-
dor nos fez perfeitos e como tal permane-
cemos. Ocorre que no momento estamos
utilizando um corpo imperfeito, o que tor-
na nossa perfeição limitada e sujeita aos de-
sequilíbrios da matéria. Portanto, é ponto
fundamental que aprendamos a distinguir
“nós” e “nossos corpos”, assim como não
podemos confundir a “energia elétrica” que
produz a luz com a “lâmpada” que ilumina.
É chegado o momento de caminharmos
com o espiritismo sem receios, sem medos,
sem autocensura ou mesmo só pela inten-
145
ção de agradar às pessoas que vivem no
mundo espiritual, ou seja, os espíritos. O
espiritismo deve ser entendido como uma
ponte luminosa que liga os mundos mate-
rial e espiritual. Caminho esse que deve ser
compartilhado por todos aqueles que sen-
tem a necessidade de participar da pátria es-
piritual. Essa participação, essa busca da li-
gação com o outro lado da vida deve se re-
alizar de forma espontânea e atendendo aos
próprios anseios do Ser Humano e nunca
pelo temor de dívidas contraídas ou mesmo
para aplacar “dores de consciência”. Enfim,
é a busca do recomeço. A busca do acesso
a essa outra frequência que nos completa,
nos reconforta e nos faz sentir novamente
filhos do Criador.
Verdadeiramente sentimos necessidade
de retirar das costas do homem esse far-
do pesado da culpa. Por qualquer mazela
146
de que ele padece já é rotulado de devedor
do pretérito. Mas que dívida é essa de que
tantos falam e ninguém se recorda? Esta-
ria, por acaso, o devedor inconsciente quan-
do a contraiu? Onde estará e quem será o
credor? Estaria também inconsciente? Por
que não vem explicar ao devedor a origem
de sua dívida?
Bem, se nem o devedor nem o credor se
lembram de uma dívida então ela não existe.
Continuando a linha de pensamento, se-
ria porventura o Criador o credor das nos-
sas faladas dívidas? Admitindo-se essa hi-
pótese caberia a interrogação: por que es-
colheria ele o pagamento na moeda da dor
e do sofrimento? Teríamos por acaso sido
criados por ele para aprendermos na escola
das lágrimas e das lamentações? E por que
não na faculdade do riso e da felicidade?
Como se vê há uma infinidade de inter-
147
rogações que vão tornando a ideia da Lei
de Causa e Efeito cada vez mais distante
do conceito que se deve ter da Justiça e do
próprio Criador. Por outro lado, se pensar-
mos em pessoas com o mecanismo de ra-
ciocínio prejudicado por um cérebro defei-
tuoso, com sistema de captação de energias
deficiente e um conjunto glandular atrofia-
do, podemos até entender a origem dessa
lei criada pelo próprio homem à sua “ima-
gem e semelhança”.
O espiritismo de hoje caminha em senti-
do contrário à sua trilha de origem. Ele foi
criado para quebrar um jugo e restabele-
cer a ligação com o mundo espiritual. Mas
o que acontece de novo é a subjugação do
homem encarnado a regras, práticas e ritu-
ais que não esclarecem, mas confundem,
gerando mais dúvidas sem respostas. Quan-
do ele busca a explicação ou o fundamen-
148
to para certo fato não encontra os esclare-
cimentos desejados. Quanto às práticas e
rituais desnecessários afirmam, as pessoas
do mundo espiritual que é hora de traba-
lharmos dentro da realidade e dispensar-
mos a encenação. As formas pitorescas de
intercâmbio espiritual devem ceder lugar à
comunicação natural à semelhança daque-
la desenvolvida entre as pessoas encarna-
das na matéria.
A lei de causa e efeito, por sua vez, é uma
espada psicológica sobre a cabeça do ho-
mem. Para aqueles que vivem na dor e no
sofrimento é uma camisa de força que evita
a reação para mudar. Nesse ponto ela é ver-
dadeiramente cruel, pois faz com que a pes-
soa encarnada baixe a cabeça e se acostume
com a dor, tornando-se sócio dela com to-
dos os seus efeitos nocivos. Com o passar
do tempo ela vai ficando anestesiada com
149
o sofrimento e esquece todos os seus an-
seios, sua vontade de viver e de realizar, se
transformando pouco a pouco em um ani-
mal de raciocínio minguado. Essa “camisa
de força” colocada no homem animal traz-
-lhe benefícios, mas que têm o gosto do vi-
nagre. Guarda semelhança ao caso do ani-
mal de serviço que não suportando a carga
se recusa a caminhar. Ao sentir o açoite da
chibata e a ferida se abrir ele reúne forças
e se arrasta. Quando a ferida sara a cicatriz
permanece, mostrando que nem o tempo
consegue apagá-la. Assim, é o Ser Huma-
no que passa pela ESCOLA DA DOR, guar-
dará para sempre em um compartimento
escuro de sua memória o “registro do so-
frimento”. Mas teria sido mesmo necessá-
rio o seu sofrimento? Dentro do verdadei-
ro entendimento não pode existir SOFRI-
MENTO NECESSÁRIO. Se existe alguém que
150
pensa o contrário e se submete a ele é por-
que ali impera o desequilíbrio da faculda-
de do raciocínio. Se a sanidade mental es-
tá ausente então a organização física está à
mercê dos acidentes possíveis na longa ca-
minhada da vida.
O espiritismo não pode trocar o trigo pe-
lo joio. O seu PRINCÍPIO MAIOR, tem que
ser a VERDADE iluminada pela luz do RA-
CIOCÍNIO. Da mesma forma, o ENTENDI-
MENTO deve ser sempre o guardião do ho-
mem para que o sofrimento e a dor não ve-
nham habitar com ele.
TERÍAMOS, POR ACASO, SIDO CRIADOS
PARA APRENDERMOS NA ESCOLA DAS LÁ-
GRIMAS E DAS LAMENTAÇÕES? E POR QUE
NÃO NA FACULDADE DO RISO E DA FELI-
CIDADE?

151
QUESTÕES RELATIVAS AO TEMA

1. De que serve aos espíritos seguirem o ca-


minho do bem, se isso não os isenta das penas
da vida corporal?
LE: Chegam mais depressa ao alvo. Além
disso, as penas da vida são frequentemen-
te a consequência da imperfeição do espí-
rito. Quanto menos imperfeito ele for me-
nos tormento ele sofrerá.
Comentário: Partindo do pressuposto de
que “nós somos criados perfeitos e o Cria-
dor não vê defeitos em sua obra”, tudo é
experiência e se ocorrem desvios devemos
creditar isso não ao condutor, mas ao veí-
culo conduzido. As chamadas “penas” são
consequências naturais dos atos praticados
dentro de um estado de inconsciência. Não
se trata, portanto, de imperfeição do espí-
rito, mas de defeito da matéria.
152
2. No estado errante, antes de tomar nova
existência corpórea, o espírito tem a consciên-
cia e a previsão do que lhe aconteceu durante
a vida?
LE: Ele mesmo escolhe o gênero de pro-
vas que deseja sofrer, nisto consiste o livre-
-arbítrio.
Comentário: O espírito escolhe e traça
seu projeto de vida e acha que tudo corre-
rá conforme planejou. Ele pensa, inclusive,
que conseguirá resolver todos os proble-
mas que rondam sua futura matéria. Mas,
ao mergulhar no ambiente físico ele vai
pouco a pouco esquecendo tudo o que sa-
bia antes, inclusive o que havia planejado
para a sua existência.
Esse esquecimento se torna tão profun-
do que atinge o estado de inconsciência,
não lembrando, a partir daí, nada mais de
seu passado e do seu planejamento para o
153
futuro.
3. Como o espírito pode querer nascer entre
gente de má vida?
LE: É necessário que ele seja enviado a
um meio em que possa sofrer a prova que
pediu. Pois bem: o semelhante atrai o se-
melhante, e para lutar contra o instinto do
banditismo, é preciso que ele se encontre
entre gente dessa espécie.
Comentário: Como foi dito anteriormen-
te ao planejar ou acertar certas condições
de vida, o espírito acha que conseguirá re-
solver tudo, mas o que acontece em geral é
a sua falência diante da força que governa
o mundo físico. Se ele escolheu viver en-
tre “pessoas de má vida” é porque essa ex-
periência era importante para ele, mas não
como prova.
4. Se não houvesse gente de má vida na Ter-
154
ra, o espírito não poderia encontrar nela o meio
necessário a certas provas?
LE: E deveríamos lamentar isso? É o que
acontece nos mundos superiores, onde o
mal não tem acesso; é por isso que neles só
existem bons espíritos.
Comentário: Os espíritos não encarnam
para pagar dívidas ou se submeter a provas,
mas para buscar experiências novas, visan-
do tornar concretos seus objetivos de vida.
Nos mundos onde as pessoas são conscien-
tes o mal simplesmente não existe, donde
se conclui que o chamado mal tem origem
na inconsciência humana.
5. O espírito faz sua escolha (da nova exis-
tência) imediatamente após a morte?
LE: Não, pois muitos creem na eternida-
de das penas, como já vos disse, isso é um
castigo.
Comentário: Depende do nível de cons-
155
ciência ao deixar o corpo físico. Se ocor-
rer o desenlace de forma traumática, cau-
sando um estado de inconsciência profun-
do ele terá um tempo maior de recupera-
ção. Ao contrário, se a perda do corpo físi-
co se deu sem grandes traumas, de forma
que não ocasionou grande perda de cons-
ciência, ele terá maior facilidade para se po-
sicionar com relação à sua vida futura.
6. Ao que se devem as vocações de certas pes-
soas, e sua vontade de seguir uma carreira em
vez de outra?
LE: Parece-me que podeis responder por
vós mesmos a esta questão. Não é a con-
sequência de tudo o que dissemos sobre a
escolha das provas e sobre o progresso re-
alizado numa existência anterior?
Comentário: As atividades desenvolvi-
das pelo espírito em vidas passadas e das
quais ele gosta se insinuam nas vidas futu-
156
ras sob a forma de um desejo de envolvi-
mento com elas. Às vezes é tão forte esse
desejo que a pessoa abandona carreiras pro-
missoras para se dedicar a uma outra ativi-
dade aparentemente sem nenhum atrativo.
7. Qual é o objetivo da Providência, ao criar
seres desgraçados como os cretinos e os idiotas?
LE: São os espíritos em punição que vi-
vem em corpos de idiotas. Esses espíritos
sofrem com o constrangimento a que es-
tão sujeitos, e pela impossibilidade em que
se encontram, de se manifestar através de
órgãos não desenvolvidos ou defeituosos.
Comentário: O Criador na verdade não
cria seres imperfeitos e sua obra é toda per-
feita. Os casos que conhecemos de pessoas
que se inserem no conceito humano de ex-
cepcionais se devem a defeitos da matéria
oriundos da combinação genética ou ain-
da a outros casos de patogenia diversa. O
157
espírito ao constatar que o corpo físico em
que ele vai reencarnar apresenta grave pro-
blema desse naipe acha que pode dar solu-
ção ao defeito. No entanto, ao assumir esse
corpo se depara com uma situação que es-
tá acima de suas capacidades, mesmo por-
que ele logo mergulha na inconsciência e
tudo esquece.
“O CARMA HUMANO TEVE ORIGEM, NO
PASSADO, EM UM ERRO DE INTERPRETA-
ÇÃO DO HOMEM ENCARNADO”, MAS QUE
AGORA PRECISA SER CORRIGIDO.

158
Capítulo 6

O BEM E O MAL

O que é o Bem e o Mal? Seria uma lei dei-


xada pelo Criador ou um sistema implanta-
do pelo próprio homem ao longo do tem-
po?
Responder a essas questões significa, an-
tes de tudo, dissecar o Ser Humano, tanto
no seu aspecto físico como também no es-
piritual que viveu ontem, vive hoje e vive-
rá amanhã. Aqui as dobras do tempo não
causam interrupções, mas constituem ape-
nas e tão somente pequenas paradas e sub-
sequentes recomeços.
A vida e tudo o mais que existe segue o
159
princípio da dualidade. Ao frio se contra-
põe o calor, ao alto se coloca o baixo, para
o longe existe o perto e assim por diante.
Para que possa existir o Bem é necessário
que exista o Mal. Um não existe sem o ou-
tro, assim como a luz não existe sem a tre-
va, pois uma dá existência à outra.
Comecemos pelo Bem. O que é o Bem?
É o que aprendemos com outras pessoas?
Com nossos pais? Com nossos amigos? Ou
com nossos professores? Mas, quem ensi-
nou para eles o que é o Bem? Foram seus
pais? Seus professores? Ou seus amigos?
E a esses últimos quem ensinou o concei-
to de Bem?
Da mesma forma, podemos raciocinar
sobre o conceito de Mal. Neste ponto vol-
tamos à pergunta: seria uma lei deixada pe-
lo Criador? Se verdadeira a afirmação, por
que o Bem e o Mal mudam, muitas vezes,
160
de face ao atravessarmos uma simples fron-
teira de um país? Teria o Criador concei-
tuado um bem para um povo e para outro
esse mesmo bem já seria mal?
Dentro dessa lógica entendemos que o
Bem e o Mal não se encontram dentro da
obra do Criador.
Porém, se não foi do Criador, onde está
a origem do conceito de Bem e Mal?
O Bem e o Mal constituem um sistema
dentro de outro sistema maior. O sistema
Bem e Mal foi sendo engendrado pelas or-
ganizações ao longo da história do homem.
Esse sistema teve ao longo do tempo suas
adaptações, seus aperfeiçoamentos, em uma
tentativa de acompanhar o melhoramento
físico e mental do homem. Nesse proces-
so de adaptação através dos tempos, cada
nação ou região da Terra foi dando uma
feição própria ao seu sistema Bem e Mal.
161
Assim é que muita coisa é considerada um
bem em um país, em outro pode ser vista
como um mal e vice-versa. Um fato pode
ser um bem para um homem e para outro
ser um mal. Em um mesmo país uma pes-
soa que tira a vida de outra pode ser con-
denada, mas se o fato se dá em uma guer-
ra ela pode ser glorificada. Dentro do ex-
posto, o Bem pode ser coletivo, individual,
permanente, temporário, físico, espiritual e
outros. Vê-se assim que o conceito de Bem
pode ser tão elástico como a nossa própria
imaginação. Mas e o Mal? Seria tudo aqui-
lo que se contrapõe muitas vezes ao Bem?
Mas o próprio Bem de uma pessoa não se
contrapõe muitas vezes ao Bem de outra?
Daí pode-se concluir que o Bem muitas
vezes se confunde com o próprio Mal, de-
pendendo apenas do ângulo em que se ana-
lisa a questão. Se observarmos com atenção
162
o Bem e o Mal veremos que são como os
pratos de uma balança que pretende medir
os atos do Ser Humano. No meio, de forma
equidistante dos pratos está o fiel da balan-
ça que aqui podemos chamar de consciên-
cia humana. Se a pessoa está inconsciente,
como é o caso dos habitantes da Terra, ela
vai se pautar pelo movimento dos pratos e
não pela observação do fiel da balança. Se
por acaso o peso é maior do lado esquerdo
e o prato desce, ela logo se coloca do lado
negro da vida. Assim agindo, e usando o
referencial de Bem e Mal, que lhe foi pas-
sado por outras pessoas ou grupos a que
pertença, ela logo irá sentir a dor da culpa
por estar do lado do mal. Ao contrário, se
o prato da balança pende para o lado direi-
to, o lado do Bem, aí então ela vai se sentir
venturosa por estar do lado do Bem e, em
seus pensamentos, já bailará, muitas vezes,
163
as imagens do paraíso distante.
Agora, por derradeiro, imaginemos que a
pessoa em questão fosse consciente e não
estivesse utilizando um corpo físico com os
bloqueios e desequilíbrios energéticos pró-
prios dos corpos humanos atuais, como ela
veria a balança e os seus pratos? Será que
ela se guiaria pelo movimento dos pratos ou
os veria apenas como instrumentos? Não
seria mais próprio afirmar que ela se guia-
ria pelo fiel da balança, que no caso, é a sua
consciência desperta, e desprezaria os pra-
tos recheados de conceitos errôneos que
estão sujeitos às ações do tempo, do espa-
ço e das conveniências humanas?
O sistema Bem e Mal foi criado com a fi-
nalidade de limitar e direcionar o compor-
tamento do homem, enquanto inconscien-
te. É bem verdade que teve e ainda terá por
muito tempo a sua utilidade. Mas nem por
164
isso podemos confundir o real com o irre-
al, a sombra com a luz. O Bem e o Mal só
existem como subproduto da inconsciên-
cia humana. Não têm, portanto, existência
real sem a sua mãe inconsciência, que os
pariu, deu-lhes vida, alimentou-os e os fez
verdugos e juízes do próprio Ser Humano.
O homem precisa entender o sistema
Bem e Mal, viver nele mas não o aceitar
como uma realidade eterna que existe em
todos os mundos, aplicável a todos os se-
res humanos. Esse mecanismo foi uma das
muletas criadas para que o homem pudes-
se caminhar e chegar aos nossos dias, mes-
mo caminhando pela escuridão sem saber
de onde vinha nem para onde ia.
O Ser Humano, quando criado, trás den-
tro de si um registro indelével que o torna
possuidor da vontade do Criador. A cria-
tura divina, que todos nós somos, foi cria-
165
da perfeita e não há necessidade de repa-
ros. Mesmo porque se houvesse essa real
necessidade somente o Criador seria capaz
de detectá-la.
O homem, em sua condição original de
consciência plena, não necessita do sistema
Bem e Mal ou de qualquer um dos outros
sistemas que foram implantados na Terra.
Tampouco necessita de leis escritas ou fa-
ladas que regulem suas ações no meio so-
cial. Dispensa, da mesma forma, qualquer
ordenamento jurídico nos moldes do nos-
so que dê sustentação aos seus direitos e o
convoque, ao mesmo tempo, à observação
de seus deveres. Nesse estado de consciên-
cia plena permanece sempre o princípio do
entendimento pleno de tudo que rodeia a
pessoa humana. Além disso, tem profun-
do conhecimento da matéria que ele habi-
ta e do seu mundo interior.
166
Cabe nesse ponto a interrogação: onde
está a grande muralha que separa o homem
consciente do inconsciente? Muralha que
criou o homem que sofre e que chora, que
fere e que mata o seu semelhante, que dor-
me o grande sono da encarnação e não se
lembra de quem era ontem, barreira que
criou um novo homem para viver no pas-
sado ou no futuro mas nunca no presente?
Essa muralha de colossal dimensão é for-
mada pelos BLOQUEIOS DA MATÉRIA HU-
MANA. Ela é a grande responsável por to-
das as causas do sofrimento humano. É ela
também que separa esse homem sofredor
daquele outro que é livre, que não sofre,
que vive o passado e o futuro no presente e
que ama profundamente o seu semelhante.
Assim, o sistema Bem e Mal foi criado
para um momento da humanidade. E esse
sistema só é aplicável ao homem incons-
167
ciente criado pela “muralha”.
Para o homem autoconsciente esse siste-
ma é inócuo e não tem qualquer utilidade,
é como tentar clarear o dia, acendendo ve-
las à luz do sol.

QUESTÕES RELATIVAS AO TEMA

1. Os espíritos são bons ou maus por natureza


ou são eles mesmos que procuram melhorar-se?
LE: Os espíritos se melhoram e passam
de uma classe inferior para uma superior.
Comentário: Os espíritos são criados per-
feitos, nem bons nem maus.
2. Os espíritos foram criados bons e outros
maus?
LE: Deus criou todos os espíritos sim-
ples e ignorantes, ou seja, sem conhecimen-
to. Adquirem conhecimentos passando pe-
las provas que Deus lhe impõe.
Comentário: Partindo do pressuposto de
168
que os conceitos de Bem e de Mal possuem
origem humana e são extremamente rela-
tivos, entendemos que o Criador, no ato
supremo da criação, estaria muito distante
dessa divisão ditada pelos homens. Os ca-
minhos que cada um busca para suas expe-
riências são ditados pelo seu livre-arbítrio
e não em função de provas.
3. Segundo isto, os espíritos, na sua origem,
se assemelham a crianças, ignorantes e sem ex-
periência, mas adquirindo pouco a pouco os co-
nhecimentos que lhes faltam, ao percorrer as di-
versas fases da vida?
LE: Sim, a comparação é justa: a criança
rebelde permanece ignorante e imperfeita;
seu menor ou maior aproveitamento de-
pende de sua docilidade.
Comentário: Primeiro as crianças não são
ignorantes e sem experiência, mas são ape-
nas matérias em formação e cujo ocupante
169
ainda não assumiu o controle da organiza-
ção física. Por outro lado, repetimos, os es-
píritos são criados perfeitos e dotados com
os registros de seu tempo. Possuem, como
criaturas perfeitas dentro da criação, todas
as capacidades para assimilar conhecimen-
tos e distinguir, entre vários caminhos, o
que melhor lhes convém para atingir seus
objetivos.
4. Há espíritos que ficarão perpetuamente
nas classes inferiores?
LE: Não; todos se tornarão perfeitos.
Comentário: Não existem classes de es-
píritos inferiores, todos são perfeitos e se
são perfeitos, uns não podem ser inferio-
res a outros. Existem, isto sim, experiências
diferentes vividas por uns e por outros. É
possível um pai afirmar que um filho seu é
inferior ao outro? Ou é mais adequado ele
afirmar que um filho seu tem característi-
170
cas individuais diferentes do outro?
5. Depende dos espíritos apressar o seu avan-
ço para a perfeição?
LE: Certamente. Eles chegam mais ou
menos rapidamente, segundo o seu desejo
e a sua submissão à vontade de Deus.
Comentário: Isso é certo. É como o via-
jante que mais se dedica à sua jornada, mais
rápido alcançará seu objetivo. Mas, por ou-
tro lado, devemos perguntar, o que é a per-
feição? Uma pedra é perfeita? Uma árvo-
re, uma flor, um animal, são também per-
feitos? Entendemos que sim. Então pode-
mos concluir que estamos cercados de per-
feições do Criador. Mas, e essa outra per-
feição a que se refere a questão? Bem, essa
perfeição humana é um ideal que será sem-
pre perseguido pelo Ser Humano.
6. Deus pode livrar os espíritos das provas que
171
devem sofrer para chegar à primeira ordem?
LE: Se tivessem sido criados perfeitos,
não teriam merecimento para gozar dessa
perfeição.
Comentário: Partimos sempre do pres-
suposto básico de que: o Ser Humano foi
criado perfeito e as chamada provas não
passam de uma tentativa, do próprio ho-
mem, de explicar as diferentes experiências
vividas por uns e outros na matéria. Se es-
sas “provas” realmente existissem as pes-
soas que nascem nos países pobres sempre
estariam em provas, ao passo que nos pa-
íses ricos raramente iríamos encontrar al-
guém “em provas”.
Quanto à classificação dos espíritos em
ordens nunca ouvimos falar de sua existên-
cia na dimensão espiritual. Acreditamos que
foi um mecanismo criado aqui na tentativa
de explicar o mundo espiritual.
172
7. Todos os espíritos passam pela fileira do
Mal, para chegar ao Bem?
LE: Não pela fileira do mal, mas pela da
ignorância.
Comentário: Os espíritos não são destina-
dos às fileiras do Mal nem às do Bem, por-
que essas duas figuras são apenas concei-
tos humanos e não realidades oriundas do
Criador.
8. Como podem os espíritos, em sua origem,
quando ainda não têm a consciência de si mes-
mos, ter a liberdade de escolher entre o Bem e
o Mal? Há neles um princípio, uma tendência
qualquer que os leve mais para um lado que
para outro?
LE: O livre-arbítrio se desenvolve à me-
dida que o espírito adquire consciência de
si mesmo. Não haveria liberdade, se a es-
colha fosse provocada por uma causa es-
tranha à vontade do espírito. A causa não
173
está nele, mas no exterior, nas influências
a que ele cede em virtude de sua espontâ-
nea vontade.
Comentário: Os espíritos não seguem o
caminho do Bem e do Mal, mas vivem ex-
periências no meio físico que vão ser in-
fluenciadas por vários fatores, tais como:
meio ambiente, época da reencarnação, cos-
tumes, condição social e outros.
9. De onde vêm as influências que se exercem
sobre o espírito?
LE: Dos espíritos imperfeitos que procu-
ram envolvê-lo e dominá-lo, e que ficam fe-
lizes de fazê-lo sucumbir. Foi o que se quis
representar na figura de Satanás.
Comentário: A comunicação entre os es-
píritos mesmo em frequências diferentes
é possível e ocorre. Não podemos, no en-
tanto, creditar as mudanças de comporta-
mento e os atos das pessoas só às influên-
174
cias espirituais. Essas influências, quando
existem, têm suas raízes na própria pessoa
encarnada.
NÃO EXISTEM ESPÍRITOS SUPERIORES E
INFERIORES. O CRIADOR PROVEU A IGUAL-
DADE QUANDO DISTRIBUIU O CONHECI-
MENTO ENTRE TODOS OS SERES HUMA-
NOS. O CONHECIMENTO INTEGRAL SÓ É
ATINGIDO COM O SOMATÓRIO DO CONHE-
CIMENTO INDIVIDUAL.

10. Por que Deus permite que os espíritos pos-


sam seguir o caminho do Mal?
LE: A sabedoria de Deus se encontra na
liberdade de escolha que concede a cada
um porque, assim, cada um tem o mérito
de suas obras.
Comentário: Se a pessoa não prova o gos-
to do sal não saberá reconhecer o sabor do
doce; se não andar descalço sobre os pe-
dregulhos do caminho não saberá o valor
175
do chinelo rústico. Desse modo, tudo é ex-
periência, tudo é aprendizado.
11. Havendo espíritos que, desde o princípio,
seguem o caminho do Bem absoluto, e outros o
do Mal absoluto, haverá gradações, sem dúvi-
da, entre esses dois extremos?
LE: Sim, por certo, e estão na grande
maioria.
Comentário: Como podemos saber que
o espírito seguiu, desde o princípio, o ca-
minho do Mal ou do Bem absoluto?
Anteriormente já comentamos que o
Bem e o Mal são conceitos extremamente
relativos e por isso mesmo de difícil assi-
milação pelo homem em seu estado de in-
consciência. Assim, é muito temerário al-
guém afirmar que uma pessoa segue o ca-
minho do Bem ou do Mal; para isso tería-
mos que conhecer até o seu objetivo de vi-
da e isso só ela conhece e possui em seus
176
registros.
12. Os espíritos que seguiram o mal poderão
chegar ao mesmo grau de superioridade que os
outros?
LE: Sim, mas as eternidades serão mais
longas para eles. Por essa expressão, as eter-
nidades, deve-se entender a ideia que os
espíritos inferiores fazem da perpetuidade
dos seus sofrimentos, cujo termo não lhes
é dado ver.
Comentário: Não existem caminhos do
mal e caminhos do bem, mas experiências
vividas de colorações diferentes que vão
paulatinamente atuando sobre o estado de
consciência do Ser Humano encarnado.
13. Os espíritos que chegam ao supremo grau,
depois de passarem pelo Mal, têm menos méri-
to que os outros, aos olhos de Deus?
LE: Deus contempla os extraviados com
177
o mesmo olhar, e os ama a todos do mesmo
modo. Eles são chamados maus porque su-
cumbiram; antes, não eram mais que sim-
ples espíritos.
Comentário: Se esse supremo grau existe,
ele deve ser a suprema perfeição. Mas essa
perfeição só deve existir enquanto um ideal
a ser alcançado, pois sendo o crescimento
espiritual infinito, os espíritos que aí apor-
tassem estariam condenados à infinita es-
tagnação.
14. De onde vem para o homem as suas qua-
lidades morais, boas e más?
LE: São as do espírito que está nele en-
carnado; quanto mais puro esse espírito,
mais o homem é propenso ao bem.
Comentário: O homem em seu estado de
inconsciência tem em seu mundo interno
um somatório de experiências vividas em
muitas vidas. Muitas delas mais marcantes
178
do que outras, trazendo seus reflexos para
o presente. Coadjuvando com esses refle-
xos do passado, o corpo físico também di-
tará suas normas. O indivíduo, dessa for-
ma, balizará sua conduta influenciado ain-
da pelo ambiente, pelos costumes, pela fa-
mília e outros fatores.
15. Parece resultar daí que o homem de bem
é a encarnação de um bom espírito, e o homem
vicioso a de um mau espírito?
LE: Sim, mas dize antes que é um espí-
rito imperfeito, pois de outra forma pode-
ria crer-se nos espíritos a que chamais de-
mônios.
Comentário: Partimos sempre do princí-
pio de que não existem espíritos imperfei-
tos, mas sim corpos físicos em estado im-
perfeito. Assim, um homem afeito aos ví-
cios atende em geral à solicitação de seu
corpo, já que ele é comandado e não co-
179
manda. Os chamados vícios quase sempre
passam de pai para filho, na forma de um
registro. A classificação que se dá aos ho-
mens de bons e maus deveria ser dada pe-
la via da matéria que ele usa e não ao pró-
prio espírito, já que a matéria do homem é
a principal responsável pela conduta do Ser
Humano. É semelhante ao cavaleiro que
não consegue dominar seu animal e dá cau-
sa a vários tipos de acidente.
16. Que definição pode dar-se à moral?
LE: A moral é a regra para bem se con-
duzir, quer dizer, para distinção entre o bem
e o mal. Funda-se na observação da lei de
Deus. O homem se conduz bem quando
faz tudo em vista e para o bem de todos,
porque então observa a lei de Deus.
Comentário: Dentro do sistema criado, a
moral é o veículo que pretende conduzir o
homem ao caminho do bem. Ela, como o
180
Bem e o Mal, é uma regra de conduta cria-
da ao longo do tempo, para limitar a liber-
dade do homem e direcionar seus passos.
É extremamente relativa e muda de acordo
com uma região do mesmo país ou mesmo
de uma camada social para outra. Portan-
to, a moral se baseia antes na conveniência
dos homens do que em “leis do Criador”.
17. Como se pode distinguir o Bem do Mal?
LE: O Bem é tudo o que está de acordo
com a lei de Deus, e o Mal, tudo que de-
la se afasta. Assim, fazer o bem é se con-
formar à lei de Deus; fazer o mal é infrin-
gir essa lei.
Comentário: O Ser Humano encontra,
muitas vezes, dificuldade em fazer a distin-
ção entre o Bem e o Mal. Pratica um com
a intenção de praticar o outro. Isso devi-
do à relatividade que existe entre ambos. A
maior dificuldade de assimilação do concei-
181
to do Bem e do Mal se encontra no enten-
dimento diferenciado das pessoas. “Esse
entendimento é fornecido pelo número de
impulsos e pela frequência cerebrais.” Am-
bos variam de um corpo físico para outro.
Logo se vê que o entendimento vai variar
de pessoa para pessoa; o conceito “Bem e
Mal” vai ter coloração diferente para cada
indivíduo.
18. O homem tem meios de distinguir por si
mesmo o Bem e o Mal?
LE: Sim, quando ele crê em Deus e quan-
do quer saber. Deus lhe deu a inteligência
para discernir um do outro.
Comentário: O único meio de o homem
compreender o sistema Bem e Mal é me-
lhorando o seu entendimento, caso con-
trário é seguir os outros mesmo sem saber
se eles estão no caminho que melhor lhes
convenham.
182
19. Por que o Mal se encontra na natureza
das coisas? Falo do Mal moral. Deus não pode-
ria criar a humanidade em melhores condições?
LE: Já te dissemos: Os espíritos foram
criados simples e ignorantes. Deus deixa ao
homem a escolha do caminho: Tanto pior
para ele, se seguir o mal: sua peregrinação
será mais longa...
Comentário: O Mal não se encontra na
natureza das coisas, mas foi engendrado pe-
lo próprio homem por não entender a rea-
lidade que o rodeia, como também por não
diferenciar o que é o Ser Humano e o que
faz parte de sua matéria (corpo físico).
20. O selvagem que cede ao instinto, ao se
nutrir de carne humana, é culpado?
LE: Eu disse que o Mal depende da von-
tade. Pois bem: o homem é tanto culpado,
na medida em que melhor sabe o que faz.
Comentário: Onde há inconsciência não
183
pode haver culpa; mesmo onde existe a
consciência não há a culpa mas a respon-
sabilidade.
21. O uso de sacrifícios humanos remonta
à mais alta antiguidade. Como pode o homem
acreditar que semelhantes coisas pudessem ser
agradáveis a Deus?
LE: Primeiro, porque não compreendia
Deus como sendo a fonte da bondade; en-
tre os povos primitivos, a matéria sobrepõe-
-se ao espírito; eles se entregam aos instin-
tos animais, e por isso são geralmente cru-
éis, pois o senso moral ainda não se encon-
tra neles desenvolvido.
Comentário: É o que temos afirmado. O
Bem e o Mal são conceitos relativos e o ho-
mem muitas vezes se engana na aplicação
de um ou de outro. É o caso dos sacrifí-
cios humanos que buscam, em síntese, as
graças de Deus (um bem), utilizando-se de
184
uma prática condenável.
22. Que devemos pensar das chamadas guer-
ras santas? O sentimento que leva os povos fa-
náticos a exterminar o mais possível os que não
partilham de suas crenças, com o fim de agradar
a Deus, parece ter a mesma origem dos que an-
tigamente provocavam os sacrifícios humanos?
LE: Esses povos são impulsionados pe-
los maus espíritos, e fazendo a guerra aos
semelhantes, vão contra Deus, que man-
da o homem amar ao próximo como a si
mesmo. Todas as religiões, ou antes, todos
os povos, adoram um mesmo Deus, quer
sob este ou aquele nome, e como promo-
ver uma guerra de exterminação, porque a
religião de um é diferente ou não atingiu
ainda o progresso daquelas dos povos es-
clarecidos?
Comentário: É o reinado da inconsciên-
cia humana, chegando-se ao ponto de de-
185
cretar a liquidação de nações inteiras em
nome do Deus “justo e bom”. Aliás, nos
dias de hoje fatos semelhantes são pratica-
dos por “adoradores de Deus”, mas que
odeiam aos homens, esquecendo-se que o
Criador e a criatura são um e não é possí-
vel amar a um sem amar à outra.
23. As leis e os costumes humanos que objeti-
vam ou têm por efeito criar obstáculos à repro-
dução são contrários à lei natural?
LE: Tudo o que entrava a marcha da na-
tureza é contrário à lei geral.
Comentário: O Ser Humano quando en-
carna não tem por obrigação reproduzir
outros corpos físicos. Muitas pessoas, in-
clusive, têm várias passagens pela matéria
sem gerar filhos. Portanto, devemos partir
do princípio de que o corpo humano tem
um dono e cabe a ele a decisão de subme-
tê-lo ou não à reprodução. Esse princípio
186
nos diferencia do animal cujo automatis-
mo da natureza segue sempre o seu curso.
Por outro lado, se a pessoa humana encar-
nada se mantiver de forma passiva e não fi-
zer uso de sua capacidade de decidir, o au-
tomatismo da matéria também, nesse caso,
seguirá o seu curso.
24. Que pensar dos usos que tem por fim de-
ter a reprodução, com vistas à satisfação da sen-
sualidade?
LE: Isso prova a predominância do cor-
po sobre a alma, e quanto o homem está
imerso na matéria.
Comentário: Um dos maiores problemas
que os habitantes da Terra tem a resolver é
o do sexo. É o centro de força mais utiliza-
do e por isso mesmo o mais forte. A sensu-
alidade é própria do Ser Humano que já foi
criado com ela e não a adquiriu posterior-
mente em contato com a matéria. Mas, ao
187
reencarnar e assumir um corpo em estado
de desequilíbrio, esta força também é sub-
metida ao mesmo processo desequilibrante.
25. O casamento, ou seja, a união permanen-
te de dois seres, é contrária à lei da natureza?
LE: É um progresso na marcha da hu-
manidade.
Comentário: Outro grande problema a
ser resolvido pelo Ser Humano é o dos fi-
lhos. O casamento foi um sistema criado
no passado para proteger a prole. Antes do
evento do casamento a reprodução huma-
na passava por dificuldades porque os fato-
res como segurança, alimentação e todos os
demais cuidados com os filhos ficavam só
com a mãe que sozinha não possuía meios
de se desincumbir da tarefa. A maneira en-
contrada foi a de ligar o homem à mulher e
formar o grupo familiar. O processo fun-
cionou nos primeiros tempos, mas hoje se
188
encontra em estado de falência como bem
comprovam os milhares de crianças aban-
donadas e sem meios de subsistência.
Devemos lembrar, no entanto que foi um
sistema criado para um momento de emer-
gência, logo após o grande acidente, não
significando com isso que ele seja o melhor
ou que não existam outros.
26. Qual seria o efeito, sobre a sociedade hu-
mana, da abolição do casamento?
LE: O retorno à vida animal
Comentário: O casamento é um contra-
to e como tal pode ser mudado, na forma e
na essência. Pode se transformar em pacto
verbal, ou tomar outras formas. O próprio
regime jurídico já se adapta a essa nova re-
alidade da coabitação informal, oferecen-
do o agasalho da lei aos filhos e à mulher.
Portanto, o casamento nos moldes antigos
é uma instituição que permanece mais pe-
189
la tradição do que pela utilidade que ela re-
presenta de proteção aos filhos. Para o ob-
jetivo primordial para que foi criado pou-
co se presta, pois o número de casos em
que um dos cônjuges abandona a sociedade
é imenso. Assim a quantidade de crianças
abandonadas pelos pais ou que se apresen-
ta sem pais conhecidos também é imensa,
logo o casamento perdeu a sua finalidade
primeira que é a proteção da prole. Nestes
termos, e atendo-se antes à realidade dos
fatos do que à teoria, conclui-se que o ca-
samento permanece ainda mais pelo ape-
go ao ritual, pelo costume e pela tradição,
do que pela real necessidade.
Em realidade, o que falta é um maior ní-
vel de entendimento do homem para que
ele perceba que sem a criança não há futu-
ro. Dessa forma, todo investimento deve
primeiro visar à criança, pois cada criança
190
que nasce é o futuro que brota no presente.
27. Qual das duas, a poligamia ou a mono-
gamia é mais conforme à lei natural?
LE: A poligamia é uma lei humana, cuja
abolição marca um progresso social. O ca-
samento, segundo as vistas de Deus, de-
ve se fundar na afeição dos seres que se
unem. Na poligamia não há verdadeira afei-
ção; não há mais do que sensualidade.
Comentário: A poligamia e tampouco
a monogamia pertencem à lei natural que
existe em nós como registro, desde a cria-
ção. Ambas são criações humanas na ten-
tativa de organizar o caos que se instalou
entre os habitantes da Terra após o grande
acidente. Um dia, quando o homem con-
quistar a sua autoconsciência, todos os cos-
tumes, tradições e leis contrárias aos nos-
sos registros internos deixados pelo Cria-
dor, serão banidos do planeta e a Terra en-
191
tão caminhará para o verdadeiro progresso.
28. Com que fim Deus fez atrativos os gozos
dos bens materiais?
LE: Para instigar o homem ao cumpri-
mento da sua missão, e também para o pro-
var na tentação.
Comentário: Todos os atrativos da ma-
téria são obra do Criador. O Ser Humano
não foi criado para o sofrimento, que deve
ser classificado como uma anomalia, um ti-
po especial de doença do homem do pre-
sente. O contrário é verdadeiro, a nossa ca-
minhada deve ser plena de satisfação, ale-
gria e prazer porque somos criaturas divi-
nas, filhos do GRANDE PAI.
29. Com que fim Deus castiga a humanida-
de com flagelos destruidores?
LE: Para fazê-lo avançar mais depressa.
Não dissemos que a destruição é necessária
192
para regeneração moral dos espíritos, que
adquirem em cada nova existência um no-
vo grau de perfeição?
Comentário: As catástrofes geralmente
são naturais, ou seja, aquelas que ocorrem
de forma espontânea, sem a intervenção
humana, como também podem ser provo-
cadas pelo homem. Ele é causador de de-
sequilíbrio sobre a natureza porque age de
forma inconsciente sobre ela. Por outro la-
do, o Criador jamais envia flagelos para cas-
tigar o homem a fim de conduzi-lo à per-
feição. Uma perfeição conseguida à custa
de dor e sofrimento seria uma PERFEIÇÃO
IMPERFEITA.

30. Há pessoas que deduzem, do abandono


das crias pelos animais, que os laços de famí-
lia, entre os homens, não são mais que o resul-
tado de costumes sociais, e não uma lei natu-
ral. Que devemos pensar disso?
193
LE: O homem tem outro destino que não
o dos animais; por que, querer sempre iden-
tificá-los? Para ele, há outra coisa além das
necessidades físicas: há a necessidade do
progresso, os liames sociais são necessá-
rios ao progresso, e os laços de família re-
sumem os liames sociais.
Eis por que eles constituem uma lei natu-
ral. Deus quis que os homens, assim, apren-
dessem a se amar como irmãos.
Comentário: A grande diferença que exis-
te entre o homem e o animal irracional é
que no interior do homem material existe
o Ser Humano eterno, que pode ver, sen-
tir, raciocinar e aprender, e até planejar o
seu futuro. O semelhante, para o homem
consciente, é sempre amado e reconheci-
do como irmão.
31. A perversidade do homem é bastante in-
tensa, e não parece que ele está recuando, em
194
lugar de avançar, pelo menos do ponto de vis-
ta moral?
LE: Enganas-te. Observa bem o conjun-
to e verás que ele avança, pois compreen-
dendo melhor o que é o Mal, dia a dia cor-
rige seus abusos.
Comentário: O Ser Humano em verda-
de não recua, mas seu corpo físico ao con-
trário pode se desequilibrar ainda mais do
que o estado em que ele se apresenta. Esse
estado pode ser observado em nossos dias
quando o homem se torna cada vez mais
irritado e agressivo. Na verdade, não é o
espírito que se encontra irritado e agressi-
vo, mas a matéria que ele usa. Em muitos
casos o desequilíbrio do corpo físico é tão
grande que o seu dono perde totalmente o
domínio sobre ele. Nesses casos tudo po-
de acontecer.
32. Certas pessoas não escapam a um peri-
195
go mortal senão para cair em outro; parece que
não podem escapar à morte. Não há nisso fa-
talidade?
LE: Fatal no verdadeiro sentido da pala-
vra, só o instante da morte o é. Chegado
esse momento, de uma forma ou de outra,
a ele não podeis furtar-se.
Comentário: A fatalidade em boa verda-
de não existe. Nem a morte tem seu mo-
mento definido para ocorrer. Se ela tivesse
o seu momento marcado seria mais práti-
co, conforme entende a maioria das pesso-
as, sentar-se confortavelmente e “esperar a
morte chegar”.
No tocante à velhice, ela é uma doença
curável e assim sendo, a morte por essa cau-
sa pode deixar de existir da forma e no tem-
po em que nós a conhecemos. As mortes
por acidentes ou provocadas não têm tem-
po nem hora para acontecer. Ocorrem por
196
uma ação, omissão, negligência ou aconte-
cimento fortuito.
33. Assim, qualquer que seja o perigo que
nos ameace, não morreremos, se a nossa hora
não chegou?
LE: Não, não morrerás, e tens disso mi-
lhares de exemplos, mas quando chegar a
tua hora de partir, nada te livrará. Deus sa-
be com antecedência qual o gênero de mor-
te por que partirás daqui, e frequentemen-
te teu espírito também o sabe, pois isso lhe
foi revelado quando fez a escolha desta ou
daquela existência.
Comentário: A perda do corpo físico por
morte acidental ou provocada pode aconte-
cer a qualquer momento. Cabe a toda pes-
soa o uso da prudência.
34. Qual o fito da providência, fazendo-nos
correr perigos que não devem ter consequências?
197
LE: Quando tua vida se encontra em pe-
rigo, é essa uma advertência que tu mesmo
desejaste, a fim de te desviar do Mal e te
tornar melhor...
Comentário: O homem em sua inconsci-
ência tem o costume de atribuir a Deus tu-
do o que acontece na matéria. Os perigos
que corremos em nossas vidas materiais são
próprios das condições do ambiente terres-
tre. O Ser Humano por meio do raciocínio
e discernimento pode se livrar, por si só, da
maioria dos perigos. Por outro lado, não é
lógico que o Ser Humano vá desejar peri-
gos para si mesmo como advertência con-
tra o Mal e para se tornar melhor.
35. O espírito sabe, por antecipação, qual o
gênero de morte que deve sofrer?
LE: Sabe que o gênero de vida por ele es-
colhido o expõe a morrer mais de uma que
de outra maneira; mas sabe também quais
198
as lutas que terá de sustentar para evitar, e
que se Deus o permitir, não sucumbirá.
Comentário: Como já foi dito anterior-
mente, espírito encarnado não tem data
marcada para deixar o corpo físico. Um aci-
dente pode ocorrer em qualquer circuns-
tância e a qualquer momento, valendo aqui
o “vigiai” constante. A morte por exaustão
da organização física também não tem dia
nem hora para acontecer, pois a velhice se
situa no campo da patologia e como tal po-
de ser curada.
36. Há fatos que devem ocorrer forçosamen-
te, e que a vontade dos espíritos não pode con-
jurar?
LE: Sim, mas que tu, quando no estado
de espírito, viste e pressentiste, ao fazer a
tua escolha. Não acreditais, porém, que tu-
do o que acontece esteja escrito como se
diz.
199
Comentário: Existem certos aconteci-
mentos necessários à pessoa encarnada que
são previstos com antecipação para que ela
possa vivenciá-los. A título de exemplo, po-
demos citar os casos em que o Ser Humano
adquiriu traumas profundos em vidas pas-
sadas e cujo remédio certo é a TERAPIA DA
REPETIÇÃO. Em outras palavras, os aconte-
cimentos traumatizantes ocorridos em ou-
tros corpos físicos, ou seja, quando a pes-
soa estava encarnada, só podem ser sana-
dos pela repetição, em outra ou em outras
vidas, de todos os fatores que deram causa
àqueles traumas. Assim, vivenciando fatos
semelhantes sob as mesmas condições dá-
-se o entendimento e a aceitação. Isso de-
termina o desaparecimento do trauma.
É de todo conveniente não confundir-
mos essa TERAPIA DA REPETIÇÃO com a
figura do carma cujos contornos já estabe-
200
lecemos anteriormente. Neste caso de que
agora tratamos não há que se falar em cul-
pa, dívida e resgates, mas repetir uma vi-
vência por uma segunda ou terceira vez pa-
ra buscar o entendimento e não para efe-
tuar um pagamento com o cheque da dor
e do sofrimento.
37. Qual o meio mais eficaz de se combater
a predominância da natureza corpórea?
LE: Praticar a abnegação.
Comentário: Conquistar a autoconsciên-
cia. A pessoa humana enquanto permane-
cer no estado atual de inconsciência não
terá o domínio de seu corpo físico mas, ao
contrário, será sempre dominada pela ma-
téria. Há muito já se foi o tempo em que o
homem era consciente e habitava a maté-
ria. Houve o grande mergulho na noite da
inconsciência; ele dormiu senhor e acor-
dou escravo.
201
38. De onde procede a crença, que se encon-
tra em todos os povos, nas penas e recompen-
sas futuras?
LE: É sempre a mesma coisa: pressenti-
mento da realidade, dado ao homem pelo
espírito nele encarnado...
Comentário: Os ensinamentos, princi-
palmente os religiosos, são cristalizados na
mente através da técnica da repetição e aca-
bam por constituir “registros” indeléveis
que perduram até as vidas futuras. Esses
“registros” só podem ser mudados com a
alteração da energia cerebral e a consequen-
te chegada de novo entendimento.
39. As penas e os gozos da alma, após a mor-
te, tem qualquer coisa de material?
LE: Não podem ser materiais, desde que
a alma não é matéria. O próprio bom sen-
so o diz. Essas penas e gozos nada têm de
carnal, e por isso mesmo são mil vezes mais
202
vivos do que experimentais na Terra, por-
que o espírito, uma vez desprendido, é mais
impressionável: a matéria não mais lhe en-
fraquece as sensações.
Comentário: As penas e os gozos da al-
ma, o purgatório, o céu, o inferno e o pa-
raíso, tudo isso constitui um sistema peda-
gógico para ensinar o homem inconscien-
te o caminho do meio, o caminho do equi-
líbrio, freando os seus instintos materiais
sem controle. Já afirmamos que no estado
de inconsciência, o Ser Humano não co-
manda, é comandado.
NÃO DEVEMOS CONFUNDIR “NÓS” E
“NOSSOS CORPOS”, ASSIM COMO NÃO PO-
DEMOS CONFUNDIR A “ENERGIA ELÉTRI-
CA” QUE PRODUZ A LUZ COM A “LÂMPA-
DA” QUE ILUMINA.

203
Capítulo 7

A FÉ E O CONHECIMENTO

A longa caminhada do Ser Humano so-


bre a Terra, após o acidente, foi tortuosa e
sofrida. Para se chegar aos nossos dias, no
nível atual de consciência, foram realizadas
várias tentativas para que o homem read-
quirisse um pouco de sua consciência per-
dida. As religiões tiveram importante papel
nessa tentativa de reaproximar o homem
do mundo espiritual, mas lamentavelmen-
te o grande papel que deveria ser desem-
penhado pelas religiões se perdeu ao lon-
go do tempo. Os próprios condutores das
atividades religiosas desviaram-na da rota
204
original, com o objetivo de auferir lucros e
conseguir poder sobre a grande massa de
pessoas inconscientes. Com isso as religi-
ões que deveriam libertar o Ser Humano
através da aproximação do mundo espiri-
tual e o aumento do entendimento da re-
alidade da outra vida, passaram a aprisio-
ná-lo mais e mais em um emaranhado de
ensinamentos que o leva antes à confusão
do que ao esclarecimento. Nesse aprisio-
namento do homem, com o fito de aufe-
rir lucros, os principais ingredientes utili-
zados sempre foram e ainda são: a existên-
cia do pecado, da culpa, do inferno como
residência dos faltosos e do próprio Dia-
bo como cruel carrasco dos infratores. Aci-
ma de tudo isso se instala, como é natural,
o reinado do medo. Medo da morte, medo
das penas, medo do próprio Criador, nosso
Pai maior. Fica claro, assim, que o homem
205
encarnado tende a se afastar cada vez mais
do mundo espiritual, seja por desinforma-
ção, seja por falta de acesso ao outro lado
da vida ou ainda por medo do que lhe pos-
sa acontecer se perder o seu corpo físico.
Há ainda outro aspecto grave dos ensina-
mentos, que é o fato de se negar, perempto-
riamente, a existência do mundo espiritual,
pregando de forma contundente a inexis-
tência do Ser Humano independentemen-
te de seu corpo físico.
Paralelamente à corrente religiosa corre
célere o rio da ciência. A ciência calcada em
dados mensuráveis e fenômenos demons-
tráveis pelos nossos meios conhecidos, não
visa o entendimento puro e simples mas o
conhecimento. Na busca da consciência va-
le antes o entendimento e depois o conhe-
cimento. O conhecimento é circunscrito e
limitado, enquanto o entendimento é trans-
206
cendente e quem o detém singra os mares
da consciência em busca do oceano infinito
da perfeição. A ciência do homem incons-
ciente não poderia, como é natural, muito
contribuir para elevar o nível de consciên-
cia do Ser Humano na matéria. Ela segue o
ritmo do raciocínio humano e está sujeita
às mesmas falhas do nosso funcionamento
cerebral. Afirma, muitas vezes, o que não
é, e nega outras vezes o que é.
Nesse mundo de informações conflitan-
tes a ciência tenta explicar a religião en-
quanto que esta tenta corrigir a ciência. O
homem permeando essa relação ora acre-
dita na ciência ora confia na religião, mas
em nenhum momento ele tem entendimen-
to suficiente para perceber quando uma ou
outra está destoando da grande realidade da
criação. E assim, os séculos vão passando e
o homem vai caminhando ou pela trilha da
207
ciência ou pelo caminho da fé. Pela trilha
da ciência ele armazena conhecimento do
que está posto no mundo da matéria, com-
putando-se aí os erros e acertos. Por outro
lado, seguindo o caminho das religiões en-
vereda-se pelas escarpas escorregadias da
crença pela crença. Recebe a intimação de
que deve acreditar na palavra de alguém que
lhe transmite ensinamentos e informações
que jamais podem ser comprovados e tam-
pouco negados. O homem não tem alter-
nativa, só lhe resta seguir sempre, confian-
do na palavra bem posta de alguém que, às
vezes, nos momentos de sofrimento, con-
sola mas não cura. Só acontece a cura dos
nossos sofrimentos da alma quando conse-
guimos o remédio do entendimento.
O Ser Humano, em verdade, encontra-
-se em uma grande encruzilhada da vida.
As religiões passam por grande descrédito
208
nos tempos de hoje porque na ânsia de co-
lher o lucro mataram a árvore que produz
o fruto. A ciência, por sua vez, não é capaz
de auxiliar o homem a ter acesso conscien-
te ao mundo espiritual e sem esse acesso
ao outro lado da vida não há futuro para a
humanidade. Sem esse contato consciente
com o mundo extrafísico o homem mergu-
lhará ainda mais na inconsciência. Isto por-
que irá se identificando mais e mais com a
matéria ao mesmo tempo que aceita o seu
jugo. Se não houver uma organização que
mantenha vivo, no Ser Humano encarna-
do, esse registro da existência do mundo
espiritual, o futuro pode ser o caos. À me-
dida que as organizações que cuidam, aqui
na Terra, do patrimônio espiritual, vão se
transformando em empresas lucrativas, o
homem começa a desativar sua crença. Sem
acreditar no investimento espiritual, ele fi-
209
ca imobilizado na matéria. Preso na imobi-
lização material ele não tem disponibilida-
de para aplicar no capital real da consciên-
cia. Se a fé está em processo de depereci-
mento e o conhecimento é deficitário, en-
tão o homem precisa de ajuda.
Nesse estado de lamentável pobreza es-
piritual em que se encontra a humanidade,
o espiritismo é o investimento externo que
pode construir novamente o grande monu-
mento da esperança. Não sendo nem ciên-
cia nem religião, mas um caminho, convida
a todos para a grande caminhada em dire-
ção ao Criador e à criatura.
Mas o espiritismo para preencher na ple-
nitude esse papel da mais alta relevância,
precisa passar por algumas pequenas cirur-
gias corretivas e alguns ajustes. É necessá-
rio realizar, em primeiro plano, uma adap-
tação da linguagem espírita ao homem dos
210
tempos atuais. A linguagem hoje utilizada,
incluindo-se aí vários ensinamentos básicos,
foi introduzida e permitida em uma época
em que as pessoas encarnadas estavam em
um nível mental muito precário. Hoje es-
sas pessoas têm um nível mental muito su-
perior e são capazes de alcançar o verda-
deiro sentido dos ensinamentos como tam-
bém dispensar as formas antigas da comu-
nicação espiritual. É bem verdade que a lin-
guagem precisa ser alterada, mas também é
verdade que a tarefa é bastante difícil. Veja-
mos porque: o Ser Humano tem acesso ao
seu próprio corpo físico, quando encarna-
do, por meio do campo energético que en-
volve o cérebro. É através desse mecanis-
mo que ele transmite suas vontades à or-
ganização física para que ela entre em ação
para realizar o comando, ou ainda para que
ela deixe de agir de determinada forma tam-
211
bém obedecendo a uma vontade.
Pensemos agora na comunicação espiri-
tual através da mediunidade. Para ter aces-
so ao corpo físico, o espírito precisa utili-
zar o campo energético que envolve o cé-
rebro do encarnado. Ocorre que todos os
REGISTROS da pessoa encarnada, ligados a
essa vida material estão no campo energé-
tico. Logo toda comunicação proveniente
do mundo espiritual passa pelos REGISTROS
do encarnado onde é decodificada, analisa-
da e expedida de acordo com os dados ali
registrados. Os ensinamentos do espiritis-
mo foram armazenados nessa energia que
envolve o cérebro, através de uma percep-
ção direta na matéria, seja por meio da lei-
tura de livros, participação em trabalhos es-
píritas, orientação de encarnado para encar-
nado, ou ainda com base na própria mensa-
gem mediúnica. Mas ao passar pelo campo
212
energético do corpo físico do encarnado,
a comunicação espiritual é comparada aos
REGISTROS já existentes no campo, e se ela
for incompatível com eles, sofrerá as adap-
tações necessárias para se assimilar com o
que ali foi gravado. Portanto, aí reside a di-
ficuldade de se fazer a alteração da lingua-
gem espírita por via mediúnica. Ao se ten-
tar fazer essas alterações através dos meca-
nismos da mediunidade sempre haverá essa
adaptação para o que já existe na doutrina.
Mas como solucionar esse impasse? Crian-
do novos registros com as alterações devi-
das aqui na própria matéria. Eis a razão pri-
meira desse trabalho a que fomos convo-
cados a elaborar. Por meio desse início de
mudança na linguagem, ao ser introduzido
através de um livro, por exemplo, as pesso-
as terão maior oportunidade de usar o seu
raciocínio e absorver essa nova maneira de
213
entender e de expressar o espiritismo. Fei-
to isso, as pessoa encarnadas que irão ser-
vir de intermediários na comunicação espi-
ritual não mais censurarão essa linguagem
natural e essa nova forma de entender os
ensinamentos espíritas porque já terão aco-
lhido em seus registros esses novos dados.
Essa explicação deverá responder a muitos
que estarão se perguntando por que essa
mudança de linguagem não foi introduzida
pelos meios mediúnicos conhecidos. A es-
se respeito podemos acrescentar que além
da censura do próprio Ser Humano encar-
nado que recebe a comunicação espiritual,
existe a censura dos órgãos controladores
do espiritismo aqui na matéria. Se comuni-
cações espirituais chegam ao mundo físico
e não se enquadram nos padrões já conhe-
cidos e aceitos, podem ser censuradas. O
conhecimento é infinito e a dosagem a ser
214
ministrada ao homem deve ser de acordo
com a sua capacidade de entender. Mas is-
so não significa que aquilo que foi ofereci-
do ao homem encarnado esgota o assun-
to. Do mesmo modo, a forma pela qual os
ensinamentos foram colocados aqui preci-
sa de uma revisão não por defeito ou er-
ro da fonte, mas porque agora existe maior
capacidade de entendimento do receptor.
Estamos nos aproximando de momen-
tos de grandes transformações. A Terra não
será a mesma e o Ser Humano que a ha-
bita com certeza não poderá ser o mesmo
na sua maneira de sentir, pensar e agir. O
homem animal necessariamente terá que
dar lugar ao homem racional. Para que is-
so ocorra ele tem pela frente uma tarefa
muito difícil que é aprender a dominar o
seu corpo material. Esse aprendizado po-
derá levar uma ou mais encarnações. Mas
215
isso não importa. O que são algumas de-
zenas de anos, ou séculos frente à eterni-
dade da vida? Uma gota de água no ocea-
no? Talvez nem isso. O importante é come-
çar. Procurar entender o outro lado da vi-
da de uma forma um pouco diferente já é
um bom começo. E esse bom começo vai
depender do apego que o homem demons-
trar aos conceitos até agora vigentes dentro
do espiritismo. Se esses pontos que preci-
sam ser mudados forem como uma plan-
ta com raízes fortes e profundas, difícil as-
sim de ser mudada, então esse homem leva-
rá muito mais tempo para entender o novo
espiritismo de que falamos. Por outro lado,
o homem que procurar usar o seu raciocí-
nio puro e não sua crença terá maior faci-
lidade para compreender o fundamento de
verdade que existe em tudo que foi expli-
cado até aqui.
216
Todos sem exceção chegarão a esse novo
entendimento do espiritismo e do mundo
espiritual. Uns chegarão primeiro, outros
depois, mas todos, com certeza, chegarão.
Por último, queremos deixar o registro
de que tudo o que foi dito nas páginas an-
teriores trata-se de um início da mudança
que precisa ocorrer no espiritismo. Dias vi-
rão em que teremos que reescrever este li-
vro alongando e aprofundando os concei-
tos e clareando melhor essa nova lingua-
gem que precisamos adotar. O tempo não
permite o maior detalhamento, pois a mar-
cha urge iniciar.

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GLOSSÁRIO

ACIDENTE – Grande catástrofe ocorri-


da, há muitos milênios, em nosso sistema
solar. Houve, naquela época, o rompimen-
to da camada atmosférica protetora da Ter-
ra, permitindo, assim, a passagem da radia-
ção solar com grande intensidade. Com is-
so, ocorreu o bloqueio energético do cére-
bro humano.
AUTOCONSCIÊNCIA – Condição de cons-
ciência sempre desperta do Ser Humano
que lhe permite ter domínio de seu corpo
físico e conhecer-se agora e antes, viver o
passado e o futuro no presente.
CONSCIÊNCIA – Atributo do Ser Huma-
no que sabe que viveu no passado, vive no
presente e viverá no futuro, pois tem a eter-
nidade como certeza.
218
CONSCIÊNCIA PLENA – O mesmo que
autoconsciência.
FREQUÊNCIA CEREBRAL – É o número
de vezes em que a energia armazenada na
base craniana é lançada para a parte fron-
tal da cabeça.
FREQUÊNCIA EXTRAFÍSICA – O mesmo
que mundo espiritual.
IMPULSO CEREBRAL – É o lançamento da
energia armazenada na base craniana para
a parte frontal da cabeça.
QUEM É VOCÊ? O QUE É VOCÊ? POR QUE
VOCÊ? – Perguntas que somente o Ser Hu-
mano encarnado plenamente consciente
pode responder, significando que aquele
que sabe QUEM É ELE conhece o seu pas-
sado em outras vidas; aquele que sabe O
QUE É ELE conhece profundamente o seu
corpo físico; e finalmente aquele que sabe
POR QUE ELE tem conhecimento dos mo-
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tivos que o levaram até aquele lugar, a pos-
suir aquele corpo naquelas condições e a
vivenciar as suas experiências do presente.
REGISTRO – Ato de gravar, de forma per-
manente, na memória do Ser Humano tu-
do que ele vivencia ou que lhe é informa-
do. Constituindo, assim, um arquivo pró-
prio da pessoa.
REGISTRO DE MATÉRIA – Ato de gravar,
desde a criação, na memória do Ser Huma-
no o caminho da matéria para suas vivên-
cias. Significa que, possuindo esse registro
a pessoa sempre irá encarnar em um cor-
po físico, pois sempre sentirá necessidade
dele e somente nele estará completa.
SAÍDA DA MATÉRIA – É a saída temporá-
ria do Ser Humano (espírito) de seu corpo.
VIBRAÇÃO CEREBRAL – É a energia des-
prendida pelos impulsos cerebrais.

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