Você está na página 1de 263

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS (UFG)

FACULDADE DE ARTES VISUAIS (FAV)


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PROJETO E CIDADE (PPGPROCIDADE)

MÁRIO PINTO CALAÇA JÚNIOR

Paisagem e patrimônio: o caso da Vila Industrial em Anápolis – GO

GOIANIA
2023
22/05/2023, 15:56 SEI/UFG - 3768648 - Termo de Ciência e de Autorização (TECA)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS


FACULDADE DE ARTES VISUAIS

TERMO DE CIÊNCIA E DE AUTORIZAÇÃO (TECA) PARA DISPONIBILIZAR VERSÕES ELETRÔNICAS DE


TESES

E DISSERTAÇÕES NA BIBLIOTECA DIGITAL DA UFG

Na qualidade de �tular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal de Goiás


(UFG) a disponibilizar, gratuitamente, por meio da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD/UFG),
regulamentada pela Resolução CEPEC nº 832/2007, sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo
com a Lei 9.610/98, o documento conforme permissões assinaladas abaixo, para fins de leitura,
impressão e/ou download, a �tulo de divulgação da produção cien�fica brasileira, a par�r desta data.
O conteúdo das Teses e Dissertações disponibilizado na BDTD/UFG é de responsabilidade
exclusiva do autor. Ao encaminhar o produto final, o autor(a) e o(a) orientador(a) firmam o compromisso
de que o trabalho não contém nenhuma violação de quaisquer direitos autorais ou outro direito de
terceiros.
1. Iden ficação do material bibliográfico
[ X ] Dissertação [ ] Tese [ ] Outro*:_____________

*No caso de mestrado/doutorado profissional, indique o formato do Trabalho de Conclusão de Curso, permi�do no documento de área, correspondente ao
programa de pós-graduação, orientado pela legislação vigente da CAPES.

Exemplos: Estudo de caso ou Revisão sistemá�ca ou outros formatos.

2. Nome completo do autor


Mário Pinto Calaça Júnior
3. Título do trabalho
Paisagem e patrimônio: o caso da Vila Industrial em Anápolis-GO
4. Informações de acesso ao documento (este campo deve ser preenchido pelo orientador)
Concorda com a liberação total do documento [ X ] SIM [ ] NÃO¹
[1] Neste caso o documento será embargado por até um ano a par�r da data de defesa. Após esse período,
a possível disponibilização ocorrerá apenas mediante:
a) consulta ao(à) autor(a) e ao(à) orientador(a);
b) novo Termo de Ciência e de Autorização (TECA) assinado e inserido no arquivo da tese ou dissertação.
O documento não será disponibilizado durante o período de embargo.
Casos de embargo:
- Solicitação de registro de patente;
- Submissão de ar�go em revista cien�fica;
- Publicação como capítulo de livro;
- Publicação da dissertação/tese em livro.
Obs. Este termo deverá ser assinado no SEI pelo orientador e pelo autor.

https://sei.ufg.br/sei/controlador.php?acao=documento_imprimir_web&acao_origem=arvore_visualizar&id_documento=4084805&infra_sistema=1… 1/2
22/05/2023, 15:56 SEI/UFG - 3768648 - Termo de Ciência e de Autorização (TECA)

Documento assinado eletronicamente por Adriana Mara Vaz De Oliveira, Professor do Magistério
Superior, em 22/05/2023, às 14:14, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no § 3º do
art. 4º do Decreto nº 10.543, de 13 de novembro de 2020.

Documento assinado eletronicamente por Mario Pinto Calaça Júnior, Discente, em 22/05/2023, às
14:28, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no § 3º do art. 4º do Decreto nº 10.543,
de 13 de novembro de 2020.

A auten�cidade deste documento pode ser conferida no site


h ps://sei.ufg.br/sei/controlador_externo.php?
acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=0, informando o código verificador 3768648 e
o código CRC A6195669.

Referência: Processo nº 23070.017512/2023-81 SEI nº 3768648

https://sei.ufg.br/sei/controlador.php?acao=documento_imprimir_web&acao_origem=arvore_visualizar&id_documento=4084805&infra_sistema=1… 2/2
MÁRIO PINTO CALAÇA JÚNIOR

Paisagem e patrimônio: o caso da Vila Industrial em Anápolis – GO

Dissertação apresentada ao Programa


de Pós-Graduação em Projeto e Cidade,
da Faculdade de Artes Visuais da Univer-
sidade Federal de Goiás (UFG), como
requisito para obtenção do título de
Mestre em Projeto e Cidade. (justificado)
Área de concentração: Projeto, Teoria, História
e Crítica.
Linha de pesquisa: História e teoria da arqui-
tetura e da cidade

Orientadora: Professora Doutora Adriana Mara


Vaz de Oliveira

GOIANIA
2023
Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do
Programa de Geração Automática do Sistema de Bibliotecas da UFG.

Calaça Júnior, Mário Pinto


Paisagem e patrimônio [manuscrito] : O caso da Vila Industrial em
Anápolis-Go / Mário Pinto Calaça Júnior. - 2023.
263 f.: il.

Orientador: Profa. Dra. Adriana Mara Vaz de Oliveira.


Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Goiás,
Faculdade de Artes Visuais (FAV), Programa de Pós-graduação em
Projeto e Cidade, Goiânia, 2023.
Bibliografia. Anexos.
Inclui siglas, mapas, fotografias, abreviaturas, gráfico, lista de
figuras.

1. Vila Industrial. 2. Anápolis. 3. patrimônio industrial. 4. paisagem


urbana. I. Oliveira, Adriana Mara Vaz de, orient. II. Título.

CDU 72
22/05/2023, 15:55 SEI/UFG - 3729339 - Ata de Defesa de Dissertação

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE ARTES VISUAIS

ATA DE DEFESA DE DISSERTAÇÃO

Ata nº 003/2023 da sessão de Defesa de Dissertação de Mário Pinto Calaça Júnior, que confere o título de
Mestre(a) em Projeto e Cidade, na área de concentração em Projeto, Teoria, História e Crítica.

Ao/s doze de maio de dois mil e vinte e três, a partir da(s) quatorze horas e trinta minutos, através de
webconferência, realizou-se a sessão pública de Defesa de Dissertação intitulada “Paisagem e patrimônio:
o caso da Vila Industrial em Anápolis-Go”. Os trabalhos foram instalados pelo(a) Orientador(a),
Professor(a) Doutor(a) Adriana Mara Vaz de Oliveira (FAV/UFG) com a participação dos demais
membros da Banca Examinadora: Professor(a) Doutor(a) Maíra Teixeira Pereira (UEG), membro titular
externo; Professor(a) Doutor(a) Fernando Antônio Oliveira Mello (FAV/UFG), membro titular interno.
Durante a arguição os membros da banca não fizeram sugestão de alteração do título do trabalho. A Banca
Examinadora reuniu-se em sessão secreta a fim de concluir o julgamento da Dissertação, tendo sido(a) o(a)
candidato(a) aprovado(a) pelos seus membros. Proclamados os resultados pelo(a) Professor(a) Doutor(a)
Adriana Mara Vaz de Oliveira, Presidente da Banca Examinadora, foram encerrados os trabalhos e, para
constar, lavrou-se a presente ata que é assinada pelos Membros da Banca Examinadora, ao(s) doze de maio
de dois mil e vinte e três.

TÍTULO SUGERIDO PELA BANCA

Documento assinado eletronicamente por Adriana Mara Vaz De Oliveira, Professor do Magistério
Superior, em 12/05/2023, às 16:44, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no § 3º do
art. 4º do Decreto nº 10.543, de 13 de novembro de 2020.

Documento assinado eletronicamente por Fernando Antônio Oliveira Mello, Professor do


Magistério Superior, em 12/05/2023, às 16:48, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento
no § 3º do art. 4º do Decreto nº 10.543, de 13 de novembro de 2020.

Documento assinado eletronicamente por Maíra Teixeira Pereira, Usuário Externo, em 15/05/2023,
às 20:35, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no § 3º do art. 4º do Decreto nº
10.543, de 13 de novembro de 2020.

A auten cidade deste documento pode ser conferida no site


h ps://sei.ufg.br/sei/controlador_externo.php?
acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=0, informando o código verificador 3729339 e
o código CRC 72AEFC89.

Referência: Processo nº 23070.017512/2023-81 SEI nº 3729339

https://sei.ufg.br/sei/controlador.php?acao=documento_imprimir_web&acao_origem=arvore_visualizar&id_documento=4042194&infra_sistema=1… 1/1
PAISAGEM E PATRIMÔNIO
   
agradecimentos.

a fundação de amparo a pesquisa do estado de goiás (FAPEG);


a deus; a minha família; aos meus amigos; aos queridos professores;
e em especial, a minha orientadora.
Resumo
A indústria e ferrovia fazem parte da história da cidade de Anápolis/GO - cidade localizada
entre Brasília/DF e Goiânia/GO - e contribuíram para o avanço econômico e o desejo por progresso
dos moradores da cidade. Ao passo em que se desenvolvia, diversas edificações relacionadas à
essas atividades foram construídas, em especial na Vila Industrial (bairro em que indústria e ferrovia
se convergem) – como um moinho, galpões industriais e uma estação ferroviária. Nesse sentido,
tem-se o objetivo de identificar se no bairro citado há um conjunto edificado que pode ser parte
de um acervo de patrimônio industrial, compreendendo a sua relevância na paisagem urbana e
qual relação os anapolinos possuem com este. Para isso, fez-se necessário, metodologicamente,
traçar alguns caminhos como: o levantamento histórico, contemplando a trajetória da ferrovia e da
indústria em Anápolis, bem como a história do bairro e consolidação de sua paisagem urbana, por
meio de pesquisa em arquivos e periódicos da cidade; a revisão bibliográfica teórico-conceitual,
com aportes para guiar a pesquisa; por fim, o levantamento de campo com reconhecimento da
paisagem do bairro, junto a aplicação de questionários com anapolinos que contemple os assuntos
propostos. Ao fim, é possível compreender o local de Anápolis diante do seu conjunto edificado, em
especial o industrial – podendo considera-lo passível de reconhecimento patrimonial.

Palavras-chave: Vila Industrial; Anápolis; patrimônio industrial; paisagem urbana


.

ABSTRACT

The industry and railroad are part of the history of the city of Anápolis/GO - a city located
between Brasília/DF and Goiânia/GO - and have contributed to the economic advancement and
the desire for progress of the city’s residents. As it developed, several buildings related to these
activities were built, especially in Vila Industrial (a neighborhood where industry and the railroad
converge) – such as a mill, industrial warehouses and a railway station. In this sense, the objective is to
identify whether in the aforementioned neighborhood there is a built complex that can be part of an
industrial heritage collection, understanding its relevance in the urban landscape and what relationship
Anapolinos have with it. For this, it was necessary, methodologically, to outline some paths such as: the
historical survey, contemplating the trajectory of the railroad and industry in Anápolis, as well as the
history of the neighborhood and the consolidation of its urban landscape, through research in archives
and city periodicals; the theoretical-conceptual bibliographic review, with contributions to guide the
research; finally, the field survey with recognition of the landscape of the neighborhood, together
with the application of questionnaires with Anapolinos that contemplates the proposed subjects.
In the end, it was possible to understand the place of Anápolis in front of its built set, especially the
industrial one – being able to consider it subject to patrimonial recognition.

Keywords: Industrial Village; Annapolis; industrial heritage; urban landscape.


ABREVIATURAS E SIGLAS

AIA | Associação Industrial de Anápolis


CONDEPHAAT | Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico,
Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo
DAIA | Distrito Agroindustruial de Anápolis
EFG | Estrada de Ferro de Goiás
FAIANA | Feira de Amostra da Indústria de Anápolis
ICOMOS | International Council on Monuments as Sites
IPHAN | Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
JK | Juscelino Kubitschek
PIB | Produto Interno Bruto
RFFSA | Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima
TCA | Transportes Coletivos de Anápolis
TICCIH | The International Committee for the Conservation of the
Industrial Heritage
UNESCO | United Nations Educational, Scientific and Cultural
Organization
UP | Unidade de Paisagem
URBAN | Mobilidade Urbana de Anápolis
LISTA DE FIGURAS .

figura 1: Estação Ferroviária de Anápolis (Estação Prefeito José Fernandes


Valente), Anápolis, 1935. Disponível em: <http://www.estacoesferroviarias.
com.br/efgoiaz/anapolis.html>....................................................................................5

figura 2: Mapa ilustrando a via férrea goiana. Fonte: BRANDÃO, 2017 com
intervenções de CALAÇA JÚNIOR, 2022...................................................................9

figura 3: Manchete do Jornal ‘O Anápolis’ ressaltando a chegada da Estrada


de Ferro. Fonte: Museu Histórico Alderico Borges de Caravalho.......................10

figura 4: Assim como aconteceu com a inauguração, houve uma festa de


comemoração da retirada dos trilhos. Fonte: <http://blogdogiesbrecht.
blogspot.com/2009/05/os-trilhos-do-mal.html>...................................................12

figura 5: Mapa ilustrando a via férrea atual. Fonte: Google Earth, 2022.
Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2022......................................................................13

figura 6: Notícia de abertura da estrada de ferro em Anápolis – Jornal ‘O


Estado’ de São Paulo –28/09.1935. Fonte: <http://www.estacoesferroviarias.
com.br/efgoiaz/engvalente.htm>............................................................................14

figura 7: Localização da Estação Engenheiro Valente. Fonte: Google Earth,


2022. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2022..........................................................15

figura 8: Estação General Curado em 1996. Fonte: Geraldo Fernandes do Carmo.......16

figura 9: Estação General Curado em 2015. Fonte: Glaucio Henrique Chavez. ........16

figura 10: Localização da Estação General Curado. Fonte: Google Earth, 2022.
Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2022.........................................................................17

figura 11: Localização da Estação de Anápolis (Prefeito José Fernandes Valente).


Fonte: Google Earth, 2022. Intervenções: CALAÇA JUNIOR, 2022................18

figura 12: Foto da Estação de Anápolis poucos dias antes de sua inauguração
em 1935. Fonte: Museu Histórico Alderico Borges de Carvalho........................19
figura 13: Planta da Estação de Anápolis. Fonte: Acervo Iconográfico do Museu
Histórico Alderico Borges de Carvalho.................................................................19

figura 14: Elevações da Estação de Anápolis. Fonte: Acervo Iconográfico do


Museu Histórico Alderico Borges de Carvalho...................................................20

figura 15: Localização da Estação Engenheiro Castilho. Fonte: Google Earth,


2022. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2022..........................................................21

figura 16: Manchete do jornal ‘O ANÁPOLIS’ destacando a Anápolis como


maior parque industrial de Goiás. Fonte: Acervo do Museu Histórico de
Anápolis - Alderico Borges de Carvalho...............................................................25

figura 17: Documento de averbação de lotes datado de 1955. Fonte: Acervo de Osvaldo
Alves, feito na Mapoteca Municipal da Prefeitura de Anápolis, 2019. ...........................33

figura 18: Cabeçalho do projeto datado de 1954. Fonte: Acervo de Osvaldo


Alves, feito na Mapoteca Municipal da Prefeitura de Anápolis, 2019....................34

figura 19: Guia Prático de Cidade de Anápolis, década de 1950. Fonte: Instituto
de Patrimônio Histórico e Cultural Professor Jan Magalinski. Intervenções:
CALAÇA JÚNIOR, 2022. ..............................................................................................35

figura 20: Localização da Vila Industrial. Fonte: Imagem de satélite retirada do


Google Earth, 2022. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR. 2022.................................40

figura 21: Projeto da Vila Industrial. Fonte: Mapoteca Municipal da


Prefeitura de Anápolis – acervo de Osvaldo Alves, 2019. Intervenções:
CALAÇA JÚNIOR. 2022..........................................................................................41

figura 22: Projeto da Vila Industrial – Conjunto Eldorado. Fonte: Mapoteca


Municipal da Prefeitura de Anápolis – acervo de Osvaldo Alves, 2019.
Intervenções: CALAÇA JÚNIOR. 2022 ....................................................................42

figura 23: Imagem de satélite da antiga via férrea. Fonte: Google Earth, 2022.
Intervenções: CALAÇA JÚNIOR. 2022 ..................................................................43
figura 24: Imagem de satélite de 2003 e 2022 ressaltando edificações da Vila
Industrial. Fonte: Google Earth, 2022. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR. 2022. ......45

figura 25: Projeto da Vila Industrial. Fonte: Mapoteca Municipal da Prefeitura


de Anápolis – acervo de Osvaldo Alves, 2019 ......................................................46

figura 26: Imagem de satélite da Vila Industrial, ressaltando principais vias.


Fonte: Google Earth, 2022. Intervenções: CALAÇA JÚNUIOR, 2022................47

figura 27: Vila Industrial dividida em Unidades de Paisagem. Fonte: Google


Earth, 2022. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2022..............................................58

figura 28: Diagrama de modificações das Unidades de Paisagem. Fonte:


Google Earth. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR. 2022.........................................60

figura 29: Printscreen do aplicativo CorelDraw. Fonte: CALAÇA JÚNIOR. 2022 ...........61

figura 30: Unidade de Paisagem 2 – Avenida Presidente Wilson com pontos


de referência. Fonte: Google Earth. Intervenções: CALAÇA. 2022 ....................63

figura 31: imagem 1.1: Dualidade entre o Genesis Office e Moinho Catarinense;
imagem 1.2: Passeio público degradado do Moinho Catarinense em contra-
posição ao novo e bem cuidado passeio do Genesis Office. Fonte: CALAÇA
JÚNIOR, 2022. ................................................................................................................64

figura 32: Imagem 2.1: Contraposição entre o Genesis Office e Moinho


Catarinense; Imagem 2.2: Outdoors. Imagem 2.3: Sobreposição entre o
Genesis Office e Moinho Catarinense; Imagem 2.4: Galpões deteriorados.
Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022. ................................................................................66

figura 33: Imagem 3.1: Galpões ao fundo; Imagem 3.2: Passeio público degra-
dado e praça descampada. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022. ..............................67

figura 34: Imagem 4.1: Praça Joaquim Pinto Pontes; Imagem 4.2, 4.3 e 4.4: Vista para
a Estação Ferroviária Engenheiro Castilho. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022. ...............68

figura 35: Imagem 5.1 e 5.2: Galpão da subprefeitura; Imagem 5.3: Depósito
de ônibus escolares em desuso; Imagem 5.4: Galpão; Imagem 5.5: Pequena
praça no terreno. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022. ..............................................69
figura 36: Imagem 6.1: Galpões e Moinho Catarinense ao fundo; Imagem 6.2,
6.3 e 6.4: Galpões de armazenamento de produtos para reciclagem. Fonte:
CALAÇA JÚNIOR, 2022...............................................................................................70

figura 37: Imagem 7.1, 7.2 e 7.3: Passeio público Av. Pres. Wilson; Imagem 7.4:
Mercado Atende Mais. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022........................................72

figura 38: Imagem 8.1: Trecho comercial da Av. Pres. Wilson com prédios resi-
denciais ao fundo; Imagem 8.2: Miolo do bairro nesta Unidade de Paisagem.
Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.................................................................................73

figura 39: Imagem 9.1 e 9.2: Tipologias de fachadas dos galpões. Fonte: CALA
ÇA JÚNIOR, 2022..........................................................................................................74

figura 40: Imagem 10.1: Galpão de reciclagem; Imagem 10.2: Galpão de trans-
formação de papel; Imagem 10.3: Galpões e residências, Genesis ao fundo;
Imagem 10.4: Passeio público precário. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022...........75

figura 41: Ilustração contendo as principais características da Unidade de


Paisagem 1 – Avenida Presidente Wilson. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022......76

figura 42: Unidade de Paisagem 2 – Residenciais com pontos de referência.


Fonte: Google Earth. Intervenções: CALAÇA. 2022.............................................77

figura 43: Condomínios residenciais na Av. Pres. Wilson. Fonte: CALAÇA


JÚNIOR, 2022.................................................................................................................78

figura 44: Imagem 2.1: Peça gráfica disponível no site da Realiza Construtora
ressaltando o empreendimento Varandas – Condomínio Clube; Imagem 2.2:
A construção do condomínio Varandas; Imagem 2.3: Condomínio vertical.
Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.....................................................................................80

figura 45: Imagem 3.1 e 3.2: Terreno vazio no limite do bairro; Imagem 3.3:
Limite da Vila Industrial. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022....................................81

figura 46: Conjunto Eldorado. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022..........................82

figura 47: Condomínio Residencial Saint German. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022....83
figura 48: Ilustração contendo as principais características da Unidade de
Paisagem 2 – Residenciais. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022...............................83

figura 49: Unidade de Paisagem 3 – Região Industrial da Avenida JK com


pontos de referência. Fonte: Google Earth. Intervenções: CALAÇA. 2022 .....84

figura 50: Imagem 1.1 e 1.2: Galpões e veículos na calçada; Imagem 1.3:
Outras tipologias de fachadas de galpões. Imagem 1.4: Enel. Fonte: CALAÇA
JÚNIOR, 2022..................................................................................................................85

figura 51: Imagem 2.1: Galpão da empresa Distral Sorvetes; 2.2: Bairro Jundiaí
ao fundo. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022..................................................................86

figura 52: Imagem 3.1: Dualidade entre a Vila Indistrial e o Jundiaí; Imagem 3.2:
Galpão da Avenida JK; Imagem 3.3: Comercialização de condomínio vertical de
alto padrão; Imagem 3.4: Galpão descaracterizado. Fonte: CALAÇA JÚNIOR,
2022...............................................................................................................................87

figura 53: Galpões industriais. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022..........................88

figura 54: Imagem 5.1: Edifício industrial; Imagem 5.2: Estacionamento para
caminhões; Imagem 5.3 e 5.4: Galpões. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022...........89

figura 55: Brejeiro Produtos Alimentícios Orlândia S/A Comércio e Indústria:


CALAÇA JÚNIOR, 2022................................................................................................90

figura 56: Imagem 7.1: Casa antiga na Vila Industrial; Imagem 7.2: Antiga Dibra.
CALAÇA JÚNIOR, 2022.................................................................................................91

figura 57: lustração contendo as principais características da Unidade de


Paisagem 3 – Região industrial da Avenida JK. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.
.......................................................................................................................................92

figura 58: Unidade de Paisagem 4 – Interior da Vila Industrial com pontos de


referência. Fonte: Google Earth. Intervenções: CALAÇA. 2022.........................93

figura 59: Imagem 1.1: Genesis Office em destaque na paisagem; Imagem 1.2:
Intenso fluxo de veículos, com estes estacionados na calçada. Fonte: CALAÇA
JÚNIOR, 2022..............................................................................................................94
figura 60: Printscreen do site do Genesis Office, ENGECOM. Fonte: Disponível
em < engecomconstrutora.com.br/imovel/genesis-office>. Acesso em
15/12/2022......................................................................................................................95

figura 61: Imagem 2.1: Quadra de esportes de areia e edifício residencial ao


fundo; Imagem 2.2 e 2.3: Condomínios residenciais verticais na Avenida JK.
Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.................................................................................96

figura 62: Imagem 3.1: Edificação de alto padrão visualizada na Avenida JK;
3.2: Edifícios verticais do Jundiaí ao fundo. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022......97

figura 63: Imagem 4.1: Casarão antigo; Imagem 4.2: Sindicato de trabalhadores.

Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022................................................................................98

figura 64: Imagem 5.1: Fachada cega; Imagem 5.2: Condomínio Saint Germant
se destacando na paisagem; Imagem 5.3: Genesis Office ao fundo represen-
tando a diferença de gabarito vista na região. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022
......................................................................................................................................99

figura 65: Aparência geral do interior do bairro. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022
...................................................................................................................................100

figura 66: Imagem 7.1: Centro de Ensino em Período Integral Dr. Genserico
Gonzaga Jaime; Imagem 7.2: Brejeiro se destacando na paisagem; Imagem
7.3: Antiga casa; Imagem 7.4: Brejeiro emitindo fumaça ao fundo na Rua 10.
Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022................................................................................101

figura 67: Ilustração contendo as principais características da Unidade de


Paisagem 4 – Interior da Vila Industrial. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022...........102

figura 68: Imagem de satélite ressaltando pontos de atração de pessoas na


Vila Industrial. Fonte: Google Earth, 2022. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR,
2022..............................................................................................................................104

figura 69: Imagem de satélite ressaltando pontos de lazer na Vila Industrial e no


Jundiaí. Fonte: Google Earth, 2022. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2022..........105

figura 70: Imagem de satélite ressaltando edifícios representativos de cada


Unidade de Paisagem, bem como suas características. Fonte: Google Earth,
2022. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2022.......................................................107

figura 71: Arco Euston – monumento que representava o período inicial do


desenvolvimento ferroviário de Londres. Fonte: <commons.wikimedia.org/
wiki/File%3AEuston_Arch_1896.jpg>.......................................................................116

figura 72: Ruínas da Fábrica de Ferro Patriótica de Ouro Preto. Fonte: Acervo
de Adriana Ferreira, 2019...........................................................................................125

figura 73: Real Fábrica de Ferro de São Joaquim de Ipanema. Fonte: Acervo
de Marco André Briones, 2018. Disponível em: <cidadeecultura.com/fazenda-
-ipanema-real-fabrica-de-ferro/>.......................................................................126

figura 74: Imagem 1: Fábrica Olivetti em 1959. Imagem 2: Foto de 2022 da


apropriação feita pelo Internacional Shopping de Guarulhos na Fábrica
Olivetti. Fábrica de Ferro de São Joaquim de Ipanema. Fonte: Disponível
em: <guarulhosweb.com.br/foto-de-60-anos-mostra-antiga-fabrica-de-oli-
vetti-em-guarulhos/>. ...............................................................................................127

figura 75: Imagem 1: Fachada da fábrica de biscoitos e balas Duchen; Imagem


2: Exterior da Fábrica; Imagem 3. Interior da fábrica. Fonte: Disponível em:
<arquivo.arq.br/projetos/fabrica-da-duchen>. ..................................................129

figura 76: Vista aérea da fábrica Duchen. Fonte: Disponível em: <diariozonanorte.
com.br/demolicao-de-predio-projetado-por-niemeyer-no-pq-novo-mundo-
-faz-30-anos/>. ..........................................................................................................130

figura 77: Imagem 1: Museu Histórico; Imagem 2: Escola Estadual Antesina


Santana; Imagem 3: Coreto. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022..............................134

figura 78 Imagem 1: Colégio Couto Magalhães em 2022; Imagem 2: Colégio


Couto Magalhães na década de 1950. Fonte: Imagem 1: CALAÇA JÚNIOR; Foto
2: Arquivo do acervo digital do Museu Histórico Alderico Borges de Carvalho.
......................................................................................................................................135

figura 79: Imagem 1: Subestação General Curado; Imagem 2: Estação Prefeito


José Fernandes Valente – Estação de AnápolisFonte: Foto 1: Acervo pessoal
de Glaucio Henrique Chaves, 2015; Foto 2: CALAÇA JÚNIOR, 2022...............135

figura 80: Imagem 1: Antiga Prefeitura e Fórum de Anápolis (Atual Centro


Cultural Ulysses Guimarães; Imagem 2: Escola de Artes Oswaldo Verano
(Escola de Música ao fundo); Imagem 3: Mercado Municipal; Fonte: CALAÇA
JÚNIOR, 2022..........................................................................................................135

figura 81: Imagem 1: Estação Ferroviária Engenheiro Castilho; Imagem 2: Casa


JK; Imagem 3: Fonte Luminosa da Praça Bom Jesus, respectivamente. Fonte:
Imagem 1 e 3: CALAÇA JÚNIOR. Imagem 2: Acervo da Goinfra..........................136

figura 82: Localização das edificações tombadas no Setor Central. Fonte:


Google Earth, 2021. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2023. .........................138

figura 83: Localização dos edifícios históricos fora do Setor Central. Fonte:
Google Earth. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2023....................................140

figura 84: Imagem 1: Casa Tonico de Pina (1940), localizada na Rua Achiles de
Pina; Imagem 2: Casa Tonico de Pina (2018) antes de sediar a Mostra Kzulo.
Fonte: Imagem 1: Acervo pessoal de Claudomir Justino Gonçalves; Imagem
2: acervo fotográfico de Vitor Luana, 2021............................................................142

figura 85: Casa Tonico de Pina modificada para a sediar a Mostra Kzulo (2018).
É possível observar ao fundo o Coreto James Fanstone. Fonte: Google Street
View, 2018.Gonçalves; Imagem 2: acervo fotográfico de Vitor Luana, 2021......143

figura 86: Terreno que abrigava a Casa Tonico de Pina. A demolição da casa
aconteceu em 2020. Fonte: Acervo pessoal de Lara Amaral, 2020 ....................143

figura 87: Imagem de satélite de localização da região da Praça James


Fanstone, no Setor central, com localização das edificações citadas. Fonte:
Google Earth. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2022........................................144

figura 88: Imagem 1: Prédio da Escola de Enfermagem (década de 1930) –


primeiro edifício em altura de Anápolis; Imagem 2: Atual Hospital Evangélico
de Goiás (2021) em que é possível observar que o edificío sofreu algumas
modificações. Fonte: Imagem 1: Museu Histórico Alderico Borges de Caravalho;
Imagem 2: Google Street View, 2021.................................................................145

figura 89: Imagem 1: Edificação da década de 1940, localizada na Rua Achiles


de Pina; Imagem 2: e a modificação que a descaracterizou. Fonte: Imagem
1: Museu Histórico Alderico Borges de Caravalho; Imagem 2: Acervo Pessoal
de Lara Amaral, 2021................................................................................................145

figura 90: Imagem de satélite ressaltando os parques e demarcando a Vila


Industrial juntamente com a Avenida São Francisco. Fonte: Google Earth.
Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2023..................................................................152

figura 91: Porção Nordeste da Vila Industrial, segundo o Plano Diretor de


Anápolis. Fonte: Plano Diretor de Anápolis, 2016.............................................154

figura 92: Imagem 1: Brejeiro Produtos Alimentícios Orlândia S/A Comércio e


Indústria; Imagem 2: Imagem de satélite ressaltando o acervo de patrimônio
industrial, demarcando a Vila Industrial. Fonte: Imagem 1: CALAÇA JÚNIOR,
2022; Imagem 2: Google Earth. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2023...........157

figura 93: Estação Ferroviária Engenheiro Castilho antes da reforma.


Fonte: Acervo do Museu Histórico de Anápolis - Alderico Borges de
Carvalho....................................................................................................................159

figura 94: Estação Ferroviária Engenheiro Castilho durante a reforma.


Fonte: Acervo do Museu Histórico de Anápolis - Alderico Borges de
Carvalho........................................................................................................................159

figura 95: Estação Ferroviária Engenheiro Castilho reformada para atender


nova demanda, Anápolis 1970. Fonte: Acervo do Museu Histórico de Anápolis
- Alderico Borges de Carvalho. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2023...........160

figura 96: Planta da Estação Ferroviária Engenheiro Castilho. Fonte: CALAÇA


JÚNIOR, 2023. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2023.........................................161

figura 97: Elevações da Estação Ferroviária Engenheiro Castilho.


Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2023...............................................................................161

figura 98: Imagem 1: Vista da Estação pelo Google Street View; Imagem 2:
Vista frontal da Estação; Imagem 3: Recepção da Estação; Imagem 4: Área
desocupada da Estação. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2023....................................162

figura 99: Planta do armazém. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2023.....................163

figura 100: Elevações do armazém. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2023...............164

figura 101: Vistas externas e internas do armazém. Fonte: CALAÇA JÚNIOR,


2022..............................................................................................................................165

figura 102: Elevações do armazém. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2023...............166

figura 103: Projeto da Vila Industrial ressaltando a Estação Engenheiro Castilho


e a Praça do Coreto. Fonte: Mapoteca Municipal da Prefeitura de Anápolis
– acervo de Osvaldo Alves, 2019. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2023......167

figura 104: Praça do Coreto – Praça Joaquim Pinto Pontes. Fonte: CALAÇA
JÚNIOR, 2022 ................................................................................................................167

figura 105: Diagrama de tipos de galpões. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2023......168

figura 106: Fotos dos tipos de galpões na Vila Industrial. Fonte: CALAÇA
JÚNIOR, 2022...............................................................................................................169

figura 107: Imagem 1: Galpões em 2013; Imagem 2: Galpões em 2018, no início


da reforma; Imagem 3: Galpões em novembro de 2018, no fim da reforma;
Imagem 4: Empresa Distral Sorvetes em Goiânia, na Avenida Anhanguera.
Fonte: ALVES JUNIOR, 2020.................................................................................170

figura 108: Vista aérea da Vila Industrial, ressaltando os galpões e o Brejeiro


ao fundo. Fonte: Acervo de Déborah Aires Souto, 2016.........................................171

figura 109: Imagem de satélite da Vila Industrial, ressaltando o terreno do


Moinho Catarinense. Fonte: Google Earth, 2022. Intervenções: CALAÇA
JÚNIOR, 2023..............................................................................................................173

figura 110: Projeto do Moinho Catarinense. Fonte: Carlos Assis apud CASTRO,
2016.............................................................................................................................174
figura 111: Fotos do Moinho Catarinense em 2022. Fonte: CALAÇA JÚNIOR,
2022..............................................................................................................................174

figura 112: Elevações do Moinho Catarinense contendo diagramas de pato-


logia. Fonte: MELO, 2016. Intervenções: CALAÇA JUNIOR, 2023.....................176

figura 113: Printscreen do resultado do questionário realizado via google


forms. Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022.......................................................................182

figura 114: Printscreen do resultado do questionário realizado via google


forms. Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022........................................................................182

figura 115: Imagem de satélite de Anápolis, ressaltando os bairros citados


nas respostas do questionário. Fonte: Google Earth. Intervenções: CALAÇA
JÚNIOR, 2022..............................................................................................................183

figura 116: Printscreen do resultado do questionário realizado via google


forms. Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022......................................................................184

figura 117: Printscreen do resultado do questionário realizado via google forms.


Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022...............................................................................185

figura 118: Printscreen do resultado do questionário realizado via google


forms. Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022...................................................................186

figura 119: Printscreen do resultado do questionário realizado via google


forms. Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022...................................................................186

figura 120: Printscreen do resultado do questionário realizado via google


forms. Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022...................................................................187

figura 121: Printscreen do resultado do questionário realizado via google


forms. Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022...................................................................188

figura 122: Printscreen do resultado do questionário realizado via google


forms. Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022...................................................................188

figura 123: Printscreen do resultado do questionário realizado via google


forms. Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022...................................................................189
figura 124: Printscreen do resultado do questionário realizado via google
forms. Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022..................................................................189

figura 125: Printscreen do resultado do questionário realizado via google


forms. Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022...................................................................191

figura 126: Printscreen do resultado do questionário realizado via google


forms. Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022...................................................................192

figura 127: Printscreen do resultado do questionário realizado via google


forms. Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022...................................................................193

figura 128: Printscreen do resultado do questionário realizado via google


forms. Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022...................................................................194

figura 129: Printscreen do resultado do questionário realizado via google


forms. Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022....................................................................195

figura 130: Printscreen do resultado do questionário realizado via google


forms. Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022....................................................................196

figura 131: Printscreen do resultado do questionário realizado via google


forms. Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022....................................................................196

figura 132: Printscreen do instagram cultura.patri. Fonte: CALAÇA JUNIOR,


2022. ..............................................................................................................................198
Sumário
Introdução | 25

CAPÍTULO 1
A cidade entre capitais: Anápolis – Ferrovia e Indústria | 35
1.1 | De Povoado para Cidade: Anápolis entre as décadas
de 1870 e 1930. | 37
1.2 | Ferrovia em Goiás e Anápolis. | 39
1.2.1 | As Estações Ferroviárias. | 47
1.3 | A ‘Manchester Goiana’ | 56
1.4 A Vila Industrial: ponto de convergência
da ferrovia e indústria | 64

CAPÍTULO 2
A Vila Industrial: Paisagem em Foco | 71
2.1 | Vila Industrial: paisagem e morfologia | 73
2.2 | A Paisagem Urbana | 83
2.2.1 | Unidades de Paisagem | 89
2.2.2 | Unidade de Paisagem 1: Avenida Presidente Wilson | 96
2.2.3 | Unidade de Paisagem 2: Residenciais | 110
2.2.4 | Unidade de Paisagem 3: Região industrial da Avenida JK | 117
2.2.5 | Unidade de Paisagem 4: Interior da Vila Industrial |126
2.2.6 | O Conjunto |136

CAPÍTULO 3
Vila Industrial e sua relação com o patrimônio edificado | 142
3.1 | Noções acerca do Patrimônio Cultural | 144
3.2 | Patrimônio Industrial: história e conceito | 147
3.2.1 | Patrimônio Industrial no território nacional | 155
3.3 | Patrimônio Cultural em Anápolis | 165
3.3.1 | Perspectivas para o patrimônio cultural em Anápolis | 178
3.4 | Patrimônio Industrial da Vila Industrial | 188
3.4.1 | Estação Ferroviária Engenheiro Castilho | 190
3.4.2 | Galpões | 200
3.4.3 | Moinho Catarinense | 203
3.5 | História. Identidade e Memória:
o patrimônio como ponto de conversão | 211
3.5.1 | Como pensam os moradores de Anápolis em relação ao patrimônio
da cidade e da Vila Industrial: resultado da aplicação dos questionários | 213

CONSIDERAÇÕES FINAIS | 230


Referencias | 238
ANEXO 1 | 249
Introdução
Os edifícios de uma cidade são marcos que contam a sua história.
São objetos construídos em dado momento que carregam consigo uma bagagem
histórica que perdura junto ao tempo. Por vezes, a história de uma cidade é
esquecida, obstruída ou sobreposta, não possuindo um lugar fixo dentro da
memória dos cidadãos. Os edifícios, o traçado urbano, as práticas e as rotinas
podem desempenhar um papel ativo na memória, a fim de lembrar a história
dessas cidades e das pessoas que ali habitam. A preservação, conservação e
manutenção desses elementos é fundamental para que, ao mesmo tempo
em que se estabeleça novas relações de memória, conte sobre o que passou.
Essas novas e velhas relações visam perpetuar momentos passados,
de forma que a população de uma localidade tenha consigo laços de pertenci-
mento com sua história, no qual as edificações e aspectos urbanos contribuam
com esta narrativa. O patrimônio cultural1 de uma cidade, localidade ou região,
pode se manifestar em diversas formas – incluindo atividades comerciais, de
transporte e de serviço como a ferrovia e a indústria. Em algumas cidades
essas atividades desempenharam e ainda desempenham grande contribuição
em sua história, paisagem e economia. Este é o caso de Anápolis, em Goiás,
localizada entre as capitais Brasília (Distrito Federal) e Goiânia (Goiás).
O progresso exerce influência direta na forma como Anápolis trata
sua história. A ideia de progresso sempre esteve atrelada ao desenvolvimento
científico, às novas tecnologias e às novas formas de viver em sociedade.
É uma forma de convencer a sociedade de que ela tem um futuro certo e
glorioso (DUPAS, 2007). A cidade incorporou esses ideais diante da constante
evolução almejada, seja por meio da chegada das primeiras tecnologias, da
construção das primeiras olarias, passando pela construção da ferrovia, pela
competição junto as capitais Goiânia e Brasília, pela fundação do Distrito
Agroindustrial e atualmente pelo desenvolvimento urbano, representado por
obras e edifícios de grande magnitude.
É possível que o progresso e as raízes históricas de uma cidade andem
juntos, mas, por que não em Anápolis? O que a sociedade anapolina tanto
almeja? A busca pelo progresso é uma característica da cidade, mas, ao
procurar apagar o passado em busca do novo a cidade pode perder suas raízes
identitárias – o que a torna única e o que faz com que seus cidadãos se sintam
pertencentes a ela. Parte dessa história é contada através dos relatos orais,
das memórias e das vivências dos mais antigos. Outra parte está materializada

1 Monumentos, conjuntos edificados, manifestações populares, tradições, entre outros, que pos-
suem importância histórica, social e cultural.

INTRODUÇÃO 26
na forma de edifícios, de ruas, praças e objetos.
Estudar o patrimônio cultural de Anápolis significa, em parte,
compreender o progresso almejado por todos na cidade, materializado na
ferrovia, indústrias, serviços e aqueles desencadeamentos por eles gerados.
As edificações históricas da cidade recebem influência direta ou indireta
desses aspectos, de forma que as consequências dos impactos dessas ativi-
dades podem ser presenciados na atualidade – desde a instalação do Distrito
Agroindustrial, como nas próprias edificações e traçado urbano. Dessa forma,
edificações e bairros construídos no apogeu dessas atividades inserem-se
como parcela significativa na história do município.
Anápolis é uma cidade média2 com influência na região centro-oeste.
Possui uma população estimada em 393.417 habitantes3, abriga o maior polo
agroindustrial do centro oeste (Distrito Agroindustrial de Anápolis - DAIA),
uma Base Aérea (Campo Marechal Márcio de Souza e Mello), inúmeros
estabelecimentos comerciais, hospitalares e de serviço. É a segunda maior
economia do estado e possui grande parcela no PIB goiano.
O ápice do desenvolvimento da cidade ocorreu, coincidentemente
ou não, durante as décadas em que a ferrovia estava ativa, compreendidas
entre 1930 e 1970. Durante esse período, Anápolis passou por um cresci-
mento econômico, social e populacional. Impulsionadas pelo comércio, pela
ferrovia e pela indústria (nesse momento, olarias e beneficiamento de grãos),
diversas modificações foram desencadeadas na paisagem da cidade como
a construção de novos edifícios e bairros para atender uma maior demanda
populacional. Entre os bairros que surgiram está a Vila Industrial, objeto desa
pequisa. A história da ferrovia e indústria em Anápolis se converge neste
bairro – criado para abrigar indústrias e, que por um breve período, se tornou
ponta de linha da Estrada de Ferro de Goiás.
Devido ao crescimento econômico experienciado pela cidade,
veículos da imprensa divulgavam o nascimento de uma potencia da região
centro-oeste, sendo por muitas vezes chamada de ‘Manchester Goiana’, em

2 Há diferenças entre cidades de porte médio e cidades médias. A primeira, se resume a carac-
terísticas demográficas enquanto a segunda abrange outras questões. “Contudo, a expressão ci-
dade média alcança um significado que não se restringe apenas em classificá-las em um ou outro
parâmetro demográfico. Sua relevância se associa com a dinâmica de organização territorial do
trabalho que transformou o espaço brasileiro e imprimiu um processo de urbanização complexo e
marcado pelas desigualdades regionais” (LUZ, 2009, p. 80). Neste trabalho será adotada a definição
de cidade média, conforme citado por Luz (2009).
3 Prévia do Censo de 2022. Configura-se a terceira cidade mais populosa do estado.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 27


evidente referência à cidade industrial inglesa. A idealização de uma cidade
industrial funcionou de tal forma que, em 1976, o Distrito Agroindustrial de
Anápolis (DAIA) foi instalado no município, e se tornou o principal ponto de
referência da economia perante a região centro-oeste. A cidade é conhe-
cida por abriga-lo, mas pouco se sabe sobre a história que o antecedeu.
O surgimento do DAIA é resultado de algo que começou décadas antes e
que, de certa forma, contribuiu para que a história da indústria em Anápolis
fosse obstruída – não só em relação aos antecedentes industriais, como
também a história ferroviária. O pouco que se fala em ferrovia atualmente4 se
refere à ‘Norte-Sul’5, ainda em construção e que pretende ser um importante
eixo econômico.
A Vila Industrial6 foi fundada duas décadas antes do DAIA e possui
papel fundamental na construção dessa vocação industrial de Anápolis.
O bairro possui um acervo arquitetônico erguido durante as décadas de
desenvolvimento da cidade que materializa a sua importância perante a
história anapolina. Essas marcas de outrora estão presentes e merecem ser
focalizadas, de forma que a permanência desse conjunto urbano indica sua
relevância, e porventura, a sua percepção como patrimônio da cidade – neste
contexto, patrimônio industrial.
Os edifícios presentes neste acervo arquitetônico destacam-se na
paisagem devido ao baixo estado de conservação (alguns em estado de ruína) e
pela escala, pois diferem-se das residências do entorno. A relação de baixa conser-
vação e relevância – perante sociedade e poder municipal – acompanha a história
ferroviária e industrial da cidade, que parece não ser valorizada ou lembrada.
O bairro é um ponto importante da história dessas características em Anápolis,
mas assim como elas, não é devidamente contemplado como um local de
importância histórica.
A Vila Industrial foi projetada para abrigar indústrias e residências sem
que houvesse uma demarcação clara para ambas, o que resultou em indústrias

4 ‘Atualmente’ no texto se refere a data em que essa pesquisa é realizada, compreendendo os


anos de 2021-2023.
5 “A EF-151, também conhecida como Ferrovia Norte-Sul, foi projetada para se tornar a espinha
dorsal do transporte ferroviário no Brasil, integrando de maneira estratégica o território nacional
e contribuindo para a redução do custo logístico do transporte de carga no país”. Disponível em
< https://www.ppi.gov.br/ferrovia-ef-151-sp-mg-go-to-ferrovia-norte-sul>. Acesso em 19/04/2021.
Também há a Ferrovia Centro-Atlântica que faz conexão com a Ferrovia Norte-Sul em Anápolis.
6 A Vila Industrial está localizada próximo ao Setor Central e ao Bairro Jundiaí, além de possuir
uma facilidade de acesso à duas importantes avenidas da cidade, Avenida Jk e Avenida Brasil.

INTRODUÇÃO 28
muito próximas de residências. Inicialmente, parte dos galpões construídos
desempenhavam função de armazenamento (por demandas geradas pela
ferrovia), com a presença de poucas indústrias instaladas no local. Atualmente,
o bairro possui algumas indústrias – principalmente beneficiamento de grãos
e cereais – mas as principais atividades do bairro são o serviço e comércio,
destacando ainda suas características como bairro residencial.
Em visitas realizadas à Vila Industrial durante a pesquisa, notou-se a
ausência de grande movimentação de pessoas, vias largas com precária infra-
estrutura, algumas áreas vazias e a ausência de atividades comerciais durante
a noite – o que contribui para que o bairro não transmita segurança. As prin-
cipais avenidas do bairro, Juscelino Kubitschek e Presidente Wilson, possuem
uma maior movimentação, porém também não apresentam infraestrutura
adequada. Somado a isso, parte de suas edificações que possuem certo valor
histórico corre certo risco de desaparecer devido a especulação imobiliária7;
a falta de interesse da sociedade; do poder municipal; e também de seus
proprietários. O conjunto arquitetônico da Vila Industrial é parte de um acervo
de patrimônio industrial8 encontrado na cidade de Anápolis.
O estudo da paisagem urbana e do contexto industrial do bairro
é fundamental para entender os resultados das transformações que a Vila
Industrial sofreu. Dessa forma, buscou-se identificar a presença de edificações
no bairro que fazem parte do acervo de patrimônio industrial, compreendendo
as relações de pertencimento dos cidadãos a esse tipo de edificação – diante,
inclusive, da atual situação do patrimônio anapolino neste contexto. Assim,
espera-se compreender o possível sítio de patrimônio industrial contido no
bairro e a emersão de uma memória industrial que há tempos está sobreposta.
Como objetivos específicos, tem-se: pesquisar a história industrial e
ferroviária de Anápolis; analisar a Vila Industrial (história e atualidade); situar
onde se encaixa a Vila Industrial e seus edifícios no patrimônio da cidade;
indicar o estado das questões patrimoniais em Anápolis; compreender o
possível sítio de patrimônio industrial e sua relação com a paisagem urbana;
e estabelecer a relação que os moradores possuem com a o bairro (e cidade)
em termos patrimoniais.
Para melhor responder aos objetivos propostos, a pesquisa atua em

7 Ao lado do Moinho Catarinense foi construído um grande empreendimento, chamado de


Genesis Office – será abordado a fundo ao decorrer deste texto.
8 A carta de Nizhny Tagil (2003), adotada pela Comissão Internacional para a Conservação do
Patrimônio Industrial (TICCIH), diz que o patrimônio industrial são vestígios de uma cultura indus-
trial com valor histórico, social, arquitetônico ou científico.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 29


três configurações, assumindo o caráter de pesquisa qualitativa9. A primeira
constitui um levantamento histórico em publicações e documentos referentes
à história de Anápolis, a segunda uma revisão bibliográfica teórico-conceitual
e a terceira um levantamento de campo na Vila Industrial e aplicação de
questionários.
O processo para entender a formação histórica da cidade de Anápolis
e da Vila Industrial constitui, metodologicamente, a fase inicial desta pesquisa.
Por meio deste mergulho histórico foi possível entender e observar as dinâmicas
atuais da cidade. Assume o caráter exploratório10, por haver a consulta em livros,
artigos, dissertações e teses de forma a remontar a história da cidade, bem
como documentos - através do Museu Histórico de Anápolis Alderico Borges
de Carvalho – a fim de recuperar imagens e recortes de jornais.
O segundo momento metodológico é a revisão bibliográfica teórico-
-conceitual, que também assume um caráter exploratório. Através do estudo
em referenciais consolidados e atuais, procura-se garantir uma visão de dife-
rentes autores sobre os conceitos percorridos, no intuito de edificar a visão
adotada na pesquisa. O estudo teórico parte dos seguintes enfoques: o estudo
relativo à paisagem urbana – conceitos e métodos; ao patrimônio industrial
(compreendendo, também, o patrimônio em geral) – incluindo a evolução
do conceito e situação deste na cidade contemporânea; e as relações de
memória e identidade, para entender a relação dos moradores com a cidade.
Para a leitura da paisagem urbana, os referenciais adotados consistem
em: Santos (1985; 1988), por meio da definição e discussão da paisagem, seus
tempos no passado e presente; Pallasmaa (2011), em relação as formas de
apreensão da paisagem urbana; Menezes (2002) e Scherer (2002), através
da conceituação da paisagem; Lamas (1982) através da morfologia urbana;
complementado ainda por Rossi (1995), Amorin (2006), Lynch (1960), Vasques

9 “Pesquisa qualitativa: considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito,
isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode
ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são bási-
cas no processo de pesquisa qualitativa. Esta não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas.
O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave.
Tal pesquisa é descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O pro-
cesso e seu significado são os focos principais de abordagem”. (FREITAS e PRODANOV, 2013, p. 70)
10 O método exploratório é “quando a pesquisa se encontra na fase preliminar, tem como fi-
nalidade proporcionar mais informações sobre o assunto que vamos investigar, possibilitando
sua definição e seu delineamento, isto é, facilitar a delimitação do tema da pesquisa; orientar a
fixação dos objetivos e a formulação das hipóteses ou descobrir um novo tipo de enfoque para o
assunto. Assume, em geral, as formas de pesquisas bibliográficas e estudos de caso.” (FREITAS e
PRODANOV, 2013, p. 51-52)

INTRODUÇÃO 30
(2006), Silva (2007) e Féres (2017).
Para pavimentar o caminho ao estudo do patrimônio industrial, há a
compreensão de patrimônio cultural e este aplicado ao contexto da cidade
de Anápolis, através de Choay (2001); Kuhl (2010); das Cartas Patrimoniais,
especialmente de Atenas (1933) e Veneza (1964); e Canclini (1994), a respeito
da dimensão do patrimônio cultural. Referente ao patrimônio industrial,
tem-se a abordagem da conceituação e origem deste bem, utilizando como
referência: Rosa (2011); Buchanan (1972); Rufinoni (2009); Azevedo (2010); As
cartas patrimoniais de Nizhny Tagil (2003), Princípios de Dublin (2011) e de
Sevilha (2018). Sobre o patrimônio industrial no Brasil, tem-se: Gonzalez (2019);
Meneguello e Rubino (2005); Rosa (2011); e Kuhl (2008). Em complemento,
ainda há a abordagem da situação atual do patrimônio anapolino, bem como
análise do plano diretor vigente em relação ao patrimônio.
O campo da memória e da identidade é debatido para compreender a
relação existente entre estes conceitos com a forma que Anápolis se reconhece
(ou não) em seu acervo patrimonial. O debate é guiado por: Carsalade (2011);
Halbwachs (2003); Candau (2011); Jeudy (2005); e Le Petit (2001).
O terceiro momento metodológico constitui o levantamento de
campo no lugar – guiado por uma análise da paisagem – e a aplicação de
questionários. A análise da paisagem urbana é guiada através da percepção
visual, a partir do método utilizado por Silva (2007) que consiste na compre-
ensão dos conceitos de entorno, ambiência, paisagem e unidades de
paisagem – bem como com as diferentes formas de apreensão da paisagem
ditas por Pallasmaa (2011). A Vila Industrial pode ser caracterizada como uma
paisagem urbana histórica, logo, sua análise leva em conta alguns elementos
definidores como padrões de uso, organização espacial, relações visuais,
topografia, solos, vegetação, edificações e suas conexões físicas.
Os elementos da paisagem a ser observados contemplam o que é
indicado por Lamas (1992) a partir da morfologia urbana. Ao dividir o bairro
em unidades de paisagem, observou-se quais regiões do bairro possuem
características semelhantes e que auxiliam na compreensão dos conjuntos
de edificações como patrimônio industrial. Como procedimento, utiliza-se
o levantamento histórico, bibliográfico, iconográfico, além de visitas reali-
zadas ao bairro para observação e produção das fotografias. Ainda, houve
a confecção de mapas, tabelas e diagramas para a melhor compreensão do
bairro em questão.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 31


Desse modo, a pesquisa assume caráter descritivo11, com o objetivo
de descrever as características da cidade e bairro efetuando um estudo de
campo e observação do espaço em questão.
‘‘a identificação dos elementos que constituem uma paisagem
só pode ser feita [...] por meio de uma análise direta realizada no
próprio local. A cidade deve ser apreendida desde o seu interior,
por uma sucessão de deslocamentos’’ (PANERAI, 2006, p. 36).

Em todas as etapas desta dissertação, o método interpretativo é utilizado


como maneira de realizar a leitura de imagens, documentos, fotografias e dados.
A aplicação dos questionários foi realizada com moradores da
cidade de Anápolis - não só do bairro. O motivo pela escolha de moradores
da cidade se deu à necessidade de entender qual a relação que esses
moradores têm com o bairro e seus edifícios. O questionário teve como
foco a Vila Industrial e seu acervo arquitetônico, como também levantou
questões sobre a relação e conhecimento que os moradores da cidade têm
com o patrimônio anapolino em geral.
Através deste questionário, contendo com vinte e cinco (25) perguntas
(Anexo 1), procurou-se compreender a relação que os anapolinos possuem
com o seu patrimônio edificado. Ele foi aplicado de forma on-line através da
plataforma google forms devido ao momento pandêmico enfrentado durante
a primeira fase da pesquisa e pela facilidade de alcançar uma quantidade
maior de pessoas, de diferentes bairros da cidade. Houve a obtenção de
cinquenta e três (53) respostas, de diversas faixas etárias, profissões e bairros.
O questionário visou aproximar a população dos temas discutidos
na dissertação, como o patrimônio cultural de Anápolis e a Vila Industrial, de
forma a atuar como um agente clareador da memória dessas pessoas. Dessa
forma, foi possível compreender qual a relação desenvolvida pelos cidadãos
com o lugar, com o passado e com as edificações históricas, de forma a auxiliar
em uma compreensão geral do tema abordado – o patrimônio edificado
em Anápolis, em especial, o patrimônio industrial contido na Vila Industrial.
Mesmo que a Vila Industrial possua relevância na história e economia
da cidade, há poucos trabalhos que a investigam. Alguns deles são o Projeto

11 A pesquisa descritiva é “quando o pesquisador apenas registra e descreve os fatos observados


sem interferir neles. Visa a descrever as características de determinada população ou fenômeno ou
o estabelecimento de relações entre variáveis. Envolve o uso de técnicas padronizadas de coleta
de dados: questionário e observação sistemática. Assume, em geral, a forma de Levantamento.”
(FREITAS e PRODANOV, 2013, p. 52, grifo do autor)

INTRODUÇÃO 32
de Pesquisa “A Industrialização e a dinâmica ambiental: o caso da Vila
Industrial-Jundiaí / Anápolis-GO” coordenado pela Profª. Drª. Joana Dar’c
Bardella Castro (2007-2008) e a dissertação “Da gênese ao Genesis: transfor-
mações e permanências no território da Vila Industrial Jundiaí, em Anápolis
(GO)” defendida por Osvaldo Lino Alves Júnior (2020), sendo este o principal
referencial no que tange a Vila Industrial, ao realizar uma investigação da
formação histórica e análise da paisagem urbana do bairro, com foco no
Genesis Office. Ainda que haja uma quantidade relevante de trabalhos de
conclusão de curso na área de Arquitetura e Urbanismo que contemplem o
bairro, são abordagens com focos distintos. Já no campo patrimonial e de
pertencimento, há a dissertação “Do Edifício Histórico ao Espaço Urbano:
Um estudo sobre a Estação Ferroviária no Centro Pioneiro de Anápolis-GO”,
em que há a investigação acerca da situação atual do patrimônio na cidade
de Anápolis.
Portanto, a presente pesquisa visa incluir-se em um campo de inves-
tigação pouco debatido. Os edifícios que contemplam o patrimônio industrial
da Vila Industrial possuem relevância na paisagem urbana do bairro, de forma
que são analisados nos trabalhos citados. Entender o acervo de patrimônio
industrial contido ali pode auxiliar a ressaltar a sua importância perante a
cidade, em um momento que o bairro percorre uma transformação em sua
paisagem urbana.
Ainda, o patrimônio industrial não é um tema muito discutido e
abordado em Goiás devido a ideia de que o estado não possui grandes
exemplares deste, como São Paulo, Rio de Janeiro ou outros estados do
sudeste. A pesquisa visou identificar remanescentes deste patrimônio no
bairro estudado, de forma que abra caminho para que mais estudos deste
caráter sejam realizados. O acervo encontrado na Vila Industrial não possui
grande relevância arquitetônica, mas possui relevância histórica e de memória
– e esse é um ponto chave para o entendimento do patrimônio industrial.
Sendo assim, a dissertação se divide em três capítulos. No primeiro
capítulo, intitulado ‘A cidade entre capitais: Anápolis – Ferrovia e Indústria’,
realiza-se um apanhado histórico referente à cidade de Anápolis, percorrendo
a história da ferrovia, do comércio e da indústria – características fundamentais
para entender em qual contexto a pesquisa se encaixa. Ao fim, é contemplada
a fundação da Vila Industrial e seus desdobramentos.
O segundo capítulo volta o olhar à paisagem urbana. Intitulado ‘A
Vila Industrial: paisagem em foco’, inicia-se localizando o bairro na atualidade

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 33


de forma a identificar objetos do seu passado. Em sequência, há o estudo
da paisagem que conduz à realização de uma análise da paisagem da Vila
Industrial – de forma a compreender seu perfil na atualidade e aspectos que
a tornem única perante a cidade, bem como o entendimento de seu acervo
histórico na paisagem.
O terceiro e último capítulo, intitulado ‘Vila Industrial e sua relação
com o patrimônio edificado’’ parte debatendo as noções referente ao patri-
mônio cultural e o surgimento do conceito de patrimônio industrial, seus
desencadeamentos e a situação deste bem em território nacional. Em comple-
mento, há uma análise do patrimônio edificado anapolino, bem como a leitura
do plano diretor vigente a respeito das diretrizes patrimoniais. O resultado dos
questionários é contemplado ao fim, estabelecendo as relações de memória
e identidade do povo anapolino com a Vila Industrial, suas edificações e o
patrimônio cultural.
Ao falar sobre o patrimônio industrial na Vila Industrial, buscou-se
inserir um debate que pode ser ampliado a outros bairros da cidade de
Anápolis, como a Vila Jaiara e a Vila Fabril, uma vez que este tipo de bem é
pouco explorado dentro do âmbito patrimonial anapolino, de forma que tanto
os edifícios ferroviários quanto industriais são negligenciados pelo olhar de
parte dos cidadãos e do Estado. Pouco é estudado sobre essa história, sobre
esses bairros e sobre esses edifícios.
O acervo arquitetônico da Vila Industrial merece ser preservado e
inserido na vida cotidiana da cidade, sem que haja perda das suas principais
características – características estas que o tornam único perante o conjunto
de edifícios anapolinos. Através do trajeto percorrido por esta dissertação,
foi possível observar que estes edifícios possuem relevância histórica, na
paisagem urbana e patrimonial, mas estão inseridos em um bairro envolto a
grandes transformações urbanas. É necessário que o desenvolvimento urbano
e a história da cidade andem juntos, de forma que seja possível romper com
o ciclo de progresso e destruição do passado percorrido pela cidade desde
a sua fundação.

INTRODUÇÃO 34
Capítulo 1
A cidade passagem: Anápolis - entre trilhos e máquinas.
Anápolis é aqui abordada a partir de sua formação histó-
rica – compreendida desde o surgimento como povoado
no final do século XIX, até o fim da atividade ferroviária
no trecho urbano da cidade, por volta da década de 1980.
A atualidade é explorada como resultado dos processos
históricos vivenciados pela cidade, de forma a ressaltar as
características que a colocaram como um dos pontos cen-
trais da região centro-oeste. A ferrovia e a indústria e suas
influências em Anápolis fazem parte da abordagem histó-
rica, compreendendo como o comércio foi responsável por
mover a economia da cidade. Esse resgate histórico parte
do esforço de inserir a construção das características da
cidade ao longo do tempo no centro do debate, de forma
a compreender a Vila Industrial como um bairro que reúna
a indústria, a ferrovia e o comércio. Dessa forma, torna-se
possível observar o valor histórico do bairro e suas edificações.
1.1 De Povoado para Cidade: Anápolis entre as décadas
de 1870 e 1930.

Anápolis começou a ser ocupada por volta de 1800 por moradores


vindos do sul da Capitania de Goiás e por tropeiros que pernoitavam no
local. Estes se instalaram próximos ao curso d’água – Ribeirão das Antas –
estabelecendo casas, palhoças, plantações e pastos (BORGES, 1975). Em 1871,
uma capela foi construída e recebeu o nome de Nossa Senhora de Santana,
estimulando a construção de novas edificações. Nesse mesmo ano foi
estabelecido o povoado de Santana das Antas. Embora é dito que o marco
inicial da cidade é a construção desta capela, a sua formação a precede, sendo
inclusive motivo para sua construção.
O povoado passou a servir como entreposto de descanso para quem
viajava para Pirenópolis, Cidade de Goiás e Silvânia e para os tropeiros12 – que
se deslocavam para o interior goiano “transportando mercadorias e realizando
a integração social do povoado com outros lugares” (FREITAS, 1995, p. 41).
Dessa forma, devido às diversas condições favoráveis, como clima, relevo,
vegetação as primeiras vias que articulavam a região foram consolidadas.
Em 1873 o povoado foi elevado à condição de Freguesia de Santana
das Antas e em 15 de dezembro de 1887 a Freguesia foi elevada à categoria
de Vila13. Em função do crescimento, em 31 de julho de 1907 a Vila foi elevada
à categoria de cidade e passou a ser chamada de Anápolis, através da Lei
320 – promulgada pelo Palácio da Presidência do Estado de Goiás. A partir
disso, a cidade passou por um grande crescimento.
Até 1910 Anápolis ainda estava se adaptando para se tornar de fato
uma cidade, pois diversas melhorias precisavam ser realizadas. A partir da
década de 1920 a cidade presenciou a abertura de novas vias e a instalação das
primeiras olarias – que se transformaram em cerâmicas por volta da década
de 1930. As casas até esse momento eram construídas

12 Segundo Kossa (2006), essa prática do tropeirismo fez com que o comércio aflorasse na região,
sendo fundamental para o desenvolvimento do povoado e também do planalto goiano. A atuação
desses comerciantes/viajantes engendrava estradas de forma a consolidar as rotas por eles percor-
ridas – o que levava à formação de povoados, vilas e cidades.
13 Para a instauração da Vila, foram necessárias as construções de uma cadeia, da casa de câmara
e de uma casa para uma escola. Desde por volta de 1887, a então Freguesia passou a vivenciar um
crescimento populacional constante de quase 4% ao ano. Segundo o censo demográfico de 1900,
a vila possuía 6.296 habitantes. Nesse mesmo período obteve-se o desenvolvimento de uma agri-
cultura e comércio voltados para o abastecimento local (CUNHA, 2009).

A CIDADE PASSAGEM: ANÁPOLIS - ENTRE TRILHOS E MÁQUINAS 37


de pau-a-pique ou adobes, cuja segurança era garantida por
fortes esteios de aroeira. Em 1921, Francisco Silvério de Faria
resolveu, num gesto arrojado e atrevido para a época, construir
uma casa de tijolos, para residência de sua família. [...] Chico
Silvério mandou vir de Ribeirão Preto, dois grandes construtores:
Antônio Vento e Jacob Machiavelli. E os tijolos? O próprio Chico
Silvério montou a primeira olaria em Anápolis e a casa foi cons-
truída. (FERREIRA, 1981, p. 42-43)

Também neste período, houve a construção de rodovias para facilitar


a ligação de Anápolis com outras regiões. Neste contexto surge a estrada
Anápolis-Roncador, que uniu a cidade para onde se destinava a maior parte
da produção do munícipio, a cidade de Roncador14. Ferreira (1981) cita, ainda,
a construção de outras rodovias, como para Pirenópolis, Jaraguá, Corumbá
e a construção de uma rodovia para Inhumas, que passaria por Nerópolis e
Nova Veneza.
Em 1924 houve a instalação da energia elétrica e em 1926 a inaugu-
ração do telégrafo, tecnologias fundamentais para pavimentar a modernização
de Anápolis (BORGES, 1975). Dessa forma a cidade viveu um significativo
processo de expansão do comércio e urbanização, com inserção da agricultura
comercial. A vinda dessas inovações também impulsionou o embelezamento
da cidade, levando à criação de coretos, jardins, praças e escolas.
Em 1933 houve a criação da nova capital do Estado – Goiânia – que
surgiu como uma das primeiras cidades planejadas do país, exercendo
influência na modernização da antiga Vila Santana das Antas. Em 1935,
a ferrovia chegou em Anápolis com a estação principal instalada no
centro da cidade, posteriormente denominada de ‘Estação Ferroviária
Prefeito José Fernandes Valente’ (fig. 1). A partir da chegada dos trilhos, as
transformações urbanas se intensificaram. Enquanto Goiânia exercia influ-
ência de forma indireta em Anápolis, a ferrovia, por sua vez, exercia de
forma direta.

14 Roncador é [...] linha final de uma estrada de ferro. A construção da rodovia que liga Anápolis
a [...] foi de grande importância para o desenvolvimento da cidade. Assim como afirma Polonial,
2007 (p. 29) a construção da rodovia “foi decisiva, isso porque permitiu escoar, com mais rapidez,
os produtos da região pela via férrea, fazendo de Anápolis ponto de ligação entre a estação final
e a região centro-norte de Goiás, ampliando as atividades comerciais no município.”. A mesma
rodovia ligaria também Silvânia (Bonfim) e Orizona (Campo Formoso).

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 38


figura 1: Estação Ferroviária de Anápolis (Estação Prefeito José Fernandes Valente), Anápolis, 1935.
Disponível em: <http://www.estacoesferroviarias.com.br/efgoiaz/anapolis.html>. Acesso em 17/05/2021.

1.2 Ferrovia em Goiás e Anápolis.

Estevam (1998) aponta que a população do estado de Goiás aumentou


de forma aparentemente substancial ao longo do século XIX15 – fenômeno
este acentuado pelas correntes migratórias de regiões próximas. Embora
a população crescesse, a atividade comercial goiana era reduzida devido
às grandes distâncias, uma vez que precariedade dos sistemas de trans-
porte impossibilitava a exportação das produções do estado. Essa situação
preocupava o governo do país, e em 1873 houve um decreto do Governo
Imperial para conceder ao estado condições de transporte ferroviário.
Os trilhos foram construídos rumo a Goiás na primeira década do
século XX. A Companhia Estrada de Ferro de Goiás16 foi criada em 1906

15 Os dados demográficos dessa época apontam que Goiás contava com 62.518 habitantes em
1824, atingindo 227.572 em 1890 (ESTEVAM, 1998, p. 61)
16 Até então a Estrade de Ferro de Goiás era denominada de Estrada de Ferro Alto Tocantins –
que foi autorizada para construir o trecho de Catalão a Palmas. Tinha o objetivo de ligar a Cidade
de Goiás a Cubatão, as integrando com a rede ferroviária nacional. “De acordo com Borges, a
Companhia Estrada de Ferro Goiás foi criada em março de 1906 com capital privado e apoio do
governo federal. A sua construção teve início em 1909 no município de Araguari-MG, e em 1911 o
primeiro trecho da Estrada de Ferro Goiás foi inaugurado. Ele ligava a estação de Araguari, onde os
trilhos da Mogiana haviam alcançado desde o ano de 1896, à localidade onde viria a ser construída a
Estação Engenheiro Bethout (inaugurada em 1922), às margens do rio Paranaíba, na divisa de Minas
Gerais com Goiás. Nesse mesmo ano foi inaugurada, já em solo goiano, a estação de Anhanguera
e em 1913 as estações de Cumari, Veríssimo, Goiandira, Engenheiro Raul Gonçalves e Ipameri. Em
1914 outras estações foram inauguradas nos trechos seguintes da ferrovia, como exemplo de Inajá,
Urutaí e Roncador” (CASTILHO, 2012, s/p).

A CIDADE PASSAGEM: ANÁPOLIS - ENTRE TRILHOS E MÁQUINAS 39


e obteve apoio do governo federal e de capital privado (BORGES, 1990).
A linha tronco da via férrea em Goiás foi concluída entre 1909 e 1914, marcando
o início da inserção do estado no mercado nacional.17 A ferrovia contribuiu
para que houvesse a importação dos produtos agrícolas para o Sudeste
e a inserção de imigrantes para o estado, fomentando o povoamento
do interior – tendo Anápolis um papel de destaque (LUZ, 2005). A cidade
encontrou na introdução da ferrovia em solos goianos uma oportunidade para
expandir seu desenvolvimento.
A ligação da rodovia de Anápolis a Roncador – inaugurada em
1920 – foi favorável para a economia da cidade, pois esta portava a ponta de
linha dos trilhos. A partir de Anápolis, os produtos eram encaminhados pela
rodovia até a estação de Roncador18, em um momento que a cidade passou
a desempenhar um papel que, até então, pertencia a Pirenópolis19: A cidade
recebia as produções goianas e se tornou receptora de mercadorias que
chegavam do Sudeste.
É considerável observar que Anápolis já possuía importância na
economia regional quase duas décadas antes da inserção da cidade na via
férrea da EFG20, momento em que desempenhava dois papéis – receptora
de produção e uma espécie de polo de distribuição comercial (CUNHA, 2009,
p. 60). Em torno disso, a cidade desenvolvia a prestação de serviços, a ativi-
dade comercial com a instalação de beneficiadoras de arroz e de café e o
serviço médico. Houve migração, as terras se valorizaram e o centro urbano se

17 Estevam (1998) diz que a ferrovia em Goiás promoveu não só o aumento da produção agríco-
la, como uma possibilidade direta de negociação com os mercados consumidores. Segundo o
autor, essas logísticas de mercado promoveram alterações nas formas de produção de Goiás.
Foi através dos trilhos que essas lógicas capitalistas adentraram o estado. Segundo Castilho, “a
ferrovia ampliou as possibilidades de circulação dos excedentes e dinamizou a prática agrícola.
Com a implantação dos trilhos e a ligação com a região econômica mais dinâmica do Brasil, houve
um crescente movimento ocupacional da porção sul de Goiás, sobretudo na área de influência da
ferrovia”. (CASTILHO, 2012, s/p)
18 A estação de Roncador existe desde 1914, localizada no município goiano de Urutaí.
19 Os governos de Anápolis e Pirenópolis viviam numa disputa por controle comercial. Antes de
Anápolis crescer e ganhar destaque nessa área, a cidade de Pirenópolis tinha a hegemonia. Por
algum tempo, diversos entraves políticos foram postos para que Anápolis não tomasse de Pirenópolis
este posto. A cidade de Pirenópolis fica a uma distância de 63km de Anápolis e se configura como
um dos principais pontos turísticos da região.
20 Sigla adotada para referenciar à Estrada de Ferro de Goiás.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 40


desenvolveu, em ligação direta à expectativa de chegada dos trilhos à cidade.21
A cidade passou por um intenso crescimento populacional nas vésperas da
chegada dos trilhos.22
A via férrea chegou à cidade no ano de 1935 – nesse período, a cidade
contava com 33.375 habitantes. Os trilhos percorriam o caminho em direção
a Leopoldo de Bulhões, passando pelas estações de Engenheiro Valente
e General Curado23. Em 14 de julho de 1935 partiu a primeira composição
ferroviária de Anápolis rumo a Araguari – que desempenhava o papel de
ponto de conexão com a Estrada de Ferro Mogyana.
O plano original para a EFG era ligar a cidade de Araguari à Cidade
de Goiás – até então capital goiana – através da linha tronco. Neste plano,
era previsto que Anápolis recebesse uma estação e funcionasse como parte
da linha tronco que cortaria grande parte do território goiano até a Cidade de
Goiás. Com a fundação de uma nova capital – Goiânia (1933/1937) – a Estação
de Anápolis continuou como um ramal, enquanto a estação de Leopoldo de
Bulhões ligava a linha tronco a Goiânia (fig. 2).

21 Parte desse desenvolvimento foi acentuado devido aos trilhos da EFG que haviam chegado em
Leopoldo de Bulhões, cidade goiana próxima à Anapolis (cerca de 50km) em 1931. Este fato inten-
sificou a ansiedade da população anapolina para que os trilhos fossem para a cidade, em razão da
proximidade de Anápolis com Leopoldo de Bulhões. Até 1922, a estação de Roncador serviu como
ponta de linha, momento em que a estação de Pires do Rio foi inaugurada. Ela representou a pri-
meira da linha que ligaria Pires do Rio a Leopoldo de Bulhões.
22 “A certeza de que a ferrovia chegaria proximamente em Anápolis era tanta que a cidade começou
a sofrer um surto migratório, com a chegada de centenas de pessoas, sozinhas ou acompanhadas
de suas famílias, procurando emprego ou oportunidades de negócios. As propriedades imobiliárias
sofreram forte valorização. Todo dia alguém procedente do sudeste do país, interessado na com-
pra de uma residência ou de alguma empresa comercial, chegava à cidade.” (FREITAS, 1995, p. 43).
Anápolis possuía diversas características que a faziam se tornar um ponto óbvio para receber a linha
férrea: atividade agrícola e comercial em desenvolvimento; um crescimento populacional considerável;
uma localização geográfica favorável e um centro urbano com uma boa quantidade de prestação
de serviços (CUNHA, 2009, p. 62). A ferrovia traria à cidade uma forma de escoar rapidamente a sua
produção para o interior do estado e participar da integração econômica em território nacional.
23 Ambas estações foram construídas e inauguradas no mesmo ano, no dia 7 de setembro de
1935, juntamente com a Estação Central de Anápolis.

A CIDADE PASSAGEM: ANÁPOLIS - ENTRE TRILHOS E MÁQUINAS 41


GO. DF. BRASÍLIA

1.3
BERNARDO SAYÃO

ANAPOLIS POSTO DO IPÊ

ENG. CASTILHO
GEN. CURADO
ENG. VALENTE

BONFINÓPOLIS L. DE BULHÕES
GOIÂNIA
SILVÂNIA
CAMPINAS
VIANÓPOLIS
SANTA SEN. CANEDO
MARTA PONTE FUNDA

CARAÍBA

EGERINEU TEIXEIRA

ENG. BALDUÍNO
SOLDADO ESTEVES

PIRES DO RIO

RONCADOR

URUTAÍ

IPAMERI

ENG. RAUL GONÇALVES

VERÍSSIMO

CORONEL PIRINEUS CATALÃO


GOIANDIRA

CUMARI OUVIDOR
ANHANGUERA

ENG. BETHOUT
AMANHECE
ARARAPIRA

MG. ARAGUARI N

Linha Tronco (1909-1914) Estações Em Funcionamento (Usos Diversos)


Linha Roncador-BSB (1968-1978) Estações Desativadas/em Ruína/subutilizadas
Linha Ouvidor (1913-1922) Estações Demolidas

Linha L. Bulhões-gyn (1950-1964) Estações Em Uso (FCA)

Linha L. Bulhões-anps (1931-1935) Terminais de Carga e Descarga Em Uso (FCA)

figura 2: Mapa ilustrando a via férrea goiana. Fonte: BRANDÃO, 2017 com intervenções
de CALAÇA JÚNIOR, 2022.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 42


A cidade passou por algumas mudanças em sua fisionomia urbana
para receber a ferrovia, como melhorias na infraestrutura urbana e a reforma
de antigos prédios públicos e privados, residenciais e comerciais. (POLONIAL,
1995). A construção da nova capital do estado também exerceu influência
no desenvolvimento de Anápolis nesse período. A população Anapolina
(em especial, os governantes) desejava se igualar a futura capital, dessa
forma, a cidade foi remodelada seguindo o estilo art déco da capital goiana
como centro econômico competitivo da região. Assim, houve modernização
e o surgimento de uma nova vida urbana, através dos primeiros bares,
cervejarias, sorveterias, cinemas e o desenvolvimento de uma vida noturna
(CUNHA, 2009).
Com um discurso de resolução de todos os problemas do munícipio,
a ferrovia chegou à cidade em clima de festejo como uma grande conquista
(fig. 3). A Estação Ferroviária de Anápolis (Estação Prefeito José Fernandes
Valente) construída em 1935 no setor central deu ao município o papel de
centro comercial da região – definitivamente, pois esse papel já era desem-
penhado pela cidade desde o início do século XX.

figura 3: Manchete do Jornal ‘O Anápolis’ ressaltando a chegada da Estrada de Ferro.


Fonte: Museu Histórico Alderico Borges de Caravalho.

A ferrovia trouxe prosperidade, permitiu que a cidade fosse integrada


à rede econômica nacional – a ligando com grandes centros comerciais do
Sudeste – e principalmente aqueceu o comércio, se tornando um ponto de
referência e abastecimento para o estado de Goiás24. Neste período, houve
um espontâneo crescimento econômico, populacional e social na cidade,
estimulando a produção agrícola e o comércio. Polonial (2011) afirma que

24 Esse fenômeno de crescimento foi uma característica comum das localidades por onde che-
gavam os trilhos. “Nesse período, sobretudo na década seguinte, houve significativo crescimen-
to populacional na porção central de Goiás, especialmente na região denominada Mato Grosso
Goiano. Na condição de ponta de linha, Anápolis tornou-se um importante centro comercial.”
(CASTILHO, 2012, p. 86)

A CIDADE PASSAGEM: ANÁPOLIS - ENTRE TRILHOS E MÁQUINAS 43


Anápolis foi o maior centro comercial de Goiás durante as décadas de 30 a
60 – período caracterizado pela hegemonia do setor terciário.
Os trilhos podem também ser considerados como instrumentos
de transformação modernizante, pois como havia alteração da
rotina com o incremento na velocidade, muitas estruturas sociais
e urbanas também se alteravam, além do contato com imigrantes
que se intensificava, ou seja, as relações sociais modificavam-se
como um todo. (VARGAS, 2015, p. 64)

Na década de 1940 – a cidade possuía uma grande área de


influência que abrangia “36% da área do estado e influenciava econo-
micamente mais de 31 municípios” (LUZ, 2005, p. 2). Essa influência
econômica se deve ao fato de que a linha férrea não se prolongou após
chegar em Anápolis, ficando estagnada na cidade – fato impulsionado
pelo crescimento econômico vivido pela cidade, pois “quando uma nova
estação era concluída, o antigo ponto terminal entrava em declínio”
(FREITAS, 1995, p. 43). Ou seja, ter um ponto terminal em uma cidade signifi-
cava, de certa forma, desenvolvimento.
O desenvolvimento vivido por Anápolis também foi visto em outras
cidades, mesmo que em menor escala. Trinta estações fizeram parte da linha
tronco da EFG, de modo que a linha férrea se tornou um agente moderni-
zador que integrou a economia de Goiás. A importância dos trilhos para o
desenvolvimento do estado é evidente, observado em todos os níveis da
sociedade regional.
A partir de 1950, a EFG ganhou novas estações provenientes do ramal
que ligaria a linha tronco – a Estação de Leopoldo de Bulhões – à Goiânia.
Nesse contexto, Anápolis passou para o segundo plano da Estrada de Ferro
de Goiás e deixou de ter vagões exclusivos, dependendo de conexão de
passageiros e mercadorias. Esse fato, acompanhado da incorporação da EFG
à Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA)25 significou o início da
decadência dos trilhos na cidade.

25 A RFFSA unificou a administração de “de vinte e duas estradas de ferro pertencentes à União,
totalizando cerca de 22.000 km de linhas espalhadas por todo o país, com a finalidade de administrar,
explorar, conservar, reequipar, ampliar e melhorar o tráfego das estradas, cujos trilhos atravessavam
as regiões Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul do país. No comando da RFFSA, apenas o trecho
para Brasília foi concluído, durante as décadas de 1960 e 1970. [...] Entre as 22 ferrovias incorporadas
à RFFSA apenas 12 sobreviveram ao processo. A Estrada de Ferro Goiás juntamente com a Rede
Mineira de Viação (RMV) e Estrada de Ferro Bahia e Minas foram fundidas e formaram a Viação
Férrea Centro Oeste - VFCO, criada em 1965. (BRANDÃO, 2017, p. 51.52). Nas décadas subsequentes,
a RFFSA passou por diversas dificuldades devido à sucessivas crises financeiras e obstáculos políticos
e econômicos sendo extinta em 1999 devido às privatizações do governo FHC. A concessão foi para
à Ferrovia Centro-Atlântica – hoje controlada pela VLI, uma empresa do grupo Vale.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 44


Tanto para o governo quanto para a população isto significava um
obstáculo para o desenvolvimento da cidade. Anápolis não poderia aumentar
sua produção, já que a produção atual não poderia ser facilmente escoada
para outras localidades. A ferrovia que outrora trouxe desenvolvimento para
a cidade, se tornou um dos principais empecilhos para a continuidade do seu
desenvolvimento (ALVES JUNIOR, 2019).
Anápolis se configurava como um pequeno município interiorano
quando recebeu a sua primeira estação, em 1935 (FREITAS, 1995). A ferrovia
trouxe a expansão urbana da cidade, trazendo a construção de novos bairros
e loteamentos, desencadeando a abertura de ruas que passassem pelo leito
ferroviário. Na década de 1950, a situação era outra.
Em 1959, a Câmara Municipal criou uma comissão para acompanhar
o Prefeito em negociações a serem realizadas junto à diretoria da
Estrada de Ferro Goiás, objetivando à retirada dos trilhos do centro
da cidade. Já existia a estação de Engenheiro Castilho, no bairro
Jundiaí, construída em 1951, e era nela que o poder público municipal
queria instalar a estação principal da cidade. (FREITAS, 1995, p. 47).

O período entre o início dos planos para a retirada dos trilhos e a reti-
rada oficial encerrou em 1976, quando a Estação Central foi desativada, os trilhos
retirados – em também clima de festa, da mesma forma que na inauguração
(fig. 4) – do Setor Central e a Estação Engenheiro Castilho se tornou ponta de
linha da EFG em Anápolis. Esta acabou por ser desativada na década de 1980,
marcando assim o fim da via férrea no território urbano anapolino.

figura 4: Assim como aconteceu com a inauguração, houve uma festa de comemoração da retirada dos
trilhos. Fonte: <http://blogdogiesbrecht.blogspot.com/2009/05/os-trilhos-do-mal.html>,
Acesso em 04/10/2021.

A CIDADE PASSAGEM: ANÁPOLIS - ENTRE TRILHOS E MÁQUINAS 45


O reflexo do desenvolvimento que os trilhos trouxeram para Anápolis
é evidente e percebido até a atualidade – desde o traçado urbano às remi-
niscências, como as estações ferroviárias. Anápolis foi uma cidade cortada
pelos trilhos, com a via férrea presente no centro da cidade por mais de 35
anos – parte da identidade da cidade está associada a esse período. Essa
história está presente no cotidiano do anapolino, mesmo que ele não perceba.
Atualmente Anápolis possui um trecho da via férrea da Ferrovia Norte-Sul
que passa em seu perímetro urbano (fig. 5).

0 1.5 3

km

VIA Férrea

VIA Férrea por túnel

figura 5: Mapa ilustrando a via férrea atual. Fonte: Google Earth, 2022.
Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 46


1.2.1 As Estações Ferroviárias.

As Estações representam o ponto de encontro da população com a


ferrovia – através delas eram realizadas as cargas e descargas e o transporte
de passageiros. A maioria das estações ferroviárias de Goiás possuíam forma
retangular, com o lado maior paralelo à linha, apresentavam plataforma
coberta e o embarque e desembarque acontecia do mesmo lado do edifício. A
maior parte das estações foram construídas com alvenaria de tijolo, possuíam
piso de cimento queimado e ladrilhos hidráulicos. Em algumas, havia o uso de
grades de ferro fundido nas aberturas, relevos no contorno de portas e janelas,
entre outras inovações que para a época significavam desenvolvimento, visto
que tais modos construtivos não eram comuns em Goiás no ano de construção
dessas estações. (MENDONÇA; OLIVEIRA, 2014)
Ao longo de sua atividade no ramal de Anápolis, a EFG possuiu quatro
estações ferroviárias. As primeiras foram inauguras em 7 de setembro de 1935,
são elas: Estação Engenheiro Valente, Estação Engenheiro Curado e Estação
de Anápolis (José Fernandes Valente) (fig. 6). Posteriormente, em 1951, foi
inaugurada a Estação Engenheiro Castilho.

figura 6: Notícia de abertura da estrada de ferro em Anápolis – Jornal ‘O Estado’ de São Paulo
–28/09.1935. Fonte: <http://www.estacoesferroviarias.com.br/efgoiaz/engvalente.htm>.
Acesso em 04/10/2021

A Estação Engenheiro Valente foi a primeira Estação por onde o


trem passava no ramal de Anápolis. Ela se localizava perto da Estação de
Leopoldo de Bulhões em um povoado de mesmo nome, próximo a Silvânia
(fig. 7). Segundo depoimentos e relatos de moradores, ela foi demolida há
mais de 20 anos e restou apenas sua plataforma, que foi demolida por volta

A CIDADE PASSAGEM: ANÁPOLIS - ENTRE TRILHOS E MÁQUINAS 47


do ano de 2008. Os trilhos ainda estão em uso, sendo parte da ferrovia
Norte-Sul – logo, a aparição de locomotivas com carga acontece com regu-
laridade no local.

0 1.5 3

km

Estação Ferroviária Engenheiro Valente

Distrito Agroindustrial de Anápoliks

figura 7: Localização da Estação Engenheiro Valente.


Fonte: Google Earth, 2022. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 48


A estação General Curado26 (fig. 8 e 9) se localiza no DAIA (Distrito
Agroindustrial de Anápolis) (fig. 10) e é patrimônio histórico tombado a nível
municipal, através da lei 3.803 de 201527. Embora seja um edifício histórico
com relevante presença devido a história ferroviária, este não está conservado,
tampouco possui fácil acesso ou quaisquer usos. Os trilhos que passam pela
estação também fazem parte da Ferrovia Norte-Sul e é comum que locomo-
tivas passem pelo local.

figura 8: Estação General Curado em 1996. Fonte: Geraldo Fernandes do Carmo.

figura 9: Estação General Curado em 2015. Fonte: Glaucio Henrique Chavez.

26 Segundo Glaucio H. Chaves, através do portal <http://www.estacoesferroviarias.com.br/efgoiaz>,


seu nome é provavelmente uma homenagem ao General Joaquim Xavier Curado, nascido em
Pirenópolis. Foi governador de Santa Catarina e lutou em diversas guerras, como a invasão ao Uruguai.
27 Chama-se a atenção a estação ter sido tombada a nível municipal apenas em 2015 em
meio aos trâmites de reforma e conservação da Estação Ferroviária de Anápolis – Prefeito José
Fernandes Valente.

A CIDADE PASSAGEM: ANÁPOLIS - ENTRE TRILHOS E MÁQUINAS 49


N

0 1.5 3

km

Estação Ferroviária General Curado

Distrito Agroindustrial de Anápolis

Vila Industrial

Setor Central

figura 10: Localização da Estação General Curado. Fonte: Google Earth, 2022.
Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

A maior e mais importante das estações inauguradas em 1935 é a


Estação de Anápolis (Prefeito José Fernandes Valente)28. É um projeto do
engenheiro Wenefredo Barcelar Portela. Se localiza no centro da cidade, em

28 O nome atribuído à Estação se refere a um prefeito de Anápolis. .

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 50


frente à praça Americano do Brasil29 (fig. 11). Nos anos que antecederam sua
construção, havia um cemitério30 que ficava em frente ao local onde seria
erguida – este foi transferido para um local mais afastado e os terrenos
próximos foram desapropriados para que armazéns fossem construídos para
dar suporte à estação.

0 1.5 3

km

Estação Ferroviária Prefeito José Fernandes Valente / Estação Ferroviária de Anápolis

Distrito Agroindustrial de Anápolis

Vila Industrial

Setor Central

figura 11: Localização da Estação de Anápolis (Prefeito José Fernandes Valente).


Fonte: Google Earth, 2022. Intervenções: CALAÇA JUNIOR, 2022.

29 Esta praça era comumente chamada de praça da estação nos anos em que a estação tinha al-
guma atividade. Após a sobreposição do terminal urbano à estação, a praça passou a ser chamada
de ‘praça do avião’, pois há um monumento em homenagem a Base Aérea de Anápolis – impor-
tante centro militar que serve de suporte à proteção aérea de Brasília.
30 Segundo Freitas (1995), o primeiro cemitério de Anápolis se chamava São Miguel e foi fundado em 1882.

A CIDADE PASSAGEM: ANÁPOLIS - ENTRE TRILHOS E MÁQUINAS 51


Conforme Mendonça e Oliveira (2014), em sua concepção o edifício
possuía dois blocos desencontrados feitos de alvenaria autoportante com a união
feita através de um prisma vazado. A parte destinada a embarque e desembarque
possuía uma estrutura em madeira sofisticada à época. As telhas que compu-
nham o telhado eram de barro industrializadas, o forro em madeira e as aberturas
contornadas por molduras de massa em relevo. A intenção dessa construção era
transmitir a imponência que a cidade de Anápolis tinha perante as outras cidades
que compunham a EFG no ano de sua inauguração. (fig. 12, 13 e 14).

figura 12: Foto da Estação de Anápolis poucos dias antes de sua inauguração em 1935.
Fonte: Museu Histórico Alderico Borges de Carvalho.

figura 13: Planta da Estação de Anápolis. Fonte: Acervo Iconográfico do Museu Histórico
Alderico Borges de Carvalho.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 52


figura 14: Elevações da Estação de Anápolis. Fonte: Acervo Iconográfico do Museu
Histórico Alderico Borges de Carvalho.

Ela funcionou efetivamente de 1935 até 1976, quando os trilhos foram


retirados do centro da cidade e o embarque e desembarque transferidos para
a estação Engenheiro Castilho. Restou apenas o edifício e suas plataformas
que foram utilizados pela administração da prefeitura até por volta de 1990,
quando passou por algumas pequenas reformas. É um patrimônio histórico
tombado a nível municipal pela lei 1.824 de 1991. Mesmo com o tombamento,
o edifício permaneceu sem utilização e mal ocupado.
Em 1986 foi concedido à TCA31 – Transportes Coletivos de Anápolis
– a construção do seu terminal urbano na área pertencente ao conjunto
ferroviário – no pátio de manobras -, onde se localiza a estação de Anápolis.
Aqui, faz-se uma observação a respeito do plano de construção desse terminal
urbano frente a um patrimônio histórico, onde teria como destino toda a rede
de transporte coletivo em um único ponto localizado no centro da cidade.
O terminal urbano sofreu com um aumento na demanda e no fim
da década de 1990 foi concedida à TCA a livre exploração de toda a área da
estação ferroviária. Uma ampliação do terminal foi realizada circundando o
edifício histórico, ficando este encoberto pelo terminal urbano – havendo
descaracterização e obstrução da visibilidade.
Por anos a Estação ficou escondida em meio ao Terminal Urbano e a
população se quer lembrava de sua existência, até ser restaurada e parte do
terminal demolido em 2015. Atualmente a estação está em um bom estado de
conservação, sem obstrução e com proposta de se tornar um Museu Ferroviário.
A última estação a ser construída na cidade foi a estação Engenheiro

31 TCA - Transportes Coletivos de Anápolis foi a única empresa concessionária do transporte


coletivo de Anápolis durante 52 anos. Atualmente o transporte coletivo da cidade continua sendo
realizado por uma única empresa, a URBAN – Mobilidade Urbana de Anápolis.

A CIDADE PASSAGEM: ANÁPOLIS - ENTRE TRILHOS E MÁQUINAS 53


Castilho32. Seu projeto data de 1951, 16 anos após a construção do ramal de
Anápolis. Está localizada no bairro Vila Industrial e sua construção antecede
a execução do projeto do bairro (fig. 15). Por volta de 1970, após a retirada dos
trilhos do centro da cidade e a desativação da estação de Anápolis, a estação
Engenheiro Castilho funcionou como a nova estação principal da cidade, se
tornando a ponta de linha da Estrada de Ferro de Goiás em Anápolis. Para
dar suporte a ela, alguns galpões foram construídos no local – sendo estes
em estrutura e fechamentos metálicos.

0 1.5 3

km

Estação Ferroviária Engenheiro Castilho

Distrito Agroindustrial de Anápolis

Vila Industrial

Setor Central

figura 15: Localização da Estação Engenheiro Castilho. Fonte: Google Earth, 2022.
Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

32 Segundo Glaucio H Chavez, através do portal <http://www.estacoesferroviarias.com.br/efgoi-


az>, esse nome é uma homenagem ao Engenheiro Arthur Pereira de Castilho que foi Diretor Geral
do Departamento Nacional das Estradas de Ferro, defensor do planejamento entre integração das
ferrovias e rodovias.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 54


Por volta da década de 1980 a estação foi desativada e marcou o fim
do trecho urbano da EFG em Anápolis. Desde então, a estação teve alguns
usos respondendo às demandas da prefeitura municipal e também funcionou
como escola de panificação. Os galpões que fazem suporte à estação já
abrigaram a FAIANA33, o Palácio de Cultura e atualmente compõe atividades
ligadas ao funcionamento da prefeitura, como a sede de diversas secretarias
– inclusive a de planejamento urbano.
A estação é tombada a nível municipal pela Lei nº 3.955 de 2018 e se
encontra sem uso efetivo, embora possua um nível de conservação melhor
em relação à estação General Curado – mas ainda longe do ideal. A estação
Engenheiro Castilho e os galpões instalados ao lado serão abordados nova-
mente ao decorrer deste texto.

33 Feira de Amostra da Indústria de Anápolis. Foi uma feira que servia como importante agente
difusor da indústria Anapolina. Será detalhada mais a frente no decorrer do texto.

A CIDADE PASSAGEM: ANÁPOLIS - ENTRE TRILHOS E MÁQUINAS 55


1.3 A ‘Manchester Goiana’

Anápolis está imersa ao comércio desde a sua fundação. A indústria34


surgiu como uma consequência do desenvolvimento comercial e econô-
mico que a cidade vivenciou durante as primeiras décadas do século XX. A
ferrovia, mesmo antes de chegar efetivamente em Anápolis, desencadeou
o desenvolvimento do comércio35 na cidade - impulsionando não só o cres-
cimento econômico, mas também o populacional ao atrair imigrantes de
outros estados e até de outros países, como Síria e Líbano.36 Os trilhos foram
um grande convite e facilitador para que esses imigrantes se instalassem em
Anápolis, processo muito intensificado após 1935.
Com a implantação da ferrovia, o Mato Grosso Goiano que
representava a área de fronteira entre as áreas mais povoadas e
o interior do país, passou a receber migrantes de várias partes do
país, provocando a colonização do estado de Goiás. Nessa região
a cidade de Anápolis representava o principal centro econômico,
justificando a escolha da cidade para sediar a base da política de
“Marcha para o Oeste” do Governo Vargas que se dinamizaria a
partir da década de trinta. Com a Revolução de Trinta, o Governo
Vargas e seu interventor em Goiás implementaram uma política
de modernização, que caracterizaria a formação do Estado Novo.
(LUZ, 2001, p. 17).

A “Marcha para o Oeste”37 foi uma política fundamental para o

34 Indústria é entendida como um local onde há a transformação da matéria-prima em objeto


pronto para o consumo.
35 Desenvolvimento comercial em datas: 07/09/1935 – inauguração da ferrovia. 08/02/1936 –
fundação da Associação Comercial de Anápolis (ACA); 1942 – fundação do Banco Comercial do Estado
de Goiás; 1945 – fundação do Banco imobiliário e Mercantil do Oeste Brasileiro; 08/12/1958 – fundação
da Associação Industrial de Anápolis (AIA); 1969 – realização da 1ª FAIANA; 03/05/1976 – retirada dos
trilhos do centro da cidade; 08/11/1976 = fundação do DAIA – Distrito Agroindustrial de Anápolis.
36 Os imigrantes sírios e libaneses foram fundamentais para o desenvolvimento comercial de
Anápolis, sendo considerados os pioneiros nesse setor que viria a ter hegemonia durante 1935 e
1960. Esses imigrantes carregam essa característica em virtude da localização geográfica de onde
vieram – a grande Síria foi por muito tempo um centro comercial importante. Sendo assim, o ato
de comprar e vender é inerente ao habitante do Mediterrâneo. Ao adentrar em Goiás, local onde a
veia comercial estava em constante crescimento, encontraram um lugar propício para instalarem
sua atividade comercial. (NUNES, 2000; MACHADO, 2009).
37 A Marcha para o Oeste foi uma política criada por Getúlio Vargas durante o Estado Novo. Seu
objetivo era promover a integração econômica no Brasil através do incentivo a povoação das áreas
centrais do país – consistindo no Centro-Oeste e o Norte, que até então estavam à margem do
desenvolvimento e pouco povoadas.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 56


desenvolvimento do centro-oeste brasileiro. Ainda no governo Vargas, alguns
aspectos influenciaram diretamente no crescimento de Anápolis, como a
instalação da Delegacia Nacional do Café38, a construção de Goiânia e a
implantação da Colônia Agrícola Nacional de Goiás (CANG)39 (LUZ, 2001).
Durante as primeiras décadas de crescimento após a instalação da
ferrovia, Anápolis passou por um aumento substancial na atividade comercial
encabeçada pelos imigrantes árabes. Em pouco tempo eles conseguiram cons-
truir uma rede comercial na cidade que variava de lojas de distribuição ao atacado
e varejo (MACHADO, 2009). A influência dos imigrantes passou pelo comércio e
percorreu também outros segmentos, como política, serviço e indústria.
O início do desenvolvimento industrial da cidade acontece com o
apogeu do ciclo do café no Brasil, quando as primeiras máquinas de bene-
ficiamento de café se instalaram na cidade. Com a certeira vinda da ferrovia,
em 1921 olarias foram construídas em um local da cidade que se tornaria a Vila
Fabril – bairro localizado a oeste do centro de Anápolis – a fim de responder a
demanda por novos materiais que o desenvolvimento econômico proporcionou.
Estas se transformaram em cerâmicas – indústrias de tijolos, telhas e ladrilhos –
no ano de 193240. Essas indústrias foram fundamentais para o desenvolvimento
da cidade pois auxiliaram na construção de Goiânia fazendo com que esse setor
prosperasse e diversas cerâmicas fossem construídas na cidade.
Durante as décadas de 1930 a 1970, Anápolis ganhou alguns ataca-
distas e varejistas como também outras olarias, destilarias e armazéns. Esses
últimos foram divulgados pela imprensa local como grandes indústrias,
especialmente no jornal O ANÁPOLIS que noticiava esse desenvolvimento
urbano e econômico que a cidade vivenciava (MACHADO, 2009, p. 93).
Pelo recorte de uma edição do jornal O ANÁPOLIS de 1943, é possível observar
a manchete “Anápolis é o maior parque industrial de Goyaz” (fig. 16).
Essa construção da representação industrial da cidade de Anápolis servia

38 O desenvolvimento cafeeiro incentivou a implantação em Anápolis, no ano de 1934, do Serviço


Técnico do Café, ligado ao Departamento Nacional do Café, mas a crise de 1929 afetou a produção
local do café e incentivou o cultivo do arroz, produto que desempenharia um papel relevante pa-
ra a economia local e da região do Mato Grosso Goiano. Os comerciantes anapolinos passaram a
aglutinar as funções de armazenamento e beneficiamento do arroz, a partir da década de trinta,
fortalecendo economicamente a cidade de Anápolis. (LUZ, 2001, p. 18)
39 “A instalação da CANG (Colônia Agrícola Nacional de Goiás), por sua vez, ratificou a posição de
Anápolis como frente de sustentação e colonização para novas áreas de expansão agrícola, além
de ter reforçado o caráter de entreposto comercial. (CUNHA, 2009, p. 67)
40 Cerâmica Seu João. Esta tinha como proprietário Jad Salomão – palestino que chegou à cidade
com a família, procedente de Araguari e Agostinho de Pina. Jad Salomão fundou escola para filhos
de árabes e foi um dos pioneiros na maçonaria em Anápolis.

A CIDADE PASSAGEM: ANÁPOLIS - ENTRE TRILHOS E MÁQUINAS 57


como uma forma de enaltece-la para a região, colocando-a em uma posição
de grande importância econômica no estado.

figura 16: Manchete do jornal ‘O ANÁPOLIS’ destacando a Anápolis como maior parque industrial de
Goiás. Fonte: Acervo do Museu Histórico de Anápolis - Alderico Borges de Carvalho.

O conceito de indústria possuía também ligação com os armazéns


de beneficiamento de cereais que, de acordo com
Freitas (1995, p. 62), “desde meados dos anos vinte, quando se
instalaram as primeiras máquinas de beneficiamento de arroz e
café no Município [de Anápolis], que as atividades industriais se
vincularam às atividades agrícolas”.

Entre 1930 e 1937 a instalação dessas máquinas de beneficiamento


de arroz se intensificou devido ao investimento de empresários que tinham
convicção de que essa atividade seria rentável – um aceno à agroindústria.
A partir da Marcha para o Oeste, a imigração ganhou força e a ativi-
dade industrial de Anápolis se transformou constituindo-se de pequenas
empresas para atender as necessidades da população. De acordo com
a professora e pesquisadora Joana D’arc Bardella Castro para o jornal
O Centenário41 de 2005, dentre essas indústrias haviam: marcenarias, cerâ-
micas, máquinas de beneficiamento de arroz, algodão, café, funilaria, casa
de torrefação, ferrarias, fábrica de bebidas alcoólicas e não alcoólicas e
tinturaria. Em uma publicação de 1949, o jornal O ANÁPOLIS fez um grande
levantamento da atividade comercial na cidade, mostrando que já naquele
ano haviam ’90 indústrias diversas’.
Comércio

A cidade conta com mais de 500 casas comerciais de todos os

41 O jornal ‘O Centenário’ foi organizado pelo professor Juscelino Polonial durante os anos de
2005 e 2007 com o objetivo de divulgar a história da cidade de Anápolis. Foi publicado pela UniEv-
angélica – atual Universidade Evangélica de Goiás – através de circulação bimestral. O conteúdo
pode ser lido no Museu Alderico Borges de Caravalho.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 58


gêneros, entre atacadistas e varejistas, 90 indústrias diversas,
15 confeitarias, diversas casas de diversões populares, diversos
salões de Snooker, casas e fabricas de móveis, 40 pensões
familiares, 6 hotéis, sendo um moderno e com 5 andares e
elevadores, uma agência de automóveis, Ford, Mercury, Lincoln
e caminhões Ford, 1 agência de automóveis Pontiac e caminhões
internacionais. 1 agência de automóveis Plimouth Crysler e
caminhões fargo. 1 agência de automóveis Studebraker. Possui 5
estabelecimentos bancários, 10 maquinas de beneficiar Café, 14
maquinas de beneficiar arroz, 1 maquina de beneficiar algodão, 1
fabrica de mosaicos, 4 tipografias e papelarias, 2 jornais sendo 1
bi-semanal, 8 oficiais mecânicos. (O ANÁPOLIS, 10 set. 1949, p. 3).

Nesse contexto, Anápolis possuía a primeira vila operária42 localizada


na Vila Fabril. O bairro foi construído entre as décadas de 1930 e 1940, na antiga
Fazenda Mata Amarela. A construção dessas indústrias de cerâmicas e olarias,
num primeiro momento, e, posteriormente, o matadouro industrial FRIGOIÁS,
atraiu diversos trabalhadores que construíram suas casas em paralelo à cons-
trução de moradias para os trabalhadores do frigorífico – constituindo, assim,
a primeira experiência de vila operária de Anápolis. Entre as décadas de 30
e 50, a Vila Fabril possuía:
“a Cerâmica São João, fundada em meados dos anos 1930 por
Jad Salomão; a Cerâmica São Vicente fundada em 20 de junho de
1948 por Vicente Carrijo Mendonça; a Cerâmica Induspina, exis-
tente desde a segunda metade da década de 1930, propriedade
de Agostinho de Pina; a Cerâmica Mioto fundada em 1947, de
propriedade do senhor Guarino Mioto e, ainda a Cerâmica Santa
Maria, chamada também de Gboi, nos anos de 1950, pertencente
aos primeiros donos do Frigorífico Goiás ali também instalado”.
(BERNARDES et al, 2015, p. 153)

Concomitantemente, a atividade industrial se expandia ao norte


da cidade com a fundação da Companhia Goiana de Fiação e Tecelagem
de Algodão, antiga Vicunha, em 1946 no bairro então denominado de Vila
Jaiara – construído no final da década de 1940, com o plano desenvolvido

42 Vilas operárias “são habitações produzidas com base em um modelo e que permitiam o con-
trole patronal. De acordo com Bonduki (2014, p. 20), “as vilas produzidas por companhias privadas,
destinadas aos seus operários, chamadas de núcleo fabril ou vila operária de empresa, embora fos-
sem exceções, atendiam a necessidades específicas da fase inicial de implantação do capitalismo
no país (Blay, 1985)” (ALVES JUNIOR, 2019, pg. 44). As casas construídas nas vilas operárias possuem
a mesma tipologia arquitetônica, sendo padronizadas.

A CIDADE PASSAGEM: ANÁPOLIS - ENTRE TRILHOS E MÁQUINAS 59


pelo engenheiro-agrônomo Luiz Caiado de Godoi.

Assim como aconteceu na Vila Fabril, a indústria atraiu traba-


lhadores que efetivaram suas moradias ao redor da fábrica.
Algumas delas também foram patrocinadas pelos proprietários
do empreendimento. A instalação da fábrica de tecidos Vicunha
Têxtil (Companhia Goiana de Fiação e Tecelagem de Algodão) em
1946, sendo a primeira no ramo têxtil no estado de Goiás, trouxe
para a Vila Jaiara o desenvolvimento da atividade industrial. Em
outubro de 1948 essa indústria oferecia 650 empregos diretos.
Devido à distância em relação ao centro da cidade criou-se ao
redor da Vicunha a “vila dos trabalhadores” que era formada
pelos trabalhadores da própria fábrica. Esse período marca a
ocupação definitiva da vila. (CASTRO, 2011, p. 108).

A presença da Vicunha no bairro recém formado foi um fator decisivo


para o seu desenvolvimento e também para o crescimento econômico e
populacional da porção norte da cidade. A indústria atraiu trabalhadores e
outros moradores da cidade que queriam morar por lá, de forma a incentivar
que a empresa construísse e comercializasse em torno de 400 casas para
atender a demanda de moradia. Esse fator impulsionou o desenvolvimento
do comércio na região e na cidade de Anápolis. (LUZ, 2013)
É importante ressaltar que mesmo que essas experiências de vilas
operárias não tenham todas as características necessárias - equipamentos
públicos como escolas, parques, hospitais, etc – elas mostram que a relação
íntima entre trabalho e moradia, algo fundamental na concepção destas,
existia em Anápolis (ALVES JUNIOR, 2019). Ao se referir à experiência relatada
na Vila Fabril, Bernandes et al (2015, p. 154-155) diz:
Porém, conforme definição de Santos (2008), esses núcleos
habitacionais podem ser considerados uma experiência de vila
operária, pois o objetivo das empresas era o de manter os traba-
lhadores junto à unidade de produção, embora se localizassem
em espaço rural do município.

O mesmo fenômeno pôde ser observado na Vila Jaiara, pois a cons-


trução de casas próximas ao local de trabalho visava o mesmo objetivo, de
manter o trabalhador próximo à unidade de produção.
O crescimento econômico levou a um crescimento populacional –
contribuindo em novas demandas por moradia. Nesta conjuntura o bairro

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 60


Jundiaí foi projetado e fundado em 1944 sob os moldes da Cidade-Jardim43.
Ao lado dele, outro bairro foi pensado e chamado de Vila Industrial, destinado
a responder pela demanda industrial na época que, conforme explicitado,
ganhava impulso. O projeto do bairro foi aprovado e executado apenas em
1954, sendo habitado efetivamente apenas no fim da década de 1950. Em 1951,
antes do projeto ser executado, a Estação Ferroviária Engenheiro Castilho foi
construída no local.
A partir da década de 1950 a cidade já possuía um perfil comercial e
industrial. Industrial devido às indústrias de beneficiamento de arroz e olarias,
e comercial devido a todo o contexto explorado nos parágrafos anteriores. Em
1958 a Associação Industrial de Anápolis foi fundada com o objetivo de unir os
empresários deste setor de forma a desenvolver a industrialização da cidade.
Em 1969 foi realizada a 1ª Feira de Amostra das Indústrias de Anápolis
(FAIANA)44, contando com 293 pequenas indústrias. Seis feiras45 foram reali-
zadas entre os anos de 1969 e 1981, mas não contavam com o registro oficial
do Ministério da Indústria e Comércio. Em 1987 quando os organizadores
conseguiram o registro, optaram por chamar a feira deste ano de Primeira
Feira Agroindustrial de Anápolis, sendo esta realizada nos terrenos da estação
ferroviária Engenheiro Castilho, junto a seus galpões. A FAIANA foi uma feira
relevante pois propiciava a divulgação do progresso industrial de Anápolis.

43 A cidade jardim é um híbrido entre campo e cidade, sendo um modelo idealizado por Ebenezer
Howard apresentado no livro To-morrow a Peaceful Path to Real Reform (1898), sendo uma comu-
nidade autônoma cercada por um cinturão verde.
44 “A FAIANA foi realizada pela primeira vez em 1969, com a coordenação do então prefeito Raul
Balduíno, tendo continuidade pelos demais prefeitos. Em todas as ocasiões a Feira transcorreu
em dependências improvisadas, sem acompanhar a legislação de feiras comerciais e editada pelo
Ministério da Indústria e Comércio. Apesar dessas dificuldades, no entanto, desde seu surgimen-
to, o evento cumpriu com sua finalidade de colaborar na concretização do ideal de transformar
Anápolis em uma cidade industrializada, conforme sua vocação histórica” (TEIXEIRA et al, 2006, p. 8).
45 1969: Realizada pelo prefeito Raul Balduíno no Parque Agropecuário; 1970: realizada pelo
prefeito Henrique Santillo no Estádio Jonas Duarte; 1971 e 1972: realizadas pelo prefeito Henrique
Santillo na Baixada das Antas; 1973: realizada pelo prefeito José Batista Jr. também na Baixada das
Antas – atual Praça do Ancião. A feira voltou a ser realizada somente no ano de 1981, sob gestão do
prefeito Wolney Martins no Centro Administrativo.

A CIDADE PASSAGEM: ANÁPOLIS - ENTRE TRILHOS E MÁQUINAS 61


A partir de 197046 foi criada a Superintendência de Distritos e Áreas
Industriais em Goiás – GOIASINDUSTRIAL. O objetivo dessa superintendência
foi orientar e coordenar a política industrial do estado através de distritos
industriais, com a intenção de buscar oportunidades latentes nos municípios.
Anápolis foi escolhida para iniciar esse processo devido à sua localização estra-
tégica, tanto geográfica – em meio às duas capitais – quanto econômica, uma
vez que tinha uma economia em pleno vigor. Nessa época, a cidade possuía em
torno de 150 mil habitantes, era cortada por três rodovias federais, contava com
diversas agências bancárias e considerada um dos municípios mais prósperos
do estado (CASTRO, 2005). O caráter industrial, amplamente divulgado pela
mídia através de manchetes como a Manchester Goiana – em alusão à cidade
industrial inglesa – também exerceu grande influência nessa escolha.
E de tal modo a Manchester inglesa se tornou um modelo de
modernidade e progresso a ser alcançado que as cidades que
almejavam tal condição, mesmo que a vida cotidiana dissesse
que a realidade era rural, bastava a instalação de uma indústria
têxtil para se candidatar ao uso do nome que se tornou adje-
tivo. E desta forma surgiram a Manchester Paulista (Sorocaba),
a Manchester Mineira (Juiz de Fora), a Manchester Gaúcha
(Canoas); algumas pretendiam o título nacional: “a Manchester
brasileira” (São Gonçalo, no Rio de Janeiro, Joinvile, em Santa
Catarina, São Luiz do Maranhão, etc.). Foi assim com Anápolis
também. Os elementos estavam todos lá: os trilhos no lugar,
o comércio se fortalecendo, indústria têxtil se instalando...
e mesmo que até os anos 60 todos os índices apontassem
para uma economia de base rural, já nos anos quarenta
Anápolis passou ser chamada de a “Manchester Goiana”!
(MOURA, 2012, p. 23, grifo do autor).

Nesse contexto surge o Distrito Agroindustrial de Anápolis – DAIA


– inaugurado em 1976. Em um ano de implantação já haviam cerca de 40
empresas em negociação para se fixarem no recém inaugurado distrito
agroindustrial, mas nem todas foram instaladas no local – apenas 13 - devido

46 Nos anos que antecedem, Anápolis passava por dificuldades por ter que se adaptar aos no-
vos planos do governo nacional de substituição do transporte ferroviário pelo rodoviário. Nesse
momento, a cidade vivenciava uma queda no rendimento comercial e um aumento da atividade
industrial. Assim como indica Cunha (2009), a partir dessa década anápolis vivenciou a “modern-
ização agrícola, a implantação do DAIA, a especialização e modernização do setor comercial, a
implantação do SIVAN, a criação do Porto Seco, a (proposta) construção da Plataforma Logística
Multimodal, a implantação da sede da UEG – Universidade Estadual de Goiás e mesmo a elabo-
ração do Plano Diretor da cidade. (CUNHA, 2009, p. 79)

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 62


à falta de incentivos e burocracias. O processo de industrialização de Brasília
também afetou o desenvolvimento do DAIA. Na década de 1980 o setor
possuía 14 indústrias, sendo necessário que na década de 1990 houvesse
movimento por parte dos governos para que houvesse a facilitação para a
instalação de novas indústrias. Com isso, as novas empresas ficaram isentas de
pagar os tributos municipais por um período de 5 anos, receberam linhas de
crédito e incentivos dos governos estadual e federal. Devido aos incentivos, o
salto de indústrias foi significativo, saltando de 14 para 76 em três anos. Deste
momento em diante o DAIA se desenvolveu, consolidando Anápolis como
polo agroindustrial de importância nacional.
Atualmente, o DAIA se configura como o maior polo agroindustrial
do centro oeste com mais de 150 indústrias ativas, inclusive multinacionais e
montadoras e o segundo maior polo farmoquímico do Brasil. É interligado
ao Porto de Santos por um ramal da Ferrovia Centro-Atlântica e marco zero
da ferrovia Norte-Sul. A história da cidade tem o DAIA como um importante
catalizador da indústria, mas como visto, essa atividade não começou com
o distrito. Por muito, o distrito se sobrepõe à história industrial Anapolina
anterior a ele – uma vez que a indústria ganha forma substancial a partir
do DAIA. Conhecer a história anterior nos ajuda a entender como o caráter
industrial anapolino foi construído ao longo dos anos, resultando na criação
de novos bairros, como a Vila Industrial, e do próprio DAIA.

A CIDADE PASSAGEM: ANÁPOLIS - ENTRE TRILHOS E MÁQUINAS 63


1.4 A Vila Industrial: ponto de convergência da
ferrovia e indústria

A Vila Industrial se torna ponto focal desta pesquisa por ser um ponto
de convergência das principais características de Anápolis: indústria, ferrovia
e, consequentemente, comércio. Os planos iniciais para a construção do bairro
surgiram junto ao projeto de implantação do bairro Jundiaí – loteamento
realizado pela Sociedade Imobiliária de Anápolis LTDA47, com o objetivo de
solucionar o problema habitacional da época ao passo em que se urbanizava
a região. O loteamento, datado de 1944, consistiu em 3.700 lotes demarcados,
em uma área estimada em 218.395 hectares. Parte desses lotes foram doados
para a classe operária com a tarefa de construir suas moradias. A prefeitura da
cidade também incentivou o povoamento da região através de isenções de
impostos por um período de cinco anos. (FREITAS, 1995; CASTRO et al, 2008)
Ao sul, se planejava um conglomerado industrial – região que ficaria
afastada e isolada do centro habitacional do bairro Jundiaí, inicialmente
chamada de Parque Industrial do Bairro Jundiaí, que abrigaria indústrias e
armazéns. Juntamente com esse conglomerado, se planejava a criação da Vila
Popular do Bairro Jundiaí – uma espécie de vila operária. Porém, esses planos
ficaram apenas no campo das diretrizes, de forma que o projeto executado
do bairro Jundiaí não os tenha incluído.
De forma a facilitar o acesso ao bairro Jundiaí e integra-lo ao restante
da cidade, houve o plano da construção de uma nova e larga avenida (Avenida
Goiás) por volta de 1935, anos antes do efetivo loteamento do bairro. Os
veículos de imprensa – principalmente o jornal O ANÁPOLIS – noticiavam
a modernização que o novo bairro traria, ressaltando sua ótima topografia,
acesso facilitado à rede de água potável e lotes a preço acessíveis. A partir de
1943 a imprensa passou a publicar com maior intensidade o empreendimento,
divulgando sua forma de ocupação bem como nomes das futuras praças. Em
1944 o bairro Jundiaí48 foi loteado e implantado.

47 Foi formada em 1943 e tinha a finalidade comercializar lotes e construir edificações para venda
de imóveis. Foi dirigida por três investidores da cidade: Jonas Ferreira Alves Duarte – antigo gover-
nador de Goiás e prefeito de Anápolis, tendo um estádio em seu nome; Lindolfo Louza e Plácido de
Campos – um dos proprietários do Banco Imobiliário e Mercantil do Oeste Brasileiro (BEG), antigo
presidente da Câmara Municipal de Anápolis na década de 1950 e também assumiu a prefeitura
por dois curtos períodos. (CABRAL, 2020, p. 36)
48 Projetado pelo engenheiro e urbanista Dr. João Alves Toleto – então contratado pela prefeitura
de Anápolis para a realização de serviços urbanos, incluindo o bairro Jundiaí. (CABRAL, 2020, p 38)

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 64


O bairro significou o progresso que a sociedade almejava, havendo
promessas de ruas e avenidas largas, passeios arborizados e uma ótima infra-
estrutura. O jornal O ANÁPOLIS divulgou esse progresso de forma festiva,
ressaltando as características que tornavam Anápolis na Manchester Goiana e
também na Ribeirão Preto goiana. A imprensa possuía um papel de “veículo
propagador do discurso político alicerçado na ideia de progresso” (SILVA,
2014, p. 34).
Conforme é possível observar através desta manchete do Jornal O
ANÁPOLIS:
“Terminamos, então, essa interessante entrevista que damos
à publicidade, certos de que a idealização que tem em mira
os componentes da Sociedade Imobiliária de Anápolis LTDA.
é a mais promissora para um grande passo do progresso da
Ribeirão-Preto goiana” (O ANÁPOLIS. 1943, s/p, grifo do autor).

O jornal corroborou com o imaginário de progresso ao comparar


a cidade de Anápolis com a cidade paulista de Ribeirão Preto. Conforme o
mesmo jornal, os proprietários da Sociedade Imobiliária de Anápolis LTDA
eram divulgados como agentes influenciadores do progresso anapolino:
Um dia um triângulo humano se formou nesta “Manchester
Goiana” e se constituiu em sociedade para levar a cabo um
plano que merecia ser posto na concretização anapolina. Esse
triângulo se compunha e se compõe ainda dos srs. Jonas Ferreira
Alves Duarte, Lindolfo Louza e Plácido de Campos, três figuras
distintas dos que manejam a alavanca do progresso local
(O ANÁPOLIS, 1945, s/p, grifo do autor)

No decorrer das décadas após sua fundação e loteamento, o bairro


Jundiaí perdeu o caráter de ser acessível a diversas camadas da sociedade
para se tornar essencialmente nobre, por razão do aumento dos preços dos
lotes e por sua ótima localização e infraestrutura. O conglomerado industrial
e a chamada Vila Popular não foram construídos à época, originando um
outro projeto.
Conforme inicialmente pensado, o loteamento da Vila Industrial foi
projetado ao sul do bairro Jundiaí, onde já havia a via férrea e abrigava a
Estação Ferroviária Engenheiro Castilho – que chegou na região em 1951 e
foi originalmente pensada para ser construída no Jundiaí. Em 1954 houve o
efetivo loteamento do bairro sob o nome de Vila Popular, sendo aprovado

A CIDADE PASSAGEM: ANÁPOLIS - ENTRE TRILHOS E MÁQUINAS 65


pela Portaria Nº 160, conforme averbação de lotes realizada em 1955. (fig. 17)

1.5

figura 17: Documento de averbação de lotes datado de 1955. Fonte: Acervo de Osvaldo Alves, feito na Ma-
poteca Municipal da Prefeitura de Anápolis, 2019.

Conforme o documento, é possível observar algumas questões impor-


tantes referentes ao loteamento do bairro Vila Industrial. Primeiro, que houve
uma mudança de nome, de Vila Popular para Vila Industrial – observa-se que
o nome oficial do bairro possui partes dos dois nomes já citados pretendidos
ao bairro, Vila Popular e Parque Industrial do Bairro Jundiaí (fig. 18).

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 66


Nesse ponto, nota-se que o bairro foi, inicialmente, “planejado para
abrigar tanto atividades industriais quanto residenciais em um mesmo espaço
urbano, que reuniria em conjunto a Vila Popular e Parque Industrial do Bairro
Jundiaí “(ALVES JUNIOR, 2020, p. 61)
.

figura 18: Cabeçalho do projeto datado de 1954. Fonte: Acervo de Osvaldo Alves, feito na Mapoteca
Municipal da Prefeitura de Anápolis, 2019.

Outra observação é a grande quantidade de lotes pertencentes a


um único dono – Plácido de Campos e José do Couto Dafico – proprietários
do Banco Imobiliário e Mercantil do Oeste Brasileiro49 e políticos anapolinos.
Ambos possuem ruas em seus nomes em Anápolis, indicando sua importância
perante a cidade. É possível observar também que que o traçado original
projetado para o bairro Vila Industrial foi mantido integralmente ao projeto,
em que as modificações futuras devem respeitar os Planos Diretores futuros

49 O Banco Imobiliário e Mercantil do Oeste Brasileiro foi fundado em 1946. Os proprietários eram
ligados ao Jonas Duarte, opositor político do Grupo Pina - que havia fundado o primeiro estabelec-
imento bancário privado de Goiás, o Goiazbanc, em 1941. Os dois grupos políticos protagonizaram
rivalidade nas áreas políticas e econômicas de Anápolis. Posteriormente, o Banco Imobiliário e
Mercantil do Oeste Brasileiro foi vendido e se tornou o Banco do Estado de Goiás S/A (BEG), que
foi acoplado ao Banco Itaú em 2001.

A CIDADE PASSAGEM: ANÁPOLIS - ENTRE TRILHOS E MÁQUINAS 67


– neste momento, Anápolis não possuía um Plano Diretor, o primeiro é datado
de 1969.
No Guia Prático da cidade de Anápolis50 (fig. 19), observa-se o projeto
pretendido ao bairro Vila Industrial, o bairro Jundiaí, bem como o Setor Central
– aqui chamado de ‘Cidade’ – e as Vilas Jayara e Santa Isabel, que ficam na
porção norte da cidade. É possível notar a ótima localização de ambos os
bairros, Jundiaí e Vila Industrial, perante o restante da cidade, com acesso
facilitado pelas principais vias.

Vila Industrial Santa Isabel

Jundiaí Jaiara

figura 19: Guia Prático de Cidade de Anápolis, década de 1950. Fonte: Instituto de Patrimônio Histórico e
Cultural Professor Jan Magalinski. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

50 De acordo com o historiador Jairo Alves Leite – responsável pelo Museu Alderico Borges de
Carvalho e líder em Patrimônio Histórico em Anápolis – a imagem data da década de 1950 e per-
tence ao Instituto de Patrimônio Histórico e Cultural Professor Jan Maganlinski.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 68


As principais vias da cidade foram um fator determinante no
desenvolvimento da Vila Industrial. Embora tenha sido loteado em 1954,
o bairro passou a ser efetivamente ocupado apenas no final da década
e começo da década de 1960. Essa ocupação aconteceu, principalmente,
pela construção da nova capital federal – Brasília, que começou na segunda
metade da década e se estendeu até o fim dela. Anápolis se tornou um
ponto de apoio devido ser ponto terminal da Estrada de Ferro de Goiás
e estar próxima às obras. Para facilitar o contato da cidade – e também
de outras regiões do país – com a capital federal, houve a construção da
BR-060 – a primeira rodovia federal saindo de Brasília e primeira rodovia
pavimentada a chegar em Anápolis. A rodovia visava suprir as necessidades
de transferência da capital federal para o Distrito Federal, localizado no
centro do país.
Houve a alteração no perfil de diversos municípios de Mato Grosso
do Sul e Goiás, percorridos percorridos pela rodovia, incluindo Anápolis
As cidades cortadas pela BR-060 concentram a maior parte da população
goiana51. Nesse contexto está a construção da Avenida JK – que liga o bairro
Vila Industrial ao trecho urbano da BR-060, cortando o bairro em seu limite
com o Jundiaí. A partir desse momento, Anápolis recebeu melhorias de
infraestrutura e um crescimento populacional.
A Avenida JK desempenhava um papel fundamental nesse cres-
cimento, pois, devido à proximidade da Avenida com a Estação Ferroviária
Engenheiro Castilho e a ligação com Brasília e Goiânia, o escoamento da
produção foi facilitado de forma a melhorar a conexão entre rodovia e
ferrovia. A região, que prosperava com a instalação de indústrias e empresas
– como armazéns cerealistas, indústrias de beneficiamento de arroz, torre-
fação de café, algodão e ferrarias, Arroz Brejeiro, Arjalto Frio Ipiranga, São
Jerônimo de Óleos Vegetais (CASTRO et al, 2008) – passou então a aglu-
tinar as principais características atribuídas a Anápolis: indústria, ferrovia e
comércio.
Nesse momento houve a construção de diversos galpões, a manu-
tenção das atividades referentes à ferrovia na Estação Ferroviária Engenheiro
Castilho e também a construção de novas edificações em altura, como o

51 A rodovia foi responsável pela criação do eixo Goiânia-Anápolis-Brasília, fundamental para


a economia do estado de Goiás e do Distrito Federal, responsável por grande parte dos deslo-
camentos da região. O trecho que liga Brasília a Goiânia é denominado de Rodovia Governador
Henrique Santillo, pela lei estadual nº 12.203 de 2015.

A CIDADE PASSAGEM: ANÁPOLIS - ENTRE TRILHOS E MÁQUINAS 69


Moinho Catarinense LTDA – edifício em cinco pavimentos, construído em 1963,
localizado próximo à Avenida JK e a Estação. O bairro prosperou reunindo
diversas atividades industriais em conjunto com residências, comércio e serviço.
Em 1976 a Estação Engenheiro Castilho se tornou a ponta de linha da ferrovia
e principal estação de Anápolis, até ser desativada na década de 1980.
Desde então o bairro pouco prosperou, adquirindo atualmente
atenção do governo municipal e empresas interessadas em explorar seu
potencial. Há alguns galpões vazios ou subutilizados (muitos desempenham
a função de armazenamento de materiais de reciclagem), terrenos vazios,
edificações abandonadas e uma precária infraestrutura – mas uma ótima
localização, com acesso facilitado ao Jundiaí, ao Setor Central e às principais
avenidas da cidade, como a JK e a Avenida Brasil (trecho urbano da BR-153).
Portanto, a Vila Industrial desponta como um bairro constituído de um vasto
campo de exploração, tanto comercial e economicamente, quanto histórico e
social. Compreender as dinâmicas e paisagens que o tornam único na cidade
implica em reconhecer, também, a posição de suas edificações no passado
da cidade e na atualidade.
Devido ao contexto histórico explorado, é possível dizer que essas
edificações possuem um valor histórico que as tornam dignas de preser-
vação. Esse valor vai muito além de simples arquitetura, da simples casca dos
edifícios, mas sim, de todo seu aspecto social e histórico, contemplado pelas
diversas transformações que a cidade e o bairro passaram durante as décadas
do apogeu da ferrovia. Elas, e muitas outras, são prova viva das manchetes
do jornal O ANÁPOLIS relatadas, do nome atribuído de Manchester Goiana
e Ribeirão Preto goiana. As edificações, são, além de tudo, documentos
históricos e merecem ser focalizadas, ressignificadas e conduzidas de volta
à vida da população.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 70


Capítulo 2
A Vila Industrial: Paisagem em Foco
Neste capítulo os olhares se voltam à Vila Indus-
trial a partir de sua morfologia e paisagem. A atua-
lidade é contemplada como resultado dos processos
históricos vivenciados pelo bairro – acompanhados no
capítulo anterior –, entendendo como sua paisagem foi
construída ao longo dos anos junto à história da cidade,
suas indústrias, suas atividades comerciais e sua popu-
lação. Diante disso, uma análise da paisagem urbana
é realizada de forma a situar o bairro, seus edifícios
e sua morfologia urbana – o dividindo em quatro
unidades de paisagens distintas e complementares
entre si. Por fim, é possível constatar que a paisagem
urbana do bairro o torna singular perante a cidade, com
edifícios marcantes, largas ruas ortogonais e atividade
industrial. Em grande parte, o aspecto degradado
chama a atenção ao tempo em que provoca insegurança.
2.1 Vila Industrial: paisagem e morfologia

A Vila Industrial é atualmente caracterizada como um bairro majo-


ritariamente residencial, com ausência de comércio significativo, presença
de atividade industrial e com poucos edifícios com mais de 4 pavimentos.
O bairro está localizado em um ponto focal da cidade, perto do Centro Pioneiro
e do Jundiaí, com duas importantes avenidas próximas — a Avenida JK, limiar
ao bairro e que se conecta a BR-06052 e BR-153 e a Avenida Brasil, à oeste.
(fig. 20). A sua localização é fundamental para compreender o futuro do bairro,
uma vez que está locado em meio às duas maiores centralidades da cidade.

0 1.5 2

km
N

Bairro Jundiaí Avenida Brasil BR-153

Vila Industrial Avenida JK BR-060

Setor Central

figura 20: Localização da Vila Industrial. Fonte: Imagem de satélite retirada do Google Earth, 2022.
Intervenções: CALAÇA JÚNIOR. 2022.

52 Principal ligação entre Goiânia, Anápolis e Brasília.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 73


As características que hoje observa-se no bairro são resultantes dos
processos históricos pelos quais a Vila Industrial passou. Sua formação foi
influenciada pela via férrea, dado que a Estação Ferroviária Engenheiro
Castilho antecede o loteamento do bairro. Alves Junior (2019) ressalta que há
influência também do urbanismo progressista53, que pode ser observado
através do projeto de 195454, por meio de suas linhas ortogonais e com a
disposição dos quarteirões em formas paralelepipedais. (fig. 21).

Conjunto Eldorado Marcação ressaltando a ortogonalidade

Antigo trecho da via férrea

figura 21: Projeto da Vila Industrial. Fonte: Mapoteca Municipal da Prefeitura de Anápolis – acervo de Os-
valdo Alves, 2019. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR. 2022

53 “Para Choay (2013), essa nova ordem pode ser organizada em um conjunto de características.
Em primeiro lugar, a racionalização das estruturas urbanas voltadas para a comunicação (mobilidade)
com a criação de grandes artérias para a intensificação dos contatos e a aceleração dos transportes,
uma necessidade evidente em um contexto de contínuo processo de periferização das cidades.
Em segundo, a especialização de setores, os quarteirões, que se voltaram para práticas comerciais,
religiosas, financeiras e para a residência, acentuando a hierarquia dos espaços urbanos que re-
fletiam as desigualdades sociais de classe. Novos órgãos passam a compor esse cenário e que, por
seu gigantismo, mudaram o formato da cidade: grandes mercados, grandes lojas, grandes hotéis,
prédios para alugar.” (TOLEDO, 2018)
54 Observação: o projeto adota um referencial de norte diferente ao utilizado nos mapas ante-
riores e seguintes. O norte do projeto se encontra no canto inferior esquerdo.

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 74


Na figura 24 é possível observar que o traçado pretendido ao bairro
seguiu os limites propostos pelo terreno destinado, utilizando a ortogonali-
dade – interrompida onde a via férrea estava inserida, influenciando
substancialmente o traçado da Vila Industrial — não só do bairro, como de
Anápolis. No lado inferior direito, observa-se um conjunto de lotes menores
que foram projetados para fins residenciais, denominado Conjunto Eldorado,
que também seguiu a ortogonalidade. Aproximando a imagem, é possível
visualizar que foi proposto uma rua de lazer, seguindo os preceitos da cidade
jardim — algo que na prática não é visto — bem como um pequeno setor
comercial, que existe atualmente (fig. 22).

Área comercial Área de lazer

figura 22: Projeto da Vila Industrial – Conjunto Eldorado. Fonte: Mapoteca Municipal da Prefeitura de
Anápolis – acervo de Osvaldo Alves, 2019. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR. 2022

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 75


É comum observar terrenos vazios ou de formato irregular na cidade,
resultantes da desocupação da via férrea. Na Vila Industrial, nota-se que a
ferrovia deixou um pátio subutilizado e vazio, onde está localizada a Estação
Engenheiro Castilho e seus galpões de apoio (fig. 23).

0 1,5 2

km
N

Estação Ferroviária de Anápolis (Prefeito José Fernandes Valente)

Estação Ferroviária Engenheiro Castilho

Vila Industrial

Pátio da Estação Ferroviária Engenheiro Castilho

Antiga Via Férrea

figura 23: Imagem de satélite da antiga via férrea. Fonte: Google Earth, 2022.
Intervenções: CALAÇA JÚNIOR. 2022

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 76


Em sua concepção não houve áreas destinadas a praças, parques ou
espaços verdes – algo comum à época e a bairros industriais, ao contrário do
que aconteceu no Bairro Jundiaí (como visto, havia apenas “áreas de lazer”
no Conjunto Eldorado). Há apenas um grande terreno destinado ao uso
institucional, que mais tarde passou a abrigar uma escola estadual. Alves
Junior (2019) relata que inicialmente o bairro comportaria indústria, residên-
cias, comércio e serviço com lotes divididos e separados para tais – conforme
características da cidade industrial. Porém, na prática houve uma formação
mista, com ambos os usos convivendo simultaneamente em todos os setores
do bairro, de uma forma não muito racionalizada ou ordenada (ALVES JUNIOR,
2019). O único setor que se manteve residencial, com pouco comércio e longe
da atividade industrial, foi o Conjunto Eldorado.
O Moinho Catarinense, os galpões, a indústria Brejeiro e a Estação
Engenheiro Castilho permaneceram no tempo como marcos55 na paisagem
do bairro. Nas imagens de satélite (fig. 24)56 é possível observar que essas
construções permanecem edificadas com poucas alterações.

55 Segundo Lynch (1982), marcos são os pontos de referência em uma cidade, nos quais as pes-
soas não podem entrar, apenas observar. Por mais que possam ser edifícios, os marcos funcionam
apenas como recurso visual.
56 As imagens foram obtidas através do recurso “imagens históricas” do aplicativo Google
Earth. Ele proporciona imagens de 1985 até os dias atuais, porém, a imagem mais antiga possui
uma péssima qualidade que não é possível realizar análises precisas. A mais antiga após esta é de
2003, adotada no texto. Imagens de melhor qualidade em outras fontes não puderam ser obtidas
até a revisão final do texto.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 77


N

0 400 800

km 2003
0 400 800

km 2003

2022
0 400 800

km

Estação Ferroviária Engenheiro Castilho e armazém de apoio

Indústria Brejeiro

Vila Industrial

Moinho Catarinense

Vila Industrial

figura 24: Imagem de satélite de 2003 e 2022 ressaltando edificações da Vila Industrial.
Fonte: Google Earth, 2022. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR. 2022.

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 78


Nota-se, na imagem de satélite de 2022 (fig. 24), que grande parte
dos terrenos vazios passaram a abrigar algum tipo de uso, e parte continua
sem uso. Esses terrenos vazios são chamados de vazios urbanos, que segundo
Dittmar (2006, p. 69) podem ser vazios de uso (espaço abandonado, com uso
antigo inexistente), vazio físico (área ociosa, espaço subutilizado) ou vazio
físico e de uso (espaço desocupado ou subutilizado). Na Vila Industrial é
possível observar os vazios de uso através dos terrenos ociosos, que possuem
algumas edificações, e também os vazios físicos, por meio dos terrenos sem
edificações.
Observa-se que o bairro permaneceu sem grandes modificações
em sua estrutura física. O traçado pretendido no projeto de 1954 foi seguido,
de forma que suas ruas e avenidas seguem fielmente o desenho proposto.
Ressalta-se que as vias horizontais são mais largas, enquanto as vias verticais
são menores – projeto pensado para facilitar o escoamento da produção
através das indústrias e via férrea.
Por meio do projeto (fig. 25) nota-se que havia uma expectativa de
que o bairro prosperasse e atendesse as demandas imobiliárias devido a
quantidade de lotes a disposição e sua ótima localização, ainda com o fato
de haver a ferrovia dentro de seu limite. Essas características colocaram o
bairro em um ponto focal da cidade durante o período em que a Estação
Engenheiro Castilho funcionou como ponta de linha.

figura 25: Projeto da Vila Industrial. Fonte: Mapoteca Municipal da Prefeitura de Anápolis
– acervo de Osvaldo Alves, 2019

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 79


Nesse contexto, algumas vias exerceram e ainda exercem influência
nas atividades do bairro e também na cidade, sendo elas: a Avenida JK. a
Avenida Presidente Wilson e a Rua 10. Estas formam importantes eixos de
ligação do bairro com outras áreas da cidade, as configurando como os maiores
representantes do fluxo de pessoas e veículos da Vila Industrial.
A Avenida JK liga o bairro à BR 060 e BR 15357, bem como a Avenida São Francisco.
A Avenida Presidente Wilson faz a ligação da Rua Amazílio Lino de Souza com
a Rua 10. Esta realiza a ligação da Avenida Brasil com a Avenida JK (fig. 26).

0 400 800

km

Vila Industrial Vila Industrial Avenida Presidente Wilson

Vila JK Rua Amazílio Lino de Souza

Rua 10

figura 26: Imagem de satélite da Vila Industrial, ressaltando principais vias.


Fonte: Google Earth, 2022. Intervenções: CALAÇA JÚNUIOR, 2022.

57 Importante rodovia que conecta a região sul à região norte do país.

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 80


A evolução da Vila Industrial ao longo do tempo esbarra por alguns
agentes que protagonizaram o desenvolvimento de Anápolis, em especial a
rivalidade política exercida pelo Grupo Pina58 e Jonas Duarte59. Estes rivali-
zaram nas áreas políticas e econômicas através da criação de bancos, aquisição
de lotes, disputas em campanhas eleitorais e ramos empresariais.
Grande parte dos lotes da Vila Industrial pertenciam a um mesmo
proprietário ligado ao grupo apoiador de Jonas Duarte. Já o Grupo Pina
detinha grande influência em Anápolis, desde ao início da indústria na cidade
através das olarias da Vila Fabril, passando pela manutenção da ferrovia
através de seus armazéns e empreendimentos comerciais à atual verticalização
do bairro Jundiaí.
A família possuía terras e fazendas, fazendo da agricultura e comércio
suas atividades econômicas inaugurais. A partir de 1930, observando o
processo de construção da nova capital e as transformações que Anápolis
sofreria com a chegada da ferrovia, o Grupo Pina passou a investir na indústria,
sendo a Induspina S/A – indústria de tijolos, telhas e cerâmicas localizada na
Vila Fabril, o marco inicial. Alguns anos depois, investiram também no ramo
de energia elétrica através da Companhia Força e Luz e posteriormente no
ramo de tecelagem, através da Companhia Goiana de Fiação e Tecelagem.
Nota-se, aqui, portanto, que o Grupo Pina foi o principal percursor da
indústria e dos bairros industriais em Anápolis, participando do processo de
formação e consolidação da Vila Fabril e também da Vila Jaiara – onde estava
localizada a Companhia Goiana de Fiação e Tecelagem (futura Vicunha S/A)60.

58 A família Pina se mudou para Anápolis, vindo de Pirenópolis, em 1911. Dentre os principais
nomes da família estão: Aquiles de Pina; Agostinho de Pina; Carlos de Pina e Luiz Antônio de Pina,
pessoas que exerceram protagonismo e influência em diversas áreas da cidade. A família constituiu
comércio no centro da cidade assim que chegaram e com o tempo se tornou detentora de diversos
empreendimentos, como um banco, empresas automobilísticas, armazéns. indústrias, tabacarias,
engenhos, marcas de café, entre vários outros.
59 “Jonas Duarte se constituiu como empresário urbano e opositor político dos irmãos Pina. Em
1947, na disputa pela prefeitura de Anápolis, chegou a ganhar as eleições na zona urbana da cidade,
sendo derrotado na zona rural, resultando numa vitória apertada de Carlos de Pina. Posteriormente,
com a perda de grandes áreas rurais e distritos da cidade, o grupo econômico, associado às ativ-
idades urbanas, ligado a Jonas Duarte, ganha força. Assim, sua atuação política também cresce e
passa, a partir da década de 1960, a superar o prestígio e influência dos Pina. (POLONIAL, 2007)”
(FERNANDES, 2019, p. 76)
60 Além da indústria pertencente ao Grupo Pina, Luiz Caiado de Godoy, fundador da Vila Jaiara,
foi casado com Maria Abadia de Pina.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 81


Por conta do sucesso exercido pela indústria, a Vila Jaiara fora
chamada de “Suíça brasileira” pelo jornal O ANÁPOLIS, conforme o trecho:
“nossa Suissa Brasileira, que é a Vila Jaiara, prospera e se enriquece [...]”
(O ANÁPOLIS, 1950).61
O Grupo Pina também detinha influência em todo o processo de
armazenamento e exportação de grãos. Em 1935, houve a criação, por parte
‘dos Pina’, da Companhia dos Armazéns Gerais, pioneira no segmento, locali-
zada na Praça Americano do Brasil, em frente à Estação Central – se tornando
influente na atividade ferroviária. Isto garantiu o total protagonismo do Grupo
Pina neste setor, centralizando a produção, o beneficiamento, a estocagem e
o transporte de grãos; da produção ao carregamento final, todo o processo
era controlado pela família pina. (FERNANDES, 2019)
Dessa forma, os aspectos principais que circundam a Vila Industrial
desde sua formação – ferrovia e indústria – esbarram pelo Grupo Pina e
sua influência na cidade, de modo que tal protagonismo é exercido até a
atualidade através da verticalização do bairro Jundiaí e a futura verticalização
da Vila Industrial, bairro limítrofe, através da construtora ENGECOM. Esta foi
fundada por Arnaldo Jayme de Pina e Claudio Cavalcanti Gianni Plugisi em
1986 e realiza projetos públicos e privados em Anápolis.
O Genesis Office, construído pela ENGECOM, representa parte de
um novo início para Vila Industrial – em que as atuais características cedem
espaço a um bairro que abrigará grandes edificações verticais e passará por
um processo de gentrificação62, como ocorre em localidades por onde o capital
imobiliário é o motor de transformação urbana. Diante desse intenso processo,
tem-se o risco de que parte do acervo arquitetônico contido no bairro - que
engloba seus galpões, moinho e Estação - se perca ou seja desconfigurado.
O valor histórico dessas edificações ressalta que elas merecem ser
focalizadas e entendidas como um acervo único, em que as transformações
urbanas devam engloba-las de forma a ressaltar suas potencialidades. Para tanto,
é necessário a compreensão do papel que elas representam diante da
paisagem do bairro, em que contexto estão inseridas, seu atual estado de
conservação e como são apropriadas pela população.

61 Confirma-se, portanto, que o jornal O ANÁPOLIS comparava Anápolis a diversas regiões indus-
triais ao longo dos anos, engendrando na cidade e na população essa característica.
62 Fenômeno que atua sobre uma região e que afeta na mudança da composição das
dinâmicas do local. Através da especulação imobiliária, os preços de aluguel e custo de vida sobem e o
grupo de pessoas que ali residia acaba por não poder mais arcar com os custos elevados e se
muda, ocasionando em uma transformação do local.

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 82


2.2 A Paisagem Urbana

As cidades são formadas a partir de processos históricos, econômicos


e sociais que podem ser apreendidos em sua paisagem – entendida a partir
de aspectos físicos como traçado, vegetação, edificações, como também dos
aspectos imateriais, através das relações sociais, sons, odores, cotidiano, entre
outros. Para apreender a paisagem, a compreensão desses fatores se revela
parte necessária para visualiza-la além do que a vista abarca.
A observação dos aspectos citados deve levar em consideração seu
lugar, o momento histórico em que estão inseridos e sua localização. Cada
elemento e momento histórico “muda seu papel e a sua posição no sistema
temporal e no sistema espacial e, a cada momento, o valor de cada qual
deve ser tomado da sua relação com os demais elementos e com o todo.”
(SANTOS, 1985, p. 7). Ou seja, cada objeto deve ser entendido a partir de seu
contexto histórico, temporal e espacial, sem que haja a desvinculação com os
elementos do todo. Os lugares – que podem ser um objeto ou um conjunto
de objetos – podem sempre mudar de significado, dado que sofrem de
movimentos sociais constantes. A localização faz parte disso, em que
cada localização é [...] um momento do imenso movimento do
mundo, contido em um ponto geográfico, um lugar. E é por
causa desse movimento social que cada lugar muda, sem cessar,
de significação: a cada instante as frações da sociedade que o
concernem não são as mesmas. Localização e lugar são, portanto,
duas coisas distintas. O lugar pode permanecer o mesmo
enquanto que as localizações mudam [...]. A localização é um feixe
de forças sociais convergentes em um lugar. (SANTOS, 1985, p. 7)

O espaço engloba essas características, levando em consideração


também os aspectos econômicos, a infraestrutura, o homem, as instituições.
Portanto, a paisagem urbana representa um complexo emaranhado de carac-
terísticas sociais, econômicas, políticas e morfológicas que está inserido em
determinada localidade. Para compreende-la, deve-se haver a compreensão
de suas diversas partes e de como elas relacionam entre si e com o exterior.
Santos (1985) elenca alguns aspectos que podem ser apreendidos ao
analisar uma paisagem urbana, sendo eles: forma, função, estrutura e processo.
A forma seria o aspecto visível no presente, em que seu passado é parte funda-
mental para entende-la – mesmo que em um primeiro momento ele possa ser
ignorado. A função é uma atividade ou tarefa atribuída à uma forma, instituição,

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 83


pessoa, etc. A estrutura é a relação que a função e a forma exercem entre si, a
forma de organização. E o processo é uma ação contínua, em que o tempo e a
continuidade exercem influência sobre os aspectos anteriores.
Para exemplificar, é possível compreender que em uma edificação
qualquer, sua forma é a edificação propriamente dita, suas paredes, sua
estrutura física, janelas, portas, levando em conta como ela foi construída ao
longo de sua existência. A sua função é o que ela foi projetada para ser... um
hospital, por exemplo. A estrutura é a relação exercida pelo hospital, enquanto
forma e função, com o entorno, com as pessoas, com a cidade. Já o processo
é como esse hospital evoluiu e evoluirá ao longo do tempo, como ou se será
modificado, demolido, se mudará de função, entre outros.
Diante disso pode-se apreender que a paisagem urbana é dinâmica,
em que o tempo é o principal motor de modificação. Logo, a paisagem se
torna uma acumulação de tempos em que
é formada pelos fatos do passado e do presente. [dessa forma] A
compreensão da organização espacial, bem como de sua evolução,
só se toma possível mediante a acurada interpretação do processo
dialético entre formas, estrutura e funções através do tempo.
(SANTOS, 1985, p. 37).

Uma cidade é desenvolvida a partir de uma acumulação de diversos


tempos, períodos, histórias, processos... em que diversas forças agem sobre
sua estrutura, como a política, a economia, os grupos sociais, as tradições,
a cultura, entre outros. Logo, a cidade – e por consequência, a paisagem
urbana – deve ser entendida como um organismo vivo, que está em um
constante processo de modificação e evolução.
Ressalta-se que a forma responde a uma função, em que uma vez que
criada, fica à espera de atender a uma nova função pela sociedade assim que
for necessário. Santos (1985) diz que não se pode destruir completamente uma
forma precedente, uma vez que as rugosidades – formas remanescentes do
passado – devem ser levadas em questão quando a sociedade desejar impor
novas funções às formas. Dessa forma, o autor diz que que uma cidade não
pode destruir em totalidade suas edificações pré-existentes quando desejar
criar novas, mas sim, deve realizar uma mistura de formas, novas e velhas, de
forma a adequá-las às novas funções ou adequar as novas formas às funções
ali pré-existentes.
Para além das relações de espaço e tempo, a paisagem se desenvolve

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 84


também através das percepções – momento em que sons, odores, sensa-
ções físicas e a relação que cada indivíduo tem com o espaço, se tornam
protagonistas da apreensão da paisagem urbana. Pallasmaa (2011) diz que o
som pode criar atmosferas, se tornando motor da criação de experiências e
do entendimento do espaço. Não só a audição tem esse poder, como também
o olfato e o tato. São outras formas de experienciar a paisagem, em que é
possível ultrapassar os aspectos visuais.
O eco dos passos sobre uma rua pavimenta - da tem uma carga
emocional pois o som que reverbera nos muros do entorno nos
põe em interação direta com o espaço; o som mede o espaço e
torna sua escala compreensível. Acariciamos os limites do espaço
com nossos ouvidos (PALLASMAA, 2011, p. 48).

A paisagem urbana, então, pode ser entendida como “tudo aquilo


que nós vemos, o que nossa visão alcança [...]. Esta pode ser definida como
o domínio do visível [...].Não é formada apenas de volumes, mas também de
cores, movimentos, odores, sons etc.” (SANTOS, 1988, p. 21). Nesse sentido,
a paisagem possui escalas diferentes e assume pontos de vista diferentes
dependendo do observador, em que pode ser englobado os aspectos de
percepção subjetiva. Logo, Logo, a sua dimensão é a percepção, o que chega
aos sentidos, o que chega aos sentidos (SANTOS, 1988).
Neste campo da percepção, a subjetividade é peça central. A reali-
dade pode ser apreendida de diversas maneiras de acordo com o observador
– cada indivíduo pode ter uma percepção diferente. Dessa maneira, tem-se
um desafio em entender a paisagem para além do material, de modo a
compreende-la a partir da forma em que foi construída e de sua relação
com aspectos físicos e imateriais.
O entendimento da paisagem urbana proposto por Meneses (2002)
coincide com essa interpretação. O autor diz que a paisagem deve ser apre-
endida como um objeto de apropriação estética e sensorial. Ela tem uma
natureza objetiva, é material, real, e pode ser percebida. Mas, considera-la
somente como um objeto torna a apreensão desta restrita. É necessário consi-
dera-la para além das questões físicas, como conhecer os fatores culturais,
sociais e históricos presentes em sua percepção.
Em complemento, Scherer (2002) diz que a paisagem urbana é
um conjunto que engloba tanto as edificações – sejam as monumentais, a
arquitetura comum e autoconstrução – como as relações que esses edifícios
estabelecem entre si, seja na malha urbana, seja com a sociedade. A paisagem

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 85


urbana evidencia “o modo como nos núcleos urbanos se relacionam as insti-
tuições e as diferentes classes sociais, em síntese: materializam a um só tempo
a estruturação física e social interna da cidade.” (SCHERER, 2002, p. 84)
Na compreensão da paisagem urbana, pode-se percorrer caminhos
que ligam à morfologia urbana. Lamas (1992) entende que a forma da cidade
é resultado dos fatores políticos, culturais e socioeconômicos. É determinada
por concepções estéticas, culturais, ideológicas ou arquitetônicas – em que
a arquitetura é a forma do espaço humanizado. O autor diz que a paisagem
urbana é um território, ou parte dele, que é apresentado ao observador. O
conceito de território pode ser entendido como um
espaço construído pelo homem, em oposição ao que pode-
ríamos designar por ‘espaço natural’ e que não terá sido
humanizado. É o espaço onde o homem exerce a sua ação,
transformando-lhe as condições físicas, impondo-lhe a “sua
ordem. (LAMAS, 1992, p. 63).

Desse modo, a morfologia urbana auxilia no processo de leitura da


paisagem, em que, através dela, é possível observar a estrutura espacial
e as características físicas do meio urbano – ou seja, o estudo das formas
urbanas. Lamas (1992) define a morfologia como a ciência que é responsável
pela análise da forma e a relação desta com os aspectos que a conceberam.
A partir de um estudo sobre a obra ‘Consideraciones sobre la
morfologia urbana y la tipologia constructiva’ de Aldo Rossi, Amorin (2006)
ressalta características que o autor e arquiteto elencou para estudar a forma
da cidade – os sistemas sociais e a estrutura espacial. O primeiro diz respeito
aos aspectos econômicos, políticos e sociais, enquanto o segundo divide a
morfologia em três escalas, rua bairro e cidade. A rua seria a escala do obser-
vador, que propicia a investigação dos elementos morfológicos – dimensão de
via, vegetação, topografia, pavimentação, mobiliário urbano, entre outros. O
bairro é um conjunto de características comuns em um espaço, obedecendo
a um critério social que engloba divisão de classes e funções econômicas.
Dentro de um bairro há uma paisagem urbana predominante63, em que seu
conjunto a distingue de outros – pois, cada bairro, responde a um conteúdo
social e função próprios. A cidade, por sua vez, é o conjunto de bairros,

63 Ressalta-se que, apesar de um bairro ter uma característica comum que torna sua paisagem
urbana uma unidade, está é possível devido a diversos elementos da paisagem que se unificam em
torno de uma. Dentro da paisagem urbana do bairro há a leitura de diversas paisagens.

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 86


compreendendo todo o ambiente urbano (ROSSI, 1995; AMORIN, 2006)
Rossi (1995) considera ainda que o entendimento da cidade é possível
através da compreensão de que ela é construída ao longo do tempo, que é
possível verificar a sua continuidade espacial e que a estrutura urbana revela
elementos capazes de analisar o desenvolvimento urbano. Dessa forma, é
possível analisar cada área da cidade de forma isolada, a partir do enten-
dimento de que ela faz parte de um conjunto. A definição de uma área de
estudo, porção da cidade, bairro, etc, auxilia na análise das suas características
físicas e sociais.
Lynch em sua clássica obra ‘A Imagem da Cidade’ de 1960, referência
até a atualidade, elenca alguns elementos que são possíveis apreender na
paisagem, de forma a realizar uma análise global do território urbano, são
eles: percursos, pontos nodais, setor, limites e os marcos. Os percursos são
os caminhos, as ruas, calçadas, estradas de ferro. Pontos nodais são focos
pode onde o observador pode ir, uma referência de movimentação, esquinas,
praças, bairros. Os setores são os bairros, partes da cidade que possuem
alguma característica em comum que os identifique – conceito que coin-
cide com o de Rossi (1995). Limites geralmente são elementos lineares que
quebram a continuidade de alguma região, podem não ter permeabilidade
para circulação ou constituir-se apenas visualmente. (LYNCH, 1960)
Lamas (1992) complementa esses elementos e caracteriza aspectos
mais detalhados que possibilitam a análise e compreensão da forma urbana,
sendo eles: o solo, o lote, o edifício, o quarteirão, a fachada, o logradouro,
o traçado, a praça, o monumento, a vegetação e o mobiliário urbano.
Através desses elementos físicos é possível realizar a análise da paisagem
urbana a partir da morfologia, de forma que eles podem revelar também
aspectos sociais, políticos, culturais e econômicos.
Por meio do estudo da morfologia urbana pode-se identificar quais
agentes influem diretamente no desenvolvimento urbano, em que Rossi (1995)
diz ser o fator econômico o principal causador da transformação urbana. O
autor ressalta que o capital e a especulação imobiliária influem diretamente
na forma da cidade, de modo que os empreendimentos realizados nas cidades
são construídos apenas mediante o lucro que podem gerar. Grandes inter-
venções urbanas, edificações e obras de infraestrutura são feitas de modo a
garantir que áreas da cidade sejam valorizadas, gerando fenômenos urbanos
como a gentrificação.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 87


É de interesse de empreiteiras e construtoras que o lucro prove-
niente da especulação imobiliária seja garantido. No Brasil, o fenômeno
de grandes empreendimentos nas cidades tem ganhado força nas últimas
décadas. Em Balneário Camboriú, por exemplo, houve uma grande obra de
alargamento da faixa de praia64, primariamente influenciada e financiada
por grandes construtoras que desejam lucrar às custas da natureza. Arranha-
céus de alto padrão são construídos de forma deliberada, sem qualquer tipo
de infraestrutura urbana que os justifique, enquanto a cidade se afunda em
meio a um plano diretor dominado pelo capital imobiliário. Intervenções
que visam a especulação imobiliária são também presenciadas em outras
localidades do país, como Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, entre outras.
Em Goiás, fenômenos deste tipo estão ganhando força. Em Goiânia
e Anápolis, a construção de grandes edifícios multifuncionais tem instigado
o mercado imobiliário. Essas edificações, geralmente prédios que possuem
em torno de trinta ou mais andares, representam, aos olhos da população
em geral, o desenvolvimento urbano que as cidades almejam. Eles não vêm
acompanhados de um bom estudo de impacto na paisagem, são projetados
e construídos sem considerar seu entorno e a vida que ali abriga. É o caso do
Genesis Office, em Anápolis, e o Nexus Shopping & Business, em Goiânia –
dois grandes edifícios multifuncionais desligados de seu entorno.
Portanto, a análise da paisagem urbana transita por diversas áreas.
Rossi (1995) diz que o diálogo entre a arquitetura, a história, a geografia e a
sociologia torna-se fundamental para entender a forma urbana. Esta pesquisa
realiza uma análise da paisagem urbana da Vila Industrial e todo o contexto
abordado serve como apoio para a aplicação do método de análise, de forma
que seja possível identificar os elementos que a difere dos demais bairros
da cidade, dado que é um bairro com quase setenta anos e localizado entre
duas centralidades de determinada importância na cidade.
Ainda, embora tenha uma ótima localização e características que o
tornam ponto focal para grandes empreendimentos, ressalta-se que atual-
mente o bairro apresenta algumas características de brownfield – instalações
industriais subutilizadas ou ociosas, que envolvem tanto terrenos quanto

64 O resultado do alargamento pode ser acessado no seguinte endereço eletrônico:


http://glo.bo/3SkFNEA. (Acesso em 01/08/2022)

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 88


edificações65 – mesmo que seja possível visualizar transformações em
andamento. A realização da análise da paisagem urbana visa identificar os
pontos que carregam essas características, compreendendo como esses
espaços antes produtivos tornaram-se espaços de medo, rejeição e margi-
nalidade... caracterizando uma paisagem urbana que possui elementos que
a população rejeita. (VASQUES. 2006)

2.2.1 Unidades de Paisagem.

O método de análise da paisagem divide o bairro em quatro zonas


– chamadas de Unidades de Paisagem – de forma a facilitar o entendimento
das características de sua paisagem, compreendendo as diferenças entre essas
unidades e como elas correlacionam entre si. As características morfológicas
apontadas por Lamas (1992) e Silva (2007) – como praças, ruas, enquadramento,
infraestrutura, edificações, padrões de uso, vegetação, espaços públicos, etc
– são contempladas em cada unidade de paisagem, a fim de destrinchar as
características que a tornam uma paisagem urbana histórica.
A definição de paisagem histórica urbana foi proposta pela UNESCO
em 2011. Segundo a proposta, esta é uma noção que se estende para além do
trecho histórico (na maioria das vezes, a gênese do lugar), incluindo o contexto
urbano mais amplo e sua localização geográfica. Aqui estão inseridos a topo-
grafia, geomorfologia, hidrologia e recursos naturais, o ambiente construído,
a infraestrutura, espaços abertos e de jardins, o uso da terra e a organização
espacial, as percepções e relações visuais, práticas e valores sociais e culturais,
processos econômicos e as dimensões intangíveis do patrimônio relacionado
com a diversidade e identidade (UNESCO, 2011).
Correlacionado à paisagem histórica urbana, há o conceito de
paisagem cultural – termo proposto pela UNESCO em 1992. É um dispositivo
que valoriza não só a própria paisagem, mas os habitantes que colaboram para
a sua configuração, com suas intervenções ou os valores por eles atribuídos
(IPHAN, 2009). As paisagens culturais podem ser caracterizadas através da
percepção do território, dos testemunhos do passado e da relação existente
entre os indivíduos e o seu meio, abarcando as especificidades das culturas

65 Não há consenso quanto a definição exata de brownfield. Esta pesquisa utiliza o conceito
adotado por Vasques (2005, p. 11), sendo “todos os empreendimentos econômicos que um dia
foram desativados, e que, com a consequente deterioração física natural, transformaram-se em
áreas abandonadas.”

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 89


locais, as crenças, práticas, costumes, tradições e singularidades (FÉRES, 2017).
Portanto, a paisagem cultural se refere ao conjunto e ao contexto o qual aquela
porção territorial está inserida – pensando nas relações que as edificações
estabelecem na paisagem, e não como monumentos isolados.
Silva (2007) entende que a paisagem é um quadro natural, que
transcende a noção de entorno – vizinhança, proximidades, cercanias de um
objeto, arredores de um bem – e é resultado dos condicionantes naturais e
da força criadora do homem. É nela que há a materialização da relação entre
a natureza e o homem, dentro das noções de tempo e espaço. Dessa forma,
é possível entender que um bem, seja ele tombado ou não, não pode ser
compreendido isoladamente, é necessário que toda a paisagem circundante
seja considerada nessa leitura.
Compreende-se que a paisagem urbana é um sistema de paisa-
gens que a torna homogênea e coesa dentro deste. A realização da análise
da paisagem urbana da Vila Industrial constitui-se em quatro Unidades de
Paisagem – áreas que agregam aspectos em comum sensíveis à percepção
humana. Aqui, há a predominância do sentido visual, mas sem deixar de
considerar os outros sentidos inerentes à percepção da paisagem. Portanto,
a Unidade de Paisagem configura-se como uma subdivisão do sistema, em
que os elementos da paisagem encontrados nela seguem um padrão em
comum (SILVA, 2007).
A divisão das Unidades de Paisagem na Vila Industrial pode ser obser-
vada a seguir (fig. 30). As UP’s agrupam partes do bairro em características
comuns – seja por perfil de uso, gabarito, fachadas, edificações, parcelamento,
vegetação e etc.

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 90


N

0 400 800

km

Unidade de Paisagem 1: Avenida Presidente Wilson Vila Industrial

Unidade de Paisagem 2: Residenciais

Unidade de Paisagem 3: Região Industrial da Avenida JK.

Unidade de Paisagem 4: Interior do Bairro

figura 27: Vila Industrial dividida em Unidades de Paisagem. Fonte: Google Earth, 2022.
Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

A Unidade de Paisagem 1 (UP1) compreende a região da Av. Presidente


Wilson. Nela há a maior intensidade de movimento e comércio da região,
contemplado por mercados, restaurantes, bares, a Estação Ferroviária e seu
armazém de apoio, além de diversos galpões.. Aqui há alguns condomínios
de edifícios de 4 andares que convivem com a movimentação diurna. Há duas

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 91


praças, uma de frente a um supermercado, próximo à Estação Engenheiro
Castilho e outra fora dos limites do bairro – no bairro Vila Góis – que possui
um coreto em bom estado de conservação. A praça está em frente à Estação
e compõe sua paisagem.
Na Vila Industrial há diversos padrões de edificações, e os condomínios
residenciais são um deles. Ao longo da Av. Pres. Wilson há três condomínios de
prédios de quatro andares, um condomínio fechado de casas e duas regiões
residenciais com casas semelhantes dispostas de maneira idêntica. Essa região
compõe a segunda Unidade de Paisagem (UP2).
A terceira Unidade de Paisagem (UP3) está compreendida na região
industrial da Av. JK – que, como visto, é uma importante avenida da cidade,
fazendo ligação com a BR153 e representa o limite entre o bairro Jundiaí e a Vila
Industrial. A divisão agrupa os galpões que compõem a parte mais significativa
desta tipologia no bairro. O “paredão” de galpões, edificados um ao lado
do outro. se destaca na paisagem. Nesta UP, também está compreendido a
indústria Brejeiro, uma distribuidora de energia da Enel66 e outras indústrias.
Os galpões aqui convivem com algumas residências enquanto há alguns
terrenos ociosos ou vazios.
A quarta Unidade de Paisagem (UP4) contempla a região mista do
bairro – residências, escolas, comércio e serviço. Esta região não possui algo
significante na paisagem, embora conviva com alguns galpões e a intensa
movimentação causada por estes. O edifício Genesis Office está inserido nessa
UP e representa um ponto fora da curva no bairro por se apresentar como
algo novo e desconexo do seu entorno. Ele pode representar uma mudança
nos padrões de uso que deve ser observado.
A divisão do bairro nas quatro zonas facilitou a metodologia do levan-
tamento de campo, em que as Unidades de Paisagem foram analisadas em
dias diferentes, e por fim, realizada uma análise geral do bairro. A observação
do bairro e o levantamento de campo foram realizados entre os meses de
setembro e outubro de 2022. As fotos foram tiradas durante os dias 14, 17 e 25
de outubro de 2022 – os dias foram escolhidos com base na meteorologia. A
análise dos dados foi feita após a conclusão do levantamento.
Unidades de Paisagem previamente divididas receberam novos
contornos conforme o levantamento de campo foi realizado (fig. 31). Elas
foram divididas anteriormente nesta pesquisa com base no conhecimento

66 Na data em que o levantamento foi feito, compreendido entre setembro e outubro de 2022,
a distribuidora de energia vigente em Goiás era a Enel.

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 92


prévio do autor sobre o bairro – através de estudos anteriores feitos em
disciplinas na graduação de arquitetura e urbanismo67, em leituras de refe-
renciais que analisaram a Vila Industrial, bem como de passeios pela região
durante a pesquisa. Através do levantamento realizado pelo autor foi possível
concluir que diversos elementos só podem ser apreendidos de acordo com a
experiência de viver a cidade, de andar e observar estando atento às diversas
características que compõem o bairro – sejam elas físicas ou imateriais.

Unidade de Paisagem 1: Avenida Presidente Wilson Vila Industrial

Unidade de Paisagem 2: Residenciais

Unidade de Paisagem 3: Região Industrial da Avenida JK.

Unidade de Paisagem 4: Região Mista

figura 28: Diagrama de modificações das Unidades de Paisagem. Fonte: Google Earth.
Intervenções: CALAÇA JÚNIOR. 2022.

67 O autor detinha conhecimento prévio do bairro através das disciplinas de Projeto Urbano III e
Projeto Integrado de Arquitetura e Urbanismo I, II e III (correspondente ao Trabalho de Conclusão
de Curso) da Universidade Evangélica de Goiás, entre 2017 e 2018. Nestas, foram realizados levan-
tamentos de campo utilizando carro e a ferramenta online Google Street View.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 93


O método de análise de dados consistiu em uma catalogação das
imagens em um aplicativo para computador – CorelDraw – em que um mapa
contendo a Unidade de Paisagem foi posicionado ao centro, e as imagens
apreendidas no levantamento de campo foram guiadas por setas ao local em
que foram fotografadas, acompanhadas de um pequeno texto ressaltando
as apreensões feitas pelo autor através dessas imagens – selecionadas de
acordo com que poderia ser apreendido de cada uma delas. Todas as imagens
trazem alguma interpretação sobre o bairro. Na imagem abaixo
(fig. 29) é possível observar como essa análise foi realizada.

figura 29: Printscreen do aplicativo CorelDraw. Fonte: CALAÇA JÚNIOR. 2022

Como forma de facilitar a leitura da paisagem urbana, a análise de


cada Unidade Paisagem a seguir é guiada por um mapa enumerado acom-
panhado de fotos, correspondente ao mesmo percurso feito pelo autor ao
realizar o levantamento de campo. A intenção é que o leitor tenha a experi-
ência de percorrer o bairro a partir do ponto de vista do autor, observando
os pontos levantados ao decorrer do texto. A ausência de pessoas nas fotos
foi um movimento intencional, para que não haja complicações com direitos
de imagem, porém, esse recurso só se tornou possível devido, realmente, à

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 94


ausência de pessoas andando pelo bairro – onde foi possível observar uma
movimentação vicinal, em maioria nas áreas residenciais. A maior concen-
tração de pessoas foi observada nas duas maiores avenidas do bairro, JK e
Presidente Wilson, e na Rua 10 – visualizadas a seguir nas Unidades de
Paisagem.
Ao fim da análise de cada Unidade de Paisagem, há um quadro
contendo as características gerais apreendidas em cinco níveis de intensi-
dade – quanto maior o nível, maior a concentração deste item neste recorte
de paisagem. O quadro é composto pelas seguintes características: boa
infraestrutura (correspondente a asfaltamento, lixeiras, calçadas, mobiliário
urbano, iluminação e escoamento de água pluvial); presença de atividade
comercial, de atividade industrial, de residências, de galpões; sensação de
insegurança; trânsito de carros, de caminhões, de pedestres; mau odor; e
presença de vegetação. O objetivo é realizar um resumo do que foi apreen-
dido durante o percurso, de forma a facilitar a compreensão geral do leitor
a respeito dos aspectos citados durante o texto.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 95


2.2.2 Unidade de Paisagem 1: Avenida Presidente Wilson.

1
N

6
3

4
7 10

5
9
8

0 200 400

km

Unidade de Paisagem 1: Avenida Presidente Wilson

Unidade de Paisagem 2: Residenciais

Unidade de Paisagem 4: Região mista

Vila Industrial

figura 30: Unidade de Paisagem 2 – Avenida Presidente Wilson com pontos


de referência. Fonte: Google Earth. Intervenções: CALAÇA. 2022

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 96


Ponto de referência 1 – UP1 (fig. 31)68:
Decide-se iniciar o percurso através da Avenida Presidente Wilson, inter-
secção com a Rua Amazílio Lino de Souza – próximo à Avenida JK – pois é o ponto
em que o Moinho Catarinense está localizado, pelo alta movimentação da Avenida
Presidente Wilson e pela proximidade com a Estação Ferroviária Engenheiro
Castilho. Nesse percurso é possível observar a dualidade de dimensões entre o
Moinho e o Genesis Office (Imagem 1.1), bem como a diferença entre o passeio
público de ambos os edifícios (Imagem 1.2). Essa diferenciação, mesmo que singela,
dialoga sobre o passado e o presente do bairro. A excessiva fiação também é um
fator que chama a atenção – um problema da maioria das cidades brasileiras.
Devido ao caráter comercial do Genesis Office, esse ponto apresenta
uma maior movimentação de pessoas – tanto de pessoas que vão ao edifício
trabalhar quanto de clientes que vão buscar serviços. Dessa forma, o edifício
se configura como um dos pontos focais no que tange a atração de pessoas
para o bairro. Ele será melhor abordado na UP4.

figura 31: imagem 1.1: Dualidade entre o Genesis Office e Moinho Catarinense;
imagem 1.2: Passeio público degradado do Moinho Catarinense em contraposição ao novo
e bem cuidado passeio do Genesis Office. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

68 Cada ponto de referência haverá uma figura, que conterá duas ou mais imagens. As imagens
são enumeradas de acordo com o ponto de referência, por exemplo: ponto de referência 1: imagem
1.1, 1.2, assim por diante. A numeração começa em 1 a cada unidade de paisagem. Adota-se essa
forma de enumeração para facilitar a compreensão devido a quantidade significativa de imagens.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 97


Ponto de referência 2 – UP1 (fig. 32):
Nas imagens 2.1 e 2.3 observa-se, novamente, a diferença de
dimensões entre o Moinho e o Genesis Office, bem como a materialidade
de ambos edifícios. O edifício novo convivendo com o antigo, de modo que
não há respeito pela pré-existência – devido à sua dimensão e proximi-
dade, contribuindo para que o edifício antigo praticamente desapareça na
paisagem. Entende-se que o Moinho seja um edifício em ruína e o respeito
pela pré-existência, neste caso, não é algo levado em consideração durante
a fase de projeto e construção de edifícios próximos. Porém, debate-se aqui
a importância de enxerga-lo como um ponto marcante (seja de caráter histó-
rico ou de relevância na paisagem) para o bairro – mesmo em ruínas, que,
inclusive, é o que mais chama a atenção no edifício atualmente.
O passeio público apresenta precariedade, juntamente com o ponto
de ônibus. Todo o trecho do ponto de referência 2 possui um trânsito caótico
que influi na poluição sonora, proporcionando ao transeunte uma sensação de
insegurança e desconforto, não incentivando a movimentação de pedestres.
A imagem 2.2 retrata funcionários trocando as propagandas de alguns
dos outdoors instalados no terreno que abriga o Moinho. Essa é a forma que
o proprietário desenvolveu para lucrar com o terreno, enquanto espera que
o edifício desabe e o terreno valorize..
Por fim, é possível observar através da imagem 2.4 o estado deterio-
rado dos galpões dessa região, embora estejam em funcionamento – como
oficinas ou armazenamento para reciclagem. A falta de vegetação também é
um fator que chama a atenção e que proporciona desconforto ao transeunte.

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 98


figura 32: Imagem 2.1: Contraposição entre o Genesis Office e Moinho Catarinense;
Imagem 2.2: Outdoors. Imagem 2.3: Sobreposição entre o Genesis Office e Moinho Catarinense;
Imagem 2.4: Galpões deteriorados. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 99


Ponto de referência 3 – UP1 (fig. 33):
Nesse trecho observa-se que a instalação dos trilhos influenciou no
traçado, e, quando retirado, deixou uma parcela do terreno sem uso – que é
apropriado pela população como uma praça descampada (Imagem 3.2), onde
durante a fase de levantamento viu-se crianças brincando e idosos sentados
jogando xadrez. Ao fundo, observa-se parte dos galpões vistos no ponto de
referência 2 (Imagem 3.1). Aqui o passeio público é curto e deteriorado. Possui
mais vegetação que outras partes do bairro. O trecho é tranquilo e o tráfego
de veículos parece não incomodar os moradores, que foram vistos em frente
às casas observando a rua.

figura 33: Imagem 3.1: Galpões ao fundo; Imagem 3.2: Passeio público degradado e praça descampada.
Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

Ponto de referência 4 – UP1 (fig. 34):


Esse trecho representa a Praça Joaquim Pinto Pontes e sua vista para
a Estação Ferroviária Engenheiro Castilho. Na imagem 4.1 é possível observar a
praça, que é conhecida como a praça do coreto e dos esportes. Ela está em um
ótimo estado de conservação – durante o levantamento haviam funcionários da
prefeitura trabalhando nela, realizando manutenção, pintura e limpeza. De acordo
com avaliações do Google, a praça é apropriada pela população, que tem memórias

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 100


relacionadas à FAIANA e ao uso das quadras de esporte, além de elogios à sua
arborização – não é comum que as praças de Anápolis sejam bem arborizadas.
As imagens 4.2, 4.3 e 4.4 mostram a vista que o transeunte tem para a
Estação Engenheiro Castilho quando percorre o passeio da praça. Observa-se
que a praça tem um respeito pela pré-existência, de modo que potencializa
o edifício ao proporcionar um lugar para contemplação e permanência em
frente a ele.
Durante o levantamento observou-se poucas pessoas transitando
pela praça, a maior parcela a utilizava como passagem para chegar até os
veículos estacionados à sua volta. Os momentos que ela é mais utilizada
consiste nos horários após as dezoito horas em dias uteis e aos fins de semana
– momento que se vê idosos e praticantes de esportes.

figura 34: Imagem 4.1: Praça Joaquim Pinto Pontes; Imagem 4.2, 4.3 e 4.4: Vista para a Estação Ferroviária
Engenheiro Castilho. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 101


Ponto de referência 5 – UP1 (fig. 35):
O terreno que abriga a Estação Ferroviária Engenheiro Castilho e o
armazém de apoio já foi utilizado de diversas formas pelo poder público muni-
cipal, sendo mais lembrado pela realização da FAIANA. Nas imagens 5.1 e 5.2 é
possível observar o armazém, que hoje abriga algumas secretarias municipais.
A imagem 5.3 mostra que parte do terreno é utilizado pelo poder municipal
como depósito de ônibus escolares em desuso. Também há um enorme galpão
que funciona como estacionamento (Imagem 5.4) e uma pequena praça,
provavelmente construída nos anos de funcionamento da FAIANA (Imagem
5.5). Devido a dimensão do terreno, é difícil que ele tenha um uso compatível
em toda a sua extensão.
Esse trecho é basicamente utilizado pelo poder municipal, com
tráfego de transeuntes e veículos limitados ao funcionamento da das secre-
tarias municipais..

figura 35: Imagem 5.1 e 5.2: Armazém de apoio à Estação/Secretarias Municipais; Imagem 5.3: Depósito
de ônibus escolares em desuso; Imagem 5.4: Galpão; Imagem 5.5: Pequena praça no terreno.
Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 102


Ponto de referência 6 – UP1 (fig. 36):
Através da imagem 6.1 é possível observar galpões – e o Moinho
Catarinense ao fundo – que contribuem para uma paisagem urbana industrial.
Aqui observa-se galpões de diversas tipologias, com aparência deteriorada e
passeio público precário. A movimentação de veículos é intensa durante o dia.
As imagens 6.2, 6.3 e 6.4 mostram galpões que são utilizados como
armazéns de produtos para reciclagem. O mau odor nesse ponto é forte,
possui tráfego de caminhões e observa-se escassa vegetação. Na imagem
6.4, ao fundo, é possível observar a atividade da indústria Brejeiro, por meio
de suas chaminés.
O passeio público nesse trecho, assim como nos anteriores, é precário.
Não há muita movimentação de transeuntes devido ao desconforto gerado
pela movimentação de caminhões e falta de vegetação. Também não há uma
grande quantidade de residências próximas. Na parte noturna, esse trecho
transmite insegurança devido ao encerramento das atividades nos galpões,
pouca iluminação e movimentação de pedestres.

figura 36: Imagem 6.1: Galpões e Moinho Catarinense ao fundo; Imagem 6.2, 6.3 e 6.4: Galpões
de armazenamento de produtos para reciclagem. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 103


Ponto de referência 7 – UP1 (fig. 37):
Esse trecho comporta parte da Avenida Pres. Wilson. Durante o trajeto
foi possível observar que a avenida possui uma intensa movimentação de
veículos, especialmente carros, não possui faixas de pedestres, impossibili-
tando uma fácil travessia entre as calçadas. Do lado do terreno que abriga
a Estação e o armazém de apoio o passeio é bem cuidado até certo ponto,
com vegetação que ajuda no escoamento pluvial e calçada equipada com
piso tátil direcional. Porém há uma abrupta interrupção causada por uma
erosão (Imagem 7.3), onde foi realizada uma obra que restringe a calçada,
momento que força o pedestre a transitar pela avenida – o que o coloca em
risco devido à intensa movimentação de veículos.
A avenida neste trecho possui pouca vegetação, é marcada pelo uso
comercial, pelo uso comercial - abrigando o mercado de grande porte Atende
Mais (Imagem 7.4), que representa parcela da movimentação do bairro durante
a parte diurna. Durante o levantamento foi possível observar que na praça em
frente ao mercado há uma maior apropriação da população local, seja como
ponto de permanência ou a presença de pequenos camelôs vendendo algum
produto. Imagina-se que a concentração desses comerciantes no local se dê
devido a movimentação de pessoas. Este foi o único ponto do bairro em que
foi observado este tipo de atividade durante o levantamento.
Durante a noite, com o comércio fechado, a movimentação se
restringe aos moradores do bairro ou bairros próximos. O mau odor não
atinge esse trecho.

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 104


figura 37: Imagem 7.1, 7.2 e 7.3: Passeio público Av. Pres. Wilson; Imagem 7.4: Mercado Atende Mais.
Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

Ponto de referência 8 – UP1 (fig. 38):


Ao se aproximar dos limites desta Unidade de Paisagem é possível
observar uma parte de transição, em que os galpões não estão presentes por
todas as partes e há uma maior predominância de residências e condomínios,
bem como edifícios comerciais que não parecem estar inseridos em um meio
caótico. Esse é o trecho final da Av. Pres. Wilson nesta Unidade de Paisagem.
A imagem 8.2 mostra como é a parte residencial do bairro nesse trecho.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 105


figura 38: Imagem 8.1: Trecho comercial da Av. Pres. Wilson com prédios residenciais ao fundo; Imagem
8.2: Miolo do bairro nesta Unidade de Paisagem. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

Ponto de referência 9 – UP1 (fig. 39):


Esse trecho representa o maior volume de galpões encontrados nesta
Unidade de Paisagem. Nas imagens 9.1 e 9.2 é possível observar três tipolo-
gias distintas de fachadas dos galpões. Os galpões estão em conservação
razoável, porém alguns contam com aparência deteriorada, o que contribui
para a sensação de insegurança. Há uma movimentação maior de caminhões
e um tráfego moderado de veículos. Durante o levantamento de campo obser-
vou-se que há pouca movimentação de pedestres, indicando caráter comercial
e industrial. Os galpões possuem usos primariamente de armazenamento, com
alguns realizando a reciclagem de produtos. Não há vegetação.
Nota-se que os trabalhadores dos galpões utilizam a calçada para
armazenar e estocar produtos, contribuindo para a baixa movimentação dos
transeuntes. O mau odor nesse trecho é mediano, com uma poluição sonora
razoável – em grande parte devido aos caminhões.

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 106


figura 39: Imagem 9.1 e 9.2: Tipologias de fachadas dos galpões. FONTE: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

Ponto de referência 10 – UP1 (fig. 40):


Este ponto representa outro limite desta Unidade de Paisagem, em que
é possível observar a presença de galpões de reciclagem, de transformação de
papel (papelões, caixas, embalagens) bem como a presença de casas e comércio
vicinal. A população local já se acostumou com a presença dessas atividades
na região, de modo que elas trazem segurança durante o dia. Na imagem 10.3
é possível observar a dimensão do edifício Genesis ao fundo. A imagem 10.4
mostra a precariedade do passeio público, e do ponto de ônibus, porém em
um estado de conservação melhor que dos pontos de referência anteriores.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 107


figura 40: Imagem 10.1: Galpão de reciclagem; Imagem 10.2: Galpão de transformação de papel;
Imagem 10.3: Galpões e residências, Genesis ao fundo;
Imagem 10.4: Passeio público precário. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 108


Características gerais – UP1 (fig. 41)

Boa infraestrutura

Presença de atividade comercial

Presença de atividade industrial

Presença de residências

Presença de galpões

! Sensação de insegurança

Trânsito de carros

Trânsito de caminhões

Trânsito de pedestres

Mau odor

Presença de vegetação

figura 41: Ilustração contendo as principais características da Unidade de


Paisagem 1 – Avenida Presidente Wilson. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 109


2.2.3 Unidade de Paisagem 2: Residenciais.

2
4

0 200 400

km

Unidade de Paisagem 1: Avenida Presidente Wilson

Unidade de Paisagem 2: Residenciais

Unidade de Paisagem 3: Região Industrial da Avenida JK

Unidade de Paisagem 4: Região mista

Vila Industrial

figura 42: Unidade de Paisagem 2 – Residenciais com pontos de referência.


Fonte: Google Earth.
Intervenções: CALAÇA. 2022

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 110


Ponto de referência 1 – UP2 (fig. 43):
A partir deste ponto da Avenida Pres. Wilson há a predominância de
residências, condomínios verticais (de no máximo quatro andares) e horizontais.
Há condomínios residenciais um ao lado do outro, totalizando quatro neste trecho.
Não se vê comércio e a impressão que se tem ao caminhar é de um bairro tranquilo
– embora, devido às diversas fachadas cegas, há a transmissão de insegurança.
Durante a noite, porém, em razão da ausência de comércio e ativações noturnas
(mesmo havendo uma igreja na região) a sensação de insegurança é maior.
A proximidade dessas residências com a atividade comercial vista no
início da Avenida Presidente Wilson (UP 1), em especial ao mercado Atende
Mais, torna fácil a locomoção dos residentes para a realização de tarefas
diárias, como alimentação, farmácia, igreja e serviços no geral – caso neces-
sário, também há atividade comercial no interior do bairro. Em complemento,
no trecho inicial da Avenida Pres. Wilson há circulação de transporte público.

figura 43: Condomínios residenciais na Av. Pres. Wilson. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 111


Ponto de referência 2 – UP2 (fig. 44):
Ao andar por esse trecho, observa-se um condomínio residencial em
construção69 em um terreno vazio próximo aos outros prédios (Imagem 2.2). A
Realiza Construtora pretende construir quatro torres de doze pavimentos cada, no
que pode ser considerado um residencial de alto padrão. Esse tipo de construção
poderá elevar o valor dos imóveis, e, aos poucos, mudar a paisagem urbana
da Vila Industrial. Observa-se a escala do novo empreendimento, destoando
da atual predominância de edifícios de quatro pavimentos vistos na região.
No site da construtora é possível observar como a empresa vende o
empreendimento, ressaltando a proximidade com o mercado Atende Mais
bem como com o Parque Ipiranga (Imagem 2.1). Embora não destacado na
peça gráfica, observa-se o Genesis Office à esquerda, grande influenciador –
juntamente com o efeito de borda que acontece no bairro Jundiaí – para que
residenciais como este integrem o bairro. Observa-se, também, o gabarito
predominante da região: predominantemente térreo e, ao fundo, edifícios
com mais de quinze andares pertencentes ao Jundiaí.
Próximo, há um condomínio horizontal isolado, com muros altos e
casas de um a dois andares (Imagem 2.3). O trecho é tranquilo, há pouca
movimentação de pedestres, pouco ruido e não há comércio significativo.

69 O texto se refere ao período em que o levantamento foi feito e a dissertação foi escrita – com-
preendido de setembro a dezembro de 2022.

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 112


figura 44: Imagem 2.1: Peça gráfica disponível no site da Realiza Construtora ressaltando o empreendi-
mento Varandas – Condomínio Clube; Imagem 2.2: A construção do condomínio Varandas; Imagem 2.3:
Condomínio vertical. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

Ponto de referência 3 – UP2 (fig. 45):


Próximo do limite do bairro, observa-se um terreno vazio que está ao
lado de outros residenciais, e que, seguindo a tendência de desenvolvimento
observada, poderá dar lugar a um novo condomínio. A imagem 3.3 retrata o
limite da Vila Industrial, na Rua 10, onde observa-se maior vegetação, comércio
e diferentes tipos de residências – sem a presença de galpões. A Rua 10 é
uma via importante, onde se vê comércio e serviço, bem como intensa movi-
mentação de veículos. Em sua extensão também há lazer, com o restaurante
Mezzanino e quadras de esportes de areia.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 113


figura 45: Imagem 3.1 e 3.2: Terreno vazio no limite do bairro; Imagem 3.3: Limite da Vila Industrial. Fonte:
CALAÇA JÚNIOR, 2022.

Ponto de referência 4 – UP2 (fig. 46):


Estre trecho representa o conjunto habitacional Eldorado, que estava
previsto no projeto inicial para o bairro. Ele possui uma tipologia de casa
homogênea (embora algumas estejam descaracterizadas) em toda a sua
extensão, onde há dois pavimentos, garagem, fechadas por muros e isoladas
no lote. Não há edifícios construídos com o intuito de serem comércios, mas
residentes criaram pequenos serviços, como advocacia, costura, veterinária,
pamonharia, entre outros.

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 114


Essa região é predominantemente residencial, onde se vê crianças
brincando nas ruas, vizinhos que mantém relações próximas e uma vida
diferente da encontrada no restante da Vila Industrial, sem a intensa movi-
mentação de carros e caminhões. As ruas são estreitas, o que reforça esse
aspecto vicinal da região – em contraposição ao restante do bairro.

figura 46: Conjunto Eldorado. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

Ponto de referência 5 – UP2 (fig. 47):


Quase no interior do bairro há um condomínio residencial denominado
Saint German, que está implantado em um ponto alto do terreno. Ele pode ser

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 115


observado por quase todos os pontos da Vila Industrial e se configura como
um dos maiores edifícios em altura da região – contendo oito pavimentos. Essa
região é tranquila, não há o tráfego intenso de veículos, pode-se observar
alguns pedestres e há pouca vegetação. Há um pequeno odor que vem da
indústria Brejeiro devido à proximidade do residencial com a fábrica.

figura 47: Condomínio Residencial Saint German. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022

Características gerais – UP2 (fig. 48)

Boa infraestrutura

Presença de atividade comercial

Presença de atividade industrial

Presença de residências

Presença de galpões

! Sensação de insegurança

Trânsito de carros

Trânsito de caminhões

Trânsito de pedestres

Mau odor

Presença de vegetação

figura 48: Ilustração contendo as principais características da Unidade de Paisagem 2 – Residenciais.


Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 116


2.2.4 Unidade de Paisagem 3: Região industrial da Avenida JK

N
1

5
3

7 4

0 200 400

km

Unidade de Paisagem 2: Residenciais

Unidade de Paisagem 3: Região Industrial da Avenida JK

Unidade de Paisagem 4: Região mista

Vila Industrial

figura 49: Unidade de Paisagem 3 – Região Industrial da Avenida JK com


pontos de referência. Fonte: Google Earth. Intervenções: CALAÇA. 2022

Esse ponto de referência marca o início do trecho dominado


por galpões da Avenida JK. Há uma intensa predominância desta

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 117


tipologia construtiva – alguns conservados, outros nem tanto –, não se vê resi-
dências, há um intenso movimento de veículos (em especial de caminhões),
que provocam fortes ruídos – vindos também dos galpões. Não é favorável ao
transeunte, não há a presença de vegetação, o passeio público funciona como
estacionamento de veículos – carros, caminhões e motos (Imagens 1.1 e 1.2). Não
se vê pedestres, apenas funcionários das empresas que funcionam nos galpões.
É um ambiente caótico, que passa sensação de insegurança a todo
momento devido ao intenso tráfego de veículos, a falta de pedestres, a
iluminação precária e a infraestrutura razoável. Nesse trecho também há
um setor da Enel, empresa de distribuição de energia – que corrobora com
a paisagem industrial.

figura 50: Imagem 1.1 e 1.2: Galpões e veículos na calçada; Imagem 1.3: Outras tipologias de fachadas de
galpões. Imagem 1.4: Enel. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 118


Ponto de referência 2 – UP3 (fig. 51):
O trecho corresponde à intersecção entre a Avenida São Francisco,
no bairro Jundiaí, e a Avenida JK, na Vila Industrial. É possível observar a
nítida diferença entre ambos os bairros (Imagem 2.2). Observa-se um galpão
caracterizado externamente por meio de revestimentos e cores da empresa
Distral Sorvetes se destoando dos demais (Imagem 2.1). Esse recorte foi tema
de análise do terceiro capítulo, onde será abordado com maior ênfase –
quando os galpões serão discutidos de forma detalhada.
Durante a fase de levantamento não foi observado uma movi-
mentação relevante de pedestres, mesmo sendo uma avenida de grande
porte com relevante parcela do tráfego de veículos da região. Dessa forma,
imagina-se que o comércio da região seja acessado por carros e caminhões,
explicado pelo intenso tráfego de veículos visto na avenida.

figura 51: Imagem 2.1: Galpão da empresa Distral Sorvetes; 2.2: Bairro Jundiaí ao fundo. Fonte: CALAÇA
JÚNIOR, 2022.

Ponto de referência 3 – UP3 (fig. 52):


A dualidade entre a Vila Industrial e o bairro Jundiaí fica mais clara
(Imagem 3.1). Do lado esquerdo, próximo ao bairro Jundiaí, pode-se observar
que o passeio é mais limpo, sem a presença de galpões, com um condo-
mínio de alto padrão sendo comercializado (Imagem 3.3). Do lado direito,
inúmeros galpões que passam a sensação de sujeira e insegurança – alguns
descaracterizados, sem a presença de pedestres (Imagem 3.2 e 3.4).

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 119


A construção desse (Imagem 3.3) e de outros condomínios na região
indica que os edifícios de alto padrão do Jundiaí estão próximos aos limites
do bairro, de forma que, em um futuro, será possível que os galpões da Vila
Industrial sejam demolidos para que haja a construção de outros condomínios
verticais. Essa ação potencializa as transformações que já ocorrem.

figura 52: Imagem 3.1: Dualidade entre a Vila Indistrial e o Jundiaí; Imagem 3.2: Galpão da Avenida JK;
Imagem 3.3: Comercialização de condomínio vertical de alto padrão; Imagem 3.4: Galpão descaracteriza-
do. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 120


Ponto de referência 4 – UP3 (fig. 53):
Este e os próximos pontos de referência são predominantemente
industriais. Há empresas de diversos tipos envolvendo armazenamento,
papeis, reciclagem, beneficiamento de grãos, mecânica, transporte, entre
outros. Não é comum o trânsito de pedestres, não há residências, o passeio
público passa a impressão de ser posse das empresas que funcionam na
região. O que se vê em relação a pessoas nessa região são funcionários dos
galpões ou motoristas dos caminhões.
Difícil acesso devido ao alto tráfego de caminhões, carga e descarga
de mercadorias. Passa a sensação de insegurança, principalmente durante
a noite. Ruídos intensos, tanto das empresas quanto do tráfego de veículos.
Neste ponto é possível sentir o forte odor originário da empresa Brejeiro.

figura 53: Galpões industriais. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

Ponto de referência 5 – UP3 (fig. 54):


A imagem 5.1 mostra um exemplar da arquitetura industrial. Ele
funcionou por algum tempo (iniciando por volta dos anos 1980) como uma
casa de eventos, denominada Terra Brasil – é possível observar o caráter do
bairro em receber eventos, shows e festas: ao começar pela FAIANA, passando
pelo Cacacoa no Moinho Catarinense (abordado no terceiro capítulo), o Terra

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 121


Brasil e o Mezzanino (abordado no ponto de referência 7 desta UP).
O galpão que abriga o Terra Brasil recebe raros eventos ao ano,
ficando subutilizado a maior parte do tempo. Está rodeado de galpões com
atividades industriais descritas anteriormente (Imagem 5.3 e 5.3), bem como
um estacionamento de caminhões (Imagem 5.2) que aguardam a carga e
descarga de mercadorias.

figura 54: Imagem 5.1: Edifício industrial; Imagem 5.2: Estacionamento para caminhões; Imagem 5.3 e 5.4:
Galpões. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 122


Ponto de referência 6 – UP3 (fig. 55):
Trecho dominado pelo Brejeiro, edifício industrial de grande porte.
Representa grande parcela na movimentação de caminhões, nos ruídos e no
forte odor – vindo principalmente da soja. Em sua volta há galpões e algumas
residências que convivem com a intensa atividade industrial – percebida
também durante a noite. Devido às fachadas cegas, essa região transmite
insegurança e não há movimentação de pedestres – a não ser de funcionários
da empresa. É possível observar pouca vegetação – porém mais que em outros
trechos, o que surpreende visto que são duas grandes quadras compostas
unicamente pelo Brejeiro.
O Brejeiro é um marco na paisagem urbana, podendo ser observado
de todas as partes do bairro. A fumaça emitida pelas chaminés pode ser vista
de longe, de forma que a indústria seja visualizada de diversos pontos da cidade.

figura 55: Brejeiro Produtos Alimentícios Orlândia S/A Comércio e Indústria: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 123


Ponto de referência 7 – UP3 (fig. 56):
Próximo ao limite da Unidade de Paisagem é possível observar a
convivência maior de galpões e residências. Nesse trecho observa-se uma
casa antiga (Imagem 7.1), provavelmente da década de 1970, que convive ao
lado de um restaurante destinado à classe média e superior – Mezzanino.
Este atrai movimentação noturna na região, proporcionando maior segurança
nessa área, bem como uma melhor iluminação.
Em frente, há um edifício que funcionou a empresa Dibra – distri-
buidora de bebidas da AMBEV (Imagem 7.2). Esta empresa, em seus anos
de funcionamento durante as décadas de 1970 e 1980, proporcionou intensa
movimentação de carga e descarga, bem como de trabalhadores de
diversas partes da cidade. Ela funcionava em uma quadra inteira e hoje
este terreno abriga funções da prefeitura de Anápolis, como estaciona-
mento dos ônibus escolares.

figura 56: Imagem 7.1: Casa antiga na Vila Industrial; Imagem 7.2: Antiga Dibra. CALAÇA JÚNIOR, 2022.

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 124


Características gerais – UP3 (fig. 57)

Boa infraestrutura

Presença de atividade comercial

Presença de atividade industrial

Presença de residências

Presença de galpões

! Sensação de insegurança

Trânsito de carros

Trânsito de caminhões

Trânsito de pedestres

Mau odor

Presença de vegetação

figura 57: lustração contendo as principais características da Unidade de Paisagem 3 – Região industrial
da Avenida JK. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 125


2.2.5 Unidade de Paisagem 4: Região mista

1 N

4 2

5 3

0 200 400

km

Unidade de Paisagem 2: Residenciais

Unidade de Paisagem 3: Região Industrial


da Avenida JK

Unidade de Paisagem 4: Região mista

Vila Industrial

figura 58: Unidade de Paisagem 4 – Interior da Vila


Industrial com pontos de referência. Fonte: Google
Earth. Intervenções: CALAÇA. 2022

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 126


Ponto de referência 1 – UP4 (fig. 59):
Trecho próximo ao Genesis Office, na Avenida JK. O edifício nesse
ponto tem um grande destaque na paisagem urbana e corresponde a parte
da movimentação de pedestres e carros – devido ao caráter comercial. Seu
entorno possui alguns bares e restaurantes. Dentro do edifício há um restau-
rante de alto padrão, o Coco Bambu, que atrai pessoas de diversas partes de
cidade e região. Ao analisar o edifício no contexto desta - e do bairro - nota-se
o quanto ele é deslocado do entorno, tanto em proporções físicas quanto
esteticamente. Ele pode ser visto de todos os pontos da Vila Industrial e da
cidade, de forma que no local onde está implantado só só ele possui esta
magnitude – de forma a representar um dos maiores edifícios de Anápolis,
com vinte e seis pavimentos (Imagem 1.1).
Neste trecho há um intenso fluxo de veículos, em especial cami-
nhões, que se dirigem para os galpões industriais da Avenida JK (Imagem 1.2).
O passeio público não é favorável ao pedestre, uma vez que é utilizado pelos
veículos como estacionamento.

figura 59: Imagem 1.1: Genesis Office em destaque na paisagem; Imagem 1.2: Intenso fluxo de veículos,
com estes estacionados na calçada. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

No site do Genesis Office, tem-se que haverá mais dois empreendi-


mentos da empresa ENGECOM no terreno, indicado que haverá a possível

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 127


demolição de alguns galpões que o cercam (fig. 60). Ressalta-se que este
edifício está ao lado do Moinho Catarinense, que possui um amplo terreno vago.

figura 60: Printscreen do site do Genesis Office, ENGECOM.


Fonte: Disponível em < engecomconstrutora.com.br/imovel/genesis-office>. Acesso em 15/12/2022.

Ponto de referência 2 – UP4 (fig. 61):


Observa-se a presença de edifícios residenciais na Avenida JK, que
estão próximos ao Genesis Office e fazem fronteira com o bairro Jundiaí.
Ressalta-se que mesmo edifícios verticais que possuem cerca de seis a dez
pavimentos, são ofuscados pela dimensão do Genesis.
Nesta faixa de transição entre os dois bairros é possível observar
características que são mais próximas do Jundiaí que da Vila Vila Industrial
- não há tantos galpões, há mais vegetação, pontos de lazer e uma maior
sensação de segurança. Alguns desses condomínios são recentes, outros
possuem algumas décadas.
Há uma quadra de esportes de areia (Imagem 2.1), que contribui para
a movimentação de pessoas na região durante o dia e durante a noite. Ela
representa uma das poucas opções de lazer vistas no bairro.
Devido à proximidade com os galpões industriais e com a indústria
Brejeiro, estes condomínios convivem com o intenso tráfego de caminhões
e um odor moderado vindo da fábrica.

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 128


figura 61: Imagem 2.1: Quadra de esportes de areia e edifício residencial ao fundo; Imagem 2.2 e 2.3:
Condomínios residenciais verticais na Avenida JK. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

Ponto de referência 3 – UP4 (fig. 62):


Este trecho, embora situado na Avenida JK, se diverge ao visto no
restante da avenida e do bairro. É possível observar uma casa de alto padrão
(Imagem 3.1), juntamente com os grandes edifícios residenciais pertencentes
ao bairro Jundiaí (Imagem 3.2). Esse tipo de paisagem não é visualizado no
restante da Vila Industrial, de forma que as características aqui vistas condizem

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 129


com o Jundiaí. É interessante observar como as características observadas
na Vila Industrial são marcantes e refletem o bairro. Caso o efeito de borda
visto no Jundiaí continue a se expandir, este trecho será um dos primeiros a
se transformar.

figura 62: Imagem 3.1: Edificação de alto padrão visualizada na Avenida JK; 3.2: Edifícios verticais do Jun-
diaí ao fundo. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

Ponto de referência 4 – UP4 (fig. 63):


Rua larga – projetada para que houvesse o fluxo de caminhões, visto
que originalmente seria um bairro industrial – em que se pode observar uma
construção antiga, provavelmente um estabelecimento comercial (Imagem
4.1), em complemento ao Moinho Catarinense ao fundo e contraposição ao
Genesis. Vê-se, ainda, um sindicado de trabalhadores de movimentação
de mercadoria – atividade observada com frequência em todo o bairro
(Imagem 4.2).

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 130


figura 63: Imagem 4.1: Casarão antigo; Imagem 4.2: Sindicato de trabalhadores.
Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

Ponto de referência 5 – UP4 (fig. 64):


A aparência geral vista no interior do bairro se reflete neste trecho.
Onde há galpões, se vê algumas fachadas cegas – que pode transmitir inse-
gurança (Imagem 5.1). As ruas principais são largas para a movimentação dos
caminhões e é possível observar o condomínio Saint German (Imagem 5.2),
que se destaca na paisagem – juntamente com o Genesis (Imagem 5.3). Este
trecho o odor vindo do Brejeiro não é forte, mas presente.
Assim como visto na Unidade de Paisagem referente aos Condomínios
Residenciais, nota-se que no interior do bairro há uma vida diferente da
vista em outros trechos. Apresenta maior tranquilidade, com pouco fluxo de
pessoas – estas se movimentam em busca de comércio, seja o comércio vicinal
visto no interior do bairro ou o visto na Avenida Presidente Wilson. Há bancos
na frente de algumas casas, indicando que as pessoas se sentem livres e
confortáveis para observar a rua. Durante o levantamento não foi visto crianças
brincando nas ruas, provavelmente por conta do fluxo diário de caminhões.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 131


figura 64: Imagem 5.1: Fachada cega; Imagem 5.2: Condomínio Saint Germant se destacando na pai-
sagem; Imagem 5.3: Genesis Office ao fundo representando a diferença de gabarito vista na região.
Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

Assim como o trecho anterior, a aparência é semelhante – com o


Genesis se destacando ao fundo. Observa-se que, mesmo em ruas largas,
os postes de iluminação são posicionados em apenas um dos lados da faixa
de rolamento, de modo que durante a noite o bairro seja escuro e transmita
mais insegurança que durante o dia.

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 132


figura 65: Aparência geral do interior do bairro. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

Ponto de referência 7 – UP4 (fig. 66):


A presença de uma escola estadual próximo ao trecho que corres-
ponde aos residenciais e no centro do bairro, ajuda para que ela fique afastada
dos ruídos e fortes odores vindo das atividades industriais e contribui para
que haja mais segurança (Imagem 7.1). Próximo, é possível observar o Brejeiro
se destacando na paisagem urbana – inclusive, emitindo fumaça através
da chaminé (Imagens 7.2 e 7.4). Também se observa uma casa antiga com a
fachada rente à calçada (Imagem 7.3).
Há outro trecho da Rua 10 nessa região (Imagem 7.4) – esta rua é
um importante eixo que liga a Vila Industrial aos bairros vizinhos, de leste e

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 133


oeste, fazendo a ligação entre a Avenida JK e a Avenida Brasil. Ela representa
grande fluxo de veículos e pessoas.

figura 66: Imagem 7.1: Centro de Ensino em Período Integral Dr. Genserico Gonzaga Jaime; Imagem
7.2: Brejeiro se destacando na paisagem; Imagem 7.3: Antiga casa; Imagem 7.4: Brejeiro emitindo fuma-
ça ao fundo na Rua 10. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 134


Características gerais – UP4 (fig. 67)

.
Boa infraestrutura

Presença de atividade comercial

Presença de atividade industrial

Presença de residências

Presença de galpões

! Sensação de insegurança

Trânsito de carros

Trânsito de caminhões

Trânsito de pedestres

Mau odor

Presença de vegetação

figura 67: Ilustração contendo as principais características da Unidade de Paisagem 4 – Interior da Vila
Industrial. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 135


2.2.6 O Conjunto

As quatro Unidades de Paisagem juntas formam a Vila Industrial,


representando uma paisagem urbana única em Anápolis. Os edifícios que
representam ou tiveram relação com a história industrial do bairro e da cidade
formam um conjunto urbano que deve ser levado em consideração para que,
no futuro, a cidade não perca uma parte significativa da sua história. Como
observado, o bairro em diversos pontos aparenta uma paisagem degradada,
descuidada, com pouca vegetação, mau odor, mas que por outro lado apre-
senta edificações singulares, que fazem e fizeram parte da vida de diversas
pessoas – que moraram, trabalharam, transitaram ou se divertiram nesse local.
No que tange a apropriação das pessoas à Vila Industrial, é possível
concluir que em toda a extensão do bairro há a sensação de vazio, com pouca
movimentação de pedestres, em que grande parte é vista nas principais
avenidas e ruas do bairro. Ressalta-se que durante os meses de levantamento
não se viu pessoas em situação de rua no bairro, imagina-se que pela proxi-
midade com o Jundiaí – onde há maior fluxo de pessoas – eles se concentrem
por lá, juntamente com o Setor Central, bairro também próximo.
Na região predominantemente residencial (UP 2) e região mista
(UP 4) observa-se um comércio e setor de serviços vicinal, representado por
pequenas farmácias, pamonharias, mercearias, lojas de materiais de limpeza,
pequenos restaurantes, escritórios de advocacia, veterinária, entre outros.
Como dito, no Conjunto Eldorado, o primeiro pavimento de algumas casas
residenciais foi apropriado pela população para realizar a função pequenos
comércios e serviços familiares. Ressalta-se que o mercado Atende Mais repre-
senta um importante ponto de fluxo, tanto de moradores da região, quanto
de moradores de fora – que realizam suas compras diariamente. Juntamente
com ele, as secretarias municipais, a Rua 10 e o entorno do edifício Genesis
são pontos de atração de pessoas – locais onde se vê a maior movimentação
de pedestres (fig. 68).

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 136


N

0 400 800

km

Unidade de Paisagem 1: Avenida Presidente Wilson Genesis Office

Unidade de Paisagem 2: Residenciais Secretarias municipais

Unidade de Paisagem 3: Região Industrial da Avenida JK. Mercado Atende Mais

Unidade de Paisagem 4: Região mista Rua 10

Vila Industrial

figura 68: Imagem de satélite ressaltando pontos de atração de pessoas na Vila Industrial.
Fonte: Google Earth, 2022. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

As opções de lazer estão restritas a pequenos bares nos arredores do


edifício Genesis, à praça Joaquim Pinto Pontes – única praça vista aos arre-
dores do bairro –, aos restaurantes Mezzanino e Coco Bambu (localizado no
Genesis), a algumas quadras de esportes de areia e de vez em quando eventos
no Terra Brasil. A impressão que se passa é de que o bairro é apropriado pela
população como local de descanso e trabalho, de modo que há opções de

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 137


lazer melhores e mais próximas, como bares, restaurantes, cafés e sorveterias
concentradas na região da Avenida São Francisco e aos arredores do Parque
Ipiranga e Parque das Águas, no bairro Jundiaí (fig. 69). Esse aspecto faz
contraposição com as características de local de eventos, shows e festas antes
vistas no bairro – como a FAIANA, o Cacacoa e o próprio Terra Brasil.

0 400 800

km

Unidade de Paisagem 1: Avenida Presidente Wilson Coco Bambu

Unidade de Paisagem 2: Residenciais Mezzanino

Unidade de Paisagem 3: Região Industrial da Avenida JK. Terra Brasil

Unidade de Paisagem 4: Região mista Vila Industrial


Avenida São Francisco
Parque Ipiranga e Parque das Águas

figura 69: Imagem de satélite ressaltando pontos de lazer na Vila Industrial e no Jundiaí. Fonte: Google
Earth, 2022. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2022

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 138


Ao caminhar pelo bairro, diversos elementos chamam a atenção – como
visto em cada Unidade de Paisagem anteriormente. Porém, quatro edificações
despontam na paisagem para quem transita pelo bairro, sendo elas: a indústria
Brejeiro, o Moinho Catarinense, o Genesis Office e o edifício residencial Saint
German (fig. 70). São pontos focais que podem ser vistos de diversos locais, tanto
da cidade, quanto do bairro, e que representam marcos visuais que facilitam e
guiam o transeunte.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 139


N

0 400 800

km

Unidade de Paisagem 1: Avenida Presidente Wilson Moinho Catarinense - UP1


Características históricas e ferroviárias
Edifício Saint Germant - UP2
Unidade de Paisagem 2: Residenciais
Características residenciais
Brejeiro - UP3
Unidade de Paisagem 3: Região Industrial da Avenida JK
Características industriais Genesis Office - UP4

Unidade de Paisagem 4: Região mista


Características comerciais e residenciais
Vila Industrial

figura 70: Imagem de satélite ressaltando edifícios representativos de cada Unidade de Paisagem,
bem como suas características. Fonte: Google Earth, 2022. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2022

Essas quatro edificações estão localizadas em Unidades de Paisagens


diferentes, e é interessante observar como cada uma delas representa um

A VILA INDUSTRIAL: PAISAGEM EM FOCO 140


conjunto maior – em que cada UP consegue representar uma característica
marcante da Vila Industrial (fig. 70). A UP da Avenida Presidente Wilson ressalta
as características históricas e ferroviárias – através do Moinho, da Estação
Ferroviária, da Praça do Coreto, dos galpões da subprefeitura –, enquanto
a UP da Avenida JK. ressalta as características industriais através do Brejeiro
e dos inúmeros galpões. A característica residencial é bem explicita na UP
dos Condomínios Residenciais, enquanto a UP que compreende a região
mista do bairro ressalta, além das características residenciais, as comerciais
– através de diversos comércios espalhados pela região e também, pelo
Genesis Office. Ressalta-se, porém, que todas estas características podem
ser vistas em conjunto em cada Unidade de Paisagem, algumas em menor
ou maior intensidade.
Todos estes aspectos tornam o bairro singular dentro do contexto
histórico de Anápolis, e é por isso que o debate patrimonial é levado em
consideração. O conjunto urbano edificado, que consiste nos antigos galpões,
Moinho, Estação Ferroviária Engenheiro Castilho e armazéns de apoio Praça do
Coreto, Brejeiro são destaques na paisagem e também na história do bairro.
O patrimônio industrial será abordado no próximo capítulo, de forma que seja
possível complementar – em conjunto com a análise histórica, vista no primeiro
capítulo, e a análise da paisagem urbana vista no segundo – a relevância desse
conjunto urbano para o bairro e para a cidade em um momento que intensas
transformações estão acontecendo.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 141


Capítulo 3
Vila Industrial e sua relação com o patrimônio edificado
Este capítulo aborda – através da junção do estudo de
referencial teórico, análise histórica e levantamento de
campo – a discussão a respeito do acervo de patrimônio
industrial da Vila Industrial. Antes de voltar os olhos
ao bairro e suas edificações, há o debate referente ao
conceito de patrimônio cultural e sua evolução ao
longo dos anos que possibilitou a ramificação para
patrimônio industrial. O debate envolvendo esse tipo
de patrimônio, sua ressignificação perante a socieda-
de e abordagem dentro da cidade contemporânea é
abordado a fim de indicar um possível futuro a Vila Industrial.
A leitura do Plano Diretor vigente de Anápolis (2016)
surge com o intuito de compreender quais os planos para o
presente e futuro do bairro. O resultado dos questio-
nários aplicados à população Anapolina contempla
este capítulo, percebendo a apropriação dos moradores
da cidade ao patrimônio, ao bairro e seus edifícios.
Ao fim, obtém-se que, diante de todo o contexto
percorrido durante a dissertação, a Vila Industrial é um
bairro que merece a preservação de seu acervo, em que
as atenções do governo municipal visem integra-lo
à atualidade, sem deixar que o potencial econômico
sobreponha sua história. O futuro para o bairro parece
claro: verticalização, gentrificação e mudança de perfil.

143
3.1 Noções acerca do Patrimônio Cultural.

Como visto, a Vila Industrial é um relevante bairro para Anápolis, com


edifícios que possuem um valor histórico, são marcantes na paisagem e dão
ao bairro uma característica única perante outros da cidade. O bairro possui
um edifício que é objeto de tombamento a nível municipal – considerado
patrimônio histórico – e outros que representam parte de um acervo patrimo-
nial da cidade. Logo, para compreender o bairro para além das características
históricas e urbanas, é necessário focar na sua dimensão patrimonial.
Ao falar em patrimônio, tem-se a ideia de um ou mais bens passados
de uma geração a outra. Essa definição corresponde a ideia de patrimônio
individual, em que imóveis, automóveis, fotos, discos, diários e outros, são
transmitidos por alguém a terceiros. A ideia de patrimônio histórico difere
desta, pois é entendida como os bens que representam um grupo da socie-
dade ou uma comunidade a partir de seu valor cultural. Os bens relativos à
coletividade abarcam em si uma complexidade, pois representam interesses,
ideais e culturas distintas – que por vezes podem ser conflitantes. Dessa forma,
o patrimônio histórico pode ser entendido como
[...] um bem destinado ao usufruto da comunidade, que se
ampliou a dimensões planetárias, constituído pela acumulação
contínua de uma diversidade de objetos que se congregam por
seu passado comum (CHOAY, 2001, p. 11).

Por meio de variadas discussões ao longo dos anos, em diferentes


países e com diferentes atores neste processo, o conceito de patrimônio
transformou-se e abandonou a eleição preferencial de monumentos isolados
ou excepcionais, passando a contemplar uma multiplicidade de manifes-
tações, sejam elas tipológicas, geográficas ou cronológicas (CHOAY, 2001).
Essas discussões resultaram em uma larga ampliação do termo patrimônio,
adjetivando-os como patrimônios culturais, urbanos, entre outros.
As Cartas Patrimoniais são redigidas no contexto de ampliação desses
debates – estas representam um determinado período e possuem um caráter
indicativo ou prescritivo (KUHL, 2010). Ou seja, elas não funcionam como
leis, embora diferentes países adotem suas prescrições como tais ao reger o
patrimônio. Ao longo dos anos, diversas Cartas Patrimoniais foram produzidas,
de forma que a Carta de Atenas (1933) e a Carta de Veneza (1964) se configuram
como as mais importantes, pois estas trouxeram relevantes desdobramentos

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 144


para as cartas subsequentes.
A Carta de Atenas (1933) – resultado do Congresso Internacional
de Arquitetos e Técnicos e Monumentos Históricos, sediado em Atenas, na
Grécia – trouxe as primeiras noções acerca da preservação em um docu-
mento internacional. Nela, havia o entendimento da proteção de apenas
obras isoladas, onde sua excepcionalidade era a principal característica para
torna-la digna de proteção.
Essa noção mudou a partir da Carta de Veneza (1964) – proveniente
do II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos
Históricos, realizado em Veneza, na Itália. Este documento trouxe a discussão
de que a valorização do bem histórico deve estar associada ao meio em
que este está inserido, bem como à sua história. Essa discussão trouxe a
reflexão de que o patrimônio urbano fosse inserido no debate, de forma
que este entendimento foi considerado em recomendações das cartas
subsequentes. As cartas de Machu Pichu (1977), de Burra (1980), de Florença
(1981), Recomendação da Europa (1995), de Washington (2001), de Nizhny Tagil
(2003), entre outras, trouxeram alargamentos das questões concernentes ao
patrimônio, envolvendo diferentes critérios de conservação e preservação,
incluindo novos entendimentos acerca do conceito de patrimônio – inserindo
definitivamente o cultural como qualificação do patrimônio e outros, como
por exemplo, o industrial e o imaterial.
As discussões de organizações internacionais serviram como apoio
para as legislações nacionais. No Brasil houve a ampliação do conceito de
patrimônio a partir da Constituição Federal de 1988 – anteriormente estabe-
lecido pelo Decreto Lei 25/193770 que foi assentado na perspectiva histórica
e artística. Esta estabelece que o patrimônio pode ser entendido como um
“conjunto de bens móveis e imóveis existentes no País e cuja conservação
seja de interesse público, quer por ser vinculação a fatos memoráveis da
história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico,
bibliográfico ou artístico” (BRASIL, 1988, s/p). A constituição ainda define que

70 O decreto lei 25 de 30 de novembro de 1937 feito durante o governo Vargas – que organiza
proteção do patrimônio histórico e artístico nacional – em seu artigo primeiro dizia que o patrimô-
nio histórico seria constituído a partir dos bens móveis e imóveis existentes no Brasil, selecionados
a partir da sua vinculação a fatos memoráveis da história do país, ou por seu valor excepcional,
arqueológico, etnográfico, bibliográfico ou artístico. O documento também trouxe o conceito de
tombamento e os Livros do Tombo, bem como as leis e diretrizes a seguir em relação aos edifícios
tombados. Cabe ressaltar que durante esse período apenas obras que a elite brasileira consider-
asse digna de preservação seriam tombadas. Em geral, obras do período colonial que segundo os
modernistas representavam a verdadeira identidade do país.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 145


os bens contidos no Patrimônio Cultural Brasileiro podem ser “de natureza
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à nação, à memória dos diferentes grupos formadores
da sociedade brasileira” (BRASIL, 1988, s/p). Nessa perspectiva, a constituição
assume o patrimônio cultural do povo brasileiro, dilatando as fronteiras do
reconhecimento.
Portanto, compreende-se que o Patrimônio Cultural – “ou seja, o
que um conjunto social considera como cultura própria, que sustenta sua
identidade e o diferencia de outros grupos” (CANCLINI, 1994, p. 99) – não deve
ser constituído apenas de obras excepcionais ou monumentos isolados, nem
deve ser criado propositalmente. Ele é constituído de edificações, espaços,
objetos, relíquias que obtiveram relação com acontecimentos importantes
e significativos para uma determinada comunidade, como também, de
manifestações, festas, fazeres, eventos culturais, entre outros. Dessa forma,
a experiência vivida também ganha importância – através das tradições,
modos de apropriação dos bens, espaços físicos, conhecimentos, entre outros.
(CANCLINI, 1994)
O patrimônio histórico edificado configura-se como um testemunho
de memória, que deve ser usado e apropriado pela população em seu coti-
diano para que novas memórias sejam criadas. Uma grande contribuição da
Carta de Veneza (1964) diz respeito ao uso que o patrimônio deve exercer.
A carta ressalta que a atribuição de usos condizentes com o monumento
que os abrigará é um importante recurso para a conservação e preservação
da obra, de modo a inseri-la na sociedade. Os novos usos devem manter
as qualidades da obra que efetivamente foi configurada como patrimônio
cultural, ou seja, seus valores históricos, estéticos, memoriais, entre outros.
Isso faz com o que a população se sinta representada por ele, e que a história
do que passou seja mantida no presente.
Para que essas edificações sejam usadas e apropriadas é necessário
que a população as conheça, saiba suas histórias e os motivos que as confi-
guram como edifícios de importante representação cultural. A Vila Industrial
possui edificações que se configuram na paisagem de forma deteriorada, que
somado à infraestrutura urbana precária atrai o olhar de rejeição – e curiosi-
dade – da população. É necessário entender esse local como um testemunho
do passado industrial da cidade de Anápolis e compreender como essas
edificações, em conjunto, fazem parte de um acervo patrimonial da cidade.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 146


3.2 Patrimônio Industrial: história e conceito.

A partir da expansão do conceito de patrimônio cultural (em que


o interesse para a salvaguarda do patrimônio urbano é crescente) houve o
reconhecimento do valor de outros tipos de edificações, entre elas, a industrial.
O debate acerca deste tipo de edificação iniciou-se a partir da reapropriação
de vestígios industriais na segunda metade do século XX, momento em que a
Europa vivia a destruição causada pela Segunda Guerra Mundial e também a
desindustrialização, culminando na obsolescência e desocupação de antigas
instalações industriais. O valor do patrimônio industrial expandiu-se gradual-
mente conforme a ampliação das discussões, de forma que atualmente pode
ser concebido para além do valor estético e documental.
A perda de algumas edificações industriais durante os eventos
citados, sobretudo no Reino Unido, resultou no reconhecimento patrimonial
dos conjuntos provenientes da industrialização. Há o entendimento de que
esses vestígios – fábricas, centrais elétricas, ferrovias, tradições, saberes, etc
– representam testemunhos da atividade industrial, sendo locais de memória
e que carregam em si um valor identitário (ROSA, 2011).
A partir de um movimento iniciado no Reino Unido em prol da salva-
guarda dos testemunhos industriais, houve o início da discussão de diversos
pesquisadores, historiadores e arqueólogos referente ao estudo do patrimônio
da industrialização, conhecido como arqueologia Industrial71. Essas discussões
iniciadas no Reino Unido na década de 1950 – muito devido aos fenômenos
citados e também pelo seu papel protagonista no desenvolvimento industrial
– expandiram-se a outros países através de conferências internacionais.
A primeira conferência sobre o tema foi realizada em 1959, organizada
pelo Council For British Achaelogy (CBA) – um organismo não governamental
do Reino Unido – e estimulou a realização de um inventário nacional do
acervo industrial britânico, de forma a avaliar e identificar sítios industriais
que poderiam vir a ser protegidos (ROSA, 2011). Diversos teóricos e estudiosos
tinham a preocupação de que monumentos industriais fossem destruídos,

71 Angus Buchanan define a Arqueologia Industrial como “um campo de estudo relacionado com
a pesquisa, levantamento, registro e, em alguns casos, com a preservação de monumentos indus-
triais. Pretende, além do mais, alcançar a significância desses monumentos no contexto da história
social e da técnica. Para os fins dessa definição, um ‘monumento industrial’ é qualquer relíquia de
uma fase obsoleta de uma indústria ou sistema de transporte, abarcando desde uma pedreira de
sílex neolítica até uma aeronave ou computador.” (BUCHANAN, 1972, p. 20-21, tradução do autor)

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 147


como ocorreu com o Arco Euston72 em 1961 (figura 71). A destruição desse
monumento incitou o apoio popular à conservação do patrimônio industrial,
aumentando as manifestações públicas a favor da conservação de monu-
mentos industriais no Reino Unido.

figura 71: Arco Euston – monumento que representava o período inicial do desenvolvimento ferroviário
de Londres. Fonte: <commons.wikimedia.org/wiki/File%3AEuston_Arch_1896.jpg>.

Conforme os anos passaram, o movimento da arqueologia industrial


alargou-se para além do Reino Unido. Na década de 1970 foram realizadas
algumas conferências internacionais para aprofundar as discussões sobre o tema,
sendo a primeira delas o “Primeiro Congresso Internacional para a Conservação
dos Monumentos Industriais (FICCIM)” sediado na Inglaterra, que recebeu
países como Alemanha, Irlanda, Estados Unidos, Canadá, Suécia e Holanda.

72 Considerado gigante e absurdo, o arco foi desenhado em estilo dórico por Phillip Hardwick
e servia de entrada para a Estação Euston, em Londres. Em meio a muitas manifestações públicas
contra a demolição, acabou sendo destruído em 1962, quando houve a remodelação da antiga es-
tação e construção de um novo edifício. A apropriação e o interesse da população na preservação
patrimonial são de fundamental importância para a preservação deste, pois, através do movimen-
to popular que houve, de fato, o início da preservação do patrimônio industrial no Reino Unido.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 148


A conferência recebeu o apoio esperado e foi realizada novamente em 1975,
na Alemanha; em 1978, na Suécia; e em 1981, na França. Esta última foi impor-
tante pois representou a criação do ‘Comitê Internacional para a Conservação
do Patrimônio Industrial (TICCIH), que estava sendo organizado desde 1978.
Portanto, a partir desses e de outros debates provenientes de confe-
rências internacionais e de diversas publicações sobre o tema, houve o maior
entendimento de teóricos e estudiosos em relação ao que é propriamente o patri-
mônio industrial73. A redação da Carta Nizhny Tagil74, resultado de um encontro
promovido pelo TICCIH em 2003, determinou que o patrimônio industrial é
de natureza diversa, sendo material e imaterial. Ele abarca “todos os traços,
estados de conservação, de sua operação e relação com a paisagem e na socie-
dade” (ROSA, 2011, p. 5). A Carta define o patrimônio industrial como vestígios
de uma cultura industrial com valor histórico, social, arquitetônico ou científico.
Esses vestígios compreendem edifícios e maquinarias, oficinas, fábricas, minas
e locais de processamento e de refinação, entrepostos e armazéns, centros de
produção, transmissão e utilização de energia, meios de transporte e todas suas
estruturas e infraestruturas. Engloba também locais onde foram desenvolvidas
atividades sociais referentes à indústria, como habitações, escolas e igrejas.
A Carta também define a arqueologia industrial como um método
interdisciplinar que estuda todos os vestígios, materiais e imateriais, os docu-
mentos, os artefatos e as estruturas, as implantações humanas e as paisagens
naturais e urbanas, criadas para ou por processos industriais. A arqueologia
industrial utiliza os métodos de investigação mais adequados para aumentar
a compreensão do passado e do presente industrial. Ou seja, ela é a forma
de se estudar o patrimônio industrial, compreendendo todos os vestígios que
dão valor a este tipo de patrimônio.
Ressalta-se que a Carta menciona os aspectos imateriais do patri-
mônio industrial, referente aos vestígios provenientes da memória, modos

73 Inicialmente, por volta da década de 1970, os estudos referentes ao patrimônio industrial foram
focados nos processos produtivos, na tecnologia e na estrutura das indústrias, individualmente. A
partir da década de 1990 a nomenclatura arqueologia industrial entrou em debate, pois o termo
arqueologia remete imediatamente a artefatos isolados, que individualmente não correspondem
com o patrimônio industrial. Portanto, grande parte dos trabalhos realizados até essa época tin-
ham como foco a tecnologia, e não os parâmetros sociais e culturais (ROSA, 2011; RUFINONI, 2009).
Através da Carta Nizhny Tagil foi definido com mais clareza o que é a arqueologia industrial, bem
como o que propriamente define o patrimônio industrial.
74 A Carta de patrimônio industrial abarca conceitos vistos também na Carta de Veneza (1964)
– especialmente a dimensão urbana e cultural do patrimônio, que possibilitou que o patrimônio
industrial fosse estudado – a Carta de Burra (1980) e a Recomendação da Europa (1995).

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 149


de fazer, tradições, cultura e semelhantes, algo não abordado anteriormente.
Dessa forma, entende-se que o patrimônio da industrialização abarca não
somente os vestígios industriais, como também seus meios de armazenamento,
transporte, estruturas e também os aspectos sociais, culturais e econômicos.
O documento especifica os valores atribuídos ao patrimônio indus-
trial, sendo eles: o valor histórico, proveniente de um testemunho histórico
– ou seja, a importância que esses edifícios tem como documentos de um
passado industrial; o valor social, como parte do registro da vida de pessoas
comuns, que trabalharam nesses locais de produção; o valor tecnológico e
científico, representando as tecnologias e avanços dos processos industriais; e
o valor estético, devido a qualidade da sua arquitetura, design ou concepção.
Este último que, em alguns casos, como no da Vila Industrial, é singelo em
comparação com outros sítios industriais, mas que, como visto no segundo
capítulo, tem seu valor diante da paisagem e da sociedade.
Um aspecto importante a respeito da proteção do patrimônio industrial
trago pela Carta Nizhny Tagil, é o valor universal que esse bem possui. Azevedo
(2010) elucida esta parte do conteúdo trago pelo documento, ao afirmar que
as razões que justificam a preservação desse tipo de patrimônio decorrem
do valor universal de suas características, provenientes do testemunho de
atividades que tiveram e de suas profundas consequências históricas, e não
da singularidade de sítios excepcionais. O entendimento e preservação do
patrimônio industrial deve ser realizado a partir do conjunto, pois quaisquer
mudanças podem afetar a compreensão total de um sítio com essa natureza.
A conservação do patrimônio industrial depende da preservação
de sua integridade funcional, e as intervenções realizadas num
sítio industrial devem, tanto quanto possível, visar à manutenção
desta integridade. O valor e a autenticidade de um sítio industrial
podem ser fortemente reduzidos se a maquinaria ou compo-
nentes essenciais dele forem retirados, ou se os elementos
secundários que fazem parte do conjunto forem destruídos.
(AZEVEDO, 2010, p. 19)

O caráter de conjunto é importante dentro do conceito de patrimônio


industrial. Como visto, a ampliação das discussões referentes ao patrimônio
urbano a partir da Carta de Veneza (1964) possibilitou que conjuntos urbanos
fossem reconhecidos como patrimônio histórico. O conjunto de edifícios
industriais em uma paisagem é marcante, de forma que, na maioria dos casos,
eles não funcionam isoladamente pois estão inseridos à uma malha urbana

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 150


que construiu uma rede de apoio à essas edificações, como armazéns, meios
de transporte, habitações, maquinários entre outros.
Rufinoni (2009) realizou uma análise da obra de Neil Cossons, ‘The
BP Book of Industrial Archaelogy’ de 1978, em que o autor buscou interpretar
os artefatos industriais como patrimônio cultural, enfatizando o estudo da
paisagem urbana na compreensão desses sítios históricos. A autora diz que
Cossons enfatiza que as paisagens industriais contribuem para a configuração
de uma personalidade de uma região. Ou seja, as paisagens industrias são
marcantes ao ponto de uma região ser facilmente reconhecida por conta
delas – o que ocorre na Vila Industrial, de forma
[...] que os elementos que compõe essa paisagem – fato também
evidenciado pelos estudos que delinearam a ‘invenção’ do
patrimônio urbano –, não representam interesse isoladamente.
São justamente a escala monumental, a perfeita assimilação
dos edifícios ao entorno e o efeito de conjunto, os atributos que
lhe conferem a destacada representatividade; atributos que
“excitam a imaginação e estimulam os sentidos”. Tais considera-
ções, portanto, evidenciam a inequívoca caracterização de certos
conjuntos arquitetônicos industriais como patrimônio urbano e
cultural. (RUFINONI, 2009, p. 178)

Rufinoni (2009) diz que a preservação do patrimônio industrial


adquire uma dimensão urbana, de modo que o tratamento dessas extensas
áreas precisa ser pensado a partir de uma escala macro, buscando diálogo
com diversas áreas de atuação e uma sincronização com as diretrizes de plane-
jamento urbano. A autora ressalta que os sítios industriais são compostos por
um grupo de edifícios vinculados entre si em função do processo produtivo,
em que uma ou outra edificação pode representar um valor excepcional (seja
ele estético, tecnológico, histórico, etc) mas que em muitos casos – como no
da Vila Industrial – é uma rede de edificações, fabris ou não, que se relacionam
a partir de sua função produtiva, como galpões, os próprios edifícios fabris,
pátios de manobras, vilas operárias, equipamentos, estruturas, meios de
transporte, infraestrutura, etc. (RUFINONI, 2009)
A autora complementa dizendo que é interessante observar como
o entorno desses sítios é configurado, pois em grande parte essas parcelas
urbanas foram formadas e consolidadas a partir da presença da indústria.
Muitos desses bairros ou regiões foram construídos respondendo a uma
horizontalidade e homogeneidade volumétrica, características marcantes da

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 151


configuração das paisagens e bairros industriais.
As características de parcelamento do solo em regiões ocupadas
ou influenciadas pela atividade industrial apresentam um orde-
namento espacial específico para o atendimento de funções
produtivas que repercute em toda a composição do conjunto,
seja na distribuição dos edifícios fabris, seja na localização de
vilas operárias e outros equipamentos urbanos. (RUFINONI,
2009, p. 182)

De forma ampla, Rufinoni (2009) conclui que o patrimônio industrial


não se justifica na manutenção da paisagem preservando edificações isoladas,
é necessário que todos os valores e análises referentes à dimensão urbana
do patrimônio industrial sejam levados em consideração, de forma que a
relevância cultural desses sítios está intimamente ligada ao entendimento
das qualidades espaciais, materiais, compositivas, sociais e memoriais desses
bens, em consonância com o que Cossons defende.
Os conceitos abordados pela Carta de Nizhny Tagil (2003) fomentaram
debates e publicações a respeito das dimensões do patrimônio industrial
durante os anos seguintes. Em 2011 foi realizado o encontro de Dublin em
2011, organizado pelo TICCIH em parceria com o ICOMOS75 e realizado em
Dublin, na Irlanda, que propiciou o desenvolvimento de outro documento
que se preocupa em atualizar as questões referentes ao patrimônio industrial,
especialmente no que tange a proteção, conservação, valorização e conheci-
mento destes bens. O documento incrementa o conceito adotado pela Carta
de Nizhny Tagil, dizendo que
o património industrial revela uma conexão profunda entre o
meio cultural e natural envolvente, enquanto que os processos
industriais --- quer sejam antigos ou modernos --- dependem
de recursos naturais, de energia e de redes de transporte, para
poderem produzir e distribuir os produtos a amplos mercados.
Este património compreende ativos fixos e variáveis, para além
de dimensões imateriais, tais como os saber-fazer técnicos, a
organização do trabalho e dos trabalhadores, ou um complexo
legado de práticas sociais e culturais resultantes da influência
da indústria na vida das comunidades, as quais provocaram
decisivas mudanças organizacionais em sociedades inteiras e no
mundo em geral. (PRINCIPIOS DE DUBLIN, 2011, p. 2)

75 Conselho internacional de monumentos e sítios (International Council of Monuments and


Sites) – associação civil e não-governamental ligada à ONU.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 152


O documento também traz em seu texto que o valor e significado
do patrimônio industrial são específicos de suas estruturas, de seus próprios
sítios, componentes e contextos, expressos na paisagem industrial, na docu-
mentação escrita e fotográfica, bem como nas dimensões imateriais, que
representam as memórias, artes e costumes. Portanto, de acordo com os
Princípios de Dublin, o patrimônio industrial manifesta seu valor pelo contexto
ao qual está inserido. O valor da Vila Industrial enquanto patrimônio, por
exemplo, está na sua relação com a paisagem e com a história da indústria
anapolina, compreendendo a ferrovia e as atividades comerciais.
O texto ressalta também os aspectos de compreensão do patrimônio
industrial, dizendo que a investigação e documentação de estruturas, sítios,
paisagens industriais e suas dimensões imateriais é essencial para a avaliação
do seu significado e de seu valor patrimonial. Essas investigações devem
abordar as dimensões históricas, tecnológicas e socioeconômicas, requerendo
uma abordagem interdisciplinar. Isto inclui o inventário e o registro do sítio,
a investigação histórica e arqueológica, análise de materiais e paisagens, a
história oral e/ou a pesquisa em arquivos públicos, empresariais ou privados.
O conhecimento da história industrial e socioeconômica de uma cidade,
região ou país é necessário para compreender o valor patrimonial desses
bens industriais, em que a participação da sociedade se constitui como parte
importante destas investigações.
Ao longo do texto o documento ressalta critérios de conservação
e preservação desses bens patrimoniais, esclarecendo como devem ser
protegidos, avaliados, inventariados e documentados. É dito no texto que o
valor patrimonial desses sítios industriais pode ser drasticamente ameaçado
ou diminuído se partes dele forem removidas – maquinas, componentes
importantes, edificações, elementos acessórios – em consonância com o
que Azevedo (2010) diz. Quanto aos novos usos, o documento especifica
que a manutenção do uso original ou a manutenção de um uso compatível
fundamenta a condição de conservação mais sustentável para o bem. Esses
usos devem respeitar os elementos significativos existentes.
Em complemento a esses dois documentos, há a Carta de Sevilha
(2018) – o mais recente documento que rege o tratamento do patrimônio
industrial. Ela é resultado de um encontro realizado pelo TICCIH em 2018, na
Espanha, na cidade de Sevilha. O documento ressalta os conceitos abordados
nas cartas anteriores e complementa a partir da discussão e importâncias
dos sujeitos, grupos e comunidades ligados ao processo de industrialização.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 153


A carta ressalta que a memória coletiva desses trabalhadores deve ser um
elemento para compreender as relações estabelecidas pela cultura material
e imaterial, bem como com o território.
O documento diz que o patrimônio industrial precisa ser pensado
atualmente com um novo foco, que seja capaz de se converter em ações que
sejam transdisciplinares, em conformidade com o que diversos teóricos diziam
nas décadas passadas. Ele ressalta que é necessário que todas as variáveis
que afetam cada lugar onde há sítios de patrimônio industrial sejam levadas
em consideração. Ou seja, é necessário um trabalho conjunto não só de
arquitetos e historiadores, como de sociólogos, arqueólogos e antropólogos
nesse processo.
Portanto, a partir desse percurso histórico é possível extrair que o
patrimônio industrial possui algumas dimensões, sendo elas: a arquitetônica
e estética – as edificações, estações ferroviárias, construções, materiais; os
objetos industriais – o maquinário, ferramentas e infraestrutura; a memória
dos trabalhadores – documentos, conhecimentos, festas, convivência, lazer
e os relatos; e os apoios – os armazéns, meios de transporte e vilas operárias.
Entende-se, dessa forma, que o patrimônio industrial se configura como um
amplo campo, em que sua conservação e preservação enfrenta dificuldades
provenientes de sua larga escala de abrangência, tanto tangivelmente e
intangivelmente, quanto na escala urbana deste bem patrimonial.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 154


3.2.1 Patrimônio Industrial no território nacional

No Brasil, os debates em torno do patrimônio industrial são incipientes


em comparação a outros países, tanto em relação a população em geral
quanto nas políticas governamentais. Nos últimos anos houve um crescimento
das discussões dentro do espaço acadêmico, através de produções científicas
bem como seminários e encontros realizados pelo TICCIH Brasil e em universi-
dades do país. Porém, mesmo que tenha avanços nesta ampliação do debate,
a efetiva conservação e preservação desses bens enfrenta dificuldades.
São Paulo destaca-se como o estado que protagoniza os debates
acadêmicos em relação ao patrimônio industrial – devido a sua posição como
o estado mais industrializado do país, da mesma forma como aconteceu com
o Reino Unido na Europa. As discussões se intensificaram de maneira seme-
lhante à observada na região europeia, a partir da demolição e destruição
de importantes artefatos industriais. Ressalta-se que a valorização do patri-
mônio industrial no Brasil deve levar em consideração que os fenômenos de
industrialização e desindustrialização vivenciados pelo país são posteriores
aos do contexto europeu, de forma que o primeiro ocorreu após 1930 e o
segundo após 1990.
A partir de 1960 o Brasil passou a vivenciar um período de intensa
modificação em suas cidades – em especial nas metrópoles, que tiveram um
grande salto populacional acarretando em novas demandas econômicas e
sociais, principalmente a demanda por moradia. Esse evento resultou em
significativas intervenções nas estruturas urbanas das grandes cidades, em
que devido a imposição de novos padrões urbanísticos, antigas estruturas
e infraestruturas construídas a partir do desenvolvimento industrial torna-
ram-se obsoletas. Ressalta-se que essas estruturas não eram antigas, elas
foram construídas em um período imediatamente anterior (GONZÁLEZ, 2019).
Conforme Meneguello (2005) diz que no Brasil existiu
“[...] um processo de desindustrialização, se comparado com o
europeu, muito mais recente, e, ao mesmo tempo, um processo
de crescimento das cidades tão veloz, tão voraz, que muitos
parques industriais, antes localizados perifericamente, estão
hoje em meio à trama urbana.” (MENEGUELLO, 2005, p. 127).

Todo esse processo foi acompanhado pela substituição da estrutura


ferroviária pela rodoviária, tornando diversos edifícios ferroviários inutilizados,

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 155


subutilizados ou demolidos. O Brasil perdeu muitos exemplares da arquite-
tura ferroviária, de forma que na atualidade há uma movimentação para a
preservação e conservação desses bens patrimoniais, inclusive em Goiás.
Em 2004, um ano após a publicação da Carta da Nizhny Tagil, foi
organizada uma representação brasileira do TICCIH no Brasil. Essa organização
viria a possibilitar um avanço nos estudos e pesquisas acadêmicas em relação
ao patrimônio industrial no contexto brasileiro. O comitê objetiva apoiar
iniciativas de salvaguarda do patrimônio industrial, fomentar a reunião de
pesquisadores de diferentes partes do Brasil, realizar assistência especializada
aos órgãos governamentais e às comunidades e sensibilizar a opinião pública
para o patrimônio industrial. (ROSA, 2011)
Sobre a Carta de Nizhny Tagil no contexto brasileiro, Meneguello
(2005) diz que as recomendações “são absolutamente sensatas, mas trazem
à tona um antigo problema da preservação do patrimônio no Brasil, [...] a
fragilidade dos órgãos de preservação municipais e estaduais perante as
pressões da especulação imobiliária” (MENEGUELLO, 2005, p. 131). A pressão
que o mercado imobiliário exerce no Brasil é grande, de forma que os exem-
plares patrimoniais, industriais ou não, são destruídos para a construção de
grandes empreendimentos. Ou então, como muito ocorre, ao saber que o
imóvel pode ser protegido, o proprietário realiza a demolição, pois acredita
que dessa forma ele ganhará mais dinheiro a partir do mercado imobiliário.
No caso do patrimônio industrial há ainda o agravante de que esse
tipo de edificação não é visto com bons olhos pela população em geral, pois
são mais recentes e não possuem, conforme Meneguello (2005), o “glamour
de um antigo teatro ou do casarão de um barão de café. Como preservar
aquilo que incomoda, ocupa espaço e é – entre aspas, naturalmente – “feio”?”
(MENEGUELLO, 2005, p. 131). Esta fala, parte da entrevista de Meneguello para
o I Encontro de Patrimônio Industrial76, mesmo quase duas décadas depois
continua atual – a sociedade em geral não compreende o valor deste bem
patrimonial.
Rosa (2011) diz que no Brasil não há um conhecimento maduro dentro
do campo do patrimônio industrial, e a salvaguarda desse bem não está
presente nas políticas públicas nacionais. A exemplo do que ocorreu com
Ouro Preto, tombada integralmente em 1933 antes mesmo dos debates de

76 Congresso realizado nos dias 17 a 20 de novembro de 2004 pela Unicamp, organizado pelo
Comitê Brasileiro de Preservação do Patrimônio Industrial, coordenado por Silvana Rubino e Cris-
tina Meneguello, estudiosas na área de patrimônio industrial.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 156


patrimônio urbano ganharem relevância, espaços industriais foram tombados
desligados de seu contexto ligado à indústria, uma vez que o debate referente
ao patrimônio industrial era inexistente no país. Entre eles estão as ruínas da
Fábrica de Ferro Patriótica de Ouro Preto77 (fig. 72) e a Real Fábrica de Ferro
de São Joaquim de Ipanema em Iperó/São Paulo78 (fig. 73).

figura 72: Ruínas da Fábrica de Ferro Patriótica de Ouro Preto. Fonte: Acervo de Adriana Ferreira, 2019.

77 Atualmente em posse da VALE, a fábrica funcionou de 1812 a 1822, constituindo-se como a


primeira fábrica de ferro do Brasil. O ferro ali produzido servia ao comércio local e não para ex-
portação. O sítio reúne ruínas da casa de administração, duas forjas de ferreiro, um engenho, um
muro alto e quatro fornos. Foi tombada pelo IPHAN em 1938.
78 Criada em 1810 por ordem de D. João – príncipe regente, a fábrica destinava-se a exploração
e industrialização de ferro, além da produção de armas brancas. Construída em pedra, suas de-
pendências haviam oficinas, fornos, depósitos e setores administrativos. Foi extinta em 1913 e tom-
bada pelo IPHAN em 1964.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 157


figura 73: Real Fábrica de Ferro de São Joaquim de Ipanema. Fonte: Acervo de Marco André Briones, 2018.
Disponível em: <cidadeecultura.com/fazenda-ipanema-real-fabrica-de-ferro/>. Acesso em 09/01/2023.

Nesse contexto está também o reuso dessas edificações. Parte dos


bens constituídos como patrimônio industrial não tiveram novos usos adap-
tados a partir do entendimento dessas edificações como patrimônio desta
dimensão, a exemplo a Estação das Docas, em Belém, e a antiga Fábrica
Olivetti, em Guarulhos, que hoje abriga um Shopping Center79 (fig. 74). A
proteção desses bens seguiu os aspectos econômicos e monumentais e por
um lado os históricos, porém, não relacionados ao processo de industriali-
zação. Não quer dizer que devam ser museus ou galerias, mas que, de alguma
forma, representem seus processos históricos.

79 O CONDEPHAAT (O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e


Turístico do Estado de São Paulo) realizou o pedido de tombamento em 1997 mas não foi o sufi-
ciente para garantir que a fábrica não fosse descaracterizada. Construída em 1957, a fábrica tra-
zia uma importante arquitetura, através de unidades celulares que estruturavam a construção e
setorizavam o espaço interno. O edifício propunha uma releitura das plantas fabris convencionais
e combinava abóbadas em diferentes alturas, algo inovador para edifícios industriais. (KUHL, 2008)

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 158


.

figura 74: Imagem 1: Fábrica Olivetti em 1959. Imagem 2: Foto de 2022 da apropriação feita pelo Interna-
cional Shopping de Guarulhos na Fábrica Olivetti. Fábrica de Ferro de São Joaquim de Ipanema. Fonte:
Disponível em: <guarulhosweb.com.br/foto-de-60-anos-mostra-antiga-fabrica-de-olivetti-em-guarulhos/>.
Acesso em 09/01/2023.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 159


O Brasil não possui políticas governamentais que sejam adaptadas
às especificidades de salvaguarda do patrimônio industrial, de forma que
em outros países líderes neste campo há o estabelecimento de políticas e
diretrizes específicas (ROSA, 2011). Também não há uma consciência pública
do valor deste bem patrimonial, no sentido de que para parte da população
o que prevalece quanto valor histórico são os edifícios de arquitetura colonial
e eclética, ou alguma edificação que teve um uso cultural ou social relevante
– cultura herdada pelos primeiros anos de atuação dos órgãos patrimoniais,
conforme a constituição de 1937. As fábricas e armazéns não são vistos como
dignos de preservação. Nem mesmo algumas estações ferroviárias de carac-
terísticas mais simplórias - como a Estação Ferroviária Engenheiro Castilho
na Vila Industrial.
Rosa (2011) destaca a destruição de uma importante fábrica projetada
em 1950 por Oscar Niemeyer e Hélio Uchoa. A antiga fábrica de biscoitos e
balas Duchen, na capital São Paulo, representava um importante exemplar
da arquitetura moderna brasileira, em especial por se tratar de um edifício
industrial e o único desta tipologia projetado por Niemeyer. (fig. 75).

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 160


figura 75: Imagem 1: Fachada da fábrica de biscoitos e balas Duchen; Imagem 2: Ex-
terior da Fábrica; Imagem 3. Interior da fábrica. Fonte: Disponível em: <arquivo.arq.br/
projetos/fabrica-da-duchen>. Acesso em 10/01/2023

A fábrica se configurava a partir de um conjunto de edificações, com


um telhado marcante no formato de espinha de peixe. Os edifícios possuíam
formas arredondadas, características dos projetos de Niemeyer, e cada prédio

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 161


respondia a uma função determinada (fig. 76). O edifício foi considerado
inovador para a época, e foi ganhador de um prêmio na 1ª Bienal de São
Paulo, na categoria de Construção Industrial.

figura 76: Vista aérea da fábrica Duchen. Fonte: Disponível em: <diariozonanorte.com.br/demolicao-de-
-predio-projetado-por-niemeyer-no-pq-novo-mundo-faz-30-anos/>. Acesso em 10/01/2023

A Indústria foi desativada na década de 1980 e a edificação perma-


neceu por muito tempo fechada, quando o CONDEPHAAT – Conselho de
Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado
de São Paulo – iniciou o processo de tombamento, pelo edifício representar
um marco da história da arquitetura industrial no Brasil. Em 1990 a empresa
Transportadora Atlas, proprietária do edifício à época, iniciou o procedimento
de demolição apesar do processo de tombamento estar em andamento.
O terreno possuía um alto valor imobiliário e sua demolição seria mais
lucrativa que a proteção do conjunto. Oscar Niemeyer foi consultado pelo
CONDEPHAAT e não se opôs a demolição, fazendo com que o conselho
encerrasse o processo de tombamento e o conjunto fosse de fato demolido.
Esse exemplo serve como um ótimo contexto para a situação do
patrimônio industrial no país. O conjunto da fábrica Duchen foi demolido
mesmo se caracterizando como uma edificação de representação histórica,
estética, social e arquitetônica. O caso, ocorrido em 1990 (três décadas atrás),
continua a acontecer em larga escala no restante do país. Apesar dos esforços e

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 162


crescentes estudos e encontros a favor da preservação deste tipo de patrimônio,
ainda há um grande distanciamento da sociedade em entender seu valor e
sua representação para a história industrial de uma cidade, região ou país.
Como dito anteriormente, o capital imobiliário influi drasticamente
na preservação dos bens patrimoniais, e esse foi um exemplo de todas as
dificuldades que os bens industriais – e patrimoniais em geral – sofrem:
a especulação imobiliária, a dúvida quanto ao seu valor patrimonial, a sua
relevância perante a história e o desconhecimento da sociedade a respeito do
tema. A professora Silvana Rubino alertou80 sobre a necessidade de registro
e preservação desses bens patrimoniais, dizendo que “o registro já é uma
possibilidade de preservação, se pensarmos que não se pode guardar tudo o
que o homem produziu de material e imaterial.” E que no caso do patrimônio
industrial “há uma urgência [em preservar/registrar/inventariar], pois estru-
turas industriais estão de fato ameaçadas e é um patrimônio mais jovem.”
(RUBINO, 2005, p. 129-130).
Portanto, apesar dos recentes e louváveis esforços da comunidade
acadêmica – em especial do TICCIH Brasil81 – em prol do alargamento da
discussão do tema, muitos exemplares estão se perdendo em detrimento
do capital imobiliário e das questões abordadas anteriormente. O crescente
estudo sobre o patrimônio industrial se faz necessário, a fim de reconhecer
os exemplares da história industrial das cidades brasileiras.
Em Goiás há poucos estudos que abordam o tema explicitamente
devido ao fato de que a industrialização no estado foi tardia em relação ao
restante do país. A construção das capitais Goiânia e Brasília e o desenvol-
vimento industrial de Anápolis compõe a história industrial do estado, em
que neste contexto, o bairro Vila Industrial e a Estrada de Ferro de Goiás
representam parcelas significantes desta.
Mesmo com a evolução do conceito de patrimônio ao longo dos
anos, a prática de preservação no país segue a vista no século XX, através
do tombamento de monumentos isolados ou excepcionais, que representam

80 Entrevista realizada por Maria Cristina Schicchi com as professoras e pesquisadoras Silvana
Rubino e Cristina Meneguello durante O I Encontro em Patrimônio Industrial, conforme citado
anteriormente.
81 Há diversos pesquisadores e estudiosos sobre o patrimônio industrial no Brasil, destacando
algumas referências na área, como Eduardo Romero, presidente do TICCIH Brasil, Cristina Meneg-
uello, Beatriz Mugayar Kuhl, Alcilia Afonso, Alicia Bemvenuti, Manoela Rufinoni, Esterzilda Beren-
stein de Azevedo, entre outros. O trabalho desses pesquisadores é de significativa importância
para o fortalecimento do conhecimento e da preservação de exemplares industriais brasileiros.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 163


a classe dominante. Esse fato acontece pelo fato de haver empecilhos para a
valorização e o uso efetivo desses bens, somado ao desconhecimento de que
o patrimônio não é constituído apenas de obras deste tipo, mas também,
de conjuntos urbanos constituídos por fábricas e armazéns, por exemplo.
A atenção com o patrimônio histórico material de uma forma mais
sistematizada é recente no Brasil, devido a isso, grande parte do acervo
brasileiro sucumbiu ao descaso e aos interesses econômicos através da
falta de políticas preservacionistas eficientes. Diversas cidades do país estão
inseridas neste contexto até a atualidade; Anápolis é uma delas – em que há
um distanciamento dos cidadãos com sua história, pois estes não se sentem
representados pelo seu patrimônio histórico.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 164


3.3 Patrimônio Cultural em Anápolis.

Ao longo da história de Anápolis é possível observar o desejo por


progresso instaurado na população, por meio dos governantes ou pelas
mídias (à época, jornais e revistas), engendrando um anseio para que a cidade
prosperasse como a mais importante da região. Esse imaginário perdura até
a atualidade, de forma que a cidade se tornou entregue às transformações,
de forma a gerar um desapego e descaso com a sua história e signos do
passado (SILVA; VALVA, 2018). As transformações são inerentes a qualquer
objeto vivo e as cidades devem acompanhar essas mudanças, porém, sem
que haja prejuízo de suas referências identitárias82. Atualmente, há poucas
edificações históricas preservadas em Anápolis e a atenção com o patrimônio
histórico, de maneira geral, é precária, embora haja recentes esforços para
a manutenção deste83.
Grande parte das edificações tombadas no município foram constru-
ídas durante o período de maior desenvolvimento urbano – entre 1930 e 1970.
A maior parte das edificações possuem representação de caráter exemplar,
pertencentes à elite ou ligadas a serviços públicos, seguindo os critérios
de tombamento adotados durante o século XX. A cidade possui quatorze
edifícios84 e três bens naturais tombados; e um bem imaterial registrado,
todos a nível municipal.
As edificações tombadas compreendem o Museu Histórico Alderico
Borges de Carvalho (1907); a Escola Estadual Antesina Santana (1926); o Coreto

82 “A história, o processo de transformação e os registros do passado daqueles que participaram


da sua constituição são necessários para a manutenção da identidade de uma localidade, cidade
ou região.” (CALAÇA JÚNIOR; OLIVEIRA, 2022, p. 4)
83 No primeiro semestre do ano de 2022, a prefeitura de Anápolis através da Secretaria Municipal
de Integração Social, Esporte, Cultura e Lazer iniciou um videocast através da plataforma YouTube,
esclarecendo dúvidas e informando sobre o patrimônio cultural de Anápolis. Esta é uma maneira
de aplicação da educação patrimonial. Porém, mesmo com esse importante avanço realizado em
conjunto com grupos de defesa do patrimônio cultural anapolino, não houve uma divulgação ou
uma maneira de torna-lo acessível à toda população – o maior público se tornou pessoas que já
são inseridas no meio. O vídeocast é realizado com recursos provenientes da Lei Federal nº 14.017,
de 29 de junho de 2020 e pode ser acessado no seguinte endereço virtual: https://bit.ly/3bk8BfB.
(Acesso em 01/08/2022)
84 Tombamento é uma ação administrativa que pode ser realizada em nível federal, estadual ou
municipal pelo poder público. É atribuído apenas para bens materiais que interessem à preservação
da memória coletiva com a finalidade da preservação do bem material. Os bens são incluídos nos
‘Livros do Tombo’ ficando sujeitos a restrições parciais. Ainda que o bem seja privado, passa a ser
considerado de interesse público. Ressalta-se que o tombamento não é garantia de preservação,
nem a única opção para esse fim.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 165


da Praça James Fanstone (1926) (fig. 77); o prédio do Colégio Couto Magalhães
(1932) (fig. 78); a subestação ferroviária General Curado e a Casa do Chefe da
Estação (1935)85; a Estação Ferroviária Prefeito José Fernandes Valente (1935)
(fig. 79); o prédio da Diretoria de Cultura, antiga Prefeitura e Fórum de
Anápolis, na Praça Bom Jesus (1938); o prédio da Escola de Artes Oswaldo
Verano, antiga Cadeia Pública, e o prédio da Escola de Música Maestro Antônio
Branco, antigo prédio do IML (1947)86; o Mercado Municipal (1951) (fig. 80); a
Estação Engenheiro Castilho (1951); a Casa JK (local onde Juscelino Kubitscheck
assinou o termo de transferência da capital federal para Brasília em 1956) e a
Fonte Sonora e Luminosa da Praça Bom Jesus (década de 1957)87. (fig. 81)

figura 77: Imagem 1: Museu Histórico; Imagem 2: Escola Estadual Antesina Santana;
Imagem 3: Coreto. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.
.

figura 78 Imagem 1: Colégio Couto Magalhães em 2022; Imagem 2: Colégio Couto Magalhães na década
de 1950. Fonte: Imagem 1: CALAÇA JÚNIOR; Foto 2: Arquivo do acervo digital do Museu Histórico
Alderico Borges de Carvalho.

85 Embora seja um único conjunto, a prefeitura considera os dois edifícios de forma isolada.
86 As edificações foram construídas na mesma época e no mesmo terreno.
87 As datas aqui contidas se referem aos anos em que as edificações foram construídas e não ao
ano do tombamento. Essa segunda informação será abordada mais à frente no decorrer do texto.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 166


figura 79: Imagem 1: Subestação General Curado; Imagem 2: Estação Prefeito José Fernandes Valente –
Estação de AnápolisFonte: Foto 1: Acervo pessoal de Glaucio Henrique Chaves, 2015;
Foto 2: CALAÇA JÚNIOR, 2022

figura 80: Imagem 1: Antiga Prefeitura e Fórum de Anápolis (Atual Centro Cultural Ulysses Guimarães;
Imagem 2: Escola de Artes Oswaldo Verano (Escola de Música ao fundo); Imagem 3: Mercado Municipal;
Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

figura 81: Imagem 1: Estação Ferroviária Engenheiro Castilho; Imagem 2: Casa JK; Imagem 3: Fonte Luminosa
da Praça Bom Jesus, respectivamente. Fonte: Imagem 1 e 3: CALAÇA JÚNIOR. Imagem 2: Acervo da Goinfra.

O conjunto de bens naturais tombados compreende o conjunto


arbóreo da Praça Dom Emanuel, no bairro Jundiaí; o conjunto arbóreo da
Praça Americano do Brasil, no setor Central; e o Morro da Capuava, no bairro
Bom Sucesso, região oeste da cidade. O bem imaterial registrado é a Folia de
Reis, sendo o único bem deste tipo registrado pelo município.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 167


A primeira edificação tombada em Anápolis foi o Mercado Municipal
Carlos de Pina, através da Lei 025/198488. No decreto legislativo que originou
a lei havia a autorização para que houvesse a criação de um órgão especia-
lizado em registrar e gerenciar as ações de tombamento na cidade (PAULA;
SOARES, 2017, p. 17). Considera-se que o decreto foirealizado de forma
tardia, levando em consideração o fato de que as políticas preservacionistas
estavam em debate há cinco décadas. Tanto por se tratar de uma cidade
interiorana, quanto por não haver um interesse geral pela preservação das
edificações históricas.
O segundo tombamento foi publicado por meio da Lei 1.824/1991,
quase uma década após o primeiro. Nele, houve o tombamento dos seguintes
edifícios: o prédio da antiga Cadeia Pública – atualmente Escola de Artes
Oswaldo Verano –, e o antigo Instituto Médico Legal – atualmente a escola
de música Maestro Antônio Branco -, ambos localizados na rua 14 de julho;
a Estação Ferroviária de Anápolis localizada em frente à praça Americano do
Brasil; o antigo Fórum e atual Diretoria de Cultura localizado na Praça Bom
Jesus e o Museu Histórico Alderico Borges de Carvalho. Todos os edifícios
tombados através do decreto estão localizados no Setor Central.
Observa-se o quão tardiamente essas edificações foram tombadas,
especialmente a Estação Ferroviária José Fernandes Valente. Como já apre-
sentada em outro momento nesta pesquisa, a estação é um importante
edifício de Anápolis e representou o progresso e o desenvolvimento econô-
mico proporcionados pela ferrovia. O edifício passou décadas subutilizado
ou em desuso desde sua completa desativação em 1976. A casa que abriga
o Museu Histórico Alderico Borges de Carvalho89 foi tombada quando já
exercia sua função como museu há quase duas décadas. O antigo Fórum e
atual Diretoria de Cultura representa um importante exemplar da arquitetura
art déco em Anápolis – que funcionou como sede do poder municipal até
1975. Ele foi reformado algumas vezes para se adequar ao estilo art déco e
recebeu algumas modificações em seu interior. A Cadeia Pública representa
um tipo de edifício com importância histórica, em que há uma tradição de
tombamento dessas edificações em cidades históricas goianas. Desde sua

88 Ressalta-se que os planos diretores não demarcaram áreas ou edificações específicas a ser-
em tombadas, apenas citam de maneira geral a proteção patrimonial das edificações históricas,
ficando, dessa forma, a cargo de decretos legislativos independentes ao plano diretor a tarefa dos
tombamentos.
89 O nome dado ao museu pertence a um importante político anapolino. A casa pertencia a seu
avô e recebeu o nome de Alderico Borges por ele ter fundado o museu.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 168


desativação, o edifício funciona como escola de artes. O prédio do Instituto
Médico Legal – IML – fica no mesmo terreno que a antiga Cadeia Pública e
desde sua desativação funciona como escola de música.
Apenas em 1991 os edifícios citados receberam atenção do poder
municipal e foram tombados, em que houve um prejuízo na conservação e
integridade dessas edificações. As escolas de Artes e Músicas atualmente
funcionam de maneira improvisada, onde é possível observar alguns
elementos dos seus antigos usos. A estação recebe constantes reformas,
pois está inserida em um local de intensa movimentação e não possui um
uso significativo. A atual Diretoria de Cultura, antigo Fórum, funciona como
galeria de artes e recebe exposições, mas em um estado de conservação
mediano, com vidros quebrados e pintura deteriorada.
A questão patrimonial teve uma melhora a partir dos anos 2000.
Ao longo da década houve o tombamento de cinco edificações: o coreto da
Praça James Fanstone, no Setor Central (Lei Municipal 2.725 de 2001); a ‘Casa
JK’90, localizada dentro dos limites do Aeroporto de Cargas de Anápolis (Lei
Municipal 2.952 de 2003) – o edifício é um completo monumento isolado
e está abandonado desde 2013, quando ainda funcionava como memorial
sobre a construção de Brasília; os colégios Antesina Santana, localizado no
Setor Central, e Couto Magalhães, localizado na Avenida Universitária, norte
de Anápolis. (Lei Municipal 3.171 de 2005; e a Fonte Sonora e Luminosa da
Praça Bom Jesus (Leu Municipal 3.230 de 2007). A imagem abaixo mostra os
edifícios tombados que estão localizados no Setor Central. (fig. 82)

90 O edifício encontra-se tão abandonado que foi necessário o Ministério Público entrar em
ação para que o edifício não fosse consumido pelo tempo, no qual se acordou que a Goinfra (que
administra o Aeroporto de Cargas onde está a casa) repassasse a administração e manutenção do
prédio para uma entidade sem fins lucrativos ligada ao setor cultural. Ainda em 2021, o memorial
contido na casa encontra-se sem acesso ao público. Fonte: < dmanapolis.com.br/noticia/1594/a-
historia-do-brasil-passa-por-aqui>. Acesso em 19/10/2021.
Atualização: No decorrer da pesquisa, em dezembro de 2022, a Goinfra concedeu ao Instituto
Professor Jan Magalinski a permissão para restauração, reestruturação e manutenção da casa em
uma parceria válida por 20 anos. Este Instituto, presidido por Jairo Leite, tem realizado importantes
conquistas no setor patrimonial em Anápolis, além da manutenção e realização de exposições que
contam a história da cidade. Fonte: <jornalopcao.com.br/cultura/memorial-casa-jk-em-anapolis-se-
ra-restaurado-e-reaberto-ao-publico-447368/>. Acesso em 12/01/2023.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 169


N

0 100 200

Colégio Estadual Antesina Santana Estação Ferroviária de Anápolis

Coreto da Praça James Fanstone Fonte Sonora e Luminosa

Diretoria de Cultura Mercado Municipal

Escola de Artes e Escola de Música Museu Histórico

figura 82: Localização das edificações tombadas no Setor Central.


Fonte: Google Earth, 2021. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2023.

A década de 2010 representou o tombamento de apenas três edifícios


históricos, correspondendo às duas Estações Ferroviárias restantes – a Estação
Ferroviária General Curado e a Casa do Chefe da Estação, localizadas junto
ao Distrito Agroindustrial de Anápolis (Lei Municipal 3.803 de 2015) e a Estação
Ferroviária Engenheiro Castilho, na Vila Industrial (Lei Municipal 3.955 de 2018).
O processo de tombamento dessas edificações foi um reflexo à restauração
da Estação Ferroviária de Anápolis, realizada em 2015. A estação General

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 170


Curado está atualmente sem uso, igualmente a Casa do Chefe da Estação.
Embora sejam edificações diferentes, elas representam um mesmo conjunto.
Na imagem abaixo observa-se os edifícios tombados que não estão inseridos
no Setor Central de Anápolis. (fig. 83)

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 171


N

0 2 4

km

Casa JK Setor Central

Colégio Couto Magalhães Vila Industrial

Estação Engenheiro Castilho

Estação General Curado

figura 83: Localização dos edifícios históricos fora do Setor Central.


Fonte: Google Earth. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2023.
.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 172


A cidade possui também alguns bens tombados como patrimônio
natural. O Morro da Capuava foi tombado em 1997 através da Lei Municipal
2.511. Esta lei foi revogada em 2002, através do decreto municipal contendo
a lei 2.913 que retirava o tombamento deste. O tombamento desse bem se
deu por se caracterizar como um importante local para encontros religiosos,
shows e eventos ao ar livre por ser um dos pontos mais altos da cidade. A
revogação do tombamento veio com o intuito de responder a especulação
imobiliária, pois havia o interesse do capital privado em utilizar o terreno.
Em 2016, através da Lei Municipal 3.882 o Morro foi novamente tombado e
juntamente com o tombamento houve uma requalificação, transformando
o local em uma praça.
Os conjuntos arbóreos das praças Dom Emanuel e Americano do
Brasil foram tombados através da Lei Municipal 3.789 de 2015. Mesmo com
o tombamento, o Conjunto Arbóreo da Praça Dom Emanuel recebeu uma
intensa modificação em 2018, pois a prefeitura alegou que as árvores estavam
podres e poderiam comprometer a segurança dos visitantes. Parte das
árvores foram retiradas e outras plantas de outras espécies foram plantadas.
Coincidentemente, ou não, na mesma época houve o reasfaltamento das vias
que circundam a praça.
O único bem imaterial que Anápolis possui foi registrado em 2020,
através da Lei Municipal 4.080. A manifestação consiste na Folia de Reis, com
sua data oficial registrada no dia 6 de janeiro. A festa é constituída de cantos e
danças, de forma que os participantes passam o dia visitando casas da região
para realizar a manifestação, e em troca, os moradores oferecem comidas
e prendas. Geralmente, é realizada pela população mais antiga da cidade
em bairros variados. Embora o registro da Folia de Reis como patrimônio
imaterial seja a lei mais recente em relação ao patrimônio cultural anapolino,
a manifestação é o bem mais antigo que a cidade possui – que também
acontece em outras cidades goianas.
Através desse percurso há o reconhecimento de que há uma fragi-
lidade perante os esforços de preservação e conservação do patrimônio em
Anápolis, em que não há a valorização de suas edificações históricas e bens
tombados. Parte das edificações não estão inseridas na vida cotidiana da
população e/ou não possuem usos efetivos. Esses fatos fazem com que a
população não se reconheça nesses bens, de forma que se tornam monu-
mentos isolados que não fazem parte da memória anapolina. Ressalta-se aqui,
porém, a exceção presente nos bens naturais – estes são usados, apropriados

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 173


e defendidos pela população, tanto que as leis de tombamento destes bens
foram realizadas por pressão da sociedade anapolina.
Nesse processo de não valorização de seus edifícios históricos, houve
a perda de exemplares de valor patrimonial, como a Casa Tonico de Pina
(fig. 84). Esta casa se localizava em frente ao Coreto da Praça James Fanstone
– edificação tombada, porém, a praça não foi tombada e sofreu diversas modi-
ficações ao longo do tempo –, localizada no Setor Central. Essa região que
compreende o Coreto possui uma paisagem distinta, com muitos exemplares
ecléticos e art déco - a casa citada se configurava como um exemplar deste.
Esta edificação foi residência da família de Tonico de Pina durante
alguns anos e posteriormente vendida como ponto comercial. Recebeu
diversos usos, desde clínicas médicas a comércios, até ser transformada na
Mostra Kzulo (fig. 85) – uma exposição de arquitetura de interiores similar
à Casa Cor. Após a exposição, a casa foi demolida pois havia o burburinho
de que seria tombada como patrimônio histórico. Os proprietários prefe-
riram destruí-la do que aceitar o tombamento, sob o pensamento de que
haveria perda do seu valor monetário. Como observa-se nas figuras abaixo,
a demolição da casa causou uma modificação na paisagem urbana dessa
região (fig. 86).

figura 84: Imagem 1: Casa Tonico de Pina (1940), localizada na Rua Achiles de Pina; Imagem 2: Casa Toni-
co de Pina (2018) antes de sediar a Mostra Kzulo. Fonte: Imagem 1: Acervo pessoal de Claudomir Justino
Gonçalves; Imagem 2: acervo fotográfico de Vitor Luana, 2021.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 174


figura 85: Casa Tonico de Pina modificada para a sediar a Mostra Kzulo (2018). É possível observar ao
fundo o Coreto James Fanstone. Fonte: Google Street View, 2018.Gonçalves; Imagem 2: acervo
fotográfico de Vitor Luana, 2021.

figura 86: Terreno que abrigava a Casa Tonico de Pina. A demolição da casa aconteceu em 2020.
Fonte: Acervo pessoal de Lara Amaral, 2020

Na região da Rua Aquiles de Pina (fig. 87) há edificações no estilo


art déco ou eclético datadas da mesma época – como o prédio que abriga

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 175


o Hospital Evangélico de Goiás, antiga Escola de Enfermagem, o primeiro
edifício em altura de Anápolis e o mais alto da região (fig. 88). Parte das
edificações estão obstruídas por marquises de propagandas – problema que
abrange todo o Setor Central – enquanto outras sofreram modificações. Um
exemplo está na edificação que fica próxima à antiga Casa Tonico de Pina –
significativo exemplar da arquitetura eclética do início do século XX (fig. 89) – em
que três pavimentos foram construídos acima do térreo e apenas a fachada
da antiga casa foi mantida.

0 50 100

Antigo terreno que abrigava a Casa Tõnico de Pina Rua Aquiles de Pina

Coreto da Praça James Fanstone

Edificação ao lado da Casa Tônico de Pina

Hospital Evangélico de Goiás

figura 87: Imagem de satélite de localização da região da Praça James Fanstone, no Setor central, com lo-
calização das edificações citadas. Fonte: Google Earth. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2022

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 176


figura 88: Imagem 1: Prédio da Escola de Enfermagem (década de 1930) – primeiro edifício em altura de
Anápolis; Imagem 2: Atual Hospital Evangélico de Goiás (2021) em que é possível observar que o edificío
sofreu algumas modificações. Fonte: Imagem 1: Museu Histórico Alderico Borges de Caravalho; Imagem
2: Google Street View, 2021.

figura 89: Imagem 1: Edificação da década de 1940, localizada na Rua Achiles de Pina; Imagem 2: e a
modificação que a descaracterizou. Fonte: Imagem 1: Museu Histórico Alderico Borges de Caravalho;
Imagem 2: Acervo Pessoal de Lara Amaral, 2021.

A maior parte das edificações tombadas foi construída durante as


décadas que a cidade se desenvolvia através da ferrovia – 1930 a 1970 – e
nenhum outro edifício após esse período foi tombado. Estas edificações e a
história de Anápolis são pouco valorizadas, visível através da precária conser-
vação física das edificações tombadas, e pela falta de apego da população
a esses bens.
A população anapolina ao longo da história de Anápolis renegou a

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 177


sua memória. O governo municipal e as elites comerciais não eram a favor
das características rurais que a cidade possuía. Diversas edificações foram
destruídas para que houvesse a construção de novas seguindo o estilo predo-
minante da época, o art déco - pois este representava a modernidade que
a cidade almejava.. Essas questões permeiam a atualidade, de forma que
há dificuldade de “vislumbrar políticas de preservação e conservação dos
patrimônios da cidade, mesmo com os tombamentos ao longo das últimas
décadas” (PAULA; SOARES, 2017, p. 17).
Esse descaso pelo passado se dá devido ao anseio pelo progresso que
desencadeou o desapego da população Anapolina a suas edificações histó-
ricas. Também pode ser dito que a maior parte dos cidadãos não possuem
ligação com uma parcela desses edifícios e/ou não sabem que eles consti-
tuem um acervo patrimonial da cidade. A baixa inserção dessas edificações
históricas no cotidiano da população os torna monumentos isolados, que
não possuem ligação com a vida dessas pessoas. O conceito de patrimônio
evoluiu e não mais representa esses monumentos isolados, e sim, justamente,
um conjunto de valores históricos, culturais e sociais que se convergem em
elementos de memória e identidade. Preservar, conservar e reconhecer a
história juntamente com o acervo patrimonial, o trazendo para a atualidade,
adequando a novos usos e possibilidades é restituir a memória, de forma que
esta restitui a identidade de uma cidade ou região. (CANDAU, 2011)
Há formas legais de garantir que o patrimônio cultural tenha o
tratamento necessário e esteja inserido junto ao cotidiano da população. O
Plano Diretor se constitui como um desses instrumentos. Esse conjunto de
leis planeja a cidade para o futuro diante do presente, pensando de forma
integrada, em que as questões referentes a preservação do patrimônio cultural
devem estar contempladas.

3.3.1 Perspectivas para o patrimônio cultural em Anápolis

O Plano Diretor é utilizado como instrumento de desenvolvimento


urbano com função de ordenar a expansão urbana e garantir que a função
social das propriedades seja realizada, de forma a garantir o bem-estar dos
habitantes dos municípios. Ele traz diretrizes e norteia o planejamento urbano,
bem como a proteção do patrimônio cultural. É um conjunto de funções que
auxilia no desenvolvimento social, cultural, ambiental e econômico de um
município (FERREIRA, 2017). Porém, nem todas as cidades utilizam de modo

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 178


satisfatório as possibilidades de desenvolvimento urbano que o Plano Diretor
proporciona, principalmente no que tange o patrimônio cultural, uma vez que
este está em segundo plano quando se fala em políticas públicas.
O Estatuto Da Cidade - Lei 10.257/2001 - proporciona aos munícipios
meios legais para a proteção do patrimônio cultural, dispondo de instrumentos
que os planos diretores podem adotar para que haja o cumprimento da função
social das propriedades urbanas. Neste sentido, há alguns instrumentos que
auxiliam em sua conservação e preservação, como a outorga onerosa do
direito de construir91 e a transferência do direito de construir92 - instrumentos
de significativo auxílio, uma vez que há compensação financeira à restrição
imposta pelo tombamento aos imóveis de interesse histórico93. Há ainda o
direito de preempção94 e as operações urbanas consorciadas95.
Esses instrumentos, que as prefeituras podem anexar em seus novos
planos diretores (ou revisões), tornam a proteção legal do bem histórico
menos onerosa aos cofres públicos, de modo que a captação de recursos
financeiros destinados a estes bens pode vir desses instrumentos. Para isso,
tem-se a necessidade de os cidadãos conhecerem os instrumentos propostos
pelo Estatuto para que haja um reflexo nos Planos Diretores desenvolvidos
pelos poderes municipais. Diversos deles são desenvolvidos replicando a
fórmula de planos produzidos em outras cidades, de forma que não há um
planejamento de acordo com a realidade de cada município – algo comum

91 O Estatuto define a outorga onerosa como “o exercício de construir acima do limite de coefi-
ciente de aproveitamento básico estabelecido pelo Plano Diretor municipal, mediante uma remu-
neração aos cofres públicos prestada pelo beneficiário. [...] O coeficiente de aproveitamento básico
é um percentual de área que o proprietário pode construir sem precisar pagar ao poder público.
Já o coeficiente máximo define o máximo da capacidade de construção que aquela área suporta
sem que prejudique a qualidade de vida dos cidadãos” (CALAÇA JÚNIOR; OLIVEIRA, 2022, p. 12)
92 “A transferência do direito de construir consiste em alterar para outro local o direito de con-
strução de uma determinada área, o qual também pode ter sua venda negociada pelo seu propri-
etário.” (CALAÇA JÚNIOR; OLIVEIRA, 2022, p. 12)
93 “No caso da outorga onerosa, um particular pode adquirir do poder público o direito de con-
struir além daquilo estabelecido inicialmente, mediante uma contrapartida financeira. Esse recur-
so pode ser usado tanto na manutenção dos bens de interesse histórico, quanto na aquisição de
bens deste caráter pelo poder municipal.” (CALAÇA JÚNIOR; OLIVEIRA, 2022, p. 12, grifo do autor)
94 Este instrumento auxilia no momento em que o Estado pretende comprar alguma edificação
histórica, em que “será exercido sempre que o Poder Público necessitar de áreas para [...] VI. Proteção
de áreas de interesse histórico, cultural ou paisagístico.” (BRASIL, Art. 26, Lei 10.257/01)
95 As operações urbanas consorciadas são, geralmente, parcerias público-privadas que utiliza os
instrumentos propostos pelo Estatuto das Cidades com o intuito de requalificar uma determinada
área. Esse tipo de operação é alvo de atenção, uma vez que não é aplicada da melhor forma, em
que há o protagonismo do capital privado que leva a diversos problemas do ponto de vista urbano
e patrimonial – quando aplicadas em áreas de interesse histórico.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 179


em cidades do interior. O Estatuto da Cidade ressalta, ainda, que a partici-
pação social na elaboração do Plano Diretor é fundamental e uma sociedade
participativa é de significativa importância na proteção do patrimônio cultural.
Anápolis desenvolveu três Planos Diretores anteriores a criação
do Estatuto da Cidade (2001) e todos foram criados sem que houvesse a
participação popular, de forma que isso acarretou em uma dominância dos
interesses do capital privado (CASTRO; CASTRO, 2017). Embora demonstrem
uma intenção administrativa de ordenar seu espaço urbano, estes Planos
Diretores eram singelos e pouco abrangentes.
No ano de 2006, Anápolis desenvolveu seu primeiro Plano Diretor
(revisado em 2016) com anuência da população. A questão patrimonial é apon-
tada no texto, mas as medidas tragas não são traduzidas em ações práticas.
As menções relativas ao patrimônio cultural podem ser observadas em alguns
momentos, como no Capítulo I, que se refere aos objetivos do Plano Diretor
e há menção a diversos setores de forma citada, como transporte público,
rede viária, desenvolvimento sustentável e também o patrimônio histórico:
[...] XIV. a recuperação dos investimentos do Poder Público
de que tenha resultado a valorização de imóveis urbanos;
XV. a proteção, a preservação, a conservação e a recuperação
do meio-ambiente natural e construído, do patrimônio
cultural, histórico, artístico, paisagístico e arqueológico; XVI.
a regularização fundiária e a urbanização de áreas ocupadas
de forma irregular. (ANÁPOLIS, 2016, p. 6-7, grifo do autor)

Na Seção VIII que corresponde à Estruturação do Sistema Viário, no


Art. 131 é dito que:
As vias e corredores da Rede de Transporte Público Coletivo
devem receber tratamento urbanístico adequado, de modo a
proporcionar segurança à população e a preservar o patrimônio
histórico, ambiental, cultural, paisagístico, urbanístico e
arquitetônico da cidade. (ANÁPOLIS, 2016, p. 38, grifo do autor)

Ainda na Seção VIII, há a repetição do mesmo conteúdo do Art. 131,


através do item Sistemas viário, de circulação e de trânsito, no item VII do Art. 142:
[...] promover o tratamento urbanístico adequado nas vias e
corredores da rede de transporte público coletivo, de modo a
proporcionar segurança à população e a preservar o patrimônio
histórico, ambiental, cultural, paisagístico, urbanístico e

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 180


arquitetônico da cidade; [...] (ANÁPOLIS, 2016, p. 45, grifo do autor)

O artigo citado não é contemplado pelo poder público anapolino


– embora seu conteúdo traga uma maneira de proteção necessária à preser-
vação dos bens históricos –, pois este permite que haja a operação de um
Terminal Urbano, que atua no transporte público da cidade, adjacente à
Estação Ferroviária José Fernandes Valente – um bem tombado. A contradição
entre o que a lei diz e o cotidiano urbano se dá pelo fato de que a circulação
de veículos pesados prejudica a estrutura de edificações históricas, como
a Estação. Esse fato acaba por onerar os cofres públicos, uma vez que há a
necessidade de investir em reformas periódicas nesses bens.
No Capítulo II – Patrimônio Imobiliário Municipal –, consta que há
objetivo de “identificação, inventário e registro de imóveis públicos municipais
e a disponibilização dos dados para a gestão e o uso apropriado.” (ANÁPOLIS,
2016, p. 61). No item V do Art. 189 consta “inventariar o Patrimônio Histórico
Municipal e adotar as medidas para tombamento, conservação e averbação
no Registro Imobiliário”. Os itens garantem o tombamento e conservação
das edificações históricas, mas como observado através dos tombamentos
anapolinos, houveram poucas edificações tombadas desde 2006 – data em
que o Plano Diretor foi publicado. Embora haja a garantia por lei, é necessário
que haja o cumprimento por meio do poder público, que parece possuir
outras prioridades.
Um exemplo da má gestão patrimonial anapolina se configura na
Praça Bom Jesus, localizada no Setor Central. A praça possui duas constru-
ções tombadas: a Fonte Sonora e Luminosa – que foi tombada em 2007
– e o prédio que abriga a atual Diretoria de Cultura – tombado em 1991. O
tombamento dessas construções aconteceu sem que a praça, importante e
histórico ponto de encontro da cidade, também fosse assegurada por lei. A
Fonte Sonora e Luminosa ficou desativada por vários anos, quando passou a
funcionar precariamente. Em 2011, a praça foi revitalizada e a fonte recebeu
algumas modificações em sua estrutura, como a adição de espelhos d’água
para ‘moderniza-la’. A importância da fonte é vista quando há o espetáculo
de luzes e sons produzido por ela, e mesmo após a revitalização da praça, este
não é visto com a frequência necessária. O prédio que funciona a Diretoria de
Cultura de Anápolis, antigo fórum, também recebeu algumas modificações
em seu interior durante essa revitalização, de forma que houve a criação de
novos ambientes e troca de parte dos pisos. Está em um estado de conser-
vação mediano, possui uso constante, mas com patologias na edificação.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 181


Quanto à destinação de recursos, o Plano Diretor diz no Capítulo
V – referente a Outorga onerosa do direito de construir –, no Art. 230, que a
aplicação dos recursos provenientes desta serão investidos em:
I. regularização fundiária e urbanística; II. execução de programas
e projetos habitacionais de interesse social; III. constituição
de reserva fundiária; IV. ordenamento e direcionamento da
expansão urbana; V. implantação de equipamentos urbanos e
comunitários; VI. criação de espaços públicos de lazer e áreas
verdes; VII. criação e proteção de outras Áreas de Especial
Interesse Ambiental; VIII. implantação de obras de infraestrutura
urbana; IX. proteção de áreas de interesse histórico, cultural
ou paisagístico. (ANÁPOLIS, 2016. p. 70, grifos do autor)

A destinação dos recursos financeiros está especificada de maneira a


contemplar grandes áreas que necessitam de um montante alto de recursos,
sem que haja uma delimitação mais detalhada da quantidade destinada para
cada. Todas essas áreas são importantes e devem ser observadas e inves-
tidas pelo poder municipal, porém, na prática há a demasiada priorização de
algumas em detrimento de outras. Por exemplo, nos últimos anos houve um
investimento crescente em parques urbanos, que ocorreu com caráter político.
A cidade possuía poucos e recebeu esses empreendimentos com entusiasmo,
fornecendo ao poder municipal a aprovação política necessária. Esse fato é
visto também em grandes obras de infraestrutura urbana, como viadutos.
Já o cuidado com o patrimônio tende a ficar de lado, pois a destinação de
recursos para esse setor é significativamente menor.
A Vila Industrial pode auxiliar no entendimento acerca das políticas
públicas. O bairro possui edificações que compõem um conjunto de patri-
mônio industrial devido a relevância histórica, paisagística e social, incluindo
a Estação Ferroviária Engenheiro Castilho, que foi tombada a nível municipal
em 2018. Como visto anteriormente, a paisagem urbana do bairro chama a
atenção pela degradação de seus edifícios – em especial pelas edificações
ligadas ao passado indústria, como galpões, moinho e a própria Estação, que
se encontra em um estado de conservação precário, sem uso regular.
Ainda, como visto no segundo capítulo, o bairro se tornou alvo
de investimentos imobiliários impulsionados pela construção do Genesis
Office. Assim como consta no plano diretor de Anápolis através do Termo de
Referência do Estudo de Impacto de Vizinhança, é necessário que edificações
do porte do Genesis devam ser acompanhadas de um estudo do impacto

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 182


que elas podem gerar em seu entorno, especialmente nos bens de interesse
patrimonial. Esse estudo foi feito pela empresa responsável pela construção
do edifício, mas o acesso ao documento não foi possível até a escrita final
deste texto.
A construção de uma edificação desse porte próxima a edificações
históricas exerce influência na paisagem urbana e na apreensão do objeto
patrimonial, de forma a mudar a percepção que as pessoas possuem da
relação entre o edifício histórico e seu entorno. A construção do Genesis Office
pode levar a uma exploração da área do bairro para responder às expectativas
do capital imobiliário, de forma que seu conjunto de edificações históricas
pode sucumbir.
É de interesse, também, observar como o bairro Jundiaí exerce influ-
ência no futuro da Vila Industrial – a construção de edificações de grande
porte no bairro é resultado de um movimento que acontece a alguns anos
no Jundiaí, em que essa verticalização já está avançando para as ‘bordas’ do
bairro, em que o limite é a Vila Industrial. Nas últimas décadas, o Jundiaí se
consolidou como uma centralidade influente tanto em Anápolis como na
região. Por trás dessa verticalização, há diversas construtoras e o desejo dos
governantes de desenvolver o bairro, atraindo investimentos, aquecendo o
capital imobiliário e engendrando na população o desejo por transformações.
O Jundiaí, assim como a Vila Industrial, se enquadra como Zona
Urbana Mista, que são, segundo o Plano Diretor de Anápolis, áreas caracte-
rizadas pela edificação contínua e a existência de equipamentos públicos que
respondam às funções urbanas básicas. Ambos os bairros estão enquadrados
na Zona Urbana Mista de tipo 01 – áreas em que há uma disponibilidade de
infraestrutura e necessidade de diversificação de uso, que possibilitam o maior
adensamento conforme a aplicação da outorga onerosa máxima. Para vias
locais, outorga máxima de seis pavimentos; vias coletoras, oito pavimentos;
e vias arteriais, dez pavimentos.
Ressalta-se que durante o ano de 2022 iniciou-se a construção de
um novo parque urbano na região do bairro Jundiaí, em complemento ao
já existente Parque Ipiranga (fig. 90) – que foi responsável por um intenso
adensamento e mudança no padrão de usos em suas intermediações, e essa
ampliação por meio do Parque das Águas causará o mesmo efeito. O novo
parque fica próximo à Avenida JK e ao setor de galpões desta, implicando em
futuras modificações nos padrões de uso da Vila Industrial.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 183


N

0 50 100

Vila Industrial Parque Ipiranga

Parque das Águas


Avenida São Francisco

figura 90: Imagem de satélite ressaltando os parques e demarcando a Vila Industrial juntamente com a
Avenida São Francisco. Fonte: Google Earth. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2023.

O Plano Diretor de Anápolis especifica, no Art. 29 da Seção III que


se refere às Áreas Especiais, todas as áreas especiais da cidade – porções
territoriais que devido suas características têm “importância relevante para
a promoção dos interesses estratégicos do município [...] visando promover
transformações estruturais de caráter urbanístico, social, econômico e
ambiental” (ANÁPOLIS, 2016, p. 13, grifo do autor).

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 184


I. Área Especial de Segurança da Base da Força Aérea-AESB; II.
Área Especial de Interesse do Aeroporto-AEIAE; III. Área Especial
de Estação de Tratamento de Esgoto e Aterro Sanitário- AETE; IV.
Área Especial de Segurança do Presídio- AESP; V. Área Especial
de Interesse Ambiental-AEIA; VI. Área Especial de Interesse
Urbanístico-AEIU; VII. Área Especial de Interesse Social- AEIS;
VIII. Área Especial de Interesse Econômico-AEIE; IX. Área Especial
de Interesse Estratégico- AEIET; X. Área Especial de Controle de
Ameaça de Desastres Naturais-AECAD. (ANÁPOLIS, 2016, p. 13,
grifos do autor)

O ‘Anexo XIV’ do Art. 29 se trata de um mapa em que é possível


observar a divisão das áreas especiais no território de Anápolis. Nele, a Vila
Industrial está categorizada como ‘Área Especial de Interesse Urbanístico-
AEIU’ – áreas que, segundo o Art. 34 da mesma Seção, compreendem
“recortes do perímetro urbano sujeitos às ações de requalificação urbanís-
tica, ambiental e econômica, visando à valorização de suas peculiaridades e
potencialidades” (ANÁPOLIS, 2016, p. 14, grifos do autor). O Art. 35 especifica
a área de abrangência desses pontos de interesse urbanístico, contendo o
centro pioneiro e a porção nordeste da Vila Industrial.
I. Centro Pioneiro; II. Entorno do Terminal Rodoviário Interurbano;
III. Entorno do Lago JK. IV. Porção Nordeste do Bairro Jundiaí
Industrial; V. Porção Oeste do Centro; (ANÁPOLIS, 2016, p. 14-15,
grifo do autor)

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 185


figura 91: Porção Nordeste da Vila Industrial, segundo o Plano Diretor de Anápolis. Fonte: Plano Diretor de
Anápolis, 2016.

O Plano Diretor menciona a porção nordeste da Vila Industrial, mas no


Mapa Anexo XIV – Áreas Especiais (fig. 91) mostra quase toda a extensão do
bairro, excluindo as áreas que abrigam seus principais edifícios históricos – a
Estação Ferroviária, os galpões que fazem suporte a ela e o Moinho. É possível
extrair, portanto, que o governo municipal não tem interesse em inserir essas
edificações, seu potencial histórico e também econômico, em uma possível
requalificação urbana do bairro. O interesse parece ser claro: relançar o bairro
economicamente para que construtoras explorem seu potencial de adensamento.
Embora haja menções ao Centro Pioneiro (que, como visto, contém
a maioria das edificações de interesse patrimonial de Anápolis) e à Vila
Industrial, não há um direcionamento claro de como essas ações poderiam
ser tomadas, ou quais pontos norteariam essas requalificações. A partir do
momento em que o setor privado participa da exploração econômica do
bairro, as edificações históricas podem correr perigo, uma vez que a intenção
desse setor é de capitalizar ao máximo as porções territoriais. É necessário que
haja um planejamento específico para que o bairro não perca seu conjunto
de patrimônio industrial, bem como com o Setor Central, de forma que as
edificações históricas façam parte dessas ações de requalificação, de modo
a inseri-las no cotidiano da população e também em um possível roteiro

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 186


turístico e histórico para a cidade.
É de significativa importância que a Vila Industrial esteja inserida
ativamente na cidade através de equipamentos públicos, comércio, lazer,
serviço, entre outros, que podem ser realizados em conjunto com a deter-
minação de uso efetivo de suas edificações históricas. Essas ações devem
respeitar o caráter histórico das edificações ali presentes e sua contribuição
para a história da sociedade anapolina, principalmente no que tange à Estação
Ferroviária Engenheiro Castilho e seu entorno. Não que sejam sempre neces-
sárias ações como tombamentos, mas políticas públicas que visem integrar
essas edificações representativas da paisagem urbana do bairro – como
os galpões, a mencionada estação e o moinho – ao cotidiano da popu-
lação. É necessário incentivar que a população as use, as abrace e sinta-se
representada por elas ao ponto de defende-las de possíveis demolições ou
descaracterizações, assim como acontece com o patrimônio natural – repre-
sentado pelos conjuntos arbóreos das praças Dom Emauel e Americano do
Brasil, e o Morro da Capuava.
Como visto anteriormente. a Vila Industrial possui uma aparência de
um brownfield. O Plano Diretor expões que é necessária uma requalificação
urbana, e ela é. Mas, como será conduzida? As edificações de caráter histó-
rico terão espaço e serão acopladas ao plano? Quais os critérios que serão
adotados na condução desta? Transformações são necessárias, mas devem
estar acompanhadas de um planejamento que vise a integração dos interesses
econômicos com os interesses sociais. Grandes requalificações, de praxe,
visam relançar setores da cidade tornando o capital privado um protagonista,
a fim de vender uma área antiga como nova ao mercado imobiliário. Mas, esta
não deve ser a única intenção. A plena preservação das edificações históricas
contribui para a manutenção da identidade, e ao se tratar da Vila Industrial,
contribui para o reconhecimento da história industrial anapolina.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 187


3.4 Patrimônio Industrial da Vila Industrial.

Os edifícios ligados a indústria da Vila Industrial possuem significativo


destaque no bairro, como observado durante a análise da paisagem urbana
realizada no segundo capítulo. Para além, possuem também importância
histórica e patrimonial, compondo um acervo de patrimônio industrial da
cidade de Anápolis. Como esse tipo de patrimônio é manifestado através de
seu conjunto, pode-se elencar sua dimensão através da Estação Ferroviária
Engenheiro Castilho e seu armazém de apoio; os diversos galpões espa-
lhados pelo bairro, em especial os que compõem a Avenida JK; e o Moinho
Catarinense. Este texto focará, principalmente, nesses edifícios.
No bairro ainda há atividade industrial, ou que seja ligada a ela, como
o armazenamento, beneficiamento de grãos, transformação de energia, trans-
porte, entre outros. Entre elas, está a empresa Brejeiro Produtos Alimentícios
Orlândia S/A Comércio e Indústria – que possui um prédio típico industrial de
significativo destaque na paisagem urban. Esta edificação também faz parte
desse conjunto de patrimônio industrial, tanto por se destacar na paisagem,
quanto por sua permanência e história no bairro – que culmina em diversas
memórias ligadas a indústria. O Brejeiro está na Vila Industrial desde 1966,
possui quase mil funcionários e é responsável pela movimentação diária de
caminhões e automóveis de maior porte na região. A indústria ocupa duas
quadras, em que em uma há a fábrica e outra a parte de armazenamento e
administração. A figura abaixo mostra a dimensão do Brejeiro, bem como
o conjunto patrimonial do bairro, contemplando todos os edifícios citados.
(fig. 92)

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 188


Brejeiro Galpões gerais

Estação Ferroviária Engenheiro Castilho Vila Industrial


e Praça do Coreto

Galpão da atual subprefeitura e entorno

Moinho Catarinense

figura 92: Imagem 1: Brejeiro Produtos Alimentícios Orlândia S/A Comércio e Indústria; Imagem 2:
Imagem de satélite ressaltando o acervo de patrimônio industrial, demarcando a Vila Industrial. Fonte:
Imagem 1: CALAÇA JÚNIOR, 2022; Imagem 2: Google Earth. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2023.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 189


3.4.1 Estação Ferroviária Engenheiro Castilho.

Antes de falar sobre a Estação, faz-se necessário explicar o porquê de


ela ser um patrimônio industrial – ou patrimônio da industrialização – mesmo
que seja, também, patrimônio ferroviário. O patrimônio industrial, como
exposto anteriormente, engloba diversos elementos, como maquinários,
armazéns, prédios industriais, oficinas, fábricas, redes de energia, meios de
transportes e outros elementos, bem como relatos orais de pessoas que
estabeleceram alguma relação com esses bens. A Estação se enquadra nos
meios de transporte, com as suas estruturas e infraestruturas, pois esteve dire-
tamente ligada com a atividade industrial exercida no bairro e em Anápolis.
A Estação Ferroviária Engenheiro Castilho é uma das principais edifi-
cações históricas da cidade e não possui seu valor devidamente reconhecido
pela população Anapolina. O armazém que fazia suporte a ela, que possui
uma tipologia em metal única no estado, passou muitos anos subutilizado
e sofrendo deteriorações do tempo. Ainda, há uma praça com um coreto,
conhecida como Praça do Coreto, em frente à Estação. Esse conjunto compõe
o entorno da Estação Engenheiro Castilho.
Como visto durante o texto, a Estação passou a ser a principal e
ponta de linha da EFG em Anápolis após a desativação da Estação Central. Ela
possuía um programa singelo assim como as demais estações goianas: área
de embarque e desembarque, pátio para compra de passagens e banheiro
(fig. 93). Por ser menor e mais simples que a Estação de Anápolis, a Estação
Engenheiro Castilho precisou ser reformada a fim de comportar a nova
demanda de embarque/desembarque de cargas e passageiros (fig. 94).
As modificações feitas consistiram em ampliação da Estação, demo-
lição e construção de uma nova cobertura para a plataforma de embarque/
desembarque e a mudança em seu telhado, alterando o projeto original –
essas mudanças foram substanciais na descaracterização da Estação. Também
houve a substituição de algumas esquadrias de madeira para ferro e vidro
e a criação de um detalhe decorativo que sugere o art Déco – estilo ainda
muito utilizado em Anápolis durante esse período, em clara influência da
capital goiana. (fig. 94)

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 190


figura 93: Estação Ferroviária Engenheiro Castilho antes da reforma.
Fonte: Acervo do Museu Histórico de Anápolis - Alderico Borges de Carvalho

figura 94: Estação Ferroviária Engenheiro Castilho durante a reforma.


Fonte: Acervo do Museu Histórico de Anápolis - Alderico Borges de Carvalho

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 191


figura 95: Estação Ferroviária Engenheiro Castilho reformada para atender nova demanda,
Anápolis 1970. Fonte: Acervo do Museu Histórico de Anápolis - Alderico Borges de Carvalho
Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2023.

Em 2001, a prefeitura de Anápolis iniciou o projeto de instalar uma


escola de panificação na Estação, em que houve uma redefinição dos usos
e alterações internas. Os espaços foram modificados, houve a substituição
do forro original de madeira por O armazém que fazia suporte a ela, que
possui uma tipologia em metal única no estado, passou muitos anos
subutilizado e sofrendo deteriorações do tempo. À esta época, a Estação
não era tombada e por consequência não houve as implicações legais de
alterações em edificações históricas, o que proporcionou que estas modi-
ficações fossem realizadas sem qualquer conduta alinhada às técnicas de
conservação e restauro. Através da planta baixa (fig. 96), das elevações
(fig. 97) e das imagens atuais (fig. 98) é possível observar como está a Estação
atualmente, na qual, internamente, é possível observar algumas rachaduras
parte das adaptações feitas para alocar a escola da panificação.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 192


0 1,5 3

1. Plataforma 5. Cozinha

2. Recepção / Área desocupada 6. Depósito


3. Cozinha desativada 7. Área de fornos
4. Banheiro

figura 96: Planta da Estação Ferroviária Engenheiro Castilho.


Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2023. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2023.

0 1,5 3

figura 97: Elevações da Estação Ferroviária Engenheiro Castilho.


Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2023.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 193


figura 98: Imagem 1: Vista da Estação pelo Google Street View; Imagem 2: Vista frontal da Estação; Ima-
gem 3: Recepção da Estação; Imagem 4: Área desocupada da Estação. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2023.

O armazém que faz suporte a Estação, feito em alvenaria e placas

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 194


metálicas, não possuía divisórias ou fechamentos internos, o que facilitava
na sua função de estocagem de mercadorias. Após a desativação da Estação,
os galpões96 ficaram alguns anos abandonados, depois abrigaram a FAIANA
e com o fim da feira, a prefeitura de Anápolis então, optou por transferir
parte das secretarias para o local, à época a Secretaria de Obras, Habitação e
Serviços Urbanos, juntamente com a Secretaria do Meio Ambiente. Na gestão
atual, o local abriga a Secretaria de Obras e a Secretaria de Meio Ambiente,
Habitação e Planejamento Urbano. Para abriga-las foram feitas divisórias em
estrutura metálica e painéis de mdf, que devido à fácil instalação, torna as
salas redimensionáveis conforme a necessidade.
Através da planta (fig. 99) e das elevações (fig. 100) é possível ter
noção da dimensão do edifício e de suas adaptações.

0 4 8

1. Plataforma de entrada/saída 4. Entrada/Saída Área não numerada: secretarias


2. Recepção 5. Depósito
3. Circulação 6. Arquivo

figura 99: Planta do armazém. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2023.

96 Embora seja apenas um (1) galpão, o armazém aparenta ser dois (2) galpões unidos. Portanto,
nesta dissertação, é referido tanto como armazém, como galpões.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 195


0 4 8

figura 100: Elevações do armazém. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2023.

Ressalta-se que a construção desse tipo de armazém foi bastante


incomum no estado, no qual apenas Anápolis registrou uma edificação com
fechamentos em placas metálicas – material que, à época, representava
uma inovação. A importância dele, que hoje apresenta condições de visível
degradação e modificações (fig. 101), está para além de suas características
históricas. O tombamento da Estação não contemplou os galpões, em
contrária oposição às recomendações atuais que regem o patrimônio histórico,
de que a valorização dos monumentos isolados deve ser superada para que
haja a compreensão do entorno, que auxilia na compreensão dessa edificação.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 196


figura 101: Vistas externas e internas do armazém. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

Em frente a Estação está exposto um antigo maquinário (fig. 105) que


também não foi contemplado na lei de tombamento. Esse tipo de maquinário
faz parte do patrimônio industrial uma vez tem ligação com a rede de trans-
portes ligada à atividade industrial. Algumas estações tombadas possuem
peças da rede de transporte expostas, ou os vagões, ou parte dos trilhos. Em
Anápolis, a única que possui algo do tipo é a Estação Engenheiro Castilho.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 197


A peça está deteriorada e em um estado de conservação ruim.

figura 102: Elevações do armazém. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2023.

Ainda, a Praça Joaquim Pinto Pontos localizada a frente da Estação é


um ponto de importância na compreensão do entorno. Ela não obstrui a visu-
alização do monumento, por outro lado, o ressalta. A praça foi pensada já no
projeto inicial (fig. 103) pretendido ao bairro e construída alguns anos depois,
sendo reformada ao longo das décadas (fig. 104). O programa consiste em
um característico coreto, sem tipologia arquitetônica clara, diferentes quadras
de esportes e academia ao ar livre. O local já recebeu alguns eventos, como
shows musicais, feiras, e serviu de suporte para o funcionamento da FAIANA.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 198


Praça do Coreto

Estação Ferroviária Engenheiro Castilho

figura 103: Projeto da Vila Industrial ressaltando a Estação Engenheiro Castilho e a Praça do Coreto.
Fonte: Mapoteca Municipal da Prefeitura de Anápolis – acervo de Osvaldo Alves, 2019. Intervenções:
CALAÇA JÚNIOR, 2023.

figura 104: Praça do Coreto – Praça Joaquim Pinto Pontes. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022
.

Os elementos que compõem o conjunto patrimonial da Estação


Ferroviária Engenheiro Castilho se complementam. Embora todos estejam em
um baixo nível de conservação e, em alguns casos, visivelmente degradados,

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 199


eles representam uma unidade que ressalta o monumento, sendo tão impor-
tantes quanto a Estação pois criam uma unidade na percepção do patrimônio.

3.4.2 Galpões.

Através da análise da paisagem foi possível observar a dimensão que


os galpões ocupam na paisagem urbana do bairro. Esses galpões, em sua
maioria, exerciam e/ou exercem a função de armazenamento e transporte
ou realização de alguma atividade ligada ao setor de comércio e serviços.
Outra parte deles exerce as funções propriamente industriais. De acordo com
o conceito de patrimônio industrial, a função de armazenagem está inclusa
quando se trata deste tipo de patrimônio.
A tipologia de galpão é simples, em que a característica básica desse
tipo de edificação é ter a planta livre, para que a função de armazenamento
seja facilmente realizada – ou, também, a instalação de maquinários e equi-
pamentos industriais. Em grande parte desses galpões, a alvenaria estrutural
é utilizada em todo o perímetro externo e/ou pilares de sustentação, que
fazem suporte para a cobertura. Esta é feita com estrutura treliçada e fechada
telhas metálicas.
Na Vila Industrial, são encontrados basicamente três tipos de galpões.
A primeira, possui a cobertura em telhado de duas águas, a segunda, a
cobertura fica escondida através da platibanda, e em terceiro, a cobertura
arredondada (fig. 105 e 106).

figura 105: Diagrama de tipos de galpões. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2023.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 200


figura 106: Fotos dos tipos de galpões na Vila Industrial. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

Estas edificações são construídas desde o surgimento do bairro,


realizando atividades industriais, armazenamento, beneficiamento de grãos
e, antigamente, suporte à Estação, para guardar mercadorias. Muitos estão
fechados, inutilizados, deteriorados. Já, parte deles, conforme aponta Alves
Junior (2020), vem sendo ocupados com novas atividades e totalmente modi-
ficados para que não se revelem como galpões. (fig. 107)
Em razão da ausência de um plano geral de ocupação e apro-
priação, considerando esse espaço como a importante paisagem
história urbana que é, as modificações são realizadas, como
afirma Rufinoni (2009), como reformas comuns, que resultam
na descaracterização da noção de conjunto desse espaço de
memória, o que prejudica a sua conservação enquanto docu-
mento histórico. (ALVES JUNIOR, p. 102, 2020)

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 201


figura 107: Imagem 1: Galpões em 2013; Imagem 2: Galpões em 2018, no início da reforma; Imagem 3:
Galpões em novembro de 2018, no fim da reforma; Imagem 4: Empresa Distral Sorvetes em Goiânia, na
Avenida Anhanguera. Fonte: ALVES JUNIOR, 2020.

Observa-se que a fachada dos galpões foi inteiramente alterada, de


forma que não é possível identificar a tipologia da edificação. Esse tipo de
modificação acontece não somente nos galpões da Vila Industrial, mas em
toda a cidade de Anápolis. Diversas edificações com tipologia art déco no
centro pioneiro sofreram as mesmas alterações. É certo que os galpões não
são considerados edifícios históricos pela população e lideranças municipais,
porém, como aponta esta pesquisa, eles fazem parte de um conjunto de
patrimônio industrial da cidade e espera-se que sejam caracterizados como
tal, em que a obstrução de sua tipologia implica na descaracterização da
noção de conjunto exercida por esses galpões. Intervenções arquitetônicas
e a adição de novos usos são necessárias para a manutenção desses edifícios
na vida urbana, porém, devem respeitar suas características.
Os galpões ocupam uma porcentagem significativa do território da
Vila Industrial (fig. 108) e sua remoção pode prejudicar o reconhecimento do
acervo de patrimônio industrial do bairro. Como dito anteriormente, esse tipo
de patrimônio é manifestado por meio do seu conjunto arquitetônico, e os
galpões são significativos na manutenção deste. Não é possível elencar alguns
galpões que possam ser dignos de preservação individualmente, quando o seu
valor é representado pelo seu conjunto.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 202


figura 108: Vista aérea da Vila Industrial, ressaltando os galpões e o Brejeiro ao fundo. Fonte: Acervo de
Déborah Aires Souto, 2016.

3.4.3 Moinho Catarinense.

O edifício está localizado no início da Vila Industrial e possui rele-


vância na paisagem urbana do bairro e da cidade. Ele abrigou a empresa
Moinho Catarinense Ltda., fundada em 1951 na cidade de Mafra, no estado de
Santa Catarina (à época, no estado do Paraná). O primeiro moinho possuía
uma capacidade de beneficiar sete toneladas de trigo em um dia. Em 1960
a empresa começou sua expansão, se tornou uma Sociedade Anônima de
capital fechado – mudando seu nome para Moinho Catarinense S.A. – e foi
inaugurada uma filial em Dourados, no Mato Grosso do Sul. A nova filial
possuía uma capacidade maior, de quinze toneladas de farinha de trigo ao dia.
A empresa chegou em Anápolis em 1963 com a fundação de uma
nova filial, um edifício de cinco pavimentos construído próximo à Estação e a
Avenida JK, e respondeu a uma demanda de produção de algo em torno de
50 toneladas de farinha de trigo ao dia, a maior até então entre as filiais da
empresa. A escolha de Anápolis e a proximidade com a Estação Ferroviária
Engenheiro Castilho se deu devido a localização privilegiada de Anápolis, no
centro do país, que facilitava o escoamento da produção de farinha de trigo,
uma vez que a EFG já estabelecia conexões com os maiores centros urbanos do
Brasil. Com a proximidade da Estação, esse escoamento seria ainda mais fácil.
A empresa funcionou durante toda a década de 1960 sob comando
da matriz, produzindo toneladas de farinha de trigo e empregando diversos
colaboradores. Em 1968 houve uma reestruturação na empresa e o desmem-
bramento das filiais, tornando-as unidades autônomas. As unidades de
Anápolis e Dourados passam a responder por si, sem vínculos com a matriz.
Dessa forma, a unidade de Anápolis seguiu em funcionamento até meados da
década de 1970, e foi encerrada próximo a desativação da ferrovia no perímetro

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 203


urbano. Observa-se que o fim da empresa esteve intimamente ligado com o
fim da ferrovia em Anápolis, ressaltando o quanto esta era fundamental para
o escoamento da produção de grandes indústrias.
Após esse período, o edifício teve alguns outros usos e funcionou
como casa noturna – chamada de Cacacoa – durante alguns anos, sendo
desativado e abandonado na década de 1980, antes do encerramento total
das atividades ferroviárias em Anápolis. O atual proprietário da edificação
diz ter a adquirido a mais de 40 anos, e quando realizou a aquisição, ele já
estava abandonado. Em entrevista a Castro (2016), o proprietário disse não ter
demolido o edifício em razão dos altos custos de demolição. E, atualmente, a
especulação imobiliária realiza um papel fundamental de forma a aumentar
o valor da venda do terreno onde está localizado o edifício.
Como dito, o Moinho Catarinense está localizado (fig. 109) próximo
à Estação e possui uma grande área vazia, cercado por um muro alto em
alvenaria e com todas as entradas para o terreno vedadas, a fim de evitar
que moradores de rua ou infratores entrem no local. Em frente a ele, está o
Genesis Office.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 204


N

0 175 250

Terreno que abriga o Moinho Catarinense

Estação Ferroviária Engenheiro Castilho

Genesis Office

figura 109: Imagem de satélite da Vila Industrial, ressaltando o terreno do Moinho Catarinense. Fonte:
Google Earth, 2022. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2023.

O projeto (fig. 110) e o edifício (fig. 111) atualmente diferem-se em


alguns aspectos. No edifício atual há a adição de dois volumes não previstos
no projeto: um referente à caixa d’água e outro a um anexo na lateral da
edificação. As aberturas também são diferentes, em relação a quantidade
e tamanho, bem como a modulação da estrutura da edificação, que dita o
ritmo das aberturas do edifício atual. Por fim, houve a adição de platibanda,
mudando o aspecto visível da cobertura do Moinho. O edifício foi construído
com bloco de tijolo cerâmico furado, provavelmente com material produzido
na cidade, uma vez que havia predominância de grandes olarias na região.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 205


figura 110: : Projeto do Moinho Catarinense. Fonte: Carlos Assis apud CASTRO, 2016

figura 111: : Fotos do Moinho Catarinense em 2022. Fonte: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 206


O nível de degradação do edifício atual é alto e evidente (fig. 111).
Parte do telhado cedeu, há infiltração, fissuras, descascamento da pintura,
soltura do reboco e deterioração das aberturas. As janelas são do tipo bascu-
lante e estão sem o fechamento em vidro, somente com a estrutura metálica.
Parte delas estão vedadas com tijolo cerâmico e reboco, assim como as portas
que foram lacradas com concreto, de forma a evitar invasores.
Melo (2016) realizou uma análise, através de diagramas97, das pato-
logias observadas no edifício, no qual observa-se a presença de umidade
e trincas. Atualmente o Moinho apresenta um crescimento das patologias
apresentadas por Melo em 2016 (fig. 112).

97 A análise realizada por Melo (2016) e continuada nesta dissertação não procura retratar em
profunda fidelidade as patologias observadas, mas, exemplificar através de diagramas como está
o edifício atualmente – no ano de 2022. Todos os desenhos foram feitos por Melo (2016) com in-
tervenções pontuais do autor. Para maior fidelidade, observar as imagens contidas na Figura 114.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 207


0 4 8

Trincas Soltura de reboco

Lacrado - Bloco de Concreto


Umidade - Melo (2016)

Lacrado - Bloco Cerâmico


Umidade - Calaça Junior (2023)
Ferragens

Tubo de queda de água pluvial

figura 112: Elevações do Moinho Catarinense contendo diagramas de patologia. Fonte: MELO, 2016. In-
tervenções: CALAÇA JUNIOR, 2023.

O Moinho Catarinense foi o primeiro edifício em altura a ser cons-


truído nessa região e permaneceu como o ponto mais alto da localidade por
várias décadas, teve uma importância significante no desenvolvimento da

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 208


ferrovia e da indústria e se configura como um marco na paisagem urbana
do bairro e da região. Seu aspecto deteriorado – de uma ruína urbana98
– contribui para isso de forma a atrair os olhares dos transeuntes, seja para
criticar ou para entender o que aconteceu com esse edifício e qual sua história.
O aspecto deteriorado do Moinho é uma característica comum de
parte significativa dos edifícios industriais localizados nos centros urbanos,
sendo conhecido como ruína industrial (MENEGUELLO, 2021). Edifícios como
esses passaram a ser valorizados por artistas e arquitetos, seja como palco
para as artes – através de grafites, apresentações teatrais, cenários para o
audiovisual, galerias de arte – como também para diferentes tipos de inter-
venções arquitetônicas que permitam novos e diferentes usos.
Essas edificações muitas vezes não são vistas como obras que
possuam uma beleza singular, pois são espaços primariamente industriais
que buscavam responder à uma demanda de produção. Mas é justamente
esta característica de ruína o que mais chama a atenção no Moinho, e pensar
na manutenção desse aspecto é relevante caso haja futuras intervenções
no edifício ou em seu entorno. É possível que uma ruína seja transformada
em um espaço com uso condizente, que respeite a memória e história da
pré-existência.
Com o advento da construção e inauguração do Genesis Office, a
especulação imobiliária entorno deste edifício e de seu terreno aumentou. Os
registros atuais da edificação podem ser os últimos, de forma que sua demo-
lição pode ser iminente. Este edifício faz parte do conjunto de patrimônio
industrial contido na Vila Industrial, representando um pilar importante na
compreensão deste, uma vez que está localizado na principal área de acesso
ao bairro, rodeado de avenidas e ruas importantes. Inúmeras intervenções já
foram idealizadas por estudantes de arquitetura e urbanismo em trabalhos
de conclusão do curso, transformando o edifício em algo novo e o integrando

98 Ruínas urbanas são sítios nos quais algumas interrelações de cidade e natureza podem oca-
sionar acúmulos de diferentes processos temporais e conformar lugares que adquirem uma apar-
ente paralisia diante de outras temporalidades, especialmente as hegemônicas ligadas à produção
e valorização do tempo via trabalho. Tratam-se de lugares que sofrem uma drástica desaceleração
da intensidade dos seus usos pré-estabelecidos e, simultaneamente, outros processos antes man-
tidos em baixas intensidades de ação se tornam preponderantes e capazes de adquirir intensidade
crescente.” (BRITTO, 2013, p. 123)

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 209


com a vida e cotidiano dos anapolinos99. Esse fato mostra que há um inte-
resse de arquitetos e urbanistas nessa edificação, ressaltando o potencial
de exploração desta através da transformação do edifício com novos usos.
É necessário que haja um equilíbrio entre o que preservar, entre o que
renovar e entre o que se deve deixar no passado trazendo para o presente
em forma de registros, fotografias e memórias. No caso dos patrimônios
industriais citados, é necessário que estes sejam conhecidos pela população,
que sejam ferramentas que contenham a história industrial e ferroviária da
cidade, que sejam usados pelos mais diversos usos, e que, caso necessário,
sejam renovados e deem lugares a novos edifícios que contarão com novas
memórias.
A intenção, aqui, não é dizer que os edifícios históricos devam ser
congelados no tempo, mas, que edifícios representativos da história e da
paisagem urbana de uma cidade, como os citados, são importantes para a
manutenção da identidade e da memória de seus habitantes. São ferramentas
que ajudam a entender e conhecer a cidade e também a própria população.
Novos edifícios, transformações e recorrentes mudanças em perfis de uso são
necessários para que uma cidade se mantenha viva e competitiva, mas isso
deve ser alinhado com a manutenção da sua história.

99 A exemplo, os trabalhos: “Intervenção Urbana – Um resgate da História e Cultura Anapolina


através da Vila Industrial”, de CALAÇA JÚNIOR, 2019; “Moinho das Artes – Intervenção no antigo
moinho de Anápolis”, de MELO, 2016; “Moinho das Artes”, de ASSIS, 2015; “O novo CCI Anápolis:
uma proposta para dois patrimônios esquecidos.”, de CASTRO, 2016. Além de outros trabalhos que
utilizam outras partes da Vila Industrial, como seus galpões e Estação, como os trabalhos: “Habi-
tação Coletiva: Uma nova Vila para a Vila - Habitação Coletiva para o Jundiaí Industrial”, de MA-
TIAS, 2019; “Entre Trilhos: As Artes”, de VENTO, 2019; “Jundiaí Industrial: galpões, memória e novos
usos”, de SOUTO, 2016; e “Galpão Cultural - Escola de Artes de Anápolis”, de ALVES JUNIOR, 2016.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 210


3.5 História. Identidade e Memória: o patrimônio como ponto
de conversão.

As memórias nutridas pela população ao longo dos anos, em diversos


períodos de tempo, constroem a história de uma cidade. Os edifícios repre-
sentam parte fundamental nesta construção, pois neles acontecem eventos
e encontros que ficam marcados na memória – de uma ou várias pessoas.
A forma como a população de uma cidade se reconhece em seus edifícios
está intimamente ligada com a memória criada e nutrida por esta durante
gerações. Essa relação faz parte da manutenção da identidade, em que a
memória é o combustível para a existência da última.
A memória não procura analisar ou interpretar documentos do
passado, ela procura se importar com o fato histórico da maneira que foi
absorvido e continua sendo vivenciado (individualmente ou coletivamente).
Ela está mais próxima do indivíduo do que a história registrada em livros, pois
a memória configura a vivência da pessoa acerca daquele fato ou momento
histórico (CARSALADE, 2011).
A história trata da identidade pessoal na perspectiva da identidade
coletiva (o que faz as pessoas se reconhecerem enquanto grupo, com valores,
ritos e experiências em comum), buscando através da base documental os
registros dos acontecimentos passados. Em oposição, a memória trata da
identidade coletiva na perspectiva da identidade pessoal, buscando os acon-
tecimentos passados através dos filtros pessoais e vivências subjetivas – um
reflexo dos fatos históricos diretamente sobre as pessoas (CARSALADE, 2011).
Halbwachs (2003) diz que a memória coletiva é um conjunto de
memórias individuais que em certo ponto se convergem. Indivíduos dife-
rentes possuem memórias distintas – suas memórias individuais – que podem
constituir uma única lembrança, com pontos de vista diversos. Essa memória
coletiva pode ser atrelada a pessoas, coisas, elementos da natureza, edifícios,
entre outros. O autor afirma que a memória é construída em grupo, mas
também é subjetiva, em que cada memória individual é um ponto de vista
sobre a memória coletiva, que este ponto de vista muda conforme o lugar
ocupado pelo indivíduo, e que este lugar muda segundo as relações que este
indivíduo mantém com outros meios (HALBWACHS, 2003).
A memória – individual e coletiva – possui importância dentro do
campo patrimonial. Candau (2011) diz que o patrimônio é uma dimensão da
memória (seja ela individual ou coletiva), e que esta fortalece a identidade.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 211


Estes conceitos exercem laços fundamentais, de forma que um está intima-
mente ligado ao outro. A memória é um campo complexo, que pode evocar
tanto coisas boas, como lembranças agradáveis da infância, de trabalho, entre
outros, como coisas ruins, como traumas, percepções negativas, tragédias.
Mesmo no campo de lembranças desagradáveis, estas constroem a identi-
dade, tornando a memória precedente da identidade. Dessa forma, a memória
e a identidade são indissociáveis e se reforçam mutualmente.
Entende-se, portanto, que a identidade é um elemento da memória
e o patrimônio surge como uma dimensão desta relação. O uso, a valorização
e conservação de edifícios históricos são formas de resguardar a identidade
de uma cidade – de forma que restituir a memória é restituir a identidade
(CANDAU, 2011). Através de novos usos, esses edifícios passam a fazer parte da
história de uma nova geração, atribuir novas memórias ao passo que ativam
memórias passadas. Não é possível conservar e trazer o passado para o
presente de forma idêntica e imutável – cada etapa percorrida produz novas
lembranças, que devem ser adaptadas ao presente (LE PETIT, 2001).
Halbwachs (2001) entende que lembrar não é reviver, mas refazer,
reconstruir e repensar com imagens de hoje as experiências passadas. Uma
das funções primárias associadas ao patrimônio é a lembrança, ele está no
presente para nos fazer lembrar do que aconteceu no passado, do que ali
foi vivenciado, de forma a também criarnovas relações com o presente. É
uma referência viva que sobreviveu ao tempo. A preservação é uma forma
de proteção de uma memória coletiva – e, portanto, de diversas memórias
individuais (CARSALADE, 2011).
O processo de transformação percorrido pelas cidades se torna
combustível para a produção de suas histórias. Os símbolos do passado
permanecem, perduram e percorrem o tempo como signos100, de forma a
funcionar como elementos de ativação da memória – individual ou coletiva.
Ao se tratar de Anápolis, busca-se compreender as memórias geradas por
acontecimentos ou edifícios que fazem parte da identidade dessa localidade.
O fato da cidade ter como características se adaptar a mudanças, desejar o
progresso e renegar o passado, faz parte de uma construção identitária que
a acompanhou por muitos anos, através de periódicos e disputas políticas
(em razão da cidade ser situada entre duas capitais).

100 “O termo geral que usamos para palavras, sons ou imagens que carregam sentido é signo.
Os signos indicam ou representam os conceitos e as relações entre eles que carregam em nossa
mente e que, juntos, constroem os sistemas de significados da nossa cultura.” (HALL, 2016, p. 37)

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 212


É importante que a cidade tenha símbolos do passado vivos no
presente, de forma que haja um equilíbrio entre o almejado progresso e a
manutenção de elementos do passado. Nem tudo precisa ser preservado... de
forma que não é desejável se tornar refém da memória (JEUDY, 2005). O ponto
de equilíbrio deve ser alcançado para que as cidades não sejam museificadas
ou que percam sua história através do total desapego.
Uma cidade que conhece sua história, se identifica e tem apego
pelas memórias ali geradas é de fundamental importância no processo de
reconhecimento e proteção de seu patrimônio cultural. Como visto, o fato da
população inglesa se revoltar com a demolição de um importante símbolo
do patrimônio industrial foi o estopim para que houvessem conferências e
reuniões que buscassem preservar este bem. O patrimônio não vive sem
a memória das pessoas, enquanto este exerce uma parte fundamental na
ativação e perpetuação dessas memórias para outras gerações, construindo
assim a identidade de uma cidade ou localidade.

3.5.1 Como pensam os moradores de Anápolis em relação


ao patrimônio da cidade e da Vila Industrial: resultado da
aplicação dos questionários.

A construção identitária de Anápolis percorre um caminho em que a


história ao mesmo tempo que foi um motor para as mudanças, é hoje esque-
cida. Edifícios que fazem parte da história da cidade se tornaram obsoletos,
desabitados, descuidados. Como forma de aproximar o entendimento acerca
de como a população da cidade conhece e se vê nos seus edifícios históricos,
tem-se a aplicação de um questionário com a população da cidade, onde
busca-se compreender a relação que os cidadãos possuem com os edifícios
históricos de Anápolis.
O questionário (Anexo I) foi aplicado de forma on-line via google
forms na população de Anápolis, totalizando cinquenta e três (53) respostas
durante os meses de agosto de 2022 e setembro de 2022. Dez (10) respostas
foram obtidas de forma presencial, em que se observou uma maior facili-
dade das pessoas em responderem de forma on-line, por se sentirem mais
confortáveis ao falar sobre os temas abordados. Ele possui vinte e cinco (25)
perguntas e foi respondido por pessoas de diversas localidades da cidade.
Todas as respostas foram obtidas com residentes de Anápolis, em que trinta
e seis (36) nasceram na cidade e dezessete (17) não, mas moram na cidade há

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 213


mais de dez (10) anos – com exceção de duas pessoas que moram na cidade
a quatro (4) e sete (7) anos.
Buscou-se uma abrangência idade (fig. 113), escolaridade (fig. 114) e
bairros (fig. 115), para refletir de maneira ampla como os cidadãos pensam
em relação ao patrimônio histórico de Anápolis.

figura 113: Printscreen do resultado do questionário realizado via google forms.


Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022.

figura 114: Printscreen do resultado do questionário realizado via google forms.


Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 214


N

0 1 2

km

1-2 (pessoas) 3-4 (pessoas) +5 (pessoas)

figura 115: Imagem de satélite de Anápolis, ressaltando os bairros citados nas respostas do questionário.
Fonte: Google Earth. Intervenções: CALAÇA JÚNIOR, 2022.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 215


Houve uma maior concentração de respostas obtidas nos bairros
Jundiai/Jundiai Industrial101 (8), Maracanã (8), Viviam Parque (5), Setor Central
(3) e Bairro JK (3). Os demais bairros citados foram: Alexandrina (2), Alvorada,
Andracel Center, Bairro Batista (2), Boa Vista (2), Vila União, Jaiara, Jardim
Europa, Jardim Itália, Jardim Progresso, Parque Brasília, Parque Calixtópolis,
Parque São João, Parque das Nações, Recanto do Sol (2), Residencial Boa
Esperança, Santa Isabel, Setor Sul, São Lourenço, Vila Góis e Vila Santa Isabel.
A primeira pergunta em relação a Anápolis se referiu a saber quais
dos locais elencados vem, diretamente, à memória quando o nome da cidade
é citado. As opções foram o Parque Ipiranga, por ser o principal ponto de lazer
e turismo da cidade; o Mercado Municipal, por ser um importante centro
comercial localizado no Setor Central; o Viaduto Nelson Mandela, por repre-
sentar uma obra de infraestrutura que possui um marco visual; e a Estação
Central, pela sua história junto a cidade. Foi possível marcar apenas uma das
opções citadas. As respostas obtidas indicaram qque um percentual de 54,7%
se lembraram do Parque Ipiranga - como esperado.A surpresa ficou por conta
do percentual de 39,7%, referente aos os patrimônios tombados, indicando
que são pontos conhecidos por parte dos cidadãos. (fig. 116)

figura 116: Printscreen do resultado do questionário realizado via google forms. Fonte: CALAÇA JUNIOR,
2022.

A próxima pergunta buscou saber quais das edificações citadas as


pessoas já viram antes (sem citar que são edifícios tombados) e continha uma

101 É comum que as pessoas que moram no bairro Vila Industrial o chamem de Jundiaí, portanto,
a pesquisa optou por unificar ambos os bairros na catalogação de dados da pesquisa – pois não era
possível, devido ao formato on-line, saber em qual dos dois bairros a pessoa realmente mora.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 216


outra pergunta, opcional, indagando se as pessoas tinham alguma memória
em relação a essas edificações. As opções (de múltipla-escolha) foram: A
Estação Ferroviária Engenheiro Castilho; Estação Ferroviária General Curado;
Escola de Artes e Música; Casa JK; e Nenhuma. 75.5% das respostas indicam
que essas pessoas já viram antes a Escola de Artes e Música e dentre as que
descreveram relatos, haviam memórias de pessoas que estudaram na escola
de artes; pai que trabalhou na escola e o filho criou um apego; por ser um
ponto antigo da cidade; uma referência ao passar por ele (indicando que o
edifício, por mais que seja singelo, chama a atenção); a mãe fazia aulas de
piano quando mais nova; e uma pessoa que visitou quando ela ainda possuía
o uso antigo, o IML.
Ainda, 39.6% das respostas indicaram a Estação Ferroviária Engenheiro
Castilho, em que as memórias ditas remetem às histórias de famílias contadas
pelo pai; o avô que veio para Anápolis trabalhar na ferrovia; o adolescente
que andou no trem como diversão, realizando o trajeto da Estação Central
até a Estação Engenheiro Castilho apenas para ter o vislumbre de como era a
ferrovia. Essas memórias indicam que a Estação esteve presente no passado
dos cidadãos, sendo lembrada enquanto edificação histórica. Não houve
memórias relacionadas a Casa JK ou a Estação Ferroviária General Curado.
(Fig. 117)

figura 117: Printscreen do resultado do questionário realizado via google forms.


Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 217


A questão seguinte trouxe a pergunta: “Você sabia que essas
edificações são parte do patrimônio histórico de Anápolis?” em que 50,9%
das respostas correspondeu a não, enquanto 49,1% correspondeu a sim
(fig. 118). Observa-se que a maior parcela das pessoas não sabia que as edifi-
cações são parte do patrimônio102 de Anápolis, indicando que pode faltar
conhecimento da população acerca do acervo patrimonial da cidade.

figura 118: Printscreen do resultado do questionário realizado via google forms.


Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022.

A grande maioria (96,2%) respondeu que sabe o que é patrimônio


histórico. (fig. 119)

figura 119: Printscreen do resultado do questionário realizado via google forms.


Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022.

102 O patrimônio citado durante o questionário refere-se ao patrimônio edificado. Optou-se por
não incluir o patrimônio natural e imaterial de Anápolis neste questionário.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 218


Posteriormente, perguntou-se quais dos lugares citados podem fazer
parte do patrimônio histórico de Anápolis (fig. 120). As opções (de múltipla-
-escolha) foram: o Parque Ipiranga; o Colégio Antensina Santana; o
Monumento do DAIA; a Igreja São Francisco; a Fonte Sonora e Luminosa da
praça Bom Jesus; o Colégio Couto Magalhães; e Nenhum. Optou-se por
colocar edificações conhecidas mas que não são tombadas, na intenção de
verificar se as pessoas conhecem os edifícios que fazem parte do acervo
patrimonial. Houve um percentual de 64,2% que marcou a Fonte Sonora e
Luminosa, indicando que este bem é conhecido pela população devido sua
localização na praça mais importante da cidade, e que seu show de luzes
marcou a memória de grande parte dos cidadãos de Anápolis. Os três prin-
cipais edifícios marcados foram os patrimônios tombados – a Fonte, o Colégio
Couto Magalhães e o Colégio Antensina Santana. Essa resposta indica que
as pessoas sabem o significado do patrimônio histórico.

figura 120: Printscreen do resultado do questionário realizado via google forms.


Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022.

A pergunta subsequente objetivou saber se as pessoas se sentem


representadas pelo acervo patrimonial da cidade, constituído por quatorze
(14) edificações que foram ilustradas na pergunta. Mais da metade das pessoas
não se sentem representadas, ou se sentem parcialmente, constituindo 60,4%,
ante os 39,6% que se sentem representadas. Excluindo a opção não por todos,
obtém-se um percentual de 34% que não se sente representado.. Esse resul-
tado indica que o acervo patrimonial de Anápolis não é apropriado pela
população, seja pelo não conhecimento da história por trás dos edifícios, ou

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 219


por acharem que eles não devam fazer parte dos edifícios que participam da
identidade de Anápolis. (fig. 121)

figura 121: Printscreen do resultado do questionário realizado via google forms.


Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022.

A próxima pergunta se refere ao tratamento que o governo muni-


cipal da a essas edificações, indagando se a prefeitura preserva bem o acervo
patrimonial da cidade. A maioria respondeu que não, contendo 62,3% das
respostas, enquanto um percentual de 33% respondeu que a prefeitura
preserva bem apenas em parte. Essa é uma visão que a população possui
em relação aos edifícios históricos, que estão velhos e mal cuidados pelo
poder municipal, onde não há foco ou interesse na preservação destes bens.
(fig. 122)

figura 122: Printscreen do resultado do questionário realizado via google forms.


Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 220


Sobre a história de Anápolis, perguntou-se o conhecimento acerca
da cidade já ter sido considerada a Manchester Goiana, devido ao desen-
volvimento industrial observado entre as décadas de 1930 e 1950. 77,4%
respondeu que não conhecia, indicando que essa história é pouco lembrada
atualmente (fig. 123). Posteriormente, perguntou-se se as pessoas acreditam
que essa vocação industrial ainda se mantém, em que um percentual de 57,7%
respondeu que sim – muito, em razão do DAIA. (fig. 124)

figura 123: Printscreen do resultado do questionário realizado via google forms.


Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022.

figura 124: Printscreen do resultado do questionário realizado via google forms.


Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 221


O próximo bloco de perguntas parte direto para o objeto, a Vila
Industrial. Em uma pergunta de resposta subjetiva e de resposta não obriga-
tória, indagou-se: “Você conhece o bairro Vila Industrial (Jundiaí Industrial)?
Se sim, você tem algum tipo de memória que envolve o bairro? (trabalhou,
morou, passeou, foi a festas, foi à FAIANA, visitou amigos, etc)”. Dezenove
(19) pessoas responderam que conhecem, mas não tem memória acerca do
lugar; uma (1) pessoa respondeu que não conhece; vinte e uma (28) pessoas
relataram algum tipo de memória e seis (6) pessoas não responderam.
As memórias das pessoas envolveram diversos aspectos, como: a
infraestrutura ao falar do asfalto esburacado e da aparência caótica; o mau
cheiro; que as características industriais se confundem com as residenciais;
que as indústrias deveriam ser alocadas para locais mais distantes, como o
DAIA; que o Moinho sempre chamou a atenção; que morou no local; memó-
rias de ver as máquinas de beneficiar grãos quando jovem; a FAIANA; festas
na antiga Cacacoa (boate localizada no Moinho); a Estação Engenheiro
Castilho como ponto de referência para o núcleo familiar, pois achava que
era um bairro unicamente industrial, por remeter a imagem de ser impuro,
sujo e fedido; que ele possui um bom cheiro de soja vinda do Brejeiro, que é
possível sempre sentir ao passar pelo bairro; que possui cheiro característico
das indústrias; que é uma referência pelo Moinho abandonado; que possui
galpões abandonados; e outras memórias relacionadas a visitar amigos, família,
trabalhar ou ter trabalhado, ou que passam pelo bairro para ir a outros locais.
Por meio desses relatos de memórias comprova-se o que foi observado
durante a análise de paisagem realizada no segundo capítulo, especialmente
no que tange a presença das indústrias e o destaque que o Moinho possui na
paisagem urbana do bairro devido ao fato de estar abandonado. O fato de
o edifício ser uma ruína chama a atenção mais que sua importância histórica
ou sua tipologia, indicando que essa é a principal característica que vem a
memória ao se pensar neste edifício e nos outros edifícios industriais da Vila
Industrial. Destaca-se, também, a convivência de residências e industrias – em
que é possível comprovar que ambas as características se confundem, e que o
mau cheiro (ou bom cheiro, para alguns) é um fator de relevância ao se pensar
no bairro. As memórias ligadas à atividade industrial são importantes pois
fazem parte daquela região, da história ali contida e dos edifícios industriais.
Dez (10) pessoas relataram ter memórias em festas na região,
especialmente na FAIANA e no antigo Cacacoa (Moinho). Esse destaque é
interessante pois mostra uma vocação antiga do bairro, de abrigar festas e

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 222


lazer noturno – algo que hoje é pouco visto, ganhando espaço nos últimos
anos devido a inauguração de novos estabelecimentos como restaurantes e
quadras de areias para a prática de esportes noturnos. A FAIANA, realizada nos
galpões da subprefeitura, foi uma feira de significante importância na cidade,
que traz diversos tipos de memórias que estão atreladas à aquela edificação.
Perguntou-se sobre a segurança na Vila Industrial, em que um
percentual de 40,4% diz que ele transmite insegurança as vezes e que 23,1%
o acha inseguro. Apenas 9,6% não o acha seguro, enquanto 26,9% não soube
responder. As respostas mostram o que foi observado durante o levantamento
de campo, que a convivência das residências com as indústrias somada a uma
infraestrutura precária e galpões descuidados e/ou abandonados alimenta a
sensação de insegurança. (fig. 125)

figura 125: Printscreen do resultado do questionário realizado via google forms.


Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022.

Em continuidade, perguntou-se quais características definem o


bairro, com as seguintes opções (de múltipla-escolha): agradável; bonito;
deteriorado; sujo; cheiroso; abandonado; feio; importante; bem localizado;
fedido. As principais respostas foram: deteriorado com 56,9%; bem localizado
com 47,1%; feio com 39,2%; e abandonado com 39,2%. As respostas indicam
o estado do bairro, visto durante a análise de paisagem do segundo capítulo.
A sensação de que o bairro está deteriorado é impulsionada pelo estado de
descuido em que se encontram os galpões, e também pelo estado em ruína
da principal pré-existência da região, o Moinho. A boa localização é ressaltada
devido à proximidade com os principais centros comerciais da cidade e a
facilidade de deslocamento obtida através das linhas de ônibus e avenidas,

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 223


que o ligam com os principais pontos de Anápolis. (fig. 126)

figura 126: Printscreen do resultado do questionário realizado via google forms.


Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022.

A pergunta seguinte se refere às edificações. Perguntou-se quais


edificações vem a memória quando o nome do bairro é citado, entre as
opções (de múltipla-escolha) haviam: Brejeiro; Estação Engenheiro Castilho;
Moinho; Galpões da Biscoitos Belma103; e Galpões, no geral. Um percen-
tual de 86,5% indicou o Brejeiro e 57,7 % indicou o Moinho. As respostas
comprovam que esses dois edifícios são os edifícios industriais que mais
chamam a atenção no bairro. Ainda, 51,9% indicou os galpões e apenas
19,2% se lembra da Estação Engenheiro Castilho. A média preservação e o
pouco destaque que a Estação hoje ocupa no bairro e na cidade, enquanto
patrimônio tombado, explica a razão de poucas pessoas se lembrarem dela.
O funcionamento dela como panificadora escola não é um uso que é
adequado ao local (devido à infraestrutura) ou que faça com que o edifício
seja lembrado, usado e apropriado pela população de forma ampla. (fig. 127)

103 Entre a fase de desenvolvimento do questionário, aplicação e levantamento de campo ( jul-


ho a outubro de 2022), a empresa Biscoitos Belma passou a não fazer parte da localidade, com os
galpões dando espaço a outra empresa.

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 224


figura 127: Printscreen do resultado do questionário realizado via google forms.
Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022.

A Estação Engenheiro Castilho é novamente a menos votada quando


perguntado quais edificações as pessoas possuem uma ligação afetiva ou
mais gostam. As opções (de múltipla-escolha) foram: o Moinho; a Estação
Engenheiro Castilho; os galpões da subprefeitura; os galpões da Avenida JK; e
Nenhuma. A Estação, o único patrimônio tombado entre os edifícios citados,
obteve apenas 12% dos votos. O Moinho foi o edifício com a maior quantidade
de votos, obtendo 30% das respostas. A opção mais votada foi Nenhuma,
obtendo 44%, mostrando que grande parte das pessoas que responderam o
questionaram não possuem ligação afetiva ou alguma relação de proximidade
com as edificações citadas. (fig. 128)

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 225


figura 128: Printscreen do resultado do questionário realizado via google forms.
Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022.

Em complemento a pergunta anterior, foi indagado, resposta


opcional, se essas edificações trazem alguma memória. Vinte e uma (21)
pessoas não responderam; onze (11) disseram que não traz memória alguma
e vinte e uma (21) pessoas relataram ter alguma memória. As memórias
envolvendo o Moinho giraram em torno de que a edificação servia como lazer
noturno aos jovens da década de 1980; que a edificação gera interesse para
saber o que funcionava naquele local abandonado; e que o edifício chamava
a atenção ao passar de ônibus, quando criança. Observa-se, novamente, que
o fato do edifício ser uma ruína é um fator que chama a atenção, além, de
novamente ser citado como um antigo espaço de lazer noturno, indicando
que essa edificação faz parte de diversas pessoas que o frequentavam para
se divertir. Esses aspectos indicam como esse edifício pode hoje ser apro-
priado e também qual a forma de intervenção pode ser realizada nele.
As memórias envolvendo os galpões da subprefeitura remetem à
FAIANA; visitas às secretarias da prefeitura; e de pessoas que trabalham lá.
Uma das principais contribuições dessa edificação na vida anapolina, sem
dúvidas, é o fato de ter sido sede para um dos principais eventos da cidade
– que hoje não mais existe. Houve apenas uma memória ligada diretamente
a Estação Engenheiro Castilho, comprovando o que foi dito anteriormente:
a pessoa se lembra de usa-la como transporte interestadual. Houveram
algumas memórias ligadas a observar as edificações (sem especificar) e se
lembrar da família, da infância, de amigos ou de trabalho. Essas memórias

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 226


são importantes pois mostram que essas edificações estão e estiveram na
vida cotidiana dessas pessoas.
Uma pessoa disse que: “O Moinho abandonado, para mim, é um
marco na paisagem e os galpões são a marca do tempo.” É possível interpretar
que, para essa pessoa, os galpões são edifícios que representam a passagem
do tempo. O Moinho como marco na paisagem, também, pois ele está nessa
posição devido ao aspecto de ruína, como visto durante diversos momentos
do texto. Essas edificações, em conjunto, representam a passagem de tempo
vivida pela cidade, pela indústria anapolina, pela ferrovia. São marcos do
passado no presente, representando significante importância dentro do
acervo de patrimônio industrial anapolino.
A próxima pergunta se refere a preservação dessas edificações: as
pessoas acham que elas merecem ser preservadas? 64,2% respondeu que
sim; 13,2% que talvez mereçam; e 18,9% que não todas. Dentre as pessoas
que responderam Não todas, sete (7) responderam que o Moinho não deve
ser preservado; quatro (4) que os galpões da subprefeitura; e duas (2) os
galpões no geral. (fig. 129)

figura 129: Printscreen do resultado do questionário realizado via google forms.


Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022.

Para complementar a pergunta anterior, indagou-se: “As edificações


mostradas neste questionário fazem parte da história da cidade devido sua
relevância ao longo dos anos de funcionamento da ferrovia e indústria no
bairro. Você acha que podem ser demolidas para a construção de novos
empreendimentos, como o Genesis Office? As respostas ficaram divididas,
em que 30,2% responderam que algumas podem ser demolidas; 18,9% que

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 227


qualquer uma pode ser demolida; 43,4% disse que não; e 7,5% que talvez
(fig. 130). Dentre as pessoas que disseram sim, vinte e uma (21) optaram pela
demolição do Moinho, sete (7) pelos galpões do bairro; cinco (5) pelos galpões
da subprefeitura; e nenhuma pela Estação Engenheiro Castilho. (fig. 131)

figura 130: Printscreen do resultado do questionário realizado via google forms.


Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022.

figura 131: Printscreen do resultado do questionário realizado via google forms.


Fonte: CALAÇA JUNIOR, 2022.

O resultado das últimas perguntas evidencia que não é bem visto


pela população o fato do Moinho se constituir como uma ruína. Como visto
em outro momento, esse tipo de edificação traz rejeição ao olhar, de forma
que a sua preservação não se torna bem vista ou essencial. Porém, como

VILA INDUSTRIAL E SUA RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO EDIFICADO 228


observado em outras respostas deste questionário, é justamente em seu
aspecto de ruína que está grande parte do seu valor, que o torna um marco
na paisagem – além do fato de ter participado de diversos momentos da
memória anapolina, como ponto de festas e anteriormente uma importante
atividade industrial. A ruína pode não ser algo a ser demolido, ela pode ser
vista e trabalhada pelo Estado a fim de torna-la utilizável na vida da cidade.
O questionário evidenciou que a presença do Genesis Office perto
dessas edificações pode colocar essas edificações em risco, já que parte
da população não liga caso haja a demolição de algumas edificações que
compõem o patrimônio industrial anapolino para a construção de novos
empreendimentos do tipo. O apoio dos cidadãos, juntamente com o senti-
mento de que essas edificações fazem parte da história da cidade e também
da vida dessas pessoas, é fundamental para que haja a preservação.
Como evidenciado, parece haver pouco interesse do poder municipal
em tornar as edificações tombadas apropriadas e usadas pela população para
que sejam defendidas. Não são todos que conhecem os edifícios tombados,
e não são todos os edifícios tombados que trazem alguma memória para a
população, justamente pelo fato de que não há uso que os coloque direta-
mente na vida cotidiana dessas pessoas.
A aplicação do questionário evidenciou que todas as edificações
citadas evocam memórias e estão presente na vida dessas pessoas de dife-
rentes formas, mas que parte delas não sabe da sua importância perante o
desenvolvimento da cidade. Portanto, a preservação de um acervo de patri-
mônio industrial em Anápolis enfrenta dificuldades ao não obter o apoio, ou
ter o conhecimento da população acerca dos edifícios e deste tipo de bem
patrimonial – bem como dos próprios edifícios tombados.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 229


Considerações Finais
O trajeto percorrido por esta dissertação compreende a história e a
atualidade em Anápolis, com o foco na Vila Industrial e seu acervo arquite-
tônico. O objetivo geral foi identificar edificações que poderiam fazer parte
de um acervo de patrimônio industrial no bairro, de forma a compreender as
relações de pertencimento dos cidadãos anapolinos a esse tipo de edificação.
Neste processo, foi contemplado, também, o estado atual do patrimônio
em Anápolis. Metodologicamente, a pesquisa configurou-se em revisão
bibliográfica; levantamento histórico; e levantamento de campo/aplicação
de questionários. Dessa forma, a pesquisa percorreu três momentos: a história
de Anápolis e da Vila Industrial; a análise da paisagem urbana do bairro; e
o debate patrimonial. Ao fim, o resultado da aplicação dos questionários
realizados com a população anapolina a respeito dos temas percorridos.
A pesquisa pela história de Anápolis evidenciou que a cidade tem
uma ligação direta com a ferrovia e indústria, em que o comércio desenvolveu
papel substancial. Com a chegada das primeiras fábricas de beneficiamento
de grãos e de olarias, a cidade experienciou o seu primeiro contato com a
atividade industrial. Logo após na década de 1930, a ferrovia se instalou na
região juntamente com a chegada de diversos imigrantes sírios-libaneses
que movimentaram o comércio da região. Em meio a esse processo, a capital
Goiânia foi construída, indicando um novo ponto de interesse em Goiás.
Esses fatos proporcionaram o desenvolvimento econômico da
cidade, sendo necessário que ela se adaptasse à nova realidade que expe-
rienciava, representando o progresso almejado. Nesse momento, inclusive,
houve a demolição de diferentes edificações para a construção de novas que
seguissem o estilo art déco visto na capital goiana, apontando o primeiro
momento de desapego da cidade aos seus signos do passado. Mais tarde,
a construção da capital nacional também exerceu influência em Anápolis.
Esse desenvolvimento foi acompanhado de perto pelos veículos de
mídia, no qual a cidade foi chamada de Manchester Goiana e Ribeirão Preto de
Goiás. Neste momento é possível falar da Vila Industrial, região que abrigava
uma Estação Ferroviária (que futuramente se tornou ponta de linha da EFG) e
projetada para que houvesse a instalação de indústrias diversas, juntamente
de residências. Esse bairro representou a convergência entre as principais
características de Anápolis: ferrovia, devido a presença da Estação Ferroviária
Engenheiro Castilho (1951) e dos galpões de abastecimento e beneficiamento
de grãos; a indústria, posteriormente, como o Moinho Catarinense (1963) e a
Brejeiro Produtos Alimentícios Orlândia S/A (1966); e o comércio, devido à boa

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 231


localização e fácil escoamento de produção para outras regiões. Algum tempo
depois, em 1976, a ideia de cidade industrial sedimenta-se na instalação do
Distrito Agroindustrial de Anápolis (DAIA), proporcionando um novo momento
na história industrial anapolina.
A história da Vila Industrial e sua relação com as características citadas
evidenciou a sua importância perante Anápolis como um ponto de relevância
histórica, sendo de fundamental importância para o desenvolvimento da
cidade. O acervo arquitetônico do bairro possui valor histórico e paisagístico,
no qual a análise da paisagem urbana evidenciou que este acervo faz parte da
identidade do bairro e da cidade. A análise também expôs o estado do bairro,
com edificações em estado de ruína, baixo movimento de pessoas, o papel
de protagonismo urbano exercido pelo Brejeiro e pelo Moinho Catarinense
e a crescente exploração imobiliária. Hoje, o bairro vive transformações e é
foco de grandes empreendimentos devido à sua boa localização – limítrofe
ao bairro mais nobre da cidade, tornando o futuro desse acervo incerto.
Como citado, a Vila Industrial abriga a Estação Ferroviária Engenheiro
Castilho, uma edificação tombada no ano de 2015 pela prefeitura municipal
que exemplifica a fragilidade da preservação patrimonial da cidade. Anápolis
possui outros edifícios tombados que fazem parte do seu acervo patrimonial
e a maior parte deles está localizada no Setor Central. Grande parte desses
edifícios não são apropriados pela população e/ou estão em estado de conser-
vação ruim, necessitando que algumas ações sejam tomadas pelo Estado
para garantir a sua permanência, ao tempo em que os insira novamente na
vida cotidiana da população.
O acervo patrimonial anapolino necessita de cuidados para que seja
visto, para que seja usado. A população deve se identificar nesses edifícios
para que possam defende-los. O patrimônio industrial – categoria que se
refere a vestígios industriais e suas redes de apoio, como transportes, vilas
operárias, entre outros – surgiu daí, da defesa da população inglesa contra a
demolição de um importante edifício de características industriais.
Seria, então, possível falar de patrimônio industrial em Anápolis? Esta
pesquisa considera que sim, que a Vila Industrial possui um importante acervo
de patrimônio industrial, com remanescentes ferroviários e edifícios ligados
a atividade industrial que tanto foi e é importante para a cidade. A aplicação
dos questionários evidenciou a importância que estas edificações têm para
cidade e para a população, e que, inclusive, parte do valor de algumas, como
o Moinho Catarinense, está no seu estado de ruína. É possível que um edifício

CONSIDERAÇÕES FINAIS 232


em estado de ruína seja focalizado e refuncionalizado para responder às
demandas da cidade atual?
É necessário que o Estado entenda que investir nessas edificações,
tanto do acervo patrimonial da Vila Industrial como de Anápolis, em geral,
não é desperdício de investimento. O governo municipal deve olhar para
esses edifícios e dar o valor necessário, juntamente com ações de educação
patrimonial. A cidade parece, ainda, insistir em dogmas e conceitos atribuídos
a décadas atrás, como o tombamento de edifícios sem que o entorno seja
levado em consideração, ou o tombamento de edifícios de forma a torna-los
museus edificados, sem usos compatíveis.
A Estação Engenheiro Castilho, por exemplo, não comporta o uso que
possui hoje e deveria ter sido tombada juntamente com o galpão metálico
(que abriga a subprefeitura) e a Praça do Coreto, a frente, pois representam
importante ligação com o edifício e fazem parte do seu entorno, bem como
parte da memória de diversas pessoas desde o funcionamento da ferrovia. Já
o Moinho, por outro lado, não precisa ser restaurado ou abrigar um grande
uso. O terreno que comporta o edifício é grande o bastante para que as
características de ruína que tanto chamam a atenção sejam mantidas. Ao
mesmo tempo, a área pode abrigar intervenções como anexos – trazendo
novamente o uso de eventos para o local, ao passo em que seja evidenciada
a contribuição do edifício para a história industrial da cidade. Já os diversos
galpões podem ter diferentes funções, desde a manutenção das funções
industriais e comerciais, como a criação de ativações de lazer noturno, abrigar
residências, entre outros. Essas mudanças devem visar adequá-los a realidade
do que o bairro e cidade precisam, mantendo suas características tipológicas
e a noção de conjunto.
Inclusive, é importante que o entendimento do patrimônio industrial
seja feito em conjunto, ele não se faz de forma isolada – como Anápolis
sempre tratou seus edifícios históricos. É uma categoria patrimonial que é, em
grande parte, manifestada desta forma, pois através do conjunto é possível
ter a dimensão do acervo como um todo, em que cada edifício contribui para
a apreensão dos demais.
As edificações da Vila Industrial, em conjunto, formam parte do patri-
mônio industrial anapolino, em que se pode incluir: o Moinho Catarinense; a
Estação Ferroviária Engenheiro Castilho, juntamente com a Praça do Coreto;
o armazém metálico que abriga a as secretarias municipais; os diversos
galpões vistos no bairro; e a indústria Brejeiro, que ainda responde a sua

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 233


função primária. São importantes edificações, com contribuição histórica,
social e paisagística, que tornam o bairro singular perante outros da cidade.
Esses edifícios representam parte da gênese do desenvolvimento industrial
anapolino, devem ser focalizados, lembrados e usados.
Estes vestígios industriais podem, ainda, serem encontrados em outras
regiões da cidade como na Vila Jaiara, na Vila Fabril, no Setor Central e no
entorno destes bairros. A Vila Industrial é onde estão em maior escala, em maior
evidência, e onde esta pesquisa focou em elenca-los. Espera-se que novas
pesquisas sejam realizadas, no intuito de elencar a maior parte da dimensão
do acervo de patrimônio industrial anapolino, para que ao menos tenham-se
registros escritos e documentados de parte da história industrial anapolina..
Atualmente, a cidade ainda persegue o novo, de forma que o seu
desenvolvimento urbano está vinculado à construção de edifícios de grande
porte e obras de infraestrutura urbana, como viadutos. Estas transformações
urbanas colocam em perigo a permanência destes acervos, especialmente no
que tange ao acervo da Vila Industrial. É possível que as cidades tenham um
convívio harmônico entre o progresso e a preservação de seus antecedentes
históricos? Diversas cidades do mundo, e também do Brasil – em menor
escala – provam que sim, é possível. Cidades de países como Japão, China e
Coreia do Sul são a prova de que a preservação pode conviver com o novo,
sem que sejam necessários diversos tipos de medidas protetivas para garantir
a preservação desses bens. É possível, ainda, visualizar a cultura e a identidade
desses países no progresso, algo de grande importância para esses povos.
Anápolis, por outro lado, sempre caminhou pelo percurso oposto.
A cidade tem uma longa história de renegação do passado em detrimento
do futuro almejado. A busca pelo progresso (ou o novo), de fato, é uma
característica da cidade e não há problema em deseja-lo, afinal, é dessa forma
que funciona as engrenagens do capitalismo. O problema está em deixa-lo
como protagonista da história anapolina, de forma que ele apague ou obstrua
as tradições, memórias e edificações que resultaram na Anápolis presente.
E por que o Estado não incentiva a defesa do patrimônio? Talvez a
resposta seja a óbvia: não quer que a população o cobre. Uma população que
cobre o Estado torna mais difícil que algumas ações sejam tomadas, como
ocorreu com a reforma da Praça Dom Emanuel, na qual a população cobrou
pela não derrubada das árvores e realizou protestos para que a praça fosse
mantida da forma que foi tombada como patrimônio natural. O que precisa
ser entendido é que o capital privado não precisa se sobrepor aos interesses

CONSIDERAÇÕES FINAIS 234


do município, no que tangem a defesa de sua identidade. Na verdade, as
cidades não podem ser vistas apenas como campo de investimento da inicia-
tiva privada.
Uma cidade entregue ao capital, como visto em Balneário Camboriu/
SC, a prejudica em todas as áreas, seja na cultura, no meio ambiente, na
infraestrutura. Como conciliar o desenvolvimento urbano, os interesses
imobiliários e a defesa da cultura e identidade de uma região? O equilíbrio
talvez seja o caminho. Buscar um ponto de equilíbrio entre o que preservar,
entre o que deve ser deixado no passado e entre o desenvolvimento urbano
se torna desejável. Os anos passam, as cidades mudam e novas tecnologias
surgem, é normal (e preferível) que nem tudo fique estagnado no tempo.
Porém, alguns signos que remetam ao passado, que tiveram importância em
momentos anteriores e que ajudem a ativar memórias a tempos obstruídas
são necessários para a identidade de uma localidade.
Anápolis tem diversos edifícios ligados à sua história que perduram
no tempo, e a permanência desses edifícios junto a vida cotidiana da cidade
ajuda na preservação da sua história e identidade. Como trazer esses edifícios
para o convívio dos cidadãos, de forma ativa? Como fazer com que eles, ao
passo em que ativem memórias, sejam catalizadores de novas? É necessário
que as políticas públicas insiram estes edifícios no planejamento urbano,
de forma que funcionem como agente catalisadores da difusão da cultura e
identidade da cidade.
A intervenção urbana contida no plano diretor vigente de Anápolis
pretendida à Vila Industrial não insere a edificação tombada em ações futuras,
tampouco o Moinho Catarinense. Isso talvez mostre que o governo muni-
cipal não pretende realizar ações que visem tornar estas edificações usadas,
inseridas ao entorno e apropriadas pela população em larga escala, como
parte de um plano maior de intervenção. Isso se estende aos demais edifícios
tombados e históricos, de forma que o Estado os enxerga como museus
congelados no tempo, que não necessitam de ações de integração a vida
cotidiana das pessoas.
Porém, há algumas formas de fazer com que a população conheça,
defenda e se aproprie desses espaços. A criação de roteiros culturais, por
exemplo, envolvendo as edificações históricas e que contem a história da
cidade é uma maneira de inseri-los na vida cotidiana. A criação de usos
compatíveis à realidade daquele local é fundamental na manutenção e
preservação desses bens, bem como na ativação e criação de novas memórias.
Ressalta-se que, durante o fim do mês de fevereiro de 2023, a prefeitura

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 235


de Anápolis iniciou um projeto de resgate da história e cultura da cidade
através da instalação de placas contendo qr codes, que levam a um material
escrito e fotográfico sobre o local em questão. Foram instaladas trinta e três
(33) placas em diferentes pontos da cidade incluindo edifícios patrimoniais e
históricos, entre eles: a Estação Ferroviária Central; o Mercado Municipal; o Museu
Histórico; a Casa JK; a Praça Bom Jesus; e a Praça James Fanstone. Essa iniciativa
visa aproximar tanto o morador local quanto o turista da história Anapolina.104
Esta ação configura-se uma boa iniciativa da prefeitura da cidade e
um indicativo de que podem haver melhorias no âmbito patrimonial para o
futuro, caso esta seja a parte inicial de um conjunto de ações. É necessário,
porém, que esta ação se espalhe para outros pontos da cidade, incluindo a
Estação Ferroviária Engenheiro Castilho e demais edifícios patrimoniais. Ela
deve ser acompanhada de outros investimentos, como a participação da
educação infantil através de roteiros culturais; a conservação e preservação
desses bens; e a criação de usos compatíveis.
Considera-se que o Estado tem um papel de protagonismo em ações
de fomento patrimonial, mas estas possuem melhores resultados se há a
apropriação e defesa popular. Como exemplo, caso o acervo arquitetônico
da Vila Industrial seja tombado sem que haja qualquer ação de educação
patrimonial ou boas intervenções, não haverá resultados. A população não
os verá como parte de sua história e não criará qualquer tipo de vínculo com
estas edificações. Algo que ocorreu com o tombamento de edifícios como a
Estação General Curado e a Casa JK, vistos durante o texto.
Portanto, é de importância imprescindível que as ações de reconhe-
cimento, preservação e conservação estejam alinhadas ao desenvolvimento
urbano proposto a cidade, juntamente com o apoio e apropriação da popu-
lação em relação a esses bens. Preservar edificações que não serão usadas
tornam as cidades museificadas, sem vínculos evidentes, sem que a identidade
seja reconhecida. É possível que o novo conviva com o antigo, mas é necessária
uma atenção cuidadosa do Estado para que essa relação seja saudável.
Dessa forma, a pesquisa entende que existe um acervo de patrimônio

104 A inauguração da ação aconteceu no dia 24 de fevereiro de 2023, junto à uma ampla divul-
gação em sites, jornais e revistas. O texto final desta pesquisa, incluindo as considerações finais, já
estava finalizado e foi atualizado com as novas informações. Ressalta-se que, embora alguns ed-
ifícios patrimoniais estejam inseridos na ação, eles não são o foco principal – que visa fomentar o
turismo. Apesar disso, a ação é vista positivamente pois são poucas as vezes que algo que valorize
a história e cultura anapolina é visto na cidade. A lista contendo todos os pontos contemplados com
a placa de qr code pode ser acessada através do site da prefeitura de Anápolis, no link: <anapolis.
go.gov.br/novas-placas-com-qr-code-em-pontos-turisticos-de-anapolis-explicam-historia-dos-lo-
cais/>. Acesso em 01/03/2023.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 236


industrial em Anápolis, e que este pode se estender para além da Vila
Industrial. Procurou-se responder a maior parte dos questionamentos refe-
rentes a Vila Industrial, desde momentos de sua história, como se configura
sua paisagem urbana, perspectivas para o futuro e a dimensão do acervo de
patrimônio industrial. Porém, alguns alguns questionamentos permanecem:
como Anápolis lidará com o desenvolvimento urbano da Vila Industrial? Onde
se encaixa e qual o futuro desejável para a indústria Brejeiro neste contexto?
Qual a dimensão do patrimônio industrial anapolino, em geral? O que, exata-
mente, os cidadãos de Anápolis definem como progresso? Como é possível
romper com o ciclo de progresso e negação do passado engendrado na
população de Anápolis? Qual a melhor forma de fazer com que a população
abrace sua história, junto a seu acervo patrimonial? Talvez sejam respostas
para pesquisas futuras.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 237


REFERÊNCIAS

ANÁPOLIS, Prefeitura Municipal de. Lei de nº 160, de 26 de setembro de


1969. Plano Diretor -1969 Dispõe sobre a instituição do Plano Diretor de
Desenvolvimento I do Município de Anápolis, e dá outras providências.

ANÁPOLIS, Prefeitura Municipal de. Lei nº. 1326, de 24 de setembro de


1985. Plano Diretor -1985 Dispõe sobre a instituição do Plano Diretor de
Desenvolvimento I do Município de Anápolis, e dá outras providências.

ANÁPOLIS, Prefeitura Municipal de. Lei de nº 2.077, de 22 de dezembro de


1992. Plano Diretor -1992. Dispõe sobre a instituição do Plano Diretor de
Desenvolvimento I do Município de Anápolis, e dá outras providências.

ANÁPOLIS, Prefeitura Municipal de. Lei Complementar n° 349, de 07 de julho


de 2016. Dispõe sobre o Plano Diretor Participativo do Município de Anápolis.
Anápolis, GO, julho de 2016.

ANÁPOLIS, Prefeitura Municipal de. Núcleo Gestor do Plano Diretor


Participativo de Anápolis. Leitura do território. Leitura da cidade. Leitura da
comunidade. Diretrizes e propostas. Plano Diretor Participativo de Anápolis:
2005/2006.

BRASIL. Lei n 10.257 de 10 de julho de 2001 – Estatuto da Cidade.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

ALVES JÚNIOR, Osvaldo Lino. Da gênese ao Genesis: transformações e perma-


nências no território da Vila Industrial Jundiaí, em Anápolis (GO). Dissertação
(Mestrado). Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária Anápolis
de Ciências Socioeconômicas e Humanas, Anápolis, 2020.

AMORIM, Flávia Pereira; TANGARI, Vera. Estudo tipológico sobre a forma


urbana: conceitos e aplicações. Paisagem Ambiente: ensaios - n. 22 - São
Paulo - p. 61 - 73 - 2006

REFERÊNCIAS 238
AZEVEDO, Esterzilda Berenstein de. O Patrimônio Industrial no Brasil. Revista
Eletrônica Arq.Urb. Nº 03/2010. São Paulo: Universidade São Judas Tadeu
(USJT), 2010. Disponível em: <http://www.usjt.br/arq.urb/numero_03/2arqur-
b3-esterezilda.pdf> Acesso em 20/02/2020.

BERNARDES, Genilda D’Arc et al. “Um pedacinho de outrora...”: memória


de trabalhadores da Vila Fabril em Anápolis, Goiás (1950-1970). Sociedade e
Cultura, Goiânia, v. 18, n. 2, p. 149-162, jul./dez. 2015.

BORGES, Humberto Crispim. História de Anápolis. Goiânia: Editora do Cerne,


1975.

BORGES, Barsanufo Gomides. O despertar dos dormentes. Goiânia: Cegraf,


1990.

BRANDÃO, Simone Buiate. A antiga linha férrea de Goiânia. De símbolo da


modernidade à obsolescência. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal
de Goiás. Faculdade de Artes Visuais, Goiânia, 2017.

BRITTO, Pedro Dultra. Biopolíticas e processos de subjetivação: episódios de


natureza celibatária, ruína e utopia na cidade. Tese de Doutorado. (Doutorado
em Arquitetura e Urbanismo). Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2013.

BUCHANAN, Robert Angus. Industrial Archaeology in Britain, Harmondsworth,


Penguin, 1972.

CABRAL, Ana Laura Lopes. Costurando imagens urbanas em movimento:


o avesso do bairro Jundiaí, em Anápolis (GO). Dissertação (Mestrado).
Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária Anápolis de Ciências
Socioeconômicas e Humanas, Anápolis, 2020.

CALAÇA JÚNIOR, Mario Pinto; OLIVEIRA, Adriana Mara Vaz de. Patrimônio e
plano diretor: as perspectivas para o patrimônio histórico em Anápolis/GO.
Paranoá, [S. l.], n. 32, p. 1–23, 2022. Disponível em: https://periodicos.unb.br/
index.php/paranoa/article/view/41718. Acesso em: 26 jan. 2023.

CANCLINI, Néstor García. O patrimônio cultural e a construção imaginária do


nacional. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Rio de Janeiro,

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 239


Iphan, n. 23, p. 95- 115, 1994.
CANDAU, Joel. Memória e identidade. Trad. Maria L. Ferreira. São Paulo:
Contexto, 2011.

CARSALADE, Flávio de Lemos. A pedra e o tempo: a arquitetura como patri-


mônio cultural. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.

CASTILHO, Denis. Estado e Rede de Transportes em Goiás-Brasil (1889-1950).


Scripta Nova – Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. Barcelona:
Universidad de Barcelona, vol. XVI, num. 418 (67), nov. 2012.

______. Modernização territorial e redes técnicas em Goiás. Tese (Doutorado).


Universidade Federal de Goiás. Instituto de Estudos Socioambientais, Goiânia,
2014.

CASTRIOTA, Leonardo Barci. Patrimônio cultural: conceitos, políticas, instru-


mentos. São Paulo: Annablume, Belo Horizonte: IEDS, 2009.

CASTRO, Gabriele Pereira de. O novo CCI Anápolis: uma proposta para dois
patrimônios esquecidos. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Arquitetura e Urbanismo) – Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Estadual de Goiás. Anápolis, 2016.

CASTRO, Joana D’arc Bardella. Anápolis: desenvolvimento industrial e meio


ambiente. Anápolis: Associação Educativa Evangélica, 2004.

______. O desenvolvimento industrial de Anápolis. O Centenário, AEE, 2005.

______. A industrialização e o ambiente: Vila Jaiara em foco – Anápolis/GO.


Revista de Economia da UEG, Anápolis, v. 7, n. 1, p. 102-119, jan./jun. 2011.

CASTRO, Joana D’arc Bardella et al. A industrialização e a dinâmica ambiental:


O Caso da Vila Industrial Jundiaí – Anápolis/GO. Anápolis: Revista de Economia
da UEG, 2008.

REFERÊNCIAS 240
CASTRO, Joana D’arc Bardella; CASTRO, Márcio Cesar Gomes de. Planejamento
urbano e a intervenção na paisagem: um estudo dos planos diretores de
Anápolis/Goiás. Revista de Economia de UEG - VOL. 13, N.º 1, Jan/Jun. 2017

COELHO, Gustavo Neiva. Ferrovia: 150 anos de arquitetura e história. Goiânia:


Trilhas Urbanas, 2004.

CULLEN, Gordan. Paisagem urbana. São Paulo: Martins Fontes, 1983

CUNHA, Wânia. Dinâmica regional e estruturação do espaço intraurbano: um


estudo sobre as influências do DAIA na economia Anapolina a partir de 1990.
Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Goiás. Instituto de Estudos
Socioambientais, Goiânia. 2009.

CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Unesp, 2001.

DITTMAR. Adriana Cristina Corsico. Paisagem e morfologia de vazios urbanos:


análise da transformação dos espaços residuais e remanescentes urbanos
ferroviários em Curitiba – Paraná. 251 f. Dissertação (Mestrado em Gestão
Urbana). Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Curitiba. 2006.

DUPAS, Gilberto. O mito do progresso. Novos estudos CEBRAP, São Paulo,


s/v, 77, p. 73-89, março, 2007.

ESTEVAM, Luis. O Tempo da transformação: estrutura e dinâmica da formação


econômica de Goiás. Goiânia: Editora do autor, 1998.

FERNANDES, Rodrigo Spectrow. O processo de modernização de Anápolis


e as atividades do grupo Pina (1930-1960). Dissertação (Mestrado).
Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária Anápolis de Ciências
Socioeconômicas e Humanas, Anápolis, 2019.

FÉRES, Luciana Rocha. Paisagem Cultural e Paisagem Urbana Histórica: refle-


xões acerca dos conceitos e os desafios da gestão do Conjunto Moderno da
Pampulha patrimônio cultural da humanidade. Simpósio Científico – ICOMOS
BRASIL, 2017. Disponível em: https://even3storage.blob.core.windows.net/
anais/60070.pdf. Acesso em 05/10/2021.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 241


FERREIRA, Anderson Saccol. O Plano Diretor como instrumento de plane-
jamento do patrimônio histórico, cultural e arquitetônico em pequenos
municípios. Unoesc & Ciência – ACSA, Joaçaba, v. 8, n. 1, p. 77-84, jan./jun. 2017

FERREIRA, Haydée Jayme. Anápolis, Sua Vida – Seu Povo. Brasília: Senado
Federal Centro Gráfico, 1981.

FREITAS, Rivalino Antônio de. Anápolis – Passado e Presente. Anápolis: Voga,


1995.

GONZALEZ, Ana María Sosa. Patrimônio Industrial: um legado para


conhecer, reconhecer e preservar. In: MICHELON, Francisca Pereira (Org.).
O patrimônio industrial da Universidade Federal de Pelotas. Pelotas: Ed. UFPel,
2019. 165 p.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2003.


HALL, Stuart. Cultura e representação. Rio de Janeiro: Ed. Puc-Rio: Apicuri,
2016.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL (IPHAN).


Portaria no 127 de 30/04/2009. Estabelece a chancela da Paisagem Cultural
Brasileira. Disponível em: https://iphanparana.wordpress.com/iphanparana/
legislacao/legislacao-do-patrimonio-material/portaria-no-127-de-30-de-
abril-de-2009/. Acesso em 30 de agosto de 2021.

JACQUES, Paola Berenstein (org.); PEREIRA, Margareth da Silva (org.).


Nebulosas do Pensamento Urbanístico: Tomo 1 – Modos de Pensar. Salvador,
EDUFBA, 2018, 340 p.

______. Nebulosas do Pensamento Urbanístico: Tomo 2 – Modos de Fazer.


Salvador, EDUFBA, 2019, 470 p.

JACQUES, Paola Berenstein et al. Nebulosas do Pensamento Urbanístico: Tomo


3 – Modos de Narrar. Salvador, EDUFBA, 2020, 502 p.

JEUDY, Henri-Pierre. Espelho das cidades. Tradução de Rejane Janowitzer. Rio


de Janeiro: Casa da Palavra, 2005,

REFERÊNCIAS 242
KOSSA, Pablo. O marco de um novo Goiás: 30 anos de DAIA. Goiânia: Contato
e Comunicação, 2006.

KÜHL, Beatriz Mugayar. Notas sobre a Carta de Veneza. Museu Paulista: História
e Cultura Material, São Paulo, v. 18, n. 2, p. 287-320, dez. 2010. Disponível em:
<https://www.revistas.usp.br/anaismp/article/view/5539/7069>. Acesso em:
23 set. 2017.

______. Preservação do Patrimônio da Industrialização. Cotia, São Paulo:


Ateliê Editorial, 2008, 283 p.

LAMAS, José Manuel Ressano Garcia. Morfologia urbana e desenho da cidade.


Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1992.

LEPETIT, Bernard. Por uma nova história urbana. São Paulo: EDUSP, 2001.
HALL, Stuart. Cultura e representação. Rio de Janeiro: Ed. Puc-Rio: Apicuri,
2016.

LUZ, Janes Socorro da. A Especialização da Atividade Comercial Atacadista: o


Setor Atacadista-Transportador Moderno de Anápolis. Dissertação (Mestrado).
Departamento de Pós-Graduação em Geografia Urbana e Regional da
Universidade de Brasília. Brasília, 2001.

______. O eixo Goiânia-Anápolis-Brasília e as novas dinâmicas territoriais.


In. Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina, Universidade de
São Paulo, 2005.
______. A (re)produção do espaço de Anápolis/GO: a trajetória de uma cidade
média entre duas metrópoles, 1970-2009. Tese (Doutorado). Instituto de
Geografia, Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal
de Uberlândia. Uberlândia, 2009.

______. As cidades médias e novas centralidades: a análise da formação


de subcentros e eixos comerciais em Anápolis (GO). In: Anais do Colóquio
Nacional Henri Lefebvre: Produção e Reprodução do Espaço Urbano nas
Cidades Brasileiras. 2013. Disponível em: https://www.anais.ueg.br/index.php/
sineep/article/view/6680. Acesso em fevereiro de 2019.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 243


LYNCH, Kevin. A Imagem da Cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1982.

MACHADO, Hamilton. Imagens do comercio anapolino no jornal “O


ANÁPOLIS” (1930-1960): a construção da Manchester Goiana. Dissertação
(Mestrado em História). Universidade Católica de Goiás, Goiânia, 2009.

MELO, Susana do Amaral. Moinho das Artes – Intervenção no antigo moinho


de Anápolis. MELO, Suzana do Amaral. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação em Arquitetura e Urbanismo) – Curso de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade Evangélica de Goiás. Anápolis, 2016.

MENDES, Camila Faccioni. Paisagem urbana: uma mídia redescoberta. São


Paulo: Editora Senac São Paulo, 2006.

MENDONÇA; Fernanda Antônia Fontes; OLIVEIRA, Adriana Mara Vaz de.


Paisagem e patrimônio: a estação ferroviária de Anápolis. 3º Colóquio Ibero
Americano: Paisagem Cultural, Patrimônio e Projeto. Belo Horizonte, 2014.

MENEGUELLO, Cristina (Org.). Arte e Patrimônio Industrial. São Paulo: Cultura


Acadêmica, 2021, 368 p.

MENEGUELLO, Cristina; RUBINO, Silvana. Preservação do patrimônio indus-


trial no Brasil. [Entrevista concedida a] Maria Cristina Schicchi. I Encontro em
Patrimônio Industrial, São Paulo, p. 124-131, 2005.
MENESES, Uipiano T. Bezerra de. A paisagem como fato cultural, p-29-64. In:
YÁZIGI, Eduardo. Turismo e paisagem, São Paulo, 2002.

MOURA, Arnaldo Salustiano de. Cotidianos anapolinos – dos anos 20 até


1970: Um olhar ao passado através dos documentos legislativos. Goiânia:
Kelps, 2012.

MOREIRA, Danielle Couto. Arquitetura Ferroviária e Industrial: o caso das


cidades de São José Del-Rei e Juiz de Fora. (1875-1930). Dissertação (Mestrado-
Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo) – Escola de
Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo, 2007.

REFERÊNCIAS 244
NUNES, Heliane Prudente. A Imigração árabe em Goiás. Goiânia: Ed. da UFG,
2000.

OLVIVEIRA, Eduardo Romero (Org.). Memória ferroviária e cultura do trabalho:


balanços teóricos e metodologias de registro de bens ferroviários numa pers-
pectiva multidisciplinar. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2019, 400 p.

______, Memória ferroviária e cultura do trabalho II: balanços teóricos e meto-


dologias de registro de bens ferroviários numa perspectiva multidisciplinar.
São Paulo: Cultura Acadêmica, 2020, 491 p.

PALLASMAA, Juhani Os olhos da pele: a arquitetura e os sentidos. Porto Alegre:


Bookman, 2011.

PANERAI, Philippe. Análise Urbana. Tradução de Francisco Leitão; revisão


técnica de Sylvia Ficher. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2006.

PAULA, Éder Mendes de; SOARES, Murilo Oliveira. As políticas públicas de


preservação e tombamentos dos espaços: breve genealogia da legislação
patrimonial de Anápolis. Científic@ - Multidisciplinary Journal - N.4 V.2 (2017),
p. 14-21.

POLONIAL, Juscelino. Anápolis nos tempos da ferrovia. Anápolis, Associação


Educativa Evangélica, 1995.

______, Juscelino Martins. Introdução à História Política de Anápolis (1819-


2007). Anápolis: Edição do Autor, 2007.

______, Juscelino Martins. Ensaio sobre a história de Anápolis. Editora Kelps,


Goiânia. 2000.

PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de. Metodologia do


trabalho científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico.
2. ed. Novo Hamburgo: Feevale, 2013. 277p.

RIEGL, Alois. O culto moderno dos monumentos: sua essência e sua gênese.
Goiânia: UCG, 2006.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 245


ROSA, Carolina Lucena. O patrimônio industrial: a construção de uma nova
tipologia de patrimônio. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH
• São Paulo, julho 2011, 14p.

ROSSI, Aldo. Arquitetura da Cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1995

RUFINONI, Manoela Rossinetti. Preservação e restauro urbano: Intervenções


em sítios históricos industriais. São Paulo: Fap-Unifest: Edusp, 2013.

______, Preservação e restauro urbano: teoria e prática de intervenção em


sítios industriais de interesse cultural. 2009. Tese (Doutorado em História e
Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: Técnica e tempo, razão e emoção. 4ª


ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006.

_____. METAMORFOSES DO ESPAÇO HABITADO, fundamentos teórico e


metodológico da geografia. Hucitec. São Paulo, 1988.

_____. Espaço e Método. São Paulo: Nobel, 1985.

SILVA, Aline de Figueirôa. Proposta de delimitação da área de entorno e pers-


pectivas de revisão do tombamento do Conjunto Arquitetônico, Urbanístico e
Paisagístico do Antigo Bairro do Recife, Recife-PE. In: INSTITUTO do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (org.). Patrimônio: Práticas e Reflexões 1. Rio de
Janeiro: IPHAN, 2007.

SILVA CAIXETA, Ana Carolina. DO EDIFÍCIO HISTÓRICO AO ESPAÇO URBANO:


Um estudo sobre a Estação Ferroviária no Centro Pioneiro de Anápolis-GO.
Dissertação (Mestrado). Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária
Anápolis de Ciências Socioeconômicas e Humanas, Anápolis, 2019.

SILVA, Ana Caroline Caixeta; VALVA, Milena D´ayala. A modernização da cidade


de Anápolis (GO) e a repercussão no seu Centro Pioneiro. Revista Memória
em Rede, Pelotas, v.12, n.22, Jan/Jun, 2020

REFERÊNCIAS 246
SILVA, José Fábio. O progresso como categoria de entendimento histórico: um
estudo de caso sobre a modernização da cidade de Anápolis-GO (1930-1957).
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História, da
Faculdade de História, da Universidade Federal de Goiás. 2014.

SOBRINO, Julian; SANZ, Marina. Carta de Sevilha de Patrimônio Industrial.


Espanha, 2018. Disponível em: https://www.centrodeestudiosandaluces.es/
descargas.php?mod=actividades&fileid=1051. Acesso em 26/04/2021.

SCHERER, Rebeca. Paisagem urbanística, urbanização pós-moderna e turismo.


In: YAZIGI, Eduardo (Org.). Turismo e paisagem. São Paulo: Contexto, 2002

TEIXEIRA, Ana. Beatriz; HALLUM, Tiago. FAIANA: A importância deste evento


para Anápolis. Disponível em: <http://periodicos.unievangelica.edu.br/index.
php/administracao/article/view/350>. Acesso em: 26/01/2021

TICCIH. Carta de Nizhny Tagil. 2003. Disponível em: <https://ticcihbrasil.com.


br/cartas/carta-de-nizhny-tagil-sobre-o-patrimonio-industrial/>. Acesso em:
26/04/2021.
TICCIH. Princípios de Dublin: para a Conservação de Sítios, Estruturas, Áreas
e Paisagens do Patrimônio Industrial, 2011. Disponível em: <ticcihbrasil.org.
br/?page_id=686>. Acesso em 26/01/2023

TICCIH. Carta de Sevilha. VIII Seminário de Paisagens Industriais da Andalucía,


2018. Disponível em: < ticcih.org/sevilla-charter-of-industrial-heritage/>.
Acesso em 26/01/2023

TOLEDO, Rodrigo Alberto. Concepções progressistas e culturalistas do espaço


social: a dimensão dos projetos e dos planos para as cidades brasileiras da
primeira metade do século X. Revista Espaço de Diálogo e Desconexão- REDD
(E-ISSN: 1984-1736), Vol.10 N.2, 2018, p. 3-22.

UNESCO. Recomendações sobre a Paisagem Histórica Urbana. 36ª Conferência


Geral da UNESCO, 2011. Paris, 2011. Disponível em: http://psamlisboa.pt/
wp-content/uploads/2014/03/UNESCO_RECOMENDACAO.pdf. Acesso em
30 de agosto de 2021.

PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 247


VILLAÇA, Flávio. As ilusões do plano diretor. São Paulo, Edição do autor, 2005.

VARGAS, Lucas Gabriel Côrrea. Representações sociais do progresso: uma


perspectiva a partir da chegada da estrada de ferro em Anápolis, GO.
(Dissertação de Mestrado) - Programa de Pós Graduação Projeto e Cidade
da Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás, 2015.

VASQUES, Amanda Ramalho. Refuncionalização de Brownfields: estudo de


caso na zona leste de São Paulo-SP. 2005. vii, 160 f. Dissertação (mestrado)
- Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências e Ciências Exatas,
2005. Disponível em: < https://repositorio.unesp.br/handle/11449/95620>.
Acesso em 20/04/2021

______. O processo de formação e refuncionalização de brownfields nas


cidades pós-industriais: o caso do Brasil. São Paulo, 2006. Disponível em:
<http://age.ieg.csic.es/geconomica/IIJornadasGGESalamanca/Amanda_
Vasques.pdf> Acesso em 04/09/2019.

REFERÊNCIAS 248
ANEXO I
Questionário105

105 Os asteriscos em vermelho representam perguntas de resposta obrigatória. Quando não há,
são perguntas opcionais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 249


PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 250
CONSIDERAÇÕES FINAIS 251
PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 252
CONSIDERAÇÕES FINAIS 253
PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 254
CONSIDERAÇÕES FINAIS 255
PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 256
CONSIDERAÇÕES FINAIS 257
PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 258
CONSIDERAÇÕES FINAIS 259
PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 260
CONSIDERAÇÕES FINAIS 261
PAISAGEM E PATRIMÔNIO: O CASO DA VILA INDUSTRIAL 262
CONSIDERAÇÕES FINAIS 263

Você também pode gostar