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Paródia

• Leitura recomendada:

• BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de


Dostoiévski. Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2008, p. 221-223;
145-146.
O SERMÃO DO DIABO
Machado de Assis
Nem sempre respondo por papéis velhos: mas aqui
está um que parece autêntico; e, se o não é, vale pelo
texto, que é substancial. É um pedaço do evangelho do
Diabo, justamente um sermão da montanha, à maneira
de São Mateus. Não se apavorem as almas católicas. Já
Santo Agostinho dizia que "a igreja do Diabo imita a
igreja de Deus". Daí a semelhança entre os dois
evangelhos. Lá vai o do Diabo:

"1º E vendo o Diabo a grande multidão de povo, subiu


a um monte, por nome Corcovado, e, depois de se ter
sentado, vieram a ele os seus discípulos.
"2º E ele, abrindo a boca, ensinou dizendo as
palavras seguintes.
"3º Bem-aventurados aqueles que embaçam, porque
eles não serão embaçados.
"4º Bem-aventurados os afoitos, porque eles
possuirão a terra.
"5º Bem-aventurados os limpos das algibeiras, porque
eles andarão mais leves.
"6º Bem-aventurados os que nascem finos, porque
eles morrerão grossos.
"7º Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem e
disserem todo o mal, por meu respeito.
"8º Folgai e exultai, porque o vosso galardão é
copioso na terra.
"9º Vós sois o sal do money market. E se o sal perder
a força, com que outra coisa se há de salgar?
"10. Vós sois a luz do mundo. Não se põe uma vela
acesa debaixo de um chapéu, pois assim se perdem o
chapéu e a vela.
"11. Não julgueis que vim destruir as obras
imperfeitas, mas refazer as desfeitas.
"12. Não acrediteis em sociedades arrebentadas. Em
verdade vos digo que todas se consertam, e se não for
com remendo da mesma cor, será com remendo de
outra cor.
"13. Ouvistes que foi dito aos homens: Amai-vos uns
aos outros. Pois eu digo-vos: Comei-vos uns aos outros;
melhor é comer que ser comido; o lombo alheio é muito
mais nutritivo que o próprio.
"14. Também foi dito aos homens: Não matareis a
vosso irmão, nem a vosso inimigo, para que não sejais
castigados. Eu digo-vos que não é preciso matar a
vosso irmão para ganhardes o reino da terra; basta
arrancar-lhe a última camisa.
"15. Assim, se estiveres fazendo as tuas contas, e te
lembrar que teu irmão anda meio desconfiado de ti,
interrompe as contas, sai de casa, vai ao encontro de
teu irmão na rua, restitui-lhe a confiança, e tira-lhe o que
ele ainda levar consigo.
"16. Igualmente ouvistes que foi dito aos homens:
Não jurareis falso, mas cumpri ao Senhor os teus
juramentos.
"17. Eu, porém, vos digo que não jureis nunca a
verdade, porque a verdade nua e crua, além de
indecente, é dura de roer; mas jurai sempre e a
propósito de tudo, porque os homens foram feitos para
crer antes nos que juram falso, do que nos que não
juram nada. Se disseres que o sol acabou, todos
acenderão velas.
"18. Não façais as vossas obras diante de pessoas
que possam ir contá-lo à polícia.
"19. Quando, pois, quiserdes tapar um buraco,
entendei-vos com algum sujeito hábil, que faça treze de
cinco e cinco.
"20. Não queirais guardar para vós tesouros na terra,
onde a ferrugem e a traça os consomem, e donde os
ladrões os tiram e levam.
"21. Mas remetei os vossos tesouros para algum
banco de Londres, onde a ferrugem, nem a traça os
consomem, nem os ladrões os roubam, e onde ireis vê-
los no dia do juízo.
"22. Não vos fieis uns nos outros. Em verdade vos
digo, que cada um de vós é capaz de comer o seu
vizinho, e boa cara não quer dizer bom negócio.
"23. Vendei gato por lebre, e concessões ordinárias
por excelentes, a fim de que a terra se não despovoe
das lebres, nem as más concessões pereçam nas
vossas mãos.
"24. Não queirais julgar para que não sejais julgados;
não examineis os papéis do próximo para que ele não
examine os vossos, e não resulte irem os dous para a
cadeia, quando é melhor não ir nenhum.
"25. Não tenhais medo às assembléias de acionistas,
e afagai-as de preferência às simples comissões,
porque as comissões amam a vangloria e as
assembléias as boas palavras.
"26. As porcentagens são as primeiras flores do
capital; cortai-as logo, para que as outras flores brotem
mais viçosas e lindas.
"27. Não deis conta das contas passadas, porque
passadas são as contas contadas, e perpétuas as
contas que se não contam.
"28. Deixai falar os acionistas prognósticos; uma vez
aliviados, assinam de boa vontade.
"29. Podeis excepcionalmente amar a um homem que
vos arranjou um bom negócio; mas não até o ponto de o
não deixar com as cartas na mão, se jogardes juntos.
"30. Todo aquele que ouve estas minhas palavras, e
as observa, será comparado ao homem sábio, que
edificou sobre a rocha e resistiu aos ventos; ao contrário
do homem sem consideração, que edificou sobre a
areia, e fica a ver navios..."

Aqui acaba o manuscrito que me foi trazido pelo


próprio Diabo, ou alguém por ele; mas eu creio que era
o próprio. Alto, magro, barbícula ao queixo, ar de
Mefistófeles. Fiz-lhe uma cruz com os dedos e, ele
sumiu-se. Apesar de tudo, não respondo pelo papel,
nem pelas doutrinas, nem pelos erros de cópia.
Origens e conceito

• “[...] A paródia é organicamente estranha aos


gêneros puros (epopeia, tragédia), sendo, ao
contrário, organicamente própria dos gêneros
carnavalizados. Na Antiguidade, a paródia estava
indissoluvelmente ligada à cosmovisão
carnavalesca. O parodiar é a criação do duplo
destronante, do mesmo “mundo às avessas”. Por
isso a paródia é ambivalente.” (BAKHTIN, 2008, p.
145).
• Paródia: expressão da construção formal e
temática de textos fundada no dialogismo.

A paródia é um gênero de caráter dialógico, dissonante


(destoante).

Conceito de Bakhtin:
“[...] um autor pode usar o discurso de um outro para seus
fins pelo mesmo caminho que imprime nova orientação
semântica ao discurso que já tem sua própria orientação
e a conserva. Neste caso, esse discurso, conforme a
tarefa, deve ser sentido como o de um outro. Em um só
discurso ocorrem duas orientações interpretativas, duas
vozes. Assim é o discurso parodístico [...]” (Bakhtin,
Problemas ..., 2008, p. 216) / (1981, p. 164).
• Conceito de Hutcheon

“A paródia é, pois, na sua irónica


‘transcontextualização’ e inversão, repetição
com diferença. Está implícita uma distanciação
[sic] crítica entre o texto em fundo a ser
parodiado e a nova obra que incorpora,
distância geralmente assinalada pela ironia”
(Hutcheon, Uma teoria da paródia, p. 70).
• Como funciona a paródia:
“A paródia é, pois, repetição, mas repetição que
inclui diferença; é imitação com distância crítica,
cuja ironia pode beneficiar e prejudicar ao mesmo
tempo. Versões irónicas de “transcontextualização”
e inversão são os seus principais operadores
formais, e o âmbito de ethos pragmático vai do
ridículo desdenhoso à homenagem reverencial.”
(HUTCHEON, 1989, p. 54)
• A paródia apresenta-se como

“uma distanciação crítica entre o texto em fundo a ser


parodiado e a nova obra que incorpora, distância
geralmente assinalada pela ironia. Mas esta ironia tanto
pode ser apenas bem humorada, como pode ser
depreciativa; tanto pode ser criticamente construtiva, como
pode ser destrutiva. O prazer da ironia da paródia não
provém do humor em particular, mas do grau de
empenhamento do leitor no «vai e vem» intertextual.”
(HUTCHEON 1989, p. 48).
Hayati Evren. Pintura de Da Vinci com o Pickle
Rick (18 nov. 2018). (Instagram)
Leonardo da Vinci. The portrait of Cecilia Gallerani
ou Lady with an ermine (ca.1490). Czartoryski
Museum
• Etimologia
Fundamento teórico-base: Linda Hutcheon, Uma
teoria da paródia.

Paródia < grego (para+ode)


para = “contra”, “oposição” – remete à ideia de
divergência;
para = “ao longo de” – canto paralelo, canto ao
lado do outro; remete à ideia de semelhança.

Portanto, a paródia é um texto duplo que revela na


sua construção um segundo plano de leitura.
Ela existe à luz do texto parodiado.
• Analisando a diacronia da paródia,
pode-se observar a presença de duas
práticas discursivas:
– a ressacralização
– a dessacralização
Olha, Marília, as flautas dos pastores
Que bem que soam, como estão cadentes!
Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes
Os Zéfiros brincar por entre flores?
Vê como ali beijando-se os Amores
Incitam nossos ósculos ardentes!
Ei-las de planta em planta inocentes,
As vagas borboletas de mil cores.
Naquele arbusto o rouxinol suspira,
Ora nas folgas a abelhinha pára,
Ora nos ares sussurrando gira:
Que alegre campo! Que manhã tão clara!
Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira,
Mais tristeza que a morte me causara.
(Bocage in MOISÉS, Massaud. A Literatura portuguesa através dos
textos.)
Lira XIX (1ª parte)
Enquanto pasta alegre o manso gado,
Minha bela Marília, nos sentemos
À sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos
Na regular beleza,
Que em tudo quanto vive nos descobre
A sábia natureza.
Atende, como aquela vaca preta
O novilho seu dos mais separa,
E o lambe, enquanto chupa a lisa teta,
Atende mais, ó cara,
Como a ruiva cadela
Suporta que lhe morda o filho o corpo,
E salte em cima dela.
[...]
Que gosto não terá a esposa amante,
Quando der ao filhinho o peito brando,
E refletir então no seu semblante!
Quando, Marília, quando
Disser consigo: “É esta
De teu querido pai a mesma barba
A mesma boca e testa.”
(Gonzaga, Tomás Antônio. Marília de Dirceu, p. 67-68)
Doces invenções da Arcádia!
Delicada primavera:
pastoras, sonetos, liras,
– entre as ameaças austeras
de mais impostos e taxas
que uns protelam e outros negam.
(Cecília Meireles. Romanceiro da Inconfidência)
Fragmentos da “Carta”, de Millôr Fernandes.

• “– Se o que você descobriu é mesmo do tamanho que


você conta, é terra demais: vai ser muito duro lotear. Só
mesmo em sesmarias.”

• “Para podermos especular com bom lucro, temos a


nosso favor, a certeza de que uma terra tão grande é
ingovernável”.
• “P.S.: É verdade que o país que você acabou de
descobrir é mesmo todo de frente, com vista pro mar?
Não esquece de mandar a topografia da tal barra prá
nós começarmos a construir as malocas imediatamente.
Tenho certeza de que os nativos vão comprar
adoidados.”
Peça publicitária dos Correios

• Comercial em comemoração aos 500 anos do


Descobrimento.
• Locução de Antonio Abujamra.

<http://www.youtube.com/watch?v=n6iYNyO-QxE>
A paródia e o dialogismo

Princípios que validam a paródia na sua auto-


referência e autolegitimação:

• Estatuto da reversibilidade – revela o “como se


faz” – procede à inversão semântica

• Ambiguidade e a plurivalência do signo;


As fronteiras desencadeadoras do hipotexto são
estilhaçadas, as imagens tornam-se ambíguas e
constroem sentidos múltiplos que causam o
estranhamento do leitor.
• “[...] o discurso [parodístico] se converte em palco de
luta entre duas vozes” (Bakhtin, Problemas..., p. 2008, p.
221) / (1981, p. 168).

• “[...] a paródia é ambivalente e sente-se sua relação com


a morte, a renovação” (Problemas..., p. 146)

• Instaura uma nova linguagem e aponta para uma nova


percepção de mundo – o “mundo ao revés” (Bakhtin);

• Antinomia – ela não se estabelece por si só, mas


constitui o próprio suporte material da paródia, presente
nas formas de carnavalização;
• Instrumento de reflexão;

• Instaura a inversão irônica que no seu contexto


pragmático, determina um ethos específico;

• Ironia: componente estrutural desse gênero;

• Reconhecibilidade;
[...] a subversão na paródia só ocorre dentro dos limites
permitidos, isto é, no âmbito da reconhecibilidade do
texto parodiado. O receptor lê o que está dito e, ao
mesmo tempo, recupera o texto-fundo.
“O discurso parodístico pode ser bastante
variado [...]. Pode-se parodiar o estilo de um
outro enquanto estilo; pode-se parodiar a
maneira típico-social ou caracterológico-
individual de o outro ver, pensar e falar. Em
seguida, a paródia pode ser mais ou menos
profunda: podem-se parodiar apenas as formas
superficiais do discurso do outro” (Bakhtin,
Problemas..., p. 222).
Outros princípios de paródia, apoiados em Hutcheon:
– Interação da memória histórica com o novo,
reelaborando uma nova relação quer com o
passado, quer com o seu momento, ou seja,
mantendo ainda seus impulsos conservadores.

– Uma repetição da tradição e recriação de uma nova


ideologia, mediante uma recodificação irônica da
tradição cultural.
(Hutcheon, Uma teoria da paródia, p. 30)
Leonardo da Vinci – Gioconda (1503-1506)
Carlos Moreno e Washington Olivetto
Hayati Evren. Photoshops. (Instagram) –
Varal feito com bigode de Dalí. (05 abr. 2019)
Fotografia de Salvador Dalí.
Ironia
Linda Hutcheon:
“ [...] do ponto de vista do interpretador, a ironia é
uma jogada interpretativa e intencional; é a
criação ou inferência de significado em
acréscimo ao que se afirma – e diferentemente
do que se afirma – com uma atitude para com o
dito e o não-dito.”
(Hutcheon, Teoria e política da ironia, p. 16)
À televisão Nos dramalhões que encenas
há tamanho poder
Teu boletim meteorológico de vida que eu próprio
me diz aqui e agora nem me canso em viver.
se chove ou se faz sol.
Para que ir lá fora? Guerra, sexo, esporte
– me dás tudo, tudo.
A comida suculenta Vou pregar minha porta:
que pões à minha frente já não preciso do mundo.
como-a toda com os olhos. (José Paulo Paes, p. 402)
Aposentei os dentes.
José Paulo Paes. “Liberdade interditada”.
In: Meia palavra (1973)
• “Tomásia era mulher de carne e osso mais que
o ordinário. Vestia de amazona: mas ficava um
pouco aquém, dos limites da elegância, porque
era mais larga na cintura que nos ombros –
visível defeito do vestido. Tinha uns longes de
cara admiráveis: figurava-se uma flor de
magnólia entre duas rocas de cerejas”.
(Camilo Castelo Branco, 1961, p. 136)
Alireza Pakdel, cartunista do Irã,
Vencedor do Grande Prêmio do 43º Salão
Internacional do Humor em Piracicaba.
Amarildo Lima. 13/04
< https://www.humorpolitico.com.br/page/4/ >
Publicado em 10/04/2020 por Roque Sponholz
< https://www.humorpolitico.com.br/page/14/ >
< https://www.humorpolitico.com.br/author/sponholz/ >
Murilo Mendes. “Festa familiar”.

"Em outubro de 1930


Nós fizemos – que animação!
Um pic-nic com carabinas."

• MENDES, Murilo. Festa familiar. In: História do


Brasil. (1932). Organização, introdução e notas de
Luciana Stegagno Picchio. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1990, p. 88.
Ironia
“[...] A ironia permite a dupla leitura que a
constitui, gerada pela ambiguidade de sua
enunciação e traduzida na organização verbal
do enunciado, o que inclui o co-texto que o
acolhe e possibilita sua significação. A inversão
semântica característica da ironia tem
necessidade de um contexto, o que pressupõe
uma relação de conivência entre a produção e
recepção." (Brait, Ironia em perspectiva
polifônica, p. 91).
O assassino era o escriba

Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente,


Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida,
Regular como um paradigma de 1ª. Conjugação.
Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial,
Ele não tinha dúvidas, sempre achava um jeito assindético
De nos torturar com um aposto.
Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome
E ela era bitransitiva.
Tentou ir para os Estados Unidos.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.
A interjeição do bigode declinava partículas expletivas,
Conectivos e agentes da passiva o tempo todo.
Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça.
(Paulo Leminski, 1983, p. 144)
“ [...] Marcela amou-me durante quinze
meses e onze contos de réis." (M. de
Assis. Memórias póstumas de Brás
Cubas, p. 101)
Bibliografia
ANDRADE, Carlos Drummond de. 6. ed. As impurezas do
branco. Rio de Janeiro: Record, 1993.
BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoiévski.
Trad. Paulo Bezerra. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 2008.
______________. Problemas da poética de Dostoiévski.
Trad. Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense-
Universitária, 1981.
BRAIT, Beth. Ironia em Perspectiva Polifônica. Campinas:
Unicamp, 1996.
CASTELO BRANCO, Camilo. Coração, cabeça e
estômago. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1961.
GONZAGA, Tomás Antônio. Marília de Dirceu. Rio de
Janeiro: Edições de Ouro, 1969.
HUTCHEON, Linda. Uma teoria da paródia: ensinamento
das formas de arte do século XX. Trad. Teresa Louro
Pérez. Lisboa: Edições 70, 1989.
_______________. Teoria e política da ironia. Trad. Júlio
Jeha. Belo Horizonte: UFMG, 2000.
MOISÉS, Massaud. A Literatura portuguesa através dos
textos. 25. ed. São Paulo: Cultrix, 1997.
PAES, José Paulo. Poesia completa. São Paulo:
Companhia das Letras, 2008.
SANT’ANNA, Afonso Romano de. Paródia, paráfrase e cia.
7. ed. São Paulo: Ática, 2002.
• Outubro de 1930

A esta hora no Recife,


em Guaxupé, Turvo, Jaguará,
Itararé,
Baixo Guandu,
Igarapava,
Chiador,
homens estão se matando
com as necessárias cautelas.
Pelo Brasil inteiro há tiros, granadas,
literatura explosiva de boletins,
mulheres carinhosas cosendo fardas
com bolsos onde estudantes guardarão retratos
das respectivas, longínquas namoradas,
homens preparando discursos,
outros, solertes, captando rádios,
minando pontes,
outros (são governadores) dando o fora,
pedidos de comissionamento
por atos de bravura,
ordens do dia,“o inimigo (?) retirou-se em
fuga precipitada,
deixando abundante material bélico,
cinco mortos e vinte feridos...”

[...]
(Drummond, 2007, p. 34)

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