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Um amigo meu, médico, assegurou-me que desde o berço a criança sente o ambiente, a criança desde então, conta com mais de 2
quer: nela o ser humano, no berço mesmo, já começou. milhões de visitas. Seja bem vindo!
Tenho certeza de que no berço a minha primeira vontade foi a de pertencer. Por motivos que
aqui não importam, eu de algum modo devia estar sentindo que não pertencia a nada e a
ninguém. Nasci de graça. VISITE
Se no berço experimentei esta fome humana, ela continua a me acompanhar pela vida afora,
como se fosse um destino. A ponto de meu coração se contrair de inveja e desejo quando vejo Editora Rocco
associações? Porque não é isso que eu chamo de pertencer. O que eu queria, e não posso, é por Indicação de um
amigo;
exemplo que tudo o que me viesse de bom de dentro de mim eu pudesse dar àquilo que eu Outros sites;
pertenço. Mesmo minhas alegrias, como são solitárias às vezes. E uma alegria solitária pode se
De outra forma.
tornar patética. É como Vcar com um presente todo embrulhado em papel enfeitado de presente
nas mãos - e não ter a quem dizer: tome, é seu, abra-o! Não querendo me ver em situações Vote
patéticas e, por uma espécie de contenção, evitando o tom de tragédia, raramente embrulho View Results
com papel de presente os meus sentimentos. Crowdsignal.com
Pertencer não vem apenas de ser fraca e precisar unir-se a algo ou a alguém mais forte. Muitas
vezes a vontade intensa de pertencer vem em mim de minha própria força - eu quero pertencer
para que minha força não seja inútil e fortiVque uma pessoa ou uma coisa. DIVERSOS
Quase consigo me visualizar no berço, quase consigo reproduzir em mim a vaga e no entanto
Poemas (arranjos)
premente sensação de precisar pertencer. Por motivos que nem minha mãe nem meu pai
podiam controlar, eu nasci e Vquei apenas: nascida. Cartas
No entanto fui preparada para ser dada à luz de um modo tão bonito. Minha mãe já estava
doente, e, por uma superstição bastante espalhada, acreditava-se que ter um Vlho curava uma Pinturas de Clarice
mulher de uma doença. Então fui deliberadamente criada: com amor e esperança. Só que não Coletâneas de crônicas
curei minha mãe. E sinto até hoje essa carga de culpa: Vzeram-me para uma missão determinada
e eu falhei. Como se contassem comigo nas trincheiras de uma guerra e eu tivesse desertado. Sei Entrevista
que meus pais me perdoaram por eu ter nascido em vão e tê-los traído na grande esperança.
Audiolivros
Mas eu, eu não me perdôo. Quereria que simplesmente se tivesse feito um milagre: eu nascer e
curar minha mãe. Então, sim: eu teria pertencido a meu pai e a minha mãe. Eu nem podia conVar Enquetes
a alguém essa espécie de solidão de não pertencer porque, como desertor, eu tinha o segredo da
Eventos
fuga que por vergonha não podia ser conhecido.
A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco Promoções
não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está
:
no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no OBRAS
deserto mesmo que caminho.
Minhas Queridas (Compilação 2007)
INÍCIO SOBRE NÓS OBRAS BIOGRAFIA ESPAÇO CLARICE FÓRUM RETRATOS TV CLARICE IMPRENSA CONTATO
Como Nasceram as Estrelas (Infantil 1987)
Affonso Romano de
Sant’Anna;
Cecília Meireles;
Machado de Assis;
Castro Alves;
José de Alencar;
Aluísio de Azevedo;
Manuel Bandeira;
Carlos Drummond de
Andrade;
:
Mario de Andrade;
Mario Quintana;
Oswald de Andrade;
Casimiro de Abreu;
Monteiro Lobato;
Olavo Bilac;
Raul Pompéia;
Escritor(a)
estrangeiro;
Outro escritor(a)
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O prazer nascendo dói tanto
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