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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 1

FISIATRIA
EM PEQUENOS ANIMAIS

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 3


Ortografia: Este livro contempla as normas do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa,
de 1990, em vigor desde 2009.

Capa: Labrador retriever em esteira aquática fotografado por


Cristiane Letícia Ferreira de Toledo,
diretora técnica da ReabiVet -
Clínica de Medicina Preventiva e Reabilitação Animal
http://www.reabivet.com.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Fisiatria em pequenos animais / organização


Ricardo Stanichi Lopes, Renata Diniz. --
1. ed. -- São Paulo : Integrativa Vet, 2018.

Vários colaboradores.
Bibliografia.
ISBN 978-65-87010-04-5

1. Fisioterapia 2. Reabilitação 3. Medicina veterinária


I. Lopes, Ricardo Stanichi. II. Diniz, Renata.

18-19445 CDD-636.089

Índices para catálogo sistemático:

1. Fisiatria : Medicina veterinária 636.089

A responsabilidade de qualquer terapêutica prescrita é do profissional


que a prescreve. A perícia e a experiência profissional de cada um são
fatores determinantes para a condução dos possíveis tratamentos para
cada caso. Os editores não podem se responsabilizar pelo abuso ou má
aplicação do conteúdo compartilhado nessa obra.

4 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


ORGANIZADORES

Ricardo Stanichi Lopes Renata Diniz


• Médico veterinário pela Universidade de São Paulo – • Médica veterinária pela Universidade Estadual Paulista –
USP Unesp/Botucatu
• Pós-graduado em ortopedia veterinária pela Universidade • Mestre pela Faculdade de Medicina – Unesp/Botucatu
de São Paulo – USP • Professora em diversas universidades privadas como
• Curso da Canine Rehabilitation Certificate Program Unimonte, Unaerp e Unilus (1998-2007)
(CCRP) pela University of Tennessee. • Doutoranda pela Universitat de les Illes Balears –
• Certificação AOVET (Principles of Small Animal) Maiorca, Espanha
• Professor convidado de fisiatria veterinária nas Univer- • Certificada internacionalmente em reabilitação canina
sidades Anhembi Morumbi e UNG (2012-2015). (CCRP) pela University of Tennessee
• Professor convidado de fisiatria veterinária na Universi- • Instrutora, na Europa e América do Sul, do curso CCRP
dade Anhanguera (2014-2018). da University of Tennessee.
• Professor da Certificación Terapéutica de Clinica de • Fundadora e responsável pela empresa RehabilitaCans,
Pequeños Animales da Universidad Central del Ecuador serviço de fisiatria veterinária em Maiorca, Espanha:
• Professor da pós-graduação em ortopedia veterinária da www.rehabilitacans.com
Associação de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais • Vice-presidente da AIFISVET (Agrupación Ibero Ameri-
de São Paulo (Anclivepa-SP) . cana de Fisiatría Veterinaria)
• Coordenador do curso: Formação em Fisiatria Veterinária, • Secretária do grupo de Rehabilitación Física na AVEPA
da Fisio Care Pet. (Asociación de Veterinarios Españoles Especialistas en
• Coordenador da pós-graduação em fisiatria veterinária da Pequeños Animales)
Anclivepa-SP.
• Fundador e responsável pela Fisio Care Pet – rede de 12
centros de reabilitação animal no Estado de São Paulo –
www.fisiocarepet.com.br
• Fundador e responsável pela marca Pet Fisio – rede de
licenciamento de marca com 11 centros de reabilitação
animal no Brasil – www.petfisio.com.br

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AGRADECIMENTOS

D S
epois de 2 anos e 7 meses concluímos esse grande eriam tantas pessoas a agradecer, que as 538 páginas
objetivo, são muitas pessoas a agradecer por essa desse livro seriam poucas... Primeiramente, agradeço
conquista: ao Ricardo Lopes pelo convite para escrever essa
• aos meus pais pelo carinho, dedicação e companheirismo obra, que me tirou da zona de conforto e me fez aprender
incondicional durante toda minha jornada; muito, tanto a nível profissional como pessoal. A sua com-
• à minha família, em especial aos meus avós, padrinhos e panhia amenizou o árduo processo de desenvolver este pro-
primos, por me ensinarem respeito e amor ao próximo; jeto.
• à Deus por me proporcionar saúde e oportunidades para Em segundo, meu muito obrigada ao Arthur de V. Paes
alcançar meus objetivos; Barreto por aceitar o desafio e participar ativamente na ela-
• à Renata Diniz que aceitou o grande desafio de escrever boração de nossa obra.
essa obra, você é a grande responsável pela qualidade e Também meu agradecimento especial aos nossos 61 co-
profissionalismo aqui apresentado, nunca aprendi tanto em laboradores do livro que participaram como co-autores de
minha vida como nesses últimos dois anos, principalmente diversos capítulos. Sem vocês essa obra não seria possível.
como lidar com situações complexas e delicadas que pas- E como não lembrar dos meus queridos mestres profis-
samos. Um dia espero chegar ao nível da profissional que sionais, sem os quais eu não seria nada hoje. A começar
você se tornou; com Sidney Piesco e Claudio Ronaldo Pedro, responsáveis
• aos meus professores que contribuíram com minha for- pelo meu primeiro curso de fisiatria veterinária. Em seguida
mação, em especial os professores Cássio R. A. Ferrigno e Darryl Millis, que tanto me inspirou na parte didática e
Vanessa M. Ferraz que, desde a graduação, acreditaram no científica, e Graciela Sterin que além de mestre se tornou
meu potencial e sempre me ajudaram nos momentos mais uma grande amiga ensinando-me a “voar” alto.
difíceis. Vocês sempre foram minha inspiração de profis- À minha família, em especial minha mãe e irmãs, que
sional que um dia quero me tornar. sempre me apoiaram e ajudaram no meu crescimento pro-
• à todos os 61 colaboradores que dispuseram de seu va- fissional e pessoal.
lioso tempo para contribuir com a qualidade dessa obra, Aos meus amigos e companheiros de trabalho que fize-
sem vocês não teríamos conseguido; ram com que os momentos difíceis fossem superados e
• à todos os médicos veterinários de minha equipe que sem- substituídos por momentos de alegria.
pre me apoiaram e aconselharam na busca dos meus obje- Enfim, a todos que contribuíram para a realização deste
tivos, sem vocês não teria conquistado a carreira que tenho trabalho, seja de forma direta ou indireta: sem a ajuda de
hoje, em especial à Miriam Caramico, minha sócia e vocês, eu não teria sido capaz de chegar até aqui.
grande amiga, que sempre está do meu lado na busca do
crescimento e reconhecimento da fisiatria veterinária; “Nada há como começar para ver como
• à minha labradora Kelly, in memorian, que foi a respon- é árduo concluir”,Victor Hugo.
sável por escolher ser médico veterinário e estará sempre
em meu coração;
• aos meus amigos que me apoiaram nas situações mais di-
fíceis e compartilharam os momen-
tos mais felizes de minha vida;
• por último, mas não menos
importante, ao Arthur de V.
Paes Barretto, que enrique-
ceu nosso livro com suas
edições cautelosas e ino-
vadoras, contribuindo para
que esta obra torne-se uma
referência na fisiatria.

“Quem caminha sozinho


pode até chegar mais rápido,
mas aquele que vai acompa-
nhado, com certeza vai mais Ricardo Stanichi
Renata Diniz
longe”, Clarice Lispector. Lopes

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DEDICATÓRIA

“¿Dónde estás?
No lo sé…
Solo sé que te buscaré, te buscaré en mis sueños, en mis recuerdos…
Y te sentiré, te sentiré como un viento…
Como un aire…
El aire que respiro y necesito para vivir…
Y solo así sabré que para siempre estarás conmigo…”
Trecho da poesia “Donde estás”, de Renata Diniz

Este livro é dedicado à memória de Kelly e Nena,


que nos ensinaram a amar incondicionalmente um animal

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PREFÁCIO

A
reabilitação veterinária é
uma área da medicina veteri-
nária com desenvolvimento
crescente tendo como base o
mundo das ciências.
Aprender é pôr em prática todo o conhe-
cimento exigido ao reabilitador, sendo este,
em parte complexo, abstrato e de grande res-
ponsabilidade.
A vida dos nossos amigos animais e a
funcionalidade, são o objetivo do reabilitador.
Por isso, a diversidade dos temas abordados
no livro, de modo, a que linhas orientativas
de conduta profissional, sejam interiorizadas
pelos leitores.
Os leitores terão a oportunidade de apren-
der, rever e atualizar uma panóplia de conhe-
cimentos essenciais para o sucesso clínico,
desportivo e de bem-estar do animal.
Uma nova contextualização da reabilita-
ção é transmitida, permitindo com cada ca-
pítulo o aperfeiçoamento da arte do saber
para resolver os problemas da prática clí-
nica.
Que este livro, seja utilizado diariamente
de modo a enriquecer o universo do leitor,
traduzindo-se numa ferramenta de perpetuar
a qualidade de vida dos nossos amigos ani-
mais e a nossa eloquência do saber.

Ângela Martins

8 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


COLABORADORES

Alexandre Gonçalves Teixeira Daniel – Brasil Barbara Bockstahler – Áustria


Médico veterinário pela Faculdade de Medicina Veterinária e Médica veterinária pela Universidade de Medicina Veterinária de
Zootecnia da Universidade de São Paulo – FMVZ/USP; mestre Viena; doutora pela Universidade de Medicina Veterinária de
em clínica veterinária pela USP; diplomado pelo American Board Viena; certificada internacionalmente em reabilitação canina pela
of Veterinary Practitioners (ABVP) como especialista em medi- University of Tennessee (Canine Rehabilitation Certificate
cina felina; membro do conselho consultivo do programa Cat Program – CCRP); diplomada pela American College of
Friendly Practice da American Association of Feline Practitioners Veterinary Sports Medicine and Rehabilitation; responsável
(AAFP); proprietário da Gattos – clínica especializada em medi- pelo setor Physical Therapy and Rehabilitation – University of
cina felina, em São Paulo/Brasil. Veterinary Medicine – Vienna; membro do comitê da European
College of Veterinary Sports Medicine and Rehabilitation.
Ana Cláudia Fonseca – Brasil
Médica veterinária pela Universidade Metodista de São Paulo. Beate Egner – Alemanha
Médica veterinária pela Universidade de Munich, Alemanha;
Andre Grespan – Brasil aprimoramento em cardiologia veterinária no Animal Medical
Médico veterinário pela Universidade Paulista – Unip; mestre Center – New York; organizadora e responsável de cursos de rea-
em epidemiologia experimental e aplicada às zoonoses pela Uni- bilitação (CCRP) da University of Tennessee fora dos Estados
versidade de São Paulo – USP; diretor clínico da Wildvet, clínica Unidos e Japão; diretora e responsável pelo Veterinary Academy
veterinária especializada no atendimento de animais silvestres e of Higher Learning (VAHL) – Continuing educational programs
exóticos. for veterinarians and technicians (Europa, África do Sul e Amé-
rica do Sul); co-editora do livro Essential Facts of Blood Pressure
Ângela Paula Neves Rocha Martins – Portugal in Dogs and Cats; co-autora do livro Pferdekardiologie (Schlue-
Médica veterinária pela Escola Superior Medicina Veterinária da tersche 2010); co-autora do livro The Feline Patient (Elsevier
Universidade Técnica de Lisboa; mestrado em reabilitação fun- 2010); co-autora do livro EKG made Easy (VBS GmbH); co-au-
cional; professora convidada na Universidade Lusófona de Hu- tora do livro: The Cat (Elsevier 2016), co-autora do livro Essential
manidades e Tecnologias desde 2012; diretora clínica da clínica Facts of Physical Therapy, Rehabilitation and Sportsmedicine
VetArrábida e do Hospital Veterinário da Arrábida – Azeitão, (VBS Q1/2018); membro fundadora da Veterinary Blood
Portugal; diretora clínica do Centro de Reabilitação Animal da Pressure Society – VBPS (presidente de 2007-2015); membro
Arrábida – Azeitão, Portugal. do comitê cientifico do ECVIM.

António José Almeida Ferreira – Portugal Bruno Testoni Lins – Brasil


Médico veterinário pela Escola Superior Medicina Veterinária da Médico veterinário pela Universidade de Brasília; sócio proprie-
Universidade Técnica de Lisboa; doutorado em Cirurgia veteri- tário da OrtoDerm Especialidades Veterinárias; médico veteriná-
nária; professor agregado em 2002 pela Faculdade Medicina Ve- rio diplomado pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia e Anestesiologia
terinária de Universidade Lisboa; professor catedrático desde Veterinária (CBCAV) como especialista em cirurgia veterinária;
2004 da Faculdade Medicina Veterinária da Universidade de Lis- mestre em cirurgia de pequenos animais pela Universidade Es-
boa; diretor do Hospital Escolar da Faculdade Medicina Veteri- tadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp/Botucatu), doutor
nária de Universidade Lisboa. pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Me-
dicina da Universidade de São Paulo (IOT-FM-USP); residência
Arícia Gomes Sprada – Brasil pela Unesp/Araçatuba; coordenador do curso de pós-graduação
Medica veterinária pela Universidade Federal de Santa Maria; lato sensu em ortopedia veterinária da Universidade Anhembi-
mestre em medicina veterinária, área de concentração Cirurgia, Morumbi entre os anos de 2007 e 2014; AOVET Faculty desde
pela Universidade Federal de Santa Maria; doutoranda em cirur- 2011; Fellowship em cirurgia geral e ortopédica pela Texas A
gia veterinária da Universidade Estadual Paulista – Unesp Jabo- & M University, Louisiana State University e Alameda East
ticabal. Veterinary Hospital.

Bárbara Assis – Portugal Bruno Watanabe Minto – Brasil


Médica veterinária pela ICBAS- Universidade do Porto; certifi- Médico veterinário pela Universidade Estadual Paulista, Unesp/
cada internacionalmente em reabilitação canina (CCRP) pela Botucatu; mestre e doutor pela Faculdade de Medicina Veteriná-
University of Tennessee; professora convidada da pós-graduação ria e Zootecnia da Unesp Botucatu; professor de cirurgia de pe-
na Advanced Rehabilitation and Physiotherapy for Small Animals quenos animais na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias
da European School of Advanced Veterinary Studies (ESAVS) – da Unesp/Jaboticabal.
VUW - University of Veterinary Medicine, Viena, Austria; co-
fundadora da Vepra - Veterinary European Physical Therapy and Carla Riccio Marzulli – Brasil
Rehabilitation Association; diretora da clínica da ARF – Animals Médica veterinária pela Universidade Paulista-Unip; pós-graduação
are Family – clínica veterinária, Porto, Portugal. em cirurgia ortopédica pela Universidade de São Paulo – USP;

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COLABORADORES

especialização em acupuntura veterinária pelo Instituto Qualittas; University of Tennessee; membro de comitês da Academy of
professora convidada do curso “Fisioterapia em pequenos Physical Rehabilitation Veterinary Technicians.
animais” na Fisio Care Pet.
Eduardo Capasso dos Anjos Afonso – Brasil
Caroline Cezaretti Feitosa – Brasil Médico veterinário pela Universidade Metodista de São Paulo –
Médica veterinária pela Universidade de São Paulo – USP. Umesp; residência em cirurgia e clínica de pequenos animais pela
Universidade de Franca (Unifran); mestre em cirurgia e aneste-
Cássio Ricardo Auada Ferrigno – Brasil/EUA siologia veterinária pela Unifran; professor de cirurgia de peque-
Médico veterinário pela Universidade do Estado de São Paulo nos animais da Universidade Anhembi Morumbi – UAM;
(Unesp/Jaboticabal); mestre em cirurgia pela Faculdade de Me- cirurgião ortopedista do Provet (Unidade Divino Salvador, São
dicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo Paulo, SP).
(FMVZ/USP); doutor em cirurgia pela FMVZ/USP; pós-douto-
rado pela Universidade da Florida – EUA; associado do Depar- Eloy Curuci – Brasil
tamento de Cirurgia da FMVZ/USP; responsável pelo Serviço de Médico veterinário pela Universidade Paulista - Unip; pós-gra-
Ortopedia de Pequenos Animais (HOVET -USP); responsável duado em cirurgia de pequenos animais com ênfase em cirurgia
pelo Laboratório de Ortopedia e Traumatologia Comparada do e ortopedia pela Umesp; pós-graduado em ortopedia e traumato-
Departamento de Cirurgia da FMVZ/USP. logia em pequenos animais pela Anclivepa-SP; pós-graduado no
curso de especialização em ortopedia veterinária (Princípios or-
Cristiane Letícia Ferreira de Toledo – Brasil topédicos no tratamento de fraturas em animais domésticos) pela
Médica veterinária pela Universidade Federal de Pelotas; pós- Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade
graduação em acupuntura veterinária pelo Instituto Bioethicus de São Paulo – FMVZ/USP.
(SP); pós-graduação em neurologia veterinária pelo Instituto
Bioethicus; certificada em acupuntura veterinária pelo IVAS Fábio Alves Teixeira – Brasil
(Internacional Veterinary Acupuncture Society – http://ivas.org); Médico veterinário pela Universidade de São Paulo – USP; resi-
aperfeiçoamento em medicina veterinária tradicional chinesa pela dente em nutrição e nutrição clínica de cães e gatos pela Facul-
The agricultural university of Hebei, China; formada em qui- dade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade
ropraxia pela AIQA (Academia Internacional de Quiropráctica Estadual Paulista – Unesp/Jaboticabal; mestre em Ciências, com
animal – http://www.quiropracticaanimal.com); pós-graduanda ênfase em clínica veterinária (nutrologia) pela USP; doutorando
em nutracêutica clínica e medicina ortomolecular pelo IPUPO pelo programa de pós-graduação em clínica veterinária pela USP;
Educacional Campinas; diretora técnica da ReabiVet - Clínica de membro do Comitê pet do Colégio Brasileiro de Nutrição Animal
Medicina Preventiva e Reabilitação Animal; professora dos cur- (CBNA); membro fundador da Comissão Brasileira de Nutrição
sos de pós-graduação em acupuntura e fisiatria, fisioterapia e rea- e Nutrição Clínica de Cães e Gatos do CBNA.
bilitação veterinária do Instituto Bioethicus.
Fábio César Prosdócimi – Brasil
Darryl Millis – Estados Unidos Cirurgião-dentista pela Universidade de Santo Amaro; especia-
Médico veterinário pela Cornell University; mestre pela University lização em anatomia cirúrgica pela Universidade de São Paulo
of Florida; residência em cirurgia pela Michigan State University; (USP); mestre em neurociências pela Universidade de São Paulo
diplomado pela American College of Veterinary Sports Medicine (USP); doutor em ciências pela Universidade de São Paulo
and Rehabilitation; professor responsável pelo Curso de Certifi- (USP); pós-doutor em biologia molecular pela Fundação Medi-
cação Internacional em Reabilitação Canina (CCRP) – University of cina do ABC; professor titular de anatomia – Universidade Pau-
Tennessee; diretor do CARES – Center for Veterinary Sports lista (Unip), Faculdades Metropolitanas Unidas e Universidade
Medicine; co-editor de vários livros (Textbook of Small Animal Metropolitana de Santos.
Physical Therapy and Rehabilitation, Essential Facts of Physio-
therapy in Dogs and Cats, Small Animal Physical Rehabilitation: Fernanda Ribeiro da Silva Aoki – Brasil
Veterinary Clinics of North America-Small Animal Practice e Médica veterinária pela Universidade Estadual Paulista– Unesp/
Multimodal Management of Canine Osteoarthritis); presidente Araçatuba; residência pela Universidade Federal do Paraná
da International Association of Veterinary Rehabilitation and (UFPR); coordenadora do setor de cirurgia do Hospital Veteri-
Physical Therapy (IAVRPT). nário Jardins – São Paulo; cirurgiã no setor de ortopedia do Pro-
vet (Unidade Divino Salvador, São Paulo, SP); membro da
Dawn Hickey – Estados Unidos Associação Brasileira de Ortopedia e Traumatologia – OTV.
Técnica veterinária pela Columbia State Community College-
USA; certificada internacionalmente em reabilitação canina Fernando Carlos Pellegrino – Argentina
(CCRP) pela University of Tennessee (EUA); técnica veteri- Médico veterinário pela Universidade de Buenos Aires, Argen-
nária sênior do Departamento de Reabilitação de Pequenos Ani- tina; especialista em docência universitária pela Universidade
mais da University of Tennessee; instrutora do curso CCRP da de Buenos Aires; doutor pela Universidade de Buenos Aires;

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COLABORADORES

professor titular de anatomia da Faculdade de Ciências Veteriná- Médicos Veterinarios (CPMV – Argentina); fundadora e diretora
rias da Universidade de Buenos Aires; diplomado e criador da do centro de reabilitação “Rehabilitacionvet” – Buenos Aires,
certificação em neurologia veterinária na Faculdade de Ciências Argentina.
Veterinarias, Universidad Nacional de La Pampa; professor con-
vidado dos módulos de neurologia de várias universidades; mem- Guilherme Galhardo Franco – Brasil
bro fundador da Associação Argentina de Neurologia Veterinária Médico veterinário pela Universidade Estadual Paulista – Unesp
(2010) e da Associação Latino Americana de Neurologia Veteri- Botucatu; residência médica em cirurgia de pequenos animais
nária (2009); presidente da Associação Argentina de Neurologia pela Universidade Estadual Paulista – Unesp Botucatu; mestre
Veterinária (desde 2010); presidente da Associação Latino Ame- em cirurgia veterinária pelo programa de pós-graduação da
ricana de Neurologia Veterinária (2011-2013; 2017-2019). FCAV – Universidade Estadual Paulista- Unesp Jaboticabal; dou-
torando em cirurgia veterinária pelo programa de pós-graduação
Fernando Yoiti Kitamura Kawamoto – Brasil da FCAV – Universidade Estadual Paulista-Unesp Jaboticabal;
Médico veterinário pela Universidade Federal de Lavras (Ufla), cirurgião de pequenos aninais no Hospital Veterinária CCAE da
doutor em cirurgia veterinária pela Universidade Estadual Pau- Universidade Federal do Espírito Santo – Campus de Alegre.
lista (Unesp/Jaboticabal); professor colaborador de clínica cirúr-
gica de animais de companhia na Universidade Estadual do Norte Gustavo Vicente – Brasil
do Paraná (Uenp). Médico veterinário pela Universidade Metodista de São Paulo –
Umesp; pós-graduado em cirurgia e ortopedia pela Umesp, pós-
Flavia De Santis Prada – Brasil graduado em ortopedia e traumatologia pela Universidade de São
Médica pela Universidade de São Paulo – USP; residência em Paulo – USP; professor do curso de pós-graduação – especiali-
ortopedia e traumatologia no Instituto de Ortopedia e Traumato- zação em acupuntura veterinária – Incisa Imam; autor do livro
logia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP; Tratado de Fisioterapia em Pequenos Animais; CEO da franquea-
especialização em cirurgia da mão no Instituto de Ortopedia e dora Mundo à Parte – Centro de Fisioterapia Veterinária; profes-
Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medi- sor do Centro de Treinamento Mundo à Parte.
cina da USP; mestre pela Faculdade de Medicina da USP; dou-
tora pela Faculdade de Medicina da USP; médica ortopedista Hannah Thurman McLean – Estados Unidos
integrante do Núcleo Avançado de Ombro e Cotovelo do Hospital Médica veterinária formada pela University of Tennessee e
Sírio-Libanês; chefe de uma das equipes de retaguarda de orto- residente em Small Animal Clinical Sciences – University of
pedia e traumatologia do hospital; membro titular da Sociedade Tennessee.
Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT); membro titular
da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão (SBCM); membro Jennifer Hummel – Brasil
titular da Sociedade Brasileira de Trauma Ortopédico (SBTO); Médica veterinária pela Universidade Federal do Rio Grande do
membro da American Academy of Orthopaedic Surgeons Sul (UFRGS); residência em clínica e cirurgia pela Universidade
(AAOS); membro da American Association for Surgery of the Luterana do Brasil (Ulbra/RS); pós-graduação em acupuntura ve-
Hand (AASH); médica assistente concursada do Instituto de Or- terinária pelo Instituto Bioethicus (SP); pós-graduação em fisiatria,
topedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade fisioterapia e reabilitação veterinária pelo Instituto Bioethicus
de Medicina da Universidade de São Paulo (USP); Pronto-So- (SP); CEO da franqueadora Mundo à Parte – Centro de Fisiote-
corro de Traumatologia, 2000-2007; Grupo de Cirurgia da Mão rapia Veterinária; professora do Centro de Treinamento Mundo
e Microcirurgia Reconstrutiva, 1993-2007; e Grupo de Ombro e à Parte; professora do curso de pós-graduação – Especialização
Cotovelo, 2007-2014. em fisiatria, fisioterapia e reabilitação veterinária – Instituto Bio-
ethicus, Brasil; professora do curso de pós-graduação – especia-
Graciela Mabel Sterin – Argentina lização em acupuntura veterinária – Incisa IMAM; autora do livro
Médica veterinária pela Universidade de Buenos Aires, Argen- Tratado de Fisioterapia em Pequenos Animais; MBA em gestão
tina; professora do curso Terapia física em pequenos animais, da empresarial pela Fundação Getúlio Vargas.
Sociedade de Medicina Veterinária (Someve) de Buenos Aires,
Argentina; professora convidada do curso de pós-graduação Jorge Luque Garrido – Espanha
em fisiatria, fisioterapia e reabilitação veterinária do Instituto Médico veterinário pela Universidade de Córdoba – Espanha; di-
Bioethicus – Brasil; professora convidada do Máster Propio plomado em acupuntura e medicina tradicional chinesa pelo
UCM – Fisioterapia y Rehabilitación Veterinaria de Pequeños IVAS (Internacional Veterinary Acupuncture Society –
Animales: Perros y Gatos da Universidad Complutense de Madrid, http://ivas.org); certificado em Reabilitação e Fisioterapia
Espanha; professora da disciplina de Rehabilitación y Terapia ESAVS – Áustria; certificado em quiropraxia pela AIQA
Física, na Universidad Católica de Salta, do curso de Especializa- (Academia Internacional de Quiropráctica animal –
ción en Clínica de Pequeños Animales Domésticos; presidente http://wwquiropracticaanimal.com) – Espanha; curso de Canine
da Agrupación Ibero Americana de Fisiatría Veterinaria (Aifisvet); Sports Medicine and Rehabilitation – CRI/Suiça; professor con-
membro da comissão diretiva do Conselho Professional dos vidado do Máster Propio UCM (Universidad Complutense de

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COLABORADORES

Madrid) – Fisioterapia y Rehabilitación Veterinaria de Pequeños professora convidada dos Cursos Intensivo e Extensivo de Fisio-
Animales; cursos de reabilitação FORVET; veterinário titular e terapia Veterinária da Fisio Care Pet; membro associado da As-
co-proprietário da Clínicas Vetersalud El dogo Azul – Málaga, sociação Brasileira de Acupuntura Veterinária (Abravet).
Espanha; veterinário de Pirena 2010-2012; veterinário de carrei-
ras de cães de trenó de longa distância, Femundlopet, Finmark- Lídia Dornelas de Faria – Brasil
lopet, Polar Distance, Bergebylopet, Vildmarksracet, 2012 a Médica veterinária pela União Pioneira de Integração Social
2017; veterinário chefe de carreira de cães de trenó de média dis- (Upis – Brasília); certificada internacionalmente em reabilita-
tância Soria Unlimited 2014-2017; veterinário chefe do Spain ção canina (CCRP) pela University of Tennessee; mestre em ciên-
Long Distance 2015-2017; chefe da equipe veterinária do Cir- cias da cirurgia – Universidade de Campinas (Unicamp);
cuito Andaluz de Mushing em Sprint 2016 - 2018; veterinário do proprietária da SWave – Tratamento por Ondas de Choque –
El Campeonato del Mundo de Sprint em Italia 2017. http://swave.com.br; professora de tratamento por shock wave
nos principais cursos de pós-graduação em reabilitação no Brasil;
José Geraldo Meirelles Palma Isola – Brasil aprimoramento no Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT
Médico veterinário pelo Centro Universitário Barão de Mauá; re- 2010-2012).
sidência em clínica médica e cirúrgica veterinária pelo Centro
Universitário de Rio Preto – Unirp; mestre e doutor em cirurgia Lisi Sharon – Israel
veterinária de pequenos animais pela Universidade Estadual Júlio Médica veterinária pela Universidade de Buenos Aires, Argen-
de Mesquita Filho, Unesp/Jaboticabal; habilitado pela Sociedade tina; certificada pela Certified Canine Rehabilitation Practicioner
Veterinária Latino Americana de emergências e cuidados inten- - University of Tennessee, USA; fundadora e chefe do The Israeli
sivos (Laveccs) em trauma, emergência e cuidados intensivos de Rehab Center for Animals – Israel.
pequenos animais e pelo Instituto Brasileiro de Recursos Avan-
çados (Ibra) em fisioterapia e reabilitação de pequenos animais Lívia Assis Garcia – Brasil
e acupuntura veterinária; diretor do Centro de Aprimoramento e Fisioterapeuta pelo Instituto Municipal de Ensino Superior de
Especialidades Veterinárias – Capesvet, Ribeirão Preto, SP. Catanduva - IMES; especialização em fisiologia do exercício
pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar); mestre em
Karina Velloso Braga Yazbek – Brasil fisioterapia pela UFSCar; doutora em fisioterapia pela UFSCar;
Médica veterinária pela Universidade Paulista (Unip); residente pós-doutoranda em ciências biológicas pela Universidade Federal
pelo Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina Vete- de São Paulo (Unifesp); profa. afiliada do Departamento Bio-
rinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP); ciências da Unifesp; profa. colaboradora no programa de pós-
doutora pelo Departamento de Cirurgia da FMVZ/USP; coorde- graduação stricto sensu bioprodutos e bioprocessos na Unifesp;
nadora do curso de especialização em anestesiologia da Anclivepa- profa. titular da Universidade Brasil (UNBR) no programa de
SP; coordenadora do Comitê de Dor em Medicina Veterinária da pós-graduação stricto sensu de engenharia biomédica.
Sociedade Brasileira de Dor – Gestão 2018-2020; responsável
pelo ambulatório de dor aguda e crônica e cuidados paliativos do Luis Fernando de Moraes – Brasil
All Care Vet – Terapia Intensiva (São Paulo, SP); consultora Médico veterinário pela Universidade Paulista – Unip; nutricio-
técnica de indústrias farmacêuticas. nista pela Universidade Paulista – Unip; professor de diversos
cursos de pós-gradução: Instituto Bioethicus, Ibra, Qualittas,
Larissa Toyofuku – Brasil Anclivepa e CETAC; coordenador do curso de nutrição funcional
Médica veterinária pela Universidade Estadual Paulista – Unesp/ e medicina funcional – SPMV- SP, consultor técnico de produtos
Botucatu; pós-graduação em acupuntura veterinária pelo Instituto nutracêuticos (Laboratório Mundo Animal e VALLÉE).
Bioethicus/FAJ; proprietária e veterinária responsável pela Rede
Pet Fisio Alphaville. Luiz Henrique Mattos – Brasil
Médico veterinário pela Universidade Metropolitana de Santos;
Laryssa Petrocini Rosseto – Brasil mestre e doutor pela Universidade Estadual Paulista – Unesp/Bo-
Médica veterinária pelo Centro Universitário Barão de Mauá, tucatu; proprietário e fisioterapeuta veterinário na empresa
mestre em cirurgia veterinária pela Universidade Estadual Pau- Equilife – Fisioterapia e Reabilitação Equina; professor do curso
lista – Unesp/Jaboticabal; doutoranda em cirurgia veterinária pela de pós-graduação em fisiatria, fisioterapia e reabilitação veteri-
Unesp/Jaboticabal; médica veterinária e sócia-proprietária da Fi- nária – Instituto Bioethicus; professor do curso de pós-graduação
siopet – Centro de Reabilitação Animal – Ribeirão Preto, SP; pós- – Especialização em fisiatria e reabilitação veterinária – Instituto
graduada em fisiatria, fisioterapia e reabilitação veterinária pelo Brasileiro de Veterinária (Ibvet); professor do curso de pós-gra-
Instituto Bioethicus – Botucatu/SP; pós-graduada em acupuntura duação – Especialização em ortopedia de equinos do Ibvet; pro-
veterinária pelo Instituto Bioethicus/FAJ; professora convidada fessor do curso de pós-graduação – Especialização em clínica e
do curso de pós-graduação de fisiatria, fisioterapia e reabilitação cirurgia de equinos do Ibvet; professor do curso de pós-graduação
veterinária – Instituto Bioethicus – Botucatu/SP; professora con- – Especialização em fisiatria e feabilitação fisioterápica vete-
vidada do curso Acupuntura – CAPESVET – Ribeirão Preto, SP; rinária do Instituto Quallitas; professor do curso de extensão

12 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


COLABORADORES

Fisiatria veterinária daFisio Care Pet; membro e diretor fiscal da Maurício Melo de Silvio – Brasil
Associação Veterinária de Células Tronco - AVTCEL (2017- Médico veterinário pelo Centro Universitário Fundação Octávio
2018), CKTP; instrutor oficial do método Kinesio Taping Bastos – Unifeob; mestre em anatomia dos animais pela Facul-
Equine. dade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de
São Paulo – FMVZ/USP; professor de anatomia e histologia –
Marcia Kahvegian – Brasil Universidade Anhembi Morumbi – UAM, Faculdade de Ciências
Médica veterinária formada pela Universidade Bandeirante de e Letras de Bragança Paulista – Fesb e Faculdades Metropolita-
São Paulo, Campus do ABC Paulista; zootecnista formada pela nas Unidas – FMU.
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade
Estadual Paulista – Unesp/Botucatu; especialização na área de Mhayara Samile de Oliveira Reusing – Brasil
anestesiologia na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia Médica veterinária pela Universidade Federal do Paraná, espe-
da Unesp/Botucatu; doutora em ciências pela Faculdade de Me- cialização em cirurgia de pequenos animais pela Universidade
dicina da Universidade de São Paulo; professora da disciplina de Federal do Paraná, proprietária do Instituto de Reabilitação Ani-
técnica cirúrgica e anestesiologia da Universidade Cruzeiro do mal, Curitiba, PR.
Sul (2010-atual); coordenadora do curso de especialização em
anestesiologia veterinária da Associação Nacional de Clínicos Milton Mikio Morishini Filho – Brasil
Veterinários de Pequenos Animais do Estado de São Paulo – An- Médico veterinário pela Universidade Estadual Paulista – Unesp/
clivepa-SP (2008-atual); chefe do Serviço de Anestesiologia do Botucatu, residência em cirurgia de pequenos animais na
Provet Especialidades (2002-atual); supervisora da unidade de Unesp/Botucatu; especializações e pós-graduações em ortopedia,
terapia intensiva All Care Vet (2012-atual). neurologia e neurocirurgia; mestre em clínica cirúrgica pela Fa-
culdade de Medicina da UFPR; certificação AOVET (Principles
Marcella Sanches – Brasil of Small Animal) e (Advanced of Small Animal); membro da di-
Médica veterinária pela Universidade Estadual Paulista – Unesp/ retoria da OTV; conselheiro Anclivepa-PR; membro sócio da
Botucatu; pós-graduada em acupuntura veterinária pelo Instituto ABNV, AOVET, AOSPINE, CBCAV; docente do curso de me-
Bioethicus/FAJ; certificada internacionalmente em Reabilitação dicina veterinária – Universidade Tuiuti do Paraná (UTP); do-
Canina (CCRP) pela University of Tennessee; mestre em ciências cente do curso de pós-graduação – Qualittas; diretor da Clínica
da saúde pela Unifesp; professora convidada de cursos de pós- Escola de Medicina Veterinária (CEMV) – UTP; chefe do serviço
graduações no Instituto Bioethicus (neurologia, acupuntura, fisia- de ortopedia e neurologia – CEMV – UTP.
tria, fisioterapia e reabilitação veterinária); professora convidada
dos cursos de pós-graduação de neurologia e ortopedia da Miriam Caramico – Brasil
Unesp/Jaboticabal; professora convidada pela Fisio Care Pet em Médica veterinária pelo Centro Universitário Fundação de En-
cursos de fisioterapia veterinária; proprietária da Reabilita Ani- sino Octávio Bastos (Unifeob); mestranda em anatomia pela
mal – Acupuntura, Fisiatria e Medicina Integrativa Veterinária; Universidade de São Paulo (USP); fundadora e responsável pela
presidente da Abravet (Associação Brasileira de Acupuntura Fisio Care Pet Cursos; coordenadora do Curso de formação em
Veterinária), em 2015-2016. fisiatria veterinária da Fisio Care Pet; coordenadora da pós-gra-
duação em fisiatria veterinária na Anclivepa-SP.
Márcio Antonio Brunetto – Brasil
Médico veterinário pela Universidade do Estado de Santa Cata- Monica Sartori – Brasil
rina (Udesc); residente em nutrição e nutrição clínica de cães e Médica veterinária formada pela Unipinhal; pós-graduada em fi-
gatos pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) sioterapia veterinária pela Umesp; professora colaboradora no
da Unesp/Jaboticabal; mestre, doutor e pós-doutorado pela FCAV Instituto Bioethicus, Qualittas e Fisio Care Pet; curso Canine Re-
Unesp/Jaboticabal; docente do Departamento de Nutrição e habilitation Institute – CRI/USA; vice-presidente da Associação
Produção Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Nacional de Fisioterapia Veterinaria – Anfivet; sócia nas empre-
Zootecnia da Universidade de São Paulo – FMVZ/USP; respon- sas MSM (Cursos e Consultoria em Fisioterapia Veterinária),
sável pelo Centro de Pesquisa em Nutrologia Pet (CEPEN Pet – Synapsis (Fisioterapia Genoma-USP), Cane-fit Fisioterapia
http://vnp.fmvz.usp.br/) do Departamento de Nutrição e Produ- Veterinária e consultório de fisioterapia Monica Sartori.
ção Animal (VPN) da FMVZ/USP; responsável pela implantação
do atendimento de nutrologia junto ao serviço de clínica médica Paula Tussini Onida – Brasil
de pequenos animais do Hospital Veterinário da FMVZ/USP. Médica veterinária pela Universidade Federal Fluminense – UFF;
mestre em clínica veterinária (patologia clínica) pela Unesp/Bo-
Marina Martins Gedrait Samue – Brasil tucatu; professora do curso de formação da Fisio Care Pet – SP.
Médica veterinária pela Faculdade Metropolitanas Unidas
(FMU); pós-graduação em fisiatria, fisioterapia e reabilitação ve- Paulo Vinícius Tertuliano Marinho – Brasil
terinária em Instituto Bioethicus; médica veterinária em Clínica Médico veterinário pela Universidade Federal de Campina
de Fisioterapia Animal Mônica Sartori. Grande, Patos, PB; aprimoramento em ortopedia de cães e gatos

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 13


COLABORADORES

pela Unesp/Jaboticabal; residência médica em clínica cirúrgica Rodrigo Martins Pimentel da Silva – Brasil
de pequenos animais, Unesp/Jaboticabal; especialização em Médico veterinário pela Universidade Presidente Antônio Carlos
ortopedia de cães e gatos, Universidade de São Paulo (USP); – Unipac; pós-graduado em clínica médica de pequenos animais
mestrado em ciência animal com ênfase em clínicas (neurocirur- pela universidade Federal de Lavras (UFLA), MG; pós-graduado
gia), Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina; dou- em clínica médica de pequenos animais pelo Instituto Qualittas.
torado em clínica cirúrgica veterinária com ênfase em ortopedia
e neurocirurgia, Universidade de São Paulo (USP); professor de Sasha Eztala – Argentina
cirurgia de pequenos animais do Instituto Federal de Educação, Médica veterinária pela Universidad Juan Agustín Maza, Men-
Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, Muzambinho, MG; doza – Argentina; formação em reabilitação de pequenos animais
membro da Associação Brasileira de Neurologia Veterinária pela The Israheli Rehab Center for Animals, em Israel; fundadora
(ABNV) e membro associado da AO (Arbeitsgemeinschaft fur e chefe da Clínica de Reabilitação de Pequenos Animais em
Osteosynthesefragen – Association for the Study of Internal Mendoza, Argentina.
Fixation); formação Aovet: AO Principles of Small Animal, AO
Advanced of Small Animal, Special Focus in Thoracic Limb Stella Helena Sakata Lopes – Brasil
Trauma e Principios AOSpine. Médica veterinária pela Universidade do Grande ABC; pós-gra-
duada em ortopedia e fisioterapia pela Universidade Paulista
Plinio Francato dos Santos – Brasil (Unip); especialista em Hand Diagnosis Training - Beijin, China,
Bacharel em contabilidade pela FECAP – Fundação Escola de curso Certified Canine Rehabilitation Therapist – CRI/USA,
Comércio Álvares Penteado; pós-graduado em finanças corpo- curso Canine Sports Medicine – CRI/USA; coordenadora da pós-
rativas pela Fecap – Fundação Escola de Comércio Álvares Pen- graduação de fisiatria e reabilitação animal – Instituto Qualittas;
teado; diretor da Meta Azul Consultoria Financeira; consultor coordenadora da grade de fisioterapia do Congresso Medvep;
financeiro da ABHV – Associação Brasileira dos Hospitais Ve- conselheira científica da revista Medvep; membro e secretária da
terinários. Associação Nacional de Fisioterapia Veterinária – Anfivet; pro-
fessora convidada dos cursos do Instituto Bioethicus, Fisio Care
Ragnar Franco Schamall – Brasil Pet e Instituto Equilibrium; fundadora e proprietária da MSM
Médico veterinário pela Universidade Federal de Viçosa; mestre Cursos em Reabilitação Animal; fundadora e responsável da
em cirurgia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; professor StellaFisioVet – Fisiatria e Reabilitação Animal.
do curso de pós-graduação – Especialização em neurologia dos
animais domésticos pelo Instituto Bioethicus; professor convidado Sergio Ricardo Sacramento Lobato – Brasil
do curso anual de neurologia veterinária do Instituto Neurológico Médico veterinário pela Universidade Federal Rural do Rio de
do Chile – Santiago do Chile – Chile; presidente da Sociedade Janeiro; especialização em marketing pela Universidade Estácio
Latino-americana de Neurologia Veterinária (Neurolatinvet), de Sá; docente em cursos de pós-graduação em medicina veteri-
gestão 2013-2015; membro fundador e tesoureiro da Associação nária no Brasil e Colômbia; consultor em gestão da inovação em
Brasileira de Neurologia Veterinária - ABNV (2012-2018). medicina veterinária.

Rafael Magdanelo Leandro – Brasil Vanessa Couto de Magalhães Ferraz – Brasil/EUA


Médico veterinário pela Universidade Santo Amaro (Unisa); mes- Médica veterinária pela Universidade de São Paulo – USP; mes-
tre pelo Departamento de Patologia, Faculdade de Medicina Vete- tre e doutor em cirurgia de pequenos animais pela Universidade
rinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo – FMVZ/USP; de São Paulo – USP; proprietária e veterinária responsável pela
doutor pelo Departamento de Cirurgia da FMVZ/USP; profes- Clínica Veterinária Especializada Strix.
sor temporário das disciplinas de anatomia descritiva I e II e ana-
tomia aplicada do departamento de cirurgia da FMVZ/USP e da
Universidade Anhembi Morumbi da disciplina de corpo animal;
pós-doutorado pelo Departamento de Cirurgia da FMVZ/USP.

Rhadanna Tonetti Botelho – Brasil


Médica veterinária pela Universidade Federal de Lavras – Ufla.

Roberta Lins Reis Appel – Brasil


Médica veterinária pela Faculdade de Jaguariúna – FAJ; pós-gra-
duada em fisiatria, fisioterapia e reabilitação veterinária (FAJ/
Instituto Bioethicus) com capacitação em acupuntura veterinária
(Ibra – Instituto Brasileiro de Recursos Avançados), fisioterapia
veterinária (Fisio Care Pet) e quiropraxia veterinária (Instituto
Bioethicus).

14 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


CONTEÚDO

Capítulo Autor Página


1. Panorama mundial da fisiatria veterinária Beate Egner 18
Barbara Bockstahler
2. Histórico da fisiatria veterinária no Brasil Ricardo Stanichi Lopes 20
3. Anatomia do aparelho locomotor Maurício Melo de Silvio 22
(sistemas ósseo, articular e muscular) Rafael Magdanelo Leandro
Fábio César Prosdócimi
4. Biomecânica aplicada a pequenos animais Hann Mclean 37
Darryl Millis
5. Semiologia ortopédica Eduardo Capasso dos Anjos Afonso; 43
Fernanda Ribeiro da Silva Aoki
6. Semiologia neurológica Milton Mikio Morishin Filho 49
7. Diagnóstico zookinésico Graciela Mabel Sterin 61
8. Avaliação da dor aguda Marcia Aparecida Portela Kahvegian 66
9. Avaliação da dor e da qualidade de vida Karina Velloso Braga Yazbek 77
em cães e gatos com dor crônica
10. Avaliação e medição de resultados Darryl Millis 80
Dawn Hickey
11. Goniometria e perimetria Rhadanna Tonetti Botelho 87
Rodrigo Martins Pimentel da Silva
12. Eletroterapia Marcella Sanches 92
Lívia Assis
13. Termoterapia superficial Miriam Caramico 103
14. Infrassom, ultrassom e tecaterapia Graciela Mabel Sterin 112
15. Laserterapia Ricardo Stanichi Lopes 117
Renata Diniz
16. Magnetoterapia Stella Helena Sakata 128
17. Tratamento por ondas de choque Lídia Dornelas de Faria 133
18. Massagem terapêutica Miriam Caramico 139
19. Alongamento Miriam Caramico 144
20. Exercícios terapêuticos Monica Sartori 148
Marina Martins Gedrait Samuel
21. Hidroterapia Renata Diniz 156
22. Bandagem neuromuscular – método Kinesio Taping ® Luiz Henrique Lima de Mattos 163
23. Hérnia discal Ragnar Franco Schamall 169
24. Diagnóstico diferencial da doença do disco intervertebral Paulo Vinícius Tertuliano Marinho 177
25. Afecções do neurônio motor inferior Fernando Carlos Pellegrino 197
26. Neuroreabilitação funcional em lesões medulares Ângela Martins 287
António Ferreira
27. Reabilitação em lesões de neurônio motor inferior Paula Tussini Onida 299
Ricardo Stanichi Lopes
28. Lesões encefálicas com sintomatologia Jennifer Hummel 306
motora e sua reabilitação
29. Afecções do ombro Fernando Yoiti Kitamura Kawamoto 312
Guilherme Galhardo Franco
Bruno Watanabe Minto

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 15


CONTEÚDO

Capítulo Autor Página


30. Fisiatria em afecções do ombro Mhayara Samile de Oliveira Reusing 320
Ricardo Stanichi Lopes
31. Afecções do cotovelo. Vanessa Couto de Magalhães Ferraz 331
32. Fisiatria em lesões do cotovelo Bárbara Assis 336
33. Afecções do joelho Eloy Curuci 343
Caroline Cezaretti Feitosa
34. Fisiatria em lesões do joelho Carla Riccio Marzulli 355
Ricardo Stanichi Lopes
35. Afecções do quadril Arícia Gomes Sprada 370
Bruno Watanabe Minto
36. Fisiatria em lesões do quadril Lisi Sharon 381
Sasha Eztala
37. Fisiologia e controle da dor em pacientes com osteoartrose Karina Velloso Braga Yazbek 388
38. Osteoartrose: fisiologia e tratamento Cássio Ricardo Auada Ferrigno 392
39. Fisioterapia em pacientes com osteoartrose Laryssa Petrocini Rosseto 396
40. Biomecânica de fraturas e implantes ortopédicos Bruno Testoni Lins 401
Flávia de Santis Prada
41. Fisiatria em fraturas Gustavo Vicente 408
42. Introdução a obesidade canina Fabio Alves Teixeira 414
Márcio Antonio Brunetto
43. Alimentação funcional Luís Fernando de Moraes 421
44. Controle da obesidade com exercícios físicos Roberta Lins Reis Appel 437
Miriam Caramico
45. Principais doenças osteoarticulares dos felinos Ana Cláudia Fonseca 446
Alexandre Gonçalves Teixeira Daniel
46. Fisiatria em felinos Larissa Toyofuku 453
Ricardo Stanichi Lopes
47. Manejo fisiátrico do paciente neonatal Graciela Mabel Sterin 463
48. Reabilitação física em animais silvestres e exóticos Marcella Sanches 466
André Grespan
49. Patologias mais frequentes do cão atleta Jorge Luque Garrido 472
50. Controle neuromuscular do cão atleta Ângela Paula Neves Rocha Martins 479
António José Almeida Ferreira
51. Reabilitação em pacientes senis e geriatras Cristiane Letícia Ferreira de Toledo 485
52. Fisioterapia intensivista. Reabilitação em José Geraldo Meirelles Palma Isola 509
pacientes hospitalizados
53. Centros especializados em medicina veterinária. Sergio Ricardo Sacramento Lobato 516
Desafios da adequação
54. Infraestrutura e logística de atendimento Ricardo Stanichi Lopes 522
de um centro de reabilitação
55. Administração de um centro de reabilitação Plinio Francato dos Santos 531

16 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


CONTEÚDO DIGITAL

Lista de vídeos

Vídeo Página
Exame de luxação patelar 46
Exame de gaveta e compressão tibial 46
Teste de Ortalani 47
Exame de Bardens 48
Avaliação da marcha 51
Ataxia proprioceptiva 52
Ataxia cerebelar 52
Ataxia vestibular 52
Paraparesia com perda de força muscular 52
Mioclonia por sequela de cinomose 53
Teste de reação postural 53
Teste de saltitamento 54
Teste de resposta à ameaça 55
Avaliação de estrabismo 55
Reflexo patelar 56
Teste de reflexo flexor 57
QR CODE -
Teste de reflexo perineal 57 SAIBA COMO LER
Reflexo cutâneo do tronco 57 ESSES CÓDIGOS
UTILIZANDO O CELULAR
Teste de nocicepção 60
Simulação de FES 97
Tratamento com ultrassom de 3 MHz 113
Cada código quadrado ao lado é chamado de QR Code
Aplicação de laser classe IV 120 e pode conter informações como textos, endereços de
Strocking ou massagem relaxante 141 páginas na internet, mensagens SMS ou números de te-
lefone.
Effleurage ou deslizamento 141 Nessa obra, os QR Codes são utilizados para facilitar o
Massagem sobre os trigger points 142 acesso aos vídeos complementares.
Atualmente, a maioria dos telefones celulares já vem com
Alongamento passivo 144 o aplicativo para ler QR Codes. Há aplicativos para apa-
Hidromassagem em área do ombro 158 relhos celulares que utilizam os sistemas Android ou iOs.
Há vários leitores de QR Codes que podem ser baixados
Exercício em hidroesteira 159
gratuitamente. Basta procurar por leitor de QR Code (QR
Nado estacionado em hidroesteira 160 Code Reader). Alguns leitores de QR Code populares são
Hidroesteira com plataforma elevatória 160 Barcode Scanner, QR Code Reader, QR Droid e TapMe-
dia QR Reader.
Cão em piscina pública 162 Nos telefones mais modernos, o próprio aplicativo de fo-
Técnica de cavalete em esteira aquática 301 tografia do telefone já realiza a leitura de códigos de bar-
ras e de códigos QR Code, não sendo necessário a
Estimulação do reflexo flexor 302 instalação dos aplicativos específicos para leitura do có-
Exercício para reabilitação de ombro 323 digo QR Code.
Uma das vantagens do QR Code é que ele dispensa a
Ultrassom terapêutico em ombro 325
necessidade da digitação de longos endereços virtuais,
Movimento de gaveta cranial 345 tarefa não muito fácil em muitos celulares.
Teste de compressão tibial 345 Caso tenha dúvidas em utilizar o leitor de QR Codes, pro-
cure por vídeos no You Tube que mostram em poucos mi-
Síndrome do cão nadador 464 nutos como utilizar o celular como leitor de QR Code.
Setor de hidroterapia 529

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 17


1
Panorama mundial da fisiatria veterinária

Beate Egner
Barbara Bockstahler

M
uitos animais apresentam-se em uma condição Com o objetivo de avaliar os resultados, a goniometria
que requer um suporte adicional a cirurgia, admi- e perimetria, assim como escore de dor, devem ser realiza-
nistração de medicação ou outros tratamentos. dos pelo menos no início e final do período de tratamento.
Ao fornecer fisioterapia, reabilitação e medicina esportiva
o objetivo é restaurar, manter e promover a otimização da 2. A escolha da melhor modalidade e plano de
função, do condicionamento físico, bem-estar e qualidade tratamento adequado
de vida quando relacionados a desordens de movimento e Sem um alto nível de conhecimento, o terapeuta pode
saúde (Figura 1). Isso inclui tratar pacientes durante a sua prejudicar severamente o paciente. Ao especializar-se neste
recuperação de procedimentos cirúrgicos ortopédicos ou campo, deve-se prestar especial atenção a cursos com:
neurológicos (por exemplo, ostectomia da cabeça do fêmur • ensino de formação científica completo (pode ser e-
e hemilaminectomia), monitorar programas de perda de learning);
peso, fortalecer grupos musculares específicos, e auxiliar • ensino de modalidades e exercícios baseados em evidên-
no gerenciamento de condições crônicas (exemplo, osteoar- cias;
troses) ou progressivas (mielopatia degenerativa), assim • docentes especialistas na área com um longo histórico de
como aumentar o bem-estar. experiência. O principal responsável deve ser, idealmente,
Portanto, além das primeiras indicações, a fisiatria pode um especialista líder mundial, internacionalmente reconhe-
claramente melhorar a qualidade de vida do paciente, in- cido por publicações científicas, com um alto nível de es-
clusive naqueles pacientes com doenças cardíacas, na tera- pecialização (como as certificações internacionais de
pia intensiva e com câncer. Na medicina esportiva, a universidades norte-americanas para especializações reco-
fisiatria é direcionada a preparo físico (condicionamento nhecidas globalmente, e/ou certificações como a “American
cardiovascular e muscular) e prevenção de lesões. College of Veterinary Sports Medicine and Rehabilitation”
e a partir do final de 2018, também a certificação europeia
OBJETIVOS DA FISIATRIA “European College of Veterinary Sports Medicine and Re-
● Controle de dor. habilitation”;
● Melhoria na amplitude de movimento articular (da sigla • estudo e treinamento na área através de educação conti-
inglês, ROM–Range of Motion). nuada com cursos, conferências locais e internacionais,
● Manutenção e ganho da massa muscular. webinars etc.
● Melhoria da força muscular. Além disso, recomenda-se tornar-se membro de uma
● Aperfeiçoamento da condição corporal como um todo. associação de reabilitação nacional ou internacional, já que
● Emagrecimento em pacientes com sobrepeso e obesos. é importante para contatos, troca de experiências e suporte
● Medicina preventiva para cães de trabalho ou esporte. em casos difíceis.
Alguns desses grupos são:
Particularmente, no cuidado pós-operatório de pacien- • Agrupação Ibero-americana de fisiatria veterinária
tes, a fisiatria pode diminuir significativamente o tempo de (Aifisvet);
recuperação e melhorar o resultado final. • International Association of Veterinary Rehabilitation
O sucesso do tratamento fisiátrico depende sobretudo and Physical Therapy (IAVRPT);
de: • Veterinary European Physiotherapy and Rehabilitation
1. diagnóstico correto; Association (Vepra);
2. nível de conhecimento do terapeuta para a escolha da • e numerosas associações locais em todos os países do
melhor modalidade e plano de tratamento adequado; mundo.
3. abordagem em equipe;
4. colaboração e empenho do tutor. 3. Abordagem em equipe
A implementação bem-sucedida da reabilitação e da fi-
1. Diagnóstico correto sioterapia depende substancialmente da abordagem em
Antes do início do tratamento fisiátrico, um exame clí- equipe. Enquanto é responsabilidade do veterinário diag-
nico minucioso deve ser realizado, assim como possíveis nosticar, identificar a lista de problemas e preparar um plano
exames complementares. Nunca iniciar um programa de de tratamento, um enfermeiro ou auxiliar veterinário é es-
reabilitação sem um diagnóstico clínico. Além do exame sencial no apoio a execução do tratamento assim como na
físico deve-se dar uma atenção especial para a condição comunicação com o tutor. Outro ponto muito importante é
muscular geral, simetria, tônus e amplitude de movimento a comunicação com o tutor, enquanto o veterinário detalha
passivo das articulações. o diagnóstico e o plano geral de tratamento brevemente ao

18 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 1 – Panorama mundial da fisiatria veterinária

tutor, o enfermeiro pode abordar as preocupações e dúvidas de seu animal. Mesmo com atividades em casa, certifique-
do tutor, para sua total satisfação. Desta maneira, a adesão se de agendar consultas regulares para avaliar o tratamento
e comprometimento do tutor é alta e o resultado final do domiciliar, e por último, mas não menos importante, para
tratamento é significativamente melhor. Um fisioterapeuta dar feedback positivo ao tutor. Isto pode aumentar drasti-
humano também pode acrescentar valor no serviço, quando camente o comprometimento do mesmo.
permitido sua atuação em cada pais. Consultar um fisiote- Em resumo, fisiatria, reabilitação e medicina esportiva
rapeuta humano pode adicionar novas ideias derivadas do é um campo da medicina veterinária com crescimento rá-
tratamento humano, que podem não estar comprovadas por pido e muito gratificante. Taxas de crescimento acima de
estudos em animais, mas uma vez confirmadas com estu- 180% foram mostradas em diferentes países nos últimos 3
dos acadêmicos podem resultar em sucesso. anos, com tendência a crescer.
Para incluir esse serviço de forma bem-sucedida e res-
4. A colaboração e empenho do tutor ponsável na sua prática ou começar uma clínica exclusiva-
O sucesso da fisiatria veterinária depende fortemente de mente dedicada a fisiatria, é essencial ser treinado pelos
um bom comprometimento do tutor em conjunto com a cor- melhores docentes, ter como base evidências, organizar um
reta escolha do tratamento e potencial resultado final. serviço com abordagem em equipe e ativamente incluir o
A fim de obter apoio total do tutor, um plano adicional tutor no processo de tratamento.
de tratamento em casa precisa ser desenvolvido e treinado
com o tutor. Idealmente combinar exercícios de fortaleci- COMO CITAR ESSE CAPÍTULO
mento com crioterapia, técnicas de massagem superficial EGNER, B. ; BOCKSTAHLER, B. Panorama mundial
e até mesmo tratamento com TENS em casa. da fisiatria veterinária. In: LOPES, R. S. ; DINIZ, R.
Ao longo dos anos, foi possível demonstrar que os tu- Fisiatria em pequenos animais. 1a ed. São Paulo :
tores apreciam estar intensamente envolvidos e sentem-se Editora Inteligente, 2018. p. 18-19. ISBN 978-85-
especialmente orgulhosos quando participam na reabilitação 85315-00-9.

Figura 1 – O objetivo do especialista: restaurar, manter e promover a otimização da função, do condicionamento físico,
bem-estar e qualidade de vida quando relacionados a desordens de movimento e saúde

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 19


2
Histórico da fisiatria veterinária no Brasil

Ricardo Stanichi Lopes

N
a medicina, o fisioterapeuta é o profissional for- o que facilitou a abertura de novos centros de reabilitação
mado na faculdade de fisioterapia, já o fisiatra é em todo o país.
o profissional formado em medicina com espe- Nesse mesmo período, ressurgiram os primeiros cursos
cialidade em terapia física e reabilitação. Fazendo um pa- de pós-graduação em fisiatria veterinária, porém ainda com
ralelo com a medicina veterinária, deveríamos chamar professores provenientes da fisioterapia humana. De qual-
nossa especialidade de fisiatria veterinária e nossa titula- quer modo, esses cursos passaram a formar profissionais
ção de fisiatra e não fisioterapeuta veterinário. Visando à capacitados especificamente em fisiatria, o que represen-
divulgação dessa diferença, os presentes autores decidi- tava um avanço dessa área da medicina veterinária.
ram nomear esta obra com o título de fisiatria, sendo o Em 2010, dá-se mais um passo rumo à consolidação da
primeiro livro, na literatura mundial, com essa nomencla- fisiatria veterinária: inaugura-se a primeira rede de centros
tura. de reabilitação animal do Brasil. O surgimento de redes de
Bem estabelecida na medicina humana, a fisioterapia centros de reabilitação aumentou a visibilidade da fisiatria
começou a ser empregada em equinos, no início da década no mercado veterinário, tanto para profissionais – que pas-
de 90, para tratamento de lesões desportivas. Ao final da saram a vislumbrar nela uma oportunidade de atuação –
década de 90, a fisiatria veterinária começou a ser integrada como para ortopedistas e neurologistas - que começaram a
à rotina clínica de pequenos animais, com profissionais perceber profissionalismo e unificação dentro dos protoco-
atuando primeiramente à domicílio. Naquela época, ainda los de atendimento da fisiatria veterinária1.
não existiam cursos de formação e pós-graduação em fi- O crescente interesse de veterinários e investidores pela
siatria veterinária, muito menos estudos na área. Sendo abertura de centros de reabilitação próprios ou conjugados
assim, técnicas eram adaptadas da fisioterapia e fisiatria a centros veterinários, como hospitais e centros de especia-
humana em animais. lidades, fez com que o sistema de franquias e licenciamento
Aproveitando-se da lacuna causada pela inexistência de de marca começasse a ser implementado em 2012, com a
formação em fisioterapia específica para médicos veteriná- inauguração da primeira unidade de marca licenciada em
rios, muitos fisioterapeutas humanos enxergaram aí um po- reabilitação animal, em São Sebastião, litoral norte de São
tencial mercado de trabalho e começaram a oferecer seus Paulo 1,2.
serviços para o tratamento de pequenos e grandes animais. Como consequência da expansão e da unificação da es-
Isso a despeito de a lei 5.517, de 23 de outubro de 1968, pecialidade, foram lançados diversos cursos de formação
que determina que o tratamento de animais é privativo do e pós-graduação. Além disso, passaram a ser organizados
médico veterinário, e a despeito de os fisioterapeutas hu- simpósios e cursos de certificação internacional, auxiliando
manos desconhecerem anatomia, fisiologia, biomecânica e o desenvolvimento e divulgação da fisiatria veterinária no
fisiopatologia das afecções que acometem outros animais, Brasil.
que não os seres humanos. Outra consequência da expansão da fisiatria veterinária
A fisiatria veterinária viu seu reconhecimento aumentar se faz sentir no mercado: até publicação desta obra existiam
no mercado veterinário no início deste século, como o pri- no Brasil mais de 200 esteiras aquáticas produzidas em ter-
meiro curso de pós-graduação em 2002 e com a inaugura- ritório nacional (Figura 1). Havia também redes de centros
ção do primeiro centro de reabilitação do país, em 2003. de reabilitação com mais de 25 unidades e com projeto de
Esse centro prestava somente serviços de reabilitação ani- expansão de marca para outros países.
mal e importou a primeira esteira aquática para animais, Infelizmente, a especialidade fisiatria veterinária ainda
difundindo a importância da hidroterapia no processo de não é regulamentada pelo CFMV do Brasil e os profissio-
reabilitação. nais que atuam na área não passam por provas de titulação
Alguns anos mais tarde, houve mais um passo rumo à para exercer a especialidade, o que tende a atrair profissio-
consolidação da fisiatria veterinária: em 2005 foi fundada nais com pouca formação, diminuindo a qualidade do ser-
a Anfivet (Associação Nacional de Fisioterapia Veterinária) viço prestado e, com isso, a imagem da especialidade no
e em 2006, o Conselho Federal de Medicina Veterinária mercado veterinário.
(CFMV) publicou a Resolução n. 850, de 5 de dezembro Esta obra pretende não apenas contribuir para a solidi-
de 2006, que dispõe sobre a fisioterapia animal e dá outras ficação da fisiatria veterinária no mercado nacional de ani-
providências, estabelece que o médico veterinário é o único mais domésticos. Ela visa sobretudo a difundir – no
profissional capacitado para realizar procedimento de fi- cenário nacional e internacional – o conhecimento adqui-
sioterapia em animais 3. Nesse mesmo ano começaram a rido pelos autores dos vários capítulos aqui apresentados,
ser produzidas em território nacional as primeiras esteiras para que a fisiatria veterinária brasileira se torne uma re-
hidroterápicas, com custo muito menor que as importadas, ferência mundial.

20 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 2 – Histórico da fisiatria veterinária no Brasil

Referências COMO CITAR ESSE CAPÍTULO


1. BARRETTO, A. V. P. Novos Centros de reabilitação animal. Clínica LOPES, R. S. Histórico da fisiatria veterinária no Brasil.
Veterinária. Ano XIX, n. 112. setembro/outubro, 2014. In: LOPES, R. S. ; DINIZ, R. Fisiatria em pequenos
2. FERREIRA, I. Veterinário fisioterapeuta reabilita saúde de animais animais. 1a ed. São Paulo : Editora Inteligente. 2018.
de estimação. Jornal da USP, março, 2016. Disponível em:
<http://www5.usp.br/104188/veterinario-fisioterapeuta-reabilita-
p. 20-21. ISBN 978-85-85315-00-9.
saude-de-animais-de-estimacao>. Acesso em: 18 de abril de 2018.
3. SGUARIZI, G. CFMV regulamenta fisioterapia veterinária. CRMV-
PR, n. 22, Ano V, p. 10-11, 2007.

Figura 1 - Cão em esteira aquática produzida no Brasil Arthur Paes Barretto

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 21


3
Anatomia do aparelho locomotor. Sistemas ósseo, articular e muscular
Maurício Melo de Silvio
Rafael Magdanelo Leandro
Fábio César Prosdócimi

O
aparelho locomotor é um sistema complexo, que ósseo trabecular e cortical, uma membrana externa de te-
engloba as estruturas encarregadas na sustentação, cido conjuntivo externa denominada periósteo e uma mem-
proteção de órgãos internos e progressão do corpo. brana interna, o endósteo, a medula óssea, vasos
A organização do aparelho locomotor se dá através de sanguíneos e nervos.
ligações cinemáticas rígidas entre ossos na forma de arti- O tecido ósseo é um tecido conjuntivo especializado
culações formando o esqueleto. O esqueleto constitui o ar- cuja matriz extracelular é mineralizada. A matriz é com-
cabouço corpóreo, fornece superfície de inserção para os posta em 90% por fibras colágenas e substância base, em
músculos estriados esqueléticos e determina as caracterís- sua maior parte formada por fosfato de cálcio e 10% por
ticas fenotípicas 1. células como osteoblastos, osteócitos, osteoclastos e células
O esqueleto pode ser dividido em axial, apendicular e indiferenciadas 6,7.
visceral. O esqueleto axial corresponde ao maior eixo do As propriedades mecânicas do tecido ósseo são deter-
corpo, contribuindo para postura e proteção de partes moles minadas pela percentagem e distribuição dos três compo-
sendo formado pelo crânio, coluna vertebral, costelas e es- nentes. As porcentagens relativas desses materiais variam
terno. O esqueleto apendicular é formado pelos ossos dos com a idade e a saúde do osso.
membros torácicos e pélvicos. Sua função é prover susten- A porção orgânica corresponde a 35% da matriz extra-
tação do tronco e favorecer seu deslocamento. O esqueleto celular, conferindo viscoelasticidade tecidual sem perda clí-
visceral corresponde a ossos no interior de tecidos moles, nica da dureza. O principal constituinte da matriz orgânica
como o osso peniano dos carnívoros 1-3. são fibras de colágeno tipo I, fibras de elastina e fibras re-
Os ossos podem ser classificados de acordo com sua ticulares 5,8. A maior parte da água é encontrada em torno
forma e função, levando-se em consideração seu compri- das fibras colágenas, organizadas de acordo com as forças
mento, largura e espessura 1. Os ossos longos são localiza- que a região recebe. Quando forças externas são aplicadas
dos no esqueleto apendicular e servem como alavancas ou quando uma tensão é exercida no tecido ósseo, estas fi-
para a locomoção e sustentação do tronco. São expostos a bras se organizam alongando-se e emparelhando nas linhas
forças de arqueamento, compressão e tensão, apresentando de força de tensão 9. A característica de dureza e resistência
comprimento elevado e ampla área de secção transversa. à deformação, sobretudo para as forças de compressão,
Quanto maior o comprimento maior a resistência para as deve-se aos componentes inorgânicos que constituem 65%
forças de envergamento. Estes ossos têm, forma tubular, da matriz 8. O componente inorgânico é formado por fos-
portanto a mesma resistência para forças perpendiculares fato de cálcio, carbonato de cálcio e geralmente constitui
aplicadas em qualquer direção. Outra característica biome- aproximadamente 70% do peso seco do osso. Outros mi-
cânica importante é apresentar um grande momento de área nerais como magnésio, sódio e flúor também tem funções
de inércia. Esta grandeza considera a densidade óssea na estruturais e metabólicas para crescimento e desenvolvi-
área de secção transversa e a distribuição de tecido ósseo mento ósseo.
em torno do eixo neutro, a linha imaginária que percorre O tecido ósseo é classificado em duas categorias, com
eixo axial do osso 4,5. Temos como exemplos o fêmur, a base na sua porosidade. Se a porosidade for baixa, com 5 a
tíbia, o úmero, o rádio e a ulna. Os ossos curtos são aqueles 30% do volume do osso ocupado por tecido não minerali-
com as três dimensões semelhantes (comprimento, largura, zado, é chamado osso cortical, sendo denso, homogêneo e
espessura). Possuem, em geral, forma quadrilátera, e têm anisotrópico e difere em espessura em várias situações, de
como função a proteção contra choques mecânicos. Temos conformidade com as pressões e tensões para as quais o
como exemplo os ossos do tarso, do carpo e os sesamoides. osso está sujeito 10. Corresponde a 80% do tecido ósseo.
Os ossos planos são aqueles que apresentam o compri- Nos ossos longos, o osso cortical é encontrado na diáfise,
mento e a largura equivalentes e maiores que a espessura. o ponto de convergência das forças durante movimento de
Têm como função principal a proteção, e também apresen- alavanca. O osso cortical é mais forte numa orientação lon-
tam áreas para a inserção de músculos. Temos como exem- gitudinal do que na direção tangencial 11. Isso ocorre prin-
plo o parietal, o frontal, a escápula e partes do coxal. Os cipalmente pelo fato dos osteons serem orientados ao longo
ossos alongados são ossos longos, porém achatados e não do eixo longitudinal do osso 5,11-13.
apresentam canal medular (exemplo: costelas) e os ossos O tecido ósseo com uma porosidade relativamente alta,
irregulares que são aqueles que não podem ser classificados de 30% a 90% do volume ocupado por tecido não minera-
em nenhuma das categorias anteriores. Normalmente são lizado, é conhecido como esponjoso ou trabecular, e corres-
estruturas medianas e ímpares. Como exemplos temos os ponde a 20% do tecido ósseo, com uma estrutura de colmeia
ossos da base do crânio e as vértebras. com trabéculas mineralizadas em disposição horizontal e
A arquitetura óssea é composta principalmente de tecido vertical, sem osteons. A arquitetura trabecular dá leveza a

22 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 3 – Anatomia do aparelho locomotor. Sistemas ósseo, articular e muscular

construção, pois é 25% menos denso, 10% menos rígido e As sincondroses possuem a habilidade de resistir às for-
mais de cinco vezes mais flexível quando comparado ao ças de tensão, compreensão, cisalhamento ou torção 15.
cortical. Os ossos trabeculares armazenam grande quanti- As sínfises são ligeiramente complexas. Os ossos que
dade de energia e admitem deformação de 75% 14. se articulam são separados por uma sucessão de tecidos
A coluna vertebral e as epífises, além de sustentar o es- (osso- cartilagem hialina- fibrocartilagem- cartilagem hia-
queleto, absorvem diariamente cargas, são construídas de lina- osso), podemos citar as sínfises intervertebrais, a men-
osso trabecular, já que sua estrutura porosa tem grande ca- toniana, a púbica e a manubrioesternal 15.
pacidade de se deformar e armazenar energia. O osso cor- As sínfises se ossificam totalmente ou em parte. As sin-
tical é mais rígido e suporta maior tensão então será condroses e as suturas são essencialmente mecanismos de
encontrado principalmente em ossos longos 13. crescimento, e, quando ele termina, o tecido de união sofre
uma substituição progressiva por tecido ósseo, denominado
ARTROLOGIA sinostose 15.
Por sua natureza rígida e o modo de crescimento do teci-
do esquelético torna-se essencial que o esqueleto consista em Diartroses
múltiplos elementos ósseos ligados a seus vizinhos por uma Permitem amplos movimentos e, para isso, necessitam
variedade de arranjos estruturais. Essas adaptações são agru- de uma maior organização estrutural.
padas como artroses (articulações, junturas ou junções) 15. Estruturalmente as articulações sinoviais devem pos-
A etimologia da palavra articulação (art.), do grego suir: cápsula articular (fibrosa e celular): envolve toda a ar-
Arthron e do latim Articulatio, significa encaixe, junta dos ticulação e delimita um espaço articular próprio; cavidade
ossos e sindesmo (grego) que significa ligação, diferente- articular: espaço entre as superfícies articulares, delimitado
mente do que reproduzimos, sua etiologia não significa mo- pela cápsula articular; líquido sinovial: preenche a cavidade
vimento 16. articular com importantes funções (lubrificação e nutrição
Articulações são essencialmente meios de união entre das cartilagens articulares); superfícies articulares: são as
estruturas, com diferentes funções: junção de 2 ou mais extremidades ósseas; cartilagem articular (hialina): reveste
ossos, estabilizar e unir 2 ou mais ossos com ou sem mo- as superfícies articulares e, os ligamentos (ligamento)s: cin-
vimento, facilitar o crescimento dos ossos e resistir à pres- tas de tecido conjuntivo fibroso que unem os ossos.
são predominante na superfície dos ossos. As articulações Assim como as anfiartroses, as diartroses possuem uma
podem realizar uma das funções isoladamente, uma com- diversidade de classificações, seguindo critérios morfoló-
binação delas, ou todas elas simultaneamente 17. gicos e funcionais.
As articulações são classificadas de diversas maneiras,
e utilizaremos a classificação aceita na medicina. Sendo Classificações e movimento
assim, movimentar-se ou não depende na natureza do tipo Diversos critérios são utilizados para classificar as arti-
de tecido que encontramos fazendo essa união ou da quan- culações sinoviais (diartroses) e seus movimentos, mas
tidade de movimentos que ela permite que seja realizado. estas classificações diferem em universalidade, exatidão
científica e utilidade 15.
Sinartroses (sutura, gonfose e sindesmose) A maioria das articulações sinoviais possuem duas su-
A maioria das sinartroses são articulações fibrosas, perfícies, macho e fêmea, sendo denominadas simples, ex:
ocorrem no crânio e são conhecidas como suturas. Possuem articulação do ombro. Articulações com mais de duas su-
uma estreita faixa de tecido conjuntivo denso entre as mar- perfícies são articulações compostas, ex: o cotovelo. Arti-
gens ósseas18. Desempenham um importante papel no cres- culações complexas possuem estruturas acessórias como
cimento do crânio, permitindo o crescimento por toda sua discos ou meniscos (exemplo: o joelho).
extensão 1. São descritos cinco tipos de suturas: plana, ser- As superfícies articulares são na sua grande maioria
reada, escamosa, folhosa e a esquindilese 18. adaptadas ao encaixe com o outro osso, sendo chamadas
Nas sindesmoses, também fibrosas, encontramos uma articulações congruentes. As articulações que não possuem
área maior preenchida por tecido conjuntivo formando cur- encaixe perfeito são denominadas incongruentes, necessi-
tos ligamentos, possuindo movimentos muito limitados. tando de elementos que melhorem a coaptação. Temos aqui
As gonfoses são articulações entre os dentes e alvéolos o joelho, com os meniscos.
dentários 1. As articulações trabalham em torno de três eixos perpen-
diculares que correspondem aos eixos do corpo (longitudi-
Anfiartroses (sincondrose e sínfise) nal, transversal e mediano). Quando o movimento é
Se a maioria das articulações fibrosas são suturas, a limitado à rotação em um eixo a articulação é denominada
maioria das articulações cartilaginosas são sincondroses. uniaxial, possuindo um grau de liberdade articular. Se ocor-
Elas se encontram entre as epífises e diáfises dos ossos lon- rerem movimentos independentes sobre dois eixos a articu-
gos, formando as zonas metafisárias 1, unindo alguns ossos lação é biaxial, possuindo dois graus de liberdade articular.
do crânio, conhecidas como sincondroses cranianas e em Ocorrendo movimentos sobre três eixos, a articulação é
articulações esternais 15. multiaxial, possuindo três graus de liberdade articular.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 23


Capítulo 3 – Anatomia do aparelho locomotor. Sistemas ósseo, articular e muscular

Os movimentos articulares podem ser classificados em Nas articulações do tipo bicondilar (condilar) as super-
movimentos angulares (flexão/extensão e adução/abdução), fícies são compostas por dois côndilos (convexos) que se
movimentos rotacionais (medial/lateral), movimento de encaixam em superfícies côncavas correspondentes, deno-
translação (deslizamento) e o movimento de circundação. minadas côndilos. São articulações uniaxiais, mas também
Normalmente esses quatro movimentos são combinados realizam rotação limitada a um eixo ortogonal ao primeiro.
em variedades infinitas 15. A rotação pode ser conjunta, um acompanhamento integral
A translação envolve o movimento de deslizamento, e inevitável e ao movimento principal, ou adjunta, que pode
sendo movimento mais simples de uma articulação sino- ser independente podendo ou não acompanhar o movi-
vial, onde uma superfície simplesmente desliza sobre a mento principal, como exemplos temos a articulação do
outra, sem angulações ou rotações apreciáveis 15. joelho e a articulação temporomandibular.
Nos movimentos angulares ocorre uma alteração no ân- Nas articulações do tipo elipsoide as superfícies são
gulo entre as partes ósseas e são movimentos pendulares compostas por uma face oval convexa (macho) oposta a
que podem ocorrer em dois planos diferentes. Na extensão uma concavidade oposta elíptica (fêmea). São articulações
temos um movimento pendular sobre o plano mediano (sa- biaxiais, realizando movimentos em torno de dois eixos or-
gital) com o aumento do ângulo articular e o afastamento togonais (extensão e flexão, adução e abdução). Podemos
das partes ósseas, enquanto que na flexão ocorre uma di- citar como exemplos a articulação rádio cárpica do cão.
minuição do ângulo articular e a aproximação das partes Na articulação do tipo selar as superfícies articulares
ósseas. Na adução e abdução temos um movimento pendu- côncavas e convexas de um lado se articulam com superfí-
lar sobre o plano transversal e o movimento ocorre com re- cies côncavas e convexas da outra superfície. São biaxiais,
lação aos membros e ao plano mediano, onde a abdução com movimentos em torno de dois eixos ortogonais (ex-
afastará os membros da linha mediana e a adução será ao tensão e flexão, adução e abdução). Como exemplos a ar-
contrário, aproximará os membros da linha mediana 1. ticulação interfalangiana distal do cão.
Nos movimentos rotacionais, o osso móvel gira ao redor Nas articulações do tipo esferoides as superfícies arti-
de um plano perpendicular à sua superfície articular, sobre culares são formadas pela recepção de um lado de uma
um eixo longitudinal 1. Um exemplo ocorre entre o dente “cabeça” globoide dentro de um cálice oposto. São articu-
do áxis e o atlas. A supinação (rotação lateral do membro) lações multiaxiais, com três graus de movimentos. Como
é um movimento rotacional onde a superfície palmar fica exemplos temos a articulação do úmero (ombro, escápulo-
a mostra, relacionado com o movimento do pedinte. A pro- umeral) e do coxal (quadril, coxofemoral).
nação (rotação medial do membro) é o movimento inverso,
onde escondemos a palma e mostramos o dorso da mão, Miologia
descrito como o movimento da bênção na igreja 2. Os ossos e articulações operam um sistema de alavan-
A circundação é o movimento mais complexo que uma cas, sendo chamados de elementos passivos. Para ocorrer
articulação pode realizar, pois, os movimentos acontecem um movimento necessitamos de um componente ativo que
de maneira combinada sendo necessário pelo menos um é o músculo.
grau de deslizamento, extensão, flexão, adução, abdução, O tecido muscular é constituído por células alongadas,
onde a extremidade do membro deve ser capaz de descre- que contêm grande quantidade de filamentos citoplasmáticos
ver uma elipse no espaço 15. de proteínas contráteis, as quais, por sua vez, geram as forças
As articulações sinoviais são classificadas de acordo necessárias para a contração desse tecido, utilizando a ener-
com o formato de suas superfícies articulares. Descrevere- gia contida nas moléculas de ATP. As fibras musculares estão
mos aqui as classificações mais comuns segundo Dyce organizadas em grupos de feixes, sendo o conjunto de feixes
(1997), Gray (1995), Getty (1986) e Konig (2011). envolvidos por uma camada de tecido conjuntivo chamada
Nas articulações do tipo planas as superfícies articulares epimísio, que recobre o músculo inteiro. Do epimísio partem
são quase planas. Permitem movimentos simples como o finos septos de tecido conjuntivo que se dirigem para o inte-
de translação (exemplo: algumas articulações intercarpais). rior do músculo, separando os feixes. Esses septos constituem
Nas articulações do tipo gínglimo (dobradiça) as super- o perimísio. Assim, o perimísio envolve os feixes de fibras.
fícies assemelham-se a dobradiças, sendo uma superfície Cada fibra muscular, individualmente, é envolvida pelo en-
cilíndrica e outra escavada, formando sulcos e cristas 1, a domísio. O tecido conjuntivo mantém as fibras musculares
movimentação acontece apenas em um plano, possui fortes unidas, possibilitando que a força de contração gerada por
ligamentos colaterais. São uniaxiais, por exemplo a articu- cada fibra individualmente atue sobre o músculo inteiro.
lação úmero ulnar e entre articulação entre a tíbia e o tálus. Este papel do conjuntivo tem grande significado funcional
Nas articulações do tipo trocoide (pivô) as superfícies são porque na maioria das vezes as fibras não se estendem de
compostas por um segmento em formato de pino (pivô) en- uma extremidade do músculo até a outra. É ainda por meio
caixado em um anel permitindo a rotação somente no eixo do tecido conjuntivo que a força de contração do músculo
em torno do pivô. São uniaxiais, por exemplo a articulação se transmite a outras estruturas, como tendões e ossos 19.
entre a cabeça do rádio e a incisura radial da ulna, e o dente As fibras musculares esqueléticas podem ser classificadas
do áxis e o atlas. em tipo I- contração lenta (fibras vermelhas ou escuras) e

24 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 3 – Anatomia do aparelho locomotor. Sistemas ósseo, articular e muscular

tipo II - contração rápida (fibras brancas ou pálidas). Os mús- um agonista, ou seja, um músculo que promove ação. Os
culos esqueléticos provavelmente são, em sua maior parte, músculos com ações opostas às dos agonistas podem agir
uma mistura desses tipos, mas, em alguns animais, pode como antagonistas, ou opositores, porque produzem contra-
haver o predomínio de um músculo em relação a outro 20. ção excêntrica ao mesmo tempo que os agonistas realizam
As fibras tipo I dependem grandemente do metabolismo o movimento. Os agonistas e os antagonistas estão posicio-
aeróbio da glicose e dos ácidos graxos para obtenção de nadas tipicamente em lados opostos de uma articulação 14.
energia. São capazes de atividade prolongada, mas respon- Portanto para que haja equilíbrio, estabilidade e mobi-
dem com contração lenta. Essas fibras são oxidativas. As lidade do arcabouço ósseo, é importante que os grupos
fibras tipo II derivam sua energia principalmente da glicó- musculares agonistas e antagonistas estejam anatomicamente
lise anaeróbia. Essas fibras fatigam com mais rapidez, inseridos junto aos ossos formando um sistema de alavancas.
porém são capazes de contração rápida e, portanto, são en-
contradas em maiores proporções em grupos de músculos Esqueleto axial
que movem rapidamente os membros. As fibras tipo II são A coluna vertebral consta com aproximadamente cin-
subdivididas em fibras IIB (um tipo puramente glicolítico) quenta ossos irregulares arranjados em cinco grupos: as vér-
e fibras IIA (um tipo oxidativo-glicolítico intermediário). tebras cervicais, as torácicas, as lombares, as sacrais e as
Raramente os músculos são compostos de apenas um tipo caudais (ou coccígeas), possuindo dessa maneira a se-
de fibra. Cães não apresentam fibras tipo IIB 21. guinte fórmula vertebral C7 T13 L7 S3 Cd1-20. Uma vér-
Por fim, tem sido descrito um tipo de fibras IIC, também tebra típica possui um corpo, um arco, processos
denominadas por fibras transicionais, por serem conside- espinhosos, processos transversos e processos articulares
radas os percursores primitivos das outras fibras muscula- craniais e caudais 23,24.
res. Contudo, não estão presentes em todos os músculos e As vértebras são estabilizadas por ligamentos: longitu-
representam apenas 2% das fibras musculares no cão 22. dinal ventral, na superfície ventral dos corpos vertebrais,
Quando são excitados frente a um estímulo encurtam do sacro até o áxis; o longitudinal dorsal, no assoalho do
suas fibras (contração) e após a passagem do estímulo re- canal vertebral, do sacro até áxis e os amarelos (interespi-
laxam e as fibras voltam a seu comprimento de repouso 2. nhais, supraespinhal e o ligamento nucal) 23.
As quatro propriedades comportamentais do tecido As costelas são em número de treze no cão e possuem
muscular são a extensibilidade, a elasticidade, a irritabili- uma parte ventral cartilaginosa, a cartilagem costal. As
dade e a capacidade de produzir tensão 14. nove primeiras costelas são chamadas costelas esternais (ou
Quando um músculo ativado produz tensão, o total de verdadeiras) e as quatro últimas de asternais (ou falsas). O
tensão presente é constante ao longo do comprimento do último par de costelas é chamado de costelas flutuantes 23.
músculo, bem como nos tendões e nos locais de junção Uma costela típica consta de uma cabeça (cada cabeça
musculotendínea no osso. A força de tensão produzida pelo da costela se articula com uma fóvea costal caudal de uma
músculo puxa os ossos associado e gera um torque nas ar- vértebra (meia superfície) e com a fóvea costal cranial da
ticulações que o músculo cruza 14. vértebra na sua sequência (meia superfície), um tubérculo
Quando a tensão muscular produz um torque maior do da costela (que se articula com a fóvea costal do processo
que o torque resistivo em uma articulação, o músculo en- transverso), um colo e um corpo. Nos três últimos pares de
curta, causando mudança no ângulo da articulação. Quando costelas se articulam somente com suas vértebras 23.
o músculo encurta, a contração é concêntrica e o movimento
articular resultante ocorre na mesma direção do torque lí- Articulação temporomandibular – Quadro 1
quido gerado pelos músculos. Uma única fibra muscular é Articulação condilar incongruente, formada pelo pro-
capaz de encurtar até aproximadamente metade de seu com- cesso condilar da mandíbula e a fossa mandibular do osso
primento normal em repouso. Quando tensão muscular é temporal. Dividida em duas cavidades por um disco arti-
produzida, mas não ocorre mudança no comprimento mus- cular fibrocartilaginoso 1, 3, 24. A cápsula articular se insere
cular, a contração é isométrica. Quando os torques opostos nas margens da superfície articular do temporal e da man-
em uma articulação excedem o torque produzido pela tensão díbula e na circunferência do disco fibrocartilaginoso. A
em um músculo, o músculo se alonga. Quando um músculo cápsula é reforçada lateralmente pelo ligamento lateral 24.
se alonga à medida que é estimulado a produzir tensão, a A articulação entre as metades direita e esquerda da man-
contração é excêntrica e a direção do movimento articular díbula são sínfises que permitem a acomodação da dentição
é oposta ao do torque líquido do músculo 14. durante a mordida.
Um músculo ativado pode fazer apenas uma coisa:
produzir tensão. Entretanto, como o músculo raramente Articulação atlanto-occipital e atlanto-axial
atua isoladamente, às vezes nos referimos à função ou ao As articulações atlanto-occipital e atlanto-axial compar-
papel que um determinado músculo realiza em conjunto tilham uma cavidade articular formada entre os côndilos
com outros músculos que cruzam a mesma articulação. do occipital e o atlas e o atlas e o áxis 23.
Quando um músculo contrai e produz movimento em um A articulação atlanto-occipital é composta por duas ar-
segmento corporal em uma articulação, ele está agindo como ticulações elipsoides formadas entre os côndilos occipitais

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 25


Capítulo 3 – Anatomia do aparelho locomotor. Sistemas ósseo, articular e muscular

e as concavidades correspondentes do atlas. As duas cavi- podem obter abdução de 60º, pronação de 35º e supinação
dades articulares permanecem separadas dorsalmente, mas de 45º 3.
se comunicam ventralmente em carnívoros 3,23,24. Devido à ausência de ligamentos colaterais no ombro,
A articulação atlanto-axial é uma articulação trocoide os tendões e os músculos atuam como ligamentos e dão
formada pelo dente do áxis e sua cavidade correspondente sustentação à articulação. O tendão do músculo subesca-
do atlas. A face articular é aumentada pelas fóveas articu- pular atua como o ligamento colateral medial, e o tendão
lares caudais do atlas e das fóveas articulares craniais do do músculo infraespinal atua como o ligamento colateral
áxis 3,23,24. lateral. A cápsula articular obtém sua força internamente
devido a faixas de colágeno e fibras com os ligamentos gle-
Articulações intervertebrais noumerais medial e lateral. Em carnívoros, o ligamento
As articulações intervertebrais combinam sínfises entre transverso do úmero conecta o sulco bicipital e mantém o
os corpos vertebrais e as articulações sinoviais entre as tendão bicipital no lugar 23.
faces articulares craniais e caudais. As extremidades cra-
niais e caudal de duas vértebras adjacentes são conectadas Articulação do cotovelo – Quadro 3
por discos intervertebrais 1,3. A articulação do cotovelo (Figura 3) é uma articulação
do tipo gínglimo (dobradiça), composta 1,2,3.
ARTICULAÇÕES DO MEMBRO TORÁCICO É uma articulação uniaxial, com amplitude de movi-
mentos restritos a flexão e extensão. Os sulcos e as cristas
Articulação do ombro – Quadro 2 das superfícies articulares do rádio e da ulna (incisura tro-
A articulação do ombro (Figuras 1 e 2) é uma articulação clear) com a do úmero (tróclea) impedem movimentos la-
esferoide típica, simples, que une a cavidade glenoide da es- terais ou rotatórios. No gato, a amplitude de movimento
cápula à cabeça do úmero. Um anel fibrocatilaginoso, o lábio no plano sagital é limitada a 140º. No cão é possível al-
glenoidal, parte da borda da cavidade para deixá-la mais pro- cançar uma extensão entre 100º e 140º, dependendo da
funda 1-3. É uma articulação multiaxial, que realiza principal- raça. Cerca de 100º de supinação são possíveis no gato e
mente extensão e flexão. Rotação, adução e abdução são 50º no cão 3. Fortes ligamentos colaterais laterais e mediais
restritas, mas possíveis, especialmente em carnívoros, que mantém a ligação entre os ossos e minimizam movimentos

Quadro 1 – Ação, origem e inserção dos principais músculos da articulação têmporo mandibular do cão
Músculo Ação Origem Inserção
Digástrico Mastigação Processo jugular Borda ventral do corpo da mandíbula
Temporal Mastigação Base da fossa temporal Processo coronoide da mandíbula
Masseter Mastigação Lateralmente e medialmente
Fossa massetérica
do arco zigomático
Pterigoide medial Fossa pterigoidea na superfície medial
Mastigação Osso pterigoide e adjacências
Pterigoide lateral do ramohorizontal da mandíbula

Figura 1 – Principais músculos extensores da articulação do ombro. Modificado de Mariana Sattin

26 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 3 – Anatomia do aparelho locomotor. Sistemas ósseo, articular e muscular

Figura 2 – Principais músculos flexores da articulação do ombro. Modificado de Mariana Sattin

Quadro 2 – Ação, origem e inserção dos principais músculos da articulação do ombro do cão
Músculo Ação Origem Inserção
Peitoral Estende o ombro com peso. Duas primeiras Crista do tubérculo maior
profundo Flexiona o ombro sem peso. esternébras menor do úmero.
Estende o ombro. Clidobraquial: extremidade distal
Avança o membro. Intersecção da borda cranial do úmero
Braquiocefálico
Move a cabeça e pescoço clavicular Clidocervical: crista nucal.
lateralmente. Clidomastóide: parte mastoide.
Supra-espinhoso Estende o ombro Fossa supra espinhosa Tubérculo maior do úmero
Subescapular Estende o ombro Fossa subescapular Tubérculo menor
Aduz o membro
Coracobraquial Estende o ombro Processo coracoíde Crista do tubérculo menor do
Aduz o membro úmero, próximo à tuberosidade
redonda maior
Bíceps braquial Estende e estabiliza o ombro Tubérculo supraglenoide Tuberosidades ulnar e radial
Flexiona o cotovelo
Tríceps braquial – Estende o ombro Borda caudal da escápula Olécrano
cabeça longa
Infra-espinhoso Flexiona ou estende o ombro Fossa infra espinhosa, Pequena área lateral no
Aduz o membro espinha e cartilagem tubérculo maior
Rotação lateral do membro da escápula
Deltoide Flexiona o ombro Espinha da escápula e acrômio Tuberosidade deltoide
Redondo Flexiona o ombro Tubérculo infra glenoide e Tuberosidade redonda
menor Rotação lateral do membro margem caudal da escápula menor do úmero
Redondo Flexiona o ombro Borda escapular, caudal e Tuberosidade maior do
maior Rotação medial do membro adjacente ao ângulo da escápula úmero
Grande Flexiona o ombro Fáscia toracolombar Tuberosidade redonda maior
dorsal Move o membro no junto com o músculo
sentido caudal redondo maior

de lateralidade 23. Articulação cárpica


A articulação rádio ulnar proximal é trocoide, permi- (antebraquiocárpica, mediocárpicas, intercárpi-
tindo rotação do rádio sobre a ulna, sustentada pelos liga- cas e carpometacárpicas) – Quadro 4
mentos anular do rádio (da cabeça do rádio à incisura radial A articulação cárpica (Figura 4) é formada por um con-
da ulna), pelo ligamento interósseo do antebraço e pela junto de articulações que incluem as articulações antebraquio-
membrana interóssea do antebraço 23,24. cárpica, mediocárpica, intercárpica e carpometacárpica 3,23,24.
Na articulação radio ulnar distal a tróclea do rádio e o A articulação antebraquiocárpica é formada pela articu-
processo estiloide da ulna mantém-se unidos pelo liga- lação radiocárpica, composta pela extremidade distal do
mento radio-ulnar 3. rádio e da ulna com a fileira proximal de ossos do carpo 23.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 27


Capítulo 3 – Anatomia do aparelho locomotor. Sistemas ósseo, articular e muscular

Quadro 3 – Ação, origem e inserção dos principais músculos da articulação do cotovelo do cão
Músculo Ação Origem Inserção
Tensor Estende o cotovelo Tendão de inserção do Olécrano e fáscia
da fáscia grande dorsal antebraquial medial
antebraquial
Tríceps Estende o cotovelo Cabeça lateral: linha do tríceps Olécrano
braquial Cabeça acessória: colo do úmero
Cabeça medial: crista do tubérculo
menor
Ancôneo Estende o cotovelo Margens da fossa do olécrano Superfície lateral da extremidade
proximal da ulna
Bíceps Flexiona o cotovelo Tubérculo supraglenoide Tuberosidades ulnar e radial
braquial Estende e estabiliza
o ombro
Braquial Flexiona o cotovelo Caudal à cabeça do úmero Tuberosidade ulnar e radial
Supinador Flexiona o cotovelo Epicôndilo lateral do úmero, Superfície cranial do quarto
Rotação lateral do ligamento colateral lateral proximal do rádio
antebraço
Pronador Flexiona o cotovelo Epicôndilo medial do úmero Borda medial do rádio
redondo Pronação do antebraço
Pronador Pronação da mão Superfícies opostas do rádio e da Superfícies opostas do rádio e da
quadrado ulna, ocupando o espaço interósseo ulna, ocupando o espaço interósseo
antebraquial

Figura 3 – Principais músculos flexores e extensores da articulação do cotovelo. Modificado de Mariana Sattin

É uma articulação elipsóidea, composta e biaxial em car- distal do carpo 24.


nívoros, pois além dos movimentos de extensão e flexão, é As articulações intercarpais são planas e firmes, formadas
possível realizar abdução e adução 3. A articulação medio- pelas faces articulares contíguas da mesma fileira e apre-
cárpica, é uma composta, condilar, na qual os ossos da fi- sentam uma amplitude de movimento bastante limitada.
leira proximal do carpo articulam-se com os ossos da fileira As articulações carpometacarpais, localizadas entre os

28 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 3 – Anatomia do aparelho locomotor. Sistemas ósseo, articular e muscular

Quadro 4 – Ação, origem e inserção dos principais músculos da articulação cárpica do cão
Músculo Ação Origem Inserção
Extensor carpo Extensão do carpo Crista epicondilar lateral Pequenas tuberosidades na extremidade
radial proximal dorsal dos metacarpos II e III
Braquiorradial Supinação do carpo Crista epicondilar lateral Margem crâniomedial do rádio
no terço médio distal
Ulnar lateral Flexão do carpo Epicôndilo lateral do úmero, Face lateral da extremidade proximal do
ligamento colateral metacárpico V e no acessório do carpo
Flexor radial Flexão do carpo Epicôndilo medial do úmero e ace palmar da extremidade proximal
do carpo borda medial do rádio do II e do III metacárpicos
Flexor ulnar Flexão do carpo Cabeça ulnar: borda caudal e Acessório do carpo
do carpo face medial do olecrano
Cabeça umeral: epicôndilo
medial do úmero

Figura 4 – Principais músculos flexores e extensores da articulação do carpo. Modificado de Mariana Sattin

ossos distais do carpo e os ossos metacarpais, são articula- (Figura 5). Além da flexão e extensão, essas articulações
ções planas. Diversos ligamentos e faixas fibrosas da cáp- permitem um grau considerável de abdução e adução 3, 24.
sula sustentam e ligam os ossos entre si, sendo divididos As articulações interfalângicas proximais são formadas
em ligamentos colaterais laterais e mediais longos (unindo pelas extremidades distais das falanges proximais e pelas
o antebraço com a mão) e ligamentos curtos (unem os car- fossas articulares proximais das falanges médias II a V.
pos em vários sentidos) 3. Trata-se de articulações selares com uma extensão máxima
de 90º e uma flexão máxima de 60º. Ligamentos colaterais
Articulação metacarpofalangiana e são os únicos ligamentos que conectam a articulação ver-
interfalangianas – Quadro 5 ticalmente nas faces lateral e medial 3.
Os carnívoros apresentam articulações metacarpofalan- As articulações interfalângicas distais são articulações
gianas correspondentes à quantidade de dedos, formadas selares, formadas pela tróclea distal das falanges médias e
pela tróclea distal dos ossos metacarpais de I a V e pela pelas fossas articulares das falanges distais. Cada articula-
face articular proximal das primeiras falanges juntamente ção apresenta um ligamento colateral lateral e outro medial,
com dois ossos sesamoides proximais para cada articulação além de ligamentos elásticos dorsalmente 3,24.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 29


Capítulo 3 – Anatomia do aparelho locomotor. Sistemas ósseo, articular e muscular

Quadro 5 – Ação, origem e inserção dos principais músculos da articulação metacarpofalangiana e interfalangiana
do cão
Músculo Ação Origem Inserção
Extensor digital Estende os dedos Crista epicondilar lateral Processo extensor das falanges
comum 2, 3, 4 e 5 do úmero II, III, IV e V
Extensor lateral Estende os dedos Epicôndilo lateral do úmero, Extremidades proximais dos dedos III, IV e V
dos dedos 3, 4 e 5 ligamento colateral lateral Processos extensores das falanges distais
da articulação dos dedos III, IV e V
Flexor digital Flexiona os Epicôndilo medial do úmero Face palmar dos tubérculos flexores das
superficial dedos 2 e 5 falanges distais dos II – V dedos
Flexor digital Flexiona Cabeça umeral: epicôndilo Face palmar da base (extremidade proximal)
profundo os dedos medial do úmero da falange distal de cada dedo
Cabeça ulnar: três quartos
proximais da borda caudal da ulna
Cabeça radial: terço médio da borda
medial do rádio
Abdutor longo do Abduz o Borda lateral e superfície cranial do Extremidade proximal do metacárpico I
primeiro dedo primeiro dedo corpo da ulna e do rádio e na
membrana interóssea

Figura 5 – Principais músculos flexores e extensores das articulações dos dígitos

Músculos extrínsecos do membro torácico – Articulação do coxal (coxofemoral, quadril) –


Quadro 6 Quadro 7
Os músculos peitoral profundo, grande dorsal e braquio- A articulação do coxal (Figuras 6, 7 e 8) é uma arti-
cefálico foram descritos na articulação do ombro. culação sinovial esferoide, composta, formada pela ca-
beça do fêmur com o acetábulo (ílio, ísquio e púbis) 5. É
ARTICULAÇÕES DO MEMBRO PÉLVICO uma articulação multiaxial, possuindo três graus de li-
Articulação sacro-ilíaca berdade articular. Os movimentos possíveis são a exten-
Combina uma articulação sinovial com uma extensa são e a flexão (Figura 7), a adução e a abdução e a
união fibrocartilaginosa. Cada asa do osso sacro está se ar- rotação (Figura 7 e 8) 5,10,13,17,22. O ligamento da cabeça
ticulando com as metades ilíacas correspondentes 1,23. Os do fêmur (fóvea da cabeça do fêmur à fóvea do acetá-
ligamentos sacros ilíacos dorsal, ventral e sacro tuberal bulo) e o ligamento transverso do acetábulo ligam os
mantêm a união entre os ossos 23. ossos 23.

30 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 3 – Anatomia do aparelho locomotor. Sistemas ósseo, articular e muscular

Quadro 6 – Ação, origem e inserção dos principais músculos da extrínsecos do membro torácico do cão
Músculo Ação Origem Inserção
Peitoral Adução do membro Duas primeiras esternébras e geralmente Crista do tubérculo
superficial sem peso parte da terceira maior do úmero
Rafe fibrosa entre os músculos vizinhos
Omotransverso Avanço do membro Na extremidade distal da espinha da Na extremidade distal da
Flexão lateral do escápula e cranialmente na asa do atlas espinha da escápula e
pescoço cranialmente na asa do atlas
Trapézio Eleva o membro Rafe mediana do pescoço e ligamento Espinha da escápula
Abduz o membro supra espinhoso, desde a terceira
cervical até na nona torácica
Romboide Eleva o membro Crista nucal do occipital, rafe mediana Borda dorsal e superfícies
Move escápula do pescoço, processos espinhosos das adjacentes da escápula
contra o tronco sete primeiras vértebras torácicas
Serrátil Suportar o peso Processos transversos das cinco últimas Face serrátil da escápula
ventral-cervical do tronco vértebras cervicais e na porção ventral do
e torácico Deprimir a escápula terço médio das primeiras sete ou oito costelas

Figura 6 – Principais músculos extensores da articulação do quadril. Modificado de Mariana Sattin

Articulação do joelho (fêmoro tíbio patelar) ligamentos colaterais em relação ao eixo do movimento ar-
A articulação do joelho (Figuras 9 e 10) é do tipo compos- ticular retesam os ligamentos e diminuem a velocidade do
ta, complexa, incongruente e em dobradiça (como um movimento quando a articulação se move em direção à po-
todo) 5,17. A articulação femorotibial ocorre entre os côndilos sição estendida 17.
do fêmur e os côndilos da tíbia e, os ossos sesamoides do mús- Fortes ligamentos mantém o fêmur e a tíbia unidos: os
culo poplíteo e do gastrocnêmio 5. Apresenta entre os côndilos ligamentos colaterais laterais e mediais, o ligamento cru-
da tíbia e do fêmur os meniscos, que absorvem impactos 5,13. zado cranial e caudal e ligamento poplíteo oblíquo 3.
Embora os movimentos principais de uma articulação A articulação do fêmur com a patela, uma articulação
condilar sejam extensão e flexão (Figuras 9 e 10), a mobi- simples e deslizante, que consiste na superfície articular da
lidade dos meniscos permite um grau limitado de movi- patela com a tróclea do fêmur. Ligamentos fêmoro patela-
mento rotacional à articulação do joelho. A configuração res lateral e medial e o ligamento patelar mantém a conexão
espiral dos côndilos femorais e a inserção excêntrica dos entre ambas as partes ósseas 17.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 31


Capítulo 3 – Anatomia do aparelho locomotor. Sistemas ósseo, articular e muscular

Quadro 7 – Ação, origem e inserção dos principais músculos da articulação do coxal e do joelho do cão
Músculo Ação Origem Inserção
Glúteo Estende o quadril Borda lateral do sacro e primeira vértebra caudal, Trocânter maior
superficial Abduz o membro Parcialmente pelo ligamento sacro tuberoso,
Espinha ilíaca dorsal cranial
Glúteo Estende o quadril Crista e superfície glútea do ílio Trocânter maior
médio Abduz o membro
Rotação medial
do membro
Glúteo Estende o quadril Corpo do ílio, superfície glútea do ílio, Face medial do trocânter
profundo Abduz o quadril Espinha isquiática cervical até na nona torácica maior
Quadrado Estende quadril Ventro medial a tuberosidade isquiática Distal à fossa
femoral Rotação lateral trocantérica
do membro
Obturador Rotação lateral Sínfise pélvica e superfície dorsal do ísquio e Fossa trocantérica
interno do membro púbis (borda medial do forame obturador)
Gêmeos Rotação lateral Superfície lateral do ísquio (caudal ao acetábulo Fossa trocantérica
do membro e ventral à incisura isquiática menor)
Obturador Rotação lateral Superfície ventral do púbis e do ísquio Fossa trocantérica
externo do membro
Íliopsoas Estende o quadril Psoas maior: vértebras lombares, Trocânter menor
Flexiona o joelho Ilíaco: crânio ventral no ílio
Estende o tarso
Quadríceps Estende o quadril Reto femoral: ílio, cranial ao acetábulo, Tuberosidade tibial
femoral Flexiona o joelho Vastos: fêmur, proximalmente
Sartório Estende o quadril Parte cranial: margem cranial da crista do ílio Parte cranial: patela, em
Flexiona o joelho Parte caudal: espinha ilíaca ventral cranial comum com o reto femoral,
Estende o tarso Parte caudal: borda cranial
da tíbia, em comum com
o grácil
Tensor da Estende o quadril Tuberosidade coxal, parte adjacente do ílio e Fáscia femoral lateral
fáscia lata aponeurose do glúteo médio (face áspera do fêmur)
Bíceps Estende quadril Ligamento sacrotuberal e Pela fáscia lata e crural à
femoral Adução do membro tuberosidade isquiática patela ao ligamento patelar
na borda cranial da tíbia;
Tuberosidade calcânea
Semimembranoso Estende o quadril Tuberosidade Isquiática Lábio medial da superfície
Aduz o membro rugosa caudal do fêmur
Flexiona o joelho e côndilo medial da tíbia
Estende o tarso
Semitendinoso Extensão do joelho Tuberosidade isquiática Superfície medial do
Rotação medial corpo da tíbia e
da tíbia tuberosidade calcânea
com o tendão do
músculo grácil
Abdutor crural Aduz o quadril Ligamento sacrotuberal Fáscia crural na borda
caudal caudal do bíceps femoral
Adutor Flexiona quadril Pelo tendão da sínfise, arco isquiático e na Em todo o lábio lateral
superfície ventral do púbis e do ísquio da face rugosa caudal
do fêmur
Grácil Flexiona o quadril Sínfise pélvica, pelo tendão da sínfise Borda cranial da tíbia,
Estende o joelho na tuberosidade calcânea
Poplíteo Flexiona o quadril Fossa poplítea no côndilo lateral do fêmur Terço proximal da
Flexiona o joelho superfície caudal da tíbia
(parte caudal)
Estende o joelho
(parte cranial)
Pectíneo Flexiona o quadril Ângulo caudal do anel inguinal superficial e Extremidade distal do lábio
Estende o joelho iminência íliopúbica medial da face rugosa
Tensiona a fáscia lata caudal do fêmur

32 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 3 – Anatomia do aparelho locomotor. Sistemas ósseo, articular e muscular

Figura 7 – Principais músculos flexores da articulação do quadril. Modificado de Mariana Sattin

Figura 8 – Principais músculos que rotacionam o membro pélvico. Modificado de Mariana Sattin

O nervo isquiático é o maior nervo do corpo (Figura 11). bíceps femoral (profundo ao bíceps femoral e superficial
Originando-se principalmente dos segmentos medulares aos outros dois). No terço proximal do fêmur, ele termina
entre L-6, L-7 e S-1, com uma contribuição ocasional de ao dividir-se nos nervos tibial e fibular comum 17. A divisão
S-2. Consiste em dois nervos, o tibial e o fibular comum, normal do nervo isquiático é variável 5,11,17.
onde estão intimamente ligados proximamente, que apare- O nervo isquiático propicia inervação motora para os
cem como um em sua origem 5. músculos glúteo profundo, obturatório interno, quadríceps
Em seu trajeto, deixe a pelve através do forame isquiá- femoral e gêmeos e fornece fibras sensoriais para a cápsula
tico maior (incisura isquiática maior) e passa sobre a face da articulação coxofemoral 17.
lateral do ligamento sacrotuberal. É coberto primeiro pelo
músculo glúteo superficial 5, cruza o músculo glúteo pro- Articulação do tarso, metatarso e falanges –
fundo e a artiulação do coxal até alcançar a face caudal do Quadro 8
fêmur 17. Ocasionalmente, está localizado próximo da arti- A articulação do tarso (Figura 12) é composta formada
culação do quadril, enquanto que em outros momentos entre a tíbia e a fíbula, os ossos do tarso e os ossos do meta-
pode estar localizado distalmente a esta 5. tarso com quatro níveis de articulação 5,10,17. A articulação
Observando o membro pela sua superfície lateral, em tarsocrural é uma articulação do tipo gínglimo, composta,
seu trajeto pela face caudal do fêmur, o nervo isquiático formada entre a tróclea do tálus e a extremidade distal da
situa-se entre os músculos semimembranoso, adutor e ao tíbia e entre o calcâneo e a extremidade distal da fíbula 5,17.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 33


Capítulo 3 – Anatomia do aparelho locomotor. Sistemas ósseo, articular e muscular

Figura 9 – Principais músculos extensores da articulação do joelho. Modificado de Mariana Sattin

Figura 10 – Principais músculos flexores da articulação do joelho. Modificado de Mariana Sattin

34 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 3 – Anatomia do aparelho locomotor. Sistemas ósseo, articular e muscular

A articulação intertarsal proximal pode ser subdividida pro- As articulações verticais entre os ossos da mesma fileira
ximalmente na articulação talocalcânea central, e distalmente se chamam articulações intratarsais e, devido à sua proxi-
na articulação dos ossos central do tarso e tarsal IV. Nos car- midade oposicional, permitem muito pouco movimento.
nívoros, são possíveis movimentos laterais e de rotação além Os ossos tarsais distais se articulam com os ossos me-
de flexão e extensão 17. A articulação intertarsal distal é uma tatarsais, formando as articulações tarsometatarsais rígidas.
articulação rígida formada pelo osso central do tarso proxi- Os ligamentos do tarso compreendem os ligamentos cola-
malmente e pelos ossos pequenos do tarso distalmente 17. terais, tarsais distais e proximais.

Figura 11 – Trajeto do nervo Isquiático no membro pélvico. Modificado de Mariana Sattin

Figura 12 – Principais músculos flexores e extensores da articulação do tarso e dos dígitos. Modificado de Mariana Sattin

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 35


Capítulo 3 – Anatomia do aparelho locomotor. Sistemas ósseo, articular e muscular

Quadro 8 – Ação, origem e inserção dos principais músculos da articulação do tarso, metatarso e falanges do cão
Músculo Ação Origem Inserção
Tibial cranial Flexão do tarso Extremidade lateral da Superfície plantar proximal
Rotação lateral do tarso borda cranial da tíbia dos metacarpos I e II
Extensor longo Flexão do tarso Fossa extensora do fêmur Processos extensores das falanges
dos dedos Rotação medial do tarso distais dos II, III, IV e V dedos
Extensor lateral dos dedos Terço proximal da fíbula Falange proximal do V dedo
Fibular longo Flexiona o tarso, Côndilo lateral da tíbia, Extremidades proximais
Rotação da extremidade Cabeça da fíbula, dos metatarsianos e
medialmente de forma que a Epicôndilo lateral do fêmur medialmente nos primeiros
superfície plantar se volte ossos társicos
lateralmente
Gastrocnêmio Extensão do tarso Tuberosidades supracondilares Tuberosidade calcânea,
medial e lateral do fêmur no tendão calcâneo
Flexor superficial Flexão do joelho Tuberosidade supracondilar Tuberosidade calcânea e
Extensão do tarso lateral do fêmur bases das falanges médias
Flexiona as 2 primeiras dos II, III, IV e V dedos
falanges dos 4 dedos principais
Flexor profundo Extensão do tarso (flexor lateral) Dois terços proximais da tíbia Superfície plantar da base
dos dedos Flexão dos dedos (flexor medial) e metade proximal da fíbula de cada uma das falanges

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36 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


4
Biomecânica aplicada a pequenos animais

Hanna Mclean
Darryl Millis

B
iomecânica é o estudo das leis mecânicas em rela-
ção ao movimento ou estrutura dos organismos
vivos. A compreensão da biomecânica do movi-
mento é uma parte essencial da avaliação clínica de pacien-
tes caninos e da elaboração de um programa de reabilitação.
Este capítulo inclui uma revisão da locomoção e marcha
canina, incluindo uma análise cinética e cinemática. Tam-
bém inclui uma breve discussão sobre a biomecânica em
condições patológicas.

Análise da locomoção canina


A análise subjetiva da marcha tem sido usada há muitos
anos, mas a habilidade humana de perceber detalhes sutis
durante a caminhada, como força e influências neuromus- Figura 1 – Animal com postura anormal. Peso deslocado
culares, pode ser muito difícil ou, em alguns casos, impos- para frente e para o membro pélvico direito devido a ruptu-
sível. No geral, essa análise subjetiva se concentra nos ra de ligamento cruzado cranial esquerdo e herniação de
problemas mais óbvios e frequentemente não é possível disco intervertebral toracolombar
avaliar anormalidades complexas da marcha em múltiplos
membros. Durante a avaliação subjetiva um clínico somente para determinar relativamente a quantidade de peso supor-
consegue perceber algumas variáveis cinemáticas por vez, tado por cada membro é colocando a mão sob as patas dian-
mas um sistema de análise cinemática ou cinética pode cap- teiras ou traseiras, com a palma da mão voltada para as
turar, analisar, e guardar centenas de observações por se- patas, e o cão em estação sobre as mãos, permitindo assim
gundo. Sistemas de análise cinemática bidimensional (2D) uma avaliação relativa da sustentação de peso. A distribui-
ou tridimensional (3D) são utilizados para analisar mais de- ção do peso em estação pode ser avaliada com mais preci-
talhadamente a marcha 17. Outra alternativa é a possibilidade são pelo uso de uma passarela computadorizada sensível à
de se filmar a marcha do cão e depois reproduzir em câ- pressão ou por uma plataforma de distribuição de peso (pla-
mera-lenta, sendo possível analisar mais atentamente os as- taforma de baropodometria). Um estudo recente avaliou a
pectos subjetivos dos movimentos nos quatros membros. acurácia e repetibilidade das mensurações coletadas usando
uma plataforma de distribuição de peso e uma passarela
Sustentação do peso em estação computadorizada sensível à pressão, tendo obtido que
A avaliação da distribuição do peso em estação é um ambos os dispositivos fornecem medidas precisas e consis-
componente essencial no exame de claudicação. Muitos tentes de distribuição de peso, sem diferenças significativas
cães podem apresentar uma claudicação mínima ou inexis- entre eles 2. Com qualquer um dos dispositivos se deve usar
tente durante a análise da marcha, mas podem ter uma sus- métodos padronizado para aquisição de dados, para assim
tentação de peso assimétrica em estação. Normalmente os se obter resultados consistentes. Fatores que devem ser
cães distribuem aproximadamente 30% do peso em cada constantes inclui a posição da pessoa que manipula o ani-
membro torácico e 20% do peso em cada membro pélvico 3. mal, proximidade com as paredes e ambiente. As avalia-
Essa distribuição do peso pode sofrer alterações por doen- ções clínicas devem usar um método padronizado ao fazer
ças ortopédicas que levam a anormalidades biomecânicas mensurações seriadas em intervalos específicos durante o
ou dor. (Figura 1). tratamento 15.
A sustentação do peso é melhor avaliada pela observa-
ção da disposição de um membro em relação ao membro Análise cinética (força) da marcha
contralateral. Dependendo da severidade da dor e do pro- A análise cinética da marcha descreve as forças aplica-
cesso patológico de base, o cão pode alternar seu peso de das sobre o corpo e as forças exercidas pelo corpo. A ava-
frente para trás ou de um hemisfério do corpo para o outro, liação cinética refere-se a forças, trabalho e energia. A
a fim de diminuir a carga colocada no membro afetado. avaliação cinética da marcha envolve mensuração das for-
Em casos severos, o cão pode não apoiar o membro, ou ças de reação do solo com uma plataforma de força ou pla-
apoiar só parcialmente. Se o cão estiver apoiando o mem- taforma de baropodometria. Quando se usa a técnica
bro, a carga colocada em cada membro pode ser avaliada apropriada a plataforma de força pode obter resultados con-
empurrando com cuidado cada membro, determinando fiáveis, objetivos e reproduzíveis da força colocada em cada
assim qual se move com maior facilidade. Outra alternativa membro, incluindo as forças verticais, laterais, de propulsão

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 37


Capítulo 4 – Biomecânica aplicada a pequenos animais

e frenagem. Essas mensurações objetivas permitem a ava- súbito. A pessoa responsável por guiar o animal faz com
liação seriada e quantitativa da claudicação ao decorrer do que este caminhe ou trote sobre a plataforma de força a uma
tempo, sem as discrepâncias que ocorrem na análise sub- específica velocidade, sem puxar o animal. Temporizadores
jetiva da marcha. Isso é especialmente útil em claudicações luminosos são usados para calcular a velocidade média e a
sutis e mudanças atribuídas a medicações ou intervenções aceleração (Figura 2).
cirúrgicas que podem ser de difícil quantificação de uma Os três planos de forças de reação do solo são os planos
visita a outra quando baseadas apenas na análise subjetiva Z, Y e X. O plano Z mede o pico da força vertical, o im-
11. pulso vertical (força total durante a fase de apoio da mar-
Devido a simetria, o trote e a caminhada são os passos cha) também pode ser calculado. Na caminhada, a força
mais comumente avaliados na análise cinética da marcha. vertical demonstra uma curva bifásica, enquanto o trote tem
Plataformas de força usam medidores de tensão ou cristais um único pico. (Figuras 3 e 4)
piezoelétricos para detectar as forças em cada membro, e A força vertical máxima é afetada pela velocidade e
um software especializado é usado para reportar os resul- aceleração da marcha, pelo peso e conformação do cão e
tados. A técnica apropriada deve ser usada para obter pelo posicionamento do membro. O plano Y mensura as
dados confiáveis incluindo a ambientação de cada animal forças de propulsão e frenagem, os impulsos de propulsão
com a plataforma de força, deve haver uma área adequada e frenagem podem ser calculados. O plano Y é bifásico
para a marcha de modo que o animal mantenha uma ve- com a deflexão negativa inicial indicando a força de fre-
locidade constante com pouca ou nenhuma aceleração ou nagem e a força positiva subsequente indicando propulsão.
desaceleração, e certificando-se que a cabeça do animal Os membros torácicos geralmente têm maiores forças de
está em uma posição neutra, sem nenhum movimento frenagem e os membros pélvicos têm maiores forças de

Figura 2 – Plataforma de força canina. A. Cão trotando sobre a plataforma de força. B. Passarela da plataforma de força
com fotocélulas usadas para determinar a velocidade e a aceleração enquanto o cão pisa na plataforma de força

Figura 3 – Forças verticais de um membro torácico e um Figura 4 – Forças verticais do membro torácico e pélvico
membro pélvico durante a caminhada. Observe a natureza no trote. Observe a curva singular suave com uma força
bifásica das curvas maior colocada no membro torácico

38 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 4 – Biomecânica aplicada a pequenos animais

propulsão ao nível do solo. (Figura 5).


O plano X mede as forças e impulsos mediais e laterais,
que são de utilidade limitada em pacientes caninos devido
à alta variabilidade durante tentativas repetidas.
Em geral, os cães suportam 30% de seu peso em cada
membro torácico e 20% em cada membro pélvico quando
em estação com os membros estão posicionados direta-
mente sob o corpo. Ao caminhar a uma velocidade de 0,7
a 1,0 m/s resulta em forças equivalentes a aproximada-
mente 60% do peso corporal em cada membro torácico e
Figura 5 – Forças de frenagem e propulsão de membro to-
40% em cada membro pélvico. Aumentando a velocidade rácico e pélvico durante o trote. Observe a natureza bifá-
para um trote a 1,7 a 2,0 m/s resulta em uma carga de 100% sica das curvas de força, com as deflexões negativas
a 120% do peso corporal em cada membro torácico e 65% representando a frenagem e a deflexão positiva represen-
a 70% do peso corporal em cada membro pélvico. Menor tando a propulsão
sustentação de peso ou apoio de um membro individual
pode acarretar em mudanças de descarga de peso nos outros pecialmente da articulação do carpo, em cães mais velhos.
membros 12. Os achados nas articulações do membro pélvico não foram
consistentes 10.
Análise cinemática (movimento) da marcha O conhecimento dos parâmetros cinemáticos pode per-
A análise cinemática da marcha estuda as mudanças na mitir uma reabilitação mais eficiente em pacientes em pós-
posição dos segmentos corporais no espaço ao longo do cirúrgico ou com condições crônicas. Em particular,
tempo. Os movimentos são descritos de forma quantitativa mudanças notadas durante o curso do tratamento podem
pelas variáveis angulares e lineares que relacionam tempo, orientar o reabilitador a aumentar o nível de atividade, ou,
deslocamento, velocidade e aceleração 8. mais importante ainda, pode indicar alterações que ocorrem
A maioria dos sistemas cinemáticos comercialmente em outras articulações como resultado de fadiga ou uso ex-
disponíveis são bidimensionais e, embora sejam relativa- cessivo de um membro. Conhecimentos destes dados pode
mente baratos, não permitem a mensuração da circundação ajudar a prevenir injúrias em outras articulações ou mem-
ou rotação dos membros durante a marcha. Tanto na medi- bros. Recentemente estudos têm sido realizados para ava-
cina humana como na veterinária, o padrão ouro para a aná- liar a movimentação articular durante exercícios
lise cinemática da marcha é o sistema tridimensional. A terapêuticos, essa informação pode ser útil na elaboração
avaliação cinemática da marcha é realizada com a utiliza- de um programa de reabilitação que visa articulações e
ção de uma série de câmeras e marcadores reflexivos colo- membros específicos 18.
cados em pontos anatômicos específicos 9. Esses pontos
anatômicos são tipicamente no centro da junção motora ou Biomecânica de condições patológicas
sobre proeminências ósseas. Então um software é utilizado Doença do ligamento cruzado cranial
para calcular o comprimento e a frequência dos passos, ace- A articulação do joelho do cão é composta por múltiplos
leração e velocidade linear e angular da articulação, assim tecidos que funcionam em conjunto para manter a sua
como flexão e extensão da cada articulação. Esses dados saúde e função. A doença do ligamento cruzado em cães é
podem ser sincronizados com os dados cinéticos da plata- causada por diversos fatores que resultam em anormalida-
forma de força. des biomecânicas e biológicas, que levam a osteoartrose do
Foi estudada o efeito da variabilidade do examinador em joelho e sinais clínicos de claudicação, dor e disfunção do
um estudo com a marcha cinemática em joelhos de cães 16. membro. É vital entender os componentes das doenças bio-
Seis cães clinicamente normais foram avaliados por 2 exa- mecânicas e biológicas para melhorar nossa compreensão
minadores separados em 4 diferentes dias. Em cada dia, o da doença do ligamento cruzado em cães, melhorando es-
examinador colocava 11 marcadores reflexivos no membro tratégias preventivas, diagnósticas e terapêuticas para os
pélvico direito e cada um dos cães trotava 5 vezes pelo es- nossos pacientes 6.
paço de teste calibrado. Os autores descobriram que havia Existem informações conflitantes em questão da con-
variabilidade entre examinador; e quanto mais experiente, formação do aspecto proximal da tíbia como um dos prin-
menor variabilidade, resultando em dados cinemáticos do cipais contribuintes para a anormalidade biomecânica do
plano sagital mais consistentes e reproduzíveis. Uma pu- joelho. A instabilidade inerente por conta da disfunção dos
blicação recente usando análise cinemática comparativa estabilizadores passivos (ligamento cruzado, menisco, li-
entre cães beagle jovens e velhos descobriu que o grupo gamentos colaterais e cápsula articular), estabilizadores di-
mais velho tinha menor ângulo articular amplitude de mo- nâmicos (mecanismo do quadríceps, músculo isquiotibial),
vimento (ADM) da articulação do carpo, com resultados ou ambos podem ter um papel no desenvolvimento da
similares no ombro e cotovelo. Isso sugere restrição da mo- doença do Ligamento Cruzado Cranial (LCC). Anormali-
bilidade articular das articulações do membro torácico, es- dades anatômicas, incongruências articulares, problemas

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 39


Capítulo 4 – Biomecânica aplicada a pequenos animais

neuromusculares, anormalidades da composição tecidual e assim como cães com RLCC, apresentam diminuição na
mudanças nas áreas de contato articular e pressão também sustentação de peso pelos membros pélvicos. Um estudo
podem levar ao desenvolvimento da doença do LCC. Após que avaliou a análise cinemática da marcha de cães com dis-
a ruptura do ligamento cruzado cranial (RLCC), o pico ver- plasia coxofemoral relatou que estes animais apresentavam
tical e força pode ser somente 50% do normal durante a ca- alterações complexas na marcha, que não necessariamente
minhada 14. De 6 meses a 1 ano após a correção cirúrgica se manifestavam como uma claudicação clínica evidente,
geralmente a distribuição de peso é igual em ambos os fazendo com que a avaliação subjetiva da claudicação seja
membros pélvicos durante a caminhada e o trote, para cães difícil 1. Ângulos de extensão e flexão dinâmicos e a velo-
submetidos a técnica de osteotomia de nivelamento do cidade angular foram calculados para as articulações coxo-
platô tibial (do inglês, TPLO). Em cães submetidos ao re- femoral, femorotibial e tíbio-társica. Na fase final de apoio
paro extracapsular o índice de simetria na caminhada e no do ciclo da marcha, o membro pélvico dos cães com displa-
trote para força vertical máxima e impulso vertical foram sia coxofemoral se caracterizava por uma maior extensão
significantemente menores do que os cães do grupo TPLO da articulação coxofemoral, e por uma maior flexão da ar-
14. O grupo de reparo extracapsular foi significativamente ticulação femorotibial e tíbio-társica durante a estação e
diferente do grupo controle para todas as forças de reação fase inicial do passo. Todas as articulações se flexionaram
do solo em todos os períodos de tempo de pós-operatório. mais rapidamente na fase inicial do passo. Essas mudanças
O grupo TPLO teve o tempo médio mais rápido para a fun- podem ser resultado da dor na articulação do quadril no iní-
ção normal ao trote, entretanto não foi identificada dife- cio da fase de apoio, quando se espera uma maior contração
rença no tempo médio para função normal entre grupos na muscular e propulsão do membro. O aumento da extensão
caminhada. Um estudo diferente avaliou a força vertical no final da fase de apoio seria o resultado de uma extensão
máxima e o impulso vertical em cães com ruptura de liga- súbita relativamente passiva do quadril para completar o
mento cruzado e lesão em menisco 19. Foram analisados 40 ciclo da marcha. Aumento no comprimento da passada e di-
cães durante a sua caminhada sobre a plataforma de força. minuição no pico das forças verticais foram outras altera-
A lesão em menisco foi diagnosticada por mini-artrotomia ções características na fase em movimento do ciclo da
ou artroscopia. Foram realizadas comparações entre cães marcha evidenciadas em cães com displasia coxofemoral 1.
com e sem lesão de menisco, e cães com ruptura parcial ou Em um estudo separado, relatou-se que essas diferenças per-
total do ligamento cruzado cranial. Lesão em menisco es- sistem 1 mês após prótese total da articulação coxofemoral
teve presente em 45% dos cães. A força vertical máxima e unilateral 4. Também com um mês de pós-operatório, alguns
o impulso vertical foram significativamente menores em membros tratados apresentavam valores significativamente
cães com lesão em menisco quando comparados com cães mais baixos quando comparados com os valores do pré-
sem lesão no menisco. operatório. Dos 3 a 6 meses do pós-operatório, as forças de
A análise cinemática tridimensional da marcha tem reação do solo dos membros tratados aumentaram, de
sido usada no estudo da claudicação associada a RLCC em forma que nenhuma diferença significativa entre os mem-
cães 7. Ângulos de flexão e extensão dinâmicos e veloci- bros pudesse ser encontrada. As taxas de carga sobre o
dade angular foram calculados para o quadril, joelho e ar- membro também aumentaram ao longo do período de es-
ticulação tíbio-társica. Cada articulação teve um padrão tudo, indicando maior disposição para carregar e sustentar
característico do movimento de flexão e extensão alterado o quadril tratado ao longo do tempo.
com a ruptura do ligamento cruzado. O ângulo da articula-
ção do joelho estava mais flexionado durante a estação e Biomecânica dos exercícios terapêuticos
início da passada e com menor ângulo de extensão ao final Esteira, “carrinho de mão” e dança são exercícios tera-
do passo. A velocidade angular da articulação do joelho es- pêuticos comuns usados na reabilitação de pacientes cani-
tava diminuída durante a fase em estação, com a velocidade nos. Cada exercício resulta em alterações na amplitude de
de extensão quase insignificante. Os ângulos da coxofemo- movimento articular e nos ângulos de extensão e flexão
ral e do tarso, ao contrário da articulação do joelho, se apre- (Quadro 1). Um estudo comparando a caminhada em es-
sentavam mais estendidos durante a fase em estação. O teira com caminhada no solo revelou um aumento no tempo
comprimento e frequência da passada também variam de apoio e um maior comprimento de passada quando ca-
significantemente após a ruptura do ligamento. Uma mu- minhando sobre a esteira, sem diferença no tempo em mo-
dança no padrão do movimento da articulação parece ocorrer, vimento 5. Enquanto a amplitude dos ângulos de movimento
na qual a articulação coxofemoral e o tarso compensaram a foram similares na caminhada sobre a esteira e na cami-
disfunção da articulação do joelho. nhada no solo, a velocidade articular é menor na esteira.
Esses fatores devem ser considerados quando são desejadas
Displasia coxofemoral uma amplitude de movimento articular normal e a menor
A progressão da displasia coxofemoral é individual velocidade articular (Figura 6).
e difícil de prever, e leva a osteoartrose, que causa dor, O “carrinho de mão” é um exercício comum, no qual
crepitação na articulação, diminuição da mobilidade e re- o cão caminha para frente com seus membros pélvicos
lutância em se exercitar. Cães com displasia coxofemoral, levantados do chão (Figura 7). Normalmente o “carrinho

40 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 4 – Biomecânica aplicada a pequenos animais

Quadro 1 – Alterações na amplitude de movimento articular e nos ângulos de extensão e flexão através de exercícios
terapêuticos que promovem o movimento articular
Articulação Caminhada Esteira em solo Carrinho de mão "Dança" para frente Dança" para trás
Ombro Extensão 148 146 162
Flexão 120 121 131
Cotovelo Extensão 144 146 130
Flexão 94 93 80
Carpo Extensão 192 194 198
Flexão 99 100 112
Quadril Extensão 136 138 140 164
Flexão 103 107 120 135
Joelho Extensão 154 156 155 129
Flexão 106 111 110 88
Tíbio-társica Extensão 162 163 163 157
Flexão 125 128 134 115

de mão” resulta em menor comprimento da passada, tempo


em estação e em movimento quando comparado com a ca-
minhada. “Carrinho de mão” resulta em maior extensão do
ombro, flexão e extensão do cotovelo quando comparado
com a caminhada.
O exercício terapêutico da dança é descrito com o le-
vantar dos membros torácicos do chão enquanto se cami-
nha com o cão para frente (Figura 8). Esse exercício pode
aumentar o pico vertical da força nos membros posteriores
em um nível maior do que no trote. Além disso, ao “dan-
çar” para frente há significativamente menor flexão do qua-
dril, da amplitude total de movimento do quadril, da flexão
do tarso e da amplitude de movimento total tíbio-társica,
quando comparado com a caminhada. Ao “dançar” para
Figura 6 – Caminhada sobre a esteira trás há maior extensão de quadril e flexão do joelho 5.

Figura 7 – O “carrinho de mão” é realizado se elevando os Figura 8 – O exercício da “dança” ocorre elevando os
membros pélvicos enquanto se encoraja o cão a se andar membros torácicos do cão e em seguida se mover para
para frente nos membros torácicos frente ou para trás

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 41


Capítulo 4 – Biomecânica aplicada a pequenos animais

Resumo Long-term functional outcome of tibial plateau leveling osteotomy


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42 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


5
Semiologia ortopédica

Eduardo Capasso dos Anjos Afonso


Fernanda Ribeiro da Silva Aoki

A
s afecções do sistema locomotor representam uma sustentação de peso por algum membro, tremores, articu-
parcela importante no atendimento da clínica geral lações assimétricas, edema de tecidos moles e atrofia mus-
e as queixas mais comuns estão associadas às ar- cular 4,7. O uso de sedativos deve ser evitado antes da
tropatias e traumatismos 4,5. A investigação clínica por meio avaliação, já que os mesmos podem mascarar a região que
da anamnese completa e bem executada, inspeção visual e o animal sente dor ao exame ortopédico 4. A marcha do ani-
criteriosa, palpação detalhada e o conhecimento teórico mal é observada durante a caminhada, e se necessário, du-
para realização de alguns testes locomotores específicos rante o trote 5. A identificação da claudicação antes de
são a chave para um exame ortopédico completo 7. avaliar o membro é importante para confirmar ou contra-
O sistema locomotor é constituído por nervos, múscu- dizer o tutor 5. Esse sinal clínico pode ser representado por
los, tendões, ligamentos, ossos e as articulações, que são hipermetria, arrastar das unhas, passo reduzido, fraqueza
limitadas pela cápsula articular e no seu interior preenchida generalizada, ataxia, cruzamento dos membros pélvicos,
pelo líquido sinovial 5. Existem diferenças entre felinos e balanço da cabeça (quando há claudicação de membros to-
cães quanto à função de alguns grupos musculares e seus rácicos – cabeça se eleva quando o membro lesionado toca
movimentos, porém basicamente, cães e gatos, sob condi- o solo) 4;
ções normais quando se locomovem, podem realizar os • palpação - deve-se manter o animal em estação e o mais
movimentos de marcha, trote, galope, além do salto e, simétrico possível, palpando os membros simultaneamente
quando em inércia, seu sistema locomotor os mantém em para observar assimetria causada por traumatismos, infla-
posição quadrupedal 5. mação, neoplasias, mudanças articulares degenerativas ou
Um exame completo da saúde geral do paciente dever defeitos congênitos 4,5. Outros sinais observados durante a
ser feito antes de focar apenas no sistema locomotor 7. palpação são: edema, crepitação, aumento da temperatura
Deve-se levar em consideração o histórico de trauma re- local, atrofia muscular e mal alinhamento das proeminências
cente, a intenção do proprietário com relação ao animal (re- ósseas 4,7. A identificação do membro afetado se dá pela ava-
produção, exposição, corrida, caça) e situação econômica liação do animal em estação, levantando um membro de cada
do mesmo 4. Dessa maneira, o exame físico inicia-se com: vez. O animal facilmente permitirá que o membro afetado
• identificação do paciente informações sobre raça, idade, seja erguido, mas dificilmente conseguirá se manter em es-
sexo são importantes, visto que determinadas enfermidades tação quando o membro acometido fica no solo, sustentando
ortopédicas possuem predileção ou maior incidência para o peso do membro contralateral levantado. Este exame au-
uma das três informações 4,5,7; xilia o clínico a observar e identificar qual membro está apre-
• história clínica – informações sobre habitat (acesso à rua sentando alteração 4,5,7. A realização de exames específicos
ou ficam restritos ao domicílio); frequência de exercícios; em cada osso e articulação, para avaliar amplitude do movi-
alimentação (distúrbios nutricionais, obesidade); doenças mento e suas alterações podem ser realizadas com o paciente
sistêmicas (atualização de imunização, presença de ecto- em decúbito lateral, como será descrito posteriormente.
parasitas, processos toxêmicos); identificação por parte do
proprietário com relação ao membro envolvido, eficácia MEMBROS TORÁCICOS
dos tratamentos realizados anteriormente e recidiva da Algumas regiões específicas nos membros torácicos
afecção após exercícios e com a variabilidade da tempera- devem ser palpadas na avaliação do exame ortopédico, se-
tura 4,5,7; riam elas: acrômio, espinha e borda vertebral da escápula;
• inspeção visual – deve ser observado a atividade motora tubérculo maior do úmero; epicôndilos umerais, olécrano
e postura adotada pelo paciente para determinar a localiza- e carpo acessório (na região da articulação rádio cár-
ção da lesão 7. Realização de tricotomia facilita a percepção pica)4,5. A avaliação dos membros inicia-se pela extremi-
de soluções de continuidade ou hematomas 4. Presença de dade, portanto, a ordem a ser seguida é avaliar os dígitos,
onicogrifose em um ou mais membros, indicando o desuso metacarpos/carpos, radio-ulna, cotovelo, úmero, ombro e
4. Afastamento dos espaços interdigitais, quando em apoio, escápula 7.
caracterizando o deslocamento do peso para o membro
sadio em decorrência de processos dolorosos do membro Extremidades distais e carpo
contralateral ou ipsilateral 4,5,7. Assimetria entre dois mem- A região interdigital e coxins são avaliadas quanto à
bros, indicando atrofia muscular ou processo inflamatório. descoloração, abrasão ou outras condições 4. Os dígitos
Desvios ortostáticos (varo e valgo, uni ou bilateral; cifose, devem ser estendidos e flexionados, para observação de
lordose, escoliose) 4; edema, crepitação ou dor aos movimentos, podendo indicar
• observação à distância e avaliação da marcha - deve sinais de osteoartrite ou algum trauma prévio nas articula-
ser observado o escore corporal do paciente, diminuição da ções 2,16.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 43


Capítulo 5 – Semiologia ortopédica

Os ossos sesamóides são palpados pelo aspecto palmar Cotovelo


do membro, em região da articulação metacarpofalangeana, Na região do cotovelo podemos observar alterações,
à procura de espessamento da cápsula articular, além de traumáticas ou congênitas 1,2,16, como não união do processo
realizar os movimentos de hiperextensão e hiperflexão da ancôneo 1,5, fragmentação do processo coronóide 1,4,7, osteo-
articulação metacarpo-falangeana e pressão direta na área condrose 1,4,16 ou fechamento precoce da linha de cresci-
dos sesamóides 4. Animais que estejam apresentando frag- mento 1,2, que levam à diferentes graus de incongruência
mentação dos ossos sesamóides sentem muita dor à palpa- articular, além de artrose ou artrite. Outras injúrias como
ção, observa-se crepitação na região e diminuição do fraturas do epicôndilo lateral do úmero ou o incompleto fe-
movimento articular 4,7. chamento dos centros de ossificação dos côndilos lateral e
Em cães normais, a região do carpo deve ser flexionada medial do úmero podem ser observadas 1,4. A articulação
até os coxins digitais terem contato com a superfície caudal do cotovelo é denominada de articulação gínglimo e tro-
do antebraço 2,16. Muitas doenças podem acometer essa re- cóide, ou seja, combina função de dobradiça e pivotante,
gião, incluindo avulsão/laceração do ligamento colateral, fazendo com que haja apenas um eixo de rotação, em que
osteoartrite, fraturas, lesões de hiperextensão e doenças ar- a flexão e extensão são seus movimentos principais 16. Os
ticulares imunomediadas 4. Dessa maneira, o exame orto- ângulos médios máximos de extensão e flexão de 160° e
pédico dessa região deve incluir movimentos de flexão e 30°, respectivamente 6. O exame ortopédico consiste em
extensão, além de sofrerem estresse varo/valgo 4,5. Lesões realizar o movimento de rotação interna e externa com
traumáticas que levam às fraturas é incomum, no entanto, pressão digital feita na linha medial da articulação, produ-
animais que caem de grandes alturas e aterrissam no solo zindo muita dor 4,5; palpar a região do cotovelo e observar
com os membros torácicos, sofrem lesão de hiperextensão atrofia muscular periarticular 4, espessamento fibroso ou
da articulação rádio-cárpica 16 (Figura 1). O exame ortopé- ósseo da articulação 4,2,16; diminuição dos movimentos arti-
dico específico é realizar pressão na região palmar do culares, crepitação em algumas situações e efusão articular
carpo para observar edema, crepitação ou apenas injúria (observado por um edema na chanfradura semilunar, notada
de hiperextensão e determinar a localização anatômica 4. com o animal em decúbito lateral, entre o epicôndilo lateral
Os ossos longos devem ser palpados à procura de atrofia do úmero e o olecrano) 1,4,5,16. Durante a flexão e extensão
muscular, edema, crepitação e dor à palpação profunda 5,7. da articulação do cotovelo, e observarmos dor, podemos di-
As injúrias mais comuns na região de diáfise dos ossos recionar nossa suspeita diagnóstica, onde na osteocondrose
úmero, rádio e ulna são as fraturas, neoplasias e cistos ós- da crista troclear umeral medial poderemos constatar dor
seos. em ambas as posições, na fragmentação do processo coro-
nóide medial a dor estará presente na flexão-extensão do
cotovelo e rotação lateral, na não união do processo ancôneo
a dor estará mais evidente na hiperextensão do cotovelo, por
pressionar o ancôneo doente nesta posição 4,16.
Em casos de luxação traumática da articulação do co-
tovelo, ao exame ortopédico, é observado um inchaço da
articulação que é mantida em ligeira flexão, impotência
funcional do membro e dor excessiva 4,7. As neoplasias em
cotovelos são raras, mas incluem os condrossarcomas, fi-
brossarcomas e sarcoma de células sinoviais, onde pode-
se observar um aumento de volume de tecidos moles na
região do cotovelo, edema e dor à palpação2,7,16.

Ombro
As injúrias que ocorrem na articulação do ombro são:
osteoartrite secundária à osteocondrite dissecante da ca-
beça do úmero, fratura ou luxação, doenças articulares
imunomediadas, doenças do tendão do bíceps, mineraliza-
ção do músculo supraespinhoso, contratura do músculo in-
fraespinhoso , instabilidade medial ou/e frouxidão articular
4,7,9. A articulação do ombro é denominada multiaxial, pois

permite uma grande variedade de movimento, incluindo a


circundação e rotação 9. Os ângulos médios máximos de
extensão são 161° e 167°, e em flexão de 52° e 32° para
cães e gatos, respectivamente 3. E o ângulo de abdução em
Figura 1 – Paciente com hiperextensão da articulação cães de 30° 3. O exame ortopédico consiste em palpar em
rádio-cárpica traumática em membro torácico esquerdo decúbito lateral, o tamanho do tubérculo maior do úmero

44 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 5 – Semiologia ortopédica

em relação à espinha da escápula e o acrômio; essa relação região distal de tíbia 5. Da mesma maneira que os membros
geralmente encontra-se alterada em luxações ou neoplasias torácicos, o exame clínico ortopédico se inicia pela extre-
da região proximal do úmero 4,5. O acrômio acaba se tor- midade do membro, seguindo a ordem: dígitos,
nando mais evidente quando há atrofia muscular intensa, e metatarso/tarso, joelho, coxofemoral 7.
claudicação crônica do membro afetado 5. Pode ser obser- Os traumas que podem ocorrer na região das falanges
vado dor à palpação da região do músculo bíceps, quando são as fraturas, subluxações ou luxações dos dedos 4,7. No-
há contratura muscular ou mineralização 4,5. Dificilmente vamente, o exame clínico consiste em realizar movimentos
sinais de edema são observados, devido à grande quanti- de extensão e flexão dos dígitos, à procura de edema, cre-
dade de musculatura em volta da articulação 4,7,9. O teste do pitação, dor à palpação, presença de hematomas interdigi-
bíceps, é realizado para identificar tenossinovite bicipital, tais ou feridas 4,5,7.
onde o paciente apresentará dor excessiva aos movimentos Na região dos metatarsos e tarsos podem ocorrer in-
de flexão do ombro e extensão do cotovelo caudalmente, e júrias traumáticas ou congênitas, sendo elas as fraturas
realizado uma pressão digital na região proximal e medial dos ossos 4,5,7, luxação e subluxação 4,7, ruptura de ligamen-
da cabeça do úmero 9 (Figura 2). Nos casos de instabilidade to ou tendão 4,7, e osteocondrite dissecante do tálus 17. As
medial ou ruptura do ligamento glenoumeral medial, o ani- articulações társicas também denominadas articulações
mal apresentará um movimento excessivo de abdução do do tipo gínglimo (dobradiça) possuem movimento uniaxial
ombro, maior que 30°, quando comparado com o membro (de flexão e extensão) atípico, pois a obliquidade das ares-
contralateral sadio 3. Ao realizar o teste de abdução é im- tas e sulcos conectantes da tíbia e do tálus impõem um
portante comprimir a escápula contra o tórax com uma das desvio lateral do pé quando é levada para frente à flexão 6.
mãos, para que a mesma fique paralela a mesa, e com a Os ângulos normais de flexão ficam entre 33° a 42°, en-
outra mão realizasse a abdução do ombro com o cotovelo quanto que o de extensão ficam entre 149° e 164° 6. O exa-
estendido 4. me ortopédico consiste em palpar a região da articulação
Em região de escápula, pode-se observar fratura e neo- tíbio társica, realizar movimentos de extensão e flexão má-
plasia da escápula, tumor da bainha nervosa e avulsão do xima, além de angulação varo e valgo desta articulação 4,5.
plexo braquial 4,7. O exame ortopédico consiste em realizar Lesões de hiperextensão da região do tarso são avaliadas
palpação profunda na região do plexo braquial à procura colocando pressão digital na superfície plantar da articula-
de aumento de volume de tecidos moles, palpação do corpo ção, entre as áreas medial e caudal do tarso. Este tipo de
da escápula para percepção de crepitação na região 5,9. Clau- exame também avalia a função do tendão de Aquiles, que
dicação de membros torácicos geralmente ocorrem quando deve ser palpado durante os movimentos de flexão e exten-
há tumor na bainha nervosa ou do cordão espinhal cervical. são também, iniciando a palpação acima do calcâneo e con-
Nestes casos, deve ser realizado um exame neurológico tinuando cranialmente à ele 4,17. Os sinais encontrados
completo na região 5,9,10. quando há qualquer tipo de injúria nestas regiões são dor
excessiva, claudicação e até impotência funcional do mem-
MEMBROS PÉLVICOS bro operado, crepitação, edema, presença de aumento de
Os pontos de referência para exame dos membros pél- volume intra-articular fluido ou fibroso 4,7,17. Animais que
vicos são: crista ilíaca, trocânter maior do fêmur, tuberosi- apresentam osteocondrite dissecante do tálus, ao exame fí-
dade isquiática, côndilos femorais, tendão gastrocnêmio e sico ortopédico, apresentam graus variados de claudicação
com o membro afetado, dor e hiperextensão na articulação
do tarso 17.

Joelho
A articulação do joelho frequentemente é afetada por
condições congênitas, traumáticas e degenerativas 4,7, são
elas: luxação patelar 11,13,15, ruptura do ligamento cruzado
cranial 4,7,12, fraturas fiseais 4,7, osteocondrite dissecante e
artropatias imunomediadas 4,7. O joelho é uma articulação
complexa que compreende as articulações femorotibial e
patelofemoral. Dessa maneira, a movimentação acontece
em três planos, resultado da relação anatômica direta entre
fêmur distal, tíbia próxima, fíbula, patela e musculatura dos
membros pélvicos, além da cápsula articular e associação
de ligamentos 4,11. Movimentos anormais dessas articula-
Figura 2 – Imagem fotográfica do teste do bíceps: flexão
do ombro e extensão do cotovelo caudalmente, e realizado ções, podem levar à degeneração da articulação, sinais de
uma pressão digital na região proximal e medial da cabeça inflamação, edema articular, dor, claudicação e osteoartrite
do úmero, sendo positivo durante sensibilidade dolorosa a progressiva 4,7. Os sinais clínicos ocorrem com menos fre-
pressão quência em gatos do que em cães 11.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 45


Capítulo 5 – Semiologia ortopédica

Luxação patelar Instabilidade do ligamento cruzado


Em alguns animais existe um movimento normal da pa- O ligamento cruzado cranial previne a hiperextensão da
tela dentro da tróclea do fêmur, que não é caracterizada articulação do joelho, excessiva rotação da tíbia, e a trans-
como luxação patelar. No entanto, quando a patela se des- lação cranial da tíbia com relação aos côndilos femorais 4,7,12.
loca além da região da tróclea, este movimento é caracte- Esta patologia está diretamente correlacionada com a ten-
rizado como luxação patelar 4,13. As luxações podem ser são ou degeneração do ligamento cruzado cranial com o
medial, lateral e ocasionalmente, para os dois lados. Os fe- ângulo do platô tibial em cães, já que a quantidade de im-
linos possuem uma característica peculiar com relação ao pulso cranial da tíbia e tensão do ligamento cruzado cranial
formato da patela, ela é mais larga na porção mediolateral é gerado pela força resultante do ângulo de inclinação do
relativa ao sulco troclear e plana no plano craniocaudal. Fe- platô tibial, quanto maior o ângulo maior tensão no liga-
linos clinicamente normais possuem frouxidão médio lateral mento 4,12. Injúrias na região da fise tibial podem causar um
da patela com relação ao sulco, caracterizando como sublu- aumento excessivo deste ângulo do platô tibial, resultando
xação normal em gatos 13. Os sinais clínicos não são comuns em instabilidade do ligamento cruzado cranial até sua rup-
em felinos, como em cães, mas quando ocorre luxação pate- tura 12. Os sinais observados são: dor e efusão articular, ins-
lar os sinais clínicos predisponentes são: claudicação do tabilidade, claudicação progressiva e persistente, que piora
membro pélvico acometido, impotência funcional da articu- com exercício, impotência funcional nos casos mais graves
lação ou os felinos se mantém em posição agachada 11,13,15. e osteoartrose 4,5,7. Os felinos podem apresentar os mesmos
O exame ortopédico para diagnóstico de luxação de patela sinais em casos de ruptura do ligamento cruzado cranial
começa com o examinador posicionado caudalmente ao ani- aguda 11. Em casos crônicos, o sinal preponderante é a cre-
mal, deve-se identificar a crista da tíbia, e a patela estará 1 pitação da articulação durante a manipulação do joelho, e
a 4 cm proximalmente 4,7. Se o animal é obeso ou muito pe- pode ser observado frouxidão da articulação em alguns
queno, haverá dificuldade em identificar a patela, dessa ma- casos 4,11. Alguns movimentos ortopédicos são realizados
neira, o examinador pode se nortear palpando a crista da para o diagnóstico desta patologia, como teste de gaveta e
tíbia, deslizar o dedo dorsalmente até que se note uma de- de compressão tibial 4,5,7 (Vídeo 2).
pressão de consistência firme (ligamento retopatelar infe- Para a realização do teste de gaveta, é necessário que o
rior) e uma estrutura firme e ovalada, que é a patela 4. A animal fique em decúbito lateral, o examinador posiciona
patela pode se deslocar aos movimentos de flexão, extensão o dedo indicador na região proximal e cranial da patela, e
ou através da pressão digital 7. Para realizar a luxação patelar o dedo polegar se posiciona caudalmente à fabela lateral;
medial – o joelho deve ser estendido, a região distal da tíbia o dedo indicador da mão contralateral apóia no aspecto cra-
rotacionada internamente e pressão digital na direção medial nial a crista da tíbia e o polegar desta mão, se posiciona
da patela deve ser feita (Vídeo 1). Para realizar a luxação caudalmente à cabeça da fíbula 4. Com o pulso reto, firme
patelar lateral – o joelho deve ser flexionado, a região distal e sem dobrar, o fêmur é mantido estável enquanto a mão
da tíbia rotacionada externamente e pressão digital na dire- segurando a tíbia realiza o movimento de impulso para a
ção lateral da patela deve ser realizada 4,13. Dependendo do frente e para atrás 4. Esse movimento é repetido várias
grau de luxação patelar, apenas com a rotação interna ou vezes, rápido e gentilmente, com a articulação do joelho
externa distal da tíbia, a patela já é deslocada (medial ou estendida e flexionada 4. Caso ocorra o deslizamento da su-
lateralmente). perfície articular da tíbia em relação à articular do fêmur, é

Vídeo 1 – Exame de luxação patelar, o joelho deve ser es-


tendido, a região distal da tíbia rotacionada internamente, Vídeo 2 – Demonstração do exame de gaveta e compres-
dependendo do grau sendo necessário a realização de são tibial em paciente anestesiado com ruptura de liga-
pressão digital lateromedial - https://youtu.be/OTH4W95HMDM mento cruzado cranial - https://youtu.be/4cDBd8q8fwo

46 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 5 – Semiologia ortopédica

caracterizado como teste de gaveta positivo 4,7. Normal- As manobras são realizadas com o examinador apoiando
mente não existe este tipo de movimento, cranial ou caudal, com uma mão a articulação femorotibiopatelar e com a
na articulação do joelho em cães adultos 3,12, no entanto, po- outra mão, apoiando o trocânter maior do fêmur 4,5. Em ani-
demos observar um leve movimento de gaveta em animais mais obesos, nos quais a identificação do trocânter maior
jovens, e pode persistir até 10 a 12 meses de idade, devido torna-se difícil, o encontro da tuberosidade isquiática e
à frouxidão articular normal presente nos filhotes 4. Este crista ilíaca facilita a palpação trocantérica, uma vez que
movimento de gaveta pode estar diminuído em casos crô- está se localiza, aproximadamente, no espaço médio entre
nicos de ruptura de ligamento cruzado cranial, quando os elas 4. A dor geralmente é mais observada quando se realiza
animais avaliados estiverem tensos, em casos de ruptura a total extensão da articulação, e a crepitação fica mais evi-
parcial do ligamento e presença de injúria em menisco 4,7. dente quando se pressiona o fêmur em direção ao acetá-
Nos casos de ruptura parcial do ligamento cruzado cranial, bulo 4,7,8. A crepitação, quando sutil, pode ser ouvida pelo
o exame poderá dar negativo com o joelho estendido, examinador apoiando o ouvido sobre a articulação do ani-
porem positivo flexionado, devido as fibras ligamentares mal, ou colocando um estetoscópio sobre o trocânter maior
comprometidas. Da mesma maneira, o teste de gaveta pode do fêmur enquanto realiza todas as manobras na articulação
estar aumentado em lesões multiligamentares e cães com coxofemoral 4. Os cães também podem ser avaliados du-
hiperadrenocorticismo (ou síndrome de cushing) 7. rante a deambulação, colocando ambas as mãos sobre as
O teste de compressão tibial produz um movimento de articulações coxofemorais, e avaliando crepitação e sublu-
gaveta indireto, causando compressão do fêmur e da tíbia xação articular 4,8. Em casos de subluxação ou luxação co-
simultaneamente, simulando o apoio do membro durante a xofemoral, quer de origem traumática ou casos graves de
deambulação 4,5. O examinador deve colocar uma mão na displasia 8,14, o animal deve ser colocado em decúbito late-
articulação do joelho, com o dedo indicador posicionado na ral, com o membro a ser examinado do lado oposto ao de-
crista da tíbia, e com a mão contralateral, o examinador faz cúbito; o examinador deve estabilizar com uma mão a
leve dorsoflexão da articulação tibiotársica e relaxa. Deve- articulação femorotibiopatelar e com a outra posicionada
se repetir diversas vezes com movimentos rápidos, mas gen- no trocânter maior, realiza movimentos simultâneos e com
tis 4. O teste de compressão tibial é caracterizado como força de pressão contra a cavidade acetabular e abduz a ar-
positivo quando há um deslize cranial da crista da tíbia 4,5,7. ticulação em cerca de 45°, tracionando-se lateralmente o
A grande vantagem de se realizar este movimento é a mí- joelho 4,6. Quando há instabilidade, ouve-se e sente-se uma
nima dor sentida pelo animal com ruptura de ligamento. crepitação, momento em que ocorre, temporariamente, a
redução da cabeça do fêmur na cavidade acetabular – cha-
Instabilidade do ligamento colateral mado Teste de Ortolani 4,5,7 (Vídeo 3).
O joelho pode apresentar instabilidade medial, lateral Outro exame que é pouco utilizado, mas que tem sua
ou a combinação das duas formas quando há ruptura trau- importância é o teste de Bardens, ele consiste em avaliar o
mática do ligamento colateral ou cápsula articular. O exame pistonamento da cabeça do fêmur na cavidade acetabular.
ortopédico é realizado segurando a articulação do joelho, Com o paciente em decúbito lateral, uma das mão fica
com uma mão, na posição neutra e com mão contralateral, apoiada sob o trocânter maior, enquanto a outra é posicio-
deve ser aplicada força no sentido varo ou valgo do joelho. nada medialmente na porção proximal da diáfise femoral,
Determinando dessa forma, a mobilidade anormal da arti- realizando uma força mediolateral, sem abduzir o fêmur
culação 4. (Vídeo 4). Os pacientes com instabilidade coxofemoral,
Injúria meniscal – pode ocorrer antes ou depois do pro- podem manifestar dor ao exame de Bardens, e observar o
cedimento cirúrgico para correção da ruptura de ligamento deslocamento do trocânter maior lateralmente, onde não
cruzado cranial. É observado um “click” durante a deam- deveria ocorrer em pacientes normais.
bulação do animal, ou quando existe claudicação severa e
crônica. O exame ortopédico consiste em realizar o movi-
mento de gaveta, fazer a extensão ou flexão da articulação,
caso seja positivo a injúria meniscal, durante estes movi-
mentos será reproduzido o som de um “click” 4.

Coxofemoral
A região da articulação coxofemoral e os ossos da pelve
frequentemente são afetados por condições congênitas,
trauma, luxações, displasia e necrose asséptica da cabeça do
fêmur (também conhecida como Legg-Calvé-Perthes) 4,8,14.
Quando há algum tipo de injúria na região, os sinais obser-
vados são dor, crepitação e instabilidade 4,7,8,14. A articulação
coxofemoral permite os movimentos de extensão, flexão, Vídeo 3 – Teste de Ortolani em peça anatômica -
abdução, adução, rotação interna e externa e hiperextensão 4. https://youtu.be/wrHt8nTqTkE

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 47


Capítulo 5 – Semiologia ortopédica

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48 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


6
Semiologia neurológica

Milton Mikio Morishin Filho

N
as duas últimas décadas, com a evolução da medi- miotáticos, uma pinça hemostática será muito útil na ava-
cina veterinária, a neurologia veterinária tem cada liação do reflexo cutâneo do tronco assim como na reali-
vez mais se destacado como a especialidade do fu- zação dos testes de nocicepção (testes para dor superficial
turo. Os animais têm aumentando a sua expectativa de vida e profunda). Uma fonte de luz forte que tenha capacidade
e consequentemente novas doenças estão surgindo e a neu- de manter o feixe de luz focado é muito importante na ava-
rologia tem papel fundamental no diagnóstico e tratamento lição dos reflexos pupilares. Pode-se ainda utilizar hastes
dessas doenças. Além, é claro, das doenças tradicional- flexíveis com algodão na extremidade para realizar aos tes-
mente conhecidas que agora são melhores compreendidas tes de nervos cranianos.
devido ao acesso a novas tecnologias diagnóstica (tomo-
grafia computadorizada e ressonância magnética). Como realizar o exame neurológico?
É neste contexto, que o exame neurológico torna-se fun- O objetivo do exame neurológico é identificar se o sis-
damental na localização correta da possível lesão no sis- tema nervoso (sistema nervoso central – SNC; sistema ner-
tema nervoso e, consequentemente, solicitar o exame voso periférico – SNP e sistema nervoso autônomo – SNA)
complementar mais adequado conforme a localização da realmente está acometido, diferenciando entre os sistemas
lesão e suspeita diagnóstica. qual de fato apresenta sinais de anormalidades ou sintoma-
Para realização de um exame neurológico de forma cor- tologia clínica fundamentalmente de origem neurológica.
reta não são necessários mais do que 10 a 15 minutos. Desta forma é possível ainda determinar o grau de severi-
Tempo suficiente para avaliar o comportamento e estado dade das lesões, diagnóstico diferencial e prognóstico.
mental, reações posturais e marcha, déficit de nervos cra- O exame neurológico consiste em diversas manobras e
nianos, reflexos espinhais, palpação e percepção da dor. O testes específicos, mas nem sempre o tutor compreende
grande desafio será tornar o capítulo em um guia para que com clareza o que está sendo realizado no paciente. Essa si-
os fisiatras possam desenvolver um exame neurológico rá- tuação gera desconforto e muitas vezes até grandes questio-
pido e eficaz. namentos da real necessidade de tal teste. Por isso, informe
A condição clínica e a gravidade das lesões podem fazer ao responsável o motivo da realização de cada teste para
com que a ordem de execução do exame neurológico seja que ele compreenda porque é feito, por exemplo, um estí-
alterada. Desta forma prioriza-se não agravar mais o quadro mulo doloroso para avaliar a nocicepção.
clínico do paciente devido manipulação inadequada do
mesmo durante o exame neurológico. Recomenda-se ini- Existe uma sequência na realização dos testes
ciar por testes que não causem incomodo ou dor ao pa- neurológicos que deva ser seguida?
ciente. Desta forma, evita-se que o paciente seja estimulado Essa dúvida sempre surge no momento da realização do
excessivamente e passe a não ser colaborativo com o seu exame, mas na experiência do autor, seguir uma ordem na
exame neurológico. realização dos testes assim como o preenchimento correto
Esclarecer ao responsável pelo paciente o propósito do da ficha de exame neurológico, contribuem de forma signi-
teste a ser executado é fundamental para que haja colabo- ficativa no sucesso do seu atendimento.
ração durante a execução dos testes. Uma vez realizado o O exame neurológico deve ser realizado iniciando-se
exame neurológico corretamente, a localização da lesão pela avaliação da marcha e observação do comportamento
torna-se evidente, dando a oportunidade ao médico veteri- do paciente perante aos estímulos do meio ambiente ainda
nário solicitar o método diagnóstico mais adequado. durante anamnese. Busque por sinais de assimetria durante
Neste capítulo utilizaremos sistema alfanumérico para a execução da marcha. Em seguida, realize os testes dos
se referir ao tipo de vértebra (C-cervical; T-torácica; L-lom- nervos cranianos, testes de reação postural, reflexos espi-
bar; S-sacral e algarismos arábicos). nhais, palpação e, por último, o teste de avaliação da noci-
cepção. Seguindo sempre a mesma ordem na execução do
Quais são os equipamentos necessários para seu exame neurológico e anotando os achados, facilitará
realização do exame neurológico? seu raciocínio para localizar a lesão neurológica.
Para que um exame neurológico seja realizado de forma
adequada é necessário um ambiente calmo para evitar que ESTADO MENTAL E COMPORTAMENTO
fontes de estresse possam a interferir em sua avaliação; Neste momento é muito importante avaliar o comporta-
com dimensões adequadas para que o paciente possa se mento do paciente diante dos estímulos ambientais, sonoros
movimentar e deambular a vontade. e visuais. Para isso, antes mesmo de iniciar a anamnese so-
Além de equipamentos específicos como o martelo licite ao responsável para que deixe o paciente no chão e
pleximétrico que será usado na avaliação dos reflexos permita que ele se locomova livremente. Não existe pessoa

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 49


Capítulo 6 – Semiologia neurológica

Quadro 1 – Classificação do nível de consciência conforme avaliação do estado mental


Alerta o paciente responde imediatamente e de forma adequada aos estímulos ambientais.
o paciente apresenta uma apatia/sonolência mas responde com excitação aos
Deprimido estímulos. Geralmente não estão atentos e apresentam baixa atividade física.
Estupor/ o paciente encontra-se em estado de sonolência e somente
semicomatoso através de estímulos ambientais mais fortes.
o paciente encontra-se inconsciente mesmo sob estímulo ambiental severo e
Comatoso doloroso, sem apresentar qualquer sinal de excitação após o estímulo.

mais capacitada do que o próprio tutor para identificar uma esquerda ou para direita e o andar em círculo geralmente
alteração no comportamento do paciente. Por isso, dê aten- para o lado da lesão.
ção aos detalhes e ouça o que o tutor tem a dizer sobre a A postura refere-se à posição do corpo em relação à força
rotina diária do paciente. da gravidade. Durante o exame neurológico pode-se obser-
O estado mental é avaliado através da capacidade de var diversas posturas anormais que podem sugerir altera-
resposta que o paciente tem diante de estímulos ambientais, ções neurológicas patognomônicas:
baseado no seu nível de consciência (Quadro 1). Vale lem- • rigidez de decerebração;
brar que o sistema ativador reticular ascendente (SARA), • rigidez de decerebelação;
que se estende ao longo do tronco encefálico, modula o es- • postura de Schiff-Sherrington (Figura 4);
tado mental. Sendo assim, lesões nesta região podem cau- • cifose (Figura 5), lordose e escoliose.
sar alterações no estado mental.
MARCHA/LOCOMOÇÃO
ATITUDE E POSTURA É fundamental durante a realização do exame neuroló-
A atitude refere-se à posição dos olhos e da cabeça em gico observar como ocorre a locomoção do seu paciente.
relação ao corpo. Por isso, a importância de solicitar que o Ou seja, não existe exame neurológico corretamente reali-
paciente fique no chão para avaliar a marcha e se há incli- zado se não for avaliada a locomoção do paciente.
nação de cabeça (head tilt) (Figura 1) ou rotação de cabeça
(head turner) (Figura 2).
Posicione-se de frente ao paciente e trace uma linha imagi-
nária entre centro dos olhos e uma linha paralela à superfície
na qual o paciente se encontra. Caso as linhas imaginárias
não estejam paralelas, está diante de uma inclinação de ca-
beça (Figura 3). Na rotação de cabeça, o corpo mantêm-se
alinhado à superfície mas o focinho estará direcionado para

Figura 2 – Gato com rotação da cabeça (head turner)

A B

Figura 3 – A) Linhas imaginárias que se encontram con-


firmam a condição de inclinação da cabeça (head tilt). B)
Figura 1 – Cão com inclinação da cabeça (head tilt) Linhas imaginárias em cão normal

50 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 6 – Semiologia neurológica

Figura 4 – Postura de Shiff Sherrington

Vídeo 1 – Avaliação da marcha -


https://youtu.be/C8XAQTy3MaA

paciente arrasta o membro. Mas algumas lesões neurológi-


cas como inflamação de uma raiz nervosa (nervo espinal)
por extrusão de disco intervertebral; tumores da bainha do
nervo; podem causar claudicação. Esse sinal clínico é co-
nhecido como “assinatura de raiz”.
Paciente com dor, acometidos bilateralmente por doen-
ças que alteram a biomecânica do quadril ou acometidos
por ruptura bilateral dos ligamentos cruzados craniais
Figura 5 – Postura em cifose
podem se locomover com passo curtos mimetizando fra-
Porém, muitas vezes as alterações são discretas e só se queza muscular de origem neurológica. Assim como, lesões
de neurônio motor inferior podem causar passos curtos com
manifestam quando o paciente é estimulado a se locomo-
pouca sustentação do peso corpóreo.
ver. Como seria possível constatar um andar em círculo se
o paciente durante toda a sua consulta está no colo do tutor?
Ataxia
Por isso, solicite que o tutor deixe o paciente no chão
É definida como a incapacidade de realizar deambulação
durante a sua anamnese. Neste momento aproveite para
normal e de forma coordenada. A alteração da atividade
avaliar como o paciente se comporta com relação aos estí-
motora pode-se manifestar através de tremores que não se
mulos ambientais, se tem dificuldade em se locomover, se
originam por fraqueza ou problemas musculoesqueléticos.
existe dificuldade em se manter em estação ou se apresenta
Divide-se em 3 tipos:
incoordenação ao se locomover (ataxia). • proprioceptiva: perda do sentido de posição do mem-
Mas como avaliar a marcha/locomoção do paciente? Po- bro e do corpo devido a interrupção das vias proprio-
sicione-se lateralmente ao paciente e solicite que o tutor es- ceptivas ascendentes (principalmente propriocepção
timule o paciente a caminhar. Observe o posicionamento inconsciente). Caracterizada por um movimento dese-
dos membros com relação ao movimento cinético normal quilibrado e incoordenação. Observe se o paciente man-
dos membros torácicos e pélvicos da espécie. Em seguida, têm-se em posição de base estreita, em que os membros
posicione-se à frente e posteriormente atrás do paciente e posicionam-se afim de se adaptar à mudança do centro de
solicite que seja estimulado a andar. Ao final do trajeto so- gravidade. Frequentemente associado a paresia e mau po-
licite que o paciente, com auxílio de guia, seja estimulado sicionamento dos membros, o paciente pode arrastar os
a mudar em 180° a direção do movimento. Neste momento dedos ao chão (observe se as unhas estão desgastadas de
é fundamental observar como os membros se comportam forma incorreta). A lesão neste caso está associada prin-
ao mudar completamente a direção (Vídeo 1). cipalmente a substância branca da medula, onde se encon-
tram as vias da propriocepção inconsciente (Vídeo 2);
Claudicação • vestibular: as lesões vestibulares unilaterais causam
Caracteriza-se pela falta de sustentação do peso do queda e até rolamento sobre o próprio eixo do corpo
corpo sobre o membro afetado devido a dor ou mudança para um lado, além de apresentarem muitas vezes andar
biomecânica do membro. O membro afetado quando em círculo. Este tipo de ataxia é frequentemente visto
apoiado ao chão não suporta todo o peso e por isso o pa- em associação com paresia e head tilt. Com disfunção
ciente rapidamente suspende o membro e exige do membro vestibular bilateral, o paciente apresenta movimentos
contralateral um suporte de peso por maior tempo no mo- de cabeça de lado a lado, sem uma óbvia inclinação da
vimento da locomoção. Claudicação, à princípio, é causada cabeça para um dos lados. Além disso pode-se ainda se
por doença ortopédica. Enquanto doenças neurológicas o observar a manutenção de posição agachada e relutância

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 51


Capítulo 6 – Semiologia neurológica

Vídeo 2 – Ataxia proprioceptiva devido lesão toracolombar


- https://youtu.be/17RsEIUrDFI
Vídeo 4 – Ataxia cerebelar severa - https://youtu.be/5aO4wJk-
em se movimentar (Vídeo 3); uoY
• cerebelar: incapacidade do paciente em coordenar e
controlar o grau de amplitude de movimento (proprio-
cepção inconsciente). Caracterizada por dismetria ou hi-
permetria e base ampla. Pode-se ainda observar ataxia
de cabeça, causada por doença cerebelar (Vídeo 4).

Paresia/paralisia
Paresia é uma perda parcial do movimento voluntário.
Observa-se alteração da amplitude de movimento, diminui-
ção do tônus muscular, intolerância/relutância em se mo-
vimentar e executar algumas atividades motoras (Vídeo 5).
Paralisia (plegia) é a perda completa de movimento vo-
luntário. Tanto a paresia como a paralisia podem ocorrer
em lesão do neurônio motor superior (NMS) ou lesão de
neurônio motor inferior (NMI). Não é possível de forma
Vídeo 5 – Paraparesia com perda de força muscular -
precisa diferenciar se a fraqueza é de origem NMS ou NMI https://youtu.be/ORRHfDb34YU
baseada exclusivamente na gravidade da fraqueza.
acometendo uma região do corpo ou de forma generalizada
Movimentos anormais envolvem todo o corpo. O tremor de intenção ocorre
Os movimentos anormais que devem ser identificados quando a parte do corpo determinada pelo paciente se apro-
no exame clínico são: xima de um objeto. O tremor na cabeça torna-se mais evi-
• tremor – movimento rítmico e oscilatório localizado dente quando o paciente tenta farejar um objeto, comer ou
beber.
• miotonia – atraso no relaxamento do músculo seguido de
uma contração voluntária. Manifesta-se como rigidez mus-
cular que é aliviada pelo exercício. Crises de miotonia pode
culminar em decúbito lateral com extensão dos membros.
• mioclonia – uma breve contração muscular semelhante a
um choque, produzindo um movimento rápido, de caráter
involuntário de uma parte do corpo (Vídeo 6).

REAÇÕES POSTURAIS
A avaliação das reações posturais é extremamente im-
portante para a identificação de quais membros estão afe-
tados. As reações posturais testam as mesmas vias
neurológicas que envolvem a marcha, ou seja, os tratos
proprioceptivo e sistema motor. Neste teste é possível de-
tectar déficits sutis ou assimetria discreta que pode não
Vídeo 3 – Ataxia vestibular com andar em círculo e incli- ser óbvia durante a observação da marcha. Além disso
nação da cabeça - https://youtu.be/mCDQ5pyUxaU são úteis na diferenciação entre os problemas ortopédicos

52 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 6 – Semiologia neurológica

Vídeo 6 – Mioclonia por sequela de cinomose -


https://youtu.be/ohhK8xXOUmk

e neurológicos. Na prática só é necessário executar dois


testes de reação postural:
• posicionamento proprioceptivo direto (cães); Figura 7 – Défict proprioceptivo em membro pélvico
• posicionamento proprioceptivo indireto/saltitar (gatos).

Posicionamento proprioceptivo início do curso de doenças neurológicas, o déficit proprio-


É fundamental posicionar o paciente com a coluna ceptivo pode ser detectado precocemente sem que haja si-
vertebral em linha reta, sustente o peso do paciente posi- nais óbvios de fraqueza muscular (Figuras 6 e 7).
cionando uma das mãos sob o tórax (para testar membros
torácicos) ou sob região inguinal (para testar membro pél- Saltitar
vico) para evitar a inclinação do corpo e posicionar a pata Neste teste é muito importante sustentar o peso do pa-
de modo que a superfície dorsal esteja em contato com a ciente de modo que ele apoie apenas o membro a ser tes-
superfície de apoio. O paciente saudável deve retornar ime- tado (cada membro deve ser testado individualmente).
diatamente a posição natural (Vídeo 7). Quando devidamen- Movimente o paciente para os lados e compare o compor-
te apoiados, a maioria dos pacientes com doença ortopédica tamento do movimento dos membros contralaterais. A
terá um posicionamento proprioceptivo normal. Por outro forma de executar o exame diferente entre cães e gatos,
lado, se as vias proprioceptivas estão comprometidas no assim como o porte também influencia na técnica a ser
utilizada na execução do movimento. É um excelente teste
para detectar alterações sutis e assimétricas (Vídeo 8).

Resposta de posicionamento
Neste teste é fundamental que o paciente não utilize a
visão para auxiliar no posicionamento correto, por isso cubra
os olhos do paciente (teste não visual), pegue o animal no
colo e projete os membros torácicos e pélvicos ao encontro

Figura 6 – Posicionamento e sustentação correta do Vídeo 7 – Teste de reação postural em membro pélvico e
corpo na execução do teste de reação postural membro torácico - https://youtu.be/vOrZYysD0Rg

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 53


Capítulo 6 – Semiologia neurológica

da borda da mesa. Ao tocar a mesa o paciente deve imedia- Quais NC eu devo avaliar?
tamente posicionar a pata sobre a mesa. No teste visual rea- NC I – Nervo olfatório
liza-se a mesma manobra, porém a única diferença é que os Não é avaliado de rotina por apresentar uma resposta
olhos do paciente não são cobertos durante o teste. Sendo falso positiva. A interpretação do odor não tem como ser
assim esse teste pode ainda detectar déficit visuais. avaliada pelo neurologista veterinário de forma precisa,
porem devemos evitar certas manobras que podem sugerir
uma interpretação incorreta com relação ao NC suposta-
mente testado. Usar substância irritativa próximo as nari-
nas, como álcool 70%, para avaliar a função do NC I pode
na verdade estimular a atividade sensitiva do NC V (trigê-
meo) que se localizam nas mucosas das narinas, e conse-
quentemente o paciente afastará a face pela ação irritativa
e não por reconhecer o odor.

NC II – Nervo óptico
É importante posicionar-se de frente ao paciente para
melhor avaliação de assimetria pupilar (anisocoria)
(Figura 9). Em seguida realize a avaliação fotomotora,
Vídeo 8 – Apesar do paciente apresentar ausência bilate- incidindo a fonte de luz nas pupilas e realize o teste do
ral do posicionamento proprioceptivo, foi avaliado assi- reflexo direto e consensual. É fundamental tapar o olho
metria no teste de saltitamento - https://youtu.be/V8VsEr8cc_k que não está sendo avaliado no momento de incidir a luz
em direção ao olho a ser avaliado.
Carrinho de mão e hemideambulação Para realizar o teste de resposta a ameaça, é fundamental
Esses testes podem ser usados de maneira alternativa em cobrir o olho que não será avaliado. Faça um movimento
casos de ambiguidade ou avaliação duvidosa. O carrinho de ameaçador para que o paciente interpréte como uma ameaça
mão pode ser realizado em membros torácicos e pélvicos. e pisque (por isso deve-se usar o termo resposta e não re-
Sustente o abdome e projeto o corpo do paciente para frente flexo, pois há atuação do córtex cerebral na modulação da
com os membros torácicos tocando a superfície ou sustente resposta) (Vídeo 9). Lembre-se de testar a capacidade do
o tórax e projete o corpo do paciente para trás estimulando- paciente de piscar tocando com uma pinça hemostática
o a caminhar com membros pélvicos. Na hemideambulação sobre as pálpebras. A resposta à ameaça pode ser defi-
sustente os membros torácicos e pélvicos do mesmo lado e ciente em filhotes caninos e felinos (com menos de 12 se-
projete o corpo do paciente para lateral (Figura 8). manas de vida) em função da imaturidade cerebelar 4.

Figura 8 – Teste de carrinho de mão Figura 9 – Anisocoria em felino


em felino com vestibulopatia central

NERVOS CRANIANOS NC III – Nervo oculomotor


Avaliar os 12 nervos cranianos (NC) talvez se torne uma NC IV – Nervo troclear
tarefa muito complicada. O bom exame neurológico precisa NC VI – Nervos abducente
ter uma avaliação bem-feita dos NC, porém muitas vezes Esses nervos cranianos são avaliados em conjunto por se-
nossos pacientes não são colaborativos, e nesta situação a rem responsáveis pela movimentação dos olhos. O NC III con-
avaliação de forma rápida e criteriosa dos NC é necessária. trola ainda a movimentação pupilar (função parassimpática)

54 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 6 – Semiologia neurológica

NC VII – Nervo facial


Avalie simetria da face do paciente, buscando identificar
possíveis ptoses de lábios e pálpebras. Durante a avaliação
do reflexo palpebral e no teste de resposta a ameaça é pos-
sível identificar se o paciente tem capacidade de piscar. O
NC VII tem função parassimpática e é responsável pelo
controle da produção lacrimal e por isso recomenda-se o
teste lacrimal de Schirmer.

NC VIII – Nervo vestíbulo coclear


É um NC considerado de função mista por apresentar
uma porção coclear, que tem uma avaliação questionável
com relação ao nível de interpretação do estímulo auditivo
por parte do paciente, e uma porção vestibular que se pode
identificar a alteração neste nervo através da posição in-
Vídeo 9 – Teste de resposta à ameaça - correta da cabeça (inclinação), nistagmo anormal e até
https://youtu.be/8mSNKPvOQCg mesmo andar em círculo.
Os demais NC podem ser avaliados, porém a resposta
avaliado pelo teste fotomotor. O estrabismo quando identi- nem sempre é confiável. Na anamnese questione sobre dis-
ficado sugere que o NC IV e NC VI estejam envolvidos. fagia, regurgitação ou disfonia na tentativa de identificar
Essa alteração pode ser identificada com a incidência da luz alterações em NC IX (glossofaríngeo) e NC X (vago). Pal-
sobre o olho afetado ou devido mau posicionamento do ca- pação e observação da simetria e massa muscular da região
beça (movimento de ventroflexão e dorsoflexão – não rea- cervical podem ajudar a identificar alterações na atividade
lizar esse teste em pacientes com suspeitas de lesões em do NC XI (acessório).
região cervical). Ao realizar o teste oculocefálico (nistagmo
fisiológico) movimentando cabeça do paciente para cima e NC XII – Nervo hipoglosso
para baixo, de um lado para o outro, o NC VIII (sensorial), Avaliação do tônus da língua, simetria e se há atrofia
III, IV, VI (motores) são avaliados 4 (Vídeo 10). podem ajudar a identificar lesões no nervo. Assistir o paciente
bebendo agua também ajuda a avaliar a função da língua.
NC V – Nervo trigêmeo
Apresenta duas porções, sendo a porção motora avaliada REFLEXOS ESPINHAIS
pela visualização, palpação da musculatura do músculo Reflexo é uma reação corporal automática (imediata) à
temporal e masseter buscando identificar assimetria, tume- estimulação, corresponde a toda e qualquer atividade ou
fações ou hipotrofia. A porção sensorial é avaliada através variação de atividade de um órgão efetor (ex: músculo) que
do teste de sensibilidade nasal (ramo oftálmico ou maxilar) possa ser provocada de maneira regular pela estimulação
com estimulação da porção interna das narinas pode iden- natural ou experimental de um receptor ou de um grupo de
tificar alterações sutis deste NC. receptores determinados, ou ainda, pelas fibras nervosas
aferentes que lhe correspondem. Através dos testes dos re-
flexos espinhais podemos avaliar a integridade desses com-
ponentes sensoriais e motores do arco reflexo e a influência
das vias motoras descendentes do NMS 6 (Quadro 2).
Assim como os NC, alguns reflexos espinhais não serão
tão uteis como outros na elucidação da localização da lesão.
Sendo assim neste capitulo serão abordados apenas os refle-
xos espinhais que devem ser testados para estabelecer o local
da lesão. Estabelecer uma ordem de execução dos testes
facilita o aprendizado e consequentemente a interpretação.

Quadro 2 – Interpretação da resposta do reflexo espinhal


Ausente sinal compatível com lesão no NMI
Diminuído sinal compatível com lesão no NMI
Normal sinal compatível com lesão no NMS
Aumentado sinal compatível com lesão no NMS
Vídeo 10 – Movimento de ventro-flexão para avaliação de Clônus sinal compatível com lesão no NMS
estrabismo - https://youtu.be/bqjugq74KlQ NMI: neurônio motor inferior NMS: neurônio motor superior

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 55


Capítulo 6 – Semiologia neurológica

Recomenda-se deixar por último, testes que geram descon-


forto ao paciente pois a colaboração deles será fundamental
para uma execução correta do exame neurológico. Inicie pela
avaliação do tônus muscular, em seguida os reflexos miotá-
ticos, e por último reflexos flexores (ex: reflexo de retirada).
Torna-se mais confiável iniciar o exame pelos membros pél-
vicos e posteriormente pelos membros torácicos. Finalize
com o teste de reflexo perineal e cutâneo do tronco.

Tônus muscular (tônus extensor)


É considerado um dos testes mais confiáveis e pode ser
realizado com o paciente em decúbito lateral ou em estação.
Sua execução é simples e basta aplicar uma pressão suave Figura 10 – Posicionamento para teste de tônus
contra os coxins palmar e plantar para avaliação dos mem- muscular em membros pélvico e torácico
bros torácicos e pélvicos, respectivamente. Quando é apli-
cada a pressão, o tônus extensor fica aumentado, isso indica
lesão de NMS (Figura 10). observe como o paciente se comporta e se tem a capacidade
de detectar o estímulo doloroso do pinçamento. Este teste
Reflexo patelar avalia a integridade do plexo do membro torácico e do pél-
É o reflexo miotático mais confiável utilizado na rotina vico, portanto se o reflexo estiver diminuído ou ausente es-
clínica. Para melhor avaliação recomenda-se deixar o pa- tamos diante de uma lesão de NMI ou SNP (Vídeo 12).
ciente em decúbito lateral, manter o membro pélvico a ser
testado sustentado por uma das suas mãos enquanto a outra Reflexo perineal (anal)
mão com auxílio de martelo pleximétrico realiza a percussão Avalia a integridade dos segmentos medulares sacrais
do tendão patelar (localizado entre a crista tibial e a patela). (S1-S3) e caudais (flexão da cauda). A resposta esperada é
É importante manter o membro semiflexionado. Lembrando a contração do esfíncter anal e flexão da cauda. Para reali-
que o movimento de resposta esperado é a extensão rápida e zar o teste exponha a região perineal e toque o lado direito
isolada do joelho, desta forma é possível avaliar a integridade
do nervo femoral e dos segmentos medulares L4-L6. Por-
tanto se o reflexo está normal ou aumentado, estamos diante
de uma lesão de NMS. Se o reflexo esta diminuído ou au-
sente provavelmente uma lesão de NMI ou sistema nervoso
periférico (SNP) (Figura 11) (Vídeo 11).

Reflexo flexor (retirada)


Avalia a integridade dos segmentos medulares respon-
sáveis pelo membro torácico (C6-T2) e membros pélvicos
(L6-S2). O teste consiste em pinçar a pele interdigital com
o membro estendido. A resposta deve ser imediata com um
movimento de flexão total das articulações ombro, cotovelo
e articulação carpo radio ulnar (membro torácico) e articu-
lação coxofemoral, joelho e tíbio társica. Neste momento Vídeo 11 – Reflexo patelar - https://youtu.be/gZbcyYLJwts

Figura 11 – A) Decúbito lateral com sustentação do peso do membro a ser testado. B) Localização do tendão patelar

56 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 6 – Semiologia neurológica

Vídeo 12 – Teste de reflexo flexor em membro pélvico - Vídeo 13 – Teste de reflexo perineal -
https://youtu.be/nU4A5wSW2-A https://youtu.be/rfyyAZzi3xA

e esquerdo de forma gentil e observe se há alteração na con- PALPAÇÃO


tração de esfíncter e movimentação da cauda (Vídeo 13). A palpação pode ajudar a localizar pontos com maior sen-
sibilidade dolorosa, crepitação, instabilidade/luxação, tume-
Reflexo cutâneo do tronco (panículo) fação ou até mesmo atrofia, mas não podemos esquecer
Avalia a integridade dos segmentos sensorial de todos quais manobras podem gerar dor e/ou gerar uma reação
os dermátomos ao longo da coluna vertebral toracolombar. comportamental inesperada. Portanto a intensidade da força
O componente eferente é mediado pelo nervo torácico la- que se aplica no momento da execução do teste pode influen-
teral e pelos segmentos medulares C8-T1. Esse reflexo está ciar o nível da resposta e ainda pode colocar o paciente em
presente apenas na região toracolombar. Recomenda-se ini- risco desnecessário em casos de fraturas ou instabilidades.
ciar o teste na região lombossacra e seguir em sentido Inicie pela cabeça em busca de assimetria, deformidades,
caudo-cranial até região das primeiras vértebras torácicas. fontanelas abertas ou até mesmo tumefações. Compare a sime-
Teste cada segmento vertebral individualmente estimu- tria da musculatura da mastigação (músculo masseter e tem-
lando (pinçando) lado direito e lado esquerdo da pele pa- poral), gentilmente abra a boca e veja se há resistência na
ravertebral ao processo espinhoso da vértebra. A resposta realização do movimento de amplitude, dor ou crepitações.
esperada é a contração do músculo cutâneo do tronco em A palpação da coluna vertebral difere entre a região cervi-
forma de espasmos, sendo assim a partir da região onde o cal e toracolombar. Não há necessidade de palpação da região
reflexo torna-se visível será o nosso ponto de corte. A partir cervical se o paciente já apresenta uma postura álgica (Figura
deste ponto de corte deve-se interpretar que o local da lesão 12). Porem se a dor não for perceptível, palpe a muscula-
estará de 1-4 segmentos medulares craniais, em média 2 tura cervical e procure por espasmos, e se essa manobra não
corpos vertebrais craniais (Vídeo 14). causou dor ao paciente proceda gentilmente com a flexão
Estes são os principais reflexos espinhais confiáveis e extensão do pescoço.
que devem ser testados no exame neurológico, porém Pacientes que apresentam traumas ou instabilidade
existem outros reflexos que podem contribuir na locali- vertebral contraindica-se esta manobra de flexão/exten-
zação da lesão, apesar de não serem considerados total- são. Posicione-se lateralmente ao paciente e inicie a pal-
mente confiáveis e por isso não serão abordados neste pação da coluna cervical pela região ventral caudal
capítulo. (região de C6-C7). Identifique as estruturas ósseas como

A B

Vídeo 14 – Reflexo cutâneo do tronco. A) Visão lateral - https://youtu.be/QWfW8sEJgAo. B) Visão dorsal - https://youtu.be/EXa6mM-r3fs

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 57


Capítulo 6 – Semiologia neurológica

ponto de referência (processo transverso de C6), afaste de- dade de recuperar as funções dos tratos da medula espinhal.
licadamente traqueia e esôfago e deslize os dedos em sen- Justamente porque as vias da dor profunda são mais resis-
tido caudocranial, fazendo pressão a palpação (Figura 13). tentes à danos do que outros tratos como da função motora
Na coluna toracolombar a palpação deve ser executada ou da propriocepção. A interpretação da resposta da mano-
em região de musculatura paravertebral, desde as primeiras bra que avalia a integridade dos tratos da dor superficial e
vértebras torácicas até as últimas lombares. Posicione uma da dor profunda pode gerar dúvida de interpretação.
das suas mãos em região abdominal para ajudar na sustenta- A interpretação da resposta está relacionada à execução
ção do corpo no momento da palpação mas evite pressionar da resposta do reflexo flexor. Se o paciente não apresenta
de forma intensa a região abdominal para que não seja con- lesão de NMI, o reflexo flexor sempre estará presente. Par-
fundido a origem da manifestação de dor entre abdome e a tindo deste princípio, caso o paciente não tenha reconhe-
palpação da coluna (Figura 14). cido o estímulo doloroso, mesmo assim, ele deve executar
o movimento de flexão das articulações do membro tes-
PERCEPÇÃO DA DOR (TESTE NOCICEPTIVO) tado. Interpretaremos como resposta positiva para o teste
A manobra de avaliação da qualidade de percepção da nociceptivo caso haja uma resposta comportamental com
dor pode ser interpretado pelo tutor como sendo algo movimentação consciente da cabeça em direção aos estí-
muito bruto ou cruento, por isso deixe claro ao tutor a im- mulos, vocalização do paciente, taquicardia, taquipneia ou
portância do paciente conseguir identificar o estímulo, que midríase.
apesar de doloroso, será muito importante na decisão sobre Para executar o teste nociceptivo de dor superficial, po-
o prognóstico. sicione o paciente em decúbito lateral direito ou esquerdo,
Realize este teste em paciente não ambulatório para e com auxílio dos seus dedos comprima (“belisque”) a
estabelecer se o segmento lesado da medula espinhal pele da região interdigital e observe se ocorreu manifes-
perdeu a capacidade de conduzir o estímulo até o córtex tações comportamentais ou se ocorreu o movimento de
cerebral, e consequentemente identificação da dor pelo pa- flexão das articulações do membro a ser testado. Inter-
ciente. A nocicepção é dividida entre dor superficial (rá- pretaremos como uma resposta positiva caso o paciente,
pida e origem de estruturas mais superficiais como a pele) independentemente de executar o movimento de resposta
e dor profunda (lenta e origem de estruturas mais profun- do teste flexor, demonstre fisiologicamente que reconheceu
das como periósteo). conscientemente o estímulo doloroso (Vídeo 15).
O teste nociceptivo é considerado um teste confiável Para realização do teste nociceptivo de dor profunda,
para determinação do prognóstico com relação a probabili- ainda com o paciente em decúbito lateral, com auxílio de

A B

Figura 12 – Palpação da coluna cervical. A) Localização de processo transverso da 6ª vértebra cervical. B) Palpação
em região ventral da coluna cervical

58 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 6 – Semiologia neurológica

Figura 13 – Palpação dorsal de coluna toracolombar

uma pinça hemostática inicie uma pressão discreta em um seu efeito por meio de estimulação e inibição do NMI que
dos ossos da falange e aumente a intensidade gradualmente controla a musculatura que movimenta o membro. Este é
até obter a resposta comportamental de reconhecimento do o conceito básico para entendermos a localização da lesão
estímulo. (Vídeo 16). (Figura 14).
É importante destacar que os segmentos da medula espi-
LOCALIZAÇÃO DA LESÃO nhal de um modo geral estão localizados em posição cranial
A localização da lesão está diretamente relacionada no canal vertebral em relação a vértebra de mesmo número.
ao conhecimento neuroanatômico funcional e não fun- Por exemplo, na maioria dos cães os segmentos medulares
cional, tornando para muitos uma tarefa desafiadora. Tão sacrais estão localizados dentro da 5ª vértebra lombar (L5),
importante quanto é a correta interpretação dos sinais segmentos responsáveis por movimentação da cauda.
clínicos da disfunção neurológica. Partiremos do princí- Sendo assim, para conseguirmos localizar devidamente
pio de que o fisiatra tem que ser capaz de localizar a região a lesão precisamos considerar uma divisão da coluna ver-
da lesão para determinação de qual protocolo de tratamento tebral que contemple os segmentos medulares correspon-
será estabelecido ao paciente, mas não há necessidade dentes a tal sintomatologia de lesão de NMS ou NMI.
real de uma localização extremamente precisa do local da A divisão sugerida:
lesão. • região cervical (C1-C5) – localizam-se NMS de impor-
O NMS origina-se no encéfalo e se comunica através dos tância clínica. Lesão região afetarão a princípio os mem-
tratos da medula espinhal, com o NMI. O NMS exerce o bros torácicos e pélvicos;

Figura 14 – Fluxograma para localização da lesão

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 59


Capítulo 6 – Semiologia neurológica

Vídeo 15 – Teste de nocicepção por estímulo interdigital - Vídeo 16 – Teste de nocicepção por estímulo periosteal -
https://youtu.be/bYqEqTI8Pnk https://youtu.be/pCPxkXhc2cs

• região cervicotorácica (C2-T2) – localizam-se NMI de 04-DEWWY, C. W. ; DA COSTA, C. R. Neurologia Canina e Felina
importância clínica responsáveis por movimentar o mem- – Guia Prático. 1. ed. São Paulo : Editora Guará, 2017. 752 p.
ISBN: 978-85-87925-02-2.
bro torácico. NMS que se originaram no córtex cerebral e
05-LEVINE, J. M. ; HILMANN, R. B. ; ERB, H. N. ; DE
que se comunicariam com os NMI da região lombossacra LA HUNTA, A. The influence of age on patelar reflex response
(L4-S3) também estão localizados nesta região. Ou seja, in the dog. Journal of Veterinary Internal Medicine, v. 16, n. 3,
uma lesão nesta região causaria sinais de lesão de NMI em p. 244-246, 2002. DOI: I: 10.1111/j.1939-1676.2002.tb02364.x.
membros torácicos e sinais de lesão de NMS em membros 06-LORENZ, M. D. ; COATES, J. R. ; KENT, M. Handbook of
pélvicos; Veterinary Neurology. 5. ed. Philadelphia: Elsevier, 2010. 560
p. ISBN: 978-1437706512.
• região toracolombar (T3-L3) – localizam-se NMS de
07-PLATT, S. ; OLBY, N. BSAVA Manual of Canine and Feline
importância clínica para os membros pélvicos. Uma lesão
Neurology. 3. ed. Gloucester, UK: BSAVA, 2005. 350 p. ISBN:
nesta região não pode afetar a movimentação e nocicepção 978-0905214740.
dos membros torácicos mas os membros pélvicos se apre- 08-SAMMUT, V. Skills laboratory: Part 1: Performing a neurologic
sentarão com sinais de lesão de NMS; examination. Veterinary Medicine, v. 100, p. 118-132, 2005.
• região lombossacra (L4-S3) – localizam-se NMI respon- 09-SAMMUT, V. Skills laboratory: Part 2: Performing a neurologic
sáveis pela movimentação dos membros pélvicos. examination. Veterinary Medicine, v. 100, p. 136-142, 2005.
10-TUDURY, E. A. ; ARAUJU, B. ; FERNANDES, T., et al. Carpi
CONSIDERAÇÕES FINAIS radialis and cranial tibial reflexes:myotatic or muscular
response? Proceedings ESVOT Congress Bologna, Italy,
Esse capítulo foi elaborado a partir dos conhecimentos 2012.
e experiência do autor baseado na literatura da especia-
lidade 1,2,3,4,5,6,7,8,9,10. A execução de um exame neuroló-
COMO CITAR ESSE CAPÍTULO
gico para muitos pode se tornar um grande desafio, mas
FILHO, M. M. M. Semiologia neurológica. In: LOPES, R. S. ; DINIZ,
o verdadeiro desafio é desenvolver a técnica correta de exe- R. Fisiatria em pequenos animais. 1. ed. São Paulo : Editora Inte-
cução do seu exame neurológico, de maneira prática e ágil. ligente, 2018. p. 49-60. ISBN: 978-85-85315-00-9.
Neste capitulo foi estabelecido, de forma criteriosa, que
não há necessidade da realização de inúmeros testes
quando se existe a possibilidade de estabelecer a localiza-
ção da lesão apenas com testes que realmente poderão te
ajudar nesta tarefa. Basta treinar, treinar e treinar!

REFERÊNCIAS
01-BANGLEY, R. S. Fundamental of Veterinary Clinical Neurology.
Ames, IA : Blackwell, 2005.
02-DE LAHUNTA, A. ; GLASS, E. ; KENT, M. Veterinary
Neuroanatomy and Clinical Neurology. 4. ed. St. Louis, MO :
Elsevier, 2015. 587 p. ISBN: 978-1455748563.
03-DEWEY, C. W. A practical guide to canine & feline neurology.
2. ed. Ames, Iowa :Wiley-Blackwell, 2008. 720 p. ISBN: 978-
0813816722.

60 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


7
Diagnóstico zookinésico

Graciela Mabel Sterin

H
oje em dia se reconhece a importância em empre- usando os reflexos posturais fundamentais durante a rota-
gar os métodos oferecidos pela medicina física ção da cabeça, na rotação de um membro, na oclusão dos
para a recuperação biomecânica e funcional de olhos etc., suprimindo estímulos nociceptivos plantares,
nossos pacientes. O estudo da biomecânica e o aprofunda- mandibulares ou cicatriciais, ou modificando através de
mento no diagnóstico, auxiliam na reabilitação de pacientes prismas ou estímulos plantares posturais.
com lesões ortopédicas e neurológicas. A eficácia do músculo está relacionada à força muscular
no momento da contração, a velocidade de encurtamento e
Definição a tensão desenvolvida.
O diagnóstico zookinésico 24 se fundamenta na obser-
vação e avaliação dos elementos anatômicos e funcionais Propriedades mecânicas do músculo
que correspondem a medula espinhal e ao sistema loco- As características e propriedades do músculo são:
motor, cobrindo todos os componentes neuro-mús- • excitabilidade: é a capacidade de responder a um estímulo;
culo-esqueléticos de forma estática e de forma dinâmica, • condutividade: é a capacidade de conduzi-lo;
considerando as características das cadeias cinemáticas do • contratilidade: é a capacidade de gerar trabalho;
paciente 22. Tem como objetivos: • elasticidade: é a capacidade de recuperar sua forma inicial;
• diagnosticar e prevenir disfunções; • tonicidade: é a capacidade de gerar tensão (possui com-
• desenvolver, restaurar, melhorar ou manter o estado fun- ponente neurológico e mecânico).
cional normal. A força muscular pode ser aumentada por mudanças no
sistema neuromuscular 24. Entre os fatores que influenciam
AVALIAÇÃO GERAL DO PACIENTE 9, 8 a força de um músculo saudável estão:
É importante avaliar o paciente como um todo, consi- • força;
derando suas dores e distúrbios funcionais. Para organizar • resistência muscular;
o diagnóstico de forma didática, deve-se seguir as diretrizes • mobilidade e flexibilidade;
convencionais: • estabilidade;
• resenha: espécie, sexo, idade, raça, peso; • coordenação, equilíbrio e capacidades funcionais.
• anamnese: quadro clínico, habitat (lar, apartamento, com
acesso a rua), atividade (doméstico, esportes, exposição, Força
trabalho, guarda), nutrição, história (especialmente traumá- Para avaliar a força medimos o perímetro muscular, bem
ticas por exercícios de impacto), cirurgia (geral e/ou orto- como a relação entre comprimento e tensão: o músculo pro-
pédica-traumatológica); duz tensão máxima na posição de alongamento médio. É
• inspeção / observação 24: importante considerar o recrutamento de unidades motoras:
• estática: postura, atitude, aprumos, desenvolvimento quanto maior o número de unidades motoras trabalhando,
muscular, força, resistência muscular, resistência do or- maior a força muscular, a distribuição de tipos de fibras tam-
ganismo, estabilidade, medição de ângulos articulares, bém influencia. Tipo e velocidade de contração muscular: o
tônus e trofismo muscular; músculo desenvolve sua força máxima quando se contrai de
• dinâmica: mobilidade, flexibilidade, coordenação, forma excêntrica contra uma resistência. O fluxo sanguíneo
equilíbrio e capacidade funcional. e as reservas de energia são importantes no momento de rea-
lizar a reabilitação funcional. A colaboração e a motivação
Princípios básicos da avaliação clínica do tônus muscular do paciente são de extrema importância neste momento.
Existem três formas clássicas de avaliar o tônus mus-
cular: Resistência muscular
• observando a posição recíproca das diferentes peças es- A resistência é a capacidade de contrair um músculo re-
queléticas; petidamente, esperando assim gerar e manter a tensão, e re-
• sentindo a resistência que opõem os músculos ao alonga- sistir a fadiga por tempos mais longos. Quanto maior a
mento; resistência, maior o número de contrações. A resistência do
• observando as modificações da atividade motora. organismo como um todo é a capacidade do indivíduo para
Todos os estímulos periféricos de qualquer natureza são manter uma carga de baixa intensidade por mais tempo,
capazes de provocar reações tônicas musculares 24. como por exemplo, em caminhadas ou corridas. Exercícios
Mais importante do que a avaliação absoluta da resis- como andar, correr e nadar hipertrofiam grandes grupos
tência dos músculos ao alongamento, é a variação dessa musculares. A duração deve ser de 15 a 30 minutos a cada
resistência sob a influência de diversas modificações, seja 2 ou 3 dias, respeitando os períodos de descanso.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 61


Capítulo 7 – Diagnóstico zookinésico

Mobilidade e flexibilidade muscular ativa (mas não contínua) em resposta a reação do


Ambas características são mantidas sempre que os mo- sistema nervoso frente aos estímulos, ou seja, o tônus mus-
vimentos fisiológicos são realizados. Na realização desses cular. Devemos também considerar seu estado nutricional
movimentos é necessário força, resistência e mobilidade ou trofismo muscular 1,9,24.
dos tecidos moles (pele, tecido conjuntivo, músculo e liga-
mentos articulares). No tratamento para recuperar a flexi- CLASSIFICAÇÃO DAS DISFUNÇÕES
bilidade de um músculo se deve conhecer seus processos Elementos anatômicos e funcionais a serem
neurofisiológicos. No tratamento para restaurar o movi- considerados para o diagnóstico
mento articular são utilizadas técnicas de articulação geral A dor é definida como uma sensação desagradável que
ou específica como a tração passiva, o deslizamento das está associada a um dano atual ou potencial aos tecidos,
superfícies articulares (uma contra a outra), para manter ou que se manifesta com uma resposta defensiva e cognitiva.
recuperar a amplitude articular. Na presença de patologias neuro-musculo-esqueléticas,
ocorrem vários sintomas, que devemos considerar para
Estabilidade poder enfrentar um tratamento de reabilitação adequado,
É a coordenação sinérgica do sistema neurológico e levando em consideração o momento em que começa, ou
muscular, que criará uma base segura para a realização de seja, se é dor aguda, crônica ou suas consequências.
um movimento. A estabilização inclui: Devemos considerar a magnitude da lesão e as patolo-
• a força adequada para manter a posição; gias associadas, alterações gástricas, cardíacas, renais, en-
• a resistência e a coordenação suficiente; dócrinas, associadas a patologias degenerativas, músculo
• a mobilidade suficiente para uma posição correta. esquelético.
A estabilização é necessária tanto nos membros toráci-
cos quanto nos membros pélvicos. O controle correto dos Localização do locus dolenti
segmentos cranianos é necessário para que os segmentos A limitação das atividades está associada à dor. Muitas
caudais possam realizar sua atividade normalmente. Fre- vezes isso não se manifesta de forma audível em nossos
quentemente, os distúrbios locomotores estão acompanha- pacientes. A dor da como manifestação clínica uma disfun-
dos por fraqueza em alguma parte da "cadeia cinemática" ção locomotora. Devemos localizar o ponto de dor, para
ou cadeia de movimento, o que pode causar uma estabili- melhorar esse sintoma e suas consequências biomecânicas
zação insuficiente e, portanto, sobrecargas inadequadas. e funcionais.

Coordenação, equilíbrio e capacidades funcionais Tipos de dor de acordo com o tempo decorrido
Coordenação, equilíbrio e capacidades funcionais repre- • Dor aguda: aquela que tem curso breve e geralmente está
sentam os aspectos mais complexos da motricidade. relacionada a processos graves.
A coordenação está relacionada com o uso dos múscu- • Dor crônica: identificada como dor prolongada e é man-
los no momento correto, com integridade neurológica com- tida por um período de tempo maior que 12 semanas.
pleta, com a intensidade correta e a sucessão de movimentos
corretos. A coordenação é a base para um movimento fluido Tipos de dor de acordo com sua origem
e eficaz, que pode ser realizado de forma voluntária ou in- Esquematicamente podemos classificar a dor de acordo
voluntária (automática). com a sua origem química, mecânica e neurálgica. Às
O equilíbrio é a capacidade de manter o centro de gravi- vezes a química e a mecânica se sobrepõem, uma vez que
dade do corpo, acima da superfície de suporte. Isso pode ser uma conduz à outra, embora suas origens sejam diferentes.
observado com o animal em estação. O equilíbrio é um fe- • Dor de origem química: é aquela que procede de al-
nômeno dinâmico, que combina mobilidade e estabilidade. terações metabólicas e eletroquímicas locais, causadas
As capacidades funcionais estão relacionadas com as por inflamação aguda, estiramento de tecido, ruptura
diferentes atividades motoras que permitem que o paciente vascular etc. Eles geralmente se sobrepõem às dores
se mova de maneira autônoma para alcançar suas diferentes mecânicas do sistema locomotor, tais como: tendões, te-
atividades diárias, comer, andar, correr, urinar, defecar etc., cido muscular, cápsulas ou articulações, inserções os-
e dependem de uma motricidade normal. teotendinosas.
A coordenação, o equilíbrio e a capacidade funcional • Dor de origem neuropática: se temos raízes nervosas
dependem do sistema somatossensorial e da propriocepção comprimidas, danificadas ou desmielinizadas em qual-
(sistemas de percepção corporal), que são a base para rea- quer lugar de seu trajeto, pode produzir parestesias na
lizar atividades funcionais de nossos pacientes. zona de inervação, que se manifestam com adormeci-
Para avaliarmos os casos de disfunção muscular é im- mento, formigamento e dor e insuficiência neurovege-
portante considerarmos o músculo como um órgão essencial tativa, tanto sensorial quanto motora. Isso resultará em
na realização do movimento. Devemos levar em con- dor de origem química, já descrita. É a dor irradiada, tem
sideração suas características de tensão ou estado de elas- uma trajetória, uma localização profunda que não é pal-
ticidade passiva (turgor) do tecido muscular, e de contração pada, pode manifestar-se em atividade e em repouso,

62 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 7 – Diagnóstico zookinésico

pode ser mais ou menos intensa dependendo da postura, muscular de 25%;


é comum observar posições compensatórias antálgicas, • moderada: o perímetro muscular tem uma diminui-
por exemplo, cifose toracolombar. ção de 50%;
• Dor de origem mecânica: quando um tecido é subme- • grave: a diminuição corresponde a uma diminuição
tido a compressão excessiva (por exemplo, uma cartila- de 75% no perímetro desse músculo.
gem), ou se temos um alongamento prolongado (tendão), Atrofia: diminuição do volume e do peso do mús-
ou está enfrentando um esmagamento permanente, po- culo, devido a defeito nutricional severo. Nós cha-
demos dizer que é uma dor de origem mecânica e os me- mamos de atrofia muscular a diminuição do
canorreceptores são responsáveis por transmitir esse tipo perímetro muscular superior a 80%.
de dor. Podemos dizer que quando relaxamos o músculo, • Atrofia por desuso: diminuição do tecido devido
reduzimos a dor que este gera à distância. à falta de atividade.
• Atrofia miopática: diminuição ou atrofia mus-
Incapacidade ou limitação 24 cular idiopática.
O paciente é limitado na realização de atividades diá- Normotrofia: nutrição e desenvolvimento muscu-
rias. Por exemplo: andar, correr, urinar, defecar, de forma lar normal, sem manifestação de alterações patoló-
normal. Incapacidade é a falta absoluta ou total de potência gicas. De acordo com características de raça, sexo
para a atividade diária, quando ocorre, o sintoma é a perda e idade.
completa de aptidão ou função. Já a limitação é a dificul- Hipertrofia: desenvolvimento exagerado dos mús-
dade, imperfeição ou desordem parcial para manter a po- culos sem alteração da sua estrutura, com o conse-
tência no momento de realizar uma atividade. quente aumento de peso e volume.
Hipotonia: tensão ou tonicidade dos músculos, que
Deficiência estrutural se encontra diminuída. Classificada em:
Observamos as deficiências do paciente em sua muscu- • leve: apresenta uma diminuição do tônus mus-
latura, articulações, nervos e se apresenta incapacidade. cular de 25%.
A disfunção da musculatura, dos ossos, das articulações • moderada: seu tônus muscular tem uma dimi-
e dos nervos resultará na deficiência da estrutura física nuição de 50%.
como um todo. • grave: a diminuição corresponde a 75% de di-
minuição no tônus desse músculo.
Modificações do músculo Normotonia: tônus muscular normal e em equilíbrio.
Definições de tônus e trofismo muscular 1, 24. O músculo Hipertonia: Relacionado ao tônus e à tensão mus-
é o órgão essencial para a realização do movimento e pos- cular exagerados. Pode ser associada a espastici-
sui grande elasticidade e adaptabilidade. Suas fibras podem dade ou rigidez muscular. Nós classificamos isso
se alongar e contrair para cumprir os diferentes movimen- em:
tos de flexão e extensão. Modifica-se na sua forma e con- • leve: apresenta um aumento do trofismo mus-
teúdo, passando por diferentes graus de hipotrofia até se cular de 25%.
atrofiar e perder de força e volume. Com o trabalho ade- • moderada: seu trofismo muscular tem um au-
quado pode se recuperar em pouco tempo. Quando um mento de 50%.
músculo se imobiliza em flexão, ele se adapta à sua nova • grave: o aumento corresponde a 75% do tro-
condição e modifica seu comprimento e sua recuperação é fismo normal desse músculo.
mais lenta. Quando há um estiramento extremo de origem Hipoplasia: diminuição da atividade formadora ou
traumática, apresenta frouxidão que gera instabilidade es- produtora do músculo. Pode apresentar um desen-
pecialmente nas articulações. volvimento muscular incompleto ou defeituoso.
• Tônus muscular 1, 24: Chamamos de tônus muscular Normoplasia: estado normal da atividade formadora
o estado de tensão ou turgência do tecido muscular e, de músculo.
de contração ativa do músculo como resposta à reação Hiperplasia: multiplicação anormal do número de
do sistema nervoso frente aos estímulos. O tônus mus- elementos teciduais e celulares.
cular é o grau de vigor do mesmo, cuja tensão é avaliada
no estado de repouso. Sempre que esses músculos este- Disfunção neurológica
jam inervados normalmente. Pode ser causada por uma doença neurológica de ori-
• Trofismo muscular 9,24: Enquanto o trofismo muscular gem medular ou periférica.
está relacionado ao seu estado nutricional 1.
Definições: BIOMECÂNICA
Hipotrofia: nutrição deficiente da musculatura es- Trata da ciência que estuda a relação entre as estruturas
triada, que pode se manifestar como um atraso no biológicas e o meio ambiente, com base nos princípios e
desenvolvimento. Nós classificamos isso em: leis da física mecânica; abrangendo desde a análise teórica,
• leve: apresenta uma diminuição no perímetro até a aplicação prática dos resultados obtidos.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 63


Capítulo 7 – Diagnóstico zookinésico

Bases da biomecânica
O principal objetivo da biomecânica é avaliar a relação
entre o movimento executado por um corpo vivo e o gasto
energético envolvido em sua realização; com a finalidade
de otimiza-lo, isto é, que esse movimento tenha o máximo
de rendimento possível. Para realizá-lo, ele baseia seu es-
tudo nas forças aplicadas, seu design e as possibilidades de
movimento do corpo estudado 2,24.
A mecânica baseia seu desenvolvimento em três ramos
principais:
• cinemática: estuda o movimento do corpo no espaço,
com um caráter puramente descritivo; sem avaliar as causas Figura 1 – Diagrama de Dempster
produtoras, nem o gasto energético que este movimento
exige;
• cinética ou dinâmica: estuda as causas que produzem membro torácico membro pélvico
movimento;
• estática: estuda o desenho das estruturas e a resposta das
mesmas às cargas que recebem. Do ponto de vista da bio-
mecânica, todo corpo vivo, humano ou animal, constitui
um sistema.
Elementos utilizados na biomecânica 2,5,6,9:
• diagrama de Dempster;
• diagrama de corpo livre;
• unidade biomecânica;
• segmento cinético funcional.
Figura 2 – Diagrama de corpo livre
Diagrama de Dempster
O esquema gráfico do diagrama Dempster (Figura 1) (UBM) que conhecemos como articulações. O quadrúpede
nos permite visualizar e analisar de maneira rápida o com- tem 5 (cinco) cadeias cinemáticas 19. Os membros torácicos,
portamento do centro de gravidade e as forças e cargas que os membros pélvicos e a quinta cadeia constituídos por
influenciam o deslocamento². Consideramos o corpo em todo o raque, incluindo a cabeça 6.
forma global como um único sistema, cujos componentes
estão relacionados, e, quando um de seus componentes é Unidade biomecânica (UBM):
modificado, as forças que atuam sobre ele serão modifica- Representa o conjunto de estruturas que permitem a rea-
das e/ou deslocadas, como uma entidade interdependente. lização do movimento nos membros.

Diagrama livre do corpo Segmento cinético funcional (SCF): conjunto de estrutu-


Se entende por diagrama do corpo livre (Figura 2) a re- ras que permite o movimento da coluna vertebral. Ambos
presentação gráfica usada muitas vezes por físicos e enge- são formados pelas articulações e pelos elementos periar-
nheiros para analisar as forças que atuam em um corpo ticulares. Sua composição é: osteoarticular, neuromuscular
livre 19. O diagrama do corpo livre é um caso particular de e angiovegetativo 2,11,24.
um diagrama de força, expressão usada como equivalente. As cadeias cinemáticas podem ser 6:
Facilita a identificação das forças e momentos que • cadeias abertas: o último elemento se encontra livre ou
devem ser levados em consideração para a interpretação e tem resistência tal que, se limita a possibilidade de movi-
possível resolução do problema. É utilizado para a análise mento, não o impede;
das forças internas que atuam nas diferentes estruturas e • cadeias fechadas: o último elemento enfrenta resistência
serão representadas como vetores. Tomamos os membros absoluta, que não pode ser vencida e impede o movimento.
torácicos ou pélvicos como exemplo. As linhas devem ter
a direção e a amplitude correspondente ao osso que esta- Conclusões
mos representando. Analisamos anormalidades na marcha ou outras altera-
Sistema é o conjunto de elementos interrelacionados com ções de movimento que modificam a função, resultando em
um propósito comum. Como todo sistema é subdividido sinais clínicos como dor, inflamação, perda de força e re-
em subsistemas, que neste caso são as cadeias cinemáticas. sistência muscular. O equilíbrio do diagnóstico é dado por:
Cadeias cinemáticas: são as unidades dinâmico-funcionais • observação biomecânica do paciente;
do sistema. São formadas por sucessivas cadeias ósseas for- • conhecimento profundo do caso completo.
madas pelos ossos dos membros e as unidades biomecânicas O conjunto de elementos que utilizamos para o diagnóstico

64 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 7 – Diagnóstico zookinésico

e a profunda observação de suas causas e suas consequên- Analgesia por Medios Físicos. Ed.McGraw-Hill. Interamericana
cias biomecânicas, nos dará as bases fundamentais no de España. S.A.U. Madrid. 2003 p. 301-326.
momento de decidir os protocolos no tratamento da reabi- 18-PORTER M.; Physical Therapy. In: SCHOEN, A. M.; WYNN S.G.
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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 65


8
Avaliação da dor aguda

Marcia Aparecida Portela Kahvegian

O
controle da dor e o alívio do sofrimento são res- condição dolorosa, localização, periodicidade, fatores de-
ponsabilidades do médico veterinário. A dor sencadeantes, fatores que aliviam ou agravam a condição
aguda quando não tratada ou subtratada pode fa- dolorosa, incapacidades e anormalidades motoras associa-
cilmente evoluir para a dor crônica e, esta, quando não con- das à dor (alterações de marcha, equilíbrio, comprometi-
trolada, apresenta impacto importante na qualidade de vida mento da força e dos movimentos) e atitudes de postura
do indivíduo. anormais frente a dor 23.
Para o correto tratamento da dor aguda ou crônica se faz A história passada e presente do paciente também é im-
necessário uma minuciosa e confiável avaliação da dor, a portante, principalmente para diagnosticar a dor crônica 24.
qual é uma condição extremamente desafiante na medicina Informações sobre a presença de dor durante o exercício,
veterinária. A interpretação da dor envolve aspectos sensi- repouso, frio ou calor, fraqueza, fadiga e ataxia podem ser
tivos, cognitivos e comportamentais. Além da primeira per- importantes em diagnosticar a dor neuropática 22. A dor
cepção de dor no paciente veterinário, deve-se saber oriunda de neoplasias apresenta uma progressão lenta, en-
precisar o grau e intensidade da mesma, além de entender quanto as dores decorrentes de lesões traumáticas instalam-
se o tratamento da dor foi efetivo ou não para prospectar se subitamente.
uma nova estratégia de tratamento. As alterações motoras em casos de neuropatias são ca-
Atualmente, a dor é considerada o 5º sinal vital, fato que racterizadas por queixa por parte do tutor de fraqueza, ata-
eleva a conscientização entre os profissionais de saúde xia, dificuldade ao sentar/deitar ou levantar, instabilidade
sobre o tratamento da dor. Nesse sentido, a dor deve ser de marcha e relutância em brincar, correr ou saltar (esse úl-
avaliada, tratada e reavaliada. O registro periódico de sua timo, principalmente nos felinos).
intensidade é de grande valia para que se acompanhe a evo- Em humanos, a avaliação da dor ocorre pela descrição
lução dos pacientes e se realize os ajustes necessários ao do próprio paciente que normalmente relata o local e inten-
tratamento. sidade da dor, condição diferente na medicina veterinária,
A inclusão da avaliação da dor junto aos sinais vitais onde a avaliação do quadro álgico é estabelecido através
pode assegurar que todos os pacientes tenham acesso às da observação do comportamento do animal e parâmetros
intervenções para controle da dor da mesma forma que se fisiológicos. Nesse sentido, é de suma importância o exa-
dá o tratamento imediato das alterações dos demais sinais minador questionar o comportamento e hábitos do paciente
vitais. tanto em ambiente domiciliar, quanto externo, estabele-
Uma vez que não existe a comunicação verbal, o correto cendo o comportamento normal, anormal e novos compor-
diagnóstico da dor em medicina veterinária mostra-se uma tamentos que podem ser oriundos de um processo
tarefa árdua, sendo que agitação, ansiedade e medo podem adaptativo frente à dor ou uma resposta de alívio para o
ser confundidos com o processo álgico. quadro álgico.
É de suma importância o diagnóstico correto da etiolo-
gia da dor, investigando a causa base e tratando a doença Exame físico
primária. O exame físico e complementares se fazem ne- Quando a dor é aguda podem ocorrer alterações de pa-
cessário para esse propósito, além da anamnese detalhada, râmetros fisiológicos como aumento na frequência car-
uma vez que podem ocorrer variações comportamentais díaca, pressão arterial, frequência respiratória, do diâmetro
entre espécies e entre pacientes da mesma espécie. O fato pupilar, além de retenção urinária, diminuição da motili-
de um paciente não demonstrar dor não significa que ele dade do trato gastrointestinal, náuseas e vômitos. Por
não está experimentando um processo álgico, condição essa exemplo, a constipação pode ser um sinal inespecífico de
relacionada a espécie, comportamento, mecanismo presa- dor, enquanto náusea, vômitos e postura de prece são si-
predador, ambiente e hábitos. nais de dor visceral (Figura 1). As vísceras são mais sen-
síveis à distensão (bexiga e tratro gastrointestinal), sendo
que a bexiga extremamente repleta pode promover um
RECONHECIMENTO DA DOR quadro álgico. O miocárdio (no caso de humanos) é sen-
Anamnese sível à isquemia e o pâncreas susceptível à inflamação
A história e descrição verbal das características da dor (pancreatite).
e de outros sintomas associados (anormalidades sensitivas, Os dados fisiológicos como frequência cardíaca, res-
motoras, neurovegetativas, incapacidades e inabilidades) piratória, pressão arterial e tamanho das pupilas podem
por parte dos tutores é o preditor inicial no reconhecimento auxiliar no diagnóstico da dor, principalmente durante
da dor. Deve-se investigar aspectos cronológicos quanto uma cirurgia, mas são influenciados por muitos fatores,
ao início e ao curso da dor e da doença, estado atual da em ambiente hospitalar. Tallant e colaboradores, 2016 21

66 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 8 – Avaliação da dor aguda

demonstraram que quanto maior o estímulo cirúrgico, du- deve-se tocar e depois pressionar gentilmente a área adja-
rante o transcirúrgico, maior o incremento na pressão arte- cente à ferida cirúrgica ou trauma (em torno de 1 a 2 cm)
rial média, diastólica e da frequência cardíaca. Por outro (Figuras 4A, 4B, 4C, 4D) e, por fim, em um quarto passo,
lado, Holton e colaboradores, 1998 7 demonstraram que a tocar e pressionar delicadamente o local da ferida cirúrgica
frequência cardíaca e respiratória não são indicações pre- ou trauma, em caso de resposta negativa (do paciente não
cisas de quadro álgico em animais hospitalizados. Além demonstrar dor), pressionar profundamente a ferida cirúr-
disso, parâmetros fisiológicos são fortemente influenciados gica 7 (Figuras 5A, 5B, 5C, 5D). Se ao final do último
pela ação de fármacos, estresse, tipo de procedimento ci- passo, o paciente não demonstrou sinais de quadro álgico
rúrgico12, condição da hidratação e volemia. com alteração no padrão respiratório, gemendo, vocali-
De qualquer modo, os parâmetros fisiológicos devem zando, esquivando-se, virando a cabeça, tentando morder
ser mensurados, mas atualmente, o método mais fidedigno o pesquisador, pode-se concluir que o mesmo não apresenta
para avaliação da dor em animais é através da avaliação dor naquele momento. No pós-operatório imediato, deve-
comportamental 3. Além das alterações em parâmetros vi- se proceder apenas ao passo 3 e 4, uma vez que nesse mo-
tais, em decorrência da ativação neuroendócrina, ocorre au- mento o nível de consciência pode estar alterado e o
mento dos hormônios de estresse como cortisol, glucagon, paciente não consiga se movimentar para avaliação do seu
hormônio antidiurético, além de glicose, catecolaminas e in- comportamento.
terleucinas 6,19. Quando se conhece a região dolorosa, a As respostas à palpação da ferida denotam se a dor está
mesma deve ser inspecionada e palpada, sendo que na ins- presente e qual a intensidade da mesma. Reações abruptas
peção deve-se avaliar, também a ferida cirúrgica com relação como tentativa de fuga ou ataque, virar a cabeça ou vocali-
à hiperemia, edema, formação de seroma, hematomas, deis- zar podem significar dor torturante, enquanto um gemido
cência de pontos e necrose. ou tentativa de se esquivar pode significar dor moderada a
Atualmente são utilizadas escalas compostas e multidi- intensa. Quando existe resposta positiva frente ao toque de-
mensionais como instrumentos importantes para avaliação licado do local adjacente a ferida cirúrgica, um quadro ál-
da dor aguda pós-operatória, principalmente em um am- gico intenso pode estar presente, situação diferente de uma
biente de internação ou em grandes hospitais, onde muitos resposta positiva com a palpação profunda da ferida cirúr-
profissionais da saúde, com sensibilidade e experiência di- gica. A dor deve ser tratada em ambos os casos, mas na pri-
ferentes são responsáveis em avaliar a dor em um paciente. meira condição a dor presente é mais intensa do que na
Assim, primeiramente, o examinador deve observar o pa- segunda.
ciente, quando consciente, sem interação, avaliando sua No pós-operatório imediato, a avaliação de dor pode ser
movimentação, postura e atitude na baia, além da expressão prejudicada por conta da sedação intensa residual decor-
facial e o nível de atividade (Figura 2). rente da anestesia, desse modo, a resposta frente à estímu-
Em um segundo passo, o examinador deve avaliar a in- los ou a palpação da ferida cirúrgica pode estar diminuída,
teração do paciente com uma pessoa, observando os movi- mascarando o quadro álgico. A reavaliação da dor depende
mentos do paciente frente à abertura da baia e ao estímulo do tipo de procedimento cirúrgico, duração esperada da
para se movimentar 3 (Figura 3). Em um terceiro passo, analgesia efetuada e escores prévios de dor 3.

Figura 2 – Paciente sendo


avaliado à distância na baia

Figura 3 – Avaliação do paciente


Figura 1 – Postura de prece em paciente com dor visceral em interação com examinador

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 67


Capítulo 8 – Avaliação da dor aguda

Figura 4A – Palpação leve adjacente à ferida cirúrgica Figura 4B – Palpação leve adjacente à ferida cirúrgica

Figura 4C – Palpação profunda adjacente à ferida cirúrgica Figura 4D – Palpação profunda adjacente à ferida cirúrgica

Em caso de desconhecimento da região dolorosa, a co- tária à utilização conjunta de várias classes de analgésicos
luna vertebral (descrito em condições ortopédicas) e o abdô- pode refletir peritonite ou outras complicações (deiscência
men devem ser minuciosamente inspecionados. Durante a de pontos, necrose) em cirurgias abdominais. Em casos de
inspeção do abdômen, deve-se investigar a presença de or- dores associadas, por exemplo, dor somática e visceral, fato
ganomegalia e dor através de palpação superficial e pro- que ocorre nas abordagens paracostais do abdômen, deve-
funda, sendo importante a delimitação da área dolorida se proceder à palpação da ferida cirúrgica associada à pal-
(região hipo, meso ou epigástrica), inclusive com o objetivo pação profunda do abdômen.
de facilitar o diagnóstico da doença primária. Por exemplo, Por fim, o médico veterinário deve estar atento às
um cão da raça schnauzer com vômitos incoercíveis e dor dores irradiadas, com características difusas, mal locali-
importante na região epigástrica apresenta fortes indícios zada, aos espasmos musculares, atrofia e tremores, con-
de ter pancreatite, direcionando o médico veterinário na so- dições que podem configurar diferentes processos álgicos.
licitação de exames complementares para a finalização do A lambedura ou mordedura persistente de um sítio e a auto-
diagnóstico. A dor abdominal intensa ou torturante, refra- mutilação podem indicar dor torturante (Figuras 6 e 7).

68 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 8 – Avaliação da dor aguda

Figura 5A – Palpação superficial da ferida cirúrgica Figura 5B – Palpação superficial da ferida cirúrgica

Figura 5C – Palpação profunda da ferida cirúrgica Figura 5D – Palpação profunda da ferida cirúrgica

O andar plantígrado em felinos pode ser um sinal de dor necrosados ou infectados, traumas ou tumores. Os objeti-
associada à neuropatia diabética (Figura 8), já indicando vos dos procedimentos cirúrgicos incluem melhorar a fun-
um caso de dor crônica. ção pela restauração do movimento e a estabilidade, além
No quadro 1 estão listadas as principais alterações rela- do alívio da dor e incapacidade funcional. Em um primeiro
cionada à dor. momento, para a avaliação da dor nesse paciente deve-se
utilizar o princípio da analogia, uma vez que os pacientes
CONDIÇÕES ORTOPÉDICAS veterinários não estão aptos a relatar o tipo de dor experi-
As cirurgias ortopédicas efetuadas em medicina veteri- mentada. Os parâmetros fisiológicos devem ser avaliados,
nária são associadas à um quadro álgico importante segun- além da postura e comportamento do paciente na gaiola ou
do a opinião dos proprietários e médicos veterinários 9,25,27. na mesa e no chão. Um paciente agitado ou deprimido
Os pacientes submetidos à cirurgias ortopédicas geralmente (principalmente em casos de felinos) pode estar experimen-
apresentam disfunções musculoesqueléticas, como fratu- tando dor moderada a torturante. A interação com o exami-
ras, hérnias, deformidades, doenças articulares, tecidos nador deve ser efetuada (por exemplo, a resposta ao chamado

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 69


Capítulo 8 – Avaliação da dor aguda

do observador) e, por fim, deve-se proceder à palpação das


estruturas vizinhas à ferida cirúrgica e depois da ferida pro-
priamente dita (descrito em exame físico).
A capacidade funcional do paciente deve ser avaliada
pela mensuração dos aspectos dinâmicos das atividades ge-
rais e específicas do mesmo. Nesse sentido, a observação
da marcha e de atitudes como levantar, sentar, deitar, correr,
saltar movimentar-se entre obstáculos,
Além dessas atitudes, o médico veterinário deve obser-
var se o paciente tenta proteger a área afetada, apresenta
postura antiálgica, se apresenta ataxia, alteração na proprio-
cepção, de marcha ou de postura, fraqueza, dificuldade ou
recusa em mover-se, levantar, sentar ou deitar. A impotên-
Figura 6 – Lambedura persis- Figura 7 – Automutilação
tente em abdômen de felino da região distal de mem- cia funcional de um membro no pós-operatório pode ca-
decorrente de dor visceral bro em cão racterizar dor intensa a torturante, enquanto a claudicação
pode denotar dor moderada a intensa. A impossibilidade de
se efetuar movimentos de extensão ou flexão em um mem-
bro operado ou a movimentação corporal contínua como
se o paciente estivesse tentando encontrar uma posição de
conforto também denotam dor intensa.
Rialland et al., 201217 demonstraram que alterações na
marcha como mudanças no "caminhar apoiando parte ou
todo o peso corpóreo no membro não lesionado ou cami-
nhar em pinça" foi o melhor método para avaliação da dor
após procedimentos ortopédicos (Figura 9). A redução da
atividade tanto no quesito "andar" quanto no "trotar" tam-
bém foi um sinal de dor importante. Esses autores também
demonstraram a validade e responsividade da escala de
dor aguda 4A-VETleg para avaliação de dor ortopédica
(Quadro 2).
Em casos de discopatias, o paciente deve ser submetido
Figura 8 – Andar plantígrado em felino (setas) ao exame neurológico, com inspeção geral, observação da

Quadro 1 – Principais alterações relacionada à dor


Alteração de • Aumento frequência cardíaca, aumento frequência respiratória, aumento pressão
parâmetros arterial e midríase
Alteração postura • Posição antiálgica, curvada, proteção da área dolorida, postura de prece, paciente rígido e
e ambulação tenso
• Ataxia, fraqueza, dificuldade ou recusa em mover-se, levantar, sentar, deitar ou saltar
• Instabilidade de marcha, falta de equilíbrio, impotência funcional, impossibilidade de
efetuar movimentos de flexão e extensão, claudicação, hiperreflexia, espasticidade,
alteração na propriocepção e destreza
Atividade • Paciente se movimentando continuamente ou animal em estação constantemente ou em
decúbito prolongado
• Prostração, depressão, agitação
Atitude • Paciente demonstrando nervosismo, medo, indiferença, agressividade, atitudes não
esperadas ou indiferença ao ambiente
• Paciente chora, geme, grita, rosna ou tenta morder o observador
• Olha para ferida cirúrgica, esfrega, lambe ou mastiga a ferida ou área dolorida
• Permanece na gaiola ou reluta em movimentar-se, não interage com o observador
• Paciente reluta, foge, é indiferente ou apresenta agressividade quando estimulado à
interagir com o observador
• Paciente não demonstra interesse pelas suas brincadeiras ou comidas favoritas
Outros sinais • Retenção urinária, constipação, naúseas, vômitos, dispnéia, broncoconstrição, salivação
excessiva
• Tremores, espasmos musculares
• Anorexia, hiporexia

70 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 8 – Avaliação da dor aguda

vertebral (subluxação atlanto-occiptal, espondilopatia cer-


vical - Síndrome de Wobbler ou hérnias discais recentes),
para avaliação da coluna cervical, deve-se, delicadamente,
proceder a flexão, extensão, além da rotação e inclinação
da cabeça para ambos os lados. O médico veterinário deve
tentar palpar os processos espinhosos cervicais à procura
de dor, crepitação ou desalinhamento, finalizando com a
tentativa de compressão da extensão das raízes nervosas
cervicais. A compressão oriunda de raízes cervicais pode

Quadro 2 – Escala 4A-VETleg para avaliação da dor


ortopédica
A
PARÂMETRO DEFINIÇÃO ESCORE
Avaliação Sem dor 0
subjetiva Dor leve a moderada 1
geral Dor moderada a intensa 2
Dor torturante 3
Atitude Em relação aos sinais clínicos,
geral quantos estão presentes?
Alteração da respiração,
paciente gemendo, curvado,
permanece imovél em postura
antiálgica, animal agitado ou
deprimido, apetite diminuído,
olha ou lambe a ferida
Sem sinais presentes 0
Apenas um sinal presente 1
2 a 4 sinais presentes 2
5 ou mais sinais presentes 3
Comportamento Animal está alerta e responde
interativo ao chamado de voz e ao toque 0
Responde levemente 1
Não responde imediatamente 2
Não responde ou responde
com agressividade 3
Avaliação Uso normal do membro
da marcha afetado 0
Paciente claudica mas o
membro é utilizada quando
caminha 1
Membro utilizado apenas em
repouso 2
B Paciente não utiliza o
membro 3
Figura 9 – Avaliação da dor após procedimento ortopédico. Reação à Sem reação visível ou
Paciente apoiando parte do peso corpóreo no membro não palpação da audível após 4 palpações 0
lesionado: A) vista lateral; B) vista caudal ferida cirúrgica Reação visível ou audível
na 4ª palpação (última) 1
Reação visível ou audível
na 2ª ou 3ª palpação 2
deambulação, da postura, atitude, exame dos nervos cra- Reação visível ou audível
nianos, reflexos espinhais e sensibilidade. Os testes que na 1ª palpação 3
promovem dor devem ser efetuados por último pois os Intensidade Sem resposta 0
mesmos podem comprometer o exame neurológico. da reação Responde levemente, tenta
A coluna deve ser avaliada com atenção às assimetrias se esquivar 1
musculares, desvios e tumorações. Deve ser realizado o Vira a cabeça ou vocaliza 2
teste do panículo em toda extensão da coluna vertebral Animal tenta fugir ou atacar ou
(Figuras 10 e 11). Com exceção dos casos de instabilidade não é passível de avaliação 3

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 71


Capítulo 8 – Avaliação da dor aguda

gerar dor irradiada em membros anteriores, sendo neces- FERRAMENTAS PARA AUXÍLIO NO
sário o exame neurológico (sensibilidade, força, reflexo) RECONHECIMENTO DA DOR
dos membros em algumas situações para o reconhecimento Apesar do entendimento do reconhecimento e tratamento
da dor cervical. da dor em medicina veterinária, estudos recentes sobre

Figura 10 – Teste do panículo cutâneo

Figura 11 – Palpação da coluna

72 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 8 – Avaliação da dor aguda

analgesia perioperatória em pequenos animais sugerem que mental, postura e vocalização foram validadas na medicina
a dor é subtratada e, muitos dos autores sugerem como veterinária. São denominadas escalas compostas ou multi-
causa a dificuldade em reconhecer o quadro álgico 9,10,27. dimensionais, as quais levam em conta componentes afetivos
Em muitos casos, esse fato deve-se à dificuldade e inabili- e emocionais da dor, além de comportamentos espontâneos
dade no reconhecimento da dor, sendo que o desenvolvi- e estimulados, interações com o paciente e observações clí-
mento de ferramentas para facilitar a avaliação clínica nicas. Dentre as escalas multidimensionais, destaca-se a Es-
poderia contribuir no manejo do paciente. cala de Glasgow para avaliação da dor, uma escala composta
Nos últimos anos, tem-se utilizado escalas oriundas da baseada no comportamento para reconhecimento da dor
medicina para auxiliar a padronização do reconhecimento aguda em cães utilizada em ambiente hospitalar 14.
da dor, como por exemplo a Escala Simples Descritiva 11,20, A escala composta de dor de Glasgow 8 para cães é
Escala Visual Analógica (EVA) 15,26 e a Escala Numérica 7,13. uma escala amplamente utilizada, a qual apresenta 7 ca-
Essas escalas são unidirecionais e utilizadas para mensurar tegorias totalizando 47 descrições. Possui menor variabi-
apenas a intensidade dolorosa, mas não são escalas com- lidade entre observadores, mas pode apresentar uma
pletas para a mensuração da dor em uma condição de am- pequena distorção em caso de sedação 5. Trata-se de uma
biente hospitalar, por exemplo, pois não avaliam diferentes ferramenta importante na tomada de decisão para trata-
respostas relacionadas ao comportamento e a interação mento na dor aguda em cães, além de um indicador para
entre o examinador e o paciente. Além disso, existe uma resgates analgésicos 3, sendo a escala composta mais
grande variabilidade de interpretações entre os examinado- aceita para avaliação da dor pós-operatória em cães. Não
res quando as escalas unidirecionais são utilizadas. Holton estão inclusos parâmetros fisiológicos e as desvantagens
e colaboradores, 1998 7 demonstraram variabilidade inacei- são a ausência de um sistema de escore numérico, dificul-
tável quando três ou quatro veterinários avaliaram a dor no tando a comparação ao longo do tempo. Nesse sentido,
dia da cirurgia ou no dia seguinte, utilizando a EVA, Escala foi proposta a escala composta de dor de Glasgow em um
Numérica e Escala Simples Descritiva. modelo resumido e com pontuação nos diferentes descri-
As escalas não são reconhecidamente estabelecidas como tores 16 (Quadro 5).
"padrão ouro" na avaliação da dor, mas a literatura as tem Outra escala de dor multidimensional a ser considerada
recomendado como ferramenta importante na avaliação da para pós-operatório é a escala de dor da Universidade de
dor aguda e crônica. É importante ressaltar que essas escalas Melbourne, criada especificamente para avaliação da dor
apresentam diferentes graus de validação e escalas para dor pós-operatória em cães. Essa ferramenta inclui parâmetros
aguda não devem ser utilizadas para dor crônica, assim como comportamentais como resposta à palpação, postura, grau
escalas validadas apenas para cães não devem ser utilizadas de atividade, estado mental e vocalização. Associados a
em gatos 3. As escalas unidirecionais são simples, de fácil esses dados foram incluídos parâmetros objetivos como
entendimento e rápida avaliação da dor pelos profissionais frequência cardíaca, frequência respiratória, dilatação pu-
da saúde. São ferramentas que permitem o entendimento da pilar e temperatura retal. A somatória da pontuação de cada
intensidade da dor, muito utilizadas para avaliação da dor categoria pode variar entre 0 e 2, sendo que o resgate anal-
aguda pós-operatória em cães e gatos. A Escala Simples Des- gésico deve ser considerado quando a somatória excede o
critiva é representada por nenhuma dor, dor leve, moderada, escore de 13 pontos 4.
intensa e pior dor possível (Quadro 3). A Escala Numérica Outra ferramenta para avaliação da dor aguda trata-se
Verbal consiste em o examinador questionar o tutor ou cui- da escala de dor aguda da Universidade do Colorado. Além
dador do animal, estimulando-o a dar uma nota de 0 a 10, de fácil utilização, possui pouca subjetividade e intervaria-
onde 0 é a ausência de dor e 10, a dor mais intensa. bilidade entre os observadores. Outra vantagem é a exis-
A Escala Numérica é representada por números que va- tência de uma escala específica para cães e outra para gatos.
riam de 0 a 10 (onde 0 representa ausência de dor e 10 a pior Essa escala possui como descritores parâmetros psicológi-
dor possível), onde o tutor ou cuidador marca sobre a linha cos e comportamentais da dor, resposta à palpação e tensão
um ponto relacionado à intensidade da dor do paciente corporal como uma ferramenta de avaliação. Apresenta
(Quadro 4). também na sua versão original desenhos de animais com
As escalas que levam em consideração o comportamento vários níveis de dor, facilitando o observador a classificar
do paciente como a resposta à palpação, atividade, estado a dor. Trata-se de uma excelente escala mas a limitação é
que poucos estudos clínicos foram conduzidos com a
Quadro 3 – Representação da escala simples descritiva mesma, como o estudo de Cardozo et al., 2014 2.
Sem Dor Dor Dor Dor A escala de dor composta multidimensional da UNESP
dor | leve | moderada | Intensa | torturante
de Botucatu é uma importante ferramenta para utilização
em felinos (Quadro 6). Foi validada para avaliação de dor
Quadro 4 – Representação da escala numérica aguda pós-operatória em gatos em diversas linguagens,
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 sendo um instrumento importante para avaliação de dor
Sem Dor Dor Dor Dor nessa espécie, principalmente para fêmeas submetidas à
| leve | moderada | Intensa | torturante
dor ovariosalpingohisterectomia (OSH). A escala apresenta um

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 73


Capítulo 8 – Avaliação da dor aguda

Quadro 5 – Escala de Dor Composta de Glasgow * Diretrizes para uso da escala multidimensional da
(modelo resumido) UNESP-Botucatu 1 (Quadro 6)
1- Inicialmente, observe o comportamento do gato sem abrir
Circunstância Escala
a gaiola. Observe se ele está em descanso ou em movi-
Observe o cão Em relação à vocalização, o cão está: mento; interessado ou desinteressado no ambiente; em
no canil 0 - Quieto silêncio ou vocalizando. Examine a presença de compor-
1 - Chorando tamentos específicos (veja o item “miscelânea de compor-
2 - Gemendo
tamentos”).
3 - Gritando
2- Abra a gaiola e observe se o animal movimenta-se para
Quanto a atenção à ferida, o cão:
fora ou hesita em sair. Aproxime-se do gato e avalie sua
0 - Ignora a ferida ou a área dolorida
reação: amigável, agressivo, assustado, indiferente ou vo-
1 - Olha para a ferida ou a área dolorida
2 - Lambe a ferida ou a área dolorida calizando. Toque o gato e interaja com ele, observe se está
3 - Esfrega, fricciona a ferida ou a área receptivo (se gosta de ser acariciado e/ou demonstra inte-
dolorida resse por brincadeiras). Se o gato hesitar em sair da gaiola,
4 - Morde a ferida ou a área dolorida incentive-o a se mover através de estímulos (chamando-o
pelo nome e acariciando-o) e manipulação (mude sua po-
Estimule o cão Quando o cão levanta e anda ele está:
a sair do canil 0 - Normal sição corporal e/ou retire-o da gaiola). Observe se fora da
1 - Mancando gaiola o gato se movimenta espontaneamente, de maneira
2- Lento ou relutante cuidadosa ou reluta em se mover. Ofereça um alimento pa-
3 - Rígido latável e observe sua resposta.*
4 - Se recusando a se movimentar 3- Para finalizar, coloque o gato em decúbito lateral ou es-
Resposta Quando a ferida é tocada, o cão: ternal e mensure a pressão arterial. Observe a reação do
ao toque 0 - Não reage gato quando o abdômen/flanco é inicialmente tocado (ape-
1 - Olha para o local nas deslize os dedos sobre a área) e na sequência gentil-
2 - Esquiva-se mente pressionado (aplique pressão direta sobre a área).
3 - Rosna ou protege a ferida Aguarde alguns minutos, e execute o mesmo procedimento
4 - Tenta morder para avaliação da reação do gato frente à palpação da fe-
5 - Chora rida cirúrgica.
Avaliação geral 0 - Feliz, contente * Para a avaliação do apetite no pós-operatório imediato,
1 - Quieto inicialmente ofereça uma pequena quantidade de alimento
2 - Indiferente ou não responsivo palatável logo após a recuperação anestésica. Neste mo-
ao ambiente mento muitos gatos comem normalmente, independente da
3 - Nervoso ou ansioso ou temeroso presença ou ausência de dor. Aguarde um pequeno período,
4 - Prostrado, deprimido ou não ofereça alimento novamente e observe a reação do gato.
responsivo à estimulação
Em relação à 0 - Confortável Referências
postura, o cão 1 - Agitado
parece 2 - Inquieto 1-BRONDANI, J. T. ; LUNA, S. P. L. ; MAMA, K. R. ; PADOVANI,
3 - Curvado ou tenso C. R. Validation of the English version of the UNESP-Botucatu
4 - Rígido multidimensional composite pain scale for assessing postoperative
pain in cats. BMC Veterinary Research, v. 9, n. 1, p. 143, 2013.
DOI: 10.1186/1746-6148-9-143.
total de 0-30 pontos, sendo que o resgate analgésico deve 2-CARDOZO, L. B. ; COTES, L. C. ; KAHVEGIAN, M. A. ; et al.
ser efetuado com a nota de corte maior que 7 (96,5% de Evaluation of the effects of methadone and tramadol on postope-
sensibilidade e 99,5% de especificidade) 1. rative analgesia and serum interleukin-6 in dogs undergoing ort-
hopaedic surgery. BMC Veterinary Research, v. 6, n. 10, p. 194,
2014. DOI: 10.1186/s12917-014-0194-7.
CONCLUSÃO
3-EPSTEIN, M. ; RODAN, I. ; GRIFFENHAGEN, G. ; KADRLIK, J.
A avaliação e reconhecimento do quadro álgico associado ; PETTY, M. ; ROBERTSON, S. ; SIMPSON, W. 2015
à mensuração dos sinais vitais assegura que todos os pacien- AAHA/AAFP Pain Management Guidelines for Dogs an Cats.
tes tenham acesso às intervenções para controle da dor. Journal of Americna Animal Hospital Association, v. 51, n.
Nesse sentido se faz necessário a adoção de diretrizes e trei- 2, p. 67-84, 2015. DOI: 10.5326/JAAHA-MS-7331.
namento contínuo da equipe veterinária, com o objetivo de 4-FIRTH, A. M. ; HALDANE, S. L. Development of a scale to evaluate
padronização da avaliação, uma vez que esta é muito subje- postoperative pain in dogs. Journal of the American Veterinary
Medical Association, v. 214, n. 5, p. 651-659, 1999.
tiva e com variabilidade enorme entre os observadores, já
5-GUILLOT, M. ; RIALLAND, P. ; NADEAU, M.-È. ; DEL CASTILLO,
que depende de conhecimento e de experiências individuais. J. R. E. ; GAUVIN, D. ; TRONCY, E. Pain induced by a minor
A anamnese é de fundamental importância para se entender medical procedure (bone marrow aspiration) in dogs: comparison
o comportamento do paciente durante o exame físico e, of pain scales in a pilot study. Journal of Veterinary Internal
quando possível, uma escala multidimensional com notas Medicine, v. 25, n. 5, p. 1050-1056, 2011. DOI: 10.1111/j.1939-
1676.2011.00786.x.
para realização ou não de resgate analgésico deve ser inclusa
6-HEKMAN, J. P. ; KARAS, A. Z. ; SHARP, C. R. Psychogenic Stress
como ferramenta. A presença de dor, assim como sua inten- in Hospitalized Dogs: Cross Species Comparisons, Implications
sidade, deve ser documentada no prontuário do paciente, for Health Care, and the Challenges of Evaluation. Animals, v. 4,
assim como o plano analgésico e o período de reavaliação. n. 2, p. 331-347, 2014. DOI: 10.3390/ani4020331.

74 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 8 – Avaliação da dor aguda

Quadro 6 – Escala multidimensional da UNESP-Botucatu 1 para avaliação de dor aguda pós-operatória em gatos*
Subescala 1: Expressão da dor (0-12)
Comportamentos Observe e marque a presença dos comportamentos listados abaixo
diversos A-O gato está deitado e calmo, mas movendo a cauda
B-O gato contrai e estende os membros pélvicos e/ou contrai os músculos abdominais
C-Os olhos do gato estão parcialmente fechados
D-O gato lambe ou morde a ferida cirúrgica
Todos os comportamentos acima são ausentes 0
Presença de um dos comportamentos listados acima 1
Presença de dois comportamentos listados acima 2
Presença de três ou mais comportamentos listados acima 3
Reações à O gato não reage quando a ferida cirúrgica é tocada ou pressionada ou nenhuma resposta desde a resposta pré-cirúrgico
palpação da (se a avaliação basal foi efetuada) 0
ferida cirúrgica O gato não reage quando a ferida cirúrgica é tocada, porém reage quando pressionada (pode vocalizar e/ou tentar morder) 1
O gato reage quando a ferida cirúrgica é tocada e quando pressionada. Pode vocalizar e/ou tentar morder 2
O gato reage quando o observador se aproxima da ferida cirúrgica. Pode vocalizar e/ou tentar morder. O gato não permite a palpação da
ferida cirúrgica. 3
Reações à O gato não reage quando o abdômen/flanco é tocado e quando pressionado; ou sem mudança da resposta pré-operatória
palpação do (se avaliação basal foi efetuada). O abdômen/flanco não está tenso 0
abdômen/flanco O gato não reage quando o abdômen/flanco é tocado, mas reage quando pressionado. O abdômen/flanco está tenso 1
O gato reage quando o abdômen/flanco é tocado e quando pressionado. O abdômen/flanco está tenso 2
O gato reage quando o observador se aproxima do abdômen/flanco, podendo vocalizar e/ou tentar morder. O gato não permite a palpação
do abdômen/flanco 3
Vocalização O gato está em silêncio ou ronrona quando estimulado, ou mia interagindo com o observador; mas não rosna, geme ou sibila 0
O gato ronrona espontaneamente (sem ser estimulado ou manipulado pelo observador) 1
O gato rosna ou geme ou sibila quando manipulado pelo observador (quando a posição corporal é alterada pelo observador) 2
O gato rosna ou geme ou sibila espontaneamente (sem ser estimulado e/ou manipulado pelo observador) 3
Subescala 2: Alterações psicomotoras
Postura O gato está em uma postura natural para a espécie e com os músculos relaxados (se movimenta normalmente) 0
O gato está em uma postura natural para a espécie, porém com músculos tensos (se movimenta pouco ou está relutante em se mover) 1
O gato está sentado ou em decúbito esternal com as costas arqueadas e cabeça abaixada; ou o gato está em decúbito dorsolateral os
membros pélvicos estendidos ou contraídos 2
O gato frequentemente altera sua posição corporal na tentativa de encontrar uma postura confortável 3
Conforto O gato está confortável, acordado ou dormindo, receptivo quando estimulado (ele interage com o observador e/ou se interessa pelos arredores) 0
O gato está quieto e pouco receptivo quando estimulado (ele interage pouco com o observador e/ou não se interessa muito pelos arredores) 1
O gato está quieto e “dissociado do ambiente” (mesmo quando estimulado ele não interage com o observador e/ou não se interessa pelos
arredores). O gato pode estar voltado para o fundo da gaiola 2
O gato está desconfortável, inquieto (altera frequentemente a sua posição corporal) e “dissociado do ambiente” ou pouco receptivo quando
estimulado. O gato pode estar voltado para o fundo da gaiola 3
Atividade O gato move-se normalmente (imediatamente move-se quando a gaiola é aberta; fora da gaiola se movimenta de forma espontânea ou
quando manipulado) 0
O gato movimenta-se mais que o normal (dentro da gaiola ele se move continuamente de um lado a outro) 1
O gato está mais quieto que o normal (o paciente hesita em sair da gaiola e se retirado tende a retornar; fora da gaiola se movimenta um
pouco com estímulo ou manipulação) 2
O gato está relutante em se mover (pode hesitar em sair da gaiola e se retirado tende a retornar; fora da gaiola não se movimenta mesmo
com estímulo ou manipulação). 3
Atitude Observe e assinale a presenç̧a dos estados mentais listados abaixo:
A - Satisfeito: O gato está alerta e interessado no ambiente (explora os arredores); amigável e interagindo com o observador (brinca e/ou
responde a estímulos)
* O gato pode inicialmente interagir com o observador por meio de brincadeiras para se distrair da dor. Observe com atenção para
diferenciar entre distração e de brincadeiras de satisfação
B - Desinteressado: O gato não está interagindo com o observador (não está interessado em brincadeiras ou brinca pouco;
não responde aos chamados e carinhos do observador).
* Nos gatos que não gostam de brincadeiras, avalie a interação com o observador através da resposta do gato aos chamados e carinhos.
C - Indiferente: O gato não está interessado no ambiente (não está curioso; não explora os arredores).
* O gato pode inicialmente ficar receoso em explorar os arredores. O observador deve manipular o gato e encorajá-lo a se movimentar
(retirá-lo da gaiola ou mudá-lo de posição)
D - Ansioso: O gato está assustado (tenta se esconder ou escapar) ou nervoso (demonstra impaciência, geme, rosna ou sibila ao ser acariciado
e/ou manipulado).
E - Agressivo: O gato está agressivo (tenta morder ou arranhar quando acariciado e/ou manipulado).
Presença do estado mental A 0
Presença de um dos estados mentais B, C, D ou E 1
Presença de dois dos estados mentais B, C, D ou E 2
Presença de três ou de todos os estados mentais B, C, D ou E 3
Sub-escala 3: variáveis fisiológicas (0-6)
Pressão arterial 0% a 15% acima do valor pré-operatório 0
16% a 29% acima do valor pré-operatório 1
30% a 45% acima do valor pré-operatório 2
> 45% acima do valor pré-operatório 3
Apetite O gato está comendo normalmente 0
O gato está comendo mais que o normal 1
O gato está comendo menos que o normal 2
O gato não está interessado no alimento 3

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 75


Capítulo 8 – Avaliação da dor aguda

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76 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


9
Avaliação da dor e da qualidade de vida em cães e gatos
com dor crônica
Karina Velloso Braga Yazbek

N
os últimos 20 anos, com o aumento da sobrevida e dor, citadas previamente, contribuem muito para o diag-
o consequente aumento da incidência de doenças nóstico e a mensuração da dor crônica em animais de com-
crônicas relacionadas a idade avançada, o diagnós- panhia e devem ser questionadas ao tutor e monitoradas
tico da dor crônica passou a ser rotina em pequenos ani- durante todo o tratamento.
mais. Após décadas sendo sub-diagnosticada e tratada, a dor Alterações como apetite seletivo, redução de mobili-
crônica passou a ser uma das maiores causas de redução da dade, tristeza, apatia e lambeduras compulsivas em extre-
qualidade de vida de cães e gatos com câncer e doenças ar- midades são relatos frequentes (Figura 1). Animais com
ticulares degenerativas 3,5. Porém a avaliação e o diagnós- suspeita de dor neuropática podem apresentar mutilação na
tico ainda são um grande desafio. Os tutores contribuem área dolorida (Figura 2). Pacientes diabéticos podem apre-
muito para o diagnóstico já que são as pessoas mais fami- sentar lambedura de membros como manifestação da neu-
liarizadas com o comportamento do paciente e devem par- ropatia diabética assim como os felinos apresentarem andar
ticipar ativamente da mensuração da dor por meio de plantígrado.
questionários de qualidade de vida, escalas de avaliação Doenças prévias e comorbidades devem ser considera-
e relatos de alterações comportamentais. A abordagem das assim como todas as medicações em uso. Cardiopatas
deve ser iniciada por uma extensa e detalhada anamnese
com o cuidador, exame físico completo, identificação dos
principais pontos dolorosos e comorbidades para o plane-
jamento do tratamento álgico. O tratamento deve ser mul-
tidisciplinar incluindo terapia medicamentosa, fisioterapia,
manejo alimentar, redução de peso quando necessário e
acupuntura.

Anamnese do paciente com dor crônica


A anamnese de um paciente com dor crônica deve ser
realizada com a pessoa mais familiarizada com os hábitos
e comportamentos do paciente. Na maioria das vezes não Figura 1 – Cão com melanoma no dígito e mutilação.
é o tutor e sim o cuidador. Todas as informações devem Arquivo: All Care Vet
ser anotadas no prontuário a fim
de serem monitoradas no decor-
rer do tratamento. A dor pode
causar alterações comportamen-
tais importantes em cães com
dor crônica secundária a doença
articular degenerativa como re-
dução da mobilidade, atividade,
apetite, curiosidade, sociabilida-
de, disposição para brincadeiras
e aumento da dependência,
agressividade, ansiedade, com-
portamentos compulsivos, medo,
vocalização e mobilidade 2. Essas
alterações também foram obser-
vadas em cães com câncer e dor 4.
Em gatos com dor crônica o iso-
lamento, a redução do apetite,
mobilidade, capacidade de saltar,
“auto-higiene” além de micção
e defecação fora da caixa são
as alterações comportamentais
mais evidentes 1. As alterações Figura 2 – Cadela com mutilação de coto 3 meses após amputação de membro
comportamentais causadas pela pélvico. Arquivo: All care Vet

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 77


Capítulo 9 – Avaliação da dor e da qualidade de vida em cães e gatos com dor crônica

na maioria das vezes são usuários de inibidores de enzima Avaliação da qualidade de vida
conversora de angiotensina e diuréticos o que poderia levar A avaliação da qualidade de vida (QV) é considerada
a interações medicamentosas importantes com anti-infla- uma mensuração indireta da dor crônica já que pacientes
matórios não esteroidais aumentando assim o risco de ne- com dor podem apresentar intensa redução da mesma. Ques-
frotoxicidade. Pacientes com dor crônica normalmente são tionários de avaliação devem ser validados no país onde será
idosos e frequentemente apresentam disfunção cognitiva o aplicado. Em 2005 foi validada a primeira escala de avalia-
que dificulta muito a avaliação e a diferenciação de sinais ção da qualidade de vida relacionada à saúde em cães com
neurológicos avançados ou dor. Esse talvez seja o maior dor crônica secundária ao câncer 5, porém pode ser aplicada
desafio na avaliação da dor crônica em idosos. Vocalização a animais com ouras causas de dor crônica (Quadro 1). Esta
e insônia são relatos frequentes nesses animais. Animais escala é a única em português validada no Brasil até o mo-
com hiperadrenocorticismo podem apresentar muita dor mento. O questionário é composto de 12 questões com 4 al-
miofascial e após o início do tratamento e redução dos ní- ternativas possíveis de resposta. Cada questão vale de zero
veis de cortisol apresentarem dores de difícil controle ne- a 3, alcançando um total de 36 pontos. Zero é considerado a
cessitando de acompanhamento nessa fase da doença. pior qualidade de vida e 36 a melhor. As questões abrangem
informações sobre comportamento, interação com o tutor e
Avaliação do animal e exames complementares avaliação da dor, apetite, cansaço, distúrbios do sono, pro-
O exame físico de animais com dor crônica deve ser o blemas gástricos e intestinais, defecação e micção. Para va-
mais completo possível e deve incluir além do exame lidação a escala foi submetida a tutores veterinários e não
usualmente realizado o exame neurológico e musculoes- veterinários (leigos) de cães saudáveis, cães com doenças
quelético completo com avaliação de todas as articulações, dermatológicas e cães com câncer e dor. Cães com câncer e
coluna cervical, torácica e lombar, palpação abdominal. dor (moderada) apresentaram escore de qualidade de vida
Além disso a avaliação do animal em movimento para ava- 20,7; os cães com doença dermatológica obtiveram escore
liação da marcha, impotências e claudicações é essencial. 30,6 e os cães saudáveis 34,0 sendo a diferença entre os gru-
Muitas vezes vale solicitar ao tutor filmar o animal nos mo- pos estatisticamente significativa (p<0,001). Este resultado
mentos de crises álgicas em casa já que no ambiente hos- demonstra a baixa qualidade de vida de cães com dor onco-
pitalar muitos animais, principalmente os felinos, podem lógica moderada em comparação aos outros animais e enfa-
não demonstrar o mesmo comportamento. tiza a importância da constante avaliação durante o
Deve-se avaliar a necessidade de realização de exames tratamento. Cães com artrose também podem apresentar bai-
de imagem para complementar a suspeita diagnóstica. xos índices de escore nesta escala. O mais importante é apli-
Atualmente a medicina veterinária apresentou grande car o questionário no primeiro dia antes do início da terapia
avanço tecnológico possibilitando a execução de ressonân- e reabilitação, e repeti-la a cada 15 dias de acordo com a evo-
cia magnética, tomografia e radiografias de melhor quali- lução do tratamento. Pacientes com boa evolução apresen-
dade. Isso contribuiu muito para o diagnóstico de muitas tam aumento do escore logo no primeiro mês de reabilitação.
doenças. Esta escala tem sido utilizada como método complementar
e auxiliar na avaliação da dor crônica na rotina da clínica de
Avaliação da intensidade e classificação da dor pequenos animais.
A avaliação da intensidade dor deve ser realizada pelo
veterinário e pelo cuidador no momento da primeira ava- Planejamento terapêutico
liação e se repetir em todos os retornos. Em alguns casos Após análise de todas as informações da anamnese,
a solicitação de um diário domiciliar de dor onde o cuida- avaliação do animal e exames complementares, intensi-
dor pode relatar os momentos e situações de mais dor ou dade e classificação da dor deve-se explicar ao tutor de-
alívio pode facilitar o veterinário compreender melhor o talhadamente o diagnóstico e principalmente o
paciente. De acordo com o último guideline algumas es- prognóstico. Tutores de animais com dor crônica apresen-
calas são indicadas para a avaliação da dor crônica: Índice tam-se emocionalmente muito abalados e necessitam de
de dor crônica de Helsinki (HCPI), Índice de Desordens extrema atenção e apoio. O contato inicial, afinidade e a
Ortopédicas de Cincinnati (CODI), Escala de Osteoartrose confiança no veterinário desde a primeira consulta deter-
de Liverpool para cães (LOAD) e Índice de dor muscu- mina o sucesso e a adesão ao tratamento proposto. É de
loesquelética em felinos (FMPI) 1. Escalas validadas para fundamental importância que o tutor tenha acesso ao ve-
a língua portuguesa são necessárias para facilitar e melho- terinário por telefone ou mensagens em situações emer-
rar a avaliação da dor crônica na rotina diária. O emprego genciais. Retornos frequentes devem ser agendados para a
da Escala Numérica Verbal onde o tutor e o veterinário dão monitoração da terapia instituída e avaliação do escore de
uma nota de zero (sem dor) a dez (pior dor) para a dor qualidade de vida.
pode ser empregada. Animais com valores acima de 4
devem ter seu protocolo reconsiderado. A dor deve ser Referências
classificada também em nociceptiva ou neuropática, vis- 1.EPSTEIN, M. E. ; RODAN, I. ; GRIFFENHAGEN, G. ; KADRLIK,
ceral somática ou mista. J. ; PETTY, M. C. ; ROBERTSON, S. A ; SIMPSON, W. AAHA/AAFP

78 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 9 – Avaliação da dor e da qualidade de vida em cães e gatos com dor crônica

Quadro 1 – Avaliação da qualidade de vida (Yazbek & Fantoni, 2005 5)

Você acha que a doença atrapalha a vida do O seu animal se cansa facilmente?
seu animal? 0. sempre
0. muitíssimo 1. frequentemente
1. muito 2. raramente
2. um pouco 3. está normal
3. não
Como está o sono do seu animal?
O seu animal continua fazendo as coisas 0. muito ruim
que gosta (brincar, passear)? 1. ruim
0. nunca mais fez 2. bom
1. raramente 3. normal
2. frequentemente
3. normalmente O seu animal tem vômitos?
0. sempre
Como está temperamento do seu animal? 1. frequentemente
0. totalmente alterado
2. raramente
1. alguns episódios de alteração
3. não
2. mudou pouco
3. normal
Como está o intestino do seu animal?
0. péssimo/funciona com dificuldade
O seu animal manteve os hábitos de higiene
1. ruim
(lamber-se por exemplo)?
0. não 2. quase normal
1. raramente 3. normal
2. menos que antes
3. está normal O seu animal é capaz de se posicionar
sozinho para urinar e defecar?
Você acha que o seu animal sente dor? 0. nunca mais conseguiu
0. sempre 1. raramente consegue
1. frequentemente 2. às vezes consegue
2. raramente 3. consegue normalmente
3. nunca
Quanta atenção o animal está dando
O seu animal tem apetite? para a família?
0. não 0. está indiferente
1. só come forçado/somente o que gosta 1. pouca atenção
2. pouco 2. aumentou muito (carência)
3. normal 3. não mudou/está normal

Pain Management Guidelines for Dogs and Cats. Journal of Feline COMO CITAR ESSE CAPÍTULO
Medicine and Surgery, v. 17, v. 3, p. 251-272, 2015. DOI: YAZBEK, K. V. B. Avaliação da dor e da qualidade de vida em cães e
10.1177/1098612X15572062. gatos com dor crônica. In: LOPES, R. S. ; DINIZ, R. Fisiatria em
2.WISEMAN, M. L. ; NOLAN, A. M. ; REID, J. ; SCOTT, E. M. Pre- pequenos animais. 1. ed. São Paulo: Editora Inteligente, 2018. p.
liminary study on owner-reported behaviour changes associated with 77-79. ISBN: 978-85-85315-00-9.
chronic pain in dogs. Veterinary Record, v. 149, n. 4, p. 423-424,
2001. DOI: 10.1136/vr.149.14.423.
3.WISEMAN-ORR, M. L. ; NOLAN, A. M. ; REID, J. ; SCOTT, E. M.
Development of a questionnaire to measure the effects of chronic
pain on health-related quality of life in dogs. American Journal of
Veterinary Reasearch, v. 65, n. 8, p. 1077-1084, 2004. DOI:
10.2460/ajvr.2004.65.1077.
4.YAZBEK, K.V. B. ; FANTONI, D. T. Principais alterações comporta-
mentais e intensidade da dor relatada por proprietários de cães com
câncer. Dor Pesquisa, Clínica e Terapêutica, v. 4, n. 4, p. 193,
2003.
5.YAZBEK, K. V. B. ; FANTONI, D. T. Validity of a health-related,
quality-of-life scale for dogs with signs of pain secondary to cancer.
Journal of American Veterinary Medical Association, v. 226,
n. 8, p. 1354-1358, 2005. DOI: 10.2460/javma.2005.226.1354.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 79


10
Avaliação e medição dos resultados

Darryl Millis
Dawn Hickey

A
avaliação de resultados é essencial para determinar claudicação podem colocar pouco peso no membro afetado
a eficácia da evolução e tratamento do paciente. quando em estação. Existem múltiplas técnicas que avaliam
Dados objetivos devem ser avaliados e revisados a estação, incluindo posicionamento do membro (rotação
para decidir se o plano de tratamento deve ser modificado externa dos dígitos), o membro afetado pode ser mais fácil
baseado no progresso do paciente, e para incentivar a con- de levantar ou de empurrar suavemente do que o membro
tinuidade do tratamento de reabilitação. Como a avaliação contralateral, ou o peso pode estar visivelmente deslocado
do tutor e do médico veterinário podem variar e, muito fre- para o membro não afetado. Também é possível obter in-
quentemente atribuir níveis de melhora maiores do que os formação colocando-se as mãos sob os pés do paciente en-
mostrados pelos dados, a coleta objetiva de dados deve ser quanto em estação, e notando-se qual membro suporta mais
uma prioridade. Dados positivos fornecem motivação para peso, ou mensurando-se o peso de todos os membros com
que a equipe de reabilitação e o tutor continuem o trata- 4 balanças de banheiro ou balanças comercialmente dispo-
mento, ajudando assim os pacientes a prosseguir melho- níveis. Independente do método escolhido é imprescindível
rando e, esperançosamente, retomar a função. manter um método de avaliação consistente durante a coleta
Vários critérios devem ser analisados para que se obte- de dados. Isso inclui manter o animal na posição correta do
nha a maior quantidade possível de informação útil, in- cão como um todo enquanto em estação (cabeça voltada
cluindo a capacidade de realizar as atividades funcionais para frente, não direcionada lateralmente ou para trás), notar
do dia a dia, análise da marcha, função articular, massa o quão perto o animal está das paredes e limitando distra-
muscular e força muscular, composição corporal, avaliação ções, fazendo a análise em um ambiente silencioso 11.
da dor, retorno à função, opinião dos tutores e médicos ve-
terinários, e qualidade de vida. Classificação de claudicação
Uma das ferramentas vitais da avaliação do resultado
ATIVIDADES DO DIA A DIA clínico é a classificação da claudicação (Quadro 1). A ca-
Atividades do dia a dia são as atividades que o animal minhada e o trote são as medidas mais frequentemente ava-
deve realizar de forma independente diariamente. Algumas liadas. É importante separar a caminhada do trote quando
doenças e/ou condições chegam a um ponto em que o pa- se está classificando a claudicação, já que os cães geral-
ciente não continua a melhorar, mesmo com o melhor tra- mente apresentam menos claudicação durante a caminhada,
tamento, como pacientes com severa lesão em medula pois há menos força sendo colocada em cada membro. O
espinhal ou estágios finais de osteoartrite. Os tutores devem trote pode acentuar a claudicação, pois a força colocada no
estar cientes disso desde o início e é responsabilidade do membro é maior com o aumento da velocidade. Ter uma
terapeuta mantê-lo a par do progresso da doença e manter classificação de claudicação diferente para cada fase; em
expectativas realistas. Avaliar o resultado do tratamento em estação, caminhando e trotando, permite uma maior sensi-
relação às atividades do dia a dia deve se concentrar na ca- bilidade na detecção de melhora durante a reabilitação. É
pacidade do paciente em realizar funções básicas da vida, importante que cada membro da equipe conheça e use a
como comer e beber, sem nenhuma ou com o mínimo de mesma escala. A classificação da claudicação pode ser sub-
assistência possível, mudar a posição do corpo sem assis- jetiva, por conta disso é importante que seja sempre a
tência, passar da posição de sentado para caminhar para mesma pessoa que avalie o paciente. O uso de questionário
urinar e defecar, sem nenhum ou com o mínimo de assis- para que o tutor responda sobre as atividades e atitudes do
tência. Esses parâmetros são observados principalmente animal em casa, pode ajudar com avaliações periódicas 5
pelo tutor e devem ser verificados e registrados em todas (Quadro 2).
as visitas. As atividades diárias de cães de companhia são
extremamente diferentes dos cães de trabalho e esporte. Avaliação cinética da marcha (plataforma de força)
Essas diferenças devem ser levadas em consideração e o A avaliação cinética da marcha envolve a mensuração
protocolo de reabilitação adaptado para quantidade de tra- das forças de reação do solo com uma plataforma de força,
balho necessário para que haja retorno à condição de tra- sendo valiosa por representar uma medida objetiva e repe-
balho. titiva do peso suportado pelos membros (Figura 1). A coleta
precisa dos dados depende da técnica adequada durante a
AVALIAÇÃO DA MARCHA avaliação. Controle da velocidade e da aceleração dentro
Suporte do peso em estação dos parâmetros adequados é essencial para a coleta repeti-
A avaliação do animal em estação é um importante tiva de dados. A plataforma de força é conectada a um com-
componente da análise da claudicação deste animal. putador que calcula a força de reação no solo. Deve-se ter
Cães que caminham ou trotam com mínima ou nenhuma cuidado para garantir que o corpo do cão permaneça reto

80 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 10 – Avaliação e medição dos resultados

Quadro 1 – Escore de claudicação

Escore de claudicação em estação


0 c Fica em estação normalmente
1 c Em estação com menos peso no membro, indicado pela deslocamento do peso para o membro colateral
2 c Em estação os dedos mal encostam no solo, no membro afetado
3 c Em estação o membro afetado intermitentemente ou continuamente não é apoiado ao solo.

Escore de claudicação ao caminhar


0 c Caminha normalmente
1 c Claudicação leve ao caminhar sob circunstâncias especiais, ou claudicação inconsistente ao caminhar
2 c Claudicação leve e consistente ao caminhar
3 c Claudicação evidente ao caminhar
4 c Relutante em se levantar e caminhar, claudicação intermitente ou contínua sem apoiar o membro ao caminhar

Escore de claudicação ao trote


0 c Trota normalmente
1 c Claudicação leve ao trote sob circunstâncias especiais, ou claudicação inconsistente ao caminhar
2 c Claudicação leve e consistente ao trotar
3 c Claudicação evidente ao trotar
4 c Relutante em se levantar e caminhar, claudicação intermitente ou contínua sem apoiar o membro ao trotar

Quadro 2 – Questionário funcional para tutores avaliarem as atividades de seu animal em casa

Este questionário reúne informações sobre o paciente no ambiente doméstico e contribui para determinar um plano
de cuidados individuais. Todos os itens necessitam de resposta e os que forem mais preocupantes devem ser
marcados com um asterisco ( * )

Comportamentos positivos
Apetite c Excelente c Bom c Razoável c Ruim
Humor c Excelente c Bom c Razoável c Ruim
Interação com humanos c Excelente c Bom c Razoável c Ruim
Interação com a família c Excelente c Bom c Razoável c Ruim
Frequência de abanar a cauda c Excelente c Bom c Razoável c Ruim
Atividades c Excelente c Bom c Razoável c Ruim

Comportamentos negativos
Ofegação excessiva c Nunca c Infrequente c Frequente c Muito frequente
Lamber os lábios c Nunca c Infrequente c Frequente c Muito frequente
Vocalização c Nunca c Infrequente c Frequente c Muito frequente
Reclamação audível c Nunca c Infrequente c Frequente c Muito frequente
Vocalização ao alongar as patas c Nunca c Infrequente c Frequente c Muito frequente
Agressividade com humanos c Nunca c Infrequente c Frequente c Muito frequente
Agressividade com outros cães c Nunca c Infrequente c Frequente c Muito frequente
Submissão para com outros cães c Nunca c Infrequente c Frequente c Muito frequente

Locomoção
Caminhando c Excelente c Bom c Razoável c Ruim
Subindo escadas c Excelente c Bom c Razoável c Ruim
Descendo escadas c Excelente c Bom c Razoável c Ruim
Deitando c Excelente c Bom c Razoável c Ruim
Levantando c Excelente c Bom c Razoável c Ruim
Dificuldade na locomoção após descanso c Excelente c Bom c Razoável c Ruim

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 81


Capítulo 10 – Avaliação e medição dos resultados

sobrepeso para incentivar a perda de peso, ou restringir ati-


vidade no pós-cirúrgico. Os monitores também podem for-
necer informações sobre a atividade espontânea de alguns
pacientes, determinando se o paciente está ficando mais
ativo em casa como resultado do programa de reabilitação.

FUNÇÃO ARTICULAR
O movimento primário de uma articulação é o ângulo
da articulação durante a flexão e a extensão e é denomi-
nado movimento fisiológico ou osteocinemático. A quan-
tidade ou amplitude de movimento da flexão e da extensão
da articulação é medida usando um goniômetro (Figura 2).
Os ângulos geométricos reais são medidos em cães, dife-
rente de algumas convenções de medida de movimento usa-

Figura 1 – Uma plataforma de força é útil como um método


objetivo de quantificar as forças de reação ao solo

durante a marcha, sem que haja viradas da cabeça, pulos


ou puxões. Os cães geralmente suportam 30% de seu peso
em cada membro torácico e 20% de seu peso em cada
membro pélvico, quando em estação. Quanto trotando a
uma velocidade de 1,7 a 2,0 m/sec, o peso suportado au-
menta para 100%-120% em cada membro torácico e 65%-
70% em cada membro pélvico.
Além disso, há passarelas sensitivas a pressão que
podem ser usados para capturar e analisar dados da marcha.
Esses sistemas são portáteis e vêm em diferentes compri-
mentos. Eles geralmente medem forças relativas ou reais
do peso suportado, tempo em estação, comprimento do
passo e velocidade.

Análise cinética da marcha


A avaliação cinética da marcha mede os ângulos de ex-
tensão e flexão das articulações, comprimento do passo e
outros parâmetros dos passos. Uma reabilitação mais efe-
tiva de pacientes após lesão, procedimentos cirúrgicos ou
pacientes com condições crônicas pode ocorrer com o co-
Figura 2 – Mensuração da amplitude de movimento da
nhecimento dos parâmetros cinéticos. Por exemplo, as me-
articulação feito com um goniômetro
lhorias que são notadas durante o curso do tratamento
podem permitir um aumento na dificuldade de uma ativi-
dade, ou, mais importante, pode sinalizar mudanças que das na fisioterapia humana. Os ângulos normais de extensão
ocorrem como resultado de fadiga ou uso excessivo. O co- e flexão máxima foram medidos em um labrador retriever 7
nhecimento dessa informação pode ajudar a prevenir lesões e podem ser usados com o conhecimento de que diferentes
em outras articulações ou membros. raças podem apresentar variações na medida do ângulo ar-
Alguns dos avanços tecnológicos mais modernos que ticular. Para medir a amplitude de movimento confortável
podem ajudar com a coleta de dados são os monitores de (é difícil medir os ângulos máximo em animais comprome-
atividade canina. Existem diversas marcas no mercado e tidos, já que podem apresentar um certo desconforto na mo-
todas acompanham o nível de atividade do cão ao longo do vimentação da articulação), a articulação é lentamente
dia. Algumas também acompanham e registram a frequên- flexionada até a primeira indicação de desconforto, como
cia cardíaca e respiratória. Esses monitores podem oferecer tensionar os músculos, lamber os lábios, puxar os membros
muitas vantagens, e não menos importante, podem monitorar ou girar a cabeça levemente em direção ao terapeuta, depois
o comprometimento do tutor com os exercícios recomen- deve se realizar as medidas de extensão articular confortá-
dados para casa, como o aumento da atividade em cães com vel. Três medidas independentes são utilizadas para se

82 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 10 – Avaliação e medição dos resultados

assegurar que os ângulos medidos sejam consistentes, rea- pressão controlada na articulação coxofemoral para quan-
lizando uma média entre esses 3 valores. A característica da tificar o grau de frouxidão conhecida como índice de dis-
sensação no final do movimento (do inglês, ends feel) pode tração do quadril. A laxidão da articulação do joelho é
indicar anormalidades, assim como restrição por tecido fi- avaliada pelo movimento de gaveta e compressão tibial.
broso, espessamento da cápsula articular ou impacto com
osteófitos. Crepitação é frequentemente associada a irregu- MÚSCULO
laridades na superfície da cartilagem articular, movimento Massa muscular
da cápsula articular sobre osteófitos ou outras mudanças pe- A massa muscular está relacionada ao uso do membro
riarticulares que ocorrem na osteoartrite. Estralar ou crepitar e está associada com força muscular. Existem vários mé-
durante a manipulação pode ser normal ou indicar anorma- todos de estimar a massa muscular como, mensuração da
lidades na articulação, como fratura de menisco. Todas as circunferência do membro, ultrassom, tomografia compu-
sensações anormais encontradas durante a manipulação tadorizada (TC), imagem por ressonância magnética (RM)
devem ser anotadas no registro do paciente. e absortometria de raios X de dupla energia (DEXA).
Medir a circunferência do membro é um método rápido e
Laxidão articular barato de medir massa muscular, mas resultados aceitáveis
A laxidão articular pode ser resultado de doenças do de- dependem do uso de um método de medição repetitivo e
senvolvimento (displasia de quadril), trauma ou degenera- padronizado. As medidas da circunferência da coxa são
ção patológica dos ligamentos (ligamento cranial cruzado). sensíveis o suficiente para detectar atrofia muscular em
As articulações mais frequentemente atingidas com laxidão duas semanas de cirurgia de joelho. Uma fita métrica com
são o joelho, carpos, ombro e quadril. A avaliação da ins- um dispositivo de tensão de mola é útil para assegurar
tabilidade do ligamento colateral é mais precisa quando a uma disposição consistente da tensão da fita ao fazer me-
articulação está em extensão total, para evitar a rotação in- dições (Figura 3). Uma disposição consistente da fita e cor-
terna ou externa inadvertida da articulação que pode ser in- reto posicionamento do membro no momento da medição
terpretada erroneamente como movimento de varo ou é muito importante. Os parâmetros preferenciais para a rea-
valgo. É importante comparar com a articulação contrala- lização da mensuração da circunferência da coxa incluem
teral normal, já que as diferenças na raça e na idade afetam ter os pelos curtos ou cortados, o joelho colocado em uma
o movimento normal de varo e valgo. posição de extensão, com 70% do comprimento do fêmur e
A laxidão do quadril ocorre frequentemente em cães com o animal relaxado, mas não necessariamente sedado 9.
jovens usando a manobra de Ortolani para gerar subluxação Uma diferença superior a 5 mm entre o membro afetado e
da articulação do quadril. O método radiográfico PennHip o membro contralateral geralmente é clinicamente signifi-
é uma medida mais objetiva feita por meio de aplicação de cante. Outros métodos de mensuração de massa muscular,

A B

Figura 3 – A) Medição do comprimento da coxa, do trocânter maior a face distal da fabela lateral.
B) Medição da circunferência da coxa 70% do comprimento da coxa a partir do trocânter maior, rea-
lizado com o joelho mantido em extensão e o quadril colocado em uma posição neutra. A mola é
puxada para uma tensão final padrão

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 83


Capítulo 10 – Avaliação e medição dos resultados

como TC, RM, DEXA, podem dar resultados mais preci- A condição corporal é avaliada pela palpação de certas re-
sos, mas são mais caros, exigem equipamento sofisticado giões corporais e visualização pela frente, traseira, de
e normalmente requerem sedação ou anestesia, além de ambos os lados e aspecto dorsal do paciente. Estes perfis
mais tempo para obter informações. A circunferência da são então comparados a um padrão e o escore da condição
coxa é frequentemente usada em fisioterapia veterinária corporal é atribuído. Outras avaliações morfométricas , in-
pois é mais barata que outros procedimentos e é mais rá- cluindo a mensuração de fita da circunferência de áreas cor-
pido de obter informações. porais tais como região crânio-torácica e abdominal,
também podem ser utilizadas mas não levam em conta a
Força muscular variação corporal dos cães 3. Outros métodos não invasivos
A mensuração acurada da força muscular em cães é de avaliação de condição corporal, como DEXA, são mais
tanto complicada como invasiva. Por esta razão a maioria precisos do que escores de condição corporal, mas neces-
dos centros de reabilitação conta com medidas subjetivas. sitam de sedação ou anestesia e o equipamentos é caro.
Isso pode incluir avaliação subjetiva do tônus muscular,
com a manipulação dos membros ou pela medição da quan- AVALIAÇÃO DE DOR
tidade tempo em que o cão pode se sustentar com seus A avaliação de dor é crucial na reabilitação física já que
membros dianteiros ou traseiros elevados (dependendo qual os animais não verbalizam o nível da dor que estão sen-
membro está sendo avaliado) sem afundar ou comprometer tindo, mas a dor pode afetar a sua saúde e progresso na rea-
a linha superior, e registrar esses valores com o progresso bilitação. Escalas de avaliação de dor podem ser utilizadas
da reabilitação. A melhora da força muscular pode ser me- para categorizar observações veterinárias e também dados
dida semanalmente pela mensuração da quantidade de obtidos a partir dos tutores pela equipe de reabilitação.
tempo em que o cão pode se suportar sobre o membro afe- Duas das escalas de dor válidas em cães incluem o “breve
tado. Se o tempo não aumentar ou ainda pior, diminuir, os questionário canino de dor” (do inglês: canine brief pain
exercícios e a terapia devem ser reavaliados e ajustados. inventory, sigla: CBPI) 1, e o “Índice de dor crônica de
Helsínquia” (do inglês: Helsinki chronic pain index, sigla:
Lesão de músculo, tendão e ligamento. HCPI) 2. Comportamento de dor em cães pode ser indicado
Informações cruciais para providenciar uma reabilitação por ganidos, choros ou outras formas de vocalização quando
efetiva podem ser obtida através de uma palpação cuida- o animal se move ou na manipulação da área corporal afe-
dosa e imagens adicionais, como avaliação ultrassonográ- tada. Mudanças de comportamento, posição corporal, clau-
fica de lesões em tecidos moles. A imagem por ressonância dicação e atividade limitada também podem indicar dor e
magnética (RM) pode fornecer uma visualização anatô- são considerações especialmente importantes em animais
mica precisa das estruturas de tecidos moles 8, entretanto estoicos.
tem um custo elevado e pode ser pouco sensível. A RM
pode mostrar alterações geradas durante exercício excên- AVALIAÇÕES DE TUTORES E
trico, tais alterações podem durar até 80 dias após a in- MÉDICOS VETERINÁRIOS
júria e causar edema muscular, assim como alterações Devido a diferentes personalidades de cada animal e a
mais duradouras e também a localização precisa da área diferença do comportamento visto em casa comparado com
lesionada. O ultrassom musculoesquelético como diagnós- o demonstrado na clínica veterinária, a avaliação subjetiva
tico pode fornecer a visualização das áreas anormais ou do tutor pode fornecer informações importantes ao tera-
lesadas de músculos, tendões ou ligamentos. É significa- peuta. Tutores devem manter um registro das atividades
tivamente mais barato que a RM e, por isso, é mais fre- diárias dos animais para ajudar a definir o progresso do pa-
quentemente realizado na prática. Também pode ser ciente em casa. Dentre os parâmetros podemos incluir a
usado para indicar o local da lesão a ser tratado com in- quantidade de tempo gasto fazendo atividades invés de des-
jeções de plasma rico em plaquetas (PRP, que possui a cansar, mensuração da distância que o animal é capaz de
mesma sigla em inglês: PRP/platelet-rich plasma), ou com caminhar até precisar descansar ou avaliar o período de
células-tronco para garantir a correta disposição e acom- tempo que um paciente neurológico é capaz de ficar em es-
panhar o processo de cicatrização de tecidos lesados. tação sem assistência. Filmar as atividades do paciente em
casa e durante as sessões de reabilitação física pode forne-
COMPOSIÇÃO CORPORAL cer uma compreensão valiosa do progresso do paciente e
A avaliação da condição corporal é importante na identificar obstáculos para o progresso.
reabilitação do paciente, pois a obesidade tem sido asso-
ciada com a progressão e exacerbação de algumas condi- RETORNO A FUNÇÃO
ções, como a osteoartrose. Por outro lado, massa muscular Uma vez que o retorno à função pode ser uma boa
insuficiente pode indicar nutrição inadequada, condições indicação de uma reabilitação bem-sucedida, deve-se
patológicas, injúrias ou mau condicionamento. Técnicas dar atenção ao avaliar a expectativa do tutor quanto ao
morfométricas, como sistemas de escore da condição progresso para o retorno à função, seja do seu animal
corporal são simples, baratas e razoavelmente precisas. de estimação, animal de trabalho ou atleta de competição.

84 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 10 – Avaliação e medição dos resultados

As expectativas mudam de acordo com o uso pretendido liação do paciente é crucial. As técnicas de avaliação po-
do paciente, que pode variar de um cão de trabalho alta- dem ser relativamente simples e econômicas, ou mais ela-
mente treinado até um animal de estimação. Também é im- boradas com equipamentos caros usados em grandes
portante para a equipe de reabilitação preparar hospitais e universidades. Alcançar o melhor resultado
adequadamente os tutores para uma expectativa sensata possível para um paciente é amparado pela adequada
quanto ao resultado. comparação do progresso do paciente ao decorrer do
Os sistemas de pontuação funcional para lesões especí- tempo. Progressos dependem da flexibilidade e de mu-
ficas devem incorporar o uso dos membros, grau de clau- danças nos protocolos quando o resultado avaliado não
dicação, presença de dor, atrofia muscular, amplitude de corresponde às expectativas.
movimento, efusão articular e atividades funcionais para
avaliar a função do membro. Um exemplo é o Sistema de REFERÊNCIAS
Pontuação Funcional em Cães com Lesão Aguda de Me- 1-BROWN, D. C. ; BOSTON, R. C. ; COYNE, J. C. ; FARRAR, J. T.
Development and psychometric testing of an instrument designed
dula Espinhal (Funcional Scoring System in Dogs with to measure chronic pain in dogs with osteoarthritis. American
Acute Spinal Cord Injuries) 10 (Quadro 3). Journal of Veterinary Research, v. 68, n. 6, p. 631-637, 2007.
DOI: 10.2460/ajvr.68.6.631.
RESUMO 2-BROWN, D. C. ; BOSTON, R. C. ; COYNE, J. C. ; FARRAR, J. T.
A novel approach to the use of animals in studies of pain: validation
Para verificar os benefícios de um programa de reabili- of the canine brief pain inventory in canine bone cancer. Pain
tação e ajudar a melhorar os protocolos, o registro da ava- Medicine, v. 10, n. 1, p. 133-142, 2009. DOI: 10.1111/j.1526-

Quadro 3 – Escala neurológica funcional (Olby et al, 2001)

Estágio 1
0 c Sem movimento do membro pélvico e sem sensação de dor profunda
1 c Sem movimento do membro pélvico com sensação de dor profunda
2 c Sem movimento do membro pélvico, mas movimentação voluntária da cauda

Estágio 2
3 c Mínima protração do membro pélvico sem sustentação de peso (movimento de 1 articulação)
4 c Protração do membro pélvico sem sustentação do peso com mais de 1 articulação envolvida em menos de
50% do tempo
5 c Protração do membro pélvico sem sustentação do peso com mais de 1 articulação envolvida em mais de 50%
do tempo

Estágio 3
6 c Protração do membro pélvico com sustentação de peso em menos de 10% do tempo
7 c Protração do membro pélvico com sustentação de peso de 10 a 50% do tempo
8 c Protração do membro pélvico com sustentação de peso superior a 50% do tempo

Estágio 4
9 c Protração do membro pélvico com sustentação de peso 100% do tempo com força reduzida no membro
pélvico. Erros em 90% do tempo (exemplo: cruzar membros pélvicos, raspar pata quando caminha,
sustentar-se no dorso da pata, cair...)
10 c Protração do membro pélvico com sustentação de peso 100% do tempo com força reduzida no membro
pélvico. Erros de 50 a 90% do tempo
11 c Protração do membro pélvico com sustentação de peso 100% do tempo com força reduzida no membro pélvico
Erros menores que 50% do tempo

Estágio 5
12 c Marcha com ataxia no membro pélvico com força normal, mas erros em mais de 50% do tempo (exemplo:
falta de coordenação com membro torácico, cruzar membros pélvicos, pular passadas, saltos de coelho,
raspa as patas quando caminha)
13 c Marcha com ataxia no membro pélvico com força normal, mas erros em menos de 50% do tempo
14 c Marcha normal com membro pélvico

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 85


Capítulo 10 – Avaliação e medição dos resultados

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COMO CITAR ESSE CAPÍTULO


MILLIS, D. ; HICKEY, D. Avaliação e medição
dos resultados. In: LOPES, R. S. ; DINIZ, R.
Fisiatria em pequenos animais. 1. ed. São Paulo :
Editora Inteligente, 2018. p. 80-86. ISBN: 978-85-
85315-00-9.

86 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


11
Capítulo 11 – Goniometria e perimetria
Goniometria e perimetria

Rhadanna Tonetti Botelho


Rodrigo Martins Pimentel da Silva

A
goniometria (do grego gonia, ângulo, e metron, A maneira mais adequada de se utilizar o goniômetro é
medida) pode ser obtida por meio da mensuração através da colocação do eixo do aparelho sobreposto ao
dos ângulos de membros em cães e gatos. Na fisia- eixo da articulação desejada, dispondo de maneira paralela
tria veterinária, pode ser utilizada na avaliação de resulta- os braços aos ossos proximais e distais desta. Quando as
dos objetivamente obtidos em paciente submetidos à articulações possuem movimentação em mais de um plano,
técnicas de reabilitação 11. como por exemplo, no carpo (flexão, extensão, adução e
A mensuração goniométrica da flexão e da extensão de abdução), o goniômetro deve ser movido para cada plano
uma articulação é uma técnica simples e que fornece infor- e eixo para realização da medição desejada 10.
mações adicionais aos clínicos ou aos fisiatras quanto ao Os goniômetros dependentes de gravidade, também co-
grau de alteração articular e quanto à evolução pós-opera- nhecidos como inclinômetros, são pouco utilizados na prá-
tória de pacientes ortopédicos 1. tica clínica, e se baseiam na força da gravidade exercida
Na medicina veterinária, a goniometria é usada para sobre os ponteiros ou sobre os níveis de fluidos de cada
avaliar o resultado objetivamente em pacientes caninos e aparelho, para aferir a posição e o movimento articular. O
felinos submetidos à fisioterapia enquanto se recuperam de goniômetro pendular consiste em um transferidor circular
doenças ortopédicas e neurológicas 16. de 360º, que possui um ponteiro pesado no centro, o qual
se movimenta de acordo com a colocação do aparelho em
1 - Goniômetros cada região. O goniômetro de fluido consiste em uma câ-
Uma gama de aparelhos diferentes pode ser utilizada mara circular preenchida de líquido com uma bolha de ar
para a mensuração dos ângulos de uma articulação. Esses que se adequa à movimentação do avaliador. Ambos são
instrumentos vão desde uma régua simples até eletrogoniô- difíceis de serem utilizados em casos onde houver defor-
metros elaborados e cabe ao fisiatra avaliador determinar midade óssea ou de tecidos moles ou ainda para mensura-
o mais adequado para cada situação, discernindo em rela- ção dos ângulos de uma articulação pequena 11.
ção à precisão, custo, disponibilidade e facilidade de apli- Outro aparelho muito utilizado, principalmente em
cação 11. casos de pesquisa, é o eletrogoniômetro para a obtenção de
O goniômetro universal é o aparelho mais frequente- medidas articulares dinâmicas. Muitos deles possuem bra-
mente utilizado para a realização de medidas angulares na ços semelhantes ao de um goniômetro universal, presos ao
prática clínica. Podem ser constituídos de diversos mate- segmento distal e proximal da articulação que está sendo
riais, como plástico ou metais, de vários tamanhos e con- medida. Por meio de um potenciômetro ligado aos dois bra-
formações. Normalmente adotam um mesmo desenho ços, é realizada a captação da força exercida no instante de
básico, com um corpo e duas extensões estreitas chamadas uma determinada movimentação realizada pelo animal ao
braços, onde um é fixo e outro móvel. O corpo do goniô- caminhar. Esses aparelhos são caros e difíceis de serem ma-
metro (Figura 1) se assemelha ao de um transferidor, po- nejados, por isso são pouco usados na rotina clínica 10.
dendo ter formação de um circulo inteiro, no qual as escalas Outras maneiras de se realizar a mensuração dos ângu-
de medida vão de 0 a 180º/180º a 0 ou de 0 a 360º/360º a los de uma articulação podem ser utilizadas, tais como ra-
0, ou de um meio círculo, onde as escalas de medida vão diografias, fotografias ou filmes.
de 0 a 180º/180º a 0 11,13.
1.1 - Alinhamento
O alinhamento dos goniômetros é de extrema importân-
cia na obtenção de dados confiáveis. Para visualizar com
maior precisão os segmentos articulares, o fisiatra deve uti-
lizar pontos anatômicos ósseos específicos. De maneira
geral o braço fixo é alinhado de maneira paralela ao eixo
longitudinal do segmento proximal e o braço móvel é ali-
nhado paralelamente ao eixo longitudinal do segmento dis-
tal (Figura 2) 13

2 - Registro
As medidas obtidas em uma avaliação goniométrica
devem ser registradas em tabelas numéricas ou direta-
mente no texto da avaliação. A obtenção de informações que
Figura 1 – Goniômetro auxiliem a interpretação das medidas deve ser realizada.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 87


Capítulo 11 – Goniometria e perimetria

do tipo esferoidal, a qual possui uma cabeça


umeral com uma conformação duas vezes
maior que a cavidade glenóide da escápula 15.
A flexão e extensão do ombro podem ser
medidas através dos ângulos formados por
duas linhas de referência. Uma que se inicia
no epicôndilo lateral do úmero e segue por
seu eixo longitudinal e outra que se baseia
pela espinha da escápula. Em flexão total
as medidas dos ângulos desta articulação
podem atingir 57º em cães e 32º em gatos.
Durante uma extensão total as medidas dos
Figura 2 – Posicionamento de goniômetro em peça anatômica de cotovelo ângulos podem atingir 165º em cães e 160º
com 166º de extensão em gatos 5,6.

É importante a inclusão de dados como nome, idade, sexo, 4.2 - Articulação do cotovelo
data da medida, tipo de goniômetro utilizado, lado do O cotovelo é uma articulação formada pelo côndilo do
corpo, articulação e movimento que está sendo medido, úmero, pela cabeça do radio e pela incisura troclear da ulna.
além de informações como dor e presença de espasmos O cotovelo é um gínglimo típico e realiza os movimentos
musculares 11. de flexão e extensão 7.
Tendo em vista a escassez de trabalhos que mensurem A mensuração dos ângulos desta articulação é realizada
os valores goniométricos das articulações dos membros to- tendo como base uma linha que se inicia no tubérculo
rácicos e pélvicos de animais, se torna imprescindível que maior do úmero até o epicôndilo lateral umeral e outra que
a mensuração comparativa do membro contralateral seja se inicia no mesmo epicôndilo até o processo estiloide ra-
realizada, para obtenção de um parâmetro individual do pa- dioulnar. Em flexão total esta articulação pode atingir 36º
ciente. O fisiatra avaliador deve atentar-se para casos onde em cães e 22º em gatos. Durante a extensão total pode atin-
a lesão ocorre em ambos os membros, devido à redução da gir 166º em cães e 160º em gatos 5,6.
amplitude, mesmo que de maneira diferente em cada mem-
bro, perde-se o parâmetro comparativo 16. 4.3 - Articulação do carpo
É uma articulação composta por três níveis articulares.
3 - Amplitudes de movimento A primeira e mais proximal é a articulação radiocárpica,
Refere-se ao grau máximo que uma articulação pode formada pela extremidade distal do rádio e da ulna, articu-
atingir durante a flexão ou a extensão, sendo que esta pode lando-se com a fileira proximal do carpo. A segunda na re-
ser obtida de maneira passiva ou ativa. gião medial, há uma articulação mediocárpica, formada por
A amplitude de movimento ativa refere-se ao grau de
atividade de uma determinada articulação quando o indi- Tabela 1 – Medidas goniométricas aproximadas das
víduo se encontra na realização de um movimento articular articulações do cão
voluntário não assistido, no qual a mensuração da angula- Articulação Flexão Extensão
ção pode ser obtida por meio da visualização da imagem Ombro 57° 165°
pausada em vídeos. A amplitude de movimento passiva é
Cotovelo 36° 166°
aquela onde o animal não realiza o movimento de maneira
Carpo 32° 196°
voluntária, o mesmo permanece relaxado e o fisiatra ava-
liador faz os movimentos de flexão e extensão de uma de- Quadril 50° 162°
terminada articulação e realiza a aferição do ângulo de Joelho 41° 162°
maneira direta ao animal 11. Tarso 38° 165°

Tabela 2 – Medidas goniométricas aproximadas das


4 - Medidas goniométricas (Tabelas 1 e 2)
articulações do gato
Até à data, o uso de goniometria foi validado tanto em
labrador retrievers quanto em gatos. Essas medidas são uti- Articulação Flexão Extensão
lizadas como referência para avaliações goniométricas, Ombro 32° 160°
porém, vale ressaltar que em casos possíveis, a mensuração Cotovelo 22° 160°
dos ângulos no membro contralateral é de extrema impor- Carpo 22° 210°
tância para fins de comparação 5,6.
Quadril 33° 159°
Joelho 24° 166°
4.1- Articulação do ombro
A articulação glenoumeral é uma articulação sinovial Tarso 21° 163°

88 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 11 – Goniometria e perimetria

duas fileiras de ossos do carpo. A terceira, distalmente, há metatarsofalangeana. Esta articulação pode atingir uma am-
a articulação carpometacárpica, formada pela fileira distal plitude máxima em flexão de 38º em cães e 21º em gatos e
dos ossos do carpo e as extremidades proximais do meta- uma amplitude máxima de extensão de 165º em cães e 166º
carpo. O principal movimento realizado por esta articula- em gatos 5,6.
ção é de flexão e extensão 4.
A medição dos ângulos do carpo é aferida tendo como PERIMETRIA
base duas linhas, uma que segue o eixo longo do rádio e 1 - Introdução
ulna, iniciando do epicôndilo lateral até o processo estiloide A massa muscular está diretamente ligada ao uso dos
e outra que segue o eixo longo lateral dos ossos metacar- membros e da força muscular realizada pelo animal.
pianos. Durante a flexão total essa articulação pode atingir Quando a descarga de peso não acontece inicia-se o pro-
32º em cães e 22º em gatos. Quando se faz uma extensão cesso de hipotrofia muscular, que pode ser o resultado do
total esta articulação pode atingir 196º em cães e 200º em desuso prolongado de um determinado membro, tanto por
gatos 5,6. afecções ortopédicas ou neurológicas, como também após
procedimentos cirúrgicos que necessitam de um tempo pro-
4.4 - Articulação do quadril longado de imobilização. A hipotrofia ou atrofia muscular
A articulação coxofemoral é do tipo sinovial esférica, também podem estar relacionadas à transferência de peso
formada pela cabeça do fêmur e a fossa acetabular, que rea- para os outros membros, na tentativa de minimizar a dor e
lizam os movimentos de flexão e extensão, adução e abdu- o desconforto articular e podem ser observadas tanto em
ção, rotação interna e externa, porém, aquela com maior animais como em seres humanos 9.
amplitude e que usualmente é aferida por goniometria é a A perimetria é um método de avaliação de extrema im-
extensão e flexão 3. portância na fisiatria veterinária, por meio dela é possível
A aferição do ângulo de flexão e extensão desta articu- mensurar a dimensão dos membros torácicos e pélvicos
lação é baseada em uma linha que se inicia na tuberosidade para verificar a presença ou ausência de atrofia ou edemas
isquiática até o trocânter maior e outra que se inicia neste musculares. Animais que sofreram algum tipo de lesão
mesmo trocânter e segue até a crista lateral da tróclea. A podem apresentar algum grau de hipotrofia ou atrofia mus-
angulação máxima durante a extensão pode chegar a 162º cular, que podem facilmente ser detectadas por um exami-
em cães e 160º em gatos. Durante a flexão máxima pode nador experiente durante uma palpação comparativa dos
atingir 50º em cães e 33º em gatos 5,6. membros, com o animal em estação. O fisiatra avaliador
deve atentar-se para casos onde a lesão ocorre em ambos
4.5 - Articulação do joelho os membros, devido à redução de apoio ou diminuição da
A articulação do joelho é uma das maiores do corpo e descarga de peso, mesmo que de maneira diferente em cada
também uma das mais complexas. É formada por duas ar- membro, perde-se o parâmetro comparativo 12.
ticulações envolvidas em uma única cápsula articular, uma
fêmoropatelar e outra fêmorotibial. Os principais movi- 2 - Perimetria na fisiatria
mentos realizados pela articulação do joelho são de flexão Existem métodos mais objetivos para a obtenção da pe-
e extensão, rotação interna e externa e um pequeno movi- rimetria muscular, como por exemplo, ultrassonografia,
mento de adução e abdução da tíbia ocorrem no plano raio-x de dupla energia (DEXA), tomografia computado-
transversal 14. rizada e ressonância magnética, porém além de caros
A medição dos ângulos desta articulação se baseia em podem exigir sedação ou até mesmo anestesia, o que muitas
uma linha que se inicia no trocânter maior do fêmur até a vezes os tornam inviáveis na rotina fisiátrica. Um método
crista lateral da tróclea e outra que se inicia nesta mesma prático, fácil e barato é a utilização da fita métrica de tensão
crista até o maléolo lateral da fíbula. Esta articulação pode de mola ou Gulick, essa fita é composta por graduação em
atingir uma angulação máxima de 162º em extensão no centímetros, porém seu resultado vai depender da tensão
caso de cães e 166º em gatos. Durante a flexão essa articu- final aplicada 9.
lação pode atingir 41º em cães e 24º em gatos 5,6. Com os métodos supracitados o operador poderá avaliar
tanto os membros torácicos como também os pélvicos,
4.6 - Articulação do tarso sendo os últimos mais submetidos à aferição por fita mé-
A articulação do tarso é complexa e formada por quatro trica de tensão. Ao se avaliar a perimetria muscular, deve-
articulações distintas, tibiotarsal, intertarsal proximal, in- se sempre medir a circunferência do membro em um local
tertarsal distal e tarsometatarsal, que de uma maneira geral fixo, geralmente se utiliza na altura de 20% (cranial) do
funciona como um gínglimo. Apresenta movimentos de fle- rádio nos membros torácicos e 50 ou 70% (cranial) do
xão e extensão 4,14 fêmur nos membros pélvicos, e com a mesma pressão exer-
As medições para determinação dos ângulos desta arti- cida em medições anteriores para se obter um resultado
culação se baseiam em uma linha que se inicia no côndilo confiável. Com a utilização da fita métrica de tensão essa
lateral da tíbia e vai até o maléolo lateral da fíbula e outra pressão pode ser controlada, onde 50 g de pressão mostrará
linha que se inicia no mesmo maléolo e vai até a articulação uma bola vermelha na câmera e 100 g de pressão indicará

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 89


Capítulo 11 – Goniometria e perimetria

Figura 3A e 3B – Perimetria de musculatura da coxa. Reparar que com pressão de 50 g (somente uma bola vermelha)
a medição é de 38 cm, já com pressão de 100 g (duas bolas vermelhas apresentadas) a medição é de 36,5 cm, isto no
mesmo local de análise da perimetria

duas bolas vermelhas (Figura 3A e 3B), assim o avaliador realização e barato, garante uma eficiente forma de se ave-
conseguirá averiguar a força exercida, além de permitir riguar o prognóstico e a evolução do animal examinado, o
avaliação por pessoas diferentes sem que haja comprome- que a torna uma eficiente aliada na recuperação de pacien-
timento do resultado final 12. tes com afecções locomotoras sejam elas neurológicas ou
Segundo estudo realizado tanto em cadáveres humanos, ortopédicas.
como também em cães, existe uma forte correlação entre a
circunferência da região femoral e sua massa muscular. CONCLUSÃO
Essa correlação poderia ser ainda mais fidedigna se fosse Uma dificuldade encontrada na fisiatria veterinária é
realizado a medida do comprimento do membro e se fosse que os ângulos articulares e perímetros musculares diferem
calculado o volume total, como se o mesmo fosse um ci- não apenas entre cães e gatos, mas também entre as dife-
lindro 9. rentes raças. Portanto faz-se necessário estudo mais espe-
Quando se utiliza a fita métrica de tensão, o avaliador cíficos para cada raça de cada espécie para determinar as
deve se atentar para a posição do membro, pois quando esse diferenças entre amplitudes de movimento e perímetros
se encontra com flexão total é possível se obter medidas musculares dos animais.
maiores devido ao encurtamento e aglomeração dos feixes Ambos os métodos de aferição são de extrema impor-
musculares, quando comparado ao membro em extensão tância na rotina fisiátrica. Por meio dessas avaliações é pos-
total. O animal também deve estar relaxado, não necessa- sível acompanhar a evolução de um paciente que tende a
riamente sedado, para uma medida mais confiável além de ter um ganho considerável na amplitude de movimento e
possuir o pelo curto ou totalmente tricotomizado, para não um aumento da massa muscular durante o período de rea-
haver interferência nos resultados obtidos 9. bilitação.
Em casos de pós-operatório imediato pode ser desenhada
uma linha na pele do animal para aferição das medidas, é Referências
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fise femoral, sendo o último considerado mais sensível 2. 3-EVANS, H. E. ; DE LAHUNTA, A. Guia para dissecação do cão. 5.
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90 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 11 – Goniometria e perimetria

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9788572417273.
16-THOMOVSKY, S. A. ; CHEN, A. V. ; KISZONAS, A. M. ;
LUTSKAS, L. A. Goniometry and limb girth in miniature
Dachshunds. Journal of Veterinary Medicine, v. 2016, n.
5846052, 2016. DOI: 10.1155/2016/5846052.

COMO CITAR ESSE CAPÍTULO


BOTELHO, R.T. ; M. M ; SILVA, R. M. P. Goniometria e
perimetria. In: LOPES, R. S. ; DINIZ, R. Fisiatria em
pequenos animais. 1. ed. São Paulo : Editora Inteli-
gente, 2018. p. 87-91. ISBN: 978-85-85315-00-9.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 91


12
Eletroterapia

Marcella Sanches
Lívia Assis

A
eletroterapia na reabilitação física veterinária é uma sem alternar os polos, ou seja, são correntes polarizadas.
das modalidades terapêuticas mais utilizadas e suas As aplicabilidades clínicas mais comuns da CD são: a ion-
indicações são diversas, o que incluem fortaleci- toforese, a cicatrização de feridas e o estímulo de músculos
mento da musculatura esquelética, reeducação muscular, denervados 5,14.
melhora da amplitude de movimento (ADM), melhora do
tônus e da função muscular, analgesia, aumento da circu- Corrente alternada (CA)
lação sanguínea, redução de edema e otimização da rege- Fluxo bidirecional simétrico ininterrupto de íons ou de
neração tecidual. elétrons, o qual alterna a direção pelo menos uma vez por
A nomenclatura das correntes utilizadas para estas fina- segundo. A quantidade de vezes que a CA alterna sua dire-
lidades se correlaciona com suas aplicações, nome de in- ção é considerada sua frequência, medidas em Hertz (Hz),
ventores e até as empresas que fabricam. Alguns exemplos na unidade de ciclo por segundo. Esse tipo de corrente elé-
são estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS – trica é encontrada na eletricidade de residências e não é
Transcutaneus Electrical Nerve Stimulation), estimulação comum sua aplicabilidade terapêutica. Entretanto, existem
elétrica funcional (FES – Functional Electrical Stimulation), exceções que utilizam formas de modular essa corrente
estimulação elétrica muscular (EMS – Electrical Muscle para que se tenham uso clínico, tais como CA modulada
Stimulation), estimulação elétrica neuromuscular (NMES – em burst (trens de pulso), como a Corrente Russa e CA mo-
Neuromuscular Electrical Stimulation), corrente farádica, dulada em amplitude, como a Corrente Interferencial 5,14.
corrente galvânica, corrente diadinâmica, corrente de alta
voltagem, corrente de baixa voltagem, corrente Russa e cor- Corrente pulsada (CP)
rente interferencial (IFC – Interferential Current). Fluxo uni ou bidirecional interrompido de íons ou elé-
Alguns fundamentos da eletroterapia são essenciais para trons. Esse evento elétrico isolado, separado de um novo
a compreensão do funcionamento das diferentes correntes evento por um período de tempo é chamado de pulso, e esse
e seus efeitos clínicos. Os parâmetros determinam o meca- período é denominado intervalo de pulso 5,14.
nismo de ação, os efeitos terapêuticos, o ótimo resultado Considera-se o tempo de duração de fase o tempo em
de cada corrente e a escolha do eletroestimulador na prática que a corrente flui da linha isoelétrica em uma direção e
da fisiatria veterinária. No quadro 1, encontra-se um re- retorna para a linha isoelétrica novamente. Enquanto isso,
sumo das bases da eletroterapia que serão abordados de a duração de pulso é o tempo desde o início da primeira
forma mais aprofundada no decorrer do capítulo. fase de um pulso até o final da última fase do mesmo,
fluindo em ambas as direções 5.
FUNDAMENTOS DA ELETROTERAPIA A CP pode ser monofásica ou bifásica. Ela é conside-
Tipos de correntes elétricas (Figura 1) rada monofásica quando seu pulso se desvia da linha isoe-
Corrente direta (CD) létrica em apenas uma direção e retorna para a mesma.
Fluxo contínuo unidirecional de íons ou de elétrons por Em uma corrente monofásica, a duração do pulso é igual a
pelo menos 1s. Um eletrodo será o cátodo e o outro o ânodo duração da fase. Na corrente bifásica, por sua vez, duas

Quadro 1 – Parâmetros da eletroterapia. Adaptado de LEVINE & BOCKTAHLER, 2014 14


Parâmetros
Polaridade Existem dois polos: cátodo (-) e ânodo (+), sendo que o fluxo de íons é do – para o +.
Em correntes alternadas, os polos alteram as polaridades.
Forma da onda Representação gráfica do pulso da corrente, sendo que no eixo horizontal (x) do
gráfico é demonstrado o tempo ou duração da corrente e no eixo vertical (y)
é demonstrada a magnitude ou intensidade. Essas podem ser direta, alternada,
pulsada, simétrica, assimétrica, etc.
Amplitude Intensidade máxima da corrente.
Duração/ Largura de pulso Tempo de duração de cada pulso elétrico, geralmente medido em microssegundos.
Frequência Número de pulsos por segundo. A frequência é medida em Hertz.
Tempo on/off Tempo em que há geração de pulsos elétricos (on) e tempo de descanso entre as
contrações (off).
Rampa de subida / Aumento gradativo da intensidade até atingir sua amplitude máxima (subida) e
rampa de descida diminuição da intensidade até a intensidade igual a zero (descida).

92 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 12 – Eletroterapia

fases compõem um pulso, seu fluxo é bidirecional. Quando certo período de tempo. A amplitude da corrente elétrica é
essas fases são iguais, é chamada de corrente bifásica si- definida como o maior pico da corrente durante uma fase.
métrica e quando são diferentes, corrente bifásica assimé- Para uma maior amplitude, medida em miliamperes (mA),
trica. Esses tipos de CP apresentam grande importância é necessário que se aumente a intensidade. Com isso, re-
terapêutica, tanto para analgesia (TENS) e fortalecimento crutam-se mais fibras musculares, tornando a contração
muscular (NMES) 5. muscular mais forte 5.
A pele produz resistência ao fluxo de corrente elétrica
Modulação da amplitude devido uma característica física do tecido epitelial denomi-
O conceito de intensidade está relacionado à quantidade nada impedância cutânea. Para minimizar essa resistência,
de cargas elétricas que transita em um condutor por um indica-se realizar a tricotomia e a assepsia da pele do ani-
mal 4,14. Em pelagens mais finas, recomenda-se afastar bem
os pelos e aplicar ampla quantidade de gel condutor entre
o eletrodo e a pele.
Com o objetivo de dar conforto ao paciente, há uma es-
pecificidade dos NMES que é a rampa de subida e de des-
cida. Este tipo de modulação promove o crescimento
gradual da estimulação até atingir a amplitude máxima e
depois uma diminuição também gradual até o relaxamento
do músculo esquelético 5,14. A rampa pode variar de 1 a 4
s, sendo que podem ter valores diferentes. Por exemplo,
com objetivo de não causar um susto no animal no mo-
mento em que este sentirá o inicio da eletroestimulação,
sugere-se estabelecer uma rampa de subida de 2s e de des-
cida de 1s. Assim, o paciente sente gradativamente o au-
mento da intensidade da corrente elétrica. A demonstração
gráfica das rampas de subida e de descida encontra-se
abaixo na figura 2.

Modulação de pulsos
De acordo com a modulação de pulsos, pode-se obter
diferentes resultados com um mesmo tipo de corrente. A
frequência, como visto no quadro 1, é o número de pulsos
por segundo e é medida em Hz. Correntes como NMES,
apresentam uma frequência que varia entre 35 até 80 Hz
mais comumente utilizadas. Já o TENS, pode variar de 2
até 150 Hz.
O tempo de duração de cada pulso elétrico, geralmente
medido em microssegundos (µs), e sua amplitude estão re-
lacionados à despolarização da célula muscular para gerar
Figura 1 – Tipos de correntes direta, alternada e pulsada um potencial de ação. Ou seja, para ocorrer um estímulo
elétrico, é necessário força de contração e tempo suficien-
tes. Na teoria, o termo denominado
reobase é o limiar de intensidade que
leva à despolarização da fibra nervosa
do tipo Aα quando a duração do pulso
é infinitamente longo. Já o termo cro-
naxia é a duração do pulso necessária
para obter a despolarização de fibras
nervosa do tipo Aα com um valor de
intensidade duas vezes maior que o da
reobase. Os parâmetros utilizados
para cada músculo: intensidade (l),
duração do pulso (t), reobase (R) e
cronaxia (C) são correlacionados na
seguinte equação: I = R (C / t + 1) . A
Figura 2 – Rampas de subida e de descida, representadas no gráfico de NMES cronaxia específica de cada músculo

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 93


Capítulo 12 – Eletroterapia

Quadro 2 – Valores de cronaxia e duração de pulso em cães (adaptada de Sawaya et al., 2008 18)
Músculos Cronaxia (µs) Duração ou largura de pulso (µs) *
Supraespinhoso 167 ± 55 (133–200) 150–190
Infraespinhoso 151 ± 61 (113–188) 130–170
Deltoide 180 ± 60 (138–221) 160–200
Tríceps braquial (cabeça lateral) 217 ± 74 (171–262) 200–240
Extensor carpo radial 190 ± 69 (141–238) 170–210
Glúteo médio 179 ± 69 (136–221) 160–200
Bíceps femoral 207 ± 63 (167–246) 180–220
Semitendinoso 166 ± 25 (150–181) 150–190
Quadríceps (vasto lateral) 233 ± 73 (181–282) 210–250
Tibial cranial 238 ± 111 (160–314) 210–250
Paravertebral 205 ± 79 (155–255) 180–220
* As durações de pulso recomendadas são intervalos centrados sobre os valores médios calculados neste estudo
com uma faixa aproximada de 10% ou 20 µs. Esta faixa facilita a seleção de um único valor de cronaxia quando
estimula vários músculos em uma região

é considerada duração ou largura de pulso ideal para des- muscular, ou seja, ganho de força/massa muscular, sugere-
polarizar fibras nervosa do tipo Aα e criar contração mus- se a aplicação de um tempo on igual ao off até que as ses-
cular sem estimular fibras nervosas nociceptivas do tipo Aδ sões se evoluam para um programa onde o tempo on
e C 14,18. Um trabalho publicado em 2008 determinou o li- torne-se maior que o tempo off.
miar de duração de pulso (cronaxia) para a máxima con- É importante destacar que o recrutamento muscular com
tração motora de diversos músculos em cães, certificando a utilização da eletroterapia difere-se de uma contração
a não existência de estimulação de fibras dolorosas (Aδ e muscular voluntária. A contração muscular mediada por um
C) 18. No quadro acima (Quadro 2), pode-se observar os va- estímulo elétrico recruta primeiramente fibras do tipo
lores obtidos nessa pesquisa. Na figura 3, caracterizam- Tipo II (fibras de contração rápida - anaeróbias) e depois,
se a amplitude e o tempo da corrente pulsada de forma fibras do tipo Tipo I (fibras de contração lenta - aeróbias).
gráfica. Essa ordem de recrutamento das fibras musculares é oposta
O ciclo de trabalho é definido como a relação do tempo a uma contração muscular voluntária. Ressalta-se que a
on e o tempo total do ciclo em porcentagem. O tempo on é contração muscular voluntária máxima em animais sadios
o tempo em que há geração de pulsos elétricos e o tempo apresenta uma força de contração superior à contração in-
off é o tempo de intervalo entre as séries de pulsos. O tempo duzida por um estímulo elétrico. Entretanto é importante
do ciclo é a soma do tempo on com o tempo off. Por exem- lembrar que o NMES ou o FES são aplicados em pacien-
plo, um protocolo de NMES para fortalecimento muscular tes com lesões ortopédicas e/ou neurológicas, os quais
pode ter tempo on = 10 s e tempo off = 40 s. Ou seja, o ciclo apresentam debilidade durante a realização de contração
de trabalho seria 10 s divido pelo tempo total de 50 s, o que muscular voluntária máxima. Desta forma, este animais
resultaria em um ciclo de 20%. Porém, costumamos não necessitam de um estímulo elétrico com a finalidade de
usar na prática o valor do ciclo de tra-
balho, pois pode expressar qualquer
proporção de 1 on e 4 off, como por
exemplo 5 s e 20 s. Desta forma, regis-
tra-se sempre o tempo real em segun-
dos, e não a sua porcentagem de ciclo
de trabalho. Animais que apresentem
uma atrofia muscular severa, sugere-
se a aplicação de tempo off maior que
o tempo on, como por exemplo uma
relação de 1:3 até 1:5 com o objetivo
que o tempo de eletroestimulação não
cause fadiga muscular. Aos poucos,
com a evolução do quadro, chega-se à
1:2. Com a progressão do tratamento
e com a observação da recuperação Figura 3 – Corrente pulsada e suas características de amplitude e tempo

94 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 12 – Eletroterapia

proporcionar maior recrutamento muscular e com isso uma maior a densidade da corrente e isso pode tornar o estímulo
força maior de contração 14. desconfortável. É interessante que o veterinário tenha à dis-
posição uma série de tamanhos para escolher o mais ade-
Tipos de eletrodos de superfície quado para a aplicação (Figura 6).
Os eletrodos são a interface entre o equipamento de ele- Há algumas contraindicações que impedem a utilização
troterapia e a pele do paciente. É por meio deles que a cor- dessas correntes, bem como certas precauções que devem
rente elétrica produzida pelo aparelho será transmitida aos ser levadas em consideração. Dentre estas, podemos citar:
tecidos. Existem alguns tipos de eletrodos, tais como os animais que apresentem convulsões, aplicação em áreas
metálicos, revestidos por esponja umedecida, os pigmen- com infecção ou neoplasia, em fêmeas prenhes, na região
tados de carbono ou de silicone e os autoadesivos 1. Suas da carótida ou cardíaca, em áreas com sensibilidade alte-
características são importantes na escolha do melhor tipo rada e em áreas com lesões graves de pele 14.
para cada paciente, sendo que todos eles apresentam uma
baixa resistência e alta condutibilidade.
Na veterinária, devido à pelagem dos animais, é muito
difícil a utilização de eletrodos autoadesivos, já que os mes-
mos perdem sua aderência rapidamente e necessitariam de
uma tricotomia muito bem feita para usá-los. Os eletrodos
metálicos não são maleáveis, também sendo de difícil apli-
cação na prática veterinária. Desta forma, sugere-se a uti-
lização de eletrodos pigmentados de carbono ou de
silicone. Estes eletrodos são flexíveis, podem ser cortados
no tamanho e formato desejados, são reutilizáveis e com
preço acessível. Para utilizá-los, é necessário a aplicação
de um gel neutro condutor e sua fixação com fita adesiva
ou esparadrapo (Figuras 4 e 5). Durante o tratamento, é im-
portantíssimo que o veterinário cheque constantemente se
os eletrodos estão bem aderidos, caso contrário, o paciente
pode receber uma descarga elétrica e se assustar.
O tamanho dos eletrodos irá variar de acordo com o
grupo muscular a ser estimulado e está relacionado com a
densidade da corrente. Quanto menor a área do eletrodo,

Figura 5 – Utilização de TENS com eletrodos aplicados de


forma paralela na articulação coxofemoral e fixados com
esparadrapo

Figura 4 – Utilização de TENS com eletrodos aplicados de


forma contra-planar (medial e lateral à articulação fêmoro-
tíbio-patelar) e fixados com esparadrapo Figura 6 – Tamanhos variados de eletrodos de silicone

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 95


Capítulo 12 – Eletroterapia

NMES, EMS e FES postura e sustentação, enquanto isso, as fibras do tipo II são
A utilização de correntes elétricas para fortalecimento associadas à geração de potência e velocidade durante a
e reeducação muscular é frequente em distúrbios ortopédi- contração muscular, e também ao tempo de reação, para o
cos e neurológicos com o objetivo de tratar ou prevenir endireitamento postural.
atrofia muscular (por desuso ou imobilização), aumentar Ao utilizar a frequência entre 35-50Hz, estimula-se as
ou preservar a ADM e reeducar a musculatura para o mo- fibras tipo I em casos de atrofia por desuso, decorrente de
vimento e a postura adequados. imobilização ou até uma redução na descarga de peso pela
Com diferentes nomenclaturas, as denominações dos osteoartrite e para estimular a musculatura de sustentação
tipos de eletroterapia nesse âmbito tornam-se confusas, por em estação. A frequência entre 50-80Hz estimula fibras
isso é importante se atentar às siglas para saber como esco- tipo II quando o objetivo é incitar a musculatura de explo-
lhê-las. A NMES, estimulação elétrica neuromuscular, é são em cães atletas, para desenvolver o início do movi-
aplicada em músculos com inervação íntegra para o forta- mento em cães paralíticos (extensão dos joelhos para ir de
lecimento. Já o EMS, estimulação elétrica muscular, é apli- sentado à estação, por exemplo) e em pacientes idosos para
cada em músculos denervados para fortalecimento e trabalhar o equilíbrio melhorando as reações posturais.
reeducação. Essa diferença está em qual tecido será estimu- A FES, estimulação elétrica funcional, é a nomenclatura
lado para que a despolarização ocorra e com isso, o efeito mais utilizada na fisioterapia humana. Este tipo de eletroes-
terapêutico da eletroterapia. Na NMES, o nervo periférico timulação é aplicado em músculos inervados ou denerva-
é despolarizado, pois apresenta um limiar mais baixo de dos com o intuito de facilitar ou iniciar o movimento
despolarização e realiza a contração do músculo esquelético funcional. Este tipo de aplicação é muito comum em hu-
em questão. Enquanto isso, na EMS ocorre a despolarização manos, por exemplo, quando se aplica a corrente no bíceps
do próprio músculo esquelético, por meio de sua membrana braquial com a intensão de trabalhar a flexão do cotovelo.
plasmática, o sarcolema. Por esse motivo, a EMS apresenta Ou seja, o estímulo elétrico despolariza o nervo ou o mús-
parâmetros diferentes da NMES, como um estímulo com culo para auxiliar o movimento ou exercício proposto pelo
maior amplitude, maior largura de pulso e até outro tipo de fisioterapeuta. Pode-se afirmar que a FES tem como obje-
corrente, como a corrente direta. Todavia há riscos sérios de tivo a reeducação muscular funcional, havendo uma coor-
queimadura ao usar altas amplitudes nesse tipo de corrente denação da contração muscular por meio do estímulo
e muitos aparelhos não apresentam esse tipo de corrente. elétrico com o exercício terapêutico realizado 2.
Por esses motivos, sugere-se o uso da corrente bifásica re- Na veterinária, existe a desvantagem de podermos rea-
tangular com os parâmetros encontrados no quadro 3 4. lizar a FES apenas com o movimento assistido, já que nossos
Existem dois tipos gerais de fibras musculares, as fibras pacientes não realizariam ações específicas por comando.
do tipo I (contração lenta) que apresentam metabolismo oxi- Com isso, dependendo do grupo muscular que deseja esti-
dativo e fibras tipo II (contração rápida) que apresentam, por mular, deve-se adaptar o exercício. A forma mais fácil de
sua vez, o metabolismo glicolítico. Para estabelecer a fre- realizar uma “FES real” em um animal com paralisia de
quência que será utilizada no NMES ou no FES, é impor- membros pélvicos por uma hérnia de disco toracolombar,
tante decidir qual fibra será estimulada. As fibras do tipo I por exemplo, é com o animal com apoio em bola, em cadeia
são fibras de resistência, responsáveis pela manutenção da cinética fechada. Esse tipo de exercício consiste em apoiar

Figura 7 – Aplicação do FES, utilizando a eletroterapia para fortalecimento associada ao exercício de sustentação em
estação na bola

96 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 12 – Eletroterapia

a extremidade do membro apoia-


da, sustentando o peso corpóreo.
Os membros pélvicos se man-
tém fixos, sem movimentação, e
com os coxins em constante con-
tato com o solo (Figuras 7 e 8).
Outra forma também é reali-
zar a passada para o animal en-
quanto o aparelho está em sua
fase on (Vídeo 1). O exemplo
dessa aplicação, realiza movi-
mentos de passada e para frente
e para trás, com a finalidade de
realizar descarga de peso e a con-
tração da musculatura que sus-
tenta o animal em estação, como,
glúteos, quadríceps e isquioti- Figura 8 – Aplicação do FES, utilizando a eletroterapia para fortalecimento associada
biais. ao exercício de sustentação em estação na bola
Existem várias indicações para o uso de NMES, EMS e
FES na veterinária, dentre elas pode-se citar o fortaleci-
mento muscular em pós-operatório de ruptura de ligamento
cruzado cranial (RLCCr) ou de colocefalectomias, reedu-
cação muscular nas paresias e paralisias, fortalecimento
muscular e melhora da ADM em casos de osteoartrite,
fortalecimento muscular em casos de lesão de nervo peri-
férico e síndrome da cauda equina 14. No quadro 3, encon-
tra-se um resumo das indicações de parâmetros utilizados
dessas correntes elétricas. Logo abaixo, na figura 9, pode-se
observar a demonstração gráfica dessas correntes elétricas
em questão.
Existem três formas para aplicar essas correntes: no
ponto motor (Figura 10), na origem e inserção do músculo
(Figura 11) e no ponto motor junto à raiz nervosa (Figura Vídeo 1 – Simulação de FES, utilizando a corrente elé-
12). O ponto motor é observado próximo da maior curva- trica e exercícios para fortalecimento muscular -
tura da musculatura, sendo que apresenta também o maior https://youtu.be/Fe7ZJVIxnmk
número de unidades motoras e, consequentemente, a maior origem e inserção muscular é mais utilizada em músculos
contração quando estimulado. Normalmente essa técnica é maiores ou em animais de grande porte. Nesta técnica, co-
escolhida em cães de pequeno e médio porte, quando uti- loca-se um eletrodo onde a musculatura se origina no corpo
liza-se apenas um eletrodo em cada ponto motor, sendo que do animal e outro próximo de sua inserção. Nesse caso, uti-
cada canal estimularia 2 músculos distintos. A técnica de lizam-se dois eletrodos para cada músculo. Na técnica que

Quadro 3 – Tipos de eletroterapia para fortalecimento muscular e seus parâmetros 4


Tipo de Objetivo Formato Frequências Largura Amplitude Período Tempo de
eletro de onda mais utilizadas do pulso on e off aplicação
NMES Fortalecimento Bifásica 35-80 Hz 150-250 µs Máxima que 1:1 10-20
muscular CP o paciente 1:2 contrações
tolerar permitir
EMS Fortalecimento Bifásica 16-25 Hz 30-50 ~ 250 mA 1:2 10-20
muscular CP ms 1:4 contrações
FES Reeducação Bifásica 35-50 Hz 150- Ideal para 1:3 10-15
muscular CP 250 µs contrair a 1:4 contrações
musculatura
e realizar o
movimento
proposto

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 97


Capítulo 12 – Eletroterapia

se utiliza o ponto motor junto à raiz nervosa, coloca-se um


eletrodo no ponto motor do músculo que quer ser estimu-
lado e outro próximo à raiz nervosa do segmento medular
que inerva o músculo.
São inúmeras as indicações para o uso de NMES, tanto
em reabilitação física de pacientes com lesões ortopédicas e
Figura 9 – FES e NMES neurológicas, com o objetivo de fortalecimento e reeducação

A B C

Figura 10 – Técnica do ponto motor, aplicada na figura A em pontos motores de quadríceps e bíceps femoral, na
figura B em pontos motores de quadríceps e glúteo e na figura C em pontos motores de bíceps braquial e tríceps

A B

Figura 11 – Técnica de origem e inserção muscular, sendo que na figura A os eletrodos estão posicionados em bíceps
femoral e quadríceps e na figura B em tríceps.

98 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 12 – Eletroterapia

A B C

D E
Figura 12 – Técnica do ponto motor junto à raiz nervosa, com um eletrodo próximo à raiz nervosa do
segmento medular que inerva o músculo (na foto, próximo à intumescência pélvica) e outro eletrodo nos
seguintes músculos: glúteo (A), quadríceps (B), bíceps femoral (C), gastrocnêmio (D) e tibial cranial (E)

muscular. Dentre elas, o uso mais frequente dessa corrente é cular dos extensores do joelho, que foi acompanhada por
em casos de ruptura de ligamento cruzado cranial (RLCCr), menor percepção de dor e maior simetria de descarga de
lesões de coluna, luxação patelar e displasia coxofemoral 14. peso entre os membros em comparação com os participan-
NMES na RLCCr tem o objetivo de melhorar o fortale- tes que só realizaram os exercícios ou não realizaram nada
cimento do quadríceps e a função do joelho 9, já que com a após os 60 e 180 dias da cirurgia 13.
lesão ocorre fraqueza muscular e assimetria da descarga de Com a finalidade de otimizar o uso do NMES em casos
peso entre os membros. Um estudo avaliou 63 pessoas com de RLCCr e também de luxações patelares, a associação
um protocolo de treinamento de seis semanas com NMES dessa eletroterapia com exercícios de cadeia cinética fe-
no músculo quadríceps sobreposto a repetidos exercícios chada em fisioterapia humana é muito utilizado, sendo que
de senta-e-levanta, do 15º ao 60º dia do pós-cirúrgico cor- um dos tipos de exercício terapêuticos utilizados é o exercí-
retivo de ruptura de ligamento cruzado anterior. Os parti- cio de senta-e-levanta descrito no estudo anterior. Como ci-
cipantes que realizaram a combinação NMES e os tado anteriormente, em casos de hérnias de disco, sugere-se
exercícios de senta-e-levanta mostraram maior força mus- aplicar esse método também em cães, tanto com exercícios

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 99


Capítulo 12 – Eletroterapia

com apoio em bola ou realizando o “senta-e-levanta” com pode-se observar os parâmetros de acordo com os tipo de
a eletroterapia. TENS que serão abordados em seguida 15.
A estabilidade da articulação do joelho depende tanto
dos estabilizadores passivos (ligamentos cruzados, colate- TENS convencional
rais e dos meniscos) como dos estabilizadores dinâmicos Esse é o tipo mais comumente utilizado da corrente e os
(músculos quadríceps, gastrocnêmio e isquiotibiais) 10. parâmetros apresentados são de baixa intensidade , alta fre-
Sendo assim, o fortalecimento dos músculos quadríceps e quência (80-130 Hz) e pequena duração de pulso (50-
isquiotibiais é de extrema importância durante a reabilita- 100 µs). Há a ativação de fibras nervosas aferentes Aβ,
ção. Muitos trabalhos demonstram a ação desses músculos levando a ativação do mecanismo de controle do portão.
quando há a RLCCr. Kanno et al. (2012) sugerem que o Para determinar a amplitude em cães e gatos, é necessário
músculo semitendinoso (um dos músculos isquiotibiais) aumentar a intensidade vagarosamente e perceber algum
possa agir como um agonista do mesmo, impedindo a trans- desconforto ou que o animal olhe em direção aos eletrodos.
locação cranial da tíbia 12. Hayes et al. (2013) afirmam que Presume-se que eles sintam então o estímulo elétrico e não
o músculo quadríceps também exerce o papel de agonista, pode ocorrer contração muscular visível. O tempo de trata-
colaborando com a estabilidade do joelho quando há RLCCr mento do TENS convencional é no mínimo 30 minutos 15.
10. Além disso, os autores consideram que o músculo do qua-

dríceps sadio seria benéfico em tratamentos conservativos TENS acupuntura


e cirúrgicos de RLCCr e que a fisioterapia pode desenvolver Uma corrente de baixa frequência (1-4 Hz), longa du-
programas específicos para o fortalecimento 10,12. ração de pulso (200-250 µs) e alta intensidade, a ponto de
Em lesões de coluna, principalmente em casos de hér- observar a contração muscular. Há a ativação de fibras ner-
nias de disco, utiliza-se a NMES para aumentar a perfusão vosas Aβ e Aα que resultam na liberação de opioides en-
tecidual e atenuar o início da atrofia muscular por desuso. dógenos. O tempo de tratamento do TENS acupuntura é
Em pacientes com doença do neurônio motor inferior, es- cerca de 30 minutos 15.
timulação dos grupos musculares afetados deve ser feita
pela corrente EMS, sendo que esta pode atrasar o início e TENS Burst
a gravidade da atrofia muscular neurogênica 17. Basicamente é uma combinação de TENS convencional
e acupuntura, apresenta trens de pulso de alta frequência
TENS e IFC (100 Hz) modulados a baixa frequência (1-4 Hz) e duração
O controle de dor por meio da eletroterapia tem início de pulso longo (200 µs). Por unir frequências mais baixas
com o uso da TENS, um tratamento não-farmacológico, e mais altas, apresenta seu mecanismo tanto pela ativação
não-invasivo, seguro e de baixo custo. Esses aparelhos do mecanismo de portão da dor e como por liberação de
tornaram-se populares após Melzack e Wall (1965) pu- opioides endógenos. Observa-se um maior conforto desse
blicarem a teoria do portão da dor, a qual abordava a in- tipo de TENS do que o tipo acupuntura. O tempo de trata-
fluência da estimulação cutânea de receptores nervosos mento do TENS Burst é cerca de 30 minutos 15.
táteis no alívio da dor. De acordo com essa teoria, os estí-
mulos nervosos táteis (fibras nervosas mielinizadas) aden- TENS breve e intenso
tram primeiramente no corno dorsal da medula espinhal, Uma corrente de alta frequência (100-150 Hz), longa
desencadeando um mecanismo de portão da dor, o qual duração de pulso (150-250 µs) e intensidade máxima tole-
controla/impede a passagem de impulsos nervosos trans- rada pelo paciente. Esse tipo não é utilizado na fisiatria ve-
mitidos das fibras nervosas periféricas (fibras com pouca terinária, pois não há forma de mensurar a intensidade
mielina ou amielínicas) dolorosas até o SNC 16. máxima para a melhor utilização da técnica.
A corrente TENS é considerada um método de ativação Na figura 13, observam-se os tipos de TENS abordados
de fibras nervosas táteis (fibras do tipo Aα e Aβ) ao gerar anteriormente em gráficos para exemplificar a diferença
impulsos elétricos na superfície da pele do animal por meio entre eles.
de eletrodos. Essa corrente é caracterizada como uma cor- A corrente interferencial (IFC) foi desenvolvida por dr.
rente pulsada bifásica simétrica ou assimétrica 6,15. Hans Nemec em Viena na década de 50. Esse tipo de ele-
Os parâmetros a serem modulados na TENS são: troterapia promove alívio da dor, contração muscular e re-
frequência, amplitude e duração de pulso. No quadro 4, dução de edema. Ela consiste em um estímulo trasncutâneo

Quadro 4 – Tipos de TENS e seus parâmetros


Tipos de TENS Frequência Duração de pulso Amplitude / Intensidade
Convencional 80-130 Hz 50-100 µs Formigamento
Acupuntura <10 Hz (1-4 Hz) 200-250 µs Contração visível
Burst 100 Hz modulado em 1-4 Hz ~200 µs Contração visível
Breve-intensa 100-150 Hz 150-200 µs Contração visível

100 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 12 – Eletroterapia

de duas correntes de média frequência simétricas e assin-


crônicas, cruzadas e sobrepostas, produzidas em dois cir-
cuitos distintos que geram um único tratamento, com uma
corrente terapêutica de amplitude modulada e frequência
variando entre 0-250 Hz. Uma de suas características é di-
minuir a impedância da pele, o que gera maior conforto do
que outras correntes de baixa frequência 3,8,11.
Em sua forma mais tradicional, ela apresenta o método
tetrapolar, quando é utilizado 4 eletrodos durante o trata-
mento. Neste método utiliza-se dois canais ao mesmo
tempo posicionados de forma cruzada formando um ângulo
de 90 graus em relação ao canal oposto. Cada um dos ca-
nais gera uma frequência média distinta, chamadas fre-
quências portadoras (normalmente entre 2000-4000 Hz). A
corrente 1 (f1) é fixa e a corrente 2 (f2) é o valor da f1 adi-
cionada à frequência terapêutica escolhida. A resultante
então será f2-f1, a qual será uma corrente de baixa frequên-
cia que não ultrapassa 150 Hz. Na figura 14, verifica-se a
geração das correntes elétricas que fazem parte da IFC e a
interação de ambas. Ainda existe o método bipolar, quando
a mesma é pré-modulada no equipamento e estimulada no
tecido por meio de apenas dois eletrodos em um único
canal 3,8,11.
Ocorre uma grande variação de regulagem de parâme-
tros entre aparelhos brasileiros e importados. Enquanto nos
aparelhos nacionais são ajustados a amplitude de modulação
da frequência (AMF), delta F (variação da frequência) e o
slope (tempo que ocorre a variação da frequência, que pode
ser 1:1, 1:5:1, 6:6 segundos), aparelhos importados apresen-
tam apenas o controle do AMF e o slope de 1 a 30 s 3,11.
Quanto à analgesia, grande parte dos estudos na área su-
gere a frequência terapêutica de 100 Hz, baseando seu efeito
na teoria do portão por meio de estímulos de fibras mielini-
zadas Aβ, inibindo a transmissão da dor. Ao utilizar frequên-
cias entre 10 e 25 Hz, ocorre ativação de fibras Aδ e C,
estimulando a liberação de opioides endógenos 15. Já Levine
e Bockstahler (2014) sugerem a aplicação levando em con-
sideração o tipo de dor 14. Os parâmetros que recomendam
para dor aguda são de 80 a 150 Hz (frequência terapêutica),
e para dor crônica são de 1 a 10 Hz (frequência terapêu-
tica). Com relação ao tempo de tratamento, ainda não há
um consenso na literatura, porém seu uso comum é de 10
a 20 minutos 15.
As indicações da utilização de TENS e IFC são todos
os tipos de dor aguda e crônica, osteoartrites, espondiloses,
pós-operatórios de cirurgias ortopédicas, tensões muscula-
res e discopatias em geral. A aplicação dessas técnicas é
feita colocando os eletrodos ao redor da lesão ou sobre a
área dolorida. Outras formas também podem ser por meio Figura 13 – Tipos de TENS
da estimulação de raízes nervosas, do nervo periférico pro-
ximal à área da dor, do ponto gatilho (trigger point), do Referências
ponto de acupuntura ou do dermátomo. Em seu trabalho 1-AGNE, J. E. Correntes Elétricas Terapêuticas. In: AGNE, J. E. Eletro-
termofototerapia. 1. ed. Santa Maria: Andreoli, 2013. p. 24-41.
com pacientes oncológicos, Costi (2016) observou uma ISBN: 856268985.
melhor resposta analgésica utilizando TENS sobre o local
2-AGNE, J. E. Fortalecimento Muscular com corrente Aussie, Russa,
da dor comparado à técnica de posicionamento na raiz ner- FES e NMES. In: AGNE, J. E. Eletrotermofototerapia. 1. ed.
vosa e em seu dermátomo correspondente 7. Santa Maria: Andreoli, 2013. p. 171-220. ISBN: 856268985.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 101


Capítulo 12 – Eletroterapia

Figura 14 – Geração das correntes elétricas que fazem parte da IFC e a interação de ambas

3-ARTIOLI, D. P. ; BERTOLINI, G. R. F. Corrente interferencial veto- 13-LABANCA, L. ; ROCCHI, J. ; E. ; LAUDANI, L. ; GUITALDI, R.


rial: aplicação, parâmetros e resultados. Revista da Sociedade ; VIRGULTI, A. ; MARIANI, P. P. ; MACALUSO, A. Neuro-
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102 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


13
Termoterapia superficial

Miriam Caramico

T
ermoterapia é a modalidade terapêutica que faz uso 1-condução: ocorre através do contato direto de suas su-
do frio (crioterapia) ou do calor (hipertermoterapia), perfícies de diferentes temperaturas. Na condução a energia
resultando no aumento ou diminuição da tempera- cinética dos átomos e moléculas é transferida por colisões
tura dos tecidos corporais estimulando a termorregulação entre átomos e moléculas vizinhas. O calor flui das tempe-
corporal com intuito de tratar qualquer doença ou lesão. raturas mais altas (moléculas com maior energia cinética)
Pode ser aplicada de diversas maneiras. Os métodos de para as temperaturas mais baixas (moléculas com menor
aplicação são classificados em superficial ou profundo. energia cinética). Exemplos de condução: bolsas quentes
Neste capítulo estudaremos a termoterapia superficial que ou de gelo 5,9;
atinge em média de 1 a 3 cm de profundidade 9. 2-convecção: ocorre somente em líquidos e gases. Consiste
A aplicação de calor e frio superficial modificam a tem- na transferência de calor dentro de um fluído através de
peratura cutânea, subcutânea e intramuscular. Veremos movimentos do próprio fluído. Se dá por diferença gravi-
neste capítulo as diversas técnicas utilizadas, e suas apli- tacional as moléculas Exemplos de convecção: turbilhão e
cações 7,9. sprays 5,9;
3-conversão: trata-se da conversão de energia elétrica ou
Introdução sônica em calor. Utiliza a resistência dos tecidos, quando
Tanto o calor como o frio têm sido usados há séculos da passagem da corrente elétrica para produção de calor.
no manuseio de tecidos moles e articulações com metas Exemplos: infravermelho (termoterapia superficial), ul-
específicas de aliviar dor, alterar os processos fisiológi- trassom 1 MHz (termoterapia profunda) 5,9.
cos para facilitar a recuperação tecidual, e melhorar a A maioria das técnicas térmicas transfere energia por
elasticidade do tecido conectivo, incluindo músculo, ten- condução. A energia percorre um gradiente térmico, com a
dão, ligamento, e cápsula articular. A meta principal de energia (calor) sendo removida de um objeto, ao invés de
qualquer modalidade térmica é facilitar a realização dos se adicionar frio. O calor sempre viaja do objeto mais
exercícios, mobilizações e alongamentos 9. quente para o mais frio, de acordo com Knigth 7, a taxa na
Um cão ajusta sua temperatura com base nas informa- qual a transferência de calor ocorre depende dos seguintes
ções fornecidas pelos receptores periféricos e, com base fatores:
nas informações, ativa mecanismos tais como tremores, su- • a diferença de temperatura entre o corpo e a modalidade.
dorese e modificação da circulação local. A termoterapia Quanto maior a diferença mais rápida a transferência de
funciona neste último processo 9. calor 9;
As aplicações da termoterapia podem ser simples ou so- • a recuperação do calor corporal e refrigeração modal. En-
fisticadas, sendo realizadas através de; água quente ou fria, quanto o tecido perde calor, este calor perdido é substituído
embalagens quentes ou frias, turbulências quentes ou frias, por sangue circulante em tecidos circundantes com intuito
massagem com gelo, banhos de contraste, unidades de de recuperar a temperatura perdida. A aplicação de frio
compressão a frio e outros métodos 9. O mecanismo de ação tende a resultar em maiores mudanças de temperatura em
e a capacidade de penetração dependem do método de apli- maiores profundidades de tecido quando comparada com
cação e forma da energia utilizada 3. Os métodos de aplica- as modalidades de aquecimento superficial. Por exemplo,
ção são classificados em (Quadro 1): após uma aplicação de 20 minutos de uma bolsa de gelo
aos músculos da coxa, a temperatura intramuscular dimi-
nuiu mais lentamente do que a temperatura subcutânea, e
houve menos resfriamento nos níveis mais profundos do
Quadro 1 – Classificação dos métodos de aplicação tecido (e nunca alcançou uma temperatura tão baixa quanto
de termoterapia o tecido subcutâneo). Quando a bolsa de gelo foi removida
Modo principal de a temperatura do tecido subcutâneo subiu abruptamente,
MODALIDADE
transferência térmica enquanto a temperatura intramuscular continuou a diminuir
• Bolsas quentes/bolsas de gelo por um período de tempo, possivelmente porque o calor foi
Condução • Banho de parafina
transferido dos tecidos mais profundos para aquecer os
• Fluidoterapia
Convecção • Imersão em água, turbilhão
mais superficiais, resultando na diminuição contínua da
• Ar umidificado temperatura do tecido nas maiores profundidades 9;
• Laser classe IV • a capacidade de armazenamento de calor da modalidade:
• Lâmpada infravermelha quanto mais energia for necessária para converter um só-
Conversão • Ultra-som (1 MHz profundo, lido em líquido (gelo para água), maior é o calor latente de
3 MHz superficial) fusão e sua capacidade de remover calor de um tecido.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 103


Capítulo 13 – Termoterapia superficial

Por exemplo, os pacotes de gelo triturados requerem mais máxima em 9 minutos. Na região intramuscular houve dis-
energia para esta conversão ocorrer em comparação com creto aumento da temperatura média de 1,75 ºC com tempo
os pacotes de gel semissólidos. Assim sendo, o gelo tritu- médio de alcance da temperatura em 8 minutos. A partir
rado esfria tecidos por mais tempo e em maior extensão do destes resultados foi concluído que existem modificações
que pacotes de gel 5; reais da temperatura em planos musculares profundos com
• o tamanho da modalidade: quanto maior a modalidade a aplicação de frio e calor superficial na superfície cutânea.
(por exemplo, pacote grande gelado), maior a capacidade
de armazenamento de energia 7; CRIOTERAPIA
• a área do corpo que terá contato com a modalidade. Por É uma das modalidades mais antigas do mundo, que
exemplo, imersão em água gelada tem um resultado muito visa a aplicação de frio para tratamento de lesões. O frio
melhor na perda de temperatura do tecido em comparação pode ser aplicado de diversas maneiras, incluindo bolsas
a outros métodos de frio. Porque uma área grande do corpo de gelo, massagem com gelo, banho de imersão com gelo,
está em contato ao mesmo tempo com o gelo. Spray con- compressas compressivas de gelo e sprays congelantes 3.
gelante é o que causa menor diminuição de temperatura A crioterapia pode ser utilizada no processo de reabili-
porque atinge uma área muito pequena; tação para minimizar os efeitos negativos da resposta in-
• duração da aplicação: quanto maior o tempo de contato flamatória. É mais efetivamente utilizada imediatamente
entre as duas superfícies maior a chance de troca de ener- após trauma (acidental ou cirúrgico), para fornecer analge-
gia 9; sia, controle de sangramento e reduzir o edema de inflama-
• variabilidade individual: indivíduos com menor porcen- ção e espasmo muscular 9. Mas também pode ser aplicada
tagem de gordura corporal trocam calor mais rapidamente após exercícios durante a reabilitação para minimizar res-
do que aqueles com grande quantidade de gordura subcu- postas inflamatórias secundárias adversas 5.
tânea 9. Existe também a criocinética que combina crioterapia
Antes da aplicação do calor ou frio, devemos checar a com movimento (passivo, ativo-passivo ou ativo) para fa-
capacidade sensitiva da pele, se estiver diminuída ou au- cilitar uma movimentação normal e indolor, e para reduzir
sente, cuidados extremos devem ser utilizados quanto as edema através de uma ação de facilitação do fluido linfático
modalidades termais aplicadas para prevenir lesões. A área ao sistema vascular. O principal benefício da criocinética
a ser tratada deve estar limpa, remover sujidades (terra, é facilitar a habilidade do paciente de realizar exercícios
grama) ou qualquer outra substância na pele que possa di- indolores logo no começo do processo de reabilitação
minuir a condução ou alterar a uniformidade da modali- desde que o nível de exercícios seja de baixo impacto. Con-
dade. A pele também deve ser inspecionada durante todo o forme os sinais de inflamação aguda começam a diminuir,
tratamento, avaliada através da temperatura e coloração e o clínico pode decidir que mude para o uso de calor se in-
um pouco depois de a modalidade ser aplicada para checar dicado 3.
se houveram mudanças excessivas de temperatura 9. Fisiologicamente a aplicação do frio pode causar muitas
Os efeitos da termoterapia superficial vem sendo estu- mudanças incluindo 9:
dado ao longo do anos com diversos trabalhos científicos, • redução local do fluxo sanguíneo;
dentre eles Gomes E.D.F.G. 20115, onde foram usados 5 • diminuição da formação de edema;
cães mestiços submetidos a implantação cirúrgica (músculo • controla hemorragia;
longo do tronco) de sensor térmico (PT100 ), em profun- • diminuição de liberação de histamina;
didade de 3 cm. Foi aplicado frio na pele adjacente, durante • diminuição do metabolismo celular local;
30 minutos em 3 dias consecutivos, em área delimitada, • diminuição a atividade do fuso muscular;
usando bolsas de gelo triturado, verificando a temperatura • diminuição a velocidade da condução nervosa.
a cada 5 minutos durante a aplicação e 30 minutos após A diminuição do fluxo sanguíneo retarda a formação de
cessar a aplicação. No quarto dia (pós implantação) foram edema após uma lesão ou cirurgia. O resfriamento do te-
iniciadas as aplicações de calor superficial, durante 20 mi- cido reduz a taxa metabólica do tecido tratado, diminui a
nutos (bolsa de gel a 55 ºC), por 3 dias, verificando a tem- taxa de reações relacionadas ao processo agudo da infla-
peratura a cada 5 minutos durante a aplicação e mais 20 mação, causa a inibição dos efeitos enzimáticos relaciona-
minutos após cessar a aplicação. Os dados de temperatura dos à inflamação e minimiza a liberação de histamina, que
x tempo foram analisados descritivamente. Durante a apli- reduz o dano no tecido. Em uma temperatura de 30 ºC ou
cação de frio houve uma queda rápida da temperatura na mais baixa, as enzimas que degradam a cartilagem (pro-
interface com variação média de 23 ºC, com tempo médio tease, hialuronidase, colagenase) são inibidas 9.
de alcance de temperatura mínima em 24 min. A região in- A vasoconstrição também pode ajudar a controlar a dor
tramuscular apresentou variação lenta (média de 4,30 ºC) reduzindo a pressão sobre nociceptores, que pode ser esti-
com tempo médio de alcance da temperatura mínima em 27 mulada como um resultado do aumento do inchaço do te-
minutos. Durante a aplicação do calor superficial no sensor cido e edema, tanto quanto por outros meios fisiológicos
da interface houve um aumento brusco na temperatura mé- como uma diminuição da velocidade de condução do
dica de 8,8 ºC, com o tempo de alcance de temperatura nervo 9.

104 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 13 – Termoterapia superficial

O efeito primário da crioterapia é a vasoconstrição me- soconstrição cutânea 2,9.


diada por um reflexo local e o sistema nervoso central. O Outro mecanismo postulado para o efeito analgésico
fluxo sanguíneo reduzido resultante é útil não apenas para proporcionado pela crioterapia é que os receptores frios são
diminuir o inchaço, mas para controlar hemorragia e tam- superestimulados por crioterapia, resultando no controle da
bém o fluxo de células inflamatórias. A reação Hunting, dor a nível espinhal, impedindo a transmissão da dor para
primeiramente descrita por Lewis em 1930, se refere à os- centros superiores através da teoria de comporta de dor 6.
cilação cíclica da temperatura de 2 ºC a 6 ºC (ascendente) Um efeito primário da crioterapia é a analgesia e a re-
a cada 8 a 15 minutos após a temperatura do tecido resfriar dução concomitante do reflexo de espasmo muscular. Isto
2 ºC. Este efeito começa 20 a 40 minutos após a aplicação pode ser causado pela velocidade de condução do nervo di-
da crioterapia. Ele atribuiu estas oscilações à vasodilatação minuída que ocorre quando os nervos são resfriados. Este
induzida por frio (CIVD cold -induced vasodilation) como relacionamento, conhecido como o efeito Q10, é pensado
uma tentativa de proteger os tecidos de um dano induzido a ser linear até 10 ºC, quando a transmissão neural é blo-
por frio. Entretanto, seus resultados têm sido incorreta- queada 9. O resfriamento do nervo também aumenta a du-
mente e amplamente aplicados à literatura da medicina ração do período refratário, um período quando o nervo não
esportiva em uma tentativa de explicar o sucesso da crio- pode ser estimulado por um segundo impulso. Ao contrário,
cinética. Knight e outros replicaram o experimento de elevar a temperatura do tecido subcutâneo aumenta a velo-
Lewis e concluíram que a observação feita por Lewis du- cidade da condução sensorial do nervo, com o maior efeito
rante a imersão de frio e o subsequente aumento rápido de ocorrendo durante a elevação inicial de 2 ºC.
temperatura após a crioterapia são causados por efeitos de A crioterapia diminui o espasmo muscular através de
temperatura, não CIVD e aumento subsequente do fluxo uma quantidade de possíveis mecanismos. Espasmo mus-
sanguíneo. Baseados nestes estudos, os benefícios primá- cular compromete retorno venoso e promove acumulação
rios da crioterapia são duplos: diminuição do metabolismo de lactato e acidose. Os receptores de fuso muscular e os
celular e efeitos analgésicos para permitir crioexercícios e receptores de órgãos tendíneos de Golgi disparam mais de-
facilitar a reabilitação 1,3,9. vagar quando resfriados, apesar do efeito ser menos pro-
A resposta analgésica ao tratamento de crioterapia é me- nunciado nos órgãos tendíneos de Golgi. Resfriamento
diado pelo sistema nervoso periférico. Receptores térmicos repentino tem um efeito excitador no fuso muscular, resul-
periféricos são categorizados como mielinizados cutâneos tando no aumento da atividade dos motoneurônios alpha e
tipo III ou A-delta, que são sensíveis a dor e frio agudos; aumento da proteção muscular. Enquanto a temperatura
não-mielinizados tipo IV ou receptores C para dor; e não- continua a diminuir, a atividade aferente do fuso primário
mielinizados tipo IV ou receptores cutâneos C para dor e diminui. O espasmo muscular, resultante do ciclo dor-es-
temperatura 6. pasmo-dor, estimula a resposta do estiramento estático do
Os receptores cutâneos não-mielinizados respondem à tecido aferente tipo II. Esta sequência de eventos resulta em
temperatura absoluta e à taxa da mudança de temperatura. uma diminuição da taxa de disparo do neurônio motor alfa.
Os receptores sensíveis ao frio começam a disparar a 36 ºC Assim o frio poderia aumentar o estímulo limiar para ativi-
e aumentam sua taxa de disparo até alcançarem seu má- dade fuso muscular, diminuindo o espasmo muscular 9.
ximo em aproximadamente 25 ºC. A frequência de disparo Efeitos térmicos sobre a força e resistência muscular
cai abruptamente em temperaturas abaixo de 20 ºC e é mí- também têm sido observados por um número de autores. A
nima quando os receptores são resfriados de 10 ºC a 12 ºC. curva da força-velocidade da contração muscular muda para
Por outro lado, os receptores de calor também começam a baixo com a diminuição da temperatura. Para uma dada ve-
disparar em 33 ºC a 36 ºC, rapidamente alcançam sua má- locidade de contração concêntrica, músculos mais frios têm
xima frequência de disparo em 43 ºC, e caem a uma taxa uma saída de força menor. Curiosamente, alguns estudos
mínima de disparo a 45 ºC. Ambos receptores de frio e calor sugerem que propriocepção, posição das articulações, e
rapidamente se adaptam a mudanças de temperatura 9. equilíbrio permanecem em grande parte inalterados pela
Os neurônios termossensíveis centrais no hipotálamo crioterapia, enquanto outros indicam que a consciência da
anterior e pré-óptico respondem a alterações de temperatura posição articular é afetada pelo esfriamento das mesmas 6.
com respostas autonômicas para estimular a reação de
calor pelo corpo, alterando o fluxo sanguíneo cutâneo e o Indicações da crioterapia
comportamento termorregulador tal como a ofegação. O Devido a estes efeitos, o frio é mais eficaz quando apli-
hipotálamo anterior também controla os neurônios termo- cado durante a fase aguda do trauma, principalmente nas
insensíveis, tais como os que são sensíveis à osmolaridade primeiras 72 horas após a lesão ou cirurgia. Pode ser usado
e à concentração de glicose 6. também em artropatias crônicas, que podem ter uma rea-
As respostas termorreguladoras autonômicas também gudização do processo inflamatório. De uma maneira geral
ocorrem no nível da medula espinhal. A resposta do sistema as ações têm quer ser aplicadas de 10 a 20 minutos, de duas
nervoso simpático à carga térmica é também quimicamente a três vezes ao dia no local da injúria para termos os efeitos
mediada pela liberação dos neurotransmissores epinefrina benéficos 9-11.
e norepinefrina a partir da medula adrenal para induzir va- Crioterapia é indicada para tratamento pós-operatório,

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 105


Capítulo 13 – Termoterapia superficial

para inchaço e dor, em lesão musculoesquelética, espasmo fraturas; áreas onde possam haver danos sensoriais ou nos
muscular e após exercícios para prevenir edema e dor. nervos motores; congelamento prévio; em pacientes com
Aplicação generalizada de frio no corpo todo, ou em hipertensão (o frio pode aumentar a pressão no sangue com
grandes porções, causa uma diminuição na taxa respirató- aplicação sistêmica); em áreas com sensação diminuída ou
ria; vasoconstrição generalizada em resposta ao resfria- ausente; e em pacientes muito jovens ou idosos 3,9, 11.
mento do hipotálamo; aumento do viés do fuso muscular, Aplicação local de frio pode aumentar a rigidez do te-
que pode aumentar a espirometria (oposto ao efeito da apli- cido conjuntivo (algumas vezes com diminuição da resis-
cação local de frio); e aumento do tônus muscular, que pode tência à tração) e pode temporariamente aumentar a
ser acompanhado de calafrios. Sabendo isso, se um pa- viscosidade do músculo (com habilidade menor para reali-
ciente possuir flacidez do neurônio motor, crioterapia pode zar movimentos rápidos) 5.
ser usada para temporariamente facilitar a contração mus- Por razões sanitárias e para aumentar o conforto dos pa-
cular 9,10. cientes e prevenir danos pela crioterapia aos tecidos trata-
Esta modalidade térmica pode também ter uma influên- dos, uma toalha fina ou outro material (por exemplo, fronha
cia significante na eficácia da terapia a laser, por causa de de travesseiro) é comumente colocada entre a fonte gelada
seus efeitos no fluxo sanguíneo e a saturação dos cromó- e a pele. É muito importante observar a resposta da pele ao
foros sanguíneos no tecido. Enquanto a perfusão do tecido frio durante o tratamento. Uma resposta normal ao final de
é reduzida na crioterapia, a absorção da energia do laser um tratamento de crioterapia é uma vermelhidão da pele, e
pode ser aumentada, para que as estruturas mais profundas uma resposta anormal, indicando que danos podem ter ocor-
possam receber uma maior energia do laser 9. rido, é o branqueamento da pele. Por causa da pigmentação
A terapia combinada reduz significativamente os níveis da pele em alguns cães, estas mudanças de cor podem não
de todos as citocinas pró-inflamatórias (IL-1b e TNF-a). ser aparentes, então talvez seja melhor se prevenir e reduzir
Os efeitos do TNF-a . O laser induz ações fotoquímicas em o tempo de aplicação se houver quaisquer dúvidas. As mu-
células de mamíferos por aumentar a atividade da enzima danças esperadas na sensação durante o tratamento seguem
citocromo c oxidase (complexo IV) na mitocôndria, a qual o acrônimo QIDD: queimação intensa, dor e dormência 9.
modula a produção de mediadores pró e anti-inflamatórios.
A crioterapia suprime a inflamação por diminuir o fluxo Aplicações
sanguíneo, retardando a entrada de mediadores inflamató- Aplicação de frio pode ser realizada de muitas maneiras:
rios. Este uso da crioterapia antes do tratamento da terapia cobertores de água fria, pacotes de gelo reutilizáveis, cubos
de laser pode ser útil para cães grandes nos quais o tecido de gelo envoltos em uma toalha, copos de gelo, imersão
alvo é profundamente localizado 7. fria, dispositivos de compressão fria, sprays gelados, ou
banhos de contraste. A seleção do método depende dos efei-
Contraindicações e precauções tos desejados, profundidade deseja de penetração, estágio
Existem poucas contraindicações e precauções para a da cura do tecido, área de tratamento, e metas fisiológicas
crioterapia. O efeito terapêutico da crioterapia ocorre quando 12.

a temperatura do tecido alcança 15 ºC a 19 ºC, mas isso de- Pode ser realizada através dos seguintes mecanismos fí-
pende da temperatura normal dos tecidos. Apesar de talvez sicos 12:
ser difícil checar por vermelhidões ou branqueamentos na • condução (bolsas de gelo/frias, toalhas geladas, massa-
pele dos cães por causa de pigmentação ou pelo, isso deve gem com gelo, banho de contraste, unidades de compressão
ser feito após os primeiros 5 a 10 minutos para ter certeza a frio);
de que continuar com o tratamento é seguro. Aplicar com • convecção (banhos frios);
cuidado a crioterapia sobre nervos superficiais; machuca- • evaporação (sprays gelados).
dos abertos (por causa da ocorrência de vasoconstrição);
Compressas frias/compressas de gelo: Exis-
tem vários modelos prontos pra serem comer-
cializados, como bolsas de gel que podem ser
congeladas (Figura 1). Bolsas de gelo podem
ser feitas colocando gelo picado em uma toa-
lha úmida ou acondicionado em um saco plás-
tico envolto por uma toalha úmida 9,12.
Um pacote de gelo picado pode facilmente
se moldar as irregularidades do corpo, para ter
uma maior duração podemos fazer uma mis-
tura de três partes de água para uma parte
de álcool isopropílico, colocar em um saco
plástico e congelar 9.
Figura 1 – Aplicação de bolsa de gelo em membros pélvicos

106 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 13 – Termoterapia superficial

O efeito das compressas geladas foi estudado na mus- em realizar, porque é difícil na medicina veterinária manter
culatura epaxial de cães. As compressas foram aplicadas o paciente por muito tempo imerso. Não deve ser usado em
por 5, 10 e 20 minutos de maneira aleatória e a tempera- pacientes com feridas pelo risco de infecção e retardo na
tura teve alterações em 0,5 cm, 1 cm e 1,5 cm de profun- cicatrização 9,12.
didade 9. As diferenças entre 10 e 20 minutos foram
significativas (Quadro 2). Com 20 minutos o tratamento é Banho de contraste
mais eficaz, mas com 10 minutos já existem alguns efeitos Os banhos de contraste são aplicados por imersão alter-
terapêuticos 9 . nativa de uma área em água morna e gelada. Esta modali-
Os cães do estudo estavam em boas condições corpó- dade produz vasodilatação e vasoconstrição alternadas e é
reas, portanto devemos lembrar que podem haver diferen- utilizada para diminuir edema. Banhos de contraste são
apropriados não só na fase aguda, mas também durante o
começo da fase subaguda da cicatrização do tecido. Du-
Quadro 2 – Efeito de compressas geladas em
musculatura epaxial de cães rante a fase aguda da cicatrização do tecido, os ciclos de
alternância da imersão em água fria devem ser de maior
Profundidade 10 minutos 20 minutos ênfase. Um exemplo disso seria imergir em água gelada
0,5 cm -7,0 ºC -8,2 ºC por 3 minutos e então imergir em água morna por 1 minuto.
1,0 cm -4,7 ºC -6,5 ºC À medida que o estágio de cicatrização de tecido avança,
1,5 cm -4,0 ºC -4,7 ºC o tempo gasto em água morna pode aumentar à medida que
o tempo gasto no frio diminui. O tempo de tratamento para
ças em animais obesos e subnutridos 9. este método de crioterapia pode durar de 15 a 30 minutos.
O tratamento de banho de contraste para edema deve termi-
Unidades de compressão a frio nar com frio. A variação dos estímulos sensoriais é também
Unidades de compressão a frio bombeiam alternada- pensada a promover o alívio de dor e dessensibilizarão. Esse
mente água fria e ar através de tubulações separadas em tratamento deve ser considerado para condições como de
uma “mangueira embrulhada” ao redor do membro do pa- edema crônico, trauma subagudo, entorses, tendinite. Alter-
ciente. A temperatura da água é normalmente ajustada entre nar bolsas quentes e frias também foi proposta como um
2 ºC e 10 ºC (35 ºF a 50 ºF) para fornecer resfriamento. A banho de contraste alternativo 12.
compressão é aplicada por dilatação intermitente da “man-
gueira” com ar. Unidades fabricadas por humanos podem Massagem com gelo
ser problemáticas, e as “mangueiras” para uso humano nem A água congelada em copos (Figura 3) ou outro reci-
sempre funcionam bem com cães. Existem unidades dis- piente cilíndrico pode ser usada para formar um meio de
poníveis comercialmente que atualmente são produzidas massagem com gelo. Para aplicar a massagem o terapeuta
para uso em cães (Figura 2) e podem ser um tratamento segura o copo, expõe a superfície de gelo, e coloca em con-
muito efetivo durante a fase aguda da inflamação ou cica- tato direto com a pele do paciente. O tempo do tratamento
trização do tecido 9,12. é geralmente de 5 a 10 minutos ou até a área afetada ficar
eritematosa, quase rosa ou vermelha, e dormente. Para
Imersão a frio grandes áreas, uma bolsa gelada é mais eficaz, devido ao
Consiste na imersão da área afetada do paciente em um tempo de tratamento (conseguimos atingir uma área maior
recipiente com água gelada. A temperatura da água normal- com a bolsa do que com a massagem ) 12.
mente é de 2 ºC a 16 ºC e o tratamento dura de 10 a 20 mi-
nutos. Spray gelado
A imersão na água gelada causa um rápido e extenso Estes sprays são líquidos utilizados para conseguir um
resfriamento de tecidos, porém há uma grande dificuldade efeito de arrefecimento breve e rápido quando aplicados à
pele. O spray absorve o calor quando atinge a pele e au-
menta a temperatura, faz com que ele mude de líquido para
um vapor. Uso recomendado em trigger points, a aplicação
deve ser feita a uns 30 cm de distância da pele e ser repetida
4-5 vezes até a área ficar coberta e o músculo deve ser es-
tirado durante e após a aplicação. Este tipo de tratamento é
frequentemente aplicado diretamente sobre a pele apenas
superficial a um ponto específico em populações humanas.
Esta pode ser uma modalidade difícil de aplicar em cães
por causa do pelo cobrindo a superfície da pele. Também,
alguns dos sprays disponíveis comercialmente podem ser
Figura 2 – Aparelho combinando frio seco
prejudiciais aos animais se encostarem em seus olhos ou
com compressão ativa. Arquivo do Hospital
Veterinário da Arrábida/Dra. Ângela Martins forem ingeridos 12 (Figura 4).

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 107


Capítulo 13 – Termoterapia superficial
msgrafixx/shutterstock

Figura 3 – Massagem com gelo

Muitas pesquisas ainda estão sendo feitas para documen-


tar a quantidade e a duração que o resfriamento causa. Um
dos pontos a ser mais estudado é a presença dos pelos. Em-
bora já exista um estudo onde o resfriamento na extensão
do músculo da coxa foi similar na parte tosada e na parte
não tosada, quando aplicado bolsa de gelo feita com duas
partes de gelo picado e uma parte de álcool isopropílico 5.

HIPERTERMOTERAPIA
Poucos procedimentos terapêuticos têm sido usados há
tanto tempo quanto o calor. Os agentes de aquecimento su-
perficial penetram até as profundezas do tecido até aproxi-
Figura 4 – Aplicação de spray na articulação coxofemoral, madamente 2 cm, enquanto agentes de aquecimento
pós-exercicio profundo elevam a temperatura do tecido a profundidades
de 5 cm. Apesar da possibilidade da temperatura da pele
Tratamento duração e frequência aumentar 10 ºC ou mais, tecidos a 1 cm de profundidade
O tempo de um tratamento de crioterapia depende das são tipicamente aumentados menos de 3 ºC e tecidos a 2
modalidades escolhidas e da área tratada, mas o tempo de cm menos de 1 ºC 5.
aplicação é normalmente de 10 a 20 minutos e pode ser re- O calor superficial é melhor aplicado antes de alonga-
petido durante o dia. Um método comum é repetir a aplica- mentos ou exercícios para aumentar a amplitude do movi-
ção fria a cada 2 a 4 horas durante as primeiras 24 a 72 horas mento (ADM). Com a elevação da temperatura dos tecidos,
após a lesão. Um tratamento de gelo não deve ser aplicado teremos alteração das propriedades viscoelásticas, que re-
mais de 20 minutos por sessão para evitar queimadura teci- sultam no aumento da extensibilidade do tecido macio e na
dual. A hipotermia local nunca deve exceder 30 minutos diminuição da rigidez articular. A vasodilatação, aumenta
por sessão de tratamento pela mesma razão, e também para a oxigenação do tecido e a taxa de reações enzimáticas e
evitar o estímulo de vasodilatação reflexa (efeito hunting) bioquímicas que podem facilitar a cura do tecido. Entre-
local não desejada e formação de edema 6,10,12. tanto, calor aplicado muito cedo no processo de cura pode

108 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 13 – Termoterapia superficial

resultar em aumento de inflamação, aumento de atividade taxa metabólica aumenta duas ou três vezes a cada 10 ºC
enzimática prejudicial à cartilagem (por exemplo, colage- (18 ºF) de aumento da temperatura. Atividades enzimáticas
nase e gelatinase), e aumento do metabolismo local 5. e metabólicas aumentadas têm sido observadas em tecidos
As aplicações de calor superficial caem na porção in- de 39 ºC a 43 ºC (102 ºF a 109 ºF), e as taxas das atividades
fravermelha do espectro eletromagnético um pouco acima continuam a aumentar até 45 ºC (113 ºF). Além desta tem-
do comprimento de onda e alcances de frequência da luz peratura, os constituintes das proteínas das enzimas come-
visível. Quanto mais curto o comprimento da onda, maior çam a desnaturar e as taxas da atividade das enzimas
a frequência e mais superficial a profundidade de penetra- diminuem, cessando completamente por volta dos 50 ºC
ção. As modalidades térmicas eletrofísicas discutidas neste (122 ºF). Qualquer aumento nas atividades enzimáticas re-
capítulo caem na categoria do “próximo ao infravermelho” sulta em uma taxa aumentada de reações bioquímicas ce-
e possuem ondas mais curtas do que correntes estimulantes lulares. Isso pode aumentar a absorção de oxigênio e
elétricas (por isso calor superficial) 5. Os efeitos biológicos acelerar a cura, mas também aumentar a taxa de processos
da radiação eletromagnética dependem da frequência destrutivos.
usada, duração da exposição, caraterísticas do tecido, e A termoterapia pode causar vasodilatação por uma va-
densidade da potência 5,6. riedade de mecanismos, incluindo a ativação reflexa direta
Energia eletromagnética e sua transmissão pelo corpo dos músculos lisos dos vasos sanguíneos pelos termos re-
são governadas por várias leis da física. A primeira lei é o ceptores cutâneos, ou aumentando a liberação local de
Princípio de Arndt-Schultz: o tecido deve absorver a ener- mediadores químicos da inflamação (histamina, prosta-
gia produzida pelo agente térmico para estimular a função glandina, bradicinina) e também causa aumento da permea-
normal do tecido. Se a energia absorvida for insuficiente bilidade capilar
para estimular o tecido, não há efeito. Se muita energia é O tecido diretamente aquecido ganha elasticidade, re-
absorvida, pode haver dano ao tecido. A segunda lei, rela- dução da rigidez articular e ganho da ADM.
cionada à primeira, é a Lei de Grotthus-Draper, que deter- A aplicação de calor aumenta a velocidade de condução
mina o destino da energia. Se o tecido não absorver a nervosa sensorial e motora. Um aumento ou diminuição da
energia, a mesma é transmitida às camadas mais profundas velocidade de condução reduz a dor e os espasmos muscu-
de tecido. Se a energia é absorvida mais superficialmente, lares. A velocidade de condução do nervo aumenta em
menos energia é transmitida às camadas mais profundas e aproximadamente 2 m/s para cada 1 ºC de aumento na tem-
ocorre menos penetração da energia 5. peratura. As implicações clínicas destes efeitos não são
Quando a energia eletromagnética encontra os tecidos bem compreendidas. Eles podem contribuir para reduzir a
corporais, a mesma tem três possíveis destinos: pode ser percepção da dor ou melhorar a circulação que ocorre em
refletida (por exemplo, refletida na superfície da pele), resposta à crescente temperatura do tecido 5.
pode ser refratada (por exemplo, na interface entre a derme Agentes de aquecimento superficial estimulam ativi-
e a gordura subcutânea), ou pode ser absorvida (por exem- dade aumentada dos termorreceptores cutâneos. É proposto
plo, por músculos). A profundidade estimada da penetração que a transmissão dos termorreceptores cutâneos, através
para a maioria das modalidades térmicas infravermelhas de seus axônios, comunica-se diretamente aos vasos san-
(infravermelhos luminosos) e bolsas quentes, banheiras, guíneos cutâneos próximos para causar a liberação de bra-
banhos de parafina, é de aproximadamente 1 a 2 cm. dicinina e óxido nitroso. Bradicinina e óxido nitroso agem
Os efeitos do calor são o oposto dos do frio, exceto que como mediadores vasoativos estimulando relaxamento dos
ambos podem aliviar a dor e espasmos musculares. Com o músculos suaves das paredes dos vasos sanguíneos cau-
aumento da temperatura, temos um efeito sedativo e anal- sando vasodilatação. Esta vasodilatação ocorre localmente,
gésico, aumento de migração leucocitária para a área aque- na área onde o calor é aplicado. Termorreceptores cutâneos
cida, aumento do metabolismo celular, dilatação arterial, também projetam, através de gânglios da raiz dorsal, para
que resulta em aumento do fluxo sanguíneo capilar (que sinapse com interneurônios na corda dorsal da matéria cin-
pode provocar um edema) e diminuição da pressão sanguí- zenta da medula espinhal 5,7,9.
nea (se aplicado por muito tempo ou em uma área muito Vários estudos demonstram que a aplicação do calor
extensa) 9. local pode aumentar o limiar de dor de um indivíduo O
Fisiologicamente a aplicação do calor pode causar mui- controle inibitório da dor no nível da medula espinhal foi
tas mudanças incluindo 3: explicado na teoria de controle de portão de Melzack e Wall
• vasodilatação (aumento da circulação); em 1965. Essa teoria sugere que a percepção da dor não é
• aumento da viscoelasticidade tecidual; um resultado direto da ativação de nociceptores, mas é mo-
• aumento do relaxamento muscular; dulada pela interação entre diferentes neurônios, tanto a dor-
• alívio de dor crônica. transmissor e não-dor-transmissor. A teoria afirma que a
O calor causa vasodilatação e aumenta a taxa dos fluxos ativação de nervos, que não transmitem sinais de dor, pode
sanguíneo e de linfa, potenciando a reabsorção do edema, interferir com os sinais das fibras da dor e inibir a per-
que ajuda a remover metabólitos do tecido, e aumenta a cepção individual da dor. A teoria do sistema comporta de
oxigenação do tecido e taxa metabólica. Normalmente a dor sugere que os insumos sensoriais da dor são modulados

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 109


Capítulo 13 – Termoterapia superficial

através de caminhos descendentes e ascendentes no sistema forma de calor superficial, pode ser feita através de imersão
nervoso central. As vias neurais descendentes potenciali- ou colocação de toalhas umedecidas com água quente.
zam ou atenuam os sinais de dor que influenciam a quan- Ser consciente de que o aquecimento sistêmico com um
tidade de neurotransmissor que serão liberados pelos banho quente pode diminuir a pressão arterial e aumentar
neurônios de entrada ou mudando a sensibilidade dos ner- a frequência cardíaca. Turbilhões ou piscinas têm a vanta-
vos ascendentes na medula espinal para estes neurotrans- gem no entanto de proporcionar uma pressão hidrostática
missores. Os nervos receptivos à dor aferente, aqueles que aumentada para as partes do corpo submersas, o que pode
trazem sinais ao cérebro, são compostos de pelo menos dois resultar na redução do edema.
tipos de fibras: uma fibra delta rápida, relativamente es- Quando se utiliza uma esteira subaquática em conjunto
pessa, mielinizada que transporta mensagens rapidamente com a termoterapia, a temperatura pode variar de aproxima-
como dor intensa, e fibra C lenta, pouco amielinizada, damente 27 ºC a 35 ºC, dependendo de quão vigorosamente
transporta dor prolongada e dor crônica. As fibras A-beta o cão está a exercer. O animal pode ser imerso em água a
de grande diâmetro são não-nociceptivas e inibem os efei- aproximadamente 30 ºC após o exercício para ter um efeito
tos de disparo por fibras A-delta e C. O sistema nervoso de aquecimento moderado, que continua a aumentar a cir-
periférico tem centros nos quais os estímulos da dor podem culação sanguínea e promover a remoção do ácido láctico e
ser regulados. Algumas áreas do corno dorsal da medula outros metabolitos produzidos após o exercício intenso 9.
espinhal que estão envolvidas na recepção de estímulos de
dor de fibras A-delta e C também recebem estímulos de fi- Lâmpadas infravermelhas
bras A-beta. As fibras não nociceptivas inibem indireta- As lâmpadas infravermelhas emitem a radiação eletro-
mente os efeitos das fibras de dor "fechando uma porta" à magnética na escala de frequência que emite o calor quando
transição de seus estímulos. Em outras partes das lâminas, absorvido pela matéria. O aumento da temperatura do tecido
as fibras da dor também inibem os efeitos de fibras não- produzido pela radiação da lâmpada infravermelha é direta-
nociceptivas, "abrem a porta" 9,10. mente proporcional à quantidade de radiação que penetra no
Portanto, o controle da dor produzida pela termoterapia tecido. Isto está relacionado com a potência e comprimento
pode ser causado pela ativação de termorreceptores cutâ- de onda da radiação, a distância da fonte de radiação do te-
neos, que ativarão o sistema comporta de dor, e pode indi- cido e o coeficiente de absorção do tecido. A penetração
retamente ser controlado pela melhora do espasmo desta radiação promove aumento da circulação sanguínea 10.
muscular ou da isquemia reduzida. É um método utilizado para grandes áreas a serem tra-
tadas, a lâmpada tem que ser posicionada a 30-40 cm da
APLICAÇÕES área, e deve ser mantida ali por vários minutos, como os
Bolsas quentes animais não ficam estáticos por muito tempo e os pelos
Existem vários modelos pré-fabricados, de borracha ou podem absorver parte dessa radiação, este não é um método
gel almofadas de aquecimento elétrico, São muitos meios o eficaz na veterinária 9.
importante é saber qual a superfície a ser tratada e conside-
rar a profundidade dos tecidos a serem tratados 9 (Figura 5). Indicações
Bolsas quentes podem ser reutilizáveis e normalmente Devido a estes efeitos, o calor é mais eficaz quando se
mantêm uma temperatura elevada por 20-30 minutos. aplica durante a fase crônica do trauma, principalmente
Água quente após as primeiras 72 horas após a lesão.
A aplicação da água quente direta ao paciente é outra Sua principal indicação é o tratamento da dor crônica,
aumento da flexibilidade de tecidos e ex-
tensibilidade de cápsulas articulares, ten-
dões e ligamentos 3,4.

Contraindicações e precauções
Assim como na aplicação do frio, a pele
deve ser checada para evitarmos queimadu-
ras, e a e mesma deve der pré-avaliada
(para verificar sangramentos e lesões de
pele contaminadas) e limpa. Recomenda-se
a colocação de uma toalha entre o material
a ser aplicado e a pele do animal para evitar
queimaduras 3.
É contraindicado devido a vaso dilatação,
seu uso em locais contaminados, regiões de
Figura 5 – Aplicação de bolsa de água quente em região de coluna toraco- tumores, tromboflebites, animais prenhes,
lombar cardiopatas, edema, ou em animais febris.

110 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 13 – Termoterapia superficial

Tratamento, duração e frequência 9-JOHNSTON, S. A. Conservative ans medical manangement of hip


A duração e frequência do tratamento por calor depende diplasia Veterinary Clinics of North America: Small Animal
Practice, v. 22, n. 3, p. 595-606, 1992.
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mais desejados do calor são conseguidos quando a tempe- neurology. 3. ed. Missouri: Elsevier, 2009. 552 p. ISBN:
ratura é aumentada entre 2 e 4 nos tecidos. As temperaturas 9780721667065.
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Utiliza-se muito o calor em conjunto com os exercícios, TAYLOR, R. Reabilitação e fisioterapia na prática de pequenos
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9788572417273.
dos tecidos. Sua aplicação não é recomendada antes de 48
13-McGOWAN, C. Introdução, em Fisioterapia Animal: Avaliação,
horas após a injúria, porque sua aplicação precoce pode au- Tratamento e Reabilitação de Animais, Oxford, Reino Unido,
mentar o inchaço 3,9. Blackwell, 2007.
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Conclusão and tendon organs. Pflügers Archiv - European Journal of
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MILLIS, D. ; LEVINE, D. TAYLOR, R. A. Canine Rehabilitation
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solver edemas. ISBN: 9780721695556.
A gestão bem-sucedida depende da avaliação exata dos
problemas do paciente no início de cada sessão. COMO CITAR ESSE CAPÍTULO
A seleção da modalidade apropriada depende em grande
CARAMICO, M. Termoterapia superficial. In: LOPES, R.
parte de uma compreensão e avaliação precisa do estágio
S. ; DINIZ, R. Fisiatria em pequenos animais. 1. ed.
(remodelamento inflamatório agudo, inflamatório crônico
São Paulo : Editora Inteligente, 2018. p. 103-111.
proliferativo dos tecidos) da lesão, uma avaliação clínica
ISBN: 978-85-85315-00-9.
precisa das habilidades funcionais do paciente e a reava-
liação contínua porque as lesões mudam de estágio 3.7,9.

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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 111


14
Infrassom, ultrassom e tecaterapia

Graciela Mabel Sterin

O
s sons são vibrações mecânicas oscilantes harmô- do ultrassom terapêutico no tecido vivo, causando o deslo-
nicas, que inclui compressões e dilatações das camento de íons e água, resultando na modificação do pH
moléculas que compõem o meio ambiente, por- celular, alteração da permeabilidade da membrana celular,
tanto, para que haja transmissão de som é sempre necessá- modificações das estruturas coloidais, aceleração das difu-
rio um material condutor. Os tecidos biológicos cumprem sões, modificação da respiração dos tecidos, liberação de
essa função, mas, como absorvem a energia sônica trans- substâncias farmacológicas ativas (opioides endógenos),
formando-a em outras formas de energia, elas a degradam ativação do metabolismo celular, estimulação da reabsor-
progressivamente até serem esgotadas 5,6,8. ção tecidual e melhora do fluxo sanguíneo e linfático 4.
Fisicamente, os sons são classificados em infrassom, A ação geral do ultrassom sobre o organismo vivo é
sons audíveis e ultrassom, com base nos limites auditivos muito variada 6, se observa primeiramente um aumento cir-
do ser humano, que variam de 16 ciclos por segundo a culatório na área tratada, a consequência direta é o aumento
16.000 ciclos por segundo 4. Os animais apresentam diver- térmico local, isto dará como resposta a liberação de subs-
sidade de frequência auditiva, que foram estudados parti- tâncias vasodilatadoras como histamina, que mantém esse
cularmente em morcegos e cães1. O morcego emite gritos efeito. Além disso, o aumento térmico dependerá do coefi-
não audíveis para o homem com uma frequência de 45.000 ciente de absorção de acordo com o tipo de tecido, como
ciclos por segundo (45 kc/s), cães percebem até 30.000 exemplo, dizemos que é maior no músculo do que no te-
ciclos por segundo (30 kc/s), certos insetos emitem e per- cido adiposo, o que resultará em uma ação seletiva frente
cebem frequências de até 175.000 ciclos por segundo a sua aplicação.
(175 kc/s) 11. Alguns efeitos importantes são:
• analgésico – esse efeito é produzido por ação indireta
ULTRASSOM (US) como consequência das modificações das condições locais
São vibrações mecânicas oscilatórias com uma frequên- (edema, hematomas, processos inflamatórios crônicos, cal-
cia superior a 16.000 ciclos por segundo. Terapeuticamente cificações, etc.) que são causadores de dor. Além disso, ao
são utilizados geradores de ultrassom com uma frequência atuar diretamente nas terminações nervosas sensitivas,
de 1.000.000 ciclos por segundo (1 MHz) e de 3.000.000 tanto por seu efeito térmico quanto mecânico e pelo au-
ciclos por segundo (3 MHz), onde 1 ciclo por segundo = 1 mento da produção de lipoproteínas beta, o ultrassom acen-
Hertz11. Basicamente, os ultrassons têm 3 grandes meca- tua o resultado analgésico 11. Observa-se uma marcada
nismos de ação: a) mecânico b) térmico e c) coloidoquí- diminuição das contraturas musculares, portanto, também
mico 4,8. diminui o estado da dor;
Devemos ter em mente que quanto maior a frequência, • hiperemiante – como resultado do efeito térmico;
maior o predomínio dos efeitos térmicos, devido a maior • anti-inflamatório – ao aumentar o metabolismo celular
fricção da partícula, e o inverso, quanto menor for a fre- e apresentar maior permeabilidade da membrana celular,
quência vão predominar os efeitos mecânicos 4. irá favorecer a reabsorção de detritos.
O efeito coloidoquímico, que é a incorporação de lí- O ultrassom também apresenta algumas precauções,
quido na célula, tem presença permanente. Outro dos fe- assim como contraindicações que devem ser consideradas
nômenos físicos a considerar é que, com maior frequência no momento de estabelecer esta modalidade terapêutica.
haverá maior absorção e numa menor frequência menor ab-
sorção. Esse último é de vital importância para os tratamen- Precauções 11
tos se considerarmos que a profundidade de penetração do Fraturas recentes, osteossíntese ou endoprótese, sobre
ultrassom estará em relação inversa com a absorção. Isto fissuras ósseas e traumatismos agudos. Evitar altas doses
é, quanto mais se absorve, menor profundidade a onda ul- sobre o sistema nervoso. Cuidado sobre pulmões ou intes-
trassônica atinge e quanto menos se absorve, maior profun- tino. Não usar em fetos ou gravidez. Cuidado com a
didade é alcançada. Portanto, para tratar processos proximidade dos centros nervosos do neurovegetativo
dolorosos superficiais (não mais de 2 cm de profundidade), (simpático e/ou parassimpático), pois pode saturar o gân-
por exemplo, um hematoma subcutâneo, se deve utilizar glio estrelado por negligência.
US de 3 MHz, e se tratando de processos a uma maior pro-
fundidade (de 2 cm a 8 cm), por exemplo, lesões muscula- Contraindicações 4
res, se utiliza US de 1 Mhz11. Fraturas recentes com calos incipientes, ferimentos
recentes, olhos e canal auditivo interno 1, tumores, focos de
Efeitos biológicos tuberculose ativa, processos infecciosos agudos, em
Os efeitos biológicos são produzidos pela ação direta cicatrizes queloides, sobre o marcapasso 1, em áreas de

112 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 14 – Infrassom, ultrassom e tecaterapia

tromboflebite e proximidades, sobre o coração em cardio- Equação para o cálculo do tempo de tratamento
patias, testículos, glândulas mamárias, tireoide, linfonodos Ao mudarmos o DC:
e neoplasias. Watt (W) = 1,5 W/cm 2 x 5 cm2 x 0,2 = 1,5 W em todo
cabeçote. Se o DC é de 20% e a intensidade é menor que
Aplicação 1 Watt, o efeito é atérmico;
Para a correta aplicação do ultrassom é importante tri- W = 1,5 W/cm 2 x 5 cm 2 x 0,5 = 3,75 W em todo cabeçote;
cotomizar a área, já que o pelo não permite a total penetra- W = 1,5 W/cm 2 x 5 cm 2 x 1 = 7,5 W em todo cabeçote;
ção do mesmo. W = 2,5W/cm 2 x 5cm 2 x 0,2= 2,5 W em todo cabeçote.
Também é necessário um meio de acoplamento entre o
transdutor com o tecido. O meio mais utilizados é o gel, 30 J/cm 2 x 10 cm 2
Tempo = = 200 s = 3,33 min.
1,5 W
mas em caso de uma superfície de tratamento irregular se
pode utilizar o cabeçote subaquático com imersão em água,
30 J/cm 2 x 10 cm 2
ou ainda com uma bolsa de látex fino (técnica indireta), ou Tempo = = 120 s = 2 min.
2,5 W
até mesmo um preservativo, cheio de água coberto com gel
acoplador nas duas faces (Figura 1).
Em relação a maneira de movimentar o cabeçote, o mais Para aparelhos de 1MHz em modo contínuo:
indicado é realizar movimentos curtos em varredura ou mo- 30 J/cm 2 x 10 cm 2
vimentos circulares não estacionários. Tempo = = 240 s = 4 min.
2,5 (W/cm2) x 5 (cm 2) X 100

Para aparelhos de 1 MHz pulsado a 50%:


30 J/cm 2 x 10 cm 2
Tempo = = 625 s = 10,4 min.
2,5 (W/cm2) x 5 (cm 2) x 50

Recomendações gerais
• 2 ERAs x 5 minutos de tratamento.
• Recomenda-se utilizar intensidades entre 0,5 W/cm 2 e 2,5
W/cm 2.
• Mover cabeçote durante aplicação devido ao Bean Non
Uniformity Ratio (BNR) e para evitar cavitação.
• Doses recomendadas de 60 – 150 J/cm 2

Etapa aguda (primeiras 3 semanas):


Figura 1 – Aplicação de ultrassom utilizando bolsa de látex Baixa intensidade (potência) e baixa dose. Intensidade =
fino com água como meio acoplador
0,5 W/cm 2. Exemplo: tecido inflamado por traumatismo.

Tempo de aplicação Etapa subaguda (4 a 6 semanas):


Para calcular o tempo de aplicação devemos considerar Intensidade = até 1,2 W/cm 2. Exemplo: inflamação do
alguns parâmetros: cotovelo em etapa subaguda.
• ERA: Effective Radiation Area – é a área de radiação
efetiva do transdutor (cabeça do ultrassom) que realmente
emite a energia. É a superfície visível multiplicada por 0,8.
Por isso se deve considerar que 20% da área do transdutor
nao transmite energia, ou seja, é sempre menor que a área
visível do cabeçote. Pode ser de 1 cm ou de 5 cm;
• Duty Cicle: ciclo útil de trabalho – este será 100%
(DC=1) quando trabalhamos de maneira contínua e de 50%
(DC=0,5) ou de 20% (DC=0,2) quando trabalhamos de ma-
neira pulsada.
O tempo da aplicação depende da dose real, sendo ne-
cessário um mínimo de 30 J/cm2 para conseguir efeito te-
rapêutico. O tempo em segundos pode ser calculado pela
seguinte fórmula: Vídeo 1 – Tendinites na inserção do tendão do músculo
Dose (J/cm 2) x superfície a tratar (cm 2) infra-espinhoso. Tratamento com ultrassom de 3 MHz
Tempo = usando gel de contato - https://youtu.be/9jnPdVT2MqU
Intensidade (W/cm2) x ERA (cm2) x Duty Cicle

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 113


Capítulo 14 – Infrassom, ultrassom e tecaterapia

Etapa crônica (depois das 7 semanas): de uma discopatia, fraturas recentes ou de lenta recupera-
Alta intensidade (potência) e alta dose. Intensidade = ção, feridas abertas e tumores de todos os tipos.
maior a 1,5 W/cm 2. Exemplo: distensão do quadríceps de
longa evolução. TECATERAPIA
A tecaterapia é a transferência elétrica capacitativa. Ba-
Dosimetria seia-se em correntes elétricas de alta frequência 10 (Figura 3).
A dose da terapia ultrassônica está relacionada tanto Elas sempre são maiores do que 10.000 Hz, geralmente na
com o tempo de aplicação mencionado anteriormente, faixa de 0,7 a 1 MHz (700.000 a 1.000.000 Hz) 10, com o
como com a intensidade do estímulo expressa em W/cm2. objetivo de obter um efeito térmico em profundidade 9,10
As dosagens recomendadas para a maioria dos procedi- (Quadro 1).
mentos clínicos é de 0,5 a 2,0 W/cm 2. Tipos de correntes:
O modo contínuo requer intensidades mais baixas va- • correntes de alta frequência;
riando de 0,5 a 1 W/cm2, já no modo pulsado pode-se tra- • correntes de baixa frequência;
balhar com intensidades mais altas. • correntes de frequência média.
Em correntes de alta frequência predomina o efeito tér-
INFRASSOM 4 mico. Já nas correntes de baixa frequência predomina o
São vibrações mecânicas oscilatórias com uma frequên- efeito excitomotor (até 2,5-3 MHz). E finalmente, nas cor-
cia de 6 a 10 ciclos por segundo 5. Têm a ação de produzir rentes de frequência média, predomina a eletroanalgesia e
a ruptura de grandes moléculas, ativando a bomba de a eletroestimulação.
sódio/potássio e, como consequência do efeito de percus-
são, aumenta o fluxo sanguíneo, com um aumento no me- Bases físicas
tabolismo local. São utilizados de preferência no As radiações eletromagnéticas não precisam de matéria
tratamento de contraturas, leves ou fortes, associadas ou para se propagar. Sua forma de onda é sinusal, alternada.
não a outros agentes 4 (Figura 2). Se propagam à velocidade da luz: 300.000.000 km/s, fre-
quência em Hz, comprimento de onda (= C/f) =
Indicações 300.000.000 m/s/frequência 2,6.
Contração muscular de origem ortopédica 5, por exem-
plo: contraturas localizadas por esforço biomecânico, con- Efeitos terapêuticos
tratura fibrótica do quadríceps. • Anti-inflamatório e analgésico.
Também é indicado em espasticidade muscular de ori- • Controle de neuralgias.
gem neurológica. Por exemplo: casos de síndrome do neu- • Miorrelaxante muscular.
rônio motor superior (SNMS) como exemplo: músculo • Hiperemia local, maior resposta no sistema imunoló-
tríceps na síndrome de Wobbler, espasticidade dos mem- gico.
bros pélvicos em paraparesia ou paraplegia de origem to-
racolombar 4. Efeitos fisiológicos
Vasodilatação, hipertermia, bradicardia devido à ação
Contraindicações 6 local, hipotensão, aumento da glicemia, modifica a veloci-
Lesões musculares, estiramento, hematomas de origem dade da coagulação, elasticidade dos tecidos ricos em co-
traumática, nos músculos da área paravertebral na presença lágeno.

Figura 2 – Aplicação de infrassom em músculo tríceps Figura 3 – Aplicação de tecaterapia em área do músculo
braquial gracilis

114 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 14 – Infrassom, ultrassom e tecaterapia

Quadro 1 – Classificação de correntes de alta frequência e seu comprimento de onda 9,10


Nome da corrente Frequência em MHz λ Nanômetros
D’ Arsonval 0,5 - 1 600 – 300
T.E.C. 0,7 - 1 428 - 300
Diatermia 10 30
Onda curta 27 – 40 11 – 7,5
Microondas 900 - 2450 0,33 – 0,122

Ação na circulação 9 Quadro 2 – Diferentes graus de calor e sua sensação


Vasodilatação, hipertermia, menor hiperemia superfi- no corpo
cial, maior hiperemia profunda, bradicardia (somente em
aplicação focal), diminuição da pressão arterial sistólica Grau Sensação de calor no corpo
G1 IMPERCEPTÍVEL
Ação sobre o sangue G2 SUAVE – Ligeiramente perceptível
Aumento da temperatura sanguínea, aumento de leucó- G3 MODERADO – Forte mas não desagradável
citos, aumento de: nitrogênio plasmático, fibrinogênio, po- G4 INTENSO – próximo ao limiar da dor
tassemia e cloro plasmático, diminuição da calcemia e do G5 QUEIMANTE – Excede o limiar da dor
cloro globular.
O Quadro 2 mostra como se realiza a dosagem em graus
de calor. importância de não apresentar inflação aguda. Também
Para o tratamento, procuramos a sensação térmica G2- em determinados processos infecciosos, como processos
G3 regulando a intensidade. Em pacientes subagudos se purulentos para acelerar sua maturação e abertura com
aplica a energia lentamente, aplicação G1. Já nos pacientes eliminação de secreções, sinusite crônica, prostatite crô-
crônicos se aplica a energia movendo o terminal mais ra- nica, celulite miofibrosite, adiposidade localizada, lesão
pidamente. Ou seja, mais intensidade em menos tempo. muscular etc.
Desta forma, o limite de saturação do sistema é forçado.
Quando se percebe umidade ou suor local ou vermelhidão Precauções 9,2
forte, se deve suspender a sessão. A profundidade da hipe- • Explicar a técnica ao proprietário.
remia pode atingir alguns centímetros. • É muito importante realizar previamente um teste de
A intensidade depende de vários fatores como: sensibilidade térmica.
a) superfície do eletrodo (exemplo: 10 cm 2 e 0,5 A); • Começar a aumentar a intensidade uma vez que o apli-
b) natureza da doença. cador estiver totalmente apoiado com bastante gel de con-
Já a dosagem depende um pouco se for agudo ou crô- tato para evitar o efeito máximo, e queimar o paciente.
nico: • Evitar manobras inadequadas, para impedir a geração
• agudo – predominam doses baixas, evitar o tratamento se de Arco Voltaico que possa causar queimaduras.
houver inflamação presente; • Monitorar a resposta vasodilatadora. Que a hiperemia
• crônico – predominam doses elevadas. não seja exagerada ou tenha uma evolução paradoxal.
O tempo tanto para agudo quanto para crônico varia • Maximizar os cuidados em superfícies de pele fina e
entre 6 a 10 minutos, de acordo com a superfície a ser tra- delicada, como o aspecto medial dos membros pélvicos.
tada. • É muito importante interromper o tratamento se for
observado piora ou ineficácia da terapia.
Indicações gerais
• Lesões musculares e tendinosas. Contraindicações 2,9
• Fibrose. • Pacientes com marcapassos cardíacos.
• Estiramento ou desgarro. • Distúrbios na sensibilidade por risco de queimaduras.
• Transtornos circulatórios. • Zonas com metais e todo tipo de osteossíntese.
• Cicatrização de feridas. • Não aplicar simultaneamente com outros agentes físi-
• Inflamações crônicas e subagudas. cos, especialmente equipamentos de eletroterapia.
• Não usar em tumores, pacientes com câncer de todos
Indicações específicas da tecaterapia 2,9 os tipos.
Nas contraturas musculares severas, nos processos • Contraindicado em glândulas e tromboflebite.
com atraso no metabolismo, em déficit de fluxo sanguí- • Não usar em pacientes com tratamentos vasodilatado-
neo, nutrição ou oxigenação, e para a fluidificação de efu- res e anticoagulantes, pacientes hemofílicos, com processos
sões articulares densas e coagulados, lembrando da febris e fêmeas grávidas.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 115


Capítulo 14 – Infrassom, ultrassom e tecaterapia

Referências
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Hill. Interamericana de España, 2003 p. 115-154. ISBN:
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3. ed. Madrid, Espanha: Editorial Médica Panamericana, 2014.
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11-STERIN, G. M. ; GALLEGO, F. Fundamentos de Fisioterapia en la
Terapéutica del dolor. In: OTERO, P. E. Dolor, Evaluación y
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tina: Ed. Inter.-Médica. 2004 p. 205-216. ISBN: 9789505552740.

COMO CITAR ESSE CAPÍTULO


STERIN, G. M. Infrassom, ultrassom e tecaterapia. In:
LOPES, R. S. ; DINIZ, R. Fisiatria em pequenos
animais. 1. ed. São Paulo : Editora Inteligente, 2018.
p. 112-116. ISBN: 978-85-85315-00-9.

116 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


15
Laserterapia
Ricardo Stanichi Lopes
Renata Diniz

A
fototerapia inclui a aplicação de lasers e outros Classificação
tipos de luz na área de fisiatria, são formas de ra- Os lasers são classificados de acordo com o risco de
diação eletromagnéticas utilizadas frequentemente causar lesão ocular, sendo identificados com os algarismos
no controle da dor, inflamação e estimulo de cicatrização. romanos de I a IV, sendo o IV com maior possibilidade de
Os aparelhos mais comumente empregados na fisiatria ve- causar dano ocular. Aqui citamos exemplos de cada um:
terinária são os lasers de baixa intensidade e os aparelhos • classe I – impressoras lasers;
de diodo superluminoso. Na medicina veterinária, os lasers • classe II – leitor de código de barra;
têm encontrado uma variedade de aplicações, suas utiliza- • classe IIIa – ponteiro laser;
ções vão de cirurgias a fins terapêuticos. • classe IIIb – laser terapêutico;
Desde a antiguidade, a Luz, em suas diversas formas, • classe IV – laser terapêutico e cirúrgico.
vem sendo estudada e utilizada para a cura. A terapia atra- Tanto o laser classe IIIb quanto o classe IV são utiliza-
vés da luz começou a ser utilizada há séculos atrás com dos nos tratamentos realizados pela fisiatria veterinária.
relatos de até mesmo antes de Cristo, onde se utilizava a
luz solar em algumas condições patológicas especificas. Características e propriedades do laser
Contudo, somente no final do século XIX foi reconhecida Os lasers com ação fotoquímica na interação com célu-
a utilização de luz artificial com finalidades terapêuticas las variam de 400nm (laser azul) a 1.1000nm (infraverme-
e em 1903 o médico Niels Ryberg Finsen foi ganhador do lho). O comprimento de onda influencia na profundidade
Prêmio Nobel, suas investigações se baseavam no trata- de penetração da luz. O espectro mais utilizado em fisiatria
mento de enfermidades, como o lúpus, com luz ultravio- veterinária é de 600 a 980 nm. O HeNe é o mais antigo e
leta 32. emite comprimento de onda de 630nm, a profundidade de
O famoso científico Albert Einstein postulou uma teoria penetração é de seis a dez milímetros dependendo da po-
em que um átomo quando estimulado poderia liberar fótons tência, mais conhecido como laser vermelho. O laser de Ar-
e assim surgiu o acrônimo de LASER (Light Amplification senato de gálio (GaAs) emite 904nm de comprimento de
by Stimulated Emission of Radiation) que significa, ampli- luz infravermelha, com penetração de 2 a 5 cm1.
ficação da luz por emissão estimulada de radiação. Mas O laser provoca reações químicas em cascatas, desta
realmente o “pai” da terapia laser foi o médico Endre Mes- maneira, mesmo um laser com baixo comprimento de onda
ter da Universidade da Hungria. Em 1965 ele realizou um e baixa capacidade de penetração, pode provocar reações
experimento com camundongos implantando células tumo- longe do local de aplicação.
rais em seu dorso e aplicando o laser, ele queria provar o Outro fator importante a considerar é a potência de saída
efeito do laser contra as células tumorais, mas na verdade do aparelho de laser que é medida, em mWatts ou Watts.
o que observou foi a recuperação mais rápida da incisão ci- Os aparelhos lasers de classe IIIb costumam ter máximo
rúrgica onde implantou as células, ficando evidente a ca- 500mW, já os aparelhos de classe IV superior a 500mW,
pacidade bioestimuladora do laser 56. geralmente de 1 a 15W 33.
A partir da década de 70 e 80 o laser começava a ser uti- A quantidade de Watts de um aparelho determina a ve-
lizado em várias partes do mundo. Em 1994 seria fundada locidade de aplicação já que 1 Watt = 1 joule/ segundo. Por
a associação WALT (World Association for Laser Therapy). exemplo para aplicar 100 joules, com um aparelho de
Esta associação apresenta o guia de indicações e dosagens 100mW levaria 1000 segundos (16 min e 40 segundos), já
mais importante e considerada. Desde então, os trabalhos um laser de 10Watt seriam 100 segundos (1 min e 40 se-
com laserterapia foram mais que duplicados. Em 2002, o gundos).
Food and Drugs Administration (FDA) aprovou o uso do Os aparelhos podem emitir laser de maneira continua ou
laser no tratamento da síndrome do túnel carpiano, outro pulsada. A isso se chama frequência que é dada em Hertz
grande passo na terapia laser. (Hz), as frequências mais utilizadas são de 10-3000 Hz 33.
A terapia com laser também pode ser chamada de Low A emissão de fótons nos aparelhos de laser é realizada
Level Laser Therapy (LLLT) ou Low Intensity Laser através de características distintas das outras formas de
Therapy (LILT), traduzindo ao português seria terapia com luz (Figura1), apresentando propriedades específicas
laser de baixa intensidade. Em 2014, a partir de uma con- (Figura 2), como:
ferência conjunta com a North American Association for • monocromática: fótons da mesma cor e com um único
Light Therapy e a World Association for Laser Therapy, se comprimento de onda. A luz laser consiste em ondas que
decidiu que a nomenclatura mais correta e aceita para a te- apresentam um comprimento de onda específico e que cor-
rapia com laser, seria Photobiomodulation Therapy responde à distância entre dois máximos e dois mínimos,
(PBMT), ou seja, terapia por fotobiomodulaçao. medida na direção em que a onda está se movimentando;

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 117


Capítulo 15 – Laserterapia

• coerente: todos os fótons andam juntos no espaço de ma-


neira paralela, apresentando o mesmo comprimento de
onda;
• colimada: mesma direção e paralelo, portanto não dis-
persa 33.
solar

Física do Laser
Para entender a física do laser, é preciso relembrar a es-
trutura de um átomo. O sistema atômico é composto por um
núcleo, positivamente carregado e orbitados por elétrons, ne-
gativamente carregados. Os elétrons que circulam ao redor LED
do núcleo se posicionam em certos níveis de energia bem
definidos, denominados orbitais. Os elétrons de um átomo
tendem a ocupar as camadas eletrônicas mais próximas do
núcleo, isto é, as que apresentam menor quantidade de
energia. Um átomo está no seu estado fundamental quando
seus elétrons ocupam as camadas menos energéticas. laser
Quando um átomo recebe energia (elétrica por exemplo)
o elétron pode saltar para uma camada mais externa (mais
Figura 1 – Comparação esquemática entre os tipos de
energética) e nessas condições o átomo se torna instável 64. luzes (solar, LED e laser)
Os elétrons de um átomo excitado tendem a voltar para
as camadas de origem e, quando isto ocorre, ele devolve,
sob forma de onda eletromagnética, a energia anterior-
mente recebida. A passagem de um estado atômico exci-
tado para o estado de repouso se dá por meio de liberação
de fótons de luz, isto é, emissão espontânea de radiação.
Além da energia externa, esses fótons também excitam os
átomos vizinhos. Com isso, temos a amplificação da luz.
Daí o termo “amplificação da luz por emissão estimulada
de radiação”, em português 33.
O raio laser é gerado dentro de uma câmara fechada e
necessita de um princípio ativo que pode ser sólido, como
o rubi, ou gasoso, como o dióxido de carbono. Os átomos
do material são estimulados para gerar luz, principal ingre-
diente de um raio laser. Nesta câmara, dois espelhos com
níveis de reflexão diferentes estão posicionados em suas
extremidades. Um dos espelhos é totalmente refletivo
(100%) e o outro, parcialmente refletivo (98%). A diferença
de capacidade de reflexão dos espelhos permite a saída da
radiação de dentro da cavidade, formando o raio laser. A
fonte de energia pode ser elétrica ou luminosa e alimenta o
sistema de maneira contínua ou pulsada 64.

Mecanismo de ação Figura 2 – Propriedades da luz laser


O laser é considerado um biomodulador por regular pro-
cessos biológicos através da reação dos fótons com os re-
ceptores celulares de luz. A partir disso existe uma cadeia de Os receptores primários são os cromóforos naturais,
reações químicas e fisiológicas, que aumentam a produção como o pigmento heme da hemoglobina; água; mioglobina
de trifosfato de adenosina (ATP), normalizam a função ce- e bilirrubina; pigmento citocromo da cadeia respiratória
lular, aceleram a regeneração celular, promovem analgesia na mitocôndria; proteínas e aminoácidos; pigmento mela-
e controlam a inflamação, entre outros efeitos 26-51-56-64-74. nina e outras substâncias que fazem as fotoreações presentes
Após liberação da energia lumínica, esta é absorvida nos tecidos. Os receptores secundários são as estruturas que
pelos tecidos transformando-se em energia bioquímica, absorvem a energia entregue ao tecido por intermédio dos
promovendo efeitos biológicos e reações secundárias como campos eletromagnéticos, causando uma espécie de resso-
modulação das funções celulares. Sua absorção ocorre por nância desses campos com as biomoléculas, alterando cargas
meio dos receptores primários e secundários 80. específicas nas membranas e nas proteínas da superfície 64.

118 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 15 – Laserterapia

A ação do laser ocorre principalmente nas organelas ce- subdosagens ou que as dosagens utilizadas superavam o li-
lulares, promovendo um aumento na produção de ATP in- mite de doses efetivas descritas em trabalhos, determinando
tracelular; favorece a produção de ácido araquidônico e a que o aumento das dosagens não necessariamente cause me-
transformação de prostaglandina em prostaciclina, justifi- lhores resultados, sendo comprovado que overdoses de jou-
cando sua ação antiedematosa e anti-inflamatória; promove les podem reduzir os efeitos biológicos desejados 7.
aumento da endorfina circulante proporcionando o efeito Com relação à dosagem ideal de laserterapia, a WALT
analgésico na dor inflamatória. Os lasers infravermelhos propôs janelas de dosagens terapêuticas para humanos em
são absorvidos pela membrana celular, que leva a um efeito muitas indicações 7. A fisiatria veterinária se base em essas
fotofísico nos canais de cálcio, transferindo energia para a doses na formulação de seus protocolos de tratamento.
mitocôndria, e podem ser mais eficazes para a analgesia. Estudos mostram que dosagens entre 2 e 20 J/cm 2 apli-
O laser aplicado nos tecidos biológicos provoca altera- cado à superfície parecem ser uma janela adequada para
ções denominadas efeito primário, secundário ou terapêu- fotobiomodulação. O porte do paciente, cor da pelagem e
tico, onde os efeitos primários são bioquímicos, bioelétricos pele do paciente e profundidade do tecido alvo são variá-
e bioenergéticos enquanto os efeitos secundários são estí- veis importantes para o cálculo da dosagem a ser aplicada.
mulos a microcirculação e ao tropismo celular 74. Dezenas de artigos, que utilizaram dosagens diferentes,
Os efeitos da fototerapia também podem ser classificados apresentaram resultados positivos para a mesma afecção.
em curto e longo prazo. Efeitos em curto prazo incluem: pro- Essa conclusão pode ser explicada pela qualidade do apa-
dução de beta-endorfinas e cortisol, auxiliando o organismo relho aplicador e por fatores que interferem na absorção da
a combater o estresse associado com o processo da doença. luz de laser 5,6.
O efeito de curto prazo é significativo em 30-50% dos casos A qualidade do aparelho aplicador e sua potência é de
durante ou após o tratamento inicial, mas não é tão signifi- suma importância para obter resultados efetivos no trata-
cante quanto em longo prazo ou de efeito cumulativo 45. mento. Um estudo foi publicado no intuito de testar as reais
Efeitos em longo prazo ou cumulativos são: aumento doses emitidas por sete aparelhos brasileiros, de diferentes
da produção de ATP, resultando na melhora do metabo- fabricantes. Foram realizadas simulações aplicando densi-
lismo celular, estímulo na atividade mitocondrial, facilita- dade energética de 1 J/cm 2 em cada aparelho, para avaliar
ção da neurotransmissão devido aos níveis elevados de possíveis diferenças na energia final. A mesma densidade
serotonina e acetilcolina, melhora na angiogênese, regula- energética aplicada em diferentes aparelhos nacionais for-
ção do potencial de membrana e liberação de citocinas. neceu energia final que variou entre 0,1 J e 0,9 J, ou seja,
Frente aos efeitos da interação do fóton com o tecido, o os aparelhos emitiram de 10 a 90% de energia final em
laser possui diversas indicações geralmente relacionadas comparação com sua calibragem. Concluindo-se que a qua-
ao estímulo do metabolismo e a multiplicação celular. lidade do aparelho emissor é fator determinante para alcan-
Abaixo os benefícios mais importantes para fisiatria ve- çar os resultados esperados 28.
terinária: Ressalta-se também a importância de comparar dosa-
• analgesia: estimula liberação de endorfinas, aumenta pro- gens de estudos in vitro e in vivo, pois a quantidade de jou-
dução de óxido nítrico, bloqueia despolarização de fibras les utilizada em uma cultura in vitro não será igual ao
nervosas aferentes C, estabiliza potencial de membrana das tratamento in- vivo de um roedor de laboratório, por exem-
células nervosas 28-44; plo. Além disso, o tamanho do animal avaliado no estudo
• cicatrizante: aumenta nível de ATP e taxa de mitose, esti- é relevante no cálculo da dosagem, sendo comprovado que
mula fibroblastos e atividade macrofágica, estimula neo- são necessárias dosagens maiores no tratamento de um
vascularização, estimula granulação e epitelização, husky siberiano em comparação a um paciente felino 57. A
aumenta nível de fatores de crescimento celular 70. Lei de Lambert-Beer comprova que para tecidos homogê-
• anti-inflamatório: estabiliza membrana celular, aumenta neos com um coeficiente de absorção constante, mais fó-
angiogênese, diminui nível de proteína C-reativa, inibe sín- tons irão atingir uma determinada profundidade do tecido
tese de prostaglandinas inflamatórias e estimula fluxo lin- com uma dose maior e a intensidade de luz que passa atra-
fático 48. vés dos tecidos diminui exponencialmente com o aumento
da profundidade do tecido 78.
Dosimetria A profundidade de penetração é um dos elementos mais
A dose para cada indicação clínica é calculada em J críticos no tratamento do laser, a luz interage com o tecido
(Joules) por cm 2. Assim é necessário conhecer a área de biológico, podendo ser transmitida, absorvida, dispersa ou
aplicação do laser, assim como a potência de cada aparelho refletida (Figura 3). As principais variáveis para penetração
para calcular o tempo de cada aplicação. e absorção da luz de laser são a quantidade de melanina na
Em 2012, a World Association for Laser Therapy pele e de hemoglobina e água nos tecidos, sendo que
(WALT) compilou mais de 400 artigos sobre o uso da laser- quanto mais escura a pele, maior a absorção de luz, sendo
terapia, a fim de padronizar protocolos de aplicação em di- recomendadas dosagens maiores (até 25%) em peles mais
versas indicações. O relatório da WALT mostrou que muitos escuras, principalmente em comprimentos de ondas meno-
artigos mostravam a ineficiência do laser, pois apresentavam res que 830 nm 57.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 119


Capítulo 15 – Laserterapia

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Figura 3 – Tipos de interação da luz com o tecido biológico

Na experiência dos presentes autores, deve-se utilizar do- Figura 4 – Afastamento da pelagem durante aplicação de
sagem entre 4 e 10 J/cm 2 para tratamento de doenças mus- laser vermelho
culoesqueléticas crônicas em pequenos animais, e dosagens
de 2-4 J/cm 2 para lesões mais superficiais ou agudas.

Técnicas de aplicação
No laser classe IIIB o ponteiro do aparelho deve estar
em contato com a pele e perpendicular ao tecido, a aplica-
ção é pontual. Ressaltasse a importância de anular o efeito
de refração e reflexão causado pela pelagem do paciente,
o indicado seria a tricotomia dos pontos de aplicação, tarefa
que se torna muitas vezes inviável na rotina clínica, por-
tanto durante a aplicação do laser classe IIIB, recomenda-
mos sempre o afastamento da pelagem do paciente para
diminuir a perda de energia e efetividade do tratamento, em
animais com pelagem muito densa é recomendado aparar os Video 1 – Aplicação de laser classe IV -
https://youtu.be/Evz1HvKV91U
locais de aplicação para facilitar o afastamento dos pelos (Fi-
gura 4). O laser classe IV devido ao alto calor emitido deve pode causar queimaduras se não aplicado corretamente.
ser aplicado em varredura, com o sem contato com a pele Considerar que animais com pelo e pele escura apresentam
(Vídeo 1), com exceção de algumas marcas em que se utiliza maior risco, para isso é indicado diminuir a potência de
“superpulsado” e por não emitir calor se pode usar pontual aplicação e não concentrar tanto a saída de luz utilizando
como o laser III. O pelo também deve ser preferencialmente um aplicador mais amplo (Figura 7).
depilado, mas em caso de que não seja possível, considerar A possibilidade de aplicação em filhotes ainda é muito
comprimento e cor do pelo no cálculo da dosagem do laser. discutida, pois apesar do laser possuir capacidade de alte-
ração no crescimento e fechamento de linhas epifisárias,
Precauções ainda não foi comprovado que este possível efeito possa
A luz laser causa lesão ocular, caso atinja os olhos de promover alterações e deformidades no desenvolvimento
uma pessoa ou animal. O aumento de temperatura gerado ósseo de animais jovens 37,38,59.
pode danificar os fotorreceptores da retina. A maioria dos
lasers estão no espectro infravermelho e por essa razão não Contraindicações
é visível aos olhos humanos, o que aumenta ainda mais o A laserterapia é um tratamento não invasivo, sem relatos
risco de exposição, por isso é recomendado a utilização de de efeitos adversos se aplicado corretamente. Algumas con-
óculos protetores. Além disso, também existe o risco de re- traindicações podem ser visualizadas no Quadro 1.
flexão da luz laser que atinge uma superfície como uma
mesa metálica, por exemplo.
Quadro 1 – Contraindicações da terapia laser
Os óculos de proteção bloqueiam a luz em determinados
comprimidos de onda. Tanto o terapeuta como o cliente • Tratamento com medicamento fotossensibilizante
devem utilizar óculos apropriados, o animal deve estar po- • Útero gravídico
sicionado de uma maneira que não veja a aplicação laser
• Pacientes com câncer
ou com proteção nos olhos (Figura 5 e 6).
Outra precaução a ser tomada em relação ao laser classe • Área de hemorragia ativa
IV, por ter alta potência e gerar aumento de temperatura, • Diretamente sobre glândulas endócrinas

120 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 15 – Laserterapia

INDICAÇÕES CLÍNICAS
MAIS FREQUENTES
Efeito analgésico e anti-inflamatório
O laser tem sido amplamente utilizado em
investigações sobre redução de diversos tipos
de dor, como por exemplo a dor neuropática em
seus diversos aspectos 4,55. Essa terapia vem ga-
nhando grande destaque devido ao baixo custo
do laser classe IIIB e do fato de não ser inva-
Figura 5 – Óculos de proteção contra a luz laser para humanos e cães siva, apresentar poucas contraindicações e raros
efeitos colaterais 3.
Essa terapia apresenta ainda, efeitos na re-
dução dos níveis de fibrinogênio, de edema e
no conteúdo de células inflamatórias, atuando
no processo inflamatório através da modula-
ção de mediadores químicos, diminuição da
concentração de prostaglandina E2 (PGE2) e
cicloxigenase-2 (COX-2), divisão celular, va-
sodilatação, aumento de síntese proteica e de
cortisol 11,47,55,68,69.
A luz laser altera a permeabilidade de mem-
branas celulares, facilitando as trocas entre mi-
tocôndria e núcleo, aumentando o metabolismo
oxidativo e normaliza a função celular. Secun-
dário aos efeitos locais, também existem os
efeitos à distância como aumento da síntese de
beta endorfina 34,48,67 e diminuição da bradici-
Figura 6 – Utilização de óculos de proteção específico para animais nina, que resultam no alívio da dor 35.
durante sessão de laser classe IV Esses fatores associados tendem a limitar a
redução do limiar de excitabilidade dos recep-
Deve-se destacar que também é muito discutido a capa- tores dolorosos e eliminar substâncias alogênicas 41, pro-
cidade do laser de induzir neoplasias, neste ponto devemos porcionando analgesia. O bloqueio da despolarização de
diferenciar os aspectos como, a oncogênese (produção de fibras tipo-C dos nervos aferentes também auxilia no tra-
câncer) e a estimulação de células tumorais que já existem tamento da dor.
em seu crescimento, pois se trata de uma radiação não io- Um total de 44 estudos foram incluídos em uma revisão
nizante, que não demonstra mutação, e nem transformações a fim de avaliar o resultado do efeito analgésico do laser
neoplásicas. Sendo assim a utilização do laser de baixa in- irradiado sobre nervos periféricos 15. Em 13 dos 18 estudos
tensidade que tem capacidade de bio estimulação deve ser com seres humanos, com laserterapia continua ou pulsada,
evitada em pacientes com carcinomas ativos, e lesões com ocorreu diminuição da velocidade de condução nervosa e
potencial de malignidade 44,63,74. O uso de laser infraverme-
lho em paciente oncológicos, mesmo que em tecidos dis-
tantes da neoplasia também não é recomendada, pois
diversos artigos demonstram que o laser infravermelho pos-
sui efeito sistêmico, inclusive de crescimento celular longe
do sítio de aplicação 14,16,18,27,51,67.
Por outro lado, existem estudos que mostram que o laser
vermelho é seguro mesmo frente a tumores malignos 60.
Alguns profissionais podem confundir a terapia fotodi-
nâmica utilizada em pacientes oncológicos e a fototerapia
que utilizamos na rotina clínica fisiátrica. A terapia fotodi-
nâmica consiste na aplicação de quimioterápicos fotossen-
síveis que irão se ativar apenas na presença da luz de laser.
Isso não quer dizer que o laser é o responsável pelo trata-
mento de câncer e sim um coadjuvante que irá apenas ati-
var o quimioterápico que, por sua vez, causará a destruição Figura 7 – Aparelho de laser classe IV com cabeçote
de células tumorais. grande

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 121


Capítulo 15 – Laserterapia

redução da amplitude dos potenciais de ação. Em 26 estu-


dos com animais, a irradiação com laser infravermelho su-
primiu os potenciais de ação de neurotransmissores
relacionados com a dor, tais como a substância P e media-
dores pró-inflamatórios, tais como bradicinina, IL-1β e IL-
6 e aumentou da citocina anti-inflamatória (IL-10) 13-15-49.
O laser promove a redução de prostaglandinas e Cox-2
(ciclo-oxigenase coenzima-2) na membrana e líquido sino-
vial levando a redução de dores articulares. Em um traba-
lhado randomizado, com 88 pacientes portadores de
doença articular crônica, mostrou-se diferença média de
45,6% na melhora da dor nos pacientes irradiados 6.
Dentro do aspecto prático, em fisiatria veterinária, o
local da aplicação do laser deve ser ao redor da articulação
lesada e em estruturas adjacentes, que podem causar dor
dependendo da afecção apresentada. Por exemplo, na dis- Figura 8 – Aplicação de laser sobre o músculo pectíneo
plasia de quadril, normalmente o paciente apresenta con-
tratura e dor no músculo pectíneo e iliopsoas, e na luxação rios processos. Um mecanismo é a redução da atividade do
de patela medial, a musculatura medial da coxa, principal- NF-κB, reduzindo assim a ativação de astrócitos que leva-
mente o vasto medial, também está afetada. A correta apli- riam a propagação da lesão medular secundária 66. A inibi-
cação da laserterapia, seguida de alongamento dessas ção do NF-κB se correlaciona com a redução da expressão
musculaturas auxiliará o fisiatra a reabilitar por completo de mediadores pró-inflamatórios e maior preservação de
a afecção (Figura 8). matéria branca, potencialmente levando ao aumento do
crescimento axonal após lesão medular 8. O laser também
Regeneração nervosa altera o metabolismo oxidativo mitocondrial pela estimu-
Nos últimos anos vários estudos vem sendo realizados lação da citocromo oxidase, que apresenta elevada impor-
com distintos parâmetros de aplicação do laser visando es- tância no Sistema Nervoso Central 20.
timular a regeneração nervosa. Em resumo, a laserterapia no tratamento de trauma me-
As lesões nervosas por esmagamento são comuns na ro- dulares é recomendada principalmente por quatro mecanis-
tina clinica fisiátrica, causadas por traumas diretos ou tran- mos de ação 57,74,79:
soperatórios de cirurgias de quadril, por exemplo. Estudos • prevenção da degeneração dos neurônios motores;
concluíram que o laser de 904 nm promove a aceleração • aumento de metabolismo dentro das células nervosas;
da regeneração do nervo ciático em animais com lesões por • proliferação de astrócitos e oligodendrócitos, promovendo
esmagamento 10,53,77. O laser de 830 nm também apresenta a mielinização dos nervos;
resultados satisfatório em lesões nervosas, aplicado no • aumento da regeneração axonal.
modo contínuo acelera e comprovadamente potencializa o Recentemente, foi comprovado que cães que sofreram
processo de regeneração do nervo fibular em ratos após o paralisia aguda por hérnia de disco toracolombar e subme-
21° dia da lesão por esmagamento 2. tidos à cirurgia descompressiva e laserterapia, por no mí-
Alguns efeitos da laserterapia na regeneração de nervos nimo 5 dias, tiveram retorno a função motora muito mais
periféricos são 2,10,15,53: rápido, média de 3 a 5 dias, do que os pacientes que reali-
• modular a amplitude do potencial de ação nervosa; zaram apenas cirurgia e retornaram a deambular após 14
• diminuir o volume cicatricial nos nervos irradiados; dias, em média 79.
• diminuir o processo de degeneração após esmagamento; Na opinião dos presentes autores, a penetração da luz de
• estimular a proliferação de células de Schwann; laser no canal vertebral é difícil devido à barreira óssea da
• aumentar o diâmetro e o número de axônios; coluna vertebral, portanto, ressalta-se a importância de co-
• acelerar a regeneração de nervos periféricos após transec- nhecer a técnica, localização e extensão da cirurgia de des-
ção completa seguida de neurorrafia. compressão realizada. A laserterapia também pode ser
Vale ressaltar a importância do local de aplicação para empregada na musculatura paravertebral, com a finalidade
alcançar a efetividade do tratamento, por isso o fisiatra deve de reduzir inflamação, contraturas e dores localizadas, prin-
estudar a anatomia e topografia do nervo lesionado e cipalmente quando o tratamento de escolha for conservativo.
aplica-lo no percurso desse nervo. Estudos mostram tam- Na região cervical, a aplicação direta sobre o canal me-
bém alta eficácia na aplicação sobre a raiz nervosa do nervo dular pela região dorsal ou na janela cirúrgica, que normal-
lesionado 53. mente é ventral, torna-se ainda mais complexa. Portando,
Outro ponto em relação a interação do laser em condi- deve-se aplicar lateralmente ao pescoço do paciente, na lo-
ções nervosas são as lesões de medula espinhal, em nível calidade das saídas das raízes nervosas, aumentando a efi-
molecular o mecanismo de ação do laser é atribuído a vá- ciência do tratamento (Figura 9).

122 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 15 – Laserterapia

destas células dinamizando a produção de fatores de cres-


cimento para as fases seguintes 70.
Comparando as alterações histológicas em lesões cutâ-
neas cirúrgicas em dois grupos de gatas após tratamento
com laser AsGa a 2 e 4 J/cm² e em um grupo controle, as
fibras colágenas mostravam maior tendência à organização,
orientadas paralelamente à epiderme em comparação ao
controle. É aceito que a maior organização das fibras de
colágeno aumenta a força tênsil da cicatriz 1,75.
Quanto a proliferação fibroblástica, diversos mecanis-
mos estão envolvidos como estímulo da produção do fator
Figura 9 – Aplicação de laser em região correspondente de crescimento fibroblástico básico (FGFb), que constitui
as raízes nervosas cervicais um polipeptídio multifuncional, secretado pelos próprios
fibroblastos, capaz de induzir não somente a proliferação,
mas também a diferenciação de fibroblastos em miofibro-
Reparação Tecidual blastos, responsáveis pela contração da ferida e de outras
A cicatrização cutânea é um processo fisiológico dinâ- células do sistema imune que secretam citocinas e fatores
mico e complexo, caracterizado por uma grande variedade de crescimento que afetam fibroblastos 80. Além disso, a te-
de eventos celulares, moleculares e bioquímicos que inte- rapia a laser eleva os níveis de ácido ascórbico nos fibro-
ragem para que ocorra a reconstituição tecidual. Logo após blastos, aumentando assim, a formação da hidroxiprolina
o surgimento de uma lesão, há uma complexa liberação de e, consequentemente, a produção de colágeno, tendo em
mediadores que dão início ao processo de reparo, o qual se vista que o ácido ascórbico constitui um cofator necessário
inicia pela inflamação, fase da migração de leucócitos e pla- à hidroxilação da prolina durante a síntese colagênica 54.
quetas; seguido pela fase proliferativa ou granulação, com Autores discutem se a melhor forma de aplicação seria
destaque para a angiogênese e para o aumento no número em varredura, que apresenta maior dispersão, ou pontual,
de fibroblastos; e finalmente, conclui-se com a remodela- sendo os dois métodos apresentando comprovações cientí-
ção. Esta última fase dura meses e tem como meta a melho- ficas de aceleração da cicatrização de feridas. Aconselha-se
ria nos componentes das fibras colágenas e a reabsorção de limpar a ponteira do laser antes e após a aplicação ou uso
água para aumentar a força da cicatriz e diminuir sua espes- de plástico filme sobre a ferida para evitar contaminações.
sura. Em virtude da complexidade do processo de reparo te- Concluindo, o laser na cicatrização de feridas pode apre-
cidual, inúmeros fatores exógenos e endógenos podem sentar resposta satisfatória neste processo, contribuindo
alterar os mecanismos de cicatrização da pele resultando em para redução do infiltrado inflamatório, proliferação fibro-
disfunções na integridade cutânea, tais como a fibrose ex- blástica e aumento da deposição de colágeno. Pode ser con-
cessiva ou retraso de cicatrização de feridas 12,23,42. siderado ainda um importante método no processo de
O tratamento de diversos tipos de ulcerações crônicas foi cicatrização por exercer influências na reparação tecidual,
o primeiro tratamento com o laser testado em humanos no ativando vários sistemas biológicos, como aumento da pro-
final de 1960 e início de 1970, usando uma fonte de He-Ne liferação e atividade celular, modulação na produção de fa-
e dosagens de até 4 J/cm2, baseando-se no sucesso em termos tores de crescimento e redução na produção de substâncias
de aumento de velocidade de regeneração de feridas e redu- inflamatórias, resultando na redução do tempo deste pro-
ção da dor relatado por esses primeiros estudos, a modali- cesso e do uso de medicamentos.
dade rapidamente obteve popularidade em sua aplicação 56.
A luz laser também estimula a proliferação de vasos Consolidação óssea
sanguíneos e aumenta o fluxo sanguíneo ao redor dos pon- Após a osteossíntese, o paciente passa, muitas vezes, por
tos irradiados, podendo contribuir para a integração de en- longos períodos de inatividade, interferindo no retorno e na
xertos em cirurgias reconstrutivas. Além disso, o laser readaptação às suas atividades. Além do tempo de imobili-
promove a diminuição de hematomas, principal causa de zação, muitos fatores irão influenciar, diretamente, a cicatri-
perda de enxerto. zação óssea, como a interação de forças mecânicas, a redução
Em alguns experimentos analisados, a aplicação precoce e a fixação da fratura, bem como a idade, o peso, o estado nu-
do laser terapêutico sobre as feridas mostrou-se capaz não tricional e a vascularização do local de fratura, dentre outros.
só de acelerar o fechamento das mesmas, provocando efei- A consolidação óssea envolve a atividade de osteoblastos
tos na fase inflamatória e proliferativa, mas de estimular um que sintetizam novo tecido ósseo e dos osteoclastos para
processo cicatricial mais harmônico e organizado, produ- removerem o tecido danificado. A terapia com laser durante
zindo efeitos posteriores sobre o aspecto estético da cicatriz. o tempo de reparação do osso, tem demonstrado diversos
Sugere-se que ocorra um aumento inicial das células in- efeitos benéficos na reposição óssea e no crescimento ósseo.
flamatórias pela fotomodulação, removendo rapidamente o Verificou-se um aumento da vascularização 30, modula-
excesso de detritos e, posteriormente, a redução do número ção da resposta inflamatória (por recrutamento de células

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 123


Capítulo 15 – Laserterapia

inflamatórias), assim como o aumento do número de fibro- celular é semelhante aos grupos não irradiados 61.
blastos e de capilares sanguíneos 22, proliferação e diferen- A maior eficácia no laser na fase inicial de reparação
ciação celular, acelerando o processo de reparação e óssea também pode ser explicada pelo fato de, na fase
mineralização óssea 71. aguda, haver um maior estresse oxidativo e, portanto, po-
Segundo a literatura, o tecido ósseo secundário é cons- tencial redox favorável à maior interação laser-tecido 26.
tituído por lamelas concêntricas que se vão depositando ao Caso o fisiatra escolha a utilização do laser classe IIIB,
redor dos vasos, formando assim os canais de Havers, a forma de aplicação mais indicada é a pontual, sendo que
sendo comprovado que o tratamento com laser induz o a maioria dos estudos utilizam o laser de 830nm com in-
preenchimento de defeitos ósseos por osso trabecular, ob- tervalos de aplicação de 24 horas. Quando utilizado im-
servando-se também uma maior área vascularizada devido plantes corticais como placas e parafusos, deve-se evitar a
à formação de novos vasos 65. O mesmo se observou in vivo região do implante a fim de evitar refração pelo implante
relativo à proliferação e diferenciação de osteoblastos com metálico e consequente não absorção da luz pelo tecido
a aplicação do laser de 830nm 71. ósseo. Ou seja, por exemplo, no caso de pós-operatório de
A aplicação do laser na reparação de uma fratura de- osteotomia de nivelamento do platô tibial (TPLO), onde a
monstrou, na análise histoquímica, significante deposição placa encontra-se na região medial da tíbia, deve-se aplicar
de cálcio e fosforo. Com isto, aumentou a deposição de hi- o laser na região lateral da porção cranial da tíbia, sob a fi-
droxiapatita durante estágios iniciais do processo de repa- nalidade de incidir a luz diretamente sobre osso, estimu-
ração óssea. Uma grande acumulação de hidroxiapatita lando a consolidação óssea.
acarreta um osso mais resistente e calcificado 62.
Como já sabido, a adição de biomateriais ao local de fra- Osteoartrose
tura óssea pode beneficiar a sua reparação. Na reparação de A dor nas articulações, particularmente associada à os-
defeitos ósseos tratados com proteínas morfogênicas do osso teoartrose (OA), é comum na rotina fisiátrica de pequenos
(BMPs) e enxerto ósseo de bovino verificou-se o aumento animais. Ela resulta em dificuldades na mobilidade e no de-
da deposição de fibras de colágeno entre os dias 15 e 21, e sempenho de atividades, e está associada à dor espontânea
uma melhor organização de trabéculas ósseas ao dia 30, e induzida. Nos cães, a osteoartrose é uma doença comum
comparativamente aos grupos controle. O laser de 830nm, a que possivelmente afeta um quarto da população. Nos
16 J/cm2, 7 sessões a cada 48h, juntamente com BMPs e en- gatos, evidências radiográficas de OA são aparentes em até
xerto exógeno promovem a osteointegração do enxerto 31. 90% de todos os gatos, estimando-se que 50% deles apre-
De acordo com os estudos, a luz laser é possivelmente sentam sinais clínicos de dificuldades devidas a dor nas ar-
também uma das modalidades mais promissoras na os- ticulações 50.
teointegração, tanto ao nível pré-operatório como pós-ope- Sabe-se menos sobre a etiologia da OA nos gatos do
ratório 43. Desta forma, aumentando a velocidade da que nos cães, mas o processo degenerativo da doença pa-
remodelação óssea e a proliferação de osteoblastos, prin- rece muito similar aquele de outras espécies 25. Outras
cipalmente em pacientes com patologias que alterem o pro- doenças dolorosas degenerativas das articulações, como as
cesso de reparação óssea, poderá ser proveitoso no artropatias autoimunes, ocorrem nos cães e gatos e podem
pré-operatório uma vez que os leitos receptores de implantes ser subdiagnosticadas.
poderão beneficiar com o aumento do volume e da densi- Diferentemente dos humanos, o desenvolvimento da
dade óssea 72. OA em cães e gatos se deve principalmente a doenças or-
No pós-operatório, também se verificam algumas van- topédicas e é assim considerada uma doença que pode se
tagens, acelerando o processo de reparação óssea, melho- instalar precocemente. As articulações mais comumente
rando a osteointegração de materiais e diminuindo o tempo afetadas são os quadris, joelhos e cotovelos 36,73,76.
de tratamento de forma a proporcionar uma melhor recu- Diversos estudos, tanto em humanos quanto animais de
peração pós-cirúrgica com menor desconforto para o pa- laboratório e companhia, demonstram que o laser é efetivo
ciente. Ao nível da colocação de implantes, a sua no tratamento e controle da OA, reduzindo a quantidade e
osteointegração é beneficiada demonstrando menor reab- frequência de medicações, inclusive em pacientes idosos 29.
sorção óssea e um melhor contato na interface osso-im- Algumas explicações são encontradas em diferentes es-
plante 21. tudos experimentais que sugerem que a terapia laser tenha
Recomenda-se a utilização do laser terapêutico no pós- efeito anti-inflamatório, analgésico e reparador. A redução
operatório imediato de fraturas, sendo que uma revisão de da dor pode ser devida a alguns mecanismos como efeitos
50 artigos demonstrou que 68% dos estudos afirmaram fisiológicos mediados por ações fotoquímicas a nível ce-
obter melhores resultados até 2 semanas após a osteossín- lular de tecido animal ou humano e por meio do aumento
tese 17. Isso pode ser explicado pelo fato de que o laser é de neurotransmissores implicados na modulação da dor
mais atuante no período de maturação óssea, quando ocor- como a serotonina 9. Alguns pesquisadores concluíram
rem a angiogênese, a liberação de fatores de crescimento também que a luz laser tem efeito de regeneração parcial
de fibroblastos e a proliferação de osteoblastos, do que da cartilagem articular, conseguida pela proliferação e au-
nos períodos tardios de consolidação, em que a atividade mento das atividades de condrócitos, síntese e secreção

124 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 15 – Laserterapia

de matriz extracelular e de glicosaminoglicanos 40-52. Com 13-CASALECHI, H. L. ; LEAL-JUNIOR, E. C. ; XAVIER, M. ; SILVA,


a terapia laser ocorre a melhora da circulação local que J. A. Jr. ; CARVALHO, P. T.; AIMBIRE, F. ; ALBERTINI, R.
Low-level laser therapy in experimental model of collagenase-in-
leva à redução de edema e melhor oxigenação tecidual, duced tendinitis in rats: effects in acute and chronic inflammatory
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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 127


16
Magnetoterapia

Stella Helena Sakata

M
agnetoterapia é a aplicação terapêutica através de
campos magnéticos (CM), onde este pode ser
realizado de dois modos, aplicação de CM pro-
duzidos através de uma corrente elétrica, magnetoterapia
propriamente dita, ou obtidos através de imãs naturais ou
artificiais, imanterapia 19.
Todos os seres vivos se encontram sob influência do
CM terrestre. Este ao longo da história geológica da terra,
sofre modificações significativas, tanto na direção (lati-
tude) como na intensidade. Atualmente sua intensidade é
em média de 0,4 a 0,5 Gauss 8,19.
A prova definitiva da importância do CM em determi-
nadas funções fisiológicas aconteceu quando astronautas
que permaneceram a algum tempo nas estações espaciais
realizaram exames e neles foram detectados um discreto
grau de osteoporose, que foi atribuída à permanência, por
um determinado período, em um ambiente livre de campo
magnético. Esta alteração que se normaliza com a volta à
superfície terrestre, mostra a importância dos CM para a Figura 1 – Esquematização de uma bobina solenoide
manutenção da densidade óssea em níveis corretos e para
o tratamento da osteoporose 14,19.
quantidade de elétrons não pareados quando este atravessa
FUNDAMENTOS FÍSICOS DO MAGNETISMO um CM. E estas são classificadas em função de seu com-
Os fenômenos magnéticos se devem à existência de portamento frente ao CM de baixa frequência em diamag-
imãs e correntes elétricas e manifestam-se como forças néticas, paramagnéticas e ferromagnéticas 6,16,19.
(forças magnéticas), atuando sobre outros imãs ou corren- Materiais diamagnéticos: são os menos susceptíveis à
tes próximas, essas causam uma “perturbação” no espaço ação dos CM. São repelidos pelos imãs qualquer que seja
ao seu redor chamada campo magnético 16. o polo, o qual são aproximados. Quartzo, bismuto, antimô-
Os campos magnéticos são gerados através da passa- nio, ouro, prata, cobre, aço, titânio, são exemplos desses
gem de uma corrente elétrica por uma bobina solenoide materiais.
(Figura 1). Oersted demonstrou em 1820 através de uma Materiais paramagnéticos: possuem susceptibilidade
bússola, que quando uma corrente elétrica atravessa um fio magnética positiva, este fato faz com que seu próprio cam-
condutor, ao aproximar a mesma desse fio, a agulha dela po seja aumentado ao serem submetidos à influência do
era desviada, ou seja, cria um CM ao seu redor, e que se CM de baixa frequência. Estes materiais estão presente em
este fio condutor estiver enrolado num formato espiral (so- grande quantidade no corpo dos animais. Zinco, magnésio,
lenoide) sua intensidade de campo será maior (Figura 2) 6. alumínio, sódio, potássio, são exemplos de desses mate-
A unidade de medida do CM no Sistema Internacional riais.
(S.I.) é o Tesla (T). A unidade antiga, mas ainda em uso fre- Materiais ferromagnéticos: são atraídos intensamente
quente é o Gauss (G), sendo que 1 Tesla = 10 mil Gauss. pelo CM. Ferro, níquel, cobalto são exemplos desses ma-
Para medidas de pequena intensidade continua se utili- teriais.
zando o Gauss e para medir os efeitos do CM de baixa fre- Segundo Gooman et al. 15, o organismo humano se com-
quência pode se utilizar tanto o mili Tesla (mT) ou o porta em seu conjunto como um material paramagnético,
Gauss, onde a equivalência é: 1mT= 10 Gauss. E a fre- no entanto existem alguns locais com comportamento dia-
quência em que o campo magnético irá pulsar é medida magnético (por exemplo as membranas celulares), e outras
em Hertz (Hz) 19,21,25. moléculas com comportamento ferromagnético (por exem-
plo o ferro contido nas hemoglobinas, certas enzimas e pig-
PROPRIEDADES MAGNÉTICAS DA MATÉRIA mentos).
Todas as substâncias sólidas, gasosas e líquidas reagem
em certo grau, à presença de um campo magnético. A quan- EFEITOS BIOLÓGICOS
tidade de energia absorvida por dado material está relacio- A magnetoterapia se encontra dentro das radiações não
nada à rotação de um elétron sobre ele mesmo (spin) e à ionizantes. Os CM aplicados no organismo determinam

128 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 16 – Magnetoterapia

Figura 2 – Esquematização de uma corrente elétrica atravessando um fio condutor solenoide gerando um campo
magnético

distintos efeitos segundo as características de sua área ab- • estímulo geral do metabolismo celular;
sorvente. Este em sua aplicação terapêutica, pode ser utili- • normalização do potencial de membrana alterada (em cir-
zado em duas modalidades: alta frequência onde predominam cunstâncias patológicas a bomba de sódio e potássio deixa
os efeitos de campo elétrico com produção de calor (não de estar ativa, o sódio permanece dentro da célula levando
iremos discutir sobre esse tema neste capítulo) e baixa fre- a um edema celular, neste caso o CM produzirá correntes
quência onde predominam os efeitos magnéticos 10. intracelulares que farão com que o sódio se mova para fora
O modo de emissão do CM de baixa frequência pode da célula restabelecendo a sua normalidade;
ser contínuo (emissão do campo sem pausa), pulsado (com • estímulo direto no trofismo celular que se manifesta pelo
ciclos “dutys” variando de 5 a 70%), varredura (algumas estímulo da síntese de ATP, AMPc e DNA (favorecendo a
marcas no mercado oferecem esse modo de emissão, aonde multiplicação celular, síntese proteica e diminuição da pro-
a frequência em Hertz (Hz) pode variar de modo ascen- dução de prostaglandinas);
dente, descendente). Frequência terapêutica utilizada varia • estímulo do fluxo iônico através da membrana celular em
de 1 a 200 Hz. especial dos íons cálcio, sódio e potássio.
O CM produz efeitos em níveis bioquímicos, celulares,
tissulares e sistêmicos. Efeitos tissulares e sistêmicos
• Relaxamento muscular – efeito miorrelaxante sobre a
Efeito bioquímico do campo magnético 7,14,24 fibra lisa e estriada, devido a sua ação de diminuição do
• Deslocamento/desvio das partículas com carga elétrica tono simpático. Agindo sobre a fibra estriada observa-se
em movimento. um relaxamento do músculo esquelético, sobre a fibra
• Produção de correntes induzidas intra e extracelulares. lisa há um efeito relaxante e anti-espasmódico (digestivo,
• Efeito piezoelétrico sobre o osso e colágeno. urinário e asmático) 7,9,14,19,24,31.
• Aumento da solubilidade de diversas substâncias em • Vasodilatação – pelo mesmo mecanismo de relaxamento
água. muscular, agora sobre a musculatura lisa periarterial. A
magnetoterapia produz vasodilatação comprovada pela ter-
Efeito celular do campo magnético 7,10,14,19,24 mografia com dois resultados: hiperemia da área tratada, e
Em consequência dos efeitos bioquímicos as células res- se o tratamento for em diversas áreas do organismo, uma
pondem: hipotensão. A hiperemia local tem efeitos terapêuticos

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 129


Capítulo 16 – Magnetoterapia

como os tróficos que aumentam os nutrientes da área tra-

Stella Helena Sakata


tada, anti-inflamatórios por aumentar os elementos de de-
fesa, e de regulação circulatória, tanto pela vasodilatação
arterial, como por estimular o retorno venoso 11,12,14,20,22,27.
• Aumento da pressão parcial do oxigênio nos tecidos – um
dos efeitos do CM é o aumento da dissolução do oxigênio
no plasma sanguíneo, esse aumento local da circulação con-
duz a um maior aporte de oxigênio nos órgãos internos como
nas zonas distais, melhorando seu trofismo 11,12,14,20,22,27.
• Efeitos sobre a metabolização do cálcio nos ossos e sobre
o colágeno – estímulo trófico do osso e do colágeno, efeito
ligado a produção local de correntes de fraquíssima inten-
sidade pelo mecanismo piezoelétrico, devido a este efeito
a magnetoterapia auxilia a fixação do cálcio nos ossos nos
casos de osteoporose generalizada, localizada, retardos na
consolidação óssea, não união óssea e pseudoartrose 1,3,4,5,14. Figura 3 – Magnetoterapia em paciente canino com
não-união óssea rádio-ulnar direita e presença de fixador
No final dos anos 70 o médico C. Andrew L. Bassett
circular do tipo Ilizarov
demonstrou as vantagens do uso do campo magnético nos
casos de consolidação de fratura, não união óssea (Figura 3),
pseudoartrose e declarou que pacientes que foram tratados
com magnetoterapia tiveram uma redução no tempo de re-
Stella Helena Sakata

paro ósseo (Figura 4) 10.


Vale lembrar que todos os implantes cirúrgicos utiliza-
dos deverão ser constituídos de materiais metálicos dia-
magnéticos como aço cirúrgico, titânio etc., para que o CM
não influencie na força de cisalhamento.
O CM estimula a produção do colágeno, o que é inte-
resse nos processos de cicatrização. Num estudo feito por
Ieran et al. 17, observou-se um aumento da síntese de colá-
geno quando se aplica o CM sobre um cultivo de condro-
blasto 17. Figura 4 – Radiografias de paciente canino submetido ao
• Efeito analgésico – a magnetoterapia produz um efeito reparo do ligamento cruzado cranial com a técnica TTA
analgésico, proveniente tanto da sua ação direta nas termi- (avanço da tuberosidade tibial). À esquerda – radiografia
nações nervosas, pois regula o potencial de membrana e de pós-operatório imediato e, à direita, radiografia com
ajuda a elevar o umbral da dor nas fibras nervosas sensitiva, 30 dias de pós-operatório. Stella Helena Sakata, 2012
quanto no mecanismo produtor da dor (diminuindo a infla-
mação) 14.
Segundos experimentos realizados, a aplicação do CM
afeta o potencial de membrana em repouso, de tal forma • consolidação óssea, pseudoartrose e retardos de consoli-
que o mesmo se hiperpolariza, chegando a -90mV. Assim dação;
quando o sinal doloroso é recebido, não chega a provocar • osteoporose;
a liberação de vesículas sinápticas, sendo enfim blo- • contraturas musculares;
queado 19. • miosites e tendinites;
• Efeito orgânico generalizado – a magnetoterapia possui • neuralgias;
um efeito generalizado de relaxamento e sedação, muito • aceleração na cicatrização de feridas.
útil no tratamento de stress e suas consequências, isso
ocorre devido ao aumento da produção de endorfinas e seu CONTRAINDICAÇÕES DA MAGNETOTERAPIA
efeito miorrelaxante e hipotensor (diminuição do tônus Segundo diversos autores, não existem contraindicações
simpático), já que associando a estes dois efeitos temos um para a magnetoterapia, mas sim situações que exigem de-
relaxamento generalizado relevante para o organismo terminadas precauções: 10,14,30
9,12,20,26,28,29.
• portador de marcapasso;
• prenhez;
INDICAÇÕES GERAIS DA MAGNETOTERAPIA • doenças micóticas;
Segundo diversos autores 7,11,14,22,23,27 a magnetoterapia é • hipotensão;
indicada para: • hemorragias ou feridas hemorrágicas, devido ao efeito va-
• artrites e artroses; sodilatador.

130 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 16 – Magnetoterapia

MAGNETOTERAPIA NA ONCOLOGIA

Stella Helena Sakata


A cada dia a magnetoterapia vem sido mais estudada e
alguns autores já estão publicando diversos trabalhos utili-
zando a técnica em determinados tipos de câncer.
O estudo de Barbaut et al. 2, assinala bons resultados em
28 pacientes com diversos tipos de câncer (mama, tireóide,
sarcomas, pâncreas). Já Liburdy et al. 18 comprovou que uti-
lizando 60 Hz do campo magnético pulsado bloqueavam à
ação oncostática da melatonina em mulheres com câncer
de mama.
Filipovic et al. 13, concluiu em seu trabalho in vitro que
frequências específicas de campo magnético podem repre-
sentar uma nova abordagem no controle do crescimento
das células cancerosas, sendo necessários mais estudos
antes de testar essa abordagem em humanos.

TÉCNICAS DE APLICAÇÃO Figura 6 – Magnetoterapia com


As técnicas de aplicação podem ser com bobinas planas cilindro de campo envolvente
(Figura 5), cilindro de campo envolvente (Figura 6), col-
chonetes (Figura 7) e nos equinos em forma de capa, cane-

Stella Helena Sakata


leiras e jarreteiras.
O tratamento pode variar de 15 minutos a 2 horas, de-
pendendo da espécie e patologia escolhida. Frequências
mais baixas são indicadas para casos agudos e as mais altas
para casos crônicos.
Stella Helena Sakata

Figura 5 – Magnetoterapia com bobinas planas

CONCLUSÃO
Figura 7 – Magnetoterapia com colchonete
Desde a década de 70, o uso da magnetoterapia gerou
vários estudos sobre seus efeitos e usos, demonstrando
grande eficácia no tratamento de várias doenças estudadas, dulated eletromagnetic fields for the treatment of cancer: discovery
difundindo-se amplamente tanto na medicina humana of tumor-specifc frequencies and assessment of a novel therapeutic
quanto na medicina veterinária. approach. Journal of Experimental & Clinical Cancer Research,
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132 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


17
Tratamento por ondas de choque

Lídia Dornelas de Faria

O
tratamento por ondas de choque (TOC) é segura, que as ondas de choque possuam elevada pressão e propa-
não invasiva e foi inicialmente utilizado na me- gação rápida pelos tecidos alvo, ao entrarem em contato
dicina para fragmentação de cálculos renais em com o corpo do paciente, as ondas se comprimem, e
1980. Em seguida, iniciaram-se suas aplicações musculoes- movem-se rapidamente pelo meio, fazendo com que a ener-
queléticas, as mesmas ondas, quando aplicadas de forma gia cinética seja absorvida pelos tecidos, essa absorção
percutânea no local da lesão, promove o recrutamento de pode ser maior ou menor dependendo do tipo de tecido está
mediadores regenerativos, e atualmente, suas principais in- sendo tratado, em geral tecidos rígidos como o ósseo pro-
dicações são fascite plantar, epicondilite lateral do coto- movem maior refração da onda, sendo necessária maior
velo, tendinoses calcificadas e pseudoartroses 30,32,48. quantidade de energia aplicada pelo gerador enquanto a ab-
Ondas de choque ocorrem em fenômenos que promo- sorção da onda sonora ocorre de forma mais fácil pelos te-
vem intensa troca de pressão entre meios como relâmpagos, cidos moles como tendões e ligamentos 30.
bombas nucleares, ou gerados por aviões supersônicos 30. As ondas de choque são ondas sonoras amplificadas que
Os aparelhos criados para o tratamento médico de ondas de quando em alta intensidade, provocam maior deformação da
choque, quando apresentam características de sequência de onda, o que a faz se mover mais rapidamente no meio, dessa
pulsos mecânicos sonoros de alta energia com alto gradiente forma ao penetrar pelo tecido alvo em alta energia, as mesmas
de pressão (positiva acima de 100 MPa seguida por uma podem ser absorvidas ou refletidas dependendo da impedân-
queda brusca até -5 a -10 MPa), em curto espaço de tempo cia acústica do tecido a ser tratado. Via de regra, tecidos rígi-
em um ponto específico do corpo, emitidas por geradores dos possuem maior refração e tecidos moles, maior absorção.
específicos, sendo eles por método eletro-hidráulico, pieze- Devido a esses parâmetros, estruturas osteoarticulares ne-
létrico ou eletromagnético. A eficácia do tratamento tem cessitam de maior energia concentrada para que haja estímulo
sido avaliada ao longo dos últimos anos por muitos estudos, biológico em relação a tendões, ligamentos e músculo. O
no entanto as variáveis de parâmetros dos aparelhos emis- meio ideal para a propagação das ondas de choque para o te-
sores de ondas de choque, torna difícil comparação entre cido alvo no corpo do paciente, são meios hídricos pois a ate-
eles quando se analisado do ponto de vista de doses e vo- nuação da onda é de aproximadamente mil vezes menor do
lume de energia aportado 25,30,33 que a do ar que possui atenuação muito grande, na rotina clí-
Os geradores de onda de choque na área médica, são re- nica, o meio de condução utilizado é o gel a base de água 30.
gulamentados pela FDA (Food and Drug Administration) Dentre os métodos de geração de ondas de choque fo-
americana e pela Anvisa no Brasil, são aparelhos específi- calizadas, estão relacionados os aparelhos que emitem as
cos que promovem ondas de qualidade compatíveis para o ondas sonoras por meio de princípios piezoelétrico, ele-
tratamento das doenças propostas. Nesse caso, é necessário tromagnético e eletro-hidráulico (Figura 1). A forma de

Ondas piezoelétricas Onda eletro-hidráulica


As ondas de choque A onda eletro-hidráulica gera um alto fluxo
piezoelétricas possuem de energia. Incorpora um eletrodo submerso
alta precisão e são fáceis em água e um capacitor carregado com 20kV
de controlar. Utiliza a ex- é conectado a um eletrodo. Cada descarga elé-
pansão de cristais exci- trica emite uma onda acústica caracterizada
tados organizados em por um alto pulso de alta pressão, com um tempo
uma superfície esférica de resposta de poucos nanossegundos.
com subsequente cria- Essa intensa troca
ção de um pulso, quando de pressão produz
são submetidos a alta ondas fortes, que
voltagem elétrica, promovendo efeitos tera- podem viajar por
pêuticos em uma região focalizada. um meio elástico
Piezoson 100 (Richard Wolf) como o ar, água e
certas substâncias
Ondas eletromagnéticas sólidas.
MTS Medical
Elas são geradas pela indução
eletromagnética por meio de bo- eletromagnético
binas e membranas aper-
feiçoadas para gerar pulsos radial
acústicos fortes e curtos.
Ondas eletromagnéticas e radiais em um mesmo aparelho (Duolith SD1 (Storz)

Figura 1 – Aparelhos conforme os tipos de ondas produzidas

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 133


Capítulo 17 – Tratamento por ondas de choque

geração das ondas de choque eletro-hidráulicas, represen- Piezoelétrico – as ondas são geradas quando uma des-
tam a primeira geração de aparelhos utilizados na medicina, carga elétrica é aplicada aos vários cristais montados
no ano 2000 a FDA (Food an Drug Administration) norte dentro da peça de mão. A rápida contração desses cris-
americana, inicialmente aprovou a utilização da tecnologia tais resulta em ondas de choque que, em contato com o
como tratamento de patologias ortopédicas, e em 2002 a tec- tecido alvo a ser tratado no paciente, recrutam também
nologia eletromagnética também se tornou reconhecida 25,43. efeitos biológicos de qualidade 25,30,33.
Além dessas formas de se obter onda sonora com apli-
cabilidade terapêutica na medicina atual, encontra-se a Efeitos biológicos das ondas de choque
onda de pressão radial, um método o qual não é capaz de Nos últimos anos a aplicabilidade do tratamento por
exceder a barreira do som e possui característica radial- ondas de choque na medicina veterinária tem se tornado
mente divergente ao ponto a ser tratado ³º. cada vez mais frequente, e sua eficácia pode variar de
acordo com a cronicidade da lesão a ser tratada, gravidade,
Métodos de geração de ondas de choque local anatômico e também devido ao protocolo de reabili-
tação associado.
Ondas de pressão radial O mecanismo de ação do tratamento por ondas de cho-
Ondas balísticas ou de pressão radiais, são aquelas as que baseia-se em como as células do corpo respondem ao
quais a onda diverge ao ser emitida e não forma um foco estímulo mecânico, principal mecanismo de ação que jus-
no tecido alvo. Essa onda resulta em perda de energia tifica a eficácia do tratamento. Da mesma forma que a força
quando em contato com o tecido a ser tratado. O formato da gravidade e a atividade física são capazes de promover
da onda radial, se refere ao tipo de energia gerado para pro- a saúde e renovação dessas células, as ondas mecânicas ge-
duzir ondas balísticas, em que um compressor de ar acelera radas pelos aparelhos, promovem de forma precisa e de alta
um projétil instalado na probe (peça de mão). Esse projétil qualidade essa manutenção e renovação celular.
colide em alta velocidade com a membrana em contato com
o corpo do paciente e promove a energia em formato radial Ação no tecido ósseo
que promoverá os efeitos biológicos desejados. A onda ra- O osso responde dinamicamente as alterações da carga
dial não é considerada como onda de choque por muitos mecânica, sendo, portanto, o fundamental mecanismo para
autores, devido a mesma não atingir a velocidade capaz de que ocorram a formação e a degradação ósseas balanceadas
quebrar a barreira do som como ocorre nos casos das ondas em formato e sua micro arquitetura 8. O crescimento ósseo
formadas por geradores focais. Quando comparada com as compõe um processo fisiológico e controlado decorrente da
ondas focais, a radial possui velocidade até 100 vezes ativação e subsequente formação celular. Esse processo, ini-
menor (0,1 a 1 MPa) e a duração do pulso baixa (1 a 5 ms). cialmente descrito por Harold Frost em 1973, ocorre de
No entanto, ondas focais e radial possuem efeitos biológi- forma simultânea em todo o esqueleto e é composto por três
cos comprovados e aprovados para o uso em pacientes fases principais: crescimento, remodelação e reparo 19,20.
na medicina em muitos países da Europa e nos Estados O esqueleto maduro por sua vez, passa por constante
Unidos. reabsorção e formação em resposta ao estímulo mecânico
por sofrer desgaste como qualquer outra estrutura, a sua re-
Ondas focais novação é baseada na permanente remoção dos osteócitos,
As ondas de choque focais representam as ondas de que são substituídos ao longo de meses por osteoblastos que
choque com capacidade de quebrar a barreira do som e promovem a síntese de matriz óssea e a formação de um
gerar o estímulo biológico de forma mais intensa e precisa. novo osso, dessa forma, o osso está em contínuo processo de
Dentre os métodos de geração de ondas de choque estão: remodelação com simultânea formação óssea osteoblástica
Eletro-hidráulico – representa o primeiro sistema de e reabsorção osteoclástica. Caso uma dessas vias, absorção
geradores desenvolvido na medicina, o equipamento li- e formação, for alterada, tal processo é afetado levando a
bera uma faísca quando acionado o eletrodo imerso em diminuição da densidade óssea 8,27.
um meio hídrico, o qual promove a vaporização da água Relatos demonstraram que a falta de aporte nutricional
e um pulso de onda mecânica resultante, o pulso gerado decorrente da pressão irregular de fluidos associados à al-
por equipamentos eletro-hidráulicos é o único capaz de teração na remoção de toxinas induz a apoptose prematura
quebrar a barreira do som desde sua origem que ao con- dos osteócitos, resultando em balanço negativo e aumento
tato com o tecido alvo no paciente, gera uma resposta da porosidade óssea 4. Baseado nesses conhecimentos, a
biológica; aplicação do estímulo mecânico altamente focalizado pelos
Eletromagnético – as ondas de choque são criadas por geradores de ondas de choque, auxilia na manutenção da
meio de um eletroímã, que movimenta de forma rápida osteogênese e viabilidade óssea por meio da mecanotrans-
uma bobina de alumínio que comprime o fluido na peça dução, que consiste na transmissão, reconhecimento do es-
de mão e de forma progressiva são amplificadas até que tímulo mecânico e ativação da resposta biológica,
ao contato com o corpo do paciente passam a ter velo- osteogênese pelo o tecido ósseo, como demonstrado no tra-
cidade acima da barreira do som; balho de Faria, et.al. (2015) em que osso rígidos de ratos

134 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 17 – Tratamento por ondas de choque

foram estimulados em um único tratamento por gerador que por sua vez ativa fatores de crescimento em osteoblas-
eletro-hidráulico em 500 pulsos, a 0,14 mJ/mm² e em 7, 15 tos e consequentemente dos osteócitos 21.
e 21 dias a o metabolismo ósseo se mantinha alto como de- Os métodos geradores de estímulos físicos como ultras-
monstrado pela expressão de altos níveis das proteínas som terapêutico e o tratamento por ondas de choque (TOC)
ERK e AKT, envolvidas na osteogênese nas amostras. também são capazes de gerar o estímulo de deformação
mecânico o qual será amplificado no sistema canalicular
Mecanotransdução por meio do fluxo de fluidos levando ao desencadeamento
Relatos da literatura evidenciam que o TOC pode pro- da resposta bioquímica intracelular 17,30. Este processo é re-
mover o crescimento e a diferenciação celular, também gulado pela mecanotransdução, ou seja, pela ação dos os-
mostraram que sua aplicação em fraturas de tíbia de cães, teócitos que funcionam como sensores mecânicos e
foi capaz de promover a consolidação mais eficiente e com biológicos que a partir de um estímulo mecânico produzem
maior formação de osso cortical após 12 semanas da tera- respostas biológicas mediadas por proteínas que atuam no
pia 40. Outros estudos obtiveram 75% de sucesso no trata- interior das células do tecido ósseo regulando em parte, a
mento de não uniões ósseas e fraturas em atraso, o que remodelação do esqueleto 14,16,17,36.
demonstra que o método pode ser uma excelente escolha A resposta celular decorrente do processo da mecano-
na consolidação destas patologias 32,48 transdução é iniciada por meio de muitos receptores trans-
Sabe-se que o estímulo mecânico gerado pela força gra- membrana, dentre eles os canais iônicos, integrinas e
vitacional e atividade física são essenciais para manutenção proteínas do citoesqueleto associadas a fatores de cresci-
da homeostase (formação e reabsorção) óssea ¹¹. Neste sen- mento intracelulares 45, esse sistema gerado entre a matriz
tido o TOC tem sido utilizado nos últimos anos como mé- extracelular, integrinas e citoesqueleto interage com o núcleo
todo alternativo de estímulo mecânico inclusive para e permite a transmissão do estímulo mecânico gerado no te-
estimular a consolidação óssea em pacientes com pseudoar- cido ósseo, o que gera deformação da membrana extracelular
trose 32,48. A consolidação óssea por meio do estímulo do até o núcleo 11. De acordo com a disposição dessas estruturas,
TOC ocorre pela expressão de IGF-1 (insuline-like growth ocorre um sistema de alavancas, de forma em que cada uma
factor), VEGF (vessel endothelial growth factor), NO se conecte com a outra e permita interações sincronizadas
(nitric oxide), TGF-2 (bone morphogenic protein-2), que da transmissão da deformação mecânica recebida 16.
contribuem para o desencadeamento de fatores angiogêni-
cos, secreção do fator pró-osteoclastogênico e proliferação Ação no tecido cartilaginoso e efeito condroprotetor
e diferenciação das células ósseas 29,35,40,41. Baseado nos princípios da mecanotransdução, a manu-
Todas as células ósseas são sensíveis a estímulos do tenção do osso subcondral ocorre da mesma forma e esse
meio ambiente, tais como mecânicos, químicos e elétricos, efeito de renovação constante promove a viabilidade e o
os quais têm ação sobre o metabolismo ósseo ³6. Por muitos consequente efeito condroprotetor 44. O TOC possui da
anos, os osteoblastos foram estudados como efetores na re- mesma forma a capacidade de estimular o efeito de preven-
novação celular e os osteoclastos pela reabsorção. No en- ção das doenças degenerativas articulares e nos casos onde
tanto, os osteócitos (célula mais numerosa no tecido ósseo), se inicia o tratamento de forma precoce pode prevenir a evo-
ganharam repercussão no processo da osteogênese, pois lução precoce da degeneração articular, mesmo nos casos
estão envolvidos de forma direta no reconhecimento do es- em que a instabilidade articular não seja corrigida 42. Nos
tímulo mecânico, devido a suas propriedades físicas e bio- casos da lesão articular ser induzida na articulação hígida,
químicas 4,16. sem instabilidade ou incongruência, o TOC foi capaz de es-
Os osteócitos são responsivos a estímulos que exercem timular a regeneração da cartilagem hialina, em coelhos 8
tensão sobre o tecido ósseo e ativam as células mesenquimais semanas após a lesão ser causada enquanto o grupo con-
por meio do desencadeamento da resposta intracelular bio- trole, a lesão foi preenchida apenas por fibrocartilagem 46.
química, a mecanostransdução, que é a manutenção da ho- A visco suplementação com ácido hialurônico na medi-
meostase e saúde ósseas 14. A presença de BMP, importante cina é uma prática corriqueira na manutenção da dor e me-
proteína reguladora da proliferação e diferenciação celular, lhora da imunomodulação articular com ótimos resultados
encontrada após o estímulo mecânico, por fluxo de fluido, clínicos 9,5, o TOC possui efeitos semelhantes a visco suple-
também reforça a hipótese de que os osteócitos sejam con- mentação por não apresentar em muitos casos, diferenças
siderados células primárias na mecanotransdução óssea 31. significativas em pacientes diagnosticados com osteoartrite
O processo de interação entre um estímulo mecânico, submetidos a ambos os protocolos 22, o que sugere que o
gerando deformação do tecido ósseo no nível da membrana TOC seja seguro, não invasivo e eficaz.
extracelular, sua transmissão pelo citoesqueleto e a conse- Nos casos em que os pacientes apresentem diagnóstico
quente reação bioquímica intracelular, é denominada me- precoce de incongruência articular, estudos indicam que a
canotransdução, o que promove o equilíbrio entre a apoptose utilização do TOC, pode ajudar a prevenir a evolução da
e a proliferação celular óssea 16, o estresse mecânico ao ser doença articular degenerativa, promovendo qualidade de
aplicado em um tecido ósseo gera o aumento da pressão de vida aos pacientes com displasia e osteoartrite traumática
fluidos, e a consequente comunicação intercelular ósseas, por exemplo 42.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 135


Capítulo 17 – Tratamento por ondas de choque

Tendões e ligamentos tenham menor chances de recidivas 34.


Os tendões respondem ao estímulo mecânico de forma As feridas decorrentes de isquemia, sendo os enxertos,
semelhante ao osso 3, o aumento da vascularização 4¹, for- úlceras de pressão por longos períodos em decúbito, ou em
mação de celularidade com reparação fibro conectiva e sín- diabéticos que possuem por consequência o comprometi-
tese de colágeno, justificam os excelentes resultados da mento da vascularização e necrose de extremidades, o TOC
aplicação das ondas de choque nos casos de tendinite e le- é eficaz para a reversão desses quadros 7, o aumento do
sões ligamentares pós tratamento 1,28. TGF-β1 (transforming growth factor beta 1) na pele, está
Outros estudos clínicos em animais mostraram alinha- relacionado com a melhora do colágeno, o que promove a
mento e neoangiogênese em tendões, após 2-4 semanas e recuperação das características originais das regiões em
4-8 semanas de aplicações do TOC, respectivamente 1,40. isquemia mesmo por comprometimento circulatório nos
Para o tratamento nas junções tendão-osso, Wang et. al., casos de pacientes diabéticos 23.
2003, utilizou aparelho eletro-hidraúlico com protocolo de O tratamento para feridas pós queimaduras também
500 pulsos a 0,12 mJ/mm² e mostrou que os níveis dos fa- possuem resultados satisfatórios, aplicações semanais com
tores angiogênicos NO (óxido nítrico), VEGF (fator de a utilização de aparelho eletro-hidráulico em dose de 100
crescimento endotelial), e BMP-2 (proteína morfogênica pulsos/cm² a 0,15 mJ/mm², apresentam significativa me-
óssea 2), mantiveram-se expressos entre a primeira e a oi- lhora da estrutura da pele e redução da dor após tentarem
tava semanas após estímulo único de TOC intactos 41. tratamentos convencionais sem sucesso 10
A curto prazo, 3 horas após os estímulos das ondas de
choque em um protocolo de 600 pulsos a 0,14 mJ/mm² uti- Indicações do tratamento por ondas de choque
lizando aparelho eletro-hidráulico, outros autores determi- Dentre as principais indicações das ondas de choque, as
naram o aumento dos glicosaminoglicanos e síntese de fraturas e não união óssea ganham destaque, as proprieda-
proteínas nos tendões flexores de pôneis 6. des da mecanotransdução, que desencadeia efeitos bioló-
Para que ocorra a recuperação das fibras tendíneas, a lu- gicos, neovascularização e sua consequente estimulação a
bricina, uma glicoproteína responsável pela facilitação do osteogênege, fazem desse tratamento um dos mais eficazes
deslizamento do tendão precisa estar presente em quantidade para regiões de patologias ósseas e suas transições em ten-
e qualidade significativa, o TOC é capaz de promover a re- dão - osso. O estímulo a regeneração nos casos das osteoar-
cuperação de casos de tendinite por estimular a lubricina 49. trites também decorrem da resposta do osso subcondral ao
estímulo mecânico (Figura 2).
Cicatrização de feridas Tendinites nas inserções respondem de forma excelente
O estímulo mecânico também influencia na orientação ao TOC 41, no entanto, as propriedades de neovasculariza-
e distribuição das fibras que estruturam a pele, estudos em ção e realinhamento das fibras de colágeno promovem ex-
cicatrização de feridas são publicados ao longo de mais de celentes resultados em diversas lesões em tendões ¹, seja
15 anos, e os ótimos resultados se devem ao aumento da com associações com terapia celular e plasma rico em pla-
circulação local e consequente reversão dos quadros de is- quetas ou não ¹².
quemia, o que promove maior qualidade na cicatrização de A utilização da técnica para feridas contaminadas e fra-
feridas em diabéticos e úlceras de decúbito, feridas por turas que apresentam osteomielite não são contraindica-
queimaduras, dentre outras lesões na medicina 38. ção para o TOC 15, e a associação com antibiótico terapia
Por meio da mensuração da secreção pró inflamatória específica, auxilia na total recuperação dos pacientes.
dos queratinócito in vitro, estudo com a utilização das
ondas de choque, demonstra que após o tratamento, ocorre
a migração de células de queratinócitos, regulação de genes
do ciclo celular e indução de fibroblastos e consequente ci-
catrização de feridas, dados esses que referem a 41% de
sucesso e 35% de melhora na condição de feridas por úl-
ceras de pressão ².
Em animais, algumas particularidades como a dificul-
dade de aproximação da pele e a predisposição ao tecido
de granulação exuberante e consequente infeção de feridas
de membros dos cavalos 47 torna o TOC muito aplicável.
Resultados quando se compara grupos de cavalos tratados
com ondas de choque e os que foram submetidos apenas a
curativos convencionais, não diminuem necessariamente o
tempo de cicatrização, no entanto, a melhora da qualidade
da ferida, nos encoraja a utilização da técnica em larga es-
cala, pois os atletas em especial, necessitam de retorno Figura 2 – Aplicação de tratamento por ondas de choque
breve a competições e de feridas de melhor qualidade e que em paciente com osteoartrose de cotovelo

136 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 17 – Tratamento por ondas de choque

Contraindicações e efeitos adversos 10.1177/1759720X17729641.


Entre as contraindicações estão as aplicações em regiões 6-BOSCH, G. ; LIN, Y. L. ; VAN SCHIE, H. T. ; VAN DE LEST, C. H.
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animais silvestres são muitas. Por se tratar de uma técnica
13-FARIA, L. D. Terapia por ondas de choque eletro-hidráulicas
não invasiva, deveria ser uma alternativa de baixo custo e aumenta a atividade da ERK-1/2 e Akt em tíbias íntegras de
de quase nenhum efeito adverso. No entanto, os custos de ratos por 21 dias após estímulo inicial. 2015. 86 p. Dissertação
importação e a dificuldade de assistência técnica, torna o (Mestrado em ciências da cirurgia) - Faculdade de ciências médicas
tratamento de difícil acesso em muitos locais do país. da Unicamp, Universidade de Campinas, Campinas, 2015.
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Capítulo 17 – Tratamento por ondas de choque

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138 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


18
Massagem terapêutica

Miriam Caramico

A
palavra massagem é derivada da palavra árabe de sensações conhecidas como sentidos especiais, visão,
mass que significa pressionar 11. Pode ser definida paladar olfato, audição e orientação espacial. Todas as sen-
como a manipulação de tecidos moles do corpo. sações envolvem órgãos receptores; o mais simples é a ter-
Por meio da manipulação de tecidos moles e de técnicas minação nervosa em forma de raíz, e os mais complexos
específicas para promover ou restaurar a saúde, é possível são aqueles associados aos sentidos especiais 1.
usar as mãos para detectar e tratar problemas nos músculos, Os três principais grupos de receptores sensoriais são os:
ligamentos e tendões. Esta técnica possui registros desde a • extraceptores – detectam estímulos próximos a superfície
Grécia antiga, parece constituir uma sistematização de externa do corpo, e incluem os de pele, que respondem ao
gesto instintivo, visto até em animais, o ato de pressionar frio, calor, tato e pressão;
ou esfregar um local dolorido a fim de ter alivio e em casos • intraceptores – detectam estímulos internos ao corpo e in-
da diminuição da mobilidade 1. cluem receptores de paladar, olfato e os que estão nos in-
Um dos aspectos mais importantes para o terapeuta é teriores das vísceras, que respondem ao pH, distensão e
conhecer a biomecânica dos tecidos moles quando se busca espasmo (como no intestino) e fluxo (como na uretra) 1;
trabalhar corretamente com massagens. Os tecidos do • proprioceptores – semelhantes aos interceptores, mas
corpo possuem tanto viscosidade, uma propriedade de flui- estão relacionados a detecção de condições orgânicas pro-
dos intersticiais, quanto a elasticidade, uma propriedade fundas para o sistema nervoso central. Esses receptores
dos sólidos (basicamente colágeno). Os materiais visco estão localizados nos músculos esqueléticos, tendões, liga-
elásticos, em geral, absorvem energia dependendo do nível mentos e cápsulas articulares. Exemplos são os órgãos ten-
de abordagem feita, por exemplo, quando esses materiais díneos de Golgi, que são sensíveis ao estiramento e previnem
são acessados com rapidez e grande carga eles aumentam isso por reflexo quando os músculos tendões e ligamentos
sua rigidez. Isso é importante se pensarmos no nível de são estirados indevidamente 1.
pressão e velocidade de massagem aplicada sobre os teci- Os receptores sensoriais convertem diferentes tipos de
dos e também na individualidade dos animais, sendo ne- energia em potencial de ação, essa energia pode ser sonora,
cessário uma avaliação individual de cada paciente quanto luminosa, química, térmica e mecânica. Eles estão sujeitos
o nível de massagem eficaz para cada situação, seja ela em a respostas graduadas, dependendo da intensidade do estí-
equinos, cães ou felinos 11. mulo 1. Pode-se estimular os receptores tanto superficiais
Os efeitos podem ser divididos em: mecânicos, quími- como profundos da pele. O modo de aplicação dessas forças
cos, reflexos e psicológicos 17. Os efeitos mecânicos refe- mecânicas é determinado pelo fisiatra de acordo com sua
rem-se a resultados diretos que a massagem exerce sobre escolha dos tipos de massagem e a habilidade em regular a
os tecidos moles manipulados por meio de movimentos de duração, quantidade, intensidade e ritmo de estímulo.
tração, compressão, estiramento e pressão. O movimento Pode-se dizer que o efeito psicológico é promovido pelo
da pressão faz com que os tecidos moles comprimam e es- toque e a somação dos vários efeitos proporciona a sensa-
timulem os receptores sensoriais, sendo que o estiramento ção de bem-estar 3. O aspecto científico da massagem inclui
faz tensão sob os tecidos e estimula as terminações nervo- toda a anatomia e fisiologia que ela envolve, bem como a
sas 16. Já os movimentos de deslizamento superficial e pro- abordagem organizada para avaliações e planos de trata-
fundo promovem a desobstrução dos vasos sanguíneos. mento. A combinação da habilidade junto ao conhecimento
Como consequência, o relaxamento dos músculos é consi- da anatomia faz com que o profissional proporcione ao pa-
derado efeito reflexo. As manobras de alongamento ajudam ciente a cada massagem, um acontecimento único. Como
a diminuir as aderências. O efeito mecânico aumenta a cir- a pele possui vários receptores sensoriais estes podem ser
culação venosa e arterial, promove vaso dilatação. Os efei- considerados o ponto de contato entre o paciente e o mé-
tos fisiológicos da circulação ocorrem pela drenagem do dico veterinário 2. O movimento de fricção promove o
sangue e da linfa o qual aumentará as trocas energéticas, aquecimento da pele melhorando a ativação sanguínea e
metabólicas e a nutrição 20. linfática, consequentemente estimula a secreção de glân-
A estimulação reflexa iniciada em uma parte do corpo dulas sebáceas tornando a pele mais flexível e maleável 2,3.
mostra reação involuntária ao estímulo em outra parte, por Os músculos, tendões e fáscias também são beneficia-
exemplo, a massagem relaxante nas costas, pode vir a ali- dos. A massagem aumenta o fluxo do sangue oxigenado
viar uma dor na pata 1. e detritos celulares proporcionando uma melhor nutrição e
As sensações resultam de estímulos que, por sua vez, desenvolvimento dos músculos. Através do aumento da ex-
produzem impulsos aferentes e eventualmente atingem o citabilidade torna mais sensíveis os indivíduos aos impulsos
nível de consciência no córtex cerebral. Dentre as sensa- nervosos, diminuindo a fadiga, com melhora da coorde-
ções incluem-se dor, frio, calor, tato, pressão e um grupo nação e aumento da produção do ácido lático fazendo

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 139


Capítulo 18 – Massagem terapêutica

recuperação desses músculos. Porém, se a técnica aplicada geram calor e os superficiais de fricção reduzem, uma vez
for de forma excessiva e agressiva pode gerar fadiga e de- que pela vasodilatação da fricção superficial o calor cor-
formação das fáscias 1. O toque provoca uma resposta do poral é dissipado e a temperatura central cai 14.
sistema nervoso simpático mandando informações via afe-
rente para o sistema nervoso central, o qual prepara o indi- Indicações
víduo para mobilizar ou defender-se. Quando o corpo As indicações da massagem são alívio da dor, redução
percebe que o sinal não apresenta perigo, ele faz a inter- de edema ou mobilização de tecidos contraturados, po-
rupção do sistema nervoso simpático e faz ativação do pa- dendo também ser utilizada para acalmar e relaxar os ani-
rassimpático que deixa o corpo do indivíduo em estado de mais 8.
repouso, diminuindo a atividade cardiovascular e hormô- A massagem ajuda na recirculação de líquidos intersti-
nios do estresse promovendo a sensação de bem-estar 1. A ciais para os vasos linfáticos, e do sangue e linfa das extre-
resposta do estímulo do sistema parassimpático através midades para suas circulações principais. É provável que
massagem, pode fornecer benefícios como a redução da an- ajude também na circulação dos tecidos lesionados, melho-
siedade, depressão, dor e aumento da imunidade. rando o transporte de nutrientes para a sua reparação; o que
A massagem influência várias substâncias neuroquímicas previne ou reduz a formação de tecidos fibrosos, e ajuda
do corpo. Com a massagem há um aumento da histamina fa- na remoção dos produtos das reações inflamatórias, preve-
vorecendo a defesa do corpo; aumento da melatonina que nindo assim as dores crônicas.
permitirá um sono reparador, aumento da serotonina e da en- Em doentes com déficits neurológicos, é importante
dorfina, ambas promovem a sensação de bem-estar. A sero- para reduzir a ocorrência de espasmos musculares, preser-
tonina também pode impedir a transmissão dos sinais var a mobilidade e flexibilidade dos membros e estimular
nervosos nocivos ao cérebro 1,7. Haverá a redução da dor e a recuperação da sensibilidade 5.
do apetite, promoção da sensação de bem-estar, regulação Também possui outras indicações específicas, como:
do sono e estimulação da contração da musculatura lisa 13. • em animais com problemas músculo esqueléticos crôni-
A endorfina é liberada através de movimentos de pres- cos que possam desenvolver problemas secundários, tais
são e fricção 4,7. Possui ação analgésica e reduz a dor 1. Tam- como atrofias musculares ou adaptações de marcha;
bém haverá mobilização da acetilcolina pela redução da • em período pós-cirúrgico, onde por vezes os animais estão
força de concentração cardíaca, diminuindo a frequência restritos a espaços confinados, sendo importante manter a
do bombeamento e consequentemente haverá um desgaste condição e a tonificação muscular;
menor da energia do músculo cardíaco propiciando melhor • em animais de competição, quer seja antes do exercício
função 8. As encefalinas aumentam e produzem analgesia 1. para promover um bom aquecimento e desempenho mus-
Já o aumento de ocitocina torna maior o limiar de dor, es- cular, quer seja após o exercício para ajudar na recuperação
timula contrações da musculatura lisa, reduz a resposta ner- do esforço;
vosa simpática e possui efeito sedativo 2. • em caso de fadiga, para diminuir a tonificação e a tensão
Os benefícios da massagem também dependem das ma- muscular e dessa forma reduzir o desconforto e promover
nobras executadas. O efeito primário do movimento de per- o relaxamento;
cussão é o de vasoconstrição local, mas quando sustentada • em dor muscular, quer devida a exercício excessivo quer
a percussão tem efeito vasodilatador em áreas próximas. A devida a condições climatéricas extremas. A massagem não
pressão da massagem aumenta a circulação sanguínea e lin- só irá promover o aumento de fluxo sanguíneo como tam-
fática, com ativação dos capilares inativos ou com fluxo bém a produção de endorfinas que irão ajudar ao alívio da
deficiente, melhorando a permeabilidade das paredes capi- dor e desconforto 11.
lares, aumentando a oxigenação e a nutrição. A contração
do músculo do diafragma através da melhora da respiração Contraindicações
auxilia na passagem da linfa, fazendo com que o líquido É contraindicada a massagem na presença de infecção
seja empurrado pelas válvulas unidirecionais e cria um ou tumores malignos no local, doenças de pele, trombo fle-
vácuo na cavidade torácica que extrai a linfa e o sangue ve- bite, hemorragia, febre ou trauma agudo 2. Também é con-
noso por estas válvulas e vasos 2. Da mesma forma, a con- traindicado em animais agressivos ou que não tolerem
tração dos músculos esqueléticos auxilia a passagem da massagem por alguma razão.
linfa. O efeito reflexo do aumento da circulação é pela me-
lhora do processo de respiração celular. Técnicas de aplicação da massagem
Esse aumento da circulação faz com que gere calor e Devemos nos colocar numa posição confortável ao lado
oxidação de glicogênio produzindo um excesso de dióxido do animal de forma a garantir que se encontra com uma
de carbono, que será eliminado na expiração para manter a postura correta.
homeostase 2. A manipulação dos tecidos impulsiona os de- Antes da massagem, deve ser feita anamnese completa,
tritos não digeridos pelo intestino ativando o sistema ner- assim como, exame físico e avaliação postural do paciente.
voso parassimpático a estimular a atividade de digestão. As principais técnicas de massagem utilizadas são:
Quanto à termorregulação, movimentos de amassamento • strocking ou massagem relaxante;

140 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 18 – Massagem terapêutica

• effleurage ou deslizamento;
• petrissage ou compressão;
• percussão ou tapotagem;
• pregueamento;
• massagem sobre os trigger points;
• liberação tecidual funcional;
• fricção;
• rolling ou rolamento.

Strocking ou massagem relaxante


Essa é uma boa técnica para iniciarmos o tratamento.
Com o animal bem posicionado, corra com as mãos ou uma
escova sobre o animal, do pescoço a cauda com uma pres- Vídeo 2 – Demonstração da técnica em membro pélvico -
https://youtu.be/wx3bHeMQ8CQ
são média. Toda a mão do terapeuta deve estar em contato
com a pele do animal, com uma pressão gentil, mas firme, autores consideram strocking e effleurage a mesma técnica,
movimentos das mãos se sobrepondo uma após a outra até somente com variantes.
cobrir toda a área a ser tratada, aplicando-se normalmente Indicações: alívio da dor, entorses, relaxamento, dimi-
de proximal para distal 1 (Vídeo 1). nuir o tônus muscular, edemas crônicos, estímulo do pro-
Indicações: é a técnica indicada para termos uma intro- cesso de cicatrização, aumento da amplitude de movimento
dução ao toque, com toques leves a fim de estimular a pro- articular 1.
dução de hormônios responsáveis pelo relaxamento como
a ocitocina, que diminui o estresse, combate o medo, abaixa Compressão ou petrissage
o ritmo cardíaco, alivia dores musculares. Esta técnica tam- Essa técnica dá firmeza as estruturas através do estimulo
bém pode ser utilizada para avaliação dos tecidos em rela- dos tecidos profundos. Melhora o aporte sanguíneo e o
ção a contraturas, edemas e flacidez 1. fluxo linfático, remove toxinas e aumenta a mobilidade e
extensibilidade tecidual 1.
Consiste no movimento alternado de amassamento (sem
mover a pele, mas com os dedos) com uma ou ambas as
mãos, no sentindo perpendicular ou paralelo ao músculo 2.
Deve se repetir por diversas vezes com pressão média e au-
mentando gradativamente conforme o avanço da sessão até
atingir a camada tissular mais profunda. Comece da área
afetada e mova para longe 1.
Indicações: ajuda retorno linfático e venoso, ajuda na
remoção das toxinas, aumenta a mobilidade e extensão das
fibras teciduais, aumenta extensibilidade e força dos teci-
dos conectivos, ajuda na mobilidade de fluidos e tecidos,
Vídeo 1 – Demonstração da técnica, reparar no movimento alívio da dor 1.
constante e sem pressão - https://youtu.be/vQZ8FlJ_HZg
Percussão ou tapotagem
Effleurage ou deslizamento Tapotagem vem da palavra francesa tapotament que
Effleurer é uma palavra francesa que significa “tocar significa pancadas leves. A técnica pode ser aplicada
de leve”. É uma técnica que deve ser utilizada no início de usando a mão em forma de concha (dedos juntos de forma
cada sessão; tem como objetivo relaxar o tecido finali- relaxada – Figura 1) ou uma colher de pau, o cotovelo deve
zando um tratamento ou preparando o tecido para a troca estar flexionado, o pulso deve ser repetidamente flexionado
de técnicas 1 (Vídeo 2). e extendido e somente a borda da mão toca a pele, movi-
O deslizamento superficial é comparável a acariciar sua- mentos rápidos, leves e firmes. Quando a mão repousa
vemente um bichinho de estimação. Deve ser usada apli- sobre a massa muscular um som deve ser ouvido, oriundo
cando uma ou as duas mãos, os dedos ou polegares (depende do ar que fica preso entre a mão e a pele 1.
da área a ser tratada). Inicia-se pela parte distal em direção Indicações: pneumopatias (liberação de secreções), ani-
aos linfonodos, fazer contato com a pele e aplicar pressão na mais em decúbito prolongado e estimulação de fusos mus-
pele até os tecidos superficiais, fazer o movimento de varre- culares.
dura para o topo da área a ser tratada modelando o contorno
e mantendo a mesma profundidade de pressão. Terminar o Pregueamento
movimento em cima do linfonodo, então remova as mãos e Esta técnica é indicada em casos de aderências onde o
reposicionar para começar o próximo movimento. Alguns terapeuta promove o descolamento da pele em relação à

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 141


Capítulo 18 – Massagem terapêutica

Figura 1 – Posicionamento da mão em formato de “concha” Figura 2 – Técnica de pregueamento na região dorsal do
na técnica de tapotagem paciente

musculatura, promovendo um aumento da elasticidade te-


cidual e descompressão dos tecidos adjacentes. É realizado
pregueando e friccionando a pele em toda a região a ser tra-
tada (Figura 2). O pregueamento é considerado um tipo de
petrissage para a maioria dos autores, assim com a técnica
skin wringing em que se levanta a pele e se retorce em di-
ferentes direções.
Indicações: liberação de aderências musculares, me-
lhora da cicatrização, relaxamento muscular, diminuição
da dor 1.
Vídeo 3 – Aplicação da técnica na localização paravertebral
Massagem sobre os trigger points - https://youtu.be/lT5gwCTRr6Y
Um trigger point ou ponto gatilho é localizado pela ava-
liação de uma área de tecido que tende a abrigar um nódulo de colágeno de forma natural, acrescentando elasticidade
hipersensível. Os pontos de gatilho podem ser encontrados ao tecido. Técnica é eficaz e rápida em tratamentos especí-
em tecido fascial e muscular, em ligamentos ou tendões, ficos para fibroses e aderências após cirurgias plásticas em
em tecido cicatricial ou em níveis profundos, dentro de uma humanos. Seu mecanismo é explicado pelo fato do colá-
cápsula de articulação ou no periósteo do osso. A palpação geno se depositar de maneira aleatória no processo de ci-
dessa zona de reflexo enviará, para uma região distante, catrização, a manipulação deverá ser multidirecional, para
uma sensação mais intensa ou mesmo simples 2. Frequen- uma ideal reorganização dos feixes de colágeno.
temente provoca alterações no sistema nervoso autônomo, Indicações: liberação de aderências pós trauma (cirúr-
como aumento de secreção, suor, frio, lágrimas e arrepios. gico ou não) 1.
Características de um trigger point, dureza no músculo,
dor, nódulo palpável, perda de elasticidade da pele na re- Fricção
gião, região mais quente do que os tecidos vizinhos 1. Em geral, a fricção é feita com as polpas dos polegares.
Técnica: aplica-se pressão sobre a área de reflexo com Entretanto, a ponta e o nó dos dedos também podem ser
a ponta de um dedo ou do polegar; embora suave, a pressão usados, bem como os cotovelos. Essa técnica constitui uma
deve ser suficientemente profunda para ativar o ponto de excelente forma de localizar a dissolver nós ou nódulos que
gatilho e, assim, enviar a sensação para uma região distante podem desenvolver-se, sobretudo na região da escápula e
(Vídeo 3). A pressão no tecido é mantida por alguns segun- dos músculos paravertebrais da coluna. Também pode ser
dos, depois suspensa por alguns segundos e, a seguir, reini- aplicada diretamente sobre contraturas musculares 9 que
ciada. O procedimento continua até a redução da sensação costumam ocorrer de maneira secundária a lesões articula-
na região distante, ou por cerca de 1 ou 2 minutos 2. res, por exemplo, na displasia coxofemoral ocorre contra-
Indicações: pontos gatilho (trigger point), dor e contra- tura do músculo pectíneo.
tura muscular causada pelo trigger point 1. Indicações: quando aplicada em torno das articulações,
visa ativar o líquido sinovial e reabsorver líquidos extrava-
Liberação tecidual funcional sados em conseqüência de um trauma; quando aplicada em
Nesta técnica tensões mecânicas são aplicadas ao tecido tecidos desfaz adesões. Quando aplicada no abdômen, visa
em cicatrização promovendo uma organização dos feixes ativar a circulação fecal 1.

142 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 18 – Massagem terapêutica

Rolling ou rolamento Topics in Companion Animal Medicine, v. 32, p. 139-145, 2017.


Também é um tipo de petrissage. A técnica é aplicada a 10-FREITAS, C. L. Fisioterapia na reabilitação de cães com ruptura de
ligamento cruzado cranial: revisão de literatura: Massa-
tecidos superficiais e profundos. Os tecidos, rolam sobre
gem. 2014. 47 p. Monografia (Graduação em medicina veterinária)
os tecidos mais profundos, quer estes sejam musculares, UNB, Universidade de Brasilia, BRASILIA, 2014. 1. Disponível
aponeuróticos ou ósseos. em: <https://bit.ly/2PG2iT3>. Acesso em: 13 jan. 2017.
Esta técnica pode ser executada com rolamento da pele 11-FREITAS, L. J. N. Reabilitação do Paciente Neurológico: Massagem.
entre os dedos e o polegar, através da compressão dos teci- 2013. 93 p. DISSERTAÇÃO (mestrado em medicina veterinária)-
Faculdade de medicina veterinaria vila real, Universidade de Trás-
dos entre estes e o seu rolamento em movimentos ondula-
os-Montes e Alto Douro, Vila Real, 2013. 1. Disponível em:
res, ou entre os dedos e as estruturas subjacentes, através <https://repositorio.utad.pt/bitstream/10348/3349/1/msc_ljnfrei-
da pressão em movimentos ondulares, e os tecidos são si- tas.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2017.
multaneamente erguidos e retorcidos de leve, no sentido 12-HERNANDEZ-REIF, M. ; FIELD, T. ; KRASNEGOR, J. ;
horário ou anti-horário 2. THEAKSTONS, H. Lower back pain is reduced and range of
Embora seja também um movimento de compressão, o motion increased after massage therapy. International Journal of
Neuroscience. 2001; 106:131- 45. [PMID: 11264915]
amassamento difere da compressão no sentido dos tecidos 13-HOLLIS, M. Massagem para terapeutas. São Paulo: Manole. 1990.
serem levantados e afastados das estruturas subjacentes, em 14-IRONSON, G. ; FIELD, T. ; SCAFIDI, F. et al. Massage therapy is
vez de rolados sobre elas e os tecidos são simultaneamente associated with enhancement of the immune system’s cytotoxic
erguidos e retorcidos de leve, no sentido horário ou anti- capacity. International Journal of Neuroscience. 1996.
horário 2. 15-MORASKA, A ; POLLINI, A. R. ; BOULANGER, K. ; BROOKS,
Indicações: melhorar mobilidade entre a pele, tecidos Z. M. ; TEITLEBAUM, L. Physiological adjustments to stress
measures following massage therapy: a review of the literature.
subcutâneos e melhorar a circulação superficial 1. Oregon, USA. 2008
16-MOYER, A. C. ; ROUNDS, J. ; HANNUM, W. J. A Meta analysis
Conclusão of massage therapy research. Psychological Bulletin, v. 130, n. 1,
Todos os movimentos de massagem têm efeito de nor- p. 3-18, 2004.
malização sobre as zonas reflexas, quer sejam áreas de dor 17-QUEIMADO, M. S. M. CONTRIBUIÇÃO PARA O ESTUDO DOS
EFEITOS BENÉFICOS DA REABILITAÇÃO FÍSICA EM
referida, quer seja uma mudança tecidual indireta 1.
CÃES COM OSTEOARTRITE: massagem. 2016. 86 p. DISSER-
Os mecanismos de ação da massagem terapêutica não TAÇÃO (mestrado em medicina veterinária)- Universidade de lis-
estão completamente esclarecidos em pequenos animais, boa, Universidade de Lisboa, Lisboa, 2016. 1. Disponível
mas são esperados os mesmos benefícios físicos e psicoló- em:<https://goo.gl/GEKunY>.Acesso em: 15 jan. 2017.
gicos de humanos, como alivio de contraturas e espasmos 18-SACCOMANI, L. G. Avaliação dos parâmetros cardiovasculares
antes e após a aplicação de massagem de relaxamento em jo-
musculares, aumento da flexibilidade, amplitude de movi-
vens sedentários saudáveis. Campinas. 2001,
mento articular e performance atlética, analgesia, redução do 19-SHARP, B. 2010. Physiotherapy and Rehabilitation. In: BSAVA
estresse e/ou ansiedade e melhora da qualidade de vida 9. Manual of Canine and feline Rehabilitation supportive and
Palliative Care. Edited by Watson, P. and Lindley, S. 90- 113.
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therapy after induced muscle atrophy/Aspectos clínicos e concen-
2-CASSAR, M. P. Manual de massagem terapêutica: um guia com-
pleto de massoterapia para o estudante e para o terapeuta. São tração sérica da creatina-quinase e lactato-desidrogenase em cães
Paulo: Manole, 2001. submetidos a fisioterapia após atrofia muscular induzida. Ciência
Rural, v. 41, n. 7, 2011, p. 1255+. Academic OneFile, Accessed 25
3-CLARK, B. ; McLAUGHLIN, R. M. Physical rehabilitation in small-
Jan. 2017.
animal orthopedic patients. Veterinary Medicine, Mississipi,
v.96, n.3, p.234-246, 2001. 22-SUTTON, A. ; WHITLOCK, D. Therapeutic exercise and manual
therapy: Massage. In: MILLIS, Darryl L.; LEVINE, David
4-CLAY, J. H. ; POUNDS, D. M. Massoterapia clínica. São Paulo :
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Manole, 2008
Therapy. 3. ed. [S.l.]: Elsevier, 2014. cap. 27, p. 464-483. v. 1.
5-COATES, J. C. (2013). Manual Therapy. In M. C. Zink, & J. B. Van
23-WOOD,E.,C; BECKER, P., D. Massagem de Beard. São Paulo,
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114). Ames, Iowa: Willey-Blackwell.
24-ZEITLIN, D. ; Keller, S. E. ; SHIFLETT S. C. et al. Immunological
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Monografia (Graduação em medicina veterinária)- Faculdade de
Med. 2000;62:83-84.
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7-FIEL, T. H. M. ; IRONSON, G. ; BEUTLER, J. ; VERA, Y. Natural
killer cells and lymphocytes increase in women with breast COMO CITAR ESSE CAPÍTULO
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CARAMICO, M. Massagem terapêutica. In: LOPES, R. S. ;
8-FIELD, T. M. Massage therapy effects. American Psychologist,
1998; 53:1270- 1281. DINIZ, R. Fisiatria em pequenos animais. 1. ed.
9-FORMENTOR M. R. ; PEREIRA, M. A. A. ; FANTONI, D. T. Small São Paulo: Editora Inteligente, 2018. p. 139-143.
Animal Massage Therapy: a brief review and relevant observations. ISBN: 978-85-85315-00-9.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 143


19
Alongamento

Miriam Caramico

A
longamento muscular é uma manobra terapêutica aumentos de comprimento mais permanentes (plásticos), a
para manter ou desenvolver a flexibilidade. O alon- força de alongamento precisa ser mantida por um tempo
gamento é uma das mais importantes categorias de mais longo 1. Um programa de alongamento realizado de
exercícios que podem ser prescritos para manter e restaurar três a cinco vezes por semana pode resultar em mensurá-
o equilíbrio normal em cada uma destas estruturas: o mús- veis aumentos da flexibilidade em pacientes com rigidez.
culo, a fáscia, o tendão e o ligamento 11. Após a flexibilidade melhorar, a frequência de alongamento
O alongamento pode ser utilizado para aumentar o com- pode ser reduzida. É necessário ter cautela em animais ido-
primento de tecidos moles que estejam encurtados, po- sos porque o colágeno torna-se menos visco elástico e
dendo ser definido também como técnica utilizada para menos “moldável” em um alongamento plástico 1.
aumentar a extensibilidade músculo-tendinosa e do tecido Os vários tecidos envolvidos, tais como músculo, liga-
conjuntivo periarticular, de tal modo contribuindo para au- mentos, tendões, cápsula articular, e pele, respondem ao
mentar a flexibilidade articular 11. alongamento de forma diferente. Em um estudo com ratos,
É indicado, portanto quando a amplitude de movimento pós desnervação do músculo gastrocnêmio, foi analisada a
está limitada, comprometendo o desempenho funcional 2. plasticidade em unidades do músculo e de tendão. O mús-
Técnicas de alongamento são, frequentemente, realizadas culo apresentou 95% de aumento total de comprimento da
em conjunto com exercícios de amplitude de movimento unidade com carga, enquanto o tendão contribuiu apenas
para melhorar a flexibilidade das articulações e a extensi- com 5% de aumento total 10.
bilidade dos tecidos periarticulares dos músculos e dos ten- São benefícios do alongamento, a diminuição direta da
dões 7. Suas modalidades são: alongamento estático, tensão muscular através das mudanças viscoelásticas pas-
alongamento mecânico prolongado (ou alongamento pas- sivas ou diminuição indireta devido à inibição reflexa e à
sivo), alongamento balístico e alongamento por facilitação consequente mudança na viscoelasticidade oriundas da re-
neuromuscular proprioceptiva dução de pontes cruzadas entre actina e miosina (Quadros
Técnicas de alongamento passivo (Vídeo 1) são mais 1 e 2).
comumente usadas em medicina veterinária porque há a in-
capacidade de comunicar verbalmente instruções ao pa-
ciente para relaxar seletivamente e recrutar vários grupos Quadro 1 – Resumo das indicações do alongamento
musculares 3. Benefícios do alongamento
Diminuição de dores e desconfortos musculares
Boa mobilidade muscular e articular
Melhora do alinhamento postural estático e dinâmico
Facilitação dos processos de aquecimento/desaquecimento
em atividades esportivas
Redução de encurtamentos do sistema muscular
Diminuição dos riscos de lesões músculo-articulares
Aumento do relaxamento muscular e melhora da circulação
sanguínea
Aumento da flexibilidade, resistência e força muscular
Melhora da coordenação motora

Vídeo 1 – Alongamento passivo -


https://youtu.be/lhJMunPFXQo
Quadro 2 – Objetivos do alongamento
Restaurar a amplitude de movimento normal na articulação
Os efeitos do alongamento podem ser divididos em
envolvida e a mobilidade das partes moles adjacentes a
curto ou longo prazo. Os de curto prazo ou imediatos são esta articulação
resultado da flexibilização do componente elástico da uni- Aumentar a flexibilidade geral antes de
dade músculo tendínea. Já os efeitos a longo prazo resultam exercícios vigorosos de fortalecimento
em remodelamento adaptativo da estrutura muscular, ex- Minimizar o risco de lesões músculo-tendíneas
plicado pelo acréscimo do número de sarcômeros em série, relacionadas a atividades físicas
o que implica em aumento do comprimento muscular 3. Prevenir o encurtamento ou tensionamento irreversíveis de
Estes efeitos podem permanecer por determinado período grupos musculares
após a interrupção dos exercícios 3. Para que ocorram Facilitar o relaxamento muscular

144 Fisiatria veterinária em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 19 – Alongamento

Aplicação clínica do alongamento (Quadro 3) Quadro 4 – Contraindicações do alongamento


A recomendação do alongamento era realizado, previa-
Integridade óssea ou vascular comprometida
mente aos exercícios mas, segundo um estudo publicado
Inflamação ou infecção nas estruturas envolvidas
pelo Journal of Applied Physiology, isso pode afetar a re-
Presença de dor aguda
sistência muscular e não diminui o risco de lesão 11. Esses
Presença de hematomas ou outras indicações de
alongamentos, devem ser realizados no final, pois quando
traumatismos teciduais
acabamos de fazer um exercício, o organismo libera ácido
Comprometimento ou falta de estabilidade ou
lático através dos músculos. A substância se cristaliza e cria integridade articular
fibras rígidas, por isso, convém frear a perda de elastici- Fratura recente
dade que se produz como consequência do treinamento, fa-
cilitando a recuperação da musculatura e favorecendo a
irrigação sanguínea. Devem ser movimentos suaves que • dor articular ou muscular com mais de 24 horas de dura-
respeitem os tempos marcados 11. ção, identificada após a aplicação da técnica (Quadro 4).

TIPOS DE ALONGAMENTO
Quadro 3 – Indicações clínicas do alongamento Alongamento estático
Quando a ADM está limitada como resultado de
A técnica de alongamento estático gera um estímulo ten-
contraturas, adesões ou tecido cicatricial, levando ao sivo no músculo, capaz de promover mudanças morfológi-
encurtamento de músculos, tecido conectivo e pele cas e mecânicas 2.
Quando existe fraqueza muscular e retração nos tecidos O alongamento estático envolve colocar a articulação
opostos. Os músculos retraídos devem ser alongados ou as articulações numa posição tal que os músculos e os
antes que os músculos fracos possam ser efetivamente tecidos conjuntivos são esticados enquanto são mantidos
fortalecidos numa posição estática. Para se realizar este movimento a
Quando as limitações da movimentação da articulação articulação deve ser estabilizada, e uma das mãos do fisia-
causam deformidades esqueléticas evitáveis que podem tra deve estar próxima à articulação no osso proximal e a
influenciar na simetria corporal e postura outra mão no osso distal. Pode-se aplicar uma suave tração
a fim de aumentar a movimentação da articulação sem cau-
sar desconforto 8. Como é realizado lentamente em um
Antes de alongar é recomendado algum exercício de músculo relaxado, o alongamento estático dificilmente
baixa intensidade, como caminhada e ou a aplicação de ativa o reflexo miotático 12.
calor (superficial ou profundo) ambos com a intenção de Neste caso, a sustentação da posição ativa as fibras intra-
aquecer os tecidos e aumentar sua extensibilidade, assim fusais, que ativam os motoneurônios das fibras extrafusais.
teremos um menor risco de lesão e menos força será apli- Assim, a contração mantida é do tipo isométrica, pois não
cada para gerar o alongamento 7. Recomenda-se também o há retorno imediato à posição inicial; a tensão sobre a mus-
uso de calor superficial ou ultrassom terapêutico, pois te- culatura e sobre o tecido conjuntivo circunjacente aumentam,
cidos aquecidos tem maior elasticidade e menor risco de sensibilizando o órgão tendinoso de Golgi, gerando relaxa-
injúria 7. mento muscular através do reflexo miotático inverso 12.
É recomendado um programa de tratamento com alon- Alongamentos devem ser mantidos por 15 a 30 segun-
gamento muscular diário com um tempo de manutenção dos, seguidos de “descanso” de 15 segundos (Figura 1). Há
variando entre 15 e 60 segundos, com uma a cinco séries provavelmente pouca vantagem para alongamento por pe-
diárias, durante 4 ou 5 semanas 9. ríodos mais longos em pacientes saudáveis. Uma vantagem
O paciente deve estar em uma posição confortável, a
qual normalmente é o decúbito lateral e deve estar em uma
superfície acolchoada. É importante que o paciente esteja
o mais relaxado possível, em alguns casos o uso de tran-
quilizantes pode ser benéfico 7.
Algumas precauções do alongamento 12:
• as articulações não devem ser forçadas além da amplitude
normal de movimento;
• estabilizar fraturas recém-consolidadas;
• evitar alongamentos vigorosos após uma imobilização
prolongada, devido à perda de tensão sofrida pelos tendões
e ligamentos, podendo resultar em ruptura dos ligamentos
já fragilizados;
• atenção para possível presença de dor acentuada durante
a realização do alongamento; Figura 1 – Alongamento estático em quadríceps femoral

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 145


Capítulo 19 – Alongamento

desta forma de alongamento é que menos força será apli- esticar os músculos e tecidos conectivos.
cada, reduzindo a possibilidade de lesões iatrogênicas para Este é um alongamento de alta intensidade e curta du-
os tecidos 7. ração. O esforço contrai os músculos antagonistas dos teci-
Ao executar esta forma de alongamento é importante ter dos que são alongados e a tensão muscular é duas vezes
o paciente tão relaxado quanto possível para permitir o maior que a analisada em um alongamento prolongado de
alongamento máximo do músculo e tecidos com uma mí- baixa intensidade. Embora se obtenha bons resultados tem
nima resistência possível. É importante para apoiar adequa- que haver uma precaução com pacientes no início do pe-
damente o membro e executar o alongamento com as ríodo pós-operatório pois há um risco de lesão tecidual. Em
articulações no alinhamento adequado para reduzir qual- geral, um período de aquecimento e de alongamento está-
quer estresse anormal sobre as articulações. Após, o pe- tico deve preceder o balístico 7.
ríodo de alongamento, os tecidos retornam a uma posição O animal deve estar confortável e o membro a ser tra-
neutra e, em seguida, o alongamento é repetido em até 20 tado deve estar estabilizado. As articulações são posicio-
repetições em uma sessão 7. nadas até que um alongamento suave dos tecidos alvo
ocorre, e, em seguida, o fisiatra aplica um suave “balanço
Alongamento mecânico prolongado “nos tecidos. Cuidado sempre em fazer movimentos suaves
(ou alongamento plástico) a fim de evitar lesões e dor. É um tipo de alongamento re-
O alongamento mecânico prolongado é bem similar ao comendado para animais sadios, atletas 2.
alongamento estático por também ter uma baixa tensão
aplicada, mas difere desta por ser mais prolongada, de no
mínimo 20 minutos a algumas horas. É eficaz no aumento
da amplitude de movimento em muitos pacientes 7. Em ani-
mais uma maneira efetiva de manter o alongamento por
mais tempo é fazer o uso de talas.
Acredita-se que quando os músculos são mantidos
numa posição alongada durante várias semanas são adicio-
nados sarcômeros e acaba havendo uma deformação plás-
tica do tecido e o ganho de comprimento 7.
Sua aplicação mais utilizada normalmente é em casos
após longos períodos de imobilização de membros 7. Por
exemplo, articulações mais prejudicadas com a imobiliza-
ção de um membro são os dígitos, o carpo e o tarso que
podem desenvolver uma contratura por ficarem longos pe-
ríodos imobilizados flexionadas. Normalmente após uma Figura 2 – Alongamento balístico de membros anteriores
imobilização para reduzir uma fratura de rádio e ulna ou com auxílio de bola
tíbia e fíbula (ou imobilização pós cirúrgica). Após quatro
semanas do uso das talas de imobilização as articulações
ficam contraturadas em uma posição de flexão, Com a re- Pode ser realizada também com auxílio de uma bola ou
tirada dos aparatos e a colocação desta articulação em uma rolo, onde apoiamos o paciente e fazemos o alongamento
posição de caminhada normal há um certo desconforto do- de seus membros ou coluna (Figura 2)
loroso no posicionamento de realização na extensão, então
é utilizada a técnica do alongamento mecânico prolongado, Facilitação neuromuscular proprioceptiva
através de a colocação de um molde que pode ser confec- A facilitação neuromuscular proprioceptiva é a técnica
cionado em fibra de vidro, PVC (desde que confeccionado mais complexa, que ativa o estiramento neuromuscular utili-
nos moldes extensão do membro contra lateral) mantendo zando uma sequência de contração e relaxamento, realizando
a articulação estendida por algumas horas, para diminuir a a contração do músculo agonista ou ambos conjuntamente.
contratura o que é bastante doloroso para nosso paciente. A facilitação neuromuscular proprioceptiva requer que
É recomendado que este molde permaneça no paciente e o paciente contraia um grupo muscular, ativa e consciente-
seja removido de três a quatro vezes ao dia somente para a mente; porém, como não é possível a comunicação verbal
realização de alongamento estático e exercícios de movi- entre o veterinário e seus pacientes para promover a con-
mentação articular. Normalmente faz-se este alongamento tração muscular, outras técnicas devem ser utilizadas, como
mecânico prolongado (plástico) de 5 a 10 dias para estes a eletroestimulação 7.
tipos de articulação 7.
Conclusões
Alongamento balístico (ou alongamento dinâmico) O alongamento é uma parte básica de um programa
O alongamento balístico difere do alongamento estático, completo de reabilitação física. Os objetivos do alongamen-
uma vez que uma série de movimentos são usados para to devem ser: alongar os músculos, melhorar a amplitude

146 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 19 – Alongamento

de movimento articular, aumentar a mobilidade dos tecidos


e melhorar o uso funcional das articulações e membros afe-
tados 7.
O fisiatra deve ser paciente e ser satisfeito com ganhos
pequenos e melhoria lenta. Temos sempre que lembrar em
preparar o músculo a ser tratado (aquecer, massagear), e
realizar os movimentos de forma a não estressar a muscu-
latura, se o alongamento for realizado sem os devidos cui-
dados, pode retardar a melhora e, na verdade, reduzir a
amplitude do movimento e piorar a contratura dos tecidos
moles 7.

Referências
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logia. 2. ed. São Paulo: Manole, 2006.
2-CASA, M. da S. et al. Efeito da fisioterapia e acupuntura na reabilita-
ção funcional em um cão com sequela do vírus da cinomose.
Anais... 37ª Anclivepa p. 1029-1023. 2016.
3-HALL,C. M. ; BRODY, L. T. Exercícios terapêuticos na busca da
função. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007.
4-KISNER C, COLBY, L. A. Exercícios Terapêuticos - Fundamentos
e Técnicas. 4. ed. São Paulo: Manole, 2005. 841 p. ISBN:
8520415741.
5-LARSEN R, L. H. ; CHRISTENSEN, R. ; ROGIND, H.
DANNESKIOLDSAMSOE, B. ; BLIDDAL, H. Effect of static
stretching of quadríceps and hamstring muscles on knee joint
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p. 43-46, 2005.
6-MILLIS D. L. ; LEWELLING, A. ; HAMILTON, S. H. Range-of-
Motion and Stretching Exercises. In: MILLIS, D. L. ; LEVINE,
D. ; TAYLOR, R. Canine Rehabilitation & Physical Therapy.
1. ed. Saunders, 2004. Chapter 13. ISBN: 9780721695556.
7-MILLIS D. L et al: A preliminary study of early physical therapy
following surgery for cranial cruciate ligament surgery in dogs.
Veterinary Surgery, v. 26, n. 434, p. 19.
8-POLIZELLO, J. C. ; CARVALHO, L. C. ; FREITAS, F. C. ;
PADULA, N. ; SHIMANO, A. C. ; MATTIELO-SVERZUT,
A. C. Propriedades mecânicas do músculo gastrocnêmio de ratas
imobilizadas e posteriormente submetidas a diferentes protocolos
de alongamentos. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v.
15, n. 3, 2009. DOI: 10.1590/S1517-86922009000300006.
9-RIVIÈRE, S. Physiotherapy for cats and dogs applied to locomotor
disorders of arthritic origin. Veterinary Focus, v. 17, n. 3, 2007.
10-SHRIER I, G. K. Myths and Truths of Stretching. The Physician
Sportsmedicine, v. 28, n. 8, p. 35-46, 2000. DOI:
10.3810/psm.2000.08.1159.

COMO CITAR ESSE CAPÍTULO


CARAMICO, M. Alongamento. In: LOPES, R. S. ; DINIZ,
R. Fisiatria em pequenos animais. 1. ed. São Paulo :
Editora Inteligente, 2018. p. 144-147. ISBN: 978-85-
85315-00-9.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 147


20
Exercícios terapêuticos

Monica Sartori
Marina Martins Gedrait Samuel

A
s modalidades terapêuticas, quando usadas adequa-
damente, podem ser instrumentos extremamente
úteis na reabilitação 10,11.
Pesquisas realizadas em seres humanos de 1980 até a
presente data mostram evidências de que o exercício não
apenas previne doenças como também pode reverter mui-
tos processos patológicos 13.
Na área de reabilitação animal deve-se conhecer o qua-
dro clínico, o tratamento clínico e o tratamento cirúrgico
para que se possa desenvolver um plano de tratamento de
reabilitação, visando minimizar as complicações e reduzir
o tempo de recuperação do paciente 12,14.
Programas de exercícios terapêuticos possuem cinco
variáveis: frequência, intensidade, duração, impacto e meio
ambiente 9,11.
Os equipamentos são vários, por exemplo, bolas terapêu-
ticas, túneis, discos de equilíbrio, esteiras, entre outros 9,12.
Cada tratamento é individualizado, possui meta, técnica
e progressão 9,12,14.

EXERCÍCIOS ASSISTIDOS
Utilizados em animais com injúrias severas, animais
não aptos a permanecerem em estação, animais que não su-
portam o próprio peso, paresias, paraplegias, tetraparesias,
tetraplegias e déficits proprioceptivos 11.
Os objetivos dos exercícios assistidos são a reeducação
muscular, retorno da função neuromuscular, suporte pos-
tural e melhora proprioceptiva 5.

Estação assistida Figura 1 – Cão assistido por suporte peitoral


Tem como objetivo manter o animal em estação. Poderá
ser realizada por uma pessoa que consiga manter o animal
em estação com postura correta (animais pequenos), utili- bulação ou paréticos. O paciente ficará em posição quadru-
zar suportes (Figura 1), bolas terapêuticas, “cadeira de pedal, em estação sobre a bola 11,15.
rodas” e toalhas sob o animal – alguns autores não indicam, A bola terapêutica tem de ser compatível com o tama-
visto que nem sempre o mesmo está em uma postura ade- nho do animal, que deve estar confortável sobre a mesma.
quada 3,11,15. O animal deverá estar com os membros torácicos e pélvicos
Os benefícios envolvem melhora da estabilidade, fa- estabilizados 11,13.
cilitação da consciência corporal e trabalho propriocepti- O terapeuta poderá realizar exercícios movimentando o
vo 5,11. animal crânio-caudal e latero-lateral, promovendo o estí-
Um consenso de autores indica que o tratamento deve mulo proprioceptivo e estimulando a contração muscular
ser realizado duas a três vezes ao dia, de cinco a dez repe- dos membros 9,11.
tições, com períodos de descanso entre as repetições, res- Os mesmos exercícios podem ser realizados com o au-
peitando o limite do animal inicialmente e gradualmente xílio de uma “cadeira de rodas” feita exclusivamente para
aumentar o tempo 1,2,12. o animal a ser tratado. É um recurso individualizado e o
equipamento deve ser fabricado por pessoas aptas a seu fei-
Estação assistida ativa tio, seguindo regras biomecânicas 9,15.
É quando o paciente já apresenta melhora na função Outros exercícios para animais sem deambulação in-
neuromuscular e a assistência máxima já não é necessária, cluem: movimentos passivos de “bicicleta”, realizados no
a assistência é parcial 11. animal em decúbito ou em estação e exercícios de estimu-
Bolas terapêuticas são usadas para pacientes sem deam- lação do reflexo flexor 1 (Figura 2).

148 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 20 – Exercícios terapêuticos

EXERCÍCIOS TERAPÊUTICOS – ANIMAIS QUE


DEAMBULAM

Caminhada lenta
Um dos exercícios mais importantes para pacientes uti-
lizado na reabilitação em recuperação pós-cirúrgica ou de-
bilitados por doenças crônicas. A velocidade deve ser
adaptada às necessidades e limitações de cada animal
(Figura 3). Este deve ser encorajado, utilizando petiscos
ou com ajuda do próprio condutor 9,12.
Pode ser utilizada na fase inicial de um tratamento,
quando o animal já deambula mesmo que com auxílio de
um suporte. Sua indicação é estimular a descarga de peso,
para isso deve ser iniciado lentamente, após uma cirurgia e
para a padronização da marcha (exemplo: em paresias) 8,11.
A caminhada deve ser inicialmente breve, dois a cinco
minutos de duas a três vezes ao dia, aumentando gradual-
mente um a três minutos por sessão 1,11.
O terapeuta deve permanecer ao lado do paciente, para
evitar possíveis lesões. O processo de aprendizado é gra-
dativo 1,11.
O recurso é muito bem aceito para animais com displa-
sia coxofemoral e dores na articulação fêmur-tíbio-patelar,
patologias em que apresentam dor quando o membro é ex-
tendido. A cinta da esteira leva o membro caudalmente sem
que para isso o animal necessite recrutar totalmente a con-
tração ativa dos músculos do glúteo e do quadríceps, como
é requerido no solo. A velocidade poderá ser aumentada
assim que o paciente ganhar força 3,11.
Em uma fase mais avançada pode ser feito uso de bandas
Figura 2 – Exercício de reflexo flexor em cão elásticas para fortalecimento muscular 11.

Figura 3 - Canino em caminhada lenta na esteira seca

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 149


Capítulo 20 – Exercícios terapêuticos

Caminhar para trás umerais, úmero-rádio-ulnares, e tíbio-társicas. Também


Fortalece ísquio-tibiais, glúteos e tríceps 3. pode ser usado para promover desafios proprioceptivos,
coordenação motora e equilíbrio em animais que estão re-
Rampas tornando a funções neurológicas normais, pós injúria 1,6,9,12.
Alteram os movimentos das articulações e auxiliam no As traves devem ser colocadas inicialmente na altura da
fortalecimento do quadril e na maioria dos músculos, es- articulação rádio-cárpica, e a distância entre os cavaletes é
pecialmente os extensores 9,11. medida de acordo com o tamanho do animal, em extensão
crânio-caudal, do “ombro" ao “quadril”. Podem ser coloca-
Subir escada das em diferentes alturas ou posições fazendo com que o
Auxilia a melhora da amplitude de movimento, coorde- animal enfrente várias situações. Pode ser iniciado com três
nação e propriocepção. É uma atividade que pode ser rea- a cinco vezes, progredindo até dez vezes (Figura 7) 1,6,9,12.
lizada pelo proprietário, como exercício domiciliar. Rastejar sob os cavaletes resulta no fortalecimento dos
Inicialmente cinco a sete degraus, aumentando dois a qua- membros torácicos, coluna e musculatura da região pél-
tro degraus. Pode ser feito de uma a três vezes ao dia 1,9,11. vica 1,6,9,12.
O equipamento pode ser fabricado ou comprado em
Dança mercados especializados 1,6,9,12.
Os membros pélvicos do animal são apoiados sobre o
solo e são feitos movimentos “para frente” e “para trás”. Exercícios com cones, em oito, ou em círculos
O objetivo desse exercício é a melhora da força, proprio- Auxiliam na flexão lateral da coluna, fortalecimento da
cepção e coordenação dos membros pélvicos. O pico de musculatura abdutora e adutora, equilíbrio e propriocepção
força sobre os membros é ligeiramente maior comparado (Figura 8) 6,9,12.
ao animal ao trote (Figura 4) 1,12. Inicia-se com uma distância maior entre os cones e con-
forme a progressão e o aumento da propriocepção a distân-
Carrinho de mão cia pode ser diminuída. O exercício em círculo pode ser
Auxilia e encoraja o animal a colocar os membros torá- acrescentado como uma técnica diagnóstica para visualizar
cicos no solo, proporcionando melhora da força, proprio- lesões em tecidos moles, analisando a flexibilidade do mo-
cepção e coordenação 1,12. vimento do animal 6,9,12.
O pico de força nos membros terá valores entre a cami-
nhada e o trote. Pode ser feito com auxílio de uma pessoa Discos ou tábuas de equilíbrio
ou utilizando uma bola terapêutica (Figura 5) 1,12. São superfícies baixas, instáveis e possuem vários forma-
tos e tamanhos. O paciente é colocado sobre o disco ou
Sentar e levantar tábua com um ou mais membros. Usado para melhora do
Tem por objetivo principal o fortalecimento das muscu- equilíbrio e fortalecimento da musculatura estabilizadora
laturas: ísquio-tibiais, do glúteo, gastrocnêmio e quadrí- (Figura 9). Indicado também para tratamento de alterações
ceps. Inicia-se com cinco a dez repetições, aumentando do sistema nervoso periférico, como por exemplo, polineu-
gradualmente (Figura 6) 1,8,12,14. ropatias 1,12,15.

Cavaletes Bolas terapêuticas


Caminhar sobre os cavaletes resulta em aumento da Os exercícios de fortalecimento com as bolas terapêuticas
flexão e amplitude de movimento das articulações escápulo- melhoram a dor, as incapacidades funcionais, a mobilidade
Arquivo pessoal

Figura 4 – Exercício de dança Figura 5 – Carrinho-de-mão em cão Figura 6 – Exercício de senta-levanta


em cão realizado repetidamente em cão

150 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 20 – Exercícios terapêuticos

Figura 7 – Pista de cavaletes

Figura 8 – À esquerda, animal fazendo exercício em círculos. À direita, pista com cones para realização de exercício

pélvicos apoiados no solo e membros torácicos sobre a bola


e vice-e-versa. Vários movimentos podem ser realizados:
para frente e para trás, lado a lado e fazendo movimentos
circulatórios, que podem ser aumentados conforme a me-
lhora da performance do paciente 9,12,14.
Outro modo seria colocar o paciente com os membros
torácicos apoiados sobre a bola, e o fisiatra, com suas
mãos, movimenta os membros pélvicos lateralmente e al-
ternadamente, direita e esquerda. Esse exercício promove
força muscular nos oblíquos abdominais e musculatura
adutora e abdutora dos membros pélvicos. O paciente tam-
bém pode ser colocado com os quatro membros sobre a
bola, com o fisiatra mantendo a bola em posição estática,
movendo lado a lado, frente e atrás, exercício importante
para promover mudanças na musculatura do “core” – bí-
Figura 9 – Animal equilibrando em discos ceps femoral, transverso abdominal, multifídeos, oblíquos,
ileopsoas, glúteo e reto abdominal. Esta mesma muscula-
tura pode ser trabalhada mantendo animal em dois mem-
e a força de extensão do tronco. Permitem trabalhar uma bros (Figura 11) 9,12,14.
grande variedade de movimentos e posturas, ativando di- Quando o paciente é colocado com os quatros membros
ferentes padrões de fortalecimento muscular 6,9. sobre a bola e fazendo pequenas pressões sobre o corpo
Existem vários tamanhos e formas de bola (“donut”, do animal, trabalhamos a musculatura extensora. (Figura
“amendoim”, “ovo”). Independentemente da forma da 10) 1,12.
bola, qualquer exercício realizado deve ser iniciado com
ela mais vazia, criando assim uma maior área de contato Cama elástica, colchões de ar e almofadas macias
com o solo para maior estabilidade. É importante a adap- São superfícies instáveis, na qual o paciente será colo-
tação do animal com o material a ser usado 9,12. cado lentamente com os quatro membros, na tentativa que
Podem-se citar os exercícios: animal com os membros ele encontre seu próprio equilíbrio e a partir disso passe a

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 151


Capítulo 20 – Exercícios terapêuticos

Figura 10 – Diferentes modos de se trabalhar com um animal numa bola terapêutica. À esquerda, animal com os membros
pélvicos apoiados no solo e membros torácicos sobre a bola. À direita, animal com os quatro membros sobre a bola

Figura 11 – Musculatura de “core” sendo trabalhada em cão

152 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 20 – Exercícios terapêuticos

Figura 13 – Uso de peso em animal em membro pélvico

grupos musculares. São usadas enquanto o animal caminha


no solo ou na esteira, e com o animal nadando ou cami-
nhando na hidroesteira 1,12.
Figura 12 – Animal “dando a pata”. Exercício realizado
para trabalhar musculatura de membro torácico Exercícios de velocidade
Seu objetivo é que o animal retorne a funcionalidade
completa se possível. Não é necessário que seja um cão
caminhar sobre está superfície. Promove melhora de equi- atleta, os exercícios de velocidade auxiliam o animal a vol-
líbrio e propriocepção 8,11. tar a brincar e correr 1,9,12.
É imprescindível que os tecidos e a musculatura este-
“Cumprimentar” jam saudáveis e condicionados, para prevenir possíveis in-
Alguns animais são treinados a “dar a pata” (Figura 12), júrias 1,9,12.
com esse exercício, cotovelo bem flexionado, considera- O treinamento na esteira é o melhor método para au-
mos fortalecer a musculatura extensora da articulação es- mentar a velocidade. O número de ciclos de treinamento
cápulo-umeral. Exercício usado em doenças como lesão é gradualmente aumentado para adicionar condiciona-
parcial do plexo braquial ou hérnias intervertebrais 8,9,12. mento 1,9,12.
Inicialmente, três a cinco repetições são adequadas. Um exercício efetivo e divertido é arremessar a bola
Pesos leves acima da articulação do carpo podem ser colo- para o animal. Pode ser realizado pelo terapeuta e pelo pro-
cados 1. prietário. Novamente o grau de atividade depende das con-
dições dos tecidos, da musculatura e seus estágios de
Pesos e bandas elásticas cicatrização. Inicia-se com arremessos bem curtos e rastei-
Os pesos e as bandas elásticas são usados durante os ros para evitar atividade de explosão, no estágio inicial do
exercícios para aumentar a força muscular. Podem ser usa- período pós-operatório 1,9,12.
dos em grupos musculares específicos 1,12. Com o progresso do paciente já pode iniciar a brinca-
Pesos normalmente são usados em animais com lesões deira com a bola em ambientes abertos, com o animal tro-
musculoesqueléticas, injúrias de tecidos, pós cirurgias e em tando. Já próximo a retornar a sua função normal, a
condições neurológicas 1,12. brincadeira pode ser realizada em pisos diferentes (grama,
O uso do peso deve ser apropriado para o tamanho do areia, etc.). O objetivo desse exercício é aumentar a força
animal, geralmente 0,25% a 3% do peso corpóreo. Será co- e a velocidade 1,9,12.
locado próximo ao segmento afetado, causando menos es- Importante: arremessar a bola rente ao solo para não en-
tresse e em estágio mais avançado de recuperação 1,12. corajar o animal a pular 1,9,12.
Devem-se tomar precauções com lesões ao colocar
pesos; coloca-se gradativamente permitindo um período de EXERCÍCIOS TERAPÊUTICOS EM FELINOS
adaptação 1,12. Os exercícios em felinos são semelhantes aos caninos,
Pesos são mais efetivos no fortalecimento da muscula- mas a abordagem é diferente devido ao temperamento dos
tura flexora devido à resistência (Figura 13) 1,12. gatos 6,11.
As bandas elásticas são usadas com o intuito de forta- Felinos são impacientes, se aborrecem facilmente e não
lecer a musculatura. Possuem vários graus de resistência, são habituados a serem manipulados e comandados por hu-
dependendo do fabricante (Figura 14) 1,12. manos como um cão. Diante disso, as sessões devem ser mais
Podem ser utilizadas de várias maneiras e em todos os curtas e com variabilidade grande de exercícios adaptados

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 153


Capítulo 20 – Exercícios terapêuticos

Figura 14 – Exemplo de uso de banda elástica para musculatura glútea

a eles. O comportamento felino é a brincadeira e a caça, Exercícios de deslocamento de peso são excelentes,
portanto, pode-se lançar mão desses recursos para promo- além da propriocepção, para o equilíbrio e para facilitar
ver os exercícios 6,11. apoio dos membros 6,11.
Nos exercícios leva-se em consideração a expectativa Exercícios passivos podem ser realizados para manter
de progresso, a patologia e a biomecânica felina 6,11. e melhorar a amplitude de movimento, a flexibilidade da
Exercícios de propriocepção são similares aos realiza- musculatura, tendões e ligamentos, melhorar a consciência
dos em cães, incluem atividades de deslocamento de peso, das estruturas neuromusculares e suas funções. Usualmente
terapia com bola terapêutica, tábua de equilíbrio, entre ou- são feitas dez a trinta repetições, duas a três vezes ao dia,
tros 6,11. em decúbito lateral ou em estação, como movimentos de
O fisiatra deve observar sinais de agitação, prevenindo “bicicleta” 6,11.
uma experiência ruim durante a reabilitação 6,11. Exercícios ativos são muito importantes, os exercícios
Por exemplo: tábua de equilíbrio podemos iniciar com realizados com cavaletes podem ser feitos com as traves
um tempo de trinta segundos e gradualmente estender a em altura baixa. Para estimular o animal usam-se, muitas
sessão em um a dois minutos 6,11. vezes, os “lasers points”, ratinhos de brinquedo com catnip

154 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 20 – Exercícios terapêuticos

ou pode ser colocado uma caixa de transporte aberta no Rehabilitation. In: International Symposium on Veterinary
final do circuito, felinos tendem a ir em direção a elas 6,11. Rehabilitation/ Physical Therapy and Sports Medicine, 9,
2016. Sweden. Proceedings… Uppsala, Helsinki University Ve-
Exercícios com bolas terapêuticas, com apoio em terinary Teaching Hospital, 2016, p. 59-61.
dois ou quatro membros podem ser feitos por alguns se- 5-BOSTRÖM, A. Small animal neurology - from a physiotherapy
gundos 6,11. perspective. In: International Symposium on Veterinary
Exercícios de dança feitos para trás ou para frente de- Rehabilitation/ Physical Therapy and Sports Medicine, 9,
pendendo da musculatura ou articulação afetada 6,11. 2016. Sweden. Proceedings… Uppsala, Helsinki University Ve-
terinary Teaching Hospital, 2016, p. 48-49.
O uso do “laser point” projetado em paredes serve para
6-DRUM, M. G. ; MARCELLIN-LITTLE, D. J. ; DAVIS, M. S.
que o animal utilize membros torácicos e membros pélvi-
Principles and Applications of Therapeutic Exercises for Small
cos assim como alongar a coluna é bem utilizado 6,11. Animals. Veterinary Clinics: Small Animal Practice, v. 45, n. 1,
Na reabilitação em felinos é levado em consideração p. 73-90, 2015. DOI: 10.1016/j.cvsm.2014.09.005.
que os exercícios sejam realizados com menor duração de 7-DRUM, M. G. ; BOCKSTAHLER, B. ; MARCELLIN-LITTLE, D.
tempo 6,11. J. Feline rehabilitation. Veterinary Clinics: Small Animal
Practice, v. 45, n. 1, p. 185-201, 2015. DOI:
10.1016/j.cvsm.2014.09.010
Subir escada
8-HENDERSON, A. L. ; LATIMER, C. ; MILLIS, D. Rehabilitation and
Auxilia a melhora da amplitude de movimento, coorde- Physical therapy for selected orthopedic conditions in veterinary
nação e propriocepção. É uma atividade que pode ser rea- patients. Veterinary Clinics: Small Animal Practice, v. 45, n. 1,
lizada pelo proprietário, como exercício domiciliar. p. 91-121, 2015. DOI: 10.1016/j.cvsm.2014.09.006.
Inicialmente cinco a sete degraus, aumentando dois a qua- 9-MCCAULEY, L. ; DYKE, J. B. V. Therapeutic exercise. In:
tro degraus. Pode ser feito de uma a três vezes ao dia 1,9,11. ZINK, M. C. ; DYKE, J. B. V. Canine Sports Medicine and
Rehabilitation. 1. ed. Oxford : Wiley Blackwell, 2013. p. 132-
156. ISBN: 978-0-813-81216-8.
CONSIDERAÇÕES
10-McCAULEY, L. ; DYKE, J. B. V. Therapeutic exercise. In: McGO-
Existem as seguintes variáveis: tipo e severidade da pa- WAN C. ; GOFF, L. ; STUBBS, N. Animal Physiotherapy:
tologia; cirurgia bem-sucedida; número de membros e ar- Assessment, Treatment and Rehabilitation of Animals. 1. ed.
ticulações afetadas; condições pré-existentes do paciente; Oxford : Wiley Blackwell, 2007. p. 146-150. ISBN:
tamanho e peso do animal; experiência do fisiatra; quem 9781405131957.
realizou os exercícios 9,11. 11-MILLIS, D. L. ; DRUM, M. ; LEVINE, D. Therapeutic exercises:
early limb use. In: MILLIS, D. L. ; LEVINE, D. Canine
A partir disso desenvolver um protocolo. Se houver dor
rehabilitation and Physical Therapy. 2. ed. Philadelphia: Else-
e claudicação após exercício reduzir em 50% a atividade vier, 2014. p. 495-502. ISBN: 9781455775781.
por três a sete dias. Controlar o peso do animal. Uso de me- 12-MILLIS, L. D. ; DRUM, M. ; LEVINE, D. Therapeutic Exercises:
dicação se necessário 9,11. Joint Motion, Strengthening, Endurance and Speed Exercises. In:
MILLIS, D. L. ; LEVINE, D. Canine rehabilitation and Physical
CONCLUSÃO Therapy. 2. ed. Philadelphia: Elsevier, 2014. p. 506-534. ISBN:
9781455775781.
O exercício terapêutico é uma das modalidades mais
13-ROBERGS, R. A. ; ROBERTS, S. O. Introdução a fisiologia. In: RO-
importantes na reabilitação animal. Podem ser realizados BERGS, R. A. ; ROBERTS, S. O. Princípios Fundamentais de
concomitantemente com outras modalidades e técnicas fi- Fisiologia do Exercício para Aptidão, Desempenho e Saúde. 1.
sioterápicas. ed. São Paulo: Phorte, 2002. p. 7. ISBN: 8586702536.
O exercício terapêutico aumenta a amplitude de movi- 14-SHAW, K. K. Therapeutic exercise. In: International Symposium
mento, a força muscular, o condicionamento e a velocidade. on Veterinary Rehabilitation/ Physical Therapy and Sports
Medicine, 8, 2014. United States of America. Proceedings…
Corvallis: Oregon State University, 2014, p. 87-88.
Referências
15-SIMS, C. ; LALDRON, R. ; LITTLE, M. D. J. Rehabilitation and
1-BOCKSTAHLER, B. ; LEVINE, D. ; MILLIS, D. ; MLACNIK, E. Physical Therapy for Neurologic Veterinary Patient. Veterinary
Therapeutic exercises. In: BOCKSTAHLER, B. ; LEVINE, D. ; Clinics: Small Animal Practice, v. 45, n. 1, p. 123-143, 2015.
MILLIS, D. Essential facts of physiotherapy in dogs and cats: DOI: 10.1016/j.cvsm.2014.09.007.
Rehabilitation and Pain Management. Babenhousen. Vet Verlag,
p. 60-69, 2004. ISBN: 3938274093.
2-BOCKSTAHLER, B. ; LEVINE, D. ; MILLIS, D. ; MLACNIK, E. COMO CITAR ESSE CAPÍTULO
What are the objectives of physical therapy. In: BOCKSTAHLER, SARTORI, M. ; SAMUEL, M. M. G. Exercícios terapêu-
B. ; LEVINE, D. ; MILLIS, D. Essential facts of physiotherapy in ticos. In: LOPES, R. S. ; DINIZ, R. Fisiatria em
dogs and cats: Rehabilitation and Pain Management. Babenhousen:
Vet Verlag, p. 121, 2004.
pequenos animais. 1. ed. São Paulo : Editora Inteli-
3-BOCKSTAHLER, B. Muscles and Their Role in Canine Cruciate
gente, 2018. p. 148-155. ISBN: 978-85-85315-00-9.
Ligament Disease – any implications for rehabilitation? In:
International Symposium on Veterinary Rehabilitation/
Physical Therapy and Sports Medicine, 9, 2016. Sweden.
Proceedings… Vienna, University of Veterinary Medicine, 2016,
p. 73.
4-BOSTRÖM, A. Peripheral Nervous System Disorders and Their

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 155


21
Hidroterapia

Renata Diniz

N
este capítulo consideramos hidroterapia todo tipo densidade maior que 1,0. Como a densidade do tecido adi-
de terapia realizada através da água. A mesma con- poso é 0,8 e dos tecidos magros como músculo e osso está
siste em utilizar as propriedades da água para fi- entre 1,2-1,5, um animal com baixo teor de gordura na água
nalidades terapêuticas. Estas propriedades são utilizadas de vai afundar mais rápido do que um animal com maior teor
maneira direta ou indireta, tanto por meio dos efeitos hi- de gordura.
drodinâmicos, hidrostáticos ou térmicos, permitindo que
muitos animais realizem exercícios que normalmente não Empuxo ou flotação
conseguem ou possuem dificuldade de realizar em terra. Um corpo em água é submetido a duas forças: a da gra-
Neste capítulo será abordado a fisioterapia aquática com vidade e do empuxo. O princípio de Arquimedes estabelece
piscinas hidoesteiras, duchas, banhos de imersão e turbi- que um corpo submerso experimenta uma força vertical
lhonamento. As terapias realizadas com compressas/bolsas para cima, cuja intensidade é igual ao peso do fluido deslo-
de água fria ou quente serão discutidas no apartado de crio- cado pelo corpo. Assim sendo, existe uma força ascendente
terapia e termoterapia, respectivamente. contrária a da gravidade. Um cão com o nível de água na
A hidroterapia é uma importante parte da reabilitação fí- altura do maléolo lateral apresenta um peso aparente de 91%
sica em pequenos animais, especialmente em cães. Pode ser de seu peso corporal, no nível do epicôndilo lateral o peso
utilizada sozinha ou em combinação com outras modalida- aparente é 85% e no nível do trocânter maior (Figura 1) esse
des. Também fornece um apoio adicional em programas de peso se reduz a 38% do peso corporal 6. Essa propriedade
condicionamento físico para animais obesos ou esportistas. permite o animal realizar exercícios com um reduzido peso
aparente, o que diminui o impacto articular.
História
A água é um elemento indispensável para a vida. A uti- Torque
lização da água como finalidades terapêuticas é bastante Também pode ser chamado de momento de força, no
antiga e data de antes de Cristo. Pitágoras (535 aC) reco- ambiente aquático corresponde a interação entre a força de
mendava o uso de banhos frios e dieta naturista como empuxe e a gravitacional. O centro gravitacional de um ani-
ordem filosófica religiosa. Hipócrates (430-377 aC) escre- mal está localizado no centro do tórax. O centro de flutua-
veu um tratado sobre a hidroterapia, muitos dos seus pro- ção do animal (empuxo) está mais caudal, isso implica que
cedimentos hidroterápicos como vapores, compressas se um animal se solta e deixa seu corpo livre em água, se o
úmidas com água doce ou salgada, ainda estão em uso nos mesmo não oferecer resistência, pode gerar uma rotação do
tempos atuais 4. corpo até as duas forças ficarem ajustadas 2.
No Brasil, a hidroterapia surgiu como prática da nobreza,
com a transferência da corte portuguesa para o Brasil (1808- Pressão hidrostática
1821). Segundo Quintela (2004) 7 foi durante o século XIX Segundo a Lei de Pascal, a pressão do líquido é exercida
que nasceram e se desenvolveram as práticas termais em es- igualmente sobre todas as áreas da superfície de um corpo
paços institucionalizados pela medicina brasileira. Dos ba- submerso, considerando uma determinada profundidade e
nhos termais, até chegar aos nosso dias atuais, a hidroterapia densidade da água. A pressão de um líquido aumenta com
se tornou uma importante ferramenta no tratamento fisiote- a profundidade, a partir de 1 metro de profundidade a pres-
rapêutico humano. Muitos dos seus benefícios e técnicas são hidrostática estimula circulação e ajuda a reduzir edema
foram extrapoladas da fisioterapia humana para a veteriná- circulatório. Por exemplo, a 122 cm de profundidade um
ria, e com o desenvolvimento da fisiatria veterinária nos úl- corpo está sujeito a 88,9 mmHg de pressão, valor leve-
timos anos, essas técnicas foram melhor adaptadas a mente maior que a pressão diastólica, por isso auxilia o re-
anatomia, fisiologia e patologia dos animais. torno venoso 3.
A pressão da água no corpo também afeta os receptores
Propriedades físicas da água. sensoriais da pele, contribuindo para diminuir a sensibili-
Densidade relativa dade nocioceptiva, facilitando a movimentação sem dor no
A densidade é definida como massa por unidade de vo- meio aquático 8.
lume (g/cm3 ou kg/m3). A gravidade específica ou densi-
dade relativa é a relação da densidade de uma substancia Resistência
pela densidade da água pura a 4 ºC que é 1,0. Devido a he- É dado por vários fatores como por exemplo a viscosi-
terogeneidade dos tecidos no corpo humano ou animal, este dade e a tensão superficial. Está relacionada com o grau
pode apresentar tendência a flutuar em água pura se sua de coesão entre as moléculas de liquido. Isso cria uma
densidade for menor que 1,0 e tendência a afundar se tiver resistência que favorece o fortalecimento muscular e o

156 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 21 – Hidroterapia

condicionamento cardiovascular. Assim, a viscosidade da o movimento é realizado em linha reta e o turbulento


água é superior a do ar, criando uma resistência e maior quando o movimento é irregular formando redemoinhos 9.
esforço para o movimento em água, por exemplo, em hu- Quando se caminha em uma esteira aquática, o pró-
manos com água na altura do ombro, requer 65% mais prio movimento da esteira gera uma leve turbulência de
esforço que caminhar na terra 5. Também estabiliza articu- fluxo laminar e quanto maior a velocidade, maior será o
lações evitando que ocorra uma nova injuria durante o fluxo formando a turbulência. Isso favorece o treina-
exercício. mento de equilíbrio e fortalecimento da musculatura pos-
A tensão superficial é a força de atração entre as molé- tural 10.
culas na superfície de um líquido que estão ainda mais uni- Também existem piscinas e hidroesteiras com jatos de
das, então a resistência é mais elevada na superfície e se um agua contracorrente que além de causar turbilhonamento
animal tem que se movimentar retirando o membro da água da água, oferecem uma resistência extra e pode ser utili-
e voltando a colocar, isso cria uma resistência adicional. zado para aumentar o grau de dificuldade dos exercícios.
Existem forças que atuam no movimento da água e tam-
bém contribuem para a resistência. Quando um objeto se Termodinâmica
move através da água, cria-se uma diferença de pressão na A água absorve e transfere calor de maneira muito mais
frente e na parte traseira do objeto, sendo que, a pressão intensa que o ar. Essa transferência se dá principalmente
traseira torna-se menor que a dianteira. Como consequên- por convecção, mas também pode ser por condução e ra-
cia, ocorre um deslocamento do fluxo de água para dentro diação 1. Desta maneira, é muito importante considerar os
da área de pressão reduzida que tendem a arrastar para trás efeitos térmicos associados a hidroterapia. Neste capítulo
o objeto (arrasto). não entraremos em detalhes, já que o mesmo é abordado
Existem dois tipos de fluxos de água: o laminar quando nos capítulos de termoterapia e crioterapia.

Figura 1 – Cão em esteira aquática com o nível de água na altura do trocânter maior

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 157


Capítulo 21 – Hidroterapia

Principais efeitos terapêuticos da água


A água possui diversos efeitos fisiológicos no orga-
nismo, em especial em sistema musculoesquelético, sis-
tema nervoso, cardíaco e respiratório. Em relação a fisiatra
veterinária, os principais benefícios são:
• sensação de bem-estar (animais que gostam de água);
• fortalecimento muscular;
• aumento da resistência muscular e cardiovascular;
• melhoria da amplitude de movimento articular;
• redução da dor por diminuir o impacto articular;
• diminuição da tensão muscular ou espasmos quando a
água está aquecida.

Principais indicações
Mediante as vantagens citadas anteriormente, a hidro- Vídeo 1 – Realização de hidromassagem em área do
terapia é recomendada no treinamento de força e resistência ombro - https://youtu.be/GgXdVsLTWQ0
em vários casos ortopédicos e neurológicos, já que diminui
a sobrecarga articular e favorece a movimentação sem dor.
Também oferece estabilidade aos pacientes neurológicos
através da viscosidade da água, favorecendo a estação. No movimento em água, a amplitude de movimento
Dentro da hidrodinâmica, também é possível realizar exer- articular é diferente de atividades terrestres. Há uma
cícios que melhoram o equilíbrio, propriocepção e coorde- maior flexão das articulações dos membros em exercício
nação motora desses pacientes. Em animais obesos, ao aquático em comparação com exercícios fora de agua.
diminuir o peso aparente do corpo, é possível realizar um Na hidrocinesioterapia, além dos princípios físicos da
adequado condicionamento físico sem impacto articular. água, é fundamental ter claro os objetivos pretendidos com
a terapia, já que o “aprendizado” em água deve ser trans-
Contraindicações e precauções ferido para a função no solo.
A primeira contraindicação se refere a animais com le- Os exercícios em cadeia cinemática aberta, como a na-
sões na pele, isso inclui os casos onde a sutura cirúrgica está tação, permitem movimentos exclusivos do ambiente aquá-
imersa em água, sendo adequado esperar 24h depois da re- tico através da flotação, enquanto os exercícios em cadeia
tirada da sutura para começar com atividades em água. Caso cinemática fechada, como o caminhar ou trotar em esteira
seja necessário começar antes de retirar os pontos, recomen- aquática, os movimentos são similares ao solo, com a
damos cobrir a sutura com uma bandagem ou esparadrapo vantagem do alívio da descarga de peso e descompressão
resistente a água. Em casos de hemilaminectomia, proteger articular 9. Assim, a maioria dos exercícios aquáticos são
a incisão cirúrgica nos primeiros dias, e não ultrapassar o realizados na esteira aquática.
nível de água do trocânter maior. Animais com infecção, ou Nos pacientes neurológicos o nível de imersão é variá-
patologias não controladas como cardio respiratórias, gas- vel de acordo com a fase de tratamento, na fase inicial do
trointestinais, endócrinas e gastrointestinais devem ser bem tratamento é mais adequado um alto nível de imersão, mas
avaliados em relação a seus riscos antes de colocar em água. uma vez que o animal apresenta estabilidade na estação,
Outro ponto muito importante é o pânico a água. Muitos mas com ataxia proprioceptiva, seria conveniente diminuir
animais têm medo da água, felizmente a maioria pode ser o nível de imersão, para estimular o equilíbrio e o reposi-
adaptado com paciência do reabilitador e do tutor, mas em cionamento do membro.
caso de que o medo seja muito exagerado e provoque estado Com os mesmos pacientes neurológicos, é possível rea-
de pânico onde o animal se debate, tenta saltar, se bloqueia lizar exercícios de estabilidade e equilíbrio em água, mo-
completamente ou possui descargas diarreicas hemorrágicas dificando sua postura para cada vez mais instáveis, a fim
por estresse, é mais adequado buscar outro tipo de terapia. de apresentar desafios do controle motor e trabalhar a mus-
culatura postural. Por exemplo, diminuir a base de susten-
Fisiatria aquática tação aproximando as extremidades, e desestabilizar o
A fisiatria aquática engloba principalmente a natação, animal com exercícios como o weight shifting (Vídeo 2).
caminhar em esteira aquática e exercícios aquáticos (hi- O treino de equilíbrio no ambiente aquático traz bene-
drocinesioterapia). Tanto os banhos de imersão como o fícios também para a coordenação, tônus, simetria, segu-
turbilhonamento são modalidades utilizadas mais frequen- rança do paciente e força muscular. É possível progredir
temente em grandes animais, por isso não serão abordados nos exercícios tanto com a variação de posturas, da veloci-
nesse capitulo. Também é possível realizar hidromassagem dade em esteira, da turbulência e/ou contracorrente, do
(Vídeo 1), embora sejam poucos animais que relaxam du- nível de imersão e com utilização de superfícies instáveis
rante a sessão. de apoio 9.

158 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 21 – Hidroterapia

No treino de força muscular, além da resistência da pró- membro se move em direção a superfície (contração con-
pria água, observamos que no solo, por atuação da força cêntrica) existe um maior esforço da musculatura antago-
gravitacional, existem maior esforço concêntrico dos mús- nista (contração excêntrica) para controlar a força de
culos durante o movimento, já no meio aquático, quando o flutuação, pois no meio aquático a força gravitacional não
é predominante 8.
Nos pacientes ortopédicos, muitas vezes se utilizam
acessórios aquáticos, como por exemplo, boia de braço
infantil. Esses acessórios, por facilitar a flutuação, quando
se coloca em uma extremidade do animal (Figura 2), es-
timula uma maior amplitude de movimento articular por
estimular a flexão e cria uma resistência para reposicionar
a extremidade trabalhando a força muscular. Paralela-
mente, a outra extremidade que não apresenta o acessório
aquático, apresenta uma maior descarga de peso e esti-
mulo da extensão. Assim, pode ser utilizado tanto no
membro afetado para estimular a flexão, como também
quando queremos que o membro contralateral descarre-
gue mais peso.
O aumento da flexibilidade também é uma vantagem
Vídeo 2 – Realização de exercício em hidroesteira, esti- dos exercícios em água aquecida, já que muitas vezes o
mulando o equilíbrio, controle postural e descarga de peso efeito térmico causa relaxamento muscular que aliado ao
entre os membros pélvicos - https://youtu.be/i5886JOAE0w efeito analgésico facilitam o alongamento 9.

Figura 2 – Exercício com boia em membro pélvico. O membro pélvico direito com a boia apresenta uma resistência
para a musculatura extensora, já o membro esquerdo apresenta maior fase de apoio

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 159


Capítulo 21 – Hidroterapia

Piscina versus esteira aquática As condições higiênicas mínimas necessárias são: sis-
As duas modalidades possuem vantagens e desvanta- temas para filtragem e remoção de pelos e partículas; con-
gens. A natação estimula mais a flexão das articulações em trole químico de pH, algas e de microrganismos com bromo,
relação a esteira aquática (Figura 3 e Vídeo 3), em especial ozonoterapia, ultravioleta (UV) ou em último recurso o
de joelhos e cotovelos, já o caminhar em esteira aquática cloro. Os animais devem ser banhados antes de entrar, em
apresenta maior flexão comparado a esteira seca, mas a ex- caso que não seja possível, como mínimo escovados para
tensão é maior em relação a piscina e muito similar ao ca- diminuir quantidade de pelos que soltam na água. Também
minhar em terra. A natação por permitir maior rango de devem passar por pedilúvio, ou limpados manualmente
movimento articular, pode causar dor em animais durante com um pano molhado. A temperatura mais adequada é de
a reabilitação física, assim se recomenda sua utilização pre- 25 ºC a 32 ºC; uma temperatura mais elevada poderia exigir
dominantemente em casos de condicionamento físico e car- uma maior demanda cardíaca pela vasodilatação gerada;
diorrespiratório em animais saudáveis. una temperatura inferior poderia gerar desconforto ao ani-
mal, embora em alguns casos específicos se utiliza a tem-
peratura a 22 ºC para aumentar o tônus muscular de
pacientes neurológicos e facilitar exercício.
Ao escolher uma esteira aquática, considerar não so-
mente preço, como também tamanho, nível de ruído, segu-
rança para animais e humanos ao redor. Existem dois tipos
de estruturas de esteiras aquáticas, uma em que a própria
esteira é uma plataforma elevatória em que o animal é co-
locado sobre a esteira e logo submergido na água (Figura 4);
e outra em que existe uma porta frontal (Figura 5) e um
tanque de água acessório, em que no momento de entrar, a
água está no reservatório e logo é transferido para o interior
do recipiente. Ambas apresentam vantagens e desvanta-
gens, e dependem um pouco da preferência de cada profis-
sional e espaço disponível para instalação, já que o segundo
tipo ocupa o dobro de espaço por apresentar além da esteira
Figura 3 – Animal nadando em uma esteira aquática, notar o tanque de água. A hidroesteira com plataforma elevatória
a flexão dos membros. Foto cedida pelo dr. Ricardo S. Lopes oferece a vantagem de poder ajustar-se com a altura do ani-
– Fisio Care Pet mal (Vídeo 4), mas alguns animais inquietos podem tentar
saltar no momento de coloca-los na agua. A hidroesteira
com porta frontal oferece a vantagem de facilitar a entrada
do animal por estar no mesmo nível, porém ao não ajustar
a altura, caso o reabilitador necessite ajudar o animal du-
rante a marcha, terá que entrar dentro da hidroesteira, uma
desvantagem grande quando se trata de animais pequenos
porque a postura do reabilitador será desconfortável.

Vídeo 3 – Animal realizando nado estacionado em hidro-


esteira - https://youtu.be/C3DNBp-LoUc

A grande vantagem no exercício em esteira aquática em


comparação a piscina, além da cinemática do exercício, é
o melhor controle das condições de higiene e temperatura.
É o exercício aquático que mais benefícios traz, com redu-
ção aparente do peso do animal, reduzindo impacto articu-
lar, maior fortalecimento pela resistência da água, maior
amplitude de movimento articular e estabilidade gerada Vídeo 4 – Colocação de animal em uma hidroesteira com
pela viscosidade da água. plataforma elevatória - https://youtu.be/ELsvXUhjLoI

160 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 21 – Hidroterapia

Figura 4 – Esteira aquática com plataforma elevatória e sem reservatório de água anexo, a água é filtrada na própria
esteira

Figura 5 – Esteira aquática com porta frontal e reservatório de água anexo. Foto cedida por dra. Ângela Martins do Hospital
Veterinário da Arrábida

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 161


Capítulo 21 – Hidroterapia

Recursos naturais 8-RUOTI, R. ; MORRIS, D. ; COLE, A. Reabilitação aquática. 1. ed.


Muitos tutores preferem realizar a terapia aquática em São Paulo: Manole, 2000. 463 p. ISBN: 9788520409947.
rios, piscinas públicas ou praias (Vídeo 5). Primeiramente, 9-SACCHELLI, T. ; ACCACIO, L. M. P. ; RADL, A. L. M. Fisioterapia
Aquática. 1. ed. Brasil: Manole, 2007. 368 p. ISBN:
os mesmos devem ser conscientes do risco de acidente nes- 9788520420416.
ses locais e da falta de controle dos parâmetros como tem- 10-ZINK, M. C. ; VAN DYLE, J. B. Canine Sports Medicine and
peratura, velocidade e profundidade. Assim mesmo, caso Rehabilitation. Wiley Blackwell, 2013. 484 p. ISBN: 978-0-813-
realizem, a temperatura não deve estar abaixo de 25 ºC. De 81216-8.
maneira lúdica é muito mais agradável em um entorno na-
tural, mas em relação a finalidade terapêutica costuma ser COMO CITAR ESSE CAPÍTULO
deficiente. DINIZ, R. Hidroterapia. In: LOPES, R. S. ; DINIZ, R.
Fisiatria em pequenos animais. 1. ed. São Paulo :
Editora Inteligente, 2018. p. 156-162. ISBN: 978-85-
85315-00-9.

Vídeo 5 – Animal em uma piscina pública para cães em


Maiorca, Espanha - https://youtu.be/5L0p8RziElc

Referências
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A. J. ; BECKER, B. E. Comprehensive aquatic therapy. 3. ed.
Pullman WA: Washington State University Publishing, 2011.
ISBN: 978-0615365671.
2-CARREGARO, R. L. ; TOLEDO, A. M. Efeitos fisiológicos e
evidências científicas da eficácia da fisioterapia aquática. Revista
Movimenta, v. 1, n. 1, p. 23-27, 2008.
3-CONNELLY, T. P. ; SHELDAHL, L. M. ; TRISTANI, F. E. ;
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agente terapéutico. Fisioterapia, v. 24, n. 2, p. 3-13, 2002. DOI:
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7-QUINTELA, M. M. Saberes e práticas termais: uma perspectiva
comparada em Portugal (Termas de S. Pedro do Sul) e no Brasil
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59702004000400012.

162 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 22 – Bandagem neuromuscular – método Kinesio Taping®

22
Bandagem neuromuscular – método kinesio taping®

Luiz Henrique Lima de Mattos

A
bandagem neuromuscular (BNM) é uma terapia, Mecanismo de ação
utilizada na fisioterapia humana como um método Fundamentada em quatro pilares, o método Kinesio
de manutenção e apoio no tratamento complemen- Taping ® é descrito com efeitos sobre a regulação da ho-
tar à outra modalidade fisioterápica e modulando diversos meostase muscular, ativação do sistema circulatório e lin-
processos fisiológicos 18,49. fático, controle da dor e realinhamento proprioceptivo
Nos anos 70, dr. Kenzo Kase, com o princípio de auxi- das articulações 1,26,28,40. O exato mecanismo de ação é in-
liar os músculos e tecidos adjacentes a regular sua homeos- certo e ainda muito debatido por diversas revisões siste-
tase através de algum suporte externo e também com o máticas 2,7,811,14,23,28,32,38,39,40,54.
objetivo de desenvolver uma técnica que prolongasse os O principal efeito descrito para o método, fica a cargo
efeitos de suas manipulações, desenvolveu uma metodolo- do controle de dor. Este efeito é baseado na “Teoria das
gia baseada nas bandagens neuromusculares, utilizando Comportas” descrita por Melzack e Wall 37,58, onde por es-
fitas composta por 100% de algodão e adesivo poliacrílico, tímulo do sistema somatosensorial as fibras Aδ, Aβ e C,
que por conter propriedades elásticas se tornavam banda- transmissoras da informação de injúria, seriam despolari-
gens inovadoras na época. Com o desenvolvimento desse zadas e assim bloqueando o processo de reconhecimento
material foram estabelecidas técnicas para sua aplicação, da dor pelos nociceptores e sistema nervoso central 5,20,58.
sendo então desenvolvido o Método Kinesio Taping® a Este mecanismo da ação somatosensorial ocorre em cadeia
priori focando sua utilização para humanos, ganhando po- nos mecanorreceptores presentes na epiderme e derme, no
pularidade após os jogos olímpicos de 2008, e posterior- qual transmitem ao sistema nervoso central (SNC) impul-
mente iniciou-se seus estudos e aplicações nos animais, sos elétricos que despolarizam as fibras responsáveis pela
inicialmente nos equinos 2,32,54. informação da dor.
As fitas Kinesio Tape ® passam então a estabelecer nova O primeiro mecanorreceptor a ser estimulado é o “Com-
abordagem no acesso aos tecidos interconectados do orga- plexo de Células Merkel” (Discos de Merkel) localizado
nismo através de estímulos externos. Os padrões de sua es- na epiderme e que possui a função de percepção de pressão
trutura (espessura fina próxima ao da pele; elasticidade e texturas na pele. Este complexo possui duas principais
longitudinalmente entre 40 e 60%; e ausência de qualquer funções tanto sensitiva quanto mecanotransmissora de im-
princípio medicamentoso) foram estabelecidas para serem pulsos para o SNC, através da ativação da enzima Piezo 2
utilizadas em diversas tensões e com foco em produzir que por conexões com os terminais aferentes, similares aos
efeito somatosensorial sobre os mecanorreceptores cutâ- sinápticas, transmitem a sensibilidade de toque e também
neos 2,5,32,54,56. micro vibrações de algo aderido na mesma 45,60,61, assim
Os padrões do tecido e principalmente do adesivo em como através do movimento dos pelos demonstrado em
forma de onda foram desenvolvidos para aplicações em hu- gatos e ratos 22.
manos, mimetizando as digitais e diferenciando-se das tra- Com função símil, porém situado na periferia da derme,
dicionais bandagens por não restringir os movimentos, o “Cospúsculo de Messner” participa do efeito somatosen-
realizando apenas estímulo proprioceptivo e nosciceptivo sorial promovido pela bandagem, porém mesmo que com
aos mecanorreceptores a nível microsensorial 5,32,53. estimulação mais lenta comparado ao Complexo de Mer-
Para os animais, foi desenvolvido uma bandagem espe- kel, sua adaptação ao estímulo de vibrações de baixa fre-
cífica, Equine Kinesio Tape ®, com os mesmos padrões de quência na pele é rápida. Ao contrário das “Terminações
elasticidade e material. Porém, ausente do padrão de ondas de Ruffini”, outro mecanorreceptor estimulado pela ban-
em seu adesivo, até então descrito como essencial para cria- dagem, que adapta-se lentamente a tensões constantes, si-
ção dos efeitos sensoriais na pele humana. Este propósito nalizando constantemente as deformações contínuas da
é estabelecido para promover maior aderência sem a ne- pele e tecidos mais profundos, como as articulações. Com-
cessidade de retirar os pelos dos animais e também maior pletando este conjunto de mecanorreceptores, os “Corpús-
efeito aos mecanorreceptores, visto que a pele dos animais culo de Pacini”, estimulados por movimentos rápidos dos
se difere dos humanos, com a presença do músculo eretor tecidos, ou seja, pelo movimento e elasticidade 2,13,23,26,28,63.
do pelo mais desenvolvido e também diferenças em relação O segundo efeito descrito para o Método Kinesio Taping
a disposição de suas camadas 13. Atualmente sugere-se a ® fica a cargo da ativação dos sistemas linfáticos e sanguí-

utilização desta bandagem também para pequenos animais, neo, devido a criação de espaço entre os tecidos através de
sendo apenas necessário o rebaixamento dos pelos de al- micro-ondulações, descomprimindo e auxiliando a troca de
guns animais de raça com pelo longo, como o border collie, fluidos entre os tecidos adjacentes melhorando, assim, o
golden retriever e bernese. fluxo sanguíneo e linfático 23,43,50,59. Com a aplicação das

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 163


Capítulo 22 – Bandagem neuromuscular – método Kinesio Taping®

fitas elásticas, o efeito “recoil” (efeito resiliência de retorno


ao seu formato original) faz com que a fita crie micro-on-
dulações retraindo a epiderme e derme, com isso é criado
espaço entre os tecidos, descomprimindo os receptores pe-
riféricos e também auxiliando a troca de fluidos 1,3,38,43,50,56.
Em acréscimo a este efeito, há relatos da possibilidade
da técnica promover durante o movimento, microcontra-
ções (similar ao massageamento) nos vasos linfáticos e
sanguíneos devido a deformação elástica no tecido promo-
vida com o movimento ativo. Este processo auxilia no
bombeamento e ativação do fluxo para áreas menos con-
gestas em casos de hematoma e para os centros linfáticos
não comprometidos nos casos de edemas (Figura 1), assim
como o retorno venoso em casos de pacientes deficitários,
processos cirúrgicos que comprometam redes linfáticas e
também remoção de eletrólitos como ácido lático, evitando
assim processos álgicos 1,10,34,35,36,40,43,48.
Para o terceiro efeito proposto pelo método temos a in-
fluência da fita na homeostase muscular, ou seja, influência
no controle muscular seja otimizando sua contração mus-
cular ou normalizando espasmos e tensões 6,12,15,26,30,57.
Neste efeito o mecanismo de ação atua de diferentes
formas sendo a primária o mesmo mecanismo de ação para
Figura 1 – Aplicação de técnica “Fan” para ativação linfá-
controle de dor, descomprimindo os mecanorreceptores e tica e circulatória
auxiliando o controle de dor local, auxiliando assim o tra-
balho muscular local. Diferentes autores citam esse meca-
nismo em conjunto potencializando, assim, o controle de partir da inserção para a origem do músculo tratado, seu
dor, resultando no aumento de amplitude de movimento, e recuo promoverá o alongamento dos órgãos tendinosos de
otimizando o controle motor. Resultados comuns entre os Golgi, produzindo o efeito de inibição muscular, ou seja,
autores demonstram um potencial desta modalidade em in- relaxamento em quadros álgicos (Figura 2) ou contratu-
fluenciar a atividade muscular, seja em repouso ou na ati- ras; por outro lado, sendo aplicado em modo inverso, ori-
vidade motora 6,16,21,29,41,42,51,55. gem-inserção, a fita induzirá maior recrutando do
Isto é citado como dependente da técnica utilizada atra- número de fibras no sentido da contração, promovendo a
vés do método, sendo dividido em facilitação e inibição da facilitação muscular, efeito este utilizado para ativar o mús-
atividade muscular 24. As diferentes técnicas do método culo em casos de flacidez e otimizar o trabalho muscular
para ação muscular são baseadas no efeito do recuo elástico (Figura 3) 1,44,62.
da fita, sendo este responsável por alterar as relações tensão- Outro mecanismo creditado à ação muscular baseia-se
comprimento dos músculos. Ao aplicar a Kinesio Tape ® a na presença de uma interação direta da fita aplicada na pele

A B

Figura 2A e 2B – Aplicação de técnica inibição muscular em lombalgia/contratura muscular

164 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 22 – Bandagem neuromuscular – método Kinesio Taping®

Figura 4 – Aplicação de técnica de correção de fáscia e


alívio de contratura e sensibilidade lombar

através do controle muscular, ativando ou inibindo é pos-


sível promover suporte ou criar movimento para realinha-
mento articular. Estes efeitos são descritos em diversos
estudos, onde demonstraram por eletromiografia o aumento
ou regulação da atividade muscular em atletas, promo-
Figura 3 – Aplicação de técnica de facilitação muscular, vendo incremento da contração muscular em exercícios,
com objetivo de otimizar a função muscular
aumento da flexibilidade e também alguns estudos demons-
trando controle de espasmos musculares, tornado assim um
em conjunto com a fáscia tanto superficial quanto pro- trabalho complexo de exame clínico para uma abordagem
funda, assim transmitindo o efeito aplicado pela banda- conjunta músculos e articulações 6,9,19,27,31,47.
gem 6,16,28. A Fáscia, tecido conjuntivo fibroso extenso, é A partir do princípio baseado na ação em músculos ago-
descrito como um dos principais elementos nos processos nistas e antagonistas, o efeito produzido auxilia não apenas
de dor muscular desde 1977. Possui a característica de ser o realinhamento articular, mas, também todo o processo de
um tecido tanto nutritivo quanto de proteção para os teci- propriocepção do paciente. O método Kinesio Taping ®
dos, como por exemplo, músculos, tendões e ligamentos. muitas vezes aplicado em condições neurológicas, estimula
O ponto importante para sua relação com o método Kinesio o sistema sensorial cutâneo que fornece informações pre-
Taping ®, é sua característica de continuidade, interligando liminares de posicionamento dos membros e postura, assim
todas as estruturas e transmitindo, assim, à distância, infor- como, forças musculares para o sistema nervoso central
mações de contração e relaxamento musculoesquelético promovendo assim um monitoramento e controle dos mo-
tanto nos humanos quanto nos animais 16,17,28,52. vimentos e equilíbrio, proporcionando o efeito proprio-
Através dessa relação fáscia e tecidos, a Kinesio Tape ® ceptivo da cinesioterapia direta e contínua 25.
atua realçando a entrada sensoriais na pele, através dos me-
canorreceptores, transmitindo informações para o sistema MÉTODO KINESIO TAPING® APLICADO
nervoso, assim como criando ou direcionando movimento NA MEDICINA VETERINÁRIA
da fáscia com o propósito de correção ou realinhamento da No âmbito veterinário, são escassos estudos nas bases
mesma. Essas informações poderão regular a homeostase de busca científicas, Shim e colaboradores 48, avaliou o
muscular através da ação conjunta com a fáscia, promo- efeito linfático em coelhos experimentais. Utilizou-se 22
vendo assim relaxamento (Figura 4) ou aumento da contra- coelhos divididos em 2 principais grupos, com e sem apli-
ção muscular, regulação dependente da técnica aplicada e cação de bandagens, os resultados mostraram que ambos
da condição clínica encontrada 4,26,28,46,53. os grupos não apresentaram diferença quando avaliados
Além da atuação muscular, este mecanismo via meca- sem exercícios, porém quando este foi incluído, o grupo
norreceptores e interação com a fáscia, fundamenta o efeito com aplicação da bandagem apresentou-se significativa-
proprioceptivo e consequentemente realinhamento articu- mente com maior fluxo linfático, sendo determinado pela
lar, promovendo assim o quarto efeito descrito pelo mé- deformação causada na pele pela bandagem elástica auxi-
todo: realinhamento articular 16,28,38. A princípio este efeito liando no bombeamento linfático.
não ocorre diretamente na articulação e sim através da Além deste estudo científico podemos encontrar alguns
interação dos músculos agonistas e antagonistas, ou seja, relatos clínicos da utilização da Kinesio Tape ® na medicina

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 165


Capítulo 22 – Bandagem neuromuscular – método Kinesio Taping®

veterinária. Mattos e colaboradores 34, relatam o efeito wide web: a quality and content analysis of internet-based
positivo para resolução de edema em acidente estrangula- information. International journal of sports physical therapy,
v. 9, n. 4, p. 665-673, 2014.
tivo de membro posterior de um equino. Após 24 horas da
8-CAMPOLO, M. ; BABU, J. ; DMOCHOWSKA, K. ; SCARIAH, S.
utilização de técnica linfática 24 observou redução de 2cm ; VARUGHESE, J. A comparison of two taping techniques (kinesio
de perimetria na região terapêutica, sem aplicação de me- and mcconnell) and their effect on anterior knee pain during
dicamentos. functional activities. International journal of sports physical
Outro estudo científico encontrado, demonstra que a uti- therapy, v. 8, n. 2, p. 105-110, 2013.
lização de bandagens Kinesio Tape em pós-operatório de 9-CAPECCI, M. ; SERPICELLI, C. ; FIORENTINI, L. ; CENSI, G. ;
artroscopia femoro-tíbio-patelar em equinos apresenta re- FERRETTI, M. ; ORNI, C. ; RENZI, R. ; PROVINCIALI, L. ;,
CERAVOLO, M. G. ; Postural rehabilitation and Kinesio taping
sultados positivos na perimetria da articulação após 24 for axial postural disorders in Parkinson's disease. Archives of
horas de sua aplicação, resultando em melhora no controle physical medicine and rehabilitation, v. 95, n. 6, p. 1067-1075,
do edema pós-operatório, permanecendo até 72 horas após 2014. DOI: 10.1016/j.apmr.2014.01.020.
o procedimento 33. 10-CHOU, Y. H. ; LI, S. H. ; LIAO, S. F. ; TANG, H. W. Case report:
Os estudos ainda permanecem escassos em animais, Manual lymphatic drainage and kinesio taping in the secondary
malignant breast cancer-related lymphedema in an arm with arterio-
porém baseado na metodologia humana, é possível sua uti-
venous (A-V) fistula for hemodialysis. The American journal of
lização em animais com adaptações quanto aos pelos. As hospice & palliative care, v. 30, n. 5, p. 503-506, 2013. DOI:
técnicas descritas pelo método são as mesmas aplicadas em 10.1177/1049909112457010.
animais, porém, é necessário consultar profissional certifi- 11-COSTA, L. O. ; COSTA, L. D. A. C. ; HESPANHOL, JR. L. C. ;
cado e qualificado para a correta aplicação quanto à bio- LOPES, A. D. ; PARREIRA, P. D. O. C. Different models and
mecânica, tensões e formatos de cortes frente aos objetivos techniques of Kinesio Taping have never been tested. Journal of
physiotherapy, v. 60, n. 30, p. 176-177, 2014. DOI:
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168 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


23
Hérnia discal

Ragnar Franco Schamall

A
doença do disco intervertebral em cães, em suas di- composição do NP, convertendo o DIV em uma estrutura
versas formas, é uma das afecções neurológicas progressivamente mais cartilaginosa / hialinizada. Tais
mais comuns da prática clínica diária. Nos gatos, a mudanças, que se iniciam notadamente cedo (meses de
ocorrência é muito menor, embora o número de diagnósti- idade) em certas raças, alteram drasticamente as proprie-
cos nesta espécie tenha aumentado 17-18. Com frequência, dades mecânicas do DIV, predispondo às patologias. O NP
os animais apresentam graus variados de dor e acometi- é avascular e não recebe inervações. O AF é fracamente
mento neurológico, necessitando de tratamento clínico e/ou inervado e pouco vascularizado na periferia e não inervado
cirúrgico, incluindo acompanhamento fisiátrico. Justifica- e avascular nas partes mais profundas. Desprende-se, por-
se, portanto, uma revisão do tema. tanto, a informação que não existe dor associada à
Neste capítulo, abordaremos apenas a doença discal que doença discal enquanto não ocorrer o deslocamento / de-
resulta em herniação do núcleo pulposo / ânulo fibroso, não formação desta estrutura – a chamada hérnia discal. As
abordando outras patologias desta estrutura. Aos leitores PT’s são estruturas cartilaginosas que possuem papel im-
que desejarem informações adicionais recomendamos a lei- portante na fisiologia e homeostase discal e que não serão
tura dos livros textos citados nas referências 7-16. discutidas aqui. O leitor deve consultar as referências ao
final do capítulo 3.
Anatomia e patologia do disco intervertebral 3-5 A importância biomecânica do DIV é a de transmitir as
O disco intervertebral (DIV) é uma estrutura composta forças compressivas entre os corpos intervertebrais e forne-
por um ânulo fibroso (AF) externo e um núcleo pulposo cer à coluna vertebral mobilidade com estabilidade. Durante
(NP) interno, localizados entre todas as vértebras exceto a movimentação normal, várias forças multidirecionais são
C1-2, limitados cranial e caudalmente por uma placa car- aplicadas em todo o eixo vertebral. O DIV age na dissipação
tilaginosa denominada placa terminal (PT), que é parte in- e resistência a estas forças, na forma de uma única estrutura
tegrante da estrutura vertebral (Figura 1). O AF é composto em que cada parte integrante (AF, NP, PT etc.) exerce uma
por fibras laminares concêntricas, que delimitam o NP, que função específica. Desta forma, alterações degenerativas em
é formado por uma mistura de proteoglicanos (PG) e co- qualquer de seus componentes inevitavelmente levará à sua
lágeno tipo II, que adsorvem grande quantidade de água disfunção, predispondo aos sinais clínicos.
(aproximadamente 80% no DIV saudável), conferindo a O processo de degeneração discal é multifatorial, com-
esta porção do disco uma aparência gelatinosa. Além plexo e que envolve alterações celulares e da matriz extra-
disso, contém células mesenquimais (notocordiais), res- celular, mediados amplamente por fatores genéticos e, em
ponsáveis por, entre outras coisas, manter a correta produ- menor grau, por fatores físicos e mecânicos. A partir das
ção dos PG’s e colágeno. Durante o processo de mudanças das características físicas do disco, existe uma
degeneração discal, tais células são progressivamente subs- resposta celular (e vice-versa), limitada pela baixa vascula-
tituídas por células semelhantes a condrócitos, alterando a rização regional, que tende a ineficiência, iniciando um ciclo
vicioso de tentativas de reparo e mudanças estruturais. O
resultado final é a diminuição da capacidade de resistir às
forças que lhe são aplicadas sequencialmente durante a mo-
vimentação normal e rotineira. A falha estrutural do DIV,
caracterizada por fissuras no AF e desidratação / endureci-
mento do NP, eventualmente resultará em expulsão ou pro-
trusão discal, que originará os sinais clínicos (Figura 2).
Fica claro, portanto, que a herniação discal é um processo
que tem origem na própria genética do animal e não em
exercícios cotidianos, como pular da cama, correr ou subir
escadas. Tais fatores podem deflagrar os sinais clínicos, mas
não produzir a degeneração discal e consequente herniação.
Não estamos aqui nos referindo àquelas causadas por trau-
mas como quedas e atropelamentos, uma vez que o DIV
normal, apesar de ser muito resistente às forças externas,
Figura 1 - DIV torácico em um cão adulto jovem, próximo
da normalidade. Notar o aspecto gelatinoso e hidratado no tem limites, como qualquer outra estrutura. Além disso, au-
NP e as camadas laminares concêntricas do AF. A menor menta o corpo de evidências que sugerem que um disco in-
espessura do AF dorsalmente é responsável pela maior in- tervertebral doente poderá, eventualmente, alcançar sucesso
cidência de herniações dorsais no seu processo de regeneração 12.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 169


Capítulo 23 – Hérnia discal

de herniação discal, que foram classificados por Hansen na


década de 1950. A herniação discal do tipo I ou extrusão,
é de caráter agudo ou subagudo, ocorrendo após a ruptura
do AF, provocando o deslocamento do NP para o interior
do canal vertebral (a espessura do AF dorsal é menor do
que o ventral, ocorrendo falha primeiro no primeiro, mais
delgado) (Figura 3). Ocasionalmente, o deslocamento é la-
teral, também chamado de foraminal (Figura 4). Já a her-
niação discal do tipo II ou protrusão, é de caráter crônico,
ocorrendo quando o DIV, como unidade (AF e NP), sofre
uma deformação crônica, com remodelamento e expansão
para o interior do canal vertebral (Figura 5). Existe um
outro tipo de herniação discal na qual uma pequena massa
Figura 2 - DIV torácico do mesmo cão da figura 1, mais de disco intervertebral é expulsa em alta velocidade em di-
caudal. Notar a maior opacificação do NP e o aspecto reção ao canal vertebral, transmitindo grande quantidade
mais frágil das camadas laminares concêntricas do AF. de energia cinética à medula, resultando em trauma con-
Em um mesmo animal coexistem discos em vários está- cussivo. São herniações de baixo volume, mas capazes de
gios de degeneração produzir lesões medulares significativas, frequentemente
irreversíveis (Figura 6). Neste texto faremos referência à
extrusão e protrusão, que são termos mais descritivos. O
A degeneração discal influencia também as outras es- terceiro tipo será referido como hérnias não compressivas
truturas da unidade funcional da articulação vertebral, de alta velocidade.
como os ligamentos, corpos vertebrais e facetas articulares. Muitos autores fazem referência ao tipo de herniação
Assim, hipertrofias ligamentares, deformações articulares em relação ao tipo de raças (condrodistróficas x não con-
e alterações conformacionais vertebrais são esperadas e drodistróficas). De fato, existem diferenças no tipo de her-
devem ser levadas em consideração no planejamento tera- niação que cada raça pode apresentar, mas as exceções são
pêutico, principalmente nos casos crônicos. numerosas. Desta forma, sugerimos a leitura das referên-
Existem dois tipos muito bem estabelecidos e estudados cias para informações adicionais 1–12.

Figura 3 - Tomografia computadorizada de herniação discal extrusa, calcificada entre C5-6. Notar a gravidade da com-
pressão e a densidade do material discal. Paciente com tetraparesia grau III, com dor intensa. Acima – janela tecidos
moles. Abaixo – janela óssea / coluna vertebral

170 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 23 – Hérnia discal

Figura 4 - Tomografia de um dachshund de 12 anos de idade, mostrando extrusão discal lateralizada direita, foraminal,
entre C7-T1 (seta preta). Janela óssea / coluna, mostrando o caráter mineralizado do material extruso e sua relação
com o forame intervertebral. Este cão foi atendido com dor intensa e tetraparesia grave, de instalação aguda, devido a
herniação discal massiva e dorsal e lateral esquerda, também mineralizada, entre C3-4, sendo esta a causa dos sinais
clínicos (Figuras central e da direita, com área hachurada que evidencia a massa herniada). Desta forma, acredita-se
que a herniação C7-T1 não estava causando sinais clínicos suficientes no animal ou que, por serem leves (por exemplo
claudicação), não chamaram atenção do tutor. É importante, portanto, sempre fazer uma boa correlação entre a clínica
e a imagem, pois muitas anormalidades são, de fato, assintomáticas e a escolha do local a ser operado é determinante
para a resolução dos sinais clínicos. No presente caso, a hérnia C7-T1 não foi tratada e, a despeito disso, a resolução
dos sinais clínicos ocorreu no pós-operatório imediato

A B
Figura 5 - Mielografia de rottweiler adulto, mostrando o caráter dinâmico de uma protrusão discal, neste caso C6-7. À
esquerda radiografia em posição neutra (protrusão). À direita, sob tração (alívio da protrusão). As protrusões podem
ser dinâmicas ou estáticas

Estruturas anatômicas envolvidas na produção breve e resumida, a medula possui tratos motores, tratos
dos sinais clínicos da doença discal sensitivos e tratos proprioceptivos. A lesão de cada um deles
Existem outras estruturas vizinhas ao DIV que partici- produzirá uma síndrome clínica específica: paresia, dimi-
pam ativamente nos sinais clínicos da herniação discal. São nuição da sensibilidade ao estímulo doloroso e a ataxia (in-
elas: o ligamento longitudinal dorsal, as raízes nervosas, o coordenação) proprioceptiva, respectivamente. Ao se
periósteo regional, as meninges e, muito importante, a me- deslocar para o interior do canal vertebral, o DIV se encer-
dula espinhal. Todas estas estruturas são muito inervadas rará em uma área já ocupada pela medula espinhal, produ-
(à exceção do tecido medular) e são, de fato, a origem da zindo uma compressão desta estrutura que, dependendo da
dor associada à doença discal. A compressão da raiz ner- massa e da velocidade de deslocamento do disco, da loca-
vosa produz a chamada dor referida (mais conhecida como lização e sensibilidade individual, produzirá uma disfunção
sinal de raiz) e a compressão medular provoca graus variá- neurológica, que pode ser classificada em uma escala de 5
veis de paresia e ataxia. graus (Quadro 1) 4. Existem outras classificações, mas esta
A lesão da medula espinhal é a responsável pelos sinais é a que consideramos a mais simples.
neurológicos observados nos animais acometidos. De forma O diagnóstico definitivo da herniação discal se dá por

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 171


Capítulo 23 – Hérnia discal

Figura 6 - Mielografia de cão adulto mostrando dispersão do meio de contraste na medula espinhal lombar,
devido a formação de mielomalácia, secundária a herniação discal de baixo volume e alta velocidade (alta
energia cinética). Conforme indicado no texto, tais herniações têm potencial para provocar lesões muito
graves e, por vezes, fatais (ver mielomalácia hemorrágica)

métodos de imagem avançados. A radiografia simples não tada, se seguirmos alguns princípios básicos. O mais impor-
oferece sensibilidade ou especificidade com relação ao tipo tante deles é definir se o tratamento de um dado paciente
de hérnia e sua localização, porém, pode ser importante deve ser clínico ou cirúrgico. Esta decisão é fundamental,
como avaliação prévia e geral, a fim de descartar tumores ós- visto que uma demora na decisão cirúrgica, em muitos
seos, discoespondilites, luxações etc. Em casos fortemente casos, leva a uma maior morbidade, aumento dos custos e
suspeitos, deve ser preterida em relação aos métodos mais es- complicações associadas à dor crônica ou à compressão me-
pecíficos como a mielografia, tomografia computadorizada e dular. Abaixo, definimos algumas diretrizes gerais para a
ressonância magnética. O leitor é instruído a consultar as re- indicação da modalidade terapêutica, importantes para evi-
ferências ao fim do capítulo para mais informações 8,13-16. tar morbidade e sequelas desnecessárias:
As massas herniadas podem ser de grande (Figura 7) ou • raças – algumas raças são notadamente predispostas a her-
pequeno volume (Figura 8), moles (Figura 9), firmes (Fi- niação discal. Dachshund, buldogue francês, poodle, cocker
gura 10), fibrosas (Figura 11) ou duras (calcificadas) (Fi- spaniel, beagle, pastor alemão, rottweiler e dobermann são
gura 7), hemorrágicas ou não, lateralizadas (Figuras 4 e 12) alguns exemplos, mas a lista é extensa e a condição pode
ou centrais (Figura 3), espalhadas (Figura 9) ou pontuais ser vista em quase todas elas. As raças tendem a ter um ciclo
(Figura 13), agudas, subagudas ou crônicas, extrusas ou de popularidade e isto afeta a distribuição epidemiológica.
protrusas. Além disso, podem invadir o canal vertebral ou Como exemplo, podemos citar o buldogue francês, cujo
apenas comprimir a raiz nervosa (foraminais). número de exemplares aumentou exponencialmente no úl-
Entende-se, portanto, a diversidade de quadros clínicos, timo ano e que, notadamente, apresenta quadros graves de
alguns de prognóstico ruim, podendo levar inclusive à herniação toracolombar, inclusive com maior incidência de
morte. A maioria, felizmente, pode ser adequadamente tra- mielomalácia (ver abaixo), quando comparada às outras

Quadro 1 – Classificação dos graus de disfunção neurológica associados às hérnias discais 10


Alteração Capacidade motora Sensibilidade à dor
proprioceptiva profunda
Grau I Não Sim, normal Sim
Grau II Sim, leve Sim, (a)normal Sim
Grau III Sim, moderada Sim, com paresia moderada Sim
Grau IV Sim, grave Não, paresia grave Sim
Grau V Sim, grave Não, plegia Não

172 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 23 – Hérnia discal

raças. O pastor alemão, tem maior incidência de protrusão


do que extrusão, conferindo um caráter mais crônico à
doença. O dachshund e o beagle com frequência apresen-
tam herniações de material discal calcificado, tornando o
tratamento clínico menos eficiente. Assim, o conhecimento
das particularidades de cada raça afeta diretamente a escolha
do tipo de tratamento 17;
Figura 9 – Peça de necropsia mostrando uma herniação
• gravidade do quadro clínico – dor excessiva, alterações discal lombar L3-4, extrusa e aguda, em buldogue francês.
da função neurológica, dor crônica, sinais clínicos reci- Notar o caráter hemorrágico do material herniado e sua
divantes, são alguns dos exemplos que devem ter uma distribuição por vários espaços discais. A coloração aver-
conduta cirúrgica, pois o tratamento clínico, em geral, não melhada da medula denuncia a gravidade do processo re-
fornece um bom resultado nestes casos; sultante ao trauma – mielomalácia focal. A rapidez e
energia dispersada durante o processo de herniação pa-
rece ser um fator muito importante na determinação da
gravidade dos sinais clínicos

Figura 7 – Hérnia discal C3-4 em buldogue francês adulto, Figura 10 – Peça de necropsia de shih-tzu adulto, portador
de grande volume e muito calcificada, de ocorrência de hérnia discal protrusa C5-6. Notar a invasão do canal
aguda. O cão apresentava dor importante e mínimos défi- vertebral. Ao toque, a massa mostra-se firme e fibrosa. Tais
cits neurológicos. Ao lado, o paciente seis horas após a ci- lesões devem ser identificadas precocemente a fim de evi-
rurgia, já sem dor e sem déficits neurológicos. Apesar do tar lesões medulares graves pela cronicidade do trauma
grande volume, o quadro clínico não mostrou correspon-
dência. Compare com o paciente da figura 8

Figura 11 – Mielografia de rottweiler adulto, como quadro


agudo de tetraparesia e dor leve. Nota-se uma grande
compressão medular ao nível de C3-4, secundária à her-
Figura 8 – Hérnia discal C3-4 em whippet adulto, de pe- niação discal. No transoperatório recuperou-se material in-
queno volume e pouco calcificada, de ocorrência aguda. O tensamente fibroso, sugerindo degeneração crônica, com
cão apresentava dor importante e graves déficits neuroló- sinais clínicos agudos. Nestes casos, acredita-se que o
gicos, inclusive com comprometimento ventilatório. Um disco sofra degeneração e protrusão, mostrando sinais
longo processo de reabilitação foi necessário para que ani- agudos devido à extrusão (aguda) do ânulo fibroso já en-
mal fosse autossuficiente novamente (6 meses). Compare fraquecido. A recuperação foi completa, apesar da gravi-
com o paciente da figura 7 dade da compressão

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 173


Capítulo 23 – Hérnia discal

• comportamento do paciente – animais muito agitados, bra- controlada pela terapia convencional e complementar, que
vos, de manipulação difícil ou que recusam medicações ten- são cooperativos e que possuem tutores que aceitam esta
dem a ser tratados cirurgicamente, uma vez que o tempo de modalidade. Ele consiste em analgesia (corticosteroides –
recuperação com o tratamento cirúrgico é notadamente preferência do autor – e/ou analgésicos não esteroides e/ou
menor 20; opioides), repouso e terapia complementar – acupuntura,
• comportamento do tutor – algumas pessoas têm uma pre- fisiatria 8-11.
ferência por tratamento clínico em detrimento do cirúrgico Em geral, animais que são classificados no Grupo I, II
e vice-versa. Nosso papel é orientar, sendo a decisão final e III, terão o mesmo resultado com as duas modalidades de
sempre do tutor; tratamento, sendo o clínico mais prolongado. O Grupo IV
• tipo de herniação – hérnias extrusas não compressivas são apresenta uma resposta claramente melhor com o trata-
tratadas clinicamente e as compressivas devem ter um trata- mento cirúrgico. O Grupo V merece uma discussão mais
mento preferencialmente cirúrgico. O objetivo de uma cirur- profunda, a seguir.
gia é descomprimir a medula, permitindo sua recuperação. Historicamente, animais com perda da sensibilidade à
Não existe sentido em fazer uma intervenção se não existe dor profunda carregam um prognóstico ruim para recupe-
compressão. Da mesma forma, forçar um tratamento clínico ração, ocorrendo em menos de 10% dos casos 1-14. Porém,
em um caso que mostra uma grande compressão medular por os primeiros estudos tinham um tempo de observação mais
uma massa calcificada e localizada, mesmo que o animal curto, as técnicas diagnósticas e cirúrgicas ainda precisa-
esteja somente com dor, tende a produzir resultados ruins, vam de avanços, a terapia de reabilitação ainda não estava
com curso de doença mais longo, maior morbidade e, geral- difundida e muitos princípios de neurociência ainda não
mente, sem resolução da dor, produzindo sofrimento crônico eram conhecidos ou difundidos. Neste contexto, há muito
(Figura 14). observamos que, se fornecemos ao paciente um tratamento
O tratamento cirúrgico é, em geral, mais caro e pode adequado e um correto processo de reabilitação por um
oferecer algum risco transoperatório, ainda que pequeno. tempo mais prolongado, muitos pacientes irão se recupe-
Porém, oferece resultados mais rápidos e amplos. Várias rar, melhorando a estatística. Atualmente, é nossa opinião
técnicas cirúrgicas podem ser empregadas, com sucessos que uma parcela em torno de 30% dos cães poderá ter sua
similares. O leitor deve consultar as referências para maio- marcha funcional recobrada. Cabe aqui uma definição de
res informações 7-16. marcha medular e sua relação com a capacidade ou não de
O tratamento clínico, por outro lado, deve ser a esco- sentir os membros. Muitos animais voltam a caminhar
lha em quadros leves, em animais que podem ter sua dor mesmo sem a recuperação da capacidade de perceber a dor
profunda, valendo-se de outras informações para a execu-
ção do movimento. Já a marcha medular (spinal walking)
é a simples movimentação aleatória, reflexa, dos membros
posteriores, que resulta em uma marcha extremamente
incoordenada e caótica, que pode ser produtiva ou não,
dependendo da ocasião e do paciente. A correta avaliação
do tipo de marcha encontrada é importante, pois a marcha
medular é um resultado incomum e pouco eficiente, ao
contrário daquela que tem uma maior coordenação com
os membros anteriores, sendo de melhor qualidade.
Muitos tutores nos questionam a respeito do porquê
indicarmos cirurgia nos animais com mais frequência do

Figura 12 - Hérnia discal C3-4 extrusa, subaguda, calcifi-


cada, com componente dorsal e lateral (foraminal) cau-
sando tanto tetraparesia quanto dor importante. A retirada
cirúrgica do material lateralizado é imperativa para a reso-
lução dos sinais clínicos. Retirar apenas o material dorsal Figura 13 - Peça de necropsia mostrando uma herniação
não resolve a dor radicular (sinal de raiz). Recuperação discal lombar L3-4, extrusa e aguda, em dachshund. Notar
pós-operatória completa da dor e da tetraparesia. Superior a pequena área de contato com a medula e o caráter cal-
esquerdo – corte transversal, janela tecidos moles. Supe- cificado na massa discal. Apesar do seu pequeno volume,
rior direito – corte transversal, janela óssea / coluna verte- o trauma resultou em alteração medular grave e mieloma-
bral. Inferior – reconstrução sagital. lácia focal.

174 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 23 – Hérnia discal

Figura 14 - Tomografia computadorizada de cão dachshund, de 14 anos de idade, mostrando herniação discal lombar
L1-2 (lateralizada esquerda – fotografia da esquerda) e L2-3 (lateralizada direita – fotografia central), ambas extrusas,
graves e calcificadas (reconstrução sagital – fotografia direita). Um ano antes da consulta, o cão havia apresentado um
episódio de dor e paraparesia grave (grau IV), tratado pelo seu clínico por 3 meses, quando houve a recuperação da
motricidade e, aparentemente da dor. À época, foi feita tomografia que mostrou herniação L1-2. Após um ano, o cão
teve novo episódio de paralisia e dor, desta vez grau V. O tutor nos procurou e disse que gostaria do tratamento clínico
pois, apesar da maior gravidade desta crise, o cão tinha “envelhecido muito” no último ano. Solicitamos tomografia que
mostrou que havia uma nova herniação e que a compressão antiga não havia modificado. Convencidos da necessidade
de intervenção para o controle da dor, realizamos a descompressão de ambos os sítios. Após uma semana o cão estava
muito melhor de comportamento e, após um mês, já se locomovia normalmente, sem qualquer sinal de dor, “rejuvenes-
cendo vários anos”, segundo seus tutores. Este caso nos mostra a importância do tratamento correto, avaliação crítica
do que chamamos de melhora e da síndrome sistêmica que a dor crônica provoca, produzindo uma importante perda
da qualidade de vida. É nosso papel monitorar a recuperação de nossos pacientes

que em humanos. Várias explicações se aplicam: postura HAZEWINKEL, H. A. ; MEIJ, B. P. ; LAGERSTEDT, A. S.


humana x postura canina; incidência de hérnia compressiva Incidence of intervertebral disk degeneration–related diseases and
associated mortality rates in dogs. Journal of the American
medular em cães x herniações lateralizadas produzindo Veterinary Medical Association, n. 240, n. 1, p. 1300-1309, 2012.
apenas compressão radicular nos humanos; incapacidade DOI: 10.2460/javma.240.11.1300.
de realização de repouso em medicina veterinária. Neste 3-BERGKNUT, N. ; SMOLDERS, L. A. ; GRINWIS, G. C. ;
aspecto, gostaríamos de lembrar que a prescrição tradicio- HAGMAN, R. ; LAGERSTEDT, A. S. ; HAZEWINKEL, H. A. ;
nal de conter o paciente em uma gaiola ou espaço restrito, TRYFONIDOU, M. A. ; MEIJ, B. P. Intervertebral disc degeneration
em muitos casos, não resulta em repouso efetivo pois pro- in the dog. Part 1: Anatomy and physiology of the intervertebral
disc and characteristics of intervertebral disc degeneration.
duz um estresse maior nos animais, que tentam escapar per-
Veterinary Journal, v. 195, n. 3, p. 282-291, 2013. DOI:
manentemente, exercitando-se e agitando-se mais no 10.1016/j.tvjl.2012.10.024.
confinamento do que soltos. Neste ponto, aplica-se o bom 4-BERGKNUT, N. ; MEIJ, B. P. ; HAGMAN, R. ; DE NIES, K. S . ;
senso. A observação de cada paciente e uma correta anam- RUTGES, J. P. ; SMOLDERS, L. A. ; CREEMERS, L. B. ;
nese / monitoramento da evolução do caso informará ao LAGERSTEDT, A. S. ; HAZEWINKEL, H. A. ; GRINWIS, G. C.
clínico se o cão é um candidato ao confinamento ou não. Intervertebral disc disease in dogs - part 1: a new histological
Qualquer modalidade terapêutica terá que lidar, em maior grading scheme for classification of intervertebral disc degeneration
in dogs. Veterinary Journal, v. 195, n. 2, p. 156-163, 2013. DOI:
ou menor grau, com as consequências da herniação: dor, 10.1016/j.tvjl.2012.05.027.
déficits neurológicos e atrofias musculares, sejam seque-
5-BRAY, J. P. ; BURBIDGE, H. M. The Canine Intervertebral Disk Part
lares ou temporárias. O processo de reabilitação é inerente Two : Degenerative Changes — Nonchondrodystrophoid versus.
ao tratamento da doença discal e deve ser implementado Journal of the American Animal Hospital Association, v. 34,
com base nas considerações acima 8. n. 2, p. 135-144, 1998. DOI: 10.5326/15473317-34-2-135.
As sequelas permanentes da doença do DIV variam 6-BRAY, J. P. ; BURBIDGE, H. M. The canine intervertebral disk: part
desde leve monoparesia até tetraplegia, causando morbi- one: structure and function. Journal of the American Animal
dade e mortalidade (natural ou por eutanásia) que, se não Hospital Association, v. 34, n. 1, p. 55-63, 1998. DOI:
10.5326/15473317-34-1-55.
podem ser anuladas, podem ser diminuídas intensamente
7-DE LAHUNTA, A. ; GLASS, E. ; KENT, M. Veterinary Neuro-
pelo correto manejo dos nossos pacientes.
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Capítulo 23 – Hérnia discal

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COMO CITAR ESSE CAPÍTULO


SCHAMALL, R. F. Hérnia discal. In: LOPES, R. S. ;
DINIZ, R. Fisiatria em pequenos animais. 1a ed. São
Paulo : Editora Inteligente, 2018. p. 169-176. ISBN
978-85-85315-00-9.

176 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


24
Diagnóstico diferencial da doença do disco intervertebral

Paulo Vinícius Tertuliano Marinho

A
s afecções vertebromedulares têm sido reconheci- vasculares (V), inflamatórias/ infecciosas/ imunes (I), trau-
das como causa importante de incapacidade neuro- máticas (T), anomalias (A), metabólicas (M), idiopáticas
lógica dos animais, pois resultam em alterações (I), neoplásicas/ nutricionais (N) ou degenerativas/desen-
anatômicas dos tecidos da coluna vertebral ou afetam ele- volvimento (D).
mentos da medula espinal a nível microscópico, fisiológico As afecções marcadas em destaque no quadro represen-
ou funcional. tam as mais comumente observadas na rotina clínica de
A doença do disco intervertebral (DDIV) é a afecção cães e gatos.
mais comumente observada em cães com doença vertebro- Ao usar este acrônimo, é fundamental conhecer as ca-
medular, no entanto, é necessário o diagnóstico diferencial racterísticas clínicas dessas afecções, especialmente os as-
dessa afecção, independente da localização da lesão e da pectos referentes à evolução da doença (principalmente se
progressão clínica da doença. o início é agudo, subagudo ou crônico), idade e raças mais
As principais afecções que acometem a coluna vertebral acometidas, principais déficits neurológicos e a presença ou
e medula espinhal, e que devem entrar no diagnóstico di- ausência de dor. Por exemplo, embora a DDIV seja a doença
ferencial de pacientes com DDIV são demostradas no qua- vertebromedular mais comum em cães, não é um diagnós-
dro abaixo (Quadro 1), segundo o acrônimo VITAMIN-D: tico diferencial razoável para um cão de seis meses de idade

Quadro 1 – Principais diagnósticos diferenciais da doença do disco intervertebral baseados no mecanismo da


doença (VITAMIN-D)

Mecanismo da doença Doença específica


Vascular Mielopatia embólica fibrocartilaginosa
Neuromiopatia isquêmica (tromboembolismo arterial aórtico ou braquial)
Hemorragia epidural
Hemorragia da medula espinhal
Malformação vascular
Inflamatória/Infecciosa Meningites [meningite arterite responsiva a corticosteroides (MARC) ou
meningite bacteriana]
Meningomielites infecciosas ou não infecciosas
Discoespondilite
Osteomielite vertebral
Abscesso epidural
Trauma Fraturas e luxações vertebrais
Tóxico Nenhuma
Anomalia Instabilidade atlantoaxial
Sindrome de Chiari-like e siringomielia
Hemivértebra
Divertículo aracnóideo
Espinha bífida
Metabólica Nenhuma
Idiopática Calcinose circunscrita
Osteocondromatose
Hiperostose esquelética idiopática disseminada (DISH)
Neoplásica Neoplasias vertebromedulares primárias ou secundárias
Tumor maligno de bainha de nervo periférico (TMBNP)
Invasão local de nervos por tumores adjacentes
Nutricional Hipervitaminose A
Fraturas patológicas secundárias a doenças ósseas metabólicas
Degenerativa Mielopatia degenerativa
Síndrome da cauda equina
Espondilomielopatia cervical
Cisto sinovial extradural
Osteoartrite degenerativa das facetas articulares

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 177


Capítulo 24 – Diagnóstico diferencial da doença do disco intervertebral

com paraparesia crônica. Algumas generalidades devem ser embora muitas doenças afetem várias regiões da coluna
consideradas quando se utiliza o acrônimo VITAMIN-D. vertebral (por exemplo, DDIV, discospondilite, mielopatia
Cães jovens são mais propensos a ter condições congênitas embólica fibrocartilaginosa), muitas são específicas da re-
ou inflamatórias. As apresentações agudas são geralmente gião (por exemplo, instabilidade atlantoaxial, espondilo-
causadas por condições vasculares ou traumáticas (in- mielopatia cervical, mielopatia degenerativa, síndrome da
cluindo a extrusão do disco intervertebral, que é considerado cauda equina). Sendo assim, as principais divisões da me-
um trauma endógeno). As apresentações crônicas são geral- dula espinhal em termos de localização da lesão são C1 a
mente vistas em processos degenerativos ou neoplásicos. C5 (cervical), C6 a T2 (cervicotorácica), T3 a L3 (toraco-
O curso clínico da afecção fornece informações impor- lombar) e L4 a S3 (lombossacra). É importante ressaltar,
tantes sobre a causa da doença. As doenças lentamente pro- que os segmentos da medula espinhal não coincidem com
gressivas são imediatamente distinguidas das doenças as vértebras nas regiões cervical e lombar, e há sete vérte-
agudas. O primeiro passo para fazer um diagnóstico etioló- bras cervicais, mas oito segmentos cervicais da medula es-
gico é classificar o problema como agudo, crônico e progres- pinhal. Além disso, caudal a vértebra L5 (cães) e L6/L7
sivo ou não progressivo. Com esta informação, o problema (gatos) encontra-se a cauda equina, ou seja, o tecido ner-
cai logicamente em um grupo de doenças (Quadro 2). voso que compõe essa região (vértebras L6 – S3) é consti-
O exame neurológico pode restringir ainda mais a es- tuído unicamente de substância cinzenta e não há medula
colha das doenças, indicando se o problema é focal ou difuso espinhal, que é composta de substancia branca e cinzenta.
(Quadro 2). Após um diagnóstico etiológico ou patológico Essa distinção anatômica reflete diretamente nas caracte-
geral, o plano de diagnóstico pode ser estabelecido para rísticas clínicas dos pacientes acometidos, pois compressão
que se possa investigar cada causa provável. que envolve apenas a região da cauda equina não culmina
Outra maneira de abordar pacientes com doenças ver- com ataxia proprioceptiva. Portanto, o segmento vertebral
tebromedulares é desenvolver uma lista de doenças que são L6-S3 é abordado separadamente e não contêm nenhum
conhecidos por afetar regiões específicas. Isto é útil porque, dos segmentos medulares supracitados.

Quadro 2 – Classificação das doenças neurológicas pela ordem de frequência aproximada segundo a evolução clí-
nica, idade do paciente e localização focal ou difusa
Progressivo Jovem (<1 ano) Focal Anomalia
Neoplásico
Inflamatório
Difuso Inflamatório
Degenerativo
Nutricional
Adulto (> 1 ano) Focal Neoplásico
AGUDO

Difuso Inflamatório
Degenerativo
Não progressivo Jovem (<1 ano) Focal Anomalia
Traumático
Vascular
Difuso Raro
Adulto (> 1 ano) Focal Traumático
Vascular
Difuso Raro
Progressivo Jovem (<1 ano) Focal Inflamatório (abscesso)
Difuso Degenerativo
Metabólico
Nutricional
CRÔNICO

Imunológico
Adulto (> 1 ano) Focal Degenerativo
Neoplásico
Inflamatório (abscesso)
Difuso Degenerativo
Metabólico
Inflamatório
Nutricional

178 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 24 – Diagnóstico diferencial da doença do disco intervertebral

Os principais diagnósticos diferenciais e suas caracte- resultando em edema e inflamação da medula espinhal, que
rísticas segundo o segmento medular e vertebral acometido pode estender-se cranialmente para o tronco encefálico.
estão representados nos quadros a seguir (Quadros 3 a 7). Esta condição é secundária as anormalidades congênitas e
É importante salientar, que algumas das afecções, de desenvolvimento do atlas e axis (ósseo ou ligamentar)
apesar de serem comumente mais vistas em determinadas ou injúria traumática da articulação, ou uma combinação
regiões da coluna vertebral e medula espinhal (como de- de ambos.
monstrado nos quadros compartilhados nesse capítulo), não As alterações mais frequentes são agenesia ou hipopla-
se limitam apenas a essas regiões, como é o caso da mielo- sia do processo odontoide, angulação dorsal, fratura e avul-
patia embólica fibrocartilaginosa, discoespondilite, trauma são ou não união do odontoide com o áxis. Não está claro
vertebral, meningomielite, as quais podem ser encontradas se a ausência do processo odontoide é realmente devido à
em qualquer uma das localizações supracitadas. ausência congênita de um centro de ossificação ou se pode
O conhecimento mais específico sobre a fisiopatologia ser devido à necrose isquêmica que ocorre em algumas
e a evolução clínica das principais afecções vertebromedu- raças predispostas de cães. Acredita-se que o processo
lares é necessária para que o fisiatra perceba qual o diagnós- odontoide, que está presente ao nascimento, sofra uma de-
tico está sendo estabelecido e defina qual a melhor terapia generação progressiva devido à isquemia, o que levaria à
específica em cada paciente. Diante disso, os principais as- reabsorção de pelo menos parte do processo após o nasci-
pectos e características clínicas das afecções supracitadas mento, resultando em displasia do dente e consequente falta
são abordados a seguir. de ação dos ligamentos, devido ao tamanho diminuído do
odontoide, ocorrendo posterior subluxação atlantoaxial.
Subluxação (instabilidade) atlantoaxial A doença ocorre principalmente em cães de raça de pe-
1,2,3,4,5,6,7,8,9,10,11,12,13,14,15,16,17,18,19,20,21,22,23,24 queno porte como poodle toy e miniatura, yorkshire terrier,
A subluxação atlantoaxial (SLAA) é referida como uma chihuahua, pequinês e lulu da pomerânia. Os cães apresen-
instabilidade da articulação entre a primeira e segunda vér- tam os sinais clínicos nos primeiros dois anos de vida, mas
tebras cervicais e conduz ao deslocamento dorsal do axis em geral em 52% a 70% dos pacientes, o início do quadro
em relação ao atlas podendo ocasionar lesões traumáticas ocorre com menos de um ano de idade. É uma causa fre-
da medula espinhal tais como à concussão e compressão, quente de mielopatia cervical em 53 a 77% de cães das

Quadro 3 – Principais diagnósticos diferenciais da DDIV que afetam o segmento medular C1-C5 (Vértebra C1 até o
meio de C5). Estas doenças podem causar ataxia proprioceptiva, tetraparesia e/ou dor cervical 32
Afecção Raças Idade Início Déficits Dor espinhal
neurológicos
Instabilidade Pequenas Normalmente Agudo ou Comum; ataxia Presente na
atlantoaxial ou toy mais jovens que crônico e tetraparesia maioria dos
2 anos casos
Espondilomielopatia Gigantes Normalmente Usualmente Comum; ataxia Normalmente
cervical mais jovens que crônico, mas e tetraparesia moderada;
(ósseo-associada) 3-4 anos pode ser agudo visto em 50%
dos casos
Espondilomielopatia Grandes Idade média a Usualmente Comum; ataxia Normalmente
cervical cães idosos crônico, mas e tetraparesia moderada;
(disco-associada) pode ser agudo visto em 50-
70% dos
casos
Neoplasias Qualquer; Qualquer; Crônico ou Comum Variável, mas
vertebromedulares principalmente normalmente subagudo normalmente
grande porte de meia idade presente
a mais velhos
Trauma vertebral Qualquer Qualquer Agudo Comum Comum
Mielopatia Qualquer; Qualquer Agudo Comum; Ausente
embólica normalmente normalmente normalmente (após 12 a
fibrocartilaginosa grande porte de meia idade assimétricos 24 horas)
Meningite arterite Boxers, beagle, Jovens; Agudo ou Incomum Severa
imunomediada bernese, pointer, normalmente Subagudo
golden retriever mais jovens
que 2 anos

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 179


Capítulo 24 – Diagnóstico diferencial da doença do disco intervertebral

Quadro 4 – Principais diagnósticos diferenciais da DDIV que afetam o segmento medular C6-T2 (meio da vértebra
C5 até a porção caudal de T1). Estas doenças podem causar ataxia proprioceptiva, tetraparesia e/ou dor cervical 32
Afecção Raças Idade Início Déficits Dor espinhal
neurológicos
Espondilomielopatia Gigantes Normalmente Usualmente Comum; ataxia Normalmente
cervical mais jovens que crônico, mas e tetraparesia moderada;
(ósseo-associada) 3-4 anos pode ser agudo visto em 50%
dos casos
Espondilomielopatia Grandes Idade média Usualmente Comum; ataxia Normalmente
cervical a cães velhos Crônico, mas e tetraparesia moderada;
(disco-associada) pode ser agudo visto em 50-
70% dos casos
Neoplasias Qualquer; Qualquer; Crônico ou Comum Variável, mas
cervical principalmente normalmente de subagudo normalmente
(disco-associada) grande porte meia idade presente
a mais velhos
Trauma vertebral Qualquer Qualquer Agudo Comum Comum
Mielopatia Qualquer; Qualquer Agudo Comum; Ausente
embólica normalmente normalmente normalmente (após 12 a
fibrocartilaginosa grande porte de meia idade assimétricos 24 horas)
Discoespondilite Qualquer; Qualquer; Agudo ou Normalmente Dor severa,
normalmente normalmente crônico não apresenta algumas vezes
grande porte mais jovens no início não localizável
e gigante e meia idade

Quadro 5 – Principais diagnósticos diferenciais da DDIV que afetam o segmento medular T3-L3 (vértebra T2 a L3).
Estas doenças causam ataxia proprioceptiva, paraparesia, ou paraplegia com reflexos segmentares normais a au-
mentados nos membros pélvicos 32
Afecção Raças Idade Início Déficits Dor espinhal
neurológicos
Mielopatia Qualquer; Qualquer; Agudo Comum; Ausente
embólica normalmente normalmente normalmente (após 12 a
fibrocartilaginosa grande porte de meia idade assimétricos 24 horas)
Neoplasias Qualquer; Qualquer; Crônico ou Comum Variável, mas
vertebromedulares principalmente normalmente de subagudo normalmente
grande porte meia idade a (2 a 3 dias) presente
mais velhos
Hemivértebra Raças com a Jovens; Usualmente Comum; Raro
calda em normalmente crônico, mas paraparesia e
parafuso; mais jovens pode ser ataxia
buldogue francês, que 2 anos agudo
buldogue inglês,
pug
Meningomielite Qualquer Qualquer Normalmente Variável, mas Variável, mas
subagudo os sinais normalmente
(poucos dias) frequentemente presente;
são assimétricos podem aumentar
e diminuir
Trauma vertebral Qualquer; Qualquer Agudo Comum Comum
Mielopatia Principalmente Mais velhos Crônico Comum; Ausente
degenerativa cães de grande que 5 anos (meses) ataxia e
porte; pastor paraparesia
alemão, boxer óbvias

180 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 24 – Diagnóstico diferencial da doença do disco intervertebral

Quadro 6 – Principais diagnósticos diferenciais da DDIV que afetam o segmento medular L4-S3 (vértebra L4-L5
em cães e L5-L6 em gatos). Estas doenças causam moderada ataxia proprioceptiva, paraparesia, ou paraplegia
com reflexos segmentares reduzidos a ausentes nos membros pélvicos 32

Afecção Raças Idade Início Déficits Dor espinhal


neurológicos
Mielopatia Qualquer; Qualquer; Agudo Comum; Ausente
embólica normalmente normalmente normalmente (após 12
fibrocartilaginosa grande porte de meia idade assimétricos a 24 horas)
Neoplasias Qualquer; Qualquer; Crônico ou Comum Variável, mas
vertebromedulares principalmente normalmente de subagudo normalmente
grande porte meia idade a (2 a 3 dias) presente
mais velhos
Meningomielite Qualquer Qualquer Normalmente Variável, mas Variável, mas
subagudo os sinais normalmente
(poucos dias) frequentemente presente;
são assimétricos podem aumentar
e diminuir
Trauma vertebral Qualquer; Qualquer Agudo Comum Comum
Mielopatia Principalmente Mais velhos Crônico Comum; ataxia Ausente
degenerativa cães de grande que 5 anos (meses) e paraparesia.
porte; pastor O reflexo patelar
alemão, boxer diminuído é
geralmente uma
manifestação
de uma
radiculopatia
dorsal (sensorial),
e não um sinal
de neurônio motor
inferior

Quadro 7 – Diagnóstico diferencial de doenças comuns que afetam as vértebras L6, L7 e sacro. Estas doenças
podem causar paraparesia com ou sem déficits proprioceptivos, mas sem ataxia proprioceptiva porque a medula
espinhal não é afetada. Claudicação também é frequentemente observada com lesões assimétricas nessa área 32

Afecção Raças Idade Início Déficits Dor espinhal


neurológicos
Síndrome da Normalmente Normalmente Crônico Normalmente Frequentemente
cauda equina grande porte; de meia idade leves a moderados; presente, mas
pastor alemão a mais velhos podem ser severos pode ser
em estágio tardios; elucidada apenas
claudicação pode com palpação
ser o único sinal. vertebral
profunda.
Pode ser o
único sinal
Neoplasias Qualquer; Qualquer; Crônico ou Comum Variável, mas
vertebromedulares principalmente normalmente subagudo normalmente
grande porte de meia idade (2 a 3 dias) presente
a mais velhos
Discoespondilite Qualquer; Qualquer; Agudo ou Normalmente Dor severa,
normalmente normalmente crônico não apresenta algumas vezes
grande porte e jovens e meia no início não localizável
gigante idade
Trauma vertebral Qualquer Qualquer Agudo Comum Comum

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 181


Capítulo 24 – Diagnóstico diferencial da doença do disco intervertebral

raças toy, mas já foi relatada em cães de raças grandes, in- agudo, cães com imaturidade vertebral, e aqueles para os
cluindo o rottweiler e dobermann pinscher. quais as restrições financeiras não incluem a cirurgia como
Lesões agudas ou crônicas na medula espinhal cervical uma opção. O objetivo do tratamento conservativo é imo-
são as principais consequências da instabilidade atlantoa- bilizar a articulação atlantoaxial gerando uma fusão por
xial em cães. Os sinais clínicos associados variam com a meio de fibrose ou formação de calo ósseo nos casos asso-
gravidade da injúria medular, desde dor cervical à tetraple- ciados com fratura. Este processo é resultado da rigidez da
gia, e em compressões medulares graves o paciente pode articulação enquanto as estruturas ligamentares cicatrizam.
vir a óbito devido à parada respiratória em decorrência da O tratamento consiste no confinamento em canil por seis
proximidade do início da medula espinhal com o bulbo do a doze semanas, utilização de analgésicos, anti-inflamatórios
tronco encefálico. Em alguns casos ocorre alteração da pos- e colar cervical rígido. O movimento da cabeça e do pescoço
tura, como torcicolo, devido à seringohidromielia conco- é restringido por um colar cervical confeccionado com ma-
mitante. Os sinais clínicos são exacerbados pela flexão do teriais para tala com um suporte rígido. A bandagem deve
pescoço e podem ser secundários a traumas leves. Alguns ser realizada com a coluna rígida e estendida, e delimitada
animais com SLAA podem apresentar concomitantemente entre o limite caudal à mandíbula até os ombros e região do
hidrocefalia, havendo sinais encefálicos. processo xifoide. Caso a bandagem não esteja o mais cranial
Diagnósticos diferenciais para cães de raças pequenas possível do pescoço, um estresse pode ser gerado na articu-
que apresentam sinais de lesão cervical incluem diversas lação atlantoaxial. Se a bandagem for realizada muito caudal,
afecções. As mais prováveis estão relacionadas às doenças sem um suporte adequado na porção cranial, ocorrerá redu-
inflamatórias e infecciosas do sistema nervoso central ção no movimento da porção média e caudal da coluna cer-
como meningoencefalites, meningomielites e meningoen- vical gerando um aumento do movimento de estresse na
cefalomielites. A doença do disco intervertebral cervical é região atlantoaxial, o qual não é desejado.
mais comum em cães de idade avançada e rara em cães Poderá haver complicações com bandagens muito aper-
com menos de dois anos de idade. A discoespondilite e fra- tadas na região cervical alta, a maioria com potencial de
turas cervicais podem estar presentes em qualquer idade. compressão das vias aéreas, ou dano venoso, e desenvol-
Outras anomalias crânio-espinhais (por exemplo, siringo- vimento de edema de face, especialmente no espaço inter-
hidromielia, síndrome de Chiari, sobreposição atlantoocci- mandibular. Outras complicações associadas à tala são
pital, malformação occipitoatlantoaxial, compressão dorsal úlcera de córnea, migração da tala, dermatite, úlcera de de-
craniocervical) e neoplasias da coluna cervical ou cerebrais cúbito, hipertermia, anorexia, otite externa, acúmulo de res-
podem estar presentes. O diagnóstico de instabilidade na tos de alimentos entre a tala e a mandíbula.
articulação atlantoaxial é confirmado com base nos exames O tratamento cirúrgico tem como objetivo realinhar e
de imagem (Figura 1) e deve ser considerado um achado estabilizar a junção atlantoaxial e promover descompressão
clinicamente relevante e tratado rapidamente. da medula espinhal, indicado em casos crônicos, sinais
A instabilidade pode ser tratada de modo conservativo agudos graves, sinais clínicos recidivantes ou insucesso no
ou por meio de cirurgia, e ambos os tratamentos possuem tratamento conservativo. Entretanto, Platt & Da Costa 45 re-
resultados favoráveis. comendam o tratamento cirúrgico para todos os cães com
O tratamento conservativo é recomendado para cães subluxação atlantoaxial a fim de gerar fusão permanente e
com déficits neurológicos leves, sinais clínicos com início redução das chances de recidiva.

Figura 1 – A) Imagem radiográfica da coluna vertebral cervical cranial de um cão com instabilidade atlantoaxial, em que
se observa deslocamento dorsal do axis em relação ao atlas (Laboratório de Ortopedia e Traumatologia Comparada e
Serviço de Ortopedia da FMVZ/USP, São Paulo, SP). B) O mesmo é observado em outro paciente, por meio de resso-
nância magnética em imagem ponderada em T2, onde além do deslocamento dorsal do axis, é possível observar área
de hiperintensidade ao nível entre o atlas e o axis

182 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 24 – Diagnóstico diferencial da doença do disco intervertebral

Plessas e Volk 13 apresentaram um resumo de uma revi- mecanismo da doença. Suspeita-se que haja um compo-
são sistemática dos 336 casos publicados de 1967 a 2013. nente multifatorial, incluindo anormalidades primárias do
Descobriram que 84,5% (284 de 336) dos cães foram sub- desenvolvimento e alterações degenerativas secundárias
metidos à cirurgia com 70,8% (201 de 284) desses cães que levam à estenose do canal vertebral e compressão da
submetidos a procedimento ventral e 29,2 % (83 de 284) medula espinhal. A compressão é frequentemente dinâmica
recebendo um procedimento dorsal. Um desfecho bem-su- e muitas vezes secundária a uma combinação de doenças
cedido foi relatado em 82,6% (166 de 201) dos procedi- degenerativas do disco, hipertrofia do anel fibroso dorsal e
mentos ventrais e 65,1% (54 de 83) nos procedimentos hipertrofia do ligamento longitudinal dorsal. Além disso,
dorsais. A conduta médica foi realizada em 11,6% (39 de os cães afetados nascem com estenose do canal vertebral
336) dos casos com 71,8% (28 de 39) de cães com resul- relativa. Portanto, a combinação de estenose do canal ver-
tado positivo definido por escore neurológico final de 4 ou tebral pela própria conformação vertebral associada à com-
5 (ambulatório com ataxia e ambulatório sem déficit neu- pressão pelo disco intervertebral, culmina com compressão
rológico, respectivamente). A taxa de letalidade periopera- medular e sinais clínicos.
tória foi de 5% com procedimentos ventrais e 8% com Os sinais clínicos podem ocorrer por várias semanas a
procedimentos dorsais. meses, sendo compatível com um quadro crônico progres-
sivo. A apresentação aguda é geralmente associada com dor
Síndrome de Woobler 25,26,27,28,29,30,31,32,33,34,35,36,37,38,39, cervical e, ocasionalmente, com descompensação aguda de
40,41,42,43,44,45,46,47,48,49 uma lesão crônica. Ataxia proprioceptiva é vista na maioria
A espondilomielopatia cervical (EMC), mais conhecida dos cães com EMC, e os cães com lesões na região cranial
como síndrome de Wobbler é uma doença que afeta várias ou média da coluna vertebral cervical tendem a apresentar
estruturas da coluna vertebral cervical de cães de raças ataxia afetando os quatro membros de forma mais equita-
grandes e gigantes, havendo como consequência a com- tiva. No entanto, há ataxia dos membros pélvicos com
pressão estática e dinâmica da medula espinhal cervical, anormalidade leve nos membros torácicos e a marcha nes-
raízes nervosas, ou ambas, levando a graus variados de dé- ses membros pode aparecer curta e espástica, com pseudo-
ficits neurológicos e dor cervical. hipermetria, resultado da afecção do neurônio motor
Os cães afetados apresentam estenose do canal verte- superior causando espasticidade, que difere da hipermetria
bral, causada por doença do disco intervertebral, em geral verdadeira, na qual o paciente apresenta passos altos se-
nos discos cervicais caudais, ou estenose associada à má- cundário a hiperflexão da articulação dos membros toráci-
formação óssea e/ou alterações osteoartríticas. cos. A marcha do membro pélvico muitas vezes apresenta
Para o melhor entendimento da fisiopatologia, a com- a base larga e incoordenada, com o comprimento dos pas-
pressão da medula espinhal pode ser dividida em compres- sos prolongado, fazendo com que ocorra movimento de ba-
são disco-associada e compressão ósseo-associada. lanço traseiro típico da doença. A marcha rígida com passos
A compressão ósseo-associada ocorre predominante- curtos nos membros torácicos, associada a uma marcha de
mente em cães jovens de raças gigantes, sendo a raça base ampla dos membros pélvicos é chamada de andar de
Dogue Alemão a principal raça afetada. Nesses animais a "two-engine" ou “dois tempos”. Em cães gravemente afe-
doença é vista em uma idade mais precoce, e a causa here- tados, pode ocorrer fraqueza nos membros pélvicos, torá-
ditária parece a mais provável. Os cães afetados apresentam cicos ou em ambos. Déficits de propriocepção conscientes
estenose absoluta severa do canal vertebral decorrente de são observados na maioria dos cães com EMC, mas podem
proliferação óssea do arco vertebral dorsalmente, das face- não ser evidentes naqueles com uma história crônica, ape-
tas articulares dorsolateralmente, ou das facetas articulares sar da ataxia proprioceptiva. A postura com abdução do co-
e dos pedículos vertebrais lateralmente. A causa da com- tovelo e com rotação interna dos dígitos (''postura dedos
pressão parece ser a combinação de malformações verte- pra dentro'') é observada em aproximadamente um terço
brais com alterações osteoartríticas das facetas articulares, dos dobermanns com EMC.
e apesar de a maioria dos cães de raças gigantes apresenta- Os reflexos espinhais normais a aumentados em todos
rem compressões ósseas, ocasionalmente estas podem ser os quatro membros indica lesão no segmento C1-C5. É
complicadas pela ocorrência de protrusão discal quando os comum observar o reflexo flexor diminuído no membro to-
cães se tornam mais velhos. A compressão por hipertrofia rácico acompanhado de tônus extensor normal a aumentado
do ligamento amarelo pode fazer parte dessa doença, mas no mesmo membro, sugerindo lesão de neurônio motor in-
a compressão ligamentar, como única fonte de compressão ferior que envolve o nervo musculocutâneo originado do
não é comum. segmento C6-C8 e ao mesmo tempo uma lesão de neurônio
A compressão disco-associada é observada em cães de motor superior do nervo radial originado do segmento C7-
raças grandes de meia idade, principalmente dobermann T1, e principalmente do segmento C8-T1. Nos membros
pinschers, com mais de três anos, e em média com aproxi- pélvicos, os reflexos estão normais a aumentados.
madamente sete anos de idade. Embora a patogênese da A hiperestesia cervical é comumente observada em cães
EMC disco-associada não seja bem compreendida, diver- com EMC, mas normalmente não é a razão principal para
sos estudos têm sido realizados com o intuito de elucidar o a consulta.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 183


Capítulo 24 – Diagnóstico diferencial da doença do disco intervertebral

Figura 2. (A) Ressonância magnética ponderada em T2 em corte sagital de dogue alemão com EMC disco associada, vi-
sibiliza-se compressão da medula espinhal pelo disco intervertebral, degeneração do disco intervertebral, protrusão do
disco intervertebral e hiperintensidade de sinal na medula espinhal, principalmente na substância cinzenta; (B) Ressonância
magnética ponderada em T2 em corte sagital do mesmo com EMC disco associada, visibiliza-se compressão da medula
espinhal pelo ligamento amarelo (seta acima) e disco (seta abaixo), degeneração do disco intervertebral e protrusão do
disco intervertebral (Laboratório de Ortopedia e Traumatologia Comparada e Serviço de Ortopedia da FMVZ/USP, São Paulo, SP)

As radiografias simples não são precisas para o diag- e graus variáveis de disfunção neurológica, expandindo a
nóstico de EMC, havendo necessidade de métodos de zona de destruição tecidual. Devido aos fatores citados
neuroimagem mais específicos como mielografia, mieloto- acima, pode ser observado grande deslocamento vertebral
mografia ou ressonância magnética (RM). Atualmente, a com pouca lesão ao tecido nervoso, bem como grande lesão
RM é o principal exame a ser realizado quando se suspeita ao tecido nervoso sem grande comprometimento das vér-
de EMC (Figura 2), pois permite a visualização direta do tebras. Os pacientes apresentam disfunções neurológicas
parênquima medular e permite distinguir a compressão em em diferentes graus, e dependendo do segmento medular
estática ou dinâmica, o que influencia diretamente na es- afetado, pode ocorrer incapacidade permanente, óbito ou
colha da técnica cirúrgica. lesões que levem à eutanásia dos animais afetados.
Os sinais neurológicos variam conforme a gravidade da
Fraturas e luxações vertebrais 50,51,52,53,54,55,56,57,58, 59 lesão e o segmento medular afetado, podendo ocorrer dor,
O trauma vertebromedular ocorre frequentemente e leva ataxia proprioceptiva, paresia, paraplegia com ou sem perda
a sequelas devastadoras como a perda parcial ou completa da dor profunda e incontinência urinária e/ou fecal até te-
das funções motoras, sensoriais e viscerais. traparesia/tetraplegia. Além das alterações neurológicas, os
As fraturas e luxações vertebrais estão comumente animais que sofrem traumas externos que levem a fratura e
associados a atropelamentos, quedas, agressões e tiros por luxações vertebrais, podem apresentar lesões concomitan-
armas de fogo. Em uma minoria de animais podem ocorrer tes, como feridas, trauma em cavidade abdominal, tórax ou
fraturas patológicas decorrentes de enfermidades primárias esqueleto apendicular em 45 a 83% dos casos, sendo neces-
como neoplasias, infecções ósseas, osteopenias e alterações sário realizar avaliação clínica adequada para determinar as
nutricionais. Os traumas exógenos podem lesionar vérte- prioridades e exames complementares adequados.
bras, disco intervertebral, meninges, medula espinhal ou É importante realizar avaliação específica das imagens
várias dessas estruturas concomitantemente, resultando em radiográficas (Figura 3A) e tomográficas, objetivando ava-
fratura, subluxação, luxação vertebral, hemorragia, hema- liar a estabilidade vertebral, para determinar se a terapia
toma, edema medular, lesões compressivas, laceração me- conservadora ou cirúrgica (Figura 3B) será a mais adequada.
dular ou das raízes associadas, incluindo a cauda equina, Tradicionalmente essa avaliação tem sido realizada to-
podendo ocorrer disfunções neurológicas em diferentes mando como base a “teoria dos três compartimentos” que
graus. No momento do trauma ocorrem lesões primárias foi originalmente desenvolvida para humanos e desde então
como concussão, secção medular, compressão e isquemia. foi adaptado para a medicina veterinária, preconizando que
Essas por sua vez desencadeiam mecanismos secundários existem três compartimentos na coluna vertebral em relação
de lesão medular, tais como alterações vasculares e eletro- ao seu comprimento. Se dois ou mais desses compartimen-
líticas, peroxidação de lipídios, liberação de opioides en- tos estiverem envolvidos, então há instabilidade vertebral
dógenos e reação inflamatória, induzindo a necrose tecidual que precisa ser corrigida (Figura 3B).

184 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 24 – Diagnóstico diferencial da doença do disco intervertebral

Figura 3 – (A) Fratura epifisária de L2, levando a luxação entre L2-L3, comprometendo ainda a faceta articular, com en-
volvimento de mais de um compartimento vertebral, sendo classificada como uma fratura instável; (B) Imagem radio-
gráfica após correção cirúrgica com parafusos, pinos e cimento ósseo, observa-se alinhamento do canal vertebral
(Laboratório de Ortopedia e Traumatologia Comparada e Serviço de Ortopedia da FMVZ/USP, São Paulo, SP)

Mielopatia embólica fibrocartilaginosa 60,61,62,63,64 da coluna vertebral. Embolia pode ocorrer em qualquer
A mielopatia embólica fibrocartilaginosa (MEF), tam- lugar da medula espinhal, de modo que sinais de NMI ou
bém conhecida como infarto fibrocartilaginoso ou embo- NMS podem ser observados. Os infartos unilaterais que
lismo fibrocartilaginoso, é uma síndrome aguda da medula afetam principalmente a substância cinzenta dos segmentos
espinhal secundária a infarto agudo associado a emboliza- C6-T2 ou L4-S2 da medula espinhal ou a substância branca
ção arterial por material histoquimicamente idêntico ao nú- dos segmentos T3-L3 da medula espinhal podem causar
cleo pulposo do disco intervertebral. monoparesia aguda dos membros torácicos (C6-T2) ou pél-
Após a obstrução vascular pelo êmbolo, ocorre inter- vicos (T3-L3 ou L4-S2). Nas regiões das intumescências,
rupção do suprimento sanguíneo para a medula espinhal principalmente se a lesão for unilateral, ocorre uma sín-
resultando em morte neuronal e de células da glia. As le- drome neuropática, devido à necrose dos corpos celulares
sões vasculares da medula espinhal iniciam de forma dos cornos ventrais na substância cinzenta da medula espi-
aguda, com uma cascata de eventos que causam redução nhal, observando-se diminuição ou ausência dos reflexos,
progressiva da perfusão tecidual por até 48 horas, que, no tônus muscular reduzido e atrofia muscular neurogênica
entanto, é autolimitante. A substância cinzenta é mais sen- após cinco a sete dias. Na região cervicotorácica pode haver
sível a esta lesão do que a substância branca, devido à sua síndrome de Horner e ausência do reflexo cutâneo do
maior demanda metabólica. tronco, enquanto que na região lombossacra pode ocorrer
A avaliação histopatológica é necessária para estabele- paralisia ou analgesia da cauda, esfíncter anal, bexiga e reto.
cer um diagnóstico definitivo, uma vez que outras condi- Em gatos, a intumescência cervicotorácia é a região
ções (mesmo raras) também podem causar infarto da mais afetada, seguida pela intumescência lombossacra e
medula espinhal (por exemplo, embolia neoplásica, embo- assim os principais sinais neurológicos são tetra ou hemi-
lia parasitária, embolia séptica associada a endocardite bac- paresia, seguido por paresia/plegia.
teriana ou outra infecção). Deve-se suspeitar de MEF em Embora seja atribuída uma característica não dolorosa
cães e gatos com sinais agudos, assimétricos e não progres- a esta mielopatia, alguns proprietários descrevem que os
sivos de mielopatia focal. Sendo uma doença não-compres- animais apresentaram um período breve de desconforto e
siva da medula espinhal, cães e gatos afetados dor, que não é mais observado 24 horas após o início dos
classicamente não apresentam dor à palpação/ manipulação sinais e durante o exame neurológico subsequente. Porém

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 185


Capítulo 24 – Diagnóstico diferencial da doença do disco intervertebral

na palpação da coluna pode haver hiperpatia, se este exame medula espinhal quando se originam de órgãos ou estrutu-
for realizado logo após o início dos sinais clínicos. Estes ras paraespinhais, como por exemplo, adenocarcinoma
em geral não progridem após 24 horas. prostático, que metastatizam até os linfonodos sublombares
Os cães com MEF em geral são de raças grandes e gi- e então se infiltram no canal vertebral. Os tumores extra-
gantes, com mais de 20 kg com idade entre dois meses e durais são os que ocorrem com maior frequência e repre-
11 anos, com cinco a seis anos em média. Entretanto, em sentam 50 a 70% de todas as neoplasias espinhais, os
um estudo realizado no Japão, observou-se que a idade dos intradurais-extramedulares compreendem aproximada-
animais acometidos variou de três meses a 13 anos, e que mente 30 a 35% dos casos e os intramedulares de 5 a 15%.
o peso médio foi de 13,5 kg (1,6 a 44,4 kg), acometendo Ocasionalmente, neoplasias ósseas benignas como osteoma,
raças pequenas e médias. Esta afecção não é diagnosticada fibroma, codroma, condrosarcoma e lipoma podem estar
com frequência em gatos, mas atualmente, devido ao maior presentes. As neoplasias ósseas devem ser diferenciadas da
uso da RM na avaliação dos pacientes, o diagnóstico nesta proliferação de tecido ósseo e conectivo não neoplásico,
espécie tem aumentado. como as exostoses cartilaginosas múltiplas. Gatos são afe-
O diagnóstico ante morten é feito por exclusão de outras tados com menor frequência que os cães, mas nessa espécie
causas de mielopatia hiperaguda por meio de análise do o linfoma é o tipo mais comum de neoplasia espinhal, se-
fluido cérebro espinhal e RM, que é a modalidade diagnós- guido pelo osteossarcoma. É importante ter certeza do diag-
tica de escolha. nóstico antes de instituir qualquer terapia, especial a
fisioterapia, que faz uso de aparelhos que aumentam o me-
Neoplasia vertebromedular 65,66,67,68,69,7071,72,73,74,75,76,77 tabolismo, podendo agravar e acelerar o curso da doença.
As neoplasias que afetam a coluna vertebral e a medula As neoplasias espinhais mais comumente observadas
espinhal são causa relativamente comum de dor espinhal e em cães são os tumores ósseos, que tendem a afetar a região
sinais neurológicos. Os tumores espinhais apresentam in- torácica cranial, e os meningiomas, que frequentemente
cidência moderada dentro da casuística neurológica geral. acometem a região cervical.
Eles devem sempre ser considerados um diagnóstico dife- O diagnóstico é realizado com base na anamnese, ava-
rencial em cães de grande porte, idosos, com sinais agudos liação clínica e neurológica e resultados dos exames
ou crônicos. No entanto, cães e gatos de qualquer idade complementares (Figura 4). Os sinais clínicos não são
podem apresentar neoplasias vertebromedulares. A idade patognomônicos. A dor espinhal é um sinal frequente, prin-
dos cães pode variar entre um e 17 anos com média de 9,5 cipalmente nas neoplasias ósseas, neoplasias extradurais e
anos, e embora as neoplasias espinhais sejam mais frequen- neoplasias intradurais-extramedulares. Em geral no início
tes em animais idosos, certas neoplasias podem afetar ani- da doença os pacientes podem apresentar desconforto ines-
mais jovens. Em um estudo em cães, os animais afetados pecífico, seguido pelo desenvolvimento de alterações neu-
apresentavam em média três anos de idade. Em felinos, o rológicas progressivas e dor mais evidente. Em alguns tipos
linfoma espinhal acomete principalmente animais jovens, de neoplasias pode haver perda de peso e atrofia muscular
com menos de cinco anos de idade, sendo a média de três generalizada ou focalizada. O quadro pode ser insidioso,
anos (variando de seis meses a 17 anos). crônico, progressivo, mas em alguns casos podem ocorrer
Os tumores espinhais podem ser classificados histoló- de forma aguda. Alguns estudos indicam que a maioria dos
gica ou anatomicamente, sendo esta última a mais ampla- cães (53%) com neoplasia espinhal apresenta sinais agudos
mente utilizada. Histologicamente as neoplasias que afetam ou subagudos. Os sinais neurológicos podem ser unilate-
o tecido nervoso podem ser classificadas em primárias, rais, simétricos ou assimétricos, dependendo da extensão
quando se originam de células do tecido nervoso, meninges da compressão no plano transverso. Os sinais neurológicos
ou tecidos paraespinhais, ou secundárias, quando são pro- resultantes do comprometimento da medula espinhal pela
venientes de metástases de tumores originados de outros neoplasia dependem de alguns fatores, como o segmento
órgãos ou sistemas. As neoplasias que acometem a medula medular acometido, localização da massa em relação à me-
espinhal ou os tecidos ao redor são ainda classificadas ana- dula espinhal, o tipo celular, malignidade, velocidade de
tomicamente de acordo com a localização da massa em re- crescimento, grau de compressão, destruição, edema, he-
lação ao tecido nervoso. Neoplasia extradural é a que tem morragia e capacidade de adaptação da medula espinhal à
origem metastática ou primária e se localiza nas estruturas compressão. Nos casos que não foram diagnosticados e que
que circundam a dura-máter; neoplasia intradural-extrame- então progridem, há dor severa e disfunção neurológica sig-
dular, em geral são neoplasias originadas das meninges, nificativa. Segundo alguns estudos, o segmento medular
como por exemplo, os meningiomas, ou da bainha nervosa, toracolombar, parece ser o mais acometido, especialmente
como os tumores da bainha do nervo periférico malignos a região torácica cranial.
ou benignos. A neoplasia intramedular pode ter origem me- No caso de neoplasias intramedulares, o desconforto e a
tastática ou se originar de células que compõem o neuró- dor não são frequentes inicialmente, e embora muitos ani-
pilo, como por exemplo, os astrocitomas, ependinomas e mais só desenvolvam incontinência urinária após a perda das
oligodendrogliomas. funções motoras, alguns animais a desenvolvem enquanto
As neoplasias ainda podem invadir o canal vertebral e ainda são capazes de caminhar. Indica-se a realização da

186 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 24 – Diagnóstico diferencial da doença do disco intervertebral

levando à dor, claudicação e parapare-


sia.
Diversos fatores contribuem para a
estenose lombossacra degenerativa, tais
como: doença do disco intervertebral
Hansen tipo II e menos comumente a
DDIV tipo I; subluxação ventral de S1,
causando instabilidade lombossacral de-
vido ao mal alinhamento das facetas arti-
culares; anomalias vertebrais congênitas
tais como vértebras transicionais ou vér-
tebras adicionais; proliferação dos tecidos
moles em torno da cauda equina, como
hipertrofia do ligamento amarelo, cápsula
articular e fibrose epidural; osteocon-
drose sacral; comprometimento vascular
para os nervos espinhais.
A doença lombossacra pode ter um
diagnóstico desafiador. Estes casos
podem apresentar-se com claudicação do
membro pélvico, mas geralmente têm
Figura 4 – Imagens de RM de canino com tetraparesia, em corte sagital. (A) desconforto à palpação da junção lom-
Imagem ponderada em T2, visibiliza- se a presença de uma massa dorsal ao bossacra associado, que ajudará a descar-
canal vertebral, sob o arco dorsal do áxis, comprimindo a medula espinhal. A tar a doença ortopédica. Os proprietários
massa é intradural e extramedular. (B) Imagem em corte sagital ponderada podem reportar ainda automutilação da
em T1. Observa-se que em A e B a intensidade de sinal é similar ao da me- área lombossacra ou dos membros pél-
dula espinhal. (C) Imagem ponderada em T1, após injeção de contraste ga-
vicos, relutância em saltar ou subir de-
dolíneo. Observa-se que há um realce homogêneo intenso característico.
Todas essas características permitem concluir que a massa é compatível com
graus, fraqueza dos membros pélvicos,
meningioma (Cortesia: MV Célio Jardim dos Santos Júnior, Hospital Cães e Gatos, levando o animal a arrastar as unhas ao
Osasco) (Bahr Arias & Marinho, 2015. Reproduzida com permissão) caminhar. O achado mais consistente du-
rante o exame clínico é a dor quando
palpação retal principalmente quando se suspeita de massas uma pressão dorsal é aplicada sobre a região lombossacra,
invasivas no canal pélvico. ao elevar a cauda ou por palpação retal.
Os sinais de mielopatia focal vistos em pacientes com Outros sinais menos consistentes de doença lombossacra
neoplasia espinhal são indistinguíveis de qualquer doença incluem déficit de neurônio motor inferior no(s) membro(s)
que cause uma mielopatia focal, como a doença do disco pélvico(s), especialmente durante a avaliação do reflexo fle-
intervertebral, portanto, métodos de diagnóstico comple- xor lateral. É comum a observação de flexão do quadril e
mentares e a suspeita de possibilidade de neoplasia são fun- joelho, no entanto, sem a flexão do tarso. Além disso, pseu-
damentais para o diagnóstico. dohiperreflexia do patelar pode estar presente, secundária a
ausência de antagonismo no nervo ciático. Há palpação di-
Síndrome da cauda equina 78,79,80,81,82,83,84,85,86,87,88,89, reta do nervo ciático entre o músculo bíceps femoral e o
90,91,92,93 músculo vasto lateral, é comum a observação de dor. Em
A síndrome da cauda equina, também denominada es- casos mais graves pode-se observar paresia da cauda, au-
tenose lombossacra degenerativa, compressão da cauda sência do reflexo perineal e incontinência urinária e/ou
equina, doença lombossacra ou estenose e instabilidade fecal, que quando presentes por mais de um mês de evolu-
lombossacra, constitui um transtorno compressivo da cauda ção indicam prognóstico pobre. Embora a eletromiografia,
equina causado pela protrusão dos tecidos de sustentação mielografia e tomografia computadorizada possam ser uti-
(anel do disco intervertebral, cápsula dos processos articu- lizadas no diagnóstico da doença lombossacra, a resso-
lares, ligamento amarelo) para dentro do canal vertebral. É nância magnética fornece a informação mais precisa
um distúrbio comum principalmente em cães de raças gran- (Figura 5). É importante ter em mente que muitos desses
des, machos, sendo a raça pastor alemão e os cães de tra- pacientes são adultos ou idosos, e comumente possuem dis-
balho os mais predispostos, com origem multifatorial e na plasia coxofemoral associada, o que dificulta muito saber
qual a degeneração do disco intervertebral apresenta um interpretar qual das duas afecções é responsável pelos sinais
importante papel. Ocorre também a proliferação de tecidos mais graves.
ósseos e moles que contribuem para a estenose do canal Os pacientes não apresentam ataxia proprioceptiva, que
vertebral, com consequente compressão da cauda equina, decorre de compressão da substância branca da medula

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 187


Capítulo 24 – Diagnóstico diferencial da doença do disco intervertebral

principalmente as raças pastor


alemão, boxer e pembroke welsh
corgi, no entanto tem sido rela-
tada husky siberiano, poodle, che-
sapeake bay retriever, rodesiano,
bernesiano, fox terrier, pug, cães
sem raça definida, entre outras.
A etiologia da MD é desco-
nhecida, mas ocorre degeneração
axonal e perda de mielina em vá-
rios tratos da medula espinhal e
raízes dorsais. Recentemente foi
demonstrada a existência de mu-
tação no gene codificador da su-
peróxido desmutase (SOD1) em
alguns cães acometidos. Todos
esses animais eram homozigotos
para a mutação, mas vários per-
Figura 5 – (A) Ressonância magnética em corte sagital ponderada em T2 da coluna
maneceram livres de sinais clíni-
lombar e sacral, visibiliza-se disco protruso e degenerado (seta) entre L7 e sacro; (B),
Ressonância magnética em corte sagital ponderada em T2 da coluna lombossacra, cos, o que sugere penetrância
visibiliza-se perda do sinal do disco e protrusão (seta inferior) e hipertrofia do ligamento incompleta relacionada à idade.
amarelo (seta superior) entre L7 e sacro; (C) ressonância magnética em corte trans- A proteína SOD1 é uma das pro-
versal da articulação lombossacra, visibiliza-se protrusão assimétrica do disco e com- teínas mais abundantes no sis-
pressão da raiz nervosa (seta) (Bahr Arias & Marinho, 2015. Reproduzida com permissão) tema nervoso central, que atua
como antioxidante e a mutação
espinhal, e sim monoparesia ou paresia. Se houver ataxia leva ao seu acúmulo em neurônios e células da glia, indu-
proprioceptiva, outras etiologias como mielopatia degenera- zindo a neurodegeneração. A descoberta dessa mutação,
tiva, DDIV toracolombar ou neoplasia devem ser conside- que também é encontrada em esclerose lateral amiotrófica
radas, mesmo que o animal apresente alterações compatíveis (ELA) de pessoas, fez com que a MD fosse considerada
com estenose lombossacra nos exames de imagem. como um modelo para a doença em humanos.
Deve ser realizado o diagnóstico diferencial com outras Os sinais clínicos são característicos de uma doença de-
afecções ortopédicas e neurológicas, que muitas vezes ocor- generativa lentamente progressiva. Primeiramente observa-
rem concomitantemente nos pacientes com estenose lom- se a perda da capacidade proprioceptiva dos membros
bossacra, tais como alterações nas articulações coxofemorais pélvicos (ataxia proprioceptiva, arrastamento dos dedos),
e sacroilíacas, ruptura do ligamento cruzado, lesões muscu- seguida por perda gradual da função motora voluntária. Os
lares no psoas ou grácil, mielopatia degenerativa, meningo- cães apresentam progressão lenta da ataxia proprioceptiva
mielite e discoespondilite, entre outras. Afecções na cavidade dos membros pélvicos que progride para paraparesia es-
abdominal como doença prostática, uretral e adenoma em pástica, com ausência de dor espinhal. No início os sinais
saco anal também podem causar alguns dos sinais vistos na podem ser confundidos com displasia coxofemoral, que
estenose lombossacra, principalmente dor e cifose. Em feli- pode estar presente concomitantemente nestes pacientes. A
nos é importante palpar o pulso para descartar tromboembo- neurolocalização inicial é de uma síndrome medular tora-
lismo aórtico. Outro diferencial importante em gatos é a colombar (T3-L3), com os reflexos medulares nos membros
neuropatia diabética. Os diferenciais para automutilação da pélvicos tipicamente normais a aumentados. Entretanto em
cauda são estenose lombossacra degenerativa, convulsão, al- 10 a 20% dos pacientes pode haver sinais de neurônio
teração comportamental (transtorno obsessivo compulsivo) motor inferior, com diminuição ou perda uni ou bilateral
e alteração dermatológica. do reflexo patelar, que pode refletir a lesão na coluna
cinzenta dorsal nos segmentos medulares L4-L5. Os sinais
Mielopatia degenerativa 94,95,96,97,98,99,100,101,102,103,104,105, podem ser simétricos ou assimétricos e quando o paciente
106,108 fica em estação pode ser observado tremor nos membros
A mielopatia degenerativa (MD), também conhecida pélvicos ou fasciculações musculares.
como radiculomielopatia degenerativa crônica é uma A progressão da doença ocorre após seis a 12 meses da
doença neurodegenerativa não dolorosa, lentamente pro- consulta inicial e os sinais evoluem para paraplegia do
gressiva que afeta a medula espinhal de algumas raças de tipo neurônio motor inferior, com diminuição ou perda
cães. Causa ataxia proprioceptiva que progride para para- do reflexo patelar e atrofia muscular que se desenvolve gra-
paresia e paraplegia, e posteriormente nos cães mantidos dativamente, sendo que a sensibilidade dolorosa dos mem-
por longo tempo evolui para tetraparesia. A doença acomete bros em geral não é afetada. Os proprietários costumam

188 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 24 – Diagnóstico diferencial da doença do disco intervertebral

solicitar eutanásia nesta fase, mas se isso não ocorrer a do tipo II, neoplasia medular, doença articular degenera-
doença pode progredir e envolver os membros torácicos e, tiva, displasia coxofemoral e ruptura do ligamento cruzado
eventualmente, o tronco cerebral, em cães que continuem cranial. A DDIV do tipo II é comum em cães da raça pastor
vivos após esse grau de agravamento. O reflexo cutâneo do alemão que desenvolvem MD. Ainda é importante diferen-
tronco fica reduzido ou ausente, pode haver incontinência ciar de EMC, que pode causar alterações de membros pél-
urinária e fecal e ocasionalmente observa-se dificuldade vicos antes das alterações de membros torácicos, cistos
para deglutir e latir. A doença pode demorar 36 meses para aracnoides, doença neuromuscular generalizada, polimio-
chegar neste ponto desde a consulta inicial. site, poliartrite, embora essas últimas o paciente apresente
Os sinais clínicos podem ser divididos em estágios (Qua- dor. É importante lembrar que paciente com doenças orto-
dro 8). O diagnóstico definitivo só pode ser determinado pédicas não apresentam ataxia.
post morten pelo exame histológico da medula espinhal. O Embora o exercício seja tradicionalmente recomendado
diagnóstico ante morten é realizado com base nos dados da em casos de MD, há uma falta de evidências objetivas para
resenha, anamnese, exame físico e neurológico, realizando- confirmas essas recomendações. Em um estudo prospec-
se exames complementares para exclusão de outras causas tivo de cães com suspeita de MD, no entanto, foi demons-
de mielopatia progressiva. Entretanto isto pode ser desafia- trado que a fisioterapia intensiva diária controlada melhora
dor, pois a apresentação clínica pode mimetizar várias doen- significativamente o tempo médio de sobrevida (255 dias),
ças medulares. Um teste de DNA desenvolvido com base em comparação com os cães submetidos à fisioterapia mo-
na mutação do gene SOD1 está disponível nos Estados Uni- derada (130 dias) ou sem fisioterapia (55 dias).
dos da América. Os cães homozigotos para a mutação estão
sob risco de desenvolver a MD e contribuem com 1 cromos- Mielites, meningites e meningomielites 104,105,106,107,
somo portador do alelo mutante para toda a sua prole. Os 108,109,110,111,112,113,114,115,116,117,118,119,120,121,122,123,124,125

heterozigotos são carreadores de MD que, apesar de não Uma variedade de doenças inflamatórias de origem in-
serem propensos ao desenvolvimento desse tipo de mielo- fecciosa ou não infecciosa podem causar meningite, mielite,
patia em termos clínicos, podem transmitir o cromossomo encefalomielite ou meningoencefalomielite. A inflamação
com um alelo mutante para metade de sua prole. Os homo- pode ocorrer em qualquer segmento da medula espinhal de
zigotos normais provavelmente não desenvolvem a MD e forma focal, multifocal ou difusa, mas a maioria delas pode
ainda fornecem um alelo normal protetor para a sua prole. acometer o sistema nervoso de maneira multifocal. Pode
Assim, o teste de DNA para mutação do gene SOD1 tem ocorrer inflamação das meninges sem acometimento da me-
potencial de utilidade para os criadores de cães que desejam dula espinhal e vice-versa. Portanto, os sinais neurológicos
diminuir a incidência de MD na raça ou linhagem. dependerão da localização da(s) lesão(ões). A história clínica,
Cães idosos, principalmente os de médio a grande porte, o exame clínico minucioso, laboratoriais e análise do líquido
podem também apresentar concomitantemente doenças cefalorraquidiano (LCE) são extremamente importantes para
ortopédicas e neurológicas que confundem a interpretação a realização do diagnóstico conclusivo, pois os exames de
do exame neurológico, como estenose lombossacra, DDIV imagem são inespecíficos, ou seja, independentemente da

Quadro 8 – Esquema de classificação dos sinais clínicos de mielopatia degenerativa canina 97


Estágio Sinais neurológicos
Paraparesia atribuída à lesão de NMS
1 • Ataxia proprioceptiva geral progressiva
Precoce • Paraparesia espástica assimétrica
• Reflexos espinhais intactos
Paraparesia não deambulatória à paraplegia
2 • Perda leve a moderada de massa muscular
Precoce • Reflexos espinhais reduzidos a ausentes nos membros pélvicos
• Com ou sem incontinência urinária e fecal
Paraplegia atribuída à lesão de NMI à paresia dos membros torácicos
3 • Sinais de paresia dos membros torácicos
Tardio • Paraplegia flácida
• Perda grave de massa muscular nos membros pélvicos
• Incontinência urinária e fecal
Tetraplegia atribuída à lesão de NMI e sinais referentes tronco encefálico
4 • Tetraplegia flácida
Tardio • Dificuldade de deglutição e nos movimentos da língua
• Diminuição à ausência do reflexo cutâneo do tronco
• Perda generalizada e grave de massa muscular
• Incontinência urinária e fecal

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 189


Capítulo 24 – Diagnóstico diferencial da doença do disco intervertebral

etiologia da doença inflamatória, as imagens são similares. É sistêmica imunomediada cuja etiopatogenia é desconhe-
importante considerar no rol de diagnósticos diferenciais cida. Acomete cães jovens adultos com menos de 12 meses,
todas as doenças que causam dor na coluna. com predisposição racial em bernese mountain dog, boxer,
As meningomielites representam um dos principais beagle e pointer. Outros cães de raças de médio a grande
diagnósticos diferenciais em felinos, atrás apenas do linfoma. porte também podem ser afetados. Os sinônimos desta
afecção são poliarterite meníngea canina, meningite autoi-
Mielites/meningites/meningomielites infecciosas mune, arterite meningite responsiva a corticosteroide, sín-
As seguintes doenças infecciosas podem causar mielite, drome dolorosa do beagle, meningite estéril do boxer e
meningomielite e meningite, associadas ou não a encefa- síndrome da poliarterite juvenil canina.
lites: Os sinais clínicos são episódicos e recidivantes. Ocorre
• vírus: cinomose canina, e peritonite infecciosa felina (PIF); dor cervical de início agudo, relutância para se movimentar,
• bactérias: Staphylococcus spp., Streptococcus spp., Es- andar rígido que mimetiza uma paciente com poliartrite,
cherichia coli, Pasteurella multocida, Actinomyces spp., resistência à manipulação do pescoço, hiperestesia para-
Nocardia spp e diversas anaeróbicas; vertebral e febre. Na forma crônica, os cães desenvolvem
• fungos: Criptococcus spp., Histoplasma spp. e Cocci- déficits neurológicos consistentes com lesão focal ou mul-
dioides spp.; tifocal da medula espinhal. Em casos raros, pode ocorrer
• riquétsias: Ehrlichia canis, Rickettsia ricketsii e febre ma- tetraparesia ou tetraplegia devido a sangramento espontâ-
culosa das montanhas rochosas; neo no espaço subaracnóideo. É uma doença sistêmica
• protozoários: Toxoplasma gondii e Neospora caninum; imunomediada, ocorrendo o desenvolvimento de lesões in-
• parasitas: dirofilária, Spirocerca lupi e cuterebra; flamatórias nas leptomeninges e vasos associados, de etio-
• algas: Prothoteca spp.. patogenia desconhecida. O diagnóstico é realizado pela
Em geral os pacientes apresentam sinais sistêmicos as- associação da resenha, história clínica e achados laborato-
sociados aos neurológicos. A mielopatia pode ser focal, riais, caracterizados por um hemograma com leucocitose
multifocal ou difusa, resultando em dor e déficits neuroló- neutrofílica e o fluido cérebro espinhal com pleocitose neu-
gicos que variam conforme a localização da lesão. trofílica marcante.
Além dos exames complementares supracitados, a RM
é o exame de imagem mais indicado, devido às várias alte- Discoespondilite 104,106,107,110,113,114,115
rações no parênquima da medula espinhal, entretanto os si- A discoespondilite é caracterizada por processo infla-
nais são similares para todas as mielites/meningomielites. matório e infeccioso do disco intervertebral, das epífises
Os diagnósticos diferenciais das meningomielites são vertebrais e do osso adjacente dos corpos vertebrais. A
neoplasias infiltrativas, principalmente hemangiossarcoma causa mais comum de discoespondilite é a infecção bacte-
e linfoma, infarto fibrocartilaginoso, extrusão de disco do riana geralmente por estafilococos coagulase positivo (S.
tipo explosivo, hemorragia intramedular e mielomalácia aureus ou S. intermedius). Outras bactérias identificadas
hemorrágica, entre outras. Assim, o diagnóstico deve ser com frequência incluem Streptococcus spp., Escherichia
realizado com base na associação das informações obtidas coli e Brucella canis, no entanto, outros agentes bacterianos
na anamnese, exame clínico, resultado de exames labora- e fúngicos têm sido identificados.
toriais, sorologia, PCR e análise do LCE. A infecção geralmente tem origem primária em uma lo-
calização não vertebral, como o sistema urogenital, pele
Mielites/meningites/meningomielies não infecciosas (dermatite piogênica), doenças dentárias e endocardite val-
A inflamação do parênquima da medula espinhal e das vular, mas muitas vezes o local de início da infecção não é
meninges ocorre principalmente em combinação com identificado. Dos locais primários os agentes infecciosos
doença inflamatória do encéfalo, ocasionando as menin- propagam-se via hematógena até uma ou mais vértebras e
goencefalomielites, mas ocasionalmente os pacientes a infecção vertebral tem início na placa terminal, onde o
podem apresentar meningomielite inflamatória não infec- fluxo lento do sangue nas veias sinusoidais predispõe à co-
ciosa. Os sinais clínicos associados com meningomielite lonização bacteriana. Em ocasiões mais raras as bactérias
dependem da região afetada da medula espinhal e incluem podem migrar para a parte dorsal das vértebras e causar a
paresia ou paralisia, dor e déficit proprioceptivo. Em um formação de abscesso epidural. Pode ocorrer lise óssea
estudo com 28 casos, as raças mais afetadas foram as de confinada inicialmente à zona fisária caudal da vértebra
pequeno porte, sendo os diagnósticos presuntivos mais co- afetada, sem envolvimento das placas terminais vertebrais
muns a meningomielite de causa desconhecida e a menin- em alguns cães. Animais imunossuprimidos ou pacientes
gomielite granulomatosa (MEG). Em cães de grande porte, submetidos à cirurgia prévia podem apresentar maior risco
como o bernesiano e boxer, a etiologia mais frequente é a de desenvolver discospondilite.
meningite arterite responsiva a esteroide. Outras causas de discoespondilite incluem: injeções epi-
durais; extensão de abscessos de outros órgãos; após cirur-
Meningite arterite imunomediada gia vertebral; migração de corpos estranhos ingeridos ou
A meningite arterite imunomediada é uma doença aspirados (grama).

190 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 24 – Diagnóstico diferencial da doença do disco intervertebral

A discoespondilite afeta tipicamente cães jovens de observado que as imagens de TC e RM podem ser mais
meia idade. Os cães de raças puras, de grande porte e ma- sensíveis para o diagnóstico precoce de discoespondilite.
chos, são os pacientes mais comumente acometidos esti- Os sinais radiográficos só se tornam evidentes duas a
mando-se que a proporção de machos para fêmeas seja de quatro semanas após a infecção inicial, ou seja, esses exa-
2:1. A afecção é muito rara em gatos. Os sinais clínicos são mes de imagem podem ser normais mesmo com sinais clí-
variáveis, podendo ocorrer depressão, anorexia, febre e nicos evidentes. Observa-se lise de uma ou ambas as
perda de peso, rigidez e relutância em caminhar e saltar. A placas terminais vertebrais adjacentes ao disco afetado, di-
hiperestesia espinhal ou paraespinhal é o sinal mais carac- minuição do tamanho do corpo vertebral, seguido de co-
terístico. A proliferação de tecido inflamatório, tecido de lapso do disco intervertebral. Na medida em que a infecção
granulação e óssea para o interior do canal vertebral podem progride, observam-se alterações ósseas proliferativas ad-
resultar em compressão extradural da medula espinhal ou jacentes ao espaço discal, margens escleróticas e prolife-
da cauda equina e progressão dos sinais neurológicos, ca- ração óssea ventral. Deve-se diferenciar a espondilose
racterísticos de compressão extradural. A extensão da in- deformante da proliferação óssea associada à discoespon-
flamação por meio das meninges também pode levar a dilite (Figura 6).
meningite e meningomielite. As vértebras mais comumente Ao contrário da radiografia simples, que só apresenta
envolvidas incluem a junção lombossacra (L7-S1), junção alteração duas a quatro semanas após o início dos sinais
cervicotorácica (região cervical caudal), os discos torácicos clínicos, na TC é possível visibilizar lesão sutil da placa
médios e a junção toracolombar, assim os sinais clínicos terminal, edema dos tecidos moles paravertebrais e abs-
dependem do local e da gravidade das lesões e incluem dor, cesso precocemente. Atualmente a RM é o exame padrão
ataxia, paresia/plegia à tetraparesia/tetraplegia. O curso da ouro na medicina humana para o diagnóstico precoce da
doença normalmente é lentamente progressivo, porém fra- afecção devido à alta resolução de contraste, e também tem
turas patológicas ou protrusão do disco intervertebral pode sido realizada com frequência na medicina veterinária para
levar à deterioração aguda dos sinais clínicos. o diagnóstico da afecção (Figura 7).
Deve-se suspeitar de discoespondilite pela história clíni-
ca, exame físico e neurológico do paciente. O diagnóstico
definitivo é realizado pela radiografia simples, porém os
exames de mielografia e/ou TC e RM, são imperativos
para pacientes que precisam de intervenção cirúrgica, e foi

Figura 7 – Imagem de ressonância magnética de cão com


Figura 6 – Imagem radiográfica da coluna vertebral de cão: discoespondilite em vértebras lombares (setas). A) Ima-
Em (A) - a - discoespondilite; b - espondilose deformante. gem sagital em T1, diminuição do sinal; B) Imagem sagital
Em (B), visão mais detalhada da discoespondilite (a), ob- em T2; hiperintensidade de sinal; e C) Imagem sagital em
servando-se lise óssea das placas vertebrais terminais e T1 após administração de contraste, aumento do sinal em
diminuição do tamanho do corpo da vértebra (Bahr Arias & relação a B, inclusive no interior do canal vertebral (Bahr
Marinho, 2015. Reproduzida com permissão) Arias & Marinho, 2015. Reproduzida com permissão)

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 191


Capítulo 24 – Diagnóstico diferencial da doença do disco intervertebral

O tratamento envolve o uso de antibioticoterapia em bone cement in the repair of atlantoaxial subluxation stabilization
longo prazo baseada nos agentes mais comumente envol- failures – Case report and discussion. Journal of American
Animal Hospital Association, v. 15, P. 313-318, 1979.
vidos, ou no resultado das culturas. Manter o paciente em
14-SCHULZ, K. S. ; WALDRON, D. R. ; FAHIE, M. Application of
repouso absoluto é fundamental para evitar fraturas pa- ventral pins and polymethylmethacrylate for the management of
tológicas e caso não seja observado melhora com a tera- atlantoaxial instability: Results in nine dogs. Veterinary Surgery,
pia instituída, coletar material por meio de cirurgia e v. 26, n. 4, p. 317-325, 1997. DOI: 10.1111/j.1532-
realizar cultura e antibiograma. A cultura fúngica deve 950X.1997.tb01504.x.
ser incluída, para então entrar com a medicação mais 15-SHARP, N. J. H. ; WHEELER, S. J. Atlantoaxial subluxation. In:
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194 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


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COMO CITAR ESSE CAPÍTULO


MARINHO, P. V. T. Diagnóstico diferencial da doença do
disco intervertebral. In: LOPES, R. S. ; DINIZ, R.
Fisiatria em pequenos animais. 1. ed. São Paulo:
Editora Inteligente, 2018. p. 177-196. ISBN: 978-85-
85315-00-9.

196 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


25
Afecções do neurônio motor inferior

Fernando Carlos Pellegrino

O
sistema neuromuscular também se denomina
neurônio motor inferior, e para o
propósito deste capítulo, am-
bos serão considerados sinônimos 44.
O sistema neuromuscular é com-
posto de unidades motoras.
Uma unidade motora (UM) é
formada pelo motoneurônio alfa
e todas as fibras musculares
(miofibras), que proporcionam a
inervação. As desordens da UM se
classificam de acordo com a localização
em suas diferentes partes. De acordo com este Figura 1 – Uma unidade motora é formada por um moto-
critério pode afetar os neurônios do corno ventral da neurônio alfa e todas as fibras musculares (miofibras) às
substância cinzenta ou do gânglio espinhal (neuronopatias), quais proporciona inervação. Os distúrbios que o afetam
os nervos periféricos (neuropatias) ou das raízes nervosas são classificados de acordo com sua localização. De
acordo com este critério pode afetar os neurônios do corno
(radiculopatia ou plexopatia), as junções neuromusculares
ventral da matéria cinzenta ou do gânglio espinhal (neuro-
(unionopatias) ou os músculos (miopatias) (Figura 1). nopatias), dos nervos periféricos (neuropatias) ou das raízes
Transtornos congênitos ou adquiridos estão inclusos em nervosas (radiculopatias ou plexopatias), das junções neu-
qualquer uma destas categorias 101. romusculares (unionopatias) ou os músculos (miopatias).
Neste capítulo iremos nos referir a algumas doenças da Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neuro-
junção neuromuscular (unionopatias), neuropatias e mio- lógico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica,
patias específicas, selecionadas com base em sua impor- 2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de
Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino
tância e ocorrência frequente.

Doença da junção neuromuscular canais de Ca + pré-sinápticos dependentes de voltagem nas


Para que ocorra a contração muscular, o potencial de zonas ativas (Figura 2). A entrada de Ca + no espaço extra-
ação (PA) originado no corpo do motoneurônio deve chegar celular leva a fosforilação e alteração de diversas proteínas
até o terminal pré-sináptico. A velocidade em que o PA é pré-sinápticas, e leva a liberação de das vesículas da rede
conduzido é diretamente proporcional ao diâmetro e ao pré-sináptica de actina a qual estão ligadas, o que permite
grau de mielinização do nervo. O axônio termina na sinapse a sua união com a membrana pré-sináptica. A fusão da ve-
ou na junção neuromuscular. Neste nível, a terminação ner- sícula e da membrana pós-sináptica leva a formação de um
vosa e a membrana muscular (sarcolema) estão separados pequeno poro que se expande rapidamente, com a subse-
por um espaço de 40-50mm denominado fenda sináptica. quente liberação do conteúdo da vesícula para a fenda si-
No terminal pré-sináptico existem vesículas pré-sinápticas náptica. A membrana da vesícula se recicla por endocitose
que contém o neurotransmissor, este, na junção neuromus- dentro do terminal pré-sináptico. A maior parte do neuro-
cular, é a acetilcolina (Ach). O sarcolema possui numerosas transmissor liberado se difunde rapidamente pela fenda
dobras que contem receptores de acetilcolina (AchR) den- sináptica e se une ao receptor pós-sináptico. Algumas molé-
samente concentrados. As vesículas pré-sinápticas, além do culas do neurotransmissor se difundem para fora da fenda
neurotransmissor, contêm ATP e várias proteínas específi- sináptica e se perdem, enquanto outras são inativadas antes
cas associadas a membrana que permitem atingir os locais de se unir ao receptor da membrana pós-sináptica. Essa
ativos pré-sinápticos, ligar-se a eles, reciclar-se e voltar a inativação é essencial para o bom funcionamento da si-
se recarregar com um novo neurotransmissor. As zonas ati- napse. Na junção neuromuscular, a inativação é produzida
vas pré-sinápticas são áreas especializadas para a liberação pela degradação enzimática da Ach pela acetilcolineste-
do conteúdo das vesículas. Se localizam a frente das dobras rase; como consequência desta inativação ocorre a liberação
secundárias post-sinápticas e possuem uma elevada quan- de colina, que é reabsorvida pelo terminal pré-sináptico. Em
tidade de canais de Ca + dependentes de voltagem. outras sinapses existem mecanismos de reabsorção
A comunicação entre o nervo e o músculo depende da com reciclagem do neurotransmissor no neurônio pré-si-
liberação de neurotransmissor através da fenda sináptica. náptico 44,101.
A chegada do PA proveniente do motoneurônio provoca Após a liberação por exocitose de pacotes quânticos de
a despolarização do terminal pré-sináptico e abertura dos Ach do terminal pré-sináptico para a fenda sináptica, o

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 197


Capítulo 25 – Afecções do neurônio motor inferior

canal de Ca2+ terminação nervosa


regulado por impulso nervoso
voltagem acetilcolina

canal de Ca2+
canal ionotrópico de aceticolina regulado por
canal de Na+ voltagem 2
3 4
regulado por
voltagem

5
em repouso
ativada

retículo
sarcoplasmático canal de liberação
membrana de Ca2+
plasmática muscular
Figura 2 – Sistema de canais iónicos na placa neuromuscular. Este conjunto de canais iónicos são essenciais para a
estimulação da contração muscular após a chegada do impulso nervoso. Os canais estão numerados na mesma
sequência em que são ativados. 1) A despolarização abre canais de Ca2+, o que provoca a liberação de Ach para o
espaço sináptico. 2) A união de Ach com seus receptores abre canais de Na+, causando a despolarização da membrana.
3) A despolarização da membrana abre outros canais de Na+, propagando a despolarização para toda a membrana.
4) A despolarização generalizada ativa os canais de Ca2+ em regiões especializadas de membrana (túbulos T).
5) Isso causa a liberação de Ca2+ do retículo sarcoplasmático, o que provoca a contração das miofibrilas.
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neurológico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica, 2014.
ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino

neurotransmissor se difunde neste espaço e se liga aos transtornos sinápticos (por exemplo: intoxicação por orga-
AchR situados no sarcolema pós-sináptico. Os receptores nofosforados e carbamatos) a degradação do neurotrans-
colinérgicos nicotínicos que convertem a ação do neuro- missor está afetada, enquanto em transtornos pós-sinápticos
transmissor em um fenômeno elétrico pós-sináptico, se en- (por exemplo, miastenia gravis) a união do neurotransmis-
contram predominantemente entre as dobras da junção sor com o seu receptor está afetada 101.
neuromuscular. Estão associados a um canal catiônico não Neste capitulo discutiremos em detalhes a miastenia
seletivo. A ligação da Ach a este receptor leva a uma mu- grave adquirida, o botulismo e todas as enfermidades que
dança em sua conformação que resulta na abertura do devem ser incluídas no diagnóstico diferencial.
canal, seguido pela entrada de Na+ no interior da miofibra
e saída de K+. A consequente despolarização da membrana MIASTENIA GRAVE ADQUIRIDA
pós-sináptica, se suficiente, ativa os canais iônicos depen- Definição
dentes de voltagem. No caso da junção neuromuscular, a A miastenia grave (MG) é uma desordem imunome-
liberação do conteúdo de uma única vesícula produz uma diada da junção neuromuscular (JNM), considerada como
pequena despolarização pós-sináptica chamada potencial a patologia neuroimunológica por excelência 34,72. É o resul-
de placa motora em miniatura (ppmm). Se mais vesículas tado da produção de anticorpos contra diversas proteínas da
se esvaziam os ppmm se somam e provocam uma resposta membrana pós-sináptica na JNM, e de uma forma ou outra,
maior, denominada potencial de placa motora, que pode termina alterando a quantidade e/ou a funcionalidade dos
gerar um PA no músculo. Devido a abundância de Ach li- receptores colinérgicos nicotínicos da acetilcolina (RACh).
berada, o potencial da placa é maior que o limiar de des- O termo miastenia grave refere-se a uma grave fraqueza
carga, o que permite que o PA se difunda através de toda a muscular e foi descrita inicialmente por Samuel Wilks em
superfície do sarcolema de cada miofibra 44,101. 1887 162. Nos cães foi descrito pela primeira vez em 1961 96
De acordo com o principal componente envolvido em e nos gatos em 1970 24. Desde o primeiro caso descrito
uma doença da junção neuromuscular, os transtornos foram comunicados diversos casos de MG espontânea, e
podem ser pré-sinápticos, sinápticos ou pós-sinápticos. Nos atualmente parece ser a doença neuromuscular mais comu-
transtornos pré-sinápticos (por exemplo: Botulismo, para- mente diagnosticada em cães 126,127. A forma autoimune de
lisia por carrapatos, ação de alguns venenos biológicos) é MG foi descrita pela primeira vez nesta espécie em 1978 68,
afetada a síntese ou a liberação do neurotransmissor, nos e está relacionada com a produção de anticorpos séricos

198 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25 – Afecções do neurônio motor inferior

contra RACh 74. Consequentemente, a transmissão neuro- demonstrada em 197398, pensou-se que a MG era uma
muscular fica parcialmente bloqueada, o que resulta em uma doença causada por esses anticorpos. Seu papel patogênico
redução da contratilidade de todo o músculo. foi claramente demonstrado 67,98,145. Os anticorpos anti-
Na medicina humana, de acordo com a apresentação clí- RACh são encontrados na maioria dos pacientes humanos
nica e características associadas, a MG pode ser classifi- com MG 75. Os cães e gatos com MG adquirida apresentam
cada em diferentes subtipos baseados em: a) na distribuição anticorpos com uma especificidade similar 132. Os anticor-
da fraqueza (MG generalizada ou ocular); b) na idade do pos anti-RACh são dos isotipos IgG1 e IgG3, e, portanto,
início dos sintomas (MG de início precoce ou de início tar- são capazes de ativar o sistema complemento. Se ligam ao
dio); c) alterações no Timo (MG associada a hiperplasia tí- domínio extracelular da molécula, mas apresentam uma
mica ou a timoma); e d) perfil de anticorpos (MG com reatividade heterogênea contra diferentes regiões do RACh.
anticorpos anti-RACh, anti-MUSK, anti-LRP4, anti-RACH O receptor colinérgico nicotínico de acetilcolina (RACh)
de baixa afinidade, ou MG soronegativa) 13,83. é o principal alvo imunológico 73-75,98. Os anticorpos anti-
Atualmente começou a se considerar que a MG não é RACh, que interferem com a transmissão neuromuscular,
uma doença única, mas sim uma síndrome de distúrbios co- são detectados em aproximadamente 90-98% dos cães com
nectados em que a característica comum é a alteração da MG generalizada 129,154. Em medicina humana se encontra
JNM 38,115. em 85-90% das pessoas com MG generalizada e em 50%
dos pacientes com a doença restrita aos músculos oculares
Prevalência (miastenia ocular) 8,20,73,87,98,133. Este tipo se denomina MG
A MG adquirida é uma das doenças neuromusculares soropositiva.
mais comuns em cães 125, mas se observa com menos fre- Se desconhece a origem da resposta autoimune que leva
quência em gatos 47,128. Em um estudo que incluiu os diag- a MG, mas as alterações de timo (hiperplásica ou neoplá-
nósticos de MG realizados por radioimunoensaio – sica) 12,111 e a predisposição genética 43 podem desempenhar
imunoprecipitação (RIA) no Laboratório Comparativo um papel importante. A manifestação clinica mais caracte-
Neuromuscular da Universidade de San Diego (Califórnia) rística é a fraqueza muscular flutuante que piora com exer-
entre 1991 e 1995, o número de pacientes foi de 1154, com cícios.
uma média de 19 casos por mês 125. Aproximadamente 25% Um receptor tirosina quinase músculo – específica
de todos os casos de megaesôfago adquirido em cães são (MuSK) também foi identificado como alvo antigênico na
secundários a MG 159. MG anti-RACh negativa em humanos 51,119. A presença de
Um estudo relatou um alto risco relativo de MG em cães anticorpos anti-MuSK identifica uma entidade clínica que
da raça akita, várias raças terries, pointer alemão de pelo difere em alguns aspectos da MG com anticorpos anti-
curto e chihuahua, em comparação com um grupo de cães RACh 37. A porcentagem descrita de pacientes com MG so-
mestiços. As raças que apresentam maior morbidade (quase ronegativas que são anti-MuSK positivos oscila entre
50%) incluem o pastor alemão, golden retriever, mestiços, 35-49%, segundo estudos 30,38, podendo chegar a 70%. Essa
labrador e dachshound. Ainda que o pastor alemão e o gol- variação parece estar sujeita a diferenças raciais 15. 14% dos
den retriever não apresentem alto risco relativo de apresen- pacientes com MG soropositiva a anticorpos anti-RACh
tar a enfermidade, representam as raças com maior também apresentam anticorpos anti-MuSK 110.
morbidade absoluta, fato possivelmente relacionado com a Os pacientes humanos com MG generalizada negativos
popularidade de ambas as raças. O risco relativo mais baixo para anticorpos solúveis nativos anti-RACh e anti-MuSK
de apresentar MG são os cães das raças rottweiler, dober- em testes padronizados, são denominados soronegativos
mann pinscher, dálmata e jack russel terrier 125. Em gatos, 66,156 ou duplo soronegativo 84.

somente o abissínio e o somali apresentam um risco rela- Em 2008 foram descritos anticorpos de baixa afinidade
tivo alto 128,159. Uma predisposição hereditária foi comuni- contra RACh, presentes em 50-66% dos pacientes humanos
cada em cães das raças terra-nova 77 e dogue-alemão 58. com MG soronegativa em exames convencionais 55,66. Estes
anticorpos são do tipo IgG1 e tem a capacidade de ativar o
Etiologia sistema complemento; sua presença se comprova mediante
De acordo com a experiência do autor a MG em cães imunofluorescência, que detecta sua ligação preferencial
constitui 13% dos transtornos neuromusculares e 0,85% de às subunidades do RACh recombinadas com a proteína de
todos os casos neurológicos 100. agrupamento rapsina, que favorece a sua agregação na su-
Existem várias hipóteses que tentam explicar o meca- perfície de células do rim embrionário 66.
nismo pelo qual a MG é desenvolvida. As mais estudadas Recentemente foi identificado um novo antígeno, a pro-
atualmente são relacionadas a alterações da resposta imune teína 4 relacionada com o receptor de lipoproteínas de
e as mudanças genéticas que ocorrem nas células que par- baixa densidade (da sigla em inglês, LRP4), que é um novo
ticipam dessa resposta. alvo para anticorpos em casos de MG soronegativa 50, os
anticorpos anti-LRP4 foram detectados no soro de um con-
Resposta imune: autoanticorpos junto de pacientes, representando de 2 a 46% 50,102,147,167.
Uma vez que a existência de anticorpos anti-RACh foi Essa grande diferença de prevalência pode ser devido aos

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 199


Capítulo 25 – Afecções do neurônio motor inferior

métodos utilizados, a fonte de LRP4, ao estado conforma- entre os alelos HLA-D3 e B8 e a MG de início precoce com
cional do antígeno e/ou a diferenças étnicas. hiperplasia de timo 22,42,57. A MG de início tardio está menos
Alguns pacientes humanos com MG têm anticorpos di- fortemente associada aos alelos HLA-DR2 e B742. HLA-
recionados contra antígenos intracelulares concentrados na DR3 e DR7 parecem ter efeitos opostos no fenótipo de
JNM, que reconhecem epítopos das proteínas do músculo MG; o alelo HLA-DR3 tem uma associação positiva com
esquelético, como a miosina, actina e filamina. Dois tipos a MG de início precoce e uma associação negativa com a
de anticorpos, voltados contra titina 2 e receptor de riano- de início tardio (com anticorpos anti-titina), enquanto que
dina 85, se encontram em até 95% dos pacientes com MG e o HLA-DR7 tem o efeito oposto 42.
timoma, e em 50% dos pacientes com MG de início tardio 3. Não foi encontrada associação genética clara entre a
Titina é uma proteína que se estende ao longo do sarcô- MG timomatosa, ainda que pacientes com timoma com um
mero, proporcionando uma ligação direta entre a mecâ- perfil genético específico tenham um maior risco de desen-
nica da contração muscular e a ativação de genes volver MG 5.
musculares. O receptor de rianodina é o canal de cálcio Uma associação com o alelo DR14-DQ5 foi relatada em
do retículo sarcoplasmático; se abre com a despolarização pacientes com anticorpos anti-MuSK 93. Os pacientes com
do sarcolema e participa da contração muscular mediante anticorpos anti-MuSK variam substancialmente de acordo
a liberação de cálcio no citoplasma. A presença destes an- com a região geográfica, o que sugere possíveis influencias
ticorpos se associa com uma maior gravidade do quadro ambientais além das genéticas 94,165.
clínico 109. Quando detectados em pacientes com menos Um estudo utilizando polimorfismo de nucleotídeo
de 60 anos, servem como indicadores da presença de ti- único (de sigla em inglês, SNP) em um grupo de pacientes
moma 17. Os anticorpos contra tinina e receptores de ria- com MG encontrou que a associação mais forte é com o
nodina também foi relatado em cães com timoma e MG HLA-Cw7. O locus real da doença associada poderia ser
de início tardio 129. ainda em outro locus no haplótipo A1 – B8 – Cw7 – DR17
Recentemente foram identificados anticorpos contra ou- – DQ2107. Outro estudo identificou uma região que se so-
tros antígenos da placa terminal. Em 34 pacientes humanos, brepõe a classe de MHC III e classe I nas regiões dos ha-
anticorpos anti-agrina foram encontrados associados a ou- plótipos A1 – B8 – Cw7 – DR17 – DQ2, que chamaram de
tros anticorpos específicos, principalmente anti-RACh, que MYAS1, que se associa fortemente com MG autoimune
inibem a fosforilação da MuSK induzida por agrina e o com hiperplasia tímica 153.
agrupamento dos RACh nos miotubos. Anticorpos anti-cor- Em cães foi comprovada uma associação entre o DLA
tactina também foram encontrados em pacientes com MG e algumas doenças autoimunes como o hipotireoidismo,
soronegativa. A cortactina é um substrato da tirosina qui- anemia hemolítica imunomediada e diabetes mellitus. Em re-
nase, que promove o agrupamento dos RACh. Finalmente, lação a MG foram relatados associações familiares e predis-
em 12 pacientes foram encontrados anticorpos anti-ColQ posição racial, incluindo o terra-nova 77 e o dogue-alemão 58,
(peptídeo colágeno da acetilcolinesterase), em alguns casos o que constitui uma forte evidência que um componente ge-
associados a anticorpos anti-RACh e anti-MuSK. A pato- nético desta doença também existe em cães.
genicidade destes anticorpos não foi comprovada em mo- Foi relatada a associação de vários genes não-HLA
delos animais 39. (PTPN22, FCGR2, CHRNA1) com MG; alguns estão as-
sociados a outras doenças autoimunes 43 e podem represen-
Imunogenética tar uma susceptibilidade inespecífica à autoimunidade.
A heterogeneidade biológica e clínica da miastenia Uma exceção poderia ser a CHRNA1, que codifica a su-
grave parece estar correlacionada com marcadores genéti- bunidade alfa do RACh, e pode fornecer um indicador pa-
cos, particularmente com os genes do antígeno leucocitário togênico específico para MG 83.
humano (da sigla em inglês, HLA) 83. O HLA (ou mais co- A natureza puramente autoimune da MG implica que
mumente, complexo principal de histocompatibilidade – mecanismos patogênicos complexos causam a desregula-
MHC) é um conjunto de moléculas envolvidas no reconhe- ção da função imune normal, o que resulta no desenvolvi-
cimento imunológico e na sinalização entre células do sis- mento de uma resposta imune voltada aos autoantígenos
tema imunológico. Os antígenos HLA são glicoproteínas relacionados a MG. Numerosos estudos apontam fortes as-
na superfície celular da maioria das células nucleadas hu- sociações com vários alelos HLA. A maioria deles foram
manas; os marcadores HLA de superfície imprimem de ma- associados repetidamente a muitas enfermidades autoimu-
neira única características nas células de cada pessoa, o que nes, indicando a existência de uma patogênese subjacente
permite que o sistema imune de um indivíduo reconheça comum na autoimunidade. Em consequência, os alelos de
se uma determinada célula pertence a si mesmo. É contro- risco associados a MG exercem sua ação através da regu-
lado por genes localizados no cromossomo 681. A sessão lação da resposta imune, a inibição dos mecanismos imu-
correspondente do genoma canino se denomina antígeno nossupressores ou o fracasso de delicados processos que
leucocitário canino (de sigla em inglês, DLA). regulam a discriminação entre conformações moleculares
Em humanos, alguns transtornos estão ligados a alelos autólogas e heterólogas mediante processos tais como a to-
HLA específicos. O achado mais consistente é a associação lerância imunológica 164.

200 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25 – Afecções do neurônio motor inferior

Fisiopatologia É interessante observar que os anticorpos na MG não ata-


O conceito da JNM formada pelo terminal pré-sináptico cam, nos receptores nicotínicos, as subunidades alfa3, nem
(onde se sintetiza, acumula e libera acetilcolina), o espaço alfa4 beta2, o que explica a ausência de sinais autonômicos
sináptico e a membrana muscular pós-sináptica (que con- e sobre o sistema nervoso central 155.
têm os RACh e a enzima acetilcolinesterase) foi ampliado Os anticorpos anti-RACh agregados (de baixa afini-
para incluir vários componentes de membrana interativos dade) têm o mesmo mecanismo fisiopatogênico que os
que influenciam fortemente na função dos RACh. Além anti-RACh solúveis. No entanto, são direcionados contra a
disso, muitos destes componentes foram identificados forma adulta do receptor e não se ligam a forma fetal, ao
como predisponentes dos transtornos imunomediados que contrário do que ocorre na maioria dos pacientes anti-
causam MG sintomática. A JNM contém uma grande den- RACh positivos, que se ligam a ambas as formas 162.
sidade de RACh, normalmente agregados nas criptas pós- O mecanismo de perda de RACh funcionais é determi-
sinápticas, disposição que otimiza a transmissão do sinal. nada por 3 mecanismos: a) a lise da placa muscular me-
A agregação dos RACh requer a união da proteína agrina, diada pelo sistema complemento, que resulta em danos
secretada desde o cone de crescimento do axônio do moto- morfológicos da membrana pós-sináptica 36,114. A conse-
neurônio, com LRP4 na membrana pós-sináptica. O com- quência é uma distorção e simplificação de seu padrão nor-
plexo agrina-LRP4 ativa os receptores MuSK, o que resulta mal em dobras, o que se traduz em um impacto funcional
na agregação dos RACh mediante interação com outras sobre os RACh, e na redução do número de canais de sódio
proteínas como a rapsina 116. Desta forma, o desenvolvi- dependentes de voltagem, aumentando o limiar do poten-
mento e funcionalidade dos RACh é dependente de recep- cial de ação da fibra muscular; b) a IgG sérica dos pacientes
tores e moléculas excitatórias relacionadas 116. miastênicos induz um aumento de 2 a 3 vezes na taxa de
Na MG há uma perda de RACh funcionais e diminuição degradação dos RACh. Sugeriu-se que este mecanismo é
secundária na amplitude do potencial da placa motora produzido pela capacidade do anticorpo de ligar-se de
abaixo do limiar necessário para gerar um potencial de ação forma cruzada com os receptores, que se agrupam em acú-
muscular. Com o estimulo repetitivo e as despolarizações mulos na membrana muscular, são internalizados por um
consecutivas do axônio motor, a falha na transmissão neu- processo de endocitose e se degradam 33,48; c) os anticorpos
romuscular que causa a fraqueza do paciente é evidenciada. podem bloquear a fixação de Ach a seus receptores de
Os anticorpos anti-RACh são a principal peça patogênica forma direta, impedindo a abertura do canal iônico 18.
neste processo. Entretanto, a MG é heterogênea em sua fi- Os títulos totais de IgG de anti-RACh não se correla-
siopatologia, dependendo do antígeno que se altera e dos cionam com a gravidade da doença 91,92. Essa disparidade
anticorpos participantes. De acordo com o subtipo de mias- pode ocorrer pela diferença na atividade funcional dos an-
tenia, diferentes mecanismos fisiopatogênicos adquirem ticorpos, como pela capacidade de acelerar a taxa de de-
maior ou menor importância, dependendo de fatores como gradação dos RACh ou de bloquear seus locais de ligação
especificidade do epítopo, subclasse de anticorpo ou den- à acetilcolina. Outra explicação é a variação na distribuição
sidade do antígeno 49. de isotipos; a concentração de IgG1, mas não a de IgG2 e
IgG3, se correlaciona positivamente com a gravidade da
Anticorpos anti-RACh MG 108.
Os anticorpos anti-RACh são o principal alvo antigê- A redução no número de receptores promove mecanis-
nico na MG. A resposta dos anticorpos é dependente de lin- mos homeostáticos sinápticos, incluindo a sinalização si-
fócitos Th2 (LT CD4+) que proporcionam a colaboração náptica retrógrada, que pode aumentar os níveis de
dos LB para que produzam os anticorpos anti RACh 106. expressão dos RACh, e aumentar a síntese e liberação de
Nos pacientes com MG generalizada, os anticorpos anti- acetilcolina, atenuando a intensidade dos sinais clínicos
RACh se distribuem principalmente entre as subclasses 89,103. Esta variabilidade também pode condicionar a gravi-

IgG1, IgG2 e IgG3 158. O grande tamanho e a estrutura com- dade da doença.
plexa dos RACh sugerem que os anticorpos se ligam a di-
ferentes epítopos do receptor 157. Foi relatado que o Papel do timo
principal local de união da maioria dos anticorpos é uma Embora a presença de anticorpos seja uma prova do me-
região específica da subunidade alfa dos RACh, conhecida canismo imunitário que causa a desordem funcional do
como região imunogênica principal (sigla em inglês, MIR). músculo na MG, ainda não foi possível estabelecer a ori-
MIR é independente e diferente dos locais de ligação do gem da reação imunitária. A maioria dos pacientes huma-
RACh. Existe um MIR em cada subunidade alfa do RACh, nos miastênicos têm anomalias tímicas e uma resposta
e se localiza na parte extracelular do receptor, o que o torna favorável à timectomia, razão pela qual essa glândula tem
facilmente acessível aos anticorpos circulantes. MIR é im- sido implicada na patogênese da doença 71,104,105,163.
portante porque a maioria dos anticorpos anti-RACh (apro- Os timomas se associam frequentemente a doenças au-
ximadamente 60%) na MG de muitas espécies estão toimunes, provavelmente devido a desregulação na seleção
direcionados contra esta região, e esses anticorpos contri- de linfócitos e porque apresentam auto antígenos expres-
buem substancialmente para a patologia da JNM 74,121,149-151. sados por células neoplásicas. As células epiteliais do timo

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 201


Capítulo 25 – Afecções do neurônio motor inferior

expressam diversos auto antígenos, incluindo epítopos de RACh funcionais 134.Também foi demonstrado que inibem
RACh, tinina e receptor de rianodina. A presença simultâ- a proliferação de células musculares humanas e diminuem
nea de anticorpos contra todos estes antígenos poderia in- a expressão de RACh e rapsina 16. Adicionalmente, de-
dicar que as proteínas alvos apresentam reações cruzadas monstrou-se que as IgG4 anti-MuSK são miastogênica, in-
e intervêm na aparição da doença 49 dependentemente dos componentes adicionais do sistema
A hipótese da patogênese intratímica relacionada a MG imune 62.
vêm sendo pesquisada há três décadas 52,71,82,104,105. Os lin-
fócitos T e B do timo miastênico reagem em particular com Anticorpos anti-LRP4
os RACh, mais do que as células análogas do sangue peri- LRP4 é o receptor de agrina e, portanto, ativador de
férico. Os pacientes com hiperplasia de timo apresentam MuSK 59. Sua função é fundamental para a formação da
títulos de anticorpos contra RACh maiores do que aqueles JNM. Os anticorpos anti-LRP4 inibem a interação entre
que não tem hiperplasia 104. Os timomas associados com agrina, LRP4 e MuSK, alterando a agregação dos RACh.
MG são ricos em células T autorreativas 118. Além disso, o A maioria dos anticorpos anti-LRP4 são do tipo IgG1, e
timo conte células mioides, semelhantes às do músculo es- como consequência podem ligar o sistema complemento e
triado , que possuem RACh em sua superfície 52; foi pro- provocar lise da terminação motora, de forma similar aos
posto que estas células são a fonte do antígeno que inicia o anticorpos anti-RACh 50. No entanto, alguns pacientes tem
processo autoimune 71,104, porque em timos miastênicos há alta concentração de IgG4 anti-LRP4, como no caso da MG
uma maior concentração de células mioides e uma maior MuSK positiva, com um mecanismo fisiopatogênico simi-
relação com células apresentadoras de antígeno 52,71,105,163. lar, alterando o desenvolvimento e manutenção da sinapse
Também foi relatado que os linfócitos tímicos de pacientes 59. O papel patogênico dos anticorpos anti-LRP4 ainda não

com MG podem sintetizar anticorpos contra RACh, tanto foi demonstrado.


em cultura como de forma espontânea 117. Todos estes acha-
dos indicam que o timo, em casos de MG, contém os ele- Manifestações clínicas
mentos necessários e suficientes para montar uma resposta A apresentação clínica “clássica” da MG adquirida em
dirigida contra o RACh 104. De acordo com a teoria atual, cães é uma fraqueza muscular generalizada episódica que
as células T autorreativas seriam selecionadas positiva- piora com atividade e melhora em descanso 27,122. O exame
mente para sobrevivência e exportadas para a periferia, neurológico é normal quando o animal está em repouso;
onde se ativariam para colaborar com as células B mediante com o exercício a debilidade piora rapidamente. Este sinal
a CD4. Portanto, o início da produção de anticorpos anti- é mais evidente nos músculos apendiculares dos membros
RACh se iniciaria com o reconhecimento dos RACh de cé- pélvicos. Os animais afetados se cansam, desenvolvem
lulas mioides pelas células apresentadoras de antígenos uma marcha hipométrica com passos curtos e deitam-se
presentes no timo, seu processamento subsequente e sua para descansar. A força muscular retorna após o repouso.
expressão estaria associado a moléculas de MHC tipo II. Os reflexos espinhais e dos nervos cranianos está intacta
Os linfócitos T reativos reconhecem estes fragmentos de inicialmente, mas após testes repetidos podem mostrar fa-
peptídeos e são ativados, circulando pela periferia para co- diga. O reflexo mais sensível para se avaliar a fadiga é o
laborar com as células B produtoras de anticorpos 71,105,163. palpebral 78.
Nos timomas, a seleção positiva e regulação das células T O megaesôfago é um achado comum nos cães devido à
auto-reativas está alterado devido a uma deficiência da ex- grande proporção de músculos esqueléticos quo o esôfago
pressão do gene regulador autoimune (de sigla em inglês, apresenta, ocorrendo em 85% dos casos 124. Pode aparecer
AIRE), e a uma perda seletiva de células T reguladoras 65,118. associado com a fraqueza muscular ou como o único sinal
No entanto, esta teoria não foi completamente comprovada. clínico 125. Uma vez que se demonstrou o envolvimento se-
letivo de músculos faciais, faríngeos e laríngeos em ani-
Anticorpos anti-MuSK mais afetados 124, foi relatado que a MG adquirida em cães
Os anticorpos anti-MuSK são predominantemente IgG4 e gatos é um transtorno com amplo espectro de formas clí-
e, diferente das IgG1 e IgG3 na MG anti-RACh positiva, nicas, tal como ocorre com pessoas 27.
não ativam a cascata do sistema complemento. Embora as A MG em cães pode se apresentar de três formas clíni-
IgG4 não sejam potentes ativadores das células imunoló- cas distintas: uma forma localizada, uma generalizada e
gicas ou da citotoxicidade mediada por células, possuem a uma aguda fulminante 27,124,139,160.
propriedade única de recombinar semi-anticorpos com ou- A forma localizada se observa em 36% dos cães com
tras moléculas IgG4, produzindo anticorpos híbridos bies- MG adquirida soropositiva a anticorpos anti-RACh 27. Os
pecíficos que não tem ligamento cruzado com antígenos animais afetados não têm antecedentes nem evidências clí-
idênticos 1,152. nicas de fraqueza muscular apendicular. Podem se apresentar
MuSK está envolvido nas vias de sinalização que mantêm exclusivamente com megaesôfago, ou com debilidade
a integridade da JNM1 16,166. Possivelmente, os anticorpos muscular restrita a grupos específicos de músculos laríngeos,
anti-MuSK alteram na manutenção dos conjuntos de RACh faríngeos, esofágicos ou faciais (Figura 3). Os sinais clínicos
no terminal muscular, o que resulta em uma diminuição dos incluem ptose da parte superior da pálpebra, sialose em

202 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25 – Afecções do neurônio motor inferior

excesso, alterações no latido, estridor inspiratório ou regur- (10%), e uma combinação de ambos em 40% dos casos 47.
gitação, devido à fraqueza muscular facial, faríngea, larín- A MG adquirida nesta espécie pode ocorrer depois de tra-
gea ou esofágica 27,124. Tendo em vista que 30-50% dos tamento para hipertireoidismo com metimazol, por conta
pacientes humanos com MG focal são soronegativos para das propriedades imunomoduladoras desta medicação 11 146.
anticorpos anti-RACh e que esta situação também pode Nos gatos, a incidência é maior em animais com mais
ocorrer em cães 123, a prevalência desta forma clínica em de 3 anos de idade, com uma distribuição bimodal: entre
cães pode ser maior. Além disso, em alguns cães com pres- os 2 e 3 anos, e entre os 9 e 10 anos 47,128.
supostos megaesôfago idiopático ou paralisia laríngea sem Igual ao que ocorre com humanos, nos cães e gatos tam-
fraqueza generalizada, se demonstra a presença de MG com bém se observa uma variedade de síndrome clínicas de MG
métodos diagnósticos adequados. adquirida, com grande variação, mesmo dentro de cada
A forma generalizada ocorre em 48% dos cães afetados uma das formas clínicas. Não existem diferenças significa-
27, e se caracteriza pela fraqueza neuromuscular generali- tivas na concentração de anticorpos anti-RACh entre as dis-
zada nos músculos apendiculares. Este grupo de pacientes tintas apresentações clínicas, assim como não há correlação
têm a particularidade de ter um aparente aumento da sus- entre a concentração de anticorpos e a gravidade da doen-
ceptibilidade nos membros pélvicos 27, embora a predomi- ça 27. A gravidade e a distribuição dos sinais clínicos são
nância da fraqueza muscular nos membros torácicos possivelmente influenciadas pelas diferenças entre os de-
também ter sido relatada 97, assim como ocorre em huma- terminantes antigênicos dos RACh e pelos anticorpos anti-
nos 94. O histórico de piora após o exercício pode ou não RACh, heterotípicos por natureza 34,69,74. As características
estar relacionada; surpreendentemente, menos de 40% dos individuais da MG em um determinado paciente, assim
cães com fraqueza muscular apendicular tem antecedentes como ocorre em pessoas, pode refletir a especificidade an-
ou evidencias clínicas que sugiram a piora dos sinais clíni- tigênica dos anticorpos anti-RACh deste paciente em par-
cos durante ou depois do exercício 27. A maioria dos animais ticular, e a maneira que este anticorpo reage com os tipos
afetados pela forma generalizada também apresentam me- antigênicos particulares dos RACh. Desta forma, um pa-
gaesôfago e debilidade facial, faríngea ou laríngea. ciente que tem a maior parte dos anticorpos circulantes di-
A forma aguda fulminante 27, também chamada crise rigidos especificamente contra os RACh dos músculos
miastênica 60, é uma forma muito severa e incomum, que faríngeos e menos afinidade pelos RACh de músculos
ocorre em 16% dos cães afetados 27. Os animais desenvol- apendiculares, tem maior probabilidade de desenvolver
vem sinais de profunda fraqueza muscular generalizada, di- MG focal 27.
latação esofágica, tetraparesia e dificuldade respiratória Em conjunto com a MG podem coexistir outras doenças
grave, que progridem rapidamente em um curso de 24 a 72 imunomediadas, como poliomiosite, polirradiculoneurite ou
horas 27,60. Sua gravidade reside no envolvimento dos mús- endocrinopatias autoimunes como o hipotireoidismo 25,70,137.
culos respiratórios, intercostais e diafragma, que pode levar Um bloqueio atrioventricular de terceiro grau foi comuni-
a um quadro de hipoventilação de consequências letais 60. cado em cães com MG adquirida, ainda que a relação
A MG adquirida em cães apresenta uma distribuição bi- causa-efeito não tenha sido comprovada 46. A pneumonia
modal 27,131(<5 anos e >7anos 144, afetando principalmente aspirativa é uma frequente sequela de megaesôfago; con-
animais jovens (com uma apresentação média aos 3 anos siste em uma complicação do manejo terapêutico da MG,
de idade) ou geriátricos (com uma apresentação média aos mesmo em pacientes sem evidencia de megaesôfago, de-
10 anos de idade) 27, 125. Não se observa nenhuma predispo- vido à debilidade de músculos faríngeos e esofágicos 27,125.
sição em relação ao sexo dos animais afetados, embora ani- Como a MG pode se desenvolver como parte de uma sín-
mais esterilizados possam ter um risco maior. Os cães de drome paraneoplásica, os animais afetados podem apresentar
tamanho grande parecem ter uma predisposição 125,128. sinais relacionados a neoplasia primaria. O timoma é a neo-
Nos gatos os sinais clínicos de MG adquirida são mais plasia mais comum associada a MG em cães e gatos 7,19,61,88.
variáveis. As manifestações clínicas mais frequentes con- A incidência de timoma associado a MG é maior em ga-
sistem em fraqueza muscular generalizada (aproximada- tos 47,125,128. A presença de massas mediastinais, especial-
mente 50-60% dos gatos) e associação com massas mente timoma, se associa com MG em 52% dos gatos 47. A
mediastinais (aproximadamente 26-52% dos gatos com MG também pode ser um efeito paraneoplásico de outros
MG) 47,128. Entre 10-20% dos gatos com MG adquirida apre- tumores como sarcoma osteogênico, carcinoma colangio-
sentam somente doença focal, contra 36% dos cães 27,35,47,128. celular, adenocarcinoma dos sacos anais e linfoma 55,63,90,131.
A ocorrência de megaesôfago é incomum em gatos devido
à grande proporção de músculo liso que apresentam no esô- Diagnóstico
fago, diferente do que ocorre com os cães 47,128. Outros sinais O diagnóstico de MG é um desafio para o clínico. Os ani-
comuns incluem vômitos/regurgitação, intolerância a exer- mais afetados geralmente não desenvolvem atrofia muscular
cício, disfagia, mudanças no miado e mandíbula caída 35. severa 126, e a fraqueza muscular relacionada ao exercício está
Em um trabalho recente se relatou a presença de fraqueza presente em menos da metade dos casos 27. A fatiga do re-
generalizada sem regurgitação ou disfagia em 50% dos flexo palpebral pode ser indicativo de MG focal 78. O histó-
gatos afetados, regurgitação sem fraqueza generalizada rico de regurgitação é um dos sinais mais importantes, e se

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 203


Capítulo 25 – Afecções do neurônio motor inferior

encontra presente em mais de 80% dos casos de MG 27,125, Se considera que um paciente tem resposta positiva quando
ainda que não seja específico da doença. demonstra uma rápida e evidente melhora na força muscu-
O padrão ouro para o diagnóstico de MG se baseia na lar depois da administração de edrofônio 26,139. Devido à
determinação de anticorpos séricos anti-RACh por imuno- meia vida curta, a melhoria só dura alguns poucos minutos.
precipitação e radioimunoensaio 75,126,131. Um título superior Cerca de 75% dos animais com fraqueza generalizada de-
a 0,6 nmol/L em cães 125 e superior a 0,3 nmol em gatos 128 vido a MG respondem ao teste de Tensilon 27. Entretanto, se
é compatível com o diagnóstico de MG adquirida. Este deve ter precaução tanto na realização quanto na interpre-
teste deve ser realizado anteriormente a administração de tação do resultado deste teste, pois não é sensível nem es-
corticoides. Podem ocorrer falsos negativos nos estágios pecífica 95. A ausência na melhoria da força muscular não
iniciais da doença, ou devido a terapia com corticoides por elimina o diagnóstico de MG 131. Além disso, os cães com
períodos superiores a 7 dias. Os animais soronegativos com outras enfermidades neuromusculares, como miopatias ou
histórico de MG aguda devem ser monitorados para soro- neuropatias, podem apresentar uma resposta parcial ao edro-
conversão 1 a 2 semanas após o primeiro exame 126. O teste fônio 26,126. Por outro lado, as drogas anticolinesterásicas são
é espécie-específico. Pode ocorrer reação cruzada quando se colinérgicos de ação inespecífica e estimulam tantos os re-
utiliza RAChs de outras espécies (por exemplo, humana) 126, ceptores nicotínicos como os muscarínicos, ocasionando
o que dificulta e encarece o custo do exame. Aproximada- broncoconstrição, bradicardia e sialorréia, estes efeitos
mente 90% dos cães com MG adquirida têm anticorpos podem ser limitados com a aplicação previa de atropina em
anti-RACh, e aproximadamente 12% dos cães com MG ge- dose 0,02-0,05mg/kg, via SC ou IM. Os receptores nicotí-
neralizada são soronegativos 125,131. Os cães soronegativos nicos não são afetados pela atropina, e em consequência os
podem ter anticorpos contra outros componentes da JNM, animais afetados podem demonstrar uma resposta positiva 78.
ausência da produção de anticorpos, ou perda de anticorpos Além disso, a super-estimulação destes receptores pode pro-
durante o processamento da amostra 131. duzir um bloqueio despolarizante e induzir a uma crise co-
O teste do edrofônio IV (teste de Tensilon®) pode con- linérgica, caracterizada por severa fraqueza muscular,
tribuir para estabelecer o diagnostico presuntivo de MG vômitos, salivação, defecação e paralisia respiratória 26,139.
adquirida com sinais de fraqueza muscular nos músculos Nos pacientes humanos o diagnóstico clínico também
apendiculares 131. O edrofônio é um agente anticolinesterá- se baseia na melhora clínica logo após a aplicação de um
sico de ação ultracurta. Em teoria, a droga permite que uma anticolinesterásico. Além do edrofônio, utiliza-se a prova
maior quantidade de moléculas de acetilcolina se encontrem com neostigmina via IV ou IM 142; este teste, igual ao edro-
disponíveis e interajam com os RACh que permanecem fun- fônio, é negativa em quase 30% dos pacientes 38. Em cães,
cionais. Se estabelece um diagnóstico presuntivo de MG relatou-se a prova com neostigmina via oral como alterna-
adquirida se há evidências de uma resposta positiva à inje- tiva, utilizando a dose de 0,25mg/kg via oral. O diagnóstico
ção via endovenosa de 0,1 a 0,2 mg/kg de edrofônio, pos- é estabelecido com base no retorno da força muscular den-
teriormente a se induzir fraqueza muscular com exercícios. tro de 4 horas após a administração 32. A resposta ao bro-
meto de piridostigmina também pode orientar o diagnóstico
presuntivo de MG.
O diagnóstico também se baseia na exclusão de enfer-
midades cardiovasculares e metabólicas mediante a provas
laboratoriais ou eletrofisiológicas adequadas. A fraqueza
muscular induzida por exercício, uma diminuição da res-
posta a uma estimulação nervosa repetitiva e uma res-
posta positiva a fármacos anticolinesterásicos suportam
um diagnóstico presuntivo de MG 78.

B
Arquivo pessoal

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

Figura 3 – A) Cão de raça indefinida, de 8 anos de idade, que chegou à consulta apresentando um quadro de fraqueza
generalizada e intolerância ao exercício de curso crônico (aproximadamente 8 meses). Observe a atrofia muscular, pro-
duzida por desuso e a salivação excessiva; B) A radiografia látero-lateral de tórax simples mostrando a presença de
megaesôfago

204 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25 – Afecções do neurônio motor inferior

Testes eletrofisiológicos também podem contribuir para


o diagnostico presuntivo de MG. A EMG habitualmente é A
normal nesta doença, ainda que ocasionalmente possa se
observar variabilidade na amplitude das unidades motoras
e potenciais de fibrilação 78. Em humanos o diagnóstico
neurofisiológico da MG se estabelece com base na asso-
ciação de sinais clínicos com alteração na transmissão neu-
romuscular, demostrada em uma diminuição maior que o
11% na amplitude do potencial de ação muscular na esti-
mulação nervosa repetitiva com baixas frequências e/ou
por um jitter aumentado no EMG de fibra única 40. De ma-
neira análoga a observação da fadiga do reflexo palpebral
com testes repetidos, a estimulação nervosa repetitiva é
uma prova eletrofisiológica em que se realiza a estimulação
repetida de um nervo e a medição da amplitude do poten-
cial de ação muscular resultante. Em animais normais, a
estimulação nervosa repetitiva a 5Hz não provoca mudan-
ças na amplitude ou na área do potencial de ação evocado
B
80,135. Em animais afetados com MG as amplitudes da esti-

mulação do nervo evocado diminuem pelo menos 10-20%


nas primeiras 10 respostas (Figura 4). Entretanto, não há
relatos de estudos com um grande número de cães miastê-
nicos, e a prova de estimulação nervosa repetitiva não é es-
pecífica para MG, portanto qualquer alteração é suspeita
para enfermidades da JNM 27,135. Ainda que a resposta di-
minuída seja anormal na maioria dos animais miastênicos,
podem ocorrer tanto falsos positivos como falsos negativos.
Se uma diminuição na resposta é demonstrada, a adminis-
tração de edrofônio IV pode contribuir para esclarecer o
diagnóstico, causando uma resposta normal por alguns pou-
cos minutos 78.
Foi relatado que a análise por EMG de fibra única é a
melhor prova eletrofisiológica para estabelecer o diagnós-
tico de MG em humanos 40,138, e vem sido estudada em cães C
normais 53. Através de um eletrodo especialmente projetado
se registra os potenciais de ação de uma fibra muscular ati-
vada voluntariamente. Ao se estimular uma fibra única, é
comum que o estimulo também alcance uma segunda fibra
da mesma unidade motora. Esta, normalmente responde
com um potencial similar ao registrado na primeira fibra,
ainda que, geralmente, com uma amplitude menor. O
tempo que decorre entre os dois potenciais é o intervalo in-
terpotencial e pode alcançar vários milissegundos. Uma
propriedade deste intervalo é que normalmente é muito es-
tável entre descargas sucessivas. O jitter é um dos elemen-
tos que caracterizam a fibra única; avalia a variabilidade
existente entre os intervalos interpotenciais nas sucessivas
descargas, medida como a média das diferenças consecu- Figura 4 – A) Potenciais obtidos após a estimulação repe-
tivas. Esta variação irá refletir fundamentalmente o tempo titiva do nervo tibial em um cachorro normal; B) Cão com
necessário para que os potenciais da placa motora na JNM miastenia gravis (observe a diminuição da amplitude dos
alcancem o limiar para gerar o potencial de ação. A varia- potenciais musculares em relação ao primeiro); C) Repre-
bilidade do intervalo interpotencial aumenta na MG. O es- sentação dos potenciais obtidos sob a forma de um histo-
tudo do jitter também avalia o número de casos em que a grama.
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neuro-
segunda resposta não ocorre devido a um bloqueio da si- lógico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica,
napse neuromuscular. Em músculos normais nunca ocorre 2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de
bloqueio 136. A gravidade do comprometimento clínico se Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 205


Capítulo 25 – Afecções do neurônio motor inferior

relaciona estreitamente com o jitter 54. Muitos destes estu-


dos exigem anestesia leve, o que deve ser evitado em cães
com MG e limita o estudo nesta espécie 78.
Outros diagnósticos de suporte incluem radiografia to-
rácica para avaliar a existência de pneumonia por aspira-
ção, presença de megaesôfago (Figura 5), avaliação de
massas mediastinais craniais ou presença de metástases. A
ultrassonografia abdominal é realizada para detectar neo-
plasias abdominais 78.

Diagnóstico diferencial
Várias doenças podem levar a transtornos na JNM. Al-
gumas delas são características de regiões geográficas es-
pecíficas e, portanto, durante a anamnese devemos Figura 5 – Radiografia látero-lateral de tórax, após a admi-
investigar sobre a possibilidade de contato prévio com os nistração de sulfato de bário. A presença de megaesôfago
fatores de risco. pode ser claramente observada.
Os principais diagnósticos diferenciais para a MG em Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neuro-
lógico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica,
sua forma fulminante são as polirradiculoneurite imuno- 2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de
mediada ou infecciosa, a paralisia por carrapatos, o enve- Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino
nenamento por picada de cobras e botulismo 6,21,23,41,112,120.
A polirradiculoneurite imunomediada e o botulismo serão e autonômicas facilitando a exocitose inespecífica de vesí-
abordados em capítulos seguintes. Outras enfermidades que culas sinápticas como resultado do influxo de Ca 2+. A neu-
devem ser diferenciadas da MG incluem a intoxicação su- rotoxina também pode provocar a destruição do terminal
baguda por carbamatos e organofosforados, o colapso in- pré-sináptico. A liberação de Ach na JNM produz espasmos
duzido pelo exercício e a ação de certos medicamentos que musculares e dor, enquanto os efeitos autonômicos incluem
inibem a transmissão na JNM (Dickinson y LeCouteur salivação, aumento da produção lacrimal, hipertensão e
2004). bradicardia ou taquicardia. Após 12 a 24 horas, a espasti-
A paralisia induzida por carrapatos resulta da transmis- cidade é seguida por paralisia flácida como resultado da
são de neurotoxinas salivares ao hospedeiro durante a in- destruição da placa terminal e da despolarização prolon-
festação parasitária. A etiopatogenia está relaciona a uma gada (Twedt et al. 1999). O veneno de alguns sapos (Bufo
neurotoxina secretada principalmente pelo Dermacentor alvarius, Bufo marinus e Bufo vulgaris) podem produzir
variabilis e Dermacentor andersoni ainda que outras espé- bloqueio a nível da placa neuromuscular. As glândulas pa-
cies de carrapatos como Ixodes holocyclus e Ixodes cor- rótidas podem produzir uma quantidade de toxinas, que são
nuatua também possam ocasionar a doença com diferentes excretadas pela pele. A composição e a potência das neuro-
graus de severidade. O carrapato adulto, principalmente toxinas variam entre as diferentes espécies. As mais signi-
as fêmeas, produzem em sua saliva uma neurotoxina que ficativas (bufagina, bufotoxina) têm uma ação semelhante
interfere com a liberação de acetilcolina na placa neuro- aos digitálicos. Foi relatada a presença inicial de paraparesia
muscular, diminuindo a contração muscular. Os gatos pa- com posterior progressão aos membros torácicos, embora a
recem ser mais resistentes a esta doença do que os cães. toxina específica responsável e seu mecanismo de ação não
Os sintomas consistem em uma paralisia ascendente que tenham sido documentados. Os sinais clínicos variam, de-
se inicia nos membros pélvicos e evolui para os membros pendendo da potência da toxina, desde irritação oral e sa-
torácicos em um período de 24 a 72 horas, com ausência livação até tetraparesia e arritmias cardíacas intratáveis 10,31.
de diminuição de reflexos medulares e conservação da A intoxicação por organofosforados e carbamatos cau-
sensibilidade 31. sam fosforilação das acetilcolinesterase, inibindo a sua ca-
Existem diversos venenos biológicos que podem pro- pacidade de hidrolisar a acetilcolina, de modo que se
duzir bloqueios neuromusculares. O veneno de algumas co- produz uma diminuição na sua degradação no espaço si-
bras da família Elapidae (cobra-coral - Micrurus corallinus), náptico. Os organofosforados são inibidores irreversíveis
possui neurotoxinas que atuam especificamente na JNM. da acetilcolina por um processo dependente de tempo, en-
Também podem produzir hipotermia, hematúria/hemo- quanto os carbamatos são inibidores lentamente reversí-
globinúria, nocicepção diminuída e obtundação/diminuição veis. A severidade dos sinais clínicos dependerá da natureza
da consciência. As toxinas pós-sinápticas possuem uma ati- da toxina, o grau de exposição e o estado fisiológico do ani-
vidade semelhante ao curare, bloqueando os RACh, seus mal quanto a sua capacidade orgânica para metabolizar o
efeitos podem ser revertidos com antissoro específico 31. agente toxico. Na intoxicação subaguda, a superestimula-
O envenenamento por picada de aranhas (viúva negra ção dos receptores colinérgicos muscarínicos, nicotínicos
– Latrodectus mactans) é causado pela neurotoxina α-la- e centrais seguida de um bloqueio despolarizantes, pro-
trotoxina. A toxina se une as terminações nervosas motoras voca fraqueza muscular que pode piorar com o exercício.

206 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25 – Afecções do neurônio motor inferior

Os sintomas se relacionam com a estimulação muscarínica motora, pode ocorrer fraqueza muscular paradoxal. Adicio-
(salivação, miose, distúrbios gastrointestinais e convulsões) nalmente, a estimulação excessiva dos receptores musca-
e nicotínica (tremores musculares); nos casos subagudos a rínicos pode provocar uma crise colinérgica 26,139. Esta pode
fraqueza muscular pode ser o único sintoma visível. Em ser difícil de distinguir de um agravamento da MG (crise
gatos também se pode observar uma postura de ventrofle- miastênica), que também é reflexo de uma severa fraqueza
xão do pescoço 31. muscular. O edrofônio pode ser usado para diferenciar
O colapso induzido pelo exercício (da sigla em inglês ambas as condições. Se o paciente não melhora ou piora
EIC) é uma síndrome genética, que ocorre predominante- com o edrofônio, o mais provável é que o excesso de ini-
mente em labrador retriever, mas também é visto em cães bidor da acetilcolinesterase seja o causador. Neste caso, a
das raças chesapeake bay retriever, curly coated retriever, medicação deve ser parada, ou a dose e frequência de ad-
boykin spaniel e welsh corgi pembroke 86. O gene canino ministração devem ser diminuídas 78.
DNM1está fortemente associado ao EIC 99. Os sinais clíni- A fisiopatologia da MG adquirida como transtorno imu-
cos consistem em fraqueza muscular e falta de coordenação nomediado implica que a imunossupressão é necessária para
associado a atividade física, e inclusive colapso mortal ao resolver a causa subjacente 27. Entretanto, o uso de terapia
participar de um exercício extenuante. Os cães afetados imunossupressora tem sido controversa 78. A imunossupres-
podem tolerar um exercício leve a moderado, mas períodos são pode ser contraindicada em pacientes com risco de de-
de 5 a 20 minutos de atividade vigorosa, ou excitação ex- senvolver pneumonia por aspiração. A administração de
trema podem induzir fraqueza ou colapso. Os animais afe- corticoides também foi associada a fraqueza muscular em
tados com EIC geralmente não podem realizar um muitas espécies, e poderia acentuar essa condição no pa-
treinamento intenso ou trabalho de campo, mas podem ciente com MG. Não se deve iniciar a terapia a níveis imu-
viver vidas normais como mascotes 140,141. Há um teste de nossupressores porque poderia levar o paciente a uma crise
DNA para identificar a mutação no EIC entre as varias miastênica 78. A prednisona/prednisolona deveria ser usada
raças afetadas por esta síndrome genética. inicialmente a doses anti-inflamatórias baixas de 0,25mg/kg
Certas drogas tem a capacidade potencial de deprimir a uma vez ao dia, e ir aumentando gradualmente, até uma dose
função muscular inibindo a transmissão através da placa imunossupressora de 1 a 2 mg/kg, 2 vezes ao dia, durante 2
neuromuscular. Os antibióticos que se sabe que podem a 4 semanas 139. Neste momento é conveniente reavaliar os
produzir bloqueio neuromuscular são os aminoglicosídeos títulos de anti-RACh. Se a titulação se encontrar dentro dos
(estreptomicina, dihidroestreptomicina, canamicina e neo- níveis normais de referência, a dose se reduz gradualmente,
micina), oxitetraciclina, polimixina B, lincomicina, clinda- muito lentamente a cada 4 semanas. O objetivo é uma terapia
micina, cefalosporinas, penicilina e quinolonas. Outras em dias alternados na dose mais baixa que estabilize os sinais
drogas que podem provocar este mesmo efeito são os tran- clínicos 78. As doses altas de corticoides podem provocar
quilizantes fenotiazínicos, benzodiazepinas, tiopental, pro- efeitos indesejáveis, como ulceração gástrica, disfunção he-
pofol, quetamina e agentes anestésicos inalatórios 31. pática ou hiperadrenocorticismo iatrogênico.
Também são utilizados outros agentes imunossupresso-
Tratamento res (ciclosporina, mofetil micofenolato, azatioprina) que
Na MG adquirida existem 3 modalidades principais de modulam a função das células T, sozinhos ou em associação
intervenção terapêutica: terapia anticolinesterásica, terapia com corticoides, com êxito variável 4,14,29. De forma análoga
imunomoduladora e timectomia 78. Uma vez que foi con- ao que se utiliza a medicina humana, foi tentado a plasma-
firmado o diagnóstico, a terapia inicial deve incluir antico- ferese em cães, mas em associação com corticosteroides 9.
linesterásicos (brometo de piridostigmina 0,5 a 3 mg/kg, 2 A timectomia deveria ser considerada para os cães com
a 3 vezes ao dia por via oral) 27,124,126,131. As drogas antico- timoma, ou para aqueles que apresentam uma má resposta
linesterásicas de longa duração prolongam a ação da ace- a terapia medicamentosa 61,64,113. Os níveis de anticorpos
tilcolina na JNM mediante a inibição reversível da anti-RACh podem persistir apesar da melhora clínica pos-
acetilcolinesterase. Se observa uma melhoria na força mus- terior a timectomia. A cirurgia deve ser considerada com
cular nos primeiros dias de terapia. Para evitar a superesti- cautela, devido ao estresse da anestesia e dos riscos asso-
mulação de RACh se começa com a dose mais baixa e vai ciados a toracotomia 78.
aumentando gradualmente segundo o efeito 78. Alguns pa- Os títulos dos anticorpos anti-RACh devem ser monito-
cientes não toleram a forma oral da medicação por conta rados até que se alcance a remissão. A dose de drogas anti-
de frequentes regurgitações, provocadas pelo megaesôfago. colinesterásicas e corticoides vão diminuindo gradualmente
Nestes casos pode se administrar brometo de neostigmina até a descontinuação, se possível. Mudanças drásticas na
intramuscular em uma dose de 0,4mg/kg 28,139. É importante terapia devem ser evitadas. Há uma excelente correlação
que a dose seja titulada a um nível ótimo com base nas mu- entre a resolução dos sinais clínicos e o retorno dos anti-
danças da força muscular. Quantidades excessivas de ini- corpos anti-RACh a níveis inferiores a 0,6 nmol/L 131. É im-
bidores da acetilcolinesterase resultam no acumulo de portante implementar terapia suporte quando ocorrem
acetilcolina e provocam fibrilações das fibras musculares. complicações: manejo de megaesôfago, tratamento da
Como resultado deste bloqueio neuromuscular da placa pneumonia por aspiração, fluidoterapia, suporte nutricional

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 207


Capítulo 25 – Afecções do neurônio motor inferior

(alimentação com a cabeça elevada, tubo de gastrotomia), Referências


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Em um estudo recente foi documentado o curso natural da 10.1001/archneur.56.1.25.
doença em cães com MG tratados somente com drogas an- 4-ABELSON, A. L. ; SHELTON, G. D. ; WHELAN, M. F. ; CORNEJO,
ticolinesterásicas 130. Quase 89% dos animais apresentaram L. ; SHAW, S. ; O'TOOLE, T. E. Use of mycophenolate mofetil as
a rescue agent in the treatment of severe generalized myasthenia
remissão espontânea (47 de 53) em uma média de 6,4 gravis in three dogs. Journal of Veterinary Emergency and
meses. Os cães que não apresentaram remissão tinham neo- Critical Care, v. 19, n. 4, p. 369-374, 2009. DOI: 10.1111/j.1476-
plasias diagnosticadas posteriormente ao início da MG 4431.2009.00433.x.
(timomas, cistoadenocarcinoma papilar do conduto tireo- 5-AMDAHL, C. ; ALSETH, E. H. ; GILHUS, N. E. ; NAKKESTAD,
glosso e melanosarcoma). A remissão rápida e sustentada H. L. ; SKEIE, G. O. Polygenic disease associations in thymoma-
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ao imunogénio (por exemplo, resolução de uma infecção
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que provocou a apresentação de RACh em um contexto of North America: Small Animal Practice, v. 44, n. 6, p. 1201-
imunogênico). A estimulação imune a partir dos RACh li- 1222, 2014. DOI: 10.1016/j.cvsm.2014.07.010.
berados na JNM é insuficiente para manter uma resposta 7-ATWATER, S. W. ; POWERS, B. E. ; PARK, R. D. ; STRAW, R. C. ;
autoimune crônica 76. Estes dados indicam que deve haver OGILVIE, G. K. ; WITHROW, S. J. Thymoma in dogs: 23 cases
precaução com o uso da imunossupressão, por seus altos (1980-1991). Journal of the American Veterinary Medical
riscos de mortalidade. Association, v. 205, n. 7, p. 1007-1013, 1994.
Os gatos parecem ter um melhor prognóstico para a MG 8-AVIDEN N, PANSE RL, BERRIH-AKNIN S, MILLER A. Genetic
basis of myasthenia gravis – a comprehensive review. Journal of
focal ou generalizada do que tem sido relatado para cães 35, Autoimmunity, v. 52, p. 146-153, 2014. DOI:
e além disso, podem responder melhor a terapia imunossu- 10.1016/j.jaut.2013.12.001.
pressora que a terapia com anticolinesterásicos 131. 9-BARTGES, J. W. ; KLAUSNER, J. S. ; BOSTWICK, E. F. ; HA-
Considerando que o fator prognóstico mais severo é a KALA, J. E. ; LENNON, V. A. Clinical remission following
presença de megaesôfago, e que o curso natural da enfer- plasmapheresis and corticosteroid treatment in a dog with acquired
midade indica uma remissão na maioria animais 130, está myasthenia gravis. Journal of the American Veterinary Medical
Association, v. 196, n. 8, p. 1276-1278, 1990.
claro o manejo suporte é crítico para a sobrevivência do
10-BEDFORD, P. G. Toad venom toxicity and its clinical occurrence un
paciente. A MG requer o compromisso e a colaboração small animals in the United Kingdom. Veterinary Record, v. 94,
absoluta por parte do tutor, particularmente quando o me- n. 26, p. 613-614, 1974.
gaesôfago está presente. A cadeira de Bailey é um desen- 11-BELL, E. T. ; MANSFIELD, C. S. ; JAMES, F. E. Immune-mediated
volvimento engenhoso que permite o animal afetado comer myasthenia gravis in a methimazole-treated cat. The Journal of
em uma posição vertical, de modo com que a comida alcance Small Animal Practice, v. 53. n. 11, p. 661-663, 2012. DOI:
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o estômago pela gravidade (Figura 6). Este tipo de elemento
é simplesmente terapia de apoio, mas contribui para evitar 12-BERRIH, S. ; MOREL, E. ; GAUD, C. ; RAIMOND, F. ; LE
BRIGAND, H. ; BACH, J. F. Anti AchR antibodies, thymic
uma das complicações fatais, histology, and T cells subsets in myasthenia gravis. Neurology,
que é a pneumonia por aspi- v. 34, n. 1, p. 66-71, 1984. DOI: 10.1212/WNL.34.1.66.
ração. Requer um período de 13-BERRIH-AKNIN, S. ; FRENKIAN-CUVELIER, M. ; EYMARD,
adaptação, em que as ações B. Diagnostic and clinical classification of autoimmune myasthenia
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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 213


25
Afecções do neurônio motor inferior
25.1 – Botulismo

Fernando Carlos Pellegrino

O
botulismo é uma doença neuroparalítica aguda, As toxinas botulínicas são consideradas as mais poten-
grave e não contagiosa que ocorre pelo bloqueio na tes, apresentando uma DL 50 de 1 a 5 ng/kg 66. Os esporos
liberação de acetilcolina das vesículas sinápticas de C. botulinum são as formas mais resistentes dentro dos
devido à ação específica de neurotoxinas botulínicas 44-46. agentes bacterianos, podendo sobreviver por mais de 30
Os indivíduos afetados apresentam paralisia flácida da anos em meio líquido e, provavelmente, mais tempo no es-
musculatura esquelética, geralmente ascendente e de evo- tado seco 15.
lução rápida 87,94,95. É observado principalmente em equinos, Para a germinação dos esporos e a divisão celular são
ruminantes e aves domésticas; em cães e outros carnívoros necessárias condições anaeróbias e um ambiente com nu-
é menos frequente 13,33,73,88,99. Nos animais domésticos o bo- trientes apropriados (alta quantidade de material orgânico) 7.
tulismo foi reconhecido há aproximadamente 50 anos 8. Ao contrário dos esporos, as toxinas são termolábeis 52,92,93.
Para destruí-las, os alimentos contaminados devem ser co-
Prevalência zidos a 120 ºC durante 30 minutos 32.
Se desconhece a verdadeira prevalência da doença 26,69,72.
Os animais afetados por botulismo são geralmente errantes Fisiopatologia
e/ou tem acesso a aterros ou cadáveres. Em áreas endêmi- As neurotoxinas botulínicas (de sigla em inglês, BoNT)
cas para botulismo, as carcaças de animais mortos são in- são metaloproteinases polipeptídicas de 150kDa 5,82. A to-
vadidas por Clostridium botulinum com a subsequente xina é sintetizada por C. botulinum como uma proteína de
produção de toxinas em altas concentrações, de modo que cadeia simples, para ser exportada para fora da bactéria por
pequenas quantidades de carne e ossos contêm a neuroto- um mecanismo ainda não bem conhecido; logo é clivada
xina em concentrações letais. A toxina pode persistir na car- proteoliticamente por proteases do tecido em uma cadeia
caça de animais de produção por um mínimo de um ano 5. pesada e uma cadeia leve, que permanecem unidas por uma
Em zonas de clima temperado, o botulismo se apresenta ponte dissulfureto. Esta molécula de cadeia dupla constitui
quase que exclusivamente durante os meses de verão; tem- a neurotoxina ativa 63. Em um meio de cultivo ou na co-
peraturas entre 22 ºC e 37 ºC nestas regiões favorecem a mida, a neurotoxina se encontra associada de maneira não
produção de toxinas pela bactéria nos alimento 8. Mesmo covalente a proteínas não tóxicas, incluindo subunidades
em países que apresentam condições favoráveis para o seu de aglutinina e um único componente não tóxico e não he-
desenvolvimento, a maioria das descrições de botulismo moaglutinante para formar complexos botulínicos de vários
em cães e gatos são restritas a relatos de casos 72. tamanhos 21.
Existem três formas clínicas clássicas de aquisição de
Etiologia botulismo, que incluem: a) a produzida por ingestão de ali-
A enfermidade pode ser causada pelas neurotoxinas mentos; b) a colonização intestinal infantil e adulta e c) a
produzidas por Clostridium botulinum, Clostridium baratii produzida por feridas infectadas 98,10, embora também
e Clostridium butyricum 85. C. botulinum produz 7 sorotipos tenha sido descrito uma forma iatrogênica 6 e outra por ina-
conhecidos (A a G), enquanto C. baratii e C. butyricum lação 4,16.
produzem um sorotipo cada um (F e E, respectivamente) 51,90. O botulismo por ingestão de alimentos é causado habi-
Em humanos o botulismo é causado pelos sorotipos A, tualmente por ingestão de toxinas de C. botulinum e outras
B, E e, raramente, pelo F 9,38,92. Nos animais o botulismo é espécies relacionadas 94; uma pequena quantidade de neu-
causado principalmente pelos sorotipos B, C e D 18. A to- rotoxina (aproximadamente 30 ng) pode chegar a ser fatal 74.
xina G foi associada com alguns casos de morte de súbita, A via de contaminação mais frequente é o consumo de ali-
enquanto os sorotipos C e D foram identificados exclusiva- mentos (carne em decomposição, carcaças, conservas em
mente em animais 14,32,55,92,93. O tipo D é o mais prevalente mal estado) ou pasto contaminado com a neurotoxina já
em herbívoros, e o C predominante em aves e carnívoros 87. produzida; é a principal fonte de intoxicação nos animais
Os sorotipos/cepas de C. botulinum que formam esporos domésticos 68,70. A taxa geral de mortalidade é de 5-10%, e
anaeróbios foram sub-classificados nos grupos I-IV com pode chegar até 80% nos ruminantes 73.
base em seu metabolismo e patogênese. Os grupos I (cepas O botulismo por colonização intestinal se produz pela
proteolíticas que produzem as toxinas A, B e F) e II (cepas ingestão de esporas, seguido pela germinação e produção in-
não proteolíticas que produzem as toxinas B, E e F) in- traluminal de neurotoxina, que posteriormente é absorvida.
cluem as cepas patogênicas humanas 91. As cepas do grupo Nos humanos afeta principalmente crianças com menos de
III produzem toxinas C ou D e estão associadas com o um ano de idade, e mais raramente, adultos. Normalmente
botulismo nos animais, e o grupo IV inclui somente as ocorre quando a microbiota intestinal normal foi suprimida
cepas que produzem a neurotoxina G 19,60. (por exemplo, por terapia com antibióticos) 3,36.

214 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.1 – Afecções do neurônio motor inferior. Botulismo

O botulismo por feridas é uma infecção muito infre- A ação da toxina C não altera a formação da vesícula
quente, no qual o crescimento bacteriano e a formação de sináptica, nem seu número ou distribuição ao longo da
neurotoxina ocorrem a partir de uma ferida produzida no membrana pré-sináptica. A liberação do neurotransmissor
corpo 9,103. na junção neuromuscular simplesmente não ocorre, porque
O botulismo por inalação não ocorre naturalmente de o processo de exocitose está inibido 5. Ao inibir a liberação
forma espontânea. Se produz por disseminação deliberada de acetilcolina das vesículas sinápticas, a BoNT reduz a
de toxina botulínica mediante a aerossóis 4. contração muscular, a secreção glandular e o sinal aferente.
O botulismo iatrogênico é causado por injeção de toxina O resultado funcional é uma desnervação muscular ou
botulínica com propósitos cosméticos ou terapêuticos em glandular, conhecido como quimiodesnervação 30,67. Este
doses maiores do que as indicadas 6. processo é reversível mediante a restauração da atividade
Quando ingerida, a neurotoxina é absorvida principal- vesicular nos terminais nervosos originais (reinervação), o
mente na parte mais cranial do intestino delgado 10,94, e al- que pode demorar entre 3 e 6 meses 27,67. Se o indivíduo afe-
cança os nervos colinérgicos através da circulação tado sobreviver, a recuperação ocorre por inativação das
sanguínea e linfática 61. Também pode ser absorvida pelo cadeias leves, remoção das proteínas truncadas e síntese de
estômago 61 ou atravessar outras células epiteliais como a novas SNARE, com recuperação dos componentes funcio-
mucosa respiratória, o que explica a possibilidade de con- nais da junção neuromuscular. Deste modo, os animais com
taminação por inalação 71. botulismo têm um prognostico reservado a favorável, com
A indução de paralisia neuromuscular mediada pela potencial para uma recuperação completa da função neu-
neurotoxina requer três etapas bioquímicas. Primeiro, a ca- rológica, sem sequelas 7.
deia pesada da BoNT se une aos receptores específicos de
alta afinidade da membrana celular dos terminais nervoso Manifestações clínicas
colinérgicos somáticos e autônomos na junção neuromus- Todos os sinais neurológicos provocados pelas BoNT
cular 82. No caso da toxina A e B, pelo menos 2 receptores estão relacionados ao sistema nervoso periférico, pois, de-
parecem ser necessários, gangliosídeos da série GTib e vido ao seu alto peso molecular, não é capaz de atravessar
GD1b (diferentes para cada tipo de toxina), e a proteína da a barreira hematoencefálica 49.
vesícula sináptica SV2 67. Uma vez ligado a este receptor, O botulismo se caracteriza pela disfunção generalizada
ambas as cadeias BoNT são internalizados por endocitose do neurônio motor inferior, levando a paralisia flácida e de-
mediada pelo receptor 9 no compartimento vesicular do bilidade. É considerada uma doença rara em cães 77.Na es-
neurônio, através de vários mecanismos possíveis, envol- pécie felina, o botulismo foi relatado em leões 43, mas os
vendo as sinaptotagminas I e II, e SV2 31 e uma bomba de gatos domésticos são particularmente resistentes a BoNT
prótons dependente de ATP 66,82. O compartimento vesicular 89, e os transtornos neuromusculares somente foram descri-

é ácido, e induz uma mudança conformacional dependente tos de forma experimental 64. Se a doença clínica ocorrer,
do pH que facilita a translocação da cadeia leve através da os sinais são similares às outras espécies 22, incluindo de-
membrana hidrofóbica até o citosol, aonde os substratos de pressão moderada, decúbito, anorexia, dispneia e paralisia
BoNT são encontrados. Uma vez no citosol, a cadeia leve flácida que evolui para tetraplegia 33.
da toxina exercerá sua atividade de metaloproteinase sobre O período de incubação nos cães varia de 24 a 48 horas,
alguns alvos intracelulares que regulam a exocitose, ini- podendo prolongar-se até 6 dias depois da ingestão da to-
bindo a liberação de acetilcolina. Os diferentes tipos de xina 20. A severidade dos sinais clínicos está diretamente re-
BoNT podem ligar-se a várias proteínas dentro do sistema lacionada à susceptibilidade individual e a quantidade de
de neuroexocitose na membrana. Esses alvos formam parte toxina ingerida. Em geral, quanto mais precoce são os si-
do complexo receptor de proteínas de fusão do fator solúvel nais clínicos maior a sua gravidade. Os animais afetados
sensível à N-etilmaleimida (da sigla em inglês, SNARE), apresentam uma astenia simétrica ascendente progressiva
e inclui sinaptobrevina (proteína associada a membrana das que pode terminar em tetraplegia 7,42. O tono muscular se
vesículas sinápticas), sintaxina e SNAP-25 (proteína asso- encontra reduzido e os reflexos espinhais estão ausentes,
ciada ao sinaptossoma de peso molecular de 25kDa); as 2 ainda que os movimentos da cauda estejam normalmente
últimas proteínas estão associadas a membrana sináptica 67. preservados, o que indica que não há comprometimento da
As proteínas SNARE são essenciais para a fusão das vesí- via motora da medula 96. Ocasionalmente se observa alte-
culas sinápticas com a membrana pré-sináptica, evento fun- rações dos nervos cranianos, como perda do reflexo pupi-
damental para exocitose da acetilcolina 7,24. O bloqueio da lar, alterações de latido, paresia facial, diminuição do tônus
liberação do neurotransmissor se produz pela clivagem/ex- da mandíbula, disfagia e megaesôfago 7,96. É normal haver
cisão dependente de zinco de 1 ou 2 dos 3 componentes do regurgitação secundária ao megaesôfago 96. Podem aparecer
núcleo do aparato de exocitose 24,50,90,93. A proteína do com- sinais autonômicos parassimpáticos como diminuição da
plexo SNARE afetada dependerá do tipo de BoNT; as neu- produção de saliva e lágrima (com consequente ceratocon-
rotoxinas tipo B, D, F e G afetam a sinaptobrevina, os tipos juntivite seca), midríase, constipação e retenção urinária 49.
A e E afetam SNAP-25, e por fim, a tipo C atua tanto em A recuperação, se ocorrer, tem uma duração variável de
sintaxina como em SNAP-25 25,80,81. 14 a 24 dias 7. Nos casos mais severos a morte ocorre por

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 215


Capítulo 25.1 – Afecções do neurônio motor inferior. Botulismo

parada respiratória devido ao comprometimento dos mús- inocular 0,5ml de soro sanguíneo do animal com suspeita
culos intercostais e/ou do diafragma 7,42,96, ou devido a in- clínica de botulismo na cavidade peritoneal de camundon-
fecções secundárias, geralmente do trato respiratório e gos, mantendo um grupo controle sem inocular. Os animais
urinário 7. Nos casos de menor gravidade a pneumonia por são observados em intervalos de 3 ou 4 horas durante 72
aspiração pode ocorrer como complicação do megaesôfago horas para verificar possíveis alterações no comportamento
e da disfagia 49. e no estado físico. A presença da toxina ativa pode ser es-
timada se, depois da inoculação, os camundongos demons-
Diagnóstico tram pelos eriçados, dispneia, relaxamento muscular
O diagnóstico de rotina se baseia nas manifestações clí- característico na região abdominal (“cintura de vespa”), di-
nica e na anamnese, que geralmente inclui ingestão de ali- ficuldade de locomoção e morte, sem a presença destes si-
mentos deteriorados ou carcaças decompostas 96. Os nais no grupo controle 65. Esta prova é extremamente
exames laboratoriais se encontram dentro dos valores de sensível, com um limite de detecção de 10-20 pg de to-
referência 7,42, a menos que ocorram complicações como úl- xina/mL. Como desvantagens, é necessário a utilização de
cera por decúbito e infecções do trato respiratório ou uri- animais de laboratório e exige a utilização de provas de
nário 7. As únicas anormalidades que foram comunicadas neutralização para a determinação do sorotipo da toxina 62.
consistem em hiperglicemia e neutrofilia sem outras mu- Existem outros testes alternativos que têm similar sensibi-
danças bioquímicas ou hematológicas 17. lidade e confiabilidade 104, como as técnicas de radioimu-
As radiografias torácicas podem revelar megaesôfago noensaio, imunoprecipitação, hemoaglutinação passiva
ou pneumonia por aspiração 97. A EMG demonstra que a al- e ELISA 12,20,75,76. Também foram desenvolvidas várias
teração do motoneurônio superior se encontra na junção metodologias de reação em cadeia de polimerase (PCR)
neuromuscular 42. A medida que a doença vai evoluindo se para otimizar o diagnóstico sem utilizar animais de la-
pode observar uma atividade de inserção prolongada, po- boratório 25,40,48,77.
tenciais de fibrilação, potenciais evocados de ação muscu- O advento de toxinas proteômicas no diagnóstico mo-
lar de baixa amplitude e diminuição da velocidade de lecular do botulismo marca o início do fim das limitações
condução nervosa motora e sensitiva dos nervos periféri- associadas a identificação das neurotoxinas. Foram desen-
cos. A restauração destes parâmetros eletrofisiológicos se volvidos métodos endopeptidase baseado na espectrometria
correlaciona com a melhora clínica 100. em massa que determina a presença de BoNT em uma
A biópsia do nervo ou do músculo pode ser realizada amostra, e diferencia o tipo de toxina presente 54,57,102. Um
para estabelecer o diagnóstico diferencial de transtornos destes métodos, o Endopep-MS, também foi utilizado em
não infecciosos 84. As alterações histopatológicas que foram animais.
descritas em humanos consistem em degeneração miofibri-
lar com alterações basofílicas e atrofia angular difusa, sem Diagnóstico diferencial
comprometimento significativo dos nervos periféricos 28. Os principais diagnósticos diferenciais do botulismo são
Também foram relatadas alterações inflamatórias desmie- as polirradiculoneurites infecciosas, a polirradiculoneuro-
linizantes nos nervos cranianos 39. patia imunomediada, a paralisia por carrapatos, a miastenia
O isolamento de C. botulinum a partir das fezes ou do grave em sua forma fulminante, o envenenamento por pi-
conteúdo intestinal deve ser avaliado com cautela, já que cada de cobra 1,23,41,83,86(ver seção correspondente a polirra-
os esporos podem ser encontrados normalmente no trato diculoneuropatia imunomediada).
gastrointestinal de animais sadios 58. Além disso, o isola- A raiva também deve ser considerada no diagnóstico di-
mento do organismo demora muito tempo, requer instala- ferencial, especialmente em zonas endêmicas e em cães
ções especializadas e pessoas treinadas. Neste sentido, o C. mais severamente afetados; de maneira geral a raiva produz
botulinum produtor da toxina C é considerado um dos mais alterações do estado de consciência, e a morte ocorre ine-
difíceis, porque exige estritamente condições de anaero- vitavelmente em uns 10 dias 7,96.
biose 7. Na necropsia não se evidenciam lesões considera-
das características. As alterações patológicas podem ser Tratamento
atribuídas a ação paralisante da toxina, principalmente na Não existe tratamento específico para botulismo em
musculatura respiratória. Não há um efeito clássico da to- cães 96. A terapia suporte é fundamental, já que a recupera-
xina em qualquer órgão em particular 29. ção espontânea do animal afetado vai ocorrer se a quanti-
O diagnóstico definitivo do botulismo se baseia na de- dade de toxina ingerida não for alta e se forem evitadas
monstração da toxina no soro, nas fezes, no vômito ou no complicações pelo decúbito e infecções respiratória e uri-
conteúdo gástrico, ou em amostras de alimentos ingerido. nária 7,42.
O soro deve ser coletado o mais cedo possível desde o iní- Em animais que ingeriram recentemente alimentos sus-
cio da doença e, de preferência, quando o animal apresentar peitos, a remoção da toxina não absorvida no trato intesti-
sinais clínicos evidentes 7. O método padrão mais confiável nal por lavagem gástrica pode ser benéfica, ou o uso de
para a identificação da toxina segue sendo o bioensaio de catárticos ou enemas 7. Entretanto, os agentes catárticos que
inoculação em camundongos 35,37,87. A prova consiste em contêm magnésio podem potencializar a ação da toxina bo-

216 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.1 – Afecções do neurônio motor inferior. Botulismo

tulínica 87. Determinados agentes terapêuticos como a te- ou cozidos de forma inadequada 56. A cocção dos alimentos
traetilamida e o hidrocloridrato de guanidina melhoram a a 80 ºC por 30 minutos ou a 100 ºC por 10 minutos inativa
liberação de neurotransmissores na junção neuromuscular, a toxina botulínica 7.
e podem ser eficazes aplicados por via endovenosa 78. As vacinas com toxóides botulínicos são utilizados em
Os animais afetados devem ser mantidos em um piso outras espécies como forma de prevenção, principalmente
confortável, preferencialmente acolchoado, devido ao de- em ruminantes e aves silvestres 2,59,79. Entretanto, no caso
cúbito prolongado, o decúbito deve ser trocado várias vezes dos cães, a vacinação não se justifica, já que os casos são
ao dia e os animais devem ser auxiliados na alimentação, esporádicos 7. Os animais recuperados não desenvolvem
mantendo-os em decúbito esternal, ou mediante a uso de imunidade devido a pequena quantidade de toxina neces-
sonda esofágica se a deglutição estiver comprometida 42. A sária para produzir os sinais clínicos 18.
produção urinária deve ser monitorada e, se necessário, a
bexiga deve ser esvaziada manualmente 3 ou 4 vezes ao Referências
dia. Se existir constipação devem ser aplicados enemas e 1-AÑOR, S. Acute lower motor neuron tetraparesis. Veterinary Clinics
laxantes 7,101. Deve-se evitar a desidratação, especialmente of North America. Small Animal Practice, v. 44, n. 6, p. 1201-
se a deglutição está comprometida, mediante a administra- 1222, 2014. DOI: 10.1016/j.cvsm.2014.07.010.
ção de fluidos parenterais 7. O uso de colírios de lágrima 2-ARIMITSU, H. ; LEE, J. C. ; SAKAGUCHI, Y. ; et al. Vaccination
with recombinant whole heavy chain fragments of Clostridium bo-
artificiais ou pomadas lubrificantes oftálmicas é indicado tulinum Type C and D neurotoxins. Clinical and Diagnostic La-
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tando seu corpo, e caminhadas com sling colaboram na J. ; SMITH, P. D. ; RAVDIN, J. I. ; GREENBERG, H. B. ; GUER-
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Os antibacterianos devem ser utilizados somente se ne-
4-ARNON. S. S. ; SCHECHTER, R. ; INGLESBY, T. V. ; et al. Working
cessário, quando se desenvolvem infecções secundárias, Group on Civilian Biodefense. Botulinum toxin as a biological
para evitar alterações na microbiota intestinal, que favore- weapon: Medical and public health management. Journal of the
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tronidazol (5mg/kg cada 3 horas) foi utilizado em uma ten- B cell) recognition of botulinum neurotoxins. Critical Reviews in
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já que a doença geralmente é provocada pela ingestão da toxin type A: A report of two cases. Journal of Neurology, Neu-
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Para o tratamento específico, a antitoxina C pode ser
administrada por via intramuscular em 2 aplicações com 9-BLECK, T. P. Clostridium botulinum. In: MANDELL, G. L. B; BEN-
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sua absorção 7. Nenhum fármaco que antagonize os efeitos
da toxina botulínica está disponível comercialmente para 12-BRETT, M. M. Evaluation of the use of the bioMerieux rapid ID32
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220 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


25
Afecções do neurônio motor inferior
25.2 – Neuropatias periféricas

Fernando Carlos Pellegrino

A
fibra nervosa é constituída pelo axônio e pela bai- uma estrutura multilaminar composta por unidades mole-
nha de mielina. O axônio é uma continuação do ci- culares repetidas de lipídeos e proteínas. A espessura da
toplasma neuronal e contém o citoesqueleto bainha de mielina é variável, e está relacionada à espessura
filamentoso, constituído por neurofilamentos (10 nm) e mi- do axônio e do espaço intermodal (Figuras 1 e 2). O nervo
crotúbulos (25 nm). Além disso tem mitocôndrias, lisosso- está vascularizado na periferia por, em seu interior, e fun-
mos, vesículas e cisternas limitadas pelas membranas. A damentalmente no tecido epineural, no perineuro e no en-
mielina envolve grandes porções do axônio e está interrom- doneuro, circula um plexo vascular longitudinal muito
pida nos nódulos de Ranvier. É constituída por múltiplas importante (Figura 3) 2,61.
camadas da membrana da Os nervos periféricos estão constituídos por grupos axô-
célula de Schwann nicos e seus envelopes de tecido conjuntivo. Eles carregam
corpo celular
(CS), que se dis- a informação entre os efetores ou os receptores, situados na
põem em for- periferia, e o corpo celular, situado na medula no caso dos
mato de espiral nervos motores, ou no gânglio espinhal no caso dos nervos
envolvendo os sensoriais (Figura 4). Portanto, com exceção de casos par-
axônios como ticulares, as lesões nervosas periféricas não acarreta na
Célula de Schwann
{
lâmina basal núcleo
membrana
axônio

mielina

Figura 1 – As fibras nervosas estão cercadas por células de Schwann. A membrana basal terminação
que circunda a célula de Schwann e o axônio (ou axônios) está intimamente relacionada nervosa
ao endoneuro. A bainha de Schwann ou neurilema está formada por longas extensões
achatadas das células de Schwann que formam um tubo ao redor da fibra. As células de
Schwann, organizadas em sentido longitudinal, se reúnem nos nódulos de Ranvier, dei-
xando um pequeno espaço que permite aos íons extracelulares chegar ao axônio, um pro-
cesso importante para a condução saltatória do impulso nervoso.
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neurológico para el veterinario clínico. Buenos Aires:
Inter-Médica, 2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino

Figura 2 – As fibras nervosas, junto com o endoneuro que as recobre, estão embaladas em fascículos que incluem
fibras motoras, sensíveis e simpáticas, e estão cercadas pelo perineuro, uma verdadeira barreira com propriedades me-
cânicas e químicas complexas que isola os tecidos nervosos do meio externo. Os fascículos são, por sua vez, incluídos
em um tecido conjuntivo, o epineuro, que os rodeia e os junta em um único feixe, e também contém os vasos sanguíneos
que irrigam os nervos. B- Vista próxima de uma fibra nervosa mielínica e amielínica, mostrando a disposição das células
de Schwann. Nas fibras mielínicas, um axônio é cercado por uma única célula de Schwann que se enrosca ao redor em
várias camadas que formam a bainha de mielina. Nas fibras amielinizadas, uma célula de Schwann envolve vários axônios.
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neurológico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica, 2014.
ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 221


Capítulo 25.2 – Afecções do neurônio motor inferior. Neuropatias periféricas

morte do corpo celular e, em teoria, a regeneração é possí- permite explicar que as lesões periféricas a nível das fibras
vel. Nesta potencial regeneração do nervo periférico se ba- nervosas possam repercutir nas atividades metabólicas do
seiam os princípios da fisiatria. A maior parte das atividades núcleo e que essas últimas, por sua vez, causam uma degene-
metabólicas do neurônio se concentra no corpo celular, en- ração axonal. O transporte axonal implica uma maquinaria
quanto a transmissão dos impulsos elétricos e a secreção de complexa, uma vez que o corpo deve levar a periferia tanto
substâncias de transmissão se situam a distância. Isto supõe neurotransmissores e seus precursores como estruturas como
relações de interdependência entre o núcleo e a periferia, e mitocôndrias, ou fatores necessários para a construção do

A
B

Figura 3 – Pelo epineuro circulam a maioria dos vasos epineurais (A), mas um plexo vascular longitudinal muito impor-
tante circula em seu interior, fundamentalmente no tecido epineural e também no perineuro e endoneuro, formando sis-
temas inter e intrafasciculares (B).
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neurológico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica, 2014.
ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino

Figura 4 – Os nervos periféricos carregam informações entre os efetores ou receptores, localizados na periferia, e o
corpo celular, localizado na medula no caso dos nervos motores ou no gânglio espinhal no caso dos nervos sensitivos.
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neurológico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica, 2014.
ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino

222 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.2 – Afecções do neurônio motor inferior. Neuropatias periféricas

citoesqueleto axônico. O transporte axonal lento


A Degeneração walleriana
(0,1-30mm/dia) transmite os componentes neces-
sários para o citoesqueleto, enquanto o transporte
axonal rápido (até 400mm/dia) transporta vesícu-
las de armazenamento, os lipídios, as glicoproteí-
nas e as diversas enzimas necessárias. Além deste
transporte axonal anterógrado, existe um trans- B Cromatólise
porte retrógrado desde a terminação axonal até o
corpo. Destinado principalmente a material reci- Reação axonal
clado, mas também é utilizado por alguns vírus,
como o da raiva ou da herpes, para chegar até o
corpo neuronal 2,61.
As neuropatias periféricas podem ser classifi-
C Regeneração axonal
cadas com base na porção da fibra nervosa que foi
afetada (classificação estrutural), ou da sua loca-
lização dentro do SNP (classificação topográfica).
De acordo com com a classificação estrutural, as
neuropatias podem ser mielinopatias, quando são
causadas por doença nas CS ou da mesma bainha
de mielina, ou axonopatias, resultantes de altera-
ções do corpo neuronal ou do mesmo axônio. De
acordo com a classificação topográfica, as neuro- D Reinervação periférica
patias que envolvem muitos nervos de forma si-
multânea se denominam polineuropatias. As que
afetam somente um nervo se denominam mono-
neuropatias, enquanto as que envolvem um pe-
queno grupo de nervos que tem a mesma origem
(por exemplo, o plexo axilar ou os nervos crania- Figura 5 – Degeneração e regeneração de uma fibra mielínica.
nos) se chamam mononeuropatias múltiplas. A) Após a lesão axonal ocorre a dissolução da bainha de mielina
Quando a afecção se limita às raízes nervosas me- e a degeneração axoplasmática distal à lesão. B) Para sustentar
dulares se denomina radiculopatia 2,21,23,61. a regeneração do axônio, o corpo neuronal sofre alterações mor-
Nas mielinopatias, a bainha de mielina se dege- fológicas e metabólicas, representadas pela reação axonal e cro-
matólise. C) Após a sutura de um nervo, os prolongamentos
nera de maneira focal sem afetar o início do axônio,
axonais se dirigem para o fragmento distal para produzir a regene-
o que determina um retardamento da condução do ração axonal. Os axônios regenerativos produzem múltiplos
impulso nervoso. Quando desaparece o agente etio- cones de crescimento que tendem a crescer desde o segmento
lógico, na maior parte das vezes se recupera com- proximal da lesão para o segmento distal, buscando os órgãos
pletamente a funcionalidade e a normalidade, uma alvo. D) A reinervação dos órgãos alvo é determinada por uma
vez que a regeneração da bainha de mielina é rápida série de sinais que são estabelecidos bidirecionalmente entre
e completa se o axônio não for afetado. Nos casos axônios regenerativos e os tecidos periféricos.
em que o agente etiológico não desaparece ou atua Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neurológico
de maneira intermitente, ocorrem ciclos sucessivos para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica, 2014. ISBN: 978-
950-555-424-9. Publicado com autorização de Editorial Inter-Médica S.A e
de degeneração e regeneração mielínica, o que re- Fernado C. Pellegrino
sulta em um fenômeno de remielinização ineficaz.
Se caracteriza por uma proliferação anormal ou defeituosa que costuma ser uma recuperação lenta e incompleta. Se
das CS, que não são capazes de formar as típicas bainhas de os tubos endoneurais estão intactos a regeneração nervosa
mielina, mas se dispõem formando agrupações nodulares ao não demora a ocorrer, os órgãos periféricos se reinervam
redor do axônio, o que recebe o nome de bulbo de cebola. corretamente e o bloqueio do material intraaxônico é limi-
Nas axonopatias produzidas por defeitos metabólicos tado no tempo (Figura 5). Quando ocorre a secção parcial
no corpo neuronal e na glia não é possível manter o tro- de um nervo, a regeneração demora mais tempo e o mate-
fismo dos segmentos mais distais do axônio, por isso esses rial intraaxônico permanece bloqueado durante um período
sofrem um processo de degeneração. Esse processo se de- prolongado 2,61.
nomina axonopatia tipo morte retrógrada (dying-back) 2,61.
Uma vez que o axônio foi danificado, se a lesão se Neuropatias metabólicas
mantém durante um certo tempo, pode ocorrer a degene- Neuropatia hipotiroidea
ração da bainha de mielina. É possível que ocorra o retorno As neuropatias periféricas são a manifestação neurológica
à normalidade, mas essa depende da recuperação axonal, mais frequente do hipotireoidismo em cães 69,70. Os relatos de

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 223


Capítulo 25.2 – Afecções do neurônio motor inferior. Neuropatias periféricas

casos descritos na literatura 6,22,30,38,40,75,81 provavelmente não


Fernando Carlos Pellegrino

refletem a prevalência real desta neuropatia metabólica 11.


A possibilidade de ocorrer casos subclínicos foi relatada 42.
A maioria dos casos de hipotireoidismo canino adquirido
estão associados com tireoidite linfocítica imunomediada ou
atrofia tireoidiana idiopática 31,32. A neuropatia associada ao
hipotireoidismo ocorre normalmente em cães de idade me-
diana, com uma média de 7 anos, geralmente em raças gran-
des . É bem menos comum em gatos 11.
Ainda que os sinais clínicos clássicos desta doença
sejam bem reconhecidos, a correlação entre hipotireoi-
dismo e disfunção neurológica é menos clara. Na medicina
veterinária foram descritos tanto sinais centrais como pe-
riféricos 6. O encéfalo é considerado relativamente resis-
tente ao hipotireoidismo nos animais 67, em cães
hipotireoideos foram relatados sinais cerebrais tais como
convulsões, desorientação, andar em círculos, coma e anor-
malidades troncais, incluindo sinais vestibulares 5,17,37. Tam-
bém foram relatadas síndromes envolvendo o sistema
nervoso periférico, incluindo neuropatias de nervos crania-
nos (trigêmeo, facial e vestibulococlear) (Figuras 6 e 7),
paralisia laríngea, megaesôfago, estrabismo ventrolateral
e, mais frequentemente, sinais neuromusculares generali-
Figura 6 – A foto mostra um cão macho, raça indefinida, de zados 40,67,70,71. De acordo com a experiência do autor, um
9 anos de idade com síndrome vestibular periférica do lado sinal clínico comumente associado ao hipotireoidismo é o
direito. As causas infecciosas, inflamatórias e neoplásicas hemiespasmo facial (Figura 8). Em oposição, em um es-
foram descartadas. Se diagnosticou hipotiroidismo, e o cão
tudo com 9 cães com hipotireoidismo induzido por irradia-
respondeu satisfatoriamente a suplementação com levoti-
roxina
ção, não houve evidências clínicas nem eletrofisiológicas
de neuropatia periférica depois de 6 meses da produção 66;
o mesmo autor descreveu miopatia hipotireoidea com o
Fernando Carlos Pellegrino

mesmo procedimento 65.


A fisiopatologia da polineuropatia no hipotireoidismo

Fernando Carlos Pellegrino

Figura 7 – A foto mostra um cão macho, boxer, de 7 anos


de idade, com síndrome vestibular periférica do lado di- Figura 8 – Cão macho, boxer, de 9 anos de idade. Observe
reito. Como no caso da figura 6, o único achado positivo o hemiespasmo facial do lado direito. Na experiência do
foi hipotireoidismo, e a resposta à suplementação com le- autor, esse achado está freqüentemente associado ao hi-
votiroxina foi muito boa potireoidismo

224 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.2 – Afecções do neurônio motor inferior. Neuropatias periféricas

não é bem compreendida 19, embora se suponha uma ori- músculos apendiculares e nos músculos faciais. Em alguns
gem multifatorial 66. Com base em estudos realizados em casos, há uma falta de correlação entre o grau das anorma-
humanos, se supõe que um metabolismo neuronal reduzido lidades observadas na EMG e a gravidade da debilidade
por diminuição da ATPase mitocondrial possa resultar em clínica 38.
alterações no transporte axonal e, consequentemente, atro- A maioria dos estudos eletrodiagnósticos descritos no
fia axonal 18,21,26 . Outra hipótese para explicar a polineuro- hipotireoidismo canino foram realizados com uma reduzida
patia é que o acúmulo de mucopolissacarídeos ácidos no quantidade de animais e, na maior parte dos casos, com
citoplasma das células de Schwann, no endoneuro e no pe- base em um único estudo, sem reavaliação após a suplemen-
rineuro dos nervos alterariam sua função e comprometeria tação com levotiroxina, especialmente si se alcançou remis-
a microcirculação por compressão 19,57. A neuropatia tam- são completa dos sinais clínicos. Em um estudo realizado
bém pode resultar do dano vascular devido a transtornos com 24 cães com hipotireoidismo primário e polineuropatia
na barreira hematonervosa 19,44,63. foram avaliados os resultados dos estudos eletrodiagnósticos
O papel do metabolismo lipídico aberrante e a ateros- antes e depois da terapia com levotiroxina. Antes de imple-
clerose consequente pode ser de importância em alguns pa- mentar a terapia todos os cães mostraram uma significativa
cientes, especialmente os que apresentam sinais no sistema diminuição da velocidade de condução nervosa motora na
nervoso central 84. A hiperlipidemia causa aterosclerose nos estimulação distal e proximal, um aumento de dispersão
cães, e foi relatada uma associação positiva entre hipoti- temporal e diminuição da amplitude dos potenciais evoca-
reoidismo, hiperlipidemia e aterosclerose 24,50,60,81,85. De fato, dos de ação muscular, sugerindo um padrão de neuropatia
um dos achados post mortem mais comuns em cães hipoti- mista (axonal e desmielinizante). 50% dos cães tinham uma
reoideos é a ateroclescose 49, latência aumentada da onda F. Os potenciais evocados au-
A polineuropatia e a miopatia associada com deficiência ditivos do tronco encefálico mostraram alterações em 22%
hormonal tireoidiana em cães pode se manifestar com in- dos casos. A avaliação posterior ao tratamento mostrou uma
tolerância a exercício, fatiga, andar rígido, atrofia muscular, ótima recuperação clínica, mas somente uma melhora par-
claudicação intermitente, para e tetraparesia 13,28,75. Os ani- cial nas provas eletrodiagnósticas 30.
mais hipotireoideos podem ter propriocepção alterada, hi- A análise do LCR usualmente revela celularidade nor-
potonia e diminuição ou ausência dos reflexos espinhais . mal com um aumento leve a moderado de proteínas (25-
13

Foi relatado também claudicação intermitente dos mem- 110 mg/dL) 6,40. Os níveis séricos de colesterol geralmente
bros torácicos, mas é muito menos frequente 13. Em um es- estão aumentados. As mudanças musculares refletem va-
tudo que descreveu as manifestações neurológicas em 29 riáveis graus de atrofia neurogênica (fibras com atrofia an-
cães com hipotireoidismo se observaram sinais de lesão do gular, especialmente as do tipo 2, com hipertrofia
motoneurônio inferior em 11 casos, deficiências vestibula- compensatória), e os estudos das fibras nervosas são tipi-
res em 9, megaesôfago em 4, e paralisia laríngea em 540. camente caracterizados por uma patologia mista que inclui
A neuropatia periférica foi observada em muitos cães hi- desmielinização/remielinização e necrose axonal 11, embora
potireoideos associada com megaesôfago e
miastenia grave 22. Os cães afetados também
podem mostrar sinais generalizados de hi-
potireoidismo, como adelgaçamento do pe-
lame, alopecia, pele seca com escamas
dérmicas e descamação, entre outro.
Os sinais clínicos de neuropatia perifé-
rica e doença vestibular central normal-
mente se resolvem depois de 2 meses de
suplementação com levotiroxina 37,38,73,
ainda que outros estudos indiquem uma
evolução mais lenta e prolongada 79.
Os achados eletrodiagnósticos no hipo-
tireoidismo canino com manifestações neu-
rológicas incluem aumento da atividade
insercional e atividade espontânea anormal
durante a EMG, redução da amplitude dos
potenciais evocados da ação muscular, di-
minuição da velocidade de condução ner-
Figura 9 – Biópsia do nervo: processo de identificação, dissecção, incisão
vosa motora e anormalidades nos potenciais
e condicionamento do nervo peroneal comum em um canino.
auditivos de tronco encefálico, especial- Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neurológico para el
mente nos cães com transtornos vestibula- veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica, 2014. ISBN: 978-950-555-424-9.
res 19,37,40. Estes achados se observam nos Publicado com autorização de Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 225


Capítulo 25.2 – Afecções do neurônio motor inferior. Neuropatias periféricas

a proporção relativa de degeneração axonal (possivelmente ração seja lenta e possa levar vários meses, especialmente
secundária a transtornos do metabolismo neuronal) e des- se já há perda de fibra nervosa 79. Em um estudo de 29
mielinização (provavelmente por comprometimento das casos, a maioria dos cães se recuperou 2 a 3 meses depois
células de Schwann) variem de caso a caso 58,71,80. A pato- de começar a suplementação com hormônio tireoidiano (20
logia subjacente parece ser uma polineuropatia sensório- ug/kg de levotiroxina via oral 2 vezes ao dia). Os cães com
motora e, em alguns casos, com uma distribuição distal megaesôfago melhoraram depois de 4 meses, enquanto os
(polineuropatia sensório-motora distal). A biópsia do nervo cães com paralisia laríngea mostraram uma melhora parcial
periférico é um procedimento invasivo (Figura 9) cuja a depois de 5 meses 40. Entretanto, muitos cães não respon-
utilidade para fins diagnósticos é muito limitada. Se cal- dem ao tratamento ou respondem em uma medida muito
cula que somente 15 a 25% das biópsias dão informações menor da esperada 11.
que não poderiam ser obtidas por outros meios. Na maior
parte dos casos, a biópsia corrobora com a impressão clí- Neuropatia hiperadrenocortical
nica e documenta a alteração sob suspeita. Por esses moti- Embora seja muito mais frequente que o hiperadreno-
vos a biópsia do nervo só deve ser considerada quando a corticismo produza miopatias, se encontrou evidências de
história clínica, os achados do exame físico e, particular- neuropatia periférica associada ao hiperadrenocorticismo
mente, a informação da EMG não foram conclusivos. Uma em muitos cães 11,64. Entretanto, é muito difícil estabelecer
desvantagem adicional deste procedimento é que, dada a uma relação causal entre endocrinopatia e a neuropatia. A
escassa experiência com esse tipo de material, a adequada fisiopatologia é incerta e não está bem compreendida.
interpretação requer pessoal com experiência no tema. A As alterações incluem desmielinização, remielinização,
biópsia de nervo é um dos maiores desafios para o patolo- degeneração axonal ocasional e atrofia neurogênica em
gista. Idealmente o tecido deve ser processado imediata- músculos, às vezes acompanhada por sinais de reinervação.
mente após a obtenção 61. Essas alterações foram observadas em cães com e sem evi-
Em humanos é relativamente comum a presença de neu- dência histopatológica de miopatia hiperadrenocortical 11.
ropatia periférica moderada; 78% dos pacientes hipotireoi- As alterações eletrodiagnósticas podem incluir potenciais
deos apresentam algum grau de neuropatia detectável de fibrilação e ondas agudas positivas, com velocidade de
mediante a provas eletrodiagnósticas 3. Os sinais podem condução nervosa significativamente diminuída 46.
incluir mononeuropatia facial, perda auditiva sensório-
neural, neuropatia sensorial distal e polineuropatia sensó- Neuropatia diabética
rio-motora 24,48. Um estudo relatou mudanças nos nervos, A diabetes mellitus (DM) espontânea é um transtorno
consistente em uma neuropatia tipo morte retrógrada e um metabólico bem reconhecido em cães e gatos, associado
possível transporte axonal lento subjacente, com perda pre- com um fracasso na utilização dos carboidratos e um au-
dominante de fibras mielinizadas de grande calibre 58. A mento no uso dos lipídeos e das proteínas; ocorre tanto na
neuropatia mais frequentemente encontrada é a síndrome diabetes tipo I como na tipo II 77. Os efeitos desta condição
do túnel do carpo (uma mononeuropatia do nervo mediano metabólica no sistema nervoso central se relaciona com
do pulso) 27. As mudanças estruturais nos nervos dos hu- duas síndromes hiperglicêmicas: cetoacidose diabética e
manos afetados incluem formações agrupadas proeminen- hiperglicemia hiperosmolar não cetótica. A DM também
tes e excessiva deposição de glicogênio nas células de pode estar relacionada com transtornos dos nervos perifé-
Schwann, nos axônios mielinizados e não mielinizados e ricos, com casos esporádicos de neuropatia diabética es-
em células perineurais 24,62. pontânea, relatada em cães 10,41,43,52 e em gatos 20,47,53-55,78,84.
O diagnóstico se estabelece com base na avaliação do As complicações neurológicas periféricas da DM são pro-
perfil tireoidiano. A concentração de tiroxina total (T4) é duzidas pelos efeitos da hiperglicemia na função e na
útil como prova inicial, tendo em conta que a maioria dos estrutura do nervo 86. Nos humanos, na fase metabólica pre-
cães tireoidianos apresentam valores inferiores ao normal. coce desta doença, se observam deficiências aparentes na
A medição de T4 livre mediante ao equilíbrio de diálise é condução nervosa, bloqueio isquêmico para bloquear a
mais sensível e específica para avaliar a função tireoidiana, condução e alterações na percepção dos estímulos táteis,
e é particularmente útil em indivíduos eutiroideos doentes térmicos e vibratórios 4,35,8. As lesões estruturais que afetam
ou nos que apresentam sinais clínicos atípicos. A medição os axônios e as células de Schwann são evidentes quando
do hormônio estimulante da tireóide (da sigla em inglês, se estabeleceu a neuropatia crônica 76.
TSH) também é útil, mas muitos cães hipotireoideos apre- Os sinais clínicos da neuropatia diabética são extrema-
sentam valores normais. O padrão ouro para o diagnóstico mente variáveis, desde uma condição subclínica insidiosa a
de hipotireoidismo é o teste de resposta a estimulação da uma quadro de começo agudo ou crônico de debilidade, pa-
tireóide. Eventualmente, se não há disponibilidade para a resia progressiva, deficiência proprioceptiva, atrofia muscu-
realização destes exames, se espera uma resposta positiva lar e diminuição dos reflexos espinhais. Os gatos geralmente
ao tratamento em cães hipotireoideos tratados adequada- assumem uma posição plantígrada nos membros pélvicos
mente com levotiroxina 59. (Figura10). Em cães e gatos afetados foi relatada a presença
O prognóstico geralmente é favorável, embora a recupe- de hiperestesia lombosacra 41,43,47. As cataratas diabetogênicas

226 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.2 – Afecções do neurônio motor inferior. Neuropatias periféricas

podem estar presentes. A hipotensão foi documentada em


um cão com neuropatia diabética 41. Um estudo retrospectivo
em 19 gatos com DM descreveu em detalhes as característi-
cas da neuropatia diabética espontânea em felinos 54; os gatos
afetados mostraram um amplo espectro de sinais clínicos,

Fernando Carlos Pellegrino


desde muito leves a severos. O mais consistente foi uma po-
sição plantígrada ao parar de caminhar. Outros sinais in-
cluíam a perda de peso, base de sustentação diminuída,
dificuldade de saltar, atrofia muscular, mais evidente nos
membros pélvicos; diminuição dos reflexos miotáticos; es-
tação e marcha palmígrada (Figura 10) e irritabilidade, es-
pecialmente ao tocar ou manipular os dedos 54.
A fisiopatogenia da polineuropatia diabética é desco-
nhecida, mas existem várias hipóteses para entendê-la,
considerado a interação de múltiplos fatores 26,72,77. A defi-
ciência de insulina, provavelmente não se relaciona a neu-
ropatia diabética. porque os nervos (assim como no SNC) Figura 10 – Gata fêmea, doméstico de pelo curto de 8
não são dependentes de insulina para a absorção de glicose anos, diagnosticada com diabetes tipo I. Observe a pos-
e na utilização de energia 34. A hipótese vascular explica o tura palmígrada
comprometimento microvascular a partir de um desbalanço
no endotélio vascular entre as moléculas vasodilatadoras Finalmente, a hipótese imunomediada se baseia no fato que
(por exemplo, prostaciclina, prostaglandina E1) , que se en- a mielina pode sofrer um dano imunológico subsequente a
contram diminuídas, contra um aumento das moléculas va- glicosilação de suas proteínas 21. Adicionalmente, alguns
soconstritoras (como o tromboxano A2 ou a endotelina), anticorpos contra fosfolipídeos podem provocar trombose
produzido pela alteração do metabolismo lipídico 21. Tam- vascular, contribuindo a outro possível mecanismo de lesão
bém foi mencionado a trombose subsequente ao acúmulo microvascular 1,77. A deficiência de muitos fatores neuro-
de moléculas glicosiladas ao redor de células endoteliais, trópicos (fatores de crescimento do nervo, neurotrofina-3,
e a alteração da dinâmica do fluxo de sangue pela agrega- fator de crescimento similar a insulina) também foram im-
ção plaquetária e eritrocitose 14. Em cães diabéticos foi re- plicados na neuropatia diabética 36,38.
latado um engrossamento anormal do perineuro, que pode As provas eletrodiagnósticas mostram potenciais de fi-
levar ao comprometimento vascular dos axônios e das cé- brilação, ondas agudas positivas e potenciais de fascicu-
lulas de Schwann por compressão da microcirculação, com lação nos músculos e diminuição da amplitude nos
consequente isquemia 29. A hipótese metabólica se apoia potenciais evocados da ação muscular. A dispersão tem-
nas alterações que ocorrem no indivíduo diabético na via poral e a diminuição da amplitude dos potenciais evocados
dos polióis, que é dependente da aldose-redutase. O au- de ação muscular por estimulação a nível do quadril, em
mento da atividade desta via pelo excesso de glicose deter- comparação com os obtidos por estimulação a nível do tarso
41,74 sugerem um bloqueio na condução nervosa. Foram re-
mina o acúmulo de sorbitol. que leva a uma depleção de
mio-inositol, uma molécula necessária para o funciona- latados registros de alta frequência de descargas bizarras
mento da ATPase Na+/K+. O mio-inositol também é um (pseudomotônicas) em cães com neuropatia diabética clí-
componente integral de muitos fosfolipídeos de membrana. nica ou subclínica 41,74. Em um estudo retrospectivo em gatos
Adicionalmente, o sorbitol é metabolizado lentamente em as anormalidades na EMG estavam restringidas principal-
frutose. Durante este processo oxidativo se liberam radicais mente aos casos mais severamente afetados 54.
livres de O 2 que lesionam a membrana. Os inibidores da As alterações histopatológicas neuromusculares descri-
aldose redutase como o sorbinil e a L-acetilcarnitina são tas em cães e gatos variam desde degeneração axonal ativa
eficazes na redução da atividade da via dos polióis, aumen- a desmielinização/remielinização com regeneração axonal,
tando no nervo os níveis de mio-inositol e reduzindo a pe- com atrofia neurogênica das fibras musculares esqueléti-
roxidação lipídica, melhorando assim a função nervosa 21. cas 9,10,43,47. Em um doberman pinscher fêmea de 8 anos de
O excesso de glicose intracelular também pode levar a uma idade com neuropatia diabética, o encontrado predominante
glicosilação não enzimática de proteínas necessárias para foi degeneração axonal (envolvendo 35-40% das fibras ner-
o metabolismo celular normal e para o transporte axonal, vosas) em biópsias de nervos plantares 43. Em um estudo de
alterando a sua função. A combinação de todos estes fato- fibra nervosa de cães diabéticos sem sinais clínicos de neu-
res metabólicos provocaria definitivamente alterações na ropatia, as lesões predominantes foram desmielinização, re-
células de Schwann, na formação de mielina e em dano mielinização e degeneração axonal menos proeminente com
axonal 12. Um estudo em gatos diabéticos mostrou evidên- evidências de regeneração axonal 9. Ultraestruturalmente se
cia de atividade da via dos polióis (marcado aumento na observam formações precoces em bulbo de cebola. As aná-
frutose do nervo sem acumulação apreciável no sorbitol) 54. lises morfométricas revelaram que as alterações ocorrem

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 227


Capítulo 25.2 – Afecções do neurônio motor inferior. Neuropatias periféricas

desde os nervos plantares distais, mas não na parte proximal 3-BEGHI, E. ; DELODOVICI, M. L. ; BOGLIUN, G. et al. Hypothy-
do nervo tibial. O resultado deste estudo, e de provas ele- roidism and polyneuropathy. Journal of Neurology, Neurosur-
gery, and Psychiatry, v. 52, n. 12, p. 1420-1423, 1989.
trodiagnósticas realizadas em outros cães 74, sugerem que
4-BENBOW, S. J. ; CHAN, A. W. ; BOWSHER, A. ; MCFARLANE, I.
algumas formas de neuropatia diabética em cães (e talvez
A. ; WILLIAMS, G. A prospective study of painful symptoms,
em gatos) refletem uma polineuropatia distal que envolve small fibre function and peripheral vascular disease in chronic
nervos sensitivos e motores. painful diabetic neuropathy. Diabetic Medicine, v. 11, n. 1, p. 17-
Em humanos, historicamente pensava-se que se tratava 21, 1994.
de uma axonopatia de tipo morte retrógrada, com desmie- 5-BERTALAN, A. ; GLASS, E. N. ; KENT, M. ; DE LAHUNTA, A.
linização e remielinização secundária 16,27,51. Na atualidade, Hypothyroid-associated neurologic signs in dogs. Veterinary Me-
dicine, v. 108 p. 242-250, 2013.
a evidência científica sugere que o papel principal é assu-
6-BICHSEL, P. ; JACOBS, G. ; OLIVER, J. E. ; J. R. Neurologic ma-
mido pela função anormal da célula de Schwann e da bainha
nifestations associated with hypothyroidism in four dogs. Journal
de mielina, e o dano axonal é de menor importância1. Este of the American Veterinary Medical Association, v. 192, n. 12,
achado também foi confirmado em gatos 54. Uma caracte- p. 1745-1747, 1988.
rística patológica dos nervos diabéticos é a hialinização de 7-BICHSEL, P. ; JACOBS, G. ; OLIVER, J. E. ; J. R. Neurologic ma-
microvasos endoneurais, associados tipicamente com re- nifestations associated with hypothyroidism in four dogs. Journal
duplicação e espessamento da membrana basal microvas- of the American Veterinary Medical Association, v. 192, n. 12,
cular, e células perineurais com uma lâmina basal também p. 1745-1747, 1988.
grossa 8,45, o que também foi descrito em gatos 54. Alguns 8-BRADLEY, J. L. ; THOMAS, P. K. ; KING, R. H. ; et al. A compari-
son of perineurial and vascular basal laminal changes in diabetic
estudos demonstraram anormalidades significativas do pe- neuropathy. Acta Neuropathologica, v. 88, n. 5, p. 426-432, 1994.
rineuro de um cão com diabetes espontânea (espessamento 9-BRAUND, K. G. ; DILLON, A. R. ; PIDGEON, G. L. ; et al. Neuro-
da bainha perineural total) 29. A área da membrana basal ca- muscular changes in dogs with spontaneous diabetes mellitus.
pilar endoneural se encontra significativamente aumentada American College of Veterinary Internal Medicine ( ACVIM )
nos cães com diabetes induzida sem perda de capilares 82, Proceedings, v. 53, 1981.
de forma similar ao observado em humanos. 10-BRAUND, K. G. ; STEISS, J. E. Distal neuropathy in spontaneous
O diagnóstico se baseia na evidência laboratorial de DM diabetes mellitus in the dog. Acta Neuropathologica, v. 57, n. 4,
p. 263-269, 1982.
(hiperglicemia, glicosúria, análise de insulina) e nos dados
11-BRAUND, K. J. Neuropathic disorders. In: VITE, C. H. Braund's
clínicos, neurológicos, eletrofisiológicos e de biópsia. As
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provas eletrodiagnósticas são técnicas não invasivas que Treatment. International Veterinary Information Service, 2003.
detectam casos de neuropatia subclínica 74. O prognóstico é 12-BROWNLEE, M. Negative consequences of glycation. Metabolism,
reservado; entretanto, a recuperação parcial ou completa v. 49, n. 2, p. 9-13, 2000.
pode ocorrer com um bom controle da hiperglicemia através 13-BUDSBERG, S. C. ; MOORE, G. E. ; KLAPPENBACH, K. Thyro-
da terapia com insulina 41,43,47. Foi demonstrado que uma xine-responsive unilateral forelimb lameness and generalized neu-
dieta com com altos valores de fibra melhora significativa- romuscular disease in four hypothyroid dogs. Journal of the
mente o controle da glicemia e da qualidade de vida de cães American Veterinary Medical Association, v. 202, n. 11, p.
1859-1860, 1993.
com DM 33. Estudos preliminares mostraram que o sulin-
14-CAMERON, N. E. ; EATON, S. E. ; COTTER, M. A ; TESFAYE,
daco, um substituto do ácido indol-3-acético, pode melhorar S. Vascular factors and metabolic interactions in the pathogenesis
algumas anormalidades histológicas em cães com diabetes of diabetic neuropathy. Diabetologia, v. 44, n. 11, p. 1973-1988,
experimental 82. Ensaios clínicos preliminares estão demons- 2001. DOI: 10.1007/s001250100001.
trando melhoria nos sinais de neuropatia sensorial em pa- 15-CARMELIET, P. ; STORKEBAUM, E. Vascular and neuronal ef-
cientes humanos com doença vascular oclusiva das fects of VEGF in the nervous system: implications for neurological
extremidades inferiores após a aplicação intramuscular de disorders. Seminars in Cell and Developmental Biology, v. 13,
n. 1, p. 39-53, 2002. DOI: 10.1006/scdb.2001.0290.
DNA nu que codifica fator de crescimento vascular endo-
16-CLEMENTS, R. S. ; J. R. ; BELL, D. S. Diabetic neuropathy:
telial 89, embora seja incerto se o efeito positivo resultou da
peripheral and autonomic syndromes. Postgraduate Medical
atividade angiogênica ou de um efeito neurotrópico direto15. Journal, v. 71, p. 50-52, 55-57, 60-57. 1982.
O prognóstico é reservado. Na atualidade não há trata- 17-COATES, J. R. Neurologic manifestations of hypothyroidism.
mento efetivo para a neuropatia diabética; entretanto, um Canine Practice, v. 22, p. 27-28, 1997.
manejo dietético adequado e o controle da hiperglicemia 18-CRUZ, M. W. ; TENDRICH, M. ; VAISMAN, M. ; NOVIS, S. A.
podem resultar em uma notória melhora clínica 43,56. Electroneuromyography and neuromuscular findings in 16 primary
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230 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


25
Afecções do neurônio motor inferior
25.3 – Polirradiculoneurite

Fernando Carlos Pellegrino

A
polirradiculoneurite é um transtorno inflamatório a SGB dos humanos poderia ser explicada como uma ca-
imunomediado de curso agudo que afeta normal- nalopatia transitória imunomediada dos canais de sódio 7.
mente os axônios, a mielina das raízes espinhais e Enquanto a Paralisia dos cães de raça Coonhound pode
os nervos periféricos, com maior comprometimento das raí- se reproduzir pela inoculação da saliva do guaxinim, o mi-
zes ventrais 42. Devido a similaridade dos sinais clínicos, se metismo molecular responsável pela PNIM em cães, gatos
considera o equivalente a síndrome de Guillain-Barré dos e humanos resulta da exposição prévia a antígenos por
humanos (SGB) 26,42. conta de uma infecção ou vacinação, e a patógenos ambien-
As primeiras analogias entre casos de veterinária e SGB tais 15,44, embora a forma idiopática da PNIM possa ocorrer
foram reconhecidas na doença conhecida como paralisia sem nenhum antecedente 4,39,49.
dos cães de raça coonhound, uma síndrome paralítica pro-
vocada pela inoculação de saliva de guaxinim 15-17. Poste- Fisiopatologia
riormente, estas similaridades foram observadas em outras A fisiopatologia da PNIM não está totalmente com-
polirradiculoneurites caninas imunomediadas em que não preendida, embora se suspeite de uma alteração imunome-
havia contato com a saliva do guaxinim, e com resposta diada que provoca desmielinização e degeneração axonal.
bem sucedida ao tratamento similar ao aplicado em huma- principalmente nas raízes nervosas ventrais dos nervos es-
nos 31, o quadro clínico foi denominado polirradiculoneurite pinhais 11,19,47,53, de forma equivalente a síndrome de Guil-
aguda canina (PAC) 8,15,31. lain-Barré em humanos (SGB) 26,42.
As neuropatias desimunes de causa desconhecida, com Classicamente, a SGB era considerada uma polirradi-
apresentação clínica menos estereotípica, também foi co- culoneuropatia desmielinizante e inflamatória aguda, de
municada em gatos 2,21,22,27,29,34. A escassa literatura sobre as curso monofásico e predomínio motor, com prognóstico
neuropatias imunomediadas em felinos estabelece caracte- benigno na maioria dos casos 3. Este conceito foi variando
rísticas similares ao PAC 21,22,35,37,embora ainda não tenha ao longo do tempo com a descrição de um crescente nú-
sido determinado sua semelhança com a SGB. mero de síndromes polineuropaticas de rápida evolução,
Na atualidade, e para se evitar confusão devido às dife- que foram divididas em 4 categorias clínicas principais: Po-
rentes terminações e acrónimos utilizados nas diferentes lineuropatia desmielinizante inflamatória aguda (de sigla
espécies, foi proposta a denominação de polirradiculoneu- em inglês, AIDP), Polineuropatia Axonal Motora Aguda
rite imunomediada (PNIM) para se referir ao grupo das (de sigla em inglês, AMAN), Polineuropatia Axonal Mo-
neuropatias desimunes. tora/Sensitiva Aguda (de sigla em inglês, AMSAN), e sín-
drome de Miller-Fisher 24,28. Existe um quinto tipo de SGB,
Prevalência de rara apresentação e mecanismo desconhecido, denomi-
A PNMI é uma das polineuropatias mais comum nos nado Neuropatia Aguda Autonômica 51.
cães e gatos 5,12,19,26,30. Em um trabalho recente foi relatado A SGB é considerada um exemplo típico de doença pós-
que 23% das biópsias de nervo caninas e 59% das felinas infecciosa 3; foi demonstrado que ⅔ dos casos estão prece-
enviadas a um centro de histopatologia de referência por didos de certas infecções ou de imunização. Os agentes
neurólogos veterinários foram consistentes com PNIM 26. infecciosos mais frequentes são virais (citomegalovírus,
De acordo com a experiência do autor a PAC representa Epstein-Barr ou varicela zoster) ou bacterianos (Campylo-
6% dos transtornos neuromusculares e 0,35% do total dos bacter jejuni, Haemophilus influenzae ou Mycoplasma
transtornos neurológicos nos cães 41. pneumoniae) 28,32,33. A resposta imunológica frente aos an-
Provavelmente, as PNIM são subdiagnosticadas na prá- tígenos bacterianos ou virais foi implicada na patogenia da
tica clínica, por vários motivos: procedimentos diagnósti- SGB. Esta resposta induz a produção de anticorpos que têm
cos inadequados, remissão espontânea ou eutanásia reação cruzada com epítopos neurais, devido ao mimetismo
prematura diante de um quadro de tetraplegia de apresen- molecular existente entre certos epítopos infecciosos e cer-
tação dramática 26. tos componentes gangliosídicos do SNC 28,32,48,51. Entre-
tanto, somente se encontrou uma forte associação entre
Etiologia SGB e anticorpos glicolipídicos na síndrome de Miller-
Foi proposto que as PNIM nos humanos 45, cães 15,42 e Fisher, no qual anticorpos frente a GQ1b,GD3 e GT1a
gatos 26 se originam de uma resposta imune redirecionada estão presentes em 96% dos casos 3,51. Estes anticorpos re-
contra os componentes da mielina ou dos antígenos da conhecem epítopos expressados na região nodal dos siste-
membrana axonal 53. Com base na descoberta de uma di- mas neurais responsáveis pelo desenvolvimento da
minuição transitória das correntes de sódio neuronal no síndrome 20,40. Os epítopos neurais de AMAN/AMSAN
LCR e a recuperação rápida dos pacientes, foi sugerido que podem ser os gangliosídeos GM1, GD1a, GalNAc-GD1a

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 231


Capítulo 25.3 – Afecções do neurônio motor inferior. Polirradiculoneurite

e GD1b 51, embora a associação entre formas axonais da Por ser uma lesão que afeta fundamentalmente as raízes
SGB e anticorpos antiglicolipídeos não é constante. A iden- ventrais, a sensibilidade está preservada 12,15,19,49. É frequente
tificação de anticorpos frente a galactocerebrósido (LM1 observar áreas de hiperestesia no tronco e nas extremida-
ou SGPG) em AIDP foi detectado em um pequeno número des 42. Em alguns casos pode ocorrer comprometimento dos
de casos 40. nervos cranianos com atrofia dos músculos faciais ou dis-
No que se refere a mudanças histopatológicas, a PNIM fagia. Alguns animais podem manter o movimento volun-
se caracteriza por uma neurite do tipo linfo-histiocítica di- tário da cauda 12. Se houver comprometimento dos nervos
rigida às fibras nervosas 26. Se observa desmielinização seg- intercostais e frênico pode ocorrer o desenvolvimento de
mentar que afeta principalmente as raízes espinhais, uma paralisia respiratória 10. Os pacientes afetados mantêm
diferentes graus de degeneração axonal e infiltração de cé- a micção e a defecação voluntária e seu estado mental é
lulas inflamatórias, cujo o tipo varia segundo o curso da normal. Podem comer e beber se têm ajuda 42. Muito rara-
doença. As lesões de maior gravidade são observadas nas mente os sinais podem começar e se desenvolver com
raízes ventrais 16. maior gravidade nos membros torácicos, simulando uma
Nas PNIM de cães e gatos foi comunicado que a res- lesão na intumescência cervicotorácica ou uma neurite do
posta imune se encontra direcionada para as incisuras de plexo braquial 23. A propriocepção costuma ser normal sem-
Schmidt-Lantermann (ISL), o complexo nodo-paranodo pre, se feita adequadamente, exceto quando a alteração mo-
(CNP), ou para ambas estruturas 26. Com base nas caracte- tora é tão severa que não permite reposicionar o membro
rísticas das mudanças infiltrativas e inflamatórias foram avaliado (pseudodeficiência da acomodação propriocep-
descritos 4 subtipos, alguns dos quais indicam a localização tiva) 18.
dos antígenos alvos primários, enquanto outros represen- Em um trabalho recente, as características clínicas da
tam a convergência de lesões em uma etapa mais tardia, PNIM foram descritas em um série de 34 casos (19 cães e
como consequência da propagação de epítopos 26. O subtipo 15 gatos) 26. Nos cães, o início do quadro clínico é princi-
1 apresenta célula inflamatórias disseminadas ao longo do palmente agudo (79%),e ocasionalmente insidioso (21%).
segmento internodal; a maioria delas se encontra na borda 26% dos animais apresentaram à consulta paraparesia não
da célula de Schwann no ISL, ou invadindo essa estrutura. ambulatorial, e 11% tetraplegia. Os cães restantes eram am-
O subtipo 2 se caracteriza pela presença de células infla- bulatórios; esse grupo apresentava sinais variáveis como
matórias dirigidas ao CNP; a resposta imune começa no es- tetraparesia (42%), paresia uni ou bilateral dos membros
paço nodal e, em estágios mais avançados, se adere aos torácicos (5%), paraparesia (5%), ou claudicação dos mem-
paranodos retraídos, que a princípio se encontram dimór- bros pélvicos (5%). Os reflexos espinhais não estavam pre-
ficos. Com base no estágio clínico e ao grau de infiltração sentes em um dos animais; nos 18 restantes encontravam-se
celular se distingue um subtipo inicial 2a e um subtipo tar- reduzidos; 47% apresentavam redução do reflexo flexor,
dio 2b, mais celular. O subtipo 3 apresenta um afecção de 11% do reflexo patelar, 5% do reflexo tibial cranial e 5%
similar intensidade na ISL e no CNP no interior das mes- do reflexo extensor carpo radial. Três cães apresentaram
mas fibras. No subtipo 4 se observa uma severa invasão do deficiência da acomodação proprioceptiva. Foram obser-
CNP, acompanhado por um moderado comprometimento vadas deficiências dos nervos cranianos em em 44% dos
da ISL 26. animais em termos de resposta à ameaça anormal (11%),
Nos cães, a maioria dos pacientes apresentam o subtipo redução do reflexo palpebral (5%), paresia facial (5%) e
2 (47%), com distribuição similar entre os estágios 2a e 2b, paralisia laríngea (5%). Um cão apresentou hiperestesia 26.
seguido pelos subtipos 1 (37%) e 3 (16%). O subtipo 4 não De forma similar aos cães, o início da doença foi agudo
foi evidenciado nesta espécie. Em contraste, esse tipo foi o na maioria dos gatos afetados (73%). Em 20% se observou
mais frequente entre os gatos (47%), seguido dos subtipos um início insidioso consistente com relutância para cami-
3 (33%) e 1 (13%). com somente um caso de PNIM de sub- nhar e anormalidades na marcha e/ou postura. Em um dos
tipo 2, em estágio 2b 26. animais afetados não se pôde obter dados confiáveis sobre
o início do quadro. Em relação aos sinais clínicos, 40% dos
Manifestações clínicas gatos estavam com tetraparesia não ambulatorial. Os res-
Nas PNIM os sinais clínicos variam desde debilidade tantes, ambulatórios, apresentavam tetraparesia (27%), pa-
muscular intensa com sinais de motoneurônio inferior raparesia (27%), ou se mostravam facilmente fatigados
(MNI) a tetraplegia flácida. O quadro mais frequente con- (7%) 26. Se relatou uma diminuição dos reflexos espinhais
siste em uma paraparesia com hiporreflexia dos membros em todos os gatos; a maioria apresentava diminuição do
pélvicos e disfonia, que progride rapidamente, em 24 a 48 reflexo flexor (67%), depressão do reflexo patelar (53%),
horas, a uma tetraplegia flácida com hipo ou arreflexia dos do reflexo tibial cranial (27%) e ausência do reflexo flexor
4 membros; o reflexo perineal costuma estar normal 16,31,36,50. dos membros torácicos (7%) ou dos membros pélvicos (7%).
Devido a diferenças entre espécies no que se refere a lo- Em 27% dos casos se observou deficiência na acomoda-
comoção e a postura, os casos de PNIM em gatos podem ção proprioceptiva. Um dos gatos apresentava disestesia
ser apresentados na clínica muito mais tarde do que nos e hiperestesia dos membros pélvicos e da cauda, enquan-
cães 50. to outro gato mostrava redução da sensibilidade cutânea.

232 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.3 – Afecções do neurônio motor inferior. Polirradiculoneurite

Em 4 dos gatos houve comprometimento dos nervos cra- diferenciais são as polirradiculoneurites infecciosas, a pa-
nianos, tais como nistagmo (7%), parecia facial (7%), di- ralisia por carrapatos, a miastenia gravis em sua forma ful-
minuição da resposta à ameaça (7%) e redução do reflexo minante, o envenenamento por picada de cobras, o
palpebral (7%) 26. botulismo 1,13,15,21,43,45, e a doença por desnervação distal 6.
As polirradiculoneurites infecciosas incluem fundamen-
Diagnóstico talmente as produzidas por protozoários (toxoplasmose e
O diagnóstico de PNIM se realiza com base na história neosporose), que serão tratadas na seção correspondente a
de paralisia flácida ascendente, e dos sinais clínicos preva- polimiosite causada por protozoários.
lentes. Deve-se suspeitar deste tipo de transtorno em qual- A doença por desnervação distal é uma neuropatia de-
quer paciente com sinais de NMI nos 4 membros de início generativa com uma distribuição geográfica bem definida,
agudo e rápida progressão. O exame neurológico habitual- uma vez que somente foi relatada no Reino Unido 19,25, onde
mente mostra tetraparesia/plegia flácida com hipo/arreflexia constitui a polineuropatia canina mais comum 6. A etiologia
generalizada, exceto na região perineal 42,49. e a patogênese é desconhecida na atualidade. A doença por
Nos humanos, os sinais obrigatórios requeridos para o desnervação distal não apresenta predileção por raça, sexo
diagnóstico de SGB incluem: (a) debilidade motora pro- ou idade, e os animais afetados não tem histórico de expo-
gressiva que compromete mais de uma extremidade com sição a toxinas. Os sinais clínicos se desenvolvem em um
uma duração máxima de 4 semanas; (b) arreflexia ou mar- tempo variável, de uma semana a um mês, e consiste fun-
cada hiporreflexia em pelo menos um reflexo miotático; damentalmente em tetraparesia flácida. Em alguns cães há
(c) exclusão de outras etiologias mediante métodos apro- perda de tonicidade na musculatura cervical e alterações
priados 48. Os critérios adicionais que apoiam fortemente o no latido. A atrofia muscular pode ser notória, especial-
diagnóstico consiste na ausência de febre; progressão de mente nos músculos extensores dos membros. Os reflexos
dias a poucas semanas; começo da recuperação 2 a 4 se- patelares podem estar diminuídos ou ausentes. Ocasional-
manas após cessar a progressão; debilidade relativamente mente pode-se observar alterações do nervo facial. A EMG
simétrica; sinais e sintomas sensitivos relativamente leves; mostra potenciais espontâneos nos membros, na muscula-
comprometimento do nervo craniano; elevação da proteína tura paravertebral, nos músculos mastigatórios e na língua.
no LCR depois da primeira semana do início dos sinais clí- A VCN se encontra no limite inferior do intervalo normal,
nicos; desaceleração da condução nervosa ou prolongação com potenciais musculares evocados de amplitude redu-
da onda F; disfunção autonômica; soropositividade para an- zida. Do ponto de vista histopatológico se observa degene-
ticorpos específicos 48. ração dos axônios intramusculares na parte distal dos
Os determinantes diagnósticos estão menos definidos membros, com rebrote axonal colateral. As porções proxi-
em cães e gatos 26. As recomendações enfatizam os achados mais e mediais dos nervos periféricos são normais, e não
do exame neurológico (a rapidez do início e a progressão a há evidência de lesão nervosa sensitiva. As mudanças no
tetraplegia), dos métodos eletrodiagnósticos e da análise músculo esquelético são típicas de atrofia neurogênica. O
do LCR 15,22,50. prognóstico é bom, a maioria dos cães alcança a recupera-
A eletroneuromiografia, que inclui estudos de eletro- ção completa após 4 a 6 semanas depois do inícios dos si-
miografia (EMG) e velocidade de condução nervosa nais clínicos, com os cuidados de enfermagem apropriados.
(VCN) podem contribuir para caracterizar a lesão. O Não foram comunicadas recidivas 6.
achado mais constante na EMG é a presença de atividade Para o restante das patologias que se deve incluir no
espontânea que sugere denervação (ondas agudas positivas, diagnóstico diferencial, ver os capítulos correspondentes a
potenciais de fibrilação), que se observa a partir do 4º ou botulismo e miastenia gravis adquirida.
5º dia 14. A VCN pode estar normal ou ligeiramente dimi-
nuída. Os potenciais de ação muscular, dispersos e de am- Tratamento
plitudes menores que o normal sugerem lesão axonal 9,14,39. O tratamento da PNIM se baseia no manejo do animal
A avaliação das ondas F (atrasadas ou ausentes) sugere des- em decúbito e na ventilação assistida nos casos de animais
mielinização das raízes ventrais e da porção proximal do com dispneia e paralisia respiratória. O uso de corticoste-
nervo 15. Todas estas características contribuem para redu- roides é controverso devido aos relatos de remissão espon-
zir os diagnósticos diferenciais 1,14,31. Entretanto, os sinais tânea ou a pouca eficácia na resposta clínica imediata a
eletroneurográficos podem ser muito variáveis, e os resul- aplicação do tratamento 15,39,52. Pode-se tentar a terapia com
tados dos estudos são controversos 26. Em um estudo de 15 dose imunossupressora de corticoides ou anti-inflamatórios
casos de PAC incluiu entre os achados de mudanças com- não esteroidais (AINEs) para impedir a evolução da doença,
patíveis com desmielinização, lesão axonal motora ou le- embora normalmente não se observe uma boa resposta, ou
sões mistas 38. depois de uma melhoria inicial se observe uma recaida 26.
Em gatos com severa tetraplegia também foi recomendada
Diagnóstico diferencial a utilização de corticosteroides em dose imunossupres-
Os transtornos que apresentam sinais similares a PNIM sora 12,46 ou AINEs 26; com corticosteroides a melhoria ge-
em cães e gatos,e que constituem os principais diagnósticos ralmente é observada na primeira semana pós-tratamento

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 233


Capítulo 25.3 – Afecções do neurônio motor inferior. Polirradiculoneurite

com possibilidade de recidiva 11,26,46; em um gato se relatou 15-CUDDON, P. A. Acquired canine peripheral neuropathies. Veterinary
a resolução permanente do quadro clínico com o uso de Clinics of North America: Small Animal Practice, v. 32, n. 1, p.
207-249, 2002. 10.1016/S0195-5616(03)00086-X.
AINEs 26. O uso de analgésicos também foi indicado para os
16-CUMMINGS, J. F. ; HAAS, D. C. Animal model for human disease:
animais devido a provável hiperestesia que pode ocorrer 52. Idiopathic polyneuritis, Guillain-Barré Syndrome. Animal model:
O prognóstico é bom para os animais que não desenvol- Coonhound paralysis, idiopathic polyradiculoneuritis of coonhounds.
vem complicações (por exemplo, respiratórias). Os animais American Journal of Pathology, v. 66, p. 189-192, 1972.
com paralisia dos cães de raça coonhound ou PAC podem 17-CUMMINGS, J. F. ; DE LAHUNTA, A. ; HOLMES, D.F. ;
demorar semanas a meses para se recuperar, e em alguns SCHULTZ, R. D. Coonhound paralysis. Further clinical studies
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casos, podem permanecer algumas deficiências neurológi-
v. 56, n. 3, p. 167-178, 1982.
cas residuais. Esporadicamente alguns pacientes podem re-
18-DEWEY, C. W. ; CERDA-GONZALEZ, S. Disorders of the peripheral
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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 235


25
Afecções do neurônio motor inferior
25.4 – Neuropatias traumáticas

Fernando Carlos Pellegrino

O
s traumatismos são a causa mais comum de neu- perda da continuidade mecânica ou funcional do axônio em
ropatia periférica em cães e gatos 12,21. As lesões um determinado ponto, todo o segmento distal sofrerá uma
dos nervos periféricos podem ser secundárias a degeneração por perda do estímulo trófico provido pelo
acidentes automobilísticos, fraturas, armas de fogo, mor- corpo neuronal. Quando a interrupção física do axônio é
didas profundas, lacerações ou causas iatrogênicas, durante produzida por causas traumáticas esse processo é conhecido
procedimentos cirúrgicos ou como consequência de inje- por degeneração walleriana. Nas axonopatias traumáticas
ções intramusculares 64. podem ocorrer vários graus de lesão, de acordo com a gra-
A maioria das neuropatias traumáticas são lesões por tra- vidade e da estrutura envolvidas. De acordo com Seddon 15
ção, sem evidências de problemas ortopédicos associados 18. (1943) três tipos de grau de lesão podem ser produzidos (Fi-
Entretanto, em animais politraumatizados pode existir danos gura 1): a) a neuropraxia ou axonopraxia se caracteriza
em outros tecidos, e o reconhecimento de uma neuropatia pela interrupção transitória da funcionalidade com conser-
periférica pode ser subdiagnosticada devido ao estado do pa- vação da estrutura anatômica. A excitabilidade do nervo se
ciente ou a coexistência de fraturas ou outro tipo de compli- mantêm no segmento distal, e a recuperação normalmente
cações associadas, o que resulta em condutas terapêuticas é espontânea e completa após um período variável (de pou-
equivocadas e prognóstico erróneos 64. As lesões nos mem- cos dias até 6 semanas) que depende do nível da magnitude
bros podem se complicar pelo aparecimento da síndrome do estiramento; b) a axoniotmese se caracteriza pela lesão
compartimental que, embora infrequente, pode comprometer das fibras e da bainha de mielina, sem acometimento do
os nervos periféricos. É o acúmulo de edema e/ou hemorra- resto de suas estruturas conjuntivas. O axônio sofre os fe-
gia em um espaço fechado e pouco distensível, delimitado nômenos de degeneração walleriana e desmielinização se-
pela fáscia músculo esquelética e o osso em que é inserida cundária, com perda da condução distal da lesão. A
(compartimento osteofascial). Se a pressão que alcança é de recuperação é possível e dependerá do grau de regeneração
suficiente magnitude e duração, pode haver lesão dos mús- axonal. Os brotos axonais regenerativos devem encontrar
culos e dos nervos que se encontram no interior do compar- os tubos endoneurais distais para crescer até seus termi-
timento comprometido 18. Outra possível complicação, nais periféricos e recuperar sua funcionalidade; a regenera-
também associada a lesões dos membros, é um fenômeno ção geralmente começa depois de uma semana e progride
com uma fisiopatologia pouco compreendida, denominado com um crescimento aproximado de 1-3mm por dia; c) a
distrofia simpática reflexa. Consiste com o desenvolvimento neurotmese é a lesão mais grave, pois se perde a continui-
de dor intensa e outras anormalidades autonômicas tais como dade anatômica do nervo. Os brotos axonais regenerativos
edema, mudanças na temperatura e transpiração, que ocorre são incapazes de encontrar os tubos endoneurais distais, e a
semanas depois do evento traumático e se acredita que seja recuperação funcional espontânea é impossível 15.
mediado pelo sistema nervosos simpático. A distrofia sim- Esta classificação é a que se utiliza da forma clássica,
pática reflexa foi descrita em cães 18. embora do ponto de vista clínico seja difícil a diferenciação
O conhecimento anatômico e fisiológico dos nervos pe- entre a axoniotmese e a neurotmese.
riféricos e sua resposta a lesão são importantes para poder
estabelecer o prognóstico. A possibilidade de recuperação Prevalência
é diretamente proporcional a continuidade das estruturas As neuropatias traumáticas são extremamente frequentes
do tecido conectivo. em cães e gatos 1,23. De acordo com a experiência do autor,
representa aproximadamente 10% dos transtornos do sistema
Fisiopatologia nervoso periférico, e são mais frequentes em animais meno-
Se a lesão do nervo periférico (axonopatia) produz a res de 1 ano de idade (praticamente metade dos casos) 41.

Figura 1 – As axonopatias traumáticas podem ser descritos vários graus de lesão, de acordo com a gravidade e as
estruturas envolvidas. De acordo com Seddon (1943), são descritos três tipos de graus de lesão: a) neuropraxia;
b) axoniotmese; e c) neurotmese.
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neurológico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica, 2014.
ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


236
Capítulo 25.4 – Afecções do neurônio motor inferior. Neuropatias traumáticas

Em seguida serão descritas as neuropatias traumáticas um estiramento brusco do membro torácico 41.
mais frequentes na clínica diária. Dentre elas, a avulsão do
plexo braquial é a mais comumente observada, e por conta Fisiopatologia
de sua gravidade e frequência, adquire uma dimensão par- Na avulsão do plexo braquial se produz uma axonopatia
ticular como entidade patológica. Entretanto, deve-se levar que determina a perda de continuidade mecânica ou fun-
em consideração que qualquer nervo periférico pode ser cional do axônio em um determinado ponto, resultando em
afetado por um traumatismo e a fisiopatologia é idêntica. neuropraxia, axonotmese ou neurotmese, de acordo com as
Os sinais neurológicos irão variar de acordo com o nervo características e a severidade do traumatismo.
afetado, e do local da lesão. Além disso, incluiremos outros
tipos de neuropatias vasculares que por seu inicio e desen- Manifestações clínicas
volvimento, devem ser incluídas no diagnóstico diferencial Os sinais clínicos são de início agudo e associados a um
das neuropatias traumáticas (tromboembolismo arterial fe- traumatismo prévio imediato; sua extensão e gravidade são
lino e síndrome do gato preso na janela). variáveis e dependem da magnitude do trauma 49.
As avulsões craniais são infrequentes e produzem qua-
AVULSÃO DO PLEXO BRAQUEAL dros clínicos mais leves. Nestes casos o animal é capaz de
Definição suportar o peso do corpo sobre a extremidade afetada 49,
É a lesão por estiramento, rasgo ou arranque das raízes pois não compromete os extensores do cotovelo. O com-
espinhais que formam o plexo braquial ou do próprio plexo, prometimento do nervo musculocutâneo, que se origina nos
ocorre devido a tração abrupta do membro, que gera forças segmentos medulares C6-8, resulta na ausência do reflexo
longitudinais ao longo dos nervos 2,59. bicipital e na diminuição ou ausência da flexão do cotovelo.
O plexo braquial é formado pelas raízes ventrais dos Também se observa atrofia dos músculos supra e infra es-
nervos espinhais que se originam nos segmentos medulares pinhosos (inervados pelo nervo supraescapular, que se ori-
C6-T2; e proporciona a inervação sensitiva e motora aos gina nos segmentos medulares C5/6-7) e diminuição no
membros torácicos 4. avanço do membro afetado durante a marcha 25 (Figura 2).
A abdução da extremidade afetada pode ou não estar as- As avulsões caudais permitem que o paciente mantenha
sociada a uma fratura apendicular, e pode produzir desde o membro com o cotovelo e o ombro flexionados durante
um estiramento até um arranque das raízes nervosas a nível a marcha, já que a função dos nervos musculocutâneo, axi-
da medula espinhal 57. A lesão pode ser incompleta devido lar e supraescapular se encontra conservada 53. O compro-
a resistência diferencial de alguns tecidos 29; as raízes são metimento do nervo radial, que se origina nos segmentos
mais susceptíveis que os nervos espinhais, provavelmente medulares C6-T1/T-2, resulta na ausência do reflexo trici-
por possuir menos quantidade de perineuro sobre as raízes pital e extensor carporradial, e na incapacidade de estender
nervosas 9,53. Por este motivo a avulsão desta estrutura é o cotovelo, o carpo e os dedos, com a postura típica de
mais frequente, com uma lesão de localização tipicamente “mão em bola” (Figura 3). O comprometimento do nervo
intradural, muito próxima da medula espinhal 18. ulnar, que se origina nos segmentos medulares C8-T1/2 e
Segundo a sua localização e extensão, as avulsões do promove a inervação sensitiva na superfície lateral da mão,
plexo braquial podem ser classificadas em a) craniais (raí- predispõe a ulceração acral 35,53. O comprometimento da
zes nervosas C6-7 que originam os nervos supraescapula- raiz originada no segmento medular torácico 1, que contém
res, subescapulares, musculocutâneo e axilar); b) caudais fibras pré-ganglionares simpáticas, resulta frequentemente
(raízes nervosas C8-T2 que originam os nervos radial, me- em síndrome de Horner parcial com miose unilateral do
diano, ulnar e torácico lateral); e c)completas (raízes ner- lado afetado 8,15,31. Para que se produza ptose da pálpebra
vosas C6-T2) 49. superior e protrusão na membrana nictante as raízes ven-
trais originadas nos segmentos medulares T2-T3 devem
Prevalência estar afetadas 17. Uma lesão em segmentos medulares que
As lesões traumáticas das raízes espinhais que formam origina o nervo torácico lateral (C8-T1), que inerva o mús-
o plexo braquial são a causa mais comum de monoparesia culo cutâneo do tronco, pode produzir a perda do reflexo
ou monoplegia em cães e gatos 23. As avulsões caudais e do panículo ipsilateral 66.
completas são as que se apresentam com maior frequência. Em avulsões completas, o sinal clínico mais evidente é
São mais frequentes nos animais menores de um ano de a incapacidade de estender o cotovelo e sustentar o peso do
idade 41, nas fêmeas, e em animais de raça indefinida 2. corpo sobre o membro comprometido; com frequência o
animal arrasta o dorso dos dedos sobre o chão, gerando
Etiologia abrasões ou úlceras 53 (Figura 4). Quase todos os animais
A avulsão do plexo braquial está normalmente asso- afetados apresentam comprometimento dos nervos radial,
ciada a acidentes automobilísticos 2, embora outros tipos de mediano e ulnar, enquanto os nervos axilar e musculocutâ-
traumas também possam causá-lo, como por exemplo bri- neo, ainda que se lesionem com frequência, podem perma-
gas entre animais, aprisionamento do membro em diferen- necer intactos 54,57.
tes estruturas, queda ou qualquer situação que provoque Em um trabalho que se avaliou os sinais clínicos em 12

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 237


Capítulo 25.4 – Afecções do neurônio motor inferior. Neuropatias traumáticas

Fernando Carlos Pellegrino


Figura 3 – A foto mostra um staffordshire terrier, macho,
Figura 2 – A foto mostra um cão macho, de raça indefinida, 18 meses de idade, com avulsão caudal do plexo braquial
6 anos de idade, com avulsão cranial do plexo axilar de- devido a um acidente automobilístico ocorrido 10 dias
vido a um acidente automobilístico ocorrido 2 meses atrás. atrás. Observe a “mão em bola” com o cotovelo flexionado
Observe a notória atrofia dos músculos supra e infra-espi-
nhoso. para a recuperação funcional. A falta de uma exame exaus-
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neuro- tivo é a causa habitual da amputação desnecessária do
lógico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica,
2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de membro afetado 5, ou do diagnóstico errôneo de paralisia
Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino do nervo radial 59.
Mediante ao exame neurológico é simples comprovar o
comprometimento dos nervos radial e musculocutâneo,
cães com avulsão do plexo braquial 2 a frequência das le- através da observação de paralisia flácida, ausência de fle-
sões comunicadas foram: paralisia flácida, ausência dos re- xão e extensão do cotovelo, ausência de extensão do carpo
flexos de panículo, tricipital, bicipital e extensor e atrofia dos músculos tríceps braquial, bíceps braquial e
carporradial (100%); ulceras/abrasões no dorso dos dedos, extensores do carpo. A determinação da integridade dos
atrofia do músculo tríceps braquial (75%); atrofia dos mús- nervos mediano e ulnar depende principalmente da avalia-
culos supra e infraespinhoso, bíceps braquial e extensores ção subjetiva da sensibilidade cutânea 2.
do carpo (66,7%); comprometimento parcial do reflexo in- É muito importante avaliar a sensibilidade em todas as
terdigital (41,7); flexão do cotovelo (33,3); anquilose do áreas dermatoméricas do membro. Os dermátomos são
cotovelo e do carpo, síndrome de Horner (25%); automu- utilizados para localizar áreas de analgesia 53. As fibras
tilação, flexão parcial do cotovelo, fratura em outro mem- que inervam a pele se dispõem em um padrão de orga-
bro(16,7%); fratura do mesmo membro, ulceração do nização regular denominado dermátomos, formado pela
cotovelo (8,3%). parte da pele que é inervada por somente uma raiz espi-
A extensão da alteração sensitiva depende das raízes nhal (Figura 5). Devido a superposição de fibras, cada
comprometidas; na maior parte dos cães afetados com
avulsão completa se observa anestesia distal ao cotovelo
Fernando Carlos Pellegrino

54, embora se tenha comunicado casos com anestesia distal

ao cotovelo e no lado cranial do braço 2,5.

Diagnóstico
O diagnóstico se baseia na anamnese, no exame físico
e neurológico, e em exames complementares 8. O motivo
da consulta é a perda de função do membro imediatamente
após o traumatismo. O quadro clínico consiste em uma sín-
drome de motoneurônio inferior caracterizado pela ausên-
cia de tônus muscular, reflexos segmentares ausentes ou
diminuídos e atrofia muscular neurogênica 53.
Devido ao início agudo dos sinais clínicos e a associação
com traumatismo, o diagnóstico é simples. A maior dificul-
dade se encontra em determinar a extensão da lesão, ou seja, Figura 4 – A foto mostra um cão fila brasileiro, macho, 2
especificar quais são as raízes nervosas ou os nervos espe- anos de idade, com avulsão completa do plexo braquial
cificamente comprometidos. Esta determinação é de suma devido a um acidente automobilístico ocorrido há 1 semana.
importância porque permite estabelecer um prognóstico Observe a “mão em bola” e o membro inteiro caído

238 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.4 – Afecções do neurônio motor inferior. Neuropatias traumáticas

zona cutânea recebe também fibras dos nervos espinhais Deve-se ter em conta que, diante de qualquer tipo de afec-
adjacentes, de modo que sua inervação provêm de 3 seg- ção neuromuscular, as alterações patológicas no músculo
mentos medulares na maioria das áreas. Se denomina zona se verificam em um período de 2 a 3 semanas, enquanto as
autônoma a superfície da pele que é inervada por somente alterações nos estudos de condução nervosa são produzidos
um nervo periférico, e pode corresponder a vários dermá- em 4 a 7 dias. A Ausência de anormalidades na ENMG em
tomos ou parte deles. O conhecimento da zona autônoma estudos realizados sem considerar estes períodos não
é muito útil para a localização das lesões dos nervos peri- devem descartar nenhum tipo de patologia 16,42. Um estudo
féricos com fibras sensitivas, o que, adicionado ao estudo sobre alterações eletroneurográficas precoces em lesões de
dos reflexos espinhais permite completar a abordagem diag- nervo radial demonstraram que a diminuição na velocidade
nóstica desde o aspecto clínico. As zonas autônomas foram de condução estava relacionada com um pior prognóstico
determinadas em cães e se baseiam em pontos anatômicos para a recuperação funcional 22.
fixos (Figura 6). Existem padrões básicos de anestesia De acordo com a experiência do autor, na avulsão do
cutânea nas lesões do plexo braquial 5,29,34, embora a sobre- plexo braquial a ENMG (em particular a velocidade de
posição dos dermátomos, a falta de colaboração do pa- condução nervosa motora) não fornece muitos mais dados
ciente 53, as variações anatômicas individuais, o deslocamento que o exame neurológico devido a disposição anatômica
da pele e o grau da lesão 5 dificultem a avaliação da sensi- dos segmentos proximal e distal dos nervos que podem ser
bilidade cutânea. estimulados, que somente permite a avaliação de uma por-
A utilização de testes eletrodiagnósticos proporciona in- ção muito pequena do tronco nervoso investigado. Por
formações valiosas no que se refere a localização, extensão outro lado, seria útil a exploração cirúrgica para determi-
e gravidade da lesão. A eletroneuromiografia (ENMG) é o nar a integridade do nervo (Figura 8) e sua funcionalidade
registro da atividade elétrica muscular e dos nervos perifé- mediante a neuroestimuladores (Figura 9).
ricos. Consiste em testes de neurocondução (velocidade de
condução nervosa motora e sensitiva), denominados em
conjunto como eletroneurografia (ENG), e testes de avalia-
ção muscular denominados eletromiografia (EMG). Ambas
as técnicas se complementam mutuamente e permitem a in-
vestigar as alterações que comprometem a unidade motora
e os nervos sensitivos; com esta técnica é possível distinguir
a neuropraxia da axonotmese/neurotmese 42 (Figura 7).

Figura 5 – Dermátomos do cão diagramados com base nos resultados de numerosos estudos. Eles diferem entre os
indivíduos e na maioria das áreas há superposição da inervação de aproximadamente 3 segmentos. A distribuição dos
membros torácicos é experimental

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 239


Capítulo 25.4 – Afecções do neurônio motor inferior. Neuropatias traumáticas

Braquiocefálico

Ramo cutâneo
lateral do
nervo T2

Musculocutâneo

Cubital

Radial

Figura 6 – Inervação do membro torácico do cão (lado es-


querdo). As zonas autônomas, inervadas por um único
nervo (indicadas pelos círculos celestes), são mostradas
junto aos locais recomendados para avaliar a sensibilidade
(indicados pelos círculos vermelhos). O nervo mediano
não tem uma zona autônoma.
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neuro-
lógico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica,
2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de
Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino

Figura 8 – Exploração cirúrgica do nervo radial para avaliar


sua integridade anatômica.
Fonte: gentilmente cedida pela dra. María Elena Martínez

Figura 7 – Em um nervo com neuropraxia, a estimulação


proximal à lesão (traçado superior) produz um potencial de
ação muscular menor que o que se origina a partir da es-
timulação distal (traçado inferior). Em contraste, em um
nervo com neurotmese (perda irreversível da continuidade
anatômica do nervo), a estimulação proximal ou distal ao
local da lesão não produz potencial algum, refletindo a
perda de excitabilidade da junção neuromuscular e do
nervo, subsequente a degeneração walleriana.
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neuro- Figura 9 – Neuroestimulação do nervo radial durante a ex-
lógico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica, ploração cirúrgica, para avaliar a capacidade de condução
2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de nervosa.
Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino Fonte: gentilmente cedida pela dra. María Elena Martínez

240 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.4 – Afecções do neurônio motor inferior. Neuropatias traumáticas

Os potenciais evocados somatossensitivos (PESS) são associados a um prognóstico de recuperação grave foram
utilizados na exploração da capacidade da medula espinhal a ausência de sensibilidade profunda, a perda unilateral do
para conduzir a informação proveniente da periferia até o en- reflexo cutâneo do tronco e a ausência de potenciais evo-
céfalo, depois da estimulação repetida de um nervo periférico. cados magnéticos após a estimulação do nervo radial 63.
São úteis também para conhecer o estado funcional do seg-
mento periférico da via somatossensorial, constituída por fi-
bras nervosas aferentes que integram o nervo misto ativado e
suas raízes espinhais. Suas respostas, promediadas, podem ser
registradas em pontos determinados do trajeto dos nervos
estimulados, seus plexos e raízes de origem, ao longo da
medula espinhal e a nível cortical 40,42. Uma das utilidades
do método é a sua capacidade para a obtenção da medida da
velocidade de condução das fibras aferentes que integram
o nervo periférico. O registro espinhal na região cervico-
torácica permite a exploração de qualquer nervo do mem-
bro torácico que possa se estimular perifericamente, de suas
raízes e do segmento medular que chega o estímulo. A ana-
tomia do nervo mediano permite sua estimulação periférica
em 2 pontos, uma proximal (a nível axilar) e outro distal (a
nível do carpo) (Figura 10). Sendo possível medir a velo-
cidade condução das fibras entre estes pontos (Figura 11).
O valor desta técnica reside na possibilidade da obtenção
de um exame mais detalhado da condução nervosa, permi-
tindo, eventualmente, individualizar segmentos mais res-
tritos que possam ser danificados 40.
Em um trabalho se relatou o uso da estimulação mag-
nética do nervo radial e o registro do potencial motor mag-
nético evocado. Este tipo de estudo requer um equipamento
especializado, não disponível na maioria dos centros vete-
rinários. De acordo com este estudo, os principais fatores

Figura 11 – Potencial espinhal (componente interneuronal)


dos PESS obtido pela estimulação proximal (A) e distal (B)
do nervo mediano. Sensibilidade: 1,5 uV/div.; Velocidade
A de varredura:2 ms/div. Consiste em uma grande deflexão
formada por um pico negativo em ponta, seguido por uma
B positiva mais franca e de longa duração. Em alguns ani-
mais, observam-se deflexões pequenas e polifásicas que
Figura 10 – A) Local de estimulação proximal do nervo me- precedem ou se sobrepõem ao pico negativo. D1: distân-
diano, localizado na face medial do terço distal do braço, cia entre eletrodo distal e eletrodo de registro / expresso
atrás da borda caudal do músculo bíceps braquial, ao nível em mm); D2: distância entre o eletrodo proximal e o ele-
do epicôndilo medial do úmero. Os eletrodos de estimula- trodo de registro (expresso em mm); L1: tempo que de-
ção estão colocados em tandem ao longo do nervo perifé- mora para manifestar o potencial interneuronal após a
rico e separados por 1 cm, com o ânodo distal. O eletrodo estimulação distal (expressa em mseg); L2: tempo que de-
mais proximal é o eletrodo de terra; B) Local de estimula- mora para manifestar o potencial interneuronal após esti-
ção distal do nervo mediano, localizado a nível da super- mulação proximal (expressa em mseg); VCNS: velocidade
fície caudomedial do carpo. de condução nervosa sensitiva (expressa em m/seg).
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neuro- Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neuro-
lógico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica, lógico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica,
2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de 2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de
Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 241


Capítulo 25.4 – Afecções do neurônio motor inferior. Neuropatias traumáticas

Diagnóstico diferencial caso de laceração, a anastomose imediata do nervo nos pri-


Embora a avulsão das raízes nervosas seja a patologia meiros dias posterior ao trauma pode possibilitar uma recu-
mais frequente do plexo braquial, esta estrutura pode ser peração relativamente rápida. Caso não exista a possibilidade
afetada por outros transtornos, como por exemplo neopla- ou equipamento adequado para a reparação se deve realizar
sias 53,66 (Figura 12), lesões de um tronco nervoso especí- uma bandagem e encaminhar a algum centro de referência.
fico 17, ou neuropatia do plexo braquial 10. Nas feridas com extenso processo inflamatório ou infecção,
a cirurgia para a reconstrução do nervo deve ser adiada por
Tratamento aproximadamente 3 semanas, quando houver uma adequada
O tratamento de qualquer neuropatia traumática pode formação de brotos axonais e o epineuro é menos fino, fa-
variar de acordo com o tipo de lesão. Idealmente se devem cilitando a fixação da sutura 64.
realizar reavaliações clínicas e/ou eletromiográficas seria- Se o paciente apresenta melhoras com o tratamento con-
das durante um período de 8 semanas. No caso de melhora, servador deve-se realizar uma reavaliação periódica e con-
as lesões mais prováveis são a neuropraxia ou a axonotme- tinuar a terapia; esta conduta pode permanecer por tempo
se, e o retorno da função pode ocorrer espontaneamente. indefinido, sempre e quando o membro não está exposto a
No caso de não ocorrer uma evolução favorável estaria in- traumatismos e o tutor está de acordo com todas as medidas
dicada uma cirurgia exploratória. Nas lesões abertas com terapêuticas, e se sinta cômodo com o aspecto de seu mas-
indícios de comprometimento da inervação periférica, se cote 53; alguns animais mantêm uma locomoção aceitável
deve limpar a ferida e avaliar as condições do nervo. Em com o membro afetado, e devem ser observados por vários
meses antes de se decidir pela ampu-
tação, pois podem melhorar neste pe-
Fernando Carlos Pellegrino

ríodo 57,66.
B A fisiatria é indicada desde o início
do quadro clínico. Sua ausência re-
sulta, na maioria dos casos, em anqui-
lose do cotovelo e do carpo devido a
contração e retração dos tendões dos
músculos flexores. É preciso ter ex-
trema precaução para evitar complica-
ções secundárias e tomar certas
medidas, como colocação de próteses
para evitar as ulcerações na superfície
dorsal da pata, utilização de colar eli-
zabetano e bandagens protetoras para
Arquivo pessoal

evitar a automutilação 2.
Nos casos de avulsão do plexo com
atrofia muscular neurogênica e genera-
lizada, associada com ausência de sen-
sibilidade na parte distal do cotovelo,
sem melhora clínica ou eletromiográ-
fica e com feridas no dorso dos dedos,
C a chance de recuperação é pratica-
mente nula e deve-se considerar a am-
putação do membro 11,57,64, embora, se
possível, é conveniente esperar entre 4
a 6 meses antes de tomar tal decisão 64.
A paralisia do nervo radial pode ser
Arquivo pessoal

tratada cirurgicamente mediante a ar-


trodese do carpo. transposição muscu-
A
lar ou neurorrafia 58; os resultados são
melhores em avulsões parciais, quando
a funcionalidade dos nervos musculo-
Figura 12 – A) Monoparesia do membro torácico direito em um cão boxer
macho, de 8 anos de idade. Observe a postura de “mão em bola”; B) MRI pon- cutâneo, mediano e ulnar está preser-
derada em seqüência T2 (corte sagital), que mostra a presença de uma massa vada . Entretanto, essas técnicas não
33

hiperintensa no corpo ventral de C7; C) MRI ponderada em sequência T2 (corte se mostraram eficientes para uma recu-
transversal), que mostra a presença de uma massa hiperintensa lateralmente peração funcional completa. Essa si-
a C7, compatível com um tumor de bainha nervosa tuação incentivou a busca de técnicas

242 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.4 – Afecções do neurônio motor inferior. Neuropatias traumáticas

de reimplante das raízes que sofreram avulsão 14. extender as articulações do carpo e dos dedos. Deste modo,
O prognóstico da avulsão do plexo braquial é sempre o animal afetado normalmente arrasta o dorso dos dedos
reservado a grave. No entanto, e de acordo com a experiên- sobre o solo (“mão em bola”) 23.
cia dos autores, vale a pena tentar a recuperação funcional. O tratamento é variável. Se a funcionalidade da articu-
Ao fazê-lo, a premissa requer um comprometimento abso- lação do cotovelo está preservada pode ser indicada a ar-
luto com a terapia pelo tutor, e essa é uma variável que deve trodese do carpo ou a transposição tendinosa. Em casos de
ser considerada para tomar a decisão terapêutica. As com- neurotmese, a anastomose nervosa pode resultar em me-
plicações habituais por falta de atenção são a retração dos lhoria da função neurológica 44,49.
músculos flexores (que podem provocar a compressão e is- Se não há secção completa do nervo a maioria dos animais
quemia do nervo. por exemplo, na superfície dorsal do recupera a função neurológica. Igual ao que ocorre na avul-
carpo) e a automutilação (Figura 13). são do plexo braquial, o prognóstico é reservado a grave para
Também de acordo com a experiência do autor, a ex- a recuperação funcional nos animais que apresentam ausên-
ploração cirúrgica do(s) nervo(s) afetado(s) e sua estimu- cia de sensibilidade. Uma das possíveis complicações é a
lação com neuroestimuladores ajuda a debridar a zona aparição de parestesia, com a conseguinte automutilação 49.
perineural afetada, o que resulta em uma melhoria na con-
dução nervosa. TRAUMATISMO/AVULSÃO DO PLEXO LOMBOS-
Tendo em conta a frequência das lesões traumáticas SACRO E TRAUMATISMOS SACROCAUDAL
completas no plexo braquial, e do prognóstico grave para O plexo lombossacro é composto pelas raízes que se ori-
a recuperação, é preciso aumentar a pesquisa para descobrirginam nos segmentos medulares L4-S3, que estão contidos
tratamentos eficazes para a recuperação cirúrgica das raízes
nos segmentos vertebrais L3-L5. Na intumescência lombos-
nervosas ou dos troncos nervosos individuais 2. sacra as raízes passam a integrar os nervos do plexo lombos-
sacro, de modo que um segmento medular integra
Prevenção principalmente um único nervo, sem fornecer praticamente
O fato de que a avulsão do plexo braquial envolve prin- fibras a outros; somente o nervo pudendo compartilha algu-
cipalmente fêmeas jovens de raça indefinida permite supor mas fibras dos segmentos S1 e S2 com o ciático. O nervo fe-
que medidas de manejo adequadas, como por exemplo, moral se origina nos segmentos medulares L4-L6 (às vezes
limitar o acesso às ruas, controle po- L3), contidos nas vértebras L3 e L4,
pulacional mediante a adoção respon- embora dependa do tamanho do ani-
Fernando Carlos Pellegrino

sável de cães errantes, a educação ao mal. Suas raízes percorre sobre os dis-
público e as campanhas de castração, cos intervertebrais L3-L4 e L4-L5
poderiam diminuir o número de aci- emergindo pelos forames correspon-
dentes e, consequentemente, a preva- dentes. O nervo ciático se origina nos
lência deste transtorno .
2 segmentos medulares desde L6 a S1,
contidos nas vertebras L4-L5; suas raí-
MONONEUROPATIA zes passam sobre os discos interverte-
TRAUMÁTICA DO brais L5-L6, L6-L7 e L7-S1 para
NERVO RADIAL emergir pelos forames correspondentes
O nervo radial é misto, sensitivo e 43. Na maioria dos casos de neuropatias

motor, e suas raízes nervosas se origi- por traumatismos ou avulsão do plexo


nam nos segmentos medulares C6-T1/2, lombossacro predominam os sinais
contidos nos segmentos medulares C7- clínicos de afecção do nervo ciático 49.
T2 43. As causas mais frequentes de As fraturas ou luxações da coluna
neuropatia traumática são as fraturas lombar desde L3 a L5 podem provocar
umerais, as lesões laterais da articula- uma lesão do motoneurônio inferior
ção do cotovelo e as fraturas da pri- (LMNI) com comprometimento do
meira costela 49. nervo ciático, do femoral, ou de ambos,
Os sinais clínicos podem variar, de- dependendo dos segmentos vertebrais
pendendo da localização da lesão no afetados. As fraturas ou luxações a par-
decorrer do nervo. Em lesões proxi- tir de L5 (direção caudal) afetam a
mais se observa a incapacidade para es- cauda equina produzido alterações fun-
tender as articulações do cotovelo, do cionais de diferentes magnitudes nos
carpo e dos dedos, e a impossibilidade Figura 13 – A foto mostra a limpeza nervos ciático e pudendo, dependendo
de sustentar o peso do corpo sobre o cirúrgica e posterior sutura dos dedos das raízes afetadas. Também podem se
membro afetado. Nas lesões distais o mediais do membro torácico es- observar sinais clínicos relacionados a
querdo de um cão com avulsão com-
movimento do cotovelo é preservado, pleta do plexo braquial, após uma deficiências do nervo ciático por iatro-
mas se observa a incapacidade para lesão por auto-mutilação genia, devido a injeções epidurais. Os

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 243


Capítulo 25.4 – Afecções do neurônio motor inferior. Neuropatias traumáticas

sinais podem ser bilaterais ou lateralizados e, quando a medulares S1-S3), que fornece a inervação sensoriomotora
apresentação é assimétrica, pode se apresentar como uma dos esfíncteres anal e uretral, e a sensibilidade do períneo e
verdadeira mononeuropatia 49. Os sinais clínicos associados dos órgãos genitais; do nervos pélvicos (com a mesma ori-
com a alteração das estruturas que formam a cauda equina gem no nervo pudendo), que fornece a inervação parassim-
dependem fundamentalmente da localização e da extensão pática do reto, das genitálias e do músculo detrusor da
da lesão. Se traduzem principalmente em disfunção dos es- bexiga; e dos nervos caudais (sensoriomotores da cauda).
fíncteres, podendo existir algumas alterações nos membros Deficiências que ás vezes são observadas nos membros pél-
pélvicos devido ao comprometimento das 2 últimas raízes vicos resultam do comprometimento secundário do nervo
que formam parte do nervo ciático. Incluem ataxia; para- ciático (geralmente por tração ou hemorragia) e costumam
paresia com deficiência de sensibilidade dolorosa nos locais ser de moderadas a leves. Os animais afetados apresentam
inervados pelo ciático e pelo pudendo; paralisia de cauda, geralmente molhada
depressão da propriocepção cons- e suja por fezes (Figura 14). Cos-
ciente; diminuição do reflexo de tuma haver ausência da sensibili-
flexão, do reflexo ciático e do tibial dade a partir do local da lesão. Se a
cranial, com normalidade ou pseu- irrigação também é afetada se pro-
do hiperreflexia do reflexo patelar; duz necrose ou gangrena caudal-
diminuição da ausência do tônus e mente ao local afetado.
dos reflexos do esfíncter anal e ato- Imediatamente depois da lesão al-
nia vesical (por hipotonia do guns animais podem apresentar ata-
músculo uretral e hipofunção do xia dos membros pélvicos e
músculo detrusor, que se manifes- alterações nos reflexos perineais.
tam pelo esvaziamento incontrolado A
Este quadro, se não houver uma
da bexiga quando, por exemplo, se mielomalácia hemorrágica ascen-
realiza a palpação abdominal ou se dente, é transitório e se resolve em
comprime o abdômen para carregar alguns dias, de forma espontânea ou
o animal); alterações na sensibili- com ajuda terapêutica 44.
dade do períneo (desde hipoestesia O diagnóstico se baseia na anam-
até hiperestesia); atrofia dos mús- nese, no exame neurológico, radio-
culos da “garupa” e da coxa; e pa- grafias simples da coluna vertebral
ralisia da cauda. Pela função do ou imagens de alta complexidade,
nervo femoral estar preservada o como tomografia computadorizada
animal é capaz de suportar o peso ou ressonância magnética. Os testes
do seu corpo sobre seus membros. eletrodiagnósticos podem contribuir
Quando a lesão afeta exclusiva- para avaliar a extensão e a gravidade
mente a articulação lombossacra os da lesão 16,42,49.
sinais clínicos predominantes esta- O tratamento consiste em esta-
rão associados a disfunção dos ner- B bilizar cirurgicamente a fratura ou
vos pudendo, pélvicos e caudais. a luxação, quando é possível. Em
As funções do nervo ciático serão caso de trauma sacrococcígeo ge-
ligeiramente afetadas, já que ape- ralmente é utilizado um tratamento
nas uma de suas raízes estará en- conservador, embora às vezes seja
volvida. Portanto a locomoção não necessário amputar a cauda para
será tão prejudicada como a mic- que se mantenha a higiene e se
ção e a defecação; o território so- evite uma tração adicional das raí-
C
mático que mostrará alterações de zes nervosas 6,19.
sensibilidade será o períneo e a A severidade das deficiências
Figura 14 – A figura mostra um gato que so-
cauda 44. freu traumatismo por tração da cauda. A)
neurológicas detectadas podem ser
As lesões da região sacrocaudal Observe a cauda caída e manchada de utilizadas como uma guia para o
são particularmente frequentes nos urina, e a marcha plantígrada; B) Observe a prognóstico. Estudos clínicos rea-
gatos 44,49. As causas habituais são hipotonia do esfíncter anal; C) Radiografia la- lizados em gatos descrevem que a
traumatismos de diversos tipos (tra- tero-lateral simples que mostra uma impac- recuperação pode variar de 100% a
ção violenta da cauda, acidentes de tação sacrocaudal. 50% de acordo a seguinte ordem de
carro, mordidas, disparos), e os si- Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diag- comprometimento neurológico: a)
nais clínicos predominantes provêm nóstico neurológico para el veterinario clínico. deficiência dos nervos caudais so-
Buenos Aires: Inter-Médica, 2014. ISBN: 978-950-
do comprometimento do nervo pu- 555-424-9. Publicado com autorização de Edito- mente (envolvimento da cauda);
dendo (com origem nos segmentos rial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino b) deficiência dos nervos caudais

244 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.4 – Afecções do neurônio motor inferior. Neuropatias traumáticas

associado a retenção urinária; c) deficiência dos nervos felino apresentam um quadro de início agudo de parapa-
caudais associado a retenção urinária, com diminuição do resia/plegia, com afecção mais severa da parte distal do
reflexo anal e da sensibilidade perineal; d) deficiência dos membro (Figura 15). Embora não seja frequente, o re-
nervos caudais associados a retenção urinária, com dimi- flexo patelar pode estar preservado, assim como a flexão
nuição/ausência do reflexo anal e da sensibilidade perineal, e a extensão do quadril e do tarso 35. A sensação de dor
somado com a diminuição da tonicidade do músculo ure- está normalmente ausente nas zonas autônomas cutâneas,
tral 19. A avaliação da sensibilidade nociceptiva na base da embora os músculos distais do membro se encontrem in-
cauda é um método simples para prever a recuperação da flamados e dolorosos. O pulso femoral é pobre ou ausente,
continência urinária voluntária. Sua ausência, embora não e as extremidades se encontram frias; os coxins plantares
exclua a possibilidade de recuperação, é de pior prognós- se encontram cianóticas ou pálidas (Figura 16), e o leito
tico. De acordo com um estudo, todos os gatos com sensi- ungueal normalmente não sangra quando se corta a unha
bilidade conservada na base da cauda recuperaram a (Figura 17). A paresia dos membros torácicos pode estar
micção voluntária em aproximadamente 3 dias depois do presente sozinha ou em combinação com as deficiências
evento traumático, enquanto 40% dos gatos sem sensibili- dos membros pélvicos 55.
dade não recuperaram a micção voluntária aos 30 dias 61. O diagnóstico se baseia na história clínica típica; a
Nos gatos, a neuromiopatia isquêmica deve ser consi- aparição aguda ou subaguda de sinais de motoneurônio in-
derada no diagnóstico diferencial dos traumatismos do ferior sem pulso femoral, palidez dos tecidos e extremida-
plexo lombossacro, pela aparição aguda e a dor no início des frias associadas a dor muscular apresentam uma alta
do quadro clínico. As que se observam mais frequente- suspeita de neuromiopatia isquêmica 7,26,56. É possível de-
mente são o tromboembolismo arterial felino e a “síndrome monstrar a diminuição do fluxo sanguíneo por meio de ul-
do gato preso na janela”. Embora, sejam neuromiopatias, trassonografia Doppler ou da angiografia. Dependendo do
as incluiremos nesta seção por suas características clínicas grau de oclusão vascular e o grau de lesão do nervo e do
iniciais e sua progressão. músculo, alguns gatos podem recuperar a função com o de-
O tromboembolismo arterial felino é uma neuromiopatia correr do tempo, no caso de não haver ocorrido uma oclusão
isquêmica produzida por uma oclusão vascular secundária à total 30. Para as oclusões totais, a terapia médica usando agen-
tromboembolismo; é um quadro clínico frequente em gatos tes trombolíticos (como ativador do plasminogênio tecidual
cardiopatas 30. A maioria dos animais afetados tem um quadro e estreptoquinase), assim como a terapia cirúrgica, não tem
cardiológico de base, incluindo cardiomiopatia hipertrófica, apresentado muito êxito. Mesmo que a função neurológica
dilatada, restritiva ou não classificada. O êmbolo geralmente seja restaurada, o prognóstico é reservado a grave, pois mui-
se origina de um trombo situado no átrio esquerdo ou no ven- tos animais apresentam episódio recorrentes de doença trom-
trículo, e na maioria das vezes é deslocado para alojar-se na boembólica, mesmo sob tratamento com anticoagulantes
trifurcação da aorta abdominal, provocando sinais neuroló-
gicos nos membros pélvicos; embora seja menos frequente,
também pode ocluir a artéria braquial 19.
O tromboembolismo arterial felino foi comunicado em
menos de 1% da população felina 7,13,36,39,55, mas ocorre
entre 13-48% dos gatos com cardiomiopatias de distintos
tipos 37,39,45,50,55,62; afeta ambos os membros em 23-89% dos
animais afetados 39,52,55.
A neuromiopatia dos membros pélvicos nos gatos tam-
bém pode ser provocada por oclusão vascular secundária a A
corpos estranhos 32,68, trombocitose paraneoplásica 32, ou
embolização arterial periférica de um adenocarcinoma 60.
Para que ocorra a enfermidade tromboembólica e a is-
quemia distal, além da oclusão arterial, parece ser neces-
sária a inibição secundária do fluxo sanguíneo colateral
(proveniente das artérias espinhais e epaxiais), provocada
pela liberação de substâncias vasoativas locais. A isquemia
resulta em uma neuropatia caracterizada por desmieliniza-
B
ção e degeneração axonal nos ⅔ distais do membro. No in-
terior do fascículo nervoso as fibras centrais parecem ser
mais susceptíveis que as periféricas. Adicionalmente, uma Figura 15 – A) Gato doméstico de pelo longo, 10 anos de
miopatia isquêmica com necrose de miofibras contribui na idade com um quadro de paraplegia aguda; B) Imagem da
apresentação clínica, afetando mais severamente os mús- necropsia, mostrando a presença de um coágulo na bifur-
culos da parte cranial da tíbia 35. cação da artéria aorta.
A maioria dos gatos com tromboembolismo arterial Fonte: Imagem cedida gentilmente pelo dr. Carlos Mucha

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 245


Capítulo 25.4 – Afecções do neurônio motor inferior. Neuropatias traumáticas

como a aspirina, heparina e warfarina, e sob tratamento da é produzida quando os gatos se liberam da janela 20.
enfermidade cardíaca subjacente 3,13,36,50,55. A taxa de sobre- O prognóstico é desfavorável caso não se observe sinais
vivência, independente do método terapêutico utilizado, de recuperação funcional nas primeiras 24 a 48 horas 38. Em
varia de 0 a 50% 7,36,39,46,47,48,50,52,55,65,67. Os gatos que sobrevi- um estudo retrospectivo de 98 casos a taxa de mortalidade
vem têm uma sobrevivência de 6 a 11,5 meses 36, e a morte foi de 29% 20.
ocorre por insuficiência cardíaca congestiva 55.
A síndrome do gato preso na janela é uma neuropatia TRAUMATISMO DO NERVO CIÁTICO
isquêmica traumática associada ao aprisionamento em um O nervo ciático se origina nos segmentos medulares
tipo de janela basculante 27,38. Ocorre quando o gato ten- desde L6 a S1, contido nas vértebras L4-L5; suas raízes
tando entrar ou sair pela janela, fica preso a nível lombar percorrem sobre os discos intervertebrais L5-L6, L6-L7 e
entre o arco costal e a pelve, com os membros pélvicos sem L7-S1 para emergir pelos forames correspondentes 43. O
apoio. Ao tentar libertar-se sem êxito, fica ainda mais preso nervo ciático tem um curso intrapélvico e outro extrapél-
na janela, que exerce um efeito traumático por pressão em vico. Desde a região da garupa passa para a parte caudal
músculos, órgãos internos, aorta abdominal, coluna vertebral da coxa por detrás da articulação coxofemoral. Aproxima-
e medula espinhal. Nos casos mais severos, ocorre uma pa- damente no nível da articulação femoro-tibio-patelar se
raplegia, com os membros pélvicos frios e insensíveis, o que divide nos nervos fibular comum e tibial.
se assemelha ao quadro clínico apresentado no trombo- As principais causas de lesões do nervo ciático da região
embolismo arterial felino. Também fica evidente uma intensa proximal a articulação femoro-tibio-patelar são fraturas pél-
dor abdominal e paravertebral lombar. Os órgãos internos vicas e sacras (Figura 18) 23,24. Outras causas incluem
(especialmente bexiga, baço e fígado) podem sofrer danos, luxação coxofemoral, iatrogênicas (cirurgias ou injeções
e fenômenos necróticos podem aparecer sobre o tecido intramusculares) e mordidas 19,23. As causas mais frequentes
adiposo abdominal e sobre a musculatura paravertebral.
Os sinais neurológicos aparecem como consequência da
compressão da aorta abdominal, com os consequentes fe-
nômenos isquêmicos neuromusculares dos membros pélvi-
cos e últimos segmentos medulares. Incluindo hipotermia,
dor nos membros pélvicos, abdômen e região lombar, infla-
mação dos músculos dos membros pélvicos, extremidades
B
frias, pulso femoral fraco ou ausente, paraparesia/plegia e
diminuição ou ausência de dor profunda nos membros pél-
vicos. A gravidade dos sinais clínicos é proporcional A
ao tempo que durou a compressão. As alterações bioquí-
micas mais consistentes é a elevação da CPK e da ALT e C
hiperpotassemia moderada devido a lesão de reperfusão que
Fernando Carlos Pellegrino

Figura 16 – O tromboembolismo Figura 17 – Ausência


arterial felino altera a qualidade de sangramento no lei-
da irrigação sanguínea aos mem- to ungueal após cortar Figura 18 – A) cão macho, mestiço, com síndrome da
bros pélvicos, provocando para- a unha em um gato com cauda equina devido a um traumatismo. Observe o posi-
paresia ou paraplegia. A figura tromboembolismo arte- cionamento do tarso e a dificuldade locomotora devido ao
compara um dos membros torá- rial felino comprometimento da última raiz que faz parte do nervo
cicos (MT) de um gato macho, ciático; B) Esfíncter anal dilatado e hipotônico, devido ao
pelo longo doméstico com irriga- comprometimento das raízes do nervo pudendo; C) Radio-
ção normal, com um de seus grafia simples latero-lateral que mostra fratura e descida
membros pélvicos (MP), privado do teto do sacro, que comprime o canal vertebral.
de irrigação devido a um trom- Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neuro-
boembolismo ilíaco. lógico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica,
Fonte: Imagem cedida gentilmente 2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de
pelo dr. Carlos Mucha Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino

246 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.4 – Afecções do neurônio motor inferior. Neuropatias traumáticas

de lesões na região distal da articulação femoro-tibio-patelar quentes que os


são fraturas ou procedimentos cirúrgicos nesta região. Em do nervo ciático.
função do tipo de lesão se pode produzir desde uma com- A causa mais co-
pressão do nervo devido a um hematoma, fibrose ou abcesso mum é uma so-
até uma tração com axonotmese secundária, ou neu- breextensão da
rotmese 49. articulação coxo-
Os sinais clínicos dependem do grau da lesão, com mo- femoral, com a
noparesia ou monoplegia e alterações da sensibilidade no lesão resultante
local de inervação correspondente ao nervo ciático, tibial do nervo femoral
ou fibular. e do músculo
Para atingir o diagnóstico da neuropatia é preciso reali- iliopsoas. Tam- Figura 20 – A foto mostra a neurorra-
zar uma avaliação neurológica cuidadosa e sérica, pois na bém pode ocorrer fia do nervo ciático, que tinha sido
maioria dos casos existem lesões ortopédicas associadas. em animais que parcialmente seccionada após uma
Para confirmar o comprometimento neurológico podem ser ficam presos, por cirurgia por uma fratura proximal do
necessários outros testes, tais como diagnóstico por ima- exemplo, sob a fêmur.
gem e eletroneurodiagnóstico 49. porta da garagem Fonte: gentilmente cedida pelo dr. Alejan-
dro Carranza
O tratamento, quando se suspeita de uma compressão de ou em uma ja-
qualquer tipo, especialmente por trauma iatrogênico, consiste nela. Muitas vezes também ocorre o comprometimento si-
na exploração cirúrgica e a consequente descompressão do multâneo do músculo obturador, que tem uma trajetória
nervo (Figura 19) ou reparação (neurorrafia) (Figura 20), proximal similar 49. Nestes casos ocorre uma obstrução do
conforme a necessidade. Em caso de lesões secundárias a fluxo sanguíneo com consequente lesão isquêmica no mús-
fraturas se recomenda a estabilização cirúrgica o mais rápido culo, nervo e/ou medula espinhal 23.
possível para evitar danos maiores sobre o tecido nervoso. Os sinais clínicos consistem em uma monoparesia que
Foi descrito a realização de enxertos nervosos, como o en- produz uma incapacidade de suportar o peso do corpo sobre
xerto safeno em um caso de neurotmese do ciático. O prog- a extremidade afetada. O animal apresenta um tônus exten-
nóstico depende do grau da lesão: nos casos em que não sor diminuído e caminha com a articulação femoro-tibio-
existe sensibilidade nociceptiva é reservado a grave 49. patelar flexionada. O reflexo patelar está ausentes e a flexão
do quadril é limitada. Poucos dias depois do evento traumá-
TRAUMATISMO DO NERVO tico se evidência atrofia do músculo quadríceps femoral 49.
FEMORAL O diagnóstico, tratamento e prognóstico são semelhan-
O nervo femoral se origina nos segmentos medulares tes às das outras neuropatias traumáticas.
L4-L6 (às vezes L3), contidos nas vértebras L3 e L4.
Suas raízes percorrem sobre os discos intervertebrais L3- Referências
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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 249


25
Afecções do neurônio motor inferior
25.5 – Miopatias degenerativas

Fernando Carlos Pellegrino

O
músculo esquelético é o responsável por conver- As miofibrilas, por sua vez, são compostas por uma série
ter o impulso elétrico que chega de um motoneu- de miofilamentos grossos (miosina) e finos (actina F, tro-
rônio à junção neuromuscular em força mecânica, ponina e tropomiosina). Estes grupos de filamentos se so-
por meio da contração muscular. É composto por grupos de brepõem até certo ponto e dão ao músculo o seu aspecto
fibras musculares denominadas miofibras. Uma miofibra é estriado característico. A estriação da miofibrila se deve a
uma única célula muscular multinucleada rodeada por uma repetição de unidades iguais denominadas sarcômeros
membrana celular denominada sarcolema. Um conjunto (Figura 2). Cada miofibrila é composta de aproximada-
de miofibras agrupadas forma um fascículo muscular. mente 1500 filamentos de miosina e 3000 filamentos de ac-
Cada miofibra contém numerosas miofibrilas (Figura 1). tina, que são os polímeros proteicos responsáveis pela
contração muscular 58 (Figura 3).
miofibrila
As miofibras são delimitadas pelo sarcolema, que se in-
vagina entre elas para formar os túbulos transversos ou
túbulos T. Estas estruturas estão separadas do retículo sar-
coplasmático (RS), que também envolve as miofibras e
núcleo
constitui um importante depósito intracelular de Ca 2+
(Figura 4). O sarcolema é uma estrutura complexa, e recen-
Figura 1 – Célula muscular esquelética (fibra muscular ou
miofibra). Em um ser humano adulto, estas grandes célu- temente foram identificadas alterações de alguns de seus
las multinucleadas têm 50 microns de diâmetro e podem componentes, que levam a certas formas de distrofias mus-
atingir vários centímetros de comprimento. culares congênitas. Possui a capacidade de resistir às trações
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neuro- produzidas no processo mecânico da contração muscular.
lógico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica, A resistência é dada pela grande quantidade de tecido elás-
2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de
tico presente e por proteínas de disposição definida que se
Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino
organizam e interagem entre elas,
formando o chamado complexo
A B distrofina-glicoproteínas (CDG). O
disco Z banda escura banda clara CDG proporciona um vínculo estru-
tural entre a matriz extracelular e o
citoesqueleto das células musculares.
sarcômero – 2 µm As proteínas que o formam estão or-
ganizadas estruturalmente em três
banda clara banda escura banda clara subcomplexos diferentes: as distro-
{
{
{

C actina miosina
finas e outras proteínas citoesquelé-
ticas associadas, os distroglicanos, e
o complexo sarcoglicano-sarcospan.
sarcômero – 2 µm disco Z Linha M disco Z A distrofina encontra-se na superfície
Figura 2 – Miofibrilas musculares esqueléticas. A) Micrografia eletrônica ampliada citoplasmática do sarcolema, lugar
de uma secção longitudinal através de uma célula de músculo esquelético de coe- em que entra em contato com a
lho, mostrando os padrões regulares de estrias transversais. B) Detalhe de uma actina F, componente microestrutu-
célula muscular esquelética, mostrando porções de duas miofibrilas adjacentes e ral dos miócitos. Também se en-
a definição de um sarcômero. C) Diagrama esquemático de um único sarcômero, contra firmemente entrelaçada
que mostra a origem das faixas claras e escuras que são vistas na micrografia ele- com um complexo proteico da
trônica. Os discos Z, cada um na extremidade do sarcômero, são locais de inserção membrana muscular, que é conhe-
para os filamentos finos (filamentos de actina); a linha M ou a linha média, constitui cido como proteínas e glicoproteí-
a localização de proteínas específicas que unem entre si os filamentos grossos de
nas relacionadas a distrofina, entre
miosina. A larga faixa verde, que marca a localização dos filamentos espessos, às
as quais se destacam a proteína
vezes é chamada de banda A, porque parece anisotrópica na luz polarizada. A fina
faixa vermelha, que contêm apenas filamentos finos e contém uma quantidade adalina e a glicoproteína distrogli-
menor de proteínas, é relativamente isotrópica á luz polarizada e, por isso, às vezes cano. Essa última se encontra por
é chamada de faixa I. fora da célula muscular, unindo o
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neurológico para el veterinario sarcolema com a matriz extracelu-
clínico. Buenos Aires: Inter-Médica, 2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com au- lar ao se fixar na subunidade α2 da
torização de Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino
laminina 2, chamada merosina.

250 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.5 – Afecções do neurônio motor inferior. Miopatias degenerativas

durante o exercício contínuo. Os ácidos graxos do sangue


constituem a principal fonte de energia. Se derivam prin-
cipalmente do tecido adiposo e das reservas intracelulares
filamento grosso de lipídeos. Os carboidratos se metabolizam durante as eta-
filamento fino (miosina) pas aeróbicas e anaeróbicas do metabolismo, e os ácidos
(actina) disco Z graxos somente de maneira aeróbica 58,63,69.
O músculo em repouso recebe aproximadamente 70%
de sua energia a partir da oxidação dos ácidos graxos de ca-
deia longa. Durante um curto período de exercício intenso
o músculo utiliza carboidratos derivados da reserva de gli-
cogênio; a miofosforilase é a enzima que inicia o metabo-
Figura 3 – Modelo de filamento deslizante para contração lismo do glicogênio. Durante o exercício aeróbio prolongado
muscular. Os filamentos de actina e miosina deslizam um o sangue flui para o músculo e aumenta a disponibilidade
sobre o outro sem encurtarem. de glicose e ácidos graxos. Inicialmente, a principal fonte
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neuro- de energia é a glicose; posteriormente, ao se esgotar as re-
lógico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica, servas de glicogênio, a energia é derivada da oxidação dos
2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de ácidos graxos. Portanto, a insuficiência muscular durante
Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino
certa etapa do exercício é um aspecto prognóstico do tipo
Desta maneira o CDG funciona como uma ligação trans- de falha energética. A concentração sanguínea crescente de
sarcolémica entre o esqueleto sub sarcolémico e a matriz ex- 𝛃-hidroxibutirato reflete a oxidação crescente dos ácidos
tracelular (Figura 5), e provêm ao sarcolema um suporte graxos, e o aumento do lactato sanguíneo reflete o metabo-
mecânico durante a contração das miofibras 58,63. lismo anaeróbio da glicose. Os mecanismos oxidativos do
A eficiência e o rendimento do músculo depende de um citocromo são essenciais no metabolismo muscular, tanto
fornecimento constante de glicogênio, glicose e ácidos gra- aeróbio como anaeróbio 58,63,69.
xos, e das enzimas participantes em seu metabolismo. A Nos transtornos miopáticos, a alteração da membrana
energia química para a contração muscular deriva da hidró- muscular afeta sua função, reduzindo a quantidade de uni-
lise do trifosfato de adenosina (ATP) para bifosfato de ade- dades motoras funcionais. Deste modo, as unidades que
nosina (ADP). O ATP se restaura pela ação combinada da ainda conservam sua capacidade intacta recarregam seu tra-
fosfocreatina e o ADP. Estas reações são particularmente balho para manter a contração muscular, o que leva a sua
importantes durante o exercício curto e de alta intensidade. rápida fadiga no início do exercício, com a debilidade
Durante os períodos de atividade muscular prolongada a episódica subsequente. As miopatias podem ser produzidas
refosforilação requer disponibilidade de carboidratos, áci- por causas inflamatórias, como resultado da infiltração de
dos graxos e cetonas, que são catabolizados nas mitocôn- células inflamatórias no interior do músculo estriado, as-
drias. O glicogênio é a fonte sarcoplasmática principal de sociada ou não a uma causa subjacente; ou por causas não
carboidratos, embora a glicose sanguínea (produzida pela inflamatórias, normalmente de natureza degenerativa, que
gliconeogênese hepática) se mova livremente no interior e podem ser hereditárias e características de uma raça em
exterior das células musculares, conforme a necessidade, particular, ou adquiridas 58.
Miofibrila

A B
Miofibrilas
Canal de
liberação
de Ca2+
Sarcolema
Túbulos T
transversos
0,5 µm

Retículo
Túbulos transversos T Retículo sarcoplasmático
formados pela invagi- sarcoplasmático
nação do sarcolema

Figura 4 – Túbulos T e retículo sarcoplasmático. A) Desenho dos dois sistemas de membrana que liberam o sinal para
a contração muscular, desde a membrana plasmática da célula muscular até todas as miofibrilas na célula; B) Micro-
grafia eletrônica mostrando dois túbulos T. Observe a posição dos grandes canais de liberação de Ca2+ na membrana
do retículo sarcoplasmático; parecem pés quadrados que conectam a membrana dos túbulos T adjacentes.
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neurológico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica, 2014.
ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 251


Capítulo 25.5 – Afecções do neurônio motor inferior. Miopatias degenerativas

hereditária e familiar.
As DM foram descritas em detalhes
nos cães e gatos 74,81. Suas características
proteínas da membra basal laminina 2 (merosina) histológicas mais comuns consistem em
variações no tamanho das miofibras, in-
vasão macrofágica, necrose e substituição
distroglicanos do tecido muscular por tecido conjuntivo
sarcospan
extracelular e/ou adiposo. Alguns pesquisadores apli-
caram o termo DM a outros tipo de doen-
ças degenerativas do músculo, como a
sarcoglicanos intracelular que se observa pela deficiência de vita-
sintrofinas mina E e muitas enfermidades metabóli-
ofina cas hereditárias. Devido às diferenças na
distr
intensidade das alterações degenerativas
distrobrevina
e ao vigor das mudanças regenerativas,
atualmente se reserva o termo distrofia
citoesqueleto de para doença muscular puramente degene-
filamentos de actina rativa de tipo hereditário, designando-se
aos outros transtornos como miopatias ou
Figura 5 – Complexo distrofina-glicoproteína (CDG). O CDG proporciona um polimiopatias 2.
vínculo estrutural entre a matriz extracelular e o citoesqueleto das células Outras miopatias congênitas mais be-
musculares. As proteínas que o compõem estão estruturalmente organizadas
nignas e relativamente não progressivas
em três subcomplexos distintos: distrofinas e outras proteínas citoesqueléti-
cas associadas, os distroglicanos e o complexo sarcoglicano-sarcospan. A apresentam maiores dificuldades para a
distrofina se encontra na superfície citoplasmática do sarcolema, onde entra sua classificação, como a miopatia do
em contato com a actina F, componente microestrutural dos miócitos. Tam- bas tão (nemalínica), mitocondrial e
bém está fortemente entrelaçada com um complexo protéico da membrana as miopatias centronucleares clássicas.
muscular, que se conhece como proteínas e glicoproteínas relacionadas à Assim como as distrofias, são hereditá-
distrofina, dentre as quais destacam-se a proteína adalina e a glicoproteína rias, mas normalmente se classificam de
distroglicano. Essa última se encontra por fora da célula muscular e liga o forma separada pela sua evolução não
sarcolema com a matriz extracelular ao se fixar na subunidade α2 da laminina progressiva ou lentamente progressiva,
2, chamada merosina. Desta forma, o CDG funciona como uma ligação tran- sua histoquímica e sua ultraestrutura dis-
sarcolêmica entre o esqueleto subsarcolêmico e a matriz extracelular, e for-
tinta 2,44.
nece ao sarcolema um suporte mecânico durante a contração das miofibras.
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neurológico para el vete-
rinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica, 2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publi- Etiologia
cado com autorização de Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino Diferentes mutações genéticas que
codificam a proteína distrofina ou suas
Em seguida discutiremos: As distrofias musculares, par- proteínas associadas (por exemplo, α2 laminina, sarcogli-
ticularmente a distrofinopatia ligada ao cromossomo X e cano, miofilamentos de actina) provocam uma conformação
seus diferenciais: distrofia muscular hipertrófica felina, anormal do complexo distrofina-glicoproteína (CDG) pre-
distrofia muscular por deficiência de α2 laminina, distrofia sente na membrana muscular 44. CDG fornece ao sarcolema
muscular ligada a deficiência de sarcoglicanos e distroglica- um suporte mecânico durante a contração das miofibras. A
nos, distrofia miotônica, miopatias centronucleares, miopatia perda dos componentes do complexo proteico transmem-
nemalínica, miopatia de armazenamento de glicogênio; mio- branar e sua posterior desintegração torna o sarcolema sus-
patias por defeitos na oxidação dos ácidos graxos de cadeia ceptível aos desgastes ou rupturas durante a contração
longa, miopatias mitocondriais e síndrome do colapso indu- muscular, assim como ocorre nas distrofias 2,44,80.
zido por exercício. Embora a ausência de distrofina ou do complexo CDG
seja a causa mais comum de DM em humanos, caninos e
DISTROFIAS MUSCULARES felinos 74, têm sido identificadas, cada vez com mais fre-
Definição quência, outras deficiências proteicas nas DM humanas a
As distrofias musculares (DM) são um grupo de doenças nível do sarcolema (sarcoglicanos, disferlina e caveolina-3),
hereditárias, geneticamente determinadas, que produzem do citoesqueleto muscular (TRIM32 e calpaína 3), da ma-
uma degeneração progressiva dos músculos esqueléticos, triz celular (colágeno VI e α2 laminina), do sarcômero (te-
não associadas a alterações no sistema nervoso central ou letonina, titina, nebulina e miotilina), do núcleo (emerina,
aos nervos periféricos 11. Se caracterizam pela distribuição proteína se sobrevivência do neurônio motor, laminina A/C)
simétrica da debilidade e da atrofia do tecido muscular, pela e das vias de glicosilação (fukutina e proteína relacionada
preservação da sensibilidade e dos reflexos, e pela natureza a fukutina) 87. Em medicina veterinária foram descritas

252 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.5 – Afecções do neurônio motor inferior. Miopatias degenerativas

sarcoglicanopatias 73,74, e deficiência da α2 laminina em cães processo chamado lionização, em que um cromossomo X
79,80 e em gatos 3,53,64. da fêmea é inativado aleatoriamente no ínicio do desenvol-
vimento embrionário 44,46,79.
Prevalência
Em 1958 se documentou o primeiro caso de DM canina Manifestações clínicas
em um filhote macho de golden retriever 50. Desde então Os sinais clínicos geralmente se iniciam entre os 6 e
continuou a ser identificado em muitos outros filhotes ma- os 9 meses de idade 90, embora as lesões estejam presen-
chos desta raça, suspeitando-se de herança ligada ao cro- tes desde o nascimento. Alguns filhotes podem morrer
mossomo X, igual ao que ocorre na DM de Duchenne e na pouco tempo após o nascimento de forma fulminante 91.
DM de Becker dos humanos 38,39,88,89. As DM e distrofinopa- Os cães afetados são menos ativos que os outros, mani-
tias foram comunicadas também nas raças terrier irlandês 97, festam atraso no crescimento, anormalidades ambulato-
samoieda 65, malamute do Alaska 15, schnauzer miniatura 56, riais (marcha rígida, abdução dos cotovelos, “salto de
pastor belga variedade groenendael 92, fox terrier de pelo coelho” nos membros pélvicos) 39. O trismo mandibular
duro 31, rottweiler 101, braco alemão de pelo curto 72, rat ter- é um achado constante 90 associado a salivação, ambos
rier 98, welsh corgi pembroke 11,103, spitz japonês 33,34, cocker sinais causados pela hipertrofia dos músculos faríngeos
spaniel inglês 93, labrador retriever 6,8, old english sheepdog 99, e megaesôfago 39.
grande basset griffon da Vendeia 37, weimaraner 4, cavalier Os sinais clínicos são progressivos e os cães afetados
king charles spaniel 59, e em um mestiço de pastor ale- apresentam atrofia muscular, contrações que frequente-
mão73,74. Também foram relatados casos em gatos, embora mente levam a deformidades esqueléticas, debilidade gene-
mais esporadicamente 28,95. ralizada, cifose e postura plantígrada 74. Alguns grupos
Estas distrofias são hereditárias e podem ser autossômi- musculares desenvolvem uma pseudohipertrofia, que foi
cas, dominantes ou recessivas, ou relacionadas a uma he- atribuída ao depósito de tecido adiposo e conjuntivo 44. En-
rança ligada ao cromossomo X 80. A forma mais conhecida tretanto, ocorre uma verdadeira hipertrofia na porção cranial
está ligada a uma deficiência ou ausência de distrofina, lo- do músculo sartório 40 e na base da língua 74 que, somado a
calizada no cromossomo X 38,80. Também foi descrito sarco- hipertrofia do músculos faríngeos e ao megaesôfago pro-
glicanopatias em cães das raças boston terrier, cocker spaniel voca salivação, disfagia e regurgitação. A função respiratória
e chihuahuas 73,74 e em um gato europeu 71. Distroglinopatias pode estar comprometida e contribui na intolerância ao exer-
em gatos esfinge e devon-rex 48, e a DM congênita por defi- cício 44,74. A propriocepção e os reflexos espinhais são nor-
ciência de α2 laminina foi relatada em uma fêmea mestiça de mais, a menos que ocorra fibrose e contratura muscular 11,79,80.
cocker spaniel inglês e springer spaniel inglês 79,80, e em gatos No entanto, alguns autores afirmam que os reflexos, parti-
pelo curto doméstico, siames flame-point e maine coon 53,64. cularmente o patelar, são diminuídos ou ausentes 44. Even-
tualmente pode ocorrer insuficiência cardíaca 86. Os sinais
Fisiopatologia progridem lentamente até os 6 ou 12 meses de idade e ten-
Nessas patologias os defeitos do sarcolema permitem a dem a se estabilizar 11,44,72. Entretanto, os cães com DM
entrada de líquido e de Ca2+ extracelulares para a miofibra. maiores de 1 ano de idade desenvolvem fibrose miocárdica,
A entrada de Ca2+ ativa as proteases e aumenta a degrada- mais evidente na parede do ventrículo esquerdo, e com o
ção proteica, causando debilidade e subsequente degene- tempo tendem a apresentar cardiomiopatia dilatada 90.
ração muscular. Os defeitos da membrana e as alterações De forma característica, a distrofinopatia ligada ao cro-
da região subjacente da fibra explicam a perda de CPK e mossomo X se expressa clinicamente nos machos. Con-
outras enzimas musculares para o plasma 2. tudo, em um estudo foi demonstrado a ocorrência da
A DM mais comum e melhor descrita é a distrofinopatia expressão do fenótipo distrofinopático em fêmeas, algumas
ligada ao cromossomo X, e será descrita a seguir. delas com deficiência associada a α2 laminina. Por este mo-
tivo, a distrofia muscular deve ser suspeita em qualquer pa-
DISTROFINOPATIA LIGADA AO CROMOSSOMO X ciente jovem com história compatível, independente da
Esta forma de DM é similar a de Duchenne nos huma- raça ou sexo 80, embora sua ocorrência seja mais comum
nos 20,28,80, e o golden retriever é a raça em que foi melhor em machos de raças predispostas 86.
caracterizada 39,50. Os cães afetados, assim como os huma-
nos, apresentam uma diminuição da distrofina no sarco- Diagnóstico
lema. Essa deficiência está ligada ao cromossomo X, visto A suspeita da doença se obtém a partir da resenha (idade
que os machos que apresentam os sinais clínicos. Embora de início, raça e sexo) e os achados obtidos a partir do
as análises moleculares do gene da distrofia canina seja exame físico. No entanto, todos estes dados são inespecífi-
mais fácil por conta de seu grande tamanho, as mutações cos e podem corresponder a qualquer enfermidade neuro-
genéticas foram completamente caracterizadas somente na muscular.
raça golden retriever 72, braco alemão de pelo curto 72 e rott- A dosagem sérica de CPK pode estar extremamente au-
weiler 101. Foi descrito a existência de variações na expres- mentada nos primeiros dias de vida e persistir até o início
são fenotípica entre as fêmeas portadoras através de um dos sinais clínicos, principalmente em machos. Na EMG se

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 253


Capítulo 25.5 – Afecções do neurônio motor inferior. Miopatias degenerativas

observa a presença de descargas pseu- gatos 48. Os sarcoglicanos e distrogli-


domiotônicas ou miotônicas e poten- canos são uma parte importante do
ciais espontâneos esporádicos. As CDG da membrana muscular. Os si-
radiografias torácicas podem mostrar nais clínicos são variáveis, de início
a assimetria do diafragma, com acha- precoce, entre os 7 e os 9 meses de
tamento do pilar esquerdo ou desloca- idade. Os sinais clínicos da sarcogli-
mento ventral, que pode estar canopatia do boston terrier são seme-
acompanhado por hérnia hiatal 13. Na lhantes aos das distrofinopatias
biópsia, tem uma marcada variação (debilidade, atrofia muscular progres-
de tamanho das miofibras, necrose de Figura 6 – Gato macho, doméstico de siva, hipertrofia lingual e trismus
fibras com infiltrado de macrófagos, pelo curto de 4 meses de idade, com mandibular), enquanto que no cocker
regeneração, fibrose e mineralização. distrofia muscular devido à deficiência spaniel e no chihuahua consistem em
A análise imunohistoquímica pode de α2 laminina. Observe a atrofia muscu- intolerância ao exercício, atraso no
confirmar a ausência de distrofina. As lar e a rigidez generalizada. desenvolvimento e letargia 73,74. Nos
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del
provas genéticas em golden retriever gatos, os principais sinais clínicos
diagnóstico neurológico para el veterina-
confirmam a doença 72 e podem ser rio clínico. Buenos Aires: Inter-Médica, consistiram em dispneia, relutância
utilizadas para identificar portado- 2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado para se movimentar e debilidade ge-
res 5. com autorização de Editorial Inter-Médica neralizada 71. O diagnóstico definitivo
S.A e Fernado C. Pellegrino se baseia na história clínica, nas alte-
Diagnóstico diferencial rações histopatológicas e na confir-
No diagnóstico diferencial se deve considerar o resto mação da ausência de sarcoglicanos ou distroglicanos
das distrofias musculares e outras miopatias degenerativas, mediante a imunohistoquímica 69.
como as miopatias congênitas não distróficas (miopatias A distrofia miotônica é uma doença genética de herança
centronucleares, miopatia nemalínica) e as miopatias con- autossômica dominante que afeta os seres humanos 35,47, e
gênitas metabólicas. suspeita-se que possa afetar os cães 83,84. Nas pessoas, ge-
A distrofia muscular hipertrófica felina é uma distrofi- ralmente, se inicia durante a adolescência ou na juventude.
nopatia muito menos frequente do que a que afeta os cani- Os sinais clínicos consistem em uma sensação de rigidez
nos; o defeito genético específico não foi relatado nos gatos ocasionada pela dificuldade de relaxar os músculos depois
102. Os sinais clínicos principais consistem em hipertrofia de um movimento (miotonia), associada a uma destruição
muscular generalizada 28,95 e na presença de calcificações e diminuição de fibras musculares (distrofia), que ocasiona
na língua, associada a hipertrofia lingual 80. A idade de apa- a perda progressiva da força muscular e debilidade subse-
rição varia entre os 3 e 6 meses. A hipertrofia lingual e quente. Se observa dificuldade na expressão mímica por
diafragmática podem levar ao desenvolvimento de mega- comprometimento dos músculos faciais, bloqueio mandi-
esôfago e desidratação por ingestão insuficiente de água 24. bular, ptose palpebral e afecção distal dos membros 47. Pode
O diagnóstico definitivo se baseia nas alterações histopa- haver comprometimento cardíaco (distúrbios do ritmo ou
tológicas e na confirmação de ausência de distrofina me-
diante a imunohistoquímica.
A distrofia muscular por deficiência de α2 laminina foi
documentada em cães 79,80, e em gatos 3,53,64. A α2 liminina
ou merosina é uma glicoproteína da membrana basal das
fibras musculares e das células de Schwann, de modo que
os animais afetados geralmente apresentam uma neuromio-
patia, com alterações patológicas no músculo, nas raízes
nervosas e nos nervos periféricos 53. A doença é mais fre-
quente em gatos, e parece ser mais presente em gatos da
raça maine coon 64. Os sinais começam aproximadamente
aos 6 meses no gato e consistem em debilidade generali-
zada, atrofia muscular progressiva, diminuição dos reflexos
tendinosos e contrações severas que levam a rigidez gene- Figura 7 – Corte histológico (coloração HE) do músculo bí-
ralizada (Figura 6). O diagnóstico definitivo se baseia nas ceps femoral do gato correspondente à figura 6. Observa-
alterações histopatológicas (Figura 7) e na confirmação da se necrose das fibras musculares, variação no tamanho
ausência da α2 laminina mediante a imunohistoquímica 69. das miofibras sobreviventes e marcada proliferação de te-
A distrofia muscular ligada a deficiência de sarcoglica- cido conjuntivo.
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neuro-
nos e distroglicanos é pouco frequente em veterinária. lógico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica,
Foram comunicados poucos casos de sarcoglicanopatias 2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de
em cães 73,74 e em gatos 71, e um de distroglicanopatia em Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino

254 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.5 – Afecções do neurônio motor inferior. Miopatias degenerativas

da condução cardíaca) 51, e outras manifestações por afec- hipometria). Foi relatado que os cães afetados por qualquer
ção do SNC (distúrbios do sono e depressão), do trato di- uma das variantes da MCN apresentam alteração signifi-
gestivo (distúrbios da deglutição), do metabolismo cativa na prova de caminhada de 6 minutos, embora me-
(diabetes), ou outros órgãos (calvíce, esterilidade). A bió- nores que nos cães afetados por insuficiência cardíaca
psia muscular revela atrofia seletiva das fibras tipo 1 e au- congestiva, fibrose pulmonar ou obesidade 18. Entretanto,
mento de núcleos centrais. Em alguns casos também foi estes sinais clínicos de doença muscular são absolutamente
observado hipertrofia de fibras tipo 2. Caracteristicamente inespecíficos e não devem ser usados para o diagnóstico de
não há necrose. Estudos histopatológicos cardíacos mos- um transtorno em particular. Se a atividade sérica de CPK
tram substituição de miocardio e do sistema excitatório está marcadamente aumentada, é mais provável que se trate
condutor por tecido fibroso e adiposo 35. de uma distrofia do que uma miopatia congênita; neste caso,
Nos cães, a distrofia miotônica é suspeitada nas raças a interpretação das biópsias musculares processadas por um
rhodesian 83 e no boxer 84, mas ainda não foi possível con- laboratório experiente em diagnóstico de enfermidades neu-
firmar. Os sinais clínicos se desenvolvem entre os 3 e 6 romusculares é de suma importância, uma vez que as mio-
meses de idade na primeira e 28 meses na última. Ambos patias congênitas se definem pela presença de alterações
os animais apresentaram atrofia muscular, enquanto o rho- anatômicas específicas em secções de amostras de músculo
desian também apresentava disfagia, que o impedia de se congelado 25. A identificação de miofibras pequenas com o
alimentar. O EMG mostrou descargas miotônicas. Também núcleo posicionado centralmente, semelhante a miotubos, e
foi descrito um quadro em potros, muito similar ao obser- a presença de fibras “em colar”, na ausência de alterações
vado em humanos 68. distróficas, permite o diagnóstico de MCN autossômica ou
As miopatias centronucleares (MCN) são um grupo de XLMTM. Neste caso, a idade de início e o ritmo de progres-
miopatias congênitas não distróficas, bem definidas do são são os dados clínicos que permitem diferenciar entre
ponto de vista histopatológico, que se caracterizam por pos- ambos e devem ser usados para orientar a priorização das
suir uma elevada proporção de miofibras pequenas com o provas genéticas. XLMTM é restrito a machos, e os animais
núcleo localizado centralmente, semelhante aos miotubos, afetados apresentam uma debilidade muscular severa e pro-
e pela presença de fibras “em colar” 7,52,60. As MCN clássi- gressiva, que começa tipicamente nos primeiros 2 meses de
cas nos humanos podem ser resultado de mutações de ca- vida, e requer eutanásia aos 4 ou 5 meses. Em contraste, os
racterísticas autossômicas dominantes em uma parte do cães com as mutações PTPLA e BIN1 apresentam fenótipos
gene DNM 29, enquanto os casos autossômicos recessivos clínicos similares, tendem a manifestar os sinais clínicos em
podem ser devido a mutações nos genes BINI 66 e RYRI 100, uma idade mais avançada e com frequência sobrevivem com
que codificam a anfifisina 2 e o receptor de rianodina, res- uma boa qualidade de vida 45,49. A MCN autossômica pode
pectivamente. Um subgrupo importante e bem definido afetar tanto machos como fêmeas, geralmente de mais de 3
dentro das MCN é a miopatia miotubular ligada ao cromos- meses de idade e os sinais clínicos estão relacionados com
somo X (de sigla em inglês, XLMTM), associada a muta- alterações de postura e da marcha, com diminuição do re-
ções no gene MTM1 42, que codifica a miotobularina. flexo patelar, que podem piorar com o frio e com exercício.
Em medicina veterinária, a primeira mutação associada O prognóstico tende a ser melhor uma vez que a enfermidade
com a MCN clássica foi identificada em um labrador se estabiliza, ao redor de um ano de idade, muitas vezes com
jovem, com uma mutação no gene PTPLA, de caracterís- padrões aceitáveis 11,80. Embora não exista tratamento espe-
tica autossômica recessiva 57; foi denominada miopatia cen- cífico, a suplementação com L-carnitina (50mg/Kg, cada 12
tronuclear do labrador; se identificou a mutação específica horas)pode ser benéfica para melhorar a força muscular 80.
e se encontra disponível uma prova genética. Embora não Consequentemente, o diagnóstico não deve ser feito
se tenha identificado as mutações específicas, a MCN tam- com base exclusivamente no exame físico, mas também re-
bém foi encontrada em cães jovens da raça manchester quer avaliação histopatológica com o fim de se selecionar
terrier e border collie 26. Em 2013 se relatou uma MCN pro- as provas genéticas adequadas para identificar a etiologia 82.
gressiva em um dogue alemão jovem, associada a uma mu- A miopatia nemalínica (ou filamentosa) é uma rara en-
tação do gene BINI 10. Na atualidade, estas variantes se fermidade congênita, provavelmente hereditária, que se
denominam formas autossômicas da MCN 82. caracteriza fundamentalmente pela presença de corpos ne-
Em cães machos jovens da raça labrador 21 e rottweiler 82 malínicos (bastões de forma filamentosa) na biópsia mus-
se relatou uma MCN muito semelhante ao XLMTM dos cular. Foi relatada esporadicamente em gatos 19 e cães da
humanos; em ambos os casos se identificou uma mutação raça border collie e schipperke 22. A mera presença de cor-
sem sentido no gene MTM 1. As alterações patológicas na pos nemalínicos não é patognomônico da miopatia; tam-
biópsia musculares foram consistentes com uma miopatia bém foi descrita associada a outras enfermidades como
miotubular, e na atualidade se denomina miopatia miotu- hipotireoidismo e hiperadrenocorticismo 22,70. A aparição de
bular ligada ao cromossomo X 82. sinais clínicos é variável. Nos gatos a doença se manifesta
A apresentação clínica das formas autossômicas da entre os 6 meses e os 2 anos de idade, e consiste em debi-
MCN ou da variante XLMTM em cães jovens é de natu- lidade generalizada, tremores, perda de peso e atrofia mus-
reza miopatica (debilidade generalizada, atrofia muscular, cular progressiva com hiporreflexia em alguns casos 19,41.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 255


Capítulo 25.5 – Afecções do neurônio motor inferior. Miopatias degenerativas

Nos cães os sinais clínicos se iniciam entre os 10 meses e mutações genéticas; em medicina veterinária foi comuni-
os 10 anos de idade e consistem em tremores nos membros, cada em várias raças. No clumber spaniel 14 e Sussex Spa-
atrofia muscular progressiva com perda do reflexo patelar niel 1 foi descrita uma mutação na enzima mitocondrial
e até perda do reflexo flexor em todos os membros 22. Os piruvato desidrogenase fosfatase, responsável pelo meta-
níveis de CPK variam da normalidade a extremamente bolismo da glicose no ciclo de Krebs; os animais afetados
aumentados. O diagnóstico se baseia na resenha, anamnese são homozigotos para esta mutação. Existe uma prova ge-
e no achado de corpos nemalínicos. Não existe um trata- nética disponível 1,14. No old english sheepdog também se
mento específico, e o prognóstico é de reservado a grave 69. relatou uma miopatia mitocondrial causada por uma defi-
As miopatias congênitas metabólicas incluem as doen- ciência da enzima citocromo c oxidase, e uma redução na
ças por armazenamento de glicogênio, a doença por acú- utilização do piruvato 12. Além disso, foram descritas outras
mulo de lipídeos e as miopatias mitocondriais. As miopatias mitocondriais não classificadas em pastor ale-
deficiências enzimáticas que provocam o acúmulo anormal mão 55, jack russel terrier 54, springer spaniel 85, labrador 17
de glicogênio (miopatias de armazenamento de glicogênio) e griffon de aponte de pelo duro ou griffon de korthals 76.
são raras na medicina veterinária. Os sinais clínicos se ma- Os sinais clínicos normalmente se iniciam antes de um ano
nifestam antes de um ano de idade e, além da debilidade de idade. O principal sinal, e as vezes o único, é a intole-
muscular generalizada e progressiva, inclui megaesôfago, rância ao exercício. As vezes também se observa marcha
disfonia e transtorno em outros órgãos como hepatomega- rígida com hipometria e atrofia ou hipotonia muscular 62.
lia, anormalidades cardíacas e períodos de colapso hipogli- O diagnóstico de uma miopatia mitocondrial se baseia prin-
cêmico 69. Em função da enzima deficitária foram descritos cipalmente na análise do piruvato, lactato e relação piru-
distintos tipos de gliconeogênese associada a miopatia em vato/lactato antes e depois do exercício. A biópsia muscular
cães e gatos. A deficiência de glicose-6-fosfatase provoca pode mostrar acúmulos anormais inespecíficos nas mito-
a glicogênese tipo Ia (doença de Von Gierke) e foi relata condrial, mas o achado mais característico é a presença de
em maltês 36. A deficiência de α-1,4glicosidase provoca a depósitos subsarcolemicos e intermiofibrilares (“fibras ver-
glicogênese tipo II (doeça de Pompe), e foi relatado no pas- melhas rasgadas”) que apresentam marcas especiais 69. O
tor finlandês da lapônia 96. A deficiência de amilo-1,6- tratamento é sintomático e consiste na administração de
glicosidase provoca a glicogênese tipo IIIa (doença de uma dieta rica em lipídeos e pobre em carboidratos e pro-
Cori) e foi comunicada em pastor alemão 16, akita inu e teínas, além de riboflavina, coenzima Q e L-carnitina 78. O
curly coated retriever 32. A deficiência de enzimas desrami- prognóstico é variável, já que em alguns animais os sinais
ficadora provoca a glicogênese tipo IV (doença de Ander- podem se estabilizar temporariamente.
sen) e foi comunicada em gatos da raça norueguês da A síndrome do colapso induzido pelo exercício no la-
floresta 27. A deficiência de fosfofrutoquinase provoca a gli- brador é uma doença hereditária, provavelmente de trans-
cogênese tipo VII (doença de Tarui), e foi comunicada em missão autossômica recessiva, que foi descrita no
springer spaniel inglês e em cocker spaniel americano 29. diagnóstico diferencial de miastenia gravis adquirida (ver
As miopatias por defeitos na oxidação de ácidos graxos seção correspondente).
de cadeia longa provocam armazenamento de lipídeos no
interior das fibras musculares, especialmente as de tipo I. Tratamento
O defeito bioquímico ainda não foi caracterizado, mas su- A DM não tem tratamento específico e o prognóstico em
geriu-se que pode ser devido a erros no metabolismo mito- geral é reservado a grave 11,28,79,80,86. Na atualidade existe uma
condrial oxidativo 77. Os sinais clínicos mais frequentes são investigação ativa sobre terapia genética. Os resultados pre-
a debilidade generalizada, intolerância ao exercício, atrofia liminares mostraram uma melhoria na mobilidade e na fun-
muscular e, em casos mais graves, presença de mialgia 61. cionalidade muscular em cães distróficos tratados com um
O diagnóstico se baseia nos achados histopatológicos; se protocolo de terapia genética múltipla. A sobrerregulação
observa um excesso de deposito lipídico nas fibras muscu- farmacológica da produção de utrofina (um parálogo da dis-
lares, particularmente nas de tipo I, através de marcas ca- trofina) parece ser promissora como potencial tratamento
racterísticas. Posteriormente devem ser realizadas provas para a doença de Duchenne e a DM canina. A terapia com
adicionais para diagnosticar o defeito metabólico especí- células-tronco em cães e humanos também está sendo pes-
fico, como determinação de carnitina no músculo, plasma quisada. Entretanto, a pesquisa deve continuar antes que tais
e urina, determinação de piruvato, lactato e relação tratamentos estejam disponíveis para uso clínico 23.
lactato/piruvato antes e depois do exercício, e quantificação
de aminoácidos plasmáticos. Com a administração de L-car- Referências
nitina, coenzima Q e vitamina B, alguns animais podem me- 1-ABRAMSON, C. J. ; PLATT, S. R. ; SHELTON, G. D. Pyruvate de-
lhorar; entretanto, o prognóstico é reservado e desconhecido, hyrogenase deficiency in a Sussex spaniel. Journal of Small
devido ao reduzido número de casos comunicados 69. Animal Practice, v. 45, n. 3, p. 162-165, 2004. DOI:
10.1111/j.1748-5827.2004.tb00220.x.
As miopatias mitocondriais são secundárias a um de-
2-ADAMS, R. ; VICTOR, M. ; ROPPER, A. H. Principles of Neurology.
feito bioquímico na cadeia respiratória, no processo de fos- 6. ed. New York: Mc Graw-Hill International Editions, 1997. p.
forilação oxidativa. A maioria ocorre em consequência de 1221-1347. ISBN: 978-0070674394.

256 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


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258 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.5 – Afecções do neurônio motor inferior. Miopatias degenerativas

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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 259


25
Afecções do neurônio motor inferior
25.6 – Miopatias metabólicas

Fernando Carlos Pellegrino

A
s miopatias metabólicas podem ser primárias (con- gênita e as paralisias periódicas ou paralisia em crise (mio-
gênitas) ou adquiridas. No primeiro grupo, o trans- patia hipo ou hipercalêmica) 46,60.
torno muscular obedece a uma anomalia hereditária
que afeta o sistema energético do músculo esquelético 71; MIOTONIA CONGÊNITA
muitos destes (miopatia por armazenamento de glicogênio, Definição
miopatia por armazenamento de lipídeos, miopatias mito- Se define como miotonia a contração prolongada e in-
condriais, distrofias miotônicas) foram descritos no diag- dolor de certos músculos, que ocorre após uma breve esti-
nóstico diferencial das distrofias musculares (ver seção mulação mecânica (miotonia de percursão) e que também
correspondente). Neste capítulo serão abordadas as cana- se expressa como um atraso no relaxamento após uma con-
lopatias hereditárias neuromusculares, que incluem a mio- tração voluntária (miotonia de ação) 92. Classicamente a
tonia congênita e a paralisia em crise. miotonia melhora com exercício muscular. A base fisiopa-
As miopatias metabólicas ocorrem como consequência tológica dos sintomas miotônicos é uma hiperexcitabili-
de um transtorno hormonal, ou outro tipo de transtorno me- dade da membrana da fibra muscular 1,74,96.
tabólico ou tóxico adquirido 71. Nesta seção, serão aborda- A miotonia congênita tem sido amplamente estudada
das as miopatias hormonais (hipotireoidismo ou esteroides) em cabras 4,11-13,58. A partir dos estudos in vitro do músculo
e a polimiopatia hipocalêmica felina. miotônico da cabra, Bryant 12,13 atribuiu a excitabilidade
miotônica a uma redução da condutância do cloreto no sis-
CANALOPATIAS HEREDITÁRIAS tema tubular transversal. Estudos posteriores em músculos
NEUROMUSCULARES miotônicos humanos 58 demonstraram uma condutância do
Se denomina canalopatia toda doença produzida por cloreto similarmente baixa (30% da condutância total da
uma anormalidade no funcionamento dos canais iônicos. membrana). Posteriormente, foi relatado um defeito no
Estas doenças podem ocorrer por modificações estruturais gene CLC-1 que provocava a alteração do canal de cloreto
ou funcionais dos canais devido a alterações geneticamente 4.

determinadas 82,94. Embora as canalopatias possam estar re-


lacionadas a um grande grupo de doenças que afetam vá- Prevalência
rios sistemas, nesta seção analisaremos as doenças Embora a miotonia congênita seja mais frequente em
musculares relacionadas a canalopatias geneticamente de- chow-chow e schnauzer miniatura, foram relatados casos
terminadas. isolados em cães de outras raças e gatos domésticos 60. Em
Até recentemente, as miotonias eram consideradas re- cães foi descrito, além das raças já mencionadas, em Ame-
lacionadas, de maneira não bem definida, às distrofias mus- rican staffordshire terrier, samoieda, dogue alemão, labra-
culares 1,46,84. Da mesma forma, as paralisias periódicas (ou dor, cocker spaniel, boiadeiro australiano, west highland
paralisia em crise) eram consideradas em combinação com white terrier, rhodesian, jack russel terrier, pastor catalão,
outras miopatias metabólicas ou eletrolíticas. Estudos ge- entre outros 32,42,66,92,93. Também foi descrita em gatos 41,89 e
néticos recentes identificaram os defeitos básicos das mio- em cavalos 86.
tonias e da paralisia em crise, esclarecendo a sua relação.
Assim, foram definidas várias formas de miopatias miotô- Etiologia
nicas não-distróficas. Atualmente, se sabe que todas essas Atualmente se compreende razoavelmente bem as bases
doenças são devidas a mutações nos genes que codificam biofísicas da miotonia. Nos humanos, a miotonia congênita
os canais de Cl –, Na+ ou Ca2+ na membrana da fibra mus- é hereditária de forma autossômica dominante (doença de
cular e são designadas como doenças dos canais iónicos Thomsen) ou recessiva (miotonia de Becker). As miofibras
ou, simplesmente, de canalopatias 1,28.56. são ricas em canais de cloreto dependentes de voltagem
As síndromes miotônicas constituem um grupo hetero- tipo I (CLC-1), compostos por duas proteínas idênticas co-
gêneo de doenças musculares congênitas que apresentam dificadas pelo gene CLCN-1 48 que permitem o influxo de
em comum o fenômeno denominado miotonia. Com base de íons de cloreto através do sarcolema. As anormalidades
nas alterações microscópicas observadas no músculo, as na codificação dos canais CLC-1 resultam em uma condu-
síndromes clínicas que resultam na miotonia pode ocorrer: ção de cloreto alterada com a subsequente incapacidade do
(a) em associação com alterações patológicas nas fibras músculo de se relaxar 1,4,48,76.
musculares (distrofias miotônicas, que foram descritas na Em algumas raças de cães, como no schnauzer minia-
outra seção), ou (b) na ausência de uma patologia muscular tura, boiadeiro australiano e o jack russel terrier 35,59,76 foi
óbvia (miotonias não distróficas). As miotonias não distró- demonstrada a transmissão autossômica recessiva e iden-
ficas (doença dos canais iônicos) incluem a miotonia con- tificada a mutação genética responsável. Em outras raças

260 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.6 – Afecções do neurônio motor inferior. Miopatias metabólicas

como o chow-chow, american staffordshire terrier e no gato e a exclusão de outras enfermidades neuromusculares que
doméstico se suspeita de um processo hereditário, embora podem produzir sinais similares.
a base genética não tenha sido identificada 41,89,92,93. No res- Os exames de laboratório de rotina e a análise do LCR
tante das raças foi relatado de forma esporádica, e se des- são normais. Um ligeiro aumento na atividade sérica de
conhece o substrato genético. CPK pode ser encontrado 32,42. Eventualmente se observa
hipocolesterolemia e, neste caso, pode se indicar uma dieta
Fisiopatologia rica em colesterol 32.
A miotonia congênita é produzida por um estado pro- A EMG revela descargas polifásicas complexas que os-
longado de contração muscular e um atraso no relaxa- cilam em uma amplitude de 10uV a 1mV, com uma frequên-
mento, que ocorre devido a um bloqueio na condução do cia de 50 a 100 Hz (Figura 1) 52. Acusticamente, as descargas
cloreto na fibra muscular pela perda de função dos canais miotônicas de amplitude oscilante produzem um som seme-
de cloro 31,32,42. Isso resulta em um aumento da concentração lhante a um “avião bombardeiro” ou a um motor de moto-
de potássio no túbulo transverso, o que facilita a despola- cicleta. Tais descargas podem ocorrer mesmo na ausência
rização da membrana da célula muscular e reativa os canais de sinais clínicos de miotonia 60. Estes potenciais podem ser
de sódio, permitindo a geração de novos potenciais com confundidos com outra anormalidade eletrofisiológica,
maior facilidade e frequência que em condições normais 94. como as descargas complexas repetitivas, que são observa-
Essa anormalidade no fluxo iônico leva a hiperexcitabili- das em outras enfermidades neuromusculares 60.
dade das miofibras, com aparecimento de potenciais de
ação espontâneos 4.

Manifestações clínicas A
O espasmo tônico do músculo depois da contração vo-
luntária é o sinal cardinal da doença, sendo mais pronun-
ciado após um período de inatividade.
Embora os sinais clínicos estejam presentes desde o nas- B
cimento, se tornam mais evidentes nos primeiros meses de
idade, quando os filhotes começam a andar. Se caracteri- Figura 1 – A) descargas miotônicas. B) músculo normal
zam por rigidez muscular, principalmente depois de re- em repouso.
pouso, posturas anormais (posição de cavalete com Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neuro-
membros abduzidos), andar com "salto de coelho", hiper- lógico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica,
trofia da musculatura, especialmente na parte proximal dos 2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de
Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino
membros e do pescoço, estridor respiratório, disfagia e re-
gurgitação. A percussão muscular pode levar a uma leve A biópsia não revela outra anomalia além de um au-
depressão, referida como um sinal de ondeamento 20,93. mento de tamanho das fibras musculares, e esta alteração
Após a estimulação ou em uma situação de estresse, alguns ocorre somente nos músculos hipertrofiados. As fibras
animais podem ficar tão rígidos durante os espasmos mus- grandes têm um aumento do número de miofibrilas de es-
culares que podem permanecer em decúbito lateral por vá- trutura normal. Não existem alterações no SNC ou no
rios segundos. Geralmente, se observa uma melhora na SNP 16,60.
marcha associada ao exercício (fenômeno de aquecimento). Nos cães se pode realizar a reação em cadeia da poli-
A exposição ao frio pode desencadear os sinais clínicos, merase (PCR) para a mutação do gene CLC-1. Entretanto,
embora não seja usual. Alguns animais podem sofrer dis- nem todos os casos de miotonia congênita revelam esta mu-
fonia e paralisia laríngea 79. Em schnauzer miniatura foram tação, portanto um resultado negativo não exclui o diag-
relatadas anormalidades dentárias e craniofaciais, o que não nóstico 60.
ocorrem em outras raças. Consiste no atraso da erupção dos
dentes decíduos ou dentes permanentes, má oclusão, au- Diagnóstico diferencial
mento do espaço interdentário, dificuldade para abrir e fe- No diagnóstico diferencial devem ser considerados
char a boca, braquignatismo mandibular, protrusão da todos os transtornos paroxísticos que causam espasmos tô-
língua e achatamento do arco zigomático 37. nicos da musculatura esquelética, de qualquer origem.
Nos gatos os sinais clínicos são semelhantes 41,89. A hipertermia maligna é uma síndrome clínica autossô-
Quando o gato se assusta ou chia pode ocorrer distorção mica dominante que afeta o músculo esquelético. Em hu-
dos músculos da face, elevação das orelhas e prolapso da manos apresenta grande heterogeneidade genética, e foram
membrana nictante. reconhecidas diferentes variantes genotípicas e clínicas 82.
Em medicina veterinária foi descrito em várias raças de
Diagnóstico cães e gatos 93. Se caracteriza por hipertermia severa com
O diagnóstico se realiza mediante ao reconhecimento temperaturas de 41-42 ºC, rigidez muscular e taquipneia.
dos sinais clínicos em animais jovens de raças predispostas O quadro envolve uma perda aguda no controle do cálcio

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 261


Capítulo 25.6 – Afecções do neurônio motor inferior. Miopatias metabólicas

intracelular que, em condições normais, é liberada pelo re- diminui a excitabilidade da musculatura esquelética 93. Em
tículo sarcoplasmático das células musculares no espaço uma avaliação subjetiva, a procainamida (500mg cada 6
intracelular quando o túbulo T do músculo recebe a onda horas, via oral) parece ser superior a fenitoína (200 mg cada
de despolarização. Neste mecanismo intervêm o receptor 6 horas, via oral) e a quinidina (100mg cada 6 horas, via
de rianodina (RYR1), envolvido em algumas das diferentes oral) 32,55,60. Outras drogas que foram utilizadas para tratar
formas de hipertermia maligna; o envolvimento deste re- a miotonia incluem a carbamazepina, tocainida, nifedipina
ceptor também foi comunicado em medicina veterinária 77. e mexiletina 20.
A liberação do cálcio pelo retículo sarcoplasmático é o in- A miotonia congênita não é considerada uma doença
dutor, em condições normais, da contração muscular. O cál- progressiva, e os sinais clínicos tendem a se estabilizar
cio deve ser recapturado pela bomba específica, que o entre os 6 e os 12 meses de idade. O prognóstico a largo
transfere rapidamente ao interior do retículo sarcoplasmá- prazo é favorável pois, embora não haja melhora substan-
tico e leva a fibra muscular ao seu relaxamento 82. O pro- cial nos sinais clínicos, raras vezes são invalidantes.
longamento do tempo que o cálcio está no músculo deriva
uma contração muscular prolongada e contínua, o que re- PARALISIA PERIÓDICA
sulta em um estado hipermetabólico. A elevação, durante A miopatia hipocalêmica foi relatada em gatinhos Bi-
tal episódio, dos níveis de CPK, fosfatos e potássio no san- rmanos 29, e se caracteriza por uma mudança nas concen-
gue dos indivíduos afetados representam o grave dano a cé- trações de K+, que repentinamente passa do compartimento
lula muscular, secundário ao defeito funcional descrito. Os extracelular para o intracelular 23,50,62. Os sinais clínicos são
fatores mais importantes que podem induzir esta síndrome similares aos de paralisia em crise dos humano, devido a
são a utilização de de anestésicos voláteis (por exemplo, doença dos canais de cálcio (CACNL1A3) do músculo es-
halotano), relaxantes musculares e exercício excessivo, quelético, também chamada paralisia periódica hipocale-
entre outros 79. Os sinais clínicos são variáveis e consistem mica. Nas pessoas a transmissão é autossômica dominante
em taquicardia e taquipneia, seguidos de grave hipertermia e a alteração ocorre no cromossomo 1q31-q32, que contêm
e rigidez muscular focal ou generalizada. Os animais o gene que codifica a subunidade -1 do canal de cálcio do
podem apresentar hipercapnia e arritmias cardíacas. Em músculo esquelético. Esta subunidade, que é parte do com-
casos mais graves se pode produzir acidose metabólica, plexo de receptor de dihidropiridina, se localiza no sistema
edema pulmonar, insuficiência cardíaca ou renal ou coagu- tubular transverso. Não se sabe com certeza a maneira em
lação intravascular disseminada. Se suspeita desta sín- que a função reduzida do canal de cálcio se relaciona com
drome naqueles animais que sofrem de aumento inesperado os ataques de debilidade muscular induzidos pela hipoca-
da temperatura corporal, especialmente se ocorre após a lemia 1,94.
administração de anestésicos voláteis ou relaxantes mus- No gato birmanês os sinais clínicos aparecem entre os
culares, depois da realização de exercícios, ou de outros fa- 2 e os 12 meses de idade e consistem em episódios perió-
tores desencadeantes 10. Ocorre com maior freqüência no dicos de debilidades muscular e intolerância a exercício,
cão do que no gato, não há predisposição racial ou sexual associado a ventroflexão cervical e marcha rígida 29. Nos
79. Existe um teste genético disponível. É uma emergência intervalos intercríticos os gatos são absolutamente nor-
que, se não for tratada rapidamente leva à morte do animal. mais. Embora se desconheça a causa, se suspeita de um
O tratamento é sintomático e baseia-se na correção dos fa- processo hereditário de transmissão autossômica recessiva
tores desencadeante, interromper a anestesia se necessário, nesta raça 22.
corrigir os desequilíbrios eletrolíticos e hemodinâmicos, A miopatia hipercalêmica foi descrita em cães 49 e em
administrar fluidoterapia e diminuir a temperatura corporal. cavalos american paint, appaloosa, e mestiços quarto de
O dantrolene pode contribuir para o relaxamento muscular milha 65,85, e foi denominada paralisia periódica hipercalê-
inibindo a liberação do cálcio 3. mica 60. Ocorre em consequência de um defeito nos canais
As paralisias periódicas serão tratadas mais adiante. de sódio do músculo esquelético. Esta alteração produz um
As crises tônicas de origem cerebral geralmente apre- aumento da permeabilidade ao sódio com um aumento do
sentam alterações autonômicas tais como micção, defeca- potencial de membrana em repouso da célula muscular, o
ção ou salivação, e não necessariamente estão relacionadas que resulta em uma difusão de potássio ao espaço extrace-
com o início do exercício. A detecção de anormalidades lular, que despolariza ainda mais a membrana. O potencial
neurológicas entre as crises, como por exemplo alterações de membrana em repouso fica portanto, muito próximo do
cognitivas ou condutas anormais orientam a suspeita da limiar de excitação, o que torna a célula mais excitável.
doença neurológica de origem central. Com uma maior despolarização o potencial de membrana
Algumas discinesias paroxísticas podem simular crises se torna tão anormal que a excitabilidade diminui e produz
miotônicas, mas a resenha contribui para esclarecer o diag- o episódio de debilidade 1,60. Durante o ataque de debilidade
nóstico, já que estão associadas a raças particulares. o potássio sérico se eleva, o que aumenta a sua excreção
urinária, retornando a concentração sanguínea a normali-
Tratamento dade e interrompendo o ataque 1. Esta desordem é similar a
O tratamento se baseia que estabilizam a membrana e paralisia em crise dos humanos, devido à doença dos canais

262 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.6 – Afecções do neurônio motor inferior. Miopatias metabólicas

de potássio mediados por sódio, de transmissão autossô- de adenosinatrifosfatase (ATPase) da miosina, que está au-
mica dominante. mentada no músculo hipertireoideo e diminuída no hipoti-
Em medicina veterinária foi relatado em uma fêmea, pit reoideo. A velocidade do relaxamento depende da taxa de
bull de 7 meses de idade, que apresentava episódios de 10 descarga e do reacúmulo de Ca2+ no retículo sarcoplasmá-
a 15 segundos de colapso associado ao exercício, hipotonia tico, que acelera no hipertireoidismo e torna-se lento no hi-
dos membros, pescoço e protrusão de língua 49. Os episó- potireoidismo. Portanto, no paciente hipertireoideo, a
dios aumentaram em frequência com o decorrer do tempo. velocidade do processo contrátil aumenta e sua duração é
O diagnóstico se baseia nos sinais clínicos, apoiado por um menor; os efeitos líquidos consistem em fadiga, fraqueza e
aumento das concentrações séricas de potássio. Os sinais perda de desempenho da ação muscular. No caso do pa-
clínicos se exacerbam com a administração de potássio por ciente hipotireoideo, a contração muscular é mais lenta,
via oral, o que pode ser utilizado como apoio diagnóstico. assim como o relaxamento. A conseqüência é que todo o
O tratamento consiste em diminuir a hipercalemia com fár- processo fica mais lento, com a conseqüente fraqueza mus-
macos como a acetazolamida, mineralocorticoides, fludro- cular 1,71. Também foi sugerido um transtorno no metabo-
cortisona e dietas com baixo teor de potássio 79. lismo dos carboidratos para explicar a atrofia preferencial
das fibras do tipo II que se observa nos músculos tanto de
MIOPATIAS METABÓLICAS ADQUIRIDAS cães como de humanos 63. As fibras atróficas tipo II são de
Entre as miopatias metabólicas adquiridas, as mais co- contorno oval ou angular e se distribuem ao longo de todos
muns são hormonais, produzidas por transtornos do meta- os fascículos musculares. Em alguns cães também se ob-
bolismo tireoideo ou da função adrenal. servou um deficiência de fibras do tipo II 8,18,81. Pode tam-
A miopatia hipotiroidea não é um achado frequente em bém se apresentar um hipertrofia variável com bastonetes
animais com hipotireoidismo primário 8, embora possa de nemalina em algumas fibras, especialmente do tipo I 19,81.
constituir uma das causas de miopatia metabólica 36,93. De Não há resposta celular mas existe miodegeneração 81, e os
acordo com a experiência do autor, as miopatias hipotireoi- nervos periféricos e intramusculares são normais 93.
deas representam 10% das doenças neuromusculares, 0,6% O diagnóstico se estabelece com base na avaliação do
de todos os casos neurológicos 71. A presença de letargia, perfil tireoidiano. A concentração de tiroxina total (T4) é
debilidade e intolerância ao exercício em alguns cães com útil como prova inicial, tendo em conta que a maioria dos
hipotireoidismo crônico podem ser reflexo de uma miopa- cães tireoideos apresentam valores inferiores ao normal. A
tia metabólica subjacente 15. Em humanos, as alterações no mensuração de T4 livre através do equilíbrio de diálise é
músculo esquelético podem preceder os sinais clínicos e mais sensível e específica para avaliar a função tireoidiana,
laboratoriais de doença tireoidiana 80. Em um estudo longi- sendo particularmente útil em indivíduos eutireoideos
tudinal sobre os efeitos do hipotireoidismo crônico no mús- doentes ou nos que apresentam sinais clínicos atípicos. A
culo esquelético, a miopatia hipotiroidea foi associada à medição do hormônio estimulante da tireoide (de sigla em
presença de potenciais espontâneos no EMG, um aumento inglês, TSH) também é útil, mas muitos cães hipotireoideos
sérico significativo das enzimas CPK, aspartato amino- apresentam valores normais. O padrão ouro para o diag-
transferase e lactato deshidrogenase, com achados histopa- nóstico de hipotireoidismo é o teste de estimulação por
tológicos consistentes com bastonetes nemalínicos, TSH. Eventualmente, se não existe a disponibilidade para
predominância substancial e progressiva de miofibras de a realização de nenhuma dessas determinações, se espera
tipo I, diminuição das miofibras de tipo II, acúmulos sub- uma resposta positiva ao tratamento em cães hipotireoideos
sarcolêmicos de mitocôndrias anormais e degeneração de tratados adequadamente com levotiroxia 70. A reversão dos
miofibras. Também foi observada uma severa depleção de sinais clínicos pode ser alcançada por suplementação com
carnitina livre no músculo esquelético 81. Entretanto, em levotiroxina, embora alguns animais com sinais neuromus-
outros 2 estudos de cães hipotireoideos com diversos sinais culares graves possam apresentar uma resolução lenta ou
neurológicos, que incluíam possíveis transtornos miopáti- incompleta do quadro clínico 69.
cos (megaesôfago, lesão do motoneurônio inferior) e po- A miopatia por esteroides pode resultar de hiperadreno-
tenciais espontâneos no EMG, tais sinais foram atribuídos corticismo primário ou secundário, ou de iatrogenia devido
a neuropatias, mais do que miopatias 47,91. De acordo com ao uso inadequado de esteroides, especialmente fluorados
alguns estudos, a miopatia hipotireoidea poderia estar pre- como betametasona, dexametasona ou triamcinolona 2,90.
sente em cães hipotireoideos com claudicação unilateral de Seja qual for a causa, podem aparecer sinais miopáticos,
membros torácicos e presença de potenciais espontâneos incluindo o desenvolvimento gradual de marcha rígida e
em estudos com EMG 14, sem outras alterações clínicas. Em hipométrica, fraqueza, tropeços e atrofia muscular genera-
alguns cães com hipotireoidismo foram observadas descar- lizada (Figura 2), muitas vezes mais visíveis na muscula-
gas pseudomiotônicas em estudos com EMG 9. tura epiaxial e nos músculos de mastigação 6,7,27,38,45,87. A
Atualmente a maneira em que o hormônio tireoidiano musculatura proximal dos membros pode aparecer maior
afeta a fibra muscular é controverso. A tiroxina influencia em alguns animais 38. As vezes se observa rigidez dos mem-
de alguma maneira o processo de contratibilidade. A velo- bros pélvicos, especialmente em poodles velhos ou idade
cidade deste processo está relacionada com a quantidade média 93. Os cães com hiperadrenocorticismo (HAC)

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 263


Capítulo 25.6 – Afecções do neurônio motor inferior. Miopatias metabólicas

Figura 3 – Cão dachshund de 8 anos de idade, macho,


com hiperadrenocorticismo, afetado por pseudomiotonia
induzida por corticosteróides. Observe a hipertrofia mus-
cular generalizada e a rigidez dos membros.
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neuro-
lógico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica,
Figura 2 – Cão macho de 11 anos, raça indefinida, com 2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de
miopatia esteroide por hiperadrenocorticismo. Observe a Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino
atrofia muscular generalizada.
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neuro-
lógico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica,
2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de mas provavelmente se deve a uma quantidade excessiva de
Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino glicocorticóides circulantes e ao catabolismo da proteína
muscular, já que alterações idênticas são observadas em
podem desenvolver um quadro similar a miotonia (pseu- cães e gatos que receberam a administração de corticoste-
domiotonia), com aumento generalizado do tônus muscu- róides exógenos 6,7,38,78. A debilidade muscular e atrofia po-
lar, rigidez da musculatura epiaxial, arqueamento das costas, deriam ser mediadas pela enzima glutamina sintetase 51,64.
orelhas voltadas para trás, protrusão da língua, sinal de on- Foi proposto que a atrofia seletiva das miofibras de tipo II
deamento e descargas pseudomiotônicas no EMG 27,38,87, ca- pode se dever a uma diferença na sensibilidade aos glico-
racterizadas pelo aumento e diminuição sucessivas de corticóides 26. Nos humanos com HAC o excesso de ACTH
frequência e amplitude 52,87. Feldman afirma que, de acordo pode ser diretamente miopático 73.
com a sua experiência, este tipo de rigidez pseudomiotô- O diagnóstico da miopatia por hiperadrenocorticismo
nica ocorre em 5 de 800 cães com HAC 35. O autor viu isso se baseia nos achados clínicos e eletrofisiológicos, nos
em poodle, beagle e dachshund (Figura 3). Foi sugerido dados laboratoriais, as imagens e a biopsia muscular.
que a pseudomiotonia no poodle não seja uma consequên- Os sinais miopáticos costumam entrar em remissão
cia do HAC, e sim uma possível doença genética 83. Em com o tratamento médico ou cirúrgico de HAC. Entre-
uma fêmea da raça old english sheepdog de 6 anos com HAC tanto, o prognóstico é reservado se a contratura e atrofia
iatrogênico foi relatado ruptura do músculo gastrocnêmio, muscular forem severas. Os sinais miotônicos podem pro-
possivelmente associada a uma miopatia subjacente 75. Se gredir apesar de uma terapia adequada, caso em que a ad-
deve considerar que os sinais de fraqueza nos membros, ministração de procainamida (12,5 mg/kg 2 vezes ao dia)
dor e colapso pode resultar de uma oclusão da artéria aorta pode reduzir a rigidez miotônica 87. Para tratar a miopatia
distal ou das ilíacas por tromboembolismo, que é uma das por esteroides iatrogênica o método primário é reduzir ou
possíveis complicações de HAC 5. Em um estudo encon- retirar a administração de corticosteroides, ou utilizar es-
traram potenciais espontâneos no EMG (descargas repeti- teroides não fluorados. Os programas de exercício e a fi-
tivas complexas, potenciais de fibrilação e ondas agudas siatria podem ajudar na recuperação do paciente e devem
positivas) em 60% dos cães afetados por HAC; em nenhum ser incentivados em animais com HAC ou tratados com
deles houve descargas pseudomiotônicas 54. Os achados his- corticosteroides 93.
topatológicos incluem alterações degenerativas levas asso- O hipoadrenocorticismo também pode produzir debi-
ciadas com variação no tamanho das fibras, presença de lidade generalizada e colapso, que simulam uma miopa-
massas subsarcolémicas, necrose focal, miofibras rasgadas tia. Os sinais clínicos variam desde uma crise
e atróficas, especialmente as de tipo II 6,27. Foi descrito a hipovolêmica aguda até uma variedade de sinais inespe-
presença de bastonetes de nemalina 19. Em alguns cães se cíficos, vagos e crônicos. Esta variação se relaciona em
observa alterações dos nervos periféricos, consistentes em parte com a deficiência hormonal subjacente (por exem-
desmielinização/remielinização 93. plo, glicocorticoides e mineralocorticoides vs somente
Ainda não foi possível elucidar qual é o mecanismo pelo glicocorticoides).
qual os corticosteróides produzem debilidade muscular 1,71, Os cães com deficiência de aldosterona e cortisol

264 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.6 – Afecções do neurônio motor inferior. Miopatias metabólicas

classicamente apresentam uma história com aparecimento contrar leves alterações difusas no EMG de alguns mús-
e desaparecimento de letargia e depressão, perda de peso, culos. A biopsia muscular geralmente é normal, embora oca-
sinais gastrointestinais intermitentes, debilidade e desidra- sionalmente pode se encontrar uma leve mionecrose. Os
tação que responde, pelo menos no início, a terapia sinto- gatos afetados demonstram uma melhora substancial na
mática. Tipicamente, os sinais pioram progressivamente e força muscular 2 ou 3 dias depois de iniciar a suplementa-
alguns cães podem apresentar uma crise aguda que põe em ção oral com potássio. O prognóstico depende da severi-
risco a sua vida. Estes indivíduos mostram evidências de dade da causa subjacente a hipocalemia 22.
debilidade extrema ou colapso, hipovolemia, aumento no
tempo de preenchimento capilar, pulso fraco e, em alguns Referências
casos, bradicardia acentuada. Outros sinais possíveis in- 1-ADAMS, R. ; VICTOR, M. ; ROPPER, A. H. Principles of
cluem poliúria e polidipsia, tremores, dor abdominal difusa, Neurology. 6. ed. New York: Mc Graw-Hill International
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pode se desencadear por uma situação de estresse 72. Ne- 2-ALSHEKHLEE, A. ; KAMINSKI, H. J. ; RUFF, R. L. Neuromuscular
manifestations of endocrine disorders. Neurologic Clinics, v. 20,
nhum dos sinais clínicos mencionados são patognomônicos
n. 1, p. 35-58, 2002. 10.1016/S0733-8619(03)00053-7.
de hipoadrenocorticismo, mas a natureza ondulante das ma-
3-BAGSHAW, R. J. ; COX, R. H. ; ROSENBERG, H. Dantrolene
nifestações da doença, que aumentam com o estresse e que treatment of malignant hyperthermia. Journal of the American
pode responder a terapia inespecífica, pode alertar os clí- Medical Association, v. 178, n. 1029, 1981.
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Os cães que somente apresentam deficiência do cortisol for decresead muscle chloride conductance in the myotonic goat.
tipicamente apresentam uma história mais prolongada de si- Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 93, n. 20,
p. 11248-11252, 1996.
nais vagos de letargia, perda de peso, diarréias e vômitos,
5-BOSWOOD, A. ; LAMB, C. R. ; WHITE, R. N. Aortic and iliac
mas, raramente progridem para um estado de choque, a
thrombosis in six dogs. Journal of Small Animal Practice, v. 41,
menos que ocorra uma severa hemorragia gastrointestinal 88. n. 3, p. 109-114, 2000.
O megaesôfago, embora raro, é uma sequela bem docu- 6-BRAUND, K. G. ; DILLON, A. R. ; MIKEAL, R. L. ; AUGUST, J.
mentada de hipoadrenocorticismo 67. R. Subclinical myopathy associated with hyperadrenocorticism in
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8-BRAUND, K. G. ; DILLON, A. R. ; AUGUST, J. R. ; GANJAM, V.
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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 265


Capítulo 25.6 – Afecções do neurônio motor inferior. Miopatias metabólicas

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266 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


25
Afecções do neurônio motor inferior
25.7 – Miopatias inflamatórias

Fernando Carlos Pellegrino

A
s miopatias inflamatórias (MIs) são relativamente ção de fármacos como penicilina, cimetidina ou sulfona-
comuns em cães 37. Os padrões histológicos de in- midas em cães 19,93,114 ou a neoplasias como o timoma em
filtração celular são similares aos de humanos e são gatos 17.
reconhecidos distintos tipos de MIs com base na distribui- Nos gatos foi descrito a presença simultânea de poli-
ção dos músculos afetados, a presença ou ausência de le- miosite e polineurite 43.
sões cutâneas, a presença ou ausência de anticorpos
musculares específicos, e as causas adjacentes. Prevalência
As MIs se dividem primariamente em 2 grandes grupos, Em um trabalho se relatou que a PMC se encontrou em
as MIs imunomediadas e as MIs infecciosas. 63% das miopatias inflamatórias dos cães e, combinada
com a MMMC, em 1,5% dos casos. O boxer e o terra-nova
Miopatias inflamatórias imunomediadas estavam sobre representados neste estudo, e airedale terrier,
As miopatias inflamatórias imunomediadas são um grupo akita inu, pastor-de-brie, cocker spaniel inglês, chihuahua,
heterogêneo de transtornos caracterizados pela infiltração bulldog inglês, fox terrier, malamute-do-alaska, mastiff
não supurativa do músculo esquelético 35. Em humanos, as inglês, terra nova, pitbull terrier e weimaraner foram raças
MIs se dividem em 3 grandes grupos: dermatomiosite, poli- que mostraram sinais clínicos em idades significativamente
miosite e miosite de corpos de inclusão 36. menores que as demais, particularmente o terra-nova, raça
Em cães foi descrito os seguintes grupos de MIs: (a) fo- que o início pode ocorrer a partir dos 6 meses 37. Em outro
cais, que incluem a miosite do músculos mastigatórios ca- estudo o boxer representou 28,5% dos cães afetados por
nino (MMMC), e a miosite extraocular (MEO); e (b) PMC 96. Outros autores comunicaram uma aparente suscep-
generalizadas, que incluem a polimiosite canina imunome- tibilidade em pastor alemão 112. De acordo com a experiên-
diada (PMC), a dermatomiosite canina familiar (DCF), a cia do autor, a PMC nos cães constitui 36% dos casos
DCF - símile e a paraneoplásica 37. Também foi descrito neuromusculares, e 2% de todos os casos neurológicos,
uma miosite vacuolar, semelhante a miosite de corpos de sem observar uma raça com maior prevalência 89.
inclusão dos humanos, em um braco alemão de pelo curto A ocorrência em gatos é considerada mais rara 110, e sua
de 11 anos. prevalência real é desconhecida 27. Um estudo mostrou que,
de 624 biópsias musculares felinas, quase 3% apresentaram
Polimiosite canina imunomediada evidências de miopatias inflamatórias 43.
Definição
A polimiosite canina imunomediada (PMC) é uma MI Fisiopatologia
generalizada (MIG) que afeta um extenso grupo de mús- A heterogeneidade clínica e histopatológica das MIG su-
culos, principalmente os apendiculares, mas também os gere que poderia existir diferentes mecanismos patogênicos
mastigatórios, faríngeos e esofágicos, e se caracteriza pela moleculares que predominam nos distintos grupos de mio-
infiltração de células no músculo esquelético, geralmente site. Os subgrupos também poderiam se diferenciar com base
mononucleares, e para os quais não se identifica uma causa no seu padrão de anticorpos 70. A resposta a terapia também
subjacente 37. é variável, o que sustenta a hipótese que a fisiopatologia é
distinta nos diferentes subgrupos da doença 71.
Etiologia Em medicina humana, se relatou que a prevalência de
Em medicina humana a Polimiosite é considerada um auto-anticorpos específicos de miosite em 222 pacientes foi
doença autoimune devido a sua relação com outros transtor- de 34,4%, enquanto que os auto-anticorpos associados à
nos imunomediados, a existência de auto-anticorpos, genes miosite foi de 41,4% dos pacientes. Os auto-anticorpos en-
de histocompatibilidade, a presença de células T no tecido contrados com maior frequência foram anti-Ro-52 (36,9%),
muscular e a resposta à imunoterapia. Entretanto, ainda não anti-Jo-1 (18,9%) e anti-Mi-2 (8,1%). A distribuição destes
foram identificados os antígenos alvos específicos 81. anticorpos foi comparável entre as polimiosites e dermato-
A PMC é uma doença inflamatória dos músculos es- miosite, exceto pela maior prevalência de anti-Jo-1 em poli-
queléticos não relacionada a outra doença sistêmica ou in- miosite e anti-Mi-2 em dermatomiosite. Os auto-anticorpos
fecciosa 9,93, e de causa desconhecida, embora a resposta a anti-Ro-52 foram fortemente associados a anti-Jo-1 em
terapia imunossupressora sugira fortemente, assim como ambas as doenças 22. Em um estudo se observaram anticorpos
em humanos, um componente imunomediado 9,109. Os fato- contra um antígeno não identificado no sarcolema de quase
res desencadeantes são desconhecidos, embora em alguns 50% dos cães terra-nova com PMC, mas em nenhum dos
casos tenha sido associado a outros transtornos imunome- casos se encontraram auto-anticorpos para as fibras tipo 2M,
diados como lúpus eritematoso sistêmico 66, a administra- como ocorre na MMMC 37,50.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 267


Capítulo 25.7 – Afecções do neurônio motor inferior.Miopatias inflamatórias

De forma similar a polimiosite dos humanos, a análise da Manifestações clínicas


linhagem dos infiltrados celulares na PMC foi demonstrado A idade média de início dos sinais clínicos na PMC é
a infiltração de fibras musculares aparentes não necróticas de 5.09 ± 2.6 anos, embora possa aparecer em qualquer
com maioria de linfócitos T CD8+, em que predomina a ex- momento. Não parece haver predileção sexual 37. Os sinais
pressão de receptores tipo TCR β, assim como ausência de são variáveis e podem ser intermitentes no princípio. Pode
linfócitos B 96. Também se encontrou uma intensa expressão se observar uma progressiva intolerância ao exercício, com
do complexo de imunohistocompatibilidade (CMH) tipo II uma exacerbação aguda da debilidade. O andar se caracte-
nos infiltrados leucocitários e nas células estromais. A PMC riza por uma marcada rigidez e hipometria, como se o cão
poderia promover um modelo animal espontâneo para a mio- “caminha-se sobre cascas de ovos” 93. A palpação muscular
patia inflamatória mediada pelas células T. gera dor evidente em alguns indivíduos, embora em outros
Embora haja características clínicas, histológicas e imu- se observe uma marcada atrofia muscular sem dor apa-
nohistoquimicas que distinguem a PMC de outras miosites rente. Também pode ocorrer regurgitação secundária a me-
focais, como a MMMC, são necessárias outras metodologias gaesôfago, disfagia, salivação excessiva, alterações do
para identificar novos aspectos da patogênese destas MIs. A latido e hipertermia 9,58,64,109,112. Nos gatos os sinais podem
análise da expressão gênica tem sido utilizada para distinguir se iniciar entre os 6 meses e os 14 anos, e normalmente
várias miopatias, incluindo distrofias e outros grupos de MIs ocorre uma apresentação aguda de debilidade muscular,
humanas, e para avaliar o efeito da terapia em MIs e derma- ventroflexão cervical, dificuldade para andar e tendência
tomiosite juvenil. Este tipo de estudos pode identificar uma a parar de caminhar em curta distância 27,112.
expressão gênica diferencial, marcadores genéticos para a Em um estudo, os sinais clínicos mais comuns em
análise da resposta ao tratamento e possíveis alvos para in- cães com PMC foram debilidade muscular, marcha rí-
tervenções terapêuticas neste tipo de distúrbios, às vezes tão gida, disfagia, megaesôfago e atrofia muscular generali-
difíceis de tratar 108. Em um estudo, os perfis de expressão zada (Figura 1); outros sinais menos frequentes foram
gênica foram utilizados para esclarecer a imunopatogenia sinais generalizados de motoneurônio inferior, disfonia, hi-
das MIs imunomediadas em cães. Verificou-se que vários pertermia e incapacidade de abrir a boca. Os reflexos es-
genes envolvidos na imunidade inata e adaptativa estavam pinhais estão deprimidos ou ausentes em quase 18% dos
altamente sobrerregulados, incluindo aqueles envolvidos na cães afetados. Surpreendentemente, a mialgia somente es-
ativação e migração de macrófagos e células dendríticas, e teve presente em aproximadamente 3% dos indivíduos. Em
na apresentação e processamento antigênico. Outros genes 11% dos cães a atrofia muscular foi mais pronunciada em
também estavam sobrerregulados, incluindo os que partici- músculos mastigatórios no início do quadro clínico, gene-
pam no crescimento, desenvolvimento, migração e ativação ralizando-se posteriormente. Em terra-nova os sinais pre-
de células B, genes de imunoglobulinas, genes que partici- dominantes da PMC estiveram geralmente associados a
pam em vias pró-inflamatórias e anti-inflamatórias, e genes disfunção laríngea, faríngea e esofágica 37.
envolvidos no remodelamento tecidual. Esta ativação gênica
é similar a descrita na resposta imune em miosites humanas Diagnóstico
e outras enfermidades imunomediadas 108. O diagnóstico é baseado em sinais clínicos, exames de

Fernando Carlos Pellegrino


Fernando Carlos Pellegrino

A B

Figura 1 – A) Cão macho, boxer, 4 anos de idade, com uma polimiosite imunomediada. Observe a severa atrofia
muscular generalizada. B) Cão macho, raça indefinida, 7 anos de idade, com polimiosite imunomediada. Nesse caso
não predominou a mialgia, e sim uma fraqueza generalizada, manifestada por muitas horas em decúbito

268 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.7 – Afecções do neurônio motor inferior.Miopatias inflamatórias

sangue, estudos eletrofisiológicos e resultados de biópsia mentar anormalidades em vários músculos e identificar os
muscular. grupos musculares mais comprometidos antes da biópsia.
Os critérios para o diagnóstico de PMC estão bem defi- Quando um músculo severamente afetado é localizado, re-
nidos e foram extrapolados daqueles utilizados na medicina comenda-se que a biopsia seja realizada no mesmo grupo
humana 64; incluem a presença de pelo menos 3 dos seguin- muscular do outro lado, para que se evite artefatos provo-
tes sinais, incluindo uma biópsia muscular positiva: (a) si- cados pela agulha da EMG. As alterações na EMG podem
nais clínicos de fraqueza muscular, rigidez na marcha e incluir atividade insercional aumentada, ondas agudas po-
atrofia muscular; (b) níveis elevados de creatina quinase sitivas, potenciais de fibrilação e descargas bizarras de alta
sérica (CK); (c) alterações na eletromiografia (EMG) (Fi- frequência 23,112 (Figura 2).
gura 2); (d) sorologia negativa para doenças infecciosas; e Se a EMG não estiver disponível, os músculos que ma-
(e) confirmação histológica de infiltrados linfocíticos no nifestarem mais dor aparente no exame físico devem ser bio-
músculo esquelético 37,93 (Figura 3). psiados antes de se iniciar uma terapia. As alterações típicas
A atividade sérica de CPK pode estar aumentada entre incluem infiltrado inflamatório mononuclear muitas vezes
5 a 10 vezes seus valores de referência, principalmente no perivascular, com ou sem eosinófilos, invasão de fibras não
início da afecção 91. Níveis elevados de AST, ALT e LDH necróticas por infiltrados celulares e mionecrose com evi-
também são compatíveis com doença muscular, mas são dências de regeneração e fibrose 9,58,64,93,109,112 (Figura 3).
inespecíficas e podem ter valores normais 16. Entretanto, a Se recomenda a realização de radiografias torácicas para
CPK pode ser normal na presença de doença muscular, e isto avaliar a presença de megaesôfago, se não é clinicamente
não descarta o diagnóstico de PMC. Por outro lado, a CPK evidente 112.
pode estar levemente aumentada na ausência de doença A inflamação muscular também pode ser detectada
muscular relacionada a fatores como o exercício, decúbito mediante imagens por ressonância magnética (MRI). Este
prolongado ou trauma (por exemplo, injeções), e também método é um indicador sensível para a localização da lesão
pode estar notoriamente elevada em gatos anoréxicos 7,16. muscular e é de grande ajuda no planejamento de uma bió-
Quando possível, a EMG deve ser realizado para docu- psia 92 (Figura 4).

A B

Figura 2 – A) potenciais de fibrilação na EMG de um cão com polimiosite


imunomediada; B) ondas agudas positivas na EMG de um cão com po-
limiosite imunomediada. Tanto os potenciais de fibrilação quanto as
ondas agudas positivas resultam da excitação de fibras musculares indi-
viduais e estão associados a neuropatias periféricas ou a doenças mus- D
culares inflamatórias agudas. Sua presença sugere denervação; C)
Potenciais de unidade motora (PUM) miopáticos, caracterizados pela re-
dução de amplitude e a duração. Nos processos miopáticos ocorre uma perda de fibras musculares funcionais
em cada UM, enquanto a membrana das fibras restantes é alterada, diminuindo a condução. O primeiro fenômeno
origina PUM de curta duração e pouca amplitude e o segundo, PUM polifásico, também de baixa amplitude; D)
Padrão de recrutamento completo com amplitude marcadamente diminuída em uma polimiosite autoimune. Nas
miopatias, a perda de fibras musculares funcionais produz a redução da força de contração de cada UM. A inefi-
ciência da unidade de descarga tem uma relação inversa com o número de unidades necessárias para manter
uma determinada força de contração. Desta forma, a contração muscular voluntária recruta instantaneamente
maior quantidade de UM, causando um padrão de recrutamento normal, pelo menos por um curto período de
tempo. Sua amplitude, no entanto, estará reduzida porque a densidade das fibras está diminuída em cada uma
das UM. O padrão de recrutamento será então completo, mas com uma amplitude reduzida.
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neurológico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica,
2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 269


Capítulo 25.7 – Afecções do neurônio motor inferior.Miopatias inflamatórias

Fernando Carlos Pellegrino


A
Fernando Carlos Pellegrino

Fernando Carlos Pellegrino


B
Fernando Carlos Pellegrino

Figura 3 – A) Imagem microscópica de uma biópsia mus- Figura 4 – A) MRI aprimorada na sequência T1 com con-
cular (25x) correspondente a um cão com uma polimiosite traste. Observe a atrofia bilateral dos músculos temporais,
generalizada imunomediada. Observe a atrofia muscular, que mostram um sinal hiperintenso após a aplicação da
com mionecrose e infiltrado inflamatório; B) imagem am- substância de contraste; B) MRI aprimorado na sequência
pliada (100x) que mostra o infiltrado do tipo linfocítico T1 com contraste. Observe a atrofia unilateral do músculo
temporal direito, que mostra um sinal hiperintenso após a
aplicação da substância de contraste
Diagnóstico diferencial
O primeiro passo no diferencial de PMC é determinar se que provocam debilidade são muitas: doença cardíaca (arrit-
realmente é um transtorno neurológico. Em um quadro de mias, cardiopatias congênitas ou adquiridas, dirofilariose, sín-
debilidade neuromuscular é importante um exame de san- cope vagal, vasodilatação, tromboembolismo), enfermidades
gue completo que inclua ionograma, avaliação cardiorres- respiratórias do trato superior (paralisia laríngea, síndrome
piratória, radiografia de tórax e ecografia abdominal. De braquicefálica, colapso traqueal) ou do trato inferior (doença
acordo com a doença suspeitada serão solicitados exames pulmonar, efusão pleural, massas torácicas intracavitárias
mais específicos. Muitas enfermidades sistêmicas, metabó- ou da caixa torácica). Algumas das enfermidades sistêmicas
licas, cardiorrespiratórias, ortopédicas e inclusive neuroló- que podem provocar debilidade são os transtornos hidroele-
gicas de origem central podem provocar debilidade trolíticos (hiper/hiponatremia, hiper/hipocalemia, hiper/hipo-
generalizada, que é o sinal cardinal das miopatias. É impres- calcemia, hiper/hipomagnesemia), doenças endócrinas
cindível realizar um exaustivo exame físico e neurológico, (insulinoma, hiper/hipoadrenocorticismo, hiper/hipotireoi-
buscando resultados positivos que permitam identificar al- dismo, cetoacidose diabética, feocromocitoma), desordens
guma alteração sistêmica. A presença de ascite, esplenome- hematológicas (anemia, policitemia, doença mieloprolife-
galia ou sinais gastrointestinais podem levar a suspeitas de rativa, síndrome de hiperviscosidade), e outras alterações
transtornos metabólicos/sistêmicos; o achado de mucosas tais como choque, hipertermia, acidose metabólica, sepse
pálidas ou cianóticas com pulso anormal, sons cardíacos ou neoplasias 9,19,58,91.
anormais e história de síncope vai de encontro a um trans- A detecção de anormalidades neurológicas entre as cri-
torno cardiorrespiratório. As alterações cardiorrespiratórias ses, como por exemplo alterações cognitivas ou condutas

270 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.7 – Afecções do neurônio motor inferior.Miopatias inflamatórias

anormais, orientam a suspeita de doença neurológica de


origem central. Muitos animais medicados com drogas an-
tiepilépticas tem um quadro de debilidade generalizada de
origem medicamentosa. Se as crises episódicas de debili-
dade foram desencadeadas por estímulos particulares
como a comida, ou a presença de outro animal, se deve
considerar a narcolepsia/cataplexia. A presença de dor ou
efusão articular indica a possibilidade de uma doença or-
topédica 9,19,58,91.
Em caso de uma forte suspeita clínica de enfermidade
muscular, deve-se descartar as doenças infecciosas e as sín-
dromes paraneoplásicas 37. As polimiosites infecciosas
serão tratadas mais adiante.
A
As síndromes paraneoplásicas representam uma cons-
telação de sinais que resultam de efeitos distantes ao tumor.
Esses efeitos podem ocorrer em vários órgãos e sistemas e

Fernando Carlos Pellegrino


B
são independentes das manifestações dadas pelo próprio
tumor ou por suas metástases. Os melhores caracterizados
são aqueles produzidos por tumores que secretam algum
hormônio polipeptídico, por exemplo, ACTH ou PTH, que
são distribuídos através da circulação e atuam no órgão
alvo, longe do câncer que os produziu. Eles também podem
ser devidos ao desenvolvimento de autoimunidade ou ou-
tros mecanismos desconhecidos até o momento. Apesar de
sua baixa freqüência, sua importância reside no fato de que
sua aparição pode ser o primeiro sinal de um processo ma-
ligno, já que frequentemente antecede em meses ou anos,
o diagnóstico do tumor 25. Evidências recentes confirmaram
uma associação entre malignidade e miopatias inflamató-
Figura 5 – A) Radiografia* simples latero-lateral do tórax
rias em humanos. Nos cães, alguns relatos associaram mio-
de um pit bull terrier macho com uma polimiosite imuno-
patias inflamatórias com neoplasias, como carcinoma mediada com vários meses de evolução. Observam-se
broncogênico, leucemia mielóide, carcinoma tonsilar e ou- múltiplas imagens de massas intratorácicas. Essas ima-
tras neoplasias malignas 37 (Figura 5); o timoma tem sido gens foram visualizadas após 4 meses de sucessivas ra-
associado à polimiosite imunomediada em gatos 17. Em um diografias mensais de tórax; B) Radiografia simples
estudo, foi relatado que a síndrome paraneoplásica que latero-lateral da coluna lombossacra de um cão sem raça
causa miopatias generalizadas em cães constitui 8,5% das definida, com uma polimiosite imunomediada. A imagem
MIs imunomediadas. Neste grupo, 25% dos cães boxer mostra uma imagem em “saca-bocado” que compromete
diagnosticados com polimiosite idiopática desenvolveram o sacro e a vértebra L-7. Os sinais de cauda equina come-
neoplasias diferentes ao longo do tempo (linfoma na maio- çaram 3 meses após o diagnóstico de polimiosite.
* Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico
ria deles), o que indicaria uma maior susceptibilidade nesta neurológico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-
raça. Curiosamente, as células tumorais não foram encon- Médica, 2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autori-
tradas nas biópsias originais, mas em amostras repetidas de zação de Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino
tecido muscular mais de 12 meses após o diagnóstico de
MI37. Na experiência do autor, a polimiosite paraneoplá- pneumonia por aspiração. Se caso a pneumonia por aspi-
sica representa 6% das doenças neuromusculares e 0,4% ração já estiver presente, devem ser tomadas precauções
de todos os casos neurológicos 89. quando se implementa a terapia imunossupressora. É acon-
selhável começar com antibióticos bactericidas apropriados
Tratamento 24 horas antes do tratamento com corticosteróides quando
A terapia foca na imunossupressão, alívio da dor e cui- esta complicação existe. Se recomenda o uso de analgési-
dados suporte. Os glicocorticóides são utilizados para tra- cos (por exemplo, adesivos transdérmicos de fentanil) por
tar miopatias inflamatórias há mais de 50 anos 98. 72 horas para alívio da dor 93,99.
Recomenda-se iniciar o tratamento com prednisona ou O prognóstico para PMC é geralmente bom em cães e
prednisolona na dose de 2 mg/kg 2 vezes ao dia até a re- gatos; entretanto, a presença de megaesôfago e/ou disfagia
missão dos sinais, de modo que a dose diminua gradual- é um fator desfavorável 19. A terapia com corticosteroides
mente 93,99. Se houver megaesôfago, mudanças apropriadas deve ser prolongada, e as vezes por toda a vida, para evitar
na alimentação devem ser implementadas para impedir a as recidivas. Na atualidade os glicocorticoides são motivo

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 271


Capítulo 25.7 – Afecções do neurônio motor inferior.Miopatias inflamatórias

de controvérsia devido aos significativos efeitos adversos inflamatória generalizada de natureza autoimune que afeta
associados ao tratamento crônico. Por este motivo foram a pele, o músculo esquelético e os vasos 51,53,54. Foi descrita
empregados muitos outros agentes imunossupressores al- inicialmente em collie (1984) e pastor de shetland (1985) 67.
ternativos para diminuir a sua dose e aliviar os efeitos ad- Foram descritos casos esporádicos em outras raças49,117,
versos, tanto em medicina humana 98 como na medicina com aspectos clínicos e histopatológicos semelhantes a
veterinária 93. Entretanto, não há um acordo quanto ao me- DCF; esta variante se denomina DCF-símil 103.
lhor protocolo de drogas imunossupressoras para usar em Embora ainda não tenha sido relatado em cães, derma-
pacientes miopáticos 98. Os medicamentos anti-inflamató- tomiosite associada a malignidade é um achado freqüente
rios específicos que são utilizados na polimiosite e derma- em MH 11,36.
tomiosite autoimune em humanos, e que mostraram certa
eficácia são o metotrexato, que inibe a quimiotaxia e a li- Etiologia
beração de mediadores pró-inflamatórios 16,116; a azatioprina, A DCF é uma genodermatose autossômica dominante,
um imunossupressor com efeito adicional na transmissão de expressividade variável. Em contraste, na DCF-símil
neuromuscular 47,79; a ciclosporina, que inibe a ativação de não há evidências de participação genética 103.
células T e a subjacente produção de citocinas 47,63; o infli-
ximabe 24, que inibe o NF-kB; e o rituximab, que inibe as Prevalência
células B 74. Esse último parece ser o tratamento mais pro- A DCF é uma alteração pouco frequente, que afeta mais
missor. Outras novas possibilidades são a inibição das cé- comumente a todas as variedades de collie e pastor de
lulas T com abatacept; o bloqueio de interleucina-1 com shetland 38,52. A DCF-símil foi descrita em chow-chow,
anakinra; da interleucina-6 com tocilizumabe; o interferon welsh corgi pembroke, pastor alemão, kuvasz, schnauzer
tipo I com sifalimumab, embora se necessite uma maior miniatura, dachshound, fox terrier, pastor-de-beauce, boia-
quantidade de estudos 71. deiro australiano, lakeland terrier e mestiços 49,114,117.
Nos cães, nos casos de intolerância aos glicocorticóides, Em uma revisão clinicopatológica de 200 casos de mio-
quando não se obtém a resposta adequada a terapia, ou há patias inflamatórias 37, não se encontraram casos de DCF,
recidivas dos sinais clínicos, se tem empregado a azatio- a DCF-símil foi causa de 1,5% dos cães afetados.
prina (2mg/kg/dia) até a remissão, para logo diminuir a 0,5-
2mg/kg a cada 48 horas 93. Em um cão se comunicou a Fisiopatologia
associação de ciclofosfamida com prednisona, sem resul- A etiopatogenia, tanto em cães como em humanos, é ba-
tados satisfatórios 109. sicamente desconhecida 49,51,67,103; se suspeita de uma pato-
A eficácia clínica dos glicocorticóides deve-se à trans- gênese imunomediada com deposição de imunocomplexos,
repressão de genes pró-inflamatórios através da inibição de embora os antígenos alvo específicos não tenham sido
fatores de transcrição inflamatórios como NF-kB (fator nu- identificados. Pode ser induzida por fármacos, infecções
clear potencializador das cadeias leves Kappa de células B (especialmente virais), toxinas e, inclusive, pode ser uma
ativadas) ou AP-1 (proteína ativadora); seus efeitos adver- manifestação paraneoplásica. Os sinais clínicos relaciona-
sos são atribuídos à transcrição dos genes alvo mediados dos a DCF geralmente estão relacionados a um evento ini-
pelo receptor de glicocorticóide (RG) (transactivação). Du- ciador, como estro, parto, lactação, traumas ou exposição
rante a década passada, o interesse no desenvolvimento dos excessiva ao sol 72,100.
moduladores de RG aumentou, que mantêm as proprieda-
des anti-inflamatórias mas carecem da resposta transcrip- Manifestações clínicas
cional dependente de RG, proporcionando uma alternativa Os sinais clínicos se iniciam entre os 2 e os 6 meses de
segura aos glicocorticóides tradicionais. Muitos desses idade 48,93,114; menos frequentemente se observam severas
compostos análogos ou "dissociativos" (por exemplo, AL- lesões cutâneas em cães adultos, associadas a situações es-
438, Composto ZK, LGD-5552, Composto A, composto tressantes ou exposição prolongada a luz solar. Não foi re-
RU, lazaroides) são muito promissores em estudos in vitro, latada predisposição sexual. As lesões consistem em áreas
mas falham em ensaios clínicos em seres humanos 98. focais crostosas, de descamação, que se instalam mais co-
Foi relatado que a incorporação de um programa de mumente na face, na ponta das orelhas e da cauda, e nas
exercícios ao tratamento imunossupressor leva a uma me- proeminências ósseas dos membros. Com o curso da
lhora na força e no desempenho muscular. Há cada vez doença as crostas ficam mais visíveis e se observam áreas
mais evidências sobre a segurança do exercício físico em de alopecia e eritema 49.
miopatias imunomediadas. O exercício demonstrou uma As lesões musculares representam uma forma mais
melhora na capacidade aeróbia do músculo e uma redução agressiva de DCF e se manifestam posteriormente a der-
na sua incapacidade 71. matite. Os músculos temporais são geralmente o primeiro
grupo afetado, e aqueles que mostram maior comprometi-
Dermatomiosite canina familiar mento junto com os músculos distais dos membros. Os si-
Deficiência nais incluem atrofia, dificuldade na apreensão de alimentos
A dermatomiosite canina familiar (DCF) é uma doença e deglutir, diminuição do reflexo de vômito. Sinais clínicos

272 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.7 – Afecções do neurônio motor inferior.Miopatias inflamatórias

mais severos consistem em megaesôfago associado a re- benéfica em casos leves 85. Em casos moderados a graves,
gurgitação, polimiosite com marcha rigida e atrofia gene- é implementada a terapia com pentoxifilina (15-25 mg/kg
ralizada 49. Em geral, o pastor de shetland apresenta maior a cada 8-12 horas), que historicamente tem sido a droga de
comprometimento cutâneo, enquanto o collie, além da der- eleição para esta condição 77,85; Sua ação contribui para me-
matopatia, tem uma maior predisposição a apresentar in- lhorar o fluxo sanguíneo microvascular. Quando não se
flamação muscular 115. obtêm o controle clínico com essas recomendações, sugere-
se combinar com agentes imunomoduladores adicionais
Diagnóstico (por exemplo, derivados da tetraciclina, niacinamida, gli-
O diagnóstico presuntivo se baseia na resenha e no re- cocorticóides, ciclosporina, tacrolimus tópico). Pode haver
conhecimento das alterações das alterações típicas na pele. recidivas recorrentes, que podem ser tratadas com glico-
Os níveis séricos de IgG se encontram muito aumenta- corticóides sistêmicos por períodos curtos 85.
dos, e podem ser detectados previamente ao início dos si- O prognóstico é muito variável e depende da gravidade
nais clínicos; eles tem uma correlação positiva com a da doença e da capacidade de controlar os sinais clínicos
severidade da doença, e diminuem quando o paciente entra com efeitos adversos mínimos, mas em geral é bom. De
em remissão 86. Nos cães mais severamente afetados pode- acordo com a gravidade do quadro clínico, recomenda-se
se observar anemia não regenerativa devido a inflamação não reproduzir animais afetados 93,114.
crônica. Os níveis séricos de CPK são variáveis e, embora
usualmente estejam normais, podem estar aumentados 114. Miosite dos músculos mastigatórios canina
O diagnóstico definitivo se obtêm pelo exame histopa- Definição
tológico mediante a biópsia de fragmentos cutâneos com A miosite dos músculos mastigatórios canina (MMMC)
lesões alopécicas e eritematosas. A biópsia muscular e a é uma MI focal (MIF) que afeta seletivamente os músculos
EMG podem contribuir para o diagnóstico, mas não são inervados pelo nervo mandibular do trigêmeo, incluindo o
realizados de maneira rotineira. Pode se observar potenciais masseter, pterigóide, tensor do tímpano, tensor do véu pa-
de fibrilação, ondas agudas positivas ou descargas bizarras latino e porção rostral do digástrico. É a forma clínica mais
de alta frequência 114. A biópsia muscular mostra mione- comum e mais estudada das MIs em cães 88,104.
crose multifocal, internalização dos núcleos musculares, Historicamente foi denominada como miosite eosinofi-
atrofia, fibrose e regeneração, e moderados a severos infil- lica ou miosite atrófica e, embora os termos sugiram uma
trados celulares inflamatórios intersticiais e perivasculares patogênese diferente, provavelmente representa a fase
(linfócitos, neutrófilos, células plasmáticas e macrófagos). aguda e crônica da miosite dos músculos mastigatórios 106.
Os pequenos nervos interfasciculares podem estar rodeados Pensava-se que a miosite mastigatória era uma forma
de células inflamatórias. É possível observar vasculite ne- de polimiosite, mas pesquisas posteriores demonstraram
crotizante nas pequenas vênulas e arteríolas da pele, do que esta doença representa uma miopatia única 80. Esta par-
músculo, e ocasionalmente em outros tecidos 86. ticularidade está relacionada às propriedades bioquímicas
O diagnóstico de DCF foi extrapolado a partir dos cri- e histológicas dos músculos mastigatórios, que os diferen-
térios utilizados na medicina humana e inclui: (a) a pre- ciam dos músculos dos membros. Enquanto estes últimos
sença de atrofia muscular simétrica; (b) biópsia muscular contêm as fibras clássicas de tipo 1 e tipo 2A, o grupo de
com evidência de miosite multifocal; (c) alterações na músculos mastigatórios contém fibras do tipo 2M e uma
EMG sugestivas de miopatia e (d) características dermato- variante de fibras de tipo 1. O padrão de coloração histo-
lógicas do eritema e inflamação na pele da periorbita, facial química das fibras 2M difere das fibras de tipo 2 dos mús-
e labial e nas superfícies cutâneas sujeitas a traumatismos, culos apendiculares quando a reação da ATPase miofibrilar
tais como cotovelos, carpo, tarso, dedos e externo 51. é utilizada. As isoformas da miosina dos músculos masti-
gatórios, e a composição das cadeias leves e pesadas da
Diagnóstico diferencial miosina também diferem em ambos os grupos musculares
O diagnóstico diferencial se baseia na exclusão de ou- 96. Esta composição distintiva provavelmente está relacio-

tras afecções cutâneas, tendo em conta que as lesões mus- nada à inervação diferencial que ocorre durante o desen-
culares se desenvolvem muito posteriormente. inclui volvimento embrionário a partir do mesoderma do primeiro
demodicose, pioderma, dermatofitose, dermatite alérgica par de arcos branquiais 105.
com infecções secundárias, outras vasculopatias isquêmi-
cas e lúpus eritematoso sistêmico 83,85. Etiologia
Em cães com MMMC, demonstrou-se a presença de au-
Tratamento toanticorpos especificamente dirigidos contra a isoforma
As recomendações gerais incluem minimizar a exposi- de miosina das fibras de tipo 2M que se ligam à proteína C
ção à luz ultravioleta e restringir a atividade da pele trau- ( da sigla em inglês, MyBP-C) 118. Estes anticorpos não são
matizada, pois ambas as situações podem exacerbar as encontrados em cães com PMC, embora a infiltração celu-
lesões. A suplementação diária com ácidos graxos e vita- lar e o dano a miofibras estejam claramente presentes nos
mina E (200-600 U a cada 12 horas por via oral) pode ser músculos mastigatórios desses pacientes 37,80,104. As fibras

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 273


Capítulo 25.7 – Afecções do neurônio motor inferior.Miopatias inflamatórias

do tipo 2M são destruídas seletivamente pela resposta au- associação com moléculas não classicamente ligadas ao
toimune. No entanto, o estímulo antigênico que a desenca- MHC. As células γδ proliferam contra alguns microorga-
deia é desconhecido, assim com a razão pela qual é nismos como Mycobacterium tuberculosis e foram relacio-
especificamente dirigido contra esse tipo de fibras 80. nadas a fenômenos autoimunes devido à sua ativação por
proteínas de choque térmico ou proteínas de resposta ao es-
Prevalência tresse, moléculas envolvidas em mecanismos de mime-
Em um estudo foi relatado que MMMC foi encontrado tismo molecular entre agentes infecciosos e o hospedeiro
em 22,5% de miopatias inflamatórias de cães e, combinado 96.É interessante destacar que, embora os sinais clínicos

com PMC, em 1,5% dos casos 37. As raças grandes parecem sejam diferentes, o fenótipo das células infiltradas e a dis-
estar mais predispostas, com predomínio de cães da raça tribuição perivascular dos infiltrados celulares são seme-
pastor alemão, labrador, dobermann e golden retriever 80. lhantes aos observados na dermatomiosite humana. O
Parece haver uma predisposição genética para MMMC no MMMC pode fornecer um modelo animal adequado para
cavalier king charles spaniel 107. No estudo de Evans et al. o estudo das características dos MIs mediadas por células
(2004), embora não tenham sido encontradas diferenças sig- B.
nificativas, o golden retriever, o labrador, os mestiços e o
rottweiler foram as raças mais freqüentemente afetadas 37. Manifestações clínicas
Os sinais clínicos são bem descritos e incluem restrição
Fisiopatologia severa da mobilidade da mandíbula com dor intensa e atro-
Na MMMC os anticorpos contra as fibras do tipo 2M fia ou inflamação restrita a este grupo muscular. A apresen-
dos músculos mastigatórios são consistentemente encon- tação clássica da MMMC consiste na incapacidade de abrir
trados, embora se desconheça o estímulo que desencadeia a boca (trismo), dor na mandíbula e inflamação ou atrofia
a resposta auto-imune. Algumas teorias sugerem que o mi- dos músculos de mastigação 80 (Figura 6). A idade média
metismo molecular pode desempenhar algum papel, com do início dos sinais clínicos é de 3 anos, embora tenham
células T ou anticorpos gerados em resposta a um agente sido relatados casos em que se inicia a partir de 4 meses 42.
infeccioso, que reage de forma cruzada com autoantígenos. Nenhuma predileção sexual foi encontrada 104.
Nesse cenário, os antígenos bacterianos poderiam apresen- A MMMC apresenta uma fase aguda e uma fase crô-
tar uma conformação estrutural semelhante a alguns com- nica. Os cães que se apresentam na fase aguda mostram
ponentes das miofibras tipo 2M, e os anticorpos que são trismo, inflamação e dor nos músculos de mastigação. Os
gerados poderiam reagir de forma cruzada com essas mio- cães reagem com diferentes graus de resistência à palpação
fibras 104. Na medicina humana, este fenômeno foi docu- dos músculos da cabeça e a tentativa de abrir a boca, devido
mentado para anticorpos contra Streptococcus pyogenes à dor intensa 93,112,114. Os sinais geralmente são bilaterais,
redirecionados para o músculo cardíaco ou esquelético 65. mas eles podem parecer unilaterais quando o comprometi-
Um estudo recente sugeriu que também pode haver um mento é assimétrico e um lado é mais comprometido. Os
microambiente imunologicamente diferente nos músculos sinais clínicos podem variar no ritmo de progressão e na
mastigatórios, em comparação com os músculos apendicu- gravidade. Os sinais oculares são observados em quase
lares, o que reforça a teoria do mimetismo molecular. O es- 50% dos cães, com exoftalmia na fase aguda devido à in-
tudo das linhagens dos infiltrados celulares demonstrou flamação dos músculos pterigóides por trás dos olhos 42. Se
infiltração proeminente de células B, linfócitos T CD3+, cé- a inflamação for suficientemente grave a exoftalmia pode
lulas CD4+ em maior número do que células CD8+, células produzir estiramento do nervo óptico e subseqüente ce-
dendríticas e macrófagos em maior quantidade do que cé- gueira. Este tipo de paciente deve ser diferenciado daqueles
lulas T. Os linfócitos T presentes se ligam tanto a receptores com miosite extraocular 18,80. Durante a fase inicial (1 a 3
αβ como γδ. A adventícia vascular, as células endoteliais e semanas), foram relatados casos de hipertermia e linfade-
os infiltrados celulares se marcam intensamente para o nopatia mandibular e pré-escápulas 112; Nestes casos, é im-
MHC II, sugerindo uma apresentação antigênica local 96. portante excluir doenças infecciosas. A identificação dos
Os receptores γδ são expressos em uma população minori- sinais da MMMC é fundamental, porque o tratamento é
tária de linfócitos T periféricos que carecem de moléculas mais bem sucedido quando implementado nesta fase.
de superfície CD4 e CD8 (também são encontradas em uma Infelizmente, a maioria dos tutores não reconhece o pro-
pequena proporção de timócitos, em linfócitos de epitélio blema até a fase crônica, caracterizada por marcada atrofia
intestinal e em algumas células dendríticas epidérmicas). muscular, com ou sem trismo persistente. Nesta fase, pode
A função deste tipo de célula não está bem caracterizada, haver enoftalmia devido a atrofia dos músculos pterigósi-
embora se acredite que desempenhe um papel importante cos 80.
nas doenças autoimunes. As funções atribuídas aos linfó- Em um estudo, os sinais clínicos mais comuns em cães
citos T γδ incluem atividade citotóxica, secreção de múlti- com MMMC foram a incapacidade de abrir a boca, a atro-
plas citocinas e atividade colaborativa para a produção de fia dos músculos de mastigação ou a exoftalmia. Como si-
imunoglobulinas. A maioria dessas células reconhecem an- nais clínicos únicos, a incapacidade de abrir a boca como
tígenos, independentemente das moléculas do MHC ou em o único sinal foi identificada em 40% dos cães, a atrofia

274 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.7 – Afecções do neurônio motor inferior.Miopatias inflamatórias

aos músculos da mastigação. Os métodos complementares


iniciais incluem hemograma completo e perfil bioquímico
Fernando Carlos Pellegrino

sérico, incluindo CPK e análise de urina. As alterações bio-


químicas documentadas em cães com MMMC consistem
em anemia leve, hiperglobulinemia e proteinúria 42. A pre-
A sença de eosinofilia periférica também foi relatada, mas
não é um achado consistente 80. Os níveis de CPK são fre-
quentemente aumentados na fase aguda, mas retornam aos
valores normais na fase crônica. O grau de aumento geral-
mente é menor do que na PMC, devido ao menor volume
de massa muscular afetada 93. Se a EMG estiver incluída
entre os procedimentos de diagnóstico, a medida de CPK
deve ser feita anteriormente, pois a inserção das agulhas de
varredura pode elevar seus valores de forma transitória 61.
A detecção de autoanticorpos dirigidos contra as fibras
do tipo 2M por meio de imunohistoquímica e ELISA é
muito útil para o diagnóstico clínico de MMMC; ambos os
Fernando Carlos Pellegrino

B testes têm uma especificidade de 100% e uma sensibilidade


de 85-90% 104. Os sinais clínicos compatíveis com MMMC
e um teste positivo para anticorpos anti-2M confirmam o
diagnóstico. No entanto, podem ocorrer falsos negativos se
doses imunossupressoras de corticosteróides tiverem sido
administradas durante 7 a 10 dias antes do teste, ou se for
realizado nos estágios finais da doença, momento em que
há uma perda significativa de miofibras e fibrose. Neste
tipo de pacientes soronegativos aos anticorpos anti-2M, é
necessária a biópsia muscular para confirmar o diagnóstico
80.

A EMG pode ser um procedimento diagnóstico útil, es-


pecialmente para diferenciar MMMC de polimiosite, le-
vando em conta a quantidade de músculos envolvidos. Na
MMMC se verificam anormalidades limitadas exclusiva-
mente aos músculos mastigatórios, que incluem potenciais
de fibrilação, ondas agudas positivas e descargas comple-
xas repetitivas 104. Na forma crônica da doença, a EMG
pode ser normal, ou a única mudança óbvia pode ser uma
diminuição na atividade de inserção devido à perda de fi-
Figura 6 – A) Cão macho, de raça indefinida de 4 anos de bras musculares. É importante lembrar que as alterações na
idade com miosite de músculos mastigatórios em fase crô- EMG são inespecíficas e não devem ser utilizadas para di-
nica. Observe a atrofia bilateral da musculatura inervada ferenciar entre miopatias e neuropatias 61.
pelo nervo trigêmio; B) Cão de cocker spaniel Inglês de 10
A biópsia muscular confirma o diagnóstico e fornece in-
anos de idade com miosite de músculos mastigatórios bi-
lateral, em fase crônica
formações adicionais sobre o prognóstico, particularmente
quando a atrofia muscular é grave e se suspeita de uma fi-
brose significativa. Neste caso, a biópsia documenta a gra-
dos músculos mastigatórios em quase 18% e a exoftalmia vidade da perda de miofibras e o grau de fibrose, variáveis
bilateral em quase 7%. Uma combinação de incapacidade importantes para estabelecer o prognóstico a longo prazo e
para abrir a boca e a atrofia dos músculos da mastigação o possível sucesso terapêutico. A biópsia é um procedi-
foi observada em 31% dos cães. A incapacidade de abrir a mento cirúrgico simples, mas a amostragem do músculo
boca e a exoftalmia bilateral, separadamente, também ocor- errado é um dos erros mais comuns. As amostras devem
reu em 33% dos cães que tiveram uma sobreposição de ser tomadas do músculo temporal, sem confundi-lo com o
MMMC e PMC 37. A exoftalmia ocorre como conseqüência músculo frontal, que o cobre e não é afetado na MMMC.
da inflamação dos músculos temporal e pterigônico. Se a biópsia mostra apenas fibrose, sem miofibras rema-
nescentes ou evidência de inflamação, deve-se questionar
Diagnóstico a terapia imunossupressora. Como os infiltrados celulares
É importante realizar um exame físico e neurológico podem ter uma distribuição irregular, os achados podem
completo para confirmar que os sinais clínicos estão restritos não ser conclusivos a partir de uma única amostra 78,93,106.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 275


Capítulo 25.7 – Afecções do neurônio motor inferior.Miopatias inflamatórias

A biópsia muscular obtida na fase aguda geralmente Devido aos efeitos adversos dos corticosteróides (poli-
mostra uma população mista de células inflamatórias, com fagia, poliúria, polidipsia, predisposição a infecções, gas-
infiltração de linfócitos e células plasmáticas em fibras não troenterite), e o fato de que o uso prolongado pode provocar
necróticas, mionecrose e fagocitose. Apesar da antiga de- atrofia dos músculos mastigatórios, deve-se considerar o
nominação de miosite eosinofílica, os eosinófilos não são uso de outros agentes imunossupressores alternativos. A
o tipo celular predominante,e inclusive podem não estar azatioprina, embora geralmente não incluída na terapia ini-
presentes. Na fase crônica, a alteração patológica predomi- cial para MMMC, pode ser usada em conjunto com pred-
nante é a substituição da miofibras por tecido conjuntivo nisona ou prednisolona. É utilizada na dose de 2 mg/kg a
fibroso, escassas fibras musculares remanescentes e mí- cada 24-48 horas até o corticosteróide se estabilizar na dose
nima infiltração celular 106. de manutenção. Em seguida, se começa a reduzir a azatio-
prina. Seu uso requer hemogramas completos periódicos
Diagnóstico diferencial (devido ao risco de supressão da medula óssea) e hepato-
Existem muitas causas que podem levar a dor mandi- gramas (devido ao risco de hepatotoxicidade).
bular e trismo, como PMC, traumatismo da articulação Se não é tratado na fase aguda, ou é tratado de forma ina-
temporo-mandibular, fusão por doença articular crônica, dequada (doses baixas, retirada prematura do corticosteróide
tétano, osteopatia craniomandibular, abscessos retrobulba- ou ambos), o paciente afetado pela MMMC progride para a
res, miosite extraocular, doenças musculares congênitas fase crônica. Embora a prednisona ou a prednisolona te-
(como distrofias) ou corpos estranhos. O uso de corticos- nham demonstrado ser úteis nesta fase, reduzindo a fibrose,
teróides pode resultar em atrofia dos músculos mastigató- devem ser utilizadas em doses mais baixas 18.
rios, portanto deve ser considerado na avaliação inicial. Cães com trismo mandibular podem exigir dietas de
Um exame físico completo deve ser feito em busca de aveia para manter uma nutrição adequada. Uma forma de
evidências de traumas que possam causar fratura ou luxa- fisiatria consiste em incentivá-los a mastigar brinquedos ou
ção da articulação; em face dessa suspeita, é conveniente ossos para promover o exercício dos músculos da mastiga-
realizar diagnóstico por imagem (radiografia de crânio ou ção. A retração manual da mandibula é absolutamente con-
tomografia computadorizada). Às vezes, para fazer uma tra-indicada pelo dano traumático que pode produzir na
análise completa é necessária a sedação ou anestesia do ani- articulação 42.
mal; tipicamente, na MMMC, a incapacidade de abrir a O prognóstico é determinado pelo grau de fibrose e pela
boca é mantida durante a anestesia 112. Massas retrobulbares resposta à terapia imunossupressora. O tratamento agres-
podem causar inflamação ou fístulas por trás do quarto pré- sivo durante a fase aguda geralmente resulta em um bom
molar. A atrofia dos músculos da mastigação de rápida pro- prognóstico. Embora os pacientes possam desenvolver
gressão também pode ocorrer a partir de qualquer doença atrofia muscular, a remissão fica completa com retorno à
que afete o nervo trigêmeo, particularmente a neurite do função mandibular normal. Deve ser levado em considera-
trigêmeo e os tumores periféricos da bainha nervosa. Os ção que a falha no tratamento ou as recidivas resultam de
pacientes com neurite do trigêmeo geralmente não têm dor imunossupressão inadequada e descontinuação precoce dos
e o tônus mandibular é normal para flácido, enquanto cães corticosteróides. Os pacientes tratados na fase crônica têm
com MMMC têm um tônus mandibular rígido e não con- um prognóstico mais incerto, embora uma fibrose extensa
seguem abrir a boca 80. não chegue a produzir uma disfunção mandibular, a terapia
pode ter um resultado razoavelmente. Os proprietários
Tratamento devem estar informados sobre o fato de que a função man-
A base do tratamento bem sucedido consiste em uma te- dibular pode melhorar, mas não se normalizar completa-
rapia imunossupressora, estabelecida o mais rápido possí- mente, e sobre a persistência da atrofia muscular 80.
vel. Recomenda-se administrar prednisona ou prednisolona
2 mg/kg a cada 2 horas por via oral durante a fase aguda, Miosite extraocular
mantendo esta dose até que a função mandibular se norma- Definição
lize. Posteriormente, diminui gradualmente até atingir a A miosite extraocular (MEO) é uma MIF rara, com si-
dose efetiva mínima que evita o retorno dos sinais clínicos nais clínicos restritos exclusivamente aos músculos extrao-
78. Este processo é lento e gradual, e pode levar vários culares. Afeta cães e o único sinal clínico observado na
meses, com uma diminuição de não maior de 50% a cada MEO é uma exoftalmia bilateral sem protrusão da mem-
mês até atingir a menor dose de manutenção possível. Um brana nictitante que ocorre por inflamação dos músculos
problema comum é usar baixas doses de corticosteróides, extraoculares, estrabismo divergente e dificuldade de fe-
ou fazê-lo por um curto período de tempo. A MMMC ge- chamento palpebral 97,119.
ralmente responde inicialmente à terapia com esteróides, A primeira descrição corresponde a 2 cães, sem relação
mas se o tratamento for interrompido prematuramente, a entre eles, no ano 1989 18. Desde então, os relatos em me-
recidiva é rápida e violenta. Alguns pacientes conseguem dicina veterinária foram limitados. Em 1995, as caracterís-
interromper a terapia, mas alguns exigem tratamento ao ticas da MEO foram relatadas em uma série de 35 cães 97, e
longo da vida 80. em 2008 foi publicado uma série de 37 casos provenientes

276 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.7 – Afecções do neurônio motor inferior.Miopatias inflamatórias

de diferentes lugares 119. Em 2000 foram relatados 10 cães nos músculos extraoculares 111, para a qual estaria dirigida
com miosite extraocular e estrabismo restritivo 2 com uma a reação imune inicial. Outra hipótese afirma que os au-
apresentação clínica diferente, o que poderia representar toanticorpos dirigidos contra antígenos intrínsecos dos
um estágio crônico de MEO, ou poderia ser uma outra sín- músculos extraoculares são fundamentais na oftalmopatia
drome. associada à tireóide. A origem embriológica única desse
Nenhuma outra espécie que não o cão foi relatada com grupo muscular, como a condensação individual de tecido
esta condição. com uma inervação específica, lhes conferiria uma expres-
são antigênica diferente da do resto dos músculos 95. A cal-
Etiologia sequestrina é uma proteína que é expressa quase 5 vezes
A resposta à terapia com esteróides sugere uma base mais nos músculos extraoculares em relação a outros mús-
imunomediada para a MEO. Como na MMMC, nos mús- culos esqueléticos 45, observada no soro de 75% de pacien-
culos oculares foram descritos tipos de fibras que diferem tes humanos com doença de Graves com oftalmopatia,
das encontradas nos músculos apendiculares e nos múscu- comparado com 5% daqueles que não têm oftalmopatia 111.
los da mastigação 97. Embora não tenham sido totalmente Neste grupo de pacientes foram encontrados autoanticor-
caracterizadas, essas fibras únicas poderiam explicar o pos, mas se desconhece se sua presença é a causa da mio-
comprometimento seletivo e a destruição de músculos ex- patia ou é o resultado da liberação de antígenos produzidos
traoculares específicos 2. A resposta imune poderia estar di- pela lesão dos músculos extraoculares 84. Apesar das dife-
rigida contra antígenos únicos associados a este grupo renças na apresentação clínica, na resposta ao tratamento e
muscular. na etiopatogenia inicial, a MEO se apresenta potencial-
mente como um valioso modelo para as alterações que
Prevalência ocorrem na oftalmopatia associada à doença de Graves 119.
A MEO é de apresentação rara. As publicações que do-
cumentam esta condição podem ser contadas com os dedos Manifestações clínicas
de uma mão 119. Em uma revisão clínico-patológica de 200 A MEO geralmente afeta cães jovens de algumas raças,
casos de miopatias inflamatórias, apenas 2 cães apresenta- especialmente golden retriever, labrador e cruzas dessas
ram MEO, um dos quais era um golden retriever 37. A maio- raças. Uma porcentagem considerável (43%) ocorre em fê-
ria dos casos foi relatada na América e na Europa, e a maior meas de golden retriver sujeitas a algum fator estressante
porcentagem de cães afetados são golden retriever, labrador alguns dias antes de se estabelecer a condição ocular. Em
ou seus cruzamentos, geralmente jovens e fêmeas majori- geral, a idade média de apresentação é de 2 anos, com uma
tariamente 37,97,119. Na Argentina foram relatados 3 casos, faixa de 6 meses a 11 anos. No golden retriever, a idade
um dos quais foi um golden retriever 57. Na África, um caso média de apresentação é de 17 meses, com uma mediana
foi relatado um caso em um mestiço com menos de 1 ano de 12 meses. As fêmeas são afetadas muito mais do que os
de idade 1. machos, com uma probabilidade 4 vezes maior de sofrer
MEO, e as fêmeas inteiras parecem ter uma maior predis-
Fisiopatologia posição 119.
A etiopatogenia da MEO é atualmente desconhecida, Os sinais clínicos característicos consistem em marcada
mas a condição histopatológica dominante de infiltração exoftalmia bilateral sem dor, não necessariamente simé-
celular mononuclear (linfócitos CD3+ e histiócitos) sugere trica, e dificuldade em fechar as pálpebras 97 (Figura 7). É
que provavelmente se deva a um mecanismo imunome- importante ressaltar a ausência de protrusão da membrana
diado 18,37,97. Estudos histológicos mostraram que os mús- nictitante 97,119. A exoftalmia se caracteriza por um aumento
culos extraoculares mais afetados foram os músculos retos na exposição da esclera, predominantemente dorsal ou ven-
e os oblíquos, com aspecto normal do retractor do globo tral, às vezes acompanhada de estrabismo lateral (exotro-
ocular 97. pia). A exoftalmia também pode ser observada na MMMC,
Nos humanos, as oftalmopatias associadas à tireoide são mas quando está presente, é o resultado da inflamação dos
uma manifestação comum da doença tireoidiana autoimune músculos pterigóides e não dos músculos extraoculares 18,
4, ocorrendo em 25-50% dos pacientes com tireoidite de 80. Alguns animais apresentam edema da conjuntiva bulbar

Graves e em uma pequena proporção daqueles que sofrem (quimose) 119. Foi relatada a presença de exoftalmia unila-
de tireoidite de Hashimoto 84. Nestes pacientes, pode ocor- teral e deficiências visuais devido ao aumento da pressão
rer oftalmopatia congestiva ou miopatia oftálmica. O úl- intraocular, embora não sejam sinais freqüentes 97. Em um
timo resulta de um ataque imunomediado contra os cão foram descritas alterações da visuais 1, atribuídas à
músculos extraoculares. Foi proposto que esta última sín- compressão do nervo óptico devido ao estiramento dos
drome poderia ser a clara contrapartida da MEO 119 canina. músculos extraoculares na fossa posterior, como pode ocor-
Antígenos compartilhados entre a tireóide e os músculos rer em MMMC 18,80. No mesmo animal, no final do trata-
extraoculares poderiam ser a explicação para a fisiopato- mento, relatou-se uma leve ptose bilateral da pálpebra
genia da oftalmopatia associada à tireoide 84,111. Foi relatada inferior; foi atribuída à excessiva distensão anterior devido
a presença de um receptor tireotrófico na gordura orbital e a exoftalmia e rápida redução em resposta ao tratamento,

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 277


Capítulo 25.7 – Afecções do neurônio motor inferior.Miopatias inflamatórias

o que causou um ritmo de retração mados, e não pelo envolvimento pri-


desigual entre o globo ocular e o te- mário dos músculos extraoculares 18,80.
cido elástico da pálpebra inferior; Por outro lado, a dor e a protrusão da
este sinal foi resolvido espontanea- membrana nictitante caracterizam a
mente 1. exoftalmia na MMMC, estando ausen-
Em uma série de 10 cães com tes na MEO 97,119.
MEO, foi descrito um quadro clínico A infecção por Neospora pode cau-
que pode ser uma doença diferente 2. sar MEO bilateral, menos freqüente-
Os cães afetados tinham uma idade mente unilaterall29. A prevalência
média de 21,9 meses, mas as raças desta infecção como causa de MEO é
eram significativamente diferentes; desconhecida, mas a escassa literatura
havia apenas um golden retriever, Figura 7 – Cadela sem raça definida, 8 publicada não sugere que ela seja par-
três wolfhound irlandês, três akita meses de idade, com exoftalmia bilate- ticularmente alta 119.
inu, dois shar pei e um dálmata. Os ral. O diagnóstico foi miosite de múscu- Nos casos de doença orbitária as-
sinais clínicos consistiram em enof- los extraoculares. sociada à presença de massas ou teci-
talmia e estrabismo ventral, ventro- Fonte: PATRICELLI, A. Exoftalmía bilateral dos com maior deformação, como
medial ou medial. A biópsia mostrou compatible con polimiositis de los músculos celulite, abscessos ou neoplasias, a
atrofia miofibrilar, mionecrose, infil- extraoculares en 3 caninos. Selecciones exoftalmia é um sinal constante, junta-
Veterinarias, v. 19, n. 3, 2011. Publicado
tração celular e fibrose. Sugeriu-se com autorização de Editorial Inter-Médica mente com a protrusão da membrana
que esses sinais correspondiam a S.A e Andrés Patricelli nictitante; mas nestes casos os sinais
uma seqüela fibrótica crônica do que são unilaterais. A ultrassonografia or-
poderíamos chamar de "MEO clássica". No entanto, esses bitária ou a MRI ajudam a esclarecer o diagnóstico 119.
cães não tiveram história de fase exoftálmica aguda, e todos
os casos foram unilaterais. A terapia médica não foi eficaz Tratamento
e a cirurgia foi necessária para normalizar a posição do O tratamento com prednisolona sistêmica é bem suce-
globo ocular. Embora este trabalho tenha descrito uma dido quando se utiliza a dose de 1-2 mg/kg a cada 12 horas.
MEO, muito provavelmente se tratava de uma síndrome di- A recidiva dos sinais ocorre quando a dose inicial é reduzida
ferente 119. em menos de 21 dias ou quando o intervalo entre as doses
aumenta. Nesses casos, 80% dos cães apresentam recidivas
Diagnóstico e, 10% apresentam mais de uma recidiva 119. A duração total
Na maioria dos casos, o diagnóstico se baseia na mera do tratamento varia de 2 a 3 meses, dependendo de cada
aparência do animal 119. Pode-se observar inflamação por caso em particular 99. Alguns oftalmologistas têm preferên-
métodos de diagnóstico por imagem. A ultra-sonografia or- cia por usar azatioprina, embora, em geral, este medica-
bital de alta resolução (10 Hz) pode ser muito útil, mas, em mento seja usado quando os efeitos adversos dos
alguns casos, não é possível evidenciar o aumento de vo- corticosteróides não são tolerados 119. O prognóstico é ge-
lume dos músculos extraoculares porque o aumento gene- ralmente favorável, embora as recorrências sejam possíveis.
ralizado da ecogenicidade orbital diminui a resolução das
estruturas orbitais individuais 8. A ressonância magnética Miopatias inflamatórias infecciosas
(MRI) é particularmente valiosa para observar alterações As MIGs também foram associadas a agentes infeccio-
inflamatórias musculares 119. A biópsia muscular não é rea- sos como protozoários 3,6,10,20,28,55,73,113, rickettsias 12,102, espi-
lizada rotineiramente porque o diagnóstico clínico é sufi- roquetas 59 e outras bactérias 82,94.
cientemente evidente para requerer confirmação As infecções por protozoários são a causa mais comum
histológica. Se isso for feito, se observa um infiltrado in- de doenças infecciosas no sistema neuromuscular (polirra-
flamatório, predominantemente linfócitos T e histiocitos diculoneurite e/ou miosite) 23.
37,96,119. A aspiração com agulha fina é menos agressiva do

que a biópsia e pode orientar a suspeição diagnóstica mos- Poliomiosites protozoárias


trando infiltrado inflamatório 26. Os títulos séricos de anti- Definição
corpos contra as fibras 2M dos músculos mastigatórios são As polimiosites protozoárias são as MIG causadas por
negativos na MEO . 119 toxoplasmose ou neosporose, infecções causadas por
Toxoplasma gondii e Neospora caninum, respectivamente.
Diagnóstico diferencial O agente principal que afeta os cães é Neospora caninum,
Uma condição semelhante que pode causar exoftalmia embora também possam ocorrer casos devido a Toxoplasma
bilateral é a MMMC 37. Embora ambas sejam miosites fo- gondii. Em gatos, o principal agente causal é T. gondii 23.
cais, a MMMC envolve apenas os músculos inervados pelo Supõe-se que muitos dos casos relatados em cães como to-
nervo trigêmeo, e a exoftalmia é resultado do deslocamento xoplasmose na literatura antes da descrição de N. caninum
rostral do globo ocular por músculos mastigatórios infla- foram provavelmente neosporose 99. Histologicamente,

278 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.7 – Afecções do neurônio motor inferior.Miopatias inflamatórias

ambos os organismos podem ser diferenciados por técnicas parasitas deixam o intestino e produzem um ciclo extrain-
imunohistoquímicas ou de microscopia eletrônica. testinal semelhante ao que ocorre nos hospedeiros interme-
diários. A infecção em felinos também pode ocorrer pela
Etiologia (toxoplasmose) ingestão de oocistos. Neste caso, o período pré-patente é
O T. gondii é um parasita de distribuição mundial que maior, de 18 a 36 dias e apenas 10-20% dos gatos eliminam
afeta pássaros, mamíferos e humanos. A infecção tem uma os oocistos, razão pela qual esse tipo de infecção é consi-
apresentação clínica variável de acordo com a espécie afe- derada de menor importância epidemiológica 5,34.
tada e o estado imunológico individual. Gatos e alguns ou- Os hospedeiros intermediários, entre eles o homem, é
tros felinos selvagens são os únicos hospedeiros infectado principalmente por ingestão de carne crua ou mal
definitivos, enquanto humanos e animais de sangue quente cozida de outros hospedeiros intermediários que conte-
atuam como hospedeiros intermediários. Toxoplasma tem nham formas viáveis de T. gondii (cistos teciduais, bradi-
um ciclo sexuado nas células intestinais do gato, o que per- zoítos), através da ingestão de água ou alimentos
mite processos de recombinação genética. Teoricamente, contaminados com oocistos , ou por passagem transplacen-
esse fato daria lugar a uma grande diversidade 5,33,34. Estu- tária de taquizoítos. Quando ingeridos por via oral, os bra-
dos recentes utilizando análise por microssatélites em um dizoítos se estabelecem de forma muito eficiente tanto em
estudo global realizado em 4 continentes, sugeriram a exis- gatos como em hospedeiros intermediários. A vasta gama
tência de 4 linhagens principais, duas endêmicas da Amé- de hospedeiros a que se adapta e sua capacidade de se per-
rica do Sul (SA1 e SA2), uma endêmica na Europa (RW) e petuar asexualmente entre os hospedeiros intermediários,
outra que ocupa uma distribuição global ou cosmopolita, pode explicar seu extraordinário sucesso e sua coesão ge-
chamado WW 60,68. Os estudos evolutivos aplicados em pa- nética. Ao contrário de outros parasitas coccidianos, os bra-
rasitas isolados obtidos em 4 continentes indicam que o To- dizoítos de T. gondii também são infecciosos quando
xoplasma se originou na América do Sul. Isso ingeridos por outros hospedeiros intermediários (nos quais
provavelmente ocorreu quando um coccídio de aves se a recombinação sexuada não ocorre). Portanto, T. gondii é
adaptou a felinos únicos deste continente; isso é compreen- incomum no sentido de que a infecção pode se espalhar
sível se levado em conta que a América do Sul foi um con- tanto em seus estágios sexuais como assexuais 5,32-34.
tinente isolado do resto por 100 milhões de anos e apenas Nos hospedeiros intermediários ocorre um ciclo exclu-
3 milhões de anos atrás se juntou à América Central e sivamente extraintestinal. As formas infectantes penetram
Norte. Um pássaro migratório levou o parasita ao velho em distintas células nucleadas do organismo e se multipli-
mundo, onde foi disseminado através do gato doméstico, o cam na forma de taquizoítos (formas semilunares de 3 a 5
que fez sua transmissão maciça e rápida, atenuando sua vi- mm), dentro dos vacúolos do parasitóforo. Este é o período
rulência. Em contraste, na América do Sul, a espécie se es- de multiplicação rápido, no qual os taquizoítos destroem
palhou muito mais devagar e provavelmente conservou as células parasitadas e se disseminam no hospedeiro. Em
muito mais sua virulência original. Em conclusão, existe caso de ocorrência de manifestações clínicas ocorrem prin-
um Toxoplasma novo mundo e um Toxoplasma velho cipalmente durante esta fase aguda da infecção. Após um
mundo, com diferenças na virulência 68. curto período, os parasitas se multiplicam mais devagar,
Toxoplasma tem três estágios de desenvolvimento co- sem destruir a célula hospedeira, e formam os cistos teci-
nhecidos. Os taquizoítos, desenvolvidos dentro de um va- duais em que, os chamados bradizoítos, permanecem viá-
cúolo parasitóforo; os bradizoítos, que são encontrados veis por um tempo indeterminado, inclusive durante toda
dentro de um cisto tecidual; e os esporozoítos, que são en- a vida do hospedeiro. Esta é a fase crônica da doença. Os
contrados dentro dos oocistos. Se um felino ingerir cistos cistos teciduais são resistentes à ação da pepsina e da trip-
teciduais, ocorre o ciclo enteroepitelial com a multiplicação sina, o que explica a infecção oral. Eles são importantes na
assexuada e sexuada do parasita, que se conclui após 3 a transmissão da parasitose porque são encontrados em mui-
10 dias com a formação de oocistos imaturos, que são eli- tos tecidos geralmente ingeridos por carnívoros 5,33,34.
minados para o meio externo pelas fezes por aproximada-
mente 3 semanas. Em condições de temperatura e umidade Etiologia (neosporose)
adequadas, em 1 a 5 dias são formados dois esporocistos A neosporose é uma doença causada por Neospora
com quatro esporozoítos cada um, no interior dos oocistos, caninum, que tem sido estudada principalmente em cães e
oocistos esporulados ou maduros, que são as formas infec- bovinos. É causa de aborto epidêmico em vacas de todos
tantes para gatos e hospedeiros intermediários, incluindo o os continentes, afetando raças leiteiras como as de carne 34.
ser humano. Os oocistos maduros podem permanecer viá- N. caninum é um parasita protozoário intracelular perten-
veis por períodos de até 18 meses. Considera-se que em 1 cente à família Sarcocystidae estreitamente relacionado ao
grama de matéria fecal pode haver mais de 1 milhão de oo- Toxoplasma. Tem uma distribuição mundial e a infecção
cistos e, durante o período de latência um gato pode elimi- por N. caninum foi descrita na Alemanha, Argentina, Bél-
nar até 600 milhões de oocistos, que posteriormente podem gica, Canadá, Dinamarca, Espanha, Hungria, Itália, Japão,
contaminar tanto os alimentos como a água 5,33,34,40. México, Suécia, Reino Unido e Zimbábue 3,34.
Durante o desenvolvimento do ciclo intestinal, alguns Seu ciclo de vida inclui o cão, o coiote, o dingo australiano

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 279


Capítulo 25.7 – Afecções do neurônio motor inferior.Miopatias inflamatórias

e, provavelmente, o lobo cinzento como hospedeiros defi- Manifestações clínicas (toxoplasmose)


nitivos 34. A identificação desta doença foi realizada pela O T. gondii é considerado um patógeno oportunista em
primeira vez em 1984 em 6 cachorros de cães 14. Mais tarde, cães. A infecção é geralmente subclínica, mas sob certas
em 1988, foi feita a descrição do novo gênero e da espécie condições pode apresentar sinais clínicos, predominante-
de protozoário, até que, em 1999,foi realizado o isolamento mente manifestações respiratórias e neuromusculares. Tam-
de N. caninum em cultivos celulares 28. bém foram descritos casos fatais de toxoplasmose
O ciclo envolve vários hospedeiros intermediários, entre generalizada. A manifestação dos sinais clínicos é influen-
os quais se inclui bovinos, ovinos, caprinos, equinos, espé- ciada pela idade e pelo estado imunológico do animal. A
cies selvagens (búfalos de água, cervos, raposas, leões, ca- maioria dos casos clínicos ocorre em cães com menos de 1
melos, animais marinhos) e, inclusive, também os cães. Em ano de idade. Os sinais mais graves de toxoplasmose são
todos eles, a infecção natural ocorre, como na toxoplas- observados em filhotes, que podem desenvolver parapare-
mose, devido ao consumo de oocistos esporulados que con- sia progressiva com atrofia e contratura rígida dos múscu-
taminam alimentos e água. Experimentalmente, se pode los dos membros pélvicos, com início às 4 ou 5 semanas
infectar felinos, camundongos, ratos, porcos e macacos. Em de idade. Os cães adultos podem desenvolver uma varie-
relação à distribuição tecidual, possui uma marcada predi- dade de manifestações clínicas, incluindo encefalomielite,
leção pelo SNC, o sistema neuromuscular e a retina 13,31. miosite, dermatite ou disseminação multifocal. A parapa-
A infecção no cão ocorre pelo consumo de bradizoítos resia é o sinal neurológico mais comum, mas também
e taquizoítos contidos nos tecidos desses animais que podem ocorrer convulsões, comportamentos anormais e
atuam como hospedeiros intermediários. O seu ciclo de distúrbios vestibulares.Os sinais de miosite consistem em
vida envolve uma fase de multiplicação rápida com forma- marcha rígida, fraqueza e dor ou atrofia dos músculos es-
ção de taquizoítos, próprios dos hospedeiros intermediá- queléticos. Qualquer outro órgão pode estar comprometido,
rios, localizados intracelularmente e localizados incluindo pulmões, sistema gastrointestinal, olhos e cora-
preferencialmente em células nervosas. Posteriormente, ção. É frequente a toxoplasmose clínica associada à infec-
ocorre uma fase de multiplicação lenta com a formação de ção por cinomose, provavelmente devido ao efeito
bradizoítos localizados dentro de cistos teciduais com 100- imunossupressor do vírus. Supõe-se que outras situações
107µm de diâmetro, que estão localizados no SN, incluindo de estresse que produzem imunossupressão também favo-
a retina. Para completar o ciclo, o hospedeiro definitivo reçam a apresentação de casos clínicos de toxoplasmose.
deve eliminar os oocistos através das fezes, contaminando Infecções subclínicas ou crônicas podem ser ativadas pela
assim o alimento e a água. Os oocistos medem 10-11µm de administração de corticosteróides 5,40. No cão, deve ser
diâmetro e, sob condições ambientais favoráveis, podem realizado o diagnóstico diferencial com a infecção por
esporular dentro de 24 horas após a eliminação 13,31,34. Neospora caninum, um protozoário intimamente relacio-
A maioria dos cães afetados apresenta uma alta carga pa- nado, que até sua descrição em 1988 foi erroneamente
rasitária, com a presença de numerosos taquizoítos, o que diagnosticado como T. gondii 28.
pode sugerir uma imunodeficiência associada ou diferenças Os gatos geralmente passam a infecção de forma assin-
entre as cepas atuantes. O cão, como mencionado, também tomática, mesmo durante a eliminação de oocistos. No en-
pode atuar como um hospedeiro intermediário ao consumir tanto, em algumas ocasiões eles podem apresentar sinais
oocistos em alimentos ou água. A via vertical também está clínicos, principalmente respiratórios associados a pneu-
presente nesta espécie, embora existam estudos que mostrem monia intersticial, com dispnéia, letargia, anorexia, sinais
que esta forma de transmissão é pouco efetiva para manter a oculares (uveíte, coriorretinite, retinocoroidite), pancrea-
infecção nos cães. Foi documentada em cães, bovinos, ovi- tite, doença hepática ou sinais neuromusculares. Os sinais
nos, caprinos, camundongos, gatos, macacos e porcos 13,31,34. do SNC são geralmente comuns em gatos e consistem em
Nos humanos não há relatos de infecção com este pa- ataxia, comportamento anormal, convulsões e tremores. Os
rasita. No entanto, existe a possibilidade de que possa ser sinais mais graves de toxoplasmose são observados em fi-
subdiagnosticado como toxoplasmose. Considera-se que lhotes infectados por via transplacentária. Nos animais in-
possui potencial zoonótico porque, experimentalmente, fectados desta forma foi comunicado a presença de
foi possível infectar macacos-rhesus (Macaca mulatta) 34. encefalite, hepatite, ascite, sinais respiratórios e morte pe-
rinatal antes do desmame. Analogamente ao que acontece
Prevalência em cães com cinomose, os gatos infectados com o vírus da
Em uma revisão clinicopatológica de 200 casos de mio- imunodeficiência felina são geralmente mais suscetíveis à
patias inflamatórias, 28 casos (14%) corresponderam a poli- toxoplasmose 5,34,40,44,56.
miosite de protozoários; Destes, 16 casos (8%) corresponderam
a T. gondii e 12 (6%) a N. caninum 37. Em outro estudo sobre Manifestações clínicas (neoporose)
miopatias inflamatórias, 3 dos 21 casos (14%) foram O Neospora pode causar doença fatal em cães de todas
causados por N. caninum 96. Na experiência do autor, as as idades, mas os filhotes geralmente ficam mais severa-
polimiosites protozoárias representam 5% das doenças neu- mente doentes que os adultos, com a maioria dos casos re-
romusculares e 0,3% de todos os casos neurológicos 89. latados em animais com menos de 6 meses 3,33,34,39,101.

280 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.7 – Afecções do neurônio motor inferior.Miopatias inflamatórias

Também pode afetar o sistema nervoso em qualquer idade,


mas por algum motivo desconhecido, tem uma marcada
predileção pelas raízes nervosas espinhais lombossacras de
cães jovens. Esta localização, juntamente com a inflamação
muscular que geralmente produz, ocasiona paraparesia pro-
gressiva, atrofia muscular e perda do reflexo patelar 3. Os
sinais geralmente progridem para a paralisia ascendente
dos membros pélvicos, com uma característica hiperexten-
são rígida causada por uma combinação de radiculite e
miosite, causando a última uma contratura fibrosa dos mús-
culos quadríceps e grácil l3,21,39,69 (Figura 8). Os filhotes tam-
bém podem desenvolver pneumonia, hepatite, mionecrose,
encefalite, tremores cefálicos e miocardite (que causa
morte súbita) 3,28,30,31,101.
Figura 8 – Golden retriever de 4 meses de idade com pa-
Os cães adultos são afetados com menos frequência e
ralisia e hiperextensão espástica dos membros pélvicos.
apresentam uma variedade de sinais neurológicos, mais co- O diagnóstico foi a neosporose.
mumente a síndrome do SNC multifocal, incluindo paresia, Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neuro-
paralisia, inclinação cefálica, disfagia, paralisia mandibu- lógico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica,
lar, flacidez muscular, megaesôfago, atrofia muscular e 2014. ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de
convulsões 21,310,101. Também foi relatada a presença de mio- Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino
site, miocardite, hepatite, dermatite, lesões oculares, pneu-
monia intersticial e pancreatite. Cães adultos apresentam células nucleadas, embora os resultados possam ser nor-
evidência histopatológica de envolvimento multifocal do mais.
SNC, polimiosite ou ambos 21. Em contraste com os cães O diagnóstico de oocistos em matéria fecal felina é rea-
jovens, não existe uma área de predileção em cães adultos lizado por técnicas de flotação (técnica de Sheather). A pre-
com neosporose, e os sinais clínicos de encefalomielite va- sença de cistos teciduais ou taquizoítos pode ser realizada
riam dependendo da distribuição de N. caninum no SNC e em amostras de tecido obtidas post-mortem ou, menos
no resto dos tecidos 31. No entanto, há relatos específicos comum, por biópsia mediante a observação em fresco, co-
em que a neosporose foi documentada como causa de ata- loração citológica ou por estudos histopatológicos em que
xia cerebelar progressiva e atrofia cerebelar em cães adul- é possível associar a presença do parasita a determinadas
tos 41. Infecções subclínicas ou crônicas podem ser ativadas lesões. Com técnicas imunohistoquímicas e soros hiperi-
pela administração de corticosteróides. munes anti-T.gondii se pode confirmar o diagnóstico, dife-
As lesões características consistem em múltiplos focos renciando a doença devido a outros protozoários de
de necrose e mineralização muscular, especialmente do dia- morfologia semelhante, como N. caninum 5.
fragma. Também se observa hepatomegalia, pneumonia, Para a detecção de anticorpos em animais, normalmente
miocardite não supurativa, miosite, miofibrose, encefalo- se utiliza os testes por IFI e os de enzimaimunoensaios
mielite não supurativa com polirradiculoneurite, ganglio- (ELISA), nos quais o antígeno consiste em taquizoítos de
nite, degeneração axonal e formação de nódulos gliais. A T. gondii da cepa RH (tipo I), que expõem os epítopos su-
inflamação induzida por N. caninum é maior que a produ- perficiais. . Ambas as técnicas permitem diferenciar IgM e
zida por T. gondii e pode causar flebite grave e dermatite. IgG. Como a prevalência de T. gondii em cães saudáveis é
Em qualquer caso, as lesões são muito similares, de modo alta, um único teste de anticorpos positivos não é suficiente
que a confirmação etiológica é baseada na presença de ta- para o diagnóstico de toxoplasmose. Em um estudo realizado
quizoítos ou métodos imunohistoquímicos 31,41. na Argentina entre 1997 e 2007, a prevalência de toxoplas-
Não se sabe se existe uma maior susceptibilidade por mose em soros de cães com sinais clínicos compatíveis foi
raça ou sexo. Só se tem os antecedentes de que a maioria de 30,3%. O número de animais soropositivos com sinais
dos casos foram descritos em labrador, boxer, greyhound, clínicos aumentou de acordo com a idade 5.
golden retriever e basset hound 31. Os resultados de IgM em animais devem ser considera-
dos com precaução, especialmente em gatos, que podem
Diagnóstico (toxoplasmose) apresentar níveis basais de IgM por um longo período de
A hematologia e bioquímica sérica podem ser normais tempo. Por esta razão, para determinar toxoplasmose aguda
ou refletir comprometimento sistêmico. A anemia não re- em caninos e felinos, é aconselhável determinar a sorocon-
generativa, leucocitose neutrofílica e eosinofilia são co- versão de IgG com um intervalo não inferior a 3 semanas
muns. Em gatos com toxoplasmose pode se observar na presença de sinais clínicos, mesmo na presença de um
leucopenia e bilirrubina elevada. A atividade da CPK sérica resultado negativo na primeira determinação. Um título po-
pode estar aumentada em casos de miosite. A análise do sitivo de IgM para T. gondii (> 1/128 em cães e> 1/256 em
LCR frequentemente mostra um aumento na proteína e gatos) ou um aumento de 3 a 4 vezes no título de IgG após

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 281


Capítulo 25.7 – Afecções do neurônio motor inferior.Miopatias inflamatórias

soroconversão é sugestivo de infecção. A detecção de antí- Diagnóstico diferencial


genos específicos de T. gondii ou anticorpos no LCR pode A hepatozoonose pode causar miopatias. Hepatozoon
ser mais apropriada 39,90. A biópsia muscular pode contribuir canis é um parasita coccidiano que afeta os cães após a in-
para a identificação de bradizoítos ou taquizoítos; Para di- gestão de carrapatos da espécie Rhipicephalus sanguineus
ferenciar entre Neospora e Toxoplasma são necessários tes- que contém esporozoítos em sua hemocele. Provoca lesões
tes imunohistoquímicos 39. As técnicas de PCR no soro, por vasculite e pela presença de imunocomplexos. Os sinais
LCR ou músculo mostraram grande sensibilidade para de- clínicos incluem hipertermia, anemia, anorexia, polidipsia,
monstrar a presença de Toxoplasma 87. poliúria, miosite crônica, paraparesia, prostração, prolife-
ração periosteal diafisária, linfoadenomegalia e hepatome-
Diagnóstico (neosporose) galia. Em geral, H. canis requer a presença simultânea de
As técnicas convencionais para demonstrar sorologia outra doença infecciosa, parasitária ou traumática para que
positiva, como IFAT e immunoblot, não servem para deter- os sinais clínicos sejam acentuados, embora ocasional-
minar o papel do cão como hospedeiro final de N. caninum, mente a sua simples presença seja suficiente para causar
pois quando ele elimina os oocistos geralmente não apre- doenças. O diagnóstico definitivo consiste na identificação
senta anticorpos séricos que reconhecem taquizoítos. Como de gametócitos em monócitos e neutrófilos em esfregaços
na toxoplasmose, a prevalência de N. caninum em cães sau- sanguíneos. O tratamento consiste em toltrazuril 14-20
dáveis é alta, de modo que um único teste de anticorpos po- mg/kg durante 7 dias; também se pode administrar o dipro-
sitivos não é suficiente para o diagnóstico de toxoplasmose. pionato de imidocarb a 6 mg/kg via SC cada 14 dias com-
Em um estudo realizado na Argentina entre 1997 e 2007, a binado com tetraciclina a 22 mg/kg a cada 8 horas por via
prevalência de neosporose em soro de cães com sinais clí- oral durante 14 dias.
nicos compatíveis foi de 25,6%. O número de animais so- O diagnóstico diferencial das polimiosites protozoárias
ropositivos com sinais clínicos aumentou de acordo com a também deve considerar miopatias congênitas degenerativas
idade 5,46. Os testes de imunofluorescência indireta estão (por exemplo, distrofia muscular) e miopatias inflamatórias
disponíveis para a detecção sérica de anticorpos contra N. não infecciosas. A sorologia, a biópsia e, eventualmente, a
caninum. Um título positivo é evidência de infecção, mas resposta ao tratamento muscular específico ajudam a escla-
não de doença. Um título elevado (> 1/800) acompanhado recer o diagnóstico.
de sinais clínicos compatíveis é suficiente para o diagnós-
tico de neosporose 90. A detecção de antígenos específicos Tratamento
de T. gondii ou anticorpos no LCR pode ser mais adequado O tratamento de escolha, tanto para toxoplasmose
39. Como na toxoplasmose, a biópsia muscular pode con- quanto para neosporose, consiste em cloridrato de clinda-
tribuir na identificação de bradizoítos ou taquizoítos micina (10-20 mg/kg, por via oral, 3 vezes ao dia, durante
(Figura 9), mas a diferenciação entre ambos os protozoá- um mínimo de 4 semanas), fosfato de clindamicina (12,5 a
rios requer testes imunohistoquímicos 39. As técnicas de 25 mg/kg 2 vezes por dia), ou sulfadiazina associada com
PCR no soro, LRC ou músculo mostraram grande sensibi- trimetoprim (15-20 mg/kg 2 vezes por dia) e pirimetamina
lidade para demonstrar a presença de Neospora 87. (1 mg/kg/dia). Com o tratamento precoce, os sinais clínicos

A B

Figura 9 – Corte histológico de uma amostra de músculo de uma fêmea Boxer de 7 anos de idade com polimiosite.
Podem ser observados cistos de protozoários com numerosos taquizoítos no interior. A sorologia positiva indicou que
os cistos eram de Neospora caninum. A) aumento de 25x; B) aumento de 50x.
Fonte: PELLEGRINO, F. C. Las claves del diagnóstico neurológico para el veterinario clínico. Buenos Aires: Inter-Médica, 2014.
ISBN: 978-950-555-424-9. Publicado com autorização de Editorial Inter-Médica S.A e Fernado C. Pellegrino

282 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 25.7 – Afecções do neurônio motor inferior.Miopatias inflamatórias

se resolvem dentro de 1 a 2 semanas. Para ambos os para- ophthalmopathy: state of the art and perspectives. Journal of
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dos membros pélvicos e outros sinais neurológicos podem
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persistir por danos permanentes ao sistema nervoso 23,40. domésticos y silvestres criados en cautiverio: Aspectos epidemio-
Atualmente não existem medicamentos eficientes con- lógicos y diagnóstico. In: CACCHIONE, R. ; DURLACH, R. ;
tra cistos teciduais. Por outro lado, o coccidiostático deco- MARTINO, P. Temas de Zoonosis IV. 1. ed. Buenos Aires:
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definida e compreendida, em que os gatos afetados apre- in the dog. J Vet Int Med, v. 15, p. 80-82, 2001.
sentam sinais intermitentes que sugerem um fenômeno ir- 9-BRAUND, K. G. Myopathies in dogs and cats: Recognizing endogenous
ritativo 27. Consiste em aparentes espasmos musculares na causes. Vet Med, v. 81, n. 9, p. 803-813, 1986.
musculatura episomática toracolombar associados a lam- 10-BRAUND, K. G. ; BLAGBUM, B. ; TOIVIO-KINNUCAN, M. ; et
beduras ou mordidas violentas direcionadas para a região al. Toxoplasma polymyositis polyneuropathy—A new clinical
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dos, comportamento errático, pupilas dilatadas, vocalização
11-BUCHBINDER, R. ; HILL, C. L. Malignancy in patients with
excessiva, movimentos exagerados da cauda e corridas fre- inflammatory myopathy. Curr Rheumatol Rep, v. 4, n. 5, p. 415-
néticas 26. Os gatos são normais entre episódios, que duram 426, 2002.
de segundos a vários minutos; eles podem aparecer em 12-BUORO, I. ; KANUI, T. ; ATWELL, R. ; NJENGA, K. M. ;
qualquer idade, embora seja mais freqüente em gatos adul- GATHUMBI, P. K. Polymyositis associated with Ehrlichia canis
tos jovens e em qualquer raça. O exame físico e neuroló- infection in 2 dogs. Journal of Small Animal Practice, v. 31, n.
gico não revela anormalidades, exceto possíveis lesões 12, p. 624-627, 1990. DOI: 10.1111/j.1748-5827.1990.tb00714.x.
cutâneas e capilares devido a lambidas violentas. Foi rela- 13-BUXTON, D. ; MCALLISTER, M. ; DUBEY, J. P. The comparative
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tado que episódios de irritação podem ser desencadeados p. 546-552, 2002. DOI: 10.1016/S1471-4922(02)02414-5.
pela estimulação dos músculos das costas que ocorrem, por
14-BJERKUS, I. ; MOHN, S. F. ; PRESTHUS, J. Unidentified cyst
exemplo, acariciando o gato 75. A causa da SHF é desco- forming sporozoon causing encephalitis and myositis in dogs.
nhecida; um relato sugere que, em alguns gatos, a causa Zeitschrift fur Parasitekunde, v. 70, n. 2, p. 271-274, 1984.
pode ser uma miopatia com alterações vacuolares similares 15-CALLEN, J. P. Dermatomyositis. Lancet, v. 355, n. 9197, p. 53-57,
às observadas na miosite por corpos de inclusão de seres 2000. DOI: 10.1016/S0140-6736(99)05157-0
humanos 76. O diagnóstico diferencial inclui alterações cu- 16-CARDINET, G. H. Skeletal muscle function. In: KANEKO, J. J.
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tas), distúrbios comportamentais e convulsões epilépticas.
Não há tratamento específico porque a causa é desco- 17-CARPENTER, J. L. ; HOLZWORTH, J. Thymoma in 11 cats. Journal
of the American Veterinary Medical Association, v. 181, n. 3,
nhecida. Em forma empírica, bons resultados foram obti- p. 248-251, 1977.
dos com acupuntura e quiropraxia. Houve tentativas de 18-CARPENTER, J. L. ; SCHMIDT, G. M. ; MOORE, F. M. ; ALBERT,
tratamentos com amitriptilina (2 mg/kg/dia), com clomi- D. M. ; ABRAMS, K. L. ; ELNER, V. M. Canine bilateral extrao-
pramina (1-5 mg/kg 2 vezes ao dia), com resultados variá- cular polymyositis. Veterinary Pathology, v. 26, p. 510-512,
veis. Também foi medicado com fenobarbital (0,5-2,5 1989. DOI: 10.1177/030098588902600608.
mg/kg 2 vezes ao dia) considerando uma suposta epilepsia. 19-CERDA-GONZALEZ, S. Disorders of skeletal muscles. In: ETTINGER,
Com nenhum destes tratamentos foram obtidos resultados S. J. ; FELDMAN, E. C. Textbook of Veterinary Internal Medicine.
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286 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


26
Neuroreabilitação funcional em lesões medulares

Ângela Martins
António Ferreira

N
a prática clínica para podermos ter sucesso funcio- Na DDIV ocorre diminuição dos glicosaminoglicanos
nal dos nossos pacientes é necessário ter conheci- e aumento do colágeno levando a que a matriz do DIV
mento do tipo de doenças e lesões medulares mais fique mais rígida e perca as propriedades hidrostáticas, bem
frequentes em veterinária. Ao longo deste capítulo será como a alterações na nutrição e circulação no DIV, promo-
abordado sucessivamente a doença degenerativa interver- vendo, a deterioração do mesmo. A falta de vascularização
tebral (DDIV), a embolia fibrocartilaginosa, a hérnia discal e alterações celulares originam falha estrutural, podendo
do tipo III, a mielopatia degenerativa e, ainda, alterações ocorrer hérnia do DIV 2,6. Esta última pode causar lesão da
da cauda equina. medula devido a dois processos distintos. A lesão primária
O primeiro passo que o reabilitador deve efetuar perante da medula corresponde à lesão mecânica inicial e a lesão
este tipo de paciente neurológico é o exame de neuroreabi- secundária ocorre devido ao desenvolvimento da cascata
litação funcional (NRF), que será explicado posteriormente. de reações bioquímicas, que consiste numa desregulação
Todos os protocolos de NRF são baseados nas proprie- vascular, choque neurogênico, stress oxidativo e eritroto-
dades intrínsecas da medula, existentes tanto no bípede xicidade 61. Existe uma correlação entre o aumento sérico
humano, como no quadrúpede animal, sendo estas a neu- das metaloproteinases de matriz-2 e a gravidade da DDIV
roplasticidade, a neuromodulação e a memorização. Por- nos cães 2,6. Nos DIV degenerados, foram também identifi-
tanto, é essencial o esclarecimento das mesmas, ao longo cados outros mediadores inflamatórios como o fator tumo-
do capítulo. Para facilitar a memorização dos termos abor- ral necrótico-α e as interleucinas -1β e -6 6.
dados, conferir as abreviaturas mais comuns (Quadro 1). A abordagem terapêutica das DDIV pode ser conserva-
tiva ou cirúrgica, tendo assim a NRF papel primordial em
Quadro 1 – Glossário
qualquer dos casos, o qual será abordado posteriormente
CAA exercício de cinesioterapia ativos assistidos neste capítulo.
DDIV doença degenerativa do disco intervertebral
DIV disco intervertebral Metaplasia condroide
GPC gerador de padrão central A metaplasia condroide é caraterizada pela perda de gli-
MP membro pélvico
cosaminoglicanos, aumento do colágeno e diminuição do
MT membro torácico
teor em água, resultando na perda da propriedade hidros-
NMES neuromuscular electrical stimulation
NMS neurônio motor superior
tática do DIV (Figura 1), bem como da sua capacidade de
NP núcleo pulposo manter e sustentar a pressão intervertebral 6,8,20,56. Além de
NRF neuroreabilitação funcional ser comum em raças condrodistróficas 5,25, é hereditária 5.
SNC sistema nervoso central Tipicamente, a degeneração condroide está associada a
SOD-1 gene autossômico recessivo superóxido dismutase-1 extrusões do DIV, também conhecidas como hérnia de
SP sensibilidade à dor profunda Hansen tipo I. Deste modo, há herniação do material nu-
TENS transcutaneous electrical nerve stimulation clear para o canal vertebral através das camadas rompidas
TL treino locomotor do anel fibroso 8,25,40,68. A extrusão do DIV aguda é carate-
rizada pela presença de material de tecido mole do DIV no
canal vertebral e pela hemorragia extradural. Por outro lado,
LESÕES MEDULARES FREQUENTES na extrusão do disco crônica surgem aderências fibrosas ex-
tradurais ao redor do material herniado, sendo que, ao longo
DOENÇAS DEGENERATIVAS DO DISCO do tempo, se forma uma massa mineralizada 13. A hérnia do
INTERVERTEBRAL (DDIV) NP surge, maioritariamente, de forma aguda e conduz
A doença degenerativa do disco intervertebral (DDIV)
a mielopatia focal compressiva. No caso de mielopatia
é um processo complexo e multifatorial, caracterizado por
alterações na composição das células e matriz extracelular
do anel fibroso, do núcleo pulposo (NP), das zonas perinu-
cleares e das placas terminais. A doença é descrita como
uma falha aberrante estrutural e progressiva da resposta
mediada celular. Esta pode estar associada a predisposição
genética, mecanismos físicos crônicos, traumatismo, me-
tabolismo e transporte nutritivo inadequado, bem como al-
terações a nível da atividade enzimática, da matriz e da
água do disco intervertebral (DIV) 5,6. Figura 1 – Hérnia de Hansen tipo I e tipo II

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 287


Capítulo 26 – Neuroreabilitação funcional em lesões medulares

progressiva grave, pode ocorrer mielomalacia ascendente a sinais clínicos, progressivos, de paraparesia.
e/ou descendente 45. A síndrome da necrose isquêmica ascendente-descen-
Esta doença é especialmente prevalente em raças con- dente da medula espinhal, tem uma prevalência de 10%
drodistróficas, como o teckel 71,72, pequinês, welsh corgi, em animais com DDIV toracolombar aguda e ausência de
beagle, lhasa apso e caniche miniatura 13,20, e entre os dois SP 51,56. Esta síndrome é conhecida como mielomalacia as-
a oito anos de idade 32,40,71,72. No entanto, o processo já cendente-descendente e a sua patogênese é desconhecida 45,51,
foi descrito em raças não condrodistróficas, tais como o embora haja evidência da presença de trombose progres-
dobermann e o labrador retriever 13,56,71,72. siva da vascularização da medula espinhal 51. Os sinais as-
As hérnias de Hansen tipo I ocorrem mais comumente cendentes, de neurônio motor inferior (NMI), incluem a
na região toracolombar, nas raças condrodistróficas, sendo perda da função dos músculos intercostais, necessários para
a região entre as vértebras T12-T13 e L1-L2, aquela com a respiração, e a incapacidade de decúbito esternal, por perda
maior incidência 2,13,20,68. Já nas raças não condrodistróficas, do tónus dos músculos paraespinhais 56. Quando há progres-
o local de maior incidência é entre as vértebras L1-L2 13 e são caudal, os reflexos patelar, flexor e perineal podem apre-
L2-L3 2,20. As lesões menos graves ocorrem em áreas onde sentar-se progressivamente diminuídos a ausentes 45.
o espaço canal vertebral-medula espinhal é maior, como
por exemplo, na região cervical 45. Fatores de prognóstico
Para a NRF é essencial ter conhecimento de certos si-
Metaplasia fibroide nais clínicos para ponderar o prognóstico e, ainda, o tempo
O DIV é constituído por colágeno e proteínas não colá- necessário da NRF para atingir o estado funcional do
genas, incluindo agregados de proteoglicanos, os quais têm doente. Sabemos que lesões de NMI estão associadas a pior
a função de fixar a água e existem em abundância no NP 45 prognóstico do que as lesões de NMS 8,13, embora, se os
(Figura 1). A idade e as lesões estão associadas à diminui- protocolos forem ajustados não existem grandes diferenças
ção progressiva de proteoglicanos e, normalmente, com o temporais para a NRF dos dois sistemas motores.
processo do envelhecimento e aparecimento da metaplasia Segundo Coates 13, os cães com ausência de SP devem
fibroide 43,45,56. ser operados até 12 a 36 horas após perda da SP, para po-
A metaplasia fibroide vai originar, de forma gradual, a derem ter uma rápida recuperação e possível funcionali-
protrusão do DIV 45,56. Conhecida como hérnia de Hansen dade. Assim sendo, o prognóstico é reservado se a SP não
tipo II, caracteriza-se por protrusão do NP, mas sem pro- retornar no prazo de duas a quatro semanas. Diferentes es-
trusão do anel fibroso 8,43,56. tudos indicam que o tempo decorrido entre a observação dos
Os sinais agudos de hérnia Hansen tipo II são menos primeiros sinais clínicos e a cirurgia não interfere na recu-
comuns e a compressão pela protrusão pode resultar numa peração dos doentes com disfunções neurológicas medianas,
mielopatia focal, lenta e progressiva 45. mas interfere em indivíduos paraplégicos 13. Pela experiên-
Esta doença ocorre, maioritariamente, em raças não con- cia dos autores, se os doentes sem SP forem estimulados
drodistróficas, como o pastor alemão e labrador retriever 8. segundo protocolos de NRF o mais cedo possível, ou seja,
Devido ao seu caráter progressivo, desenvolve-se lentamente dois a três dias após a lesão/ abordagem cirúrgica, a SP pode
e os sinais clínicos surgem entre os cinco e os 12 anos 40,45. surgir entre a quinta e a sexta semana de NRF, permitindo
assim que estes doentes atinjam uma locomoção voluntária.
Sinais clínicos de DDIV O reflexo cutâneo do tronco é um reflexo segmentar
De um modo geral, os sinais clínicos mais comumente muito importante para o reabilitador, pois é um fator de
apresentados, em ambos os tipos de DDIV, são a perda da prognóstico para o aparecimento da síndrome de mieloma-
propriocepção consciente e subconsciente, da função mo- lacia descendente. Assim sendo, a sua presença ou ausên-
tora voluntária, da sensibilidade à dor profunda (SP) e da cia, durante os cinco dias pós-cirúrgicos, são um teste
micção voluntária, esta última, normalmente associada com sensível para detectar os primeiros estágios desta síndrome.
paraplegia 7,45. Este reflexo surge mais caudalmente, ao fim de doze a vinte
O sinal clínico mais comum da doença é a presença de semanas após a lesão, e é um fator indicador de maior
hiperestesia espinhal na manipulação da coluna. Esta ocorre probabilidade de recuperação da função motora 51.
devido à compressão das raízes nervosas e das meninges 7,45.
Nas hérnias de Hansen tipo I os sinais clínicos podem DOENÇAS DEGENERATIVAS
variar desde hiperestesia, ataxia, paresia ou paralisia, com DA MEDULA ESPINHAL
ou sem percepção da dor profunda, e incontinência urinária Mielopatia degenerativa
e/ou fecal 25. Os déficits neurológicos em cães com ruptura A mielopatia degenerativa é uma lesão de neurônio
do DIV toracolombar são limitados aos membros pélvicos motor superior (NMS) que afeta inicialmente os MP e, pos-
(MP), contudo, podem apresentar aumento do tónus exten- sivelmente, com apresentação assimétrica 12,13. Os sinais clí-
sor dos membros torácicos (MT), no caso de posição pos- nicos podem progredir lentamente dos MP para os MT
tural de Schiff-Sherrington 50. sendo que, nesta fase, estão afetados os dois sistemas
A protrusão do DIV toracolombar, tipicamente, dá origem motores, o de NMS e NMI 46.

288 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 26 – Neuroreabilitação funcional em lesões medulares

É considerada uma axonopatia central periférica, embora necessitam de mais sessões de tratamento de NRF estando,
a sua primeira manifestação seja pela presença de déficits por isso, associadas a maior taxa de morbidade, podendo o
propriocetivos, ou seja, ataxia propriocetiva. Está provado prognóstico ser mais reservado.
que ocorre degeneração axonal no funículo lateral, na porção Os protocolos de NRF utilizados incluem diversas mo-
dorsal, no funículo dorsal e no sistema nervoso periférico dalidades, à exceção daqueles utilizados para o manejo da
(radiculomielopatia degenerativa). É uma doença hereditária dor uma vez que, nesta condição clínica, não ocorre hipe-
em que existe uma mutação do gene autossômico recessivo restesia espinhal. Note-se ainda que, pela apresentação as-
superóxido dismutase-1 (SOD-1) 12,13. Esta mutação gené- simétrica de déficits neurológicos, os exercícios de
tica ocorre, também, na esclerose amiotrófica lateral 20. cinesioterapia ativos assistidos (CAA) e proprioceptivos
A raça com maior incidência é o pastor alemão, po- devem ser repetidos mais vezes no membro afetado, em re-
dendo surgir em outras raças raças como labrador retriever, lação ao contralateral. O mesmo princípio deve ser aplicado
boxer, husky siberiano, golden retriever ou rhodesian à eletromioestimulação funcional segundo a técnica seg-
ridgeback. Aparentemente não existe predisposição sexual mental, respeitando sempre a neuroanatomia dos nervos
e surge, em média, por volta dos 9 anos 12,13. periféricos e respectivos grupos musculares. Esta modali-
A doença progride entre 6 a 12 meses, tendo como úl- dade deve ser aplicada até 100 Hz, em 6 a 24 mA e com
tima análise o pedido de eutanásia por parte dos proprietá- corrente simétrica interrompida, de forma a respeitar o re-
rios. Os fármacos corticosteroides não beneficiam a pouso muscular e evitar a fadiga muscular.
recuperação dos doentes. Existem estudos que sugerem que Todos os exercícios de CAA e proprioceptivos devem ser
a suplementação vitamínica e de ácido aminocaproico são iniciados o mais rapidamente possível, não havendo neces-
potenciais terapias, embora nenhum destes fármacos altere sidade de tomar precauções especiais relativas à oscilação
a progressão clássica da doença. Sendo assim, a NRF tem mínima da coluna. Assim sendo, não são necessárias estru-
um papel primordial. São descritos protocolos de NRF in- turas de estabilização medular, como talas. A linha da água
tensivos que permitem prolongar o tempo de sobrevivência pode ser colocada ao nível do trocânter maior do fémur, per-
(255 dias), contrastando com o tempo de sobrevivência da mitindo o aproveitamento das propriedades inerentes à água,
fisiatria clássica (130 dias) e ainda, com o tempo de sobre- sendo exemplo a flutuabilidade, viscosidade e resistência.
vivência dos que não realizam fisiatria (55 dias) 20. Isto torna o treino proprioceptivo mais exigente.
Nestes casos não ocorre hiperestesia espinhal, logo, todas
as modalidades de NRF para manejo da dor não necessitam TRAUMA
ser englobadas no protocolo de NRF destes doentes 12,13. Extrusão de núcleo pulposo aguda
não compressiva
MIELOPATIAS VASCULARES A extrusão de núcleo pulposo aguda não compressiva
As mielopatias vasculares apresentam-se normalmente é, normalmente, associada a episódios traumáticos que te-
como um processo agudo, não progressivo, assimétrico e com nham capacidade de causar hérnia do NP. Devido à sua
lateralização dos sinais clínicos, ipsilateralmente à lesão 46. origem, é frequente ocorrerem em associação fraturas e lu-
xações vertebrais 18,54. Existem outras nomenclaturas,
Mielopatia isquêmica por embolismo entre as quais a mais conhecida: extrusão discal tipo
fibrocartilaginoso III 14,15,18,26. A hérnia ocorre por aumento repentino da pres-
É a doença de mielopatia vascular mais comum, cuja fi- são intradiscal, consequente ruptura do anel fibroso do DIV
siopatologia se encontra atualmente pouco esclarecida, mas e projeção do material do NP para o canal vertebral, ocor-
se considera que ocorre devido à oclusão de vasos sanguí- rendo contusão medular. A presença de compressão medu-
neos, que irrigam a medula e/ou vértebras, por material fi- lar pode ser mínima a nenhuma 18,26. Existe maior
brocartilaginoso. Após a formação do êmbolo a substância incidência em cães machos, com cerca de 7 anos. Embora
cinzenta da medula sofre lesão secundária devido à reação haja relatos de ocorrência a nível cervical, os segmentos
em cascata, bioquímica e metabólica, que se gera 17. Se a mais predispostos são T13 a L3 18.
lesão se localizar nas intumescências medulares, o prognós- Comumente, o início dos sinais clínicos ocorre de
tico torna-se grave 46 e a intumescência lombo sacra é a forma hiperaguda, normalmente após um evento traumá-
mais afetada 54. tico e/ou exercício, estabilizando nas seguintes 24 horas.
Cães jovens, de raça grande a gigante e não condrodistró- Em cerca de 62% dos casos os déficits são lateralizados e
ficos são os mais comumente afetados. No entanto, a mesma 57% dos cães apresenta hiperalgesia à palpação 18. A dor
já foi descrita em schnauzer miniatura e yorkshire terrier 46,54. prolonga-se por mais de 24 horas 26. Atualmente, encon-
tra-se descrita uma síndrome específica associada à explo-
Tratamento são dorsolateral de DIV cervicais. Nestes casos, os sinais
A opção terapêutica passa pelo manejo conservativo, clínicos são lateralizados e, devido à lesão dos feixes sim-
tendo por base a NRF. O tempo da mesma varia de acordo páticos ipsilaterais e dos feixes vestibuloespinhais ipsila-
com a localização e extensão da lesão medular. Lesões terais, o animal apresenta hipertermia e distonia posicional
medulares em que exista perda da sensibilidade profunda do lado afetado, respetivamente 54.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 289


Capítulo 26 – Neuroreabilitação funcional em lesões medulares

Estudos referem que a ausência de SP e a presença de central pelo trato espinocervicotalâmico, a nível ipsilateral
plegia poderão estar associadas a prognóstico mau ou re- da medula espinhal 53,71. Quando se testa a sensibilidade su-
servado, embora, nos restantes casos, possa alcançar-se a perficial obtêm-se dois tipos de resposta. Uma está relacio-
recuperação em cerca de 67% 18. nada com a integridade das vias aferentes e dos segmentos
medulares e a outra com a integridade das vias ascendentes
ALTERAÇÕES DA CAUDA EQUINA da dor, tronco cerebral e cérebro. Assim sendo, na primeira
Antes de abordarmos as alterações da cauda equina observa-se o reflexo flexor ou contração da pele e na se-
iremos defini-la. A cauda equina é considerada um con- gunda obtêm-se respostas comportamentais, como vocali-
junto de raízes nervosas derivadas do segmento da medula zar e/ou morder 71. Quanto à SP, a mesma deve ser testada,
espinhal L7-Cd1 a Cd5 que percorrem, ao nível do canal sobretudo quando está ausente. A SP é originada nos recep-
vertebral, a área lombossacra 19. tores profundos, como os ossos, e é transmitida pelos feixes
Uma das doenças mais frequentes é a estenose espinoreticulares. Os axônios que transmitem a SP são pe-
degenerativa lombossacra. Sabe-se que a conformação ana- quenos e possuem fibras não mielinizadas e localizadas no
tômica da coluna vertebral lombar está associada a altera- cordão ventral e lateral da medula espinhal 71. Devido às
ções de movimento da articulação lombossacra e a forças suas características e localização, o feixe responsável pela
mecânicas que suportam o DIV L7-S1, induzindo assim a sua transmissão é o menos atingido em casos de lesão me-
sua degeneração 4,46. dular, o que explica que a SP seja a última função da me-
No caso de surgir estenose lombossacra degenerativa a dula espinhal a ser perdida quando há lesão medular 3,53,71.
etiologia pode ser diversa como: hérnia de Hansen tipo II, hi-
pertrofia dos ligamentos amarelos e do ligamento dorsal lon- Neuroplasticidade, neuromodulação
gitudinal, instabilidade lombossacra, hipertrofia das cápsulas e memorização
articulares, formação de osteófitos e osteocondrose do sacro. A medula espinhal é a divisão mais caudal do sistema
Os sinais clínicos são crônicos e progressivos, com en- nervoso central (SNC). Esta é uma estrutura fundamental
volvimento de déficits neurológicos e nociceptivo, refle- na mediação da execução de movimentos voluntários e do
tindo a disfunção dos nervos periféricos que saem de L6 arco reflexo, que são da responsabilidade de circuitos neu-
até às vértebras caudais 46. rais que se localizam exclusivamente na mesma. Assim
No exame de NRF, para detectar hiperestesia, devem- sendo, o cérebro tem capacidade para modular, ativar, ace-
se palpar as apófises espinhosas entre L7 e o sacro, assim lerar ou suspender o movimento, sendo que o padrão motor
como o espaço intervertebral dorsalmente 19. da marcha se localiza a nível medular 62. Em humanos, o
De acordo com os estudos, existe maior incidência em sistema de NMS tem origem no córtex motor, nos feixes
cães machos, com cerca de 7 anos, sendo o pastor alemão piramidais, corticonuclear e corticoespinhal, sendo respon-
a raça mais afetada 49. sáveis pelos movimentos voluntários da face, carpo e mem-
bros. Já nos quadrúpedes caninos, o sistema extrapiramidal,
Exame de neuroreabilitação funcional é responsável por manter a postura e atividades rítmicas e
O exame de NRF inicia-se com o exame clínico de es- semiautomáticas, como a locomoção. Assim sendo, nestes
tado geral para avaliar, de forma sistemática, o sistema res- últimos, o NMS origina-se no tronco cerebral. A ação do
piratório, cardiovascular e urinário do animal 3,29,58. A feixe rubroespinhal dos cães assemelha-se à do feixe cor-
história pregressa é de particular importância, permitindo ticoespinhal em humanos. Deste modo, devido a estas ca-
classificar o aparecimento da doença em aguda, há cerca racterísticas anatômicas e sabendo que a medula espinhal
de minutos a horas; subaguda, há cerca de vários dias; crô- tem atividade própria, pode realizar-se intercâmbio de exer-
nica, há cerca de vários dias, semanas a meses, ou episó- cícios de NRF entre homem e o cão 1,62.
dica, retorno ao normal entre episódios 29,58. A NRF é uma área da medicina física que tem como
A informação dos sinais clínicos relativos a dor na coluna objetivo a utilização da propriedade de neuroplasticidade
e pescoço, acompanhados de dificuldade em andar, incoor- do córtex sensoriomotor e áreas envolventes, do tronco
denação e presença de claudicação não responsiva à medi- cerebral e da medula espinhal, para promover uma função
cação, deve alertar o clínico para a possibilidade de estar de independência e de qualidade de vida, tanto, ao quadrú-
perante uma marcha neurológica 58. Contudo, o exame orto- pede animal como ao bípede humano 31,73.
pédico tem um papel importante neste tipo de marcha 3,30. A neuroplasticidade pode ocorrer por capacidade de
Dentro do exame de NRF, integrou-se também o exame alteração da força sináptica em circuitos já existentes que
neurológico, tendo como componentes gerais: estado men- não tenham sido lesionados, ou pelo desenvolvimento de
tal, comportamento, postura, marcha, reações posturais, re- novos circuitos através de reorganização anatômica e de-
flexos periféricos espinhais, tónus muscular, palpação e senvolvimento de ramos de axônios e/ou dendrites, deno-
testes sensoriais 16. minando-se plasticidade sináptica e plasticidade anatômica,
Dentro dos testes sensoriais é importante diferenciar a respetivamente 33.
sensibilidade superficial da SP. A sensibilidade superficial No animal quadrúpede, a locomoção é caracterizada
é originada pelos receptores da pele e prossegue para nível pela coordenação dos MT e MP que é gerada pelo mesmo

290 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 26 – Neuroreabilitação funcional em lesões medulares

mecanismo de controle neural espinhal 9. Os geradores de neurais espinhais memorizem os exercícios praticados.
padrão central (GPC) de ambas as intumescências são co- Assim, a NRF depende das repetições para a memorização.
nectados pelas vias proprioespinhais 63. Esta coordenação Como tal, a memorização depende do tipo de repetições e
entre os NMS e NMI está presente na locomoção quadrú- da qualidade do TL 21,22,36,69. Para retreinar a locomoção são
pede e preservada na locomoção bípede 9,63. necessários treinos com duração de 20 a 60 minutos e esti-
A propriedade de plasticidade neural permite que o bí- mulando a resposta neuromuscular e a experiência senso-
pede, a nível da locomoção, utilize o cerebelo e o tronco riomotora 10.
cerebral sempre que apresente uma lesão, completa ou in-
completa, após receber o estímulo de um treino locomotor Treino locomotor na neuroreabilitação funcional
(TL). Assim, assume-se que, no bípede e no quadrúpede, a O TL pretende recuperar o controle postural, equilíbrio,
plasticidade supraneural está associada à plasticidade dos estação, marcha, função de independência e qualidade de
circuitos neurais espinhais 11. vida, após uma lesão neurológica. Este tem como princípio
Na NRF, a neuroplasticidade deve ser aplicada objeti- a ativação da função neuromuscular para recuperação da
vando a correlação entre a plasticidade e a funcionalidade. função motora, de modo a retreinar o sistema nervoso a re-
Assim, devem evitar-se adaptações erradas que provoquem cuperar uma função específica. A ativação da função neu-
dor, espasticidade ou disfunção autonômica. Deste modo, romuscular ocorre durante a repetição e progressão da
inclui-se também na NRF o manejo da dor através da esti- prática do TL, de modo a obter a plasticidade neural. Assim
mulação do feixe espinotalâmico 1,22. sendo, o TL tem como objetivos aumentar a capacidade de
Todos os protocolos de NRF são baseados na plastici- aguentar o peso com os membros, aumentar as vias aferen-
dade neural e representam um método terapêutico comple- tes para aumentar o arco reflexo; otimizar a postura, maxi-
mentar na recuperação da funcionalidade 28,31. Estes treinos mizar a recuperação e minimizar a compensação 10,39. De
induzem plasticidade nos circuitos neurais espinhais, após acordo com Ichiyama e colaboradores 38, o TL diário nor-
uma lesão grave da medula espinhal, permitindo o cami- maliza as propriedades da medula em animais que sofreram
nhar espinhal ou locomoção fictícia 31,66,70. A atividade de uma lesão medular crônica.
locomoção fictícia resulta da combinação do processo de Atualmente, sabe-se que existe uma correlação direta
informação ascendente sensorial e atividade própria dos ge- entre a presença de reflexos periféricos e a capacidade de
radores de padrão central (GPC) 41. Sucintamente, a plasti- locomoção após lesão medular. Assim sendo, quanto mais
cidade da medula, obtida através do TL, depende dos precocemente surgirem os reflexos periféricos, melhor será
padrões aferentes, eferentes e da atividade intraneural que a capacidade locomotora do doente implicado. Daí, tam-
vai ocorrer durante o próprio treino 77. bém, a importância do TL 37. Além disso, sabe-se também
As correntes despolarizantes, mediadas por canais de que o TL promove as fibras tipo Ia 24.
sódio e cálcio, que têm capacidade de passar os neurônios O ritmo e intensidade do TL permitem um maior estí-
motores espinhais de meros condutos passivos para percur- mulo das informações aferentes sensoriais dos MP, aumen-
sores ativos de sinais elétricos, chamam-se correntes des- tando o arco reflexo e modulando os GPC regionais. Por
polarizantes persistentes (PICs, do inglês Persistent Inward outro lado, o treino quadrupedal permite maior neuromo-
Currents). Estas dependem da presença de monoaminas, dulação e coordenação entre os MT e MP, obtendo-se uma
neuromoduladoras, como a serotonina e norepinefrina, que locomoção mais aperfeiçoada 10,41,74,76.
são produzidas nas células do tronco cerebral, as quais pro-
jetam e difundem os seus axônios nos segmentos da medula Protocolo geral de neuroreabilitação funcional
espinal 39. O objetivo da neuromodulação relaciona-se com para lesões medulares
a modulação correta das PICs, de modo obter-se um efeito O protocolo de NRF varia conforme a evolução clínica
excitatório de amplificação, bem como de sustentação do de cada doente em estudo e de acordo com os déficits neu-
desequilíbrio neural 63. rológicos apresentados. Todos os pacientes devem realizar
Existem casos de NRF que, para obter neuromodulação, um exame de marcha e de equilíbrio, onde é avaliada a ca-
utilizam manejo farmacológico com 4-aminopiridina. Esta pacidade de estação, tendo em consideração a postura, a
é uma monoamina com capacidade de bloquear os canais base de apoio e as reações posturais.
de potássio, restaurando a condutividade dos axônios des- Quando o paciente inicia a locomoção, deve avaliar-se
mielinizados e promovendo, assim, a funcionalidade. Esta a iniciação do passo, a rapidez, a base de apoio, o compri-
ação é notória em lesões medulares crônicas 34,35,44,48,57,67. mento do passo, a cadência, a postura do tronco e a asso-
Este fármaco é utilizado em Medicina Humana, em doen- ciação deste com o movimento dos membros.
ças degenerativas, como a esclerose múltipla 59. Está pro-
vado que a mesma tem capacidade de aumentar a Exercícios de cinesioterapia
capacidade de locomoção em 35% 64. Todos os cães que não apresentem estação voluntária
Diversos estudos provaram que exercícios de reabilitação ou involuntária devem ser submetidos a exercícios de
repetidos que estimulem as vias sensório-motoras, ou seja, cinesioterapia passivos:
as vias aferentes e eferentes, permitem que os circuitos • estação em centro de estação passiva (Figura 2), com a

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 291


Capítulo 26 – Neuroreabilitação funcional em lesões medulares

ajuda de dois a três técnicos e com o recurso à bola de fisia- plasticidade dos GPC. Este treino deve ter duração de 5 a
tria. O tempo de estação varia entre 5 a 20 minutos, com re- 40 minutos, dependendo da capacidade física e neurológica
petições diárias de 4 a 6 vezes por dia, para estimulação dos de cada paciente, duas vezes ao dia, bem como deve ini-
feixes descendentes vestibuloespinhais; ciar-se com velocidade de 1,5 a 2,5 km/h, sem inclinação.
• exercícios de cinesioterapia passivos e propriocetivos (Fi- Após observação da presença de movimento voluntário ou
gura 3), como por exemplo o movimento de bicicleta na al- involuntário, inicia-se o treino quadrupedal, de modo a
mofada de estimulação central, 30 repetições por MP, 3 a 6 obter-se coordenação entre os membros torácicos e pélvicos,
vezes por dia, para estimulação do arco reflexo;
• exercícios de cinesioterapia passivos de fortaleci-
mento, tais como agachamentos após estação ou em bola
de fisiatria (Figura 4), com 30 repetições, 3 a 6 vezes
por dia, para estimulação da co-contração muscular.
Sempre que os pacientes apresentem movimento vo-
luntário ou involuntário, devem associar-se exercícios
de CAA ou ativos, como a marcha em zigue-zague, as
pranchas de equilíbrio em duas direções e/ou rotatória,
o trampolim, cavaletes colocados de acordo com os dé-
ficits neurológicos, a alternância de pisos e a subida e B
descida de escadas e rampas 55 (Figura 5). Todos estes
exercícios estimularam os feixes descendentes como o
rubroespinhal, reticuloespinhal (pontino/ medular) e o
vestibuloespinhal.

Treino locomotor A
O TL terrestre nos animais com paraplegia de graus 0
e 1, segundo a escala de Frankel Modificada, como pri- Figura 2 – Exercício passivo de estação, em centro de estação
meira abordagem, deve ser bipedal, para obter a neuro- passivo (A) associado à bola de fisiatria (B)

Figura 3 – Exercício passivo de bicicletas na almofada de estimulação central em conjunto com estação passiva no
centro de estação passiva

292 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 26 – Neuroreabilitação funcional em lesões medulares

Figura 5 – Exercício de cinesioterapia de subida e descida


Figura 4 – Exercício de cinesioterapia de fortalecimento: de rampas
agachamentos em bola de fisiatria

aplicando a mesma duração, velocidade e frequência do TL lateral e medial do fémur e, posteriormente, para o maléolo
bipedal (Figura 6). lateral e medial da tíbia.
Associado ao TL terrestre, é executado o TL aquático, O TL aquático (Figura 7) inicia-se com velocidade de
o qual deve iniciar-se o mais rapidamente possível, tanto 1 km/h, podendo atingir 6 km/h, com duração de 30 a 90
para tratamento conservativo, como pós-cirúrgico. Durante minutos, uma vez por dia e, sempre que possível, durante
o procedimento respeitam-se as linhas de sutura e, ainda, a a manhã.
estabilidade da coluna vertebral, garantindo uma postura o O TL inclui 2 horas diárias em cadeira Sophia Dog
mais simétrica, anatômica e correta possível. Ao longo do (Sophia Dog, França) (Figura 8) distribuídas ao longo de
processo de reabilitação, a linha de água varia conforme a um dia de treino. Esta cadeira possui pedais incorporados,
cicatrização dos pacientes pós-cirúrgicos, sendo que, numa onde se colocam os MP dos cães, que simulam o movi-
primeira fase, a água se deve encontrar acima do trocânter mento destes, quando se deslocam com a ajuda dos MT.
maior do fémur, passando gradualmente para o epicôndilo Este tipo de TL é considerado passivo.

Figura 6 – Treino locomotor (TL) na esteira terrestre

Figura 7 – Treino locomotor (TL) na esteira aquática

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 293


Capítulo 26 – Neuroreabilitação funcional em lesões medulares

Modalidades de neuroreabilitação funcional Na apresentação de hiperestesia espinhal pode-se


Todos os doentes são submetidos a modalidades de usar a eletroestimulação (TENS local e corrente inter-
acordo com o exame de NRF 23,27,42,47,52,60,65,75. ferencial) e laser classes IIIb e IV:
Na apresentação de contraturas musculares, deve- • TENS local (Figura 11) – intensidade 1-80 mA, depen-
mos acrescentar ao protocolo de NRF: dendo esta da resposta individual do doente associada a
• ultrassons (Figura 9) –1 mHz e modo pulsado, uma vez uma corrente com frequência entre 2-150 Hz, de duração
ao dia, durante 5 a 7 dias, seguido de desmame a cada 48 para cada Hz de 200 a 250 µs. As fibras nociceptivas A-β
horas; respondem a frequências elevadas (80-130 Hz), enquanto
• massagem (Figura 10) – Os autores preferem utilizar, as fibras nociceptivas A-δ respondem a frequências baixas
uma a duas vezes ao dia, a sequência: stroking, effleurage, (2-10 Hz), havendo assim estimulação do portão da dor
wringing up, kneading e/ou fricção, wringing up, effleurage, (gate control) e estimulação de libertação de endorfinas,
stroking. respetivamente. Assim sendo, serão mais aplicadas em dor
aguda elevadas frequências, enquanto na dor crônica serão
mais utilizadas frequências mais baixas;
• corrente interferencial – aplicada quando os doentes não
toleram o TENS local, utilizando as frequências acima des-
critas. Neste caso os elétrodos podem ser colocados na dia-
gonal, criando canais com ângulos de 90º.
• laser classe IIIb e classe IV (Figura 12) – laser frio e laser
quente, respetivamente. O IIIb utiliza-se nos 3 dias e o classe
IV ao fim das primeiras 72 horas, após lesão. O laser classe
IV pode também ser aplicado na cicatrização de feridas.
Para estimulação da contração muscular (músculos
hipotônicos):
• eletromioestimulação (NMES – Neuromuscular Electri-
cal Stimulation) – Em todos os protocolo de NMES deve-
mos respeitar que o aumento da duração do pulso permite
estimular fibras musculares de menor diâmetro, embora nos
cães, duração de pulsos prolongados, possam traduzir-se em
pedais desconforto pois, aumentos de pulso superiores a 800 µs
Figura 8 – Cadeiras com pedais podem estimular fibras nociceptivas de pequeno diâmetro.

Figura 9 – Ultrassom na neuroreabilitação funcional (NRF)

294 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 26 – Neuroreabilitação funcional em lesões medulares

Além disso, o aumento da frequência vai estimular maior que a sua condição o permita, pois a eletromioestimulação,
despolarização nervosa e consequente aumento da força numa fase inicial, só estimula fibras musculares tipo II.
contráctil, provocando nestes casos uma fadiga muscular Caso o doente apresente espasticidade muscular:
rápida. Assim sendo devemos utilizar frequências entre 5- • eletromioestimulação – (TENS – Transcutaneous electrical
50 Hz, com duração de pulso de 150-250 µs, intensidade nerve stimulation): o protocolo a aplicar deve compreender
de 6-24 mA, uma a três vezes por dia. Durante esta moda- frequência de 100 Hz, intensidade 1-20mA, com duração
lidade, o paciente deve ser colocado em estação, sempre de 20 minutos, uma a três vezes por dia. Esta modalidade
atua na espasticidade durante os seguintes 45 minutos.
Assim, o TL deve ser realizado nesse período.

Particularidades
Os animais também pode estar sob o efeito de alguns
fármacos para manejo da dor, como gabapentina, tramadol,
anti-inflamatórios não esteroides, ou mesmo esteroides, em
doses baixas.
Além disso, pode ser necessário realizar o esvaziamento
manual da bexiga, quatro vezes ao dia, pela presença de
bexiga neurogênica, de acordo com a localização anatô-
mica da lesão.

Figura 10 – Massagens uma ou duas vezes ao dia também Referências


fazem parte do protocolo de neuroreabilitação funcional 1-ANGELI, C. A. ; EDGERTON, V. R. ; GERASIMENKO, Y. P. ;
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ISBN: 978-1-118-85232-3.
76-WIRZ, M. ; ZEMON, D. H. ; RUPP, R. ; SCHEEL, A. ; COLOMBO,
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COMO CITAR ESSE CAPÍTULO


MARTINS, Â. ; FERREIRA, A. Neuroreabilitação fun-
cional em lesões medulares. In: LOPES, R. S. ; DINIZ,
R. Fisiatria em pequenos animais. 1. ed. São Paulo :
Editora Inteligente, 2018. p. 287-298. ISBN: 978-85-
85315-00-9.

298 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


27
Reabilitação de lesões do neurônio motor inferior

Paula Tussini Onida


Ricardo Stanichi Lopes

A
fisiatria veterinária hoje é um dos ramos em maior medular L4-S3 (intumescência lombossacra) podem gerar
crescimento dentro da medicina veterinária 15, é sinais de lesão de NMI em membros pélvicos 8,17, alteração
uma terapia importante na reabilitação de pacientes nestes segmentos medulares, nervos ou lesões neuromus-
caninos e felinos com as mais diversas afecções ortopédicas culares podem ser as responsáveis por afecções neurológi-
e neurológicas. Dentro da reabilitação neurológica, o desa- cas que causam ausência ou redução de reflexos espinhais,
fio é ainda maior, pois é necessário o diagnóstico adequado redução ou ausência de tônus muscular e perda de resposta
para que o plano de reabilitação correto seja traçado 12. O troncocutânea (panículo) 3.
uso da fisiatria na reabilitação dos animais domésticos com
lesões neurológicas pode reduzir a incidência da eutanásia, Lesões de NMI indicadas à fisiatria veterinária
dependendo do comprometimento do proprietário e capa- Dentre as doenças que manifestam sinais de NMI temos
cidade de realizar a terapia com competência e frequência as: degenerativas (mielopatia degenerativa, estenose lom-
suficiente para a recuperação desse indivíduo 13. bossacra degenerativa), metabólicas (diabetes mellitus, hi-
Sendo assim, é de suma importância o conhecimento da peradrenocorticismo, hipotireoidismo), inflamatórias,
neurolocalização das lesões, bem como o discernimento de neoplásicas, tóxicas (por venenos, raiva, botulismo) 18, imu-
possíveis etiologias e prognóstico para cada patologia 13. A nomediadas (miastenia grave, polimiosite), de causa idiopá-
neurolocalização auxilia na definição de uma lista de diag- tica (polirradiculoneurite), por traumas (avulsão de plexo
nósticos diferenciais, plano diagnóstico, estabelecimento braquial, lesão de nervo ciático, embolia fibrocartilaginosa)
de um prognóstico, priorização de testes e critérios para e causas infecciosas (discoespondilite) 8. Grande parte delas
monitorização do progresso do paciente 18. Permitindo ao necessita de tratamento da doença base, mas todas podem
fisiatra veterinário explorar adequadamente o processo de estar associadas à reabilitação por meio da fisioterapia como
recuperação, incentivando a plasticidade neural possibili- terapia coadjuvante. Nos quadros de tetraparesia ou tetraple-
tando dessa forma desempenhar um papel vital para o su- gia por botulismo ou polirradiculoneurite, cuja recuperação
cesso e eficácia da terapia de reabilitação 13, que deve ser é prolongada, cuidados de suporte e fisiátricos são essenciais.
individualizada para cada paciente 12. A fisioterapia também deve ser incorporada ao plano de tra-
tamento de pacientes com polineuropatia crônica, progres-
Localização de lesões do NMI sivas e degenerativas para manter massa muscular e força 18.
O movimento de um indivíduo é iniciado pelo neurônio
motor superior (NMS), nome coletivo dos corpos e axônios Principais sinais clínicos das lesões de NMI e
das células nervosas localizadas no cérebro e tronco ence- sua reabilitação
fálico que formam os tratos descendentes dos nervos moto- A fisiatria veterinária é muito importante no tratamento
res (fascículos) do tronco encefálico e da medula espinhal. e reabilitação de pacientes neurológicos com algum tipo de
O NMS inicia e mantém o movimento normal, influen- lesão do NMI. Mas não podemos deixar de citar que muitas
ciando o tônus muscular sustentando o corpo contra a gra- vezes é preciso correlacionar as terapias alopáticas e cirúr-
vidade 8. Os NMS conectam-se a interneurônios da medula gicas ao tratamento fisiátrico 14. Os objetivos da reabilitação
espinhal onde exercem efeito excitatório ou inibitório sobre de pacientes com sinais neurológicos de lesão do NMI são
NMI, que estão diretamente conectados aos músculos. a manutenção e restauração da amplitude de movimento ar-
Sendo assim, NMI englobam os neurônios motores dos ner- ticular, fortalecimento muscular, restauração da função neu-
vos cranianos, dos nervos periféricos e nervos espinhais, das romuscular e prevenção de automutilação e traumatismo do
junções neuromuscular e musculoesqueléticas 8,18. membro afetado. Devido à ausência dos reflexos espinhais
A lesão de neurônio motor inferior (NMI) caracteriza- e do tônus muscular associado, o maior desafio do plano de
se por fraqueza do animal ao se movimentar, dificuldade reabilitação deve ser a recuperação das funções muscular e
em levantar-se, incapacidade de suportar o próprio peso, articular.
iniciar ou sustentar um movimento. Neste tipo de lesão o O plano de reabilitação irá envolver: exercícios passivos
animal pode apresentar paresia flácida (diminuição do mo- e estímulos de reflexos, onde os exercícios passivos devem
vimento voluntário) ou plegia (ausência do movimento vo- ser aplicados até a recuperação da deambulação próxima
luntário), seus reflexos medulares e o tônus muscular ao normal; amplitude passiva de movimentos e alonga-
podem estar diminuídos ou ausentes e a atrofia muscular mento dos músculos afetados e seus antagonistas no mo-
pode se instalar rapidamente 8,17. vimento; contraturas musculares podem ser tratadas com
Doenças no segmento medular entre C6-T2 (intumes- massagens leves que irão auxiliar na restauração funcional
cência cervicotorácica) podem ocasionar sinais de lesão de do membro e deverão ser realizadas 3 a 4 vezes ao dia, após
NMI nos membros torácicos, enquanto danos no segmento pré-aquecimento regional. Exercícios ativos irão auxiliar

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 299


Capítulo 27 – Reabilitação de lesões do neurônio motor inferior

no fortalecimento muscular, equilíbrio neuromuscular e inchaço e dor 1. Fisiologicamente a aplicação de compres-


coordenação; estes são indicados para animais com movi- sas frias no local a ser tratado induz, além da diminuição
mentação voluntária total ou parcial, porém pacientes com de fluxo sanguíneo local, formação de edema e hemorragia,
déficit de nervos periféricos em mais de um membro, a também modula a liberação de histamina, o metabolismo
perda da função neuromuscular poderá limitar a realização celular, a atividade da fibra muscular, a velocidade da con-
desses exercícios. dução nervosa e a dor 11.
O protocolo indicado de crioterapia é de 15 a 20 mi-
Estenose lombossacra degenerativa nutos de compressa fria local, de acordo com o porte do
(síndrome da cauda equina) paciente, a cada 3 horas, nas primeiras 72 horas de pós-
O sinal mais comum dessa enfermidade é a relutância operatório. Neste momento, também podemos instituir pro-
do animal em realizar certos movimentos: sentar, levantar, tocolos de eletroestimulação transcutânea local (TENS)
correr, pular ou subir escadas. Os cães apresentam, geral- como parte do protocolo analgésico. É importante que o fi-
mente, uma postura mais agachada, por que isso alivia a siatra tenha conhecimento sobre o uso de implantes por
compressão na região lombossacra, e consequentemente parte do médico veterinário cirurgião para que os devidos
estes cães não abanam ou erguem a cauda devido à dor. cuidados sejam tomados na escolha das modalidades de te-
Pode cursar com incontinência urinária ou fecal, claudica- rapia e na manipulação desse paciente.
ção e fraqueza de membros pélvicos 14, déficit propriocep- A laserterapia (Figura 1) deve ser empregada para
tivo mas com ausência de ataxia proprioceptiva 17 apesar desinflamação das raízes nervosas e retorno da função,
do reflexo perineal estar presente na maioria dos casos 14. podendo ser aplicada, no mínimo 2 vezes por semana, na
Podemos detectar, clinicamente, o déficit motor de múscu- dosagem de 4 a 6 J/cm 2 sobre as raízes nervosas 17.
los inervados pelo nervo ciático e pelos nervos caudais Deve-se dar atenção especial a musculatura de membros
(inervação coccígea-caudal), estes nervos se originam no pélvicos em pacientes que apresentam paresias e/ou displa-
segmento da medula e nas raízes nervosas da cauda equina. sia coxofemoral associada a síndrome. Nestes pacientes,
A fraqueza de membros pélvicos pode ser evidente quando frequentemente a hipotrofia e/ou contraturas musculares
há contribuição de lesão de nervo ciático; ademais, pode estão presentes e a cinesioterapia é de elevada importância
haver a diminuição ou ausência do tônus e movimento de na reabilitação completa do quadro.
cauda quando há lesão no segmento caudal e/ou nas raízes É aconselhável utilizar fotobioestimulação antes do
nervosas. Em alguns casos, nota-se que o paciente exibe alongamento para que que ocorra vasodilatação por meio
um movimento lento e anormal da cauda, frequentemente da liberação de bradicininas e óxido nitroso pelo músculo
constatado pelo proprietário 5. liso dos vasos sanguíneos que irá promover diminuição da
Alguns pacientes com síndrome da cauda equina dor local, além disso o aquecimento muscular vai melhorar
necessitam de cirurgia para descompressão lombossacra, a capacidade de extensão desse músculo, reduzindo sua ri-
quando a dor é persistente ou provoca déficits neurológi- gidez, possibilitando ganho de comprimento muscular 11,
cos 14,17, mesmo que sob efeito do tratamento fisiátrico. para o alongamento é indicada uma série de 5 repetições,
Neste paciente cirúrgico, a reabilitação já pode ter início com duração de 30 segundos, 3 vezes ao dia 17. O fortale-
no pós-operatório imediato, onde podemos aplicar a mo- cimento muscular através da eletroestimulação neuromus-
dalidade de crioterapia como parte da terapia analgésica, a cular (NMES) de musculaturas hipotrofiadas do membro
aplicação do frio na região operada promoverá redução pélvico associado a cine-
do fluxo sanguíneo interferindo na transmissão da dor, sioterapia (exercícios em
também irá reduzir a demanda dos tecidos circundantes bola, treinamento proprio-
por oxigênio reduzindo o inchaço 17 devido a vasoconstri- ceptivo e de aumento de
ção. A crioterapia é frequentemente aplicada no pós-ope- amplitude de movimento
ratório imediato para reduzir o fluxo sanguíneo, inflamação, utilizando cavaletes 14-17)
(Figura 2) e hidroterapia
são indicados para me- Figura 2 – Adaptação da técnica
lhorar a condição mus- de cavalete em esteira seca
cular do paciente 14.
Quando o paciente não apresentar mais dor, podemos
adicionar exercícios de maior dificuldade no protocolo
fisiátrico. No caso de exercícios com cavaletes o objetivo
é desafiar a propriocepção, o equilíbrio e a coordenação em
animais com déficit neurológico associado, como hérnia
discal toracolombar 7. O exercício de cavalete pode ser
adaptado junto com a hidroterapia (Vídeo 1).
Esta técnica apresenta algumas vantagens em relação a
Figura 1 – Aplicação de laser em região de cauda equina pista de obstáculo: 1) altura do obstáculo pode ser adaptada

300 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 27 – Reabilitação de lesões do neurônio motor inferior

o que ocorre num intervalo entre 1 a 14 dias 17, adicionamos


à terapia inicial, as caminhadas assistidas e o treinamento
de força 8. Exercícios de força são realizados mediante con-
tração muscular, com poucas repetições com o intuito de
resultar em hipertrofia muscular a longo prazo 7. Como
parte da cinesioterapia podemos estimular o animal a sentar
e levantar, no posicionamento adequado; com o apoio de
uma bola feijão sustentar o corpo desse paciente e promo-
ver o exercício proprioceptivo de retirada e pisada do
membro afetado, promover estímulo do coxim plantar atra-
vés do toque e pinçamentos, e exercício de descarga de
peso sobre este mesmo membro 17.
A magnetoterapia, além da fotobioestimulação, também
é indicada neste tipo de lesão, pois o campo eletromagné-
tico é capaz de aumentar a utilização de oxigênio por áreas
Vídeo 1 – Uso adaptado da técnica de cavalete em esteira danificadas resultando num aumento do fornecimento de
aquática, proporcionando maior controle da amplitude de sangue promovendo a recuperação de tecidos lesionados 17.
movimento e maior número de repetições que a pista de
obstáculos - https://youtu.be/kdUVRfmJXHg
Lesões de nervos periféricos
As causas mais prováveis de lesões de nervos periféricos
instantaneamente as necessidades de cada paciente e sua incluem: fraturas (exemplo: fratura de úmero ocasionando
evolução durante a marcha ; 2) pode-se trabalhar os mem- lesão em nervo radial), injeção intramuscular (ocasionando
bros de forma separada, importante para sinais assimétri- injúria em nervo ciático), trauma automobilístico (avulsão
cos; 3) mesmo depois de encerrar o estímulo, o paciente de plexo braquial) e até mesmo técnicas cirúrgicas malsu-
continua com maior amplitude de movimento; 4) em cedidas 8. Estas lesões podem gerar sensações desagradá-
poucos minutos, o paciente realiza mais movimentos com veis, tais como a parestesia ou a hiperestesia resultando em
aumento da amplitude, pelo obstáculo imposto, do que na automutilação (Figura 3). Se houver denervação completa
pista de cavalete ; 5) o exercício dentro da água diminui o do membro afetado, este apresentará atrofia muscular se-
impacto e sobrecarga articular e pode ser realizado em pa- vera que poderá evoluir para uma contratura muscular e
resias leves, a exemplo do paciente do vídeo 1, que apre- consequentemente levar à deformidades esqueléticas 8.
senta síndrome da cauda equina e displasia coxofemoral A reabilitação de pacientes com algum tipo de lesão em
grave. nervos periféricos vai depender da severidade da lesão.
Na experiência dos presentes autores, o tratamento con- Para isso, é preciso levar em consideração se houve uma
servativo/fisiátrico apresenta resultados satisfatórios,
principalmente se associado com infiltração epidural de
metilprednisolona.

Embolia fibrocartilaginosa
De início súbito, relatado geralmente após atividade
física intensa, pode ocasionar, na maioria dos casos, hemi-
paresia ou hemiplegia em membro pélvico 2,9. O déficit neu-
rológico raramente evolui e o paciente não manifesta dor.
Ao afetar o segmento medular lombossacro ocasiona sinais
de lesão de NMI 2,9.
As modalidades e técnicas para reabilitação de um pa-
ciente com hemiplegia ou hemiparesia por embolia fibro-
cartilaginosa segue o mesmo protocolo de pacientes com
doenças do disco intervertebral Hansen Tipo III, com ex-
cessão do controle álgico, que não tem necessidade no pa-
ciente com embolia. São indicadas: eletroestimulação na
corrente exponencial até que a resposta do reflexo flexor
melhore, a partir disso torna-se indicado a eletroestimulação
neuromuscular (NMES), cinesioterapia para o membro afe-
tado e hidroterapia 8 que será capaz de promover estimula-
ção sensorial muito importante para danos medulares 17. Figura 3 – Paciente com lesão de nervo radial, apresen-
A partir da melhora da resposta motora desse paciente, tando automutilação. Imagem cedida por Renata Diniz

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 301


Capítulo 27 – Reabilitação de lesões do neurônio motor inferior

neuropraxia, uma axonotmese ou uma neurotmese. No


caso de neurotmese, a reabilitação só será indicada após a
correção cirúrgica do nervo lesionado 8, mesmo assim o
prognóstico de recuperação é reservado 1.
Em casos de neuropraxia, a reabilitação estende-se, em
média, por 4 a 6 semanas. Já a recuperação de uma lesão
por axonotmese terá seu prognóstico baseado na proximi-
dade entre a lesão e seu músculo alvo, associado ao grau
de atrofia muscular e contratura instalada, pois estes podem
ser fatores limitantes a completa recuperação desse indiví-
duo 8. O protocolo fisiátrico para recuperação de pacientes
com lesões de nervos periféricos objetiva manter a ampli-
tude de movimento através de exercícios passivos e ativos;
modalidades terapêuticas que trabalhem a força e o tônus
muscular; restauração da função neuromuscular e preven- Vídeo 2 – Estimulação do reflexo flexor de membro torá-
ção da automutilação 8. A eletroestimulação no modo ex- cico, auxiliando na coordenação neuromuscular -
ponencial é a terapia de escolha cujo objetivo é atrasar a https://youtu.be/BEcz5zkEJf4

atrofia muscular neurogênica e recondicionar o músculo


denervado 11, indica-se estimular cada músculo afetado por lesão de nervo ciático podemos realizar o exercício de le-
no máximo 7 minutos, uma vez ao dia 17, mas também po- vantar e sentar. A laserterapia também é indicada nestes pa-
demos estimular os nervos afetados com esta modalidade cientes já que esta modalidade pode promover a
ao longo de seu percurso 11. recuperação nervosa. A hidroterapia é outra modalidade
Pacientes com este tipo de lesão se beneficiam de alon- muito importante para a recuperação deste indivíduo, pois
gamentos e massagem em casos de contratura, de duas a além da estimulação sensorial a viscosidade da água for-
três vezes ao dia após termoterapia. A massagem é capaz nece resistência ao movimento possibilitando melhorar a
de reduzir contraturas musculares e promover a recupera- hipotrofia muscular e a resistência da água pode auxiliar
ção dos músculos através do aumento da circulação que no trabalho de marcha e amplitude de movimento 17.
viabiliza a remoção de ácido lático, além de reforçar a elas-
ticidade e extensibilidade das fibras impedindo a formação Discoespondilite
de aderências fibrosas entre os músculos e a fáscia 17. A discoespondilite em região lombossacra pode oca-
Outra forma de estimular um músculo hipotônico é atra- sionar: fraqueza de membros pélvicos, muita dor em re-
vés de pequenas batidas com as pontas dos dedos sobre o gião lombar, dificuldade ou relutância em se movimentar.
músculo afetado, com o animal em estação ou em decúbito No entanto, sua origem é infecciosa, podendo advir de
lateral, de preferência após escovação, essa técnica visa uma infecção urinária, brucelose, erliquiose e outros 8. O
melhorar a contração muscular. Esta técnica também po- tratamento inicial é feito com antibióticos, repouso e anal-
derá ser aplicada durante a eletroestimulação neuromuscu- gésicos. E a reabilitação pode ser instituída imediatamente
lar no momento da contração 17. As avaliações da evolução após os primeiros dias de início da antibioticoterapia.
deste tipo de paciente devem ser seriadas, principalmente se A reabilitação neste tipo de paciente deve ser instituída
houver deficiência dos reflexos espinhais. Neste caso, é im- após uma resposta positiva ao tratamento medicamentoso.
portante estimular o reflexo de retirada afim de estimular E o protocolo utilizado é similar ao do tratamento de doen-
o reflexo flexor auxiliando na melhora do tônus muscular ças do disco intervertebral, principalmente a hidroterapia,
e da coordenação neuromuscular (Vídeo 2). exercícios para treinamento de força e marcha 8. Deve-se
Trabalho de equilíbrio com auxílio de bola suíça é re- tomar cuidado com aparelhos que estimulam crescimento
comendado para facilitar o apoio do membro afetado no celular, como laser e magnetoterapia, os presentes autores
chão e assim trabalhar sustentação e propriocepção. Pacien- aconselham utilizar essas terapias somente após o controle
tes que apresentam avulsão de plexo braquial com déficit da infecção.
moderado de nervo radial se beneficiam de exercício de
apoio similar ao carrinho de mão, dessa forma desafiamos Mielopatia degenerativa
o indivíduo a suportar o peso de seu corpo sobre seus mem- Esta patologia pode manifestar sinais de NMS no início,
bros torácicos, desenvolvendo o tônus muscular, o indicado mas com a degeneração da medula e da raiz nervosa aferente,
são 5 repetições, 3 vezes ao dia 17. Ainda sobre déficit de com o passar do tempo os sinais neurológicos manifestam-
nervo radial há a indicação de eletroestimulação neuromus- se como uma lesão de NMI, onde observamos paresia nos
cular 11. membros pélvicos com diminuição ou ausência do reflexo
Se o indivíduo tiver algum movimento voluntário do patelar, em sua maioria de forma assimétrica, ou seja, evi-
membro afetado, exercícios ativos para melhorar força, dencia-se que um lado esteja mais acometido que seu con-
equilíbrio e coordenação são indicados, assim em casos de tralateral. A progressão da doença leva à diminuição e depois

302 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 27 – Reabilitação de lesões do neurônio motor inferior

à perda dos reflexos medulares dos membros pélvicos, pa- ser realizado o exercício de mudança de apoio entre os
resia dos membros torácicos, incontinência urinária e fecal membros enquanto o animal caminha 17. Massagem dos
e até mesmo ao envolvimento do tronco encefálico desen- músculos pélvicos e da musculatura paravertebral por 10
cadeando um quadro de disfagia e dificuldade respiratória 4. minutos também devem fazer parte do protocolo 17.
Não há cura para esta patologia, mas a reabilitação por
meio da fisioterapia visa a qualidade de vida 8, além de pro- Polirradiculoneurite
longar significativamente a sobrevida deste indivíduo 17. É uma doença de manifestação aguda, que envolve des-
A ataxia dos membros pélvicos é progressiva, e a atrofia mielinização da raiz nervosa, e provavelmente tem origem
muscular evidente 17. Pacientes com este tipo de degeneração imunomediada e em alguns casos infecciosa (toxoplasma,
quando submetidos à fisioterapia intensiva tiveram uma so- neospora, entre outras). Estes pacientes se recuperam, mas
brevida de 255 dias, enquanto pacientes em tratamento fi- isso pode levar meses dependendo da severidade do qua-
siátrico moderado tiveram sobrevida de 130 dias, e aqueles dro. O indivíduo pode manifestar paresia ou plegia, perda
que não realizaram qualquer tipo de reabilitação tiveram so- de reflexos e atrofia muscular severa 17.
brevida de apenas 55 dias 10. Além disso, constatou-se que Este paciente precisa de cuidados diários para evitar es-
cães com esta patologia quando submetidos à fisioterapia caras de decúbito, e o protocolo inicial para reabilitação
deambularam por maior período de tempo quando compa- desse paciente objetiva trabalhar os músculos atrofiados e
rados à animais que não receberam tratamento fisiátrico 15. sem tônus, sem que ocorra fadiga. O exercício passivo é
O protocolo fisiátrico visa: trabalhar a amplitude de mo- recomendado numa série de 10 repetições, 2 vezes ao dia,
vimento através de exercícios terapêuticos e hidroterapia para cada articulação 17 e apesar dessa modalidade trabalhar
intensiva 8, a manutenção da massa muscular e o estímulo a amplitude de movimento de cada articulação mantendo-
nervoso nos membros pélvicos 17. São indicadas caminha- as saudáveis o exercício passivo não terá efeito sobre a
das diárias em diferentes texturas de terreno (grama, terra, atrofia muscular 6; podemos trabalhar a descarga de peso
piso áspero) que estimulem a propriocepção, por um inter- sobre os membros com auxílio da bola feijão; estimular o
valo de 5 a 10 minutos, 5 vezes ao dia. Se o paciente apre- reflexo de retirada por beliscamento dos dígitos e interdí-
sentar paresia grave, é indicado a utilização de cadeira de gitos para induzir a contração muscular 17 e estimular a sen-
rodas para auxiliá-lo durante as caminhadas (Figura 4). sação 6, numa série de 3 repetições por vez, 5 vezes ao dia;
Caso não esteja disponível a hidroterapia, o paciente pode e ainda, estimular a contração através da escovação e da
se beneficiar de caminhadas dentro da piscina onde pode eletroestimulação neuromuscular exponencial.

Figura 4 – Paciente com mielopatia degenerativa realizando caminhadas com auxílio de cadeira de rodas. Imagem cedida
por Renata Diniz

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 303


Capítulo 27 – Reabilitação de lesões do neurônio motor inferior

Os exercícios ativos devem ser iniciados a partir do seja mais grave nos membros pélvicos. Estes pacientes ma-
momento que este paciente demonstre sinais de recupera- nifestarão andar rígido e marcha forçada 16. Obviamente, que
ção, indica-se o exercício como sentar e levantar numa será necessário a terapia base para a síndrome de Cushing,
série de 3 repetições, 5 vezes ao dia. Quando o paciente mas o protocolo de reabilitação poderá auxiliar muito este
apresentar melhora evidente da contração muscular é o paciente em possíveis consequências deste quadro clínico.
momento de iniciar curtas caminhadas assistidas na hi-
droesteira 17. Botulismo
É o distúrbio da junção neuromuscular mais importante
Doenças metabólicas que requer reabilitação 12. Ressalta-se que o tratamento clí-
Doenças endócrinas, tais como: hiperadrenocorticismo, nico efetivo é de suma importância para o sucesso da rea-
diabetes mellitus e hipotireoidismo, podem desencadear bilitação. Recomenda-se começar os exercícios ativos
neuropatias debilitantes para um indivíduo. Este paciente, somente após a estabilização do quadro clínico do paciente.
pode manifestar perda muscular moderada a severa e fra- No caso de enfermidades de junções neuromusculares
queza dos membros 17. Um animal com neuropatia periférica (botulismo e miastenia grave) o protocolo de reabilitação
pode desenvolver contraturas musculares que impossibili- deverá ser baseado na determinação da fisiopatologia
tam a recuperação da função motora 12. Geralmente as lesões particular de cada afecção, e nos déficits neurológicos
são crônicas pela demora no diagnóstico da doença base, específicos. Devido ao enfraquecimento generalizado e
por isso a reabilitação na maior parte das vezes é incompleta disfunção do NMI, a reabilitação nestes casos visa à ma-
17. nutenção da amplitude de movimento articular, prevenção
No caso de neuromiopatia por hipotireoidismo o animal da atrofia muscular neurogênica e restauração da função
pode apresentar tetraparesia progressiva, atrofia muscular e neuromuscular. São indicados: exercícios passivos e refle-
déficit de reflexos espinhais. Sinais sistêmicos de hipoti- xos, exercícios ativos (sentar e levantar, caminhada assis-
reoidismo, como obesidade e alopecia, podem não ser evi- tida e de resistência), natação num intervalo de 1 a 3
dentes 3. A neuropatia por hipotireoidismo é mais comum minutos a cada 2 ou 3 dias, hidroesteira, eletroestimulação
em cães de raças de grande porte, com meia-idade ou ge- neuromuscular (NMES) uma vez ao dia por 15 minutos
riátricos, podendo manifestar inclusive déficit de nervos cra- nos grupos musculares afetados, para melhorar a perfusão
nianos 5. tecidual e minimizar o início de atrofia neurogênica mus-
A polineuropatia diabética pode ter manifestação clínica cular 12.
ou subclínica, e é mais evidente em gatos diabéticos. Estes
pacientes manifestam: paraparesia ou tetraparesia progres- Miastenia grave
sivas com déficits proprioceptivos, atrofia muscular e déficit Num quadro grave o paciente pode manifestar fra-
de reflexos espinhais. Os gatos assumem frequentemente queza episódica ou induzida por exercício decorrente de
uma postura plantígrada nos membros pélvicos 3, onde a re- comprometimento da ligação de acetilcolina nas junções
gião do tarso toca o solo 5 podendo manifestar hiperestesia 3, neuromusculares dos músculos esqueléticos. O animal
nesta espécie a neuropatia diabética é mais consistente que pode estar em paraparesia ou tetraparesia. A causa pode
em cães. Existe a hipótese da causa desta neuropatia ser vas- ser congênita ou adquirida e se associar a um processo
cular, metabólica ou imunomediada. Em cães, os sintomas imunomediado ou paraneoplásico 3. No caso de miastenia
são muito variáveis, indo desde um distúrbio subclínico até grave congênita ocorre uma redução na quantidade de re-
um quadro de tetraparesia ou tetraplegia grave em decor- ceptores para acetilcolina na placa motora; e na adquirida,
rência de lesão do NMI, com marcada atrofia muscular neu- onde o mais comum é ser imunomediada, há a produção
rogênica. de anticorpos contra os receptores de acetilcolina 5. O
Neuropatia induzida por hiperadrenocorticismo, é uma plano de reabilitação é focado no ganho de massa e tônus
condição onde se observa relação entre a síndrome de muscular, utilizando-se de eletroterapia com NMES se-
Cushing e polineuropatia em cães com manifestação de guida de exercícios ativos. Como trata-se de uma afecção
miopatia secundária. Esta miopatia pode ser resultado do pós-sináptica, os exercícios devem ser iniciados de forma
teor excessivo de glicocorticóide circulante que pode inter- branda e aumentados progressivamente, dependendo da
ferir na função da mitocôndria da fibra muscular. O termo resposta do paciente. Exercícios com esteira aquática
utilizado para este quadro clínico é miotonia de Cushing e podem ser empregados logo nas primeiras sessões, mas
pseudomiotonia 5. sempre sob supervisão atenta do fisiatra, pois o animal
Um paciente com hiperadrenorticismo manifesta letar- pode apresentar fraqueza generalizada durante o exercício
gia, cansaço fácil, e intolerância ao exercício, sendo as pro- e se afogar.
váveis causas da atrofia e fraqueza muscular presentes neste
indivíduo. A miotonia presente em alguns desses pacientes Polimiosite
representa contrações musculares persistentes que conti- Pode ser ocasionada por um processo inflamatório ge-
nuam após estímulos voluntários e involuntários, todos os neralizado dos músculos, de caráter congênito ou adquirido.
membros podem estar afetados, mas o mais comum é que Em casos adquiridos, associa-se processos imunomediados,

304 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 27 – Reabilitação de lesões do neurônio motor inferior

infecciosos, paraneoplásicos ou idiopáticos. Estes pacientes 1. ed. Brasil: Roca, 2008. p. 157-180. ISBN: 9788572417273.
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gia que causou a polimiosite e a efetividade do tratamento 14-THOMAS, W. B. ; OLBY, N. ; SHARON, L. Neurologic conditions
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são recomendadas em pacientes neoplásicos. Técnicas de
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massagem e alongamento são indicadas para reduzir a ri-
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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 305


28
Lesões encefálicas com sintomatologia motora e sua
reabilitação

Jennifer Hummel

O
sistema nervoso dos cães e gatos se divide em sis- possuem os núcleos dos pares de nervos cranianos III ao
tema nervoso central e periférico, sendo que na XII, além de estarem na porção mais caudal as fibras axo-
porção central encontram-se os hemisférios cere- nais que se cruzam contralateralmente nas pirâmides para
brais, o tronco encefálico, cerebelo e medula espinhal, e na entrar na medula espinhal.
porção periférica estão os plexos e suas inervações que dão O tronco encefálico ativa o córtex cerebral mantendo
movimento aos membros torácicos e pélvicos, bem como um estado mental normal, onde o animal interage com o
o tônus muscular dos mesmos. Existe também inervação meio ambiente, responde a estímulos e tem condutas com-
periférica na face, a qual denominam-se nervos cranianos. portamentais dentro dos padrões da normalidade para cada
O sistema nervoso periférico permite que o córtex receba espécie e raça. Avalia-se a postura dos membros e cabeça,
informações do que está ocorrendo na periferia do orga- que devem normalmente estar simétricos tanto no que se
nismo podendo responder de diferentes formas aos estímu- refere a tônus quanto a trofismo muscular, e também o pa-
los recebidos. drão da marcha que deve ser igualmente simétrico, ali-
As doenças neurológicas 1,2,9, independentemente do nhado em membros torácicos e pélvicos, sem cruzamento
local da lesão, podem ser classificadas conforme o acrô- destes e sem incoordenação. Em todas as estruturas ence-
nimo VITAMIND, o que permite considerar os diferenciais fálicas as fibras proprioceptivas estão presentes, pois desde
diagnósticos conforme padrão de aparecimento dos sinais a informação recebida da periferia até o córtex, existe uma
clínicos e evolução. Considera-se V para doenças vascula- série de mecanismos de integração que permitem manter o
res, I para doenças inflamatórias ou infecciosas, T para animal em movimento equilibrado. Portanto, em alterações
doenças traumáticas ou de origem tóxica, A para anomalias neste nível na maioria dos casos haverá déficit propriocep-
de desenvolvimento, M para causas metabólicas, I para tivo e alterações, consequentemente, nos padrões da mar-
causas idiopáticas, N para neoplásicas ou nutricionais e D cha e postura.
de degenerativas. É importante lembrar dessa sucessão de Ao encontrar em um animal alguma alteração nesses pa-
letras porque elas são importantes no diagnóstico diferen- drões citados, deve-se incluir patologias cerebrais no diag-
cial das patologias neurológicas, e é através da anamnese nóstico diferencial, que será abordado mais adiante neste
que podemos ter uma suspeita mais direcionada. capítulo.
O objetivo deste capítulo não é ensinar diagnósticos
neurológicos encefálicos, mas sim facilitar a identificação Cerebelo 2,7,9
de sinais dessas patologias que podem estar no diferencial O cerebelo é uma estrutura fundamental do sistema
da queixa do tutor, e que podem incluir contraindicações nervoso central que tem por função regular e coordenar
para o uso de alguns equipamentos e técnicas da fisiote- as atividades motoras e estabelecer o equilíbrio do corpo
rapia. do animal através das informações que recebe dos mem-
bros, da postura da coluna e cabeça e dos centros vestibu-
ANATOMIA E SINAIS CLÍNICOS lares e visuais. Ao receber essas informações, o cerebelo
compara o lado direito com o esquerdo e a posição do corpo
Encéfalo 2,7,9 no espaço e faz os ajustes necessários para que o animal
Possui cinco estruturas em sua composição sendo os não caia ao fazer algum movimento como abaixar a ca-
hemisférios cerebrais a maior área de ocupação intracra- beça para se alimentar ou dar um passo com a profundi-
niana, ocupando a porção frontal que apresenta um impor- dade e intensidade certa, por exemplo. É importante saber
tante grupo de neurônios motores voluntários - a via que no cerebelo não há origem de fibras proprioceptivas
corticoespinhal, a porção parietal que recebe a percepção nem neurônios de inervação motora, ocorre apenas a re-
consciente de dor, pressão, sensação térmica e toque, a cepção da informação dessas vias para modular a resposta
porção temporal que também percebe os sons além de da marcha e postura no espaço. Portanto, ao realizar o
compartilhar algumas funções com o córtex parietal e a exame neurológico de um animal, se o mesmo apresentar
porção occipital que interpreta as imagens recebidas pela sinais de incoordenação com abertura lateral dos mem-
inervação oftálmica. O encéfalo também é composto pelo bros para poder se sustentar melhor, sem perda de tônus
diencéfalo, que contém o hipotálamo e tálamo que são res- muscular, tremores ao aproximar-se de objetos por não
ponsáveis pelo importante controle neuroendócrino; o me- conseguir modular a distância destes, aumento da ampli-
sencéfalo que contêm além das fibras dos neurônios tude de flexão e extensão na marcha (hipermetria) e ainda
responsáveis pela inervação das vias visuais e auditivas, tiver propriocepção preservada nos quatro membros, o
também possuem os centros de controle motor; e por fim, médico veterinário poderá estar diante de um quadro ce-
a ponte e medula oblonga formam o tronco encefálico e rebelar.

306 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 28 – Lesões encefálicas com sintomatologia motora e sua reabilitação

Medula espinhal a gravidade da lesão inicial e pode ter um desfecho positivo


A medula espinhal não será abordada neste capítulo, se as lesões secundárias ao trauma forem amenas - edema
mas cabe salientar que é através dela que as fibras neuro- cerebral, ruptura de fibras neuronais, hemorragias intracra-
nais do sistema nervoso periférico levam a informação ao nianas, entre outras alterações.
córtex cerebral, tronco encefálico e cerebelo para que a As lesões vasculares geram mudanças no quadro neu-
marcha e postura ocorram normalmente. rológico do paciente pois o encéfalo não responde bem a al-
terações abruptas na circulação sanguínea intracraniana 2.
Patologias e a importância da anamnese Isso pode favorecer uma piora inicial seguida de melhora
Como dito no início deste capítulo, é fundamental que espontânea a medida que iniciam os mecanismos compen-
se consiga o máximo de informações possíveis com o tutor, satórios. As artérias e arteríolas tem conformação bilateral
pois a forma de apresentação dos sinais clínicos e a evolu- e ao serem obstruídas ou rompidas geram sinais assimétri-
ção dos mesmos, é o que marca o diagnóstico diferencial. cos na maioria dos casos, por comprometer a irrigação de
É mais fácil representar as categorias das patologias quando um lado apenas. Podem existir diversas causas de acidente
analisamos o curso destas ao longo do tempo (Figura 1). vascular, como migração de larvas parasitárias, êmbolos
As patologias mais estáveis, mas que podem cursar com bacterianos, problemas na coagulação sanguínea, tecido
certa cronicidade são as anomalias congênitas, como a neoplásico, embolismo fibrocartilaginoso, entre outras cau-
hidrocefalia, displasia hipotalâmica, meningocele, polimi- sas, o que gera um desafio diagnóstico ao veterinário. O
crogiria², entre outras, e podem ser frustrantes tanto no tratamento adequado nessas situações vai depender da
diagnóstico quanto no tratamento pois não haverá melhorias causa diagnóstica, mas é importante lembrar que quando
significativas na maioria dos casos. As doenças metabólicas não se tem um diagnóstico preciso, deve existir muita cau-
são as mais difíceis de classificar porque a apresentação é tela na escolha do equipamento e das técnicas fisioterápicas
variada e tende a oscilar no tempo em graus de piora e me- a serem utilizadas.
lhora espontânea. Nesta categoria há uma grande variedade Torna-se mais desafiador o diagnóstico quando o paciente
de suspeitas diagnósticas 9 como hipoglicemia, deficiência apresenta um quadro de início lento e progressivo, pois de-
de tiamina, displasia microvascular hepática, intoxicações pendendo da velocidade de progressão dos sinais, pode-se
por chumbo, organofosforados, ivermectina, metronidazol, estar frente a patologias de origem infecciosas ou inflama-
hipertireoidismo, diabetes mellitus, hiperadrenocorticismo, tórias 2,9, como peritonite infecciosa felina, imunodeficiência
entre muitas outras causas. O sucesso do tratamento vai felina, cinomose, toxoplasmose, erlichiose, meningoence-
ocorrer no achado da causa primária dos sinais clínicos. falite granulomatosa (MEG), encefalite necrosante entre
As patologias de curso agudo e rapidamente progres- tantas outras possibilidades, que tendem a ter um curso
sivo, mas que evoluem com estabilidade do quadro e até mais acelerado na progressão dos sinais; ou de origem neo-
mesmo melhora espontânea, geralmente estão englobadas plásica como meningeomas, linfomas, neoplasias hipofisá-
na categoria dos acidentes vasculares ou traumas. rias, gliomas, entre outros, que podem ter um curso mais
O trauma está geralmente associado a impactos como rápido ou lento dependendo da característica do tumor; ou
um acidente automobilístico ou uma queda do animal ou de origem degenerativa como doenças de acúmulo, leuco-
de algum objeto sobre o animal, e nesses casos podem ser distrofias, abiotrofias neuronais multissistêmicas, entre ou-
visualizados externamente áreas de sangramentos, hemato- tras que podem ter um curso mais lento no tempo.
mas, edemas, fraturas, lacerações, entre outras lesões su- Independente das causas supracitadas, os sinais clínicos
perficialmente aparentes. O dano neurológico está associado são muito parecidos no que tange a neurologia, desde que a
localização anatômica seja a mesma e por isso a resenha
nestes casos pode auxiliar nas suspeitas, uma vez que, por
exemplo, uma MEG 2,9 é mais comum em raças terriers jo-
vens e pode cursar com os mesmos sinais clínicos de um
meningeoma em um gato com 12 anos. Por isso, reforça-se
a necessidade de considerar os diferenciais diagnósticos,
uma vez que varia o tratamento fisioterápico para cada caso.
O tratamento clínico adequado dessas patologias vai de-
pender exclusivamente da causa, o que exige uma série de
estudos complementares para alcançar o diagnóstico defi-
nitivo. Como em alguns casos o diagnóstico é incerto ou
não há recursos suficientes para definição do quadro final,
deve-se trabalhar a reabilitação do paciente neurológico
com cautela. Apenas serão realizados exercícios ou aplica-
ção de equipamentos com a finalidade de obter uma me-
Figura 1 – Gráfico de evolução de sinais clínicos das lhora na qualidade de vida do animal e reestabelecimento
doenças neurológicas seguindo o acrônimo VITAMIND das funções fisiológicas.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 307


Capítulo 28 – Lesões encefálicas com sintomatologia motora e sua reabilitação

Reabilitação por alterações específicas várias vezes no mesmo dia. Essas atividades devem termi-
Para definir um protocolo de reabilitação para o pa- nar com um reforço positivo para que haja liberação de
ciente com alterações encefálicas é importante levar em endorfinas e sensação de bem-estar, que auxilia no desen-
consideração o quadro clínico apresentado, para então es- volvimento neuronal.
colher técnicas que possam devolver a qualidade de vida
ao animal. É importante lembrar que a rotina da casa en- ALTERAÇÕES DE POSTURA E MARCHA
volve benefícios significativos ao paciente, então, além de Deve ser observado o tipo de alteração postural que o
sugestões de terapias fisiátricas, também seguem impor- animal está apresentando em decorrência da lesão encefá-
tantes dicas de manejo. lica. Será abordado abaixo alguns exemplos mais comu-
mente vistos na rotina e as terapias que podem beneficiar a
Alteração de estado mental correção de tais posturas.
Quando estamos diante de uma alteração deste tipo, é
importante considerar que quanto maior o estímulo ambien- Ataxia
tal dado ao paciente, melhor resposta cognitiva haverá 4,6. A ataxia é um transtorno da inervação sensitiva que gera
Portanto sugerem-se algumas técnicas de enriquecimento um quadro de incoordenação na marcha e postura do
ambiental na qual o tutor está ativamente envolvido: tronco. A sincronização dos movimentos depende da infor-
mação recebida pela periferia à medula espinhal, cerebelo
Passeios por caminhos diferenciados e tronco encefálico, mais precisamente o sistema vestibular.
O exercício físico melhora a circulação sanguínea cere- Portanto, uma lesão que acarrete na falha da transmissão
bral e contribui dessa forma a proliferação de células ner- dessa informação, leva a um padrão de incoordenação mo-
vosas nessa região e também no hipocampo. Preconiza-se tora própria de cada área afetada, motivo pelo qual ela é
que as atividades físicas sejam realizadas ao ar livre e de classificada em cerebelar, vestibular e proprioceptiva.
preferência em ambientes diferenciados como praças ou
ruas não rotineiras de passeio, para que se aumente a inte- Ataxia cerebelar
ração do animal com o entorno incrementando os estímulos Uma vez que o cerebelo é o órgão responsável por mo-
cerebrais a qual está submetido. É importante levar em con- dular os movimentos do corpo do animal, uma lesão aco-
sideração as condições físicas do paciente, pois se o mesmo metendo este órgão provoca uma incoordenação que
apresenta uma série de degenerações articulares ou proble- envolve a cabeça, tronco e membros 2. Ocorre uma incapa-
mas de coluna, esses passeios podem estar contraindicados. cidade no controle da velocidade, força e distância levando
Se o animal apresenta transtornos de sono, recomenda- a uma resposta exacerbada quando um movimento é ini-
se que essas atividades sejam realizadas durante o dia para ciado 9, que se denomina hipermetria. Além dessa alteração,
gasto energético. ocorrem também os tremores, que são constantes, oscilam
na mesma frequência, mas podem aumentar sua intensidade
Troca de mobílias na casa quando da intenção de realizar um movimento, motivo pelo
Modificar eventualmente alguma cadeira de lugar ou qual esse sinal clínico recebe o nome de tremor de intenção.
algum armário representa um desafio ao animal com alte- É importante lembrar que o cerebelo é fonte de modu-
ração mental, mas não devem ser realizadas grandes mu- lação e não geração de movimento, portanto, ao avaliar a
danças principalmente em cães com visão reduzida, pois propriocepção de um animal com lesão exclusivamente ce-
pode aumentar o estresse e piorar o quadro de desorienta- rebelar, a mesma estará preservada. Essa informação é va-
ção do paciente. liosa principalmente quando há dúvidas quanto à origem
da ataxia.
Alimentação ativa
Como a alimentação 8 é uma atividade rotineira e auto- Ataxia vestibular
mática, indica-se esconder pequenas porções de alimento O sistema vestibular é composto pela inervação vestibu-
pela casa, aumentando o grau de complexidade dos escon- lococlear localizada no tronco encefálico e pelos componen-
derijos e tarefas para coleta do alimento ao longo das se- tes da bula timpânica. Ao movimentar a cabeça ou o corpo,
manas. Também pode ser usada uma garrafa pet com furos a endolinfa presente nos canais semicirculares do ouvido
do tamanho do grão da ração e deixar a disposição do ani- move as células ciliadas, e estas transmitem informações da
mal para que ele busque o alimento dentro do recipiente postura e movimentação do animal ao córtex, que irá enviar
plástico. as respostas motoras para que ocorra o movimento 2,9.
Quando há lesão em uma das estruturas que compõe o sis-
Atividades antigas com frequência repetida tema vestibular, comprometem-se as vias de equilíbrio, pos-
Estimular atividades que o animal gosta de realizar de tura de cabeça e membros e marcha. Dessa forma,
forma intensa. Porém, de curta duração e repetida ao longo encontra-se um aumento na base de sustentação associado à
do dia em várias vezes. Por exemplo, se o animal gosta de oscilações na cabeça e tronco, andar em círculos fechados,
jogar bolinha, estimular a brincadeira por poucos minutos desequilíbrio com tendência à queda, rotação da cabeça e

308 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 28 – Lesões encefálicas com sintomatologia motora e sua reabilitação

espasticidade 9. A síndrome vestibular pode ser de origem de dois cones, caminhar em pisos de diferentes texturas e
periférica, quando a lesão acometer a bula timpânica, ou cen- graus de maciez. A descrição de todos esses exercícios po-
tral, quando lesionado o tronco encefálico. O sinal clínico derá ser conferida com mais detalhes no capítulo de Cine-
mais confiável para identificar a origem é a propriocepção, sioterapia deste livro.
que estará ausente na lesão central, uma vez que é no tronco Em alterações encefálicas graves o animal pode ter um
encefálico que estão as fibras correspondentes. acometimento maior na locomoção por vezes não conse-
Existem alguns casos em que a lesão pode ocorrer de guindo ficar em estação 2,7,9. Nesses casos, um exercício de
forma bilateral, causando uma ataxia simétrica, com quedas grande valia é o posicionamento do animal em um suporte
para ambos lados, postura agachada com os membros se- de forma a que fique em estação, para então estimular os
parados e flexionados e um deslocamento rastejante 9. membros um de cada vez simulando passos, em repetições
de 10 a 15 em cada membro e aumentando a quantidade na
Ataxia proprioceptiva medida que o animal evolui (Figura 4).
Essa ataxia ocorre principalmente em lesões da medula
espinhal e será abordada mais especificamente na parte cor- Atrofia em musculatura da face
respondente. As alterações em nervos cranianos 2,9 podem cursar com
importantes atrofias dos músculos mastigatórios. Para me-
Inclinação de cabeça lhorar o trofismo desses grupos musculares pode-se realizar
É importante que o animal esteja estável no seu quadro a eletroestimulação através da colocação dos eletrodos
clínico neurológico, de forma que os exercícios recomen- sobre os grupos musculares afetados (Figura 5). Os parâ-
dados a seguir não desestabilizem o mesmo. metros para ajuste do equipamento foram abordados no ca-
Uma forma de estimular a correção postural da cabeça pítulo 12 deste livro (páginas 92 a 102).
é oferecendo petiscos no flanco do lado oposto da lesão
(Figura 2). Dessa forma o animal estimula o sistema vesti-
bular, cerebelar e todas as alterações posturais que devol-
vem o padrão da normalidade. Podem ser feitas
inicialmente 10 repetições e aumentar progressivamente
em 5 repetições a cada 7 dias. O tutor pode realizar esse
movimento em casa para maior estímulo diário.

Pleurotótono e inclinações de tronco


Para melhorar a postura da coluna nessas alterações
pode-se realizar o alongamento na bola, de forma que o
animal fique com o lado contralateral de onde aponta o fo-
cinho em contato com a bola (Figura 3)

Propriocepção, coordenação motora e equilíbrio


Figura 3 – Suporte para colocar o animal em estação na
Para melhorar a coordenação motora, equilíbrio e pro-
execução dos exercícios
priocepção dos pacientes afetados preconiza-se exercícios
como o uso de pranchas, cavaletes, andar em oito ao redor

Figura 2 – Movimento de busca do animal ao alimento ofe- Figura 4 – Suporte para colocar o animal em estação na
recido no flanco, contralateral à lesão execução dos exercícios

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 309


Capítulo 28 – Lesões encefálicas com sintomatologia motora e sua reabilitação

Figura 5 – Posicionamento de eletrodos sobre musculatura


mastigatória

Uso da magnetoterapia
Diversos estudos apontam a magnetoterapia como um
Figura 7 – Felino com inserção de agulhas de acupuntura
importante equipamento no auxílio da melhoria clínica de em pontos específicos de patologia encefálica
pacientes com alterações cerebrais 10. Isto se deve porque o
magneto aumenta a atividade mitocondrial, aumenta a per-
meabilidade da membrana celular normalizando as entradas Conclusão
e saídas iônicas de forma fisiológica, estabilização da Para o tratamento correto de cada paciente deverá ser
bomba de sódio e potássio que permite reorganizar a estru- realizada uma anamnese e exame físico completos e minu-
tura sináptica neuronal. Indica-se aplicação das bobinas de ciosos, com a finalidade de identificar a causa base, evi-
campo magnético pulsado na região craniana de forma que tando dessa forma escolhas incorretas de protocolos
a polaridade das bobinas seja oposta (Figura 6). Na literatura terapêuticos. Da mesma forma, deverá ser respeitada a
encontra-se diversas frequências e tempos de aplicação 3,10,12, etapa terapêutica que o paciente está, pois cada momento
porém, mesmo com essa divergência muitos dos estudos da reabilitação do mesmo será acompanhada de novas mo-
apresentaram melhoria clínica em variados percentuais. dalidades e exercícios adequados para o retorno funcional
completo.
Uso da acupuntura
A acupuntura é uma técnica amplamente usada para Referências
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310 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 28 – Lesões encefálicas com sintomatologia motora e sua reabilitação

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COMO CITAR ESSE CAPÍTULO


HUMMEL, J. Lesões encefálicas com sintomatologia mo-
tora e sua reabilitação. In: LOPES, R. S. ; DINIZ, R.
Fisiatria em pequenos animais. 1. ed. São Paulo :
Editora Inteligente, 2018. p. 306-311. ISBN: 978-85-
85315-00-9.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 311


29
Afecções do ombro
Fernando Yoiti Kitamura Kawamoto
Guilherme Galhardo Franco
Bruno Watanabe Minto

H
istoricamente, a articulação do ombro (escapulou- e lateral, entretanto, a flexão e a extensão são os movimen-
meral) é a que recebe menos atenção na literatura. tos predominantes 23. Os valores normais de flexão e exten-
Há décadas, afecções do ombro como osteocon- são para cães e gatos são 57 graus (flexão) e 165 graus
drose e tenossinovite bicipital foram caracterizadas e des- (extensão), e 32 graus (flexão) e 164 graus (extensão), res-
critas. Entretanto, novas e variadas afecções que acometem pectivamente 19,20. A coordenação de mais de 25 músculos
a articulação do ombro foram descritas recentemente com é necessária para o movimento do ombro 33.
frequência crescente. Biomecanicamente, a articulação glenoumeral é estabi-
Os avanços no diagnóstico por imagem e análise da lo- lizada por mecanismos passivos (estáticos) e ativos (dinâ-
comoção trouxeram maior acurácia na identificação das micos), que atuam juntos para proporcionar estabilidade
causas de claudicação de membros torácicos proveniente articular 16.
do ombro. Embora os avanços tecnológicos sejam impor- Os estabilizadores passivos incluem os ligamentos gle-
tantes ferramentas diagnósticas, a compreensão completa noumerais, cápsula articular, labrum e o tendão de origem
da anatomia e função biomecânica do ombro é fundamental do músculo bíceps braquial, os quais permitem ampla gama
para aplicação destes novos conceitos na clínica de peque- de movimentos articulares 16.
nos animais. Os estabilizadores ativos (dinâmicos) da articulação do
ombro incluem os músculos infraespinhoso, supraespi-
Anatomia e biomecânica nhoso, subescapular e redondo menor, em menor grau, o
A articulação do ombro é formada pela articulação da bíceps braquial, a cabeça longa do músculo tríceps bra-
cavidade glenoide da escápula com a cabeça do úmero 18. quial, deltoide e redondo maior 17. Os mecanismos ativos
A glenoide fornece relativamente pouca cobertura da ca- da estabilidade da articulação do ombro ocorrem devido à
beça do úmero e, com base na distribuição topográfica da contração coordenada ou seletiva dos músculos do man-
espessura da cartilagem, a articulação é classificada como guito rotador que permite que a articulação permaneça es-
moderadamente congruente 25,33. tável e responda às tensões criadas pela locomoção e pelo
O lábio glenoidal cartilaginoso (labrum) envolve a gle- peso 17.
noide por todos os lados. É mais largo no lado lateral e es-
tende a área de superfície da glenoide em 25% a 30% 27. O OSTEOCONDROSE DA CABEÇA UMERAL
labrum é triangular em corte transversal e é altamente vas-
cularizado, exceto ao longo da margem livre 27. Definição e epidemiologia
Ambas as superfícies articulares são cobertas de carti- A osteocondrose é um distúrbio do processo normal de
lagem hialina de espessura moderada, como é típico de ar- ossificação endocondral 32. Quando a osteocondrose pro-
ticulações moderadamente congruentes 45. gride para a formação de um flap cartilaginoso, utiliza-se
A inserção da cápsula articular localiza-se proximal à o termo osteocondrose dissecante ou ostecondrite disse-
periferia da glenoide e distal à cabeça do úmero. Parte da cante (OCD) 32.
cápsula articular envolve o aspecto craniomedial do tendão O aspecto caudocentral ou caudomedial da cabeça do
de origem do músculo bíceps braquial à medida que passa úmero é o local mais comum da OCD da articulação do
pelo sulco intertubercular. O tendão é mantido no lugar ombro. A cartilagem nessa área é mais fina do que a carti-
pelo ligamento transverso do úmero 18. lagem na periferia da cabeça do úmero 49, sendo também
A cápsula articular está intimamente ligada a um con- uma região de transferência de carga primária para a cavi-
junto de tendões e essa composição estrutural é denomi- dade glenoide 26.
nada de "manguito rotador", que incluem os músculos Os cães machos de raça grandes ou gigantes são mais
subescapular e coracobraquial medialmente, e os músculos comumente afetados e 27% a 68% dos cães têm lesões bi-
supraespinhoso, infraespinhoso e redondo menor, lateral- laterais 4. Foi registrado um único relato de um gato com
mente 17. OCD da cabeça do úmero 38.
Outras estruturas intra-articulares de importância são os
ligamentos glenoumerais (colateral) lateral e medial. O li- Etiologia
gamento colateral medial possui forma de “Y”. O liga- A etiologia da osteocondrose é complexa e multifato-
mento colateral lateral é tipicamente uma única grande rial 32. Foram relatados diversos fatores que podem levar a
faixa que se estreita ligeiramente quando se insere no necrose avascular durante o processo de ossificação endo-
úmero 18. condral 4,32. Dentre eles fatores genéticos/hereditários/ra-
A articulação do ombro permite grande variedade de ciais, fatores dietéticos e traumas repetidos 32. Os cães
movimentação incluindo abdução, adução, rotação medial afetados geralmente consomem uma dieta rica em proteínas

312 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 29 – Afecções do ombro

e de alto teor calórico. As proteínas, calorias e cálcio em


excesso estão relacionados na patogênese da OCD, mas
ainda discuti-se a real contribuição para o desenvolvimento
da doença 37,41.

Sinais clínicos
Embora lesões bilaterais estejam frequentemente pre-
sentes, a claudicação é geralmente unilateral, intermitente,
progressiva e acentuada após exercício 32. Os sinais clínicos
geralmente se desenvolvem entre 4 e 8 meses de idade 4.
Atrofia dos músculos supraespinhoso, infraespinhoso e del-
toide pode estar presente se a claudicação for crônica 17.
Dor na palpação e detecção de crepitações são incomuns,
mas a extensão extrema da articulação, muitas vezes incita
uma resposta de dor 23. Embora a lesão primária da OCD
sempre ocorra durante o desenvolvimento esquelético, al-
guns cães não demonstram sinais clínicos quando jovens.
Eles desenvolvem dor e claudicação mais tardiamente,
como resultado de osteoartrite secundária 37. Figura 1 – Exame radiográfico da articulação do
ombro na projeção mediolateral. Nota-se o defeito
Diagnóstico ósseo subcondral na região caudal da cabeça do
O diagnóstico de OCD da cabeça do úmero geralmente úmero (seta)
é feito por exame radiográfico da articulação do ombro 4.
As alterações radiográficas mais observadas incluem perda descrita como a melhor conduta para a resolução da dor e
da estrutura trabecular e lise subcondral 24. Essas alterações o retorno ótimo à função do membro 21 (Figura 2).
podem não estar presentes em cães com osteocondrose até Artroscopia consiste em procedimento minimamente in-
que um flap de cartilagem é formado, momento em que o vasivo que pode confirmar o diagnóstico e tratar a doença
exame radiográfico revela um defeito ósseo subcondral na simultaneamente e permite visibilização de lesões que não
região caudal da cabeça do úmero na projeção mediolate- são vistas por artrotomia 48.
ral 24 (Figura 1). O flap cartilaginoso é removido e o defeito subcondral
Os erros técnicos radiográficos mais comuns que inter- remanescente é desbridado até o sangramento do osso sub-
ferem na identificação do defeito ósseo subcondral incluem condral utilizando cureta óssea 4.
baixa qualidade e definição radiográfica, posicionamento O prognóstico é bom e o retorno à função quase normal
oblíquo do ombro e incapacidade de distrair adequada- do membro após o tratamento em longo prazo é excelente.
mente o membro do tórax 24. Uma projeção radiográfica Lesões de maior extensão são correlacionadas com prog-
mediolateral com o úmero ligeiramente rotacionado inter- nóstico pior.
namente ou externamente pode demonstrar a lesão, se esta Exercícios de reabilitação devem ser realizados após a
estiver localizada, respectivamente, caudomedial ou cau- cirurgia para maximizar a velocidade da recuperação 34.
dolateral na cabeça umeral 40.
Podem ser observados flaps de cartilagem mineraliza-
dos soltos na bolsa sinovial caudal ou na bainha do tendão
do músculo bíceps braquial. A projeção craniocaudal pode
auxiliar na identificação de flaps na bainha do tendão bici-
pital 24.
Como a osteocondrose da cabeça umeral frequente-
mente está presente bilateralmente (aproximadamente
50%21), mas se manifesta apenas unilateralmente como
OCD, a recomendação é radiografar ambos as articulações
no momento do diagnóstico.
Artrografia com contraste positivo 26, ressonância mag- A B
nética (RM) 47 e ultrassonografia 48 são descritos para o
Figura 2 – (A) Imagem fotográfica da abordagem cirúr-
diagnóstico de osteocondrose de ombro e em alguns casos
gica da articulação do ombro por meio de artrotomia, de-
são indicados para maior acurácia diagnóstica.
monstrando a cabeça umeral com a região e erosão e
exposição do osso subcondral. (B) Imagem fotográfica
Tratamento demonstrando o flap de cartilagem retirado do espaço ar-
A remoção cirúrgica do flap de cartilagem na OCD é ticular

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 313


Capítulo 29 – Afecções do ombro

TENDINOSE DO SUPRAESPINHOSO tiva à cirurgia 9.


Apesar de muitos autores recomendarem a excisão ci-
Definição e epidemiologia rúrgica do tecido calcificado dentro do tendão e do mús-
A tendinose do supraespinhoso foi inicialmente descrita culo, foram relatadas taxas de sucesso variáveis com este
como a calcificação distrófica do tendão do músculo su- tratamento 14,31,36.
praespinhoso, entretanto, esta alteração tendínea pode ser O tendão do músculo supraespinhoso alterado também
um achado acidental sem sinais clínicos associados 22,12. pode comprimir o tendão adjacente do músculo bíceps bra-
Esta afecção, com ou sem calcificação do tendão, ocorre quial, e a excisão do tecido mineralizado pode ser benéfico
com pouca frequência. Rottweilers e labrador retrievers pa- para liberar o tendão bicipital 14.
recem estar predispostos a esta condição 10. Exercícios de reabilitação devem ser realizados após a
cirurgia para maximizar a velocidade e a extensão da recu-
Etiologia peração 34.
A etiopatogenia é desconhecida 22. Estudos microangio-
gráficos dos músculos do manguito rotador do cão têm DOENÇA ARTICULAR DEGENERATIVA (DAD)
demonstrado uma área pequena e distinta de hipovascula- A DAD, também denominada de osteoartrose ou os-
rização ou avascularização no tendão do músculo supraes- teoartrite, é definida como uma afecção de evolução lenta,
pinhoso 28. Embora alterações vasculares semelhantes foram degenerativa e não infecciosa e é acompanhada por proli-
descritas contribuindo para a degeneração espontânea do feração óssea nas margens sinoviais e pela fibrose dos te-
tendão do músculo supra espinhoso em seres humanos, o cidos moles periarticulares 1.
efeito dessa hipovascularização no desenvolvimento da cal- Na articulação do ombro, pode ser classificada como
cificação distrófica no tendão de cães é desconhecido 28. primária ou secundária, dependendo da causa 8. A osteoar-
trite primária é classificada como distúrbio da senilidade
Sinais clínicos em que há degeneração cartilaginosa por razões ainda des-
Cães afetados apresentam claudicação unilateral crô- conhecidas 35. A osteoartrite secundária acontece em res-
nica, que pode ser intermitente ou persistente. A dor na pal- posta à instabilidade articular, sobrecarga articular anormal
pação ou manipulação do ombro pode estar presente de ou em resposta a outra afecção articular vigente como os-
forma variável 12. teocondrose e tenossinovite bicipital 1.
Embora as técnicas de diagnóstico por imagem possam Como resultado da alteração dos condrócitos, depleção
revelar a presença de mineralização bilateralmente, os si- dos proteoglicanos da matriz e alteração da rede de fibrila
nais clínicos podem ser unilaterais 10. de colágeno, há a degradação da cartilagem1. A diminuição
do conteúdo de proteoglicanos é diretamente ligada à gra-
Diagnóstico vidade da doença 1. A ruptura de colágeno é induzida pelas
O exame radiográfico convencional pode demonstrar citocinas e pela liberação de enzimas destrutivas por parte
mineralização na topografia do tendão do músculo supraes- dos condrócitos, sinoviócitos e células inflamatórias 8. Do
pinhoso, entretanto, adicionalmente pode ser necessária ponto de vista clínico, esta série de eventos caracteriza-se
projeção radiográfica skyline 12. A ultrassonografia, tomo- por dor, limitação da amplitude de movimento, efusão e
grafia computadorizada ou ressonância magnética são ne- graus variados de sinais de inflamação local 35.
cessárias em alguns casos para confirmar o diagnóstico e Considerando as afecções dispostas anteriormente, di-
diferenciar a calcificação do tendão do músculo supraespi- ferentes métodos terapêuticos podem ser instituídos. Na os-
nhoso da calcificação do tendão do músculo bíceps bra- teoartrite primária, destaca-se o tratamento médico com
quial 31,43. repouso, anti-inflamatórios sistêmicos, condroprotetores e
A localização da mineralização é importante. Minerali- nutracêuticos, manejo dietético para perda de peso e reabi-
zação na face medial do tendão do músculo supraespinhoso litação ortopédica com objetivo de recuperar a função do
adjacente ao tendão do músculo bíceps braquial pode ser membro acometido e melhorar a qualidade de vida de pa-
clinicamente significativa, enquanto a mineralização em ciente 34.
outras áreas do tendão pode ser assintomática 43.
Deslocamento medial do músculo bíceps braquial e si-
nais de teossinovite bicipital são relatados concomitante- INSTABILIDADE MEDIAL DO OMBRO
mente ou secundários à tendinopatia do supraespinhoso 14.
Definição e epidemiologia
A instabilidade, com ou sem subluxação do ombro, é
Tratamento uma das principais causas de claudicação do membro torá-
O tratamento médico geralmente consiste em repouso e cico oriunda desta articulação 5,6,29,39, como consequência
administração de AINEs. Embora tais tratamentos sejam da insuficiência ou ruptura dos mecanismos estabilizadores
relatados em números muito limitados, a terapia de onda da articulação escápulo-umeral. Caracteriza-se como uma
de choque extracorpórea pode fornecer uma alternativa efe- translação anormal da cabeça umeral na cavidade glenoide,

314 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 29 – Afecções do ombro

causando desconforto ou disfunção articular 5,44. incluem graus variados de dor na manipulação articular e
A instabilidade medial do ombro acomete cães de raças hipotrofia muscular na região do ombro 29,34,39,42. Descon-
pequenas e grandes 42, sendo usualmente unilateral 7. Os forto e espasmos são comuns durante a abdução do ombro
casos que envolvem subluxação do ombro ocorre com mais e, em quadros graves, a subluxação pode ser induzida 34
frequência em cães de meia idade, de raças grandes e ma-
chos 7,13,29, 42,44. Diagnóstico
Em alguns casos, a instabilidade pode ser observada so-
Etiologia mente com o paciente sedado, uma vez que a dor e apreen-
Postula-se origem congênita, ocorrendo a partir da frou- são pode resultar em contração da musculatura
xidão dos tecidos moles que acarretam em graus variáveis periarticular. A identificação da direção da instabilidade é
de subluxação. Normalmente é diagnosticada em cães de fundamental, pois o tratamento difere para luxação medial
três a 10 meses de idade e acomete principalmente raças e lateral 7,29,42. Contudo, sabe-se que aproximadamente 80%
pequenas, incluindo poodle toy e miniatura, pinscher, lhasa das subluxações do ombro são mediais 5,29,42. Em ombros
apso, pastor de shetland, daschshund, pug, chihuahua e lulu instáveis, os movimentos de gaveta craniocaudais e medio-
da pomerânia 42. laterais da porção proximal do úmero em relação à porção
Frequentemente, acompanha histórico de trauma de distal da escápula 3,29,34,42 e o teste do tendão do bíceps po-
baixa energia ou ausência de trauma assistido. Estes pa- sitivo, são achados frequentes 29,42.
cientes podem se manter em posição ortostática com o A mensuração do ângulo de abdução do ombro pode
membro torácico acometido com a articulação do cotovelo quantificar com maior acurácia a extensão do desvio valgo
flexionada e aduzida, e a extremidade distal abduzida. Na da articulação 5,6,7,29,34,39,42 (Figura 3). Para realizar este teste
palpação nota-se espaço anormal entre o acrômio e o tu- corretamente, o paciente deve ser sedado e a articulação do
bérculo maior 42. ombro é posicionada em angulação neutra. Em seguida, a
Em cães de raças grandes, a condição é geralmente re- escápula é estabilizada e o úmero abduzido; o ângulo for-
sultante de micro traumas repetitivos. Em ambas situações, mado pelo eixo do úmero e o aspecto cranial da escápula é
a anatomia óssea é normal (ao contrário da frouxidão liga- mensurado 6,29,34,42. Entretanto, o que constitui um movi-
mentar associada a displasia da glenoide) e sinais de os- mento articular excessivo ainda não foi completamente es-
teoartrite secundária são comumente observados 42. tabelecido. O ângulo de abdução normal do ombro é de
A fisiopatologia da instabilidade do ombro não é com- aproximadamente 30º 6,34,42 e, em casos de instabilidade,
pletamente esclarecida e diversos mecanismos foram pro- pode variar até 90º 34. Vale ressaltar que pode haver varia-
postos. Uma das teorias cita que a estabilidade articular é ção no ângulo entre raças e indivíduos 42. Ademais, os pa-
determinada pelo encaixe da concavidade glenoide na ca- cientes acometidos tipicamente apresentam uma discreta
beça umeral, adesão/coesão, cápsula articular, além da pre- diminuição da amplitude de movimento na extensão do
sença do labrum glenoide ou ligamentos gleno-umerais, e ombro 34.
a magnitude das forças dos músculos periarticulares. Sendo A imagem radiográfica do ombro instável pode mostrar
assim, qualquer anormalidade ou interrupção destas estru- sinais de doença articular degenerativa ou ser normal 29,42.
turas ou nas forças de compressão atuantes poderão resultar A ressonância magnética pode identificar anormalidades
em instabilidade 5,6,29,34,39,42. Outro mecanismo proposto, en- no ligamento colateral medial e do tendão do músculo
volve a perda do equilíbrio gleno-umeral e alteração da subescapular, mas existe dificuldade em quantificar a gra-
força de compressão articular. Nessa situação, possíveis
causas de instabilidade incluem desequilíbrio muscular
dinâmico, angulação anormal da glenoide gerando in-
congruência com a cabeça do úmero, e redução da con-
tenção capsulo-ligamentares 29,42.
A instabilidade do ombro, em cães e gatos, pode ser
também de origem traumática, decorrente de um evento
único que resulta em lesão ou frouxidão abrupta de es-
tabilizadores passivos e/ou dinâmicos 5.

Sinais clínicos
A direção da instabilidade pode ser craniocaudal
(raro), mediolateral (mais comum) ou multidirecio- Figura 3 – Mensuração do ângulo de abdução do ombro
nal 5,29,42. Os pacientes com instabilidade articular geral- para verificar presença de instabilidade medial. A) A arti-
mente apresentam histórico de claudicação crônica, que culação do ombro é posicionada em angulação neutra. B)
usualmente piora após exercício ou atividade pesada, Em seguida, a escápula é estabilizada e o úmero abdu-
pode ser discreta e intermitente, ou ocasionalmente ser zido, o ângulo formado pelo eixo do úmero e o aspecto cra-
acentuada e contínua. Outros achados do exame físico nial da escápula é mensurado (linhas azuis)

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 315


Capítulo 29 – Afecções do ombro

vidade. A ultrassonografia do aspecto medial do ombro é primeiras técnicas que envolvem a transposição do tendão,
difícil e não é considerada uma ferramenta de diagnóstico podem resultar em certo grau de alteração biomecânica ar-
viável 42. ticular, incongruência das superfícies articulares e osteoar-
A artroscopia é considerada exame relevante e pode pro- trite. A imbricação realizada de maneira isolada pode ser
ver o diagnóstico definitivo 5,7,29,34,39,42, pois permite a iden- eficaz principalmente em casos de instabilidade discreta em
tificação da instabilidade medial do ombro nos casos em que a frouxidão da cápsula é pequena e o tendão está pre-
que o exame ortopédico em paciente sedado é inconclusivo servado. Em relação a preservação da biomecânica articular,
ou para cães que têm radiografias normais. Além disso, a sutura demonstra ser a mais eficiente e estável, podendo
possibilita a análise do grau e tipo de alterações degenera- ser utilizados parafusos e anilhas, túneis ósseos ou parafusos
tivas 6,29,39,42. Os achados mais comuns envolvem a erosão âncora como pontos de ancoragem 42. Poucas complicações
superficial da cartilagem articular caudal da cabeça do são relatadas com a reconstrução cirúrgica, além de claudi-
úmero, erosão da crista medial da glenoide, distensão do cação persistente ou instabilidade residual 13.
ligamento gleno-umeral medial, sinovite 29, e lesão ou dis- A modificação térmica induzida por radiofrequência ou
tensão do tendão subescapular e cápsula articular 5,7. a capsulorrafia térmica via artroscopia, com o intuito de re-
duzir a cápsula articular estirada e consequentemente aumen-
Tratamento tar a estabilidade, também vem sendo proposta 7,29,34,39,42.
Apesar de controverso, a injeção intra-articular de fár- A artrodese ou excisão artroplástica devem ser realiza-
macos corticosteroides pode, dependendo do caso, diminuir das apenas em casos selecionados, especialmente em luxa-
a inflamação sinovial e consequentemente a dor. Associado ções crônicas com doença articular degenerativa acentuada
ao repouso, permite a formação de fibrose periarticular para ou falha em tentativas anteriores de estabilização 42.
estabilização indireta da articulação e resolução da claudi- Independente da abordagem cirúrgica escolhida reco-
cação 39. menda-se a realização da reabilitação física para otimizar
De forma geral, recomenda-se a realização da reabilita- e potencializar a recuperação funcional 34.
ção física em pacientes com afecções do ombro, com o in-
tuito de evitar lesões adicionais, proteger a reparação TENDINOPATIA BICIPITAL
potencial do estresse excessivo e falha mecânica, impedir
a impotência funcional, manter ou restaurar o movimento Definição e epidemiologia
normal da articulação e a força muscular do membro 34. Originalmente denominada tenossinovite, a doença do
Para pacientes com ângulo de abdução entre 35º a 45º e tendão de origem do músculo bíceps braquial, tornou-se
achados artroscópicos condizentes com alterações discre- mais comumente descrita como uma tendinopatia 42. Esta
tas, a reabilitação física pode ser utilizada como forma de inclui uma degeneração tendínea associada ou não a um
tratamento conservativo 34. componente inflamatório 34.
Muitas vezes os pacientes com instabilidade medial de Apesar da sua prevalência e mecanismo fisiopatológico
ombro são pouco responsivos ao tratamento conservativo, exato ainda serem considerados desconhecidos, é uma das
principalmente em casos crônicos 34,42 e a estabilização ci- causas mais comuns de claudicação do ombro em cães 2,15,42.
rúrgica constitui o tratamento de escolha 13,29,42. Os pacientes acometidos, frequentemente são de meia-
As opções cirúrgicas incluem a transposição do tendão idade a idosos, de raças médias e grandes 2,29,30,34,42. Não há
de origem do músculo bíceps (Figura 4) ou tendão do mús- predileção sexual ou racial 30,42. Esta afecção é observada
culo supraespinhoso, imbricação do tendão do músculo su- quase exclusivamente em cães, mas foi relatada em con-
bescapular e a realização de sutura sintética para reconstruir junto com a displasia glenoide em um gato 42.
ou reforçar o ligamento colateral medial 13,29,39,42. As duas
Etiologia
A tendinopatia bicipital é classificada como
primária ou secundária. A primária é resultante
da inflamação do tendão, decorrente do uso ex-
cessivo ou trauma crônico repetitivo, especial-
mente em cães atletas, de trabalho ou com
sobrepeso 2,15,30,34,42. Isto pode culminar em
danos no suprimento vascular e hipóxia do ten-
dão, promovendo metaplasia condroide e cal-
cificação do tendão. Estes eventos alteram a
A B C estrutura e função do tendão no sulco intertu-
bercular, causando dor e claudicação 2.
Figura 4 – (A) Aspecto macroscópico da região crânio medial do
Alguns autores reportam ausência de pro-
ombro. A – Tendão do bíceps (seta amarela) e ligamento transverso
(seta azul). (B) Transecção do ligamento transverso. (C) Local onde cesso inflamatório ativo e, nestes casos, a de-
o tendão do bíceps deve ser fixado após sua transposição generação seria decorrente da diminuição do

316 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 29 – Afecções do ombro

suprimento vascular, em virtude de doença, envelheci- da face cranial do cotovelo e puxando-o caudalmente com
mento, trauma ou sedentarismo 2,30. Em contrapartida, a ten- o cão em uma posição ortostática, uma resposta dolorosa é
dinopatia secundária ocorre em decorrência de outra considerada positiva 42.
doença intra-articular ou aprisionamento de um flap carti- As projeções radiográficas ortogonais do ombro devem
laginoso solto sob o tendão 2,30,42, ou ainda devido a trauma ser realizadas sempre que houver suspeita de tendinopatia
agudo em outros tendões relacionados 15,42. bicipital, mas como as alterações associadas podem ser
Os fatores predisponentes incluem movimento repeti- sutis, uma projeção skyline pode auxiliar na identificação
tivo, displasia do cotovelo com perda secundária da flexão de irregularidades no sulco intertubercular e mineralização
da articulação, presença de flap proveniente de OCD na do tendão. Esta projeção também é útil para diferenciar a
bainha do tendão e obesidade 34. mineralização no tendão de origem do músculo bíceps bra-
quial da mineralização no tendão do músculo supraespi-
Sinais clínicos nhoso, uma vez que as duas são parcialmente sobrepostas
Os sinais clínicos são variáveis e, dependendo da gra- na projeção lateral 42. A artrografia contrastada é conside-
vidade, resulta em claudicação discreta, crônica intermi- rada mais sensível que a ultrassonografia e permite a iden-
tente, progressiva ou até impotência funcional 30,34,42, sendo tificação de irregularidades associadas ao tendão e sinóvia
observado piora com exercício 15,30,42. circundante 30,42.
O exame ultrassonográfico pode ser utilizado no diag-
Diagnóstico nóstico da tendinopatia bicipital. As alterações observadas
O diagnóstico pode ser realizado por meio da associação incluem a presença de linha anecoica ao redor do tendão,
dos testes de gaveta de ombro, teste de retração do bíceps 42, que se encontra alargado e com alteração no padrão das fi-
palpação direta do tendão de origem do músculo bíceps bra- bras, sinóvia irregular e proliferativa. Dependendo da cro-
quial, citologia sinovial, radiografia, artrografia contrastada, nicidade pode haver irregularidades na superfície do sulco
ultrassonografia, artroscopia e ressonância magnética 30,42. bicipital. A ultrassonografia pode identificar alterações do
O teste do tendão do bíceps consiste na palpação, por tendão antes da manifestação de sinais radiográficos ou ar-
meio da pressão digital direta em sua origem no sulco in- troscópicos. Entretanto podem haver resultados falso ne-
tertubercular no aspecto craniomedial, durante a flexão do gativo 42.
ombro e extensão do cotovelo 15,30,34,42 (Figura 5). A resposta A ressonância magnética possui como vantagem a de-
de dor é considerada positiva para tendinopatia bicipital, tecção de problemas concomitantes, já que permite a ava-
mas pode ser associada a dor no ombro generalizada 30,42. liação de todas as estruturas de tecido mole que circundam
O teste de gaveta também é muito utilizado para o diag- o ombro 42. A artroscopia do ombro é considerada superior
nóstico da tendinopatia do bíceps. Para executá-lo, o ombro aos demais métodos diagnósticos para esta afecção 11,30.
deve ser parcialmente flexionado, a escápula estabilizada
com uma mão e a diáfise umeral segurada com a outra. Pos- Tratamento
teriormente, o úmero é deslocado cranialmente, pressio- O tratamento conservativo da tendinopatia bicipital é
nando-se o tendão do bíceps. Se houver resposta dolorosa indicado em lesões agudas. Nesta situação, frequentemente
é indicativo de comprometimento do tendão e inflamação recomenda-se a realização de uma ou duas aplicações intra-
da membrana sinovial. O terceiro teste descrito é conhecido articulares de um fármaco corticosteroide de ação prolon-
como teste de retração do bíceps e é executado segurando- gada, como o acetato de metilprednisolona (10 a 40 mg),
se o tendão de inserção do músculo bíceps braquial perto associado ao repouso intenso durante 4 a 6 semanas e re-
torno gradual as atividades 30,34,42. Teoricamente os corti-
costeroides reduzem a inflamação causada pela tendinopatia,
mas o repouso é fundamental para evitar a lesão contínua
do tendão 42.
Uma opção inicial envolve a utilização de anti-inflama-
tórios não esteroides (AINEs) associado ao repouso e, caso
a claudicação persista, realiza-se a injeção intramuscular
de glicosaminoglicanos polissulfatados combinadas com
outro curso de AINEs 42.
Além disso, outra alternativa de tratamento conservador
desta afecção inclui o repouso ou restrição de exercício por
A B longos períodos de tempo (aproximadamente 3 meses), te-
Figura 5 – Teste do tendão do bíceps. (A) Localização do
rapia do frio e ultrassom terapêutico pulsado 34.
sulco intertubercular no aspecto craniomedial. (B) Palpa- O tratamento cirúrgico é recomendado para pacientes
ção do tendão do bíceps, por meio da pressão digital direta que não respondem ao tratamento conservativo ou que
em sua origem no sulco intertubercular no aspecto cranio- possuem alteração mecânica. Entre as opções cirúrgicas
medial, durante a flexão do ombro e extensão do cotovelo encontra-se a tenodese ou tenotomia 34,42,44. Na primeira,

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 317


Capítulo 29 – Afecções do ombro

realiza-se a tenodese do tendão de origem do músculo bí- 36-3-262.


ceps braquial para a porção proximal do úmero através de 13-FRANKLIN, S. P. ; DEVITT, C. M. ; OGAWA, J. ; RIDGE, P. ;
uma artrotomia cranial, podendo ser efetuada por meio de COOK, J. L. Outcomes associated with treatments for medial,
lateral, and multidirectional shoulder instability in dogs. Veterinary
artroscopia 2,15,30,42. Esta abordagem apresenta bons resulta- Surgery, v. 42, n. 4, p. 361-364, 2013. DOI: 10.1111/j.1532-
dos a longo prazo, mas complicações como irritação dos 950X.2013.01110.x.
tecidos e drenagem associada ao implante, claudicação pro- 14-FRANSSON, B. A. ; GAVIN, P. R. ; LAHMERS, K. K. Supraspinatus
longada, seroma e outras morbidades podem ocorrer 30,42. tendinosis associated with biceps brachii tendon displacement
A tenotomia também pode ser feita por abordagem aberta in a dog. Journal of the American Veterinary Medical Association,
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ou artroscopia. Neste procedimento o tendão é liberado de
15-GILLEY, R. S. ; WALLACE, L. J. ; HAYDEN, D. W. Clinical and
sua origem no tubérculo supraglenoidal 42. Especula-se que
pathologic analyses of bicipital tenosynovitis in dogs. American
a recuperação após a tenodese é mais rápida, principal- Journal of Veterinary Research, v. 63, n. 3, p. 402-407, 2002.
mente em cães de trabalho 42. Independente da técnica es- DOI: 10.2460/ajvr.2002.63.402.
colhida, recomenda-se a reabilitação física 34,42. 16-GRAY, M. J. ; LAMBRECHTS, N. E. ; MARITZ, N. G. J. A bio-
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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 319


30
Fisiatria em afecções do ombro

Mhayara Samile de Oliveira Reusing


Ricardo Stanichi Lopes

D
entre as lesões ortopédicas de membros torácicos tanto ao tratamento cirúrgico - na recuperação após artros-
em pequenos animais, as afecções de ombro são copia terapêutica, transposição medial do tendão do bíceps
as principais causas de dor e claudicação 53. A ori- e artrose de ombro - como ao tratamento conservador das
gem da dor pode estar relacionada a lesões de tecido ósseo, doenças articulares degenerativas 27,36,54. Em todos esses
cartilaginoso, músculo-tendíneo e ligamentar, tratando-se casos, a fisiatria eleva a qualidade de vida dos pacientes de
de um desafio ao médico veterinário fisiatra identificá-la. forma significativa. Isto porque a fisiatria é reconhecida
Tantas causas distintas para a dor causam ainda impacto por seus efeitos analgésicos, de fortalecimento muscular,
sobre os tecidos adjacentes ou funcionalmente relacionados de preservação dos componentes articulares e de aceleração
e, com isso, a abordagem terapêutica deve ser muito minu- da regeneração tecidual 29,30. Na sessão de fisiatria deste ca-
ciosa 1. A claudicação, por sua vez, pode estar relacionada pítulo serão abordados os principais aspectos etiológicos
às alterações de amplitude de movimento ou à instabilidade das afecções de ombro, bem como suas implicações ao
da articulação escápulo-umeral 24. Os sinais clínicos per- plano de reabilitação de pequenos animais.
ceptíveis da claudicação compreendem a observação da he-
sitação do animal em apoiar o membro torácico ao passo, Elaborando o tratamento fisiátrico
trote ou corrida, com elevação da cabeça quando o animal para afecções de ombro
apoia o membro afetado. Além disso, lesões em ombro se Antes de estabelecer o tratamento fisiátrico mais ade-
manifestam pela dificuldade do animal em elevar o tórax quado para uma determinada afecção de ombro, é preciso
do chão e pela dor em razão de flexão e/ou extensão do entender por que elas acontecem. É também preciso pensar
ombro 27. numa profilaxia para diminuir as possibilidades de que a
O diagnóstico das afecções é baseado: a) no histórico afecção acontece. Finalmente, se a lesão de fato ocorrer, é
dos sinais clínicos do animal, considerando-se principal- preciso saber como proceder.
mente sua raça e sua idade; b) no exame ortopédico, que Neste sentido, esta seção discute brevemente os dois
serve como base para solicitação de exames complemen- primeiros tópicos arrolados, e concernentes à compreensão
tares 1,5. É importante lembrar que lesões neurológicas na das causas das afecções de ombro e de uma possível profi-
região cervical também podem causar claudicação em laxia para, então, se debruçar de modo mais detalhado
membros torácicos, por isso é importante realizar o exame sobre os procedimentos necessários para um tratamento fi-
neurológico durante a primeira avaliação do paciente. O apri- siátrico adequado ao quadro do animal.
moramento do uso e interpretação de técnicas de imagem Sabidamente, a evolução da relação entre seres huma-
mais avançadas, como a artroscopia, tomografia contrastada, nos e animais de estimação – sobretudo cães e gatos –
ressonância magnética e ultrassonografia está diminuindo o mudou os hábitos comportamentais dos animais, em razão
índice de lesões de ombro subdiagnosticadas 26. Na rotina até do fato de que cães e gatos passam mais tempo em am-
dos atendimentos da fisiatria, aproximadamente 60% dos bientes internos, dentro de casas ou de apartamentos.
casos atendidos com a queixa principal em membro torá- Viver nesses ambientes exige que cães e gatos se adap-
cico apresentam instabilidade do compartimento medial do tem a pisos escorregadios, que são fatores ambientais de
ombro e até mesmo subluxação da articulação. risco para a manifestação clínica de diversas doenças arti-
As principais lesões de ombro em pequenos animais são: culares, como a displasia coxofemoral, a ruptura de liga-
tenossinovite bicipital, tendinose do músculo supraespinho- mento cruzado cranial e a instabilidade do compartimento
so, instabilidade medial do ombro, osteocondrite dissecante medial do ombro. Uma maneira de prevenir as lesões cau-
da cabeça do úmero e doença articular degenerativa 24,38,53. sadas pelo piso escorregadio é colocar passadeiras embor-
Para casos como instabilidade e osteocondrite dissecante rachadas nos corredores e cômodos frequentados mais
em ombro, o tratamento cirúrgico apresenta resultados mais recorrentemente pelo animal. Esta medida proporciona
satisfatórios 42. Porém, para lesões degenerativas, como ten- maior aderência entre os coxins e o piso liso, preservando,
dinose e artrose, o tratamento conservador pode ser a melhor assim, os componentes de sustentação articular e facili-
opção 22. A particularidade das etiologias das lesões de tando a locomoção de cães e gatos.
ombro influencia diretamente o plano de tratamento da rea- Além do piso escorregadio, ambientes internos possuem
bilitação 39. Sendo assim, a revisão da fisiopatogenia de cada escadas, muitas vezes, além de móveis sobre os quais cães
doença é fundamental para estabelecer como e quais moda- e gatos podem pular. Subir e descer escadas ou móveis cons-
lidades fisiátricas devem ser utilizadas para se obter melho- tituem atividades de alto impacto que devem ser minimiza-
res resultados com a terapia 36. das ou mesmo, se possível, eliminadas, não só para prevenir
Em quaisquer casos de afecções de ombro, a reabilitação lesões, como as de ombro, mas também para melhorar as
através da fisiatria pode ser indicada 31,39,41 sendo associada condições de recuperação, no caso de um animal lesionado.

320 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 30 – Fisiatria em afecções do ombro

Além da adequação do ambiente em que o animal vive detectar anormalidades na articulação escapulo-umeral,
e do controle das atividades que ele realiza no ambiente, além de sinalizar a evolução aguda ou crônica da doença
outro ponto-chave no tratamento de lesões articulares é o e, finalmente, elaborar o plano terapêutico da reabilitação.
controle do peso do animal. Orientações em relação ao ma- O plano terapêutico da reabilitação, por sua vez, pode-
nejo alimentar e ao controle do escore corporal ajudam na se basear em diferentes métodos, que serão expostos na
recuperação do animal lesionado, uma vez que sobrepeso seção seguinte.
e obesidade são fatores predisponentes às artropatias.
Cabe notar que as medidas elencadas nos parágrafos MODALIDADES DA FISIATRIA E SEUS
precedentes constituem ações profiláticas para evitar lesões BENEFÍCIOS EM AFECÇÕES DE OMBRO
futuras em outras articulações ou na coluna. São ações sim- EM PEQUENOS ANIMAIS
ples e que podem ter influência direta sobre a qualidade de A fisiatria disponibiliza estratégias distintas para tratar
vida dos animais. de fatos diversos relacionados às afecções de ombro em pe-
Entretanto, se apesar da profilaxia o animal desenvolver quenos animais. Cada subseção a seguir apresenta um con-
uma lesão de ombro, é preciso proceder a um programa de junto de procedimentos para o tratamento de diferentes
reabilitação. Como, então, elaborar um planejamento de sinais clínicos das afecções de ombro.
reabilitação de ombro apropriado às necessidades de um
animal específico? PROCEDIMENTOS PARA O ALÍVIO
O primeiro passo do desenvolvimento de um planeja- DA DOR E INFLAMAÇÃO
mento de reabilitação consiste em considerar toda a exten- Tratamento medicamentoso
são da incapacidade funcional do animal. Para tanto, é Como todo profissional que atua na área de reabilitação
preciso colocar em prática os métodos propedêuticos da se- animal no Brasil deve obrigatoriamente ser graduado em
miologia, como inspeção e palpação. medicina veterinária, a atribuição da prescrição de medi-
Assim, por exemplo, a tenossinovite bicipital como camentos é cabível ao médico veterinário fisiatra. Como
lesão primária pode causar redução prolongada da mobili- muitos pacientes são indicados por outros especialistas para
zação articular, induzindo secundariamente à fibrose cap- o tratamento fisiátrico, vários já estão sob tratamento clí-
sular. Se tanto a lesão primária quanto a secundária não nico para a lesão em questão. Por isso, a comunicação entre
forem reconhecidas e tratadas, pode haver recorrência do os profissionais é importante para garantir a segurança e
problema, além de comorbidades posturais com maior es- eficácia do tratamento. Os protocolos da terapia medica-
tresse e sobrecarga dos ombros 36. Quando o animal apre- mentosa em si fogem do escopo deste capítulo; entretanto,
senta restrição aos movimentos passivos, com diminuição cabe comentar que a terapia medicamentosa geralmente se
da amplitude de movimento, pode ser indicativo de dor no baseia em protetores e regeneradores articulares, como UC-
limite da flexão ou extensão do ombro 53. A diminuição da II; diacereína; condroitina; glicosamina, e em analgésicos
amplitude de movimento em casos agudos é geralmente e AINEs (anti-inflamatórios não esteroidais). É necessário
atribuída à autoproteção ativada pela musculatura para res- acrescentar que a prescrição de AINEs requer a prescrição
tringir o movimento com potencial algogênico. Em casos concomitante de protetores gástricos, para diminuir seus
crônicos, além da dor, outros fatores podem limitar o pro- possíveis efeitos colaterais 43.
cesso de movimentação articular normal como, por exem-
plo, a própria fibrose da cápsula articular, contraturas Imobilização
musculares e encurtamento de tendões e ligamentos. É im- A imobilização terapêutica deve ser considerada na pre-
portante lembrar que, além da mobilização passiva no sença de dor aguda previamente à obtenção do diagnóstico
exame ortopédico, é fundamental a observação da marcha da lesão e em casos de suspeita de presença de fragmentos
do animal pois, quando há desgaste da cartilagem articular ósseos. O objetivo da imobilização é evitar lesões em te-
ou presença de enteseófitos, o animal sente dor ao apoiar o cidos adjacentes para que não haja depósito de fibrina
membro afetado e descarrega peso sobre esse membro. durante o processo de capsulite, evitando a posterior fibrose
A causa da dor, por sua vez, pode ser detectada através de cápsula articular 36. Embora seja necessária a imobiliza-
de palpação minuciosa dos tecidos moles periarticulares: ção para a cicatrização tecidual, efeitos deletérios na carti-
uma palpação levemente mais intensa em estruturas com lagem articular podem ocorrer devido à falta de
degeneração – como na calcificação de tendão do músculo mobilidade. Por isso, deve-se considerar a imobilização
supraespinhoso 7 – permite detectar espessamento ou dis- para evitar a dor, durante o período essencial para diagnós-
tensão de cápsula articular e tendões. tico e tratamento adequados, e retorno à movimentação ar-
Outro sinal clínico presente em pacientes lesionados, a ticular. Além das lesões à cartilagem articular, pode haver
abdução do ombro pode revelar ângulos superiores a 45o enfraquecimento das fibras tendíneas na interface com o te-
em relação ao plano sagital mediano, o que indica sobre- cido ósseo, os ligamentos ficam mais fracos e propensos à
carga no ligamento glenoumeral, levando à instabilidade ruptura, e, mais ainda, pode haver uma redução do metabo-
do compartimento medial do ombro 27. lismo oxidativo, levando à atrofia muscular 14. Em períodos
Em resumo, métodos de inspeção e palpação permitem de imobilização pós-cirúrgica, exercícios de isometria são

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 321


Capítulo 30 – Fisiatria em afecções do ombro

indicados para preservar as fibras tipo I, enquanto a mobi- tiva 25. Em cães, não houve diferença estatística na concen-
lização passiva, quando possível, deve ser realizada de tração de hidrocortisona em joelhos de cães tratados com
forma assistida, com o mesmo objetivo de minimizar os fonoforese em relação ao grupo que recebeu hidrocortisona
danos causados pela falta de mobilidade 17. tópica somente, nem em relação ao grupo controle 34. Em
outro estudo com cães, houve penetração do cortisol no ex-
Calor e frio trato córneo apenas, porém não foi detectado cortisol em
Na fisiatria, o tratamento de lesões agudas pode ser feito tecidos abaixo da epiderme. Uma das possibilidades levan-
com o emprego de compressas frias. Este procedimento tadas pelos autores é que possivelmente o tempo de contato
também é adotado por cirurgiões ortopedistas, no pós-ope- com o gel foi suprimido, pois em outro estudo, houve sim
ratório imediato, visando a diminuir um edema e reduzir a absorção sistêmica do fármaco, mas o gel foi coberto com
condução nervosa motora e sensorial. Com isto, há um alí- membrana de polietileno, que ajuda a manter a hidratação
vio da sensação de dor do paciente 50. Estes são os dois con- do extrato córneo, e permaneceu em contato por 96 horas.
textos em que as compressas frias são mais comumente Entretanto, em lesões tendíneas experimentais em ratos,
utilizadas pelos médicos veterinários. verificou-se que os tenócitos respondem ao estímulo ultras-
O aquecimento dos tecidos, por sua vez, quando pro- sônico, e que a reparação tecidual ocorreu significativa-
fundo e quando realizado durante a fase aguda da inflama- mente melhor no grupo que realizou fonoforese com
ção é contraindicado, porque destrói fibras colágenas e hidrocortisona em relação ao grupo controle ou somente
provoca vasodilatação. Consequentemente, há um aumento com ultrassom 23. Em humanos, a utilização de fonoforese
do processo inflamatório 49. Contudo, o aquecimento dos terapêutico com hidrocortisona tópica a 10% pode ser uma
tecidos parece trazer algum efeito benéfico ao paciente le- alternativa às infiltrações em ombro, por ser um processo
sionado, durante a fase subaguda da lesão, e caso seja rea- não invasivo e não doloroso 47.
lizado superficialmente. Nestas condições, o aquecimento Ao presente momento, não se tem conhecimento de es-
estimularia o reflexo recíproco de perfusão tecidual 20. De tudos do uso da fonoforese em ombro de cães, e nenhum
qualquer forma, o benefício do aquecimento dos tecidos embasamento concreto de outros estudos para utilização da
ainda carece de maiores esclarecimentos. técnica nesses casos pois mecanismos da penetração do me-
Em processos crônicos da lesão, tanto as compressas dicamento em tecidos subcutâneos não estão comprovados.
frias quanto as compressas quentes podem aumentar a sen-
sibilidade local. Estas, porque aumentam a permeabilidade TENS – Transcutaneous Electrical
vascular e, desse modo, provocam maior concentração de Nerve Stimulation
citocinas inflamatórias que estimulam os nociceptores 49. A estimulação elétrica nervosa transcutânea é ampla-
mente utilizada para o alívio de dores crônicas ou agudas.
Fonoforese Embora seja uma técnica combinada às demais para o alí-
A técnica consiste na utilização do ultrassom terapêu- vio da dor, ela se destaca por ser utilizada especialmente
tico para aumentar a absorção transcutânea de princípios com esse propósito. Entretanto, existem estudos que de-
ativos medicamentosos. As revisões bibliográficas em re- monstram o aumento da circulação no local estimulado, e
lação a técnica mostram que para melhores resultados é ainda, correlação da eletroterapia na modalidade TENS
necessário: a) utilizar veículo e medicamento passíveis de com a aceleração da reabsorção de depósitos de cálcio em
transmissão das ondas ultrassônicas; b) realizar tricotomia tendões da musculatura do ombro. Para o efeito de reab-
para o gel entrar em contato direto com a pele; c) aplicar ul- sorção de calcificações, recomenda-se utilizar frequências
trassom terapêutico previamente na região com efeito tér- baixas (2-5Hz). Os parâmetros de comprimento de onda
mico; d) posicionar o paciente de forma a aumentar a podem variar de acordo com a classificação do TENS
circulação local durante o tratamento e e) deixar o princípio (acupuntural, BURST, normal ou convencional). O tempo
ativo agir por no mínimo 24 horas após a aplicação 4. Muitos mínimo recomendado para haver o mecanismo de bloqueio
estudos buscaram avaliar a eficácia da fonoforese no trata- das comportas da dor é de 20 minutos, podendo-se estender
mento de lesões articulares em humanos, ratos, coelhos, por até 1 hora. Os eletrodos podem ser posicionados ao
cães e equinos 23,25,37,40. Em animais, já foram observados re- redor da articulação do ombro (Figura 1).
sultados clínicos significativos da fonoforese no tratamento
de sinovite asséptica, osteoartrite e periartrite 40. Tais resul- Mobilização passiva precoce
tados podem ser devido a ação isolada do ultrassom terapêu- Após longos períodos de imobilização, a mobilização
tico, pois ainda não foi comprovada a absorção intra-articular passiva das articulações deve ser iniciada gradativamente,
dos fármacos. obedecendo aos limites apresentados pelo animal. Os mo-
Estudos em humanos com a crioterapia, fortalecimento vimentos devem ser leves, seguindo as funções motoras ar-
e alongamento muscular resultaram em diminuição da per- ticulares (flexão, extensão, abdução, adução, rotação) 35 e
cepção da dor devido à tendinite, mas não houve diferença não devem provocar dor. A mobilização passiva precoce
quando associados a fonoforese 37. Ainda, a penetração da promove a produção e a difusão do líquido sinovial. Como
hidrocortisona no músculo vasto lateral não foi significa- decorrência, melhora a nutrição da cartilagem articular e

322 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 30 – Fisiatria em afecções do ombro

Figura 2 – Movimento de flexão da articulação do ombro

Figura 1 – Aplicação de TENS ao redor do ombro.

dos ligamentos; ativa mecanorreceptores deprimidos pela


falta de tônus muscular; evita aderências por pontes cruza-
das nas fibras colágenas; melhora a circulação local; alivia
a dor causada pela isquemia muscular, muitas vezes indu-
zida pela compressão da tala. Para haver produção do lí-
quido sinovial, recomenda-se a realização de no mínimo Vídeo 1 – Vídeo demonstrando os movimentos de flexão,
duas séries de 20 movimentos por dia de flexão e extensão extensão e rotação do ombro com estabilização da escá-
ou de rotação da articulação do ombro (Figura 2 e Vídeo 1). pula e isolamento do cotovelo durante o exercício -
https://youtu.be/61MDgiAHqGA
Laserterapia
Os efeitos da bioestimulação através da emissão de luz, paço intra-articular (espaço subacromial) no caso de doença
ou laserterapia, são: alívio da dor; aceleração da regeneração articular degenerativa, e caudal à cabeça do úmero, em
tecidual; diminuição da inflamação. A utilização desse pro- casos de osteocondrite dissecante da cabeça do úmero (Fi-
cedimento terapêutico em cães e gatos aumentou na última gura 3).
década e, como decorrência da maior frequência de uso
dessa técnica, aumentaram também os estudos relatando seu Magnetoterapia
uso nas mais diversas condições clínicas. O campo eletromagnético é posicionado de forma a
A avaliação da eficácia sobre o controle da dor através abranger a articulação do ombro, com a bobina de polo
de escalas da dor em humanos embasa a utilização da téc- norte em paralelo à bobina de polo sul (Figura 4). A magne-
nica em animais. Sua melhora clínica pode ser percebida toterapia exerce potencial efeito analgésico em dores de
pelos tutores ou pelo médico veterinário fisiatra, capaz de diversas origens 33,46,48,51. Na rotina da reabilitação, a
observar sinais característicos da melhora do quadro do pa- magnetoterapia pode ser utilizada para complementar a
ciente como, por exemplo, diminuição do eritema; diminui- analgesia e estimular a reparação tecidual em casos de le-
ção do inchaço; melhora da amplitude de movimento; sões agudas ou crônicas. Entretanto, não existem artigos
cicatrização cutânea. publicados com relação ao uso de campo eletromagnético
Considerando-se a compensação por desvios da des- especificamente no tratamento de desordens do ombro em
carga do peso, a laserterapia pode ser utilizada não somente cães e gatos. Já em humanos, estudos demonstraram que o
na articulação acometida, mas nas articulações do membro uso da magnetoterapia pode ser utilizado no alívio da dor da
contralateral, ou na região cervical, muito relacionada com tendinite do manguito rotador 3. Em estudos in vitro, cam-
dores no ombro 16. Em casos de osteoartrose, a laserterapia pos eletromagnéticos não resultaram em melhor reparação
alivia a dor e melhora a função articular 28. Na articulação de tenócitos humanos de músculo supraespinhoso 8. Tais
do ombro, pode-se utilizar intensidade de 4 a 8 J, em ten- resultados não significativos in vitro podem ser justificados
dões de origem e inserção muscular ou voltados para o es- pelo mecanismo de ação indireta, e não diretamente celular.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 323


Capítulo 30 – Fisiatria em afecções do ombro

Figura 3 – Aplicação de laserterapia (fotobioestimulação) Figura 4 – Posicionamento das bobinas do campo eletro-
em direção a articulação do ombro magnético terapêutico em ombro de cão

Mais estudos com metodologia bem definida concisa são PROCEDIMENTOS PARA EVITAR O
necessários para comprovar a sua eficácia clinicamente, ENCURTAMENTO DE TECIDOS MOLES
tanto em pequenos animais quanto em seres humanos 18. Ultrassom terapêutico
O ultrassom terapêutico é um agente de aquecimento
Fototerapia profundo, que pode ser utilizado antes da prática do alon-
A fototerapia (terapia com Light Emitting Diode - LEDs) gamento muscular para melhorar a amplitude de movi-
é uma técnica segura para ser realizada em animais, e pode mento articular. É possível alcançar a profundidade de até
auxiliar no tratamento das lesões do ombro por trazer diver- 5 cm para aquecimento de 40 a 42 ºC, com seu efeito tér-
sos benefícios, como o alívio da dor muscular 6,9 e da sín- mico, e estimular a atividade de fibroblastos, o metabo-
drome do impacto do ombro 13, preservar a musculatura após lismo celular, melhorar a circulação local e aumentar a
trauma e lesão nervosa em humanos 44. força e extensibilidade dos tendões 49. Efeitos não térmicos
A fototerapia pode ser realizada antes dos exercícios estão relacionados ao aumento da permeabilidade da mem-
pois evita a fadiga muscular causada por exercícios de re- brana celular, transporte de cálcio, remoção de sangue do
petição 45. Assim como a magnetoterapia, são necessários espaço intersticial e aumento da capacidade fagocítica dos
mais estudos específicos sobre o tratamento de lesões de macrófagos. O ultrassom terapêutico é indicado em casos
ombro em pequenos animais. O posicionamento dos pads de tenossinovite bicipital 19 e no processo de resolução de
pode envolver a articulação do ombro. calcificações em tendões, promovendo analgesia em casos
de osteoartrite 10,12,22 (Figura 6 e Vídeo 2).
Tratamento por onda de choque (TOC) –
shock wave Terapias manuais
O tratamento por ondas de choque extracorpóreas tive- As terapias manuais podem ser utilizadas para promover
ram sua origem no princípio da litotripsia (fragmentação de analgesia, desfazer aderências e melhorar a amplitude do
cálculos renais), evitando procedimentos invasivos para eli- movimento articular. A mobilização articular específica,
minação dos urólitos no parênquima renal. Paralelamente às à medida que ocorre o alívio da dor, pode se tornar grada-
aplicações por ondas de choque extracorpórea, observaram- tivamente mais ampla, aproximando-se do movimento ar-
se alterações nos ossos pélvicos dos indivíduos tratados com ticular fisiológico. A prática ainda ajuda na produção do
essa técnica e, desde então, sua utilização começou a ser in- líquido sinovial, e consequentemente na nutrição dos tecidos
vestigada em diversas indicações: calcificação de tendões, adjacentes. Massagens de fricção cutânea auxiliam a desfa-
epicondilites, fascite plantar e não união óssea. O tratamento zer aderências do tecido subcutâneo à cápsula articular, co-
por ondas de choque pode ser indicada em tendinopatias cal- muns após inflamação crônica ou procedimentos cirúrgicos.
cificantes 21, de instabilidade do ombro 2,11 e tenossinovite bi- Contraturas musculares e encurtamento de tendões também
cipital 52. Pode igualmente modular processos inflamatórios, podem ser tratados associando-se técnicas manuais de alon-
estimular a liberação de fatores de crescimento 32 e promover gamento e aquecimento tecidual profundo.
neovascularização e consolidação de fraturas articulares 30,41,54.
Os parâmetros a serem definidos são a energia e número de PROCEDIMENTOS PARA
pulsos a serem direcionados à articulação. O procedimento RECUPERAÇÃO MUSCULAR
requer tricotomia da área, para aplicação do gel ultrassô- Cinesioterapia
nico e muitas vezes é necessária sedação para que o paciente Cinesioterapia é a “terapia pelo movimento” e pode ser
permaneça imóvel e permita a aplicação segura das ondas classificada em exercícios terapêuticos passivos e ativos. Em
de choque extracorpóreas na região afetada (Figura 5). pequenos animais, é possível a realização de mobilização

324 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 30 – Fisiatria em afecções do ombro

Vídeo 2 – Demonstração da técnica de aplicação de ul-


trassom terapêutico em ombro - https://youtu.be/9RK2TWgPToA
Figura 5 – Terapia por onde de choque em ombro de cão.
Cortesia: M.V. Lidia Dornelas

melhorar a postura e a preservar as articulações, evitando


o aparecimento de lesões recorrentes. Em membros toráci-
cos, é possível fortalecer a musculatura da articulação es-
cápulo-umeral com exercícios de sustentação em bola,
tábua de equilíbrio e obstáculos que, por sua vez, também
ampliam o movimento ativamente.

Hidroterapia
A hidroterapia poder ser realizada com a esteira aquá-
tica (hidroesteira), ou através da natação. A cinemática du-
rante o exercício aquático é a base para a indicação de cada
modalidade. Por exemplo, a natação exige maior ampli-
tude de movimento articular em membros torácicos,
porém a velocidade do ciclo de movimento é determinada
pelo animal. Assim, se a causa primária da lesão estiver
relacionada à instabilidade articular, a natação é contrain-
dicada. Em contrapartida, a hidroesteira permite controlar
a velocidade do passo, porém, a amplitude de movimento
articular é semelhante ao movimento fisiológico. É impor-
tante ressaltar que ambos os exercícios são favoráveis para
o tratamento de lesões de ombro, por se tratarem de exer-
cícios de baixo impacto nas articulações. Normalmente se
inicia a adaptação ao exercício aquático em cães com clau-
dicação devido a processos crônicos (artrose), ou em ani-
Figura 6 – Aplicação de ultrassom em ombro mais que não estão apresentando dor aguda, para não
causar desconforto.
passiva, para melhorar a qualidade do líquido sinovial
como descrito anteriormente na subseção de mobilização Eletroestimulação funcional – FES
passiva precoce. Os exercícios ativos possuem a vantagem A eletroterapia complementa o ganho e massa muscular,
de estarem mais diretamente relacionados com a funciona- através do estímulo elétrico induzindo contração e relaxa-
lidade motora pelo seu caráter voluntário e, portanto, en- mento muscular. Indica-se a realização da prática em cadeia
volver os comandos neurológicos e placa neuromotora para fechada, com os membros apoiados ao solo. A descarga de
sua execução. Tais exercícios são indicados para aumentar peso nos membros sob o estímulo elétrico deve ser indu-
a força e massa muscular. Os componentes estabilizadores zida a cada contração muscular, tornando o movimento
secundários da articulação do ombro auxiliam a preservar funcional. A eletroestimulação funcional melhora a comu-
o espaço articular e diminuir o desgaste da cartilagem ar- nicação na placa motora, associando o comando voluntário
ticular. Sendo assim, o fortalecimento muscular ajuda a da contração muscular com o estímulo elétrico.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 325


Capítulo 30 – Fisiatria em afecções do ombro

Órteses Tratamento fisiátrico das principais lesões de


A aplicabilidade de órteses à articulação do ombro é ombro em pequenos animais
muito útil para lesões no ligamento glenoumeral. O aparato A seguir, elaboramos protocolos de tratamento fisiátrico
é vestido nos membros torácicos e preso dorsalmente no sugeridos de acordo com o tipo da lesão em ombro de pe-
cinturão escapular. Acima dos cotovelos uma faixa elástica quenos animais (Quadros 1 a 7). É importante ressaltar que,
é acoplada ventralmente ao esterno, em ambos os membros antes e durante o tratamento, fatores como raça, idade, croni-
torácicos, limitando a sua abdução. A órtese pode ser indi- cidade e severidade da lesão, bem como comorbidades de-
cada para animais idosos com abdução excessiva ou raças vem ser levados em consideração. Sendo assim, os protocolos
condrodistróficas, para manter o alinhamento dos cotovelos servem como base para consulta, mas devem ser adaptados
e ombros. de acordo com a real necessidade de cada paciente.

Quadro 1 – Protocolos para subluxação de ombro relacionando as modalidades disponíveis e os períodos


de indicação
1-14 dias 14-28 dias 28-42 dias >42 dias
Laserterapia Voltada para o espaço intra-articular, 4-8 J/cm 2, bilateral. Fazer analgesia em comorbidades
em membros pélvicos
TENS 20-30 min, podendo diminuir o tempo e até eliminar a modalidade a medida que animal não
apresentar mais dor
Magnetoterapia Protocolo para alívio da dor aguda: 20Hz, 30 Gauss, por 20-30 min
Mobilização passiva e exercícios de Exercícios de sustentação em bola
Cinesioterapia sustentação em prancha de equilíbrio e prancha de equilíbrio
visando fortalecimento muscular
Início gradual da hidroesteira com caminhada lenta,
Hidroterapia progredindo gradativamente o tempo e velocidade,
começando com o nível da água acima do ombro

Quadro 2 – Protocolos para artrodese de ombro relacionando as modalidades disponíveis e os períodos de


indicação
1-14 dias 14-28 dias 28-42 dias >42 dias
Laserterapia 4-8J/cm2, bilateral. Fazer analgesia no membro contralateral sobrecarregado
TENS 20-30 min, no pós-operatório até 14 dias
Magnetoterapia Protocolo para consolidação óssea: 70 Hz, 50 Gauss, por 20-30 min
Exercícios de sustentação em bola e prancha de equilíbrio, ao final do
Cinesioterapia tratamento incluir cavaletes para animal ampliar movimento articular
Início gradual da hidroesteira com caminhada lenta, progredindo
Hidroterapia gradativamente o tempo e velocidade, começando com o nível da
água acima do ombro

Quadro 3 – Protocolos para tenossinovite bicipital relacionando as modalidades disponíveis e os períodos


de indicação
1-14 dias 14-28 dias 28-42 dias >42 dias
Voltada para o tendão do bíceps, 4-8 J, bilateral. Fazer analgesia em comorbidades de
Laserterapia membros pélvicos, pois geralmente está associada à compensação e redistribuição do peso,
forçando tendões em membros torácicos
Cm2TENS 20-30 min, podendo diminuir o tempo e até eliminar a modalidade a medida que o animal
não apresentar mais dor
Magnetoterapia Protocolo para tenossinovite: 15Hz, 50 Gauss, por 20-30 min.
Mobilização passiva, alongamento Exercícios de sustentação em bola
Cinesioterapia conforme a tolerância do animal e prancha de equilíbrio, ao final do
tratamento incluir cavaletes para
animal
Início gradual da hidroesteira com caminhada lenta, progredindo
gradativamente o tempo e velocidade, começando com o nível da água
Hidroterapia acima do ombro. Com a melhora do desconforto, o animal poderá
realizar natação gradativamente, para fortalecer o membro e
melhorar a amplitude de movimento.

326 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 30 – Fisiatria em afecções do ombro

Quadro 4 – Protocolos para calcificação de tendão supraespinhoso relacionando as modalidades


disponíveis e os períodos de indicação
1-14 dias 14-28 dias 28-42 dias >42 dias
Ultrassom 0,8 a 1,2 W/cm , por 5 minutos, modo pulsado
2

terapêutico
3-4 sessões, voltadas para o ponto de calcificação. Caso haja lesão subjacente do tendão do
Shock wave bíceps, associar protocolo com shock wave para regeneração tecidual. Intervalo entre as
sessões de 2-3 semanas
Laserterapia Para alívio da dor e regeneração tecidual de lesões subjacentes
Indicado exercícios de baixo impacto, para aliviar o impacto nas articulações e favorecer a
Hidroterapia movimentação articular. Nível da água acima do ombro.
Início com intensidade baixa de tempo e velocidade, com aumento gradual de acordo com a
tolerância do paciente
Cinesioterapia Alongamento e mobilização passiva para evitar aderências, 20 movimentos de flexão e
extensão ou rotação do ombro. Fazer preventivamente no lado contralateral

Quadro 5 – Protocolos para contratura do músculo infra espinhoso relacionando as modalidades


disponíveis e os períodos de indicação
1-14 dias 14-28 dias 28-42 dias >42 dias
Ultrassom Modo contínuo, direcionado ao músculo infraespinhoso, intensidade de 1,2 W/cm2,
terapêutico por 5 min, seguido de alongamento
Magnetoterapia Protocolo para contratura muscular 5Hz e 100 Gauss, por 20-30 min.
Fototerapia Contínua, antes da realização de exercícios ativos, colocar pads voltados para a musculatura
com contratura
Laserterapia Para alívio da dor no membro envolvido e no contralateral
Eletroterapia TENS para alívio da dor e relaxamento muscular por 20 min.
Alongamento após o ultrassom terapêutico, mobilização passiva,
Cinesioterapia respeitando o limite de tolerância do animal, obstáculos para
ampliar movimento conforme animal apresentar melhora do quadro
Hidroesteira, para melhora do apoio Início
gradual da
Hidroterapia natação
para ampliar
movimento
articular

Quadro 6 – Protocolos para osteocondrose relacionando as modalidades disponíveis e os períodos de


indicação
1-14 dias 14-28 dias 28-42 dias >42 dias
Laserterapia Direcionado para o espaço intra-articular, estimulando para alívio da
dor. Continuar para regeneração tecidual e sempre que houver dor
Eletroterapia TENS 20 min, se necessário em ombro bilateral, sempre que houver dor,
pode manter a modalidade conforme necessário.
Magnetoterapia Protocolo para osteocondrose 80Hz, 50 Gauss, por 20-30 min, podendo
manter a modalidade até o final do tratamento
Ultrassom Forma pulsada com efeito biológico de ativação dos fatores de regeneração tecidual, durante
terapêutico 5 minutos por região, e movimentos circulares contínuos. Intensidade de 0,6 a 1,5 W/cm 2
Mobilização passiva Exercício de prancha de equilíbrio
com movimentos sustentação em bola e contra
sequenciais de balanço
Cinesioterapia flexão, abdução,
extensão e adução
Hidroesteira com caminhada gradual, começando Natação caso o animal
com velocidade de 0,3 km/h, nível da água acima esteja completamente
Hidroterapia do ombro, aumentando livre de dor.
o tempo e velocidade a cada sessão até
chegar a realizar 15-20 min

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 327


Capítulo 30 – Fisiatria em afecções do ombro

Quadro 7 – Protocolos para osteocondrite dissecante (pós-cirúrgico) relacionando as modalidades disponíveis


e os períodos de indicação
1-14 dias 14-28 dias 28-42 dias >42 dias
Laserterapia Direcionado para o local da lesão, estimulando a ossificação Continuar
endocondral e para alívio da dor para
regeneração
tecidual
Eletroterapia TENS 20 min, se necessário em ombro bilateral
Magnetoterapia Protocolo para osteocondrite 25Hz, 50 Gauss, por 30 min, podendo manter a modalidade
até o final do tratamento
Cinesioterapia Mobilização Exercício de prancha de equilíbrio e sustentação
passiva em bola e contra balanço
Hidroterapia Início gradativo da natação para Hidroesteira
melhorar amplitude de movimento¤ por 15 min

Considerações finais: supraspinatus and quadriceps tendons. American Journal of


Physical Medicine & Rehabilitation, v. 90, n. 2, p. 119-127,
A observação da marcha e análise da claudicação em
2011. DOI: 10.1097/PHM.0b013e3181fc7bc7.
pequenos animais é fundamental para embasar a solicitação
9-DOURIS, P. ; SOUTHARD, V. ; FERRIGI, R. ; GRAUER, J. ; KATZ,
de exames complementares e concluir o diagnóstico de le- D. ; NASCIMENTO, C. ; PODBIELSKI, P. Effect of phototherapy
sões de ombro 15. A partir do diagnóstico correto, elabora- on delayed onset muscle soreness. Photomedicine and Laser
se o plano fisiátrico voltado para tratamento das lesões e Therapy, v. 24, n. 3, p. 377-382, 2006. DOI:
controle da dor. Vale ressaltar que a fisiatria é fundamental 10.1089/pho.2006.24.377.
para o bem-estar de animais com lesões em ombro, sendo 10-EBENBICHLER, G. R. ; ERDOGMUS, C. B. ; RESCH, K. L. ;
FUNOVICS, M. A. ; KAINBERGER, F. ; BARISANI, G. ;
indicada associada ao tratamento clínico ou cirúrgico con-
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Capítulo 30 – Fisiatria em afecções do ombro

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COMO CITAR ESSE CAPÍTULO


REUSING, M. S. O. ; LOPES. R. S. Fisiatria em afecções
do ombro. In: LOPES, R. S. ; DINIZ, R. Fisiatria em
pequenos animais. 1. ed. São Paulo : Editora In-
teligente, 2018. p. 320-330. ISBN: 978-85-85315-
00-9.

330 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


31
Afecções do cotovelo

Vanessa Couto de Magalhães Ferraz

A
instabilidade de uma articulação ou a incongruên- de fratura neste período não inicie o processo de formação
cia de uma articulação são geralmente as principais de calo ósseo. Também é fundamental que ocorra a com-
causas de doença articular, sejam estas causadas pressão entre os fragmentos, de modo que o espaço entre
por trauma ósseo com alteração da superfície articular, estes não seja maior do que 1mm, para que ocorra a conso-
lesão ligamentar ou alterações do desenvolvimento, e estas lidação por contato direto ou por gap 2.
invariavelmente levam à osteoartrose, que pode ter grau São consideradas fraturas articulares quaisquer fraturas
menor ou maior a longo prazo, dependendo do tratamento que envolvam qualquer superfície articular. No caso do co-
instituído e quão precocemente este foi iniciado. Este ca- tovelo, estas fraturas incluem, fraturas intercondilares de
pítulo tem o objetivo de introduzir o leitor às característi- úmero, fraturas da cabeça do rádio (envolvendo a superfície
cas anatômicas e principais afecções do cotovelo, seus articular) e fraturas de olécrano, bem menos comuns do que
diagnósticos, com foco nos diferentes detalhes a que o clí- as primeiras.
nico deve atentar durante o exame físico, e os tratamentos As fraturas articulares invariavelmente levam a danos
mais indicados para cada uma. da cartilagem envolvida, o que a longo prazo causará os-
A articulação do cotovelo é uma articulação complexa, teoartrose. O correto tratamento das fraturas, seguindo os
formada pela articulação umeroradial, composta pelo côn- princípios do tratamento de fraturas articulares, juntamente
dilo umeral com a cabeça do rádio, e pela articulação ume- com o tratamento pós operatório vão determinar o grau de
roulnar, composta pelo côndilo umeral com a chanfradura osteoartrose que o paciente irá apresentar ao longo da vida.
semilunar da ulna. A cabeça do rádio transmite quase todo
o peso do membro para o côndilo, enquanto a ulna é res- Objetivos da redução de fraturas articulares
ponsável principalmente por restringir o movimento caudal • Osteossíntese precoce (até 48h).
da articulação. A restrição medial e lateral do cotovelo se • Compressão dos fragmentos.
dá pelos ligamentos colaterais bastante fortes. A rotação do • Redução anatômica.
antebraço dos cães se dá pela supinação entre rádio e ulna, • Fixação rígida para obter-se estabilidade absoluta.
permitindo que chegue a aproximadamente 90º. A cápsula Fraturas de linha simples, tratadas com urgência, têm
articular é comum a todos os ossos. O rádio e a ulna são prognóstico bom, se a anatomia normal for restituída, e
unidos pelas articulações sinoviais radioulnar proximal e houver consolidação primária. Fraturas cominutivas têm
distal, e pelo ligamento interósseo e membrana interóssea 1. prognóstico reservado a ruim, pois a consolidação primária
não pode ser esperada 7.
Fraturas articulares
As fraturas são divididas quanto à mecânica, em basi- Fraturas diafisárias
camente dois tipos: fraturas estáveis e fraturas instáveis. As As fraturas sem envolvimento articular, não tendem a
fraturas articulares devem sempre ser tratadas como fratu- causar osteoartrite, porém, se não tratadas de maneira ade-
ras estáveis, e portanto, não iremos discutir fraturas instá- quada, podem causar desvio de eixo ósseo, afetando a me-
veis e a consolidação secundária que ocorre nestas. cânica do membro como um todo, e a longo prazo, com
O termo consolidação primária é referente ao preenchi- isto, causar artrose. De especial interesse, as fraturas de Sal-
mento do foco de fratura por osso, sem a formação de calo ter Harris que levam ao crescimento assincrônico do osso
ósseo periosteal ou endosteal. Este tipo de consolidação so- e que podem levar à displasias do cotovelo.
mente ocorre sob ambiente totalmente estável, chamado de
estabilidade absoluta. Em um foco de fratura, esta estabili- Displasias de cotovelo
dade só é possível quando se tem a aplicação de implantes Displasia é um termo genérico para denotar incongruên-
rígidos que não permitem deslizamento, e os implantes que cia. A articulação do cotovelo, mais do que qualquer outra,
se classificam desta forma são as placas compressivas, os tem um encaixe perfeito entre côndilos umerais, chanfradura
parafusos lag e as bandas de tensão. A redução precisa e a semilunar da ulna e cabeça do rádio, como uma dobradiça,
fixação rígida aparentemente eliminam os sinais biológicos realizando apenas o movimento de flexão, sem praticamente
que atraem células osteoprogenitoras dos tecidos circunja- apresentar abdução ou adução, e não permitindo a hiperex-
centes, que são responsáveis pela formação do calo ósseo 2. tensão. Qualquer alteração anatômica, seja ela congênita
Portanto, para que ocorra a consolidação primária, a fi- ou adquirida, por menor que seja, altera a mecânica perfeita
xação rígida é fundamental, mas para que seja possível al- do cotovelo e aumenta a pressão em diferentes pontos da
mejar esta consolidação, alguns fatores devem ocorrer. Em articulação, o que leva, ao longo do tempo, ao processo de
primeiro lugar, a fratura deve ser fresca, o que significa que osteoartrose da articulação. Esta incongruência pode ser
deve ter menos de 48h, para que a movimentação no foco causada por trauma diafisário, combinado a tratamento

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 331


Capítulo 31 – Afecções do cotovelo

inadequado, que já foi abordado, ou alterações congênitas exercício, o animal não quer passear, ou para no meio do
de crescimento, e diversas teorias são descritas para expli- caminho e se recusa a continuar, e novamente por se trata-
car as causas: crescimento cartilagíneo, genética, exercício, rem de cães jovens, é comum o tutor acreditar que é uma
dieta, além claro, do trauma, dentre outras. Provavelmente característica de seu cão e não um problema de saúde. Com
não é uma causa única que leva a este desequilíbrio do cres- o passar do tempo, é possível que se note claudicação mais
cimento entre os ossos. proeminente após o repouso, e com o progredir da osteoar-
As displasias de cotovelo são a causa mais comum de trose, claudicação contínua. Difícilmente se nota impotên-
claudicação de membro torácico nos cães 6. É relatado que cia funcional do membro nestes casos. A perda de massa
diferentes raças têm predisposição para diferentes formas muscular, somada à alteração mecânica do membro como
da doença, sendo que pastores alemães apresentam maior um todo pode levar a alterações posturais que causem pro-
tendência à não união do processo ancôneo, e os chamados blemas em outras articulações e ainda na coluna vertebral.
sight rounds, que incluem galgos, galgos italianos, whip-
pets, borzois dentre outros, dificilmente são acometidos por Diagnóstico
estas doenças 8. O diagnóstico da displasia de cotovelo é baseado no his-
Geralmente a displasia de cotovelo surge em cães jo- tórico de início insidioso de claudicação de membro torá-
vens, sendo que os sinais aparecem em média aos 5 meses cico, um ou ambos, na raça - mais frequente em cães de
de idade, mas algumas vezes não são diagnosticados até 4 raças grandes; na idade – cães jovens, no exame físico, e
a 6 anos de idade. Os sinais incluem claudicação de início exames de imagem.
insidioso, e muitas vezes os tutores demoram para perceber O exame físico da articulação do cotovelo é muito im-
pois eles apresentam claudicação bilateral, e por serem jo- portante, e a prática do avaliador permite detectar nuances
vens, um relato frequente é de que o tutor acreditou que importantes. É incomum haver instabilidade do cotovelo,
aquela fosse a maneira normal de seu cão andar. Outros por sua anatomia específica, porém é sempre importante a
sinais comumente observados incluem a resistência ao avaliação com compressão medial e lateral, extensão e fle-

A B

F
D E
C

Figura 1 – Displasia de cotovelo por encurtamento da ulna (A e B). Pós operatório imediato, com osteotomia de rádio e
ulna, e osteossíntese de rádio (C e D). Após 5 meses da cirurgia, com consolidação completa do rádio (E e F). Note a
acomodação da ulna na articulação úmero rádio ulnar nos três diferentes momentos

332 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 31 – Afecções do cotovelo

xão total da articulação, e claro, palpação de acesso mais difícil. Sua indicação prin-
ao movimento para avaliação de crepita- cipal no cotovelo seria a osteocondrite dis-
ção, correlacionada à osteoartrose, dor, secante (OCD) condilar. Todas as outras
edema, efusão articular ou mesmo au- formas de displasia de cotovelo requerem
mentos de volume firmes. artrotomia.
O exame radiográfico é sempre reco-
mendado como triagem inicial, e um mí- Síndrome do rádio curto
nimo de duas projeções é necessário para A síndrome do rádio curto é talvez a
a avaliação da articulação do cotovelo. A afecção menos comum dentro das displa-
projeção cranio-caudal é realizada em sias de cotovelo. Se o rádio cresce mais
todos os casos, e a projeção médio-late- lentamente do que a ulna, se torna mais
ral pode ser feita em angulação anatô- curto, o que causa pressão anormal no
mica normal (70 a 80 graus) e em processo coronoide medial, o que pode
estresse, com o membro hiper estendido causar lesões da articulação e até mesmo
e com o membro flexionado para tentar causar a fratura da ponta do próprio pro-
delimitar melhor as diferentes estruturas. Figura 2 – Imagem de fragmen- cesso coronoide 8. O mais comum, porém
A tomografia computadorizada é um tação de processo coronoide não é que ocorra a fragmentação do pro-
exame mais detalhado e pode permitir a em projeção cranio caudal cesso coronoide, mas sim apenas a insta-
avaliação de detalhes algumas vezes não bilidade com progressão de osteoartrose
observados no exame radiográfico simples, além de permi- da articulação.
tir a avaliação 3D do cotovelo, o que em algumas situações
é importante para avaliação de deformidades, e para reali- Síndrome da ulna curta
zação do cálculo necessário para o tratamento. Muitas A síndrome da ulna curta é provavelmente a principal
vezes a fragmentação do processo coronoide pode não ser causa de displasia de cotovelo vista na clínica. Com o cres-
observada no exame radiográfico simples, sendo diagnos- cimento mais lento da ulna, ocorre, além do encurvamento
ticada apenas com a tomografia. cranial do rádio, que leva também a problemas na articula-
A artroscopia é técnica bastante usada para avaliação e ção carpo-radial, a dissíncronia entre a chan-
tratamento de algumas afecções principalmente em fradura semi-lunar, a cabeça do rádio e
joelho e ombro, de cães de porte maior, porém os côndilos umerais, levando à ins-
o cotovelo, com espaço articular restrito, é tabilidade articular, o que causa
dor e a médio e longo prazo
causa osteoartrose. Existe a
teoria de que esta é a causa
da não união do processo
ancôneo (NUPA), porém
a maioria dos casos obser-
vados pelo autor, de ulna
curta ocorrem em cães con-
drodistróficos, que não apre-
sentam NUPA, mas sim
claudicação e dor pela instabilidade
articular.
O exame físico deve envolver mobilização
da articulação do cotovelo para determinar possível insta-
bilidade, crepitação e dor.
O tratamento da ulna curta consiste inicialmente na os-
teotomia ou ostectomia da ulna, e liberação do ligamento
interósseo. É descrito em literatura que a ulna deve ser es-
tabilizada com pino intramedular, mas pela experiência do
autor, o pino intramedular tende a causar importante mor-
bidade, com frequencia migrando para o espaço subcutâ-
neo do cotovelo, e portanto não ajudando na estabilização.
A osteotomia em bisel duplo, em terço médio de ulna e
Figura 3 – Não união do processo ancôneo. Nota-se repouso pós operatório parcial são suficientes para a evo-
princípio de artrose por toda a articulação do cotovelo: lução adequada da consolidação.
(A) Em extensão. (B) Em flexão Além da ulna, é importante a avaliação do rádio.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 333


Capítulo 31 – Afecções do cotovelo

Provavelmente é correlacionado a quão precoce foi o fecha- outra técnica. A osteotomia dinâmica proximal da ulna,
mento epifisário da ulna, mas o rádio tende a sofrer defor- para diminuir a pressão sobre o processo ancôneo também
mação, acredita-se que como consequência do encurtamento foi instituída como tratamento, muitas vezes levando à con-
da ulna. Nos casos em que o animal apresente a deformi- solidação radiográfica do fragmento, mesmo sem estabili-
dade do rádio, a cirurgia envolve, além da osteotomia/os- zação, especialmente quando realizada em pacientes jovens,
tectomia da ulna, a osteotomia corretiva do rádio. Esta, uma mas mesmo sem a consolidação radiográfica, é descrita a
cirurgia bastante mais complexa que envolve planejamento estabilidade funcional da articulação em alguns casos.
cirúrgico com exames radiográficos, ou ainda em certos Ainda a fixação do processo com parafuso compressivo é
casos e dependendo da preferência do cirurgião, a tomo- usada frequentemente, porém muitas vezes ocorre a falha
grafia computadorizada. O planejamento envolve cálculos do implante, acredita-se que devido à não correção do pro-
complexos e a cirurgia consiste na osteotomia ou ostecto- blema inicial, que é a pressão aumentada no processo, pelo
mia, em algumas situações, mais de uma no rádio, com fi- encurtamento da ulna. É possível ainda a combinação das
xação óssea posterior, podendo esta ser feita através do uso diferentes técnicas, dependendo de cada caso. Independente
de placa óssea, fixador externo linear ou circular (Figura 1). da técnica, quase invariavelmente ocorre a progressão da
osteoartrose, em diferentes níveis 3. Nenhuma técnica é
Fragmentação do processo coronoide considerada curativa e final, porém é consenso que quanto
Como dito anteriormente, existe a teoria de que a frag- mais cedo for tratada, melhores os resultados (Figura 3).
mentação do processo coronoide está associada ao encur-
tamento do rádio, causando maior pressão na região medial Osteocondrose do côndilo umeral medial
da articulação, porém a maioria dos casos de fragmentação A osteocondrose é um distúrbio da diferenciação normal
do processo coronoide não apresenta incongruência entre das células da cartilagem. Quando esta alteração ocorre na
rádio e ulna. Esta afecção está quase invariavelmente rela- camada epifisária de um animal jovem, ela pode não causar
cionada a cães de grande porte, jovens alteração alguma, pode ser significativa o suficiente para
No exame físico do cão com fragmentação do processo causar claudicação, porém com resolução espontânea, ou
coronoide agudo, o cão apresenta dor mais importante à nos casos mais graves, se manifestar como a síndrome clí-
flexão do cotovelo, pois nesta posição ocorre maior pressão nica chamada osteocondrite dissecante. A osteocondrite
sobre o processo coronoide, que se desloca, causando dor. dissecante com frequencia acomete o côndilo umeral me-
No animal que apresente processo crônico, a mobilização dial, podendo ser uni ou bilateral, e frequentemente apre-
da articulação de maneira geral elicita dor, além de crepi- sentando sinais semelhantes à NUPA ou à fragmentação do
tação importante (Figura 2). processo coronoide, com início de claudicação leve entre
4 a 6 meses, levando à claudicação persistente entre 6 a 8
Não união do processo ancôneo (NUPA) meses. Muitas vezes não é possível a diferenciação de os-
A não união do processo ancôneo é uma das causas teocondrite dissecante do côndilo medial, com a fragmen-
de displasia do cotovelo. O processo ancôneo é centro de tação do processo coronoide, a não ser durante o processo
ossificação secundário, e geralmente sofre união aos 5 me- cirúrgico. Ao exame físico, observa-se frequentemente o cão
ses de idade, com excessão de são bernardos e basset hounds, apresentando abdução e supinação dos membros torácicos,
que podem apresentar união até os 7 ou 8 meses de idade. e sensibilidade dolorosa exacerbada à hiperflexão ou hipe-
A presença de linha radiolucente após esta idade, no exame rextensão. Cães de raças grandes e gigantes são mais afeta-
radiográfico é diagnóstica da NUPA. Afeta principalmen- dos. Cães mais velhos podem apresentar sinais agudamente,
te cães de raças grandes. Não se sabe a causa exata, mas a mas ao exame radiográfico geralmente observa-se artrose
teoria de uma associação genética é bastante aceita. A teo- importante da articulação. O tratamento cirúrgico de cães
ria mais aceita revela que a NUPA seja secundária ao jovens consiste na remoção do flap cartilaginoso e cureta-
encurtamento da ulna, o que colocaria pressão excessiva gem do leito 4.
no processo ancôneo, gerando estresse o que não permitiria
sua consolidação 3. Não ossificação intercondilar
No exame físico o animal jovem com NUPA geralmente A fissura intercondilar umeral, também conhecida como
apresenta dor importante à extensão do cotovelo, já que nesta ossificação incompleta do côndilo umeral é mais comu-
posição ocorre aumento da pressão sobre o processo ancô- mente observada nas raças spaniel, incluindo english
neo, causando mobilidade do mesmo, e elicitando a dor 3. springer spaniels, cocker spaniels dentre outras raças. Acre-
Dentre os tratamentos já propostos para a não união do dita-se que seja uma falha na ossificação secundária du-
processo ancôneo, a remoção do fragmento foi realizada rante o desenvolvimento destes cães. Muitas vezes é apenas
inicialmente, porém com resultados variáveis. Um dos pro- um achado radiográfico. Porém, em diversos casos, o ani-
blemas propostos da técnica é a instabilidade que ocorre mal é levado ao veterinário por apresentar claudicação ou
na articulação após a cirurgia. Hoje em dia esta técnica mesmo fratura intercondilar. Muitos cirurgiões realizam o
somente é indicada em pacientes mais velhos que já têm procedimento cirúrgico preventivo, que envolve a coloca-
osteoartrose importante, e nos quais é impossível qualquer ção de parafuso intercondilar, porém apenas 20% dos cães

334 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 31 – Afecções do cotovelo

com fissura intercondilar como achado radiográfico podem


necessitar de cirurgia, sendo na maioria das vezes por fra-
tura condilar, e em alguns casos, por evolução de claudi-
cação e dor articular 5.
Independente da causa, as afecções do cotovelo, bem
como de outras articulações, devem ser tratadas precoce-
mente, e depois, ao longo de toda a vida do animal. O tra-
tamento inicial geralmente envolve a intervenção cirúrgica,
para a causa específica, mas para todas as afecções, a ma-
nutenção do peso, cuidados com o ambiente, que incluem
evitar pisos lisos, subir ou descer excessivamente de móveis
ou escadas, além de exercícios regulares e suplementação
com condroprotetores são fatores que contribuem para o
controle da progressão da osteoartrose, além de ajudarem
no controle da dor. As terapias adicionais como acupuntura
dentre outras, podem ser benéficas, desde que realizadas da
maneira correta, por profissionais treinados. A fisioterapia
é essencial para as afecções articulares, para garantir ampli-
tude de movimento, além de fortalecimento muscular, que
ajuda na estabilização da articulação, e é absolutamente es-
sencial que se inicie a fisioterapia o quanto antes após um
procedimento cirúrgico intraarticular, para diminuir a infla-
mação, e manter amplitude de movimento adequada.

Referências
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Saunders, 1993. 1130 p. ISBN: 9781416064534.
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3-HARASEN, G. Ununited anconeal process. Canadian Veterinary
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4-LENEHAN, T. M. ; VAN SICKLE, D. C. Canine Osteochondrosis.
In: NEWTON, C. D. ; NUNAMAKER, D. M. Textbook of Small
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6-SAMOY, Y. ; VAN RYSSEN, B. ; GIELEN. I. ; WALSCHOT, N. ;
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7-TURNER, T. M. Fractures of the distal humerus. In: JOHNSON, A.L.
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8-AMERICAN COLLEGE OF VETERINARY SURGEONS. Canine
elbow dysplasia. <https://www.acvs.org/small-animal/canine-
elbow-dysplasia>. Acesso em 9 de agosto de 2017.

COMO CITAR ESSE CAPÍTULO


FERRAZ, V. C. M. Afecções do cotovelo. In: LOPES, R.
S. ; DINIZ, R. Fisiatria em pequenos animais. 1.
ed. São Paulo : Editora Inteligente, 2018. p. 331-
335. ISBN: 978-85-85315-00-9.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 335


32
Fisiatria em lesões do cotovelo

Bárbara Assis

A
apresentação de animais com patologia de cotovelo A abordagem fisiátrica inicial é semelhante em todas,
para consulta de fisiatria é frequente e devemos diferindo essencialmente pelas características inerentes ao
estar preparados em termos teóricos para integrar animal, idade do animal e se é um pós-cirúrgico com, ou
todo o conhecimento anatômico básico no que refere a sem, bandagem ou órteses.
músculos, ossos, cartilagem articular, líquido sinovial, cáp-
sula articular, tendões e ligamentos, bem como o conheci- AVALIAÇÃO FISIÁTRICA INICIAL DO COTOVELO
mento da biomecânica funcional da articulação em si e da A reabilitação específica do cotovelo inicia-se pela iden-
sua interação e influência na biomecânica geral da locomo- tificação e palpação das principais marcas anatômicas como
ção do animal. A autora parte do princípio que estes conhe- o epicôndilo medial, o epicôndilo lateral e o olecrano, pas-
cimentos foram desenvolvidos em outro local do livro. sando também pela avaliação da amplitude de movimento
Numa abordagem inicial ao animal, o fisiatra deve basear- (ROM=range of motion) de flexão e extensão do cotovelo.
se na história que o dono conta mas essencialmente no seu A medição destes ângulos através de um goniômetro, está
raciocínio clínico, na sua sensibilidade visual na detecção de validada em cães e também em gatos, 21 e existem artigos
alterações no movimento e nas suas capacidades de palpação de referência à medição da ROM em labrador retriever, 22
para poder listar todos os problemas encontrados, não apenas greyhound, 39 e dachshunds 51. No entanto, em todos os ani-
os localizados na articulação do cotovelo mas também os pro- mais é importante avaliar a ROM do cotovelo contralateral,
blemas compensatórios nos outros membros e na coluna, e não só para comparar os ângulos específicos do animal a
com base em todos eles, pedir exames complementares ou tratar, mas também de forma a comparar diferenças sutis e
iniciar um plano preliminar de tratamento inicial. Se o fi- assimetrias entre os dois membros. Durante esta manipula-
siatra para além da dor na articulação afetada não tratar os ção é importante avaliar a espessura e qualidade da cápsula
problemas compensatórios, o tratamento não será eficiente. articular e a presença de edema. O edema resulta em dor,
Muitas das técnicas e modalidades terapêuticas são fáceis perda de amplitude de movimento articular e inibição re-
de aplicar, mas é o raciocínio clínico que estipula como e flexa aos músculos circundantes resultando em fraqueza e
quando as utilizar de forma a atingir sucesso terapêutico 16. atrofia 9. O edema pode ser acompanhado de forma objetiva
O cotovelo é uma articulação complexa entre três ossos, através da medição do perímetro do cotovelo, com uma fita
onde o úmero e o rádio apresentam essencialmente uma métrica de Gulick. Também é importante avaliar a presença
função de suporte de peso, a articulação entre o rádio e a de crepitações, a sensação final na amplitude máxima do
ulna não suporta peso, e a articulação entre o úmero e a movimento “end feel” e a estabilidade articular. Esta esta-
ulna tem uma função estabilizadora e de alavanca, mas, ao bilidade é estabelecida pela cápsula articular, pelo meca-
contrário do que se pensava anteriormente, também tem de nismo de fechadura existente entre o processo ancóneo e a
suporte de peso 32. Coletivamente as articulações do coto- fossa do olecrano, e pelos ligamentos colaterais. Os liga-
velo permitem o movimento de flexão e extensão e também mentos colaterais são avaliados com o cotovelo e carpo fle-
de pronação e supinação. tidos a 90º, aplicando estresse varo e valgo na extremidade
Os diagnósticos diferenciais de patologias do cotovelo distal. Nesta posição é importante verificar a presença ou au-
estão listados no Quadro 1. A patofisiologia e o tratamento sência de dor quando se rotaciona o carpo internamente, o
cirúrgico das principais afecções do cotovelo, estão citadas que acontece nos casos de patologia do coronoide medial 38.
no capítulo anterior: "Afecções do cotovelo". Nos casos de patologia do coronoide medial e de osteocon-
drite dissecante do côndilo medial do úmero é possível a
Quadro 1 – Diagnósticos diferenciais de patologia existência de efusão no compartimento craniomedial; nos
no cotovelo casos de não união do processo ancóneo tipicamente a efu-
Fraturas (traumáticas/patológicas) são apresenta-se no compartimento caudo-lateral 20,28. A pal-
Luxação (congênita/traumática) pação direcionada aos músculos com inserção e origem no
Displasia do cotovelo cotovelo com vista à detecção de sinais clínicos de atrofia,
Fratura do processo coronoide (FPC) hipertrofia, espasmo, ruptura, adesões e desconforto, é igual-
Não união do processo ancóneo (NUPA) mente importante de forma a poder direcionar o tratamento.
Osteocondrite dissecante (OCD) O músculo braquial pode sofrer excessiva fibrose no de-
Ossificação incompleta do côndilo umeral (OICU) curso de uma lesão de cotovelo e consequentemente limitar
Não união do epicôndilo medial do úmero a amplitude de extensão do cotovelo 6.
Artrite séptica
Neoplasia sinovial PARTICULARIDADES DE REABILITAÇÃO
Incongruência do cotovelo O cotovelo é uma articulação problemática tanto em

336 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 32 – Fisiatria em lesões do cotovelo

jovens como em idosos, seja por trauma, associado ou não a forma geral o grande objetivo da reabilitação de fratura de
fratura, ou por claudicação associada a processos degenera- cotovelo é voltar ao estado funcional anterior à lesão, de
tivos articulares em animais jovens consequentes de frag- forma segura, o mais rápido possível; mas no início da rea-
mentação do processo coronoide medial (FPC), bilitação pós-cirúrgica os objetivos são: diminuir o edema, a
osteocondrite dissecante (OCD) do côndilo medial do dor e a inflamação o que minimiza a fibrose periarticular e
úmero, não união do processo ancóneo (NUPA), ou de uma minimiza a perda de ROM; estimular a cicatrização precoce;
ou mais da “tríade” anterior e tem o nome de displasia de preservar a massa muscular; promover a homeostasia arti-
cotovelo (DC). A incongruência do cotovelo ocorre sempre cular; e prevenir posturas compensatórias e mecanicamente
que há um crescimento assíncrono entre o rádio e a ulna e disfuncionais 8,14,36. A autora inicia a reabilitação o mais cedo
invariavelmente resulta em Osteoartrite (OA). Menos comuns possível, idealmente no pós-cirúrgico imediato com aplica-
são os processos degenerativos associados à ossificação ção de laser terapêutico (LT) classe IV não só na área da su-
incompleta do côndilo medial do úmero; 35 e a ocorrência tura mas também rodeando as marcas anatômicas já referidas,
da não união do epicôndilo medial, que não dá origem a OA de forma a acelerar a cicatrização, e com aplicação de com-
pelo que tem um prognóstico melhor 6,43. De notar a possi- pressas de frio envolvendo a articulação, com repetição diá-
bilidade de neoplasias como sarcomas sinoviais que corres- ria nos primeiros três dias. Um tratamento típico de LT classe
pondem à neoplasia mais comum no cotovelo 54. IV pós-cirúrgico, consiste na administração de 3 J/cm 2.
A autora diferencia a reabilitação dirigida a uma ou mais Apesar de existir uma extensa revisão científica que de-
componentes da DC, dependendo do caso de serem ou não monstra os efeitos do LT em outras espécies, 1,3,11,18 a pu-
pós-cirúrgicas e da presença ou não de OA. Desta forma, blicação científica em cães é ainda limitada no que se refere
os componentes pós-cirúrgicos seguem fases de reabilita- à dose e frequência de utilização e as doses aplicadas são ex-
ção semelhantes aos pós-cirúrgicos de fraturas de cotovelo trapolações e devem ser utilizadas com cuidado e de acordo
em cachorros e as não cirúrgicas seguem a abordagem de com as indicações do fabricante. A crioterapia diminui a for-
reabilitação ao cotovelo com OA respeitando sempre as ca- mação de edema, diminui a hemorragia, diminui a libertação
racterísticas individuais da lesão e do paciente. de histamina e o metabolismo local, diminui a velocidade de
condução nervosa e consequentemente a dor, diminui a res-
FRATURA DE COTOVELO posta à inflamação aguda e ao dano 19,40,50. Nas fraturas de
Os riscos associados à reabilitação de fraturas do coto- cotovelo em cachorros os cirurgiões aplicam órteses ou
velo são grandes principalmente em animais jovens com bandagens em flexão para prevenir a sobrecarga mecânica
esqueletos imaturos em que os implantes são mecanica- e consequente falha na reparação cirúrgica. No entanto, estas
mente fracos e os animais muito ativos 20. As fraturas mais estratégias promovem a fibrose muscular e aderências ao
comuns são localizadas nos côndilos umerais e as menos local cirúrgico bem como atrofia da cartilagem por imobili-
comuns na cabeça do rádio e ulna proximal 28. Apesar de zação, e no caso das bandagens em flexão promovem con-
cada vez ser mais frequente iniciar reabilitação no período traturas dos músculos flexores, o que diminui ROM e
inicial de um pós-cirúrgico de fratura articular, nem sempre promove dor a longo prazo 12. Se houver grande preocupação
foi assim uma vez que os cirurgiões temiam pela desesta- sobre a estabilidade da fixação e for necessária a prevenção
bilização do implante. A comunicação entre o cirurgião e o de suporte de peso por várias semanas, é preferível a utiliza-
fisiatra é importante, especialmente sobre o tipo de fixação ção de ligaduras em flexão em vez de talas, quando possível,
usada e o grau de dissecção realizado, porque a dissecção para preservar a ROM 20. No caso de fratura traumática do
excessiva aumenta o edema e a dor pós-operatória e pode processo coronoide ligado a cães esportistas (TFMCP), a
aumentar o grau de fibrose muscular e periarticular levando imobilização por bandagem pós-artroscopia para remoção
à diminuição da ROM. Além disso, a presença de pinos ou do fragmento, não é aconselhada devendo iniciar-se movi-
cerclagem cirúrgica no espaço intra-articular diminui a am- mentos passivos (PROM=passive range of motion) imedia-
plitude de movimento articular e provoca dor ao paciente tamente e recomenda-se retorno ao exercício ativo
tornando a melhor e mais sofisticada estratégia de reabili- (AROM=active range of motion) lentamente 6.
tação inútil 12. Avanços cirúrgicos recentes, na forma como No período pós-cirúrgico inicial é necessário adminis-
se reparam fraturas articulares, enfatizam a necessidade de trar medicação analgésica e anti-inflamatória e o repouso
minimizar a manipulação de tecidos moles recorrendo ao é fundamental. Os animais devem sair à rua com auxílio de
auxílio de artroscopia e fluoroscopia para certificação da peitoral de forma a serem auxiliados nas suas necessidades
redução da fratura e correto alinhamento ósseo 2. Em todo básicas, e os passeios devem ser breves e realizados com
o caso, a reabilitação de qualquer fratura de cotovelo é im- guia curta seguindo-se de descanso em jaula. Em casa é ne-
perativa uma vez que as sequelas mais comuns são a des- cessário limitar o espaço onde o animal permanece e ade-
truição da cartilagem articular, diminuição da ROM e quá-lo com superfícies antiderrapantes e não é permitido
desenvolvimento de osteoartrite (OA). Nos mais imaturos, saltar ou brincar com coabitantes. Idealmente as sessões de
o potencial dano das placas de crescimento leva ao desen- reabilitação são diárias na primeira semana, na sua impos-
volvimento anormal do crescimento ósseo necessário à con- sibilidade, três vezes por semana durante as primeiras três
gruência do cotovelo com resultado final de OA 35. De uma semanas. No caso de ter bandagem, faz-se a substituição da

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 337


Capítulo 32 – Fisiatria em lesões do cotovelo

bandagem nesta altura. O temperamento do animal deve ser fraturas que envolvem as placas de crescimento cicatrizam
considerado, uma vez que a incapacidade de relaxar e as ex- muito rápido, geralmente em 2-3 semanas, se em algum mo-
plosões de energia podem ser catastróficas para a fixação mento o uso do membro piorar, deve efetuar-se radiografias
articular. A manipulação de tecidos moles ajuda a diminuir no sentido de ter a certeza que não há infeção ou falha na fi-
a defesa muscular, diminui a dor e o edema 42. Durante todo xação articular 20. Os exercícios terapêuticos para aumentar
o processo de reabilitação é necessário um equilíbrio entre a ROM e o suporte de peso, como “dar a mão” a uma altura
a evidência científica, a vulnerabilidade da lesão e o bom que corresponda à amplitude de conforto, aumentando gra-
senso. Nesta primeira fase são iniciadas mobilizações arti- dualmente a dificuldade; exercícios de apanhar biscoito junto
culares para diminuir a dor, como glides de grau I segundo ao membro contralateral, depois no meio e depois à frente
a escala modificada de Maitland, 30 que consiste em movi- do membro afetado; exercício leve de puxar corda; avançar
mentos rápidos oscilatórios de flexão e extensão de pequena cavaletes pousados no chão e gradualmente subindo a altura;
amplitude, na frequência de 3 a 4 oscilações por segundo, são exemplos que podem ser utilizados. Nesta fase a esteira
trabalhando sempre sem dor, no plano sagital, longe do “end subaquática pode ser iniciada dependendo do temperamento
feel” mais doloroso. Na experiência da autora o começo da do animal. Depois das 3 semanas de cicatrização óssea nor-
manipulação de tecidos moles com uma técnica de stroking mal, iniciam-se técnicas para aumentar a extensão articular
a iniciar no pescoço e a descer pelo membro até aos dedos, como a estabilização rítmica; que passa por colocar o animal
mantendo o contacto sempre com uma das mãos no animal, em estação numa superfície compressível como um colchão
seguindo-se de massagem para drenagem linfática effleurage ou um “amendoim insuflável” e exercer leve pressão de
de distal para proximal, permite que o animal relaxe e se forma cíclica no sentido gravitacional. Isto provoca um au-
torne cooperante nas mobilizações articulares. Exercícios mento de pressão intra-articular que dá origem a uma res-
passivos de ROM (PROM) podem ser iniciados, traba- posta de extensão muscular e estabilidade articular 53.
lhando sempre junto à articulação, no plano sagital e sem Dependendo do local e do tipo de fratura o animal vai ter
dor, aumentando a amplitude muito lentamente ao longo do mais dificuldade na extensão do cotovelo, geralmente fratu-
tempo até atingir a ROM normal do animal, que geralmente ras do olecrano; ou mais dificuldade na flexão, geralmente
acontece entre 10 a 15 dias pós-cirurgia 53. No entanto, as fraturas condilares ou da cabeça do rádio 13. Os materiais au-
estruturas periarticulares ainda não estão em fase de matu- xiliares de exercícios terapêuticos como bolas, amendoins
ração pelo que os exercícios passivos de ROM devem ser ou ovos insufláveis, são uma mais-valia para apoio do mem-
continuados até 3-4 semanas pós-operatórias 28. Os exercí- bro e iniciação de suporte parcial de peso em flexão, favore-
cios de PROM devem ser aplicados no membro inteiro, cendo a extensão e flexão ativa do cotovelo (figura 1) sem
dedos, carpo, cotovelo e ombro. A interrupção precoce dos ter que manipular diretamente a articulação e podendo incidir
PROM pode permitir que haja contratura dos tecidos periar- na ROM mais limitada 12.
ticulares no decorrer da fase de maturação e levar à perda Esses exercícios evoluem lentamente, de forma a au-
de ROM. Além disso a aplicação contínua de PROM favo- mentar a força muscular dos flexores e extensores do coto-
rece a qualidade de cicatrização do defeito cartilagíneo por velo, até ser possível realizar flexões com os membros
cartilagem hialina 46. O ombro, carpo e os dígitos também anteriores apoiados em cima do amendoim. Aumenta-se
devem ser sujeitos a PROM. A manipulação passiva durante também a dificuldade dos exercícios terapêuticos no solo,
as 3 primeiras semanas deve ser feita por um profissional
uma vez que existe uma linha muito fina entre amplitude li-
mite e força excessiva, e amplitude a mais levará à perda de
estabilidade da reparação e amplitude a menos levará a uma
perda de ROM 13,20.
Para preservar a massa muscular numa fase inicial, a
eletroestimulação neuromuscular (NMES) é útil para con-
tração simultânea dos flexores e extensores do cotovelo, o
que permite manter a força muscular sem que haja movi-
mento articular 23. É importante que haja tempo suficiente
para a cicatrização óssea, para permitir o apoio parcial de
peso no membro, o que estimula a cicatrização óssea em vez
de destruir 20. Gradualmente à medida que o animal apoia o
membro de forma parcial, iniciam-se exercícios isométricos
em que o animal está em estação e é balançado lentamente
de forma a estimular a passagem do suporte de peso para o
membro afetado. Os exercícios com suporte de peso devem
ser executados com extremo cuidado durante as 3 primeiras
semanas pós-operatórias para evitar falha na fixação, espe- Figura 1 – Exercício ativo assistido para aumentar a
cialmente nos animais que aparentam estar muito bem 13. As amplitude de flexão do cotovelo

338 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 32 – Fisiatria em lesões do cotovelo

pode recorrer-se a túneis a cicatrização das estruturas periarticulares. A reabilitação


para forçar o paciente a inicia-se assim que a tala ou splint for removido 12. Nos hu-
baixar o centro de gravida- manos o cotovelo é imobilizado em flexão apenas 5-7 dias
de e aumentar o controle e e o edema é tratado com crioterapia e ligaduras compres-
a força muscular (Figura 2). sivas; depois inicia-se exercícios. AROM lentamente e so-
Quando o exercício se tor- mente depois de 6 semanas inicia-se exercícios de força e
nar fácil, pode aumentar a resistência 41. Nos animais o plano terapêutico deve ser ba-
dificuldade, baixando a al- seado nas fases de cicatrização da cápsula articular e liga-
tura do túnel ou colocando Figura 2 – Passagem pelo mentos, bem como nas características biomecânicas da
um obstáculo, por exemplo túnel cartilagem e cápsula articular após imobilização. Os
passar por baixo de cavaletes. Pode recorrer-se a subidas e PROM devem cingir-se ao plano sagital evitando estresse
descidas de degraus em diagonal, orientando o membro afe- varo e valgo 12,50. Modalidades como a LT poderão ser
tado para cima ou para baixo conforme se pretenda aumen- vantajosas na manutenção da cartilagem em períodos de
tar a flexão ou extensão respetivamente. imobilização 1 e aceleração da cicatrização endocondral 18
Com o aumento do conforto e facilidade de execução, e estruturas periarticulares, 4 bem como na prevenção de os-
aumenta-se a di fi culdade dos exercícios alterando a teomielites 24. Marcha e posteriormente corrida em esteira
estabilidade da superfície de apoio, introduzindo espumas, elétrica são mais eficientes na recuperação após imobiliza-
colchões ou relva e usando criatividade de forma a manter ção do que atividade livre 45. Atividades como correr, brin-
donos e animais motivados. O uso de modalidades térmicas car descontroladamente ou nadar devem ser limitadas até
pode ser vantajoso antes de iniciar os exercícios terapêuti- à cicatrização articular o que pode durar até 3 meses de-
cos 12. Numa fase em que existe evidência radiográfica de pendendo da severidade da lesão 12.
cicatrização óssea a esteira subaquática é uma mais-valia
não só para aumentar a amplitude de flexão do cotovelo OSTEOARTRITE DO COTOVELO
mas também aumentar a força muscular já que a água em Recentemente a osteoartrite (OA) foi equiparada a falha
si cria resistência ao movimento de flexão e os animais tem orgânica em que o órgão é a articulação 29. Enquanto a falha
tendência a levantar mais a mão para superar a força da mecânica da cartilagem é o resultado final da OA, o trajeto
água (Figura 3). Desta forma, a altura da água na passadeira de perda de cartilagem é afetado pelas alterações adaptati-
é regulada conforme a necessidade específica do animal. vas da membrana sinovial e do osso subcondral. A infla-
Numa fase de completa cicatrização óssea, se o paciente mação persistente da cápsula articular leva a rigidez
gostar de nadar, a natação é uma boa forma de aumentar as articular e perda de ROM o que por sua vez perpetua as al-
amplitudes articulares e força muscular 27. A liberdade para terações adaptativas e consequentemente a OA. Como tal,
andar solto a brincar e a saltar apenas deve ser permitida o seu tratamento deve abordar os vários componentes arti-
quando não houver dor no cotovelo, quando tiver um ROM culares. Os sinais clínicos de osteoartrite incluem dor arti-
semelhante ao membro contralateral, quando tiver simetria cular, rigidez articular e crepitações, e a articulação pode
muscular e ausência de claudicação em todos os tipos de estar aumentada por sinovite, efusão sinovial presença de
marcha. fibrose periarticular e osteófitos 35. Tudo isto resulta num
cotovelo com menor mobilidade e menos funcional, insti-
LUXAÇÃO DE COTOVELO tuindo-se um ciclo vicioso de diminuição de atividade,
As luxações de cotovelo são geralmente o resultado de perda de flexibilidade e força e instalação de rigidez arti-
trauma. Na maioria são luxações laterais e a cabeça do cular. Está provado que para a locomoção normal do cão é
rádio é sentida lateralmente ao côndilo lateral do úmero. necessária a amplitude máxima de extensão do cotovelo, e
Independentemente de serem resolvidas cirurgicamente ou que para grande parte das tarefas diárias como subir esca-
de forma fechada, o cotovelo é imobilizado para promover das, subir rampas ou atravessar obstáculos, é necessário
grande parte da flexão 5,52. Com a diminuição da funciona-
lidade do cotovelo, surgem mecanismos de compensação
que devem ser reconhecidos, como alterações na postura
corporal e posicionamento dos membros, de forma a auxi-
liar o fisiatra na toma de medidas vantajosas para melhorar
a eficiência dos exercícios terapêuticos 53. Os objetivos da
reabilitação de um cotovelo com OA, são diminuir a dor,
manter ou aumentar a função articular, aumentar a ROM,
diminuir o espasmo muscular e prevenir o agravamento da
OA. Estes objetivos são atingidos através de exercícios
terapêuticos de baixa intensidade, modalidades terapêuti-
Figura 3 – Para maximizar a flexão do cotovelo, o nível da cas, medicação, alteração dietética e, nos casos em que é
água fica ao nível da articulação possível, diminuição de peso. Na verdade, sabe-se que uma

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 339


Capítulo 32 – Fisiatria em lesões do cotovelo

perda de apenas 6% do peso em cães obesos, resulta em di- sua utilização. Além disso a possibilidade de aquecer a
minuição da dor associada a OA 31. A seleção da modali- água permite usufruir dos efeitos do calor na articulação, à
dade apropriada depende do conhecimento sobre a fase de medida que as ROM de flexão e extensão do cotovelo são
cicatrização dos tecidos envolvidos, do grau de disfunção potenciadas e o reforço muscular é sustentado 27. A esteira
da articulação e dos objetivos a atingir. Estas condições são subaquática também permite o recurso a auxiliares terapêu-
dinâmicas ao longo de todo o tratamento e devem ser alvo ticos como pequenas boias de braço, que se podem adaptar
de reavaliação permanente. A utilização de modalidades ao membro a tratar para aumentar a flexão, ou no membro
térmicas, como calor, é vantajosa antes do início dos exer- contralateral para aumentar o tempo de apoio do membro a
cícios terapêuticos. O calor aumenta as propriedades vis- tratar, facilitando a sua extensão. Exemplo de exercícios te-
coelásticas do tecido conjuntivo e diminui a dor e o rapêuticos direcionados ao cotovelo são: o “dar a mão”, que
espasmo muscular 33. O cotovelo dos cães é uma articulação pode ficar-se pela altura de conforto, mas pode evoluir pe-
com um diâmetro relativamente pequeno e o aumento dos dindo a mão mais próximo do ombro de forma a aumentar
3ºC de temperatura para atingir efeito terapêutico, pode ser a flexão ativa do cotovelo, ou mais próximo do chão para
conseguido sem recorrer às modalidades de calor profundo aumentar a extensão; apoiar os membros torácicos (MT)
como os US terapêutico e a diatermia 50. Nos casos crônicos num colchão e balançar lateralmente os ombros, 2 ou 3 cm,
de cotovelo poderá aplicar-se calor superficial ao mesmo de forma a estimular o apoio de peso e a propriocepção;
tempo que eletroestimulação transcutânea (TENS) local, apoiar os MT num amendoim insuflável e rolar o amendoim
durante 30 minutos para diminuir a dor, ao mesmo tempo para a frente e para trás, conforme se pretenda fletir ou es-
que se prepara a articulação para as mobilizações terapêu- ticar o cotovelo; passar por cima de cavaletes, aumentando
ticas ou exercícios terapêuticos. As técnicas manuais au- gradualmente a sua altura; deitar e levantar usando biscoitos
mentam a extensibilidade dos tecidos, aumentam a ROM, como incentivo; passar num túnel quando se pretende au-
facilitam o relaxamento, modulam a dor e diminuem o mentar a força muscular, e ir aumentando a dificuldade con-
edema e aumentam a propriocepção. Para aumentar a ROM forme descrito acima; apoiar os MT numa tábua de
deve trabalhar-se junto ao “end feel”, sempre dentro da área propriocepção e variar todas as direções de inclinação; co-
de conforto do animal, estabiliza-se o úmero e coloca-se o locar um peso leve no membro contralateral para aumentar
antebraço confortável, em flexão (para aumentar a flexão) o tempo de apoio no membro afectado, ou colocar no pró-
ou extensão (para aumentar a extensão), aplicando um tipo prio antebraço para fortalecer os músculos flexores do co-
de mobilização articular de Grau III, que corresponde a mo- tovelo; fazer percursos em 8 para estimular os movimentos
vimentos rápidos e largos de flexão e extensão, com três de rotação e ir gradualmente diminuindo o tamanho do 8;
ou quatro oscilações por segundo, batendo no limite de entre outros exercícios que se possam adequar ao objetivo
conforto, de flexão ou extensão conforme o pretendido 48. pretendido. As sessões de exercícios terapêuticos devem ser
As compressões articulares também podem ser importantes desafiantes, mas não deve levar à manifestação de dor no
no sentido de normalizar a componente viscoelástica da final dos exercícios. No caso em que isso aconteça, deve di-
cartilagem remanescente e levam à diminuição da excita- minuir-se a intensidade do exercício para o patamar anterior.
bilidade central em pacientes com OA em que a hiperalge- As mobilizações grau III e IV podem ser utilizadas para au-
sia é comum 10,15. Em pacientes com uma massa muscular mentar o limite da ROM confortável, bem como os alonga-
muito reduzida pode recorrer-se a eletroestimulação neu- mentos ativos e passivos. A crioterapia pode ser usada para
romuscular (NMES) sempre que o movimento ativo ainda diminuir a inflamação após exercício.
não é possível, incidindo nos músculos braquial, bíceps Uma modalidade terapêutica que pode ter uma influên-
braquial e tríceps, mas também no músculo supinador e cia positiva no tratamento de OA é a terapia por onda de
músculo pronador. A aplicação de LT em articulações com
OA é vantajosa para diminuir a dor e a inflamação; 7,17,55 re-
centemente foi proposta uma dose de 8-10J/cm 2 em cães
com OA, 37 no entanto é importante seguir as recomenda-
ções do fabricante devido às inúmeras variabilidades nos
LT disponíveis no mercado (Figura 4).
Nos pacientes com OA o recurso a esteira subaquática
é uma mais-valia comparativamente à esteira terrestre por-
que permite aumentar a atividade muscular com redução
no dano articular, uma vez que diminui a força de concus-
são articular. Mas, ao contrário dos humanos, isto só acon-
tece se a água estiver ao nível do trocânter maior do fémur,
caso contrário a diferença é mínima 26. Por outro lado, o
ROM máximo do cotovelo nas esteiras subaquáticas
atinge-se quando a água está à altura do cotovelo, pelo que
o fisiatra deverá ponderar qual o objetivo a alcançar com Figura 4 – Aplicação de laser terapêutico ao cotovelo

340 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 32 – Fisiatria em lesões do cotovelo

choque extra corporal (ESWT) com resultado promissor no laser irradiation on the epiphyseal cartilage of rats. Photomed
cotovelo 34; mas com alguma controvérsia científica 47. Te- Laser surgery, v. 28, n. 4, p. 527-532, 2010. DOI:
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articulares, de ácido hialurônico e soro autólogo (PrP) tem the Ortopedic Patient. Veterinary Clinics Small Animal Practice,
sido bastante estudadas e são já aplicadas em humanos com v. 35, n. 6, p. 1357-1388, 2005. DOI: 10.1016/j.cvsm.2005.08.006.
resultados positivos 25,44,49; também a administração de pro- 13-DAVIDSON, JACQUELINE R.; KERWIN, S. Common Orthopedic
teína antagonista dos receptores de interleucina (IRAP) e Conditions and Their Physical Rehabilitation. In: MILLIS, D. ;
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OA, mas as publicações ainda são limitadas. 14-EDGE-HUGHES, L. ; NICHOLSON, H. Canine treatment and
Os donos devem ser advertidos para o fato de que o au- rehabilitation. In: MCGOWAN, C. ; GOFF, L ; STUBBS,
mento repentino de atividade, como correr e saltar pode N. Animal Physiotherapy - Assessment Treatment and
exacerbar a inflamação e deve ser evitado. Isto pode tor- Rehabilitation of Animals. 1. ed. Wiley-Blackwell, 2013. p. 207–
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nar-se impossível no caso dos cães jovens com OA, cujo
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temperamento será espontâneo e enérgico e cuja qualidade Rehabilitation Options for Orthopedic Disorders of the Forelimb.
de vida também passa por brincar. O fisiatra deve enqua- In: ZINK, C. M. ; VAN DYKE, J. B. Canine Sports Medicine
drar e ponderar as limitações face ao paciente em questão and Rehabilitation. 1. ed. Wiley-Blackwell, 2013. p. 250-265.
e auxiliar no maneio das exacerbações da OA para melho- ISBN: 978-0-813-81216-8.
16-GOFF, L. Physiotherapy assessment for animals. In: MCGOWAN,
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342 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


33
Afecções do joelho

Eloy Curuci
Caroline Cezaretti Feitosa

A
ruptura do ligamento cruzado cranial (RLCCr) é também tem prevalência alta e muitas vezes concomitante
uma das injúrias ortopédicas mais frequentes na com ruptura RLCCr, o que aumenta a importância dos fa-
articulação do joelho de cães 7,73,87,115,148. A maior tores genéticos envolvidos nestas doenças 117,157,158.
incidência da RLCCr é relatada na faixa etária de 2 a 10 O LCCr é uma estrutura complexa constituída por uma
anos 50,65,117,155,158. matriz extracelular e uma população diversa de células.
As funções do ligamento cruzado cranial (LCCr) são li- Tem distintivas características histológicas típicas de colá-
mitar a hiperextensão da articulação do joelho, evitar a ro- genos densos e tecidos conectivos (ligamentos e tendões).
tação interna e a translação cranial da tíbia 4,8,52,82,139. As proteínas da matriz extracelular em LCCr são compos-
A ruptura do ligamento cruzado (RLCCr) tem sido ob- tas principalmente de colágeno tipo I. Feixes de colágeno
servada em cães de todas as idades, tamanhos e raças 25, são orientados longitudinalmente, na maior parte, correndo
sendo observada lesão meniscal em aproximadamente 50% paralelamente 67.
dos casos 25. A matriz do LCCr representa uma rede reguladora com-
De acordo com Arnoczky (1996), embora possa ocorrer plicada de proteínas, glicoproteínas e glicosaminoglicanos,
ruptura aguda do LCCr, supõe-se que a maioria das lesões com múltiplas interações funcionais. O tipo de célula predo-
seja resultante de alterações degenerativas crônicas no pró- minante no LCCr é o fibroblasto. Estes fibroblastos estão dis-
prio ligamento. Whitehair et al. (1993) sugeriram que a con- postos em longas filas paralelas entre feixes de colágeno 105.
formação da tíbia, doenças imunomediadas e obesidade são A função do LCCr é evitar o movimento de translação
condições que contribuem para a degeneração do LCCr. cranial e a rotação interna da tíbia e prevenir a hiperextensão
Há instabilidade no joelho após RLCCr 82, sendo esta do joelho 2,5,6,61,63. A ruptura deste ligamento traz diversos
reconhecida clinicamente como movimento de gaveta cra- graus de instabilidade durante o movimento do joelho 5,28,35.
nial e translação cranial da tíbia 7,68. Esta instabilidade leva Os ligamentos são estruturas dinâmicas. Sua anatomia
à osteoartrose e frequentemente resulta em lesão do me- e arranjo espacial (Figura 1) estão diretamente relacionados
nisco medial, bem como alterações na marcha para limitar ao funcionamento, como elementos de restrição do movi-
a dor associada com a efusão e estiramento da cápsula ar- mento articular 5,49,56,87,89.
ticular 7,75. Segundo PIERMATEI E FLO 115, as lesões agudas de
origem traumática são raras no cão, normalmente a RLCCr
INCIDÊNCIA E FISIOPATOGENIA DA RUPTURA é secundária a processos degenerativos do próprio liga-
DO LIGAMENTO CRUZADO CRANIAL mento. Embora relatos tenham fornecido muita informação
Em um estudo retrospectivo, com dados de mais de 1 a respeito do LCCr, a causa de sua ruptura sem trauma não
milhão de pacientes, foi observado que, os cães com menos é conhecida e o modo ideal de tratamento permanece con-
de 4 anos de idade têm significativamente menor probabi- troverso 66,81,115,120,122.
lidade de serem diagnosticados com RLCCr, em compara-
ção com cães com mais de 4 anos 158.
Vários estudos avaliaram sexo, estado reprodutivo e ou-
tros aspectos relacionados a cães com e sem RLCCr. Os
principais estudos publicados encontraram que os machos
1
castrados e fêmeas esterilizadas têm significativamente 2
maior chance de ter RLCCr quando comparados com cães
3
intactos de ambos os sexos 50,155,158.
Além disso, castração precoce (antes dos seis meses de
idade) foi relatado como sendo um fator de risco significa- 5
tivo para o desenvolvimento do platô tibial com ângulo
4
muito inclinado em cães de raças de grande porte com
RLCCr 48.
Com relação à raça, há um maior risco de RLCCr nas
raças médias, grandes e gigantes, o que inclui terra-nova,
rottweilers, labradores, buldogues e boxers 158.
As raças com menor frequência de RLCCr são aquelas
de pequeno porte e condrodistróficas, como dachshund mi- Figura 1 – Observe: 1) ligamento cruzado cranial; 2) liga-
niatura, dachshund, schnauzer, shih tzu e pequinês 158. mento cruzado caudal; 3) côndilo femoral medial; 4) me-
A displasia coxofemoral é uma importante doença que nisco medial; 5) menisco lateral

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 343


Capítulo 33 – Afecções do joelho

A RLCCr pode ser aguda, sendo geralmente secundária inicial, e que a idade, peso, gênero e ângulo do platô tibial
a um trauma em que o membro pélvico é rotacionado são fatores preditivos para a ocorrência bilateral. A frequên-
abruptamente em flexão de 20° a 50° ou hiperestendido de cia elevada de ruptura bilateral desta doença na maioria dos
forma exagerada 116. A ruptura também pode ocorrer secun- estudos suporta que não seja trauma aberto ou lesão esportiva
dariamente a um processo degenerativo 116,148, principal- a causa da ruptura e deve ser claramente comunicado aos
mente em cães de meia idade e obesos 26. proprietários no momento do diagnóstico inicial 50,123,155.
Recentes teorias têm sido defendidas por muitos como Pode ocorrer ruptura parcial em cães, uma vez que o
causas da RLCCr, entre elas a dimensão menor da fossa in- LCCr possui duas bandas de tecido, uma craniomedial e
tercondilar 38,91, alinhamento do membro 46,103 e conforma- uma caudolateral, contendo fibras de colágeno orientada
ção da tíbia proximal 33,44,74,111,129,130. longitudinalmente 70. A banda craniomedial está sob tensão
Fatores anatômicos podem estar associados à predispo- em flexão e extensão, enquanto que o componente caudo-
sição para RLCCr e incluem uma fossa intercondilar es- lateral fica sob tensão durante a extensão 4. Em um estudo
treita, excessivo ângulo do platô tibial, região proximal da biomecânico ex vivo, onde foram secção individual das
tíbia estreita, angulação cranial da tíbia proximal e torção bandas do LCCr, foi observado que tanto a craniomedial
da parte distal do fêmur. Enquanto grande número de estu- como a caudolateral, induzem o desenvolvimento de ins-
dos tem avaliado os efeitos de ângulo do platô tibial e, mais tabilidade articular leve em flexão parcial, com ≤ 3 mm de
recentemente, o ângulo entre o tendão patelar e platô tibial, movimento de gaveta cranial 70. Esta pequena quantidade
mostra um desses como sendo fatores de risco para RLCCr de movimento de gaveta cranial pode ser difícil de detectar
em cães. Teorias e pesquisas ex vivo sugerem aumento da no exame físico 70. Essas descobertas sugerem que se ins-
tensão de cisalhamento no LCCr e um aumento de força tabilidade de gaveta cranial é detectada clinicamente no
total na articulação quando cada um destes ângulos é con- exame físico, então a maior parte do LCCr foi lesada 70.
siderado excessivo, tendo como base de referência uma Clinicamente, ruptura parcial do LCCr pode ou não
média de valores em cães normais 3,48,79,80,84,125,131,153. Estes estar associada com a presença de instabilidade articular e
componentes podem ser contributivos de alguma forma, movimento de gaveta cranial no exame físico e a ruptura
mas não parecem ser os fatores primários da RLCCr 62,157. parcial mais comum é a da banda craniomedial do LCCr 127.
Uma zona avascular está localizada dentro da fibrocar- Na avaliação clínica, sempre avaliar a claudicação, dor
tilagem na parte anterior, onde o ligamento está em contato a palpação quando se faz o teste de gaveta ou teste de com-
com a fossa intercondilar. Tem sido proposto que o estí- pressão tibial. Na radiografia simples, normalmente temos
mulo para o desenvolvimento de fibrocartilagem densa um edema intra-articular, mas para fechar o diagnóstico o
dentro do tecido conjuntivo é devido ao cisalhamento e à ideal é fazer exames complementares como ultrassom da
compressão 98. No LCCr, esta situação biomecânica pode articulação ou ressonância magnética.
ocorrer quando o ligamento colide com a fossa intercondi-
lar durante a extensão máxima 121. DIAGNÓSTICO DA RUPTURA DO LIGAMENTO
Artrites imunomediadas, imunosinovites e artrites in- CRUZADO CRANIAL
fecciosas podem predispor à RLCCr. A degeneração de liga- O exame físico normalmente revela atrofia muscular do
mentos, cartilagem e ossos ocorre devido à liberação de membro acometido, crepitação ao movimento de flexão e
proteases pelos macrófagos sinoviais ou condrócitos ativa- extensão do joelho, efusão articular e, em casos crônicos,
dos, que degradam os proteoglicanos e o colágeno 75. A espessamento da cápsula articular medial 73,101 (Figura 2).
observação de imunocomplexos no líquido sinovial e no soro O diagnóstico geralmente é feito no exame físico, por
de animais que sofreram ruptura espontânea do ligamento meio dos testes de “gaveta” cranial (Vídeo 1) ou compres-
cruzado cranial sugere a presença de componente imuno- são tibial (Vídeo 2) 73,101.
lógico neste processo, entretanto, não está definido se esses Pode ser observado claudicação com mínimo apoio ou
imunocomplexos são causa ou consequência da ruptura 108. impotência funcional do membro e no teste de sentar, o pa-
O mecanismo e extensão das lesões no LCCr dependem ciente tenta flexionar o mínimo possível a articulação do
da magnitude e direção da força traumática e da posi- joelho 16,155 (Figura 3).
ção da articulação, no momento da aplicação desta O exame radiográfico não é essencial para o diagnóstico
força 4,35,61,88,113,114 . GUPTA et al. 63 calcularam que a da RLCCr, embora ajude a descartar anormalidades ósseas
força necessária para romper o ligamento cruzado cranial ou dos tecidos moles, bem como documentar o grau de os-
deve ser aproximadamente quatro vezes o peso corporal teoartrose 101. Os achados radiográficos em pacientes com
do animal. ruptura crônica do ligamento incluem: formação de osteó-
Um fator crítico a considerar na epidemiologia de RLCCr fitos ao longo das bordas trocleares, superfície caudal do
em cães é a forma bilateral da lesão 31,33,39,47,100. Após dias ou platô tibial e pólo inferior da patela, espessamento da cáp-
anos do diagnóstico inicial de RLCCr, pode ser observada a sula articular medial e esclerose óssea subcondral 73.
lesão no membro contralateral. Buote et al. 31 relataram Ao realizar o exame radiográfico sob estresse, com
que cerca de 50% de labradores podem apresentar RLCCr compressão tibial simultânea, haverá deslocamento cranial
no membro contralateral dentro de 5,5 meses do diagnóstico da tíbia em relação aos côndilos femorais (Figura 4) 40,41.

344 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 33 – Afecções do joelho

Figura 2 – Fotografias da face medial do joelho direito com espessamento da capsula articular na região medial. Trata-
se de uma lesão crônica causada por instabilidade do ligamento cruzado cranial

Vídeo 1 – Exame do movimento de gaveta cranial. Obser-


var o posicionamento dos dedos sobre as saliências ós-
seas. A articulação deve estar em completa extensão e em
30° de flexão - https://youtu.be/Gg1ZVhdQ01g Figura 3 – Realização do Sit Test. Animais com RLCCr evi-
tam flexionar o joelho ao sentar, realizando a lateralização
do membro acometido.

A B
Figura 4 – Exame radiográfico da articulação do joelho de
Vídeo 2 – Teste de compressão tibial, com a articulação um cão com ruptura de ligamento cruzado cranial: em po-
do joelho em ligeira flexão, o tarso é dorsiflexionado, o que sição neutra (A) e com compressão tibial (B). Observa-se
coloca o músculo gastrocnêmico sob tensão, se for posi- o deslocamento cranial da tíbia em relação aos côndilos
tivo para RLCC o fêmur desloca caudalmente com simul- femorais. Além disso, observe o deslocamento ventral do
tânea subluxação cranial da tíbia - https://youtu.be/WlRwiQwzi30 osso sesamóide do músculo poplíteo

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 345


Capítulo 33 – Afecções do joelho

A localização do osso sesamoide do músculo poplíteo na semanas. Este fato justifica o reparo cirúrgico do LCCr ob-
radiografia com estresse também é útil na interpretação ra- jetivando a correção da instabilidade articular e alívio da dor
diográfica de cães com RLCCr, ocorrendo o deslocamento aguda 25. Existem mais de 100 técnicas cirúrgicas descritas
distal deste sesamoide na presença de RLCCr 41. para tratamento da RLCCr, divididas em três grandes cate-
O exame ultrassonográfico é muito utilizado para gorias: extra articulares, intra-articulares e osteotomias 101.
diagnosticar lesões parciais do LCCr e lesões meniscais. Nas técnicas intra-articulares o ligamento normalmente
Nos casos agudos da RLCCr, a efusão articular pode ser é substituído por fio ou tecido autógeno. Nas técnicas extra
leve ou grave. A lesão do ligamento pode ser identificada articulares ou osteotomias a função do LCCr é restabele-
se a ruptura for próxima da inserção na tíbia e pode não ser cida através da colocação de implantes para restringir as
visível se for na região central ou próximo da fixação no forças de translação e rotação da tíbia ou pela alteração das
fêmur. Nas rupturas crônicas as características ultrassono- forças biomecânicas 99,135.
gráficas são: espessamento da cápsula articular, efusão ar- A maioria das técnicas extra articulares utilizam mate-
ticular, presença de sinóvia, lesão meniscal e irregularidade rial de sutura de grosso calibre para imbricar a cápsula
na superfície óssea devido à formação de osteófitos. Nos articular e restaurar a estabilidade, sendo esta estabilidade
casos crônicos, há irregularidade ligamentar e/ou ligamento atribuída ao espessamento da cápsula articular e do retiná-
espessado que pode ser visto como retração das extremi- culo que ocorre após a cirurgia devido à inflamação e pre-
dades no local da lesão 94,141. sença de suturas 25,101. Deangelis & Lau (1970) descreveram
A ressonância magnética é um exame promissor e pode técnica extra articular empregando material de sutura
apresentar vantagens na detecção precoce de lesões liga- inabsorvível de grosso calibre ao redor da fabela lateral e
mentares totais ou parciais, alterações no osso subcondral, na extremidade distal do ligamento patelar.
cartilagem articular e meniscos ou para estabelecer a causa Enquanto as técnicas extra articulares estabilizam a ar-
de uma claudicação que não tenha sido diagnosticada por ticulação por mimetizar de forma extra articular o LCCr,
métodos convencionais 126, mas infelizmente a ressonância os métodos intra-articulares substituem o LCCr com en-
magnética que temos atualmente no Brasil na Medicina ve- xerto ou material sintético 101.
terinária tem menos de 1,5 Tesla, sendo seus cortes são Nenhuma das técnicas extra ou intra-articulares inter-
grandes para avaliação de pequenas lesões nos ligamentos rompe a progressão da osteoartrose 26,52,149,150.
ou tendões. A análise do líquido sinovial pode diferenciar Osteotomias corretivas são técnicas que proporcionam
processo agudo de crônico e também ajudar na pesquisa de estabilização biomecânica do joelho, mas não mimetizam
processos imunomediados 148. a função do LCCr 22,99,135. As principais técnicas de osteo-
O exame radiográfico é imprescindível nas técnicas de tomia para correção de RLCCr são avanço da tuberosidade
osteotomias corretivas, sendo essencial para medir o ân- tibial (TTA), osteotomia tibial tripla, osteotomia de nive-
gulo do platô tibial, avanço tibial e avaliar qual a melhor lamento do platô tibial (TPLO) e closing weedge 99,133-135,140.
técnica para cada caso 12,32,72,76,138. Em um estudo comparativo entre TPLO e TTA, foi de-
monstrado um certo número de vantagens e desvantagens
TÉCNICAS PARA ESTABILIZAR A RUPTURA DO em ambos os procedimentos
LIGAMENTO CRUZADO CRANIAL A vantagem da TTA é o fato de não ocorrer alteração na
Ao longo das últimas décadas, muitas técnicas foram geometria e distribuição de carga na cartilagem articular,
desenvolvidas para estabilizar o joelho com RLCCr, sendo em comparação com a TPLO. A TTA é um procedimento
a maioria destas avaliadas clinicamente 101. Existem na li- cirúrgico menos invasivo, mais simples e menor potencial
teratura inúmeros trabalhos sobre o diagnóstico, sinais clí- de problemas técnicos, sendo utilizada também em casos
nicos, patogenia, tratamentos conservativos ou cirúrgicos de luxação patelar concomitante. Dentre as complicações
da RLCCr, bem como, os fatores de risco como, raça, citadas à esta técnica cita-se o deslocamento da porção pro-
idade, sexo e peso corpóreo 4,5,8,28,49,56,87,89,101,115. ximal da crista da tíbia, e quando este é pequeno pode ser
As técnicas cirúrgicas para estabilização do joelho e tratado com bandagem e repouso 21.
consequente eliminação da translação cranial da tíbia em A TPLO é um procedimento que está sendo mais utiliza-
relação ao fêmur, são a escolha de muitos cirurgiões orto- do pois é mais versátil do que TTA nos casos com ângulo do
pédicos. Estas técnicas apresentam bons resultados clíni- platô tibial (TPA) excessivo e nos casos em que há defor-
cos, principalmente em relação à melhora na qualidade de midades rotacionais ou angulares nos membros (Figura 5).
vida e no retorno do membro à função 8,28,56,89,101,115,120. Também pode ser utilizada em casos com luxação patelar
Os tratamentos conservativo e cirúrgico são descritos concomitante. Os custos dos implantes são significativa-
como alternativas para cães com RLCCr 25. O tratamento mente maiores com a TTA, especialmente se for utilizado
conservativo (repouso e uso de anti-inflamatórios não-es- aloenxerto comercial. A TPLO deve ser escolhida em ani-
teroides) apresentou bons resultados em cães com massa mais com inserção baixa do ligamento patelar, pois apre-
corporal inferior a 15 kg 26,101,146. senta menor chance de fratura tibial quando comparada à
A instabilidade resultante da insuficiência do LCCr con- TTA 24. A frequência de complicações com esta técnica
duz a alterações degenerativas progressivas dentro de poucas pode variar entre 9,7-31%, porem apenas 1,6-9% requerem

346 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 33 – Afecções do joelho

Com frequência o paciente com RLCCr pode apresen-


tar, lesão em menisco medial, embora não possa ser des-
cartada lesão isolada de menisco ou em menisco lateral. O
risco desta alteração aumenta com a cronicidade da lesão,
ou seja, quanto mais tempo o joelho permanece instável,
maior a chance de lesão em menisco 37,107,151.
As funções dos meniscos são de distribuição de cargas,
absorção de choque, auxilia na lubrificação da articulação,
mantém a congruência das superfícies articulares do fêmur
e tíbia e confere parte da estabilidade rotacional e craniocau-
dal 128. A maioria das alterações envolvem o menisco medial,
principalmente seu polo caudal. Foi observada uma incidên-
cia de 50% ou mais desta lesão em cães com RLCCr 45,55,118.
As lesões em menisco são mais frequentes em cães de
raças grandes e gigantes,e em animais com ângulo do platô
tibial elevado pois quanto maior a ângulo maior a incidên-
cia de lesão meniscal, sendo que em raças pequenas são
menos frequentes. Isto ocorre possivelmente porque após
a RLCCr, o membro é mantido elevado e em flexão, dimi-
nuindo a cargas sobre os meniscos 13,45,143. Para diagnosticar
a lesão de menisco podemos ouvir um “click” ou crepitação
quando o paciente anda ou salta, este som pode ser audível
durante as manobras de flexão e extensão do joelho no
exame físico, mas somente 50% dos animais terão este
click quando há uma eversão do polo caudal do menisco.
Em outros tipos de lesão não teremos este “click” 118.
A utilização de artroscopia é a técnica mais precisa para
o diagnóstico, pois permite magnificação da imagem, fi-
cando mais fácil avaliar os diversos tipos de lesão e com
menor morbidade, pois é realizada através de miniartroto-
mias 23,53,58,71,118,156. A artroscopia revolucionou o tratamento
de doenças comuns em seres humanos e animais ao reduzir
dor e morbidade cirúrgica 53,71,118,156.
Figura 5 – Imagens radiográficas de canino após TPLO: Artrotomia tradicional ainda é utilizada em locais que
(A) projeção laterolateral de tíbia; (B) projeção craniocau-
não possuem artroscopia ou cirurgiões que não desenvol-
dal de tíbia
veram habilidade com o aparelho 53,71,118,156.
segunda intervenção; além disso, 91-94% dos casos em que A artroscopia pode ser utilizada concomitante a artro-
foi realizada a TPLO obtiveram-se bons resultados 57. A tomia melhorando a avaliação das estruturas, do tratamento
correção do mau alinhamento do membro é uma das van- cirúrgico e auxiliando no treinamento artroscópico 53,71,118,156.
tagens da TPLO, que também apresenta efeitos protetores O procedimento artroscópico é simplificado quando se
sobre a parte integra do ligamento em rupturas parciais 24. utiliza a artroscopia associada a miniartrotomia. Muitas
A TPLO apresenta uma recuperação de apoio do mem- afecções são melhor observadas com artroscopia incluindo
bro mais rápido do que as outras técnicas. osteocondrite dissecante do ombro e cotovelo, lesões liga-
mentares e tendinosas do ombro, fragmentação do processo
MENISCOPATIA coronoide medial, lesões parciais do ligamento cruzado cra-
A articulação do joelho possui dois meniscos localiza- nial, e lesões meniscais 53,71,118,156. A artroscopia e artrotomia
dos sobre os côndilos da tíbia, estes apresentam um formato minimamente invasiva tem sido relatadas como métodos
de "C" e são constituídos, em grande parte, por fibrocarti- eficazes no tratamento de RLCCr e lesão meniscal 53,156.
lagem. Bennet e May 20 propuseram uma classificação da lesão
Os meniscos encontram-se unidos a tíbia e ao fêmur de menisco em sete tipos: tipo 1- desprendimento caudal com
pelos ligamentos tibial cranial e caudal dos meniscos lateral eversão do polo caudal; tipo 2- lesão longitudinal; tipo 3-
e medial, ligamento menisco-femoral do menisco lateral, lesão longitudinal múltipla; tipo 4- fibrilação ou degenera-
ligamento intermeniscal e ligamento coronal 6,29,36,54. O su- ção da superfície; tipo 5- lesão axial; tipo 6- lesão em alça
porte vascular dos meniscos provém da cápsula articular de balde e tipo 7- lesão transversal. As rupturas mais comuns
no terço lateral de cada menisco, sendo assim, os dois ter- são desprendimento caudal com eversão do polo caudal,
ços internos são considerados avasculares 45. lesão longitudinal e lesão em alça de balde 20,45 (figura 6).

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 347


Capítulo 33 – Afecções do joelho

LUXAÇÃO PATELAR
A B C D
A luxação patelar consiste na perda da re-
lação anatômica normal entre o sulco tro-
clear do fêmur e a patela em si, sendo que a
luxação medial da mesma é mais comum que
a lateral e representa 75-80% dos casos 115. A
luxação medial bilateral é muito comum e
Figura 6 – Imagem ilustrativa das rupturas de menisco em cães: A) ruptura ocorre em 50-65% dos casos 85. A luxação la-
caudal em alça de balde no menisco medial; B) desprendimento da por-
teral é mais frequente em cães de raças gran-
ção caudal do menisco medial; C) ruptura isolada do menisco lateral; D)
ruptura cranial em alça de balde no menisco medial
des, porem também pode ocorrer em raças
pequenas e miniaturas 56. A maioria das luxa-
TRATAMENTOS DA LESÃO EM MENISCO ções mediais são congênitas ou de desenvolvimento, e não
A incidência de lesão do menisco após estabilização do estão associadas à traumas 115.
joelho com RLCCr com técnicas como TTA, TPLO e su- A maioria dos animais com luxação de patela medial
tura fabelotibial, têm sido relatado como sendo de aproxi- tem associadas alterações musculoesqueléticas, como, por
madamente 13,8% e, para proteger o menisco desta lesão exemplo, o deslocamento medial do músculo quadríceps
tardia, tem sido realizada a sua liberação. A liberação do femoral, torção lateral do fêmur distal, arqueamento late-
menisco medial é controversa devido à importância das ral do terço distal do fêmur, displasia epifisária femoral,
funções deste menisco e que são perdidas após sua libera- instabilidade rotacional da articulação do joelho ou defor-
ção 112,118. Alguns autores recomendam manter o menisco midades tibiais 128. Além disso, entre as alterações anatô-
intacto permanecendo sua função normal e informar aos micas presentes ao nascimento, encontramos o ângulo de
proprietários a possibilidade de uma complicação futura inclinação do colo femoral diminuído (coxa vara) e a di-
com lesão meniscal, que normalmente exige uma segunda minuição da anteversão do colo femoral (ou retroversão)
115.
intervenção cirúrgica para remoção da porção lesada 51.
Embora seja recomendada 54,118, a meniscectomia ou a As luxações de patela são divididas em graus, de I a IV.
hemimeniscectomia do pólo caudal acelera a progressão da No grau I a luxação espontânea durante a movimentação
doença articular degenerativa (DAD), resultando em con- normal é rara e ocorre luxação manual durante exame fí-
tato intra-articular anormal 13,119 e danos à cartilagem arti- sico, porem a patela retorna ao sulco assim que a pressão
cular 37,53,143,151, porém ainda são comumente realizadas em acaba. No grau II pode ocorrer luxação com a flexão do
cães 62. A região periférica do menisco formada pelo parên- joelho ou durante a pressão manual, e a patela permanece
quima remanescente após meniscectomia parcial, mantém luxada até que seja reduzida ao sulco seja espontaneamente
alguma capacidade de distribuir tensão e de transmitir a ou não. A luxação patelar de grau III pode estar relacionada
força recebida 13,136, porém esta função depende da extensão à anormalidades dos tecidos moles ao redor da articulação
de ressecção meniscal 136. Quando a lesão inicial ocorrer do joelho e deformidades femorais e tibiais; a patela per-
em uma região vascular do menisco, esta será removida, manece luxada a maior parte do tempo, mas pode ser re-
diminuindo seu potencial de recebimento de carga 13,136. duzida manualmente durante uma extensão do joelho. Por
A reparação do menisco tem sido descrita em cães 83,102, fim, no grau IV a patela fica luxada permanentemente, e
mas é pouco realizada, o que difere da Medicina Humana não pode ser reduzida ao sulco manualmente; aqui o sulco
onde, para preservar a função meniscal e atenuar a progres- troclear femoral é raro ou ausente e há um deslocamento
são da DAD, estas lesões geralmente são reparadas 92,104. O medial do grupo muscular do quadríceps; também observa-
reparo do menisco é benéfico se a recuperação do parên- se rotação medial do platô tibial proximal 56.
quima degenerado for completa 132, sendo que o tecido me- O diagnóstico da afecção é baseado no exame físico, por
niscal lesionado, que perdeu a sua estrutura e função, tem palpação e observação 128. A identificação radiográfica da
baixa capacidade de recuperação 15. patela medial à posição troclear, numa projeção craniocau-
Já lesões meniscais que ocorrem na zona vascular com dal, ou sobreposta aos côndilos femorais, em projeção late-
tecido ainda saudável podem ser passíveis de reparação . romedial, confirma o diagnóstico da luxação patelar medial;
142

As reparações de lesões meniscais em humanos melhoram no entanto, a avaliação radiográfica do membro pélvico é
o contato mecânico do joelho 14,19. útil para o planejamento cirúrgico, com o intuito de avaliar
Suspeita-se que reparação de lesões em alça de balde o alinhamento do fêmur e da tíbia, além de detectar ocor-
redutíveis que ocorrem na zona vermelha do menisco me- rência de deformidades ósseas, de rotação da tuberosidade
dial em cães, pode restaurar a biomecânica e função do me- tibial, coxa vara, angulações femorotibiais anormais e ainda
nisco 102,142. quantificar possível osteoartrite secundária 1.
Foi avaliado mecanicamente o comportamento de lesões A luxação patelar pode ser tratada de forma conserva-
meniscais em cães e observou-se que a lesão em alça de tiva ou cirúrgica. A escolha do tratamento depende da his-
balde, inversão do pólo caudal e as lesões degenerativas tória clínica, exame físico, frequência da luxação, idade do
aumentaram em 45% o pico de pressão de contato 142. paciente e experiência do cirurgião 115.

348 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 33 – Afecções do joelho

O tratamento cirúrgico é indicado em pacientes mais da tíbia e isso consequentemente favorece a luxação medial
jovens, pois a luxação desgasta a cartilagem articular pate- de patela 11,115.
lar; além disso, indica-se para os pacientes com claudicação O tratamento simultâneo de LMP e RLCCr tem sido re-
e aquelas com placas de crescimento ativas, devido ao agra- latado em cães, sendo este realizado com osteotomia tibial
vamento do quadro das deformidades esqueléticas. Pode-se em cunha, sutura fabelo-tibial lateral, sutura fabelo-patelar,
citar inúmeras técnicas para a correção da luxação patelar, nivelamento do platô tibial modificado ou TTA de forma
dentre elas a transposição da crista da tíbia, liberação das isolada e em combinação com procedimentos adicionais,
estruturas de contenção laterais, aprofundamento do sulco tais como trocleoplastia, transposição da tuberosidade tibial
troclear, osteotomia femoral e/ou tibial, suturas antirrota- e imbricação de tecidos moles 10,59,137.
cionais e a transposição da origem do músculo reto femoral;
em geral utiliza-se uma combinação de técnicas 56. Referências
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W. L. ; PAYNE, J. T. ; WAGNER-MANN, C. C. Biomechanical
mais com luxação medial de patela crônica e que desen-
evaluation of a crimp systen for loop fixation of monofilament
volvem claudicação aguda, devem ser investigados para nyulon leader material used for stabilization of the canine stifle
RLCCr concomitante 115,151. joint. Veterinary Surgery, v. 27, n. 6, p. 533-539, 1998. DOI:
Como doença degenerativa da articulação do joelho 10.1111/j.1532-950X.1998.tb00528.x.
pode progredir mesmo após a correção cirúrgica da luxação 3-APELT, D. ; KOWALESKI, M. P. ; BOUDRIEAU, R. J. Effect of
medial de patela 64-144, cães com luxação medial de patela tibial tuberosity advancement on cranial tibial subluxation in
canine cranial cruciate deficient stifle joints: an in vitro
(corrigido ou não) apresentam maior risco para o desenvol-
experimental study. Veterinary Surgery, v. 36, n. 2, p. 170-177,
vimento de RLCCr 64. 2007. DOI: 10.1111/j.1532-950X.2007.00250.x.
A patogenia sugerida para cães com luxação medial de 4-ARNOCZKY, S. P. ; MARSHALL, J. L. The cruciate ligaments of the
patela que desenvolvem RLCCr está correlacionada ao au- canine stifle: anatomical and funcional analysis. American
mento na tensão sobre o LCCr, como resultado de altera- Journal of Veterinary Research, v. 38, n. 11, p.1807-1814, 1977.
ções anatômicas e está diretamente relacionado à gravidade 5-ARNOCZKY, S. P. ; RUBIN, R. M. ; MARSHALL, J. L. Micro-
da luxação. O inverso também é possível, ou seja, cães com vasculature of the cruciate ligaments and its response to injury.
RLCCr podem desenvolver luxação medial de patela como The Journal of Bone & Joint Surgery, v. 61, n. 8, p. 1227-1229,
1979.
resultado da rotação interna da tíbia anormal, uma vez que
6-ARNOCZKY, S.P. et al. Meniscal diffusion: an experimental study in
o LCCr esteja rompido, não há mais restrição a rotação in- the dog . trans Orthopaedic Research Society, v. 5, p. 42, 1980.
terna da tíbia 11,115,151.
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Cães com luxação medial de patela grau IV foram sig- injuries. In: BOJRAB, M. J. ; SMEAK, D. D. ; BLOOMBERG, M.
nificativamente mais propensos a ter RLCCr concomitante S. Disease Mechanisms in Small Animal Surgery. Philadelphia :
do que os cães com graus menos graves de luxação 34. Lea & Febiger, 1993; p.764–77. ISBN: 978-0812114911.
Tem sido descrito 69,115 que aumento da rotação interna 8-ARNOCZKY, S. P. Patomecânica das lesões do ligamento cruzado e
atribuída à luxação medial de patela contribui para o au- meniscos. In: BOJRAB, M. J. Mecanismos da moléstia na cirur-
gia dos pequenos animais. 2. ed. São Paulo: Manole, 1996. p.
mento da pressão do ligamento cruzado cranial e eventual
889-902. ISBN: 9788520404218.
ruptura. Outros autores 115,145 têm descrito que cães com lu-
9-ARNOCZKY, S. P. Patomecânica das lesões do ligamento cruzado e
xação medial de patela tem um risco maior de desenvolver meniscos. In: BOJRAB, M. J. Mecanismos da moléstia na cirur-
RLCCr por causa do mau alinhamento do mecanismo dos gia dos pequenos animais. 2. ed. São Paulo: Manole, 1996. p.
músculos extensores e rotação interna da articulação do joe- 225-229. ISBN: 9788520404218.
lho. Do mesmo modo, atrofia muscular como resultado de 10-ARTHURS, G. I. ; LANGLEY-HOBBS, S. J. Complications
claudicação prolongada em combinação com frouxidão do associated with corrective surgery for patella luxation in 109 dogs.
ligamento patelar, pode contribuir para instabilidade articu- Veterinary Surgery, v. 35, n. 6, p. 559-566, 2006. DOI:
10.1111/j.1532-950X.2006.00189.x.
lar e causar estiramento no ligamento cruzado cranial 59.
11-ARTHURS, G. I. ; LANGLEY-HOBBS, S. J. Patellar luxation as a
Deformidades ósseas, como genu varum, sulco troclear
complication of surgical intervention for the management of
raso e deslocamento medial da tuberosidade da tíbia, con- cranial cruciate ligament rupture in dogs.Veterinary and
tribuem para luxação patelar e também podem contribuir Comparative Orthopaedics and Traumatology, v. 20, n. 3, p.
com a RLCCr 90,115. O aumento na translação cranial da tíbia 204-210, 2007. DOI: 10.1160/VCOT-06-10-0074.
reduz a força de contato da articulação femorotibiopatelar, 12-AULAKH. ; HARPER, T. A. ; LANZ, O. I. ; DANIEL, G. B. ;
aumentando o ângulo entre o ligamento patelar e do tendão WERRE, S. R. Effect of stifle angle on the magnitude of the tibial
plateau angle measurement in dogs with intact and transected cranial
do quadríceps, o que leva à uma maior frouxidão patelar 78
cruciate ligament.Veterinary and Comparative Orthopaedics and
e resulta em um maior grau de luxação de patela durante o Traumatology, v. 24, n. 4, p. 272-278, 2011. DOI:
exame físico. Com a RLCCr teremos uma rotação interna 10.3415/VCOT-10-09-0131.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 349


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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 353


Capítulo 33 – Afecções do joelho

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354 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


34
Fisiatria em lesões do joelho

Carla Riccio Marzulli


Ricardo Stanichi Lopes

A
articulação femorotibiopatelar e todos os tecidos do conteúdo dos proteoglicanos da cartilagem articular 57.
compreendidos em sua biologia devem funcionar Como consequência dessas alterações há o comprome-
concomitantemente e de forma harmônica, tanto do timento da amplitude de movimento, diminuição da flexi-
ponto de vista biológico como biomecânico, preservando bilidade, e diminuição na capacidade de absorção de
assim, sua função e saúde. O amplo conhecimento da bio- energia do complexo ósseo ligamentar. O tecido muscular
mecânica do joelho fornece ao fisiatra a capacidade de ela- adjacente também pode ser afetado 66.
borar protocolos precisos, visto que atualmente existem O quadríceps femoral é um grupo muscular com uma
diversas técnicas que podem ser empregadas para promo- característica importante onde se observa um tecido misto,
ver a estabilização desta articulação. composto por fibras musculares tipo I e tipo II, com pre-
Ao tratar de um paciente com lesões do joelho, o fisiatra dominância do tipo I. As fibras do tipo 1 são mais suscetí-
deve se atentar se há atrofia muscular evidente, fibrose pe- veis à atrofia muscular. Por esse motivo a atrofia muscular,
riarticular, alteração no grau de amplitude de movimento, por desuso, se inicia em apenas 72h, sendo seu tempo de
algesia, tensão em coluna secundária a sobrecarga, entre recuperação de força e metabolismo regular de duas a qua-
outros 50,76. tro vezes o tempo da impotência funcional 25,60,68.
Deve-se também levar em consideração as alterações Assim, é necessária uma atenção especial à articulação
anatômicas congênitas ou adquiridas após a manifestação do joelho de pacientes em tratamento fisiátrico, pois certos
da doença. O conhecimento da semiologia ortopédica e procedimentos cirúrgicos demandam uma imobilização
neurológica básica se faz necessário a fim de melhorar a dessa articulação por períodos de até 10 semanas.
avaliação e a escolha do tratamento. Há relatos de autores onde alterações mecânicas das fi-
As principais causas de lesões da articulação do joelho bras musculares foram observadas em imobilizações de ape-
são: ruptura dos ligamentos cruzado cranial e caudal, lesões nas sete dias. Há, portanto, necessidade de reabilitação dos
meniscais, osteoartrites, lesões dos ligamentos colaterais, músculos acometidos em imobilização de curto prazo 61.
luxações patelares, fraturas dos côndilos femorais, ruptura
do ligamento patelar, fraturas patelares, lesões por avulsão Modalidades terapêuticas utilizadas na
do tendão do músculo extensor digital longo, do músculo reabilitação da articulação do joelho
gastrocnêmico e fabelas e avulsões de inserções ligamen- A fisiatria tem como objetivo restaurar a função do
tares 79,93. membro, promovendo bem-estar, analgesia e qualidade de
O objeto desse capítulo é abordar programas de reabili- vida ao paciente. Para alcançar este objetivo podem-se uti-
tação fisiátrica para a articulação femorotibiopatelar, citar lizar várias modalidades fisioterápicas, entre elas a energia
as principais lesões que acometem essa articulação e elu- térmica, elétrica ou mecânica, citadas com maiores detalhes
cidar os cuidados necessários durante e após os tratamentos a seguir 59.
estipulados, sejam cirúrgicos ou conservativos.
Massagem
ELABORANDO O PROTOCOLO DE FISIATRIA A massagem é conhecida como aplicação manual de
DA ARTICULAÇÃO DO JOELHO pressão e movimentos sobre os tecidos sejam eles pele, li-
gamentos, fáscias ou músculos e pode ser utilizada em
Atenções fisiátricas qualquer momento da reabilitação 21.
O conhecimento do fisiatra sobre as reações de estímulos Em pós-operatórios de cirurgias (TPLO, TTA, trocleo-
ao organismo, seja local e/ou sistêmica, se faz necessário plastia, entre outras) e doenças articulares degenerativas
para que a montagem do protocolo fisiátrico seja efetivo 92. avançadas, ela faz parte da rotina, exceto no pós-operatório
Um exemplo para esta afirmação é o paciente com imediato, com a finalidade de controle analgésico, além de
perda da função articular, seja ela por imobilização (talas, promover diminuição do edema local e reduzir aderências.
pensos etc.) ou por desuso. Nesses casos, observamos prin- A massagem é uma das ferramentas mais usadas para eli-
cipalmente hipotrofia muscular, porém, o acometimento minar e diminuir os danos causados pelas aderências 36.
das demais estruturas como cartilagens, tendões, ligamen-
tos e ossos adjacentes não podem ser ignorados 68. Crioterapia
Independente da causa de imobilização articular pode- A crioterapia é a modalidade terapêutica conhecida pela
mos observar como principais consequências: a prolifera- aplicação do frio em tecidos superficiais, incluído áreas
ção do tecido fibroadiposo no espaço intra-articular; intra-articulares. Ela é amplamente utilizada na reabilita-
aderências entre as pregas sinoviais; atrofia de cartilagem; ção de pós-operatórios, atuando na redução do período
osteopenia regional; enfraquecimento ligamentar e redução inflamatório (Figura 1). A queda da temperatura articular

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 355


Capítulo 34 – Fisiatria em lesões do joelho

inibe a atividade de enzimas degradadoras como, por exem- Possui a capacidade de bloquear prostraglandinas infla-
plo: colagenase, elastase, hialuronidase e protease 13,82. matórias e estimular a liberação de opióides endógenos,
A aplicação de calor superficial deve ser usada em promovendo analgesia, sendo indicado em distúrbios mús-
quadros crônicos, ou seja, sem sinais presentes de inflama- culos-esqueléticos, controle de dor, regeneração tecidual,
ção, como adjuvante no controle de aderências e dor. A uti- além de aumento do bem-estar 23,63,81,87. Estudos apontam que
lização do calor promove relaxamento muscular, reduz a
rigidez articular e melhora a circulação local. Existem con-
trovérsias na utilização do calor em articulações inflama-
das, mas é consensual que em casos de inflamação leve e
envolvimento de estruturas periarticulares o emprego do
calor superficial é bem tolerado 6,8 (Figura 2).
Atualmente diversas técnicas cirúrgicas reparadoras
foram desenvolvidas com o objetivo de estabilização e cor-
reção de deformidades da articulação do joelho, tendo
como principais complicações pós-cirúrgicas a presença de
seroma, edema, hematomas, desconforto e rigidez, sendo
a crioterapia uma das modalidades fisioterápicas indicadas
para o tratamento destas alterações.
Além de pós-operatórios, a crioterapia é indicada para
o tratamento de bursites, tenossinovites e tendinites 9. A prá-
tica de exercícios durante o processo de reabilitação pode
gerar inflamação nos tecidos musculares, esta complicação
pode ser controlada utilizando-se a crioterapia após o exer-
cício 18.

Ultrassom terapêutico
O ultrassom terapêutico produz uma energia acústica
que gera calor profundo visando à elevação da temperatura
nos tecidos, quando utilizado do modo contínuo. O ultras-
som terapêutico tem efeito analgésico e aumento do fluxo Figura 1 – Aplicação de crioterapia através de bolsa de
sanguíneo nos músculos causando relaxamento dos mes- gelo
mos 15. Essa terapia é utilizada em casos onde ocorrem con-
traturas musculares prolongadas.
Existem contraindicações para o uso dessa modalidade
fisioterápica em áreas isquêmicas, regiões com ausência de
sensibilidade dolorosa, aplicação direta sobre curativos e
gônadas 34.
Implantes metálicos são utilizados em técnicas cirúrgi-
cas reparadoras da articulação do joelho como, por exem-
plo, as osteotomias corretivas e osteossínteses, tais implantes
geram discussões ao emprego do ultrassom terapêutico.
Quando este é utilizado sobre artefatos pode gerar aumento
do índice de reflexão do feixe ultrassônico e aquecimento
do implante sobre o tecido ósseo.
Apesar das divergências literárias, os presentes autores
deste tem como preferência utilizar tal modalidade em es-
truturas periarticulares e ao redor de implantes, e como pre-
ferência não usar diretamente sobre artefatos metálicos que
possam aquecer e consequentemente prejudicar a evolução
do paciente.

Magnetoterapia
A magnetoterapia é um método de aplicação de campos
magnéticos de frequências baixas (Figura 3), que alteram
o potencial elétrico das células dos nervos e outros tecidos, Figura 2 – Aplicação de calor através de bolsa de água
normalizando o fluxo de íons e nutrientes 40. quente

356 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 34 – Fisiatria em lesões do joelho

Figura 3 – Utilização de magnetoterapia em pós-operatório


de osteotomia corretiva Figura 4 – Aplicação medial de laser em joelho

pacientes com fraturas ósseas que foram submetidos ao cam- Somente exige a atenção do fisiatra na presença destes.
po magnético obtiveram menor tempo de recuperação 10. Deve-se aplicar o laser contralateral ao implante, pois os
A magnetoterapia tem a capacidade de estimular os os- artefatos metálicos refletem a luz, impedindo sua ação no
teoblastos (células ósseas produtoras de matriz cartilagi- tecido alvo.
nosa) e inibir os osteoclastos (células ósseas que promovem Os pontos de aplicação do laser normalmente devem
a lise cartilaginosa), esta peculiaridade promove a regene- sempre ter como objetivo a articulação, aplicando-se me-
ração óssea e articular além de impedir processos degene- dialmente (Figura 4), lateralmente (Figura 5) e cranial-
rativos. Portanto, também é indicada no tratamento de mente ao tendão patelar (Figura 6).
osteocondrites e osteocondroses 103.
Em pós-operatórios onde as estruturas ósseas são fratu- Eletroterapia
radas e se deseja evitar um processo degenerativo posterior A eletroterapia consiste na aplicação de correntes elé-
como, por exemplo: TTA, TPLO, transposição da crista da tricas de baixa frequência e tem por objetivo estimular ner-
tíbia, trocleoplastia ou osteossínteses articulares, esta mo- vos sensoriais e motores, levando a redução da dor ou
dalidade fisioterápica é indicada. estimulando a contração muscular 58.
A TENS (eletroestimulação nervosa transcutânea) é
Laserterapia uma corrente elétrica que estimula os nervos sensoriais,
Na laserterapia utilizamos lasers de baixa potência que promovendo diminuição da dor. Essa técnica é muito
desencadeiam processos fisiológicos como o aumento de empregada no controle álgico pós-operatório, quadros
metabolismo, imunomodulação local e microvasodilatação, inflamatórios, doenças degenerativas e tensões muscu-
sem elevar a temperatura tecidual. Pode ser usada em todas lares 43.
as fases da reabilitação. O laser de baixa potência tem o A NMES (eletroestimulação neuromuscular) é uma cor-
efeito de analgesia, aumento da atividade metabólica, re- rente elétrica utilizada em musculaturas especificas propor-
dução de edemas, e modulação de processos inflamatórios cionando o seu fortalecimento. Para reabilitar a articulação
crônicos 30. do joelho devemos fortalecer os grupos musculares respon-
Diversas afecções que acometem a articulação do joelho sáveis pela sua estabilização sendo eles: o quadríceps fe-
exigem correção cirúrgica através de implantes metálicos. moral, tibial cranial, semimembranoso e semitendinoso.
A laserterapia não possui contraindicação nesses casos. O grupo muscular quadríceps femoral e tibial cranial

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 357


Capítulo 34 – Fisiatria em lesões do joelho

são responsáveis pela extensão do membro, enquanto que


os músculos semimembranoso e semitendinoso realizam a
flexão, por realizarem movimentos antagônicos, a eletroes-
timulação deve ser aplicada em momentos distintos.
A NMES pode ser realizada de duas maneiras:
• cadeia aberta: realizada com o animal em decúbito lateral
(Figura 7 e 8);
• cadeia fechada: realizada com o animal em estação, com
exercício ativo simultâneo ao estímulo elétrico (Figura 9).

Figura 5 – Aplicação lateral da laserterapia em joelho de cão Shock wave


O shock wave é um tratamento por ondas de choque e
todos os seus efeitos biológicos ainda não estão devida-
mente esclarecidos. Porém, sabe-se que produz analgesia
devido à estimulação de citocinas anti-inflamatórias, esti-
mula fatores de crescimento e atividade osteoblástica 34-36.
Tem sido amplamente utilizado para o tratamento de doen-
ças degenerativas, com uma grande aceitação em pacientes
com osteoartrose. É também indicado no tratamento de
afecções do joelho como por exemplo, não união óssea,
tendinites patelares, osteopenia, lesões meniscais, osteo-
condrite dissecante entre outros 26,104.
Pacientes com tendinites patelares ou inflamações das
estruturas adjuvantes consequente de pós-operatórios de
osteossínteses/osteotomias são beneficiados com o uso do
shock wave tendo uma boa resposta quando submetidos ao
Figura 6 – Aplicação de laser em região cranial de liga- tratamento.
mento patelar

Figura 8 – NMES realizada em cadeira aberta na mus-


Figura 7 – NMES realizada em cadeia aberta em muscu- culatura de bíceps femoral e logo abaixo o músculo tibial
latura glútea e quadríceps femoral cranial

358 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 34 – Fisiatria em lesões do joelho

Cinesioterapia
A cinesioterapia é uma modali-
dade da reabilitação com enfoque no
movimento. Os exercícios realiza-
dos são importantes para nutrição
adequada das articulações e manu-
tenção da amplitude dos movimen-
tos dentro dos limites fisiológicos.
Eles são realizados ativamente (pelo
próprio animal) ou passivamente
(com auxílio).
Exercícios passivos e alongamen-
tos tem aplicação na reabilitação do
joelho. Eles são usados em casos de
osteoartroses, lesões agudas ou pós-
cirúrgicos. Frequentemente os alon- A
gamentos e movimentações passivas
são realizados simultaneamente, obje-
tivando o ganho de amplitude de mo-
vimento, aumento de flexibilidade
muscular, nutrição articular, preven-
ção e resolução de fibroses periarti-
culares 26,100.
Por definição, exercícios passivos
são aqueles que o fisiatra trabalha mo-
vimentação da articulação dentro dos
limites fisiológicos, sem a presença de
qualquer estímulo doloroso para o pa-
ciente. A movimentação passiva é in-
dicada nos casos de pós-operatório
imediato, a fim de evitar ou minimizar
os danos causados pela inutilização ou
imobilização do membro 41. É impor- B
tante ressaltar que a movimentação
passiva não substitui à ativa, pois não
previne atrofia muscular nem au-
mento de força ou resistência 48.
Os exemplos de alongamentos
com movimentação passiva estão
demonstrados a seguir (Figuras 10, Figura 9 – NMES realizado em cadeira fechada através de ponto motor e
11, 12, 13 e 14): musculatura de quadríceps femoral
• exercícios de equilíbrio e proprio-
ceptivos: os exercícios de proprio-
cepção e de equilíbrio na articulação
do joelho tem como objetivo o apoio,
descarga de peso, ganho de massa
muscular e estabilidade articular 56. A
atividade proprioceptiva é obtida atra-
vés de ações em superfícies instáveis
como pranchas, discos e almofadas. O
grau de dificuldade será determinado
pelo fisiatra de acordo com a evolução
do paciente além da observação de
funcionalidade da técnica empregada
(Figura 15);
• andar em 8 e cavaletes: sendo os Figura 10 – Alongamento de musculatura quadríceps femoral

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 359


Capítulo 34 – Fisiatria em lesões do joelho

utiliza exercícios em meio aquático,


auxiliando na reabilitação, propor-
cionando alivio no quadro álgico,
permitindo maior mobilidade e alon-
gamento, além de diminuir a rigidez
articular 31.
Essa modalidade tem um impor-
tante papel na recuperação pós-opera-
tória em diferentes intervenções
cirúrgicas para correção de lesões na
articulação do joelho (Figura 21). A
esteira aquática é uma forma eficiente
de aumentar a amplitude do movi-
mento articular e promover ganho de
massa muscular, além de estimular a
utilização do joelho e melhorar o con-
dicionamento geral do paciente 71.
Um dos principais benefícios da
Figura 11 – Alongamento de músculos semimembranoso e semitendinoso esteira aquática, como já citado
juntamente com tendão gastrocnêmio
acima, é a associação de exercícios de
baixo impacto com maior estímulo de
apoio. Pacientes submetidos a estabi-
lizações extracapsulares, osteotomias
corretivas, osteossíntese de fraturas,
correções de luxações patelares com
ou sem deformidade óssea, são cons-
tantemente avaliados em estudos com-
parativos onde se emprega ou não a
hidroterapia no protocolo fisioterá-
pico. Pacientes com ruptura de liga-
mento cruzado submetidos à TTA
foram acompanhados e visto que não
houve diminuição do tempo de con-
solidação óssea. Porém, notou-se que
pacientes que realizaram a esteira
aquática obtiveram melhores resulta-
dos como: menor tempo de retorno a
função, maior ganho de amplitude de
Figura 12 – Mobilização passiva do joelho no momento da flexão movimento e massa muscular além de
menor desconforto articular 22,102.
mais completos da cinesioterapia (Figuras 16 a 19), esses
exercícios estimulam a utilização do membro, promovem PARTICULARIDADES NA FISIATRIA
o fortalecimento da musculatura e das estruturas periarti- DA ARTICULAÇÃO DO JOELHO
culares adjacentes, ganho de força, estímulos propriocep-
tivos, ganho na amplitude de movimento e treino de Ruptura do ligamento
equilíbrio 48; cruzado cranial
• ladeira/ rampa: exercício assertivo para a reabilitação da O ligamento cruzado cranial tem como principal função
articulação do joelho visando o fortalecimento dos mús- limitar o deslocamento cranial da tíbia em relação ao
culos quadríceps femoral, semitendinoso, semimembra- fêmur 48.
noso e glúteos; enquanto que o declive promove flexão do A ruptura dessa estrutura, além de causar grande instabili-
tarso, quadril e joelho 48,85. Os exercícios de aclive podem dade, produz uma série de alterações inflamatórias e celulares
ser potencializados quando associados à esteira aquática que resultam em sinovite, lesões meniscais e osteoartrose.
(Figura 20). Após a correção cirúrgica de uma articulação, a ruptura
do ligamento cruzado cranial do membro contralateral
Hidroterapia não é incomum, apresentando alto índice de ocorrência
A hidroterapia é uma ferramenta da fisioterapia que na rotina clínica, sendo esta uma informação relevante a

360 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 34 – Fisiatria em lesões do joelho

ser esclarecida aos tutores no momento da reabilitação 27,99. Estabilização extracapsular


Diversas técnicas foram criadas para a correção da As estabilizações extracapsulares em sua maioria en-
ruptura de ligamento cruzado, dentre elas, destacam-se as volvem o uso de sutura de grosso calibre visando à dimi-
extras e intracapsulares com uso de implantes autólo- nuição da instabilidade articular. A inflamação aguda
gos 39,80. O objetivo dessas técnicas não é a substituição gerada pelo procedimento cirúrgico terá como consequên-
completa do ligamento, mas sim a estabilização temporária cia o espessamento da cápsula articular e do retináculo con-
para que ocorra a adaptação da articulação, neutralizando ferindo maior estabilidade à articulação no pós-operatório
o deslocamento cranial da tíbia 46,53. imediato 79.
A utilização de bandagem de conforto crioterapia e mi-
crocorrentes, de forma conjunta ou isolada, são indicados
para o tratamento e controle do edema articular no pós-ope-
ratório de estabilização extracapsular. A associação das três
terapias é capaz de reduzir o edema em até 72 horas 83.
A perda de massa muscular se inicia em até 2 semanas
após o rompimento do ligamento, podendo ainda apresentar
osteopenia em 4 semanas 68. Por esse motivo, a utilização
de movimentação controlada do membro e estímulo de
apoio devem ser utilizadas no protocolo. O NMES para
ganho de massa muscular também deve ser preconizado.
Exercícios terapêuticos em solo e hidroesteira após a es-
tabilização extracapsular tem sua eficácia comprovada atra-
vés da comparação entre grupos de animais que realizaram
reabilitação pós-operatória e grupos que não tiveram apoio
fisiátrico 64.
Treinos de ganho de amplitude devem ser realizados
com cautela nas primeiras semanas. A dificuldade dos exer-
cícios pode ser aumentada de acordo com a evolução do
quadro. Sentar e levantar, apoio em 3 membros, pista de
cavaletes ou em “8” são exercícios a serem realizados. A
esteira aquática também pode ser utilizada empregando-se
exercícios em aclive.
É importante enfatizar que a cicatrização, formação de
fibrose periarticular e adaptação do implante à sua nova
função podem ocorrer até 3 meses após o procedimento ci-
rúrgico, por esta razão não devemos empregar exercícios
Figura 13 – Alongamento de pectíneo e vasto medial
de alto impacto: subida, descida, escadas e saltos neste pe-
ríodo 68.

Osteotomias corretivas
As osteotomias corretivas são con-
sideradas técnicas modernas, também
chamadas de técnicas periarticulares.
Elas têm como objetivo conseguir a
estabilidade dinâmica da articulação
do joelho pela alteração da geometria
óssea, logo que a movimentação da
articulação depende de uma perfeita
harmonia entre patela, tíbia e femur 46.
As técnicas de osteotomia mais ul-
tilizadas são: Tibial Plateau Leveling
Osteotomy – TPLO, Tibial Tuberosity
Advancement – TTA e Tibial Closing
Weding – TCWO 2,3,46,5167. A TPLO e
TCWO promovem o nivelamento do
platô tibial. A TTA altera a dinâmica
Figura 14 – Alongamento de musculatura interna, como pectíneo e vasto medial da articulação do joelho por meio de

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 361


Capítulo 34 – Fisiatria em lesões do joelho

O não cumprimento do repouso com excesso


de atividades físicas, a hiperflexão e extensão
do membro são contraindicados, pois prejudi-
cam o tempo necessário de adaptação do orga-
nismo a nova biomecânica gerada, ocasionando
uma hipersolicitação do quadríceps femoral, re-
sultando em tendinite patelar ou fratura do im-
plante 65,84.
O uso da esteira aquática na reabilitação das
osteotomias apresenta como benefícios melhora
da consolidação óssea nos controles radiográfi-
cos, redução de espasmos musculares, diminui-
ção do desconforto doloroso e fadiga muscular
além do aumento de amplitude de movimento.
Ainda fornecendo ao paciente, melhora do con-
dicionamento e confiança para utilização do
membro.
Um dos grandes benefícios das osteotomias
Figura 15 – Exercícios em tábua de equilíbrio visando aumentar des- corretivas é o apoio precoce do membro. Ao re-
carga de peso no membro afetado ceber o paciente, o uso do NMES pode ser rea-
lizado com apoio mesmo em pós-operatórios
imediatos. O trabalho de alongamento e movi-
mentação passiva devem ocorrer, mesmo que o
apoio esteja estabelecido, com a finalidade de
manter/ ganhar amplitude, resolução de possíveis
aderências cicatriciais e aquecimento.
As modalidades terapêuticas em geral são in-
dicadas como coadjuvantes ao fisiatra na reabi-
litação das osteotomias. Exemplo disso é a
utilização da laserterapia onde foi comprovado
através de estudos que otimizam de forma eficaz
a reabilitação de pacientes que fizeram uso da te-
rapia no pré e pós-cirúrgico. Pacientes que foram
submetidos a apenas uma aplicação pré-opera-
tória de laser de baixa potência, apresentaram
melhora no quadro de dor, menor resistência à
manipulação do membro, menor edema, melhor
amplitude de movimento e processo cicatricial
acelerado 84.
Exercícios em pranchas de equilíbrio, ativida-
des como pistas de obstáculos com baixa altura, so-
licitação de mudança de direção como andar em
círculos, diferentes direções em pistas de “slalon”
em baixa velocidade, uso de bolas terapêuticas tam-
Figura 16 – Exercício em pista de cavaletes, posicionados em forma bém podem integrar o protocolo de recuperação.
paralela, para aumento de amplitude de movimento
Tratamento conservativo
osteotomia longitudinal da tuberosidade da tíbia .
37,72 Uma das grandes consequências da ruptura do liga-
As complicações pós-cirúrgicas mais comuns incluem mento é a osteoartrite, alteração capaz de causar grande im-
a presença de seroma, edema, hematoma, desconfoto e ri- pacto na qualidade de vida do paciente 96.
gidez 46. Os sinais clínicos dessa doença incluem desconforto, li-
Tanto na TTA quanto na TPLO podemos observar como mitação da amplitude do movimento, perda de massa mus-
complicações pós-operatórias a rejeição ou fratura dos im- cular e diminuição da utilização do membro 89. Diante de
plantes metálicos utilizados, luxações de patela iatrogêni- tantos malefícios o tratamento conservativo não é priori-
cas, fraturas tibiais, lesão meniscal e ocorrência de zado, salvo em pacientes que não estejam aptos ao proce-
osteomielite 7,28,32. dimento cirúrgico.

362 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 34 – Fisiatria em lesões do joelho

Figura 17 – Exercício em pista de cavaletes, posiciona- Figura 18 – Exercício em pista de cavaletes, posicionados
dos de forma diagonal, para aumento de amplitude de de forma paralela e com altura um pouco abaixo da altura
movimento e equilíbrio do paciente, para que o mesmo possa passar embaixo

O tratamento conservativo, quando ne-


cessário, é indicado em cães de pequeno
porte com peso inferior a 15 kg ou quando
não estão aptos para realização do proce-
dimento cirúrgico, por exemplo animais
geriátricos, cardiopatas, endocrinopatas
não compensados, etc 12.
Consiste em restrição das atividades fí-
sicas, redução de peso quando os animais
são obesos, uso de medicações como anti-
inflamatórios não esteroidais e condropro-
tetores 72. Outra opção no tratamento
conservativo é uso de bandagem e restri-
ção de movimento associado ao confina-
Figura 19 –Exercício ativo em pista com formato em 8 para transferência
de peso, equilíbrio e coordenação motora mento no período de 4 a 8 semanas 11.

Figura 20 – Esteira aquática com aclive Figura 21 – Esteira aquática para pequenos animais

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 363


Capítulo 34 – Fisiatria em lesões do joelho

Para o controle analgésico é indicada crioterapia, TENS de ganho de flexibilidade na tentativa de minimizar os
e laserterapia. O uso do ultrassom e da magnetoterapia para danos causados pela mudança da biomecânica do paciente.
estimulação de fibrose periarticular e prevenção da osteoar- Exercícios terapêuticos como pistas de obstáculos com
tose pré-estabelecida também é recomendado. baixa altura, figura em oito, atividades de instabilidade e
Alongamentos e exercícios ativos são utilizados para o de incentivo a descarga de peso são ótimas ferramentas
estimulo do apoio. O NMES se faz necessário no protocolo para ganho da flexibilidade e manutenção da mesma.
para fortalecimento de quadríceps femoral, tibial cranial, Além disso, a contratura e hipotrofia de flexores tam-
semimenbranoso, semitendinoso assim como bíceps e gas- bém merecem a atenção do fisiatra, que podem ser traba-
trocnêmico. lhados nas atividades citadas acima. O uso da esteira
Exercícios de propriocepção e equilíbrio são necessários aquática nessa situação é bem-vindo, pois o relaxamento
para devolver ao paciente a autoconfiança, consciência cor- muscular causado pelo aquecimento da temperatura da
poral e fortalecimento periarticular. A esteira aquática per- água possibilita a musculatura trabalhar mesmo que em
mite um fortalecimento de todo grupo muscular do membro menor capacidade.
sem que haja danos por sobrecarga. O alongamento da articulação acometida é contraindi-
A mensuração da perimetria deve ser realizada sema- cado pela estabilização cirúrgica e manutenção dos implan-
nalmente. Se não ocorrer o aumento esperado da perimetria, tes que conferem a consolidação óssea. Porém, as demais
o protocolo deve ser mudado ou a estratégia reavaliada. articulações e membro contralateral necessitam do cuidado
A eficácia do tratamento conservativo é melhor obser- de alongamento e fortalecimento.
vada quando associada a programas de controle do peso ou
tratamento do sobrepeso. A obesidade, além de gerar so- Lesão meniscal
brecarga nas articulações, é considerada uma doença infla- Os meniscos têm a função de transmissão de carga,
matória com consequências nocivas ao paciente 101. absorção de energia, suplementação da estabilidade rota-
cional e varo-valgo, além da lubrificação articular e manu-
Ruptura do ligamento cruzado caudal tenção da congruência de sua superfície 86.
A lesão do ligamento cruzado caudal de forma isolada As rupturas de menisco em cães podem ocorrer de
é rara. Alguns autores alegam que um nivelamento da tíbia forma isolada, mas geralmente estão associadas à ruptura
errôneo pode causar sobrecargas ao ligamento cruzado do ligamento cruzado cranial, estando presente na grande
caudal predispondo a sua ruptura 75,76. Os relatos mais fre- maioria dos casos. Quando não há correção cirúrgica da
quentes desta lesão são os casos de trauma como: atrope- ruptura do ligamento ocorrem processos degenerativos crô-
lamentos, brigas, quedas nos quais ocorre não só a ruptura nicos, nesses casos, a ruptura dos meniscos se torna mais
do ligamento cruzado caudal como também das demais es- frequente 16,41,74. A lesão do menisco medial é mais comu-
truturas adjacentes como os ligamentos colaterais. mente observada quando comparada ao menisco lateral 44.
O tratamento cirúrgico da ruptura do ligamento cruzado Os meniscos são importantes para a manutenção da fun-
caudal é através de técnicas extracapsulares, já citadas an- ção articular, pois previnem a sua degeneração. Sendo
teriormente. Quando há ruptura de ligamentos colaterais assim, a sua remoção (meniscotomia) deve ser evitada sem-
associado a ruptura do ligamento caudal se faz necessária pre que possível. Técnicas reparativas, como suturas, im-
a artrodese desta articulação. plantes absorvíveis, próteses sintéticas e transplante de
A artrodese é considerada um procedimento invasivo e aloenxerto meniscal, são procedimentos preconizado 73.
agressivo. Por isso, o controle analgésico pode e deve ser Após a meniscotomia observam-se: sensibilidade ao
realizado através da crioterapia e eletroterapia. A fototera- toque, efusão articular, diminuição do tônus articular e da
pia além do alivio da dor e inflamação, acelera a cicatriza- força, aderência do tecido cicatricial e perda da ampli-
ção dos tecidos e diminui o edema. A laserterapia pode ser tude do movimento 88. A fisioterapia imediata é indicada 42.
utilizada com intuído de controle do quadro inflamatório e A fisioterapia da meniscotomia é normalmente realizada de
estimulo de consolidação óssea, contando que o fisiatra não maneira simultânea as correções de ruptura do ligamento
aplique o laser na região do implante para que não ocorra cruzado. Seu protocolo se torna semelhante ao citado an-
reflexão da luz. teriormente. Cuidados em relação a movimentação articular
O campo magnético pode ser colocado no protocolo para ganho de amplitude são preconizados 38.
para o auxílio da consolidação óssea, analgesia e relaxa- Estudos comprovam que, após a meniscotomia, os pa-
mento muscular, fornecendo maior conforto ao paciente cientes apresentam como complicação pós-operatória o dé-
para realização dos exercícios terapêuticos. ficit proprioceptivo 45. Essa particularidade pode ser
Uma das consequências da artrodese é a mudança de justificada pelos mecanismos receptores presentes nos me-
deambulação e biomecânica do paciente. Ocorre abdução niscos responsáveis pelas funções proprioceptivas 33. Tal
exacerbada do membro, que por sua vez reflete na articula- observação torna os exercícios de treino proprioceptivo ob-
ção coxofemoral fazendo com que seja sobrecarregada. Por rigatórios no protocolo fisioterápico.
este motivo, a mobilidade e aderências de tecidos moles, Quando técnicas reparativas de meniscos são realizadas
da articulação do quadril, também devem ser tratadas a fim ocorrem mudanças importantes no protocolo de reabilitação.

364 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 34 – Fisiatria em lesões do joelho

Objetivando a preservação e proteção do menisco, é preciso pode ser explicado pela sua capacidade de adaptação, maior
ter cautela no emprego de exercícios que promovem a des- flexibilidade e menor peso 46.
carga de peso. A luxação patelar lateral representa uma menor porcen-
As técnicas reparativas não são rotineiras na medicina tagem dos casos: 13% 44. A afeção bilateral ocorre em cerca
veterinária. Se o tratamento conservativo for escolhido, de 20-25% dos pacientes 80. Ainda que por muitos anos se
devem ser realizados protocolos analgésicos, anti-inflama- tenha associado a luxação patelar medial a raças pequenas
tórios e de atividades assistidas pelo fisiatra. ou toy, e a luxação patelar lateral a raças grandes ou gigan-
A analgesia em primeira instância pode ser realizada tes, sabe-se hoje que a luxação patelar medial predomina
pela eletroterapia analgésica sendo potencializada com o em todos os portes e raças caninas 4,44,78.
poder anti-inflamatório e analgésico da fototerapia. O tratamento da luxação patelar pode ser conservativo
Estímulos reparadores e anti-inflamatórios também ou cirúrgico, dependendo do grau apresentado pelo pa-
podem ser adquiridos através da laserterapia tendo como ciente, o qual varia entre I, II, III e IV.
alvo os meniscos. O campo magnético quando colocado ao Sendo o grau I a luxação patelar intermitente ocasional-
redor da articulação provém a qualidade articular, viscosi- mente faz com que o animal claudique. A patela luxa-se fa-
dade do liquido sinovial e ainda diminui a evolução da cilmente de maneira manualmente durante a extensão
doença articular degenerativa pré-estabelecida. completa do joelho, porém retorna a tróclea quando libe-
Exercícios terapêuticos são necessários no protocolo fi- rada. O grau II, ocorre de forma mais rotineira com sinais
siátrico. Porém, uma ressalva deve ser feita: a pressão exer- de claudicação intermitentes e suaves. A patela luxa-se
cida principalmente sob o menisco medial no movimento com facilidade especialmente quando o membro é rotacio-
da flexão do joelho. Essa pressão se torna maléfica quando nado (internamente quando ocorre a luxação medial e ex-
realizada de forma exagerada no período de cicatrizarão ternamente para luxação lateral), enquanto a patela é
dos meniscos. empurrada 79.
No primeiro momento, a mobilização articular com res- A luxação patelar grau III, a patela encontrasse perma-
trição de amplitudes de movimento juntamente com eletro- nentemente luxada, com torção e rotação da tíbia e desvio
terapia pode ser utilizado. Posteriormente, o estímulo de da crista tibial mais evidente. Mesmo que a luxação não
descarga de peso pode ser instituído no protocolo de forma seja intermitente, muitos animais usam o membro com o
mais branda e de realização, como por exemplo, o paciente joelho mantido em posição semiflexionada. Já no grau IV,
em pé realizando a atividade em cadeia fechada durante a considerado o mais severo, a tíbia encontra-se bastante ro-
eletroterapia. tacionada e a crista tibial pode exibir maior desvio. A patela
Exercícios terapêuticos são necessários para saúde arti- encontra-se permanentemente luxada, localizada acima do
cular e cicatrização do menisco, nesse caso os exercícios côndilo medial quando medial, e um ´´espaço´´ pode ser
proprioceptivos devem constar no protocolo em todas as palpado entre o ligamento patelar e a extremidade distal do
fases da reabilitação, sendo realizados através de solos ins- fêmur. O animal pode se arrastar quando acometido bilate-
táveis como: pranchas, espumas, bolas de borrachas ou ralmente ou se unilateral. Ou então o animal se move em
mesmo a pista de propriocepção. posição agachada, com os membros parcialmente flexio-
A flexão do joelho juntamente com a sobrecarga articu- nados 79
lar deve ser evitada. Por esse motivo os exercícios como
saltos, apoio em apenas dois membros, pistas de obstáculos Tratamento conservativo
com alturas mais elevadas são contraindicadas na fase ini- O tratamento conservativo tem como objetivo recuperar
cial da reabilitação. A hidroterapia se mostra eficiente por a funcionalidade do membro como consequência o surgi-
diminuir a sobrecarga articular, além de promover fortale- mento e evolução da osteoartrose.
cimento da musculatura e ainda nos permite um maior con- As luxações patelares de grau I e II tratadas de forma
trole do movimento. conservativa têm como objetivo diminuir a distrofia mus-
cular através da correção da hipotrofia com encurtamento
Luxação patelar do músculo, fortalecer o quadríceps femoral, diminuir o
A luxação de patela, por definição, é o deslocamento processo inflamatório e estimular a perda de peso se ne-
patológico da patela em relação ao sulco troclear 54 podendo cessário.
ocorrer no sentido medial, lateral ou mesmo bilateralmente. São indicados estímulos com o NMES em cadeira fe-
Na maioria dos casos é considerada uma afecção de caráter chada para o recrutamento de musculaturas que necessitam
hereditário, porém, também observamos a ocorrência da de fortalecimento e posicionamento da patela no sulco tro-
luxação patelar traumática 55,95. clear durante a execução de qualquer modalidade na fisiote-
A luxação patelar medial de origem hereditária repre- rapia de luxação de patela. Na luxação de patela medial,
senta mais de 80% dos casos diagnosticados em cães 90, o fortalecimento do vasto lateral se faz obrigatório, devendo-
sendo também o tipo mais comum em felinos. Os felinos se atentar ao reestabelecimento conjunto do vasto medial
ainda representam uma pequena porção dos pacientes que que se encontra hipotrofiado e encurtado. Alongamentos,
buscam a fisioterapia como meio de reabilitação, este fato massagens, fototerapia, laserterapia e uso do ultrassom

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 365


Capítulo 34 – Fisiatria em lesões do joelho

terapêutico são indicados para musculaturas hipoatrofiadas, isométricos são mais indicados. No pós-operatório imediato
normalmente contralaterais a luxação patelar, seguido de os passeios de maior duração não devem ser indicados.
exercícios isométricos através de bolas suíças, pranchas e Para reduzir as complicações pós-operatórias, são indi-
discos. Podendo ser usados de forma isolada ou em con- cados apenas exercícios de baixo impacto com assistência
junto com o objetivo de aumentar a resistência da muscu- do fisiatra. Durante o exercício cabe ao fisiatra verificar a
latura, ligamentos e tendões. Outros exercícios terapêuticos correta inserção da patela no sulco troclear e caso seja ne-
podem ser realizados quando o membro já tiver reestabe- cessário deve-se evitar a sua luxação utilizando auxílio ma-
lecido a biomecânica fisiológica, exemplo destes podemos nual. Por apresentar baixo impacto, a esteira aquática é
citar a pista de cavaletes, desenvolvimento em 8 e subida indicada no início da reabilitação. Conforme a evolução do
de pequenas inclinações. A utilização da esteira aquática paciente pode-se empregar exercícios de maior dificuldade
com elevação de amplitude e manutenção do nível da água no solo. O estímulo do apoio associado à movimentação
também é indicada para maior fortalecimento e retorno da articular melhora a consolidação óssea. A magnetoterapia,
função do membro como um todo. a fototerapia e o ultrassom terapêutico podem ser utilizados
como coadjuvantes.
Tratamento cirúrgico
Pacientes com grau II de luxação que não respondem Avulsão da crista tibial
ao tratamento conservativo e ainda apresentam desconforto A avulsão da crista tibial é um tipo de fratura normal-
e claudicação são candidatos ao tratamento cirúrgico. mente observada em filhotes. Em sua maioria é secundá-
Assim como todos os pacientes que apresentam grau III e ria a episódios traumáticos. A fratura ocorre na linha de
IV. Os objetivos do procedimento cirúrgico são a estabili- crescimento e tem como consequência o deslizamento pro-
zação da patela 77, a correção das deformidades ósseas, o ximal e cranial da crista da tíbia impossibilitando a exten-
realinhamento do membro 38, além do restabelecimento da são do membro 87.
função articular fisiológica 35,55. Quando o fragmento da fratura é pequeno pode-se ins-
Para a estabilização patelar, as técnicas mais utilizadas tituir o tratamento conservativo empregando-se o uso de
atualmente são a trocleoplastia e a osteotomia com trans- talas e pensos a fim de promover a imobilização. Já o tra-
posição da tuberosidade tíbia. A trocleoplastia permite a tamento cirúrgico se resume na fixação do fragmento atra-
modificação da forma e profundidade do sulco troclear 80, vés de banda de tensão 87.
preservando a cartilagem hialina articular 39,49. A transposi- A reabilitação no pós-operatório imediato se dá pelo em-
ção da tuberosidade tibial tem como objetivo o realinha- prego da crioterapia, limitação de movimento e exercícios
mento das estruturas articulares. Nesta técnica são de baixo impacto. Uma das principais complicações da
utilizados implantes metálicos 47. banda de tensão é a soltura do implante, por isso, salienta-
As complicações cirúrgicas mais frequentes incluem: se a importância de exercícios de baixa intensidade e re-
fratura do implante metálico, fraturas e avulsões de tube- pouso do paciente nos primeiros dias de pós-operatório.
rosidades tibiais 38, migração do enxerto 39, atraso na con- O acompanhamento radiográfico deve ser realizado de
solidação e falha na fixação dos implantes 30,37, 49. 3-4 semanas após o procedimento cirúrgico a fim de avaliar
Ocasionalmente, foram também identificadas como po- o grau de consolidação óssea e estabilidade do implante.
tenciais complicações, fratura da tíbia proximal ou do Em casos onde se observa uma boa consolidação pode-se
bordo troclear 51 e artrite séptica 18. aumentar o grau de intensidade dos exercícios promovendo
O conhecimento das intercorrências pós-cirúrgicas pelo maior fortalecimento muscular.
fisiatra facilita a escolha do melhor protocolo. O fecha-
mento da ferida cirúrgica pode ser estimulado pelo uso da Referências
fototerapia. A mobilização da articulação pode ser empre- 1-ALAM, M. R. ; LEE, J. I. ; KANG, H. S. ; KIM, I. S. ; PARK, S. Y. ;
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950X.2006.00189.x.
sobre as estruturas inseridas a ela. Desta forma deve-se ter
5-ARTHURS, G. I. & LANGLEY-HOBBS, S. Patellar luxation as a
cautela na escolha dos exercícios a serem empregados, complication of surgical intervention forthe management of cranial
pois a flexão total deve ser evitada. Logo, os exercícios cruciate ligament rupture in dogs - a retrospective study of 32 cases.

366 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 34 – Fisiatria em lesões do joelho

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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 369


35
Afecções do quadril

Arícia Gomes Sprada


Bruno Watanabe Minto

A
s afecções da articulação do quadril em cães e gatos Estudos tentam descrever os componentes genéticos en-
têm grande importância clínica na medicina vete- volvidos no desenvolvimento da afecção, entretanto ainda
rinária, especialmente pela alta casuística e poten- não são suficientemente precisos. Há descrição de suscep-
cial para disfunção articular grave. tibilidade genética em algumas raças 39,73-75. Os fatores am-
O quadril é considerado uma articulação sinovial com- bientais influenciam o desenvolvimento e progressão da
posta pela cavidade acetabular do osso pélvico e a cabeça displasia e desempenham papel crucial no aparecimento e
do fêmur. Mecanismos complexos envolvendo as superfí- gravidade da sintomatologia. Os principais são a obesidade,
cies ósseas da articulação e os tecidos moles periarticulares traumas repetitivos, sobrecarga de exercícios e suplemen-
são responsáveis pela estabilização da articulação que, ape- tação não controlada de cálcio e / ou vitamina D 62.
sar de permitir grande amplitude de movimento, é signifi- Os mecanismos fisiopatológicos são complexos e par-
cativamente estável. cialmente entendidos, entretanto a frouxidão articular, espe-
Neste capítulo serão abordadas as principais afecções cialmente derivada de alterações primárias e precoces do
que acometem o quadril do cão e do gato, com ênfase na- ligamento da cabeça do fêmur, é a primeira alteração patoló-
quelas com maior importância ou relevância clínica. Serão gica observada nos pacientes. Há, adicionalmente, relativa
discutidos os principais mecanismos fisiopatológicos das disparidade de crescimento entre as estruturas ósseas e de te-
afecções, bem como a inter-relação destes com as modali- cidos moles envolvendo a articulação coxofemoral. Como
dades de tratamento. consequência desenvolve-se incongruência articular, instabi-
Buscar-se-á correlacionar os mecanismos das afecções lidade e graus variados de inflamação articular e sinovial 64.
com os potenciais benefícios da reabilitação física. Acredita-se que, em gatos, os mecanismos de frouxidão
precoces sejam secundários e alterações morfológicas con-
DISPLASIA COXOFEMORAL gênitas possam desempenhar um papel primário importante.
A displasia coxofemoral (DCF) é a uma das principais Alterações predominantemente acetabulares são vistas em
doenças ortopédicas do cão, podendo apresentar incidência populações de felinos com displasia coxofemoral.
acima dos 40% em algumas raças ou populações de cães Os sinais clínicos relacionados com a displasia do qua-
estudadas 11. Enquanto que em gatos é considerada menos dril advêm das alterações morfológicas articulares e dos
frequente atingindo uma porcentagem de cerca de 6% até efeitos secundários da instabilidade, tais como a sinovite,
32% da população felina, dependendo da raça 32. Acredita- distensão capsular e doença articular degenerativa. No pa-
se, no entanto, que a taxa de DCF nesta espécie seja ainda ciente jovem, nas fases iniciais da afecção, predominam si-
maior, porém pouco diagnosticada 26,32. nais clínicos decorrentes da sub-luxação articular, sinovite
Com etiologia multifatorial e complexa, a displasia co- e microfraturas acetabulares. Predominam, nesta fase, a
xofemoral caracteriza-se pelo desenvolvimento anormal da claudicação (uni ou bilateral) de origem mecânica ou ál-
articulação, resultando em graus variáveis de incongruência gica, dificuldade de subir ou descer degraus e levantar-se,
e sub-luxação da cabeça femoral em relação ao acetábulo. intolerância ao exercício e alterações angulares entre outras
A instabilidade leva a diferentes intensidades de doença ar- anormalidades morfológicas dos membros pélvicos 47.
ticular degenerativa com o passar do tempo, o que culmina, Com a cronicidade desenvolve-se, progressivamente,
potencialmente, com a disfunção grave da articulação. doença articular degenerativa. Em cães adultos, os sinais
Acredita-se que cerca de 70% dos pacientes sejam tra- clínicos de rigidez articular, diminuição da amplitude do
tados de forma conservativa, diante da ineficácia das mo- movimento, anormalidade da marcha, atrofia muscular e
dalidades cirúrgicas disponíveis. Adicionalmente, o manejo dor crônica são queixas frequentes dos proprietários 47.
clínico dos pacientes é extremamente útil mesmo após a Nos felinos, os sinais clínicos tendem a aparecer entre
instituição do tratamento cirúrgico. Neste contexto, a rea- os três meses de idade até 3,5 anos. No entanto, normal-
bilitação física desempenha papel fundamental no controle mente estão mais associados à mudança de comportamento
dos sinais clínicos da doença, bem como na estabilização como hiporexia, apatia, agressividade e vocalização, do que
indireta do quadril. com os sinais clássicos de displasia apresentados pelos pa-
cientes caninos. Essa sintomatologia inespecífica torna o
Fisiopatologia diagnóstico desafiador. Sinais mais discretos de claudica-
A etiologia da displasia coxofemoral ainda não foi total- ção, atrofia muscular e anormalidades angulares podem
mente elucidada, sendo considerada multifatorial. Classica- ser identificados em felinos, na experiência do autor.
mente, há o envolvimento obrigatório de fatores genéticos
associados a fatores ambientais, considerados predisponen- Diagnóstico
tes, agravantes ou desencadeadores de sintomatologia. Na opinião dos autores deste capítulo, o diagnóstico

370 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 35 – Afecções do quadril – 1ª edição

definitivo da displasia coxofemoral pode ser mais desafiador 70-80º na abdução, 30-40º na adução, 50-60º na rotação in-
do que se descreve, pois, a apresentação fenotípica da terna e 80-90º na rotação externa 52.
afecção pode ser semelhante a outras doenças causadoras de Em felinos, os testes clínicos mais utilizados são o de
osteoartrose do quadril, tanto em cães quanto em gatos. Con- Ortolani e a mensuração da amplitude de movimento arti-
sidera-se importante a identificação da frouxidão articular cular. Nesses pacientes, a abdução do membro parece ter
nas fases iniciais da afecção, por meio de ferramentas de maior valor clínico, pois normalmente incita grau maior de
diagnóstico diretas ou indiretas, e a identificação dos efeitos sensibilidade dolorosa quando comparado à flexão e exten-
dos mecanismos fisiopatológicos e a respectiva apresentação são. Em gatos saudáveis o grau de abdução é próximo ao
clínica. Dessa forma obtêm-se melhores subsídios para a to- do cão, podendo chegar a até 90º 33. Assim como em cães,
mada de decisão no manejo terapêutico e preventivo. o teste de Ortolani pode apresentar-se falso negativo, prin-
Alguns testes clínicos podem ser aplicados durante o cipalmente em animais tensos, devido à contração muscu-
exame físico para auxiliar o diagnóstico. Pelas caracterís- lar. Nesses casos, é indicada sedação 57.
ticas fisiopatológicas da afecção, as manobras para averi- Classicamente, a displasia coxofemoral é diagnosticada
guação de instabilidade articular são mais informativas em segundo avaliação radiográfica em pacientes esqueletica-
pacientes jovens, enquanto que a detecção de sinais de os- mente maduros, entretanto estudos recentes levantaram im-
teoartrite é esperada em animais esqueleticamente madu- portantes limitações. A principal delas é a falta de
ros. Testes como o de Ortolani, Bardens e Barlow auxiliam consonância entre a gravidade e intensidade de sinais clí-
na detecção de frouxidão articular, porém o resultado ne- nicos e os achados radiográficos de projeções ventrodorsais
gativo não exclui a presença de instabilidade. da pelve 21.
Os sinais de osteoartrose mais comuns são a crepitação O exame radiográfico permite avaliar de forma direta a
durante a palpação da articulação, dor e diminuição da am- congruência da articulação, principalmente por meio da
plitude de movimento 20. Com o auxílio de um goniômetro avaliação do grau de subluxação da cabeça femoral, o de-

R
é possível realizar um exame menos subjetivo, porém di- senvolvimento da borda cranial e dorsal do acetábulo e evi-
ferenças raciais e de idade devem ser consideradas. Em dências de frouxidão articular (Figura 1). Os colégios de
cães, os padrões de amplitude da articulação coxofemoral radiologia veterinária padronizam normas para o diagnós-
pré-definidos são de 70-80º na flexão, 80-90º na extensão, tico da displasia coxofemoral, entretanto diversas variações

A B

Figura 1 – A) Imagem radiográfica em projeção ventrodorsal do quadril de cão, SRD, 2 anos, apresentando sinais ra-
diográficos sugestivos de incongruência articular. B) Imagem radiográfica em projeção ventrodorsal do quadril de cão,
rottweiler, 8 anos, apresentando osteófitos periarticulares, acetábulos rasos, e deformação da cabeça e colo femorais.
Sinais sugestivos de incongruência articular grave com sinais secundários de doença articular degenerativa

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 371


Capítulo 35 – Afecções do quadril – 1ª edição

são observadas. A idade mínima estipulada para a avaliação Há uma variedade muito grande de opções terapêuticas
definitiva dever ser de 24 meses, podendo haver uma ava- descritas para pacientes com osteoartrose ou frouxidão do
liação preliminar aos 12 meses. O paciente deve estar se- quadril, cada uma delas apresentando vantagens e desvan-
dado ou sob anestesia geral para permitir o correto tagens e indicações específicas de acordo com o estágio da
posicionamento. A projeção ventrodorsal com os membros doença. Tradicionalmente, as modalidades terapêuticas são
pélvicos estendidos é a classicamente utilizada. Os critérios classificadas em conservadora e cirúrgica. Porém, com o
de avaliação adotados pelo colegiado incluem a congruên- avanço do entendimento da doença esta classificação tor-
cia entre a cabeça femoral e o acetábulo, espaço intra-arti- nou-se antiquada. Atualmente, como citado acima, preza-
cular, cálculo do ângulo de Norberg e presença de sinais se por uma abordagem multimodal, onde clínicos,
osteoartróticos. Dentro desses fatores a displasia pode ser cirurgiões e fisiatras atuam conjuntamente a fim de garantir
classificada como ausente, leve, moderada ou severa 19. melhores resultados. Neste capítulo são abordadas as prin-
No entanto, esta técnica convencional de diagnóstico cipais modalidades de tratamentos em tópicos para melhor
tem mostrado limitações. Em estudo realizado com radio- compreensão do leitor.
logistas, a interpretação dos resultados de imagens com
cães displásicos e não displásicos teve uma repetibilidade Fármacos analgésicos e anti-inflamatórios
de dados de apenas 72% 67. Isto é, em aproximadamente O tratamento medicamentoso, geralmente, baseia-se na
30% dos diagnósticos não houve concordância entre os ob- administração de fármacos opióides ou anti-inflamatório
servadores. Estes resultados preocupam tendo em vista o não esteroidais (AINES) com o objetivo de controlar a dor
caráter subjetivo das avaliações. e desconforto articular. Em casos leves e fases iniciais de
Outras técnicas foram desenvolvidas para tornar o diag- frouxidão, o uso desses medicamentos como único método
nóstico de displasia coxofemoral mais acurado, dentre elas de tratamento pode ser considerado. Entretanto, com a pro-
o método Penn Hip 19. Este método avalia a frouxidão arti- gressão da doença e a iminente adição de outras fontes cau-
cular através de três planos radiográficos promovendo dis- sadoras de sintomatologia, o uso isolado e crônico destes
tração, compressão e extensão do quadril. A compressão fármacos pode tornar-se insatisfatório 1,17.
permite a visualização da congruência articular, a extensão É importante considerar que os pacientes com frouxidão
obtém informações quanto a existência de osteoartrose, en- ou osteoartrose do quadril podem apresentar fontes diversas
quanto que a distração possibilita quantificar a frouxidão ar- de sintomatologia e, muitas delas não são de origem infla-
ticular, por meio do índice de distração. Este valor matória ou álgica, tais como os desvios angulares, as arti-
representa a distância entre o centro da cabeça do femoral culações luxadas e as contraturas e atrofia muscular. O
até o centro do acetábulo divido pelo raio da cabeça femoral. médico veterinário deve estar apto a identificar e diferen-
Índices inferiores ou iguais a 0,3 são atribuídos a cães nor- ciar tais fontes, para que seja estabelecida a forma mais efe-
mais. Valores acima de 0,3 representam animais poten- tiva de controle como mínimo efeito adverso.
cialmente displásicos 65.
Agentes nutracêuticos
Tratamento Os agentes nutracêuticos vêm ganhando atenção da co-
Apesar de mais de 70 anos desde a primeira descrição munidade científica veterinária nas últimas décadas, espe-
veterinária documentada da afecção, nenhuma forma de tra- cialmente pelas suas propriedades na prevenção de doenças
tamento é considerada ideal ou curativa. Na atualidade, al- e auxílio no seu controle, diminuindo doses de medicamen-
guns conceitos novos têm sido discutidos sobre o tratamento tos e reduzindo o tempo de tratamento. A glicosamina e a
da displasia coxofemoral em cães e gatos. O primeiro deles condroitina representam os agentes nutracêuticos mais uti-
refere-se ao fato de que seria mais correto denominar-se de lizados na medicina veterinária. Ambas estão envolvidas
controle e não de tratamento propriamente dito, uma vez no metabolismo da cartilagem hialina, contribuindo na pro-
que se busca, independente da modalidade utilizada, con- teção e estimulação de produção de colágeno 51,53,71. Há, no
trolar a sintomatologia ou os efeitos secundários da afecção, entanto, grande debate a respeito do real papel e ação dos
ou ainda prevenir o agravamento ou progressão das altera- nutracêuticos no tratamento de doenças como a displasia
ções patológicas e, consequentemente, dos sinais clínicos. coxofemoral. Resultados de pesquisas realizadas em ani-
Uma segunda questão defendida pelos autores deste ca- mais parecem ser conflitantes, não havendo, até o mo-
pítulo é que o controle da afecção deve, de forma manda- mento, consenso sobre sua eficácia.
tória, ser multimodal, envolvendo diversas modalidades de Em ensaio clínico duplo-cego com 71 cães apresentando
atuação terapêutica, preventiva ou ambas. sinais clínicos e radiológicos de osteoartrite comparou-se o
Diferentemente de outras afecções ortopédicas, a dis- tratamento de três grupos: Anti-inflamatório, Glicosamina
plasia coxofemoral é fortemente dependente das modali- e Condroitina e placebo. Os autores não reportaram melhora
dades de controle não cirúrgicas ou conservativas. As estatisticamente relevante nos grupos tratados com os agen-
características fisiopatológicas da afecção e a inexistência tes nutracêuticos e placebo 50. No entanto, alguns autores
de procedimentos cirúrgicos curativos coloca em evidência questionam resultados de análises a curto prazo, tendo em
o manejo não cirúrgico. vista o efeito tardio dos nutracêuticos 25. Em outro estudo

372 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 35 – Afecções do quadril – 1ª edição

clínico com 42 cães, também duplo cego, avaliando a res- seguir) podem representar a melhor opção em casos graves,
posta ao tratamento da osteoartrite utilizando dois grupos: nos quais as modalidades terapêuticas ou de controle con-
sulfato de condroitina e glicosamina e outro grupo rece- servativas não são mais efetivas.
bendo apenas carprofeno observou-se que no grupo em que Com isso, é importante ter em mente que o tratamento
o anti-inflamatório foi administrado houve melhora em cirúrgico não deve ser a escolha inicial, salvo raras exce-
todos os parâmetros, enquanto que o grupo tratado com nu- ções. O manejo clínico multimodal deve ser o de primeira
tracêuticos obteve melhora da claudicação e mobilidade de escolha e, sempre estará presente.
forma tardia 49. Estudos clínicos controlados com análises De uma forma geral, as modalidades cirúrgicas envol-
objetivas a longo prazo devem ser explorados a fim de elu- vidas com o controle da displasia coxofemoral mais utili-
cidar a eficácia e efeitos destes agentes. zadas na atualidade podem ser divididas em: técnicas
preventivas de estabilização indireta, as de alivio de dor e
Manejo as de salvamento.
A natureza multifatorial da displasia do quadril impõe Não há consenso sobre qual técnica cirúrgica é a mais
grande responsabilidade aos fatores ambientais no desen- indicada. Esta escolha normalmente é baseada em diversos
volvimento e agravamento dos sintomas decorrentes da fatores, tais como idade, grau da doença, doenças conco-
frouxidão ou osteoartrose. Diversos estudos comprovam o mitantes, riscos e cuidados pós-operatórios, questão finan-
papel da obesidade e do excesso de atividades físicas em ceira do proprietário e capacidade técnica e de equipamento
pacientes com osteoartrose 18. Com isso, acredita-se que o da equipe cirúrgica. A identificação das fontes causadoras
controle destes fatores seja crucial no manejo terapêutico de sintomatologia e dos principais mecanismos fisiopato-
dos pacientes. A obesidade é preocupação global em seres lógicos envolvidos em cada caso é crucial na tomada de
humanos e animais. O número de cães obesos é estimado decisão. De maneira geral, o principal objetivo do manejo
em 25% da população geral 14,48. Em felinos, cerca de 14% cirúrgico é melhorar a qualidade de vida dos pacientes, por
dos pacientes com displasia coxofemoral estão acima do meio de alívio de dor, melhora da estabilidade articular e
peso 10. Acredita-se que o sobrepeso leva a um estresse me- consequente redução da velocidade e intensidade de pro-
cânico aumentado nas articulações, causando ou favore- gressão da doença articular degenerativa.
cendo as degenerações articulares. Esta hipótese é suportada As principais técnicas cirúrgicas utilizadas na medicina
por publicações nas quais se observam melhores resultados veterinária na atualidade são:
radiográficos e clínicos após a perda de peso em animais • sinfisiodese púbica juvenil;
com sobrepeso e osteoartrite do quadril 27. Com a redução • osteotomia tripla da pelve;
de cerca de 25% do peso corpóreo e avaliações ao longo • denervação acetabular seletiva (DAS);
de 5 anos foi possível observar menor frequência e menor • excisão da cabeça e colo femorais (ECCF);
progressão da osteoartrose em cães 31. Além disso, a redu- • prótese total do quadril.
ção de 11 a 18% do peso corporal resultou em uma melhora
considerável na deambulação desses pacientes 27. Esses re- Sinfisiodese púbica juvenil
sultados mostram que é possível obter melhora do quadro É considerada uma técnica preventiva de estabilização
clínico e, consequentemente, da qualidade de vida por meio indireta do quadril. Ela promove uma alteração no padrão de
da redução do peso corporal apenas balanceando a alimen- crescimento da pelve, de modo que as cabeças femorais pos-
tação dos pacientes. sam ter melhor cobertura acetabular durante o crescimento
A implementação de exercícios diários e enriqueci- do paciente. O procedimento cirúrgico é simples e minima-
mento ambiental também traz grandes benefícios para a mente invasivo e consiste na interrupção de crescimento da
saúde dos animais displásicos. Além de auxiliar na perda sínfise púbica. Com isso, há a interrupção no crescimento
de peso, promovem o ganho de massa muscular, auxiliando desta linha enquanto o desenvolvimento dos ossos do ísquio
no controle da sintomatologia associada à osteoartrose 57. e ílio progridem, permitindo o crescimento lateralizado do
Em um estudo com 60 cães da raça golden retriever com aspecto dorsal da pelve e maior cobertura da cabeça do
displasia coxofemoral, foi possível correlacionar a prática fêmur pelo acetábulo 46,68. A sinfisiodese púbica juvenil está
de exercícios com a diminuição do grau de claudicação 23. indicada para cães com 15 a 20 semanas de idade que apre-
sentem alto risco de displasia coxofemoral. A partir desta
Cirurgia idade não haverá benefícios com a sua realização. A deter-
Por muitos anos acreditou-se que a displasia coxofemo- minação do índice de distração, como é feito pelo Método
ral deveria ser tratada por meio de uma técnica cirúrgica de PennHip 65, representa a forma mais efetiva de tomada de de-
estabilização articular, por mecanismos diretos, indiretos cisão quanto à realização desta técnica cirúrgica.
ou ambos. Entretanto, sabe-se que nenhuma delas é capaz Em um estudo com 39 filhotes de 12 a 24 semanas
de restaurar as características anatômicas e fisiológicas nor- enquadrados no grupo de risco para displasia coxofemo-
mais do quadril, levando a inexistência de técnica cirúrgica ral, evidenciados pelo índice de distração acima de 0,4 e
ideal ou curativa. teste de Ortolani positivo, foram submetidos à sinfisiode-
Por outro lado, as técnicas de salvamento (discutidas a se púbica e acompanhados, em média, durante dois anos.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 373


Capítulo 35 – Afecções do quadril – 1ª edição

Os resultados observados foram melhoras significantes do Excisão da cabeça e colo femorais (ECCF)
ângulo acetabular (31%), ângulo de cobertura dorsal do A ECCF é um procedimento de salvamento articular e
acetábulo (38%) e do índice de distração (41%). Os autores da função do membro pélvico, cujo objetivo é o alívio da
ainda enfatizam que a técnica traz maiores benefícios dor associado à osteoartrose grave e não responsiva a ou-
quando aplicada precocemente, entre 12 a 16 semanas, até tras formas de controle (Figura 2). Esta técnica foi des-
mesmo nos casos de frouxidão severa 12. crita há mais de quatro décadas e é empregada no
tratamento de outras afecções como a necrose asséptica
Osteotomia tripla da pelve da cabeça do fêmur, fraturas irreparáveis da cabeça femo-
Classificada como técnica semi-preventiva é destinada ral, colo ou acetábulo e luxações crônicas do quadril.
a cães entre 6 e 12 meses de idade que apresentem frouxidão Temporalmente, bons resultados foram descritos e, por
e incongruência do quadril, sinais clínicos, teste de Ortolani isso, ampla difusão da ECCF é observada na medicina ve-
positivo ou índice de distração acima de 0,3, porém sem ou terinária. Em um estudo com 127 proprietários os quais
com mínimo sinal radiográfico de osteoartrose 61. Esta téc- tiveram cães submetidos à ECCF, a taxa de satisfação pós-
nica baseia-se na alteração morfológica do posicionamento operatória foi de 93%. Outros estudos apresentaram re-
acetabular pélvico após a realização de três osteotomias, sultados semelhantes, tanto em cães de pequeno porte e
uma no púbis outras duas no ísquio e no ílio. O acetábulo é grande porte quanto em gatos 5,13. As complicações asso-
rotacionado, em diferentes graus, com o intuito de melhorar ciadas à ECCF incluem a encurtamento do membro, lu-
a cobertura da cabeça do fêmur. Uma placa óssea específica xação patelar, neuropraxia do nervo isquiático e
é aplicada sobre o ílio para manter a nova posição 46. diminuição na amplitude da articulação 55.
Estudos utilizando plataforma de força em cães displá- A prática clínica mostra que esses resultados podem
sicos tratados com OTP demonstram melhora na função do não ser os mesmos em cães pesados (acima de 20 kg) ou
membro avaliados 6 meses após a cirurgia. No entanto, aqueles com grave atrofia da musculatura pélvica. Resul-
apesar da função recuperada, a progressão da osteoartrose tados insatisfatórios foram observados na experiência prá-
é contínua e 40 a 100% dos cães submetidos a esta técnica tica dos autores deste capítulo quando a técnica foi
apresentam sinais radiográficos da progressão artrótica 24. realizada nestas condições. Faltam estudos os quais utili-
zam formas objetivas de análise da locomoção para deter-
Denervação acetabular seletiva (DAS) minar o real resultado pós-operatório da ECCF em cães
Essa técnica tem por objetivo o alívio da dor articular grandes e gigantes. Acredita-se que os pacientes enqua-
de cães e gatos com displasia do quadril, especialmente drados neste padrão ou ainda aqueles que os proprietários
aquela decorrente de distensão capsular. É considerada uma desejam função pós-operatória plena, tais como animais
técnica paliativa. A cápsula articular é inervada por ramos atletas ou de trabalho, devam ser submetidos à substituição
do nervo glúteo, isquiático e femoral na sua porção crânio- total articular.
dorsal. A DAS consiste na remoção seletiva desses ramos
por meio da curetagem periosteal na margem do acetábulo,
nas porções cranial e dorsal 22. A taxa de sucesso descrita
quando se considera melhoria da qualidade da marcha e re-
missão da dor articular é de 92% a 95% 16,17,34, entretanto
faltam estudos controlados e objetivos para uma avaliação
mais precisa e fiel da técnica. Como consequência, nota-se
também aumento da massa muscular, pelo retorno do uso
do membro. A técnica é considerada de simples execução
com baixas taxas de morbidade e complicações pós-opera-
tória e não exclui a possibilidade de aplicação de outras
técnicas cirúrgicas como a excisão da cabeça e colo femo-
rais ou a prótese total de quadril 34,35.
Vale ressaltar que a realização da DAS acompanha um
aumento abrupto de movimentação articular e consequente
elevação do estresse biomecânico do quadril, causando, po-
tencialmente, um agravamento dos mecanismos fisiopato-
lógicos decorrentes da instabilidade. Desta forma, os
autores deste capítulo consideram mandatória a instituição
de modalidades de reabilitação física previamente e poste-
riormente à realização da DAS. A grande vantagem desta Figura 2 – Imagem fotográfica demons-
conduta é a aquisição ou melhoria da estrutura física de su- trando cabeça e colo femoral após a res-
porte periarticular previamente ao aumento agudo de mo- secção cirúrgica em um paciente com
vimentação articular. displasia coxofemoral

374 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 35 – Afecções do quadril – 1ª edição

Prótese total do quadril Osteotomia intertrocantérica


A prótese total do quadril (PTQ) está descrita desde o Alguns cães displásicos apresentam um ângulo de in-
final os anos 60 e atualmente é considerada técnica bem clinação do colo femoral (>145º) e anterversão (>27º) aumen-
estabelecida no tratamento da disfunção grave do quadril. tados, contribuindo, assim, para a subluxação coxofemoral.
A PTQ promove o restabelecimento da função articular por A osteotomia intertrocantérica (OIT) tem por objetivo alterar
meio da substituição da cabeça e colo femorais e superfície a angulação, inclinação e aumentar o comprimento do colo
acetabular por componentes protéticos metálicos e plásticos femoral através da osteotomia em cunha na região do tro-
(polietileno de alta densidade). Diversos modelos e tipos cânter menor 3. Em alguns estudos retrospectivos 84 a 89%
de próteses foram descritos desde sua primeira utilização, dos cães submetidos a técnica apresentaram funcionalmente
sendo que muitos deles foram inspirados na técnica reali- variando de bom à excelente em um período de avaliação
zada em seres humanos. entre 2 a 3 anos pós-cirúrgico 7,8,70. Outro estudo no qual 29
De uma forma geral as próteses de uso veterinário OIT foram realizadas em 18 cães, não houve diferença es-
podem ser cimentadas ou não cimentadas. As primeiras tatística no exame físico pré e pós-operatório quanto dor à
foram utilizadas amplamente entre os anos 90 e 2000, en- palpação e claudicação, enquanto que observou-se aumento
tretanto vêm sendo progressivamente substituídas pelo uso significante de doença articular degenerativa nos exames
dos sistemas não cimentados, mais biológicos e duradouros, radiográficos 15. Esta técnica não tornou-se popular e rara-
com menores taxas de complicações. Os sistemas que não mente é utilizada.
dependem da utilização do cimento ósseo a base de polime-
tilmetacrilato são fixados sob pressão nos leitos previamente Acetabuloplastia
e precisamente preparados e apresentam a integração de A técnica de acetabuloplastia consiste na colocação de
suas superfícies externas com as superfícies ósseas internas, material sintético ou enxerto ósseo sobre a borda cranio-
fenômeno biológico conhecido como osteointegração. dorsal do acetábulo visando diminuir a instabilidade arti-
As próteses totais do quadril podem ser realizadas, a cular e subluxação da cabeça femoral 29.
princípio, em animais de qualquer porte ou peso corpóreo Polímeros biocompatíveis, enxerto ósseo autógenos
que sejam esqueleticamente maduros, apesar da existência e alógenos e cartilagem auricular bovina foram avaliadas
de relatos do uso de sistemas não cimentados em cães tão na implantação da técnica obtendo-se resultados varia-
jovens quanto seis meses de idade. A principal indicação dos 29,43,54,57,72.
da técnica é a osteoartrose debilitante, que não pode ser Alguns autores relataram taxa de sucesso de 97% com
controlada por outras modalidades terapêuticas. redução da dor e melhora da qualidade de vida dos pacien-
A taxa de sucesso da PTQ chega a 98% em cães de tes 72. No entanto, outros autores não obtiveram o mesmo
grande porte 55 e 92% em cães de pequeno porte e gatos êxito desaconselhando o emprego da técnica 72. A taxa de
submetidos à aplicação da microprótese do quadril 40. As sucesso maior ocorreu em animais entre 6 meses e 1 ano
principais complicações são luxações protéticas, soltura com melhora clínica dos pacientes. As complicações ob-
asséptica dos componentes, infecção, fratura do fêmur e servadas foram neuropraxia, seroma, fratura do implante e
afundamentos do componente femoral 69, e ocorrem em infecção 29. Esta técnica não tem sido mais utilizada na me-
cerca de 7,8 a 30% 55 dos casos. Durante a fase de recupe- dicina veterinária.
ração desses pacientes, a fisiatria tem importante papel no
retorno da função do membro. No entanto, é preciso res- NECROSE ASSÉPTICA DA CABEÇA DO FÊMUR
saltar o cuidado durante a manipulação da articulação pro- A necrose asséptica da cabeça do fêmur (NACF) é uma
tética, principalmente durante a abdução do membro, doença do desenvolvimento que acomete principalmente
evitando luxações e quebra dos implantes. cães de pequeno porte, caracterizada por alterações isquê-
Os sistemas cimentados e não cimentados para uso em micas progressivas da cabeça femoral. Ela está comumente
cães grandes e gigantes já se encontram disponíveis no Bra- associada à algumas raças, tais como o yorkshire terrier,
sil, enquanto que os sistemas micro e nano não são encon- west highland white terrier, chihuahua, dachshund, pins-
trados no país, dependendo de importação. cher e lhasa apso 36,63.
Sua incidência é baixa, entretanto, cerca de 2% dos
OUTRAS TÉCNICAS cães das raças pré-dispostas apresentam a doença 30. Os
Pectinotomia sinais clínicos iniciais normalmente ocorrem entre os 6
Consiste na transecção do músculo pectíneo. O músculo e 7 meses de idade e incluem dor articular e claudicação
pectíneo tem origem no púbis e se insere imediatamente progressiva, que pode ser intermitente e insidiosa ou sem
distal ao trocânter menor, se relacionando com a cápsula apoio do membro. Em apenas 16% dos casos os sinais
articular, atuando na adução do membro. A teoria mais são bilaterais e não há predileção de sexo 38. Os fatores
aceita é que a contratura do pectíneo, frequentemente as- etiológicos não estão bem estabelecidos, porém hipóteses
sociada à instabilidade do quadril, seja uma fonte relevante conduzem a fatores como trauma, desequilíbrio hormo-
de dor. A técnica, no entanto, não auxilia no controle da nal, fatores genéticos, conformação anatômica e infarto
instabilidade articular 6,9,71. ósseo 41, 42,56,58.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 375


Capítulo 35 – Afecções do quadril – 1ª edição

Fisiopatologia epifisárias e metafisárias e aumento do espaço articular


Durante a fase de crescimento, quando as linhas fisárias entre a cabeça do fêmur e o acetábulo 37.
encontram-se, a vascularização da cabeça do fêmur de-
pende exclusivamente dos vasos epifisários. Por motivos Tratamento
ainda não completamente elucidados, ocorre falha ao su- A NACF pode ser manejada de forma não cirúrgica, en-
primento sanguíneo epifisário, levando à isquemia e con- tretanto pouca efetividade é observada. Nesses casos,
sequente necrose da cabeça do fêmur. Inicialmente, apenas busca-se o remodelamento da cabeça femoral e estabiliza-
o tecido ósseo está envolvido. ção indireta com reforço de tecidos moles periarticulares.
Nas fases iniciais a sintomatologia e os sinais radiográ- Esta modalidade consiste de repouso, restrição de exercí-
ficos, quando presentes, podem ser discretos ou impercep- cios, administração de fármacos anti-inflamatórios não es-
tíveis. O uso contínuo do membro afetado pode ocasionar teroidais e analgésicos, e reabilitação física.
microfraturas e cavitações no osso subcondral, que por sua Infelizmente, menos de 25% dos cães apresentam reso-
vez contribuem para o colapso da cabeça femoral. Neste lução da claudicação 38. Os autores deste capítulo acreditam
momento é possível notar sinais radiográficos, especial- que o sucesso do tratamento conservativo esteja associado
mente a compactação do osso trabecular. A resposta vas- ao estágio da afecção. Quanto mais precoce o diagnóstico,
cular é iniciada na tentativa de reparo tecidual, maiores são as chances de um tratamento não cirúrgico ser
promovendo a formação de tecido fibrocartilaginoso. A bem-sucedido. Entretanto, é comum que os pacientes já
cartilagem articular é alterada diante da lesão ao osso sub- apresentem sinais avançados de osteoartrite quando diag-
condral e à presença de processo inflamatório, dando iní- nosticados, sendo necessária uma intervenção cirúrgica.
cio à osteoartrite 37. A técnica cirúrgica mais comumente realizada, e consi-
derada de eleição por muitos cirurgiões, é a excisão da ca-
Diagnóstico beça e colo femorais, principalmente por ser técnica de
Os principais sinais clínicos incluem dor à manipulação execução relativamente simples, baixo custo e bons resul-
do quadril, diminuição na amplitude de movimento articu- tados em cães de pequeno porte 55,59.
lar principalmente durante extensão e abdução, atrofia mus- Como citado anteriormente, quando se deseja função
cular e, em alguns casos, encurtamento do membro afetado articular plena, a substituição total da articulação do quadril
(quando unilateral). A claudicação costuma ser progressiva, por uma prótese pode ser a modalidade de tratamento ci-
podendo evoluir para o não apoio do membro pélvico. rúrgico mais indicada. Desde a introdução das micros e na-
O exame radiográfico é realizado em projeção ventro- nopróteses, em 2005, esta técnica tornou-se disponível para
dorsal com os membros pélvicos estendidos (Figura 3). Os cães de pequeno porte e gatos 28.
principais sinais radiográficos incluem: irregularidade da Em estudo com 14 cães com NACF com peso variando
superfície articular da cabeça femoral, esclerose das regiões entre 2,3 a 6kg submetidos à implantação de micropróteses,
todos apresentaram melhora na atividade física segundo os
proprietários. Outras avaliações objetivas como mensura-
ção da musculatura da coxa e placa de força foram positivas
e não houve diferença estatística nas análises quando com-
paradas ao membro contralateral sadio 28.

LUXAÇÃO COXOFEMORAL TRAUMÁTICA


A luxação coxofemoral (Figura 4A e 4B) corresponde
a 40 a 90% de todas as luxações traumáticas em cães e
gatos. Sua ocorrência está intimamente correlacionada a
traumas de alta energia tais como acidentes automobilísti-
cos, quedas, chutes e brigas. Em aproximadamente 50%
dos casos, a luxação não é a única lesão sendo fundamental
a pesquisa por traumas torácicos, abominais ou de outros
sistemas orgânicos. As luxações coxofemorais podem ser
classificadas em craniodorsais, caudodorsais, ventrocau-
dais, ventrocraniais e intrapélvicas, sendo as craniodorsais
predominantemente mais comuns 76.

Fisiopatologia
Há diferentes e variáveis mecanismos envolvidos no
Figura 3 – Radiografia de paciente com NACF bilateral.
deslocamento do quadril, entretanto, nas luxações cranio-
Cortesia de Fauna - Centro de Diagnóstico e Especialidades Ve- dorsais o impacto do trauma tende a concentrar-se na região
terinária do trocânter maior do fêmur, onde a energia do movimento

376 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 35 – Afecções do quadril – 1ª edição

mais curto. Crepitação e dor articular podem ser observa-


dos. Alguns pacientes podem apresentar-se com apoio do
membro afetado, entretanto claudicantes, após alguns dias
do deslocamento articular.
Para o diagnóstico definitivo são necessárias duas pro-
jeções radiográficas ortogonais a fim de se classificar o tipo
da luxação e identificar possíveis lesões concomitantes. O
diagnóstico preciso é mandatório para a tomada de decisão
terapêutica.

Tratamento
O manejo terapêutico e a tomada de decisão dependem
de alguns fatores tais como o tempo decorrido da luxação
e da presença de fatores complicadores como fraturas,
doença articular degenerativa e/ou displasia coxofemoral.
De uma forma geral, podemos dividir o tratamento em con-
servador ou cirúrgico. Os objetivos de ambos são reduzir a
articulação deslocada e mantê-la estável até a cicatrização
dos tecidos moles de sustentação.
Em pacientes recentemente traumatizados pode-se lan-
çar mão das modalidades menos invasivas de tratamento,
A as quais envolvem a redução fechada e aplicação de ban-
dagens de imobilização temporária. Em casos em que a
luxação ocorreu em menos de 72 horas e não há co-morbi-
dades envolvidas, a redução fechada pode ser a primeira
opção de tratamento. No entanto, é preciso orientar os pro-
prietários sobre as taxas de recidiva que podem chegar a até
71%. O paciente precisa estar anestesiado para realização
da manobra e, na maioria dos casos, a imobilização do
membro é necessária 45. Utiliza-se, para as luxações cranio-
dorsais, a bandagem de Ehmer durante 7 a 14 dias.
Considerando as altas taxas de recidivas após a redução
fechada, alguns cirurgiões preferem o tratamento cirúrgico
primariamente. Existem diversas técnicas descritas visando
B a redução e estabilização articular, entretanto, poucas se
tornaram populares. As técnicas intra-articulares são a téc-
Figura 4 – A) Imagem radiográfica em projeção ventrodor-
nica de pino em cavilha, estabilização com fáscia lata, trans-
sal de cão apresentando luxação coxofemoral craniodorsal
de membro pélvico esquerdo. B) Imagem fotográfica de
posição do ligamento sacrotuberal, pino transarticular e
cão com luxação coxofemoral apresentando encurtamento prótese total de quadril. As técnicas extra-articulares
do membro luxado incluem a capsulorrafia, técnica de capsula sintética,
transposição do trocânter maior, pino de Vita e sutura ílio-
é transmitida através do colo até a cabeça femoral. Há, trocantérica. A excisão da cabeça e colo femoral também
então, laceração da cápsula articular em sua borda dorsal, pode ser utilizada em luxações recorrentes e em casos de
ruptura do ligamento da cabeça do fêmur e danos às estru- fraturas da cabeça femoral, acetabular e presença de doença
turas de tecidos moles periarticulares. Tais alterações ocor- articular/displasia. A escolha da técnica cirúrgica varia de
rem em graus variáveis. A perda da estabilidade articular e acordo com a preferência do cirurgião 60. No Brasil, as mais
a força de tração da musculatura glútea levam ao desloca- realizadas são o pino em cavilha e a sutura ílio-trocantérica.
mento do fêmur em sentido dorsal e cranial. A técnica da cavilha baseia-se na substituição do liga-
mento redondo através da utilização de fios sintéticos e
Diagnóstico dispositivos metálicos (cavilhas). A redução da luxação é
Pacientes com luxação coxofemoral craniodorsal aguda obtida através da criação de dois túneis, um partindo do
geralmente apresentam claudicação sem apoio e perceptí- trocânter maior do fêmur em direção à fóvea da cabeça
vel rotação externa do membro afetado. No exame ortopé- femoral e outra na fossa acetabular em direção ao canal
dico é possível notar assimetria entre a topografia do pélvico (Figura 5). A cavilha é presa aos fios e introduzida
trocânter maior do fêmur e a tuberosidade do ísquio. Du- no túnel acetabular, ao alcançar o canal pélvico o dispo-
rante a extensão dos membros, aquele com a luxação estará sitivo é tracionado e os fios inseridos no túnel femoral.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 377


Capítulo 35 – Afecções do quadril – 1ª edição

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Capítulo 35 – Afecções do quadril – 1ª edição

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380 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


36
Fisiatria em lesões do quadril

Lisi Sharon
Sasha Eztala

N
este capítulo serão descritos os tratamentos fisiá- se acostume com o procedimento, deixando por último o
tricos de patologias de quadril, tanto tratadas de lado afetado 1,5,15. Uma mão passiva é sempre colocada na
forma conservativa como cirurgicamente. Os ob- parte proximal da articulação a ser mobilizada, o que man-
jetivos principais da reabilitação de quadril, são: terá o membro fixo, a segunda mão distal à articulação será
• modelar, aumentar a função e a massa dos músculos: glú- a mão ativa, que fará o movimento de flexão e extensão.
teos, bíceps femoral, quadríceps, semimembranoso, semi- Eles devem ser realizados de forma delicada, se for obser-
tendinoso, grácil e pectíneo. vada reação ou desconforto do animal, a amplitude do mo-
• melhorar a amplitude de movimento da articulação do vimento deve ser diminuída, já que isso indica dor.
quadril (principalmente), joelho e tarso (uma vez que serão Gradualmente deve-se aumentar o grau de flexão e exten-
secundariamente afetados pelo desuso). são 2. Eles devem ser medidos com um goniômetro a partir
• reduzir e modificar o impacto sobre a coluna vertebral e da primeira sessão e, em seguida, de duas a três semanas
membros torácicos, os quais serão afetados secundaria- para avaliar melhorias. Devemos começar com 5 repetições
mente. de PROM por dia e aumentar gradualmente até 15 repeti-
ções.
CASOS TRATADOS DE MANEIRA CONSERVATIVA
Em seguida serão descritos os exercícios indicados para Bicicleta passiva (Figura 1):
os casos que não serão manejados cirurgicamente, como a Em decúbito dorsal, lateral ou em estação, realize o mo-
displasia do quadril. vimento circular de 360 ° como se o animal estivesse pe-
Deve-se realizar atividades de curta duração (não mais dalando, suavemente para não causar dor 5,9,14.
de 10 a 15 min) várias vezes por dia (5-8 vezes).
Comer parado com correção da posição das patas
Exercícios passivos e/ou assistidos Cada membro é colocado no vértice de um retângulo
Massagem imaginário que se projeta no chão abaixo do animal, com
Massageie todo o corpo, começando pela cabeça, aca- as patas dianteiras à altura dos ombros e patas traseiras a
riciando ambos os lados do focinho; passando pela área su- altura do quadril. E cada vez que mantém essa posição se
perior dos olhos até a base das orelhas e de lá para a ponta recompensa verbalmente. Quando a postura correta é al-
das mesmas (isso irá produzir o relaxamento do animal, cançada se realizam os seguintes exercícios:
permitindo-nos continuar com o resto do corpo). Repete- Coloque pressão intermitente sobre o quadril em direção
se entre 5 a 10 vezes. Em seguida, proceda com uma suave ao solo, para produzir reação dos músculos do membro
carícia que começa a partir da cabeça, atravessando toda a contra a força exercida. (Figura 2). É importante certificar
parte traseira até a cauda. Posteriormente, se estende late- que o animal não apresenta dor antes do exercício.
ralmente em direção às costelas e flancos, terminando nas Passe o peso de um membro para outro, empurrando su-
extremidades, onde é realizada de proximal a distal. Repetir tilmente pela lateral do quadril. (Figura 3)
pelo menos 4 vezes. Em seguida, levante a
pele da área do pescoço em ambos os lados
das vértebras, deixando um espaço entre os
dedos, que deslizamos em direção a cauda
(em áreas de dor vertebral e/ou muscular pa-
ravertebral, a pele será mais difícil de levantar
e estará mais tensa, é aí que deve ser feito com
mais precaução e sensibilidade). Finalmente,
se massageia da cabeça para a cauda com dois
ou três dedos, de modo a seguir a linha para-
vertebral, nos músculos trapézio, espinhal, es-
plênio, longissimus dorsi, entre outros 4,7,11.

Passive range of motion (PROM)


Movimentos suaves de flexão e extensão
de cada articulação, começando com o animal
em decúbito lateral e pelos membros diantei-
ros para alcançar relaxamento e que o animal Figura 1 – Bicicleta passiva em decúbito dorsal

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 381


Capítulo 36 – Fisiatria em lesões de quadril

Figura 2 – Pressão sobre o quadril, em pé com correção Figura 4 – Transferência de peso para os membros pélvicos
da posição

Figura 3 – Transferência de peso lateral Figura 5 – Parado em três patas

Com ambas as mãos no quadril, traga o peso do animal atingir 60 segundos; repetir 5 a 10 vezes, duas vezes por
para os membros posteriores intermitentemente (Figura 4). dia e depois dar a pata sob a forma de saudação (Figura 6).
Após duas a três semanas, os membros torácicos podem
Assistência ao parar ser colocados sobre a bola de fisioterapia. (Figura 7).
Assistência ao parar para não sobrecarregar o membro
afetado (usando algum tipo de peitoral ou body sling para
membros pélvicos).

Parado em três patas

Elevar um membro por vez (começar com 5 segundos


aumentando gradualmente até chegar aos 60 segundos e re-
petir 5 a 10 vezes, duas vezes por dia). (Figura 5).

Parado em duas patas de forma ipsilateral e diagonal


Começar com 5 segundos aumentando gradualmente até
chegar aos 60 segundos; repetir 5 a 10 vezes, duas vezes
por dia.

Parado com ambos os membros anteriores sobre um


degrau 16 Figura 6 – Parado com os membros dianteiros sobre um
Começar com 5 segundos aumentando gradualmente até degrau

382 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 36 – Fisiatria em lesões de quadril

Figura 7 – Membros torácicos sobre a bola de fisioterapia Figura 8 – Figura de oito para ambos os lados

Exercícios ativos de que apoia a pata afetada, 6 vezes ao dia, começando por
Parado com os membros pélvicos sobre um disco/col- 5 minutos até chegar a 45 minutos, durante um período de
chão inflável um mês e meio.
Começar por 5 segundos aumentando gradualmente até
atingir 60 segundos, repetir 5 a 10 vezes, duas vezes por Caminhadas lentas e suaves em esteira
dia) 1,2,17. Começando por 5 minutos e ir aumentando gradual-
A partir da semana 4 pode ser colocado calor antes do mente. Sempre em baixa velocidade. Em seguida ir adicio-
exercício, apenas se não houver sinais de inflamação 18,19. nando inclinação.

Pista de cavaletes Hidroterapia com esteira aquática


Começando com pelo menos 5 obstáculos sobre o chão Se possível, a uma velocidade lenta com altura da água
e se deve ir aumentando a altura dos mesmos gradualmente no nível do ombro e do quadril 3,12. Começando com 5 min
cada semana até atingir o alto do tarso. A distância entre e aumentar gradualmente até chegar a 25 min. Então se
cada obstáculo deve ser três vezes o comprimento do ani- pode adicionar inclinação para o caminhante. Deve ser rea-
mal. Cada semana que passa se reduz o espaço entre os obs- lizado pelo menos duas a três vezes por semana. A partir
táculos progressivamente até chegar a metade do da semana 3-4 se pode começar gradualmente a aumentar
comprimento do paciente; repetir 5 a 10 vezes; duas vezes a velocidade, sempre e quando não houver sinais de dor ou
por dia 13. aumento do grau de claudicação 12. A partir da semana 9,
Circunferência para ambos os lados você pode começar com trotes, mas não deve haver sinais
Começando com diâmetro grande, cerca de 5 vezes o de dor ou claudicação (Figura 9).
comprimento do paciente. Cada semana o diâmetro da cir-
cunferência é reduzido; repetir 5 a 10 vezes; duas vezes por
dia.

Figura em oito para ambos os lados


Se começa com um diâmetro grande, aproximadamente
5 vezes o comprimento do animal, depois vai diminuindo
o diâmetro cada semana; repetir 5 a 10 vezes; duas vezes
por dia (Figura 8).

Caminhadas com guia curta e peitoral


Não é recomendável o uso de colar no pescoço. Deve
ser realizado a uma velocidade muito lenta, assegurando-se Figura 9 – Animal em esteira aquática

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 383


Capítulo 36 – Fisiatria em lesões de quadril

Sentar e levantar no mesmo lugar pode ser utilizada quando há sinais de inflamação aguda
Repetir 5 a 10 vezes; duas vezes por dia durante 10 se- durante 10 a 15 minutos. Após duas semanas, se necessário,
manas. se utiliza o calor sobre a articulação coxofemoral quando
não há sinais de inflamação, durante 20 minutos três vezes
Despertando ao dia. A magnetoterapia também é uma ferramenta útil no
O animal deve inclinar-se para a frente com os membros tratamento da dor e da osteoartrite.
dianteiros como se estivesse esticando-se, com as pernas Por sua vez se pode complementar com ultrassom em
traseiras apoiadas no chão. músculos pectíneos e iliopsoas, após a realização de
PROM, de forma contínua, não mais de 0,5 a 1,5 W/cm 2
Caminhadas sobre superfícies inclinadas ascendentes durante 10 minutos (depende do tamanho do animal e seu
Começando em 3-4 semanas; por 5 minutos e aumentar peso) 1 a 2 vezes por dia. Depois de exercitar utiliza-lo de
um minuto por dia até atingir 20 min. Uma vez por dia. forma pulsada 1W/ cm 2 por 15 minutos.
Para complementar os exercícios ativos, especialmente
Caminhadas em solos arenosos quando há atrofia muscular marcada, se utiliza NMES em
Começando com areia molhada ou à beira do mar com quadríceps e bíceps femoral 2-3 vezes por semana.
ambos os membros em contato com a água, a uma altura A terapia com laser é recomendada em casos de dor
que não passe da altura do carpo (começando por 5 minutos aguda, crônica e em casos de artrite. Se pode utilizar em
e gradualmente aumentando para 40 minutos por um pe- "trigger points" para produzir alívio de dor. Trate toda a ar-
ríodo de 3 semanas); depois em areia seca (começando por ticulação coxofemoral começando com o trocânter maior,
5 minutos e aumentando gradualmente a 40 minutos por depois mover-se para as faces cranial, medial e caudal da
um período de 3 semanas). articulação (8-10 J/cm 2). Normalmente, a zona lombossa-
cra e a musculatura do quadril apresentam dor por tentar
Caminhar para o lado compensar, então essas áreas também devem ser tratadas.
Colocamo-nos ao lado do animal e ir empurrando-o sua-
vemente para o lado para que avance lateralmente. Isso Caso particular
pode ser realizado na semana 10 e, em seguida, também Luxação coxofemoral
pode ser feito em uma subida (Figura 10). Depois de ter removido a atadura Ehmer, que perma-
nece durante duas semanas 10, deve-se evitar durante 15 dias
a realização de movimentos de rotação externa ou adução
do quadril. Se começa com caminhadas com correias de 5
minutos de duração e com PROM suaves. O resto dos exer-
cícios são como os mencionados anteriormente, mas é de
vital importância que todos sejam realizados apenas no
plano sagital do membro, de modo a não produzir uma
nova luxação. Ao mesmo tempo, deve-se ter cuidado para
não sobre exercitar o paciente, pois isso pode causar dor e
levar o animal a não querer usar o membro 8.

CASOS TRATADOS CIRURGICAMENTE


Os exercícios são semelhantes aos realizados nos casos
tratados de forma conservativa, mas serão detalhados os
cuidados particulares de cada cirurgia.

Crioterapia
Colocar frio em ambos os lados da ferida cirúrgica du-
Figura 10 – Caminhar para o lado
rante as primeiras 48 horas 18,19 durante 10 minutos, 3 vezes
ao dia, nunca sobre a mesma. Nos dias seguintes, quando
houver sinais de inflamação, colocar frio durante 10 minu-
Jogos com bola e escada tos após o exercício. Considerar que após 72 horas de ci-
Após 16 semanas você pode começar com jogos com rurgia se pode colocar calor, quando não houver sinais de
bola e subir e descer escadas com uma coleira, mas você inflamação aguda, para produzir analgesia. Utilizam-se bol-
deve continuar evitando os saltos. sas de água quente no quadril durante 20 minutos três vezes
Para o controle e manejo da dor se pode utilizar TENS por dia, se necessário.
na forma de estimulação segmental, especialmente em ani-
mais que não toleram o tratamento local, 1-2 vezes por dia Massagens
na área da articulação coxofemoral. A crioterapia também Após a massagem generalizada em todo o corpo explicada

384 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 36 – Fisiatria em lesões de quadril

anteriormente, massagear os grupos musculares periarticu- Sentar-se e manter-se no lugar


lares da área do quadril por pelo menos 10 minutos, exceto Aplicar a mesma técnica descrita para os casos tratados
nos casos de pós-cirurgia imediato. Executar movimentos de maneira conservativa.
suaves na área da ferida cirúrgica.
Despertando
Atividades passivas e/ou assistidas Aplicar a mesma técnica descrita para os casos tratados
Passive range of motion (PROM) de maneira conservativa.
Investir muito tempo nesses exercícios, especialmente
nas primeiras três semanas. Realizar suavemente, de tal Natação
forma que não haja desconforto ou dor. Aumentar gradual- 3 dias por semana; começando com 3 minutos e adi-
mente a amplitude de movimento das articulações (como cionando um minuto a cada dia que nade até atingir 30 mi-
explicado para os casos tratados de maneira conservativa). nutos.
Realizar 10 a 15 repetições pelo menos duas a três vezes
por dia. Sentado com os membros torácicos no ar
Durante duas semanas, e depois parado a partir dessa
Comer parado com correção da posição das patas posição (Figura 11), o que levaria a uma extensão do qua-
Aplicar a mesma técnica descrita para os casos tratados dril (Figura 12).
de maneira conservativa.
Caminhadas em superfícies inclinadas ascendentes 6
Parado em três patas Aplicar a mesma técnica descrita para os casos tratados
Aplicar a mesma técnica descrita para os casos tratados de maneira conservativa.
de maneira conservativa.

Parado em duas patas de forma ipsilateral e diagonal


Aplicar a mesma técnica descrita para os casos tratados
de maneira conservativa.

Parado com os membros pélvicos no


disco/colchão inflável
Aplicar a mesma técnica descrita para os casos tratados
de maneira conservativa.

Movimentos ativos
Pista de cavalete
Aplicar a mesma técnica descrita para os casos tratados
de maneira conservativa.

Circunferência para ambos os lados


Aplicar a mesma técnica descrita para os casos tratados
de maneira conservativa.

Figura em oito para ambos os lados


Aplicar a mesma técnica descrita para os casos tratados
de maneira conservativa.

Caminhadas com guia curta


Aplicar a mesma técnica descrita para os casos tratados
de maneira conservativa.

Caminhadas na esteira
Aplicar a mesma técnica descrita para os casos tratados
de maneira conservativa.

Hidroterapia com esteira aquática


Aplicar a mesma técnica descrita para os casos tratados Figura 11 – Sentado e parado com os membros torácicos
de maneira conservativa. no ar

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 385


Capítulo 36 – Fisiatria em lesões de quadril

Figura 13 – Exercício de “dança”

período de 3 a 6 meses após a cirurgia, enfatizando em não


forçar o alcance do movimento do quadril ou gerar mais
dor por movimentos extremos, permitindo uma boa repa-
ração óssea e desenvolvimento muscular.

Denervação acetabular
Começar com assistência ao parar-se para não sobrecar-
regar o membro.
Figura 12 – Parado com extensão do quadril Controlar a atividade do animal, já que muitas vezes
realizam exercícios exagerados pela falta da sensação de
dor. Repetir os exercícios acima mencionados com foco no
Caminhadas em solos de areia fortalecimento dos músculos para dar suporte articular, es-
Aplicar a mesma técnica descrita para os casos tratados pecialmente no quadríceps e bíceps femoral. Cuidado com
de maneira conservativa. os movimentos bruscos por parte do animal, pois pode se
lesionar ainda mais pela falta de sensação de dor.
Subir e descer as escadas e jogos com bola
Aplicar a mesma técnica descrita para os casos tratados Excisão artroplástica da cabeça femoral
de maneira conservativa. Como explicado na técnica descrita para os casos trata-
dos de maneira conservativa, imediatamente após a cirurgia
Exercício de “dança” (incluindo caminhadas por 5 minutos muito devagar). A
Fazer que o animal se pare em suas duas patas traseiras partir de 10 a 14 dias após a cirurgia, seguir com os exer-
e ir elevando os membros anteriores pouco a pouco. Au- cícios ativos descritos nos casos tratados de maneira con-
mentando a altura a cada semana, para obter a extensão servativa.
completa do quadril. Isso ocorre a partir de 4-6 semanas.
(Figura 13). Prótese total do quadril
• Atividades passivas: aplicar a mesma técnica descrita para
Caminhar para o lado os casos tratados de maneira conservativa.
Aplicar a mesma técnica descrita para os casos tratados • Massagens na área de músculo pectíneo e iliopsoas por
de maneira conservativa. frequentes mialgias nesses músculos. Massagear o membro
contralateral, que por sobrecarga há um excesso de trabalho
Casos particulares das articulações, ligamentos e músculos.
Sinfisiodese púbica juvenil ou osteotomia pélvica tripla • Exercícios ativos: aplicar a mesma técnica descrita para
Devem ser tratados de forma gradual durante um os casos tratados de maneira conservativa.

386 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 36 – Fisiatria em lesões de quadril

• Devem ser completamente evitados os exercícios de 11-FURLAN, A. D. ; IMMAMURA, M. ; DRYDEB, T. ; IRVIN, E. Massage
abdução e adução na substituição total do quadril, durante for low back pain. Cochrane of Systematic Reviews, v. 8, n. 4,
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12-HARALSON, K. M. Therapeutic pool programs, Journal of Clinical
• Durante a primeira e segunda semana se realizam exercí- Outcomes Management, 5:510-513, 1998.
cios de transferência de peso nos membros. Começar com 13-HEADRIK JH, HICKS DAM MCEACHERN GL et al: Kinematics
exercícios de sentar e levantar em uma superfície elevada, of walking over cavaletti rails compared to over ground walking
mas poucas repetições. Se o animal resistir, não forçar e in dogs. Proc 2 nd World Veterinary Orthopedic Congress,
executar apenas na semana 8. Se houver marcada atrofia Keystone CO, 2006.
muscular, pode-se usar pesos (pois os músculos mais afe- 14-KISNER. C. ; COLBY, L. A. Range of motion. In: KISNER, C. ;
tados são os músculos da coxa e do quadril). COLBY, L. A. ; Therapeutic exercise: foundations and techniques.
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mentos de abdução do quadril. O resto dos exercícios se 16-MARKS, R. Further evidence of impaired position sense in knee
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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 387


37
Fisiologia e controle da dor em pacientes com
osteoartrose

Karina Velloso Braga Yazbek

C
ães e gatos podem apresentar dor crônica secun- que se desenvolve na região não lesada circundante e que
dária a diversas causas dentre elas a osteoartrose assume papel importante na dor crônica, podendo espraiar-
ou também chamada de doença articular degene- se para áreas distantes do sítio de lesão original. À medida
rativa. A osteoartrose (OA) é caracterizada pela degradação que a dor se torna crônica, cada vez mais a sensibilização
da cartilagem articular acompanhada por alterações ósseas central ganha importância como fator ativador do sistema
e dos tecidos moles da articulação incluindo esclerose óssea nociceptivo e do desenvolvimento de hiperalgesia e am-
subcondral, formação de osteófitos marginais e sinovite, re- pliação da área dolorosa 19.
sultando clinicamente em disfunção da articulação compro- A dor neuropática é um estado de má adaptação provo-
metida 17. A dor pode ser de intensidade moderada a intensa cada por alterações estruturais das vias sensitivas centrais
dependendo da fase da doença e ocorre extrema redução da e periféricas que produzem marcas, modificações e perver-
qualidade de vida. A OA não é uma doença somente dos sões no processamento das informações nociceptivas.
cães. Alguns estudos publicados enfatizam o aumento da in- Ocorrem alterações de neuroplasticidade, que tem papel
cidência da OA na clínica de felinos 6,12. Deve-se ressaltar crucial na manutenção dos sintomas dolorosos. A gênese
que os gatos também podem desenvolver OA e apresentar da dor neuropática envolve inúmeros fenômenos, sendo os
dor crônica articular, manifestada principalmente pela difi- mais importantes: sensibilização de receptores, ocorrência
culdade em saltar e redução da mobilidade 5. O objetivo do de focos ectópicos de potenciais de ação nas fibras perifé-
tratamento dos animais com osteoartrose é o controle da dor ricas e tratos centrais, reorganização sináptica em neurônios
e a consequente manutenção e/ou aumento da qualidade de centrais, atividade anormal das estruturas supressoras e de
vida. Vale ressaltar que o tratamento álgico é apenas palia- processamento central da aferência sensitiva, liberação de
tivo e não impede a progressão da doença. Além do trata- substâncias algiogênicas teciduais, liberação de neurotrans-
mento farmacológico, a fisioterapia, acupuntura e a redução missores excitatórios, inflamação neurogênica e fenômenos
do peso em animais obesos são fundamentais. de adaptação física, psíquica e neurovegetativa 4,29. Em
2016 uma revisão sobre dor neuropática incluiu a OA crô-
FISIOPATOLOGIA DA DOR nica como exemplo de dor neuropática em cães 18.
A compreensão dos mecanismos fisiopatológicos da dor Segundo Wiseman et al. 30, cães com dor crônica secun-
é primordial para o sucesso do tratamento. Os nociceptores dária a OA podem apresentar alterações importantes como
são terminações livres das fibras nervosas aferentes primá- redução da mobilidade, atividade, apetite, curiosidade, so-
rias que convertem estímulos químicos, mecânicos ou tér- ciabilidade e disposição para brincadeiras e aumento da de-
micos em impulsos nervosos que são transmitidos ao pendência, agressividade, ansiedade, comportamentos
sistema nervoso central. A estimulação nociceptiva perifé- compulsivos, medo, vocalização e mobilidade.
rica persistente, como ocorre na OA, ativa os nociceptores Em gatos o isolamento, a redução do apetite, da “auto-
presentes na cápsula articular e desencadeia a liberação de higiene”, urinar e defecar fora da caixa higiênica e redução
mediadores químicos inflamatórios que promovem vaso- da habilidade de salto podem ser as alterações comporta-
dilatação com extravasamento de proteínas plasmáticas e mentais mais evidentes.
recrutamento de células inflamatórias 29. Os mediadores
mais envolvidos são os íons hidrogênio, norepinefrina, bra- TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
dicinina, histamina, íons potássio, citocinas, serotonina, O tratamento farmacológico dos animais com osteoar-
óxido nítrico e produtos do metabolismo do ácido aracdô- trose visa controlar a dor, aumentar a mobilidade e manter a
nico 3,13,28. Estes mediadores estão envolvidos em diferentes qualidade de vida. Para isso podemos utilizar os anti-infla-
processos podendo participar ativamente na perpetuação matórios não esteroidais, opioides, anticonvulsivantes, anti-
do processo doloroso, sua intensificação e cronificação 3. depressivos tricíclicos, antagonistas de receptores NMDA e
A estimulação nociceptiva persistente faz com que pre- alguns nutracêuticos como ômega-3 e condroprotetores.
valeça na medula a liberação de neurotransmissores exci-
tatórios dentre eles o glutamato, aspartato e substância P e Anti-inflamatórios não esteroidais
ativação de receptores n-metil-d-aspartato (NMDA), NK- Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINE) são os fár-
1 e AMPA gerando um estado de sensibilização espinhal macos mais frequentemente prescritos para o controle da dor
(hipersensibilidade central). Esta alteração é responsável em cães e gatos com osteoartrose. São eficazes em reduzir
pelo fenômeno de wind-up, que é o aumento crescente da a inflamação articular e consequentemente o controle da dor
freqüência de disparo dos neurônios nociceptivos espi- somática característica desse tipo de doença. Cães e gatos
nhais quando submetidos à estimulação continuada, e pela com artrose apresentam dor ao movimento e essa classe far-
hipersensibilidade secundária, halo de hipersensibilidade macológica pode ser benéfica, porém o uso a longo prazo

388 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 37 – Fisiologia e controle da dor em pacientes com osteoartrose – 1ª edição

deve ser realizado com cautela já que pode causar efeitos conseguimos reduzir para 0,02 mg/kg/dia ou 0,05 mg/kg
adversos principalmente em animais idosos. Além disso 2-3 vezes por semana por via oral, diminuindo assim o
antes da prescrição o animal deve ser avaliado clínica e la- risco de efeitos adversos.
boratorialmente frente a distúrbios hepáticos, renais e gas- A dipirona é muito utilizada no tratamento da dor aguda
troentéricos e ser monitorado durante todo o tratamento. pós-operatória e como auxiliar na terapia analgésica em pa-
Existem vários AINEs no mercado, porém para o uso a cientes com dor crônica. Uma das grandes vantagens desse
longo prazo deve-se dar preferência para os COXIBs e aos agente é o fato de causar pouquíssimos efeitos colaterais re-
preferencias COX-2. nais ou gastrintestinais podendo ser segura a longo prazo.
Atualmente temos para uso crônico em cães o carprofeno, Apesar de não ter estudos de segurança a longo prazo su-
meloxicam, mavacoxib, firocoxib e o cimicoxib. O carpro- gere-se a realização de hemograma a fim de monitorar ane-
feno quando comparado ao meloxicam causou menos efeitos mias oxidativas relacionas ao fármaco mesmo com baixa
adversos gastrointestinais após 90 dias de administração con- incidência. Um estudo em cães com câncer demonstrou a efi-
tínua em cães 16. Na rotina o carprofeno parece realmente ser cácia e segurança no controle da dor moderada a intensa e na
mais seguro do ponto de vista gástrico em cães idosos, é o melhora da qualidade de vida com o uso da dipirona e trama-
AINE mais antigo registrado para uso contínuo em cães e a dol associado ou não a anti-inflamatórios não esteroidais 8.
maioria dos estudos de novos AINE utilizam-no como com-
paração nos estudos de eficácia. Um estudo que comparou a Anti-inflamatórios esteroidais
eficácia do cimicoxib e carprofeno no controle da dor no pós- Os anti-inflamatórios esteroidais utilizados por via pa-
operatório de cirurgias ortopédicas em cães demonstrou que renteral, oral ou intra-articulares ainda são muito prescritos
ambos são eficazes e seguros durante 6 dias 11. Na Europa, para animais com osteoartrose porém algumas ressalvas e
segundo o fabricante, o cimicoxib pode ser administrado cuidados devem considerados. Os corticosteroides são mais
por 6 meses para cães com osteoartrose mas com monitora- indicados para doenças articulares imunomediadas onde
ção constante dos efeitos adversos. O mavacoxib foi lançado existe a necessidade de imunossupressão. Porém, nas de-
especialmente para o controle da dor secundária a osteoar- generativas, o uso pode piorar a lesão articular. Além disso,
trose em cães tendo a grande vantagem de ser administrado o efeito analgésico é inferior aos AINE nestas situações.
uma vez ao mês por 6 meses. Estudo comparativo entre o
mavacoxib e o carprofeno em cães com artrose demonstrou Opioides
que 93,4% e 89,1% dos cães respectivamente apresentaram São fármacos seguros, efetivos e indicados para o con-
melhora do estado geral segundo os tutores e a eficácia trole da dor moderada a intensa. Causam mínimos efeitos
analgésica foi considerada igual nos dois grupos 23. adversos permitindo que sejam utilizados com segurança
Na experiência da autora o carprofeno na dose de 2,2 em pacientes idosos, com comorbidades e em associação
mg/kg a cada 12 horas pode ser realizado durante 5 dias e com outros fármacos. Muitos opioides estão disponíveis no
depois a cada 24 horas ou na forma de administração in- mercado nacional, mas considerando que a via oral é a de
termitente (a cada 3 dias uma dose). Dessa forma reduz-se eleição para o tratamento da dor crônica restam poucas op-
a chance de efeitos adversos. O objetivo a longo prazo é ções para os nossos pacientes. Estudos de farmacocinética
reduzir a necessidade de AINE com a associação de outros são escassos e os que existem demonstram baixa biodispo-
fármacos que causem menos efeitos adversos como por nibilidade pela via oral como no caso da morfina por exem-
exemplo a gabapentina e tramadol além da acupuntura e fi- plo 6. A morfina, metadona, tramadol e o fentanil são muito
sioterapia. A administração dos AINE numa frequência e utilizados por via parenteral para o controle da dor mode-
em dose inferior a recomendada nas bulas também deve ser rada a intensa em cães e gatos hospitalizados. Porém, para
considerada em cães que se beneficiem do uso contínuo des- prescrição por via oral, somente o tramadol é possível con-
ses fármacos. Na maioria das vezes consegue-se reduzir a siderando a apresentação e farmacologia.
incidência dos efeitos adversos a longo prazo. Para maior se- O tramadol, atualmente classificado por muitos autores
gurança gástrica a associação de omeprazol pode ser consi- como opioide atípico ou analgésico de ação central devido ao
derada nesses pacientes assim como a monitoração constante seu mecanismo duplo de ação, vem sendo amplamente utili-
da função renal, hepática, hemograma e urinálise (proteinú- zado. Demonstrou-se eficaz, seguro e com baixa incidência
ria) e acompanhamento clínico durante todo o tratamento. de efeitos adversos no controle da dor em cães com câncer
Para os gatos a opção de AINE a longo prazo é o me- além de poder ser associado com dipirona 8. Inicia-se o trata-
loxicam em doses mais baixas. Em gatos a recomendação, mento com a dose de 2 mg/kg por via oral, a cada 8 horas, e
baseada nos estudos em osteoartrose, é o uso de meloxi- reajustes devem ser realizados de acordo com a intensidade
cam na dose de 0,05 mg/kg por via oral por dia desde que da dor do animal. Como não possui efeito teto, a dose do tra-
os efeitos adversos sejam monitorados diariamente por madol pode ser titulada para a obtenção de analgesia. Assim,
manifestações clínicas e mensalmente por exames bioquí- são encontradas na literatura recomendações de até 5 mg/kg
micos e hematológicos 27. Essa dose ainda pode ser reduzida para os cães 20-22 e 7 mg/kg (VO) a cada 5 horas. Em felinos,
sendo muito eficaz e indicada para gatos que necessitem do devido à meia-vida de eliminação mais lenta e ao fato de o
uso a longo prazo de anti-inflamatório. Em muitos casos metabólito M1 (responsável por grande parte da analgesia)

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 389


Capítulo 37 – Fisiologia e controle da dor em pacientes com osteoartrose – 1ª edição

formar-se em quantidades superiores às demais espécies, Pode ser uma alternativa para pacientes refratários ao tra-
pode ser necessária maior cautela com os aumentos de dose tamento com a gabapentina. Apesar de muito utilizadas na
ou de frequência de administração 21,24. A dose mais utilizada rotina, ainda faltam estudos que comprovem a eficácia e
em gatos é 2 a 3 mg/kg a cada 8-12h. Deve indicar dose mais dose ideal para cães e gatos com OA. Um estudo de far-
baixa e a cada 12 horas para animais nefropatas e extrema- macocinética mostrou que a dose de 4 mg/kg pode ser a
mente idosos. A associação do tramadol com anti-inflama- ideal em cães 26. Associação com anti-inflamatórios, opioi-
tórios e dipirona é eficaz para o controle da dor crônica e des e antidepressivos é muito utilizada para os casos de
de intensidade moderada a intensa em cães com câncer po- dor intensa.
dendo ser usado também a longo prazo em cães com OA 8.
Antagonistas NMDA
Antidepressivos tricíclicos O amantadine, que também atua em receptores NMDA,
Os antidepressivos tricíclicos são muito utilizados e in- pode ser uma alternativa por via oral na espécie canina. Es-
dicados para animais com dor crônica principalmente com tudo em cães com osteoartrose e dor refratária a anti-inflama-
componente neuropático, sendo a amitriptilina o mais utili- tório demonstrou benefício analgésico quando administrado
zado na medicina veterinária. Inibem a recaptação de nora- por via oral na dose de 3-5 mg/kg /dia 15. Na experiência da
drenalina e serotonina atuando na via descendente inibitória, autora pode ser um grande aliado em casos refratários.
atua também nos canais de sódio voltagem dependentes e
antagonizam receptores NMDA 18. Não existem estudos em Nutracêuticos
cães e gatos com OA porém tem sido muito utilizado por ser Ômega 3
eficaz e seguro. A amitriptilina é muito bem tolerada desde A suplementação com ômega 3 pode modular a resposta
que iniciada em doses baixas e reajustando de acordo com inflamatória diminuindo a síntese de potentes mediadores da
as necessidades de cada animal. Os principais efeitos adver- inflamação derivados do ácido araquidônico (prostaglandina
sos são boca seca (animal bebe mais água), sedação nos pri- E2, tromboxano A2, prostaciclina e leucotrieno B4)10. O EPA
meiros 5 dias e aumento do apetite. Deve-se aguardar pelo compete com o ácido araquidônico como substrato das ci-
menos 15-21 dias para o aumento da dose e avaliação do be- cloxigenases produzindo vários eicosanoides (prostaglandina
nefício analgésico. Não deve ser usada em animais com bra- E3 e leucotrieno B5) com efeitos anti-inflamatórios 7. Dieta
diarritmias. O desmame do fármaco deve ser lento com rica em Omega-3 foi capaz de reduzir a dose diária de car-
redução gradativa da dose e frequência de administração. A profeno necessária para o alívio da dor em cães com osteoar-
associação com tramadol pode ser realizada desde que em trose 9. Outro estudo em cães com osteoartrose mostrou que,
doses baixas já que podem causar síndrome serotoninérgica com 6 e 12 semanas de suplementação de ômega 3 os ani-
quando usados associados em doses elevadas. A associação mais apresentavam na opinião do proprietário maior mobi-
com gabapentina ou pregabalina deve ser considerada em lidade e disposição para brincar respectivamente 25. Além
animais com OA e dor refratária. A dose usualmente empre- disso, um estudo experimental mostrou influência na manu-
gada e bem tolerada em cães e gatos é 0,5-2 mg/kg a cada tenção da homeostase do sistema muscular e no equilíbrio
24 horas podendo em alguns casos ser a cada 12 horas. do sistema antioxidante/oxidante, controlando as respostas
inflamatórias e os efeitos dos radicais livres decorrentes do
Anticonvulsivantes estresse físico, prevenindo assim lesões musculoesqueléti-
Dentre os anticonvulsivantes mais utilizados no ambu- cas 10. Em gatos os estudos são mais escassos, porém muitos
latório de dor na medicina veterinária estão a gabapentina autores já indicam a suplementação de ômega 3 para gatos
e a pregabalina. com doença articular degenerativa 1. Não existe um consenso
A gabapentina foi lançada originalmente como anticon- da melhor dose mas pode-se partir de 25 mg/kg de EPA +
vulsivante. Porém, seu maior emprego é no controle da dor 18 mg/kg de DHA por dia. Essa dose deve ser reajustada de
neuropática. É um análogo estrutural do GABA e reduz a acordo com a evolução clínica do animal.
sensibilização central inibindo os canais de cálcio pré-si-
nápticos no corno dorsal da medula 18. Pode também atuar Condroprotetores
bloqueando os canais de sódio e reduzir a atividade ectó- Ainda muito se discute a eficácia da condroitina,
pica 18. É bem tolerada e é muito usada tanto na dor crônica glucosamina e colágeno no tratamento da dor secundária a
como também para o controle da dor no pós-operatório de OA porém na rotina é extremamente utilizada e eficaz na
cirurgias de grande porte. Inicialmente a gabapentina pode maioria dos casos. A associação com ômega-3 tem mos-
ser utilizada na dose de 5 a 15 mg/kg a cada 8-12 horas trado resultados satisfatórios na rotina apesar da ausência
nos cães e 3 a 8 mg/kg a cada 8-12 horas em gatos. A dose de estudos que comprovem essa associação. Uma revisão
e frequência devem ser avaliadas individualmente. Na ex- recente demonstrou dificuldade na interpretação e compa-
periência da autora devemos começar com dose mais baixa ração dos estudos devido a diferença nas doses, matéria
chegando a doses elevadas após titulação individual. A prima e tempo de administração 2. Apesar da dificuldade de
pregabalina é estruturalmente similar a gabapentina mas comprovação deve ser considerado como adjuvante ao tra-
parece ser mais biodisponível e ter meia vida mais longa 18. tamento de cães e gatos com OA.

390 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 37 – Fisiologia e controle da dor em pacientes com osteoartrose – 1ª edição

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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 391


38
Osteoartrose: fisiologia e tratamento

Cássio Ricardo Auada Ferrigno

A
osteartrose em cães é um a moléstia multifatorial alta “performance” ou cães de trabalho, cães de emprego
que pode ter início pela dor e deformidades anatô- militar ou de polícia, onde o desgaste é acelerado devido
micas articulares, que levam ao estado de fisiologia ao tipo de trabalho e uso das articulações. O interessante é
inadequada das funções articulares. que na DAD primária a cartilagem envelhecida não mostra
É importante definir corretamente os termos emprega- as mesmas alterações que cartilagem com DAD secundária,
dos, que muitas vezes podem ser mal interpretados pelos como veremos a seguir.
profissionais 10.
Doença articular degenerativa (DAD) secundária
Definições A DAD secundária desenvolve-se secundariamente a
A simples definição de artrite é a inflamação de uma ar- partir de condições anormais ao funcionamento fisiológico
ticulação. Muitas condições ortopédicas crônicas em me- da articulação, geralmente pode ser causada por alterações
dicina veterinária não possuem componente inflamatório na conformação anatômica ou incongruências ósseas que
apreciável do revestimento sinovial. Assim sendo o termo afetam a articulação em si, ou de estruturas secundárias a
"artrite" é um termo incorreto para definir a maioria das ela, como músculos, tendões e ligamentos.
moléstias ortopédicas em veterinária, mormente em cães e Esta forma de degeneração é o tipo mais comum obser-
gatos. vado em pequenos animais 1, e sua fisiopatogênica além de
O termo artrose refere-se a uma degeneração não infla- ser complexa e pouco entendida em seus vários aspectos 1,
matória da articulação. Condição caracterizada pela falta não só em pequenos animais , mas bem como no homem,
de inflamação no revestimento sinovial e na presença de lí- a maioria dos autores entendem que a hipótese mais acei-
quido sinovial normal ou quase normal. tável para explicar as lesões macroscópicas da cartilagem
As lesões por osteoartrose (OA) vistas em medicina ve- se inicia com o rompimento microscópico da cartilagem,
terinária são caracterizadas por degeneração de cartila- causado por compressão ou cisalhamento do tecido 6,23, por
gem lentamente progressiva com produção de osteófitos, movimentos anormais (instabilidade articular), displasias
geralmente causada por trauma ou microtrauma (desgaste (falta de congruência) entre os tecidos duros que compõem
anormal da articulação). Há muito pouca inflamação do re- anatomicamente a articulação.
vestimento sinovial (e, portanto, poucas mudanças no li- Este processo provoca danos nas células, liberando ca-
quido sinovial) em comparação com as doenças das tepsina, o que, por sua vez, induz a perda da barreia colá-
articulações mais inflamatórias. Portanto, a base para clas- gena da matriz cartilagínea.
sificar a doença das articulações é a resposta inflamatória O colágeno é importante pois este modula a entrada e
ou não característica da moléstia. Se utilizarmos esta lógica saída de moléculas de água que se ligam às agrecanas. Este
podemos depreender que a nomina correta para a maioria fenômeno permite que a matriz cartilagínea se mantenha
das doenças degenerativas articulares no cão e gato é, ao com uma turgidez ideal para realizar a difusão de forças
invés de osteoartrite, osteoartrose ou doença articular de- impostas a superfícies articulares pelo contato entre dois
generativa (DAD) 14. ossos de formatos diferentes 2.
Muitas condições agudas da articulação progridem para As agrecanas possuem características físico-químicas
a osteoartrose crônica. O objetivo do ortopedista é minimi- hidrofílica, e ao expô-las ao contato sem controle com a
zar ou interromper essas mudanças. Na osteoartrose crônica água, devido a perda de colágeno, a cartilagem se torna
o objetivo é minimizar o desconforto do paciente e melho- muito turgida perdendo a elasticidade ideal para que resista
rar a função dos membros. as grandes pressões tornando o tecido quebradiço levando
a traumas sucessivos e por conseguinte maior perda de pro-
DOENÇA ARTICULAR NÃO INFLAMATÓRIA teoglicanos, levando a danos adicionais aos condrócitos, e
As doenças articulares não inflamatórias podem ser di- liberação adicional de catepsina.
vididas em dois tipos: Na cartilagem osteoartrótica, o colágeno é renovado
• doença articular degenerativa primária; com um tipo diferente de colágeno que possui maior diâ-
• doença articular degenerativa secundária. metro que o tipo encontrado na pele, na cartilagem e nos
ossos.
Doença articular degenerativa (DAD) primária A síntese proteica e de glicosaminoglicanos é grande-
A DAD primária é a degeneração da cartilagem encon- mente aumentado embora a quantidade total encontrada na
tradas em animais idosos que ocorrem sem motivos apa- matriz fica aquém das necessidades fisiológicas devido as
rente, à não ser o desgaste por uso normal das articulações perdas pela continua lesão.
ao longo da vida do animal ou em animais de esporte de Em casos mais crônicos, há uma falha neste processo

392 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 38 – Osteoartrose: fisiologia e tratamento

de reparação. De qualquer forma as tentativas fisiológicas Fármacos


de cicatrização, como tecido de granulação, proliferação de A maioria dos medicamentos apesar de não terem ação
condrócitos, aumento da produção de proteoglicanos e os- específica para a cura da DAD, são usados para aumentar
teófitos, são desorganizadas e improdutivas, pois os me- o conforto e retirar a dor dos animais.
diadores inflamatórios, estresse anormal causado por Os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) são a
instabilidade articular ou incongruências ósseas persistem forma mais eficaz para o tratamento da inflamação e dor
levando à progressão da moléstia. articular 15 e sua ação tem origem na inibição seletiva da ci-
Outra linha de pesquisa tem como hipótese que as lesões clooxigenase (COX-2). Porém, não existe ainda AINEs que
na cartilagem produzem não somente catepsina, mas como não levam a alteração dos níveis de COX-1, o que pode
vários outros mediadores inflamatórios inespecíficos no li- causar efeitos colaterais indesejáveis pela interferência na
quido sinovial, que causa sinovite secundária e alguns produção de prostaglandinas séricas. Seu principal efeito
casos inflamação que desencadeiam a DAD. Porém esta colateral pode ser visto no sistema gastrointestinal, onde a
teoria é difícil de se provar pois, em todos os casos estuda- diminuição de prostaglandina pode levar a úlceras gástri-
dos a presença de mediadores inflamatórios não puderam cas. Efeitos deletérios em rim e fígado também são relata-
ser ligados ao processo inicial, pré-inflamação 24. dos.
Estes fenômenos explicam o caráter de ciclo perpétuo As duas drogas mais usadas no Brasil, até a data de pu-
da DAD, o que significa que ao se iniciar o processo de blicação do livro, são:
lesão inicial, nunca mais será possível a interrupção do • Carprofeno (Rimadyl®, Zoetis / Carproflan®, Agener
processo, o que explica a impossibilidade de cura da en- União): inibidor seletivo para COX-2. A dose é de 2,2
fermidade. Este fato tem que ser bem entendido, tanto mg/kg duas vezes ao dia ou 4,4 mg/kg uma vez ao dia;
pelos profissionais, como também pelos tutores dos ani- • Meloxicam: a dose é de 0,2 mg/kg, uma vez ao dia, du-
mais. Em nenhuma circunstância o tratamento indicado rante o primeiro dia. Depois, seguir com 0,1 mg/kg diaria-
será curativo, mas sempre paliativo, independente se o tra- mente por via oral.
tamento for cirúrgico, fisioterápico, holístico ou medica- Outras drogas analgésicas como o tramadol em estudos
mentoso 5,6,21. recentes se mostraram menos eficazes em controlar a dor
de pacientes ortopédicos 4. Porém, sua combinação pode
TRATAMENTO ser benéfica em adição a AINEs 17. Portanto ainda hoje o
O melhor tratamento para a osteoartrose é a prevenção. tratamento mais preconizado para o controle de dor em
Quando qualquer enfermidade que pode causar DAD é DAD é a utilização de AINEs, tanto em homens quanto em
detectada deve ser aconselhado o tratamento o mais rápido cães.
possível, como por exemplo controle de peso, mudança de
pisos lisos, exercícios para fortalecimento muscular ou ci- Condroprotetores
rurgias. Agentes condroprotetores, mais apropriadamente deno-
Infelizmente, na maioria dos casos o tratamento é insti- minados moduladores DAD idealmente melhoram a síntese
tuído após a instalação do processo de DAD, e os objetivos de macromoléculas condrocíticas, melhoraram a síntese de
são diminuição da dor, manutenção da função e amplitude ácido hialurônico pelo sinoviócitos, modula a inflamação
de movimentos articulares e manter o animal com atividade e removem ou previnem a formação de fibrina e trombo
física normal e qualidade de vida. nos vasos sinoviais ou subcondrais. Infelizmente nenhum
agente conhecido possuem a características de interferir
Tratamentos não cirúrgicos com todos estes fatores.
O repouso é uma forma de tratamento, e deve ser indi- Como havíamos citado anteriormente a cartilagem é
cada em casos agudos ou recidivas de dor do paciente. A produzida por condrócitos, que sintetizam a matriz, dando
teoria por traz do repouso é a diminuição da inflamação e a este tecido resiliência e resistência à tração.
a reabsorção de detritos articulares (resto de tecidos soltos A matriz, por conseguinte, é formada por colágeno que
devido a degradação das estruturas articulares) soltos pelo confere a força tênsil e proteoglicanos (principalmente
sinóvia. ácido hialurônico e glicosaminoglicanos), que proporcio-
Lembramos que em hipótese alguma deve-se realizar a nam a resiliência compressiva à cartilagem
imobilização total da articulação, em todos os casos, O DAD é caracterizado por uma perda lenta e progres-
mesmo com o paciente em repouso, pouca atividade e mo- siva de moléculas de matriz de cartilagem, chamado glico-
vimentações passivas da articulação devem ser realizadas saminoglicanos polissulfatados (PSGAGs). Intuitivamente,
para manter a amplitude de movimento e prevenir a perda se disponibilizarmos por via medicamentosa estas molécu-
de massa muscular. las poderíamos diminuir ou reverter a osteoartrose. Porém
Calor, frio, ultrassom e outras modalidades de tratamen- estudos de eficácia realizados mostraram resultados confli-
tos fisioterápicos e holísticos são recomendados nestes ani- tantes 9. Somente nos últimos anos alguns estudos bem con-
mais, e serão descritos mais a miúde em outra parte deste duzidos com maior quantidade de animais arrolados em
livro. pesquisas duplo cego mostraram resultados alentadores 11,23.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 393


Capítulo 38 – Osteoartrose: fisiologia e tratamento

Porém, ainda se necessita mais estudos sobre a farmacoci- in Dogs Undergoing Tibial Plateau Leveling Osteotomy. Journal
nética destas substâncias. As principais substâncias deste of the American Veterinary Medical Association, v. 243, p. 225-
231, 2013.
grupo são o ácido hialurônico e a glucosamina.
5-DYCUS, D. L. ; LEVINE, D. ; MARCELLIN-LITTLE, D. J. Physical
O ácido hialurônico que é uma glicosaminoglicano não- Rehabilitation for the Management of Canine Hip Dysplasia.
sulfatado (GAG), é o principal componente do líquido si- Veterinary Clinics of North America: Small Animal Practice,
novial. É utilizado intra-articular ou intravenosamente em v. 47, n. 4, p. 823-850, 2017. DOI: 10.1016/j.cvsm.2017.02.006.
cavalos, mas não em cães e gatos. Este produto é postulado 6-FERRIGNO, C. ; SCHMAEDECKE, A. ; OLIVEIRA, L. E ;
para ajudar a função do fluido sinovial aumentando visco- D’AVILA, R. S. ; YAMAMOTO, E. Y. ; SAUT, J. P. Denervação
sidade, redução da inflamação e eliminação de radicais li- acetabular cranial e dorsal no tratamento da displasia coxofemoral
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vres. v. 27, n. 8, p. 333-340, 2007. DOI: 10.1590/S0100-
A glucosamina (Osteocart Plus ®) é um bloco de cons- 736X2007000800003.
trução de GAG na cartilagem e no ácido hialurônico em lí- 7-GIMBEL, J. S. ; BRUGGER, A. ; ZHAO, W. ; VERBURG, K. M. ;
quido sinovial e alguns trabalhos mostraram resultados GEIS, G. S. Efficacy and Tolerability of Celecoxib Versus
alentadores em tratamento de displasia coxofemoral. Hydrocodone / Acetaminophen in the Treatment of Pain After
Ambulatory Orthopedic Surgery in Adults. Clinical Therapeutics,
Novas aditivos alimentares como o UC-II, que é ingre- v. 23, n. 2, p. 228-241, 2000.
diente natural que contém um colágeno glicosilado, não
8-GUPTA, R. C. ; CANERDY, T. D. ; LINDLEY, J. ; KONEMANN.
desnaturado de tipo II estão se mostrando promissores no M. ; MINNIEAR, J. ; CARROLL, B. A. ; HENDRICK, C. ;
tratamento crônico da OA. Pequenas doses de UC-II usa- GOAD, J. T. ; ROHDE, K. ; DOSS, R. ; BAGCHI, M. ; BAGCHI,
dos em modelo in vivo de artrite induzida por colágeno, D. Comparative therapeutic efficacy and safety of type-II collagen
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culatórios de citocinas inflamatórias, potencialmente ser- and Animal Nutrition, v. 96, n. 5, p. 770-777, 2012. DOI:
vindo para diminuir tanto a incidência como a gravidade 10.1111/j.1439-0396.2011.01166.x.
da artrite 17 não só em ratos, mas em cães, como mostra o 9-HENROTIN, Y. ; SANCHEZ, C. ; BALLIGAND, M. Pharmaceutical
trabalho conduzidos em cães comparando o UC-II e a glu- and nutraceutical management of canine osteoarthritis: Present and
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apresentaram bons resultados, mas o UC-II foi melhor 8.
10-JANSSENS, L. A. A. ; STREET, M. ; MILLER, R. ; HAZEWINKEL,
Outra droga recém usada é a diacereína que é derivado
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de antraquinona. Seu modo de ação é inibir o sistema in- of osteoarthritis in a dog: An archaeological and radiological
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ativação da IL-1β através de produção reduzida de enzima 7, 2016. DOI:10.1111/jsap.12548.
conversora de IL-1, bem como para afetar a sensibilidade 11-JOHNSON, K. A. ; HULSE, D. A. ; HART, R. C. ; KOCHEVAR, D.
à IL-1, diminuindo os níveis de recetores de IL-1 na super- ; CHU, Q. Effects of an orally administered mixture of chondroitin
sulfate , glucosamine hydrochloride and manganese ascorbate
fície celular dos condrócitos 16. Apesar dos efeitos promis- on synovial fluid chondroitin sulfate 3B3 and 7D4 epitope in
sores esta droga apresenta efeitos colaterais semelhantes a canine cruciate ligament transection model of osteoarthritis,
aos anti-inflamatórios não hormonais. Porém, recentes tra- Osteoarthritis cartilage, v. 9, n. 1, p. 14-21, 2001. DOI:
balhos vêm mostrando que o principal efeito colateral é a 10.1053/joca.2000.0345.
diarreia e lesões cutâneas, mas em menor monta que os 12-KONGTHARVONSKUL, J. ; WORATANARAT, P. ; MCEVOY,
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394 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 38 – Osteoartrose: fisiologia e tratamento

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COMO CITAR ESSE CAPÍTULO


FERRIGNO, C. R. A. Osteoartrose: fisiologia e tratamento.
In: LOPES, R. S. ; DINIZ, R. Fisiatria em pequenos
animais. 1. ed. São Paulo : Editora Inteligente, 2018.
p. 392-395. ISBN: 978-85-85315-00-9.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 395


39
Fisioterapia em pacientes com osteoartrose

Laryssa Petrocini Rosseto

O
constante processo degenerativo da osteoartrose proeminência ósseas estão próximas da superfície da pele,
(OA) pode ser controlado, e seus sinais clínicos uma intensidade mais baixa e/ou frequência mais alta pode
amenizados por meio das diferentes modalidades ser mais apropriado.
que a fisiatria oferece. A fisioterapia tem como foco prin- A laserterapia vem sendo abordada e pesquisada mas-
cipal melhorar a qualidade de vida do paciente, com o con- sivamente por apresentar resultados positivos e promisso-
trole da dor, das atrofias musculares, na manutenção da res quanto ao controle da dor e capacidade de estimular
amplitude de movimento e da função articular. condrócitos a produzirem colágeno 13 (Figura 1). Compri-
Ao abordarmos o paciente artrítico, a dor e a inflamação mentos de onda entre 808nm e 905nm são utilizadas com
são os primeiros fatores a serem controlados, pois contri- eficácia no controle inflamatório em OA crônica e aguda,
buem para a piora da mobilidade articular e geram inabili- diminuindo a expressão de mediadores pró-inflamatórios
dade física, resultando na perda de massa muscular e como a metaloproteinase (MMP), fator de necrose tumoral
qualidade de vida. Para isso, o uso das modalidades físicas, alfa (TNF-α) e interleucinas-1, 6 (IL-1, IL-6) de forma re-
podem contribuir no controle da dor e da inflamação. Tais levante 1,16. Em outro estudo averiguou-se o uso conjunto
modalidades como termoterapia, eletroterapia, ultrassom de laser e exercícios de alongamento e fortalecimento mus-
terapêutico, laser terapêutico, campo magnético terapêutico cular em pacientes humanos com OA crônica no joelho. Os
e tratamento de onda de choque extracorpóreo são utiliza- autores avaliaram o efeito do laser na dosimetria de 1,5J
dos para reduzir a gravidade dos sinais e a dependência de com comprimento de onda de 905nm, e concluíram que os
medicamentos para controlar dor e desconforto. pacientes humanos tratados com laser aliado ao exercício
Em quadros agudos de osteoartrite, a crioterapia pode físico obtiveram melhor controle da dor, aumento do es-
ser benéfica auxiliando no controle da inflamação e dor paço intra-articular ao exame radiográfico, diminuição
após atividades físicas ou esforço excessivo da articulação. MMP-3, 8 e 13 e telopeptídeo C-terminal do colágeno tipo
A aplicação pode ser feita com compressas ou bolsas de II em relação ao grupo controle 16.
gelo, de 10 a 15 minutos 7. Banhos de imersão em água fria A estimulação elétrica pode ser usada para muitos pro-
mostraram-se benéficos em pacientes humanos com os- pósitos na osteoartrite, dentre elas para o aumento da força
teoartrite, diminuindo o consumo de anti-inflamatórios, mi- muscular e amplitude de movimento, controle da dor, re-
nimizando a frequência da dor e melhorando a aptidão dução do edema e espasmo muscular. O estímulo elétrico
física 3. Já em processos crônicos, o calor promove relaxa- neuromuscular (NMES) pode ser utilizado no auxílio do
mento das fibras colágenas e musculares, reduzindo a rigi- fortalecimento de músculos periarticulares. A modalidade
dez articular e a dor. Quando realizado o aquecimento dos pode ser empregada quando o paciente estiver muito debi-
tecidos moles antes do alongamento, os ganhos no compri- litado ou com muita dor para realizar os exercícios ativos,
mento do tecido são maiores e mantidos por mais tempo, facilitando o retorno da função do membro de forma pre-
quando comparados ao alongamento sem aquecimento pré- coce do paciente artrítico. Em um estudo feito com cães,
vio 10. A termoterapia pode ser aplicada de diversas formas foi induzida a atrofia muscular por meio da imobilização
com o uso de bolsas água quente, banhos de imersão, in- da articulação do joelho esquerdo por 30 dias. Após 48
fravermelhos ou ultrassom terapêutico. Deve ser levado em horas da retirada dos fixadores, iniciou-se o estímulo dos
consideração que os efeitos térmicos podem variar de músculos quadríceps de cães com atrofia cinco vezes por
acordo com a condição corpórea e a área tratada de cada semana durante 60 dias, a uma frequência de 50 Hz, com
paciente, justificando a criação de protocolos individuais 7. duração de impulso de 300 milissegundos e uma razão de
O ultrassom terapêutico (US) é outra modalidade tempo de on/off de 1: 2. Os autores avaliaram a morfometria
que pode contribuir na reabilitação física pelo controle da das fibras do vasto lateral por meio de biopsia muscular e
apoptose dos condrócitos, diminuição dos mediadores evidenciaram aumento significativo na área transversal da
pró-inflamatórios e aumento na produção da matriz extrace- fibra muscular do grupo tratado em comparação ao grupo
lular 8. Ao utilizar o US na forma contínua, o calor produzido controle 18. Os efeitos do TENS (Transcutaneous Electrical
pelo aparelho auxilia no controle da dor e rigidez articular Nerve Stimulation) também foram investigados em cães
devido ao relaxamento dos tecidos moles e melhora da com dor osteoartrítica. Cinco cães com OA discreta crônica
fluidez do líquido sinovial. Pacientes humanos com OA foram tratados com frequência de 70 Hz aplicada ao joelho
em joelho receberam tratamento com US na dosimetria de afetado. As forças de reação ao solo foram avaliadas e ve-
1 W/cm 2, 1Mhz modo contínuo, e apresentaram melhora do rificou-se melhora significativa 30 minutos após o trata-
controle da dor, da amplitude de movimento e atividade mento. Essas diferenças persistiram por até 210 minutos
funcional do membro após o tratamento imediato e após após a aplicação de TENS e foram significativas 30, 60,
um mês de terapia 6. Em regiões de pouco tecido ou onde 120, 150 e 180 minutos após o tratamento 9.

396 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 39 – Fisioterapia em pacientes com osteoartrose

Figura 1 – Laserterapia em articulação fêmur-tíbio-patelar em cão durante o processo de recuperação no pós-operatório


de TPLO*. O laser de 830 nm é uma opção para o controle da dor e inflamação em osteoartrite. *TPLO- Tibial Plateau
Leveling Osteotomy (Osteotomia niveladora do platô tibial)

O campo magnético pulsado surge como uma terapia magnético variando de 15 a 30 Gauss 4.
conservadora promissora para o alívio da dor em animais As ondas de choque extracorpóreas (também conheci-
com OA (Figura 2). Em humanos, estudos clínicos demons- das como shockwave) são ondas acústicas de alta pressão
traram eficácia para o controle da dor em joelhos com e velocidade que são aplicadas aos tecidos para produzir
OA 20. Estudos in vitro revelaram que a magnetoterapia foi efeitos biológicos, incluindo analgesia, neovascularização,
eficaz na redução da apoptose dos condrócitos e da expres- produção de fatores de crescimento e melhor reparação de
são de MMP-13 na cartilagem do joelho em ratos, além de tecidos. Utilizada para o tratamento de diversas afecções,
influenciar favoravelmente a homeostase da cartilagem 12, as ondas de choque extracorpóreas surgem enunciando
sendo observados efeitos positivos do campo magnético respostas relativamente positivas para o controle da dor e
pulsado em condrócitos, fibroblastos e cartilagem, com melhora funcional da articulação. Por meio de avaliação
uma frequência média de 75 Hz e uma densidade de fluxo clínica e análise cinética, trinta cães diagnosticados com

Figura 2 – Campo magnético pulsado além de promover analgesia e favorecer a homeostase da cartilagem, proporciona
relaxamento muscular e bem-estar no paciente

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 397


Capítulo 39 – Fisioterapia em pacientes com osteoartrose

OA bilateral de quadril foram submetidos ao tratamento espásticos pode promover relaxamento das fibras muscu-
com shockwave radial. Os cães foram tratados semanal- lares e perfusão sangue nos tecidos, controle da dor e au-
mente, totalizando três semanas, utilizando o total de 2000 mento da oxigenação tecidual, podendo ser utilizado antes
pulsos, 10 Hz, 2.0 a 3.4 bares por sessão. Após 30, 60 e 90 ou após a aplicação dos exercícios terapêuticos.
dias da primeira sessão, os valores de força vertical máxima
e o impulso vertical aumentaram nos membros tratados
além da restauração no índice de simetria. Os autores con-
cluíram que houve melhora na dor e na claudicação em
cães tratados, além da percepção do proprietário quanto ao
aumento da atividade física após o tratamento 19.
A medida que for permitido, após ser reavaliado quanto
a sua aptidão física, o paciente deve ser estimulado com
exercícios ativos, a fim de promover fortalecimento mus-
cular, aumentar a amplitude de movimento articular e me-
lhorar a qualidade da cartilagem articular. Tais benefícios
podem ser adquiridos com exercícios controlados de baixo
impacto, mobilização articular passiva e/ou ativa. A escolha
do exercício ativo a ser aplicado no paciente irá depender
da articulação afetada, trabalhando grupos musculares es-
pecíficos, devendo ser ajustado e planejado de acordo com
o sinal clínico e a capacidade física de cada paciente. Vale
ressaltar que os exercícios devem ser desafiadores, porém
jamais devem promover a dor ao paciente. Mobilizar a ar-
ticulação de forma passiva e realizar alongamentos passivos
antes de iniciar a sessão de exercícios favorece a execução
dos exercícios terapêuticos 14. Esteiras secas podem servir
tanto como aquecimento quanto para tratamento de pacien-
tes com OA. A esteira seca proporciona alterações biome-
cânicas relevantes, no caso, um maior período de apoio na
fase caudal do passo. Cães displásicos podem se beneficiar
com o uso da esteira seca, por possuírem menor apoio na
fase caudal do passo 18. Movimento de dança, rampa em in-
clinação, movimentos de sentar e levantar são algumas su-
gestões de exercícios que favorecem o fortalecimento do
membro pélvico (Figura 3). Já exercícios como carrinho de
mão e rampas em declive, favorecem fortalecimento de
membros torácicos. Cavaletes e túneis podem ser úteis para
trabalhar o ganho de amplitude de movimento das articula-
ções de cotovelo, joelho e tarso 5,21.
Esteiras aquáticas são grandes aliadas no processo de
reabilitação de pacientes artríticos. Na hidroesteira é pos-
sível trabalhar com diferentes níveis de água, podendo fa-
cilitar ou dificultar o deslocamento do paciente dentro da
água. Quanto maior imersão do corpo do animal, menor
será o impacto articular. Em níveis mais baixos de água, a
flexão e extensão da articulação estão relacionadas ao nível
de água 21, onde a quebra da tensão da superfície da água
torna difícil o deslocamento aquático. A natação, por não
promover qualquer impacto articular e favorecer ganho
de força muscular, é outra ferramenta amplamente utili-
zada no tratamento da osteoartrite. Cães com displasia co-
xofemoral submetidos à atividade de natação duas vezes
por semana, por oito semanas, apresentaram aumento sé- Figura 3 – Exercícios de sentar e levantar são ótimos para
rico de condroitina e ácido hialurônico, além do controle da fortalecimento de membros pélvicos. Uso de pranchas e
dor durante a palpação do quadril, melhorando a função almofadas proprioceptivas podem ser adicionadas para
articular 17. Massagem sobre os músculos contraturados e aumentar o desafio do exercício

398 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 39 – Fisioterapia em pacientes com osteoartrose

É importante ressaltar que o controle do peso, o uso de influência no desenvolvimento da osteoartrite 2. A redução
nutracêuticos, anti-inflamatórios e mudanças no ambiente do peso por si só (9 a 18% do peso corpóreo inicial),
em que o paciente vive, auxiliam no processo de reabilita- pode resultar na melhora do quadro de claudicação em cães
ção, aumentando as chances de sucesso do tratamento. obesos com osteoartrose 15. Além de dietas com restrição
Quando avaliamos o trote de cães obesos em plataforma de calórica adequada, exercícios de baixo impacto como na-
força e em testes cinemáticos, observamos que existe uma tação e a hidroesteira podem acelerar o processo de perda
maior amplitude de movimento durante fase de postura e de peso sem sobrecarregar as articulações (Figura 4). Os
um aumento das forças verticais e horizontais de reação ao exercícios devem se iniciar de forma gradual a fim de evitar
solo, quando comparado a cães magros, justificando o au- maiores desconfortos ao paciente com osteoartrite. Cami-
mentando as forças de compressão nas articulações e maior nhadas regulares realizada de forma controlada por guia

Quadro 1 – Síntese sobre abordagem terapêutica empregada na reabilitação da osteoartrose


ALTERAÇÕES ABORDAGEM TERAPÊUTICA
DOR • Crioterapia (agudos), bolsa água quente (crônicos), ultrassom terapêutico,
laserterapia, TENS, magnetoterapia, shockwave, massagem para o controle de
espasmo muscular e contraturas.
INFLAMAÇÃO • Limitação de atividades de impacto.
• Crioterapia (agudo), laserterapia, ultrassom terapêutico e magnetoterapia
ESTRESSE ARTICULAR • Controle de peso.
• Pisos antiderrapantes, rampas, restrição de atividades de impacto.
• Exercícios ativos de baixo impacto.
REDUÇÃO DA AMPLITUDE • Mobilização articular passiva.
DO MOVIMENTO • Mobilização articular ativa (cavaletes, hidroterapia e caminhadas).
ARTICULAR • Ultrassom terapêutico, bolsa de água quente (facilitadores de mobilização articular).
ALTERAÇÕES DA • Mobilização articular passiva.
CARTILAGEM • Atividades controladas de baixo impacto (caminhadas e hidroterapia).
ARTICULAR • Laserterapia, ultrassom terapêutico e magnetoterapia.
ATROFIA/HIPOTROFIA • Exercícios ativos de baixo impacto.
MUSCULAR • NMES

Figura 4 – A hidroesteira é um excelente método para estimular cães com osteoartrite a perder peso. O nível da água
deve ser adequado ao paciente, no intuito de aliviar a sobrecarga articular e facilitar a descarga de peso nos membros

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 399


Capítulo 39 – Fisioterapia em pacientes com osteoartrose

em superfícies macias como a grama e areia também 10-LEHMANN, J. F. ; MASOCK, A. J. ; WARREN, C. G. ; KOBLANSKI,
podem auxiliar no controle do peso e no fortalecimento do J. N. Effect of therapeutic temperatures on tendon extensibility.
Arch Phys Med Rehabil, v. 51, n. 8, p. 481-487, 1970.
membro 11.
11-LEVINE, D. ; MILLIS, D. L. ; MARCELLIN-LITTLE, D. J. ; TAY-
Pequenas modificações no estilo de vida podem trazer LOR, R. Reabilitação e fisioterapia na prática de pequenos ani-
benefícios para os pacientes com OA. Além do controle do mais. 1. ed. São Paulo: Roca, 2008. p. 136-138. ISBN:
peso, cuidados com o piso onde o animal é mantido é fun- 9788572417273.
damental para proporcionar melhor estabilidade ao caminhar, 12-LUO, Q. ; LI, S. S. ; HE, C. ; HE, H. ; YANG, L. ; DENG, L. Pulse
deitar e levantar. Para isso, sugere-se pisos antiderrapantes electromagnetic fields effects on serum E2 levels, chondrocyte
apoptosis, and matrix metalloproteinase-13 expression in ovariecto-
ou o uso de sapatilhas que facilitam a aderência da pata
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sobre o piso. Rampas são indicadas para minimizar saltos 10.1007/s00296-008-0782-6.
e facilitar o acesso em locais como sofás, camas ou am- 13-MANGUEIRA, N. M. ; XAVIER, M. ; SOUZA, R. A. ; SALGADO,
bientes com degrau. Escadas devem ser evitadas no intuito M. A. C. ; JUNIOR, L. S. ; VILLAVERDE, A. B. Effect of Low-
de controlar impactos. Corridas, escorregões, atividades de Level Laser Therapy in an Experimental Model of Osteoarthritis
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ciente com osteartrose. Em síntese, o quadro 1 propõe as 10.1089/pho.2014.3744.
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400 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 40 – Biomecânica de Fraturas e Implantes Ortopédicos – 1ª edição

40
Biomecânica de fraturas e implantes ortopédicos

Bruno Testoni Lins


Flávia de Santis Prada

A
escolha da melhor conduta no tratamento de fratu- As duas mais importantes propriedades do osso são
ras deve ter como base a correta compreensão de força e resistência. Essas propriedades dependem não só
todo o processo de consolidação óssea. Esse é um da composição material, assim como das dimensões de
mecanismo complexo, e o respeito à biologia, associada a cada osso e da velocidade de aplicação dessas forças. Ma-
uma técnica cirúrgica meticulosa e ambiente cirúrgico pro- teriais como os ossos, nos quais a absorção de energia de-
pício, além de cuidados pós-operatórios adequados consti- pende da carga aplicada em sua estrutura, são denominados
tuem a chave para um bom prognóstico. O processo de materiais viscoelásticos. Quando submetido a incrementos
consolidação óssea apresenta grande similaridade com a ci- de carga, o tecido ósseo sofre deformação. Inicialmente,
catrização de tecidos moles, mas sua capacidade de com- quando a dissipação de energia sobre o tecido ósseo é pe-
pleta regeneração, sem formação de tecido cicatricial, é quena, ele sofre uma deformidade elástica. A deformidade
única – chamada de consolidação per prima. elástica é aquela na qual com o cessar o estímulo, o osso
Os ossos são submetidos a eventos físicos e biológicos volta a ter o formato e características originais. Se houver
que podem ser entendidos como forças fisiológicas e for- continuidade da dissipação de energia, o osso passa a apre-
ças não fisiológicas. Forças fisiológicas são geradas pela sentar deformidade plástica. A deformidade plástica é
sustentação de peso, efeito da força da gravidade, contra- aquela na qual com o cessar do estímulo, o osso não volta
ção muscular e atividade física. Geralmente não excedem a ter o formato e características originais, permanecendo
a resistência dos tecidos envolvidos. Entretanto, em situa- com uma deformidade estrutural. Quando a dissipação de
ções de grande aceleração; grande demanda física ou es- energia prossegue além deste limite, observam-se as fratu-
forço cíclico repetitivo, podem ser aumentadas em mais ras. Aí sim se observa solução de continuidade e perda da
de cinco vezes e nesses casos, devem ser equilibradas pela integridade estrutural do arcabouço ósseo. Dessa forma,
contração muscular efetiva. Ainda, situações em que considerável quantidade de energia é liberada em uma fra-
ocorre comprometimento da estrutura e resistência do te- tura, e consequentemente, grande trauma tecidual é espe-
cido ósseo, como neoplasias; doenças osteometabólicas; rado. Outro fator interessante é que o osso é classificado
osteopenia, podem resultar em fragilidade e possibilidade com um material anisotrópico, isto é, força e resistência são
de fraturas patológicas decorrentes de forças fisiológicas. relacionadas a direção de carga aplicada, sendo máximas
As forças não fisiológicas ocorrem em situações não se a carga for aplicada paralelamente à orientação dos ós-
usuais, geralmente decorrente de traumatismos: atropela- teons. Adicional à complexidade dessas propriedades teci-
mentos, quedas ou brigas, por exemplo. A dissipação de duais, ossos e ligamentos são heterogêneos em sua
energia, quando transmitidas diretamente ao tecido ósseo, composição 4,9.
podem superar o momento de resistência elástica, gerar Diversas forças são atuantes em um osso durante a lo-
uma deformidade plástica e consequentemente resultar em comoção e de forma geral bem toleradas. Membros toráci-
fratura. O grau de lesão aos tecidos moles e intensidade cos e pélvicos de um cão ou gato sustentam cerca de 60%
do trauma ósseo, além do método de fixação e abordagem e 40% de seu peso corporal, respectivamente. Essas forças
cirúrgica são fatores determinantes para o processo de re- são transmitidas ao osso através das superfícies articulares
generação óssea 2,3. e contração muscular. As forças fisiológicas são uniaxiais
(tensão e compressão), mas podem desencadear momentos
Biomecânica das fraturas de torsão e flexão. Essas ocorrem quando do contato dos
O tecido ósseo tem papel fundamental na locomoção, dígitos com o solo, e simultaneamente por uma resposta si-
associado às articulações e músculos, além de promover a milar, mas em reação contrária, das forças de reação. A
homeostasia mineral e suporte à tecidos moles. O osso deve magnitude dessas forças varia proporcionalmente com a
ser entendido como se compondo de elementos que pro- aceleração corporal e a distribuição de peso carreada pelas
movem flexibilidade, elasticidade e por outro lado resis- extremidades com o impacto. Também o tempo de contato
tência, dureza e rigidez. Isso o torna verdadeiramente um é importante no efeito dessas forças. Uma carga rápida
material composto: formado principalmente por colágeno, pode ter efeito diferente da mesma força aplicada lenta-
com característica primordial de flexibilidade, e hidroxia- mente em uma determinada região. Cargas aumentadas em
patita, que oferece resistência tecidual elevada. Quanto às mais de cinco vezes o peso corporal podem ocorrer com
características morfológicas, o tecido ósseo pode ser clas- movimentos de aceleração em corridas ou saltos. Essas for-
sificado em dois tipos distintos: o osso cortical e esponjoso. ças causam compressão axial, e momentos de flexão e tor-
Um osso cortical apresenta entre 5 e 30% de porosidade, são, que devem ser balanceados pela contração muscular
enquanto que em um osso esponjoso, esses valores variam para um controle efetivo da movimentação e manutenção
entre 30 e 90%. do equilíbrio.

Fisiatria em pequenos animais 401


Capítulo 40 – Biomecânica de fraturas e implantes ortopédicos – 1ª edição

Os diversos moldes de cargas (compressão, flexão e tor- em um mesmo paciente. Ambos os processos são dependen-
são) ao que os ossos estão sujeitos, desencadeiam padrões tes de um sistema vascular aferente (artéria nutriente, artérias
de fraturas específicos. Como o osso é mais susceptível metafisárias e epifisárias, além de artérias periosteais).
quando submetido à uma carga de cisalhamento ou tensão, Para ocorrer à consolidação óssea direta, é necessária
a falência ocorre nas zonas de estresse de cisalhamento ou uma perfeita aposição dos segmentos no foco de fratura,
tensão. Ossos submetidos à cargas compressivas, geral- associada à estabilidade absoluta. Geralmente esse pro-
mente sofrem fraturas obliquas ao eixo longitudinal, cor- cesso ocorre em fraturas transversas ou obliquas curtas, re-
respondente ao plano de máximo estresse de cisalhamento duzidas de forma anatômica e estabilizadas por placas de
interno. Cargas de flexão iniciam uma fratura transversa compressão dinâmicas ou fixadores externos complexos.
correspondente ao máximo estresse de tensão interno de Esse processo pode ainda ser subdividido em cicatrização
sua superfície convexa. Cargas torcionais criam um es- direta de contato e cicatrização direta com reduzida falha
tresse de cisalhamento interno paralelo a coluna de osso e óssea. A consolidação direta de contato ocorre em zonas de
podem iniciar uma fratura no ponto máximo de estresse contato ósseo, cujo defeito é menor do que 0,01 mm e a
de cisalhamento. A fratura é propagada de modo espiral ao deformação inter-fragmentar menor do que 2%, e é ca-
longo da circunferência óssea, correspondendo à zona de racterizada por remodelamento ósseo no plano da fratura.
máximo estresse de tensão. Clinicamente, as fraturas poder Osteoclastos nas extremidades dos cones promovem a
ser resultantes de traumas de baixo impacto, e consequen- reabsorção óssea, enquanto que osteoblastos em seguida
temente, suas forças deduzidas, ou, resultarem em pa- promovem deposição de matriz óssea. Também, o remode-
drões mais complexos decorrentes da combinação de cargas lamento do sistema Harvesiano ocorre simultaneamente.
(Figura 1). Esse processo ocorre com o avanço dos cones de um
segmento ao outro no plano de fratura em uma taxa de 50
Biologia das fraturas a 100 µm/dia. Os osteoclastos avançam pela linha de fra-
O processo de cicatrização óssea pode ocorrer de duas tura, criando cavidades orientada longitudinalmente. As
formas distintas: Consolidação óssea primária ou direta, e alças capilares no interior dessas cavidades são acompa-
consolidação óssea secundária ou indireta. É importante res- nhadas por precursores osteoblásticos perivasculares que
saltar que uma forma não é superior a outra, mas sim, cons- se diferenciam em osteoblastos e produzem matriz osteoide.
tituem processos distintos e podem ocorrer simultaneamente Os ósteons na ponte óssea sofrem amadurecimento com o

cominutiva
transversa oblíqua
múltiplas

Figura 1 – Classificação de fraturas baseadas na direção e número de linhas de fraturas em ossos longos

402 Fisiatria em pequenos animais


Capítulo 40 – Biomecânica de fraturas e implantes ortopédicos – 1ª edição

preenchimento de osso lamelar e unindo os dois fragmentos pelo plano de fratura para união com o novo osso lamelar
sem calo periosteal. O novo osso lamelar é imediatamente depositado na falha em cada extremidade. Com o tempo,
alinhado paralelamente ao eixo longo do osso, sendo menos novo osso lamelar é orientado longitudinalmente e resta-
denso do que a cortical intacta durante os primeiros meses belece a integridade anatômica e mecânica das corticais.
de consolidação (Figura 2). A consolidação óssea secundária ocorre na presença de
Um processo diferente de consolidação óssea direta tem fatores como estabilidade reduzida ou imperfeita aposição
sido observado em falhas ósseas menores do que 800 µm à dos segmentos ósseos no foco. Importante ressaltar que
1mm e também com deformação interfragmentária menor uma elevada instabilidade ou acentuado defeito ósseo re-
do que 2%. Apesar de não existir direta aposição óssea nes- sultarão em não união óssea. Em caso de falha óssea maior
sas zonas, a estabilidade absoluta é proporcionada pelas do que 1mm, comprometimento da vascularização ou de-
zonas de contato adjacentes. Na consolidação óssea direta formação interfragmentar acentuada, a formação de osso
com falha, a união óssea e o remodelamento do sistema lamelar é impedida e então ocorrerá consolidação óssea in-
Harversiano são etapas sequenciais distintas. Dessa forma, direta. A cascata de eventos aumenta a resistência tecidual
tal espaço é inicialmente preenchido por vasos sanguíneos à custa da tolerância à deformação até que valores reduzi-
e tecido conectivo. O foco de fratura é preenchido direta- dos de estresse permitam uma sólida ponte óssea. Nesse
mente por ossificação intramembranosa, mas o novo osso processo, ocorre formação de tecido fibroso ou cartilagi-
lamelar formado possui orientação perpendicular ao eixo noso previamente à consolidação. As fases inflamatórias,
longo do osso. O remodelamento do sistema Haversiano de reparo (calo fibroso, cartilaginoso e ósseo) e remodela-
tem inicio num período entre 3 e 8 semanas da fratura, mento são sucedidas (Figura 3).
quando os osteoclastos formam cavidades orientadas lon- A fase inflamatória tem início imediato após a perda da
gitudinalmente. Após um período de duas semanas, o su- integridade óssea, com a etapa vascular associada à he-
primento vascular é restabelecido, e então ocorre deposição morragia, hemostasia primária e secundária. A fratura leva
lamelar de osteoblastos orientada perpendicularmente na inevitavelmente a perda de integridade da vascularização
falha óssea. A conexão inicial entre o novo osso e a extre- intramedular e periostal, com subsequente extravasa-
midade dos fragmentos apresenta resistência reduzida. Nas mento de sangue. Evidências crescentes de que o hematoma
três à quatro semanas seguintes, ocorre a reconstrução possui importante papel no foco de fratura, sendo esse,
osteonal secundária, com novos cones cortantes formados fonte de liberação de fatores de crescimento, estimulando
por novos ósteons na falha e pelos ósteons preexistentes a angiogênese e osteogênese, além de funcionar como ar-
nas extremidades do foco de fratura. Esses cones avançam cabouço para a formação do tecido de granulação. O trans-
plante de hematoma do foco de fratura tem sido capaz de
promover indução da ossificação endocondral em focos
ectópicos, fato consistente com a presença de fatores de

Figura 2 – Consolidação óssea direta

Fisiatria em pequenos animais 403


Capítulo 40 – Biomecânica de fraturas e implantes ortopédicos – 1ª edição

abundantes durante esse estágio e contribuem para a for-


mação de novos vasos sanguíneos. Em uma fratura fe-
chada, sem grande trauma tecidual, essa etapa perdura por
Fase inflamatória aproximadamente 3 a 5 dias, podendo se estender em
casos de elevada destruição tecidual, acentuada contami-
nação ou evidente instabilidade. Clinicamente, o término
da fase inflamatória coincide com a redução da dor e
edema 7.
Em poucos dias, o crescimento de capilares, associado
aos mononucleares e fibroblastos, começam a transforma-
ção do hematoma em tecido de granulação. Esse estágio
Fase de reparo: tecido de granulação
(calo fibroso)
inicial da fase de reparo coincide com um leve ganho de
resistência mecânica, visto que esse tecido pode suportar
uma força de até 0,1 Nm/mm 2. A capacidade desse tecido
de se alongar por até o dobro de seu comprimento original
explica sua formação nesse estágio, visto que a deformação
interfragmentar ainda permanece alta nesse momento. O
tecido de granulação então sofre maturação em um tecido
Fase de reparo: calo conectivo, com fibras colágenas mais abundantes, com re-
cartilaginoso/ósseo sistência de 1-60 Nm/mm 2 e uma resistência a deformação
de 17%. Colágeno tipo I, II e III são inicialmente deposita-
dos, mas com a continua maturação do processo, predo-
mina a deposição de colágeno tipo I. Esse tecido fibroso
interfragmentar é organizado em um padrão diagonal, oti-
mizando sua capacidade de alongamento.
Fase de remodelamento: Uma tensão reduzida de oxigênio, pobre vascularização,
calo ósseo
fatores de crescimento e estresse interfragmentar influen-
Figura 3 – Consolidação óssea indireta: Inicialmente ciam a formação do calo cartilaginoso. As células mesen-
ocorre a fase inflamatória, seguida por substituição por te- quimais na camada de cambio do periósteo, endósteo,
cido de granulação, calo cartilaginoso e calo ósseo na fase
medula óssea e tecidos moles adjacentes começam a se pro-
de reparo e finalmente remodelamento ósseo
liferar durante a fase inflamatória e se diferenciam em con-
drócitos na fase de reparo. A quimiotaxia, proliferação,
crescimento osteoindutivos. As plaquetas parecem ser a pri- coordenação e diferenciação dessas células progenitoras
meira fonte de fatores mitogênicos no foco de fratura. Em em condrócitos ou osteoblastos é orquestrada por numero-
adição aos fatores de coagulação, são liberados fatores de sos fatores de crescimento, dos quais TGF-β e proteínas ós-
crescimento derivados de plaquetas (PDGF) e fatores trans- seas morfogênicas (BMPs) tem papel principal. O periósteo
formadores de crescimento β-1 (TGF- β-1), ambos estimu- próximo ao foco de fratura sofre espessamento antes da
ladores da produção óssea. As propriedades angiogênicas transformação condrogênica, assim produzindo um calo
do hematoma no foco de fratura parecem ser mediadas via ósseo externo totalmente formado por vasos extra-ósseos.
fator de crescimento endotélio-vascular (VEGF). Ainda na Esse calo macio formado durante as três primeiras semanas
fase inflamatória, ocorre a etapa celular, com migração de da lesão resiste a compressão, mas sua resistência tênsil (4-
neutrófilos e macrófagos, responsáveis pelo desbridamento 1,9 Nm/nm 2) e potencial de deformação (10 – 12,8%) são
celular no foco de fratura. Acredita-se que os macrófagos similares ao tecido fibroso. O volume de calo formado é
orquestram uma sequência ordenada de eventos na cicatri- diretamente proporcional ao grau de movimentação no foco
zação cutânea e devem possuir um papel semelhante na de fratura. O alargamento do calo no foco de fratura au-
consolidação óssea. Essas células, contém vários fatores de menta significativamente a resistência. O aumento das con-
crescimento, como fator de crescimento fibroblasto (FGF), centrações de proteoglicanos na fibrocartilagem também
e iniciam a fibroplasia tanto de tecidos moles quanto o re- contribuem para uma maior resistência do defeito no foco
paro ósseo. A resposta vascular proliferativa e o grau de de fratura.
reabsorção óssea podem ser afetados pelo comprometimento Sequencialmente ocorre a mineralização da fibrocarti-
dos tecidos moles, de forma traumática ou iatrogênica. lagem, à partir das extremidades dos fragmentos em dire-
Ainda, mediadores inflamatórios como as prostaglandinas ção ao centro da falha óssea e no tecido fibroso entre as
E1 e E2 podem além de estimular a angiogênese, serem fibrilas de colágeno. Esse não é um processo homogêneo,
responsáveis pela sinalização da reabsorção óssea inicial pois os condrócitos iniciam e controlam a formação de
pelos osteoclastos e proliferação das células osteoprogeni- ilhas mineralizadas, provavelmente influenciados por es-
toras. Mastócitos contendo substâncias vasoativas são tímulos mitocondriais. A mineralização desses tecidos

404 Fisiatria em pequenos animais


Capítulo 40 – Biomecânica de fraturas e implantes ortopédicos – 1ª edição

proporciona resistência estrutural e rigidez para limitação exuberância dos terminais ósseos, geralmente causada
da deformação no foco à níveis que permitam o início da quando há boas condições biológicas locais, mas falta de
formação de tecido ósseo. O tecido de fibrocartilagem sofre estabilidade na fixação dos fragmentos, ou pseudartrose
então ossificação endocondral, com osteoide depositado no atrófica, na qual geralmente há precariedade de condições
arcabouço de cartilagem mineralizada, formando osso es- locais ou sistêmicas: infecção, desnutrição e/ou distancia-
ponjoso, que apresenta resistência suficiente para retorno mento excessivo entre os fragmentos.
à função após fusão completa. A invasão vascular da fibro-
cartilagem ocorre concomitante com a degradação dos Fatores estimuladores da consolidação óssea
componentes de matriz não-mineralizada por macrófagos. O osso esponjoso autógeno é o material mais efetivo na
Em seguida a essa reabsorção, vasos sanguíneos e células aceleração da consolidação óssea e é considerado o padrão-
osteoprogenitoras formam novo osso trabeculado. A resis- ouro na avaliação dos substitutos de enxerto ósseo. O en-
tência tênsil do osso compacto é próxima à 130Nm/mm2, xerto de osso esponjoso autógeno funciona como arcabouço
mas seu módulo de elasticidade (resistência à deformação) para as células osteoprogenitoras, e também fornece células
é maior (10.000Nm/mm2) e sua capacidade de alongamento viáveis sem reações imunes ou transmissão de doenças.
limitada à 2%. Nesse momento, o osso consolidado apre- Apesar do osso esponjoso conter fatores de crescimento
senta diâmetro aumentado e formato irregular. local em sua matriz extracelular, suas propriedades osteoin-
A fase final de consolidação óssea é caracterizada por dutivas permanecem controversas. A implantação ectópica
uma adaptação morfológica do osso para recuperação de de células do osso esponjoso (sem desmineralização), não
sua função ótima e resistência. Esse processo pode durar induzem a formação óssea. Em cães, maior volume de osso
de 6 a 9 anos em pessoas, representando cerca de 70% do esponjoso pode ser coletado da asa do ílio, seguido de úme-
tempo de cicatrização, mas em cães e gatos tende a ocorrer ro proximal e face medial da tíbia proximal. A cicatrização
em um período de alguns meses. Durante os próximos dos leitos doadores varia de acordo com a localização, mas
meses então, ocorre o processo de remodelamento, no qual uma segunda coleta pode ser realizada com sucesso após 12
esse osso esponjoso é substituído por osso lamelar longi- semanas em casos de enxertos umerais ou femorais. Defei-
tudinalmente orientado, sendo restaurado o contorno ósseo tos na tíbia proximal tendem a apresentar uma cicatrização
original por ossificação intra-membranosa. O balanço entre mais lenta e com maior preenchimento de tecido fibroso.
reabsorção osteoclástica e deposição osteoblástica é gover- Deve ser realizada uma programação adequada para enxer-
nado pelas leis de Wolff e modulado por piezoeletricidade, tia óssea, a fim de se minimizar o tempo de armazenamento.
um fenômeno no qual a polaridade elétrica é criada pela O transplante imediato do sitio de coleta mostra-se prática
pressão exercida pelo ambiente cristalino. A carga axial nos bastante favorável. A viabilidade celular em enxertos autó-
ossos longos cria uma superfície convexa eletropositiva, na genos frescos varia de 85 a 100% e é reduzida com o tempo
qual a atividade osteoclástica predomina. Na superfície de armazenamento. O armazenamento trans-operatório em
côncava oposta, a eletronegatividade é associada com au- gazes embebidas em sangue tem sido defendido quando ne-
mento da atividade osteoblástica. O calo externo torna-se cessário. Complicações associadas a coleta de enxerto au-
mais fusiforme e gradualmente desaparece. O remodela- tógeno têm sido relatadas em aproximadamente 25% dos
mento do calo interno permite o restabelecimento da cavi- pacientes humanos, sendo 3-4% complicações severas,
dade medular continua na diáfise óssea. porem em cães e gatos, esses índices parecem ser reduzidos.
A consolidação óssea é determinada pela estabilidade Outros aditivos como proteínas ósseas morfogenéticas
proporcionada por implantes e fatores biológicos, como (BMPs), plasma rico em plaquetas (PRP), células-tronco,
idade e tamanho do paciente, tipo e localização da fratura, podem constituir fatores de aceleração e potencialização do
redução aberta ou fechada, tipo de lesão e grau de conta- processo de consolidação óssea.
minação 1,7. Vascularização comprometida e excessiva ins- Enxertos corticais alógenos congelados têm sido consi-
tabilidade proporcionaram somente a formação de tecido derados os únicos implantes com capacidades osteocondu-
fibroso e consequente nao-união atrófica. Se no foco de tivas capazes de oferecer suporte estruturar para grandes
fratura persiste um ambiente bem vascularizado, mas com defeitos ósseos. Apesar da disponibilidade de alguns ban-
movimentação interfragmentar acentuada, a consolidação cos de enxerto para pequenos animais, seus custos perma-
óssea poderá evoluir até a formação de um calo cartilagi- necem impraticáveis para a grande maioria dos centros
noso, mas esse não será suficiente para estabilização dos veterinários. Bancos de enxertos com conservação por ou-
segmentos, resultando em distúrbio da consolidação. Neste tros meios como glicerina, oferecem pouca segurança
cenário, pode haver um retardo da consolidação ou até a quanto à contaminação e características imunológicas.
efetiva não-união dos fragmentos ósseos, cujo nome téc- Além disso, complicações como incompleta reabsorção, fa-
nico é pseudartrose. Fatores clínicos como cooperação do lência e infecção são frequentes com esse método.
paciente, experiência do cirurgião e mobilização precoce
também constituem fatores extremamente importantes para Implantes ortopédicos
o prognóstico. A pseudartrose pode ser classificada por seu Os implantes ortopédicos devem ser elaborados a partir
aspecto morfológico em pseudartrose hipertrófica, se há de matéria prima de excelente procedência e com observação

Fisiatria em pequenos animais 405


Capítulo 40 – Biomecânica de fraturas e implantes ortopédicos – 1ª edição

dos mais rigorosos padrões de engenharia, seguindo as associados a pinos ou no tratamento de fraturas diafisárias
normas de certificação e padronização. Implantes de baixa e metafisárias associados a placas. Essa última configura-
qualidade estão associados a maiores taxas de complica- ção oferece grande resistência mecânica à osteossíntese.
ções como falência prematura da osteossíntese ou liberação Entretanto, em todos os casos de fixação interna, deve-se
de substancias tóxicas para o organismo do paciente. Tam- observar os preceitos de mínimo trauma tecidual de forma
bém o processo de codificação individual dos implantes e a favorecer a preservação da vascularização tecidual e re-
rastreamento torna-se parte essencial da logística de forma duzir os riscos de complicações como infecção óssea ou não-
a possibilitar o acompanhamento e controle de eventuais união. Fraturas transversas em sua maioria tem indicação
intercorrências. primaria de osteossíntese por placa de compressão dinâmica,
Tradicionalmente, os implantes ortopédicos tem sido ca- de forma a proporcionar elevada resistência mecânica e per-
racterizados em dois grandes grupos: os fixadores externos feita aposição dos segmentos no foco de fratura, favore-
lineares ou circulares, e os dispositivos de fixação interna, cendo assim o apoio precoce (Figura 4). Em fraturas
que são representados pelos pinos, cerclagens, parafusos, obliquas ou eventualmente fraturas múltiplas, pode-se pre-
hastes bloqueadas, placas convencionais e placas bloquea- conizar a reconstrução anatômica com placas de neutraliza-
das. Uma efetiva osteossíntese deve observar o princípio ção. Entretanto, para fraturas complexas, a abordagem
básico de contraposição de todas as forças atuantes no foco atualmente preconizada é de uma osteossíntese biológica,
de fratura pelos implantes, proporcionando uma estabili- com emprego de osteossíntese em ponte.
dade absoluta ou relativa para a consolidação óssea 3. As placas bloqueadas constituem atualmente alguns dos
Os fixadores externos lineares podem ter como principais implantes mais modernos relacionados a ortopedia. Nesses
vantagens sua enorme versatilidade, necessidade de menor implantes, diferentemente das placas convencionais, os pa-
quantidade de instrumental especifico e custos reduzidos. São rafusos além de rosquearem no osso, também possuem roscas
indicados principalmente para o tratamento temporário (con- em sua superfície de contato com a placa, proporcionando
trole de danos) ou definitivo de fraturas expostas. Cabe res- estabilidade angular. Por esses fatores, tais implantes são
saltar, no entanto, que seu emprego está associado a maior denominados também fixadores internos e possuem como
morbidade (dificuldade de manejo no pós-operatório, des- vantagens extras uma reduzida necessidade de modelagem
conforto pelo paciente e menor resistência mecânica) quando das placas e menor contato dessas com a cortical óssea, dessa
comparado à fixação interna por placas e parafusos. Os fixa- forma preservando o suprimento vascular periosteal. Tais ob-
dores circulares oferecem maior versatilidade em comparação servações tornam esses implantes excelentes alternativas para
aos lineares, constituindo implantes com maior resistência a estabilização de fraturas complexas, justa-articulares
mecânica. Entretanto, o seu emprego ou peri-protéticas. Um novo sistema
requer instrumental específico e trei- de placas bloqueadas, composto por
namento avançado, sendo restrito ao um conjunto de suporte, buchas e
tratamento de deformidades angu- parafusos está disponível comercial-
lares, fraturas complexas ou trata- mente mun dialmente e tem sido
mento de complicações prévias. demonstrado excelentes resultados
Os pinos lisos são geralmente in- biomecânicos e clínicos com seu em-
dicados para emprego em configura- prego 6,8,10 (Figuras 5 e 6).
ção de pinos cruzados ou na técnica As hastes bloqueadas têm sido
de pinos de rush, em casos de fraturas empregadas como um dos métodos
simples metafisárias. Apesar de ofere- de osteossíntese mais frequente em
cerem pouca resistência mecânica, ortopedia. Atualmente existem al-
proporcionam menor interferência no guns sistemas de hastes disponíveis
potencial de crescimento de filhotes. comercialmente no mercado veteri-
Esses pinos podem ainda ser empre- nário. Por estarem inseridos no canal
gados em associação à cerclagem em medular e consequentemente no eixo
um padrão de banda de tensão para ósseo anatômico, configuram o dis-
estabilização de fraturas epifisárias. positivo com maior resistência mecâ-
O emprego de pinos intramedulares nica possível. Entretanto, limitações
associados a cerclagem deve ser res- quanto ao seu uso quase que exclusi-
trito a situações bem especificas, por vamente em fraturas diafisárias, ta-
não oferecer grande resistência me- manho e desenho dos implantes e
cânica, principalmente em cães de principalmente considerações de
maior porte ou pacientes idosos. complicações inerentes ao sistema de
Os parafusos ortopédicos podem bloqueio ainda são aspectos críticos
ser indicados para a estabilização Figura 4 – Osteossíntese por placa LCP e que restringem o seu uso na orto-
de fraturas epifisárias geralmente e consequente compressão dinâmica pedia de cães e gatos.

406 Fisiatria em pequenos animais


Capítulo 40 – Biomecânica de fraturas e implantes ortopédicos – 1ª edição

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composto por suporte, buchas e parafuso to an experimentally created fracture gap in femurs of canine
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Considerações finais COMO CITAR ESSE CAPÍTULO


A observação dos aspectos biológicos e biomecânicos LINS, B. T. ; PRADA, F. S. Biomecânica de fraturas e
constitui papel extremamente importante no tratamento de implantes ortopédicos. In: LOPES, R. S. ; DINIZ, R.
fraturas. Atualmente tem sido preconizado na quase tota- Fisiatria em pequenos animais. 1. ed. São Paulo :
lidade dos casos o tratamento cirúrgico de fraturas asso- Editora Inteligente, 2018. p. 401-407. ISBN: 978-85-
ciado a reabilitação, de forma a se proporcionar uma 85315-00-9.
recuperação precoce do paciente e menores taxas de com-
plicações. A osteossíntese minimamente invasiva asso-
ciada a cuidados pré, trans e pós-cirúrgicos favorecem uma
menor taxa de complicações e mais rápido retorno das ati-
vidades. O manejo desses pacientes com auxílio de imo-
bilização externa deve ser evitado ao máximo, por estar
associado a elevada taxa de complicações, como não-
união, má-união e feridas.

Fisiatria em pequenos animais 407


41
Fisiatria em fraturas

Gustavo Vicente

A
reabilitação é uma importante parte no tratamento liar a extensão e flexão das articulações e observar crepita-
do manejo de fratura. O foco principal do cirurgião ção, cor e diminuição de amplitude de movimento;
ortopedista tem sido o reparo da fratura e, nos úl- • avaliação neurológica do membro afetado, verificando
timos anos tem se dado maior atenção para os tecidos presença de lesão nervosa associada ao trauma cirúrgico;
moles adjacentes com a finalidade de manter a amplitude • palpar local da fratura a fim de verificar dor, instabilidade
de movimento total nas articulações. A reabilitação de pa- ou aumento de temperatura local.
cientes com fraturas pode ser iniciada antes mesmo do pro- Entre as alterações encontradas no paciente, deve se ob-
cedimento cirúrgico com a finalidade de promover analgesia. servar possíveis alterações neurológicas causadas pela fra-
O manejo pós-operatório de fratura deve ser feito com cui- tura. Caso seja confirmada a lesão, deve ser tratado além
dado e conhecimento sobre biomecânica da fratura, tipo de da fratura, a lesão nervosa.
implante utilizado e objetivo terapêutico a fim de realizar Os objetivos terapêuticos do tratamento da fisioterapia
os tratamentos adequados para uma recuperação funcional para a reabilitação do pós-operatório são:
do paciente. Os exercícios terapêuticos realizados devem • analgesia;
ser feitos levando em consideração o tipo do implante co- • redução de edema;
locado e o risco de falha do mesmo 5,18. • cicatrização de ferida;
A cicatrização óssea corresponde ao processo biológico • acelerar cicatrização óssea;
que ocorre após uma destruição óssea e cartilaginosa, que • retorno funcional do membro;
restaura a continuidade tecidual necessária para a função e • recuperação dos danos em músculos, tendões e ligamentos;
varia dependendo de fatores mecânicos, como estabilidade • desenvolvimento e incremento de massa muscular;
dos segmentos e fragmentos ósseos após aplicação de dis- • reabilitação de possível lesão nervosa associadas a fratura;
positivo de fixação, e biológicos como localização da fra- • restaurar a amplitude de movimento do membro afetado;
tura nos ossos corticais ou esponjoso ou na cartilagem • revisar e auxiliar no manejo do paciente em casa, orien-
fisária, respostas celulares, circulação sanguínea na região tando o tutor a manter o paciente em piso anti-derrapante,
lesionada e lesão de tecido mole intercorrente. Todos os em repouso durante o tempo de reabilitação, proibindo
processos fisiológicos que acontecem dentro do osso, en- subir e descer de superfícies, além de restringir brincadeiras
volvendo os processos cicatriciais da fratura, dependem do de alto impacto 5,6,9,10,12.
suprimento sanguíneo 1. Ao iniciar o tratamento de um pa- De acordo com o tipo e localização anatômica da fra-
ciente pós-operatório de fratura deve ser realizado avalia- tura, alguns cuidados devem ser observados para a reabili-
ção completa do paciente para verificar todas possíveis tação completa do paciente:
lesões, se além da fratura apresenta alguma afecção orto-
pédica ou neurológica em outras articulações e membros 6. Fraturas diafisárias
As radiografias pré e pós-operatória são de grande im- As fraturas diafisárias em ossos longos devem ser tra-
portância para entender sobre o procedimento cirúrgico, tadas levando em consideração o tipo de fixação, se é in-
qual a técnica utilizada e observar o resultado da cirurgia. terna ou externa, e tem a finalidade de controlar analgesia,
Caso seja percebida durante a avaliação alguma alteração, reduzir danos causados em tecidos moles e acelerar a cica-
deverá ser solicitada uma nova radiografia. Se forem en- trização óssea 6,9.
contradas alterações radiográficas condizentes com com-
plicações no procedimento cirúrgico, o paciente deverá ser Fraturas articulares
encaminhado ao clínico ou cirurgião responsável, imedia- Com o objetivo de uma cicatrização óssea primária, ne-
tamente, pois na maioria desses casos, se faz necessária cessita de uma fixação rígida assim a articulação fica o
uma nova intervenção cirúrgica, não cabendo ao fisiatra mais preservada anatomicamente possível diminuindo ao
tentar solucionar este problema. máximo a possibilidade de doença articular degenerativa
O exame físico do membro fraturado deve ser feito da em consequência da fratura articular. Por se tratar de região
seguinte forma: articular, deve se avaliar e tratar lesões tendíneas, ligamen-
• observar o paciente caminhando em diferentes tipos de tares e musculares associadas, pois além de causar dor,
piso (liso e antiderrapante) aonde deve avaliar a claudica- podem causar instabilidade articular e consequentemente
ção e descarga de peso; artrose 5,9.
• a palpação do membro deve ser realizada de forma minu- Durante o procedimento cirúrgico pode haver uma dis-
ciosa com a finalidade de encontrar dores, hipotrofia ou secção extensa de tecidos e consequentemente a isso a for-
atrofia e contratura muscular; mação de fibrose em meio ao tecido muscular e
• a mobilização articular deve ser realizada de forma a ava- periarticular favorecendo para que haja uma limitação da

408 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 41 – Fisiatria em fraturas

amplitude de movimentos em alguns casos 18. nos primeiros dias pós-operatório e, deve se levar em con-
Na reabilitação devem ser tratadas as possíveis lesões sideração o tipo de fratura e o implante utilizado.
em tecidos moles, favorecer a cicatrização óssea com O início dos exercícios ativos pode ser iniciado quando
agentes físicos e trabalhar mobilização passiva e exercí- o paciente está apto a se manter em estação e caminhar, e
cios de forma a conseguir a amplitude de movimento arti- tem por objetivo melhorar a marcha, aumentar a força e re-
cular normal. sistência durante as atividades do dia a dia do animal. As
caminhadas assistidas podem ser realizadas duas vezes ao
Fraturas fisárias dia com duração de até 5 minutos. Caminhadas em esteira
Fratura em linha de crescimento também é considerada aquática podem ser utilizadas quando o paciente estiver es-
fratura articular, esse tipo de lesão apresenta como agra- tável, sem lesões cutâneas e devem iniciar com sessões de
vante a linha de crescimento óssea que além de necessitar duração curta e com intervalo entre elas 18.
se uma estabilização rígida e redução anatômica perfeita,
as linhas de crescimento lesionadas podem fechar preco- Artrodese
cemente causando alterações angulares ósseas onde muitas Artrodese é a fusão cirúrgica de uma articulação com a
vezes será preciso diagnosticar e tratar cirurgicamente essa finalidade de salvar e preservar a função do membro.
correção angular 5,6. Quando há um dano articular grave causado por diversos fa-
Conhecida como fratura de Slater-Harris, ela pode ser tores como doença degenerativa articular grave, lesão liga-
classificada em: mentar e em alguns casos de lesão nervosa. Para criar a fusão
• Tipo I – a fratura envolve apenas a fise; óssea, é imobilizada a articulação e feita curetagem da car-
• Tipo II – a fratura envolve a fise e a metáfise; tilagem articular e colocado enxerto ósseo e fixado com o
• Tipo III – a fratura envolve a fise e a epífise; implante planejado pelo cirurgião (placa, pinos, parafusos
• Tipo IV – a fratura passa pela metáfise, linha fisária e atra- ou fixador externo). Esse tipo de procedimento cirúrgico
vessa a epífise; causa uma reação inflamatória e edema intenso pós-opera-
• Tipo V – a fratura ocorre por compressão na linha fisária; tório. Na reabilitação inicialmente a crioterapia auxilia na re-
• Tipo VI – a fratura é caracterizada por um fechamento dução de edema e o principal objetivo é auxiliar para que
parcial da linha fisária 6,12. aconteça a consolidação óssea o mais breve possível, para
A reabilitação dos pacientes com linha de crescimento isso, as terapias que estimulam a cicatrização óssea como
aberta é um desafio pois os mesmos possuem um alto nível magnetoterapia, laser, ultrassom entre outras são fundamen-
de atividade e baixa tolerância a procedimentos potencial- tais. Exercícios e treino de marcha devem ser realizado para
mente dolorosos como exercícios de amplitude de movi- adaptação do membro e após a fusão óssea estabelecida, re-
mento. A fisioterapia deve ser realizada de forma semelhante cuperar o padrão da marcha mais próximo do normal 5,6.
as fraturas articulares. Porém, levando em consideração as
contraindicações de alguns agentes físicos como por exem- Fratura de coluna
plo o laser, fototerapia, ultrassom durante o tratamento. Fraturas de coluna devem ser tratadas respeitando o
Com a finalidade de preservar a articulação próxima ao tempo de repouso solicitado pelo cirurgião e, em casos
normal, deve ser realizado o acompanhamento radiográfico onde o paciente não foi operado, esperar o tempo de fibrose
do paciente para acompanhar e prevenir alterações de des- e cicatrização tecidual para iniciar terapias como esteira
vios angulares ósseos causadas por fechamento precoce de aquática e caminhadas assistidas. O tratamento desse pa-
disco de crescimento 9. ciente deverá ser feito de forma similar ao tratamento de
hérnia de disco, respeitando o prognóstico de acordo com
Fratura de pelve o grau da lesão. Pelo fato da medula finalizar o seu seg-
O tratamento das fraturas de pelve onde foi optado pelo mento no espaço vertebral de L6 e as raízes nervosas serem
tratamento conservador, sem a realização de cirurgia cor- mais resistentes a lesões traumáticas em relação a medula,
retiva, deve ser realizado respeitando o repouso do pa- o prognóstico de fraturas em região lombossacro é melhor
ciente. A cintura pélvica fica instável quando fraturada e em relação aos demais segmentos. Em casos de lesões gra-
uma sustentação de peso excessiva pode causar desloca- ves, onde a dor profunda é perdida e não se restabelece, a
mento resultando em dor e comprometimento adicional do chance de desenvolver andar medular pode ocorrer em le-
canal pélvico. Nesses pacientes o acompanhamento obser- sões toracolombares. Lesões na região lombossacra medu-
vando principalmente se o paciente consegue defecar nor- lar (L4-L5) possuem pior prognóstico, devido ao
malmente é fundamental, uma vez que a fratura pode comprometimento do plexo, o que confere uma caracterís-
causar compressão em porção final de intestino. Utilizar tica de flacidez e diminuição de reflexos 5,6.
terapias que estimulam consolidação óssea além da anal- Pacientes com fratura de coluna devem receber alguns
gesia é de extrema importância 6,9. cuidados essenciais em casa, tais como:
Para iniciar terapias manuais como cinesioterapia e • deixar o animal em local acolchoado;
exercício, a analgesia do paciente deve estar controlada. A • trocar de decúbito a cada 4 horas para evitar escaras de
cinesioterapia e os exercícios passivos podem ser iniciados decúbito;

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 409


Capítulo 41 – Fisiatria em fraturas

• realizar compressão vesical a cada 3 horas. A compressão acelerar a formação óssea, isso se deve ao incremento da
deve ser ensinada para o tutor e treinada com ele para ter atividade osteoblástica e de osteoclastos, da vascularização,
certeza que será bem-feita. O manejo urinário correto é de da organização de fibras colágenas e pelo incremento nos
extrema importância para que não desenvolva infecção uri- níveis de ATP 7,13.
nária; Estudos experimentais propõe que o laser estimula o
• repouso absoluto do paciente; processo de reparação óssea durante os estágios iniciais da
• manter em local com piso antiderrapante. cicatrização 15.

Fraturas tratadas com fixadores externos. Magnetoterapia


Os fixadores externos são implantes bastante utilizados Além do efeito anti-inflamatório, analgésico, aumento
pelos cirurgiões ortopedistas que conferem vantagens no de potencial de ação da membrana celular e aumento da
tratamento de alguns tipos de fraturas como por exemplo circulação sanguínea, a magnetoterapia tem o efeito pie-
em fraturas expostas que a fixação externa é o método de zoelétrico como um grande benefício fazendo com que ace-
eleição para esse tipo de lesão óssea. O aparelho de fixação lere o processo de cicatrização óssea 10.
externa pode dificultar a aplicação de algumas terapias, de- Vários estudos experimentais têm demonstrado que
vendo estar atento ao uso dos mesmos. A presença de feri- campos eletromagnéticos pulsados podem acelerar o reparo
das abertas também pode ocorrer, e nestes casos, o uso da ósseo (Figura 1) de fraturas em animais com resultados sig-
termoterapia estará contraindicada. nificativos relativos à atividade osteoblástica, maior taxa
Na reabilitação de pacientes com fixadores externos re- de aposição mineral, menor porosidade no córtex adjacente
comendam-se alongamentos, massagens, exercícios de mo- à linha da osteotomia e melhores propriedades mecânicas
vimentação passiva articular. Exercícios em bolas em tíbias de cães, todos tratados com magnetoterapia em
terapêuticas, caminhadas em cavaletes auxiliam no trata- relação aos controles 4,9.
mento 18. O uso da esteira aquática fica contraindicado uma Em outro estudo com campos eletromagnéticos pulsa-
vez que pode haver contaminação devido o contato da água dos, indicou-se que os sinais elétricos estimulam a prolife-
com o implante. ração celular em cultura de células ósseas. Este estudo
Diversas terapias podem ser utilizadas para a reabilita- ainda cita que este aumento na proliferação seja decorrente
ção pós-operatória no tratamento de fraturas, tais como: de um aumento na concentração citoplasmática de cálcio,
• crioterapia; que ocorre por dois mecanismos: pela abertura dos canais
• laser; de cálcio voltagem-dependentes, ou pela mobilização do
• magnetoterapia; cálcio contido em compartimentos intracelulares para o ci-
• ultrassom; toplasma, conforme demonstrado com o uso de inibidores
• eletroestimulação; metabólicos específicos 3.
• cinesioterapia e esteira aquática. Em casos de união retardada ou não união óssea, a uti-
lização da magnetoterapia pulsada auxilia na consolida-
Crioterapia ção 19. Ao receber um paciente com má união ou não união
A terapia com frio é uma boa alternativa para o pós-ope- óssea, o caso clínico e o tratamento devem ser discutidos
ratório de fraturas. Auxiliando no controle da dor e na re- junto ao ortopedista responsável pelo paciente e, após a de-
dução de edemas, essa terapia deve ser utilizada em fase cisão sobre uma nova intervenção cirúrgica ou não, a mag-
aguda de processos inflamatórios podendo ser realizada nos netoterapia pode ser utilizada no período de reabilitação 14.
primeiros dias após o procedimento cirúrgico a cada 4
horas. Cuidados com o tempo de aplicação da terapia Ultrassom
devem ser tomados de acordo com a área à aplicar e o ta- Contraindicado o uso sobre linha de crescimento, a uti-
manho do paciente 5,8. Já a terapia com calor deve ser utili- lização dessa terapia deve ser utilizada com precaução, pois
zada com a finalidade de controlar a dor muscular e esta diversos autores sugerem que o implante metálico pode in-
não deve ser utilizada em fase aguda ou enquanto tiver duzir o aumento de temperatura e causar possíveis danos
edema ou em áreas hemorrágicas 5. aos tecidos, uma vez que a interface metal/tecido é o local
ideal para a formação de calor lesivo, porém diversos es-
Laser tudos comprovam que o ultrassom pulsado em baixa inten-
A utilização dessa terapia oferece grandes benefícios sidade pode reduzir o tempo de cicatrização em animais e
desde o efeito analgésico e anti-inflamatório que faz nos humanos. Os mecanismos de ação benéficos sugeridos para
tecidos moles adjacentes a lesão, até os efeitos sob o tecido justificar a estimulação ultrassônica da formação do calo
ósseo. Em estudo utilizando terapia de laser, em microsco- ósseo incluem a piezoeletricidade, o aumento da incorpo-
pia eletrônica observou que em comparação ao grupo con- ração de íons de cálcio em culturas de osteoblastos e con-
trole, os animais tratados tiveram incremento vascular e drócitos, estímulo à expressão de proteína agregadora de
maior e mais rápida formação de tecido ósseo trabecular 13. matriz extracelular, estímulo à síntese de fatores de cresci-
A aplicação do laser terapêutico de baixa potência pode mento e influência sobre reações celulares envolvidas na

410 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 41 – Fisiatria em fraturas

Figura 1 – Animal recebendo magnetorapia para fratura femoral

consolidação óssea além de aumento da vascularização no quadríceps e em outros casos a atrofia pode estar presente
sítio de osteotomias em ulna de cães tratados por ultrassom em todos os grupos extensores e flexores do membro. Para
de baixa intensidade 2,13,17,20. a correta colocação dos eletrodos, pode ser utilizada a téc-
nica coplanar, através do posicionamento de um eletrodo
Eletroestimulação próximo à origem do músculo alvo e o outro próximo à in-
No caso do TENS, a terapia vai fornecer analgesia para serção ou pontual, com um eletrodo na raiz nervosa corres-
o local operado facilitando o manejo e dando conforto para pondente, e o outro eletrodo no ventre da musculatura
o paciente, diminuindo consequentemente o tempo de re- atrofiada. Esta técnica é muito útil em felinos, cães de pe-
torno funcional do membro operado. A aplicação dos ele- queno porte e músculos pequenos.
trodos pode ser realizada de forma coplanar à lesão, ou seja,
com um eletrodo abaixo do local e outro acima, ou seg- Cinesioterapia e esteira aquática
mental, aonde um eletrodo é colocado na raiz nervosa cor- Os exercícios de mobilização passiva podem ser feitos
respondente ao dermátomo que será tratado e o outro com muita cautela e movimentos de pequena amplitude,
eletrodo, abaixo da lesão dentro do dermátomo correspon- apenas com o intuito de manter a saúde articular preser-
dente. A forma contraplanar também pode ser realizada vada, nos primeiros dias pós-cirúrgicos. O alongamento e
(sanduíche), mas nos pacientes em reabilitação de fraturas, massagem, podem causar algum desconforto ao paciente,
deve-se cuidar para não colocar os eletrodos em cima de devendo ser iniciados após a segunda semana, com o cui-
áreas com incisão cirúrgica ou implantes externos. dado de não impor força ao movimento.
A utilização da NMES para desenvolvimento de massa Alguns exercícios que estimulam a descarga de peso
muscular em pacientes com atrofia é indicada, pois em con- precoce devem ser inseridos no protocolo do paciente a
sequência do incremento muscular, os tecidos moles adja- partir da segunda semana, evitando a perda acentuada de
centes à fratura levarão maior aporte sanguíneo para o local tecido muscular e ósseo, decorrentes do repouso e desuso
da lesão 5,9. O local de aplicação dos eletrodos varia de do membro acometido 5,9. Tais exercícios são o balanço
acordo com a necessidade do paciente, por exemplo, em lateral do paciente, favorecendo a descarga de peso no
um paciente com fratura de fêmur onde foi colocada uma membro acometido; erguer a pata hígida do solo com o ani-
placa, deve ser avaliado se existe atrofia muscular, e quais mal em estação, de forma que o membro acometido receba
os grupos musculares que estão atrofiados, pois em alguns um pouco mais de peso; balanço leve em prancha de equilí-
casos a atrofia muscular pode apresentar apenas no grupo brio (Figura 2), com movimentos laterais e cranio-caudais.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 411


Capítulo 41 – Fisiatria em fraturas

Figura 2 – Paciente realizando exercícios de propriocepção e equilíbrio

O fisiatra deve estar atento à reação do paciente nesses mo- incrementando o metabolismo local e geral; a força de ar-
vimentos, que não deve demonstrar desconforto nem dor rasto e viscosidade, que aumentam a resistência à execu-
em nenhum deles. ção do movimento, melhorando o ganho de massa
Para iniciar exercícios ativos, como a caminhada com muscular e óssea; e a força de empuxo, que confere flu-
guia curta, o animal deverá ter uma formação de calo ósseo, tuabilidade aos membros imersos, melhorando a con-
ocorrendo normalmente após 4 semanas do procedimento fiança na descarga de peso, aumento da amplitude de
cirúrgico, em pacientes jovens 21. Em pacientes idosos con- movimento e aumento na flexibilidade dos tecidos moles
sidera-se um período maior, devido ao metabolismo dimi- adjacentes 5,11,16.
nuído, que realiza as etapas de cicatrização óssea de forma Nas cirurgias que tem por objetivo a cicatrização pri-
mais lenta. É importante manter contato com o cirurgião mária, geralmente em fraturas articulares, são utilizados
caso tenha dúvidas quanto ao momento certo de introduzir implantes como placa de compressão, banda de tensão
essas atividades na reabilitação do paciente. e parafuso leg e os pacientes tendem a ter um rápido
O tempo de caminhada deverá começar com 5 minutos apoio do membro operado e a esteira aquática faz com
diários, aumentando 10 a 15% o tempo total a cada semana. que a melhora na descarga de peso acelere ainda mais o
Após duas semanas da inclusão da caminhada lenta, devem tempo de cicatrização óssea. Em pacientes onde foram
ser iniciados exercícios mais desafiadores, que impõe forças usados implantes externos como fixadores, por exemplo,
biomecânicas maiores ao tecido ósseo em cicatrização. São o uso da hidroterapia é questionável uma vez que pode
eles: caminhada slalom, cavaletes, esteira aquática, subida haver a contaminação dos implantes pelo contato com a
em rampas (para estimular musculatura extensora), descida água.
em rampas (para estimular musculatura flexora) e como fase
final da reabilitação, subida e descida em escadas. O tempo CONCLUSÃO
de execução dessas atividades irá aumentar gradualmente a A associação do tratamento cirúrgico de fraturas com a
cada semana, respeitando um aumento máximo de 15%, ini- reabilitação apresenta grandes benefícios conforme descrito
ciando com 8-10 minutos totais de atividade. no capítulo e o tratamento do paciente deve ser realizado
A terapia aquática apresenta diversos benefícios adi- mantendo sempre o contato com o ortopedista responsável
cionais além da atividade física em si, tais como a pressão pelo paciente com a finalidade de proporcionar recuperação
hidrostática que melhora o retorno venoso e linfático, a funcional ideal do membro lesionado. O tratamento a ser
temperatura da água que promove uma dilatação dos realizado deve ser montado de acordo com localização da
vasos sanguíneos, levando ao aumento do suprimento fratura, tipo de implante utilizado, idade, peso, comporta-
sanguíneo periférico e elevação da temperatura muscular, mento e raça do paciente.

412 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 41 – Fisiatria em fraturas

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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 413


42
Introdução a obesidade canina

Fabio Alves Teixeira


Márcio Antonio Brunetto

A
obesidade é considerada como o acúmulo exces- fundamental não só para definição de qual será o melhor
sivo de tecido adiposo que resulta em alterações tratamento, mas também para auxiliar na definição de qual
das funções fisiológicas. Assim, diferente da crença a causa da obesidade, inclusive como auxiliar para a iden-
popular, inclusive por parte de alguns veterinários, a obe- tificação das possíveis doenças concomitantes envolvidas
sidade ou sobrepeso não devem ser encarados como uma no desenvolvimento da obesidade.
situação normal e inofensiva, e sim como uma doença de
alta prevalência, com graves consequências sobre a saúde Causas
e qualidade de vida dos cães 7,11,21,33,48,60,75. A obesidade pode ser de etiologia multifatorial 7,33,60,75,
Neste capítulo serão abordadas, de maneira sucinta, al- que resultam em balanço energético positivo, ou seja, con-
gumas informações científicas relevantes sobre a patogenia sumo de calorias maior que o gasto 48,60. Isso pode acontecer
e tratamento da obesidade canina. tanto por circunstâncias que aumentem a ingestão ou que
Atualmente a obesidade é conhecida como a doença nu- diminuam o gasto energético 60.
tricional mais comum entre os animais de companhia. Em Os estímulos à ingestão alimentar alcançam o sistema
relação a sua prevalência, em pesquisa norte-americana nervoso central e são oriundos de respostas às característi-
foram avaliados aproximadamente 30 mil cães dos quais em cas alimentares como a palatabilidade – formato, odor e
torno de 22% estavam em sobrepeso e 5,0% obesidade 50. sabor – assim como estímulos mecânicos e químicos da
Outros estudos em diferentes países apresentaram resultados presença de nutrientes no trato gastrintestinal. A quantidade
na faixa entre 30 e 40% de sobrepeso e 5 a 20% de animais de calorias ingerida deveria ser fator determinante para o
obesos 14,16,18,20,46,54,56,58,76,77. Especificamente no Brasil, foi momento de finalização da ingestão alimentar. No entanto,
encontrado apenas um estudo com este enfoque, que obser- a disponibilidade de alimentos de alta palatabilidade, bem
vou em torno de 16,5% de casos de obesidade canina 40. como a oferta constante de petiscos e a ausência de controle
da quantidade de alimentos e calorias ingeridas são os prin-
Diagnóstico cipais fatores envolvidos na gênese da obesidade 3.
Uma vez que a obesidade é definida como o acúmulo Neste sentido, é nítido o papel dos responsáveis pela ali-
excessivo de tecido adiposo, o ideal seria que a doença mentação do animal na ocorrência da obesidade. Estudos
fosse diagnosticada com base na quantidade de gordura demonstraram que a humanização e o oferecimento de pe-
corporal. Existem diversas técnicas para quantificar os di- tiscos são fatores de risco à obesidade canina, assim como
ferentes compartimentos corporais, como tecido adiposo e a diminuição da prática de atividade física 18,45.
muscular. Esses métodos podem lançar mão de análises Outros fatores ambientais também parecem ter vínculo
químicas, morfometria, isótopos estáveis, mensuração da com o aumento da ingestão calórica. Situações ameaçado-
quantidade total de água corporal, absorciometria radioló- ras, falta de interações sociais, ou locais inapropriados ao
gica de dupla energia (DEXA), e técnicas de imagem como comportamento do animal podem desencadear estresse crô-
ressonância magnética, tomografia computadorizada, e até nico que é associado ao aumento da concentração de corti-
mesmo a ultrassonografia 24,29,57,67,73,79,80. Apesar destas me- sol. O cortisol é considerado um hormônio que estimula a
todologias tecnológicas estarem disponíveis para pesquisas ingestão de alimento, além de inibir a lipólise e estimular
cientificas, ainda são pouco aplicáveis na rotina clínica, o a proliferação e diferenciação de adipócitos 3. Isso pode jus-
que torna o método de avaliação do escore de condição cor- tificar porque doenças como hiperadrenocorticismo estão
poral (ECC) o mais aplicável. na lista das endocrinopatias predisponentes à obesidade,
Além de ferramenta de avaliação nutricional e instru- assim como o hipotireoidismo 5,70.
mento diagnóstico da obesidade, o ECC é útil como medida No contexto das alterações endócrinas, alguns estudos
prognóstica e de evolução de diversos quadros clínicos 7,8,68. mostraram que a castração impacta em diminuição do efeito
O ECC canino, na escala de 9 pontos, foi validado 47 e com- anorexígeno de hormônios reprodutores como o estrógeno;
provado que, uma vez realizado via inspeção e palpação por aumento do apetite; diminuição do gasto energético e do
pessoas experientes, apesar de ser subjetivo, apresenta boa nível de atividade física; modificação do perfil metabólico
correlação com métodos mais objetivos como o DEXA e a e respostas enzimáticas que aprimoram a utilização e es-
diluição de isótopos 29. Esta escala varia da condição magra toque de energia, e consequentemente facilitam o ganho de
(ECC = 1) a obesa (ECC = 8 e 9) 47 e cada unidade de escore peso 3,37,41,43. Além disso, a castração não só afeta o ganho
acima do ideal (4 e 5), representa aumento de peso em torno de peso, mas também modifica a composição corporal
de 10%, ou seja, o cão com no mínimo 25% de excesso de dos indivíduos, com maior acúmulo de tecido adiposo,
peso é aquele considerado obeso 48 (Figura 1). mesmo em cães que mantiveram o peso que apresentavam
Ainda para o diagnóstico da obesidade, a anamnese é pré-castração 43.

414 Fisiatria em pequenos animais


Capítulo 42 – Introdução a obesidade canina – 1ª edição

A – muito magro B – magro C – peso ideal D – sobrepeso E – obeso

ECC: 1 ECC: 3 ECC: 4 e 5 ECC: 6 e 7 ECC: 8 e 9


Figura 1 – Ilustração do escore de condição corporal canino. A) Cães muito magros (ECC = 1): ossos visíveis e palpáveis
por todo o corpo; sem deposição de gordura corporal. B) Cães magros (ECC = 3): proeminências ósseas dorsais pélvicas
e das vértebras lombares visíveis; costelas palpáveis; cintura evidente. C) Cães em condição corporal adequada (ECC
= 4 e 5): costelas palpáveis, mas com leve cobertura adiposa, cintura perceptível. D) Cães em sobrepeso (ECC = 6 e
7): depósito de gordura na base da cauda e região lombar; cintura pouco ou não observada; dificuldade na palpação
de costelas. E) Cães obesos (ECC = 8 e 9): ampla deposição de gordura na região de costelas, vértebras, base da
cauda, pescoço e membros; palpação de costelas impossível e abdômen distendido. Os autores agradecem a equipe do
website www.nutricao.vet.br pela cessão de imagens da escala de escore de condição corporal canino

Ademais às questões endócrinas, a genética parece in- osteoarticulares como osteoartrose e alterações nos discos
fluenciar no ganho de peso. Em comparação a cães saudá- intervertebrais. A obesidade resulta tanto no excesso de
veis, os obesos apresentam diferenças na expressão gênica peso sob as articulações, como na sinalização celular direta,
e deleção de alguns genes, o que pode ser a causa de alte- interação do tecido adiposo e sistema imune, e alteração na
rações metabólicas e aumento de apetite 34,52,53,66,74. Este fato produção e secreção de citocinas que podem alcançar dife-
também pode explicar em partes a maior predisposição à rentes tecidos e intensificar as respostas inflamatórias lo-
obesidade por algumas raças caninas como labrador retrie- cais 12,38,55,60,75.
ver, golden retriever, cocker and dachshund 48,60,75. Diante disso, é nítido o porquê das evidencias de que
A interação neuroendócrina da obesidade também parece cães obesos apresentam expressiva menor longevidade e
estar relacionada aos microrganismos. Além de especula- qualidade de vida 31,38,44.
ções sobre alguns vírus serem agentes etiológicos 65, novos
estudos questionam o papel do microbioma intestinal de Tratamento
cães sobre o aumento do aproveitamento energético, além O objetivo do tratamento da obesidade é a perda de
de estímulos neuroendócrinos para o apetite, com possibi- peso. Entretanto, deve-se ter em mente que esta deve acon-
lidade da modulação da microbiota também ser estratégia tecer de maneira saudável, ou seja, com adequado supri-
importante no tratamento e prevenção da obesidade 36,62,63. mento das necessidades nutricionais, mínima perda de
massa muscular, e na tentativa de manter adequado grau de
Consequências da obesidade saciedade ao paciente.
Para humanos, a lista de consequências relacionadas à Além do peso em si, deve ser determinado o ECC que
obesidade é extensa e envolve maior risco a doenças em se considera adequado a cada situação clínica. Por exem-
diversos sistemas orgânicos como cardíaco; vascular; res- plo, pacientes com alterações osteoarticulares importantes
piratório; digestório; renal; endócrino; nervoso; tegumen- podem se beneficiar da sua manutenção em ECC 4/9. Por
tar; osteomuscular; reprodutivo; além de aumentar a outro lado, apesar de poucos estudos terem avaliado a perda
incidência de neoplasias, alterações psicossociais, risco ci- de peso em animais obesos com outras doenças, pode ser
rúrgico e anestésico, e os custos médicos relacionados à mais prudente que obesos com enfermidades inflamatórias
obesidade 25,51. e caquetizantes, como cardiopatias e nefropatias, percam
Da mesma forma, na medicina veterinária, diversas si- peso o bastante até melhorar sua qualidade de vida e mini-
tuações nocivas ocorrem em consequência da obesidade mizar o impacto metabólico do acúmulo adiposo, sem ne-
como resistência insulínica; modificação no padrão de adi- cessariamente atingir o ECC classicamente considerado
pocinas; dislipidemia; acúmulo ectópico de gordura; possí- ideal 64,72.
vel relação com doenças cardíacas e pulmonares; dermatites O foco do tratamento da obesidade é gerar uma situa-
não alérgicas; pancreatite e nefropatias 9,11,12,13,32,60,75. ção de balanço energético negativo, ou seja, ampliar o
No contexto desde livro, é importante ressaltar que o gasto com restrição da ingestão de calorias. Diversas fór-
excesso de tecido adiposo é visto como causa de doenças mulas matemáticas são sugeridas como estimativa inicial

Fisiatria em pequenos animais 415


Capítulo 42 – Introdução a obesidade canina – 1ª edição

da ingestão calórica de cães para perda de peso60,75, en- possibilidade da formulação de alimentação caseira com
tretanto na experiência dos autores as fórmulas que levam perfil de alimento coadjuvante hipocalórico. Apesar de al-
em consideração a necessidade energética em repouso guns estudos mostrarem que o tipo de alimento, caseiro ou
(NER) para o peso metabólico ideal do cão [NER = 70 x comercial, não está relacionado à maior incidência da obe-
PCmeta0,75 (PC = peso corporal)] ou o fornecimento de sidade 20,45,56, os autores desconhecem evidências científicas
60% da NER do peso corporal na condição obesa, são as que comprovem perda de peso, de maneira saudável, mais
melhores estimativas iniciais para perda de peso de cães pronunciada em cães que recebem alimentação caseira, e
obesos 7,9. Entretanto, essa é apenas a estimativa inicial que ressaltam que cuidados devem ser tomados ao se prescrever
precisa ser reavaliada ao longo do tratamento na tentativa alimentação não convencional aos pets, pois sabidamente
de alcançar a meta de perda de 1 a 2% do peso semanal- estão relacionadas à possibilidade de mudança na dieta por
mente 7,60 (Quadro 1). Vale deixar claro que há o risco de parte dos responsáveis e à maior incidência de deficiências
ocorrer baixa ingestão de alguns nutrientes essenciais pelos nutricionais e consequências sanitárias 4,35,42,59,61.
pacientes que necessitam de importante restrição calórica Diante desta gama de possibilidades, cabe ao médico
para manter adequada perda de peso, mesmo quando há o veterinário decidir qual a melhor opção alimentar de acordo
recebimento de alimento hipocalórico indicado para o tra- com o perfil nutricional desejado a cada paciente. Em geral,
tamento da obesidade 27,30. os alimentos indicados para perda de peso apresentam
Até o momento do desenvolvimento deste capítulo, como características principais o alto conteúdo de fibras e
foram encontrados a venda no Brasil 14 alimentos comer- de proteína, equilíbrio entre a menor densidade energética
ciais (extrusados ou úmidos enlatados) considerados por e maior conteúdo nutricional, com o objetivo de promover
seus fabricantes como coadjuvantes ao tratamento da obe- adequado consumo de nutrientes essenciais 7,43,60,75. Espe-
sidade canina. Além dos alimentos comerciais, há ainda a cificamente sobre os macronutrientes, há discussão

Quadro 1 – Resumo das etapas de emagrecimento em cães obesos ou em sobrepeso

PROGRAMA DE PERDA DE PESO PARA CÃES

1. Conscientização do proprietário de que o cão está acima do peso, da importância da sua cooperação e dos
benefícios que o tratamento pode trazer ao animal.

2. Avaliação do paciente para descartar outras afecções concomitantes, as quais poderão influenciar o manejo
da obesidade e a velocidade da perda de peso.

3. Pesar o animal e estimar o peso meta utilizando como referência o ECC. Para animais com ECC 6/9 e 7/9,
recomenda-se utilizar a perda inicial de 15% e animais com escore 8/9 e 9/9 pelo menos 20%.

4. Definição da ingestão energética para perda de peso de cães por meio da equação:
70 x (peso atual - 15 ou 20%)0,75 kcal/dia

5. Escolha do alimento de acordo com cada caso clínico, optando por alimento hipocalórico comercial ou ca-
seiro.

6. Quantidade de alimento (gramas):


Ingestão energética para perda de peso (kcal/dia) ÷ EM (energia metabolizável) do alimento (Kcal/g)

7. Prescrever o manejo alimentar, incluindo o aumento no número de refeições, que parece auxiliar no au-
mento de gasto calórico pós-prandial 49.

8. Atividade física é fundamental (vide capítulo 44).

9. Agendar retornos quinzenais para reajustes da ingestão calórica e nutricional de acordo com as taxas de
perda de peso (ideal de 1 a 2% semanal, dependendo das condições do cão), motivar os responsáveis pelos
animais e identificar falhas no manejo.

10. A fase de manutenção do peso será estabelecida quando o cão alcançar o ECC considerado adequado.
A definição da dieta utilizada nesta fase dependerá da adequada avaliação nutricional do paciente. Importante:
manter o peso ideal é tão difícil como emagrecer o cão obeso.

416 Fisiatria em pequenos animais


Capítulo 42 – Introdução a obesidade canina – 1ª edição

sobre a aplicação de diferentes tipos de carboidratos sobre Tabela 1 – Recomendação de macronutrientes para
as alterações metabólicas de cães obesos, com a sugestão dieta de perda de peso em cães em comparação às
do uso de amido de digestão lenta 1. Sobre a proteína, ali- recomendações para dieta de cães saudáveis
mentos hiperproteicos auxiliam na obtenção da melhor taxa
de perda de peso, e não só a quantidade de proteína, mas Itens Cão obeso em Cão
perda de peso* saudável¥
também o perfil de aminoácidos é fator primordial para a
Energia
manutenção da massa magra 6,7,26,43,60,75. Em relação a gor-
(kcal/g de < 3,4 4,0
dura, sabe-se que a menor quantidade de gordura é um dos matéria seca)
principais fatores para que um alimento seja hipocalórico, Proteína bruta
mas estudos avaliaram que fontes de gordura diferentes 7,5 5,2
(g/100 kcal)
podem resultar em melhor efeito sobre a perda de peso, Gordura
2,6 1,4
como o acréscimo de ácidos graxos poli-insaturados (g/100 kcal)
ômega-3 39,60,75. Está disponível na tabela 1 a comparação Fibra bruta
3,5 a 7,3 NA
entre o perfil de macronutrientes da dieta canina para cães (g/100 kcal)

saudáveis e para obesos em perda de peso, mas é impor- Carboidrato


tante ressaltar que todos os nutrientes essenciais devem ser digestível 11,8 NA
(g/100 kcal)
considerados no momento da prescrição nutricional.
*Adaptado75.
Além do ômega-3, após garantir o adequado forneci- ¥Adaptado22, considerando cães saudáveis com necessidade de
mento dos nutrientes essenciais, pode-se cogitar o uso de 95 kcal/kg0,75.
outros nutracêuticos ao tratamento da obesidade 23,69. En- NA = não se aplica
tretanto, há poucas evidências cientificas para seu uso, e as
poucas pesquisas a respeito encontraram resultados contro-
versos 39.
Dentre os nutracêuticos, no futuro próximo possivel- Referências
mente poderemos utilizar pré e probióticos como modula- 1-ADOLPHE, J. L.; DREW, M. D.; SILVER, T. I.; FOUHSE, J.;
dores da microbiota intestinal no intuito de ajudar no CHILDS, H.; WEBER, L. P. Effect of an extruded pea or rice diet
tratamento ou prevenção da obesidade canina. Entretanto, on postprandial insulin and cardiovascular responses in dogs.
até o momento as escassas evidências científicas para cães Journal of animal physiology and animal nutrition, v. 99, n. 4,
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impossibilitam fazer afirmações clínicas que permitam a
2-APTEKMANN, K. P.; SUHETT, W. G.; FRANCISCO, A.; JUNIOR,
prescrição.
M.; SOUZA, G. B.; ADAMS, F. K.; AOKI, C. G.; JUAN, R.;
Após a perda de peso, quando o animal atinge o ECC PALACIOS, G.; CARCIOFI, A. C.; TINUCCI-COSTA, M.
meta, é fundamental que o acompanhamento clínico conti- Nutritional and environment aspects of canine obesity. Ciência
nue com o intuito de mantê-lo na condição adequada. Esta Rural, v. 44, n. 11, p. 2039-2044, 2014. DOI: 10.1590/0103-
fase de manutenção em geral deve ser definida de acordo 8478cr20130524.
com a avaliação nutricional do paciente, com base na in- 3-BACKUS, R. ; WARA, A. Development of Obesity: Mechanisms and
gestão calórica em nível de atividade física. Uma vez que Physiology. Veterinary Clinics of North America - Small
Animal Practice, v. 46, n. 5, p. 773-784, 2016. DOI:
a NEM pós-perda de peso é bem variada entre os cães, com 10.1016/j.cvsm.2016.04.002.
média de 68,1 kcal/kg 0,75, a recomendação é que haja au-
4-BALDWIN, K. ; BARTGES, J. ; BUFFINGTON, T. ; FREEMAN, L.
mentos na ingestão energética até o momento em que o ani- M. ; GRABOW, M. ; LEGRED, J. ; OSTWALD, D. AAHA
mal pare de perder ou ganhar peso 7,28. nutritional assessment guidelines for dogs and cats. Journal of
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Para algumas pessoas é difícil compreender que a obesi- C. ; NELSON, R. W. ; REUSCH, C. E. ; SCOTT-MONCRIEFF,
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evitada e tratada, assim como enxergar que seu animal está 6-BLANCHARD, G. ; NGUYEN, P. ; GAYET, C. ; LERICHE, I. ; SI-
acima do peso ideal 2,19,10,15,17,71,78. Para isso, algumas téc- LIART, B. ; PARAGON, B.-M. Rapid weight loss with a high-
nicas são descritas, como o uso de imagens da escala de protein low-energy diet allows the recovery of ideal body
escore de condição corporal; comparar o paciente com ou- composition and insulin sensitivity in obese dogs. The Journal of
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comparar a radiografia destes animais; além de explicar
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claramente quais são as consequências deletérias da obe-
weight management guidelines for dogs and cats. Journal of the
sidade 75. Isso é muito importante, pois o comprometi- American Animal Hospital Association, v. 50, n. 1, p. 1-11, 2014.
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420 Fisiatria em pequenos animais


43
Alimentação funcional do paciente obeso

Luis Fernando de Moraes

O
besidade humana e de cães e gatos é um pro- Quadro 1 – Peso padrão de algumas raças de cães
blema de saúde em todo o mundo, nos Estados
Raça kg (macho) kg (fêmea)
Unidos, cerca de dois terços dos seres humanos
Basset hound 29-34 22-29
e mais de 50% dos animais de estimação estão com sobre-
Beagle 6-10 6-9
peso ou obesos 7,8.
Bem como nos humanos, a obesidade em cães e gatos é Boxer 25-32 22-27
considerada extremamente deletéria, sendo responsável Chihuahua 0,9-2,7 0,9-2,7
pela diminuição da longevidade, além de estar associada a Chow-chow 20-22 18-22
uma série de anormalidades endócrinas, sendo considerada Cocker spaniel 11-13 9-11
um fator de risco para o desenvolvimento de diabetes mel- Collie 29-34 22-29
litus tipo 2 (pois leva a resistência à insulina e à intolerância Dachshund miniatura 3,6-4,5 3,6-4,5
à glicose) e dislipidemia 4, 29. Dachshund standard 7-10 7-10
Em cães a obesidade ocorre quando o peso do animal Dálmata 22-29 20-25
está aproximadamente 25% acima do ideal e com sobre- Dobermann 29-36 25-31
peso acima de 15-25 (Quadro 1), levando a um grande acú- Golden retriever 29-34 25-29
mulo de gordura corporal 7. Husky siberiano 20-27 16-22
A obesidade deve ser vista como uma doença e está en- Labrador retriever 29-36 25-31
volvida em inúmeras patologias como: resistência insulí- Maltês 1,8-2,7 1,9-2,7
nica, doenças respiratórias, doenças musculoesqueléticas, Poodle standard 22-27 20-25
câncer entre outras. Poodle toy 3,1-4,5 3,1-4,5
Os avanços da tecnologia no ramo da nutrigenômica e Rottweiler 36-43 31-38
nutrigenética podem fornecer novas ferramentas para in- Schnauzer miniatura 7-8 5-7
vestigar a complexidade da obesidade e suas consequências Pastor alemão 34-40 31-38
na expectativa de vida e incidência das principais doenças Pastor de shetland 7-10 6-8
degenerativas 16. Shi tzu 5,4-8 4,5-7
A conclusão do Projeto Genoma canino em 2005 repre- Yorkshire terrier 1,8-3,1 1,3-2,7
senta uma das principais conquistas científicas dessa era
para a Medicina Veterinária. O conhecimento das caracte- alteração na proteína codificada, desta forma a nutrição do
rísticas genéticas traz nova perspectiva para redução do futuro será realizada de forma individualizada respeitando
risco de doenças crônicas degenerativas especialmente para a interação dos nutrientes com os genes e também dos
a obesidade 16,22,24. genes com os nutrientes propiciando, aos nossos pacientes,
Considerando-se que o desenvolvimento das principais reduções no desenvolvimento das principais doenças crô-
doenças degenerativas e obesidade envolvem componentes nico-degenerativas e também da obesidade 22.
tanto genéticos como ambientais, grande ênfase tem sido Processos como metabolismo, inflamação e estresse
dada atualmente à elucidação da interação gene-fatores am- oxidativo envolvem atuação de diferentes proteínas, que
bientais 22. incluem enzimas, hormônios, receptores, citocinas e trans-
A genômica nutricional ocorre de duas formas comple- portadores. Sua produção acontece por meio de processo
mentares: nutrientes e compostos bioativos dos alimentos denominado expressão gênica. Essa ocorre em duas etapas
modulando o funcionamento do genoma (nutrigenômica) fundamentais: transcrição, em que a partir da sequência de
e, da mesma forma, características do genoma influenciam bases no DNA se produz o RNA mensageiro, e tradução,
a resposta à alimentação (nutrigenética) 22. em que a informação contida no RNA; é traduzida na pro-
O Projeto Genoma canino, constatou que, apesar dos fe- teína 22.
nótipos serem bastante distintos, cães apresentam identi- Desta forma a interação entre a alimentação e o genoma
dade de aproximadamente 99,9% entre seus genomas. possibilitará o estabelecimento de recomendações nutricio-
Assim, a diferença de 0,1% na sequência genética está re- nais personalizadas, baseadas no DNA, para se promover
lacionada não apenas a características como peso, tamanho, a saúde 22.
mas também a necessidades de nutrientes 22,24. As dietas incluindo prebióticos, extrato de chá verde e
A principal forma de variação genética é representada aumento das concentrações de proteína modificaram a ex-
pelos polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs pronun- pressão de vários genes relacionados com o metabolismo
ciam-se “snips”). Esses consistem em substituições de uma da glicose e de lipídeos favorecendo a redução de peso em
base por outra no DNA. Muitas vezes, isso resulta em cães 16.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 421


Capítulo 43 – Alimentação funcional no paciente obeso

Em geral, os resultados obtidos a partir de diversos es- de muitas citocinas e proteínas associadas à inflama-
tudos demonstraram que os cães e gatos apresentam alte- ção apresenta-se em estado elevado em pacientes obe-
rações hormonais semelhantes as outras espécies e que as sos 14,15,30,36.
modificações de transcrição do gene podem impedir os si- Os adipócitos doentes secretam várias citocinas e pro-
nais clínicos e tornar-se uma ferramenta útil na gestão e teína que elevam a produção e circulação de fatores rela-
prevenção da obesidade 16. cionados com a inflamação 15,36.
Atualmente, sabe-se que o tecido adiposo funciona Acredita-se que a inflamação seja uma consequência da
como um importante órgão endócrino, responsável pela se- obesidade. Porém, muitas pesquisas sugerem que a obesi-
creção de hormônios esteroidais, fatores de crescimento, dade é de fato o resultado de uma doença inflamatória.
citocinas, fatores vasoativos e substâncias envolvidas no A obesidade promove quadro inflamatório crônico co-
controle do apetite. De maneira geral, essas substâncias são dificando a citocina pró-inflamatória denominada fator de
chamadas de adipocinas (como por exemplo, a leptina, adi- necrose tumoral (TNF-α). A ligação entre obesidade e in-
ponectina, resistina, interleucinas, fator de necrose tumoral flamação também tem sido demonstrada pelo aumento da
-TNF alfa, interferon gama, entre outros), e são responsá- concentração plasmática de diversos marcadores inflama-
veis pela regulação de diversos processos biológicos, como tórios, como a proteína C reativa, a interleucina (IL)-6, a
balanço energético, metabolismo de lipídios e glicose, fun- proteína quimiotática para monócitos (MCP)-1 e a resis-
ção do sistema imune e processos inflamatórios, homeos- tina, entre outras, ao mesmo tempo em que há redução da
tase e angiogênese 18,30. síntese de proteínas com ação anti-inflamatória, como a
adiponectina 30,36.
Inflamação na obesidade canina Concomitantemente ao ganho de gordura corporal, ve-
Existem 2 tipos básicos de inflamação: rifica-se aumento da infiltração de macrófagos no tecido
• inflamação aguda: benéfica, necessária para a cicatrização adiposo, os quais sintetizam uma variedade de proteínas
e regeneração dos tecidos, defesa do organismo frente aos pró-inflamatórias, incluindo o TNF-α e a IL-6 30,36.
principais patógenos como: bactérias, vírus e protozoários. Cabe destacar que a inflamação crônica, induzida pelo
Este tipo de inflamação é caracterizada por calor, rubor, es- excesso de gordura corporal, particularmente a obesidade
tupor, edema e dor; visceral, é um dos fatores desencadeantes da resistência pe-
• inflamação crônica: é silenciosa e persistente. A longo riférica à ação da insulina que precede a síndrome metabó-
prazo pode levar ao desenvolvimento de praticamente todas lica condição cada vez mais comum na pratica clínica de
as doenças crônico degenerativas. O aumento crônico e pequenos animais 14.
persistentes de citocinas inflamatórias: IL1, IL6, fator de Dentre os mecanismos moleculares envolvidos na ati-
necrose tumoral e a transcrição do fator NF-kB ativam os vação da resposta inflamatória induzida pela obesidade,
receptores celulares, enviando mensagens para núcleo con- destaca-se a via de sinalização do NF-κB, que controla a
tinuar a produção destes fatores inflamatórios. expressão de diversos genes envolvidos na resposta infla-
Os principais fatores envolvidos no processo inflama- matória, como aqueles que codificam para as citocinas
tório crônico são: TNF-α e IL-6, as enzimas ciclooxigenase (COX), lipoxi-
• doença periodontal; genase (LOX) e óxido nítrico sintase induzível (iNOS) e
• disbiose intestinal; as moléculas de adesão denominadas molécula-1 de adesão
• obesidade; intercelular (ICAM-1) e molécula-1 de adesão celular vas-
• infecções crônicas; cular (VCAM-1) 34.
• toxinas Recentemente, o NF-kB tem sido relacionado como um
• alimentação inadequada. potente indutor da transcrição de genes de citocinas pró-
As principais doenças associadas ao processo inflama- inflamatórias, como o TNF-α e a IL-6, que contribuem ati-
tório crônico são: vamente no processo inflamatório da obesidade 34.
• artroses; A obesidade é uma condição inflamatória relacio-
• artrites; nada ao desenvolvimento de inúmeras doenças crônico
• doenças autoimunes; degenerativas. O tecido adiposo doente (obeso) é o maior
• câncer; produtor de citocinas inflamatórias e inibe a produção da
• reações de hipersensibilidade; adiponectina 4.
• alterações gastrointestinais;
• doença cardíaca; Relação adiponectina, leptina e insulina na obesidade
• doença renal; A leptina é uma das principais e mais bem caracterizadas
• doença hepática; adipocinas em pequenos animais, é uma proteína secretada
• alterações cutâneas; pelo tecido adiposo e, portanto, quanto maior a quantidade
• obesidade. de tecido adiposo, maior a quantidade de leptina circulante
A obesidade é uma doença inflamatória e a origem encontrada em cães e gatos, as quais estão diretamente li-
desse conceito apoia-se no fato de que o nível circulante gadas à resistência insulínica em ambas as espécies 33.

422 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 43 – Alimentação funcional no paciente obeso

A leptina é o hormônio responsável pelo controle da sa- para aumento de gordura visceral e por consequência maior
ciedade, mas quando produzida em grandes quantidades no resistência insulínica e inflamação 19.
tecido adiposo bloqueia os seus receptores do hipotálamo O hormônio glucagon é produzido no pâncreas pelas cé-
impedindo a sua ação, este quadro é chamado de resistência lulas alfa. Esse hormônio possui efeito antagônico à insu-
a leptina. lina ajudando na homeostase da glicose e faz com que o
Outra adipocina importante é adiponectina que é produ- glicogênio hepático vire glicose, que será liberada pelo san-
zida pelo tecido adiposo saudável e está intimamente ligada gue.
ao metabolismo da glicose, melhorando a sensibilidade à A principal consequência da resistência insulínica é o
insulina e a captação de glicose, além de aumentar a glicó- desequilíbrio entre insulina e glucagon, com maior produ-
lise pela fosforilação da fosfofrutoquinase e oxidação de ção de insulina e redução dos níveis de glucagon que irá
ácidos graxos, o que também melhora a captação e meta- contribuir para maior adipogênese, infamação e obesidade
bolismo da glicose. Ao contrário da leptina, o aumento da (Quadro 2) 13.
quantidade de tecido adiposo resulta na diminuição da con- A alimentação desempenha papel chave na sinalização
centração circulante de adiponectina. Tanto em humanos, destes hormônios e na modulação do processo inflamatório,
quanto em cães e gatos, baixos níveis de adiponectina cir- trazendo grandes benefícios aos pacientes obesos.
culantes estão relacionados ao desenvolvimento de resis- Por exemplo, dietas ricas em carboidratos simples com
tência insulínica e diabetes mellitus tipo 2 30. alta carga e índices glicêmicos resultam na formação de
A obesidade em cães resulta na elevação dos níveis de AGEs (compostos de glicação avançados) que ativam os
leptina e redução dos níveis de adiponectina contribuindo receptores celulares para a produção de mediadores infla-
para resistência insulínica em cães. matórios. Já dietas ricas em gordura, especialmente o ácido
aracquidônico aumentam a produção de radicais livres oxi-
Relação insulina e glucagon em cães obesos dação e inflamação. Existem gorduras inflamatórias, menos
A insulina, um hormônio peptídico, é produzida no pân- inflamatórias e anti-inflamatórias.
creas. Esse hormônio ajuda a manter homeostase da gli- Os seis componentes básicos da alimentação são: água,
cose, sendo secretada logo após refeições. Ela diminui as proteína, gordura, carboidrato, vitaminas e minerais. Estes
vias de produção de glicose, como a gliconeogênese, e au- componentes podem ser divididos em dois grupos, sendo
menta a captação de glicose no músculo e no tecido adi- aqueles que produzem energia (proteína, gordura e carboi-
poso 33. drato) e aqueles que não produzem energia (água, vitami-
Ela é produzida na forma de uma molécula de pré-pró- nas e minerais), mas todos têm papel fundamental no
insulina. Ao se retirar a sequência sinalizadora dessa funcionamento do organismo 1.
molécula e fazer três ligações de dissulfeto ela é armaze- Para realização das dietas iremos separar os alimentos
nada nos grânulos na célula beta do pâncreas e é chamada em três grandes grupos:
de pró-insulina. Quando o nível de glicose está alto no san- • carboidratos;
gue, a molécula de pró-insulina perde seu peptídeo C, vi- • proteínas;
rando uma molécula de insulina madura. • lipídeos.
A avaliação do peptídeo C é o exame mais específico
para avaliar a produção de insulina no pâncreas 10. OS CARBOIDRATOS
A resistência a insulina atinge grande parte dos ani- Os carboidratos também podem ser chamados de hidra-
mais obesos. Essa resistência ao hormônio faz com que tos de carbono (carbonos hidratados): CN(H2O)N.
os cães produzam maiores concentrações de insulina para Os carboidratos são divididos em:
impedir que o nível de glicose aumente. A insulina é um • monossacarídeos: glicose, frutose, galactose, ribose e
dos principais hormônios adipogênicos e irá contribuir desoxirribose;

Quadro 2 – Consequências do desequilíbrio de insulina e glucagon em pequenos animais


Todo paciente obeso apresenta desequilíbrio entre a produção de insulina e glucagon

Insulina Glucagon
• Aumenta a gordura • Diminui a gordura
intracelular intracelular
• Aumenta o colesterol • Diminui o colesterol
• Aumenta retenção • Diminui a retenção hídrica WilleeCole/Shutterstock

hídrica Eric Isselee/Shutterstock • Diminui a musculatura arterial


• Aumenta a musculatura arterial • Aumenta a utilização de gordura como energia
• Aumenta a utilização de glicose como energia

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 423


Capítulo 43 – Alimentação funcional no paciente obeso

• oligossacarídeos: que variam de 2 até 10 uniões de mo- mede a velocidade em que um carboidrato se transforma em
nossacarídeos: maltose, sacarose, lactose; açúcar, mas indica a qualidade e a quantidade de carboidra-
• polissacarídeos: que apresentam mais de 10 uniões de mo- tos presentes em uma porção de determinado alimento. Para
nossacarídeos: quitina, beta-glucanas, amido, glicogênio, calcular a carga glicêmica de um alimento, basta multipli-
celulose. car o índice glicêmico pela quantidade em gramas de car-
São considerados fontes energéticas de alimento, mas boidrato e dividir por 100. Assim, é possível controlar a
também alguns carboidratos são considerados elementos qualidade e a quantidade de carboidratos ingeridos.
estruturais como: ribose (RNA) e desoxirribose (DNA). Alimentos com alta carga glicêmica e índices glicêmi-
Em janeiro de 2013 um grupo de geneticistas da cos ocasionam picos glicêmicos e toda vez que a glicemia
Uppsala University, na Suécia, publicou estudo na revista se eleva no sangue ela reage com proteínas do corpo for-
Nature mostrando que a domesticação do cão foi acom- mando os AGEs que são extremamente deletérios, inflama-
panhada por uma seleção evolutiva de três genes-chaves tórios e podem estar correlacionados ao aparecimento das
envolvidos na digestão de carboidratos: AMY2B (alpha- principais doenças crônico degenerativas (Figura 1). Os
amylase 2B), MGAM (maltase-glucoamylase) e SGLT1 picos glicêmicos contribuem para o aumento na produção
(Sodium-Dependent Glucose Transporter 1) 22. Os autores de insulina que irá induzir hipoglicemia rebote.
concluíram que mutações nesses genes permitem aos cães Eventos que ocorrem com a ingestão de carboidratos
se adaptarem a dietas com maiores quantidades de carboi- com alta carga e índice glicêmico:
dratos. 1) picos glicêmicos devido a ingestão de carboidratos com
O fator mais importante que devemos observar na es- alta carga e índice glicêmico (“picou”);
colha dos carboidratos na dieta são o índice glicêmico e a 2) formação dos compostos de glicação avançada (AGEs)
carga glicêmica. que são inflamatórios (“glicou”);
O índice glicêmico se refere à medida da velocidade que 3) aumento de mediadores e citocinas inflamatórias em de-
um carboidrato é absorvido pelo organismo e se transforma corrência dos AGEs (inflamou);
em glicose no sangue. Os alimentos que possuem um baixo 4) excesso de carboidratos com alta carga e índices glicê-
índice glicêmico, são absorvidos mais lentamente pelo or- micos estimula a insulina que é considerada um dos prin-
ganismo, alterando gradativamente os níveis de glicose no cipais hormônios adipogênicos (engordou);
sangue, consequentemente, a produção de insulina também 5) a superestimulação insulínica ocasionada por estes car-
acontece de forma gradativa. Portanto, para os diabéticos, boidratos, ocorrerá hipoglicemia rebote que é extremamente
consumir alimentos com baixo índice glicêmico, como len- deletéria para o cérebro que responde com sono irresistível.
tilha, ervilha, arroz integral, abobrinha e brócolis, é uma Desta forma devemos avaliar o tipo de carboidrato
boa opção para ajudar a controlar os níveis de glicose no utilizado nas dietas e priorizar os carboidratos complexos
sangue. mais ricos em fibras com carga e índice glicêmico reduzido
Diferente do índice glicêmico, a carga glicêmica não principalmente para obesos e com tendência a obesidade 2.

Figura 1 – Variação do pico glicêmico pós-prandial

424 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 43 – Alimentação funcional no paciente obeso

Exemplos de carboidratos com alta carga glicêmica: atuam com prebióticos selecionando bactérias benéficas no
trigo; milho; arroz; mandioquinha ou batata-baroa (cozi- intestino. Exemplos: beta glucanas e FOS (frutooligossa-
dos); batata-inglesa (cozidas); mandioca. carídeos) 11.
Exemplos de carboidratos com carga glicêmica média:
inhame (cozidos); cará (cozidos); lentilha; ervilha; sorgo. Fibras insolúveis
Exemplos de carboidratos com carga glicêmica baixa: Celulose e algumas hemiceluloses. Fazem parte da es-
cenoura; abobrinha; chuchu; crucíferas (nabo, repolho, trutura das células vegetais e são encontradas em todos os
couve, couve de bruchelas, couve flor e brócolis). tipos de substância vegetal. Não se dissolvem na água, au-
Os principais carboidratos utilizados nas dietas caseiras mentam o bolo fecal, aceleram o tempo de trânsito intesti-
para cães são: nal pela absorção de água. Melhorando a constipação
• grãos – lentilha, arroz integral e ervilha; intestinal e propiciam maior saciedade 3,21.
• legumes – batata doce e inhame. Devem ser bem cozidos Nas dietas caseiras para cães obesos utilizamos a celu-
no vapor ou panela com pouca água. Quando administrados lose como fonte de fibra insolúvel e o FOS como fonte de
crus eles possuem uma substância tóxica para os cães cha- fibra solúvel.
mada solanina que pode ocasionar alterações digestivas im-
portantes. PROTEÍNAS
Nas dietas para cães obesos é importante utilizar car- As proteínas são compostas de carbono, hidrogênio, ni-
boidratos complexos ricos em fibra com carga e índices gli- trogênio, oxigênio e quase todas apresentam enxofre. Al-
cêmicos moderados para reduzir a estimulação insulínica gumas apresentam elementos adicionais, como fósforo,
e por consequência a adipogênese 20. ferro, zinco e cobre. Seu peso molecular é extremante ele-
Em cães obesos os carboidratos simples com alta carga vado, devido ao número elevado de aminoácidos. Já os
e índices glicêmicos devem ser evitados pois estimulam a aminoácidos, apresentam na sua molécula, um grupo amino
produção de insulina e desta forma podem contribuir para (-NH2) e um grupo carboxila (-COOH). A única exceção é
a adipogênese, inflamação e obesidade 25. o aminoácido prolina.
As rações convencionais para obesidade trabalham com Presentes em diversos tipos de alimentos, as proteínas
aproximadamente 40% das calorias provindas de carboi- são elementos básicos do organismo, essenciais em todo o
dratos, nas dietas caseiras podemos reduzir os níveis de car- metabolismo. Sua principal função não é energética, mas
boidratos em torno de 30-32% das calorias com a utilização sim estrutural, ou seja, contribuem para a formação, desen-
de carboidratos complexos. volvimento e manutenção de todos os órgãos e sistemas do
Tratar um paciente obeso com resistência insulínica organismo. De acordo com sua origem, as proteínas podem
com dietas ricas em carboidratos simples com alta carga e ser animais ou vegetais
índices glicêmicos é o mesmo que fornecer álcool ao al- Proteínas são componentes essenciais a todas as células
coólatra 12,32. vivas e estão relacionadas praticamente a todas as funções
Cada grama de carboidrato fornecida na dieta gera apro- fisiológicas. São utilizadas na regeneração de tecidos; fun-
ximadamente 3,5 kcal* em alimentos secos e aproximada- cionam como catalisadores nas reações químicas que se
mente 4 kcal em alimentos de alta digestibilidade como os dão nos organismos vivos e que envolvem enzimas ou hor-
alimentos caseiros 26. mônios; são necessárias nas reações imunológicas e, jun-
As fibras também são classificadas como carboidratos tamente com os ácidos nucléicos, são indispensáveis nos
e as dietas para cães obesos devem conter níveis elevados fenômenos de crescimento e reprodução.
de fibra. Nas dietas caseiras balanceadas utilizamos pelo As proteínas apresentam 2 destinos no organismo:
menos 5% de fibras para propiciar aos animais maior sa- • anabolismo, onde a proteína será utilizada para produção
ciedade e menores picos glicêmicos. Muitas rações comer- e manutenção dos elementos estruturais do corpo como:
ciais utilizam aproximadamente 12-15% de fibras nas músculos, tendões, tecidos, controle da pressão, controle
dietas para obesidade 20. do pH, mensageiros proteicos, imunoglobulinas;
As fibras são divididas em 2 grandes grupos com carac- • catabolismo, onde as proteínas serão metabolizadas e uti-
terísticas diferentes: solúveis e insolúveis. lizadas com fonte de energia liberando amônia que será me-
tabolizada no fígado em ureia e posteriormente eliminada
Fibras solúveis pelos rins.
Pectinas, gomas, mucilagens e algumas hemicelulo-
ses. A fração solúvel das fibras traz benefícios à saúde, por- Valor biológico
que apresentam efeito metabólico no trato gastrintestinal, Determina a quantidade de proteínas encontradas
retardam o esvaziamento gástrico e o tempo do trânsito in- nos alimentos que realmente são absorvidas pelo corpo
testinal, diminuem a absorção de glicose e colesterol e e utilizadas. As proteínas que contém mais aminoácidos es-
senciais possuem melhor digestibilidade, tendo uma absor-
ção no trato gastrointestinal mais eficiente.
* Nota da editora: kcal = quilocaloria. 1 kcal = 1000 calorias (cal) Quanto maior for o valor biológico de uma proteína

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 425


Capítulo 43 – Alimentação funcional no paciente obeso

mais ela será utilizada pelo corpo como elemento estrutural,


já as proteínas de baixo valor biológica são muito pouco uti-
lizadas pelo organismo sendo catabolizadas no ciclo Krebs
para a produção de energia na cadeia respiratória.
A proteína de maior valor biológico que se conhece até
o momento é o ovo onde 48% será utilizada para formação
dos elementos estruturais e 52% para obtenção de energia.
Fontes proteicas como boi, frango, peru, peixes, porco ape-
nas 32% são utilizados como elementos estruturais e
mesmo assim são consideradas fontes de bom valor bioló-
gico.
As fontes de proteínas nas dietas de cães devem ser alto
valor biológico para fornecerem todos os aminoácidos es-
senciais indispensáveis para a manutenção e síntese dos te-
cidos (Quadro 3).
A proteína ideal para espécie é aquela que fornece o per-
fil de aminoácidos exatamente que o corpo necessita para
executar as suas funções estruturais sem ser utilizada como
fonte de energia (Figura 2).
Quanto mais a proteína da dieta se assemelhar a proteína
ideal, maior será o seu valor biológico.
As principais fontes de proteínas utilizadas nas dietas
de cães com alto valor biológico são:
• ovos;
• peixes (sardinhas são fontes interessantes por conter
menor quantidade mercúrio);
• carnes musculares (porco, rã, coelho, boi, frango, peru,
pato, cordeiro, avestruz etc.); Figura 2 – Fornecimento da proteína ideal não ocasio-
• vísceras (fígado, coração, moela, baço, rins etc.). nando sobrecarga nitrogênica
As proteínas de origem vegetal apresentam valor bioló-
gico reduzido: O principal fator limitante da proteína na dieta para os
• lentilha; cães é a insuficiência renal crônica fases 1, 2, 3 e 4 e shunt
• grão-de-bico; porta sistêmico.
• soja; Níveis mais elevados de proteína na dieta não são res-
• ervilha. ponsáveis por alterações renais, mas devem ter seus valores
Em cães obesos devemos fornecer fontes de proteínas reduzidos em animais portadores de insuficiência renal crô-
de alto valor biológico e ainda aumentar os seus teores na nica. Para identificar de forma precoce a insuficiência renal
dieta para propiciar redução do peso sem perda de massa crônica em cães utilizamos:
muscular 22. • SDMA (sangue);
• cistatina C (sangue);
• relação proteína creatinina urinária–urina.
Quadro 3 – Aminoácidos essenciais e não essenciais
em cães e gatos 29 Cada grama de proteína fornecida na dieta quando for
catabolizada gera, aproximadamente, 3,5 kcal em alimentos
AMINOÁCIDOS secos e, aproximadamente, 4 kcal em alimentos de alta di-
Essenciais Não essenciais gestibilidade como os alimentos caseiros 26.
Lisina Alanina
Leucina Aspartato GORDURAS
Isoleucina Asparagina Os ácidos graxos são ácidos carboxílicos (COOH) que
Valina Cisteína compõem os lipídeos de cadeia alifática possuindo em sua
Metionina Glutamato estrutura carbonos e hidrogênios unidos uns aos outros
Fenilanila Glicina apresentando um grupo metil em uma extremidade e um
Treonina Ornitina grupo carboxila na outra 26.
Triptofano Prolina São componentes da membrana celular exercendo
Histidina Serina importantes funções na modulação dos processos inflama-
Arginina Tirosina tórios em cães e gatos envolvidos em inúmeras doenças crô-
Taurina (felinos) Taurina nicas degenerativas como: artropatias, alterações cardíacas,

426 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 43 – Alimentação funcional no paciente obeso

alterações renais, câncer, gastropatias inflamatórias, ato- atuando como hormônios locais e mediadores da inflama-
pia, alergias, disfunção cognitiva e hipersensibilidade ali- ção 26.
mentar. Dentre todos os ácidos graxos ômega 3 e ômega 6 ape-
As gorduras são classificadas em saturadas e insaturadas. nas o EPA, GLA e AA servem de substrato para síntese de
Gorduras saturadas são mais resistentes à oxidação por prostanoides na membrana.
não apresentarem duplas ligações na sua estrutura bioquí- O EPA serve de substrato para a síntese das prostaglan-
mica. dinas da série 3 que apresentam baixa atividade inflamató-
Nas dietas para cães obesos costuma-se utilizar trigli- ria inibindo a síntese de leucotrieno B4 envolvido
cerídeos de cadeia média (TCMs), que são opções interes- diretamente nos processos alérgicos.
santes por não necessitarem de enzimas digestivas para O DHA não é substrato para as enzimas ciclooxigenas
absorção e não estimularem a insulina. São enviados dire- e lipooxigenase, mas seus metabólitos competem pelo
tamente para o fígado onde são transformados em fonte mesmo receptor do ácido araquidônico da membrana con-
energia e possuem ainda ação termogênica 26. tribuindo para a modulação do processo inflamatório.
Gorduras insaturadas são mais sensíveis aos processos A proporção ideal entre EPA em relação ao DHA deve
oxidativos e são classificas em monoinsaturadas que apre- ser de 1,5 e 1 respectivamente.
sentam apenas uma dupla ligação e poli-insaturadas que O ácido GLA (ácido gama linolênico) é precursor das
apresentam mais de uma dupla ligação. prostaglandinas e leucotrienos da série 1 consideradas to-
Os ácidos graxos ômegas 3 e 6 são exemplos de gordu- talmente anti-inflamatórias e o AA (ácido araquidônico)
ras poli-insaturadas e o ácidos graxos ômega 9 é uma gor- precursor das prostaglandinas e leucotrienos da série 2 to-
dura monoinsaturada. . talmente inflamatórias.
A classificação em ômegas 3,6 e 9 dependem da locali- Desta forma os ácidos graxos podem modular o pro-
zação do carbono na primeira dupla ligação da extremidade cesso inflamatório de acordo com o tipo de ácido graxo ex-
metil 26. presso na membrana celular:
Os ácidos graxos ômega 3 e 6 são considerados nutrien- • EPA- menos inflamatório;
tes essenciais e devem estar presentes nas dietas de cães • DHA- menos inflamatório;
obesos. • GLA- anti-inflamatório;
Relação ideal na dieta é de ômega 6 para ômega 3 é 2:1 • AA- inflamatório.
ou 5:1. Os pacientes obesos estão “inflamados” e desta forma
Os ácidos graxos ômega 3 possuem sua primeira dupla as gorduras que modulam o processo inflamatório especial-
ligação no carbono 3 a partir do radical metil do ácido mente EPA, DHA e GLA podem trazer importantes bene-
graxo e suas principais fontes são: fícios aos animais obesos.
• ácido linolênico (ALA) presentes nos óleos e sementes Quando se utiliza o óleo de linhaça rico em ácido lino-
de alguns vegetais como a linhaça; lênico este deve sofrer a ação das enzimas desaturases e
• ácido eicosapentaenoico (EPA) presente nos óleos de pei- alongase para ocorrer a formação de EPA e DHA, porém
xes de regiões frias e profundas como: sardinha, atum, este processo é pouco eficiente nos cães e praticamente ine-
arenque e anchova; xistente nos gatos.
• ácido docosapentaenóico (DHA) presente nos óleos de Da mesma forma quando utilizamos o óleo de soja,
peixes de regiões frias e profundas e algas marinhas. milho, girassol, amendoim e canola ricos em ácido lino-
Os ácidos graxos ômega 6 possuem a sua primeira dupla leico este deve sofrer a ação da enzima delta-6-desaturase
ligação no carbono 6 a partir do radical metil do ácido para ser transformado em GLA, principal ácido graxo
graxo e suas principais fontes são: envolvido na síntese de ceramidas na epiderme conferindo
• ácido linoleico (LA) presente nos óleos vegetais como: maior hidratação e proteção cutânea.
milho, soja, amendoim e canola; Os gatos têm deficiência na enzima delta 6 desaturase e
• ácido gama-linolênico (GLA) presente nos óleos de bor- não conseguem converter o ácido linoleico (AL) em GLA
ragem e prímula; e AA e também o ácido linolênico (ALA) em EPA e DHA.
• ácido araquidônico (AA) presente nas gorduras animais. Desta forma os gatos necessitam receber a suplementa-
A distribuição dos ácidos graxos poli-insaturados no ção de ácidos graxos na forma de EPA, DHA, GLA e AA
plasma é modulada pela ingestão dietética e suplementação para exercerem suas funções fisiológicas.
que influenciam diretamente nas propriedades importantes O ácido graxo GLA está recebendo grande destaque
desses lipídeos na membrana celular como: primeiro e se- para os gatos pelo fato de estimular os prostanoides anti-
gundo mensageiros, formação de eicosanoides, liberação inflamatórios e ser convertido em AA considerado nutriente
de citocinas, receptor de membrana celular 26. essencial para a espécie.
Os eicosanoides são moléculas com 20 carbonos compos- Os cães apresentam baixa efetividade das enzimas desa-
tos pelos prostanoides: prostaglandinas(PG), tromboxano turases em transformar o ácido linolênico ALA em EPA e
(TX), leucotrienos (LT), lipoxinas (PX) e ácidos hi- DHA se beneficiando da administração do óleo de peixe em
droxilados com importantes atividades imunorregulatórias relação ao óleo de linhaça (rico em ALA), no entanto parecem

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 427


Capítulo 43 – Alimentação funcional no paciente obeso

converter de forma mais eficiente o ácido linoleico(LA) em tóxica e seu valor nas dietas varia de 1515UI/1000 kcal até
GLA, mas, infelizmente, diversos fatores podem alterar a o valor máximo de 100000UI/ 1000 kcal.
ação das enzimas desaturases e alongase impedindo seus
efeitos conversores sobre os ácidos graxos como: • Vitamina E – antioxidante protegendo as células contra o
• ingestão de gorduras trans; estresse oxidativo, desempenha ação importante para re-
• ingestão de gorduras hidrogenadas, infelizmente a maior produção e saúde da retina. Toxidade extremamente rara
parte das gorduras insaturadas fornecidas na alimentação de ocorrer mesmo com altas doses de suplementação.
sofrem o processo de hidrogenação parcial para se torna- Dose: 9UI/1000 kcal.
rem mais resistentes ao processo oxidativo;
• falta de nutrientes específicos; • Vitamina K – papel chave na coagulação do sangue e na
• endocrinopatias. fixação do cálcio nos ossos, estimulando a osteocalcina e
Desta forma os ácidos graxos quando suplementados na a atividade osteoblástica. Não ocasiona toxidade em ex-
forma direta EPA, DHA e GLA apresentam grande vanta- cesso, produzida pela microbiota intestinal.
gem, pois não necessitam das enzimas desaturases e alon-
gase para exercerem suas funções fisiológicas na • Vitamina D3 – considerada verdadeiro hormônio pois
modulação dos processos inflamatórios em cães obesos. todas as células apresentam receptores para ela (cole calci-
O principal fator limitante da gordura na dieta para os ferol); responsável pela transcrição de, aproximadamente,
cães são: lipemia, pancreatite e linfagestasia. Animais obe- 10% dos genes humanos; fundamental para absorção de
sos com aumento de triacilglicerois devem receber trata- cálcio e fósforo, ação imunomoduladora, inibidora do sis-
mento para lipemia, pois este fator pode aumentar o risco tema renina angiotensina aldosterona, síntese de ceteleci-
de pancreatites e convulsões em cães 27,28,37. dina, ações anticâncer, proteção renal e cardiovascular.
Para o tratamento dos cães com lipemia acima 500 mg/dL Excesso pode ocasionar toxidade. Dose: 138UI/1000 kcal
utilizamos o bezafibrato na dosagem de 2,5 mg/Kg BID. até o valor máximo de 800UI-1000 kcal.
Niacina vitamina B3 na dose de 25-100 mg por animal
e níveis otimizados na dieta de EPA e DHA 5. Vitaminas hidrossolúveis
As principais fontes de gordura utilizadas nas dietas • Tiamina – fundamental para o metabolismo dos carboi-
para cães obesos são: óleo de girassol de preferência não dratos, precursora de acetilcolina e ácido clorídrico e im-
hidrogenado, óleo de peixe (EPA e DHA), óleo de Krill portante para o músculo cardíaco. Dose: acima de 0,56
(EPA e DHA), óleo de coco (TCMs), óleo de cartamo mg/1000 kcal.
(CLA), óleo de borragem (GLA), banha de porco e azeite
de oliva 21. • Riboflavina – energética, participa do transporte de elétrons
Cada grama de gordura fornecida na dieta quando for (FAD e FADH). Atuante no conjunto com o ácido fólico e
catabolizada gera aproximadamente – 8,5 kcal em alimen- piridoxina, ativando as suas respectivas coenzimas. Partici-
tos dos secos e aproximadamente 9 kcal em alimentos de pante da síntese de colina, dopamina e histamina e impor-
alta digestibilidade como os alimentos caseiros 25. tante para o pelame. Dose: acima de 1,5 mg/1000 kcal.

VITAMINAS E MINERAIS Nicotinamida – energética, atuante direta no transporte de


Muitas vitaminas e minerais são considerados nutrientes elétrons (NAD e NADH) e na redução de triacilgliceróis.
essenciais e devem estar presentes nas dietas seguindo os Com ação antioxidante por regenerar a enzima glutationa.
valores mínimos e máximos instituídos pelo NRC, Importante para o pelame e no estímulo à produção de gló-
AAFCO, FEDIAF. bulos vermelhos. Dose: acima de 4,25 mg/1000 kcal.
As vitaminas são nutrientes importantes e atuam como
coenzimas em diversas reações bioquímicas e são divididas Biotina – metabolismo energético com síntese de ATP. Par-
em 2 grandes grupos: vitaminas lipossolúveis (acumulati- ticipante do metabolismo de ácidos graxos e aminoácidos
vas, com exceção da vitamina K) e vitaminas hidrossolú- de cadeia ramificada. Promove hidratação cutânea e parti-
veis (não acumulativas, com exceção da vitamina B12 ). cipação na síntese das purinas. Para ser ativada, outras vi-
Vitaminas hidrossolúveis: tiamina (B1), riboflavina (B2), taminas são necessárias, como riboflavina, nicotinamida,
nicotinamida (B3), biotina, piridoxina, ácido pantotênico, piridoxina e vitamina A. Produzida pela microbiota intes-
ácido fólico, cianocobalamina e ácido ascórbico. tinal.
Vitaminas lipossolúveis: vitamina A, vitamina E, vita-
mina K e vitamina D. Ácido pantotênico – metabolismo energético, sendo
precursor da coenzima A que inicia o ciclo de Krebs em
PRINCIPAIS FUNÇÕES DAS VITAMINAS conjunto com o ácido oxalacético. Fundamental para a
Vitaminas lipossolúveis glândula suprarrenal, modulando o estresse. Suporte cutâ-
• Vitamina A – importante para visão, reparo tecidual, cres- neo e estímulo à produção de glóbulos vermelhos. Dose:
cimento, imunidade, reprodução e seborreia seca. Pode ser acima de 3,75 mg/1000 kcal.

428 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 43 – Alimentação funcional no paciente obeso

Piridoxina – fundamental para o metabolismo das proteí- 1250 mg/1000 kcal até o valor máximo de 6250 mg/1000
nas, atuante na redução da homocisteína, estimulando a sín- kcal.
tese de cisteína e glutationa envolvidas no processo de
destoxificação hepática; estímulo à produção de glóbulos Fósforo – mineral mais abundante no organismo, depois do
vermelhos. Dose: acima de 0,38 mg/Kg. cálcio. Encontrado, principalmente, nos ossos e dentes. Par-
ticipante de todas as membranas celulares, ativando as vi-
Ácido fólico – fundamental para a síntese dos glóbulos ver- taminas do complexo B, da estrutura da molécula de DNA
melhos. Transformação de homocisteína em metionina pro- e RNA (elementos do genoma), necessário para a formação
movendo maior metilação no corpo e envolvimento no da molécula de ATP da contração muscular e da transmis-
metabolismo de alguns aminoácidos (histidina e serina). são de impulsos nervosos. Dose: 1000 mg/1000 kcal até o
Dose: acima de 67,56 mcg/1000 kcal. valor máximo de 4000 mg/1000 kcal seus valores devem
ser reduzidos em pacientes nefropatas.
Cianocobalamina – estímulo à síntese de glóbulos verme-
lhos, realizando a transformação de homocisteína em me- Magnésio – nutriente intracelular necessário para a ativação
tionina promovendo maior metilação no corpo. Efeito de mais 200 enzimas. Componente estrutural do músculo
sinérgico em conjunto com o ácido fólico, estimulando a e dos ossos, necessário para estabilização da molécula de
síntese da bainha de mielina, e deficiente em animais com ATP. Potente antiarrítmico, com redução do estresse. Dose:
doenças inflamatórias intestinais, hipocloridria (diminuição acima de 180 mg/1000 kcal.
na síntese de ácido clorídrico). Única vitamina hidrossolú-
vel que pode ser armazenada no organismo. Dose: acima Potássio – nutriente intracelular necessário para inúmeras
de 8,75 mcg/1000 kcal. funções enzimáticas e neurológicas. Importante para a ma-
nutenção do equilíbrio de fluidos; sua deficiência, assim
Ácido ascórbico – única vitamina hidrossolúvel que não como de cloreto, magnésio e sódio, pode ocorrer na pre-
pertence ao grupo B. Com ação antioxidante, regenerando sença de diarreias e vômitos crônicos. Dose: acima de 1250
a vitamina E oxidada para a sua forma ativa. Participante mg/1000 kcal.
da síntese de colágeno. Com ação imunoestimulante, é im-
portante para a modulação do estresse. Microminerais
Zinco – com círculo de 300 enzimas dependente, incluindo
Colina – produção de acetilcolina e metabolização de ho- as que protegem as células do insulto oxidativo (SOD),
mocisteína em metionina. Dose: de 280 mg/1000 kcal. atuante na potencialização do sistema imunológico, na pro-
moção da renovação celular, na síntese e digestão de pro-
MINERAIS teínas. Dose: 18 mg/1000 kcal até o valor máximo de 71
Minerais atuam como coenzimas em diversos processos mg/1000 kcal.
bioquímicos e são divididos em 2 grandes grupos: macro-
minerais e microminerais. Ferro – necessário para a síntese de hemoglobina, responsável
Macrominerais estão presentes em maiores quantidades pelo transporte de oxigênio aos tecidos, apresentando também
nas dietas e são: cálcio, fósforo, magnésio, potássio, cloro funções enzimáticas, energéticas e imunológicas. Dose: 9
e sódio. mg/1000 kcal até o valor máximo de 355 mg/1000 kcal.
Microminerais estão presentes em menores quantidades
nas dietas e são: cobre, zinco, manganês, selênio, iodo e io- Cobre – envolvido na biodisponibilidade do ferro para a
deto. produção das hemácias, sendo um precursor de melanina,
e estimulo da angiogênese. Dose: 1,8 mg/1000 kcal até o
Macrominerais valor máximo de 710 mg/1000 kcal.
Sódio – necessário para a transferência de nutrientes entre
as células e para a manutenção do equilíbrio hídrico entre Manganês – com várias funções envolvidas no metabo-
os tecidos. Dose: 250 mg/1000 kcal até o valor máximo de lismo de proteínas, carboidratos e lipídios, além da impor-
4500 mg/1000 kcal. tância na ativação de algumas enzimas, na reprodução e na
otimização energética e síntese de proteoglicanos. Doses:
Cloro – atuante no equilíbrio acidobásico ao longo do 1,44 mg/1000 kcal até o valor máximo de 42,60 mg/1000
organismo e precursor de ácido clorídrico no estômago. kcal.
Importante para o processo digestivo e a absorção de nu-
trientes. Nutriente abundante nos alimentos. Selênio – ativação da enzima glutationa peroxidase, envol-
vida na inativação de radicais livres derivados das gordu-
Cálcio – necessário para inúmeras funções metabólicas: ras, destoxificação hepática e proteção de glândulas, como
como desenvolvimento ósseo, coagulação do sangue, im- a tireoide; ativação também na conversão do pré-hormônio
pulsos nervosos e controle na passagem de fluidos. Dose: tireoidiano T4, para a sua forma ativa T3, favorecendo a

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 429


Capítulo 43 – Alimentação funcional no paciente obeso

obtenção energética do corpo (ATP). Dose: 75 mcg/1000 excesso de tecido adiposo. Cintura e afundamento abdomi-
kcal até o máximo de 142 mcg/1000 kcal. nal discretos;
5) obeso mórbido – costelas palpáveis com dificuldade, re-
Iodo e iodeto – importantes precursores dos hormônios ti- cobertas por excesso de tecido adiposo. Depósitos de gor-
reoidianos T4 e T3, além da presença em inúmeros órgãos dura sobre a região lombar e base da cauda. Não existe
e sistemas. Dose: 260 mcg/1000 kcal até o valor máximo cintura e o abdômen está distendido 31.
de 2800 mcg/1000 kcal 26. A determinação ECC deve ser realizada em conjunto
com a avaliação muscular do paciente.
ÁGUA Para avaliação muscular o Serviço de Nutrição da Uni-
A água representa cerca de 60% do peso total do corpo versidade Tufts, liderado pela dra. Lisa Freeman, desenvol-
de um cão adulto. Ela é o principal componente das células, veu o exclusivo WSAVA Muscle Condition Score System,
mas também é encontrada fora dessas estruturas (líquido que avalia a condição muscular dos nossos pacientes atra-
extracelular). Entre as células que mais apresentam água, vés da palpação do músculo esquelético sobre o crânio, es-
destacam-se aquelas localizadas nos músculos e nas vísce- cápula, coluna e pelve (Figura 3).
ras 26. A grande maioria dos cães obesos está sarcopênica e a
Água é o principal componente das células desempe- palpação nestes pontos específicos será de grande valia
nhando inúmeras funções no organismo como: transporte para avaliação muscular dos nossos pacientes.
de substâncias, facilitar reações bioquímicas, termo regu- Outro método interessante para ser realizado na prática
lação, lubrificação, reações de hidrólise, equilíbrio osmó- clínica é a avaliação da % de gordura corporal. Este método
tico e equilíbrio ácido base. pode ser obtido a partir de duas medidas físicas, ambas rea-
Necessidade hídrica em cães é obtida através do se- lizadas com o animal em estação com os membros perpen-
guinte cálculo 25: diculares ao chão e a cabeça na posição ereta. São elas a
Quantidade de água diária= 60-70 mL x Kg. circunferência pélvica e medida do membro posterior es-
querdo em cm desde a patela até a tuberosidade do calcâ-
Avaliação do escore corporal neo (Figura 4).
Um animal encontra-se em equilíbrio energético quando Os resultados cujos percentuais são > 30% indicam obe-
praticamente toda energia ingerida é utilizada pelo orga- sidade, entre 25-30% são sobrepeso, peso ideal seria de 15-
nismo. No balanço energético positivo a ingestão de ener- 25% e < 10% resultado compatível com caquexia 6,9.
gia excede o consumo, de modo que a energia excedente Nas dietas para cães obesos é ideal a realização de exa-
acumula-se como tecido adiposo provocando sobrepeso ou mes específicos para a avaliação de possíveis disfunções
até mesmo obesidade. O balanço energético negativo como lipemia, endocrinopatias, nefropatias e hepatopatias
ocorre quando a ingestão não esta suprindo as necessida- que podem interferir nos resultados clínicos e também na
des, o organismo começa metabolizar seus tecidos para co- escolha e proporção dos carboidratos, proteínas e lipídeos
brir as necessidades energéticas, resultando em perda de presentes na dieta.
peso 16.
A avaliação do peso é a medida mais utilizada como es- DESCRIÇÃO FIGURA
timativa da condição corporal e nutricional na clínica de
pequenos animais, entretanto como é um fator dinâmico
está sujeito a mudanças fisiológicas 16.
O escore de condição corporal (ECC) também é um pa- NORMAL
râmetro muito utilizado para avaliar a condição corporal
em cães e é baseado na inspeção e palpação do paciente,
empregando escalas numéricas. O ECC deve ser analisado
com cautela para alguns pacientes, pois não expressa a LEVE
perda de massa muscular nos pacientes 22. PERDA
Determinação do escore de condição corporal (ECC):
1) caquético – costelas vertebrais lombares e ossos pélvicos
facilmente palpáveis, não há gordura palpável. Afunda-
MODERADA
mento da cintura e abdômen;
2) magro – costelas facilmente palpáveis, cobertura adi- PERDA
posa mínima, cintura facilmente notada. Afundamento do
abdômen;
3) ideal – costela palpável, sem excesso de cobertura adi- SEVERA
posa. Observa-se cintura, de cima e após as costelas. PERDA
Nota-se afundamento do abdômen visto de lado;
4) gordo – costelas palpáveis, recoberta com moderado Figura 3 – Palpação dos músculos com o dedo indicador 31

430 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 43 – Alimentação funcional no paciente obeso

Determinação da necessidade energética (fator atividade):


• animais inativos castrados:
NEM = 90-95 x {peso ideal(kg)}0,75
• animais ativos:
NEM = 110 x {peso ideal ( peso ideal(kg)}0,75
• animais ativos alta atividade (1-3 horas):
NEM = 130 x {peso ideal(kg)}0,75
• animais atletas (3-6 horas):
NEM = 140-160 x {peso ideal(kg)}0,75
• animais obesos:
NEM = 70-80 x {20% de perda do peso atual(kg)}0,75

Determinação da necessidade energética (fator idade):


• animais idosos acima de 7 anos:
NEM = 90-95 x {peso corporal(kg)}0,75
• animais de 1-2 anos:
Figura 4 – Demonstração das medidas de circunferência NEM = 110 x {peso corporal(kg)}0,75
pélvica (CP) e medida do membro posterior esquerdo em • animais de 1-2 anos castrados:
cm desde a patela até a tuberosidade do calcâneo (CL): NEM = 95 x {peso corporal(kg)}0,75
% de gordura = (-1,7 x CL) + ( 0,93 x CP) + 5
• animais 3-7anos:
NEM = 95 x {peso corporal(kg)}0,75
Recomenda-se a realização desses exames:
• ALT, FA, gama GT (função hepática); Necessidade energética para cães obesos
• ureia – função renal; Para realizar a perda de peso adequada devemos calcu-
• creatinina – função renal; lar a necessidade de calorias que o animal necessita para
• hemograma – função renal; perder até atingir o peso desejável.
• SDMA – avaliação de insuficiência renal precoce; A necessidade energética para cães obesos é diferente e
• cistacina C – avaliação de insuficiência renal precoce; obtida através do seguinte cálculo:
• triacilglicerois; NEM = 70-80 kcal x {perda de 20% do peso atual(kg)}0,75
• cortisol basal – avaliação da suprarrenal (triagem de hi- Para a perda de peso devemos escolher o fator entre 70-
peradrenocorticismo devendo ser confirmado posterior- 80 e multiplicar pelo peso ideal. O peso ideal será obtido
mente com o teste supressão a dexametazona ou através da avaliação do escore corporal e da estimativa de
estimulação de ACTH); peso das raças. Devemos no primeiro momento estipular a
• TSH – avaliação da tireoide; perda máxima de 20% do peso atual 26. A dieta para obesi-
• T4 livre – avaliação da tireoide; dade pode ser realizada em uma ou mais etapas que irão
• insulina – avaliação do pâncreas; depender do grau de obesidade do paciente.
• frutosamina – avaliação do grau de glicação; Tomemos como exemplo animal com 10 Kg e seu peso
• perfil eletrolítico; e cujo peso ideal deve ser 6,4Kg:
• glicose. • no primeiro momento para o cálculo da energia esti-
Para realização das dietas devemos seguir as etapas a maremos a perda de 20% do peso atual, portanto o
seguir: peso ideal nessa primeira etapa é de 8Kg.
1) determinar a necessidade energética metabolizável NEM = 75 x {8(kg)}0,75
(NEM); NEM = 356 Kcal
2) determinar energia metabolizável do cardápio (EM) com • no segundo momento, quando animal atingir o peso
sua distribuição calórica; de 8kg faremos um novo cálculo para obtenção do
3) escolher os ingredientes do cardápio; peso ideal. Estimando a perda de mais 20%, portanto
4) balancear os nutrientes do cardápio; o peso ideal nesta segunda etapa é de 6,4Kg.
5) suplementação com nutracêuticos específicos. NEM = 301 Kcal 26

Necessidade energética metabolizável (NEM) Energia dos alimentos (EM)


Para realização das dietas devemos sempre estimar a Dentre os alimentos, os carboidratos, lipídeos e as proteí-
quantidade de calorias ideal para cada animal e para esta nas são os grandes fornecedores de energia para o organismo
determinação devemos levar em consideração os fatores animal. Toda a energia contida no alimento é denominada
relacionados a atividade e idade. de energia bruta (EB) que provém da oxidação.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 431


Capítulo 43 – Alimentação funcional no paciente obeso

Estimada a necessidade de calorias necessárias (NEM), Quadro 4 – Distribuição calórica para cães obesos em
devemos realizar a dieta escolhendo as fontes de carboi- alimentos caseiros
dratos, lipídeos e proteínas realizando o balanceamento dos
macro e micronutrientes da dieta e adição de nutracêuticos Dieta para obesidade 1:
35-38% de proteínas
específicos para potencializar os resultados clínicos. 31-32,5% de carboidratos de carga e índices glicêmicos
O valor da EM deve ser a mesmo do NEM. médios
Cães e gatos, assim como os demais animais, não con- 31-32,5 de gorduras
seguem extrair totalmente a energia do alimento. A energia
disponível para o organismo é chamada de energia meta- Dieta para obesidade 2:
bolizável (EM). 33% de proteínas
33% de carboidratos
Cada g de carboidrato fornece 4 kcal em alimentos de
33% de gorduras
alta qualidade e 3,5 kcal em alimentos de baixa digestibi-
lidade. Dieta para obesidade 3 – indicada para pacientes com li-
Cada g de proteína fornece 4 kcal em alimentos de alta pemia acima de 500 mg/dL:
qualidade e 3,5 kcal em alimentos de baixa digestibilidade. • 40% de proteínas
Cada g de gordura fornece 9 kcal em alimentos de alta • 40% de carboidratos de carga glicêmica média
qualidade e 4 kcal em alimentos de baixa digestibilidade. • 20% de gorduras.

Calculo do EM do alimento
Após o controle da lipemia podemos gradativamente au-
EM alimento alta
= (4 x g PB)+(9 x g EE)+(4 x g ENN) mentar a ingestão de gorduras e trabalhar nestes pacientes
qualidade (kcal/kg)
com a dieta 1 que apresenta maior distribuição calórica pro-
vinda de proteínas que são pouco convertidos em gorduras.
EM alimento baixa Rações comerciais restringem a gordura com aumento
= (3,5 x g PB)+(9 x g EE)+(3,5 x g ENN)
qualidade (kcal/kg)
na proporção de proteína, carboidratos e principalmente de
*Devido ao aumento da digestibilidade dos ingredientes presen- fibras:
tes nas rações a equação acima está em desuso • 38-40% das calorias de proteínas;
• 38-40% das calorias de carboidratos;
Para calcular as calorias dos alimentos devemos somar • 20% das calorias de gordura;
as quantidades dos carboidratos, proteínas e lipídeos e mul- • 10-15% de fibras.
tiplicar pelos seus respectivos fatores. Exemplo: como po-
demos calcular quantos kcal 100g de arroz cozido fornece? Escolha dos ingredientes do cardápio
100 g de arroz cozido refinado branco contém: Realizamos a escolha de 1 ou 2 fontes de carboidratos,
• carboidratos 25,47g X 4 kcal= 101,88 kcal 1 fonte de proteína, podendo ter outra fonte de proteína as-
• proteínas 2,32g X 4 kcal= 9,28 kcal sociada e pelo menos 4 vegetais e legumes e fontes de gor-
• lipídeos 1,18g X 9 kcal= 10,62 kcal dura associadas.
Total de calorias em 100g de arroz = 121 kcal. Sendo a Fontes de carboidratos: carboidratos de carga e índice gli-
distribuição calórica de: cêmico médios como lentilha, ervilha, inhame e batata doce.
• 84,16% de calorias provindas de carboidratos; Os vegetais e legumes de carga e índice glicêmico baixos
• 7,63% das calorias provindas de proteínas; podem ser utilizados para aumentar o volume da dieta.
• 8,7% das calorias provindas de gordura. Fontes de proteínas: carnes de boi, frango, peru, coelho,
Para realização das dietas iremos trabalhar com a dis- cordeiro, rã e porco. Proteínas associadas: ovo de galinha,
tribuição calórica de carboidratos, proteínas e lipídeos de ovo de codorna, fígado bovino ou fígado de galinha.
acordo com o tipo de patologia e ainda utilizar os nutrientes Fontes de gordura: óleo de azeite, óleo de peixe, óleo
e nutracêuticos de forma individual. de coco, óleo de borragem e banha suína.
Para a perda de peso ser mais efetiva devemos prestar Fibras: celulose, farinha de alfarroba, aveia, FOS,
atenção na proporção e na escolha dos carboidratos, pro- Psyllium etc.
teínas e lipídeos da dieta.
Dietas com altos níveis de carboidratos estimulam a in- Balanceamento dos nutrientes da dieta
sulina e por consequência a adipogênese. Já dietas ricas em Para todos os nutrientes essenciais temos os valores
proteínas e moderadas em gordura estimulam o glucagon mínimos e máximos para cada 1000 kcal ingeridas.
que realiza lipólise efeito antagônico à insulina. A grande Vitaminas: devem ter seus valores otimizados acima
maioria dos cães obesos apresenta excesso de insulina. de 50% dos valores mínimos para cada 1000 kcal. A vita-
Desta forma realizamos dietas caseiras com a seguinte mina D também deve ter seu valor otimizados entre 500-
proporção de calorias provindas de carboidratos, proteínas 700UI/1000 kcal da dieta. A vitamina A deve ter seus níveis
e lipídeos (Quadro 4). otimizados entre 5000-10000UI/1000 kcal.

432 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 43 – Alimentação funcional no paciente obeso

Minerais: os valores de cálcio e fósforo devem ser for- com bezafibrato na dose 2,5 mg/Kg BID principalmente
necidos podendo respeitar estas relações entre os elementos para lipemias acima de 500 mg/dL;
de 2:1, 1,5:1 e 1,2:1 respectivamente. Nunca em uma dieta • animais com resistência insulínica convertem o carboi-
podemos ter mais fósforo que cálcio. Os valores de cálcio drato da dieta em gordura, portanto restrições de gordura
e fósforo ideais na dieta devem manter esta proporção e es- na dieta e por consequência elevação dos teores de car-
tarem próximo dos valores mínimos para cada 1000 kcal. boidratos podem não trazer benefícios a muitos pacientes.
Os outros macrominerais podem estar com os valores Para alcançar o sucesso terapêutico no paciente obeso
otimizados em torno de 20% acima dos valores mínimos. é preciso à conscientização e o comprometimento do tutor
Os microminerais devem estar com seus valores otimi- em relação ao manejo. Devendo ser investigado a respeito
zados entre 20-40% acima dos valores mínimos de referên- da alimentação fornecida, atividade física desenvolvida,
cia com exceção do cobre que deve estar com valores ambiente em que vive e ser alertado dos principais fatores
próximos do mínimo. predisponentes relacionados á obesidade como: castração,
excesso de calorias e carboidratos e também dos principais
Adição de nutracêuticos riscos que representa para desenvolvimento de inúmeras
Nutracêuticos são suplementos dietéticos, em forma ali- doenças 23,31.
mentícia (comprimidos, cápsulas e pó), de uma substância A restrição calórica, atividade física, proporção ade-
bioativa natural concentrada, presente usualmente nos ali- quada de proteínas, lipídeos e carboidratos e o balancea-
mentos e fitoterápicos e que, tomado em doses superiores mento da dieta são as principais estratégias adotadas para
ao presumidamente existente em determinados alimentos, sucesso terapêutico em cães obesos.
possuem efeito favorável sobre a saúde, maior do que se Cuidado com petiscos fornecidos. Eles são alimentos
poderia ter no alimento. secos e, por consequência, calóricos (20g de biscoitos for-
São nutrientes com ação farmacêutica e podem ser uti- necem aproximadamente 70 kcal).
lizados para cães obesos para favorecer a perda de peso e
contribuir para a saúde das articulações. Opções de dietas utilizadas
Muitos cães obesos apresentam sobrecarga nas articu- Para a perda de peso podemos utilizar como estratégia
lações devido ao atrito ocasionado pelo acúmulo do peso e três opções de alimentação, desde que todas estejam balan-
também pelo aumento de citocinas inflamatórias produzi- ceadas e equilibradas:
das pelo próprio tecido adiposo, especialmente a IL-1 que • dietas caseiras;
apresenta efeito catabólico articular estimulando a produ- • rações comerciais;
ção de mateloproteinase de matriz (MMPs) pelos condró- • mistura de ração e comida caseira.
citos que destroem a estrutura do colágeno. As realizações de dietas caseiras balanceadas são exce-
Os principais nutracêuticos utilizados para promover re- lente opção para propiciar perda de peso em cães. Princi-
dução do processo inflamatório articular em cães em cães palmente, para os casos que não obtiveram sucesso com a
são: curcumina, Boswellia serrata, UC-2, EPA, DHA, GLA, utilização de rações comercias.
MSM, sulfato de condroitina, sulfato de glucosamina, vita- Para realização de dietas caseiras e misturas de rações
mina K2, epigalo catequina galato e piperina. com alimentos sugerimos a utilização de softwares específi-
Muitas nutracêuticos ainda apresentam o efeito nutrige- cos para facilitar os cálculos e balancear de maneira correta
nômico estimulando o fator de transcrição de genes AMPK as dietas, evitando faltas e excessos de calorias e nutrientes.
que estimula a oxidação de gorduras através da biogênese Nos exemplos a seguir foram utilizados o software Fun-
mitocondrial e podem contribuir para a redução da obesi- cional Pet (Figura 5) para o balanceamento correto das dietas.
dade em cães e ainda melhorar a sinalização insulínica. Exemplo: realização de dieta caseira balanceada para
Os principais nutracêuticos utilizados em cães para me- animal com 10Kg e seu peso ideal é de 6,4Kg, neste caso
lhorar a sinalização da insulina são: picolinato de cromo e a perda de peso será realizada em duas etapas:
vanádio. Os principais nutracêuticos que estimulam AMPK
são: curcumina, epigalo catequina galato, berberina, resve-
ratrol, CLA (rico no óleo de cártamo), óleo de coco, EPA e
DHA.
Estes nutracêuticos podem ser adicionados nas dietas po-
tencializando os resultados clínicos em pacientes obesos.
Observações importantes:
• animais portadores de insuficiência renal crônica devem
apresentar a alterações nas proporções dos macronutrientes
e micronutrientes presentes na dieta como redução dos
teores de proteína, sódio e fósforo;
• animais com lipemia devem ter os teores de gordura reduzido
para menos de 30% das calorias e tratamento concomitante Figura 5 – Software Funcional Pet

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 433


Capítulo 43 – Alimentação funcional no paciente obeso

• na primeira etapa, para o cálculo da energia, estima- grande maioria dos cães obesos apresenta excesso de insu-
remos a perda de 20% do peso atual, portanto o peso lina. Desta forma realizamos dietas caseiras com a seguinte
ideal nessa primeira fase será de 8Kg. proporção de calorias provindas de carboidratos, proteínas
NEM = 75 x {8(kg)}0,75 e lipídeos:
NEM = 356 Kcal 35%-38% das calorias de proteínas;
• na segunda etapa, quando animal atingir o peso de 30-32,5% das calorias de carboidratos complexos;
8kg faremos um novo cálculo para obtenção do peso 30-32,5% das calorias de gorduras;
ideal, estimando a perda novamente de 20%, portanto 5% de fibra celulose.
o peso ideal nesta segunda etapa é de 6,4Kg. Exemplo para realização de dieta caseira balanceada:
NEM = 301 Kcal Animal: Belinha
Estimada a necessidade de calorias necessárias para a Raça: SRD
perda de peso, devemos realizar a dieta escolhendo as fon- Espécie: canina
tes de carboidratos, lipídeos e proteínas, realizando o ba- Peso atual:10Kg
lanceamento dos macro e micronutrientes da dieta e adição Peso ideal: 8Kg
de nutracêuticos específicos para potencializar os resulta- Neste caso a perda de peso será realizada em apenas 1
dos clínicos (Figura 6). etapa, pois a perda de peso não excede mais de 20% do
Para a perda de peso ser mais efetiva devemos prestar peso atual:
atenção na proporção e na escolha dos carboidratos, pro- 1) Estimar as calorias necessárias para perda de peso de
teínas e lipídeos da dieta. acordo com a seguinte equação
Dietas com altos níveis de carboidratos estimulam a NEM = 75 x {8(kg)}0,75 ]
insulina e por consequência a adipogênese. Já dietas ricas NEM= 356Kcal
em proteínas e moderadas em gordura estimulam o gluca- 2) Na segunda etapa devemos escolher os ingredientes
gon que realiza lipólise efeito antagônico à insulina. A da dieta
Fontes principais de carboidratos escolhidas nesta dieta:
lentilha, inhame, chuchu, abobrinha, vagem.
Fontes principais de proteínas escolhidas nesta dieta:
ovos, peito de frango e lentilha
Fontes principais de gorduras escolhidas nesta dieta:
óleo de peixe, óleo de girassol de preferência não hidro-
genado, óleo de coco, azeite de oliva extra virgem e
gema do ovo.
3) Na terceira etapa devemos balancear a quantidade de
proteína, gordura e carboidrato de acordo com destrui-
ção de calorias específicas para obesidade:
38% das calorias de proteínas;
31% das calorias de carboidratos;
31% das calorias de gordura;
5% de fibra.
4) Realizar o balanceamento dos nutrientes da dieta. As
vitaminas devem ter seus valores otimizados, mesmo
que não estejam deficientes na dieta, já os minerais
como cálcio e fosforo devem estar próximos aos valores
mínimos e os outros minerais (exceção do cobre), cos-
tuma-se otimizar acima do valor mínimo (Figura 7). A
vitamina D deve ser trabalhada de forma otimizada, isto
é, próximo aos valores máximos, já que grande parte
dos cães está com níveis insuficientes desta vitamina.
Os ajustes dos macro e micronutrientes poderão ser rea-
lizados com suplementos específicos no mercado, po-
dendo ser incorporados ao banco de dados do programa
ou através de manipulação específica.
Exemplo de formulação manipulada para equilibrar a
dieta da Belinha (uso oral):
• vitamina A – 2000UI;
• vitamina D3 – 230UI;
Figura 6 – Cardápio e quantidades diárias • vitamina E – 50UI;

434 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 43 – Alimentação funcional no paciente obeso

O diagnóstico da obesidade deve ser realizado pelo mé-


dico veterinário utilizando métodos como: o RCC, o IMCC
e a ultrassonografia que são utilizados como dados de cál-
culos para tratamento e orientação da obesidade canina. Em
vista disso, é importante o conhecimento prévio sobre esta
doença que acometem os cães, sendo necessários sua pre-
venção, diagnóstico e tratamento adequado, assim como a
conscientização de seus tutores em relação à saúde de seus
animais, fazendo com que estes animais tenham maior ex-
pectativa e qualidade de vida.

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436 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


44
Controle da obesidade com exercícios físicos

Roberta Lins Reis Appel


Miriam Caramico

A
obesidade foi apontada em pesquisas nos últimos diariamente 5,10,15,49.
40 anos entre as desordens nutricionais como a São vários os fatores secundários que podem levar à
maior responsável pela morbidade em cães e é a obesidade canina através da alteração do metabolismo: pré-
forma mais comum de má nutrição nos mesmos 36. Apesar disposição racial, que determina condições genéticas e
da definição da obesidade canina ter algumas variações, comportamentais, manejo reprodutivo (esterilização), idade
um cão já é considerado em sobrepeso quando excede seu avançada, gênero (maior prevalência em fêmeas) e doenças
peso corporal ideal em 10% a 20%, e obeso quando excede endócrinas 5,10,15.
em mais de 25% 10,33. O gasto diário de energia pode ser dividido em três com-
A técnica mais comum de diagnóstico de obesidade é ponentes: a taxa metabólica basal, o gasto energético de ati-
através da utilização do mapeamento do escore corporal vidades físicas e o gasto energético induzido pela ingestão
(BCS – Body Condition Score) em uma escala de 5 ou 9 de alimentos 61. Este último ocorre, pois a ingestão de ali-
pontos. A escala mais utilizada atualmente é a de 9 pontos, mentos é seguida por um aumento do metabolismo basal
onde cada ponto corresponde a um desvio de 10% a 15% durante o processo de digestão e absorção dos nutrientes,
para chegar ao peso ideal, sendo 1,2 e 3 correspondentes a denominado termogênese pós-prandial 1. O gasto de energia
um cão muito magro; 4 e 5 em peso ideal; 6 e 7 acima do induzido por uma dieta composta por 10 a 15% de proteína,
peso e 8 e 9 cães obesos 27,33. 20 a 40% de gordura e o restante de carboidratos é equiva-
A incidência da obesidade em animais de companhia lente a 10% do total de calorias ingeridas 61. Esse valor au-
em estudos conduzidos em diversas regiões do mundo é menta conforme aumenta a fração de calorias provindas de
calculada em algo em torno de 22% e 40%, sendo consenso proteínas na dieta 4,32. Além disso, além da quantidade total
que esse número tem aumentado a cada ano 36. No Brasil de calorias ingeridas, pesquisas apontam que o fraciona-
esses números não estão tão bem definidos. Em um estudo mento da alimentação diária em três ou mais porções eleva
com uma amostra de 107 no estado de São Paulo, dos quais o consumo energético via termogênese, diferente de
36,4% tinham o hábito de passear de duas a três vezes por quando a alimentação é oferecida em uma única porção
semana, a taxa de obesidade foi de 16,5% 24. Ainda são ne- diária e o índice de obesidade é maior 5,31. Sendo assim, o
cessários mais estudos com dados mais recentes e uma fracionamento da alimentação em mais de três porções diá-
maior amostragem também de outras regiões para a defi- rias e o aumento da quantidade de energia provinda de pro-
nição do índice de obesidade do país. teínas na dieta são mais algumas das estratégias que podem
Trata-se de uma condição complexa e multifatorial e a ser associadas ao tratamento e controle da obesidade.
melhor estratégia para o seu combate é a prevenção, muito As consequências da obesidade são extremas: menor
mais simples que seu tratamento, que deve ser mantido por tempo e menor qualidade de vida. Isso se deve a um au-
toda a vida do cão. Depende tão fortemente do suporte e mento do risco de desenvolvimento de problemas ortopé-
orientação do Médico Veterinário quanto da colaboração e dicos (osteoartrose, ruptura de ligamento cruzado cranial,
empenho tutor do animal 33. O mapeamento de escore cor- displasia de quadril, displasia de cotovelo, fratura de côn-
poral (BCS) do paciente deve ser realizado em todas as dilos umerais), problemas neurológicos por protrusão ou
consultas veterinárias, seguido da orientação sobre dieta extrusão discal, doença renal, neoplasias, doenças respira-
adequada e importância de exercícios físicos para evitar tórias (colapso traqueal, síndrome braquicefálica de obs-
que a obesidade se instale 8. trução das vias aéreas, paralisia laríngea), cardiopatias
Vários estudos mostram que a obesidade dos cães pode (hipertrofia de miocárdio, hipertensão) 45, doenças metabó-
ser subestimada pela percepção dos tutores 5-6. Em um licas (hiperlipidemia, resistência insulínica), inflamação
deles, evidenciou-se a discrepância na avaliação de cães crônica pela produção de hormônios e mediadores infla-
obesos pelo entrevistador (52%) e pelos tutores (27%) 2. matórios pelo tecido adiposo e maior risco em anestesia e
Isso demonstra um desconhecimento a respeito do que deve de complicações cirúrgicas 17,18,23,25,26,30,41,46. Em um estudo
ser o escore corporal ideal dos cães e esse é um fator preo- com 48 labradores, o tempo de vida em cães com dieta con-
cupante para a saúde e bem-estar dos mesmos. Cabe ao mé- trolada foi em média 1,8 anos maior que em cães acima do
dico veterinário a correta orientação para prevenção e peso com alimentação ad libitum 30.
tratamento da obesidade. Muitas vezes, problemas ortopédicos em conjunto com
A causa primária da obesidade é resultado de um ponto a obesidade canina sobrecarregam ainda mais as articula-
chave: a ingestão calórica da dieta excede o consumo ca- ções, exacerbando as compensações nos membros pélvicos
lórico das atividades físicas diárias do cão. Ou seja, há de- decorrentes de problemas em membros torácicos ou vice-
sequilíbrio entre a dieta alimentar e os exercícios físicos. versa. Um estudo com cães da raça cocker spaniel compro-
Sabe-se que cães obesos raramente praticam exercícios vou que o sobrepeso é fator predisponente para ocorrência

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 437


Capítulo 44 – Controle da obesidade com exercícios físicos

de fratura dos côndilos umerais e ruptura do ligamento cru- Além do emagrecimento, os benefícios de um programa
zado cranial 9. Em cães em sobrepeso, a osteoartrose se ma- de exercícios físicos incluem aumento de força e resistência
nifesta precocemente e de forma mais severa do que muscular, aumento da ADM, redução de dor e espasmos
quando comparado a cães em peso ideal. Isso se deve ao musculares, melhora de desempenho, velocidade, quali-
fato de que o excesso de peso causa um estresse adicional dade de movimento e função. Em consequência ao fortale-
às articulações, promovendo sua degeneração 41. cimento muscular, as articulações tornam-se mais estáveis,
Um cão saudável tem seu peso distribuído em estação reduzindo-se o estresse articular e a incidência de osteoar-
em uma superfície plana em torno de 60% de carga nos trose, uma disfunção comum em cães obesos 39.
membros torácicos e 40% nos membros pélvicos, podendo Uma hipótese que também explica parte do sucesso de
variar de acordo o deslocamento do centro de gravidade um programa formal de exercícios para o tratamento de
cranial ou caudal presente em algumas raças 58. Alterações obesidade canina é a de que o investimento financeiro e de
na conformação corporal por problemas ortopédicos podem tempo pode indiretamente aumentar o envolvimento e com-
levar a um desequilíbrio dessas cargas, prejudicando a prometimento do tutor, elevando a dedicação em seguir as
saúde articular e levando a uma redução em sua amplitude orientações do tratamento com maior fidelidade 13.
de movimento (ADM), que é a amplitude total através da
qual uma articulação pode se movimentar, desde a flexão Preparo pré-programa de exercícios
até a extensão máxima. Atividades que melhoram a ampli- Antes de estabelecer um programa de exercícios, o fi-
tude de movimento das articulações são cruciais em todos siatra veterinário deve realizar um exame físico completo
os trabalhos de reabilitação incluindo exercícios físicos 11,51. no paciente e se necessário deve solicitar exames comple-
mentares para certificar-se de que se trata de obesidade pri-
A importância de exercícios físicos em um pro- mária. Caso identifique-se alguma patologia, o paciente
grama de tratamento de obesidade canina deve ser encaminhado ao tratamento clínico antes do início
O controle e tratamento da obesidade canina requer es- do programa.
sencialmente um programa de exercícios físicos associado O escore corporal do paciente deve ser identificado antes
a um controle nutricional adequado. Comprovou-se que um do início do tratamento, para que se estabeleça a meta de
programa de perda de peso sem programa de exercícios não perda de peso. Os índices de perda de peso corporal em cães
apresenta resultados efetivos ou leva a uma perda de peso devem variar de 0,5% a 2% por semana 28. Por exemplo, um
com considerável perda de massa muscular (massa magra). escore 7 indica que o cão está em torno de 20% acima do
Em consequência, tem-se perda de força muscular e redu- peso. Nesse caso, um tratamento com dieta e exercícios que
ção do metabolismo basal, tornando-se muito mais difícil leve a uma perda de peso de 2% por semana, teria um tempo
a manutenção do peso alcançado 6,57. total de 11 semanas para que o peso meta fosse alcançado.
Em estudo em humanos, mostrou-se que uma perda de Esse cálculo é feito multiplicando-se a cada semana o peso
peso significativa pode ser alcançada apenas com exercí- da semana anterior por 0,98 (98%). O quadro 1 mostra a
cios físicos, mantendo-se a ingestão calórica inalterada 7. evolução da perda de peso a cada semana.
Em cães, concluiu-se em pesquisa com o uso de acelerô- Uma vez criado o programa, o acompanhamento do
metros, que o índice de obesidade é maior em cães com peso e escore corporal do paciente deve ser semanal. Caso
menores taxas diárias de atividades físicas de alta intensi- a perda de peso esteja abaixo da planejada, deve-se primei-
dade 42. Quando há associação do programa de exercícios ramente avaliar a adesão às orientações nutricionais e de
ao tratamento da obesidade, tem-se um aumento do meta-
bolismo basal pela substituição de tecido adiposo por tecido Quadro 1 – Evolução semanal da perda de peso de
muscular 29,50. um cão com meta de perda de peso de
20% e perda semanal equivalente a 2%
Cães obesos e em idade avançada apresentam o agra-
do seu peso corporal
vante da associação da sarcopenia, que é a perda muscular
fisiológica relacionada à idade. Nesses casos, a implemen- Semanas Peso
tação de um programa de exercícios deve ser feita com ur- 0 100%
gência, pois uma vez instalada a sarcopenia, a regeneração 1 98%
da fibra muscular é muito mais lenta 30,57. 2 96%
Além de calorias reduzidas, a dieta de controle e trata- 3 94%
mento de obesidade, que pode ser composta por rações te- 4 92%
rapêuticas específicas para o tratamento de obesidade ou 5 90%
alimentação natural, deve ser formulada de forma a conter 6 89%
quantidades ideais de vitaminas e minerais, aumento de fi- 7 87%
bras e principalmente aumento de proteínas. Essa última é 8 85%
considerada fundamental para o ganho de massa muscular 9 83%
durante o programa de exercícios para o tratamento da obe- 10 82%
sidade 8. 11 80%

438 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 44 – Controle da obesidade com exercícios físicos

atividade físicas por parte do tutor. Constatando-se falha, início da sessão de fisioterapia, é recomendável que se rea-
as orientações devem ser revisadas e se possível readequa- lize um aquecimento prévio dos músculos a serem traba-
das da melhor forma à rotina do tutor e do paciente 55. Caso lhados 39. A intensidade dos exercícios pode aumentar ao
contrário, deve-se reduzir a ingestão calórica em 10 a 20% longo do programa conforme se observa maior habilidade
e elevar a quantidade de exercícios físicos diários. Um es- e disposição do paciente.
pecialista em nutrição veterinária deve revisar a dieta de É normal que ocorra algum desconforto muscular no co-
forma a garantir que a ingestão calórica diária não fique meço do programa de exercícios de animais sedentários.
abaixo de 60% do total da energia de manutenção necessá- Através da palpação dos grupos musculares pode-se dife-
rio àquele paciente 8. renciar se o desconforto tem origem muscular ou deve-se
O fisiatra deve garantir que seu paciente está saudável, a algum problema ortopédico, que deve ser investigado
livre de dor e possui condições cardiorrespiratórias para a cautelosamente com exames específicos de palpação arti-
realização plena dos exercícios com máximo aproveita- cular ou exames complementares 39.
mento. Qualquer problema locomotor leva a uma redistri- Ao final dos exercícios físicos, devem ser realizados 10
buição de forças e sobrecarga entre os membros funcionais, minutos de desaceleração antes de finalizá-los. Isso pode
resultando em uma cascata de eventos negativos: restrição ser feito com 5 minutos de caminhada lenta, seguidos de 5
de atividade física, ganho de peso, rigidez articular e hipo- minutos de exercícios de mobilização passiva. Deve-se es-
trofia muscular 48. tabilizar a área antes e depois da articulação, estender a ar-
Foi feito um estudo com 29 cães em sobrepeso e com ticulação até que seja oferecida resistência anatômica e
osteoartrose comparando-se a eficiência do tratamento com sustentar essa posição por 10 segundos. Em seguida, len-
dieta e exercícios moderados executados com o auxílio dos tamente flexiona-se a mesma articulação e mantém-se em
tutores ou dieta associada a sessões de fisioterapia intensiva posição por mais 10 segundos 39 (Figura 1).
que além de exercícios incluíam protocolos para alívio e Ao final da sessão, se houver áreas doloridas pode-se
tratamento de dor com o uso de eletroestimulação do tipo aplicar a crioterapia para controlar a inflamação. O gelo
TENS (transcutaneous electrical nerve stimulation). Ao deve ser aplicado diretamente na área afetada por 15 a 20
final, concluiu-se que a perda de peso é muito mais eficaz minutos. A massagem também pode ser usada nesse mo-
quando associada à fisioterapia intensiva, observando-se mento para reduzir dor, inchaço e espasmos musculares 39,48.
também que o alívio da dor pode ter aumentado a intensi- Com exceção da caminhada, não existe documentação
dade de atividade física do paciente 41. sobre o gasto calórico com os diversos exercícios aplicáveis
Se necessário, o paciente deve ser encaminhado a outras ao programa de controle e tratamento de obesidade 8. As
especialidades como cardiologia e/ou endocrinologia antes atividades descritas a seguir são opções a serem combina-
do início do tratamento. Se for confirmada alguma altera- das nesse programa, de acordo com o conhecimento e ex-
ção que possa afetar a perda de peso (por exemplo, hipoti- periência do fisiatra veterinário e com a resposta individual
reoidismo, hiperadrenocorticismo, diabetes mellitus), o de cada paciente.
tratamento e controle dessa patologia devem ocorrer para-
lelamente ao programa de perda de peso 44. Caminhada
As caminhadas são uma forma segura de exercício aeró-
Programa de exercícios bico de baixo impacto altamente aplicável aos cães que ini-
Um programa de exercícios físicos eficaz para cães in- ciam um programa de exercícios. Devem sempre ser
clui uma hora de exercícios, três vezes por semana, com controladas com uma coleira confortável ao cão e contí-
acompanhamento de um fisiatra veterinário. Deve-se tam- nuas, com o mínimo de pausas possível. O tutor deve ob-
bém orientar e encorajar os tutores para que aumentem a servar se o cão sente dores após a atividade física feita sob
intensidade de atividades físicas diárias de seus cães com seu acompanhamento. Se isso ocorrer, a duração da ativi-
caminhadas e, no caso de cães já próximos ao peso ideal e dade deve ser reduzida pela metade. O fracionamento em
sem restrições ortopédicas, brincadeiras 57. As brincadeiras percursos menores pode evitar lesões. Assim, é melhor que
são atividades naturais dos cães que envolvem correr, se façam três caminhadas de 20 minutos em um dia do que
mudar de direção, buscar objetos e pular com outros cães uma caminhada ininterrupta de 60 minutos 39.
ou com pessoas, e devido à imprevisibilidade apresenta Em geral, a maioria dos cães gasta cerca de 1,1
certo risco de injúrias. Para minimização de tais riscos, re- kcal/kg/km em um ritmo de caminhada rápido, próximo de
comenda-se que cães brinquem com cães de perfis simila- 6 km/h 19. Estudos recentes com uso de pedômetros (con-
res, como idade, tamanho e personalidade. Além disso, no tadores de passos) apontaram um melhor escore corporal
caso de buscar objetos, os mesmos não devem ser rígidos em cães com mais atividades de caminhada 12,60, indicando-
ou pontiagudos sob o risco de injúrias faciais 55. se em um deles que andar o equivalente a 5 km por dia,
O fisiatra veterinário fará a seleção e acompanhamento leva a um aumento em 7 a 15% do gasto calórico do orga-
das atividades físicas ideais para cada paciente, levando-se nismo 35. Outro estudo concluiu que a cada 1000 passos
em conta a necessidade de gasto calórico e fortalecimento dados por determinado cão, a ingestão diária calórica pode
de cada grupo muscular necessário àquele cão 55. Antes do subir em 1 kcal /kg, sem ocasionar ganho de peso 60 .

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 439


Capítulo 44 – Controle da obesidade com exercícios físicos

caminhada em esteira terrestre com a caminhada em solo,


entretanto, uma inclinação de 10% leva a um aumento
médio de 5 graus em extensão de quadril 21.
A frequência desse exercício pode ser de 3 a 5 dias por
semana, em sessões de 5 a 10 minutos, conforme a tolerân-
A cia do paciente. O aumento do tempo de sessão pode ser
extensão flexão gradativo, chegando-se a 20 a 30 minutos de exercícios 16.
Recomenda-se que em sessões mais longas realize-se pelo
menos um intervalo para descanso, sempre se respeitando
as condições do paciente.

B Rampa e escada
extensão flexão Subir e descer rampas e escadas são atividades de baixo
impacto que podem ser incorporadas à caminhada. Além
de auxiliarem em manutenção da ADM, escadas e rampas
também apresentam eficaz auxílio no fortalecimento dos
membros, ajudando a elevar a massa muscular e conse-
quentemente o metabolismo basal do cão em tratamento
C para a obesidade, além de auxiliarem no condicionamento
extensão flexão cardiovascular 29,38,39,40,50.
Deve-se começar com rampas suaves e controlar a ve-
locidade do cão durante todo o tempo. Pode-se passar a in-
clinações mais íngremes e extensas à medida que o
paciente progredir 16 .
Em escadas, pode-se iniciar com a condução do paciente
D
a subir e descer 5 a 7 degraus, aos poucos aumentando para
extensão flexão 2 a 4 repetições diárias. Deve ser feito lentamente, estimu-
Figura 1 – Exemplos de mobilização passiva para ganho
lando o cão a pisar com cada perna no degrau apropriada-
de ADM pós exercícios físicos: A) extensão e flexão de joe-
lho; B) extensão e flexão de articulação coxofemoral;
mente e observando-se sempre sinais de fadiga, pois pode
C) extensão e flexão de cotovelo; D) extensão e flexão de representar um desafio para alguns pacientes 16.
ombro A subida de rampa contribui para aumentar a força e po-
tência dos músculos extensores dos membros pélvicos
Esteira terrestre (quadríceps femoral, semitendinoso, semimembranoso e
Com resultados e aplicabilidade semelhantes aos da ca- glúteos), sua amplitude de movimento, equilíbrio e coor-
minhada, a esteira seca também deve ser utilizada sob a su- denação (Figura 2) 16. Entretanto, esse ganho é ainda mais
pervisão de um fisiatra veterinário. Apresenta o benefício acentuado, quando o exercício é de subida de escada 11,21
de uma caminhada contínua, diferente de uma caminhada (Figura 3). O mesmo ocorre com o ganho de ADM: quanto
no chão, onde o número de possíveis distrações e conse- maior a inclinação da rampa de subida, mais significativo
quentes pausas é consideravelmente maior. é o aumento da ADM de todas as articulações dos membros
Durante o exercício em esteira seca, a fase de apoio do pélvicos e maior ainda quando se trata da subida de uma
passo é maior, assim como o comprimento da passada 53. escada 11,14.
Ocorre também a diminuição da força de frenagem, que Com relação aos membros torácicos, a subida de rampa
reduz significativamente as forças de impacto provocadas com ângulo em torno de 35º é um excelente exercício para
nas articulações 16. Mesmo assim, no início do tratamento fortalecimento e ganho de amplitude de movimento em fle-
deve ser feita em baixa velocidade, garantindo uma cami- xão e extensão dessas articulações, sendo nesse caso o
nhada confortável ao cão. Uma velocidade maior pode ser ganho mais significativo do que em subida de escada
alcançada na fase de controle da obesidade, quando o cão (Figura 2) 11,21. O quadro 2 traz um resumo sobre a influên-
já atingiu seu peso ideal. cia de subida de rampa e escada para os membros torácicos.
Os ângulos máximos de extensão, flexão e ADM são Existe alguma variação com relação ao impacto da subi-
bem similares àqueles em caminhada no chão, tanto para os da ou descida de rampa nos membros pélvicos e torácicos.
membros torácicos quanto pélvicos. Uma inclinação de até Isso ocorre, pois os ângulos de inclinação variam entre os
10% ainda leva a ângulos similares em todos os membros, estudos, assim como a altura dos cães. Ainda faltam pesqui-
não sendo essa, portanto uma ferramenta a ser considerada sas sobre o exercício de rampas que uniformize e compare
quando se deseja um ganho de extensão, flexão ou ADM os efeitos de diferentes angulações sobre a extensão, flexão
dos membros. Com relação ao quadril, ocorre um aumento e ADM das articulações, relacionando-os com a conforma-
médio de 2 graus em sua extensão quando compara-se a ção dos pacientes.

440 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 44 – Controle da obesidade com exercícios físicos

Descer escadas também é um


ótimo exercício para o fortaleci-
mento muscular e ganho de ampli-
tude de movimento dos membros
torácicos 16 (Figura 3).
O quadro 3 traz um resumo
sobre a influência de subida e des-
cida de rampa e escada para os
membros pélvicos. Nesse caso,
conclui-se que tanto a subida quan-
to a descida de rampa e escada
contribuem para o fortalecimento
Figura 2 – Movimentação de cães em sobrepeso em subida e descida de rampa dos membros pélvicos e ganho de
amplitude de movimento em fle-
xão e extensão para as articulações
desses membros 11,21.

Hidroterapia
A fisiatria veterinária tem uti-
lizado cada vez mais a hidrotera-
pia como importante ferramenta
em terapias de reabilitação. Propor-
ciona ao cão obeso duas proprieda-
des extremamente adequadas à sua
condição: 1-Flutuabilidade: o cão
Figura 3 – Movimentação de cães em sobrepeso em subida e descida de escada torna-se mais leve, reduzindo-se
sobrecarga articular; 2- Resistên-
Quadro 2 – Influência de subida de escada e rampa em cia: aumenta a intensidade do exercício físico, re-
fortalecimento e ganho de amplitude de movimento sultando em melhor preparo cardiovascular e maior
(ADM) em articulações dos membros torácicos queima calórica 47.
Grupo Rampa/ Escada/ Existem diversas formas de hidroterapia, como
Articulação natação, relaxamento e a hidroesteira. Importante
muscular subida subida
Ombro Alta Baixa observar-se que dada a prevalência de animais obe-
Extensão Cotovelo Alta Média sos mundialmente, ainda é uma ferramenta subuti-
Carpo Média Média lizada para o tratamento da obesidade 59.
Ombro Alta Baixa Apesar de estar claro que os exercícios físicos são
Membros
Flexão Cotovelo Alta Média ferramentas essenciais na perda de peso, quando fei-
torácicos
Carpo Alta Média tos sem o correto acompanhamento de um fisiatra, a
Ombro Alta Média sobrecarga articular causada pela obesidade pode
ADM Cotovelo Alta Média agravar ou iniciar um processo de osteoartrose. Esse
Carpo Alta Média processo pode ser minimizado, até que o peso ideal
seja alcançado, utilizando-se exercí-
Quadro 3 – Influência de subida e descida de escada e rampa em cios de baixo impacto, como caminha-
fortalecimento e ganho de amplitude de movimento (ADM) em das ou com o uso de hidroterapia para
articulações dos membros pélvicos
aumentar a intensidade de exercícios
Grupo Rampa Escada preservando as articulações 39.
Articulação
muscular subida descida subida descida
Quadril Média Média Alta Média Natação
Extensão Joelho Baixa Média Baixa Média A natação é um excelente exercí-
Tarso Média Média Alta Alta cio controle e tratamento de obesi-
Quadril Baixa Média Baixa Média dade em cães. Além de baixo impacto
Membros
Flexão Joelho Média Média Alta Alta para as articulações, promove fortale-
pélvicos
Quadril Média Média Alta Alta cimento muscular, manutenção das
Quadril Média Baixa Alta Média articulações e condicionamento car-
ADM Joelho Média Média Alta Alta diovascular. Permite que se exercitem
Tarso Média Média Alta Alta naturalmente ou utilizando-se de jatos

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 441


Capítulo 44 – Controle da obesidade com exercícios físicos

contracorrente que podem aumentar a resistência da água articular durante o exercício.


conforme o paciente evolua em força e resistência muscu- Em contrapartida, em um nível baixo de água as articu-
lar. O uso de banheira de hidromassagem tipo Jacuzzi® per- lações recebem mais impacto do que em um nível alto e a
mite um relaxamento após um treino mais intenso em intensidade do exercício é maior devido a maior resistência
hidroterapia 59. da água por aumento de tensão superficial nos membros.
Um cão nunca deve nadar sem supervisão e monitora- Essa é, portanto, uma indicação para a fase de controle ou
mento adequados, evitando-se assim acidentes e fadiga prevenção da obesidade quando o paciente já está próximo
muscular por movimentação excessiva. Para os cães, de- de seu peso ideal 47. A figura 5 mostra um cão já em fase de
vido à resistência da água, o trabalho muscular realizado controle de obesidade em exercício em hidroesteira para
em 5 minutos ininterruptos de natação é equivalente a cerca fortalecimento muscular, com água na altura dos joelhos.
de 8 km de corrida 47. Inicialmente, um cão pode nadar por
1 a 3 minutos por dia, por 3 dias por semana. Conforme
adquire habilidades e força muscular, pode nadar por 5 a
10 minutos por sessão, todos os dias 39.

Hidroesteira Figura 4 – Cão em sobrepeso em hidroesteira com água


A hidroesteira é uma modalidade de hidroterapia que em altura do trocânter maior do fêmur
consiste em uso de esteira submersa em água, com veloci-
dade, temperatura da água, altura do volume de água e in-
clinação da esteira ajustáveis 59. Seu uso traz uma redução
de sobrecarga articular pela propriedade de flutuabilidade
da água e maior resistência ao movimento, devido à sua
propriedade de viscosidade. O resultado final é um au-
mento de gasto calórico e importante ganho em massa mus-
cular, por isso é uma importante ferramenta de fisioterapia
para o controle e tratamento de obesidade em cães 13,47.
A hidroesteira é considerada melhor ferramenta para o
tratamento de obesidade do que a natação livre, pois per- Figura 5 – Cão em fase de controle de obesidade em exer-
mite um maior controle sobre as características do ambiente cício em hidroesteira com água na altura dos joelhos
(como temperatura e altura da água) e sobre a movimenta-
ção do paciente através do ajuste de sua velocidade e incli- Exercícios de alta intensidade
nação 47. Vários estudos mostraram sua influência positiva Uma modalidade que tem sido amplamente estudada em
como atividade física em um programa de emagrecimento humanos é o uso de um treino intervalado de alta intensi-
de cães obesos, nos quais o risco de sobrecarga articular é dade ou HIIT (high intensity interval trainning). Esse
elevado 13,20,34,49,60. treinamento envolve exercícios repetidos de alta intensi-
O ajuste da temperatura da água para perto de 26ºC leva dade por 15 segundos a alguns minutos, intervalados com
a uma maior perfusão sanguínea na superfície corpórea, 1 a 5 minutos em repouso ou com exercícios de baixa in-
além de auxiliar no aquecimento muscular necessário tensidade. Esse intervalo de baixa intensidade permite que
antes do início de exercício e não oferecer riscos de au- o corpo absorva o ácido lático e outros metabólitos dos
mento elevado de frequência cardíaca ou redução de pres- músculos e se prepare para a próxima tomada de alta in-
são arterial 21. tensidade. Seus resultados estão associados à significativa
As sessões para o trabalho de emagrecimento têm melhora cardiovascular e perda de peso 52,54.
tempo médio de 30 minutos e a velocidade varia de acordo Através da mensuração de gordura subcutânea, ficou
com a habilidade e condicionamento dos pacientes 13,20,49,60. demonstrado que o impacto em queima de gordura é
A altura do nível da água também varia de acordo com maior quando comparado a exercícios de intensidade mo-
a fase de tratamento do paciente. Quanto mais alta, maior derada e maior duração, mesmo levando a menor gasto
a proteção articular. Mas deve-se ter atenção especial para calórico no momento do exercício. A justificativa para
evitar a prática de exercícios vigorosos com o nível da água esses resultados é a de que no HIIT o gasto calórico au-
alto a ponto de comprimir a caixa torácica do paciente. mentado que permanece após o término do exercício é
Ocorrerá nessa condição um aumento da pressão hidrostá- maior do que naqueles exercícios de intensidade baixa ou
tica no tórax, dificultando sua expansão, em conjunto com moderada contínua 54,56.
uma maior demanda de oxigênio pelo esforço físico de- As sessões de HIIT são precedidas por 5 minutos de
mandado, podendo levar o paciente a um quadro de dis- aquecimento com intensidade moderada. Um exemplo de
pneia ou hipóxia 47. A figura 4 mostra um cão em sobrepeso sessão inicial para humanos pode ser formado por 10 to-
em sessão de hidroterapia com água em altura próxima ao madas de alta intensidade com duração de 20 segundos e
trocânter maior do fêmur, de forma a reduzir a sobrecarga intervalos de 10 segundos de baixa intensidade 56.

442 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 44 – Controle da obesidade com exercícios físicos

Ainda não existem pesquisas comprovando a eficiência ser mensal. Podem ser necessárias várias revisões mensais
dessa técnica em cães, mas fazendo-se um paralelo entre até que o paciente tenha alta e passe a fazer um acompa-
os estudos feitos sobre a influência no emagrecimento de nhamento semestral 8,55.
exercícios físicos em cães e em humanos, entende-se que Para os tutores que não conseguem garantir uma quan-
assim como em humanos, essa técnica também aumentaria tidade mínima de gasto calórico em seus cães ou no caso de
a eficácia da queima de gordura no tratamento de obesidade cães com limitações ortopédicas e consequentes restrições
em cães. de exercícios, é necessário que seja dada continuidade às
Em cães, as tomadas de alta intensidade podem ser fei- sessões de fisiatria para acompanhamento do escore corpo-
tas com circuitos criados com a combinação de alguns dos ral, pois as atividades diárias espontâneas dos cães podem
exercícios citados anteriormente, como subida ou descida não ser suficientes para a manutenção do peso.
de rampas ou escadas, ou utilizando-se a esteira seca ou hi-
droesteira. O intervalo de baixa intensidade pode ser reali- Referências
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Após atingir-se o objetivo de perda de peso, deve-se rea- 7-BOUCHARD, C. ; TREMBLAY, A. ; NADEAU, A. ; DUSSAULT, J.
lizar uma monitoração cuidadosa para evitar que o paciente ; DESPRÉS, J. P. ; THERIAULT, G. ; LUPIEN, P. J. ; SERRESSE,
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Sendo assim, é necessário garantir uma quantidade mí-
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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 443


Capítulo 44 – Controle da obesidade com exercícios físicos

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444 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 44 – Controle da obesidade com exercícios físicos

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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 445


45
Principais doenças osteoarticulares dos felinos

Ana Cláudia Fonseca


Alexandre Gonçalves Teixeira Daniel

A
s doenças osteoarticulares em gatos vêm sendo evento não traumático gradual e levar à OA secundária 21.
cada vez mais relatadas, embora recebam muito me- Certas raças são propensas à displasia coxofemoral (p.e.
nos atenção que as doenças de mesmo sistema da maine coon), portanto uma alta prevalência de OA de qua-
espécie canina. Os traumas correspondem à maior parte das dril pode ser esperada 29,51. Já gatos da raça burmês parecem
enfermidades ósseas e articulares em gatos, e não serão ser mais predispostos à OA de cotovelo 13. Hipervitaminose
abordados nesse capítulo. A é uma forma específica de doença articular degenerativa
Excetuando-se os traumas, as enfermidades de origem associada a dietas ricas em carne de fígado e pode acometer
no desenvolvimento, além das degenerativas, são comu- as articulações sinoviais, mas as alterações patológicas di-
mente observadas na rotina clínica. Neste capítulo serão ferem daquelas encontradas na OA 60. Ainda que não iden-
abordadas a doença articular degenerativa e a displasia co- tificadas, presume-se que possam existir anormalidades
xofemoral. genéticas que predispõe os felinos a desenvolverem dege-
nerações articulares prematuras 2.
DOENÇA ARTICULAR DEGENERATIVA Em um estudo, a coluna vertebral mostrou-se como o
A doença articular degenerativa (DAD) é pouco diag- sítio mais acometido pela OA em gatos com mais de 12
nosticada em gatos, ao passo que é uma alteração frequen- anos. A maioria das lesões em coluna foi classificada como
temente diagnosticada em cães 65. O termo doença articular sendo de baixo grau, exceto pela articulação lombo-sacra,
degenerativa é comumente utilizado como sinônimo de os- na qual lesões de grau moderado a importante foram en-
teoartrose (OA), entretanto, DAD é, na realidade, um termo contradas. Em outro relato com 40 gatos com OA, a arti-
abrangente que inclui todos os tipos de alterações degene- culação de cotovelo mostrou-se como a mais acometida do
rativas de qualquer articulação. Isso inclui a OA, mas tam- esqueleto apendicular, seguida da articulação coxofemo-
bém as espondiloses das articulações não sinoviais, lesões ral 8,10,23. OA de cotovelo importante foi encontrada em
degenerativas isoladas como os enteseófitos e mineraliza- 17% dos gatos acima dos 12 anos de idade 23. Esta alta in-
ção de tecidos moles (meniscos e ligamentos). Clinica- cidência de DAD em cotovelo levanta o questionamento se
mente, a OA é definida como uma doença articular de fatores primários como displasia de cotovelo ou incongruên-
evolução lenta, caracterizada pelo desenvolvimento gradual cia poderiam ser causas predisponentes. Sabe-se que a OA
de dor articular, rigidez e limitações de movimento. Pato- coxofemoral é frequentemente secundária à displasia 8.
logicamente, tem sido definida como uma enfermidade não A incidência de OA em gatos foi inicialmente elucidada
inflamatória das articulações sinoviais, caracterizada pela em um estudo retrospectivo, no qual foram mostradas evi-
deterioração da cartilagem articular e pela formação de os- dências radiográficas desta condição em 22% dos pacientes
teófitos nas superfícies e margens da articulação 5. A OA é idosos, ou seja, pelo menos 1 em cada 5 gatos 11. Um outro
uma condição muito comum em gatos, apesar de pouco estudo mostrou que 34% dos gatos (idade média de 6,5
diagnosticada, e mostra-se como uma das várias causas que anos) possuíam evidências radiográficas de OA 7. Em gatos
estão associadas à dor crônica na espécie, o que traz como com idade maior que 12 anos, foi relatada uma incidência
consequência uma limitação de mobilidade e atividade, radiográfica de OA maior que 90% 23. Apenas 33% dos
contribuindo para a redução da qualidade de vida 3. gatos com alterações radiográficas mostraram manifesta-
A OA pode ser classificada em primária e secundária. ções clínicas evidentes 11. O critério mais importante para
A primária ou idiopática ocorre devido ao desgaste cartila- diagnosticar radiograficamente a OA é a presença de osteó-
gíneo durante o processo natural de envelhecimento. A OA fitos, porém, articulações com aspecto radiográfico normal
secundária é causada por alterações articulares pré-existen- podem estar histologicamente e clinicamente acometidas,
tes; sendo assim, todas as doenças articulares que resultam assim como articulações com aspecto radiográfico alterado
em incongruência ou instabilidade possuem o potencial de podem não causar manifestações evidentes de dor no gato.
causar OA 65. Em gatos, a maioria dos casos de OA aparenta Não é incomum verificar fragmentos e mineralização de te-
ser primária ou idiopática, ou seja, não existe uma causa- cidos moles dentro das articulações acometidas. O espes-
base conhecida para o desenvolvimento da doença 5,7,11,23,38,62. samento de tecidos moles e efusão sinovial podem ser
Entretanto, existem evidências de que trauma articular e as avaliados pela radiografia, mas são menos aparentes na OA
displasias estejam entre as principais causas primárias de felina do que em outras espécies. Assim sendo, os estudos
OA na espécie 7,11,23,62. Outras causas-base de OA secundária radiográficos provavelmente subestimam a prevalência de
em gatos incluem mucopolisacaridose 35, luxação patelar OA na espécie 2.
medial 49, acromegalia 7,54, osteocondrodisplasia do scottish Apesar da elevada prevalência radiográfica, a OA felina
fold 50 e outras artropatias 41. No gato, alterações no liga- permanece sendo subdiagnosticada, e muito disso rela-
mento cruzado cranial podem também ocorrer como um ciona-se com o fato de que as manifestações clínicas mais

446 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 45 – Principais doenças osteoarticulares dos felinos

comumente observadas em gatos são alterações no com- Alterações radiográficas de OA em gatos são similares
portamento e estilo de vida; estas se desenvolvem gradual- às encontradas em cães. Calcificação peri-articular e intra-
mente, e os tutores e veterinários tendem a interpretá-las articular, esclerose de osso subcondral, mudanças na den-
simplesmente como sendo consequência da faixa etária sê- sidade e formato do osso e espessamento da cápsula articular
nior a geriátrica 2. O reconhecimento da dor crônica relacio- podem estar presentes 16,22. O espessamento da cápsula é
nada à OA é um grande desafio, uma vez que, diferentemente um achado menos frequente e calcificações intra-articulares
dos cães, a maioria dos gatos não exibe claudicação, altera- são mais comumente vistas em gatos do que em cães 22. A
ções na marcha, rigidez, dor e edema articulares, crepitação dor associada à OA ocorre devido à sinovite e mudanças
e redução da amplitude de movimento 64. Uma das altera- no osso subcondral, uma vez que a cartilagem hialina não
ções clínicas mais consistentes é a mudança na mobilidade. contém terminações nervosas 65.
Isto inclui redução da disposição e habilidade em saltar O desafio diagnóstico da OA na espécie se dá, em parte,
para locais habituais, hesitação antes do salto e/ou andar devido à dificuldade em se realizar um exame ortopédico fi-
mais cauteloso. Ademais, o gato com OA também poderá dedigno, principalmente por conta dos gatos não demonstra-
preferir descansar em locais mais baixos ou mais fáceis de rem como os cães as manifestações clínicas, adaptando-se
localizar e o tutor também poderá observar relutância em mais facilmente à condição de dor 64. Acredita-se que gatos
subir ou descer escadas 15. são capazes de ocultar manifestações de dor e déficits fun-
Manifestações clínicas menos específicas de dor rela- cionais melhor que os cães, provavelmente devido à sua agi-
cionada à OA em gatos incluem aumento da vocalização, lidade e peso corpóreo menor 65. A habilidade dos gatos em
alterações no pelame devido à redução do hábito de auto- ocultar a dor também é explicada como reflexo de um com-
higienização, mudanças no temperamento (agressividade portamento protetor, na tentativa de não apresentar vulnera-
com o tutor ou com outros animais), micção e/ou defeca- bilidade e debilidade na natureza perante a outros predadores.
ção em locais inapropriados (devido a dificuldade de en- A presença de dor ao manipular a articulação pode ser um
trar e sair da liteira), pouca disposição para brincar e achado enganoso, uma vez que alguns gatos com articula-
realizar atividades habituais. Estas manifestações inespe- ções acometidas nem sempre demonstram resposta positiva
cíficas também possuem relação com uma parcela de ou- ao exame. Inversamente, alguns gatos com articulações nor-
tras doenças comuns aos gatos idosos, podendo estar mais irão sentir a manipulação, o que pode ser interpretado
associados, por exemplo, a doença renal crônica, hiperten- erroneamente como uma articulação alterada 15.
são arterial sistêmica, hipertireoidismo e síndrome da dis- A avaliação da mobilidade do gato dentro da clínica
função cognitiva 15. pode ser muitas vezes frustrante, uma vez que muitos re-
O principal fator de risco para o aumento da prevalência cusam-se a se movimentar espontaneamente pela sala de
e gravidade da OA felina é a idade 7,8,11,38,62. A obesidade tem atendimento. Entretanto, como foi mencionado, a presença
se mostrado ser um fator de risco em outras espécies, mas de um andar ativo e avaliação de claudicação isoladamente
até o momento isso ainda não foi evidenciado no gato 7,8,38,62. não são parâmetros tão fidedignos como os usados na ava-
Cerca de 14% dos gatos idosos com OA são obesos, entre- liação dos cães 15. O exame ortopédico deverá ser feito em
tanto, sabe-se que a obesidade no gato idoso indubitavel- ambiente silencioso, seguro e livre de estresse, de prefe-
mente piora o quadro clínico por resultar numa sobrecarga rência em local contendo difusores de ferormônios sinté-
mecânica da articulação acometida. É também sabido que ticos, os quais podem ajudar a
as manifestações clínicas de OA são mais importantes em minimizar o estresse da situa-
gatos obesos do que em gatos com um escore corporal nor- ção. O exame deve incluir a
mal. Gatos obesos são três vezes mais atendidos por queixa palpação de todas as articu-
de claudicação 8,58. Diversos autores reportaram uma in- lações e esqueleto axial. A
compatibilidade entre os sinais radiográficos e manifesta- palpação e manipulação das
ções clínicas na OA. Foi verificado, em um estudo, que de articulações devem ser realiza-
90% dos gatos com OA radiográ- das com cuidado, não sendo
fica, apenas 4% claudicavam 23. incomum que alguns gatos re-
Outro relato mostrou que dos 63 sistam a essa abordagem mes-
gatos com OA apendicular radio- mo que as articulações sejam
gráfica, apenas 11 apresentavam hígidas 2. Gatos aparentam ser
claudicação e outros cinco exi- Figura 1 – Animal mais sensíveis a movimentos
biam rigidez 11. Uma pesquisa com doença articular de extensão das articulações
adicional realizada evidenciou degenerativa eviden- do que cães, principalmente do
ciando acentuada di-
que apenas 16,7% dos gatos com minuição de espaço cotovelo e joelho. O achado de
Figura 2 – Animal com
OA radiográfica claudicavam e intervertebral em L7- osteoartrose de joelho, edema articular pode ser um
sugeriu que a claudicação pode S1, com esclerose de evidenciando esclerose indício de OA, porém sua au-
não ser a principal manifestação suas epífises e osteó- de osso subcondral e sência não exclui a possibili-
clínica da OA no gato 7. fitos ventrais calcificação intra-articular dade de lesão articular. Um

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 447


Capítulo 45 – Principais doenças osteoarticulares dos felinos

teste útil inclui encorajar o gato a pular da cadeira ou da a um aumento generalizado da ingestão de calorias, melhor
mesa do consultório ou pular para alcançar a caixa de trans- hidratação e redução do catabolismo tecidual 3.
porte. Avaliar como o gato se comporta durante estas tare- O aumento no nível de atividade e habilidade dos saltos
fas, em alguns casos, fornece informações valiosas acerca foram observados por 61% dos tutores após uso de meloxi-
da habilidade do animal em realizar certas atividades 37. cam por um período de 4-6 semanas em pacientes com
Assim como ocorre em outras espécies, a OA é uma apresentação clínica da doença 4,8. Efeitos colaterais gastro-
causa comum de dor em gatos, e requer um tratamento intestinais moderados ocorreram no começo do tratamento
apropriado para melhorar a qualidade de vida do animal. em 18% dos gatos, quando dosagens iniciais elevadas foram
Um estudo prospectivo de 28 casos de OA felina descobriu administradas 8. A dose recomendada de meloxicam é de 0,1
que a maioria dos gatos mostraram alterações em seu com- mg/kg, por via oral, no primeiro dia e 0,05 mg/kg, a cada 24
portamento e estilo de vida quando acometidos pela horas, nos dias 2-5. Após, recomenda-se 0,03 mg/kg em dias
doença, as quais melhoraram significativamente após tera- alternados 3. O meloxicam pode ser administrado com outros
pêutica analgésica 8. O reconhecimento da dor crônica re- fármacos analgésicos se necessário 65. Existem evidências
lacionada à OA no gato baseia-se em questionários que consideráveis de que baixas doses são efetivas no controle
serão preenchidos pelo tutor, desenvolvidos com o intuito da dor osteoarticular e aconselha-se utilizar a dosagem mí-
de elucidar informações relacionadas à alterações na mo- nima efetiva, especialmente quando existem evidências clí-
bilidade, nível de atividade, hábitos de higiene e compor- nicas e laboratoriais de doença renal. Dado que a faixa etária
tamento em geral 2. Em vários casos, os dados de anamnese geriátrica é a mais acometida pela OA, é recomendada ava-
baseados nos relatos do tutor e um exame físico detalhado liação hematológica e bioquímica completa com verificação
fornecem evidência suficiente para a suspeita da OA, sendo de parâmetros laboratoriais renais, hepáticos, eletrolíticos e
possível garantir uma triagem terapêutica sem a necessi- tireoideano, além de aferição da pressão arterial sistêmica
dade intrínseca de radiografias. Um período de 7-14 dias antes de iniciar o tratamento com AINEs 6,31.
de analgesia auxilia o entendimento do tutor de que seu Enquanto, em muitos gatos, o uso apropriado de AINEs
gato possui um quadro ortopédico que resulta em dor crô- acarreta um baixo risco de efeitos colaterais significativos,
nica 15. O tratamento cirúrgico de OA destina-se para gatos é recomendada cautela com o uso de meloxicam em gatos
com uma causa-base como instabilidade articular. A maior que realizam tratamento com diuréticos, inibidores de
parte dos gatos beneficia-se de tratamento conservativo. O ECA, corticosteroides, animais que possuem doenças gas-
manejo conservativo da OA em gatos envolve alterações trintestinais pré-existentes, doença renal, hipertensão, di-
ambientais, fisioterapia, laser, acupuntura, redução de peso minuição da função hepática, asma, insuficiência cardíaca
em gatos obesos e, especialmente, controle da dor 22. A con- congestiva, desidratação e outras doenças pré-existentes 64.
sideração acerca destas outras formas terapêuticas e outras A detecção de alterações em provas hematológicas ou bio-
intervenções não farmacológicas como manutenção do químicas não significa uma contraindicação para o uso do
peso, fisioterapia e enriquecimento ambiental podem fazer meloxicam, mas pode alterar a dose inicial a ser adminis-
parte de uma abordagem não farmacológica para o manejo trada e influenciar na frequência das reavaliações clínicas
da doença, reduzindo o impacto e gravidade da OA. Esta e realização de exames 3. Algumas condições ou terapias
abordagem pode também ajudar a minimizar a necessidade concomitantes podem tornar a terapia com AINEs absolu-
de intervenção com anti-inflamatórios não esteroidais tamente contraindicada como, por exemplo, uso concomi-
(AINEs), o que pode ser particularmente importante para tante de corticóides e doença renal grave, devido ao
pacientes que se encaixam em categorias de alto risco 64. elevado risco de efeitos colaterais 64. Os efeitos colaterais
Os AINEs possuem um importante papel na redução de mais comumente observados durante o uso de AINEs são
dor articular e, atualmente, o meloxicam é o único licen- vômito e diarreia, sendo relatados em aproximadamente
ciado para uso a longo prazo em gatos 15. Diversos gatos 4% dos gatos que recebem meloxicam 8,20. Se estas mani-
com OA também apresentam doença renal crônica, o que festações persistirem mais do que um dia deve-se interrom-
faz com que muitos veterinários se mostrem receosos per o uso do fármaco. Ele pode ser reintroduzido após 3-5
quanto ao uso de AINEs, devido a possibilidade destes fár- dias, preferencialmente em uma dose menor e sob orienta-
macos promoverem quadro de agudização da nefropatia. ção médica. O uso de protetores gástricos deve ser consi-
Em contrapartida, um estudo mostrou que o meloxicam derado se os efeitos colaterais se mostrarem persistentes,
pode ter, inclusive, um efeito benéfico para a função renal embora sejam raramente necessários 3.
no gato idoso 14. O grupo de gatos com doença renal que A base do manejo analgésico é utilizar uma combinação
recebeu meloxicam mostrou um aumento mínimo nos ní- de fármacos que possam atuar em diferentes níveis nas vias
veis séricos de creatinina ao longo do tempo quando com- de dor e, assim, ter um efeito sinérgico, esperando que
parado aos gatos com doença renal que não receberam ocorra um controle da dor e possibilitando que se reduza
meloxicam. Este efeito benéfico pode ser indireto, ou seja, gradualmente a dose dos fármacos e seus efeitos indesejá-
uma melhora da mobilidade e melhora geral da qualidade veis. Alguns dos fármacos utilizados em associação com
de vida subsequente ao alívio da dor podem resultar em AINEs em humanos, cães e gatos incluem amantidina
melhora do apetite e aumento do consumo de água, levando (3-5 mg/kg, por via oral, SID), amitriptilina (0,5-1,0 mg/kg,

448 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 45 – Principais doenças osteoarticulares dos felinos

por via oral, SID), gabapentina (5-10 mg/kg, por via oral, DISPLASIA COXOFEMORAL
SID a BID) e o tramadol (1-2 mg/kg, por via oral, SID a A displasia coxofemoral (DCF) é bem reconhecida e co-
BID) 43,57,59. Existe uma crescente evidência científica que mumente diagnosticada em cães, entretanto, em gatos, foi
condroprotetores podem contribuir consideravelmente na relatada inicialmente na década de 70 25,34 e estudos recentes
redução da dor relacionada à OA e preservação a longo mostraram uma prevalência radiográfica da doença va-
prazo da articulação em cães e humanos 27,56. Embora estu- riando de 7-32%. Gatos de raças puras possuem uma maior
dos semelhantes não estejam disponíveis para gatos, as im- incidência de DCF (12%), quando comparado aos sem raça
pressões clínicas sugerem que estes agentes podem ser definida (6%), sendo as raças descritas como mais acome-
benéficos no tratamento da OA felina 4,22. Tanto a glicosa- tidas o maine coon, ragdoll, himalaio, siamês, abissínio,
mina como a condroitina estão envolvidas no metabolismo devon rex e persa 29,36. A presença de um componente here-
das proteínas da matriz cartilagínea e seu uso tem frequen- ditário desta condição ainda não foi totalmente elucidada,
temente sido justificado sob a afirmação de que poderiam mas a DCF já foi relatada em animais da mesma ninhada 55,
ajudar no reparo da cartilagem, e/ou desacelerar sua degra- portanto, considera-se que a doença tenha influência gené-
dação. A redução da dor é um efeito que é frequentemente tica. Foi também sugerido que exista alguma predisposição
relatado com o uso por 6-8 semanas 3. Em casos suspeitos sexual, com dois estudos relatando maior acometimento em
de OA pode ser utilizada a associação de glicosamina e gatas fêmeas 25,33.
condroitina na dose de 15-30 mg, por via oral, SID 15. O Estudos mostraram que o início do aparecimento das
problema com estes suplementos é a falta de regulamenta- manifestações clínicas em gatos varia de 3 meses a 3,5 anos
ção e, em alguns casos, o controle de qualidade da matéria de idade 26,52. A conformação geral do quadril do gato é similar
prima. É recomendável que sejam utilizados produtos de à do cão, mas em gatos, a fossa do acetábulo é mais rasa,
fabricantes veterinários com boa reputação. O uso destes portanto, deve-se ter cautela para evitar uma interpretação
produtos é geralmente visto como seguro e podem ser uti- errônea deste achado como sendo sinônimo de DCF 17. A pre-
lizados tanto sozinhos como associados à AINEs 3. sença concomitante de DCF e luxação patelar também foi
Dietas ricas em ômega 3 aparentam reduzir a inflama- evidenciada em alguns gatos 25,28,52, sugerindo que exista al-
ção e dor associadas à OA em gatos e podem ser utilizadas guma associação destas duas condições 63. Uma hipótese
juntamente com AINEs. Um estudo mostrou que gatos com levantada é que uma luxação na patela pode causar uma
OA alimentados com esta dieta melhoraram os níveis de torção femoral e alterar as forças da articulação do quadril,
atividade quando comparado aos gatos alimentados com e que estas forças alteradas possam contribuir para a etio-
dieta controle 40. Cápsulas de ômega 3 podem ser utilizadas patogenia da DCF 24.
na dose de 250-500 mg/dia, por via oral, uma vez ao dia 15.
Devido ao fato de que a dor crônica relacionada à OA
causa diversas alterações significativas no comportamento,
algumas modificações no ambiente em associação a uma
terapia analgésica podem ajudar a reduzi-los e assim pro-
mover melhora da qualidade de vida ao animal 43,48. Locais
preferidos de descanso e alimentação devem tornar-se
prontamente acessíveis para o gato, por exemplo, através
da instalação de rampas e/ou degraus para facilitar o acesso
à camas, sofás e parapeitos de janelas. As camas devem ser
confortáveis e caixas de areia devem possuir um tamanho
adequado e baixa altura; diversas vasilhas de água e comida
devem ser distribuídas pela casa. Isto irá estimular o animal
a realizar atividade e prover estímulo mental. Existe evi-
dência que a feromonioterapia pode ajudar a reduzir o im-
pacto de um ambiente estressante 28. Existem produtos
disponíveis que contém feromônio facial felino (fração F3
[Feliway®; Ceva]), que podem ser utilizados como adju-
vante 3.
Sessões regulares de fisioterapia realizadas por um pro-
fissional habilitado podem auxiliar na melhora da função
articular e redução da dor 65. Técnicas para melhorar a am-
plitude de movimento e massagem podem ser ensinadas
aos tutores, o que pode auxiliar no aumento da interação
animal-tutor, além de ajudar a estimular a realização de
exercícios. A acupuntura também parece ter uma boa Figura 3 – Paciente com osteoartrose beneficiando-
aplicabilidade nestes pacientes 44-46,61. se do uso de escada para acesso à cama dos tutores

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 449


Capítulo 45 – Principais doenças osteoarticulares dos felinos

Assim como ocorre em cães, uma osteoartrose (OA) articulação do quadril em radiografias pélvicas, uma vez
pode se desenvolver secundariamente à DCF e também à que é a segunda região do esqueleto axial mais acometida
traumas articulares como luxações e fraturas de acetábulo, por OA. Em casos onde a apresentação clínica é sugestiva
o que inevitavelmente leva à dor e perda de função 17. A in- de DCF e OA, mas não existem achados radiográficos que
cidência relatada de gatos com DCF e OA associada varia sustentam este diagnóstico, pode-se realizar exames como
significativamente, de 6,6% em um estudo com 684 gatos 29 ressonância magnética ou realizar uma triagem terapêutica
para 32% em outro estudo com 78 gatos 36. As manifesta- com anti-inflamatórios, usualmente AINEs 53.
ções clínicas aparecem geralmente de forma gradual e As estratégias de manejo da DCF são similares às em-
podem incluir mudanças no comportamento como redução pregadas em outros quadros de OA. O tratamento conser-
da atividade, relutância em pular para locais habituais, di- vativo consiste em repouso, alterações ambientais,
ficuldade para subir e descer escadas, dificuldade de defe- fisioterapia, redução de peso em gatos obesos, administra-
cação, eliminação inapropriada de fezes e urina, vocalização, ção de nutracêuticos como glicosamina, condroitina e
perda de peso, depressão, redução da auto-higienização do ômega 3, além de antiinflamatórios (usualmente AINEs)
pelame, agressividade e claudicação 10,12,22,32,52. Geralmente, para redução da dor e inflamação associadas 17,53. O plano
a claudicação apresenta-se de forma bilateral e pode variar terapêutico deve ser adaptado de acordo com cada perfil de
de moderada a grave 52. Quando a claudicação é bilateral, a indivíduo e as circunstâncias envolvidas. Gatos mais gra-
marcha pode mostrar-se rígida e os passos encurtados bi- vemente acometidos podem requerer maiores períodos de
lateralmente. A avaliação da dor em gatos é dificultada uma repouso e confinamento em espaços reduzidos por pelo
vez que os gatos geralmente aparentam de forma menos menos 2 semanas. Já os animais com manifestações clíni-
explícita as manifestações relacionadas à dor, quando com- cas moderadas podem necessitar apenas de alguns dias de
parado aos cães 42. repouso 17.
Ao examinar o quadril, o movimento de abdução deve Para os gatos que são refratários ao tratamento conser-
ser realizado junto com movimentos de flexão, extensão e vativo, existem duas alternativas de intervenção cirúrgica
rotação. Em gatos com DCF, os achados de exame físico disponíveis, que incluem
mais comumente relatados são atrofia muscular, redução ressecção de cabeça e
da amplitude de movimento na articulação do quadril, dor colo do fêmur e prótese
à palpação e crepitação após extensão do quadril 19,26,52. de quadril. A técnica de
Gatos com OA de quadril geralmente mostram desconforto ressecção da cabeça e
durante a abdução do quadril, mais do que com a flexão e colo do fêmur tem sido,
extensão 30. A presença de dor no exame ortopédico não ne- atualmente, o procedi-
cessariamente está correlacionada com achados radiográ- mento mais utilizado
ficos de OA. Em um estudo, 67% das articulações de coxal porque é simples de rea-
com evidência de dor não continham sinais radiográficos lizar, acarreta em poucas
de OA 8 e em outro estudo apenas 36% das articulações complicações e não re-
com sinais radiográficos de OA mostraram-se alteradas no quer equipamentos cirúr-
exame 39. Esta disparidade entre as manifestações clínicas gicos caros ou habilidade
e achados radiográficos também se estende especificamente profissional especial. En-
à DCF, com a maioria dos gatos não aparentando pro- tretanto, resultados fun-
gressão das manifestações clínicas, apesar da progressão cionais após a colocação
dos achados radiográficos 52. de prótese de quadril fo-
Radiografias em projeções lateral e ventro-dorsal cen- ram relatados como ex- Figura 4 – Animal com grave
tradas no nível das articulações coxofemorais são consi- celentes, sugerindo que, apresentação de DCF, evi -
deradas como ideais para a avaliação da pelve. O para alguns gatos, esta denciando importante arra-
arrasamento de acetábulo mostrou-se como sendo o técnica possa ser a me- samento acetabular e
achado ra dio gráfico mais comum em gatos diagnos- lhor opção para a melho- subluxação bilateral
ticados como displásicos 29. Outras possíveis alterações ra da função articular .
47

visualizadas radiograficamente incluem subluxação coxo-


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450 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


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452 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


46
Fisiatria em felinos

Larissa Toyofuku
Ricardo Stanichi Lopes

A
pesar da fama dos felinos em não serem animais moção e da postura já poderá auxiliar na elaboração dos
cooperativos o suficiente para receber essa forma diagnósticos diferenciais, além de existir o risco dele não
de tratamento, a fisiatria é cada vez mais difundida permitir ser manuseado pelo fisiatra.
nessa espécie. Isso se deve, entre outros fatores, ao au- Gato são seletivos e sensíveis a odores e paladares não
mento do número de tutores de felinos, ao avanço da me- familiares, por esse motivo, o reforço positivo com alimen-
dicina veterinária com diagnósticos precoces e tratamentos tos e petiscos pode não surtir efeito. Um estímulo bastante
específicos e à maior formação de fisiatras veterinários ca- utilizado para incentivar o gato a deambular é colocar a
pacitados para atender uma crescente demanda de felinos caixa de transporte em vários cantos na sala de atendimento
com algum grau de comprometimento da função física 3. com a grade protetora aberta para que o mesmo queira en-
Ainda que a posse de gatos tenha aumentado em muitos trar para se esconder.
países, nossa compreensão e tratamento através da fisiatria A manifestação da dor em felinos nem sempre cursa
têm ficado defasados em comparação aos cães 14. com claudicação e ou dificuldade da função locomotora,
O sucesso da reabilitação é muitas vezes menos previ- esse fato dificulta a ida deles ao médico veterinário e pode
sível do que em cães, por esse motivo, essa terapia exige acarretar em erros de diagnóstico. Apesar de trabalhos con-
uma boa compreensão do comportamento e uma excelente cluírem que a principal queixa locomotora de tutores de fe-
habilidade no manuseio de felinos 17. linos é a claudicação, a avaliação radiográfica de 100 gatos
com idade maior do que 12 anos, indicou que 90% dos pa-
PARTICULARIDADES cientes possuíam sinais de osteoartrose, porém somente 4%
Pelo fato dos felinos serem mais impacientes e entedia- deles apresentavam queixas relatadas na anamnese 8.
rem-se logo, para alguns pacientes, o tempo da sessão deve Muitos gatos apenas diminuem a interação com os hu-
ser o mais curto possível e oferecer uma variedade de ati- manos, ficam mal-humorados, hiporexicos, diminuem a hi-
vidades diferentes que devem ser adaptadas de acordo com gienização ou deixam de brincar e acessar móveis altos.
o comportamento de cada gato. Por estas particularidades, uma criteriosa anamnese é
Algumas características comportamentais dos gatos tais fundamental para auxiliar o fisiatra na avaliação do felino,
como instinto de caça, podem ser usadas para se realizar o comportamento dele em casa deve ser relatado detalha-
um exercício ativo. Os tratamentos devem ser escolhidos damente pelo tutor, uma vez que pode não se repetir no
com respeito à aceitação e atitude do gato e o fisiatra deve consultório e o paciente pode não permitir o manuseio fí-
ser capaz de escolher a terapia que oferece o melhor custo- sico. Filmes realizados pelo tutor do animal em seu habitat
benefício para aquele paciente e estar sempre atento à lin- natural pode ser uma alternativa interessante àqueles pa-
guagem corporal para não ultrapassar o seu limite. cientes mais reclusos no consultório.
Gatos são animais que se estressam com bastante faci- O exame neurológico do felino pode ser comprometido
lidade, especialmente quando não estão em seu habitat do- pelo fato de ele não querer deambular pelo consultório, di-
miciliar. Podem mudar de comportamento rapidamente e a ficultando a avaliação da postura e marcha do paciente. As
sua manipulação pode se tornar difícil devido à sua agili- reações posturais e os reflexos nem sempre são fidedignas,
dade e flexibilidade. uma vez que o animal pode não ser responsivo por uma
O conhecimento da linguagem corporal e do comporta- questão comportamental, por exemplo, 30% dos felinos
mento felino é, portanto, fundamental para que o limite do não apresentam reflexo cutâneo do tronco e é difícil ava-
mesmo não seja ultrapassado durante o manuseio pelo mé- liação da propriocepção consciente na maioria deles. Em
dico veterinário fisiatra e um bom programa de reabilitação pacientes com paralisia, é de suma importância o conheci-
possa ser executado. mento do fisiatra veterinária dos principais diagnósticos di-
A maioria não é tolerante em ambientes ruidosos e com ferencias desta espécie, a qual apresenta 100 a 1000 vezes
odores fortes, por esse motivo, deve-se evitar atendê-los menos chance de ser acometida por hérnia de disco do que
em ambientes com outros animais ou pessoas estranhas e a espécie canina e possui uma alta prevalência de neoplasia
sempre que possível, deixá-los próximos de cobertores/toa- e mielites infecciosas 13.
lhas com o cheiro deles ou dos tutores. No exame ortopédico é importante levar em considera-
O ambiente ideal para a avaliação do felino é uma sala ção as diferenças anatômicas e fisiológicas dos felinos em
pequena, sem janelas ou portas de fácil acesso para fuga e relação aos cães no momento da avaliação, gatos são muito
com poucos moveis para evitar que o mesmo se esconda. mais flexíveis e elásticos.
Antes de colocar um felino na mesa de atendimento O músculo pronador redondo é muito mais desenvol-
para avaliação física, é interessante incentivá-lo a deambu- vido em gatos e fundamental para apreensão de alimentos
lar em solo, uma vez que a apenas a observação da loco- e brinquedos, sendo assim, o fisiatra precisa avaliar e , em

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 453


Capítulo 46 – Fisiatria em felinos

caso de lesões, reabilitar esta importante estrutura nos feli- Uma vasta gama de técnicas é utilizada para mobilizar
nos. e restaurar a extensibilidade dos tecidos, melhorar a circu-
O fisiatra deve ter conhecimento aprofundado sobre lação, reduzir o inchaço e a dor. Seus efeitos são obtidos
anatomia felina, fisiologia dos tecidos e seus processos de através de vários estímulos mecânicos, fisiológicos e psi-
cicatrização, assim como sobre a fisiopatologia das afec- cológicos.
ções, a fim de oferecer o prognóstico correto de sua reabi- A seleção de técnicas apropriadas deve basear-se no in-
litação. divíduo, no efeito desejado com a terapia, no tamanho do
animal, da área a ser tratada e do tempo permitido pelo ani-
Principais indicações mal à manipulação. Técnicas básicas podem ser facilmente
Uma boa conduta clínica ou cirúrgica, nem sempre aprendidas e utilizadas pelos próprios tutores dos gatos.
equivale a um bom retorno das funções locomotoras de um As mobilizações passivas são realizadas nas articula-
paciente felino, uma vez que um desconforto e/ou a imo- ções e utilizadas para melhorar a amplitude de movimento
bilidade prolongada do mesmo, pode resultar em perda de das mesmas. São realizados principalmente como movi-
tônus e massa muscular, rigidez articular e um retorno lento mentos oscilatórios, na direção da linha comum da articu-
e muitas vezes incompleto à função. lação, para obtenção de compressão e/ou distração das
A fisioterapia auxilia o paciente que tem alguma enfer- superfícies articulares.
midade, lesão, sequela motora e/ou sensitiva, a retornar Os movimentos passivos são movimentos articulares
com a melhor funcionalidade, independência e qualidade realizados de forma rítmica e não requerem envolvimento
de vida possível em um período de tempo menor. ativo do animal. É utilizado principalmente para manter o
comprimento do músculo, auxiliar na nutrição articular, es-
Modalidades terapêuticas timular mecanorreceptores e reforçar os padrões de movi-
O fisiatra veterinário deve avaliar e diagnosticar corre- mento. Pode ser realizada após aquecimento da
tamente o paciente para indicar o protocolo de tratamento musculatura e/ ou articulação posteriormente ao alonga-
apropriado para se alcançar o objetivo desejado, uma vez mento do membro 4,18.
que há inúmeras modalidades terapêuticas as quais os pa- Os alongamentos (Figura 1) são também movimentos
cientes podem se beneficiar. passivos que auxiliam a restabelecer o comprimento do
Deve-se monitorar regularmente o progresso do trata- músculo, porém, enquanto os movimentos passivos criam
mento, de modo que alterações no protocolo fisiátrico pos- deformidades no tecido de forma elástica (temporária), os
sam ser realizadas quando e onde se achar necessário. alongamentos criam uma deformação e um aumento do
Podemos dividir as modalidades terapêuticas utilizadas comprimento muscular de forma plástica (permanente),
na fisiatria felina em terapias manuais, agentes físicos, ter- além de auxiliar a longo prazo na adição de sarcômeros à
moterapia, cinesioterapia e hidroterapia. Estas modalidades massa muscular. É geralmente mais eficaz se precedida de
serão abordadas individualmente em capítulos dessa obra, exercício leve, massagem, calor ou ultrassom terapêutico,
portanto, seguem apenas citadas neste para demonstrar sua todos os quais aumentam a extensibilidade do colágeno.
finalidade e funcionalidade. O alongamento estático (Figura 2) utiliza uma força
baixa que é mantida por um mínimo de 30 segundos em
Terapias manuais uma amplitude confortável para o animal e não deve causar
Para se alcançar o melhor resultado, essa modalidade danos nos tecidos, permite o realinhamento de fibras de co-
exige calma e a cooperação por parte do gato para que o lágeno.
manejo seja possível e os tecidos moles se mantenham re- Considerações na reabilitação de felinos: o fisiatra deve
laxados durante o tratamento. Gatos que são medrosos ou respeitar a personalidade do paciente, deve-se evitar o
estressados podem se beneficiar menos, embora em muitos
casos, o relaxamento ocorre como um efeito do tratamento.
Inclui técnicas de massagem, mobilização e manipulação
articular e alongamentos.
Como reação à dor, os músculos desenvolvem uma ten-
são aumentada, o que reduz o fluxo sanguíneo local na re-
gião afetada e a diminuição da oxigenação leva a acúmulos
de resíduos metabólicos nos músculos que acarreta maior
quadro álgico. A massagem ajuda a romper este círculo vi-
cioso de dor e tensão muscular, pelo aumento do fluxo san-
guíneo e liberação de endorfinas endógenas.
Nos pacientes com mobilidade restrita, a massagem tem
como finalidade aumentar a circulação arterial, venosa e
linfática, promover o alivio da dor, o relaxamento muscular Figura 1 – Alongamento, em bola tipo feijão, de muscu-
e desfazer aderências teciduais 6,7. latura paravertebral

454 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 46 – Fisiatria em felinos

Figura 2 – Alongamento estático visando deformação plás-


tica das fibras musculares
Figura 3 – Aplicação de laser vermelho com afastamento
da pelagem para otimizar absorção energética
estresse, se ele não quiser ficar em decúbito lateral, faça as
manobras em decúbito esternal e inicie sempre com toques
leves e lentos.

Agentes físicos
Muitos agentes eletrofísicos podem ser utilizados na
reabilitação de animais, incluindo o laser terapêutico, ul-
trassom terapêutico, estimulação elétrica neuromuscular
(NMES), estimulação nervosa elétrica transcutânea
(TENS), campo magnético, terapia lumínica com LEDs,
entre outros. Estas são formas não dolorosas de tratamento
e os gatos são geralmente tolerantes durante sua utilização.
No entanto, todas essas modalidades apresentam indicações
e precauções e somente devem ser utilizados por profissio-
nais capacitados durante a rotina clínica. O laser terapêutico
possui uma baixa potência e tem o efeito de redução de
dores, edemas, modulação de processos inflamatórios, além
da reparação tecidual e nervosa, não tendo contraindicações
de quadros crônicos e agudos.
Considerações na reabilitação de felinos: é importante
utilizar dosagens maiores em gatos obesos e de pelagem es-
cura, além de ser essencial o contato direto da saída da luz
do laser na superfície da pele do animal (Figuras 3 e 4). Figura 4 – Aplicação de laser em articulação coxofemoral
Relevante lembrar que 60% das afecções que resultam
em paralisias em felinos são neoplasias ou mielites, nos
quais o laser se torna contraindicado. Considerações na reabilitação de felinos: Toleram bem
O ultrassom terapêutico produz as mesmas vibrações o US terapêutico , deve-se utilizar um cabeçote pequeno
que as ondas sonoras produzem, porém, em frequências para se assegurar o posicionamento sobre a área de trata-
muito mais altas e além da faixa audível pelo ser humano, mento. É relevante considerar a largura e o diâmetro dos
podendo variar de 1,0 a 3,0 MHz. A escolha da frequência músculos dos gatos na escolha do protocolo a ser utilizado,
e potência do aparelho a ser utilizado pelo fisiatra veteri- intensidades mais baixas serão suficientes.
nário se dá pelas características e localização da lesão a ser A estimulação elétrica neuromuscular (NMES) estimula
tratada. À medida que as ondas de ultrassom penetram atra- os nervos motores e apresenta indicação em casos de feli-
vés dos tecidos do corpo, a energia é absorvida, particular- nos não são capazes de gerar contrações musculares volun-
mente por tecidos que possuem colágeno, como ligamentos, tárias e/ou para aqueles que ainda não estão aptos ao
tendões, fáscias, articulações, cápsulas e tecidos cicatriciais. exercício ativo. Esta modalidade também pode ser utilizada
Os pelos dos animais também absorvem grande parte da para a reeducação e facilitação do controle muscular, me-
energia transmitida pela probe, por esse motivo a tricotomia lhorando a consciência sensorial, diminuindo os espasmos
é recomendada. musculares, e reduzindo o edema.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 455


Capítulo 46 – Fisiatria em felinos

Felinos domésticos apresentam maior quantidade de fi-


bras musculares Tipo I as quais são perdidas no processo
de hipotrofia, portanto, deve-se utilizar a frequência e lar-
gura de pulso ideal para o restabelecimento dessas fibras.
Até à data, não existem estudos que nos dê parâmetros
de protocolo ideal para utilizar NMES em gatos, embora
tenham sido adaptados alguns protocolos da reabilitação
canina.
A estimulação nervosa elétrica transcutânea (TENS)
atua nos nervos sensoriais e proporciona alívio da dor sin-
tomática através do mecanismo de "comporta da dor” e/ou
através do sistema de aumento da liberação de opioides en-
dógenos.
A aplicação dos eletrodos poderá ser ao redor do local
doloroso, na raiz do nervo acometido, ao longo do nervo
Figura 5 – Aplicação da eletroestimulação em cadeia fe-
periférico que está sobre a área dolorida e/ou sobre pontos chada
gatilhos de acupuntura.
Tanto no NMES como no TENS, a utilização de um
meio condutor nos eletrodos como o gel aquoso é essencial
para melhorar a condução elétrica, e, dependendo do tama-
nho do eletrodo a ser utilizado e do aspecto da região a ser
tratada, a tricotomia da região também pode ser necessária
para aumentar a superfície de contato. Pode-se realizar essa
aplicação com o animal em cadeia fechada (Figura 5), na
qual o paciente se mantém em estação durante a aplicação
da eletroestimulação, ou em cadeia aberta (Figura 6), no
qual o paciente se mantém em decúbito lateral durante a
aplicação da eletroestimulação.
Considerações na reabilitação de felinos: o tratamento
deve ser iniciado com uma forma de corrente percebida
como agradável pelo paciente e a intensidade utilizada é
geralmente mais baixa do que em cães.
A magnetoterapia consiste na aplicação campos mag-
néticos gerados através da passagem de corrente elétrica
por uma bobina solenoide, com fins terapêuticos. Essa te-
rapia promove efeitos em níveis bioquímicos, celulares,
tissulares e sistêmicos, atuando positivamente no metabo-
lismo celular, causa efeito piezoelétrico em ossos e colá-
genos, vasodilatação com melhora do aporte de oxigênio,
miorrelaxamento e analgesia, além de ser uma terapia
muito bem aceita pelos animais.
Considerações na reabilitação de felinos: gatos possuem Figura 6 – Aplicação da eletroestimulação em cadeia aberta
o metabolismo mais acelerado do que cães, portanto, em dos músculos vasto lateral e glúteo
algumas afecções o tempo de tratamento pode ser menor.
A aplicação do campo magnético através de um cilindro de
campo envolvente pode ser mais agradável para o felino do
que as bobinas planas (Figura 7).
A terapia com LEDS envolve o mecanismo de fotomo-
dulação e consiste na aplicação de uma combinação de
luzes de diferentes comprimentos de onda e que produzem
respostas fotoquímicas distintas. Entre os benefícios pode-
mos citar mudanças na homeostase celular, liberação de
endorfina e de oxido nítrico, melhoria da circulação san-
guínea e dos processos de cicatrização, redução da dor e da
inflamação e reabsorção de edemas.
Considerações na reabilitação de felinos: Figura 7 – Paciente felino em cilindro de campo magnético

456 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 46 – Fisiatria em felinos

• alguns gatos podem ficar estressados com a emissão da uma segunda etapa da reabilitação.
luz e/ou não aceitar a aplicação das placas de LEDS através Os exercícios terapêuticos podem ser divididos em for-
de amarrações; talecimento, flexibilidade, equilíbrio, propriocepção e re-
• gatos com pelagem escura e pele pigmentada não absor- sistência. Devem ser adaptados ao animal e podem ser
vem a luz irradiada de maneira adequada. assistidos ou não pelo fisiatra veterinário.
Os exercícios em solo são os que os gatos mais de
Termoterapia adaptam, uma vez que através do comportamento preda-
Estas podem auxiliar no tratamento fisiátrico e devem tório, que inclui exploração, investigação, perseguição e
ser executadas preferencialmente em ambiente domiciliar ataque, o fisiatra veterinário consegue estimulá-los a rea-
pelos tutores, uma vez que além de todo o comportamento lizar certos movimentos sem manipulação física.
felino frente a um novo ambiente e pessoas, eles possuem Podem-se utilizar brinquedos que saltem ou se movam,
uma maior sensibilidade a estímulos externoceptivos do que emitam luz e/ou barulhos, que voem ou que possuam
que os cães, o que torna a aceitação de temperaturas dife- penas ou plumas nas extremidades. A utilização de obstá-
rentes àquela corpórea mais difícil e delicada, o paciente culos através de cavaletes promove uma melhoria na mo-
ao estar no seu habitat natural pode ser mais receptivo às bilidade articular e propriocepção do paciente. Uma forma
terapias. de estimular a deambulação do felino pelos cavaletes é uti-
Considerações na reabilitação de felinos: a maioria lizar a caixa de transporte para o mesmo caminhar até ela
gosta da aplicação de calor, ao invés de bolsa térmica, toa- para fuga (Figura 8).
lhas quentes pode ser uma boa alternativa para aqueles A inclusão de várias superfícies ao caminho percorrido,
gatos que não ficam parados em uma só posição. como areia, grama, casca de ovo, almofadas, atua na ativa-
Eles não recebem tão bem o frio, às vezes pode ser di- ção sensorial e estimula o equilíbrio quando os gatos
fícil mantê-los parados enquanto se aplica a crioterapia, andam sobre as mesmas.
porém, é de extrema importância tentar nas primeiras horas Exercícios isométricos assistidos, utilizando tábuas de
após um procedimento cirúrgico. equilíbrio e discos de propriocepção, envolvem ações
musculares sem alteração no comprimento dos músculos
Cinesioterapia ou na mobilidade articular, promove fortalecimento do core
O exercício representa o elemento final no processo rea- e uma maior resistência dos músculos, ligamentos e ten-
bilitação do animal para que o mesmo atinja a retorno à sua dões (Figuras 9 e 10).
função locomotora ideal após ter sofrido uma lesão, cirur- Muitas vezes é preciso utilizar a criatividade dos tutores
gia ou enfermidade. para estimular o gato em seu ambiente doméstico a realizar
A cinesioterapia pode ser difícil com alguns gatos. Porém, atividades apropriadas, como a utilização de dispositivos
o alívio da dor através dos agentes físicos pode ajudar a au- que liberam alimentos, brinquedos que despertem o instinto
mentar a tolerância deles aos exercícios terapêuticos em de caça, esconder alimentos em posições que encorajem a

Figura 8 – Exercícios em cavaletes para aumento de amplitude de movimento articular e coordenação motora

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 457


Capítulo 46 – Fisiatria em felinos

É uma das modalidades mais interessantes na fisiatria


veterinária, uma vez que utiliza das propriedades da água
(principalmente a flutuabilidade e resistência) para auxiliar
na recuperação dos distúrbios musculoesqueléticos e/ou
neurológicos.
Através dos exercícios realizados na imersão, usufruir-
mos dos benefícios do meio aquático, logo a terapia busca
possibilitar maior independência funcional ao paciente, di-
minuindo resposta anormal e potencializando os movimen-
tos fisiológicos 5.
Os gatos toleram a terapia aquática surpreendentemente
bem e pode ser uma ferramenta muito útil na reabilitação.
A seleção do paciente é o critério mais importante, uma vez
que muita dificuldade na terapia aquática pode ser um risco
potencial a novas lesões. Algumas raças como os bengals,
são naturalmente atraídos pela água e podem ser excelentes
Figura 9 – Tábua de equilíbrio para estimulo da proprio- pacientes para realizar esteira aquática.
cepção A motivação é essencial para convencer o animal a ca-
minhar na esteira aquática, pode-se utilizar peixes ou fran-
atividade física mais intensa para acessá-lo, deixar dispo- gos oferecidos na frente do equipamento, elogios e reforços
nível locais altos para “fuga”, como cadeiras e parapeitos positivos realizados pelos tutores ou muitas vezes a própria
de janela (sempre protegido por telas). O tempo de recupe- caixa de transporte pode ser utilizada como incentivo para
ração do paciente que se exercita no ambiente doméstico é o gato fugir e se esconder.
menor quando comparado àquele que realiza somente fi- Diferente da maioria dos pacientes caninos, o gato não
sioterapia na clínica. apresenta dificuldade em entender que a cinta da esteira
está se movimentando, sendo assim deve-se medir o tama-
Hidroterapia nho do membro do gato e emergir a esteira até esse nível

Figura 10 – Sustentação em disco proprioceptivo em paciente com paraparesia de MPS

458 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 46 – Fisiatria em felinos

antes de colocá-lo. Como alguns felinos não são acostuma- a osteoartrite (OA) é um problema bem conhecido em cães,
dos com água, recomendamos colocá-los na água em tem- mas é apenas um problema emergente em gatos 10.
peratura entre 28-30 ºC, na altura de submersão desejada, Estudos comprovaram que 90% dos gatos na faixa etá-
e mantê-lo por alguns segundos ainda com a esteira desli- ria de 6 meses a 20 anos têm pelo menos uma articulação
gada, para que ele se adapte a nova situação. Muitos felinos com sinais radiográficos de doença articular degenerativa,
não gostam de coleiras e ficam imóveis ao usá-las, por isso, e que diferentemente de cães, não existe uma relação pro-
os presentes autores, recomendam não utilizar coleiras. O porcional entre os sinais clínicos da doença articular dege-
fisiatra deve manter contato constante com o paciente para nerativa e seu aparecimento radiográfico 10.
confortá-lo, evitar fugas ou desvio na caminhada (Figuras Em comparação com o cão, as doenças ortopédicas em
11 e 12). gatos ocorrem em uma frequência baixa e muitas condições
Muitos gatos irão resistir e flutuar seus membros traseiros caninas comuns, como displasia do cotovelo ou necrose as-
ou tentar sair da esteira com água em níveis mais altos, séptica da cabeça femoral ainda não possuem relatos em
porém, tenha paciência, e em caso de que a adaptação seja gatos. Alguns distúrbios do desenvolvimento, tais como dis-
difícil, avalie o custo benefício dessa terapia. plasia coxofemoral e luxação patelar, já são reconhecidos e
A terapia em questão tem a contraindicação no caso de a doença articular degenerativa é uma das enfermidades or-
feridas abertas, contaminadas e em dermatopatias graves. topédicas que mais acometem os felinos domésticos. Em
Animais no cio, cardiopatas, com insuficiência respiratória, contrapartida, injúrias por traumas são mais comuns em
incontinência urinária ou fecal também merecem maiores gatos do que em cães, talvez por seu estilo de vida mais ca-
cuidados 2. çador e, em muitos casos, semidomiciliar 11.
Experiência de um gato pode ser mais aceitável dentro
da água, se o mesmo previamente tiver tido contato com Fraturas
banhos no ambiente doméstico. A reabilitação pós-operatória após a estabilização das
A hidroterapia deve ser realizada em um ambiente si- fraturas auxilia o retorno precoce da função do membro e
lencioso, fechado e calmo. O fisiatra deve acompanhar o a prevenir contraturas e aderências musculares, hipotrofia,
gato na água para fornecer assistência e tranquilidade até perda de amplitude articular, além de estimular precoce-
que o mesmo fique costumado com a atividade. mente o equilíbrio e mecanismos proprioceptivos.
A presença do tutor pode muitas vezes fornecer con- A principal causa de lesão por fratura em gatos é o
fiança aos gatos. Em nenhum momento o animal deve ser trauma veicular. Outras causas incluem quedas de alturas,
deixado sozinho durante uma sessão de hidroterapia, uma lutas entre animais e ferimentos de bala. Injurias ortopédi-
vez que a aspiração da água e afogamento são riscos reais. cas múltiplas são comuns, assim como multissistêmica 16.
No pós-operatório, a hidroterapia pode ser empregada As fraturas de membros torácicos são menos comuns
assim que o animal estiver sem os pontos e apto a realizar quando comparados com membros pélvicos, e as fraturas
exercícios ativos assistidos. Na prática, a hidroterapia é e pélvicas e sacrais representam 73% de todas as fraturas 9.
deve ser realizada com gatos, mas deve-se ficar atendo a in-
dividualidade de cada paciente, respeitando suas limitações.

REABILITAÇÃO DE CONDIÇÕES ORTOPÉDICAS


Os gatos parecem ter menos lesões ortopédicas de
desenvolvimento em comparação com cães. Por exemplo,

Figura 12 – Hidroterapia em felino em pós-operatório de


Figura 11 – Esteira seca para adaptação da marcha displasia fiseal bilateral da cabeça do fêmur

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 459


Capítulo 46 – Fisiatria em felinos

A fisioterapia deve ser introduzida, se possível desde o aumentada através de pranchas e discos de equilíbrio, ca-
primeiro dia após a estabilização cirúrgica e na frequência valetes e brincadeiras funcionais.
de 2 a 4 vezes ao dia. Nos primeiros dias, a fisioterapia visa A hidroterapia é uma modalidade fisioterápica muito in-
controlar a inflamação e o edema causados pela manipula- dicada em felinos com osteoartrose, uma vez que através
ção cirúrgica e auxiliar no controle da dor, os dias que se dela, ocorre a melhora do condicionamento muscular e da
seguem a principal finalidade é o retorno à função locomo- amplitude de movimento desses pacientes de uma forma
tora (Quadro 1). controlada e sem sobrecarga articular.
É importante ressaltar que tutor de um felino com
Doença articular degenerativa doença articular degenerativa deve saber o manejo ideal
Os sinais clínicos incluem amplitude de movimento re- para evitar piora do quadro, como evitar pisos escorrega-
duzida, diminuição da força, diminuição das brincadeiras, dios, saltos e sobrepeso.
dor articular.
No entanto, devido ao menor porte e peso e maior flexi- Reabilitação nas condições neurológicas
bilidade de suas articulações, os gatos frequentemente apre- Existe uma vasta gama de enfermidades que acometem
sentam menores sinais clínicos do que os cães. É provável o sistema nervoso central e periférico dos felinos. O trata-
que outros sinais como constipação fecal ou urinária, difi- mento eficaz do paciente neurológico muitas vezes repre-
culdade para ir até a caixa de areia, ficarem deitados dor- senta um dos maiores desafios para a equipe veterinária.
mindo o dia todo, mudanças de comportamento e evitar Enfermidades do sistema nervoso podem afetar a mobili-
auto-higienizar-se, sejam causados pelo quadro álgico da os- dade do animal, causar dores, déficits na propriocepção,
teoartrose, principalmente em felinos de meia idade e idosos. equilíbrio, força e tônus muscular do paciente.
O primeiro passo é quebrar o ciclo dor - imobilidade - Os resultados de um estudo realizado em 2004 na Uni-
dor, através do uso dos agentes físicos citados anteriormente, versidade da Pensilvânia, no qual 205 gatos com doenças
respeitando a individualidade de cada paciente em aceitar da medula espinhal obtiveram confirmação histopatológica
melhor um protocolo analgésico do que outro. Pode-se uti- post-mortem, demonstraram que as doenças inflamatórias
lizar para tanto o laser terapêutico, a terapia lumínica com e infecciosas são as mais comuns (32%), seguido por doen-
LEDS, o US terapêutico, o campo magnético e o TENS. ças neoplásicas (27%), trauma (14%), doenças congênitas
As terapias manuais como massagens, mobilizações ar- ou hereditárias (11%), doenças vasculares (9%), doenças
ticulares e alongamentos podem ser associadas aos agentes degenerativas (6%) e doenças metabólicas/nutricionais
físicos nessa fase se o paciente permitir, ou caso a dor seja (1%). Sendo assim, o correto diagnóstico da lesão neuro-
limitante, introduzir de forma gradativa após o quadro ál- lógica é de suma importante para que a reabilitação alcance
gico ter diminuído. os objetivos esperados 12.
O NMES pode ser utilizado nos pacientes que apresen-
tarem hipotrofias musculares significativas e a cinesiotera- Lesões de NMI
pia pode ser associada, de forma assistida e constantemente A diminuição do tônus muscular é um dos sinais de uma

Quadro 1 – Protocolo para reabilitação de felinos que sofreram fraturas e estão em reabilitação
Dia Uso de crioterapia por 10-15 minutos no local da lesão; 4 vezes ao dia de 24 a 72 horas de
0-3 pós-operatório.
Mobilização articular e movimentação passiva em todas as articulações relevantes acima e abaixo do
local da fratura (10-20 repetições) 1 a 3 séries diárias;
Dia Caso o edema e a inflamação ainda estiverem ativos, repetir protocolo acima por mais 3 dias, se
3-5 animal já estiver restabelecido, iniciar novo protocolo:
Laser terapêutico no foco de fratura para acelerar cicatrização óssea;
NMES em musculatura envolvida para evitar hipotrofia e perda de tônus muscular;
Mobilização articular e movimentação passiva em todas as articulações relevantes acima e abaixo do
local da fratura (10-20 repetições) 1 a 3 séries diárias;
Dia Laser terapêutico no foco de fratura para acelerar cicatrização óssea.
5 - 10 A cinesioterapia pode ser associada, de forma assistida e constantemente aumentada.
Exercícios simples para melhorar o equilíbrio e a propriocepção podem ser introduzidos na forma de
pranchas e discos proprioceptivos;
Dia Atividade ainda deve ser restrita enquanto a fratura está em processo de cicatrização, a contenção
10 - 20 em casa é essencial até que a união óssea esteja completa;
Piso deve ser antiderrapante e não deve haver oportunidades para correr ou saltar;
Pode-se introduzir a hidroterapia para aumentar a resistência aos exercícios;
Aumentar gradativamente a dificuldade da cinesioterapia alterando alturas dos cavaletes, os graus
de instabilidade em discos e tábuas de equilíbrio.

460 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 46 – Fisiatria em felinos

lesão do neurônio motor inferior que está presente na me- do risco de doenças ortopédicas 15.
dula espinal. Flacidez resultante requer uma abordagem as- O tratamento da obesidade baseia-se na abordagem do
sistida para facilitar a atividade já que o paciente não manejo nutricional juntamente com um aumento da ativi-
consegue sozinho se manter em estação. dade física, o que pode se dar através de exercícios em solo
A avulsão do plexo braquial é o tipo mais comum de ou aquáticos.
neuropatia traumática em gatos, com sinais clínicos in- Atividades através de brincadeiras auxiliam no aumento
cluindo perda da função motora do membro, propriocepção da massa muscular e do metabolismo, além de melhorar a
ausente, perda de reflexos espinhais e percepção sensorial mobilidade e a estimulação mental.
da dor profunda.
O prognóstico muitas vezes é ruim, porém, a fisiatria Pontos chaves na fisiatria felina
auxilia na manutenção da circulação local e evitar as con- A fisiatria em gatos pode oferecer um grande benefício
traturas e fibroses musculares. em uma variedade de condições agudas e crônicas. Embora
A reeducação sensorial e retorno da função do membro alguns gatos sejam intolerantes ao manuseio necessário du-
dependerão do grau de lesão neural e do tempo de evolução rante a realização de algumas técnicas da fisioterapia, há
do quadro. muitas maneiras de se alcançar uma reabilitação eficaz com
Pode-se utilizar bolas ou rolos para apoiar o animal en- menor manipulação.
quanto o tratamento com eletroestimulação e exercícios ati- Através do instinto deles de caça, por exemplo, o uso
vos assistidos são executados. de artifícios como brincadeiras, petiscos e a caixa de trans-
porte pode ser útil para se chegar ao diagnóstico e sucesso
Lesões de NMS do tratamento.
O aumento do tônus muscular é um dos sinais de uma É importante saber do comportamento deles para que o
lesão do neurônio motor superior na medula espinhal. Com mesmo seja adequadamente compreendido e respondido
padrões espásticos, principalmente, nos músculos extenso- aos nossos estímulos.
res, o paciente sofre de dor, mau posicionamento e estresse. O profissional precisa estar calmo e confiante, o am-
Deve-se tratar o animal de forma calma, movendo os biente ser pacífico e silencioso e todos os envolvidos devem
membros espásticos lentamente e com cuidado para a po- ter paciência e tolerância com os limites de cada paciente.
sição neutra, para que os fusos musculares sejam menos es- Todos os aspectos da reabilitação devem ser considera-
timulados e evite uma piora da rigidez muscular. Para dos no planejamento de um protocolo de reabilitação
facilitar essa manipulação, o laser pode ser aplicado na in- (força, flexibilidade, equilíbrio, propriocepção e fortaleci-
serção dos músculos extensores que apresentam a espastici- mento do core) e o envolvimento do tutor durante as ses-
dade, bem como em áreas de trigger points desses mesmos sões podem influenciar positivamente nos resultados.
músculos.
Sugere-se manter o paciente em decúbito lateral para Conclusão
manter o baixo nível muscular e, assim, facilitar os movi- A fisiatria pode trazer inúmeros benefícios para os gatos
mentos passivos, mobilizações articulares e alongamentos. em uma variedade de enfermidades e condições agudas e
Este tipo de neuropatia traumática é comum em gatos, crônicas. Embora alguns sejam intolerantes ao manuseio
com sinais clínicos incluindo perda da função motora do requerido para realizar algumas técnicas, há outras manei-
membro, propriocepção ausente, perda de reflexos espi- ras de se alcançar o sucesso terapêutico. Cada animal re-
nhais e percepção sensorial da dor profunda. quer um protocolo de reabilitação individualizado e de
O prognóstico muitas vezes é ruim, mas o tratamento acordo com as suas necessidades.
através da fisiatria pode ajudar a reduzir o edema, manter Conhecer mais sobre o comportamento felino, respeitar
a circulação para a área afetada, evitar as contraturas e seus limites, saber como utilizar o seu instinto caçador e
manter a atividade muscular. brincalhão em favor do tratamento e aprimorar sempre as
A reeducação sensorial e retorno da função do membro habilidades e o conhecimento técnico do profissional
dependerão do grau de lesão neural e do tempo de evolução atuante na fisiatria veterinária, são a chave para eficácia do
do quadro. tratamento.

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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 461


Capítulo 46 – Fisiatria em felinos

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COMO CITAR ESSE CAPÍTULO


TOYOFUKU, L. ; LOPES, R. S. Fisiatria em felinos. In:
LOPES, R. S. ; DINIZ, R. Fisiatria em pequenos
animais. 1. ed. São Paulo : Editora Inteligente, 2018.
p. 453-462. ISBN: 978-85-85315-00-9.

462 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


47
Manejo fisiátrico do paciente neonatal

Graciela Mabel Sterin

U
m ponto chave no tratamento fisiátrico das patolo- Palpação dorsal da coluna
gias neuromusculoesqueléticas congênitas do neo- A palpação deve começar cervico-torácica (CT), se-
nato é a abordagem precoce. Deve ser realizado no guindo caudalmente para toraco-lombar (TL), lombo-sacra
primeiro período de vida, que vai desde o nascimento até a (LS) / sacrococcígea (SC) e todas as vértebras coccígeas.
segunda semana de idade e no máximo no segundo período A manobra se realiza com a palpação dorsal da coluna. As
de transição neonatal, que ocorre entre a segunda e a ter- patologias possíveis de serem encontradas são: lordose -
ceira semana. cifose - escoliose e espinha bífida. Quando suspeitamos de
O ideal é realizar o diagnóstico fisiátrico ou zookinésico espinha bífida, devemos levar em conta que é uma malfor-
durante as primeiras 48 horas pós-parto. Para isso conside- mação da coluna vertebral amplamente descrita em humanos
ramos o diagrama de Dempster, que analisa cabeça e pes- e animais domésticos, que também apresenta incontinência
coço, os quatro membros e a coluna segundo características urinária e fecal.
biomecânicas. Alguns neonatos apresentam múltiplas malformações
Dividimos o exame fisiátrico em cinco localizações, vertebrais na coluna torácica, como hemivértebras e outras
palpando minuciosamente as distintas zonas do corpo: lesões na coluna lombar, além de mielomeningocele lom-
• zona cranial e cervical; bossacra oculta e síndrome da medula presa 1,2. Em alguns
• zona dorsal; casos, pode apresentar parafimose.
• zona ventral; A síndrome da medula espinhal ancorada ou síndrome
• zona lateral e medial (os quatros membros); da medula presa (MP) é uma anomalia na qual o cordão me-
• zona caudal. dular está tenso. Gera isquemia local e alterações neuroló-
Devemos levar em consideração que algumas patolo- gicas progressivas. Muitas vezes é consequência da espinha
gias têm tratamento médico e/ou cirúrgico 4,5,7. bífida acompanhada de mielomeningocele e outros tipos de
disrafismo espinhal. A MP é gerada por um defeito na re-
Palpação cranial e cervical gressão da massa celular caudal durante a embriogênese. Os
Esta palpação inclui a cabeça para detectar possíveis sinais clínicos são a incontinência fecal com o esfíncter di-
deformações relacionadas ao desenvolvimento do latado. A confirmação diagnóstica é realizada por estudos
neonato e pode levar a suspeita de patologias, como a radiológicos e por ressonância magnética nuclear (RMN).
hidrocefalia, que devem ser confirmadas por meio de O tratamento pode ser médico-farmacológico e fisiátrico.
radiografias. O tratamento fisiátrico do quadro neurológico deve ser
Devemos abrir a boca para observar as mucosas e a in- realizado com terapia manual, já que a musculatura deve
tegridade do palato, como patologia podemos encontrar a ser mantida. As técnicas de massagem a serem realizadas
fenda palatina, que pode requerer tratamento cirúrgico devem ser feitas com extremo cuidado. Recomenda-se o
para evitar falsa via da ingestão do leite na amamentação. suporte corretivo dos membros e a colocação do paciente
Também realizamos uma suave manobra de abertura e em um colete de contenção.
fechamento da boca para verificar se há presença de Os objetivos são múltiplos:
anormalidades ou incongruências na articulação temporo- • aumentar ou diminuir o tamanho e a estabilidade da base
mandibular (ATM). de sustentação dos membros;
Na zona cervical devemos localizar anormalidades na • modificar o centro gravitacional para mais caudal ou mais
movimentação da única alavanca de 1º gênero, que se en- cranial;
contra na articulação atlanto-occipital. Para isso realizamos • assegurar o máximo relaxamento local ou geral;
movimentos de cabeça e pescoço em direção dorsal, ventral • buscar regular ou fixar uma determinada parte do corpo;
e para as laterais, com o máximo de cuidado. Então palpa- • aumentar ou diminuir o trabalho muscular necessário para
mos a zona lateral direita e esquerda da coluna cervical. manter a postura corporal;
Com estas manobras avaliamos mobilidade, deformação • aumentar ou diminuir o braço de alavanca, ou seja, as ca-
ou subluxação nas vértebras cervicais. racterísticas de mobilidade biomecânica de cada membro;
A confirmação diagnóstica é realizada mediante estudos • conseguir uma posição conveniente para realizar um exer-
radiológicos com o foco vertebral adequado. Podemos cício.
complementar o diagnóstico com ressonância magnética
nuclear (RMN) e em alguns casos ecografia. O tratamento Palpação ventral: esterno e abdômen
pode ser médico, farmacológico, algumas vezes requer Quando palpamos o esterno de cranial ao caudal, pode-
imobilização e, em alguns casos, o tratamento deve ser ci- mos encontrar alterações em sua curvatura, como Pectus
rúrgico. excavatum (PE).

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 463


Capítulo 47 – Manejo fisiátrico do paciente neonatal

Pectus excavatum (PE) é uma deformação torácica de- ou tetraparesia, sem apresentar sinais neurológicos especí-
vido ao crescimento anômalo do esterno e da união das cos- ficos. Se observa os membros em abdução com dificuldade
telas com a cartilagem esternal (costocartilagem) que do paciente em levantar e andar, observando-se alarga-
produz uma depressão condroesternal 3,6,7,8. Essa anormali- mento latero-lateral (LL) e achatamento dorso-ventral
dade anatômica é adquirida na vida intrauterina e pode ser (DV) do tórax. Também há acometimento ventral com
resultado de expressões genômicas hereditárias, encurta- achatamento esternal, relacionado ao PE.
mento do tendão central do diafragma, anormalidades na Para o tratamento devemos diminuir a base de susten-
pressão intrauterina e deficiência congênita da musculatura tação, realizando um tipo de bandagem nos membros afe-
cranial do diafragma. Os sinais clínicos são: alteração no tados para modificar a abdução (Figura 1). Devemos ter
sistema respiratório, fraqueza, adinamia, taquipneia, rinor- cuidado para que esta bandagem não dure mais de 48 horas.
reia esbranquiçada, com acentuada depressão do esterno e Devemos removê-la, deixando os membros livres algumas
do arco costal. horas, para colocá-la novamente se necessário, e durante
O diagnóstico é confirmado por palpação, radiografia este tempo se pode aplicar mobilizações passivas nas arti-
de tórax ou por necropsia. culações para evitar contraturas.
O tratamento fisiátrico consiste em: reduzir o tamanho
e a estabilidade da base de sustentação dos membros ante-
riores e / ou posteriores, dependendo da localização. Rea-
lização de técnicas de massagem e exercícios sincrônicos
com a respiração e se indica um colete para o tamanho do
neonato. Recomendamos máxima precaução. O colete deve
ser renovado a cada 48 horas, no máximo, considerando o
crescimento diário do neonato.

Palpação lateral e medial dos quatro membros


Devemos realizar a flexo-extensão de todas as articula-
ções podendo encontrar incongruências, subluxações, lu-
xações, alterações na direção dos eixos dos membros e
desvios. Em alguns casos, pode ocorrer agenesia articular.
A síndrome do cão nadador é um distúrbio do desenvol-
vimento (Vídeo 1). Sua etiologia está relacionada com um
atraso na mielinização dos motoneurônios periféricos, de-
ficiências nutricionais pelo leite materno em: metionina,
vitaminas E e B, selênio, taurina, zinco, magnésio, fósforo.
Podendo também estar relacionado com a presença de mi-
cotoxinas, restrições calóricas e pisos escorregadios. Os Figura 1 – Bandagem dos membros com cintas para evitar
sinais clínicos são equivalentes a paresia anterior, posterior a abdução

Em caso de achatamento esternal, recomenda-se o uso de


um colete de suporte para não piorar o achatamento quando
o animal caminha (Figura 2).
A luxação patelar (LP) lateral e medial é outra doença
do desenvolvimento de grande importância em cães. A LP
consiste em uma má formação do joelho onde a patela se
desloca gradualmente do sulco troclear e é quase impossí-
vel mantê-la em seu lugar original. O contato da patela com
o fêmur é o canal do sulco patelar, localizado distal e cra-
nial ao fêmur. Como consequência da luxação patelar me-
dial se observa: rotação medial do terço distal do fêmur,
Vídeo 1 – À esquerda, paciente felino de 3 semanas com
rotação medial da tíbia, medialização da crista tibial (que
síndrome do cão nadador. Observar o achatamento do
tórax e a abdução dos 4 membros. À direita, o paciente du- pode levar a deslocamento), tróclea femoral pouco pro-
rante sessão de fisiatria, mostrando o animal com o colete funda, coxa vara - Genu varum, deslocamento medial dos
e realizando exercício de caminhada em superfície áspera músculos quadríceps femoral e instabilidade rotacional da
para melhor aderência. Ao final, o paciente já reabilitado - articulação do joelho. Na idade adulta pode apresentar
https://youtu.be/86oVAIMm8c0 doença articular degenerativa. A classificação da luxação

464 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 47 – Manejo fisiátrico do paciente neonatal

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patelar pode ser de grau I ao IV. O tratamento no neonato 6-MOLINA-DÍAZ, V. M. ; AGUIRRE, J. C. Pectus excavatum in an
se baseia na correção precoce, por meio da bandagem em English Bulldog male: a case report. CES Medicina Veterinaria
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Intermédica, 2004. p. 20-29. ISBN: 978-9505552733.
8-SÁNCHEZ, A. ; MARTÍNEZ, M. ; OVIEDO, T. ; PASTRANA, N.
Palpação caudal Pectus excavatum asociado a ectopia cordis en un neonato bovino.
Esta palpação inclui períneo, ânus, vulva, testículos e Revista MVZ Córdoba, v. 10, n. 2, p. 684-688, 2005.
vértebras coccígeas.
O neonato pode apresentar atresia anal ou ânus não per- COMO CITAR ESSE CAPÍTULO
furado, que é a anormalidade reto anal mais comum em fi-
STERIN, G. M. Manejo fisiátrico do paciente neonatal. In:
lhotes caninos, e pode estar associada a outras malformações,
LOPES, R. S. ; DINIZ, R. Fisiatria em pequenos
principalmente no trato urogenital, como a fístula reto-va-
animais. 1. ed. São Paulo : Editora Inteligente, 2018.
ginal 4. O tratamento médico e cirúrgico deve ser realizado.
p. 463-465. ISBN: 978-85-85315-00-9.
Nas deformações de vértebras coccígeas podemos pal-
par deformações angulares nos espaços intervertebrais. A
confirmação ocorre por meio de radiografia do lugar sus-
peito. O tratamento será por meio de acomodação, alonga-
mento, massagens e suportes externos com bandagens que
não devem ser mantidas por mais de 48 horas, devendo ser
retiradas e deixar as vértebras coccígeas livres por 12 horas
e fazer nova bandagem. Este procedimento é repetido 3
vezes. Devemos avaliar o recém-nascido a cada 48 horas.

Conclusão
É importante que o neonato canino ou felino seja ava-
liado pelo seu veterinário dentro de 24 horas após o parto,
para a detecção e diagnóstico precoce de possíveis doenças
congênitas que possam ser apresentadas. O diagnóstico pre-
coce e o manejo preventivo devem ser incorporados ao
controle médico veterinário como uma rotina terapêutica.
A fisiatria realizada por médicos veterinários acompa-
nha o desenvolvimento do neonato que apresenta patolo-
gias congênitas de origem neuromusculoesquelética para
evitar futuras alterações biomecânicas em seu desenvolvi-
mento.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 465


48
Reabilitação física em animais silvestres e exóticos

Marcella Sanches
André Grespan

O
número de animais não convencionais (domésti- 2. Hipertermoterapia
cos, silvestres e exóticos) criados como pets no O uso do calor como agente terapêutico é também um
Brasil é cada vez maior. Por possuírem manejo, recurso bastante aplicado quando a lesão ou a dor é crônica.
dieta e cuidados diferenciados, que nem sempre são segui- Sua forma de utilização é por meio de bolsas ou banhos de
dos pelos tutores, houve também um aumento na ocorrên- água quente e lâmpadas infravermelhas 15. Os seus efeitos
cia de casos clínicos devido a lesões traumáticas, ortopédicas terapêuticos são a vasodilatação, o alívio da dor, o aumento
e/ou neurológicas nestes animais. Há também um grande da extensibilidade de tecidos moles e o relaxamento de es-
número deles em criadores, parques e zoológicos, e assim, pasmos musculares. Além disso, o aumento do metabo-
por atingirem uma longevidade muito maior em cativeiro, lismo tecidual também ocorre graças ao aumento da
ocorrem doenças degenerativas devido à senilidade. oxigenação advinda do maior fluxo sanguíneo no local da
A fisiatria de animais não convencionais ainda é uma aplicação 15.
área pouco estudada na medicina veterinária, entretanto, de A hipertermoterapia não pode ser aplicada em pacientes
extrema relevância para manutenção da qualidade de vida que apresentem febre, inflamação aguda ou que tenham di-
e reabilitação física desses pacientes, fazendo com que re- ficuldade de termorregulação. É desaconselhado também
tornem à movimentação da área afetada e promovendo bem- o uso desse recurso quando a pele do paciente é muito de-
estar. Similar à fisiatria de pequenos animais, sua aplicação licada e pode provocar queimaduras.
em animais não convencionais é muito interessante por lan- As bolsas de água quente devem estar sempre cobertas
çar mão de técnicas não invasivas, tais como o uso de alon- por um tecido que proteja com o contato da pele do animal
gamentos, massagens, mobilizações articulares, exercícios e a lâmpada de infravermelho deve estar afastada cerca de
físicos, aplicações de calor e frio, estímulos elétricos, ultras- 30-40 cm da área a ser tratada, sendo que o veterinário deve
som terapêutico, fotobiomodulação e campo magnético 17. se certificar em relação ao conforto da temperatura colo-
Todos esses recursos são sempre aplicados de acordo com cando constantemente a mão onde está o paciente 4. Da
a espécie em questão, considerando o estresse causado e res- mesma forma que a crioterapia, deve-se aplicar a hiperter-
peitando suas características e comportamento. moterapia por cerca de 15 minutos, quantas vezes for ne-
cessário.
1. Crioterapia
A crioterapia é a aplicação terapêutica do frio, com o
objetivo de reduzir dor e inflamação na fase aguda da
lesão 6,27. Existem várias formas de utilização dessa mo-
dalidade terapêutica, como bolsas ou massagem com gelo,
banhos de água fria, entre outros (Figura 1). Algumas mu-
danças fisiológicas ocorrem com o uso da crioterapia,
dentre elas, a analgesia, causada pela diminuição da con-
dução nervosa dos nociceptores da área afetada, diminui-
ção de edema e da inflamação pela redução do fluxo
sanguíneo e um retardo na taxa metabólica, inibindo as
reações enzimáticas inflamatórias e liberando menos his-
tamina. Todas essas alterações colaboram para limitar o
dano tecidual 6,15,17,27.
Pequenos mamíferos, como coelhos e ferrets, podem se
beneficiar do uso da crioterapia em pós-operatórios. Reco-
menda-se a aplicação no local da incisão cirúrgica por 10
a 15 minutos, 3 a 4 vezes ao dia, enquanto estiverem
presentes os sinais da inflamação 27. Como esses animais
podem estar hipotérmicos em períodos pós-cirúrgicos, é de
extrema importância a monitoração da temperatura e que a
crioterapia seja aplicada apenas no local da lesão.
A crioterapia não deve ser utilizada em répteis, anfíbios
e peixes, já que essas espécies são ectotérmicas e o uso do
resfriamento do tecido poderia reduzir sua função imune, Figura 1 – Crioterapia em galo indiano com avulsão de
o que é essencial para a regeneração de lesões 27. dígito, para controle de dor e edema

466 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 48 – Reabilitação física em animais silvestres e exóticos

de dor aguda e crônica e a modulação do processo infla-


matório 9,18. Além disso, inúmeras condições neurológicas
e cuidados no pós-operatório são tratados com a FBM com
excelentes resultados 18 É importante ressaltar que a laser-
terapia é contraindicada em aplicações sobre neoplasias e
sobre as linhas de crescimento de animais jovens 2
Animais silvestres com hiperparatireoidismo secundário
à deficiência nutricional podem apresentar uma densidade
óssea reduzida e possíveis fraturas, tais como saguis e pe-
quenos primatas. A laserterapia é indicada para o trata-
mento dessas alterações, tanto para consolidação das
fraturas, como melhorar a densidade óssea desses animais.
A cicatrização de feridas é uma das principais indica-
ções, visto que há relatos de seu potencial na produção de
colágeno e estímulo de fibroblastos, culminando na epite-
lização da área afetada (Figura 3) 2. As pododermatites em
roedores e pássaros (bumblefoot) podem ser tratadas com
o uso da FBM, sem contar outras lesões por traumas e aci-
dentes (Figuras 4 e 5).
A FBM pode ser utilizada com segurança em inúmeras
Figura 2 – Hipertermoterapia em réptil
espécies, porém não se sabe ainda sobre sua penetração e
eficácia em répteis e peixes, devido à epiderme ser espessa
Banhos de imersão com água morna em grandes vasi- nessas espécies 27. Em relação à dosagem, deve-se avaliar
lhas são utilizados em serpentes para estimular o animal a
(nadar) serpentear, com o intuito de auxiliar na motilidade
intestinal do animal, sendo parte importante no tratamento
de fecalomas (Figura 2).
Outra forma que a hipertermoterapia pode ser utilizada
é por meio de banhos de água morna em todos os répteis,
para estimular a imunidade e o metabolismo, melhorar a
hidratação e a motilidade intestinal. Alguns répteis conse-
guem absorver a água através da cloaca, elaborando um re-
troperistaltismo que a leva até o intestino grosso, onde pode
ser absorvida 4.

3. Laserterapia ou fotobiomodulação
A laserterapia, mais designada atualmente como foto-
biomodulação (FBM), pode ser definida como uma radia-
ção eletromagnética não-ionizante com efeitos fotofísicos
e fotoquímicos 5. Sabe-se que a partir do momento em que
a energia proveniente da FBM incide nos tecidos, essa é
absorvida por estruturas localizadas nas mitocôndrias (cro-
móforos), que respondem a uma faixa de luz específica.
Após a absorção, ocorre um aumento do potencial da mem- Figura 3 – Laserterapia em arara com ferida
brana mitocondrial, o que leva consequen-
temente a um aumento na síntese de ATP
e mudanças nas concentrações de espécies
reativas de oxigênio (ROS), cálcio e NO.
Essas alterações desencadeiam reações
que estimulam a síntese de RNA, proteí-
nas e enzimas importantes para o processo
de reparação tecidual 7,10,11,26.
Os efeitos terapêuticos da FBM são re-
sultados dessas alterações celulares, que
clinicamente são: a cicatrização de feri-
das, a regeneração muscular, o controle Figura 4 – Laserterapia em tatu-galinha com feridas pós-trauma

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 467


Capítulo 48 – Reabilitação física em animais silvestres e exóticos

vertebral, melhorar a propriocepção e o equilíbrio 21.


A amplitude de movimento passiva (AMP) é o movi-
mento de uma articulação que é realizada sem contração
muscular, permitido pelo paciente, usando a força externa
do fisiatra para movê-la. Esse tipo de manobra deve ser
feita com extrema cautela, visto que os pacientes podem
ser frágeis e estarem passíveis de lesões por manipula-
ções 22. Esse exercício é considerado importantíssimo em
aves com lesões em asas após estabilização cirúrgica 27.
Em lesões ortopédicas e neurológicas que afetem a sus-
tentação do próprio corpo, devem ser iniciadas posições
sustentadas assistidas pelo veterinário fisiatra, sendo pri-
meiro o decúbito esternal e depois em estação, auxiliando
a sustentação do peso do corpo do paciente (Figura 6).
Figura 5 – Laserterapia em coelho com paralisia de nervo Assumir essas posturas, já faz com que o paciente realize
facial após lesão por mordedura de cão força muscular e equilíbrio, permitindo que resulte em
uma maior independência e a capacidade de comer e beber
sozinho 21,27. Essa reeducação postural deve ser feita dia-
a espécie e definir a quantidade de joules baseada no tama- riamente, respeitando a resistência de cada um. Ao passo
nho do animal e também se a lesão é aguda ou crônica. Em que o animal já atinge uma maior sustentação corporal,
lesões agudas, são aplicados menos joules do que em lesões exercícios para retomarem o movimento afetado pela lesão
crônicas, sendo que pode variar numa faixa de 1-6 J/cm2 podem começar a ser feitos. Nesses exercícios, força e
em média. Ainda não há uma dosagem pré-estabelecida coordenação são alcançadas conforme aumentam as difi-
para cada lesão, por isso a avaliação de cada caso é muito culdades dos exercícios. Os tipos de exercícios vão ser es-
relevante. pecíficos para cada espécie, utilizando brinquedos e
enriquecimento ambiental nos viveiros. As pistas de obs-
4. Massagem táculos com incentivo de alimento podem ser realizadas
A massagem é a técnica de manipulação de tecidos por coelhos e ferrets, por exemplo. Puleiros com diferentes
moles do corpo do animal, com objetivo de aliviar a dor, superfícies trabalham a propriocepção de pássaro. Pranchas
gerar relaxamento muscular e aumentar o contato animal- de equilíbrio e transferência de peso podem ser feitas por
tutor. Promove drenagem de edema pelos vasos linfáticos coelhos visando ganho de massa muscular e melhora de
e aumenta o limiar da dor por meio de endorfinas e pela claudicação em casos ortopédicos e neurológicos.
teoria do portão de controle da dor 19,27.
Sendo aplicada em animais silvestres e exóticos, a mas-
sagem pode ser benéfica em casos de coelhos, chinchilas
e cobaias com uma pressão moderada na musculatura
abdominal para a estimulação de fibras aferentes vagais nas
vísceras, regulando a motilidade gástrica 27. A liberação
miofascial nessas mesmas espécies também é obtida pelo
efeito mecânico da massagem nos tecidos moles, que ali-
viam a tensão muscular, diminuem a dor e resultam numa
maior mobilidade, melhorando a circulação e o fluxo lin-
fático 20.

5. Exercícios terapêuticos
Os exercícios terapêuticos variam sempre de acordo com
a espécie a ser tratada (baseados em sua fisiologia e biome-
cânica), com a evolução que o paciente apresenta após a
lesão em questão ou no seu pós-operatório e também, com
a finalidade da atividade. Os exercícios, em hipótese al-
guma, podem causar dor no animal ou gerar alguma lesão.
Ademais, devem ser os mais naturais e agradáveis possíveis,
fazendo com que os pacientes os realizem por estímulo po-
sitivo, e não serem forçados ao movimento. Os objetivos
dos exercícios são fortalecer a musculatura, manter ou me- Figura 6 – Exercício em bola em um saruê para incentivar
lhorar a amplitude de movimento das articulações e coluna o apoio do membro lesionado

468 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 48 – Reabilitação física em animais silvestres e exóticos

dos tecidos, como músculos, tendões e cápsulas articulares,


e os efeitos biológicos são benéficos para cicatrização de
tecidos, controle de dor e consolidação de fratura 3,23.
Sua utilização em animais silvestres e exóticos pode ser
limitada, graças à necessidade da tricotomia para sua apli-
cação. Em aves, pode ser utilizado para tratar contraturas
musculares após imobilização de asas que sofreram fratu-
ras 3.

8. Ozonioterapia
A utilização de ozônio medicinal é um tratamento com
propriedades analgésicas e anti-inflamatórias, com raros
efeitos colaterais, atuando diretamente na causa do pro-
blema e ainda com baixo custo 16.
Figura 7 – Ferret caminhando em esteira aquática no seu A ozonioterapia, que tem sido utilizada com ótimos re-
tratamento pós-cirúrgico de ruptura de ligamentos cruza- sultados para o tratamento de síndromes de imunodefi-
dos cranial e caudal ciência, doenças cardiovasculares e neoplasias, também
apresenta resultados promissores no tratamento da dor e con-
6. Eletroterapia trole de doenças osteoarticulares em coelhos de maneira mi-
A eletroterapia é utilizada na reabilitação física veteri- nimamente invasiva, através de aplicações percutâneas 5,8.
nária com os seguintes objetivos: aumento da força e ree-
ducação muscular, aumento da amplitude de movimento 9. Casos ortopédicos
articular, analgesia, cicatrização de feridas e redução de O primeiro foco em um tratamento de fisiatria, indepen-
edema 23. Existe uma imensa variedade de tipos de corren- dente da espécie e do tipo de lesão ortopédica, é a dor. Um
tes terapêuticas, entretanto as mais utilizadas na fisiatria paciente com dor não pode realizar exercícios físicos ati-
veterinária são TENS (Estimulação Elétrica Transcutânea) vos 27, o que poderia causar mais dor e também mudanças
e IFC (Corrente Interferencial), sendo ambas indicadas para na biomecânica do animal. Deve-se considerar o uso de
redução de dor, e FES (Estimulação Elétrica Funcional) que medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios sistêmicos
é utilizada para evitar a atrofia e reeducar o músculo. quando necessários, além dos agentes terapêuticos aborda-
Estudos feitos em cães demonstram a eficácia analgé- dos anteriormente que promovam analgesia.
sica do TENS em espondiloses e osteoartrites 13,14. Porém, As fraturas são a principal ocorrência de lesão em ani-
a sua aplicação em animais silvestres e exóticos torna-se mais silvestres e exóticos, acometendo principalmente pás-
criteriosa, visto que deve ser analisada a espécie em ques- saros e pequenos mamíferos. De acordo com o tipo de
tão. Os eletrodos podem não ter o tamanho adequado nos fratura, podem ser feitas fixações internas, fixações externas
casos de animais muito pequenos, ou até mesmo não con- ou coaptações externas 28. Tanto no período pós operatório,
seguir uma fixação correta para sua utilização. Já seu uso bem como em casos conservativos, as modalidades do pro-
em coelhos e pequenos mamíferos pode ser feito desde que tocolo inicial devem incluir crioterapia logo após a lesão ou
o animal sinta-se confortável com o estímulo elétrico. após a cirurgia; após as 24h iniciais, o uso da laserterapia e
Do mesmo modo, a utilização do FES para o fortaleci- da AMP, sendo a FBM com objetivo de auxiliar na conso-
mento muscular também depende da aceitação do paciente. lidação da fratura e reduzir o edema local e a AMP para pre-
Em cães seu uso é muito difundido em casos ortopédicos servar a movimentação articular (com muita cautela em
que culminam em atrofias musculares 24, mas sua aplicação animais muito pequenos, a fim de preservar a estabilização
em animais silvestres e exóticos é extremamente difícil. da fratura); iniciar a sustentação do corpo do animal após
Em casos neurológicos, quando ocorre diminuição da sen- esse período, mesmo que a descarga de peso no membro
sibilidade, é mais provável a adaptação do animal. Se for afetado seja mínima 27. Uma forma de estimular essa “inde-
um animal pequeno, a colocação dos eletrodos deve ser pendência” do paciente em se sustentar é com estímulo ali-
feita nos pontos motores dos músculos. Já em casos de ani- mentar, colocando-o na posição de sustentação e fornecendo
mais maiores, pode-se utilizar a colocação na origem e in- neste momento sua própria dieta ou algo muito palatável.
serção do músculo. À medida que se nota a evolução no quadro do paciente,
pode-se iniciar uma série de exercícios terapêuticos com
7. Ultrassom terapêutico ênfase em descarga de peso e trabalho de amplitude de mo-
O ultrassom terapêutico baseia-se na aplicação de ondas vimento ativa. Alguns exemplos são as pistas de obstácu-
sonoras longitudinais no corpo do animal com efeitos te- los, onde o animal necessita flexionar e estender suas
rapêuticos 1,3. Esse agente é comumente usado na reabilita- articulações para avançar, e também, consequentemente,
ção veterinária por seus efeitos térmicos e biológicos. Os há um estímulo da propriocepção, equilíbrio e fortaleci-
efeitos térmicos são capazes de aumentar a extensibilidade mento muscular. Pranchas de equilíbrio e exercícios em

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 469


Capítulo 48 – Reabilitação física em animais silvestres e exóticos

esteira, quando adaptados para a espécie em questão, podem Em lesões espinhais, normalmente decorrentes de
ser modalidades para estimular a transferência de peso entre trauma, o uso de laserterapia na região da lesão é indicada
os membros e o fortalecimento muscular. Em casos de aves, a fim de diminuir a inflamação e a dor. Caso exista com-
o enriquecimento ambiental com brinquedos que estimulem prometimento medular que acarrete em paresias e parali-
sua movimentação e também poleiros com alturas, diâme- sias, fortalecimento e reeducação muscular associando FES
tros e texturas diferentes (áspera, lisa, com elevações) ser- aos exercícios terapêuticos são essenciais. Na fase inicial
vem de estímulo para a descarga de peso e propriocepção. após a lesão, a transferência de peso com exercícios assis-
Para o tratamento da fratura em si, com o objetivo de tidos para os membros afetados já inicia um estímulo para
consolidação óssea, agentes terapêuticos como a FBM, ul- limitar a atrofia muscular de origem neurogênica e “treina”
trassom e magnetoterapia demonstram eficácia 25,29,30. To- o sistema nervoso para sustentar o corpo em estação 27.
davia, os parâmetros desses recursos ainda não foram Com a progressão do quadro, além da sustentação em es-
totalmente elucidados, apresentando ainda diferentes pro- tação, iniciam-se exercícios de caminha assistida, com au-
tocolos em literatura. O uso de campos magnéticos pulsá- xílio manual, de cintas ou faixas.
teis ainda apresenta indicações para seu uso em casos de
não união óssea, mas ainda não há relatos em animais sil- Conclusão
vestres e exóticos 25. A fisiatria em animais silvestres e exóticos é essencial
à reabilitação desses pacientes que sofreram lesões ortopé-
10. Casos neurológicos dicas e neurológicas, sendo cirúrgicas ou conservativas. In-
A abordagem dos casos neurológicos em animais silves- felizmente a literatura científica sobre esse assunto ainda é
tres e exóticos é totalmente dependente do diagnóstico pre- extremamente escassa. Por esse motivo, é de extrema im-
ciso, sendo necessário chegar à causa da doença para que portância que casos de reabilitação física de animais sil-
se defina o protocolo de tratamento. Doenças infecciosas, vestres e exóticos sejam publicados com a intenção de de
traumas espinhais, lesões de nervos periféricos e neoplasias formar uma base de dados para futuros estudos e serem uti-
são as mais frequentes nesses animais 27. É importante lem- lizados por médicos veterinários da área. Ainda há neces-
brar que nos casos degenerativos e em neoplasias, a reabi- sidade que o veterinário adapte a reabilitação física de
litação física é realizada com o intuito de adiar o avanço da pequenos animais e a humana, respeitando anatomia, fisio-
doença e promover qualidade de vida ao paciente. logia e hábitos de diferentes espécies para o crescimento
Tal como abordado nos casos ortopédicos, o controle de
da fisiatria nesses animais.
dor é fundamental em lesões neurológicas, podendo ser uti-
A reabilitação física pode beneficiar animais silvestres e
lizados diferentes recursos como a eletroterapia, a FBM, o
exóticos, mesmo que ainda não tão conhecida no meio, mas
ultrassom terapêutico e a magnetoterapia. Faz-se necessário
ainda sim, aumentando cada vez mais as opções de trata-
frisar que a acupuntura, apesar de não ser abordada nesse
mento e proporcionar a qualidade de vida desses pacientes.
capítulo, apresenta excelentes resultados para analgesia e
em casos neurológicos (Figura 8). Da mesma forma que a
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470 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 48 – Reabilitação física em animais silvestres e exóticos

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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 471


49
Patologias mais frequentes no cão atleta

Jorge Luque Garrido

O
aumento de diferentes atividades esportivas do Lesões esportivas
cão atleta destaca cada vez mais a importância da As patologias mais comuns que aparecem em cães atle-
medicina veterinária esportiva. Infelizmente, a tas são, em uma porcentagem muito elevada, o resultado
abordagem atual de suas patologias está sendo tratada de recidivas da mesma lesão deficientemente tratada, e que
como se fosse a de um animal de estimação com atividade finalmente se converte em uma patologia associada ao cão
sedentária, com ausência de uma abordagem especializada. atleta (Figura 5).
As informações deste capítulo baseiam-se principalmente As lesões, dependendo do plano anatômico que afetam,
na experiência do autor como veterinário reabilitador de podem ser diferenciadas em lesões que afetam o músculo
cães esportistas durante quase 10 anos. e fáscias, tendões e ligamentos, tecidos moles periarticula-
A maioria dos cães que realizam atividades esportivas res, lesões intra-articulares, lesões neurológicas e vascula-
costumam realizá-las aos finais de semana, quando ocor- res. O que nos fará agrupá-las em patologias miofasciais,
rem as competições e viagens ao campo ou quando há osteoarticulares, neurológicas e vasculares, deixando uma
tempo livre por parte dos proprietários para poder desen- seção correspondente às lesões de tecidos anexos, corres-
volver essas atividades esportivas. pondentes a coxins, espaços interdigitais e unhas.
Uma alta porcentagem de cães esportivos forma essa
população com características genéticas e fisiológicas
enquadradas no que podemos chamar de cães de Sprint
(Figura 1 e 2). São cães que praticam esportes muito ex-
plosivos, de curta duração e que desenvolverão uma série
de patologias muito específicas determinadas pela falta de
treinamento adequado ou pela fadiga presente quando ul-
trapassam seus limites.
O restante da população de cães atletas são de "resis-
tência" (Figura 3 e 4), sendo propensa a outros tipos de le-
sões que tendem a ser menos graves, mas podem influenciar
negativamente a vida esportiva do cão.
Podemos facilmente responder à questão: “Será que a
velocidade é o fator determinante da gravidade das le-
sões?”. Pela lógica podemos pensar que sim, mas veremos Figura 2 – Canicross, campeonato de sprint, em Andalu-
quais são as patologias locomotoras que o cão pode desen- zia, Espanha
volver dependendo da atividade esportiva que realiza.

Figura 3 – Femundlopet, corrida de longa distância


Figura 1 – Campeonato na Itália de Scooter
(mushing) na Noruega – http://femundlopet.no

472 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 49 – Patologias mais frequentes no cão atleta

Lesões miofasciais anatômicas adjacentes. O exemplo mais claro que temos é


As fáscias são as primeiras estruturas de tecido conjun- na ação que causa um arnês, esportivo ou não, em esportes
tivo diferenciadas em camadas que interligam diferentes de tração (mushing), quando não é devidamente ajustado
elementos anatômicos, musculares, vasculares, neuronais, ou que, pela ação da tração, está deformado. As linhas de
linfáticos e articulares, são os primeiros a sofrer os efeitos forças que atuam diretamente sobre a pele e as fáscias de-
dos traumatismos ou mecanismo de forças que atuam no sestruturam toda a arquitetura da área e provocam reações
organismo durante a execução dos diferentes movimentos a nível mais profundo. Reações como as próprias contra-
no exercício. É por ele que a má execução desses exercí- ções musculares de um grupo muscular inteiro (Latissimus
cios, simplesmente por um mau apoio (por exemplo), de- Dorsi, Pectoralis etc.) ou contrações focalizadas em certos
termina mudanças estruturais nesses tecidos e irá grupos musculares, dando origem aos chamados pontos-
configurar o aumento de zonas de tensão que resultam em gatilho ou trigger points. Esta ação por fim faz com que a
processos mórbidos que afetarão o restante das estruturas execução dos movimentos deforme toda a biomecânica do
movimento de tração e termine por provocar um efeito re-
ferido à nível de zonas articulares na coluna vertebral ou
mesmo na fase de apoio em alguma das extremidades pos-
teriores. A simples ação de corrigir o tamanho ou ajustar o
peitoral modificará estes processos que obviamente melho-
rarão o desempenho esportivo e o conforto na execução dos
exercícios.
As fáscias são estruturas que podem ser localizadas no
subcutâneo do cão e são facilmente manipuladas para que,
as massagens terapêuticas, calor/frio e alongamento, sejam
as ações, que adequadamente aplicadas, possam resolver
uma infinidade de situações de dor e parcial incapacidade
funcional do cão atleta.
Seguindo a ordem de aparecimento de lesões que
podem se desenvolver em cães atletas e que podem resultar
em patologias crônicas, o tecido muscular é o próximo ele-
mento que pode levar a sérios problemas em um cão atleta.
Dado o elevado número de grupos musculares agrupados
anatomicamente e de acordo com sua funcionalidade e ca-
racterísticas fisiológicas, biodinâmicas e metabólicas, as
Figura 4 – Check point em uma corrida de longa distân-
lesões e patologias musculares poderiam ser agrupadas de
cia de 600 km (Femundlopet), na Noruega
muitas formas diferentes, o que, de maneira didática, ocu-
paria grande parte deste capítulo. É por isso que, dado o
objetivo deste capítulo e já que em outras seções podemos
ter mais informações sobre o músculo, sua fisiologia e sua
biomecânica, faremos um breve resumo das lesões mais
frequentes que aparecem no cão atleta e seu manejo.

Fadiga muscular
Considerando a gravidade da lesão e de acordo com os
danos estruturais que aparecem no músculo de qualquer
tipo, de acordo com sua função, sua forma e sua ação, a
primeira lesão que aparece em um músculo muito castigado
por uma força que o ative, é fadiga muscular. Dado que a
atividade do músculo tem uma via metabólica para percor-
rer, em termos dos recursos energéticos que utiliza, chegado
o momento em que os recursos são escassos ou deficientes,
a hidratação também é, o oxigênio chega em proporção
inadequada e há excesso dos metabólitos produzidos, o
músculo entra em uma fase de alteração da função contrátil
das fibras e começa a desenvolver uma diminuição no re-
crutamento de miofibrilas que provocam uma deficiente
Figura 5 – Avaliação do carpo antes da competição função geral, que é o que chamamos de fadiga muscular.
Mushing Sprint Às vezes o fornecimento de energia é adequado, mas o

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 473


Capítulo 49 – Patologias mais frequentes no cão atleta

excesso de metabólitos condiciona essa desproporção e os grandes inimigos do músculo fadigado, e aqui o mercado
uniformidade das fibras em ação que as fazem perder força oferece uma ampla gama de fórmulas que de uma forma
no trabalho. ou de outra são baseadas no aporte de glicosídeos de rápida
Nesses casos, o repouso (Figura 6) é a principal ferra- e lenta assimilação e baixo índice glicêmico. Nas massa-
menta de recuperação que existe para que se regule a ho- gens, o uso de óleos essenciais é uma prática amplamente
meostase da fibra muscular, contudo também existem utilizada devido aos benefícios proporcionados tanto pelas
algumas técnicas que ajudam a acelerar essa recuperação. bases oleosas como pelas essências a nível de efeito mus-
Nesse sentido, o alongamento após a atividade física induz cular e aromaterapia.
a uma recuperação mais rápida, juntamente com massagens
de drenagem linfática que irão ajudar de forma eficiente e
Contraturas musculares
rápida a otimizar o tempo de recuperação do músculo, fa- As contraturas musculares são as alterações musculares
vorecendo os processos e modificações adaptativas que o mais comuns que aparecem no cão atleta e, de maneira
músculo irá desenvolver para enfrentar uma nova atividade.
geral, sua presença é desconsiderada devido à dificuldade
Daí a importância de saber como um músculo se recupera, que, em muitos casos, supõe detectar um músculo contra-
quanto tempo é necessário e de que maneira podemos ace- turado. "Palpar, palpar e palpar" é a única maneira de de-
lerar esse processo, já que pode nos ajudar a modificar a
senvolver essa sensibilidade especial que devemos ter
silhueta das curvas de compensação às quais o músculo como fisiatras, para que a palpação dos músculos saudáveis
está submetido. possa servir de modelo para detectar aqueles que estão con-
O sinal mais patognomônico de um músculo fadigado traturados e, em caso de dúvida, sempre teremos esse grupo
é a tetania espástica dos grupos musculares afetados, o au-
muscular do lado contralateral para comparação.
mento da temperatura, que pode ser detectado mediante câ- Algumas contrações musculares são contrações invo-
meras termográficas ou simplesmente pela palpação e, em luntárias e permanentes de um grupo de fibras musculares
alguns casos, o aumento no tamanho e a sensação dolorosa(trigger points), um músculo ou grupo muscular que quase
podem estar presentes em um grau extremo. sempre vêm acompanhados por sinais de inflamação, pois
Submeter estes músculos a um resfriamento adequado se trata de um processo inflamatório localizado. A origem
com elementos externos de resfriamento seguidos de calorisquêmica, devido a trauma, desequilíbrio hidroeletrolítico
(terapia de calor / frio) e realizar alongamentos acompa-
(cãibras), sobrecarga muscular, disfunção que altera a bio-
nhados de massagens de drenagem linfática ajudarão em mecânica de sua função, lesões próximas ou lesões neuro-
uma recuperação muito rápida desta situação de excesso de
lógicas são as principais causas de contração muscular
esforço. involuntária.
Resumindo: descanso, frio / calor, alongamento e mas- As manifestações clínicas mais relevantes são a dor e
sagens são as chaves para a recuperação do músculo fadi-mudança no tamanho, mas acima de tudo a alteração na
gado. Paralelamente, essas terapias podem ser textura e consistência à palpação na exploração como sinais
acompanhadas de alguns recuperadores energéticos de açãomais evidentes.
rápida para reduzir a formação de radicais livres que serão Essas contraturas não são necessariamente acompanha-
das de claudicação como principal manifestação
clínica, mas sim de evidentes mudanças biome-
cânicas e, sobretudo, da diminuição do desem-
penho. Um exemplo disso temos a contratura da
musculatura paravertebral lombar, que quando
ocorre a contratura é facilmente detectada à pal-
pação e produz uma diminuição no desempenho
do cão atleta.
A exploração dos grupos musculares deve
ser realizada em quente (depois do exercício) e
em frio (antes do exercício) quando o músculo
é mais sintomático.
Os grupos musculares mais afetados depen-
dem da atividade esportiva que o cão realiza,
mas em geral os músculos cervicais, umerais,
peitorais, lombares, glúteos, femorais e aduto-
res são os mais suscetíveis a sofrer do problema
relatado, mas o que realmente sofre, especial-
mente nos casos de atletas de tração, é o grupo
Figura 6 – Malamute do Alasca em repouso durante a competição muscular iliopsoas, que é facilmente palpável
de mushing de longa distância (600 km) na Noruega e, devido ao seu papel principal na flexão do

474 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 49 – Patologias mais frequentes no cão atleta

quadril, destaca-se a incidência desta alteração causando uma reparação tecidual, para o qual será necessário respei-
sérios distúrbios na biomecânica do cão de explosão. tar os tempos de recuperação biológica e levá-los em conta
O tratamento das contraturas musculares responde para que se produza uma resolução correta, com adequada
muito bem ao efeito da pressão sobre as origens e inserção regeneração tecidual que seja o mais funcional possível e
dos grupos musculares, estimulando assim o sistema ten- que evite recidivas a curto e a longo prazo, que podem dar
dinoso de Golgi, que de maneira reflexa produz um rela- origem a outros fenômenos de esclerose, fibrose e encur-
xamento das fibras musculares. Da mesma forma, a tamento muscular.
massagem centrípeta do ventre muscular produzirá o A manifestação clínica do estiramento muscular, se afe-
mesmo efeito relaxante. Não podemos esquecer que o calor tar apenas um grupo de fibras, é principalmente a dor loca-
e a massagem no sentido das fibras, pelo seu efeito vaso- lizada e o edema do músculo afetado, juntamente com a
dilatador, levam a uma diminuição na captação de fibras possível claudicação que pode aparecer quando afeta os
musculares que deixaram o músculo relaxado e em seu ta- músculos das extremidades. É mais evidente esta claudica-
manho. O tempo de recuperação é rápido dependendo da ção em frio após a realização de exercício e pode ser loca-
integridade das estruturas histológicas e desde que não haja lizada na exploração muscular que fazemos da extremidade.
outro tipo de lesão que a impeça. Contraturas recorrentes Não são lesões incapacitantes, mas são muito dolorosas,
ou não tratadas devidamente podem causar esclerose e fi- então o controle da dor e o relaxamento muscular serão as
brose do estroma muscular com a consequente perda de principais ações que tomaremos para resolver essa situação.
contratilidade, tamanho e comprimento muscular. Às vezes a gravidade do estiramento pode se estender a gru-
O uso farmacológico de relaxantes musculares ajuda na pos de grandes fibras musculares produzindo uma ruptura
resolução destes problemas quando queremos manter um muscular que se destaca especialmente pela sua aparição
efeito mais contínuo de relaxamento muscular por causas evidente e espontânea, muito dolorosa e tremendamente in-
que têm uma origem, que de maneira persistentemente, afe- capacitante para continuar a atividade esportiva, então é ne-
tam a contratilidade muscular, assim as benzodiazepinas cessário agir rapidamente no caso de sua ocorrência.
ou metocarbamol, são os mais comumente utilizados, Os principais músculos ou grupos musculares afetados
atuando através de receptores colinérgicos, adrenérgicos, costumam ser aqueles que realizam maior trabalho com
GABA ou liberadores de Ca. Existe um amplo repertório efeito de alavanca ou que têm função de sujeição de outras
de miorrelaxantes naturais, homeopáticos e homotoxicoló- estruturas, referimos neste último caso, aos músculos ex-
gicos que têm a vantagem de não produzir efeitos secun- trínsecos intrínsecos do membro torácico e músculos adu-
dários indesejados e, acima de tudo, não estão incluídos na tores dos membros posteriores. Os músculos isquiotibiais,
lista de produtos proibidos por comitês antidoping. femoral, bíceps e tríceps são aqueles em que podemos ob-
Geralmente este grupo de fármacos relaxantes muscu- servar esse tipo de lesão em maior ou menor grau depen-
lares são utilizados em combinação com anti-inflamatórios dendo da força exercida, mas esse mesmo estiramento ou
que potencializa seu efeito quando associados. rupturas podem ocorrer em músculos menores que também
Na prática clínica fisiátrica, as técnicas de calor (saunas, comprometem sua integridade e que dificilmente podemos
infravermelho), massagem e o uso de equipamentos de ele- diagnosticá-los.
troestimulação (TENS), infravermelho, ultrassom e laser Em qualquer um dos casos, os principais objetivos do
são as ferramentas que exercem o melhor e maior efeito re- manejo dos estiramentos, em maior ou menor grau, enca-
parador sobre o músculo contraturado 1,2. Em muitos dos minham para a redução da inflamação e da dor, induzir a
nossos casos, o tratamento da contratura muscular se com- formação de uma cicatriz funcional e a rápida e maior re-
pleta com a aplicação de acupuntura seca, que também tem cuperação do músculo afetado. Nos primeiros momentos
um duplo efeito relaxante e analgésico, produzindo uma re- da aparição é importante o manejo do músculo por meio
cuperação rápida e permanente. da imobilização e aplicação do frio para reduzir ao máximo
O manejo do músculo contraturado possui uma ampla li- os fenômenos inflamatórios. Naturalmente, a aplicação de
teratura que explica e desenvolve múltiplas técnicas que de- qualquer técnica de massagem é totalmente contraindicada
volvem a integridade funcional, mas basicamente o calor e a nos estágios iniciais da cicatrização, mas após o tempo de
massagem são as terapias mais acessíveis e econômicas que cicatrização será muito interessante, juntamente com mo-
podemos aplicar e que proporcionam melhores resultados. bilizações passivas para recuperar o comprimento e o ta-
manho original do músculo
Estiramento ou ruptura de fibras musculares
Subindo na escala de gravidade, referente às alterações Lesões em tendões e ligamentos
que o músculo pode sofrer, os estiramentos musculares são Depois dos músculos, as estruturas anatômicas que mais
o próximo passo, que logicamente pode ter diferentes graus sofrem lesões devido à natureza de suas estruturas e que a
de magnitude, dependendo da extensão da lesão que afeta maioria das recidivas tendem a ocorrer devido ao mau ma-
um maior ou menor número de fibras. É preciso entender nejo de sua recuperação. Um tendão ou um ligamento são
que este estiramento provocará uma solução de continui- estruturas cuja a característica principal é a elasticidade de-
dade da arquitetura muscular e seguirá todo o caminho de vido à arquitetura de sua conformação e que logicamente

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 475


Capítulo 49 – Patologias mais frequentes no cão atleta

possui limites funcionais que, se excedidos, levam a lesão. assim que nestes casos e antes da saída para continuar na
Na medicina esportiva é muito comum encontrar lesões de competição, se realizam massagens nas zonas do carpo e
ligamentos e tendões que sofrem um maior estresse depen- antebraço, além de passeios/caminhadas para aquecimento
dendo da atividade esportiva que realizam e, portanto, é e desaparecimento da claudicação. Tecnicamente, é uma
muito importante realizar uma exploração minuciosa para solução temporária, mas pode terminar com uma lesão
determinar exatamente qual estrutura tendínea ou ligamentar mais grave e incapacitante. Os principais problemas du-
é afetada, a fim de bloquear os movimentos que realizam rante a competição são o tempo contra qual os atletas com-
para otimizar a recuperação nas primeiras fases de reparação. petem e o uso de substâncias e fármacos que não são
Dependendo do tipo de força que excede a barreira elástica permitidos pelos regulamentos da competição e podem ser
do tendão, vamos diagnosticar, às vezes com dificuldade, a tão rigorosos que somente o uso do frio já é uma ação anti-
extensão da ruptura e, portanto, poderemos aplicar diferentes regulamentar.
técnicas instrumentais para uma rápida resolução. Considerar Massagem com cremes anti-inflamatórios e/ou óleos
que por mais que queiramos otimizar os tempos de resolução com essência de plantas, massagens na musculatura rela-
de lesões nesses tendões / ligamentos sempre temos que res- cionada aos ligamentos afetados, aplicação de calor e frio,
peitar alguns tempos biológicos, que entre animais pode ter o uso de ultrassom e laser são a solução mais apropriadas
pequenas variações. destes problemas inflamatórios fora da competição, mas a
As hiperextensões ou entorses ligamentares mais co- melhor terapia para problemas de tendões e ligamentos é o
muns na medicina esportiva afetam principalmente os li- repouso adequado com o tempo adequado e, acima de tudo,
gamentos do bíceps braquial e seus retináculos, flexores do iniciar um programa de reintrodução ao esporte onde a
carpo e colaterais do cotovelo e do carpo. No caso de cães chave para o sucesso consiste em aplicar cargas de trabalho
de esporte, como o agility, ocorre o uso contínuo e exces- de uma maneira progressiva no tempo.
sivo dos ligamentos, que ficam expostos a condições ex-
tremas de elasticidade. Isso provoca microrupturas internas Tecidos periarticulares
em suas fibras, que gradualmente cedem e causam uma Cápsulas articulares, bolsas sinoviais e os demais teci-
ruptura parcial ou total do ligamento e / ou inflamações su- dos moles ao redor da articulação são também os grandes
cessivas que afetam a funcionalidade e consequentemente esquecidos e erroneamente diagnosticados quando se trata
o desempenho. de lesões esportivas. São estruturas em que frequentemente
No caso dos cães de arrasto (mushing), os ligamentos ocorrem processos inflamatórios, tanto em esportes de im-
que têm maior taxa de sinistro são os ligamentos redondos pacto quanto em competições de resistência. O manejo ina-
do quadril e o ligamento cruzado caudal do joelho, mas na dequado dessas estruturas leva a processos de efusão
maioria dos casos, o tendão de Aquiles é a principal causa extra-articular e potencialmente intra-articular, dando ori-
de lesões graves por ruptura na inserção do tarso ou estira- gem a fenômenos de esclerose e endurecimento da articu-
mento/ruptura de alguns dos músculos que compõem esse lação, o que limita e geralmente diminui a extensão da
tendão. Em cães que desenvolvem atividades esportivas de mobilidade articular, especialmente na articulação do
resistência, como cães mushing de longa distância, os im- carpo. Tradicionalmente, tem sido visto e de boa maneira,
pactos e estresse mecânico são bastante atenuados pelo tipo como os cavalos usam protetores para evitar precisamente
de superfície em que correm, mas o trabalho contínuo de este tipo de lesões, mas o uso em cães não é de todo con-
longas viagens e por várias horas, causam um efeito infla- templado como uma técnica que evite problemas deste tipo.
matório nos tendões. Assim, tanto o tendão de Aquiles, É verdade que há certa dificuldade em prender um brace-
como os flexores digitais, são estruturas que mais devemos lete nessa área de tanto movimento, além de possuir uma
cuidar durante a competição para que não se lesionem pre- estrutura anatômica que dificulta sua aplicação, mas seu
cocemente. uso é muito justificado em casos de lesões prévias, evitando
A clínica das lesões tendino-ligamentares supõe, em recidivas que costumam ser bastante frequentes.
geral, que dependendo da gravidade da lesão haja uma di-
minuição do desempenho esportivo, que pode ser tempo- Lesões neurológicas
rariamente incapacitante para a prática do esporte durante As lesões e alterações neurológicas que os cães atletas
uma competição esportiva ou mesmo durante uma tempo- estão mais suscetíveis a padecer merecem ser consideradas
rada completa. É por isso que a resolução perfeita da lesão não apenas como parte de um capítulo, mas são patologias
em um cão atleta deve ser realizada respeitando os tempos tão importantes e frequentes que são dignas de um livro in-
de recuperação biológica, evitando recidivas. Durante as teiro.
competições esportivas de mushing, a tendência terapêutica A maioria delas origina-se de lesões que ocorrem na co-
é manter estruturas flexoras digitais do carpo aquecidas me- luna e, consequentemente, implica em uma afecção dos te-
diante a aplicação de cremes térmicos e protetores de neo- cidos neuronais periféricos procedentes das raízes dorsais
prene ou outro material que evitam a perda de calor em e ventrais da medula espinhal, que anatomicamente percor-
poucas horas e constituam um problema inflamatório, do- rem os forames intervertebrais para fornecer inervação a
loroso e a manifestação de claudicação de apoio. Tanto é todas as estruturas correspondentes.

476 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 49 – Patologias mais frequentes no cão atleta

É por isso que a saúde da coluna é basicamente


a saúde neurológica do cão e suas funções. Entre-
tanto, a coluna vertebral e toda a musculatura pa-
ravertebral (tanto dorsal quanto ventral) são as
estruturas do animal atleta que mais sofrem, sendo
as mais castigadas e passando por maior estresse.
Isso ocorre em consequência da extrema mobili-
dade, em alguns casos, e em outros, da aplicação
de elementos de trabalho (arneses).
A coluna pode sofrer lesões dolorosas que não
sejam incapacitantes, mas algumas vezes as le-
sões são irreversíveis e limitantes de maneira que
a cirurgia é a única opção.
Desde leves desalinhamentos vertebrais em
diferentes posições em relação ao plano axial da
mobilidade da vértebra ou subluxações (comple-
xos de subluxação vertebral), até extrusões de
discos intervertebrais que invadem o canal me- Figura 7 – Abrasão dos dedos pelo efeito da neve durante corrida
dular, através de processos de espondiloartrose, de Mushing
ou discoespondilose ou fenômenos de retrólise
intervertebral, existe uma ampla gama de quadros clínicos
em que todos têm em comum a presença de dor em seus
diferentes graus, contraturas do músculo paravertebral e a
limitação da mobilidade. É por isso que o cuidado com a
coluna é fundamental, já que o rendimento esportivo do cão
atleta depende em grau máximo de sua saúde.
Uma das técnicas mais utilizadas para manter a saúde da
coluna são os controles preventivos, através de sessões pe-
riódicas de quiropraxia que permitem os ajustes necessários
para evitar o agravamento de lesões leves que ocorrem du-
rante a prática do esporte. O que logicamente deve ser acom-
panhado por massagens, calor e, em alguns casos, TENS e
acupuntura, que completam o apoio e a integridade das es-
truturas adjacentes à coluna.
O plexo braquial é uma das estruturas neurológicas mais
afetadas em cães de esporte de tiro, mais frequente em cães
de sprint do que em cães de resistência. Ocasionalmente e
devido a abduções excessivas do plexo em situações de
neve branda, gelo ou, no caso de movimentos muito abrup-
tos em circuitos muito técnicos, ocorrem avulsões do plexo, Figura 8 – Edema e baixa circulação em pata por uso de
o que acarreta em um quadro clínico que pode ser extre- botinha muito justa
mamente grave. Esta lesão envolve o acometimento das es-
truturas de inervação, afetando, portanto, a musculatura Existem muitas lesões que aparecem nessas estruturas.
peitoral, a musculatura intrínseca e extrínseca do ombro e Desde abrasões a fraturas, até mesmo rompimento de fa-
das costas e o trânsito cérvico-torácico escapular e subes- langes, é por isso que existe a importância do cuidado pre-
capular, levando à paralisia e atrofia da musculatura do ventivo e do manejo através do uso de cremes hidratantes
membro. A clínica é muito incapacitante e sua evolução é protetores e botinhas em terrenos com piso abrasivo. É im-
de resolução duvidosa, já que a avaliação neurológica pre- portante evitar estas lesões, que são incapacitantes e, por
coce, bem como a imobilização nas primeiras horas é de vezes, produzem claudicação evidente. Devemos examinar
vital importância para posteriormente seguir um longo pro- as estruturas plantares/palmares e digitais, pois são muito
grama de reabilitação e recuperação das funções afetadas propensas a lesões, e por vezes buscamos outro tipo de
devido às lesões neurológicas produzidas. lesão, mais proximal no membro, pensando em rupturas li-
Por último, uma menção especial as estruturas anexas gamentares ou musculares devido à claudicação tão evi-
a extremidade, como coxim, espaços interdigitais e as dente, quando na verdade trata-se simplesmente de um
unhas, que merecem uma atenção especial em cães atletas entorse leve de algum ligamento interfalangiano colateral,
(Figuras 7 e 8). o que é muito doloroso.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 477


Capítulo 49 – Patologias mais frequentes no cão atleta

Terapias convencionais COMO CITAR ESSE CAPÍTULO


Até alguns anos atrás, as terapias disponíveis para ve- GARRIDO, J. L. Patologias mais frequentes no cão atleta.
terinários de competição esportiva eram escassas e às vezes In: LOPES, R. S. ; DINIZ, R. Fisiatria em pequenos
não indicadas, dependendo do tipo de lesão. Hoje existe animais. 1. ed. São Paulo : Editora Inteligente, 2018.
um bom arsenal de terapias no campo alopático e holístico p. 472-478. ISBN: 978-85-85315-00-9.
que melhoram os resultados frente a lesões durante as pro-
vas, e que ao mesmo tempo podem melhorar o desempenho
esportivo. Por conta disso, os comitês antidoping os proí-
bem precisamente por causa da questão da melhora do de-
sempenho esportivo. Atualmente, os testes de doping são
realizados através da Comissão Internacional Antidoping,
que é quem decide onde e quando atuar para realizar os tes-
tes de controle através de exames de urina e demonstrar a
presença de substâncias proibidas.
No entanto, existem alguns métodos terapêuticos que
não podem ser demonstrados através de exames de urina
ou sangue e são igualmente proibidos, como é o uso de frio
em lesões agudas, ou técnicas de quiropraxia e, claro, a
acupuntura.
Entretanto, a medicina veterinária esportiva melhorou
consideravelmente em termos do número de diferentes téc-
nicas disponíveis para prevenir a progressão de lesões inci-
pientes, prevenir o aparecimento de lesões e, por suposto,
no manejo de lesões e patologias em cães atletas (Figura 9).
Um campo inteiro de uma disciplina que está em pleno de-
senvolvimento.

Figura 9 – Prevenção de lesões (imobilização e calor) em


carpos durante corridas de longa distância (mushing)

Referências
1-MILLIS, D. L. ; LEVINE, D. Canine Rehabilitation and Physical
Therapy. 2. ed. Philadelphia: Elsevier Saunders, 2014. ISBN:
978-1437703092.
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Rehabilitation. 1. ed. Iowa: Wiley-Blackwell, 2013. 484p. ISBN:
978-0-813-81216-8.

478 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


50
Controle neuromuscular do cão atleta

Ângela Paula Neves Rocha Martins


António José Almeida Ferreira

N
este capítulo falaremos sobre o controle motor em associada à presença de tremores e fasciculações levando,
cães atletas, principalmente em cães de agility. Pri- em animais jovens, à possibilidade de deformações ósseas
meiro esclarecer o que se entende por controle devido a contraturas musculares resultantes de uma co-con-
motor de forma geral e, posteriormente, especificar as di- tração de NMI α e γ não fisiológica 24,34.
ferenças nos cães de raça de agility.
Para melhor compreensão do controle motor começare- 1. Abordagem neurológica à contração muscular
mos por uma abordagem inicial ao sistema motor e aos seus Como referido, a contração muscular é essencial na ma-
circuitos de neuroanatomia funcional. nutenção da postura corporal e na realização da marcha e
movimento voluntário. No entanto, para que ocorra é ne-
Sistema motor e sistema muscular cessário um estímulo do sistema sensorial, centros de coor-
O sistema motor tem a função de manter a postura, fa- denação e movimento, áreas de armazenamento e memória
cilitar o movimento (voluntário ou involuntário) e a loco- e um estímulo do sistema motor 9,10.
moção 34. Associado a este sistema temos o sistema O fuso muscular está localizado entre as fibras muscu-
muscular, o qual tem as mesmas características no cão e no lares extrafusais, sendo composto por fibras musculares in-
Homem, bem como as mesmas funções, sendo estas a de trafusais especializadas com capacidade sensorial e
excitabilidade, contractilidade, extensibilidade e elastici- contrátil 9,10. Os fusos musculares são receptores de estira-
dade. Resumindo, a função primordial é a contração mus- mento muscular, de forma fusiforme, que se encontram nos
cular. Esta deve respeitar as regras de um controle motor músculos esqueléticos. Sendo compostos por células mus-
fisiológico, de modo a permitir as três funções essenciais à culares modificadas, designadas de fibras intrafusais, que
estrutura corporal, sendo estas o movimento, a postura e a contêm elementos contrácteis nas extremidades e recepto-
estabilidade articular. res sensoriais na região central 9,10.
A atividade músculo-esquelética inicia-se com um estí- Para além disso, o fuso muscular é envolvido por fibras
mulo nervoso, ou seja, sinais motores mediados por inter- musculares extrafusais, que se dispõem anatomicamente
neurônios excitatórios ou inibitórios, embora em alguns em posição paralela às fibras intrafusais 9,10.
casos as fibras musculares realizem sinapse direta com os Os elementos contrácteis do fuso muscular, são inerva-
neurônios motores inferiores (NMI), a qual é capaz de pro- dos por NMIγ, que quando estimulados provocam contração
duzir um potencial elétrico nas próprias, a que designamos das extremidades e consequentemente ocorre estiramento do
de sistema excitação-contração 27,35. centro do fuso muscular. Este processo provoca a ativação
Esse estímulo é levado do sistema nervoso central, no- de receptores sensoriais, estimulando as fibras nervosas
meadamente da medula, até ao músculo por neurônios efe- aferentes tipo Ia, ascendendo à medula espinhal através de
rentes, ou neurônios motores que se nomeiam NMI α ou nervos espinhais. Na medula as fibras nervosas aferentes
ϒ 27. tipo Ia fazem sinapse com NMIα, que estimulam as fibras
O local onde o nervo eferente, ou seja, a ramificação do extrafusais ocorrendo contração muscular, com redução do
neurônio motor, se encontra e conecta com o músculo tem estiramento do fuso muscular 9,10,20,33. Ao mesmo tempo,
o nome de junção neuromuscular, sendo o conjunto destas sabe-se que, a contração dos músculos antagonistas é, re-
duas estruturas denominada de unidade motora, ou placa ciprocamente, inibida 9,10.
motora 2,16,29,35. É importante relembrar que as fibras intrafusais e os
Esta junção é composta pela parte distal do neurônio NMIγ formam o sistema fusimotor e as fibras extrafusais e
motor, a fenda sináptica e a região pós-sináptica, corres- os NMIα formam as unidades motoras 33.
pondente à membrana da fibra muscular 26. O estímulo ner- Os órgãos tendinosos de Golgi (OTG) são mecanorre-
voso é transmitido entre o neurônio eferente e o músculo a ceptores localizados nos tendões de origem e de inserção
partir de um neurotransmissor, a acetilcolina 11. Esta é li- muscular. Durante a contração das fibras extrafusais são
bertada pela porção distal do neurônio, atravessando a estimulados, tendo como função a prevenção da contração
fenda sináptica, sendo depois recebida pelos receptores ni- muscular exagerada e possível avulsão muscular 9,10.
cotínicos da acetilcolina, que se encontram na região pós- A inervação aferente dos OTG é efetuada por fibras ner-
sináptica do músculo, no sarcolema 18,29,35. vosas aferentes tipo Ib, que têm um limiar superior à esti-
O NMI é o neurônio motor final do sistema músculo- mulação, em comparação, com as fibras nervosas
esquelético que é necessário para o movimento voluntá- aferentes tipo Ia, assim sendo, o estiramento, significa-
rio ocorrer e ainda os reflexos periféricos espinhais. tivo, dos tendões de origem e/ou inserção muscular, esti-
Assim sendo, uma lesão neste sistema motor tem como mula as fibras nervosas aferentes tipo Ib, permitindo que
sinais clínicos fraqueza progressiva, atrofia neurogênica o impulso sensorial produzido ascenda à medula espinhal

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 479


Capítulo 50 – Controle neuromuscular do cão atleta

e estimule os interneurônios que, por sua vez, vão inibir os assim, das despolarizações nervosas 34,36. No entanto, entre
NMIα desse grupo muscular, diminuindo assim a contração estes feixes motores descendentes existem funções anta-
muscular e reduzindo, dessa forma, a tensão nos tendões gônicas, pois o FMDRSP é responsável por facilitar os
de origem e/ou inserção muscular 9,10,33. músculos antigravidade do corpo por excitação dos NMI
Por este processo fisiológico, quando o NMIα é estimu- α e γ que atuam na placa motora dos músculos extensores,
lado ocorre contração das fibras musculares extrafusais e, enquanto o FMDRSM facilita os músculos flexores pela
consequentemente, redução do estiramento das fibras mus- mesma via 10,36.
culares intrafusais, diminuindo assim a atividade das fibras Assim sendo, o FMDRSP e o FMDRSM estão sobre in-
nervosas aferentes tipo Ia 33. fluência do córtex cerebral, cerebelo, sistema somatosen-
No entanto, a neurociência afirma que quando os NMIγ sorial e ainda da formação reticular locomotora do tronco
são ativados ao mesmo tempo que os NMIα, consegue-se cerebral 10,36. O equilíbrio fisiológico entre ambos permite
um estiramento relativo do fuso muscular, assim como a o controle motor essencial na locomoção e assim o apare-
ativação das fibras nervosas aferentes tipo Ia. A este pro- cimento de um processo automático de movimentos mus-
cesso dá-se o nome de co-ativação α-γ, ou co-contração α- culares sincronizados de extensão e flexão, associado a
γ (Figura 1). Deste modo, a co-contração α-γ permite obter reações posturais, alinhamento corporal, com um tônus
tônus muscular, postura e locomoção normal 33. muscular neurofisiológico normal, mediado pelo sistema
extrapiramidal, onde o feixe FMDRSP tem um papel es-
2. Neuroanatomia funcional do controle motor sencial 30.
O controle motor fisiológico tem na sua origem um pro- O feixe FMDRSP excita os NMI γ levando as fibras in-
cesso complexo multissensorial. Assim sendo, estímulos trafusais a contraírem, com estimulação imediata das fibras
somatossensoriais, visuais e vestibulares atuam de forma sensoriais Ia, que transportam o impulso para o NMI α, ob-
constante a nível central, no córtex somatossensorial, de tendo deste modo a contração dos músculos extensores 34,36.
modo a obter um controle motor responsável pelo equilí- Durante este fenômeno da co-contração α e γ, sabemos que
brio de modo fisiológico entre a postura e a locomoção 30. os mecanorreceptores, receptores proprioceptivos muscu-
O controle motor encontra-se ligado ao fenômeno de lo- lares (fuso muscular e OTG) estão modulados por sinais
comoção e de postura, sabendo-se que existe papel primor- reguladores centrais, permitindo a elaboração da locomo-
dial da formação reticular do tronco cerebral integrada ção, postura e tônus muscular 10,34,36, portanto, o controle
funcionalmente com o córtex cerebral e com o cerebelo 36. motor essencial é originado num balanço arquitetônico
A comunicação do córtex motor e do cerebelo com a constante entre a facilitação/excitabilidade e a inibição
formação reticular faz-se anatomicamente a partir do nú- dos NMI α e γ, permitindo a presença de normalização
cleo pontino e do núcleo medular do tronco cerebral. Assim dos reflexos espinhais, da atividade motora, da manuten-
sendo, mesmo nos animais de sistema extrapiramidal o cór- ção postural e do tônus muscular 10,36.
tex motor e o cerebelo têm influência na modulação dos A nível dos mecanorreceptores destaca-se o papel do
feixes motores descendentes da formação reticular 30,36. fuso muscular, pois este tem um papel principal 6, sendo a
Os feixes motores descendentes da formação reticular informação sensorial ascendente essencial para o bom fun-
são o feixe motor descendente reticuloespinhal pontino cionamento do cerebelo, de modo a modular e organizar o
(FMDRSP) e medular (FMDRSM) que têm como função equilíbrio do movimento, responsável pela locomoção 21.
a excitabilidade ou a inibição do impulso nervoso e, O controle motor, essencial para uma co-contração α e
γ fisiológica, depende da influência
da formação reticular em conjunto
com a ação dos circuitos de interneu-
rônios locais das intumescências da
OTG medula espinhal, ou seja, os gerado-
(órgão tendinoso de Golgi) Fibra nervosa
tipo Ib res de padrão central (GPC), com
propriedades rítmicas e sincronizadas
Fibra nervosa 17, e com o centro mesencefálico ge-
tipo Ia
Fuso muscular rador da locomoção do tronco cere-
NMIγ bral de modo a adquirir a
coordenação entre os membros torá-
NMIα cicos e os membros pélvicos, sendo
assim, verifica-se que existe depen-
dência da influência supraespinhal
31,34.

Deste modo, falar de controle


Figura 1 – Co-contração α-γ, que permite obter tônus muscular, postura e motor é falar na teoria do ponto de
locomoção normal equilíbrio pois, segundo Latash et al.

480 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 50 – Controle neuromuscular do cão atleta

em 2010 19, é necessário a ativação dos GPC para promover velocidade/comprimento do passo, em trote. Assim sendo,
o movimento voluntário ou involuntário. Para Latash et al. as raças de cães de agility demoram menos tempo para rea-
2010, o controle motor é um campo de investigação novo, lizar maior número de passos, logo, pode afirmar-se que a
sendo definido pelo estudo do sistema nervoso central em relação entre a velocidade e o comprimento do passo em
obter movimentos coordenados e em constante interação cães de raça de agility, como o border collie, é maior do
com a superfície corporal e o ambiente 19,32. que em cães de trabalho, como o labrador retriever, quer
A teoria do ponto de equilíbrio indica ser primordial a na marcha, quer no trote 7.
influência eletroquímica dos feixes motores descendentes Por evidência conclui-se então que a co-contração α e γ
cerebrais e do tronco cerebral, na presença de informação do grupo muscular de fibras tipo II é mais rápida do que a
ascendente/descendente proprioceptiva para os GPC, per- de fibras tipo I, havendo correlação com a fisiologia das fi-
mitindo alteração no comprimento muscular e dos ângulos bras musculares 7, pois as fibras musculares tipo I são mais
articulares 19,31,32. lentas e as tipo II mais rápidas 4,23.
Esta teoria relembra a importância do sinal neural trans- Resumindo, uma boa performance é baseada num
mitido pelas articulações devido à presença de mecanorre- controle neuromuscular
ceptores e sua neuromodulação pelos feixes motores correto, estando presen-
descendentes, que funcionam sobre neuromodulação cere- te um mecanismo de
bral e cerebelar 5,19. estimulação das vias as-
Atualmente, existe uma nova perspectiva em neurociên- cendentes em relação à
cia que suporta a recente evidência de que existe uma inte- co-contração α e γ e
ração dinâmica de influências recíprocas entre o cerebelo, ainda dos mecanorre-
os núcleos da base e o córtex motor, formando assim o sis- ceptores dos OTG e do
tema córtico-talâmico-núcleos da base-cerebelo, quer no fuso muscular, de modo
homem, quer nos cães e gatos 5,19. Assim sendo, os feixes a evitar lesões muscula- Figura 2– Miopatia fibrótica do
espinocerebelares são importantes devido à sua influência res durante o treino e músculo grácil
a nível neurocortical 5,25,28. preparação destes atle-
De acordo com isto, os feixes espinocerebelares e os fei- tas 13 (Figura 2).
xes espino-reticulo-cerebelares representam a informação Sabe-se que em atletas jovens as lesões musculares são
dos GPC 5. Deste modo compreende-se como o cerebelo é em número reduzido. Por outro lado, são frequentes as le-
essencial na monotorização dos GPC 1,3,5. sões ligamentosas na região articular. A avulsão ligamen-
Atualmente, a neurociência pretende estudar os feixes tosa total é rara devido à maleabilidade óssea, embora
cerebelares-pontino-subtalâmicos, existindo um feixe ini- possam surgir biomecanismos de stress e resultar em cal-
bitório de controle cerebelar para o tálamo e para o núcleo cificação dos tecidos, secundariamente ao não tratamento
pontino do tronco cerebral e ainda se pretende investigar precoce ou não prevenção dos mesmos. Como exemplo
o papel dos núcleos de base e dos circuitos cortical-talâ- temos o ligamento plantar tarsal médio que se origina do
mico-cerebelar, que possivelmente atuam a nível do córtex calcâneo, inserindo-se no osso IV tarsal e, por fim, no me-
motor 5. tatarso IV e V. É neste local que é comum encontrar-se
Pode concluir-se a complexidade implícita no controle calcificação ligamentosa crônica. Note-se que a presença
motor, de base neuroanatômica e neurofisiológica que varia de calcificação pode ser insignificante por um lado, bem
de acordo com as espécies do sistema piramidal e extrapi- como ser indicativa de cronicidade devido a entesiofitose,
ramidal, embora seja essencial para ambas. O seu estudo é interferindo na amplitude articular do tarso, principalmente
importante na vertente da neuroreabilitação, inserido na a nível da flexão e dos movimentos rotacionais 13,37,38.
área de neurologia restaurativa, tendo como objetivo a fun- Os cães de raças de agility apresentam uma angulação
cionalidade. postural dos membros diferenciada, pois demonstram ân-
gulos reduzidos nos membros torácicos e pélvicos, de
3. Controle motor anormal modo a evitar uma co-contração α e γ forte, mas permitindo
O controle motor das raças de cães de agility tem sido um suporte correto dos membros no solo, durante a execu-
comparado ao controle motor das raças de cães de trabalho. ção dos diferentes exercícios de agility 38.
Ao realizar esta comparação, confrontamos a composição Assim sendo, um controle motor neuromuscular de
muscular de raças de cães de agility com raças de cães de grande complexidade neuroanatômica deve ser realizado
trabalho e do mesmo modo a co-contração α e γ de grupos de forma equilibrada, evitando as lesões musculoesquelé-
musculares de fibras tipo II e tipo I, respetivamente. O ticas secundárias aos programas de agility (Figura 3).
estudo de Carr, Sherman e Zink, 2015 7, confirmou que O controle motor é necessariamente sinônimo de con-
em marcha as raças de cães de agility têm os membros trole neuromuscular, sendo este um campo complexo de
torácicos e pélvicos menos tempo no chão em compara- vários níveis de sinais fisiológicos transmitidos ao longo
ção com as raças de cães de trabalho, como por exemplo dos nervos, associados à libertação de neurotransmissores
o labrador retriever, bem como têm aumento da relação a nível da placa motora. A informação supraespinhal é

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 481


Capítulo 50 – Controle neuromuscular do cão atleta

Figura 3 – Miopatia fibrótica do músculo qua-


dríceps femoral

assim transmitida de modo a permitir padrões de movimen-


tos complexos, como correr e andar. Deste modo, os mús-
culos com os seus mecanorreceptores desempenham um
papel fundamental na organização e coordenação do mo-
Figura 5 – Treino locomotor em meio aquático. Treino de
vimento, ambas dependentes da visão, audição e de toda a
resistência
informação ascendente de todos os receptores sensoriais
localizados nas articulações, ligamentos, músculos e pele,
como referido anteriormente. Este TL em meio aquático pode ser efetuado numa pri-
Sabe-se também que a atividade autônoma rítmica dos meira sessão de 20 minutos, podendo terminar em uma
GPC têm capacidade de realizar movimentos rítmicos de hora, ou seja, fazendo-se acréscimos graduais de duração
flexão e extensão, mas que deve ser controlado pelas vias do TL. Os acréscimos também podem e devem ser realiza-
descendentes espinhais, de modo a modular o movimento dos na categoria da velocidade, começando com 2,2km/h
gerado, tornando-o funcional 8. e podendo chegar até 10km/h. A linha da água deve ser co-
locada ao nível do epicôndilo lateral do fémur ou do ma-
4. Exercício de controle motor no cão de agility – treino léolo lateral da tíbia, de acordo com a condição física do
locomotor atleta, tendo sempre em consideração os parâmetros vitais,
O treino locomotor é uma vertente da reabilitação que tais como membranas mucosas, tempo de repleção capilar,
permite um controle postural e uma correção constante do frequência respiratória e frequência cardíaca, para além das
balanço, pois ativa e estimula o fuso motor para a co-con- fasciculações musculares que quando presentes, indicam
tração α e γ, de forma funcional 14,15 , assim sendo existem uma situação de sobredosagem de treino.
diversos exercícios de cinesioterapia passivos, ativos-as- Por fim, para ajudar a uma maior capacidade de apoio
sistidos e ativos. de um membro, pode colocar-se flutuadores para promover
Existem muitos estudos que indicam o treino locomotor, um equilíbrio entre a co-contração α e γ intermembros 22,
como uma medida de sucesso a nível de doentes neuroló- como se pode visualizar na figura 5.
gicos na redução dos défices motores neurológicos 12. Nos cães de raça de agility, o treino locomotor em meio
Nos cães de raça de agility podemos praticar este tipo aquático, é o mais indicado, pois permite, devido às pro-
de treino locomotor (TL), introduzindo um treino de resis- priedades da água, um melhor equilíbrio músculo-esquelé-
tência alternado com o treino de fortificação, essencial- tico, reduzindo a probabilidade de microrroturas, tensão na
mente em meio aquático (Figuras 4 e 5). junção neuromuscular e pontos de dor.

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482 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 50 – Controle neuromuscular do cão atleta

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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 483


Capítulo 50 – Controle neuromuscular do cão atleta

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ZINK, M. C. ; VAN DYKE, J. B. Canine Sports Medicine and
Rehabilitation. 1. ed. Iowa: Wiley-Blackwell, 2013. p. 189. ISBN:
978-0-813-81216-8.
38-ZINK, M. C. What is a Canine Athlete? In: ZINK, M. C. ; VAN
DYKE, J. B. Canine Sports Medicine and Rehabilitation. 1. ed.
Iowa: Wiley-Blackwell, 2013. p. 13. ISBN: 978-0-813-81216-8.

COMO CITAR ESSE CAPÍTULO


MARTINS, Â. P. N. R. ; FERREIRA, A. J. A. Controle
neuromuscular do cão atleta. In: LOPES, R. S. ;
DINIZ, R. Fisiatria em pequenos animais. 1. ed. São
Paulo : Editora Inteligente, 2018. p. 479-484. ISBN:
978-85-85315-00-9.

484 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


51
Reabilitação em pacientes senis e geriatras

Cristiane Letícia Ferreira de Toledo

O
desenvolvimento da medicina veterinária tem “velho”, “sênior/senil” e “geriátrico” sejam frequentemente
crescido consideravelmente nos últimos anos, es- referidos como sinônimos, eles possuem definições distin-
pecialmente no Brasil. Alguns dos fatores que tas. Os termos “sênior e idoso” referem-se à funcionalidade
contribuem para essa evolução, é o crescimento do número de um animal. Um animal é considerado sênior ou idoso
de cães e gatos domiciliados, o interesse no aumento dos quando este diminui sua atividade, ganha ou perde peso e
cuidados por parte dos tutores e a evolução geral da medi- desenvolve outras alterações físicas e comportamentais re-
cina veterinária tanto na parte de diagnóstico, como nos tra- lacionadas a idade. Diferentemente, o termo “geriátrico e
tamentos oferecidos para esses pacientes. Com isso, velho” que se refere a idade cronológica do animal 42.
observa-se também um crescimento significativo do inte- Assim como nos seres humanos, em muitos casos a
resse em terapias e estratégias que aumentem substancial- “idade cronológica” não é compatível com a “idade bioló-
mente a longevidade e a qualidade de vida dos cães e gatos. gica” do animal. Alguns gatos mostram sinais óbvios de
Sendo assim, a fisiatria veterinária acompanha essa reali- “velhice” após os 10 anos de idade, enquanto outros pare-
dade e cada vez mais, médicos veterinários têm-se espe- cem quase inalterados até atingir 15 ou 16 anos de idade 41.
cializado na área e oferecido estratégias e tratamentos que A definição de envelhecimento não é fácil e é ainda
aumentem a longevidade e melhorem a qualidade de vida menos fácil na veterinária, onde marcar as idades a partir
dos cães e gatos. Com o aumento da longevidade dos ani- das quais o paciente é considerado geriátrico, senil ou velho
mais, uma grande parte desses pacientes são cães e gatos é muito variável e não existe um consenso a respeito. Pode-
considerados senis e geriatras, os quais necessitam um se dizer que o envelhecimento é um processo deletério, pro-
olhar diferente sobre essa importante fase da vida. O au- gressivo, intrínseco e universal, que com o tempo ocorre a
mento da população geriátrica nas clínicas veterinárias é todo ser vivo em consequência da interação da genética do
um fator inegável e os médicos veterinários devem estar indivíduo e o meio ambiente 52.
prontos para saber trabalhar com esse segmento. Quando consideradas as raças em conjunto, o tempo
Uma vez que as patologias já estejam, em processo de médio de vida do cão é de 13 anos. No entanto, o tamanho
desenvolvimento ou avançadas, existem técnicas e altera- do cão interfere substancialmente no tempo de vida do
ções no manejo dos animais, dentro da fisiatria veterinária, mesmo. A expectativa de vida de cães gigantes ou de raças
que contribuem para reabilitação ou para controle da dor e grandes, cujo peso médio na vida adulta é igual ou maior
aumento da qualidade de vida de cães e gatos. Como em que 22,7 kg, podem ser classificados como senis na idade
outros capítulos as técnicas fisiátricas já foram abordadas de 6 a 8 anos e geriátricos quando maior de 9 anos de idade.
com profundidade, o enfoque desse capítulo será demons- No caso de cães de raças médias e pequenas (cães com peso
trar a indicação das mesmas diante das mais variadas adulto médio abaixo de 22,7 kg), podem ser classificados
condições neuromusculoesqueléticas as quais afetam os pa- como senis entre 7 e 10 anos e geriatras acima dos 11 nos
cientes senis e geriatras. de idade1 (Figura 1).
No caso dos gatos, eles se tornam senis com cerca de 7
O processo de envelhecimento a 8 anos de idade e progridem para geriatras por volta dos
O envelhecimento representa um processo biológico 12 a 15 anos de idade 41.
complexo caracterizado por uma modificação progressiva Em um estudo de longevidade e morbidade por um pe-
de tecidos e células com uma perda gradual de capacidade ríodo de 10 anos em seis raças gigantes e sete raças peque-
adaptativa 44. A idade é definida como um processo bioló- nas de cães, existem evidências estatisticamente
gico complexo, que resulta na redução progressiva da ca- significativas de que os cães de raças pequenas estudadas
pacidade de um indivíduo de manter a homeostasia sob viveram mais tempo que os de raças grandes estudados. So-
estresses fisiológicos externos, diminuindo assim a viabi- mente 282 dos 2.171 cães de raças gigantes (13%) viveram
lidade do indivíduo e aumentando a sua vulnerabilidade a até 10 anos de idade ou mais, e somente 2 (0,1%) viveram
doenças e levando finalmente à morte. O envelhecimento até 15 anos de idade, ou mais. Contrariamente, 1857 dos
não é uma doença por si só, e existem muitos fatores, mais 4931 cães de raças pequenas (38%) viveram até 10 anos de
notavelmente genéticos, ambientais e nutricionais, que idade ou mais e 347 (7%) viveram até 15 anos de idade ou
podem influenciar a velocidade do processo de envelheci- mais 24 (Figura 2).
mento 24. Cães idosos são susceptíveis à muitas doenças As alterações físicas típicas associadas aos animais mais
que afetam seres humanos como: artrite, doenças cardía- velhos e saudáveis manifestam-se como mudanças no com-
cas, câncer, diabetes e a versão canina da doença de Alz- portamento, na aparência e na função diária e essas mudan-
heimer 44. ças são mais frequentemente observados pelos donos dos
Um fato importante é que embora os termos “idoso”, animais de estimação. Mudanças no ciclo do sono/vigília,

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 485


Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

e generalizada de massa muscular e de força esquelética,


acarretando sinais clínicos como deficiência física, má qua-
lidade de vida e morte. Nas pessoas, a sarcopenia está as-
sociada a um aumento da taxa de mortalidade e efeitos
sobre a força muscular, função imunológica e qualidade de
vida. Embora exista pouca informação disponível no mo-
mento sobre a sarcopenia em cães idosos, ela é uma sín-
drome reconhecida e há razões para acreditar que os efeitos
sobre os cães, são os mesmos relatados em pessoas. Um
estudo comparando as necessidades de proteína em cães
jovens versus cães idosos da raça beagle, mostrou que os
cães mais velhos necessitavam aproximadamente 50%
mais proteínas do que os cães jovens para manter o equilí-
brio de nitrogênio e maximizar a reserva de proteínas. Além
do que, a renovação de proteínas foi reduzida em cães mais
velhos, mesmo sendo alimentados com níveis mais altos
de proteína. Falha ao reconhecer essas necessidades nutri-
cionais à medida que a idade dos cães avança, pode acelerar
a perda de peso e sarcopenia que ocorrem em cães geriá-
tricos1 (Figura 3).
Além disso, as corticais de ossos longos tornam-se mais
finas, densas e frágeis com o passar da idade dos cães. A
redução na função óssea resulta de uma infiltração gordu-
Figura 1 – Fêmea canina, sem raça definida, com idade rosa na medula óssea e uma diminuição na espessura do
cronológica de 12 anos de idade, mas com idade biológica córtex ósseo. A absorção de cálcio intestinal diminui, re-
funcional menor sultando em uma estrutura óssea mais fina, mais densa e
mais quebradiça 24.
nas respostas aos comandos e interações com a família e
outros animais de estimação, são sinais que podem refletir
mudanças funcionais. As alterações de aparência incluem
um pelo cinzento opaco e seco. Perda de massa muscular,
desenvolvimento de catarata e esclerose nuclear. As altera-
ções funcionais incluem diminuição da atividade e mobili-
dade e diminuição da visão, olfato e audição. Estas
alterações podem ocorrer na ausência de qualquer doença
como parte do envelhecimento normal 1.
Em relação às mudanças no sistema musculo-esquelé-
tico, ocorre uma perda da massa magra e óssea nos cães.
Tanto o número, quanto o tamanho
dos miócitos, diminuem com
o passar da idade. A sarco-
penia é uma síndrome
vista durante o proces-
so de envelhecimento
e é caracterizada pe-
la perda progressiva

Figura 3 – Cão sem raça definida, fêmea, com 15 anos de


idade. Observa-se sarcopenia. A perda de massa e força
Figura 2 – Paciente, fêmea da raça cocker spaniel, com na musculatura esquelética que resulta em uma dificul-
10 anos de idade dade da manutenção da estabilidade

486 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

A composição da matriz da cartilagem articular também Teorias do envelhecimento


muda com a idade, especificamente em relação ao número São várias as teorias que tentam explicar o processo do
reduzido de condrócitos, diminuição da produção de glico- envelhecimento, no entanto a mais aceita é que o envelhe-
saminoglicanos, colágeno tipo I e sulfato de condroitina. cimento seja um processo multifatorial. Muitas teorias têm
Como resultado, ocorre o envelhecimento gradual da car- sido propostas para explicar o mecanismo de envelheci-
tilagem tornando-a menos resistente e com capacidade li- mento humano e animal e se organizam em duas categorias:
mitada de regenerar-se em resposta à intensa atividade ou teoria do envelhecimento programado e do envelhecimento
trauma 1. Uma espondilose vertebral e uma calcificação por dano biomolecular.
costocondral constituem achados incidentais frequentes nas
radiografias de animais geriátricos 24. 1. Teoria do envelhecimento programado: A teoria do en-
A artropatia degenerativa (AD) constitui um problema velhecimento programado propõe que o envelhecimento é
comum do sistema musculoesquelético, onde ocorrem mi- regulado por uma tabela biológica, dependente da expres-
crofraturas no osso subcondral e o fluido sinovial torna-se são de genes reguladores dos processos de manutenção, re-
mais viscoso 24. paro e resposta de defesa. Essa teoria tem 3 subcategorias:
O primeiro sinal de senilidade geralmente observado nos a) teoria da longevidade programada – o envelhecimento é
animais é a perda dos hábitos usuais relacionados a alimen- o resultado do acionamento e desligamento sequencial de
tação, higiene, brincadeiras, entre outros, que eles costu- alguns genes, definindo senescência como o momento que
mam ter. As outras alterações senis incluem sinais de uma surgem as manifestações de déficits relacionados à idade 21;
disfunção cognitiva, tais como alterações no ciclo de b) teoria endócrina – relógios biológicos atuam através de
sono/vigília, desatenção ao alimento, desatenção ao am- hormônios controlando o ritmo do envelhecimento. Estu-
biente, incluindo pessoas ou outros animais e uma incapa- dos recentes de Van Heemst, propõe que as vias dos sina-
cidade aparente de reconhecimento de locais e pessoas lizadores Insulina/IGF-1 desempenham um papel
familiarizadas ou de responder a um nome ou a comandos fundamental na regulação hormonal do ritmo do envelhe-
anteriormente aprendidos. Os neurotransmissores também cimento 65;
mudam com a idade. Os níveis de acetilcolinesterase e mo- c) teoria imunológica – o sistema imunológico é progra-
noamina oxidase b aumentam, enquanto os níveis de colina mado para debilitar-se com o avanço da idade, levando à
acetiltransferase e serotonina diminuem. A lipofuscina, o progressiva vulnerabilidade às doenças infecciosas e crô-
“pigmento do envelhecimento”, acumula-se no citoplasma nicas. É sabido que o sistema imunológico atinge seu ápice
dos neurônios. Diz-se que 95% dos neurônios cerebrais são de efetividade na puberdade, e gradualmente declina com
interneurônios que amplificam e refinam uma entrada de o envelhecimento. Há maior prevalência na senescência
sinais diversos. No cérebro envelhecido, os efeitos pós- das doenças infecciosas, inflamatórias, cardiovasculares e
estímulos ficam prolongados. Os estímulos repetitivos câncer 50.
subsequentes impedem uma memória de curta duração e
aumentam o período de resposta a estímulos externos. A 2. Teoria do envelhecimento por dano biomolecular:
idade avançada resulta em distorção da soma neuronal, perda propõe que as causas do envelhecimento dependem predo-
dos espinhos dendríticos, zona de varicosidades dendríticas, minantemente das agressões que o meio ambiente oferece
encolhimento dos espinhos dendríticos e placas neuríticas 24. aos organismos vivos, que acumulam danos em vários ní-
O cérebro envelhecido fica cronicamente hipóxico veis. Essa teoria tem 5 subcategorias:
como resultado de fibrose arteriocapilar e proliferação en- a) teoria do desgaste pelo uso – células e tecidos vitais so-
dotelial. A memória de longa duração, diferentemente da frem desgaste com o envelhecimento. Esta teoria proposta
memória de curta duração, aparentemente não é afetada por por August Weismann em 1882, e é aceita até hoje 67;
hipóxia cerebral crônica. Tremores e uma hesitação motora b) teoria do metabolismo do oxigênio basal – quanto maior
resultam de um prejuízo dos corpos estriados e pálido. a taxa do metabolismo do oxigênio basal, menor será a ex-
Ocorre uma neuronofagia quando os astrócitos circundam pectativa de vida do indivíduo 5;
e fagocitam neurônios 24. c) teoria das ligações cruzadas – proposta por Johan
No entanto, segundo a experiência e casuística da au- Bjorkste, o envelhecimento é resultado do acúmulo do dano
tora, as mudanças que ocorrem em outros sistemas no pro- cruzado de proteínas, células e tecidos, desacelerando os
cesso de envelhecimento dos cães e gatos, também podem processos biológicos resultando no envelhecimento 2;
afetar indiretamente a reabilitação e a qualidade de vida d) teoria dos radicais livres, ou mais recentemente chamada
desses animais. Dentre elas, citam-se: sistema endócrino, de teoria das espécies reativas de oxigênio – introduzida
sistema imune, cardíacas, renais, gastrointestinais, proble- por Gerschman em 1954 e desenvolvida por Denham Har-
mas bucais, entre outras. Sendo assim, o médico veterinário man, propõe que o radical livre superóxido e outros, danifi-
fisiatra deve estar apto para considerar essas mudanças e/ou cam componentes celulares macromoleculares, predispondo
patologias quando for montar o protocolo de reabilitação às doenças e acelerando o envelhecimento dos tecidos. Ma-
desses pacientes e também para traçar um prognóstico ou cromoléculas como ácidos nucleicos, lipídios, açúcares e
medidas preventivas para o animal. proteínas são suscetíveis aos ataques dos radicais livres 21;

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 487


Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

e) teoria do dano ao DNA – o DNA de todas as células sofre devem respeitar essa característica típica desses pacientes.
dano continuamente. Enquanto a maioria destes danos são Além disso, pacientes idosos podem apresentar alterações
reparados, alguns se acumulam quando a DNA polimerase gástricas, cardíacas, renais e /ou endócrinas, associadas a
e outros mecanismos de reparo não conseguem reparar os alterações degenerativas músculo esqueléticas dolorosas.
danos na mesma velocidade com que são produzidos. Mi- Entende-se por reabilitação física, um processo que
chael Ristow demonstrou evidências que a restrição calórica busca o desenvolvimento das capacidades remanescentes,
pode aumentar a expectativa de vida de animais de labora- permitindo que o animal alcance os objetivos principais de-
tório, devido ao aumento da produção de agentes antioxi- pendendo da lesão e das maiores possibilidades físicas e
dantes em resposta 48. Em 1996, Olovnikov demonstrou a funcionais.
teoria do encurtamento do DNA telomérico que sinaliza a A fisiatria e reabilitação para alcançarem seus objetivos
suspensão das divisões da célula. Esse pesquisador sugeriu principais, produzem o encurtamento dos tempos de trata-
a hipótese do envelhecimento celular baseado no encurta- mento, evitam complicações causadas pelo desuso ou falta
mento dos telômeros e as relações destes com o câncer 45. de função de um determinando tecido e previnem novas le-
Apesar das muitas teorias dos processos de envelheci- sões. Elas podem ser utilizadas também no pré e no pós-
mento, o único consenso é que todas interagem entre si de cirúrgico de cirurgias ortopédicas ou neurológicas e
forma complexa, e contribuem no processo de envelheci- também como aumento e manutenção na qualidade de vida,
mento, e que, a prevenção das doenças através de um estilo dependendo do conjunto de disfunções que o animal apre-
de vida saudável (alimentação, exercícios físicos, controle senta e suas limitações. Além disso, estas terapias têm papel
das emoções), aliado aos avanços da medicina, são os prin- importante no tratamento tanto da dor aguda, como da dor
cipais protagonistas no aumento da expectativa de vida de crônica 19.
seres humanos e animais. Finalmente, o médico veterinário fisiatra deve conhecer
profundamente os agentes físicos, suas características téc-
Como abordar um paciente senil e geriatra nicas, seus efeitos biológicos, suas indicações e contra -in-
A abordagem de um paciente senil e geriatra deve ser dicações específicas.
individualizada e integrativa. Ou seja, por mais que dois
cães da mesma raça e com a mesma idade, apresentem pa- Reabilitação física das condições
tologias iguais, dificilmente esses animais vão receber o neuromusculoesqueléticas mais
mesmo protocolo de tratamento. Isso porque cada indiví- comuns em cães e gatos senis geriatras
duo pode mostrar sinais clínicos distintos dependendo do
grau de lesão, da condição corporal, do ambiente em que Condições neurológicas
vivem e do nível de sensibilidade à dor. Dessa forma, o mé- À semelhança do que ocorre em humanos, o sistema
dico veterinário fisiatra deve escolher o esquema de trata- nervoso tanto de cães, como de gatos sofre alterações com
mento baseado na avaliação minuciosa do indivíduo. Essa o passar do tempo 54.
avaliação deve ser baseada em: O fisiatra veterinário deve ser capaz de realizar uma
• anamnese; avaliação neurológica, incluindo a localização e a gradua-
• avaliação física e biomecânica; ção dos achados como parte do procedimento de avaliação.
• exame ortopédico; O registro e o monitoramento destes achados permitem
• exame neurológico; avaliação objetiva da resposta do paciente ao tratamento.
• análise de exames complementares; Fisiatras podem estar envolvidos no tratamento e reabilita-
• análise do ambiente; ção de casos neurológicos pós cirúrgicos ou podem ser os
• disponibilidade do tutor; responsáveis clínicos pelo seguimento a longo prazo de vá-
• terapias possíveis e disponíveis. rias enfermidades neurológias crônicas 43.
Pacientes senis e geriatras em geral, apresentam uma ou É importante ter um registro exato do estado do paciente
um conjunto de patologias que causam dor crônica e limi- no início da terapia, bem como documentação de proble-
tação física total ou parcial. Após essas avaliações, o mé- mas específicos, porque o estado clínico de pacientes com
dico veterinário fisiatra vai definir o protocolo de doença neurológica ou lesões podem mudar rapidamente.
tratamento e estratégias de prevenção para esse paciente. Por exemplo, uma mielomalácia progressiva pode ocorrer
Muitas vezes não é possível uma reabilitação física total. logo após a lesão ou cirurgia e progride rapidamente. Além
Nesses casos, a estratégia de tratamento será buscar uma disso, muitos pacientes neurológicos apresentam-se com
reabilitação parcial ou funcional, com controle da dor e uma ou mais comorbidades que podem ou não estar rela-
consequentemente aumento da qualidade de vida desses pa- cionados com o seu diagnóstico neurológico. Cuidado adi-
cientes. O enfoque da terapia deve ser ajustado a cada caso. cional deve ser feito na presença de lesões simultâneas de
Outro fator importante a considerar é a capacidade de trauma, doenças ortopédicas de desenvolvimento ou dege-
resposta de indivíduos geriatras. Esses animais não apresen- nerativas, obesidade, endocrinopatias, respiratória ou disfun-
tam a mesma capacidade de resposta de um animal jovem ção cardíaca, e a presença de infecção em qualquer sistema
e por isso, as terapias nos quesitos tempos e intensidades, do corpo 57. Para abordar um caso clínico neurológico é

488 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

preciso seguir uma metodologia. O método que se aplica intracranianas como o acidente vascular cerebral, a sín-
neste texto, segue o esquema de neurologia clássica vete- drome da disfunção cognitiva; doenças da medula espinhal
rinária e da Escola de neurologia veterinária da Universi- como as discopatias e também algumas menos frequentes
dade de Berna e está resumido no próximo parágrafo. mas que acometem animais nesta faixa etária, como as fra-
Os doze pontos de abordagem do paciente neurológico turas e subluxações e doenças do sistema nervoso perifé-
são: resenha, anamnese, exame físico, exame ortopédico, rico.
exame neurológico, localização da lesão, diagnósticos di-
ferenciais, exames complementares, diagnóstico, prognós- SNC – lesões intracranianas
tico, tratamento e evolução 15. Definição, etiologia, sinais clínicos e diagnóstico: exis-
O sistema nervoso central (SNC) é composto pelo cé- tem uma infinidade de patologias intracranianas as quais
rebro e pela medula espinhal. Embriologicamente, ele se podem ser divididas, sob o ponto de vista clínico em 4
desenvolve a partir do ectoderma, que forma o tubo neural. partes:
O cérebro é dividido em hemisférios cerebrais, tronco ce- a. encéfalo anterior (telencéfalo + diencéfalo);
rebral e cerebelo. O sistema nervoso periférico (SNP) con- b. tronco encefálico (mesencéfalo + ponte + bulbo);
tém os axônios da medula espinhal e os nervos cranianos e c. sistema vestibular central;
seus receptores, ou órgãos eferentes. Ele inclui os compo- d. cerebelo 17.
nentes gerais e autônomos. Os nervos periféricos podem Existe uma lista extensa de diagnósticos diferenciais
conter fibras motoras, sensoriais ou ambas 15. para doenças. Os sinais clínicos e o diagnóstico vão depen-
Para uma melhor compreensão, deve-se primeiro definir der da suspeita clínica específica para cada um.
o local da lesão, dividindo o sistema nervoso em:
• encéfalo; Tratamento: variável. Dependerá da etiologia das doenças
• medula espinhal – segmentos C1-C5; C6-T2; T3-L3; diagnosticadas.
L4-S2;
• sistema nervoso periférico e muscular. Fisiatria e reabilitação: dependendo da patologia intra-
Existe uma extensa categoria de doenças para serem es- craniana a ser tratada, de seus sinais neurológicos e de sua
tabelecidos os diagnósticos diferenciais. Elas têm o obje- evolução, no caso da ocorrência de sequelas neurológicas,
tivo de facilitar a memorização através da criação do as mesmas podem ser tratadas mediante um protocolo de
acrônimo “VITAMIND”: vascular (V), inflamatória (I), reabilitação visando os seguintes objetivos:
traumática (T), anomalia congênita (A), metabólica (M), a. melhora da função sensorial;
idiopática (I), neoplásica (N) e degenerativa (D) 16. b. função e comportamento;
O objetivo da avaliação neurológica é determinar a etio- c. função perceptiva;
logia provável dos problemas neurológicos, de modo que d. função motora;
possam ser prestados os cuidados apropriados 13. É impres- e. alteração do tônus muscular;
cindível, para otimizar os resultados de um programa de f. perda do mecanismo de controle postural;
reabilitação, o encaminhamento precoce do clínico ou ve- g. hemiplegia e hemiparesia;
terinário neurologista. h. espasticidade.
No momento de começar o programa de fisiatria e rea- Neste caso, os objetivos do tratamento são:
bilitação, é necessário a avaliação de cada caso, determi- • manter ou ganhar amplitude de movimento;
nando um número aproximado de sessões que serão • prevenir contraturas e deformidades;
necessárias, sua frequência semanal e em algumas ocasiões, • ganhar força muscular, propriocepção e melhora do equi-
a medicação complementar indicada pelo neurologista. Tam- líbrio estático e dinâmico;
bém deve-se explicar ao tutor a importância do seu papel no • normalizar tônus muscular 55.
processo de reabilitação, especialmente no que se refere as Segundo a experiência da autora, as técnicas fisioterá-
atividades domiciliares de execução diária, com particular picas as quais estas sequelas podem ser tratadas são: mas-
relevância nos casos paraplégicos e tetraplégicos 11. sagem, cinesioterapia passiva e ativa, assim como a
hidroterapia. Um bom manejo do animal, assim como cui-
Fisiatria e reabilitação nas principais patologias neuro- dados de enfermagem e suporte são imprescindíveis na ma-
lógicas em animais geriatras nutenção e reabilitação destes animais com sequelas de
Numerosas condições reconhecidas do sistema nervoso doenças intracranianas diversas.
que afetam principalmente o animal mais velho são: as con-
dições neoplásicas, a mielopatia degenerativa, o tremor e as Síndrome da disfunção cognitiva (SDC)
alterações senis do cérebro que conduzem à demência 14. Definição, etiologia, sinais clínicos e diagnóstico: de uma
Como é impossível abordar todos os problemas neuro- forma simples e rápida, pode-se definir a disfunção cogni-
lógicos que acometem animais geriatras, a abordagem tiva no cão e no gato como aquelas alterações que afetam a
deste capítulo será frente as condições mais frequentes em função mental, provocando mudanças de comportamento se-
animais senis e geriátricos: doenças decorrentes de lesões cundárias, de modo muito parecido ao que faria a doença de

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 489


Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

Alzheimer em humanos. Diferentes estudos têm avaliado a demência. A atividade física intervém de diversas maneiras
prevalência desta síndrome tanto em cães como em gatos e na eficiência cognitiva, na memória visual, verbal e de tra-
permitem certa comparação com o que acontece nas pes- balho, nas funções de execução e na atenção visual e audi-
soas. Enquanto cães afetados demonstram uma série de al- tiva. A atividade física melhora o fluxo sanguíneo para o
terações neuropatológicas mais similares às dos humanos cérebro, diminuindo o risco de infarto, demência e declínio
afetados pelo Alzheimer, os gatos não demonstram um pa- cognitivo. A atividade pode estimular o crescimento de cé-
drão similar 54. Entretanto, essa denominação não deve ser lulas nervosas no hipocampo, a região do cérebro que par-
utilizada para caracterizar a doença em animais que, embora ticipa de funções de memória. Isso ajudaria o cérebro a
apresentem placas amilóides difusas, não desenvolvem os construir uma espécie de reserva para prevenir o compro-
emaranhados neurofibrilares típicos desta doença, observa- metimento mental futuro. Por outro lado, provou-se que a
dos no encéfalo humano 62. Os efeitos do envelhecimento atividade física exerce efeitos sobre a angiogênese, a sinap-
cerebral nos pacientes se devem a diversos mecanismos que togênese, o aumento do fluxo sanguíneo do cérebro, a di-
podem atuar individualmente ou em conjunto 54. minuição da inflamação e a alteração do equilíbrio do
A síndrome da disfunção cognitiva está associada a dis- neurotransmissor, o que resulta em melhora da SDC. Al-
túrbios comportamentais progressivos e crônicos, não re- guns estudos têm mostrado o impacto do exercício físico
lacionados a outras doenças encefálicas como neoplasias, como fator de proteção cerebral contra os efeitos negativos
doenças metabólicas, doenças de base vascular, ou que do estresse crônico, afirmando que um dos principais me-
levem ao aumento da pressão intracraniana. Por isso, o canismos subjacentes da forma como o estresse crônico
diagnóstico deve ser feito por meio do reconhecimento das prejudica o cérebro é um aumento no estresse oxidativo
alterações comportamentais e exclusão de doenças intra- com um aumento na peroxidação lipídica, que posterior-
cranianas ou efeitos colaterais de medicações, que podem mente exerce efeitos sobre a neurogênese no hipocampo.
mimetizar os sinais da SDC. O exame neurológico de pa- Alguns pesquisadores consideram o exercício físico como
cientes com SDC é normal. Os sinais clínicos caracterizam- uma possível intervenção comportamental para melhorar a
se por desorientação, déficits de memória e aprendizado, saúde e a plasticidade cerebral 30. Entretanto, em cães ido-
alteração nas interações sociais e no ciclo do sono-vigília. sos, há processos patológicos dolorosos que podem inter-
Predisposição para o aparecimento da SDC incluem fatores ferir na prática de atividades físicas terapêuticas.
genéticos, metabólicos e nutricionais. A idade na qual os Por isso, segundo a experiência da autora, esses animais
sinais clínicos começam a ser observados varia de acordo devem ser bem avaliados e diagnosticados processos dolo-
com a espécie e a raça. Os gatos são acometidos em idades rosos que possam interferir ou impedir a prática de uma ati-
mais avançadas que os cães. Cerca de 60% dos cães com vidade física. Sendo assim, em um primeiro momento,
onze anos de idade já apresentam sinais de SDC. Em cães esses processos devem ser tratados por meio dos agentes
de raças grandes, as alterações podem ser notadas a partir físicos utilizados na fisiatria, massagens, calor ou por ou-
dos sete anos e, em raças menores, a partir dos dez anos. A tras terapias analgésicas integrativas como a acupuntura e
etiologia ainda não está completamente esclarecida. Entre- a ozonioterapia. Após esses processos serem adequada-
tanto, acredita-se que a redução da função encefálica seja mente sanados ou minimizados, o fisiatra veterinário pode
resultado da disfunção neuronal progressiva devido ao acú- prescrever um protocolo de exercício controlado em esteira
mulo de lesões ocasionadas por processos oxidativo do en- seca, esteira aquática, natação, exercícios ao ar livre ou
velhecimento. Com isso, ocorre diminuição do volume do mesmo caminhadas controladas realizadas pelo tutor. Esses
córtex cerebral, principalmente do lobo frontal, aumento exercícios devem sempre ser realizados sob a orientação
do tamanho dos ventrículos e calcificação das meninges. de um médico veterinário fisiatra tanto com relação à sua
Há evidências de redução do número de neurônios, cujos frequência, como em relação à intensidade e esses parâme-
axônios sofrem desmielinização, e cujos corpos se degene- tros devem ser definidos individualmente para cada animal
ram ou entram em apoptose celular 62. e sua condição física e cognitiva.

Tratamento: o objetivo terapêutico é amenizar os sintomas Enriquecimento ambiental: o enriquecimento ambiental


comportamentais e proporcionar melhora da saúde e do com exercícios, brinquedos e testes de raciocínio, estimula
bem-estar do paciente. Por isso, utilizam-se fármacos, dieta o paciente, ajuda a manter sua função cognitiva, e é essen-
e suplementos para retardar o processo de morte neuronal, cial para melhorar sua qualidade de vida 62.
aumentar as neurotransmissões, reduzir os danos oxidativo Demonstrou-se que um ambiente enriquecido aumenta
e inflamação 62. a estimulação mental de cães com demência, o que favorece
a instalação de técnicas de intervenção comportamental
Fisiatria e reabilitação: Pesquisas recentes demonstraram pelos tutores na reaprendizagem de tarefas comuns, como
que a atividade física contribui para o envelhecimento mais os hábitos domésticos. Qualquer tipo de estimulação men-
saudável do cérebro, e estas pesquisas aumentaram o inte- tal ou cognitiva deve ser implementada de forma gradual,
resse em entender a influência da atividade física como uma vez que os cães com SDC têm uma capacidade limitada
um potencial fator de proteção contra a deterioração e a de concentração. É importante estabelecer o treinamento

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Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

do cérebro e programas de estimulação mental durante pas- qualquer anormalidade do cérebro resultante de um pro-
seios e até mesmo em casa, usando brinquedos cognitivos cesso patológico comprometendo o suprimento de sangue.
e jogos de busca e exploração. O enriquecimento social Processos patológicos do vaso sanguíneo incluem oclusão
também é importante, dedicando mais tempo para cami- do lúmen por um trombo ou êmbolo, ruptura de parede dos
nhadas, jogos de interação e treinamento de obediência. O vasos sanguíneos, lesão ou alteração da permeabilidade da
contato com seres humanos e outros cães em lugares e cir- parede do vaso, com aumento da viscosidade ou outras al-
cunstâncias diferentes é útil. À medida que a idade au- terações na qualidade do sangue. Acidente vascular cere-
menta, as capacidades do animal para a sensação bral, também conhecido como AVC, é a apresentação
diminuem, por isso é importante implementar um certo clínica mais comum da doença cerebrovascular, definida
grau de estimulação para manter a atividade cerebral em como um início súbito de focos não-convulsivos e não pro-
sua melhor condição. A estimulação das vias sensoriais gressivos. Por convenção, esses sinais devem permanecer
(visão, olfato, gosto, etc.) é necessária, pois a deterioração por mais de 24 horas para se qualificar para o diagnóstico
produzida nos animais senis permite que esses animais au- de AVC, que geralmente é associado com danos permanen-
mentem seu estado de segurança e diminuam a ansiedade. tes ao cérebro. Se os sinais clínicos se resolverem dentro
É aconselhável aumentar o contato com novos odores, gos- de 24 horas, o episódio é chamado de ataque isquêmico
tos e sons. A capacidade de observar a atividade exterior transitório 20.
através de uma janela e a oportunidade de ver a televisão Do ponto de vista patológico, as lesões que afetam os
quando deixado sozinho deve ser permitida 30. vasos sanguíneos cerebrais são divididas em 2 grandes ca-
Um suprimento abundante de oxigênio para o cérebro tegorias: AVC isquêmico e AVC hemorrágico. Os acidentes
dos animais senis permite que os neurônios se recuperem vasculares cerebrais isquêmicos resultam da oclusão de um
de uma privação passada. A condição melhora acentuada- vaso sanguíneo cerebral por trombo ou embolismo, pri-
mente e permanece melhorada por um período depois de vando o cérebro de oxigênio e glicose. Os derrames hemor-
ser retirado o oxigênio extra 2. rágicos resultam da ruptura de uma parede dos vasos
Na experiência clínica da autora, os campos magnéticos sanguíneos dentro do parênquima cerebral ou do espaço
pulsáteis têm uma ação positiva frente ao quadro clínico da subaracnóideo, sangrando dentro ou ao redor do cérebro 20.
SDC. O tratamento deve ser feito por pelo menos 60 mi- A avaliação inicial de pacientes com suspeita de ence-
nutos, duas vezes por semana, por pelo menos 8 semanas. falopatia isquêmica deve começar com o diagnóstico dife-
Esse efeito positivo pode ocorrer devido aos seguintes efei- rencial, incluindo traumatismo, bem como doenças
tos dessa terapia: metabólicas (por exemplo, renal, hepática, hiper ou hipo-
• diminuição da inflamação e do edema; coagulopatia, hipoglicemia), neoplásicas, inflamatórias e
• vasodilatação e incremento da disponibilidade de O2 no encefalopatias tóxicas. A caracterização do AVC isquêmico
tecido isquêmico; ou hemorrágico deve ser tentada, mas é muitas vezes im-
• regeneração do tecido periférico (migração axonal e au- possível em animais antes dos estudos de imagem 26.
mento da síntese protéica) 59. Relatos de acidentes vasculares cerebrais isquêmicos
Uma outra terapia que traz benefício ao incremento de em gatos são escassos. O termo encefalopatia isquêmica
oxigênio cerebral, segundo a experiência da autora é a ozo- felina tem sido utilizada para descrever casos de apareci-
nioterapia a qual apresenta resultados clínicos positivos mento subagudo de sinais clínicos consistentes com um pro-
nesses casos. A terapia com ozônio exerce efeitos benéficos blema cerebral ou cerebral unilateral causado por isquemia.
porque pode aumentar a distribuição de oxigênio, glicose Embora a causa permaneça desconhecida na maioria dos
e ATP dentro da célula isquêmica 3. casos, alguns deles têm sido ligados à migração de larva de
Cuterebra. Acredita-se que o parasita migratório ou a res-
Transtornos vasculares – AVC posta do hospedeiro conduz ao vaso espasmo na vasculatura
Definição, etiologia, sinais clínicos e diagnóstico: a cerebral, tipicamente a artéria cerebral média 20.
doença cerebrovascular é resultado de qualquer processo Os déficits neurológicos geralmente se referem a um
patológico dos vasos sanguíneos que abastecem o cérebro. diagnóstico anatômico focal e dependem da neurolocaliza-
O acidente vascular cerebral, caracterizado pelo seu início ção do insulto vascular (telencéfalo, tálamo, mesencéfalo,
abrupto, é a terceira principal causa de morte em seres hu- ponte, bulbo, cerebelo). O infarto de uma região do cérebro
manos. Esta condição em cães é cada vez mais reconhe- individual está associado com sinais clínicos específicos que
cida com o advento da imagem diagnóstica avançada. A refletem a perda de função dessa região específica 20.
ressonância magnética (RM) é a ferramenta diagnóstica de Tratamento: não há tratamento específico para infarto ce-
primeira escolha para acidentes vasculares cerebrais, par- rebral em cães. O cuidado de suporte com antecipação e
ticularmente usando imagens de difusão ponderada e an- tratamento de complicações é essencial para um resultado
giografia por ressonância magnética para acidente vascular positivo do paciente 26. Uma vez que o diagnóstico de um
cerebral isquêmico e sequências de eco de gradiente para acidente vascular cerebral é feito, qualquer doença subja-
acidente vascular cerebral hemorrágico 20. cente potencial é identificada e tratada em conformidade.
O termo "doença cerebrovascular" é definido como O objetivo geral é fornecer cuidados de apoio, adequada

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 491


Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

oxigenação tecidual e gerenciar complicações neurológicas técnicas complementares na reabilitação são fundamentais
e não neurológicas. O tratamento gira em torno de 3 prin- para melhorar a condição física e movimentação de animais
cípios: monitoramento e correção de variáveis fisiológicas com sequelas de AVC. As técnicas devem ser escolhidas de
básicas (por exemplo, nível de oxigênio, balanço de flui- acordo com a sintomatologia apresentada por cada animal,
dos, pressão arterial, temperatura corporal), inibição das focando principalmente na melhor deambulação, posicio-
cascatas bioquímicas e metabólicas subsequentes à isque- namento e tônus da cabeça e pescoço, no tônus muscular e
mia para prevenir a morte neuronal (neuroproteção), res- força do corpo, promover oxigenação cerebral e propiciar
tauração ou melhora do fluxo cerebral em casos de trombo. independência funcional total ou parcial. As técnicas mais
O período de tempo durante o qual a lesão pode ser rever- utilizadas são: magnetoterapia, cinesioterapia passiva como
sível é chamado de janela terapêutica. Esta "janela de opor- mobilizações articulares e cinesioterapia ativa com recursos
tunidade" é de aproximadamente 6 horas antes de ocorrer como bola suíça, prancha proprioceptiva, exercícios com
danos neurológicos irreversíveis. A gestão de enfermagem cones, utilização de diferentes pisos para treino proprio-
de um cão afetado é vital para o sucesso de terapias mais ceptivo, exercícios passivos ou ativos assistidos em água
específicas. Esta gestão inclui a prevenção de ulceração de morna, acupuntura, fitoterapia, suplementos nutricionais e
decúbito, aspiração, pneumonia, além de fisioterapia e nu- ozonioterapia.
trição enteral. As terapias mais específicas visam prevenir A terapia com ozônio melhora a circulação sanguínea e
a deterioração neurológica adicional 20. o fornecimento de oxigênio no tecido isquêmico, melhora
A recuperação pode ser esperada na maioria dos casos o metabolismo geral, ativa sistemas neuroprotetores, regula
ao longo de um período de dias ou semanas. A sobrevivên- enzimas antioxidantes, induz ativação do sistema imune e
cia a longo prazo e o risco de reinfarto dependem da causa liberação de fatores de crescimento 51.
subjacente do insulto isquêmico 26. O relato de caso de CLAVO et al. sugere que a terapia
Doenças vasculares do SNC muitas vezes podem me- com ozônio pode melhorar o fluxo metabólico em síndro-
lhorar notavelmente ao longo do tempo e a terapêutica mes relacionadas a isquemia, como em lesões cerebrais in-
complementar tem demonstrado ser eficaz para acelerar duzidas por radiação ou acidente vascular cerebral. Nesse
essa recuperação. O objetivo da integração terapêutica nes- relato de caso, embora não tenha havido modificações nas
tes pacientes é acelerar a recuperação e qualidade de vida. imagens de ressonância magnética ou tomografia compu-
As terapias holísticas incluem acupuntura, uso de ervas e tadorizada, observou-se melhora clínica evidenciada pelo
suplementos nutricionais 36. estado físico geral da paciente humana de 75 anos de idade,
e o efeito foi duradouro e sustentando 6.
Fisiatria e reabilitação: idealmente, animais com sintomas Em outro estudo clínico, foram avaliados 150 pacientes
e sequelas de AVC devem ser rapidamente encaminhados humanos, com enfermidade cerebrovascular isquêmicas,
a um serviço de reabilitação para que se possa esperar as tanto em fase aguda, como crônicas, onde os pacientes re-
melhores respostas clínicas. No entanto, a maioria dos ani- ceberam 20 sessões de tratamento de ozônio por via retal.
mais que chegam ao serviço segundo a experiência da au- Esses pacientes não receberam nenhum tipo de medica-
tora, estão severamente debilitados por períodos mentos e foi associada somente a fisioterapia no trata-
prolongados, assim, o manejo de enfermagem deve ser de- mento. Os pacientes foram avaliados clinicamente e
talhado e deve incluir posicionamento do pescoço, fisiote- validados pelo método de avaliação multidimensional. Re-
rapia com exercícios de amplitude de movimento, cama sultado: a condição clínica dos pacientes tratados melhorou
adequada com troca de posição frequente e prevenção de em 86%, com resultados superiores na fase aguda. Se ob-
úlceras de decúbito. A nutrição enteral ou raramente paren- teve uma melhora na qualidade de vida dos pacientes,
teral pode ser necessária porque alguns animais podem não assim como de sinais e sintomas neurológicos como: mo-
querer ou serem incapazes de comer por vários dias a se- noplegia, hemiplegia e disartria 49.
manas. O suporte nutricional enteral pode ser fornecido por
meio de sondas nasogástricas, faringostomia, esofagosto- Prognóstico: o prognóstico do AVC isquêmico ou hemor-
mia ou gastrostomia. A nutrição parenteral deve ser admi- rágico depende da gravidade do déficit neurológico, da res-
nistrada com cautela em pacientes que se recuperam de posta inicial aos cuidados de suporte e da gravidade de
acidentes vasculares porque são frequentemente dementes qualquer causa subjacente. Felizmente, a maioria dos casos
e podem desalojar cateteres e equipamentos para a admi- de acidente vascular cerebral isquêmico recuperam- se den-
nistração de nutrição parenteral e ocorrerem flebites 26. tro de várias semanas com apenas cuidados de suporte.
Em seres humanos, estudos mostram que a intervenção Num estudo retrospectivo recente de 33 cães, não houve as-
fisioterapêutica no AVC é eficaz na fase inicial, pois reduz sociação entre as regiões do cérebro envolvido (telencéfalo,
a permanência hospitalar e promovem maior independên- tálamo / mesencéfalo, cerebelo) e o tipo de infarto (territo-
cia. Na fase crônica, a fisiatria tem apresentado melhorias rial ou lacunar) e o desfecho do mesmo. No entanto, os cães
na marcha, nas atividades de vida diária, controle postural com uma condição médica simultânea tiveram um tempo
e na função dos membros inferiores 58. de sobrevivência significativamente mais curto do que aque-
Na experiência da autora, técnicas de fisiatria e outras les cães sem condição médica identificável. Cães com uma

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Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

condição médica simultânea também foram significativa- O déficit neurológico decorrente da lesão da medula es-
mente mais propensos a sofrer de infartos subsequentes. pinhal advém da somatória de dois eventos distintos: a
Acidente hemorrágico é muito menos comum do que o AVC lesão mecânica inicial e a lesão endógena secundária con-
isquêmico, mas está associado a maior mortalidade 20. sequente à primeira. A lesão primária é produzida pelo
trauma em si, com morte celular e liberação de eletrólitos,
SISTEMA NERVOSO CENTRAL (SNC) – MEDULA metabólitos e enzimas sendo, portanto, um processo mecâ-
A lesão medular é a doença neurológica mais comum nico que independe de controle celular. A lesão secundária
tratados pela maioria dos centros de reabilitação veteriná- da medula espinhal abarca complexas mudanças bioquími-
rios. A reabilitação precoce (isto é, começando 1-2 semanas cas, surgindo como cascata de eventos envolvendo edema,
após a lesão) e terapia intensiva para treino de locomoção inflamação, isquemia, reperfusão, fatores de crescimento,
após o trauma da medula espinal tem sido demonstrados metabolismo do cálcio e peroxidase lipídica nas quais os
em modelos experimentais e em pacientes para acelerar a esforços científicos se concentram para possibilitar seu
recuperação da função motora e devolver o aparelho à am- controle 56.
bulação. Trauma na medula espinhal ocorre como compres- Uma suspeita de fraturas e luxação vertebral é geral-
são, contusão, corte, ou distração de forças externas, tais mente simples: os casos tipicamente apresentam dor espi-
como doença aguda do disco intervertebral, embolia fibro- nhal, déficits neurológicos ou ambos, seguido obviamente
cartilaginosa, quedas e acidentes automotivos. Durante o de trauma externo. No entanto, alguns animais frequente-
estágio agudo há compressão, hemorragia, e corte do te- mente podem ter lesões em outros sistemas do corpo, os
cido, os quais causam a morte celular por meio de imediata quais em alguns casos podem ser fatais. Isto é importante
ruptura das membranas celulares e de dissociação de liga- naquelas lesões que não são imediatamente notadas (ex.
ções intercelulares. O dano imediato interfere com a trans- disritmias e pneumotórax), as quais não devem ser negli-
missão de sinais nervosos para além do ponto de lesão e genciadas em favor de tratar a óbvia lesão medular. Como
também desencadeia uma cascata de sinalização retrógrada regra geral, radiografia simples é o suficiente para diagnos-
que identifica a localização da lesão e recruta mediadores ticar a maioria das fraturas e subluxações vertebrais. Múl-
inflamatórios e células para a área. Após a lesão imediata, tiplas lesões ocorrem em aproximadamente 5 a 10 % de
edema local, hemorragia contínua, e os restos de tecido per- todos os animais afetados 33.
sistente no canal da coluna vertebral podem continuar a
exercer forças de compressão sobre a própria medula espi- Tratamento: cirúrgico.
nhal, resultando em um stress neuronal em curso. Mesmo
na ausência de compressão persistente, isquemia, ou dimi- Fisiatria e reabilitação: a intensidade dos cuidados reque-
nuição da perfusão, edema local e dano oxidativo secun- ridos é variável e vai depender da severidade dos déficits
dário, desempenham um papel chave na extensão e iniciais e do tipo de intervenção cirúrgica que foi utilizada.
gravidade da lesão da medula espinhal. Destes, a perfusão Em geral, os cuidados de pacientes que foram submetidos
do tecido pode ser a mais sensível à intervenção da fisiatria. a cirurgia são mais simples, porque a estabilidade no local
Assim, as técnicas e modalidades fisiátricas que promovem da lesão permite um tratamento mais vigoroso sem causar
a circulação são muitas vezes centrais para o programa de dor. A prioridade no cuidado é o alivio da dor, reduzir o
reabilitação para pacientes com lesão medular 61. risco de complicações devido ao decúbito (especialmente
pneumonia), esvaziamento da bexiga e a fisiatria para pro-
Trauma medular: fratura vertebral e sub-luxações mover o uso dos membros e reduzir a atrofia muscular.
Definição, etiologia, sinais clínicos e diagnóstico: as fra- Prevenção de complicações em relação ao decúbito pro-
turas vertebrais e luxações são a maior causa de lesões neu- longado podem ser realizadas movendo frequentemente o
rológicas em pequenos animais. Estes casos mais animal, usando slings e outros suportes. Frequentemente
comumente resultam de uma força externa, como em aci- (ex. 2-4 horas), é necessário viral o animal para não sobre-
dentes automobilísticos ou quedas. Acidentes de automó- carregar os pulmões e circular o sangue pelos membros.
veis, são causa em aproximadamente 40-60 % das fraturas Técnicas de massagem nos pulmões são úteis para ajudar o
e sub- luxações vertebrais em cães e gatos. Fraturas e lu- animal a tossir e limpar a secreção das vias aéreas e reduzir
xações vertebrais invariavelmente causam dor e déficits o risco de pneumonias. Colchões com espessura grossa são
neurológicos. Estes déficits resultam da compressão ou essenciais para evitar o desenvolvimento de escaras de de-
contusão do tecido neural, enquanto que a dor pode surgir cúbito, especialmente em cães de grande porte 33.
por causa da compressão neural ou lesão mecânica direta e Segundo a experiência da autora, as modalidades tera-
instabilidade de tecidos mesenquimais. O impacto da lesão pêuticas a serem utilizadas após a lesão/cirurgia, vão de-
na medula, inevitavelmente resulta em destruição tecidual pender da gravidade dos sinais e estado geral do animal.
com severidade altamente variável. O principal foco da te- Frequentemente estes animais apresentam quadro inflama-
rapia é preservar a função e a sobrevivência do tecido neural, tório e álgico em diversos graus e esta dor/inflamação
onde frequentemente é necessária cirurgia de descom- deve ser tratada o mais precoce possível. Algumas técni-
pressão e estabilização seguida da fisiatria e reabilitação 33. cas comumente utilizadas com este fim são: acupuntura,

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 493


Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

laserterapia, fototerapia, magnetoterapia, massagem, gelo. o diagnóstico de doença do disco intervertebral em cães,
Nesta fase do tratamento, são imprescindíveis além dos cui- embora ainda esteja pouco disponível no Brasil.
dados de manejo, iniciar a cinesioterapia passiva com mo-
bilização de todas as articulações disponíveis. Nesta etapa, Tratamento: o tratamento de cães com DDIV toracolom-
além da ação anti-inflamatória e analgésica, alguns destes bar pode ser clínico/conservativo ou cirúrgico, dependendo
recursos podem estimular a cicatrização de tecidos e rege- do grau de disfunção neurológica e da condição geral do
neração neural, estimulando a neuroplasticidade. Assim, animal. Particularmente em casos de animais geriatras, a
que o quadro inflamatório/álgico esteja mais controlado, condição geral e doenças concomitantes deve ser cuidado-
podem ser iniciados os exercícios ativos assistidos e o uso samente avaliada antes de decidir pelo tratamento cirúr-
e suportes. Nesta fase, também é indicada a modalidade de gico.
eletroestimulação a fim de minimizar a perda muscular O tratamento clínico é constituído de repouso absoluto
pelo desuso e começar a trabalhar força e resistência mus- em gaiolas por quatro semanas associado ao uso de anti-
cular. Pode ser iniciado aqui exercícios ativos sob supervi- inflamatório esteroidal ou não esteroidal, sendo efetivo na
são em esteira seca ou aquática. maioria dos cães que apresentam sinais de dor, ataxia pro-
Em uma terceira fase da reabilitação onde o animal já prioceptiva e/ou paraparesia ambulatória. As indicações
consegue um mínimo de apoio ou começa a dar passos, os para o tratamento cirúrgico da DDIV são a falta de resposta
exercícios em esteira aquática ou natação podem ser inten- ao tratamento clínico; sinais clínicos recidivantes ou pro-
sificados, conforme o caso. Na impossibilidade de o animal gressivos; paraparesia não ambulatória; paraplegia com
voltar a deambulação, pode ser utilizado o carrinho de preservação da nocicepção (dor profunda) e paraplegia e
rodas como auxilio a deambulação e prevenção de escaras ausência da nocicepção com duração inferior a 24 horas 63
de decúbito. ou 48 horas 66.
É imperativo que período prolongado de recuperação Terapias complementares no paciente com doença do
pode ocorrer para os animais que apresentem lesões graves. disco intervertebral são mais úteis quando se tem um diag-
Na medicina humana está bem estabelecido que a recupe- nóstico definitivo ou quando a intervenção cirúrgica não é
ração total de uma lesão da medula espinhal pode levar até uma opção como por exemplo em pacientes geriatras ou
(e às vezes até mais) de 12 meses, e os humanos tetraplé- com outras doenças subjacentes. Essas terapias podem ser
gicos são comumente hospitalizado por até 9 meses. Esta utilizadas também para aliviar a dor no pós-operatório de-
recuperação parece ser mais rápida em cães e gatos, sendo vido à manipulação de tecidos moles e ossos, assim como
que maior recuperação da função ocorre por volta de 3 para melhorar o fluxo sanguíneo regional para a área afe-
meses após a lesão. O importante é não eutanasiar os casos tada e para melhorar a força muscular 36.
prematuramente 33.
Fisiatria e reabilitação: o repouso é fundamental, por isso
Prognóstico: reservado. Depende do grau da lesão neuro- os tutores devem ser instruídos a manterem os animais sob
lógica, técnicas cirúrgicas empregadas, técnicas fisiátricas restrição de movimento ou em gaiolas, sendo retirados
empregadas e resposta individual do paciente. apenas para defecar e urinar, para evitar a agravação do
quadro 60. O período de repouso deve ser de no mínimo 30
Doença do disco intervertebral (DDIV) dias 32.
Definição, etiologia, sinais clínicos e diagnóstico: A A fisiatria normalmente atua em um intensivo manejo
doença do disco intervertebral é uma afecção que ocorre da dor e cuidados de suporte imediatamente após a cirurgia,
primariamente em cães de raças condrodistróficas devido ajuda na transição mais rápida da mobilidade e retorno à
à extrusão ou protrusão do disco degenerado no interior do função. Embora os tempos de recuperação possam variar
canal vertebral8. Em caninos, a DDIV é mais comumente muito, as primeiras 2 a 4 semanas após a cirurgia ou lesão
associada à compressão extramedular nos espaços interver- são as mais esclarecedoras em relação a um prognóstico a
tebrais entre T11 e L3. A maioria dos relatos indica que a longo prazo do paciente. Para a maioria dos pacientes, o
incidência da DDIV é aproximadamente igual entre ma- melhor sinal de recuperação, como a restauração da sensa-
chos e fêmeas) 40. Os animais com DDIV tóraco -lombar ção de dor profunda e retorno da função motora voluntária
podem apresentar dor, alteração dos reflexos espinhais seg- ocorrem durante esse período de tempo ou antes disso.
mentares, variação no tônus muscular, atrofia muscular por Ainda assim, a recuperação é mais lenta nos pacientes mais
desuso, disfunção sensorial e motora, perda do controle vo- gravemente afetados. A recuperação da função motora pode
luntário da defecação e micção 39. O diagnóstico presuntivo ser longa, como 9 meses após a cirurgia ou lesão. Para os
da DDIV em cães pode ser baseado nos sinais clínicos, his- pacientes que não recuperam a capacidade de andar no pri-
tória clínica, exame físico e neurológico 60. O diagnóstico meiro mês ou segundo, cuidados de suporte e fisiatria para
exige a confirmação radiográfica simples e contrastada no gerenciar os efeitos secundários da doença tem uma impor-
intuito de se observar presença de compressão em massa e tância ainda maior. Para estes pacientes, um auxiliar de mo-
evidência de alterações características no canal medular 4. bilidade, tal como um carrinho de deambulação, pode
Ressonância magnética é o método de imagem ideal para melhorar significativamente a qualidade de vida e reduzir

494 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

o risco de complicações secundárias à imobilidade. Em re- ser usado para estimular a cicatrização de feridas através
lação a discopatia Hansen tipo II são tipicamente associa- da ativação da migração de fibroblastos, promovendo tam-
dos com sintomas mais crônicos e déficits neurológicos bém a perfusão dos tecidos moles, a drenagem linfática e a
lentamente progressivos. Nestas condições mais crônicas, diminuição do edema dos tecidos moles e músculos 36.
justifica-se uma abordagem terapêutica diferente, com Segundo a experiência da autora, vários recursos fisiá-
menos ênfase no tratamento agressivo no curto prazo e um tricos podem ser incluídos em um programa de reabilitação
maior foco na repetição frequente de atividades de baixo segundo a etapa terapêutica em que os animais se encon-
impacto e de baixa intensidade para preservar a função neu- tram. Em fases agudas da lesão e em pós cirúrgicos, podem
romuscular e musculoesquelética, e controle da dor crônica ser utilizados agentes físicos como TENS, laserterapia,
em alguns pacientes 57. Isso é particularmente importante no magnetoterapia, eletroterapia e fototerapia. Pode ser utili-
caso de pacientes senis e geriatras, porque são frequente- zado também, o gelo em um pós-cirúrgico imediato e/ou
mente acometidos por discopatia Hansen tipo II (Figura 4). até se manterem os sinais típicos da inflamação aguda e
Em um estudo da Universidade de Konkuk, Korea, os subaguda. Recursos como cinesioterapia passiva e assis-
autores relataram 15 casos de cães com discopatia toraco- tida são recomendadas também nesta fase. Em etapas te-
lombar tratados de maneira conservativa. Os animais foram rapêuticas mais tardias, em geral após 7-10 dias, podem
tratados com prednisolona, carprofeno e antibióticos, acu- iniciar-se exercícios ativos e/ou assistidos e hidroterapia,
puntura (Ji Zhong, Bai Hui, Zhong Shu, Be 28, E 36 e VB 30) sempre de acordo com o status neurológico do animal e
fisioterapia (hidroterapia, termoterapia, massagem, mani- sua condição geral. Em casos onde o animal tenha dor crô-
pulação e natação). Dos 15 animais, 12 recuperaram os dé- nica ou algum desconforto físico ou muscular, pode-se
ficits neurológicos em 21 dias após o início dos tratamentos. manter um ou mais agente físico como recurso analgésico
Os outros três animais que não melhoraram apresentavam em estágios mais crônicos da reabilitação. Adicionalmente,
outras enfermidades medulares concomitantes. Todos os pode-se incluir a quiropraxia aos protocolos de tratamentos
animais apresentaram controle urinário normal, após o tra- conservativos.
tamento e após 21 meses, nenhum dos 12 animais apresen- A quiropraxia tem sido sugerida como um adjuvante
tou recorrência. Dessa maneira os autores concluíram que eficaz na prevenção de recorrências de prolapso de disco,
a terapia conservativa pode ser efetiva no manejo de animais mas cuidado deve ser tomado para não danificar segmentos
com paraparesia, paraplegia e disfunções urinárias causadas instáveis ou anormais 36. Assim, como para qualquer outra
por doença do disco intervertebral 29. especialidade veterinária, somente um médico veterinário
Segundo Kline 2002, são úteis tratamentos com acupun- capacitado nessa área deve fazer o diagnóstico quiroprático
tura, estimulação elétrica, bem como o uso de ultrassom e ajustar um animal com doença do disco intervertebral.
terapêutico, campos elétricos e terapia a laser. O laser pode Prognóstico: reservado. O prognóstico é dado conforme

Figura 4 – Paciente fêmea da raça maltês, com 15 anos de idade, tratamento com fototerapia, doença do disco inter-
vertebral, tratamento conservativo

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 495


Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

os sinais neurológicos, localização anatômica da lesão, meio de exame histopatológico da medula espinhal, no qual
tempo do surgimento dos sintomas e tratamento (s) reali- são observados desmielinização e degeneração axonal, as-
zado (s) e disponibilidade do tutor (Figuras 5 e 6). trocitose da substância branca da medula espinhal, sendo
mais grave nos segmentos torácicos da medula espinhal,
Mielopatia degenerativa especialmente nos funículos lateral e ventro-medial. Con-
Definição, etiologia, sinais clínicos e diagnóstico: a mie- tudo, em função do quadro neurológico estabelecido e da
lopatia degenerativa (MD) é uma doença crônica degene- ausência de exames específicos in vivo, o diagnóstico clí-
rativa, lentamente progressiva. Envolve primariamente os nico por exclusão pode ser sugerido para esta doença. Os
tratos longos da medula espinhal toracolombar canina. A sinais clínicos iniciais são a ataxia e paresia indolores dos
doença tem maior prevalência em algumas raças caninas de membros pélvicos, ausência de hiperpatia espinhal, dimi-
grande porte, mas já foi descrita também em raças miniatu- nuição da propriocepção consciente e dismetria 14.
ras e felinos 23. Essa é uma patologia com bastante impor-
tância na rotina de consultórios de reabilitação, devido à alta Tratamento: A mielopatia degenerativa não possui tra-
prevalência em animais geriatras. tamento cirúrgico, mas somente clínico e paliativo sendo
A etiologia da mielopatia degenerativa é desconhecida. recomendados anti-inflamatórios não esteroidais, suple-
Com base na comparação com formas semelhantes em ou- mentação dietética de vitaminas e fisioterapia 23.
tras espécies e nos estudos imunohistoquímicos, tem sido
propostas hipóteses imunomediadas e nutricionais (carência Fisiatria e reabilitação: foram reportados dados de sobre-
de vitamina E), apesar de não terem sido encontradas alte- vivência (tempo decorrido entre o diagnóstico e a eutaná-
rações na expressão da α-TTP (α tocopherol transfer protein), sia) de 22 cães doentes com suspeita de mielopatia
tal como ocorre nos pacientes humanos com ataxia e defi- degenerativa os quais receberam vários graus de intensi-
ciência de vitamina E 18. Mecanismos imunológicos, meta- dade de fisioterapia. A condição neurológica dos pacientes
bólicos ou nutricionais, estresse oxidativo, excitotóxicos e foi classificada da seguinte maneira: três grupos de acordo
genéticos, tem sido explorados para o entendimento da pa- com o grau de déficit neurológico (isto é, ligeira, mode-
togênese da mielopatia degenerativa. Cães com mielopatia rada, severa) no momento de diagnóstico. O grau foi ca-
degenerativa apresentam aspecto clínico similar a ELA (es- racterizado por gravidade da ataxia e paraparesia nos
clerose lateral amiotrófica) em humanos 7. membros posteriores do animal parado. O primeiro grupo
O diagnóstico definitivo somente é confirmado por foi classificado por paraparesia leve e ataxia, que foi mais

Figura 5 – Paciente fêmea canina, sem raça definida, com 15 anos de idade. Evidencia-se perda proprioceptiva do
membro pélvico esquerdo, causada pela doença do disco intervertebral, tratamento clínico conservativo e fisiatria

496 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

Figura 6 – Fêmea canina, da raça dachshund, com 12 anos de idade. Tratamento com laser de baixa frequência para
dor crônica causada por discopatia cervical

evidente durante mudança de direção ou execução do mo- Fisioterapia intensiva foi considerada quando os cães
vimento. O segundo grupo incluiu cães com ataxia mode- (grupo 1) fizeram exercícios de marcha pelo menos 3-5
rada e paraparesia nos membros posteriores que era vezes por semana, adicionalmente massagem e mobilização
caracterizado por clônus intermitente dos dedos dos pés. O articular passiva 3 x ao dia ou hidroterapia diária. Fisiotera-
terceiro e o grupo mais afetado incluiu ataxia grave e para- pia moderada foi considerada quando os cães (grupo 2) fi-
paresia, com clônus espontânea dos dedos dos pés 34. zeram exercícios de marcha no máximo 3 vezes por semana
Todos os tutores receberam instrução cuidadosa sobre e hidroterapia ou massagem 1 vez por semana. O grupo 3
como executar a fisioterapia adequada na sequência de um foi de cães que não receberam fisioterapia 34.
protocolo de estudo. Foram sugeridas técnicas fisioterápi-
cas como: exercício de marcha, massagem, movimento ar- Resultados: os autores encontraram uma significativa pre-
ticular passivo e hidroterapia. Resumidamente, exercício disposição das raças: pastor alemão, kuvasz, hovawart, e ber-
ativo foi prescrito como caminhadas curtas de 5-20 minutos nese mountain dog. A média de idade no diagnóstico foi de
(dependendo do estado neurológico do cão), 5 vezes dia- 9,1 anos e ambos os sexos foram afetados igualmente. A lo-
riamente. Se necessário, os cães foram apoiados com auxí- calização anatômica da lesão da medula espinal foi segmento
lio de um suporte específico. Especial atenção foi dada para T3-L3 em 56% dos casos e L3-S3 em 44% dos casos. Os
corrigir a colocação das patas (propriocepção) durante a cães que receberam fisioterapia intensiva tiveram um tempo
caminhada e de pé. Massagem diária de membro posterior de sobrevivência maior (média de 255 dias), enquanto que
e músculos da coluna vertebral e movimento articular pas- os cães que receberam fisioterapia moderada (média 130
siva suave (realizada 10 vezes separadamente, no quadril, dias) e os que não receberam fisioterapia (média 55 dias) 34.
joelho e articulações do tarso e digitais) foi aplicado 3 Considerando os resultados deste estudo, o tempo de so-
vezes por dia. Hidroterapia (natação ou água esteira se dis- brevivência foi positivamente associado com o grau de fisio-
ponível) foi realizada pelo menos uma vez por semana du- terapia. Simultaneamente, o tempo médio de sobrevivência
rante 5-20 minutos, dependendo a condição do cão. e grau de fisioterapia realizada foram semelhantes nos grupos
Proteção das patas foi fornecida por ligaduras ou meias, categorizados pela gravidade dos déficits neurológicos e o
quando necessário. Todos os tutores foram entrevistados tempo de diagnóstico. Esse achado sugere que, mesmo em
por telefone para obter as informações da sequência dos cães com déficits neurológicos graves no momento do
casos. Ênfase especial foi colocada sobre tempo entre diag- diagnóstico, a fisioterapia pode resultar num maior tempo
nóstico e eutanásia (isto é, o tempo de sobrevivência), bem de sobrevivência, mesmo em comparação com cães com
como a intensidade de a fisioterapia que foi realizada. Os menor déficits neurológicos que não receberam fisiotera-
cães com informações completas foram classificados pia. Os resultados positivos de nosso estudo sugerem que
em três grupos de acordo com a intensidade de fisioterapia o tempo deambulação pode ser aumentada em cães com
realizada (1 = intensivo, 2 = moderada, 3 = nenhuma). mielopatia degenerativa se o protocolo descrito de fisiote-

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 497


Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

rapia é aplicado 34. Limitações neste estudo incluem falta nente é afetado e a etiologia subjacente; portanto, uma in-
de randomização e diagnóstico definitivo. Ainda assim, a vestigação diagnóstica completa é necessária 57.
reabilitação e a fisioterapia podem melhorar a qualidade A alteração da função depende dos (s) nervo (s) acome-
de vida dos tutores e dos animais com mielopatia degene- tido (s) e da localização da lesão ou doença. A neuropatia
rativa. Em geral, a longo prazo o prognóstico para cães periférica pode ser sensitiva ou motora. A sensitiva isola-
com mielopatia degenerativa é pobre 7. damente, é rara. A forma motora provoca fraqueza, atrofia
Até o presente momento, não existe tratamento ou pro- muscular e arreflexia. As neuropatias periféricas podem ser
filaxia para humanos com ELA (esclerose lateral amiotró- adquiridas ou congênitas 43.
fica). Outras terapias no horizonte incluem células tronco Dentre as adquiridas incluem-se: traumatismos, endó-
e imunoterapia. Como a ELA é uma doença heterogênea, crinas, síndromes paraneoplásicas, infecções, intoxicações
exige uma abordagem multiterapêutica. Portanto, a neces- e doenças imunomediadas. Dentre as congênitas incluem-
sidade de terapias modificadores para esta doença, é pri- se: degeneração nervosa de característica autossômica
mordial 7. dominante em raças como rottweiller, abiotrofias, polineu-
Segundo a experiência da autora, frequentemente cães ropatias hereditárias em raças como golden retriever, neu-
idosos que chegam ao serviço de reabilitação, apresentam ropatia axonal gigante e atrofia muscular espinhal em cães
como diagnóstico diferencial, mielopatia degenerativa. Pelo da raça pastor alemão 43.
fato do diagnóstico definitivo dessa patologia ser difícil e vir Doenças neuromusculares: um grande número de enfer-
associado à exclusão de outras patologias, frequentemente midades pode ser incluído neste grupo e estes animais não
esses animais apresentam sinais clínicos e neurológicos com- caminham ou manifestam fraqueza. Causas comuns são:
patíveis com outras patologias como discopatias crônicas, miastenia gravis, polirradiculoneurite, botulismo, veneno
neoplasias e outros, as quais acabam por confundir o quadro. de serpentes como da cobra marrom australiana, veneno de
Nesses casos e na impossibilidade de um diagnóstico defi- peixe-sapo (Diodontidae) 43.
nitivo por imagem, indica-se tratar a dor e disfunção basea- Segundo a experiência da autora, as doenças neuromus-
dos no exame neurológico e disfunção. Após a melhora do culares em pacientes senis e idosos que mais chegam à clí-
quadro álgico sem uma melhora definitiva do quadro loco- nica de reabilitação são: polirradiculoneurite, síndromes
motor, presume-se ao fim, que se pode tratar de um caso de paraneoplásicas e de causas endócrinas e são de difícil
mielopatia degenerativa. Nos casos de cães que ainda deam- diagnóstico e tratamento.
bulam, os tratamentos com técnicas da fisiatria podem retar- O histórico, o exame físico e o exame neurológico pro-
dar a paralisia do animal. Em contrapartida, no caso de cães porcionam indícios importantes para se iniciar um correto
que já chegam ao serviço de reabilitação paralisados, a res- diagnóstico. Um aspecto comum das neuropatias de cães e
posta em relação ao retorno da locomoção é muito ruim. gatos é que a tentativa de diagnóstico freqüentemente se
Nesse caso, é indicado ao dono um programa de monitora- baseia nos sintomas que caracterizam uma doença especi-
mento e prevenção das sequelas próprias de um animal pa- fica. O resultado dos exames de eletrodiagnóstico e da bio-
ralítico como: aparecimento de escaras de decúbito, dor psia de nervo/músculo podem confirmar a presença da
associada a não função dos membros, edema de membros neuropatia, mas, por si só, raramente permitem a definição
entre outras consequências. Segundo a rotina e experiência de um diagnóstico especifico. Mesmo quando o exame his-
na área da autora, o que se observa é que quanto mais os tu- topatológico confirma o diagnóstico de uma doença espe-
tores são dedicados e persistentes no tratamento de fisiote- cífica, a etiologia primária freqüentemente permanece
rapia, mais pode ser possível alterar o curso da doença. Isso intacta. Realmente, as causas primárias da maior parte das
pode ser corroborado por Polizopoulou et al., 2008, onde neuropatias de cães e gatos são desconhecidas 11.
mostraram em seu estudo clínico, que em um caso em que o
tutor era médico veterinário e foi persistente no tratamento Tratamento: tratamento da causa primária subjacente.
com a fisioterapia e isso provavelmente atrasou o apareci- Como a maior parte das causas das neuropatias são desco-
mento da paraplegia por até 2 anos 47. nhecidas, não há tratamento efetivo para várias dessas
doenças. Contudo, algumas destas disfunções se curam es-
Prognóstico: o prognóstico da MD é desfavorável e não pontaneamente, enquanto outras podem prejudicar a qua-
há tratamento clínico que possa interromper com sucesso lidade de vida do paciente 11.
a desmielinização 23.
Fisiatria e reabilitação: embora o principal na gestão para
Doenças do sistema nervoso periférico (SNP) – muitas doenças neuromusculares é o tratamento da doença
doenças neuro-musculares subjacente primária, a fisiatria deve ser considerada uma
Definição, etiologia, sinais clínicos e diagnóstico: os prin- terapia adjuvante importante. Alguns destes animais muitas
cipais componentes do sistema neuromuscular periférico vezes experimentam uma recuperação prolongada com du-
(SNP) são: músculo, junção neuromuscular e nervo perifé- ração de semanas a meses, durante o qual a fisiatria e os
rico. Os achados do exame neurológico em pacientes com cuidados de suporte adequado são essenciais. A fisiatria
doença SNP são variáveis, dependendo de qual compo- também pode ser incorporada no plano de tratamento des-

498 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

ses pacientes afetados por polineuropatias crônicas dege- em camundongos que vivem em um ambiente enriquecido
nerativas progressivas, para preservar a massa muscular e por 10 a 20 meses foi cinco vezes maior do que nos con-
manter a força. No entanto, uma investigação mais apro- troles. Relativamente, o aumento dos fenótipos neuronais
fundada é necessária determinar se a terapia física real- ocorreu inteiramente à custa dos astrócitos recém-gerados.
mente retarda a progressão da doença. Nos seres humanos, Essa plasticidade celular ocorreu no contexto de melhorias
treinamento de força e equilíbrio é segura e eficaz para pa- significativas nos parâmetros de aprendizagem, comporta-
cientes com neuropatia periférica 57. mento exploratório e atividade locomotora. Os ratos que
Segundo a experiência da autora, os objetivos principais ficaram em ambientes enriquecidos também tiveram uma
na fisiatria e reabilitação de pacientes com doenças do SNP carga reduzida de lipofuscina no giro dentado, indicando
são: uma diminuição da degeneração não específica dependente
• melhorar/manter/retardar a perda da força muscular; da idade. Consequentemente, em ratos, os sinais de enve-
• evitar/reduzir contraturas e deformações; lhecimento neuronal podem ser diminuídos por uma vida
• promover/estimular/prolongar a marcha; ativa e desafiadora, mesmo que esta estimulação tenha co-
• manter/melhorar a função respiratória; meçado apenas na idade média deles. A atividade exerce
• estimular a independência e funções físicas principais. não só um efeito agudo, mas também um efeito sustentado
Os principais recursos fisiátricos que podem ser utiliza- na plasticidade cerebral 35.
dos para os objetivos acima são: terapias manuais como
massagens e mobilizações articulares, exercícios passivos, Condições ortopédicas
ativos e ativos assistidos, estimulação elétrica, ultrassom e Muitas condições ortopédicas podem afetar cães e gatos
hidroterapia. Cuidados de suporte e enfermagem, assim senis e geriatras, dentre elas: fraturas, luxações, amputações
como o manejo destes animais é se suma importância para por diversos motivos, osteoartrose secundária à displasia
o tratamento ou manutenção destes pacientes. coxo femoral e do cotovelo, ruptura do ligamento cruzado,
problemas em tecidos moles, poliartrites imunomediadas,
Prognóstico: depende da doença adjacente primária. dentre outras. Porém todas elas dão algumas consequências
comuns e importantes: inflamação, dor, rigidez e limitação
Neuroplasticidade de movimentos. Isso leva à um ciclo vicioso de difícil re-
Neuroplasticidade é a capacidade dos neurônios em al- solução como mostra a figura 7, mas onde a fisiatria e rea-
ternar a função, perfil químico (quantidade e tipos de neu- bilitação podem atuar quebrando esse ciclo vicioso, não
rotransmissores produzidos) ou estrutura por mais de descartando o tratamento médico ou cirúrgico primários.
alguns segundos 31. Uma outra consequência comum de muitas das disfunções
Aprendizado motor, controle motor e neuroplasticidade ortopédicas citadas acima é a osteoartrose (OA) em diver-
são três das áreas de interesse do fisiatra que trabalha com sas articulações.
pacientes de diferentes idades e com diagnóstico de doen- Todas as condições musculoesqueléticas supracitadas,
ças ou traumatismos do SNC. Novos avanços em pesquisas causam diminuição da flexibilidade, mudanças artríticas
nas áreas de neurofisiologia, teorias do aprendizado motor em articulações de carga e massa muscular reduzida podem
e controle motor, e adaptação do sistema nervoso após a predispor em idosos, a danos de sobrecarga e torna-los vul-
lesão (neuroplasticidade) orientam as avaliações e inter- neráveis para trauma agudo, como estiramentos ligamen-
venções feitas pelo fisiatra, embora os parâmetros especí- tares e rupturas de músculo 22.
ficos para cada componente de uma intervenção sejam de Segundo a casuística e experiência da autora, é muito
exclusiva responsabilidade do profissional fisiatra 64. comum em casos de cães idosos, apresentarem sinais asso-
Um declínio dependente da idade na neurogênese do hi- ciados a um problema neurológico versus um problema
pocampo tem sido relatado em roedores de laboratório. O ortopédico. O exemplo mais comum é a displasia coxofe-
enriquecimento ambiental provou ser um forte gatilho de moral associada a sinais de dor ou disfunção na coluna ver-
neurogênese em roedores de laboratório jovens e idosos, tebral. Isso acontece porque um paciente não é apenas
que geralmente são mantidos em instalações com escassez “uma articulação” ou uma “patologia”, ele é uma associa-
de estímulos ambientais 46. ção de fatores baseados e influenciados pela sua biomecâ-
Os neurônios nascem continuamente vindos de células- nica, genética, peso, fatores ambientais entre outros. E
tronco endógenas e adicionados ao giro dentado ao longo todos os sinais devem ser bem observados, acompanhado
da vida, mas a neurogênese do hipocampo adulto declina de uma palpação minuciosa para identificação de sinais
precipitadamente com a idade. A exposição de curto prazo mais sutis ou não tão evidentes dentro da disfunção que o
a um ambiente enriquecido leva a um aumento notável em animal apresenta.
novos neurônios, juntamente com uma melhoria substan- Na gestão de casos não cirúrgicos de displasia coxofemo-
cial no desempenho comportamental. Essa resposta plástica ral, são indicados tratamentos físicos, terapias preventivas e
poderia ser relevante para explicar os efeitos benéficos de reabilitação. Os objetivos terapêuticos são criar o melhor am-
levar "uma vida ativa" à função cerebral e à patologia. Esse biente musculoesquelético possível para evitar a dor no qua-
trabalho mostra que a neurogênese do hipocampo adulto dril e retardar o processo de doença articular degenerativa.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 499


Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

drome do Piriforme), onde há dor na nádega, com ou sem


radiação para a perna, quando uma patologia medular for
excluída. Nos cães, a origem do músculo piriforme é rela-
Disfunção
tada como sendo na superfície lateral do terceiro sacro (S3)
e primeiras vértebras coccígeas e/ou na borda da superfície
ventral do sacro e ligamento sacrotuberoso. A hipótese do
Limitação do fenômeno da tensão e espasmo do piriforme pode ocorrer
movimento Inflamação
da associação de disfunções sacroilíacas nos cães 28. Se-
gundo a experiência da autora, esse é um achado comum
nos pacientes da clínica de reabilitação física: ciatalgia, dor
e espasmo da musculatura desta região.
Dor
Muitos problemas na área do quadril mostram disfun-
Rigidez
ções do movimento da articulação do quadril em combina-
ção com a coluna lombar, a articulação sacroilíaca, as
estruturas neurodinâmicas e os sistemas musculares. Foram
Figura 7 – Ciclo vicioso de sinais e sintomas ortopédicos relatadas lesões de tensão muscular pertinentes ao quadril
que afetam animais senis e geriatras canino nos músculos iliopsoas, pectíneo, grácil, sartório,
tensor da fáscia lata, reto femoral e semitendinoso. Os diag-
Na literatura humana, cita-se que boa musculatura glútea é nósticos físicos deste tipo de lesão requerem habilidades
necessária para a capacidade de andar, proporcionar sime- de palpação 28.
tria de marcha e prevenção de osteoartrite. Exercícios para Dentre as principais atuações da fisiatria e reabilitação
fortalecer os glúteos em cães devem incorporar reforço, veterinária nas condições ortopédicas de pacientes geria-
controle da motricidade fina, exercícios direcionados para tras, pode-se destacar: controle da dor e inflamação. É ne-
o equilíbrio, coordenação e consciência corporal. Para for- cessário saber que animais geriatras sentem dor e que são
talecimento da musculatura total pode-se fazer exercícios predominantes sinais de dor crônica quando se fala de con-
em formato de“8”, caminhada em esteira sub-aquática, dições ortopédicas. Estas terapias têm papel importante no
exercícios de sentar e levantar, andar em superfície com tratamento tanto da dor aguda, como da dor crônica 19.
aclive (de cima para baixo e em diagonal) e exercícios de A dor crônica associa-se com importantes desvantagens
salto. Pode-se utilizar a estimulação elétrica neuromuscular (alteração da fisiologia, potencialização de outras afecções
nos glúteos para facilitar sua melhor contração. Para me- como o câncer, piora da osteoartrose, diminuição da ativida-
lhorar os movimentos finos, pode-se fazer o animal cami- de, alterações de comportamento como agressão, depressão,
nhar sob uma prancha de madeira, o forçando a se ansiedade e alteração adversa do laço humano-animal) 38.
equilibrar. Devem ser realizados também técnicas de mo- Além da utilização de fármacos, outras importantes ferra-
bilização articular e alongamentos. O manejo conservador mentas devem ser utilizadas para fornecer alívio efetivo da
deve incluir o uso do calor, exercício controlado, a preven- dor crônica como a fisioterapia e reabilitação, acupuntura,
ção da obesidade 28 (Figura 8). ozonioterapia, fitoterapia, homeopatia, entre outras.
Com relação por exemplo a
articulação sacroilíaca versus a
relação com dor na pelve: a
inervação da articulação sa-
croilíaca surge do primeiro, se-
gundo, terceiro ou quarto
nervos sacrais (S1 a S3 ou S4)
e tem entrada sensorial dos
gânglios da raiz dorsal da pri-
meira lombar (L1) para o ter-
ceiro sacro (S3). Assim,
disfunções da articulação sa-
croilíaca podem também cau-
sar dor para além da região
pélvica 28.
A ciatalgia em humanos,
pode ser um sintoma secundá-
rio a inflamação e compressão Figura 8 – Cão fêmea da raça labrador, 10 anos, com displasia coxo femoral bilateral
do músculo piriforme e sua e osteoartrose secundária. Exercícios para fortalecimento muscular e perda de peso
fáscia (conhecida como Sín- corporal em esteira aquática

500 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

O melhor momento para começar o tratamento analgé- pode estar significativamente diminuída em decorrência da
sico é tão logo for possível no caso de traumas ou dor crô- presença de incongruência de superfície, da contratura e
nica 38. espasmos musculares, presença de fibrose periarticular ou
Pela falta de estudos clínicos em animais em relação à bloqueio mecânico com osteófitos ou fragmentos articula-
dor crônica associada a casos ortopédicos em animais senis res livres. Sinovite, derrame sinovial, osteófitos ou fibrose
e geriatras, a informação nesse capítulo não pode se basear periarticular podem gerar um aumento de volume articular.
na revisão de estudos científicos e, portanto, é uma combi- A dor e a rigidez podem gerar um quadro de claudicação,
nação da experiência da autora e de outros profissionais diminuição da atividade funcional e perda de massa e for-
com prática na área de reabilitação animal, que se encon- ças musculares 10.
tram comprometidos nos tratamentos de pacientes com as Define-se como o resultado final de uma enfermidade,
mais variadas patologias que cursam com dor crônica. ou conjunto de enfermidades, de lenta evolução, que afeta
Deve-se atuar de forma precoce no controle da dor e in- as articulações móveis e que clinicamente se caracteriza
flamação, tanto em condições cirúrgicas, como não cirúr- por provocar nelas a aparição gradual da dor, rigidez e li-
gicas, inclusive de forma precoce nesse último caso. mitação de movimentos. A OA pode afetar qualquer arti-
Alguns recursos da fisiatria que atuam nesse controle: ter- culação, inclusive as articulações metacarpo/metatarso
moterapia (calor ou frio dependendo da fase), laser de baixa falangeanas ou as facetas articulares vertebrais 53.
potência, campos eletromagnéticos pulsáteis, fototerapia, A doença osteoartrósica é a forma mais comum de dor
ultrassom terapêutico, eletroterapia analgésica, massotera- crônica identificada em caninos e envolve aproximadamente
pia (Figura 9). 20% da população canina em qualquer etapa da vida. A ex-
Demais atuações da fisiatria veterinária nas condições periência clínica e uma revisão de estudos experimentais
ortopédicas em animais senis e geriatras: revelam claramente que os anti-inflamatórios não esteroi-
• manutenção ou aumento da amplitude de movimento: des (AINEs) não promovem alívio completo da dor no cão
pode ser obtido através da massoterapia e da cinesioterapia com osteoartrose. Na medicina humana é registrada maior
passiva e ativa como os exercícios terapêuticos; tendência ao uso de terapias multimodais para o manejo da
• fortalecimento muscular: pode ser alcançado mediante os dor crônica provocada pela osteoartrose e foi sugerido que
exercícios terapêuticos em solo ou em água, dando destaque esse enfoque terapêutico poderia melhorar quadros simila-
a esteira sub-aquática, e também por meio da eletroestimu- res nas diversas espécies animais. Sabe-se que o constante
lação. A natação é outro recurso utilizado no fortalecimento influxo de sinais nocivos a partir da periferia induz mudan-
muscular em animais geriatras, mas deve ser utilizada com ças no SNC, as quais alteram seus mecanismos de resposta,
cautela nesses animais, excluindo-se outras patologias as- tornando-o refratário às abordagens terapêuticas simples 38.
sociadas onde ela pode ser contra-indicada dependendo da Daí a necessidade de utilizar outros meios de controle da
condição de cada animal, como por exemplo cervicalgias dor crônica em cães e gatos com osteoartrose.
e discopatias Hansen tipo II.
Outras estratégias devem ser utilizadas como tratamento
e prevenção de novas lesões em animais geriatras, a desta-
car: controle do peso corporal, atividade física controlada,
e suplementos nutricionais específicos, assim como orien-
tação do tutor em relação ao manejo específico de cada ani-
mal. Esses pacientes devem receber uma abordagem
integrativa e muitas vezes multidisciplinar porque é fre-
quente apresentarem disfunções em outros sistemas con-
comitantemente às disfunções ortopédicas, como:
problemas hormonais, cardíacos, neoplasias, neurológicos,
dentre outros (Figura 10).

Osteoartrose (OA)
A osteoartrose não é um envelhecimento normal. É um
problema específico, que afeta localizações muito concretas
e tem causas predisponentes identificáveis 53.
A deterioração normal da articulação ocorre secunda-
riamente à incongruência, instabilidade ou alguma lesão da
Figura 9 – Cão da raça poodle, com 15 anos de idade, com
cartilagem articular. As alterações mecânicas e biomecâni-
várias enfermidades a citar: DDIV, luxação de patela, si-
cas são decorrentes da diminuição da elasticidade e da es- nais de síndrome da disfunção cognitiva e hipotireoidismo.
pessura da cartilagem, esclerose subcondral, sinovite e É comum na rotina de uma clínica de fisiatria e reabilita-
formação de osteófitos. Os sinais clínicos da OA são: dor ção, o tratamento de animais geriatras com patologias as-
articular, crepitação e rigidez. A amplitude de movimento sociadas

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 501


Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

A doença articular degenerativa é comumente encon- nesse estudo. Por fim, doença articular degenerativa foi de-
trada em cães geriátricos. Mas os gatos também são afeta- tectada radiograficamente em gatos geriátricos e pode ser
dos pela OA. Devido ao fato de muitos gatos terem vida uma causa negligenciada de doença. Os clínicos devem estar
útil prolongada, é necessário caracterizar a prevalência, atentos à possibilidade que doença articular degenerativa
causas e sinais clínicos associados também em gatos. Esses possa estar associada a sinais neurológicos 25.
animais por serem leves e ágeis, podem compensar uma O diagnóstico da OA é por meio radiográfico e é impor-
doença ortopédica bastante grave. Ao invés de sinais eviden- tante descartar outras causas de dor músculo esquelética
tes de claudicação, conforme relato dos tutores, alguns sinais como: osteosarcoma, osteomielite, artrite séptica, lesões de
de dor em gatos podem ser observados por mudança de com- tecidos moles 53.
portamento, como alterações de humor, queda na movimen-
tação, deixam de usar a caixa de areia e param de saltar em Tratamento: analgesia por vias farmacológicas e vias não
móveis. Nesse estudo retrospectivo, foram avaliadas radio- farmacológicas como fisiatria, acupuntura e ozonioterapia,
grafias de 100 gatos com mais de 12 anos de idade. Evidên- técnicas de reabilitação, administração de nutracêuticos e
cias de doença articular degenerativa foram encontradas em programa para perda e controle de peso.
90% dos gatos do estudo. Doença neurológica foi associada O exercício melhora o retorno à função e é essencial
a lesões na porção lombossacra da região vertebral da coluna após cirurgias ortopédicas e no manejo a longo prazo da
e foram encontradas lesões graves em 17% na articulação do osteoartrose. Exercícios terapêuticos são fundamentais
cotovelo, mas uma causa subjacente não foi determinada na maioria dos planos de reabilitação. O exercício pode

Figura 10 – Cão macho da raça dachshund, com 13 anos de idade. Tratamento com campos eletromagnéticos pulsáteis.
Patologias associadas: DDIV e lesão antiga por fratura automobilística em carpos

502 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

melhorar a força muscular periarticular, para


ajudar a proteger uma articulação e melhorar
a mobilidade em uma articulação rígida.
Combinado com a perda de peso, exercícios
regulares ajudam a promover a perda de gor-
dura em vez de músculo e ajudam a evitar
uma diminuição da taxa metabólica que pode
ocorrer com a restrição calórica 27.
Segundo a casuística e experiência da au-
tora em pacientes senis e geriatras com doen-
ças ortopédicas com OA secundária, é
necessário estabelecer um esquema de trata-
mento que priorize a manutenção do movi-
mento e do peso corporal, assim como o
controle da dor e bem-estar desses pacientes.
Vários tratamentos podem ser utilizados tanto
na fase de sintomatologia aguda, como nas
fases crônicas e também para manutenção da
qualidade de vida desses pacientes, a citar:
agentes físicos analgésicos e que melhorem a Figura 11 – Paciente felino, macho, com 18 anos com múltiplas pato-
rigidez e a elasticidade dos tecidos, cinesiote- logias, incluindo OA de quadril. Observa-se baixo peso, sarcopenia e
rapia ativa e passiva, hidroterapia, ondas de alteração postural
choque, acupuntura, implante de fios de ouro
em pontos de acupuntura, ozonioterapia e suplementos nu-
tricionais e nutracêuticos específicos (Figuras 11 e 12).

Principais recursos terapêuticos utilizados na fi-


siatria e reabilitação de condições ortopédicas
em animais senis e geriatras
No quadro 1 estão resumidos os principais recursos te-
rapêuticos utilizados no tratamento da dor e reabilitação de
condições ortopédicas gerais em pacientes senis e geriatrias.

Papel e treinamento do tutor


O fisiatra veterinário desempenha um papel fundamen-
tal no ensino do cliente em como gerenciar as necessidades
de um paciente com dificuldade de locomoção, possivel-
mente mais do que qualquer outro médico veterinário en-
volvido na gestão médica de pacientes com lesão
neurológica ou doença. A partir da alta hospitalar, os tutores
têm a maior responsabilidade para o atendimento ao pa-
Figura 12 – Paciente sem raça definida, fêmea, com 15
ciente, independente de quão complexo será o processo de
anos de idade, cinesioterapia com bola suíça, modelo
reabilitação deste paciente. Os clientes devem ser informa- feijão
dos sobre as necessidades dos animais e sinais de compli-
cações que precisam ser abordadas pelo seu veterinário
clínico, quanto aos cuidados de enfermagem do paciente. tamentos prescritos. Nos casos em que o cronograma de fa-
Uma descrição completa, de preferência com recursos vi- mília ou quando o ambiente doméstico não pode acomodar
suais e escritos, de quaisquer tratamentos com fisiatria em as necessidades do paciente em curto prazo, o fisiatra pode
casa vai melhorar a confiança do cliente e nível de com- recomendar hospitalização ou internação do paciente em
prometimento do mesmo. Ao prescrever um plano de aten- sistema de intensivismo para cuidados de internamento du-
dimento domiciliar, o terapeuta deve avaliar a capacidade rante as fases iniciais do programa de fisiatria. Uma visão
do tutor de compreender e executar com segurança os tra- aprofundada do plano de tratamento e o resultado esperado
tamentos recomendados 57. deve ser discutido com o cliente, no início da terapia assim
Da mesma forma, restrições físicas ou financeiras por como avaliações frequentes. É importante incluir infor-
parte do cliente devem ser discutidas da mesma forma, por- mações como uma descrição ou demonstração das ativida-
que vão afetar o tipo, número e frequência de quaisquer tra- des a serem realizadas, a frequência com que os

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 503


Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

tratamentos devem ser realizados, sinais que indicam que Manejo e cuidados de enfermagem e paliativos
um tratamento não é bem tolerado ou ineficaz. Muitas para casa
vezes, é útil dar aos clientes metas a curto e a longo prazo, É evidente que mudanças consideráveis ocorrem em
para que compreendam que existe uma progressão do pa- todos os sistemas corporais de cães e gatos senis e geriatras.
ciente e para que tenham expectativas realistas em relação Algumas dessas mudanças incluindo o sistema neuro- mús-
a reabilitação do paciente 57. culoesquelético afetam significativamente o manejo e a ro-
O fisiatra é muitas vezes o profissional que está em tina dos animais em casa, assim como o aspecto financeiro
mais contato com o cliente e por um longo tempo e deve que envolve o tratamento desses animais e também a rela-
estar preparado não só para fornecer orientações sobre cui- ção animal-tutor.
dados médicos e de enfermagem, mas também para lidar É obrigação do médico veterinário fisiatra orientar o
com as preocupações relacionadas com o bem-estar do pa- tutor da melhor forma possível em relação ao manejo, cui-
ciente, relacionado com o emocional, físico e aspecto fi- dados de enfermagem e aspectos preventivos relacionados
nanceiro, assim como no manejo do animal de estimação ao sistema neuromusculoesquelético desses animais.
com necessidades especiais e relacionados com a qualidade O tratamento de suporte e cuidados de enfermagem são
de vida e as decisões de fim de vida. Muitos clientes estão fundamentais para o plano de fisioterapia sobretudo em
sobrecarregados com o grau de deficiência de seu animal casos de pacientes senis e geriatras e neurológicos. Muitos
de estimação e com o impacto dos seus cuidados na rotina pacientes com doença neurológica estão severamente debi-
de casa. Muitas vezes, os clientes não conseguem chegar a litados na consulta inicial. Os pacientes devem estar clinica-
uma plena realização das suas novas responsabilidades até mente estáveis antes de iniciar um programa de fisioterapia,
vários dias ou semanas após o diagnóstico do animal. O fi- com todas as necessidades médicas e cirúrgicas críticas di-
siatra veterinário pode ajudar o cliente a definir expectati- rigidas. Embora às vezes negligenciados, um objetivo fun-
vas realistas para o tempo de recuperação ou, no caso de damental do tratamento é o cuidado de suporte para evitar
doenças degenerativas, expectativa em relação a como e o ou atenuar complicações secundárias. Assistência de enfer-
tempo que o animal vai apresentar piora. O profissional magem adequada, em especial dos sistemas urinário, derma-
deve se esforçar para ser nem demasiado otimista, nem ex- tológico e pulmonares, é imperativo para a prevenção e
cessivamente duvidoso em relação ao prognóstico do pa- manejo de úlceras de decúbito, esvaziamento da bexiga e
ciente. Ele é útil para construir um relacionamento também infecções. A probabilidade de desenvolvimento de uma ou
como um conselheiro que tem experiência no manejo das mais destas complicações é aumentada pela presença de
necessidades das famílias que experimentam uma doença comorbidades. O papel da equipe técnica na gestão de um
grave ou incapacitante que mudam a vida de todos 27. paciente em decúbito é absolutamente crítico. Portanto, é

Quadro 1 – Principais recursos terapêuticos utilizados em pacientes senis e geriatras,


no tratamento da dor e reabilitação de condições ortopédicas gerais
Recurso Analgesia e efeito Aumento da cicatrização Melhora da força e
terapêutico anti-inflamatório e elasticidade tecidual. resistência física
Melhora da rigidez
Crioterapia n
Termoterapia/infravermelho n n
Laser de baixa frequência n n
Fototerapia n n
Eletroanalgesia n n
Campos eletromagnéticos pulsáteis n n
Eletroestimulação n n
Ultrassom terapêutico n n n
Ondas de choque n n n
Infrassom n n
Massagem n n
Cinesioterapia passiva n n n
Cinesioterapia ativa n n
Exercícios em esteira seca n n
Exercícios em esteira aquática n n
Natação n n

504 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

importante que todo o pessoal encarregado da assistência a • estimular exercícios físicos ou que o animal tenha um
pacientes neurológicos ter formação adequada e estarem cien- nível de atividade, visto que animais senis e geriatras dor-
tes dos potenciais deletérios dos cuidados inadequados 57. mem ou ficam deitados por muitas horas seguidas. Estimu-
Muitos pacientes com doença da medula espinhal tam- lar caminhadas e brincadeiras e interação com os membros
bém têm disfunção da bexiga e da uretra. No cenário de da família.
reabilitação, os pacientes devem ser monitorados continua- Em relação aos cuidados de enfermagem necessários em
mente por sinais de lesões no trato urinário. Quando o pa- casos de animais paraplégicos ou tetraplégicos destacam-se:
ciente é completamente incapaz de iniciar ou completar a • uso de colchões do tipo “caixa de ovo” ou colchão de
micção, a bexiga precisa ser esvaziada ou cateterizada a água que apoiam o corpo do animal de forma suave e uni-
cada 6 a 8 horas, para assegurar o esvaziamento completo. forme, melhor ajustando o corpo ao colchão, sem causar
Em muitos casos, o manejo da bexiga pode ser facilitado pressão excessiva nas áreas mais vulneráveis e evitando
pelo uso de medicamentos. A infecção urinária é uma com- assim escaras de decúbito;
plicação comum e recorrente. Mesmo quando não há sinais • mudar o decúbito do animal ou virar o mesmo de posição
exteriores de infecção e especialmente para pacientes que pelo menos a cada 2 horas, sendo conveniente um horário
usam a esteira subaquática, é recomendada a monitorizarão escrito para evitar esquecimento;
de rotina, com culturas de urina a cada 4 a 6 semanas, ini- • questão higiênica: de suma importância sobretudo em ani-
cialmente, e depois a cada três meses até que o estado neu- mais acamados. Esvaziamento vesical sempre que neces-
rológico do paciente se estabilize ou pelo tempo que sário, troca ou limpeza da cama, limpeza da pele assim que
permanecem sem deambulação. Para os pacientes hospita- sujar, não deixar restos de alimentos ou o animal em locais
lizados, antibioticoterapia empírica, sem testes de cultura molhados e retirada das fezes assim que possível;
não é recomendada para evitar a promoção de resistência • banhos que podem ser de forma convencional com água
antimicrobiana 57. morna e secagem e produtos próprios ou “banhos a seco”
À parte dos pacientes neurológicos, outros cuidados e com produtos específicos encontrados no mercado pet. Os
estratégias vão ter aspectos comuns e diferentes depen- banhos podem ser feitos em casa ou pets shops desde que
dendo do grau de lesão, se o animal deambula ou não e em nesse caso, os profissionais atuantes, saibam lidar com cães
relação à dor crônica e outras limitações físicas que esses e gatos geriatras e tomem cuidado no manejo desses ani-
animais tenham. Alguns dos aspectos mais importantes são mais durante ou banho e secagem;
listados abaixo: • no caso de o animal desenvolver escaras de decúbito, cui-
• orientar o tutor para saber identificar sinais de dor aguda dado médico e higiênico adicional, uso de pomadas e ou-
ou crônica. Esse aspecto é de vital importância e a maioria tros recursos médicos que aceleram a cicatrização ou
dos tutores que observam muito seus animais, sabem iden- retardem o aparecimento de mais escaras. Introdução de
tificar quando eles estão com dor no caso deles não se ex- tratamento fisiátrico como laser, fototerapia, massagem,
pressarem verbalmente. Algumas estratégicas podem ser ondas de choque, técnicas de acupuntura/moxabustão e
utilizadas em casa no controle da dor como: uso de gelo ou ozonioterapia para tratamento de escaras de decúbito in-
bolsas de água quente, técnicas de massagem, controle de fectadas ou não;
movimentos errôneos que desencadeiam uma piora do qua- • observação diária da pele do animal a fim de detectar pos-
dro álgico e uso de analgésicos prescritos pelo médico ve- síveis áreas comprometidas e hipotermia;
terinário clínico ou fisiatra; • uso de suportes para manter o animal por algum tempo
• dentre esses movimentos errôneos, os mais comumente em estação. O tempo vai depender do tipo de patologia e
identificados são: subir e descer escadas, subir e descer de quanto efetivamente o animal aguenta na posição de esta-
camas, mesas e sofás, animal que fica maior parte do ção forçada. Esse manejo deve ser gradativo e controlado;
tempo em pisos lisos e escorregadios, animal que faz ex- • uso de colar elisabetano nos primeiros sinais de automu-
cesso de exercícios estando em quadro álgico, possibili- tilação ou lambedura por ansiedade;
dade de traumas caseiros, dentre outros. As estratégias são • observação do estado nutricional do animal que afeta di-
retirar o animal desse ambiente, restringir o espaço desses retamente a evolução do quadro e bem-estar. Não deixar o
animais em casa. Em casos de dor severa ou paraplegia, animal ficar obeso e nem desnutrido com acompanhamento
restringir o movimento em gaiolas ou áreas menores. São do veterinário clínico, fisiatra ou nutricionista;
também indicadas modificações no ambiente como uso de • auxiliar o animal a comer e beber água caso não consigam
borrachas antiderrapantes no chão, colocação de objetos sozinhos evitando assim falsa via, engasgo, refluxo ou ou-
que impeçam o animal de subir em sofás e camas, retirada tras complicações associadas;
de objetos ou situações que possam desencadear traumas • mesmo com o animal acamado, dar carinho, amor e aten-
diretos como piscinas, buracos, cercas e uso de meias ou ção ao animal.
botas antiderrapantes;
• levantar a altura de comedouros e bebedouros, sobretudo Considerações finais
em animais senis e geriatras com discopatias cervicais e Embora a área de fisiatria veterinária esteja em cons-
desvios significativos na postura corporal; tante expansão e crescimento no Brasil, é importante

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 505


Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

o profissional médico veterinário que tem interesse em


especializar-se na área saber que esta especialidade requer
muita dedicação e os profissionais devem buscar formação
que vise uma abordagem integrativa, onde o paciente cão
ou gato, sobretudo quando os mesmos se encontrem senis
ou geriatras, não seja visto simplesmente como um “joe-
lho” ou uma “coluna”, mas um paciente completo, com
todas suas disfunções identificadas e tratadas, assim como
suas necessidades em relação ao manejo, atendidas e seus
tutores, devidamente orientados em relação ao manejo,
evolução, prognóstico e limitações de um tratamento dentro
da fisiatria e reabilitação.
Além disso, é importante que os médicos veterinários
fisiatras tenham uma visão clínica das patologias, intera-
gindo com os profissionais de outras especialidades médi-
Figura 13 – Paciente da raça labrador, fêmea, 13 anos.
cas e com os clínicos gerais para que possam juntos, decidir Presença de pelos brancos na face, evidenciando-se a
a melhor estratégia de tratamento para o paciente em idade. Porém possui excelente qualidade de vida devido
comum. ao tratamento com técnicas da fisiatria com o intuito de di-
A medicina veterinária está em constante crescimento minuir dor crônica causada por osteoartrose e DDIV, assim
no que se refere a publicações científicas específicas, mé- como a manutenção de peso corporal
todos diagnósticos e tratamentos. Portanto, o médico vete-
rinário fisiatra também deve estar sempre se atualizando,
6-CLAVO, B. ; SUAREZ, G. ; AGUILAR, Y. Brain Ischemia and
buscando e colocando em prática essas atualizações. Por
Hypometabolism Treated by Ozone Therapy. Complementary
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506 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 507


Capítulo 51 – Reabilitação em pacientes senis e geriatras

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508 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


52
Fisioterapia intensivista: reabilitação em pacientes
hospitalizados

José Geraldo Meirelles Palma Isola

T
em-se como início da fisioterapia intensivista hu- deambulação com os membros pélvicos. O primeiro, acom-
mana o suporte ventilatório aos pacientes interna- panhado de seu tutor, é levado até o fisiatra, em data e ho-
dos na Dinamarca, na década de 1950, durante a rário especifico para iniciar protocolo de fisioterapia no
epidemia da poliomielite. Inicialmente, teve o enfoque no tratamento de tal afecção. O segundo é avaliado pelo fisia-
manuseio dos ventiladores respiratórios não invasivos, cha- tra em um hospital veterinário no setor de internação onde
mados de pulmão de aço, para a assistência respiratória dos já se encontra há 3 dias, pois, além dos mesmos problemas
pacientes mais críticos e então, foi sendo aplicada para os apresentados pelo primeiro cão, também apresenta insufi-
mais variados casos tais como os neurofuncionais e os mus- ciência renal crônica, e neste caso, como consequência,
culoesqueléticos 34. apresenta êmese, anorexia, fezes pastosas e ainda, anemia
As unidades de terapia intensiva (UTI) humanas passa- devido à alteração da síntese de eritropoietina.
ram a ser locais de trabalho que congregam diversos espe- Nestes dois casos, não é difícil compreender que ambos
cialistas, tendo hoje como principal característica, o caráter os cães necessitam de acompanhamento fisioterapêutico.
multiprofissional, assim, inserindo o fisioterapeuta neste Entretanto, a primeira coisa que percebemos é que obvia-
grupo, trabalhando junto aos pacientes tanto no aspecto de mente, o segundo cão apresenta outras comorbidades, e que
diagnóstico, tratamento e de prevenção. O conselho federal embora possam não ter correlação com o problema da ar-
de fisioterapia e terapia ocupacional – CONFITO, reconhe- ticulação coxofemoral, implicarão em uma conduta fisiá-
ceu os primeiros cursos de fisioterapia intensivista humana trica absolutamente diferente para este indivíduo, pois, a
no Brasil a partir de 2001 e é importante citar que o fisio- afecção do quadril passa a ser apenas uma parte de um tra-
terapeuta intensivista tem em sua formação não somente o tamento fisioterapêutico mais sistêmico, o do status fun-
conhecimento da fisiatria, mas também, vasto conheci- cional do paciente.
mento da clínica e manejos intensivistas 5. O status ou capacidade funcional está relacionada com
Atualmente a medicina veterinária intensivista vem ga- a capacidade do indivíduo realizar atividades normais do
nhando espaço e destaque no Brasil, quebrando paradigmas cotidiano tais como se alimentar, ter continência, deambular
e surpreendendo ao possibilitar maiores índices de sobre- corretamente, higienizar-se, apresentar postura adequada
vivência dos pacientes, graças a novos conceitos de trata- quando em estação, levantar o membro ou mesmo agachar-
mento do paciente hospitalizado, um tratamento mais se durante a micção, defecar em posição correta 7,16,22, trocar
intensivo, metódico e guiado por metas. Assim, verificamos de decúbito espontaneamente, brincar e até mesmo latir ou
hoje na veterinária o que outrora foi observado também na miar. A execução de todas essas atividades é testemunho
medicina humana, ou seja, essas unidades que se dedicam de que o animal apresenta boa saúde física, e por que não
ao tratamento intensivista necessitam de uma equipe mul- dizer, psicológica.
tidisciplinar que possa pensar e atuar em conjunto para o Os pacientes hospitalizados apresentam diversas pecu-
tratamento mais adequado dos pacientes em internação, de liaridades fisiológicas que contribuem para o prejuízo do
forma que não sobrecarregue apenas o médico veterinário status funcional, a saber:
intensivista nos mais variados âmbitos do tratamento crí- • afetados sistemicamente, muitas vezes com mais de uma
tico, tais como a própria fisioterapia, as especialidades clí- injúria 12,15 ;
nicas, a nutrição e até mesmo as questões psicológicas dos • déficit de oxigenação e perfusão tecidual 15, com conse-
tutores dos pacientes hospitalizados. quente lesão de musculatura esquelética 7 ;
• alterações metabólicas que podem levar a quadros de
O paciente hospitalizado sepse e até choque séptico 15 ;
É de extrema importância compreender que o paciente • alterações fisiológicas, tais como êmese, diarreia, febre,
hospitalizado que será submetido à atenção fisioterapêutica deficiência na micção 12,15 ;
é muito diferente daquele atendido de forma eletiva e para • politraumatizados (dor) e com alterações neurológicas;
o tratamento específico de um problema. É possível que a • malnutridos (anoréxicos ou hiporéxicos) 2,3 ;
injúria em ambos os casos seja a mesma, assim como o os • em recuperação de procedimentos cirúrgicos;
exercícios, as manobras fisioterapêuticas e aparelhos em- • sob ação de diversos agentes farmacológicos.
pregados também possam ser iguais, entretanto, o contexto O que se verifica no âmbito da hospitalização de peque-
da visão de “paciente” é a grande questão que irá ponderar nos animais, é que estes pacientes muitas vezes passam
a atenção e a atuação do fisiatra. horas, dias ou até mesmo todo o período da internação de-
Tomemos como exemplo dois cães idosos, mesma raça, masiadamente parados, imóveis ou com muito pouca pos-
mesmo peso, ambos com displasia coxo femoral e artrose sibilidade de movimento em pequenos leitos, ou baias para
na mesma articulação, dor excessiva e dificuldade na facilitar procedimentos hospitalares como a fluidoterapia e

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 509


Capítulo 52 – Fisioterapia intensivista: reabilitação em pacientes hospitalizados

a contenção para medicações, levando o paciente a uma • colapso alveolar por atelectasia, diminuição da capaci-
síndrome de imobilismo 22. Desse modo, dá-se importância dade residual funcional, acumulo de secreção pulmonar, e
muito grande à realização de procedimentos e protocolos suas consequências como a pneumonia;
e, muito pouca atenção a um fator de extrema relevância • diminuição do tamanho total do coração, em especial do
para o correto funcionamento de um organismo, o movi- ventrículo esquerdo, diminuição do débito cardíaco e da re-
mento, sejam eles, anatômicos, biomecânicos, neurológicos sistência vascular periférica, prejuízo da microcirculação,
ou metabólicos. diminuição da atividade da renina e da aldosterona;
O movimento é o precursor do “equilíbrio”, da própria • aumento da produção de citocinas inflamatórias pelo imo-
homeostase e é fundamental para a autonomia do indiví- bilismo, ou mesmo pela própria condição crítica do pa-
duo. Ele está presente em tudo no universo. Tudo que ciente;
existe, desde o micro até o macro necessita de movimento Por esses motivos, e por possuir técnicas e intervenções
para se manter equilibrado: átomos, células, tecidos, ór- capazes de promover a recuperação e preservação da fun-
gãos, sistemas, planetas, galáxias, tudo se move. Seria de cionalidade, a aplicação da fisioterapia é de extrema im-
extrema contradição e ilógico, para não dizer ingênuo, pensar portância ao paciente hospitalizado, visando um tratamento
que um corpo vertebrado, que através da evolução na natu- mais completo, prevenindo futuros problemas e melho-
reza, ganhou novas possibilidades de movimento por um rico rando a qualidade de vida e do prognóstico desses pacien-
arranjo neuromotor, não sofreria caso fosse privado desse tes 6,8,13,26,28,31.
mesmo movimento. O movimento está relacionado com
todas as ações fisiológicas necessárias à manutenção da vida. Avaliação fisioterapêutica intensivista
Em pequenos animais, a própria anatomia que gera o Ao deparar-se com um paciente hospitalizado, crítico
movimento, é completamente dependente desse mesmo ou não, o fisiatra deverá iniciar uma avaliação minuciosa e
movimento para que possa manter-se em equilíbrio. Pode- abrangente, não somente daquilo que chamamos “queixa
mos citar os músculos que por meio de suas contrações principal”, mas sim avaliando-o de forma sistêmica. É de
geram movimentos e ao mesmo tempo dependem desses extrema importância que o profissional tenha em mente que
movimentos para não se contraturarem, não se atrofiarem e aquele animal não se trata um paciente eletivo, mas sim,
não se enfraquecerem. Do mesmo modo, podemos nos lem- de um paciente que apresenta uma doença principal, mas
brar das articulações sinoviais que são as mais importantes também, diversos outros fatores que influenciam tanto na
articulações do corpo, articulações responsáveis pelas gran- piora quanto no retardo da evolução clínica para a melhora
des amplitudes de movimento e que recebem este nome por deste. Assim, o objetivo da avaliação do paciente hospita-
possuírem líquido sinovial, líquido este, produzido pela lizado é o de elencar todos os problemas e comorbidades
membrana sinovial da capsula articular, entretanto, somente que este paciente apresenta e então, desenvolver um pro-
quando estimulada por movimento, movimento que ela tocolo fisioterapêutico eficaz para contribuir, tanto para a
mesma possibilita existir. melhora do problema principal mas, que também contribua
A sobrevida dos pacientes internados tem aumentado para a prevenção de outros fatores que possam vir a preju-
em consequência da evolução tecnológica, científica e da dicar o status funcional do paciente durante sua hospitali-
interação multidisciplinar no tratamento. Contudo, verifica- zação 20,29,33.
se que para esse sucesso, na maioria das vezes, o tempo de A avaliação incorreta ou superficial do paciente impli-
permanência do paciente na internação é maior, inclusive cará em tomada de decisões incompletas ou equivocadas,
para o melhor acompanhamento do indivíduo. Por outro e com isso o plano de tratamento não terá a eficácia pre-
lado, essa permanência prolongada na internação aumenta tendida. Além disso, a avaliação do paciente internado deve
consideravelmente a incidência de complicações que con- ser diária, pois, a cada dia aquele organismo poderá se apre-
tribuem adversamente para o status funcional 6, o que re- sentar de modo diferente de acordo com a evolução clínica
sulta em outras comorbidades, redução da qualidade de do indivíduo, ou seja, manobras e atividades realizadas
vida e aumento dos custos do tratamento 8,17. hoje, podem não ser as mesmas que o profissional deverá
Dentre as desvantagens que a hospitalização traz ao pa- realizar na próxima sessão, seja pela impossibilidade de
ciente, podemos citar 7,8,9,10,11,12,16,20,21,25,31,32 : realiza-las devido ao quadro do paciente, ou pela prioridade
• a redução ou até a impossibilidade de deambulação com de se trabalhar com outros sistemas mais urgentes naquele
prejuízo da musculatura esquelética pela sua atrofia, encur- momento, para isso, uma ficha de avaliação fisioterapêutica
tamento das fibras musculares e contraturas; intensivista será de grande ajuda na avaliação e no acom-
• diminuição da produção de proteínas musculares; panhamento do paciente. Assim, a avaliação fisioterapêu-
• diminuição da amplitude de movimento das articulações; tica do paciente hospitalizado deverá ser contínua, tendo
• diminuição da densidade óssea e da capacidade de início no primeiro contato com o indivíduo e terminando
exercitar; na ocasião de sua alta 20,33.
• intolerância ao ortostatismo; É importante que o fisiatra avalie não somente a parte
• constipação intestinal; orgânica e física do animal, mas também outros fatores
• horas no mesmo decúbito, provocando úlceras por pressão; que influenciam na evolução clínica de qualquer paciente

510 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 52 – Fisioterapia intensivista: reabilitação em pacientes hospitalizados

hospitalizado, tais como fatores emocionais, nutricionais e Manobras fisiátricas hospitalares e intensivistas
de interação com o ambiente e com outros indivíduos, Na conduta terapêutica dos pacientes hospitalizados,
sejam humanos ou outros animais 33. críticos ou não, o fator que mais deve ser levado em consi-
A avaliação física consiste na observação anatomofun- deração é a mobilização, seguida da deambulação precoce,
cional do animal, ou seja, observar e avaliar as condições obviamente, dentro de níveis de segurança para cada indi-
físicas e neurológicas 6, dores, grupos musculares, postura, víduo. Melhorando a morfologia da musculatura esquelé-
condições de execução de movimentos 7,22, não só os loco- tica e devolvendo sua função básica, evitaremos boa
motores, mas também os respiratórios 9,26 e os que envol- parcela de problemas associados a ela 1,17,22,28.
vam a propriocepção e até mesmo o decúbito no leito 24. A cinesioterapia, o alongamento, os exercícios de mo-
Em relação à avaliação orgânica, verificar situações de bilização passiva, ativa assistida e resistida, demonstram
necessidades nutricionais 2,3, alterações urinárias, gastroin- resultados plenamente satisfatórios na melhora clínica de
testinais tais como a náusea e a êmese, defecação, flatulên- pacientes hospitalizados, não somente os relacionados aos
cia 12, e ainda, os parâmetros fisiológicos tomados durante sistemas que esses exercícios trabalham, mas também em
a internação e resultados laboratoriais 4. relação ao status funcional do paciente. O objetivo é nunca
O fator emocional do paciente deve ser levado em con- parar o movimento, nunca deixar o paciente em qualquer
sideração, avaliando se este se isola ou interage com outros grau de imobilismo, ou seja, sempre estimular o movi-
animais e humanos, se ele se mutila ou apresenta algum mento do indivíduo 1,30.
comportamento compulsivo, ou ainda, se ele apresenta Dentre os benefícios que a mobilização traz ao paciente
algum comportamento agressivo, pois, todos esses fatores, hospitalizado, podemos citar 1,6,7,12,17,18,25,27,30:
além de prejudicarem a evolução clínica do paciente, tam- • o recrutamento das fibras musculares promovendo ganho
bém contribui de forma não satisfatória para sua manipu- de força e resistência osteomuscular;
lação durante os procedimentos de fisioterapia 32. • o aumento de aporte sanguíneo na musculatura e conse-
De todos os sistemas avaliados, sem dúvidas, o neuro- quentemente maior oxigenação dessas estruturas;
lógico é um dos mais importantes, elucidando alterações • maior movimentação de substancias nos músculos, auxi-
mais significativas que o paciente hospitalizado pode vir a liando a circulação periférica e redução de edemas;
apresentar durante o processo de internação, além disso, é • recrutamento do líquido sinovial das articulações, dimi-
um dos sistemas que a fisioterapia veterinária mais se mos- nuindo as inflamações articulares e melhorando a própria
tra atuante e apta a intervir de modo positivo na contribui- deambulação;
ção de auxilio diagnóstico, tratamento e prognóstico. • melhora do condicionamento cardiovascular;
Assim, a avaliação neurointensivista diária do paciente in- • diminuição da frequência cardíaca e da pressão arterial
terno, bem como a intervenção também diária, são fatores em repouso;
importantes na preservação da motricidade do animal 20,29,33. • melhora a eficiência do sistema respiratório;
A importância do movimento vai além da preservação • estimula o sistema nervoso e aprimora os sentidos;
fisiológica e anatômica do organismo. Ele é responsável • melhora o sistema imunológico e diminui a intolerância
pela organização espacial e até temporal do paciente, que à dor;
uma vez interno e limitado da execução desses movimen- • controla as alterações comportamentais, como a ansie-
tos, perde esses referenciais e provoca alteração no pro- dade, a depressão e a agressividade;
cesso de desenvolvimento físico-funcional, restringindo a • estimula os movimentos peristálticos e viscerais, dimi-
habilidade de executar atividades variadas devido a déficits nuindo a constipação e estimulando a micção e a defecação;
nos sistemas neuromotor e musculoesquelético 6,7. • evita úlceras de decúbito.
Em relação a avaliação neurointensivista do paciente Na fisioterapia com o paciente hospitalizado deve-se
hospitalizado, quatro sistemas são importantes para serem levar em consideração cinco fatores que norteiam esse
avaliados: o de regulação, que é o sistema de equilíbrio fi- complexo trabalho: o primeiro por ser a base da capacidade
siológico do organismo, que se apresenta através de inte- funcional, é o estímulo do movimento e do trabalho muscu-
rações fisiológicas multissistêmicas, ou seja, quaisquer lar, onde é possível realizar passeios diários com o paciente;
sintomas ou sinais clínicos que interfiram nos processos de realização de alongamentos; exercícios de mobilização; uso
sono e vigília, alimentação e humor do paciente; o sistema da eletroestimulação neuromuscular 10,21,23 tanto nos casos
de interação sensorial (tato, visão, audição, propriocepção em que o paciente não apresente contrações musculares vo-
e vestibular), que é o regulador dos estímulos sensoriais luntárias quanto com o intuito de fortalecimento muscular
que produzem respostas corporais adaptativas ao meio; o mesmo quando há possibilidade de geração de movimento
sistema neuromotor, que é o responsável pela interação ou ainda, como alternativa de analgesia (Figura 1); aque-
entre o comando neurológico e a execução de movimentos cimento da musculatura e controle de dor com uso de ul-
pelos músculos; e ainda, o sistema musculoesquelético, trassom ou mesmo lâmpada de infravermelho e estimular o
principal responsável pela produção da força física, base ortostatismo com uso de slings nos casos em que o indiví-
do status funcional que promove o movimento e a manu- duo tenha dificuldade ou incoordenação excessiva para
tenção da postura física 8,33. deambular ou mesmo em manter-se em estação; e, por fim,

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 511


Capítulo 52 – Fisioterapia intensivista: reabilitação em pacientes hospitalizados

incluir alguns exercícios mais desafiadores e de movimen- a alimentação por sondas nasogástricas ou esofágicas. O
tação mais refinada como, por exemplo, o uso de obstácu- fisiatra deve estar atento a esse importante fator de comor-
los 4 (Figura 2). bidade, pois, diversos procedimentos de fisioterapia neces-
O segundo fator é a circulação, que pela sua importância sitam de disponibilidade energética para serem
sistêmica deve ser muito bem trabalhada com massagens, empregados. Sendo assim, devemos nos recordar que estes
tanto muscular (Figura 3) como visceral (Figura 4), drena- pacientes devem receber alimentação precoce, sempre que
gens e com a realização da alternância de decúbito nos in- possível, e principalmente, de acordo com a energia neces-
divíduos que permanecem apenas em decúbitos laterais, o sária para seu porte e a exigência do seu metabolismo, em
que ajudará a evitar as úlceras de pressão 24. especial durante o quadro de convalescência 2,3.
Temos como terceiro fator, a propriocepção, que poderá O último e não menos importante fator, é a emoção.
ser trabalhada com o uso de escovações, bolas suíças ou Como já falamos anteriormente, diversos pacientes apre-
“bolas feijão”, tábua de propriocepção (Figura 5) e ainda, a sentam alteração de comportamento durante a internação,
pista proprioceptiva durante os passeios com os animais. A seja por dor, por manipulação excessiva para procedimen-
manutenção da capacidade cinestésica ao indivíduo hospi- tos e medicações, ou mesmo por estarem longe de seus tu-
talizado, por estar limitado de movimentação no processo tores, assim, podem ficar mais agressivos, mais medrosos,
de internação, é imprescindível para manter ou melhorar a mais depressivos, o que prejudica a evolução clinica satis-
manutenção do equilíbrio postural e a realização de diver- fatória do indivíduo, além de dificultar sua manipulação.
sas atividades que exigem uma boa interação entre as fibras Contudo, é indicado durante a fisioterapia incluir algumas
musculares, informações táteis e o sistema vestibular 13,28.
O quarto fator é a alimentação, hoje, considerada o
quinto sinal vital na avaliação do paciente. Indivíduos hos-
pitalizados muitas vezes apresentam alterações quanto a
alimentação, seja pelo fato de apresentarem anorexia, náu-
seas, êmese, entre outros fatores. Muitas vezes é necessário

Figura 3 – Paciente hospitalizado devido a intoxicação por


toxina botulínica recebendo massagem em membros pél-
vicos a beira leito para estímulo da circulação dos mem-
Figura 1 – Paciente hospitalizado para controle de dor
bros e diminuição do edema devido à imobilização
após trauma por atropelamento. Uso de eletroestimulação
modo TENS para analgesia local

Figura 4 – Paciente hospitalizado devido a intoxicação por


Figura 2 – Paciente interno em recuperação de AVC sendo toxina botulínica recebendo massagem visceral a beira
estimulado a realizar exercícios de maior exigência pro- leito para estimulação da inervação de vesícula urinaria e
prioceptiva como os obstáculos movimentos peristálticos de intestinos

512 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 52 – Fisioterapia intensivista: reabilitação em pacientes hospitalizados

brônquicas que o animal não consegue expelir facilmente


devido a redução da efetividade da tosse devido à perda da
força da musculatura respiratória 4 e ainda, o aparecimento
de áreas de atelectasia pulmonar com consequente perda da
capacidade residual funcional dos pulmões 1,9,26,27.
A conduta fisioterapêutica no tratamento da atelectasia
visa como objetivo primordial recrutar os alvéolos sadios
do pulmão que teve um de seus segmentos acometidos ou
ainda recrutar alvéolos adicionais do pulmão oposto, em
casos de colapso pulmonar total, para que desta forma seja
normalizado o gradiente Ventilação-Perfusão. Destacam-
se ainda como outros objetivos, a minimização de retenção
de secreções, reexpansão de áreas atelectasiadas e aumento
da complacência pulmonar. A fisioterapia intensivista hu-
mana se utiliza de diversos recursos fisioterapêuticos para
o tratamento das atelectasias em pacientes críticos ou
mesmo como medida preventiva para que esta injúria não
venha a ocorrer. É muito importante a avaliação do pa-
ciente para se decidir quais modalidades e recursos são
Figura 5 – Paciente hospitalizado em recuperação de AVC possíveis de utilização 9,26,27,29.
realizando exercícios em tábua de propriocepção dentro Na medicina veterinária ficamos limitados à utilização
do ambiente da internação
dessas técnicas pois para esse trabalho com os animais, na
maioria das vezes é necessário anestesia-los para uso de téc-
atividades lúdicas com o paciente, treinar a parte motora nicas mais invasivas. Por outro lado, a fisioterapia veteri-
com uso de petiscos que possam ser oferecidos a eles e em nária pode atuar muito bem na prevenção de tais afecções
especial, aproveitar ao máximo o horário de visita dos tu- com técnicas de facilitação respiratórias, higiene brônquicas
tores para que o animal relaxe, possa receber carinho, brin- e algumas poucas técnicas de reexpansão pulmonar 9,18,26.
car, se sentindo acolhido e protegido. A facilitação respiratória é obtida evitando-se que os
animais internados permaneçam nos leitos em decúbitos la-
Fisioterapia respiratória terais, pois, esse tipo de decúbito poderá predispor à ate-
A respiração é um fator de enorme relevância aos pa- lectasias devido a influência do peso do pulmão
cientes internados, em especial os mais críticos. Há aqueles contralateral e da gravidade sobre o outro pulmão. Sendo
que já são admitidos à hospitalização por problemas respi- assim a melhor posição para o paciente permanecer na baia
ratórios específicos tal como o edema pulmonar, mas tam- é a chamada posição prona 1,24, que nada mais é que o de-
bém há aqueles casos em que o paciente é hospitalizado cúbito ventral (Figura 6). Essa posição possibilita e facilita
por qualquer motivo e durante os dias de internação, vem a expansão pulmonar de forma simétrica e com maior po-
a apresentar déficit de ventilação e consequentemente tencial de volume inspirado, reduz o trabalho respiratório
menor taxa de oxigenação 9,26. e minimiza trabalho cardíaco, melhorando assim, tanto a
Devido ao imobilismo no leito e especialmente pelo de- ventilação do paciente e consequentemente a oxigenação,
cúbito lateral que muitos pacientes permanecem, há dimi- como também preservando a capacidade residual funcional
nuição da ventilação e oxigenação do paciente, pois nessa dos pulmões, prevenindo atelectasias 24.
condição, há diminuição dos movimentos diafragmáticos e Quanto à realização da higiene brônquica, este é um re-
da expansão torácica 27. Verifica-se o acumulo de secreções curso utilizado no tratamento de possíveis bronquiectasias

Figura 6 – Pacientes hospitalizados e colocados em posição prona (decúbito ventral). Quando paciente não aceita
permanecer sozinho nesta posição é possível utilizar alguns materiais como o EVA para apoia-los e posicioná-los

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 513


Capítulo 52 – Fisioterapia intensivista: reabilitação em pacientes hospitalizados

e tem o objetivo de melhorar a troca gasosa através da li- As manobras devem ser feitas com cautela e de acordo
beração do excesso de secreção no sistema respiratório, com a possibilidade de realiza-las para cada paciente. En-
permitindo que, um maior número de alvéolos fiquem li- tretanto, na medicina veterinária, hoje, o mais importante
vres, aumentando assim as áreas de troca gasosa 18,19. A é tomar consciência da necessidade de prevenir-se das al-
técnica consiste em iniciar com a nebulização para umede- terações no sistema respiratório desses indivíduos durante
cer o muco e facilitar sua movimentação, logo depois, uti- a hospitalização, e nisso, a especialidade da fisioterapia ve-
lizamos os procedimentos de tapotagem ou vibração na terinária poderá auxiliar, e muito.
parede torácica para que o muco se desprenda da parede e
por fim, realizamos a compressão da traqueia como o re- Referências
flexo de tosse, justamente para que o animal, com a tosse, 1-BORGES, V. M. ; OLIVEIRA, L. R. C. ; PEIXOTO, E. ; CARVALHO,
consiga expelir a secreção das vias respiratórias 9,18,19. N. A. A. Fisioterapia motora em pacientes adultos em terapia in-
A expansão alveolar consiste na dilatação volumétrica tensiva. Revista brasileira de terapia intensiva. v. 21, n. 4, p.
dos pulmões, isto ocorre em cada inspiração, à medida que 446-452, 2009. DOI: 10.1590/S0103-507X2009000400016.
o fluxo aéreo entra nas vias aéreas, e insufla os pulmões. A 2-BRUNETTO, M. A. Avaliação de suporte nutricional sobre a alta
hospitalar em cães e gatos. 2006. 86 p. Dissertação (Mestrado em
reexpansão pulmonar é realizada manual e/ou mecanica- Clínica médica Veterinária) - Universidade Estadual Paulista Júlio
mente em áreas ou zonas pulmonares que não estejam di- de Mesquita Filho – UNESP, Jaboticabal, 2006.
latando fisiologicamente 9,14,26. 3-CARCIOFI, A. C. FRAGA, V. O. ; BRUNETTO, M. A. Ingestão ca-
As manobras de expansão são técnicas de facilitação, as lórica e alta hospitalar em cães e gatos. Revista de Educação Con-
quais promovem uma maior contração dos músculos inter- tinuada em Medicina Veterinária e Zootecnia do CRMV-SP,
costais e do diafragma, produzindo, portanto, maior esforço v. 6, n. 1-3, p. 16-27, 2003.
inspiratório. Obviamente em medicina veterinária nem todas 4-CAZEIRO, A. P. M. ; PERES, P. T. A terapia ocupacional na preven-
ção e no tratamento de complicações decorrentes da imobilização
estas manobras são possíveis de serem realizadas devido ao
no leito. Caderno de terapia ocupacional da UFSCAR, v. 18, p.
tipo de pacientes. Um cão, por exemplo, não irá assoprar um 149-167, 2010.
aparelho para se exercitar e tão pouco compreende que deve 5-Conselho Federal de Fisioterapia e terapia ocupacional. Disponível
respirar de forma rápida ou lenta. Porém, outras manobras, em: <www.confito.org.br>. Acesso em: 3 Nov. 2017.
em especial as passivas, são completamente possíveis de 6- DE FRANÇA, E. E. T. ; et al. Fisioterapia em pacientes críticos adul-
serem realizadas na fisioterapia veterinária, tal como a com- tos: Recomendação do departamento de fisioterapia da associação
pressão-descompressão torácica súbita 9,14,27. de medicina intensive brasileira. Revista brasileira de terapia
Essa manobra é feita com a colocação das mãos do fi- ntensiva, v. 24, n. 1, p. 6-22, 2012.
sioterapeuta na base caudal das últimas costelas e enquanto 7- DE JONGHE, B. ; COOK, D. ; SHARSHAR, T. ; LEFAUCHEUR,
J. P. ; CARLET, J. ; OUTIN, H. Acquired neuromuscular disorders
o paciente expira o fisioterapeuta faz uma compressão to- in critically ill patients: A systematic review. Groupe de Reflexion
rácica em direção ao diafragma (Figura 7), a retém por dois et d’Etude sur les Neuromyopathies En Reanimation. Intensive
ou três ciclos de respiração e posteriormente na fase do Care Medicine, v. 24, n. 12, p. 1242-1250, 1998.
final da inspiração se faz uma descompressão súbita. Isto 8-DESAI, S. V. ; LAW, T. J. ; NEEDHAM, D. M. Long term complications
gera uma variação súbita de fluxo durante a inspiração, of critical care. Critical Care Medicine, v. 39, n. 2, p. 371-379,
como que se o indivíduo desse um “suspiro”, inspirando 2011. DOI: 10.1097/CCM.0b013e3181fd66e5.
mais ar que o normal, o que favorece tanto a reexpansão 9- DIRCEU, C. Fisioterapia Respiratória Básica. 1 Ed. São Paulo :
Atheneu, 2004.
pulmonar quanto a desobstrução das vias aéreas 14,26.
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Figura 7 – Paciente hospitalizado submetido à piratória no paciente crítico hospitalizado – relato de caso. Revista
técnica de estímulo de reexpansão pulmonar e de Educação Continuada em Medicina Veterinária e Zootecnia
desobstrução de vias aéreas (compressão- do CRMV-SP – Anais do XI COMPAVET v. 11, n. 2, p. 82-84,
descompressão torácica súbita) 2013.

514 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 52 – Fisioterapia intensivista: reabilitação em pacientes hospitalizados

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Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 515


53
Centros especializados em medicina veterinária –
desafios da adequação

Sergio Ricardo Sacramento Lobato

N
o decorrer dos anos em que você caminha pela sua E surgem as associações, os colégios, as Resoluções de
vida profissional na medicina veterinária, com cer- nosso órgão de classe determinando o conceito de especia-
teza você teve a oportunidade de acompanhar as lidade e normatizando esse novo momento da medicina ve-
diversas mudanças em nossa carreira desde os tempos da terinária.
universidade até este momento onde, atuando no mercado, Mas o mercado é sempre uma entidade em transição
em sua rotina técnica passa a buscar maiores informações onde a criatividade e inovação de nossos colegas e a própria
sobre diferentes segmentos que possam diversificar sua necessidade real em dar condições para que toda essa cria-
atuação ou mesmo o formato de seu estabelecimento vete- tividade e habilidade técnica possam ser expressas em sua
rinário. melhor versão, é quando surgem os novos conceitos agru-
Essa busca pela inovação, pelos novos formatos e por pados no “ conjunto de especialidades” que são unidades
especialidades que surgem ampliando o leque de alternati- técnico profissionais onde se executam várias atividades
vas de tratamentos ofertados aos consumidores de serviços especializadas , seja um hospital ou uma clínica (unidades
veterinários; é o que costumamos chamar de estratégia de que tradicionalmente concentram este tipo de agrupamento
posicionamento. de profissionais em suas rotinas clínicas).
Mas como posicionar-se em um cenário de transforma- Nosso maior desafio é equilibrar todos os componentes
ção como a medicina veterinária de pequenos animais? desse momento de transição dentro de um cenário chamado
E quando falamos em posicionamento em se tratando legislação veterinária que não se transforma, adequa ou se
de especialidades veterinárias precisamos falar sobre a tran- modifica na mesma velocidade em que se transformam al-
sição da medicina veterinária através dos tempos enquanto guns personagens deste cenário como o surgimento de es-
instituição (Figura 1). pecialidades com necessidades específicas, principalmente
No imaginário da socie- no quesito infra estrutura, e ainda a velocidade de transfor-
dade o médico veterinário mação das necessidades de nosso mercado de consumo
sempre foi o profissional composto por proprietários de animais e estimação, sem
dedicado a curar animais falar ainda na própria transformação estrutural de outros
de forma ampla e irrestrita, setores do universo da economia de serviços onde estamos
atendendo a todas as ques- inseridos como prestadores dos mesmos.
tões possíveis dentro de um Como entender as necessidades de cada especialidade
cenário que era o bem-estar veterinária frente às exigências que limitam e determinam
animal como objetivo. A procedimentos, fluxos, espaços físicos e processos opera-
formação do profissional cionais é o grande desafio do profissional que pretenda in-
em medicina veterinária vestir em sua especialidade.
atendia a essa demanda es- O primeiro passo a ser dado em projetos de consultoria
perada, colocando no mer- para a pesquisa inicial de ideias é começar pelo questiona-
cado profissionais formados mento mais importante da seguinte trilogia de questões:
tecnicamente para atuarem • o que eu quero?
em todos os cenários pos- • o que eu posso?
síveis de ocorrer dentro • o que eu devo?
de consultórios, clínicas e E qual seria o mais importante?
hospitais veterinários na Seguindo uma linha de tempo de decisões e atitudes es-
rotina clínica e cirúrgica. Figura 1 – Evolução dos tratégicas para a o entendimento do conceito de especiali-
Com o passar do tempo serviços médicos veteri- dades dentro de um universo de legislações criadas para
surgem profissionais que nários um universo generalista, é muito importante entender as
passam a se dedicar mais necessidades intrínsecas de cada especialidade, de cada
focalmente a determinadas áreas da clínica médica e da ci- profissional e seus procedimentos operacionais padrões.
rurgia de pequenos animais, surgindo o conceito de espe- Entender cada exame, cada necessidade de espaço, cada
cialidade dentro da medicina veterinária. aparelhagem utilizada, a mecânica em si do atendimento
O conceito surge da transformação de posicionamento veterinário e o fluxo sanitário envolvido em cada momento
de nossos colegas que à época geram esses primeiros mo- é o passo inicial para confrontar esse primeiro grupo de in-
mentos de mudança, que posteriormente induzem ao sur- formações com o segundo bloco de ítens que virá logo após
gimento de ferramentas de organização e normatização do a pergunta “ O que eu posso?”.
que convencionou-se chamar especialidade. Esses itens são o que conjunto do que é permitido aos

516 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 53 – Centros especializados em medicina veterinária – desafios da adequação

profissionais por todo o complexo cenário de legislações especialidades ao serem confrontadas com as ferramentas
que determinam formatos, fluxos e identidades tributárias fiscalizatórias são automaticamente direcionadas para um
e funcionais dos estabelecimentos veterinários. formato pré-existente na legislação.
E ao confrontar essas duas questões, é que começamos Compreender essa realidade técnica-legal torna-se o seu
a responder ao terceiro item que é “o que eu devo?”. Onde, maior desafio enquanto gestor e enquanto profissional téc-
do confronto citado, somamos a estratégia de adequação nico, pois deverá ser capaz de ajustar todas as necessidades
para que a determinada especialidade possa sair do plane- que sua especialidade possui para atender demandas legais
jamento e iniciar suas atividades de forma técnica, funcio- que permitem que o seu trabalho seja executado dentro das
nal e certificada. normas, e assim seu projeto profissional seja real e execu-
Sabemos que a legislação vigente é um grande desafio. tável.
Infelizmente, existe um anterior a este, que é o desconhe-
cimento da nossa classe das esferas fiscalizatórias que Como posso classificar a minha especialidade
atuam de forma a normatizar, limitar, influenciar e até in- fisiatria?
terferir nos projetos de estabelecimentos médicos veteriná- O maior fator limitante para a especialidades veteriná-
rios, sejam eles generalistas e principalmente, de forma rias como a fisiatria é que, independente do fato de existi-
bem mais incisiva nas nossas especialidades. rem especialidades técnicas particulares, o proprietário de
E por que isso ocorre? um estabelecimento que queria ser visto como centro de fi-
Inicialmente, o fato de nossa legislação em si ser está- siatria, centro de fisioterapia, clínica de fisioterapia, com-
tica no tempo e espaço de sua criação, datando processos plexo de fisioterapia e terapias complementares, ou
como sendo imutáveis e sem capacidade de transforma-se qualquer outra denominação comercial (nome fantasia) que
através dos tempos, o contrário de nossa capacidade de você e sua equipe de criação, designers ou comunicação
evoluir dentro da medicina veterinária em função de nosso empresarial queiram usar, irá enfrentar a limitada classifi-
elevado nível técnico, em especial em nossas especialida- cação de estabelecimentos veterinários de nossa autarquia
des, que é o tema de nosso capítulo. federal que através de sua Resolução 1015 de 2012 irá de-
Compreender esse cenário será importante para que terminar que seu estabelecimento precisa se adequar a um
quando iniciarmos as orientações específicas para atender dos formatos listados na mesma 3.
às necessidades da especialidade de nosso trabalho aqui, E qual devo escolher?
vocês consigam sempre equilibrar a tríade querer-poder- Em função de uma análise bem detalhada de demandas
dever. e exigências de cada formato, recomendo que os colegas
de detenham na classificação do formato clínica e analisem
Afinal, você sabe quem nos fiscaliza? as exigências em questões como metragem e unidades de-
É importante salientar que todas essas esferas fiscaliza- vidamente identificadas e exigidas como partes integrantes
tórias irão influenciar em processos administrativos, ope- do formato CLÍNICA:
racionais, formato e fluxo (Figura 2). Capítulo II Das Clínicas Veterinárias 1, 2, 4, 6
E acredite: procedimentos adminis-
trativos, poderão exigir que você tenha
estrutura física que possibilite a realiza-
ção dos mesmos!
Outro ponto que quero deixar claro
em nosso texto, é que mesmo que deter-
minada esfera fiscalizatória em sua re-
gião, cidade ou estado não tenha
questionado, exigido ou demandado
algum tipo de procedimento operacional
que listaremos em seguida, o profissio-
nal que busca criar seu estabelecimento
de forma diferenciada entenderá que
sempre devemos atender à fiscalização
e não ao agente de fiscalização.
Se entendermos que as especialida-
des sempre se encontram em um espaço
onde os limites de sua própria definição
enquanto serviço médico veterinário
e sua inserção em determinado formato
de negócio ou estabelecimento, são tê- Figura 2 – Instituições que participam da fiscalização dos serviços médicos
nues e confusos, vamos perceber que as veterinários

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 517


Capítulo 53 – Centros especializados em medicina veterinária – desafios da adequação

Art. 4º Clínicas veterinárias são estabelecimentos des- 1. mesa cirúrgica impermeável e de fácil hi-
tinados ao atendimento de animais para consultas e tra- gienização;
tamentos clínico-cirúrgicos, podendo ou não ter cirurgia 2. equipamentos para anestesia inalatória,
e internações, sob a responsabilidade técnica e presença com ventiladores mecânicos;
de médico veterinário. 3. equipamentos para monitorização anesté-
§1º No caso de haver internações, é obrigatório o sica com no minimo temperatura corporal,
funcionamento por 24 horas, ainda que não haja oximetria, pressão arterial não invasiva e ele-
atendimento ao público, e um profissional médico trocardiograma;
veterinário em período integral. 4. sistema de iluminação emergencial própria;
§2º Havendo internação apenas no período diurno, 5. foco cirúrgico;
a clínica deverá manter médico veterinário e auxiliar 6. instrumental para cirurgia em qualidade e
durante todo o período de funcionamento do estabe- quantidade adequadas à rotina;
lecimento. 7. aspirador cirúrgico;
§3º A opção de internação em período diurno ou in- 8. mesa auxiliar;
tegral e de atendimento cirúrgico deverá ser expres- 9. paredes impermeabilizadas de fácil higie-
samente declarada por ocasião de seu registro no nização, observada a legislação sanitária per-
Sistema CFMV/CRMVs. tinente;
Art. 5º São condições para funcionamento de clínicas 10. sistema de provisão de oxigênio;
veterinárias: 11. equipamento básico para intubação endo-
I – setor de atendimento: a) sala de recepção; b) con- traqueal, compreendendo no mínimo tubos
sultório; c) geladeira, com termômetro de máxima e traqueais e laringoscópio;
mínima para manutenção exclusiva de vacinas, an- 12. sistema de aquecimento (colchão térmico).
tígenos e outros produtos biológicos; e d) sala de ar- III – para o caso de o estabelecimento optar pela in-
quivo médico, que pode ser substituída por sistemas ternação, setor de internação, devendo dispor de:
de informática; a) mesa e pia de higienização;
II – para o caso de o estabelecimento optar pelo aten- b) baias, boxes ou outras acomodações indivi-
dimento cirúrgico, setor cirúrgico: duais e de isolamento compatíveis com os ani-
a) sala para preparo e recuperação de pacientes, mais a elas destinadas, de fácil higienização,
contendo: obedecidas as normas sanitárias municipais e/ou
1. sistemas de aquecimento (colchões térmi- estaduais;
cos e/ou aquecedores); c) local de isolamento para doenças infecto-con-
2. sistemas de provisão de oxigênio e ventila- tagiosas, no caso de internação;
ção mecânica; d) armário para guarda de medicamentos e des-
3. armário de fácil acesso com chave para cartáveis necessários a seu funcionamento; Ma-
guarda de medicamentos controlados e armá- nual de Legislação do Sistema CFMV/CRMVs
rio para descartáveis necessários a seu funcio- Módulo II - Ética e Profissões Res. 1015/12 5;
namento; e e) no caso dos medicamentos sujeitos a controle,
4. no caso dos medicamentos sujeitos a con- será obrigatória a sua escrituração em livros apro-
trole, será obrigatória a sua escrituração em li- priados, de guarda do médico veterinário respon-
vros apropriados, de guarda do médico sável técnico, devidamente registrados nos
veterinário responsável técnico, devidamente órgãos competentes.
registrados nos órgãos competentes. IV – setor de sustentação:
b) sala de antissepsia e paramentação com pia e a) lavanderia;
dispositivo dispensador de detergente sem acio- b) depósito/almoxarifado;
namento manual; Manual de Legislação do Sis- c) instalações para descanso, preparo de alimen-
tema CFMV/CRMVs Módulo II - Ética e tos e alimentação do médico veterinário e funcio-
Profissões Res. 1015/12; nários, quando houver funcionamento 24 horas;
c) sala de lavagem e esterilização de materiais, d) sanitários/vestiários compatíveis com o nú-
contendo equipamentos para lavagem, secagem mero de funcionários;
e esterilização de materiais; e) setor de estocagem de medicamentos e fárma-
d) a sala de lavagem e esterilização de materiais cos;
pode ser suprimida quando o estabelecimento uti- f) unidade de conservação de animais mortos e
lizar a terceirização destes serviços, comprovada restos de tecidos.
pela apresentação de contrato/convênio com a Parágrafo único. A clínica deverá manter contrato/
empresa executora; convênio com empresa devidamente credenciada para
e) sala cirúrgica: recolhimento de cadáveres e resíduos hospitalares.

518 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 53 – Centros especializados em medicina veterinária – desafios da adequação

E partindo do princípio que você entenda essas exigên- • Ter responsável técnico devidamente inscrito no
cias para o formato, o que mais terá que pensar no que diz CRMV de sua jurisdição
respeito a alugar ou construir um espaço físico para a sua Observação: a grande parte das ferramentas de fiscali-
especialidade? zação as quais nos referimos aqui são de âmbito nacional,
Funcionalidade é a palavra chave! mas é fundamental que você como responsável técnico do
Pense em responder às seguintes perguntas: estabelecimento esteja a par de especificidades no âmbito
• Quem são meus pacientes? estadual e ou municipal, que possam ser exigidas.
• Em que condições eles chegam à minha clínica?
• Que limitações eles apresentam? EXEMPLOS BÁSICOS
• Quem são as pessoas que levam seus pacientes à clínica? Ponto 1 – Questões sanitárias:
• Que procedimentos eu farei para atender cada paciente? • Identificação das lixeiras (resíduo biológico e comum)
• Quais patologias podem chegar a um centro como o meu? com os respectivos tipos de sacos plásticos por grupo;
• Em cada procedimento, como será o passo a passo de meu • Presença de depósito de material de limpeza;
atendimento? • Presença de depósito de lixo temporário;
• Usarei algum instrumental ou aparelho em meu atendi- • Cartaz de lavagem de mãos perto das fontes de água (pia);
mento? • Pisos de fácil higienização e limpeza, preferencial-
• Quais as dimensões, características técnicas e requisições mente laváveis;
de uso desses instrumentais ou aparelhos? • Mobiliário com superfícies de fácil higienização.
• Que espaço necessito para o atendimento de cada paciente
em função de minha especialidade? Ponto 2 – Atendimento às questões ambientais:
• Como eu farei a higienização e limpeza das instalações e • Como gerador de resíduos sólidos e saúde e como
dos aparelhos usados? “formato clínica” que será provavelmente sua classificação
• Como providenciarei um ambiente seguro e ergonômico na Resolução n. 1015, você deverá apresentar contrato de
para mim e para minha equipe de trabalho? coleta de resíduos de saúde com empresa devidamente ins-
Respondendo a essas perguntas você será capaz de en- crita no órgão estadual de sua jurisdição;
tender como ajustar a Fisiatria ao universo da legislação de • Será exigido uma área física que comporte lixeiras
uma forma bem prática, sem esquecer ainda de uma ques- para manter os resíduos guardados até a coleta dos mesmos
tão extremamente importante, a qual precisamos dar uma pela empresa contratada.
explicação nesse ponto para seguirmos com as orientações
específicas. Ponto 3 – Atendimento às normas de segurança do
Clínicas veterinárias são consideradas estabelecimentos Corpo de Bombeiros:
de assistência à saúde animal, e como tal, são sujeitas a fer- • Em função da sua área física lhe será exigido um nú-
ramentas sanitárias onde um dos maiores pontos de obser- mero de extintores e algumas exigências como identifica-
vação por parte dos fiscais é que não haja um cruzamento ção de saídas do seu estabelecimento, fique atento.
de fluxos operacionais limpos com fluxos operacionais
ditos sujos. Ponto 4 – Normas de controle da relação de consumo:
Logo é importante que você, como profissional de uma • Deverá ter em sua recepção um exemplar do Código
especialidade, busque listar todos os procedimentos onde de defesa do Consumidor e cartaz do Procon;
possa haver este cruzamento, assim, determinando roteiros • Exige-se como relação de consumo clara a exposição
de ação chamados POPs (procedimentos operacionais pa- de valores e de formas de pagamento disponibilizadas aos
drão) será fácil evitar este erro que é levado em considera- clientes;
ção em inspeções de órgãos fiscalizatórios. • Recentemente os órgãos fiscalizatórios estão exigindo
certificação de todos os aparelhos utilizados nas clínicas.
Atendendo à Resolução 1015 5, o que devo Por isso, recomendamos a busca por fornecedores que ga-
ainda atentar? rantam entre outras questões certificações como INME-
• Questões Sanitárias que garantam a percepção de que TRO ou garantir a documentação da importação em cópia
sua especialidade seja considerada um EAS ( estabeleci- dentro do estabelecimento.
mento de Assistência à Saúde);
• Atendimento á questões Ambientais como a realização Ponto 5 – Bem-estar animal:
de um PGRSS (Programa de Gerenciamento de Resíduos • Como responsável técnico você deverá verificar que
Sólidos de Saúde); todos os pacientes que estejam dentro das instalações de
• Atendimento às normas de segurança do Corpo de sua clínica de especialidade estejam em segurança, com
Bombeiros; instalações que garantam tranquilidade, preservação de se-
• Normas de controle da relação de consumo – Procon; gurança e que não sejam capazes de transmitir doenças de
• Preservar o bem-estar animal atendendo o conceito das caráter infecto contagioso por contarem com um rígido
5 Liberdades; controle higiênico-sanitário;

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 519


Capítulo 53 – Centros especializados em medicina veterinária – desafios da adequação

Sua equipe deverá ainda receber orientações sobre a A legislação sanitária determina em sua classificação
correta técnica para manuseio de pacientes. que nossos estabelecimentos sejam divididos em áreas crí-
ticas, não críticas e semicríticas, o que em Medicina Vete-
Ponto 6 – Responsável técnico: rinária gera alguns pontos de discussão na divisão entre os
Um dos maiores desafios é a gestão de tantas exigências limites entre semicrítico e crítico em função dos procedi-
técnicas e acessórias dentro de uma clínica de especialida- mentos realizados em nossos consultórios.
des, papel que cabe ao profissional que assinar a Respon- Porém, em clínicas de reabilitação, a maior parte dos
sabilidade Técnica que, além de certificar legalmente a procedimentos fisioterápicos é de característica não inva-
existência do estabelecimento perante o seu conselho de siva, mas mesmo assim recomendamos que itens como ilu-
classe, irá assumir a responsabilidade de planejamento, minação embutida, pia, porta gel ou sabão, e porta papel
execução, avaliação e correção de todas as atividades exi- toalha sejam atendidos.
gidas pelos órgãos fiscalizatórios. E ainda atender ao PGRSS e ao Roteiro de Autoinspe-
ção da Vigilância Sanitária (devidamente preenchidos pelo
E então, afinal, como seria o planejamento para uma responsável técnico) lembre-se que cada consultório deverá
clínica de fisiatria ou fisioterapia veterinária? ter 2 lixeiras, com tampa e pedal, uma para resíduos co-
Recepção: muns e outra para resíduos biológicos.
• Providencie espaço para que seus pacientes e clientes Salas de exames ou procedimentos auxiliares como te-
fiquem instalados confortavelmente; rapias complementares, deverão ter salas que sigam o
• Privilegie pisos de fácil higienização e limpeza, lem- mesmo padrão de ambientação hospitalar preconizado para
brando que muitos pacientes em clínicas de reabilitação todo o estabelecimento, garantindo assim essa percepção
podem apresentar distúrbios na função urinária, o que torna de valor diferenciado por parte do cliente de um serviço de
a necessidade de limpeza mais frequente; reabilitação.
• Mantenha espaços maiores entre os assentos para que E para finalizar, lembrar que todo centro de reabilitação
haja um maior conforto e segurança para seus clientes; sendo classificado como uma clínica veterinária deverá ter
• No seu balcão de atendimento lembre-se que deverá especial cuidado na certificação da relação de consumo
ser providenciado tanto o espaço para o atendimento do com seus clientes, pois o ato médico veterinário realizado
ponto de vista administrativo de seu cliente (preenchimento deverá ser protegido através de termos de prestação de ser-
de fichas, pagamentos...) quanto espaço para exposição de viços que podem ser encontrados na Resolução n. 1071 8
documentação exigida pelos órgãos fiscalizatórios a saber: do CFMV.
1 – certificado de regularidade jurídica; E como um grande diferencial de valorização, Centros
2 – anotação de responsabilidade técnica; de Reabilitação deverão utilizar todas essas informações e
3 – alvará; exigências que normatizam o segmento para, com o apoio
4 – cartaz do Procon; de uma agência ou profissional de criação criar sua identi-
5 – certificado do Corpo de Bombeiros. dade através de um completo programa de comunicação
Lembre-se ainda que sendo uma área de acessibilidade, empresarial, seja na mídia virtual, impressa, estrutura física
facilite esse conceito, evitando escadas de acesso, portas e apresentação pessoal da equipe.
com largura inferior a medidas padrão, e não se esqueça de Com essas atitudes e posicionamento definido, acredito
garantir segurança de acesso com portas que evitem possí- firmemente na valorização da especialidade para que ela,
veis fugas mesmo em pacientes com dificuldades variadas como entidade em Medicina Veterinária cresça, se fortaleça
de locomoção. e possa ter força profissional para criar suas próprias de-
mandas de forma ordenada e capaz de futuramente influen-
Consultórios 7 ciarem na criação de legislação customizada e realmente
Mais uma vez estaremos pensando nas respostas à tríade adequada à sua realidade técnica e operacional.
querer-poder-dever, mas de uma forma ampla mantenha o Espero que esse capítulo sirva de guia na organização
conceito de facilidade de higienização e limpeza, levando de estabelecimentos especializados em reabilitação garan-
em consideração que em centros de reabilitação o uso de tindo a cada profissional estabilidade profissional, satisfa-
materiais de apoio diagnóstico e de tratamento como col- ção pessoal e elevada percepção de valor perante o
chonetes, pisos de EVA, bolas , faixas e bancadas que de- mercado veterinário, construindo uma relação segura e es-
verão fazer parte do descritivo de higienização a ser tável com seus clientes e pacientes.
anexado no PGRSS.
No caso de estabelecimentos que contém com áreas de
hidroterapia, com ou sem aparelhos como esteiras, o pro- Referências
fissional deve avaliar o acesso ao local, bem como a ergo- 1-Brasil, Agência Nacional de Vigilância Sanitária Resolução – RDC nº
50 de 21 de fevereiro de 2002. Dispõe sobre o Regulamento
nomia para o técnico ou médico que irá assistir o paciente Técnico para planejamento, programação, elaboração e ava-
na realização do exame, providenciando pisos ou estruturas liação de projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de
antiderrapantes que possam evitar acidentes no local. saúde. Disponível em <http://goo.gl/zRrooN> Acesso em 28 de

520 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 53 – Centros especializados em medicina veterinária – desafios da adequação

abril de 2017
2-Brasil, Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio
de Janeiro, Resolução CRMV-RJ Nº 041/2014. Dispõe sobre a
instalação e o funcionamento dos Serviços de Veterinária Es-
pecializados no âmbito do Estado do Rio de Janeiro. Publicado
em 01 de julho de 2014.Disponível em<http://goo.gl/X6WLgA>
Acesso em 26 de abril de 2017
3-Brasil, Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Rio
de Janeiro, Resolução CRMV-RJ Nº 27/2012. Dispõe sobre o
funcionamento dos estabelecimentos Médicos Veterinários no
âmbito do Estado do Rio de Janeiro. Disponível em
<http://www.crmvrj.org.br/crmvrj/> Acesso em 25 de abril de 2017
4-Brasil, Decreto 40.400 de 24 de outubro de 1995. Aprova Norma
Técnica Especial relativa à instalação de estabelecimentos
veterinários. Disponível em <http://goo.gl/rzGCiq> Acesso em
28 de abril de 2017
5-Brasil, Resolução Conselho Federal de Medicina Veterinária 1015,
Conceitua e estabelece condições para o funcionamento de es-
tabelecimentos médico veterinários de atendimento a pequenos
animais e dá outras providências. Publicada no D.O.U nº 22 de
31/01/2013 Seção 1, págs. 172 e 173. Republicada no D.O.U nº
165 de 28/08/2014 Seção 1, págs. 128 e 129. Disponível em
<http://portal.cfmv.gov.br/portal/lei/index/id/441> Acesso em 10
de abril de 2017.
6-Brasil, Resolução Conselho Federal de Medicina Veterinária 1069,
Dispõe sobre Diretrizes Gerais de Responsabilidade Técnica
em estabelecimentos comerciais de exposição, manutenção, hi-
giene estética e venda ou doação de animais, e dá outras pro-
vidências. Publicada no DOU de 12-01-2015, Seção 1, pág. 56.
Disponível em <http://portal.cfmv.gov.br/portal/lei/index/id/454>
Acesso em 15 de abril de 2017.
7-DE CARVALHO, A. P. A. Temas de arquitetura de estabelecimen-
tos assistenciais de saúde. 2. ed. Salvador: Quarteto Editoria,
2003. 234 p. ISBN: 85-87243-14-4.
8-Brasil, Resolução Conselho Federal de Medicina Veterinária 1071,
Dispõe sobre a normatização de documentos emitidos pelos
serviços veterinários de clínica e cirurgia destinados aos
animais de companhia, com relação a declarações, atesta-
dos, autorizações e/ou solicitações dos responsáveis pelos
animais submetidos a procedimentos. Disponível em
<http://portal.cfmv.gov.br/lei/download-arquivo/id/510> Acesso
em 20 de maio de 2018.

COMO CITAR ESSE CAPÍTULO


LOBATO, S. R. S. Centros especializados em medicina ve-
terinária – desafios da adequação. In: LOPES, R. S. ;
DINIZ, R. Fisiatria em pequenos animais. 1. ed.
São Paulo : Editora Inteligente, 2018. p. 516-521.
ISBN: 978-85-85315-00-9.

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 521


54
Infraestrutura e logística de atendimento
de um centro de reabilitação

Ricardo Stanichi Lopes

O
primeiro centro de reabilitação animal do Brasil,
o Vet Spa, foi inaugurado em 2003 e é um marco
no estabelecimento da fisiatria veterinária: desde
essa época, essa especialidade tem experimentado um cres-
cimento exponencial e ganha cada vez mais notoriedade
na medicina veterinária. Dentre os fatores que contribuem
para o crescimento da fisiatria, podem-se citar:
• aumento da longevidade de nossos pacientes: o avanço
das técnicas de diagnóstico e tratamento da Medicina Ve-
terinária, conjugado à melhora na qualidade de alimenta-
ção, proporcionam uma elevação da expectativa de vida
dos animais domésticos. Como decorrência, há um au-
mento do número de pacientes idosos portadores de alte-
rações na coluna ou portadores de osteoartrose. Muitas
vezes, os tutores desses animais não desejam submetê-los
a procedimentos cirúrgicos ou tratamentos mais invasivos.
Nesses casos, a Fisiatria Veterinária auxilia na melhora do Figura 1 – Clínica de médio porte com divulgação do setor
quadro dos pacientes e aumenta sua qualidade de vida; de fisiatria e exposição da esteira aquática para pedestres
• alta incidência da obesidade em nossos pacientes 1,2: es- e motoristas
tudos revelam que, nos EUA, 54% da população canina e
59% dos felinos estão acima do peso. No Brasil, ainda há
poucos estudos sobre a prevalência da obesidade, mas al- outros serviços, como exames laboratoriais, de imagem e
guns deles mostram que mais de 30% de nossos pacientes cirurgias. Vale ressaltar a importância ética do fisiatra em
estão acima do peso. Isso representa mais de 22 milhões de manter contato com o veterinário que indicou o caso e não
cães e gatos que deveriam associar a fisiatria, com exercí- oferecer serviços que o colega já realiza em sua clínica;
cios físicos controlados na hidroesteira, ao tratamento e • alto rendimento x pequeno espaço físico (30 a 50 m2):
controle da obesidade animal; neste capítulo, será discutida a infraestrutura de um centro
• maior interação cliente e paciente: com o passar dos anos, próprio de reabilitação, mas muitos centros de fisiatria
os pets se tornam cada vez mais membros das famílias dos podem estar presentes dentro de clínicas e hospitais, que já
tutores, que buscam sempre o procedimento melhor e possuem estacionamento, recepção e setor de secagem.
menos invasivo. Na experiência do presente autor, muitos Com isso, o setor de fisiatria pode conter apenas de 20 a
tutores acabam procurando a fisiatria veterinária sem a in- 40 m2, realizando perfeitamente seus atendimentos e ge-
dicação de outro veterinário, no intuito de uma segunda al- rando grandes lucros ao estabelecimento.
ternativa ao procedimento cirúrgico indicado;
• maior diferenciação de clínicas e hospitais: a Fisiatria Ve- COMO MONTAR UM CENTRO DE REABILITAÇÃO
terinária, principalmente associada a hidroterapia, é uma DE ALTA EFICIÊNCIA E EFICÁCIA?
especialidade que chama excessiva atenção do público e da Na experiência do autor, existem cinco pontos-chave
mídia. Com isso, por exemplo, a maioria dos hospitais e para ter um centro de reabilitação de sucesso: 1) qualidade
centros veterinários das grandes cidades contam com esse do tratamento; 2) qualidade no atendimento; 3) boa infra-
serviço. "Objetivando atrair a atenção de potenciais novos estrutura; 4) indicações para o seu trabalho; 5) reconheci-
clientes, clínicas e hospitais veterinários frequentemente mento da comunidade. Assim, se o fisiatra não oferecer um
alocam o setor de Fisiatria em áreas estratégicas de divul- tratamento de qualidade, se o resultado do tratamento não
gação, como a fachada do estabelecimento ou algum local for positivo na grande maioria dos casos, nada mais
de fácil visualização a partir da recepção. (Figura 1); adianta. Logo, a qualidade do tratamento é o ponto-chave
• atendimento de casos encaminhados por colegas da região: principal. Um segundo ponto-chave é a qualidade no aten-
este talvez, seja o maior benefício de contar com um centro dimento: o fisiatra necessita saber atender bem o cliente,
de reabilitação em seu estabelecimento, pois como se trata pois os tutores procuram não só a melhora de seu pet, mas
de um serviço altamente especializado, muitos clientes de também a excelência do atendimento durante todas as ses-
outras clínicas de menor porte acabam sendo indicados para sões. A excelência no atendimento ao paciente e ao cliente,
este serviço e acabam conhecendo o estabelecimento como por sua vez, relaciona-se com uma boa infra-estrutura de
um todo e consumindo medicações, rações e utilizando trabalho. É a boa infraestrutura que garante ao fisiatra a

522 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 54 – Infraestrutura e logística de atendimento de um centro de reabilitação

possibilidade de realizar um bom trabalho, mesmo com alta mostrou que os alunos aprenderam em menos tempo. O
rotina de atendimento. Por outro lado, de nada adianta que MIT (Massachusetts Institute of Technology) considera a
o fisiatra se especialize e realize diversos cursos, saiba aten- Flipped Classroom fundamental no seu modelo de apren-
der o cliente, tenha uma infraestrutura excelente, se ele dizagem. O método é adotado em escolas da Finlândia e
não receber indicações para seu trabalho. O êxito nesses vem sendo testado em países de alto desempenho em edu-
quatro pontos leva, por consequência, ao reconhecimento cação, como Singapura, Holanda e Canadá 4.
da comunidade com relação aos serviços oferecidos pelo Este método consiste no estudo prévio do conteúdo atra-
fisiatra. vés de artigos, livros, vídeos e outros recursos antes de rea-
Na visão do presente autor, o empreendedorismo ainda lizar apresentações sobre cada tema a ser discutido. Se, por
é amador dentro da medicina veterinária brasileira. Conse- exemplo, o tema a ser discutido for ruptura do ligamento
quentemente, o maior desafio para um fisiatra que busca cruzado cranial (RLCC), o médico veterinário a ser trei-
montar um centro de reabilitação altamente eficiente e efi- nado estudará previamente desde a anatomia do joelho, a
caz é captar clientes e conseguir o reconhecimento da co- fisiopatologia da afecção, as principais técnicas cirúrgicas
munidade sobre a importância e a qualidade dos serviços em nossa rotina até a reabilitação em casos conservativos
oferecidos. Neste capítulo se elucidará cada ponto chave e a diferença da fisiatria no pós-operatório de cada tipo de
mencionado. técnica cirúrgica e suas possíveis complicações.
Este método, além de estimular o estudo constante, au-
1. Excelente qualidade no tratamento do paciente menta a taxa de memorização do aprendizado e eleva o ra-
A excelência na qualidade do tratamento está intima- ciocínio do médico veterinário perante as complicações. O
mente relacionada a uma boa formação. Por isso, o médico leitor pode fazer o mesmo exercício proposto acima, e lem-
veterinário que deseja atuar na Fisiatria deve procurar cur- brar do seu aprendizado com sua tese de conclusão de curso
sos de especialização ou de formação específica na área, (TCC) e comparar sua taxa de aprendizado com qualquer
de pelo menos 180 horas. É de suma importância o apren- aula de sua graduação.
dizado em outras áreas correlacionadas à Fisiatria, como
Ortopedia, Neurologia, Diagnóstico por Imagem, Endocri- 2. Excelente qualidade no atendimento ao cliente
nologia e Cardiologia, ou seja, o curso de formação não Como mencionado anteriormente, a qualidade do trata-
deve conter somente fisiatria e pouco tempo de aulas das mento é o ponto chave mais importante na carreira do fi-
outras especialidades, pois assim, o entendimento do que siatra veterinário, mas para alcançar o sucesso e ter um
realmente está afetando o paciente e como tratá-lo ficará centro de reabilitação com alta rotina e saúde financeira, o
deficitário. Vale ressaltar a importância de realizar aulas veterinário precisar proporcionar excelência de atendi-
somente com veterinários que realmente atuam na área, mento aos tutores, que na verdade são os verdadeiros donos
para que não existam distorções da aplicação de técnicas dos centros de reabilitação, pois um centro que não tenha
desatualizadas ou de fisioterapia humana na fisiatria vete- clientes e alto rendimento não se manterá no mercado.
rinária. Dados do IBGE mostram que após 4 anos, mais da me-
Apesar dos cursos serem de fundamental importância tade das empresas fecham suas portas, por isso o empreen-
na formação do fisiatra, eles são apenas uma base para o dedor que deseja montar um centro de reabilitação deve
aprendizado profissional. Diversos estudos em neurociên- estudar seu mercado de atuação, desenvolver estratégias de
cia demonstram que menos de 30% do que é apresentado marketing para clientes, mas principalmente desenvolver a
em aulas se torna armazenado na memória do aluno, redu- qualidade de seu atendimento ao cliente. Esse são temas
zindo-se para menos de 10% de aprendizado após 6 meses que dificilmente são apresentados em nossa graduação, mas
da apresentação. O leitor pode fazer um exercício simples: com ampla literatura, cursos e vídeos de fácil acesso que
tente lembrar todos os detalhes de uma aula acompanhada deveriam ser estudados antes de abrir seu próprio empreen-
há 6 meses ou em sua graduação e verá que esses números dimento.
são verdadeiros. Por isso, acredito que o melhor método de O atendimento ao cliente é um tema amplo, que não
aprendizado é o de aula invertida (Flipped Classroom), consiste somente em tratar bem o cliente, mas engloba o
também conhecido como Aprendizado Ativo. processo de negociação de planos de fisiatria veterinária
A metodologia de aprendizado ativo tem alcançado re- com os tutores. Minha atuação na área permite-me observar
sultados positivos, com impacto nas taxas de aprendizagem que existem diversos centros de reabilitação com alta qua-
e de aprovação, bem como no interesse e na participação da lidade de atendimento ao paciente e cliente, mas por falha-
turma e foi testada e aprovada por universidades classifica- rem no processo de negociação, cobram preços abaixo do
das entre as melhores do mundo, como Duke, Stanford e que poderiam cobrar e que para manter sua saúde finan-
Harvard. ceira, acabam lucrando mais com alta demanda do que com
Em Harvard, nas aulas de cálculo e álgebra, os alunos o ticket médio de cada paciente.
inscritos em aulas invertidas obtiveram ganhos de até 79% Por se tratar de um serviço altamente especializado, que
a mais na aprendizagem do que os que cursaram o ensino requer tempo e dinheiro para estudos, alto investimento em
tradicional. Na Universidade de Michigan, um estudo equipamentos e suas manutenções e gastos com marketing

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 523


Capítulo 54 – Infraestrutura e logística de atendimento de um centro de reabilitação

para atrair indicações, o proprietário do centro de reabili- 3. Infraestrutura


tação deve entender que, para manter a qualidade e sobre- A infraestrutura é de suma importância para realizar
vivência de seus serviços, o ticket médio de seus clientes com excelência um bom atendimento ao paciente e cliente,
deve ser maior que R$ 100,00 em cidades menores e de além de possibilitar atender mais de um paciente por hora,
R$ 140,00 em grandes centros urbanos (mais de 300.000 mantendo boa qualidade e otimizando a rotina. Também é
habitantes), onde há maior concorrência e gastos. uma das maiores responsáveis por agregar valor ao seu
Deve-se considerar que a fisiatria veterinária é uma es- serviço, possibilitando cobrar maiores valores nas sessões.
pecialidade que trabalha com o bem-estar animal e muitas (Figura 2)
vezes precisamos realizar descontos ou até mesmo trata- Neste capítulo, o autor descreve sua experiência em
mentos gratuitos para quem realmente precisa. Com isso, montar e construir mais de 25 centros de reabilitação ani-
se não cobrarmos o valor proporcional a qualidade de nos- mal, baseando-se na sede modelo construída na cidade de
sos serviços, a média do valor cobrado entre todos os clien- São Paulo, Brasil (Figuras 3 e 4).
tes (ticket médio) dificilmente chegará ao patamar desejado, Os ambientes necessários em um centro de reabilitação
impedindo o crescimento, manutenção e expansão dos ser- estão relacionados no Quadro 1 e são detalhados a seguir.
viços. Como isso, o cálculo do valor da sessão deveria ser
de R$ 20,00 a R$ 60,00 a mais do que você deseja de ticket Fachada
médio. A fisiatria veterinária é uma especialidade muito pouco
Podemos citar duas grandes vantagens de trabalhar co- conhecida, mas que por vezes chama muita atenção do pú-
brando altos valores. A primeira seria a constante procura blico, tanto durante exercícios em bolas quanto na sessão
da excelência, pois os profissionais mais caros com certeza de hidroterapia. Por isso, caso seja possível, o centro deve
são mais cobrados pelos resultados, o segundo é que ser o mais visível possível ao público e com informações
mesmo dando descontos para alguns clientes que realmente para posterior contato.
necessitam, você não prejudica a saúde financeira de seu Recomenda-se a utilização de imagens que remetam à
centro de reabilitação, mantendo o ticket médio elevado. fisiatria veterinária nas paredes externas do seu estabeleci-
A diferença entre profissionais que cobram valores mento, para que chamem a atenção de possíveis clientes
abaixo do recomendado e os que conseguem agregar valor mesmo em momentos em que os serviços do centro não
ao seu serviço não está na qualidade do atendimento e sim, estão funcionando. Se não for possível seguir essa sugestão
no aprendizado de técnicas de negociação do plano de tra- - em razão de leis que proíbem grandes letreiros, como
tamento e gestão de clientes. acontece na cidade de São Paulo - recomendo o uso de

Figura 2 – Ambiente pet friendly agregando valor ao serviço.

524 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 54 – Infraestrutura e logística de atendimento de um centro de reabilitação

Figura 3 – Layout de disposição de centro modelo de reabilitação animal

Figura 4 – Diagrama de disposição de um modelo de centro de reabilitação

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 525


Capítulo 54 – Infraestrutura e logística de atendimento de um centro de reabilitação

imagens decorativas na fachada, para chamar a atenção ao


seu estabelecimento (Figura 5).

Estacionamento
Muitos de nossos pacientes apresentam problemas loco-
motores ou estão paralisados, sendo assim, o centro de rea-
bilitação necessita conter no mínimo duas vagas de
estacionamento e maca para facilitar a chegada e saída des-
ses pacientes (Figura 6).

Recepção
Pela experiência do presente autor, este é o setor mais
negligenciado nos estabelecimentos veterinários, com
relação ao investimento em infraestrutura e decoração.
Normalmente o veterinário decide investir mais nas salas
de fisioterapia e hidroterapia do que gastar um pouco
mais e dar conforto ao paciente enquanto ele aguarda a
ser atendido.
Figura 6 – Maca ambulatorial para deslocamento de pa-
cientes politraumatizados ou paralisados

Caso o fisiatra queria cobrar os valores recomendados


acima, deve-se dar conforto e comodidade aos clientes, não
esquecendo que é uma ótima oportunidade para expor sua
marca e divulgar outros serviços, como atendimento de es-
pecialidades correlacionadas, por exemplo, ozonioterapia,
acupuntura, quiropraxia, entre outras (Figura 7).
A escolha do piso antiderrapante é indicada pois facilita
a locomoção e evita acidentes com os pacientes em reabi-
litação.

Setor de tratamento auxiliar


Figura 5 – Figura decorativa e relacionada a reabilitação Para otimizar o serviço e atendermos em média 2 pa-
chamando atenção para a fachada do centro de reabili- cientes/hora por veterinário, mais do que isso não é acon-
tação
selhável (para não cair a qualidade do atendimento),
Quadro 1 – Ambientes de um centro de reabilitação
Infraestrutura Dimensões Observações
Estacionamento No mínimo 2 vagas Muitos pacientes possuem dificuldade de locomoção
Recepção 10 a 20m 2 Alto investimento em conforto do cliente e
divulgação da marca e serviços
Sala auxiliar 8 a 15m 2 Procedimentos de magnetoterapia, fototerapia,
entre outros
Sala de fisiatria 12 a 20m2 Procedimentos de cinesioterapia, laserterapia, eletroterapia.
Pode ser junto à sala auxiliar ou ao consultório
Sala de Planejamento elétrico e hidráulico dependendo da marca
hidroterapia 8 a 15m2 da esteira aquática.
Piscina não é imprescindível
Próximo ao setor de hidroterapia.
Secagem 6 a 12m2 Local com isolamento acústico para outros setores do centro
Pode ser no mesmo espaço que o setor de
fisioterapia e/ou hidroterapia.
Consultório 12 a 25m2 Local mais atraente para os clientes.
Atendimento de outras especialidades e
procedimentos.

526 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 54 – Infraestrutura e logística de atendimento de um centro de reabilitação

Figura 7 – Recepção com divulgação da marca na entrada


e no balcão de recepção

recomendo determinar uma antessala para aplicação de apa-


relhos mais demorados, como magnetoterapia e fototerapia.
Esses aparelhos podem ser programados e normalmente
cada aplicação varia de 30 a 50 minutos. O fisiatra pode Figura 9 – Evidência de tomadas baixas para utilização de
estabelecer seu protocolo e colocar no paciente os apa- aparelhos no solo
relhos adequados para a administração de uma técnica te-
rapêutica. A supervisão do tratamento, por sua vez, pode
ser feita por estagiários ou auxiliares veterinários, en- Sala de aparelhos fisiátricos
quanto o médico veterinário realiza sessões de outras téc- Nesta sala, podemos contar com uma mesa de atendi-
nicas terapêuticas, como cinesioterapia ou hidroterapia em mento em inox para o tratamento de pacientes de pequeno
outra sala. e médio porte, uma mesa suporte para os aparelhos, além de
Como estes tratamentos podem ser realizados no chão, um armário para guarda-los. Atualmente, diversos tutores
recomenda-se o uso de passadeiras ou piso vinílico para registram e postam em redes sociais os tratamentos, ge-
maior conforto dos tutores e tomadas mais baixas para fa- rando grande divulgação de seus serviços, por isso, você
cilitar o manuseio dos aparelhos (Figuras 8 e 9). Alguns pa- deve divulgar de sua logomarca neste setor (Figura 10).
cientes não se adaptam ao tratamento no solo e é preferível Ressalta-se a importância de haver uma comunicação
realizá-lo no colo dos tutores, sendo assim necessários ca- visual entre esta sala e a sala auxiliar no intuito de conferir
deiras ou pufes nesse setor. se todas as etapas do tratamento estão sendo feitas de forma
Os setores de fisiatria devem ser todos no primeiro correta (Figura 11).
andar. Quando não há essa possibilidade, o acesso precisa Este setor normalmente precisa ser o maior do centro,
ser facilitado por rampas ou elevador. para facilitar a cinesioterapia, principalmente se forem

Figura 8 – Sala auxiliar com piso vinílico proporcionando


maior conforto ao paciente e cliente Figura 10 – Exposição da marca durante tratamento

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 527


Capítulo 54 – Infraestrutura e logística de atendimento de um centro de reabilitação

Figura 11 – Destaca-se a utilização de divisória de 1.4 metro para acompanhamento do tratamento na sala auxiliar.

cagem, mas para ter o mesmo resultado o veterinário terá


que realizar diversos exercícios de cinesioterapia ou até
mesmo mais sessões, não justificando esse raciocínio.
Antes da construção do setor de hidroterapia, deve-se
decidir qual marca de esteira aquática deverá ser adquirida
e seu sistema de aquecimento, para adaptar o sistema
hidráulico, de energia (elétrico ou a gás) e de esgoto ne-
cessário para instalação do equipamento.
Atualmente, existem as esteiras aquáticas em tanque,
que são as mais recomendáveis e as que se adaptam em pis-
cinas. Pela experiência do autor, a manutenção de piscinas
aquecidas para cães é difícil, pois além de muitos cães com
alterações medulares fazerem suas necessidades na água,
os filtros existentes acabam entupindo facilmente com os
pelos dos cães e precisam de constante revisão e muitas
manutenções mensais. Caso se opte por construir uma pis-
Figura 12 – Espaço para pista de obstáculos montável cina, é preferível que a esteira aquática continue sendo a
de tanque para que o fisiatra tenha opção de tratamento, se
utilizados cavaletes para aumento de amplitude de movi- a piscina apresentar problema, como em seu aquecimento,
mento dos pacientes (Figura 12). por exemplo.
Os aparelhos recomendados para um centro de reabili- Este setor é o mais divulgado por postagens dos tutores,
tação são, no mínimo: não deixe de expor sua marca e informações de contato
• eletroterapia (TENS/NMES com 4 canais); (Figura 13 e Vídeo 1).
• laserterapia; O gasto mensal com aquecimento da água da esteira
• magnetoterapia; aquática de tanque, em um centro de alta rotina (300 ses-
• fototerapia; sões mensais) na cidade de São Paulo, está em torno de
• cinesioterapia (4 tamanhos diferentes de bolas Bobath, 2 R$ 210,00 mensais. A água não precisa ser trocada a cada
tábuas de propriocepção para diferentes portes de pacien- paciente, em nossa rotina trocamos toda a água (700 litros)
tes, elásticos do tipo TheraBand, cavaletes para pista de a cada 15 pacientes, em média.
obstáculo);
• esteira aquática; Secagem
• ultrassom. Todos pacientes que usufruem da hidroterapia devem
Dependendo do orçamento disponível, o centro pode ser ser secados. Esse setor precisa estar em local próximo a es-
mais equipado adquirindo-se: infrassom, pista de proprio- teira aquática e fora de outros setores, para que auxiliares
cepção, esteira seca exclusiva para animais, plataforma de sequem o paciente ao mesmo tempo em que o fisiatra co-
força, tecaterapia, entre outras 3. meça o tratamento de outro paciente
Recomenda-se tomadas de 110 V e 220 V, sopradores e
Setor de hidroterapia secadores e bom arejamento ou ar-condicionado e limpeza
O setor de hidroterapia é o local de maior investimento constante desse setor.
do centro de reabilitação, mas que agrega valor perante o
tutor 5. Muitos fisiatras acreditam que se deve cobrar a mais Consultório
pela hidroterapia pelo trabalho em realizá-la, além da se- Dependendo do tamanho do centro, o consultório pode

528 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Capítulo 54 – Infraestrutura e logística de atendimento de um centro de reabilitação

Vídeo 1 – Setor de hidroterapia com exposição da marca -


https://youtu.be/KJp7hVYPLVo

ser separado de outros setores. Isso traz maior tranquilidade


à consulta e agrega valor perante os tutores. Esta sala deve
conter balança, mesa de inox para avaliação do paciente e
mesa de atendimento confortável ao cliente. Este setor deve
ser o mais bonito de todo centro de reabilitação, pois é nele
que os valores dos planos são negociados (Figura 14).
O consultório também pode ser utilizado para outros
procedimentos complementares da fisiatria veterinária,
como acupuntura, shock wave, ozonioterapia e atendimen-
tos de outras especialidades, como ortopedia e neurologia
veterinária.
Em centros menores, o consultório pode ser conjugado
ao setor de hidroterapia e/ou de aparelhos fisiátricos. A
grande vantagem de conjugar o consultório a outros setores
é poder demonstrar os aparelhos que serão utilizados, além
do funcionamento da esteira aquática, agregando valor ao
Figura 13 – Setor de hidroterapia com exposição da marca plano de tratamento proposto (Figura 15).

Figura 14 – Consultório estilizado para um centro de reabilitação

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 529


Capítulo 54 – Infraestrutura e logística de atendimento de um centro de reabilitação

5. Reconhecimento da comunidade
O reconhecimento da comunidade pode levar anos
para acontecer e é diretamente proporcional à qualidade
do trabalho e sua divulgação, mas estudos demonstram
que consumidores acreditam 78% a mais em indicações de
colegas e familiares do que qualquer outra forma de publi-
cidade. Sendo assim, é de suma importância o trabalho cons-
tante de divulgação da marca e resultados do centro de
reabilitação, para se alcançar crescimento e reconhecimento
em um mercado cada vez mais competitivo, tanto pela a
formação de mais fisiatras a cada ano, quanto pelo fortale-
cimento de grandes redes de centros de reabilitação que já
possuem sua marca estabelecida no mercado veterinário e
com infraestrutura de divulgação (site, blog, redes sociais,
Figura 15 – Sala de 25 m2 com todos os setores em um vídeos de casos, depoimentos de clientes, entre outros) que
único espaço: mesa de consulta, mesa de atendimento em geram maior credibilidade aos consumidores.
madeira para utilização de aparelhos e esteira aquática
Referências
1-BROOKS, D. ; CHURCHILL, J. ; FEIN, K. ; LINDER, D. ; MICHEL,
4. Captação de clientes K. E. ; TUDOR, K. ; WARD, E. ; WITZEL, A. 2014 AAHA weight
Infelizmente, a fisiatria veterinária ainda é pouco co- management guidelines for dogs and cats. Journal of the
American Animal Hospital Association,v. 50, n. 1, p. 1-11. DOI:
nhecida pelo público em comparação com a ortopedia e
10.5326/JAAHA-MS-6331.
acupuntura, por exemplo, mas isso tem mudado com divul- 2-MAO, J. ; XIA, Z. ; CHEN, J. ; YU, J. Prevalence and risk factors for
gações de grandes centros já existentes. Dentro do universo canine obesity surveyed in veterinary practices in Beijing, China.
veterinário, poucos são os veterinários que sabem real- Prev Vet Med, v. 112, n. 3-4, p. 438-442, 2013. DOI:
mente indicar a fisiatria, pois poucos cursos de graduação 10.1016/j.prevetmed.2013.08.012.
possuem a disciplina em sua grade curricular, sendo que a 3-MARCELLIN-LITTLE, D. J. ; DANOFF, K. ; TAYLOR, R. ;
ADAMSON, C. Logistics of Companion Animal Rehabilitation.
grande maioria dos médicos veterinários formados nunca, Veterinary Clinics: Small Animal Practice, v. 35, n. 6, p. 1473-
sequer, assistiram uma aula sobre reabilitação. Por isso, o 1484, 2005. DOI: 10.1016/j.cvsm.2005.09.001.
fisiatra precisa saber que estratégias de marketing bem fun- 4-O’FLAHERTY, J. ; PHILIPS, C. The use of flipped classrooms in higher
damentadas e que já apresentaram bons resultados na nossa education: A scoping review. The Internet and Higher Education,
especialidade são fundamentais para o sucesso e sobrevi- v. 25, p. 85-95, 2015. DOI: 10.1016/j.iheduc.2015.02.002.
vência duradoura de seu centro de reabilitação. 5-WAINING, M. ; YOUNG, I. S. ; WILLIAMS, S. B. Evaluation of
the status of canine hydrotherapy in the UK. Veterinary Record,
A estratégia de captação de clientes deve conter ações v. 168, n. 15, p. 407, 2011. DOI: 10.1136/vr.c6842.
diretas a tutores e a conscientização de médicos veteriná-
rios sobre a importância em indicar o serviço de fisiatria. As COMO CITAR ESSE CAPÍTULO
divulgações para tutores devem ser feitas por diversos meios LOPES, R. S. Infraestrutura e logística de atendimento de
de comunicação como campanhas de Google Adwords, es- um centro de reabilitação. In: LOPES, R. S. ; DINIZ,
tratégias SEO (Search Engine Optimization), textos em R. Fisiatria em pequenos animais. 1. ed. São Paulo :
blogs, postagens em redes sociais, entrevista em rádio e TV, Editora Inteligente, 2018. p. 522-530. ISBN: 978-85-
site e folhetos. Na opinião do presente autor, o folheto deve 85315-00-9.
ter cunho informativo como textos sobre as afecções trata-
das e não somente sobre a infraestrutura e serviços presta-
dos e apresenta baixa conversão de clientes, afinal, poucas
pessoas escolhem um serviço médico para membros da fa-
mília, como ginecologista ou oncologista, através de pro-
pagandas por folhetos, o mesmo ocorre com os serviços
veterinários.
A conscientização do público veterinário deve ser fei-
ta através de publicações de trabalhos e casos clínicos em
revistas de grande circulação e congressos, apresentações
realizadas em visitas técnicas à clinicas e hospitais da
região, vídeos de casos reabilitados, palestras em facul-
dades e contínua comunicação com o veterinário indi-
cador.

530 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


55
Administração de um centro de reabilitação

Plinio Francato dos Santos

O
conceito de administração representa uma go- Tais indicadores são importantes também para realização
vernabilidade, gestão de uma empresa ou orga- de ações de marketing, uma vez que conhecendo melhor a
nização de forma que as atividades sejam nossa demanda poderemos ser mais assertivos nas estraté-
administradas com planejamento, organização, direção, e gias de divulgação e propaganda dos serviços oferecidos.
controle ². O ato de administrar é trabalhar com e por in- Nas figuras 1 e 2 apresentamos alguns dados levantados
termédio de outras pessoas na busca de realizar objetivos através de amostragem de 320 atendimentos em centro de
da organização bem como de seus membros ³. reabilitação localizado em Alphaville, Barueri, SP.
Ao abordarmos a administração, seja ela em qualquer Na parte de análise financeira é importante controlar os
nível ou seguimento do mercado, precisamos antes nos fatores determinantes para a saúde financeira do seu negó-
conscientizarmos da necessidade básica e inicial de um cio, alguns pontos merecem toda atenção e cuidado para que
bom planejamento empresarial, que é fator-chave para o assim os resultados sejam satisfatórios e o retorno do inves-
sucesso da empresa. A necessidade de planejamento em- timento seja no menor tempo possível, acompanhado de
presarial é tão óbvia e tão grande, que é difícil para qual- uma lucratividade equilibrada para o setor e região de atua-
quer pessoa se opor a ela ¹. Planejar diz respeito a conhecer ção, entre eles podemos destacar os seguintes aspectos:
a realidade do momento e agir de acordo com esse conhe- • ticket médio: valor médio que os seus clientes pagam
cimento para se conseguir o que se deseja no futuro. pelos produtos e/ou serviços que sua empresa oferece.
A atividade de se planejar consiste em quatro etapas: Ele é o resultado do total do faturamento, dividido pela
• planejamento estratégico: período inicial onde é consi- quantidade de clientes atendidos. Por exemplo, se o seu
derado os pontos fortes, fracos, ameaças e oportunidades
para o negócio. Além disso nessa etapa também definimos
diretrizes estratégicas e objetivos organizacionais;
• planejamento operacional: detalhamento em termos de
volumes, prazos, preços, recursos consumidos e serviços
gerados. Aqui definimos o que faremos e de que forma;
• execução: etapa em que o plano é implementado, os pro-
dutos consumidos e os serviços gerados;
• controle: momento em que os desvios do que foi plane-
jado são identificados e as ações corretivas são implemen-
tadas.
Visto isso e entrando mais na parte prática da adminis-
tração de um centro de reabilitação, um fator muito im-
portante que precisamos ter controle é sobre os aspectos
da demanda. Por isso é necessário que façamos um acom-
panhamento com o intuito de conhecer o nosso cliente e
entender as principais necessidades e fatores que o levaram
ao início do tratamento.
Entre os principais pontos a serem avaliados estão:
• espécie;
• raça;
• faixa etária;
• principal queixa.
Figura 1 – Relação percentual das 10 principais raças de
animais atendidos
ESPÉCIE

Figura 2 – Relação percentual de cães e gatos em 320 atendimentos

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 531


Capítulo 55 – Administração de um centro de reabilitação

faturamento em determinado período foi de R$ 30.000,00 contribuição de R$ 21.000,00 e um índice de margem de


e foram atendidos ao longo desse mesmo período 20 clien- contribuição de 70% ou 0,7 em decimal. As despesas fixas
tes, isso significa que o ticket médio foi de R$ 1.500,00; são de R$ 15.000,00 assim realizando um lucro líquido de
• inadimplência: A inadimplência é um fator determinante R$ 6.000,00 (20%). O cálculo do ponto de equilíbrio é de
para o fracasso do negócio, por isso é fundamental acom- R$ 21.428,57, ou seja, com esse faturamento a empresa tem
panhar os recebimentos da empresa e garantir que os pa- lucro zero (Quadro 1);
cientes sejam todos adimplentes; • lucratividade: o lucro é o resultado final gerado pela em-
• fluxo de caixa: refere-se ao fluxo do dinheiro no caixa presa. Ele apresenta qual foi o ganho financeiro em um de-
da empresa, ou seja, ao montante recebido e gasto por uma terminado período. Caso você não esteja lucrando o tanto
empresa durante um período de tempo definido. As proje- que esperava, mas tem vendido seu produto ou serviço de
ções de caixa da empresa têm várias finalidades. A princi- forma adequada, estabelecendo e planejando metas, você
pal delas é informar a capacidade que a empresa tem para pode ter errado com as estimativas estabelecidas. A lucra-
liquidar seus compromissos financeiros a curto e longo tividade é apresentada em percentual (%) e encontramos
prazo. Outras finalidades do fluxo de caixa são: a) planejar após dividir o lucro pelo faturamento.
a contratação de empréstimos e financiamentos; b) maxi- • retorno do investimento: também conhecido como
mizar o rendimento das aplicações das sobras de caixa; c) Payback, ele é o momento em que os lucros gerados alcan-
avaliar o impacto financeiro de variações de custos; d) ava- çam o montante total investido, ou seja, você tem de volta
liar o impacto financeiro de aumento das vendas 4; os valores investidos no negócio. Por exemplo se o total
• ponto de equilíbrio: também conhecido no inglês como investido foi de R$ 200.000,00 e a sua projeção finan-
Break Even Point, representa o momento em que a empresa ceira é de lucrar R$ 10.000,00 ao mês, isso significa que o
consegue pagar todas as despesas e assim o seu resultado é Payback esperado para esse projeto é de 20 meses. Vale
igual a zero, ou seja, o ponto de onde parte o lucro, a partir destacar que é importante comparar os ganhos gerados
de qual receita minha empresa começa a apresentar ganhos mensalmente com os que você teria se por exemplo o di-
financeiros. Para encontrarmos esse valor precisamos antes nheiro estivesse rendendo em uma aplicação financeira. O
encontrar nossa margem de contribuição (MC) que é o re- retorno deve ser proporcionalmente maior pelo risco assu-
sultado das receitas menos as despesas variáveis. Depois mido, para tanto é prudente avaliar a taxa mínima de atra-
calculamos o índice da margem de contribuição, dividindo tividade (TMA) que corresponde ao mínimo que um
a própria margem encontrada pelas receitas. Por fim, para investidor se propõe a ganhar.
encontrarmos o ponto de equilíbrio (PE) dividimos as des- Todos esses indicadores e termos devem ser acompa-
pesas fixas pelo índice da margem de contribuição. (MC = nhados de perto. Se você não se familiariza com a gestão
receitas – despesas variáveis); PE = (despesas fixas/IMC). financeira é imprescindível que contrate um profissional
Para exemplificar, abaixo segue uma tabela de uma em- ou empresa capaz de lhe oferecer essas análises que são
presa que tem R$ 30.000,00 de receitas, despesas variáveis fundamentais para o sucesso e administração do seu ne-
de 30% ou R$ 9.000,00 e, portanto, terá uma margem de gócio

Quadro 1 – Validação do cálculo do ponto de equilíbrio


CÁLCULO DO PONTO DE EQUILÍBRIO Na prática Validação
(+) Receita R$ 30.000,00 R$ 21.428,57
(-) Despesas variáveis R$ 9.000,00 R$ 6.428,57
(=) Margem de contribuição R$ 21.000,00 R$ 15.000,00
(%) Índice de margem de contribuição 70% 70%
(-) Custos fixos R$ 15.000,00 R$15.000,00
(=) Lucro líquido R$ 6.000,00
(%) Lucratividade 20% 0%
Ponto de equilíbrio R$ 21.428,57 R$ 21.428,57

Referências COMO CITAR ESSE CAPÍTULO


1-ACKOFF, R. L. Planejamento empresarial. Rio de Janeiro: LTC, SANTOS, P. L. Administração de um centro de reabilitação.
1975. In: LOPES, R. S. ; DINIZ, R. Fisiatria em pequenos
2-CHIAVENATO, I. Iniciação à Administração Geral. 3ª Edição. animais. 1. ed. São Paulo : Editora Inteligente, 2018.
2009. p. 7.
p. 531-532. ISBN: 978-85-85315-00-9.
3-MONTANA, P. J. ; CHARNOV, B. H. Administração. 2ª Edição.
2003.
4-SANTOS, E. O. Administração financeira da pequena e média
empresa. 2ª Edição.2010. p. 43.

532 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Índice remissivo

A Atelectasia pulmonar 510, 513


Aparelho locomotor 22 Atendimento 20, 43, 49, 320, 447, 453, 503, 515, 516,
Abdução 24, 26, 28-30, 44, 45, 47, 87, 89, 183, 237, 518-531
253, 312, 315, 316, 321, 322, 326, 327, 331, 364, 371, 375, Atresia anal 465
376, 387, 450, 464 Atrofia 43-45, 55, 57, 63, 68, 83, 85, 89, 94, 96, 100,
Acetabuloplastia 375, 387 140, 175, 185, 186, 189, 203, 204, 216, 224-227, 232, 233,
Ácido hialurônico 135, 341, 393, 394, 398 237, 238, 242, 244, 247, 252-256, 263, 264, 268-270, 272-
Acupuntura 77, 100, 101, 147, 174, 283, 310, 388, 389, 276, 278, 280, 281, 299, 301-305, 309, 313, 321, 336, 337,
448, 449, 456, 470, 475, 477, 478, 490, 492, 494, 502, 503, 344, 349, 355, 359, 366, 370, 372, 374, 376, 384, 387, 396,
505-507, 526, 529, 530 399, 408, 411, 450, 469, 470, 477, 479, 493, 494, 498, 510
Adução 24, 26, 28-32, 47, 87, 89, 312, 322, 327, Automutilação 70, 242, 243, 299, 301, 302
331, 371, 375, 384, 387, 421 Avaliação cinética 37, 80, 82, 397
Agility 476, 479, 481, 482 Avaliação da marcha 43, 49, 51, 71, 80
Agrecanas 392 Avaliação da qualidade de vida 78, 79
Alimentação 43, 208, 217, 271, 308, 416, 417, Avaliação de dor (ver também “dor”) 67, 70, 73, 75, 84
421-431, 433-438, 443, 449, 488, 511, 512, 518 Avaliação de resultados 80
Alimentação natural 438, 443 Avaliações morfométricas 84
Alongamento estático 144-146, 454, 455 AVC 491-493, 512, 513
Alongamento 61, 63, 103, 111, 122, 139, 144-147, 159 Avulsão do plexo braquial 45, 237-239, 243, 461
164, 300, 305, 309, 322, 326, 327, 359-362, 364, 396, 404, Axônio 109, 122, 197, 201, 221, 223, 226, 227, 231,
405, 410, 411, 454, 455, 460, 461, 473, 474, 511 233, 236, 237, 299, 489, 490
Alongamento mecânico prolongo (plástico) 144, 146 Axonopatias 223, 236
Amantadine 390 Axonopraxia 236
Amitriptilina 283, 390, 448 Axonotmese 237, 239, 247, 302
Amplitude 18, 26, 28, 39, 40, 41, 43, 52, 57, 62, 64, 82,
85, 88-90, 92-94, 96, 97, 100, 101, 108, 122, 131, 141, 143- B
147, 150, 154, 155, 158-160, 164, 201, 205, 216, 225, 227, Bainha de mielina 221, 223, 236, 429
233, 261, 264, 269, 299, 300-306, 314, 315, 320, 321,323- Banhos de imersão 156, 158, 396, 467
326, 328, 335, 336, 338, 339, 355, 359-366, 370, 371, 374, Bandagem neuromuscular (ver também Kinesio Taping®) 163
376, 381, 385, 393, 396, 398, 399, 408, 409, 411, 412, 438, Bicicleta 148, 154, 292, 381
440, 441, 447, 450, 454, 457, 459, 460, 468, 469, 481, 489, Biomecânica 20, 37, 39, 40, 42, 51, 61-65, 139, 148,
492, 501, 510, 528 154, 169, 312, 316, 336, 339, 344, 346, 348, 364, 366, 401,
Anamnese 43, 49, 51, 55, 61, 66, 74, 77, 78, 140, 175, 408, 412, 463, 465, 469, 473, 475, 488
186, 189, 190, 206, 216, 238, 256, 306, 307, 310, 414, 448, Bicipital 26, 45, 237, 238, 312-314, 316, 317, 320, 321, 324
453, 488, 489 Bolsa de água quente 110, 356, 505
Anfíbios 466 Botulismo 198, 206, 214-217, 233, 299, 304, 498
Anfivet 20 Brometo de piridostigmina 207
Animais silvestres 137, 217, 283, 466-471 Bronquiectasia 513
Anomalias congênitas 307 Bumblefoot (pododermatitis) 467
Antagonistas NMDA 388, 390
Antidepressivos tricíclicos 390 C
Anti-inflamatórios esteroidais 233, 321, 363, 372, 388, Cães esportistas 337, 472
389, 422, 448, 496 Calcificação de tendão supraespinhoso 314, 321, 324, 327
Anti-inflamatórios não esteroidais 233, 321, 363, Caminhadas 61, 217, 301, 303, 304, 383-386, 399,
372, 388, 389, 448, 496 409, 410, 439, 476, 490, 491, 497, 505
Antitoxina C 217 Campo magnético 128-131, 310, 364, 365, 396, 397,
Ânulo fibroso 169, 173 455, 456, 460, 466
Articulação 23-36, 39, 40, 41, 43-48, 56, 62, 82, 83, Cápsula articular 23, 25, 26, 39, 43-45, 47, 83, 89,
87-90, 95, 100, 108, 122, 135, 142, 144-146, 149, 150, 153, 103, 144, 187, 312, 315, 316, 321, 324, 331, 336, 339, 344,
155, 165, 166, 170, 179, 182, 183, 188, 244, 246, 247, 276, 346, 347, 361, 374, 374, 377, 388, 447, 510
290, 303, 312-317, 320-326, 331-340, 343-345, 347-350, 354, Carprofeno 373, 389, 393, 495
355-357, 359, 360, 361, 364-366, 369-371, 374-377, 381, Carrinho de mão 40, 41, 54, 150, 302, 398
384, 388, 392, 393, 396-398, 408, 409, 438-441, 446, 447, Cauda equina 97, 177, 178, 181, 184, 187, 191, 243,
449, 450, 454, 455, 459, 463, 464, 468, 476, 499-503, 509 244, 246, 271, 287, 290, 300, 301
Artrite 44, 130, 336, 344, 366, 392, 394, 422, 485, 502 Cavalete em esteira aquática 301
Artrodese 316, 326, 364, 409 Cavaletes 150, 151, 154, 292, 300, 309, 326, 338-340,
Artrologia 23 359, 361-363, 366, 383, 398, 399, 410, 412, 457, 460, 528
Artroscopia 40, 166, 313, 316-318, 320, 333, 337, 347 Cavalier king charles spaniel 253, 274
Ataxia 43, 51, 52, 66, 70, 85, 158, 172, 178-181, 183, Cavidade glenoide 26, 88, 312, 315
184, 188, 189, 191, 244, 280, 288, 289, 300, 303, 308, 309, Cerebelo 291, 306-308, 480, 481, 489, 491, 492
494, 496, 497 Cérebro 110, 140, 186, 190, 290, 299, 424, 487, 489,

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 533


Índice remissivo

490-492 Disco intervertebral 37, 51, 169, 170, 177, 178, 182-185,
Chihuahua 179, 199, 253, 254, 267, 315, 375, 421 187, 190, 191, 287, 301, 302, 493-496
Chinchilas 468 Discoespondilite 172, 177, 179, 180-182, 188, 190-192,
Cicatrização óssea 338, 339, 402, 408-410, 412, 460 299, 302
Cifose 43, 50, 51, 63, 188, 253, 463 Disfagia 203, 215, 216, 253, 255, 261, 268, 271, 281, 303
Cimicoxib 389 Displasia 40, 47, 83, 99, 135, 142, 179, 188, 189, 301,
Cinemática 22, 37, 39, 40, 61, 62, 64, 158, 160, 325 307, 315-317, 320, 331-334, 336, 337, 343, 348, 370-374,
Cinesioterapia 158, 165, 287, 289, 291-293, 300, 301, 377, 381, 392, 394, 398, 437, 446, 449, 459, 499, 500, 509
324, 326-328, 359, 360, 409, 411, 454, 457, 460, 482, 489, Displasia coxofemoral 40, 99, 188, 189, 301, 320, 343,
492, 494, 495, 501, 503, 511, 526-528 370-374, 377, 394, 446, 449, 499
Cinética 37, 38, 64, 80, 82, 96, 99, 103-105, 133, 170, Displasia de cotovelo 332, 333, 337, 437, 446
171, 389, 390, 397 Displasia do quadril 373, 374, 381
Claudicação 37-40, 43, 45-47, 51, 70, 80, 81, 155, 171, Displasias de cotovelo 331, 332
181, 187, 225, 232, 263, 290, 312-318, 320, 328, 332, 334, Distrofia muscular hipertrófica felina 252, 254
335, 337, 339, 344, 346, 349, 365, 366, 370, 373, 375-377, Distrofias musculares 252, 254, 260
383, 398, 399, 447, 450, 453, 468, 474, 475-477, 501, 502 Distrofinopatia ligada ao cromossomo X 252, 253
Clostridium botulinum 214 Dobermann 172, 182, 183, 192, 193, 227, 274, 288, 421
Cobaias 468 Doença articular degenerativa 77, 135, 314-316, 320,
Cocker spaniel 172, 211, 253, 254, 256-258, 260, 266, 323, 348, 365, 370, 371, 373, 375, 377, 390, 392, 408, 446,
267, 275, 421, 437, 486 447, 459, 460, 464, 502
Coelhos 165, 322, 466, 468, 469 Doença do disco intervertebral 177, 182, 183, 187, 494-496
Colágeno 22, 26, 123, 124, 129, 130, 135-137, 139, Doença do disco intervertebral (DDIV) 177-181, 187-189,
142, 144, 169, 200, 252, 287, 288, 314, 343, 344, 372, 390, 287, 288, 494, 501, 502, 506
392-394, 396, 401, 404, 429, 433, 454, 455, 467, 487 Doenças endócrinas 270, 304, 437
Condroitina 321, 372, 373, 390, 394, 398, 433, 449, Doenças neuromusculares 199, 263, 498
450, 487 Dor 18, 37, 39, 40, 43-47, 49, 51, 57-59, 62-63, 66-75,
Condroprotetores 314, 335, 388, 390, 393, 449 77, 78, 84, 85, 88, 89, 99-101, 104-107, 109, 110, 119, 121-
Consolidação óssea 123, 124, 130, 134, 326, 362, 364, 125, 130, 135, 136, 139-143, 145, 149, 155, 156, 158, 160,
366, 401-406, 409, 411, 470 163-165, 169-175, 179-188, 190, 236, 245, 246, 264, 265,
Consultório 448, 453, 496, 516, 520, 526, 528, 529 268, 269, 271, 274, 276, 278, 280, 287-291, 294, 300, 302,
Contratura do músculo infra espinhoso 44 305, 313-317, 320-327, 333-340, 343, 344, 346, 347, 357,
Contraturas musculares 112, 115, 130, 142, 294, 364, 370-377, 381, 383, 384, 386, 388-390, 392, 393, 396-
299, 300, 302, 304, 324, 469, 474, 475, 479 398, 404, 409, 410, 412, 438, 439, 446-450, 453, 454, 456,
Coordenação motora 144, 150, 309, 363, 457 457, 460, 461, 466-470, 473-475, 477, 485, 488, 493-495,
Corrente bifásica 92, 93, 96 497-506, 509, 511, 512
Corrente diadinâmica 92 Dor aguda 62, 66, 67, 70, 73, 75, 101, 145, 294, 321,
Corrente farádica 92 325, 326, 346, 384, 389, 467, 488, 500, 505
Corrente galvânica 92 Dor crônica 62, 66, 69, 73, 77, 78, 84, 101, 109, 110,
Corrente interferencial 92, 100, 102, 294, 469 172, 173, 175, 370, 388-391, 446-449, 488, 495, 497, 500-
Corrente Russa 92 502, 505, 506
Corticosteroides 174, 177, 207, 233, 264, 271, 289, Dor neuropática 66, 77, 121, 388, 390
316, 389, 448 Dor ortopédica 70, 71
Cotovelo 23, 26-28, 39, 41, 43-45, 56, 88, 91, 96, 113, Dor profunda 58, 59, 85, 172, 174, 184, 246, 287,
124, 133, 136, 141, 142, 153, 160, 237, 238, 242, 243, 253, 288, 409, 461, 494
273, 315, 317, 323, 326, 331-341, 347, 398, 437, 440, 441, Duchenne 253, 256
446, 447, 459, 476, 499, 502 Duty cicle 113
Crioterapia 19, 103-108, 111, 157, 300, 322, 337, 339,
340, 355, 356, 361, 364, 366, 384, 396, 399, 409, 410, 439, E
457, 460, 466, 469, 504 Edrofônio 204, 205, 207
Cronaxia 93, 94 Effleurage 141, 294
Elétrica nervosa transcutânea 92, 322
D Electrical muscle stimulation 92
Dachshund 171-174, 264, 336, 343, 375, 415, 421, 497, 502 Eletrodiagnósticos 225, 233, 239, 244
DAD 392, 393, 446 Eletrodos 95, 97, 98, 100, 101, 241, 309, 310, 322, 411,
Dança 40, 41, 150, 155, 198, 366, 386, 398 456, 469
Degeneração walleriana 223, 236, 240 Eletroneurografia 239
Denervação acetabular 373, 374, 386 Eletroneuromiografia 233, 239
Densidade relativa 156 Eletroterapia 92, 94, 96, 97, 99, 100, 115, 304,
Dermatomiosite canina familiar 267, 272 305, 322, 325, 327, 328, 357, 364, 365, 396, 469, 470, 495,
Desnervação 144, 215, 233 501, 526, 528
Dexa 83, 84, 89, 414 Embolia fibrocartilaginosa 287, 299, 301
Diabetes mellitus 200, 226, 299, 304, 423, 435, 439, 461 Embolismo fibrocartilaginoso 289, 307
Diacereína 394 Empreendedorismo 523
Diagnóstico zookinésico 61 Empuxo 156, 412
Diagrama de Dempster 64, 463 EMC 183, 184
Diartroses 23 EMS 92, 96, 97, 100
Dipirona 389, 390 Encéfalo 59, 190, 224, 306, 307, 489, 490-492

534 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Índice remissivo

Encefalinas 140 Fratura de coluna 409


Endocrinopatia 203, 226, 414, 428, 430, 488 Fratura de pelve 409
Endorfina 119, 121, 130, 140, 294, 308, 454, 456, 468 Fraturas articulares 324, 331, 337, 408, 409, 412
Enriquecimento ambiental 308, 448, 468, 470, 490, 499 Fraturas fisárias 409
Envelhecimento 317, 446, 485-488, 490, 501 Fricção 112, 139-142, 294, 324
Equilíbrio 25, 61-64, 66, 70, 96, 105, 135, 144, 148, Functional electrical stimulation 92
150, 151, 154, 157-159, 165, 226, 262, 263, 291, 292, 300,
302, 306, 308, 309, 315, 325-328, 332, 338, 359, 360, 362- G
364, 375, 390, 401, 412, 416, 423, 429, 430, 437, 438, 440, Gabapentina 295, 389, 390, 449
457-461, 468, 469, 474, 480-482, 490, 499, 500, 510, 511, Gânglio espinhal 197, 221, 222
512, 532 Gatos 26, 43, 44-46, 50, 53, 73-75, 77, 87-90, 100, 111,
ERA 113 124, 153, 163, 169, 177, 178, 185, 186, 188, 191, 198, 199,
Escada 81, 150, 155, 169, 292, 300, 320, 335, 361, 202, 203, 206-208, 214, 215, 224, 226-228, 231-234, 236,
384, 386, 400, 412, 440, 441, 443, 447, 449, 450, 505, 520 237, 244-246, 252-256, 260-262, 264, 265, 267, 268, 271,
Escala de dor aguda 70, 73 278-281, 283, 304, 306, 307, 312, 315, 316, 320, 323, 336,
Escala de Glasgow 73, 74 370-372, 374-376, 388-390, 392, 394, 401, 405, 406, 421,
Escoliose 43, 50, 463 422, 426, 427, 432, 446, 449, 450, 453-461, 485, 488-491,
Escore corporal 43, 321, 430, 437, 438, 439, 443, 447 493, 494, 498, 499, 502, 504-506
Escore da condição corporal 84 Genodermatose 272
Espinha bífida 177, 463 Geriátrico 203, 363, 485, 487, 489, 502
Espondilomielopatia cervical 177, 179, 180, 183 Glicosamina 321, 372, 373, 449, 450
Esportes de tração 473 Glucosamina 390, 394, 433
Esqueleto axial 22, 25, 447, 450 Golden retriever 179, 253, 274, 277, 278, 281, 289, 373, 421
Estacionamento 522, 526 Gonfoses 23
Esteira terrestre 293, 340, 440 Goniometria 18, 87, 89
Estimulação elétrica funcional 96, 469 Goniômetro 82, 87, 88, 371, 381
Estimulação elétrica muscular 92, 96
Estimulação elétrica neuromuscular 92, 96, 455, 500 H
Estiramento muscular 475 Head tilt 50, 51
Exame ortopédico 43-46, 316, 320, 321, 447, 450, 453, Head turner 50
488, 489 Hepatozoonose 282
Excisão artroplástica da cabeça femoral 386, 387 Hérnia de hansen tipo I 287
Exercícios físicos 125, 437-441, 443, 466, 469, 488, 505 Hérnia de hansen tipo II 288, 290
Exercícios terapêuticos 40, 41, 148, 149, 153, 303, Herniação discal 169, 170-175
324, 338-340, 364, 365, 398, 408, 457, 468-470, 501 Hidroesteira 153, 157, 159, 160, 304, 325-328, 361,
Exóticos 466, 468-470 398, 399, 441, 442, 522
Extensão 23, 24, 26, 28-32, 35, 36 Hidroterapia 20, 156, 157, 300-303, 325-328, 360, 365,
Extraceptores 139 383, 385, 399, 412, 441, 442, 454, 458-460, 489, 495, 497,
Extrusão 51, 170, 171, 173, 174, 178, 190, 287, 289, 499, 520, 522, 524, 526, 527-529
437, 494 Hiperadrenocorticismo 47, 78, 207, 226, 255, 263, 264,
Extrusão de núcleo pulposo aguda não compressiva 289 304, 307, 414, 439
Hiperplasia 63, 199, 200, 202
F Hipertermia maligna 261, 262
Fadiga muscular 94, 289, 295, 324, 362, 442, 473 Hipertermoterapia 103, 108, 11, 466, 467
Fáscias 139, 140, 355, 455, 472, 473 Hipertonia 63
Felinos 43, 46, 54, 66, 69, 73, 77, 78, 87, 139, 153, 155, Hipertrofia 61, 63, 170, 183, 187, 188, 225, 253-255, 261,
186, 188, 190, 227, 231, 252, 279-281, 299, 365, 370, 371, 373, 263, 264, 290, 301, 336, 437
388, 389, 411, 426, 446, 453-457, 459, 460, 496, 522 Hipoadrenocorticismo 264, 265, 270
Ferrets 466, 468 Hipoplasia 63
FES 92 Hipotireoidismo 200, 203, 223-226, 255, 260, 263, 299,
fibras extrafusais 145, 479 304, 414, 501
Fibras musculares esqueléticas 25, 227 Hipotonia 63, 244, 256, 263
Figura em oito 364, 383, 385 Hipotrofia 55, 63, 89, 90, 300, 302, 355, 364, 365, 399,
Firocoxib 389, 394 408, 456, 459, 460
Fisiatria felina 454, 461 Hospitalização 503, 509, 510, 513, 514
Fisiopatologia da dor 388
Fisioterapia intensivista 509, 513 I
Fisioterapia respiratória 513 Idoso 485
Fixadores externos 402, 406, 410 IFC 92, 100-102, 469
Flap cartilaginoso 312, 313, 317, 334 Imunossupressão 207, 208, 271, 276, 280, 389
Flap de cartilagem 313 Inclinação de cabeça 50, 51
Flexão 24, 26, 28-31, 35, 36 Infraestrutura 522-524, 526, 530
Flipped classroom 523 Infraestrutura e logística 522
Flotação 156, 158, 281 Infrassom 112, 114, 504, 528
Fragmentação do processo coronoide 334, 347 Ingestão energética 416-417
Fraqueza muscular 53, 99, 145, 198, 199, 202-204, Inspeção 43, 61, 68, 70, 321, 414, 430
206, 207, 269, 304, 305 Instabilidade medial do ombro 314-316, 320

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 535


Índice remissivo

Intesivista 509 Mioclonia 52, 53


Interferential current 92 Miologia 24
Intoxicação por organofosforados e carbamatos 206 Miopatia hipercalêmica 262
Intraceptores 139 Miopatia hipocalêmica 262
Miopatia hipotiroidea 263
J Miopatia por esteroides 263, 264
Junções neuromusculares 197, 304 Miopatias 197, 204, 226, 250, 252, 254-256, 260, 263, 267,
268, 274, 282
K Miopatias inflamatórias imunomediadas 267
Kinesio Taping 163, 166 Miopatias metabólicas 260, 263
Miopatia hipotireoidea 224, 263
L Miosite 203, 233, 267, 268, 271-276, 278, 280-282
Lâmpada de infravermelho 466, 511 Miosite atrófica 273
Largura de pulso 92, 94, 96 Miosite dos músculos mastigatórios canina 273
Laser 106, 117-125, 294, 295, 300, 302, 305, 337, 340, Miosite extraocular 267, 274, 276, 277
357, 358, 362, 364, 384, 396, 397, 410, 455, 460, 461, 475, Miotonia 52, 254, 260-262, 264, 304
476, 495, 497, 501 Miotonia congênita 260-262
Laserterapia 117, 119-122, 300, 302, 323, 324, 326, 327, Mobilizações passivas 454, 464
328, 357, 358, 364-366, 396, 397, 399, 467-470, 495, 526, 528 Mononeuropatias 223
Laxidão articular 83 Mononeuropatias múltiplas 223
Legislação veterinária 516 Movimentos passivos 148, 321, 337, 454
Lesões em tendões e ligamentos 475 Músculos 22, 25-36, 61, 63, 75, 82, 84, 92, 94, 96, 97, 99,
Lesões esportivas 472, 476 100, 103, 105, 109, 114, 139, 140, 142, 144-146, 149, 150,
Lesões intracranianas 489 163, 164, 165, 197, 199, 203, 205, 217, 225, 226, 227, 232,
Lesões vasculares 307 233, 237, 238, 242-246, 252-254, 260, 261, 263, 265, 267-
Líquido sinovial 23 269, 270, 272-278, 280, 283, 288, 294, 299, 302-305, 309,
Lordose 50 312-315, 336, 337, 340, 349, 355, 356, 358, 360, 381, 384,
Luxação 44-48, 99, 122, 184, 185, 246, 315, 346, 348, 386, 387, 392, 396, 398, 401, 408, 411, 425, 430, 439, 440,
349, 365, 366, 376-378, 446, 449, 459, 464, 493, 501 442, 454-457, 461, 464, 465, 469, 474-476, 479, 480, 482,
Luxação coxofemoral 246, 376-378, 384 495, 497, 500, 510, 511, 514
Mushing 472-474, 476-478
M
Magnetoterapia 128, 130, 131, 301, 302, 310, 323, 324, N
326-328, 356, 357, 364, 366, 384, 397, 399, 409, 410, 456, Não ossificação intercondilar 334
470, 492, 494, 495, 526, 527, 528 Não união do processo ancôneo 44, 332-334
Maine coon 253, 254, 258, 446, 449 Necessidade energética em repouso 415
Manejo alimentar 77, 416 Neonato 463-465
Marcha 37-40, 50 Neospora 190, 278-280, 282, 303
Marcha medular 174 Neospora caninum 190, 278-280, 282
Marketing 523, 530, 531 Neosporose 233, 278, 279, 281, 282
Massa muscular 18, 55, 80, 83, 84, 89, 90, 94, 141, 189, Nervo ciático 122, 187, 243, 244, 246, 247, 299, 300-302
275, 299, 303, 325, 332, 337, 338, 340, 360, 361, 373, 374, Nervo isquiático 33, 35, 374
393, 396, 408, 412, 415, 426, 438, 440, 443, 454, 461, 468, Nervo radial 183, 237-243, 301, 302
486, 499 Nervos cranianos 49, 54
Massagem 103, 104, 107, 108, 139-143, 158, 294, 302, 303, Nervos periféricos 121, 122, 194, 197, 216, 221, 222,
305, 338, 355, 381, 384, 398, 399, 411, 439, 442, 449, 454, 231, 233, 236, 252, 254, 263, 264, 289, 290, 299-302, 470, 489
463, 464, 466, 468, 475, 476, 493-495, 497, 504, 505, 512 Neurologia 49, 307, 481, 489, 523, 529
Mecanorreceptores 163, 164, 323, 454 Neuromodulação 287, 290, 291, 481
Medula espinhal 58, 59, 61, 80, 100, 105, 109, 110, 122, Neuromuscular 40, 61, 64, 92, 96, 102, 144, 146, 148, 163,
171, 177-179, 181-190, 237, 241, 246, 247, 288, 290, 291, 165, 189, 197, 199, 203-207, 215-217, 224, 227, 231, 239,
299, 306-308, 460, 461, 463, 476, 479, 480, 489, 493, 494, 240, 246, 250, 260, 261, 263, 267, 270-272, 278, 280, 287, 291,
496, 505 294, 299-304, 338, 357, 396, 455, 479, 481, 482, 498, 500, 511
Megaesôfago 199, 202-204, 206-208, 215, 216, 253, Neuromuscular electrical stimulation 92
256, 263, 265, 268, 269, 271, 273, 281 Neurônio motor inferior 51, 52, 55, 100, 181, 187-189,
Meloxicam 389, 393, 448 197, 214, 215, 231, 236, 250, 260, 267, 299, 461
Membros torácicos 22, 38, 41, 43-45, 51, 53, 54, 56, 60, 64, Neuronopatias 197
89, 148, 150-152, 155, 183, 185, 189, 203, 206, 232, 237, Neuropatia diabética 69, 77, 188, 226-228, 270, 304
239, 246, 263, 288, 293, 299, 303, 306, 312, 320, 325, 326, Neuropatia hiperadrenocortical 226
334, 340, 381-383, 385, 398, 437, 438, 440, 441, 459, 481 Neuropatias 66, 197, 204, 221, 223, 224, 231, 236, 237,
Memorização 287, 290, 291, 489, 523 243, 247, 263, 269, 275, 304, 498, 499
Meningoencefalite granulomatosa 190, 307 Neuroplasticidade 290-292, 388, 494, 499
Mercado nacional 20 Neuropraxia 236, 237, 239, 240, 242, 302, 374, 375
Miastenia grave 198, 200, 216, 225, 299, 304 Neuroreabilitação 287, 290, 291, 294, 295, 481
Miastenia grave adquirida 198 Neurorrafia 122, 242, 247
Mielinopatias 223 Neurotmese 236, 237, 239, 243, 247, 302
Mielopatia degenerativa 18, 177, 178, 180, 181, 188, 189, Neurotoxinas botulínicas 214
287, 288, 299, 302, 489, 496, 498 Nível de consciência 50, 67, 139

536 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Índice remissivo

NMES 92 Plexo braquial 45, 153, 232, 237-239, 242, 243, 299, 301,
Normoplasia 63 302, 461, 477
Normotonia 63 Plexo lombossacro 243, 245
Normotrofia 63 Pneumopatias 141
Núcleo pulposo 169, 287, 289 Pododermatites 467
NUPA 333, 334, 336, 337 Polaridade 92, 310, 405
Nutracêuticos 314, 372, 388, 390, 399, 417, 431-434, 450, Poliartrite 189, 190, 499
502, 503 Polimiopatia hipocalêmica felina 260, 265
Polimiosite 185, 233, 267-273, 275, 278, 280-282, 299, 304,
O 305
OA felina 446-449 Polimiosite canina imunomediada 267
Obesidade 43, 84, 255, 304, 317, 321, 343, 365, 370, 373, Polimiosites protozoárias 278, 280, 282
414-417, 420-425, 430-435, 437-443, 447, 461, 488, 500, 522 Polineuropatias 223, 231, 499
OCD 312, 313, 317, 333, 336, 337 Polirradiculoneurite 203, 206, 216, 231, 233, 234, 281,
Ombro23, 24, 26-28, 30, 39, 41, 43-45, 56, 83, 88, 150, 157, 299, 303, 498
158, 182, 237, 312-317, 320-328, 333, 338, 340, 347, 381, Polirradiculoneurite imunomediada 206
383, 440, 441, 477 Poodle 179, 188, 263, 264, 315, 421, 501
Ômega-3 388, 390, 417 Pós-cirúrgico 82, 99, 140, 293, 328, 336, 337, 362, 375,
Ondas de choque extracorpóreas 324, 397 469, 495
Opioides 100, 101, 112, 126, 173, 388, 389, 456 Pós-graduação 20
Organofosforados 206, 307 Postura 22, 37, 43, 49-53, 57, 61, 63, 69-71, 73-75, 96,
Ossos alongados 22 140, 144-145, 151, 158-160, 165, 175, 183, 207, 232, 237,
Ossos curtos 22 242, 253, 255, 261, 265, 290, 291, 293, 300, 304, 306-309,
Ossos irregulares 22, 25 321, 325, 337, 339, 381, 399, 454, 463, 468, 479-482, 489,
Ossos longos 22, 23, 44, 402, 405, 408, 486 492, 503, 505, 509, 511, 512
Ossos planos 22 Postura de Schiff-Sherrington 50
Osteocondrite dissecante 44, 45, 320, 323, 328, 333, Pregabalina 390
334-337, 347, 358 Pressão hidrostática 110, 156, 412
Osteoartrite 43-45, 80, 83, 96, 97,101, 135, 177, 313, 314, Propriocepção 51, 58, 62, 70, 105, 150, 153-155, 158, 165,
322, 324, 331, 337, 339, 348, 355, 362, 372, 373, 376, 384, 183, 225, 232, 253, 288, 300, 302, 303, 306, 308, 309, 340,
392, 396-399, 459, 469, 500 364, 365, 412, 453, 457, 460, 461, 468-470, 489, 497, 511-
Osteoartrose 39, 40, 46, 78, 84, 124, 125, 136, 314, 323, 513, 528
331-335, 343, 346, 358, 360, 365, 371-375, 378, 388-390, Proprioceptores 139
392-394, 399, 415, 437-439, 441, 447, 449, 450, 453, 460, Proteoglicanos 169, 288, 314, 344, 355, 393, 404, 429
499-503, 506, 522 Prótese total do quadril 373, 375, 386
Osteocondrite dissecante (pós-cirúrgico) 328 Protrusão 170, 171, 173, 174, 183, 184, 187, 188, 191, 237,
Osteocondrose 44, 187, 290, 312, 313, 327, 334, 357 261, 263, 264, 276-278, 288, 437, 494
Osteocondrose da cabeça umeral 312, 313
Osteocondrose dissecante 312 Q
Osteocondrose do côndilo umeral medial 334 Quadril 32, 40, 41, 51, 83, 150, 187, 245, 247, 360,
Osteotomia pélvica tripla 386 370-376, 378, 381, 383-386, 398, 440, 449, 450, 476, 500, 509
Ozonioterapia 469, 490, 492, 501-503, 505, 526, 529 Questões sanitárias 519

P R
Palmígrada 227 Radiculopatia 181, 197, 223
Paralisia (plegia) 52 Radiculopatia ou plexopatia 197
Paralisia por carrapato 206, 216 Rádio 22, 24, 26-30, 43, 44, 88, 89, 130, 146, 150, 311,
Paresia 51, 52, 171, 172, 185, 187, 189, 190, 215, 232, 245, 333, 334, 336-339,
246, 288, 299, 301-303, 464, 496 Raiva 216, 223, 299
Paresia flácida 299 Raízes nervosas 62, 71, 101, 122, 123, 171, 183, 197,
Parestesia 62, 243, 301, 470 223, 231, 237, 238, 242, 243, 254, 281, 288, 290, 300, 409
Pássaros 279, 467 Rampa 92, 93, 150, 292, 293, 339, 360, 398, 399, 400,
Pastor alemão 172, 173, 180, 181, 187-189, 199, 256, 412, 440, 441, 443, 449, 527
267, 272, 274, 288-290, 421, 497, 498 Rampa de descida 92
Pectinectomia 387 Rampa de subida 92, 93, 440
Pectus excavatum 463, 464 Reabilitação de felinos 454-457, 460
Peixes 426, 427, 458, 466, 467 Reabilitação neurológica 299
Perda de peso 82, 186, 191, 227, 255, 265, 314, 365, 373, Reações posturais 49, 52
399, 415-417, 430-434, 438, 439, 441-443, 450, 486, 500, 503 Recepção 24, 110, 306, 518-520, 522, 526, 527
Perimetria 89, 90 Reconhecimento da dor 66, 72, 73
Peso corporal39, 156, 344, 373, 401, 416, 431, 437, 438, 443, Reflexo cutâneo do tronco 49, 57, 185, 189, 241, 288, 453
500, 501, 503, 506 Reflexo flexor 56-58, 148, 149, 183, 187, 232, 256, 290,
Petrissage 141, 142 301, 302
Plantígrada 226, 227, 244, 253, 304 Reflexo patelar 56, 181, 188, 189, 232, 247, 256, 281, 302
Plataforma de distribuição de peso 37 Reflexo perineal 56, 57
Plataforma de força 37-40 Reflexo bicipital 238
Pleurotótono 309 Reflexo tricipital 238

Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição 537


Índice remissivo

Reflexos espinhais 49, 55-57 Tendino-ligamentares 476


Reflexos miotáticos 56, 227 Tendinopatia bicipital 316, 317
Relaxantes musculares 262, 475 Tendinose do supraespinhoso 314
Reobase 93 Tenossinovite 45, 312, 314, 316, 320, 321, 324, 326, 356
Répteis 466, 467 Tenossinovite bicipital 45, 312, 320, 321, 324
Resistência 22, 57, 61, 62, 64, 93, 95, 96, 103, 105, 144, TENS 92
146, 153, 156-160, 169, 190, 237, 250, 274, 289, 302, 304, TENS acupuntura 100
339, 359, 362, 366, 393, 401, 403-406, 412, 415, 418, 421- TENS breve e intenso 100
423, 425, 433, 437-439, 442, 457, 458, 460, 468, 476, 477, TENS Burst 100
482, 494, 504, 505, 511 TENS convencional 100
Resoluções 516 Terapia lumínica 460
Responsável técnico 518-520 Termoterapia 103, 104, 108-111, 156, 157, 302, 396, 410,
Ressonância magnética (RM) 49, 83, 84, 89, 172, 184, 186, 457, 466, 467, 495, 504
187, 188, 190, 191, 192, 244, 269, 278, 313-315, 317, 320, Terrier 179, 188, 199, 212, 238, 253-255, 257, 258,
344, 346, 414, 450, 463, 491, 492, 494 260, 261, 267, 271, 272, 289, 375, 421
Roedores 467, 499 Teste nociceptivo 58, 59, 260
Rolamento 141, 143 Ticket médio 523, 524, 531, 532
Rolling 141, 143 Tireoidite linfocítica imunomediada 224
Rotação de cabeça 50 TOC 133-138, 324, 358
Rottweiler 171-173, 182, 192, 199, 253, 255, 259, 274, Tomografia computadorizada (TC) 83, 84, 89, 170, 171,
371, 421 172, 175, 187, 191, 244, 276, 320, 333, 334, 414, 492
Ruptura do ligamento cruzado cranial 40, 45, 46, 343, 344, Tônus extensor 56, 183
349, 360, 364, 523 Toxina 134, 141, 206, 214-217, 233, 272, 422, 464, 512
Ruptura muscular 252, 264, 264, 475, 476, 499 Toxinas botulínicas 214
Toxoplasma 190, 278, 279, 282, 303
S Toxoplasma gondii 190, 278
Schnauzer 68, 253, 258, 260, 261, 266, 272, 289, 343, 421 Toxoplasmose 233, 278-282, 307
Scottish fold 446 TPLO 40, 124, 346-348, 355, 357, 361, 362, 397
Secagem 505, 518, 522, 526, 528 Tramadol 295, 389, 390, 393, 449
Senil 485, 488 Transcutaneus electrical nerve stimulation 92
Serotonina 119, 124, 140, 291, 388, 390, 487 Transtornos vasculares 491
Shock wave (TOC) 133, 358 Tratamento por ondas de choque 133-138, 324, 358
Sinartroses 23 Trauma 67, 83, 104, 107, 122, 140, 142, 170, 174, 178, 179,
Sincondroses 23 184, 237, 242, 244, 247, 269, 301, 307, 315-317, 324, 331,
Sindesmoses 23 343, 344, 350, 364, 376, 392, 401, 404, 406, 408, 446, 460,
Síndrome da cauda equina 97, 177, 178, 181, 187, 246, 487, 493, 499, 512
300, 301 Trauma medular 493
Síndrome da disfunção cognitiva 489, 490, 501 Treino locomotor 287, 291-293, 482
Síndrome da ulna curta 333 Tremor 52, 188, 308, 489
Síndrome de hiperestesia felina 283 Trigger points 107, 141, 142, 384, 461
Síndrome de Wobbler 71, 114, 183 Tromboembolismo arterial felino 245
Síndrome de Horner 185, 237, 238
Síndrome do cão nadador 464 U
Síndrome do rádio curto 333 UC-II 394
Síndromes paraneoplásicas 271, 498 Ulna 26-30, 43, 44, 88, 89, 146, 331-333, 336, 337, 411
Sínfises 23, 25, 26 Ultrassom 83, 84, 112, 113, 145, 294, 317, 322, 324, 325,
Sistema ativador reticular ascendente (SARA) 50 327, 344, 356, 364, 366, 384, 393, 396, 399, 409-411, 454,
Sistema nervoso autônomo 49, 142 455, 469, 470, 475, 476, 495, 499, 501, 504, 528
Sistema nervoso central 49, 105, 110, 122, 139, 140, Úmero 24, 26, 27-29, 44, 45, 88, 301, 312, 313, 315, 317,
163, 165, 182, 201, 226, 252, 287, 290, 306, 388, 414, 460, 318, 320, 323, 332, 336, 340
479, 481, 489, 493 Unidades de terapia intensiva 509
Sistema nervoso periférico 56, 105, 110, 150, 215, 224, UTI 509
236, 289, 306, 307,489, 498 V
Sobrepeso 18, 82, 316, 321, 364, 373, 414-416, 430, Valgo 43, 45, 83, 315, 336, 339, 364
437-439, 441, 442, 460 Varo 43, 45, 83, 336, 339, 364
Spinal walking 174 Venenos biológicos 198, 206
Sprint 472, 473, 477 Vigilância sanitária 520
Strocking 140, 141
Subluxação do ombro 314, 315 W
Sustentação do peso 37, 51, 56, 85, 468 WALT 117, 119
Wobbler 71, 114, 183
T
Tapotagem 141, 142, 514 Y
Tecaterapia 112, 114, 115, 528 Yorkshire 179, 289, 375, 421, 531
Tecido ósseo22, 23, 123, 124, 134, 135, 186, 320, 356, 376,
401, 405, 410, 412 Z
Tempo on/off 92 Zookinésico 61, 463

538 Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição


Fisiatria em pequenos animais – 1ª edição

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