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GOIÂNIA
2021
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE ARTES VISUAIS
DissertaçãoapresentadaaoProgramadePós-GraduaçãoemProjetoe
Cidade da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de
Goiás (UFG), como requisito para obtenção do título de Mestre em
Projetoe C
idade.
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Orientador(a):P rofa.D
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GOIÂNIA
2021
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do
Programa de Geração Automática do Sistema de Bibliotecas da UFG.
CDU 3
08/06/2021 SEI/UFG - 2084887 - Ata de Defesa de Dissertação
Ata nº 04/2021 da sessão de Defesa de Dissertação de Carolina Vivas da Costa Milagre, que confere o
título de Mestre(a) em Projeto e Cidade, na área de concentração em Projeto, Teoria, História e Crítica.
Ao/s vinte e cinco de maio de dois mil e vinte e um, a partir da(s) oito horas e trinta minutos, através de
webconferência, realizou-se a sessão pública de Defesa de Dissertação intitulada “Habitar o espaço
doméstico: Intervenções nas casas-tipo do Conjunto Habitacional Privê Atlântico”. Os trabalhos foram
instalados pelo(a) Orientador(a), Professor(a) Doutor(a) Eline Maria Mora Pereira Caixeta (FAV/UFG)
com a participação dos demais membros da Banca Examinadora: Professor(a) Doutor(a) Sandra
Catharinne Pantaleão Resende (CCET/UEG), membro titular externo; Professor(a) Doutor(a) Fernando
Antônio Oliveira Mello (FAV/UFG), membro titular interno. Durante a arguição os membros da banca não
fizeram sugestão de alteração do título do trabalho. A Banca Examinadora reuniu-se em sessão secreta a fim
de concluir o julgamento da Dissertação, tendo sido(a) o(a) candidato(a) aprovado(a) pelos seus membros.
A banca destaca a excelência do trabalho e o indica para representar o PPG como trabalho de
referência junto à CAPES. Proclamados os resultados pelo(a) Professor(a) Doutor(a) Eline Maria Mora
Pereira Caixeta, Presidente da Banca Examinadora, foram encerrados os trabalhos e, para constar, lavrou-se
a presente ata que é assinada pelos Membros da Banca Examinadora, ao(s) vinte e cinco de maio de dois
mil e vinte e um.
Documento assinado eletronicamente por Eline Maria Mora Pereira Caixeta, Professora do
Magistério Superior, em 25/05/2021, às 20:36, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento
no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015.
AgradeçoprimeiramenteàminhaorientadoraElineCaixeta,pormeguiaremeincentivar
no caminho empolgante e ao mesmo tempo árduo da pesquisa. Aos professores do
Programa Projeto e Cidade e da Banca pelosgrandesensinamentoseporcontribuírem
para minha formação. Ao programa e à UFG que lutam e incentivam diariamente a
educação. À toda a sociedade que contribuiu direta e indiretamente para a realização
deste estudo. AosmoradoresecolaboradoresdoPrivêAtlânticopelareceptividade.Aos
alunos Sara de Abreu e Murilo Ribeiro por me ajudarem imensamente. Aos colegas da
pós, pelo companheirismo e pela força compartilhada para enfrentarmos o final dessa
jornada em meio aumapandemia.Aosmeusamigos,meunoivoeàtodaminhafamília
pelac ompreensãoe p
ors eremm
eur efúgio.
MuitoO brigada!
RESUMO
O habitar corresponde à ação de apropriar o espaço pelo homem, em determinado tempo.
Conforme os pensamentos de Lefebvre, o capital transforma o habitar em habitat, reduzindo o
espaçoàsuafunçãoprimáriaedestituindo-lhedesuadimensãosocial,simbólicaecultural,poiso
considera como mercadoria. Neste sentido, esta pesquisa foca na discussão da casa,
compreendendo-a como espaço social, no intuito de revelar as contradiçõesentreohabitareo
habitat. O objeto de estudo são as casasdoconjunto/condomínioPrivêAtlântico,localizadoem
Goiânia. O Privê Atlântico originou-se como um conjuntohabitacional,em1978,comcasas-tipo
térreas, que apresentam possibilidades de ampliações e destinadas à classe média baixa. O
projeto dessas casas foi concebido pelos arquitetos Silas Varizo e Edeni Reis da Silva,
inserindo-senocontextodaarquiteturamoderna,produzidanoBrasilnaquelemomento.Portanto,
as casas foram configuradas a partir de um novo modo de habitar no espaçodoméstico.Hoje,
esseconjuntocaracteriza-secomocondomíniofechadoeessasresidênciasapresentamgrandes
transformações, tanto físicas, como a inserção de novos ambientes, reconfigurações e
demolições,quantosubjetivas,pelosnovosmodosdeviverepelosespaçosespecíficosdecada
morador. Para analisar as modificações materiais das residências unifamiliares, concebidas a
partir de projetos padrões, baseia-se nas concepções de análise gráfica, de onde extrai-se os
aspectosrelevantes,partindodavisualizaçãodoselementosfundamentaisdaconcepçãoformale
espacial resultante das intervenções. Em relação às mudanças imateriais, analisa-se o espaço
atravésdeumavisãosociológicaparadiscutirosaspectossócio-culturaiseasaçõesdocotidiano
refletidosnoespaçodoméstico,compreendidoapartirdasentrevistascomosmoradores.Desse
modo, revela-se os embates entre o habitar e o habitat nas residênciasestudadas.Percebe-se
que as duas configurações do Privê Atlântico, como conjunto e como condomínio fechado,
comprometem o habitar. Primeiro pelas casas terem sido construídas nas margens da cidade,
sem relação com a vidaurbanaeposteriormentepelaconstruçãodomuro,porcontribuircoma
segregação sócio-espacial. Em contrapartida, as casas demonstram nuances do habitar, pela
qualidadearquitetônicadoprojetooriginalquepermitiuintervençõesepossibilitourepresentações
sociais,simbólicaseculturaisemseuespaçodoméstico:algunsmodosdehabitartradicionaissão
retomados e mesclados com oshábitosmodernos,assimcomooespaçodomésticoexpressao
cotidianodafamília,alémdissoevidencia-seaapropriaçãodosespaçospúblicosdocondomínio.
Nesse sentido, essa pesquisa contribui para outras discussões sobre o objeto casa, apartirdo
estudod
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Palavras-chaves: Cultura arquitetônica. Arquitetura moderna. Espaço doméstico. Modos de habitar.
Goiânia.
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Figura6.LocalizaçãodobairroJardimAtlânticoebairrosvizinhos.Fonte:SIGGO.Imagem:CarolinaVivas,
2020……………………………………………………………………………………………………………………..22
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Figura 12. Imagem aérea dos Conjuntos Itatiaia, Conjunto Vera Cruz e Parque das Laranjeiras. Fonte:
GoogleE arth.Imagem:O
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arolinaV
ivas,2
020……………………………………………………………31
Figura 13. Imagem aérea localizando o Jardim Atlântico e o Privê Atlântico em 1992. Fonte: SEPLANH.
Imagem:o rganizadap orC
arolinaV
ivas,2
020……………………………………………………………………..33
Figura 14. Vista do bairro Jardim Atlântico para a cidade, Sesc Faiçalville, entrada do Privê Atlântico,
respectivamente.Fonte:Diáriodamanhã(1987)eOPopular(1994).Foto:JoséAfonso-entradadoPrivê,
demaisfotos:a utord
esconhecido… ……………………………………………………………………….……….34
Figura 15. Imagens aéreas localizando obairroJardimAtlânticoeoConjuntoHabitacionalPrivêAtlântico
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EPLANH.Imagem:C arolinaV ivas,2
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2017.Imagem:C arolinaV
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………………………………………………………………………...…..37
Figura19.AinfluênciadoParqueMacambiraAnicunsnoJardimAtlântico.Fonte:Carvalho,2017.Imagem:
CarolinaV
ivas,2 020…………………………………………………………………………………………………..39
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017…………………………………..46
Figura 23. Usos e tipologias do Privê Atlântico. Desenho: Carvalho (2017). Fotografia: Carolina Vivas,
2019……………………………………………………………………………………………………………………..48
Figura 24. Fachada e planta modelo das casas do interior de Goiás no século XIX. Fonte: Moura,
2011……………………………………………………………………………………………………………………..56
Figura 25. Fachada e planta de um exemplar de casa rural do interior de Goiás no século XIX. Fonte:
Oliveira,2
004…………………………………………………………………………………………………………...57
Figura26.PlantadafazendaPontinha,localizadanacidadedeGoiásefotografiadesuajanelaalpendre.
Fonte:V
az,2 002………………..……………………………………………………………………………………...58
Figura27.PlantasdopavimentotérreoesuperiordeumpalacetepaulistadoséculoXIX.Fonte:HOMEM,
2010,a
pud,A LVES;R IGHI,2
015…………………………………………………………………………….……..59
Figura28.Fachadasdascasas-tipooperários,funcionárioseespeciaisemGoiânianosanos1930.Fonte:
Moura,2 011…………………………………………………………………………………………………………...6 2
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Figura30.ResidênciaDourivalBacellar,arquitetoEuricoGodoy,localizadaemGoiânia,1952.Fonte:Silva
Neto,2
010……………………………………………………………………………………………………………....66
Figura31.PlantadaResidênciaDourivalBacellar,1952.Fonte:SilvaNeto,2010.Imagem:Organizadapor
CarolinaVivas,2021………………………………………………………………………………………………….67
Figura 32. Casa Félix, do arquiteto David Libeskind, localizada na Av. Paraíba com rua 9, 1203, Setor
Central,Goiânia,1952.Fonte:SilvaNeto,2010…………………………………………………………………..69
Figura34.PátiosinternosnaCasaFélix,1952.Fonte:SilvaNeto,2010……………………………....……….71
Figura35.CasaCarlosCunha,dosarquitetosSilasVarizoeArmandoNorman,localizadanarua82coma
ruaDonaGercinaBorgesTeixeira,noSetorCentral,emGoiânia,1963.Fonte:SilvaNeto,2010…………..72
Figura36.PlantadaCasaCarlosCunha,1963.Fonte:SilvaNeto,2010.Imagem:OrganizadaporCarolina
Vivas,2021……………………………………………………………………………………………………………..73
Figura 37. Alpendre e varanda, respectivamente, da Casa Carlos Cunha, 1963. Fonte: Silva Neto,
2010……………………………………………………………………………………………………………………..74
Figura38.Anúnciosobrearmáriosmodularesparaacozinhanadécadade1950.Fonte:ACRÓPOLE,fev.
1955,p.14……………………………………………………………………………………………………………..75
Figura39.CasaRuffodeFreitas,doarquitetoAntônioLúcio,localizadanarua10,Qd.E7,Lt.52,noSetor
Oeste,1974.Fonte:SilvaNeto,2010……………………………………………………………………………….77
Figura40.PlantaRuffodeFreitas,1974.Fonte:SilvaNeto,2010.Imagem:organizadaporCarolinaVivas,
2021……………………………………………………………………………………………………………………..78
Figura41.CasaGeorthonPhilocreondoarquitetoPauloMendonça,localizadanarua1129,Qd.237,Setor
Marista,1975.Fonte:SilvaNeto,2010…………………………………………………………………..………….80
Figura 42. Planta da Casa Georthon Philocreon, 1975. Fonte: Silva Neto, 2010.Imagem:organizadapor
CarolinaVivas,2021………………………………………………………………………………………………......81
Figura43.FotografiadacasadoPrivêAtlânticoem1978.Fonte:AcervodamoradoraWilmadaCosta…..84
Figura44.TipologiasdoConjuntoVeraCruz,1981.Fonte:EdinardoLucas,2016…………………………....87
Figura 45. Perspectivas das Casas-tipo do Privê. Fonte: dados da pesquisa. Imagem: folder Imobiliária
URBS,
s.d………………………………………………………………………………………………………………………..89
Figura 46. Implantação das casas-tipos do Privê Atlântico. Fonte: dados da pesquisa. Imagem: Carolina
Vivas,2020……………………………………………………………………………………………………………..90
Figura 47. Análise geométrica das casas-tipo do Privê Atlântico. Fonte: dados da pesquisa. Imagem:
CarolinaVivas,2020………………………………………………………………………………………………......92
Figura 48. Análise da setorização nas casas-tipo do Privê Atlântico. Fonte: dados dapesquisa.Imagem:
CarolinaVivas,2020…………………………………………………………………………………………………..93
Figura 49. Análise da setorização nas casas-tipo do Privê Atlântico. Fonte: dados dapesquisa.Imagem:
CarolinaVivas,2020…………………………………………………………………………………………………..94
Figura50.PlantadastipologiasdascasasdoPrivêAtlânticocomaspropostasdeampliação.Fonte:dados
da pesquisa, gentilmente concedido pela moradora Wilma da Costa. Imagem: Folder de divulgação
ImobiliáriaURBS,s/d………………………………………………………………………………………………….96
Figura51.AnálisedacirculaçãonascasasdoPrivêAtlântico.Fonte:dadosdapesquisa.Imagem:Carolina
Vivas,2020……………………………………………………………………………………………………………..98
Figura 52. Análise volumétrica das tipologias A/B e C/D do Privê Atlântico. Fonte: dados da pesquisa.
Imagem:CarolinaVivas,2020……………………………………………………………………………………...100
Figura 53. Análise volumétrica das tipologias E/F/G/H e I do Privê Atlântico. Fonte: dados da pesquisa.
Imagem:CarolinaVivas,2020……………………………………………………………………………………..101
Figura54.Fachadadacasa-tipoAdoPrivêAtlântico.Fonte:dadosdapesquisa.Imagem:SaraRodrigues
deAbreu,2020………………………………………………………………………………………………………..102
Figura55.PropagandadamarcaNeoRoxdeelementosvazados.Fonte:A
CRÓPOLE,abr.1960,p.6….103
Figura 56. Projeto do arquiteto Rodolpho Ortenblad, Campinas, São Paulo,1955.Fonte:ACRÓPOLE,nº
1971955,p.224.Imagem:OrganizadaporCarolinaVivas,2021…………………………………..………….106
Figura 57.CasaSuhailRahal,doarquitetoSilasVarizo,Rua7,nº775.SetorCentral.Fotografia:Carolina
Vivas,2021…………………………………………………………………………………………………………...108
Figura 58. Casa Suhail Rahal, do arquiteto Silas Varizo. Fotografia: Carolina Vivas, 2021 e Bessa,
2015…………………………………………………………………………………………………………………..109
Figura59.Plantascasas-tipoParqueLaranjeiras.Fonte:MelloeFleury,2019.Intervenção:CarolinaVivas,
2021…………………………………………………………………………………………………………………….111
Figura 60. Mapa do Privê Atlântico com a localização das casas escolhidas. Fonte: dados da pesquisa.
Imagem:Carvalho,2017,organizadaporCarolinaVivas,2020……………………….….……………………121
Figura61.CasadamoradoraMariaOtília,localizadanaruaCamorim,Quadra64,lote4,CondomínioPrivê
Atlântico,Goiânia.Fotografia:CarolinaVivas,2019………………………………………………....…………..122
Figura62.PlantasdasreformasdacasadaMariaOtília.Desenho:CarolinaVivas,2020…………...…….123
Figura 63. Planta tipo C/D com as possíveis alterações. Desenho: Carolina Vivas,
2020………………………………………………………………………………………………………………....…124
Figura64.PlantaatualdacasadaMariaOtília,destacandoossetoresampliados.Desenho:CarolinaVivas,
2020……………………………………………………………………………………………………………………125
Figura 66. Casa dos moradores Maria e Edilberto Nery, localizada na rua Camorim, Quadra 64, lote 5,
CondomínioPrivêAtlântico,Goiânia.Fotografia:CarolinaVivas,2019……………………………….……….128
Figura67.PlantasdasreformasdacasaMariaeEdilbertoNery.Desenho:CarolinaVivas,2020…….......129
Figura68.PlantatipoIcomaspossíveisalterações.Desenho:CarolinaVivas,2020……………….……...131
Figura69.PlantaatualdacasaMariaeEdilbertoNerydestacandoossetoresampliados.Desenho:Carolina
Vivas,2020……………………………………………………………………………………………………….…...132
Figura 70. Planta atual da casa de Maria e Edilberto, analisando a circulação e os acessos. Desenho:
CarolinaVivas,2020…………………………………………………………………………………………..……..133
Figura71.CasadamoradoraSarah,localizadanaruaCamorim,quadra65,lote4,CondomínioPrivê
Atlântico,Goiânia.Fotografia:CarolinaVivas,2019………………………………………………………..……134
Figura 72. Plantas das reformas da casa da Sarah. Desenho: Carolina Vivas,
2020……………………………………………………………………………………………………………………136
Figura73.PlantatipoIcomaspossíveisalterações.Desenho:CarolinaVivas,2020…………....…………138
Figura 74. Planta atual da casa Sarah, destacando os setores ampliados. Desenho: Carolina Vivas,
2020……………………………………………………………………………………………………………………139
Figura75.PlantaatualdacasadaSarah,analisandoacirculaçãoeosacessos.Desenho:CarolinaVivas,
2021……………………………………………………………………………………………………………………140
Figura77.PlantasdasreformasdacasadoVilman.Desenho:CarolinaVivas,2020…………………….....143
Figura78.PlantatipoC/Dcomaspossíveisalterações.Desenho:CarolinaVivas,2020…………………..144
Figura 79. Planta atual da casa do Vilman, destacando os setores ampliados. Desenho: Carolina Vivas,
2020………………………………………………………………………………………………………………...….145
Figura80.PlantaatualdacasadoVilman,analisandoacirculaçãoeosacessos.Desenho:CarolinaVivas,
2021…………………………………………………………………………………………………………………...146
Figura 81. Casa dos moradores Paulo e Letícia, localizada na rua do Bordalo, quadra 59, lote 13,
CondomínioPrivêAtlântico,Goiânia.Fotografia:CarolinaVivas,2020………………………………..……...147
Figura82.PlantasdasreformasdacasadoPauloedaLetícia.Desenho:CarolinaVivas,2020…..……...149
Figura83.PlantatipoE/F/G/Hcomaspossíveisalterações.Desenho:CarolinaVivas,2020……………150
Figura85.PlantaatualdacasadoPauloeLetícia,analisandoacirculaçãoeosacessos.Desenho:Carolina
Vivas,2021……………………………………………………………………………………………...…………….152
Figura86.CasadomoradorValkenes,localizadanaruadoBordalo,quadra59,lote15,CondomínioPrivê
Atlântico,Goiânia.Fotografia:CarolinaVivas,2020……………………………………………………………..154
Figura87.PlantasdasreformasdacasadoValkenes.Desenho:CarolinaVivas,2020………………....….155
Figura88.PlantasdacasatipoA/Bcomaspossíveisalterações.Desenho:CarolinaVivas,2020………..157
Figura 90. Planta atual da casa do Valkenes, analisando a circulação e os acessos. Desenho: Carolina
Vivas,2021…………………………………………………………………………………………………………....159
Figura 92. Tabela dos novos ambientes das casas do Privê Atlântico. Desenho: Carolina Vivas,
2021……………………………………………………………………………………………………………………165
Figura93.GráficodasprincipaisreformasrealizadasnascasasdoPrivêAtlântico.Desenho:CarolinaVivas,
2021…………………………………………………………………………………………………………………....173
Figura 94. Evento do Dia das Crianças no condomínio Privê Atlântico. Fotografia: Carolina Vivas,
2019…………………………………………………………………………………………………………………....181
Figura95.Vistadasaladeestarapartirdasaladejantareportadeacessodasalaparaojardimaofundo
dacasadamoradoraMariaOtília.Fotografia:CarolinaVivas,2019…………………………………………..183
Figura96.CozinhadacasadamoradoraMariaOtília.Fotografia:CarolinaVivas,2019…………….……..184
Figura97.AsaladecosturadacasadamoradoraMariaOtília.Fotografia:CarolinaVivas,2019………...186
Figura 98. A sala de estar, a sala de jantar e a varanda da casa dos moradores Maria e Edilberto.
Fotografia:CarolinaVivas,2019…………………………………………………………………………………...188
Figura99.MobiliáriospresentesnavarandadacasadosmoradoresMariaeEdilberto.Fotografia:Carolina
Vivas,2019…………………………………………………………………………………………………………....189
Figura100.EscritóriodacasadosmoradoresMariaeEdilberto.Fotografia:CarolinaVivas,2019…….....190
Figura 101. Área de Serviço da casa dos moradores Maria e Edilberto. Fotografia: Carolina Vivas,
2019…………………………………………………………………………………………………………………....191
Figura102.SaladeestardacasadamoradoraSarah.Fotografia:CarolinaVivas,2019…………………..193
Figura103.Cozinha/copadacasadamoradoraSarah.Fotografia:CarolinaVivas,2019………………….194
Figura104.AvarandaeapiscinadacasadamoradoraSarah.Fotografia:CarolinaVivas,2019………...195
Figura105.OquartodecasalcomavarandaparticulardacasadosmoradoresPauloeLetícia.Fotografia:
CarolinaVivas,2019…………………………………………………………………………………………………196
Figura 106. O espaço da varanda da casa dos moradores Paulo e Letícia. Fotografia: Carolina Vivas,
2019……………………………………………………………………………………………………………..……..197
Figura 107. Os aquários na sala de estar e na sala de jantar, respectivamente, da casa dos moradores
PauloeLetícia.Fotografia:CarolinaVivas,2019………………………………………………………..............198
Figura108.EscritóriodacasadosmoradoresValkeneseFrancielle.Fotografia:CarolinaVivas,2019…..200
Figura 109. Cozinha interna da casa dos moradores Valkenes e Francielle. Fotografia: Carolina Vivas,
2019…………………………………………………………………………………………………………………....201
Figura 110. Cozinha externa da casa dos moradores Valkenes e Francielle. Fotografia: Carolina Vivas,
2019……………………………………………………………………………………………………………...…….202
Figura111.AsaladeestaredejantardacasadomoradorVilman.Fotografia:CarolinaVivas,2019…....204
Figura112.AgaragemdacasadomoradorVilman.Fotografia:CarolinaVivas,2019………………………205
Figura113.ObarracãodacasadomoradorVilman.Fotografia:CarolinaVivas,2019………………..…….206
Figura 114. A cozinha, o escritório e a área de serviço, respectivamente, da casa do morador Vilman.
Fotografia:CarolinaVivas,2019…………………………………………………………………………………....207
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 1
Capítulo1.OPrivêAtlântico 12
1.1AcriaçãodobairroJardimAtlânticoeasdiretrizeshabitacionaisparaoplanejamento
urbanodeGoiânia 12
1.2OBairroJardimAtlântico 22
1.3OPrivêAtlânticocomoCondomínioFechado 40
Capítulo2.AsCasasdoPrivêAtlântico 50
2.1CulturadoHabitareainserçãodomodernonacasagoianiense 51
2.2OprojetodascasasdoPrivêAtlântico 84
Capítulo3.Damaterialidadeàsubjetividade 113
3.1OHabitarnasprimeirascasas 114
3.2ReconfiguraçãodoespaçodomésticodoPrivêAtlântico 120
3.3Astransformaçõesespaciaisdiantedosaspectossócio-culturais 161
3.4Ocotidianoeassubjetividadesnadomesticidade 179
CONSIDERAÇÕESFINAIS 210
REFERÊNCIAS 216
APÊNDICEA 225
APÊNDICEB 226
APÊNDICEC 228
APÊNDICED-ENTREVISTAS 229
Introdução
INTRODUÇÃO
De acordo com Lefebvre (2000), o espaço constitui-se como produto da sociedade,não
apenas como um meio onde ela atua, sendo re
flexo de seus conflitos e contradições. Desse
modo, ele deixa de ser compreendido como somente um espaço físico, referente a uma
localização geográfica, e denomina-se como espaço social. Pela visão do autor, o espaço é
determinado pelas exigências do modelo capitalista. Desta maneira, ele éconstruídotantopela
produçãodocapital,referindo-seàsmercadoriaseaotrabalho,quantopelasrelaçõessociaisque
sãoreproduçõesdomesmosistema.Assim,aproduçãoeareproduçãosãoindissociáveis.Essa
ideia reafirma-se com os conceitos de Bourdieu(1996),porémalémdoentendimentodecapital
comoacúmulodebens,oautordefineoconceitode"capitalsocial"comoasomadosbensmais
o poder, ou seja, existem os que possuem influência nos diversos campos como intelectual e
cultural, tendo também poder sobre a sociedade e consequentemente sobre o espaço. Neste
contexto, o ato dehabitaroespaçourbanosignificaumenfrentamentoaopoderdocapital,pois
representaaapropriaçãodavidaurbanapelohomem.
em habitat, à medida que o espaço é transformado em mercadoria. Nesse contexto, Lefebvre
(2001)apresentaaproblemáticanomododehabitar,pelaformacomoocapitaloprimearelação
dahabitaçãocomacidade.Comessamesmacrítica,porémdirecionadaaosistemahabitacional
brasileiro, Maricato (2008) afirma que no século XX, o Brasil importouumplanejamentourbano
modernista/funcionalista,comoqualiniciou-seadiscussãosobrehabitaçãonopaís.
Omovimentomoderno1,emsuaorigem,trouxegrandescontribuiçõesparaaarquiteturae
para o urbanismo, ao colocar em pauta a problemática habitacional desde o contexto urbano,
repensaraunidademínimadehabitaçãoepropornovasformasdehabitaracidade.Comointuito
de responder à demanda política e econômica do pós-guerra, os arquitetos dos anos 1920
passaram a projetar habitações individuais em série e habitações coletivas. Nessecontexto,os
conceitosderacionalismoefuncionalismosãoaplicadosamplamentenoâmbitodamoradiasoba
perspectiva da construção em série ou estandardizada. Como afirma Frampton (2003), a
racionalização da construção aliada aos novos materiais, eranecessáriadiantedaescassezde
recursos: o concreto, o aço e o vidro possibilitaram uma maior quantidade de moradias pela
produção seriada. Sendo assim, o funcionalismo contribui para atender as necessidades dos
usuários nos espaços mínimos e, juntamente com o uso dos novosmateriais,tambémpermitiu
diferentesmaneirasdeflexibilizaçãointernadosespaços.
Essanovamaneiradehabitar,pensadaapartirdeespaçosreduzidoscomequipamentos
e serviços compartilhados, passa a ser o modelo nas cidadesnorte-americanaseeuropeiasdo
século XX. No Brasil, o movimento influenciou a produção habitacional, a qual foi realizada
inicialmente através de órgãos e institutos que financiavam as casas, como por exemplo os
InstitutosdeAposentadoriaePensões(IAPs).OsIAPsconceberam:
1
Compreende-sepormovimentomoderno“acorrentedetendênciainternacionalquepartedasvanguardas
europeias de princípios do século e vai seexpandindoaolongodosanos20”(MONTANER,2011,p.12)
Paraoautor,o
movimentomodernoéricoecomplexoeestáemprocessoconstantederevisão.
Uma arquitetura funcional e moderna: solução racional da planta,
estandardização dos elementos de construção, emprego racional dos
materiais,eliminaçãodetodadecoraçãosupérfluaeumaarquiteturalógica
esinceraqueprocurasoluçõesinternasperfeitas.(BONDUKI,1998,p.150).
Porém,essanãofoiarealidadetotalitáriadosconjuntoshabitacionaisproduzidosnopaís
enasdemaisdécadas.ConformeMaricato(1982),naexperiênciabrasileira,oespaçourbanofoi
adquirido pelosdetentoresdocapitalparafinseconômicosenãoparaasreaisnecessidadesda
população, criando assimumademandaespeculativa.Ouseja,aterraurbanaéexploradatanto
pelo Estado como por construtoras e incorporadores imobiliários, determinando o seu preço e
ofertando-aàcamadamaisalta,quepodiaarcarcomoscustosdeequipamentos,infraestruturae
a vida na cidade. Isso fazcomqueasclassesmaisbaixassejamexpulsaspararegiõesondeo
preço da terra é menor, bairros mais distantes dos centros urbanos onde não há qualidade
urbana.Assim,aspolíticasatendemaodeficithabitacional(h
abitat),masnãosepreocupamcom
arepresentaçãodavidasocialdaquelapopulação(habitar).
Como, por exemplo, as construções do Banco Nacional de Habitação (BNH), criado em
agosto de 1964 e destinado à população de baixa e média renda. A produção do BNH gerou
conjuntosemáreasperiféricasdascidades,ondenãohaviainfraestrutura,assimcomocasascom
baixaqualidadearquitetônica;alémdeapenas33,5%delesserrealmentedestinadaahabitações
de interesse social, conforme Santos (1999).Bonduki(2008)afirmaqueoprogramaBNHgerou
soluçõespadrõesquenãoconsideravamaimplantaçãourbana,asespecificidadesdecadaregião
ou mesmo as configurações familiares. Com isso, as habitações perdem sua qualidade
arquitetônica em função do lucro da terra, ocasionandooprocessodereduçãodaqualidadedo
habitar.
Localizado em uma região periférica de Goiânia, o Privê Atlântico foi concebido como
Conjunto Habitacional em 1978, para abrigar famílias de classe média baixa e sua construção
estava associada à política do BNH (SILVA, 2003). Apesar da distância e da falta de
infraestrutura, ele representou aoportunidadedeconquistadacasaprópriaparamuitasfamílias
goianienses.Commaisdequarentaanosdeexistência,configura-secomocondomíniohorizontal
fechado no final dos anos 1980. Fato que incidiu nãosomentesobremodificaçõesnaformade
uso de seus espaços comuns e nasuarelaçãocomoentornourbano,mastambémsobreuma
sériedealteraçõesrealizadasemsuascasas,apartirdessaépoca(CARVALHO,2017).
Os condomínios fechados construídos na cidade passam por um processo similar aos
conjuntos habitacionais ao localizar-se nas franjas urbanas. Segundo Caldeira (2000), os
condomínios distanciam-se dos centros urbanos e ainda possuem um muro ao redor, o qual
representaumabarreiratantofísica,parasepararoespaçoprivadodopúblico,quantosimbólica,
demonstração da segregação sócio-espacial2. Assim, as duas configurações do Privê Atlântico,
primeirocomoconjuntoedepoiscomocondomíniofechado,comprometemoHabitar.
Contudo, como afirma Pádua (2019), mesmo nos conjuntos habitacionais distantes e
precários ou nos condomínios fechados, há sempre uma possibilidade de concretizarohabitar:
“Pensarohabitarnessemomentoépensarcomoseviveconcretamentenosespaçosperiféricos,
nos conjuntos habitacionais gigantescos ou nos condomíniosfechados”(PÁDUA,2019,p.489).
Sempre há momentosdeencontroedevivênciadosmoradoresquerefletemnaapropriaçãode
seus espaços. Com isso, a busca pelo Habitar nesses locais é necessária, justamente por
apreenderascontradiçõesvividasnessesespaços,comomaneirasdeenfrentá-las.Dessemodo,
pode-se encontrar as ações de Habitar mais facilmente na casa, pois é na vida íntima que o
2
termosócio-espacialcom“hífen”refere-seaoconceitoadotadoporSouza(2013),noqualcompreende
O
oespaçosemadicotomiaentreespaçosocialeespaçogeográfico.Dessemodo,analisa-seoespaçoa
partirdetodasasrelaçõesqueseestabelecemnele.
Habitar mais acontece (PÁDUA, 2019). A casa é onde sevive,éolugaremqueasfamíliasse
constroemeondeoatodeHabitartemmaiorexpressão.
Nessesentido,surgeademandasobreoprojetodoespaçodomésticodoPrivêAtlântico.
Questiona-secomoforamprojetadasascasasecomofoipensadoomododemorarnelas,assim
como, quais as intervenções feitas que permitem a realização do Habitar, a partir da
representação cultural e social de seus moradores no espaço. Nesse caso, entende-se a casa
comolugarnocontextosocialequeseconfiguraereconfiguraapartirdarelaçãocomacidadee
comasociedadee,aomesmotempo,comoindivíduo.Assimsendo,elaestásujeitaamudanças
nodecorrerdotempo,inevitavelmentedecorrentesdasnovasdinâmicasurbanas(crescimentoda
cidade, valorização da região), sociais e culturais (perfil de moradores, cultura de morar
goianiense), que repercutem sobre a forma de seus espaços (LEUPEN, 1999). Somando-se a
isso, existem os anseios dos moradores refletidos nas diferentes maneiras particulares de
apropriação espacial e que os fez repensar as suas moradias. Portanto, o objetivo é discutir o
Habitar em relação à configuração e à reconfiguração do espaço doméstico das moradias
unifamiliaresdoPrivêAtlântico.
Para isto, é necessário levar em consideração tanto os aspectos concretos e físicos do
projeto habitacional nos quarenta anos de existência do conjunto, quanto os subjetivos,
envolvendo as influências sociais eculturaisdomododemorarearelaçãodosmoradorescom
suas casas. Desse modo, trata-se de discutir também
as mudanças ocorridas no contexto da
cidade e que afetam o conjunto/condomínio; bemcomoanalisarospreceitosarquitetônicosque
influenciam no projeto das casas do PrivêAtlântico;compreenderomododeHabitarnascasas
goianiensesdeperíodosanterioresecontemporâneoàscasasoriginaisdoconjunto;investigaras
intervenções realizadas nas residências em comparação com os projetos originais; avaliar as
transformaçõesespaciaisemrelaçãoaosaspectossocioculturais;procuraridentificaraexistência
ounãodepadrõesnasintervenções;eperceberasdiferentesmaneirasdeseapropriaroespaço
domésticoporcadafamília.
Durante a pesquisa bibliográfica foram encontradas duas dissertações de mestrado
relacionadasaoPrivêAtlântico:CondomínioshorizontaisfechadosemGoiânia:Umcaso—Privê
Atlântico(2003),deRosanaSilva,ePrivêAtlântico—deconjuntohabitacionalacondomínio:um
casoincomumdevalorizaçãoimobiliária(2017),deAdrianaCarvalho.
Aprimeiraautora,atravésdeumavisãosociológica,abordaomododemorarentremuros,
discutindooperfilsocialdosmoradores,arelaçãoentreeleseaconvivêncianointeriordoPrivê.
Apesquisa,desenvolvidaem2003,concluiqueamaioriadoshabitantesnaépocapossuíarenda
em torno de onze salários-mínimos, ou seja, eram de classe média à alta. A população que
prevaleciaerademoradoresantigosresidentesdoPrivêhámaisde21anosequesemudaram
para conquistar acasaprópria.AmaioriaentrevistadaveiodointeriordeGoiásedeSãoPaulo.
Esses dados analisados na pesquisa de Silva (2003)serviramdereferencialhistóricoparaeste
trabalho — na medida dos já transcorridos dezessete anos — e como base para comparar os
dadosatuaislevantados,permitindovisualizarasmudançasdeperfildosmoradores.
Já a segunda dissertação, dentro de uma visão urbanística, analisa o Condomínio
Fechadocomoelementoqueconstróiacidade,examinandoavalorizaçãodoempreendimentoe
seuimpactonaregiãosudoeste,bemcomoemrelaçãoàmalhaurbanadeGoiânia(CARVALHO,
2017).Estatrazdadoscomplementaresàanáliseatual,poisdesenvolveumestudodamorfologia
do Condomínio a partir da pesquisa de campo, com sua leitura do desenho das quadras e do
levantamento acerca do gabarito e tipologias atuais das casas, em 2017. Com isso, a autora
informa que em algumas quadras do conjunto foram vendidas as casaspadrõesenasdemais,
apenas os lotes. Esse dado, em específico, foi importante para selecionar a amostra desta
pesquisa. Ressalta-se que seu estudo foi realizado através de fotos aéreas e visitas à campo,
sem acesso aos projetos das casas originais e do conjunto. Portanto, percebe-se lacunas em
relação ao Privê Atlântico, referente à escala do espaço doméstico, foco deste trabalho. Sua
dissertação, desenvolvida quinze anos depois da de Silva (2003), permite a comparação de
informaçõescoletadasdasquestõesfísicasdoespaçourbanodoCondomínioesuarelaçãocom
ocrescimentodeGoiânia.
Durante a pesquisa de campo, em 2019, foi possível identificar a autoria do projetodas
casas do Privê Atlântico, construídas em 1978, concebidas no contextodearquiteturamoderna
pelosarquitetosSilasVarizoeEdeniReisdaSilva.Ressalta-sequeachegadaeainterpretação
domodernismoemGoiâniaocorreramtardiamente,poisconformeVazeZárate(2005),enquanto
o modernismo acontecia no início do século em outras partes do país, Goiás passa a
modernizar-se a partir de 1930 com a construção da capital Goiânia e o movimento moderno
expressa-se posteriormente na cidade, somente a partirdosanos1950.Assimsendo,ascasas
do Privê expressam alguns princípios modernistas como o racionalismo da construção e a
preocupação com a funcionalidade na divisão dos ambientesinternos,mas,diferentementedas
críticas ao BNH, apresentam soluções próprias com a diferenciação de “tipos”, além da
possibilidadedeampliaçõesfuturas.
O “tipo” dentro do contexto moderno, segundo Montaner (2001), representa uma
abstração,oqualpossuiprincípiosbásicosepermitealteraçõesapartirdele.Comisso,asvárias
tipologias construídas no conjunto possibilitam uma variabilidade espacial, alémdeampliaçãoe
modificação dos espaços. Esses aspectos ressaltam a qualidade arquitetônica do projeto das
casasdoPrivêemrelaçãoaosdemaisconjuntosproduzidosnaépoca.
históriadocondomínio,seuprojetoeosprojetosdascasas;2)Varreduradecampo3 comentrega
de questionários (Apêndice A) para selecionar a amostra da pesquisa; 3) Entrevistas com os
moradores(ApêndiceB)eaplicaçãodoquestionáriodereformas(ApêndiceC);4)Levantamento
fotográfico e de medições dascasas;5)Redesenhodoprojetooriginaledoprojetoalteradoem
seu estado atual; 6) Análise gráfica, baseada nos métodos de Leupen (1999) e Baker (1998),
referenciada do projeto e das intervenções realizadasdentrodeseucontextodeprodução;e7)
Análise sociológica do espaço baseada em Bourdieu (1996), Certeau(1998)eLefebvre(2001),
identificandoocotidianoeosespaçosindividuaisdasfamílias.
Na primeira etapa houve dificuldades em encontrar informações sobre o conjunto nos
órgãos públicos. Portanto, para a busca pelos projetos das casas e dados sobre a história do
Privê partiu-se para o contato com os moradores. Na segunda etapa foram desenvolvidos
questionários4 comointuitodecompreenderoperfildosmoradoresatuaiseselecionaraamostra
da pesquisa. A amostra foi pensada com o objetivo de identificar as casas originais e as
transformações nelas ocorridas. Para issoselecionou-semoradoresquepossuíamcasaprópria,
adquiriram a casa direto com a construtora na época ou compraram de outro morador e que
realizarammodificaçõesnoespaçodoméstico.
Osquestionáriosforamentreguesemtodasasresidênciasdasquadrasdaprimeiraetapa
deimplantaçãodoconjuntohabitacional,asquais,conformedadosdeCarvalho(2017),possuíam
as casas-tipo, totalizando 200 casas. Desse total, 51 questionários foram respondidos e 41
moradores se dispuseram a participar da pesquisa, resultado que demonstra um número
relevantedepessoasinteressadasemcontribuircomotrabalho.Apósaanálisedosquestionários
3
A pesquisa de campo foi realizada em conjunto com os alunos da iniciação científica: Sara Vitoria
RodriguesdeAbreueMuriloCostaRibeiro
4
Asperguntasdoquestionárioforam:níveldeescolaridade,faixaderenda,númerodehabitantesnacasa,
seacasaéalugadaouprópria,omodocomoadquiriuacasa(construtora,deoutromorador,lote),otempo
emqueresidenacasaesehouvereforma.
e seleção da amostra, assim como dado o tempo da pesquisa, foram entrevistados dezesseis
moradores.AsentrevistasforamfeitasdeacordocomasrecomendaçõesdoComitêdeÉticaem
Pesquisa5 (CEP) da Universidade Federal de Goiás (UFG) e com autorização prévia do atual
Presidente da Associação dos Moradores do Privê Atlântico (SOMOPA) para adentrar ao
Condomínio. As perguntas da entrevista foram semiestruturadas emfunçãodosurgimentoeda
históriadoconjunto,abordandoastipologiasconstruídasearelaçãodomoradorcomasuacasa.
Juntamentecomaentrevista,foiaplicadooquestionáriodereformas,oqualsintetizouostiposde
intervençõesrealizadasporcadaentrevistadoemsuaprópriaresidência.
Apartirdasentrevistasevisitasàscasas,foramrealizadosolevantamentofotográficoeas
medições de seis residências. Essa escolha considerou aquelas que apresentavam maiores
modificações e despertavam maior interesse arquitetônico. O critério de escolha também
pretendeu identificar, dentro das dezesseis casas visitadas, as que supostamente eram de
tipologias diferentes, com o objetivo de selecionar a maior variedade dos tipos construídos.
Posteriormente, as casas escolhidas foram redesenhadas para a análise tipológica. Leupen
(1999) explica queaanálisetipológicadeumprojetopermitededuzirsuaformabásicaeresulta
em um diagrama, onde destacam-se oselementosprincipaiseessenciaisdoprojeto.Paraisso,
definiu-seosseguinteselementosaseremestudados,osquaisbuscaramresponderaosobjetivos
da pesquisa: a organização espacial, a racionalização dos ambientes, a setorização (íntimo,
social, serviço), os acessos e circulação, os aspectos construtivos que permitem a conexão da
casacomaruaeosresquíciosdomododeHabitaranterioràsreivindicaçõesmodernas.
Para a leitura subjetiva (a relação do morador com a casa), foi necessário identificar o
cotidiano dos moradores, presente nas narrativas das entrevistas. Conforme Certeau (1998), o
cotidiano édefinidoatravésdasmaneirasdeagir,ouseja,derealizarcadaatividadenoespaço.
5
O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo CEP com número de registro CAAE
21644819.0.0000.5083.
Cadaespaçoédestinadoaalgumasações,comoquartopararepousoesalaparaoestar,porém,
oquediferenciaeexaltaasparticularidadesdecadafamíliaéomododeocupareapropriar-sedo
ambiente.Assim,nestaúltimaanálise,observa-seadisposiçãodeelementosnosespaçoseseu
significadoparacadamorador.
Dessa maneira a dissertação divide-se em três capítulos. No primeiro capítulo
contextualiza-se o objeto de estudo: o Privê Atlântico. Através deumaanálisedomacroparao
micro, aborda-se primeiramente a cidade e a criação do loteamento diante das políticas
habitacionais de Goiânia, depois apresenta-se o bairro Jardim Atlântico, onde o Privê está
localizado, e assim, no subitem seguinte, caracteriza-se o bairro como conjunto habitacional e
busca-se compreender sua transformação em condomínio fechado. O segundo capítulo segue
para a análise dos projetos das primeiras casas do Privê. Considerando a casa como espaço
social,inseridanocontextodaculturadeHabitarnacidadedeGoiânia,osegundocapítulotraça
umpanoramadashabitaçõesgoianienseseseusperíodosdeprodução,queimpactamoprojeto
dascasasdoconjunto.Porfim,oterceirocapítulodedica-seàanálisedasintervençõesmateriais
e imateriais realizadas no espaço doméstico do Privê. Apresenta-se as transformações físicas,
discute-se os aspectos sócio-culturais e posteriormente o cotidiano em cada casa, buscando
interpretarosignificadodecadaespaço.
1. O Privê Atlântico
Capítulo1.OPrivêAtlântico
1.1 A criação do bairro Jardim Atlântico e as diretrizes habitacionaisparao
planejamentourbanodeGoiânia
As décadas de 1960 e 1970 em Goiânia são marcadas por grandes transformações
urbanas,tendoahabitaçãocomoprodutordoespaçourbano.Atéosanos1950,oEstadodetinha
ocontrolesobreosolodanovacapitaldeGoiás.Porém,aofinaldessadécada,comaconstrução
de Brasília e atração de um grande contingente populacional para Goiânia e de novos
investimentos do setor privado, inicia-se um rápido processo de expansão urbana, sem a
intervençãodoEstado.Nessecontextodeexplosãodemográficaeinfluênciadeempreendedores
imobiliários, o poder público aprova diversos novos loteamentos na cidade e, de acordo com
dados de Vaz (2002), no período de 1950 a 1964, cerca de 183 parcelamentos surgiram em
Goiânia, entre os quaisoParqueAnhanguera(1954)eoParqueAmazônia(1955),limítrofesao
bairroJardimAtlântico,focodestapesquisa.
Nesse período houve dois planos diretores: o plano diretor de Ewald Janssen
(1952—1954)eoplanodeLuísSaia(1959—1962).Jassen6,emsuma,lutoupelaregularizaçãoe
contenção dos diversos loteamentos sendo construídos e já mostrando uma cidade desconexa
(MEDEIROS, 2010). Suas propostas para Goiânia não foram realizadas, mas efetivamente,
segundo Medeiros (2010), Janssen interveio no alargamento de algumas ruas e avenidas. O
6
Edwald Janssen foi contratado pelo Governador Pedro LudovicopararealizarpareceressobreGoiânia.
Janssenrealizouolevantamentodosloteamentosemantendoapropostadascidadesjardins,propôsque
elessetornassemnovoscentrosurbanos,determinando-oscomocidades-satélites.Oengenheirotambém
propôsoreordenamentodoseixosviáriosparareconectaracidadeeaproximarahabitaçãodotrabalhoe
preservarosespaçosvaziosenaturais existentesentreamalhaurbanaocupadaeosnovosloteamentos.
(MEDEIROS,2010).
plano de Saia7, como afirma Amaral (2015), inovou ao pensar a cidade a partir de estudos
multidisciplinares,atravésdasperspectivaspolítica,social,espacial,culturalenaturalefocouno
adensamento de áreas já loteadas, valorizando os bairros centrais para conter a expansão do
tecido urbano. Porém, esse período, de acordo com Motta (2004), foi marcado por uma
instabilidade política, na qual o Estado (que havia contratado Saia) e a prefeitura estavam em
disputa para decidir quemassumiriaasquestõessobreoplanodiretor,porissooplanodeSaia
nãofoiconcluídoenemefetivado.
Nesse momento, portanto, não houve uma valorização dos planos e o controle do solo
urbano.Assim,prevaleceramosinteressesprivados.Destamaneira,segundoGonçalves(2002),
os loteamentos foram construídos sem o respaldo de um planejamento urbano, sendo
implantados em áreasdesconexasdamalhaexistente,gerandograndesvaziosnacidade.Além
disso,osnovosbairrosnãosãoocupadosdeimediato,agravandoosproblemasurbanos.
Com o golpe militar de 1964, o Estado volta a terocontrolesobreosolourbanoepara
reduzir o deficit habitacional, são criados o Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e o Banco
Nacional da Habitação (BNH), a fim de financiar a produção de habitações destinadas à
população de baixa renda e à classe média. De acordo com Bonduki (1998), a maioria das
habitaçõesproduzidaspeloBNHeramconjuntospadronizados,debaixaqualidadearquitetônica,
que não dialogavam com o local e com os futuros moradores. Dados deLucas(2016)afirmam
7
LuísSaia,conformeMotta(2004),foicontratadoem1960paraproporumnovoplanodiretorparaGoiânia
devido ao contato dos técnicos daqui comoIAB(InstitutodeArquitetosdoBrasil)deSãoPaulo, doqual
Saia fazia parte. Segundo Amaral (2015), Saia propõe um novo plano, abandonando o desenho de
cidade-jardim, reforçando o centro e propondo várias diretrizes para redistribuição de serviços e
equipamentosurbanos. Porém,devidoaoperíodopolíticoconflituoso,apenasalgumaspropostaspensadas
por Luís Saia foram efetivadas, como a construção do campus Samambaia da Universidade Federal de
Goiás,ocampusdaUniversidadeCatólicanoParqueAtheneu,oCemitérioParque,aCâmaraMunicipalde
VereadoreseoParqueAltamirodeMouraPacheco(LUCAS,2016).
que2,4milhõesdeunidadesdoBNHnoBrasilforamconstruídaspelaCompanhiadeHabitação
(COHAB),comrecursosdoFundodeGarantiaporTempodeServiço(FGTS)eoutras1,9milhões
destinaram-se à classe média, com auxílio do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo
(SBPE).
EmGoiás,asprincipaisagênciasprodutorasdehabitaçãonestadécada,segundooautor,
eramaCAIXEGO,aCOHABeaINOCOOP:
As entidades principais que produziam habitação social [...] eram a Caixa
Econômica de Goiás (CAIXEGO) — que promovia habitação, sobretudo, para
funcionários públicos; a Companhia de Habitação (COHAB) — responsável por
produzir habitação para população de baixa renda; eoInstitutodeOrientaçãoàs
CooperativasHabitacionaisOperáriasdoEstadodeGoiás(INOCOOP/GO)—que
tinha a finalidade de orientarascooperativasemtodasasoperaçõesnecessárias
paraconstruirconjuntoshabitacionais.(LUCAS,2016,p.81)
De acordo com o plano diretor de 1992 (GOIÂNIA, 1992), entre as décadas de 1960 e
1980 foram implantados 32 conjuntos habitacionais em Goiânia, pela política do Sistema
FinanceirodeHabitação.Dentreesses,algunsforamproduzidoscomauxíliodoSBPE,visandoa
classe média, e outros para a classe baixa por meio da COHAB e órgãos do governo, com
recursodoFGTS.Apartirdodocumentoderegularizaçãourbana(SEPLANH,2000)daSecretaria
Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (SEPLANH), identifica-se 22 dessesconjuntos8
(figura1).AlémdosconjuntosproduzidospelaCOHAB-GOepelaINCOOP,nota-seaconstrutora
EncolS.A.comoresponsávelporalgunsdessesloteamentos,financiadospeloBNHedestinados
àclassemédiadaépoca.
OJardimAtlântico,objetodestapesquisa,apresenta-senodocumento(SEPLANH,2000),
como um loteamento aprovado em 1968, tendo como proprietários: Benedito Cláudio Meireles,
AthaulphRucettiVelloso,entreoutros.Portanto,nãoseenquadracomoumconjuntohabitacional.
Porém,apartirdainvestigaçãorealizadaemcampo9,revelou-sequeobairroplanejadoem1968
foiimplantadoapenasem1978ealgumasdesuasquadrasforamdestinadasparaaconstrução
de um conjunto habitacional, com casas construídas também em 1978, financiadas pela
CAIXEGO.EsseconjuntorecebeuonomedePrivêAtlântico.
Com a intensa produção habitacional neste período, o tecido urbano de Goiânia
expandiu-se, pois conforme Resende et al. (2019), os conjuntos passaram a ser indutores do
crescimento dacidadeaoselocalizaremdemaneiraespraiada,implantadosdistantesdonúcleo
dacidadeeconcentradosnasregiõessudesteesudoeste(figura1).
8
A lista dos loteamentos aprovados entre as décadas de 1960 a 1980, documento da SEPLANH —
regularização urbana— 2000, possui ao todo 84 loteamentos. Porém, identifica-se apenas 21 cujos
proprietários são a INOCOOP, a ENCOL e a COHAB e o bairro Jardim Atlântico consta na lista com
proprietáriosprivados.
9
Informação obtida pelo documento Recorte do Jornal Diário daManhã-Notíciade1978,anunciandoa
inauguração das casas do Jardim Atlântico, gentilmente concedido pela moradora Vilma à autora em
outubrode2019.
Figura1.ProduçãoHabitacionaldoSFHemGoiânianasdécadasde1960e1980.Fonte:SEPLANH,2000.
Mapa:CarolinaVivas,2020
Aomesmotempoemqueosconjuntoseramaprovadoseconstruídos,propõe-seoplano
de desenvolvimento integrado (PDIG) de Jorge Wilheim (1968—1978) para pensar o
planejamento urbano e conter aexpansãodesenfreadaquevinhaocorrendocomaimplantação
dosconjuntos.Esteplanofoidegrandeimportânciaporcontextualizarahabitaçãocomoquestão
urbana.Dessamaneira,Wilheimdesenvolvetrêspropostas,baseadasemdiferenteshipótesesa
partir das quais define linhas de crescimento para acidadeeindicaosvetoresquepropiciaram
estaexpansão(figura2).
Figura2.Propostas1,2e3nasequência,doPDIGde1968.Fonte:Wilheim,2015
Sua primeira proposta baseia-se no crescimento para a direção Norte-Sul, prevendo a
conurbação com Aparecida de Goiânia. A BR-153 aparece como um vetor para atrair a
localização das indústrias e induzir a construção de novas vias paralelas à rodovia (WILHEIM,
1969).Nasegundaproposta,aBR-153atuariacomoumabarreira,reforçandoafunçãocomercial
da Avenida Anhanguera e induzindo o crescimento no sentido oeste e contínuoparasudoeste.
Assim,alinha-secomapolíticahabitacionalparaaimplantaçãodosconjuntosnestaregiãocomo
intuito de promover a expansão (WILHEIM, 1969). Já na terceira proposta (figura 2), o
desenvolvimento linear se daria ao longo do Rio Meia-Ponte, englobando a BR-153. O Jardim
Goiás seria o bairro atrativo e conduziria o crescimento. O eixo comercial deixaria de ser a
Avenida Anhanguera e este novo eixo criado conteria a distribuição das pequenas e médias
indústrias.
Dentreestastrêspropostas,Wilheimadotaasegunda,comoobjetivodeadensararegião
sudoesteeinibirocrescimentoparaosdemaissentidos.Suaescolhapauta-senajustificativada
presençademananciaisereservasflorestaisaonorte;aleste,aBR-153limitavaocrescimento;e
o Sul possuía fatores favoráveis como o solo, a topografia e grandes vazios urbanos (SILVA,
2003). Com o seu plano em ação, cria-se a Carta Habitacional de Goiânia, na qual reafirma a
importância da habitação como vetor da expansão de Goiânia e estabelece um acordocomas
entidades promotoras da época — CAIXEGO,COHABeINOCOOP—parasecomprometerem
comacriaçãodosconjuntos,seguindoosobjetivosestipuladosnoplano(figura3).
.
Figura3.EstudodashabitaçõessociaisintegradasàsegundapropostadoPDIG.Fonte:Medeiros,2014
também já havia sido aprovado. Ao analisar a mancha de expansão urbana do PDIG de 1969
sobrepostacomaimplantaçãodosconjuntos(figura4),visualiza-sequeapenasalgunsconjuntos
seguiram — de alguma forma — a diretriz proposta por Wilheim, como o Morada Nova e o
Cachoeira Dourada, enquanto os demais foram implantados fora da área delimitada para a
expansãourbanaouincentivaramocrescimentoemoutrasdireções.DeacordocomNascimento
e Oliveira (2015), o PDIG teve relativo sucesso, pois impulsionou a expansão no sentido sul,
sudoeste e oeste, porém mesmo entre os conjuntosimplantadosqueseguiramessadireçãode
crescimento, muitos estavam desconexos da área urbana, gerando o surgimento de vazios e
favorecendoafuturaespeculaçãoimobiliária.
Figura4.MapadosconjuntoshabitacionaissobamanchadaáreaurbanaedeexpansãodoPDIGde1969.
Fonte:dadosdapesquisa.Desenho:CarolinaVivas,2020
O PDIG não foi implantado efetivamente em Goiânia devido a diversos fatores e os
conjuntos habitacionais, em específico, foram pensados visando a economia; isso prejudicou o
planejamento urbano e o próprio projeto da unidade habitacional. Em relação ao bairro Jardim
Atlântico, como o loteamento foi aprovado em 1968 pelo Decreto nº 334, antes mesmo da
conclusão do PDIG de1969,eleencontra-selocalizadonaregiãosudoestedeGoiânia,inserido
naáreaprioritáriaparaocupaçãopeloPDIG(figura5).
Figura5.LocalizaçãodobairroJardimAtlânticoemrelaçãoaoPDIGeàsleisdeexpansãourbanadosanos
de1969e1984.Fonte:Levantamentosdapesquisa.Desenho:CarolinaVivas,2020
SegundoResendeeVilarinho(2017),duranteavigênciadoPDIG(1975—1994)asleisde
zoneamento incentivaram a ocupação dos bairros, prioritariamente o Centro e o Setor Oeste,
seguidoparaapartesuldacidade.Porém,“aformaçãodoespaçourbanoapós1975resultoudo
adensamento pontual de alguns bairros e da dispersão da periferia” (RESENDE; VILARINHO,
2017, p. 111). Neste contexto, o bairro Jardim Atlântico, onde se localiza o Privê Atlântico,não
recebeu infraestrutura básica de abastecimento de água, captação de esgotos, distribuição de
energia elétrica, iluminação pública ou mesmo atendimento de transporte público, sendo a
avenida T-9 a rua mais próxima asfaltada que dava acesso ao bairro (figura 5). Com isso, o
JardimAtlânticofoiconsideradocomovaziourbano,poucohabitado,porcercadeumadécada.
1.2OBairroJardimAtlântico
O bairro Jardim Atlântico, inicialmente implantado em uma área periférica, encontra-se
hojeinseridonamalhaurbanadeGoiânia,próximoàdivisacomAparecidadeGoiâniaefazendo
limitescomosbairros:ParqueAmazônia,ParqueAnhangueraIeII,SetorFaiçalvilleeVillaRosa
(figura6).Paracompreenderoseuprocessodeocupaçãoetransformaçãoespacial,analisa-seo
seu histórico de inserção urbana desde as influências do seu traçado original àsconfigurações
morfológicasatuais.
ObairroJardimAtlânticoapresentaparticularidadesemrelaçãoàpropostadeseutraçado
inicial.OdocumentoencontradonaSEPLANH,apresentaaempresaItacolomycomoaimobiliária
doempreendimento,masnãohádadossobreosautoresdoprojeto(figura7).Aregiãoescolhida
para a implantação do loteamento é cortada pelo córrego Cascavel e percebe-se que estas
condiçõesambientaisforamdeterminantesparaadefiniçãodeseupartido.Alémdisso,naplanta
há a definição de seis etapas de construção do loteamento, mas existe certa dificuldade em
identificá-lasnaimagem.Odesenhotambémpropõeozoneamentocomlotescomerciais/serviços
próximos a avenidas principais e os demais lotes residenciais. Destaca-se ainda uma área
reservada ao Conjunto Habitacional Privê Atlântico, sendo as quadras 58 a 66 e 83 a 87
destinadasàscasasdoPrivêeasquadras87a91destinadasaoslotesdoPrivê.
Figura6.LocalizaçãodobairroJardimAtlânticoebairrosvizinhos.Fonte:SIGGO.Imagem:CarolinaVivas,
2020
Figura7.PanfletocomodesenhodobairroJardimAtlântico,anunciandoavendadoslotes.Fonte:
BibliotecaSEPLANH,pastaJardimAtlântico:recortedejornais,s.data
Pelo desenho da planta do bairro (figura 7), percebe-se que algumas características do
traçadodoJardimAtlânticofazemalusãoàmorfologiadosbairros-jardinsdeSãoPaulo,quepor
suaveztêminfluênciadossubúrbiosnorte-americanosdadécadade1930.Omodelourbanístico
dascidades-jardinsfoidesenvolvidonoséculoXIXporEbenezerHoward,trazendoprincípiosde
uma urbanização residencial de baixa densidade com a predominância de áreas verdes. Muxí
(2013)afirmaqueHowardpretendiacriarumaalternativaparaacidadeindustrializadadaépoca,
dessa maneira dá importância para a concepção de espaços livres e projeta uma
homogeneizaçãodapaisagemarquitetônicacomointuitodecriarosentidodecomunidade.
SegundoAndrade(2003)váriascidadesconcretizaramautopiadeHowardcomoacidade
de Letchworth, na Inglaterra, e Gary eRadburn,nosEUA.LetchworthfoiprojetadaporUnwine
Parker,em1901,comumtraçadoorgânicoqueseopunhaàrigidezdoclassicismorenascentista
e pensava na integração do homem com ocampo.AcidadedeRadburn,fundadaem1929,foi
concebida com o desenho das ruas em cul-de-sacs, para valorizar o trajeto de pedestres
(pedonal) e possibilitar a criação das unidades de vizinhança (U.V.), caracterizadas pela
localizaçãodosequipamentosurbanospróximosàsresidênciaseofácilacessopormeiodevias
de circulação exclusivas, atendendo à população local. Porém, surgem os subúrbios-jardins,
construídos principalmente nos EUA, e o conceito inicialpassaaserdistorcido.ParkereUnwin
são alguns dos urbanistas que romperam com alguns ideais de Howard e passaram a
desenvolver os subúrbios-jardim. Andrade (2003) aponta que os subúrbios criaram uma
subdivisão residencial e um isolamento, ao separar as faixas comerciais. Assim causaram
grandes impactos ambientais pela dependência do automóvel e geraram também o
enfraquecimentodosideaissociais.
EssasideiasurbanísticaschegaramaoBrasilnaprimeirametadedoséculoXX.Oprimeiro
modeloregistradonopaís,trazendoaexperiênciaanglo-americana,foioJardimAméricaemSão
Paulo.OempreendimentofoirealizadopelaempresaCityepelosurbanistasUnwineParker,em
1910.SegundoAndrade(2002),Unwinpropôsumloteamentoquaseexclusivamenteresidencial,
permitindoapenaspoucoscomércios,comcasasemgrandesterrenosajardinados,ruasestreitas
e arborizadas. Parker posteriormente realiza modificações no plano de Unwin, com o fim dos
jardins internos, a permissão de comércios e serviços e abre avenidas para conectá-lo com o
centrodacidade.
DevidoaosucessodoJardimAmérica,éconstruídopoucodepoisoJardimEuropa,oqual
seguiaosmesmosprincípiosdesubúrbios-jardim,comumpequenoparqueejardinsinternosàs
quadras. Desse modo, os denominados bairros-jardins, popularizaram-se em São Paulo e por
meio do ensino e da prática do desenho urbano nas escolas paulistas, essas referências
influenciaramosarquitetosdasdemaisregiõesdopaís,comoéocasodoPrivêAtlântico.
EmGoiânia,aexperiênciaprecedentedeurbanizaçãoresidencialdebaixadensidadeéo
Setor Sul (figura 8). O bairro foi projetado na década de 1930 e reproduziu características
presentes na concepção da cidade-jardim. Como afirma Mota (1999) o projeto teve como
referênciadiretaRadburn.Dessemodo,adotou-seosistemaderuasemcul-de-sac,ondeoslotes
residenciais formavam um semicírculo ao redor do parque e possuíamdoisacessos,tantopela
áreaarborizadaquantopelarua.Otraçadomaisorgânicoéumacaracterísticadacidade-jardime,
segundoMota(1999),atopografiadoSetorSultambémcontribuiparaestaconfiguração.
Figura8.PlanodoSetorSul.Fonte:BibliotecaSEPLANH
A solução adotada no Setor Sul, no entanto, é diversa da seguida nos conjuntos
habitacionais construídos em Goiânia nas décadas posteriores. O próprio Jardim Atlântico é
projetadocomcaracterísticasmaispróximasdosbairrosdeSãoPaulo.Afimdemelhorvisualizar
e analisar seus elementos morfológicos, foi realizado o redesenho com a análise gráfica da
proposta do bairro, a partir da planta do bairro Jardim Atlântico encontrada no panfleto de
lançamento(figuras9e10).
Figura9.RedesenhodotraçadopropostonobairroJardimAtlântico.Fonte:BibliotecaSEPLANH,pasta
JardimAtlântico:recortedejornais,s.data.Desenho:CarolinaVivas,2020
De acordo com Panerai (2006), o tecido urbano é composto pelo sistema viário, pelas
edificações e os parcelamentos fundiários. As vias de um bairro classificam-se em primárias,
secundárias e terciárias (PANERAI, 2006). No bairro Jardim Atlântico, a avenida Ipanema
representa a de maior dimensão, conectando o bairroàmalhadacidade,portantoenquadra-se
comoviaprimária.Otraçadodeterminaasavenidassecundárias,comoaavenidaIndependência,
quealimentamobairro.Jáasviasterciáriassãoasruasinternasàsquadras,asquaispossuem
forma de alça ou também são chamadas de ruas em “U”, fazendo com que o seu tráfego se
destineapenasàsresidências.
Em relação às edificações, nota-se a demarcação dos lotes comerciais e de serviços
próximos das avenidas primárias e secundárias, assim como em algumasruasinternasdefácil
acessopelasresidências,contribuindoparaodeslocamentodepedestreseafirmaacriaçãodas
U.V. presentes nos modelos dos subúrbios-jardim (figura 10). Identifica-se que os serviços
determinados sãodestinadosaopúblicolocal,como:cluberecreativo,igreja,centrocomunitário,
ginásio, escola e mercados. Os demais lotes são residenciais eseconectam,pelosfundosdas
quadras,àsáreasverdescriadasnosespaçosresultantesdaarticulaçãodasviasemalça.
Figura10.RedesenhodotraçadopropostonoJardimAtlântico,comasetorizaçãodasquadras.Fonte:
BibliotecaSEPLAN,pastaJardimAtlântico:recortedejornais,s.data.Desenho:CarolinaVivas,2020
Asáreasverdes,comoanalisa-senossubúrbios-jardins,sãopontosfortesdoprojetopara
alcançar um caráter bucólico. No bairro Jardim Atlântico, propõe-se a preservação da mata
lindeira à nascente d'água e são criados espaços livres, os quais atuam tanto como áreas de
preservação e de contemplação, quanto fazem parte da organização do sistema viário e do
parcelamento. O parcelamento segue um desenho tradicional de quadras longas e estreitas
divididas ao meio e compostas por lotesretangularesdeumladoedooutro,emmaioriacoma
mesmadimensão.
Lucas (2016) analisa os tipos de malha urbana dos conjuntos habitacionais produzidos
pela COHAB entre as décadas de 1960—1980: “Traçamos, assim, tipologias baseadas na
estruturação do sistema de áreas públicas (vias, áreas institucionais e áreas verdes) e na
estrutura viária (sua hierarquia e relação com o entorno)” (LUCAS, 2016, p. 49) Desse modo
apresentaasclassificaçõesdasmalhasurbanasencontradas(figura11).
Figura11.Exemplosdetipologiasdemalhaurbanadosloteamentos.Fonte:EdinardoLucas,2016
PartindodoestudodeLucas(2016),amalhaurbanadoJardimAtlânticoéclassificadaem
malha em alça com espaços públicos distribuídos linearmente.Dentreosconjuntosresidenciais
construídosnesseperíodo10,alémdoJardimAtlântico,identifica-setrêsoutroscomessamesma
10
Nãofoip
ossívelidentificaro
d
esenhou rbanod etodoso
sc onjuntosh
abitacionaisp
roduzidosd
ad
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e1
960a
1970p
orfaltad
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rquivose r eferênciasc onsultadas.
tipologia: o Conjunto Itatiaia (1977) e o Conjunto Vera Cruz (1981) (LUCAS, 2016) e o Parque
Laranjeiras(MELLO;FLEURY,2019)(figura12).
Figura 12. Imagem aérea dos Conjuntos Itatiaia, Conjunto Vera Cruz e Parque das Laranjeiras. Fonte:
GoogleEarth.Imagem:Org.porCarolinaVivas,2020
O Conjunto Itatiaia e o Conjunto Vera Cruz foram projetados pelo Grupo Quatro11, são
produçõesdaCOHABedestacam-sepelasuaqualidadeurbanística.OItatiaiaestálocalizadona
regiãonorte,próximoàUniversidadeFederaldeGoiás,esuaimplantação,assimcomooJardim
Atlântico, preocupa-se com ascondicionanteslocais.Dessemodo,suasquadrassãoprojetadas
demaneiralinear,possibilitandoumaáreaverdecentral(figura12).OprojetourbanodoConjunto
VeraCruzémaisextensoecomplexo.Lucas(2016)afirmaqueoprojetofoipensadoparaseguir
princípios de bem-estar social, com sistemas de espaços livres e a criação de unidades de
vizinhança. Assim como no Jardim Atlântico, também é localizado em região cortada por um
córrego.Comissoseutraçadorespeitaasáreasdepreservaçãoeproporcionaharmoniacomas
11
EscritórioformadopelosarquitetosLuizFernandoCruvinelTeixeira,WalfredoAntunes,WalmirSantos
AguiareSolimarDamasceno.
áreas verdes. Já o Parque das Laranjeiras foi planejado pelas arquitetas Jacira Rosa Pires e
NarcisaCordeiro,tendootérminodasuaconstruçãoem1976,doisanosantesdolançamentodo
Jardim Atlântico. Foi pensado a partir de uma hierarquia viária, apresentando ruas internas às
quadras em formato de alça. Ele possui dois córregos como limitesdobairroedemonstrauma
valorizaçãodasáreasverdes,aobuscarconectarosmoradorescomanatureza.
O Jardim Atlântico teve seu traçado construído conforme o projeto, como pode-se
constatar na fotografia aérea de 1992 (figura 13). Porém, segundo a reportagem do Diário da
manhã(AFONSO,1987)obairrofoientregueseminfraestrutura(águatratada,esgotoeasfalto)e
nota-setambémaausênciadosequipamentosurbanos,ouseja,elesforamapenasdemarcados
no projeto. Devido à distância de 15 km do centro de Goiânia e a falta de infraestrutura, o
loteamento ficou uma década praticamente desabitado. Pela facilidade de acesso pelos eixos
estruturantes, conforme Resende e Vilarinho (2017), ele abrigou as primeiras ocupações
irregularesdacidade.ApenasapartirdaconstruçãodoConjuntoHabitacionalPrivêAtlântico,em
1978,iniciou-seumprocessomaisefetivodeocupaçãodobairro,atraindoapopulaçãodeclasse
baixaemédiaquedesejavamconquistaracasaprópria.
Figura 13. Imagem aérea localizando o Jardim Atlântico e o Privê Atlântico em 1992. Fonte: SEPLANH.
Imagem:organizadaporCarolinaVivas,2020
Pela imagem de 1992 percebe-se ainda poucas construções fora das quadras do Privê
(figura13).Essaocupaçãojustifica-sepelafacilidadedefinanciamentodascasasdoconjunto,o
queeramaisatrativodoqueacompraapenasdolotenobairro.ConformereportagemdoDiário
da manhã (AFONSO, 1987), essa ocupação foi incentivada também pela construção do muro
baixoemvoltadoPrivêedaguaritadeacesso,inseridospelaprópriaimobiliária,comointuitode
promover melhor a venda das casas e lotes do conjunto. De certa forma, o muro também
demarcava a ocupação do território e transmitia segurança diante da escassa ocupação na
região.
Dessa maneira, o traçado proposto para o bairro Jardim Atlântico perde o seu carácter
inicialpelaausênciadasáreasverdesinternasàsquadras,provocadaspelaconstruçãodomuro
noconjunto,pelafaltadeurbanizaçãodosparquesedosbosquesepelafaltadeimplementação
dosdemaisequipamentosurbanosquecomporiamaunidadedevizinhança(figura14);fatosque
vieram a descaracterizar a intenção de integração do desenho urbano, tanto em relação à
circulaçãoquantoàaproximaçãodavizinhança.
Figura 14. Vista do bairro Jardim Atlântico para a cidade, Sesc Faiçalville, entrada do Privê Atlântico,
respectivamente.Fonte:Diáriodamanhã(1987)eOPopular(1994).Foto:JoséAfonso-entradadoPrivê,
demaisfotos:autordesconhecido
Através das análises das imagens aéreas, percebe-se uma ocupação maior do bairro
JardimAtlânticoapartirdosanos2000,devidoaocrescimentodaregiãoemumcurtointervalode
tempo,entre2000e2006(figura15).Enota-setambémumperíododegrandeadensamentonas
imagens de 2011 e 2016 (figura 16), resultado davalorizaçãodaregiãomaisrecentemente.De
acordocomNascimentoeOliveira(2015),o adensamentode2000ocorreuprimeiramentedevido
amudançasnoPlanoDiretor,comaLeiOrgânicadoMunicípio(1990),quepropiciouavendade
muitasglebaseincentivouaocupaçãodosvaziosintraurbanosnosentidosudoeste.Baseadona
pesquisa de MotaeResende(2018),houvetambémaconstruçãodecondomíniosfechadosem
Goiânia, alguns concentrados próximos ao JardimAtlântico,comoéocasodoJardinsFlorença
(1997) e o do Granville (1997). Isso favoreceu o processo de conurbação com Aparecida de
Goiâniaeatraiuinvestimentosimobiliáriosparaaregião.
Figura16.ImagemaérealocalizandooJardimAtlânticoeoPrivêAtlânticoem2011e2016.Fonte:
SEPLANH.Imagem:CarolinaVivas,2020
Apartirde2007,onovoPlanoDiretorinduzaexpansãodacidadenosentidosudoeste,ao
estabelecer áreas prioritárias para o adensamento,enquadrandoassimoJardimAtlânticocomo
região para adensamento básico (figura 17). O adensamento, neste período, volta-se para a
produção de condomínios verticais, propiciada pela liberação da verticalização em áreas
adjacentes às vias de escoamento da cidade e pela valorização de investimentos de
reurbanização de áreas verdes, na forma de parques urbanos associados a essas edificações.
ConformeCanedo,MedeiroseGondim(2019):
A iniciativa privada, em parceria com o poder público, investe na
implementação de praças e parques, trazendo um novo significado ao
espaço, incorporando ao aglomerado urbano áreas verdes de
contemplação. Exemplo disto são os parques Lago das Rosas (Setor
Oeste), Vaca Brava (Setor Bueno), Areião (Setor Marista), Flamboyant
(JardimGoiás)ediversaspraçasdoSetorBueno.(CANEDO,MEDEIROS,
GONDIM,2019,p.14).
Figura 17. Áreas de adensamento classificadas pelo Plano Diretor de Goiâniade2007.Fonte:Carvalho,
2017.Imagem:CarolinaVivas,2020
Diferentedodesenhoinicialdograndeparque,definidonaplantadeloteamentodoJardim
Atlântico, no qual associa-se essa área verde com a área urbana, conectando e buscando um
equilíbrio entre cidade e natureza; nos parques projetados para serem implantadosemGoiânia
como um investimento imobiliário, junto às áreas verdes remanescentes da cidade, essa
associaçãodesapareceemfunçãodaverticalizaçãoedograndeadensamentodoseuentornoe
dosimpactosgeradosnomeioambienteurbano.
Em2009,tem-seacriaçãoeurbanizaçãodoParqueCascavel,noJardimAtlântico(figura
18), e percebe-se sua influência direta na valorização do bairro, pois nesta época ocorre o
asfaltamento do setor que, conformeCarvalho(2017),possuíaruasdeterradesdeadécadade
1970. O andamento da implantação de parte do Parque Linear Macambira Anicuns (PUAMA),
construído a partir de 2012 e localizado no SetorFaiçalville,próximoaoJardimAtlântico(figura
19),tambémvemcontribuirparaatrairaconstruçãodeedifíciosdehabitaçõescoletivasnaregião.
Figura19.AinfluênciadoParqueMacambiraAnicunsnoJardimAtlântico.Fonte:Carvalho,2017.Imagem:
CarolinaVivas,2020
Segundo Carvalho (2017), as margens do córrego Cascavel sofreram assoreamentoeo
parque de mesmo nome, urbanizadonaáreadoJardimAtlântico,ficouinutilizado.Essefatofez
com que o empreendimento não viesse a colaborar para a valorização econômica almejada.
Porém,asobrasdeintervençãonoparqueforamconcluídasaofinalde2018,e,dessamaneira,a
regiãopassaatualmentepornovasmodificaçõesevoltaareceberinvestimentos,sendocadavez
maisadensada.
1.3OPrivêAtlânticocomoCondomínioFechado
OPrivêAtlânticofoiprojetadocomoumconjuntohabitacionalpertencenteaobairroJardim
Atlântico e pela reportagem do Diário da manhã (AFONSO, 1987), tem-se o registro de sua
construção já com um muro, o qual circunda as suas quadras, caracterizando-o desde o início
comocondomíniohorizontalfechado.Oscondomínioshorizontaisfechados(CHFs)sãodefinidos
por Tramontano e Santos (1999, p.1) como “conjuntos horizontais de habitações cercados por
muros”. Para o autor, em sua maioria, o acesso é controlado, existe a presença de vários
dispositivos de segurança e há, em grande parte, uma homogeneidade nas residências. As
modalidades habitacionais podem variar em função do público-alvo, que vão desde unidades
isoladas nos lotes,sobradosoucasasgeminadas,masfrequentementesãodestinadosàclasse
média e alta. Campos (2007) complementa que o condomínio fechado expressa uma
configuração morfológica específica, geralmente com a presença de áreas verdes e lagos,
influênciadaideiadossubúrbios-jardimdoséculoXIX.
Assim como os subúrbios estadunidenses, os CHFs constituem zonas habitacionais
distantesdacidadegrande,próximasànaturezaedestinadasàclassedemaiorpoderaquisitivo.
Seus habitantes estavam preocupadoscomasuasaúde,seubem-estaredesejavamretomaro
caráter bucólico de Habitar no campo, longe dasindústrias,dapoluiçãoedocaosdascidades.
Emcontrapartida,Habitaressesespaçossignificavaoafastamentodosproblemasurbanos,oque
intensificaasegregaçãosocial.
Além do distanciamento dos centros urbanos, os condomínios adquiriram muros para o
seu fechamento. O muro é um elemento para proporcionar segurança aos moradores, mas ao
mesmotempo,comoafirmaCaldeira(2000),representaumabarreirafísicaesimbólica.Físicaao
separaroespaçoprivadodopúblico,daruaedacidade,fazendocomqueocondomíniofuncione
como uma cidade independente e simbólica, devido a localização dos condomínios, os quais
dividem o espaço periféricocomapopulaçãodeclassemaisbaixa.Assim,omurorepresentaa
segregação da população. Carvalho afirma que “É preciso compreender que a utilização do
discurso do medo como justificativa da busca por enclaves fortificados evidencia problemas
urbanosepreconceitosocial.”(CARVALHO,2017,p.48).
ParaSouza(2012)osCHFsvendemaideiade“qualidadedevida”es tatussocial.
Portanto, o status social, que nesse caso pode ser entendido pela forma
como o indivíduo ascende para e nasociedade,tambéméferramentade
análise importante a se considerar no processo de segregação espacial,
além da segurança e da possibilidade de criação de leis internas que
garantamaseguridadeeatãocomentadaevendida“qualidadedevida”da
população, obviamente a qual possui algum poder aquisitivo. (SOUZA,
2012,p.53).
Os condomínios fechados são usados como produtos mercadológicos nas cidades
contemporâneas do Brasil. A população se sente atraída por estas áreas, conforme Caldeira
(2000),tantoporquestõesdestatussocial,comopelaproximidadecomasprincipaisrodovias,de
fácil acesso e rápida velocidade na conexão com os centros urbanos, além de comprarem o
discurso de privacidade, segurança e exclusividade de morar. O Privê Atlântico, portersurgido
como um conjunto, difere-se em algumas questões, pois foi entregue com casas padrões,
destinadas a uma população de médio a baixo poder aquisitivo. Portanto, de acordo comSilva
(2003),osprimeirosmoradoreseramfuncionáriospúblicoseseatraíramparaolocalaoverema
oportunidadedeadquiriracasaprópria,pelafacilidadedefinanciamentodaCAIXEGO.
EmGoiânia,comexceçãodoPrivêAtlântico,osCHFssãoimplantadosapartirdadécada
de 1990, localizados nas bordas da cidade ou até mesmo em tecidos desconexos da malha
urbana, destinados para população de alto poder aquisitivo, conforme o estudo de Mota e
Resende(2018).Aregiãosudesteéondeestálocalizadaamaioriadoscondomínios(figura20).
SegundoBrito(2015),essefatorédecorrentedasquestõesfísicasdolocaledodesenvolvimento
daregiãosudeste,apartirdapressãodeempreendedoresimobiliários.Assim,osterrenosnessas
áreaspassamaservalorizadospelaespeculaçãoimobiliária,atraindoumnúmerocadavezmaior
decondomíniosparaGoiânia.
Figura20.Localizaçãodoscondomínioshorizontaisfechados.Fonte:MOTA;RESENDE(2018).
AconstruçãodoPrivêédatadade1978,dezesseteanosantesdaimplantaçãodoprimeiro
condomínio fechado em Goiânia, o Jardins Viena, em 1995. Esse fato está relacionado com o
proprietário do bairro, pois conforme relatos dos moradores mais antigos, o JardimAtlânticofoi
implantadoporumengenheiropaulistachamadoJaime.
[...]Entãofoiissoaíqueaconteceu,aíoproprietáriodoPrivêchamavaJaime,era
umjudeu,elechegouaquicommuitodinheiro,masdaínãoconseguiufazertudo,
acho que elemoraemBrasíliaagora,maseleveiodeSãoPaulo,perdiocontato
com ele, mas ele mora em Brasília. Ele foi embora e a CAIXEGO tomou conta
disso.NóscontinuamospagandopelaCAIXEGO[...](Informaçãoverbal12).
A implantação do loteamento e o fechamento pormuroantecedeasprópriaslegislações
da cidade sobre os condomínios fechados. A Lei nº 7.042 de 1991 é a primeira legislação de
Goiânia a abordar sobre a aprovação de núcleos residenciais fechados. A lei permite o
fechamento da área parcelada do solo urbano, a utilização de vigilância particular e a
exclusividadedasviasdecirculaçãoeáreaslivresaosproprietáriosdoslotes.NocasodoPrivê,
portanto,supõe-sequeeleadquireessacaracterizaçãoinfluenciadopelaconstruçãodosCHFsda
cidadedeSãoPaulo.
Dadoscoletadosnoprocessonº8726205,encaminhadoàprefeiturapelaAssociaçãodos
Moradores do Privê Atlântico (SOMOPA), mostra que os primeiros moradores buscaram
reivindicar o reconhecimento do Privê como condomínio em 1995, e conseguiram o Termo de
ConcessãodeUso.Noentanto,comootermoéinstável,protocolaramoutroprocessoem2004,
para a regularização definitiva como condomínio, porém sem sucesso (CARVALHO, 2017). O
moradorDias(ementrevistaconcedidaàautoraem2019),comopresidentedaSOMOPAportrês
gestões, foi responsável pela luta no reconhecimento do lugar. Ele afirma que, com isso, a
12
EntrevistaconcedidapelamoradoraMariaOtíliaBranco.E ntrevista2.(24ago.2019).Entrevistadora:
CarolinaVivasdaCostaMilagre.Asentrevistasnaíntegraencontram-senosapêndices
associação visava atrair a população e o crescimento da região, no sentido de melhorar a
infraestrutura,comércioseserviços,assimcomoavalorizaçãopatrimonialdoPrivê.Ocondomínio
hojepossuioTermodeConcessãodeUso,masaindanãofoiregularizadooficialmente.
Em suas ações nas gestões administrativas, o morador entrevistado percebeu uma
resistência dos habitantes mais antigos à mudança, pois desejavamqueoPrivêpermanecesse
como uma cidade do interior, ou seja, que não perdesseasuatranquilidadeesimplicidade.No
estatuto do Privê Atlântico, a taxa de condomínio passa a ser obrigatória a partir doano2000,
porém ainda hoje há um alto índice de inadimplência dos moradores, a sua maioria por não
possuircondiçõesfinanceiraspararealizaropagamento.
A valorização da região e, consequentemente, do condomínio com a implantação do
ParqueCascaveleosinvestimentosimobiliários,atraiunovosmoradoresparaoPrivêapartirde
2009 (CARVALHO, 2017). O estudo de Carvalho (2017) apresenta uma moradora entrevistada
que se mudou em 2010 e justifica a sua escolha em função das peculiaridades do Privê. A
moradora exalta a boa convivência com os vizinhos, a presença de serviços e comércios no
interior do condomínio, trazendo facilidade para o seu dia a dia, e aponta a vantagem da
existênciadeváriasclassessociais.Percebe-seesseprocessodeocupaçãodocondomíniopelas
imagensdesenvolvidasporCarvalho(2017)(figura21).
Figura21.ProcessodeocupaçãodoPrivêAtlântico.Fonte:Carvalho,2017
OestudodeCarvalho(2017)identificaosusoseastipologiashabitacionaispresentesno
condomínioe,secomparadaapesquisadecamporealizadaem2019,nota-sequeestesnãose
alteraram (figura 23). Hoje percebe-se uma materialidade bastante diversificada no Privê pela
presençadevariaçõestipológicasdehabitações,comoresidênciasgeminadas,térreas,sobrados,
habitações coletivas eapresençadecomércioseserviços.Porém,asquadrasdaprimeiraeda
segunda etapa construtiva apresentam casas, em sua maioria, térreas e isoladas no lote, e
semelhantes em vários elementos tipológicos, tanto arquitetônicos quanto construtivos. As
quadras centrais possuem habitações de até quatro andares, além de casas unifamiliares e
alguns comércios e serviços. Os lotes comerciais e deserviçosãoocupadosporequipamentos
comosupermercado,lanchonetes,salãodebelezaecentrodeestética.Oranchão,oespaçopara
festividadesdocondomínio,anteslocalizadopróximoàportarianomapaproduzidoporCarvalho
em 2017, foi realocado conforme a imagem (figura 23). Os demais lotes entregues vagos,
receberam a construção de residências unifamiliares, térreas e sobrados, ou geminadas e
apresentam-sebastantediferentestipologicamente,dascasasdaprimeiraedasegundaetapas.
Figura23.UsosetipologiasdoPrivêAtlântico.Desenho:Carvalho(2017).Fotografia:CarolinaVivas,2019
Paralelamente àheterogeneidadematerialdocondomínio,háumadiversificaçãotambém
dos perfis familiares. Em entrevista com os moradores atuais (2019), existem famílias
pertencentes a todasasfaixasderenda,prevalecendoumperfildefamíliasqueganhamde4a
10salários-mínimos(sm),seguidode1413 das51famíliasentrevistadas,comrecebimentosde10
a 20 sm. Ou seja, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística),
predominantemente é composto por uma classe média e média alta. Em relação ao
questionamento sobre casa própria ou aluguel, a grande parte dos entrevistados afirmaram
possuir casa própria e habitarem o condomínio há mais de 10 anos. Porém, outro fator de
destaque é que 72% dos entrevistados adquiriram a casa com outro morador, indicando um
grandeêxododosprimeiroshabitantes.
13
OtotaldefamíliasquemoramnoPrivêAtlânticocorrespondea463eforamentrevistadas51famíliasna
pesquisa,representando11%dototal.Dentreesses,11%,ouseja,14famíliasresponderampossuirrenda
de10a20sm,correspondendoa27%donúmerodeentrevistados.
2. As casas do Privê Atlântico
Capítulo2.AsCasasdoPrivêAtlântico
Este capítulo dedica-se primeiramente à compreensão do que é Habitar. Discute-se as
conceituaçõesemtornodotemaeassimindica-seocaminhoescolhidoparaseabordarascasas
doPrivêAtlântico.
Após a conceituação do termo Habitar, inicia-se a discussão sobre o mododevivernas
casasgoianas.Realiza-seumaleituradosprojetosresidenciaisemGoiás,desdeoséculoXIXaté
início do século XX. Depois em Goiânia, desde a construção da nova capital em 1930 até a
década de 1970. Busca-se elencar os elementos arquitetônicos da casa e compreender sua
relação comoscostumesevaloresemcadaperíodo.Nessasanálises,segue-seumaordemde
avaliação:organizaçãoespacial,racionalização,setorização,acessosecirculação,elementosque
permitemaconexãocomaruaeomododeHabitar.
Posteriormente, foca-se na análise das casas originais do Privê e seguindo a mesma
ordem anterior, utiliza-se o processo diagramático deLeupeneBaker.Leupen(1999)contribuiu
para identificar os elementos que compõem as residências, destacando a análise de cada
elementoseparado,paraassimcompreendercomoelessearticulam.Baker(1998)foiimportante
para diferenciar o volume da superfície e perceber o processo de desenvolvimento da ideiado
projeto,comissofoirealizadaumaanálise2Ddageometria,decompondoasuaplantaeexpondo
oselementosquelevaramàorganizaçãodosespaços.
Nesse sentido, realiza-se a comparação das casas do Privê com demais projetos14,que
apresentam características similares, a fim de traçar paralelos entre os projetos e melhor
contextualizaroobjetodeestudonaproduçãoarquitetônicadaépoca.
14
A pesquisa na revista Acrópole não fazia parte da metodologia inicial. Foi um recurso pensado a
posteriori,afimdesuprirafaltadereferênciasdecasasprojetadasnamesmacircunstânciaqueasdoPrivê
(financiamentodecasasparaclassemédiabaixa,pormeiodeprojetosdeconjuntoshabitacionais)ecom
umaáreaeprogramasimilares.
2.1CulturadoHabitareainserçãodomodernonacasagoianiense
O Habitar pode ser compreendido a partir de várias vertentes do pensamento como:
humanismo, existencialismo, antropologia, fenomenologia, entre outras. Em 1951, Martin
Heidegger conceitua o Habitar em seu artigo “Construir, habitar, pensar” (1951), no qual o
entende,desdeopontodevistafilosófico,comooatodeconcebereconstruiroespaço,ouseja,
amaneiracomooshomensfazemseucaminhoentreaterraeocéu.Essareflexãofoiimportante
para a cultura arquitetônica das décadas posteriores, porque envolve um novo olhar, além da
materialidadeedaracionalidadeestrita.Portanto,opensamentodeHeideggerestávinculadoao
humanismoeaoexistencialismo,ambosadvindosdocampofilosófico(NESBITT,2008).Segundo
Nesbitt (2008), o humanismo situa o homem em um centro do “ser em si”.Nessesentidoesse
homem é ora um indivíduo, ora a humanidade universal e assim percebe-se como um ser
racional,autordoseudestino.Oexistencialismolevaàcompreensãoqueaessênciadohomemé
a sua existência no mundo, por isso o homem éassimiladoatravésdesuasvivências,deseus
sentimentoseações.
Bachelard (1993) também compartilha das ideias de Heidegger ao definir o Habitar. Em
seulivro“Apoéticadoespaço”(1957),oautorbuscareflexõessobrearelaçãodohomemcomo
espaçoqueultrapassamasquestõesmateriais.Paraele,oespaçonãoésóolugarfísico,onde
estão dispostos os objetos, mas é a representação do consciente e do inconsciente do ser,
resultado de uma leitura psicológica do indivíduo sobre a realidade. Dessa forma, o Habitar é
definidocomoalinguagemdoser,aexpressãodohomemnoespaçouniversal.
davisãoquesebaseianasociologiaurbana15 (FRÚGOLI,2005).Unindoadiscussãopolíticacom
acidade,oHabitarparaLefebvre(2001)éaapropriaçãoporpartedoshabitantesdeumespaço
social, onde o usufruem em um nível simbólico, sem deixar de lado as questões objetivas
impostas pelo capital. Nessa visão, Lefebvre defende o modo de Habitar moderno, o qual
entende-se, segundo Hernández (2014), como uma nova configuração do espaço doméstico
diantedosnovosmodosdevidadoséculoXX.
Afenomenologia,segundoNesbitt(2008),éaprimeiracorrentedopós-modernismoenela
destaca-se o trabalho pioneiro de Norberg Schulz em seu livro “G
enius Loci: Towards a
PhenomenologyofArchitecture”(1979).NorbergSchulz(1979,apudNESBITT,2008)aproximaa
filosofia de Heidegger da discussão do espaço arquitetônico para conceituar o Habitar. Assim,
aponta para a identificação dos fenômenos que ocorrem no espaço como um caminho para
transformar o ambiente construído em “lugar”, sendo lugar para ele o “nosso pequenomundo”,
dotadodesignificadosedesubjetividade.
OespaçoondeaaçãodeHabitarmaisaconteceénacasa.Apalavra“casa”édefinidapor
Lamparelli 16
(2003, apud CAMARGO, 2007) como o espaço físico, o objeto material natural ou
construídoparasuprirasnecessidadesbásicashumanas.Masacasa,segundoCamargo(2007),
ao ser habitada, tem seu espaço apropriado pelos seus moradores, ganha identidade e assim
15
Ocampodasociologiaurbanaapresentaduasvertentes:adaescoladeChicagoeamarxistafrancesa.A
linha de Chicago baseia-se em autores clássicos da sociologia como Durkheim, Weber, Simmel e
classificam-se comoculturalismo.AmarxistafrancesacriticaoculturalismodeChicagoedesenvolve-sea
partir dos anos 1960 como estruturalista. A discussão de Lefebvre surge a partir de uma relativização
dessas duas vertentes e preocupa-se com a união da ciência política com a sociologia, voltando sua
atençãoparaosespaçosperiféricos.(FRÚGOLI,2005)
16
AtesedeCamargo(2007):“Casalardoce:ohabitardomésticopercebidoevivenciado”,analisaacasaa
partir de uma visão fenomenológica na atualidade. Para definir seu processo metodológico, parte da
definição de casa dada por Celso Lamparelli, seu professor. Essa definição foi discutida na Disciplina
AUH-5704 - Metodologia Aplicada à Arquitetura e ao Urbanismo, ministradaporLamparelli,em2003,na
FAU-USP.
adquire outras nomenclaturas como moradia, habitação, lugar e lar. Desse modo, hádiferentes
maneirasdeseinterpretarediscutiroobjeto:casa.
Ábalos (2003) em seu livro “A Boa Vida: visita guiada às casas da modernidade”,
debruça-se sobre o estudo do Habitarnaatualidade,desdeumaperspectivahistórica,eanalisa
os posicionamentos teóricos de Heidegger, Bachelard, Schulz e outros, sobre o modo como
abordam e interpretam a casa. Na visão heideggeriana, segundo Ábalos (2003), a casa
aproxima-se mais da definição de “lugar” na medida em que considera o espaço como
representação do homem interior. Ou seja, para a residência ser habitada autenticamente é
preciso o exercício pleno do “ser em si”. Desse modo, a casapassaasercompreendidacomo
lugar da fuga do mundo, onde o tempo decorre da existência humana. Da mesma forma, para
Habitar a casa concebida tal qual vê Bachelard, o sujeito expressa emoções e cria relações
simbólicascomcadacômodo,aproximando-sedadefiniçãode“lar”(ÁBALOS,2003).Osótão,o
porão e os corredores, por exemplo, comumente são identificados como lugar de refúgio, de
acordocomBachelard(1993),porestaremassociadosaoinconscienteeaoqueestáoculto.Jáo
quartoésímbolomaiordaintimidadedoser.
A partir de sua compreensão da casa como “lugar”, segundo Ábalos (2003), Norberg
Schulz critica a concepção moderna de Habitar, por considerar o espaço não apenas “uma
extensãomatemáticaealgébrica”.Destemodo,NorbergSchulzvêaproduçãomassivadecasas
padronizadas,comoformaabusivadetrabalharcomospreceitosdatécnica,quedesconsiderao
sujeito (ÁBALOS, 2003). Já Lefebvre (2001), entende que a casa pode ser interpretada como
“habitação”, pois relaciona-se com a cidade e com questões culturais externas.Aocontráriode
Schulz, ele defende o Habitar moderno ao afirmar que o seu espaço doméstico propõe boas
organizaçõespararesponderàsrelaçõeshumanas,resultandoemumaarquiteturaobjetiva,para
umsujeitoanônimoeuniversal.
Ao abordar a problemática da moradia no contexto da arquitetura moderna, Hernández
(2014)emseulivro“L
acasaenlaarquitecturamoderna:respuestasalaquestiondelavivienda”
ressalta que o Habitar moderno concentra-se na produção de casas paraostrabalhadores,por
issoumamaiorpreocupaçãocomasubjetividadeseriaconsideradaumaromantização,diantedo
contextoedasdemandassociais.
Assim, observa-se uma tensão existente em torno do Habitar a casa na modernidade,
segundo Ábalos (2003), quando estuda a relação entre os modos de viver e as correntes do
pensamento contemporâneo, a partir do estudo de uma sériedecasasconcebidasaolongodo
séculoXXedeacordocomasdiscussõesdeHernández(2014)aodefenderoHabitarmoderno
emdetrimentodoshábitostradicionais.Hernández(2014)afirmaqueentreasvisõesdefensoras
do moderno, oHabitardeve-seabrirparaomundoexternoepermitiraentradadamodernidade
nacasa,enquantoparaasvisõescontrárias,oHabitardevefechar-seepriorizarointerior,como
uma proteção a essa modernidade e uma busca pela volta da tradicionalidade. No entanto, há
aindaumquestionamentoseoHabitarmodernorealmenteexistiu,segundoHernández(2014).O
autor afirma que o espaço doméstico e a domesticidade, onde encontram-se as tradições e
costumesfamiliares,resistiuàmudançadehábitosedistanciou-sedaalmejadamodernidade,não
permitindo ainserçãodosnovosideaissociais.Dessemodo,oHabitarmoderno,paraoautor,é
consideradoutópico.
Diante das diferentes maneiras de se abordar o Habitar, parte-se do pensamento de
Lefebvreparasediscutiroespaçodoméstico,poisénecessáriocompreenderoespaçoformado
pela sociedade, no sentido deapreenderoscostumesqueocompõemequeimplicamoatode
Habitar. Para Santos (2004), oscostumesfazempartedaculturadedeterminadogruposociale
dedeterminadotempo.Aculturanãoéalgodefinitivoparaoautor,poisasrelaçõeshumanas,que
implicam na sua produção, estão sempre sendo reafirmadas e/ou reinterpretadas. Bourdieu
(2013) também contribui para essa discussão com seu livro “Espaço físico, espaço social e
espaço físico apropriado” e explica que cada grupo social expressa um sistema específico de
ações, os denominados habitus. Esses hábitos são determinados por um capital cultural, por
quem detém o poder econômico e, logo, possui o cultural. E,assim,ocapitalmoldaosujeitoe
refletenaformadosespaços.
O indivíduo, portanto, carrega uma carga sócio-cultural que vai refletir na concepção de
seusespaços. Busca-se,assim,discutiradomesticidade,ouseja,oestudodoespaçodoméstico,
através de uma visão social e cultural, para compreender o modo de Habitar goianiense, no
processoanterioreposterioràsreivindicaçõesmodernas.
Anteriora
os
éculoX
X
Antes da construção de Goiânia, algumas casas localizadas no interior de Goiás, como
Anápolis (MORAIS; MANSO; GORNI; PANTALEÃO, 2015), já seguiam os princípios de
modernidadequevinhamsendoadotadosemtodoopaís,apartirdadécadade1920.Porém,de
modo geral, até o início do século XX, segundo Moura (2011), as casas urbanas dointeriordo
estado ainda apresentavam características baseadas na herança colonial e adaptadas ao
contextolocal.
Eram casas térreas ou assobradadas, seguindo certa uniformidade devido à norma
estabelecida pelos regimentos portugueses. Assim sendo, possuíam um partido arquitetônico
simples,conformadoporumaplantasemrecuosfrontaisoulaterais,osquartos—denominados
de alcovas — não possuíam aberturas e o corredor, conectado à rua, era o elemento que
conduzia a ventilação e iluminação para o interior (figura 24). Essas casas eram feitas com
estruturademadeira,comtelhadosdeduasoutrêságuas,eavedaçãogeralmenteerarealizada
comalvenariadeadobesepau-a-pique,outaipademão.
Figura24.FachadaeplantamodelodascasasdointeriordeGoiásnoséculoXIX.Fonte:Moura,2011
A organização espacial estava ligada às relações advindas do patriarcalismo e do
escravismo existentes no período, conforme Vaz e Zárate (2005). Desse modo, a sala era o
primeiro ambiente, localizado na fachada da casa e, por fazer contato direto com a rua, era
ocupada pelos homens. Osquartosencontram-selogoemseguida,recuadosepossuemportas
entre eles. O corredor principal estendia-se até a varanda ao fundo,localdeconvíviofamiliare
das atividades de alimentação, portanto destinado àsmulheresecrianças.Porfim,osserviços,
como o abastecimento de água nascasas,oqualerafeitoporcisternasoupoços,odestinodo
esgotoedolixo,opreparodosalimentosedemaisatividadesdomésticas,eramresponsabilidade
dos escravos, por isso esses espaços localizavam-se no fundo do lote, juntamente com seu
alojamento.
Nas residências rurais do interior de Goiás, segundo Oliveira (2004), a configuração
espacialerasemelhante(figura25).Existiamoutrosespaçoscomoopaiol,ocurral,destinadosàs
atividadesdeserviçonasfazendas,masosambientesdoespaçodomésticoeramosmesmos.A
sala era localizada na fachada anterior, os quartos mais reservados e os serviços ao fundo,
juntamentecomavarandanaparteposterior,emumnívelmaisbaixoqueacasaprincipal.
Figura 25. Fachada e planta de um exemplar de casa rural do interior de Goiás no século XIX. Fonte:
Oliveira,2004
Oestarnessascasasaconteciaemfrentedacasa,noterreiro.Ovisitantenãochegavaa
adentrar à residência (OLIVEIRA, 2004). Já nas casasruraispaulistasemineiras,diferentedas
casas goianas, existia um espaço específico para recepção das visitas: o alpendre. Esse
ambiente, conforme a autora, já era encontrado ao longo dasfachadasfrontaisdasresidências
rurais de Minas Gerais e São PaulodesdeasegundametadedoséculoXVIII,havendoapenas
um exemplar goiano com essa configuração (figura 26). O alpendre, segundo Lemos (1957),
caracteriza-secomoumaáreasombreadapelaextensãodotelhadoprincipalesemfechamentos
laterais.Eleéumespaçointermediárioentreointerioreoexteriordacasaefuncionavacomoum
localdeesperadosvisitantesequedavaacessoaosquartosdehóspedes.
Figura26.PlantadafazendaPontinha,localizadanacidadedeGoiásefotografiadesuajanelaalpendre.
Fonte:Vaz,2002.
Além do alpendre, na casa urbana da elite paulista do final do século XIX (figura 27),
existiaovestíbulo,oqualtambémfuncionavacomoumambienteintermediárioentreoexterioreo
interior. O vestíbulo é típico da distribuição francesa e a referência mundialdaEscoladeBelas
ArtesdeParisnesseperíodoinfluenciouamodernizaçãodointeriorbrasileiro(MACHADO,2011).
Esse espaço localizava-se na entrada social e conduzia os visitantes aos demais ambientes
internos; era o ambiente responsável pela independência entre as zonas de estar,deserviçoe
íntima (LEMOS, 1993). Segundo Alves e Righi (2015), como era um local de espera, possuía
poltronas,sofásecabides,ondesedeixavamoscasacos,chapéuseoutrosobjetos.Osautores
afirmamaindaquenoespaçoexistiammóveiseumadecoraçãomuitoelegante,comointuitode
deixarumaboaprimeiraimpressãodosproprietáriosdaresidência.
Figura27.PlantasdopavimentotérreoesuperiordeumpalacetepaulistadoséculoXIX.Fonte:HOMEM,
2010,apud,ALVES;RIGHI,2015
Já nas casasgoianas,aspessoasmaisconhecidaseramrecebidasnavarandaposterior
oumesmonacozinha(OLIVEIRA,2004).Avarandaéumambientedeinfluênciaindiana, chegou
aoBrasilpelosportugueseseseadaptoumuitobemaoclimabrasileiro,porissoestápresenteem
muitas regiões do país (LEMOS, 1989). Como afirma Lemos (1989), apesar da varanda e do
alpendre configurarem-se da mesma forma, como uma extensão coberta da casa, trazendo
sombra para ointerioresemfechamentoslaterais,apresentam-secomoambientesdistintospor
sua inserção em planta, que define a forma como se conectam aos espaçosinternos,eassim,
suasfunções.Avarandasurgecomoespaçodeconvíviofamiliaríntimoevoltadaparaatividades
de alimentação. Algumas vezes, o alpendre pode fazer papel de varanda, mas a varanda não
pode ser um alpendre. Desse modo, nas casas goianas, o espaço de convívio está
tradicionalmenteligadoàvarandaeàcozinha.
Asd
écadasd
e1
930e
1
940
AolongodoséculoXX,houvemudançasemrelaçãoàproduçãohabitacionaleurbanaem
boapartedoterritóriobrasileiro,pautadaemumviéssanitarista,emboraaindaexistamextensas
regiõesdesassistidasnessesentido.Esseconceito,advindodaáreadasaúde,preocupa-secom
ahigieneparaconteraproliferaçãodedoençascontagiosas.Dessemodo,nasprimeirasdécadas
do século XX, a maior parte destas reformas urbanas eram: “obrasdesaneamento,eliminação
das moradias insalubres e regulamentação de novas construções,visandoobem-estarsociale
oferecendo condições adequadas para o desenvolvimento da vida moderna e da produção
capitalista.”(MOURA,2011,p.18).
Nessecontexto,aintroduçãodosprincípiosdeprojetomodernoemGoiâniabuscoudefinir
um novo modo demorareforaminseridosemdoismomentos:oprimeiro,comaconstruçãode
casas-tipo para abrigar os funcionários do Estado e trabalhadores no início da construção da
cidade. E, num segundo momento, a partirdacasaburguesa,porpartedaclassemédiaealta.
Nesse período, as residências foram projetadas por profissionais que não possuíam formação
como arquitetos, o que contribuiu para caracterizaraarquiteturanãopautadanospreceitosdas
vanguardasmodernasbrasileiras.
Diantedessecontexto,naépocadaconstruçãodeGoiânia,ascasasurbanastradicionais
de Goiás eram consideradas insalubres. Vaz e Zárate (2005) explicam que a construção das
primeiras casasgoianiensespreocupa-secomaimplantaçãodacasanolote,oestabelecimento
de recuos para iluminação e a ventilação natural; a inserção da cozinha e dos banheiros na
edificação principal e a inovação dos materiais com a utilização do concretoarmadoempartes
das casas, a telha plana para atender a novas configurações de telhados, mais modernas e
eficientes do ponto de vista do escoamento das águas, e ladrilhos nas áreas molhadas e
assoalhosnosdemaisambientes.
Além disso, o interior das casas também será transformado em função da higiene.
Segundo Badan (2020),oprópriomobiliáriomodernosimplifica-sedemodoafacilitaralimpeza,
por isso apresentam linhas mais arredondadas, superfícies lisas e são cobertos com verniz e
pinturasmaisclaras.Devidoaoespaçomaisreduzido,erampensadosparaseadequaravários
ambientes. Os mesmos móveis, por exemplo, podiam funcionar para a sala de estar e jantar
(BADAN, 2020). Assim, conforme a autora, as medidas sanitárias do século XX trouxeram um
carátermaisutilitárioedeconfortoparaoespaçodomésticogoianiense.
Segundo Moura (2011), no período inicial da construção de Goiânia, existiam três
categorias de “casas-tipo”.Nestemomento,percebe-seo“tipo”comoumconceitorelacionadoà
reprodução em série. Havia as casas-tipo destinadas aos operários,asquaispossuíamapenas
um pavimento, alpendre e um programa com sala, dois quartos,cozinhaebanheiro(figura28).
Uma segunda categoria era destinada aos funcionários, onde havia dois tipos, um com os
mesmosambientesdacasadosoperários,somenteacrescentava-sealgunselementosestéticos
na fachada e outro que possuía dois pavimentos e quatro quartos (figura 28). Já as casas
especiais, para representantes do governo, eram térreas ou sobrados, de dois acincoquartos,
com varanda ao fundo, duas salas, copa, cozinha, garagem,despensa,doisbanheiroseanexo
com dependências para os funcionários (figura 28). Alguns ambientes sãoresquíciosdoséculo
anterior, como a presença da varanda da casa colonial na parte posterior, associadaàcozinha
goiana, do alpendredasresidênciasruraispaulistasemineiraseaindaaedículacomacozinha
sujaeasdependênciasdefuncionários,aofundo.
Figura28.Fachadasdascasas-tipooperários,funcionárioseespeciaisemGoiânianosanos1930.Fonte:
Moura,2011
As fachadas das casas seguem um mesmo padrão, mas variam a partir de poucos
elementos em função da inserção ou não do alpendre, o tipo da cobertura e o acréscimo de
materiais e elementos decorativos. A construção dessas casas, modernizadas em relação ao
programadenecessidades,àsinstalaçõeselétricasehidrosanitárias,aosmateriaiseàstécnicas
eelementosarquitetônicoseconstrutivos,serámuitoimportantenamedidaemqueelasservirão
de modelo para um novo modo de construir e morar, que representaoespaçourbanodanova
capital.
Figura29.FachadasdascasasdeparticularesemGoiânianosanos1930.Fonte:Moura,2011
Ouseja,adiferençaentreacasapopulareacasaburguesa,entreasdécadasde1930e
1940, em Goiânia, não estava tanto na forma de definir e organizar os espaços e seus usos,
exceto pelas maiores dimensões dos ambientes nos grandes sobrados neocoloniais (MOURA,
2011), mas no modo como estes se materializam estilisticamente falando, a partir de novos
materiais,equipamentoseutensíliosdomésticoseumvocabulárioformalexótico.
Anos1
950e 960
1
Adécadade1950émarcadaporgrandestransformações.ComoafirmaAcayaba(1986),
esse período destaca-se pela difusão do movimento moderno pelo país, com o Rio de Janeiro
perdendo sua característica de centro difusor, São Paulo crescendo e outras escolas de
arquiteturasendocriadaseganhandorelevâncianointeriordoterritóriobrasileiro,posteriormente
culminando na construção de Brasília, em 1960. Desse modo, ocorre a vinda dos arquitetos e
engenheiros cariocas, mineiros e paulistas para Goiânia, como o engenheiro AméricoVespúcio
Pontes, os arquitetos David Libeskind, Eurico Godoy, Silas Varizo, Antônio Lúcio, entre outros.
Com isso, em Goiânia, o movimento moderno chega primeiramente nas artes plásticas, com o
marco dafundaçãodaEscolaGoianadeBelasArtesem1952(MELLO,2012),enaarquitetura,
demaneirafiltradaeadaptadaporessesprofissionaisformadosemoutrasregiõesdoBrasil.
De acordo com Silva Neto (2010), houve três momentos de produção do Movimento
ModernonacapitaldeGoiás.Oprimeirofoinadécadade1950,comaconstruçãodosprimeiros
edifícios influenciados pela Escola Carioca17. O segundo momento aconteceu em meados da
décadade1960comosarquitetosvindosdeMinasGeraisedeSãoPaulo,trazendoreferências
daEscolaPaulista18.Eoterceiromomentofoimarcadopelasobrasdosprofissionaisformadosna
UniversidadedeBrasíliaapartirde1970.
afirmar essa ideia, principalmente os panos de vidro, mas também nas paredes externas com
revestimentoscerâmicos,mosaicosoupainéis.
Em Goiânia, a primeira casa construída na cidade que se identifica com estas
características, foi a Residência Dourival Bacellar (1952), de autoria do arquiteto goiano Eurico
Godoy(figura30).ConformeVazeZárate(2005),elacausougrandeimpactonocontextourbano
goianienseporsediferenciarfuncionalmenteeesteticamentedasdemaisepossuirforteinfluência
daEscolaCariocadearquitetura.Emtermosplásticos,“aconfiguraçãodaresidênciarompecom
o padrão estético dominante nos bairros Central e Norte ao adotar uma geometria mais pura,
volumeprismático,linhasretaseplanosinclinados.”(VAZeZÁRATE,2005,s.p.)
Figura30.ResidênciaDourivalBacellar,arquitetoEuricoGodoy,localizadaemGoiânia,1952.Fonte:Silva
Neto,2010
Funcionalmente, Eurico Godoy cria um pátio interno deslocado em relação ao eixo de
entrada e a partir dele organiza a disposição dos ambientes e a setorização. O setor social
encontra-seàfrentedacasa,odeserviçosfoiimplantadonorecuolateraleoíntimoatrás.Desse
modo os três setores interligam-se e conectam-se com o jardim interno. O setor social possui
maior área que os demais, possuindo um vestíbulonapartefrontal,duassalas,umadeestare
outra de jantar integradas e um lavabo. O setor de serviços é o mais compacto, contendo a
garagem,umacozinhaeumaáreadeserviço(figura31).
Figura31.PlantadaResidênciaDourivalBacellar,1952.Fonte:SilvaNeto,2010.Imagem:Organizadapor
CarolinaVivas,2021
Os acessos principais para a parte de serviço e para a parte social são separados, o
vestíbuloconduzàáreasocial,enquantoagaragemdáacessotantoàáreadeserviçosquantoà
sala. Além das entradas (social e de serviço) serem por ambientes diferentes, também se
separamporníveis,poisaresidênciafoielevadadochãoeassimoseuacessoprincipalsocialé
feitoporumarampa.Arampaestabeleceaconexãodacasacomarua,assimcomoovestíbulo.
Ojardimemvoltadaresidência,buscadialogarcomacidadeeospanosdevidrodasportasde
entradanafachadaconvidamavidaurbanaparaointerior.Oseupátiointernotambémcumprea
funçãodeabriracasaparaoexterior,deformacontrolada.
Percebe-se que a cozinha e a área de serviços foram integradas à casa principal.Esse
aspectoimpactanomododeHabitardafamília,jáquenãohámaisapartedeserviçosaofundoe
esta área insere-se no volume da casa, compondo um volume único, conforme os princípios
percebidosporAcayaba(1986).Porém,comoresquíciodoHabitartradicional19,osacessosainda
estão separados em relação aos ambientes e nota-se a presença do vestíbulo, trazido da
influênciadascasaspaulistasdoséculoXIX.
NomesmoanoéconstruídaacasadeFélixLouza,projetodeDavidLibeskind(figura32).
Suavolumetriaémarcadapelahorizontalidadeedestaca-sepelariquezadosmateriaispresentes
emsuafachada.Outrodestaquesãoasparedesexternasrevestidascomcerâmicaecomposição
depainéisdeazulejoedeelementosvazados.
19
Compreende-se o termo “habitar tradicional” como a configuração do espaço doméstico anterior às
transformaçõesdoséculoXX.
Figura 32. Casa Félix, do arquiteto David Libeskind, localizada na Av. Paraíba com rua 9, 1203, Setor
Central,Goiânia,1952.Fonte:SilvaNeto,2010
Adistribuiçãodosambienteseasetorizaçãoorganiza-seemtornodetrêspátios,cadaum
vinculado a um setor. A maioria dos ambientes está voltada para esses pátios internos, sendo
toda a casa rodeada por áreas verdes. Os ambientes possuem dimensões generosas e são
implantados conforme os distintos setores. Ovestíbuloéoprimeiroambienteinternodecontato
daparteexternaeacessadopelospedestres.Esseespaçodifere-sedoalpendre.Enquantoeste
éumespaçoexterno,vinculadoaoacessosocialdacasaeondepodesentar-se,ovestíbuloéum
espaço interno, também vinculado ao acesso social, onde pode-se sentar e pendurar objetos,
comocasacosebolsas.Nessaresidênciamoderna,esseespaçoapresenta-seinternalizado,mas
aomesmotempoabertoparaarua,sendoumareleituradovestíbulopertencenteaospalacetes
paulistanos do século XIX. Logo após esse espaço, têm-se as salas, de estar e de jantar,
integradas.
A entrada deveículos,pelagaragem,permiteoacessoàáreadeserviços.Dessemodo,
osacessosaosetorsocialedeserviçosãocompletamenteseparados,dadaaconfiguraçãodos
pátioseaorganizaçãoespacialdacasa(figura33).
Aresidênciadialogaeabre-separaaruaatravésdospainéiscerâmicosedoselementos
vazadosemsuasfachadas.Essesúltimosgarantemodiálogodacasacomaruaeotodooseu
contexto urbano, característica importante no Habitar moderno. Segundo Silva Neto (2010), o
arquiteto preocupou-se com a inserção da residência no contexto urbano, porém,
simultaneamente,escondeuaportadeacessopormeiodoprolongamentodeumdosplanosda
fachada. A organização em torno de pátios faz com que a casa se volteparaoespaçointerno
(figura 34). Nota-se, na planta (figura33),oquartodeserviçoscomoaindaresquíciodoHabitar
tradicional,assimcomoaseparaçãodasentradassocialedeserviço.
Figura34.PátiosinternosnaCasaFélix,1952.Fonte:SilvaNeto,2010
A residência Carlos Cunha, projetada por Silas Varizo em parceria com o arquiteto
Armando Norman, em 1963, é outro importante exemplar da casa moderna em Goiânia (figura
35).LocalizadaemumlotedeesquinaeumterrenodegrandesdimensõesvoltadoparaaPraça
Cívica, foi destinada para umafamíliadeclassemédiaalta.Emsuaarquitetura,assimcomona
residência analisada anteriormente, utiliza-se diferentes materiais para diferenciar os volumes.
Nessecasosãousadoscerâmicas,pastilhas,pedras,tijolosaparenteseocobogó.
Figura35.CasaCarlosCunha,dosarquitetosSilasVarizoeArmandoNorman,localizadanarua82coma
ruaDonaGercinaBorgesTeixeira,noSetorCentral,emGoiânia,1963.Fonte:SilvaNeto,2010
Figura36.PlantadaCasaCarlosCunha,1963.Fonte:SilvaNeto,2010.Imagem:OrganizadaporCarolina
Vivas,2021
nascasasgoianienses(figura37).Ooutroambiente,nopavimentoinferior,écaracterizadocomo
alpendre.
Silva (2010) afirma que o alpendre foi solicitado pelo cliente, demonstrando a volta do
ambiente,presentenascasasgoianiensesdasdécadasde1930e1940.Noprojeto,SilasVarizo
eArmandoNormanreinterpretamoalpendrecomoumavaranda(figura37).VazeZárate(2005)
afirmamqueosarquitetosoptaramporavançarovolumesuperiorsobreotérreoparasombreara
área do alpendre e o posicionam na parte frontal da casa com a inserção de um painel em
cobogó,oqualpermiteaconexãocomaruademaneiramaissutilenãocomprometeassoluções
modernas propostas. O alpendre, portanto, antes tr adicionalmente utilizado como espaço de
acesso àcasa,dedimensõesreduzidasevoltadoàrua,éreinterpretadocomoespaçodeestar,
de dimensões amplas, mais próximo à tradicional varanda, pois mesmo estandovoltadoparaa
rua, encontra-se resguardado pelos cobogós e pela vegetação arbustivaqueocircunda.Desse
modo, o alpendre e o espaço da varanda são reinterpretados, porém o quarto de serviços
destaca-secomoresquíciodoHabitartradicional.
Figura37.Alpendreevaranda,respectivamente,daCasaCarlosCunha,1963.Fonte:SilvaNeto,2010
Mas a inserção das características modernas na capital de Goiás impactou não só na
arquitetura,comasinovaçõesplásticasefuncionais,comotambémnomododeHabitardeseus
moradores.Issoporqueamodernidadetambéminvadeacasaatravésdosnovosequipamentose
mobiliários. Lemos (1989) afirma que, a partir da década de 1950, os eletrodomésticos são
elementosrelevantesnoimpactodaconfiguraçãoespacial.Atelevisãosurgecomoumelemento
importante por trazer o lazer para dentro do espaço doméstico e integrar as salas. Os
equipamentos como o fogão a gás, o forno elétrico, a máquina de lavar eoutros,impactamna
diminuição do setor de serviço e consequentemente remete à inutilidade do quarto de serviço,
poisafirmaqueasatividadesdomésticaspodemserdesenvolvidasfacilmentepeladonadecasa.
SegundoJanjulio(2021),afiguradadonadecasaépropagadapelasrevistassobrecasas
naquela década. Encontra-se anúncios sobre a venda dos eletrodomésticos, armários,
revestimentos como azulejos, persianas e demais elementos, principalmente voltados para a
cozinha(figura38).Esseaspecto,conformeaautora,demonstraummododemodificarohábito
dasociedade,paraconfigurarnasleitorasoimagináriodequeacasamodernaéumacasalimpa,
eficiente,racionalesimples.
Figura38.Anúnciosobrearmáriosmodularesparaacozinhanadécadade1950.Fonte:ACRÓPOLE,fev.
1955,p.14
Percebe-seassimagrandemudançaemrelaçãoaoconvívio.Ocentrodereuniãofamiliar,
antesvinculadoàscozinhaseaofogãodelenhanofundodascasastradicionais(VAZ,ZÁRATE,
2005), passa a acontecer no espaço da sala, a qual ganha maior importância social. A sala
também se destaca por relacionar o espaço doméstico com os jardins e comarua.Acozinha,
incorporadaàcasaprincipal,possuidiversosequipamentos,trazendooconceitodehigienização
e respondendo ao aspecto de funcionalização. Emcontrapartida,nascasasanalisadas,nota-se
que outros espaços, pertencentes à cultura das casas do séculopassado,permanecemousão
reinterpretados.Comooquartodeserviços,oalpendreàfrentedacasa,ovestíbulodistribuindoe
separandoosacessos;bemcomoavaranda,naparteposteriorouassociadaaosquartos.
Décadad
e1
970
Adécadade1970apresentanovosmodosdeHabitarmoderno,pelainfluênciadolegado
daEscolaPaulistaedaestéticabrutalista,nesseperíodo.Obrutalismoécaracterizadopelouso
demateriaiscomooconcretoarmadoeotijoloemseuestadobruto,semtratamentosestéticos,
além do amplo uso da estrutura independenteedaconcepçãodegrandesvãos,características
tornadas possíveis pelo desenvolvimento da indústria da construção civil no Brasil, a partir de
novosmateriaisetécnicasquevãoinfluenciaraindamaisnaracionalizaçãodascasasmodernas.
SegundoAcayaba(1986),diferentedaorganizaçãoespacialdamaioriadascasasdosanos1950,
naqualmuitosespaçospermanecemseparadosporparedespelofatodaestruturaindependente
ainda não ser usual nos projetos em geral, na década de 1970 esse uso generalizou-se na
arquitetura residencial. Com isso as residências apresentam uma estrutura autônoma. Seus
espaços e suas funções são organizados livremente e tornam-se bastante generosos, além de
permitirumamaiorflexibilidadenaarticulaçãodosambientes.
A residência em Goiânia que se destaca nesse aspecto, é a casa Ruffo de Freitas
(1972-1974),projetadaporAntônioLúcioFerrari(figura39).OarquitetomineiroveioparaGoiânia
no final dos anos 1960, onde produziu grandes obras modernas e modificou o repertório
goianiense com seus preceitos brutalistas. A casa destaca-se pelo uso do concreto aparente,
apresentando um caráter sólido. Porém, seu acesso, por meio de painéis de muxarabis —
treliçado de madeira utilizado na arquitetura tradicional portuguesa de influênciaárabe—,além
dos vãos que configuram a varanda superior, garantem mais transparência e leveza à sua
materialidade.
Figura39.CasaRuffodeFreitas,doarquitetoAntônioLúcio,localizadanarua10,Qd.E7,Lt.52,noSetor
Oeste,1974.Fonte:SilvaNeto,2010
A organização espacial proposta por Antônio Lúcio foi realizada a partir da estrutura,
concentradanasextremidadesenapartecentral,parasustentarovolumedeformaquadrada.Os
ambientes como o vestíbulo, o lavabo e o quarto do térreo foram centralizados para que os
demais ambientes pudessem ser implantados livremente, sem a existência de vedações, e
proporcionar uma maior flexibilização interna. A partir desta configuração, a casa possui dois
pavimentos. No primeiro estão localizados os setores social e de serviço, com esse último
lateralizado e mais oculto queosocial;e,nosuperior,encontra-seosetoríntimo(figura40).Os
espaçostambémsãodefinidospelosvolumes.Nopavimentotérreo,acasaapresentaumvolume
sólidoalongado,deixandoumadaslateraiscompletamentevazada,desdeafrentedoloteatéos
fundos (local onde se localiza a garagem), e no pavimento superiorapresentaumvolumemais
quadrangular, que se assenta sobre o volume inferior, cobrindo a garagem. Ou seja,acasade
Antônio Lúcio, apresenta um jogo de volumetrias entre o pavimento inferior e superior bem
marcante,possibilitadopelousodaestruturadeconcretoarmado.
Figura40.PlantaRuffodeFreitas,1974.Fonte:SilvaNeto,2010.Imagem:organizadaporCarolinaVivas,
2021
Percebe-sequeosambientesquecompõemosetordeserviçossãocompactosevolta-se
uma atenção para o social, com espaços amplos, integrados e áreas generosas. Aáreaíntima
também é extensa com quatro quartos e todos com banheiro privativo. Segundo Silva Neto
(2010),ossetoresforambemdefinidosedessemodoosfluxossãoseparados,porémexisteum
único acesso, pela escada, para o pavimento superior, assim os setores não são totalmente
independentes.
No volume externo cobertoestãoagaragem,duasvarandaseaáreadeserviço.Acasa
não possui muros e encontra-se emfrenteàumapraça.Nessesentido,aconexãocomaruaé
direta e o jardim da entrada funciona como uma extensão da área verde do bairro. Silva Neto
(2010)afirmaaindaquenaépocadaconstruçãodaresidência,aconteciameventosnessapraça
equeacasapareciaparticipardavidaurbana.Osquartos,nopavimentosuperior,comunicam-se
através de uma varanda única, que dá vista para a cidade. A segundavarandaencontra-seno
térreo,emumpequenoespaçoaofundodaresidência,queconectaasaladejantareoescritório
com o jardim externo. A área de serviço também é externa à casa, localizada em uma das
laterais,tendoacessopelocorredordosetordeserviços.
A presença do quarto de serviços associada à cozinha e à lavanderia demonstra um
resquíciodoHabitartradicional.Assimcomoavarandanosquartos,quenesteprojetoassocia-se
à convivência íntima e àcontemplaçãodapaisagem.Ovestíbulotambémcontinuaaparecendo,
retomandoarelaçãodointernocomoexterno.
Outra casa que sobressai nesse contexto é a Residência Georthon Philocreon, do
arquitetoPauloMendonça,projetadaentre1974e1975(figura41).SilvaNeto(2010)afirmaque
suaarquiteturasedestacadoentornopelasuavolumetriagrandiosa,comumbalançocommais
de três metros na sua fachada principal. Sua implantação foi feita com a junção de dois lotes,
possibilitandoaconfiguraçãoemformatodecruz,naqualosambientesorganizam-seapartirda
interseção da cruz, onde foi disposto o elemento de circulação vertical. O térreoestende-seno
sentidotransversaleopavimentosuperiornosentidolongitudinal.Assim,asetorizaçãoacontece
domesmomodoquenaresidênciaanterior,deformaseparadapelospavimentos.
Figura41.CasaGeorthonPhilocreondoarquitetoPauloMendonça,localizadanarua1129,Qd.237,Setor
Marista,1975.Fonte:SilvaNeto,2010
A residência apresenta dois acessos verticais, uma escada interna e outra externa. As
duasdãoacessoaosetoríntimonopavimentosuperior.Ainternalocaliza-senasaladeestarea
externa está ligada a um grande espaço coberto caracterizado como uma varanda. Além dos
verticais, os acessos horizontais são separados em social e de serviços, pelo vestíbulo e pela
garagem, respectivamente, assim como na casa analisadaanteriormente.Acirculaçãonacasa,
portanto,aconteceemtornodaescadahelicoidalnapartesocialedepoishorizontalmenteatravés
do corredor que leva a parte de serviços. E no setor íntimo a circulação também ocorre pelo
corredor,deformalongitudinal(figura42).
Figura 42. Planta da Casa Georthon Philocreon, 1975. Fonte: Silva Neto, 2010.Imagem:organizadapor
CarolinaVivas,2021
Alguns elementos do projeto permitem a conexão da casa com o meio externoecoma
rua.Acoberturadopavimentoinferiortransforma-seemumterraço-jardim,oqualépossívelser
vistopeloespaçodeestarqueinterligaosquartos.Notérreo,assalaseacopaabrem-separao
jardim ao fundo e se conectam a uma varanda, inserida como extensão da parte social e de
serviços. O pátio interno também é responsável pela abertura da casa, trazendo iluminação,
ventilaçãoevegetaçãoparadentrodasaladeestar.Ojardimfrontalsemadelimitaçãodemuros,
tambémcontribuiparaaentradadavidaurbananoespaçodoméstico.
Nessesexemplares,igualmentepercebe-sequeaculturadeHabitar,anterioràspropostas
modernas,continuampresentesnoespaçodomésticodosanos1970apartirdealgunsdetalhes.
Nãoháumaconstruçãoàparteaofundodoterreno,porémavarandacobertalocalizadanaparte
posteriorremeteàscasasdoséculoXIX.Domesmomododasanálisesanteriores,existeaindao
quarto de serviços, a entrada social e de serviços continuamseparadas,bemcomoovestíbulo
tambémexistentenoacessoprincipaldacasa.
Cada momento, portanto, é caracterizado pela introdução de determinados preceitos e
aspectos relacionados ao Habitar moderno, mas não se concretiza totalmente. Em Goiânia, os
anos 1930 e1940sãomarcadosporumprocessodemodernizaçãosanitarista,comainovação
naimplantaçãodaresidêncianoterrenoparaproporcionarmelhorventilaçãoeiluminaçãointerna,
assim como a inserção da cozinha e dos banheiros próximos à sala. Jáasdécadasde1950e
1960 configuram-se pelos primeiros projetos do Movimento Moderno na capital, cuja principal
característica éaaberturadacasaparaavidaurbana.Dessemodo,oquintaltorna-sejardim,a
salaganhamaiorimportâncianavidafamiliarearesidênciadialogacomarua.Apartirdosanos
1970, a casa expande seu espaço interno e garante maior integração entre eles, pela
possibilidade do uso da estrutura independente, além de adquirir uma nova concepção formal
devidoaousodemateriaisàvista.
A arquitetura moderna brasileira impacta pela sua originalidade diante do cenário
internacional e configura-se através da reinterpretação e valorização da cultura nacional, mas
referindo-se ao Habitar no espaço doméstico, percebe-se que alguns hábitos não foram
transformados, assim como afirma Hernández (2014). Com isso, o modo deviverpresentenas
casasgoianienses,aindaépermeadopelatradição,quecaracterizaalgunsdeseusespaços.
2.2OprojetodascasasdoPrivêAtlântico
O projeto das casas do Privê Atlântico foi aprovado em março de 1977 e em1978elas
foram inauguradas. Foi realizado pelos arquitetos Silas Varizo e Edeni Reis Silva, os quais
possuem uma formação moderna20. As residências são unifamiliares, térreas, apresentam
configuração de casas-tipo e uma simplicidade construtiva refinada, através de seuselementos
(figura43).Portanto,umadasprincipaiscaracterísticasmodernasnascasasdoPrivêAtlânticoéa
utilização do “tipo” como princípio de projeto para atender às demandas de racionalização e
funcionalidadedasmoradias.
20
Silas Varizo, carioca, graduou-se em 1962 pela FaculdadeNacionaldeArquiteturadaUniversidadedo
Brasil(RJ).VeioparaGoiâniaem1962,ondeatuouemescritórioparticular,naáreaacadêmicaenoserviço
público. De acordo com Silva Neto (2010), o arquiteto iniciou umamaiorproduçãocomoautônomoapós
deixarocargopúblicoem1971esevincularàCaixaEconômicaFederal,justificandoasuarelaçãocomo
desenvolvimento dos projetos do Privê, construídos em1978.OarquitetoEdeniReisdaSilvaégoianoe
teve sua maior atuação em cargo público e segundo Mendonça (2001), foi responsável também pela
revitalização da área doSetorSul,localizadanaTravessaBezerradeMenezeseadjacências,apartirda
criação doCentroCulturalMartimCererê,em1998,enoprojetodascasasdoPrivêeleatuaemparceria
comSilas.
Figura43.FotografiadacasadoPrivêAtlânticoem1978.Fonte:AcervodamoradoraWilmadaCosta
A palavra “tipo” insere-se no campo da arquitetura no século XIX pelo arqueólogo
QuatremèredeQuincy,oqualdefendeaideiadequenadasecriasozinho.Portanto,otipopara
ele é um antecedente. Quatremère atenta para a diferenciação entre“tipo”e“modelo”,sendoo
termo “modelo” correspondente àquilo que se pode repetir rigorosamente, como uma cópia
(LEUPEN, 1999). Assim, a compreensão do tipo por Quincy aproxima-se da ideiade“estrutura
básicadaforma”(MONTANER,2001,p.110).Ouseja,aquiloqueéessencial,masdiferentemente
domodelo,estásujeitoamodificações.
Porém,oconceitodetipoadquiresignificadosdiversoseémodificadoaolongodahistória
da arquitetura. Na década de 1920, a abordagem tipológica foi difundida dentro do movimento
moderno com outra perspectiva. Meninato (2015) explica existirem três posicionamentos em
relação à discussão do tipo no modernismo. O primeiro refere-se aalgunsautoresegruposde
vanguarda que negam o conceito, justificando a busca pelo novo e com isso a rejeição de
qualquer aspecto formal pré-estabelecido. O segundo posicionamento refere-se aos arquitetos
que se afastam do conceito de tipo da academia e buscam, nas tipologias das fábricas e
indústrias, as referências para a concepção de seus projetos. E oterceiroéoentendimentode
tipocomoumprotótipo,baseando-seemestratégiasdepré-fabricaçãoedepadronização.
DeacordocomMontaner(2001),aadoçãodotiponocontextodaarquiteturamodernafoi
baseada nas teorias sociais de Max Weber, nas quais o sociólogo afirma haver um “tipo ideal”
paraservircomoumparâmetrosimplificadodeanálisedasociedade.Dessemodo,naarquitetura
moderna, o tipo é compreendido como uma abstração, pensado como um conjunto de normas
básicas para se atingir uma configuração racional e funcional da construção. Montaner (2001)
explica,ainda,ostrêsprincípiosformaisdomodernismoutilizadosparacomporos“tiposideais”:
Cada exemplo paradigmático é medido e comparado em relação a umas
normas, a um tipo ideal, a um estilo internacional cujos três princípios
formais estabelecidos são: a arquitetura como volume ejogodinâmicode
planos; o predomínio da regularidade substituindo a simetria axial
académica; e a ausência de decoração acrescentada que surge da
perfeiçãotécnica.(MONTANER,2001,p.111).
Assim, no movimento moderno cria-se novos tipos de referência, passíveis de serem
modificadosdiantedastransformaçõesculturaisesociais.Astipologias,portanto,sãoconcebidas
desdeoiníciodomovimentomoderno,entreasdécadasde1920e1930,comoummétodopara
alcançarumnovomododevida,semostentação,comespaçoseficazesefuncionais.
Seeliminarmosdenossoscoraçõesementestodososconceitosmortosa
propósitodascasaseexaminarmosaquestãoapartirdeumpontodevista
crítico e objetivo, chegaremos à “máquina de morar”, acasadeprodução
emsérie,saudável(tambémmoralmente)ebelacomosãoasferramentase
os instrumentos de trabalho que acompanham nossa existência (LE
CORBUSIER,apudFRAMPTON,2003,p.183).
Além da utilização de tipologias como meio para se projetar, a arquitetura dascasasdo
conjunto Privê Atlântico destaca-se do contexto local de produção de habitação de interesse
social pela qualidade do projeto e por suas especificidades. A produção habitacional no Brasil
durante a década de 1970, períododeconstruçãodessascasas,erarealizadabasicamentepor
meio do BNH (1964-1986). O BNH atuou em todoterritórionacionalcomofinanciadordevárias
instituições e, em Goiânia, estava articulado com os agentes da COHAB, INOCOOP e da
CAIXEGO.
Do pontodevistaarquitetônico,Bonduki(2008)questionaodesprezopelaqualidadedos
projetos da maioria dos conjuntos do BNH, que construíram soluções homogêneas e
padronizadas, a exemplo das casasdoConjuntoVeraCruzemGoiânia(figura44).Contudo,as
casasdoPrivêAtlântico,assimcomoascasasdoParquedasLaranjeiras,diferenciam-sedesse
contexto,primeiramente,porassociarem-seàCAIXEGOedestinarem-seàumaclassecommaior
poderaquisitivo.
Figura44.TipologiasdoConjuntoVeraCruz,1981.Fonte:EdinardoLucas,2016
SegundoLimaeFerreira(2021,p.14),“apartirdosanos1930,ostrabalhadorespassaram
a ser beneficiários potenciais de uma política nacional de habitação operacionalizada pelas
Caixas e Institutos de Aposentadoria e Pensões — CAPs e IAPs — até 1964.” Com isso, a
arquitetura moderna começou a seinserirnosprojetosresidenciaisparaaclassemédiabaixae
assimgarantirumamaiorqualidadearquitetônica:
acesso a moradias que incorporaram, tanto nas fachadas como na
espacialidade interna, traços da arquitetura moderna, imbuídosdevalores
simbólicosque,pode-sesupor,validaramsuainserçãonumasociedadede
consumoemergente.(LIMA;FERREIRA,2021,p.16).
Dessemodo,ascasasdoParquedasLaranjeiraseascasasdoPrivêAtlânticopossuem
pontosemcomum,comoostiposdiferentesdecasascomprogramasligeiramentediferenciados
para proporcionar opções diferentes de agenciamento dos espaços, além de um projeto do
espaço de urbanização preocupado comaconvivênciaentreosmoradores.Eosdoisconjuntos
diferem-sepelaqualidadedoprojeto,poisascasasdoPrivêapresentamumamelhorarquitetura,
peladefiniçãodoselementosesoluçõesespaciais,incluindoaprevisãodecrescimentodonúcleo
básico da moradia. Assim, pelo financiamento da CAIXEGO atender uma classe média baixa,
portanto com maior poder aquisitivo, existe uma tendência de ter bons projetos, que procuram
atender a diversos tipos familiares, de forma mais adequada tanto em relação ao desenhodas
casascomodaprópriaurbanização,emdetrimentodopadrãoBNHquesealastroupelopaís.
espelhamento foi uma maneira de distorção do tipo, em si, para se criar outro tipo, conforme
explicaLeupen(1999).
Figura 45. Perspectivas das Casas-tipo do Privê. Fonte: dados da pesquisa. Imagem: folder Imobiliária
URBS,s.d.
A área construída das casas varia entre 104 e 152 m². Os lotes possuem as mesmas
dimensões comumaáreade420m².Assimcomoascasas,oslotesapresentamumaextensão
considerável,diferenciando-seemrelaçãoaosconjuntoshabitacionaisconstruídospeloBNHem
Goiânia, nesse período. A construção das casas respeitou o recuofrontaldecincometroseos
recuosdelaterais,noqualgeralmenteháumdosladosdoterrenocomumrecuomaioreooutro
com um recuo menor (respeitando o mínimo de recuo exigido pelo código de edificações). Em
algunstipos,osarquitetoschegamaencostaragaragememumadaslateraisdoterreno,queé
trabalhada comoespaçocoberto,abertoparaafrenteeparaosfundos.Estaformadetrabalhar
os recuoslateraispermiteummaioraproveitamentodaáreadolote,deixandograndesáreasao
fundoenaslateraisparaaspossíveisampliações(figura46).
Figura 46. Implantação das casas-tipos do Privê Atlântico. Fonte: dados da pesquisa. Imagem: Carolina
Vivas,2020
Nessecontexto,ascasas-tipodoPrivêsãoprojetadasapartirdeumaplantaarquetípica,
cuja organização espacial segue um zoneamento funcional. Os ambientes nostiposA/B,C/De
E/F/G/H são distribuídos a partir de um eixo de circulação longitudinal, criando-se um corredor
central. Já no tipo I os espaços são organizados através da junção de duas formas, uma na
horizontal e outra navertical(figura47).Essaorganizaçãoémarcadatambémpelasetorização,
pois o íntimo corresponde ao retângulo ao fundo e a forma frontal é dividida no centro, para
abrigar o setor social e de serviços. De modo geral, em todas as tipologias, o setor íntimo
encontra-se na parte posterior da residência, conferindo um aspecto mais reservado para
proporcionar uma maior privacidade. O setor social e de serviços localizam-se na parte frontal,
porémodeserviçosfoiimplantadomaislateralizado(figura48).
Figura 47. Análise geométrica das casas-tipo do Privê Atlântico. Fonte: dados da pesquisa. Imagem:
CarolinaVivas,2020
Figura 48. Análise da setorização nas casas-tipo do Privê Atlântico. Fonte: dados dapesquisa.Imagem:
CarolinaVivas,2020
Nesse sentido, o programa das casas do Privê Atlântico é composto por sala,
copa/cozinha, área de serviço, trêsquartos,banhosocial,quartodeserviço,banhodeserviçoe
abrigo.Osambientessãoosmesmosemtodosostipos,apenasnotipo“I”oquartodeserviçoé
substituído por um escritório e ele apresenta também uma suíte21. Nas plantas percebe-se os
21
NapropostadeampliaçãodatipologiaIfoipensadaainclusãodasuíte.Atravésdapesquisadecampoe
dolevantamentodascasas,percebeu-sequeotipoIfoiconstruídooriginalmentejácomasuíte.
ambientes bem compartimentados. Os quartos e banhos possuem asmesmasdimensões,com
exceção do quarto e banheiro de serviços, com uma área menor. O abrigo possui um espaço
compatível para apenas um veículo, a sala é o ambiente de maior dimensão, seguido pela
copa/cozinhaeaáreadeserviçoébemreduzida(figura49).
Figura 49. Análise da setorização nas casas-tipo do Privê Atlântico. Fonte: dados dapesquisa.Imagem:
CarolinaVivas,2020
Pela análise percebe-se que, no projeto, a sala se destaca como o núcleo do convívio
familiar pelasuacentralidadeeáreamaiorqueosdemaisambientes;masnatotalidade,osetor
íntimo possui maior área em relação aos demais. Por isso, compreende-se que os arquitetos
buscaramabrigareacomodarcomconfortoogrupofamiliaremsuasfunçõesbásicas,priorizando
orepousoepensandoemalternativasdeampliaçãofuturasdosetorsocial,mantendoaáreade
serviçoresolvidaecompacta.Dessemodo,SilasVarizoeEdeniReispensaramempropostasde
ampliaçãoparacadatipologia.NaA/B,expande-seasalaecria-seumavarandaàfrentedelana
parte posterior epropõe-seumasuítecomclosetaofundo.NotipoC/Dpropõe-setambémuma
suíte no setor íntimo, o aumento lateral da área do abrigo e a adição de mais uma sala com
varanda.NacasamodeloE/F/G/Hindica-seumasuítenaparteposterioreoaumentodoabrigo,
recuando o espaço da cozinha. E no modeloI,háainserçãodobanheiroprivativonoquarto,a
extensãodaáreadasalaedoabrigoparaorecuolateral,assimcomodoescritório(figura50).
Figura50.PlantadastipologiasdascasasdoPrivêAtlânticocomaspropostasdeampliação.Fonte:dados
da pesquisa, gentilmente concedido pela moradora Wilma da Costa. Imagem: Folder de divulgação
ImobiliáriaURBS,s/d
Em relação aos acessos, percebe-se os mesmos vestígios presentes nas casas
goianiensesanalisadasanteriormente,poisoacessodeserviçosocorreindependentedaentrada
social.Oprimeiroambienteéoabrigo,configurando-secomoumaáreacobertadeconexãoentre
oexterioreointerioredegaragem.Logoapóstem-seasala,aqualconecta-seaosquartoseà
cozinha. Nota-se que o quarto eobanheirodeserviçosabrem-seapenasparaalateraldolote,
ondelocaliza-sealavanderia,nãopossuindoacessodiretopelointeriordaresidência.
Assim,acirculaçãointernadivide-seemprimáriaesecundária.Aprimáriacorrespondeao
acessoprincipalrealizadonoespaçodoméstico,enocasodascasasdoPrivêAtlântico,levapara
osambientesdasala,quartosecozinha.Asecundáriaindicaoscaminhosparaacessoàáreade
serviço e ao quintal, ambos sem a necessidade de conexão com a casa. A circulação nas
tipologias C/D e E/F/G/H acontece por um eixo longitudinal a partir do corredor central,
distribuindoaosdemaisambientes.NatipologiaA/B,acirculaçãonãoocorreemlinhadireta,e,na
tipologiaI,umasegundacirculaçãoocorrenoeixotransversal,dentrodosetoríntimo(figura51).
Figura51.AnálisedacirculaçãonascasasdoPrivêAtlântico.Fonte:dadosdapesquisa.Imagem:Carolina
Vivas,2020
Os arquitetos modernos buscam a geometria pura, através da composição de formas
primárias, com issoascasasdoPrivêsãoformadasporblocos,ostiposA,B,C,D,E,F,GeH
são compostos apenasporumprismaimplantadonocomprimentodoterrenoeotipoIpossuia
composição com dois volumes encaixados, um menor àfrenteeummaiornaparteposterior.A
sua geometria parte de um prisma retangular e passa pelo processodesubtração.Oambiente
subtraído nos tipos corresponde à área de serviço, a qualrecua-senaslaterais.Oabrigooraé
adicionado,comonostiposA/BeE/F/G/Heorasubtraídodaforma,comonostiposC/DeI.Após
esse processo, delimita-seosplanosverticais,dasparedes,eoshorizontais,doforroetelhado.
Evidencia-seoelementodacoberturaeporfimdefine-seacomposiçãofinaldaforma.Otelhado
aparente de duas águas contribui para a horizontalidade formal nos tipos A/B e E/F/G/H,
afirmandooeixolongitudinalenostiposC/DeI,compõe-senatransversal(figuras52e53).
Figura 52. Análise volumétrica das tipologias A/B e C/D do Privê Atlântico. Fonte: dados da pesquisa.
Imagem:CarolinaVivas,2020
Figura 53. Análise volumétrica das tipologias E/F/G/H e I do Privê Atlântico. Fonte: dados da pesquisa.
Imagem:CarolinaVivas,2020
Oseusistemaconstrutivoéfeitoporalvenariadetijolos,vigasepilaresdeconcretoesua
coberturaportelhasdefibrocimento,asquaissãoutilizadasporeconomiaeparaobterummelhor
caimento do telhado, mas mantendo o arquétipo do telhado inclinado da casa tradicional. A
simplicidade também é garantida pelo uso das cores claras, a eliminação de ornamentos e o
destaquedadoaalgunsmateriaiscomootijoloaparenteeocobogó,nasfachadas(figura54).O
cobogó, pertencente à vista frontal da casa, passa a fazer parte da materialidade das casas
brasileirasnosanos1950eapareceempropagandasnaRevistaAcrópole(figura55).Deacordo
com Vaz e Zárate (2005), vários revestimentos como pastilhas, cerâmicas, azulejos e cobogós
passaramaseracessíveisàclassemédiagoianienseapartirde1960.
Figura54.Fachadadacasa-tipoAdoPrivêAtlântico.Fonte:dadosdapesquisa.Imagem:SaraRodrigues
deAbreu,2020
CRÓPOLE,abr.1960,p.6
Figura55.PropagandadamarcaNeoRoxdeelementosvazados.Fonte:A
Porém,destaca-setambémalgunsaspectosdoHabitartradicional,comoaseparaçãodos
acessossocialedeserviços,independentes,eaindaaexistênciadoquartodeserviços.Segundo
Vidal (2021), o espaço doméstico modernobrasileirorecebeinfluênciaestadunidense,refletindo
naampliaçãodaclassemédia,ouseja,noaumentodapopulaçãoincluídanestaclassesocial,na
valorização da vida familiar e na ausência da empregada doméstica, pela ampla oferta de
eletrodomésticos que proporcionaram a mecanização das tarefas domésticas. Porém, no Brasil
aindahaveráumapersistênciadotrabalhodomésticonascasasprojetadasparaaclassemédia,
queaindacontavacomoapoiodeempregados.NatipologiaI,osarquitetossubstituemoquarto
deserviçospeloescritório,apresentandooutraformadeHabitarepropondomudançasnacultura
goianiense.
Outros empreendimentos destinados à classe média baixa foram produzidos em
diferentesregiõesdoBrasileseassemelhamàscasasdoPrivêAtlântico.Comoporexemplo,os
projetos financiados pelo BancoHipotecáriodoLarBrasileiro22 (BHLB).OBancofoifundadoem
1925 e teve sua maior expressão na década de 1950. Seus projetos primavam pela qualidade
arquitetônica e a busca de novas soluções para a casa moderna, sendocontratadosarquitetos
comumaproduçãolocalreconhecida.
Um destes arquitetos é Rodolpho Ortenblad, o qual desenvolveu o projeto de um
conjuntodecasas,em1955,paraacidadedeCampinas-SP.Oconjuntoaproxima-semuitodas
casas do Privê Atlântico, emtermosdaracionalizaçãoeorganizaçãodosespaços,dautilização
de elementos construtivos como elementos de composição das fachadas e na utilização de
tipologias diversificadas. OprojetodeOrtenbladfoipensadoparaproporsoluçõesmodernasem
22
O Banco Hipotecário Lar Brasileiro (BHLB) foi fundado em 1925. PioneironoBrasilnaáreadecrédito
hipotecário foi responsável pelo financiamento de inúmeros empreendimentos residenciais destinados à
classe média. Esta instituição atuou em todo o território nacional e teveacontribuiçãodearquitetosque
desenvolveram trabalhos importantes para a consolidação da arquitetura moderna brasileira. (PEREIRA,
2010)
residênciasdecustomédioenãofoidestinadoaumlugarespecífico,podendoserreplicadoem
outras cidades, frente aos projetos de baixa qualidade arquitetônica que vinham sendo
construídosnopaís.Issodemonstraumaespéciedeculturadoprojetodecasasmodernaseuma
vontadedecriarprotótipos.
Comointuitodetrabalhararacionalizaçãodosespaçosereduzirocustodaconstrução,
segundoPereira(2010),oarquitetodispõeosambientesapartirdaconcentraçãodasinstalações
hidráulicas e também pensa na industrialização dos elementos construtivos, como os caixilhos,
painéis em madeira da fachada e vigamento dos telhados. Além disso, ele projeta três tipos
diferentes de casas: A, B e C, com áreas de 125, 135 e 140 m², respectivamente. As três
tipologias apresentam um programa semelhante ao das casas do Privê Atlântico, com três
quartos, um banheiro, uma dependência, banheiro e área de serviço, cozinha, sala de estar e
jantar integradas e abrigo paraautomóveis.Adisposiçãodosambientessegueumasetorização
naqualosetorsocialestáàfrentedacasa,odeserviçoslocaliza-senalateralopostaaosociale
osetoríntimoocupaaparteposteriordaplanta.Oabrigodeveículosoraposiciona-seaoladoda
sala, como no tipo B, ora do lado oposto, próxima à entrada de serviço como notipoAeC.A
planta tipo C difere-se apenas na implantação dadependênciadeempregada,quefoicolocada
isolada da casa, no fundo do terreno (figura56).Esseaspectomostraapermanênciadecertos
hábitos ligados à tradição e muito arraigados nas casas da década de 1950, até mesmo nas
regiõesmaisdesenvolvidasdopaís.
Figura 56. Projeto do arquiteto Rodolpho Ortenblad, Campinas, São Paulo,1955.Fonte:ACRÓPOLE,nº
1971955,p.224.Imagem:OrganizadaporCarolinaVivas,2021
Emtermosdesínteseformal,autilizaçãodeplanosdetijolosaparentesparaprotegera
entrada, criando uma espécie depátioàfrenteeassociadaadiferentestiposdeacesso,ocorre
tanto nas casas de Ortenblad, quanto nas casas do Privê. Além disso, através dos elementos
construtivos: tijolos aparentes, madeira e pedras na composição das fachadas das casas em
Campinas(ACRÓPOLE,1955),oarquitetoprocuradiferenciarcadatipo,propondovariaçõesnas
fachadas(figura56).NoPrivê,noentanto,aconteceadistinçãoentreostipospeloespelhamento
da volumetria, com poucas alterações nas fachadas, destacando-se pela peculiaridade de
apresentarsoluçõesparaaampliaçãoemplantaeaadaptaçãoaosfuturosusosedemandas.
Na década de 1960, um projeto residencial de Silas Varizo em Goiânia, o qual também
apresentaaspectosdoHabitarmoderno,repercutiusobreoprojetodascasasdoPrivê,dadécada
de 1970. A casa Suhail Rahal, desenvolvida por Silas Varizo no ano de 1965, antes do Privê
Atlântico, difere-se por ter sidoprojetadaparaumafamíliadeclassealta.Porém,aresidênciaé
igualmente térrea e apresentaelementosarquitetônicosesoluçõesdeprojetotambémadotadas
nas casas do Privê, tais como: o uso de planos soltos associados a diferentes materiais e a
inserção de diferentes formas de aberturas, como elementos compositivos da forma plástica; o
uso do tijolo aparente como elemento estético e compositivo; a volumetria da cobertura, em
telhadosduaságuas(figura57).
Figura 57.CasaSuhailRahal,doarquitetoSilasVarizo,Rua7,nº775.SetorCentral.Fotografia:Carolina
Vivas,2021
O pontomaisimportanteemcomuméainserçãodasjanelasedotijoloaparente,como
elementos compositivosdafachada,contribuindoparaadiferenciaçãodosplanosdavolumetria.
Ou seja, o formato, posição e localização das janelas — alongadas, verticais e de canto —,
associadasasuperfíciesbrancassecontrapondoaosplanosdetijoloaparente,fazemcomquea
lateraldafachadasedestaquenavolumetriadacasa.Estasestratégiasestãopresentestambém
nascasasdoPrivêAtlântico.Nessesentido,ousodosplanoscontribuiparasepararosacessos.
Oarquitetoposicionaagaragemnalaterale,atravésdeumaparededetijolosàvista,restringea
visão para o jardim ao fundo. Já nas casas doPrivêaparededetijolosaparentes,localizadaà
frente,propõeaseparaçãovisualedemarcaaentradadaáreadeserviço,assimcomotambémé
umelementoestéticoquedestacaafachadaprincipal(figura58).
Figura58.CasaSuhailRahal,doarquitetoSilasVarizo.Fotografia:CarolinaVivas,2021eBessa,2015
A estratégia da inserção no lote também é a mesma adotada nas casas do Privê.
Conforme Bessa (2016), a casa encontra-se centralizada no lote e devido ao seu extenso
programa, avança para uma das laterais e deixa livre uma lateral, a frente e o fundo,
configurando-se como uma cruz, com um volume na longitudinal e outro na transversal, do
mesmomodocomoatipologiaI.Percebe-se,pelasfotografiaseasdescrições23 daautora,queo
setor social se encontra na frente, com a sala de estar sendo o ambiente de acessoàcasa,o
fundo foi destinado ao setor de lazer e o setor íntimo localiza-senovolumedireitolateral.Com
isso,nota-seelementoseaspectospertencentesaumasíntesemodernaconcebidapeloarquiteto
SilasVarizoqueseaplicatantonacasadaclassealtaquantoparaaclassemédiabaixanocaso
doPrivêAtlântico.
Nadécadade1970,períododeconstruçãodascasasdoPrivê,existiamoutrosconjuntos
habitacionaissendoimplantadosemGoiânia.E,apesardeexistiremprojetosqueseassemelham
em sua proposta urbanística e arquitetônica e ao público-alvo, as casas do Privê Atlântico
destacam-seporsuasingularidade.UmexemploéoconjuntoresidencialParquedasLaranjeiras,
construído no mesmo ano que o Privê Atlântico. Ele também foi financiado pela CAIXEGO,
destinando-seaumpúblicosemelhante,declassemédiabaixa.
Segundo Mello e Fleury (2019), nesse projeto foram pensados três tipos diferentes de
casas. A primeira tipologia possui 80 m² e foiconstruídaemumlotede230m²,asegundasão
casasde83m²emlotesde265m²eoterceirotipofoipensadoparaumperfilfamiliardemaior
poderaquisitivo,poisoterrenoeramaior,com375m²,eacasapossuíaumaáreade100m².A
diferençaentreostiposocorreporqueoconjuntofoidivididoem3etapas:aprimeiracomcasas
maissimpleselotesmenores,abrangendoamaioráreadaurbanização(desenho1);asegunda
comlotesumpoucomaioresecasaspraticamentecomamesmaáreaconstruída(desenho2)ea
terceiracomcasasumpoucomaioreselotesbemmaioresquepermitiramampliações(desenho
3)(figura59).
23
Não foi possível encontrar o projeto da casa ou realizar o levantamento no local.Asfotografiasforam
realizadasapenaspeloladoexterno.
Figura59.Plantascasas-tipoParqueLaranjeiras.Fonte:MelloeFleury,2019.Intervenção:CarolinaVivas,
2021
OPrivêeoParquedasLaranjeirastêmemcomumaimplantaçãodacasanolote(recuos)
e o papel da garagem como espaço de acesso às casas, levando à sala deestar.Agaragem,
portanto, representa uma extensão da áreasocial,assimcomonoPrivê,eocarroévistocomo
um elemento deluxo.DomesmomodocomoocorrenoPrivê,existeumpadrãodeorganização
espacial e setorização nos três tipos projetados. Porém, a tipologia arquitetônica no projeto do
ParquedasLaranjeirasvariapouco,oqueressaltaamelhorqualidadedascasasdoPrivêeseu
caráterclarodeproporoHabitarmoderno.
3. Da materialidade à subjetividade
Capítulo3.Damaterialidadeàsubjetividade
OHabitarencontra-senamaterialidadedascasas,mastambémemsuasimaterialidades,
asquaisconsistemnasrelaçõessociaisqueenvolvemosseusespaçosenasparticularidadesde
cada família. Assim, para a compreensão do modo de Habitar nas casas do PrivêAtlântico,o
capítuloestrutura-sedaseguintemaneira:primeiro,analisa-seapartefísica,parapercepçãodas
transformações espaciais ocorridas ao longo dos quarenta anos de existência do condomínio.
Posteriormente, discute-se as relações sociais envolvidas nas reconfigurações dos espaços
domésticos, refletindo e retomando as discussões do segundo capítulo sobre os aspectos
arquitetônicos e os modos de Habitar nas casas goianienses. E, por fim, identifica-se as
subjetividades de cada casa através da percepção do cotidiano das famílias. Em um primeiro
momento, interpreta-se as atividades realizadas na rua do condomínio e depois adentra-se ao
espaçodoméstico,destacandoasprincipaisnarrativasdecadamorador,aorealizarasatividades
dodiaadiaeressignificarosespaçosdesuascasas.
3.1OHabitarnasprimeirascasas
Para compreender o modo de viver no conjunto Privê Atlântico,avança-senadiscussão
sobreoHabitar.PelainterpretaçãodeLefebvre(2000),existeumaproblemáticasocialdoespaço,
onde a cidade é produzida pelo modo capitalista, tendo-a como um produto. Desse modo, o
espaçosereproduzdeduasmaneiras:pelareproduçãosocial,ouseja,osmodosdevidadecada
grupoepelareproduçãodocotidiano,queéaesferamaispróximadasvivências.Aproduçãoea
reprodução são indissociáveis, como afirma Bourdieu (2013, p.1): “Oespaçosocialseencontra
assim inscrito simultaneamente na objetividade das estruturas espaciais e nas estruturas
subjetivas que são, em parte, o produto da incorporação dessas estruturasobjetivadas”.Nesse
sentido, o espaço representa um cenário de disputa entre a sua concepção pelo capital e as
possibilidadesdereproduçãodeoutrasmaneirasdeviver.Comisso,háduasformasresultantes
daproduçãodoespaço,segundoLefevre(2000):ohabitateoHabitar.Ohabitatéaafirmaçãodo
sistema, resultando em uma vida urbana precária, incompleta e contraditória. Já o Habitar é
definidocomooatodeapropriar-se,deenfrentaressaproduçãoereproduçãodocapital,através
dovivido.
Avivênciadoespaçoencontra-senocotidiano.Assim,Lefebvre(1991)defineocotidiano
como pequenas ações que “se encadeiam no emprego do tempo”. Segundo o autor, ele é o
“significante”e,mesmosendominúsculoeefêmero,revelaoqueestáinvisível,portanto,mostraa
realidadeconcretadavidadosmoradores.Paraele,osindivíduos-conscientesounão-estãoa
todotempobuscandoidentificarfissuras,lugaresemomentosemquepossahavermudanças.O
queeledenominacomo“resíduo”dadominação,comoaquiloquenãopodesercapturadopelos
poderes e que direciona ao possível e ao novo (LEFEBVRE, 1961, p. 62). Desse modo, o
cotidiano expressa-se através das maneiras de agir, ou seja, de produzir,diantedareprodução
impostanasociedadepelaordemeconômica.
Desse modo,asaçõescotidianastraduzem-senaspráticassócio-espaciais.Aprática,de
acordo com Souza (2017) é a relação social do indivíduo com o espaço,ouseja,ondeosdois
estão articuladosentresi.Certeau(1998,p.41)esclarece:“Essasmaneirasdefazerconstituem
as mil práticas pelas quais usuários se apropriam do espaço organizado pelas técnicas da
produção sociocultural." Como determina Certeau (1998), as práticas além de serem sociais,
dependem também do meio cultural e são inúmeras, como por exemplo ler, falar, caminhar,
habitar, cozinhar etc. Em vista disso, o cotidiano pode ser encontrado nas brincadeiras das
crianças na rua, nocomprimentodosvizinhos,nasidasaosupermercado,naocupaçãodeuma
praça,nopreparodasrefeições,enfim,nasaçõesdodiaadia.
Lefebvre (1991) define que a apropriação espacial acontece pelas atividades realizadas
pelosujeitonoespaço.Portanto,compreenderaspráticassignificarevelarosfragmentosepropor
aspotênciasdeoutrosmodosdevida,mostraroencontroentreaobjetividadeeasubjetividade.
Nesse sentido, é a partir do lugar, da cidade, do bairro, da rua e do âmbito da casa, que se
desenvolvem as relações e acontecem as práticas. O autor designa o bairro como o ponto
intermediárioparaatransformaçãodoespaçoconcebidoparaoespaçovividoehabitado,assim
comoCerteau(1998),quevalorizaasrelaçõesentreoespaçoprivadoeoespaçopúblico.
Diantedessecontexto,odesenhooriginaldoconjuntoPrivêAtlânticofoiinfluenciadopelos
conceitos de cidade-jardim, com ruas em alça e a implantação de unidades de vizinhança,
favorecendo o convívio entre os moradores e com a cidade. Além disso, foram propostos
equipamentos de serviços e comércios no bairro como um todo, como praças, quadra de
esportes, igrejas, supermercados, escolas e um clube. Porém, o conjunto acabou sendo
implantadoforadamalhaurbanadeGoiânia,semainfraestruturanecessáriaesemaconstrução
de todos os equipamentos, como vistonoprimeirocapítulo.Assim,asprimeirascasassofremo
processo de redução do Habitar em habitat. Por outro lado, apesar do projeto não ter sido
efetivado por completo, as ruas, as quadras e os lotes foram urbanizadosconformeaproposta
inicialeamoradoraMariaOtília(ementrevistaconcedidaàautoraem2019)afirmaquehaviaum
supermercadopequeno,umaIgrejaeumaquitandanobairronoiníciodaconstruçãodascasas.
Foi feita também a praça, já planejada no desenhoinicial,eumranchão(localparafestas)nas
quadraspertencentesaoPrivê,osquaisconfiguram-secomoespaçosdeencontrosãolocaisde
destaquenoconjunto.
Os moradores mais antigos afirmaram que sempre terem utilizado os locais doconjunto
para organizar festividades, como as praças, o Ranchão e as ruas. Dez anos após a sua
construção, a reportagem do Jornal Diário da Manhã cita a existência de uma sorveteria e de
bares em torno da praça, enfatizando o uso da praça “para fazershowsderock,churrascos,e
praticaresportes,ondeasmeninastêmtimesdevoleibol,futeboldesalãoedecampo”(Diárioda
manhã,1987).AmoradoraCamila(ementrevistaàautoranoanode2019)contaquefaziaparte
de um grupo de mulheres que praticavam ginástica na praça. Assim, os primeiros moradores
apropriaram-sedosespaços,tornando-osrepresentaçãodeseuscotidianos.
ParaCarlos(2014),oespaçopúblicoexpressaaapropriação,ouseja,oseuousoreal,na
medidaemquepermitearelaçãosocialecorporalcomoespaço.NoPrivê,porém,esseespaço
públicoécontraditório,porestarinseridodentrodosmuros,configurando-secomoprivado.Como
afirmaSilva(2003),ocondomíniofechadosetornaumobjetodeconsumoaoprivatizaroespaço
queanteserapúblicoeasbarreirasfísicasexistentesnaconfiguraçãodocondomíniomodificam
as relações, pois acentuam a segregação sócio-espacial. Com isso, a segregação modifica o
sentidodaspráticassócio-espaciaisrealizadaspeloshabitanteseestimulaaspráticasindividuais,
alterandoosentidodeHabitar(SOUZA,2017).
No caso do Privê Atlântico, ele possui uma história e uma dinâmica muito peculiares. A
pesquisa de Silva (2003) aponta similaridades no modo de Habitar em relação aos demais
condomínios, que de modogeral,buscamresgataraideiadeumavidainteriorana,tranquila,de
aconchegoefamiliaridadee,comisso,negaaviolência,apobrezaedemaisproblemasurbanos
encontradosnasruasdasgrandescidadesatuais.MastambémexistemdiferençasentreoPrivê
e os outros condomínios concernentes ao histórico de sua formação e ao tipo de morador,
habitante do lugar. A autora destaca quealutapelaconcepçãodolugaracarretouapartilhade
valores e interesses entre os moradores, por issoexisteumsentimentodepertencimentomuito
forte com o local e foram criados laços entre a vizinhança. Silva (2003) complementa que os
condomínios fechados geralmente apresentam um perfil homogêneo de habitantes; isso não
acontecenoPrivê,ondesetemmoradoresdeváriostiposderenda,idadeeescolaridadeeessa
heterogeneidadelevouaumconvívioconflituosonosprimeirosanosdobairro.
Em relação ao projeto das residências, questiona-se, primeiramente, para quem eram
essascasas.Sabe-sequeoprojetodoPrivêfoidestinadoàclassemédiabaixacomcondiçõese
acesso ao financiamento pela CAIXEGO. Silva (2003) aponta que os moradores mais antigos
entrevistadoseramfuncionáriospúblicosesemudaramparaoconjuntoparaconseguirrealizaro
sonho da casa própria. Nas entrevistas desta pesquisa (feitas em 2019) encontramos João
Pereira, fotógrafo do Estado, e morador do conjunto desde 1978, quando as casas ainda não
estavam todas construídas. "Moramos há muitosanosnosetorBuenoevimosoanúnciodesse
conjunto no jornal e viemos ver e eles estavam construindo aqui. Ainda estava terminando”
(Informaçãoverbal.24),diz.
Maria Otília (entrevistada em 2019), também uma das primeiras moradoras do Privê, é
paulistaedonadeumaimobiliária.QuandoveiodeSãoPaulomorouemumacasanaAvenida85
edepoismudou-separaoconjunto.Anelise,outramoradoraentrevistadanomesmoano,também
afirmaquesuafamília,naturaldePernambucoresidenteanteriormenteemumacasaalugadano
SetorOeste,chegounoPrivênomesmoanodeinauguraçãodascasas.Assim,encontraramno
conjunto habitacional a oportunidade de comprar a casa própria por preço muito acessível na
época. A maioria dos entrevistados confirmam que o preço das casas era muito baixo e havia
facilidadedefinanciamento,atémesmoaentradapodiaserparcelada.
Pela avaliação das plantas, todas com três quartos e mais um quarto de empregada,
supõe-sequeoarquitetopensouemfamíliascompostasporumcasalemaisdoisoutrêsfilhose
emumafamíliacomcondiçõesdecontratarumafuncionáriadoméstica.AfamíliadeAneliseera
compostapelopai,mãeedoisfilhos.Joãopossuiquatrofilhoseadivisãoera:umquartoparaas
duasmeninaseoutroparaosdoismeninos.OutrosmoradoresmaisantigosdoPrivê,oAmiltone
oGaspar,mencionadosporJoão,pertenciamafamíliascompostasportrêsfilhos.
24
EntrevistaconcedidapelomoradorJoãoPereira.Entrevista5.(28set.2019).Entrevistadora:Carolina
VivasdaCostaMilagre.Asentrevistasnaíntegraencontram-senosapêndices
destinadas a uma funcionária contratada para morar com a família. Na análise desse Habitar,
portanto,nota-seapreocupaçãodos arquitetoscomofuturoperfildosmoradores,aopensarnos
ambientes equivalentes ao número de membros das famílias da época, e propõe espaços
mínimos para uma construção econômica que viabilizasse o baixo custo. Ao mesmo tempo
projetamumaplantaquedavacondiçõesàsfamíliaspararealizarfuturasampliações.Osistema
construtivo de alvenarianãoéumfacilitadornaremodelaçãodosambientes,masasdimensões
consideráveis dos espaços, principalmente da sala, permitem variedades de layouts e
apropriações diferentes. Além disso, as nove tipologias pensadas pelos arquitetos mostram
possibilidadesdeampliaçõesdiversas.
A fachada proposta contribui para a comunicação da casa com a rua, valorizando o
Habitar.Acercabaixademadeiraàfrentenãoatrapalhavaavisãoparaoexterior,sendoapenas
umelementodedelimitação;ojardimpensadoàfrenteconvidavaosolharesdequemestavade
fora para contemplação; os muros entre as residências por não serem muito altos, também
contribuíramparaaintegraçãoentreosvizinhos;apresençadaparededeelementosvazadosna
fachada, mesmo não sendo totalmente aberta ao exterior, permitiaavisualizaçãodaruaparao
lote. De certa forma, o abrigo, recuado, coberto e sem umportão,podiaserocupadocomoum
espaço de convívio, remetendo ao alpendre, onde as pessoas se sentavam para conversar e
olharàrua.
A reportagem de 1987 do Diário da Manhã, dez anos após a construção do conjunto,
sintetizaoHabitarnoPrivêAtlântico.AfrasedomoradorAméricoimpacta:“Seexisteparaísoem
Goiânia, ele se chama Privê Atlântico.” (Diário da manhã, 1987, p.12). Os moradores
entrevistados pelo jornal elogiam o conforto e a tranquilidade de semoraralieafirmamserum
bomlugarparaseviver,“sobretudoparavelhosecrianças”(Diáriodamanhã,1987,p.12).Outro
morador já relembra que os primeiros anos no conjunto eram ainda melhores. Camila
(entrevistada pela autora em 2019) relata que no início não havia muitos moradores, todos se
conheciam e a convivência era muito boa. Desse modo, além da segurança simbolizada pelo
muro e pelodesenhourbanodasruas,aconcepçãoconstrutivadascasascontribuiparaaideia
desemorarnointerior,comumconvíviosossegadoondeocorreaaproximaçãocomosvizinhos.
Compreender como foi concebido o projeto das casas do Privê,comofoiprovavelmente
pensado o modo de viver nesses espaços domésticos e quais aspectosabremcaminhoparao
Habitarnascontradiçõesdeseviveremumconjunto/condomínio,éoquepermiteposteriormente
a análise do cotidiano de forma mais concreta, para perceber as transformações espaciais ao
longodosquarentaanosdeexistênciadoPrivêAtlânticoesuarelaçãocomomododevidados
habitantesnosdiasatuais.
3.2ReconfiguraçãodoespaçodomésticodoPrivêAtlântico
Acasa,segundoCamargo(2007),permeiaduasesferas:afísicaeasubjetiva.Elaétanto
o espaço material,visíveleconcreto,quantoaimaterialidade,vivenciadapelosseusmoradores.
O espaço materialaltera-seatravésdasintervençõesrealizadas,sejamelasinserçõesdenovos
ambientes, demolições de alvenaria,reorganizaçõesespaciaisoumodificaçõesnasfachadas.O
espaçoimaterialtransforma-sepelasmudançasdasociedade,dadassuascaracterísticaseseus
modos de viver e pelas variações individuais, as quais dependem da particularidade de cada
família. Dessa forma, o autor afirma ainda que apartirdocruzamentodosaspectosmateriaise
subjetivos,encontra-seoHabitardoméstico.
O Privê Atlântico, inicialmente, foi um conjunto habitacional localizado às margens da
cidade, o que ocasionou a reduçãodasuafunçãodeHabitar,devidoaodistanciamentodavida
urbana. Porém, ao analisar suas casas, percebe-se nuances desse Habitar, pois o projeto
proporciona diferentes maneiras de apropriação, tanto social quanto individual, emcomparação
comoutrosconjuntoshabitacionaisdestinadosàmoradiapopulardaépoca.
O projeto das casas originais foi pensado a partir do conceito de tipo arquitetônico e
diferencia-seporprevermodificaçõesnoespaçodoméstico,demonstrandojáapreocupaçãocom
osefeitosdapadronizaçãoemprojetoscasasdebaixocusto,emrelaçãoaosmodosdevidaeàs
diferenças no perfil das famílias. Dessa forma entende-se que a casa, inevitavelmente, sofrerá
alteraçõesaolongodotempo,masparaalémdisso,osarquitetospensaramemumprogramade
necessidades básico, compactado em uma forma física nuclear, e passíveldesofreralterações
para se adequar às diferentes famílias, para responder aos aspectos de morar futuros e às
maneiras de Habitar dos moradores. Com isso, em meio às contradições sociais envolvendo o
Habitar, as casas do Privê Atlântico foram concebidas para que as famílias se apropriem e
vivenciemoespaçodoméstico,deformamaisrepresentativa.
Essasmesmascasas,apósquarentaanosdaconstruçãodoconjunto,apresentamvárias
transformações, consequência das mudanças de hábitos e ainda das particularidades do perfil
social dos novos moradores. Desse modo, a análise apresentada a seguir compreendeasseis
casas selecionadas como objeto de estudo (figura 60), enfocando a forma como seus espaços
domésticosforamreconfigurados,desdeasuaconstruçãoatéosdiasatuais.
Figura 60. Mapa do Privê Atlântico com a localização das casas escolhidas. Fonte: dados da pesquisa.
Imagem:Carvalho,2017,organizadaporCarolinaVivas,2020
Aprimeiracasa(figura61)analisadapertenceàmoradoraMariaOtilia.Amoradorahabita
oPrivêdesdeoiníciodesuaconstrução,em1977.Járesidiuemváriascasasdentrodoconjunto,
mas mora sozinha na Casa 1, desde 2002. A arquitetura da residência apresenta um telhado
aparente, do mesmo modelo existente no projeto das residências originais, porém a cobertura
difere-se da original, por ser mais elevada, com os planosmaisinclinadospelousodatelhade
barro.Nota-seapresençadoportãodegrade,limitandooacesso,maséumportãobaixoeainda
épossívelverojardimeafachadadacasa.
CASA1
.M
ARIAO
TÍLIA
Figura61.CasadamoradoraMariaOtília,localizadanaruaCamorim,Quadra64,lote4,CondomínioPrivê
Atlântico,Goiânia.Fotografia:CarolinaVivas,2019
Sua residência corresponde à Tipologia C/D (figura 62) e não houve um aumento
significativo na área construída da casa, pois a moradora realizou poucas intervenções,
comparado com as outras casas analisadas. Como parte do programa novo existe o lavabo, a
despensa, a sala dejantar,oescritório,adespensaeavarandaligadaàáreasocialdacasa.A
cozinhafoiremodeladaparadarlugaràconstruçãodolavabo,oqualconecta-seàsaladeestar,
eadicionarumadespensa.Aáreadeestarampliou-separaalateral,criandoasaladejantarea
área de serviço também recebeu modificações, alocando-se para o recuo lateral,eoquartode
empregada foi conectado ao espaçointernodaresidênciaehojeéutilizadocomoumescritório.
Por fim, foi criado um pequeno espaço cobertoaoladodasaladeestarqueseconfiguracomo
umavaranda,possibilitandoconectarointeriorcomojardimexterno.
Figura62.PlantasdasreformasdacasadaMariaOtília.Desenho:CarolinaVivas,2020
As propostas de alteração da Tipologia C/D (figura 63), que constamnoprojetooriginal,
preveemoaumentodaáreasocialparaalateraledaáreaíntimaparaofundo.Asintervenções
feitas (figura 64) no social, por Maria Otilia, em parte correspondem à projeção dos arquitetos,
devido a moradora ter possuído acesso ao projeto original e possivelmente as plantas com as
propostas de alteração. Com isso, a sala da casa um se expande para a lateral e é criado o
espaço de varanda, o qual abre-se para o jardim ao fundo. A suíte não foi adicionada nas
reformas, conforme o projetado, bem como a ampliação da garagem. E em relação a área de
serviço,amesmadeslocou-separaalateralesquerdadacasa,ocupandoorecuo.
Figura63.PlantatipoC/Dcomaspossíveisalterações.Desenho:CarolinaVivas,2020
Figura64.PlantaatualdacasadaMariaOtília,destacandoossetoresampliados.Desenho:CarolinaVivas,
2020
Assim, a organização espacial inicialmente proposta para a casa C/D do Privê não foi
alterada,osambientescontinuamdistribuídosapartirdoeixolongitudinaldocorredor.Emrelação
a setorização, o setor social, pelas alterações da sala, permanece como parte central dacasa.
Percebe-se a manutenção da racionalização da cozinha e também da área de serviços, que
apesardasuarelocação,mantémumaáreapequena.
Ao analisar a planta atual da Casa de Maria Otília, percebe-se os acessos social e de
serviçoseparados,domesmomododacasaoriginal,porémnasreformasfoiconstruídoummuro
paraesconderaáreadeserviçoserestringiraindamaisoseuacesso.Apartirdisso,acirculação
primária conduz o morador dos ambientes sociais para a cozinha e para os quartos. Com as
reformas, foram criadas outras entradas esaídas,resultandoemumacirculaçãosecundáriaem
voltadacasa.Aprimeiracorrespondeaentradadeserviços,nalateral,quejáexistianaproposta
originaldoPrivê.Asegundaérealizadapelasaídadoescritórioparaaáreaexternaeaterceira
acontecepelasalaparaavaranda,levandoaojardimnofundodacasa(figura65).
Nesse caso, a casa de Maria Otília apresenta aspectos convidativos ediferencia-sedas
demaisresidênciaspordeixarumaáreamaiorderecuodejardimedeáreapermeávelnofundo
do lote. Em contraposição, as aberturas dacozinhaesaladeestarestãotodasvoltadasparaa
lateral eosfundosdacasa,semaberturasvoltadasparaarua.Nesseaspecto,acasasefecha
paraarua.
As alterações feitas nesta casa são bem interessantes. Elas destacam-se das demais
porqueoperfildomoradorédiferente.Primeiroporqueelamoraamaistemponocondomínioe,
portanto,pertenceaoperfildemoradorinicial.Segundo,porquetrata-sedeumapessoaquemora
sozinha, portanto, não necessita de ampliar sua casa, apenas ajustar as dimensões de alguns
ambientes.Nessesentido,MariaOtília(ementrevistaconcedidaàautoraem2019)afirmaquea
casa era muito pequena e as alterações espaciais realizadas foram paraaumentá-laetambém
para criar o seu espaço de escritório. A moradora destaca que o projeto original das casas foi
pensadoparafacilitarasmodificações,conformeasnecessidadesdecadamorador.Assim,Maria
Otiliasente-sesatisfeitacomoespaçodesuacasaenãopretenderealizaroutrasmodificações.
A segunda casa (figura 66) apesar de ser vizinha à Casa 1, apresenta outra proposta
arquitetônica, pois corresponde a uma tipologia diferente. Possui uma arquitetura que chama
atenção pelo uso de tijolos aparentes e cobogós, em determinadoselementoscomponentesda
fachada principal, destacando-se também pelo tratamento paisagístico dado ao jardim na parte
frontal, integrado à calçada. Nota-se que não há nenhum tipo de fechamento entre a rua e a
residência e a cobertura de telha debarroaparentecomcaimentoparaarua,recordaoprojeto
dascasasoriginais,porsuaformaeinclinação.
A moradia 2 pertence à família Nery,compostapelocasalMariaeEdilbertoNeryeseus
doisfilhos.ElesmoramnoPrivêAtlânticohá32anosecompraramacasadeoutromorador.Sua
casa já possuiu dois habitantes anteriores, o primeiro comprou e logo vendeu a residência,
portanto,nãochegouamorarnacasaeosegundomorouporpoucotempo.
CASA2
.M
ARIAE
E
DILBERTO
Figura 66. Casa dos moradores Maria e Edilberto Nery, localizada na rua Camorim, Quadra 64, lote 5,
CondomínioPrivêAtlântico,Goiânia.Fotografia:CarolinaVivas,2019
ACasa2configura-secomoTipologiaI(figura67)epercebe-segrandesmodificaçõesem
seutraçadoinicial,resultandonoaumentoconsideráveldasuaáreaconstruída,alémdainserção
de novos ambientes em relação à planta original. Ao todo, a casa passouporquatroreformas,
uma realizada pelo morador anterior e as outras três pela família Nery. A primeira alteração
realizada pelos moradores atuais, assim que se mudaram, em 1987, consistiu em refazer a
parede da sala de estar, a qual havia sido demolida pelo moradoranterior,eampliaraáreade
serviço para a lateral da casa. A segunda reforma, realizada entre 2001 e 2003, foi bem
significativa.Nelahouveumaumentoconsideráveldaáreadacasacomaampliaçãodosquartos
edasaladeestar,divididaemtrêsambientesintegrados;oacréscimodenovosambientes,como
o lavabo e a varanda de estar; a relocação do escritório e aampliaçãoerelocaçãodaáreade
serviço. Na terceira, mais recente, por volta de 2010, nota-se uma completa remodelação dos
ambientes que compõem o setor de serviço. Houve a construção da lavanderia à frente da
residência,comespaçosdedespensaebanheiroeamudançadelugardacozinhaeoaumento
desuaárea.
Figura67.PlantasdasreformasdacasaMariaeEdilbertoNery.Desenho:CarolinaVivas,2020
SilasVarizoeEdeniReispropuseramintervençõesparaaTipologiaI(figura68).Nosetor
deserviços,indicaramoaumentodaáreadoescritórioenosetorsocial,projetaramaampliação
da sala de estar e da garagem. A garagem é considerada como ambiente social pelo fato de
funcionarcomoumaáreadeacessosocialàcasa,assimosarquitetospropuseramoaumentode
sua área coberta, mas teve-se o cuidado da sala aindapermanecercomooambientedemaior
área.
Desse modo, percebe-se nas alterações feitas na casa da famíliaNery(figura69),em
relação às visões iniciais dos arquitetos, que a garagem e a sala seguiram a proposta,
ampliando-se para a lateral. Porém, a garagem ultrapassou a área proposta inicialmente,
resultandoemumambientecomamesmaáreadasaladejantaredasaladetelevisãosomadas.
Portanto, o setor social ampliou-se, dividindo-se em sala de estar, sala de jantar e sala de
televisão, ganhando também um lavabo e uma varanda, que passa a fazer a conexão daárea
internadacasacomojardimaofundo.Naáreadeserviços,oescritório,anteslocalizadoàfrente
dacasa,foirelocadoparaaáreaíntima,próximoaosquartos.Eosambientesdacozinhaeárea
de serviço ocuparamoespaçodoescritórioeampliaram-separafrentedolote,incorporando-se
na fachada da casa. No setor íntimo, acrescentou-se mais uma suíte, localizada onde
anteriormente era a cozinha, assim a residência passou a ter quatro quartos. Além disso, todo
essesetorexpandiu-separaofundodolote,gerandoumamaiorprivacidade.Emsuma,houveo
acréscimo de quartos na área íntima, mas as principais alterações realizadas na Casa 2foram
nasáreassocialedeserviçodacasa.
Figura68.PlantatipoIcomaspossíveisalterações.Desenho:CarolinaVivas,2020
Figura69.PlantaatualdacasaMariaeEdilbertoNerydestacandoossetoresampliados.Desenho:Carolina
Vivas,2020
Em relação aos acessos, na Casa 2 permanecem os acessos social e de serviços
separados. Foram alterados apenas os ambientes de entrada, no acesso social o primeiro
ambienteagoraéasaladejantarenodeserviços,oacessoacontecelogopelalavanderia,sem
a circulação existente anteriormente. A circulação foi bastante modificada, principalmente pelo
deslocamentodosquartosparaalateraldacasa,criandooutroeixodecirculaçãoprimáriaepela
integraçãodosambientessociais,sembarreirasentreeles.Jáacirculaçãosecundáriadeixoude
ocorrerpelocorredorlateraldireito,restringindo-seàpartefrontaleaofundodaresidência(figura
70).
Figura 70. Planta atual da casa de Maria e Edilberto, analisando a circulação e os acessos. Desenho:
CarolinaVivas,2020.
TodasasalteraçõesfeitasnaCasadeMariaedeEdilbertoforamrealizadasporarquitetos
e por isso ressalta-se a qualidadedasintervenções.Aresidênciasegueosprincípiosmodernos
ao integrar os ambientes internos e ampliar a área social de forma planejada e interessante.
Destaca-se também o paisagismo frontal como elemento de comunicação da casa comomeio
externo,assimcomoanãoexistênciadeumportãoououtrotipodefechamentodaresidência,e
aindaoelementodecobogónafachada,dessemodoacasaabre-separaarua.
Os moradores contam que semudaramparaoPrivêAtlânticoaosecasaremelembram
que a casa era muito simples e pequena (em entrevista concedida à autora em 2019).
Posteriormente, nasceram os dois filhos e, portanto, as reformas foram realizadas para
acomodá-los melhor, valorizar a casa, além de caracterizar a residência conforme seus gostos
pessoais. Edilberto (entrevistado pela autora em 2019) afirma que ficaram satisfeitos com as
alterações,poissuaresidênciaficoumaioremaisconfortável.
CASA3
.S
ARAH
25
Amoradoranãopermitiuasuaidentificaçãonapesquisa,portantoSarahSouzaéumnomefictício.
Figura71.CasadamoradoraSarah,localizadanaruaCamorim,quadra65,lote4,CondomínioPrivê
Atlântico,Goiânia.Fotografia:CarolinaVivas,2019
A Casa 3, assim como a casa dafamíliaNery,pertenceàTipologiaI,masasalterações
realizadas diferenciam-se. A reforma,comocontaamoradoraSarah(ementrevistaconcedidaà
autora em 2019), aconteceu ao longo dos anos,desdequecompraramacasa,portantonãofoi
possível determinar uma periodização dos elementos construídos (figura 72). Novos ambientes
foramadicionadoscomoolavabo,oescritório,asaladetelevisãoeaindaumaconstruçãoàparte
da residência, localizada ao fundo do lote. O lavabo e o escritório foram locados na entrada
principaldacasaeoantigoescritóriotransformou-seemsaladetelevisão.Aedificaçãoaofundo
configura-se como uma área de lazer, que consta de um quarto, um banheiroeumadispensa,
alémdeumespaçodevarandacomchurrasqueiraeumapiscina.Diferentedavarandacriadana
Casa 2, que é um espaço agregado à edificação, a partir da extensão do telhado, na Casa 3,
projetou-seoutraconstrução,àpartedaresidência,paraessafinalidade.
Figura72.PlantasdasreformasdacasadaSarah.Desenho:CarolinaVivas,2020
original, o espaçodasaladeestarfoireduzido,paraabrigaroescritório.Agaragemtambémfoi
ampliada, mas ultrapassou aáreaesperadanaplantaoriginal,assimcomonacasadois.Desse
modo, a garagem na casa de Sarah ocupa praticamente a mesma área que tem os espaços
sociaissomados:asaladeestareasaladeTV.
Assim, na Casa 3, foram feitas intervenções na área social com a inclusão dos novos
ambientesepelaconstruçãodoespaçodavarandaedapiscina.Naáreadeserviço,ampliou-se
a cozinha paraorecuolateraletrouxealavanderiaparafrentedacasa,domesmomodocomo
ocorreunaCasa2.Emrelaçãoaedículaaofundo,elaestácompostaporambientesvoltadosao
lazereconvivênciasocial,mastambémporambientesvoltadosparaoserviçodacasa.Enosetor
íntimonãohouveintervenções,apenasumaremodelaçãonobanheiropróximoaosquartos.
Figura73.PlantatipoIcomaspossíveisalterações.Desenho:CarolinaVivas,2020
Figura74.PlantaatualdacasaSarah,destacandoossetoresampliados.Desenho:CarolinaVivas,2020
Hoje, os acessos e a circulação na residência de Sarah não foram muito alterados. O
acessosocialacontecepeloambientedagaragemparaasala,porémprimeiramentepassacom
uma espécie de circulação que antecede a sala de estar. E o acesso de serviços continuou
separado,sendofeitopelagaragemparaalavanderia.Acirculaçãoprimáriaacontecedamesma
maneiraquefoipensadaparaatipologiaI,atravésdoeixolongitudinalnocorredordosquartose
transversal entre salaecozinha.Jáacirculaçãosecundáriafoialterada,devidoaconstruçãoda
edificaçãoaofundoedarealocaçãodaáreadeserviçoàfrente,sendoqueaedificaçãoexterna
nãosecomunicacomacasaprincipaleseuacessoéfeitopelocorredorlateral(figura75).
Figura75.PlantaatualdacasadaSarah,analisandoacirculaçãoeosacessos.Desenho:CarolinaVivas,
2021.
A Casa 3, apesar de possuir a mesma tipologia da casa dois, apresenta outras
intervenções. Um aspecto que as difere também é que apenas a edícula foi projetada por
arquiteto e as demais reformas foram feitas pelo seu esposo, engenheiro agrônomo, sem a
contratação de outros profissionais. Portanto, nota-se várias divergênciascomapropostainicial
deSilaseEdeni,comoaedificaçãoàparteeoespaçointernocompartimentado.Aocontráriodo
interior, não há um fechamento na fachada da residência, existe a presença da janela da sala
voltadaparaagaragemetambémfoirealizadoumpaisagismonapartefrontal,contribuindopara
aaberturadacasacomarua.
A moradora Sarah (2019) afirma que modificaram acasaparaaproveitaraáreaextensa
do lote e ampliar a casa que era pequena para eles. A piscina foi feita para atender os filhos
quandoeramcriançasehojeaedículaaindaéoespaçoquemaisutilizamparareceberamigose
familiares.Portanto,pretendemfazermaisreformasfuturamenteapenasnaedificaçãoexterna.
A quarta residência (figura 76) selecionada foiadomoradorVilman.Mudaram-separao
Privê Atlântico em 1977, no ano de construção do conjunto e foram os únicos donos da casa.
AnteserahabitadaporVilman,suaesposaesuasduasfilhas,mashojemoramsuaesposa,uma
das filhas e seuneto.AcasapertenceàTipologiaC/D,assimcomoadeMariaOtíliaetambém
apresentaumfechamentocomportãonadivisadolotecomacalçada.
CASA4
.V
ILMAN
Figura 76. Casa do morador Vilman, localizadanaruadoBordalo,quadra60,lote8.Fotografia:Carolina
Vivas,2020
Embora as Casas 1 e 4 pertençam à mesma tipologia, as intervenções feitas foram
bastante diferentes. O morador Vilman aumentou consideravelmente a área construída de sua
casacomnovasedificações.Asreformas(figura77)foramrealizadassomenteem2010,quando
afilharetornouparamorarcomeles.Nestaocasiãofoiconstruídoumbarracãocomsala,cozinha,
umquartoebanheiro,localizadoaofundo,paraquesuafilhamorasse.Nacasaexistente,umdos
quartos foi ampliado e transformado em suíteeoantigoquartodeempregadaconverteu-seem
uma saladetelevisão.Napartesocial,acrescentou-seumlavaboeaáreadaantigacozinhafoi
ocupada pela sala de jantar, integrada àsaladeestar.Umanovacozinhaeumescritórioforam
construídos no recuo frontal da casa e a área de serviço foi deslocada para o recuo lateral
esquerdo.
Figura77.PlantasdasreformasdacasadoVilman.Desenho:CarolinaVivas,2020
expandiram-se para a lateral esquerda, ocupando a área destinada ao setor de serviços, que
instalou-senosrecuosfrontaleemtodaextensãolateraldacasa.Aresidênciatambémocupouo
loteparaalémdodefinidonoprojetodosarquitetos,comaedificaçãoaofundoeaexpansãoda
cobertura,nalateraldireita,triplicandoaáreadagaragem.
Figura78.PlantatipoC/Dcomaspossíveisalterações.Desenho:CarolinaVivas,2020
Figura 79. Planta atual da casa do Vilman, destacando os setores ampliados. Desenho: Carolina Vivas,
2020
Pela análise dos acessos, a casa de Vilman reafirmou a separação dosmesmos,assim
como nas demais casas analisadas. Nota-se, porém, a diferença pelosambientesdeacesso,o
acessodeserviçospassouaacontecerpeloespaçodacozinhaenãomaispelalavanderiaoupor
uma circulação de serviços. A entrada principal tambémfoirealocadamaisinternamente,tendo
seuacessopelagaragemparaasaladeestar.Dessaforma,acirculaçãoprimáriaconectoutodo
o espaço social, da garagem com a sala e com a área externa do fundo. E a circulação
secundáriaficouoculta,conduzindoaosambientesnocorredorlateralesquerdoeparaofundodo
lote(figura80).
Figura80.PlantaatualdacasadoVilman,analisandoacirculaçãoeosacessos.Desenho:CarolinaVivas,
2021.
Em relaçãoaosaspectosconstrutivos,acasaapresentavárioselementossemelhantesà
casa de Maria Otília. A residência possui um portão degradeemsuafachada,emqueaindaé
possívelvisualizarointerior,suaentradatambémécontempladaporumtratamentopaisagísticoe
a parte posteriorporumaáreapermeável.Aocontráriodacasaum,essesaspectosnacasade
Vilman contribuem para a sua comunicação com a rua, somado à presença da janela da sala
voltadaparaojardimdafrente,aportadacozinhaepelaconfiguraçãodoespaçodavaranda.
OmoradorVilman,assimcomoMariaOtília,fazpartedoperfildosprimeirosmoradoresdo
Privê Atlântico e de certo modo as casas assemelham-se, demonstrando um modo de Habitar.
Porém, nesta residência foram realizadas maiores ampliações e ela também passou por
interferênciasnaorganizaçãoespacialenaracionalizaçãodosespaçoscontráriosàpropostadas
casas originais. Além de que as modificações realizadas nesta casa foram feitas pelo próprio
morador.
ACasa5(figura81)éhabitadapelocasalPauloeLetícia.Atualmente,moramapenasos
dois, mas anteriormente era ocupada também pelos filhos de Paulo. O casal mudou-se para o
Privê, em 2007, e compraram a casa de outro morador. Na época,afachadadessacasajáse
apresentavadiferente,pelasuadisposiçãonolote,eassimcomonascasasanteriores,possuium
jardimfrontaleagarageméabertaparaarua.
CASA5
.P
AULOE
L
ETÍCIA
Figura 81. Casa dos moradores Paulo e Letícia, localizada na rua do Bordalo, quadra 59, lote 13,
CondomínioPrivêAtlântico,Goiânia.Fotografia:CarolinaVivas,2020
A quinta casa está localizada em um lote de esquina e identifica-se como Tipologia
E/F/G/H(figura82).Naprimeirareforma,omoradoranteriorfezalteraçõesfuncionais:amplioua
cozinha e modificou o lugar da área de serviço, assim como alterou o acesso ao quarto de
empregada,inserindo-onocorpodacasa.Tambémconstruiuumapequenaedículaaofundo,com
quarto ebanheiroeumespaçodevaranda.Nasegundareforma,realizadapelomoradorPaulo,
em 2008, acozinhaealavanderiaforammantidas,conformeareformaanterior,eavarandafoi
ampliada, aumentando o quarto para ser um espaço de jogos, o qual não foi efetivado, sendo
ocupado posteriormente apenas como um quarto. Além disso, foram feitas outras grandes
alterações,duplicandoaáreaconstruídaoriginaldacasa.Foramconstruídasduassalas:umade
estar e uma de televisão, mais um lavaboparavisitas.Naáreaíntima,criou-seumasuíte,com
closet, e o arquiteto substituiu a janela do quarto antes orientada para a rua, por uma porta
voltadaparaumpequenopátiointerno,protegidapelacobertura,queseprolongaalémdobeiral.
Figura82.PlantasdasreformasdacasadoPauloedaLetícia.Desenho:CarolinaVivas,2020
AtipologiaE/F/G/Hfoiprojetadasugerindoampliações(figura83)nostrêssetores:íntimo,
social e de serviços. Projeta-se uma suíte com closet ao fundo, adicionando mais um quarto à
residência.Napartesocial,prevê-seaampliaçãodasaladeestareaconstruçãodapiscina.Na
deserviços,propõe-seoaumentodagaragem,ocupandoorecuolateral.
Asreformasrealizadaspelosmoradores(figura84)seguiram,parcialmente,asampliações
projetadas.Foiconstruídomaisumbanheiroeumcloset,ampliandooquartoprincipal,porémao
invésdaextensãoaofundo,avançou-separaorecuodejardim,napartefrontaldacasa.Nosetor
social, a sala também foi ampliada para a lateral, assim como a área da garagem, que se
deslocou para frente, também ocupandoorecuodejardim.Foiaindaacrescidaumaconstrução
nofundodolote,criandoumsegundonúcleodosetorsocial,comentradaindependenteeaárea
deserviçosrecebeunovoscômodos.
Figura83.PlantatipoE/F/G/Hcomaspossíveisalterações.Desenho:CarolinaVivas,2020
Figura 84. Planta atual da casa do PauloeLetícia,destacandoossetoresampliados.Desenho:Carolina
Vivas,2020
Nesta residência os acessos social e de serviços são mantidos conforme a proposta
original do Privê, com entrada social pela sala e deserviçospelocorredorlateralqueconduza
lavanderia. Assim, a circulação primáriatambémacontecedomesmomodo,porumacirculação
retilíneapelocorredoreapenassãoacrescidosnovascirculaçõesparaosnovosespaçossociais.
Acirculaçãosecundáriarestringe-seaocorredorlateral,quelevaàáreadelazeraofundodolote.
(figura85).
Figura85.PlantaatualdacasadoPauloeLetícia,analisandoacirculaçãoeosacessos.Desenho:Carolina
Vivas,2021.
A casa de Paulo e Letícia destaca-se por apresentar novos ambientes como o closet e
uma varanda particular na suíte principal. A varanda, conectada ao jardim interno, define uma
maiorprivacidadenoambienteíntimo.Mascomapresençadomurofrontalàcasa,fecha-separa
a rua. Por outro lado, fica evidente o aumento da altura da cobertura e um desenho mais
elaborado, comodeslocamentoemváriaságuas,demodoadeixaracasacomumavolumetria
mais imponente e visível da rua. De modo geral, as reformas foram realizadasporarquitetose
percebe-se,nasampliaçõesrealizadas,queexisteumasetorizaçãobemdefinida,assimcomona
casadois.
As modificações foram necessárias para acomodar a família de Paulo, que na época
morava com os filhosnacasa.Paulo(ementrevistaconcedidaàautoraem2019)explicaquea
famíliaégrandee,mesmoquehojesejaocupadaapenaspelosdois,semprerecebemvisitasdos
filhosenetosnosfinaisdesemanaeférias,assimacasachegaateremmédiaoitopessoas.Os
moradoressentemqueacasaosatende.
A sexta casa(figura86)estudadapertenceàfamíliadomoradorValkenes,compostapor
sua esposa e duas filhas pequenas.Elescompraramaresidênciaem2019deoutromorador,o
qualjáhaviarealizadoalteraçõesnacasaoriginal.Percebe-seamanutençãodotelhadodeduas
águas,aparente,presentenoprojetodeSilaseEdeni,porémfoiacrescentadaumaestruturacom
cobertura de telha de vidro na parte frontal para ampliar o espaço de garagem. Não há
fechamento no limitedolotecomaruaenota-sequeasjanelastambémforamtrocadas.Existe
umelementovazadonaparedelateralàgaragemeháapresençadepequenosjardins.
CASA6
.V
ALKENES
Figura86.CasadomoradorValkenes,localizadanaruadoBordalo,quadra59,lote15,CondomínioPrivê
Atlântico,Goiânia.Fotografia:CarolinaVivas,2020
Figura87.PlantasdasreformasdacasadoValkenes.Desenho:CarolinaVivas,2020
A proposta de ampliação da Tipologia A/B (figura 88), prevista no projeto original,
resume-senacriaçãodemaisumquartoaofundo,comsuíteeclosetenaampliaçãodasalade
estar e garagem para a lateral do lote. Para o setor social, propõe-se a ampliação da sala de
estar,edestaca-seopequenoambiente,juntoàsalanaparteposterioreanterior,oqualremetea
uma varanda, sendo uma extensão da cobertura que se conecta tantoaoespaçointernocomo
externo. E para o de serviços, realoca-se a garagem para a lateraldolote,ondeencontra-seo
acessoàlavanderia,transformandoagaragememumespaçodaáreadeserviços.
Através da comparação da casa original e a casa do morador Valkenes (figura 89),
ressalta-se que o setor íntimo seguiu a proposta com a inclusão do banheiro no quarto,
expandindo-se para a parte posterior do lote. Já no setor deserviçohouvegrandesmudanças,
expandindo-se para o recuo lateral e frontal e ainda realocado para o fundo da residência.Em
relação a área social, houve a construção da piscina como planejado e ainda a construção de
umaedificaçãonofundodoterreno,aumentandoasatividadesdosetorsocial.Tambémocorreua
construção de uma nova sala, integrada à existente, porém ocupando o local que antes era a
cozinhaeagaragemfoirelocadaparaocentrodafachada,demarcadapelanovaestruturacom
cobertura de vidro. Com isso, o espaço antes ocupado pela garagem ficou livre, funcionando
comoumaampliaçãodaáreasocial,aoladodasaladeestar.
Figura88.PlantasdacasatipoA/Bcomaspossíveisalterações.Desenho:CarolinaVivas,2020
Figura 89. Planta atualdacasadoValkenes,destacandoossetoresampliados.Desenho:CarolinaVivas,
2020
OacessosocialnaCasa6permanecedomesmomododatipologiaA/B,enquantoqueo
deserviçossofremodificação,pelodeslocamentodalavanderiaparaafrentedaresidência.Pela
análisedacirculação,acirculaçãoprimáriatambémcontinuaamesmaepercebe-sequeécriada
umacirculaçãosecundárianoscorredoreslaterais,devidoaconstruçãodavarandaedasegunda
cozinhacomacessoexterno(figura90).
Figura 90. Planta atual da casa do Valkenes, analisando a circulação e os acessos. Desenho: Carolina
Vivas,2021.
A casa da família de Valkenes apresenta uma área ao fundo permeável, assim como a
casa doiseacasaquatro,compondoasuaáreadelazercompiscina.Àfrente,possibilitandoa
comunicação da residência com a rua, possui pequenos vasos com vegetação; apresenta as
janelasdassalasvoltadasparaafachadaecontacomoelementovazadodecobogófechandoa
áreadeserviço.
Ressalta-se nesta casa a existênciadeambientesduplicados,comoacozinhaeáreade
serviço,queseencontramdistantesumdooutro.Asreformasforamfeitasporoutroshabitantese
a arquitetura já aponta a inadequação dos espaços com o dia a dia dos moradores atuais.
Valkenes (em entrevista concedida à autora em 2019) relata que já pretende realizar novas
reformas para adequar a casa à sua família,compostapelocasalesuasduasfilhaspequenas.
Os moradores desejam, praticamente, construir uma nova casa. Uma das intervenções para o
futuro, será transformar a casa térrea em sobrado, colocando os quartos na parte de cima.
Também pretendemdemoliraedículadofundo,paradeixarapenasumjardimcompiscina.Isso
demonstraquegostademorarnocondomínioenaregiãoeestádispostoafazeruminvestimento
paramelhoraracasaecontinuaramorarnoPrivêAtlântico.
3.3Astransformaçõesespaciaisdiantedosaspectossócio-culturais
Certeau (1998) compreende o espaço comoumprodutoculturaldohomem,assimcomo
asconceituaçõesdeLefevre(2006)eBourdieu(1996).Dessemodo,épossívelpensaroespaço
pelasrelaçõessociaiseculturaisaliestabelecidas.Carlos(2001)ressaltaqueacidadenãopode
serexplicadaapenasporumbairroequeopapeldasociedadenãoseresumesomenteaopapel
deumindivíduo.Porém,pode-sediscutirametrópoleapartirdorecortedobairro,relacionando-o
comotodo.Omesmopode-seaplicaraoespaçodacasa.Oespaçodomésticoeasrelaçõesque
acontecem nele não determinam a complexidade dos papéis na sociedade ou as múltiplas
configuraçõeshabitacionaisexistentesnomeiourbano,masépossívelrefletirediscutirsobreas
influênciassofridasemumespaçoparticular.
analisadas. O desafio é refletir a respeito dos aspectos socioculturais subjacentes às
transformaçõesespaciaispelasquaispassaramessascasas.
A partir da década de 1970 surge uma nova perspectiva de família brasileira, como
afirmamSilvaeChaveiro(2009),naqualreduz-seaquantidadedefilhos,emfunçãonãoapenas
do controle de natalidade, mas também naigualdadededireitosentrehomensemulheresena
corresponsabilidade em criar os filhos. Essa realidade correspondeaosprimeirosmoradoresdo
PrivêAtlântico,emsuamaioriacasaisjovens,recém-casados,equeposteriormentetiveramentre
umetrêsfilhos.
Com o século XXI tem-se um processo de complexificação das famílias (SILVA;
CHAVEIRO, 2009). As famílias passamadesvincular-sedelaçossanguíneosedanecessidade
deuniõesestáveis.Assimhámúltiplasformasdearranjosdosgruposdepessoasenãoháuma
quantidade determinada de habitantes por espaço doméstico. Porém, com o alto custo de vida
nas grandes cidades, a decadência dos casamentos e a mudança do papel da mulher na
sociedade, os índices demográficos brasileiros indicam a redução dos indivíduos nos núcleos
familiares.
Em 2003,operfildosmoradoresdoPrivêeracompostoporfamíliascom3a4membros
(53, 33 %) e seguido com 33,33% com 5 a 6 habitantes por casa, sendo a faixa etária
predominante de 36 a 41 anos (SILVA, 2003). Deacordocomapesquisadecampoatual,54%
dascasasdoPrivêAtlânticopossuemde3a4habitantes,seguidode31%com1a2moradores.
Atravésdasentrevistas,nota-sequeoperfilde1a2habitantesécomposto,emsuamaioria,por
casais entre 60-80 anos em que os filhos já se mudaram da residência. Nas famílias de 3 a 4
habitantes, encontram-se casais de meia idade com dois filhos adolescentes/adultos, como éa
família da Casa 2; outros compostos por casais de idosos, em que os filhos adultos saíram e
depoisretornaramàresidência,comoéafamíliadaCasa4;eaindacasaisjovenscomdoisfilhos
pequenos,comoéocasodomoradorValkenesdaCasa6.
Diante do contexto de mudanças no espaço doméstico brasileiro a partir da década de
1970, Tramontano (1997) afirma que, após a televisão, a era da informática com uso do
computador, impacta na redução dos espaços domésticos, pois com a realidadevirtual,olugar
físicopassaanãopossuirtantarelevância.CostaFilhoeVillacorta(2018)complementamqueos
aparelhos elétricos foram introduzidos na casa, substituindo diversas atividades domésticas,
resultando também em espaços menores, principalmente reduzindo a área de serviço. De
maneira geral, para os autores, os indivíduos estão cada vez mais realizando as atividades
isoladamenteeassimosespaçosvêmsetornandomaisindividuais,opostosàsocialização.
Porém, Rossetti (2014) indica a incorporação de novos hábitos nacasacontemporânea,
como o trabalhar em casa, cozinhar e receber amigos, a recepção de hóspedes, a prática de
hobbies, etc., com isso o programa residencial amplia-se e os ambientes alteram atémesmoa
sua nomenclatura. O escritório torna-se home office, a sala de televisão afirma-se como home
theater e cria-se a sala de ginástica ou o espaço fitness;agaragem,segundooautor,temsua
áreaaumentadapelavontadedepossuirmaiscarros;asuíte,antesprivilégiodoquartodecasal,
éincluídaparatodososquartoseonúmerodebanheirosaumenta—resultado,deacordocom
Veríssimo eBittar(1999)deumaculturadavalorizaçãodocorpoapartirde1970—;eoquarto
deempregadatransforma-secomoumespaçocoringanaplantadaresidência.
Nessesentido,Rossetti(2014)mostraqueháumaofertademodismosnasrevistassobre
casas e apartamentos para as classes médias e altas hoje. Conforme o autor, acontece um
processo de exacerbação do convívio familiar e essa convivência é resultado da
espetacularização da vida privada. Dessemodo,adomesticidadeatualrevelaomorarbrasileiro
dasclassesmédiasaaltas:espaçosamplos,abertos,predomíniodosambientesdeconvívioeo
destaque para recuperação da varanda. Nas casas unifamiliares do Privê Atlântico, portanto,
ocorre uma valorização do setor social, sendo os ambientes que mais sofreram alterações26
(figura91).
26
aseado no questionário de reformas das 16 casas analisadas, no setor social houve demolição de
B
ambientes,remodelaçãodeambientesexistentes,construçãodenovosespaçosea umentodeáreas.
Figura 91. Gráfico das áreasquemaissofreramalteraçõesnascasasdoPrivê.Desenho:CarolinaVivas,
2021
Nesse contexto, novos ambientes foram construídos nas casas, desde a origem do
conjunto até os dias de hoje. Assim identificam-se quais os novos espaços incorporados nas
plantasatuaisemrelaçãoàsplantasoriginais(figura92).Sãoeles:varanda,piscina,edícula,sala
dejantar,saladetelevisão,escritório,c loset,suíte,despensaelavabo.
NOVOS CASA1 CASA2 CASA3 CASA4 CASA5 CASA6
AMBIENTES
VARANDA X X X X
PISCINA X X X
EDÍCULA X X X X
SALADEJANTAR X X X X
SALADETV X X X X
ESCRITÓRIO X X X X X
CLOSET X
SUÍTE X X X X X X
DESPENSA X X X X X
LAVABO X X X X X X
Figura92.TabeladosnovosambientesdascasasdoPrivêAtlântico.Desenho:CarolinaVivas,2021
AV
aranda
A varanda configura-se como uma área de expansão coberta e aberta nas laterais,
proporcionando sombreamento à edificação. Desse modo, seu espaço destina-seaodescanso,
ao convívio familiar e alimentação, geralmente localizado na parte posterior das residências
coloniais, pois era um espaço de maior intimidade da família (LEMOS, 1989). Esse espaço é
frequente nas casas rurais brasileiras e, nas casas urbanas do século XIX, aparecem mais
comportadasnossobrados.Nasegundametadedesseséculo,nascidades,avarandaretornaàs
funções executadas na casa rural, ao desempenhar o papel de filtro social e ser o local de
recepçãoeconvívio(BRANDÃO;MARTINS,2007).
Nosanos1930,comacrisedoecletismoeaascensãodaclassemédia,eaindaporhaver
certa rejeição ao moderno, a arquitetura residencial opta pelo estilo neocolonial e adota-se
varandasembutidascomomaneiradeamenizarocalor(VERÍSSIMO;BITTAR,1999).Domesmo
modo, vê-se a presença das varandas, entre as décadas de 1930 e 1940, na construção dos
primeiros apartamentos, onde segundo as autoras Brandão e Martins (2007), ela perde a sua
funçãodefiltrodeacesso.
NareformadaCasa2,avarandaéinseridaemmeadosdosanos2000,associadaàsala
de estar e localiza-se ao fundo da casa,ondeseabreparaojardim.NasCasas3e4,elaestá
inserida na edícula, configurando-se num espaço à parte da casa principal, localizado na parte
posterior do lote. A presença da churrasqueira em seu ambiente representa um espaço para
alimentação.
AE
dículae
a
P
iscina
A edícula surgiu no século XIX nascasasburguesasurbanasbrasileiras(LEMOS,1989)
como uma reinterpretação das acomodações paraosserviçais.Devidoaotamanhoreduzidodo
loteurbanoemcomparaçãocomasfazendas,oalojamentodosempregadoseaáreadestinadaà
realização dos serviços de limpeza precisou ser remodelada. Assim, construiu-se um local ao
fundo, nosquintais,separadodaedificaçãoprincipalcompequenoscômodosebanheiro.Dessa
forma,aedículaeraassociadaà“cozinhasuja”,destinadaaopreparodealimentosmaispesados
etambémàáreadeserviço.
Posteriormente, no século XX, com a modernização do espaço doméstico, pela
preocupaçãocomahigieneeasalubridade,oespaçodaedícula(dependênciadosempregados,
área de serviço e cozinha) foi sendo inserido no interior da residência.Alémdisso,oquintalfoi
transformado em jardim.SegundoTourinhoeSilva(2016),oquintalanteseradefinidocomoum
local aberto, localizado geralmente ao fundo, onde se desempenham os serviços em geral, o
cuidado do pomar e outras funçõescomplementaresàcasa.Esseespaço,segundoasautoras,
foi remodelado em função do consumo de alimentos industrializados, também à medida que
surgem novas formas de lazer, como por exemplo, nas casas da elite com a construção de
piscinasedevidoàreduçãodaáreaverdenoloteparaabrigaroautomóvel.
Aarquiteturamodernaadotaojardimcomoumespaçodecontemplação,pelaexibiçãode
plantas ornamentais e como uma extensão da área social, que passa a ser mais valorizada
(TOURINHO,SILVA,2016).Porisso,ofundodoloteadquireimportâncianacomposiçãoestética
da edificação e simboliza tambémaentradadavidaurbananoespaçointerior.Assim,nãoháo
espaçodaedículanasplantasdascasasmodernasesequernoprojetooriginaldoPrivêAtlântico.
A edícula então é construída com as reformas e está localizada ao fundo do lote,
geralmentecontendoumespaçodevaranda,quartos,banheirosedespensa.Amaioriadelasfoi
construídanoperíodoentre2000e2010,juntamentecomapiscina.Existeachurrasqueiracomo
substituição ao fogão à lenha de antes e a piscina corresponde ao lazer. Suas dependências
podem ser destinadas a hóspedes ou aindaremetendoaoHabitartradicional,aosempregados,
configurando-setantocomoespaçoligadoaoconvíviofamiliar,quantoàatividadesdeserviço.
AsS
alas
AsaladeestareraumdosúnicosambientesnascasasbrasileirasdoséculoXIXaoqual
osvisitantespossuíamacessoeporissolocalizavam-seàfrentedaresidência.Ooutroespaçode
recepção, porém restritoaoconvíviofamiliarepessoasmaisconhecidas,eraasaladeviver,ou
seja,avaranda,localizadanaparteposterior.SegundoLemos(1989),asaladejantarsurgiuno
final do século XIX nas casas urbanas brasileiras da elite e ganhou destaque substituindo a
varanda. Foi ainda adicionada a copa ou também chamada de sala de almoço, local onde a
famíliasereúneparafazerasrefeiçõescotidianas.
Nascasasgoianienses,tantonasprimeirascasas-tipoquantonascasasdaelite(MOURA,
2011), a sala de estar continua configurando-secomosaladevisitaseasaladejantaraparece
levando à eliminação da varanda. Nos anos 1950, percebe-se a existência tanto da varanda
quantodasaladejantarnascasasmodernas.Aintençãodohabitarmodernoeraproporcionara
continuidade visual com a integração dos ambientes de estar, em conjunto com a varanda
(ACAYABA,1986). Assim, nesse período, a varanda e a sala de jantar nas casas goianienses
representam um espaço de ampliação da vida social e de integração da casa com o jardim
externo. A sala de televisão surge posteriormente, ao final da década de 1960, ressaltando a
inclusão da televisão com cores no espaço doméstico das classes média e alta (VERÍSSIMO;
BITTAR,1999),sendoassimumespaçoespecializadoparaacomodá-la.
Dessemodo,asaladeestarnascasasdoPrivêAtlânticocontinuamarcandoafunçãode
recepção e tem sua área ampliada. A sala de jantar é acrescentada com as reformas e é
encontrada em cinco casas estudadas. Na maioria delas está integrada à sala de estar,sema
existência de paredes,masháasuademarcaçãopelosmobiliários.Asaladetelevisãoaparece
apenas emalgumascasaseemoutrasatelevisãoencontra-senasaladeestar.Ainserçãodas
salasexemplificaomotivodoaumentodosetorsocialnascasasdoPrivê.
OE
scritório
O escritório remete aos gabinetes presentes nas casas urbanas da elite no século XIX.
Eram ambientes reservados para tratar de negócios e de uso restrito dos patriarcas da família
(MACHADO,2011).EsseespaçonoiníciodoséculoXXcontinuafazendopartedoprogramadas
residênciasdasclassesmaisaltas,associadoaosetordeserviçoselocalizadonaparteanterior
da casa. No período da arquitetura moderna, nas casas goianienses, percebe-se o escritório
como mais um ambiente agregado à área social, ampla e contínua, e nota-se a não
obrigatoriedadedesuaimplantaçãonafachada,podendoestarapósassalasdeestarejantarou
mesmomaisrecuadonadistribuiçãodoespaçodoméstico.
Silas eEdenipreveemoespaçodoescritórioparaascasasdoPrivênadécadade1970
associado a profissões liberais e serviçospassíveisdeseremrealizadosemcasa—advocacia,
medicina, contabilidade, alfaiataria entre outros — mas que implicam na recepção de pessoas
estranhas ao convívio familiar. Por esse motivo, o escritório, no projeto inicial, está situado na
parte anterior da casa, próximo à rua. Hoje esseespaçoadquireoutraconotação.Comoafirma
Tramontano (2004), algumas condições vão facilitar a reintrodução do trabalho em casa: a
revolução informática, a dificuldade de deslocamentos nas grandes cidades e o surgimento de
novas profissões que permitam a flexibilidade de tempo e espaço. Assim, nas reformas, o
escritóriolocaliza-seemdiferentesregiõesdacasa,semanecessidadedeestarpróximoàrua,já
queocontatocomosdemandantesdoserviçoéfeitoportelefoneoucomputador.
OClosetea
S
uíte
Os quartos,tantonascasascoloniaisruraisquantourbanas,eramdenominadosalcovas,
pois não possuíam janelas para iluminação e ventilação, eram espaços pequenos e estavam
restritosàáreaíntima,comovê-senascasasgoianas(MOURA,2011),porissoseusmobiliários
eramsimples,contendoapenasumacama,umacadeiraderepousoebaúsparaarmazenamento
(VERÍSSIMO, BITTAR, 1999). Segundo Veríssimo e Bittar (1999), a partir do século XIX, as
alcovasvãosetransformandoeadquiremaberturas,peloiníciodousodovidronaconstruçãoea
relaçãodacasacomavidasocial,assimtambémganhamumanexo,umasaleta.Àmedidaqueo
século avança, esse ambiente amplia-se e surgem dois novos quartos: o quarto de vestir e o
quarto de banho, com isso esse espaçoadquireoutrafunção,adereuniãofeminina.Noséculo
XX,osquartosvoltamareduzir-seeafuncionarapenascomorepousoevestir,mastambémvão
recebermaioratenção,dadoosurgimentodaenergiaelétrica,assimvaloriza-seseusmobiliários
edecoraçãoeosquartospassamaserpersonalizados(VERÍSSIMO,BITTAR,1999).
Nadécadade1960tem-seaadoçãodasuíte—quartoconjugadocombanheiroprivativo
e uma saleta — nos quartos de casal das classes mais altas que vão influenciar as demais
classes (VERÍSSIMO, BITTAR, 1999). Isso significa a construção de mais banheiros na
residência. Além disso, os quartosganhamumavarandaprivativaeocloset,ambientederivado
dosquartosdevestirdosséculospassados.
Assim, não há muita alteração nas dimensões do quarto na casa brasileira ao longo do
tempo, mas sim emrelaçãoàsuafunção.SilaseEdenijápreviamosambientesdocloseteda
suítenaampliaçãodaTipologiaI,osquaisjáfaziampartedoprogramadascasasgoianiensesda
época. Com as reformas, essas ampliações foram feitas e os espaços foram construídos nas
demais tipologias, respondendo ao modo de Habitar e demonstrando a necessidade cada vez
maiordeprivatização.
OL
avaboe
a
D
espensa
Olavabofazpartedaevoluçãodainserçãodobanheironoespaçodoméstico.Obanheiro
antes era considerado insalubre e localizava-se separado da residência principal, associado à
área de serviço (MOURA, 2011). Ao final do século XIX, segundo Veríssimo e Bittar (1999), o
banheiro insere-senascasasburguesasurbanas,porémnasclassesmaisbaixasenoscortiços
aindapertenciaaosquintaisoueramcoletivos.
NoséculoXX,jáporinfluênciafrancesa,surgemastoilettesnosedifíciospúblicosquese
configuram “com ferragens rebuscadas, louçasfiníssimas,espelhodecristalimportado,grandes
bancadasempedrasnobres,requintadoacabamentoemladrilhoshidráulicosfrancesesnospisos
e nos azulejos” (VERÍSSIMO, BITTAR, 1999, p. 183). Esse espaço estava associadoàsalade
reunião e ao encontro de desconhecidos navidapública.Conformeosautores,nasresidências
abastadas, o banheiro adquire decoração art nouveau no início do século e art déco nos anos
1920 e, pela existência da energia elétrica e dos novosmateriaiserevestimentos,consolida-se
como íntimo e passa a configurar-se próximo aos quartos no pavimento superior. Assim, no
pavimentoinferior,constrói-seumlavabooulavatório,aoladodacopaoudasaladejantarpara
osvisitantes.
Comapossibilidadenadécadade1960deseconstruirmaisbanheiros,pelaaceitaçãoda
suíte,obanheiropassaasersinônimodestatus.Dessaforma,cadaquartoapresentaumasuíte
e a casa ainda conta com o lavabo associado à sala de jantar. Oprojetooriginaldascasasdo
Privê Atlântico não apresenta um lavabo,masascasasforamprojetadascombanheirosociale
com a possibilidade de ampliação comassuítes.Portanto,olavaboacrescentadonasreformas
das casas representa o poder aquisitivo médio e alto das famílias moradoras do Privê e está
ligadoàafirmaçãodasalacomorecepçãodeestranhosedosetoríntimocomorestritoaoacesso
familiar.
Adespensafazpartedosetordeserviçosnascasasbrasileiraseéumcômododestinado
à função de armazenamento dos alimentos ou de outrosprodutosdestinadosàmanutençãoda
casa. No final doséculoXIX,afrancesaram-seoscostumesàmesaereduz-seaquantidadede
alimento,tambémdiminuindooespaçodearmazenamento(VERÍSSIMO,BITTAR,1999).Apartir
da década de 1940, principalmente pela influência americana no espaço doméstico, a cozinha
passa a ser ainda mais racionalizada e funcionalizada com a inserção dos eletrodomésticos.
Nestecaso,principalmenteageladeirasurgecomouminstrumentodearmazenamentoe,apartir
desseperíodo,acomidatorna-sedisponívelnossupermercados.Hoje,aalimentaçãoéaindade
mais fácil acesso, podendo ser adquirida congelada e pronta para o consumo, oqueinutilizao
espaçodadespensaparaguardarouestocarosmantimentos.
Porém, nas casas do Privê, os moradores a incorporam em suas casas, retornando um
hábitodemorartradicional.Adespensaoralocaliza-seaoladodacozinhainternacomonaCasa
1,oranaedículacomonasCasas3e6.Outambémseassociaàáreadeserviçoparaguardaros
produtos como nas residências 2 e 5. Com isso, a despensa representa mais um espaço
especializadonoespaçodoméstico.
Dentreasprincipaisreformasocorridasnascasas(figura93),destaca-seaeliminaçãodo
quartodeempregada,poisocorreuemtodasasresidênciasanalisadas.Seguidopelaconstrução
daedícula;aampliaçãodagaragem;aampliaçãodasala;aconstruçãodeumanovacozinhaea
construçãodapiscina.
Figura93.GráficodasprincipaisreformasrealizadasnascasasdoPrivêAtlântico.Desenho:CarolinaVivas,
2021
Eliminaçãod
oq
uartod
ee
mpregada
Silas Varizo e Edeni Reis já projetaram a Tipologia IdoPrivêAtlântico,semoquartode
empregada, substituindo o ambiente por um escritório. Essas mudanças sociais já vinham
acontecendo com as propostas das casas modernistas, e desde a década de 1950, pela
referência estadunidense no espaçodoméstico.Pois,pelafuncionalizaçãodacozinhaedaárea
de serviço, previa-se a inutilidade do quarto de empregada. No entanto esse ambiente ainda
pertencia à cultura burguesa goianiense. Por esse motivo, os arquitetos planejaram o espaço
domésticodoPrivêAtlântico,inserindoessenovomododeHabitar.
Dessa maneira, houve a eliminação desse espaço nas demais casas-tipo e essa
modificaçãoocorreassimqueoshabitantessemudamparaascasas,entreasdécadasde1980
e 1990, conforme as entrevistas. Em algumas residências, o quarto foi transformado em um
quarto para visitas, conectando-se à área íntima da casa, como acontece na Casa de Paulo e
Letícia.Emoutras,transforma-seemescritório,comonaCasadeMariaOtíliaeEdilberto,ouem
outro ambiente da área social, como em sala de televisão na Casa de Vilman. Porém, em
algumas casas mesmo com a transformação desse espaço interno, é construído um quarto na
áreadaedícula,deslocadodaáreaíntimadacasa,comexceçãodascasasum,doiseseis.
Nesse sentido, a eliminação do quarto de empregada demonstra a desnecessidade das
famíliasatuaisdepossuíremumafuncionáriamorandonacasa,oquerepresentaoafastamento
do modo de morar tradicional. Mas, ao mesmo tempo, questiona-se a existência do quarto
localizadonaedículaequeremeteaoquartodeserviços.
Construçãod
ae
dícula
A construção da edícula aparece em segundo lugar no gráfico das reformas mais
realizadas.NocasodoPrivêAtlântico,elafoiumasoluçãoencontradaparaampliaraáreasocial
para o fundo do lote e do jardim, juntamente com a construção da piscina, já planejada nas
ampliações, constituindo a área do fundo como área delazer.Porém,aexistênciadequartose
dos ambientes de serviço, como despensas e,àsvezes,lavanderiasnasedículas,éincoerente
comoHabitarmoderno.Assim,contradiz-setendoaáreaíntimadeconvíviofamiliarjuntocoma
áreadeserviçoeaáreasocial.
Asdependênciasnaedículaanteriormenteeramdestinadasaosempregadosdomésticos,
assim nas casas do Privê, devido tambémaeliminaçãodoquartointernodeempregada,esses
quartos podem ser a relocação do quarto de empregada para a área externa. Existe também
possibilidades de ocupação desse espaço para visitas não tão íntimas da família ou ainda
funcionaremcomoumquartodeapoioàresidência,comoumdepósito.Outropontoéemrelação
a varanda associada à edícula. Nesse sentido, percebe-se uma ressignificação do núcleo da
casa. Na arquitetura moderna o centro familiar acontece na área social e desvincula-se das
cozinhas,nascasasdoPrivêretoma-seoatodecozinharereuniremtornodofogocomocentro
deconvívio,resgatandoaherançadaculturatradicionaldascasasgoianasdoséculoXIX.
Ampliaçãod
ag
aragem
SegundoVeríssimoeBittar(1999),desdeosprimórdios,oveículoerasímbolodeposição
socialeobrasileiroalmejavaalocomoçãoindividualparaoseuconforto.ApartirdoséculoXIXas
casasurbanasdaelitevãoincorporaroveículoàssuasfachadaseoacessoerafeitopelalateral
do lote.Posteriormente,comlotesmaiores,existiaumapassagemdoveículodafachadaparaa
edícula nos fundos, onde começaaserabrigado.NofinaldoséculoXIX,oautomóvelchegaàs
ruasecontinuaacomodando-senosetordeserviços,aosfundos,juntamentecomosalojamentos
paraosempregados,osquaiseramcontratadosparacuidaremdocarro.
Até a década de 1950 o espaço da garagem permanece submisso e recluso. Com a
influência do american way of life, o veículo adquire significado de status e assim o espaço
domésticosereorganizaparamostrá-lo.Dessemodo,elapassaparaafrentedacasaeoespaço
éornamentado.Nosanos1970,comocrescenteconsumo,oveículoécadavezmaisvalorizado
e apenas um automóvel não é mais suficiente para as famílias, indicando a ampliação da
garagem.
Nas casas do Privê, a garagem configura-se como um espaço social, por estarligadoà
saladeestareserumambientedeacessoparaascasas,porondeafamíliaeasvisitasentram.
A sua ampliação foi prevista de certa forma pelos arquitetos nas propostas de alterações das
casas originais, como sendo uma extensãoecomplementaçãodosetorsocial,comexceçãoda
tipologiaA/B,ondeagaragemreduz-seedesloca-separaosetordeserviços.
Com as reformas, a área da garagem ultrapassou a área planejada, porque o espaço
antes pensado para ser ocupado pelas pessoas, como parte da área social, foi cada vez mais
ocupadopeloscarros.Dessemodo,agaragemnoPrivêhojereforçaoveículocomosinônimode
statussocialdafamíliaedevalorizaçãodoconfortonavidaatual.
Ampliaçãod
as ala
A ampliação do espaço da sala também foi projetada por Silas eEdeni,porémdeoutra
maneira, pois o projeto de caráter moderno previa o aumento da sala como parte central de
reunião familiar.Comisso,propõe-sevarandasarticuladasàsalademodoqueosambientesse
integrem erespondamaumacontinuidadevisual.Atémesmoagaragemexerceumafunçãode
extensãodaáreasocial,paraseolhararuaeintegraraáreainternacomaexterna.
Contudo, nas reformas, ocorre umamaiorespecializaçãodosambientes,comainserção
da sala de jantar e da sala detelevisãoseparadas.Eavaranda,emvezdeassociar-seàsala,
insere-senaedículaaofundo,retomandoocentrodeconvívioparaascozinhas.Comexceçãodo
caso particular daCasa2,ondeasalafoiampliadaeavarandainseridaconectadaaela,como
um espaço de conversa e descanso, conforme os aspectos modernos. Não há interrupçõesou
barreirasentreosespaçosedesdeaentradadacasaépossívelverojardimaofundo.
Novac ozinha
NacasadomoradorValkenes,porexemplo,éconstruídaumanovacozinha,voltadapara
a piscina e para a varanda, assim tem-se duas cozinhas: uma interna para preparos rápidos e
quase inutilizada e outra, desvinculada do interior da casa, destinadaaopreparodasrefeições.
Essesespaçosremetemàcozinhalimpaeàcozinhasujadascasastradicionais.Embora,apesar
dosestudosdeLemos(1989)nofinaldosanos1980,preveremaeliminaçãodacozinhanacasa
burguesa,dadaaindustrializaçãodosalimentoseaexistênciadecomidasprontas,estarealidade
não se configurou plenamente. Nas casas unifamiliares do Privê, a cozinha é ampliada nas
reformas e torna-se o núcleo socialdacasa,demonstrandoapermanênciadehábitosdemorar
tradicionais,vinculadosaocotidianodosmoradoresdessaregiãodopaís.
O projeto original da casa do Privê Atlântico procurou modificar o modo de habitar,
inserindo os ideais modernos, propondo ampliações cujo objetivo era alterar os ambientes da
casa dentro do conceito de espaços flexíveis e integrados. Contudo, nas reformas, em vez de
integrar funções em espaços flexíveis, especializaram ainda mais os ambientes e retornaram
diversos espaços presentes no modo de morar tradicional. Nesse sentido, as transformações
espaciaisocorridasnascasasdoPrivêAtlânticopautam-seemváriasquestões.
Primeiramente,nãosepodedeixarderessaltarafaixaderendadosmoradores,de4a10
salários-mínimos, em sua maioria. Apresentam, então, condições econômicas para realizar
ampliações e o aumento das áreas construídas27. Além disso, há um imaginário da casa
burguesa,grandeeampla,comváriassalaseambientesextensos.Acasadoconjuntooriginalé
descrita pelos moradores como casas simples e pequenas, mesmo possuindo o programa
necessário correspondente ao número de habitantes da família. Desse modo, as ampliações
podemassociar-seaodesejodosmoradoresdeaproximarsuascasasàscasasburguesas.
Segundo Fortis (1993), a arquitetura moderna não conseguiu “reeducaraburguesia”por
completo, tanto no projeto, quanto no uso dos espaços. Assim, as casas atuais do Privê
apresentam,emgrandeparte,propostasdeHabitarcontráriasaosmodosmodernos.Asreformas
alirealizadas,portanto,nãoforamresultadodamudançadoperfildemoradores,masocorreram
principalmentedevidoamudançasdehábitosedepadrõesdeconfortoes tatussocial.
27
Refere-se aqui às condições econômicas dos moradores de poder custear os materiais e os serviços
envolvidosparareformarseusespaçose/oumesmocontratarprofissionaiscomoarquitetoseengenheiros
pararealizarobras.
3.4Ocotidianoeassubjetividadesnadomesticidade
SegundoPádua(2019),énoespaçodomésticoqueocotidianomaisseapresentaeassim
oHabitarmanifesta-secommaiorrelevância,poisacasaéolugarmaisíntimodavidahumana,
compreendendo-aparaalémdeapenasumelementoisolado,mascomopartedacidade,ouseja,
“acidadeentradentrodacasaeacasasaiparaarua”.(PÁDUA,2019,p.491).Nessesentido,a
casaéoreflexodecadasociedadeeaomesmotempoéoespaçodoíntimoedoparticular.Logo,
adiscussãoconduzaoestudodadomesticidade,aqualsegundoNascimento,Silva,LiraeRubino
(2012), é o estudo do espaço doméstico em relação à culturamaterial.Assim,acasapodeser
entendida em termos de arranjos espaciais, rotinas domésticas, materialidade do mobiliário e
decorações,padrõesdecomportamentoeformasdesociabilidade(NASCIMENTO,etal.,2012).
O contato e o diálogo com os usuários do espaço, neste caso os moradores do Privê
Atlântico, é ocaminhopararevelarohabitar(LEFEBVRE,apudPÁDUA,2019).Atravésdeuma
entrevistaestruturada,masaberta,emquedeixaomoradorexpressar-seecontarsuashistórias,
é possível perceber as relaçõesdohomemcomseuespaço,identificandosuasnarrativas.Para
Certeau (1998) que extrai o seu pensamento do estudo da linguagem, as narrativas são as
maneirasdosindivíduosimprimiremosseustraçosnoespaçoeseapropriaremdeles.
Portanto, a partir dos relatos dos moradores é possível adentrar no universo de suas
casas, compreendendo-as comoumarepresentaçãotantoarquitetônicaquantosociológica.Pois
as narrativaspermitemacessaraslógicassociaiseoshábitosdemorar.Dessemodo,busca-se
identificar as práticas sócio-culturais presentes nocotidianodosmoradoresatualmenteemseus
espaçosdomésticos.
OatodecaminharparaCerteau(1998)éumadasprincipaisatividadesdeapropriaçãodo
espaço. Ou seja, cada um possui uma forma de caminhar e perceber o espaço e com isso
conectar-se ao lugar. As ruas do condomínio são pouco movimentadas por veículos, devido
principalmente a sua morfologia, a qual configura o acesso dos moradores às suas casas. Por
essemotivo,sãomuitoutilizadaspelospedestres,quesedeslocamparaoscomércioseserviços
existentes no condomínio, para realizar exercícios físicos, passear com seus cachorros ou ir à
casa do vizinho. A moradora Sarah (em entrevista à autora em 2019) relata os motivos que a
levamarealizaraatividadedecaminhardentrodocondomínio:
Osupermercadosim,aquadrahojenemtanto,osmeninoscresceram,mas
eles usaram muito, brincaram muito e hoje tá melhor ainda do que na
minha época, muito melhor, hoje a quadra lá está um espetáculo, atéos
aparelhos de fazer ginástica, eu caminhei muito ali, caminho muito aqui
dentrodoPrivê.(Informaçãoverbal.28)
A existência do supermercado e da quadra, citados pela moradora, a atraem para
deslocar-se pelo interior do Privê Atlântico,alémderealizarocaminharcomoatividadefísica.A
moradoraaindacontaquenãovênecessidadededeslocar-separaforadocondomínioecaminha
tambémparairaoencontrodosvizinhos:
Destaca-senanarrativadeSarahsuaidentificaçãodelacomoPrivê,omodocomoelacria
vínculos com a vizinhança e com o lugar, impulsionada pelo ato de caminhar. Enquanto isso,
28
EntrevistaconcedidapelamoradoraSarahSouza.Entrevista1.(21ago.2019).Entrevistadora:Carolina
VivasdaCostaMilagre.Asentrevistasnaíntegraencontram-senosapêndices
29
Idem.
outros moradores como MariaEunice(ementrevistaconcedidaàautoraem2019),afirmamsair
bastantedocondomíniopararealizarassuasatividades:
De maneira geral, é consenso entre os moradores entrevistados que o acessointernoa
comércioseserviçosatendemasnecessidadesbásicasdocotidiano,reduzindoanecessidadedo
deslocamento para o exterior do condomínio. Em certos momentos, valorizando o caminhar, a
calçadaearuaseconfundemnoPrivêAtlântico.Épossívelvercriançasbrincandonasruas,as
pessoas conversando nas calçadas, os moradores cuidando de seus jardins, passeando com
seus cachorros e assim apropriando-se do espaço coletivo. Essa prática permite que os
moradoressevejam,seconheçam,criemafinidadeeconstruamumaboavizinhançaentreelese
com o lugar, possibilitando nesses instantes que o Habitar aconteça. Edilberto (em entrevista
concedida à autora em 2019) relata sobre a tranquilidade de se morar no Privê easamizades
com os vizinhos. Afirma que a vantageméconhecertodomundoenãopossuirumavizinhança
tão “sofisticada”, comparada com outros condomínios fechados, ou seja, os vizinhos são mais
simplesearelaçãocomelesocorredeformamaisespontânea.
Outras atividades de rua, como as festividades, são recorrentes. A organização do
condomínio sempre realiza eventos nas datasfestivaseduranteapesquisadecampo,pode-se
presenciareparticipardodiadascrianças(12/10/2019),realizadonapraçadocondomínio(figura
94). A praça como espaço concebido é apenas um espaço. A partir do momento em que é
ocupada, transforma-se em lugar. Ela pode ser ocupada de diversas maneiras: para prática de
30
EntrevistaconcedidapelamoradoraMariaEunice.E ntrevista4.(25set.2019).Entrevistadora:Carolina
VivasdaCostaMilagre.Asentrevistasnaíntegraencontram-senosapêndices
atividadesesportivas,jogos,brincadeiras,passeios,caminhadas,descansoecontemplação,entre
outras. No dia do evento, ela foi ocupada com brinquedos, havia comidas e bebidas e foram
realizadas atividades recreativas para as crianças, pais, demais moradores e convidados. As
práticas desenvolvidas na praçadoPrivêAtlânticopermitemarelaçãodousuáriocomolugare
emergeoseusentimentodepertencimento.
Figura94.EventodoDiadasCriançasnocondomínioPrivêAtlântico.Fotografia:CarolinaVivas,2019
Dessamaneira,asruas,apraçadocondomínioeoscomércioseserviçosemseuinterior
configuram-se como prolongamento do espaço doméstico, na medida em que seus moradores
vivenciam muito esses espaços, no seu cotidiano. Em paralelo a isso, não se pode deixar de
ressaltar que o caminhar e ocupar osespaçosnoPrivêépossíveldevidoasegurançadolocal,
dadapelomuroqueocircunda,aportariaquecontrolaoacessoeosseguranças.Osmoradores
destacamasegurançacomooprincipalmotivopormoraremnoPrivêAtlântico.
Naanálisedadomesticidade,aspráticasrealizadasemcadacômodosãosimilares.Asala
deestaréoespaçoderecepção,oquartodestina-seaodescanso,acozinhaéparaopreparode
alimentos e realizar refeições. Entretanto, o modo como são realizadas essas atividades
diferencia e particulariza cada espaço; pois ao tornar o espaço em lugar, surgem novas
possibilidadesdevivê-lo,introduzindo-seosinteresseseprazeresdecadamorador.Dessemodo,
em cada casa analisada, há um modo deHabitareainvençãodeummododefazerparticular.
Busca-se assim interpretar as casas do Privê Atlântico em função do cotidiano familiar, dos
hábitos,dassensibilidades,dasformasdeconvívioedasmanifestaçõesdaintimidade.
AC
ASAD
EM
ARIAO
TÍLIA
OcotidianonaCasa1difere-sedevidoaresidênciaabrigarapenasumamoradora.Maria
Otília passa a maior parte do tempo em sua casa retratando o seu dia a dia. Sua residência
possuiduassalas,umadeestareumadejantarintegradas(figura95).Adeestarpossuiumsofá
e uma poltrona e é destinada à recepção de visitantes. O espaço é iluminado e arejado e é
possível ter contato com o jardimexterno,atravésdaportadevidroquedáacessoaofundodo
lote. Essa é uma das características do Habitar moderno, o convívio ultrapassa as salas e
estende-separaáreaexterna,caracterizandoofundocomojardimeespaçodecontemplação.Já
o local onde seria a sala de jantar e deveriaexistirumagrandemesa,évaziodemobiliários,o
queébastanterepresentativo,pelofatodeMariaOtíliamorarsozinha.Assim,asrefeiçõesdiárias
da moradoraacontecemprovavelmentenapequenamesainseridanoespaçodacozinha(figura
96),aqualécompactaefuncionaledestina-seapenasàsatividadesdeserviço.Dessemodo,a
cozinhacorrespondeaosprincípiosmodernos.
Figura95.Vistadasaladeestarapartirdasaladejantareportadeacessodasalaparaojardimaofundo
dacasadamoradoraMariaOtília.Fotografia:CarolinaVivas,2019
Figura96.CozinhadacasadamoradoraMariaOtília.Fotografia:CarolinaVivas,2019
Apósasaladejantaroantigoquartodeempregadanoprojetooriginalfoitransformadoem
sala de costura (figura97).Émantidooacessoexternoaoquartoefoiconstruídaoutraentrada
voltadaparaointeriordacasa.Épossívelvisualizarasaladecosturadesdeoambientedasala
deestar,edoscorredoresdosquartos,assimcomoaportaexternalevaaocorredordeserviçose
aojardimnofundo,demonstrandoainterseçãoentreosocialeoíntimoedeserviços.Oespaço
possuiduasmesascommáquinasdecostura,ummanequim,umarmárioparaguardarostecidos
e linhas e demais móveis, com outros utensílios de costura. Assim, dado aosmobiliáriosesua
configuração espacial, a atividade de costura para a moradora éseumomentodecriação,mas
possibilitatambémaentradadevisitaseajudantes.
A prática de costura para a moradora é uma ocupação. Maria Otília relataquerealizaa
confecçãodepanosdeprato,roupasparaenxovaisetc.,poisfazpartedeumgrupodemulheres
do condomínio que fazem doações para Instituições religiosas e de caridade. Desse modo, a
atividade de costurar para Maria Otília ressignifica seu ambiente doméstico e se torna a sua
expressão e sua narrativa em sua casa. Esse, portanto, é o espaço onde a moradora passaa
maiorpartedoseutempo,nosdiasatuais.
Figura97.AsaladecosturadacasadamoradoraMariaOtília.Fotografia:CarolinaVivas,2019
Osquartos,naáreaíntima,encontram-sereservadoseaáreadeserviçoéoculta,sendo
acessada apenas através da cozinha pelo interior da casa e pelo lado externo da entrada de
serviços.Aofundo,tem-seumaáreapermeávelcomárvoresfrutíferaseàfrenteumamplojardim
no recuo. Nesse sentido, os ambientes de modo geral são compostosporpoucosmobiliáriose
existemalgunselementosdecorativos,comoquadros,noespaçodasala.Assim,acasadeMaria
Otília destaca-se pelo fato de a moradora pertencer ao perfil de habitante inicial do conjunto e
morar sozinha, refletindo em um espaço doméstico cujo significado é de aconchego e
simplicidade.
AC
ASAD
AF
AMÍLIAN
ERY
O cotidiano na Casa 2 expressa-se através de uma organização espacial bem definida.
Percebe-se o estabelecimento de “filtros sociais” (SILVA; FERREIRA,2017),ondeasatividades
sociaisacontecemnosprimeirosambientesdacasa,odescansoocorrenosquartos,osquaisse
encontram bem restritos na área íntima, e as atividades laborais estão encobertastantoparao
olhardosvisitantesquantoparaosmoradores.
Destaca-se nessa casa, as práticas de convívio, pois os espaços que os moradores da
família Nery mais gostam são os ambientes para receber os seus amigos. São eles: a salade
estar, a sala de jantar e a varanda (figura 98). Ao final do século XIX no Brasil, começa-se a
valorizar o princípio dasociabilidade,noqualnovosambientespararecepção,festasereuniões
vão surgir no espaço doméstico das classes médias e altas (SILVA; FERREIRA, 2017). Coma
arquitetura moderna, essa sociabilidade adquire um novo sentido, transformando o espaço
doméstico em uma extensão da vida na cidade. Segundo Silva e Ferreira (2017), valoriza-sea
integraçãodosambientespelaeliminaçãodasbarreirasfísicasesociais,levandoaumavivência
compartilhada dos espaços. A casa da famíliaNeryéumadasexceçõesemrelaçãoàsdemais
casasanalisadas,ondesepercebeaaplicaçãodessesprincípios.
Figura 98. A sala de estar, a sala de jantar e a varanda da casa dos moradores Maria e Edilberto.
Fotografia:CarolinaVivas,2019
AssalasdaCasa2correspondemaoHabitarmoderno,porpossuíremmaiordimensãoe
serem completamente integradas entre si. Osmobiliáriostambémsecomunicamesteticamente,
os espaços são bem iluminados e é possível visualizar a paisagem externa da varanda,
tornando-se lugares aprazíveis e convidativos. A varanda (figura 99) apresenta móveis de
descanso com cadeiras e poltronas, uma mesa para as refeições e uma pia para o auxílio no
preparodosalimentos,realizadonacozinha,internaàcasa.Oambienteéarejadoesombreado,
com vista para o jardim, contribuindo para propiciar momentos de socialização e de muita
conversa.
Figura99.MobiliáriospresentesnavarandadacasadosmoradoresMariaeEdilberto.Fotografia:Carolina
Vivas,2019
Outra questão percebida no cotidiano da família é a apreciação da privacidade,
demonstrada por uma porta restringindo o acesso ao setor íntimo. Nesse setor, o primeiro
ambiente é o escritório e depois um corredor que leva aos quartos (figura100).Emrelaçãoao
trabalho,aesposadesloca-setodososdiasparaoseuconsultório,localizadonapartecentralda
cidadeeoesposotambémsaiparatrabalhar,alémdomaisrealizasuasatividadesnoambiente
doméstico,noescritório.Osfilhosfrequentamafaculdadeetambémutilizamoescritórioparaos
estudos.Cadafilhopossuiumquarto,valorizandoaprivacidadedecadaum,sendodoisquartos
sem banheiro privativo e os outros dois, suítes. Dessa maneira, respondem a tendência de
construirmaisbanheirosapartirdadécadade1970eressaltamaintimidade.
Figura100.EscritóriodacasadosmoradoresMariaeEdilberto.Fotografia:CarolinaVivas,2019
O cuidado do lar é proporcionado pela empregada doméstica, a qual trabalha para a
família há muitos anos. As refeições do dia a dia são realizadas na sala de jantar, ao lado da
cozinha, onde há uma grande mesa. As demais atividades domésticas acontecem na área de
serviço localizada na fachada da casa, mesmo localizando-se à frente é oculta pelo elemento
vazado (figura 101). Assim, toda essa área não é visível pelos visitantes e fica distante dos
moradores,sendomaisutilizadapelafuncionária.
Figura101.ÁreadeServiçodacasadosmoradoresMariaeEdilberto.Fotografia:CarolinaVivas,2019
Percebe-se na residência da família Nery a preocupação com a decoração interna.
Existemváriaspeçasdeartecompondoosespaços,alémdequadrosefotosdafamília.Opróprio
designdosmóveisapresentaqualidadeedemonstraostatusdafamília.Nota-setambémotijolo
aparente na parede da sala, nos pilares externos e alguns detalhes das esquadrias. O tijolo,
segundo Ábalos (2003), manifestaopassadoeporissoativaamemóriaetransmiteafinidadee
subjetividadeaolar.Comisso,acasadafamíliaNeryrepresentaumacasareceptiva,convidativa
equevalorizareuniõesefestividades.
AC
ASAD
AS
ARAH
Na casa de Sarah moram o casal e um filho e o seu cotidiano difere-se da Casa 2. A
arquiteturamodernapretendeucriarnovasformasdesociabilidade,rompendocomospadrõesde
empregado/patrão,visitante/família,masculino/feminino,“configurando-secomoummanifestoem
favor de uma domesticidade menos segregada e hierárquica” (SILVA; FERREIRA,2017,p.82).
Porém,comasreformas,acasadeSarahpassouaapresentarumconfrontoaessesconceitos.
A recepção aos visitantes ocorre primeiramente na sala de estar, composta por sofás,
poltronas,umamesadecentroeelementosdecorativos(figura102).Logonaentradaencontra-se
oescritório.Portanto,nestacasaoambientedoescritóriofazpartedosetordeserviçosenãodo
íntimo, pois destina-se ao atendimento de estranhos. A sala deTV,pelasuaconfiguraçãomais
reservada, destina-se ao uso mais familiar, então não é aberta para o convíviosocial.Nosetor
íntimo,apesardenãoexistirumaportaseparando-odaáreasocial,háumcorredorquelevaaos
quartoseaobanheiro,preservandoaintimidadedafamília.Aexistênciadolavabonaentradada
residênciaafirmaaindamaisoconceitodeprivacidade,poisdessemodooacessodosvisitantes
restringe-seaoespaçodasala.
Figura102.SaladeestardacasadamoradoraSarah.Fotografia:CarolinaVivas,2019
Figura103.Cozinha/copadacasadamoradoraSarah.Fotografia:CarolinaVivas,2019
No espaço externo ocorrem as atividades de lazer. Na edificação à parte, existe uma
varanda e uma piscina (figura 104). Diferente da varanda da Casa 2, o ambiente possui uma
churrasqueira,umapia,umamesadejantare,assim,opreparodosalimentosaconteceali,sem
dependerdacozinhainterna.Dessemodo,apráticadecozinhar,queocorrenavarandadacasa
de Sarah, é coletiva, pois conforme Silva (2008), neste espaço realizam-se comidas em maior
quantidade e,porisso,astarefassãorealizadastantoporhomens,quantomulheresecrianças.
Assim, a alimentação transforma a varanda emumambientedesocializaçãoparasuafamíliae
amigos.
Figura104.AvarandaeapiscinadacasadamoradoraSarah.Fotografia:CarolinaVivas,2019
A casa da moradora Sarah apresenta alguns elementos decorativos que remetem à
tradicionalidade das casas rurais goianas, como alguns objetos de barro na varanda e o pilão
(peçademadeirausadaparabater,moer)nasaladeestar.Osquadrosnacozinhaenocorredor
de acesso aos quartos demonstram a religiosidade da família. Assim, a residência, pela sua
configuraçãoeocotidianoexpressonosespaços,representaumacasavoltadaparaoconvívioe
reuniãofamiliar.
AC
ASAD
EP
AULOE
L
ETÍCIA
Os moradores da Casa 4 passam a maior parte do tempo fora de casa devido às
atividades de trabalho e, por isso, como afirma a moradora Letícia (em entrevista concedida à
autoraem2019),aproveitamosfinaisdesemanaparaficaremsuaresidência.Aprimeirasalaé
destinada apenas à recepção de estranhos, os moradores quase não a frequentam. A sala de
jantar, logo em seguida, também tempoucouso,utilizadaparaarefeiçãododiaadiadocasal,
nas raras vezes que se alimentam em casa. A sala de TV, ao lado da sala de jantar, é mais
reservadaaousofamiliar.
Os quartos são ocupados pelos filhos algumas vezes ao ano, quando visitam os
moradores.Assim,osespaçosmaisfrequentadosdacasasãooquartodocasaleavarandaao
fundo. O quarto de casal é uma suíte e possui também um closet e um espaço de varanda
privativo,quedáacessoaojardimlateral(figura105).Essesespaçosdemonstramaexaltaçãoda
privacidadeeahierarquizaçãodoquartodecasalemrelaçãoaosdemais.
Figura105.OquartodecasalcomavarandaparticulardacasadosmoradoresPauloeLetícia.Fotografia:
CarolinaVivas,2019
Avarandaéolocalqueosmoradoresmaisgostamepassamamaiorpartedotempo.O
casal possui como atividade de lazer o cuidado de diversas espécies de pássaros, abelhas,
peixeseoutrosanimais(figura106).Navaranda,portanto,ocorreacriaçãodeabelhasemcaixas
empilhadasnasprateleiras.Noespaçoaolado,hágaiolascompássarosexóticos.Assimsendo,
todaaáreaexternafuncionacomoumverdadeiroviveiro.
Figura106.OespaçodavarandadacasadosmoradoresPauloeLetícia.Fotografia:CarolinaVivas,2019
Demodogeral,acasaéenvolvidapelolúdiconacriaçãodeanimais,presentesemquase
todososambientes.Alémdavarandaaofundo,elaacontecenasaladeestar,comapresençade
umaquáriocompeixes.Háaindaoutroaquáriosaladejantar(figura107),nasaladetelevisãohá
um aquário com uma iguana e na área avarandada da suíte principal, comacriaçãodeoutras
espéciesdepassarinhos.
Figura 107. Os aquários na sala de estar e na sala de jantar, respectivamente, da casa dos moradores
PauloeLetícia.Fotografia:CarolinaVivas,2019
AcasadePauloeLetíciadiferencia-seporincluirnovasatividadesaoespaçodoméstico.
O espaço da varanda, por exemplo, é similar à construção existente nacasadeSarah,porém,
além de ser destinado ao preparo de alimentos e festividades, é ocupada para a criação de
animais. A atividade de lazer da família da Casa 4, portanto, transforma o modo de Habitar
através das ações e os mobiliários específicos para essa atividade. A existência dessas
particularidades ressignificamosespaçosinternosdacasae,dessemodo,revelamoshábitose
assubjetividadesdeseushabitantes.
AC
ASAD
EV
ALKENESE
F
RANCIELLE
Figura108.EscritóriodacasadosmoradoresValkeneseFrancielle.Fotografia:CarolinaVivas,2019
Nosetoríntimo,ocorredor,fechadoporumaporta,levaaoacessoaosquartos.Oquarto
docasaléoambientequeValkeneseFranciellemaisgostamnacasa,oqueressaltanovamente
aprivacidadecomopontoimportantenamaioriadascasasselecionadas.Aoadentrarosetorde
serviços, encontra-se a cozinha no recuo lateral e a área de serviço na frente. A cozinha é
pequena, mas equipada e funcional, contando com uma pequena mesa (figura 103). Nas seis
casas analisadas, exceto na de Maria Otília, a lavanderia foi implantada na parte frontal das
residências,porémnadeValkenes,nacasadafamíliaNeryenacasadeSarahesseambientefoi
incorporadonafachada.
Figura109.CozinhainternadacasadosmoradoresValkeneseFrancielle.Fotografia:CarolinaVivas,2019
O corredor lateral conduz à área externa, onde encontra-se outra cozinha,umavaranda
comlavabo,adespensaeapiscina.Assim,apráticadecozinhardestaca-seprincipalmentepela
existência de duascozinhas(figura104).Silva(2008)relataqueofogosemprefoiumelemento
essencial navidahumanaeessefogoaparecenosdiasdehojeemdiferentestiposdefogão(a
gás,acarvãoealenha).“Geralmenteofogãoagáséutilizadonointeriordacasa,odecarvãoe
o de lenha no terraço ou no terreiro.” (SILVA, 2008, p.3). Sendo assim, a cozinha interna
geralmente destina-se ao preparo rápido das refeições do dia a dia, enquanto a cozinha mais
próximadaáreadelazer,aofundo,éondeprepara-seasrefeiçõesmaisdemoradasparaeventos
comamigosefamiliares.
Silva(2008)afirmaqueosfogõesalenhadasépocaspassadasnãoforamabandonados,
às vezes são substituídos pelos fogões a gás, mas o costume alimentar permanece. As duas
cozinhas da casa de Valkenes e Francielle possuem fogão a gás e possivelmente o morador
anteriorusavaasduas,conformeosconceitosdeSilva(2008).PorémafamíliadeValkenesnão
seadequouaessesusos.Osmoradoresabandonaramacozinhainternaehojeusamapenasa
cozinha externa, que é maior e possui equipamentos mais novos, para o preparo de suas
refeições.
Figura110.CozinhaexternadacasadosmoradoresValkeneseFrancielle.Fotografia:CarolinaVivas,2019
Aáreaexternatambémnãoémuitoutilizadaeondeafamíliapassamenostempo,porque
consideramoespaçoexternodesorganizadoemalprojetado.Comisso,apenasapiscinaéusada
para recreação das crianças. É importante ressaltar que as reformas da casa de Valkenes e
Francielleforamfeitaspelosmoradoresanteriores.Alémdisso,afamíliaéformadaporumcasal
mais novo, mudaram-se recentemente para o Privê Atlântico e moravam anteriormente em um
apartamento. Todos esses aspectos levaram à inadequação ao modo de morarprojetadopelos
espaços reformados. EssasquestõesindicamumnovoperfildehabitantesnoPrivê,comoutros
modos de Habitar, possivelmente mais distantes das raízesdoHabitartradicional:daexistência
dasduascozinhas,dasduassalasoudaimportânciadaáreaexterna,porissoafamíliapretende
realizarváriasalteraçõesfuturasparacorresponderaoseucotidianoemododemorar.
AC
ASAD
EV
ILMAN
NacasadomoradorVilmanháváriosambientesdestinadosàreuniãofamiliarerecepção
devisitas,comoasaladeestar,asaladejantareatémesmoaáreasombreadadagaragem.Na
saladeestarexistemsofásepoltronasenasaladejantar,existeumagrandemesacommuitos
lugares,destacando-secomoumelementoimportantenessacasa,pelaquantidadedemembros
dafamília(figura111).Assalas,integradasemumúnicoambiente,respondemaomododevida
moderno e representam onúcleovitaldacasa.Porém,assimcomonacasadeSarah,olavabo
logonaentradadasaladeestar,afirmaarelaçãovisitante/família,restringindoaáreaqueavisita
podeocupar.
Figura111.AsaladeestaredejantardacasadomoradorVilman.Fotografia:CarolinaVivas,2019
A garagem nesta residência é um ambiente bem peculiar,possuiplantas,bancoseuma
rede, claramente tratada como área de estar e convivência, como uma varanda (figura 112).
Portanto,agaragemganhaoutrosignificadocomosmobiliáriose,porserumespaçoextenso,o
moradoraproveitasuaárea,naqualrealiza-seatividadesdedescanso,derecepçãoeconversa.
Desse modo, a garagem de Vilman responde às projeções de Silas e Edeni para as casas do
Privê,aotratá-lacomoextensãodaáreasocial.
Figura112.AgaragemdacasadomoradorVilman.Fotografia:CarolinaVivas,2019
O espaço da garagem conecta a fachada da casa ao fundo da residência, onde
encontra-seumaconstruçãoeapiscina.Nessaresidência,diferentedasoutrascasasanalisadas,
aedificaçãonãoéumaedícula,ouseja,nãofuncionacomoáreadeconvivência(figura113).Ela
foi construída como um barracãoparaseramoradiadafilha,porissotorna-seumespaçomais
reservadoeocupadopelaprópriafamília.
Figura113.ObarracãodacasadomoradorVilman.Fotografia:CarolinaVivas,2019
Osetordeserviçosavançasobreorecuofrontaleneleencontra-seacozinha,oescritório
e a área de serviços. A cozinha é acessada tanto pelo lado externo como pela sala,porémos
demais ambientes ficam ocultos no corredor lateral da casa.Acozinhaécompactaedestinada
apenas ao preparo dos alimentos, sendo as refeições feitas na mesa da sala de jantar. As
atividades domésticas nessa residência também são realizadas pela funcionária. O espaço de
escritório ao lado da cozinha possui uma mesa, armários e um computador e como afirma o
próprio morador, é um espaço improvisado. O corredorlateraltorna-seentãoaáreadeserviço,
abertaparaaofundo,nacasadafilha,portantoalavanderiaécompartilhadaentreelaeseuspais
(figura114).
Figura 114. A cozinha, o escritório e a área de serviço, respectivamente, da casa do morador Vilman.
Fotografia:CarolinaVivas,2019
Jáosetoríntimoencontra-sebastantereservado,possuindoumaportadeacessoparao
corredor que leva aos quartos, valorizando a privacidade dos moradores. Nesse setor,
encontra-se também asaladetelevisãoepelasuadisposiçãonoespaçodoméstico,representa
um momento de lazer e descanso apenas dos familiares. Mesmo com a intimidade bastante
valorizada nessa residência, Vilmanafirmaquesuafamíliagostamaisdoambientedassalas,o
que reforça a importância da prática de reunião familiar e a representação desse espaço no
contextosubjetivodacasa,ressaltandotambémaressignificaçãodousodagaragem.
Destamaneira,asnarrativasconstruídasnasresidênciasmostramosmodosdeviverdos
habitantesepercebe-sequehásemprepossibilidadesdeapropriação,poiscadamoradorocupa
e transformaasuacasaaseumodo,adequandoosespaçosaosseusdesejosenecessidades.
Mesmoosespaçosdeterminadosparataisusospodemserressignificados,comoporexemploa
varandadacasadePauloeLetícia,transformadaemumespaçolúdicodecriaçãodeanimais,ou
a garagem de Vilman que não funciona apenas como abrigo para os veículos, mas comouma
varandapararecebervisitas.
Apartirdaanálisedaspráticasdocotidiano,demodogeral,oespaçodomésticodoPrivê
representaalgunshábitosmodernoscomoarecepçãodasvisitasnassalasintegradaseamplas,
masmuitasvezestambémtraduzaretomadadevalorestradicionais,comoasreuniõesfamiliares
na cozinha, ao fundo nas edículas. As práticas de descanso ficam reservadas aos quartos, o
trabalhodomésticoérealizadoporfuncionáriasnosespaçosocultosaosmoradoresevisitantes.
Assim, essa discussão demonstra que o Habitar no Privê encontra-se nas contradições.
Eleestápresentenosespaçosabertosdeconvívioerestritosdaáreaíntima,emmeioaoshábitos
modernosetradicionaiseentreoespaçoprivadodacasaeopúblicodocondomínio.
CONSIDERAÇÕESFINAIS
OestudoacercadadomesticidadenoPrivêAtlânticoeabuscapelasnuancesdoHabitar
emseusespaçospretendeuoferecerumavisãoapartirdeváriasescalas,domacrodourbanoao
microdacasa,apartirdeumpontodevistasócio-cultural.Compreende-seacasacomoparteda
cidade, sendo indissociável asuaseparaçãodentrodessecontextodediscussãoespacial.Para
isto,foinecessáriolevaremconsideraçãoaconfiguraçãodoconjuntocomobairroedacasacom
o espaço público, analisando os aspectos físicos do projeto habitacional e os subjetivos, que
compreendemasrelaçõesadvindasdocotidiano,quesãoaspráticaseasvivências.
O Privê Atlântico é um caso particular de um conjunto transformado em condomínio
fechado, sendo o primeiro a apresentar essa configuração em Goiânia. Foi construído em um
período da política habitacional que produziu conjuntos com baixa qualidade arquitetônica,
distante dos núcleos urbanos e que banalizou os preceitos modernos. Diante desse cenário, o
Privê já apresenta um espaço contraditório, pois é umaexceçãoemrelaçãoaessesconjuntos,
portersidodestinadoaumpúblicodemaiorpoderaquisitivo.Emesmosendoimplantadoemum
tecido desconexo da malha urbana, ressalta-sequeelelocaliza-senaregiãosudeste,aqualfoi
valorizada pelo planejamento de Wilheim. Destaca-se a importância da Encol na produção dos
loteamentosdamesmaeaconstruçãodosdemaiscondomíniosfechadosanosdepois,indicando
aimportânciadaregiãonocontextodecrescimentodacidade.
Além disso, o projeto inicial de seu bairro, o Jardim Atlântico, apresentava qualidade
urbanística, com ruas em alça, a criação de unidades de vizinhança e a distribuição de
equipamentos e comércios voltados para o cotidiano dos moradores. Porém, ele não foi
completamente implantado, isso prejudicou a sua ocupação e levou à construção do muro em
torno do conjunto. Apesar do desenho das ruas ter sido feito, o muro afetou a morfologia do
bairro,interrompendoaconexãodealgumasruascomasdemaisavenidas,edessemodooPrivê
se tornou um condomínio fechado. Com isso, o muro também agravou a segregação
sócio-espacial e caracterizou-se como símbolo de status, levando às intervenções modistas
realizadasnascasasposteriormente,comoainclusãodassuítesedocloset.
AoadentrarnoestudodascasasdoPrivê,identificou-sequesuasprimeirasconstruções,
datadas de 1978,apresentavamgrandequalidadearquitetônicaeseuprojetofoirealizadopelos
arquitetos Silas Varizo e Edeni Reis da Silva no contexto da arquitetura moderna. Assim, foi
realizada a análise dos preceitos arquitetônicos que constituem as casas goianas/goianienses
desdeoséculoXIXàdécadade1970,juntamentecomadiscussãosociológicadessesespaços,
através dos estudos de Vaz e Zárate (2005), Oliveira (2004), Moura (2001), Lemos (1993),
Acayaba(1986)eoutros.Essedebatecontribuiuparaidentificaroselementosaplicadosàscasas
doPrivêecompreenderacargasocialeculturalqueseuespaçodomésticotrazia.
NessecaminhoembuscadoHabitar,aanálisegráficabaseadaemBaker(1998)eLeupen
(1999),dascasasoriginais,tambémfoideextremaimportânciaparaextrairasíntesedoprojetoe
revelar a organização espacial e a materialidade dasdiferentestipologias.Comoentendimento
das peças gráficas, foi possível comparar as residências do Privê com outros projetos. Desse
modo,pode-senotaraexistênciadeumaculturamodernaqueseespalhoupelopaísapartirde
1950eressaltaraqualidadedoprojetodoPrivêAtlântico,construídoduasdécadasdepois,diante
dasproduçõeshabitacionais.
Na investigação das nuances do Habitar, avançou-se para a análise das intervenções
realizadas nas residências em comparação com os projetos originais. Avaliou-se as
transformações espaciais, formaiseconstrutivasemseiscasasselecionadas.Pelosdesenhose
discussões, houve grandes ampliações dos ambientes existentes, ocorreu a inserção de novos
cômodos e as casas, demodogeral,aumentaramasuaáreaconstruída,comexceçãodacasa
de Maria Otília, que por morar sozinha, não precisou realizar grandes ampliações. Ressalta-se
também a diferença das alterações quando realizadas por arquitetos e engenheiros e quando
feitas por autoconstrução, à medida das necessidades das famílias. Em relação à proposta
original, algumas residências atuais seguiram em alguns pontos as ampliações projetadas por
SilaseEdeni,comoporexemploacasadeMariaeEdilbertoqueadotamaconcepçãomoderna,
entretanto,outrascomoacasadeSarah,resgatamvalorestradicionais.
Apósaapresentaçãodasresidências,discutiu-seoespaçodomésticodiantedaesferada
reprodução sócio-cultural, buscando identificar aexistênciaounãodepadrõesnasintervenções
feitasnascasaseasmotivaçõesquelevaramaelas.Ospadrõesdestacadosforamainserçãode
novos ambientes como a sala de jantar, a saladetelevisão,olavabo,adespensa,oclosetea
suíte, a varanda eoescritório.Assimcomo,emváriascasasocorreuaeliminaçãodoquartode
empregada,aconstruçãodaedículaedeumanovacozinhaeaampliaçãodagaragemedasala.
Compreendido as questões sócio-culturais envolvendo o espaço doméstico do Privê,
aprofundou-se na terceira esfera: o cotidiano, com o intuito de encontrar as especificidades de
cadafamíliaesuasrelaçõescomassuascasas.Assim,pode-seavaliarqueosespaços,mesmo
planejadosparadeterminadaspráticas,foramressignificadoseocupadosdediferentesmaneiras,
adequando-se à família, como por exemplo, o local escolhido para as refeições diárias. Os
ambientestambémganhamsentidoparaosmoradoreseassimexpressamoseumodoparticular
demorar,comoareligiosidadepresentenacasadeSarahatravésdoselementosdecorativos.
Conclui-seentãoqueascasasdoPrivêrepresentamumaextensãodoespaçopúblicodo
condomínio, e esse é concretamente vivido pelos habitantes. Pádua (2019) afirma que a
expressão concreta do Habitar ocorre quando “Mesmo fora de casa,aspessoassesentemem
casa” (PÁDUA,2019,p.490).EesseéocasodoPrivê,poisháoreconhecimentodaspessoas
com o lugar. Nas intervenções das residências, os habitantes também transformaram e
apropriaram-se de seus espaços domésticos, representando seu mododeviveretambémsuas
especificidades. Nesse sentido, a discussão sobre o Habitar de Lefebvre aponta que a
configuração do Privê Atlântico, de conjunto/condomínio com as casas isoladas, permitem
maiores alterações e apropriações, porémaindaháadisputapeloespaçourbano,pelofatodos
primeiros moradores adquirirem a casa própria pela facilidade do financiamento e não pela
localização do bairro em uma área periférica. Ademais, o Privê hoje, após o adensamento e
crescimento da região e mesmo localizando-se distante do centro urbano, é escolhido por
representar uma área suburbana de maior status social comparado com as demais regiões de
Goiânia. Dessemodo,oestudosobreoPrivêAtlânticodemonstraacomplexidadeemtornodas
discussões espaciais e apresenta o conflito, de um lado o espaço concebido pelo capital e de
outropelasnuancesdeapropriaçãoerepresentação.
Nesse contexto, a metodologia adotada foi fundamental para se entremear nas
contradições do espaço e alcançar os objetivos traçados. Destaca-se as entrevistas que
possibilitaram preencher as lacunas das documentações oficiais, onde os moradores
disponibilizaram seus acervos e ainda seusrelatospermitiramconhecerasdiferentesnarrativas
dos espaços e suas histórias. Assim, o resgate da entrevista ao encontro da documentação
apontaoutrosmeiospossíveisparaocampodapesquisa.
Logo, a investigação sobre o Habitar nas casas-tipo do conjunto habitacional Privê
Atlântico abrange as diferentes escalas do Habitar e contribui para estudos futuros sobre os
modos de morar hoje, em Goiânia. Esta pesquisa, portanto, buscoufortalecerodiálogoentrea
arquitetura e as demais ciências sociais, trazendo outras abordagens paraaanálisedoespaço
urbanoedoméstico,relacionandoacasaeacidade.
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2019.
APÊNDICEA
APÊNDICEB
ROTEIRODEENTREVISTAS
moradorese/ouproprietáriosdosimóveis
Dadosdeidentificação
1)Endereço:
2)Nome:
3)Idade:
Perguntas
Primeiraparte:
1)Quemsãoaspessoasquemoramnasuacasa?
2)QuandosemudouparaoCondomínio?Porquê?
3)Jáeracondomínionaépocaemquesemudou?ComoeraoPrivênessaépoca?
4)Nessetempohouvemudançasemrelaçãoaoshabitantesdacasa?
5)Qualamaiorvantagemdesemoraraquihoje?
6)Naépocadaaquisiçãodacasa,tendocompradodiretodaconstrutoraoudeoutromorador,foirealizado
financiamento?Comofuncionavaessefinanciamento?
7)VocêsabiaqueexistiamtiposdiferentesdecasasconstruídaspeloBNHparaaurbanizaçãodoJardim
Atlântico?Sabeaqualtipologiaasuacasapertence?
8)Vocêfoioúnicoproprietário?Existiramoutrosdonos?
Segundaparte:
9)Quantoscômodospossuisuacasa?Quaissãoessesespaços?
10)Vocêselembracomoeraacasaquandovocêcomprou?Possuíaamesmaquantidadedeambientes?
11)Enessetempoemquemoranacasahouvereformas?
12)Sesim,quaisforam?Apenasmanutenção,ampliaçãodeespaços,acréscimodeambientes,demolição
dealgumcômodo,alteraçãodefachada?
13)Porqueforamfeitasounãoasmodificações?
14)Asmodificaçõesforamfeitasporarquitetos?Senão,quaisprofissionaisforamcontratados?
(engenheiros,desenhistas,pedreiros,mestresdeobra)
15)Vocêficousatisfeitocoma(s)reforma(s)realizadas?
16)Emrelaçãoasuacasa,oquevocêmaisgostanela?Eoquegostariademudar?
17)Emquaiscômodosvocêpassamais/menostempo?
18)Comovocêdescreveriacadaambientedasuacasahoje?Comoeramosambientesantes?
19)Vocêpretenderealizaroutrasreformas?Porquê?
20)Vocêpossuiouconhecealgumadocumentaçãointeressantesobreasuacasaantigaeatual(fotos,
desenhos,plantas,notíciasdejornais)?
APÊNDICEC
APÊNDICED-ENTREVISTAS
ENTREVISTA1:Entrevistaconcedidaàpesquisadora,CarolinaVivasdaCostaMilagre,pelamoradorado
PrivêAtlântico,SarahSouza(nomefictício),nodia21deagostode2019.
Pesquisadora:Primeiro,quemsãoaspessoasquemoramnessacasa?
Sarah: Atualmente meu esposo,euemeufilhoMatheus.Eutenhoumafilhatambém,maselasemudou
agora,hápoucotempo.Semprefomosnósquatro.
Pesquisadora:E
lafoiestudarfora?
Sarah:Não,elafoitrabalhar.Jáestudou,jáseformouefoitrabalharagora.
Pesquisadora:E
aquantotempovocêsmoramnacasa?
Sarah:Há22anos,peraí(sic)desculpa,nósmudamosfaz22anosaquipraGoiânia.Moramosumanoe
meio em outra casa ali, na última rua, e depois nós adquirimos essa. Então deve ser 20anosné,pode
colocar20anos.
Pesquisadora:EquandovocêsmudaramparaoPrivêjáeracondomínio?
Sarah: Já,nãoassim,eraaquela,comofala,sociedadedosmoradores.Nãoeraaindacondomíniomesmo,
né (sic)? Então hoje já somos oficial (sic), é um condomínio mesmo, está todo estruturado como um
condomínio.Masquandonósmudamos,aindaeraumaassociaçãodoscondôminos.
Pesquisadora:J áexistiaomuro?
Pesquisadora:E
vocêsescolherammudarparacájustamentepelasegurança?
Sarah: Sim.NósviemosdointeriordeSãoPaulo.Conhecíamosumcasalquemoravahá6mesesaquie
meu esposo veio a trabalho, foi transferido para cá. Então a gente não conhecia nada e esse casal já
morava aqui. Eles disseram que gostavam demais daqui por causa daliberdadedascrianças,porquelá
elesficavammuitopresos,né?Elestinhamumameninacom4anoseminhafilhatinha7anos.Entãoaqui
realmente foi olugarqueagenteamoujáquandovisitamos,porqueosmeninosficavammaisàvontade.
Meumeninocorriapelaruaefalava:"eutolivre,tolivre",aquelacoisaassim,né?Entãofoiissoquemais
chamouanossaatençãoeficamosaqui,pelavidadelesetambémpelanossasegurança.Enuncativemos
vontadedenosmudardaqui.Eugostodemaisdaqui.
Pesquisadora:Q
uebom!Eospontosnegativosdaqui?Eradistante?
Sarah:Ah!Há20anosatrásotrânsitonãoeracomoéhoje,euandava6kmtododiapralevarmeusfilhos
aocolégio,noSetorBueno.Depoiseuvoltava,depoiseuiabuscarnovamenteevoltava.Depoiseuialevar
emalgumaatividadeàtarde,porqueelesfaziamsempre.Então,euandavamuitoaquieaúnicacoisaque
eraassim,difíciltalvez,eraadistânciaeeueramesmoamãemotorista.Meumaridosempreviajou,né?Eu
ficavaporcontadeles,mascomootrânsitoaindaera,assim,tranquilo,eunãotivetantoproblema.Hojeeu
nãofaçoissomais.Naminhaidadetambém....Comoeueramaisnova,achoquetudodácerto.Masnão
tiveessadificuldadeporisso,pelotempoqueeutinha.Maserabemlongesim.Tudoqueagenteiafazer,
naqueletempo,emmeiahoradavapragentechegar.Hojeagentejásabequenãochegamosmais.Mas
pra você ver, eles entravam na escola às7horasdamanhã,eusaíadecasa20pras7echegavaláno
horário. Primeiro eles estudaram no Disciplina, depois estudaram no Visão e no Olimpo. Então não era
assim tanto trânsito.Masqueeralonge,era.Etambémnãotínhamosnadaemvolta.Tudoquetínhamos
que fazer era ir para o lado de lá, tinha que chegar na T-63. Então foi uma época assim. Só isso que
atrapalhou,mastambémnãoverianadaquemefizessequerermudardaqui.Osbenefícioserammaiores.
Pesquisadora:C
erto!Enessetempoficaramos4morandoesósuafilhaquemudoudepois?
Sarah:É.Querdizer,oMatheusestudoufora,ficou5anos,depoisvoltou. ALarissatambém,foievoltou.
Eu fiquei aqui, aqui é o nosso porto seguro, agentevaievolta.Eutambémfiqueimorandoforaportrês
anos, meus filhos ficaram aqui e eu não tive problema nenhum assim medo deles ficarem sozinhos.Eu
vinhaacada3mesesparacáporque,estavaemoutropaís.Masnemporisso,eusempreosdeixeiaqui.
Não tiveproblemanenhum,nemcomacasa,dedeixaracasasozinha.Eununcativeproblemanenhum,
apesar de que teve gente que teve. Eu graças a Deus, não. Eu moro numa localização dentro do
condomínioquemedeuesseprivilégio,viajotranquila.
Pesquisadora:E
comoeraacasaquandovocêsmudaram?
Sarah:Então.Quandonóscompramosacasa,nóscompramosdeoutromorador.Entãonósnãofomosos
primeirosmoradoresaqui.Masacasamantinhaaconstruçãooriginal.
Pesquisadora:E
sseantigomoradornãofeznenhumareforma?
Sarah: Nenhuma, não tinha nenhuma reforma. Até que nós mudamos. Nós tivemos quefazerumaárea
para poder caber as coisas. Porque a casa era pequena. Essa parte daqui sempre existiu. Os quartos
nuncaforammexidos.
Pesquisadora:E
ramdoisquartosantes?
Sarah:Trêsquartos,sempreforamtrêsquartos.Elánofundotinhaumpédelaranjaeoutrodelimão.Mas
nãotinhanada,eratudoterra,umgramadoassim.Entãoacasaerapequena.Sóaquitinhaostrêsquartos,
umasalaeumacozinha.Tinhaumquartinhoaquiqueelesfalavamqueeraumquartodaempregada.Acho
quevocêdeveterconhecidoalgumacasaantiga,semreforma.
Pesquisadora:É
,agenteviuaqueladaMaria,queachamosbemparecida.
Sarah:É,deveserigualzinha.
Pesquisadora:V
ocêsabesetinhamodelosdiferentesdecasaaqui?
Sarah: Existem. Parece que três modelos ou dois, eu não tenho certeza. Agora, talvez os mais antigos
podemtedizerseexistemtrêsmodelosdecasaaquiouduas.Masametragemeraigualadoisbanheirose
trêsquartos,issoépadrãodetodas.Aposição,talvezadistribuiçãodeumdosladosquemudava.Então,
essa casaaquidolado,erabemoriginalzinha.Deveteralgumamodificaçãozinha(sic),entãoacasaaqui
do lado lembra um pouco a nossa casa quando mudamos. Mas depois, devagar, nós fomos fazendo
reformas.Nósreformamosofundo,né?Construímosláumaedículaquetemumquarto,umbanheiroeum
quartinho de despensa. Construímos uma cozinha e depois uma piscina e o quintal, aterramos tudo e
nivelamos.Entãoconstruímostodoofundoprimeiro,aímudamososquatroparaacasa.
Pesquisadora:A
h,ficarammorandonofundo?
Sarah:Ficamosenãofoipouco.Foiquaseumanoparaarrumaraquinafrente,entendeu?Porqueaquiera
taco né, estava tudo meio solto, nós tivemos que arrumar. Colocamos, não quisemos tirar na época. Aí
passamossóumsinteconochãoereformamosessebanheiroaquidosmeninos.Aídepoisjápegouessa
parte dareformaaquidasala.Asalaerapequenininha,aíampliamosasala.Essaparteaquinãoexistia,
aquieraocorredortodinho.
Pesquisadora:A
entradaentãoseriaaqui?Nalateral?
Sarah:Isso,eranalateral.Aáreaerapequenaeaentradaeranalateral.Aítinhaumcorredor,umpedaço
vagoali,ondemeumaridoprojetouparafazeroescritórioeesselavabo.
Pesquisadora:V
ocêscontrataramarquiteto?
Sarah:Maisoumenos.Lánofundofoiporarquiteto,sim.Agoraaquielejácomeçouaobra juntocoma
arquiteta.Masnemtanto,elasódandoumasorientações.Elequesesentavaeficavaaquiestudando.Ele
é engenheiro também, não civil, engenheiro agrônomo. Mas ele tem uma noção de espaço. Aí fomos
devagar aumentando: a sala, depois acozinhaaquidedentro.Então,essacozinhaprojetamosparaficar
claro aqui dentro, porque não existia essa casa do lado com essa reforma que hoje ela tem. A pessoa
levantou uma parede muito grande ali, depois se vocês quiserem eu vou mostrarpravocês.Entãoessa
paredeatrapalhoumuito.Agentejátinhafeitoacozinha,entãoescureceudemaisanossacozinha.
Pesquisadora:N
ossa!
Sarah: Tanto é que ficamos um tempo usando mais lá no fundo, por causa do muro que ergueram.
Nenhuma outra casa tem muros altos, né? Então a gentefezassim,viradopralá,poisventilavamais,a
claridadeeraboa.Masdepoisnóstivemosesseproblema,mastambémsó.Fizemosalavanderia,fizemos
umoutrobanheirinho[sic]alinafrente,queeranessaparte.Lánofundojátemoutrobanheiro,queagente
usa para a piscina, essas coisas. Então fomos aumentando devagar, do jeito que a gente conseguiase
acomodarmelhor.
Pesquisadora:Evocêlembraosanosmaisoumenosqueforamessasreformas?Vocêsfizeramaedícula
primeiro,né?
Pesquisadora:S
im,tudobem,éumamédiamesmo.
Sarah:Nósdemoramosparareformar.Ficamosaquieagentefoiindodevagar.Mudamospracáporqueos
quartosjáestavamprontos,masaquinãotinhapiso,foiassimdevagar.Entãoachoquefoiuns5anosque
levoupraterminartudo.
Pesquisadora:A
í(sic)depoisvocêsnãofizerammaisreformas?
Pesquisadora:A
h!Evocêsficaramsatisfeitoscomasreformasdaarquiteta?
Sarah: Sim, lá no fundo sim, é o lugar que eu falo que minha casa émaisfuncionalebonitinhaéláno
fundo.
Pesquisadora:É
olugarquevocêmaisgosta?
Sarah:Gostosim,táprecisandonovamentedeumareforma,lógico,hojequantosanossepassaram,né?
Masnaépocaficamosmuitosatisfeitossim.
Pesquisadora:E
vocêspretendemfazeralgumaoutrareforma?
Sarah:Futuramentesim,láaquelefundojánãotácomoeufaleipravocê,meagradounaqueleépoca,hoje
jánãotámuitomais,agentepensaemtirarumelevadoquetemlá,porquemeufilhobrincavadebasquete,
temumacestalá,masagoraagentepretendetiraraquilolá,nivelareficartudonochão,sóaliquemais
estámeincomodando.
Pesquisadora:E
ntendi!
Sarah: E assim mexer no jardim, tirar alguma coisinha, não construir nada mais, nem fazer cômodo
nenhum.
Pesquisadora:tácerto!Evocêsfinanciaramnaépocaacasa?
Sarah: Acho que não, acho que meu marido usou fundodegarantia,vendeuacasaemSãoPaulo,não
achoquefoifinanciamentonão
Pesquisadora:P
orquevocêscompraramdeoutromorador,né?
Sarah: Isso, então a gente pagou pra ele, ele que tinha o vínculo com a Caixa, entãoagentecomprou
direto.comelemesmo
Pesquisadora:E
vocêsfizeramasmodificaçõesmesmoporquequeriamampliaroespaço?
Sarah: Sim, porque não cabíamos (sic) com as coisas nossas aqui, precisava dar umaaumentadapara
cabertudoeficarmosmaisàvontade,satisfazeragente,comoagentequeriaqueficasse.
Pesquisadora:E
osespaçosquecadaummaisgostanacasa?
Sarah:É,aíquandoeleseramcriançaseraapiscina,faziatudolá,aniversárioeatéhojetudoqueéfeito
aquiemcasaélámesmo,umalmoçopramaisgente,aquiésópranósmesmo,mastudoagenterecebe
lá,entãorealmenteéoespaçoquemaischamanossaatenção,queagenteficamaisàvontadeéali,na
edículalánofundo,queéolazernosso.
Pesquisadora:S
im,sim,eamaiorvantagemdemoraraqui?
Sarah:Éasegurança,asamizadesquefizaqui,hojeeufaloquetemhoraqueeunemlembroqueeuvim
de lá, porque aqui eu nãosei,eunãotenhonemvontadequandoeutoaquideficarsaindo,euencontro
tudoaqui,sómesmoquandotemnecessidade,masmesmoassimparalazereuficoaqui,porquesempre
temalgumacoisinha,umaamigachamapraisso,praaquilo,entãoeumedoumuitobemaqui,meidentifico
muitoaqui,meumaridonemtantoporqueeleviajamuito,elenãocriouaquelaraiz,deamizadeassim,eujá
não,semprefiqueiaqui,meusfilhostambém.Entãoeurealmentetenhopaixãoaqui,nãotenhooquefalar
mal,temalgunsprobleminhasououtro,cachorroquefazsujeiranaportadasuacasa,aquelascoisinhas,
maseununcativeproblemacomvizinhoounenhummoradornão,soumaistranquila.
Pesquisadora:E
vocêsusamosupermercadodaqui?Aquadra...
Sarah:Sim,osupermercadosim,aquadrahojenemtanto,osmeninoscresceram,maselesusarammuito,
brincaram muito e hoje tá melhor ainda do que na minhaépoca,muitomelhor,hojeaquadraláestáum
espetáculo,atéosaparelhosdefazerginástica,eucaminheimuitoali,caminhomuitoaquidentrodoPrivê,
mas já usei muito. Gostodasfestasqueelesfazem,aténaminhaépocaasfestaserammelhoresainda,
hoje tá bom também, mas é que naquele tempo era todo mundo, eram os moradores que faziam, era
aquelaunião,porissoqueagentecrioumuitomaisvínculo,seencontravamais,trabalhavajunto,entãoera
muito gostoso. Era maisaquinoranchão,tinhafestajunina,osbailes,depoiscomotempofoiacabando,
agoravoltou,estávoltando,masagoraéterceirizado,entãoagoraagenteéconvidadoparaafesta.
Pesquisadora:J ánãoévocêsquefazem,né?
Pesquisadora:F
oimuitagentequesaiu,quemudoudocondomínio?
Sarah:Ah,muitagentemudousim,aquinaminharuaachoquedápracontarosantigos.
Pesquisadora:E
essaspessoasmudaramvocêsabeporqualmotivo?
Sarah:Ah,àsvezesporqueenvelheceram,acasaficoumuitogrande,eumesmo,minhaamigatinhauma
casamuitograndeaquieficouviúva,aímudouparaumapartamento,éociclodavida.Meumaridomesmo
fala: "Ah, os meninos tão indo embora, a gente vai ficarcomessacasatãogrande,vamospraumlugar
menor", realmenteporqueogastodacasaéumpoucogrande,quintal,frentedacasa,plantas,entãoem
termosassimdelimpeza,vocêprecisapagarumafaxineiraprateajudar,entãoosgastossevocêtásócom
duaspessoasouuma,nãocompensa.Entãovocêvaiparaumapartamento,tudobemquevocêvaipagar
umcondomínioumpoucomaior,massevocêforcolocarnapontadolápissaimaisbarato.Entãoeuacho,
emuitagentetambém,esseproblemadedeslocamento,ficoudifícil,nãosei,masmuitagentemudousime
osnovatoseunãoconheçomuitagentenão.
Pesquisadora:T
ácerto,eagentepodepassearpelasuacasa?
Sarah:Pode,nãotemproblemanão,sónãorepararporquetátudomeiobagunçado.Voulevarlánofundo
porqueeuachoqueéolugarquemaismexeu,quefoiconstruído.
ENTREVISTA2:Entrevistaconcedidaàpesquisadora,CarolinaVivasdaCostaMilagre,pelamoradorado
PrivêAtlântico,MariaOtíliaBranco,nodia24deagostode2019.
Pesquisadora:Q
uantotempoasenhoramoranessacasa?
MariaOtília:Nestacasa,nestacasa...Eumoravaalinafrente,nãoeranesta,nestacasaeumoro,deixaeu
verdireitinhoaqui…2002.
Pesquisadora:D esde2002queasenhoramudouparaestacasa?
MariaOtília:Isso.
Pesquisadora:M asparaocondomínioasenhoramudouantes?
MariaOtília:Mudeiparaocondomínio,moravaalinaruadoCalmas,em1977.
Pesquisadora:P orqueasenhorasemudouparacá?
MariaOtília:Porqueeumudeipracá?
Pesquisadora:É ,aprimeiravez.
MariaOtília:Porqueeumoravalánarua85,edaíagentecomprouacasaaqui,aprimeirafoiláembaixo,
nãotinhaessaparteaqui,nãotavaconstruída,construiuprimeiroapartedireitadaavenidapralá.Uma
partesó,porquetemumapartequeelenãoconseguiuvenderentãovendeuoslotes,nãoé,aífoi
construído.Aquelascasasdaruadomeiodasquadras,domeiodaavenida,aquilofoitudoconstruído,não
foioPrivêquefez.Tinhaosupermercadoláembaixo,pequenininho,ondetemaquelascasasgeminadas
assimláera,tinhaaigreja,aquitanda,etinhaumaporçãodecoisasqueeletambémnãoconseguiu
vender.Porquenãoconseguiuvender?Porquetinhaumainflaçãomuitoalta,de84%,entãoaspessoas
compravam,mastrês,quatro,cincomesesdepoisnãodavammaiscontadepagarasprestações.Erada
CAIXEGO.
Pesquisadora:A h,entãoeradaCAIXEGO,nãoerafinanciadopeloBNH?
MariaOtília:Não,eradaCAIXEGO.Etinhaoutrascasasdoladodecá,também,achoqueédaruado
Botoparabaixo,só,queestavaconstruída.Depoisconstruiuessaparteaqui.Essapartefoiconstruídabem
depois,daruadobotoparacá.
Pesquisadora:E ntãoasprimeirascasasforamdaruadoBotoparabaixo?
MariaOtília:É ,dalipralátudofoiconstruído,compraramolote,éporqueoconstrutornãocontadepagar
né,eletinhacompradoaglebadaItacolomyaqui,porqueaquieraoloteamentodaItacolomy,queétodoo
bairrodoJardimAtlântico.Daíoconstrutorcomprouesseslotes,essagleba,maselenãoconseguiu,aífez
loteamento,aíeleprimeiro,eleabriuasruasetudoisso.Játinhanaverdade,porquejáeraloteamento,e
elefezosmurosparafazeroPrivêecomeçouaconstruirnaparteládebaixo.Aquinãotinhaágua
encanada,nãotinhatelefoneviu,telefoneeradaTelegoiás,nãotinhaeoutracoisaquetinha…
Pesquisadora:A quidentroeleasfaltoutambém?
MariaOtília:É,asfaltou,eleasfaltouefezopoçoartesianotambém,foioconstrutorquefez,sóquenão
davacontadetudo,porquetambémteveumasecamuitograndenaquelaépoca,nãoigualessadaquique
eulembre,depoisqueeumoroaquinuncaficou90diassemchuvaemGoiás.
Pesquisadora:N ossa!
MariaOtília:D essavezéqueestáhá90diassemchover,né,masnãotinhaopoço,nãotinhaágua
encanada,nãotinhanada,elequefeztudo.Comoelenãoconseguiuvender,foiparando,daíaCAIXEGO
foificando,elevendeuoslotes,tinhamuitagentequetinha,tambémolotessabequantoéquecustava?
Pesquisadora:Q uanto?
MariaOtília:3.000,erasuperbarato.
Pesquisadora:N ossamuitobarato!
MariaOtíliaE ramuitobarato,né?
Pesquisadora:E acasaprontaeraquanto?
MariaOtília:Acasaera3milhõesepouco,eupagueitrêsmilhões,acasadalidebaixoeupaguei3
milhões.
Pesquisadora:D ecruzeiros,naépoca?
MariaOtília:Compravaassim,comoeutinhaaimobiliária,quechamavaSOMEGO,Sociedadede
MelhoramentodoEstadodeGoiás,aíaSOMEGOcompravaascasas,porqueaspessoasnãopodiam
pagar,daíagenteialánaCAIXEGOeaCAIXEGOpassavaprafirma,daíagenteiavendendo,porisso
queeutinhasetecasasaquidentrodoPrivê.
Pesquisadora:É SOMEGO?
MariaOtília:É,aídepois,agoraeusótenhoesta,eutambémfuivendendo,porqueinquilinodámuitador
decabeça,poxavida,nãoé,enãovaliaapena.Entãofoiissoaíqueaconteceu,aíoproprietáriodoPrivê
chamavaJaime,eraumjudeu,elechegouaquicommuitodinheiro,masdaínãoconseguiufazertudo,acho
queelemoraemBrasíliaagora,maseleveiodeSãoPaulo,perdiocontatocomele,maselemoraem
Brasília.ElefoiemboraeaCAIXEGOtomoucontadisso.NóscontinuamospagandopelaCAIXEGO,daí
veiooColloretiroutodoonossodinheiroedaíaspessoasquetinhamcompradoascasaslevarama
melhor,porquetiroutrêszerosdamoedaedaíaprestaçãoficoupequenininha.
Pesquisadora:P orquemudouprorealnaépoca,né?
MariaOtília:Foiisso,aquelesquetiveramasortedeterascasas,ficaramcomascasasporquepuderam
pagar.
Pesquisadora:E ntendi!
[Parteretirada]
MariaOtília:ChegueiemGoiâniaem1976,enóscompramosumacasanarua85,ondehojeéumaescola
deinglês[parteretirada]Parachegaraquieraumaviagem,tambémninguémqueria,aavenidaT-9erasó
umapista,aavenidaT63erasóumapista...
Pesquisadora:N ãotinhaoacessoparacáné:Tinhaquedarumavolta,nãoera?
MariaOtília:É,depoisquefizeram,entãonãotinhaasfaltonãotinhanada,daT-9pracánãotinhanenhum
asfalto.[parteretirada].Tudoeradeterra,quandochovia,nossaaaa,eraumaluta,tinhavacaemtudoque
eracantoaqui,porqueaquiemvoltaerafazenda.Eradessejeito.
Pesquisadora:N ossa,olhacomomudou!
MariaOtília:Essenegóciodascasas,tinhaaqui,aJoanaquetinhacompradoacasa,omaridodela
tambémvendeu,láembaixo,achoquetinhaumascincocasasquetinhamcomprado,nãotinhamais.Aía
gentenãoconseguiuregistraroPrivê,porquenãotinhaleidecondomínio,sótinhaleidecondomínio
vertical.
Pesquisadora:N essaépocajátinhaverticalentão?
MariaOtília:É,verticaljátinha,porquejátinhamuitosprédios,lánocentro.Nãotinha,quefoioprimeiroa
fazeraqui,oprimeirofoionosso,osegundofoioshoppingFlamboyant.DaíoLousalançouocondomínio
do shopping Flamboyant, também demorou pra vender tudo aquilo lá, as lojas. Também não conseguia
vender,nãotinhanemumacasalá.
Pesquisadora:T udovazioainda,né?
Maria Otília: É, tambémeralánofimdomundolá.Ah,feira,tinhaaDomBosco,noJardimDomBosco,
que agoraéassembleia,tudoalieraafeiraeoCEPAL,tudopequenininha.TinhaumapeixarialánaVila
Nova,agentesaiadaquiprairlácomprarpeixeeirnasfeirastambém.[Parteretirada]
Pesquisadora:A scasasquetinhaaquieramtodasiguaisoueramdiferentesumasdasoutras?
MariaOtília:T emtrêstiposdecasaaqui,TemA,BeC.
Pesquisadora:E qualéadiferençaentreelas?
MariaOtília:Adiferençaentreasprimeirascasasláembaixo,nãotinhasuíte.
Pesquisadora:A doladodireito?
MariaOtília:É,doladodireito,eumapartetambémdoladoesquerdoláembaixotambémnãotinhasuíte,
mastinhatrêsquartos.
Pesquisadora:T odastêmtrêsquartos?
MariaOtília:É,todastemtrêsquartos,masnemtodastinhamsuíte.
Pesquisadora:M asadisposiçãodosambientestambémeraigual?
MariaOtília:Não,osterrenostodossãoiguais,tudoomesmotamanho,masascasastêmdiferença,cada
umatemummodelo.
Pesquisadora:E essaaquidasenhoraéqualtipo?
MariaOtília:E ssadaquinãoseiseé,porqueelaémaior,achoqueéA.
P
esquisadora:E vocêpodiaescolherotipodecasa?
MariaOtília:O que?
Pesquisadora:PodiairnoconstrutorefalarquequeriaacasatipoA?
MariaOtília:N ão,não,vocêcompravaacasaquevocêqueria,asqueestavamfeitas,porquetinham
poucascasas,sótinhaaquelapartedoladodeláeumametadedoladodecá,eunãoseiseédaruado
Botoparabaixoquesãocasasmenores,temumasalamenor.Essadaquieunãolembrootamanhodela,
masachoqueé100m²deáreaconstruída,masissonãotenhocerteza.Porquedepoistodomundo
reformou,hojenãotemnemmais,temváriascasasqueaindasãooriginais,láprabaixo,masamaioriafoi
compradadepois,depoiseaíné.
Pesquisadora:A íjátinhamodificado,né?
MariaOtília:É,masforamvendidastodaspelaCaixaEconômica,todasforamfinanciadaspelaCAIXEGO.
Pesquisadora:E essesmodelosA,BeCpossuíamvaloresdiferentes?
MariaOtília:Tinham,porqueumaserammenores,dependiadaplantaqueestavanaCaixa,entãoas
casasmenorestinhamvaloresmenoresmesmo,aíclassificavalánaprefeitura,tinhaummapadascasas.
Láembaixoeunãolembroametragemdelasnão,precisariavernomapa.Essadaquitem100metros,ela
temmaisagoraporqueeuconstruí,essasalaaquieureformei,elavinhasóatéaqui.
Pesquisadora:A h,essaeraasala?
MariaOtília:É ,essaparteaquieufiz.
Pesquisadora:E ntãoquaisreformasasenhorafezaqui?
MariaOtília:Eufizestasala,fizacozinha,fizaáreadeserviço,fizoescritório,porquetinhatrêsquartos,
agoraeutenhoquatro.
Pesquisadora:E ntãoaumentouumquarto:
MariaOtília:É .
Pesquisadora:D emoliualgumaparte?
MariaOtília:Sim,efizumaoutraárealáforatambém,eufizumlavaboláfora.
Pesquisadora:Q uantaspessoasmoramaqui?Sóasenhora?
MariaOtília:Sim,sóeu.
Pesquisadora:Q uandoasenhoraaumentouosquartos,eraparaacomodarmaispessoas?
MariaOtília:Não,éporqueeutinhameuescritórioaquieaíeufizmeuescritório,modifiqueioquartoda
empregada,tinhaquartodeempregada.
Pesquisadora:A ídemoliuoquartodaempregada?
MariaOtília:É,eutireioquartodaempregadaefizaminhadespensaefizoutrobanheiroparaláe
aumenteioquartodaempregadaparafazermeuescritório,foiassimqueeufiz,agoraosoutrostrês
quartosjáexistiam,jáeramdacasa.Aíeufizdoisbanheirosamais,porquesótinhadois,não,eufiztrês
banheiros,porquefizolavabotambém.Nãotinhabanheirodaempregada.Não,tinhabanheiroda
empregadasim,tinha,umaareazinhadessetamanholáfora,daítinhaotanqueeolugardamáquinade
lavar,sóisso,pequenininho,tudoerapequenininhoeobanheirodaempregadatambémqueerapequeno,
daíeumodifiquei.
Porqueessascasas,temumacoisa,vocêpodemodificarelasdojeitoquevocêquiser,porqueelassão,
olha,eleerajudeuné,tinhaoutravisãodascoisas,elefezdeumamaneiraquevocêpodemodificardo
jeitoquevocêquiser,porqueprimeiroelatemespaço,elatemumalicercede80cmdochão,depedra,
tantoéquenãotemuma,olha,deumidade.Amaioriadascasasestãocheiasdeumidadequevemde
baixo,essaaquinãotem,porqueelefezumalicercebem-feito,entãonãopassapracá.Etambémtemuma
vantagem,queelasnãoforamaterradas,eleconstruiuemcimadosolooriginal,entãonãofoiaterrado,
porqueascasasquesãoaterradasnormalmentetêmumidade.
Pesquisadora:S im!
MariaOtília:O lha,essacasatemmuitotempoqueeureformeienãotemnenhumaumidade.Vocêquer
veracasaláparadentro?
Pesquisadora:S im,claro!
ENTREVISTA3:Entrevistaconcedidaàpesquisadora,CarolinaVivasdaCostaMilagre,pelamoradorado
PrivêAtlântico,Camila(nomefictício),nodia25desetembrode2019.
Pesquisadora:Q uantaspessoasmoramnacasa?
Camila:D uas.
Pesquisadora:E quemsãoessaspessoas?
Camila:E uemeuesposo.
Pesquisadora:Q uandoquevocêssemudaramparaocondomínio?
Camila:M aisoumenos,noanode1981,julhode1981.
Pesquisadora:E porquevocêsoptarampormudarpracá?
Camila:P orqueera,foiquandosurgiuaquestãodecondomínio,porquestãodesegurança.
Pesquisadora:E vocêsmoravamondeantes?
Camila:A genteégoianoné,masteveumépocaquemorávamosemSãoPauloeveiotransferidopara
Goiânia,sóquenaépocafomospraSãoPauloevoltamosefizemosaopçãopelocondomínio,porqueem
SãoPauloagentejáconhecia.
Pesquisadora:A h,emSãoPaulojátinhaoscondomínios?
Camila:J á,játínhamosessanoçãodecondomínio,doAlphaville,emSãoPaulo.Eratudonovoenós
buscamosvirparacá,naépocajovens,nósqueríamosumacoisaquenostrouxessesegurança.
Pesquisadora:E ntendi,equandovocêsmudaramcomoeramascasasaqui?
Camila:B ásicas,bemsimples,eunãomelembroonomedaconstrutoradaépoca,masnaverdadenão
eraparaserumcondomínio.Eramcasasconstruídas,bemsimples,depoisqueopessoalmudou,comoera
muitodistante,resolveucercar.AchoqueeraItacolomy,eraumaempresadeimobiliária.
Pesquisadora:E vocêscompraramdeoutromorador?
Camila:S im,deoutromorador
Pesquisadora:E ntãonãotinhafinanciamentooutevetambém?
Camila:T eveumfinanciamento,nósfizemos,nãoseisefoipelaCaixaeconômica.
Pesquisadora:E vocêlembramaisoumenoscomoeraessacasa?Quantoscômodos?
Camila:A casa,elatinhasala,trêsquartos,cozinha,tinhaumquartinhodeempregadacombanheiro,eufiz
muitamodificação,eraisso,eraobásico,erasóessaparteaquiacasa,centoepoucosmetrosquadrados.
Pesquisadora:E vocêsmodificaram?
Camila:N ósmodificamos,aáreaaquiégrande,entãonósaproveitamos,colocamospiscina,fizemosmais
umbarracão,fizemosumaáreadeserviço,entãonósampliamos,comotemponósampliamosacasa.
Pesquisadora:E nessetempocontinuouvocêeoseumarido?
Camila:N ão,tinhafilhosné,naépoca,porqueeutenhodoisfilhos,entãoparaatenderascrianças,porque
comoagentemoravamuitolongedacidade,eradooutroladooclube,éramossóciosdoJaóquandoa
gentemoravanocentroné.Masaquinãotinhanada,agentemoravamesmobemlonge,entãofizemos
piscina,naépocaosvizinhosmaisantigosdisseramquenãoficavacarofazerumapiscina,entãonós
temosapiscina,ficouaquelaáreadelazer.
Pesquisadora:E ntendi,eaídepoisosfilhoscresceramesaíram.
Camila:É ,osfilhoscrescemevãoembora,masdepoisvoltamcomneto,nosfinaisdesemana.
Pesquisadora:E vocêlembrasetodasascasaseramiguais?
Camila:N ão,nãoseiseeramquatromodelos,trêsouquatromodelosdecasadiferentes.
Pesquisadora:M esmoassimnafachadadavapraverqueeramdiferentes?
Camila:D ava,atéhojedápraperceberquesãomodelosdiferentes.
Pesquisadora:E vocêsabesetodastinhamtrêsquartos?
Camila:E ra,eraopadrãodelas,eramtodascomtrêsquartoseumadependênciadeempregada.
Pesquisadora:E comoeraaconvivênciaquandovocêsemudou?Foifácildeserelacionarcomos
vizinhos?
Camila:M uitofácil,porquetodosaquimoravamlongené,comcriançanaépoca,muitoboaaconvivência.
Pesquisadora:T inhamfestas,eventos…?
Camila:T inhasim,acomunidadeeramuitounida,edepoiscomotempo,nãoexistiaacancela,entãoum
grupodemulheresquefaziaginásticanaquadra,voutecontarahistóriarapidinha,entãotinhaumgrupo
demulheresaquieumaprofessoradaprefeitura,eaíagentepodiafazeraginásticacomela.
Pesquisadora:A h,eradaprefeituramesmoentão?
Camila:E ra,daprópriasecretariadeesportes,entãonósfazíamosaginásticaaquiesurgiuaideiaentreas
mulheres,eram15,20mulheres,decolocarumacancelanaportariaeagentesaíadecasaemcasa
pedindoapoiodosmoradoresparafazer,entãofoisurgindo,nãotinha.
Pesquisadora:Q ualquerpessoapodiaentrar?
Camila:P odia,aídepoiscomotempofoiorganizando,foicrescendoefoimodernizandooesquemade
segurança.
Pesquisadora:E ntãoforamvocêsmesmoquepedirampelacancela?
Camila:F oi,osprópriosmoradoresmesmo,sempremulhermesmoparaorganizar.
[ parteretirada]
Pesquisadora:E quandovocêscompraramacasaelajátinhasidomodificadapelooutromorador?
Camila:N ão,elaestavaoriginal.
Pesquisadora:E ssemoradorcomprouelogovendeu?
Camila:E lecomprouenemaquiveio,porqueeleeradonorte,elecomprouporqueeraprofessoreamigo
dessepessoaldaItacolomy,elecomprouenemveioaqui.Tantoéquequandonósfomosfazera
transferência,todaadocumentação,tratamosdiretocomocontador,apessoadeleaqui,entãoelenão
chegouamorar.Porquefoimuitorecente,assimquefoiconstruídoaqui,queterminou,essapessoa
comprou,nósjácompramosdele,entãonósfomososprimeirosmoradoresaqui.
Pesquisadora:E tinhamuitagentejámorandoaqui?
Camila:J á,nãomuita,masnaminharuajátinhamoradoresque,inclusive,trabalharammuitosanoscomo
meumarido,entãoassimaconvivênciamuitoboaecomosfilhospequenos,vocêsabe...
[parteretirada]
Pesquisadora:E mrelaçãoaodiaadiadevocês,vocêssaemmuitodaquiparairaocentro?
Camila:S aímosmuito,porqueeutenhomeutrabalhoeeletambémtemodele,vocêviu,vocêchegou,eu
játinhasaído,jávoltei,entãoéassimagentesaimuitoporcausadanossavidaprofissional.
Pesquisadora:E mesmonocomeçotambémsedeslocavam?Vocêdiriaqueamaiordificuldadeera
mesmoessadistância?
Camila:E raadistância,porquenaépocaeunãotrabalhava,masoacessoaquieramuitodifícil,telefone,
sótinhaumtelefoneparaosmoradores,pratodomundo,nãotinhaprivacidadeparausarotelefone.Então
eramuitodifíciloacessoaqui.
Pesquisadora:E hojevocêsusamalgumacoisadocondomínio,porquenãotemmaisosupermercado,
né?
Camila:T emum,queatendebemàsnecessidades.
Pesquisadora:E vocêsusam?
Camila:U samostambém,nãodireto,porqueémuitocaro.
Pesquisadora:A h,aquiémaiscaro.Entãoparafazerasatividadesvocêssempresedeslocamparafora
docondomínio?
Camila:S im,nosdeslocamos.
Pesquisadora:C erto,eemrelaçãoàsreformasquevocêsfizeramaqui,tevedemoliçãodealgumcômodo?
Camila:T eve.
Pesquisadora:D equaiscômodos?
Camila: T evedemoliçãodeparede,pravocêveresseaqui,esseaquieraumquarto.
Pesquisadora:A h,praintegrarcomasala?
Camila:Isso.Esseaquieraumquarto,acasaéantiga,vocêsviram,essaestantetem30anos,meufilho
tem48agora,eletavacom17quandoeletavafazendofaculdade,entãocomoéqueeuvouarrancaruma
estantedessas,játáfeiaaí,masnãoqueromexernelanão,deixatudoaí,queroaposentareviajar,não
querocuidardecasanão.
Pesquisadora:T ácerto!Eemrelaçãoaconstrução?Teveobarracão,né?
Camila:Isso,obarracãoeapiscina,esabeunspuxadinhosqueeudei,tivequefazer.
Pesquisadora:V ocêsacrescentarammaisumquarto,umbanheiro,algumoutrocômodo?
Camila:A crescentamossim,maisumbanheiroeobarracãonósfizemoscomumquartoeumbanheiroe
aquidentronósacrescentamosmaisumbanheiro.
Pesquisadora:V ocêsmudaramtambémapartedafrente,dafachada?
Camila: P raticamentenão,eusóacrescenteiessetoldonaárea.
Pesquisadora:Enotelhadotambémnãoalterounada?
Camila:N ão,notelhadonão...
[parteretirada]
Pesquisadora:E ntãovocêsnãopretendemfazermaisreformasnacasa?
Camila: N ão,dejeitonenhum,nenhuma.
Pesquisadora:E laatendevocês?
Camila: A tende,tranquilamente.
Pesquisadora:E emqueépocavocêsfizeramessasreformas?
Camila:C omopassardosanos.Foiaolongodotempo,levamosmuitosanos.Cadaépocaagentefalava
vamosmexeraqui.Essesdiaseutavacomvontadedederrubaressaparede,elefaloucalma,calma,mas
nãovamosmexermaisnão,chega!
Pesquisadora:E ssasreformasvocêscontrataramumpedreiromesmoefizeram?
Camila:F oi,umpedreiro,maiorarrependimento,vocêtemqueterumprojetoné,porqueficamuitorápidoe
aívocênãotemtomadaesaicolocando,affmaria!Não,acabou.
Pesquisadora:E ntãoaentrevistaeraissomesmo.
Camila:V ocêsqueremdarumaolhadanacasaagora?
Pesquisadora:S im,porfavor.
ENTREVISTA4:Entrevistaconcedidaàpesquisadora,CarolinaVivasdaCostaMilagre,pelamoradorado
PrivêAtlântico,MariaEunice,nodia25desetembrode2019.
Pesquisadora:Q
uantaspessoasmoramnacasa?
Pesquisadora:E
naépocaquecompraramacasa,moravamvocêscincoentão?
Pesquisadora:C
erto!Evocêlembracomoeraaquiquandovocêsmudaram?
MariaEunice:Entãoeujátinhamoradoaquiporqueminhairmãquemoranaruadecimaestavasolteira,
aíeumoravacomela.Então,nãoseisevocêstêmtempoparaouvirahistóriaassim.
Pesquisadora:T
emsim,claro,queremosouvir.
Pesquisadora:E
lamesmonãotinhafeitonenhumareforma?
MariaEunice:N
ão,tudoeraoriginal.Entãopegamosdozero.
Pesquisadora:E
comoeraessacasa?Quantoscômodos?
Maria Eunice: Então era uma casa que tinha uma sala, uma cozinha, tinha três quartos, um quarto de
empregada, um banheiro, uma lavanderiazinha [sic], e uma garagem pequena. Aí para frente tinha um
jardim, uma cerca baixinha assim, e atrás era mato, até um pouco de morro, tinha algum pé de limão,
algumacoisaassim.Sevocêquiservereutemostro.
Pesquisadora:S
im,vamosquererversim.Eascasasdoladoeramiguais?
Maria Eunice: Aqui as casas não são iguais, parece que são seis modelos de casas, então essa casa
minha era essa casa que tinha esse estilo degaragemassim,sabe?Maseramseistipos,entãonãosei
falarparavocêscomoeramosoutros.
Pesquisadora:A
casadasuairmã,porexemplo,eradiferente?
MariaEunice:E
radiferente.
Pesquisadora:M
astinhatrêsquartostambém?
MariaEunice:Sim,euachoquetodastinhamessasituação,umasala,cozinha,trêsquartos,dependência
deempregadaegaragem,agoraadisposiçãoqueeradiferente.
Pesquisadora:A
h,entendi!Entãomudavamesmosóaorganização.
MariaEunice:É
.
Pesquisadora:E
vocêsfizerammuitasreformasaqui?
Maria Eunice: Não, fizemos poucas reformas, foram bem lentas e poucas. Na primeira reforma nós
trocamosopiso,queeraumpisodetacoeelesoltava.Eutenteiarrumaressestacosdetodojeito,prendia
unsaqui,outrossoltavamdali,entãoaínóstrocamosecolocamosumpisodeardósia,foiaprimeiracoisa
queagentefez.
Pesquisadora:Issologoquevocêsmudaram?
Maria Eunice: Não, depois de um tempo. Aí no segundo momento a gente fez uma reforma, a gente
construiu no fundo do lote, um espaço assim, uma varanda, játinhaascriançasné,aídoisquartoscom
banheiro,umlugarlegalassim.
Pesquisadora:E
tiverammaisreformas?
MariaEunice:Depoisemumaterceirafase,agentetirouacozinhaefezacozinhaaquinalateraldacasa
e juntou essas duas salas, porque nãotinhasaladejantar,entãonósjuntamosessasduaseampliamos
tambémagaragemné,porqueagaragemsócabiaumcarro,entãoampliamosparacaberdois.
Pesquisadora:C
erto!
Maria Eunice: Depois em outro momento nós fizemos uma piscina e uma churrasqueira, mas ela está
precisandodeoutrareformajá,tátudovelho.
Pesquisadora:E
vocêspretendementãofazermaisreformas?
MariaEunice:Olha,pretendo,tenhoaintençãodefazer,masnãoseiquando.Mas,tenhoaintençãoassim
detrocarporta,janela.Nósfizemosumareformaquenóstiramosaardósiaecolocamosessepiso,masaí
tivemosumainformaçãoquehojeépisosobrepiso,eaífoipéssimoessenegóciodefazerpisosobrepiso,
porque tudo solta, dá defeito, então o queficouláforaelesoltouinteiro,elenãoaguentouumano,osol
bateueessepisoinchoueexplodiu,entendeu?Entãotivemosquetirareletodo,paratiraraardósia,para
refazer. Aqui dentro de casa ainda não,mastemlugarqueagentepassaqueagentesentequetáfofo.
Entãotemquetrocaressepiso.Comessenegócioasportasdeixaramdeficarniveladas,tivequecerraras
portas ou então mandar fazer sob medida, porque aumentou né, aí agora está precisando trocar tudo,
vamosver,umahoradácerto.
Pesquisadora:M
ashojevocêachaqueessacasaatendevocês
MariaEunice:Atende,nossa,eugosto,olugarné,atranquilidadequeagentetemdemoraraquieagente
cria amor, eu gosto da minha casa. Então sinto que está assim precisando arrumar tudo, mas fomos
fazendoasreformasenuncafomosatrásdeumarquiteto,entãofoitudocoisaassimpuxadinho,entãoeu
acho que em umoutrareformaagentevaifazerdessaforma,contratandoalguémparafazerumprojeto,
umacoisamaiselaboradamesmo.
Pesquisadora: Que bom! E em relação ao condomínio, vocês saem muito daqui, por exemplo para
trabalharemalgumlugar,paracomprarcoisas?
MariaEunice:Entãomeumaridosai,eunãotrabalho,eusouaposentada,entãoeusaiotododia,porque
euvouparaaacademiatododia.
Pesquisadora:A
academiaéaquiperto?
Maria Eunice: Não, lá próximo ao Bueno. Então saio, vou ao supermercado, farmácia, médico, fazer
exames,essascoisas.Meusfilhosquandoestãoaquisaemdiretoné,masmudoumuitoemrelaçãoaoque
erasairantesehoje,ficoutudomaisfácil,oacessoémaisfácil.
Pesquisadora:A
ntesessadistânciaeramaiorné,porquenãotinhanadaemvolta,né?
Maria Eunice: É, não tinha nem ônibus, o mais perto passava na T-9, então nessa a gente ficava na
esquina pedindo carona para algunsmoradoresquetinhamcarro.Meucunhadotinhacarro,masviajava,
então era bem difícil.Asvacascruzavamaquidireto,aminhafilhamaisvelhapegavaleiteaquiondeéo
posto,alierafazendaquetinhagado,tiravaleite,entãoeraumafazendamesmo,bemafastada.
Pesquisadora:E
játinhaomuroquandovocêmudou?
MariaEunice:Tinha,játinha,maseraummuronãomuitobom,fraco,maseramaistranquilo.Etinhauma
portaria também, sóquenãoeraumacoisaassimestruturada,nãoeramuitodifícilentraresair,erabem
tranquilo.
Pesquisadora:E
aquidentrojáeraasfaltadotambém?
MariaEunice:J á.
Pesquisadora:D
eforaquenãoera?
Maria Eunice: A chegada até aqui era asfaltada, tinha uma estradinha quechegavaatéaquinaportae
aquidentroera,masaoredor,saindodaestradinhanãoeranão.
Pesquisadora: E hoje vocês convivem com os moradores aqui? Tem algumas festividades que vocês
frequentamaquidentrodocondomíniomesmo?
MariaEunice:Olha,temvárias,euconvivomuitopouco.Euvoumuitoàcasadaminhairmã,todososdias,
maseunãoconvivomuito.Eutrabalhava,entãoeumeacostumeiaficarforaequandoeutavaemcasaeu
gostavadeficaremcasa,soubemcaseira.Maseuvouassim,temluau,temumafeirinha,umafestados
pais,masnãosãotodas,nãosouaquelapessoafesteiranão.
Pesquisadora:A
h,masentãomuitaspessoasvão,ocondomíniosempreorganizaessasfestas?
Maria Eunice: Vão, sim, tem muita gente nova hoje, mas tem algunsantigos.Nãoseisevocêjápegou
moradoresmaisantigos.
Pesquisadora:E
uconverseicomalgunsjá,comaMariaOtília,quesemudarambemnocomeçoné?
Pesquisadora:E
lamoraemqualrua?
MariaEunice:Nessarua,maséaquiemcima.Elatemumaescolinhadenataçãonacasadela,entãoela
conhecebastantegenteaqui.
Pesquisadora:N
ossa,quelegal!Emuitagentequemoravaaquimudouentão?
Pesquisadora:E
lamoraaquitambém?
MariaEunice:Elaaindamora.EuachoqueaSOMOPAtemdocumentos,fotografias,temmuitacoisalá,
nãoseisevocêfoilá.Euachoqueébomsevocêquerverpraverahistóriadocondomínio.
Pesquisadora:É
,aindanãofuilánão,sófaleicomoRodrigo.
MariaEunice:Não,conversacomoRodrigoecomaRosângelatambém,porqueelafoidiretorasocialaqui
da SOMOPA há 11 anos, então eles têm mapa, eles têm osmodelosdascasas,porquetemocroqui,a
planta,dosmodelosdecasas,dasdimensões.
Pesquisadora:E
ssaRosângelavocêtemonúmerodelaousabequalacasadela?
MariaEunice:N
ão,nãosei.AívocêtemquevercomoRodrigoqueeletepassa.
MariaEunice:Existeviu,umaplantaassimcomtodososmodelosdascasas,euseiporqueeujávieacho
queestácomaSOMOPAissoouaRosângelaporqueeradocondomínio,euachoqueelatem.
MariaEunice:Foimesmoparairmelhorando,porqueascriançasforamcrescendoepratermaisespaço
também, ficar mais confortável mesmo. Hoje eu já acho a casa grande, falei vamos mudar para um
apartamento,masmeumaridonãosaidaquietambémassimachoqueagentevaicriandoraízes.Devez
emquandoagenteconseguejuntarafamíliatodaaíébom.
Pesquisadora:V
ocêpodemostrarumpouquinhodacasaparagente?
MariaEunice:P
osso,sevocêsnãorepararemadesordem.
Pesquisadora:N
ão,queisso.
ENTREVISTA5:Entrevistaconcedidaàpesquisadora,CarolinaVivasdaCostaMilagre,pelamoradorado
PrivêAtlântico,JoãoAlvesPereira,nodia28desetembrode2019.
Pesquisadora:Q
uemquemoranessacasa?
João:Eueminhaesposaedoisfilhos.
Pesquisadora:E
quandovocêsmudaram,eramsóvocês,semosfilhos?
João:N
ão,tinhamaisduasfilhas,sãoquatrofilhos.
Pesquisadora:A
h!
João:d
oishomenseduasmulheres.
Pesquisadora:A
h,aíelassecasaramemudaram?
João:É
,asduassecasaramemudaram.
Pesquisadora:E
quantoscômodostemasuacasa?Sãotrêsquartos?
João:Q uatroquartos,aítemasala,essasalaaqui,alateraldacasacomomuro,queminhacasaaquifaz
divisacomomurodoPrivêné,eaquialateralétudocozinha.
Pesquisadora:Issovocêsfizeramnareforma?
João:N ão,nareformanão,logoqueeucomprei,atéorapaz,oengenheiroquefezesseconjuntoaquié
primodaminhaesposa,sabe.Elequefezeosobrinhodele.
Pesquisadora:N
ossa,eosenhortemcontatocomeleainda?
João:E lepegouefalouassim,sevocêquiservocêcompraopisoaíqueeufaçoaáreaparavocê,porque
ocanteirodeobraseraaquidoladodefora,ondeéminhachácarahoje.
Pesquisadora:A
h,osenhorcomprouumloteforaedentrodoPrivê?
João:É
,eucompreiacasaaquidentrodoPrivêeolotedeforasão24lotes.
Pesquisadora:N
ossa!
João:É
umachácara.
Pesquisadora:E
hojeaindaésuachácara?
João:A
indaéachácara
Pesquisadora:E
osenhortemcontatocomesseengenheiro?Temonúmerodele?
João:N ão,desdeessaépoca,depois,oescritóriodeleeranofundodaescolaondeminhaesposaera
diretoralánoSetorBueno,noPolivalente,agentesempreencontrava,masdepoiselaaposentoutambém,
nemseiseeleaindaestálá,masfoielequeconstruiuaquioconjuntonaépoca.
Pesquisadora:E
osenhorsabesenaépocaascasaseramtodasiguais?
João:N
ão,sãoquatromodelos,diferentesné?
Pesquisadora:T
odascomtrêsquartos?
João:E
ramtodascomdoisquartoseumasuitezinha[sic]paraaempregada.
Pesquisadora:E
acasadosenhor,vocêsabequaleraomodelo?
João:A
h,não,essemodeloaqui,todomundojámudouné.AsegundaalidaDóriaéomesmomodeloda
minha,jáadoMarceloéoutromodelo.
Pesquisadora:A
h,doseuvizinhoaquidafrenteéoutromodelo?
João:É
,eadecimajáéoutrotambém.
Pesquisadora:E
ntãonãoteveumaregraparaconstruirassimosmodelospertoumdooutro?
João:N
ão,foifeito,oslotessãograndesde450m².
Pesquisadora:E
ntãoforamconstruindoaleatórioassim,né,cadatipo?
João:F oi,aífoimudandoafrente,fazsobrado,oMarceloestáacabandodereformaradeleaqui.Ocorpo
dacasamudoutudoeaífezosobrado,nãoseioqueé,apartamento,umasaladeestareésóele,a
esposaeomenino.
Pesquisadora:M
aselesmoramaqui,eletáreformandosóparaelesmesmo?
João:É
,maselesvieramdepois,elejáéoterceiromoradorquepassouporaí.
Pesquisadora:M
uitagenteentãodaquelaépocajámudou?
João:A h,jáfoitudoembora,unsjámorreram,40anosné.Meusmeninosvieramparacátudopequeno,10
anos,12anos,14anosejátátudo,temnetoaí.
Pesquisadora:E
osenhormudouoqueentãonacasa?
João:S
ófizacozinhalateralnaépoca.
Pesquisadora:E
orestoestáoriginal?
João:E
aumenteimaisdoisquartos.Continuandoocorpodacasa.
Pesquisadora:D
emoliualgumaparte?
João:N
ão,sófezfoiaumentar.
[ parteretirada]
Pesquisadora:O
queosenhorconstruiuentãoforamsómaisdoisquartos?
João:S
ódoisquartos.
Pesquisadora:E
acozinha.
João:É .Avarandaomeninotambémfezparamimquandoeleaindaestavaaqui.Elefezaprimeiraetapa
dapraçaparacá,depoisfoifazerasegundaetapadapraçaparalá.
Pesquisadora:A
hdoladodeláaindatemcasaoriginal?
João:É ,nasegundaetapa.Entãofizeramessaprimeiraetapa,apraçaeentregaram.Aídoladodelá,
quandonósmudamosparacá,elesjáestavamfazendoasegundaetapa.Tevelugarláqueelesnão
fizeram,ficouolote,aídepoisvendeuolote.Meugenromesmocomprouoúltimolote,docantoládecima,
elecomprouoloteeconstruiulá,bemdepois,játinhacasadocomaminhafilhaetudo.Eachoqueainda
temmuitolotevago,quetáconstruindoainda,aíapessoajáconstruiudiferenteomodeloné.Euseiquena
partedelá,temmaispartequeopessoalmodificouefezsobrado.
Pesquisadora:Q
uandoterminouaprimeiraetapaentão,foiemqueanoisso?
João:O lha,eumudeiparacá,agoraemjulhofez40anos,teveatéafestaaqui.Então40anos,foiem
1979.
Pesquisadora:E
ntãoem1979queterminouaprimeiraetapa.
João:É ,esseconjuntoéomaisvelhodeGoiânia,horizontal,foioprimeiro.DaquilánaT-9,queéaVila
Uniãodoladodelá,nãotinhanada,erasófazenda.Nósvínhamosparacá,sótinhaumaestradinhade
terra,nomeiodafazendamesmo,nãotinhanada.Oquevocêtávendoaí,emvoltanãotinhanada.
Pesquisadora:E
vocêsescolherammudarparacáporquê?
João:N ósmoramosmuitosanoslánoSetorBueno,aívimosoanúnciodesseconjuntonoJornal,tenhoo
Jornalaíatéhojeparece,falandotudo,aínósviemosemumdiadesábadoparavereelesestavam
trabalhando,sábadodemanhãaquitrabalhando,aínósnãosabíamosqueeraessemeninoquetava
construindo,encontramoscomeleaqui.Aíelefalou:olhacompraumacasaaqui,compraessacasaaqui,
euestouterminandoela(sic).Tavafazendoasparedes,aíelefalou:compraessacasa,elaédefrentepara
onascente,aíeudouumacabamentomelhornelaparavocê.Aífomosláefechamosonegócio,eutrouxe
atéumchefemeuqueveiodeSãoPaulo,nessetempoeutrabalhavaemumlaboratório,eeleveioe
comproutambém.Outrocolegameutambémveioecomprouaqui.
Pesquisadora:T
emmuitagentedeSãoPauloquecomprouaquiné?
João:É
,oAmiltonveio,chegoudeSãoPauloparaserogerentedaequipedolaboratórioaquieele
chegouaquieeuchameieleparaviraqui.Aentradaeraparceladaainda.
Pesquisadora:E
ntãoerabaratomesmo?
João:E ra,demais,conjuntoné,opovoestavaacostumadosócomapartamento,prédioláparaoCentro.
Aíeufaleivoucomprar,aícompramos.Eleveioparacá,criouostrêsfilhosaquitambém,elefaleceuagora
tempoucotempo.Aesposadelefaleceuprimeiro,aídepoisofilhocaçuladeleedepoisele,sóficaramdois
filhosdele.Entãoopessoalmaisvelho,quemnãofoiembora…Aquinaminharua,temoEdinalvoaliem
cima,queveionamesmaépoca.Tinhaumpessoalquemoravaaquitambém,mastrocaramdecasa,
vendeuaquiepassouparaoladodelá,oGaspar.
João:E lessãotrêsirmãos.Opaideleveioparacánaépocatambém,aífaleceuaqui,maseuatéjáera
aposentado.ElessãodeGoiatuba,têmumalojinhalána85,chegandolápertodapraça,umalojade
tecido,tinhané.Eelesmoramaí,masosoutros,umapartemudoueoutrapartejá…Essacasaaquide
esquinaestáparavendertemmuitotempo,agorajáéoquartodonodessacasa.[ parteretirada].C omprou
doDanilopor800eestápedindo900.
Pesquisadora:N
ossa!
João:M
aszerada.Aívaimudandoacasa,aspessoas.
Pesquisadora:E
osenhorpretendefazermudançasnasuacasa?
João:P
oragoranão,agentevaifazendoalgumacoisa,agentemesmofaz.
Pesquisadora:E
vocêsaumentaramosquartosporcausadosfilhos,porqueeramquatrofilhos?
João:F
oi,doisfilhosemumquarto,queeramdoisrapazeseasduasmeninasnosoutrosquartos.
Pesquisadora:C
adaumaemum?
João:É ,aítemobanheirosocial,meuquarto,aídepoistinhaumquartopequenoeupartiele(sic)nomeio
efizumasuíteesó.
Pesquisadora:E
ntãoremodelouumquartoecriouumasuíte?
João:É ,foisópartireleeabriraportaaténoarmário,vocêolhalá,vocênãovêporta,ésóoarmário,aí
vocêabreaportadoarmárioepassaparaasuíte.
Pesquisadora:A
hsim!Trocoupisos,essascoisastambém?
João:É
,aíacozinhanocanto,eufizumasaladecafé,elánofundoéalavanderia.
Pesquisadora:E
nocomeçocomoeraacasa,antesdasreformas?
João:E rasimples,sótinhaagaragem,tinhaumportãoparaentrarnalateralqueéláesó,omuroera
baixo,fizeramomurobaixo,aídepoisaumentaramomuro,aídepoisaSOMOPAderrubouomurotodoe
fezdenovo,aíficoubom.
Pesquisadora:E
ntãoquandovocêsmudaramtinhaomurinhojá,nocondomíniotodo?
João:É ,fezomuro.Logoqueestávamosmorandoaqui,teveumachuvamuitogrande,acasaalidecima
nãotinhasaída,aíderrubouomuro,aáguapassounalateraldaminhacasa,derrubouomuroquetinha,
desceuaquieentrounacasadomeninoláembaixo.
Pesquisadora:N
ossa!
João:E aíacaboucomtudo.Porqueessepisoaquinaépocaeradetaquinho,entãoacasadeleencheu
deáguaelevantouopisotodo.
Pesquisadora:A
íarrancoutudo.Eosenhoralterouafachadaaqui,otelhado?
João:N
ão,issoaquificoudomesmojeito,sóaumentouotelhadoalidavarandaquevaiatélánafrente.O
modelodacasacontinuaamesmacoisa.
Pesquisadora:O senhortemalgumafotodacasaantiga,essanotíciadoJornaltambémqueosenhor
falouquetem,elatáaí?
João:A
h,eunãoseiondetáissonão,tembagunçademaisdacontaaqui,devezemquandovocêestá
mexendo,vocêacha.Eusoufotógrafoné,soujornalista,maisvelhodoEstadodeGoiás.
Pesquisadora:N
ossa!Ahnão,entãoosenhornãotemessesdocumentosnão?Iaajudarmuitoagente.
João:T
rabalheitrintaeseisanosnopaláciodoGoverno,trabalheicomdozegovernadores.
Pesquisadora:N ossaqueincrível!Agentepodeviroutrodiaentão?Paraosenhorprocuraressasnotícias
deJornal,essasfotos?
João:A
h,temmuitojornalaí,comfotominha.[ parteretirada]
João:T
emmaisgentequevocêvaientrevistaraqui?
Pesquisadora:T
emsim,temalgumasquevamosentrevistarhojeainda.
João:N
essaruatem?
Pesquisadora:T
em,nacasadaAnelise.
João:A
h,éodoEdinalvo,elessãoantigosaquimesmo.
[parteretirada]
Pesquisadora:E
ntãomuitoobrigadapelaatençãodoSenhor.
João:S
equiseremvoltaraí.
Pesquisadora:A
genteligaentãoparavoltar.Podemostiraralgumasfotosdacasa?
João:P
ode,pode!
ENTREVISTA6:Entrevistaconcedidaàpesquisadora,CarolinaVivasdaCostaMilagre,pelamoradorado
PrivêAtlântico,Anelise,nodia28desetembrode2019.
Pesquisadora:Q
uantaspessoasmoramnestacasa?
Anelise:S
omossetepessoas.
Pesquisadora:E
quemsãoessaspessoas?
Anelise: Meu pai, minha mãe, minha irmã e meus três sobrinhos. Nós alugamos a casa de lá, mas na
verdade a de lá é só um apoio, tudo a gente faz aqui nessa casa, então transitam nesse ambientedez
pessoas.
Pesquisadora:E
vocêscompraramnaépocaasduascasas?
Anelise:N
ão,aoutraéalugada.Essaaquiqueénossacasamesmo,enósalugamosaquelaalidafrente.
Pesquisadora:E
ntendi,ealugarammesmoparaacomodartodomundo?
Anelise:Sim,porqueminhairmãtrabalhavaemoravaemBrasília,háoitoanos,aíelaseseparoueficou
difícilficarcomostrêsfilhoslá.Entãoelaficoutrabalhandodeterçaasextaeascriançasaqui,entendeu?
Porqueantesmoravaeu,meupai,minhamãeemeustrêsfilhos,aíquandoelaveioacasaficoupequena,
aíagentealugouadafrente.Naverdade,ficamoseuemeupaieminhamãeasemanainteiraaquieela
ficaláemBrasíliaesóvemfinaldesemana.
Pesquisadora:E
ntãotemmaisde40anosquevocêsmoramaqui?
Anelise:S
im,eutinha12,hojeeutenho53,entãovamoscompletar41anosaquinessacasa.
[parteretirada]
Pesquisadora:Q
uandovocêsmudaramparacá,comovocêlembraqueeraacasa?
Anelise:A
qui,ascasastodastinhamumacerquinhabranca,nãoerapai?
Pai:Nãotinhamuro,igualnosEstadosUnidos,naquelascasasláné,entãoeraumacerquinha.
Anelise: Era, a frente dela praticamente era essa, a aparência danossacasamudoupouco,sófizemos
aqui,completamosotelhadoetodasascasascomcerquinhaealgumasdiferentes,achoquetinhamquatro
modelos.
Pesquisadora:E
vocêssabemqualeraomodelodevocês?
Anelise:O
nomedele?
Pesquisadora:É
.
Anelise: Não, a gente só conhecia pela frente, tá vendo, tinha essa frente aqui, aquela casa ali já é
diferentecomaquelajanelaalinafrentemesmo,anossaéigualàdavizinhadafrente,aquelemodeloque
agentealugaassimeonomenósnãotínhamos.Osenhortinhapai?Osenhorsabiaonomedomodeloda
nossacasa?
Pai:A
nossaéaA.TemA,BeC.EntãoanossaeraA.ACéaquelaquetemmaissuítes.
Anelise:Não,issoaíjáfoiumaoutrafasedocondomínio,outraetapaqueveiocomsuíte,mascapazquea
nossa era A, B e C mesmo, mas da outra, da básica, daorigem.Entãoeramessestrêsmodelos,essa,
aquelaeadajanelinhanafrente,queeramduasjanelinhascompridasassim,tipobasculante.
Pesquisadora:E
suatinhatrêsquartos?
Anelise:Trêsquartos,tinhadependênciadeempregada,sala,cozinha,obanheiroeparaoladodeforana
áreadeserviçohaviaadependênciadeempregadacomobanheiro,nãosuíte,comaportaparafora,erao
quartoeobanheiroaqui,osdoisabriamparafora,eaítinhaotanque.
Pesquisadora:E
ssaáreadeserviçoficavaaquinafrente?
Anelise:Não,nalateral,eaíessaáreadeserviço,nareforma,nósfizemosumaparedeaquieaíoquarto
ficoudentrodacasa.
Pesquisadora:V
ocêsincluíramoquartonacasa?
Anelise:Isso,fechou,nóstiramosotanque,aíficouumquarto,essequartomenorficoutipoumL,porque
aqui era o quarto da empregada e aqui era o tanque e o banheiro, aí fechando aporta,ficoucomesse
espaçoquevirouumL.
Pesquisadora:E
ntãoessafoiumaremodelaçãodosambientes?
Anelise:F
oi.
Pesquisadora:E
vocêsfizeramoutrasalterações:teveatrocadotelhadoné?
Anelise:Isso,essetelhadofoiprafrente,essaáreaaquiagentejáfez,elanãotinha,porqueaquinãoera
áreadeserviço,aíagentepuxoueagoranóscompletamosele(sic)quefezmaisumpouquinho,masele
terminavaali,sabe,seguiaalinhadagaragem,eleficavaali,erasóumafrente,tipoumjardimdeinverno.
Aíacozinhaquepassoupralateral,namesmaépocaquepassouoquartodeempregadaparadentro,aíjá
fechouocorredorefezacozinha.
Pesquisadora:E
ntendi!Enofundovocêstambémconstruíramalgumacoisa?
Anelise: Sim, a piscina e uma areazinha, eu vou mostrar pra você. É uma área que nós fizemos um
banheiroedoisquartosbempequenos.Naverdade,elesservemparaguardarroupalavada,temunslivros
emum,dápramostrar.
Pesquisadora:E
essasreformasvocêsfizeramassimquemudaramouaolongodotempo?
Anelise:Aolongodotempo,apiscinaficouprontaem1987,comessaáreatambémexternaeumpouco
antesjátinhaacozinha,entãodevetersidoem1985.
Pesquisadora:E
porquevocêsfizeramessasreformas?
Anelise:Praampliarmesmo,paraaumentaronúmerodequartos,naépocaaminhatiajámoravacoma
gente,entãoagentequeriamaisumquartoeporqueassimoquartodoladodeforajánãotinhamaisuso,
achoqueissovemdeumpensamentoantigoqueofuncionáriovivianacasané,aínaquelaépocajánão
existiamais,nósnãotínhamosfuncionários,aínóspassamosele(sic)pradentro.
Pesquisadora:E
ntãoacasaficoucomquatroquartos?
Anelise: Ficamos com quatro quartos, a sala ficou maior, mais ampla, ficou sala de jantar e a cozinha,
porqueeraumacozinhacomsaladejantar,aínósficamoscomumacozinhamaioresócozinha.
Pesquisadora:Entãoasalaincluiuesseespaçoqueeradacozinha?Vocêsforamosúnicosproprietários
né?
Anelise:Essacasateveumproprietárioquemorouaquimeses,aíelejácomprouevendeupragente.O
condomíniofoiinauguradoemjunhoenóscompramosemnovembro,entãoeleficouaquipoucosmeses.
Pesquisadora:E
vocêsvieramdeFortaleza?
Anelise:Não,nóssomosdePernambuco,masmoramosnoSetorOeste,eracasaalugada,aícompramos
essa.
Pesquisadora:V
ocêsmudaramentãoparaadquiriracasaprópria?
Anelise:F
oi,parateracasaprópria,foiumacasafinanciadapelaCaixaEconômica.
Pesquisadora:V
ocêslembramnaépocaovalordacasa,seeracaraoubarato?
Anelise:A
h,meupaiquevailembrar.Pai,acasanaépocaeraumpreçoacessível?
Pai:Era,aindahojeéumpreçoacessível.
Anelise:Não,aquihojeéuns600mil,elaéquaseovalordecondomíniocaro,elanãoémaisacessível.
Pai:Eraumvaloracessívelnaépoca.EssecondomínioaquifoiconstruídopelaengenhariaSabra,quando
iniciaram a construção desse aqui, ninguém acreditava em condomíniohorizontal,porquenaquelaépoca
nãoexistiaisso,aíeramdoisirmãosdaengenhariaSabra,aíelescompraramessaáreaaquieresolveram
construir,issoaquieraumverdadeiropântano,eraalagado,aíelescompraramesseloteaquieconstruíram
esse loteamento, ninguém acreditava e hoje é uma realidade, hoje nós estamos aícom25condomínios
horizontaiseesseaquifoiopioneiro.Entãoalguéminvestiunissoehojeéumarealidade.
Pesquisadora:S
im,agoratemvários!
Pai:É,agoraviroufebre.
Anelise:Hojeumacasadeconjuntodevecustaruns150,200mil,entãonaépocaissoaquieraumacasa
de conjunto seriaessevalor,porqueeraumconjuntomuitoafastadonãotinhatransportepúblico,quando
nós mudamos era muito isolado de Goiânia. O ponto mais próximo eraaavenidaT-9,porqueaindanão
tinha a T-63, a Rio Verde eu achoquenãoexistiatambém.Oasfaltoterminavaaqui,elenãoencontrava
comaRioVerde,entendeu?EaT-63nãoexistia,oúnicoasfaltoqueexistiaeraessequenosligavaatéa
avenida T-9 pela Vila União. Não havia o Parque Anhanguera. O Parque Anhanguera foi uma invasão
temposdepois,entãoerabemisolado,nãoeraumcondomínio,eraumconjuntopopular.
Pesquisadora:E
mesmoassimvocêsescolheramvirparacá?
Pesquisadora:E
muitagentemudounessaépocatambém?Tinhammuitosmoradores?
Anelise:Nãotantoquantohoje,masmuitosquevieramnaquelaépocaestãoaquiainda,entãonessarua,
nessaprimeiraetapa,elajátavaquasetodacompleta.
Pesquisadora:E
essaprimeiraetapaéesseladoesquerdo?
Anelise:É,esseladoesquerdo,asduasprimeirasruasnão,aruadoCamorimeCaçãoachoquesãoda
segundaetapa.A(rua)Calmasjáeradaprimeiraetapa,aBordaloeaCação.AchoqueéCalmas,Bordalo
eCaçãoseeunãomeengano.Acasaquetemasuítejáéasegundaetapa.
Pesquisadora:A
htá.
Anelise:S
evocêsinvestigaremalgumacasacomsuítequandocompraramjáédasegundaetapa.
ENTREVISTA 7: Entrevista concedida àpesquisadora,CarolinaVivasdaCostaMilagre,pelosmoradores
doPrivêAtlântico,LetíciaePaulo,nodia28desetembrode2019.
Pesquisadora:Q
uandovocêsmudaramquantoscômodostinhanacasa?
Paulo:Naverdadequandoeucompreiessacasa,foiem2007,reformeielaem2008,eraelaoriginal,ela
tinha três quartos, a sala, a cozinha e a parte lá do fundo, eu aumentei ela(sic)bem,essebanheirofoi
aumentado,essasalafoiaumentada.Eramtrêseeupasseiparaquatroquartos.
Pesquisadora:E
ntãoaumentouumquarto,né?
Paulo: Aumentou um quarto, aumentou uma sala, aumentaram dois banheiros, aumentou a área né eu
querodizer.
Pesquisadora:E
napartedafrente,nafachada,vocêsmudaram?
Paulo:E
ualtereitotalmente.
Pesquisadora:C
olocouplatibanda?
Paulo:A
ham.
Paulo:T
rocoutambémopiso,apintura?
Paulo:T
udo,tudo,telhadotambém.
Pesquisadora: E essas reformas vocês fizeram para acomodar o número de habitantes ou foi só para
melhorarmesmooespaço?
Paulo:Foiassim,eueracasado,aíminhaprimeiraesposafaleceu,meusmeninosvierammorarcomigo,aí
eumoravaaquidealuguel,acheiessacasa,compreieparaacomodartodomundoeufizessareforma,o
preçoqueeupegueinelaaquinaépocafoibom,aíeupenseivoucomprar,voureformareagentecontinua
aqui, o local era bom de se morar. Aídevidoaosmeusmeninosteremvindomorarcomigo,mecaseide
novo,nãodeucerto,separeinovamente,emseguidaeumecaseicomaLetíciaejátemdezanos.
Pesquisadora:E
vocêsfizeramoutrasreformasdepoisdisso?
Paulo:N
ão,nenhuma,nãomeximais,nempinturaeufizmais,elatádojeitoquefoifeitanaúltimareforma.
Pesquisadora:V
ocêlembrasenessaépocaquevocêcomprouacasa,ovalorerabarato?
Paulo:E
ramuitobarato,paguei140milnessacasa.
Pesquisadora: Nossa, porque os moradores mais antigosjáfalavamqueasprimeirascasaserammuito
baratas,eem2008essepreçoaindatavabaixo?
Paulo:É
,eupagueiessevalor.
Pesquisadora:E
esseoutromoradornãotinhafeitonenhumareformanelaantes?
Paulo:N
ão,acasaestavabemruim.
Pesquisadora:C
omovocêcomproudeoutromorador,entãonãofinanciou?
Paulo:N
ão,compreiàvista.
Pesquisadora:E
vocêescolheumoraraquiporquejáhaviamoradodealuguel,jágostavadaqui?
Paulo:É
.
Pesquisadora:J átinhaumconvíviobomcomosmoradores?
Paulo:N
ão,meuconvívioaquiémuitopequeno,euconheçopoucagenteaqui.
Pesquisadora:E
vocêveiomoraraquiprimeirodealuguelporqualmotivo?
Paulo:Euvimmoraraquiporquemeuirmãotemcincocasasaqui,comoeumoravaemumapartamentona
Rua5nosetoroeste,comofalecimentodaminhaesposa,meuirmãofalou:"tenhoumacasadesocupada
lá no Privê, um sobrado, se você quiser morar". Aí eu fiqueiumanoaquinaPrincipal,aíapareceuesse
negóciopraeucomprareeucontinueimorandoaquinocondomínio.
Pesquisadora:E
vocêsedeslocavamuitodaqui?
Paulo:N
oiníciomeincomodava,hojeeujámeacostumeicomessadistância.
Pesquisadora:E
hojeaindafazomesmodeslocamento?
Paulo:M
esmacoisa,praeuirevoltarhojedomeutrabalho,eugasto52km.
Pesquisadora:N
ossa!
Paulo:M
asnãomeimporto,issoéadaptação,seélonge,apessoaseacostuma.
Pesquisadora:E
quaissãoospontospositivosdemoraraqui?
Paulo: Pra mim, como eu to numa esquina, isolado, é a tranquilidade que eu tenho, é um condomínio
barato,quemelhoroudemais.
Pesquisadora:A
quicobrataxadecondomínio?
Paulo:S
im.
Pesquisadora:E
ébarato?
Paulo:Euacho,emrelaçãoaosdemaiscondomíniosquetêmemGoiânia,eunãovejoqueeleperdeem
nada pros demais, porque tem a varredura, tem a coleta de lixo, estão melhorando essa pracinha, de
esportes,entãoasegurançaémuitoboa,muraramocondomíniointeiro,colocaramessaconcertina,então
tem os guardas, o pessoal tranquilo, educado. Opessoalfalaessescondomíniosmaischiques,nãovejo
que a gente perde em nada. A nossa festa junina aqui, cada anotáficandomaischeia,nãotácabendo
maisgente.
Pesquisadora:B
omné,evocêsfrequentamessasfestas?
Paulo:S
im.
Pesquisadora:E
ospontosnegativosquevocêacha?
Paulo: Olha, vou ser bem sincero, tinha uns pontos negativos aqui,masjámelhoraram.Eramdrogas,a
meninada aqui que era barra pesada, mas com as mudanças com o síndico, a gestão nova eles
conseguiram.Apesardeserumproblemaemtodososcondomíniosemgeral,masaquitavaumaturminha
meiosolta.
Letícia:É
,elesconseguiramamenizarbastante.
Pesquisadora:N
ossaquebomné?
Pesquisadora:A
quitemumsupermercadonéevocêsusam?
Paulo:S
im,tem.
Letícia:Muito.
Paulo:A
í,outravantagem,agentetemaquiosupermercado,umbaraquilogoquevocêvira.
Letícia:Éumalanchonetezinha,nafrentedapraça.
Pesquisadora:S
ei,aquelequeécoloridoéobar?
Letícia:É,SabordaPraça,éumpuxadinhoassimdetelhado,láéumalanchonete.
Paulo:T
emchurrasquinho,cerveja,refrigerante,sanduíche.
Letícia:Umascoisasmuitogostosas,éseguro.
Paulo:N
ãotemproblemacomcarro,vaiapé,àsvezesbebe,comessaleisecaaí.
Letícia:É,agentepodelevarosmeninos,ficatranquilonapraça.
Pesquisadora:E
vocêsusamoutrosequipamentosforadocondomínio?
Paulo:N
ão,aquiemvoltanão.
Pesquisadora:M
édico,essascoisassãomaisnocentromesmoentão?
Paulo:É
,tudoémaisdistante,atéotrabalhoélonge.
Pesquisadora:V
ocêspretendemfazermaisreformasnacasa?
Paulo:Não,acasafoimuitobemconstruída,eutôpensandoagoraempinturanela,seeumexernelavai
sersópraisso.
Pesquisadora:E
vocêsficaramsatisfeitoscomareforma?Foifeitoporarquitetonaépoca?
Paulo:F
oi.
Pesquisadora:V
ocêstêmaplantadacasa?
Paulo:T
em.
Pesquisadora:A
h,agentegostariadever,sevocêspuderemdisponibilizar.
Paulo:V
ocêandanessacasacomcadeiraderodassemproblemanenhum.
Pesquisadora:A
helafoipensadajáacessível?
Paulo:É,vocênãotemquesubirdegraunenhum,porquetodomundoficavelhoné,entãoeuvejoessas
casasaí,essessobrados,mesmonovoaí,algumafratura,setiveralgumacidente,aíficacomplicado.
Pesquisadora:Játemquepensarprafrentené.Eoquequevocêsmaisgostamnacasa?Qualoespaço
quecadaumpreferenacasa?
Letícia:Euprefiromeuquintal,éapartequeeucriomeusbichos,eucriomuitasaves.
Paulo:É
aparteexternadelamesmo.
Pesquisadora:É
olugarquevocêspassammaistempo?
Letícia:Nofinaldesemanasim.
Pesquisadora:E
qualoespaçoquevocêspassammenostempooumenosgostamdacasa?
Paulo:Éapartedadespensa,aáreadeserviçomesmo.Atéesqueci,essapartetambémfoiconstruída.Se
eunãoestouenganado,essacasafoide110m²para280m².
Pesquisadora: Nossa, é muita coisa, uma outra casa. E esse lote é do mesmo tamanho dos outros?
Porqueesseslotesparecemsermaiores.
Paulo:Éamesmacoisa,outracoisaqueeuficochateadoaquinocondomínioquevocêperguntou,você
comoarquitetapodeobservarissoaí,vocêolhaomeurecuoaqui,eletácerto,vocêolhanavizinha,elata
invadindo, muitas aqui na esquina embaixo, nacurvainvadem.Euiainvadirtambém,nãovoumentirpra
vocênão,aíquandocomeçamosopessoalfalounãopode,táerrado,aífizemosocerto.
[parteretirada]
Pesquisadora:E
comovocêsdescreveriamacasadevocêshoje?
Paulo:V
ocêfalanogeralassim?
Pesquisadora:É
.
Paulo:A
choqueéumacasadefácillimpeza,boademorar,confortável.
Letícia:Eusemprefaloqueéumacasacheiadeamor,é,masporquequandoagentefalacheiadeamor
envolveissotudo,elaébemarejada,bemiluminada,porquetodasasjanelassãodeblindex,entãoelatem
todasessasqualidades.
Paulo:N
uncamedeutrabalhonessacasa,jásão11anos,táboaainda.
Letícia:Umacasaquetem4netos,aparedeaindatáatélimpa.
Pesquisadora:M
ashoje,nacasa,moramsóvocêsdois?
Paulo:S
ónósdois.
Pesquisadora:E
quandoosfilhossaíramqueteveessatrocanaquantidadedemoradores?
Paulo:T
emdoisanos.
Pesquisadora:M
asacasanãoficavazia,né?Temsempremaispessoas?
Pesquisadora:E
ntãosempretemumquartopraeles?
Paulo:T
em,sempretem.
Pesquisadora:A
gentepodedarumpasseionacasapravocêsmostrarem?
Paulo:P
ode,podesim.
ENTREVISTA8:Entrevistaconcedidaàpesquisadora,CarolinaVivasdaCostaMilagre,pelomoradordo
PrivêAtlântico,ValkenesFernandesdeAraújo,nodia12deoutubrode2019.
Pesquisadora:Háquantotempovocêsmoramnacasa?
Valkenes:É recente,fazcincomeses.EujámoreinoPrivê,masantigamente,nessacasafazcincomeses
queagenteadquiriu.
Pesquisadora:E
porquevocêsdecidirammoraraqui?
Valkenes:B om,segurançané,pelocondomíniofechadoepelalocalização,eueminhaesposatemosas
nossasatividadesmaisoumenosnamesmaáreaaqui,entãoaquifoiaposiçãogeográficamesmoque
determinou.
Pesquisadora:M
esmoquandovocêsmoravamantes?
Valkenes:Isso,agentemoravanaprimeiraruaali,desdelá,eueminhaesposasomosservidores,ela
trabalhanotribunaldejustiçaeeutrabalhonacomarcadeaparecida,entãoaquinafronteiraficaideal,a
minhaesposanemtanto,mastambématende.Entãoessessãoosmotivos.Agentejámorouem
apartamento,masagenteconseguiusuperaressafase.
Pesquisadora:V
ocêspreferemacasaentão?
Valkenes:C asanãotemcomparação.Agentesepreparou,conseguiuconquistaressacasaetámuito
feliz.Ocondomíniotemsuasparticularidadesenosatendemelhorqueoscondomínioscontemporâneos,
osmaisnovos,quetêmumcustodemanutençãoedevidamaiscarodoqueoPrivê.Entãoéporissoque
todoesseaspecto,todosessesdetalhescontribuíramparaagentedecidirficaraqui.
Pesquisadora:E
vocêstêmfilhospequenos?
Valkenes:S
im,aLuizaquetemcincoanoseaManuelaquetemdezmeses
Pesquisadora:E
ntãovocêspensaramnissotambémparaasegurançadascrianças?
Valkenes:E xatamente,porquetemumaquestãomesmodabrincadeiradecriança,agentetemvizinhos
quetêmamesmafaixaetáriadefilhos,entãoissofoideterminantetambém.Ocondomínioverticaltem
suaslimitações.
Pesquisadora:E
vocêsmoravamantesonde?Maispróximodaregiãocentral?
Valkenes:N
ão,nomesmobairro,noJardimAtlântico,alinoParqueCascavel.
Pesquisadora:E
ntãofoiessatransiçãodoapartamentoparaacasa?
Valkenes:Isso
Pesquisadora:Q
uantoscômodospossuiessacasa?
Valkenes:Vamoslá,sãotrêsquartos,obanheiroconta?contané,entãosãotrêsquartos,sendoumasuíte,
maisumbanheirosocial,maisduassalas,umabibliotecaeduascozinhaseumaáreanofundotambém.
Pesquisadora:A
áreanofundoéumachurrasqueira?
Valkenes: Não,temumapiscinaeumaáreaquetájuntoaáreadeserviçoeumespaçocommesapara
jantar
Pesquisadora: Quando vocês mudaram não mudou a quantidade de moradoresné?Porqueasfilhasjá
tinhamnascido
Valkenes: Não, não, isso. A gente tem uma população flutuante aqui. Os pais da minha esposa
praticamentesempreestãoaqui,masosmoradoresfixosmesmosãoessesquatro.
Pesquisadora:Certo.Acasaéprópriamesmoentão?
Valkenes:S
im,essafoicomprada
Pesquisadora:E
quandovocêsmudaramaprimeiravezeraalugada?
Valkenes:S
im,aprimeiraoportunidadedemoraraquinoPrivêfoiatravésdoaluguel.
Pesquisadora:Vocêpodemedizerseovaloraquiébaixooualto?Tantodoaluguelquantodacomprada
casa?
Valkenes:É
compatívelcomocondomínio.
Pesquisadora:N
ãoétãocaroquantoosoutroscondomíniosfechados,porexemplo?
Valkenes:Euachoatéqueoalugueléumpoucomaispuxadodoquepoderiaser,porqueascasasaquido
condomínio têm a característica de serem casas mais antigas né? E demandam uma manutenção mais
frequente,demodoqueeuachoqueosaluguéissãomaisacima.Acasaqueeumoreiaquieraumacasa
defundo,erapraticamenteumbarracão,mas,mesmoassim,euachavaumpoucopuxado.Agoraovalor
devendaéovalordometroquadradodaregiãomesmo.
Pesquisadora:V
aleapenaentão?
Valkenes:Dependemuitodointeressenédapessoaquedecidemoraremumcondomínio,oPrivêcomo
eu já te falei, tem características peculiares né, me parece que ele é o mais antigodeGoiânia.Eletem
alguns aspectos de adaptação, que é visível que não foi planejado, foi adaptado,porexemploosmuros
fazem fronteira com algumas casas, então essas casas que faz a divisa com o muro, a segurança é
diminuída né? E, por ser um condomínio antigo, as casas são mais antigas, a arquitetura não tem um
padrão, apesar que tem né, parecequetemsim,parecequenoinícioaquieraumconjuntoné,tipouma
vila. Parece que as casas têm os desenhos parecidos, mas como é na década de 1970 já teve muito
modificação.Temqueverointeressemesmodapessoa,deixaeutecontar,porexemplo,oscondomínios
maisnovosquetemabandeiraJardins,temdoisaquiperto,temumpoucomaisdeglamourvamosdizer,
mascobrapormetroquadrado,entãosevocêtiverumacasa,pelomenosnoMônaco,entãovocêtemum
custofixodecondomínioalipróximodemilreais.
Pesquisadora:E
aquivocêspagamcondomínio?
Pesquisadora:E
ntãoissoseriaumdospontospositivosdoPrivêpravocê?
Pesquisadora:S
imevocêsusammuitoentãotodososserviçosaquipróximos,nestaregião?
Valkenes:Sim,únicodetalheaquiqueaindatádeficiente,masnãoémaisumatendência,mastempoucas
agênciasdebancoaquipróximo,masagorajátemadigitalização,nãousamais.
Pesquisadora:S
im,agoratudoénocelular.
Valkenes: Mas no início sim, quando eu morei aqui a primeira vez a gente sentiu um pouco essa
deficiência,masorestoaquitemtudo,supermercado,restaurante,drogaria,tudodentrodaregião.
Pesquisadora:Evocêsusamosupermercadodocondomíniotambém?
Valkenes:S
im,também.Osupermercadoémuitobom.
Pesquisadora:F
requentamasfestastambém?
Valkenes:S
im,sim.
Pesquisadora:Emqueanovocêsmudaramaprimeiravez?
Valkenes:F
oide2012a2014.DepoismoramosnoCascavelde2014a2019eagoraaqui.
Pesquisadora: Ah,eunãocoloqueiaidadedevocêsaqui.
Valkenes:É
39,minhaesposa,33eaLuizatemcincoanoseaManuelatemdezmeses.
Pesquisadora:E
vocêsconheciamalgunsmoradoresdaquiantes?
Valkenes:S
im,minhairmã,elamoraaquidesde2010.
Pesquisadora:Játinhaumcontatoentão.Evocêstambémconvivemcomosoutrosmoradores,temuma
boavizinhança?
Valkenes:S
im,temumaboavizinhança.
Pesquisadora:OspontosnegativosdoPrivêparavocêseriamquais?
Valkenes: O caráter de improviso, algumas adaptações, essa característica de como o condomínio foi
constituído. Inicialmente ele não foi projetado para ser um condomínio fechado, então foi uma decisão
depois que já existia o bairro, digamos assim, então isso é um ponto muito negativo porque diminui a
segurança.Ocondomínionãotemguarita,sótemaportaria,emboratenhaavigilânciaconstante,agente
sabequeparaaspessoasquetemummáintenção,bastaumaobservaçãoatentaparaatuar.
Pesquisadora:S
im.Eaquivocêscompraramdeoutromorador?
Valkenes: Isso, como a gente comprou recentemente, tenho até ohistóricodela.Foramquatrodonos,o
primeiro dono foi opróprioempreendedor,opessoalquefezaquimesmo.Salvoengano,achoquesouo
quintodonodessacasa.
Pesquisadora:E
vocêsmudaramhápoucotempo,masfizeramalgumareformanacasa?
Valkenes:N
ósfizemosapenasumamanutenção,nãofizemosreforma.
Pesquisadora:E
vocêsabeseosoutrosdonosfizerammodificações?
Valkenes: Não, ela é original, mas tem algumas modificações. Por exemplo, essa parede aqui, essa
aberturaaquieraumaparede,eraaentradadoquartoenofundoelesfizeramtipoumpuxado,masésó,o
resto é basicamente amesmaestrutura.Acasaénalaje,étudocertinho.Salvoengano,essacasaéda
parte mais novadocondomínio,elaéde1977,foiquandoelafoifeita.Quandovocêvoltareuvouverse
pegomaisinformações.
Pesquisadora: Não, tá (sic) bem, é porque a gente tá(sic)tentandoacharosprojetosoriginais,agente
conseguiu um que fala que é tipologia B, que existiam três padrões de casa aqui, que éA,B,C,oque
mudava era algumasdisposiçõesdosambientes,entãoagentetá(sic)querendodescobrirqualotipoda
suacasa,aíseriaótimo.
Valkenes:E
ntendi,euvoudarumaolhadanosdocumentosqueeutenho.
Pesquisadora:V
ocêtemocontatocomomoradordequemvocêcomprouacasa?
Valkenes:T
enho,vocêquerocontatodela?Eupassootelefone,voupegaraqui.
[parteretirada]
Pesquisadora:E
vocêstemalgoareclamardacasaquantoaestrutura,ououtros?
Valkenes: Carol, eu não sei se você ouviu falar, é a umidade aqui, os rodapés aqui não duram nada,
geralmente eles se infiltram e é uma característica comum de todas as casas. Eles falam que aqui
antigamenteeraumbrejoeporissoquetemessaumidadeexcessiva.Colocaessapartetambémnoponto
negativo.
[parteretirada]
Pesquisadora:N
ossa!Eemrelaçãoaoscômodos,elesatendemvocês?
Valkenes: Aqui é tudo puxadinho, então aproveitava a casa que era de conjuntoeforamaumentandoa
partirdelaàmedidaqueopovotinhadinheiro.Esãotrêsmodelosmesmodecasa.
[parteretirada]
Francielle:Eaquinãoéumcondomíniopadronizado,opovoconstróidojeitoquequiser.
Valkenes:É
,issoéumadesvantagemtambémviu,Carol,aquinãotemnormaparaconstruir.
Francielle:Sequiserdemoliraquiefazer4barracões,euachoqueépermitido.
Valkenes:É
,sim.
[parteretirada]
Pesquisadora:E
vocêssabemseamoradoraantigafezasreformasaquicomarquiteto?
Francielle:Não,euatéquestioneielasobreopergoladoaquideconcreto,eelafalouquenahoraquetava
construindomudaramoquequeriamfazer.
Valkenes:É
,muitoimproviso.
Valkenes:A
gentequeriafazerumsobradoaqui,maisprafrente.
Pesquisadora:T
emestruturaaquipraissoné?
Valkenes:D
izemquetem,quetemquefazerumasamarrações.
[parteretirada]
Valkenes:Masbasicamenteoqueagentequerdereformaéfazerosquartosemcimaearrumarofundo,
eunãogostodaestruturadofundo.
Pesquisadora:É
apartequevocêsmenosgostamdacasa?
Valkenes:É,écheiodequina,éalto[parteretirada].Euqueriaumsobrado,nãoexatamenteporcausado
sobrado,masporqueeuqueriaaproveitaraáreadacasa,porexemploapartedofundoeuqueriaarrancar
tudoedeixarnagrama,colocarsóumapiscinapequenaali,nãotem,étudoedificado,nãotemgrama.Aqui
nãofoinadapensado.
Pesquisadora:E
quaiscômodosquevocêsmaisgostamdacasa?
Valkenes:O
quarto,eleéespaçosoecomoeleénascente,osolnãobatetanto,eleésuperfresco.
Pesquisadora:E
comovocêsdescreveriamacasadevocês?
Valkenes:C
omoassim?
Pesquisadora:S
evocêspudessemfalarempoucaspalavrassobreacasa.
Valkenes:A
h,falarumaqualidadedacasa.
Pesquisadora:É
.
Valkenes:A
conchegante,éumacasaaconchegantee,senãofosse,agentedariaumjeitodeficar.
[parteretirada]
Pesquisadora:E
ondevocêspassammenostempo?
[parteretirada]
Pesquisadora:E
vocêspodemmemostrarumpoucoacasa,eupossotiraralgumasfotos?
Valkenes:P
ode,claro.
ENTREVISTA9:Entrevista[nãogravada]concedidaàpesquisadora,CarolinaVivasdaCostaMilagre,pelo
moradordoPrivêAtlântico,EdilbertoNery,nodia7deagostode2019.
1. Quantaspessoasmoramnasuacasa?Quemsão?
Quatropessoas.Esposo,esposa,2filhos.
2. Quantotempomoranacasa?3 2anos.
3. Nesse tempo houve mudanças em relaçãoaoshabitantesdacasa?Nasceramosdoisfilhos.
Mudouparaacasaquandosecasaram.
4. Quantos cômodos possui a casa? Quais são esses espaços? Garagem, despensa, sala de
estar,saladejantar,copa-cozinha,trêsquartos,banheiros.
5. Você se lembra como era a casa quando você comprou? Possuía amesmaquantidadede
ambientes? Simples. Muitas reformas desde o começo. Antes mesmo de mudar, modificaram.
Supervalorizouacasa.
6. Na época de aquisição da casa, tendo comprado direto com a construtora ou de outro
morador, foi realizado financiamento? Como funcionava o financiamento? Financiarampelo
BNH.TransferiuofinanciamentodoapartamentodaT-4queeradomesmovalor.Opreçonãoera
tãobarato.LembraqueoágiodacasacustouumaParati(carro).
7. VocêsabiaqueexistiamtiposdiferentesdecasasconstruídaspeloBNHparaaurbanização
do Jardim Atlântico? Sabe qual a tipologia asuacasapertence?Seispadrões.Diferençade
valor,umastinhamsuíte,outrasnão.Acasadelestinhasuíte.
8. Você foi o único proprietário? Existiram outros donos? Dois moradores antes. O primeiro
comprou,nãomorouelogovendeu.Osegundomoradormoroucincoanosantesdelescomprarem.
ElesmudaramemJaneirode1987.
9. Enessetempoemquemoranacasahouvereformas?S im,quatroreformas.
10. Sesim,quaisforam?Apenasmanutenção,ampliaçãodeespaços,acréscimodeambientes,
demolição de algum cômodo, alteração de fachada? A primeira reforma foi feita pelo antigo
morador:abriuasalaparaalateralecriouumjardimdeinvernocomarcos.Asegundareformafoi
realizadaassimquesemudaram:fechouosarcos,colocoulaje,fechouaparededasala,fezaárea
de serviço externa. A terceira: foi há mais ou menos 15anos,entre2001-2003.Subiuotelhado,
trocouatelha,ampliouosambientes,aumentouumquarto,adicionouavaranda.Aterceira,hádez
anos,foiumareformamaisqualitativa,nãofezdiferençanavalorizaçãodacasa.
11. Por que foram feitas ou não as modificações? Melhorar a casa e satisfazerafamília.Acasa
anteseramuitopequena.
12. Asmodificaçõesforamfeitasporarquitetos?Senão,quaisprofissionaisforamcontratados?
(engenheiros,desenhistas,pedreiros,mestresdeobra)?Foramfeitasporarquitetos.Arquitetos
amigosdafamília.
13. Você ficou satisfeitocomasreformasrealizadas? Sim,ficaramsatisfeitoscomosarquitetos.
Na primeira reforma não gostaram da área de serviço, por isso modificaram e ampliaram na
segundareforma.Gostarammuitodoacréscimodemaisumadespensa.Aesposagostoumaisda
últimareformaporquearrumouacozinhaeaáreadeserviço.
14. Emrelaçãoasuacasa,oquevocêmaisgostanela?Eoquegostariademudar?Gostamdos
espaçosparareceberosamigos,paraoalmoçoemfamília.Emresumo,dosespaçosdelazer.
15. Emquecômodosvocêpassamais/menostempo?Aesposapassamaistempoegostamaisda
cozinha.Oesposogostamaisdasaladeestar,ondeestãoosseusdiscosdevinileaTV.
16. Comovocêdescreveriacadaambientedasuacasahoje?Comoeramosambientesantes?A
casa era muito pequena antes. A casa após as reformas ficou maior, maisconfortável,puderam
fazerfestas,comportarmaispessoas.
17. Você pretende realizar outras reformas? Por quê? O próximo projetodereformadeinteriores
será modificar a sala. Pretende fazer uma estante para exporosdiscos.Mas,asreformasforam
ficandomaiscarascomotempo,porissonãopretendemmodificarmuitomais.
18. Por que você escolheu vir morar no Privê? Segurança, apesar da distância. Não gostam de
apartamento,queriamumacasaparatermaisespaço,parapodertercachorro.EbuscaramoPrivê
por ter segurança também. Morava antes no Marista e no Centro. Antes já tinha oasfaltosóno
condomínioeomuroaoredor,masomuroerailegalnoinício,regularizoudepois.Adistânciaerao
únicofatorproblema.
19. Qual a maior vantagem de morar aqui hoje? Segurança, tranquilidade e amizade. Não tem
fechamento na entrada da casa; casaaberta;fácillocomoção;qualidadedevida;boavizinhança,
conhecem todo mundo; frequentam a Igreja do condomínio e a esposa possui consultório
odontológico na Igreja para atender os vizinhos. Gostam muitodemoraraqui;gostamdofatoda
vizinhança não ser muito sofisticada, por exemplo, preferem o Privê do que o Aldeia do Vale.
Gostamdaadministraçãodocondomínioatual,baixataxadecondomínio(395,00)ereformarama
praça,osalãodefestas.HáumapressãodaAssociaçãoparapagarataxa,masnãoéobrigatório
pagá-la,porqueaindanãoéregularizadodefatocomocondomínio.Altataxadeinadimplênciaem
relaçãoàtaxa.
20. Vocêpossuiouconhecealgumadocumentaçãointeressantesobreasuacasaantigaeatual
(fotos,desenhos,plantas,notíciasdejornais)?S im,temosprojetosdereformadacasa.
ENTREVISTA10:Entrevista[nãogravada]concedidaàpesquisadora,CarolinaVivasdaCostaMilagre,
pelamoradoradoPrivêAtlântico,VilmanBorges,nodia24deagostode2019.
1. Quantaspessoasmoramnasuacasa?Quemsão?Q uatropessoas.Ele,aesposa,afilhaeo
neto.
2. Quantotempomoranacasa?M udaram19defevereirode1977.Játinhaummuro(maisbaixo),
depoisaumentaramaalturadomuro.
3. Nessetempohouvemudançasemrelaçãoaoshabitantesdacasa?Umadasfilhassecasoue
mudouem1985.
4. Quantoscômodospossuiacasa?Quaissãoessesespaços?
5. Você se lembra como era a casa quando você comprou? Possuía amesmaquantidadede
ambientes? LembraquedentrodoPrivêjáeraasfaltado,emvoltanãoera.DaVilaUniãoparao
Privêeraestradadechão.
6. Naépocadeaquisiçãodacasa,tendocompradodiretocomaconstrutoraoudeoutro
morador,foirealizadofinanciamento?Comofuncionavaofinanciamento? F inancioucoma
CAIXEGO.Ovalordacasaeramédio.
7. VocêsabiaqueexistiamtiposdiferentesdecasasconstruídaspeloBNHparaaurbanização
do Jardim Atlântico? Sabe qualatipologiaasuacasapertence?Eramcincomodelos.Todos
com três quartos, sala, cozinha, banheiro e quarto de empregada, banheiro social e garagem
coberta, algumas possuíam suíte. Aproximadamente 110 m². Comprou aúltimaunidadedaruae
nãotinhasuíte.
8. Vocêfoioúnicoproprietário?Existiramoutrosdonos?Ú nicodono.
9. Enessetempoemquemoranacasahouvereformas?S im.
10. Sesim,quaisforam?Apenasmanutenção,ampliaçãodeespaços,acréscimodeambientes,
demoliçãodealgumcômodo,alteraçãodefachada?Fezreformasem2010.Demoliuobanheiro
de empregada. O quarto de empregada e o banheiro viraram a sala deTV.Aumentouasalade
estar;Construiuumanovacozinha;construiuumescritório;construiuumbarracãoaofundoparaa
filha morar com dois quartos, sala, cozinha e banheiro; aumentou um quarto; houve troca de
revestimentosepintura;aumentouotelhado.
11. Por que foram feitas ou não as modificações? Para aumentar a área da casa e acomodar a
famíliamelhor.
12. Asmodificaçõesforamfeitasporarquitetos?Senão,quaisprofissionaisforamcontratados?
(engenheiros, desenhistas, pedreiros, mestres de obra) Ele éengenheirocivilecontratouum
pedreiro,masnãotemprojetodacasa.
13. Você ficou satisfeito com as reformas realizadas? Ficou satisfeito com as reformas.Antesa
casaeramuitopequena.
14. Emrelaçãoasuacasa,oquevocêmaisgostanela?Eoquegostariademudar?
15. Emquecômodosvocêpassamais/menostempo?Gostamaisdoquartoeafamíliagostamais
doespaçodasala.
16. Comovocêdescreveriacadaambientedasuacasahoje?Comoeramosambientesantes?
Anteseramuitopequena,agoraestáótima.
17. Vocêpretenderealizaroutrasreformas?Porquê?N
ãopretendefazermaisreformas
ENTREVISTA 11: Entrevista [não gravada] concedida à pesquisadora, Carolina Vivas da Costa Milagre,
pelamoradoradoPrivêAtlântico,WilmadaCosta,nodia12deoutubrode2019.
1. Quantaspessoasmoramnasuacasa?Quemsão?M oramsomenteduaspessoas.
2. Quantotempomoranacasa?Desdemaiode1978.
3. Nessetempohouvemudançasemrelaçãoaoshabitantesdacasa?Sim.Filhosmoravamcom
elesedepoisvoltaramparaoRiodeJaneiro.
4. Quantoscômodospossuiacasa?Quaissãoessesespaços?Sala,cozinha,banheiro,salade
jantar,quarto,saladeTV,quartodehóspedeseáreaaofundo.
5. Você se lembra como era a casa quando você comprou? Possuía amesmaquantidadede
ambientes?S im,temaplantadacasaoriginal.
6. Naépocadeaquisiçãodacasa,tendocompradodiretocomaconstrutoraoudeoutro
morador,foirealizadofinanciamento?Comofuncionavaofinanciamento?C ompraramde
outromorador.OfinanciamentofoipelaCAIXEGO.
7. VocêsabiaqueexistiamtiposdiferentesdecasasconstruídaspeloBNHparaaurbanização
do Jardim Atlântico? Sabequalatipologiaasuacasapertence?Quatromodelosdecasa.O
delaéotipoD.
8. Vocêfoioúnicoproprietário?Existiramoutrosdonos?Sim,únicosdonos.Compraramdeoutra
pessoa,masquenãochegouamorarnacasa.
9. Enessetempoemquemoranacasahouvereformas?S im.
10. Sesim,quaisforam?Apenasmanutenção,ampliaçãodeespaços,acréscimodeambientes,
demoliçãodealgumcômodo,alteraçãodefachada?Fizeramoutracozinha,aanteriorvirousala
de jantar. Aumentaram a garagem para acomodar o trailer.Transformaramoquartodofundoem
saladeTV.Oquartodeempregadavirouquartodehóspedes.
11. Por que foramfeitasounãoasmodificações?Adequaraosseusdesejos;melhoraracozinha;
acomodarotrailer.
12. Asmodificaçõesforamfeitasporarquitetos?Senão,quaisprofissionaisforamcontratados?
(engenheiros, desenhistas, pedreiros, mestres de obra)? Foram feitas por mestre de obra e
pedreiros.
13. Vocêficousatisfeitocomasreformasrealizadas?S im
14. Emrelaçãoasuacasa,oquevocêmaisgostanela?Eoquegostariademudar?
15. Emquecômodosvocêpassamais/menostempo?
16. Comovocêdescreveriacadaambientedasuacasahoje?Comoeramosambientesantes?
17. Vocêpretenderealizaroutrasreformas?Porquê?Nãoteminteresseemoutrasreformas.
18. PorquevocêescolheuvirmorarnoPrivê?MoravamnoRiodeJaneiroevinhamcaçarepescar
em Goiás, assim que se aposentaram vieram morar aqui. Se mudaram em 1977paraGoiâniae
moravamnoMarista.MudaramparaoPrivêem1978porserumacasa,serfechado,oquetrazia
segurança.Tinhamcondiçãoepossuíamcarro,entãoadistânciaeafaltadetransportepúbliconão
eraumapreocupaçãoparaeles.Emfevereirode1979implantaramlinhasdeônibus.
19. Qual a maior vantagem de morar aqui hoje? Foram os primeiros moradores do bairro, boa
convivênciacomosprimeirosmoradores.
20. Vocêpossuiouconhecealgumadocumentaçãointeressantesobreasuacasaantigaeatual
(fotos,desenhos,plantas,notíciasdejornais)?Sim.Projeto;reportagemdejornalanunciandoo
Privê;fotodacasaoriginal.
ENTREVISTA12:Entrevista[nãogravada]concedidaàpesquisadora,CarolinaVivasdaCostaMilagre,
pelamoradoradoPrivêAtlântico,Júlia(nomefictício),nodia12deoutubrode2019.
1. Quantaspessoasmoramnasuacasa?Quemsão?Duaspessoas.Esposaeesposo
2. Quantotempomoranacasa?3
3anos,semudaramemjunhode1986.
3. Nesse tempo houve mudanças em relação aos habitantes da casa? Não, continuam duas
pessoas.
4. Quantoscômodospossuiacasa?Quaissãoessesespaços?
5. Você se lembra como era a casa quando você comprou? Possuía amesmaquantidadede
ambientes?
6. Naépocadeaquisiçãodacasa,tendocompradodiretocomaconstrutoraoudeoutro
morador,foirealizadofinanciamento?Comofuncionavaofinanciamento?C ompraramàvista.
7. VocêsabiaqueexistiamtiposdiferentesdecasasconstruídaspeloBNHparaaurbanização
do Jardim Atlântico? Sabe qual a tipologia a sua casa pertence? Sabia que existiam outros
modelos,masnãosabequaléoseu.
8. Vocêfoioúnicoproprietário?Existiramoutrosdonos?H ouvedoisdonosanteriores.
9. Enessetempoemquemoranacasahouvereformas?S im.
10. Sesim,quaisforam?Apenasmanutenção,ampliaçãodeespaços,acréscimodeambientes,
demoliçãodealgumcômodo,alteraçãodefachada?Odonoanteriorconstruiuumavarandaao
fundo com a piscina. O quarto de empregada transformou-se em escritório.Houvealteraçãodas
janelaseportas.Osmoradoresatuaisapenasfizerammanutençãodacasa;trocadepisos;trocade
telhas.
11. Porqueforamfeitasounãoasmodificações?Apenasparamanutençãodacasa.
12. Asmodificaçõesforamfeitasporarquitetos?Senão,quaisprofissionaisforamcontratados?
(engenheiros,desenhistas,pedreiros,mestresdeobra)F oifeitocommestredeobras.
13. Vocêficousatisfeitocomasreformasrealizadas?M uitosatisfeita.Gostadacasa.
14. Emrelaçãoasuacasa,oquevocêmaisgostanela?Eoquegostariademudar?Avarandaao
fundoéoespaçoquemaisgostaenãotemlugarquegostamenos.
15. Em que cômodos você passa mais/menos tempo? Passa mais tempo na varanda. Faziam
muitasfestas,agoranãomais,masgeralmenteficamquatropessoasnacasanofinaldesemana.
16. Comovocêdescreveriacadaambientedasuacasahoje?Comoeramosambientesantes?
17. Vocêpretenderealizaroutrasreformas?Porquê?Nãopretendefazermaisreformas,gostada
casacomoelaé.
18. PorquevocêescolheuvirmorarnoPrivê?MoravaemumapartamentonoSetorOesteantese
mudouparaoPrivêparatermaisespaço.
19. Qual a maior vantagem de morar aqui hoje? Segurança; portaria; bons funcionários e boa
vizinhança.
20. Vocêpossuiouconhecealgumadocumentaçãointeressantesobreasuacasaantigaeatual
(fotos,desenhos,plantas,notíciasdejornais)?N ão.
ENTREVISTA13:Entrevista[nãogravada]concedidaàpesquisadora,CarolinaVivasdaCostaMilagre,
pelomoradordoPrivêAtlântico,RuiDias,nodia12deoutubrode2019.
1.Quantaspessoasmoramnasuacasa?Quemsão? Duas.Esposoeesposa.
2.Naépocadeaquisiçãodacasa,tendocompradodiretocomaconstrutoraoudeoutro
morador,foirealizadofinanciamento?Comofuncionavaofinanciamento?O valordacasaera
baixo,muitofácildecomprar.AimobiliáriaeraaItacolomyeaconstrutoraSABRA.Ascasaseramdo
BNHquefaziapartedoinvestimentodoFSH,masoagentefinanciadordascasaseraaCAIXEGO.
3. VocêsabiaqueexistiamtiposdiferentesdecasasconstruídaspeloBNHparaaurbanização
do Jardim Atlântico? Sabe qual a tipologia a sua casa pertence? Não sabiam o tipo da casa
quandocompravam,eramtodasquaseamesmametragem.Escolhiampeladisposiçãodosambientes,
queeramdiferentes.
4.ComoeraoPrivêAtlânticoantigamente?“A quinãoéofimdomundo,antesera”.Aconstrutora
parcelou a fazenda e comercializaram os lotes para vender. Foram três etapas de construção. A
primeiraetapaforamascasaspadrão,construídasnoladoesquerdo.Nasegundaetapa,construíram
noladodireito.Naterceiraetapaforamvendidossóoslotes.Apartirde2000houveumavalorização
dobairroquegerouespeculaçãodoPrivê.OesgotoeaáguaforaminstaladosnoPrivêem1986com
a gestão do político Santillo.NasegundagestãodoNionAlbernazeleconstruiuaavenidaT-63,que
melhorou o acesso ao Privê Atlântico. Em 1981 havia poucos moradores no Privê e a maioria era
funcionários públicos. Com o tempo o padrão foi aumentando e alguns moradores saíram e novos
chegaram.
5.VocêjáfoipresidentedaAssociaçãodosmoradoresdoPrivê(SOMOPA),comoforamsuas
gestões?A ssumiuagestãoem1999.Nasuaprimeiravezcomopresidentecriouaassociação.Na
segundalutaramparatransformaroconjuntoemcondomínio.Ataxapassaaserobrigatóriaapartirde
2000comoestatutodoPrivêAtlânticoeháumaresistênciadosmoradoresàessamudança.Alto
índicedeinadimplênciadataxadecondomínio.FoitrêsvezespresidentedaSOMOPA.
6.Qualamaiorvantagemdemoraraquihojeequaisasdesvantagens?P ontosnegativosdo
condomínio:“hojenenhum”.Pontospositivos:localizaçãogeográfica,próximodeviasestruturantes,
segurança,confortoelazer.
7.Vocêsusamosserviçosecomérciosdisponíveisdentrodocondomínio?U samosserviçose
comérciosexistentesdentrodocondomínio.Emsuagestãoreformaramocentrodeconvivência,onde
sãorealizadasasfestas.Oranchãoanteseradepalha,umaconstruçãorural.
8.OPrivêhojeéumcondomínio?S im.ApartirdeJaneirode2020éoprópriocondomínioquevai
realizaracoletadelixoenãomaisaprefeitura.Ofocodesuaadministraçãoéavalorização
patrimonialdocondomíniofechado,paraaumentaradensidadedemográficadaregião,construirmais
parquesemaisviasestruturaisemvolta.Elelutoupelavalorizaçãodocondomíniopensandonofuturo.
Contratouasempresasparamelhorarasegurançadocondomínioeinformatizaraentrada.
ENTREVISTA14:Entrevista[nãogravada]concedidaàpesquisadora,CarolinaVivasdaCostaMilagre,
pelamoradoradoPrivêAtlântico,MariadoCarmo,nodia16deoutubrode2019.
1. Quantaspessoasmoramnasuacasa?Quemsão?Possuemduascasas.Emumacasamoram
afilha,oesposoemaisdoisfilhosenaoutramoramelaeoesposo.
2. Quantotempomoranacasa?40anos.
3. Nessetempohouvemudançasemrelaçãoaoshabitantesdacasa?S im,osfilhossemudaram.
4. Quantos cômodos possui a casa? Quais são esses espaços? Sala, cozinha, banheiro, três
quartos,quartodeempregadaeáreadeserviçoeaáreadelazeraofundo.
5. Você se lembra como era a casa quando você comprou? Possuía amesmaquantidadede
ambientes?S im,acasapermanecepraticamenteigual.
6. Naépocadeaquisiçãodacasa,tendocompradodiretocomaconstrutoraoudeoutro
morador,foirealizadofinanciamento?Comofuncionavaofinanciamento?C omproudeoutro
moradorefinancioupelaCAIXEGO.
7. VocêsabiaqueexistiamtiposdiferentesdecasasconstruídaspeloBNHparaaurbanização
do JardimAtlântico?Sabequalatipologiaasuacasapertence?Sim,masnãosabequantos
modelos.Umadesuascasaspossuisuíteeaoutranãopossui.
8. Você foi o único proprietário? Existiramoutrosdonos?Houveumproprietárioanteriorque
nãoresidiunacasa,entãoforamosprimeirosmoradores.
9. Enessetempoemquemoranacasahouvereformas?S im.
10. Sesim,quaisforam?Apenasmanutenção,ampliaçãodeespaços,acréscimodeambientes,
demolição de algum cômodo, alteração defachada?Ampliouacozinhaeobanheiro.Hádois
anoshouveumagrandereforma,construindoaáreadelazeraofundodeumadascasas.
11. Porqueforamfeitasounãoasmodificações?A dequaraosseusdesejos;melhoraracozinha.
12. Asmodificaçõesforamfeitasporarquitetos?Senão,quaisprofissionaisforamcontratados?
(engenheiros, desenhistas, pedreiros, mestres de obra)? Foi feita pelo seu genro que é
arquiteto.
13. Vocêficousatisfeitocomasreformasrealizadas?S im.
14. Emrelaçãoasuacasa,oquevocêmaisgostanela?Eoquegostariademudar?
15. Emquecômodosvocêpassamais/menostempo?Passamaistemponoquartoenacozinhae
menostemponasala.
16. Como você descreveria cadaambientedasuacasahoje?Comoeramosambientesantes?
Nãomudoumuitoemtamanho,masemutilização.Acasajáosatendiaecontinuacorrespondendo
àsnecessidades.
17. Você pretende realizar outras reformas? Por quê? Pretende mudar apenas armários da
cozinha.
18. Por que você escolheu vir morar no Privê? Para ter a casa própria. Tinham filhos pequenos;
classemédiaeporserisolado.
19. Qualamaiorvantagemdemoraraquihoje?Segurançaeoconvíviocomosvizinhos.Oconvívio
émuitobom,vãoaosupermercadoefrequentamapraça.
20. Vocêpossuiouconhecealgumadocumentaçãointeressantesobreasuacasaantigaeatual
(fotos,desenhos,plantas,notíciasdejornais)?N ão.
ENTREVISTA15:Entrevista[nãogravada]concedidaàpesquisadora,CarolinaVivasdaCostaMilagre,
pelamoradoradoPrivêAtlântico,Neusa,nodia16deoutubrode2019.
1. Quantaspessoasmoramnasuacasa?Quemsão?D uas,esposoeesposa
2. Quantotempomoranacasa?Desdequelançouocondomínio.
3. Nessetempohouvemudançasemrelaçãoaoshabitantesdacasa?
4. Quantoscômodospossuiacasa?Quaissãoessesespaços?Saladeestar,saladejantar,três
quartos,banheiros,áreadeserviçoeumaedículaaofundo.
5. Você se lembra como era a casa quando você comprou? Possuía amesmaquantidadede
ambientes?S im,nãomudoumuitacoisa.
6. Naépocadeaquisiçãodacasa,tendocompradodiretocomaconstrutoraoudeoutro
morador,foirealizadofinanciamento?Comofuncionavaofinanciamento?C omproudeoutro
morador.FinancioupelaCAIXEGO.OprojetoeradeSilasVarizo.
7. VocêsabiaqueexistiamtiposdiferentesdecasasconstruídaspeloBNHparaaurbanização
doJardimAtlântico?Sabequalatipologiaasuacasapertence?T ipoA.
8. Você foi o único proprietário? Existiram outros donos? Únicos donos, comprou de outro
morador,maselenãochegouamorarnacasa.
9. Enessetempoemquemoranacasahouvereformas?S im,mudou50%dacasa.
10. Sesim,quaisforam?Apenasmanutenção,ampliaçãodeespaços,acréscimodeambientes,
demolição de algum cômodo, alteração de fachada? Construiu a edícula. Ampliou a sala de
estarparasaladejantar.Nãoaumentouonúmerodeambientes,apenasaedícula.Houvetrocade
pisos,pintura,trocoujanelasenafachadasóalteraramastelhas.
11. Porqueforamfeitasounãoasmodificações?A umentouparaaproveitaraáreadoterreno.
12. Asmodificaçõesforamfeitasporarquitetos?Senão,quaisprofissionaisforamcontratados?
(engenheiros,desenhistas,pedreiros,mestresdeobra)?Asmodificaçõesforamfeitasporconta
própria,semprofissional.
13. Vocêficousatisfeitocomasreformasrealizadas?S im.
14. Emrelaçãoasuacasa,oquevocêmaisgostanela?Eoquegostariademudar?
15. Emquecômodosvocêpassamais/menostempo?P assamaistemponasala.
16. Comovocêdescreveriacadaambientedasuacasahoje?Comoeramosambientesantes?
17. Vocêpretenderealizaroutrasreformas?Porquê?N ãopretendefazermaisreformas.
18. PorquevocêescolheuvirmorarnoPrivê?P elaregiãoevalorização.
19. Qualamaiorvantagemdemoraraquihoje?S egurança.
20. Vocêpossuiouconhecealgumadocumentaçãointeressantesobreasuacasaantigaeatual
(fotos,desenhos,plantas,notíciasdejornais)?N ão.
ENTREVISTA16:Entrevista[nãogravada]concedidaàpesquisadora,CarolinaVivasdaCostaMilagre,
pelomoradordoPrivêAtlântico,PedroErnestoCruvineldeAlmeida,nodia16deoutubrode2019.
1. Quantaspessoasmoramnasuacasa?Quemsão?C incopessoas.Paiemãe;Esposa,esposo
efilho.Opaieamãemoramnacasaoriginaleofilhocomaesposaeofilhomoramnaedículaao
fundo.
2. Quantotempomoranacasa?D esde1990.Opaimoradesde1978.
3. Nesse tempo houve mudanças em relação aos habitantes da casa? Houve, o filho saiu e
depoisvoltoucomaesposaefilho.
4. Quantos cômodos possui a casa? Quais são esses espaços? Uma suíte, doisquartos,sala,
cozinha,áreaaofundo.
5. Você se lembra como era a casa quando você comprou? Possuía amesmaquantidadede
ambientes?A casadopainãomudouquasenada,continuaoriginal.
6. Naépocadeaquisiçãodacasa,tendocompradodiretocomaconstrutoraoudeoutro
morador,foirealizadofinanciamento?Comofuncionavaofinanciamento?Deoutromorador.
Ovalordacasafoimuitobarato.
7. VocêsabiaqueexistiamtiposdiferentesdecasasconstruídaspeloBNHparaaurbanização
doJardimAtlântico?Sabequalatipologiaasuacasapertence?Omodelodacasadopaiéo
modeloIejáestavaprontoquandocompraram.
8. Vocêfoioúnicoproprietário?Existiramoutrosdonos?J áteveoutrodono.
9. Enessetempoemquemoranacasahouvereformas?S im.
10. Sesim,quaisforam?Apenasmanutenção,ampliaçãodeespaços,acréscimodeambientes,
demolição de algum cômodo, alteração de fachada? Fizeram modificações na cobertura por
causa de goteiras em 2018. Construíram um espaço para churrasqueira. Construiu o estúdio de
tatuagem à frente da casa em 2017. Houve troca de revestimentos nos banheiros e no piso da
casa.
11. Porqueforamfeitasounãoasmodificações?
12. Asmodificaçõesforamfeitasporarquitetos?Senão,quaisprofissionaisforamcontratados?
(engenheiros,desenhistas,pedreiros,mestresdeobra)C ontratarammestredeobra.
13. Vocêficousatisfeitocomasreformasrealizadas?Não,acoberturaficoubaixaenãoresolveuo
problemadaquedad’água.
14. Em relação a sua casa, o que vocêmaisgostanela?Eoquegostariademudar?Gostado
estilodela:“Estiloh uts,meiohostel”egostadadecoraçãoquefizeramcomasluzes.
15. Emquecômodosvocêpassamais/menostempo?Passamaistemponasala.Porémesquenta
muitoporcausadotoldo.
16. Comovocêdescreveriacadaambientedasuacasahoje?Comoeramosambientesantes?
17. Você pretende realizar outras reformas? Por quê? Pretende fazer reformas no portão e na
calçada.
18. PorquevocêescolheuvirmorarnoPrivê?E scolheuoPrivêporsegurança.
19. Qual a maior vantagem de morar aqui hoje? A vantagem é pela segurança, pelo controle da
entrada de visitantes e por ter um estúdio de tatuagem, possui clientes no condomínio. A
desvantagem é que possui problemas com a vizinhança. Utiliza o supermercado docondomínio.
Trabalhanoprópriocondomíniocomoestúdiodetatuagem;fazpoucosdeslocamentosparafora.
20. Vocêpossuiouconhecealgumadocumentaçãointeressantesobreasuacasaantigaeatual
(fotos,desenhos,plantas,notíciasdejornais)?N ão.