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Ano II – Edição nº2 – Centro de Treinamento Policial - Novembro/2017

Explosões
O quarteto do de Caixas
pensamento
tático
Eletrônicos
Treinamento Um desafio para a PMMG
continuado

ARMA
LOCALIZADA:
Onde colocá-la
durante a
abordagem

Ações do primeiro interventor Bastão: ainda é necessário?


Ano II – Edição nº2
Centro de Treinamento Policial Novembro/2017
Neste mês de Novembro, quase finalizando o ano de 2017, lançamos a 2º Edição do
Treinamento Policial em Revista, a revista do Centro de Treinamento Policial. Os assuntos em
questão são necessários, pois tratam de temas que interessam muito aos policiais.
Explosão de caixas eletrônicos, Ações do Primeiro Interventor, Qualidade no Atendimento,
Educação Física Funcional, Uso de Bastões, Quarteto do Pensamento Tático e outros assuntos
que influenciam o comportamento policial estão nesta edição.
É importante a leitura de cada matéria e avaliação do comportamento policial diante das
exigências dos tempos modernos. Afinal, a sociedade espera que o policial acompanhe as
mudanças e promova uma segurança efetiva.
Sérgio Alexandre Moraes, Ten Cel PM
Chefe do Centro de Treinamento Policial

ÍNDICE Expediente
Explosões de Caixas Eletrônicos......... 3 Comandante-Geral: Cel PM Helbert Figueiró de Lourdes
Chefe do Gabinete Militar do Governador: Cel PM Fernando Antônio Arantes
Comandante da Academia de Polícia Militar: Cel PM Robson José de Queiroz
O quarteto que governa o pensamento Chefe do Centro de Treinamento Policial: Ten Cel PM Sérgio Alexandre Moraes
Subchefe do Centro de Treinamento Policial: Maj PM Rubens Valério de Souza
tático........................................... 6
Ficha Técnica da Revista
O bastão ainda é necessário?............ 9 Coordenação do Projeto:
Cap PM Iran Martins de Oliveira
Ten PM Breno Otávio Pinheiro C. Sales
Onde colocar a arma de fogo localizada
Auxiliares
durante a abordagem?.................. 11 2º Ten PM Juliana Raimunda da Silva Gama
2º Sgt PM Sandro Gonçalves Maia
A PMMG e a qualidade no atendimento 3º Sgt PM Carlos de Souza Filho

Textos
ao cidadão..................................... 16 Cap PM Iran Martins de Oliveira
1º Ten PM Francis Alberth Cotta Formiga
Treinamento funcional..................... 19 2º Ten PM Gelvanio Leandro Gonçalves
2º Sgt PM Sandro Gonçalves Maia
Ações do primeiro interventor na gestão 2º Sgt PM Nadja Alves de Sousa

Arte/Diagramação
de incidentes críticos com bombas e 2º Sgt PM Sandro Gonçalves Maia
Érika Senra de Castro Maia
explosivos...................................... 22 Paula Viviane Ferreira

Revisão
2º Sgt PM Sandro Gonçalves Maia
2
Explosões de
Caixas Eletrônicos:
um desafio
para a PMMG
Cap PM Iran Martins de Oliveira
2º Sgt PM Sandro Gonçalves Maia

Contextualização histórica

A segurança pública é, sem dúvida tão e fazendo reféns para se proteger durante os
ataques. Atuava com um grupo de 10 a 15 membros
alguma, um dos bens mais preciosos e utilizava cavalos para fugas rápidas e, além disso,
para a sociedade contemporânea. Ao não se fixava em um acampamento ou cidade por
longo período.
longo do tempo, a atuação de todo o Com esse modo de agir conseguiram aterrorizar
sistema de justiça tem se aperfeiçoado o sertão por muitos anos. Mas na visão de alguns
historiadores, ganham conotação amena. O histo-
e tem procurado propiciar respeito riador Adauto Leitão, por exemplo, acredita que
à dignidade da pessoa. Nesse viés, a atuação do bando de Lampião tinha um cunho
sociológico. Afirma que o objetivo, segundo o es-
as ações policiais têm evoluído e tudioso, era invadir as cidades e fazer justiça a seu
modo. Vislumbra a atuação deste grupo de canga-
se tornado técnicas. Infelizmente, ceiros como dominadores do sertão e, consequen-
na mesma medida em que a ação temente, fundadores de uma nova ordem. É exata-
mente a partir do conhecimento sobre a forma de
policial avança, verifica-se também agir do grupo de Lampião que surgem os grupos
o surgimento de novas modalidades que promovem caos nas grandes e pequenas cida-
des do interior do Brasil. E naturalmente, a proximi-
criminosas que desafiam as forças de dade entre Lampião e os marginais da atualidade é
estrita apenas ao modelo de praticar a conduta deli-
segurança. tiva. Não resta, nos dias atuais, qualquer proximida-
de com o caráter sociológico mostrado nas diversas
literaturas sobre esse personagem nordestino.
Uma das vertentes da criminalidade organizada
no Brasil, analisada numa perspectiva histórica, tem Na atualidade, os grupos de infratores têm se
origem no sertão nordestino, com o surgimento mostrado bastante violentos e os locais onde há
das ações que foram denominadas de Cangaço, no caixas eletrônicos, e outros tipos de instituições fi-
final do século XIX e que foi extinta nas primeiras nanceiras, baixo efetivo policial e alguma facilidade
décadas do século XX. Entre os expoentes dessas de fuga dos marginais por vias urbanas ou rurais se
condutas delitivas, tem-se a figura de Lampião. Esse tornaram os ambientes alvos dessas quadrilhas.
personagem e seu bando, apesar de serem comu- Algumas cidades de Minas Gerais têm sido alvo
mente apresentados de maneira romantizada, agia, de explosões de caixas eletrônicos e de outras ações
não raras vezes, atacando cidades pequenas do ser- semelhantes em desfavor de instituições financei-
3
de promover a segurança dos cidadãos, garantindo
a paz social. Contudo, em algumas situações essa
intervenção se apresenta, em função de diversos
fatores, como um momento de tensão e risco e no
qual o desfecho negativo resulta, em última instân-
cia, no óbito do autor da ação delitiva, de terceiros
envolvidos ou não no fato que gerou a abordagem,
ou mesmo, e mais tragicamente, do policial que se
dedica a promover a proteção da sociedade.
O policial ao realizar a abordagem deve fazer uso
de técnicas e táticas que redundarão na redução do
risco daqueles que se veem envolvidos no aconte-
cimento. Antecipadamente, o policial deverá ade-
quar-se mentalmente, psicologicamente e fisica-
mente para enfrentar a situação e entre as técnicas
primordiais que o policial deve observar está o uso
ras. Infelizmente, essas modalidades delitivas têm o de cobertas e abrigos. Nesse sentido, o Manual Téc-
poder de impactar negativamente toda a sociedade nico Profissional nº 3.04.02/2013-CG, Caderno
local onde a ação é perpetrada e romper parte da Doutrinário 2, que trata da Tática Policial, Aborda-
teia de confiança construída pelas instituições de gem a Pessoas e Tratamento às Vítimas, manifesta
segurança pública no Estado. A forma mais comum a primazia dessa técnica ao descrevê-la como pri-
da ação dos grupos de criminosos que cometem meiro subtítulo do item “deslocamentos táticos”. É
esse tipo de crime contra o patrimônio é invadir a manifestado:
cidade fortemente armados, com muitos materiais
bélicos, como fuzis, escopetas calibre 12, utilizadas
para intimidar a ação das forças policiais e explosi-
vos para arrombar os caixas eletrônicos e cofres das
instituições financeiras para ter acesso ao dinheiro. A proteção visa diminuir o risco
As novas ações de criminosos contra as agências
bancárias e empresas de valores agora são marca-
do policial militar ser agredido
das pela violência contra a população e policiais ou alvejado pelo suspeito.
envolvidos na ocorrência de forma direta ou indire-
ta. Consequentemente, a violência empregada por
Portanto, nos deslocamentos,
esses grupos deve promover uma nova forma de os policiais militares deverão
pensar do policial.
buscar cobertas e abrigos para
proteção e ocultação. MTP nº
O policial militar versus as ações diretas 3.04.02/2013-CG.
contra as instituições financeiras
Observa-se a necessidade de uma reflexão e me-
lhor ação policial para se evitar óbitos e outras per- Deslocamentos táticos correspondem às
das na PMMG. A abordagem policial é o principal movimentações, realizadas por policiais
militares, com o objetivo de progredir,
instrumento da atuação operacional do Policial Mi- aproximar e abordar pessoas, adotando
litar de Minas Gerais. Flexível, adapta-se as diversas técnicas específicas que permitam agir com
situações do cotidiano e tem o objetivo primordial rapidez, surpresa e segurança.

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Orientações de como agir em deslocamentos táticos
O policial, nesse sentido, deve buscar proteger-se realizada a partir do primeiro momento em que se
em locais que representem uma proteção efetiva, percebe que o recurso humano e logístico não será
como por exemplo, utilizando postes, muros, pare- suficiente para enfrentar o quadro que se apresenta
des, veículos (compartimento do motor), caçambas no “teatro de operações”.
metálicas, tronco de árvores e não pode olvidar O imediatismo, gerado pela vontade de apre-
desse ensinamento sob pena de ficar vulnerável à sentar uma resposta rápida, pode ser prejudicial
ação dos marginais, pois, o deslocamento tático em à atuação do policial militar, por provocar ações
áreas amplas, abertas e sem proteção, podem com- abruptas e a negligência de princípios básicos de
prometer a segurança do policial militar. atuação, como a ação operacional com a utilização
Entretanto, havendo a necessária movimentação de abrigos. Isto posto, é preciso que o policial treine
em espaços descobertos, o policial militar deverá respostas diante desse contexto de atuação, espe-
realizá-lo de forma rápida com silhueta reduzida cialmente, com especial respeito à doutrina, porque
ou lenta através dos procedimentos de rastejo, se o resultado é uma consequência da disciplina ope-
as circunstâncias exigirem, e sempre com a cober- racional.
tura da equipe. Além disso, ao aproximar-se para Assim como não deve agir sem avaliar as con-
agir, diante de contextos de atuação, nos quais não sequências, o policial também não deve ficar em
é possível avaliar o risco imediatamente, empregar estado de pânico diante do acontecimento. É sua
técnicas de varreduras, propiciará que o policial se obrigação saber manejar o estresse do momento e
aproxime com maior probabilidade de êxito e mini- adotar as respostas mais adequadas para cada situ-
mização do risco. “A varredura será feita de maneira ação.
lenta e gradual, frente a locais com ângulos desco-
nhecidos”, de acordo o MTP nº 3.04.02/2013-CG. Também não deve se guiar pela afirmação de
que as instituições financeiras possuem seguro e o
Em destaque são mencionadas duas técnicas dinheiro será reposto porque isso esconde a falsa
muito conhecidas, a “olhada rápida” e a “tomada de ideia que não há outras consequências para a socie-
ângulo”. Essa última busca um controle visual do dade da ação impune dos marginais que praticam
ambiente e ao empregá-la o policial não deve re- esses crimes.
gredir, ou seja, uma vez que o policial iniciou o pro-
cedimento, deve manter-se de forma ininterrupta, O policial, no seu dia a dia, tem a tendência de
pois sua descontinuidade faz com que o policial executar determinados procedimentos que estão
tenha que voltar ao ponto inicial e começar todo o internalizados, em sua mente. Ou seja, aqueles há-
procedimento, com isso, perdendo tempo e se co- bitos que estão fortemente gravados em seu cére-
locando em risco em função da perda do controle bro se tornam automáticos. Por isso, treinar e simu-
visual do suspeito. Importa ressaltar que nessa nova lar ações dessa natureza é um bom exercício que
modalidade criminosa, a ação dos marginais estará pode promover uma ação mais assertiva.
voltada para que se consiga o intento criminoso. A Realizar um planejamento prévio e a doutrina
estratégia dos marginais é a intimidação das forças institucional, aliado ao treinamento constante,
de segurança, concomitante, com uma ação rápida propiciará a melhor resposta na
no local da ocorrência. atividade operacional em
Se o cenário da ocorrência estiver muito desfa- ocorrências que envolvam
vorável à atuação operacional do policial militar, ações diretas contra as
seja pela possibilidade de lesões e risco à vida de instituições financeiras em
terceiros ou do próprio profissional de segurança Minas Gerais.
pública, não deve este furtar-se de avaliar a possibi-
lidade de manter-se abrigado e comunicar-se com a
guarnição policial mais próxima para socorrê-lo na
atividade. Na verdade, essa comunicação, deve ser

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O quarteto que governa
o pensamento tático
2º Ten PM Gelvânio Leandro Gonçalves

Nos últimos anos, a Constituição Estadual: “a Defesa


Social, dever do Estado e direi-
promoção dos direitos e liberda-
des fundamentais e a prevenção
violência deixou de ser to e responsabilidade de todos, criminal.
visando garantir... a Segurança
preocupação apenas do Pública” (Constituição do Estado
Uma das formas de atualização
é a elaboração de normas moder-
Estado e estendeu-se de de Minas Gerais de 1998). nas, que garantem aos policiais e
forma notória a todos os Nesta visão contemporânea, aos cidadãos o exercício de seus
a forma de atuação policial, que direitos. Uma norma editada é
cidadãos. era reducionista, corporativista o Manual de Prática Policial 01
e de competição institucional foi (1999), que buscou padronizar o
ultrapassada. A visão é alicerça- comportamento do policial mili-
Esta observação vem demons- da no pensamento sistêmico, na tar no exercício de suas atividades
trar o que já estava previsto No sinergia entre os órgãos públicos, constitucionais e posteriormen-
princípio normativo da Consti- que passam a gerir de forma ar- te tornou-se a base do Caderno
tuição Federal, contido no artigo ticulada as suas respectivas com- Doutrinário 1.
144, temos: “Segurança Pública, petências. Trata-se de um arranjo
dever do Estado, direito e respon- institucional complexo, que im- Diante do aumento conside-
sabilidade de todos, é exercida plica na redefinição de processos rável do crime e da evolução das
para a preservação da ordem pú- produtivos e introdução de mo- ações criminosas urge um conhe-
blica e da incolumidade das pes- dernas ferramentas de gestão. cimento técnico dos policiais en-
soas e do patrimônio...” (Constitui- volvidos no combate ao crime e
ção Federal de 1988). A Polícia Militar do Estado de que de forma capaz evite danos
Minas Gerais se atualizou e con- aos policiais, principalmente a
Em Minas Gerais, a partir do densou as orientações estraté- morte dos agentes de seguran-
ano de 2003, ocorreram algumas gicas, com o objetivo de propor- ça pública. Nesse contexto, cada
ações governamentais na área cionar uma maior sustentação e policial ter noção do pensamento
da segurança pública, visando modernização das práticas ope- tático é essencial para obter êxito
à consecução e exequibilidade racionais enfocando a garantia da nas ações policiais.
da noção de Defesa Social, que dignidade da pessoa humana, a
já estava previsto no Art. 133 da

Conceitos indispensáveis para o sucesso de uma ação


• Pensamento tático
Pensamento tático é o processo de análise do cenário da intervenção policial (leitura do ambiente). En-
quanto o preparo mental ocorre antes da intervenção e consiste numa análise de possibilidades, o pensa-
mento tático consiste num diagnósti-co que utiliza os dados e informações concretas obtidas por meio da
avaliação de riscos de um “teatro de operações” específico. Num processo dinâmico, atualiza-se em função
da evolução da ocorrência.

AVALIAÇÃO PENSAMENTO DIAGNÓSTICO DA


+ =
DE RISCOS TÁTICO INTERVENÇÃO
6
• Metodologia de avaliação de riscos

a Etapa 1 - identificação de direitos e garantias sob


ameaça
b Etapa 2 - avaliação das ameaças
c classificação de risco: risco nível I, nível II e nível III
d análise das vulnerabilidades
e avaliação de possíveis resultados
• Aplicação
Para cada nível de risco determinado, haverá uma conduta operacional estabelecida como
refe-rência para a ação policial, cabendo-lhe selecionar os procedimentos mais adequados a
cada situação.

Lembre-se: Não é possível afastar completamente o risco em uma intervenção policial, mas o preparo
mental, o treinamento e a obediência às normas técnicas garantem uma probabilidade maior de sucesso.

QUARTETO DO PENSAMENTO TÁTICO, TREINAMENTO CONTINUADO


Ao longo dos anos, a mudan- ciais para o agir policial dentro dos Diante do índice de criminalida-
ça de comportamento nas ações parâmetros da legalidade. de em que se observa um maior
das organizações criminosas tem São diversos fatores técnicos enfrentamento dos policiais em
igualado as técnicas usadas pelos e táticos que contribuem para o todos os lugares do Estado. O
agentes responsáveis pela aplica- sucesso da atuação policial frente emprego científico da arte de fa-
ção a lei. Através de treinamentos aos problemas apresentados em zer polícia é essencial com seus
ministrados por ex-militares que diversas ocorrências. conceitos que devem ser fixados
aderiram ao crime, os infratores na mentalidade de cada policial.
estão tendo acesso a treinamen- Para que o policial militar tenha Certamente, as várias políticas em
tos específicos de conduta de êxito na ação, é necessário um curso no Estado são importantes
patrulha, escoltas, defesa pessoal, aprimoramento técnico e tático, para auxiliar na prevenção e redu-
manuseio de artefatos explosivos como também psicológico, decor- ção da criminalidade e no desen-
e armamento de porte e portátil, rente de sua qualificação profis- volvimento social, mas demons-
direção defensiva, tiro prático, en-sional. trou que a abordagem policial no
tre outros, dificultando as ações O treinamento de técnica Estado de Minas, se for não regida
policiais nas suas diversas inter-
policial constante e ade- pela prática usual do pensamento
venções. tático, não se consumará em segu-
quado à realidade per- rança tanto para o policial quanto
O treinamento continuado da
Polícia Militar de Minas Gerais é a
mitirá que policial militar para as pessoas envolvidas em si-
base para obtenção de êxito nas reaja as mais inesperadas tuações de crime, sejam autores
ações policiais. A legalidade, ne- situações adotando uma ou vítimas.
cessidade, proporcionalidade e a resposta adequada.
conveniência são fatores essen-
7
Quarteto do pensamento tático:
Área de segurança, Área de risco, Ponto de foco e Ponto quente.

Área de segurança
O policial deve atuar onde possui o domínio do local, podendo estar

A abrigado ou encoberto, neste local o policia 0l durante a intervenção irá


se expor menos, a fim de evitar perigos desnecessários.

ATENÇÃO! O policial somente deverá transpor a área de segurança e


adentrar na área de risco, depois de se certificar de que tem o controle das
fontes de perigo que lá se encontram.

Área de risco
É o espaço físico delimitado, na ocorrência, onde podem existir

B
ameaças, potenciais ou reais, que ponham em perigo a integridade
física e a segurança dos envolvidos. É a área na qual o policial não
detém o domínio da situação, por ainda não ter realizado buscas, sendo,
portanto, uma fonte de perigo para ele ou terceiros, e por isso requer
que os riscos envolvidos sejam rigorosamente avaliados. Exemplo: a
residência onde se encontram suspeitos da prática de um delito.

Ponto de foco
Os pontos de foco são partes dentro da área de risco que requerem
monitoramento específico e demandam imediata atenção do policial,
uma vez que deles podem surgir ameaças que representem risco à

C segurança dos envolvidos. Portas, janelas, escadas, corredores, veículos,


obstáculos físicos, escavações, uma pessoa, ou qualquer outro elemento
no local de atuação que possa oferecer ameaça, mesmo que não
imediatamente visível ou conhecida, podem ser considerados como
pontos de foco. Seguindo o exemplo do item “b) Área de Risco”, os
pontos de focos poderão ser as janelas da residência onde se encontram
suspeitos da prática de um delito.

Ponto quente
Os pontos quentes são partes do ponto de foco que possuem um

D
maior potencial de se tornarem fontes reais de agressão e que, por
isso, devem ser cautelosamente monitorados para garantir a segurança
de todos os envolvidos. O policial direcionará sua atenção, energia
e habilidade para essas fontes a fim de responder adequadamente,
considerando os princípios e as regras para o uso de força.

8
O bastão ainda
é necessário? Cap PM Iran Martins de Oliveira

Os bastões são um símbolo do Por outro lado, há que ser notado que esse ins-
trumento possui inúmeras utilidades. O Manual
uso de força pelas instituições técnico de emprego de bastões policiais da PMMG
(MINAS GERAIS, 1988, p. 2), traz como epigrafe “ [...]
estatais ou privadas, o bastão é … lança, ao estocar ... foice, ao ceifar …
que se propõem a espada, no empunhar!”.

promover segurança. O bastão policial é, ampliando a definição institu-


cional do MTP 11 – 6 - PM, um gênero de armamen-
to básico, feito de madeira, roliço, exclusivamente
Sua aplicação na atividade militar remonta a contudente, cuja finalidade é ampliar o poder de
tempos longínquos e encontra-se registrado como combate aproximado do policial militar, e se enqua-
parte da iconografia1 da aplicação da lei desde o dra entre os instrumentos de menor potencial ofen-
início do século XIX, nos primordios da chamada sivo por ter baixa probabilidade de causar morte ou
polícia moderna. Entretanto, instrumentos notáveis lesões permanentes.
como o bastão não ficaram sem a sua parte de críti- No modelo de uso diferenciado da força estu-
cas, tanto dentro das instituições, quanto especial- dado e aplicado pelas polícias militares, os bastões
mente, fora delas. Nada é mais representativo para encontram-se no nível secundário de aplicação de
aqueles que censuram as polícias, do que a imagem força. Compõem o rol dos Instrumentos de Menor
de algum integrante das corporações segurando o Potencial Ofensivo2 e devem ser empregados con-
bastão e o empregando em desfavor de algum con- tra cidadãos que adotam o comportamento de re-
trafeitor. sistencia ativa, quando forem agressores não-letais.

Existem na dotação da Polícia Militar de Minas Gerais, quatro tipos de bastões:

1 2 3 4
bastão longo bastão médio bastão curto Bastão tonfa

Possui comprimento Com comprimento entre 60 Conhecido como cassetete, Instrumento confeccionado
de 128 cm e 2,4 cm de e 90 cm, incluíndo o punho de madeira ou borracha, cujo em polímero que é o mais
diâmetro, e é pouco de aproximadamente 12 cm nome origina-se do francês, moderno e sobre o qual
utilizado e difundido no com ranhuras, verticais ou e que significa “quebra- tem havido enfâse no
serviço operacional. horizontais e diâmetro entre cabeças” é o legítimo treinamento e há vários
4 e 6 cm, é armamento usual representante dos bastões estudos.
em todo o mundo e presença policiais, mas há algum
obrigatória na atividade de tempo, está em desuso na
operações de choque. PMMG.
9
Modelos de bastão
3 4

O bastão retrátil é um instrumento confecciona- críticas a ele próprio e para a instituição que repre-
do em metal e hastes articuladas, entretanto, não senta.
está inserido entre os instrumentos empregados
pela PMMG. Ainda assim, há conveniência em tecer
algumas considerações a seu respeito. As caracte-
Aplicações técnicas do bastão
rísticas relativas a funcionalidade do bastão retrátil As técnicas de emprego dos bastões são variadas
são identicas ao bastão de madeira médio, mas é e extensas, podendo estes serem utilizados como:
preciso destacar que o bastão retrátil permite um armas de ataque,
transporte facilitado e uma atuação mais livre em
armas de defesa,
relação a sua presença, pois pode ser acoplado ao
cinto de guarnição sem criar uma dificuldade, por armas de imobilização
exemplo, ao sair e entrar na viatura. Em outro sen- armas de efeito psicológico.
tido, contudo, é preciso avaliar se o resultado ope-
Estocadas curtas e longas, varreduras e bordoa-
racional é diferente do emprego de outros tipos de
das são técnicas usuais. Sobre o efeito psicológico,
bastão. Uma questão que pode surgir é a extensão
o Caderno Doutrinário 10, diz que “o bastão de ma-
da lesão provocada. O diametro do bastão metalico
deira é provavelmente o mais útil dos instrumentos
retrátil é menor se comparado ao bastão de madei-
de força que se pode empregar contra perturbado-
ra. Devido a essa diminuição da área de contato, ao
res da ordem. Seu valor reside no efeito psicológico
ser empregado, pode provocar um trauma contuso
que provoca.” (MINAS GERAIS, 2013, p. 44).
de maior intensidade. Dessa forma, há que se redo-
brar a cautela em seu emprego. A Portaria Interministerial nº 4.226/2010, do Mi-
nistério da Justiça e da Secretaria de Direitos Hu-
Como qualquer outro instrumento de apoio aos
manos da Presidência da República estabelece
aplicadores da lei, como com pistolas de emissão
diretrizes sobre o uso da força pelos agentes de
de impulsos elétricos, agentes químicos, revólve-
segurança pública, e orienta que “[...] todo agente
res e todas as outras armas para aplicação da lei,
de segurança pública que, em razão da sua fun-
os bastões possuem restrições de seu uso e devem
ção, possa vir a se envolver em situações de uso
ser empregados em defesa da vida. Algumas vezes,
da força, deverá portar no mínimo 2 (dois) instru-
acontecem de forma episódica, fatos envolvendo o
mentos de menor potencial ofensivo e equipa-
uso incorreto dos instrumentos de menor potencial
mentos de proteção necessários à atuação espe-
ofensivo e não é raro a sociedade querer culpar o
cífica, independentemente de portar ou não arma
emprego de um produto ou de uma arma, por si só,
de fogo”. Assim sendo, é natural pensar que um
ao invés de atribuir a culpa ao treinamento daquele
desses instrumentos será um bastão policial, pois
que o utiliza.
são fáceis de serem manejados e possuem um cus-
Um policial bem treinado nas técnicas de uso do to de produção e aquisição relativamente baixo.
bastão pode lidar com a maioria das situações em
Observa-se, a partir de um senso comum, que
que o uso de força física é necessária e evitar, assim,

Referentes à página 9:
1 - Iconografia é o estudo descritivo da representação visual de símbolos e imagens, sem levar em conta o valor estético que possam
ter (disponível em: https://www.dicio.com.br/iconografia).
2 - IMPO são aqueles projetados especificamente, para, com baixa probalidade de causar mortes ou lesões permanentes, conter,
debilitar ou incapacitar temporariamente pessoas” (BRASIL, 2014)

10
há muito tempo os bas-
tões de madeira não Onde colocar a
arma de fogo
são distribuídos insti-
tucionalmente. E por
política estratégica os

localizada durante
bastões tonfa tem sido
disseminados com re-
gularidade, além de ser

a abordagem?
verificado que outros
IMPO’s passaram a com-
por o arsenal de respos-
ta disponível ao policial
Cap PM Iran Martins de Oliveira
militar em sua atuação.
Mas mesmo que exis-
O policial militar, de forma recorrente, depara-se com a situação de lo-
tam outros instrumen-
calizar armas de fogo na posse de suspeitos abordados durante a atuação
tos disponíveis, muitos
policial. Comumente, ao questionar o PM, ou mesmo, quando se visualiza a
policiais ainda se man-
ação operacional nos diversos treinamentos e em situações reais, verifica-se
tém fiéis ao bastão po-
a adoção dos procedimentos da seguinte maneira:
licial, especialmente,
o bastão de madeira
médio que, com recor- Comportamentos inadequados adotados pelos PMs:
rência, são produzidos
pelos próprios PM. a) o policial que está na função de revistador ao localizar a arma
Por fim, os bastões
coloca a arma na cintura, sem realizar a certificação sobre a
possuem indiscutível segurança da arma localizada, ou;
importância para atua-
ção policial-militar e o Foto 1 – Antes de
seu manejo adequado certificar sobre a
permite o empodera-
segurança da arma
mento e aumento da
localizada, o policial
confiança necessária
coloca a arma
para que o profissio-
localizada na cintura
nal possa agir com ati-
tudes equilibradas e
adequadas às situações
em que a força é reque- b) o policial que está na função de revistador ao localizar a
rida na atuação opera- arma coloca a arma dentro do colete balístico, sem realizar a
cional, sem perder de certificação sobre a segurança da arma localizada, ou;
vista a necessidade da
observância aos prin-
Foto 2 – Antes
cípios dos Direitos Hu- de certificar
manos, como forma sobre a
de bem cumprir a sua segurança
missão de “Promover da arma
segurança pública por localizada, o
policial coloca a
intermédio da polícia arma localizada
ostensiva, com respeito no colete
aos direitos humanos e
participação social em
Minas Gerais.”
11
c) o policial que está na função de revistador Procedimento
ao localizar a arma coloca a arma no chão, ou;
operacional correto:
O policial revistador deve
informar a equipe que localizou
a arma: Verbalização padrão:
“arma localizada!”
Essa informação é direcionada à equipe e não as
pessoas que estão próximas, inclusive o suspeito na
área da abordagem. Deve ser feita de forma discreta.
Apesar de haver entendimento, em sentido oposto,
de que a verbalização deve ser feita de forma os-
Foto 3 – O policial coloca a arma localizada no chão tensiva para alertar possíveis testemunhas, é crível
pensar que essa interpretação aumenta o risco dos
suspeitos, nesse momento, diante de uma situação
d) o policial que está na função de revistador que fatalmente resultará em sua prisão, adotarem
ao localizar a arma entrega a arma ao policial uma atitude de resistência ativa, ou mesmo, tenta-
segurança e o policial segurança coloca a rem evadir. Desse modo, a orientação adequada é
arma na cintura ou dentro do colete, sem no sentido de ser discreto na comunicação e dire-
cioná-la apenas aos policiais.
realizar a certificação sobre a segurança da
arma localizada. É possível estabelecer um código da equipe para
sinalizar a informação e diminuir a possibilidade de
ações abruptas dos suspeitos abordados. Por exem-
Essas condutas surgem de convenções criadas
plo, verbalizar “Irene”, “bola 7” ou outro código.
pelos policiais militares porque não encontram
respaldo técnico ou uma descrição clara sobre Retirar imediatamente a
qual procedimento deve ser adotado a partir do
momento da localização da arma de fogo com o arma da cintura do suspeito e
suspeito. Assim, observa-se, nos cadernos dou- entregar ao policial na função
trinários que tratam da técnica policial voltada a de segurança
abordagem pessoal, um espaço de melhoria na
descrição do procedimento que deve ser adotado
pelo policial.
O ponto nevrálgico da ação de guardar a arma
na cintura ou colete tão logo seja localizada está
no fato de que essa conduta fere o primeiro prin-
cípio da atuação operacional que é a segurança.
Isso ocorre porque o policial somente poderá ter
certeza da condição do armamento após fazer
sua inspeção e realizar o seu desmuniciamento.
A partir dessa situação, propõe-se um procedi-
mento que permitirá otimizar a ação operacional
diminuindo o risco ao qual estará submetido em Foto 4 - Ao localizar a arma na cintura do suspeito, o
seu serviço. policial revistador verbaliza para o policial segurança
“arma localizada”.

12
Determinar de imediato que o suspeito ajoelhe ou se deite

Foto 5 – Policial revistador retira a arma da cintura do suspeito e entrega para o policial segurança. Esse recebe a
arma localizada com a mão fraca, mantendo a vigilância sob a conduta do suspeito.

Se houver mais de um suspeito abordado, a verbalização deve ser direcionada a todos os suspeitos. É pos-
sível determinar a todos que se deitem, como opção.
Importa frisar que ao localizar a arma, encontra-se o suspeito na condição de autor de delito, se não pos-
suir autorização legal para portar o armamento. Essa condição por si só, autoriza que o policial adote um
procedimento baseado nas ações de intervenção policial de nível 3, prevista nos cadernos doutrinários.
Ressalta-se que a ação de direcionar o suspeito para a posição de contenção 3 (ajoelhado) ou posição de
contenção 4 (deitado) deve ser feita, logo após localizar a arma, e se, no mínimo toda a área da cintura do
suspeito já estiver sido revistada.

Logo em seguida, algemar o Afastar-se do suspeito e sacar


suspeito; sua arma colocando-a na
posição de pronta resposta;

Foto 6 – Após retirar a arma da cintura do suspeito,


o policial revistador imediatamente verbaliza para Foto 7 – Após algemar o suspeito, o policial
o suspeito ajoelhar-se ou se deitar. Na sequência revistador afasta-se do abordado e se coloca
procede a algemação do suspeito. também na função de policial segurança.

No momento que o policial segurança for informado que há arma localizada, deverá:
Atentar-se para possíveis reações de tentativa de fuga dos suspeitos;
Receber a arma que foi localizada e apreendida pelo policial revistador com sua mão fraca;
No momento que está recebendo a arma apreendida com o suspeito, adotará a empunhadura simples
com sua própria arma.
Colocar a arma apreendida no coldre, tendo em vista que a arma do próprio policial está na mão;
13
Foto 10 – Após o policial revistador ter adotado uma
postura de segurança, o policial 2 executa ações
Foto 8 – Ao receber a arma localizada na cintura do para “esfriar” a arma localizada com o suspeito.
suspeito o policial segurança, insere a arma no seu
coldre.
Foto 11 – A
arma fria pode
ser colocada no
bolso da calça
do policial, ou
guardada com
segurança. Ao
colocar a arma
no bolso da
perna sugere-se
que as munições
sejam colocadas
no bolso do
outro lado da
perna.
Foto 9 – Detalhe: O policial segurança insere a arma
localizada no coldre de forma invertida. Como se
estivesse inserindo a arma para um saque cruzado.
Lembre-se que o policial segurança recebeu a arma com Feito o desmuniciamento,
sua mão fraca.
a arma apreendida e
O policial que está exercendo a função de segu- as munições devem ser
rança e que está com a arma apreendida, após o colocadas no bolso da calça
momento em que o policial revistador adota o po-
sicionamento de afastar-se do suspeito e se colocar em lados opostos, ou ainda
em condição de pronta resposta, passando a agir o policial poderá deslocar-se
também como segurança, iniciará o procedimento
de colocar a arma apreendida em segurança.
à viatura e guardar a arma
Assim, retirará a arma apreendida do coldre, irá
apreendida no porta-luvas
desmuniciá-la. ou outro compartimento;

Logo em seguida, retornará a posição de segurança e o policial revistador retoma a busca pessoal no
suspeito.
Findada a busca pessoal, os policiais informam ao preso os direitos constitucionais e adotam o procedi-
mento de condução do suspeito até a viatura.
14
A PMMG e a qualidade no
atendimento ao cidadão
2º Sgt PM Sandro Gonçalves Maia

As grandes e pequenas empresas nesta definição.


Qualidade pode estar relacionada à qualidade
de todo o mundo passam por de vida das pessoas de um país, qualidade da água
transformações sem limites nos últimos que se bebe ou do ar que se respira, qualidade do
serviço prestado por uma determinada empresa,
anos e a sobrevivência de um negócio ou ainda qualidade de um produto no geral. Como
mantém relação com a qualidade de o termo tem diversas utilizações, o seu significado
nem sempre é de definição clara e objetiva e sem-
seus produtos e serviços. pre se torna objeto de discussões polêmicas, haja
vista as percepções sobre qualidade nem sempre
são idênticas, ou seja, o que é bom para um grupo
Todos os negócios são avaliados, as grandes mar- ou indivíduo não para outro.
cas, principalmente, são avaliadas diariamente por
milhares de pessoas. Sem dúvidas, a qualidade é o
fator de equilíbrio no mundo contemporâneo. Ética e qualidade no Serviço Público
Observa-se que a qualidade está presente em to- O termo ética representa o conjunto de princí-
dos as esferas da vida. Entretanto, apesar de ser um pios e valores que regem a conduta humana. É um
termo amplo, uma definição dicionarizada é que valor fundamental para a identidade organizacional
Qualidade é um conceito subjetivo, é o modo de da PMMG e está intimamente ligado à qualidade. O
ser, é a propriedade de qualificar os mais diver- tema ética no serviço público está diretamente re-
sos serviços, objetos, indivíduos, produtos. Do lacionada à conduta dos funcionários que ocupam
latim qualitate, qualidade está relacionado às cargos públicos. Tais indivíduos devem agir confor-
percepções de cada indivíduo e diversos fatores me um padrão ético, exibindo valores morais como
como cultura, produto ou serviço prestado. Ne- a boa fé e outros princípios necessários para uma
cessidades e expectativas influenciam diretamente vida saudável no seio da sociedade. Ética é qualida-
de.

15
Quando uma pessoa é eleita para um cargo pú-
blico, a sociedade deposita nela confiança e espera
que ela cumpra um padrão ético. Assim, essa pessoa
deve estar ao nível dessa confiança e exercer a sua
função seguindo determinados valores, princípios,
ideais e regras. De igual forma, o servidor público
deve assumir o compromisso de promover a igual-
dade social, de lutar para a criação de empregos,
de desenvolver a cidadania e de robustecer a de-
mocracia. Para isso, ele deve estar preparado para
pôr em prática políticas que beneficiem o país e a
comunidade no âmbito social, econômico e políti-
co. No caso específico do policial militar, observa-se
que as demandas na segurança pública fomentam
cobranças ainda mais incisivas nos funcionários ou
colaboradores.
Um profissional que desempenha uma função
pública deve ser capaz de pensar de forma estra-
tégica, inovar, cooperar, aprender e desaprender
quando necessário, elaborar formas mais eficazes se um mercado, uma agência governamental deve-
de trabalho. Infelizmente, os casos de corrupção no ria prestar, de forma econômica, o serviço prescrito
âmbito do serviço público são fruto de profissionais pela legislação vigente. O objetivo deveria se desta-
que não trabalham de forma ética e denigrem a car por serviço bem executado.
imagem e a qualidade dos produtos ou serviços da
empresa/instituição. Ainda citando o mesmo autor, a qualidade do
serviço público não é mensurável pela “conquista
de um mercado de clientes”, já que, enquanto ser-
A qualidade no contexto da segurança viço, as repartições têm um universo de clientes já
pública definido. No entanto, a não correlação com o mer-
cado não isenta o serviço público de ser executado
A cobrança por qualidade atingiu também o ser- com qualidade. Deve-se, desta forma, atender aos
viço público nos últimos anos. Os órgãos públicos objetivos em função dos quais foi instituído como
há muito tempo “carregam” o estereótipo de servi- serviço público a ser prestado à sociedade, priman-
ços sem qualidade. Em algumas situações, os servi- do pela excelência no atendimento, pensando prio-
ços são rotulados de prestadores de serviços incom- ritariamente no cliente. .
petentes, ineficientes, desmotivados, preguiçosos e
com comportamento indiferente às necessidades Das questões teóricas à prática, tem-se no ano de
e aos objetivos dos “clientes”. O cliente é cidadão, 1995 um marco na gestão pública brasileira. Teve iní-
que busca a execução de um processo (serviço), um cio, nesta época, a reforma gerencial administrativa,
produto, incluindo as pessoas pertencentes à orga- por conseguinte, a busca pela qualidade no servi-
nização ou não. A exigência por qualidade de um ço público. Atender as necessidades da população
melhor serviço é uma realidade incontestável. Uma é um dever, mas deve-se ter qualidade no atendi-
realidade que diariamente testa a nossa Instituição. mento (NORMANDO, 2009). O atendimento defi-
ne o futuro da empresa ou Instituição. Quando há
Segundo Deming, escritor especialista em qua- falhas no atendimento, às vezes até pela percepção
lidade, na maioria das repartições públicas, não há errônea do cliente, a empresa sofre grande perigo.
um mercado a ser buscado. Ao invés de conquistar-

16
Surgem outras Ins- da, que a inserção da disciplina fomentaria o debate
tituições/em- em sala de aula em torno do assunto, que é polêmi-
presas que co, mas reflete uma demanda tanto do PM quanto
aproveitando da sociedade por um serviço mais humano, eficaz e
as brechas da de maior qualidade.
falta de um serviço O atendimento ao cidadão pelo policial ganha,
satisfatório, qualita- então, força nas salas de aula de todos os cursos po-
tivo, apresentam ser- liciais e também do TPB, com o objetivo de desper-
viços desqualificados, tar o PM da necessidade em atender com atenção e
mas que suprem as apreço às necessidades e expectativas dos cidadãos
demandas do clien- que esperam exatamente uma postura proativa na
te insatisfeito, como manutenção da ordem pública. A cada momento
se observa no ofereci- nos deparamos com o surgimento de novos produ-
mento de motoqueiros tos e serviços e produtos de segurança pública.
chamados de “vigia das
ruas”, cobrando valores em
dinheiro, para supostamente
proteger ruas e empresas, to- Diante da crescente
cando uma sirene em bairros
diversidade oferecida pelas
de Belo Horizonte e outros
municípios. empresas especializadas,
nossos serviços são colocados
Segundo o Guia de Trei-
em xeque. É primordial que
namento Policial Básico bi-
ênio 2016/2017, a qualidade
cada policial militar introduza
tem a ver com cliente e não pode o desenvolvimento de uma
ser medida sob o ponto de vista do fornecedor. A ló- cultura que incorpore a
gica é que a PMMG não pode avaliar seus trabalhos. valorização do atendimento
Quem avalia é o cidadão, cliente da Instituição, que de qualidade ao cidadão. As
muitas vezes se mostra insatisfeito por não conhe- pessoas simpáticas e eficazes
cer as demandas da PMMG e seus serviços ofereci- transmitem credibilidade em
dos e é, nesse contexto, que os serviços particulares momentos de incertezas e
e outros ganham espaço.
fragilidades. Enfim, qualidade
O assunto Qualidade no Atendimento Policial representa a sobrevivência da
Militar foi escolhido devido a grande demanda Instituição.
das RPM e CPM e por causa da aceitabilidade dos
treinandos do 7º biênio na discussão do assunto na
disciplina “Tratamento às pessoas”. A comissão
entendeu, também, com base na pesquisa realiza-

Referências bibliográficas
ADAMS, Scott. Corra, o Controle de Qualidade vem aí! Rio de Janeiro: Ediouro, 1997. 224 p.
BARROS, Claudius. Qualidade & Participação: o Caminho para o êxito. São Paulo: Nobel, 1991. 192 p. CARPINETTI, L. C. Ribeiro. Gestão
da Qualidade Conceitos e Técnicas. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2012.
CHASE, Richard B.; JACOBS, Robert; AQUILINO, Nicolas T. Administração da produção para a vantagem competitiva. 10 ed. Porto
Alegre: Bookman, 2006.
PALANDINI, Edson Pacheco. Qualidade total na prática: implantação e avaliação de sistemas de qualidade total. 2.ed. São Paulo:
Atlas, 1997.
PALADINI, Edson Pacheco. Gestão Estratégica da Qualidade - Princípios, Métodos e Processos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009.
PALADINI, Edson Pacheco. Gestão da qualidade: teoria e prática. São Paulo: Atlas, 2000.
VERGUEIRO, Waldomiro. Qualidade de Serviços. 4.ed. São Paulo: Atlas, 2002.

17
Treinamento funcional 2ª Sgt PM Nadja Alves de Sousa

o que os pacientes faziam no seu Em ou-


dia-a-dia no decorrer da terapia, tras pa-
permitindo, assim, um breve re- lavras, o
torno à sua vida normal e as suas treinamento funcional trabalha
funções habituais após uma lesão movimentos, e não músculos iso-
ou cirurgia. Dessa forma, foi fun- ladamente, envolvendo, dessa
damentado no sucesso obtido forma, todas as capacidades físi-
na sua aplicação na reabilitação cas – equilíbrio, força, velocidade,
que o programa de treinamento coordenação, flexibilidade e re-
funcional passou a ser emprega- sistência - de forma integrada por
do em programas de condiciona- meio de movimentos multiarticu-
Recentemente, o mento físico, desempenho atlé- lares e multiplanares e no envol-
treinamento funcional tico, bem como para minimizar
possíveis lesões (PRANDI, 2011).
vimento do sistema propriocep-
tivo, este último, de acordo com
vem conquistando Sabe-se que o treinamento Ribeiro (2006 apud SILVA, 2011)
relacionado com a sensação de
seu espaço dentro de funcional está amparado na pro-
posta de melhoria de aspectos movimento (sinestesia) e posição
academias e de forma neurológicos que conduzem a articular, sendo que, dentre as
principais funções deste sistema,
capacidade funcional do corpo
personalizada devido a humano, empregando exercí- estão a manutenção do equilí-
sua forma de aplicação cios que estimulem os diferentes brio, a orientação do corpo e a
prevenção de lesões.
componentes do sistema ner-
e por auxiliar as pessoas voso, gerando, dessa forma, sua Desta forma, percebe-se que
nas suas funções adaptação (SILVA, 2011; CAMPOS o treinamento funcional envolve
e CORAUCCI NETO, 2004). movimentos específicos para o
cotidianas. De acordo com Clark (2001 desenvolvimento das atividades
apud DIAS, 2011), os movimen- da vida diária do indivíduo. Sen-
No entanto, esta metodolo- tos funcionais referem-se a mo- do assim, esta metodologia de
gia de treino não é recente. De vimentos associados, multipla- treino possibilita a todos os públi-
acordo com Dias (2011), o treina- nares e que abrangem redução, cos o bom condicionamento das
mento funcional estabilização e produção de for- capacidades físicas, tornando-se
originou-se com ça; ou seja, os exercícios funcio- possível, assim, atingir a excelên-
os profissionais nais referem-se a movimentos cia no desempenho.
da área de fisio- que empregam mais de uma fra-
terapia, já que ção corporal simultaneamente,
estes foram os podendo ser realizado em diver-
pioneiros no uso sos planos e envolvendo diver-
de exercícios sas ações musculares (excêntrica,
que simulavam concêntrica e isométrica).

18
Treinamento Funcional
O Treinamento funcional compreende exercícios que mobilizam mais de um segmento corporal
ao mesmo tempo e podem ser realizados em planos diferentes que englobem ações musculares
diferentes.
Existem três pontos que são bases do treinamento funcional:

1- o próprio exercício funcional, que tem como objetivo, garantir que o corpo mantenha a sua
funcionalidade por meio do treino de movimentos e não apenas de músculos isolados, como acon-
tece na ginástica tradicional. Isso faz com que o indivíduo mantenha sua capacidade de executar
desde movimentos simples, como os do dia a dia, tipo, pegar algo na prateleira ou sentar-se, até
movimento mais específicos, como aqueles exigidos de um esportista.

2- o segundo é o Core, que é o centro do nosso corpo de onde se originam todos os movimentos,
sendo composto por 29 músculos que sustentam o complexo quadril-pélvico-lombar e onde todo
o nosso corpo está conectado. Esta área se mostra importante porque os músculos ali situados,
especialmente os internos do tronco, são imprescindíveis para a estabilização da coluna vertebral.
Em termos funcionais, essa é a área mais importante do organismo, por isso, é fundamental que
seja feito um treinamento com exercícios que desenvolvam sua estabilidade, força e resistência. A
fraqueza dessa musculatura leva a flacidez abdominal, alterações na posição do quadril e dores na
coluna, dentre outras complicações.

3- os exercícios intensos intervalados, que tem como característica a alternância de intensida-


de com que são realizados. O objetivo desses exercícios é principalmente aumentar a resistência
cardiorrespiratória, mas também ocorre melhora da força e da performance. Esses resultados são
atingidos por meio de um esquema de treinamento que alterna períodos de exercícios realizados
em intensidade máxima com outros de intensidade leve que são as pausas de recuperação.

No caso de indivíduos atletas, talecimento, principalmente dos ca as habilidades da modalidade


o treinamento funcional volta- membros inferiores e das regiões proporcionando melhoras signi-
se, de forma mais específica, para lombar e abdominal, o que se re- ficativas. Tudo vai depender dos
atender às necessidades de cada flete no aperfeiçoamento de seu objetivos que o indivíduo deseja
atividade. Os exercícios são di- desempenho esportivo. Tudo isso alcançar. No caso de indivíduos
rigidos ao desenvolvimento de acontece de forma dinâmica e que tem como objetivo o aumen-
habilidades específicas de cada bastante direcionada à modalida- to da massa muscular, a muscu-
modalidade. Um dos objetivos é de praticada. Os movimentos aju- lação tradicional trará resultados
melhorar a performance e preve- dam na propriocepção dos mús- mais rápidos, mas, em termos de
nir ou auxiliar na recuperação de culos utilizados durante a corrida, condicionamento físico, os exer-
lesões. ou seja, a percepção do corpo por cícios funcionais trazem excelen-
No caso dos corredores, os meio de estímulo ou movimento, tes resultados.
exercícios funcionais além de me- favorecendo a técnica. O treinamento funcional, inde-
lhorarem seu condicionamento A musculação tradicional pode pendentemente da experiência
cardiorrespiratório, equilíbrio, ser substituída, pelos corredores, esportiva, é indicado para qual-
flexibilidade, coordenação mo- por esse tipo de treinamento, por quer indivíduo, contudo, como
tora, proporcionam um bom for- trabalhar de forma mais específi- toda atividade física, faz-se neces-

19
sário uma avaliação médica através de exames clínicos e uma avaliação física anterior a prática.
Deve-se iniciar esse tipo de treinamento devagar e ir progredindo gradualmente a intensidade e dificul-
dade dos movimentos, muitas vezes pode ser usado o peso do próprio corpo como carga.
Uma boa vantagem desse tipo de treinamento é que ele pode ser feito ao ar livre e até em casa. Para
quem não gosta do ambiente das academias é uma boa dica para se manter um estilo de vida saudável
e desfrutar de todos os benefícios que esses exercícios podem proporcionar ao corpo e a nossa saúde no
geral.

Fonte: Seção de Educação Física da PMMG.

Fonte: http://isas.com.br/index.php/treinamento-funcional/

Referências bibliográficas
CAMPOS, M. A.; NETO, B. C. Treinamento funcional resistido: para melhoria da capacidade funcional e reabilitação de lesões
musculoesqueléticas. Rio de Janeiro: Revinter, 2004.
D ́ELIA, R.; D ́ELIA, L. Treinamento funcional: 6º treinamento de professores e instrutores. São Paulo: SESC - Serviço Social do
Comércio, 2005. Apostila.
Disponível em: http://www.minhavida.com.br/fitness/materias/14913-entenda-como- sao-feitos-os-exercicios-do-treinamento-
funcional> Acesso em: 11fev17.
Disponível em: http://www.educacaofisica.com.br/fitness2/treinamento-funcional2/melhore-habilidades-da-corrida-com-o-treino-
funcional/. Acesso em: 10fev17.
Disponível em: http://www.educacaofisica.com.br/fitness2/treinamentofuncional2/treinamento-funcional-a-malhacao-do-futuro/.
Acesso em: 12fev17.

20
Ações do primeiro interventor
na gestão de incidentes
críticos com bombas e
explosivos 1º Ten PM Francis Albert Cotta

A partir do recrudescimento da modalidade criminosa de arrombamento de caixas eletrônicos com o


uso de explosivos a partir de 2008 potencializou-se o desafio da polícia ostensiva em suas ações de pre-
venção criminal, bem como nas intervenções num ambiente marcado pelo alto risco diante das variáveis
desse delito. Diante desse fenômeno coloca-se a seguinte questão: como os profissionais de segurança do
cidadão, nomeadamente os policiais que realizam a primeira intervenção, devem agir para preservação
das vidas e, se possível, do patrimônio, realizando corretamente sua intervenção?

De acordo com a Diretriz Geral de Emprego Operacional da Polícia Militar de Minas Gerais (DGE-
Op, 2010) o Esquadrão Antibombas é uma Companhia que integra o Grupamento de Ações Tá-
ticas Especiais (GATE). Ele atua em todo o território de Minas Gerais. Entre suas atribuições são
previstas em sua Norma Geral de Ação:
- atuar em incidentes críticos que envolvam artefatos explosivos e “bombas sujas” (aque-
las cujo componente pode ser químico, biológico, radiológico ou nuclear) objetivando a
sua remoção, desmantelamento, neutralização, desativação ou destruição, de acordo com
a análise dos especialistas, mediante deliberação;
- atualizar-se sobre os assuntos relativos a bombas e explosivos realizando pesquisas, testes
e visitas em mineradoras e fábricas de altos e baixos explosivos;
- atuar em conjunto com as outras equipes do GATE, apoiando-as em operações com em-
prego de explosivos, arrombamentos mecânicos e hidráulicos;
- manter contato com outros órgãos que operam com explosivos tais como: Delegacia Es-
pecializada de Armas Munições e Explosivos e Instituto de Criminalística da Polícia Civil,
Grupo de Bombas e Explosivos da Polícia Federal e Serviço de Fiscalização de Produtos Con-
trolados (SFPC) do Exército Brasileiro;
- executar busca em locais sob ameaça de bombas e vistoria em locais solicitados por auto-
ridades governamentais ou cidadãos ameaçados;
- ministrar treinamento sobre gestão de incidentes com bombas e explosivos;
- apoiar nas operações de contraterrorismo mediante planejamento do GATE/Comando de
Policiamento Especializado;

Comandante do Esquadrão Antibombas da Polícia Militar de Minas Gerais, atuando na área desde 1996. Desativador EOD formado
pelo Centro de Inactivação de Engenhos Explosivos e Segurança de Subsolo da Guarda Nacional Republicana. Portugal e pela Brigada
de Explosivos da Polícia de Córdoba. Argentina. Professor na Faculdade de Direito da Fundação Pedro Leopoldo. Minas Gerais. Pós
doutor em Direito Penal e Garantias Constitucionais (UNLaM). Pós doutor em Psicologia (UJFK). Pós doutor em História Social da
Cultura (UFMG).

21
- apoiar o Serviço de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército Brasileiro na fiscaliza-
ção e destruição de explosivos no âmbito do estado de Minas Gerais;
- desenvolver outras ações de polícia, atuando em conformidade com os preceitos teóricos
e principiológicos das Ações Táticas Especiais e com a identidade organizacional da PMMG
(MINAS GERAIS, NGA, 2016, p. 5).

Os Incidentes Críticos são fenômenos sociais de que- realizadas, pois cada tipo de incidente demandará
bra da normalidade que colocam em risco, de ma- uma intervenção específica da equipe especiali-
neira mais contundente, as vidas das pessoas que zada, Esquadrão Antibombas do Grupamento de
de alguma forma serão afetadas por eles, isso é, Ações Táticas Especiais, em termos de emprego de
servidores públicos responsáveis pela intervenção, técnicas, pessoal envolvido e equipamentos.
tais como: policiais militares, bombeiros, guardas
municipais, médicos e socorristas, as vítimas e os
cidadãos-infratores. A tipologia dos incidentes crí- O Primeiro Interventor colocará em prática
ticos abarca, entre outras, situações que envolvam as seguintes ações:
reféns, suicidas armados, infratores homiziados em 1) identificará o ponto crítico (local da ex-
locais de difícil acesso, localização de artefatos ex- plosão ou onde se encontra o artefato ex-
plosivos e locais de explosões (COTTA, 2009). plosivo ou objeto suspeito);
Na maioria das vezes, os profissionais de segu- 2) manter-se-á afastado do objeto suspeito;
rança pública que primeiro se deparam com os inci- 3) isolará a área para evitar a presença e o
dentes críticos são os policiais que realizam o patru- trânsito de pessoas, bem como para preser-
lhamento comunitário. Portanto, aqueles que, pela var o local de crime;
natureza do seu emprego operacional, não pos-
suem protocolos específicos, capacitação técnica e 4) comunicará o fato ao Controlador do Inci-
logística apropriada para realizar uma intervenção dente (CPU, CPCia ou Supervisor);
mais verticalizada em termos de desativação de ar- 5) solicitará a presença do Esquadrão Anti-
tefatos explosivos ou de realização de buscas anti- bombas do GATE;
bombas em locais de explosão.
6) coletará informações;
7) manterá a vigilância sobre a área isolada.
O que os policiais que se deparam com
tal incidente crítico devem fazer?
O Profissional de Segurança do Cidadão (policial
militar, guarda municipal ou bombeiro) que se de-
para com a situação é denominado de Primeiro In- Ao ser acionado pelo Primeiro Interventor, en-
terventor. Suas ações são importantíssimas na pre- tra na Cena de Ação o Controlador do Incidente
servação de vida e no processo que culminará com (CPU, CPCia ou Supervisor). Ele é o policial militar
a correta resolução do incidente. que exerce a coordenação e controle operacional
do efetivo policial lançado na área sob sua respon-
Em termos procedimentais, inicialmente o Pri-
sabilidade territorial. Poderá realocar efetivos, bem
meiro Interventor identificará a tipologia do in-
como recursos logísticos, de acordo com as deman-
cidente crítico. Tal identificação está diretamente
das do caso concreto.
relacionada com as ações subsequentes que serão

Dentre as tipologias de incidentes críticos envolvendo bombas e explosivos, citam-se: 1) objeto suspeito localizado; 2) artefato
explosivo convencional (granadas); 3) artefato explosivo improvisado; 4) localização de explosivos; 5) localização de acessórios
explosivos; 6) ameaça de bomba; 7) explosão (MINAS GERAIS, 2015).

22
O Primeiro Interventor e o Controlador do Incidente devem, preferencialmente, permanecer na Cena de
Ação para que possam continuar a contribuir no processo de gestão do incidente crítico. Eles repassarão
para os integrantes do Esquadrão Antibombas e do Time de Gerenciamento de Crises do GATE as informa-
ções necessárias para a implementação das ações técnicas.
Dessa forma, atuarão na Cena de Ação os seguintes componentes operacionais, integrantes da Polícia
Militar:
1) Primeiro Interventor (policial militar que depara com o incidente);
2) Controlador do Incidente (CPU, CPCia, Supervisão);
3) Gestor do Incidente Crítico (Oficial da Unidade Especializada);
4) Comandante da Cena de Ação (Oficial da Unidade de Área).

Figura 01 - Organização da Cena de Ação.


Organização da Cena de Ação
Realizadas as primeiras providências pelo Pri-
meiro Interventor, o Controlador do Incidente ini-
cia a delimitação dos perímetros, que são as zonas
de delimitações por intermédio das quais se de-
terminam as competências de atuação na Cena de
Ação (FIG. 01).

Fonte: MINAS GERAIS, 2015.

O Controlador do Incidente organizará os perí- Figura 02 – Organização da Cena de Ação


metros de segurança da seguinte forma:
a) Perímetro Imediato (zona vermelha): atua so-
mente o especialista em desativação de artefato
explosivo, que portará o traje antibombas, braço ro- C
bótico e demais equipamentos de proteção neces-
sários à intervenção; B
b) Perímetro Mediato (zona amarela ou de transi-
ção): nele é montado o Posto de Contramedidas,
A
onde serão concentrados os equipamentos e per-
manecerão, exclusivamente, os especialistas do
Esquadrão Antibombas;
c) Perímetro Externo/Apoio (zona verde ou de se-
Fonte: COTTA; SOARES, 2003.
gurança): parte mais segura; nela se instala o Grupo
LEGENDA
de Assessoria de Risco (Corpo de Bombeiro, SAMU, A – Ponto Crítico
especialistas em ameaças biológicas e radiológicas), (Desativador de Bomba)
bem como o Posto de Comando com o Coman- B – Posto de Contramedidas
(Equipamentos e especialistas do Esquadrão Antibombas)
dante da Cena de Ação e seu staff. C – Grupo de Assessoria de Risco e Posto de Comando.

O CPU é o Coordenador de Policiamento da Unidade e o CPCia é o Coordenador de Policiamento da Companhia.


A Cena de Ação é o ambiente físico operacional onde se desenvolve o incidente crítico, nele estão presentes os policiais responsáveis
por sua resolução, de acordo com seu nível de capacitação e recursos logísticos (MINAS GERAIS, 2015).

23
O Ponto Crítico irá variar de acordo com o tipo de incidente. No local onde ocorreu uma explosão, o pon-
to crítico será o epicentro dessa explosão, bem como o seu entorno. Quando da localização de um artefato
explosivo (bomba), o ponto crítico será o local exato onde está a bomba ou o objeto suspeito.
O Quadro 01 apresenta a relação entre objetos, quantidade de explosivos e distância de segurança sem
proteção. Eles servem como um guia rápido para definição preliminar dos perímetros de isolamento.

• Quadro 01 – Cargas explosivas e distâncias de segurança


Quantidade
Distância sem
Objeto aproximada de
proteção (metros)
explosivo
Encomenda Postal Até 1 Kg 119 m
Maleta Até 6 Kg 203 m
Mochila Até 10 Kg 256 m
Mala Até 100 Kg 551 m
Veículo + 1.000 Kg 1.187 m
Fonte: COTTA, SOUZA, 2015.
Quando o policial localizar um objeto suspeito, jamais deverá tocá-lo, tampouco permanecer próximo
a ele por muito tempo. Deverá manter distância de segurança, desocupando as instalações e acionando
o Esquadrão Antibombas. Para que o policial realize essas ações, é necessário que conheça os principais
explosivos utilizados pelos criminosos.

Identificação de explosivos Figura 03 – Encartuchado de emulsão explosiva.

convencionais e comercializados
Diante das especificidades e do grau de ris-
co à integridade física dos policiais militares
que atuam como Primeiro Interventor em in-
cidentes críticos que envolvam artefatos ex-
plosivos e explosões é importante que esse
profissional se familiarize com os principais
explosivos utilizados pelos criminosos. Fonte: Esquadrão Antibombas. Minas Gerais. 2016.

Figura 04 – Cordel Detonante

Fonte: Esquadrão Antibombas. 2016.

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Figura 05 – ANFO (explosivo granulado).

Fonte: Esquadrão Antibombas. Minas Gerais. 2016.

Figura 06– Tipos de detonadores

Fonte: Esquadrão Antibombas. Minas Gerais. 2016.

Figura 07– Identificação do explosivo e do acessório explosivo

Fonte: Esquadrão Antibombas. 2016.

Todos os explosivos apresentados foram encontrados em incidentes


críticos na modalidade de arrombamento de caixas eletrônicos.

Figura 08– Explosão de caixa eletrônico

Explosão de caixa eletrônico


O incidente de explosão de caixa eletrônico cons-
titui um local de crime. Esse é o espaço onde ocor-
reu um ato que configura uma infração penal e que
exige as providências legais por parte da polícia. Ele
compreende o ponto onde houve a consumação do
delito e toda área que o circunda, e que tenha algu-
ma relação com o crime (FIG. 08).

Fonte: Esquadrão Antibombas do GATE. 2016.

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O artigo 169 do Código de Processo Penal Brasileiro determina:
Para o efeito de exame do local onde
houver sido praticada a infração, a Au- Figura 09– Explosão de caixa eletrônico
toridade providenciará imediatamen-
te para que não se altere o estado das
coisas até a chegada dos peritos, que
poderão instruir seus laudos com foto-
grafias, desenhos ou esquemas eluci-
dativos.
Parágrafo único. Os peritos registrarão,
no laudo, as alterações do estado das
coisas e discutirão, no relatório, as con-
Fonte: Esquadrão Antibombas do GATE. Minas Gerais. 2016.
sequências dessas alterações na dinâ-
mica dos fatos (BRASIL, 1941).
Os especialistas do Esquadrão Antibombas do GATE poderão, mediante protocolo integrado com o Ins-
tituto de Criminalística (Polícia Científica), realizar a busca antibombas no local da explosão para torná-lo
seguro para a atuação dos peritos. A Figura 04 ilustra a explosão, na área interna de um caixa eletrônico.

Diante de uma explosão de caixa eletrônico recomenda-se ao policial militar que não adentre ao am-
biente, uma vez que o incidente se configura local de crime, ocorrendo possibilidade de existir artefatos
não acionados, bem como acessórios explosivos altamente sensíveis e com grande potencial ofensivo.
O local deve ser imediatamente isolado e devem ser acionados o Esquadrão Antibombas e a perícia. Os
especialistas do Esquadrão Antibombas realizarão uma busca.

Figura 10– Ferramentas para a realização da Busca Antibomba

Fonte: Esquadrão Antibombas do GATE. 2016.

Protocolos
Devido ao risco à integridade física dos operado- Operacionais
res, todos os recursos logísticos necessários devem
ser empregados na operação de busca. A interven-
ção secundária de natureza técnica somente será
realizada por equipe antibombas (Esquadrão An- Exigências para
tibombas) que possua protocolos operacionais es- intervenção em
pecíficos para o tipo de incidente, capacitação dos Incidentes Críticos
operadores e logística apropriada (FIG. 10).
Figura 11– Exigências para intervenção em inci- Capacitação:
dentes críticos. Formação e Logística
Educação Apropriada
Cotinuada
Fonte: COTTA; SARDINHA, 2015.
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O protocolo operacional (Procedimento Opera- zem suas atribuições. A integração entre os diversos
cional Padrão) é fruto da experiência operacional componentes operacionais na cena de ação, princi-
dos desativadores em bombas diante de casos con- palmente entre o Primeiro Interventor, Controlador
cretos. Ele é o refinamento científico em termos de do Incidente e Gestor do Incidente Crítico é funda-
sequência das ações a serem adotadas pelos espe- mental para a prestação de serviços de segurança
cialistas. Para a atuação segura e técnica do desati- pública com qualidade e, sobretudo, para a preserva-
vador de bombas é necessário que todos os outros ção da vida e soluçã adequada de incidentes que en-
componentes operacionais na cena de ação reali- volvam bombas, explosivos e explosões (Quadro 3).
Quadro 3 – Processo de Gestão Integrada de um Incidente Crítico

Componentes Operacionais Profissional/Atribuições


Profissional de Segurança Pública que primeiro se depara com o
Incidente Crítico e toma as ações iniciais de resposta, tais como:
Primeiro Interventor isolamento e preservação do local; coleta de dados importantes e
seleção de testemunhas.
Profissional de Segurança Pública com poder de coordenação e
controle dos recursos logísticos e talentos humanos locais. Ele é o
Controlador do Incidente responsável por redefinir o isolamento e implementar medidas de
proteção e segurança.
Oficial da Unidade Especial de Polícia (GATE). Coordena, controla e
avalia as equipes táticas na Cena de Ação. Assessora tecnicamente o
Gestor do Incidente Crítico Comandante da Cena de Ação na tomada de decisão. Representa a
autoridade técnica.
Oficial comandante da Unidade com responsabilidade territorial ou
Oficial de maior posto que se encontre na Cena de Ação e na função
Comandante da Cena de Ação de coordenação e controle. Responsável pela tomada de decisão.
Representa a autoridade de linha (hierárquica).
Policial Civil responsável pela elaboração do Inquérito Policial.
Comparece ao local de crime providenciando para que não se altere o
Delegado de Polícia estado das coisas, até a chegada dos peritos criminais. Realiza atividades
de Polícia Judiciária.
Policiais Civis responsáveis pela coleta os dados para a investigação
Equipe de Investigação (provas subjetivas).
Peritos Criminais Examina a Cena do Crime (coleta provas objetivas).
Corpo de Bombeiros, Resgate e SAMU. Atuam no salvamento,
Socorro, Saúde e Assessores de Risco medicação e socorro.
Fonte: COTTA; SARDINHA, 2015.
A gestão de um incidente crítico ocor- ação (Primeiro Interventor, Controlador quem deve fazer é fundamental para a
re de forma integrada e sistêmica, de do Incidente, Gestor do Incidente Crítico fluidez e qualidade do processo. Uma vez
acordo com sua tipologia, inicialmente e Comandante da Cena de Ação). O co- apropriada a dinâmica espacial e de fun-
pelos integrantes da Polícia Ostensiva de nhecimento das atribuições operacionais ções operacionais, o policial aplicará os
Prevenção Criminal (Primeiro Interven- é condição para a preservação da integri- conhecimentos em intervenções como
tor, Controlador do Incidente, Gestor do dade física dos cidadãos e dos policiais explosões de caixas eletrônicos.
Incidente Crítico e Comandante da Cena que realizam a gestão do incidente com O arrombamento de caixa eletrônico
de Ação). A separação entre o Gestor do bombas e explosivos. com o emprego de explosivos possui
Incidente Crítico (responsável pela coor- Dessa forma, é necessário que o poli- suas especificidades, pois o policial pode
denação e controle técnico da interven- cial conheça os explosivos, pois poderá se deparar com um local de pós-explo-
ção) e o Comandante da Cena de Ação se deparar em uma abordagem ou prisão são, localizará um artefato explosivo não
(responsável pela tomada de decisão de um criminoso com explosivos. O poli- detonado, identificará um detonador
com a assessoria do Gestor do Incidente cial com uma ação técnica evitará resul- não acionado, em meio aos escombros
Crítico) é primordial para que não ocorra tados negativos que preservarão vidas e poderá localizar encartuchados de
uma gestão política, interferências exter- desgaste à imagem da Instituição. emulsão explosiva, ou mesmo se depa-
nas e ingerência não técnica, o que pode rar com um local de alto risco devido à
comprometer a resolução do incidente. A organização da cena de ação, em
fragilização das estruturas. Dessa forma,
termos de delimitação física e técnica,
Finalmente, na dinâmica de interven- é necessário que o policial conheça os
possibilita coordenação, controle e pre-
ção em incidentes críticos com bombas e explosivos, pois poderá se deparar em
visibilidade das ações operacionais, bem
explosivos, ressalta-se a importância dos uma abordagem ou prisão de um crimi-
como a redução, controle ou eliminação
componentes operacionais na cena de noso com explosivos.
dos riscos acrescentados. Saber o quê e

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