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“Nação e Civilização nos Trópicos: o IHGB e o projeto de uma história nacional”

Manoel Salgado Guimarães

 Século XIX marcado pela prática de pensar a história e elaborar formas de se pensa-la
de acordo com parâmetros definidos. (homogeneizador)
 Historiador passa de “homem de letras” a pesquisador.
 Disciplinarização da História está intimamente relacionada ao interesse no debate
acerca da construção da história numa perspectiva nacional. Justificação da criação do
Estado Nacional.
 Historiadores do Brasil eleitos por seleção das elites, que marcará a forma de se
escrever e produzir sobre a nação brasileira.
 1838 – criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, dentro de uma comissão
da SAIN. Reflete a materialização de ideais de modelos a partir dos quais a história
nacional, bem como sua identidade, seria forjada.
 Essa identidade foi pensada pelos letrados da Elite à luz das ideias iluministas.
 Identidade própria, atuando tanto externa quanto internamente; não é pensada como
oposição à Metrópole, e sim como uma continuação de seu projeto colonial e tarefa
civilizadora; união/junção de Estado, Nação e Coroa; o “outro” seria aquele que estaria
à margem dos parâmetros de civilização preconizados pela continuidade da
perspectiva colonial; o “outro” definido externamente diz respeito aos critérios
políticos de diferenciação da organização de Estado. Em outras palavras, o outro
(externo) seria aquele cuja forma de governo corresponda a um regime republicano,
como os países latino-americanos.
 Hierarquização dos detentores e produtores do conteúdo historiográfico.
 O IHGB surge como instituição responsável por explica a gênese da nacionalidade
brasileira e legitimar intelectualmente o Estado Nacional em seu projeto
homogeneizador.
 Soberania do princípio nacional enquanto critério fundamental definidor de uma
identidade social.
 Choque de ideias/contradições desta criação: instaurar um modelo nacional que segue
ideia de continuação da civilização branca e europeia numa sociedade como o Brasil,
diversa e fundamentalmente agrária.
 Ideias de progresso e desenvolvimento que excluem do projeto nacional as camadas
menos favorecidas, ou melhor, mais subjugadas: negros e indígenas.
 Objetivo: globalização da história nacional, integrando todas as regiões brasileiras,
cujas produções deveriam convergir para o centro da produção a partir do qual seria
pensada uma identidade homogênea e global. A partir do Rio de Janeiro.
 Instalação do Paço Imperial (espaço do Estado)
 1851 – produção historiográfica e etnográfica.
 Revista do IHGB – publicação de biografia dos “heróis nacionais” para fixar um
modelo de exemplos a serem seguidos e gerando certo patriotismo.
 SAIN – Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (1827);
 Raimundo José da Cunha Matos e (frase apagada no último parágrafo da página 8,
referindo-se às figuras importantes na SAIN) que empreenderam os primeiros passos
para a instituição histórica ser criada, por meio de proposta apresentada ao conselho
da SAIN em 18 de agosto de 1838.
 Primeiro secretário do IHGB: Januário da Cunha Barbosa.
 IHGB incentiva a criação de institutos históricos provinciais com centralização no Rio
de Janeiro.
 A organização administrativa do IHGB funciona de forma independente da SAIN.
 Financiado pelo Estado
 Preocupação de alguns membros em definir a instituição em termos cicentífico-
culturais e não políticos, a fim de forjar uma posição neutra em relação às disputas.
 As regras de recrutamento do Instituto seguiam uma ordem de natureza social e não
intelectual, ou seja, os candidatos eram elegidos por meio de relações sociais
(compartilhando as mesmas ideias que os contratantes) e não por sua formação
específica, esta era dispensável.
 ‘o papel do Estado Nacional como o eixo central a partir do qual se lê a História do
Brasil, produzida nos círculos restritos da elite letrada imperial.” (final do primeiro
parágrafo p. 9)
 Boa parte doa 27 fundadores vieram de Portugal no contexto das invasões
napoleônicas.
 O Instituto ganha mais força após 1849-50 com a estabilidade do poder central
monárquico.
 As inaugurações de novas instalações do instituto, em 1849, representam um
recomeço marcado pelo aprofundamento de sua relação com o Estado. O imperador
se torna cada vez mais presente e a partir disso vai-se forjando a imagem do monarca
letrado. Sua atuação fica mais clara com: sugestão de temas para discussão e reflexão
dos membros; no estabelecimento de prêmios para trabalhos de natureza científica; e
no apoio financeiro que assegura o processo de expansão da instituição. (p. 10)
 A partir desta data (15 de dezembro de 1849) o foco principal volta-se para a produção
historiográfica da história nacional e não mais pela coleção de documentos. Tais
mudanças são materializadas nos estatutos promulgados em 1851.
 Pensamento evolucionista.
 Tradição historiográfica do Instituto bastante vinculada ao Institut Historique de Paris,
fundado em 1834, e com o qual o IHGB manteve relações intensas durante seus
primeiros anos de existência. O Instituto Parisiense foi o fornecedor dos parâmetros
de trabalho historiográfico ao IGHB.
 História como forma de compreender o percurso necessário rumo ao progresso.
 Expoentes da visão intelectual parisiense no IHGB: Manuel de Araújo Porto Alegre,
Domingos José Gonçalves de Magalhães e Francisco Sales Torres Homem.
 Produção historiográfica do IHGB não somente como exemplar, mas também
teleológica. Leitura da história como legitimação do presente. Característica iluminista
portuguesa; católica e conservadora.
 Medidas tomadas dentro do IHGB a fim de legitimar sua centralidade no discurso
sobre a história nacional: sugestão de 1842 que consistia em transformar sua
biblioteca no depósito central obrigatório de todas as produções publicadas no Brasil;
pedido de relatórios anuais a serem enviados pelos presidentes das províncias à
Capital; plano de Januário da Cunha Barbosa de transformar o IHGB numa central de
dados de natureza estatística, levantados nas províncias.
 Primeiro passo para concretização da elaboração da história nacional: Januário da
Cunha Barbosa define, em 1840, um prêmio para o letrado que melhor elaborasse um
plano para se escrever história nacional para o Brasil. Texto premiado foi o do alemão
von Martius, em 1847. O texto já fora publicado na Revista em 1844 e nele estão
definidas as linhas mestras de um projeto historiográfico capaz de garantir uma
identidade. A identidade se assegurava, nessa perspectiva, na compreensão da
natureza da missão da Nação: realizar a ideia da mescla das três raças, lançando os
alicerces para a construção do mito da democracia racial. (p. 16)
 Nessa construção: indígenas como seres primitivos que necessitavam da ajuda do
cavaleiro civilizador branco. E os negros como empecilho do processo de civilização.
 Apresentar a nação como homogênea, seguindo um percurso evolutivo pro qual
convergem todos acontecimentos.
 Embora tenha recusado a tarefa de produzir o esboço do percurso pelo qual se
escreveria a história nacional, as ideias de von Martius ganham contorno claro na obra
de Francisco Adolfo Varnhagen, “História nacional”.
 Preocupação em localizar as fontes primárias, tanto interna quanto externamente será
central para o IHGB. Em 1841, é publicado o trabalho de Rodrigo de Souza da Silva
Pontes, na Revista, que continha as linhas mestras que definiriam os parâmetros de
localização de fonte no trabalho historiográfico.
 3 temas incidentes nas publicações da Revista eram: a questão indígena, as viagens e
explorações científicas e, por fim, o debate da história regional.
 Estratégia da monarquia em tratar assiduamente a questão indígena: assegurar o
controle sobre as populações indígenas fronteiriças, garantindo o poder do Estado
Nacional nesses espaços. (p. 21)
 Visava também solucionar o problema da mão-de-obra, tal como pode-se constatar
nas publicações de Januário da Cunha Barbosa,
 Preocupação em integralizar as regiões fronteiriças, a exemplo da colônica do
Sacramento.
 Histórias regionais empreendidas a partir da perspectiva central do Rio de Janeiro.

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