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ANÁLISE
Espionagem corporativa
Uma das constantes presentes em qualquer campo da bém é fator essencial no processo de toma-
Ao alto A espionagem
atividade humana é a perene busca de dados, e da de decisões. corporativa é mais utilizada
conhecimentos — em última análise, de informações, a Governos ou empresas buscam obter se- do que se imagina, e
gredos ou informações privilegiadas que possi- anualmente causa bilhões
fim de instruir decisões, auxiliar na elaboração de bilitem alavancar a subida ou impulsionar a des- de dólares em prejuízos. Por
planos e na execução de ações. A área corporativa não é cida de determinada empresa no mercado. isso, é indispensável que as
exceção. Para tal, podem apelar para a obtenção de de- empresas se protejam
senhos, tomada de fotografias clandestinas, contra essa atividade
n Vinícius D. Cavalcante roubo de protótipos, interceptação das comu- nociva a seus interesses
nicações de diretores, etc., empregando os mais (Foto: Zaun Ltd.).
N
enhum administrador se empenha em quaisquer projetos ou toma deci- variados ardis. Esse "vazamento" de informações
sões sem que haja refletido acerca de uma quantidade dados e informa- sigilosas, por meio de espionagem corporativa/comercial/industrial, pode causar pre-
ções. Modernos tratados de administração e marketing enfatizam essa juízos de milhões anualmente. Concorrentes de uma empresa buscam descobrir o
necessidade, para que se possa gerenciar, com certo grau de acerto, os problemas passo mais acertado a dar em meio a uma disputa comercial, ou até mesmo pro-
de instituições ou empresas. Não é possível administrar sem contar com um fluxo curam chantagear ou desmoralizar pessoas-chave de outra, muitas vezes com o uso
constante e ordenado de informações de toda a natureza, permitindo o real co- de “grampos” (escutas) em ambientes ou telefones.
nhecimento do que se passa ou do que, possível ou provavelmente, virá a suce- Há poucas estatísticas confiáveis sobre o roubo de informações sigilosas e sa-
der no futuro. botagem no meio empresarial, ou sobre o prejuízo que causam — mas histórias não
Mantidas as devidas proporções, dirigir uma empresa pode se comparar a ad- faltam. A espionagem — em suas mais diversas formas — é uma realidade, que só
ministrar uma nação. Os governos, quaisquer que sejam seus matizes ideológicos, pode ser eficazmente enfrentada por meio de ações de inteligência.
necessitam de informações que lhes propiciem, além de segurança física, melho- A prevenção contra a sabotagem (ou até contra o terrorismo), a segurança fí-
res condições para implementar seus processos decisórios. O mesmo, em outra es- sica das instalações empresariais (e a prevenção contra roubos, furtos e perdas), a
cala e com escopo menos amplo, acontece em relação às empresas. segurança das comunicações, das redes de computadores, e dos altos executivos
Mas qual a relação entre a estrutura e as ações dos serviços de inteligên- são extremamente dependentes de informações obtidas por meio de atividade de
cia (espionagem e contraespionagem) — do tipo que inspirou autores como inteligência. É importante avaliar erros e vulnerabilidades, e também a própria co-
John Le Carré e Ian Fleming — e a atividade de inteligência aplicada ao âm- leta e análise de informações potencialmente significativas para o planejamento e
bito empresarial? Assim como o serviço de inteligência de um país é essen- condução dos negócios. A inteligência se aplica “como uma luva” às necessidades
cial ao seu governo, e emprega muitos recursos tecnológicos, o mesmo acon- do empresariado, sendo clássicos os exemplos de grandes conglomerados como
tece com um serviço de inteligência dentro do contexto empresarial, onde tam- a Krupp (alemã), a Vickers (britânica), a DuPont e a Remington (americanas) e a Schnei-
der (francesa) que, há muito tempo atrás, já contavam com autênticas “centrais de
inteligência” trabalhando em seu proveito.
Inteligência na empresa
A crescente competitividade torna a atividade de inteligência — como produtora
de conhecimento e previsão — crítica para a tomada das decisões. Em tal contex-
to, a inteligência — que produz conhecimento e previsão — é cada vez mais críti-
ca para tomada de decisões. Entretanto, as Diretorias e Gerências empresariais, para
as quais as informações são ferramentas de trabalho, nem sempre estão familiari-
zadas com as técnicas, processos e equipamentos dos serviços de inteligência. A exis-
tência de empresas que se destinam à pesquisa, catalogação e fornecimento de gran-
des quantidades de dados não elimina a necessidade de contar com profissionais
habilitados para efetuar a aquisição de informações específicas, precisas e essenciais,
analisá-las e encaminhar relatórios, aconselhando a adoção de medidas, etc.
Empresários não podem esperar por dados veiculados por jornais e TVs para
dirigir seus negócios, até porque muitas das informações de que necessitam podem
não estar disponíveis nessas fontes. No mundo globalizado, a coleta e a análise de
informações é cada vez mais necessária aos centros decisórios do setor privado. A
“Inteligência Empresarial”(IE) é uma ferramenta indispensável à consecução das me-
tas e, como os meios e processos empregados para alcançar os objetivos precisam
ser mantidos em segredo, estamos diante de uma atividade que, ao menos em prin-
cípio, não deveria ser terceirizada.
É necessária a presença de um profissional responsável por assessorar na to-
mada de decisões inteligentes, para assegurar a competitividade e salvaguardar a
empresa contra ações adversas. Hoje, há até formações específicas para o profissional
de inteligência na esfera privada e, nos cursos superiores de Administração Corporativa,
já existem disciplinas voltadas para o ensino de inteligência.
Atualmente, concorrências comerciais são encaradas como verdadeiras guer-
ras, onde os contentores não costumam se preocupar com “regras” ou com “jogo
limpo”... Elementos egressos dos organismos de inteligência militar ou serviços se-
cretos podem ter excelente emprego na área da IE, que só tende a lucrar com sua cumentos divulgados de forma não autorizada pelo Acima A miniaturização
formação e experiência. Entretanto, na iniciativa privada, é necessário o estabele- analista Edward Snowden, após sua deserção. Fi- de circuitos permitiu o
cimento de uma conduta mais ética e de submissão aos ditames da lei. Como no cou claro que agências como a NSA detinham per- surgimento de
setor privado não se pode contar com os recursos e garantias proporcionadas (ou missão legal para“certas atividades de vigilância ele- microcâmeras como a
justificadas) pela soberania e o interesse nacionais, o nome e a imagem das empresas trônica”, coletando informações no estrangeiro,“em vista na foto superior
devem ser prioritariamente preservados e mantidos à margem das ações judiciais benefício dos interesses dos EUA”. (disfarçada em parafuso)
e a Pinhole 1.3MP AHD
e dos noticiários negativos. Embora os manuais de inteligência voltada ao
(modelo Sunchan Sku
Potências como os EUA reconhecem a inadequação dos recursos à disposição meio corporativo destaquem a necessidade de uma 2516), que também
da iniciativa privada para lidar com as questões de inteligência e espionagem, prin- conduta legal e ética, o fato é que empresas de to- dispõe de áudio (Foto
cipalmente quando se considera que diversas das ameaças advêm de agências go- das as nacionalidades continuam discretamente re- inferior: Sguario
vernamentais (serviços secretos) estrangeiras e de pessoal especializado, trabalhando correndo a recursos reconhecidamente escusos, que Eletrônicos).
a soldo de grandes empresas concorrentes. Várias grandes empresas americanas dis- julgam condenáveis quando empregados pelos
põem de eficazes departamentos voltados para a atividades de inteligência e con- concorrentes. Em meados de 2003, um escânda-
trainteligência. Mesmo assim, o governo americano instituiu o National Counte- lo sacudiu a indústria de defesa americana, quando foi revelado que gerentes da Boeing
rintelligence and Security Center (NCSC), formado por especialistas do Company tinham conhecimento de que, por vários anos, seus funcionários faziam
FBI/CIA/NSA/DIA/Departamento de Estado/Departamento de Defesa para coordenar, uso de documentos ilegalmente subtraídos à concorrente Lockheed Martin, no es-
em nível nacional, as atividades de contrainteligência, ou seja, a salvaguarda ante forço de superar a rival na competição pelos multimilionários contratos de lança-
as ações de inteligência adversárias. Entre seus objetivos estão: aprofundar o inter- mento de satélites do governo. Entre 1997 e 2000, um engenheiro, ex-funcionário
relacionamento com as empresas privadas, identificando em conjunto suas vul- da Lockheed, auxiliou na subtração de mais de 37.000 páginas de documentos, que
nerabilidades e necessidades de informação ou segurança; auxiliar no desenvolvi- permitiram à Boeing ganhar US$1,9 bilhão de dólares em lançamento utilizando fo-
mento de programas de prevenção; promover seminários e conferências; e com- guetes Delta IV. Tal fato se constitui em violação da lei americana, prevista no Pro-
pilar e disseminar informações sobre a atuação clandestina (de potências estrangeiras curement Integrity Act, e a punição incluiria a rescisão de contratos e a exclusão de
ou seus agentes) que atentem contra a indústria do país, ou contra qualquer enti- futuras concorrência do Departamento da Defesa. Entretanto, impingir tal punição
dade do setor público ou privado que tenha responsabilidade de proteger informações à Boeing seria um problema para o setor militar, para o qual a Boeing é vital na pro-
sensíveis, classificadas, tecnologia e patentes. O NCSC colabora com a IE, produzindo dução de aviões, helicópteros, satélites, foguetes, integração de sistemas, etc.
para as empresas uma resenha atualizada de técnicas, métodos e equipamentos uti- As ameaças estrangeiras às informações econômicas e tecnológicas das com-
lizados por países estrangeiros, bem como elaborando um histórico de ameaças con- panhias americanas não se originam somente de nações consideradas ideológica
tra as atividades empresariais, em solo americano e no exterior. ou militarmente adversárias; países neutros e até aliados também buscam apropriar-
Os EUA jamais admitiram a utilização de seu aparato de inteligência para pro- se de segredos econômicos ou técnicos. Em países como França, Israel, Coreia do
pósitos de espionagem econômica ou comercial, mas isso foi evidenciado nos do- Sul, Taiwan e Rússia, os serviços secretos mantêm a iniciativa privada munida com
Espionagem empresarial
A espionagem consiste no esforço de des-
vendar, através de métodos ocultos e não con-
vencionais, os segredos alheios. Os profissionais
do setor podem se apresentar sob infinitas for-
mas, mas agem no anonimato e de forma in-
suspeita, em nada se assemelhando a seus pa-
res cinematográficos.
Na espionagem não existem regras, ética ou
limites: se alguém dispuser de uma informação
que seja objeto de interesse dos“outros”, tenha
certeza de que eles farão o impossível para aces-
sá-la, copiá-la, roubá-la ou até mesmo destruí-
la. A prevenção contra os riscos da espionagem
Acima Documentos em segredos econômicos e industriais coletados ou requer um estudo individualizado para cada caso ou empresa. É preciso definir quais
estado físico podem ser subtraídos a outros países, poupando milhões são os segredos (Fórmulas de produtos? Processos fabris?) que possam interessar
rapidamente registrados em pesquisa e desenvolvimento, e assim be- a concorrentes ou adversários, e descobrir quais informações, se copiadas ou “va-
fotograficamente através neficiando as respectivas economias nacio- zadas”, poderiam provocar danos à imagem e prejuízos financeiros, ou ameaçar a
de uma simples nais. posição da empresa no mercado.
minicâmera, facilmente
Sem um departamento voltado às ativi- Mas nem só os concorrentes cobiçam as informações privilegiadas. Em dois ca-
encontrada no comércio
(Foto: Corporate dades de inteligência e segurança, uma empresa sos conhecidos, representantes e distribuidores se anteciparam ao fabricante e re-
Intelligence Consultants). se torna uma presa fácil para as ações de ad- gistraram a marca de um produto antes de seu lançamento. Nesses casos, um de-
versários ou concorrentes, que não pouparão re- les perdeu a representação, mas conseguiu retirar a marca de uma empresa ame-
cursos, esforços ou “truques sujos” para alcan- ricana do mercado brasileiro, gerando um processo judicial. O segundo caso não teve
çar seus objetivos. É profundamente arriscado para um empresário negligenciar a êxito por uma casualidade: a onda de fusões e aquisições na economia americana
atividade de inteligência (e todas as suas im- abortou o lançamento do produto, mas se isso não houvesse acontecido, o prejuí-
plicações, lícitas ou não), pois alguns de seus“co- zo seria bastante grande.
Abaixo O microfone da legas”podem não estar dispostos a proceder da Muitas são as perguntas que precisam ser respondidas, mas citaremos apenas
foto tem apenas 1,15cm de
mesma forma! algumas. Quem são os concorrentes da empresa? Trata-se de empresa nacional ou
diâmetro e 0,5cm de
espessura, mas seu alcance No Brasil, por não estarmos tradicional- multinacional? Qual sua posição no mercado? Quem são seus dirigentes? Os con-
pode chegar a 250-300m; o mente acostumados a uma“cultura”de sigilo, não correntes contam com setor devotado à atividade de inteligência? Quem tem aces-
receptor pode ser qualquer nos apercebemos, a priori, das inegáveis van- so às informações e segredos que precisam ser mantidos a salvo? Quais as “medi-
rádio do tipo walkie-talkie tagens que a IE pode trazer para os negócios. das de segurança”existentes na empresa? Vale lembrar que a simples existência de
(Foto: Spy-Il). Mesmo atuando dentro dos limites legais e éti- fechaduras, alarmes e guardas de vigilância particular, por si só, não se constitui em
dissuasor eficaz para as ações de espionagem.
São também muito numerosos os “sintomas básicos” que indicam a uma em-
presa que ela está sendo objeto de espionagem. Em seu livro “Espionagem Indus-
trial”, lançado em 1969, Jean Barral e George Langelaan citam alguns:
- queda inexplicável do volume de vendas, global ou setorial;
- um novo concorrente lhe “passa uma rasteira”;
- um novo produto, praticamente idêntico ao seu, é lançado no mercado pou-
co antes ou ao mesmo tempo que o seu;
- uma campanha de publicidade de um concorrente precede e prejudica a que
estava prestes a ser lançada pela sua empresa;
- o próximo lançamento de seu novo produto é amplamente difundido e faz
cair as vendas do modelo anterior, ainda em estoque nas fábricas ou nos revende-
dores;
- notícias, prospectos, fotografias e informações de ordem técnica são solicita-
dos à empresa, com maior frequência que a costumeira, de lados diferentes e sem
razão aparente;