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Bianca Brito Série Irmãos Aandreozzi 01 Maldito Italiano
Bianca Brito Série Irmãos Aandreozzi 01 Maldito Italiano
E-mail: bjbritoautora@gmail.com
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Facebook: Bianca Brito
Página da sério no Facebook: Irmão Aandreozzi
Capitulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capitulo 04
Capitulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21 Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Epílogo
Bonus
Os Herdeiros Andreozzi
Dedico esta obra ao meu amor, meus leitores e amigos, que amaram
esta família tanto quanto eu amei.
Obrigada por compreenderem que o amor está acima de qualquer
coisa e que ele existe em todas as suas formas.
Olá, queridos e queridas. Escrever está história foi um enorme
desafio. Os Aandreozzi surgiram em minha vida, através da minha imensa
vontade de ter uma família tão plena, terrivelmente bagunceira e unida
como eles são, e também — é claro — por causa do meu grande amor pela
belíssima Itália.
Sei que os meus italianos não são nada convencionais, mas aí que
está o espírito desta aventura. (Risos) Gosto do diferente e gosto mais ainda
das coisas pouco convencionais. Mas, independentemente disso, quando a
magia do amor acontece, tudo e todas as coisas ficam mais bonitas. Espero
que vocês, leitores, possam amar os Irmão Aandreozzi, assim como eu amo.
Saibam que a história desta família não termina aqui.
Agora, fiquem com o amor de Luiz e Filippo.
Atenciosamente,
Bianca Brito
Não sei quando dormi, mas acordei quando levei um sacode. Olhei e
percebi que Beto e Ângela estavam me olhando com uma cara nada boa.
— Sabe, mano... Quando se marca um horário, é nesse horário que
se deve sair — disse Beto todo marrento.
— Ah, Beto, releva aí, cara... Estava cansado e resolvi tirar um cochilo
— falei bocejando.
— Isso não foi um cochilo e sim o sono da morte — disse Angel se
olhando no espelho.
— Espero que tenha descansado bastante, porque meu amigo, vou
fazer você tomar seu primeiro porre — disse Beto esfregando uma mão na
outra com a maior cara de louco.
— Nem venha tentar me incluir nesses planos, pois eu não bebo —
falou Angel horrorizada.
— Como não, gatinha linda? Soube que você é tão estudiosa quanto
meu amigo. — Beto a abraçou na maior intimidade.
— Vem cá... Vocês dois já se conheciam? -— perguntei desconfiado e
confuso.
— Claro que não, Luti. Esse seu amigo é muito do cara de pau, ele me
conheceu agora mesmo — falou Angel com indignação.
— Caralho, Anjito! Assim magoa meu pobre coração sofredor. —
Beto colocou a mão no peito dramatizando.
— Pode ir parando por aí! Que coisa é essa de Anjito?
— Olhe, só vou deixar vocês dois aí discutindo e vou tomar um
banho. E Angel... não liga, ele é assim mesmo e isso prova que ele gostou de
você, pois quando ele não gosta é todo marrento e quando isso acontece ele
é muito engraçado e ninguém leva fé — disse pegando minha toalha.
— Espere aí, Lutito, já está entregando a joia? — disse Beto fingindo
revolta.
— Tudo bem, mas mesmo assim nada de me chamar de Anjito.
— Oh, cale-se, mulher, e aceite essa porra!
Saí do quarto rindo com as loucuras de Beto e entrei no banheiro.
Tomei meu banho e me arrumei ali mesmo já que meu quarto estava cheio
no momento. Depois de pronto, voltei para lá.
— Porra, cara, sair com você é pedir para não pegar ninguém.
Grande filho da puta você é! — disse Beto indignado, me fazendo revirar os
olhos.
— Deixa de graça, Roberto. Você adora me deixar sem graça.
— É Beto, moleque. Não se esqueça. Roberto é o senhor meu pai.
— Pode ir parando por aí vocês dois. Mas é verdade, você está um
gato, Lutito — falou Angel rindo, pronunciando o meu apelido com deboche.
— Vamos logo antes que eu desista.
Pegamos um táxi, já que Beto tinha as intenções de me embebedar e
não iria rolar de eu pilotar minha moto. Ao chegarmos no local que Beto
sugeriu, tomei um susto quando vi onde estávamos. Era simplesmente na
boate mais cara de São Paulo. Eu e Angel quase desistimos de entrar, mas o
sacana do Beto estava com três ingressos na mão.
Ao entrar no local, eu tinha certeza que minha boca estava aberta,
pois recebi um tapinha de Angel chamando minha atenção.
— Como foi que você conseguiu a entrada desse lugar, cara? Aqui
não é nosso mundo — falei bem alto por causa do som da música.
— Relaxa, Lutito, que quem conseguiu isso tudo foi o Silvinho.
Falando no cuzão, olhe ele ali — disse apontando para onde estava Rick e
Silvinho bebendo alguma coisa que não fazia ideia do que era.
— Aê! Nosso futuro universitário chegou — falou Rick fazendo um
toque em cumprimento comigo, em seguida Silvinho fez o mesmo.
— Para com isso, cara! Essa aqui é Ângela, uma grande amiga minha
— apresentei-os e minha amiga que recebeu uma secada dos caras.
— Podem ir parando vocês dois de olharem assim para Anjito, pois a
mina é de responsa e já é da família — disse Beto mandando a real para os
meninos.
— Se é assim... Então, bem-vinda a família, Ângela — disse Silvinho
sorrindo, pois ele sabia que para Beto gostar de uma mulher sem querer
entrar na sua calcinha é porque ela era de valor.
— Prazer em conhecer vocês, meninos — disse Angel com um sorriso
doce.
— Temos um trabalho a fazer e estamos perdendo tempo. Qual a
intenção da noite? — perguntou Beto.
— EMBEBEDAR O LUTITO! — gritaram todos juntos, até mesmo
Angel, o que me fez olhar para ela espantado e a mesma só fez dar de
ombros gargalhando junto com os outros.
À noite estava incrível. Comecei a beber tudo que os meninos
colocavam na minha frente. Como não entendia nada sobre bebidas e para
mim tudo tinha um gosto horrível, bebi todas. Mas com o passar das horas,
as bebidas já desciam na maior tranquilidade.
Estava perdendo noção do que estava fazendo, dancei muito fazendo
meu corpo suar demais. Tirei minha camisa xadrez a amarrando na cintura.
Com o calor que estava fazendo a bebida refrescava meu corpo me fazendo
querer mais.
— Você não acha que para o Luti já está bom por hoje, Beto? — Ouvi
Angel perguntar, mas nem dei muita bola.
Estava dançando e cantando 24k - Bruno Mars.
— Porra nenhuma, Anjito. Nosso moleque precisa relaxar. Você
conhece Luiz Otávio agora, ele sempre foi muito preso, me entende? —
perguntou Beto me olhando e Ângela afirmou com a cabeça.
— Tenho certeza que essa vai ser a única vez que você vai ver ele
assim. Por isso deixe ele aproveitar — disse Silvinho sorrindo.
— Vamos viver nessa merda que amanhã é outro dia — gritou Rick
ao separar sua boca da mulher com quem estava.
— Vamos dançar, Angel? — perguntei já puxando-a para pista de
dança.
Comecei a dançar ao som de Malbec - Henrique & Diego. No início
Angel estava meio travada, mas logo foi se soltando dançamos bonito e
atraindo muitos olhares. Não sei como não estava incomodado com isso,
acho que o álcool estava mexendo com minha cabeça.
Passei os olhos por todo lugar e paralisei quando vi um par de
incríveis olhos azuis me observando de cima do camarote. Sacudi a cabeça
para parar de fantasiar coisa que não existia, tinha certeza que minha mente
bêbada produziu a imagem de Filippo Aandreozzi me observado com uma
expressão raivosa.
Esqueci o que quer que eu ache ter visto e fechei meus olhos, puxei
Angel para mais perto do meu corpo para dançarmos agarradinho ao som de
Estaca zero - Luan Santana e Ivete Sangalo.
Tinha duas semanas que eu não via Luiz Otávio. A primeira semana
eu passei trabalhando muito, pois sabia que com os meus irmãos na cidade
seria impossível trabalhar. Ficava preocupado, pois quando os irmãos
Aandreozzi se juntavam em um mesmo local era muito fácil acontecer um
atentado, por isso resolvi trabalhar para poder deixar minha agenda folgada.
Na segunda semana fui para o Maranhão acompanhar de perto as
obras do Resort. Não poderia mentir, a não ser para ele, é claro. Eu não
confiava em Luigi. Então por isso tinha que ver como tudo andava com meus
próprios olhos. Fiquei uma semana lá resolvendo tudo que deveria resolver
para ficar menos preocupado. Quando cheguei em São Paulo a primeira
coisa que eu queria fazer, era ir para minha casa e dormir. Estava tão
cansado que não conseguia me controlar e eu nunca perdi o controle.
Deixei que Elijah dirigisse para mim, tinha certeza que provocaria um
acidente se eu pegasse meu carro, meu cansaço era extremo.
Durante os dias que estive fora, deixei um dos meus homens de olho
em Luiz Otávio. Todo dia eu tinha um relatório do que ele andava fazendo.
Com isso eu descobrir que ele havia se mudado de endereço junto com a tia,
e que agora a casa era frequentava por um homem. Falaram que o sujeito
era o novo namorado da tia dele, fora isso não aconteceu mais nada de
diferente.
Cheguei no meu prédio e saltei do carro. Caminhei para meu
elevador particular e fui direto para minha cobertura. Eu necessitava de um
banho e cama. Assim que as portas se abriram, eu tomei um susto. Na
minha sala se encontravam os meus irmãos na maior mordomia. Quando
Luna me viu chegar, correu para os meus braços e se jogou.
— Saudade, grande fratello (irmão mais velho) — disse agarrada em
mim como um filhote de macaco.
— Também estava com saudade, sorellina (irmãzinha) — falei
retribuindo seu abraço.
— E de mim estava com saudade, Lippo? — perguntou Enzo,
vestindo somente uma cueca enquanto perambulava pela casa me irritando
profundamente.
— Porra, Enzo! Que trajes são esses na minha casa? — Tinha certeza
que estava vermelho de raiva.
— Relaxe, irmão. Gosto de ficar à vontade em casa — falou com
desdém.
— Tem um pequeno detalhe, essa porra de casa não é sua!
— Claro que é! O que é seu é nosso, irmão!
— Verdade! — disseram Lucca e Luna juntos.
— Não sei onde estava com a cabeça quando eu comprei esse lugar
tão grande por causa de vocês — falei soltando um suspiro.
— Muito cansado, irmão? — perguntou Lucca, assim que me joguei
no sofá.
— Muito! Estava no Maranhão resolvendo as coisas sobre o projeto
do Resort — disse fazendo Enzo e Lucca se interessarem.
— Não! Nada de trabalho vocês três. Não quero ouvir essa conversa
— falou Luna com autoridade.
— Está bem, senhorita. Como foram de viagem e cadê a nonna? —
perguntei levemente interessado.
— Lucca e Luna foram para Milão, de lá viemos os três juntos.
Mamãe está louca para vir logo no seu aniversário. Nonna disse que viria
daqui uns dias e não se preocupe, deixei uns homens tomando conta dela
contra sua vontade, é claro — falou Enzo colocando suas patas em cima de
meu colo, fazendo eu o derrubar no chão.
— Você é tão doce, irmão. Precisava me jogar no chão?
— Você vendo que Filippo chegou cansado da viagem e já foi
querendo abusar — disse Lucca me defendendo.
— Obrigado, Lucca. Pelo menos um nessa família tem consciência —
falei tentando tirar Luna do meu colo, mas foi impossível.
— Você tem que descansar muito, Lippo, porque hoje vamos sair
juntos — disse Enzo.
— O QUÊ? Eu não vou para lugar nenhum. Nem pensem nisso —
disse exasperado.
— Você vai sim, Filippo, vai ser uma noite com todos os irmãos
Aandreozzi juntos. Faz tempo que isso não acontece — disse Lucca sério.
— Deixa eu descansar, quem sabe mais tarde eu não resolva ir com
vocês.
— Resolver não, Lippo, você vai! Ou você seria capaz de deixar sua
sorellina sair sozinha com esses dois? — perguntou a chantagista da família.
— Deixem eu dormir. Será que eu posso ir ao meu quarto?
— Pode sim e pode deixar que eu faço o nosso jantar — disse Lucca.
— Não, Lucca, deixa que Luna fará. A comida dela é parecida com a
da mamãe. — Ouvi Enzo falar, mas já estava entrando no quarto.
Eu amava meus irmãos, mas eles quando queriam sabiam ser bem
chatos e irritantes. Não é para me gabar, mas quando estamos juntos
chamamos muita atenção e eu não acho isso legal. Pelo contrário, odeio
chamar atenção. Isso provoca nossos inimigos e somos alvos muito fáceis.
Somos diferentes e parecidos em vários aspectos. Todos os irmãos
Aandreozzi são brancos de cabelos pretos, mas eu tenho olhos azuis
herdados do meu pai. Enzo é mais alto que eu, com olhos escuros, como os
da mamãe. Lucca até hoje eu não sei identificar a cor dos seus olhos, pois
mudam frequentemente de verdes para azuis dependendo da luz ou das
roupas que usa. Luna é linda demais com seus olhos escuros e os cabelos
curtos em um corte moderno que não entendo nada. Seu sorriso era pura
perfeição. Todos nós tínhamos um bom porte físico devido aos nossos
treinamentos desde novos.
Deixei meus irmãos de lado e entrei no banheiro para tomar um
banho. A banheira estava me chamando e sei que se eu usasse acabaria
dormindo na água. Tomei uma ducha rápida e fui ao closet pegar uma cueca
e uma calça de moletom para me vestir e deitar na casa sem me preocupar
com mais nada. Quando já estava dormindo, despertei assustado ao sentir a
cama a fundar dos dois lados, levantei a cabeça e vi meus irmãos deitando
na minha cama.
— O que estão fazendo aqui? — perguntei com a voz rouca de sono.
— Cale a boca e volta a dormir, Filippo! — disse Enzo deitado atrás
de Luna com os olhos fechados.
— Estávamos sentindo sua falta — falou Luna docemente.
— Oh, fiquem quietos, estou com sono, capisce?! — resmungou
Lucca ao meu lado.
Nem se eu quisesse discutir com eles eu conseguiria de tão cansado
que estava. E não vou mentir que me sentia confortável assim. Nunca em
toda minha vida deixei alguém dormir comigo que não fosse as pessoas que
eu amo.
Depois que Luiz Otávio saiu, peguei meu carro para ir à empresa.
Chegando lá, Melissa já me lançou a bomba que Antony Mantovani ligou e
que mais tarde retornaria a ligação. Não estava nem um pouco a fim de
ouvir a voz daquele homem falso dos infernos, eu já estava ciente qual era o
assunto que ele queria tratar. Não via a hora de contar logo para os meus
pais e de Luiz contar para tia dele sobre nós. Assim eu iria deixar saber
publicamente e que se foda o que os fodidos preconceituosos iriam achar.
Nunca me importei com opinião de gente abaixo de mim e não seria agora.
— Senhor! O Sr. Pierri está aqui querendo falar com você — disse
minha secretária pelo viva voz do meu ramal.
— Pode mandar entrar! — A porta foi aberta e Luigi entrou com a
cara arrasada.
— Não que eu me interesse, mas sua cara está horrível. Aconteceu
alguma coisa? — perguntei sem interesse algum.
— Bom dia para você também, meu caro.
— Para de enrolar e conta logo, se quiser. — Dei de ombros.
— Problemas familiares chatos do inferno — disse irritado.
— Família, ou você ama ou você tolera. — Mal fechei minha boca e a
porta foi aberta novamente.
— Não precisa avisar nada, cosa più carina. (coisa fofa) — Ouvi a voz
de Lucca conversando com Melissa.
— Altro è il mio lavoro per avvertirti (Mas é meu trabalho avisar,
senhor.) — Ouvi a resposta de Melissa e o som de admiração de meu irmão.
— Relax carino, questo è mio fratello (Relaxe, gracinha, esse aqui é o
meu irmão.) Irmão! Sua secretária é muito eficiente. Vamos trocar? A minha
é horrível, acho que só fico com ela ainda porque ela me traz o melhor café
— disse Lucca entrando de cabeça baixa, mexendo no celular.
— Não sei como você consegue ser tão inconveniente — resmunguei
fazendo Lucca levantar a cabeça.
— Opa! Desculpe, não sabia que estava ocupado — falou sem graça
com os olhos vidrados em Luigi.
— Tudo bem, eu já estava quase de saída — falou Luigi todo
atrapalhado, também olhando para o meu irmão.
— Não se incomode por mim — disse Lucca sem graça.
“Lucca sem graça? Aí tem!”
— Senta aí, irmão. Não vá embora ainda — falei apontando para o
sofá.
— Posso voltar depois e deixar você conversar com seu irmão —
falou Luigi levantando da cadeira.
— Sente-se, Luigi, e fale o que há para você vir aqui.
Olhei para Lucca e vi que ele prestava atenção em nossa conversa.
— Vou ter que ir a Roma, problemas familiares — falou Luigi com
suspiro pesado.
— Tudo bem, alguma coisa que eu possa ajudar? — Não que eu
ligasse para o que ele estava passando, mas queria ver a reação de Lucca à
suas respostas, ele estava muito estranho com a presença de Luigi e
interessado demais em nosso papo.
— Se você pudesse me ajudar a não me casar com uma mulher que
não amo, só porque ela está grávida, seria bom — disse com um sorriso
contido.
— Mas se você não a ama, não deveria se casar. Isso só causa
desgosto futuro. E quanto a gravidez, você pode dar assistência. Às vezes, é
até melhor para criança — disse meu irmão, fazendo Luigi o olhar com mais
atenção.
— Não sabia que tinha mais irmãos, Filippo. Só conhecia Enzo.
— Tenho sim. Lucca e Luna são os mais novos da família. Lucca está
na filial de Chicago e Luana ainda estuda — esclareci observando tudo
atentamente.
— E como é as coisas lá em EUA? — perguntou Luigi a Lucca.
— Muito bem. A mesma loucura de todas as outras filiais —
respondeu voltando atenção ao celular.
— Pode ir tranquilo à Roma, está tudo tranquilo por aqui. Qualquer
coisa eu mando um e-mail.
Ele levantou-se.
— Foi um prazer te conhecer, Lucca.
— O prazer foi meu, Luigi. Boa viagem!
— Obrigado, vou precisar! — disse com um sorriso amarelo, antes de
deixar a sala.
— O que veio fazer aqui, Lucca? — perguntei fazendo ele voltar a
realidade.
— Só queria uma das suas salas para fazer uma videoconferência.
— Pode pedir a Srta. Oliveira que ela arrume uma para você. Quer
conversar sobre isso? — perguntei pelo seu jeito que o vi ficar ao ver Luigi.
Meu irmãozinho ficou muito estranho na presença dele.
— Isso o quê? Não estou entendendo — disse sem mostrar interesse,
desconversando.
— Se é assim, tudo bem. Agora vaza!
— Tão gentil e amoroso. Não sei como Luti suporta você.
— Deixe, mio bello, para lá e vai cuidar da sua vida.
Acordei e passei as mãos na cama, mas não encontrei Luiz. Onde ele
estaria? Sentei-me pensando na noite anterior. Nunca imaginei que me
sentiria tão feliz um dia, como eu estava me sentindo. Saí dos meus
pensamentos ao ver Luiz deixar do closet todo arrumado para sair.
Estranhei.
— Vai aonde, bello? — perguntei o vendo saltar de susto.
— Quer me matar do coração, Filippo? — disse com a mão no peito.
— Vou fazer minha matrícula da faculdade e depois sua mãe me chamou
para fazer compras — falou se aproximando da cama.
— E você ia sair sem falar comigo? — perguntei sério, cruzando os
braços.
— Claro que não! Eu ia vir aqui e te encher de beijos — disse
sentando em meu colo de frente para mim. — Mas você acordou antes. —
Selou meus lábios.
— Pensei que iríamos tomar café juntos — falei enfezado, desviando
dos seus beijos.
— Oh, pare com isso, ursão! Não faça birra, que coisa feia! — disse
segurando meu rosto entre suas mãos.
“Eu fazendo birra? Ele falou isso mesmo?” —
Eu não faço birra! — falei irritado.
— Tudo bem, eu acredito em você. Nossa noite foi perfeita, amor.
Muito obrigado. Te amo, mas agora tenho que sair. — Deu-me o último
beijo e saiu do meu colo.
—- Sobreviva a uma saída com minha mãe. Boa sorte! — Levanteime
da cama e percebi que mio bello estava olhando para meu corpo nu. — O
que foi, bello?
— Nada! Já estou saindo. Ah, e antes que você saia pelo mundo me
procurando, vou na casa de Beto depois.
Assenti.
Tomei meu banho, me arrumei e desci para cozinha. Lá encontrei
somente meu pai e meus irmãos comendo. Ao me verem, eles começaram a
soltar risinhos e eu fingi não ser comigo a palhaçada.
— Eita, que a noite foi boa, não é? Nem levantar para malhar você
levantou — disse Enzo prendendo o riso e eu revirei os olhos.
— Não vou falar da minha intimidade com o meu bello para você,
irmão — falei sério sentando na mesa sendo servido por Rita.
— Sério isso? Mas você sempre nos fala uma coisinha. Não vai nem
dizer como foi a experiência? — Lucca perguntou e eu continuei impassível.
— Não é do interesse de vocês dois — falei rude.
— Parem de ser idiotas com seu irmão! Olha, filho, eu queria
conversar contigo sobre o garoto, mas dá para ver nitidamente que vocês
estão apaixonados um pelo outro e eu estou muito feliz por você. Sua mãe
só tem elogios para falar de Luiz. Viva isso, mio bambino, você merece —
falou meu pai segurando no meu ombro direito.
— Obrigado, babo! Agora eu quero saber o que está acontecendo.
Por que os homens da Finastella estão atrás de mim? — perguntei
— Vou ser direto, filho. Nós, homens Aandreozzi, não somos de
enrolar. — Olhamos atentamente para ele. — Quando fazemos nosso
juramento de fidelidade a Finastella, prometemos o nosso primogênito para
servir a máfia — disse calmamente e eu o olhei com raiva.
— E o que eu tenho a ver com isso? O senhor já não faz mais parte da
máfia, eles deveriam me deixar em paz — disse enraivecido, batendo a com
mão na mesa.
— Tem que você é o único primogênito de sangue Aandreozzi para
ser o Capo deles. Não tem outro a não ser você e é por isso que eles o
querem. Lá tem regras filho. Não se preocupe, farei o que for possível e
impossível para lhe proteger e proteger, principalmente, Luiz Otávio.
Fiquei em alerta.
— Por que principalmente Luiz, pai? — perguntou Enzo e eu agradeci
mentalmente pela pergunta.
— Porque eles não aceitam homossexuais e vão associar Luiz Otávio
a sua queda ao pecado, é assim que eles dizem — falou meu pai cauteloso,
encarando-me que continuava calado.
— Quem é o atual Capo da Finastella, pai? Quem sabe não podemos
negociar? — Lucca perguntou.
— É aí que complica. Esse homem Filippo conhece muito bem e sabe
que ele é o pior tipo de ser humano do mundo.
Meu corpo inteiro enrijeceu. Eu já sabia quem era. Só precisava ouvir
o nome do desgraçado que me fez sofrer quando eu era apenas um garoto,
para enlouquecer de ira. Olhei para o meu pai e assenti para que ele
dissesse.
— O Capo é o tio de vocês, o homem que sequestrou Filippo anos
atrás. Meu irmão, Paolo Aandreozzi.
Eu queria gritar, quebrar as coisas, pegar o primeiro jatinho que
estivesse pronto e ir matar o desgraçado com uma única bala, mas não iria
adiantar de nada. Agora não era mais só eu, tinha o meu bello para amar e
proteger. Não podia me abater, tinha que permanecer uma rocha e era isso
que eu iria ser. Senti meus irmãos me abraçarem cada um de um lado, pois
eles sabiam muito bem quem era o maledetto do nosso tio Paolo.
Sair com as mulheres Aandreozzi foi uma experiência única. O jeito
que nonna conseguiu burlar os seguranças, pegar um dos SUV e ir parar no
clube Chicote Quente, foi demais. Até agora eu dou risada das coisas que
nonna fez, nunca iria esquecer a bendita noite.
Aquele clube não condizia com o meu gosto, na verdade, aquilo
assustou o inferno fora de mim, mas continuei porque era muito engraçado
ver nonna gritar para o dominador que estava no palco, que eu precisava ter
mais pulso na minha relação, pois o meu ursão era um homem turrão e
chato. E assim o homem me chamou para subir e chicotear o seu submisso
que estava pelado debruçado na poltrona. Todas as mulheres Aandreozzi
quando me viram no palco, gritaram enlouquecidas para eu chicotear no
pobre rapaz, mas eu não consegui fazer.
Quando o sujeito me abraçou por trás, segurando minha mão que
estava com o chicote, olhei para frente e vi Filippo todo sério com um ar
aterrorizante vindo em direção ao palco. Confesso que me assustei ao
perceber o quanto chateado ele estava. Com tamanha raiva, iniciou uma
briga com o dominador, que logo desencadeou uma confusão no clube onde
a família Aandreozzi era a principal protagonista de todo o fuzuê.
Quando chegamos em casa, eu pensei de verdade que eu já estava
morto. A respiração irritada e a feição calma de Filippo me deu muito medo,
mas ele me surpreendeu quando o vi tirar a roupa. Nossa! Não sei descrever
a excitação que senti no momento. Nunca em toda minha vida pensei
desejar ser fodido da maneira que meu maldito italiano prometeu. Minha
noite com Filippo foi totalmente inexplicável, meu corpo ainda estava
dolorido, mas era uma dor que me fazia querer fazer tudo novamente.
“Deus! Esse homem é fora do comum e o incrível é que ele é todo
meu.”
Acordar no dia seguinte e ter que deixar Filippo na cama, podendo
simplesmente continuar a olhá-lo dormi com sua respiração calma e suave,
sem aquela carranca de homem sério que me excitado e me tirava do eixo
dando coragem para enfrentar a vida agitada que ele levava com sua família,
foi difícil. Mas, como eu tinha marcado com minha sogra — estranho falar
essa palavra; sogra —, mesmo sem muita vontade levantei, fui tomar banho
e me arrumar. Quando já estava quase saindo, vi meu ursão acordado e me
despedi com muito custo dele antes sair. Ao chegar na sala, vi nonna e
Arianna arrumadas me esperando.
— Desculpe a demora, mas já estou aqui. Podemos ir quando
quiserem — disse depois de dar um abraço em Arianna e um beijo no rosto
de nonna.
— Claro que iria acordar tarde depois da noite quente que seu ursão
lhe proporcionou. Tenho que dizer, meu filho, que seus gritos ontem foram
mais altos do que os de Arianna — disse nonna com um sorriso sacana e eu
olhei sem graça para Arianna que estava aos risos.
— Céus! Eu não acredito que vocês ouviram alguma coisa — falei
escondendo o rosto com as duas mãos envergonhado.
— Oh, se ouvimos! Nós sabíamos que isso iria acontecer. Por isso que
Lucca e Enzo saíram ontem — disse Luna vindo em nossa direção. — Aqueles
maledettos saíram e nem me levaram.
— Desculpem, não foi minha intenção. Sei lá, só... desculpe — disse
sentindo meu rosto esquentar.
— Oras, não se preocupe, Luti. Eu te disse que os homens Aandreozzi
enfurecidos era bem melhor do que em seu estado normal. Domenico, meu
falecido marido, era do mesmo jeito. Eu adorava aprontar para ser fodida
com selvageria também — disse nonna fazendo todos rirem.
— Obrigado pela força, nonna. — Sorri em agradecimento.
— Não me agradeça, percebi que vocês andavam muito devagar.
Então resolvi dar um empurrão — disse nonna com fazendo sinal de desdém
com a mão. — Vamos logo, estou louca para ir à universidade do meu novo
netinho, vai que eu arranjo um universitário forte para me foder também.
— Nonna! — gritamos os três presentes em uníssono, recebendo o
dedo do meio.
“Um doce essa senhora!”
Saímos do prédio e ao passar pelo hall, percebi que a recepcionista
me encarava. Do lado de fora, já havia dois carros e quatro seguranças nos
esperando. No primeiro carro; foi Arianna junto com seu segurança
Jeremiah, um moreno alto de cabelos enrolados e olhos verdes. Nonna foi
junto com seu segurança Atílio, que eu nem sabia que ela tinha. Ele era um
homem maduro, mas muito bem-apanhado. Tinha uma cara de mau que
dava um pouco de medo, cabelos grisalhos, maxilar forte e olhos castanhos.
No segundo carro; foi Luna com seu segurança Alejandro, um típico
espanhol de pele bronzeada, olhos e cabelos negros e bastante alto. Além
deles eu e meu mais novo guarda-costas, Brian, designado por Filippo para
me proteger, fomos junto com eles. Brian era alto como os outros
seguranças, pele como chocolate derretido, careca e de olhos incrivelmente
cor-de-mel.
Fiz minha matrícula feliz da vida ouvindo as loucuras de nonna, que
perguntava por onde andava os universitários gatos, enquanto Luna fazia de
tudo para controlar a língua da avó. Depois de todos os trâmites feitos, fui
para forca. Ops! Errei, quis dizer compras. Tive que aturar minha linda e
doce sogra montar roupas para mim para todas ocasiões. Roupas para ir à
faculdade, para algum evento importante que eu teria de ir com Filippo,
roupas casuais, e, não menos importante, também houve sapatos para
combinar com cada peça.
Era incrível estar perto dessas mulheres, me sentia tão bem com a
doçura, gentileza e o sorriso fácil de Arianna, a espontaneidade de Luna e o
humor ácido e ousado de nonna, por isso suportei tudo sem me importar ou
queixar. Todas concordaram que eu agora era um Aandreozzi e que não
poderia sair de qualquer jeito pela rua.
Quando elas me contaram que dali alguns dias seria aniversário de
Filippo, eu fiquei irritado. Ele havia comentado, mas pensei que demoraria
chegar a tal data. Ele não teve a decência de me contar que estava tão
próximo. Inferno de homem! Mas isso era assunto para ser discutido com
ele outra hora.
Almoçamos juntos e quando elas resolveram que era hora de ir para
casa, eu disse que tinha que ir na casa de meu amigo Beto, conversar sobre
tudo o que de novo estava acontecendo. Elas deixaram eu e Brian em frente
à residência de Beto e voltaram para cobertura.
— Sabe, Brian.... Você não precisa ficar aqui fora me esperando, pode
ir e depois eu te ligo, sei lá... — disse enquanto batia no portão.
— Obrigado, mas não, senhor! Ficarei aqui e esperarei até quando o
senhor for embora — disse em um tom profissional e eu fiz uma careta.
— Olha, Brian, eu quero ser seu amigo, já que vamos ficar tão
próximos, por isso me chame de Luti — falei com um sorriso constrangido.
— Como o senhor… quer dizer. Como você quiser, Luti — disse e
acho que vi um sorriso, pode ser coisa da minha cabeça, mas acho que vi.
— Até que enfim deu as caras, Lutito — disse Beto ao abrir o portão
e eu o abracei.
— Bom te ver, irmão! — disse com a mais pura sinceridade.
— Vamos entrar, mano, precisamos conversar. Estive preocupado
com você, mas o ricaço me ligou dizendo que você estava bem — falou Beto
sentando no chão em frente ao sofá que me sentei na pequena sala.
— Não sabia que você e Filippo tinham conversado depois — disse
visivelmente surpreso. Alguém bateu no portão. — Deve ser Ângela, mandei
uma mensagem para ela antes de vir.
Beto abriu e lá estava minha amiga. Quando ela me viu, correu e se
jogou em cima de mim. Por mais que tivéssemos pouco tempo de amizade,
tinha um enorme carinho por Ângela.
— Estive preocupada com você, Lutito. Você está bem? — perguntou
Angel e eu assenti sorrindo.
— Estou bem agora, depois de ser quase abusado pelo namorado de
minha tia e em seguida ser acusado pela mesma por uma coisa que não fiz.
Ah, e não vamos esquecer que fui posto para fora de casa como um
cachorro sarnento. Isso não me fez muito bem — disse sério sobre o olhar
curioso de meus amigos. — Mas, ser acolhido por Filippo e sua família me
fez sentir melhor. Eles são únicos, meus amigos.
— Caralho, Luti! Eu achei que eles não fossem aceitar, mas estou surpresa.
Nunca imaginei que sua tia pudesse fazer uma coisa dessas — disse Beto
derrotado.
— Nem eu achei, Beto, mas é a vida. Eu não posso fazer nada sobre
isso. — Soltei um suspiro.
— Você não acha que depois ela vai te procurar? Pelo o que Beto me
disse, ela pareceu se tocar que o que fez foi errado — falou Ângela.
Neguei com a cabeça.
— Não me interessa se ela se arrependeu ou não. As coisas que tia
Amélia me falou, me machucaram muito. Não quero vê-la, pelo menos não
agora — pronunciei cada palavra com firmeza.
— Você está diferente, Lutito, mas um diferente bom. Esse italiano
está te fazendo bem — Beto falou me analisando e eu senti meu rosto
enrubescido.
— Não me diga que vocês… Você sabe... — falou Ângela curiosa.
Arregalei os olhos para ela.
— Deus! Isso não é da sua conta, Ângela! — gritei abismado e
envergonhado ao mesmo tempo.
— Com certeza não é um assunto que eu esteja a fim de ouvir —
disse Beto exasperado.
— Tudo bem, mas quando estiver somente eu e você, vou querer
saber de tudo — disse Ângela e eu fiquei quieto.
— Já foi fazer sua matrícula na universidade? — perguntei a ela,
tentando mudar o rumo da conversa.
— Fui hoje mais cedo, pensei que iria te encontrar por lá.
— Saí com as mulheres Aandreozzi hoje, elas decidiram me fazer de
manequim. — Deitei-me no sofá cansado.
— Elas parecem ser boas pessoas. Podemos marcar uma saída. O que
você acha, Beto? — perguntou Ângela e eu me sentei no sofá novamente,
negando com a cabeça rapidamente.
— Não vou poder sair por agora, ontem segui na onda de nonna e fui
parar no Chicote Quente. Já ouviram falar? — perguntei e vi meus amigos
soltarem uma gargalhada divertida. — Filippo ainda está um pouco
revoltado com essa saída e estou procurando evitar brigas desnecessárias
com o
Italiano.
— Esqueci que meu amigo agora é um homem casado. — debochou
Beto.
— Vai se foder, Beto! Mas é sério, Filippo ontem começou uma briga
feia no lugar. Tudo porque eu estava no palco com um chicote na mão para
açoitar um cara pelado e o dominador queria se “divertir” comigo — falei
com indignação e vi meus amigos rolarem de tanto rir.
— Isso tudo você fez com a avó dele? — perguntou Ângela entre
risos.
— Sim! Ela é a senhorinha mais incrível que conheci na vida, vocês
vão adorá-la. — Sorri ao lembrar de nonna.
— Isso nunca irá acontecer, Lutito. Esse povo bacana não se mistura
— Beto falou.
— Aí que você se engana. Arianna mandou eu convidá-los para o
jantar de aniversário do Filippo. — Sorri e foi a vez deles arregalarem os
olhos.
— Não sei se é uma boa ideia, Lutito — Beto falou com dúvida.
— Não seja um idiota, Beto! Temos que ir, não podemos fazer essa
desfeita. As mulheres italianas são muito cordiais. Se querem nossa
presença, quer dizer que vão nos receber muito bem — minha amiga falou
severa.
— Tudo bem, então vamos. Luti, você ainda vai trabalhar no
Benedetti? — perguntou Beto.
— Para falar a verdade, eu não sei. Passei por uma situação chata por
lá. Não sei se quero continuar, vou tentar arranjar outro emprego — disse
com bastante dúvida do que fazer.
— Eu também estou querendo trabalhar com outra coisa. Não quero
mais ficar ali, Analú anda me humilhando demais — disse cabisbaixo e eu
me aproximei dele o abraçando de lado.
— Vou ver o que posso arranjar para você, meu brother. Mas sabe
que vai ter que voltar a estudar, não é? — perguntei e ele assentiu.
Eu iria pedir um emprego para Beto ao Filippo. Ele tinha me
fornecido antes e eu não aceitei. Sabia que trabalhar com ele não devia ser
uma coisa fácil, mas sabia também que Beto com seu jeito único, poderia
dar certo. Mas antes precisava conversar com Filippo sobre isso.
Passei boa parte da tarde com meus amigos, mas já estava no meu
horário de ir. Saí da casa de Beto e na frente já estava um carro me
esperando.
“Oh, isso é tão estranho!”
Brian estava com a porta do carro aberta. Olhei para Ângela e quis
lhe dar uma carona que ela aceitou na hora. Depois de deixarmos minha
amiga em sua casa, seguimos para o prédio de Filippo. Ainda era estranho
dizer que era minha casa também, mas precisava me acostumar. Chegando
lá, encontrei Donatello e Arianna sentados no enorme sofá.
— Boa tarde, família! — disse assim que olharam na minha direção.
— Você falou com Filippo? Ele te ligou? — perguntou Arianna aflita.
— Não, por que a pergunta? — perguntei já temeroso.
— Ele conversou com o pai, logo depois voltou para o escritório e
agora não atende o telefone. Para Filippo não atender nossas ligações, é
porque ele está muito chateado — Arianna falou preocupada.
— Eu vou vê-lo! Será que ele está ainda na empresa? — perguntei e
Donatello assentiu. — Logo estarei de volta.
Antes de sair, mandei uma mensagem para Brian que já tinha me
alertado sobre isso. Ele disse que sempre quando eu fosse sair, era para
avisálo. Quando cheguei no hall, Brian, já estava à minha espera.
Entrei no carro e seguimos para Aandreozzi SPA. Ao chegar no local,
tomei um baita susto. Céus, o lugar era enorme e lindo! Na recepção havia
uma mulher muito bonita, tinha certeza que ela poderia ser uma modelo se
quisesse. Cheguei perto dela com Brian em meu encalço e vi que seu nome
era Suzana.
— Boa tarde, senhorita! A senhorita pode me informar onde fica o
andar de Filippo Aandreozzi? — perguntei na maior gentileza possível.
— Tem hora marcada? — Suzana perguntou.
Olhei automaticamente para Brian, que pediu para eu esperar um
momento. Vi meu segurança falar com alguém no celular e desligar
rapidamente. Não demorou e o telefone da recepção tocou. Suzana atendeu
e vi seu semblante mudar. Ela deu um risinho sedutor para outra pessoa do
outro lado da linha e isso me deixou confuso.
— Pode ir, senhor. Elijah disse que sua entrada é sempre permitida
— ela disse ainda sorrindo.
“Mulher estranha!”
Entrei no elevador com Brian e perguntei se ele sabia qual era o
andar. Ele apertou o último botão e subimos. Ao chegar, observei o quanto
era tudo bonito. A estrutura era toda em aço e vidro, mas não era hora de
observar o lugar. Vi que Elijah estava parado mais à minha frente e eu lhe
dei um sorriso amigável.
— Cadê ele, Elijah? — perguntei.
— Está em sua sala com a secretária — disse temoroso e eu franzi a
testa. — Não é nada disso, senhor! Na verdade, ele está gritando com ela.
— Para de me chamar de senhor. Eu sou Luti, nada de formalidade comigo.
Deixe-me ir ver o que esse homem tem. — Passei por Elijah e fui até à porta
que ele me indicou.
— Você é muito burra! Que porra de relatório é esse? — gritou
Filippo enfurecido e isso me fez estremecer.
— Desculpe, senhor! Irei consertar meu erro. Desculpe novamente.
— Ouvi uma voz feminina bem calma, mas trêmula.
— Não vai ser… — Abri a porta o interrompendo.
— Bello? O que faz aqui? — perguntou Filippo de olhos arregalados
ao me ver no seu escritório.
— Vim te levar para casa, mas vejo que está ocupado — disse
virando-me para moça que mais parecia uma garotinha assustada, mas que
devia ser mais velha que eu. A pobre mulher me olhou com os olhos
arregalados e até admirados, eu acho.
— Ainda estou ocupado, bello. Não vou para casa agora — Filippo
falou enfezado, sentando na sua cadeira.
— Como é seu nome? — perguntei a moça que me olhava ainda
bestificada.
Ela olhou para Filippo e abaixou a cabeça.
— Deixe ele para lá e me diga seu nome.
— Melissa Oliveira, senhor — sussurrou.
— Bem, Melissa... Tenho certeza que seu dia hoje foi terrível. —
Olhei para Filippo que me retornou com um olhar ofendido. — Pode sair,
Melissa. Deixe-me aqui com esse senhor. — A observei olhar para Filippo
que fez um gesto com a mão despachando a moça.
Assim que ela saiu, olhei para Filippo. Ele estava com uma expressão
horrível. Aproximei-me devagar, afastei sua cadeira e sentei em seu colo.
Quando fiz, Filippo me abraçou e cheirou meus cabelos aspirando-os bem
forte. Levantei minha cabeça e lhe dei um beijo lento e amoroso. Beijei sua
boca macia e quente de sabor indescritível. Encerrei o beijo e me aninhei a
ele novamente.
— Agora vai me contar o que há com você? — perguntei.
— Estive conversando com meu pai hoje e descobri o porquê aqueles
caras estavam atrás de mim.
Levantei a cabeça para encará-lo.
— O que eles querem com você?
Ele suspirou cansado.
— Querem que eu seja o Capo deles, já que eu sou o único
primogênito de sangue Aandreozzi.
Minha cabeça deu um nó.
— Me explique isso direito. O que é um Capo? — perguntei confuso.
— Capo significa chefe. Eles querem que eu seja o novo chefe da
máfia Finastella. — Deu outro suspiro. — Todo soldado quando entra na
Finastella, promete seu primeiro filho homem para servir à máfia quando
chegar na idade certa. Meu pai quando entrou, fez esse maldito juramento e
lá tem regras. Regras que devem ser cumpridas. Eles me querem a qualquer
custo, principalmente, o Capo que eles servem no momento. Esse sim me
quer lá de qualquer jeito — falou entredentes.
— E quem é esse homem? Se seu pai não faz mais parte disso, por
que eles te querem tanto?
— Porque esse desgraçado é o mesmo que me sequestrou na porta
da escola quando eu tinha apenas onze anos de idade. Esse desgraçado é o
irmão de meu pai, o fodido Paolo Aandreozzi — falou com uma calma de
arrepiar os cabelos da nuca.
Abracei-o forte na tentativa de conseguir emanar um pouco da dor
que estava sentindo.
— Não sabia que nonna tinha outro filho — falei baixo.
— Paolo não é filho de nonna Francesca, é filho de uma das amantes
de meu avô. Mas ele morou com nonna quando tinha uns quinze anos de
idade, só que nunca gostou dela e fazia de tudo para infernizá-la.
— Quer me contar o que aconteceu quando você esteve com Paolo?
— perguntei e senti seu corpo endurecer. — Não precisa me falar agora,
amor. Quando quiser desabafar, estarei aqui para te ouvir.
— Obrigado, bello. Eu precisava disso. Te amo! — declarou-se
olhando em meus olhos.
Sorri.
— Estou chateado com você, ursão mal-humorado — falei com uma
falsa cara de zangado.
— O que foi que eu fiz para merecer tal chateação? — perguntou
confuso.
— Não me contou que seu aniversário é em poucos dias, disse
apenas que estava próximo. Isso não se faz, homem! — disse o fazendo
gargalhar.
— Não gosto muito do meu aniversário, bello — disse
sucinto.
— Estou pouco me fodendo para isso, vai ser seu primeiro
aniversário comigo. Não é uma coisa boa? — Sorri e recebi um selinho.
— É uma coisa ótima, mio bello — disse com a voz rouca.
— Vamos para casa, italiano carrancudo. Estou morrendo de fome.
— Saí de seu colo.
Vi Filippo levantar e arrumar suas coisas na pasta. Antes de sair pela
porta, deu-me um beijo bem gostoso que me fez suspirar. Oh, inferno! estar
apaixonado nos torna patéticos, mas eu gostava de ser patético. Saímos e
quando eu estava passando por Melissa, parei e puxei Filippo pela mão.
Indiquei-a com a cabeça e pedi apenas com o olhar para que ele falasse com
ela.
— Ei, Melissa. Filippo quer falar uma coisa com você. — Sorri para
pobre moça que sofria na mão do ursão.
— Tenho? Eu não estou sabendo de nada que eu tenha que falar com
ela — disse sério com sua habitual carranca de homem mau.
— Tem sim, ele quer te pedir desculpas pela ignorância de mais cedo.
Não é? — perguntei sério olhando para ele.
— Tudo bem. Olha, senhorita Oliveira, me desculpe por ter gritado.
Mas a porra do relatório estava uma porcaria, conserte essa merda e quero
na minha mesa amanhã — disse rude.
Balancei a cabeça negativamente. Impossível! Filippo era totalmente
impossível.
— Prazer te conhecer, Mel! — falei sendo puxado por Filippo, mas
antes dei uma piscadela para moça que deu um sorriso discreto.
— Que porra de intimidade é essa com minha secretária? —
perguntou Filippo enraivecido.
— Ciúmes, amor? Não precisa, eu sou teu. — Sorri.
— Acho bom mesmo! — falou severo e me beijou na frente de quem
quer que estivesse passando por ali.
Depois de ser beijado pelo dono da empresa, na frente de todos os
seus funcionários, fui embora para casa com meu homem sério, ciumento,
grosso e mal-humorado. O mais importante disso tudo, era que todos viram
que ele era meu. Amava seu jeito ogro de ser. Não o mudaria em nada.
Acordei no dia seguinte e fiz toda minha rotina com Filippo. Fomos
malhar juntos, mesmo ele brigando comigo por causa do meu
comportamento de intimidade com Brian, mas logo o contornei falando que
Brian era somente meu amigo e que eu não gostava da maneira de sempre
ser chamado de senhor. Depois de muito custo Filippo não falou mais nada.
Quando terminamos os nossos exercícios, fomos tomar um banho, e
como eu não teria aula no curso de línguas, coloquei uma roupa qualquer e
Filippo um dos seus termos para ir à empresa. Tomamos café e logo ele já
tinha saído.
Fui para seu escritório estudar, claro que eu perguntei antes se
poderia fazer isso lá. Filippo me olhou com uma cara de quem dizia: “Isso é
pergunta que se faça?”, e saiu sem me dizer mais nada. Fiz meu fichamento,
revisei os assuntos dado nas aulas anteriores, ou seja, estudei de verdade
com Amora o tempo todo ao meu lado, deitada no chão na maior preguiça.
Na hora do almoço, Filippo chegou e comemos a comida maravilhosa
de Rita. Assim que terminei de comer, corri para o quarto para tomar um
banho e me arrumar para ir à faculdade. Desci e Filippo já estava à minha
espera com Amora do colo fazendo carinho. Quando me viu, deixou a
filhotinha no chão e levantou para sairmos.
Filippo me deixou na faculdade e como eu já estava quase atrasado,
tentei adiantar meus passos andando de pressa. Mas só tentei mesmo, já
que fui interrompido por um corpo que parou à minha frente. Alguém que
eu jurava que não veria mais sua cara tão cedo.
— Precisamos conversar, Luti! — disse tia Amélia diante de mim.
— Desculpe, mas eu não tenho nada o que falar com você. Com
licença, que tenho que ir à aula — falei sem olhá-la tentando passar, mas ela
me impediu novamente de andar.
— Vim te chamar para irmos para casa! Queria me desculpar por
tudo que eu te disse. Sinto sua falta, meu sobrinho.
Olhei bem para sua cara que estava com uma expressão chorosa e ri.
Sim! Eu ri.
— Sério isso, tia? É sério que a senhora quer que eu volte para casa?
Ela me olhou confusa, não sei se pela minha pergunta ou por eu estar
rindo.
— Claro que é sério, Luiz! Seu lugar é em casa e comigo. Fui lá no seu
trabalho e soube que você não trabalha mais lá. O que você está fazendo da
sua vida?
Balancei a cabeça em negação.
— Sim, eu não trabalho mais no Benedetti — falei sucinto.
— Viu só! Você precisa de mim, esse cara aí que você namora, não é
uma boa influência para você.
Fiquei logo em alerta.
— Você ainda está com o Paulo? — Ela respirou fundo e não falou
nada. — Responda minha pergunta, tia Amélia. Você ainda está com o
Paulo?
— Estou sim! Ele sofreu um assalto e está todo quebrado. Estou
cuidando dele. Uma moça muito bonita me disse que esse seu tal namorado
a abandonou para ficar com você e que eles iriam se casar. Está vendo que
esse homem não é para você? Ele usa as pessoas. — O que disse fez toda
minha raiva que estava guardada transbordar.
— Chega! Você não aprendeu nada com a vida, não é? Como você,
uma mulher mais velha, pode ser tão inutilmente influenciada? — perguntei
com muita raiva.
— Do que você está falando, Luiz Otávio? — perguntou confusa.
— Você me abandonou! Você me jogou na rua por causa de uma
paixão ridícula pelo homem que tentou me estuprar na sua cozinha. Você
não quis me ouvir, somente achou necessário mandar embora o peso morto
que você carregava após a morte da sua irmã. E agora você vem aqui com
essa cara nojenta me pedindo para voltar para casa? Por quê? Que saber...
Não precisa se dar ao trabalho de responder, eu sei a resposta. Porque de
novo decidiu acreditar em alguém, e esse alguém é uma vadia, uma grande
vadia maluca — falei cada palavra mostrando todo o ódio que estava
sentindo. Minhas mãos estavam tremendo muito.
— Luiz, não fale assim. Tenho certeza que tudo vai se resolver, só
volte para casa. Esse homem rico só quer te usar, depois ele vai te largar e
voltar com a noiva — falou com lágrimas de crocodilo nos olhos.
— Filippo me ama! Você sabe o que é isso? Claro que não! Você se
apegou ao primeiro que te disse coisas legais e te proporcionou uma boa
foda e acha que é amor, mas vou te dizer uma coisa. Você não sabe o que é
amor! E não serei eu a te ensinar. Não me procure mais. Finja que eu morri
naquele acidente com meus pais, pois tenho certeza que assim você vai se
sentir menos presa a mim — disse controlando a minha respiração.
— Senhor, algum problema aqui? — perguntou Brian parado ao meu
lado.
— Não há nada aqui. Você pode me levar para casa? — perguntei e
ele assentiu ainda olhando sério para tia Amélia.
— Mas e sua aula, senhor? Tem certeza que não quer ir?
— Sim — respondi rápido.
— Tudo bem, então, vamos.
Já estava saindo quando virei novamente para tia Amélia parada
ainda no mesmo lugar.
— Cuidado com Antonella, ela é uma mulher que anda com gente da
pesada. Eu tenho quem me defenda. E você tem? Acho que não, por isso
tenha cuidado e não acredite em tudo que falam. As pessoas mentem, tia —
falei calmo, olhando nos seus olhos chorosos. — Filippo e sua família são
pessoas maravilhosas que me receberam de braços e corações abertos. Não
queira que eu a odeie, você ainda é minha família. Só precisa tirar a cabeça
para fora de sua bunda e ver as coisas melhor.
Segui em silêncio para o carro, deixando tia Amélia para trás. Ao
entrar, vi que Brian não parava de me olhar pelo retrovisor. Sabia que não
devia estar com uma cara muito boa. Meu coração estava doendo, minha tia
fez de novo. Como ela pôde? Só que agora era em Antonella quem ela
acreditava.
“Deus! Como uma pessoa pode ser tão burra e desacreditada em
mim?”
— Sabe, Luti... Você está andando muito com nonna Aandreozzi. O
que foi aquilo? “Tirar a cabeça para fora de sua bunda?”
Eu não aguentei ouvi-lo repetir aquilo e caí na risada.
— Nonna faz falta! E obrigado por me fazer rir, estava precisando —
falei abaixando a cabeça.
— Você é um cara legal, Luti, não ligue para essas coisas. Quer saber?
Vou pedir para Rita fazer brigadeiro para você, ela sempre come isso quando
está chorosa. Diz ela que melhora — falou Brian pensativo.
— Obrigado, cara! Você é um ótimo amigo. — Olhei-o pelo
retrovisor.
Seguimos o restante da viagem em silêncio e eu sabia que tudo o que
eu precisava era ficar um pouco só, parado em algum lugar para pensar e
esquecer que vi minha tia Amélia.
Aquela foi sem dúvida a pior viagem que eu já fiz em toda minha vida
como empresário. Não tinha paciência alguma de ficar indo de uma reunião
a outra. As pessoas me irritavam pelo simples fato de falar sobre negócios
comigo. O pior de tudo, foi ter que lidar com o governo de Portugal. minha
vontade era mandar todo mundo para puta que pariu e voltar para casa e
ver como meu bello estava.
Ligava para ele sempre quando eu podia e ficava muito aliviado ao
saber que ele estava bem e que nada de ruim aconteceu. Não sei o que seria
capaz de fazer se algo acontecesse e eu estivesse longe.
Ao chegar em casa, vi meu filhote e foi diferente chegar e ter uma
coisa tão miúda e carente, querendo minha atenção. Mas foi um diferente
muito bom. Sinceramente, foi o melhor presente que meu bello poderia me
dar.
Depois de ter dado um pouco de atenção a Amora, fui atrás de meu
bello. Chegar na faculdade de Luiz e ver aquele moleque fazendo de tudo
para levar mio bello para cama, me fez querer arrancar sua cabeça fora, mas
como um bom homem, tive que só lhe dar um pequeno soco e ameaçá-lo.
Minha noite com Luiz foi fora do comum. Pude matar a saudade que
estava sentindo dele, mesmo eu estando furioso com ele por deixar aquele
moleque colocar seus bracinhos a sua envolta.
Recordar que acordei e tive uma manhã ótima ao lado de Luiz, mas
que agora estava diante de um grande erro em uma das minhas
contribuições, feita por um dos empreiteiros que era muito burro ao ponto
de não saber ler uma anotação corretamente, era deprimente. Todas as
anotações eram passadas por mim, pois essas construções eram bastante
significativas para minha empresa.
— Que merda é essa aqui? — perguntei analisando uma das partes
da infraestrutura.
— Eu não estou entendendo o que o senhor está dizendo, pois não
estou vendo o que há de errado — falou o empreiteiro.
— Ou você é um analfabeto ou displicente, porque eu mesmo
verifiquei essas anotações e não tem como isso está desse jeito — disse
sério e vi o empreiteiro bufar.
— Eu fiz como estava na planta, senhor. O erro com certeza não foi
meu — disse arrogante.
— Não, não fez! Se tivesse feito não iria acontecer isso — falei
pegando uma barra de ferro e batendo com toda minha força na estrutura
que ele achava estar em perfeito estado.
E como eu já sabia, metade da construção veio a baixo. Eu já disse
que odiava incompetência, não tinha como aquelas anotações estarem
erradas. Um erro desses não passaria por mim despercebido. Voltei minha
atenção novamente para o analfabeto e reparei que seu rosto está com uma
expressão de puro susto.
— Eu não tinha noção que isso iria acontecer — falou o sujeito.
— Claro que não sabia! Esse seu erro poderia causar um enorme
acidente e a responsabilidade seria da minha empresa. Não preciso de gente
como você trabalhando para mim! — falei arrumando meu terno que
desalinhou com meus movimentos bruscos anteriores.
— Gente como eu? Ao que o senhor está se referindo? Está falando
isso porque sou negro? Eu posso te processar! — gritou o empreiteiro
irritado e eu o observei pela primeira vez.
— Você é negro? Sério? Eu sou gay! E me relacionar com um homem
não tem nada a ver com a competência do meu trabalho — falei impassível
e o observei arregalar os olhos. — A cor da sua pele não me interessa, o que
me importa é a perfeição que eu exijo nas minhas obras. Não quero você
aqui nem mais um segundo. Gente burra não trabalha para mim! — falei
saindo do local. Eu podia ser tudo, mas um fodido preconceituoso eu não
era!
“Bastardo!”
Entrei no carro com muita raiva, seria desastroso se acontecesse um
acidente em uma das minhas obras por desleixo de um dos meus
funcionários. Isso nunca aconteceu na gestão de nenhuma de nossas
empresas e não seria com a minha que iria acontecer. Vi o meu celular tocar
e ao ver que era de casa, atendi imediatamente.
— Aandreozzi falando! — disse assim que atendi a ligação.
— Sr. Aandreozzi, desculpe incomodá-lo, mas o senhor me deixou
informada que se acontecesse algo estranho com Luti era para te informar
— Rita falou tentando usar um tom séria, mas percebi a preocupação em
sua voz.
— Onde está Luiz, Rita? — perguntei em alerta.
— Chegou em casa e está na área da piscina. Não está com a cara
muito boa.
— Logo mais estarei em casa. — Desliguei em seguida. — Elijah, para
casa! — ordenei e fiquei pensando o que teria feito Luiz voltar para casa.
Senti o carro dar a volta e seguir caminho para cobertura. Não sabia
o que tinha acontecido com o meu bello, mas só de saber que ele não estava
bem, fez com que eu quisesse machucar o infeliz que lhe causou essa dor.
Não sabia explicar essa minha necessidade de querer protegê-lo do
mundo, devia vir do fato de o amar muito e me sentir completo ao seu lado.
Pensar que poderia surgir algo ou alguém para me afastar dele, me causava
uma revolta instantânea.
Cheguei em casa e a primeira coisa que fiz foi tirar o paletó e jogá-lo
em qualquer canto da sala. Fui até à área da piscina e vi meu bello sem a
roupa com a qual tinha saído, estava usando somente um short.
Luiz estava sentado em uma das poltronas, alisando os pelos de
Amora que estava bem quietinha recebendo o carinho. Aproximei-me
cauteloso e sentei na poltrona ao lado da sua.
— Vai me contar quem te deixou assim? — perguntei e ele continuou
de cabeça baixa. — Amore, se você não me contar, não poderei te ajudar.
Ele continuou sem falar nada, só levantou e se sentou no meu colo.
Então, ficou ele e Amora aconchegados a mim. Esperei o tempo dele, sabia
que uma hora ele iria falar. Luiz levantou a cabeça para me encarar pela
primeira vez desde que havia chegado.
— Quem te chamou? Foi a Rita, não foi?
Assenti.
— Sim, ela me falou que você não estava bem. Por isso vim te ver. Fiz
mal? — perguntei confuso.
— Nunca! Você aqui me faz bem. Obrigado por vir! — Deu-me um
beijo.
— Faço tudo por você! Vai me contar o que houve? — perguntei e
Luiz respirou fundo.
— Minha tia Amélia apareceu lá na faculdade hoje.
Irritei-me profundamente. Como ela ousava?
— O que ela queria com você, bello? — questionei e Luiz deu uma
risada sem graça.
— Acredita que ela teve a cara de pau de me pedir para voltar para
casa? Pois é, eu também não acreditei no início, aí perguntei se ela ainda
estava com Paulo. E sim! Ela está com ele curando das feridas que você
provocou. É, eu sei que você bateu no vadio! — falou sério e eu somente
assenti.
— Tenho que admitir que sua tia tem muita cara de pau mesmo —
falei irritado.
— Mas ainda não é a pior parte, amor — falou baixo.
— Não? O que pode ser pior que sua tia querer que você more
debaixo do mesmo teto que o homem que tentou te estuprar? — perguntei
rangendo os dentes de ódio.
— Pior foi ela achar que eu estou com você depois de destruir seu
noivado com Antonella e que você é um homem rico que só quer me usar.
Ah! Também tem o fato que você é uma má influência, pois eu não sou mais
um garçom no Benedetti.
Contei até dez, de trás para frente, para controlar o meu
temperamento. Tirei Luiz do meu colo e levantei.
— Como ela ficou sabendo sobre a vagabunda louca da Antonella? —
perguntei com punhos cerrados.
— Naturalmente a vadia descobriu sobre ela e foi até lá conversar.
— O que Antonella pensa que está fazendo, porra? — gritei
perguntando a mim mesmo e vi meu bello se encolher no lugar que
estava.
— Não sei, amor! Só me magoou profundamente minha tia pensar
algo errado sobre mim de novo. Porra, Filippo, dá para acreditar nisso? Ela
achou que eu estava seduzido por você por causa do dinheiro! O que ela vai
acreditar agora, que eu matei alguém? — disse Luiz e começou a chorar.
Deixei minha raiva de lado por um momento eu abracei meu bello.
— Desculpe, mio amore! Eu não deveria me exaltar dessa maneira,
você está precisando de mim no momento — sussurrei o abraçando forte.
— Não importa o que os outros pensam ou no que acham que acreditam. O
importante é que nós dois somos um casal e nos amamos. Não haverá
nenhuma pessoa fodida no mundo que irá tirar você de mim. Você é meu
para cuidar e amar! Só meu! E foda-se os outros.
— Obrigado, amor! Obrigado de verdade, não sei o que seria de mim
sem você nesse momento — falou Luiz choroso.
— Eu cuido de você, entendeu? — Segurei seu rosto entre minhas
mãos. — Não existe Amélia, Antonella, o diabo ou quem quer que seja que
possa abalar isso que nós temos. Entendeu?
Ele assentiu olhando nos meus olhos e me beijou.
— Entendi! — Saiu me puxando para dentro de casa. — Você vai
voltar para empresa?
— Não, bello! Vou ficar aqui com você — falei carinhoso e o vi
sorri.
— Ótimo! Então vou pedir para Ritinha fazer um lanche para nós
assistirmos um filme — falou quando chegamos à sala e eu não escondi a
cara de desgosto.
— Filme? Sério? Essas coisas são ruins, bello!
Ele me olhou entristecido.
— Sabe, amor... eu ainda estou meio deprimido. Adoraria assistir um
filme ou seriado com você, mas estou vendo que você não quer. Tudo bem!
— Saiu e eu entrei em parafuso.
— Está bom, amor! Vamos assistir o que você quiser — falei não
querendo vê-lo triste.
— Obrigado, amor. Você é muito atencioso. — Sorriu.
“Espere aí, ele não estava triste?”
— Você me enganou, bello? Fez isso mesmo? Que safado!
Ele soltou uma gargalhada gostosa.
— Eu amo você, ursão! Você é muito doce! — disse com alegria.
— Eu? Doce? Sério isso, Luiz? Você finge estar triste e agora me
chama de doce. Você está se comunicando muito com Luna. — Balancei a
cabeça negativamente e andei em direção ao escritório.
— Vai para onde, amor? — perguntou Luiz e eu virei para olhá-lo.
— Vou ao escritório, quando você for assistir sei lá o que, me chame
— disse e respirei fundo.
— Ficou bravo comigo? — perguntou com as bochechas vermelhas.
— Não, bello. Eu jamais ficaria puto com você. Só não quero mais
esse tipo de brincadeira. Odeio ver você triste, isso me dói — falei com o
sorriso pequeno e Luiz correu grudando suas pernas na minha cintura.
— Desculpa, ursão! Não farei mais isso — disse baixo e me deu um
beijo bem gostoso.
— Tudo bem! Agora vai, prometo não demorar.
Saí indo em direção ao escritório, eu tinha que resolver aquilo. Não
podia deixar simplesmente que Antonella ficasse por aí inventando coisas,
enchendo a cabeça das pessoas com mentiras, mesmo que essa pessoa
fosse a puta da tia de Luiz. Aquela seria outra que depois teria que bater um
papo bem longo. Mandei ela se afastar e ela não ouviu.
“Por que as pessoas têm tendências a ir de contra o que eu mando?”
Peguei meu celular e liguei para Antonella, o telefone só dava caixa
de mensagem, mas eu não iria desistir de passar o meu recado. Por isso
liguei para uma das pessoas que mais odiava.
— Mas veja se não é meu futuro genro. Como vai você, Filippo? —
falou Antony Mantovani do outro lado da linha.
— Corta logo essa porra de genro! Nunca serei nada seu, muito
menos seu genro — falei trincando os dentes.
— Você está muito agressivo, Filippo. Aconteceu algo? — perguntou
em um tom de preocupação.
“Fingindo!”
— Aconteceu! Aconteceu que eu quero que você tire sua filha de São
Paulo. Antonella está mexendo com alguém que não se deve mexer — falei
exaltado.
— Minha filha te ama, ela está tentando fazer dar certo! Quando
minha filhinha coloca uma coisa na cabeça, ela vai até o fim — disse em um
tom de riso.
— Ama? Vai se foder, Mantovani! Eu só quero que você faça sua filha
se afastar. Eu nunca encostei a mão em uma mulher e espero que sua filha
não seja a primeira. Não sou um homem para ser contrariado, Mantovani!
— falei em um tom perigoso e ouvi um riso anasalado do outro lado da
linha.
— Eu nunca te vi tão fervoroso. Você sempre foi tão controlado e
agora está aí, mostrando que realmente tem o sangue de meu saudoso
Domenico.
Bati com o punho fechado na mesa.
— Não falarei novamente! Por isso, afaste sua filha de mim.
Lembrese, Mantovani, não gosto de ser contrariado. — Encerrei a ligação.
Sabia que o maledetto do Mantovani não faria nada, Antonella sempre
foi conhecida por ser muito protegida pelos pais, mas para mim isso não
queria dizer nada. Se ela continuasse com suas loucuras, quebraria o seu
pescoço sem pensar duas vezes.
Saí do escritório e subi para meu quarto. Tinha que trocar de roupa,
como Luiz inventou de querer assistir a um filme, não podia evitar de lhe
fazer companhia. Mesmo que eu não gostasse de ver o que meu namorado
gostava, eu curtia muito ficar com ele, então, ninguém sairia perdendo.
Coloquei uma bermuda qualquer e camiseta, cheguei à sala e vi Luiz
sentado com alguns sanduíches preparados. Ao me ver, ele abriu um sorriso
e me chamou para sentar ao seu lado. Sequer lembro qual era o nome do
filme, na verdade, isso não me interessava. Só de ficar com meu bello e ver
sua expressão suave, já me fazia bem.
Terminamos a sessão de massacre e subimos para nos aprontar, eu
lhe prometi que iniciaria o seu treinamento quando voltasse. Por mais que
eu não quisesse Luiz envolvido, sabia que esse treinamento seria muito
necessário. Era sempre bom saber se proteger, ainda mais com os
problemas que eu carregava. Prontos, fomos para o salão de treinamento.
Ao ver o local, Luiz ficou observando tudo com muita curiosidade. Alguns
seguranças já estavam lá se preparando para algumas lutas corpo a corpo.
— Você vai me ensinar a lutar, Filippo? — perguntou Luiz olhando
para o ringue.
— Não, essa parte será Brian. É sempre bom o treinamento físico ser
feito pelo segurança, e tenho que reconhecer que no treinamento de
defesa, Brian é o melhor — falei sob o olhar atento de Luiz.
— Entendi! Como treino é com Brian, nós dois vamos ter mais
consciência dos nossos movimentos, já que ele passa maior parte do tempo
comigo, além de que vai me estudar e ajudar com o que eu precisar. Não é
verdade?
Assenti.
— Isso mesmo, bello! Muito inteligente, gosto disso em você. —
Deilhe um beijo.
Levei meu bello para o estande de tiros e mostrei a ele quais eram as
armas que mais usávamos. Ensinei ele a colocar os cartuchos de balas e a
travar e destravar uma pistola. Quando tinha lhe passado todo básico,
comecei a ensiná-lo a atirar. Não porque ele era meu namorado, mas o meu
bello sabia atirar muito bem. Perguntei se ele já havia feito aquilo antes e o
espertinho me disse que aprendeu tudo nos jogos de vídeo game. Depois da
noite de treinamento, voltamos para casa.
— Nossa, eu sempre gostei de armas — falou assim que entramos no
quarto.
— Não se empolga muito, bello. Usar uma arma não é uma coisa
muito gratificante — falei tirando minha roupa.
— Desculpe, amor. Isso é verdade! Não é nada para se ter orgulho.
— Isso mesmo! Se eu pudesse, nunca usaria. — Respirei fundo.
— Quando você pegou uma arma pela primeira vez? — perguntou e
eu viajei em pensamentos, voltando há uma época que adoraria esquecer.
— Amor? Amor, volta para mim! Filippo, esquece isso, tira isso da
cabeça! Filippo! — Ouvi a voz de meu bello e despertei dos meus
pensamentos.
— Bello? — perguntei desnorteado.
— Sim, amor, sou eu! Desculpe por fazer você lembrar de coisas
ruins. Vou cuidar de você, ursão! Esqueça tudo, você está aqui comigo —
disse Luiz me abraçando forte.
— Obrigado, bello! Te amo! — falei abraçando Luiz para tirar toda
lembrança ruim de Paolo de minha cabeça.
— Eu também te amo! — Beijou-me e eu aceitei de bom
grado.
Meu bello era a minha redenção, sabia que ele era. Esperava que os
nossos sentimentos pudessem fazer com que eu me desligasse daquela vida
maldita que Paolo me proporcionou. Faria de tudo para que nada
acontecesse ao meu bello, nem que eu tivesse que dar a minha vida por isso.
Aprendi a nunca subestimar Paolo e sua capacidade de me ferir.
Ver Filippo parado olhando para o nada com um olhar sem vida me
cortou o coração. Nunca imaginei vê-lo dessa maneira, era como se ele
estivesse em outra dimensão em um mundo só dele, não gostei de ver isso,
não gostei mesmo. Fiz de tudo para tirá-lo do transe, mas estava difícil, até
que gritei e consegui o trazer de onde quer que sua mente tivesse o levado.
Depois que Filippo se acalmou, fomos tomar um banho juntos. Liguei
a torneira da banheira e a deixei encher. Entramos nela e percebi que Filippo
ainda estava estranho. O que ele fez a seguir me deixou espantado.
Simplesmente começou a cantar baixinho uma música conhecida por mim,
Don't Cry - Guns N' Roses. Ver Filippo cantando aquela música, mesmo que
fosse quase sussurrado, me fez chorar. Minha mãe gostava muito dela, ela a
cantava enquanto estava limpando a casa e papai ficava olhando para ela
como um homem apaixonado, dizendo o quanto ela era linda e cantava
como um anjo. Acompanhei Filippo junto a música.
— Sai daí! Você vai acordar ele — disse uma vozinha feminina
sussurrada.
— Voxe tem que gadecer o moço! Ele não deixou o homem mau te
bater de novo. — Uma outra vozinha falou e meu coração se encheu de
ternura pelo seu modo de falar.
— Eu sei, irmãozinho, mas ele está dodói, está vendo? — perguntou
a garotinha.
— Puxa! Eu sei, mana, tô vendo que ele está dodói — falou o
garotinho fofo.
— Então sai daí! — a garotinha disse com a voz séria.
— Tudo bem, tô saindo! Veja aqui o olho do moço.
Não conseguia ficar mais de olhos fechados, estava muito curioso
para ver essas coisinhas de vozes doces. Assim que abri meus olhos, vi dois
pares de incríveis olhos azuis muito meigos e inocentes me encarando. Ao
perceber que eu acordei, os dois deram um pulo para trás assustados.
Olhando de perto, vi que estava diante de duas crianças incrivelmente
lindas. Tentei sentar no chão até que eu consegui. Sorri para passar um
pouco de conforto e não os assustar.
— Olá! Eu não vou machucar vocês. Eu me chamo Luiz Otávio, mas
todos me chamam de Luti. Como é o nome de vocês? — falei o mais calmo
que consegui e eles me olharam atentamente.
— Me chamo Petro. Aí! — resmungou o garotinho quando sua irmã o
puxou ao seu encontro.
— Não conhecemos ele, irmão! Pare de falar — sussurrou a
garotinha, mas eu consegui ouvir.
— Puxa! Voxe é chata! Ele disse o nome dele, mana — sussurrou o
garotinho de volta.
— Olhe só, eu sou uma pessoa legal, vamos nos conhecer. Tudo bem?
Os dois me olharam e depois de um tempo assentiram.
— Como é o nome de vocês?
— Meu nome é Eduarda e o dele é Pietro — disse ela tímida com
suas bochechinhas vermelhas.
— É bom conhecer vocês, crianças... — interrompi-me quando senti
dor.
— Pode chamar ela de Duda e eu de bebê, é assim que a mana me
chama — disse Pietro andando para sentar bem perto de mim.
— Você é um lindo bebê e sua irmã é a mais bela princesa que já vi
na vida.
Pietro se animou e Eduarda sorriu pela primeira vez desde que
coloquei meus olhos nela.
— Por que você está aqui? Você é sozinho como eu e meu irmão? É
por isso que eles querem te levar também? — Eduarda disparou perguntas.
— Eu não sei o que eles querem comigo, Duda. E como assim vocês
são sozinhos? — perguntei e vi ela ficar com os olhinhos caídos e o pequeno
Pietro deitou a cabeça na minha perna.
— Nossa mãe morreu e os homens maus que ela trabalhava nos
trancaram aqui. Dizem que vão levar meu irmão para longe de mim — disse
Eduarda soltando um soluço forte.
— Se voxe for sozinho também, aí voxe pode ficar com a gente —
falou Pietro com esperança. Isso me cortou o coração.
— Vem cá, Duda. Senta aqui perto de mim. — Apontei para o meu
outro lado. — Eu também perdi meus pais. Depois disso fui morar com
minha tia, éramos uma família pequena, mas nos amávamos muito.
— Nossa mamãe amava a gente também, nué, mana? — disse Pietro
olhando para irmã que assentiu.
— Agora eu faço parte de uma nova família, uma família grande e
muito linda. Todos eles são italianos, mas italianos bons, não como esses
daqui — falei lembrando dos Aandreozzi e uma vontade súbita de chorar
surgiu. Sentia falta de meu ursão.
— Por que você está chorando? Sua família nova não é legal com
você? — perguntou Duda e uma pequena mãozinha limpou meu rosto, a
mãozinha de Pietro.
— Eles são maravilhosos, alegres, amáveis e muito divertidos. Eu caí
de paraquedas na família de Filippo. — Os dois me olharam confusos. —
Filippo é o meu namorado. Seus pais se chamam Donatello e Arianna. Eles
são ótimas pessoas. Filippo tem três irmãos; Enzo, Lucca e Luna. Sua avó
Francesca, é única. E eu os amo muito, principalmente, Filippo — disse
vendo as crianças me olharem com olhos atentos.
— Você namora um menino. Isso pode? — perguntou
Duda.
Fiquei pensando no que responder.
— Quando se ama uma pessoa de verdade, não importa se é menino
ou menina. O bom é ser amado por uma pessoa especial — falei lembrando
de Filippo.
— Eu adoraria uma família grande assim. Deve ser bom — disse Duda
com tristeza.
— Vai ter sim, minha princesa. Um dia você vai ter — falei passando
a mão no seu rosto e reparei que ela estava com os olhos cansados,
naturalmente por cuidar sempre do seu irmão.
— Eu também quelia. Sua família tem espaço para nós dois? —
perguntou Pietro sonolento.
— Na família Aandreozzi sempre tem espaço para mais um. Agora
durma, pequenos, eu vou estar aqui com vocês e não deixarei ninguém lhes
fazer mal .
Mesmo com o corpo todo quebrado e sentido dores em todos os
lugares possíveis, deixei que eles se aconchegassem a mim. Fiquei pensando
nessas pobres crianças, não podia imaginar o que elas possam ter passado
nessa vida.
Olhei para baixo e vi dois anjinhos inocentes que estavam presos
para serem vendidos por bandidos filhos da puta. Se eu conseguisse sair dali,
levarei os dois comigo, mesmo que eu tivesse que morar em outro lugar se
Filippo não aceitasse minha decisão. Eu os queria bem. Pietro e Eduarda não
mereciam ser tratados como moeda de troca ou mercadoria
contrabandeada. Deixei eles dormirem e tentei tirar um cochilo. Faria de
tudo para que nenhum mal nos acontecesse.
Não sabia quanto tempo se passou, mas tinha consciência que havia
sido mais de um dia. Esse tempo que estava ali, fiquei muito mais próximo
as crianças. Descobri que Duda tinha oito anos e Pietro tinha três. Eles eram
as criaturinhas mais inteligentes que eu conheci, e apesar de Pietro falar
algumas palavras do seu modo, eu achava aquilo a coisa mais fofa do
mundo. Seu jeitinho esperto era demais.
Olhei para ele e vi um mini homem. Já Duda, depois de uma presença
adulta amiga, deixou seu lado superprotetor de irmã mais velha e relaxou
um pouco mais.
Sabia muito bem o que era não ter família. Não tinha conhecimento
do que ao certo aconteceu na vida deles, mas ninguém merecia não ter
alguém que cuidasse de você. Quando eu perdi meus pais, por mais que eu
tivesse minha tia Amélia, sempre me senti sozinho. Ao olhar para essas
pequenas crianças, me fez pensar que elas poderiam ficar no sistema por
muito tempo ou que poderiam ser separados por diferentes famílias e isso
me deixa louco. O sistema de adoção é tão sacana, que só de pensar me
dava calafrios. Tirei tais pensamentos de minha cabeça e voltei minha
atenção para Pietro e Eduarda.
Contei a eles um pouco mais sobre Filippo, de como ele era um
grande urso mal para as pessoas ruins, mas um urso amável para as pessoas
que ama. Pietro achou interessante, disse que queria ver o Filippo urso. Já
Duda, se encantou em saber que tinha uma cadelinha chamada Amora.
Não sei se conseguiria mais ficar longe deles, me sentia na obrigação
de protegê-los. Eles precisavam de uma família e achava que eu poderia dar
isso a eles. Éramos os três órfãos à procura de um alguém para compartilhar
uma vida. Apaixonei-me por eles assim que os vi, os dois tinha o mesmo tom
de pele branca, cabelos castanhos claros e olhos azuis muito lindos, tão
lindos quanto os de Filippo.
Passamos o tempo inteiro na companhia um do outro. As únicas
vezes que os capangas vinham ao nosso encontro, era para nos dar comida e
levar para tomar um banho. Depois de meus pedidos incansáveis, eles, pois
no banheiro dali só tinha uma torneira e um vaso sanitário.
Mesmo ferido e todo quebrado, fiz o possível para deixar as crianças
com um odor agradável, pois esses bandidos miseráveis deixaram elas lá
largadas sem nenhuma higiene.
Meus pensamentos foram cortados quando vi Duda chorar. Puxei-a
para que se aproximasse de mim.
— O que foi que aconteceu, minha querida? — perguntei fazendo ela
me olhar.
— Depois que você ficou com a gente, meu irmãozinho nunca mais
teve febre. Eu não quero que os homens maus me levem, ou façam mal a
você ou a ele — disse Duda chorando alto.
— Tenho certeza que vamos sair daqui e quando isso acontecer, você
vai ficar comigo — falei firme, tentando fazer com que eu mesmo
acreditasse nas minhas palavras.
— Viu só, mana? Luti vai ficar com a gente, voxe não pecisa mais
cholar — disse Pietro abraçando a irmã.
— Tenho certeza que Filippo está me procurando e quando ele
achar, vamos sair todos juntos. Ninguém vai separar vocês de mim.
Duda se jogou nos meus braços e uma dor excruciante tomou conta
do meu corpo, mas não iria rejeitar um abraço daquela garotinha linda.
— Tenho ceteza que o urso bavo vai tirar a gente daqui, mana —
disse Pietro com sua vozinha doce, já achando que Filippo era um
superherói.
— Vai sim! Não é mesmo meu campeão? — perguntei bagunçando
os cabelos cheio de cachinhos como de um pequeno anjo.
Depois que Duda parou de chorar, distrai eles contando sobre meus
amigos Beto, Angel, Rita e Brian. Falei o quanto Beto era engraçado e
adorava tirar Filippo do sério. Contei como Ângela era amiga e carinhosa.
Como as comidas de Rita eram fenomenais e que ela era tão mandona
quanto Filippo, e que Brian era um grande amigo.
Lembrar de Brian me fez ficar triste, ele se feriu por minha culpa.
Esperava que alguém tivesse o socorrido e que nada de muito grave o tenha
acontecido, pois se aconteceu, eu jamais me perdoaria. A porta foi aberta e
Nicco, Rogério e mais dois homens entrarem no local.
— Vamos! É hora de ir. Vamos logo, levantem, maledettos! — gritou
Nicco apressado.
— Vai nos levar para onde? — perguntei confuso.
— Calado, porra! Vamos logo. Vocês, idiotas, peguem logo esses
bastardinhos — mandou Nicco apontando para as crianças.
— Não! Vocês não vão levá-los! Teriam que passar por mim primeiro
— gritei parando na frente das crianças.
— Sai da frente! Eu te suportei esse tempo todo sem te matar,
porque o querem vivo, mas ninguém falou para não quebrar suas pernas —
disse Nicco apontando o dedo em meu rosto.
— Não! Voxe não pode fazer isso! — falou Pietro abraçando minhas
pernas e Duda agarrou minha camisa forte.
— Sai daí! Peguem-nos logo, temos que sair daqui rápido, porra!
Os dois homens que vieram junto com Nicco e Rogério pegaram as
crianças a força de mim. Elas gritaram e esticaram os braços para que eu as
alcançasse e impedisse de serem levadas.
“Isso não pode estar acontecendo!”
Não era para ser daquele jeito, se saíssemos dali Filippo nunca iria
nos encontrar. Eu estaria morto pela pessoa que queria me fazer mal,
Eduarda e Pietro seriam separados e vendidos para alguns escrotos de
merda.
— Me solte, seu filho da puta! Me solte! Filippo vai te encontrar, ele
vai te torturar, vai matar você bem lentamente, seu merda! — Lutei para me
soltar das garras de Rogério.
— Serio mesmo? Cadê ele? Onde está o poderoso Filippo Aandreozzi
que acha que pode ser o nosso Capo? — perguntou Nicco com deboche.
— Ele não quer ser porra nenhuma, seu fodido de merda! Ele só quer
ter um pouco de paz e vocês dessa máfia estúpida não deixam — gritei e
levei um soco no rosto.
— Não fale da nossa máfia, seu pecador! Não ouse falar nada! —
disse Nicco entredentes.
— Vai se foder! Eu ainda vou ver vocês caírem! Seus putos! Larguem
as crianças! — gritei ao ver meus meninos chorando. Sim! Eles eram meus,
pelo menos no meu coração eles já eram.
— Você não vai ver nada, pois isso nunca irá acontecer! Antes de
qualquer coisa você estará morto — disse Nicco gargalhando e levando os
seus capangas com ele.
— Vamos ver, seu inútil! Eu tenho fé no Filippo, sei que ele vai me
encontrar — falei querendo chorar, mas não os daria essa ousadia.
— Já acabamos por aqui! Agora é hora de ir. Levem-nos. Agora! —
mandou Nicco apontando para saída.
Se eu saísse do país, sabia que seria minha morte, isso não poderia
acontecer. Eu prometi que ficaria com as crianças, que as protegeriam.
“Por favor, amor. Nos encontre antes que seja tarde, eu sinto sua
falta. Por favor, Filippo, me encontre!” Fiz uma oração silenciosa na
esperança de que meu amor pelo meu urso não acabasse com minha morte
prematura, ainda tínhamos tanta coisa para viver.
“Eu o amo! Não quero morrer, tenho que dizer isso a ele novamente.”
O meu dia estava muito corrido, era tão complicado lidar com tantos
problemas de merda. Nem um almoço decente com meu bello eu pude ter,
logo naquele manhã que ele decidiu seguir o dia na preguiça. O safado não
quis nem fazer seus exercícios.
A primeira reunião, no início da manhã, foi feita em uma empresa de
um cliente em potencial. Odiava ter que sair do meu escritório para fazer
reuniões em outros lugares, mas eu não podia fazer nada a não ser aceitar.
Tinha um nome e uma imagem a zelar.
Depois do almoço com Luiz, voltei para empresa e logo dei de cara
com Beto de novo. Eu não ia muito com a cara dele, mas sabia por Germano
que ele era um funcionário atencioso e, por mais que não tivesse um ensino
superior, ele era bom com os números. Mandei Germano procurar uma boa
faculdade para que ele fizesse o curso que desejasse, mas já sabia qual devia
ser sua escolha. Com toda minha implicância, eu sabia que Roberto Cabral
era um bom sujeito. E por meu bello, faria o possível para me dar bem com
ele.
Tive que parar no meu escritório antes de ir à reunião, para pegar
alguns documentos que necessitava. Peguei tudo que iria usar e saí. Estava
quase entrando na sala quando percebi meu celular tocar, ao ver que era
Lucca estranhei, mas não atendi. Desliguei a ligação e entrei na sala de
reunião.
— Boa tarde, senhores! — falei ao entrando.
Comecei a reunião e estava tudo andando nos conformes e a porra
do meu celular não parava de tocar, já estava impaciente. Pedi licença e saí
para atender a ligação.
— Espero que seja urgente para me fazer sair de uma reunião
importante — disse sério, não querendo brincadeira alguma.
— Cale a boca, Filippo! A porra do assunto é sério — disse Lucca
nervoso e eu entrei logo em alerta.
— O que foi que aconteceu? Nossos pais estão bem?
— Sim! Está tudo bem aqui ou em Milão, mas escute irmão. — Ouvi
Lucca suspirar do outro lado da linha. — Acho que aconteceu alguma coisa
com Luiz Otávio.
— O quê? Você está maluco! Luiz está bem, nós estávamos juntos há
pouco tempo — falei praticamente gritando e chamando atenção dos outros
homens na sala de reunião.
— Eu estava no celular com ele agora a pouco, irmão. E eu posso te
dizer com toda certeza que é um código vermelho.
Senti o ar faltar nos meus pulmões.
— Como… como isso é possível? — perguntei desnorteado.
— Estávamos conversando quando ouvi um baque no carro. E logo a
ligação caiu, tenho certeza que usaram um inibidor de sinal — disse Lucca
firme.
— Che cazzo! ciò che questi bastardi vogliono? Non l'ha fatto!
L'inferno! (Que porra! O que esses filhos da puta querem? Ele não! Inferno!)
— Minha raiva estava muito grande, grande demais.
— Acalme-se, Filippo. Tudo vai se resolver, irmão — falou Lucca
tentando me acalmar, mas lamentava que isso não aconteceria.
— Não me peça isso, irmão. É impossível! — falei entredentes. —
Não posso perder tempo aqui conversando com você, tenho que saber o
que está acontecendo.
— Daqui a pouco estamos todos aí, irmão. Já estou no jatinho —
disse e meu coração encheu-se no peito de pura gratidão.
— Obrigado por isso!
— Família acima de tudo, sempre! — disse e eu desliguei a ligação.
Peguei minhas coisas da sala de reunião para sair correndo. Não
queria criar coisas na minha cabeça, gostava de lidar com fatos e iria
averiguar a história. E seja quem fosse o bastardo fazendo aquilo, iria pagar.
No meu bello ninguém podia encostar, nem sequer mesmo gostava que
olhassem torto para ele. Esperava que tudo isso não passasse de um engano
infeliz. Enquanto arrumava minhas coisas, tentei ligar para Luiz e nada dele
atender as minhas ligações.
— Senhores, terei que sair, marcaremos a reunião para outro dia —
disse saindo, mas antes que passasse pela porta, ouvi algo que não gostei.
— Ele se acha muito importante, chega tarde e nem concluiu a
reunião — falou um homem que eu concluí ser o Camargo.
— Não use tais palavras para se referir a mim. Perto do meu
potencial você é um nada! Deixe-me sair agora e não fale nada Sr. Camargo,
pois para eu matar um neste momento não me custará nada. Nada mesmo!
Foda-se, bastardo! Não farei mais negócios com você! — falei me
controlando para não descontar minha raiva súbita naquele sujeito.
Saí da sala o mais rápido que consegui e encontrei com Elijah. Passei
para ele as informações que Lucca me contou e fomos direto para o carro.
Elijah começou a procurar o sinal do rastreador do veículo usado por Brian.
Pouco tempo depois já tínhamos a localização, estava em tempos de
arrancar meus cabelos pela demora de chegar. Quando entramos na rua
indicada, vimos uma pequena comoção logo adiante. Saí do carro correndo
para ver se encontrava com o meu bello.
Ao afastar os curiosos filhos da puta, vi Brian caído no chão envolto
por uma poça grande de sangue. Elijah foi correndo na sua direção e
verificou seus batimentos cardíacos. Na confirmação de que ele estava vivo,
olhei para dentro do carro na tentativa falha de achar Luiz. Dei muitos socos
na lataria que chegou a sangrar os nós de meus dedos.
— Senhor! Temos que levar Brian para o hospital, não tem como
esperar pela ambulância — Ouvi a voz de Elijah e voltei a mim.
— Não podemos levá-lo para um hospital da cidade, farão perguntas,
perguntas essas que não estou a fim de responder ou me importar no
momento! — falei me afastando do carro.
— Já liguei para o pessoal da limpeza, já podemos levar o Brian —
disse Elijah com o celular em mãos.
— Ótimo! Vamos levá-lo na clínica de Ygor Pacov, lá ele deverá saber
o que fazer. Quero Brian acordado o quanto antes — falei indo em direção à
Brian ferido.
— Será feito, senhor! — disse Elijah
Pegamos Brian e o deitamos no banco de trás sujando o meu carro
de sangue, mas nada disso me importava. A única coisa que me interessava
era encontrar Luiz Otávio e fazer com que aqueles bastardos desgraçados
pagassem por tirá-lo de mim. Eu iria caçá-los e torturá-los, e enquanto eu
não me sentisse satisfeito, trabalharia no seu sofrimento por um longo
tempo. Quem quer que estivesse por trás disso, seria um homem ou mulher
morto!
Chegamos na clínica de Ygor e ao nos ver entrar com Brian no colo,
as enfermeiras correram com a maca em nossa direção e depois o levaram
para dentro.
— O que aconteceu, Filippo? — perguntou Ygor assim que me viu,
vindo em nossa direção.
— Faça seu trabalho, Ygor, depois quando você conseguir deixar o
segurança do meu namorado acordado, nós conversamos. Ou não! — falei
sério sem dar motivos para perguntas.
— Sempre agradável, Aandreozzi, mas farei o possível para salvá-lo
— disse Ygor em um tom profissional.
Conheci Ygor em um jantar beneficente. Ele era um grande médico
vindo da Rússia e o usava ao meu benefício. Pagava uma fortuna a ele para
que, quando esses casos acontecessem, a clínica sempre estivesse à
disposição da minha família e meus funcionários.
Brian estava passando por uma cirurgia, esperava que não fosse nada
grave, pois mesmo ele ferido, necessitava vê-lo acordado. Isso poderia soar
sem coração e eu não ligava de ser classificado assim no momento, tudo o
que me interessava era encontrar meu bello.
Pouco tempo depois vi Rita passar pelas portas da clínica.
— Senhor, o que aconteceu? — perguntou Rita visivelmente nervosa.
— Uma emboscada, Rita. Não sei lhe dizer ao certo, só Brian para
contar os fatos — respondi a ela.
— Brian teve alguma coisa muito grave? E cadê Luti, está aqui? —
perguntou Rita olhando para todos os lados.
— Ele foi levado, não me pergunte por quem, pois se eu soubesse
não estaria aqui — falei desgostoso e vi Rita arregalando os olhos.
— Oh, meu Deus! Sei que o senhor irá o encontrar — disse Rita me
passando confiança e eu assenti.
Claro que iria encontrá-lo, nem que isso fosse a última coisa que eu
fizesse na minha vida maldita. Iria achá-lo e dar uma lição em quem fez meu
bello passar por aquilo. Não deveriam ter feito isso, sei que foi somente para
me atingir e se sendo assim, eles conseguiram.
Após um longo tempo Ygor veio ao meu encontro.
— A cirurgia foi um sucesso! Nenhuma das duas balas atingiu sequer
um órgão ou a coluna. Ele estava fraco pela perda de sangue, mas isso já foi
resolvido — disse Ygor sorrindo.
Não sei o porquê da felicidade, pois eu não estava feliz!
— Obrigada, doutor! Eu já posso vê-lo? — perguntou Rita.
— A senhora é a esposa? Se for, pode ir. Uma das enfermeiras a
levará até o quarto dele — disse Ygor e uma enfermeira apareceu levando
Rita.
Ela foi ver o marido e eu continuei ali na sala de espera, não podia
sair dali até eu ter alguma resposta. Ygor tentou puxar assunto comigo, mas
lhe dei o meu silêncio, não estava a fim de conversa sem sentido, um sorriso
amigável ou um olhar com pesar. Somente queria saber de alguma coisa que
me ajudasse a encontrar o homem que eu amava. E que se foda quem me
achasse grosso, estava pouco me fodendo para opiniões e sentimentos
fúteis de pessoas que não eram importantes para mim.
Depois de um tempo, Rita apareceu me informando que Brian tinha
acordado e que desejava falar comigo. Ao entrar no quarto, reparei que ele
estava com uma cara péssima, mas não era isso que eu havia ido fazer ali.
— Desculpe, Sr. Aandreozzi. Eu juro que eu tentei não deixá-lo sair
do carro, mas Luiz saiu não querendo que eu morresse — disse Brian
entristecido e eu não entendi o porquê.
— Conte o que aconteceu desde o início — pedi o mais calmo que
consegui.
— Estávamos indo em direção à universidade e o nosso carro foi
abordado. Eram quatro veículos, dois vieram pela frente e dois por trás.
Imediatamente saíram de cada carro quatro pessoas, todos estavam
armados. Tentei usar o comunicador e Luiz o celular para ligar para o
senhor, mas todos os aparelhos de comunicação estavam sem sinal —
contou tentando se lembrar de tudo.
— Esses infelizes usaram inibidor de sinais. Bastardos desgraçados!
— falei grunhido de ódio.
— Quando estávamos sendo ameaçados para sair do carro, Luiz disse
que era ele que eles queriam e que não iria me deixar ser morto. Então, saiu
do carro se rendendo aos energúmenos e quando eu tentei ir até ele, fui
baleado.
Soquei a parede com muita força.
— Porra! Porra! Filhos da puta, desgraçados! Eles encostaram a mão
nele, Brian? — perguntei e ele abaixou a cabeça. Mesmo imaginando a
resposta, gostaria muito de ouvir ele falar em voz alta. – Fala, Brian!
— Antes de perder a consciência vi que ele estava sendo agredido.
Desculpe, senhor, eu tentei chegar a ele só que foi impossível — disse com
pesar.
— Obrigado pelas informações. Espero que fique bom logo. — Abri a
porta para sair.
— Senhor! — Brian chamou e eu voltei. — Sei que vai encontrá-lo,
ele tem muito amor pelo senhor.
Eu assenti e saí.
Deixei a clínica ouvindo os chamados de Ygor ao ver que minha mão
sangrava, mas o mandei para puta que pariu e saí mesmo assim. Estava com
muita, mas muita raiva de tudo. Raiva de Brian por falhar na segurança, raiva
de Luiz por ser uma pessoa boa em querer proteger os outros, raiva dos
bastardos que o levaram e, principalmente, com raiva mais profunda de
anos de Paolo Aandreozzi. Sabia que havia sido ele quem mandou levar Luiz.
E isso não ficaria daquele jeito, mas para chegar até Paolo eu não podia
estar com as emoções abaladas.
Nunca, em todos os meus trinta anos de vida, pensei que odiaria
chegar em casa. Todos os lugares na cobertura me lembravam Luiz. Oh,
inferno! Isso era muito ruim. Passei direto por todos os cômodos e fui para o
escritório. Não sei quanto tempo fiquei ali fazendo ligações, procurando de
todas as maneiras encontrar os bastardos que capturaram o meu bello.
Senti uma mão acariciar meus cabelos, poderia pensar ser meu Luiz,
mas o cheiro inconfundível do perfume de mamma chegou nas minhas
narinas. Levantei minha cabeça fazendo meus olhos se acostumarem com a
claridade do ambiente. Olhei para frente e lá estava meu babo, os meus três
irmãos bagunceiros e minha adorável nonna, todos olhando para mim.
— Eu disse que não iriamos demorar e todos nós estamos aqui para
te ajudar — falou Lucca sério e eu assenti.
— Ninguém mexe com a nossa família e sai impune — disse Enzo
com fervor.
— Não podemos perder tempo, temos que sair logo daqui. Estou
louca para chutar algumas bundas bastardas — disse nonna.
— Mio bambino, o que aconteceu com sua mão? — perguntou
mamma e eu não consegui responder.
Levantei e olhei para cada pessoa importante na minha vida, diante
de mim.
— Eu amo cada um de vocês. Não tenho palavras para dizer o quão
feliz estou por estarem aqui.
Todos vieram me dar um abraço coletivo.
— Depois dessa demonstração de afeto, peço que vá tomar um
banho. Você está todo sujo de sangue, filho — disse meu pai pegando meu
ombro.
— Pode deixar que vamos ficar à frente das buscas de Luiz — falou
Enzo.
— Não vamos descansar até encontrá-lo, irmão. Vá tomar um banho
e descansar — falou Luna com um sorriso pequeno.
— Vamos lá, meu gostoso, sua nonna vai fazer uma comida para você
e sua mãe fará um curativo nessa sua mão. Tenho certeza que ficou
esmagando paredes por aí — disse nonna amenizando meu humor.
— Obrigado! — disse sendo guiado por minha mãe para sair do
escritório.
Subimos para o meu quarto e ao perceber que Luiz não estava ali,
meu coração pesou no peito. Fui para o banheiro, tomei meu banho e ao
sair procurei não ficar olhando demais para o lugar. Bello estava em tudo,
sua roupa no meu closet, seus materiais de higiene pessoal se encontravam
no meu banheiro, ou seja, tudo me lembra ele.
“Filho da mãe!”
Saí do closet já vestido. Ao chegar no quarto, minha mãe estava com
o kit de primeiros socorros na mão. Mamma fez todo o curativo sem me
falar uma palavra e eu agradeci muito por isso. Logo após, nonna entrou no
quarto com uma bandeja de comida. Comi o que consegui e deitei na cama.
— Vamos encontrá-lo, meu filho. Eu sei que vamos. Te amo para
todo sempre! — disse minha mãe me dando um beijo na testa.
— Você sabe que eu não suporto formalidades e que estou sempre à
frente de mentes pequenas, mas eu te amo muito il mio piccolo limone (meu
pequeno limãozinho) — disse nonna e eu balancei a cabeça negativamente.
— Nonna, eu não sou mais um garoto.
Levei um tapa na perna.
— Calado, homem! Estou tentando aqui ser carinhosa — disse ela
enfezada.
Depois que mamma e nonna saíram, eu tentei dormi, mas não estava
conseguindo. Só de pensar nas coisas que meu bello poderia estar passando,
me sentia angustiado.
Levantei da cama e desci a escada. Ao chegar na sala, todos pararam
de falar para me olhar. Passei o olho por todo local e vi o que eu estava
procurando no colo de Lucca. Sem falar nada, tirei minha Amora do colo de
meu irmão e virei para voltar ao meu quarto. Deitei com meu filhote na
cama e senti ainda mais falta de meu Luiz.
— Vamos dormir, Amora, pois amanhã é um novo dia e eu trarei seu
outro dono para casa — falei fechando os olhos e caindo no sono em
seguida.
Dois dias se passaram e minha aflição só aumentava. Fizemos de
tudo para conseguirmos encontrar Luiz, mas nada deu resultado. Beto e
Ângela estavam sabendo do desaparecimento do amigo e estavam bastante
apreensivos também.
Aconteceu duas coisas que me surpreendeu. A primeira; foi Ângela
ter me contado que Luiz estava com a sensação de estar sendo vigiado,
saber disso por outra pessoa me deixou muito irritado com meu namorado.
Ele poderia ter certeza que não escaparia das minhas reclamações. A
segunda; foi Beto dizer que confiava totalmente em mim para encontrar o
amigo dele. A sua confiança me ajudou a não desistir, mesmo que isso não
fosse acontecer.
Levando em conta o que Ângela contou, meu pai me lembrou que Antonella
esteve vigiando a vida e as pessoas que rodeavam meu bello. Para ela ter
encontrado com a tia de Luiz, isso queria dizer que ela sabia muitas coisas
sobre ele. Então todos os nossos esforços foram para encontrar a
vagabunda e finalmente a encontramos. Estava de olho na sujeita que um
dia tive o desprazer de enterrar meu pau em sua boceta. Lembrar desse fato
me embrulhava o estômago. Já tínhamos um tempo tentando tirar alguma
coisa dela e nada até o momento.
— Me diga, Antonella. Fale logo de uma vez. Onde está Luiz Otávio?
— perguntei com meu rosto próximo ao da vadia.
— Eu não sei, meu amor. Eu não sei! — disse a vadia fingida
chorando.
— Sabe sim, sua puta! Fale logo, porra! — gritei a
assustando.
— Eu não sei! Já disse que não sei onde ele está! — berrou com sua
voz nojenta e afinada.
— Você pode até não saber onde ele está, mas sabe muito bem
quem o pegou. Me fale, Antonella! Me fale e eu não farei nada com você.
Prometo — falei passando o máximo de segurança para ela.
— Tudo bem. Eu fiquei mesmo vigiando aquele pobretão que roubou
você de mim. E não poderia deixar ele sair impune, falei com Paolo o que
estava acontecendo e imediatamente ele mandou um dos seus homens de
confiança averiguar o que eu lhe disse — falou a maldita, desgraçada,
vagabunda, com um choro remelento sem noção.
— Quem foi o homem que Paolo mandou? — perguntei me
controlando por dentro — FALE, PORRA!
— Nicco Zanetti — falou a vadia baixo, mas eu consegui ouvir.
Peguei meu telefone e ligue para Elijah encontrar o bastardo.
— Meu irmão prometeu não lhe bater, mas eu não lembro de ter
prometido nada, sua vagabunda enviada das profundezas do inferno. Cada
porrada que eu irei te dar, será para você lembrar que não se deve mexer
com a minha família — disse Luna com muita raiva.
Minha irmã foi com tudo para cima de Antonella, lhe dando muitos
tapas na cara, gritando a frase: “Puta merece tomar na cara.” Ela lhe deu
alguns socos na barriga e no rosto, minha sorellina acabou com a vadia. Luna
bateu muito em Antonella até tirar sangue de seus lábios. Eu fiquei muito
contente em ver aquela cena.
— Pronto, agora estou de alma lavada — disse minha irmã deixando
Antonella desacordada no chão.
— Sempre quis fazer isso, ela sempre me irritou — disse Enzo
sorrindo.
— Ah, todos nós, meu irmão. Todos nós — disse Lucca olhando para
Antonella, enraivecido.
— Sr. Aandreozzi? — Olhei para trás e vi Elijah na porta.
— Sim, Elijah? — perguntei.
— Encontramos ele, senhor. O meu pessoal já está localizado o lugar
onde ele está, só esperando suas ordens para atacar.
Fiquei parado sem saber o que falar ou pensar.
— Está esperando o que, irmão? Vamos buscar seu bello! — disse
Enzo me fazendo acordar.
— Isso ai, vamos recuperar meu bello e matar alguns bandidos filhos
da puta — falei com um sorriso de lado.
Olhei para meus irmãos e cada um estava com uma expressão
diferente: Enzo com expressão de raiva. Lucca com o mesmo sorriso sádico
de sempre e Luna estava esperançosa. Minha família era louca, mas era a
melhor!
“Você vai voltar para casa, bello. Espere que estou chegando.”
Conhecia Nicco Zanetti desde sempre. O pai dele era amigo do meu
pai, eles faziam trabalhos juntos na sua época da máfia e já os vi algumas
vezes na minha casa. Nós nunca nós gostamos e não escondemos isso um do
outro. Quando eu colocasse minhas mãos naquele desgraçado, tinha certeza
que ele se arrependeria por colocar suas mãos sujas naquilo que era meu.
Com pensamento de vingança, fui trocar de roupa. Vesti uma
camiseta preta, uma calça cargo de mesma cor e minhas botas. Peguei
minhas duas Glock e coloquei no coldre. Estava pronto para pegar meu bello
e leválo para casa.
Dentro do carro o silêncio era estranhamente necessário, ninguém
falava nada. Todos estavam concentrados em trazer Luiz de volta para casa.
Chegamos no local indicado por Elijah e paramos diante de uma casa
isolada. Assim era bom, não teríamos testemunhas e muito menos a polícia
metida onde não foi chamada. Sei que eu deveria acionar os homens da
justiça, mas fazer isso envolvia falar sobre o passado obscuro de minha
família e exposição não era uma coisa boa para os negócios.
Parei de perder tempo e saí do carro vendo alguns dos meus homens
espalhados. Quando eu ia avançar alguém me puxou pelo ombro.
— Você não é feito de aço, não tente achar que é invencível. Por isso
trate de ser cauteloso. Sei que está ansioso, mas quando tudo sai no seu
tempo as coisas ocorrem com perfeição. Caspice? — falou meu pai e eu
assenti.
— Vamos dar cobertura a você e ao pai. Podem ir! — disse Enzo!
— Tire nosso cunhado de lá, irmão! — falou Lucca.
Seguimos adiante e antes que nós avançássemos mais um passo,
balas começaram a vir na nossa direção. Usamos o carro como escudo e
depois de um tempo conseguimos acabar com quem quer que fosse
tentando nos deter. Os desgraçados não iriam me impedir de entrar e tirar
meu bello de lá.
Avancei meus passos com cautela. Ao chegar em frente à porta da
casa, um homem avançou para me acertar um soco. Desviei com bastante
agilidade acertando dois socos em suas costelas. O vadio tentou me acertar
novamente, mas fui por trás e consegui quebrar o seu pescoço. A ação foi
tão rápida que sequer deu tempo de respirar. Não estava com paciência.
Ouvi tiros atrás de mim e sabia que era meu pai e meus irmãos. Abrir
todas as portas da casa e ainda nenhum sinal de Luiz Otávio. Mais um veio
na minha direção e, antes de matá-lo, dei uma rasteira fazendo ele cair em
um baque forte. Sentei em suas pernas e fui desferindo socos no seu rosto.
— Dove si trova Nicco? (Onde está o Nicco?) — perguntei e o
bastardo começou a rir.
— Ora so perché Nicco non ti piace. Sinner! (Agora eu sei por que
Nicco não gosta de você. Pecador!) — disse com ódio e eu lhe dei mais dois
socos.
— Dove si trova? (Onde ele está?) — gritei em plenos pulmões.
Antes que eu fizesse alguma coisa, ouvi uma porta fechar nos fundos
da casa.
— Ouviu isso, filho? — perguntou meu pai e eu assenti.
— Grazie per niente, disgraziato (Obrigado por nada, desgraçado.) —
falei levantando e pegando minha arma. Dei-lhe um único tiro na cabeça.
Corri para os fundos da casa e pude ouvir os gritos de meu bello e em
seguida, ouvi também a voz de Nicco falando coisas para o meu namorado.
Não perdi a porra do meu tempo e arrombei a porta com toda a minha
força. O que eu vi me fez enxergar tudo em tom vermelho. Luiz estava todo
machucado, carregando uma expressão cansada no rosto e um olho muito
roxo. Um dos capangas de Nicco o segurava forte. Olhei para o lado e vi mais
dois homens, cada um com uma criança nos braços que chorava alto. Olhei
para frente e encarei o bastardo com a passagem garantida para o inferno.
Ele me olhava com um sorriso ridículo no rosto
— Filippo! Você está aqui! — disse meu bello chorando.
Eu queria tê-lo nos meus braços, mas sabia que não era o momento.
— Vim te levar de volta para casa — falei sem tirar os olhos de Nicco.
— Acho que isso não vai acontecer, Aandreozzi. Tenho um trabalho
para fazer e não será você a me impedir — falou Nicco e um quarto homem
ali presente apontou a arma para cabeça de Luiz.
— Por favor, não! As crianças estão aqui — disse Luiz apontando para
as crianças.
— Eles não são nada para mim, a não ser meras mercadorias — disse
Nicco com desdém.
— Você não vai sair daqui, Nicco. Pelo menos não vivo — falei
respirando fundo.
— Não sei de onde vem essa sua confiança, já que está aqui sozinho
— disse enraivecido.
— Ele nunca vai estar sozinho. Ao contrário de você, ele tem família
— disse Enzo.
Olhei para trás e vi meus irmãos e meu pai.
— Viu só! Agora vamos voltar aos nossos assuntos. Solte o meu
namorado, Nicco — falei calmo. — Você não vai querer perder mais homens
do que já perdeu, certo? — perguntei e meus irmãos apontaram suas armas
para cada um dos outros homens.
— Não me faça rir! Eu vou mostrar ao meu Capo que eu sou muito
mais capaz de ser seu sucessor do que você! — disse perigoso.
— Estou pouco me fodendo para isso, eu só quero que você tenha a
inteligência de soltar o que é meu — falei respirando fundo já impaciente.
— Podemos quando você quiser, irmão — disse Lucca.
Olhei para as crianças e depois para Luiz, e acho que ele entendeu o
meu recado.
— Crianças, olhem para mim — chamou bello e elas tiraram os olhos
das armas e viraram o rosto para ele. — Eu quero que vocês fechem os
olhos, tudo bem? Vocês podem fazer isso por mim? — perguntou Luiz
calmamente e vi que assentiram temerosas.
Assim que as crianças colocaram as mãos nos olhos, três disparos
foram feitos ao mesmo tempo e três corpos sem vida dos capangas de Nicco
caíram no chão. As crianças também foram ao chão ainda de olhos fechados.
Bello correu para alcançá-los e eu fiquei olhando aquela cena e um
sentimento estranho surgiu de repente. Balancei a cabeça e apontei minha
arma para Nicco que estava chocado e desarmado pelos meus irmãos.
“Foi esse idiota que Paolo mandou vir? Muito burro, muito burro
mesmo!”
— Luna, leve Luiz e as crianças para fora e os coloque em segurança
no carro — falei sem tirar minha atenção de Nicco.
— Não, amor! Eu preciso de você, por favor, Filippo — pediu bello
choroso, ainda abraçando as crianças.
— Por favor, bello. Eu não demorarei aqui. Vá com a Luna — falei
voltando meus olhos aos seus.
— Jura que não demora? Por favor, Filippo! — suplicou bello
novamente.
— Luiz Otávio! Você se importa com esses bambinos? — perguntei e
ele assentiu. — Então saia desse ambiente ruim e vá para o carro me
esperar.
— Desculpe, você está certo!
Luna e Lucca tomaram frente e cada um pegou uma criança. Assim
que saíram, voltei minha atenção ao maledetto.
— Bem, já que meu bello não está mais aqui, vamos ter uma
pequena conversa — falei me aproximando de Nicco.
— Eu sempre quis lhe matar, Filippo, mas nunca pude. Não entendo
a fixação dele por você — disse Nicco enraivecido.
— Não me interessa o que você quer, eu vou simplesmente lhe
ensinar a não mexer com o homem que eu amo — falei entregando minha
arma a Enzo. — Terei o prazer de te matar com minhas próprias mãos.
Nicco avançou com tudo para cima de mim, acertando-me um soco
no queixo. Não deixei ele se afastar muito e revidei com três socos seguidos
em sua face. Ele caiu no chão com a mão no rosto. Nicco aproveitou que
estava no chão e tentou me dar uma rasteira, mas percebi sua intenção
antes e pulei pisando com todo o meu peso em cima de sua perna esquerda.
Foi tão gratificante vê-lo gritar e se contorcer de dor, que nem liguei ao
chutar seu rosto. Ele continuou no chão, enquanto eu descarregava todo
meu ódio nos meus chutes certeiros no seu corpo.
— Por favor! Chega, não dá mais, você venceu! — gritou Nicco me
fazendo parar de bater.
— Não! Não acabou, Nicco! Eu fui ao inferno quando soube que o
homem que eu amava foi levado de mim. Você tem noção do que é isso?
Claro que não, seu puto dos infernos! — Chutei sua perna quebrada. — Eu
vou matar você! Pode até ser loucura da minha parte, mas eu necessito ver
você morto!
— Eu vou embora e você nunca mais vai me ver — disse ele
gemendo de dor.
— Claro que não vou mais te ver, você vai morrer! — disse me
virando para pegar minha arma da mão de meu irmão.
— Irmão, cuidado! — gritou Enzo.
Virei-me rapidamente e vi Nicco tentando pegar a arma caída no
chão de um dos seus capangas mortos.
— Não vai ser assim, maledetto! — Chutei seu ombro o fazendo
deitar no chão de peito para cima. — Sua cabeça será enviada para meu
adorado tio. Adeus, filho da puta! — Dei um tiro bem no meio de sua testa,
vendo a vida sair de seus olhos instantaneamente.
Parei olhando para o corpo de Nicco sem vida. Odiava fazer essas
coisas, odiava de verdade. Fazia de tudo para não me envolver nesse tipo de
situação. Mas a Finastella, Finastella não, o desgraçado do Paolo não
conseguia me deixar viver em paz. Até no Brasil ele queria infernizar minha
vida, mas uma coisa que ele não sabia era que jamais, em hipótese alguma,
ele deveria envolver o meu bello nos seus joguinhos sujos.
“Sinto muito, Nicco, por você ser um grande filho da puta que
aceitava ordens de um bastardo sem noção, mas você machucou o meu
amor. E isso eu jamais deixarei passar!”
— Vamos sair daqui, irmão. Você tem Luiz te esperando. — Ouvi a
voz de Enzo e assenti.
— Obrigado por tudo, irmão! — falei virando para encará-
lo.
Saí da casa sem ver mais nada, minha intenção maior agora era
abraçar e beijar meu bello. Ao chegar na porta da casa, olhei para todos os
lados procurando por ele. Ouvi a porta do carro ser aberta e de lá saiu o
meu ragazzo. Ele ficou parado me encarando com um sinal de alívio
presente no seu rosto machucado.
Dei passos rápidos até alcançá-lo e parei à sua frente. Fiquei olhando
para ter a certeza que realmente era ele quem estava bem na minha frente.
Em um impulso forte, nossas bocas estavam grudadas uma na outra. Meu
beijo e de meu bello, era repleto de saudade, muita saudade. Sentir o gosto
dele depois desses dias loucos de procura, era bom demais. Ao apertar o seu
corpo no meu, ouvi um gemido de dor escapar.
— Bello, o que houve? Você precisa de um médico com urgência! —
falei olhando para seu corpo machucado.
— Eu sei que eu preciso, amor, mas no momento eu só quero olhar
para você. Estive com tanto medo, Filippo — disse ele e eu o abracei.
— Desculpe a demora, Amore. Eu fiz de tudo para te encontrar o
quanto antes — falei ainda abraçado a ele.
— Eu sei disso, meu amor! Eu sabia que você iria me encontrar. Te
amo, meu ursão! — falou chorando.
— Eu te amo muito mais, bello! Foi horrível ficar sem você, espero
que isso não aconteça nunca mais. — Senti minha garganta arder. — É tão
bom te sentir novamente. Eu pensei… eu pensei… Não deixei ele falar e
grudei nossas bocas de novo.
— Não fale mais nada, amor. Acabou! Eu estou aqui com você agora.
Continuei abraçado ao meu bello, até que senti algo puxar minha
calça. Olhei para baixo e vi o garotinho que há pouco tempo estava
chorando, mas agora ele me olhava com curiosidade. Reparei no menino
pela primeira vez e vi que ele era bem pequeno. Ele continuou a me encarar
e depois de um tempo abriu os braços pedindo para eu carregá-lo. Fitei Luiz
que sorriu e me incentivou a pegar o menininho. Então, eu fiz. Carreguei o
seu corpinho e senti seus bracinhos curtos e magros entrelaçar meu
pescoço. Todos os presentes estavam nos encarando.
— Voxe não parece um urso, mas é muito bavo igual a ele — disse o
garotinho de um jeito engraçado.
— Sério? Você me acha bravo? — perguntei curioso.
— Sim! Mais Luti disse que voxe só é bavo com gente mal. Isso é
vedade, nué? — perguntou e eu assenti intrigado. — Voxe defendeu a gente.
Obigadu!
— Como é o seu nome? — perguntei e vi Luiz chamar a menina com
a mão.
— Meu nome é Petro — disse e eu olhei para Luiz que sorria, sem
entender.
— O nome dele é Pietro e tem três anos. Essa linda aqui, é a Eduarda.
Tem oito anos. Eles iriam ser levados para serem vendidos, Filippo — disse
meu bello entristecido.
— Olá, Eduarda. Você está com medo de mim? — perguntei para
garotinha que negou rapidamente com a cabeça. — Então vem aqui! —
chamei e ela veio.
— Luti disse que você é legal e que não ia deixar os homens maus me
separar de meu irmão. E você veio! — disse chorando e meu coração
acelerou muito forte no peito.
— Onde estão seus pais, principessa? — perguntei e ela chorou mais
forte.
— Não sei direito, amor, mas acho que eles morreram — disse Luiz
triste.
— Sinto muito! Vocês gostaram de mim e de Luiz? — perguntei e os
dois assentiram, principalmente, o menininho. — Quer morar com a gente?
Eles que olharam para Luiz que estava com os olhos arregalados para
mim, assim como meu pai e meus irmãos.
— Eu quelo sim! Mas só vou se Duda vai também — disse Pietro
cruzando os bracinhos e me arrancando um sorriso sincero depois desses
dias ruins.
— Você vai quer, mia piccola? — perguntei.
— Você vai ser o que meu? — perguntou a garotinha e eu olhei para
Luiz.
Estava nítido para quem quisesse ver, que o meu bello se apegou
muita as crianças no tempo que ficaram juntos. Eu não podia mentir, pois eu
também estava encantado. Porra, eles eram tão lindos, eu tinha certeza que
Luiz era meu para todo sempre. Por que esperar mais? Foda-se! Eles eram
meus! Os três eram meus.
“Acho que agora eu sou um pai de família.”
— Eu vou ser o pai de vocês! Na verdade, eu e Luiz vamos ser seus
pais. Pronto! Agora vem aqui! — disse abaixando Pietro fazendo Eduarda se
aproximar de mim. — Você e seu irmão não estão mais sozinhos, va bene?
perguntei a interrompendo e ela sorriu.
Abracei a garotinha linda que seria minha filha daquele momento em
diante.
— Caspita! Eu sou tio! Eu sou tio, porra! — gritou Lucca feliz,
recebendo um tapa forte de babo na nuca.
— Controle sua boca! Não quero que meus netos aprendam essas
coisas — falou meu pai sério e logo virou em minha direção. — Obrigado e
parabéns, meus filhos! — disse babo feliz.
Sempre soube da vontade que meus pais tinham em ter netos, mas
eu nunca pensei que um dia isso iria acontecer na minha vida. Nunca me vi
casado ou tendo filhos, mas agora olhando para meus irmãos querendo
atenção das crianças, fazendo apresentações e brigando para saber quem
iria ser o tio melhor do mundo, esse desejo despertou em mim. Pode ser até
loucura decidir isso sem pensar, mas parece que era o certo a se fazer.
Pietro estava no colo de Luna e Enzo discutia com Lucca deixando um sorriso
feliz no rosto de Eduarda.
— Obrigado, amor! Obrigado de verdade, eu já queria cuidar deles —
disse bello com o rosto abatido.
— Luiz, você está bem? — perguntei preocupado.
— Não sei. Acho que não — disse desmaiando em seguida. Se eu não
seguro, ele teria caído no chão.
— Preparem o carro! Temos que ir à clínica do Ygor. Agora! — gritei
assustando todos.
Fomos todos para seus veículos. As crianças foram no mesmo carro
que Lucca, Luna e Enzo. No outro carro, fui eu carregando Luiz desacordo,
Elijah dirigindo e meu pai no banco do carona.
Deixei a limpeza daquela maldita bagunça provocada por Paolo,
encarregada a uns dos seguranças. Não pensei mais em nada, a não ser na
saúde de meu bello.
Chegamos a clínica do Ygor e assim que nos viram chegar, às
enfermeiras de plantão já foram trazendo uma maca e levando Luiz dos
meus braços. Ao verem Luiz ser levado, as crianças correram ao meu
encontro. Tive que acalmá-las dizendo que não foi nada demais e que logo
Luiz estaria de volta. Fiquei impressionado de como eles me ouviram e
confiaram em mim. Deixei eles com meus irmãos e fui ver se conseguia
informações do estado de meu bello. Vi Ygor vindo na minha direção, não
dei tempo dele falar nada e o empurrei contra a parede.
— O homem que você vai atender é o meu futuro marido. Cuide bem
dele! Se isso não acontecer, eu mesmo farei questão de te matar. Estamos
entendidos? — Ele assentiu. — Agora vai! Não perca mais tempo aqui!
Ygor saiu apressado para ala de atendimento. Esperava que ele
cumprisse com o que eu pedi e cuidasse muito bem de Luiz, senão não
queria nem imaginar o que seria capaz de fazer.
Voltei para ver como as crianças estavam, peguei Pietro no colo de
Enzo, a mão de Eduarda e sentei com eles no sofá da sala de espera. Sei que
meu bello logo estaria bem. Por mais que eu tenha ameaçado Ygor, sabia
que ele era um bom profissional. Agora só me restava esperar por notícia na
companhia dos meus dois filhos.
“Oh dolce inferno! Io ora sono un padre! Riesci a crederci?” (Oh, doce
inferno! Eu agora sou pai! Dá para acreditar nisso?)
Abri meus olhos e percebi que estava em um lugar que não era
minha casa, com certeza ali era um hospital diferente dos que já frequentei
na vida e bastante luxuoso. Olhei por todo o lugar e em uma poltrona está
sentando Filippo com nossas duas crianças no colo, eles conversavam
alguma coisa que eu não conseguia compreender. Ver essa cena me deixa
muito feliz.
Aceitação de Filippo com Eduarda e Pietro, foi uma surpresa muito
grande. Nunca pensei que meu namorado fosse se apaixonar logo de
primeira por eles. Isso só me mostra o quanto Filippo era um homem
fascinante e o quanto eu fui muito sortudo em tê-lo por perto.
Quando o vi chegar com toda sua família para me salvar, me senti
muito especial e querido. Porra, fiquei realmente sem palavras para dizer o
quão feliz estava em ser amado. Sentia-me preparado para viver o resto da
minha vida com ele e as crianças.
— Bello, você acordou! — disse Filippo me fazendo encará-lo.
— Oi, amor. Oi, bebês! Quando eu vou poder ir para casa? —
perguntei sentindo minha garganta arranhar.
— Puxa, voxe dumiu muito! Eu fiquei peocupado, mas a Duda e o
papai me disseram que voxe só tava dumindo — disse Pietro do seu jeito
fofo, fazendo meu coração amolecer ao ouvi-lo chamar Filippo de papai.
— Eu disse a você, Pê, que papai Luti ia ficar bem. Está com sede? —
perguntou minha Dudinha e logo depois ela me trouxe um copo de água.
“Ela me chamou de papai!” Felicidade me definia.
— Filippo, você pode colocar os dois aqui em cima da cama? —
perguntei e Filippo que me olhou com estranheza.
— Você não pode, bello! Não pode ficar se mexendo, quatro costelas
suas foram faturadas — disse Filippo e eu revirei os olhos.
— Por favor, amor! — pedi mais uma vez e ele bufou.
Filippo colocou Pietro ao meu lado direito e Eduarda ao meu lado
esquerdo. Assim que sentaram, abracei os dois como eu pude. Era tão bom
sentir o que eu sentia quando os tinha nos meus braços. Já os amava demais
e parecia que meu ursão também caiu de amores por eles.
— Prestem bastante atenção vocês dois — falei e recebi total
atenção dos meus filhos. Filhos! Sim, meus filhos! — Vamos ser os melhores
pais que conseguirmos ser, mas somos novos nisso. Filippo e eu vamos
cuidar, proteger e amar vocês.
— Podemos te chamar de pai? — perguntou Duda tímida.
— Não é o que eu sou seu e de seu irmão agora? — perguntei e ela
assentiu. — Então é claro que você pode me chamar de pai, meu amor.
— Eu já ia chama mesmo! — disse Pietro dando de ombros e me
fazendo rir.
— Você está bem, bello? — perguntou Filippo e deu-me um beijo na
testa.
— Estou sim, amor. Eu só quero ir para casa — disse cansado de
tanto lugar estranho.
— Vamos sim, só falta Ygor te libertar — falou Filippo e eu assenti.
Ouvimos a porta ser aberta e vi que a família Aandreozzi estava
entrando.
— Mamma, nonna! Filippo e Luti tem uma surpresa para vocês —
disse Enzo parando na frente da porta, impedindo a passagem das mulheres
Aandreozzi.
— Vai se foder, garoto! Estou muito puta com todos vocês, minha
arma está ficando enferrujada sem uso. Eu queria a ação e não tive. Estou
muito puta aqui — ouvi a voz de nonna irritada.
— A senhora vai ter que controlar essa sua boca suja, nonna — disse
Luna rindo.
— Ninguém manda em mim! — falou nonna indignada.
— Nem perto de meus filhos a senhora vai se controlar, nonna? —
perguntou Filippo sério, fazendo os irmãos pararem de bloquear a entrada
do quarto.
Arianna e nonna correram os olhos por todo o quarto e quando
olharam em minha direção, viram que tinha mais duas criaturas pequenas
do meu lado. Arianna começou a chorar e nonna por mais que se fizesse
uma mulher muito forte, também chorou. Elas ficaram paradas na porta.
Donatello aproximou de sua esposa e falou algo em seu ouvido, antes de
deixar o quarto. A vi assentir e sorrir. Nonna continuou com uma cara de
descrença muito engraçada.
— Puquê elas está cholando, papai? — perguntou Pietro para mim.
— Porque elas estão muito felizes que vocês dois agora são seus
netos — falei olhando para cada um.
— Querem conhecer elas? — perguntou Filippo e as crianças assentiram. —
Mamma, nonna... esses aqui são os meus filhos e de Luiz. Pietro e Eduarda.
Crianças essas são minha mãe e minha avó.
— Dio mio! Eles são muito lindos. Mas como isso aconteceu? Quer
saber, não importa! Vocês são tão lindos — disse Arianna passando a mão
no rosto corado de Duda.
— Obrigada, vovó! — agradeceu minha menina, fazendo Arianna
chorar mais ainda e abraçar Duda.
— E você, meu bem? Você é lindo, sabia? — perguntou Arianna
olhando para Pietro que abriu os braços para ser carregado. Que menino
oferecido, viu?!
— Puxa você é bunita! Duda me chama de bebê, pode me chama
assim. — Pietro pegou nos cabelos de minha sogra.
— Como é que pôde uma coisa dessa? Você é sequestrado e quando
volta para gente, nos traz esses presentes lindos — disse nonna me fazendo
rir.
— Não sei, nonna. Acho que coisas boas podem acontecer quando a
gente menos espera — disse emocionado ao ver as crianças se adaptando
tão bem com a nova família.
— As crianças já sabem quem é o tio preferido deles. Não é verdade?
— perguntou Lucca.
— Já sim, tio! — disse Duda rindo.
— Claro! Voxe me pometeu sorvete de socolate. Eu quero! — disse
Pietro deixando Lucca sem graça.
— Você é muito ridículo, Lucca. Tem necessidade de comprar as
crianças? — perguntou Luna indignada.
— Sem noção você, irmão! Eles já sabem quem é o tio melhor aqui —
disse Enzo carregando Duda.
— Lippo, você já reparou como seus filhos são lindos. Nossa vou comprar
muitas coisas para eles — disse Arianna sonhadora.
— Vamos ter trabalho com essa garotinha aqui, irmão — disse Enzo.
— Nada de namorar antes dos quarenta anos, gatinha.
— Minha filha não vai namorar, idiota! E me dê logo ela aqui! Vem
princesa! — disse Filippo irritado, tomando Duda dos braços de Enzo.
— Olha, eu nem vou dizer nada viu — falei balançando a cabeça
negativamente. Tadinha de Duda com esses homens Aandreozzi.
— Como você está, meu querido? — perguntou Arianna carinhosa.
— Estou muito bem agora. Obrigada por estar aqui — falei e ela ficou
séria.
— Você é da família, Luiz, e agora me fez uma nonna. Tem como
você ser mais perfeito? — falou Arianna me deixando envergonhado.
— Perfeito nada! Cadê Donatello, queria agradecê-lo também. —
perguntei.
— Don disse que ia resolver alguns problemas e que logo nos
encontra em casa — respondeu Arianna.
Pietro estava conversando com nonna Francesca cheio de
empolgação.
— Eu não entendi o que a tinhola disse — disse meu garotinho
confuso, pois nonna falou alguma coisa em italiano.
— Eu disse que você é um ursinho que vai fazer sucesso com as
garotas — explicou nonna e Pietro fez cara feia.
— Galotas são chatas, bisa! — disse Pietro com indignação.
— Diga isso daqui alguns anos quando você estiver traçando todas
que tiverem uma…
— Nonna! — Filippo a interrompeu, repreendendo-a. — Pietro só
tem três anos, se controle!
Comecei a rir, mas parei, pois, tudo doeu.
— Vai se… — Ela olhou para Pietro e para Duda, e respirou fundo. —
Vai ser difícil! As crianças de hoje em dia não são como vocês. Tapados como
uma toupeira!
— Ei, nonna! Não éramos umas toupeiras — disse Lucca
inconformado.
— Não sou obrigada a responder o óbvio — falou nonna com
desdém. Com certeza ela ainda estava irritada com eles.
A porta foi novamente aberta e entrou um homem alto, loiro,
trajando um jaleco e um sorriso no rosto. Descobri que esse era o meu
médico Ygor Pacov. Achei o sotaque dele bem engraçado. Ele disse que eu já
estava liberado para ir, que era para seguir com todas as recomendações.
Agradeci e fiquei muito feliz por voltar para casa.
Minha sogra pediu para levar as crianças para fazer compras, Filippo
não queria deixá-los longe de sua vista, foi difícil, mas Luna finalmente
conseguiu fazer com que ele deixasse que elas levassem as crianças ao
passeio.
Pietro, antes de sair, me disse que ia me trazer um doce para eu ficar
bem logo. O jeitinho esperto daquele garotinho encantava todos. Duda era
uma linda menininha meiga.
Quando todos saíram, fui ao banheiro, tomei meu banho e vesti a
roupa que trouxeram para mim. Assim que fiquei pronto, falei com Filippo
que queria ver como Brian estava. Fui com cuidado até chegar o quarto dele,
me recusei a usar a cadeira de rodas. Quando cheguei à frente da porta, bati
e uma voz mandou que eu entrasse. Pedi a Filippo para esperar e entrei.
— Luti! Que bom que você está bem — disse Brian assim que me viu
entrar.
— Só tenho a agradecer a Filippo e sua família. E não posso esquecer
de você também. Obrigado! — falei e vi Brian balançar a cabeça
negativamente.
— Da próxima vez deixe eu fazer meu trabalho, fiquei preocupado.
Não gostei do que você fez — disse Brian sério.
— Está tudo bem agora, não vamos ficar pensando em coisas ruins.
Pelo menos aquele inconveniente me trouxe algo de bom — falei sorrindo e
Brian me olhou confuso.
— O que aqueles bastardos poderiam te trazer de bom?
— Eu agora tenho dois filhos lindos, meu amigo — disse feliz da vida
e Brian continuou confuso. — No cativeiro tinha duas crianças que seriam
vendidas. Nos apegamos muito e agora não me vejo mais sem eles. Você vai
conhecê-los e vai ser impossível não se apaixonar — falei lembrando dos
meus lindos.
— Sério? Se for assim, Sr. Aandreozzi não salvou somente a você,
mas as crianças também.
— Trate de ficar bom logo, pois eu e as crianças precisamos de você!
Agora eu já vou. — Sorri.
— Amanhã já estou em casa. Vê se toma cuidado por aí. Obrigado.
Deixei o quarto e encontrei com Filippo que já estava com cara de
impaciente. Dei-lhe um beijo para ver se o acalmava e saímos da clínica. Eu
estava na maior felicidade porque iria voltar para casa. Essa sensação era
única.
Só de me lembrar que fiquei preso por dias tendo minha vida
controlada por bandidos que queriam me fazer mal pelo simples fato de
amar quem eu amava, me causava dor de cabeça. Apanhar e ficar sempre
em alerta naquele ambiente sujo e fedido para não deixar que fizessem mal
as minhas crianças, foi horrível e o pior que eu poderia passar na vida, mas
não podia ficar com essas coisas na cabeça. Tinha duas crianças para cuidar
e meu corpo para curar.
Chegamos em casa e, assim que a porta do elevador se abriu, vi
minha Amorinha linda vindo na minha direção. Eu não podia me abaixar
para pegar, mas Filippo fez a graça de me entregar minha bolinha.
— Estava com saudade de mim, minha linda? Que cachorrinha mais
linda! — falava e o toquinho de rabo de Amora balançava com felicidade.
— Vamos subir, bello, para você descansar um pouco. Ygor disse que
esse seu remédio vai te dar muito sono — falou Filippo me lembrando do
efeito colateral da medicação.
— Luti! Que bom que você está bem e em casa novamente. — Virei a
cabeça e vi Ritinha feliz ao me ver.
— Então venha cá e me dê um abraço — chamei e ela veio.
— Você fez falta! O Sr. Aandreozzi estava muito aflito — falou ela em
meu ouvido e eu assenti.
— Rita, eu quero que você arrume o quarto disponível que temos
aqui para receber as crianças — mandou Filippo com seu habitual tom sério.
— Crianças? — perguntou Ritinha me encarando.
— Sim. Meu sequestro nos trouxe algo muito bom. Eles se Pietro e
Eduarda — falei sorrindo e já com saudade deles.
— Onde eles estão? — perguntou Rita.
— Minha família sequestrou meus filhos, mas já liguei para trazerem
eles para casa — disse Filippo irritado.
— Você acha mesmo que eles vão trazer as crianças agora? —
perguntei e não obtive resposta. — Pois é, então fica calmo que eles daqui a
pouco estão em casa.
— Vou me acalmar, mas o senhor tem que subir. Licença, Rita, mas
ele tem que descansar — disse Filippo me levando.
Subimos para o quarto e a primeira coisa que fizemos foi tirar nossas roupas
para um banho. Depois de tomarmos banho juntos e sentir o toque do
corpo de um no outro, saímos do banheiro.
Filippo me ajudou a colocar meu short, esse ato dele me encantou,
nunca imaginei o meu ursão tão cuidadoso daquela maneira. Fomos para
cama e assim que deitamos eu me aconcheguei nos seus braços, ao me
sentir protegido novamente, não pude conter as lágrimas que veio nos meus
olhos.
— Não chore, bello. Já passou, estamos em casa. Você está bem, está
aqui comigo e não lá. Tente dormi, amore. Eu vou continuar aqui com você
— meu amor disse baixo.
— Eu sei, amor. Eu não tenho palavras para agradecer você e toda
sua família. Eu te amo muito, amor. Só pensava em você em todo momento
— falei com a voz rouca pelo choro.
— Eu vivi um inferno esses dias, bello. Parecia que até respirar era
difícil. Minha preocupação com você era imensa. — Abraçou-me.
— Obrigado por aceitar as crianças também. Eu pensei que iria ter
que me mudar para ficar com elas, caso você não as aceitasse. — Levantei a
cabeça para encará-lo e vi sua expressão endurecer.
— Eu nunca deixaria você sair de perto de mim, Luiz! Em relação as
crianças, eu nunca acreditei no sobrenatural, mas a ligação que tive com elas
foi algo inexplicável. Eu me apaixonei por eles, isso foi tão estranho — disse
em confusão e eu ri.
— Comigo foi a mesma coisa, eles são tão lindos e perfeitos. Quando
eu vi o desgraçado do Nicco bater em Eduarda, só porque ela queria
remédio para o irmão que estava com febre, me doeu por dentro — falei
lembrando da cena horrível.
— Se eu não tivesse matado o desgraçado, o mataria nesse
momento. Ninguém mais encosta na minha princesa — falou entredentes e
eu concordei. — Temos que levar Pietro ao médico para saber o que foi a
causa da febre — disse preocupado.
— Sim! Temos sim, mas tenho para mim que foi emocional. Mesmo
assim temos que levar os dois ao pediatra.
— Vou mandar minha secretária marcar com o melhor daqui. E já
vou acionar meus advogados, quero adotá-los o mais rápido possível.
— Será que vão tirá-los de nós? — perguntei aflito e Filippo respirou
fundo.
— Ninguém fará uma coisa dessas. Eu não permitirei. Agora durma
um pouco, amore mio — disse e eu assenti um pouco mais relaxado,
sabendo que meu amor cuidaria de tudo.
Não sabia como consegui fazer aquilo com Paolo, mas consegui.
Olhar para o seu corpo morto, me dava a maior certeza de que ele não iria
mais querer me matar, sequestrar meus filhos e vendê-los para algum casal
doente como ele, ou machucar o meu marido novamente. Simplesmente
havia acabado!
Encontrar Paolo em um dos corredores da casa carregando Filippo,
para não sei onde, foi a gota d'água. Ele tinha que ser parado. Eu havia
pedido aos irmãos Aandreozzi que deixassem Paolo comigo, eu o queria
enfrentar. Então, tive a chance de acabar logo com aquilo de uma vez por
todas.
— Luiz! Corre aqui, Luiz! Filippo, irmão. Acorde! Não faça isso, cara!
Não é hora de brincar, temos que sair daqui.
Saí do meu estupor ao ouvir a voz desesperada de Lucca.
— O que houve, Lucca? — perguntei vendo-o sacudir o corpo
amolecido de Filippo.
— Não sei, ele estava com os olhos vidrados em você e depois
suspirou alto e os fechou — explicou.
Corri para conferir os batimentos cardíacos de Filippo e não
encontrei nada. Apavorei-me.
— Não! Não pode ser! Você não vai fazer isso comigo, Filippo
Aandreozzi! Me recuso a ser viúvo dois dias depois do nosso casamento —
falei com fervor, iniciando a reanimação.
— Luiz eu acho que…
— Cale a boca! — interrompi-o em um berro. — Cale a sua maldita
boca! Ele não vai fazer isso! — gritei sem perder o ritmo da reanimação.
Um, dois, três... Respiração boca a boca.
— Vamos, ursão! Não me decepcione, porra! O que eu falarei para os
nossos ursinhos? Sabia que Pietro lhe tem como um super-herói? Claro que
você sabia! — Assoprei sua boca e voltei a massagem cardíaca.
Ouvi passos de pessoas correndo em nossa direção, mas não liguei,
apenas continuei com o que eu estava fazendo.
— Lucca? Luiz? O que está acontecendo? Fiquei esperando vocês e
nada, estavam demorando muito — disse Enzo ao se aproximar.
— Dio Santo! Filippo? O que aconteceu com meu irmão? — Ouvi a
voz desesperada de Luna, chorando.
Aquele tumulto me irritou.
— Ele não morreu! Pare de chorar! Você vai ver só! — continuei o
meu trabalho, mesmo com meus braços doendo eu sabia que não poderia
parar.
— Eduarda vai crescer, Filippo. Você tem que acordar para espantar
todos os pretendentes que apareceram na nossa porta. Vamos lá, amor!
Vamos minha vida, por favor! — implorei deixando lágrimas quentes e
salgadas banharem o meu rosto.
— Luiz, não há nada que você possa fazer, ele se foi. Chegamos
tarde, meu cunhado — disse Enzo me levantando a força do corpo de
Filippo, passando seus braços em torno da minha cintura.
— Ahh! — berrei louco. — Não! Porra, não!
Soltei-me do seu aperto e caí novamente ao lado do corpo do meu
marido. Enfurecido, comecei a socar com toda força seu peito.
— Volta, amor! Por favor, volta para mim. Eu não tenho mais
ninguém. Se você morrer, eu morrerei em seguida. Vamos, Filippo! Acorde!
E como um milagre divino, Filippo voltou a respirar. Fiquei parado de
boca aberta deixando soluços fortes escapar, eram precisos ele saírem por
minha boca, estava me engasgando com eles.
— Obrigado, meu Deus, universo ou qualquer outra força suprema!
Ele voltou para mim. Sabia que voltaria. — Abracei seu corpo e chorei
descontrolado.
— Isso não é possível, ele voltou! Grazie Dio! — disse Lucca
assustado e confuso.
— Por Dio, Filippo! Não faça mais isso! — Ouvi a voz chorosa de Luna.
— O que está acontecendo? — perguntou Filippo com dificuldade.
Levantei a cabeça para olhá-lo em seus lindos olhos.
— Você não estava mais aqui. Estava me deixando, mas você voltou.
Eu te amo muito por isso! — falei rápido, atropelando as palavras. Beijei
seus lábios machucados.
— Não podemos mais perder tempo aqui. Vamos sair logo, antes que
mais homens de Augusto apareçam e nós vejam. Vamos logo! — disse Enzo
tomando a iniciativa de sair do lugar.
Ninguém, fora alguns selecionados por Augusto, amigo de Enzo que
nos ajudou na invasão, poderiam nos ver. Carregamos Filippo com a ajuda
de nossos seguranças de maior confiança. Deixamos a casa com o auxilio de
um amigo do Enzo que pertencia a uma força especial privada da Itália.
Augusto Nardelli era o típico homem da lei que montou uma força especial
na intenção de derrubar a máfia mais antiga de Milão. Há tempos que eles
queriam pegar Paolo, mas todas as vezes foram sem sucesso.
O acerto de Enzo com Augusto, era que iríamos ajudar com tudo,
mas estaríamos livres de qualquer tipo de envolvimento. Seria como se tudo
o que aconteceu na invasão, foi causada e feita pela força especial. Nossos
nomes não seriam citados de maneira nenhuma, nunca! Fizemos tudo
direito, usamos luvas e armas da força especial. Tudo foi feito para que a
polícia jamais nos encontrasse. Mas, em compensação pela culpa que
levariam, a força especial seria conhecida pelo mundo como aquela que
derrubou a Finastella de uma vez por todas.
Acomodamos Filippo no banco traseiro em uma das SUV e seguimos
para o hospital mais próximo. Não conseguia parar de olhá-lo e averiguar
seus batimentos cardíacos que estavam fracos, mas com um ritmo
constante. Não tinha vergonha de ficar cutucando ele a todo momento para
ver se abria os olhos. Depois do susto que ele me deu, não teria como não
fazer isso.
A nossa chegada ao hospital foi rápida. Assim que nos viram entrar
gritando por um médico, enfermeiras vieram correndo e colocaram meu
marido em uma maca para ser atendido com rapidez. Quando o vi sendo
levado, corri para alcançá-los e parei ao seu lado para poder falar com ele.
— Senhor, necessitamos levar o paciente com urgência! — disse uma
das enfermeiras.
Eu queria socar o seu rosto que estava fazendo careta, mas não
podia, ela estava apenas fazendo seu trabalho.
— Não vou demorar. Só preciso falar uma coisa para ele — disse e
me virei para Filippo. — Se você morrer, eu juro que vou te buscar
novamente. Não faça isso comigo e com seus filhos. Te amo e fica bom logo.
— Não sou louco de morrer antes de te foder na nossa lua de mel —
sussurrou Filippo, fazendo-me rir enquanto debulhava em lágrimas. — Ti
voglio bene mio bello.
Os médicos o levaram direto para ser atendido e me deixando com o
coração apertado, mas também com a esperança de que o meu amor ficaria
bem. Não sei o que seria da minha vida sem o meu Filippo.
— Tive tanto medo. Nunca imaginei que veria você ali, deitado no
chão frio, sem batimentos cardíacos. Aquele foi o pior momento da minha
vida. — Ouvi a voz de meu bello, mas continuei de olhos fechados. —
Querem que eu vá para casa descansar. Sei que nossas crianças precisam de
mim, mas não conseguirei ficar longe de você.
Senti o toque quente e acolhedor de meu amor em minha mão direita.
— Você nunca se livrará de mim, bello! — disse sentindo minha
garganta seca.
Abri os olhos e olhei-o. Luiz levantou a cabeça e me olhou com
lágrimas brilhando em seus olhos.
— Oh, graças a Deus você acordou! — disse grudando seus lábios nos
meus ressecados.
— Me dê um pouco de água, bello, por favor — pedi e vi Luiz correr
para encher um copo com água para mim.
Tentei me sentar na cama, mas meu corpo estava doendo para
caralho. Fiquei olhando para bello e vi que o amor que sentia por ele
triplicou de um jeito incondicional. Lembro perfeitamente de tudo o que
passei nas mãos de Paolo e não eram coisas que eu queria lembrar com
facilidade, mas o que importava era que Luiz juntamente com meus irmãos
foram me tirar de lá. Imagens do ex-tímido Luiz Otávio, golpeando o inimigo
de minha família com o único intuito de nos vermos livres de qualquer
atentado contra as nossas vidas, seria sempre um momento muito
marcante.
Bello me trouxe a vida. Não sabia como, mas aconteceu. Quando
fechei os olhos ao perceber que Paolo não estava mais vivo, sabia que minha
morte era certa e que não haveria nada o que eu pudesse fazer. Meu corpo
estava muito fraco e aceitei o que poderia estar por vir, só que
inexplicavelmente estava vivo. No fundo, eu sabia que havia sido o amor de
bello quem me trouxe de volta para estar ao seu lado.
— Dá para ver daqui o seu cérebro fritando. O que tanto você pensa,
meu amor? — perguntou direcionando o copo d’água em minha boca, coisa
que achei desnecessário, eu poderia beber água sozinho. No entanto, se ele
queria me mimar, aceitaria de bom grado.
— Nada demais, meu bello. Quanto tempo fiquei fora do ar? —
perguntei após refrescar minha garganta.
— Dois dias. Fiquei com medo que você… que você... — Um soluço
escapou, interrompendo-o.
Sem me importar com meu corpo que estava todo fodido, fiz todo o
esforço necessário e puxei meu adorável marido para os meus braços.
Deixeio chorar o tanto que ele quisesse com a cabeça deitada em meu peito.
Eu tinha noção do quanto foi difícil para ele tudo o que aconteceu. Bello
nunca precisou segurar uma arma em sua vida antes. Ter que matar algumas
pessoas para sua própria segurança, não foi uma coisa legal de ter que se
fazer. Ao contrário de mim, que cresceu tendo que aprender a me proteger.
Minha família não era a mais querida de todas, tínhamos muitos inimigos e
Paolo foi só mais um. Mais enquanto eu pudesse evitar de colocar o meu
marido em certas situações, eu iria fazer. Não só ele como os nossos filhos
também.
— Ei, mio amore! Está tudo bem agora, estamos bem. Nossa família
está bem e segura. Nossas vidas agora vão voltar a ser o que era antes —
disse sentindo o cheiro gostoso que emanava dos seus cabelos castanhos.
— Onde já se viu que um Aandreozzi tem uma vida normal? —
perguntou Luiz.
Ele encarou-me e um lindo sorriso se formou em seus lábios
inchados pelo choro.
— Olhando por esse lado, me faz querer concordar com você. —
Franzi minha testa.
— Viu o que eu disse? Eu sempre tenho razão! — falou bello fingindo
arrogância e tirando seu peso de cima de mim.
— Você não pode falar nada, pois eu te alertei sobre o lugar que
estava se metendo — disse sorrindo.
Ele assentiu.
— Tenho que chamar o seu médico, amor. — Pegou o telefone do
quarto, discou alguns números e falou com alguém.
— Minha situação foi muito feia? — perguntei tocando no meu
rosto, onde ainda sentia que havia algum inchaço.
— Está tudo bem agora, logo você estará cem por cento de novo,
ursão.
A porta foi aberta e o médico entrou no quarto.
— Bene, vedo che il mio paziente ha deciso di svegliarsi (Bem, vejo
que o meu paciente resolveu acordar) — disse ele.
Não gostei nada do olhar que ele deu para o meu marido.
“Sei que ele é lindo, mas tira o olho!”
— Voglio sapere quando esco da questo luogo miserabile (Quero
saber quando vou poder sair desse lugar miserável) — falei entredentes,
assustando o médico.
— Calma si Aandreozzi, appena svegli e la necessità di fare qualche
test (Calma, Sr. Aandreozzi. O senhor acabou de acordar e precisamos fazer
alguns exames) — disse o médico olhando de mim para bello.
— Ei, ursão... Pare com isso, tudo bem? — Bello virou meu rosto,
fazendo-me encará-lo.
— Você mais do que ninguém sabe que eu odeio hospitais — disse
me derretendo sob o olhar carinhoso de meu amor.
— Sei sim, mas também sei que você precisa se recuperar logo. Por
isso seja um pouco mais paciente — pediu e deu-me um beijo casto nos
lábios.
— Va bene! — concordei olhando para o médico.
Bello saiu do quarto avisando que iria ligar para o resto da família e
dizer que eu havia acordado. O médico jovem se apresentou como Heitor
Acco, mas não dei muita importância. Para falar a verdade, eu só queria sair
dali e voltar para o Brasil, para assim dar continuidade em minha rotina
junto a minha família. Sentia falta de casa.
O médico fez vários exames em mim, iria me dar mais algum
medicamento, mas eu disse a ele que estava bem e que não queria dormir e
sim comer. Pouco tempo depois fui com ajuda do meu bello tomar banho.
Luiz fez questão de não deixar nenhuma enfermeira me ajudar, isso me fez
sorrir. Não era só eu o possessivo!
Assim que acabamos com meu banho, me senti muito melhor. Voltei
para aquela cama sentindo um inválido. Trouxeram-me a minha refeição e
eu comi tudo de bom grado, estava com uma fome filha da mãe. Quando
terminei, fiquei olhando para Luiz que escrevia algo no celular distraído.
— Bello, o que tanto faz aí? — perguntei chamando sua
atenção.
— Estou conversando com Beto. Ele disse que está muito feliz que
você esteja bem — falou com um sorriso esperto.
— Ele não falou só isso né? Vou querer saber? — perguntei vendo
bello dar uma risada.
— Eu pedi para ele e Angel cuidar das crianças enquanto iríamos te
recuperar. Ele está me dizendo que disse a Ângela que estava fielmente
pensando em fazer um filho com ela. Daí minha amiga se irritou e lhe deu
um soco no rosto, falando que já tinha uma namorada — disse Luiz
controlando a risada.
Aquilo me fez rir junto com ele, mas parei imediatamente quando
senti uma dor maledetta por dentro.
— Cadê nossos filhos? Quero vê-los, peça para trazê-los para mim.
Bello me olhou com carinho.
— Eles fazem uma falta muito grande, não é? — perguntou se
aproximando da cama.
— Não só eles, como Amora também — falei com uma certa
melancolia.
Alguém bateu na porta do quarto e bello pediu que entrasse. Assim
que a porta foi aberta, meu pai entrou empurrando a minha nonna sentada
em uma cadeira de rodas. Tanto nonna Francesca quanto meu babo olharam
para mim com uma expressão de puro alívio. Antes que pudesse perguntar
como minha avó estava se sentindo, ouvi alguém chorar baixinho e logo
atrás de babo estava mamma como se estivesse com medo de entra no
quarto.
— Mamma? Eu estou bem. Venha aqui, por favor — pedi e ela
correu ao meu encontro.
— Grazie a Dio si sono ben mio figlio! (Graças a Deus que você
esteja bem, meu filho!) Perdoe-me por não ter lhe contado antes sobre o
que aquele desgraçado fez comigo e por não conseguir impedi-lo. — Ela
chorava copiosamente com o rosto enterrado no meu peito.
— Não fale nada, mamma. Isso não fará diferença. Não mudará o
amor e a admiração que tenho por você e babo — disse com a voz rouca,
sentindo minha garganta arranhar.
— É tão bom saber disso, meu filho! — respondeu mamma,
passando a mão em meu rosto machucado.
— Fico feliz em te ver bem, meu filho — disse babo com um sorriso
pequeno.
— É bom estar bem novamente, pai, e, finalmente, livre. — Olhei
para nonna e a vi enxugar os olhos chorosos. — Está chorando, nonna? —
perguntei e ela lançou-me um olhar raivoso.
— Quem está chorando aqui? Você está vendo alguém chorar aqui,
Luti? — perguntou a velha durona.
— Quem? Chorar? Jamais! Não é mesmo, nonna? — perguntou Luiz,
arrancando uma risada de mamma.
— Não liga para minha sogra, meu querido, ela está irritada com
Donatello hoje — falou mamma.
Babo soltou um som de insatisfação.
— E quando é que mamma não está irritada comigo? Ecco! —
perguntou e levou um tapa na barriga dado por nonna.
— Se você não se intrometesse quando estava flertando com o meu
médico, com certeza eu não estaria querendo te matar — disse ela cruzando
os braços.
— Olhe para mim e veja bem se eu deixaria aquele coroa pervertido
ficar de papo com a senhora — disse meu pai com a testa franzida de raiva.
— Fez muito bem, babo. Nada de dar moleza a esses pervertidos. E
quanto a senhora, se comporte — falei sendo apoiado por babo, mas
recebendo um olhar mau de bello, mamma e nonna.
— Fique na sua, Filippo Aandreozzi, antes que eu também lhe dê uns
sopapos. Sabia que esse meu soro pode voar na sua cabeça? — perguntou
dona Francesca em tom de ameaça.
— Tudo bem, não falarei nada. Mas pelo o que vejo, a senhora já
está bem, non è vero? — perguntei com um pouco de preocupação.
— Oh, sim, já levei tiros piores na minha vida. Foi um ferimento
limpo com entrada e saída, sem atingir nenhum órgão — explicou ela com
desdém.
Olhei para babo e o vi revirar os olhos.
— Sua avó é mais forte que todos nós juntos — disse mamma com
carinho.
— Não diga essas coisas a mamma, Bel fiore. Ela já se acha un super
signora (uma supersenhora) — disse meu pai.
— Por que você não vai simplesmente se foder? Deixe de ser fresco,
Don — falou nonna.
Meu pai bufou com descrença.
A porta foi aberta novamente e meus três irmãos entraram com
sorrisos nos rostos. Luna não falou nada e veio logo em minha direção,
abraçando-me. Ela sussurrou em meu ouvido o quanto estava feliz que seu
irmão mais velho estava bem. Enzo me deu um abraço, assim que Luna se
afastou com os olhos brilhando em lágrimas. Sabia que ele também estava
feliz em me ver bem. Lucca ostentava o sorriso sacana de sempre, parado na
porta segurando um grande urso de película.
— Alguém chamou pelo homem mais gostoso de todo o mundo? —
perguntou ele se escondendo atrás do urso, fazendo-me revirar os olhos. —
Enzo, Luna e eu, lhe trouxemos esse presente — disse jogando o urso nos
meus braços.
— Me tire desse meio, seu idiota! Sabe muito bem que não
concordei com isso, sabia que Filippo iria se irritar — disse Luna apontando
para os nossos irmãos infantis.
— Deixe de ser maccolona sorellina! (puxa-saco) — disse Enzo
apertando Luna em seus braços musculosos.
— Me solta la sua infelice (seu infeliz!) Babucchione! (Tapado!) —
disse ela irritada.
— Foi você quem escolheu o presente para darmos ao Lippo e ainda
disse: “um urso para o nosso grande ursão!” — dedurou Lucca.
Enzo estava controlando uma risada que estava prestes a explodir. E
eu? Eu estava irritado, mas ao mesmo tempo satisfeito por estar com a
minha família.
— Deixe minha sorellina em paz! Sei que ela não faria uma coisa
dessas, foram vocês, seus bastardos! Quando eu sair daqui, vou chutar seus
traseiros — falei entredentes, apontando para meus dois irmãos idiotas.
— Fratello maggiore impossibile! (Impossível, irmão mais velho!) —
disse Enzo e Lucca ao mesmo tempo.
— Eu achei esse urso muito fofo, mas vocês dois deixem meu marido
em paz, capisce! — disse bello em sinal de advertência.
Ouvi-lo falar daquele jeito, deixou-me excitado.
— Esses recém-casados me deixam enjoado — disse Enzo em tom de
brincadeira.
— Deixe só você encontrar o seu “alguém”. Quero só ver como você
vai ficar — disse Lucca sorridente.
— Não fale essas coisas, irmão. Sabe que isso não vai acontecer —
disse Enzo fazendo gestos de desdém.
— Estou louca para lhe ver pagar língua, meu neto. Você vai ser o
pior do lote — disse nonna fazendo Enzo estremecer.
— Agora sem brincadeiras. Fico feliz que esteja realmente bem, meu
irmão — disse Lucca sério.
Assenti.
— Obrigado por vocês terem ido por mim. Só... obrigado! — falei
olhando para os três.
— Não fizemos nada que você não faria por nós. Somos os
Aandreozzi! — disse Enzo com determinação.
— Para tudo e por tudo! — disse Luna emocionada.
— Sempre! — respondemos os três homens em uníssono.
— Arianna! Você e Don colocaram quatro babacas no mundo, mas
são os quatro babacas mais fodas que existem — disse nonna melancólica.
Todos nós rimos. Aquilo era raro.
— Aproveitando que estamos todos juntos, temos que conversar
sobre o que aconteceu. Como vocês conseguiram entrar na fortaleza da
Finastella? — perguntei e vi os olhares significativos entre Enzo, Lucca, bello
e Luna.
— Olhe só, amor... Temos uma coisa para te contar, mas não fique
muito irritado, lembre-se que você está em recuperação — pediu Luiz
tentando fazer com que eu não me irritasse, mas foi sem sucesso.
— O que vocês quatro fizeram? — perguntei respirando fundo, já me
preparando para o pior.
— Você lembra daquele meu amigo, o Augusto? — perguntou Enzo e
meu corpo enrijeceu na hora.
— Augusto Nardelli? Aquele bastardo que queria nos usar nos planos
contra Paolo? — perguntei enraivecido.
Ele assentiu.
— Eu pedi ajuda a ele para invadirmos a fortaleza de Paolo — disse
Enzo.
— Que porra estava na sua cabeça em se envolver com federais
nesse caralho? Você mais que ninguém sabe o quanto eu mandei Nardelli ir
se foder, Enzo! — esbravejei espumando de raiva. Imediatamente senti
minha cabeça doer como o inferno. — Mataram pessoas... Bello matou
Paolo! E se ele resolver prender o meu marido? — perguntei desnorteado.
Senti o toque calmo de bello no meu peito.
— Ei, calma. Nada vai acontecer. Para de se estressar assim, nós já
cuidamos de tudo — disse ele fazendo-me acalmar.
— Desculpe, mas nunca quis envolver a lei nos nossos assuntos. —
Olhei para babo que estava tranquilo.
— Sabemos disso, mas agora você tem que deixar de ser um escroto
autoritário e ouvir o que eu e seus irmão temos a dizer — disse Luiz sendo
severo.
Sorri.
— Onde está meu tímido Luiz Otávio? Mio ragazzo agora é feroz. —
Puxei-lhe para um beijo, mas interrompemos ao ouvirmos um pigarreado vir
de meu pai.
— Vamos deixar essa agarração para depois — disse Lucca. — Fale
aí, Enzo.
Enzo começou a me contar sobre o acerto que ele fez com Nardelli.
Meus irmãos ajudariam ele e sua força especial a encontrar o local exato da
fortaleza da Finastella, mas em troca eles teriam de ajudar em meu resgate.
Perguntei a Enzo como confiar que Nardelli cumpriria com o acordo de não
envolvimento da nossa família no meio daquilo tudo e ele me respondeu
que formulou um contrato com urgência, fazendo o seu amigo assinar. Lucca
afirmou que Nardelli estava desesperado para acabar logo com o caso que já
durava sete anos sem nenhum sucesso.
Não gostava muito daquilo, mas tinha que concordar que Enzo não colocaria
a nossa família em risco, pois fazíamos nossas coisas por conta própria e não
precisávamos de ninguém se metendo em nada, principalmente, a lei.
Éramos o que éramos e aceitávamos ser daquele jeito. Ninguém mexia com
a gente e saía por aí contando vantagem. Poderia demorar para acontecer,
mas aprendi que na vida temos que ter paciência para resolvermos nossos
assuntos.
— Conseguiram pegar Frank, Jeremiah e Atílio? — perguntei e mais
uma vez eles se entreolharam com cumplicidade.
— Jeremiah foi preso e quanto ao Atílio, foi mamma quem deu um
jeito nele — disse Luna.
Olhei para mamma que afirmou envergonhada.
— Mas o desgraçado do Frank conseguiu fugir.
— Claro que o cão adestrado tinha que fugir — falei cerrando os
punhos. — Foda-se! Espero que ele nunca cruze meu caminho. Estou louco
para pôr minhas mãos nele.
— Agora vamos sair e deixar você descansar um pouco. Amanhã
viremos te ver — disse mamma, aproximando-se e deixando um beijo em
minha testa.
— Espero que amanhã eu já esteja saindo daqui — disse e recebi um
olhar de advertência vindo dela.
— Não seja um estúpido com os médicos! — advertiu mamma.
Assenti.
— Falar isso com Filippo é a mesma coisa que nada — disse Lucca
sorridente.
— Não se meta, seu bastardo! — falei entredentes.
— Te amo, irmão. É bom vê-lo mais rabugento que nunca — disse
ele.
— Amo vocês também! — falei lhes dando um sorriso pequeno.
— Sabemos disso, pois é impossível não nos amar — retrucou.
Enzo e Luna concordaram imediatamente com ele.
Após toda minha família ir embora e levar Luiz com eles sob seus
protestos, fiquei sozinho para descansar. Era ruim estar sozinho, mas não
podia manter meu bello comigo o tempo todo, nossos filhos precisavam dele
por perto também, ainda mais depois de todas as coisas violentas que as
crianças viram nos últimos dias. Pietro e Duda tinham que saber que havia
acabado e que os pais deles estavam lá sempre para eles.
Era bom estar vivo. Sabia que nunca fui o homem mais aberto para
vida, mas iria tentar mudar isso com a segunda chance que estava
recebendo.
Estávamos voltando à casa dos meus sogros para buscar nossos filhos
e meus amigos, para assim voltarmos ao Brasil. Foram só dois dias que fiquei
com Filippo naquela casa linda e no meio do nada, mas foram os dias mais
gostosos. Eu pude conhecer mais o homem com quem me casei, saímos um
pouco para passear pelas ruas da bela Veneza, almoçamos e jantamos em
lugares lindos e aconchegantes...
Chegamos à casa dos meus sogros e fomos recebidos pelas crianças
que já tinham sido informados sobre a nossa chegada para buscá-los. Filippo
carregou Eduarda lhe dando muitos beijos e abraços. Pietro veio para mim e,
mesmo de cara amarrada, me deu um abraço forte.
— Puxa, vocês esquecelam da gente — disse ele
emburrado.
— Não esquecemos não, ursinho. Sentimos muito sua falta — disse
olhando para o meu garotinho.
— Viu que eu te disse, seu chato. Ele chorou ontem de noite dizendo
que vocês esqueceram a gente — disse Duda parecendo uma mocinha.
— Cale boca, sua buxa! Eu não cholo, eu sou homi — disse descendo
do meu colo.
Olhei para Filippo e o vi prender o riso.
— Nada de chamar sua irmã de bruxa, ursinho, ela é uma princesa e
você é um príncipe — repreendeu Filippo, já esperando uma resposta que
ele sabia que viria.
— Eu não sou plincipe, babo. Eu sou forte e um super-helói como
você — falou Pietro irritado.
— A cada dia que passa esse menino fica mais parecido com o
Filippo, isso é tão impressionante — disse Arianna vindo em nossa direção.
— Aproveitaram a viagem, meus queridos?
— Você ainda pergunta, mamma? Olhe a cara do Lippo. Está
parecendo um gato que comeu o canário — disse Lucca aparecendo do
nada.
— De inconveniente passou a ser um fantasma agora? — perguntou
Filippo irritado.
— Seu amor por mim é tão gratificante — disse Lucca no puro
sarcasmo.
— Pensei que vocês já tivessem ido para suas vidas — disse Filippo.
Luna e Enzo apareceram.
— Eu estou indo hoje à tarde e vou levar nonna comigo — disse Luna
depois que me abraçou.
— Babo está sabendo disso? A mãe dele e sua “filhinha inocente” na
Espanha juntas? Isso não vai prestar — disse Enzo carregando Pietro que
tentou fugir, mas foi impossível.
— Se eu fosse você, cuidaria da sua vida, garoto. Minha neta disse
que cuidaria de mim enquanto sou uma velha debilitada — disse nonna
apontando muito irritada para Enzo.
— Isso vai ser bom para senhora, nonna — disse indo cumprimentá-
la.
— Olhe para você. Sua pele está tão boa. Sem dúvidas fodeu a noite
toda! Já disse que tenho orgulho da porra desse meu neto viril? —
perguntou nonna, fazendo-me ficar vermelho.
Os irmãos Aandreozzi caíram na gargalhada deixando Filippo
irritado.
— Controle a boca, nonna! — brigou Filippo descontente.
— Não me diga o que fazer! Lembre-se quem é a nonna aqui, ursão!
— disse ela apontando seu sapato.
— Ei, casal! Vocês chegaram? Não queria deixar Milão, às vezes
sinto que nasci no país errado — disse Beto descendo a escada com Ângela.
— Por que ele continua irritante? — murmurou Filippo.
— São seus olhos, Filitito — falou Beto, piscando para o meu marido.
— Eu gosto de você, garoto. Você é um ragazzo muito corajoso —
disse Don vindo se despedir de nós também.
Nos despedimos de toda a família após de discussões, palavreados e
gargalhadas. Finalmente, depois de esperarem arrumar tudo para nossa
saída, fomos pegar o jatinho que nos levaria para casa. Com meus amigos e
as crianças acomodados, Filippo aproveitou para dar uma olhada nos e-mails
e eu fiquei puxando papo com todo mundo, se não fizesse isso estaria
dormindo logo mais.
Depois de várias horas massacrantes e cansativas de viagem, enfim
chegamos em solo brasileiro. Amei a Itália de todo meu coração, mas nada
se comparava ao nosso lar. Um carro chegou e levou meus amigos para suas
respectivas casas. Logo outros dois estacionaram e nos levaram para nossa
residência. Ao abrir a porta, senti o cheirinho que só o nosso lar tinha.
Aqueles segundos ao entrar seguido de minha família, me deu a maior
certeza que não trocaria aquela vida que tinha com o meu marido e meus
filhos por nada no mundo.
Meses depois...
No carro, nós dois conversamos com Pietro sobre não bater nos
coleguinhas, mesmo que eles tenham dito alguma coisa que não o agradou.
Pietro era um menino muito inteligente, ele nos ouviu e prometeu não fazer
novamente. Eduarda ficou chateada quando viu Pietro chorando e como
uma boa irmã mais velha, o distraiu brincando com ele.
Fomos até o parque Ibirapuera. Ir para aquele lugar sempre me faz
bem. Aquela foi a primeira vez que levei Filippo e as crianças até lá. Sentei
no banco me apoiando em meu marido que apertou seus braços em torno
de mim, e fiquei observando nossos pequenos brincarem.
— Bello... Percebi que você está aéreo. Aquele disgraziato do
Vasconcelos te disse alguma coisa, porque se ele fez… — interrompi-o com
um beijo.
— Não, meu amor. Estou aqui me lembrando dos meus pais. Eu
costumava sempre vir aqui com meu pai e agora estou aqui com meu
marido e meus dois filhos. Só queria que eles pudessem ver como estou
feliz. — Senti meus olhos arderem.
— Eu tenho certeza que eles estão te vendo e se orgulhando do
homem cheio de caráter que eles colocaram no mundo. E sei que minha
sogra me amaria — brincou Filippo.
— Com certeza minha mãe não iria lhe falar nada, ela era a mulher
mais tímida que já vi. Já meu pai, se daria muito bem com Lucca, ele adorava
uma boa dose de brincadeira. Papai fazia de tudo para ver um sorriso no
rosto de mamãe, o amor deles era muito lindo — disse recordando-me dos
rostos doces dos meus pais.
— Eles deveriam ser pessoas muito especiais — falou Filippo com
olhar longe.
— Oh, sim, eles eram! Se papai estivesse aqui, estaria nesse
momento correndo com as crianças, era assim que ele fazia comigo.
Quando desse o horário de ir, ele nos mandaria ir à sua casa para que
mamãe pudesse dar as crianças biscoitos de goma que ela adorava fazer. —
Sorri.
— Você fica lindo quando está com essa expressão leve. — Selou
meus lábios.
— Papai, babo! — As crianças gritaram correndo em nossa direção
acompanhadas por mais duas crianças.
Duda vinha ao lado de uma menininha de cabelos loiros compridos e
olhos azuis-acinzentados, ela era linda. Já Pietro, vinha ao lado de um
menininho de cabelos e olhos pretos. As vestimentas bem-postas o fazia
parecer um mini homem. Eles deviam ter mais ou menos a mesma idade
que Eduarda e Pietro. Meus filhos vieram saltitantes, era visível que estavam
felizes porque tinham feito novos amigos
— Viu que eu disse que eu tinha dois papais também — disse Duda
para menina, que ficou vermelha de vergonha.
— Olhe só para o meu babo, ele é glandão. Ele é um super-helói! —
disse no ouvido do menininho, mas foi tão alto que todos ouviram.
— Ele é bem grande mesmo, mas o meu papai também é — disse o
menininho que deveria ter quase quatro anos.
— Olá, crianças! Eu sou Luti e esse é Filippo, meu marido. Como
vocês se chamam? — perguntei.
— Eu sou Sofia e esse é o meu irmãozinho Joaquim — respondeu a
menina, segurando a mão de Duda.
— Sofia! Joaquim! — Dois homens grandes apareceram à procura
das crianças, naturalmente deviam ser os pais deles.
As crianças foram em sua direção e o homem loiro carregou Joaquim,
enquanto o moreno carregou Sofia.
— Olhe só, painho! Fizemos novos amigos. Aqueles ali são Eduarda e
Pietro. Os homens ali são os seus pais — disse Sofia ao moreno como um
sorriso doce, apontando para nós.
— Que coisa boa! Desculpe aparecer assim gritando, mas não somos
daqui e ficamos preocupados com o sumiço de nossos filhos — disse o
homem loiro.
Olhando bem para ele e Sofia, percebi que eles tinham enormes
semelhanças.
— Não se preocupem, nós entendemos perfeitamente. Não é
mesmo, bello? — perguntou Filippo colocando-se de pé.
— Sim. — Levantei-me em seguida.
— Eles estavam seguros conosco.
As quatro crianças já estavam juntas novamente.
— Deixe-me nos apresentar. Eu sou Breno e esse é o meu marido
Noah Albuquerque. Prazer em conhecê-los — disse
Breno nos cumprimentando com um aperto de mão.
— Eu sou Luiz Otávio, mas podem me chamar de Luti e esse é o meu
marido Filippo Aandreozzi.
Os dois arregalaram os olhos ao ouvirem o nome de Filippo e se
entreolharam nervosos.
— Nossa! Estou conhecendo o italiano mais linha dura dos negócios que o
Brasil já viu — disse Noah, recebendo uma cotovelada do marido. — Ai,
gatinho, essa doeu! Oxente!
— Eu só sou exigente nos meus negócios, nada demais —
defendeuse Filippo, com uma carranca.
Lancei-o um olhar de repreensão.
— Vocês disseram não ser daqui, não é? Percebo um sotaque
engraçado, de onde são? — perguntei curioso. O modo arrastado em que
eles falavam era diferente e isso era legal.
— Você acha que temos sotaques? Nunca percebi! Somos de
Salvador, já foi até lá? — perguntou Breno.
— Não! Mas adoraria ir um dia. — Fui simpático.
Isso era difícil de acontecer, mas eu havia ido com a personalidade
deles, pereciam ser pessoas do bem.
— Se você quiser, podemos ir em uma viagem rápida neste final de
semana, é só preparar o jatinho. Você quer, bello? — perguntou já puxando
o celular do bolso interno do paletó.
— Acalme-se, amor. Você às vezes é tão surreal — disse ouvindo a
risada leve de Breno.
— Eu te entendo perfeitamente. Acho que vivemos o mesmo drama.
Seu marido é tão ciumento ao ponto de deixar uma viagem de trabalho,
porque não confia no seu amigo? — perguntou Breno, fazendo-me soltar
uma gargalhada e assentir.
Noah e Filippo nos olharam confusos.
— Nem me fale, viu?! Acredita que o meu marido ficou com ciúmes
do Christian Grey? O seu é assim? — perguntei vendo Breno ainda rir.
— Minha amiga Chloe faz de tudo para deixar Noah com ciúmes —
revelou Breno.
— No meu caso é o meu amigo Beto e os irmãos de Filippo.
— Nós estamos aqui! — disse Filippo.
Olhamos para ele e Noah e os vimos nos encarar de braços cruzados.
— Breno, não temos um jantar com seu amigo mala sem alça para ir?
— Noah perguntou.
Breno olhou as horas e assentiu.
— Nós também vamos à um jantar, bello. Temos que levar as
crianças para comer — disse Filippo olhando-me sério.
— Tudo bem, foi muito bom conhecer vocês. Breno e Noah, vocês
tem filhos lindos — disse.
Breno sorriu e entregou-me seu cartão.
— Aqui, eu gostei de vocês. E os filhos de vocês também são lindos
— disse ele e então, deu-me um breve abraço em seguida.
— Boa sorte com o amigo mala, odeio esse tipo de gente! — disse
Filippo apertando a mão de Noah.
— Nem me fale, Aandreozzi! Obrigado! — disse Noah cordialmente.
Esperamos as crianças se despedirem de seus novos amigos, era
muito bom ver famílias lindas como a de Noah e Breno. Isso me dava mais
certeza que ainda existia amor puro e bonito no mundo cheio de
preconceito, violência e muitas outras coisas ruins.
— Amor, onde vamos comer? — perguntei levemente curioso, ao
entrarmos no carro.
— Vamos ao Benedetti, quero mostrar aos meus filhos o lugar que
tive o prazer de conhecer o homem que amo e que me faz feliz — disse o
meu ursão fazendo meu coração saltar no peito.
— Por mais que odeie admitir, tenho que confessar que me
apaixonei por você naquela noite, mesmo sendo um grosseirão.
Ele sorriu abertamente.
— Lo so, è successo anche a me bello. (Eu sei, isso aconteceu comigo
também, bello ) — disse Filippo com um olhar doce.
— Ti amo molto.
— Ti amo più, il mio bello.