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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ – UESPI

CAMPUS POETA TORQUATO NETO


CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E ARTES
LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA
DISCIPLINA DE LINGUA BRASILEIRA DE SINAIS

RESUMO DO SEMINÁRIO DE LIBRAS COM A TEMÁTICA


SURDOLIMPIADAS

Carlos Augusto Fernandes de Medeiros


Francisca Maiara Rodrigues Lima
Janilza de Jesus da Silva
Leilane Cristina da Silva Lima

TERESINA
2023
INTRODUÇÃO

O presente resumo é parte do seminário apresentado no dia 13 de


outubro para a disciplina de Lingua Brasileira de Sinais (LIBRAS) ministrada
pela Profª Júlia Maria Muniz Andrade, como requisito para obtenção da
primeira nota avaliativa.
A temática apresentada pelo grupo será as Surdolimpiadas, evento
multidesportivo que ocorre de quatro em quatro anos, organizado pelo Comitê
Internacional de Desportos para Surdos (ICSD), possuindo tanto a edição de
verão, quanto a edição de inverno, o evento ocorre um ano após as
Olimpiadas/Paraolimpiadas e um ano antes da Copa do Mundo de Futebol
Masculino.

HISTÓRICO

As Surdolimpiadas surgiram no ano de 1924 com a denominação de


“jogos internacionais silenciosos”. Os jogos ocorreram na capital da França,
Paris e a iniciativa da criação e promoção do evento foi do francês Eugene
Rubens-Alcais, presidente da então “Federação Esportiva do Surdo-Mudo”,
criada em 1922 com o objetivo da promoção dos esportes para a comunidade
surda, com o objetivo de demonstrar para a sociedade que as pessoas surdas
eram tão capazes quanto as pessoas “normais”. Cabe salientar que o evento
foi o primeiro a ser direcionado especificamente para as pessoas com algum
tipo de deficiência.
Na primeira edição participaram os seguintes países: França (anfitriã),
Bélgica, Holanda, Grã-Bretanha, Hungria, Itália, Polônia, Romênia e
Tchecoslováquia. Posteriormente, o evento só deixou de ser disputado em
meados dos anos 1940, em meio a Segunda Guerra Mundial, com um hiato de
10 anos do evento disputado em Estocolmo – Suécia (1939) até Copenhagen –
Dinamarca (1949), no mesmo ano de 1949 foram criadas as Surdolimpiadas de
inverno.
O primeiro país fora da Europa a sediar e participar do evento foram os
Estados Unidos da América, que tiveram papel fundamental para retomada da
competição após o final da Segunda Guerra Mundial, com a criação da
Associação Atlética para os Surdos da América, a capital federal de
Washington teve esse privilégio no ano de 1965.
Em 1966, o evento passou a ser denominado como “Jogos Mundiais
para Surdos” e/ou “Jogos Mundiais Silenciosos, e a partir do ano 2000 passou-
se a adotar a nomenclatura atual de Surdolimpiadas. Atualmente 108 países
são filiados a ICSD e o evento teve até os dias atuais 24 edições, sendo a 25ª
edição prevista para 2025, na cidade de Tóquio (Japão).

CRITÉRIOS DE PARTICIPAÇÃO E REGULAMENTOS ESPORTIVOS

Para participar da Surdolimpiada, a pessoa deve no mínimo ter o déficit


de 55 décibeis em seu melhor ouvido, conforme especifica as recomendações
da OMS e de outros órgãos clínico-médicos que definem a surdez. Além disso,
objetos como aparelhos auditivos e outros que podem trazer “vantagem
auditiva” são proibidos na competição, sendo permitido apenas o uso da
linguagem e dos estímulos visuais, de forma a permitir uma competição justa e
equitativa.
Quanto ao regulamento dos esportes, estes seguem normalmente o que
é estabelecido pelas federações internacionais de cada esporte, com a
diferença que se substitui os estímulos auditivos pelos estímulos visuais. Por
exemplo: no futebol o apito é substituído por sinalizações visuais e bandeiras
para aplicação de impedimentos, faltas e pênaltis, e o juiz precisa estar todo
tempo de frente ao jogador, enquanto na natação a largada assemelha-se a um
sinal de trânsito, no qual o vermelho é atenção, o amarelo é posicionamento e
o verde significa a largada.
Nos esportes que envolvem luta como karatê e judô, a marcação de
pontos é visual e gestual, e no golfe se utilizam desenhos para chamar a
atenção do competidor. No esporte de orientação, cujo é exclusivo das
Surdolimpiadas, o participante fica proibido de utilizar GPS ou qualquer item
eletrônico, devendo fazer uso apenas de bússola para atravesser o terreno,
que tem irregularidades e saliências.

ESPORTES QUE FAZEM PARTE DAS SURDOLIMPIADAS

Atualmente 19 esportes fazem parte das Surdolimpiadas, sendo 15


individuais e 4 esportes coletivos, sendo estes:
INDIVIDUAIS: Atletismo, Badminton, Boliche, Karatê, Ciclismo, Mountain Bike
(Estrada), Golf, Judô, Lutas (livre e greco-romana), Natação, Orientação, Taekwondo,
Tênis de mesa, Tênis, Tiro Esportivo.

COLETIVOS: Basquete, Futebol, Handebol e Vôlei (Quadra e Praia).

PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NAS SURDOLIMPIADAS

O Brasil só começou a participar das Surdolimpiadas em 1993, em Sofia


(Bulgária), devido a homologação em caráter oficial da Confederação Brasileira
de Desportos de Surdos (CBDS) ter sido realizada pela ICSD no ano de 1987.
Neste ano o país enviou dois representantes para a natação, Alexandre
Carvalho Grade e Jiovana Cordeiro.
Até a Surdolimpiada de 2005, os representantes brasileiros participavam
somente da natação. Na Surdolimpiada de 2009 em Taipei (Taiwan), o Brasil
enviou representantes para diferentes esportes, como o ciclismo e o judô. A
principal curiosidade é que justamente a primeira medalha do país foi
conquistada pelo judoca Alexandre Fernandes em Taipei.
O atleta também conquistou uma medalha em 2017 na Turquia e outra
em 2021(2022), possuindo três das quatro medalhas da história do judô
brasileiro, e somando Judô e Karatê, o Brasil possui 7 medalhas nos esportes
que envolvem artes marciais.
No entanto, o maior medalhista do Brasil nas edições Surdolimpicas é
oriundo na natação e atende pelo nome de Guilherme Maia. Guilherme iniciou
sua trajetória na natação na Surdolimpiada de Copenhagen - Dinamarca
(1997), e possui 7 medalhas de todas as 17 ganhas desde 2009, sendo duas
delas as únicas de ouro e de prata que o Brasil já conquistou na história das
Surdolimpiadas.
As outras três medalhas são em esportes coletivos, uma é do Handebol
Feminino que em sua estréia em 2021 (2022) levou o bronze e as outras duas
do Futebol Feminino, que conquistou em 2017 (ano de estréia) e em
2021(2022). O Brasil possui 17 medalhas, sendo 1 de ouro, 1 de prata e 15 de
bronze, e teve sua maior delegação em 2021 (2022) com 199 atletas em 17
esportes masculinos e 14 esportes femininos.

SURDOLIMPIADAS NO BRASIL EM 2021 (2022).


O crescimento dos esportes Surdolimpicos no Brasil contrastam com o
Brasil como país sede da competição no ano de 2021, no qual houve a disputa
apenas no ano de 2022 por causa da pandemia, a Surdolimpiadas de 2012
(2022) foi a primeira da história na América Latina. A cidade escolhida para
sediar as Surdolimpiadas foi Caxias do Sul-RS, e cidades vizinhas como
Farroupilha também sediaram esportes.
As Surdolimpiadas tiveram financiamento majoritário do setor privado,
que investiu do próprio bolso para que se fosse realizado o evento, e
reaproveitou-se as instalações esportivas já existentes. Apesar de sua
importância, empresários da região reclamam bastante do prejuízo que tiveram
diante do baixo retorno da competição e da falta de apoio do poder público.
Se financeiramente o evento trouxe reclamações, esportivamente as
Surdolimpiadas tiveram êxito em estimular as competições esportivas para as
pessoas surdas e em trazer visibilidade aos esportes e cultura das pessoas
surdas no Brasil. O país teve sua melhor participação na história, ganhando 6
medalhas, todas de bronze. Duas com Guilherme Maia na Natação de 100m e
200m livres, duas no judô com Alexandre Fernandes nos 90kg e com Rômulo
Crispim nos 66kg, além dos bronzes no Handebol e Futebol femininos.
No geral, o evento teve a participação de mais de 70 países, com o
Brasil terminando em 44º lugar no quadro geral de medalhas. O país com o
maior número de medalhas foi a Ucrânia com 62 medalhas de ouro, 38 de
prata e 38 de bronze, que beneficiou-se da ausência da Rússia, que foi banida
dos eventos esportivos devido a guerra contra a Ucrânia pelo território da
Criméia.

IMPACTO SOCIOCULTURAL DAS SURDOLIMPIADAS NA VIDA DAS


PESSOAS SURDAS E OS DESAFIOS DE SER UM ESPORTISTA SURDO

O prejuízo financeiro alegado pelos empresários reflete diretamente na


desvalorização dos esportes para surdos no Brasil, se nas Paraolimpíadas o
Brasil é uma potência, a situação é oposta nas Surdolimpiadas. Antes da
criação do Bolsa Atleta e em alguns casos até os dias atuais, muitos atletas
iam para as Surdolimpiadas com recursos próprios, ajuda de amigos e
parentes, venda de rifas, sorteios e bingos ou mediante a emenda de alguns
políticos, como no caso da participação da equipe de natação nas
Surdolimpiadas de 2001 em Roma e a viagem das atletas de handebol para
Caxias do Sul em 2021 (2022).
A profissionalização é um desafio na vida do atleta surdo, pois ele
muitas vezes concilia sua condição esportiva com outras profissões, ou transita
por vários esportes, como no caso de Alexandre Fernandes, que antes do judô
passou por outras modalidades, e quando venceu a medalha de bronze tinha
menos de 4 anos de carreira como judoca. Árika, do handebol feminino é outro
exemplo, no qual ela, assim como suas companheiras não tinham tempo de
treinamento, e foram reunidas às vésperas dos jogos à partir da convocação
pela internet da CBDS, a atleta pratica além do handebol o futsal.
Além disso, nem sempre o esportista surdo dispõe de uma interação
entre os iguais, já que o seu percurso no esporte inicia e tem uma certa
trajetória com os atletas ouvintes, ou o surdo pratica paralelamente com os
atletas ouvintes e os iguais, por muitas vezes por falta de referência.
O encontro entre os “iguais”, no caso os surdos, mostra-se benéfico não
só esportivamente, mas também no desenvolvimento da identidade e cultura
surda, pois as pessoas surdas interagem com as diferentes línguas de sinais
presentes no mundo e com diferentes concepções de se enxergar a pessoa
surda, como um relato de um dos atletas, no qual os estrangeiros admiraram-
se pelo Brasil não possuir uma equipe de futebol surda, mesmo sendo o país
do futebol.
Na Ucrânia, a maior medalhista de 2022, o trabalho com as crianças
surdas tem seu início desde a primeira infância com escolas especializadas em
cada região do país e o fomento a práticas esportivas voltadas para as pessoas
com deficiência, naquele país a competição teve sua importância em meio a
guerra pela Criméia, no qual a população prestigiou os atletas daquele país,
apesar de todos os acontecimentos, no qual muitas pessoas surdas perderam
a vida e de muitos desses atletas surdos estarem refugiados em países
europeus.

CONCLUSÃO

O evento torna-se importante para a contribuição e o conhecimento da


população em geral sobre a cultura, a identidade linguistica e a comunicação,
possibilitando a promoção do esporte para as pessoas surdas, como preconiza
a Constituição Federal de 1988, que destaca que as pessoas com deficiência
têm direito a cultura, ao esporte e lazer e a educação.
A educação, aliás, deve ser o caminho para que se conheça e se
estabeleça o esporte surdo e a sua identidade como uma forma de inclusão e
participação destes nos diferentes setores da sociedade, pois o esporte é parte
do processo educacional desde as primeiras fases da vida, e uma educação
inclusiva deve conhecer a pessoa surda à partir de sua cultura e identidade, e o
esporte é parte dela.
REFERÊNCIAS

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil


de 1988. Brasília, DF: Presidência da República, 2016.
DEAFLYMPICS. Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS).
Disponível em: CBDS - Confederação Brasileira de Desportos de Surdos.
Acesso em: 09 out 2023.
DEAFLYMPICS DE VERÃO. Deaflympics. International Committee of Sports for
the Deaf (ICDS). Disponível em: USADSF | International Committee of Sports
for the Deaf (usdeafsports.org). Acesso em: 09 out 2023.
DI FRANCO, M.A.R. [et al..] Surdoatletas nas Deaflympics: Silêncios da
Memória Esportiva Brasileira. Rio de Janeiro: Arquivos em Movimento, v. 1, n
1, 2021. SURDOLIMPIADAS. In:
WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Wikimedia, 2023. Disponível em: <
Surdolimpíadas – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)>. Acesso em:
09 out. 2023.
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