Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Reitoria do IFNMG
Rua Professor Monteiro Fonseca, 216
Vila Brasília - Montes Claros/MG
CEP:39400-106
Fone: (038) 3201-3050
www.ifnmg.edu.br
facebook.com/Ifnmgoficial
Catalográfica Elaborada pela Bibliotecária Elciax Cristina de Sousa
- CRB/6 2065
v. 1
ISBN: 978-85-67611-27-3
Inclui referências
CDD: 371.3
Editora IFNMG
Montes Claros-MG/2018
Colaboração:
Volume 1
Jeremias Pereira da Silva Arraes UnB
Este livro que chega a suas mãos é uma coletânea que reúne 17 artigos, voltados, primordialmente,
para as áreas de educação e gestão dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. Trata-se de
um trabalho organizado por servidores de nosso IFNMG, em comemoração aos 10 anos da Rede Federal
de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, completados em dezembro do corrente ano.
Por meio deste, o leitor poderá ter acesso a um pouco do que tem sido a história do IFNMG, de
seus campi, servidores, cursos, alunos… e de outros Institutos Federais, cujas experiências são relatadas
em alguns dos artigos selecionados para o livro em questão. Enfim, terá, nesta obra, a oportunidade de
compreender um pouco das ações educacionais, socioeconômicas e culturais realizadas, não somente por
este Instituto como também pela Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica como um todo.
Ações que levam esperança e desenvolvimento a todas as comunidades atendidas pelos IFs, de forma
digna e ética.
Nosso desejo é que este livro sirva como fonte de pesquisa, para estudantes de dentro e fora do
Instituto, e de conhecimento, para a comunidade em geral e demais instituições que se interessarem por
temas relacionados à trajetória dos Institutos Federais.
Expresso aqui nossos sinceros agradecimentos aos autores dos artigos aqui publicados, por doarem
seu tempo e compartilharem seus saberes, em prol da visibilidade do trabalho realizado pelos Institutos
Federais perante a sociedade. Aos demais que também contribuíram para que este livro fosse publicado,
direcionamos também o nosso reconhecimento.
Que esta obra seja o marco inicial, o motivador para mais publicações que venham colaborar
na divulgação do avanço, cada vez maior e melhor, deste representante da Rede Federal de Educação.
Recebam minha gratidão e tenham todos uma boa leitura!
Volume 1
Esta é uma publicação comemorativa. Foi elaborada em razão dos 10 anos dos Institutos
Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, inaugurados em 2008. Um livro que congrega diversas
das características dessa rede pública de ensino e as apresenta em seu próprio processo de confecção.
Esse trabalho é uma iniciativa do Grupo de Pesquisa “Estado, Organizações e Desenvolvimento”
(GPEOD) do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG). Trata-se de um grupo multidisciplinar, que
tem como desafio pesquisar e promover a articulação entre ações de gestão nos Institutos Federais e atividades
de ensino, pesquisa e extensão.
A elaboração deste livro se deu por meio de Chamada Pública (Edital IFNMG nº 121, de 12 de abril de
2018), que teve como finalidade selecionar capítulos de produção acadêmico-científica, resultantes de pesquisas,
estudos teóricos e relatos de experiências sobre os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia.
Nesse contexto, a definição de uma Chamada Pública como instrumento de divulgação e seleção se deu
por dois motivos: primeiro, por considerar os princípios de impessoalidade e transparência (todos os artigos
foram submetidos a uma avaliação cega por no mínimo três avaliadores Ad Hoc, pertencentes ao quadro dos
Institutos Federais e Universidades de todas as regiões do país); segundo, por possibilitar a submissão de
trabalhos por docentes e técnicos administrativos de diversas instituições, contribuindo, assim, para fortalecer a
Rede Federal de Educação, Ciência e Tecnologia.
Aliás, essa é uma característica que parece se ressaltar cada dia mais na Rede, que é exatamente sua
capacidade de atuar com capilaridade e abertura para a inclusão e integração regional. E isto, o leitor poderá
observar claramente neste livro, pois recebemos contribuições de todas as regiões, e não apenas dos Institutos
Federais (IF’s).
Infelizmente não foi possível publicar todos os artigos, já que o número de submissões (para imensa
satisfação da Comissão Organizadora, cabe registrar) foi bem superior à capacidade prevista. O edital previa
a publicação de aproximadamente 12 artigos, mas, considerando que 17 dos artigos obtiveram nota superior à
média de todos os artigos submetidos, a Comissão definiu pela organização do livro em dois volumes, segundo
os eixos temáticos previstos no edital, a saber:
Volume 1
Já o artigo “Uso de desenhos táteis para aumentar o acesso de deficientes visuais à informações
esportivas” apresenta uma experiência exitosa de educação inclusiva, demonstrando a importância da utilização
de metodologias inovadoras e abrangentes, que possam garantir mais que o acesso à instituição, mas também a
qualidade do processo de ensino-aprendizagem para todos os estudantes que ingressam nos Institutos Federais.
Por fim, o artigo “Projetos de ensino como recurso à aprendizagem estatística: um enfoque no
desenvolvimento do pensamento estatístico” possibilita o conhecimento de uma abordagem diferenciada para
o ensino de estatística, mais contextualizada e envolvente. Os estudantes têm uma participação mais ativa por
meio dessa estratégia, que além de focada na resolução de problemas, apresenta um caráter interdisciplinar.
Volume 1
14 Institutos Federais: Educação, Gestão e Atuação
O PAPEL DO PIBID PARA PERMANÊNCIA E ÊXITO DOS
ACADÊMICOS DAS LICENCIATURAS DO IFNMG – SALINAS
Resumo: Com a iniciativa de contribuir para a formação docente, foi proposto, em 2007, no Brasil, o
Programa Institucional de Iniciação à Docência (PIBID). O PIBID é uma iniciativa para o aperfeiçoamento
e a valorização da formação de professores para a educação básica. O Programa concede bolsas a
acadêmicos de licenciatura, participantes de projetos de iniciação à docência desenvolvidos por Instituições
1
Professora de Didática e Fundamentos da Educação do IFNMG Campus Salinas. Doutora em Educação/ Formação de Professores
Email: edna.oliveira@ifnmg.edu.br
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8549987367452713
2
Professora de Didática e Fundamentos da Educação do IFNMG Campus Salinas. Doutoranda em Educação/ Inclusão Social
Email:giuliana.sa@ifnmg.edu.br
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6239296315251066
3
Professora de Didática e Fundamentos da Educação do IFNMG Campus Salinas. Mestre em Educação/ Currículo e Prática Docente
Email: lilian.santos@ifnmg.edu.br
Lattes: http://lattes.cnpq.br/3691039570938526
Volume 1 15
THE ROLE OF PIBID FOR PERSISTENCE AND SUCCESS FOR
ACADEMICS OF THE LICENSEES OF IFNMG - SALINAS
Abstract: Intending to contribute to teachers training it was proposed in Brazil, in 2007, the Institucional
Scholarship Program of Teacher Training/ Programa Institucional de Iniciação à Docência (PIBID). The PIBID
is a public policy with an initiative to improvement and valorization of teachers training to basic education.
The program grants scholarships to the students of Teaching Courses who engage in projects developed by
Institutions of Higher Education (IHE) in partnership with public schools of basic education. The projects must
promote the inclusion of the teaching courses’ students in the public schools since the beginning of their majors
so that they can develop pedagogical activities under orientation of the teaching course’s professor and the
public school teacher. In this context, the research intended to understanding the relevance of PIBID in defining
the identity of the scholarship holders in the following Teaching Courses (Mathematics, Chemistry, Biology
and Physics) at IFNMG- Salinas campus. It also sought to comprehend the role of the Program’s scholarships
for the students to keep on their studies. It is a qualitative exploratory research that used an online questionnaire
for data collection, 117 students were surveyed. The results have shown that the scholarship holders intend to
pursue a teaching career; the scholarships contribute for the students keep on their studies and the Program has
given successful results.
Volume 1 17
Figura I: Origem dos bolsistas na região Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha
Quanto ao perfil dos alunos dos cursos de licenciatura, vê-se que os acadêmicos são, na maioria, da
cidade de Salinas, e os demais moram próximo ao IFNMG/ Campus Salinas, em cidades vizinhas.
Esta pesquisa teve como objetivo compreender as contribuições do PIBID na definição da identidade
docente dos bolsistas dos cursos de Licenciatura (Matemática, Química, Ciências Biológicas e Física) do
IFNMG – Campus Salinas, bem como compreender o papel das bolsas do Programa para permanência e êxito
do acadêmico no curso.
A falta de conexão entre a formação nas Universidades e o campo da prática é apontada por Zeichner
(2010) como um problema eterno na formação para a docência. O distanciamento entre os espaços de formação
e de trabalho deve constituir fator de grande preocupação entre os responsáveis pela formação dos professores,
pois a escola é o espaço estruturante da atividade docente. Tardif (2011) aponta que os saberes profissionais
dos professores são situados, ou seja, são construídos e ganham sentido em função dos contextos de trabalho
nos quais são exercidos. Ainda questiona o modelo universitário de formação profissional ao discutir o papel
das faculdades de educação na formação dos futuros professores, observando que os cursos são geralmente
idealizados segundo um modelo apenas “aplicacionista” (TARDIF, 2011, p. 270).
Saviani (2009), Manrique (2008) apontam que um dos principais problemas dos cursos de licenciatura é
trabalhar conhecimentos específicos e pedagógicos de forma desarticulada, descontextualizada e sem significado
para os licenciados, o que os impede de compreender a importância desses conhecimentos para o trabalho como
professor. Outro autor que faz crítica a esse modelo de formação é Arroyo (2007), afirmando que as propostas
curriculares, diretrizes e normas tomam como referência modelos idealizados de docência, desconsideram a
prática concreta dos professores e suas condições de trabalho. Assim, “[...] pensar a formação numa abordagem
que vá além da acadêmica, envolvendo o desenvolvimento pessoal, profissional e organizacional da profissão
docente”, faz-se urgente (NUNES, 2001, p.28).
Dessa forma, compreender a constituição do ser professor é compreender sua identidade, que perpassa
diversos fatores que vão desde a sua socialização primária, enquanto aluno da escola, seguindo para a formação
[…] uma construção social marcada por múltiplos fatores que interagem entre si, resultando numa
série de representações que os docentes fazem de si mesmos e de suas funções, estabelecendo,
consciente ou inconscientemente, negociações das quais certamente fazem parte de suas histó-
rias de vida, suas condições concretas de trabalho, o imaginário recorrente acerca dessa profissão.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa com abordagem qualitativa, do tipo exploratório, que utilizou questionário
online para coleta de dados. Os sujeitos da pesquisa foram 117 acadêmicos bolsistas do PIBID dos cursos
de licenciatura (Química, Física, Matemática, Ciências Biológicas) do Instituto Federal do Norte de Minas
Gerais – IFNMG/ Campus Salinas, no primeiro semestre de 2017. Retornaram 80 questionários, que foram
analisados à luz do referencial teórico. Os licenciandos bolsistas foram denominados ao longo do texto
como Pibidianos e foram nomeados como: P1, P2 e assim sucessivamente.
Optou-se, dado o volume de respostas abertas, por proceder em aglutinar as respostas por
semelhanças e criar categorias, o que permitiu abarcar um volume de respostas representativas do ponto
de vista das narrativas dos bolsistas. Verificou-se muita convergência nas respostas dos acadêmicos
participantes, conforme se observará nas análises a seguir expostas.
Volume 1 19
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A posse de capital escolar e cultural garante oportunidades diferenciais de ingresso no ensino superior ou
em diferentes cursos na Universidade, o que se relaciona com a origem social e que tem efeito de acumu-
lar continuamente esse tipo de capital simbólico. Por exemplo, isso pode elucidar a grande demanda e o
sucesso no vestibular de filhos de famílias de mais alta renda em cursos de prestigio maior, como medi-
cina e direito. Pode também elucidar o acesso a determinados cursos por candidatos de origem social em
frações de classe com menor posse de capital econômico e maior posse de capital cultural e, finalmente,
esclarecer o ingresso de alunos com menor posse de capital econômico e cultural nos cursos de menor
prestigio (DINIZ, 2006, p. 80, grifos do autor).
Volume 1 21
Gráfico II: A aplicação dos recursos da bolsa do PIBID por categoria
Com relação à importância, aplicação e destinação dos recursos da bolsa do PIBID, faremos
alguns destaques das narrativas: “Só tem me motivado a continuar no curso”; “ofereceu a permanência no curso,
pela falta de condições financeiras. Além, de auxiliar na decisão profissional”; “facilita a escrita/submissão de
trabalhos para ir em eventos” e
O programa é essencial para minha formação, pois além de apresentar as realidades da profissão docente,
possibilita um auxílio financeiro, de modo que eu tenho a disponibilidade maior de estudar e dedicar ao
meu curso, sem necessitar trabalhar. (P11)
Além de ser pouca a carga horária nos proporcionando mais tempo para estudar, o dinheiro vem a calhar
muito bem pra tirarmos xerox e vir pra escola, o Pibid nos ajuda a saber verdadeiramente se queremos ser
professores, nos aproximando da nossa futura realidade. ( P23,P56,P69)
Primeiramente, o PIBID foi o que desde os primeiros semestres do curso tem me assegurado condições
em carácter de permanência, pois, através deste, eu consigo me “ajeitar” e dividir, com familiares e cole-
gas, despesas como aluguel, alimentação, higienização, transporte etc. Além disso, o PIBID me dá condi-
ções em termos materiais para a permanência no curso também me habilita postura ética/moral para lidar
com senso crítico numa visão holística e transformadora perante o novo contexto educacional marcado
pelas inúmeras reformas.( P45, P68,P45, P8, P32)
Vê-se pelas narrativas dos pibidianos que a bolsa se torna suporte financeiro, permitindo a permanência deles no
curso. Importante observar que, quando esse suporte é citado, vem acenando algo a mais, há sempre um complemento
como: “mais tempo pra estudar e me dedicar a meu curso”, “ajuda a saber se verdadeiramente se queremos ser
professores”, “tem motivado a continuar no curso”, me habilita ética e moralmente para lidar com senso crítico”.
A próxima questão respondida pelos “Pibidianos” se referia à importância do PIBID para formação da identidade
docente. O gráfico a seguir assinala que 95% dos acadêmicos consideram o Programa como muito importante nessa
construção.
Entrei no curso com a ideia de que não queria exercer a docência, mas, ao conseguir o PIBID,
a visão que eu tinha de sala de aula mudou totalmente. ( P9, P18, P66, P52)
Pois as experiências durante as observações das aulas apontam as dificuldades que irei enfren-
tar caso eu escolha esta profissão: PROFESSOR.(P59)
Eu me descobri quando comecei o PIBID. Apesar de gostar de Biologia, no início do curso não
me via como futura professora. Ao entrar para o PIBID, me apaixonei pela licenciatura.(P.7)
A intenção não é ser professor, porém, o PIBID está mexendo nessa decisão.(P17)
Me ajuda a decidir se desejo mesmo atuar na área da educação ou em outras áreas. Antes de
ingressar no PIBID, não tinha tanta vontade de exercer a profissão. (P31)
Volume 1 23
Muitos depoimentos mostram que o PIBID tem um grande papel como reforçador da escolha para ser
professor e para incentivar estudantes a escolher a licenciatura. A oportunidade de entender e viver a escola faz
com que eles se voltem para a docência e atribuam valor à atividade de ensino na educação básica.
Porque conhecendo o PIBID me ajuda a conhecer um pouco mais do cotidiano de um professor, bem
como os pontos relevantes da carreira. A realidade da escola, saberemos se queremos ou não seguir car-
reira.(P10)
Pois com o PIBID eu posso ter contato direto com o ambiente escolar, compreender na prática como um
professor se comporta em sala de aula e os melhores métodos para facilitar a aprendizagem dos alunos.
Tendo essa visão posso perceber se ser professor é realmente o que quero fazer após a finalização da
graduação.(P33)
Porque através do PIBID temos a experiência do que é ser um professor na prática, e isso é muito impor-
tante. (P43)
O PIBID proporciona a vivência com a realidade do professor, além de contribuir de maneira direta para
o contato com o meio escolar fora da posição de aluno.(P51)
Sim, pois consegui vivenciar melhor a vida do professor, sua real responsabilidade e o prazer em ensinar.
(P3)
Através do PIBID, tenho contato direto com a sala de aula e com a realidade vivenciada pelo professor.
(P29)
Pois, através do PIBID, posso conhecer, de fato, como será o meu futuro local de trabalho, assim como as
situações que o permeiam. (P1)
O Programa me coloca no ambiente escolar junto com professores, alunos e instâncias da administração e,
por vezes, dá-me a oportunidade de avaliar cada um desses aspectos, no sentido de perceber as diferenças
de anseios meu e minhas turmas.(P28)
No PIBID que é possível perceber se eu realmente quero atuar na área de educação, visto que dentro da
sala de aula podemos ter uma visão melhor do que é ser um professor, principalmente nas monitorias no
qual temos contato direto com os alunos. (P36)
É a partir do Programa que o acadêmico entende, realmente, o que é estar em uma sala de aula como pes-
soa de autoridade e que será o mediador de ensino-aprendizagem. Nesse momento percebe-se, a respon-
sabilidade imposta ao professor e toda desvalorização do profissional. Entretanto, é com essa experiência
Alguns atributos, como o compromisso com a profissão e a obrigação moral com os alunos, podem
ir emergindo a partir das experiências com o PIBID, quando o estudante começa a se ver como um professor
e passa a assumir um compromisso com a formação das crianças e adolescentes que, por um momento,
passam pelas suas mãos.
Quanto maior for o espaço entre educador e educando, tanto mais possibilidades de aprendizagem
se abrem na escola. “Afinal o espaço pedagógico é um texto para ser constantemente lido, interpretado,
escrito e reescrito” (FREIRE, 2013, p.109). Compreende-se que é de fundamental importância que a escola
repense sua prática pedagógica, tendo a justiça social, a ética e direitos humanos como eixos norteadores.
Para tanto, o professor deve refletir sobre o fazer pedagógico, preparar as melhores condições
a fim de promover a aprendizagem, explorar diferentes práticas de ensino, contextualizar o que estiver
ensinando, utilizar tecnologias, estabelecendo-se assim o que Freire (2013) define como estreita relação
com a realidade conhecida pelos educandos, vivenciada por eles, despertando sua consciência crítica e
Porque a experiência do PIBID me faz refletir de como será quando eu for um professor e a relação
que devo ter com os alunos na prática.( P8)
O PIBID contribui muito com as vivências da prática docente e da relação com os conteúdos da
faculdade.( P.76)
O Programa me auxilia cada vez mais a consolidar a vontade de ser professora, uma vez que possi-
bilita que eu possa ver na prática as vantagens e desvantagens dessa profissão.(P.63)
Toda a prática realizada e experiência vivida dentro da sala de aula, mesmo antes da conclusão do
meu curso, só reforça a certeza que tenho da docência! Toda experiência vivida é base para meu
futuro como docente.(P.71)
Porque através do PIBID, ganhamos experiências com os professores regentes e também, tendo o
contato direto com a escola e consequentemente com os alunos. Nos prepara melhor para a docên-
cia.(P6)
Antecede o contato com a sala de aula, de forma a adquirir experiências e didáticas, podendo ver na
prática o que dá e o que não dá certo dentro da sala de aula.(P.76)
As narrativas dos Pibidianos parecem indicar certa relação entre as necessidades objetivas do
cotidiano escolar, vivenciado por meio do desenvolvimento do projeto e os estudos de algumas disciplinas
na universidade, sejam elas da didática ou específicas. O Programa abre espaço para o afastamento de
reducionismos, tanto teóricos como práticos.
Volume 1 25
Ao refletir sobre a importância da dimensão prática na carreira do professor, Altet (2001) explica que:
[…] o saber da prática é construído na ação, com finalidade de ser eficaz; ele é contextualizado, encarna-
do e finalizado, transformando-se em um saber adaptado à situação. Essa adaptação do saber é construída
a partir da experiência vivida com a ajuda de percepções e interpretações dada as situações anteriormente
vividas (ALTET, 2001, p. 31)
Sendo assim, os saberes se constituem como algo plural que foi construído no âmbito
sociocultural da profissão, podendo apresentar modificações com o passar do tempo, incluindo informações,
crenças, habilidades e aptidões relacionadas a uma determinada profissão. Dessa forma, a identidade que cada
professor constrói baseia-se em um equilíbrio único entre as características pessoais e os percursos profissionais
construídos ao longo da história de vida.
Os depoimentos denotam a importância do PIBID como um programa que dá visibilidade às licenciaturas
e chama a atenção para a especificidade desse curso, agregando valor a ele e a seus graduandos. Há momentos
em que se tem a impressão de que a universidade “descobre” que tem curso de licenciatura e passa a reconhecer
sua importância (GATTI, ANDRÉ, GIMENES et al, 2014).
A última questão da pesquisa perguntou aos Pibidianos como eles veem a docência depois de sua
participação no PIBID. Dado o número de informações, foram criadas categorias que aglutinassem as narrativas.
As categorias dizem respeito: a) trabalho docente como desafiador e difícil; b) compreensão da profissão docente
para além da sala de aula; c) a docência como construção de uma prática positiva e esperançosa; d) ensinar e
aprender como condição para a profissão.
Muitos dos bolsistas expressam uma visão ampla sobre o papel do Programa, embora alguns outros
mostrem uma visão bem específica.
Vejo a docência como uma profissão transformadora, apesar das dificuldades e desafios encontrados por
diversos motivos.(P64)
Uma profissão desafiadora, porém, extremamente importante. Pois todos os profissionais passam por um
professor.(P52)
Vejo com um desafio, pois através do PIBID pude ver a realidade vivida nas escolas públicas e será um
grande desafio para mim. (P10)
Profissão desafiadora e que necessita de reflexão todos os dias. Ser professor não é fácil. (P5)
A docência consiste em estar preparado para um grande desafio a cada dia, onde o professor tem que ser
um ótimo articulador dos meios a que lhe é disponível para proporcionar uma efetiva aprendizagem dos
alunos, apesar das diversas dificuldades que possam impedir a difusão do conhecimento e a significativa
aprendizagem.(P18)
Vejo com um olhar de docente que sabe o que irá encontrar quanto entrar no mercado de trabalho, pois
o Pibid proporcionou uma visão de clientela na qual terei que lidar. Os obstáculos que irei enfrentar e as
pedras que serão colocadas no meu caminho.(P23)
Um meio amplo, que requer compromisso e muita dedicação dos docentes, ensinar é uma tarefa
muito trabalhosa, porém é prazerosa e extremamente gratificante(P37)
A docência, muitas vezes compreendida pura ou simplesmente como o ato de ensinar, tem em si
uma face muito mais complexa, pois, para se ensinar, antes é preciso aprender a ensinar, o que não é tão
fácil como parece. Diante disso, o que ocorre é o fato de o professor possuir suas crenças e ideologias
a respeito do trabalho docente e do ato de ensinar, e que ao chegar ao local de trabalho acaba por entrar
em contraste com a cultura escolar daquele lugar, com o que pensam os colegas e com o que os alunos
esperam.
Assim, conviver neste espaço como Pibidiano possibilita compreender este espaço “difícil e
desafiador” como um dos percursos itinerários da docência de forma segura e refletida.
Com muita responsabilidade, que não é fácil ser professor, que o governo sempre joga a culpa no
professor, que é preciso coragem para seguir.(P61)
Vejo a docência como um desafio que devemos enfrentar diariamente em sala de aula e mesmo
assim lutar por uma educação de qualidade. (P67)
Um professor entrando no mercado de trabalho já sabendo o que vai enfrentar. Acredito que vou me
tornar um professor mais consciente da realidade.(P24)
A docência não é nada fácil, vejo um grande número de alunos que não sabem ler e grande maioria
de alunos não quer nada, e ainda a escola não tem todo o suporte que deveria ter para uma boa
docência.(P12)
Os bolsistas Pibidianos vão demarcando e dando sentido as suas narrativas quando assinalam as
dificuldades do professor para a instância das políticas educacionais, da falta de valorização do trabalho
docente, da precarização do trabalho docente. Problemas no contexto educacional sempre existiram e
sempre vão existir.
Não é de hoje que a luta por melhoria salarial, por aquisição de materiais e equipamentos didáticos/
pedagógicos, enfim, por melhores condições de trabalho, tem sido pauta de reivindicações da categoria
docente. As condições precárias de trabalho impactam, negativamente, o desenvolvimento do processo
educativo, tendo em vista que os alunos também são atingidos por tais condições de trabalho. Partindo do
Volume 1 27
pressuposto de que a prática docente está imbrincada “tanto nas vivências de sua prática pedagógica, como nas
vivências políticas dentro e fora da escola, do seu engajamento político social” (CORRÊA, 2000, p.96), deve
ser concebida como um processo de aprendizado constante.
As narrativas dos bolsistas apontam para melhor compreensão das relações humanas, que são próprias
do trabalho docente (TARDIF; LESSARD, 2005), tendo a possibilidade de buscar mudanças para aperfeiçoar a
sua prática.
Que nós futuros professores podemos fazer a diferença e melhorar a educação no país. Eu me sinto prepa-
rada para assumir uma sala de aula coisa que sem o Pidid seria diferente. Que a bolsa alcance ainda mais
estudantes pelo Brasil.
Que realmente não é fácil ser professor, que a nossa esperança tem que estar acima de qualquer obstáculo,
mas que é possível sim fazer a diferença e nos tornar diferente enquanto professores
Muito produtiva, me imagino uma professora que ministra aulas com excelência, pois o Pibid me permite
vivenciar o mundo dos alunos.
Não é nada fácil, mas minhas experiências só me fizeram querer fazer algo para melhorar a educação.
O caminho que realmente deveria ter escolhido, o caminho pelo qual levarei pessoas comigo, um espaço
que dou o meu melhor.
Com olhos não de julgamento e sim de compreensão, pois consigo enxergar os pontos positivos e negati-
vos que teremos de enfrentar na nossa futura profissão.
Uma visão muito melhor da docência, antes não enxergava sua importância, agora vejo o quão importante
ela é.
Pode-se perceber que os bolsistas apontam os desafios da docência, mas têm esperança de construir
e ser colaborador de uma educação e da escola como espaço de se “fazer a diferença”, e trazem um olhar de
esperança. Para Freire (2013), a esperança faz parte da natureza humana e está intimamente ligada à alegria e,
essa, por sua vez, se faz necessária à atividade educativa. Assim, a “esperança de que professor e alunos, juntos,
podemos aprender, ensinar, inquietar-nos, produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos à nossa alegria”
(FREIRE, 2013, p.80). Para o autor, mudar é difícil, mas é possível.
Seguindo essa linha de pensamento, Guarnieri (2005) enfatiza que parte dos conhecimentos relacionados
à profissão docente só se inicia e se aprende no decorrer da vida profissional, ou seja, é no exercício da profissão
que se constrói e se consolida o processo de tornar-se professor. Dessa forma, o acadêmico pode possuir o mais
vasto conhecimento relacionado à docência, porém, esse conhecimento por si só não o torna professor. É na
prática que esse conhecimento será efetivado e muitas vezes reconstruído. É na prática que o acadêmico passa
da fase discente para a fase docente.
Vejo que são necessários novos métodos e novos professores com novas ideias e disposição para
chamar atenção dos alunos para as aulas, para ensinar e aprender.( P1)
E uma profissão difícil no sentido de responsabilidade para que os alunos saiam com o conteúdo
aprendido, levando para sua vida acadêmica.(P13)
Que, sempre, podemos melhorar. Sempre podemos fazer mais, ou ao menos, tentar. Que devemos
estar dispostos a mudar nossa didática, para que o processo de ensino-aprendizagem também mude.
(P22)
Tenho a visão de dedicar mais no curso para obter uma boa formação e, portanto, futuramente,
poder repassar o que aprendi em sala de aula.(P57)
Depois que entrei no PIBID, vejo de uma forma totalmente diferente a docência. Antes pensava
que quanto mais conhecimento [específico] tivesse seria melhor, mas agora vejo que o grande desa-
fio na escola que atuo é a indisciplina dos alunos e a didática da Faculdade me dá base para poder
lidar com essa situação, por isso depois que entrei no Programa passei a ver o sentido das matérias
pedagógicas no curso.(P77)
Volume 1 29
De forma geral, os Pidianos do IFNMG/ Campus Salinas apontaram os principais aspectos para a construção
da identidade docente em suas múltiplas possibilidades, sobretudo a prática educativa como experiência que discute
a prática, não a prática pela prática, mas a prática refletida e pensada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Verificamos que o PIBID do IFNMG/ Campus Salinas criou espaços fecundos dentro dos cursos de
licenciatura, contribuindo com a construção da identidade dos futuros docentes. A identidade emerge como uma
característica que vai dando sustentação para a ação do exercício docente. Uma questão é “pensar escola”, outra é
“fazer escola”. O PIBID possibilita esta construção tríade, entrelaçada, intimamente imbrincada (Universidade x
Escola x Reflexão sobre a prática).
É necessário entender que a construção da identidade docente é algo permanente, que se serve de cultura
pessoal, que provém de sua história de vida e de sua cultura escolar anterior; também se apoia em certos conhecimentos
disciplinares adquiridos na universidade, assim como em certos conhecimentos didáticos e pedagógicos oriundos
de sua formação profissional.
Ressaltamos ainda que o Programa tem atingido seus objetivos quanto a importância crescente de políticas
de indução de valor e mudanças em posturas formativas de docentes para a educação básica no âmbito do IFNMG.
Além disso, as ações do PIBID estão proporcionando uma formação inicial de maior qualidade.
Os bolsistas também disseram que a participação no Programa ajudou a confirmar a escolha profissional,
motiva-os a seguir carreira como professor e a construir uma visão da profissão e uma identidade profissional.
A participação no Programa com bolsa contribui para a permanência dos estudantes nas licenciaturas, para
a redução da evasão e para atrair novos estudantes e, quiçá, diminuindo a possiblidade do tão prolatado apagão
docente que já se configura nas pesquisas educacionais.
REFERÊNCIAS
ARROYO, M. G. Condição docente, trabalho e formação. In: SOUZA, J. V. A. (Org.). Formação de professores para a
educação básica: dez anos da LDB. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
BRASIL. Programa Institucional de Bolsas de iniciação à docência. MEC: 2010. Disponível em < http://portal.
mec.gov.br/pibid> acesso em abril 2017
BRASIL. Decreto n. 7.219 de 25/06/2010. Dispõe sobre o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência e dá
outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/decreto/d7219.htm >.
Acesso em: jun. 2013.
CORRÊA, V. Globalização e neoliberalismo: o que isso tem a ver com você, professor?. Rio de Janeiro: Quartet.
2000.
DINIZ, J.E. Formação de professores: pesquisa, representações e poder. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2013.
GUARNIERI, M. R. Aprendendo a ensinar: o Caminho nada suave da docência. 2ª ed. Campinas, SP:
Autores Associados, 2005.
TODOS PELA EDUCAÇÃO. Professores no Brasil: Perfil docente, políticas para o magistério e níveis de
formação dos professores brasileiros Maio de 2016 https://www.todospelaeducacao.org.br/arquivos/biblioteca/
perfil_docente_tpe.pdf> acesso em maio 2017.
SAVIANI, D. Formação de professores: aspectos históricos e teóricos do problema no contexto brasileiro. Revista
Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 14 n. 40, p. 143-155, jan./abr. 2009.
Volume 1 31
TARDIF, M.; LESSARD, C. O trabalho docente. Elementos para uma teoria da docência como profissão de
interações humanas. Petrópolis: Vozes, 2005.
TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissiona . 12. Ed. Petrópolis, Rio de Janeiro. Vozes, 2011.
VIANA, M. A. D.. Perfil e perspectivas p ofissionais dos alunos do curso de licenciatura em Matemática do
IFNMG – campus Salinas. Trabalho de Conclusão de Curso. IFNMG: Salinas, 2016.
Resumo: Este estudo apresenta resultados de pesquisa relativos às entrevistas com coordenadores e
professores de três cursos de licenciatura em ciências biológicas de Institutos Federais de Educação,
Ciência e Tecnologia (IFs) de Minas Gerais. São apresentados os dados e análises referentes à categoria de
estudo articulação entre o ensino médio integrado (EMI) e os cursos de licenciatura dessas instituições. A
proposição dessa investigação levou em consideração a expansão da Rede Federal de Educação Profissional,
1
Técnica em Assuntos Educacionais no IFPA. Mestra em Educação Tecnológica pelo CEFET-MG.
E-mail: bruna_ifnmg@outlook.com
Lattes:: http://lattes.cnpq.br/8601109569262887
2
Professor do IFNMG. Doutor em Administração pela UFMG. Mestre em Educação, Cultura e Organizações Sociais pela
FUNEDI.
E-mail: edson. antunes@ifnmg.edu.br.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1176141467543002
Volume 1 33
INTEGRATED HIGH SCHOOL AND AN UNDERGRADUATE IN FEDERAL
INSTITUTES SCIENCE AND TECHNOLOGY
ABSTRACT
This study presents research results related to interviews with coordinators and professors of three teaching
education programs in biological sciences of Federal Institutes of Education, Science and Technology of Minas
Gerais. The articulation between vocational education integrated to academic high school and undergraduate of
these institutions is considered a category of study, and the data and analyses related are presented. The proposal of
this research considered the Federal Network of Professional, Scientific and Technological Education expansion,
especiallrams. The results showed that less than half of the interviewed teachers understand the integration
with high school properly, however it was pointed out that there are within the three courses investigated,
initiatives of articulation between the undergraduate and the integrated high school. Thus, the hypothesis that
Federal Institutes present themselves as a differentiated locus for teacher training in the country is confirmed.
At Federal Institutes is possible to promote a promising dialogue between undergraduate and integrated high
school education, promoting teacher training that is in line with demands of the federal network, as can be seen
at the integrated high school teacher.
KEYWORDS: Articulation; Teaching education programs; Integrated high school; Federal Institutes.
3
Os resultados apresentados compõem parte dos que foram alcançados quando da realização de pesquisa no mestrado em Educação Tecnológica, no Centro
Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), sobre as Licenciaturas em Ciências Biológicas dos IFs mineiros e o ensino médio integrado.
Dissertação que também foi publicada em formato de livro. Cf. Oliveira (2016) e Oliveira (2017).
Volume 1 35
Ao se trabalhar com a categoria articulação entre o ensino médio integrado e as licenciaturas, objetivou-
se identificar se existe articulação, na perspectiva de que essas experiências podem significar indícios de uma
preparação para a docência na educação profissional. Nesse intuito, perguntou-se aos entrevistados como eles
compreendem o ensino médio integrado, se eles vislumbram a possibilidade da articulação mencionada e o que
julgam fundamental na formação dos professores em geral e para professores que atuam no EMI.
O texto que se segue para melhor compreensão do estudo abordado, está organizado em cinco partes:
num primeiro momento expõem-se discussões sobre o ensino médio integrado e as especificidades da docência
nesse tipo de ensino. Na segunda parte, apresentam-se os resultados e análises acerca da concepção de ensino
médio integrado dos sujeitos entrevistados. Na terceira parte, aborda-se a articulação entre as licenciaturas e o
ensino médio integrado, propriamente dita. Num quarto momento, demonstra-se a percepção dos entrevistados
sobre o que é essencial na formação de professores em geral e na formação do professor do EMI. Por fim, são
feitas as considerações finais que buscam apontar perspectivas para os cursos de licenciaturas dos Institutos
Federais que contemplem a formação docente para atuar no ensino médio integrado.
Concebendo-se um projeto de educação que tem por objetivo a formação humana integral consoante aos
interesses e necessidades dos jovens e adultos das classes populares e que não atenda aos interesses imediatos
do capital, tem-se como possibilidade, considerando especificamente o ensino médio como última etapa da
educação básica, o ensino médio integrado à educação profissional. Nesse sentido, segundo Moura (2014) atuar
profissionalmente na perspectiva da formação humana integral diante da contradição entre capital e trabalho,
na perspectiva dos interesses da classe trabalhadora requer do professor conhecimentos acerca dos princípios
que norteiam a proposta do EMI, além de compreender-se, num processo de tomada de consciência, como
pertencente à essa mesma classe.
O ensino médio integrado surge de forma a contrapor-se à dualidade educacional que tem raízes na
divisão do trabalho própria e necessária ao advento e consolidação do sistema capitalista. Nesse sentido, segundo
Machado (1989, p.21):
[...] a divisão do trabalho do período manufatureiro traz consigo, portanto, a divisão entre mão e cérebro,
entre o pensar e o fazer. Assim, não só o trabalho se divide, mas ao separar, cinde o próprio homem.
Essa reflexão traz à tona a dualidade entre trabalho intelectual e trabalho manual e entre ensino
propedêutico para a elite e educação profissional para as classes trabalhadoras. Contrapondo a isso, a proposta
do ensino médio integrado tem como pilares fundamentais e/ou princípios norteadores: a educação politécnica
e a escola unitária; o trabalho como princípio educativo; a formação omnilateral ou formação humana integral;
e o trabalho, a ciência e a cultura como categorias de integração curricular.
Segundo Gramsci, a concepção de escola unitária do trabalho está relacionada ao ideal de uma “escola
única inicial de cultura geral, humanista, formativa, que equilibre equanimente o desenvolvimento da capacidade
de trabalhar manualmente [...] com o desenvolvimento de capacidades de trabalho intelectual” (GRAMSCI,
1975, p.1531 apud NOSELLA, 2010, p. 210).
Na proposta de Gramsci, a escola única se reveste de um novo humanismo com características de um
ensino desinteressado, no sentido de não ter finalidades práticas muito imediatas (NOSELLA, 2010). Em síntese,
pode-se dizer que a escola de Gramsci postula a união entre instrução e trabalho e a perspectiva do homem
completo (MACHADO, 1989).
Compreende-se que a educação politécnica se relaciona ao trabalho como princípio educativo geral,
uma vez que este é tomado ontologicamente como realização imanente ao indivíduo, ou seja, na forma pela
qual o homem produz sua própria existência em sua relação com a natureza. A educação politécnica também
considera o trabalho historicamente, associado a um modo de produção e suas práticas econômicas (RAMOS,
2007?).
O trabalho compreendido como realização humana inerente ao ser (sentido ontológico) e como
prática econômica (sentido histórico associado ao respectivo modo de produção); a ciência compre-
endida como os conhecimentos produzidos pela humanidade que possibilita o contraditório avanço
produtivo; e a cultura, que corresponde aos valores éticos e estéticos que orientam as normas de
conduta de uma sociedade (RAMOS, 2007?, p.3, grifos nossos).
Dessa forma, percebe-se que a superação da dualidade entre formação geral e profissional é um dos
objetivos de um projeto de ensino médio que não seja compromissado com a divisão social existente entre
trabalho intelectual e manual, que tenha como fundamento a pessoa humana e não o mercado de trabalho.
O ensino médio integrado sugere, dessa maneira, uma formação completa e não uma formação consonante
à ideologia presente no modo de produção capitalista atual.
Sendo assim, o ensino médio, como a última fase da educação básica, deve ser concebido e
organizado de modo a possibilitar que o educando crie as condições necessárias para desenvolver-se
intelectual e moralmente, sendo capaz de, através da autonomia conquistada, tomar suas próprias decisões,
inclusive escolher a carreira que quer seguir, se de caráter científico ou de caráter prático-produtivo, sem
nenhuma imposição (GRAMSCI, 1991 apud RAMOS, 2014, p.210).
Isso posto, o conceito de integração deve ser considerado como um dos pilares da formação de
professores para o EMI. Em outras palavras, é necessário estender a concepção de ensino médio integrado
para o nível da educação superior (OLIVEIRA; BURNIER, 2013), envolvendo a formação de professores
das disciplinas técnicas e das disciplinas acadêmicas do ensino médio.
Cabe mencionar também as características atitudinais desses profissionais. É necessária uma
“atitude humana transformadora” por parte desses sujeitos, ou seja, uma “postura docente que transcenda
ao simples exercício do cotidiano escolar” (ARAÚJO; RODRIGUES; SILVA, 2014, p.169). É necessário
que a formação docente tenha incorporada, em si, ações que visem construir e efetivar um projeto de
formação integral do sujeito, de forma a romper com o modelo determinado pelo modo de produção
capitalista contemporâneo.
Importa também analisar que, para o professor atuante nessa modalidade de ensino, conhecê-la
torna-se um requisito. Assim, trata-se de levar até o docente, o conhecimento sobre a educação profissional
e suas especificidades. Para Machado (2008, p. 18), o perfil docente para atuar na EP engloba as “dimensões
Volume 1 37
próprias do planejamento, organização, gestão e avaliação desta modalidade educacional nas suas íntimas
relações com as esferas da educação básica e superior”.
Visando as características ora mencionadas, que dão suporte ao projeto de ensino médio integrado, bem
como, à proposta de formação politécnica do sujeito, é necessário ao professor da EP “ser capaz de permitir
que seus alunos compreendam, de forma reflexiva e crítica, os mundos do trabalho, dos objetos e dos sistemas
tecnológicos dentro dos quais estes evoluem” (MACHADO, 2008, p.18). Portanto, demanda-se do professor
outra atitude e outra formação: orientada pela responsabilidade social, reflexiva e crítica (MOURA, 2007, 2008).
Nesse sentido, Machado (2008, p.17) acredita que o professor que atua no ensino integrado:
[...] deve saber integrar os conhecimentos científicos, tecnológicos, sociais e humanísticos, que compõem
o núcleo comum de conhecimentos gerais e universais, e os conhecimentos e habilidades relativas às
atividades técnicas de trabalho e de produção relativas ao curso técnico em questão.
Dessa forma, não basta ao professor de biologia ou de outras disciplinas propedêuticas, que sejam atuantes
ou em formação dentro dessa proposta, ter pleno domínio da sua área de conhecimento. Torna-se fundamental
também, conhecer sobre as demais áreas dos cursos técnicos em que atuam, para ser capaz de promover um
diálogo entre estas e assim romper com a fragmentação curricular ainda presente nos cursos técnicos integrados
ao ensino médio.
Inicialmente, é necessário informar que entre os sujeitos entrevistados seis atuam no ensino médio
integrado, seis já ministraram aulas nesse tipo de ensino e quatro nunca atuaram nele.
O entendimento sobre o ensino médio integrado dividiu-se entre concepções que se distanciam do que é
proposto para o projeto de EMI, tal como discutido neste texto, e compreensões que se aproximam de tal projeto
e que indicam um entendimento que vai além da justaposição entre disciplinas científicas e técnicas. Nesse
sentido, as respostas foram agrupadas pela proximidade dos sentidos das falas dos professores com a ideia de
simultaneidade, de interdisciplinaridade e de formação global, assim como mostrado na Tabela 1.
A ideia de simultaneidade expressa pelos entrevistados está relacionada à noção de “soma” e demonstra a
ideia de que o ensino médio integrado é um curso com única matrícula e em uma mesma instituição, ou seja, eles
se articulam, tal como viabiliza o Decreto n. 5.154/2004 (BRASIL, 2004), mas com currículos fragmentados
para o ensino médio e para o ensino técnico. Essa é uma concepção que se distancia do projeto de EMI, conforme
demonstram as falas a seguir.
Eu entendo que é um curso que ao mesmo tempo fornece os conteúdos da educação básica e tam-
bém uma matriz profissionalizante (Augusto).
No ensino médio integrado os alunos trabalham com as disciplinas que são do ensino médio, disci-
plinas do conteúdo propedêutico, aqueles que vão ser utilizados no exame do ENEM, nos exames
vestibulares. Além disso, trabalham com as disciplinas específicas do ensino técnico. Assim, eles
têm de manhã as aulas do ensino médio normalmente, o conteúdo básico, e à tarde, normalmente
eles têm as aulas do ensino técnico (Elias).
É integrado porque é voltado para alguma área, algum curso técnico que já tem algumas disciplinas
Considera-se que o conceito expresso nessas respostas representa uma concepção utilitarista do
ensino médio integrado e tem relação com a forma com que este ocorre no interior das instituições em
que esses sujeitos atuam, pois, a partir do relato dos professores depreende-se que não há diálogo entre as
disciplinas técnicas e científicas. Tal fato, segundo eles, leva a uma carga horária intensa e consequentemente
os alunos têm dificuldades, conforme pode-se conferir a seguir.
[...] os alunos vinham daquele ensino tradicional, de só meio expediente, quando chegam ao Insti-
tuto, o aluno de 1º ano sente um baque. Ele vê que terá que estudar o dia inteiro, é prova, é semana
de prova. São duas, três provas, às vezes a semana toda. É essa a rotina do integrado (Tadeu).
Ele passa a ter 18, 19 disciplinas que não é fácil para ele lidar com tranquilidade com tudo isso. In-
clusive, na primeira série do ensino médio integrado vemos muita evasão, muita dificuldade desse
adolescente em conseguir internalizar essa rotina (Roberta).
Tenho ressalvas ao modelo do ensino médio integrado porque colocamos uma carga horária que é
igual, por exemplo, ao ensino médio que não tenha o ensino profissionalizante integrado. Mas essa
pessoa que não está fazendo o integrado, ele estuda de manhã e a tarde tem contra turno livre para
estudar, para descansar e os nossos alunos não têm isso. Acho que eles têm um currículo muito
carregado (Laís).
É uma exigência muito grande de disciplinas, de carga horária e de cobranças, de atividades para
alunos que estão vindo de um outro sistema. Ele cai num sistema de cobrança muito elevado e
alguns têm muita dificuldade de lidar com esse tipo de cobrança (André).
Acho que eles têm um acúmulo de conteúdos hoje, um número exacerbado de disciplinas, que
muitas vezes penso que não tem um trabalho interdisciplinar. Essa é a sensação. Eu estou falando
da vivência aqui. Pode até estar no projeto, na discussão, mas que não realiza um trabalho interdis-
ciplinar de um modo que você possa conjugar as disciplinas do propedêutico e do técnico (Márcia).
Volume 1 39
O professor Cláudio também denuncia essa realidade, mas demostra um entendimento do projeto de
ensino médio integrado que vai ao encontro do que se busca, ou seja, a efetivação de um currículo integrado,
apesar da sua fala relacionar o ensino integrado apenas à questão da interdisciplinaridade.
Acredito que tem duas vertentes. Você tem o ensino médio integrado que eu acho que é o que, pelo menos
por onde passei, é o que funciona, mas não é o que é pensado. O que funciona é simplesmente ter o curso
técnico junto com o curso médio de educação básica, simplesmente no mesmo local e dentro do próprio
curso. E o que se busca, mas não o que se tem, a gente pensa é em integrar mesmo dentro de uma inter-
disciplinaridade, de uma ajuda mútua entre as disciplinas. Mas o que eu vejo ocorrer não é isso (Cláudio).
Outros professores também demonstram um entendimento do ensino médio integrado para além da
justaposição das disciplinas acadêmicas e técnicas, tal como demonstra as falas a seguir.
Para mim, integrado não seria só nesse diploma dele. Seria, por exemplo, eu dou aula de biologia, então
técnico em agroindústria, será que preciso seguir as matrizes, o que pede para biologia, para agroindústria
sendo que na parte técnica ele tem disciplinas de microbiologia, disciplinas que eles verão muito melhor
na parte técnica. Então, sentamos e organizamos ou então “eu não vou fazer isso, a gente pode fazer uma
atividade integrada” ou se ele tem que ver isso no primeiro ano na agroindústria, teria que ver isso também
na biologia: fazer uma atividade só valendo para as duas disciplinas. Para mim isso seria integrado e não
é feito assim (Raquel).
O aluno está se formando de forma global. Certo? Então, assim, ele tem que entender que o que ele está
aprendendo em português vai servir para ele lá no técnico, vai se usar na química, vai se usar na física e
o contrário também (Renata).
Foram seis professores que explicitaram um maior entendimento do ensino médio integrado. Considera-
se que essas falas expressam uma noção de formação global, pois se diferencia das outras ideias expressas
pelos entrevistados – simultaneidade e interdisciplinaridade. No entanto, apesar dessas falas apontarem para a
integração das disciplinas, estas não assinalam um entendimento no sentido da formação humana integral ou
formação omnilateral e da noção de integração a partir das dimensões do trabalho, ciência e cultura, tal como
discutido neste texto.
Além disso, é importante mencionar que as compreensões relacionadas à ideia de simultaneidade
demosntradas por nove professores demonstram o desconhecimento que eles têm dessa modalidade de ensino,
um dos requisitos observados como necessários à atuação docente na EP por Machado (2008).
A articulação entre o ensino médio integrado e a licenciatura não foi mencionada nos projetos político-
pedagógicos de curso das licenciaturas investigadas1. No entanto, pode-se constatar que, vários professores,
principalmente aqueles que possuem uma compreensão de integração, possuem e/ou vislumbram iniciativas no
sentido de aproveitar a oferta do ensino médio integrado nos IFs a favor da formação do professor. Manifestações
nesse sentido foram percebidas nos três cursos que participaram da fase de entrevistas dessa pesquisa, de acordo
com a tabela abaixo:
1
A análise dos projetos político-pedagógicos de curso e matrizes curriculares constituiu-se na primeira fase da pesquisa, mas que não está sendo abordada neste texto.
Inclusive, acredito que as turmas do integrado constituem o nosso laboratório vivo, eu diria. Por-
que, assim, se tenho uma licenciatura, um curso de licenciatura, na mesma instituição, para a pre-
paração e formação de professores para atuarem, dentre outros campos, obviamente, no ensino
médio, no ensino integrado ou em outras instâncias do ensino básico. Ter dentro dessa mesma
instituição o laboratório vivo que são as turmas de ensino médio integrado é maravilhoso! [...]
Dar para contar com isso. Inclusive as pesquisas, inclusive o próprio estágio, muita coisa pode estar
realizando dentro dessas turmas do integrado. Fazendo uma ponte entre o que o Instituto oferece na
formação de professores e como esses mesmos professores que atuam na formação dos professores
também atuam lá no integrado (Roberta).
[...] observamos que tem um movimento em que os alunos querem estagiar aqui na escola. Então,
os professores que atendem esses alunos no estágio são os professores deles lá no curso de licencia-
tura. Então, esse diálogo é muito frequente (Anastácia).
Eu tenho achado possível, sim. Inclusive, acaba que alguns dos alunos do superior acabam fazendo
estágio comigo no médio. Eles trazem coisas que surgem das discussões, dos projetos propostos
na disciplina do superior eles têm a possibilidade de aplicar nas minhas turmas do médio (Raquel).
Temos trabalhado. Já houve situações também que os alunos elaboraram um trabalho e apresenta-
ram para o ensino médio em sala. Mas a maioria dessas atividades que tenho feito são essas, de pe-
gar as disciplinas, trazer do estágio supervisionado para as aulas aqui. Há atividades, sim. (Neide).
Os alunos de licenciatura já atuam. Temos o estágio que eles fazem e utilizam muito os alunos do
ensino médio. O estágio no ensino técnico integrado, quer dizer, eles trabalham com esses alunos.
Pela questão também de facilidade aqui, de logística, temos a escola aqui do lado, o técnico. Então,
fica fácil para esses alunos também atuarem. Assim, boa parte deles já tem um grupo em que já
atua (Elias).
Volume 1 41
As outras formas de articulação mencionadas pelos entrevistados são mostradas nos relatos a seguir.
Acho que isso é uma possibilidade muito boa que temos aqui que a maioria das instituições de ensino
não tem, que é fornecer o ensino médio na mesma instituição que oferece o ensino superior. Inclusive,
algumas turmas quando ministro a parte de evolução, direciono uma atividade que os alunos têm que ir
no ensino médio e fazer um plano de curso e atuar realmente, ministrar aulas. E boa parte dos estágios
supervisionados eu sei que são realizados aqui no ensino médio (Augusto).
Uma licenciatura dentro do Instituto Federal pode formar um profissional, acho que existe a possibilidade
de formar um profissional com essa visão integrada desde que ele tenha a oportunidade de viver a inte-
gração através do estágio, através das bolsas Pibid. Uma coisa que a gente tem visto aqui que acho bom é
que nos eventos científicos conseguimos colocar o aluno da graduação orientando os meninos do médio
integrado. Eles decidem, as alunas me procuram dizendo que querem fazer o trabalho. Eu não orientei,
entreguei para alunos meus do Pibid e eles orientaram. Eu só dava um... “ah é isso, é isso”. E agora de
novo, um outro evento, vai ter alunos do superior. E não vemos isso só em biologia. Os alunos da licen-
ciatura em química também orientam os meninos do médio (Raquel)
No Instituto existem várias coisas que acontecem em que há essa integração. Por exemplo, existe a FECIB
que é a Feira Científica de Barbacena, na qual um professor que leciona na graduação e no médio e você
coloca um co-orientador, que é da graduação. Então, esse aluno vai co-orientar os alunos do ensino médio
naquele trabalho. Então, acho isso perfeito: a atuação como docente e a ligação com o médio (Cristina).
O professor Augusto menciona que proporciona aos seus alunos das licenciaturas oportunidade de
atuarem no ensino médio integrado. No entanto, não se percebe um trabalho voltado para as especificidades do
ensino integrado. Já os relatos das professoras Raquel e Cristina, mostram essa articulação também no âmbito
da pesquisa, extensão e orientação.
Outra posição é a da professora Vilma que diz acreditar que é possível fazer essa articulação e, apesar
de ainda não ter desenvolvido atividades nesse sentido, mostra-se receptiva à ideia. Ela afirma ainda que outros
professores também teriam abertura para trabalhar com essa articulação, demonstrando que há uma predisposição
dentro da instituição nesse sentido. No entanto, segundo ela, é uma proposta que ainda precisa ser amadurecida
pelos sujeitos que estão envolvidos no curso.
Eu acho totalmente possível. Inclusive até pensei isso por ter trabalhado com o conteúdo de biologia
celular. Atualmente tenho uma turma de primeiro ano e a matriz curricular no primeiro ano aborda essa
questão da biologia celular. Já pensei em desenvolver algum trabalho para envolver os alunos no ensino
também [...]. Isso contribui demais. E os professores, de modo geral, são muito abertos nesse sentido.
Acho que pode faltar às vezes um pouco de articulação. Quem está no comando, na coordenação ou al-
guma coisa do tipo, talvez pudesse incentivar mais, não só da área específica, mas de todas as áreas. Não
só no caso da biologia, mas em outros cursos que temos aqui também. Acredito que os alunos têm só a
ganhar também (Vilma).
Neste tópico serão apresentados o que os próprios docentes formadores julgam fundamental na
formação dos professores em geral e para o ensino médio integrado (Tabela 3). As respostas contemplam
conhecimentos e atitudes que são necessários à atuação docente e os resultados obtidos mostraram que
para vários dos entrevistados as mesmas coisas são fundamentais para os professores em geral e para o
professor do EMI.
Você precisa ter a base mesmo de uma pedagogia que facilita muito seu trabalho, ao preparar uma
aula, você articular dentro da sala, os materiais que vão ser utilizados (Isabel).
Eu acho que tem que ter disciplinas que englobem esse sentido, a questão pedagógica mesmo, de
como atuar, como conduzir essas situações, isso é imprescindível. Acho que uma coisa está bem
agregada à outra, o conhecimento básico e a questão pedagógica. Com cuidado a mais aí com a
questão da psicologia da aprendizagem, do desenvolvimento porque acho que temos que respeitar
a época, a fase da criança e do adolescente (Vilma).
Eu acho que ele tem que ter uma base de psicologia para compreender, por exemplo, a adolescência,
como que os meninos desenvolvem certo tipo de raciocínio (Laís).
Volume 1 43
Eu acho que é muito importante essa parte prática, o estágio. Acredito que isso é fundamental (Neide).
Ele tem que ter noção do que é avaliação, porque isso depende dela para o aluno, infelizmente, hoje nota
para passar de ano. Então, ele tem que saber avaliar (Cristina).
Sobre os conhecimentos específicos os professores disseram que o domínio dos conteúdos da área de
conhecimento que será objeto de ensino é algo básico na formação e atuação docente:
A primeira coisa é ter o conhecimento da área consolidado. Isso aí é fato para você tomar a frente de
qualquer área do conhecimento (Vilma).
A formação docente tem alguns pilares básicos. O primeiro deles é ter domínio do seu conteúdo. Dessa
maneira não dá para permitir que os alunos saiam com a base do conteúdo que eles vão ministrar: o con-
teúdo de biologia, de química, de educação física, precário (Márcia).
Primeiro, o conhecimento, ele tem que ter o conhecimento do que ele está falando (Elias).
A posição explicitada nessas falas demonstra a importância do conhecimento teórico da área específica.
Entretanto, deixa implícito que outros conhecimentos são necessários à atuação docente. Nesse sentido, aparece
nas falas dos professores questões relacionadas à pesquisa, atualização e desenvolvimento profissional, formação
política, conhecimentos gerais, motivação e amor pelo que se faz.
Buscar sempre pesquisar. Acho que isso é importante na formação do professor. Que ele pesquise sobre a
sua prática e também o que tem sido mais utilizado atualmente, que ele se atualize também (Elias).
Eu acho que tem muita coisa que eu considero fundamental para a formação de professores. Filosofica-
mente, penso que tem que ter amor e isso é importante para qualquer segmento em que ele for trabalhar.
Eu acho que tem que ter conhecimento teórico, isso também é importante para os dois. Considero neces-
sário ter uma formação política também para trabalhar [...]. Professor tem que saber um pouco de tudo,
tem que entender de política, de história, de geografia, antes de saber do conteúdo. E depois, sim, procurar
o conteúdo. E eu vejo que essas necessidades são comuns para os dois tipos de ensino, ensino médio e
médio integrado ao técnico (Augusto).
É muito importante ter no currículo de um professor, o saber se posicionar, ser crítico, saber o momento
de você pegar uma situação que está em evidência, um assunto comentado, introduzir aquilo na sala. O
professor não é só a pessoa que passa o conteúdo em sala de aula. Ele é referência. E referência intelectual
e cultural para o seu aluno [...]. Então tem que dominar o assunto, tem que ser uma pessoa séria, tem que
fazer esse gancho e isso tudo vem da preparação, da formação dele [...]. É você primeiro saber o quê
que você vai fazer e você saber se posicionar perante à turma. O resto acho que vem com a experiência
(Tadeu).
O papel social do professor, a formação no ensino, a sua própria formação é antes de mais nada se formar
para um ser que tenha um olhar crítico, que se posiciona de forma politizada nas questões que está propon-
do a ensinar. Por isso é muito importante que os cursos de licenciatura preparem o professor para um nível
de criticidade social, para que ele seja uma pessoa participativa, para que ele contribua para a construção
social de qualidade e não apenas seja um mero transmissor de informações que o livro didático traz ou que
a própria literatura apresenta, que ainda acontece muito a reprodução do livro didático. Falta ainda esse
Acredita-se que os aspectos de ordem atitudinal apontados pelos professores possuem um caráter
ainda mais importante na formação e no trabalho docente no ensino médio integrado. O EMI exige uma
atuação que vá ao encontro da perspectiva da transformação social (MOURA, 2014) e exige dos sujeitos
uma atitude humana transformadora (ARAÚJO; RODRIGUES; SILVA, 2014) que envolve, certamente,
uma postura crítica e reflexiva, engajamento político-social e trabalho coletivo. Nessa direção, alguns
professores apontaram algumas dessas características como fundamentais ao professor do EMI.
Ele tem que interdisciplinar com a propedêutica, com a profissional e ele tem que entender que
Então, acho que ele tem que ter essa abordagem mais contextualizada e aí eu vejo uma diferença do
professor do ensino médio e do ensino médio profissionalizante. O ensino médio profissionalizante,
por conta dessa carga horária muito grande que os meninos têm, precisam ter um diálogo com os
professores da área específica para tentar enxugar, como “oh, isso a gente não vai dar aqui porque
vocês já vão ver no outro período” ou “isso eu vou dar porque vai servir de base para o que você
vai ver no outro período”. Eu acho que essa é uma diferença, de você ser um professor que tem um
diálogo maior com as áreas técnicas (Laís).
Eu acho que na formação do professor tanto a base pedagógica quanto a base conteudista não po-
dem faltar. Ouvimos muitas vezes em alguns cursos de licenciatura pessoas que deixam o conteúdo
um pouco de lado pensando até um pouco o ensino médio. Talvez deixa de fazer algum aprofun-
damento, o que considero um erro. Dentro dessas duas bases para o ensino integral, para o ensino
médio integrado principalmente nos Institutos, teria que ter alguma forma de se trabalhar essa
integração. E eu não vejo na maioria das formações em licenciatura (Claúdio).
No entanto, o professor André confirma o que foi percebido na análise das propostas curriculares:
não há no currículo um trabalho diferenciado que vise à formação do professor do ensino médio integrado
no PPC do curso do IF2, onde atua o docente. Segundo ele:
O objetivo geral das disciplinas pedagógicas é que o aluno saia do curso de biologia sabendo que
ele tem que aplicar isso, que tem que tentar enxergar diferentes realidades, diferentes contextos e
trabalhar esses diferentes contextos. Mas especificamente nessa questão do atendimento ao médio
integrado acho que não tem uma visão muito específica sobre isso. Acho que falta (André).
Dessa forma, as entrevistas reiteram que não existe nas licenciaturas em geral um trabalho específico
que tente aproximar os licenciandos às questões do mundo do trabalho e da relação entre suas disciplinas e
as disciplinas técnicas, tal como coloca Moura (2014). Aliado a isso, muitos professores não julgaram que
Volume 1 45
existam especificidades na formação do professor do ensino médio integrado. Entretanto, não se pode deixar de
mencionar que várias características citadas se referem aos dois tipos de ensino, regular e integrado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo central da pesquisa foi compreender se os Institutos Federais mineiros em seus cursos de
Licenciatura em Ciências Biológicas estão formando o professor para atuar no ensino médio integrado, na
perspectiva da formação humana integral. Para cumprir esse objetivo, fez parte desta investigação a realização
de entrevistas com coordenadores e professores de três desses cursos.
As análises empreendidas apontaram que menos da metade dos professores entrevistados possuem um
entendimento do ensino médio integrado que pelo menos se aproxime da concepção de formação humana
integral. O conceito expresso nas respostas de parte dos entrevistados representa uma concepção utilitarista do
ensino médio integrado e tem relação com a forma com que este ocorre no interior das instituições em que esses
sujeitos atuam: currículos fragmentados em que não há diálogo entre as disciplinas. Em decorrência disso, tem-
se uma carga horária intensa, o que acarreta uma série de dificuldades aos alunos.
Em contrapartida, vários professores, principalmente aqueles que possuem uma compreensão de
integração, possuem e/ou vislumbram iniciativas no sentido de aproveitar a oferta do ensino médio integrado
nos IFs a favor da formação do professor. Além disso, alguns professores também sinalizaram que há abertura
por parte de outros profissionais em trabalhar com essa articulação, demonstrando que há uma predisposição
dentro da instituição nesse sentido.
Em consonância a isso, foi possível perceber que existem, no interior dos três cursos investigados,
iniciativas de articulação entre a licenciatura e o ensino médio integrado. Na maioria das vezes elas ocorrem por
meio do estágio; entretanto, os professores mostram-se receptivos a outras formas de articulação.
Além disso, foi possível constatar que a maioria dos professores não considera especificidades na
formação do professor do EMI e apontam características que seriam necessárias para o professor que atua no
ensino médio integrado ou não à educação profissional.
É possível afirmar ainda que há um movimento por parte dos professores atuantes nas licenciaturas em
promover a formação do professor do ensino médio integrado, mas isso ainda não está expresso nos projetos
político-pedagógicos e currículos dos cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas dos Institutos Federais
mineiros. Portanto, é algo que ainda precisa ser estudado, amadurecido e sistematizado no interior da rede
federal como um todo e, então, transposto para os cursos de licenciatura ofertados pela mesma.
Dessa forma, confirma-se a hipótese de que os Institutos Federais se revelam como um lócus diferenciado
para a formação de professores no país, onde é possível promover um diálogo promissor entre licenciaturas e
ensino médio integrado, promovendo uma formação de professores que esteja em consonância com as demandas
próprias da rede federal, como é o caso do professor do EMI.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, R. M. L.; RODRIGUES, D. S.; SILVA, G. P. Ensino integrado como projeto político de
transformação social. Trabalho & Educação, Belo Horizonte, v.23, n.1, p.161-186, jan./abr. 2014.
_______. Presidência da República. Lei n. 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal
de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e
Tecnologia, e dá outras providências. Brasília: MEC, 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11892.htm> Acesso em 08 jan. 2014.
FRIGOTTO, G.; CIAVATTA, M.; RAMOS, M. A gênese do Decreto n. 5.154/2004: um debate no contexto
da democracia restrita. In: FRIGOTTO, G; CIAVATTA; M.; RAMOS, M. (Orgs.). Ensino médio integrado:
concepções e contradições. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2012, p.21-56.
_______. A formação docente para a educação profissional tecnológica. Revista Brasileira da Educação
Profissional e Tecnológica, Brasília, v.1, n.1, p.23-28, jun. 2008.
_______. Trabalho e formação docente na educação profissional. (Coleção formação pedagógica; v.3)
Curitiba: Instituto Federal do Paraná, 2014.
OLIVEIRA, B. M.; OLIVEIRA, M. R. N. S. Licenciaturas nos Institutos Federais: aspectos para discussão.
Revista Brasileira da Educação Profissional e Tecnológica, Natal, v.1, n.10, p. 22-33, 2016.
Volume 1 47
OLIVEIRA, M. R. N.; BURNIER, S. Perfil das licenciaturas nos institutos federais de educação, ciência
e tecnologia. In: CUNHA, D. M. et al. (Orgs.) Formação/profissionalização de p ofessores e formação
profissional e tecnológica: fundamentos e reflexões contemporâneas. Belo Horizonte: Editora PUC Minas,
2013.
________. Filosofia da práxis e práticas pedagógicas de formação de trabalhadores. Trabalho & Educação,
Belo Horizonte, v.23, n.1, p.207-218, jan./abril 2014.
SAVIANI, D. O choque teórico da politecnica. Trabalho, educação e saúde, Rio de Janeiro, v.1, n.1, p.131-
152, 2003.
1
Licenciado em Ciências Biológicas | IFNMG - Campus Januária
e-mail: evanylsonlopes@yahoo.com.br
Curriculum Lattes: http://lattes.cnpq.br/7229685149412666
2
Pedagoga e Mestra em Educação e Sociedade
Professora de Didática/Fundamentos da Educação | IFNMG - Campus Januária
e-mail: joelma.mendes@ifnmg.edu.br
Curriculum Lattes: http://lattes.cnpq.br/4583531853631104
3
Pedagogo e Mestre em Educação Científica e Formação de Professores
Professor de Didática/Fundamentos da Educação | IFNMG - Campus Januária
e-mail: claudio.pereira@ifnmg.edu.br
Curriculum Lattes: http://lattes.cnpq.br/6886618478421094
Volume 1 49
TEACHER’S TRAINING IN BIOLOGICAL SCIENCES: A
STUDY WITH THE FIRSTS IFNMG GRADUATES’ STUDENTS (CAMPUS JANUÁRIA)
Abstract: Since Federal Institutes of Education, Science and Technology are responsible to conduct bachelor
level courses in the field of Natural Sciences to meet the local social demands and guarantee highly qualified
Basic Education, this study aimed to analyze the Biological Science Graduation course offered by IFNMG
- Campus Januária, according the first graduates students perspective. In order to do so, a brief literature/
documental research was carried out to understand teacher’s education in Biological Sciences in a national
territory, then a descriptive research was conveyed through a self-applied questionnaire made out of Web Tools
2.0 (Google Forms) and available through a link sent to the graduates in their private e-mail addresses. From 13
graduate contacted,12 answered the questionnaire.Thus, it was observed that the subjects studied were partially
satisfied with their own teacher’s education course, considering that they conceived the Biologist qualification
in detriment of the the Science/Biology Teacher. However, it was noticed that the teacher’s course was essential
for these graduates, that now, aim to achieve their professional goals in order to apply their life projects.
Desde a sua origem, as graduações em Ciências Biológicas sofrem constantes modificações para se
adequarem às transformações socioambientais brasileiras e, com vistas à formação de perfis profissionais
distintos, contribuem para o progresso do ensino e da pesquisa nacional nesta área do conhecimento
(CONSELHO FEDERAL DE BIOLOGIA, 2010; ROSA, 2014).
No entanto, é evidente que a Educação Básica ainda carece de profissionais licenciados para
atuarem no ensino de Ciências e/ou Biologia em todas as regiões do Brasil (SOUSA; BERALDO, 2009;
ARAÚJO; VIANNA, 2011; ROCHA, 2013; LIMA, 2014).
Em prol da demanda deste nível escolar por profissionais habilitados e qualificados à docência, a
Lei Nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia
– conhecidos nacionalmente apenas como Institutos Federais (IFs) –, consagrando-os como um novo locus
de formação docente no país, especialmente, nas áreas de Ciências da Natureza e Matemática (BRASIL,
2008; SOUSA; BERALDO, 2009; LIMA, 2014).
Ressalta-se, entretanto, que os IFs possuem um legado de experiências tradicionalmente voltadas
Evanylson Lopes de Araújo . Joelma de Fátima MendesBandeira . Cláudio Wilson dos Santos Pereira
para a educação profissional e tecnológica, haja vista que foram estruturados a partir da integração e/ou
transformação de Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFETs), Escolas Técnicas Federais (ETFs)
e Escolas Agrotécnicas Federais (EAFs) (SOUSA; BERALDO, 2009; GOMES, 2013; LIMA, 2014).
Portanto, a caracterização dos IFs como Instituições de Ensino Superior (IESs) está arraigada aos setores
técnico-industrial e agropecuário da educação profissional brasileira (SOUSA; BERALDO, 2009; LIMA,
2014).
Neste contexto, Sousa e Beraldo (2009), Gomes (2013) e Lima (2014) enfatizam que ministrar
cursos de licenciatura é uma tarefa recente e desafiadora para tais instituições, uma vez que estas passam a
“[...] necessitar de um domínio teórico e metodológico do campo das Ciências Humanas.” (GOMES, 2013,
p. 95) em objeção à lógica neoliberal historicamente presente na Rede Federal de Educação Profissional,
Científica e Tecnológica.
A partir da leitura desta realidade, o presente trabalho apresenta as seguintes questões que nortearam
a problemática do tema investigado: Quais são as convicções dos egressos do curso de Ciências Biológicas
sobre a própria formação docente no âmbito da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e
Tecnológica? Ademais, a habilitação de licenciado possibilitou a concretização de seus diferentes projetos
de vida?
Destarte, este trabalho tem como objetivo geral analisar a formação docente obtida no curso de
Ciências Biológicas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais
(IFNMG) - Campus Januária a partir da perspectiva dos seus primeiros egressos, visando conhecer aspectos
subjetivos dos entes pesquisados em relação ao referido curso superior; para tal finalidade os seguintes
objetivos específicos foram idealizados: identificar pormenores outrora vivenciados pelos egressos em
suas trajetórias acadêmicas na instituição; e averiguar as oportunidades porventura proporcionadas após a
conclusão da graduação.
Faz-se necessário esclarecer que a concepção deste estudo emanou do desejo pessoal dos
pesquisadores em contribuírem com as posturas crítico-reflexivas a respeito dos cursos de licenciatura
ofertados pela Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, haja vista que estudos
com egressos de Ciências Biológicas – e outras áreas correlatas às Ciências da Natureza – sobre aspectos
da própria formação docente ainda são incipientes no meio acadêmico.
Portanto, salienta-se que esta pesquisa é de grande relevância para a Educação Nacional,
especialmente, no que diz respeito à formação docente em Ciências Biológicas no âmbito dos IFs. Os
subsídios desta investigação poderão nortear discussões produtivas no âmago da sociedade brasileira acerca
das especificidades dos cursos superiores destinados à formação de professores e, quiçá, proporcionar uma
reflexão sociopolítica sobre os caminhos a serem trilhados para valorizar e resgatar o status da profissão
docente no país de modo a assegurar a qualidade da Educação Básica ofertada às atuais e futuras gerações.
Volume 1 51
METODOLOGIA
Consoante aos objetivos propostos, o presente trabalho buscou realçar o percurso metodológico através
de uma abordagem quantiqualitativa, mesclando elementos mensuráveis e não mensuráveis que, de acordo com
Silveira e Córdova (2009, p. 32-33), “[...] tende a enfatizar o raciocínio dedutivo [...]” à medida que atenta para
a “[...] compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais.”.
A pesquisa de campo desenvolvida, iniciou-se com uma breve investigação bibliográfica/documental
sobre a formação docente em Ciências Biológicas no território nacional, especialmente, no âmbito da Rede
Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Posteriormente, foi realizada uma pesquisa de caráter
descritivo utilizando-se de um questionário autoaplicado para a coleta dos dados, focalizando a percepção dos
egressos do curso de Ciências Biológicas do IFNMG - Campus Januária como objeto de estudo (GIL, 2008;
SILVEIRA; CÓRDOVA, 2009).
Gil (2008) e Santos (2017) justificam que a utilização do questionário possibilita o anonimato dos
respondentes, assegurando, assim, a idoneidade das informações prestadas.
Não obstante, com o uso do questionário “há menos riscos de distorções, pela não influência do
pesquisador” (SANTOS, 2017, p. 04), configurando-o como um recurso de investigação padronizado (SILVA;
MENEZES, 2001; GIL, 2002, 2008).
O questionário foi elaborado através de uma Ferramenta Web 2.0 (Google Forms), compreendendo
questões abertas e fechadas, de acordo com “[...] a natureza da informação desejada [...]” (GIL, 2008, p. 126)
pertinente à formação docente em Ciências Biológicas e demais especificidades subjetivas.
Mediante lista de endereços eletrônicos disponibilizada, previamente, pela Coordenação do Curso de
Ciências Biológicas e Secretaria de Registros Acadêmicos do IFNMG - Campus Januária, o link para acesso ao
questionário foi enviado, por e-mail privativo, individualmente, à um universo de treze (13) egressos.
Antes da aplicação definitiva do questionário, foi realizado um pré-teste que permitiu a observação da
necessidade de adequação das questões, uma vez que “o pré-teste de um instrumento de coleta de dados tem por
objetivo assegurar-lhe validade e precisão.” (GIL, 2008, p. 134).
O questionário permaneceu ativo, registrando as respostas dos egressos, durante um prazo máximo de, apro-
ximadamente, sete (07) meses (período compreendido entre os meses de julho de 2015 a janeiro de 2016), sendo
monitorado semanalmente. Após este período, o questionário foi desativado e procedeu-se à análise dos dados.
Ao todo foram contatados treze (13) egressos do curso de Ciências Biológicas do IFNMG - Campus
Januária e, destes, apenas um (01) não respondeu ao questionário proposto. Contudo, foi necessário, por
inúmeras vezes, contatá-los por outros meios de comunicação (ligações telefônicas e mensagens via redes
sociais), motivando-os à participarem efetivamente, no intuito de angariar uma amostra expressiva.
Faz-se indispensável esclarecer que o limitado quantitativo de egressos outrora contatados, representa,
proporcionalmente, os únicos acadêmicos que obtiveram a habilitação de ‘Licenciado(a) em Ciências Biológicas’
na referida IES até 2015, compondo, assim, a amostra precípua desta investigação.
Ademais, ressalta-se que a praticidade do questionário em meio eletrônico (Google Forms) proporcionou
uma eficiente obtenção de dados quantiqualitativos. Por conseguinte, os dados quantitativos foram descritos
e interpretados de acordo com os métodos analíticos recomendados por Gil (2008) e a análise dos dados
qualitativos baseou-se na Análise de Conteúdo proposta por Bardin (2002), observando-se as diferentes fases
e polos cronológicos: a pré-análise, a exploração do material, o tratamento dos resultados, a inferência e a
interpretação.
O delineamento do perfil dos sujeitos e do recorte temporal da pesquisa caracterizou a delimitação do
fenômeno. Quanto aos procedimentos, o tratamento e a saturação dos dados da investigação possibilitaram a
definição das características do objeto apresentado pelos sujeitos, validando, assim, as informações do trabalho.
Identidade sexual
A amostra representativa desta investigação foi composta por doze (12) egressos do curso de
Ciências Biológicas do IFNMG - Campus Januária, dos quais 25% são do sexo masculino e 75% são do
sexo feminino:
evanylson loPes De aRaújo . joelma De fátima menDesBanDeiRa . cláuDio Wilson Dos santos PeReiRa
Fonte: Dados da pesquisa
Teixeira et al. (2014) evidenciam que, na área das Ciências Biológicas, o gradativo aumento de
profissionais do sexo feminino no mercado de trabalho, independentemente do grau universitário, é uma
tendência contemporânea. Contudo, o exercício da docência, inerente à habilitação de licenciado, ainda
está socialmente atrelado aos padrões culturais atribuídos ao gênero feminino (GATTI, 2010; GATTI et al.,
2010; CANAAN; NOGUEIRA, 2015).
Destarte, estudos realizados por Castro (2010) e Bastos et al. (2013) com concluintes e egressos dos
cursos de Ciências Biológicas de IESs públicas, também revelaram uma maior representatividade feminina
de licenciados em contraste à diminuta representatividade masculina. Entretanto, Castro (2010) adverte
que, por se tratar de um curso superior vinculado à formação docente de uma área específica das Ciências
da Natureza, há uma variabilidade na distribuição de licenciados no mercado de trabalho, por sexo, de
acordo com a disciplina a ser ministrada nas diferentes modalidades de ensino da Educação Básica, visto
que estes profissionais estão aptos a lecionarem tanto nos anos finais do Ensino Fundamental quanto no
Ensino Médio.
Outro dado relevante que foi apurado nesta investigação, diz respeito ao ano em que o egresso
concluiu o curso de graduação:
volume 1 53
Gráfico 2 - Ano de conclusão do curso de Ciências Biológicas
Observou-se que 17% dos egressos integralizaram o curso de Ciências Biológicas no ano de 2014, em
contraposição, 83% o integralizaram no ano seguinte, 2015.
Estes percentuais já eram previstos, uma vez que o referido curso foi implementado no IFNMG - Cam-
pus Januária no segundo semestre de 2010 (com a oferta de 40 vagas anuais) e seu período mínimo e máximo de
integralização é equivalente a quatro (04) e seis (06) anos letivos, respectivamente (INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO NORTE DE MINAS GERAIS, 2010, 2013; BRASIL, 2017).
Sendo assim, é coerente inferir que os egressos das primeiras turmas tenham concluído o curso em con-
formidade aos prazos estipulados pelos dispositivos legais da IES.
No entanto, estes percentuais também sugerem que, de um presumível universo composto por 40 ingres-
santes, a integralização do curso dentro do prazo mínimo proposto pela IES configura-se como um desafio a ser
suplantado.
No que concerne às expectativas e frustrações dos egressos sobre o curso de Ciências Biológicas, notou-
-se uma idealização à formação do profissional biólogo em detrimento à formação do profissional docente, tanto
em aspectos de estrutura curricular quanto em aspectos de preparação para o mercado de trabalho e formação
continuada:
O curso me surpreendeu pela excelente qualidade dos profissionais docentes e grade curricular. Ficou
aquém no que se refere à aulas práticas e viagens técnicas. Percebi também que os cursos de licenciatura
não são contemplados com bolsas de IC devido ao preconceito sobre licenciandos não serem pesquisado-
res, e isso não condiz (sic). (Egresso A, 2015).4
1
[...] não poder assinar ART ( Anotação de relatório técnico ) devido a carga horaria do meu curso (núcleo
especifico e instrumental ) que me dá essa competência diante do CRBio (Conselho regional de biologia)
não ser suficiente (sic). (Egresso D, 2015).4
O curso foi o que esperava, os conteúdos, as aulas praticas e teoricas (sic). Mas o que seria melhor mais
aulas especificas do curso para que o acadêmico esteja preparado para dar aula e fazer uma pos graduação
(sic). (Egresso G, 2015).4
4 Dados da pesquisa
Expectativa: aprender mais em aulas práticas. Frustações: poucas aulas em laboratório, muita ma-
téria pedagógica [...]. (Egresso I, 2015).5
Esperava maior possibilidades de pesquisa na área de ciências, tinha em mente planos de pesquisas
que infelizmente não foi possível realizar [...]. (Egresso L, 2014).5
Ademais, a inserção imediata no mercado de trabalho também é apontada pelos egressos como uma
expectativa outrora frustrada, seja por falta de oportunidades viáveis, seja por já estarem atuando em outras
áreas profissionais no setor público:
Evanylson Lopes de Araújo . Joelma de Fátima MendesBandeira . Cláudio Wilson dos Santos Pereira
No momento a única frustração é que ainda não posso atuar na área por motivo de estar em período
probatório em outro trabalho o qual não abrirei mão (sic). (Egresso F, 2015).5
[...] minha frustração é que por ser concursada e em período probatório na área da saúde ainda não
estou atuando como professor (sic). (Egresso J, 2015). 51
Neste contexto, Diniz-Pereira (2000) apud Castelo Branco, Bontempo e Saraiva (2016) enfatiza
que há nas IESs uma supervalorização do bacharelado em detrimento à licenciatura, especialmente, nos
cursos em que as duas modalidades coexistem.
É oportuno esclarecer, que a Lei Nº 6.684, de 03 de setembro de 1979, no inciso I de seu artigo 1º,
regulamenta e autoriza o exercício da profissão de biólogo à portadores de diploma “devidamente registra-
do, de bacharel ou licenciado em curso de História Natural, ou de Ciências Biológicas, em todos as suas
especialidades ou de licenciado em Ciências, com habilitação em Biologia, expedido por instituição bra-
sileira oficialmente reconhecida” (BRASIL, 1979). Assim, esta normativa contribui para que os egressos
almejem atuar, futuramente, em áreas divergentes à docência (ROCHA, 2013).
Apesar disso, o Conselho Federal de Biologia (CFBio) (2010) – órgão responsável pela fiscalização
do exercício profissional do biólogo em território nacional –, alerta que, na época da promulgação da Lei
Nº 6.684/79, todos os licenciados em História Natural também eram bacharéis em virtude do obsoleto mo-
delo de formação docente “3 + 1”. Ademais, as modalidades de Bacharelado e Licenciatura dos cursos de
Ciências Biológicas e/ou História Natural possuíam as mesmas estruturas curriculares, em especial, no que
diz respeito a carga horária dos componentes curriculares da área biológica, de modo que tal dispositivo
legal proporcionou tratamento isonômico às habilitações de bacharel e licenciado, considerando-as aptas
ao exercício profissional de biólogo.
5
Dados da pesquisa
Volume 1 55
Em suma, a formação do biólogo e do docente em Ciências/Biologia começou a ser direcionada para
atividades específicas através das Diretrizes Curriculares para os Cursos de Ciências Biológicas (Parecer CNE/
CES Nº 1.301/2001 e Resolução CNE/CES Nº 7/2002), e a carga horária dos componentes curriculares da área
biológica foi readequada em conformidade aos perfis destes profissionais, sendo o licenciado privado do regis-
tro profissional de biólogo nos Conselhos Regionais de Biologia (CRBios) a menos que complemente, através
de formação continuada, a carga horária mínima dos componentes curriculares da área biológica exigida pelo
CFBio (CONSELHO FEDERAL DE BIOLOGIA, 2010, 2012).
Sobre esta dualidade de perfis, dados obtidos por Araújo et al. (2007), Castro (2010) e Malacarne, Castro e Bär
(2015) em estudos análogos sobre a identidade profissional de concluintes dos cursos de Ciências Biológicas, demonstra-
ram que são altos os índices de repúdio dos licenciandos pela carreira docente na Educação Básica em virtude da possibi-
lidade de atuação como pesquisadores da área biológica, circunstância esta que motiva a “[...] formação de profissionais
insatisfeitos e de menor competência na docência no nível básico.” (VASCONCELOS; LIMA, 2010, p. 330).
A fim de traçar algumas peculiaridades intrínsecas ao percurso acadêmico no IFNMG - Campus Januária, esta
investigação também evidenciou dificuldades e desafios vivenciados pelos egressos durante o período de integralização do
curso de Ciências Biológicas, a saber:
Tive muitas dificuldades com o tempo para estudar, trabalhava mais de 40hs semanais, passei por problemas, sou
mãe de família, sou responsável pela minha casa, minha mãe diagnosticada com câncer de estomago e eu quem
estava a frente de tudo (sic). (Egresso J, 2015). 61
A maior dificuldade foi a disciplina de matemática, depois foi conciliar o serviço com os estudos. (Egresso H, 2015).6
A maior dificuldade enfrentada por me (sic), foi a falta de conhecimento básico que deveria ter sido adquirido no
ensino fundamental e médio, especialmente no que diz respeito matemática e português. (Egresso L, 2014).6
6
Dados da pesquisa
Falta de laboratórios específicos. Por ser da primeira turma, tudo era um teste. (Egresso E, 2015).7
O curso tem um quadro de professores reduzido, então, poucos estão disponíveis para o desenvol-
vimento de projetos (extensão e pesquisa). (Egresso A, 2015).7
Os estagios foi um desafio (sic), pois é o nosso local de trabalho, onde podemos observar como
é na prática uma sala de aula, e perceber a dificuldade como é ser um professor na rede pública.
Evanylson Lopes de Araújo . Joelma de Fátima MendesBandeira . Cláudio Wilson dos Santos Pereira
(Egresso G, 2015).7
Intrínseco aos princípios norteadores da formação docente brasileira, observou-se que 100%
dos egressos afirmaram que o curso de Ciências Biológicas do IFNMG - Campus Januária contribuiu,
positivamente, para a transformação social da ação docente dos mesmos.
Estes percentuais revelam, subjetivamente, a consciência crítica dos egressos, outrora proporcionada
por situações de ensino/aprendizagem vivenciadas no decorrer do período de integralização do curso,
frente à realidade desafiadora da docência na Educação Básica.
Posto isto, Gatti (2013, p.53) elucida que o futuro docente deverá estar “[...] preparado para
exercer uma prática educativa contextualizada, atenta às especificidades do momento, à cultura local e ao
alunado diverso em sua trajetória de vida e expectativas escolares.”, portanto, é apropriado deduzir que,
na amplitude da formação docente em Ciências Biológicas, o IFNMG - Campus Januária logrou êxito
quanto ao desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo de seus acadêmicos sobre a importância da
educação na transformação da realidade social contemporânea.
Destarte, esta investigação também evidenciou a avaliação positiva dos egressos aos aspectos gerais
do curso de Ciências Biológicas do IFNMG - Campus Januária (matriz curricular, recursos humanos,
infraestrutura e políticas assistenciais), conforme revela o gráfico seguinte:
7
Dados da pesquisa
Volume 1 57
Gráfico 3 - Avaliação do curso de Ciências Biológicas em uma escala de zero a dez
Considerando como parâmetro de referência uma escala de zero a dez (0 a 10), 58% dos egressos
atribuíram os conceitos 8 - 9 (Ótimo), 34% atribuíram os conceitos 6 - 7 (Bom) e apenas 8% atribuíram o
conceito 10 (excelente).
Tais resultados sugerem que os problemas em torno da docência na Educação Básica não procedem,
exclusivamente, dos cursos de licenciatura. Todavia, Gatti (2013) adverte que os cursos superiores vinculados
à formação docente de uma área específica, necessitam de inovações constantes nas estruturas formativas e nos
currículos em prol da função social da Educação Básica.
Com a finalidade de complementar esta informação, os egressos foram solicitados a indicarem índices
de satisfação acerca da formação docente em Ciências Biológicas do IFNMG - Campus Januária, sendo os
resultados expressos através do gráfico abaixo:
Evanylson Lopes de Araújo . Joelma de Fátima MendesBandeira . Cláudio Wilson dos Santos Pereira
Melhorou os meus conhecimentos, realizei meu sonho de fazer biologia mes-
mos sem condições financeiras e sem abandonar nada (sic). (Egresso J, 2015).8
[...]
1
me ensinou a ser uma pessoa mais crítica, me fez ser
mais corajosa para enfrentar os desafios. (Egresso F, 2015).8
O curso de ciências biológicas me proporcionou uma visão de mundo mais amplo, alem de me for-
mar como docente, na qual eu estou tendo a possibilidade de contribuir para a formação de outras
pessoas de minha comunidade (sic). (Egresso L, 2014).8
O curso proporcionou uma oportunidade de trabalhar na área da docência (sic). (Egresso K, 2015).8
[...] estou desempregada. As possibilidades de pegar aula só surgiu em locais de difícil acesso (sic).
(Egresso E, 2015).8
[...] possibilidades de fazer concurso que necessita de curso superior. (Egresso H, 2015).8
No que se refere à atuação dos egressos na docência da Educação Básica em meio a este cenário de
oportunidades diversificadas, esta investigação revelou que somente 25% deles atuam como docentes, em
oposição, 75% não desempenham nenhuma atividade diretamente ligada ao magistério:
8
Dados da pesquisa
Volume 1 59
Gráfico 5 - Atuação dos egressos do curso de Ciências Biológicas na docência da Educação Básica
Diante destes resultados e dos relatos aqui descritos, faz-se necessário esclarecer que uma gama de
fatores contribuiu para que os egressos do curso de Ciências Biológicas do IFNMG - Campus Januária não
ingressassem de imediato na docência, dentre os quais:
• Recente diplomação;
• Falta de oportunidades viáveis no mercado de trabalho;
• Desvalorização da docência na Educação Básica;
• Dedicação à concursos públicos/processos seletivos;
• Atuação em outras áreas profissionais no setor público que propiciam estabilidade financeira.
Ademais, notou-se, sobretudo através do relato do Egresso E (2015) elencado acima, que a demanda
local por profissionais da Educação Básica concentra-se em prováveis áreas rurais, isto é, espaços físicos de
difícil acesso para muitos graduados que, apesar das oportunidades profissionais, não possuem condições
de deslocamento para ingressarem imediatamente no mundo do trabalho o que, porventura, contribui para a
vacância de cargos no magistério deste nível escolar.
Contudo, estudos realizados por Rocha (2013) e por Magalhães e Fialho (2014) também evidenciaram
reduzidos índices de licenciados em Ciências Biológicas engajados no magistério da Educação Básica,
evidenciando, assim, a baixa atratividade da carreira docente em Ciências/Biologia.
Outro ponto de destaque que foi investigado, concerne à possibilidade de desistência da carreira docente
em face às adversidades da profissão no contexto atual da sociedade capitalista. Neste quesito, notou-se que
75% dos egressos do curso de Ciências Biológicas do IFNMG - Campus Januária manifestaram-se favoráveis
a abandonarem a carreira docente, mesmo que ocasionalmente. Em contraposição, apenas 25% não cogitaram
esta possibilidade:
evanylson loPes De aRaújo . joelma De fátima menDesBanDeiRa . cláuDio Wilson Dos santos PeReiRa
Segundo Gatti et al. (2010), a baixa atratividade da carreira docente no Brasil é consequência das
políticas públicas ineficientes que não priorizam a valorização do magistério e o desenvolvimento pro-
fissional dos docentes, tanto em aspectos de remuneração quanto em aspectos de condições de trabalho e
resgate da imagem social.
Todavia, faz-se necessário advertir que a desvalorização histórica da docência no Brasil e a con-
sequente precariedade das condições de trabalho, impulsionam ainda mais o distanciamento dos jovens
licenciados do magistério na Educação Básica em busca do status quo da profissão de biólogo no mercado
de trabalho (VASCONCELOS; LIMA, 2010; ROCHA, 2013).
No que diz respeito ao zelo pela formação continuada em meio a esta conjuntura de incertezas
acerca da carreira docente na Educação Básica, esta investigação denotou que 92% dos egressos do curso
de Ciências Biológicas do IFNMG - Campus Januária não estão inseridos em programas de pós-graduação,
em contraposição, apenas 8% cursaram ou estão cursando uma pós-graduação lato sensu:
Ventura (2015), após analisar a trajetória profissional dos egressos do curso de Ciências Biológicas
de uma IES pública, constatou que o exercício da docência instiga os licenciados a ingressarem em progra-
mas de pós-graduação.
Nesta perspectiva, Aranha e Souza (2013, p. 83) elucidam que “A formação continuada deve, pois,
ser entendida como desenvolvimento profissional, uma possibilidade de proporcionar novas reflexões so-
bre a ação e novos meios para desenvolver e aprimorar o trabalho pedagógico.”.
volume 1 61
Posto isto, percebe-se que as possíveis motivações dos licenciados pela pós-graduação estão atreladas à
prévia identificação do sujeito com o perfil profissional docente que almeja desempenhar no meio social e com
as implicações de seu trabalho na transformação da realidade de outrem. Portanto, conclui-se que a desvalo-
rização da docência na Educação Básica é o principal fator que desestimula os egressos do curso de Ciências
Biológicas do IFNMG - Campus Januária a ingressarem no magistério e, consequentemente, em programas de
pós-graduação.
No entanto, estudos recentes sobre a atratividade da carreira docente em Ciências Biológicas realizados
por Castelo Branco, Bontempo e Saraiva (2016), revelaram que os recém-egressos de cursos de licenciatura que
optam por seguir carreira na docência da Educação Básica, buscam, em um primeiro momento, ingressar em
programas de pós-graduação stricto sensu e, após obter a titulação de mestre e/ou doutor, pleitear uma vaga de
Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT) nos IFs, negligenciando, assim, o magistério nos
sistemas municipais e estaduais de ensino em face do plano de carreira favorável e das melhores condições de
trabalho da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica.
Neste contexto, faz-se indispensável elucidar que dados obtidos por Araújo et al. (2007), Castro (2010),
Bastos et al. (2013) e Rocha (2013) revelaram que são altos os índices de concluintes e egressos dos cursos de
Licenciatura em Ciências Biológicas desinteressados nos programas de pós-graduação na área da Educação e/
ou Ensino de Ciências/Biologia, visto que eles intencionam ingressar em programas de pós-graduação na área
biológica propriamente dita, aspirando a obtenção futura do registro profissional de biólogo em conformidade
às exigências do CFBio quanto ao cumprimento da Lei Nº 6.684/79.
Não obstante, muitos licenciados, após obterem uma titulação acadêmica a nível de pós-graduação stric-
to sensu, visam a atuação no magistério do Ensino Superior em função do plano de carreira diferenciado e da
possibilidade de desenvolvimento e/ou orientação de pesquisas aplicadas na área biológica (CASTRO, 2010;
VENTURA, 2015).
Em suma, observa-se que este panorama atual tende a agravar ainda mais o déficit brasileiro de licencia-
dos em Ciências Biológicas engajados na Educação Básica, sobretudo nos sistemas de ensino público municipal
e estadual. Logo, são urgentes as políticas públicas de valorização do magistério que visem resgatar o status
profissional do docente deste nível escolar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho analisou o curso de Ciências Biológicas do IFNMG - Campus Januária a partir da perspec-
tiva dos seus primeiros egressos, originando, finalmente, respostas específicas aos questionamentos investiga-
dos.
Diante dos objetivos norteados pela problemática deste trabalho, constatou-se que o percurso acadêmico
dos egressos no IFNMG - Campus Januária foi caracterizado por dificuldades subjetivas de ordem socioeco-
nômica/educacional e por inúmeras expectativas intrínsecas à formação docente em Ciências Biológicas, espe-
cialmente, no que concerne à priorização dos componentes curriculares específicos desta área do conhecimento.
Sendo assim, infere-se que, provavelmente, a opção pela modalidade de licenciatura configurou-se como uma
via alternativa de acesso à Educação Superior, haja vista a idealização da formação do biólogo em detrimento
da formação do professor que foi evidenciada nos relatos aqui descritos.
Neste contexto, observa-se que os egressos, em sua maioria, estão parcialmente satisfeitos com a for-
mação docente ofertada pelo IFNMG - Campus Januária. Contudo, os elevados índices de avaliações positivas
atribuídas por eles aos aspectos gerais do curso de Ciências Biológicas e a unanimidade de que este contribuiu
para a transformação social da ação docente dos mesmos, permitem inferir que a graduação tem grande impor-
tância para estes licenciados, que, agora, ambicionam a realização pessoal de suas metas profissionais de modo
a concretizar seus projetos de vida outrora concebidos.
Evanylson Lopes de Araújo . Joelma de Fátima MendesBandeira . Cláudio Wilson dos Santos Pereira
REFERÊNCIAS
ARANHA, Antônia Vitória Soares; SOUZA, João Valdir Alves de. As Licenciaturas na Atualidade: nova
crise?. Educar em Revista, Curitiba, n. 50, p. 69-86, out./dez. 2013.
BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Tradução Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. Lisboa:
Edições 70, 2002.
BRASIL. Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008. Institui a Rede Federal de Educação Profissional,
Científica e Tecnológica, cria os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, e dá outras
providências. Diário Oficial da Uniã , Brasília, 30 dez. 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11892.htm>. Acesso em: 08 abr. 2017.
CANAAN, Mariana Gadoni; NOGUEIRA, Maria Alice. Bens em Disputa no Campo Universitário:
o efeito de fatores socioeconômicos e culturais no acesso à bolsa de iniciação científica. In: MASSI,
Volume 1 63
Luciana; QUEIROZ, Salete Linhares (Org.). Iniciação científic : aspectos históricos, organizacionais e
formativos da atividade no ensino superior brasileiro. São Paulo: Ed. Unesp, 2015. Seç. 1. Cap. 3, p. 65-85.
CASTRO, Sinaida Maria Vasconcelos de. Biólogos, da Universidade ao Mercado de Trabalho: um estudo
entre estudantes e egressos do curso de Licenciatura em Biologia. 2010. 156f. Tese (Doutorado) - Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, Programa de Pós-graduação em Educação, Rio de Janeiro.
CONSELHO FEDERAL DE BIOLOGIA. Parecer CFBio nº 01/2010 - GT Revisão das Áreas de Atuação
- Proposta de Requisitos Mínimos para o Biólogo Atuar em Pesquisa, Projetos, Análises, Perícias,
Fiscalização, Emissão de Laudos, Pareceres et al. Serviços nas Áreas de Meio Ambiente, Saúde
e Biotecnologia. Brasília: 2010. Disponível em: <http://www.cfbio.gov.br/admin/_lib/file/docAnexos/
Parecer%20CFBio%2001_2010-GT-Site.pdf>. Acesso em: 07 ago. 2017.
______. Resolução nº 300, de 7 de dezembro de 2012. Estabelece os requisitos mínimos para o Biólogo
atuar em pesquisa, projetos, análises, perícias, fiscalização, emissão de laudos, pareceres e outras atividades
profissionais nas áreas de Meio Ambiente e Biodiversidade, Saúde e, Biotecnologia e Produção. Diário
Oficial da Uniã , Brasília, 27 dez. 2012. Disponível em: <http://www.cfbio.gov.br/artigos/RESOLUcaO-
N%C2%BA-300-DE-7-DE-DEZEMBRO-DE-2012>. Acesso em: 07 ago. 2017.
GATTI, B. A. et al. A Atratividade da Carreira Docente no Brasil. In: FUNDAÇÃO VICTOR CIVITA.
Estudos & Pesquisas Educacionais. São Paulo: FVC, 2010. n. 1, p. 139-209.
GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
______. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.
LIMA, Fernanda Bartoly Gonçalves de. Formação de Professores nos Institutos Federais de Educação,
Ciência e Tecnologia: um estudo da concepção política. Natal: Ed. IFRN, 2014.
ROSA, Daiane. A Biologia, como Ciência e Curso de Graduação, Evoluiu para Acompanhar Mudanças
Sociais e Ambientais. Revista BIOPARANÁ, a. 6, n. 21, p. 4-6, ago./set./out. 2014.
Evanylson Lopes de Araújo . Joelma de Fátima MendesBandeira . Cláudio Wilson dos Santos Pereira
Disponível em: <http://www.lcsantos.pro.br/arquivos/TECNICAS_COLETA_DADOS03092013-154115.
pdf >. Acesso em: 30 jul. 2017.
SILVEIRA, Denise Tolfo; CÓRDOVA, Fernanda Peixoto. A Pesquisa Científic . In: GERHARDT,
Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo (Org.). Métodos de Pesquisa. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2009
Un. 2, p.31-42.
SOUSA, Aparecida Gasquez; BERALDO, Tânia Maria. Cursos de Licenciatura em Ciências Naturais
nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. In: CONGRESSO NACIONAL DE
EDUCAÇÃO, 9, e ENCONTRO SUL BRASILEIRO DE PSICOPEDAGOGIA, 3, 2009, Curitiba.
Anais... Curitiba: Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2009. p. 10169-10182.
Volume 1 65
ELEMENTOS DA EDUCAÇÃO DO SÉCULO XXI EXPLORADOS
EM CURSOS DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Resumo: Os cursos de licenciatura do século XXI encontram-se em processo de adequação às novas necessidades
discentes e as do mundo do trabalho. Apontamos neste capítulo como o ensino híbrido pode ser utilizado como
ferramenta de conscientização dinâmica para o “pré-professor”, por meio de relatos de experiência com 64
alunos de dois cursos de Licenciatura em Biologia em diferentes instituições (IFPB e IFSP) em que ferramentas
digitais como o Google Forms, o Padlet, e o Moodle foram usados para aproximar os participantes do novo
formato que o fazer docente vem se moldando. A partir de atividades centradas nos estudantes, criando espaços
de compartilhamento coletivos de informação digital, aliados à discussões em sala de aula, os participantes
praticaram e se apropriaram de elementos da Educação do Século XXI, conscientizando-se da importância
desse conceito para sua inserção no mundo do trabalho e nas interações sociais modernas. As reflexões discentes
que cercam o futuro da prática docente referendam a necessidade de uma remodelação curricular, mas acima
de tudo, de uma lógica que reposiciona identitariamente o professor e transforma-o em colaborador ativo do
conhecimento, não apenas aquele que alimenta o aluno diariamente com o conhecimento mas ressignificando o
professor do Século XXI como agente de mudança.
Palavras-chave: Licenciatura em Biologia; Educação do Século XXI; Ensino Híbrido; Ambientes Colaborativos
Virtuais; Atividade Centrada no Estudante.
1
Professora do IFPB- Campus de Cabedelo. Doutorado em Curso de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Santa Catarina
(2014). Mestrado em Lingüística pela Universidade Federal da Paraíba (2009). Formação complementar na TAMK - University of Applied Sciences (Finlândia) - Tea-
chers for the Future e na HAMK - Hame University of Applied Sciences - FiTT - Finnish Teacher Trainer Diploma Programme.
E-mail: jamylle@ifpb.edu.br
Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4270047Z0
2
Professor do IFSP - Campus São Roque. Doutorado-Direto e Pós-Doutorado em Ciências da Saúde. Formação complementar na TAMK - University of Applied
Sciences (Finlândia) - Teachers for the Future e na HAMK - Hame University of Applied Sciences - FiTT - Finnish Teacher Trainer Diploma Programme.
E-mail : sandroconde@ifsp.edu.br
Lattes: http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4744556D3
Abstract: Graduation courses in the 21st Century are undergoing a reshaping process according to learners’
and the labor world’s needs. We hereby identify how blended learning can be used as a dynamic tool to
raise awareness for the “pre-teacher”/trainee-teacher through testimonials of 64 Undergraduation students
from two Biology Courses in different institutions (IFPB and IFSP) in which digital tools, e.g. Google
Forms, Padlet and Moodle, were used to bring participants closer to the new path that the teaching practice
has been taking. Student-centred tasks, sharing information through digital environments, along with
classroom discussions, led learners to practice and develop their ownership of 21st Century Education
Elements, becoming aware of the relevance of such concept for their insertion in the labor world and social
modern interactions within such environment. Undergraduates’ reflections which surround the future of
Keywords: Biology Degree; 21st Century Education; Blended Learning; Virtual Collaborative
Environments; Student-centred Activity.
Volume 1 67
INTRODUÇÃO
MATERIAIS E MÉTODOS
Os cursos de Licenciatura aparecem como um dos ambientes propícios para a solução de tais
questionamentos abordados na introdução desse capítulo (Como contornar obstáculos com altas cargas horárias,
múltiplas jornadas de trabalho e ainda recuperar um ambiente sadio e de formação significativa para a vida?
Como formar profissionais que possam contornar tais obstáculos e ainda multiplicar esse fazer docente com vistas
a “contagiar” os profissionais ao seu redor?). Contudo, um ensino tradicionalista, engessado por metodologias
centradas no professor como detentor do conhecimento, técnicas ultrapassadas de ensino e numerosas aulas
expositivas pode comprometer a formação docente na contemporaneidade (ANASTASIOU, 2001).
Volume 1 69
Figura 1: Mural na plataforma Padlet com as respostas, em colunas rolantes, dos alunos na disciplina de Instrumentação no Ensino de
Ciências sobre o conceito de Ensino por Competência. Na primeira coluna os alunos apontavam um referencial teórico sobre Ensino por
Competência; na segunda coluna apresentaram suas opiniões sobre essa forma de ensino no nível Fundamental II; na terceira coluna suge-
riram uma atividade para a aplicação dessa forma de ensino.
É interessante observar que após a pesquisa sobre o Ensino por Competência, e em suas reflexões no
quadro do meio, os alunos revelam diversos fatores, a exemplo de infraestrutura, do ensino conteudista, da
formação profissional, dentre outros elementos, que não permitiram a eles vivenciar essa experiência. Aqui,
já na reflexão, observamos o desejo de mudança no discurso discente e a sinalização do desenvolvimento de
competências para a prática docente, tal como pode ser observado no trabalho de Feitosa et al. (2018).
Outra experiência de sucesso ocorreu com a atividade nomeada de “Alinhamento Construtivo”, em que
os alunos foram orientados a compartilhar quatro quadros: um primeiro quadro escolhendo uma habilidade
informada na Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017); um segundo quadro onde localizaram, dentro
da taxonomia de Bloom (BLOOM et al., 1983), a ordem da ação desempenhada pela habilidade escolhida;
um terceiro quadro onde sugerem uma atividade para o estudante atingir essa habilidade; um quarto quadro
onde sugerem uma avaliação, forma do estudante demonstrar ao professor que atingiu a habilidade escolhida
(Figura 2).
Volume 1 71
Gráfico 1: Faixa etária dos alunos na disciplina de Prática de Ensino em Biologia III do curso de Licenciatura em Ciências
Biológicas do IFPB - Campus Cabedelo no período 2018-1.
A faixa etária aparece como elemento de destaque nesta pesquisa visto que são “pré-professores”
advindos de um ambiente de ensino e aprendizagem com ênfase em uma abordagem centrada no professor.
Todavia, todos os participantes da pesquisa e da prática já sinalizaram desejo de se tornarem docentes, daí a
utilização da nomenclatura “pré-professores” e, portanto, estão buscando estratégias alternativas para fomentar
um ambiente remodelado para a Educação no Século XXI com vistas ao protagonismo estudantil.
Amparado por duas competências contidas na Educação do Século XXI, a comunicação e a
colaboratividade, perguntamos, utilizando a ferramenta Google Forms, a um grupo de alunos sobre a utilização
de redes sociais enquanto ambientes virtuais de aprendizagem e obtivemos as respostas observadas na Figura 4.
Figura 3: Respostas sobre a utilização de redes sociais enquanto ambientes virtuais de aprendizagem, por meio do “Google
Forms”, de um grupo de alunos na disciplina de Prática de Ensino em Biologia III. Em virtude do recorte, algumas respostas
não aparecem em sua totalidade, mas foram as seguintes: acredito que sim em formato de aula; podem, acho que dependem
do aluno; sim, sim aliás um ótimo mecanismo; sim como meios indiretos; sim, desde que dê para ficar online em sala; sim, lá
temos contato com os alunos e professores; sim, as redes sociais são muito eficientes.
“Educar para a autonomia me remete que você está educando alguém para que ela seja autônoma
nas suas decisões e opiniões, no caso que a pessoa não espere ser mandada fazer algo, mas que
ela faça de livre e espontânea vontade e detenha esse desejo em si. As tecnologias surgem como um
vetor para isso, para a favilicotacao [sic] do acesso à informação permite isso.” (Participante 1)
“Estimular o senso crítico nos alunos e fazer com que se crie uma individualização de conhecimen-
to a partir do exercício feito a partir da coletividade.” (Participante 2)
3
Alguns desses compartilhamentos podem ser visualizados em: https://www.instagram.com/cabioifpb/.
4
Os participantes responderam ao questionário utilizando, muitas vezes, smartphones, então algumas das respostas poderão apresentar distorções gráficas,
ausência de ortografia, dentre outras digressões linguísticas, porém, com o objetivo de manter os relatos fidedignos utilizamo-nos as versões originais retiradas
da tabela do Excell gerada pelo Google Forms e quando tais digressões são identificadas apresentamos a expressão “sic”.
Volume 1 73
“Tornar o aluno mais independente. As tecnologias facilitam nas elaborações de trabalhos em geral, na
comunicação, nas EAD, etc.” (Participante 3)
“Educar para autonomia, seria preparar pessoas para que elas tenham a capacidade de buscar o co-
nhecimento. A tecnologia e suas ferramentas são estrumentos que otiminizam a capacidade de busca de
informação e possibilitam a elaboracao deatividades [sic].” (Participante 4)
Com base nos excertos acima destacados percebemos o desenho de um perfil de docência que destaca as
múltiplas estratégias aplicadas à confecção de processos de construção do conhecimento apoiados em tecnologias
digitais e instrumentos tecnológicos variados que irão fomentar um processo de ensino e aprendizagem mais
independente, afinal, é notório o conhecimento de que os alunos já estão em sala de aula munidos de dispositivos
móveis com múltiplas funções e que não hesitam em utilizá-los, quer sejam requisitados pelos professores
ou não. Nesse sentido, fazer uso desse tipo de tecnologia aproxima os atores em níveis instrucionais, sociais
e comunicativos (duas competências aqui já destacadas como essenciais para a educação no Século XXI), e
Barthes (apud DUFOUR et al, 2005) advoga que um ambiente comprometido a uma aprendizagem para a vida
toda irá gerar alunos que aprendem para a vida toda e não apenas para executar testes e provas.
Destacamos, nas palavras de Pasin (2017), que a utilização do ensino híbrido, ou blended learning
como é conhecido em inglês, é uma tendência metodológica contemporânea que promove um “aprendizado
envolvente e eficiente”, pois “socializa o conhecimento”. Além disso, é uma metodologia que funciona tanto
de forma síncrona – em sala de aula – quanto assíncrona – no ambiente de ensino virtual –, o que permite a
flexibilidade da aprendizagem. Entendemos a flexibilidade aqui de diversas maneiras: pensando nos alunos que
preferem revisar conteúdos em casa – refletindo sobre as múltiplas inteligências (GARDNER, 2008) e modos
de aprendizagem, nos alunos que por algum motivo não podem comparecer a aula e assim podem ter acesso ao
conteúdo e interagir com os colegas a distância, dentre outras possibilidades.
Atrelado ao hibridismo que a tecnologia permite acessar, podemos inserir nesse contexto a metodologia
da sala de aula invertida, também conhecida como flipped classroom - já que o modelo de sala de aula em que
o professor ministra o conteúdo é invertido para a estratégia em que o aluno irá se apropriar do conteúdo em
casa, usando quaisquer artifícios que desejar, sejam livros ou fontes online, gerenciar a sua apropriação do
conhecimento e compartilhá-lo com os pares de forma presencial - e associar as duas metodologias na promoção
de uma aprendizagem significativa e autônoma. Leite (2017) afirma que a sala de aula invertida otimiza o
tempo da aula, uma vez que os alunos vem preparados para o ambiente presencial e utilizam o tempo da aula
para solver dúvidas e concentrarem-se em assuntos que despertam interesse, tornando o aproveitamento mais
positivo.
Seguindo o modelo de ensino híbrido em associação com a sala de aula invertida, dez alunos de Prática
de Ensino em Biologia IV, do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do IFPB - Campus Cabedelo,
acessam o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) denominado Moodle Presencial para compartilharem
algumas tarefas. Dentre elas, o destaque é dado para a proposição seguinte: os alunos deveriam selecionar um
breve artigo acadêmico que trouxesse em seu cerne práticas de ensino interdisciplinares associadas à Biologia;
deveriam então postar no AVA o artigo e elaborar duas perguntas que iriam provocar a reflexão nos colegas
que, por conseguinte, leriam os artigo e responderiam às perguntas. A atividade foi realizada por nove entre dez
participantes da disciplina, e duas semanas após a finalização, foi realizado um momento de reflexão presencial
em que os alunos deveriam compartilhar o aprendizado e a validade de tal atividade para a sala de aula.
Durante a sessão de feedback, os participantes apontaram que acharam a atividade positiva já que
puderam ler e refletir sobre tema com artigos que não eram muito extensos, a leitura e a resposta aos
questionamentos feitos poderia ser realizada em qualquer momento que possuíam disponibilidade física e
de tempo, não sendo obrigatoriamente o espaço da sala de aula necessário, alguns informaram que faziam
a leitura durante o trajeto no ônibus usando dispositivos móveis, nos fóruns eles também parabenizaram os
pares pelos questionamentos propositivos e que, de fato, promoviam a reflexão sobre a prática da sala de
aula e destacaram que esse tipo de atividade surge como alternativa extremamente profícua para casos em
que os alunos estão impossibilitados de se deslocarem para os ambientes físicos de sala de aula, embora
estejam em condições de participar das atividades.
Outra experiência de sucesso foi a utilização da ferramenta Playposit, que traz a possibilidade de
inserção de um vídeo do Youtube e elaboração de questões – que podem ser reflexivas, de múltipla escolha
e abertas – sobre esse vídeo e que são sincronizadas e permitem ao usuário assistir ao vídeo e responder às
questões que são apresentadas. Desta forma, a aprendizagem híbrida e associada à sala de aula invertida
aparece como solução inclusiva e aproxima os atores do processo de ensino e aprendizagem não deixando
lacunas na colaboratividade nem na apropriação do conhecimento.
Volume 1 75
Destacamos ainda que a participação ativa e a colaboração por meio da troca de conhecimentos,
experiências, proposição de reflexão, leituras, de forma híbrida, quer seja lançando mão de AVA, ferramentas
digitais como Padlet, ou redes sociais como o Whats App fomentam a construção, desde a graduação, de
uma cultura de colaboratividade que uma Comunidade Profissional de Aprendizagem (DUFOUR et al, 2005)
necessita, visto que o resultado maior a ser alcançado pelos atores do processo de ensino e aprendizagem é a
apropriação do conhecimento de modo significativo pelo aluno.
À GUISA DE CONCLUSÃO
Assim, a partir de atividades centradas nos estudantes, metodologias ativas, criação de espaços de
compartilhamento coletivo de informação por meio digital, aliados a discussões em sala de aula, os “pré-
professores” praticaram e se apropriaram de elementos da Educação do Século XXI, conscientizando-se da
importância desse conceito para a inserção deles em suas práticas docentes, e de seus futuros alunos, no mundo
do trabalho e nas interações sociais modernas. As reflexões discentes que cercam o futuro da prática docente
referendam a necessidade de uma remodelação curricular, mas acima de tudo, de uma lógica que reposiciona
identitariamente o professor e transforma-o em colaborador ativo do conhecimento e não apenas aquele que
“alimenta” o aluno diariamente com o conhecimento. Desta forma, o professor do Século XXI é ressignificado
como agente de mudança. Com base em práticas como as aqui relatadas, pensamos e praticamos processos de
ensino e aprendizagem ubíquos e compartilhados, adaptados às necessidades e demandas globais mas ao mesmo
tempo regionais e locais, considerando idiossincrasias e todo o arcabouço que molda o indivíduo.
REFERÊNCIAS
BARNETT, R., PARRY, G., COATE, K. Conceptualising Curriculum Change, Teaching in Higher
Education, 6:4, 435-449, 2010.
BIGGS, J. What the student does: teaching for enhanced learning. Higher Education Research &
Development, Taylor & Francis, London, England, v. 18, n. 1, p. 57-75, 1999.
BIGGS, J.; TANG, C. Teaching for Quality Learning at University. 4. ed. Berkshire, England: Society for
Research into Higher Education & Open University Press, 2011.
BLOOM, B. et al. Taxonomia dos objetivos educacionais: domínio cognitivo. Porto Alegre: Globo, 1983.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base. 2017.
Disponível em: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a-base>. Acesso em: 03 junho 2018.
DUFOUR, W.; EAKER, R.; DUFOUR, R. On common ground. The power of Professional Learning
Communities. Indiana: Solution Tree Press, 2005.
GARDNER, H. Multiple Intelligences: New Horizons in Theory and Practice. UK: Hachette, 2008.
MCGUIRE, Casey, Transforming Traditional Teaching Practices with 21st Century Skills in K-12
Classrooms. Culminating Projects in Information Media. v. 16, 80p, 2018. Disponível em: <http://
repository.stcloudstate.edu/im_etds/16>. Acesso em: 13 ago. 2018.
FEITOSA, Elaine da Silva et al. Research Learning By Two Classes of sixth year students at EMEF
Tetsu Chinone School in São Roque - SP. In: CURCHER, Mark (Org.). The Implementation of
Innovative Participatory Pedagogies by Brazilian Educators. Finlândia: Tampere University Of
Applied Science, 2018. p. 109-118. Disponível em: <http://julkaisut.tamk.fi/PDF-tiedostot-web/Muut/
Samba-and-Sauna.pdf>. Acesso em: 13 ago. 2018.
PASIN, D. M.; DELGADO, H. O. K. O ensino híbrido como modalidade de interação ativa e reflexão
crítica: relato de uma experiência docente no Brasil. Texto Livre: Linguagem e Tecnologia, [S.l.],
v. 10, n. 2, p. 87-105, dez. 2017. ISSN 1983-3652. Disponível em: <http://www.periodicos.letras.
ufmg.br/index.php/textolivre/article/view/11591/10916>. Acesso em: 06 jun. 2018. doi:http://dx.doi.
org/10.17851/1983-3652.10.2.87-105.
SILVEIRA, Denise Tolfo; CÓRDOVA, Fernanda Peixoto. A Pesquisa Científica. In: GERHARDT,
Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo (Org.). Métodos de Pesquisa. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2009.
Un. 2, p. 31-42.
SOUSA, Aparecida Gasquez; BERALDO, Tânia Maria. Cursos de Licenciatura em Ciências Naturais
nos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia. In: CONGRESSO NACIONAL DE
EDUCAÇÃO, 9, e ENCONTRO SUL BRASILEIRO DE PSICOPEDAGOGIA, 3, 2009, Curitiba.
Anais... Curitiba: Pontifícia Universidade Católica do Paraná, 2009. p. 10169-10182.
TEIXEIRA, D. E. et al. Perfil e Destino Ocupacional de Egressos Graduados em Ciências Biológicas nas
Modalidades a Distância e Presencial. Revista Ensaio, Belo horizonte, v. 16, n. 01, p. 67-84, jan./abr.
2014.
Volume 1 77
O ROLE-PLAY COMO ESTRATÉGIA DE
ENSINO PARA A ENFERMAGEM
Resumo: O role-play é uma estratégia de ensino, traduzida como simulação de uma situação de trabalho que
permite aos alunos praticar a comunicação em diferentes contextos e papéis sociais e consolidar o aprendizado
teórico-prático. Objetivo: relatar a experiência da prática do role-play no processo de ensino-aprendizagem dos
alunos do Curso Técnico de Enfermagem do Instituto Federal de Alagoas. Metodologia: O público alvo foram
os estudantes do módulo I do curso técnico de enfermagem do IFAL, e iniciou em abril de 2018 seguindo as eta-
pas de: levantamento bibliográfico e identificação dos conhecimentos e habilidades que constituíram os casos;
leitura e discussão dos casos pelo corpo docente; apresentação da proposta à turma; criação do cenário e distri-
buição dos papeis entre os alunos; aplicação da simulação, discussão e avaliação da aprendizagem. Resultados:
Percebeu-se melhoria do processo de ensino-aprendizagem do conteúdo de enfermagem através da participação
ativa do aluno, aproximação de situações encontradas no mundo do trabalho por meio da simulação de casos
(situações-problema) e estímulo a percepção crítica do aluno através de debates e discussões. Conclusão: Esta
estratégia de ensino possibilitou aos docentes e discentes visualizarem de maneira dinâmica as concepções so-
bre o trabalho em equipe e a articulação entre teoria e prática.
1
Professora do Instituto Federal de Alagoas - Campus Benedito Bentes. Enfermeira, mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Alagoas.
Membro do grupo de pesquisa em Enfermagem e Saúde - CNPQ/ IFAL.
Contato: leticia.melo@ifal.edu.br
Lattes: http://lattes.cnpq.br/0447231671658376
2
Professora do curso técnico de enfermagem do Instituto Federal de Alagoas - Campus Benedito Bentes. Enfermeira, mestre em Enfermagem pela
Universidade Federal de Sergipe. Líder do grupo de pesquisa em Enfermagem e Saúde - CNPQ/ IFAL.
Contato: roberta.torres@ifal.edu.br
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9403750351171985
3
Professora do curso técnico de enfermagem do Instituto Federal de Alagoas -Campus Benedito Bentes. Enfermeira, mestre em Ciências e Saúde
pela Universidade Federal do Piauí. Membro do grupo de pesquisa em Enfermagem e Saúde - CNPQ/ IFAL. Membro do grupo de pesquisa em Saúde
Coletiva - CNPQ/ UFPI.
Contato: roseanne.nobre@ifal.edu.br
Lattes: http://lattes.cnpq.br/7652707228250878
Abstract: Role-play is a teaching strategy translated as a simulation of a work situation that allows studen-
ts to practice communication in different social contexts and roles and to consolidate theoretical-practical
learning. Objective: to report the experience of the role-play practice in the teaching-learning process of
students of the Nursing Technical Course of the Federal Institute of Alagoas. Methodology: The target
audience was the students of module I of the nursing technical course of IFAL, it began in April 2018,
following the steps: bibliographical survey and identification of the knowledge and skills that constituted
the cases; reading and discussion of cases by faculty; presentation of the proposal to the class; scenario
creation and distribution of roles among students; application of simulation, discussion and evaluation of
learning. Results: It was noticed the improvement of the teaching-learning process of nursing content
through active participation of the student, approximation of situations found in the work world through
Volume 1 79
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
Trata-se de um relato de experiência dos resultados parciais do Projeto “O Role-play como estratégia de
ensino para a enfermagem” que teve início em abril de 2018, e encontra-se em andamento. O público alvo foram
os estudantes do módulo I do Curso Técnico em Enfermagem do IFAL, selecionados a partir dos seguintes
critérios de inclusão: estar matriculado no 1º semestre do Curso Técnico em Enfermagem do IFAL, cursando
a disciplina Fundamentos de Enfermagem I e ter disponibilidade de horário para participar do momento da
simulação. Foram excluídos os alunos faltosos, bem como os matriculados no Módulo II que já participaram do
projeto. O projeto foi desenvolvido de acordo com as seguintes etapas:
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O Curso Técnico Subsequente em Enfermagem do IFAL foi implantado em fevereiro de 2018, e en-
contra-se com duas turmas, compostas por 20 alunos cada. Dentro do Projeto Político Pedagógico do cur-
so, a disciplina Fundamentos de Enfermagem I é o componente curricular no qual são ensinadas as técnicas
da assistência de enfermagem, dentre elas a verificação de sinais vitais e a administração de medicamentos.
A verificação de sinais vitais e a administração de medicamentos são práticas corriqueiras à equipe
de enfermagem, sendo na maioria das vezes executada pelos técnicos e auxiliares, e em casos especiais
pelo enfermeiro, conforme orientações da prática profissional regulamentadas pelo Conselho Federal de
Enfermagem (COFEN).
Volume 1 81
Foi realizada a simulação da prática de verificação de sinais vitais e administração de medicamentos
das vias oral (VO), subcutânea (SC) e intramuscular (IM) a partir de dois casos previamente elaborados que
buscaram integrar os conteúdos estudados nas diversas disciplinas do primeiro semestre do curso (Anatomia,
Biossegurança, Fundamentos de Enfermagem e Farmacologia).
Participaram da simulação quatro docentes do curso, dentre elas a coordenadora do projeto, e as demais
responsáveis pela disciplina de Fundamentos de Enfermagem I. Fizeram-se presentes 25 discentes, que foram
inicialmente divididos em dois grupos, subdivididos em trios e quartetos e distribuídos em três estações de
prática.
Cada docente comandou uma estação, distribuindo os personagens entre os discentes do grupo. Após
a leitura do caso, os participantes executaram os seus papéis de acordo com a descrição de cada personagem
na ficha individual. O discente que executou o papel do técnico de enfermagem teve acesso a um modelo de
prontuário no qual constavam as informações do paciente (dados clínicos e sociais), bem como prescrição
médica e formulário para registro do procedimento.
No primeiro momento os alunos experienciaram a prática a partir do conhecimento teórico adquirido nas
aulas expositivas e estudos extraclasse. Após a simulação, ocorreu o debate e discussão a respeito das decisões
tomadas em cada caso com a participação dos alunos quanto às percepções, dúvidas e sugestões. Os pontos
mais relevantes por eles levantados foram a falta de habilidade técnica e a pouca interação do profissional com
o paciente e familiar.
De acordo com Morán (2015), na implementação das metodologias ativas, o professor enquanto mediador
deve acompanhar e analisar os resultados e possíveis lacunas durante a aplicação da atividade. Devido ao fato
de esta ter sido a primeira execução desta metodologia, em alguns momentos foi necessária a interferência das
docentes para esclarecer dúvidas quanto a execução da mesma.
No que diz respeito a avaliação do role-play como metodologia ativa de ensino, a maioria dos alunos disseram
estar muito satisfeitos, conforme mostra a tabela 1.
Tabela 1 – Score de satisfação dos alunos quanto ao uso do role-play como método de ensino na
enfermagem. Maceió, Al, 2018 (n=25).
Variáveis N %
1. Muito satisfeito 19 76
2. Satisfeito 6 24
3. Insatisfeito - -
4. Muito insatisfeito - -
Nenhum discente avaliou o método como insatisfatório, o que demonstra que o role-play é uma estratégia
adequada para o ensino na Enfermagem, para o público em que foi empregado, por aproximar o aluno da
realidade que encontrará na prática, conforme constatado pelo relato a seguir:
Este método é um degrau a mais para uma boa qualificação das turmas. Inclusive, merece ser apre-
sentado para outras escolas técnicas e até mesmo para os cursos de nível superior. (A7)
A revisão integrativa feita por Neves da Nova Fernandes e Ângelo (2018) evidenciou que os jogos
e as simulações tem sido bastante utilizados no ensino da enfermagem, mais especificamente no nível
superior, por promover a autoaprendizagem. Não foram encontrados estudos a respeito da utilização do
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
CARVALHO, A.C.O. et al. Teacher planning: report on methods of assets used in nursing education.
Rev. Enferm. UFPE, v.10, n.4, p.1332-8, 2016.
COGO, A.L.P. et al. Utilização de tecnologias educacionais digitais no ensino de enfermagem. Ciencia y
Enfermeria. v.19, n.3, p. 21-9, 2013.
COGO, et. al. Casos de papel e role play: estratégias de aprendizagem em enfermagem. Rev. Bras. En-
ferm, v.69, n.6, p.1231-5, 2016.
FROTA, N.M. et al. Construção de uma tecnologia educacional para o ensino de enfermagem sobre pun-
ção venosa periférica. Rev. Gaúcha Enferm., v.34, n.2, p.29-36, 2013.
Volume 1 83
MORÁN, J. Mudando a educação com metodologias ativas. In: SOUZA, A. S.; MORALES, O.E.T.
(Orgs.) Convergências midiáticas, educação e cidadania: aproximações jovens. Vol. II. PG: Foca Foto-
-PROEX/UEPG, 2015. p. 15-33. Disponível em: < http://uepgfocafoto.wordpress.com/ > Acesso em 01 set.
2018.
NEVES DA NOVA FERNANDES, C.S.; ANGELO, M. Estratégias lúdicas utilizadas em enfermagem - uma
revisão integrativa. Av.enferm., Bogotá , v. 36, n. 1, p. 88-98, Abr. 2018. Available from < http://www.scie-
lo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0121-45002018000100088&lng=en&nrm=iso > Acesso em 01
set. 2018.
SILVA, O.S.; RAMOS, R.L.; CUNHA, K.C.S.; FIGUEIREDO, N.M.A. Habilidades e destreza manual: tratan-
do da criação no ensino de semiotécnica na enfermagem. J. res.: fundam. care. online. v.7, n.3, p.2874-2886,
2015.
SOARES, A.N.; GAZZINELLI, M.F.; SOUZA, V.; ARAÚJO, L.H.L. Role Playing Game (RPG) como estra-
tégia pedagógica na formação do enfermeiro: relato da experiência de criação do jogo. Text. Cont. Enferm,
v.24, n.2, 600-8, 2015.
SOARES, A.N.; GAZZINELLI, M.F.; SOUZA, V.; ARAÚJO, L.H.L. Role Playing Game (RPG) na graduação
em enfermagem: potencialidades pedagógicas. Rev. Eletr. Enf. [Internet], v.18, 2016. Disponível em: < http://
dx.doi.org/10.5216/ree.v18.37672 > Acesso em 01 set. 2018.
XAVIER, L.N. et al. Analisando as metodologias ativas na formação dos profissionais de saúde: uma revisão
integrativa. Sanare, v.13, n.1, 76-83, 2014.
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: paciente do sexo masculino, autônomo, casado, 39 anos, natural e pro-
cedente de Maceió/AL.
HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL: Sr. Luiz certo dia acordou queixando-se de dor na região do abdômen.
Etilista crônico, procurou o PS com queixa de epigastralgia intensa. Aferidos sinais vitais: taquicárdico
Foi avaliado pelo médico plantonista, que realizou a prescrição médica e solicitou exames laboratoriais e
de imagem. Foi encaminhado à sala de medicação.
HISTÓRIA FAMILIAR:
EXAME FÍSICO: Bom estado geral aparente, lúcido, orientado, mucosas normocoradas. Peso: 70kg; Al-
tura: 1,70m; Temperatura: 36.6°C; FR: 26ipm; FC: 110bpm; PA: 90x60mmHg. Bulhas normofonéticas;
ausculta pulmonar normal; fígado palpável sob o rebordo costal; sem edema; pulsos periféricos palpáveis.
EXAMES COMPLEMENTARES: glicose: 412mg/dl; creatinina: 1,1mg/dl; colesterol total: 194; coles-
terol HDL: 38mg/dl; triglicerídios: 70mg/dl; ácido úrico: 7,0mg/dl; hemoglobina: 15,9mg/dl; leucócitos:
5.400; TSH: 1,36; PSA total: 0,38; TGO 22,4 U/I; tempo de protrombina: RNI 0,9. Anexo radiografia de
tórax anormal.
Volume 1 85
ANEXO B
FICHAS DOS PERSONAGENS
Nome: L.T.M
Idade: 39 anos.
Naturalidade/Procedência: Maceió/AL.
Estado civil: Casado.
Sexo: Masculino.
Profissão: Autônomo.
Filho(s): 1.
Nesse dia, Luiz acordou como de costume às 5:30h, desempenhou sua rotina normal e por volta das 6:15h
começou a se sentir mal, com fortes dores abdominais e não quis tomar o café da manhã. Entretanto, por
volta das 6:30h sua esposa entra em seu quarto e o encontra pálido e reclamando de dores. Preocupada,
leva-o ao PS. Após ser examinado, ele é medicado e mantido em observação para a realização de alguns
exames.
Nome: S.S.P.S
Idade: 31 anos.
Naturalidade/Procedência: Maceió/AL.
Estado Civil: Casada.
Sexo: Feminino.
Profissão: Cabeleireira.
Esposa de Sr. Luiz, acordou cedo para preparar o café da manhã, foi até seu quarto, onde o encontrou se
sentindo mal. Preocupada, levou-o até o PS. Está extremamente aflita e nervosa, pois o seu esposo não é
de adoecer, e além disso precisa abrir o salão.
Nome: J.C.J
Idade: 28 anos.
Naturalidade/Procedência: Maceió/AL
Estado Civil: Solteira.
Sexo: Feminino.
Profissão: Técnica de Enfermagem.
Filho(s): 2.
Antes de chegar ao plantão discutiu com sua mãe após esta queixar-se de que ela trabalha muito, está
sempre cansada e não cuida dos filhos. Além disso, não teve uma boa noite de sono pois sua filha estava
com febre. Chegou ao hospital atrasada, às 7h50min, e às pressas foi iniciar sua rotina hospitalar.
Volume 1 87
USO DE DESENHOS TÁTEIS PARA AUMENTAR O ACESSO DE DEFICIENTES
VISUAIS A INFORMAÇÕES ESPORTIVAS
Resumo: As representações visuais esportivas são pouco acessíveis aos deficientes visuais, que não podem
enxergar as imagens mostradas em livros, televisões, computadores e até nas quadras de esportes. Este trabalho
tem como objetivo realizar um estudo sobre desenhos táteis de quadras esportivas (tênis, voleibol, futebol de
salão, futebol de campo, handebol, basquetebol e golbol) para deficientes visuais. Os desenhos das quadras
esportivas foram criados no computador e impressos sobre papel microcapsulado. Depois os desenhos foram
submetidos ao calor utilizando uma máquina fusora térmica. Os desenhos táteis foram avaliados por um grupo
de deficientes visuais. O ensino de Educação Física se torna mais inclusivo quando emprega desenhos em relevo
com informações em Braille e descrição verbal auxiliando os deficientes visuais na exploração dos ambientes
de práticas esportivas.
1
Servidor do Instituto Federal do Pará- campus Tucuruí. Pós-doutorado em Ensino de Química pela The University of Queensland, Austrália, dou-
torado e mestrado em Química pela UFPA.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8018691254585785
Contato: joao.elias@yahoo.com.br
2
Servidor do Instituto Federal do Pará, campus Tucuruí. Mestrado em Ciências da Educação pela Universidad Internacional Tres Fronteras, Paraguai.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9940055346582613
3
Servidor do Instituto Federal do Pará, campus Tucuruí.Mestrando em Computação Aplicada pela UFPA.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6715128767869399
ABSTRACT: Visual representations in sports are little accessible to blind and visually-impaired people,
whom cannot see the graphics presented in books, televisions, computers and even in courts. This work
aims to study tactile graphics of courts (tennis, volleyball, indoor soccer, soccer, handball, basketball, and
goalball) for blind and visually-impaired people. The drawings were created using computation and printed
onto microcapsule paper. Then they were heated using a heat machine. The drawings were evaluated by
a group of people with vision impairment. Physical Education is more inclusive when there is embossed
design with Braille text and verbal description. It helps blind and visually-impaired people to explore
places where sports are practiced.
João Elias Vidueira Ferreira . Maria do Perpétuo Socorro Sarmento . Deriks Karlay Dias Costa
Key-words: Tactile graphics; Courts; Vision impairment.
Volume 1 89
INTRODUÇÃO
A cultura esportiva está bastante presente nas nossas vidas. Desde crianças somos convidados a participar
das mais variadas modalidades esportivas, tanto para fins de lazer, de qualidade de vida ou até mesmo como uma
profissão. Os benefícios trazidos aos deficientes visuais por terem um maior conhecimento acerca do mundo
dos esportes está no fato de se ter uma maior compreensão da própria realidade, do mundo em que vivemos.
O esporte possui uma ação que ativa a imaginação humana, facilita a socialização, proporciona lazer e, dessa
maneira, contribui para o processo de inclusão.
O mundo dos esportes possui uma linguagem própria para mostrar seus ambientes de práticas. As
representações existentes, por exemplo, em um campo de futebol ou em uma quadra de basquetebol, dão
sustentação à lógica de funcionamento de determinada modalidade esportiva. Assim, tem-se, no caso de um
campo de futebol, o meio de campo, a grande área, a pequena área, o escanteio etc. No basquetebol, a disposição
dos elementos espaciais é outra: garrafão, linha de três pontos, semicírculo de lance livre, etc. Por conseguinte,
nota-se que muito daquilo aprendido sobre esportes é baseado no aspecto visual da localização desses elementos.
Entretanto, acreditamos que, lamentavelmente, os deficientes visuais estão em desvantagem no que
diz respeito ao acesso às informações do mundo dos esportes, particularmente quando estas são apresentadas
de modo visual. Eles não podem enxergar as inúmeras imagens disponíveis em livros, apostilas, televisões,
computadores ou até mesmo estampadas em roupas. O acesso ao conhecimento por parte dos deficientes visuais
exige fundamentalmente a utilização dos sentidos da audição e do tato, pois a visão encontra-se parcialmente ou
totalmente comprometida.
Este trabalho objetiva realizar um estudo sobre o uso de maquetes táteis de quadras esportivas (tênis,
voleibol, futebol de salão, futebol de campo, handebol, basquetebol e golbol) com deficientes visuais. Sua
relevância está no fato de que a literatura ainda é insuficiente de conhecimentos acerca do emprego de
tecnologias assistivas no ensino da educação física escolar, em especial na adaptação de representações visuais
aos deficientes visuais.
Os materiais em relevo tátil são recursos indispensáveis para pessoas com deficiência severa na visão.
Além de um importante recurso didático, os materiais em relevo tátil são instrumentos que oferecem novas
vivências e experiências à pessoa com deficiência visual e contribuem para que o processo de inclusão social
realmente aconteça. Ocorre que sem a visão os outros sentidos passam a receber a informação de forma
intermitente, fugidia e fragmentária (DE SÁ; DE CAMPOS; SILVA, 2007).
O artigo 59 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996) estabelece que: “os
sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: I – currículos, métodos, técnicas,
recursos educativos e organização específicos para atender às suas necessidades”. O estatuto do IFPA (Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, 2009) ressalta em seu inciso IV do artigo 3° do capítulo II, o
qual trata “Dos Princípios, Das Finalidades, Das Características e Dos Objetivos do IFPA”, que a instituição tem
“Compromisso com a formação humana integral e emancipatória, com a produção e difusão de conhecimentos
científicos tecnológicos, com alcance à inclusão de indígenas, quilombolas e pessoas com deficiências e
necessidades educacionais especiais”. Também o inciso III do artigo 5° desse mesmo capítulo, afirma que o
IFPA tem como objetivo “realizar pesquisas aplicadas, estimulando o desenvolvimento de soluções técnicas e
tecnológicas, estendendo seus benefícios à comunidade”.
Segundo Lemos (2018), a educação física escolar tem a colaborar com o aprimoramento do educando
como pessoa humana, como cidadão e não, apenas, com a preparação física de pessoas. De Carvalho (2012)
defende que a escola inclusiva vai muito além de oferecer estrutura física facilitando o acesso, e/ou a criação
infinita de leis que garantem direitos, que na maioria das vezes se esbarram na falta de preparo profissional e
falta de investimentos em materiais didáticos e, pior ainda, na falta de uma cultura inclusiva na sociedade.
A educação física, parte integrante do contexto escolar, na opinião de De Carvalho (2012), é uma
disciplina que, além de benefícios educacionais, é área fértil para o trabalho de sociabilização e superação.
Assim, é desafiada a proporcionar conteúdos e atividades que possibilitem a participação de todos, para, de fato,
construir uma escola de todos, respeitando o ritmo, limites e possibilidades de cada um: igualdade de direitos.
Este estudo também pode proporcionar novas possibilidades para a prática pedagógica concreta na educação
[...] tange questões como o acesso, a permanência e, principalmente as metodologias adaptadas para
assegurar a participação desses alunos nas aulas, sobretudo nas de educação física, uma vez que
a perda ou a falta de visão não os impedem de participar ativa e efetivamente das aulas, seja qual
for a modalidade de ensino [...] Portanto, a universalização e a democratização das oportunidades
devem ser debatidas e pensadas de modo real, de acordo com a realidade situacional, sem atos pro-
tecionistas ou paternalistas, buscando o respeito pelas diferenças [...] oferecer conjunturas ideais de
igualdade. (FREITAS; SALES; MOREIRA, 2016, p.101)
Finalmente, o IFPA, campus Tucuruí, tem realizado diversos trabalhos de ensino, pesquisa e extensão
no âmbito do uso de tecnologias assistivas para levar informação aos deficientes visuais e contribuir na
melhoria do processo de ensino-aprendizagem dos mesmos. Espera-se que este trabalho seja um valioso
instrumento para aumentar o acesso de deficientes visuais à cultura esportiva por meio do uso de maquetes
táteis das quadras esportivas.
João Elias Vidueira Ferreira . Maria do Perpétuo Socorro Sarmento . Deriks Karlay Dias Costa
OBJETIVO
OBJETIVO GERAL
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Verificar qual o grau de conhecimento dos deficientes visuais sobre as quadras esportivas.
• Investigar possíveis diferenças na percepção tátil de maquetes de quadras esportivas e diferen-
tes perfis de deficientes visuais.
• Verificar se entre os deficientes visuais há um maior estímulo aos esportes quando tem acesso
às maquetes táteis de quadras esportivas.
MATERIAIS E MÉTODOS
Volume 1 91
abertas e fechadas, o nível de conhecimento dos professores de Educação Física sobre formas de apresentar
representações visuais aos seus alunos com falta de percepção visual.
Em uma etapa seguinte, foram criados desenhos de áreas de prática de diversos esportes no computador
usando o software livre Inkscape®. Na confecção dos desenhos, foram usadas texturas bem diferenciadas
para enfatizar partes distintas da quadra (linhas e áreas), objetivando facilitar a exploração tátil por parte dos
deficientes visuais. Cada desenho de quadra foi impresso em papel microcapsulado (swell paper) tamanho A3,
marca Zy-tex2®, e teve inscrições visuais (para pessoas videntes, que enxergam) e em Braille (para pessoas que
só lêem o Braille). A fonte de letra em Braille usada foi a Duxbury Swell Braille tamanho 24. Primeiramente, o
desenho foi impresso no papel microcapsulado em uma impressora a laser e depois o papel foi submetido por
alguns segundos ao aquecimento em uma máquina fusora térmica (heating machine), marca Teca Fuser®. Com
o aquecimento, apenas as partes em preto no papel ficaram em relevo em uma altura uniforme.
Esse método de criação de imagens táteis é reportado na literatura como sendo um dos mais usados
no mundo (THOMPSON; CHRONICLE, 2006; BRAILLE AUTHORITY OF NORTH AMERICA, 2010;
POWER; JURGENSEN, 2010).
Os objetos esportivos táteis produzidos seguiram as orientações do manual americano BANA (2010), o
qual traz orientações acerca de como melhor fazer desenhos em relevo com legenda em Braile. Esses desenhos
em relevo foram avaliados por um grupo de três deficientes visuais formado por ex-alunos do IFPA, campus
Tucuruí. Esse grupo foi composto por pessoas com diferentes idades, tipos e graus de comprometimento da
visão, idade de chegada da deficiência visual, níveis de escolaridade, habilidades com a leitura em Braille e
com imagens em relevo e aptidões por esportes. Essa diversidade dos participantes teve como intenção fornecer
respostas variadas que pudessem enriquecer as discussões da pesquisa.
Cada participante foi comunicado pessoalmente sobre os propósitos da pesquisa. Nenhum deles recebeu
qualquer pagamento em dinheiro, porém eles foram devidamente esclarecidos sobre a relevância que esse
trabalho ostenta no sentido de contribuir para melhorias no ensino da Educação Física escolar às pessoas com
comprometimento da visão. Após o consentimento de participação, os deficientes visuais participaram de duas
entrevistas (antes e depois) da exploração tátil das maquetes em uma sala do IFPA, campus Tucuruí, em horário
que foi melhor conveniente para cada um. A identidade dos mesmos foi preservada, sendo de conhecimento
apenas dos entrevistadores. Os participantes foram identificados nesse texto com códigos P1, P2 e P3.
Durante o teste com as maquetes esportivas táteis, o pesquisador e o entrevistado sentaram
confortavelmente à frente de uma mesa, dispostos um de frente para o outro. As instruções e demais formas de
comunicação foram fornecidas através de uma combinação de instrução verbal e apresentação de materiais táteis
(desenhos e escritos em Braille). Os entrevistados foram motivados a se sentirem à vontade e falarem livremente
sobre suas opiniões, principalmente sobre a descrição das maquetes táteis. As entrevistas foram gravadas em
imagens e em áudio para facilitar o processo de análise dos resultados. Não houve restrição de tempo durante a
entrevista. Os deficientes visuais preencheram um questionário com questões abertas e fechadas para avaliar o
nível de conhecimento sobre as quadras esportivas antes e depois da apresentação das maquetes táteis, as quais
foram apresentadas a eles seguindo uma ordem aleatória.
No decorrer da exploração das maquetes com as mãos, os entrevistados puderam girar livremente as
maquetes. O pesquisador somente interviu com comentários de motivação/orientação, mas sem fornecer dicas
sobre o objeto que estava sendo explorado. Foram reportados os comentários mais interessantes dos entrevistados,
seus gestos e suas estratégias de exploração dos desenhos. Todos os comentários dos entrevistados que não se
ajustaram às características do desenho foram desconsiderados.
Finalmente, foram analisadas as informações geradas durante as entrevistas, o preenchimento dos
questionários e a exploração tátil das maquetes, que formaram a base para as discussões dos resultados dessa
pesquisa.
Os alunos com deficiência visual que avaliaram as maquetes táteis das quadras esportivas acharam
muito boa a experiência. Segundo eles, essas maquetes são de fácil manuseio e explicativas, pois trazem
em Braille informações acerca dessas quadras esportivas. De acordo com Padilha et al (2017), uma
característica chave sobre imagens em relevo para deficientes visuais é justamente a facilidade com que
essas imagens possam ser exploradas pelos dedos das mãos.
Os participantes realmente se sentiram curiosos para fazerem os testes das maquetes e, quando
estes aconteceram, não esconderam a satisfação por terem, pela primeira vez em suas vidas, explorado com
as mãos o desenho de áreas de práticas esportivas, algumas das quais apenas ouviam falar, sem ter uma
noção mais clara de como eram esses espaços de lazer. Eles acabam apresentando uma curiosidade natural
pelo uso dessas novas tecnologias.
Os participantes mostraram perfis variados com relação ao gênero, idade, tipo e período da vida da
chegada da deficiência na visão, assim como habilidade na leitura do Braille e de imagens táteis. A tabela 1
resume o perfil de cada um dos entrevistados. Apenas um deles era do sexo feminino. A faixa etária variou
João Elias Vidueira Ferreira . Maria do Perpétuo Socorro Sarmento . Deriks Karlay Dias Costa
de 25 a 41 anos.
Quanto à escolaridade, P1 estava cursando a graduação em engenharia sanitária e ambiental em
uma universidade pública. P2 tinha finalizado o ensino médio havia dois anos e estava sem estudar. P3
estava cursando a graduação em serviço social em uma universidade particular. Apenas P1 e P3 tiveram
efetivamente aulas de Educação Física no próprio Instituto Federal, porém todos tiveram aulas de Educação
Física nas outras escolas onde estudaram.
Dois participantes apresentavam cegueira e um deles era caracterizado como tendo baixa visão.
Nenhum deles já nasceu com comprometimento grave da visão. Todavia, um deles foi progressivamente
perdendo a percepção de luz durante a infância enquanto para os outros dois foi na adolescência que essa
perda evoluiu.
O nível de leitura em Braille era muito bom para os participantes P1 e P2. Já o P3 tinha um domínio
considerado regular. De fato, P3 teve pouco contato com o código Braille, pois a chegada da cegueira
aconteceu enquanto cursava o ensino médio e em sua escola não havia nenhum suporte de equipamento
e nem pessoas capacitadas para a produção de material adaptado para deficientes visuais. Curiosamente,
essa participante concluiu a educação básica com um conhecimento mínimo do Braille, apesar de ser cega!
Então, supõe-se que nas várias disciplinas escolares essa aluna deva ter sido meramente aprovada...
Volume 1 93
Figura 1. Desenho tátil da quadra de basquetebol
Volume 1 95
Figura 3. Deficiente visual avaliando o desenho tátil de uma quadra esportiva
A primeira pergunta tinha como objetivo sondar se os entrevistados se sentiam incluídos nas aulas
de Educação Física escolar. Suas respostas ajudariam a avaliar se de fato tem-se trabalhado na prática a tão
defendida inclusão na educação.
Participava e ajudava no dia-a-dia... agilidade, noção espacial [...]. Faltava equipamentos adaptados:
bola com guizo e demarcações na quadra. (Participante P1).
Passei a praticar Educação Física no fundamental II, mas não era junto com os demais colegas. Era
sempre caminhada, a escola não tinha espaço adequado. No IFPA passei a participar efetivamente [...].
No fundamental II eu não era incluído porque não tinha quadra. No ensino médio eu era incluído porque
tinha espaço adequado. (Participante P2).
Não participava das aulas no ensino fundamental. No médio, participei pouco [...]. Eu não era incluída
no fundamental I e II. No médio, participava apenas do atletismo. (Participante P3).
O participante P1 reconhece em sua fala a relevância da Educação Física em sua vida, quando cita que
ela ajudava no seu dia-a-dia, particularmente se referindo à orientação e mobilidade. No entanto, P1 também
reconhece uma triste realidade vivida no nosso país: a falta de estrutura de apoio aos deficientes visuais nas
aulas de Educação Física. Essa falta de estrutura que tem como consequência direta a pouca participação dos
deficientes visuais em atividades dessa disciplina também é destacada por P2 e P3.
A inclusão é um elemento importante a ser trabalhado no ambiente escolar. Na Educação Física, na
maioria das vezes, os alunos que precisam ser incluídos acabam sendo excluídos das atividades pelo fato de não
conseguirem realizá-las ou pelo uso de metodologias de ensino que não reconhecem as diferenças dos alunos
(WERMANN; NEUENFELDT, 2015). A Educação Física é importante para todos os estudantes incluindo
aqueles com deficiência visual. Embora o planejamento seja necessário, é importante incluir os estudantes em
programa de Educação Física considerando ser isso um componente exigido do currículo padrão (WILLINGS,
2018).
Este segundo questionamento acabou sendo parcialmente respondido já na primeira pergunta, pois,
considerando a falta de materiais adaptados e também a falta de um melhor preparo por parte de alguns
profissionais de Educação Física, havia pouca participação nas atividades de Educação Física. No entanto,
esta segunda pergunta pontuou ações que eram desenvolvidas (quando eram desenvolvidas!) nas aulas.
Durante o ensino médio, nas aulas, tinha o colega ajudando. No basquete, eu ficava embaixo
do garrafão. No vôlei, eu sacava [...]. Os professores não eram capacitados para trabalhar com
deficientes visuais, mas foram buscando maneiras de me incluir e modificar as modalidades. (Par-
ticipante P1).
No ensino médio, no voleibol eu sacava. No basquete eu ficava próximo da cesta. (Participante P2).
João Elias Vidueira Ferreira . Maria do Perpétuo Socorro Sarmento . Deriks Karlay Dias Costa
Não participava. (Participante P3).
O participante P1 toca numa das variáveis relacionadas à problemática da prática esportiva escolar
na perspectiva da inclusão: falta um melhor preparo dos próprios profissionais de Educação Física para
o atendimento ao aluno com necessidades específicas. É interessante comentar que, embora P1 tenha
dito que os professores no ensino médio foram buscando maneiras de incluí-lo, esse participante revelou,
depois, que quando cursava a 5ª série do ensino fundamental, ele ficava apenas sentado na beira da quadra
durante as aulas de educação Física. No final, recebia a presença sem ter efetivamente participado de
qualquer atividade física. Naquela ocasião, esse aluno questionou como ele foi aprovado em Educação
Física se não participava das aulas. Então a direção daquela escola trocou o professor da turma do aluno
deficiente visual.
Os professores de Educação Física precisam compreender que o destaque dado ao aluno com
deficiência sempre deve ser as suas possibilidades e capacidades e não as suas limitações (FREITAS;
SALES; MOREIRA, 2016). No que diz respeito à atitude do professor que deixava o aluno na beira da
quadra, Willings (2018) defende o apoio à inclusão dos estudantes deficientes visuais em atividades de
grupo. Conforme a autora, deve-se ter certeza de que os estudantes jogam, brincam e conversam com seus
colegas de turma ao invés de se sentarem sozinhos pelos cantos.
Qual desenho tátil de quadra de esporte foi o mais fácil e o mais difícil de entender?
Mais fácil
Golbol e tênis de quadra [...]. Tem poucas texturas e informações. (Participante P3).
Volume 1 97
Mais difícil
Tênis, porque não vivenciei esse esporte e é diferente as demarcações de todos os outros esportes. (Par-
ticipante P2).
O que mudou na sua percepção sobre cada uma das quadras esportivas?
Golbol
Tênis de quadra
Não conhecia. Conheci agora. Sabia apenas da rede central. (Participante P1).
Voleibol
As zonas de ataque e defesa. As ações dos jogadores nesta zona. (Participante P2).
Futsal
Agora sei onde fica a linha do pênalti. O tiro livre, pensava que era a marca do pênalti. (Participante P2).
Handebol
Basquetebol
Compreendi melhor as marcações, valor das pontuações em relação à área de arremesso. Pensava
que o garrafão era uma única área. Entendi o posicionamento dos jogadores no lance livre. (Par-
ticipante P1).
Passei a conhecer a linha de lance livre, linha dos três pontos e garrafão. (Participante P2).
João Elias Vidueira Ferreira . Maria do Perpétuo Socorro Sarmento . Deriks Karlay Dias Costa
Percebe-se pelos depoimentos que houve aprendizagem em decorrência do uso dos desenhos táteis.
Isso se revela quando os entrevistados demonstram agora ter um melhor conhecimento acerca das quadras
de práticas de esporte. Por exemplo, o entrevistado P1 pensava que a quadra de handebol era igual à de
futsal. Já P2 nem sequer conhecia a quadra de handebol. P3 é mais abrangente com respeito ao aprendizado
com as quadras esportivas táteis ao dizer que, no caso do handebol, “conheci tudo”.
Como você avalia o uso de quadras esportivas táteis na Educação Física escolar?
É muito bom para as pessoas estarem conhecendo as quadras e suas formas [...]. Antes de ir para
a prática da Educação Física na escola, conhece os espaços da quadra através da quadra tátil.
(Participante P2).
Ajuda ao deficiente visual ter oportunidade de saber áreas e dimensões da quadra esportiva. Tendo
maior noção espacial durante a prática. (Participante P3).
Algumas conclusões puderam ser tiradas com relação à criação das maquetes táteis das quadras
esportivas, as quais são aqui listadas:
• O ditado popular “quanto menos melhor” é uma boa recomendação. Deve existir um meio termo entre
o máximo de informações a serem transmitidas e o mínimo para o bom entendimento do desenho tátil.
Volume 1 99
Os autores chamam de “poluição tátil” o excesso de elementos em relevo presentes em um desenho (linhas,
pontos, símbolos, texturas, legendas ou qualquer outra informação que esteja distribuída sobre o desenho).
A presença de muitos desses elementos exige maior habilidade cognitiva do deficiente visual. As legendas
em Braille não podem ser extensas.
• Percebeu-se que o papel microcapsulado tamanho A3 comportou bem o desenho das quadras juntamente
com as legendas em Braille. Caso sejam necessárias mais informações, pode-se fazer à parte um texto em
Braille ou até mesmo mostrar partes específicas de uma determinada quadra de esporte.
• A disposição das legendas na parte superior do desenho das quadras mostrou-se apropriada.
• Para uma melhor percepção tátil, sugere-se utilizar linhas bem distintas quanto ao contraste (formato e es-
pessura).
O recobrimento de partes extensas do desenho fica melhor com texturas. Todavia, as texturas de áreas
vizinhas precisam ser bem distintas. Por exemplo, na quadra de voleibol, a zona de ataque apresentou textura
contendo pequenos quadrados enquanto a zona de defesa mostrou linhas finas paralelas.
O espaçamento entre elementos inseridos no interior de texturas, tal como entre o ponto central e a textura do
círculo central do meio do campo de futebol, precisa obedecer a um mínimo de 3 mm. De modo semelhante,
acontece entre a linha delimitadora do garrafão e o semicírculo de lance livre no basquetebol. Isso tornou mais
perceptível a identificação desses elementos.
Pequenas distorções no desenho são permitidas, por isso as formas existentes e as distâncias entre elas
não precisam ser rigorosamente as mesmas do seu análogo visível. Assim a marca do escanteio sofreu um
pequeno aumento proposital para poder ser melhor identificada pelos dedos.
Nos desenhos criados, além da presença de texto em Braile, havia texto em tinta (próprio para quem enxerga).
Isso facilitou a interação com os deficientes visuais, pois dois dos entrevistadores não tinham conhecimentos do
código Braille. Nascimento, Hoffman e Marcolino (2016) esclarecem que o texto em Braille é acompanhado do
texto em tinta para o caso de o leitor com deficiência visual, se tiver dúvidas em relação ao que estiver escrito,
poder pedir ajuda a alguém alfabetizado.
Os identificadores para áreas com textura eram retangulares e tinham dimensões de 2,5 cm de comprimento
por 1,2 cm de altura. Todavia, constatou-se que seria melhor aumentar um pouco essas dimensões, para facilitar
a leitura tátil, principalmente em virtude de dois dos entrevistados não terem grande experiência na leitura de
desenhos táteis.
É fundamental dizer que somente apresentar um desenho em relevo para um deficiente visual explorar
com as mãos não basta. Ele pode ainda precisar de algumas informações repassadas oralmente para melhor
compressão do desenho. O processo ensino-aprendizagem deve ser interativo, embora os alunos devam ter
alguma autonomia.
Ainda hoje, infelizmente, o sistema de ensino tradicional pouco tem se mostrado eficiente com relação
à inclusão da pessoa que não enxerga. Em uma pesquisa realizada por Souza e Soares (2018) sobre o curso de
Educação Física da Universidade do Estado do Pará, não foram identificados grupos de pesquisa na área de
Educação Física adaptada em nenhum dos campi investigados, bem como nenhum dos professores entrevistados
coordena ou nem mesmo participa de grupos de pesquisa ligado à inclusão. Neste sentido, as autoras defendem
a necessidade urgente de articulação entre ensino, pesquisa e extensão.
É preciso ter em mente que os estudantes com deficiência visual têm características especiais próprias,
por conseguinte são necessárias estratégias específicas que possam favorecer- lhes o acesso ao conhecimento.
Para Padilha et al (2017), a ampliação do acesso às tecnologias assistivas poderá causar uma grande revolução
no meio educacional, considerando a inclusão dos alunos deficientes visuais.
João Elias Vidueira Ferreira . Maria do Perpétuo Socorro Sarmento . Deriks Karlay Dias Costa
práticas esportivas.
REFERÊNCIA
BRASIL. Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial [da] República Federativa do
Brasil, Presidência da República, Brasília, DF, 23 dez. 1996.
FREITAS, M. G.; SALES, Z. N.; MOREIRA, R. M. Representações de alunos com deficiência visual
sobre as aulas de educação física escolar. Revista Eletrônica de Educação, São Carlos-SP, v. 10, n. 1,
p. 100-109, 2016.
LEMOS, F. R. M. Um projeto de pesquisa sobre educação física escolar e currículo. Disponível em:
<http://www.ufscar.br/~defmh/spqmh/pdf/2009/lemos_projeto.pdf>. Acesso em: 04 jan. 2018.
Volume 1 101
Especial: cidadania, memória, história. Belém: EDUEPA, 2017, p. 218-231.
POWER, C.; JURGENSEN, H. Accessible presentation of information for people with visual disabilities.
Universal Access in the Information Society, [S.I.], v. 9, p. 97–119, out. 2010.
SOUZA, L. C.; SOARES, M. G. Educação Física adaptada e inclusão: reflexões sobre o curso de Educação
Física da Universidade do Estado do Pará. In: FERNANDES, A. P. C. S. (Org.). Educação Especial:
cidadania, memória, história. Belém: EDUEPA, 2017, p. 232-248.
THOMPSON, L.; CHRONICLE, E. Beyond visual conventions: rethinking the design of tactile diagrams.
The British Journal of Visual Impairment, [S.I.], v. 24, n. 2, p. 76-82, 2006.
WERMANN, V. D.; NEUENFELDT, D. J. Educação física escolar e deficiência visual: um estudo de caso.
Lecturas: Educación Física y Deportes, Revista Digital, Buenos Aires, v. 20, n. 204, mayo. 2015.
1
Professor no IFNMG/Campus Araçuaí. Mestrado em Educação Matemática.
E-mail: mario.santana@ifnmg.edu.br ou mariomatica@bol.com.br
Lattes: http://lattes.cnpq.br/5052290132613539
Volume 1 103
TEACHING PROJECTS AS A RESOURCE TO STATISTICAL LEARNING:
AN APPROACH TO THE DEVELOPMENT OF STATISTICAL THINKING
Abstract: The purpose of this article is to present an educational product focused on the teaching and learning
of Statistics in introductory undergraduation course. This product has its origins in didactic experiences carried
out in the Administration and Environmental Management courses, in a Federal Institute of Technical and
Technological Education, from 2013 to 2017. In the first semester of 2016, we conducted an intervention with
the purpose of a more systematic study about these experiences. We conclude that the sample surveys are
presented as an effective possibility for the development of a didactic proposal that aims for the development
of a statistical thinking and that is based on learning through the use of real investigations in the classroom
environment. Finally, we exemplify the defended ideas by presenting some of the activities developed by
students of the mentioned courses.
Sendo professores de Matemática, lecionar Estatística Básica pode engendrar certo conflito. Há
aqueles que conferem ao ensino da Estatística um caráter tipicamente matemático. Os conceitos e técnicas
sendo, em geral, introduzidos por meio de problemas abstratos e consonante com o modos operandi da
tradição2 em educação matemática. Os estudantes acabam sendo expostos a um ensino com abordagem
essencialmente algorítmica, desvinculada do seu contexto e com exemplos bem distantes de sua área de
interesse e com pouca ou nenhuma relação com o que futuramente terão que realizar (VIALI, 2008). Os
conteúdos, quase sempre, trabalhados em consonância com a abordagem adotada nos livros didáticos
e sua aprendizagem se dando pela capacidade de reprodução dos conceitos, técnicas, procedimentos e
fórmulas em longas séries de exercícios padrão. Nesse cenário, muitas vezes, os resultados numéricos, por
conseguinte, acabam sendo mais importantes que o significado.
Por outro lado, nas literaturas da Educação Matemática e da Educação Estatística estudos têm
apontado para a incorporação de investigações reais nas aulas de estatística, implicando que sua
aprendizagem deve ter como meta o desenvolvimento de capacidades, quais sejam: pensamento, letramento
2
Tradição em Educação Matemática aqui é entendida como apresentada em trabalhos do educador Ole Skovsmose (“Educação matemática crítica: a questão
da democracia”, “Diálogo e Aprendizagem em Educação Matemática”, por exemplo).
Volume 1 105
Isso posto temos optado por metodologia mais coerente com essa segunda visão conduzindo as
atividades, ao longo da disciplina, a partir do pressuposto que aprender estatística é desenvolver pensamento
e letramento e raciocínio estatísticos. Assim, com vistas a alcançar tal propósito, temos implementado uma
metodologia de ensino (e aprendizagem) baseada no ciclo investigativo defendido na dissertação de mestrado
Santana (2011), e apresentada mais detidamente no livro Santana (2012), adaptando-a para o nível superior.
Trata-se, em suma, de um projeto de ensino no qual o arcabouço metodológico que norteia as aulas tem seu
início num tema a ser problematizado e estudado através dep um processo de investigação estatística, conforme
discorreremos mais adiante. Desse modo, a partir de um problema que deva suscitar a necessidade de coleta de
dados, desencadeia-se o planejamento da investigação decidindo, por exemplo, se será feita por meio de censo ou
amostragem, elaborando-se o instrumento para coleta e o plano amostral, realizando-se entrevistas, entre outros.
Coletados os dados, passa-se à organização representando-os e interpretando-os, isto é, fazendo-se as análises
exploratórias, com foco no problema estabelecido. Por fim, a tomada de decisões onde serão feitas inferências
e tiradas as conclusões. Nesse contexto, a cada fase do ciclo investigativo são operacionalizadas diversas
atividades concernentes às investigações dos temas propostos pelos estudantes e os conteúdos estatísticos vão
se materializando ao longo das mesmas.
Assim, pretendemos nesse texto relatar as vivências experimentadas durante toda a execução desse
projeto de ensino. Serão destacados seus fundamentos teórico-metodológicos, norteadores de nossas ações, para
em seguida descrever e analisar nossa prática, além de exemplificá-la com produtos resultantes das atividades
de investigação desenvolvidas pelos estudantes.
As ações desse projeto foram realizadas no ensino (e aprendizagem) da Estatística nos cursos de
Bacharelado em Administração e de tecnologia em Gestão Ambiental do Instituto Federal do Norte de Minas
Gerais, Campus Araçuaí. Podemos destacar uma primeira fase no período de 2013 a 2015. No primeiro semestre
letivo de 2016 foi realizada nova intervenção com o propósito de um estudo mais rigoroso acerca dessa prática.
Isso se deveu a certas razões.
Primeiramente em virtude de que algumas particularidades e necessidades emergentes impostas pelo
contexto foram provocando certas inquietações. Acrescenta-se a isso a crença no professor como um agente
crítico-reflexivo de sua própria prática pedagógica que deve buscar, autônoma e/ou colaborativamente, subsídios
teóricos e práticos que o ajudem a compreender e a enfrentar os problemas e desafios do trabalho docente
(FIORENTINI; NACARATO, 2005). Dessa forma, julgamos necessário dirigir um olhar mais sistemático para
essas práticas, o do pesquisador, com vistas a dar um caráter mais científico a todo o processo e maior legitimidade
aos resultados de modo a aprimorar e, também, a democratizar seu uso por parte de outros educadores.
Assim, assumindo a figura de professor-pesquisador, coletamos os dados no decurso das aulas, ao longo
do primeiro semestre letivo de 2016. Os instrumentos utilizados para a coleta dos dados foram: os escritos
produzidos pelos estudantes, diário de campo e entrevistas realizadas com os estudantes, que foram gravadas
em áudio e, posteriormente, transcritas e analisadas.
Resultados dessa pesquisa foram publicados e nos auxiliaram também na continuidade desse projeto
no ano letivo seguinte, em 2017, último semestre em que tal projeto foi trabalhado. Isso porque em 2018 a
disciplina regular foi extinta e incorporada à EaD.
APORTE TEÓRICO-METODOLÓGICO
A metodologia de ensino (e aprendizagem) que utilizamos foi embasada na ideia do ciclo investigativo.
Tal proposta fundamenta-se no pensamento estatístico envolvido nas investigações empíricas, na perspectiva de
estrutura proposta por Wild e Pfannkuch (1999), e está em consonância com as propostas didáticas anteriormente
citadas.
A noção de ciclo investigativo emerge, então, da estrutura de pensamento estatístico proposta por Wild
e Pfannkuch (1999). De acordo com os autores, eles construíram com base na literatura, na experiência própria
e em entrevistas realizadas com estudantes de estatística envolvidos em projetos de pesquisa e com estatísticos
profissionais em exercício uma estrutura para o pensamento estatístico envolvido nas investigações empíricas.
Para Silva (2007), este modelo, no tocante à sala de aula, objetiva que o estudante sinta necessidade
de resolver um problema, o que poderá garantir seu envolvimento. Dessa forma, o problema deixaria de
ser resolvido apenas porque o professor o pede, pois o estudante estando envolvido passaria a desejar a
solução e buscaria ferramentas necessárias para isso.
As outras dimensões dessa estrutura acabaram por se configurar, principalmente, como orientações
na condução e planejamento em várias etapas do processo e nas reflexões críticas sobre aquilo que se
estava fazendo.
Há tipos de pensamento, 2ª dimensão da estrutura proposta, categorizados e agrupados por Wild e
Pfannkuch (1999) em fundamentais e gerais.
Os tipos fundamentais de pensamento estatístico, de acordo com a estrutura proposta pelos autores, se
referem à:
1) reconhecer a necessidade dos dados, uma vez que nossas experiências pessoais podem ser insuficientes
para fundamentar tomadas de decisão. Fazer isso com base em dados deliberadamente coletados são um
impulso estatístico/científico;
2) Transnumeração, que perpassa todas as análises de dados estatísticos ocorrendo cada vez que mudamos
nossa maneira de observar os dados para que isso nos conduza a novos significados sendo, portanto, um
processo dinâmico de mudança de representações para engendrar compreensão;
3) Variação, que é de grande importância para a definição do pensamento estatístico. Ela é onipresente e
pode ter sérias consequências práticas e a Estatística nos dá um meio de entender um mundo caracterizado
pela mesma. Ela é a razão pela qual as pessoas tiveram que desenvolver métodos estatísticos sofisticados
para filtrar mensagens de dados do ruído externo. Os estatísticos modelam a variação com os propósitos de
predição, explicação ou controle;
4) Um conjunto distinto de modelos (estatísticos): todos os pensamentos usam modelos e a principal
contribuição da Estatística para o pensamento tem sido o seu próprio conjunto característico de modelos,
de estruturas para reflexão sobre certos aspectos da investigação de uma forma genérica. Em particular, os
Volume 1 107
métodos para design e análise do estudo têm sido desenvolvidos a partir de modelos matemáticos que incluem
componentes aleatórios;
5) Matéria-prima com que trabalha o pensamento estatístico, que são o conhecimento estatístico, conhecimento
do contexto e a informação oriunda dos dados. O pensamento em si é a síntese desses elementos para produzir
implicações, ideias e conjecturas. Desse modo, os tantos exemplos utilizados no ensino da Estatística construídos
em um panorama árido, livre de contexto, garantem que um grande número de estudantes nunca engaje no
pensamento estatístico. Os autores trazem essa reflexão e explicam que as etapas iniciais são conduzidas quase
completamente pelo conhecimento do contexto e que o conhecimento estatístico contribui mais à medida que
o pensamento se materializa e se estabelece um diálogo constante nas esferas do contexto e da Estatística por
meio do processo PPDAC.
1) o Estratégico: que está relacionado com o planejamento: o que fazer? Como fazer?; Tem a ver com antecipação
de problemas a fim de evitá-los; leva em conta as limitações sob as quais se está trabalhando. Discutiremos mais
adiante sobre essas limitações, uma vez que podem configurar-se como restrições à profundidade e qualidade
do pensamento estatístico;
2) a Modelagem: construir modelos e usá-los para compreender e prever o comportamento de aspectos do
mundo que nos preocupam parece ser uma maneira geral do pensamento. Informações buscadas e obtidas da
realidade do contexto às vezes estão nos dados estatísticos. Constroem-se, então, modelos estatísticos para ter
uma visão dessa informação, que retroalimenta o modelo mental;
3) a Aplicação de técnicas: a estratégia de se abordar um problema com base em problemas arquétipos aplicando
ou adaptando sua solução é comumente utilizada em estatística. A implementação dessa estratégia ou a aplicação
prática de qualquer técnica envolve reconhecimento, aplicação do método e interpretação no contexto, de
maneira cíclica.
A terceira dimensão da estrutura proposta por Wild e Pfannkuch (1999) concerne a um ciclo interrogativo
que diz respeito aos questionamentos e às críticas a ideias e informações enquanto se resolve problemas. O
pensador deve imaginar e ter ideais para gerar possibilidades, que pode ser a partir do contexto, dos dados
ou do conhecimento estatístico; buscar internamente (conhecimento próprio) ou externamente (na literatura,
consultando outras pessoas etc.) essas ideias e informações; extrair e processar os resultados da busca visando
a encontrar relações entre as ideias e à ampliação dos modelos mentais para compreender essas inter-relações;
julgar a confiabilidade das informações, a utilidade das ideias, a necessidade de mais investigações etc. para
tomar decisão sobre o que deve ser mantido e o que deve ser descartado. É, portanto, um processo genérico de
pensamento de uso constante na resolução de problemas estatísticos.
A quarta dimensão refere-se às disposições. Está relacionada a qualidades pessoais que afetam a
entrada nos modos de pensamento. Deve-se ter: (a) Curiosidade e consciência: Perceber e questionar: por quê?
Como isso aconteceu? Isto é algo que acontece em geral? Como posso aproveitar isso?; (b) Compromisso:
este intensifica os outros elementos de disposição. Refere-se a alguma conexão pessoal com o problema. Se o
problema é interessante ou importante a curiosidade, a consciência, a imaginação ou a perseverança ficam mais
aguçados; (c) Imaginação: a formação de modelos mentais que capturam a dinâmica essencial do problema é
profundamente imaginativa; (d) Ceticismo: conduz a que se critiquem as ideias, informações ou planejamentos.
Questiona-se a adequação das medições, do design do estudo, a qualidade dos dados, método de análise, ou se
as conclusões alcançadas estão justificadas nos dados; (e) Ser lógico: a capacidade para detectar quando uma
ideia segue a partir de outra e quando não, e para construir um argumento lógico é claramente importante para
todo o pensamento. O raciocínio lógico é o caminho para se chegar a conclusões válidas.
Wild e Pfannkuch (1999) destacam, ainda, a existência de restrições que limitam a profundidade e a
qualidade do pensamento. De acordo com eles, algumas dessas restrições advêm de fatores internos ao pensador
e outras do entorno. Baixos níveis de habilidade nos tipos de pensamento envolvidos e nas atitudes mencionadas
na dimensão de Disposições, pobres habilidades de comunicação, falta de perseverança ou confiança, são
Volume 1 109
A PROBLEMATIZAÇÃO
Volume 1 111
Em nossas experiências o ambiente educacional tem se destacado para as amostragens. É o caso de
investigações realizadas no próprio campus ou em escolas do município e/ou região. Nesses casos, por existir
listagens dos elementos que compõem a população, tornam-se viáveis as amostragens probabilísticas. Além
disso, a aplicação dos questionários fica mais prática uma vez que se pode aplicá-los aos grupos (turmas) de
informantes simultaneamente.
Por outro lado, tem sido comum também que os estudantes proponham pesquisas domiciliares (algumas
vezes selecionando-os via amostragem por conglomerados) ou nas ruas em pontos de fluxo.
Para finalizar o planejamento da pesquisa, julgamos importante discutir os erros não amostrais – erros
de cadastro, erros associados a não resposta e erros de medição e os procedimentos de campo (por exemplo, a
postura nas entrevistas). Algumas vezes os estudantes elaboraram uma espécie de manual para o entrevistador.
Passa-se agora à coleta dos dados. Os estudantes realizam as entrevistas ou aplicam os questionários.
Se o professor julgar necessário, pode trabalhar atividades paralelas dando mais tempo aos estudantes para a
coleta. Deve-se, também, ir preparando as planilhas. Sugerimos o uso do Excel ou do Calc por mais serem
mais acessíveis. Lançar as variáveis nas colunas e utilizar as listas suspensas (validação de dados). Alertar os
estudantes quanto a necessidade de padronização. Tão logo se conclua a inserção dos dados dos questionários
passe-se a elaboração das primeiras construções – tabelas, gráficos, tabelas de dupla entrada, média, mediana,
entre outras.
AS ANÁLISES
A partir dos dados inseridos na planilha passamos às análises exploratórias. Essa é uma etapa também
muito propícia à exploração de diversas técnicas e conceitos estatísticos a partir do contexto subjacente. É
um momento que exige muita criatividade e perspicácia dos estudantes e do professor. Como afirmam Wild e
Pfannkuch (1999), a matéria-prima com que trabalha o pensamento estatístico são o conhecimento estatístico,
do contexto e a informação oriunda dos dados e que o pensamento em si é a síntese destes elementos para
produzir implicações, ideias e conjecturas.
Nessa fase do ciclo investigativo enfocamos a natureza das variáveis a fim de nortear as representações e
análises mais adequadas a cada tipo (qualitativa nominal e ordinal e quantitativa discreta e contínua). É possível
explorar as tabelas de distribuição de frequência, os gráficos estatísticos, as medidas de tendência central e
dispersão e outras medidas descritivas que se fizerem pertinentes. Ao analisar possíveis relações de associação
entre as variáveis podemos adentrar nos conceitos de correlação e regressão a partir de dados reais. Nesse
cenário, hipóteses acerca das questões investigadas serão levantadas.
Didaticamente, sugerimos primeiro que se realizem análises univariadas descrevendo as variáveis
independentemente da ocorrência de outras, análises pertinentes às variáveis qualitativas e às quantitativas.
Depois, as análises bivariadas buscando associações entre variáveis (qualitativas com qualitativas, qualitativas
com quantitativas e quantitativas com quantitativas).
CONCLUSÕES
EXEMPLIFICANDO O PRODUTO
Intencionamos nessa seção exemplificar nosso produto educacional com dois dos trabalhos
desenvolvidos pelos estudantes. Eles concernem às práticas de ensino e aprendizagem realizadas na
disciplina Estatística (Básica) nos cursos de Bacharelado em Administração, 3° período, e de Tecnologia
em Gestão Ambiental, também 3° período, vivenciadas no primeiro semestre letivo de 2014.
Um dos trabalhos, produzido por estudantes do curso de Administração, teve sua origem – na fase
problematização – em um momento vivido pela instituição naquela ocasião. Discutia-se a construção de
indicadores para abertura de novos cursos nos campi. Foi proposto, então, pelos estudantes, investigar
quais eram os cursos almejados pela população da área de abrangência do IFNMG/Araçuaí justificando
que levantar a demanda junto à comunidade poderia subsidiar a tomada de decisão para implementação de
novos cursos. Alegaram que isso estaria em consonância com o plano de desenvolvimento institucional
(PDI, que também se encontrava em construção para o período 2014-2018), pois o documento retrata
que o mapeamento das potencialidades de desenvolvimento socioeconômico e cultural, no âmbito de
atuação do campus, deve atender aos anseios da região na qual está inserido, com vistas a promoção do
desenvolvimento. Sendo assim a consulta à sociedade local torna-se um método imprescindível para
referenciara deliberação de cursos novos.
A partir desse contexto assim ficou definido para o estudo: Objetivo Geral: Investigar quais os
cursos almejados pela população da área de abrangência do IFNMG/Araçuaí. Objetivos específicos:
Identificar quais os cursos técnicos almejados pela população pesquisada; Identificar quais os cursos
tecnólogos almejados pela população pesquisada; Identificar quais os cursos bacharelados almejados pela
população pesquisada; Identificar quais os cursos de licenciaturas almejados pela população pesquisada;
Verificar em qual medida os cursos existentes atendem aos anseios da população; Verificar a preferência
da população em relação aos cursos que o IFNMG/Araçuaí já tem estrutura para oferecer; Apresentar os
cursos de maior interesse e paralelamente identificar qual área mais demandada.
O segundo trabalho que exemplificaremos surgiu de interesse em tema relativo ao próprio curso
(de tecnologia em Gestão Ambiental): a educação ambiental. Justificaram que esse tema nas escolas é
essencial para a formação de cidadãos conscientes e preparados para garantir um desenvolvimento social e
econômico com sustentabilidade e que sua inserção no ambiente escolar como tema para debates, reflexões,
palestras e atividades escolares é base para ter na sociedade pessoas com atitudes sustentáveis e capazes de
perceber os problemas ambientais ao seu redor e se posicionar de forma a minimizar tais problemas.
Assim, propuseram investigar se as escolas da rede pública de Itaobim de ensino fundamental desenvolvem
alguma ação de Educação Ambiental, e qual o grau de conhecimento dos alunos sobre conservação e
proteção ambiental. Objetivo Geral: Verificar se as escolas públicas de Itaobim ofereceram algum tipo
de Educação Ambiental e avaliar o nível de conhecimento dos alunos sobre o meio ambiente. Objetivos
específicos: Analisar se as escolas do município realizam projetos e/ou trabalhos de Educação ambiental
aos alunos; Identificar os métodos que as escolas utilizam para inserir o tema no ensino oferecido; Conhecer
meios de informação que os alunos utilizam para aprender sobre o meio ambiente; Avaliar o quanto os
Volume 1 113
alunos conhecem sobre os problemas ambientais; Conhecer as atitudes ecológicas e sustentáveis que os alunos
utilizam no cotidiano; Avaliar o interesse dos alunos sobre o tema Meio Ambiente e os problemas ambientais.
COLETANDO DADOS
Os procedimentos de campos foram analisados em debate a respeito dos erros não amostrais e suas
possíveis implicações na confiabilidade do levantamento. Nesse cenário, o erro (como possíveis falhas no
questionário, nos procedimentos de entrevista etc.) é entendido como fonte de aprendizagem, a partir do qual se
pode aguçar ainda mais o letramento estatístico.
Após a coleta foi utilizada a planilha eletrônica Excel para tabulação dos dados e para a elaboração das
primeiras construções – tabelas, gráficos, tabelas de dupla entrada, média, mediana, entre outras.
Análises
A partir dos dados inseridos na planilha passamos a análise exploratória. Essa é uma etapa também muito
propícia à explorar diversas técnicas e conceitos estatísticos a partir do contexto subjacente. É um momento
que exige muita criatividade e perspicácia dos estudantes e do professor. Nessa fase do ciclo investigativo
enfocamos a natureza das variáveis a fim de nortear as representações e análises mais adequadas a cada tipo
(qualitativa nominal e ordinal e quantitativa discreta e contínua). É possível explorar as tabelas de distribuição
de frequência, os gráficos estatísticos, as medidas de tendência central e dispersão e outras medidas descritivas
que se fizerem pertinentes. Ao analisar possíveis relações de associação entre as variáveis podemos adentrar
nos conceitos de correlação e regressão a partir de dados reais. Nesse cenário, hipóteses acerca das questões
investigadas serão levantadas. Tudo em conformidade com o que apresentamos na seção 3.4.
FASE DE CONCLUSÕES
Nessa fase o trabalho se concentrou, portanto, em elementos de inferência estatística. Foi discutida a
estimação (pontual e intervalar) dos parâmetros populacionais proporcionando aos estudantes compreenderem
os índices de confiança e margens de erro nas pesquisas. Também hipóteses levantadas na fase anterior podem
ser testadas permitindo operacionalizar as regras e conceitos dos testes de hipóteses.
Em seguida os estudantes retomaram os objetivos colocados no início do estudo a fim de respondê-los
chegando às conclusões; constroem relatórios estatísticos descrevendo todas as etapas da pesquisa, apresentando
dados e resultados alcançados; apresentam em seminários as investigações.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Propomo-nos nesse trabalho a descrever e analisar uma proposta didática que temos nos apropriado
e implementado em turmas dos Cursos de Bacharelado em Administração e de Tecnologia em Gestão
REFERÊNCIAS
BOLFARINE, Heleno; BUSSAB, Wilton Oliveira. Elementos de amostragem. São Paulo: Editora
Blucher, 2005.
Volume 1 115
MACKAY, R.J. OLDFORD, W. (1994). Stat 231 Course Notes Full 1994. Waterloo: University of Waterloo.
In.: WILD, C.; PFANNKUCH, M. Statistical thinking in empirical enquiry. International Statistical Review,
n. 67, p. 223-265, 1999. Disponível em: <http://www.stat.aucland.ac.nz/~iase/publications/isr/99.wild.
pfannkuch.pdf>. Acesso em: 24 ago. 2008.
MOORE D. Statistics Among the Liberal Arts. Journal of the American Statistical Association, v. 93, n.
444, pp. 1253-1259, 1998. Disponível em; http://www.jstor.org/stable/2670040. Acesso em: 09 de novembro
de 2017.
VIALI, L. O ensino de Estatística e Probabilidade nos cursos de Licenciatura em Matemática. XVIII SINAPE
(Simpósio Nacional de Probabilidade e Estatística). 2008.
WILD, C.; PFANNKUCH, M. Statistical thinking in empirical enquiry. International Statistical Review, n.
67, p. 223-265, 1999.