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KHRUSHCHEV MENTIU

A EVIDÊNCIA DE QUE TODA


"REVELAÇÃO" DOS "CRIMES"
DE STALIN (E DE BERIA) NO
INFAME "DISCURSO
SECRETO" DE NIKITA
KHRUSHCHEV AO 20º
CONGRESSO DO PARTIDO
COMUNISTA DA UNIÃO
SOVIÉTICA, EM 25 DE
FEVEREIRO DE 1956, É
PROVAVELMENTE FALSA*
Grover Furr

Raízes da América

© 2022 Editora Raízes da América


KHRUSHCHEV MENTIU
1. Khrushchev Mentiu
1. INTRODUÇÃO
2. O Culto e o “Testamento” de Lenin
1. O Culto
2. A Oposição de
Stalin ao Culto
3. A tentativa de
Malenkov chamar
uma Plenária do
Comitê Central
sobre o “culto”,
abril de 1953
4. Plenária de Julho
de 1953 – Beria
Atacado por
supostamente se
opor ao “Culto”
5. Quem fomentava o
“Culto”?
6. Khrushchev e
Mikoyan
7. O “Testamento” de
Lenin
3. Coletividade “Pisoteada”
1. “Coletividade” no
trabalho
2. Stalin “Aniquilou
Moral e
Fisicamente” os
dirigentes que se
opuseram a ele
3. As Repressões em
Massa, de Modo
Geral
4. “Inimigo do Povo”
5. Zinoviev e
Kamenev
6. Trotskistas
7. Stalin negligenciou
o Partido
4. A “Arbitrariedade” de Stalin em
relação ao Partido
1. Referência a “uma
comissão sob o
controle do
Presidium do
Comitê Central”; a
fabricação de
materiais durante
as repressões
2. A “diretiva” de
primeiro de
dezembro de 1934,
assinada por
Yenukidze
3. Khrushchev
implica o
envolvimento de
Stalin no
assassinato de
Kirov
4. O telegrama de
Stalin e Zhdanov
para o Politburo,
25 de setembro de
1936
5. O relatório de
Stalin na Plenária
do CC de
fevereiro-março de
1937
6. “Muitos deputados
questionaram a
repressão em
massa”, em
especial Pavel
Postyshev
5. Os “Casos” contra membros do
partido e perguntas relacionadas
1. Eikhe
2. A respeito da
“Tortura”
3. Yezhov
4. Rudzutak
5. Rozenblium
6. I. D. Kabakov
7. Kossior e Chubar
8. Kosarev
9. As Listas
10. “Gangue de Beria”
11. “Telegrama
relativo à Tortura”
12. Rodos torturou
Chubar e Kossior
por ordem de Beria
6. Stalin e a Guerra
1. Stalin não ouviu
avisos sobre a
guerra
2. Carta de Vorontsov
3. Soldado alemão
4. Comandantes
Assassinados
5. “Desmoralização”
de Stalin após o
início da guerra
6. Stalin, um Mal
Comandante
7. Kharkov, 1942
8. Stalin planejava
operações militares
em um globo
9. Stalin Rebaixou
Zhukov
7. A respeito das tramas e Casos
1. Nacionalidades
Deportadas
2. Tártaros da
Criméia
3. Os chechenos e
Ingushes
4. O Caso de
Leningrado
5. O Caso
Mingreliano
6. Iugoslávia
7. A Trama dos
Médicos
8. Beria, suas “tramas” e “Crimes”
1. Beria
2. Kaminsky acusa
Beria de trabalhar
com o Mussavat
3. Kartvelishvili
4. Kedrov
5. O Irmão de
Ordzhonikidze
9. Ideologia e Cultura
1. Stalin, Biografia
Breve
2. O “Curso Breve”
3. Stalin assinou uma
ordem para um
monumento a si
mesmo, 2 de julho
de 1951
4. O Palácio dos
Sovietes
5. O Prêmio Lenin
10. Os Últimos Anos de Stalin no Poder
1. Stalin insultou
Postyshev
2. “Desorganização”
do Trabalho do
Politburo
3. Andreev; 59.
Molotov; 60.
Mikoyan
4. Andreev
5. Molotov e
Mikoyan
6. Expansão do
Presidium
11. Uma Tipologia de Prevaricação
1. Uma Tipologia da
Prevaricação de
Khrushchev
2. O problema em se
introduzir um novo
paradigma
3. Expor uma mentira
não é o mesmo que
estabelecer a
verdade
4. Evidência
Histórica
vs. Jurídica
5. Tortura e os
problemas
históricos
relacionados a ela
6. Uma tipologia da
prevaricação
Khrushchevista
7. As “Revelações”
8. A tipologia
9. PK – Palavra de
Khrushchev
10. MO – Mentira,
Informações
Omitidas
11. S – Caso Especial
12. M – Mentira
12. Os resultados das “Revelações” de
Khrushchev
1. Reabilitações
falsificadas
2. Tivel – Postyshev
– Kosarev –
Rudzutak –
Kabakov – Eikhe
3. Tivel
4. Postyshev
5. Conclusão
6. Kosarev
7. Rudzutak
8. Kabakov
9. Eikhe
10. Carta de Eikhe a
Stalin de 27 de
outubro de 1939
11. “Reabilitações por
listas”
13. Conclusão: O Legado Duradouro da
Fraude de Khrushchev
1. Por que
Khrushchev atacou
Stalin?
2. A Conspiração de
Khrushchev?
3. Aleksandr S.
Shcherbakov
4. Implicações: A
influência na
sociedade
soviética.
5. Implicações
políticas
6. Trotsky
7. Debilidades não
resolvidas do
sistema soviético
de socialismo
14. APÊNDICE
1. O culto
2. A Oposição de
Stalin ao culto
3. A Tentativa de
Malenkov chamar
uma Plenária do
CC relativa ao
culto, abril de 1953
4. Plenária de julho
de 1953 – Beria
atacado por
supostamente se
opor ao “Culto”
5. Quem fomentava o
culto?
6. Khrushchev e
Mikoyan
7. Stalin rejeitou
renomear Moscou
em sua
homenagem
8. O “Testamento” de
Lenin
9. Trotsky nega que
Lenin tenha escrito
um “Testamento”,
1925
10. Stalin responde
Lenin a respeito de
Krupskaya
11. “Coletividade” no
trabalho
12. As quatro
tentativas de Stalin
de resignar ao
posto de Primeiro
Secretário do
Partido
13. 19 de Agosto de
1924
14. 27 de dezembro de
1926
15. 19 de dezembro de
1927
16. 16 de outubro de
1952
17. As Repressões em
Massa, de Modo
Geral
18. “Inimigo do Povo”
19. “Convencendo e
educando”
20. Zinoviev e
Kamenev
21. Trotskistas
22. Stalin
Negligenciou o
Partido
23. Referência a “uma
comissão sobre o
controle do
Presidium do
Comitê Central”; a
fabricação de
materiais durante
as repressões
24. Eikhe
25. Yezhov
26. Trabalho
Investigativo
27. Stalin culpou
Yezhov
28. Rudzutak
29. Rozenblium
30. Kabakov
31. Kossior; 22.
Chubar; 23.
Postyshev; 24.
Kosarev
32. Kossior e Chubar
33. Kosarev
34. As listas
35. As Resoluções da
Plenária do Comitê
Central, janeiro de
1938
36. “Gangue de Beria”
37. “Telegrama
relativo à Tortura”
38. Texto completo do
“Telegrama
relativo à Tortura”
39. Rodos torturou
Chubar e Kossior
por ordem de Beria
40. Stalin não ouviu os
avisos sobre a
guerra
41. Evidência da
traição pelo
Gen. Dmitri
Pavlov
42. Carta de Vorontsov
43. Soldado Alemão
44. Comandantes
assassinados
45. “Desmoralização”
de Stalin ao
começo da guerra
46. Stalin, um mal
comandante
47. Kharkov, 1942
48. Stalin Planejava
Operações
Militares em um
Globo
49. Stalin rebaixou
Zhukov
50. Nacionalidades
Deportadas
51. Caso de
Leningrado
52. O caso
Mingreliano
53. Iugoslávia
54. A Trama dos
Médicos
55. Beria
56. Kaminsky acusa
Beria de trabalhar
com o Mussavat
57. Kartvelishvili
(Lavrentiev)
58. Kedrov
59. O Irmão de
Ordzhonikidze
60. Stalin, biografia
breve
61. O “Curso Breve”
62. O Palácio dos
Sovietes
63. O Prêmio Lenin
64. Stalin Insultou
Postyshev
65. “Desorganização”
do Trabalho do
Politburo
66. Stalin suspeitava
que Voroshilov era
um “agente inglês”
67. Andreev; 59.
Molotov; 60.
Mikoyan
68. Andreev
69. Molotov; Mikoyan
70. Expansão do
Presidium
15. Bibliografia
1. Links
KHRUSHCHEV MENTIU
A evidência de que toda "revelação" dos "Crimes" de Stalin (e de
Beria) no infame "Discurso Secreto" de Nikita Khrushchev ao 20º
Congresso do Partido Comunista da União Soviética, em 25 de fevereiro de
1956, é provavelmente Falsa*

Grover Furr

(Toda, exceto uma, que eu não posso provar verdadeira nem


refutar)

A evidência de que toda "revelação" dos "Crimes" de Stalin (e de


Beria) no infame "Discurso Secreto" de Nikita Khrushchev ao 20º
Congresso do Partido Comunista da União Soviética, em 25 de fevereiro de
1956, é provavelmente Falsa*

Grover Furr

(Toda, exceto uma, que eu não posso provar verdadeira nem


refutar)

Conselho Editorial:

João Rafael Chío Serra Carvalho: Mestre em História Social


pela USP, Doutorando em História Social da Cultura pela UFMG;

Apoena Canuto Cosenza: Mestre em História Econômica pela


USP, Doutor em História Econômica também pela USP.

1ª edição: novembro de 2022

Agradecimentos e Dedicatória

Quero expressar minha gratidão especial ao meu editor, tradutor e


amigo Vladimir L. Bobrov, de Moscou. Sem seu encorajamento e ajuda em
cada passo este livro nunca teria sido escrito.
Meus agradecimentos especiais aos bibliotecários de empréstimos
interbibliotecas da Biblioteca Harry S. Sprague, Universidade Estadual de
Montclair – Kevin Prendergast, Arthur Hudson e Sergio Ferreira, por sua
incansável ajuda na obtenção de livros e artigos soviéticos difíceis de
encontrar.

***

Dedico este livro à memória do meu filho Joseph Furr: filho e


amigo maravilhoso, qualificado mecânico de caminhões a diesel, e um dos
“sais da terra".
INTRODUÇÃO
A Escola de Falsificação de Khrushchev: “O Discurso Mais
Influente do Século XX”.

Os cinquenta anos do “Discurso Secreto” de Nikita S.


Khrushchev, desatado em 25 de fevereiro de 1956, provocou comentários
previsíveis. Um artigo no Telegraph de Londres (Reino Unido) o chamou
de “o discurso mais influente do século XX”. Ainda no mesmo dia, em um
artigo do New York Times, William Taub, cuja biografia de Khrushchev
ganhou o Prêmio Pulitzer de Biografias de 2004, chamou-o de “grande
ação” que “merece ser celebrada”1.

Há algum tempo, reli o “Discurso Secreto” de Khrushchev pela


primeira vez após muitos anos. Usei a versão HTML da edição publicada
em número especial do The New Leader de 19622. Durante a minha leitura,
observei que o notável estudioso menchevique, Boris Nikolaevsky, em suas
anotações à fala de Khrushchev, expressou a opinião de que certas das
declarações de Khrushchev eram falsas. Por exemplo, no início de seu
discurso Khrushchev diz o seguinte:
Ultimamente, especialmente após a após gangue
de Beria ter sido desmascarada, o Comitê Central
investigou uma série de casos fabricados por eles.
Isso revelou um quadro terrível de obstinada
brutalidade ligada ao comportamento incorreto de
Stalin.

A nota 8 de Boris Nikolaevsky para a passagem acima diz:


Esta declaração de Khrushchev não é bem
verdadeira: a investigação dos atos terroristas de
Stalin, no último período de sua vida, foi iniciada
por Beria... Khrushchev, que agora se descreve
como quem iniciou a sondagem das câmaras de
tortura de Stalin, na verdade, tentou bloqueá-la
durante os primeiros meses após a morte de Stalin.
Lembrei-me que Arch Getty escreveu algo muito semelhante em
sua obra magistral Origins of the Great Purges:
Outras inconsistências no relato de Khrushchev
incluem uma aparente confusão entre as figuras de
Yezhov por Beria. Embora o nome de Yezhov ser
mencionado ocasionalmente, Beria é acusado de
inúmeros delitos e repressões; no entanto, até 1938
este último foi apenas um secretário regional.
Além disso, muitos relatos notam que o terror
policial começou a diminuir quando Beria assumiu
o posto de Yezhov no ano de 1938. Khrushchev
poderia ter trocado Yezhov por Beria em seu relato
por conveniência? O que mais ele pode ter
escondido? De qualquer forma, a então recente
execução de Beria, por Khrushchev e pela
liderança, fizeram dele um bode expiatório
propício. Khrushchev ter usado Beria de modo
oportunista certamente levanta suspeitas sobre
a exatidão das suas outras afirmações. (p. 268
n.28; ênfase adicionada pelo autor)

Então, suspeitei que, à luz dos muitos documentos dos arquivos


soviéticos secretos agora disponíveis, pesquisas sérias poderiam descobrir
que ainda mais das “revelações” de Khrushchev sobre Stalin eram falsas.

Na verdade, fiz uma descoberta muito diferente. Nenhuma


declaração específica da “revelação” feita por Khrushchev sobre Stalin
ou Beria acabou por ser verdadeira. Entre aquelas que podem ser
verificadas, cada uma delas acaba por ser falsa. Khrushchev, ao que parece,
não apenas “mentiu” sobre Stalin e Beria – ele não fez praticamente nada
além de mentir. Todo o “Discurso Secreto” é constituído de fabricações.
Este é o “grande ato” pelo qual Taubman elogiou Khrushchev! (Um artigo
separado, embora muito mais curto, pode ser escrito para expor as
falsidades no próprio artigo do New York Times, que celebra o discurso
meretrício de Khrushchev)3.

Para mim, como estudioso, essa descoberta foi preocupante e até


indesejável. Se, como eu tinha previsto, eu tivesse descoberto que, digamos,
25% ou mais das “revelações” de Khrushchev eram falsificações, minha
pesquisa certamente excitaria algum ceticismo, bem como alguma surpresa.
Mas, no principal, eu poderia antecipar aceitação e louvor: “Bom trabalho
de pesquisa por Furr”, e assim por diante.

Mas, eu temia – e meus medos nasceram pela minha experiência


com a edição original em russo desse livro – publicada em dezembro de
2007 – que se eu reivindicasse que todas as “revelações” de Khrushchev
eram falsas, ninguém acreditaria em mim. Não faria diferença o quão
meticulosa ou cuidadosamente citasse evidências em apoio aos meus
argumentos. Refutar todo o discurso de Khrushchev é, ao mesmo tempo,
desafiar todo o paradigma histórico da história soviética sobre o período
Stalin, um paradigma para o qual este discurso é fundamental.

O discurso mais influente do século XX – se não de todos os


tempos – é uma fraude completa? Essa perspectiva foi extremamente
monstruosa. Quem iria querer lidar com a revisão da história soviética, do
Comintern e até mesmo da história mundial, exigida pela lógica de tal
conclusão? Seria infinitamente mais fácil todos acreditarem que eu tinha
“adulterado os livros”, sombreado a verdade – que eu estava falsificando as
coisas da mesma forma que eu estava acusando Khrushchev de ter feito.
Então, meu trabalho poderia ser ignorado com segurança, e o problema iria
“desaparecer”. Especialmente porque sou conhecido por ter simpatia em
relação ao movimento comunista mundial do qual Stalin foi líder
reconhecido. Quando um pesquisador chega a conclusões que,
suspeitosamente, parecem apoiar suas próprias ideias preconcebidas é
apenas prudente suspeitar de alguma falta de objetividade, se não pior.

Então, eu teria sido muito mais feliz se minha pesquisa tivesse


concluído que 25% das “revelações” de Khrushchev sobre Stalin e Beria
eram falsas. No entanto, uma vez que praticamente todas as “revelações”
verificáveis são, de fato, falsidades, o ônus das evidências reside sobre mim
de modo ainda mais forte, enquanto estudioso, do que seria o caso em
situações normais. Assim, organizei meu relatório sobre esta pesquisa de
uma forma um tanto incomum.

O livro inteiro é dividido em duas seções separadas, mas


interrelacionadas.
Na primeira parte, constituída pelos Capítulos I ao IX, examino
cada uma das declarações, ou afirmações, que Khrushchev fez em seu
discurso e que constituem a essência de suas chamadas “revelações” (para
saltar um pouco à frente, notei que identifiquei sessenta e uma dessas
afirmações).

Cada uma dessas “revelações” é precedida por uma citação do


“Discurso Secreto” que é, então, examinada à luz da evidência documental.
A maior parte dessas evidências é apresentada como citações de fontes
primárias. Só em alguns casos cito fontes secundárias. Me propus a
apresentar a melhor evidência que consegui encontrar – no principal,
retirada dos antigos arquivos soviéticos – a fim de demonstrar o caráter
falso do discurso de Khrushchev no 20º Congresso do Partido. Uma vez que
longas citações documentais, se intercaladas com o texto, tornariam a
leitura difícil, apenas me referi brevemente às evidências do texto e reservei
as citações mais completas das fontes primárias (e ocasionalmente
secundárias) para as seções de cada capítulo no Apêndice.

A segunda parte do livro, Capítulos XX ao XII, é dedicada à


questões de natureza metodológica e à discussão de algumas das conclusões
que fluem desse estudo. Dei atenção especial para uma tipologia das
falsidades, ou métodos de falseamento, que Khrushchev empregou.
Também está incluso nestes Capítulos um estudo dos materiais de
“reabilitação” de alguns dos líderes do Partido citados ao longo do
Discurso.

Eu lido com as referências a fontes primárias de duas maneiras.


Além da documentação acadêmica tradicional, por meio de nota de rodapé
e bibliografia, tentei sempre que possível orientar o leitor para os
documentos primários disponíveis, em parte ou na íntegra, na Internet.
Todas essas referências de URL estavam online quando a edição em inglês
deste livro foi concluída.

Em alguns casos, eu coloquei documentos primários importantes


na Internet, normalmente no formato Adobe Acrobat (pdf). Em alguns
destes casos, isso tornou possível fazer referência à paginação, algo que é
desajeitado ou impossível quando se usa a linguagem de marcação de
hipertexto (HTML).
Em conclusão, gostaria de agradecer aos meus colegas nos
Estados Unidos e na Rússia que leram esse trabalho em seus rascunhos
anteriores e que me deram o benefício de sua crítica. Naturalmente, eles não
são responsáveis por quaisquer erros e deficiências que permanecem no
livro, apesar de seus melhores esforços.

Minha gratidão especial vai para meu maravilhoso colega de


Moscou, Vladimir Lvovich Bobrov. Estudioso, pesquisador, editor e
tradutor mestre de seu russo nativo e do inglês, eu nunca teria empreendido
esse trabalho, muito menos o concluído, sem sua inspiração, orientação e
assistência de todas as formas.

Serei grato por quaisquer comentários e críticas a esse trabalho


que forem feitas por parte dos leitores.

1. O texto completo do discurso de Khrushchev está


disponível online em inglês no Link [kl/speech].↩

2. Khrushchev, Nikita S. The New Leader. The Crimes of


the Stalin Era. Introduction by Anatol Shub, notes by
Boris Nikolaevsky. Nova York: The New Leader, 1962↩

3. Alguns exemplos aqui: Foi Beria, não Khrushchev, que


libertou muitos prisioneiros, embora não “milhões”,
como Taubman afirma. O “degelo”, que também é
celebrado, começou durante os últimos anos de Stalin.
Khrushchev limitou o “degelo” a apenas material
“direitista” e antistalin. Stalin tentou se aposentar em
outubro de 1952, mas o 19º Congresso do Partido se
recusou a permitir.

Taubman afirma que Khrushchev afirmou “não estar


envolvido” nas repressões, mas Khrushchev não
respondeu aos pedidos de Stalin, senão tomou a
iniciativa, exigindo “cotas” maiores para repressões,
superior ao que a liderança de Stalin queria. Taubman
afirma que “Khrushchev de alguma forma manteve sua
humanidade”. Seria mais acertado dizer o contrário:
Khrushchev parece mais um bandido e um assassino.↩
O CULTO E O “TESTAMENTO” DE LENIN
O CULTO

Khrushchev:
Camaradas! No relatório do Comitê Central do
Partido no 20º Congresso, em uma série de
discursos dos delegados ao Congresso, como
também durante a Plenária e as sessões do
CC/PCUS [Comitê Central do Partido Comunista
da União Soviética] anteriores, muito foi dito sobre
o culto ao indivíduo e sobre suas consequências
prejudiciais.
Após a morte de Stalin, o Comitê Central do
Partido começou a implementar uma política de
explicar, de forma concisa e consistente, que é
inadmissível e estranho ao espírito do marxismo-
leninismo elevar uma pessoa, a ponto de
transformá-la em um super-homem possuidor
características sobrenaturais, semelhantes a
aquelas de um deus. Tal homem que supostamente
sabe de tudo, vê tudo, pensa por todos, pode fazer
qualquer coisa e é infalível em seu
comportamento.
Tal crença sobre um homem, e especificamente
sobre Stalin, foi cultivada entre nós por muitos
anos.
O objetivo do presente discurso não é uma
avaliação minuciosa da vida e da atividade de
Stalin. A respeito dos méritos de Stalin um número
suficiente de livros, panfletos e estudos já foi
escrito durante sua vida. O papel de Stalin na
preparação e execução da Revolução Socialista, na
Guerra Civil e na luta pela construção do
socialismo em nosso país, é universalmente
conhecido. Todo mundo sabe bem disso.
No momento, estamos preocupados com uma
questão de imensa importância para o Partido,
agora e para o futuro – a maneira com a qual
gradualmente tem crescido o culto à pessoa de
Stalin, o culto que se tornou, em um certo estágio
específico, a fonte de toda uma série de perversões
extremamente sérias e graves dos princípios
partidários, da democracia partidária e da
legalidade revolucionária.

Este Discurso, feito por Khrushchev, é frequentemente referido


como uma das “revelações” dos crimes e delitos cometidos por Stalin. A
questão do “culto à personalidade” ou “culto ao indivíduo” em torno da
figura de Stalin foi o tema principal do Discurso. Khrushchev não “revelou”
a existência de um “culto à personalidade” em si. Sua existência era, é
claro, bem conhecida. Fora discutida nas reuniões do Presidium desde
imediatamente após a morte de Stalin.

No entanto, a princípio Khrushchev não afirma, especificamente,


que Stalin promoveu o “culto”. Khrushchev claramente fez dessa forma de
propósito. Ao longo de seu discurso, Khrushchev implica – ou melhor, toma
como certo – o que ele deveria provar, mas não pôde fazer: que o próprio
Stalin cultivou este culto a fim de ganhar poder ditatorial. Na verdade,
durante todo o seu discurso, Khrushchev foi incapaz de citar um único
exemplo verdadeiro de como Stalin encorajou esse “culto” –
presumivelmente porque ele não conseguiu encontrar sequer um de tal
exemplo.

Todo o discurso de Khrushchev foi construído sobre esta


falsidade. Todas as suas “revelações” foram encaixadas dentro do
paradigma explicativo do “culto” em torno de si mesmo, que, segundo
Khrushchev, Stalin criou e cultivou.

Esse estudo mostrará que praticamente todas as “revelações” de


Khrushchev acerca de Stalin são falsas. Mas, vale a pena mencionar de
início que a estrutura explicativa de Khrushchev – a noção do “culto”
construído por Stalin e, como resultado deste, o resto de seus chamados
“crimes” poderiam, então, ser cometidos com impunidade – é em si uma
falsidade. Stalin não só não cometeu os crimes e delitos que Khrushchev
imputa a ele. Stalin também não construiu o “culto” em torno de si mesmo.
Na verdade, as evidências provam o contrário: Stalin se opôs ao repugnante
“culto” em torno de sua figura.

Alguns argumentaram que a oposição de Stalin ao culto ao redor


de si deve ter sido dissimulação. Afinal, Stalin era tão poderoso que se
realmente quisesse dar um fim ao culto, ele poderia ter feito. Mas, este
argumento assume o aquilo que ele deve provar. Assumir que Stalin era tão
poderoso assim é assumir também que Stalin era de fato aquilo que o
“culto” absurdamente o faz parecer: um autocrata com poder supremo sobre
tudo e todos na URSS.

A OPOSIÇÃO DE STALIN AO CULTO

Várias vezes ao longo de muitos anos Stalin protestou contra


elogios e lisonjas direcionados a si. Ele concordava com a avaliação de
Lenin sobre o “culto ao indivíduo”, e a respeito disso dizia basicamente as
mesmas coisas que Lenin havia dito. Khrushchev citou Lenin, mas sem
reconhecer que Stalin tinha dito as mesmas coisas. Uma longa lista de
citações de Stalin é dada como evidência de sua oposição ao “culto” ao seu
redor1.

Muitas mais poderiam ser adicionados, pois quase todas as


memórias daqueles que tiveram contato pessoal com Stalin fornecem ainda
mais anedotas demonstrando a oposição, e até mesmo desgosto, de Stalin à
adulação de sua pessoa.

Por exemplo, Stalin. Kak Ia Ego Znal (Stalin Como Eu o


Conheci”, 2003), um livro recém publicado das memórias póstumas de
Akakii Mgeladze – um ex-Primeiro Secretário do Partido Comunista
georgiano, mais tarde punido e marginalizado por Khrushchev – nas quais o
autor frequentemente comenta sobre o desdém de Stalin ao “culto” em seu
redor. Mgeladze, que morreu em 1980, conta como Stalin queria, no ano de
1949, suprimir qualquer celebração especial de seu 70º aniversário e apenas
aderiu a ele, ainda que relutantemente, por conta dos argumentos feitos por
outros líderes do Partido, de que o evento serviria para unir o movimento
comunista, reunindo seus líderes de todo o mundo.

Em 1937, Stalin teve mais sucesso ao impedir que outros no


Politburo renomeassem Moscou para “Stalinodar” (Presente de Stalin). Já a
sua tentativa de recusar a medalha de Herói da União Soviética foi frustrada
quando ela, que nunca aceitou, foi fixada a uma almofada e colocada sobre
seu caixão após sua morte.
A TENTATIVA DE MALENKOV CHAMAR UMA
PLENÁRIA DO COMITÊ CENTRAL SOBRE O “CULTO”,
ABRIL DE 1953

Imediatamente após a morte de Stalin, Malenkov propôs chamar


uma Plenária do Comitê Central para lidar com os efeitos nocivos do culto.
Malenkov foi honesto o suficiente para culpar a si e seus colegas, e lembrou
todos que Stalin havia frequentemente, e sem sucesso, advertido contra este
“culto”. A tentativa falhou no Presidium; a Plenária especial nunca foi
realizada. Se tivesse sido o “Discurso Secreto” de Khrushchev não poderia
ter sido realizado.

Apoiando ou não a proposta de Malenkov – sobre isso a evidência


não é clara – Khrushchev certamente estava envolvido na discussão. Desde
o início ele sabia tudo sobre a tentativa de Malenkov lidar com o “culto”
abertamente. Mas, não disse nada sobre a respeito, assim efetivamente
negando que ela houvesse ocorrido.

PLENÁRIA DE JULHO DE 1953 – BERIA ATACADO POR


SUPOSTAMENTE SE OPOR AO “CULTO”

Na Plenária de Julho de 1953, chamada para atacar um Beria


ausente (e possivelmente já morto), muitas figuras culparam Beria por
atacar o culto. O papel dirigente de Khrushchev durante esta Plenária, e na
cabala de líderes em oposição a Beria, mostra que ele foi cúmplice neste
ataque e, assim, no apoio do “culto” como uma arma para descredibilizar
Beria.

QUEM FOMENTAVA O “CULTO”?

Um estudo das origens do “culto” está além do escopo desse livro.


Mas, há boas evidências de que os oposicionistas ou começaram ou
participaram ansiosamente do “culto” em torno de Stalin como um disfarce
para suas atividades oposicionistas. Em um momento de baixa guarda,
durante um de seus ochnye stavki (confrontos cara a cara com acusadores),
Bukharin foi forçado a admitir que instou ex-oposicionistas trabalhando no
Izvestia a usarem elogios excessivos para referirem-se a Stalin, e que usou
ele mesmo o termo “culto”. Outro opositor, Karl Radek, é frequentemente
citado como escritor do primeiro grande exemplo do “culto”: o estranho e
futurista Zodchii Sotsialisticheskogo Obshchestva (O Arquiteto da
Sociedade Socialista), para a edição de 1º de janeiro de 1934 do Izvestia, e
que posteriormente foi publicado como panfleto separado.

KHRUSHCHEV E MIKOYAN

Khrushchev e Mikoyan, as principais figuras do Politburo de


Stalin que instigaram e promoveram avidamente o movimento de
“desestalinização”, estavam entre aqueles mais ávidos fomentadores do
“culto” durante a década de 1930.

Se isso fosse tudo, poderíamos hipoteticamente assumir que


Khrushchev e Mikoyan tinham realmente respeitado Stalin a ponto de temê-
lo. Este foi certamente o caso com muitos outros. O livro de memórias de
Mgeladze mostra um exemplo de um oficial líder do Partido, que manteve
sua admiração por Stalin muito depois de estar na moda descartá-lo.

Mas, Khrushchev e Mikoyan participaram das discussões do


Presidium em março de 1953, durante as quais tinha sido frustrada a
tentativa de Malenkov chamar uma Plenária do Comitê Central para discutir
o “culto”. Eles foram líderes na Plenária de junho de 1953, durante a qual
Beria havia sido duramente criticado por sua oposição ao “culto” a Stalin.

Essas questões, juntamente com o fato de que as “revelações” de


Khrushchev são, na realidade, fabricações, significam que devia haver algo
a mais acontecendo.

O “TESTAMENTO” DE LENIN

Khrushchev:
Temendo o futuro destino do Partido e da nação
soviética, V. I. Lenin fez uma caracterização
completamente correta de Stalin, apontando que
era necessário considerar transferência Stalin do
cargo de Secretário General porque Stalin era
excessivamente rude, não teria uma atitude
adequada em relação aos seus companheiros, seria
caprichoso e abusaria de seu poder.
Em dezembro de 1922, através de uma carta ao
Congresso do Partido, Vladimir Ilyich escreveu:
“Depois de assumir o cargo de Secretário Geral, o
camarada Stalin acumulou em suas mãos um poder
imensurável e não tenho certeza se ele será sempre
capaz de usar esse poder com os cuidados
necessários”.

Devemos interromper esta citação para notar um fato importante.


Khrushchev atribui a Lenin a acusação de que Stalin “abusa de seu poder”.
Na verdade, Lenin escreveu apenas que não tinha “certeza se ele [Stalin]
será sempre capaz de usar esse poder com os cuidados necessários”. Não
há, nas palavras de Lenin, nada que acuse Stalin de “abusar de seu poder”.

Khrushchev continua:
Esta carta – um documento político de tremenda
importância, conhecido na história do Partido
como o “Testamento” de Lenin – foi distribuída
entre os delegados ao 20º Congresso do Partido.
Vocês a leram e, sem dúvida, vão lê-la novamente
mais de uma vez. Vocês podem refletir sobre as
palavras simples de Lenin, nas quais é dada
expressão à ansiedade de Vladimir Ilyich no que
diz respeito ao Partido, ao povo, ao Estado e à
direção futura da política partidária.
Vladimir Ilyich disse:

Stalin é excessivamente rude e este


defeito, que pode ser livremente
tolerado em nosso meio e em contatos
entre nós comunistas, torna-se um
defeito que não pode ser tolerado em
quem ocupa o cargo de Secretário
Geral. Por causa disso, proponho que
os camaradas considerem o método
pelo qual Stalin seria removido desta
posição e pelo qual outro homem seria
selecionado para ela, um homem que,
acima de tudo, difira-se de Stalin em
apenas uma qualidade, ou seja, maior
tolerância, maior lealdade, maior
bondade e atitude mais atenciosa em
relação aos camaradas, um
temperamento menos caprichoso etc.

Este documento de Lenin se fez conhecido aos


delegados do 13º Congresso do Partido, que
discutiram a questão da transferência de Stalin do
posto de Secretário Geral. Os delegados
declararam-se a favor de manter Stalin, esperando
que ele respondesse às observações críticas de
Vladimir Ilyich e fosse capaz de superar os
defeitos que causaram em Lenin séria ansiedade.
Camaradas! O Congresso do Partido deve se
familiarizar com dois novos documentos, que
confirmam o caráter de Stalin como já descrito por
Vladimir Ilyich Lenin em seu “testamento”. Estes
documentos são uma carta de Nadezhda
Konstantinovna Krupskaya para [Lev B.]
Kamenev, na época chefe do Gabinete Político, e
uma carta pessoal de Vladimir Ilyich Lenin a
Stalin.
Agora lerei estes documentos:

LEV BORISOVICH!

Por causa de uma pequena carta que


eu havia escrito com palavras ditadas
por Vladimir Ilyich, e com permissão
dos médicos, ontem Stalin se permitiu
a uma explosão extraordinariamente
rude dirigida a mim. Este não é meu
primeiro dia no Partido. Durante todos
esses 30 anos, nunca ouvi de nenhum
camarada uma palavra grosseira. Os
negócios do Partido e de Ilyich não
são menos caros para mim do que
para Stalin. Eu preciso, no momento,
do máximo de autocontrole. O que se
pode e o que não se pode discutir com
Ilyich eu sei melhor do que qualquer
médico porque eu sei aquilo que o
deixa nervoso e aquilo que não, em
qualquer caso, eu sei melhor do que
Stalin. Estou voltando-me para você e
para Grigorii [E. Zinoviev] como
camaradas muito mais próximos de V.
I., e peço que me protejam de
interferências rudes à minha vida
privada e de invectivos e ameaças vis.
Não tenho dúvidas de qual será a
decisão unânime da Comissão de
Controle, com a qual Stalin acha
adequado me ameaçar; no entanto, eu
não tenho nem a força nem o tempo
para perder nesta briga tola. E eu sou
uma pessoa viva e meus nervos estão
tensos ao máximo.

N. KRUPSKAYA

Nadezhda Konstantinovna escreveu esta carta em


23 de dezembro de 1922. Após dois meses e meio,
em março de 1923, Vladimir Ilyich Lenin enviou a
Stalin a seguinte carta:

AO CAMARADA STALIN:

CÓPIAS PARA: KAMENEV E


ZINOVIEV

Caro camarada Stalin!

Ao telefone, você se permitiu ter um


rompante de grosseria a minha esposa
e fazer uma reprimenda rude contra
ela.

Apesar de ela ter lhe dito que


concordou em esquecer o que foi dito,
Zinoviev e Kamenev souberam do
assunto. Eu não tenho intenção de
esquecer tão facilmente o que está
sendo feito contra mim; e eu não
preciso enfatizar aqui que considero
como dirigido contra mim o que está
sendo feito contra minha esposa.
Peço-lhe, portanto, que pondere
cuidadosamente se concorda em
retratar suas palavras e se desculpar
ou se prefere a ruptura das relações
entre nós.

SINCERAMENTE: LENIN

5 DE MARÇO DE 1923

(Comoção no salão.)
Camaradas! Não vou comentar esses documentos.
Eles falam eloquentemente por si mesmos. Uma
vez que Stalin pôde se comportar desta maneira
ainda durante a vida de Lenin, pôde se comportar
dessa forma em direção a Nadezhda
Konstantinovna Krupskaya – que o Partido
conhece bem e valoriza-a altamente como uma
amiga leal de Lenin e como uma lutadora ativa da
causa do Partido desde sua criação – podemos
facilmente imaginar como Stalin tratava outras
pessoas. Essas características negativas se
desenvolveram de forma constante e, nos últimos
anos, adquiriram um caráter absolutamente
insuportável.

O documento em questão não era amplamente “conhecido na


história do Partido como o ‘Testamento’ de Lenin”. Khrushchev tirou este
termo de Trotsky, que escreveu um livro com este título em 1934. A carta
de Lenin nunca tinha sido conhecida como tal dentro do Partido
Bolchevique, exceto entre os oposicionistas. Na verdade, há uma história
sobre o próprio uso da expressão “Testamento de Lenin” – uma que não
reflete bem para Khrushchev.

Em 1925, Trotsky, em uma crítica acentuada ao livro de Max


Eastman Since Lenin Died, havia repudiado explicitamente a mentira de
Eastman, na qual Lenin teria deixado um “testamento” ou “vontade”. Junto
de os outros membros do Politburo, Trotsky disse que Lenin não havia feito
isso. E isso parece estar correto: não há nenhuma evidência de que Lenin
pretendia esses documentos como um “testamento” de qualquer tipo. Então,
na década de 1930, Trotsky mudou de ideia e começou a escrever
novamente sobre “O Testamento de Lenin”, desta vez como parte de seu
ataque partidário a Stalin. Portanto, Khrushchev ou, mais provavelmente,
um de seus colaboradores, deve ter se apropriado de Trotsky – embora eles
nunca terem reconhecido publicamente fazê-lo.

Outros aspectos do discurso de Khrushchev são semelhantes aos


escritos de Trotsky. Por exemplo, Trotsky via os Julgamentos de Moscou
como armações – algo natural, já que ele era um corréu ausente. Apesar do
primeiro réu do julgamento de Moscou, Akbal Ikramov – do Julgamento
“Bukharin” de março de 1938 – não tenha sido oficialmente “reabilitado”
até maio de 1957, após o 20º Congresso do Partido2, Khrushchev lamentou
as execuções de Zinoviev, Kamenev e dos Trotskistas em seu Discurso
Secreto. Isso constituiu, pelo menos, uma declaração implícita de suas
inocências, visto que as punições não seriam consideradas muito severas
para qualquer um realmente culpado dos crimes que eles confessaram em
1936.

Mas, na verdade, todo o tom do discurso de Khrushchev, que


responsabiliza apenas Stalin por descarrilar o socialismo através de imensos
crimes, é idêntico ao retrato demonizado de Stalin feito por Trotsky. A
viúva de Trotsky reconheceu esse fato e solicitou a reabilitação de seu
falecido marido um dia após o “Discurso Secreto”3. O fato de Natalia
Sedova-Trotskaya saber sobre o discurso, supostamente “secreto”,
imediatamente após acontecer, sugere que os Trotskistas podiam ainda
possuir informantes de alto nível no PCUS.

Há boas razões para suspeitar que a carta de Lenin a Stalin, de 5


de março de 1923, pode ser uma falsificação. Valentin A. Sakharov
publicou um importante estudo acadêmico sobre este assunto pela Editora
da Universidade de Moscou. Seu argumento geral é delineado em vários de
seus artigos e nas resenhas do livro4.

Não há dúvida de que na época o próprio Stalin e todos que


conheceram a carta acreditavam em sua veracidade. Mas, mesmo que
genuína, a carta de Lenin a Stalin do dia 5 de março de 1923 não mostra o
que muitas vezes se assumiu que mostrasse – que Lenin rompeu com Stalin.
Menos de duas semanas depois sua esposa, Nadezhda Konstantinovna
Krupskaya, (chamada “c(amarada) Ul’ianova (N. K.)” nesta troca)
informou Stalin sobre um pedido que Lenin fizera de forma muito
insistente: fazer Stalin prometer que obteria cápsulas de cianeto para ele, a
fim de acabar com seu grande sofrimento. Stalin concordou, mas depois
relatou ao Politburo, em 23 de março, que não seria capaz de fazê-lo “não
importa o quão humano possa ser”.

Estes documentos foram citados por Dmitrii Volkogonov em sua


biografia, bastante hostil, de Lenin5. As copias permanecem nos
Documentos Volkogonov na Biblioteca do Congresso. Não há dúvida sobre
sua autenticidade. Em 1922, Lidia Fotieva – uma das secretárias de Lenin –
escreveu uma nota, ditada por ele, na qual pedia por cápsulas de cianeto se
sua doença progredisse além de um certo ponto6.

Portanto, mesmo se a carta de 5 de março de 1923 de Lenin seja


genuína – e o estudo de Sakharov colocar dúvida sobre a questão – Lenin
ainda confiava e contava com Stalin. Não havia estranhamento entre eles.

De acordo com Volkogonov (e outros):


Na manhã de 24 de dezembro (de 1922), Stalin,
Kamenev e Bukharin discutiram a situação. Eles
não tinham o direito de forçar seu líder [Lenin] a
ficar em silêncio. Mas, cuidado, prevenção, o
máximo possível, eram essenciais. Uma decisão
foi tomada:

1. Vladimir Ilyich tem o direito de ditar diariamente por 5-


10 minutos, mas isso não deve ser na forma de
correspondência, e Vladimir Ilyich não deve esperar
respostas para essas notas. Não são permitidas reuniões.

2. Nem amigos, nem pessoas domésticas podem comunicar


a Vladimir Ilyich nada da vida política, de modo que não
a apresentem materiais para consideração e excitação7.

De acordo com Robert Service em (Lenin), ele sofreu graves


“eventos” (provavelmente derrames) nas seguintes datas:

25 de maio de 1922 – um “derrame maciço” (p. 443);

22 a 23 de dezembro de 1922 – Lenin “perdeu os


movimentos de todo o seu lado direito” (p.461);

Na noite de 6 a 7 de março de 1923 – Lenin “perdeu os


movimentos das extremidades do lado direito do corpo”.
(pp.473-4).

Em 18 de dezembro, o Politburo colocou Stalin como responsável


pela saúde de Lenin e proibiu qualquer um de discutir política com ele.
Krupskaya violou esta regra e foi repreendida por Stalin, em 22 de
dezembro. Naquela mesma noite, Lenin sofreu um grave derrame.

Em 5 de março de 1923, Krupskaya disse a Lenin que em


dezembro Stalin havia falado com ela de maneira rude. Em fúria, Lenin
escreveu a Stalin a famosa nota. De acordo com a secretária de Krupskaya,
Vera Dridzo, cuja versão deste evento foi publicada em 1989, aconteceu
assim:
Atualmente, quando o nome de Nadezhda
Konstantinovna e a relação de Stalin com ela são
mais frequentemente mencionados em algumas
publicações, gostaria de contar sobre esses
assuntos que eu conheço com certeza.
Por que foi somente após dois meses da conversa
rude entre Stalin e Nadezhda Konstantinovna que
V. I. Lenin escreveu a Stalin a carta em que exigia
que se desculpasse com ela? É possível que eu seja
a única que realmente sabe como aconteceu, já que
Nadezhda Konstantinovna me contou muitas vezes
sobre isso.
Aconteceu no início de março de 1923. Nadezhda
Konstantinovna e Vladimir Ilyich estavam falando
sobre algo. O telefone tocou. Nadezhda
Konstantinovna foi atender (no apartamento de
Lenin o telefone sempre ficava no corredor).
Quando ela voltou Vladimir Ilyich perguntou:
“Quem ligou?” – “Foi Stalin, ele e eu nos
reconciliamos”. – “O que você quer dizer com
isso?”
E Nadezhda Konstantinovna teve que contar tudo
o que tinha acontecido quando Stalin ligou para
ela, que falou com ela muito rudemente, que
ameaçou trazê-la perante a Comissão de Controle.
Nadezhda Konstantinovna pediu a Vladimir Ilyich
para não se importar, já que tudo tinha sido
resolvido e ela tinha se esquecido.
Mas, Vladimir Ilyich foi inflexível. Ele ficou
profundamente ofendido pelo comportamento
desrespeitoso de I. V. Stalin em relação a
Nadezhda Konstantinovna e no dia 5 de março de
1923 ditou aquela carta a Stalin com uma cópias
para Zinoviev e Kamenev, na qual ele insistiu que
Stalin se desculpasse. Stalin teve que se desculpar,
mas ele nunca esqueceu e não perdoou Nadezhda
Konstantinovna, e isso teve um efeito em sua
relação com ela”8.

No dia seguinte [6 de março], Lenin teve um derrame mais grave.

Em cada caso, Lenin teve um derrame logo após Krupskaya


discutir assuntos políticos com ele – algo que, como membra do Partido, ela
não deveria fazer. Isso não pode ter sido uma coincidência, pois os médicos
de Lenin tinham alertado especificamente para não o deixar chateado com
qualquer coisa. Então parece mais do que possível que, de fato, foram as
ações de Krupskaya que precipitaram os dois últimos derrames graves de
Lenin.

Como disse Lidia Fotieva, uma das mais antigas secretárias de


Lenin:
Nadezhda Konstantinovna nem sempre se
conduziu da forma que deveria. Ela pode ter dito
demais para Vladimir Ilyich. Ela estava
acostumada a compartilhar tudo com ele, mesmo
em momentos em que ela não deveria ter feito
isso... Por exemplo, por que ela disse a Vladimir
Ilyich que Stalin tinha sido rude com ela ao
telefone?9.

Aliás, quando a esposa de Stalin cometeu suicídio em 1932,


Krupskaya escreveu a seguinte carta de consolo a Stalin, a qual foi
publicada no Pravda do dia 16 de novembro de 1932:
Caro Iosif Vissarionovich,
Nesses dias tudo me faz pensar em você, me faz
querer segurar sua mão. É difícil perder uma
pessoa próxima. Eu continuo lembrando daquelas
conversas com você no escritório de Ilyich durante
sua doença. Elas me deram coragem naquela
época.

Eu aberto sua mão mais uma vez. N. Krupskaya10.

Esta carta mostra, mais uma vez, que Stalin não se afastou da
esposa de Lenin após o desentendimento de dezembro de 1922.
Stalin era tido em alta estima por todos aqueles da casa de Lenin.
O escritor, Aleksandr Bek, escreveu as reminiscências de Lidia Fotieva, nas
quais ela diz:
Você não entende aqueles tempos. Você não
entende o grande significado que Stalin tinha.
Stalin foi ótimo... Maria Ilyinichna [Ul’ianova,
irmã de Lenin], durante a vida de Vladimir Ilyich,
me disse: “Depois de Lenin, Stalin é a pessoa mais
inteligente do Partido”... Stalin era uma autoridade
para nós. Nós amávamos Stalin. Ele era um grande
homem. No entanto, ele muitas vezes disse: “Eu
sou apenas um pupilo de Lenin”. (Em Bek, op.cit.)

Khrushchev estava simplesmente tentando fazer Stalin “parecer


mau”, em vez de transmitir qualquer compreensão do que aconteceu.

É óbvio que Khrushchev citou a carta de Lenin a Stalin sem o


devido contexto, e ao fazê-lo ele distorceu seriamente a situação. Ele omitiu
o fato de que o Comitê Central havia instruído Stalin a garantir que Lenin
fosse isolado de questões políticas por causa de sua saúde. Esta proibição
mencionava explicitamente “amigos” e “pessoas domésticas”. Uma vez que
os secretários de Lenin não eram susceptíveis de violar uma diretiva do
Comitê Central, provavelmente o termo “pessoas domésticas” foi
especificamente destinado a incluir a irmã de Lenin e Krupskaya, sua
esposa. Stalin havia criticado Krupskaya por violar este isolamento.

Tampouco Khrushchev mencionou a resposta de Stalin feita no dia


7 de março de 1923 à carta de Lenin, ou o pedido por veneno que Lenin
posteriormente fez a Stalin. Ao omitir esses fatos, Khrushchev distorceu
seriamente o contexto em que se deu a carta de Lenin a Stalin, de 5 de
março de 1923, e deliberadamente distorceu a relação de Lenin com Stalin.

Khrushchev omitiu os relatos da irmã de Lenin, Maria Ilyinichna.


As secretárias de Lenin, Volodicheva e Fotieva, e a secretária de Krupskaya,
Dridzo, ainda estavam vivas, mas seus testemunhos não foram procurados.
Ele omitiu a evidência de que as ações de Krupskaya – violar a proibição do
CC sobre o isolamento de Lenin – podem muito bem ter sido a causa de
dois derrames de Lenin. Ele omitiu o fato de que, longe de fazer qualquer
ruptura com Stalin, duas semanas depois, Lenin confiou apenas a Stalin o
pedido secreto para receber veneno caso pedisse. Finalmente, ele omitiu a
reconciliação de Krupskaya com Stalin.

Khrushchev se esforçou, a todo custo, para representar Stalin da


pior forma possível. Ele não mostrou interesse no que realmente aconteceu
ou na interpretação dos acontecimentos em seus contextos.

1. Veja na seção 1 do Apêndice uma longa lista de citações


de Stalin mostrando sua oposição ao “culto” ao seu
redor.↩

2. Ikramov foi reabilitado em 3 de junho de 1957. Veja


Reabilitatsiia. Kak Eto Bylo. Febral’ 1956 – nachalo 80-
kh godov. Moskva: “Materik”, 2003. (doravante RKEB
2), 851. Veja também: Link
[memo.ru/memory/communarka/chapter5].

EASTMAN, MAX. Since Lenin Died. Nova York: Boni


and Liveright, 1925.↩

3. Aimermakher, I., V. I. I. Afiani, et al. eds. Doklad


Khrushcheva o kul’te lichnosti Stalina na XX s"ezdt
KPSS. Dokumenty. ROSSPEN, 2002. (doravante Doklad
Khrushcheva) Razdel IV, Dok. Nº. 3, p. 610. Os editores
deste volume oficial notam que a carta deve ser datada
de, ou após, 25 de fevereiro; ou seja, eles a relacionam
com o Discurso de Khrushchev, que foi entregue no
mesmo dia. Outra possibilidade é que a carta de Sedova
tenha sido escrita em resposta ao discurso de Mikoyan ao
Congresso feito no dia 16 de fevereiro. Um fac-símile da
carta de Sedova ao Presidium do 20º Congresso do
Partido está no Link [sedovaltr022856.jpg]↩

4. V. A. Sakharov, “Politicheskoe zaveshchanie”. Lenina:


real’nost’ istorii i mify politiki. Moscou: Izdatel’stvo
MGU [Universidade Estadual de Moscou], 2003.↩
5. Um fac-símile da carta de 23 de março de 1923 de Stalin
ao Politburo está publicado em D. A. Volkogonov, Lenin.
Politicheskii Portret. V 2-kh knigakh. Kn. II. Moscou:
Novosti, 1994, pp. 384-385. A carta de Stalin ao
Politburo é reproduzida, com comentários, no Link
[hrono.ru/libris/stalin/16-67] e no apêndice desse livro.↩

6. Esta nota foi publicada em 1991 e pode ser consultada


no Link [hrono.ru/libris/stalin/16-9].↩

7. Volkogonov, Dimitri. Stalin. Vol. I.M., 1992, Ch. 2, par.


156; citado no Link
[militera.lib.ru/bio/volkogonov_dv/02].↩

8. V. S. Dridzo, “Vospominania”. Kommunist 5 (1989).↩

9. L. O. Fotieva. Citado em A. Bek, “K istorii poslednikh


leninskikh dokumentov. Iz arkhiva pisatelia,
besedovavshego v lichnymi sekretariami Lenina de
1967”. Moskovskie Novosti No. 17 de abril de 1989,
pp. 8-9.↩

10. Citado em E. N. Gusliarov, Stalin contra Zhizni.


Sistematizirovannyi svod vospominanii sovremennikov,
dokumentov zpokhi, versii istorikov. Moscou: OLMA-
Press, p. 237. Online no Link [20130426065250].
Também citado em Novoe Vremia No. 46, Nov. 14 de
2004.↩
COLETIVIDADE “PISOTEADA”
“COLETIVIDADE” NO TRABALHO

Em vários pontos de seu discurso, Khrushchev reclama da falta de


coletividade de Stalin e da violação da liderança coletiva. Aqui está uma
típica passagem:
Precisamos refletir sobre este assunto de modo
sério e analisá-lo corretamente para que possamos
impedir qualquer possibilidade de repetição, em
qualquer forma, do que ocorreu durante a vida de
Stalin, que absolutamente não tolerava
coletividade na dirigência e no trabalho e que
praticou violência brutal, não apenas com tudo o
que se opunha a ele, mas também com o que
parecia, ao seu caráter caprichoso e despótico, ser
contrário aos seus conceitos.

Esta acusação muito geral pode ser facilmente refutada – mas


apenas em termos similares – citando o testemunho de muitos outros que
trabalharam com Stalin, alguns mais próximos do que Khrushchev jamais
esteve. O Marechal Georgii Zhukov trabalhou de perto com Stalin durante a
guerra e testemunhou seu método de trabalho. Na primeira citação, ele
obviamente tem o “Discurso Secreto” em mente e chama Khrushchev de
mentiroso. O General Shtemenko diz a mesma coisa1.

De acordo com Ivan A. Benediktov, Comissário do Povo da


Agricultura de longa data, as decisões sempre foram tomadas de forma
coletiva. Dmitrii T. Shepilov, de uma geração anterior a Stalin, não
trabalhou tão próximo a ele, mas sua efeméride é reveladora. Até o próprio
Khrushchev, em suas memórias, se contradisse e chamou atenção à
capacidade de Stalin, a qual categorizou como “característica”, de mudar de
ideia quando confrontado por alguém que discordava e defendia bem seu
ponto de vista.

Anastas Mikoyan apoiou Khrushchev de todo coração e foi muito


antagônico a Stalin. No entanto, Mikoyan reclamou que a democracia e a
liderança coletiva nunca foram alcançadas sob Khrushchev nem Brezhnev
em nenhum momento.

Foi o próprio Khrushchev que se recusou a liderar coletivamente e


em grande parte por isso foi removido em 1964. Parece que Mikhail A.
Suslov, que fez o discurso principal contra Khrushchev, ecoou em sua fala
tanto a carta de Lenin sobre Stalin de 1922 quanto os ataques de
Khrushchev ao “culto” em torno de Stalin. A ironia com certeza foi notada
por Khrushchev e pelo seu público.

STALIN “ANIQUILOU MORAL E FISICAMENTE” OS


DIRIGENTES QUE SE OPUSERAM A ELE

Khrushchev:
Stalin agiu não através da persuasão, explicação e
cooperação paciente com as pessoas, mas através
da imposição de seus conceitos e exigência de
submissão absoluta à sua opinião. Quem se opunha
a esses conceitos ou tentava provar seu ponto de
vista e a correção de sua posição estava condenado
à remoção da liderança coletiva e à subsequente
aniquilação moral e física.

Não há um único exemplo, durante toda a vida de Stalin, de


“remoção” de alguém “da liderança coletiva” por discordância a ele. É
significativo o próprio Khrushchev não alegar sequer uma única ocorrência
específica.

Stalin era o Secretário Geral do Comitê Central do Partido. Ele


poderia ser removido pelo Comitê Central a qualquer momento. Ele era
apenas um voto no Politburo e no Comitê Central. Stalin tentou renunciar
ao cargo de Secretário Geral quatro vezes. A cada vez, sua tentativa era
rejeitada. A última tentativa foi no 19º Congresso do Partido, em outubro de
1952. Também foi rejeitada.

Khrushchev e o resto não só poderiam se opor a Stalin, mas de


fato se opuseram a ele. Alguns exemplos são dados abaixo – por exemplo, o
dos impostos sobre os camponeses, que aparentemente surgiu em fevereiro
de 19532. Nenhum dos que se opuseram ao aumento de impostos foram
“removidos da liderança coletiva”, “moralmente aniquilados” – seja o que
quer que isso signifique – nem “fisicamente aniquilados”.

Embora Stalin nunca tenha removido ninguém da liderança por


conta de oposição a ele, Khrushchev o fez. Khrushchev e os outros
repentinamente prenderam Lavrenti Beria em 26 de junho de 1953, sob
falsas acusações e sem qualquer evidência. Posteriormente, eles o mataram
juntamente com outros seis – Merkulov, Dekanozov, Kobulov, Goglidze,
Meshik e Vlodzimirskii – que haviam sido associados próximos de Beria.

Beria não foi a única pessoa na liderança do Partido que foi


removida por Khrushchev por conta de discordâncias. Em julho de 1957,
Khrushchev convocou uma Plenária do CC para remover Malenkov,
Molotov, Kaganovich e Shepilov da liderança simplesmente porque eles
não concordavam com suas políticas e por tentarem retirá-lo da dirigência
do Partido. A arbitrariedade de Khrushchev foi a principal razão para a sua
remoção, feita pelo Comitê Central em 1964.

Khrushchev e aqueles que o apoiaram precisavam ter algum tipo


de explicação ou desculpa por terem falhado em fazer oposição a Stalin em
todos os seus supostos “crimes” no decorrer de todos os anos em que
compartilharam com ele a liderança do Partido. Parece que a ameaça da
“aniquilação” tornou-se o álibi. Khrushchev evidentemente disse muitas
vezes que, se “eles” tivessem tentado “restaurar normas leninistas no
Partido”, ou pedir-lhe para se aposentar, “de nós não restaria nem mesmo
um ponto molhado”3.

Outros do movimento comunista viram através desta desculpa:


Quando o líder soviético, Anastas Mikoyan,
liderou a delegação do PCUS à China a fim de
participar do 8º Congresso do PCC em 1956, Peng
[Te-huai] perguntou-lhe, cara a cara, o motivo de
só agora o Partido soviético estar criticando Stalin.
Mikoyan aparentemente respondeu: “Nós não
ousávamos expor nossa opinião na época. Ter feito
isso significaria a morte”. Ao que Peng retrucou:
“Que tipo de comunista é esse que teme a
morte?”4

Mas, fica claro que a acusação, em si, é falsa.

AS REPRESSÕES EM MASSA, DE MODO GERAL

Khrushchev:
Vale a pena notar o fato de que mesmo durante o
progresso da furiosa disputa ideológica contra os
trotskistas, os Zinovievitas, os Bukharinistas e
outros, medidas repressivas extremas não foram
utilizadas contra eles. A luta foi por motivos
ideológicos. Mas, alguns anos depois quando o
socialismo em nosso país foi fundamentalmente
construído, quando as classes exploradoras foram,
de modo geral, liquidadas, quando a estrutura
social soviética tinha mudado radicalmente,
quando a base social para movimentos políticos e
grupos hostis ao Partido tinha se contraído
violentamente, quando os opositores ideológicos
do Partido haviam sido derrotados politicamente
há muito tempo – a repressão dirigida a eles
começou. Foi precisamente durante esse período
(1935-1937-1938) que nasceu a prática da
repressão em massa por meio do aparato
governamental, primeiro contra os inimigos do
leninismo – trotskistas, Zinovievitas,
Bukharinistas, há muito derrotados politicamente
pelo Partido – e, posteriormente, também contra
muitos comunistas honestos, contra aqueles
quadros do Partido que tinham suportado o pesado
fardo da Guerra Civil e os primeiros e mais difíceis
anos de industrialização e coletivização, aqueles
que lutaram ativamente contra os trotskistas e os
direitistas pela linha leninista do Partido.

Nada no discurso de Khrushchev foi mais chocante que a


acusação de que Stalin havia instigado uma repressão maciça e injustificada
contra bolcheviques de alto escalão. Abaixo, examinaremos suas alegações
específicas e antecederemos essas observações enfatizando alguns pontos
básicos.
O próprio Khrushchev foi responsável por repressões maciças,
possivelmente mais que qualquer outro indivíduo – além de Nikolai
Yezhov, que foi chefe do NKVD de 1936 até o final de 1938 e certamente
era mais sanguinário do que qualquer outro5. Ao contrário de Stalin e da
liderança central do Partido, a quem ele reportava, mas como Yezhov e
muitos outros, Khrushchev ou tinha que saber que muitos, provavelmente, a
grande maioria daqueles que ele reprimiu eram inocentes ou então pelo
menos que seus destinos foram decididos sem qualquer investigação
detalhada.

Vinte e quatro dias antes do “Discurso Secreto” , no final de


fevereiro de 1956, Khrushchev defendeu Yezhov e Genrikh Iagoda –
antecessor de Yezhov como chefe do NKVD. Ele reiterou esta defesa no
“rascunho inicial” de seu discurso, datado de 18 de fevereiro de 1956,
embora que em termos um pouco mais moderados. Isso é difícil de se
explicar a menos que Khrushchev já estivesse tentando negar que
quaisquer conspirações tivessem realmente acontecido, e, portanto,
implicar a inocência de todos aqueles que tinham sido reprimidos. E
Khrushchev tomou essa posição, embora não até bem após o 20º Congresso
do Partido. Em seu discurso, Khrushchev alegou que Stalin era o
responsável por todas as repressões de Yezhov. Ele tinha que saber que isso
era falso, já que ele possuía muito mais provas à sua disposição do que nós
temos hoje. E é evidente, pelo pouco que relativamente temos agora, que
Yezhov foi responsável por enormes repressões ilegais.

Khrushchev foi candidato ou membro pleno do Politburo durante


as investigações que estabeleceram a culpa de Yezhov. No entanto, outros
também também eram: Mikoyan, Molotov, Kaganovich e Voroshilov.
Mikoyan foi cúmplice íntimo de Khrushchev. Mas, a aquiescência por
Molotov, Kaganovich e Voroshilov presente discurso de Khrushchev,
embora apenas temporária, não pode ser explicada da mesma forma6.

Khrushchev declarou como “reabilitados”, inocentes, muitos


líderes do Partido que foram executados, desafiando as evidências que
temos hoje após a liberação de uma pequena fração dos documentos
relacionados a estes. Às vezes, ele declarava a priori que eles foram vítimas
inocentes de uma repressão infundada, mesmo antes das formalidades de
um estudo das provas, do protesto do Ministério Público e da decisão da
Suprema Corte terem sido concluídas, ou até mesmo iniciadas. O Relatório
Pospelov7 foi elaborado para fornecer, para Khrushchev, evidências de que
os líderes do Partido tinham sido executados injustamente e veio para
antecipar conclusões. O Relatório falhou em considerar grande parte das
evidências que sabemos que existem. Mesmo do jeito que se encontra, não
prova a inocência das pessoas cuja repressão ele estuda.

Todas as evidências que temos atualmente apontam para a


existência de uma ampla série de conspirações antigoverno envolvendo
muitos dirigentes do Partido, os chefes do NKVD, Iagoda e Yezhov, líderes
militares de alto escalão e muitos outros8. Em termos gerais, este é mais ou
menos o quadro desenhado pelo governo stalinista na época, com exceção
de que alguns detalhes vitais, como o envolvimento de Yezhov na liderança
da conspiração direitista, nunca foram revelados publicamente.

Há muitas evidências circunstanciais sugerindo que o próprio


Khrushchev pode muito bem ter sido participante nesta conspiração
direitista-trotskista9. Tal hipótese faz sentido a partir de grande parte das
evidências que temos, mas é sugestiva e não conclusiva. Todavia, tal
hipótese iria fundo em explicar o ataque de Khrushchev a Stalin e, até
mesmo, a história subsequente do PCUS.

Incluídos no Apêndice, ao final, e online, em russo e inglês, estão:

Evidência das repressões maciças de Khrushchev;

Trechos de confissões de Iagoda, Yezhov e Frinovskii


(segundo em comando de Yezhov) sobre suas
participações na conspiração trotskista-direitista, se
encontram na seção dedicada a Yezhov.

“INIMIGO DO POVO”

Khrushchev:
Stalin deu origem ao conceito de “inimigo do
povo”. Este termo tornou automaticamente
desnecessária a comprovação dos erros ideológicos
de um homem ou homens envolvidos em uma
controvérsia; este termo possibilitou o uso da
repressão mais cruel, violando todas as normas da
legalidade revolucionária, contra qualquer um que,
de alguma forma, discordasse de Stalin, contra
aqueles que eram apenas suspeitos de intenção
hostil, contra aqueles que tinham más reputações.
Esse conceito de “inimigo do povo” realmente
eliminou a possibilidade de qualquer tipo de
disputa ideológica ou de tornar conhecidas as
opiniões de alguém nessa ou naquela questão,
mesmo as de caráter prático. Em essência, e de
fato, a única prova de culpa utilizada, a despeito de
todas as normas da ciência jurídica vigente, era a
“confissão” do próprio acusado; e, como uma
sondagem subsequente provou, essas “confissões”
foram adquiridas através de pressões físicas contra
os acusados. Isso levou a violações flagrantes da
legalidade revolucionária e ao fato de que muitas
pessoas totalmente inocentes, que no passado
haviam defendido a linha partidária, se tornaram
vítimas.
No que diz respeito às pessoas que, em seu tempo,
se opuseram à linha partidária, devemos afirmar
que muitas vezes não havia razões suficientemente
sérias para a aniquilação física. A fórmula
“inimigo do povo” foi introduzida com o propósito
específico de aniquilar fisicamente esses
indivíduos.

Stalin certamente não “deu origem o conceito”. A expressão


l’ennemi du peuple foi amplamente usada durante a grande Revolução
Francesa. Foi utilizada pelo escritor Jean-Paul Marat na primeira edição de
seu boletim revolucionário L’Ami du Peuple em 179310. O uso subsequente
do termo deriva da Revolução Francesa. É conhecidamente o nome de uma
peça de Ibsen. Maxim Gorky usou o termo na novela “A península
Tauridea”11 (Khersones Tavricheskii) em “Juramento dos Peninsulares”,
uma sketch publicada em 1897.

Uma vez que todos os revolucionários de 1917 tendiam a ver a


revolução na Rússia através das lentes da revolução de 1789, o termo foi
amplamente utilizado desde o início. Lenin usou o termo antes da
revolução. O Partido Democrático Constitucional, chamado de “Cadetes”,
que era o partido da rica burguesia, foi banido pelo Conselho dos
Comissários do Povo em 28 de novembro de 1917 como um “inimigo do
povo”. Isto fora assinado por Lenin.

Um locus classicus para o uso do termo “inimigo do povo”,


durante a década de 1930 é o Decreto do Comitê Executivo Central e do
Soviete de Comissários do Povo de 7 de agosto de 1932, também conhecido
como “a lei das três orelhas”. Nele o termo “inimigo do povo” não se refere
de forma alguma aos oposicionistas do Partido, mas sim à perseguição,
dentro dos limites da legalidade, a ladrões, assaltantes e vigaristas de vários
tipos. A lei foi assinada por Kalinin, Presidente do Comitê Executivo
Central (ramo Legislativo), Molotov, Presidente do Soviete de Comissários
do Povo (ramo Executivo), e Yenukidze, secretário do CEC. Como ele não
era um dos principais membros do ramo Legislativo nem Executivo do
governo soviético, Stalin não assinou.

A expressão “inimigo do povo” – em russo, vrag naroda – aparece


cerca de uma dúzia de vezes nas obras de Stalin após o início de 1917. O
próprio Khrushchev também a usava com frequência12.

ZINOVIEV E KAMENEV

Khrushchev:
Em seu “testamento”, Lenin advertiu que “o
episódio de outubro envolvendo Zinoviev e
Kamenev não tinha sido um acidente”. Mas, Lenin
não colocava a questão de prendê-los e,
certamente, nem a de executá-los. []{#Lenin
advertiu label=“Lenin advertiu”}

Por implicação, Khrushchev acusou Stalin fuzilar Zinoviev e


Kamenev sem justificativa. Ele contorna toda a questão de eles terem
confessado crimes sérios durante os seus julgamentos em 1936. Isso, é
claro, é a questão principal.

Lenin ficou furioso com Zinoviev e Kamenev por sua atividade


“fura-greves” perto da hora da Revolução Bolchevique. Mas, é claro que
aprisionamento e execução não foram levados em consideração – na época
eles não eram acusados de envolvimento em assassinatos.

Nenhuma evidência jamais surgiu para insinuar que as confissões


de Zinoviev ou Kamenev pudessem ser qualquer coisa senão genuínas.
Desde 1991 surgiram evidências que corroboram suas confissões de culpa.
O governo russo até agora se recusou a liberar os materiais investigativos
de seus casos. No entanto, hoje temos provas adicionais de sua culpa.

Uma dessas evidências – pelo menos uma evidência de que o


próprio Stalin estava convencido de que eles eram culpados e igualmente
tão convencido de que conspiração da qual faziam parte realmente existiu –
é uma carta privada de Stalin para Kaganovich, publicada pela primeira vez
em 2001. Nesta carta fica claro que Stalin está lendo as confissões feitas
pelos réus durante o julgamento e tentando se informar e tirar conclusões a
partir delas.

A seção da confissão de Dmitriev, publicada pela primeira vez em


2004, faz parte de um relatório investigativo enviado a Stalin por Beria no
dia 23 de outubro de 1938. Beria estava no processo de erradicar homens do
NKVD que conspiraram para incriminar pessoas inocentes, forjar
investigações e ajudar os direitistas – Bukharin, Rykov e outros – a derrubar
o governo. O acusado aqui, D. M. Dmitriev, tinha sido chefe do NKVD no
oblast de Sverdlovsk. Ele refere-se diretamente ao interrogatório da esposa
de Kamenev [Glebova] – o mesmo que Stalin faz referência na carta a
Kaganovich – e assim fornece uma verificação impressionante da natureza
genuína da carta de Stalin para Kaganovich, de 23 de agosto de 1936,
impressa dentre os documentos do Apêndice. Isso é completamente
consistente com uma trama direitista.

Dos Documentos Volkogonov, agora temos alguns dos


interrogatórios pré-julgamento de Zinoviev, Kamenev e Bukharin, nos quais
todos se acusam mutuamente – ou seja, todas as confissões são mutuamente
reforçadas e consistentes com os testemunhos que deram em julgamento.

Também possuímos seus apelos por clemência à Suprema Corte,


que foram escritos após a sentença. Neles os réus novamente reafirmam sua
culpa. Até mesmo o relatório de reabilitação sobre eles – publicado em
1989 – embora fortemente editado, contém sugestões de culpa, pois
Zinoviev afirma duas vezes em seu apelo que “não é mais” um “inimigo”.

Condenar Zinoviev e Kamenev, entre outros, ao fuzilamento por


traição não seria algo arbitrário se eles fossem culpados, como sugerem
todas as evidências à nossa disposição no momento. Podemos assumir que
Khrushchev não tinha provas de suas inocências, senão ele certamente teria
as liberado. Portanto, temos todas as razões para concluir que Khrushchev
mentiu de forma hipócrita quando lamentou os destinos de Zinoviev e
Kamenev.

TROTSKISTAS

Khrushchev:
Ou, vamos tomar o exemplo dos trotskistas.
Atualmente, após um período histórico
suficientemente longo, podemos falar com total
calma sobre a luta contra os trotskistas, e podemos
analisar este assunto com objetividade suficiente.
Afinal, em torno de Trotsky havia pessoas cuja
origem não pode, de forma alguma, ser rastreada à
sociedade burguesa. Uma parte destes pertencia à
intelligentsia do Partido e uma certa parte foi
recrutada entre os trabalhadores. Podemos nomear
muitos indivíduos que, em seu tempo, se juntaram
aos trotskistas; no entanto, esses mesmos
indivíduos participaram ativamente do movimento
operário antes da Revolução, durante a própria
Revolução Socialista de Outubro, e na
consolidação da vitória desta maior das
revoluções. Muitos deles romperam com o
trotskismo e voltaram às posições leninistas. Era
necessário aniquilar essas pessoas?

No dia 3 de março, num discurso na Plenária de Fevereiro-Março


de 1937, Stalin se referiu aos trotskistas em termos muito hostis. Mas, não
defendia perseguir ex-trotskistas. Ao mesmo tempo em que enfatizava a
necessidade de uma vigilância renovada, Stalin também propôs a criação de
cursos ideológicos especiais para todos os principais militantes do Partido.
Ou seja, Stalin viu o problema do trotskismo como resultado de um baixo
nível de consciência política entre os bolcheviques.
Na mesma Plenária, durante seu discurso final realizado no dia 5
de março, Stalin argumentou fortemente contra a punição de todos que já
tinham sido trotskistas e pediu “uma abordagem individual e diferenciada”.
Isso é precisamente o que Khrushchev, no “Discurso Secreto”, alegou que
Stalin não fez. Então, Khrushchev defendeu exatamente o que Stalin
defendia na Plenária de Fevereiro-Março de 193713, enquanto negava que
Stalin o fizera. O paralelo entre os discursos de Khrushchev e Stalin é tão
próximo que Khrushchev pode de fato ter copiado esta passagem do próprio
discurso de Stalin!

Há um grande número de evidências documentais de que Trotsky


e seus apoiadores estavam envolvidos em conspirações antissoviéticas,
inclusive junto aos nazistas. A documentação completa deve aguardar um
estudo separado14, mas a reivindicação do General Pavel A. Sudoplatov,
junto a alguns documentos nazistas que demonstram a veracidade do que é
dito pelo general, são citados no Apêndice.

STALIN NEGLIGENCIOU O PARTIDO

Khrushchev:
Considerando que durante os primeiros anos após
a morte de Lenin os congressos partidários e
Plenárias do Comitê Central ocorreram mais ou
menos regularmente, mais tarde, quando Stalin
começou a abusar cada vez mais de seu poder,
esses princípios foram brutalmente violados. Isso
ficou especialmente evidente durante os últimos 15
anos de sua vida. Foi uma situação normal quando
mais de 13 anos, durante os quais nosso Partido e
nosso país passaram por tantos eventos
importantes, se passaram entre os 18º e 19º
Congressos do Partido?

Khrushchev insinua que Stalin falhou em chamar tal Congresso.


As poucas evidências publicadas até agora, dos antigos arquivos soviéticos,
sugerem que a liderança de Stalin queria convocar um Congresso em 1947
ou 1948, mas que esta sugestão foi rejeitada pelo Politburo por alguma
razão não divulgada. A proposta foi feita por Andrei Zhdanov, que era
muito próximo de Stalin. É altamente improvável que Zhdanov tenha feito
esta proposta sem a concordância de Stalin.

Além disso, como membro do Politburo, Khrushchev teria estado


lá para ouvi-la! Isso torna significativo o fato de Khrushchev não afirmar,
expressamente, que Stalin “recusou” ou “falhou” em convocar um
Congresso: muitos em sua audiência poderiam estar cientes do plano para
uma conferência prévia. Tampouco Khrushchev mencionou a guerra de
1941-45 ou a Guerra Russo-Finlandesa de 1939-40. Se apenas os anos de
paz forem contados, então um Congresso em 1947 ou 1948 teria ocorrido
em tempo – três anos de paz (1940-1, 1946, 1947) desde o 18º Congresso
do Partido realizado em 193915.

Então, mais uma vez Khrushchev não estava sendo honesto: um


Congresso foi planejado para 1947 ou 1948, mas nunca foi realizado.
Khrushchev deve ter sabido os detalhes dessa discussão muito interessante,
incluindo as razões pelas quais não chamaram o Congresso. Mas, ele nunca
aludiu a esse fato. Nem ele, nem qualquer um de seus sucessores jamais
liberam a transcrição desta ou das Plenárias do CC que a sucederam. Nada
foi divulgado até o momento.

Khrushchev também fez uma acusação semelhante e igualmente


falsa:
Deve ser suficiente mencionar que durante todos
os anos da Guerra Patriótica não ocorreu uma
única Plenária do Comitê Central. É verdade que
houve uma tentativa de convocar uma Plenária do
Comitê Central em outubro de 1941, quando os
membros de todo o país foram chamados para
Moscou. Eles esperaram por dois dias pela
abertura do pleno, mas em vão. Stalin não queria
se encontrar nem falar com os membros do Comitê
Central. Este fato mostra como Stalin estava
desmoralizado nos primeiros meses da guerra e
como ele tratava os membros do Comitê Central.

Até mesmo a nota de Boris Nikolaevsky sobre este discurso – feita


para a edição original do New Leader – reconheceu que essa passagem é
uma mentira, embora mostrar em sua sentença final que prefere acreditar
em Khrushchev em vez de fontes soviéticas da era Stalin.
Se alguém fosse confiar em fontes oficiais
soviéticas, esta declaração de Khrushchev não
seria verdadeira: de acordo com a coleção: O
Partido Comunista da União Soviética nas
Resoluções e Decisões de Congressos,
Conferências e Plenários do Comitê Central
(publicada em 1954 pelo Instituto Marx-Engels-
Lenin-Stalin do Comitê Central do Partido), um
Plenário do Comitê Central foi realizado durante a
guerra (27 de janeiro de 1944), quando foi
decidido dar às várias Repúblicas da União o
direito de ter seus próprios Ministérios de Relações
Exteriores e também foi decidido substituir a
Internacional pelo novo hino nacional soviético.
Mas, é provável que Khrushchev esteja certo, que
não houve nenhum Plenário do Comitê Central em
1944 e uma fraude foi perpetrada: O Plenário foi
anunciado como ocorrido embora nunca tivesse
tido.

Ilusão da parte de Nikolaevsky! Justamente porque se Khrushchev


mentiu aqui, onde mais ele poderia ter mentido? A edição russa de 1989 do
Discurso de Khrushchev reconhece que essas duas Plenárias foram
agendadas16 e que ao menos uma deles ocorreu, embora não apontar a
conclusão óbvia – que Khrushchev mentiu.

Em outubro de 1941, os principais membros do Partido estavam


no front, o momento mais crucial da guerra. Com os exércitos nazistas perto
de Moscou, eles não puderam ser chamados para uma reunião do CC. E não
só houve, de fato, uma Plenária do CC em 27 de janeiro de 1944 – foi
também a Plenária na qual o Hino Nacional Soviético foi alterado.
Praticamente todos na audiência de Khrushchev em 1956 tinham que saber
disso! Mesmo assim, Khrushchev disse que não houve17! Talvez isso seja
mais bem explicado como um das asneiras de Khrushchev. Foi certamente
uma das muitas falsidades em seu discurso que deve ter sido óbvia mesmo à
época.

1. Essas e outras citações são dadas no Apêndice na p. em


diante.↩
2. Esta alegação de Khrushchev é discutida no Capítulo
IX.↩

3. E.g. por Iuri Shapoval, “Proshchanie s vlast’iu”, Zerkalo


Nedeli Out. 23-29 de 2004. Em: Link
[web.archive.org/web/20041228075500/zerkalo-
nedeli.com/nn/print/48113/].↩

4. Roderick Macfarquhar, The Origins of the Cultural


Revolution. Vol 2. Nova Iorque: Columbia University
Press, 1983, p. 194.↩

5. Iuri Zhukov adiciona Robert I. Eikhe a este grupo de


repressores mais sanguinários. Ver “Podlinnaia istoriia
Iosifa Stalina?” Literaturnaia Gazeta Nº. 8 de fevereiro
de 2007. Voltaremos a esta questão mais tarde.↩

6. Voltaremos a esta questão no Capítulo final.↩

7. O “Relatório da Comissão Pospelov” ou simplesmente


“Relatório Pospelov” é datado de 9 de fevereiro de 1956.
Seu título oficial é “O Relatório da Comissão do CC do
PCUS ao Presidium do CC PCUS para estabelecer as
causas das repressões em massa contra membros e
candidatos do CC PCUS eleitos no 17º Congresso do
Partido”. O relatório foi assinado por A. B. Aristov
Shvernik e P. T. Komarov, além de Pospelov. Para o
texto russo, consulte Doklad Khrushcheva p. 185-230;
RKEB 1 p. 317-348 não contém os apêndices, nos quais
se incluí a carta de Eikhe.↩

8. Veja o Capítulo IV.↩

9. Para algumas dessas evidências veja o apêndice referente


à esta seção.↩

10. Ver Link


[web.archive.org/web/20120311013117/membres.multi
mania.fr/jpmarat/jpmif].↩

11. Taurida era um dos toponímicos usados para se referir à


Crimeia, a palavra russa Khersones provém do grego
médio chersonesus, grego antigo cherson e significa
península, optamos por manter o epíteto toponímico e
modernizar a referência geográfica. [N.T.]↩

12. Fazia apenas 11 dias desde a última vez que Khrushchev


usou essa expressão antes do “Discurso Secreto”, foi em
seu discurso regular para o 20º Congresso do Partido.
Veja UI. V. Emel’ianov, Khrushchev. Smut’ian contra
Kremle. Moscou: Veche, p. 32.↩

13. Há agora evidências consideráveis para apoiar as


alegações soviéticas da década de 1930, segundo as
quais Trotsky estava envolvido, junto a outros
oposicionistas dentro da URSS, em uma conspiração
para derrubar o Governo de Stalin e até mesmo em
contato com os militares alemães e japoneses. Há
também evidências de que grupos trotskistas
clandestinos, tanto fora como dentro do Partido, estavam
envolvidos em sabotagem e espionagem dentro da URSS
e na disseminação de falsas acusações de traição contra
outras pessoas.↩

14. Veja Grover Furr, “Evidence of Leon Trotsky’s


Collaboration with Germany and Japan”. Cultural Logic
(2009), disponível no Link
[clogic.eserver.org/2009/Furr.pdf].↩

15. Ver Ustav Vsesoiuznoi Kommunisticheskoi Partii


(bol’shevikov)... Moscou, 1945, p. 13.↩

16. Doklad Khrushcheva, p. 152 n. 23.↩

17. Outras decisões do Plenário do CC de janeiro de 1944


são descritas em um livro soviético de 1985 Velikaia
Otechestvennaia Voina. Voprosy i Otvety. Eds. P. N.
Bobylev et al. Moscou: Politizdat, 1985. Disponível no
Link [voyna0833].↩
A “ARBITRARIEDADE” DE STALIN EM
RELAÇÃO AO PARTIDO
REFERÊNCIA A “UMA COMISSÃO SOB O CONTROLE
DO PRESIDIUM DO COMITÊ CENTRAL”; A
FABRICAÇÃO DE MATERIAIS DURANTE AS
REPRESSÕES

Khrushchev:
A comissão se familiarizou com uma grande
quantidade de materiais presentes nos arquivos do
NKVD e com outros documentos e, assim,
estabeleceu muitos fatos relativos à fabricação de
casos contra comunistas, falsas acusações, abusos
gritantes da legalidade socialista, os quais
resultaram na morte de pessoas inocentes. Tornou-
se evidente que muitos militantes do Partido, da
economia e dos Sovietes, taxados como “inimigos”
em 1937-1938, na verdade, nunca foram inimigos,
espiões, sabotadores etc., mas sempre foram
comunistas honestos; eles eram apenas tão
estigmatizados e, muitas vezes, não mais capazes
de suportar torturas bárbaras, que se acusaram (por
ordem dos juízes investigativos – falsificadores)
por todos os tipos de crimes graves e improváveis.
[...]
Foi determinado que dos 139 membros e
candidatos do Comitê Central do Partido, eleitos
no 17º Congresso, 98 pessoas, ou seja, 70%, foram
presas e fuziladas (principalmente em 1937-1938).
(Indignação no salão)... O mesmo destino reuniu
não apenas os membros do Comitê Central, mas
também a maioria dos delegados ao 17º Congresso
do Partido. De 1.966 delegados com direito a voto
ou voz, 1.108 pessoas foram presas sob acusação
de crimes antirrevolucionários, ou seja,
decididamente mais do que a maioria.

Essa declaração é um dos meus três “Casos Especiais”1 pela


seguinte razão: Khrushchev implica que Stalin foi responsável por algo,
mas não diz precisamente o quê. Nem faz uma acusação explícita. Portanto,
estritamente falando, não há “revelação”, nem nada para expor.

No entanto, a declaração de Khrushchev foi certamente destinada


a aludir que Stalin simplesmente fez todos esses membros do Partido serem
assassinados. Essa implicação é completamente falsa e será refutada na
seção atual deste ensaio. Todavia, embora essa implicação tenha sido
claramente intencional e, como veremos, falsa, Stalin não é explicitamente
acusado de qualquer coisa.

Temos agora o relatório desta comissão, conhecida como


“Comissão Pospelov”2, nomeada em homenagem a Petr N. Pospelov,
diretor do Instituto de Marx-Engels-Lenin e secretário do Comitê Central.
Historiador, Pospelov dirigiu essa comissão e mais tarde escreveu o
primeiro rascunho do “Discurso Secreto” de Khrushchev. Durante a vida de
Stalin, as obras de Pospelov estavam entre os exemplos mais flagrantes do
“culto”. Ele se tornou um aliado próximo de Khrushchev. Pospelov é
considerado um historiador muito afetado pelos humores políticos. Dada a
sua posição, seria surpreendente se ele não fosse. Mesmo que não
soubéssemos nada sobre ele, no entanto, o relatório que leva seu nome iria
sugerir que este era o caso.

O relatório da Comissão Pospelov de fato conclui que muitas


figuras do Partido executadas eram inocentes. Mas, as provas citadas
nesse relatório não demonstram essa inocência. A Comissão
simplesmente os declarou inocentes. Toda a estrutura do relatório deixa
claro que seu propósito era anunciar Stalin como culpado de repressões
maciças e silenciar qualquer evidência que contradissesse essa conclusão
prévia.

Também temos os relatórios resumidos que foram preparados para


as “reabilitações” das principais figuras do Partido, reprimidas durante a
década de 1930. Alguns destes relatórios foram arquitetados antes do
Relatório Pospelov, mas a maioria deles, posteriormente. Editados e
publicados pelo fundo “Memorial” de Alexandr N. Yakovlev, eles incluem
o Relatório Pospelov dentro de si, mas muitos outros materiais também. O
“Memorial” é uma organização bastante anticomunista extremamente hostil
a Stalin. Pode-se supor que eles teriam incluído toda e qualquer evidência
que tendia a apontar Stalin como culpado pela repressão de pessoas
inocentes3.

Nesta seção, cobrimos os assuntos:

Há grande número de evidências sugerindo que um


número significativo de membros de alto escalão do
Partido, cuja repressão é citada por Khrushchev, parecem
terem sido culpados afinal! No mínimo, há evidências
suficientes sobre a responsabilidade deles e que os
resumos de seus casos, apresentados no Relatório
Pospelov, são absolutamente insuficientes para
estabelecer que são inocentes.

Yezhov foi responsável por fabricar casos contra muitos


cidadãos soviéticos. É possível que isso inclua alguns
dos membros do Partido que Khrushchev citou. Yezhov
confessou a responsabilidade nas fabricações e foi
julgado e executado em decorrência disso (veja a seção
17 sobre Yezhov).

Muitas, se não a maioria, das investigações que


estabeleceram a existência das fabricações de confissões
e a pratica de tortura contra os presos foram feitas
durante o mandato de Beria como chefe do NKVD,
depois de substituir Yezhov ao final de 1938.

Khrushchev começou a ocultar as razões específicas para


as prisões, informações investigativas e de júri e
execuções de membros do Comitê Central.

Khrushchev fez menção ao grande porcentagem do Comitê


Central eleito e dos delegados para o 17º Congresso do Partido em 1934
posteriormente vitimados pela repressão. Com a lista mais detalhada dos
delegados do CC, que foi publicada ulteriormente4, Khrushchev não dá
detalhes sobre quando e por que diferentes delegados foram presos,
julgados e, muitos deles, executados. Seu relato dá a impressão de que isso
foi feito, de uma forma indiscriminada por “Stalin”.
Mas, Khrushchev sabia melhor. Podemos ter certeza disso porque
temos os relatórios de “reabilitação”, incluindo o relatório da Comissão
Pospelov. Seus conteúdos deixam claro que havia várias razões diferentes
para essas prisões e execuções.

De acordo com a Comissão,

“A maioria” era inocente. Isso implica que alguns não


eram, embora a Comissão não tenha especificado quais
eram os culpados, exceto por Yezhov.

Alguns foram falsamente implicados por terceiros. Tanto


Eikhe quanto E. G. Evdokimov falam em acusar
falsamente outros, incluindo membros do CC, quando
foram espancados ou torturados de outra forma.

Alguns foram torturados para assinar confissões falsas e


acusações contra outros.

Além disso, a Comissão enfatiza que Stalin recebeu confissões e


interrogatórios de muitos dos acusados, os quais enviou aos outros do
Politburo. Sabemos que isso é verdade, visto que alguns desse materiais já
foram publicadas.

Tanto Khrushchev quanto a Comissão Pospelov tentam culpar


Beria pela repressão, tanto quanto Yezhov. Mas, próprios fatos – muitos
reunidos durante a investigação de Beria sobre crimes e excessos do NKVD
durante o período de Yezhov – e as próprias estatísticas da Comissão,
mostram a mentira dessa teoria. A verdade é que Beria pôs um fim à
“Yezhovshchina”.

O relatório da Comissão Pospelov levanta um pouco a cortina


sobre o que realmente estava acontecendo, ao passo que o “Discurso
Secreto” de Khrushchev mantém tudo resolutamente encoberto. Mas, nem
durante a existência da URSS nem desde 1991, os materiais relevantes
foram disponibilizados aos pesquisadores. Então a verdade sobre o que
aconteceu continua escondida. É razoável supor que é dessa forma porque
um estudo relativo aos acontecimentos da época tenderia a exculpar tanto
Stalin quanto Beria, os quais Khrushchev e companhia se esforçaram muito
para culpar por tudo.

Na verdade, o próprio Khrushchev era um dos mais culpados das


repressões em massa. Discutimos isso brevemente no Capítulo anterior e
citamos evidências documentais no Apêndice.

Neste Capítulo e no seguinte, examinaremos os casos de cada uma


das figuras do Partido reprimidas mencionadas por Khrushchev. Em
nenhum desses casos, os materiais de “reabilitação”, incluindo o relatório
da Comissão Pospelov, citam evidências suficientes para estabelecer
inocência de qualquer um dos nomes. De fato, em vários casos, o próprio
relatório admite a existência de provas contraditórias.

Desde o fim da URSS e abertura parcial dos antigos arquivos


soviéticos a alguns pesquisadores, vieram à tona algumas evidências
relacionadas às acusações contra os altos funcionários do Partido
mencionados por Khrushchev e discutidos no relatório da Comissão
Pospelov. O governo russo se recusou a tornar público todo o material
investigativo sobre qualquer uma dessas figuras. Portanto, não podemos ter
certeza de que estes homens eram culpados. Mas, as evidências disponíveis
para nós hoje demonstram a inadequação total da conclusão alcançada pela
Comissão Pospelov, na qual é determinada a inocência desses homens. A
vasta preponderância das evidências disponíveis hoje aponta para a
culpabilidade.

A “DIRETIVA” DE PRIMEIRO DE DEZEMBRO DE 1934,


ASSINADA POR YENUKIDZE

Khrushchev:
Na noite de primeiro de dezembro de 1934, por
iniciativa de Stalin (sem a aprovação do Politburo
– que foi dada dois dias depois, casualmente)...

Esta é uma declaração falsa. Khrushchev estava reclamando à


liderança do Partido que esta lei havia sido assinada pelo corpo
governamental – o Presidium do TsIK – e não pelo Politburo do Partido.
Mas, a Constituição Soviética não dizia nada sobre o Politburo do
Partido, e não havia razão para o Politburo ratificar essa decisão. A diretiva
fora assinada por Kalinin e Yenukidze, Presidente e Secretário do Comitê
Executivo Central, respectivamente. Khrushchev não fornece evidência de
que fora aprovada “por iniciativa de Stalin”. Stalin escreveu uma nota no
rascunho dizendo que ela deveria ir “para promulgação”. Isso significa que
submeteram-na a ele para perguntar se concordava com sua publicação.
Uma vez que foi submetido a Stalin, este rascunho, pelo menos, não pode
ter vindo dele em primeiro lugar5.

A questão deste decreto é distorcida na edição oficial russa de


1989 do Discurso de Khrushchev, na qual afirma-se que o decreto não foi
submetido à confirmação por uma sessão do Comitê Executivo Central da
URSS. Nenhuma evidência é dada em apoio a esta declaração. Mas, mesmo
que fosse assim, o que isso tem a ver com Stalin? Ele não era presidente do
CEC. De qualquer maneira, isso é irrelevante para o nosso propósito, posto
que Khrushchev não estava se referindo à ratificação pelo CEC. Ele estava
reclamando que o Politburo – um órgão do Partido – não tinha aprovado de
antemão. Mas, não havia essa necessidade.

O fato de Khrushchev ter reclamado que Stalin não pediu


aprovação do Politburo neste decreto apoia a teoria apresentada por alguns
pesquisadores, segundo a qual um dos motivos para Khrushchev ter atacado
Stalin foi a tentativa de retirar o Partido da governança da sociedade e da
administração econômica. Essa teoria tem sido sustentada de várias
maneiras por pesquisadores como Iuri Zhukov, Arch Getty e Iuri Mukhin,
bem como pelo autor deste presente trabalho6.

KHRUSHCHEV IMPLICA O ENVOLVIMENTO DE STALIN


NO ASSASSINATO DE KIROV

Khrushchev:
Deve-se afirmar que até hoje as circunstâncias em
torno do assassinato de Kirov escondem muitas
coisas que são inexplicáveis e misteriosas e
exigem um exame mais cuidadoso. Há razões para
suspeitar que o assassino de Kirov, Nikolaev, foi
assistido por alguém dentre as pessoas cujo dever
era justamente proteger Kirov. Um mês e meio
antes do assassinato, Nikolaev foi preso por conta
de comportamento suspeito, mas ele foi solto e
nem sequer revistado. É uma circunstância
extraordinariamente suspeita a morte do chequista
designado para proteger Kirov, enquanto estava
sendo trazido para um interrogatório, no dia 2 de
dezembro de 1934, ele morreu em um “acidente”
de carro, no qual nenhum outro ocupante do
veículo se feriu. Após o assassinato de Kirov, os
principais funcionários do NKVD de Leningrado
receberam sentenças muito leves, mas em 1937
foram fuzilados. Podemos assumir que foram
fuzilados para cobrir os rastros dos organizadores
da morte de Kirov.

Nesta passagem Khrushchev insinuou, embora sem dizer de forma


aberta, que Stalin estava envolvido no assassinato de Kirov. Como Arch
Getty apontou, várias comissões soviéticas e pós-soviéticas tentaram
encontrar evidências do envolvimento de Stalin no assassinato de Kirov, e
todas falharam. Em uma discussão mais longa no The Road To Terror (p.
141-7), Getty conclui que, no momento, não há evidências que revelem
qualquer conexão de Stalin à morte de Kirov. Sudoplatov também concluiu
que não havia razão para suspeitar de Stalin neste assassinato.

Getty, juntamente com a maioria dos pesquisadores russos,


acredita que Stalin “armou uma cilada” – forjou um caso falso contra – os
oposicionistas que foram julgados, condenados e executados pelo
envolvimento no assassinato de Kirov. Mas, há boas evidências de que eles
não eram absolutamente inocentes. Por exemplo, embora apenas uma
pequena quantidade do material investigativo do caso de Kirov esteja de
fato aberta aos pesquisadores, e muito menos que isso está publicado, temos
uma transcrição parcial de um interrogatório de Nikolaev, o assassino, no
qual ele incrimina um grupo zinovievista clandestino do qual Kotolynov
fazia parte, temos também um interrogatório parcial de Kotolynov do dia
anterior ao que ele admite “responsabilidade política e moral” no
assassinato de Kirov levado a cabo por Nikolaev7.

O TELEGRAMA DE STALIN E ZHDANOV PARA O


POLITBURO, 25 DE SETEMBRO DE 1936
Khrushchev:
As repressões em massa cresceram tremendamente
a partir do final de 1936 após um telegrama de
Stalin e [Andrei] Zhdanov, de Sochi datado em 25
de setembro de 1936, ter sido enviado a
Kaganovich, Molotov e outros membros do
Politburo. O conteúdo do telegrama foi o seguinte:

Consideramos absolutamente
necessário e urgente que o camarada
Yezhov seja nomeado para o cargo de
Comissário do Povo para Assuntos
Internos. Iagoda provou ser incapaz de
desmascarar o bloco Trotskista-
Zinovievista. A OGPU está quatro
anos atrasada neste assunto. Isso é
percebido por todos os militantes do
partido e pela maioria dos
representantes do NKVD.

Esta formulação stalinista, de que o “NKVD está


quatro anos atrasado” na aplicação da repressão
em massa e que há necessidade de “recuperar” o
trabalho negligenciado diretamente, empurrou os
agentes do NKVD para o caminho das prisões em
massa e execuções.

A frase de Stalin não se refere à repressão, muito menos à


repressão em massa, mas à insatisfação com a investigação do recém-
descoberto bloco Trotskista-Zinovievista. Getty8 mostra que a expressão
“quatro anos atrás” deve ser relativo aos quatro anos, não da Plataforma
Riutin, mas da descoberta do bloco Trotskista-Direitista formado em 1932.
Ou seja, manifestava suspeitas sobre Iagoda. Thurston, Jansen e Petrov
concordam9.

Na verdade, Khrushchev sabia disso também, mas escondeu este


fato no “Discurso Secreto”. O rascunho do discurso de Khrushchev feito
por Pospelov-Aristov afirmava diretamente que os “quatro anos” era o
período desde a formação do bloco em 1932. (Doklad Khrushcheva,
p. 125). Pospelov e Aristov introduziram as palavras naverstat’
upushchennoe (recuperar o trabalho negligenciado). Mas, isso foi uma
invenção deles. Stalin não tinha usado essas palavras.
Khrushchev pegou essa expressão, mas omitiu os “quatro anos”
eram desde a formação do bloco. O Relatório Pospelov também omitiu a
referência ao “bloco”, interpretando os “quatro anos” como sendo a
necessidade de repressão (Doklad Khrushcheva, p. 220). Parte importante
da premissa básica usada por Khrushchev e Pospelov é não existência de
qualquer bloco.

Está claro que o “trabalho negligenciado”, que Stalin e Zhdanov


sinalizavam no telegrama, era a investigação do bloco trotskista-direitista e
seu envolvimento com representantes de governos estrangeiros na
planificação de um “golpe palaciano” e no “terror” (terror = assassinatos,
matança). Tanto Getty quanto o proeminente estudioso trotskista, Pierre
Broué, afirmam que tal bloco realmente existiu. Seus estudos com base nos
próprios arquivos de Trotsky da Universidade de Harvard, abertos em 1980,
provam isso para além de qualquer dúvida10.

O RELATÓRIO DE STALIN NA PLENÁRIA DO CC DE


FEVEREIRO-MARÇO DE 1937

Khrushchev:
O discurso de Stalin na Plenária do Comitê Central
de Fevereiro-Março de 1937, “Deficiências do
trabalho partidário e métodos para a liquidação dos
trotskistas e de outros ‘duas faces’”, possuía uma
tentativa de justificar teórica e politicamente o
terror em massa sob o pretexto de que a luta de
classes supostamente dever-se-ia aguçar à medida
que avançávamos em direção ao socialismo. Stalin
afirmou que tanto a história quanto Lenin lhe
ensinaram isso.

O discurso de Stalin nesta Plenária não continha tal justificativa


teórica. Khrushchev distorceu seriamente as palavras de Stalin. Stalin nunca
disse que “enquanto marchamos em direção ao socialismo a guerra de
classes deve aguçar”. O que ele disse foi:
... quanto mais adiante avançarmos, o quão
maiores os sucessos que alcançarmos, maior será a
fúria dos remanescentes das classes exploradoras
já quebradas, o quão mais cedo recorrerem a
formas mais nítidas de luta, mais eles procurarão
prejudicar o Estado Soviético e mais se agarrarão
aos meios mais desesperados de luta, como o
último recurso das pessoas condenadas. Deve-se
ter em mente que os remanescentes das classes
quebradas da URSS não estão sozinhos. Eles têm o
apoio direto de nossos inimigos além dos limites
da URSS11.

Stalin passou a pedir abordagem individual e educação política,


não repressões ou “terror”. Mas, sobre o “apoio direto de inimigos além dos
limites da URSS”, Stalin estava correto. Já havia sido recolhida uma grande
quantidade de evidências indicando que agentes estrangeiros estavam
recrutando cidadãos soviéticos para sabotagem e espionagem, e muito mais
seria descoberto nos meses posteriores a essa Plenária.

E, de fato, Lenin havia dito algo muito semelhante sobre esse


acirramento da luta de classes em uma passagem citada por Stalin em um
discurso de abril de 1929. Mesmo neste discurso, a solução pedida por
Stalin foi vigilância, juntamente com realização de cursos de educação
política que deveriam ser organizados para todos os líderes do Partido que
estavam acima de um determinado cargo. Este apelo à educação política,
não à repressão em massa, marca o ponto culminante de seu discurso.

Em 5 de março de 1937, Stalin fez outro discurso, concluindo a


Plenária do Comitê Central de Fevereiro-Março. Esse discurso de
encerramento nunca poderia ser chamado de “justificativa teórica da
política para o terror em massa”. Stalin argumentou explicitamente que
“devia haver uma aproximação individual, diferenciada”. Mais adiante no
relatório, Stalin reitera o mesmo ponto mais uma vez, explicitamente
argumentando contra uma abordagem em massa. Stalin justifica que há, no
máximo, apenas alguns milhares de membros do Partido que se poderia
dizer que simpatizavam com os trotskistas, ou “cerca de 12.000 membros
do Partido que simpatizaram com o trotskismo até um certo ponto ou outro.
Aqui, cavalheiros, vocês veem as forças totais do trotskismo”12.

Em vez de pedir uma “política de terror em massa”, Stalin teceu


um forte argumento contrário a ela. Iuri Zhukov (Inoi Stalin, p. 360 ff.)
concorda que o discurso de Stalin foi muito leve. Uma resolução foi
preparada a partir de seu relatório. Foi aprovada por unanimidade, mas
nunca foi publicada. Zhukov a cita isso a partir de uma cópia de arquivo
(p. 362-3).

Longe de pedir “repressão em massa”, como Khrushchev


falsamente alegou, Stalin pediu por mais formação política interna do
Partido, especialmente para líderes partidários como aqueles da Plenária do
Comitê Central. Ele pediu a cada um desses líderes para escolher dois
substitutos para si próprios de modo que pudessem frequentar aos cursos do
Partido, cuja duração seria de quatro meses, enquanto mais líderes locais do
Partido iriam para cursos com duração de seis Meses.

Muitos, ou a maioria, dos Delegados da Plenária eram primeiros


secretários e secretários locais do Partido. Eles podem ter interpretado esse
plano como uma ameaça. Na verdade, eles deviam escolher seus próprios
substitutos em potencial. Parecia que estava sendo preparada uma espécie
de “competição” para esses altos cargos partidários. Se os secretários do
Partido fossem a esses cursos, quem poderia dizer que voltariam aos
mesmos cargos?

Na realidade, foram os Primeiros Secretários do Partido e outros


em todo o país – incluindo, como vimos, o próprio Khrushchev – que
recorreram à “repressão em massa”. Esses cursos nunca foram criados. Em
vez disso, no pleno seguinte, em junho de 1937, os secretários foram a
Stalin com histórias assustadoras a respeito de ameaças feitas por
reacionários e da volta dos kulaks. Eles exigiram poderes extraordinários
para fuzilar e aprisionar dezenas de milhares dessas pessoas. Isso será
discutido com mais detalhes abaixo.

Mais cedo na Plenária, no dia 27 de fevereiro, Stalin deu o


relatório da comissão de investigação de Bukharin e Rykov. Isso marcou
um total de três relatórios feitos por Stalin – o máximo que ele fez em
qualquer Pleno. Nesse relatório, ele recomendou uma resolução muito
branda. Getty e Naumov (p. 411-416) estudaram a votação da comissão e
apontam que as recomendações de Stalin foram as mais brandas de todas –
exílio interno. Yezhov, o relator original, juntamente com Budienniy,
Manuilskii, Shvernik, Kosarev e Iakir votaram para “entregá-los a
julgamento com recomendação para fuzilá-los”.
Veja a discussão detalhada de Vladimir Bobrov e Igor Pykhalov13
em um artigo que examina um boato, espalhado nas memórias da viúva de
Bukharin, Larina, segundo esse boato Stalin tinha sido a favor da execução
e Iakir se opusera – exatamente o contrário do que realmente aconteceu,
mais um pouco do “folclore” antistalinista que se elevou ao status de “fato”
histórico até os documentos serem publicados nos tempos pós-soviéticos.

Stalin esboçou a visão de que a luta de classes tinha que aguçar à


medida que a União Soviética se desenvolvia em direção ao socialismo.
Mas, isso não foi em 1937, e sim no Plenário Conjunto do Comitê Central e
da Comissão Central de Controle de Abril de 1928:
Qual é a questão aqui? Não é de forma alguma a
questão de que quanto mais à frente dirigimos,
mais forte se desenvolve a tarefa da construção
socialista, então mais forte crescerá a oposição dos
capitalistas. Esse não é o ponto. A questão é por
quê a oposição dos capitalistas fica mais forte?
(Ênfase adicionada pelo autor)14.

De acordo com Bordiugov e Kozlov esta tese havia sido ainda


mais desenvolvida por Valerian Kuibyshev durante o Plenário de Setembro
de 1928. Eles acrescentam que Bukharin se opôs essa tese no Plenário de
abril de 1929, mas de uma forma ambígua: Bukharin havia concordado que
a luta de classes aguçava em certos momentos – e concordou que 1929 era
uma dessas vezes – mas disse que esse não era um princípio geral.

“MUITOS DEPUTADOS QUESTIONARAM A REPRESSÃO


EM MASSA”, EM ESPECIAL PAVEL POSTYSHEV

Khrushchev:
Na Plenária do Comitê Central de Fevereiro-Março
de 1937, muitos membros questionaram a retidão
do rumo estabelecido para as repressões em massa
sob o pretexto de combater os “duas faces”.

Camarada Postyshev expressou mais habilmente essas dúvidas.


Ele disse:
Filosofei que os severos anos de luta
passaram. Membros do partido que
perderam suas forças ou se esgotaram
ou se juntaram ao campo do inimigo;
elementos saudáveis têm lutado pelo
partido. Aqueles foram os anos de
industrialização e coletivização. Eu
nunca pensei que fosse possível que,
após a passagem desse período severo,
Karpov e pessoas como ele se
encontrariam no campo do inimigo.
(Karpov era um militante do Comitê
Central ucraniano e que Postyshev
conhecia bem.) E agora, de acordo
com o testemunho, parece que ele foi
recrutado pelos trotskistas em 1934.
Eu pessoalmente não acredito que em
1934 um membro honesto do Partido,
que havia trilhado o longo caminho da
luta implacável contra os inimigos
partidários e pelo socialismo, estaria
agora no campo dos inimigos. Eu não
acredito nisso... Não posso imaginar
como seria possível viajar com o
Partido durante os anos difíceis e
depois, em 1934, juntar-se aos
trotskistas. É uma coisa estranha15...

Em meados da década de 1990, foi finalmente publicada a


transcrição do Plenário do Comitê Central de Fevereiro-Março de 1937.
Agora podemos ver que, enquanto essa citação de Postyshev é genuína, o
comentário de Khrushchev é deliberadamente falso.

Khrushchev obviamente sabia que estava mentindo sobre isso. Ele


disse que “muitos membros... questionaram a retidão”... Na verdade,
nenhum membro o fez. Nem Postyshev fez isso! Após a seção citada por
Khrushchev, Postyshev passou a condenar Karpov, e qualquer um que
tivesse unido forças com o inimigo.

Postyshev foi, na verdade, o mais severo de todos em expurgar um


grande número de pessoas e foi removido da posição de membro candidato
do Politburo por este motivo durante o Pleno do CC de janeiro de 1938.
Getty demonstra longamente a forma com que Postyshev, por conta de
repressão excessiva, assou sobre as brasas neste Pleno e diz que “o
supervigilante Postyshev foi sacrificado pelo fim das expulsões em massa
Partido”16 (Getty & Naumov 517; cf 533ff.).

A análise de Iuri Zhukov concorda que, na Plenária de Janeiro de


1938, a liderança de Stalin tentou mais uma vez frear as repressões ilegais
realizadas pelos Primeiros Secretários. O documento confirmando a
expulsão e prisão de Postyshev pela repressão em massa de pessoas
inocentes é citado longamente, em sua tradução, por Getty e Naumov.

Khrushchev estava presente no Pleno do CC de janeiro de 1938 e


certamente sabia tudo sobre o destino de Postyshev e o porquê de ele ser
removido. Como participante do Plenário, Khrushchev também tinha que
saber que “muitos membros” não “questionaram a retidão” das repressões.
O próprio Khrushchev fez um discurso duro e repressor no Pleno do CC de
fevereiro março de 1937, no qual deu apoio sincero à repressão.

Além disso, foi Khrushchev quem substituiu Postyshev como


membro candidato do Politburo17. De acordo com Getty e Naumov, o
próprio Khrushchev foi um dos que estavam “falando incisivamente contra
Postyshev”18.

Portanto, Khrushchev estava mentindo. Longe de “questionar” as


repressões em massa, Postyshev foi um dos que mais flagrantemente se
envolveu nelas, a ponto de ser o primeiro a ser afastado da filiação de
candidatos do Politburo e logo depois foi expulso do Partido e preso. A
transcrição parcial deste Pleno, agora disponível, confirma esses
acontecimentos. As repressões irregulares e arbitrárias feitas por Postyshev
são documentadas em uma carta de Andreev a Stalin em 31 de janeiro de
1938.

Postyshev logo foi preso e mais tarde confessou envolvimento em


algum tipo de conspiração para participar de uma conspiração direitista,
nomeando uma série de outros conspiradores, incluindo outros Primeiros
Secretários e membros do CC. De acordo com Vladimir Karpov, Postyshev
confirmou sua confissão a Molotov.
Dada a documentação citada acima – uma pequena fração de tudo
que está disponível, mas que ainda não foi liberada – há todos os motivos
para acreditar que a prisão, julgamento e execução de Postyshev foram
justificados. Sua execução veio mais de um ano após ser aprisionado.
Sabemos que existe um longo arquivo investigativo sobre ele e uma
transcrição do julgamento, mas praticamente nada disso foi liberado pelo
governo russo.

1. Ver Capítulo XX, “Uma Tipologia da Prevaricação de


Khrushchev”, para discussão desta e de outras categorias
da prevaricação de Khrushchev.↩

2. cr. Reabilitatsiia. Kak Eto Bylo. Dokumenty Prezidiuma


TsK KPSS i drugie materialy. V 3-kh tomakh. Tom I.
Mart 1953 – Fevral’ 1956. Moscou: Mezhdunarodnyi
Fond Demokratiia, 2000, pp. 317-348. Também
disponível no Link
[alexanderyakovlev.org/almanah/inside/almanah-
doc/55752].↩

3. Op. Cit. Também estudamos os dois volumes adicionais


de materiais de “reabilitação”, mas como eles publicam
materiais mais tardios do que o 20º Congresso do
Partido, eles não têm influência direta sobre o “Discurso
Secreto” de Khrushchev.↩

4. Em Izvestia TsK KPSS No. 12 de 1989, pp. 82-113.↩

5. A fotocópia de Volkogonov mostra que Stalin e Molotov


concordaram com a publicação da decisão, e depois a
encaminharam para Yenukidze, cuja assinatura aparece
pela segunda vez, datada de 2 de dezembro de 1934, para
mostrar que tinha sido enviada aos jornais. Veja no Link
[12_01_34_law.pdf].↩

6. Para todas essas referências ver Grover Furr, “Stalin and


the Struggle for Democratic Reform” (duas partes) in
Cultural Logic (2005). Disponível online nos Links
[clogic.eserver.org/2005/furr] e
[clogic.eserver.org/2005/furr2].↩

7. Lubianka, Stalin I VChK-GPU-OGPU-NIKVD. IAnvar’


1922 – dekabr’ 1936. Moscou: IDF, 2003, Nos. 481 e
482, pp. 575-577. Vladimir Bobrov e eu estamos
preparando um estudo detalhado do assassinato de
Kirov.↩

8. Getty, Origens, Capítulo 5; Getty, “Os Grandes Expurgos


Reconsiderados”. Dissertação de Doutorado não
publicada. Boston College, 1979, p. 326.↩

9. Robert Thurston, Life and Terror in Stalin’s Russia,


1934-1941. (Yale University Press; 1998), p. 35; Marc
Jansen, Nikita Petrov. Stalin’s Loyal Executioner:
People’s Commissar Nikolai Yezhov, 1895-1940.
(Hoover Institution Press, 2002), p. 54.↩

10. J. Arch Getty, “Trotsky in Exile: The Founding of the


Fourth International”. Soviet Studies 38 Nº 1 (janeiro de
1986), 28 e n. 19 p. 34; Pierre Broué, “Trotsky et le bloc
des oppositions de 1932. Cahiers Leon Trotsky 5 (1980),
p. 5-37.↩

11. J. V. Stalin, Mastering Bolshevism (Nova Iorque:


Biblioteca dos Trabalhadores, 1937), p. 30. Em: Link
[MB37].↩

12. Ibid,60.↩

13. “Iakir I Bukharin: Spletni I Dokumenty”. Disponível


online no Link
[web.archive.org/web/20160323035911/delostalina.ru/?
p=333]. Está reimpressa em Igor Pykhalov, Velikii
Obolgannyi Vozhd’ (Moscou: Yauza, 2010), Capítulo 6,
p. 355-366.↩
14. Transcrição não corrigida do discurso de Stalin no
Plenário Conjunto do CC e no CCC da VKP(b) 22 de
abril de 1929, em Kak lomali NEP. Stenogrammy
Plenumov TsK VKP(b) 1928-1929 gg. V 5 tomakh. Tom
4. (Moscou: MDF, 2000), p.655.↩

15. Em Lubianka. Stalin i Glavnoe upravlenie


gosbezopasnosti NKVD 1937-1938. Moscou: MDF, 2004
(doravante Lubianka 2) No. 17, pp. 69 ff., veja um
relatório – feito em 2 de fevereiro de 1937 por Yezhov e
dirigido a Stalin – de um interrogatório de Asranf’ian
sobre uma organização “direitista-esquerdista”
estabelecida na Ucrânia e que colaborava com os
subterrâneos trotskistas e nacionalistas dessa mesma
república. Na transcrição da confissão de Asranf’ian, do
dia 14 de janeiro de 1937, Stalin circulou o nome de
Karpov e escreveu “Quem é esse?” na margem, p. 71-
2.↩

16. Getty, J. Arch; Oleg V. Naumov The Road to Terror.


Stalin and the Self-Destruction of the Bolsheviks, 1932-
1939. New Haven: Yale University Press, 1999
(doravante Getty & Naumov), 517; cf. 533 ff. O
documento que confirma a expulsão e prisão de
Postyshev é reproduzido na p. 514-516.↩

17. Stalinskoe Politbiuro v30-e gody. Sbornik dokumentov


(Moscou: AIRO-XX, 1995), p.167.↩

18. Getty & Naumov, p. 512.↩


OS “CASOS” CONTRA MEMBROS DO
PARTIDO E PERGUNTAS RELACIONADAS
EIKHE

Khrushchev:
O Comitê Central considera absolutamente
necessário informar ao Congresso de muitos desses
“casos” fabricados contra os membros do Comitê
Central do Partido eleitos no 17º Partido
Congresso. Um exemplo de provocação vil, de
falsificação odiosa e de violação criminosa da
legalidade revolucionária é o caso do ex-candidato
ao Politburo do Comitê Central, um dos mais
proeminentes militantes do Partido e do governo
soviético, camarada Eikhe, membro do Partido
desde 1905.

Khrushchev continua citando vários documentos relativos ao caso


de Eikhe, incluindo parte do texto da carta de Eikhe a Stalin de 27 de
outubro de 1939. Essa carta – na verdade uma declaração de denúncia de
maus tratos – existe. Não há razão para duvidar da alegação de Eikhe, de ter
sido espancado pelos interrogadores a fim de confessar coisas que nunca
fez. No entanto, também não há razão para acreditar que Eikhe estava
dizendo a verdade, ou toda a verdade1.

O Relatório Pospelov cita um pouco mais do texto da carta de


Eikhe, mas não contém nenhuma evidência no que diz respeito a culpa ou
inocência dele. Conclui-se com a única frase: “No momento, foi
inquestionavelmente estabelecido que o caso de Eikhe foi falsificado”2.

A RESPEITO DA “TORTURA”

Devemos ter em mente algumas coisas que são, ou deveriam ser,


óbvias. O fato de alguém ter sido espancado ou torturado não significa que
essa pessoa era “inocente”. O fato de uma pessoa ter dado falsas confissões
sob tortura não significa que essa pessoa não era culpada de outros delitos.
O fato de uma pessoa alegar ter sido espancada, torturada, intimidada etc.,
com intuito de dar uma confissão falsa não significa que essa esteja dizendo
a verdade – que tenha sido, de fato, torturada ou que as confissões dadas
eram falsas. Claro, isso também não significa que essa pessoa está
mentindo.

Em suma, não há substituto para provas. A carta de Eikhe não é


evidência suficiente para estabelecer qualquer coisa, incluindo o fato dele
ter sido torturado ou não.

Em uma das poucas citações que temos do julgamento de Yezhov


de 1940, ele também afirma ter sido espancado para dar confissões falsas.
No entanto, não pode haver dúvida de que Yezhov era culpado de falsificar
confissões, praticar espancamentos e torturas, fabricar casos contra muitas
pessoas inocentes e de executá-las.

No entanto, isso é apenas uma parte da história de Eikhe. Não


sabemos tudo porque nem Khrushchev e nenhum de seus sucessores como
chefes do PCUS, nem Gorbachev, Yeltsin ou Putin, jamais acharam
adequado publicar os documentos do caso de Eikhe ou mesmo
disponibilizá-lo aos pesquisadores.

Há boas evidências sugerindo que foi precisamente Eikhe quem


liderou o caminho para os Primeiros Secretários exigirem poderes
extraordinários para atirar em milhares de pessoas e enviar milhares mais
para o que se tornou o GULAG; que foi, de fato, Eikhe quem iniciou a
repressão em massa que Khrushchev está alegando denunciar3. Iuri Zhukov
destaca os detalhes que sabemos. (KP 16 de novembro de 2002). Ele
acredita que Yezhov estava trabalhando junto aos Primeiros Secretários nas
repressões e que teria prendido e executado Stalin se este tivesse recusado
suas exigências (16 de novembro de 2002; novembro 20 de 2002).

No início de 2006, foi publicado um volume contendo as


transcrições de apenas um, e longo, interrogatório de Yezhov e Frinovskii, o
segundo em comando do NKVD4. Ambos confessaram fazer parte da
conspiração dos Direitistas na qual se incluíam Bukharin, Rykov, e o
antecessor de Yezhov como chefe do NKVD, Iagoda. Frinovskii nomeia
Evdokimov e Yezhov, e também Iagoda, como sendo os principais
conspiradores direitistas. Ele menciona especificamente Eikhe, uma vez
como visitante à casa Evdokimov e uma segunda vez junto a Yezhov e
Evdokimov5. Evdokimov era muito próximo de Yezhov e foi julgado,
condenado e executado junto dele em fevereiro de 1940. É claro que
Frinovskii suspeitava que Eikhe estava envolvido no mesmo grupo
conspiratório direitista do qual ele, Yezhov, Evdokimov e outros faziam
parte, caso contrário não teria mencionado-o neste caso. Todavia, Frinovskii
não dá detalhes sobre Eikhe.

A hipótese de Zhukov explicou melhor os fatos conhecidos antes


mesmo da publicação da declaração de Frinovskii do dia 11 de abril de
1939. Nessa declaração, Frinovskii confirma a existência de uma
conspiração direitista muito ampla por toda a União Soviética. Evdokimov,
que esboçou esta conspiração para Frinovskii em 1934, disse-lhe que já em
1934 os Direitistas haviam recrutado, em toda URSS, muitos oficiais
soviéticos importantes6. Foi precisamente os julgamentos e execuções de
tais pessoas que Khrushchev alegou ter sido fabricação de Stalin. A
declaração de Frinovskii deixa claro que não foi uma invenção.

Evdokimov enfatizou que agora era necessário recrutar membros


para a conspiração entre os níveis mais baixos do Partido, do Estado e do
campesinato – por exemplo, nos kolkhozes – com intuito de assumir o
comando da onda de revoltas que já estavam em curso, e que os Direitistas
esperavam organizar em um movimento golpista7.

De acordo com documentos disponíveis para Jansen e Petrov,


muitos dos quais foram reclassificados pelo governo russo, Eikhe interferiu
em assuntos do NKVD, insistindo na prisão de pessoas contra as quais não
havia provas8. Yezhov disse a seus subordinados que não se opusessem a
Eikhe, mas sim que cooperassem com ele. Isso é consistente com a
declaração de Frinovskii a respeito da forma como Yezhov, e ele próprio,
operavam – espancando e enquadrando sem provas pessoas inocentes, com
objetivo simular uma luta contra as conspirações ao passo que escondiam a
sua própria.

Zhukov acredita que o objetivo de Eikhe, juntamente com outros


Primeiros Secretários, era evitar a todo custo a realização das eleições
disputadas, que estavam marcadas para acontecerem em dezembro de 1937,
com a alegação de que as conspirações oposicionistas eram muito
perigosas9. Se eles realmente acreditavam nisso ou não, durante o Pleno do
CC de outubro de 1937 eles foram bem-sucedidos em persuadir Stalin e
Molotov a cancelar as eleições disputadas.

Stalin também estava submetido a outras pressões. Um de seus


colaboradores mais próximos na Constituição e nas questões eleitorais, Ia.
A. Yakovlev, tinha sido preso subitamente em 12 de outubro de 1937. Em
um interrogatório de confissão, publicado pela primeira vez apenas em
2004, Yakovlev disse que estava trabalhando para a clandestinidade
Trotskista desde a época da morte de Lenin e também que estava
cooperando com Trotsky através de um espião alemão10. Dada essa
avalanche de evidências da existência de conspirações reais e extremamente
perigosas, que envolviam pessoas altamente posicionadas no governo
soviético, Partido e Exército, Stalin e o Politburo não estavam em posição
de ignorar as exigências firmes de uma guerra total contra o perigo por
parte de um número significativo de Primeiros Secretários.

É interessante Eikhe ter sido julgado e executado aparentemente


ao mesmo tempo que os colaboradores de Yezhov e o próprio Yezhov. Pode
ser que as acusações reais feitas contra Eikhe durante o julgamento não
eram as de espionagem, mas de conspirar com Yezhov para acusar, talvez
torturar e executar as pessoas sem terem evidência11. Ao que parece,
Yezhov foi executado por conta disso isso e por participação na conspiração
direitista. Pode ser que também tenha sido assim com Eikhe.

O texto da carta de Eikhe a Stalin do dia 27 de outubro de 1939 foi


anexado ao relatório da Comissão Pospelov. Nele, Eikhe deixa claro que foi
acusado de conspirar, ou trabalhar em estreita colaboração, com Yezhov
(p. 229). As evidências que citamos aqui, as disponíveis para Petrov,
sugerem fortemente que Eikhe estava envolvido profundamente na
repressão em massa orquestrada por Yezhov.

Na carta a Stalin, Eikhe faz alegações de que fora espancado e


torturado para fazer confissões falsas, elas são suficientemente críveis uma
vez que ele nomeia Ushakov e Nikolaev [-Zhurid] como sendo seus
torturadores. Sabemos, independentemente, que esses dois oficiais
específicos do NKVD torturaram muitas outras pessoas e, aliás, foram
julgados e executados precisamente por isso sob a direção de Beria.

Nikolaev-Zhurid foi finalmente preso, sob o comando de Beria,


em outubro de 1939. Esse foi o mesmo mês no qual Eikhe escreveu sua
carta a Stalin. Nikolaev-Zhurid também foi executado e, portanto,
provavelmente julgado, ao mesmo tempo que Yezhov e Eikhe – no início de
fevereiro de 1940. O mesmo com Ushakov.

Isso sugere que Yezhov e seus homens poderiam estar tentando


colocar a culpa uns nos outros, a fim de disfarçar a responsabilidade de
cada um. O que é consistente com o modo com que Frinovskii descrevera
Yezhov. Segundo ele, Yezhov teria feito a exigência de que Zakovskii fosse
fuzilado para que Beria não pudesse ser capaz de interrogá-lo e,
possivelmente, descobrir sobre o seu papel nas repressões ilegais maciças e
na conspiração direitista12.

Eikhe foi preso em 29 de abril de 1938, muito antes de Beria se


juntar ao NKVD, e, portanto, muito antes de Yezhov precisar temer um
interrogatório de Eikhe por Beria. Visto o que sabemos pelo resumo feito
por Jansen e Petrov, feitos a partir dos documentos que puderam ver, parece
ser claro que Yezhov e Eikhe tiveram algum tipo de briga. Sabemos pelas
declarações de Frinovskii, e de outras fontes, que Yezhov e seus homens
torturavam rotineiramente aqueles que prendiam, culpados ou não, para
forçá-los a fazer confissões.

O que não temos é o resto dos autos do caso de Eikhe, incluindo


os documentos do julgamento – as acusações reais feitas contra ele no seu
julgamento em fevereiro de 1940, provas, testemunhos, o libelo acusatório
do promotor (obvinitel’noe zakliuchenie) e a sentença. Sabemos da
existência do “fichário de arquivo investigativo” sobre Eikhe – ou que
existia à época de Khrushchev porque foi citado como o lugar de onde foi
retirada a carta de Eikhe (p.229).

Todavia, a única coisa liberada desse arquivo foi a carta enviada a


Stalin. O restante de seu conteúdo não foi liberado. E a totalidade da carta
de Eikhe a Stalin não estava no discurso de Khrushchev nem no Relatório
Pospelov. Especificamente, Eikhe escreveu que ele não estava disposto a
... me sujeitar novamente aos espancamentos por
aquele contrarrevolucionário preso e exposto que é
Yezhov – o qual me condenou [ou, “quem me
destruiu”] era algo além das minhas forças13.

Este excerto foi cuidadosamente extirpado do Relatório Pospelov,


assim como as seguintes palavras:
Minha confissão de laços contrarrevolucionários
com Yezhov é o ponto mais sombrio de minha
consciência.

Eikhe evidentemente acreditava que Yezhov era um


contrarrevolucionário; havia confessado sus laços contrarrevolucionários
com Yezhov, os quais ele nega nesta carta; e culpa Yezhov, em vez de Beria,
por sua ruína.

Khrushchev queria culpar Beria ao invés de Yezhov. Eikhe culpou


Yezhov, então é fácil ver por que Khrushchev omitiu essas passagens. A
alegação de Eikhe, na qual Yezhov era, na realidade, um
contrarrevolucionário, teria levantado questões nas mentes do Comitê
Central – questões inconvenientes para Khrushchev. Os interrogatórios de
Yezhov e a declaração de Frinovskii que foram recentemente publicados
destacam a atividade conspirativa por parte de Yezhov e também a
incriminação de pessoas inocentes. Khrushchev e Pospelov também
encobriram esses documentos para lançar toda a culpa sobre Stalin e Beria.

Apesar do nosso desejo por saber muito mais, os


interrogatórios/confissões de Frinovskii e Yezhov são totalmente
consistentes com os fatos descritos acima.

YEZHOV

Embora quebre um pouco a ordem do original, aqui é conveniente


examinar o que Khrushchev diz sobre Yezhov, já que isso está intimamente
relacionado a Eikhe.
Khrushchev:
Estamos justamente acusando Yezhov pelas
práticas degeneradas de 1937. Mas, temos que
responder a estas perguntas: Yezhov poderia ter
prendido Kossior, por exemplo, sem o
conhecimento de Stalin? Houve um debate ou uma
decisão do Politburo sobre isso? Não, não houve,
da mesma forma que não houve nada disso em
relação a outros casos desse tipo. Yezhov poderia
ter decidido assuntos tão importantes como o
destino de figuras tão eminentes do Partido? Não,
seria uma demonstração de ingenuidade considerar
isso como trabalho de Yezhov sozinho. Está claro
que essas questões foram decididas por Stalin e
que Yezhov não poderia ter feito isso sem ordens e
sem sanção dele.

Os interrogatórios de Yezhov e Frinovskii publicados no início de


2006 confirmam completamente a tortura deliberada e o assassinato de um
grande número de pessoas inocentes praticados por Yezhov. Ele organizou
essas atrocidades maciças para encobrir seu próprio envolvimento na
conspiração direitista e com a espionagem militar alemã, e também em uma
conspiração para assassinar Stalin ou outro membro do Politburo e tomar o
poder por meio de um coup d’etat.

Relativo ao nosso tema, essas confissões são os novos documentos


mais dramáticos que aparecem após anos. Elas contradizem completamente
as alegações de Khrushchev em todos os pontos: a alegação de que Yezhov
estava apenas a executar as ordens de Stalin; que os líderes militares foram
“enquadrados”; e que os julgamentos de Moscou foram falsificados (como
Khrushchev sugere). Agora (2010) temos muitos mais interrogatórios de
Yezhov, todos confirmam a existência da sua muito grave conspiração e dão
vastos detalhes sobre ela14.

Khrushchev, seus apoiadores e aqueles que fizeram a “pesquisa”


para o Relatório Pospelov e os relatórios de “reabilitação”, tinham todas
essas informações à disposição. Então por que eles não trataram dessas
questões nesses relatórios? O motivo mais óbvio é a vontade de se alcançar
conclusões exatamente opostas à verdade.
Naturalmente surge a pergunta: Por que Yezhov fez tudo isso?
Zhukov acredita que ele poderia ser aliado de um número de Primeiros
Secretários em algum tipo de conspiração. Nas províncias, os homens de
Yezhov trabalhavam em conjunto com os Primeiros Secretários. Nos
documentos disponibilizados para Jansen e Petrov no início dos anos 90, os
quais foram extensivamente citados por eles em seu livro, S. N. Mironov,
chefe do NKVD da região da Sibéria Ocidental, conta ter sido instruído por
Yezhov a não interferir com trabalho de Eikhe, embora este estivesse
insistindo na prisão de pessoas sem ter provas e pessoalmente interferindo
nas investigações15. As transcrições do julgamento daqueles julgados ao
mesmo tempo que Yezhov não foram divulgadas. Mas, parece muito
provável que alguns desses homens, dos quais Eikhe era um, foram
julgados e condenados por trabalharem com Yezhov no assassinato de
pessoas inocentes.

As confissões recentemente publicadas de Frinovskii e Yezhov


agora confirmam que o próprio Yezhov chefiou uma importante
conspiração direitista, em colusão com os militares alemães, e que
conspirou para tomar o poder na URSS.

Toda essas informações, e muito mais, estavam naturalmente


disponível a Khrushchev e seus investigadores. No entanto, no final de
primeiro de fevereiro de 1956, Khrushchev assumiu a posição de que
Yezhov era completamente inocente e Stalin era o culpado16! Ele
modificou apenas ligeiramente essa visão sobre Yezhov no “Discurso
Secreto”, ao passo que tentava transferir a Stalin toda a responsabilidade
pelas ações de Yezhov.

Stalin, no entanto, culpou Yezhov e seu testemunho é totalmente


consistente com as evidências apresentadas por Jansen e Petrov. Na Rússia,
pelo menos, é muito conhecida a passagem das memórias do designer de
aeronaves, A. Yakovlev, na qual Stalin lhe explicou como Yezhov
incriminava falsamente homens inocentes. Molotov e Kaganovich disseram
coisas semelhantes em suas entrevistas a Felix Chuev.

Yezhov foi removido do cargo, evidentemente com dificuldade.


Em abril de 1939, Yezhov foi preso por, e imediatamente confessou, abusos
grosseiros nas investigações: espancamentos, confissões falsificadas, tortura
e execuções ilegais. Jansen e Petrov, tomando como base, em parte,
documentos que não são mais disponíveis aos pesquisadores e, em parte,
alguns documentos lançados apenas em 2006, mostram a tremenda
extensão desses abusos e descrevem os métodos criminosos de Yezhov e
seus homens. Não há nenhuma evidência – nenhuma – de que Stalin ou a
liderança central desejassem que ele agisse dessa maneira, e há vasta
evidência de que eles consideravam tal comportamento ser criminoso.

RUDZUTAK

Khrushchev:
O camarada Rudzutak, candidato-membro do
Politburo, membro do Partido desde 1905, que
passou 10 anos em um campo de trabalho forçado
tsarista, retirou completamente durante o
julgamento a confissão que foi forçada a ele...
Após uma análise cuidadosa do caso, em 1955, foi
estabelecido que a acusação contra Rudzutak era
falsa e que se baseava em materiais caluniosos.
Rudzutak foi reabilitado postumamente.

De acordo com os materiais de reabilitação, Rudzutak de fato


confessou17. Evidentemente, essa foi uma confissão rica em detalhes, na
qual ele nomeou “mais de sessenta pessoas” com as quais ele estava
envolvido na conspiração – incluindo Eikhe, que é citado duas vezes nas
duas páginas de seu relatório de reabilitação. Em seguida, ele retirou esta
confissão durante seu julgamento, afirmando que foi “forçado” a confessar
por “um abcesso [gnoynik] ainda não arrancado no NKVD”. É interessante
que ele evidentemente não ter afirmado que sofreu tortura, senão o relatório
de Rudenko teria sublinhado isso. Molotov, mais tarde, disse a Chuev que
Rudzutak tinha sido torturado e não confessou18.

Existem diversos testemunhos contra ele. Os Materiais de


Reabilitação de Rudenko, de 24 de dezembro de 1955, não estabelecem a
inocência de Rudzutak. Além disso, esses materiais reconhecem que
Rudzutak foi indiciado por muitos outros réus.
Obviamente, é problemático condenar alguém por um crime grave
se baseando apenas em sua confissão. Da mesma forma, uma pessoa não
pode ser declarada inocente apenas porque nega consistentemente sua
culpa. Todavia, múltiplas acusações independentes de diferentes réus,
entrelaçadas por diferentes investigadores, são fortes evidências em
qualquer sistema judicial. Por exemplo, nos Estados Unidos hoje, os réus
são rotineiramente condenados por conspiração com base apenas no
testemunho de outros supostos participantes. E co-conspiradores são
culpados de crimes cometidos por outros membros da conspiração.

Nessa “reabilitação” não há evidência de que Rudzutak era


inocente, como foi alegado por Khrushchev. A única “evidência” que o
relatório de reabilitação pode sugerir é que os depoimentos contra ele são
“contraditórios”. Isso não é evidência de que eles sejam falsos. É
exatamente o oposto: se um número substancial de confissões ou
testemunhos forem idênticos, isso seria uma evidência prima facie de que
eles foram “orquestrados” de alguma forma.

Rudzutak evidentemente retirou sua confissão no julgamento.


Mas, não podemos ter certeza de que retirou tudo. Os Materiais de
Reabilitação de Rudenko, de 1955, dão informações muito mais extensas
sobre as acusações contra Rudzutak. O Relatório Pospelov menciona
apenas a acusação de que ele estava em uma “organização nacionalista letã,
envolvido em sabotagem e que era um espião da inteligência
estrangeira”19. Khrushchev falsificou até isso:
Eles nem sequer o chamaram para o Politburo,
Stalin não queria falar com ele. Através de uma
verificação exaustiva, realizada em 1955, foi
estabelecido que o caso contra Rudzutak foi
falsificado. E ele foi condenado com base em
provas caluniosas.

Não há nada nos Materiais de Rudenko ou no Relatório Pospelov


sobre essas questões. Talvez Khrushchev as tenha inventado.

E muito é omitido. Por exemplo, os materiais de reabilitação sobre


Rudzutak nem sequer mencionam Tukhachevsky, embora Rudzutak
estivesse intimamente associado a ele nos expurgos etc20.
É assim que sabemos que Khrushchev mentiu – se o relatório de
“reabilitação” sobre Rudzutak não o inocentou, então Khrushchev não
sabia, efetivamente, se Rudzutak era culpado ou não. Khrushchev falou “em
flagrante desconsideração à verdade” – ele pode não saber o que era, mas
ele alegou que sabia. E, claro, Khrushchev e Pospelov tiveram acesso a todo
o arquivo de Rudzutak e a todos os materiais investigativos relacionados a
ele. Se existiam provas exculpatórias, por que não a citaram?

Ainda assim, sabemos agora que Yezhov e seus homens, sob sua
instrução, estavam fabricando confissões contra milhares de pessoas. É
bastante possível que tenha havido alguma falsificação no caso de
Rudzutak. Yezhov e sua corja de interrogadores poderiam ter falsificado
algumas informações contra Rudzutak, embora Rudzutak ter admitido culpa
em algumas questões e ter sido implicado por muitos outros acusados.

É ainda mais importante, então, ter a capacidade de examinar


cuidadosamente todas as evidências disponíveis aos investigadores e
tribunais soviéticos à época. Mas, isso é exatamente o que não é possível
fazer. Na época de Khrushchev, na época de Gorbachev – quando
“glasnost”, ou “abertura”, deveria levar à “abertura” dos arquivos – e
mesmo hoje, não foi lançada qualquer porção minúscula dos materiais
investigativos contra os principais réus dos três famosos Julgamentos de
Moscou de 1936, 1937 e 1938.

Nenhum material do caso de Rudzutak foi publicado, seja pela


URSS ou desde então. Isso em si é algo suspeito, já que Rudzutak foi preso
em estreita associação com Tukhachevsky.

Rudzutak foi uma das pessoas acusadas por Stalin, em 2 de junho


de 1937 na sessão extraordinária expandida do Soviete Militar, de
envolvimento na Conspiração Militar21. No entanto, ele não foi executado
até o dia 28 de julho de 1938, mais de um ano após a execução do grupo
Tukhachevsky. Isso sugere que uma longa e séria investigação ocorreu.
Mas, não temos acesso a nada disso.

Rudzutak foi condenado por meio do testemunho de outros


acusados, apesar de não haver qualquer confissão por sua autoria. Ele é
citado em vários documentos do NKVD publicados em Lubianka 2, como
Nº 290, Confissão muito detalhada de M. L.
Rukhimovich. Rudzutak é nomeado na p. 484.

Nº 323, pp. 527-37; Rudzutak é nomeado na p. 530.

É claro que isso não prova culpa de Rudzutak, ainda mais porque
são “documentos de Yezhov”, confissões feitas durante o mandato de
Yezhov como chefe do NKVD – e vimos acima o tipo de coisas que
aconteceram sob Yezhov. Mas, esses documentos são incompatíveis com
qualquer alegação de que Rudzutak era inocente – isto é, com sua
“reabilitação”. A confissão de culpa de um réu pode não ser verdadeira por
uma razão ou outra, mas nunca pode ser evidência de inocência.

As anotações privadas de Stalin sobre estes22, bem como outros


documentos, são consistentes com alguém tentando se informar com os
relatórios policiais que lhe estavam sendo enviados e não com alguém
“fabricando” qualquer coisa.

É difícil imaginar alguém fazendo tais anotações, que eram


destinadas apenas para olhos de seus apoiadores mais próximos, se ele não
as aceitasse como genuínas.

Rudzutak é nomeado muitas vezes no Julgamento de Moscou de


1938 pelos réus Grinko, Rozengolts e Krestinsky, que testemunham sobre
ele extensamente e com grandes detalhes. Em outro interrogatório – a
confissão publicada no início de 2006 – Rozengolts é nomeado por Tamarin
como a pessoa que recrutou Rudzutak para a conspiração trotskista-
direitista23.

De acordo com Krestinsky, Rudzutak foi o centro de toda a


conspiração. Molotov concorda que Rudzutak lhe disse que tinha sido
espancado e torturado, mas ainda assim se recusou a confessar. No entanto,
houve muitos testemunhos contra ele24.

ROZENBLIUM

Khrushchev:
A forma pela qual os antigos agentes do NKVD
fabricavam vários “centros antissoviéticos” e
“blocos” fictícios com a ajuda de métodos
provocativos é vista a partir da confissão do
camarada Rozenblium, membro do partido desde
1906, que foi preso em 1937 pelo NKVD de
Leningrado.
Em 1955, durante a apuração do caso Komarov,
Rozenblium revelou o seguinte fato: Quando foi
preso em 1937, ele foi submetido a uma terrível
tortura durante a qual foi ordenado a confessar
informações falsas sobre si mesmo e sobre outras
pessoas. Ele foi então levado para o escritório de
Zakovskii, que lhe ofereceu liberdade com a
condição de que fizesse, perante o tribunal, uma
confissão falsa sobre “sabotagem, espionagem e
diversionismo para um centro terrorista em
Leningrado”, fabricada em 1937 pelo NKVD
(Movimento no salão). Com um cinismo
inacreditável, Zakovskii contou sobre o vil
“mecanismo” para a criação astuta de “tramas
antissoviéticas” forjadas.

Para ilustrar-me isso – afirmou


Rozenblium – Zakovskii me deu
muitas variações possíveis da
organização deste centro e das suas
ramificações. Depois que detalhou a
organização a mim, Zakovskii disse
que o NKVD prepararia o caso para
este centro, observando que o
julgamento seria público. Antes do
julgamento deveriam ser trazidos 4 ou
5 membros deste centro: Chudov,
Ugarov, Smorodin, Pozern,
Shaposhnikova (esposa de Chudov) e
outros, juntamente com 2 ou 3
membros dos ramos deste centro...

... O caso do centro de Leningrado


tinha que ser construído solidamente
e, por isso, testemunhas eram
necessárias.

A origem social (é claro, no passado)


e a posição partidária da testemunha
iriam desempenhar mais do que uma
pequena função.
“Você, você mesmo” – disse
Zakovskii – “não precisará inventar
nada. O NKVD preparará para você
um esboço para cada ramo do centro;
você terá que estudá-lo
cuidadosamente e lembrar bem de
todas as perguntas e respostas que o
Tribunal pode fazer. Este caso estará
pronto em quatro ou cinco meses, ou
talvez meio ano. Durante todo esse
tempo você se preparará para que não
comprometa a investigação nem a si
mesmo. Seu futuro dependerá de
como o julgamento se desenrolar e de
seus resultados. Se você começar a
mentir e testemunhar falsamente,
culpe a si mesmo. Se você conseguir
suportar isso, você vai salvar sua
cabeça e nós vamos alimentá-lo e
vesti-lo aos custo do Governo até a
sua morte”.

Esta é a forma tipo das coisas vis que foram, então,


praticadas. (Movimento no salão.)

Khrushchev nunca afirmou explicitamente, mas implica


fortemente, o envolvimento de Stalin. Na verdade, as evidências que temos
hoje – e que Khrushchev tinha então – mostram que Zakovskii era um
homem de Yezhov.

Rozenblium testemunhou sobre a fabricação de casos


empreendida por Zakovskii. Zakovskii era “um dos colegas mais próximos
de Yezhov25”. Zakovskii foi preso em 30 de abril de 1938, e condenado à
morte em 29 de agosto de 1938. Beria foi nomeado como o segundo em
comando de Yezhov em agosto de 1938.

Se aqui Rosenblium26 estava dizendo a verdade, então duas


conclusões emergem. Primeiro, Zakovskii não teria feito tudo isso sem a
liderança de Yezhov. Portanto, é claro que Yezhov estava envolvido em
algum tipo de grande conspiração, para se estabelecer através da fabricação
conspirações em grande escala. Isso é consistente com os detalhes
disponíveis a, e relatados por, Jansen e Petrov relativos à conspiração de
Yezhov, que examinamos brevemente acima.
Em segundo lugar, Beria – o que significa dizer Stalin e aqueles
ao seu redor no Politburo – estava envolvido na investigação e, finalmente,
descobrindo e eliminando esta conspiração. Stalin e Beria estavam
envolvidos na destruição da conspiração de Yezhov, não no fomento da
mesma. Isso é consistente com as deduções de Zhukov.

Jansen e Petrov (p. 151) citam que Yezhov teria fuzilado


Zakovskii em agosto de 1938 para tirá-lo do caminho, para que não pudesse
testemunhar contra ele (Yezhov). Frinovskii afirma isso em sua recém
publicada (fevereiro de 2006) declaração de confissão de 11 de abril de
1939. De acordo com Frinovskii e a outra evidência que temos, Zakovskii
fazia parte da conspiração de Yezhov. Segundo Frinovskii, Yezhov disse-
lhe, em outubro de 1937, que Zakovskii “é completamente nosso”. Então,
em 27 e 28 de agosto de 1938, Evdokimov, braço direito de Yezhov, disse a
Frinovskii para garantir que Zakovskii e “todos os homens de Iagoda”
fossem fuzilados, pois Beria poderia reabrir seus casos e “esses casos
podem se voltar contra nós”27.

No telegrama de Stalin de 10 de janeiro de 1939, Zakovskii foi


acusado explicitamente de torturar pessoas “como regra” (o telegrama pode,
de fato, ter sido enviado, ou reenviado, em julho – para este telegrama, veja
a seguir). Mesmo sem as recém liberadas declarações e confissões de
Yezhov, Frinovskii e outros, esse telegrama seria uma forte evidência de
que Stalin se opunha a esse tipo de comportamento.

Mas, no “Discurso Secreto”, Khrushchev omitiu essa parte do


telegrama de Stalin – sem dúvida porque entraria em conflito com a
impressão que estava tentando produzir. Portanto, Khrushchev está
culpando Stalin pela conspiração de Yezhov, enquanto que, na verdade,
Stalin mandou prender, julgar e executar Yezhov precisamente por conta
dessa conspiração.

I. D. KABAKOV

Khrushchev:
Ainda mais ampla foi as falsificações de casos
praticadas nas províncias. A sede do NKVD do
Oblast de Sverdlov “descobriu” a chamado
“equipe de insurreição dos Urais” – um órgão do
bloco de direitistas, trotskistas, Socialistas-
Revolucionários, líderes da igreja – cujo chefe
supostamente era o Secretário do Comitê do
Partido do Oblast de Sverdlov e membro do
Comitê Central do Partido Comunista da União
(Bolcheviques), Kabakov, que era membro do
Partido desde 1914. Os materiais investigativos da
época mostram que em quase todos os krais,
oblasts [províncias] e repúblicas supostamente
existiam “organizações e centros trotskista-
direitistas de espionagem e sabotagem” e que os
chefes dessas organizações, como uma regra – sem
motivo conhecido – eram Primeiros Secretários
dos Comitês de Oblast ou dos Partidos Comunistas
das Repúblicas, ou dos Comitês Centrais.

Apesar da recusa do governo russo em liberar a investigação desse


período, há muitas evidências contra Kabakov.

O engenheiro de minas americano, John D. Littlepage, foi


contratado para trabalhar na URSS desenvolvendo a indústria de mineração,
durante a Grande Depressão, e após retornar aos EUA (ele era do Alasca)
escreveu um livro de memórias sobre os seus anos por lá. Em In Search of
the Soviet Gold NY: Harcourt, Brace and Co., 1938 (1937) Littlepage
discute a sabotagem nos Urais. Ele especificamente suspeita de Kabakov;
afirma que este nunca tinha cuidado competentemente da exploração
proveitosa da rica área mineral sob sua administração; afirma que
suspeitava de algum tipo de conspiração relacionada a isso; e não expressa
nenhuma surpresa quanto a prisão de Kabakov, logo após o julgamento de
Piatakov, uma vez que os dois tinham sido associados íntimos. Mais
recentemente, James Harris viu e citou evidências contra Kabakov a partir
do próprio caso criminal, sem sugerir qualquer falsificação deste28.

Kabakov foi dispensado tanto do CC quanto do próprio Partido


por uma resolução que circulou no CC em 17-19 de maio de 1937 e
confirmada em 29 de junho de 1937. Isso pode sugerir algum tipo de
relação com a conspiração militar de Tukhachevsky, que estava sendo
desvelada naquela época, ou com a conspiração direitista em geral, já que
Iagoda estava sendo intensamente questionado nesse período.
Kabakov foi citado por L. I. Mirzoian, ex-Primeiro Secretário do
Comitê Central do Partido Comunista do Cazaquistão, como líder da
clandestinidade trotskista-direitista29. Ele figurou no relatório de Yezhov ao
Pleno do CC de junho de 1937, referente a natureza generalizada da
conspiração30.

O nome de Kabakov foi dado por P. T. Zubarev, um dos réus no


Julgamento de Moscou de março de 1938, caso “Bukharin”, por conhecê-lo,
já em 1929, como membro da conspiração direitista nos Urais. Zubarev
alegou ter trabalhado na conspiração, em estreita colaboração com
Kabakov, desde aquela. Rykov, um dos principais réus junto a Bukharin,
também citou Kabakov como sendo membro importante da conspiração
direitista. Não existem provas de que Rykov ou, de fato, qualquer um dos
réus desse julgamento tenham sido submetidos a tortura.

Em uma nota ao Politburo assinada por seu sucessor, Primeiro


Secretário do Obkom de Sverdlovsk, A. Ia. Stoliar, Kabakov foi citado
como chefe de uma organização contrarrevolucionária nos Urais. Um
homem do NKVD de Sverdlovsk, chamado D. M. Dmitriev, mais tarde
confessou estar envolvido em uma conspiração e também dedurou Stoliar
como um conspirador. Mas, Dmitriev também fala da “liquidação da
kabakovshchina” nos Urais em 1937 – ou seja, Kabakov foi o primeiro a ir,
mas outros conspiradores, incluindo Dmitriev e Stoliar, permaneceram. O
comentário de Stalin na nota de Stoliar sugere que ele não estava fazendo a
organização dessas informações, mas se inteirando delas pela primeira
vez31.

Ao declarar Kabakov “reabilitado”, portanto, Khrushchev estava


lançando a mais forte dúvida sobre o Julgamento de Moscou de 1938, como
já havia feito sobre o Julgamento de 1936 ao declarar que Zinoviev e
Kamenev tinham sido tratados de forma muito dura. Para o presente
propósito, porém, é claro que Khrushchev não falou a verdade sobre
Kabakov em seu “Discurso Secreto”.

Khrushchev:
Muitos milhares de comunistas honestos e
inocentes morreram como resultado da falsificação
monstruosa de tais “casos”, como resultado da
ratificação de todos os tipos de “confissões”
caluniosas e como resultado da prática de se forçar
acusações contra si mesmo e outros. Da mesma
forma, foram fabricados os “casos” contra
eminentes e militantes do Partido e do Estado –
Kossior, Chubar, Postyshev, Kosarev e outros.

(Para Postyshev, veja os Capítulos III e IX.)

Kossior, Chubar, Postyshev e Kosarev estão listados precisamente


nessa ordem em uma carta de V. V. Ulrikh – Presidente do Soviete Militar
da Suprema Corte da URSS – para Stalin datada de 16 de março de 1939,
reproduzida em fac-símile no Link [memo.ru/history/vkvs/images/ulrih-
39.jpg].

A seção relevante diz o seguinte:


Soviete Militar
Do Supremo Tribunal Federal da União da SSR

15 de março de 1939 No. 001119... Re: No. I-


68/112
ULTRA-SECRETO
Cópia Nº. 1
AO COMITÊ CENTRAL DO VKP(b)
Ao camarada J. V. STALIN
Entre 21 de fevereiro e 14 de março de 1939, o
Soviete Militar da Suprema Corte da URSS, em
sessões fechadas em Moscou, ouviu os casos de
436 pessoas.
413 foram condenados ao fuzilamento. As
sentenças foram executadas com base na lei de
primeiro de dezembro de 1934.
Nas sessões do Soviete Militar, as seguintes
pessoas confessaram culpa: KOSSIOR S. V.,
CHUBAR V. IA., POSTYSHEV P. I., KOSAREV
A. V.,...

De acordo com o resto da nota de Ulrikh, outras pessoas entre os


acusados renunciaram às suas confissões, mas “foram expostos por outras
evidências do caso”. Ou seja, Kossior, Chubar, Kosarev e Postyshev não
renunciaram às suas confissões, como outros fizeram, mas reafirmaram-nas
em julgamento.

KOSSIOR E CHUBAR

Em sua confissão-interrogatório de 26 de abril de 1939, Yezhov


nomeia Chubar e Kossior como dois de uma série de altos funcionários
soviéticos que estavam passando informações para a inteligência alemã –
em linguagem simples, espiões alemães. Yezhov diz que o agente alemão,
Norden, estava em contato com “muitos” outros32.

De acordo com os materiais da reabilitação de Postyshev,


preparados para Khrushchev, Kossior implicou Postyshev, então retirou
suas confissões, mas depois reiterou-as novamente33. Em suas próprias
confissões, Postyshev implicou Kossior, bem como Iakir, Chubar e outros
(ibid., 218). Chubar foi implicado na conspiração trotskista-direitista por
Antipov, Kossior, Pramnek, Sukhomlin, Postyshev, Boldyrev, entre
outros34.

Entrevistado por Felix Chuev, o velho Lazar M. Kaganovich disse


ter defendido Kossior e Chubar, mas desistiu quando lhe foi mostrada uma
longa confissão manuscrita de Chubar35. Molotov disse a Chuev que ele
próprio estava presente quando Antipov, amigo de Chubar, o acusou.
Chubar negou acaloradamente e ficou muito irritado com Antipov. Molotov
conhecia os dois muito bem36.

De acordo com o Relatório Pospelov preparado para Khrushchev,


Kossior foi preso em 3 de maio de 1938 – ou seja, sob Yezhov – e ambos
foram torturados (nenhum detalhe é dado) e submetidos a interrogatórios
prolongados, até 14 horas em uma de suas partes. Dos 54 interrogatórios de
Kossior, apenas 4 foram preservados37. Até agora isso tem todas as marcas
de uma falsa incriminação de Yezhov.

No entanto, Kossior foi condenado em 26 de fevereiro de 1939,


três meses após a expulsão de Yezhov. A essa altura, os casos estavam
sendo revistos, e já há muito tempo se reconhecia que Yezhov e seus
homens haviam torturado pessoas inocentes.

Sabemos, pela carta de Ulrikh citada acima, que Kossior e Chubar


reconheceram sua culpa no julgamento, embora outros não terem feito.
Mas, nenhum detalhe desse julgamento foi divulgado, seja no Relatório
Pospelov ou nos Materiais de Reabilitação. Mais uma vez, parece que os
materiais da era Khrushchev não foram um estudo objetivo dos materiais
investigativos, mas sim uma tentativa falsificada de fazer todos os
condenados parecerem “inocentes”.

Na longa transcrição da confissão de outubro de 1938 –


interrogatório de Dmitriev, ex-chefe do NKVD em Sverdlovsk – Dmitriev
fala da “clandestinidade contrarrevolucionária liderada por Kossior, que era
um dos Direitistas mais secretos da Ucrânia”38.

Sem mais informações, a confissão de Yezhov deixa mais claro do


que nunca a culpa de Chubar e Kossior no envolvimento com a organização
clandestina dos Direitistas. E mesmo sem a confissão, é óbvio que havia
uma grande quantidade de provas contra estes. Khrushchev não as liberou e
nunca mais material algum foi lançado.

KOSAREV

Não é verdade, como Khrushchev afirmou, que os Materiais de


Reabilitação estabeleceram que o caso contra Kosarev havia sido fabricado.

Há pouquíssima informação sobre Kosarev nos materiais de


reabilitação publicados (Reabilitatsiia Kak Eto Bylo 1, p. 79-80; p. 166-8;
p. 219; doravante RKEB 1). Ele confessou, e partes curtas foram publicadas
– apesar do relatório de reabilitação de 1954 afirmar que Kosarev foi
torturado por Beria (167) para fazer a confissão. Seu dossiê –
interrogatórios, julgamentos etc. – nunca foi disponibilizado aos
pesquisadores.

Kosarev é nomeado na carta de Ulrikh de 16 de março de 1939,


como um dos acusados que confirmou em julgamento a admissão de culpa
(veja acima). Também sabemos que Postyshev acusou Kosarev.
De acordo com o relatório de reabilitação, Kosarev tinha sido
hostil a Beria enquanto este era Primeiro Secretário do Partido da Geórgia.
O relatório continua dizendo que Kosarev foi torturado para confessar e
talvez enquadrado. Kosarev confessou no julgamento. De acordo com o
relatório de reabilitação, ele foi enganado a pensar que isso salvá-lo-ia.
Sabemos de exemplos em que os réus alegaram ter sofrido espancamento
para confessar durante os interrogatórios, mas renunciaram a essas
confissões em julgamento. Mas, é difícil imaginar por que alguém
confessaria, no julgamento, um crime capital para se salvar!

Os Materiais de Reabilitação de Kosarev estão muito preocupados


em culpar Beria por tudo, tal qual uma carta escrita pela viúva de Kosarev
em dezembro de 1953, época em que Beria e outros estavam supostamente
sendo julgados (RKEB 1, 79-80). E Khrushchev foi rápido em afirmar que
praticamente qualquer um preso e condenado durante o mandato de Beria
como chefe do NKVD tinha sido “enquadrado”.

Kosarev foi preso em 29 de novembro de 1937, depois que


Yezhov foi efetivamente expulso. Ele teve certo contato com Yezhov, tendo
sido editor do jornal do Komsomol no qual a esposa de Yezhov trabalhava.
Jansen e Petrov especulam que ele pode ter se envolvido com Yezhov de
alguma forma, embora façam a advertência de que isso era improvável (p.
185).

Mas, em um interrogatório recentemente publicado (fevereiro de


2006) A. N. Babulin, sobrinho de Yezhov, colega conspirador e testemunha
da “degeneração moral” de Yezhov e da esposa de Yezhov, nomeia Kosarev
como um dos “convidados mais frequentes à casa de Yezhov”, juntamente
com Piatakov, Uritsky, Mikhail Koltsov, Glikina, Iagoda, Frinovskii,
Mnoviro, Agranov e outros homens do NKVD que mais tarde foram
julgados e executados junto com Yezhov. Era uma companhia estranha para
um líder “inocente” do Komsomol manter. Em seu interrogatório
recentemente publicado, o próprio Yezhov cita Koltsov e Glikina – ambos
na lista dos “convidados mais frequentes” de Babulin – como espiões
ingleses, juntamente a sua falecida esposa Yevgenia.

Vadim Rogovin escreveu que Kosarev foi dispensado de seu posto


de chefe do Komsomol e preso por conta da repressão injustificada de
militantes do Komsomol. Vários artigos apareceram na imprensa popular,
alguns vindos da família de Kosarev, estabelecendo a visão de que ele foi
injustamente acusado e que Olga P. Mishakova, a militante do Komsomol
que Kosarev tinha maltratado, denunciou-o incorretamente39.

Quem quer que tenha sido o culpado, essa questão com


Mishakova parece ter sido a razão para a prisão de Kosarev, uma vez que é
referida por Mgeladze em suas memórias. O relatório de reabilitação de
1954 não menciona nada. Em vez disso, coloca que a prisão de Kosarev foi
devido a um ódio pessoal de Beria, por algumas coisas negativas que
Kosarev havia dito a respeito dele.

Após a prisão de Beria em junho de 1953, Khrushchev, apoiado


pelo resto da liderança da PCUS, passou a demonizar Beria de todas as
formas possíveis. Essa falha em mencionar a verdadeira razão para a prisão
de Kosarev é uma evidência de que os relatórios de reabilitação foram
fabricados para fins políticos, não como estudos sérios das evidências
contra os reprimidos.

Não temos informações suficientes, que sejam confiáveis, sobre


Kosarev – ou seja, não baseadas em anedotas ou rumores – para dizer
qualquer coisa além dele ter mantido uma relação bastante suspeita com
Yezhov e sua esposa e muitos outros associados dos Yezhovs, todos os
quais parecem estarem envolvidos na conspiração direitista centrada em
Yezhov.

Os relatórios de reabilitação sobre Kosarev alegam que ele foi


torturado. (RKEB 1, 79-80; 166-8; 219). Uma vez que Frinovskii diz que, a
fim de desatar a investigação para longe de sua própria conspiração, Yezhov
mandou torturar os culpados bem como os inocentes, incluindo alguns de
seus amigos, então pode ser que Kosarev tenha sido torturado também (Veja
abaixo de 16. Yezhov, acima).

Certamente não temos nenhuma evidência de que Stalin ou Beria


“incriminaram” Kosarev. Mesmo a informação anedótica apenas acusa
Stalin de ser muito crédulo. O que sabemos é que Khrushchev e a
“comissão de reabilitação” esconderam uma grande quantidade de
informações sobre Kosarev, como também fizeram a respeito de muitos
outros.

No caso de Kosarev, Khrushchev e seus pesquisadores


esconderam os laços que ele mantinha com Yezhov, o que parece ter
causado a sua ruína. Estas ligações nem sequer são mencionadas nos
materiais de reabilitação da era Khrushchev. A conclusão mais cautelosa
que podemos chegar é que Khrushchev declarou Kosarev inocente “em
flagrante desconsideração à verdade”, sem qualquer estudo sério relativo
sua culpa ou inocência.

Akakii Mgeladze, mais tarde Primeiro Secretário do Partido da


Geórgia, mas na década de 1930 uma figura dirigente do Komsomol,
gostava e respeitava Kosarev quando este era o chefe do Komsomol. De
acordo com suas memórias escritas na década de 1960 e recentemente
publicadas, Mgeladze discutiu Kosarev com Stalin, em 1947 (p. 165). Stalin
ouviu e, em seguida, pacientemente explicou que a culpa de Kosarev tinha
sido cuidadosamente verificada por Zhdanov e Andreev40.

Isso é consistente com o que sabemos a partir de outras fontes –


que esses membros do Politburo, bem como outros, foram designados para
verificar as prisões e acusações do NKVD contra os principais membros do
Partido41. Mgeladze – que claramente queria acreditar que Kosarev era: ou
inteiramente inocente e tinha sido incriminado por Beria por razões
pessoais; ou simplesmente tinha cometido algum erro ou outro – então disse
a Stalin que ele próprio tinha lido esses relatórios, bem como um outro feito
por Shkiriatov, e achou impossível duvidar do que eles diziam.

Se o relato de Mgeladze é significativo, é porque Mgeladze teve


grande dificuldade em acreditar que Kosarev era culpado – ao ponto de
confrontar Stalin sobre esta questão, por mais educado que tenha sido – e
Stalin calmamente reiterou sua posição, com base na investigação, de que
Kosarev era culpado. De acordo com Mgeladze, Stalin explicou que todos
cometeram erros, e que muitos erros foram cometidos em 1937. Mas, Stalin
não aplicou isso ao caso de Kosarev.

Até hoje, todos os materiais documentais relacionados com a


expulsão, prisão, investigação e julgamento de Kosarev são mantidos em
segredo pelo governo russo. Kosarev foi criticado e removido da liderança
do Komsomol na 7º Plenária do Comitê Central do Komsomol, realizada
em Moscou entre os dias 19 e 22 de novembro de 1938. A transcrição desta
Plenária existe e é citada em uma biografia recente de Georgii M. Popov,
que se pronunciou nesse Pleno. Portanto, esses materiais existiam na época
de Khrushchev, mas ele nunca os mencionou42.

AS LISTAS

Khrushchev:
Foi tolerada a prática cruel do NKVD preparar
listas de pessoas cujos casos estavam sob a
jurisdição do Soviete Militar e cujas sentenças
foram preparadas antecipadamente. Yezhov
enviava pessoalmente essas listas a Stalin para a
aprovação da punição proposta. Em 1937-1938,
383 listas contendo os nomes de milhares de
militantes do Partido, dos Sovietes, do Komsomol,
do exército e trabalhadores administrativos foram
enviadas para Stalin. Ele aprovou estas listas.

Essas listas existem e foram editadas e publicadas, primeiro em


CD43 e agora na Internet, como as “listas stalinistas de fuzilamento”. Mas,
este é um nome tendencioso e impreciso, pois de forma alguma estas eram
listas de pessoas “a serem fuziladas”.

Como Khrushchev fez, os editores antistalin destas listas de fato


chamam as listas de “sentenças” preparadas antecipadamente. Mas, sua
própria pesquisa refuta essa afirmação. As listas dão as sentenças que a
acusação buscaria se o indivíduo fosse condenado – ou seja, a sentença que
a Promotoria pediria para o tribunal aplicar. Na verdade, essas eram listas
enviadas a Stalin (e a outros membros do Politburo ou do Secretariado) para
“revisão” – rassmotrenie – uma palavra que é usada muitas vezes na
introdução às listas.

Muitos exemplos são dados de pessoas que não foram


condenadas, ou que foram condenadas por crimes menores e, por isso, não
foram fuziladas. A. V. Snegov, a quem Khrushchev menciona mais tarde em
seu discurso, está nas listas pelo menos duas vezes.
Nº. 383. Disponível no Link
[web.archive.org/web/20041108152909/stalin.memo.ru/s
piski/pg13026].

Nº. 133. Disponível no Link


[web.archive.org/web/20030902084226/stalin.memo.ru/s
piski/pg05245].

Nessa última referência, Snegov está especificamente colocado na


“1ª Categoria”, significando pena máxima, morte, em caso de condenação.
É dado um breve resumo das provas do Ministério Público contra ele e
parece ter havido muitas delas. No entanto, Snegov não foi condenado à
morte, mas a um longo período em um campo de trabalho.

De acordo com os editores dessas listas, “muitas” pessoas, cujos


nomes estão contidos na lista, não foram de fato executadas e algumas
foram libertadas.

Por exemplo, um estudo seletivo da lista para o oblast de


Kuibyshev, assinada em 29 de setembro de 1938, mostra que nenhuma
pessoa dessa lista foi condenada pelo VK VS (o Soviete Militar do
Supremo Tribunal Federal) e um número significativo de casos foram
arquivados completamente.

Disponível no Link
[memo.ru/history/vkvs/images/intro].

Então, Khrushchev sabia que Stalin não estava “sentenciando”


ninguém, mas revisando as listas caso tivesse alguma objeção. Podemos ter
certeza de que Khrushchev sabia disso porque a nota de S. N. Kruglov,
Ministro dos Assuntos Internos (MVD), para Khrushchev do dia 3 de
fevereiro de 1954 sobreviveu. Não diz nada sobre “sentenças preparadas
antecipadamente”, mas dá a verdade:
Essas listas foram compiladas em 1937 e 1938
pelo NKVD da URSS e apresentadas ao CC do
VKP(b) para revisão imediata [ênfase adicionada
pelo autor]44.
O Ministério Público foi ao julgamento não só com provas, mas
com uma sentença a ser recomendada aos juízes em caso de condenação.

Parece que os nomes dos membros do Partido, e não os de não


membros, foram enviados para revisão. A introdução dissimulada observa
que aqueles signatários das listas eram compostos de “nem todos os
membros do Politburo, mas apenas aqueles que eram mais próximos de
Stalin”45. Mas, as evidências sugerem que foram aos membros do
Secretariado do Partido, ao invés do Politburo, que as listas foram
submetidas. Até os editores notam que Yezhov – membro do Secretariado,
mas não do Politburo – assinou “como secretário do Comitê Central”46.

Khrushchev escondeu o fato de que não era Stalin, mas ele próprio
quem estava profundamente envolvido na seleção das pessoas a serem
incluídas nessas listas e na escolha da categoria de punição proposta.
Khrushchev menciona que o NKVD preparou as listas. Mas, ele não
menciona o fato de que o NKVD agiu em conjunto com a liderança do
Partido e que muitos dos nomes nestas listas – talvez mais do que de
qualquer outra região da URSS – se originaram das áreas sob poder do
próprio Khrushchev.

Até janeiro de 1938 Khrushchev foi Primeiro Secretário do


Partido em Moscou e no oblast de Moscou. Depois disso, foi Primeiro
Secretário da Ucrânia. A carta para Stalin (ver seção 4) pedindo permissão
para atirar em 8.500 pessoas é datada de 10 de julho de 1937, mesma data
da primeira das “listas de fuzilamento” de Moscou47.

Na mesma carta, Khrushchev também confirma sua própria


participação na troika responsável pela seleção desses nomes, juntamente
com o chefe da direção do NKVD de Moscou, S. F. Redens, e o promotor
assistente, K. I. Maslov (Khrushchev admite que, “quando necessário”, foi
substituído pelo segundo secretário A. A. Volkov).

Volkov serviu como Segundo Secretário do VKP(b) na Região de


Moscou apenas até o início de agosto de 1937, quando saiu para servir
como Primeiro Secretário do Partido bielorrusso. Depois disso, ele não era
mais subordinado de Khrushchev, o que pode ter salvado sua vida48.
Maslov se manteve como Procurador (promotor) do oblast de Moscou até
novembro de 1937. Em 1938, ele foi preso e, em março de 1939, executado
após ser considerado culpado de atividade contrarrevolucionária
subversiva49. O mesmo destino se deu a K. I. Mamonov, que no início
ocupou a posição de Maslov e, mais tarde, foi fuzilado no mesmo dia que
Maslov50. Nem Redens escapou da punição. Ele foi preso em novembro de
1938 como membro de um “grupo de espionagem diversionista polonês”,
julgado, sentenciado e baleado em 21 de janeiro de 1940. Jansen e Petrov
descrevem Redens como um dos “homens de Yezhov”51. Durante os anos
do “degelo”, Redens foi reabilitado por insistência de Khrushchev, mas
devido a tais violações grosseiras dos procedimentos legais, em 1988 a
reabilitação de Redens foi revertida – uma época em que uma enorme onda
de reabilitações estava em curso!52

Em outras palavras, com exceção de Volkov, todos os colegas


mais próximos de Khrushchev que participaram das repressões em Moscou
e no oblast de Moscou foram severamente punidos. Como Khrushchev
conseguiu escapar da mesma punição? A resposta para este quebra-cabeça
ainda precisa ser descoberta. No Capítulo final, examinaremos alguns fatos
interessantes sobre o sucessor de Khrushchev na dirigência do Partido em
Moscou, A. S. Shcherbakov, fatos que podem responder essa questão.

Khrushchev:
As resoluções da Plenária do Comitê Central do
Partido Comunista da União (Bolcheviques) de
janeiro de 1938 trouxeram alguma medida de
melhoria às organizações partidárias. No entanto, a
repressão generalizada também existiu em 1938.

Khrushchev implica – e afirma um pouco mais adiante – que a


repressão foi impulsionada por Stalin. Como já vimos, porém, a evidência
fortemente sugere que a repressão foi impulsionada por Yezhov e vários
Primeiros Secretários, incluindo o próprio Khrushchev como um dos
principais “repressores”. Stalin e a liderança central do Partido, que não
estavam envolvidos na conspiração direitista, queriam uma repressão
limitada. Eventualmente, eles puniram de maneira severa aqueles para os
quais ficou provada a fabricação de casos e assassinado ou punição pessoas
inocentes.

Até agora, Getty e Naumov fizeram o estudo mais extenso da


Plenária de janeiro de 193853. O relato deixa claro que a liderança central
de Stalin no Partido estava muito preocupada com repressões
irresponsáveis. Foi neste Pleno que Postyshev foi removido por tais
motivos. A discussão feita por Thurston confirma o fato de Stalin tentar pôr
rédeas nos Primeiros Secretários, no NKVD e na repressão no geral54.

No Pleno do CC de janeiro de 1938, Malenkov fez um discurso,


obviamente ecoando Stalin, no qual pontua que muitas expulsões
caprichosas haviam ocorrido. Para nossos propósitos atuais, é mais
significativo Postyshev ter sido apontado como a pessoa mais culpada. A
Resolução de 9 de janeiro de 1938 culpou especificamente Postyshev pelas
expulsões, repreendeu-o e removeu-o de seu posto como Primeiro
Secretário do Obkom de Kuibyshev (comitê da cidade).

De acordo com Benediktov – que, entre 1938 e 1953, foi um alto


militante do CC na agricultura (ou Comissário do Povo ou Primeiro Vice-
Comissário para a Agricultura) e um participante frequente das reuniões do
Politburo – Stalin começou a corrigir as ilegalidades das repressões a partir
deste Pleno. Lev Balayan, cujo estudo das falsificações de Khrushchev,
ainda que incompleto, é muito útil e fornece detalhes adicionais.

O chefe do NKVD de Khrushchev na Ucrânia, a partir de janeiro


de 1938, foi A. I. Uspensky. Tendo sido advertido por Yezhov, Uspensky
fugiu da prisão em 14 de dezembro de 1938 e fingiu suicídio deixando um
bilhete dizendo que pularia no rio Dnepr. Uspensky foi finalmente
localizado e preso no dia 14 de abril de 1939. Stalin acreditava que Yezhov
tinha alertado Uspensky quando este escutou seu telefonema para
Khrushchev.

Seja lá do que Uspensky era culpado, Khrushchev também deve


ter sido culpado por incriminar pessoas inocentes – ambos estavam na
mesma troika55. Em interrogatórios que hoje não estão mais disponíveis
para os pesquisadores, Uspensky revelou as instruções de Yezhov para
falsificar casos de maneira maciça56(Jansen e Petrov 84; 148).

“GANGUE DE BERIA”

Khrushchev:
Enquanto isso, a gangue de Beria, que dirigia os
órgãos de segurança do Estado, se superou em
provar a culpa do preso e a verdade dos materiais
que falsificou.

Isso é falso. Thurston discute a distorção feita por Khrushchev a


respeito do que realmente aconteceu quando Beria assumiu o NKVD e do
“surpreendente liberalismo” instituído imediatamente sob Beria. A tortura
acabou, e os presos receberam privilégios novamente. Os homens de
Yezhov foram removidos de suas funções, muitos deles julgados e
condenados pelas repressões57.

De acordo com o relatório Pospelov, as prisões caíram


enormemente, em mais de 90% em 1939 e 1940 quando comparado com o
período de 1937 e 1938. As execuções em 1939 e 1940 caíram para muito
menos de 1% das execuções em massa de 1937 e 193858. Beria assumiu
a chefia do NKVD em dezembro de 1938, então a redução corresponde
precisamente ao período em que Beria estava no comando. Khrushchev,
portanto, sabia disso, mas omitiu do “Discurso Secreto” e assim escondeu
esse fato de seu público.

Foi durante os anos de Beria que ocorreram julgamentos e


execuções de homens condenados por repressão ilegal, assassinatos em
massa, tortura e falsificações. Muitas – certamente mais de 100.000 –
pessoas injustamente reprimidas foram libertadas dos campos e das prisões
do GULAG59. Khrushchev sabia, e escondeu isso também.

“TELEGRAMA RELATIVO À TORTURA”

Khrushchev:
Quando a onda de prisões em massa começou a
recuar em 1939 e os líderes dos organismos locais
do Partido começaram a acusar os agentes do
NKVD de usarem métodos de pressão física contra
os presos, em 10 de janeiro de 1939 Stalin enviou
um telegrama codificado para os secretários dos
comitês de oblasts e krais, para os Comitês
Centrais dos Partidos Comunistas das Repúblicas,
para os Comissários do Povo para Assuntos
Internos e para os chefes das organizações NKVD.
Este telegrama dizia:

O CC do VKP(b) explica que o uso de


pressão física na prática do NKVD é
permitida desde 1937, em
consonância com uma permissão do
CC do VKP(b)... É bem sabido que
todos os serviços de inteligência
burgueses usam pressão física contra
representantes do socialismo
proletário e nas formas mais
vergonhosas.

Surge a questão do porquê o serviço


de inteligência socialista é obrigado a
ser humano em relação a agentes
inveterados da burguesia e inimigos
implacáveis da classe trabalhadora e
fazendeiros coletivos. O CC do
VKP(b) considera completamente
correto e procedente o método da
pressão física, que deve ser
necessariamente continuado no futuro
em casos excepcionais relacionados a
inimigos do povo manifestos e
impenitentes.

Assim, Stalin tinha sancionado, em nome do


Comitê Central do Partido Comunista da União
(Bolcheviques), a violação mais brutal da
legalidade socialista, tortura e opressão, que
levaram, como vimos, à difamação e autoacusação
de pessoas inocentes.

Khrushchev deliberadamente enganou seu público de pelo menos


três, e possivelmente quatro, maneiras.
Ele omitiu partes importantes do texto do telegrama, que
minam as suas afirmações.

Ele não disse ao seu público que o texto do “telegrama”


que ele possuía certamente nunca foi enviado. Na
verdade, o texto que temos parece uma cópia feita em
1956.

Khrushchev não divulgou a natureza duvidosa do texto


desse suposto telegrama. Sabemos disso porque foi
discutido no final de junho de 1957, no Pleno Comitê
Central chamado para punir Malenkov, Molotov e
Kaganovich.

Khrushchev pode, de fato, ter forjado esse “telegrama”.

Há muitos problemas com o texto “original” desse


telegrama, que foi publicado durante a década de 1990.
Seria preciso um estudo completo, longo como um
artigo, para desembaraçar todos os problemas dele.
Alguns desses problemas se tornarão claros na discussão
a seguir.

Toda essa parte do “telegrama” no discurso é altamente suspeita, a


começar com a primeira frase, que faz os secretários do Partido parecerem
anjos. E Khrushchev faz exatamente este ponto em seu discurso – os
“líderes dos organismos locais do Partido” estavam reclamando de tortura e
tudo foi culpa de Stalin e Beria! Stalin, com seu capanga Beria eram os
“bandidos” – os Primeiros Secretários do Partido estavam tentando resistir a
eles!

Graças à pesquisa de documentos primários feita por Zhukov e


publicada em Inoy Stalin, sabemos que, para começo de conversa, foram de
fato esses mesmos Primeiros Secretários do Partido que insistiram nas
execuções em massa. Stalin e a liderança central do Partido no Politburo (a
“liderança estreita”, como Zhukov diz) resistiu fortemente as insistências.
Zhukov afirma ter visto o documento no qual Khrushchev pede permissão
para elevar a “1ª Categoria” 20.000 pessoas – um número, sem nomes.
Getty cita o pedido de Khrushchev para pôr 41.000 pessoas em ambas as
categorias60.

Parece, portanto, que um dos principais propósitos do “Discurso


Secreto” era encobrir a sede de sangue dos Primeiros Secretários, assim
como a de Khrushchev. Ele culpa um pouco Yezhov – menciona-o algumas
vezes. Mas, Khrushchev coloca a culpa principalmente em Beria, a quem
ele realmente tem ódio e quem realmente parou a Yezhovshchina e corrigiu
seus abusos ao revisar sentenças. E, claro, Khrushchev coloca a principal
culpa em Stalin, que foi mais responsável do que qualquer outro por parar
a repressão.

A primeira coisa que devemos notar, para nossos propósitos, é o


que Khrushchev omitiu – a passagem em negrito (ver nos Apêndices). O
que foi omitido faz várias coisas:

Qualifica, limita e restringe as condições sob as quais


devem ser utilizados “meios de pressão física”.

Nomeia homens conhecidos e do alto escalão do NKVD,


associados próximos de Yezhov, e enfatiza que eles
deveriam ser punidos.

Isso inclui Zakovskii, quem Khrushchev citou, através de


Rozenblium, como um dos principais fabricantes das falsas acusações (ver
seção 18). Se tivesse citado essa parte do texto do telegrama, Khrushchev
teria mitigado sua principal alegação durante o “Discurso”, de que Stalin
estava promovendo as repressões maciças em vez de tentar controlá-las. No
recém-lançado interrogatório de confissão, Yezhov nomeia Zakovskii como
um de seus homens mais dedicados e confirma que ter ordenado a morte de
Zakovskii para que ele não contasse a Beria as falsificações e assassinatos
em que, junto de seus homens, estava envolvido.

O “Telegrama relativo à Tortura” é um exemplo complexo da


prevaricação de Khrushchev, e merece um longo estudo analítico. Os
principais pontos para nossos propósitos são estes:
1. O documento que temos – o documento de “10 de
janeiro de 1939” – é, na melhor das hipóteses, uma cópia
do rascunho. Não está em papel oficial. Não contém
nenhuma assinatura, nem a de Stalin nem a de qualquer
outra pessoa. A edição mais recente, semioficial, não
afirma mais que foi “assinada” por Stalin, mas contém a
alegação de que as emendas feitas a mão estão na
caligrafia de Stalin61. Isso é puro blefe, os editores não
citam nenhuma evidência de que seja esse o caso. O que
está claro é o anseio dos editores em convencer os
leitores de que esse é um documento genuíno de 1939.

2. Se não for uma falsificação, pode ou não ser um


“rascunho” não enviado. Parece uma cópia digitada em
1956, como é declarado diretamente nela. Além disso, a
tipografia da adição de 1956 e a do resto do telegrama
parece idêntica.

Tudo isso teria que ser verificado cientifica e


objetivamente. Mas, o governo russo não está prestes a
realizar um estudo desse tipo, seja sobre esse documento
ou sobre qualquer um dos muitos outros documentos de
veracidade questionável que foram descobertos desde o
fim da URSS. Mas, se é uma cópia, como parece
provável ser, onde está o documento original?

3. No Plenário do Comitê Central de julho de 1957, no qual


o “grupo anti-Partido” composto por Molotov,
Malenkov, Kaganovich e Shepilov foi indiciado pela
tentativa de expulsão de Khrushchev realizada no ano
anterior, Molotov afirma que existia uma decisão de usar
“pressão física” contra certos presos, mas que todos os
membros do Politburo a assinaram. Khrushchev, então,
insiste que havia dois desses documentos, e que ele está
falando sobre o segundo. Ele nunca volta ao assunto do
primeiro. Qual foi o primeiro documento? Nós nunca
soubemos.
Quanto ao suposto segundo documento, de acordo com outro
membro do CC na discussão de julho de 1957, o original foi destruído, mas
uma cópia permaneceu no Obkom do Daguestão. No entanto, essa cópia
não é a cópia que temos porque o texto disponível não está em nenhum
papel timbrado e é, na melhor das hipóteses, um rascunho, talvez uma cópia
mais tardia (de 1956) digitada a partir de um rascunho, e possivelmente até
mesmo uma falsificação completa. Nenhuma outra cópia apareceu e o
documento do Obkom do Daguestão, muito menos.

Certamente, Khrushchev nunca teria destruído provas tão valiosas


contra Stalin – a menos que se incriminasse de alguma forma. Ou, a menos
que elas nunca tivessem existido em primeiro lugar! Nesse caso, A. B.
Aristov (um dos principais partidários de Khrushchev no Comitê Central)
menciona que a “Cópia do Obkom do Daguestão” era um blefe para
intimidar o “grupo anti-Partido” perante o resto do CC62.

Getty afirmou que encontrou o texto de um telegrama semelhante


datado de 27 de julho de 193963. Se for genuíno (não foi publicado) e se
em julho de 1957 Molotov estivesse correto sobre todos os membros do
Politburo terem assinado tal telegrama, então, Khrushchev também o teria
assinado, já que se tornou membro do Politburo em 22 de março de 1939 e
foi um membro candidato (tomando o lugar do desonrado Postyshev) após a
reunião do Pleno do CC de janeiro de 1938. Isso faria Khrushchev tão
responsável quanto Molotov, Malenkov e Kaganovich.

Se o telegrama tivesse sido realmente enviado em 10 de janeiro de


1939, como afirma Khrushchev no “Discurso Secreto”, ele não o teria
assinado. Entretanto, ele certamente teria: (a) visto, e (b) sido responsável
por encaminhá-lo, ou seja, aplicar a “pressão física” aos prisioneiros, uma
vez que ele era Primeiro Secretário da Ucrânia, onde estava reprimindo
milhares de pessoas.

Portanto, é possível que Khrushchev procurou por cópias genuínas


do telegrama de 27 de julho de 1939 e destruiu todas aquelas que pôde
encontrar. Antes de fazer isso, ele fez uma cópia com o mesmo texto
(omitindo o nome de Yezhov, que está na versão posterior), e a datou para
um período anterior ao de seu ingresso no Politburo. Não podemos ter
certeza.

Muitos estudiosos e outros nos garantiram que Khrushchev


destruiu um grande número de documentos. Iuri Zhukov, Nikita Petrov,
Mark Junge e Rolf Binner atestam o fato de Khrushchev ter destruído mais
documentos do que qualquer outro64. Benediktov, ex-ministro da
agricultura, disse a mesma coisa em um artigo publicado em 1989. Nesse
cenário, o documento que Getty encontrou seria uma cópia que Khrushchev
não conseguiu encontrar e destruir. Nós realmente não sabemos.

O que sabemos é que, no mínimo, partes desse documento foram


seletivamente citadas por Khrushchev com a intenção de enganar seu
público.

RODOS TORTUROU CHUBAR E KOSSIOR POR ORDEM


DE BERIA

Khrushchev:
Não faz muito tempo – apenas alguns dias antes do
presente Congresso – chamamos uma sessão do
Comitê Central do Presidium e interrogamos o juiz
investigativo, Rodos, que em seu tempo investigou
e interrogou Kossior, Chubar e Kosarev. Ele era
uma pessoa vil, com o cérebro de um pássaro,
moral e completamente degenerado. Era esse
homem que estava decidindo o destino de
militantes proeminentes do Partido; ele conduzia
os julgamentos levando em consideração as
questões políticas associadas porque, tendo
estabelecido os “crimes”, ele fornecia materiais a
partir dos quais importantes implicações políticas
poderiam ser tiradas.
Surge a questão de se um homem com tal intelecto
poderia, sozinho, fazer uma investigação que
provasse a culpa de pessoas como Kossior e
outros. Não, ele não poderia ter feito isso sem as
diretrizes adequadas. Na sessão do Presidium do
Comitê Central, ele nos disse: “Me disseram que
Kossior e Chubar eram inimigos do povo e por
isso eu, como juiz investigativo, tinha que fazê-los
confessar que eram inimigos”.
(Indignação no salão)
Ele só poderia fazer isso por meio de longas
torturas, o que fez, recebendo instruções
detalhadas de Beria. Devemos dizer que na sessão
do Presidium do Comitê Central ele cinicamente
declarou: “Eu pensei que estava executando as
ordens do Partido”. Dessa forma, as ordens de
Stalin, relativas ao uso de métodos de pressão
física contra os presos, foram realizadas na prática.
Esses, e muitos outros fatos, mostram que todas as
normas de solução correta dos problemas foram
invalidadas e tudo dependia da vontade de um
homem.

Aqui a mentira de Khrushchev está em implicar que as confissões


obtidas pelas surras de Rodos foram os únicos motivos polos quais Chubar
e Kossior haviam sido e executados. Como já vimos, há muitas evidências
contra os dois que nada têm a ver com “meios de pressão física”. Por
exemplo, ambos foram citados por Yezhov, durante sua confissão-
interrogatório no dia 26 de abril de 1939, como membros da conspiração
direitista e espiões alemães.

Khrushchev implica que Rodos era um homem de Beria65. Mas,


materiais de reabilitação afirmam que ele também estava envolvido na
investigação de suspeitos durante o mandato de Yezhov (RKEB 1, p. 176).

É possível que Rodos tenha simplesmente “seguido ordens”, como


alegou ter feito. Se, como alegado por Khrushchev e pelo “telegrama
relativo à tortura”, a tortura tivesse sido autorizada pelo Comitê Central e se
Rodos tivesse sido instruído a torturar alguns réus, como ele parece ter
admitido, então ele tinha apenas seguido ordens. Logo, ele não cometeu
nenhum crime. Talvez seu verdadeiro crime fosse ter sido um investigador
sob comando Beria, bem como sob Yezhov. Khrushchev fez o possível para
culpar Beria.

Rodos foi julgado e sentenciado entres os dias 21 e 26 de fevereiro


de 1956 – durante o próprio 20º Congresso do Partido66! Por quê? Isso
sugere que Rodos pode ter sido “julgado” e executado para calá-lo. Como
chefe da Seção de Investigação do NKVD, Rodos teria participado
ativamente nas investigações das atividades de Yezhov e teria sido
responsável pelos casos daqueles que estavam no círculo em torno da
esposa de Yezhov, incluindo Isaac Babel, Vsevolod Meierkhold, entre
outros.

Outra possibilidade é que seu destino servisse para advertir outros,


a fim de fazê-los cooperar com as “reabilitações” de Khrushchev e dizer
aquilo que ele queria que dissessem. Pavel Sudoplatov, um dos
subordinados de Beria, foi evidentemente preso por quinze anos pela recusa
em falsificar acusações contra Beria, apenas conseguindo escapar da
execução por meio do difícil estratagema de fingir insanidade por alguns
anos.

Os materiais do julgamento de Rodos nunca foram liberados. Ele


obviamente não tinha sido processado após a dispensa de Yezhov, assim
como tantos outros do NKVD que haviam torturado réus e fabricado casos.
Era certamente conveniente para Khrushchev ter Rodos e Beria como
pessoas que poderia culpar pelas repressões. Essa pressa para se livrar de
Rodos sugere a possibilidade ter havido algum tipo de conexão entre
Khrushchev e Yezhov, que permanece desconhecida hoje e cujas origens
remontam aos anos em que Khrushchev foi um dos Primeiros Secretários.

O General Pavel Sudoplatov foi convidado por Roman Rudenko,


promotor chefe soviético e cria de Khrushchev, para escrever falso
testemunho contra Beria, após a morte deste. Quando Sudoplatov se
recusou, ele foi preso e acusado de ser um participante de uma
“conspiração” imaginária encabeçada por Beria. De acordo com o relato de
Sudoplatov, o General Ivan I. Maslennikov, um herói da União Soviética,
cometeu suicídio em vez de fazer a mesma coisa. Sudoplatov escapou da
execução apenas fingindo insanidade, mas permaneceu preso por 15
anos67. É possível que alguma coisa semelhante tenha acontecido com
Rodos.

1. A carta está publicada em Doklad Khrushcheva, p. 225-


229, sem identificadores de arquivamento. A carta
original, bem como talvez muito mais do arquivo da
investigação de Eikhe, ainda hoje é mantido em segredo
pelas autoridades russas. Nem mesmo os editores dessa
publicação oficial do Discurso foram autorizados a citar
sua localização exata nos arquivos. Traduzimos e
fizemos notas a essa carta no Capítulo XI.↩

2. RKEB 1, p. 328.↩

3. Ver a nota de S. N. Mironov para Nikolai Yezhov de 17


de junho de 1937, impressa na “comunicação especial”
de Yezhov a Stalin de 22 de junho de 1937, em Vladimir
Khaustov e Lennart Samuelson, Stalin, NKVD i repressii
1936-1938 gg. Moscou: ROSSPEN, 2009. P. 332-333.
Nesta nota Mironov explicitamente dá o nome Eikhe.↩

4. Lubianka. Stalin i NKVD-NKGB-GUKR “Smersh”. 1939


– Mart 1946. Moscou: MDF, 2006, Documento No. 37,
pp. 52-72, e Doc. No. 33, pp. 33-50. Este volume será
citado a partir de agora como Lubianka 3.↩

5. Eikhe confirma uma dessas visitas a Yezhov junto de


Evdokimov na carta enviada a Stalin. Cf. Doklad
p. 228.↩

6. Lubianka 3, p. 38.↩

7. Ibid.↩

8. M. Jansen, N. Petrov. Stalin’s Loyal Executioner:


People’s Commissar Nikolai Yezhov. 1895 – 1940
Hoover Inst4itution Press, 2002, p.91.↩

9. Stalin queria que as eleições para o Soviete Supremo da


URSS ocorressem com 2-3 candidatos para um
determinado cargo. Os candidatos seriam propostos não
apenas pelo Partido Comunista (VKP(b)), mas também
por organizações sindicais com representação em toda a
União. Como evidência, Zhukov publicou uma amostra
de cédula para as eleições de dezembro de 1937, na qual
está escrito: “Deixe nesta cédula o sobrenome do
candidato em que você deseja votar. Risque o resto”. É a
sexta ilustração depois da p. 256 em Zhukov, UI. Inoi
Stalin. Vagrius, 2003. Eu coloquei online no Link
[sample_ballot_1937].↩

10. Lubianka 2, Doc. No. 26, p. 387-395.↩

11. Yakovlev, A. S., Tsel’ Zhizni. Moscou: Politizdat, 1973,


p. 264. Este livro também está disponível online no Link
[militera.lib.ru/memo/russian/yakovlev-as/20].↩

12. Lubianka 3, p. 45.↩

13. Doklad Khrushcheva, p. 229.↩

14. Traduções para o inglês do texto de todos os


interrogatórios de Yezhov publicados até 2010 estão em
Grover Furr, “Interrogations of Nikolai Yezhov, former
People’s Comissar for Internal Affairs”, disponível no
Link [ezhovinterrogs].↩

15. Consulte o apêndice deste Capítulo para as citações.↩

16. Ver RKEB 1, pp. 308-9 e o apêndice deste Capítulo.↩

17. RKEB 1 p. 294-5.↩

18. F. I. Chuev. Poluderzhavnyi Vlastelin. Moscou: OLMA-


PRESS, 1999, p. 484.↩

19. RKEB 1, p.328.↩

20. RKEB 1, p. 294-5.↩

21. Lubianka 2, No. 92 pp. 202 ff. Sobre Rudzutak


particularmente ver 204-5.↩

22. Ibid, p. 537.↩


23. Lubianka 3, 84-90, 92-93.↩

24. Chuev, Molotov, 483-5.↩

25. Zakovskii é chamado de “um dos colegas mais próximos


do N. I. Yezhov” na biografia de Zakovskii, feita por
Zalesky, Imperiia Stalina, disponível no Link
[hrono.ru/biograf/zakovski].↩

26. A. M. Rozenblium, de acordo com o Relatório Pospelov


de fevereiro. 9, 1956 – ver Doklad Khrushcheva, p. 193,
865; RKEB 1, p. 323. Quando foi preso em 1937, ele era
o chefe do departamento político da Ferrovia de
Outubro. Em seu discurso, Khrushchev não se referiu
aos autos criminais de Rozenblium, mas ao que declarou
à Comissão do CC do PCUS em 1955.↩

27. Jansen & Petrov, p. 151. Lubianka 3, p. 45. Texto cf no


Link [frinovskyeng].↩

28. James R. Harris. The Great Urals: Regionalism and the


evolution of the Soviet System (Ithaca NY: Cornell
University Press, 1999) 163 nas notas 78 e 81.↩

29. RKEB 1, Doc. No. 52, p. 280; cf Relatório Pospelov,


ibid., p. 323.↩

30. Jansen & Petrov, p. 75.↩

31. Lubianka 2, Doc. No. 276, p. 463.↩

32. Lubianka 3, 79.↩

33. RKEB 1, p. 219.↩

34. Ibid., p. 251.↩

35. F. I. Chuev. Kaganovich. Shepilov. Moscou: OLMA-


PRESS, 2001, p. 117↩
36. Chuev, Molotov, pp. 486-7.↩

37. RKEB 1, p. 326.↩

38. Lubianka 3, 85. 590.↩

39. Alguns desses artigos insistem que Kosarev nunca


confessou, apesar do fato dos materiais de reabilitação da
era Khrushchev afirmarem que ele foi “forçado” a uma
confissão, enquanto a carta de Ulrikh afirma
definitivamente que ele confessou. Portanto, é
improvável que esses artigos sejam, no mínimo,
confiáveis. Sem mais provas de interrogatórios e
julgamentos, nada podemos dizer.↩

40. A. I. Mgeladze. Stalin. Kak ia ego Znal. Stranitsy


nedavnogo proshlogo. N.pl., 2001, pp. 165; 172.↩

41. Sovetskoe Rukovodstvo, Perepiska 1928-1941. Moscou:


Rosspen, 1999, reimprime uma série dessas cartas de
Andreev e Zhdanov.↩

42. E. V. Taranov, Partiinii gubernator Moskvy Georgii


Popov (Moscou: Izd-vo Glavarkhiva Moskvy, 2004), 12-
14 e nota 17 p. 104.↩

43. Zhertvy politicheskogo terrora v SSR. Na diskakh 2 kh.


Disco 2. Stalinskie rasstrel’nye spiski. Moscow: Zvenia,
2004. Disponível no Link [memo.ru/history/vkvs/].↩

44. Disponível no Link


[memo.ru/history/vkvs/images/intro1].↩

45. “Nem todos os membros do Politburo, mas apenas os


membros mais próximos de Stalin, participaram da
revisão (na realidade, da co-assinatura) das listas”.
Disponível no Link
[memo.ru/history/vkvs/images/intro].↩
46. “Nas 8 listas encontramos a assinatura de Yezhov
(evidentemente aqui ele estava agindo não como o
Comissário Popular para Assuntos Internos, mas como
secretário do CC)”, ibid.↩

47. Cf. Disponível no Link [02049].↩

48. Em 11 de agosto de 1937, Volkov foi escolhido Primeiro


Secretário do CC do Partido Comunista (b) da
Bielorrússia e de outubro de 1938 a fevereiro de 1940
ocupou o cargo de Primeiro Secretário do Obkom de
Chuvash do VKP(b). Até onde sabemos, ele morreu em
1941 ou 1942. Um relato mais detalhado de Volkov foi
publicado no jornal Sovetskaia Belorussia de 21 de abril
de 2001. Cf no Link [novo].↩

49. Cf. Disponível no Link


[web.archive.org/web/20110808162933/mosoblproc.ru/h
istory/prokurors/7/] e Link
[memo.ru/memory/donskoe/d39].↩

50. Cf. Disnponível no Link


[mosoblproc.ru/history/prokurors/8/] e no Link
[mos.memo.ru/shot-63].↩

51. Jansen & Petrov. 84; 148.↩

52. RKEB 3, p. 660.↩

53. Getty & Naumov, p. 498-512.↩

54. Robert Thurston, Life and Terror in Stalin’s Russia,


1934-1941. (Yale University Press;1998), p.109, 112;
também ver a Parte 4 de seu livro.↩

55. Khrushchev, Vremia, Liudi, Vlast’. Kn. Eu, chast’1


(Moscou: Moskovskie Novosti, 1999), pp. 172-3.↩

56. Jansen & Petrov p. 84; p. 148.↩


57. Thurston, pp. 118-119.↩

58. RKEB 1, p. 317. Cf. Disponível no Link


[alexanderyakovlev.org/almanah/inside/almanah-
doc/55752].↩

59. Veja a nota de Okhotin e Roginskii em Danilov,V., et al.,


ed., Tragediia Sovetskoi Derevni vol. 5 Nº 2 (Moscou:
ROSSPEN 2006) 517. Mark IUnge, Gennadii.
Bordiugov, Rol’f Binner, Vertikal’ Bol’shogo Terrora
(Moscou: Novyi Khronograf, 2008), 490, n. 55.↩

60. Komsomolskaia Pravda 3 de dezembro de 2002; J. Arch


Getty. “Excesses are not permitted: Mass Terror and
Stalinist Governance in the Late 1930s”. The Russian
Review. Vol.61 (Janeiro de 2002), p.127.↩

61. Lubianka 3, No. 8, pp. 14-15 e n. p. 15.↩

62. Molotov, Malenkov, Kaganovich, 1957. Stenogramma


iul’skogo plenuma TsK KPSS I drugie dokumenty. Ed. A.
N. Yakovlev, N. Kovaleva, A. Korotkov, et al. Moscou:
MDF, 1998, pp. 121-2.↩

63. Getty, “Excesses” p. 114, n.4.↩

64. UI. Zhukov, “Zhupel Stalina”, Parte 3. Komsomolskaia


Pravda, 12 de novembro de 2002); Nikita Petrov, Ivan
Serov, Moscou 2005, pp. 157-162; Mark Junge e Rolf
Binner, Kak Terror Stal Bol’shim. Moscou, 2003, p. 16,
n. 14.↩

65. Nikita Petrov afirma que Rodos foi preso em 5 de


outubro de 1953, mesmo período em que outros da
“gangue de Beria” estavam presos e foram interrogados.
N. Petrov, Pervyi predsedatel’ KGB Ivan Serov. Moscou,
2006, p. 393.↩
66. RKEB 1, p. 411, nota 13. O arquivo investigativo de
Rodos ainda não foi desclassificado. Na exposição “1953
god. Mezhu proshlym i budushchim” (2004), no Salão
de Exposições dos Arquivos Federais em Moscou, havia
na exposição dois documentos relativos a Rodos. Veja o
catálogo da exposição no Link
[web.archive.org/web/20080216114732/rusarchives.ru/e
vants/exhibitions/stalin_sp.shtml], Nº 269 e 270. Parece
provável que o arquivo investigativo de Rodos ainda
exista.↩

67. Pavel Sudoplatov, Spetsoperatsii. Lubianka i Kreml’


1930-1950 gody. Moscou: Sovremennik, 1997. O
capítulo em questão está online no Link
[hrono.ru/libris/lib_s/beria1].↩
STALIN E A GUERRA
STALIN NÃO OUVIU AVISOS SOBRE A GUERRA

Khrushchev:
O poder acumulado nas mãos de uma pessoa,
Stalin, levou a sérias consequências durante a
Grande Guerra Patriótica... Durante e após a
guerra, Stalin apresentou a tese de que a tragédia
que nossa nação experimentou na primeira parte
do conflito foi resultado do ataque “inesperado”
dos alemães contra a União Soviética. ...Stalin não
tomou nenhuma atitude em relação a esses avisos.
Além disso, Stalin ordenou que não fosse dada
credibilidade a informações desse tipo, a fim de
não provocar o início das operações militares...
tudo foi ignorado: avisos de certos comandantes do
Exército, declarações de desertores do exército
inimigo, e até mesmo a hostilidade aberta do
inimigo. Seria este um exemplo do grau de alerta
do chefe do Partido e do Estado neste momento
histórico particularmente significativo?

A Alemanha realmente cometeu agressão contra a União Soviética


e, por isso, esta é uma afirmação de Khrushchev que está
inquestionavelmente correta. Há uma enorme quantidade de evidências para
refutar o resto do que ele diz.

Ainda assim, o ataque ocorreu. O Marechal A. E. Golovanov


acreditava que, assim como a glória da vitória, qualquer responsabilidade
deveria ser compartilhada por todos os principais comandantes militares.

Documentos publicados desde o fim da URSS mostraram que


Stalin e a liderança soviética esperavam um ataque alemão, mas também
que os avisos da inteligência e de outras fontes eram contraditórios e
incertos. V. V. Kozhinov aponta os problemas em distinguir entre
desinformação deliberada e apenas erros simples nas informações precisas
durante a avaliação de inteligência e destaca o quão contraditória era a
inteligência disponível aos líderes soviéticos.
O exército alemão tinha um plano de desinformação com objetivo
de espalhar boatos falsos para a liderança soviética. Foi publicada uma
ordem detalhada do Marechal de Campo Wilhelm Keitel para este efeito,
datada de 15 de fevereiro de 19411.

Como Kozhinov aponta, aqui as acusações de Khrushchev podem


ser colocadas contra a sua própria tese. Historiadores não culpam o
Presidente Roosevelt por não prever o ataque a Pearl Harbor. Portanto,
culpar Stalin por não prever a hora e o local exatos do ataque nazista é ser
vítima do “culto à personalidade” – acreditar que Stalin teria habilidades
sobre-humanas e inexplicavelmente falhou em usá-las2.

Os soviéticos não poderiam declarar uma mobilização porque isso


era universalmente entendido como uma declaração de guerra. Foi
precisamente uma mobilização dessa desencadeou a Primeira Guerra
Mundial. Isso teria dado a Hitler a oportunidade de declarar guerra,
deixando a URSS vulnerável a um acordo separado entre Hitler e os
Aliados. E em um plano para a “Operação Ost”, elaborado em 1940, o
general-major alemão, Marks, faz a observação lamentável de que “os
russos não nos farão o favor de nos atacar [primeiro]”3.

Os soviéticos não podiam confiar nos avisos britânicos, pois estes


claramente queriam colocar Hitler contra a União Soviética e enfraquecer
ambos, se não, usar a oportunidade para fazer as pazes com Hitler contra os
soviéticos, como muitos no establishment britânico queriam.

O Marechal Meretskov, nenhum admirador de Stalin, acreditava


que a situação que precedeu a guerra foi muito complexa, impossível de
prever. Suas memórias foram publicadas após a expulsão de Khrushchev,
em 1968. Zhukov, que após a guerra havia sido rebaixado em desgraça por
Stalin e que tinha ajudado Khrushchev a ataca-lo em 1957, pensava que a
União Soviética de Stalin tinha feito tudo o que podia para se preparar para
a guerra.

Os Marechais Vasilevskii e Zhukov discordaram sobre a


necessidade de Stalin ordenar que todas as tropas tomassem posições ao
longo da fronteira. Em 1965, comentando o artigo de Vasilevskii após a
expulsão de Khrushchev, Zhukov escreveu que acreditava que essa ordem
teria sido um erro grave.

Embora Khrushchev, nesse ponto, não ter feito referência a isto,


vale mencionar que o “aviso” mais famoso a respeito um ataque alemão
iminente – feito pelo famoso espião soviético, Richard Sorge, que estava na
embaixada alemã no Japão – recentemente foi denunciado como sendo uma
farsa criada durante os anos do “Degelo” de Khrushchev4.

CARTA DE VORONTSOV

Khrushchev:
Devemos afirmar que informações desse tipo,
relativas à ameaça da invasão armada alemã ao
território soviético, vinham também de nossas
próprias fontes militares e diplomáticas; no
entanto, devido a liderança estar condicionada
contra tais informações, tais dados foram enviados
com receio e avaliados com reserva.
Assim, por exemplo, as informações enviadas de
Berlim em 6 de maio de 1941 pelo attaché militar
soviético, capitão Vorontsov, afirmavam: “Cidadão
soviético Bozer... comunicou ao vice attaché naval
que, de acordo com uma declaração de certo
oficial alemão do Quartel General de Hitler, a
Alemanha está preparando-se para invadir a
URSS, em 14 de maio, através da Finlândia, países
bálticos e Letônia. Ao mesmo tempo Moscou e
Leningrado serão pesadamente bombardeadas e
paraquedistas pousaram nas cidades de
fronteira.”...

Nesse caso, sabemos que Khrushchev mentiu deliberadamente


porque agora temos o texto completo da carta Vorontsov. Khrushchev
omitiu a avaliação do Almirante Kuznetsov, que muda todo o significado da
carta. Khrushchev deliberadamente escondeu de sua audiência o fato de a
Marinha ter decidido que isso era desinformação destinada a enganar a
liderança soviética (Veja o apêndice)!

A referência desonesta de Khrushchev à carta Vorontsov foi


evidentemente uma ideia de sua própria autoria. Não é mencionada no
Relatório Pospelov; no rascunho de Pospelov-Aristov do Discurso de
Khrushchev de 18 de fevereiro de 1956; ou nas adições de Khrushchev a
esse rascunho em 19 de fevereiro de 1956. Não sabemos como, ou de quem,
Khrushchev obteve a carta.

Os editores do Doklad Khrushcheva não a reimprimem, nem


identificam onde a original foi publicada, tampouco a discutem de qualquer
forma. Eles não poderiam desconhecer a carta original, pois foi publicada
na grande revista militar Voenno-Istoricheskii Zhurnal (nº 2, 1992, p. 39-
40). Eles identificam erroneamente “Bozer” com o espião soviético dentro
da SS alemã, Schulze-Boysen, apesar de Bozer ser claramente identificado
como um “cidadão soviético”.

Parece que eles queriam esconder a mentira de Khrushchev ao não


a identificar. Tudo isso aponta para uma ocultação deliberada realizada
pelos editores de um livro supostamente sério.

Exemplos, como a carta de Vorontsov, exigem que examinemos os


possíveis motivos para Khrushchev ter mentido no Discurso Secreto.

SOLDADO ALEMÃO

Um pouco mais tarde no “Discurso Secreto”, Khrushchev voltou a


este tema dos “avisos”:
O próximo fato também é conhecido: Na véspera
da invasão pelo exército hitlerista ao território da
União Soviética, um certo cidadão alemão cruzou
nossa fronteira e afirmou que os exércitos alemães
haviam recebido ordens para iniciar a ofensiva
contra a União Soviética na noite de 22 de junho,
às 3 horas. Stalin foi informado sobre isso
imediatamente, mas até mesmo este aviso foi
ignorado.

Essa declaração de Khrushchev também é falsa. Ao contrário da


carta Vorontsov, que era secreta até recentemente, a história do soldado
alemão devia ser conhecida por muitas pessoas na plateia de Khrushchev.
O soldado em questão era Alfred Liskow. Seu aviso não foi
ignorado de forma alguma. Sua deserção, às 21h de 21 de junho, foi
relatada por telefone às 3h10 de 22 de junho, 40 minutos antes da invasão
nazista. Portanto, Stalin não foi “informado imediatamente”, nem há
qualquer evidência de que ele “ignorou” esse aviso, como disse
Khrushchev. O comandante do pelotão de Liskow, um certo Tenente
Schulz, avisou seus homens sobre a invasão iminente ainda de madrugada
(pod vecherom).

Liskow foi enviado para Moscou. Em 27 de junho de 1941, sua


história foi impressa no Pravda5. Foi produzido um folheto com sua
história, imagem e um chamado para os soldados alemães desertarem para o
lado soviético. De acordo com um relato, uma unidade soviética
imediatamente explodiu uma ponte e foi para posições defensivas, onde foi
dizimada, até um homem, pelo ataque alemão algumas horas depois.

Em suas memórias, escritas na década de 1960, o próprio


Khrushchev não repete a alegação de que o aviso do soldado alemão tenha
sido ignorado.

COMANDANTES ASSASSINADOS

Khrushchev:
Consequências muito graves, especialmente
referentes ao início da guerra, se seguiram à
aniquilação de muitos comandantes militares e
militantes políticos, realizada por Stalin durante
1937-1941, por causa de desconfiança e por meio
de acusações caluniosas. Durante esses anos,
foram instituídas repressões contra certas partes
dos quadros militares, começando literalmente no
nível de comandante de companhia e de batalhão e
estendendo-se aos centros militares mais altos;
durante este tempo, o quadro de líderes que tinham
adquirido experiência militar na Espanha e no
Extremo Oriente foi quase completamente
liquidado.

Khrushchev não afirma diretamente, mas, em vez disso, alude às


seguintes alegações, que ele e outros fizeram posteriormente:
O Marechal Tukhachevsky e os outros sete comandantes
condenados e executados com ele, em 11 de junho de
1937, eram inocentes no que foram acusados – conspirar
para derrubar o governo e contatos de espionagem com a
Alemanha e o Japão.

Tão alto foi o número de comandantes militares


executados ou demitidos que a preparação militar
soviética foi brutalmente prejudicada. Os comandantes
militares executados ou demitidos eram melhores
comandantes – mais educados, com mais experiência
militar – do que aqueles que os substituíram.

A pesquisa refutou essas declarações. Os fatos mostram outro


cenário.

1. Desde o fim da URSS, uma grande massa de evidências


foi publicada confirmando a culpa de Tukhachevsky e
desses outros comandantes naquilo que foram acusados.
Desde a época de Khrushchev, esses mesmos
comandantes têm sido considerados heróis na URSS e
também agora na Rússia pós-soviética. O governo, que
controla o arquivo presidencial onde os materiais sobre
isso e sobre os julgamentos e investigações de 1936-
1938 são mantidos hoje, só liberou pequenos pedaços da
documentação e historiadores oficiais ainda negam que
os comandantes eram culpados.

Mas, mesmo essa documentação demonstra a culpa sem


margem para dúvidas. Por exemplo, em sua confissão-
interrogatório de 26 de abril de 1939, recentemente
publicada (fevereiro de 2006), Yezhov confirma
plenamente a existência de três conspirações militares
separadas e concomitantes: uma composta por “grandes
líderes militares” liderados pelo Marechal A. I. Egorov;
um grupo trotskista liderado por Gamarnik, Iakir e
Uborevich; e um “grupo bonapartista de oficiais”
liderado por Tukhachevsky6.

Para agravar sua desonestidade, Khrushchev reabilitou


Tukhachevsky e a maioria dos outros em 1957. Mas,
Khrushchev não criou uma comissão para estudar a
questão da culpa até 1962. O relatório, com provas
adicionais de culpa, foi mantido em segredo até 19947.

2. Khrushchev e os historiadores anticomunistas que


vieram após ele exageraram muito o número e a
porcentagem dos comandantes militares executados e
dispensados durante 1937-38. Bons estudos sobre este
assunto existiam na época de Khrushchev e foram
realizados nos dias atuais. Da mesma forma, o nível do
treinamento militar, e até mesmo da experiência de
campo de batalha – pelo menos, a experiência na
Primeira Guerra Mundial – aumentou como resultado da
substituição dos oficiais executados, presos e demitidos
por aqueles promovidos para ocupar suas posições.

Os melhores resumos de publicações russas recentes sobre esses


assuntos são:

Gerasimov, G. I. “Destvitel’noe vliyanie repressiy 1937-


1938 gg. Na ofitserskiy korpus RKKA. Rossiiskiy
Istoricheskiy Zhurnal No. 1 de 1999. Disponível online
no Link [hrono.ru/statii/2001/rkka_repr].

Pykhalov, Igor. Velikaya Obolgannaya Voyna. Moscou:


“Yauza”, “EKSMO”, 2005, Ch. 2: “Byla li
‘Obezglavlena’ Krasnaya Armiya?” Disponível online
no Link [militera.lib.ru/research/pyhalov_i/02]

O Marechal Konev, conversando com o escritor Konstantin


Simonov em 1965, discordava frontalmente de Khrushchev.
Além disso, o próprio Khrushchev foi diretamente responsável
pela “aniquilação” da maioria dos comandantes do Distrito Militar de Kiev
(Ucrânia). Volkogonov cita uma diretiva de Khrushchev, datada de março
de 1938. A versão mais longa, da edição russa, está traduzida aqui (ver
Apêndice); uma versão muito mais curta é dada na edição em inglês, Dmitri
A. Volkogonov, Stalin: Triumph and Tragedy. (NY: Grove Weidenfeld,
1991), p. 329.

“DESMORALIZAÇÃO” DE STALIN APÓS O INÍCIO DA


GUERRA

Khrushchev:
Seria incorreto esquecer que, após o primeiro
desastre severo e a derrota no front, Stalin pensou
que era o fim. Em um de seus discursos naqueles
dias, ele disse: “Tudo o que Lenin criou, perdemos
para sempre”.
Depois disso, Stalin por muito tempo não dirigiu
as operações militares e deixou de fazer qualquer
coisa.

Isso é completamente falso e Khrushchev tinha que saber que era.


A maioria dos que trabalharam em estreita colaboração com Stalin, durante
as primeiras semanas da guerra (e após), ainda estavam vivos e ocupavam
altos cargos. No entanto, eles nunca reportaram nada desse tipo. O próprio
Khrushchev esteve na Ucrânia durante todo esse período e não poderia
conhecer em primeira mão nada que Stalin disse ou fez.

Foram publicados agora os livros de registros daqueles que foram


ao escritório de Stalin para trabalhar com ele. Esses registros demonstram
que Stalin esteve extremamente ativo desde o primeiro dia da guerra. Claro,
isso também estava disponível para Khrushchev. Os livros de registros de
21 a 28 de junho de 1941 foram publicados em Istoricheskii Arkhiv No. 2,
1996, pp. 51-54, e documentam a atividade contínua de Stalin. Também
colocamos on-line as cópias fac-símile das páginas manuscritas originais8.

O Marechal Zhukov não tinha amor particular por Stalin. Stalin o


rebaixou após a guerra, quando Zhukov foi pego em posse de espólios de
guerra alemães. Zhukov também apoiou Khrushchev durante a expulsão,
em 1957, dos “stalinistas” Malenkov, Molotov e Kaganovich. Apesar disso,
Zhukov parece ter mantido uma boa dose de respeito por Stalin, e, em suas
memórias, ele refutou essa afirmação de Khrushchev.

Georgi Dimitrov, o chefe búlgaro do Comintern, escreveu em seu


diário que foi convocado para o Kremlin às 7 da manhã em 22 de junho de
1941, onde encontrou Poskrebyshev (secretário de Stalin); Marechal
Timoshenko; Almirante Kuznetsov; Lev Mekhlis, editor do Pravda e chefe
do Diretório Político do Exército; e Beria, chefe do NKVD. Ele comentou:
“Calma impressionante, firmeza e confiança de Stalin e de todos os
outros”9.

Tentando resgatar a falsidade de Khrushchev sobre a suposta


inatividade de Stalin, biógrafos de Stalin durante o período da Guerra Fria
aproveitaram o fato da ausência de entradas no livro de registros dos
visitantes ao escritório de Stalin dos 29 e 30 de junho e concluíram,
portanto, que o seu suposto colapso deveria ter ocorrido nesses dias.

Até mesmo o historiador dissidente soviético e antistalinista feroz,


Roi Medvedev, toma como mentira essa versão dos acontecimentos. A
versão de Khrushchev, diz Medvedev, é “uma completa invenção”10, mas
apareceu nas biografias de Stalin feitas por Jonathan Lewis e Phillip
Whitehead (1990), Alan Bullock (1991) e na Enciclopédia de Oxford da
Segunda Guerra Mundial (1995). Medvedev continua citando as provas.

Stalin foi continuamente muito ativo desde 22 de junho, incluindo


os dias 29 e 30 de junho. Em 29 de junho, houve uma discussão famosa
com seus comandados, incluindo Timoshenko e Zhukov. Mikoyan a
descreveu para a G. A. Kumanev (Riadom so Stalinym, pp. 28-9). Também
em 29 de junho, Stalin formulou e assinou a importante diretiva sobre a
guerra de guerrilha. Em 30 de junho, foi emitido o Decreto do Soviete
Supremo, do Conselho de Comissários do Povo e do Comitê Central do
Partido, formando o Comitê de Defesa do Estado.

O General Dmitri Volkogonov, bem como Pavel Sudoplatov,


concordam que Khrushchev estava mentindo. Ambos eram hostis a Stalin,
Volkogonov de maneira extrema, quando escreveu seus livros nos anos 90.
STALIN, UM MAL COMANDANTE

Khrushchev:
Stalin estava muito longe de entender a situação
real que se desenvolvia no front. Isso era natural
porque, durante toda a Guerra Patriótica, ele nunca
visitou qualquer seção do front ou de qualquer
cidade libertada, exceto por um passeio curto na
estrada de Mozhaisk durante estabilização no
front. A este incidente foram dedicadas muitas
obras literárias, cheias de fantasias de todos os
tipos e inúmeras pinturas.
Simultaneamente, Stalin estava interferindo em
operações e emitindo ordens que não levavam em
consideração a situação real de uma determinada
seção do front e que não podiam ajudar, e que
resultavam em enormes perdas de pessoal.

Além de Khrushchev, ninguém mais disse isso! Em contraste,


escrevendo após a queda de Khrushchev, o Marechal Zhukov considerou
Stalin um líder militar extremamente competente. Em suas memórias, o
Marechal Vasilevsky especificamente citou a declaração de Khrushchev e
discordou fortemente. O Marechal Golovanov falou de Stalin e suas
habilidades como comandante usando os mais altos termos.

KHARKOV, 1942

Khrushchev:
Permitir-me-ei, a respeito disso, trazer à tona um
fato característico que ilustra a maneira com a qual
Stalin dirigiu as operações nos fronts. Está
presente neste Congresso o Marechal Bagramian,
que já foi o chefe de operações na sede do front
sudoeste e que pode corroborar o que eu vou dizer
a vocês. Quando, em 1942, se desenvolveu uma
situação excepcionalmente grave para o nosso
Exército na região de Kharkov... E qual foi o
resultado disso? O pior que esperávamos. Os
alemães cercaram nossos bolsões de exército e,
consequentemente, perdemos centenas de milhares
de nossos soldados. Esse é o “gênio” militar de
Stalin; isto foi o que nos custou.
Isso não está errado, a maioria dos generais não culpam Stalin e
alguns dizem que o próprio Khrushchev é o culpado!

Em um artigo que trata deste tema e publicado no aniversário no


“Discurso Secreto” de Khrushchev, Sergei Konstantinov resumiu as reações
de muitos líderes militares às observações de Khrushchev sobre Stalin (Veja
o apêndice). De acordo com o acadêmico, A. M. Samsonov, Zhukov
discordou do relato de Khrushchev. Em suas memórias, Zhukov culpa
Stalin, mas apenas em parte11.

Como vimos (ver seção 35, apêndice) o Marechal Vasilevskii


objetivamente chamou de mentira a versão de Khrushchev a respeito da
defesa Kharkov. Ele diz que Khrushchev e o General Kirponos receberam
os planos e amostras dos lançadores de foguetes, bem como conselhos
sobre como construir suas próprias armas. Na verdade, diz Vasilevskii, a
culpa foi de Khrushchev, não de Stalin. O Historiador Vadim Kozhinov
aponta que Khrushchev usou essa história para descreditar Malenkov12 e
evitou completamente um ponto óbvio: ele, como Primeiro Secretário da
Ucrânia há mais de três anos, poderia ter realizado o preparo dos rifles
muito antes da invasão.

O Short History of the Great Patriotic War (edição de 1970, pp.


164-5), publicado após a expulsão de Khrushchev, carrega a versão que
culpa o comando do front ao invés de Stalin e do GKO. Isso é consistente
com a carta de Stalin, de 26 de junho de 1942, citada por muitas fontes,
incluindo a biografia de Timoshenko da autoria de Portugalskii et ali., que
culpa não apenas Bagramian, mas também Timoshenko e o próprio
Khrushchev.

Mais cedo no “Discurso Secreto”, Khrushchev alegou que “Quem


se opunha a esses conceitos ou tentava provar seu ponto de vista e a
correção de sua posição estava condenado à remoção da liderança coletiva e
à subsequente aniquilação moral e física”. Isso não é verdade e Khrushchev
nem sequer deu um único exemplo disso. O Marechal Timoshenko
sobreviveu sob Stalin por 17 anos; Khrushchev, por 18; Marechal
Bagramian, por 29 anos. Todos eles insistiram em seu “ponto de vista” e,
ainda assim, nenhum foi punido, muito menos “aniquilado”.
Dmitry Volkogonov, que era intensamente hostil a Stalin, sugere
que Khrushchev ou tenha falhado ao se lembrar disso depois de tantos anos,
ou estava mentindo sobre este ponto em seu “Discurso Secreto”.

STALIN PLANEJAVA OPERAÇÕES MILITARES EM UM


GLOBO

Khrushchev:
Liguei para Vasilevsky e implorei-lhe: “Alexander
Mikhailovich, pegue um mapa” – Vasilevsky está
presente aqui – “e mostre ao camarada Stalin a
situação que se desenvolveu”. Devemos notar que
Stalin planejava as operações em um globo
terrestre (Animação no salão). Sim, camaradas, ele
costumava pegar o globo e desenhar a linha de
frente nele. Eu disse ao camarada Vasilevsky:
“Mostre-lhe a situação em um mapa...”

Essa é, talvez, a mentira mais óbvia em todo o Discurso de


Khrushchev. Ninguém jamais defendeu tal afirmação. Muitas autoridades
refutam isso, algumas indignadas. Refiro-me às citações dos líderes
militares, bem como a de Molotov.

STALIN REBAIXOU ZHUKOV

Khrushchev:
Stalin estava muito interessado em avaliar o
camarada Zhukov como um líder militar. Ele pediu
muitas vezes a minha opinião sobre Zhukov. Eu
disse-lhe então: “Eu conheço Zhukov há muito
tempo, ele é um bom general e um bom líder
militar”.
Após a guerra, Stalin começou a contar todo tipo
de bobagem sobre Zhukov, entre outras a seguinte:
“Você elogiou Zhukov, mas ele não merece. Diz-se
que antes de cada operação no front, Zhukov
costumava se comportar da seguinte forma: ele
geralmente pegava um punhado de terra, cheirava-
a e dizia:”Podemos começar o ataque”, ou o
oposto, “A operação planejada não pode ser
realizada.’” Eu disse na época: “Camarada Stalin,
não sei quem inventou isso, mas não é verdade”.
É possível que o próprio Stalin tenha inventado
essas coisas com o propósito de minimizar o papel
e os talentos militares do Marechal Zhukov.

Ninguém mais ouviu Stalin dizer isso. De acordo com uma


observação do próprio Zhukov, que é citada por vários escritores, Stalin o
rebaixou, mas nunca o insultou. Essa observação feita por Zhukov foi
provavelmente uma resposta direta a Khrushchev, já que é difícil imaginar
qualquer outra razão para ele ter feito isso.

Stalin rebaixou Zhukov após a guerra, quando foi descoberto que


o Marechal estava roubando espólios de guerra alemães em larga escala em
vez de contribuir com o Estado, pois seriam usados na reconstrução da
daquilo destruído pelos alemães durante a guerra13.

Como todos sabiam do rebaixamento de Zhukov após a guerra,


mas poucos sabiam os detalhes do porquê disso ter ocorrido, Khrushchev
provavelmente estava apenas fazendo favores a Zhukov. Ele precisaria de
Zhukov no ano seguinte, para ajudá-lo a derrotar os “stalinistas” Malenkov,
Molotov, Kaganovich e Shepilov, que tentaram tirá-lo do cargo.

1. 1941 god. Dokumenty. V. 2-kh kn. Kn.1. Moscou, 1998,


pp. 661-664. O documento é “Ukazanie Shtaba
Operativnogo Rukovodstva O Meropriiatiiakh
Dezinformatsii”. Eu o coloquei online no Link
[germandisinfo].↩

2. Embora Khrushchev não aborde diretamente esta


questão aqui, queremos mencionar que foram publicadas
boas evidências de que o General Dmitry Pavlov,
comandante do front ocidental, onde o Exército
Vermelho foi surpreendido e estava completamente
despreparado, onde foram sofridas as maiores baixas e
onde os alemães efetuaram a maior penetração dentro da
URSS após 22 de junho, foi de fato culpado em
maquinar a derrota para beneficiar os alemães. Algumas
citações e bibliografia sobre esta questão estão incluídas
na seção de língua russa neste ponto.↩

3. 1941 god v 2-kh knigakh. Kniga pervaia (Moscou: MFD,


1998) p. 154.↩

4. “22 iiunia 1941 goda. Moglo li vse byt po-inomu”? (22


de junho de 1941: Poderia tudo ter sido de outra forma?),
Krasnaia Zvezda 16 de junho de 2001. Disponível online
no Link
[web.archive.org/web/20071215232455/redstar.ru/2001/
06/16_06/4_01].↩

5. Eu disponibilizei esse artigo online no Link


[liskowpravda062741.pdf]↩

6. Eu coloquei esta confissão-interrogatório de Yezhov


disponível online no Link [ezhov042639eng]. A
referência bibliográfica completa desse fato está no topo
do artigo.↩

7. Há uma enorme quantidade de evidências indicando que


Tukhachevsky e os outros comandantes, julgados e
executados com ele, eram culpados. O autor e historiador
de Moscou, Vladimir L. Bobrov, está preparando um
longo estudo sobre todo o tema do “Caso
Tukhachevsky”.↩

8. Elas estão reproduzidas no Link


[hrono.ru/libris/stalin/16-13]. Uma fonte conveniente
para essa informação está no artigo de Igor Pykhalov
“Did Stalin colapse into innactivity?” (Did Stalin fall
into prostration?), Capítulo 10 de seu livro Velikaya
Obolgannaya Voina (A Grande Guerra caluniada),
também online no Link [pyhalov_i/10].

Fac-símiles das cópias originais de arquivo estão


disponíveis no Link [stalinvisitors41.pdf].
As páginas de Istoricheskii Arkhiv nº 2, de 1996, estão
reproduzidas no Link [stalinvisitors41_istarkh96.pdf].↩

9. The diary of Georgi Dimitrov, ed. Ivo Banac (Yale U. P.,


2003), p. 166↩

10. R. Medvedev, Z. Medvedev. The Unknown Stalin


(Woodstock, NY: The Overlook Press, 2003), p. 242.↩

11. No entanto, Zhukov estava muito zangado com Stalin –


Stalin o tinha rebaixado por roubar troféus alemães. Isso
está totalmente documentado em Voennie Arkhivy Rossii,
1993, pp. 175 ff.; para a confissão de Zhukov ver
pp. 241-44. Khrushchev sabia desse roubou e anulou
tudo, sem dúvida com o objetivo de trazer Zhukov para o
seu lado.↩

12. Vadim Kozhinov, Rossiia. Vek XX (1939-1964).


Algoritm, 1999, p. 75. Iuri Emelianov diz a mesma coisa
em “Mif XX S’ezda”. Slovo Nº. 3, 2000. Cf. Disponível
no Link [emlian2].↩

13. Os detalhes foram publicados em um obscuro, mas


evidentemente oficial, jornal chamado Voenniye Arkhivy
Rossii 1, 1993, p. 175-245. Nunca houve outra edição
deste misterioso diário. Um fac-símile dessas páginas
específicas pode ser acessado pelo Link
[zhukovtheft4648var93.pdf].↩
A RESPEITO DAS TRAMAS E CASOS
NACIONALIDADES DEPORTADAS

Khrushchev:
Camaradas, vamos pegar outros fatos. A União
Soviética é justamente considerada como um
modelo de Estado multinacional porque, na
prática, garantimos a igualdade e a amizade de
todas as nações que vivem em nossa grande Pátria.
Ainda mais monstruosos foram os atos cujo
percurso foi Stalin e que são grosseiras violações
dos princípios leninistas básicos da política de
nacionalidades do Estado soviético. Referimo-nos
às deportações em massa de seus lugares nativos
de nacionalidades inteiras, juntamente com todos
os comunistas e militantes do Komsomol sem
qualquer exceção; esta ação de deportação não foi
ditada por quaisquer considerações militares...
Não só um marxista-leninista, mas também
nenhum homem de bom senso, pode compreender
como é possível tornar nações inteiras
responsáveis pela atividade inimiga, incluindo
mulheres, crianças, idosos, comunistas e militantes
do komsomols; usar a repressão em massa contra
eles; e expô-los à miséria e sofrimento pelos atos
hostis de pessoas individuais ou de grupos de
pessoas.

Khrushchev não está “revelando” essas deportações, elas foram


bem conhecidas quando ocorreram. o “novo” foi suas três acusações contra
Stalin: (1) as deportações foram feitas “sem qualquer exceção”; (2) as
deportações “não foram ditadas por quaisquer considerações militares”. (3)
“nações inteiras” foram punidas “pelos atos hostis de pessoas individuais ou
de grupos de pessoas”. Estas são as “revelações” com as quais lidaremos.

Khrushchev menciona os Karachai, Kalmyks, Checheno-Ingushes


e Balkares. Por alguma razão, ele não menciona os tártaros da Criméia, nem
os alemães do Volga.
Os eventos que levaram a essas deportações, as próprias
deportações e suas as consequências estão extremamente bem
documentados nos arquivos soviéticos. Embora nenhuma dessas
informações de arquivamento tenha sido publicada até o fim da URSS,
Khrushchev, sem dúvida, teve acesso a ela. Ele, ou seus assessores, tinham
que saber que cada uma das críticas que Khrushchev fez era falsa.

1. Exemplos de exceções às deportações são citados por


Pykhalov, a partir de documentos soviéticos publicados
por N. F. Bugai, o principal especialista russo nessa
questão e um pesquisador extremamente antistalin.

2. A necessidade militar para as deportações era proteger a


retaguarda do Exército Vermelho. Em cada um dos casos
de nacionalidades deportadas, grande parte da população
estava ativa ou passivamente ajudando os alemães ao se
rebelarem contra o governo soviético, portanto,
constituíram um perigo sério para as forças soviéticas.
Além disso, os soviéticos não podiam ter certeza de que
os exércitos alemães não avançariam para o leste
novamente em 1944, como haviam feito em cada um dos
três anos anteriores.

De acordo com Bugai e A. M. Gomov, ambos hostis a Stalin e não


anuentes as deportações:
...o governo soviético tinha, em geral, alocado suas
prioridades corretamente, baseando essas
prioridades em seu direito de manter a ordem atrás
das linhas de frente e no Cáucaso Norte em
particular1.

No “Discurso Secreto” Khrushchev, numa tentativa de humor, faz


esta observação:
Os ucranianos evitaram encontrar esse destino
apenas porque havia muitos deles e não havia lugar
para deportá-los. Caso contrário, ele também teria
os deportado (Risos e animação no salão).
Isso era pra ser uma piada, já que Khrushchev não alegou
seriamente que Stalin queria deportar os ucranianos. Mas, talvez
Khrushchev tenha mencionado os ucranianos por uma razão, pois, como ele
bem sabia, um pequeno número de ucranianos, a maioria dos quais tinham
entrado na União Soviética junto aos nazistas e haviam apoiado os crimes
nazistas, estava em revolta ao lado nazista e contra a União Soviética. Isso
causou enormes problemas na retaguarda do Exército Vermelho enquanto
ele avançava para o oeste, em direção à Polônia e Alemanha em 1944-452.
À luz da natureza maciça das rebeliões antissoviéticas que estavam
acontecendo na Checheno-Ingushia e entre os tártaros da Criméia, os
soviéticos tinham todos os motivos para temer que a mesma coisa pudesse
ocorrer na Ucrânia.

1. A questão de se nacionalidades inteiras deveriam ter sido


deportadas ou não se resolve em dois pontos. Primeiro,
quão massivas foram as rebeliões entre esses grupos
étnicos? Elas eram tão massivas que envolviam a
maioria da população? Citaremos evidências abaixo de
que, no caso de duas dessas nacionalidades tomadas para
exemplos, as rebeliões foram maciças, envolvendo muito
mais da metade da população.

Segundo, há também a questão do genocídio. Dividir um


pequeno grupo nacional que é unido por uma língua
única, história e cultura, é de fato destruí-lo.

No caso da Checheno-Ingushia e dos tártaros da Criméia a


colaboração com os nazistas foi maciça, envolvendo a maioria da
população. Tentar isolar e punir “apenas os culpados” seria o mesmo que
dividir as nações e provavelmente teria destruído essas nacionalidades de
fato. Em vez disso, o grupo nacional foi mantido unido e sua população
cresceu.

Presumo que meus leitores, assim como eu, apoiam punir


indivíduos pelos crimes individuais. No entanto, a colaboração nazista
dentro desses grupos foi tão massiva que punir os indivíduos envolvidos
teria colocado em risco a sobrevivência desses grupos étnicos como um
todo. Isso significaria o esgotamento da população jovem desses grupos,
causada pela prisão e execução dos acusados, deixando pouquíssimos
homens jovens para as jovens mulheres se casarem.

A deportação manteve esses grupos intactos. As deportações em si


estavam quase completamente livres de baixas. Isso permitiu que as
populações dessas nacionalidades aumentassem nos anos seguintes e até o
presente. Assim, se mantiveram as culturas, línguas e, de fato, a existência
como povos. Além disso, eles se tornaram tão bem estabelecidos nos locais
para onde foram deportados que muitos deles nunca voltaram para suas
áreas aborígenes quando houve a autorização para tal.

Aqui está o enigma: punir apenas os indivíduos culpados de


deserção ou colaboração nazista teria sido consistente com visões
iluministas de punição individual, não coletiva – visões que eu mesmo
compartilho. Mas, também teria levado a um mal maior: a destruição desses
grupos étnicos como “nação” – em suma, levaria ao genocídio!

TÁRTAROS DA CRIMÉIA

Os tártaros da Criméia foram deportados em massa. Muitos


documentos preocupantes sobre essa deportação foram publicados na
Rússia, provenientes arquivos soviéticos anteriormente classificados.
Naturalmente, esses documentos foram publicados por pesquisadores
anticomunistas, cujos comentários são muito tendenciosos. Mas, os
documentos em si são extremante interessantes!

Em 1939, havia 218.000 tártaros da Criméia. Isso deve representar


cerca de 22.000 homens em idade militar – cerca de 10% da população. Em
1941, com base em números soviéticos contemporâneos, 20.000 soldados
tártaros da Criméia abandonaram o Exército Vermelho. Em 1944, 20.000
soldados tártaros da Criméia haviam se juntado às forças nazistas e lutavam
contra as forças da URSS.

Então, a acusação de colaboração maciça procede3. A questão é:


o que os soviéticos deveriam ter feito sobre isso?
Eles poderiam não tomar qualquer ação – deixar todos impunes.
Bem, eles não iriam fazer isso!

Eles poderiam ter fuzilado os 20.000 desertores. Ou, poderiam ter


prendido – deportado – apenas estes, os jovens em idade militar. Qualquer
uma dessas ações teria significado praticamente o fim da nação tártara da
Criméia, pois não haveria maridos para a próxima geração de jovens
tártaras.

Em vez disso, o governo soviético decidiu deportar toda a


nacionalidade para a Ásia Central, o que foi feito em 1944. Os tártaros da
Criméia receberam terras e alguns anos de alívio de toda tributação. A
nação tártara permaneceu intacta e tinha crescido em tamanho pelo final da
década de 1950.

OS CHECHENOS E INGUSHES

Em 1943, havia cerca de 450.000 chechenos e Ingushes na


República Socialista Soviética Autônoma da Chechenia (CHASSR). Isso
deveria representar cerca de 40.000-50.000 homens em idade para o serviço
militar. Em 1942, no auge dos sucessos militares nazistas, 14576 homens
foram chamados ao serviço militar, dos quais 13560, ou 93%, desertaram e
se esconderam, ou se juntaram a grupos rebeldes, ou a bandidos nas
montanhas.

Houve uma colaboração maciça com as forças alemãs por parte da


população chechena e ingush. Em 23 de fevereiro de 2000, a Rádio
Svoboda entrevistou nacionalistas chechenos que se gabavam
orgulhosamente de uma rebelião armada antissoviética e pró-alemã em
fevereiro de 1943, quando a penetração alemã no Cáucaso estava no seu
auge.

O problema com essa declaração é que ela mente por omissão. A


revolta em questão ocorreu, mas estava sob bandeira nazista e com o
objetivo de uma aliança nazista.

As baixas entre os exilados durante a deportação foram mínimas –


0,25% dos deportados, segundo Bugai e Gomov.
Os registros do NKVD atestam 180 trens de
comboio transportando 493.269 cidadãos
chechenos, ingushes e membros de outras
nacionalidades apreendidos ao mesmo tempo.
Cinquenta pessoas foram mortas durante a
operação e 1.272 morreram durante viagem.
(p. 56)

Como essa deportação aconteceu no inverno e durante a guerra


mais feroz da Europa, talvez do mundo, esse número não parece muito alto.

Mas, essa não é a nossa preocupação aqui, queremos


simplesmente confirmar ou refutar as acusações de Khrushchev.
Khrushchev alegou: (1) que os grupos nacionais foram deportados “sem
exceção”. (2) não haver razão militar para as deportações; (3) que a
colaboração e a traição foram os “atos de pessoas individuais ou de grupos
de pessoas”. Todas essas três afirmações feitar por Khrushchev são falsas:
(1) exceções existiram; (2) assim como existiu razão militar; e (3) houve
uma traição maciça, não meramente individual. As afirmações de
Khrushchev não eram verdadeiras. A questão das exceções é coberta pelas
citações no Apêndice.

O CASO DE LENINGRADO

Khrushchev:
Após o fim da Guerra Patriótica, a nação soviética
enfatizou com orgulho as magníficas vitórias
obtidas através de grandes sacrifícios e de esforços
tremendos. O país, então, viveu um período de
entusiasmo político.
E foi precisamente nessa época que nasceu o
chamado “Caso de Leningrado”. Como já
provamos, esse caso foi fabricado. Entre aqueles
que inocentemente perderam suas vidas incluíam-
se os camaradas Voznesensky, Kuznetsov,
Rodionov, Popkov, e outros...
Como é que essas pessoas foram taxadas como
inimigas do povo e liquidadas?
Fatos provam que o “Caso de Leningrado”
também foi resultado da obstinação de Stalin
contra os quadros do Partido.
O Caso de Leningrado é misterioso, importante e fascinante. Há
muitas razões para pensar que não era apenas uma questão de falsificação,
mas que havia crimes graves estavam envolvidos.

Felizmente, não temos que tentar desvendar esse mistério aqui.


Nós simplesmente precisamos provar que Khrushchev estava mentindo
quando alegou que o Caso era resultado da “obstinação de Stalin”4. Esse é
um caso do “flagrante desrespeito de Khrushchev pela verdade”.

Por várias vezes Khrushchev alterou sua versão da história sobre


sobre o responsável pelo “Caso de Leningrado”, evidentemente, para
atender às suas necessidades em cada momento. Em 25 de junho de 1953,
um dia antes de ser preso (e, possivelmente, assassinado) pelas mãos de
Khrushchev, Beria escreveu ao Presidium sobre a investigação do ex-agente
do NKVD, M. D. Riumin. Nesse documento Beria acusa Riumin de
falsificar o Caso Leningrado. O problema para Khrushchev aparentemente
foi isso ter implicado diretamente Ignatiev, ex-chefe do MVD e um homem
dispensado por Stalin.

Um ano depois, em 3 de maio de 1954, o Presidium chefiado por


Khrushchev emitiu uma “Resolução [postanovlenie] do Presidium do CC
do PCUS sobre o ‘Caso de Leningrado’”. Este documento culpa Abakumov
e – Beria! Mas, Beria não tinha nada a ver com o MGB ou MVD na época
do “Caso de Leningrado”, ou qualquer coisa próxima a isso.

Dois anos depois, no “Discurso Secreto”, Khrushchev colocou


toda a culpa em Stalin. Então, novamente, pouco mais de um ano após o
“Discurso Secreto”, em junho de 1957 Khrushchev disse que Stalin tinha
sido contra as prisões de Voznesenskii e dos outros e que Beria e Malenkov
haviam-no instigado!

Seja qual for o papel de Malenkov, Beria certamente não estava


envolvido, já que ele não estava no MVD naquela época. Mas, não há mais
razão para pensar que Khrushchev estava dizendo a verdade em 1957 do
que há para acreditar nele em qualquer outro momento.

O CASO MINGRELIANO
Khrushchev:
Instrutivo da mesma forma é o caso da organização
nacionalista mingreliana, que supostamente existia
na Geórgia. Como se sabe, resoluções do Comitê
Central do Partido Comunista da União Soviética
foram tomadas a respeito deste caso em novembro
de 1951 e em março de 1952. Essas resoluções
foram feitas sem discussão prévia junto ao
Politburo. Stalin as ditou pessoalmente. Elas
faziam sérias acusações contra muitos comunistas
leais. Com base em documentos falsificados, foi
provado que, na Geórgia existia, uma organização
supostamente nacionalista, cujo objetivo era a
liquidação do poder soviético naquela república,
recebendo ajuda das potências imperialistas.
Nesse sentido, vários militantes responsáveis do
Partido e dos Sovietes foram presos na Geórgia.
Como foi mais tarde provado, essa foi uma calúnia
dirigida contra a organização do Partido da
Geórgia.

Aqui, a única acusação específica que Khrushchev faz é que Stalin


ditou pessoalmente as decisões do CC em novembro de 1951 e março de
1952, isso sem ter feito uma discussão prévia no Politburo. Sabemos que
não é verdade.

Foi publicada uma edição crítica da resolução do Politburo feita


em 9 de novembro de 1951. Os editores notam as correções que Stalin fez
ao texto original: em alguns casos para torná-lo mais preciso, mas, em
outros casos, para suavizar acusações de nacionalismo mais duras5. No
entanto, essa resolução e também a de 27 de março de 1952 (ibid., 352-4)
foram deliberadas nas sessões do Politburo (ibid., p. 351 n. 1; p. 354 nº.1).
Neste último caso, Stalin escreveu o título, mas a resolução estava na pauta
do Politburo6.

Mas, a principal alegação feita por Khrushchev foi que Stalin era
responsável pela fabricação desse Caso, que “Tudo isso aconteceu sob a
liderança ‘genial’ de Stalin, ‘o grande filho da nação georgiana’, como os
georgianos gostam de se referir a Stalin”. Isso não é verdade. Documentos
citados por Nikita Petrov, um pesquisador extremamente antistalin, que
trabalha para a extremamente anticomunista “Organização Memorial”,
sugerem que a verdadeira questão era “a luta contra os clãs presentes na
liderança georgiana”7.

Em 10 de abril de 1953, um mês após a morte de Stalin, o


Presidium do CC do PCUS adotou uma decisão culpando, acima de todos
os outros, S. D. Ignatiev, o chefe do MGB, por fabricar todo o Caso e por
submeter uma série de presos à tortura prolongada, aprisionamento e a
maus tratos. O próprio Khrushchev era membro do Presidium!

Ignatiev foi explicitamente apontado como o responsável por, pelo


menos, não controlar seus subordinados: M. D. Riumin, Tsepkov e outros.
Em primeiro de abril de 1953, o Presidium também responsabilizou
Ignatiev pelo fabricação do “Caso dos Médicos” e dispensado do cargo de
secretário do CC por sua negligência em 3 de abril (p. 24). Um relatório
feito por Beria, em 25 de junho de 1953 ao Presidium, culpa Ignatiev por
permitir que Riumin e outros de seus subordinados usassem tortura contra
os réus do “Caso Leningrado”, entre outros (p. 66)8.

No entanto, foi o próprio Khrushchev quem restaurou Ignatiev aos


postos de responsabilidade a partir do momento em que Beria foi preso ou
morto! Ignatiev esteva presente no 20º Congresso e Khrushchev fez
referência especificamente a ele no tema do “Caso dos Médicos” – em
função de seu papel, pelo qual ele já havia sido criticado fortemente e
rebaixado pelo Presidium!

A nota de Boris Nikolaevsky para a edição do New Leader


também aponta para a responsabilidade de Ignatiev na “Conspiração
Mingreliana”.
A declaração de Khrushchev sobre a “conspiração
mingreliana” explica os expurgos na Geórgia, em
1952. Apesar de insinuar que o “Caso
Mingreliano”, assim como o “Caso de
Leningrado”, também tinha sido encenado por
Beria e Abakumov, isso é uma distorção
deliberada. Foi precisamente em novembro de
1951 que S. D. Ignatiev, um dos mais amargos
inimigos de Beria, foi nomeado Ministro da
Segurança do Estado; o “Caso Mingreliano” foi,
portanto, forjado como um golpe contra Beria.
IUGOSLÁVIA

Khrushchev:
A obstinação de Stalin foi exposta não apenas nas
decisões relativas à vida interna do país, mas
também nas relações internacionais da União
Soviética.
A plenária de julho do Comitê Central estudou
detalhadamente as razões para o desenvolvimento
do conflito com a Iugoslávia. Foi um papel
vergonhoso aquele que Stalin desempenhou aqui.
O “Caso Iugoslavo” não continha questões que não
poderiam ter sido resolvidas através de discussões
partidárias entre camaradas. Não houve base
significativa para a escalada deste “Caso”; era
completamente possível ter evitado a ruptura nas
relações com aquele país. Isso não significa, no
entanto, que os líderes iugoslavos não tenham
cometido erros, ou que não apresentassem
deficiências. Mas, esses erros e deficiências foram
ampliados de uma forma monstruosa por Stalin, o
que resultou em uma ruptura de relações com um
país amigo.

Esta é outra mentira. Em julho de 1953 Khrushchev, Molotov e


Malenkov atacaram Beria por planejar melhorias nas relações com a
Iugoslávia. Enquanto isso, eles mesmos chamavam Tito e Rankovich de
“agentes dos capitalistas” que “se comportam como inimigos da União
Soviética”.

Mas, aqui Khrushchev refere-se a eles como “camaradas”! Em


outras palavras, Khrushchev et al. atacaram Beria por iniciar uma
aproximação com os iugoslavos e tê-los chamado de “camaradas”, é
precisamente o que Khrushchev está fazendo nessa passagem e o que
acusou Stalin de não ter feito!

A TRAMA DOS MÉDICOS

Khrushchev:
Lembremo-nos também da “Trama dos Médicos
Conspiradores” (Animação no salão). Na verdade,
não houve “Trama” a não ser da declaração da
médica Timashuk, que provavelmente foi
influenciada, ou ordenada, por alguém (afinal, ela
era uma colaboradora não oficial dos órgãos de
segurança do Estado) a escrever para Stalin uma
carta na qual declara que os médicos estavam
aplicando métodos de tratamento supostamente
inapropriados.
Tal carta foi suficiente para fazer Stalin chegar à
conclusão imediata de que existiam médicos
conspiradores dentro da União Soviética. Ele
emitiu ordens para prender um grupo de eminentes
especialistas médicos soviéticos. Ele pessoalmente
emitiu conselhos a respeito da condução da
investigação e da metodologia de interrogatório
das pessoas apreendidas. Disse que o acadêmico
Vinogradov deveria ser acorrentado, outro deveria
ser espancado. Presente neste Congresso, como
delegado, está o ex-ministro da Segurança do
Estado, camarada Ignatiev. Stalin disse-lhe
bruscamente: “Se você não conseguir confissões
dos médicos, vamos encurtá-lo por uma cabeça”.
Stalin pessoalmente chamou o juiz investigativo,
deu-lhe instruções, aconselhou-o sobre quais
métodos investigativos deveriam ser usados; esses
métodos eram simples – bater, bater e bater mais
uma vez.
Pouco depois da apreensão dos médicos, nós,
membros do Politburo, recebemos protocolos com
as confissões de culpa destes médicos. Após
distribuir esses protocolos, Stalin nos disse: “Vocês
são cegos como gatinhos jovens, o que vai
acontecer sem mim? O país vai perecer porque
vocês não sabem reconhecer os inimigos”.
A Trama foi apresentada de modo que ninguém
pudesse verificar os fatos que basearam a
investigação. Não havia possibilidade de tentar
verificar esses fatos por meio do contato com
aqueles que confessaram culpa.
Achamos, no entanto, que o caso dos médicos
presos era questionável. Conhecíamos
pessoalmente algumas dessas pessoas porque já
tínhamos sido tratados por eles.
Quando examinamos essa “Trama”, após a morte
de Stalin, descobrimos que foi fabricada do início
ao fim.
Essa “Trama” ignominiosa foi criada por Stalin;
ele, no entanto, não teve tempo para finalizá-la (da
forma com a qual havia concebido), e, por isso, os
médicos ainda estão vivos. Agora, todos foram
reabilitados; eles estão trabalhando nos mesmos
lugares de antes; tratam os indivíduos importantes
sem excluir membros do Governo; eles possuem
nossa total confiança; e eles executam seus deveres
com honestidade, do modo que faziam antes.
Ao organizar os vários casos sujos e vergonhosos,
um papel muito básico foi desempenhado pelo
inimigo raivoso do nosso Partido, um agente de
um serviço de inteligência estrangeiro – Beria, que
havia roubado a confiança de Stalin.

Esse relato é completamente falso e não condiz com o que foi a


“Trama dos Médicos”9.

A “Trama dos Médicos” foi retomada pelo MGB em


1952. As cartas de Timashuk foram escritas em 1948.
Elas se referem ao tratamento de Zhdanov durante sua
doença terminal. Elas não mencionam nenhum médico
judeu. A Dra. Timashuk não teve qualquer relação com a
“Trama dos Médicos”, que só surgiu depois de três ou
quatro anos do envio dessa carta. Khrushchev
simplesmente a calúnia aqui.

Ignatiev era chefe da KGB naquela ocasião, não Beria.


Em abril de 1953, menos de um mês após a morte de
Stalin, o Presidium – do qual Khrushchev era membro –
havia criticado Ignatiev por sua responsabilidade em
fabricações na “Trama dos Médicos” (Beria p. 22). Não
ocorreu a ele jogar a culpa em Stalin.

Foi Beria quem parou as fabricações sobre a “Trama dos


Médicos”, libertou os médicos e prendeu os
responsáveis, incluindo Ignatiev – que foi solto pouco
depois de terem lidado com Beria (prisão ou morte) ao
final de junho de 1953.
De acordo com sua filha, Svetlana, Stalin não acreditava
que os médicos judeus eram culpados.

Stalin estava em semi-aposentadoria e não mantiveram-no


atualizado acerca do desenrolar do caso. Stalin pensava que o MGB tinha
sérios problemas (Malyshev, sobre a reunião do Presidium de primeiro de
Dez, 1952, em Vestnik 5 (1997), p. 141). É possível que Stalin planejasse
colocar Beria no comando a fim de resolver essas questões, especialmente a
falsa “Trama dos Médicos”, apesar de que também possa ter pensado no
“Caso Mingreliano”.

A menos que houvesse um acordo anterior, é difícil imaginar


como Beria poderia ser escolhido para chefiar concomitantemente tanto o
MVD quanto o MGB – o que representava uma enorme concentração de
poder nas mãos de um único homem – durante a reunião de emergência do
Presidium, ao lado da cama de um moribundo Stalin. É improvável que tal
acordo tenha sido feito durante os dias anteriores, enquanto Stalin estava
doente, porque ninguém podia ter certeza da morte de Stalin. Portanto,
parece mais provável que a nomeação conjunta de Beria para esses dois
ministérios foi decidida com acordo de Stalin e talvez, até provavelmente,
por sua sugestão.

Ainda antes da morte Stalin, cessaram-se os artigos sobre a


“Trama dos Médicos” nos jornais. O antistalinista e ex-dissidente soviético,
Zhores Medvedev, argumenta que isso, junto a outros fatos, mostra que foi
o próprio Stalin que deu fim aos ataques à “Trama de Médicos” na
imprensa. Medvedev ressalta que, desde o início, Stalin se opunha ao
antissemitismo, que fazia parte dessa campanha (Zhores Medvedev, Stalin i
Evreiskaia Problema. Moscou, 2003, 208 ff; 216 f.). O próprio Stalin era
famoso pela oposição ao antissemitismo, como admite Medvedev10.

1. N. F. Bugai e A. M. O Gonov. “The forced evacuation of


the Chechens and the Ingush”. Russian Studies in
History. Vol. 41, no. 2, Outono de 2002, pp. 43-61,
p. 59.↩
2. Zhukov, Iury. Stalin: Tainy Vlasti. Moscou: Vagrius,
2005, pp. 432-3.↩

3. O pesquisador J. Otto Pohl, um autor extremamente


anticomunista, argumentou, usando fontes alemãs, que
nem todos esses homens se juntaram às forças nazistas.
Veja “The False Charges of Treason against the Crimean
Tartars”. (International Commitee for Crimea,
Washington, DC, 18 de maio de 2010). Mas, mesmo que
isso seja verdade, não faz diferença. Os soviéticos não
poderiam saber disso; deserção ainda era um crime
grave; e a maioria dos homens poderiam ter se juntado a
grupos ou bandos antissoviéticos.↩

4. Na verdade, há boas evidências de que nenhuma


fabricação estava envolvida no “Caso de Leningrado”,
mas não vamos realizar um estudo sobre este assunto
complicado.↩

5. Politbiuro TsK VKP(b) i Soviet Ministrov SSSR. 1945-


1953 gg. Moscou, 2002, p. 350-352.↩

6. Para os textos, consulte apêndice e fac-símiles do ibid.,


349-354, online no Link [mingrelianres.pdf].↩

7. Petrov, Nikita. Pervyi predsedatel’ KGB. Ivan Serov.


Moscou: Materik, 2005, p. 114.↩

8. Veja os relatórios de Beria do RKEB 1. Disponível no


Link [mingrelianaff.pdf].↩

9. Todas as fontes são citadas e identificadas no apêndice


referente a este Capítulo.↩

10. Em The Unknown Stalin – uma coleção de ensaios


escritos em vários momentos – Tanto Roi quanto Zhores
Medvedev acusam Stalin de incitar o antissemitismo e,
em seguida, de encerrar decisivamente a campanha de
imprensa e, também, os preparativos do julgamento da
“Trama dos Médicos”. Ou seja, esses dois autores
antistalin decidem que Stalin quem pôs fim à campanha
à “Trama dos Médicos”. The Unknown Stalin
(Woodstock and New York: Overlook Press, 2004), p.
23.↩
BERIA, SUAS “TRAMAS” E “CRIMES”
BERIA

Khrushchev:
Ao organizar os vários casos sujos e vergonhosos,
um papel muito básico foi desempenhado pelo
inimigo raivoso do nosso Partido, um agente de
um serviço de inteligência estrangeiro – Beria, que
havia roubado a confiança de Stalin.

Atualmente, ninguém apoia essa narrativa sobre Beria ser um


“agente estrangeiro”. Isso foi completamente obliterado pelas evidências.
Além disso, nem Molotov e nem Kaganovich acreditavam nisso mesmo
àquela época, apesar de não o dizerem em 1953.

Ninguém mencionou tal acusação durante os ataques cruéis contra


Beria na Plenária do Comitê Central de Julho de 1953, como foi admitido
por Mikoyan1. Khrushchev disse que a proposta de Beria, uma Alemanha
unida e neutra, era “ceder ao Ocidente”. Mas, Stalin havia sugerido aos
Aliados uma Alemanha neutra e unida em março de 1952. O Pravda repetiu
variações dessa sugestão em abril e maio de 1953, após a morte de Stalin.
Beria nunca poderia ter, sozinho, colocado isso no jornal do Partido.

E, na verdade, a alegação, feita por Khrushchev, de que isso seria


“ceder ao Ocidente” não é verdadeira – os Aliados eram muito contrários a
isso e recusaram qualquer ponderação por uma Alemanha unificada. Teria
sido muito embaraçoso para o Ocidente se a União Soviética escolhesse
manter essa sugestão, uma vez que seria algo extremamente tentador para
quase todos os alemães. Se o Ocidente mantivesse a oposição à proposta,
teria sido eles, não a URSS, a aparentar hostilidade à Alemanha no pós-
guerra.

Em conversas com Felix Chuev, o velho Molotov explicou (409-


10) considerar que a proposição de uma Alemanha neutra seria um ato de
Beria enquanto “agente do imperialismo”2. Essa foi a mesma acusação
levantada na Plenária de julho de 1953. Mas, Beria era apenas um membro
do Presidium e isso era apenas uma proposta. Não havia nada de errado em
levantar a questão – ela não poderia ser colocada em prática sem a
aprovação do Presidium. Molotov respondeu de forma negativa à pergunta
direta de Chuev: se Beria realmente era um agente de inteligência
estrangeira e se isso havia sido confirmado por evidências.

KAMINSKY ACUSA BERIA DE TRABALHAR COM O


MUSSAVAT

Khrushchev:
Havia sinais de que Beria era inimigo do Partido?
Sim, havia. Já em 1937, em uma Plenária do
Comitê Central, o ex-Comissário do Povo para a
Saúde, Kaminsky, disse que Beria trabalhou para o
serviço de inteligência Mussavat. Mas, o Plenário
do Comitê Central mal tinha sido concluído
quando Kaminsky foi preso e depois fuzilado.
Stalin examinou a declaração de Kaminsky? Não,
porque Stalin acreditava em Beria e isso foi o
suficiente para ele.

Muito material para refutar essa fabricação de Khrushchev tem


sido publicado desde o fim da União Soviética. Por exemplo, só
recentemente foi publicada a carta de Pavlunovsky de junho de 1937, na
qual ele testemunha que Beria, de fato, realizou trabalhos clandestinos entre
os nacionalistas, para o Partido.

A autobiografia de Beria, a respeito de sua vida no Partido, cita o


trabalho clandestino entre os nacionalistas, algo que nunca teria feito se não
pensasse que isso distinguiria seu trabalho partidário3.

Imperiia Stalina, a enciclopédia biográfica de Zalessky, é


extremamente antistalin, mas concorda com aquilo alegado por Beria, isto
é, que ele realizou trabalho clandestino. Na verdade, é impossível imaginar
a intercessão de Sergei Kirov em nome de Beria, ou a proximidade da
família Beria com a família Ordzhonikidze, como está atestado nas
memórias de Sergo no que diz respeito a Beria, a não ser que a lealdade de
Beria ao Partido fosse cristalina.
Parece claro que Khrushchev simplesmente reviveu um velho
boato sobre Beria, datado de seus dias no trabalho clandestino no
subterrâneo nacionalista. O trabalho clandestino é muito perigoso e o
“disfarce” tinha que ser bom o suficiente para enganar o próprio Partido
Mussavat, de modo a fazê-lo acreditar que Beria estava trabalhando para
ele. Não é surpresa que o “disfarce” também confundiria bolcheviques. A
carta de Beria para Ordzhonikidze, de 1933, mostra que a tentativa de
anular este rumor vicioso, que ainda repercutia. Ele dificilmente teria
escrito a um membro do Politburo sobre isso a menos que quisesse que isso
ficasse “no registro”.

Khrushchev tinha acesso a todas as informações que temos agora,


e muito mais. Ele devia saber que isso era mentira. Era somente outra
ferramenta para difamar Beria.

KARTVELISHVILI

Khrushchev:
As longas e hostis relações entre Kartvelishvili e
Beria eram amplamente conhecidas; datam da
época em que o camarada Sergo [Ordzhonikidze]
estava ativo no Transcaucaso; Kartvelishvili era o
assistente mais próximo de Sergo. Essa relação
hostil impeliu Beria a fabricar um “caso” contra
Kartvelishvili. É característico que, neste “caso”,
Kartvelishvili tenha sido acusado de cometer um
ato terrorista contra Beria.

Kartvelishvili (que também era conhecido como Lavrentiev, seu


nome russo) foi expulso do Partido e preso, em 22 de junho de 1937 durante
o Pleno do CC, e executado em 22 de agosto de 1938, sob Yezhov, não
Beria.

Existe uma carta de Beria a Stalin tratando de uma suposta


descoberta feita por Beria, sobre um grupo direitista ilegal na Geórgia, que
incluía Kartvelishvili. Contudo:

A carta é datada de 20 de julho de 1937, um mês após a


prisão de Kartvelishvili. (Lubianka 2, Nº. 142 p. 252)
Kartvelishvili é mencionado por Lyushkov em outros
documentos, este era um dos homens de Yezhov , não de
Beria (nº 196 11 de setembro de 1937, pp. 347 ff; Nº.
207 de setembro de 1937, pp. 368 ff.; No. 309 de 29 de
março de 1938)

Lyushkov estava envolvido na conspiração de Yezhov e


torturou e matou muitos homens inocentes. E, Yezhov
era totalmente da oposição a Beria. Ao dar o nome de
Kartvelishvili, não havia como Lyushkov estar sendo
cumplice de Beria.

De acordo com os documentos de reabilitação de


Postyshev, Kartvelishvili foi identificado como
conspirador pelo próprio (RKEB 1, 219).

Kartvelishvili foi nomeado por Ia. A. Yakovlev, um


associado próximo de Stalin. Durante a elaboração da
Constituição de 1936 no 12 de outubro de 1937, o vice-
presidente da Comissão de Controle do Partido e
membro do CC, Yakovlev, foi preso repentinamente. Em
sua extensa confissão, datada de 15 a 18 de outubro de
1937, nomeia Kartvelishvili, entre muitos outros. Está
claro, pelas anotações e pelos seus comentários de
acompanhamento, que Stalin foi pego de surpresa pela
confissão de Yakovlev.

O documento de reabilitação de Kartvelishvili (RKEB 1, p. 331-2)


culpa Beria por tudo. Mesmo que Kartvelishvili tenha sido incriminado,
isso não pode ser verdade. A maioria dos documentos contra ele vieram de
Lyushkov, ou, no caso da confissão de Yakovlev, não têm qualquer relação
com Beria.

Kartvelishvili foi preso em junho de 1937, muito antes de Beria


assumir qualquer função no NKVD soviético. É difícil encontrar uma data
para sua execução. Uma página do “Memorial” indica o mês de agosto de
19384. Se está correto, então Beria não poderia estar envolvido no
interrogatório, nem na tortura, se houver ocorrido, porque Beria tinha
acabado de se tornar o segundo em comando no NKVD de Yezhov, em 21
ou 22 de agosto de 1938. Beria parece ter permanecido em seu cargo de
Primeiro Secretário do Comitê Central do Partido Comunista da Georgia até
31 de agosto de 1938 e evidentemente não chegou a Moscou para tomar sua
posição até por volta do primeiro de setembro5.

De acordo com o Relatório Pospelov (RKEB 1, p. 332),


Lavrentiev-Kartvelishvili foi torturado para confessar e nomear outras
pessoas. Isso é plausível, já que temos a declaração feita por Frinovskii, na
qual Yezhov e seus subordinados, incluindo o próprio Frinovskii,
regularmente faziam isso.

Pelas datas, porém, Beria não poderia ter sido responsável pelo
destino de Lavrentiev-Kartvelishvili. Khrushchev tinha que saber disso.
Essa provavelmente foi a razão pela qual o dia da execução de Lavrentiev-
Kartvelishvili não está presente no Relatório Pospelov, que foi concebido a
fim de auxiliar Khrushchev na culpabilização de Beria. Citar uma data para
de execução anterior à chegada de Beria ao NKVD teria contrariado todo o
propósito do Relatório Pospelov, que certamente não era chegar à verdade!

KEDROV

Khrushchev:
Aqui está o que o velho comunista, camarada
Kedrov, escreveu ao Comitê Central através do
camarada Andreev (camarada Andreev era, então,
um secretário do CC): “Estou chamando por sua
ajuda de uma célula sombria da prisão de
Lefortovsky. Deixe meu grito de horror alcançar
seus ouvidos; não permaneça surdo, leve-me sob
sua proteção; por favor, ajude a remover o
pesadelo dos interrogatórios e mostre que tudo isso
é um erro”.
“Eu sofro inocentemente”...
O velho bolchevique, camarada Kedrov, foi
considerado inocente pelo Soviete Militar. A pesar
disso, ele foi fuzilado por ordem de Beria.
Não sabemos os detalhes do caso de Kedrov porque os materiais
não foram disponibilizados aos pesquisadores. Mas, para nossos propósitos,
não precisamos conhecê-los. Uma agência do governo russo publicou,
agora, uma coleção de documentos a partir dos quais podemos dizer com
certeza que a ordem para executar Kedrov foi assinada pelo Promotor do
Estado, Bochkov6. Beria estava apenas seguindo essa ordem. Não foi uma
“ordem de Beria”.

Na verdade, agora sabemos mais sobre o caso de Kedrov. Por


exemplo, não parece haver dúvida de que a sentença de morte foi
pronunciada por um tribunal. Aqui, não temos espaço para explorar todos
os aspectos do caso de Kedrov, mas tudo estava disponível para
Khrushchev e ele mentiu mais uma vez quando fez as declarações sobre
Beria e Kedrov.

O IRMÃO DE ORDZHONIKIDZE

Khrushchev:
Beria também lidou cruelmente com a família do
camarada Ordzhonikidze. Por quê? Porque
Ordzhonikidze tentou impedir que Beria
concretizasse seus planos vergonhosos. Beria tinha
varrido de seu caminho todas as pessoas que
poderiam interferir com ele. Ordzhonikidze sempre
foi um oponente de Beria, como este tinha dito a
Stalin. Em vez de examinar o caso e tomar as
medidas apropriadas, Stalin permitiu a liquidação
do irmão de Ordzhonikidze e levou -o a um tal
estado que foi forçado a atirar em si mesmo.

De acordo com a pesquisa de Oleg Khlevniuk (In the Shadow of


Stalin: The carreer of ‘Sergo’ Ordzhonikidze. NY: Sharpe, 1995), Sergo
cometeu suicídio provavelmente em decorrência de sua má saúde. Ele
estava muito doente há bastante tempo e, na verdade, manteve uma rotina
normal de trabalho em seu último dia de vida7.

A morte de Sergo não teve nada a ver com Stalin, seu irmão ou
Beria. Pelo contrário: “A julgar por fatos bem conhecidos, Ordzhonikidze
ativamente protegeu Beria e manteve boas relações com ele até meados da
década de 1930 (p. 106)”.

Uma pesquisa de Vladimir L. Bobrov provou recentemente


(outubro de 2008) que até mesmo a história de que Ordzhonikidze tenha
cometido suicídio não tem fundamento, mais uma fabricação da era
Khrushchev. Ordzhonikidze certamente morreu de causas naturais – de
insuficiência cardíaca – como foi relatado à época8. Khlevniuk
simplesmente continua a repetir como fato as mentiras provenientes da
introdução apócrifa de uma biografia de Ordzhonikidze da era Khrushchev.
Essa introdução foi omitida quando o livro foi republicado quatro anos
depois, após a expulsão de Khrushchev9.

Em, ou próximo, de 24 de outubro de 1936, durante seu


quinquagésimo aniversário, Sergo ouviu que seu irmão, Papulia, havia sido
preso na Geórgia (p. 105)10. Valiko, irmão de Sergo, defendeu Papulia no
Comitê Central da georgiano e, como resultado, foi dispensado. Beria era
chefe do Partido da Georgia, então, Sergo telefonou a Beria para pedir
ajuda, em meados de dezembro. De acordo com Khlevniuk, “Beria mostrou
enorme consternação”..., cuidou do caso, fez Valiko ser reintegrado e
enviou uma nota educada para Sergo (p. 108)11.

Sergo morreu de insuficiência cardíaca durante a noite de 17 a 18


de fevereiro de 1937 (147)12. Ele teve um dia de trabalho completamente
normal naquela data. Mas, sofria há muito tempo de problemas de saúde e
estava piorando. Khlevniuk, que tem grande ódio por Stalin, se esforça para
encontrar evidências de que Stalin teve alguma relação com a morte de
Sergo, tenta “reconstruir” uma discussão entre eles ao telefone, mas
finalmente não é capaz de fazer. Khlevniuk não poderia provar a existência
de tal telefonema, muito menos o que teria sido dito!

Papulia foi executado em novembro de 1937 (p. 173). Khlevniuk


não dá mais informações a respeito, uma vez que, evidentemente, não tinha
nenhuma. É óbvio que a morte de Sergo não poderia estar relacionada com
a execução de Papulia.
Segundo Sergo Beria, as relações de Sergo com seu irmão Papulia
eram distantes. Papulia era hostil à União Soviética; e Sergo, sempre
quando ia a Tbilisi, ficava junto dos Berias em vez de seu próprio irmão.

Nos dias de Khrushchev e novamente nos de Gorbachev,


circulavam, como “fato”, estórias de que Ordzhonikidze era um “liberal”,
contrário aos Julgamentos de Moscou e assim por diante. Não há provas
disso. De acordo com Arch Getty:
... Ordzhonikidze não parece ter feito oposição ao
terror generalizado – inclusive aquele dirigido
contra Zinoviev, Kamenev e Bukharin – e foi, de
fato, requisitado por Stalin a fazer o discurso
principal no tocante à sabotagem na indústria,
durante Plenária de Fevereiro de 1937 do Comitê
Central [n. 64]. O rascunho do discurso que
Ordzhonikidze estava preparando como orador-
chefe da Plenária de Fevereiro de 1937, sobre as
destruições ocorridas na indústria, foi aprovado
por Stalin e seguia a linha dura daqueles tempos:
RTsKhIDNI (TsPA), f.558, op.1 d. 3350, ll. 1-
1613.

Resumindo: cada declaração que Khrushchev fez sobre Beria e os


Ordzhonikidzes é uma mentira.

Ordzhonikidze não era adversário de Beria. A contrário,


ele ficava com a família Beria quando ia para Tbilis, e
não com seu irmão mais velho, Papulia.

Segundo Khlevniuk, Papulia foi executado em novembro


de 1937, muito depois da morte de Sergo (17 a 18 de
fevereiro de 1937), que, portanto, não poderia ter sido
motivada pela “liquidação” do irmão.

A morte de Ordzhonikidze não teve nada a ver com


Beria. O abertamente antistalin, Oleg Khlevniuk, conclui
que Ordzhonikidze se matou por causa de sua saúde
ruim. Mas, todas as evidências sugerem que a história do
“suicídio” é uma falsificação da era Khrushchev.
1. Lavrenti Beriia, 138. 1953. Stenogramma iul’skogo
Plenuma TsK KPSS i drugie dokumenty. Moscou: MDF,
1999, p. 315.↩

2. Veja também Felix Chuev, Kaganovich. Ispoved


Stalinskogo apostola. Moscou, 1992, p. 66.↩

3. Beriia: Konets kar’ery. Ed. V. F. Nekrasov. Moscou:


Politizdat, 1991, pp. 320-325; 323. Esse volume de
documentos, no entanto, contém materiais
interessantes.↩

4. Disponível no Link
[web.archive.org/web/20110501095955/memo.ru/memor
y/communarka/Chapt10].↩

5. Lubianka 2, Nº. 334, p. 545; N. V. Petrov, K. V. O


Skorkin. Kto rukovodil NKVD. 1934-1941.

Spravochnik. Moscou: Zven’ia, 1999, 107.

Disponível no Link
[memo.ru/history/NKVD/kto/biogr/gb42]↩

6. Organy gosudarstvennoi bezopasnosti SSSR v Velikoi


Otechestvennoi voine. T.2 Nachalo. Kn. 2 1 sentiabria –
31 dekabria 1941 goda. Moscou: Rus’, 2000, p. 215-6 e
nota em p. 215. Os fatos expostos nestes documentos
foram confirmados por Vlodzimirskii e Kobulov, durante
a investigação sobre o “Caso Beria”; ver A. V.
Sukhomlinov, Kto vy, Lavrenti Beriia? Moscou:
Detektiv-Press, 1993, p. 153 e p. 219-220.

Há mais informações disponíveis sobre Kedrov. É quase


certo que ele, de fato, foi sentenciado a morte em um
julgamento. Veja os textos no Apêndice dessa seção. É
suficiente dizer que Khrushchev tinha toda essa
informação à sua disposição e mentiu sobre a
participação de Beria no caso.↩
7. Khlevniuk, Capítulos 12-13; cf. O. V. Khlevniuk, Stalin i
Ordzhonikidze. Konflikty v Politbiuro v 1930-e gody.
Moscou: Rossiia molodaia, 1993, p. 115. A versão em
inglês do livro de Khlevniuk é um pouco diferente da
original em russo.↩

8. Vladimir L. Bobrov, “Taina smerti Ordzhonikidze”,


disponível no: Link
[web.archive.org/web/20110305090913/vif2ne.ru/nvz/fo
rum/archive/238/238967]; versão russa totalmente
anotada no Link [bobrov-ordzhon08]; tradução em inglês
disponível no Link [bobrov-ordzhon08eng].↩

9. Compare a seção de abertura da versão de 1963 de I.


Dubinskii-Mukhadze, Ordzhonikidze com a “segunda
edição corrigida” de 1967 (ambas as edições Moscou:
Molodaia Gvardiia).↩

10. Cf. Versão russa, p. 77.↩

11. Cf. Versão russa, p. 80.↩

12. Cf. Versão russa, pp. 116-129.↩

13. J. Arch Getty, “The Politics of Repression Revisited”,


p. 131 e n. 64, p. 140. Em Ward, Chris, ed. The Stalinist
Dictatorship. Londres, Nova Iorque: Arnold, 1998.↩
IDEOLOGIA E CULTURA
STALIN, BIOGRAFIA BREVE

Khrushchev:
Camaradas, o culto ao indivíduo adquiriu um
tamanho tão monstruoso principalmente porque o
próprio Stalin, usando todos os métodos
concebíveis, apoiou a glorificação de si. Isso é
sustentado por inúmeros fatos. Um dos exemplos
mais característicos da autoglorificação de Stalin e
de sua falta de modéstia elementar é a edição de
sua Biografia Breve, publicada em 1948.
Este livro é uma expressão da mais dissoluta
bajulação, um exemplo de como transformar um
homem em um deus, em um sábio infalível e no
“maior líder, sublime estrategista de todos os
tempos e nações”. Finalmente, nenhuma outra
palavra poderia ser encontrada para elevar Stalin
até os céus.
Não precisamos dar aqui os exemplos da adulação
repugnante que preenche esse livro. Tudo o que
precisamos acrescentar é que todos foram
aprovados e editados pessoalmente por Stalin e
alguns deles adicionados ao texto do rascunho do
livro em sua própria caligrafia.
O que Stalin considerou essencial escrever nesse
livro? Ele queria esfriar o ardor dos bajuladores
que estavam compondo sua biografia breve? Não!
Ele marcou os exatos lugares onde achava que o
louvor aos seus serviços era insuficiente. Aqui
estão alguns exemplos caracterizando a atividade
de Stalin, adicionados pela própria sua própria
mão:

Nessa luta contra os céticos e


capituladores, os trotskistas,
zinovievitas, bukharinistas e
kamenevitas, aquele núcleo da
liderança do Partido foi, após a morte
de Lenin, definitivamente
consolidado... aquele que defendeu a
grande bandeira de Lenin, reuniu o
Partido sob as instruções de Lenin, e
trouxe o povo soviético para a o longo
caminho da industrialização do país e
da coletivização da economia rural. O
líder desse núcleo e a força norteadora
do Partido e do Estado foi o camarada
Stalin [(1) – veja abaixo para
discussão, GF].

Assim escreve o próprio Stalin! Então ele


acrescenta:

Embora ter realizado sua tarefa de


líder do Partido e do povo, com
habilidade consumada; e desfrutado
do apoio, sem reservas, de todo o
povo soviético, Stalin nunca permitiu
que seu trabalho fosse marcado pelo
menor indício de vaidade, presunção
ou auto adulação [(2) – veja abaixo
para discussão, GF].

Onde e quando teria um líder elogiado tanto a si


mesmo? Isso é digno de um líder do tipo marxista-
leninista? Não.
Foi precisamente contra isso que Marx e Engels
tomaram uma posição tão forte. Algo que também
sempre fortemente condenado por Vladimir Ilyich
Lenin.
No rascunho do texto de seu livro, apareceu a
seguinte frase: “Stalin é o Lenin de hoje”.
Para Stalin, essa frase parecia ser muito fraca,
então, em sua própria caligrafia ele a mudou para:
“Stalin é o digno continuador do trabalho de
Lenin, ou, como se diz em nosso Partido, Stalin é o
Lenin de hoje” [(3) – veja abaixo para discussão,
GF].
Vocês vêm como é bem-dito, não pela nação, mas
pelo próprio Stalin.
No rascunho desse livro, é possível enumerar
muitas considerações auto adulatórias escritas pela
mão de Stalin. De forma especialmente generosa,
ele se dota de elogios relativos ao seu gênio
militar, ao seu talento para a estratégia.
Citarei mais uma inserção feita por Stalin, a
respeito da sua genialidade militar. “A avançada
ciência da guerra soviética alcançou um
desenvolvimento mais profundo”, ele escreve, “nas
mãos do camarada Stalin. O camarada Stalin
elaborou a teoria dos fatores permanentemente
operacionais que decidem a questão das guerras,
da defesa ativa e das leis de contraofensiva e
ofensiva, da cooperação de todos os serviços e
armas nas escaramuças de hoje, do papel de
grandes massas de tanques e forças aéreas na
guerra moderna e da artilharia como o mais
formidável dos serviços armados. Nos vários
estágios da guerra, a genialidade de Stalin
encontrou as soluções corretas, que levavam em
conta todas as circunstâncias da situação” [(4) –
veja abaixo para discussão, GF].
E, além disso, escreve Stalin:

A maestria militar de Stalin foi


exibida tanto na defesa quanto no
ataque. A genialidade do camarada
Stalin permitiu-lhe adivinhar os
planos do inimigo e derrotá-los. As
batalhas em que o camarada Stalin
dirigiu os exércitos soviéticos são
exemplos brilhantes de habilidade
militar operacional [(5) – veja abaixo
para discussão, GF].

Foi dessa forma que Stalin foi elogiado como


estrategista. Quem fez isso? O próprio Stalin, não
em seu papel de estrategista, mas no papel de
autor-editor, um dos principais criadores de sua
biografia auto adulatória. Tais, camaradas, são os
fatos. Deveríamos dizer, fatos vergonhosos.

Agora, foram publicadas as alterações feitas por Stalin à essa


biografia, primeiro no Izvestia TsK KPSS No. 9, 1990, e, depois,
reimpressas amplamente. Isso nos permite ver como Khrushchev mentiu
sobre as alterações de Stalin a essa biografia. Mesmo V. A. Belianov,
antistalin e editor dessa coletânea para o jornal, admitiu que muitas das
correções feitas por Stalin direcionavam-se em remover os elogios
exacerbados pelos autores e em fazer Stalin parecer modesto.

Khrushchev deliberadamente distorceu o caráter de algumas das


citações que ele mesmo faz. Por exemplo, Khrushchev citou apenas a
primeira parte da seguinte frase, marcada (2) na passagem acima. Assim,
Khrushchev deliberadamente mudou o significado do todo. Aqui está a
parte omitida por Khrushchev:
Em sua entrevista com o escritor alemão Ludwig,
onde ele observa sobre o grande papel do gênio
Lenin na questão de transformar nosso país, Stalin
disse simplesmente sobre si mesmo: “No que me
tange, sou apenas um aluno de Lenin e meu
objetivo é ser digno dele”.

Na passagem marcada (1) acima, no ponto da elipse (três pontos),


Khrushchev omitiu os nomes de muitos outros líderes do Partido, que foram
inseridos por Stalin. Aqui está a passagem completa:
Nessa luta contra os céticos e capituladores, os
trotskistas, zinovievitas, bukharinistas e
kamenevitas, aquele núcleo da liderança do Partido
foi, após a morte de Lenin, definitivamente
consolidado... aquele que defendeu a grande
bandeira de Lenin, reuniu o Partido sob as
instruções de Lenin, e trouxe o povo soviético para
a o longo caminho da industrialização do país e da
coletivização da economia rural. O núcleo
dirigente foi composto por Stalin, Molotov,
Kalinin, Voroshilov, Kuibyshev, Frunze,
Dzerzhinskii, Kaganovich, Ordzhonikidze, Kirov,
Iaroslavskii, Mikoyan, Andreev, Shvernik,
Zhdanov, Shkiriatov, entre outros...

Na passagem marcada (3) acima, é óbvio, mesmo sem o original,


que Stalin transformou uma passagem que o equiparava a Lenin em uma
passagem que deixa claro que ele é apenas um continuador do trabalho de
Lenin.

Khrushchev atribuiu à Stalin as marcações (4) e (5). Isso é um


erro. Na verdade, foram escritas pelo General-Major, M. R. Galaktionov.
Maksimenkov, escritor da seção a seção da Biografia de L. V.
Maksimenkov que aponta:
Além disso, em contradição com a acusação de
Khrushchev, Stalin, ao editar o texto,
sistematicamente diminuiu seu caráter triunfante.
Por exemplo, o título burocrático-
pseudodemocrático “camarada Stalin” substituiu o
original “Generalíssimo Stalin”; “ensinando” [“os
fatores permanentemente operacionais”] foi
substituído por “posicionando”; e “formas imortais
da arte militar-operacional” tornou-se “formas
significativas”1.

Maksimenkov discute longamente as observações muito críticas


de Stalin, agora disponíveis, sobre o rascunho da segunda, pós-guerra,
edição de sua biografia. O documento original mostra que a primeira
diretriz de Stalin foi escrever uma nova biografia de Lenin – fato não
mencionado durante a era Khrushchev ou mesmo mais tarde, durante a
“perestroika” de Gorbachev.

Stalin criticou fortemente o “caráter Socialista-Revolucionário” do


louvor dado a ele pelos autores da “Biografia Breve”, reprovando-a como
“a educação dos adoradores de ídolos”. Stalin rejeitou qualquer crédito por
qualquer um dos ensinamentos atribuídos a ele no rascunho, dando crédito a
Lenin, ao invés.

Maksimenkov conclui que Khrushchev distorceu completamente a


natureza das mudanças feitas por Stalin e aponta que outros escritores do
período soviético de Khrushchev e pós-Khrushchev também não essas
alterações. Outra passagem omitida pelos autores originais e inserida por
Stalin foi a da importância das mulheres na revolução e na sociedade
soviética.

Em 1998, enquanto vasculhava os documentos pessoais de V. D.


Mochalov, um dos membros da equipe biográfica, Richard Kosolapov
encontrou as anotações manuscritas de duas reuniões com Stalin relativas à
biografia. Ele publicou-as nas pgs. 451-476 de seu livro Slovo Tovarishchu
Stalinu.

Kosolapov é um admirador de Stalin e lidera um dos partidos


neocomunistas na Rússia. Mas, esse trabalho específico é citado várias
vezes nas notas de rodapé da recente biografia de Robert Service sobre
Stalin, uma obra muito hostil a Stalin2. Por isso, também podemos
considerar apropriado citá-lo aqui. Um trecho mostrando como Stalin
condenou a adulação de si mesmo no primeiro rascunho da biografia pode
ser consultado no Apêndice.
O “CURSO BREVE”

Khrushchev:
Como se sabe, o Curso Breve da História do
Partido Comunista de Toda a União
(Bolcheviques) foi escrito por uma comissão do
Comitê Central do Partido... Esse fato foi refletido
na seguinte formulação presente na cópia de prova
da Biografia Breve de Stalin: “Uma Comissão do
Comitê Central do Partido Comunista de Toda a
União (Bolcheviques), sob a direção do camarada
Stalin e com a sua mais ativa participação pessoal,
preparou um Curso Breve Sobre a História do
Partido Comunista de toda a União
(Bolcheviques)”.
Mas, mesmo essa frase não satisfez Stalin. A
seguinte frase substituiu-a na versão final da
Biografia Breve: “Em 1938, apareceu o livro,
História do Partido Comunista de Toda a União
(Bolcheviques), Curso Breve, escrito pelo
camarada Stalin e aprovado por uma comissão do
Comitê Central do Partido Comunista de Toda a
União (Bolcheviques)”. Pode-se acrescentar mais
alguma coisa?
Como se vê, uma surpreendente metamorfose
transformou a obra criada por um grupo em um
livro escrito por Stalin. Não é necessário afirmar
como e por que essa metamorfose ocorreu......
E, quando o próprio Stalin afirma ter escrito O
Curso Curto da História do Partido Comunista de
Toda a União (Bolcheviques), pede-se, pelo
menos, espanto. Pode um marxista-leninista
escrever assim sobre si mesmo, louvando-se às
alturas?

Parece que ninguém além de Khrushchev jamais afirmou que


Stalin tenha reivindicado a autoria do Curso Breve. Nem Khrushchev, nem
ninguém jamais aduziu qualquer evidência de que Stalin tenha alegado a
autoria do livro. Molotov afirmou categoricamente que Stalin nunca
reclamou tê-lo escrito.

Seja como for, a primeira indicação da autoria do “Curso Breve”


apareceu na primeira edição da “Biografia Breve” de Stalin (1940) –
segundo Maksimenkov (citado acima), um livro com o qual Stalin não tinha
qualquer envolvimento na autoria ou edição. Maksimenkov explica:
Ocupado com a direção da guerra “de inverno”
soviético-finlandesa ele [Stalin] se distanciou da
edição do livro... Em 14 de dezembro de 1939,
uma semana antes do 60º aniversário de Stalin, o
primeiro rascunho de sua biografia foi-lhe enviado
uma carta assinada por Mitin e Pospelov: “Caro
Camarada Stalin. Estamos enviando este rascunho
de sua”Biografia Breve”, preparado pelo Instituto
Marx-Engels-Lenin, juntamente com as instruções
para propaganda e agitação. Solicitamos que
analise este trabalho e nos dê orientações quanto a
possibilidade de publicação”. Stalin sublinhou todo
o texto da carta escreveu na página com um lápis
verde: “Não há tempo para ‘analisar’. Devolva ao
IMEL [Instituto Marx-Engels-Lenin]. J. Stalin”3.

A frase sobre o papel de Stalin na criação do “Curso Breve” não


foi inserida por Stalin, mas é tinta da caneta de um dos muitos autores e
editores que trabalharam na biografia. Aqui, Khrushchev mentiu de novo.

Resta apenas esclarecer a questão: Qual foi o real papel de Stalin


no processo de escrita do “Curso Breve”?

Em um de seus esboços, Roi Medvedev – pouco simpático a


Stalin – escreve sobre este nos termos de “o principal autor do ‘Curso
Breve’”. Os historiadores pontuam a total falta de fundamentação da
acusação de plágio que Khrushchev fez contra Stalin. Como evidência para
essa posição, é citada uma publicação, no Voprosy Istorii, dos textos
datilografados contendo as correções de Stalin e uma série de outros
materiais4.

Independentemente da natureza incompleta e da óbvia lacuna nos


documentos primários, na opinião de Medvedev, não há dúvida de que o
trabalho no “Curso Breve” foi conduzido sob a direção e participação ativa
de Stalin como um dos principais autores do livro didático.

Khrushchev afirmou que Stalin não tinha o direito de assumir ser


o autor do “Curso Breve” porque, segundo aquele, este não tinha escrito o
livro. Como se vê na verdade, Stalin tinha total embasamento para afirmar
ter sido um dos principais autores, mas nunca afirmou isso para qualquer
pessoa ou em qualquer lugar. Mesmo Molotov, que tinha sido um dos mais
próximos colaboradores de Stalin, não sabia precisamente o quanto foi
escrito por Stalin e acreditava que a seção sobre dialética era de sua autoria,
pois eles haviam discutido sobre esse tema em algum momento.

Nesse caso, Khrushchev foi mais inteligente que si próprio. Disse


que Stalin reivindicou uma autoria que não merecia. Na verdade, Stalin era,
de fato, o autor principal, mas nunca alegou ser.

STALIN ASSINOU UMA ORDEM PARA UM MONUMENTO


A SI MESMO, 2 DE JULHO DE 1951

Khrushchev:
É fato que o próprio Stalin, em 2 de julho de 1951,
assinou uma resolução do Conselho de Ministros
da URSS para a construção de um monumento
impressionante à sua imagem no Canal Volga-Don;
em 4 de setembro do mesmo ano, ele emitiu uma
ordem disponibilizando 33 toneladas de cobre para
a construção desse monumento imponente.

Isso não é um “fato”, mas uma afirmação crua. Temos apenas a


palavra de Khrushchev. Os documentos relevantes nunca foram
reproduzidos e ninguém mais alegou tê-los visto. Khrushchev nunca
afirmou que Stalin introduziu ou sugeriu esse monumento, então,
podemos assumir que não foi de iniciativa de Stalin.

De acordo com o “Journal of visitors to Stalin’s Kremlin office”,


Stalin trabalhou por 1 hora e 45 minutos no dia 2 de julho de 1951. O
Presidium havia se reunido em 26 de junho e o “Bureau”, composto por
Beria, Bulganin, Kaganovich, Mikoyan, Molotov e o próprio Khrushchev,
reuniu-se com Stalin das 21h30 às 23h15 de 2 de julho5. Assim, se tivesse
sido apresentada nessa data, Stalin poderia ter assinado essa tal resolução
do Conselho de Ministros. Não sabemos se ela foi ou não apresentada.

Mas, aqui, é importante notar que a simples “assinatura de Stalin”,


em si, não significava nada durante esse período. Em 16 de fevereiro de
1951, o Politburo decidiu que o Presidium seria presidido por pessoas
diferentes e, quando fosse necessário, um carimbo de borracha seria usado
para a assinatura de Stalin como Chefe de Estado (Presidente do Conselho
de Ministros). Esse documento e os carimbos de borracha foram exibidos
em Moscou6 (veja o apêndice para as URLs para essas exposições).

Ou seja, Stalin não mais assinava as “decisões e instruções do


Conselho de Ministros da URSS”, mas ainda eram emitidas sob sua
assinatura no caso de sua ausência. Como já o caso desde fevereiro de 1951,
então, é lógico supor ainda ser o caso em julho do mesmo ano. Mas, não
podemos dizer com certeza se o Stalin assinou esses documentos
pessoalmente, sem ver os originais, ou se foi usado o carimbo.

Quanto à “ordem” de 4 de setembro de 1951, é improvável que


Stalin poderia emiti-la. Ele estava em licença, ou “férias”, provavelmente
por problemas de saúde, entre 10 de agosto de 1951 e 11 de fevereiro de
1952 quando, então, retornou ao seu escritório7.

O ponto principal é este – e Khrushchev sabia disso – naquela


altura Stalin mantinha atividade política apenas esporadicamente. Membros
do Politburo, incluindo o próprio Khrushchev, declararam em 1953 que
Stalin não estava politicamente ativo. Stalin disse no 19º Congresso do
Partido em outubro de 1952: “Eu não leio mais jornais”8.

De acordo com o “Journal of visitors to Stalin’s Kremlin Office” a


carga de trabalho de Stalin começou a diminuir em fevereiro de 1950. A
julgar por essa fonte, Stalin trabalhou 73 dias em 1950, mas apenas 48 dias
em 1951, e 45 dias em 19529.

Portanto, é de se duvidar que Stalin tenha pessoalmente assinado a


ordem de 4 de setembro de 1951. Quanto à de 2 de julho de 1951,
simplesmente não sabemos.

Mas, mesmo que Stalin tenha de fato assinado pessoalmente este


último documento – ou seja, mesmo não sendo o caso do uso do carimbo
por meio votação do Politburo – essa questão é pouco significativa. Até
mesmo Khrushchev não afirma que Stalin deu início a ordem para o
monumento.

O PALÁCIO DOS SOVIETES

Khrushchev:
Ao mesmo tempo, Stalin deu provas de sua falta de
respeito pela memória de Lenin. Não é
coincidência que – apesar da decisão, tomada há
mais de 30 anos, de se construir um Palácio dos
Sovietes como um monumento a Vladimir Ilyich –
tal palácio não foi terminado, sua construção
sempre foi adiada e permitiu-se que o projeto
caducasse.

Em seu recente artigo sobre a história dos planos, concursos


arquitetônicos e abandono final do projeto de construção do Palácio dos
Sovietes, Maksim Volchenkov faz referência direta ao Discurso de
Khrushchev, mostrando que essa declaração simplesmente não é verdadeira.
Tampouco Khrushchev ergueu este prédio. O comitê encarregado da
construção mudou gradualmente seu foco para outros edifícios. O plano de
construir um Palácio dos Sovietes foi abandonado – não por Stalin, mas por
seus sucessores.

O PRÊMIO LENIN

Khrushchev:
Não podemos deixar de recordar a resolução do
governo soviético de 14 de agosto de 1925,relativa
à “criação do Prêmio Lenin para o trabalho
pedagógico”. Essa resolução foi publicada na
imprensa, mas até hoje não há Prêmios Lenin. Isso,
também, deve ser corrigido.

Isso não é verdade e a maior parte da audiência no 20º Congresso


do Partido devia saber disso. Efetivamente, houve Prêmios Lenin nas áreas
de ciência, tecnologia, literatura, arte e arquitetura entre os anos de 1925 a
1934. Não está claro por que a premiação foi suspensa, mas ninguém parece
ter culpado Stalin por isso10.
No entanto, a Ordem de Lenin (Orden Lenina) foi a mais alta
condecoração dada pela URSS. Foi continuamente concedida de 1930 até o
fim da União Soviética, para realizações notáveis em muitos campos.

Stalin também rejeitou a proposta de que uma “Ordem de Stalin”


fosse criada em sua honra. Informações sobre isso são dadas no Apêndice.
Khrushchev sabia disso, é claro.

No momento em que se preparava para a celebração do 60º


aniversário de Stalin, em dezembro de 1939, surgiu novamente a questão de
se instituir Prêmios em seu nome11. Não temos qualquer indício de que
Stalin teve relação com essa iniciativa. Mas, uma coisa é bem conhecida: os
Prêmios Stalin não foram instaurados para substituir ou tomar o lugar dos
Prêmios Lenin. Foram instituídos numa época em que não havia prêmios
anuais para as ciências e artes na URSS. Consequentemente, a
contraposição de Khrushchev entre os prêmios Lenin e Stalin é incorreta e
desonesta.

1. L. V. Maksimenkov, Maksimenkov. “Kul’t. Zametki o


slovakh-simvolakh v sovetskoi politichestoi kul’ture”.
Svobodnaia mysl’. Nº 10 de 1993. Disponível no Link
[web.archive.org/web/20090518193322/situation.ru/app/
j_artp_677].↩

2. Por exemplo, SERVICE, Robert. Stalin. A Biography


(Harvard University Press, 2005) p. 654, nota 1 ao
Capítulo 50.↩

3. Maksimenkov, “Kul’t”.↩

4. “I. V. Stalin v rabote nad ‘Kratkim kursom istorii


VKP(b)’. Publikatsiia, kommentarii i vstupitel’naia
stat’ia M.V. Zelenova”. Voprosy Istorii Nos 11-12
(2002), Nos. 3-4 (2003).↩

5. Istoricheskii Arkhiv Nº 1, 1997, p. Dia 24.↩


6. Uma fotografia desses carimbos pode ser vista no Link
[stalinsigstamps51.jpg]↩

7. Estas páginas do “Visitors to Stalin’s Kremlin Office”


podem ser consultadas no Link [istarkh197.pdf].↩

8. “‘V ch’i ruki vruchim estafetu nashego velikogo dela?’


Neopublikovannaia rech ’I. V. Stalina na Plenume
Tsentral’nogo Komiteta KPSS 16 oktiabria 1952 goda
(po zapisi L. N. Efremova)”. Sovetskaka Rossiia 13 de
janeiro de 2000. Em: Link [stalinoct1652.pdf] e também
no Link [grachev62.narod.ru/stalin/t18/t18_262].↩

9. IU. N. Zhukov, Tainy Kremlia. Stalin, Molotov, Beriia,


Malenkov. Moscou: TERRA, 2000,p. 549. Cf. também
fontes na nota 7 acima. O monumento a Stalin foi
construído, mas derrubado durante a era Khrushchev e
posteriormente substituído por um monumento a Lenin.
Monumento a Stalin: Link
[elefantmuller.users.photofile.ru/photo/elefantmuller/291
1172/xlarge/115411211.jpg]; a Lenin: Link [foto-
fleet.users.photofile.ru/photo/fotto-
fleet/9517224/xlarge/115411831.jpg]↩

10. É provável que a pausa e, então, o término na concessão


dos Prêmios Lenin estava relacionada com o fechamento
da Academia Comunista, à qual a comissão sobre os
prêmios Lenin estava anexada. A questão de fechar a
Academia Comunista “tendo em vista a ineficácia de
duas Academias paralelas, a Academia de Ciências e a
Academia Comunista”, foi assunto de discussão em
meados de 1935. Os Prêmios Lenin cessaram ao mesmo
tempo. Veja o Decreto “Sobre a Liquidação da Academia
Comunista”, pelo CC e Conselho de Comissários do
Povo datado de 7 de fevereiro de 1936, reproduzido no
Link [ihst.ru/projects/sohist/document/an/181].↩
11. O Decreto de 20 de dezembro de 1939 do Sovnarkom da
URSS, sobre a criação de prêmios e condecorações em
homenagem a Stalin, foi assinado pelo Presidente da
SNK, V. M. Molotov, e seu chefe de gabinete, M. D.
Khlomov (Pravda, 21 de dezembro de 1939). No início,
esses Prêmios não incluíam os campos de produção
artística e da crítica. No início de 1940, foi aprovado um
decreto semelhante, com o título “No que diz respeito ao
estabelecimento de Prêmios Stalin na literatura”. Esse
também foi assinado por Molotov e Khlomov (Pravda 2
de fevereiro de 1940). Disponível no Link [feb-
web.ru/feb/sholokh/critics/nos/nos-486-].↩
OS ÚLTIMOS ANOS DE STALIN NO PODER
Khrushchev:
Além disso, ao revisar esse projeto [“sobre elevar
os preços desses produtos, a fim de criar incentivos
materiais para os trabalhadores dos kolkhozes,
MTS [estação máquina-trator] e sovkhozes ao
desenvolvimento da pecuária”] Stalin propôs que
os impostos pagos pelos kolkhozes e pelos
trabalhadores dos kolkhozes deveriam ser
acrescidos em 40 bilhões de rublos; segundo ele,
os camponeses estavam bem e o trabalhadores dos
kolkhozes precisariam vender apenas mais um
frango para pagar esse imposto integralmente.
Imagine o que isso significava. Certamente, 40
bilhões de rublos é uma soma que os trabalhadores
dos kolkhozes não recebiam pela venda de todos
os seus produtos Governo. Em 1952, por exemplo,
os kolkhozes e os trabalhadores dos kolkhozes
receberam 26.280 milhões de rublos tudo entregue
e vendido ao Estado.
A posição de Stalin, então, se suporta em algum
tipo de dado? Claro que não. Nesses casos, fatos e
números não lhe interessavam.

De acordo com Khrushchev, Stalin disse isso em fevereiro de


1953, pouco antes de sua morte. Ninguém mais tem lembranças disso.
Nessa questão, só temos a palavra de Khrushchev.

A primeira vez que Khrushchev mencionou esse suposto aumento


de impostos foi durante a Plenária do CC de julho de 1953, dedicada
exclusivamente à condenação de Beria. Mikoyan e Malenkov referiram-se à
cifra de “40 bilhões de rublos” após Khrushchev ter mencionado. Mas,
ambos dizem de modo a deixar claro que não tinham ouvido falar disso
antes de Khrushchev mencionar.

Mikoyan, que se manifestou contra impostos adicionais sobre os


camponeses durante Pleno do CC de outubro de 1952, afirma que Stalin
sugeriu “apenas mais um frango” em impostos para os camponeses. Mas,
Mikoyan admite que não ouviu pessoalmente a declaração, já que não
estava presente. Em suas memórias, Mikoyan não menciona os “40 bilhões
de rublos” quando discute sobre este incidente1.

STALIN INSULTOU POSTYSHEV

Khrushchev:
Em um de seus discursos, Stalin expressou
insatisfação a Postyshev e perguntou-lhe: “O que
você é realmente?
Postyshev respondeu claramente: “Eu sou um
bolchevique, camarada Stalin, um bolchevique”.
Inicialmente, essa afirmação foi considerada como
falta de respeito com Stalin; mais tarde, foi
considerado como um ato prejudicial e,
consequentemente, resultou na aniquilação de
Postyshev e sua taxação como “inimigo do povo”,
sem qualquer razão.

Já vimos que Postyshev foi demitido, preso, e, finalmente, julgado


e executado, por reprimir muitos membros do Partido sem qualquer
evidência. Khrushchev estava presente no Pleno que o esse processo se
iniciou (Janeiro 1938) e sabia disso. Portanto, Khrushchev mentiu quando
disse que Postyshev foi reprimido “sem qualquer razão”.

É mais provável que Khrushchev também estivesse mentindo


sobre diálogo a acima. Apenas Khrushchev registra a suposto discussão
entre Postyshev e Stalin, e faz isso apenas no Discurso Secreto. Ninguém
mais, aparentemente, alegou ter ouvido essas palavras serem ditas por
Stalin. Essa passagem também não se faz presente nas memórias de
Khrushchev.

De acordo com Getty e Naumov, não há evidência de qualquer


atrito particular entre Stalin e Postyshev até o Plenário de janeiro de 1938.
Como vimos, Postyshev foi expulso da filiação ao Politburo durante esse
Pleno e preso pouco tempo depois. Portanto, essa “fala” de Stalin – se
alguma vez ocorreu – deve ter sido nesse Plenário, em janeiro de 1938.

Comentaristas, como Boris Nikolaevsky, pensam que o dialogo


aconteceu no Pleno do CC de janeiro-março de 1937. Isso porque eles
acreditam na afirmação, feita anteriormente no “Discurso Secreto”, de que
Postyshev contestou Stalin nessa reunião. Mas, a volumosa transcrição
desse Pleno foi publicada entre 1992-5. Novamente, como já vimos, essa
transcrição prova que Khrushchev mentiu: Postyshev não se opôs a Stalin
naquele Pleno; tampouco houve essa suposta discussão entre Stalin e
Postyshev.

As transcrições do Plenário de janeiro de 1938 não foram


publicadas na íntegra. Mas, elas foram publicadas em partes e alguns
pesquisadores leram todas as transcrições nos arquivos. Nenhum deles
mencionou encontrar esse diálogo. Então, é mais provável que Khrushchev
esteja mentindo novamente. Mas, não podemos ter certeza absoluta.

Mesmo que, algum dia, venha à tona que Stalin disse aquilo,
certamente não foi a razão para a prisão, julgamento, condenação e
execução de Postyshev. Tais foram as punições pela culpa de Postyshev na
repressão de muitos membros do Partido. Se Stalin disse essas palavras ou
não, portanto – e, para repetir, além da afirmação de Khrushchev não há
evidências de que ele o fez – Khrushchev mentiu ao dizer foi a razão para o
destino de Postyshev.

Então, por que Khrushchev fez aquela última afirmação?


Provavelmente, tinha o objetivo de prover um “álibi” aos membros do
Politburo que, por muitos anos, trabalharam em estreita colaboração com
Stalin.

Muitos comunistas e cidadãos soviéticos provavelmente se


perguntariam: Por que os associados mais próximos de Stalin nunca o
reportaram por qualquer um dos “crimes” que Khrushchev denunciou ser de
autoria de Stalin? Por que não tomaram medidas para detê-lo, já que sabiam
dessas coisas? Fraco como é, a única resposta que Khrushchev e o resto
poderiam dar era a seguinte: “Seríamos mortos se protestássemos. Olha o
que aconteceu com Postyshev, só por dizer ‘Eu sou um bolchevique’”!

“DESORGANIZAÇÃO” DO TRABALHO DO POLITBURO

Khrushchev:
A importância do Gabinete Político do Comitê
Central foi reduzida e a organização do trabalho
desfeita através da criação de várias comissões –
os chamados “quintetos”, “sextetos”, “septetos” e
“eneatetos” internos ao Politburo. Aqui está, por
exemplo, uma resolução do Gabinete Político de 3
de outubro de 1946:

Proposta de Stalin:

A Comissão de Relações Exteriores do Gabinete Político


(sexteto) deve preocupar-se futuramente, em adição das
relações exteriores, também com questões de construção
interna e política doméstica.

O Sexteto deve adicionar à sua lista o Presidente da


Comissão Estadual de Planejamento Econômico da
URSS, camarada Voznesensky, e deve ser conhecido
como um septeto.
Assinado: Secretário do Comitê
Central, J. Stalin.

Que terminologia de um jogador de cartas! (Risos


no salão.) É evidente que a criação, dentro do
Gabinete Político, desse tipo de comissões –
“quintetos”, “sextetos”, “septetos” e “eneatetos” –
iria contra o princípio da liderança coletiva. Como
resultado, alguns membros do Politburo foram
afastados da participação nas questões mais
importantes do Estado.

Como admitido por Edvard Radzinsky, um biógrafo de Stalin


ferozmente hostil, Khrushchev estava mentindo. Subcomitês dentro do
Politburo eram simplesmente uma maneira de dividir as tarefas. Isso não
era novidade e não foi uma inovação de Stalin.

Khrushchev:
Por causa de sua extrema desconfiança, Stalin
também flertou com a absurda e ridícula suspeita
de que Voroshilov seria um agente inglês. (Risos
no salão.) É verdade, um agente inglês.
Em suas memórias, Khrushchev relata muitos rumores que diz
serem conhecidos apenas por “alguns de nós”. Para essa passagem, não há
outra documentação a respeito.

Por exemplo, essa denúncia não consta nas memórias de Mikoyan,


que possui muitas “memórias” falsas – como Stalin lhe dizer que Benes
havia assegurado sobre a culpa de Tukhachevsky, um evento que nunca
ocorreu2. Então, mesmo que Mikoyan tivesse se “lembrado” disso, poderia-
se legitimamente questioná-lo. Mas, ele não teve tal “lembrança”.

ANDREEV; 59. MOLOTOV; 60. MIKOYAN

Aqui, tudo tem relação com a Plenária de 16 de outubro de 1952


do CC, que ocorreu imediatamente após o 19º Congresso do Partido.

ANDREEV

Khrushchev:
Por decisão unilateral, Stalin também separou
outro homem do trabalho do Politburo – Andrei
Andreyevich Andreev. Esse foi um dos atos mais
desenfreados de obstinação.

Estritamente falando, não sabemos exatamente o que Stalin disse,


pois nenhuma transcrição oficial foi publicada (de acordo com Mikoyan,
nenhuma foi feita). Nem a transcrição do 19º Congresso do Partido foi
publicada3. Imediatamente após a morte de Stalin, a liderança do Partido
fez o possível para mudar as principais decisões tomadas nessas duas
sessões e destruir qualquer lembrança delas.

Portanto, não temos nenhuma razão oficial para o porquê Andreev


não foi mantido no recém renomeado Presidium (anteriormente o
Politburo). Mas, temos informações suficientes, provenientes de outras
fontes, para ver que Khrushchev não está dizendo a verdade.

Andreev perdeu seu cargo no Conselho de Ministros em 15 de


março de 1953, dez dias após a morte de Stalin4. Se foi um “ato
desenfreado de obstinação” não renomear Andreev para o Presidium do CC
da PCUS, por que Khrushchev, Malenkov e Beria o removeram também do
Soviete de Ministros(Ele foi nomeado para o Presidium do Soviete
Supremo, uma posição muito menos exigente)?

De acordo com a única parte que temos do discurso de Stalin no


Pleno do CC de 16 de Outubro de 1952, ele realmente não citou Andreev
para o novo Presidium, pois Andreev era surdo5. Konstantin Simonov diz
algo semelhante6. Esses são os únicos relatos da Plenária que mencionam,
de qualquer forma, o nome de Andreev. Ambos afirmam que Stalin
explicitamente excluiu Andreev por causa de sua saúde.

Apesar da falta de qualquer transcrição oficial, o que foi citado


acima é uma boa evidência de que Khrushchev mentiu. Andreev não foi
excluído por nenhuma “obstinação” por parte de Stalin.

MOLOTOV E MIKOYAN

Khrushchev:
Consideremos o primeiro Pleno do Comitê Central
após o 19º Congresso do Partido, quando Stalin,
em sua palestra, taxou Viacheslav Mikhailovich
Molotov e Anastas Ivanovich Mikoyan ao sugerir
que esses velhos militantes do nosso Partido eram
culpados de algumas acusações infundadas. Não é
descartado que, se Stalin tivesse permanecido no
comando por mais alguns meses, os camaradas
Molotov e Mikoyan provavelmente não teriam
feito nenhum discurso nesse Congresso.

Pelo que sabemos sobre dessa Plenária, a partir de alguns que


estavam presentes e escreveram comentários a respeito, é certo que Stalin
criticou Molotov e Mikoyan.

Para determinar se Khrushchev está dizendo a verdade,


precisamos examinar:

Se as “acusações” que Stalin fez contra Molotov e


Mikoyan eram “infundadas” ou não;
Se é verdade que eles não estariam presentes no 20º
Congresso do Partido se Stalin tivesse sobrevivido.

Há quatro relatos da fala de Stalin ao Pleno após os 19º


Congresso, feitos pessoas que estavam presentes. São
eles: o do próprio Mikoyan (Tak Bylo, Ch. 46); a do
escritor Konstantin Simonov (Glazami cheloveka moego
pokoleniia), o de Dmitrii Shepilov (Neprimknuvshii,
pp. 225-8.), e o de Leonid Nikolaevich Efremov
(Sovetskaia Rossiia, 13 de janeiro de 2000, p. 6).
Mikoyan foi, naturalmente, um membro de longa data do
CC e do Politburo; os outros três eram novos membros
do CC. Exceto por uma pequena nota de Simonov, que
escreveu em março de 1953, o resto foi escrito anos após
o evento.

Shepilov relata as críticas de Stalin a Molotov em alguns


parágrafos. Ele é muito mais breve sobre as observações de Stalin a respeito
Mikoyan. Shepilov afirma que Mikoyan se defendeu e atacou Molotov ser
próximo do já executado Voznesensk, a quem chamou de “um grande
criminoso”. Shepilov não considerou que as acusações fossem
“infundadas”, nem viu qualquer tipo de ameaça nelas, apenas notou as
razões de Stalin para não os incluir no novo Gabinete do Presidium.

Em sua primeira e breve nota, escrita em março de 1953, nesse


Plenário, Simonov não fez comentários relativos as críticas de Stalin a
Molotov e Mikoyan, apenas notou a insistência de Stalin para que fossem
tão destemidos quanto Lenin. Em 1979, Simonov se lembrou se lembrou da
veemência da crítica de Stalin a Molotov e de uma vaga percepção de que
Molotov e Mikoyan estariam a favor da “capitulação”. Simonov concorda
que Stalin, então, criticou Mikoyan, mas não se lembrava por quê. Ele diz
que ambos os homens responderam às críticas de Stalin – algo que, por si
só, refuta já refuta alegação, feita por Khrushchev, de que Stalin demandava
“submissão absoluta”. Simonov acreditava que essas críticas, qualquer que
fossem as suas razões, serviam para justificar a exclusão de Molotov e
Mikoyan do novo Gabinete do Presidium.
O relato de Mikoyan, também escrito anos depois, concorda que
Stalin criticou Molotov por causa de sua fraqueza na política externa e
Molotov e ele, Mikoyan, na política doméstica. Mas, segundo Mikoyan,
Stalin foi crítico, mas respeitoso com eles. Mikoyan não menciona nada
sobre se sentir ameaçado. O relato de Efremov descreve as críticas de Stalin
aos dois homens, mas também não transparece que essas críticas foram
ameaçadoras.

Em suas volumosas memórias, Khrushchev tem apenas algumas


frases a dizer sobre o Plenário de Outubro de 1952 e não diz nada sobre
qualquer “perigo” para Mikoyan ou Molotov.

Mikoyan, Molotov e Voroshilov também foram nomeados para o


Presidium, e Voroshilov – mas não Mikoyan, nem Molotov – para o
“Gabinete do Presidium”.

Mas, e a veracidade da alegação de Khrushchev? As acusações de


Stalin – uma palavra melhor seria “críticas” – não parecem “infundadas”.
Elas podem ou não ter sido corretas. Em essência, elas refletiam diferenças
políticas entre Stalin e esses dois membros do Politburo.

Estritamente falando, a declaração de Khrushchev – de ser


“possível” que Molotov e Mikoyan não teriam se dirigido ao 20º Congresso
do Partido se Stalin tivesse sobrevivido – não pode ser provada ou refutada.
Mas, é inconsistente com as ações de Stalin no 19º Congresso do Partido.
Mikoyan e Molotov, embora não no mais alto órgão (o Gabinete do
Presidium), ainda estavam no Presidium de 25 membros e, como tal,
certamente estariam em posição de se dirigir ao próximo Congresso.

Em suas próprias memórias, Khrushchev não repete a história de


que Molotov e Mikoyan estavam sob qualquer tipo de ameaça.

EXPANSÃO DO PRESIDIUM

Khrushchev:
Stalin, evidentemente, tinha planos para acabar
com os antigos membros do Gabinete Político. Ele
frequentemente afirmava que os membros do
Gabinete Político deveriam ser substituídos por
novos.
Sua proposta, feita após o 19º Congresso, relativa à
eleição de 25 pessoas ao Presidium do Comitê
Central, visava a remoção dos antigos membros do
Politburo e a instituição de pessoas menos
experientes para que o louvassem de todas as
maneiras possíveis.
Podemos assumir que isso também era um projeto
para a futura aniquilação dos antigos membros do
Politburo e, dessa forma, um disfarce para todos os
atos vergonhosos de Stalin, atos que estamos
considerando agora.

Khrushchev mentiu aqui, pois não há provas de que sua acusação


tenha a menor base em fatos. A passagem não é sustentada pelos relatos que
sobrevivem do Pleno. De acordo com as anotações de Efremov sobre o
Pleno de outubro de 1952 do Comitê Central, Stalin foi extremamente claro
ao explicar a proposta de ampliação do Presidium para além dos limites do
antigo Politburo. Efremov, um jovem em sua primeiro Plenária, pode ter
ficado especialmente impressionado pela ênfase de Stalin na necessidade de
sangue novo na liderança do Partido, pois a explicação de Stalin ocupa um
lugar substancial em suas notas.

1. A. I. Mikoyan, Tak Bylo. Vagrius, 1999, Ch. 46, pp. 559-


568.↩

2. Ibid., p.553.↩

3. Pelo menos, não como uma publicação separada. Os


discursos formais foram todos publicados no Pravda em
outubro de 1952, na época do Congresso. Talvez isso
fosse tudo o que havia.↩

4. Ver a entrada sobre isso na biografia de Andreev no Link


[hrono.ru/biograf/andreev_aa].↩

5. De acordo com as notas de L. N. Efremov sobre o Pleno,


publicadas em Sovetskaia Rossia, 13 de Janeiro de 2000.
Disponíveis no Link [stalinoct1652.pdf] e
[grachev62.narod.ru/stalin/t18/t18_262].↩

6. Konstantin M. Simonov, 167, Glazami cheloveka moego


pokoleniia. Moscou: Novosti, 1988, p. 246.↩
UMA TIPOLOGIA DE PREVARICAÇÃO
UMA TIPOLOGIA DA PREVARICAÇÃO DE
KHRUSHCHEV

Antes de prosseguir com a discussão dos métodos específicos da


distorção de Khrushchev, devemos entender que a versão do Discurso que
foi publicada e está diante de nós é, em si, uma fraude.
Publicado anteriormente no Izvestia TsK KPSS, o
texto do Discurso de Khrushchev é baseado na fala
apresentada por Khrushchev no Presidium do CC
do PCUS em primeiro de março [1956], editado e
aceito para divulgação às organizações locais do
Partido por uma decisão do Presidium do CC de 7
de março de 1956. Este texto não é idêntico ao
que Khrushchev leu do palanque do Congresso.
Por exemplo, de acordo com a forma como todos
os participantes do Congresso se lembraram, o
silêncio total reinou no salão à medida que o
relatório era lido. Mas, reações do público foram
inseridas no texto publicado no Izvestia TsK KPSS:
“Comoção no salão”, “Indignação no salão”,
“Aplausos” etc. Que, claro, falham completamente
em refletir a atmosfera real da sessão fechada.

V. I. Afiani Vodop’ianova, “Arkheograficheskoe predislovie” [“Prefácio


arqueográfico”], em Aimermakher, K, et al., Doklad N. S. Khrushcheva o Kul’te
Lichnosti Stalina na XX S"ezde KPSS. Dokumenty. MOSCOU: ROSSPEN, 2002,
p. 44. (Ênfase adicionada, GF.)

Essas mesmas “reações de audiência” foram inseridas na tradução


inglesa. Por isso, estamos examinando um texto que foi falsificado não só
em seu conteúdo, mas também em sua apresentação. Nos Capítulos
anteriores deixamos a maioria das “reações da audiência” nas citações do
discurso de Khrushchev como um lembrete contínuo das distorções
deliberadas introduzidas nesse texto1.

Determinei que no chamado “Discurso Secreto” Khrushchev fez


sessenta e uma “revelações” ou, até então, acusações desconhecidas e
depreciativas contra Stalin ou Beria. Essas declarações constituem a
substância do Discurso. Foram essas afirmações que chocaram o mundo
quando o discurso veio a público.

Seria, naturalmente, absurdo dizer que cada uma das declarações


de Khrushchev é falsa. Um exemplo dramático de uma “revelação” que
Khrushchev fez e que é verdade:
Foi determinado que dos 139 membros e
candidatos do Comitê Central do Partido, eleitos
no 17º Congresso, 98 pessoas2, ou seja, 70%,
foram presas e fuziladas (principalmente em 1937-
1938) (Indignação no salão). Qual era a
composição dos delegados ao 17º Congresso?
Sabe-se que 80% dos participantes do 17º
Congresso com direito a voto se juntaram ao
Partido durante os anos de trabalho ilegal, antes da
Revolução, e durante a guerra civil, ou seja, antes
de 1921. Quanto a origem social, a massa básica
dos delegados ao Congresso era composta por
trabalhadores (60% dos votantes).

Quando eu afirmei que todas as supostas “revelações” ou


acusações do Discurso de Khrushchev contra Stalin e Beria são falsas3, não
incluo a declaração acima porque Khrushchev teve o cuidado de não
afirmar que Stalin mandou matar a todos. Se ele tivesse feito essa
afirmação, explicitamente, ela seria demonstravelmente falsa e adicionada à
lista de outras falsas acusações no Discurso4.

Khrushchev menciona um número dos mais proeminentes


membros do Comitê Central executados durante o final da década de 1930.
No caso de um membro pleno muito proeminente do Comitê Central de
1934 – Nikolai Yezhov – Khrushchev não menciona o fato dele também ter
sido executado! Examinaremos as evidências de todos os membros do CC
que Khrushchev explicitamente cita em nomes durante seu Discurso.

O PROBLEMA EM SE INTRODUZIR UM NOVO


PARADIGMA

O problema usual que um pesquisador enfrenta é o de montar a


evidência necessária para provar sua tese e arranjá-la logicamente para que
sua tese seja comprovada. Mas, ao escrever o presente ensaio, logo percebi
que um outro problema, muito maior e mais intratável, me confrontou.

O “Discurso Secreto” de Khrushchev não é apenas uma série de


afirmações que podem, em princípio, ser comprovadas válidas ou inválidas.
Logo se tornou o documento fundacional para um novo paradigma da
história soviética. Esse paradigma não era inteiramente novo. É confirmado
em parte e se baseia em interpretações da realidade soviética que foram
feitas por trotskistas, mencheviques e emigrantes soviéticos.

Mas, tendo sido rapidamente aceito pelo movimento comunista


mundial e seguido por uma enorme onda de “reabilitações” daqueles
condenados por atividade traiçoeira durante os anos Stalin, o paradigma
“Khrushchev” alcançou um grau de aceitação generalizada, que as versões
anteriores nunca tiveram. Tornou-se o paradigma dominante.

Como resultado, atacar a veracidade do Discurso de Khrushchev é


atacar a base do que chamarei de paradigma “antistalin”. Aqui estão
algumas ilustrações do que eu quero dizer.

Eu dei uma palestra resumindo alguns dos resultados de


minha pesquisa sobre o Discurso de Khrushchev em uma
conferência anual de um grupo acadêmico marxista.
Durante o período de Perguntas e Respostas, um
marxista de longa data me disse em tom acusatório:
“Você está reabilitando Stalin!”

Outra pergunta foi: “E Trotsky?” Khrushchev não


menciona Trotsky no discurso.

Quando um colega mencionou meu projeto de pesquisa


sobre o Discurso a um editor de um proeminente jornal
marxista, sua resposta escárnio foi: “Será que ele afirma
que não havia GULAG?” (Khrushchev nunca menciona
o GULAG em seu discurso)

Um leitor simpático e útil de um rascunho anterior


sugeriu que eu escrevesse uma história das repressões
dos anos 30.
No começo eu não conseguia entender comentários
como este. Mas, percebi que essas reações não eram
direcionadas à minha fala. Em vez disso, eles estavam
respondendo ao que sentiam que minha fala implicava.
Elas refletiam o fato de que o Discurso de Khrushchev
não é apenas o documento fundamental do “paradigma
antistalin” da história soviética. É também uma
sinédoque para esse paradigma: representa esse
paradigma como a parte representa o todo. Provar, como
eu tento fazer, que as declarações feitas no Discurso de
Khrushchev são falsas é considerado como uma alegação
de que todos os outros componentes desse paradigma, a
maioria dos quais Khrushchev nunca menciona, também
são falsos.

É razoável esperar que um artigo ou livro prove o que ele se


propõe a provar. Não é razoável esperar que um artigo ou livro que trate de
um único tema refute todo um paradigma histórico, refutando no processo
um número indefinido – na verdade, infinito – de reivindicações de fatos
que não fazem parte da obra.

O presente livro, portanto, confronta uma estranha situação


retórica. Evoca uma resposta, se não “totalitária”, pelo menos “totalizante”.
O “Discurso Secreto” de Khrushchev representa o “paradigma antistalin” a
tal ponto que qualquer referência a ele evoca todo o paradigma. Algumas
vezes, a reação resultante é a indignação: Como posso presumir escamotear
uma refutação de todo o paradigma “antistalin” quando, na verdade, estou
refutando apenas uma parte dele? Mas, para outros, o artigo é simplesmente
uma enganação. Ele não consegue lidar com o GULAG, ou Trotsky, ou
Bukharin, ou o massacre de Katyn, ou outra coisa que não aparece no
discurso de Khrushchev e, assim, o artigo se torna um fracasso e uma
fraude, não importando o quão completamente consiga provar a falsidade
do que Khrushchev disse.

Concordo que o discurso de Khrushchev é o documento


fundacional do paradigma “antistalin”. Além disso, o fato da fala de
Khrushchev ser um tecido de fabricações, virtualmente, do começo ao fim
também tem implicações para futuras pesquisas. Dado esse grau de
falsidade no próprio começo do que supostamente seria uma exposição dos
“crimes de Stalin”, é improvável que a história termine aqui. Justifica-se
suspeitar que pelo menos algumas das outras “revelações”, sobre as quais
Khrushchev discorreu, também podem ser falsas.

E então, o paradigma “antistalin” está de fato em jogo. Os livros


Let History Judge de Roi Medvedev (1971) e The Great Terror: Stalin’s
Purge of the Thirties (1968) de Robert Conquest, ois quais são as duas
principais sínteses das “revelações” da era Khrushchev, são precisamente as
popularizações formativas do paradigma “antistalin”. Eles resumem o que
seus autores coletaram da imprensa soviética, anúncios de “reabilitações” e
memórias públicas e privadas (Para o relato de Aleksandr Solzhenitsyn ver
a nota de rodapé)5. Tanto Medvedev quanto Conquest aceitaram essas
“revelações” – incluindo o Discurso Secreto de Khrushchev, mas indo
muito além dele – pelo seu valor nominal, como “verdades”. Se o discurso
de Khrushchev for provado falso e quanto a esses outros materiais?

Minha tentativa de testar a exatidão das acusações feitas por


Khrushchev, em seu Discurso, e minhas conclusões resultantes – que
praticamente todas elas são falsas – não compreende uma tentativa direta da
minha parte destruir o paradigma “antistalin”. No entanto, essas conclusões,
pelo menos, removem um dos principais pilares de suporte sobre os quais
todo o edifício desse paradigma permanece. Uma vez convencido de que o
discurso de Khrushchev é pouco mais do que uma longa, cuidadosamente
planejada e elaborada mentira, nenhum estudante pode ver a história
soviética do período Stalin da mesma maneira novamente.

Declarações de fatos só podem ser avaliadas no nível de sua


fatualidade – ou seja, se tais declarações são as conclusões mais exatas que
podem ser tiradas dadas as evidências que temos. Nenhum paradigma pode
ser “refutado” pela refutação de um, ou qualquer número particular, de
afirmações de fatos.

Esses colegas e críticos que mencionei e, sem dúvida, inumeráveis


outros, são – como outro colega disse – “pessoas razoáveis nas garras de
uma narrativa irracional”. Essa narrativa irracional é o “culto à
personalidade” em torno de Stalin em seu disfarce khrushchevista.
Embora tenha alegado estar criticando e exorcizando o que é
melhor traduzido por “culto ao grande homem” (Kul’t lichnosti), o que
Khrushchev realmente fez foi reforçá-lo de forma invertida. Ele tentou
substituir o “onisciente, benevolente” Stalin do “culto” por outro Stalin que
era igualmente todo-poderoso, mas malévolo. Nisso Khrushchev se
assemelhava a Trotsky, que também se concentrava no que alegou ser as
falhas pessoais de seu arquirrival e explicou a ascensão de Stalin à
liderança, suas políticas, suas oposições e repressões atribuindo-as à
combinação de astúcia, crueldade e defeitos morais de Stalin.

Em um esboço da crítica de Noam Chomsky às mídias de massa,


Mark Grimsley escreveu:
Uma declaração que se encaixa em uma visão de
mundo aceita requer pouca explicação e, portanto,
pode ser esboçada em poucas palavras. Para ter
qualquer chance de ser persuasiva, uma afirmação
que desafia uma visão de mundo aceita precisa
mais do que uma frase de efeito6.

Isso também se aplica a um campo de estudos acadêmico que


desafia um paradigma histórico “recebido”, amplamente aceito.

Sob tais condições, “igualdade é desigualdade”. Não é apenas


necessário muito mais tempo, esforço e espaço em uma página para refutar
uma falsidade do que para dizê-la. É que o estudioso cujo trabalho desafia o
paradigma existente tem duas tarefas, enquanto o estudioso cuja pesquisa
se encaixa perfeitamente no paradigma predominante tem apenas uma. Este
último só precisa ter certeza de que sua pesquisa segue os cânones aceitos
pelo método e seu trabalho será recebido com aprovação. Em certo sentido,
ele está dizendo aos seus leitores o que eles já sabem ser verdade. Ele está
“preenchendo um vazio” no modelo maior de uma história já aceita por ser
aceitável.

Mas, o estudioso que desafia o paradigma predominante tem um


trabalho muito mais exigente. Sua pesquisa não deve apenas atender às
demandas do método – uso de evidência, lógica e assim por diante,
incumbência de todos os estudiosos. Ele também deve persuadir seus
leitores a questionar o padrão geral de causalidade histórica que até agora
deu forma à sua visão do passado. Ele os desafia a levar a sério a
possibilidade de que todo o modelo de história possa estar errado – um
desafio que muitos simplesmente dispensarão e alguns denunciarão como
ultrajante.

Então, eu tenho que reiterar o que deve ser óbvio, mas,


obviamente, não é. O tema deste artigo é o “Discurso Secreto” de
Khrushchev de 25 de fevereiro de 1956 em sua forma publicada. O
surpreendente – ao menos surpreendente para mim – resultado da minha
pesquisa é o seguinte: que a fala é composta, virtualmente em sua
totalidade, de falsificações. Meu objetivo no presente livro é demonstrar
esse resultado com a melhor evidência que existe, grande parte dela dos
antigos arquivos soviéticos.

Entrei neste projeto sabendo que, pelo menos, algumas das


declarações de Khrushchev eram falsas e suspeitando que alguma pesquisa
assídua descobriria que pelo menos mais algumas dessas declarações
também seriam falsas. Fiquei muito surpreso – “chocado” não é uma
palavra muito forte – ao descobrir que praticamente todas as “revelações”
de Khrushchev são, de fato, falsas.

Percebo que o todo é mais do que a soma de suas partes – que


minha conclusão, de que todas as “revelações” de Khrushchev são
mentiras, será recebida com muito mais ceticismo do que seria um resultado
mais modesto, em que, digamos, metade, ou dois terços, de “revelações”
fossem falsas. E, eu acho que isso ocorre porque um Khrushchev que
mentiu sobre absolutamente tudo não “se encaixa” no paradigma
“antistalin” predominante, no qual uma parte essencial é o Khrushchev que,
nas palavras de Taubman, “de alguma forma manteve sua humanidade” e
cujo discurso constitui uma “grande ação”.

EXPOR UMA MENTIRA NÃO É O MESMO QUE


ESTABELECER A VERDADE

A análise das prevaricações de Khrushchev sugere duas tarefas


relacionadas, mas distintas. De longe, o trabalho mais fácil e curto é o de
mostrar que Khrushchev não estava dizendo a verdade. Este é o tema do
presente livro.

Naturalmente, o aluno interessado vai querer saber mais do que o


simples fato de Khrushchev ter mentido. Uma vez convencido de que a
versão da realidade de Khrushchev é falsa, ela ou ele vai querer saber a
verdade – o que realmente aconteceu.

Mas, o presente estudo não pode satisfazer essa curiosidade. Uma


investigação separada seria necessária para cada caso – virtualmente,
sessenta e um estudos para tantas falsidades. Alguns seriam curtos,
principalmente porque não temos provas suficientes para resolver o assunto.

Outros desses estudos teriam que ser muito longos, pois há muita
informação, muitas vezes contraditória, a serem coletadas e examinadas.
Alguns, talvez muitos, seriam inconclusivos, uma vez que não foram
disponibilizadas evidências suficientes para nos permitir chegar a uma
solução definitiva. De qualquer forma, está necessariamente além do escopo
deste ensaio estudar em profundidade cada uma das falsas afirmações feitas
por Khrushchev com o objetivo de descobrir – o mais próximo possível,
dado o estado atual das evidências – o que realmente aconteceu.

A imagem de Stalin como “assassino em massa” originou-se, para


todos os efeitos, durante a era Khrushchev7. As primeiras acusações,
aquelas que lançaram as bases para o mito – precisamente o mito com o
qual estamos preocupados aqui – estão no “Discurso Secreto”. E, de todas
as “revelações” de Khrushchev, aquelas que de longe causaram a mais
profunda impressão continuam sendo as acusações de que Stalin iniciou ou
aprovou a aniquilação deliberada de muitos bolcheviques proeminentes.

Após o “Discurso Secreto”, a quantidade de “crimes” atribuídos a


Stalin continuou a crescer. Por exemplo, pouco tempo depois, Stalin
começou a ser culpado pelas execuções causadas pelas falsas acusações de
proeminentes líderes militares soviéticos. Enquanto Khrushchev
permaneceu no poder, uma plêiade de escritores oficiosos continuou a
trabalhar incansavelmente com o fim adicionar mais nomes à lista de
vítimas de sentenças supostamente injustas, muitas dessas pessoas foram
“reabilitadas” – declaradas sem culpa.
Em outubro de 1964, Khrushchev foi forçado a se aposentar.
Naquela época, a imagem de Stalin como um assassino em massa de
vítimas inocentes já estava firmemente estabelecida. No final dos anos 60 e
início dos anos 70, os volumes pesados do dissidente soviético, Roi
Medvedev, e do sovietólogo britânico, Robert Conquest, com suas
descrições detalhadas dos chamados “crimes” de Stalin, foram publicados
no Ocidente. Eles dependeram muito de obras publicadas sob Khrushchev.
Os anos de Gorbachev e Yeltsin viram a divulgação de ainda mais histórias
tendenciosas e sanguinárias.

Por essa razão, uma pesquisa cuidadosa sobre o que Khrushchev


disse em seu “Discurso Secreto” sobre as repressões maciças pode vir a ser
ainda mais útil do que simplesmente identificar mais e mais exemplos de
mentiras suas mentiras. Tal pesquisa torna possível identificar as fontes do
mito de Stalin como “assassino em massa” e começar a revelar algumas das
razões pelas quais esse mito foi criado em primeiro lugar.

EVIDÊNCIA HISTÓRICA VS. JURÍDICA

Há uma diferença qualitativa entre a história e o processo legal – o


que conta como evidência em um julgamento e o que conta como evidência
para a História.

Os relatórios de “reabilitação” normalmente se baseavam em


determinar que algum procedimento legal ou outro não foi observado na
litigância ou julgamento do réu (de cujus). Eles declaravam essas violações
do procedimento; determinavam que, portanto, o réu falecido não deveria
ter sido condenado e anulavam a sentença. Às vezes, eles forneciam
evidências de que os procedimentos tinham sido violados, às vezes, eles
somente alegaram que tinha sido assim.

Uma vez que um réu cuja condenação foi anulada e não pode ser
julgado novamente deve ser considerado “inocente”, então, o réu falecido é
“inocentado”. Reabilitado! Para um historiador, tudo isso é errado.

Um tribunal tem que se preocupar com os direitos de um


prisioneiro, alguns desses se referem ao processo legal. Por exemplo, a
confissão de um réu a um crime, sem qualquer outra evidência, ou sem
qualquer outra evidência de que um crime tenha sido acontecido,
normalmente não é suficiente para condenação. O ônus da prova recai sobre
a acusação – o réu não é obrigado a provar sua inocência, mas existe essa
possibilidade, se ele for capaz de fazê-la.

As provas obtidas através da tortura são inválidas. Uma razão para


tal é proteção dos os direitos do réu. Além disso, se a polícia pudesse abusar
de prisioneiros para obter confissões, talvez nunca fizessem qualquer
investigação real e, assim, jamais resolveriam quaisquer casos, todavia
obteriam muitas condenações, sem dúvida!

Mas, a história não é um “julgamento”, onde o réu tem vários


direitos. Pessoas mortas não têm direitos que precisam ser preservados. Da
mesma forma, não estamos interessados em saber se os réus tiveram um
“julgamento justo” (seja qual for a forma com que é definido). Estamos
interessados em saber os réus eram culpados ou não.

Se eles tiveram ou não um “julgamento justo”, pode ser uma outra


questão a ser investigada. Mas, não é a mesma coisa que culpa ou
inocência. Por exemplo, recentemente, a questão da culpa ou inocência de
pelo menos um dos “mártires de Haymarket”, legalmente linchados pelo
Estado de Illinois em 1886-7, foi levantada mais uma vez em alguns artigos
acadêmicos. Mas, ninguém questionou se eles tiveram ou não um
julgamento justo.

Eles não o tiveram e foram postumamente perdoados pelo


governador sucessor de Illinois alguns anos depois.

Agora no caso Sacco-Vanzetti, há alguma evidência de que ele,


pelo menos, pode ter sido culpado. Mas, é claro que os dois homens não
tiveram um “julgamento justo” para os padrões da época. Houve uma
discussão animada sobre se Julius Rosenberg passou ou não segredos
atômicos ou se planejou fazê-lo caso pudesse. Mas, não há dúvida de que
ele e sua esposa Ethel não receberam um julgamento justo.

Tampouco os historiadores precisam se preocupar com o


procedimento legal. Se você acha que um réu recebeu um “julgamento
justo” ou não, depende de como eram os procedimentos legais do dia e do
tempo, ao contrário de quais procedimentos foram realmente observados,
tudo é comparado com o que você mesmo realmente acha que é “justo”.

Os historiadores estão preocupados em reunir e avaliar todas as


evidências que temos e chegar a uma conclusão com base nisso. Não é a
mesma coisa que determinar se uma dada pessoa recebeu um “julgamento
justo” ou não. Um réu pode ser culpado e ainda não receber um julgamento
justo. Um historiador está interessado na “culpa ou inocência”. É possível
que nenhum negro tenha recebido um “julgamento justo” no sul
estadunidense até a década de 1960. Mas, isso não significa que todos os
réus negros eram inocentes.

Este livro não está preocupado se os réus receberam um


“julgamento justo” de acordo com os padrões do sistema judicial soviético
da década de 1930. Também não se preocupa com a base jurídica dos
julgamentos – se os julgamentos acelerados, em condições emergenciais,
são “legais” ou não. Estamos preocupados com as evidências que se
referem à culpa ou inocência do réu.

Em todos os casos de réus mencionados no discurso de


Khrushchev, temos amplas evidências apontando para a culpa. Mas, nosso
verdadeiro ponto é o seguinte. Em todos esses casos, sabemos o que
Khrushchev e seus conselheiros sabiam porque temos seus relatórios.
Nenhum desses relatórios demonstra a inocência dos acusados como foi
alegado por Khrushchev.

Em qualquer caso, não confio na autoincriminação como única


evidência. Embora, francamente, se essa fosse toda a evidência que
tivéssemos, então teríamos que confiar nela – não haveria mais nada. Da
mesma forma, se as provas “por ouvir dizer” fossem a única evidência que
tivéssemos, então teríamos que confiar nelas com ceticismo e ressalvas
apropriados.

TORTURA E OS PROBLEMAS HISTÓRICOS


RELACIONADOS A ELA

Desde os dias de Stalin, ninguém negou que muitos prisioneiros


presos sob acusações políticas foram torturados durante a década de 1930,
na URSS. Os tribunais de “Reabilitação” dos tempos de Khrushchev e pós-
Khrushchev têm muitas vezes “reabilitado” réus porque eles foram
torturados. Normalmente, isso tomou a forma em declarar suas condenações
como inválidas. Em um procedimento judicial, mesmo na URSS durante o
tempo de Stalin, as provas obtidas de um réu por meio de tortura eram
inválidas e não podiam ser usadas legalmente.

O fato de um réu ter sido torturado não significa que o réu era
inocente. Não é evidência de que o réu era inocente. Mas, muitas vezes é
erroneamente assumido ser.

Na realidade, existem muitas possibilidades diferentes:

Uma pessoa pode ser culpada, ser torturada e confessar;

Uma pessoa pode ser culpada, ser torturada, e não


confessar;

Uma pessoa pode ser inocente, ser torturada e confessar


(para parar a tortura);

Uma pessoa pode ser inocente, ser torturada e ainda não


confessar.

Uma pessoa pode ser inocente, não ser torturada, e ainda


confessar a culpa de outro crime. (Exemplos disso
ocorrem nos documentos de Reabilitação).

Uma pessoa pode ter sido torturada, mas ser considerada


culpada por outras provas, como testemunhos de outros
réus ou provas físicas. Outros testemunhos de outros
indivíduos e outras evidências geralmente entram em
jogo.

Estabelecer o fato de que alguém realmente foi torturado nem


sempre é fácil. O simples fato de alguém dizer que confessou sob tortura
não é infalível. Há muitas razões pelas quais as pessoas algumas vezes
querem retratar uma confissão de culpa. Alegar que foi torturado é uma
maneira de fazer isso preservando alguma dignidade. Então, para ter certeza
de que uma pessoa foi torturada, deve haver mais evidências do fato, como
uma declaração ou confissão por uma pessoa que realmente fez a tortura ou
uma testemunha de primeira mão.

Quando não há nenhuma evidência de que um réu foi torturado,


estudiosos objetivos não devem concluir que ele foi torturado. Esse ponto
óbvio é, muitas vezes, negligenciado, provavelmente porque um
“paradigma” de que todos foram torturados e todos eram inocentes age
poderosamente na mente de pesquisadores e leitores.

Investigadores podem ter diferentes razões para torturar um


suspeito. Convencidos que uma pessoa é um criminoso perigoso ou espião,
eles podem usar a tortura para forçá-lo a produzir informações que podem
salvar vidas ou propriedades, incriminar seus comparsas ou levar à solução
de crimes anteriores.

Ou, os investigadores podem torturar suspeitos a fim de fazê-los


confessar crimes que nunca cometeram – talvez para melhorar a reputação.
Eles podem usar a tortura para forçar o detento a incriminar outras pessoas
que podem, então, ser torturadas com o mesmo propósito. Dessa forma,
uma história sobre uma enorme conspiração pode ser fabricada do nada.

Mikhail Frinovskii, vice de Nikolai Yezhov, chefe do NKVD


(Comissário dos Assuntos Internos), afirmou que Yezhov e ele haviam
instruído alguns de seus subordinados a fazer exatamente isso, em uma
declaração confessional que foi citada muitas vezes, mas só foi publicada
em sua totalidade, em fevereiro de 20068.

Mas, Frinovskii disse que nem sempre foi assim. Nem todos os
seus subordinados confessaram ter feito isso. Além disso, muitos réus não
foram presos durante o mandato de Yezhov. E ainda, sabemos que tanto
Stalin quanto as comissões de alto nível destacadas para investigar
alegações de abusos massivos como esse tomaram fortes e imediatas ações
para deter esses abusos e prender os responsáveis. Documentos internos
anteriormente secretos deixam isso claro.

Nos interrogatórios que citei acima, Yezhov também confessou


torturar e enquadrar pessoas inocentes em uma escala enorme, a fim de
semear o descontentamento com o sistema soviético e, assim, facilitar a
derrubada do governo soviético e da liderança do Partido em caso de
invasão pelo Japão e/ou Alemanha.

Para nossos propósitos, tudo isso deve servir apenas para nos
lembrar da necessidade de evidências.

Não podemos assumir que uma pessoa foi torturada sem


provas de que ela tenha sido.

Não podemos assumir que uma pessoa era culpada ou


inocente só porque foi torturada, muito menos com base
em uma mera alegação de que foi torturada.

Cada caso tem que ser decidido individualmente, de


acordo com as evidências que temos.

Na maioria dos casos simplesmente não temos todas as evidências


que os soviéticos tinham. Nem os regimes soviéticos pós-Stalin, nem o
regime russo pós-soviético jamais as liberaram. O que foi lançado foi
selecionado de acordo com alguns critérios. Quase nunca nos dizem quais
são esses critérios. Mas, muitas vezes parece que a informação foi
selecionada para fazer parecer que o assunto tinha sido “maquinado” pelo
governo Stalin.

Felizmente, as informações muitas vezes vêm de diferentes fontes,


em momentos diferentes e aqueles que as divulgaram parecem ter agido de
acordo com motivos diferentes. As contradições entre os vários pedaços de
evidência são, diversas vezes, muito esclarecedoras.

Ainda assim, praticamente nunca temos a “história inteira”, ou


seja, todas as evidências que os promotores tinham. Mas, o viés antistalin
dos governos Khrushchev, Gorbachev, Yeltsin e subsequentes pode nos
ajudar a avaliar a evidência que eles liberam: podemos estar razoavelmente
certos de que eles teriam liberado qualquer evidência culpabilizando Stalin
ou seus associados próximos, se ela existisse.

Durante o tempo de Khrushchev (1956-64) e desde a época de


Gorbachev, de 1987 até o presente, o Estado Soviético e, depois, o Estado
russo colocaram muitos recursos em um esforço para criminalizar Stalin. Os
documentos de reabilitação que foram publicados deixam isso claro. É
difícil imaginar que qualquer evidência que tenda a mostrar Stalin como
culpado de enquadrar pessoas inocentes poderia ser ignorada.

Da mesma forma, podemos esperar que boa parte do material que


não foi disponibilizado tende a lançar dúvidas sobre a versão “oficial”
antistalin. E, na verdade, foram liberados aqui e ali documentos que tendem
a eximir Stalin. Às vezes, parece que isso foi feito por causa de brigas
burocráticas. Normalmente, simplesmente não sabemos por que foi feito.
Às vezes, também, documentos são lançados várias vezes com as versões
posteriores contradizendo as versões anteriores de tal forma que fica claro
que documentos “primários” estão sendo fabricados até uma versão forjada
final ser declarada “oficial” por constar em um arquivo.

Como sempre, na escrita da história nossas conclusões devem ser


provisórias. Não há “certeza”. Historiadores raramente, se nunca, estão na
posição confortável de lidar com “certezas”. À medida que, no futuro, mais
evidências vierem à tona, teremos que estar preparados para ajustar ou até
mesmo descartar nossas conclusões anteriores, se necessário.

Temos que estar preparados para questionar nossas próprias ideias


preconcebidas e os paradigmas históricos. Não é fácil fazer isso. Mas, se
não mantivermos a necessidade de fazê-lo na vanguarda de nossa
consciência, corremos o risco de olhar com favor à evidências que tendem a
apoiar nossas próprias ideias preconcebidas enquanto olhamos criticamente
apenas para evidências que tendem a refutar essas mesmas ideias.

UMA TIPOLOGIA DA PREVARICAÇÃO


KHRUSHCHEVISTA

A tipologia das “revelações” de Khrushchev e as evidências em


cada caso representam minha tentativa de analisar os diferentes tipos de
falsificação a fim de distinguir as diferentes maneiras com que Khrushchev
enganou seu público.

O The American Heritage Dictionary of the English Language


define a palavra mentira como:
1. Uma falsa declaração deliberadamente apresentada como
sendo verdadeira; uma falsidade.

2. Algo com o propósito de enganar ou dar uma impressão


errada.

Portanto, definições de “mentira” normalmente exigem que o


mentiroso saiba de antemão que a declaração que ele está fazendo é falsa.
Isso é muitas vezes, embora não sempre, difícil de demonstrar em pesquisas
históricas. Assim, usei uma definição mais ampla nesta pesquisa. Quando
chamo uma declaração feita por Khrushchev de “mentira”, quero dizer uma
de duas coisas:

1. Khrushchev certamente sabia que a declaração em


questão era falsa quando ele a fez.

2. Khrushchev fez a declaração “em flagrante


desconsideração à verdade”. Nesse caso, não podemos
estar certos de que Khrushchev tinha certeza de que sua
declaração era falsa. Em vez disso, ele apresentou a
declaração como verdadeira sem qualquer boa razão para
fazê-lo.

Em todos os casos, no entanto, Khrushchev e seus pesquisadores


tiveram acesso a todas as evidências agora disponíveis para nós, bem como
a uma grande quantidade de outras – praticamente toda a documentação.
Portanto, é mais do que provável que Khrushchev soubesse que essas
declarações eram falsas.

A prática comum entre os estudiosos é considerar a palavra


“mentir” um termo severo, que deve ser usado com moderação em
pesquisas sérias. Farei o possível para evitá-lo.

Mais importante do que questões de decoro são as de análise.


Existem diferentes tipos de falsificações e aplicar um só termo a todos elas,
seja “mentira” ou outra palavra, não consegue trazer à tona as sutilezas dos
meios de desorientação retórica que Khrushchev aplicou.
Uma tipologia é uma tentativa de unir coisas diferentes entre si
por conta de algo que elas têm em comum. Neste caso, todas as falsas
“revelações” de Khrushchev têm em comum a intenção de enganar, mas
tentam concretizar de maneiras um pouco diferentes.

AS “REVELAÇÕES”

Nº “Revelação" de Khrushchev Tipologia


1 “Culto à personalidade" M
2 “Testamento" de Lenin M
3 Falta de coletividade M
Stalin “aniquilou moral e fisicamente" aqueles que se
4 M
opuseram a ele
5 A prática de repressão em masas, de modo geral S
6 O termo “inimigo do povo" M
7 Zinoviev e Kamenev S
8 Trotskistas M
9 Stalin negligenciou as normas de vida interna do Partido M
10 Comissão do Politburo S
A “diretiva" de primeiro de dezembro assinada por
11 M
Yenukidze
Khrushchev sugere que Stalin foi responsável pelo
12 M
assassinato de Kirov
Telegrama de Stalin e Zhdanov para o Politburo, 25 de
13 M
setembro de 1936
Discurso de Stalin para a Plenária do Comitê Central,
14 M
fevereiro-março de 1937
“Uma série de membros do CC questionaram a legitimidade
15 M
das políticas de repressão em massa”, em especial Postyshev
16 O caso de R. I. Eikhe MO
17 N. I. Yezhov MO
18 O Caso de Ia. E. Rudzutak MO
19 As confissões de A. M. Rosenblium MO
Nº “Revelação" de Khrushchev Tipologia
20 O Caso de I. D. Kabakov MO
21 S. V. Kossior, V. Ia. Chubar, P. P. Postyshev, A. V. Kosarev MO
25 A “Lista de fuzilamento de Stalin" M
26 A decisão da Plenária do Comitê Central em janeiro de 1938 M
27 “Gangue de Beria" M
28 O “telegrama relativo à tortura" M
29 Rodos torturou Kossior e Chubar por ordem de Beria MO
Stalin “desconsiderou" os alertas sobre a deflagração da
30 M
guerra
31 A carta de Vorontsov M
32 O desertor alemão M
33 Os comandantes militares executados MO
A “depressão e passividade" de Stalin na deflagração da
34 M
guerra
35 Stalin como um “péssimo comandante militar" M
36 Campanha de Kharkov em 1942 M
37 Stalin “planejava operações militares em um globo" M
38 Stalin “menosprezou" o serviço de marechal Zhukov PK
39 Deportação em massa de povos M
40 “O caso de Leningrado" M
41 “O caso Migreliano" M
42 Relações com a Iugoslávia PK
43 “A trama dos médicos" M
44 Beria, um “agente da inteligência estrangeira" M
45 Kaminsky acusa Beria de trabalhar para os Mussvetists M
46 O caso “Kartvelishi-Lavrentev" M
47 Vingança sob M. S. Kedrov MO
48. Papulia, irmão de Sergo Ordzhonikidze M
49. “J.V. Stalin. Uma Breve Biografia" M
50. “História do VKP(b): Um Curso Breve" M
Nº “Revelação" de Khrushchev Tipologia
Stalin assinou um decreto para erguer uma estátua em sua
51. NS
homenagem em 2 de junho de 1951
52 O Palácio dos Sovietes M
53. Os Prêmios Lenin e Stalin M
Proposta de Stalin de aumentar os impostos sob os
54. PK
kolkhozes
55. Stalin insulta Postyhsev PK
56. “Desorganização" do trabalho no Politburo M
57. Stalin suspeitou que Voroshilov era um “espião inglês" M
58. “Arbitrariedades desenfreadas" contra Andreev M
59. “Acusações infundadas contra Molotov e Mikoyan Mx2
61. Incremento do número de membros do Presidum do CC M

A TIPOLOGIA

NS – “Não Sei” – Uma declaração (#51). Sem estudar o original


do documento relevante, não podemos determinar se Khrushchev estava
dizendo a verdade quando ele alegou que Stalin assinou pessoalmente a
ordem para um monumento a si mesmo em 2 de julho de 1951. Khrushchev
certamente distorceu o contexto por omissão.

O que, de uma forma ou de outra, constituiria a prova para essa


afirmação não é algo certo. Por exemplo, uma fotocópia por si só não seria
suficiente, como será explicado quando considerarmos essa alegação de
Khrushchev.

PK – “Palavra de Khrushchev (apenas)” – 4 declarações.


Khrushchev afirma que Stalin disse algo, mas ninguém mais confirmou.
Mesmo que outros tenham negado, ainda não se pode estabelecer
definitivamente como falsidade.

No entanto, essas declarações provavelmente são mentiras, já que


em apenas um caso Khrushchev diz que ter sido a única pessoa a ouvir tais
observações por Stalin. Se o resto dessas declarações tivessem sido feitas na
presença de outros, certamente alguém as teria confirmado, já que todas
elas se tornaram bem conhecidas após o Discurso Secreto. Não podemos,
no entanto, ter certeza disso, daí a classificação especial “PK”.

MO – “Mentira, informações Omitidas” – 12 declarações. São


declarações que dão uma falsa impressão porque o contexto essencial –
outras informações – foi omitido. O próprio Khrushchev pode, ou não, ter
conhecido esse contexto, mas aqueles que fizeram a pesquisa e relataram a
ele certamente conheciam, isso com base no princípio de que o que
sabemos hoje, e provavelmente muito mais, era certamente conhecido à
época. É mais do que improvável que seus pesquisadores se atrevessem a
esconder de Khrushchev essas informações.

S – “Caso especial” – 3 ocorrências. Estas são declarações muito


amplas que, quando examinadas cuidadosamente, não fazem realmente
nenhuma acusação específica contra Stalin, mas implicam uma acusação e,
assim ,criam uma falsa impressão sem realmente fazer uma alegação direta.

M – “Mentira” – 41 declarações, de longe a maior categoria.


Essas declarações são comprovadamente falsas ou feitas em flagrante
desrespeito aos fatos. Neste último caso, podemos mostrar que Khrushchev
sabia, de fato, se eram verdadeiras ou não.

Um exemplo ou dois de cada categoria (é claro, exceto o primeiro,


que já foi citado) deve dar uma ideia do tipo de classificação e do engano
que está envolvido em cada categoria.

PK – PALAVRA DE KHRUSHCHEV

De acordo com Khrushchev, Stalin disse, em sua presença, “vou


sacudir meu dedinho – e não haverá mais Tito. Ele vai cair (p. 35)”.
Khrushchev implica, embora não afirmar explicitamente, que era a única
testemunha dessas palavras de Stalin. Se assim for, não há como verificar
este incidente. Ninguém confirmou isso.

Um segundo exemplo é a questão da proposta de Stalin de se


aumentar em 40 bilhões de rublos os impostos sobre os camponeses.
Khrushchev alegou que, no final de 1952 ou início de 1953, Stalin sugeriu
um aumento de 40 bilhões de rublos em impostos sobre o campesinato.
Mostramos que ou Stalin disse isso apenas a Khrushchev ou Khrushchev
inventou.

Os outros dois exemplos são os supostos insultos de Stalin contra


o Marechal Zhukov e Pavel Postyshev.

Se Khrushchev tivesse sido um homem honesto, cujas declarações


em todas as outras ocasiões provaram ser dignas de se acreditar, então, aqui
poderíamos confiar em uma reputação de veracidade imaculada e presumir
que essas declarações são verdadeiras. Mas, Khrushchev raramente era
verdadeiro. Portanto, é mais provável que o que ele disse com base apenas
em seu próprio testemunho é falso. Mas, não podemos ter certeza absoluta;
daí essa classificação.

MO – MENTIRA, INFORMAÇÕES OMITIDAS

Khrushchev disse: “Da mesma forma, foram fabricados os”casos”


contra eminentes e militantes do Partido e do Estado – Kossior, Chubar,
Postyshev, Kosarev e outros”. (N.º 21-24)

A situação não era tão clara quanto Khrushchev afirma que foi.
Algumas informações muito incriminadoras estão, agora, disponíveis para
nós a respeito de Kosarev e muito mais está disponível sobre Kossior,
Chubar e Postyshev. Por exemplo, Postyshev foi repreendido, removido e
finalmente preso e condenado por repressões maciças e infundadas contra
membros do Partido de sua área. Khrushchev estava no Pleno do CC de
janeiro de 1938, no qual Postyshev relatou e foi severamente criticado.

Khrushchev tinha que saber que Molotov tinha visitado Postyshev


na prisão, encontro em que Postyshev havia confessado sua culpa a
Molotov. Da mesma forma, Khrushchev tinha que saber que Postyshev, e
muitos outros, tinham incriminado Kossior e Chubar e que Kaganovich
disse ter visto um caderno inteiro com confissões de Chubar. Um
documento publicado recentemente mostrou que todos esses quatro homens
confessaram no julgamento, embora outros réus tenham retirado suas
confissões. Khrushchev tinha que saber disso também.
Um quinto exemplo é a história de Rozenblium sobre como
Zakovskii forjava confissões. Khrushchev implica, embora sem afirmar
diretamente, que Stalin estava por trás disso. Na verdade, temos boas
evidências para dizer que Zakovskii estava agindo sob as ordens de Yezhov
como parte de uma conspiração. Temos provas documentais de que Stalin
condenou Zakovskii por torturar suspeitos.

Deve-se notar que alguns casos de “mentira, informação retida”


(MO) se imiscuam na categoria de “mentira” (M). Exemplos disso são os
N.º 33 e 47. No caso dos “comandantes militares executados” (Nº 33)
Khrushchev expressou-se tão vagamente que é impossível saber exatamente
o que ele estava afirmando, se de fato afirmou alguma coisa; pela mesma
razão é impossível dizer com certeza que ele estava mentindo. Há uma
ampla publicação em que o Marechal Tukhachevsky e os comandantes
condenados junto a ele tinha sido, de fato, culpados das acusações.
Portanto, é difícil classificar essa declaração de Khrushchev, mas nós a
colocamos na categoria de “mentira, informação retida”.

“A cruel vingança contra M. S. Kedrov” (Nº 47) é outro exemplo.


É fácil ver que Kedrov não foi baleado “por ordem de Beria”, ou seja, “por
sua instigação”. O documento inicial não teve origem em Beria. Após
confirmação com Bochkov – o promotor da URSS – Beria, como
Comissário dos Assuntos Internos, recebeu a decisão de fuzilar Kedrov. De
modo que também seria incorreto dizer que Beria não teve envolvimento
com a execução de Kedrov, ele certamente deve ter emitido uma “ordem”.

Em ambos os casos, temos que nos satisfazer com migalhas de


evidências desclassificadas, com base nas quais é completamente
impossível obter uma compreensão completa desses eventos. Ainda assim,
as informações que temos são suficientes para estabelecer o fato de que
Khrushchev mentiu em, pelo menos, alguns aspectos desses casos (e
possivelmente muito mais). Assim, ambos os casos são “Mentiras” (M)
mas, também, “Mentiras, informações Omitidas” (MO) ou uma combinação
das duas categorias.

S – CASO ESPECIAL
Khrushchev discute repressões em massa de forma geral (nº 5)
antes de entrar em detalhes. Esquece de mencionar que ele próprio estava
fortemente envolvido em repressões em massa, como Primeiro Secretário
do Partido do oblast (província) de Moscou e de comitês municipais
durante 1935-38 e, em seguida, depois de janeiro de 1938, da Ucrânia
(1938-49).

Os estudos que estão disponíveis para nós hoje sugerem que


Khrushchev pode muito bem ter reprimido mais pessoas do que qualquer
outro líder do Partido. Certamente ele estava entre os pioneiros da
repressão. Esse contexto está totalmente ausente do Discurso Secreto. Eu
classifico isso como S, “caso especial”, ao invés de MO, “mentira,
informação retida”, pois Khrushchev não culpa explicitamente Stalin ou
Beria por toda a repressão, embora essa seja a impressão que ele, sem
dúvida, pretendia deixar em seu público.

Outro exemplo desta categoria é a declaração de Khrushchev


sobre Zinoviev e Kamenev:
Em seu “testamento”, Lenin advertiu que “o
episódio de outubro envolvendo Zinoviev e
Kamenev não tinha sido um acidente”. Mas, Lenin
não colocava a questão de prendê-los e,
certamente, nem a de executá-los. (p. ).

Essa declaração se afasta absolutamente da questão da inocência


ou culpa de Zinoviev e Kamenev em conspirar para derrubar o governo
soviético e envolvimento indireto no assassinato de Kirov. Essas foram as
acusações apresentadas contra eles no primeiro “julgamento espetáculo”
público em Moscou, em agosto de 1936, e no qual ambos confessaram.
Essas confissões, juntamente com todo o resto do material de investigação,
estavam disponíveis para Khrushchev.

A pequena parte dessas informações disponíveis para nós sugere


que Zinoviev e Kamenev eram culpados do que confessaram. Até mesmo
Khrushchev não os declarou inocentes, como fez com vários outros líderes
de alto escalão do Partido de cuja culpa temos uma boa dose de evidência.
Em vez disso, Khrushchev apenas define as execuções como uma
“arbitrariedade” de Stalin. Mas, se eles eram culpados, como as evidências
sugerem, então suas execuções eram tudo menos “arbitrárias”.

O exemplo final da categoria “S” é a referência de Khrushchev à


“revelação” Nº. 10:
uma comissão partidária sob o controle do Comitê
Central Do Presidium... encarregada de investigar
o que possibilitou as repressões em massa contra a
maioria dos membros do Comitê Central e
candidatos eleitos no 17º Congresso...

Khrushchev alegou que essa comissão “estabeleceu muitos fatos


relativos à fabricação de casos contra comunistas, falsas acusações, abusos
gritantes da legalidade socialista, os quais resultaram na morte de pessoas
inocentes”.

Na verdade, essa “Comissão Pospelov”, cujo texto foi publicado9


não “estabeleceu” esses fatos. Esse estudo tendencioso seguiu uma agenda
predeterminada para chegar em conclusões convenientes para Khrushchev,
mas, na maioria dos casos, sem ter fundamento em qualquer evidência.
Ainda mais, a comissão nunca estabeleceu que Stalin era culpado desses
abusos. Nem, é claro, essa afirmação é realmente uma revelação, uma vez
que foi amplamente reconhecido, mesmo à época (1939 e depois disso) que
muitas pessoas tinham sido executadas de erroneamente.

M – MENTIRA

De longe, a maior categoria é “M” – as mentiras deslavadas.


Todas as mentiras dependem de contexto – algo com referência e que
podem ser reconhecidas como contrarias aos fatos. Assim, dependendo do
contexto específico, algumas declarações margeiam a categoria “MO,
ou”Mentira, informações Omitidas”.

Mas, outras são apenas falsidades descaradas. Exemplos delas


incluem a “Carta de Vorontsov” (Nº 31). Aqui, Khrushchev omite o último
parágrafo, que inverte o significado de toda a carta e de fato contradiz seu
ponto de vista.
Outro é o “Telegrama Relativo à Tortura” (Nº 28), em que,
novamente, Khrushchev omitiu partes cruciais do documento. Nele,
Stalin10 reafirma o uso de “pressão física” em criminosos “calejados”,
rejeita vigorosamente o uso, a menos de “exceção” ao mesmo tempo em
que revela que certos NKVDistas conhecidos foram punidos por torná-la
uma “Regra”. A citação de Khrushchev remove a ordem de Stalin para que
a tortura só seja usada “em circunstâncias excepcionais”.

Um terceiro exemplo é a suposta “desmoralização” de Stalin no


início da guerra (nº 34). Isso foi refutado por praticamente todas as pessoas
que estavam presentes e que trabalharam com Stalin na época. E
Khrushchev não estava com Stalin e nem mesmo em Moscou, mas em
Kiev!

1. Em suas memórias, publicadas primeiro na revista Life e


depois em forma de livro, Khrushchev admitiu que essas
“reações do público” eram mentira. “Os delegados
ouviram em silêncio absoluto. Era tão tranquilo naquele
salão enorme que você podia ouvir uma mosca
zumbindo. Life, 11 de dezembro de 1970, p. 63; Strobe
Talbot (trans. & ed.), Khrushchev Remembers: The Last
Testament. (Boston: Little, Brown, 1974), p. 494.↩

2. No relatório publicado pelo jornal oficial Izvestia TsK


KPSS nº 12 (1989), p. 86 o número de delegados dado
como 97 (44 + 53), não 98. É claro que isso não muda a
essência da questão.↩

3. Exceto por aquela que marquei como “Não Sei”.↩

4. A declaração recém citada é um dos meus três “S”, ou


“casos especiais”.↩

5. Os vários relatos de Solzhenitsyn, cujo mais famoso é


seu The Gulag Archipelago, em suas várias edições, não
são, estritamente falando, obras históricas. Solzhenitsyn
se baseou quase exclusivamente em rumores e memórias
não publicadas. O interrogatório crítico das fontes é
virtualmente desconhecido a ele. Solzhenitsyn também
fez muitas declarações deliberadamente falsas, incluindo
muitas sobre sua própria vida. Além disso, é patente que
ele não compôs todos o The Gulag Archipelago. A
amplitude do quanto a vida do próprio Solzhenitsyn foi
“construída” e falsificada precisa ser estudada para que
se possa acreditar nela. Para um relato muito detalhado e
altamente documentado de todos os problemas com
Solzhenitsyn e seu trabalho, veja Aleksandr V.
Ostrovskii, Solzhenitsyn: Proshchanie s mifom
(Solzhenitsyn: Adeus ao mito) Moscou: IAuza, 2004.↩

6. Mark Grimsley, “Noam Chomsky (1928-)”. Disponível


para consulta no Link [people.cohums.ohio-
state.edu/grimsley1/h582/2001/Chomsky.htm]↩

7. Na verdade, há boas razões para acreditar que


Khrushchev elaborou essa visão, juntamente com outras
de Trotsky. Ele certamente pegou outras histórias
antistalin de Trotsky, como a noção de que Stalin pode
ter se envolvido no assassinato de Sergei Kirov de
primeiro de dezembro de 1934.↩

8. Veja a declaração de Frinovskii publicada em Lubianka 3


No. 33 pp. 33-50; minha tradução no Link
[frinovskyeng]. Veja também a transcrição da confissão
de N. I. Yezhov, ibid. No. 37 pp. 52-72; minha tradução
no Link [ezhov042639eng].↩

9. Por exemplo em Doklad Khrushcheva (citado acima),


pp. 185-230.↩

10. Ou, “Stalin” – o documento em si é de autenticidade


questionável, como explico separadamente no Capítulo
IV.↩
OS RESULTADOS DAS “REVELAÇÕES” DE
KHRUSHCHEV
REABILITAÇÕES FALSIFICADAS

TIVEL – POSTYSHEV – KOSAREV – RUDZUTAK –


KABAKOV – EIKHE

Em seu discurso, Khrushchev anunciou que “uma comissão


partidária sob o controle do Comitê Central do Presidium” havia
determinado que:
... muitos militantes do Partido, da economia e dos
Sovietes, taxados como “inimigos” em 1937-1938,
na verdade, nunca foram inimigos, espiões,
sabotadores etc., mas sempre foram comunistas
honestos.

Então, passou a discutir uma série de casos específicos cuja


inocência, segundo ele, havia sido estabelecida.

Após o colapso da URSS, foram publicados os documentos desta


comissão chefiada por Petr Pospelov. E também os relatórios de reabilitação
assinados pelo procurador-chefe da URSS, Rudenko, nos quais Pospelov se
baseou1. Citações integrais e outras semelhanças mostram que os relatórios
de reabilitação foram a base fatual do Relatório Pospelov.

O Relatório Pospelov foi discutido algumas vezes de uma forma


muito crédula, que não conseguiu expor as falsificações que contém.
Algumas delas são óbvias. Por exemplo, uma seção do relatório conclui que
todos os chamados “blocos” e “centros” de atividade oposicionista foram
fabricados por investigadores do NKVD. Sabemos que não foi assim, já que
os próprios jornais de Trotsky mencionam um “bloco” de seus partidários
junto aos Direitistas2.
Mas, os relatórios de reabilitação nunca foram objeto de qualquer
escrutínio. Estudos anteriores das reabilitações referidas no Discurso de
Khrushchev, como os de Rogovin e Naumov, foram pouco mais do que
resumos das próprias memórias de Khrushchev e aceitaram credulamente os
relatos auto adulatórios de Khrushchev3.

Nas páginas seguintes, discutiremos os relatórios de reabilitação


sobre algumas das figuras do Partido que aparecem no Discurso de
Khrushchev e compararemos seus conteúdos com o que sabemos a partir da
publicação de outras fontes desde o fim da URSS. Vamos concluir que os
relatórios de reabilitação em questão não foram compilados para descobrir a
verdade sobre a culpa ou inocência dos réus. Eles não poderiam ser assim
porque não revisaram nem mesmo todos os materiais que, agora, temos
sobre esses indivíduos. Quem sabe o que mais existe nos arquivos
investigativos e judiciais que não conhecemos?

Então, por que os relatórios de reabilitação foram preparados?


Quanto às pessoas que figuram no Discurso de Khrushchev, todos membros
do Comitê Central, a única explicação lógica é que o propósito dos
relatórios era fornecer a Khrushchev uma documentação plausível para
alegar a inocência de todos eles.

Essa não pode ter sido a razão para os milhares de relatórios de


reabilitação de militantes menores, membros do Partido, mas de menor
patente, e de indivíduos privados. A maioria, se não todos, foram
preparados como resultado de petições feitas por parentes dos réus e poucos
desses relatórios foram publicados.

Mas, mesmo nesses casos, não podemos estar confiantes de que,


de fato, foram realizadas investigações adequadas para determinar culpa ou
inocência. Um exemplo é o de Alexandr Iulevich Tivel-Levit.

TIVEL

Getty conseguiu ver o inédito arquivo do Partido sobre Tivel e


resumiu brevemente seu caso, conforme o arquivo. Em maio de 1957, a
Suprema Corte da URSS anulou a condenação e expulsão de Tivel do
Partido realizada em 1937. Mas, não há evidências de que qualquer estudo
sério do caso de Tivel tenha sido realizado, a Suprema Corte apenas
afirmando que sua condenação “tinha sido baseada em materiais
contraditórios e duvidosos”4.

Na verdade, agora temos uma boa quantidade de informações


relativas a Tivel. Isso porque, como se vê, ele não era um “Homem
Soviético Ordinário”, como Getty o chamou5. Tivel tinha sido coautor de
uma história oficial dos primeiros dez anos do Comintern. Tivel foi citado
pelo nome como o intérprete na transcrição do 17º Congresso do Partido
quando, em 2 de fevereiro de 1934, Okano, um representante do Partido
Comunista do Japão, falou.

Alexander Barmine, um oficial soviético que fugiu para o


Ocidente, escreveu que Tivel tinha sido secretário de Zinoviev. Radek o
chamou de “meu colaborador” e testemunhou os lações de Tivel com um
grupo zinovievista. Ele foi citado como conspirador por Iuri Piatakov e
Grigorii Sokolnikov, dois dos principais réus no julgamento de 1937.
Sokolnikov disse que Tivel se aproximou dele como membro de um grupo
trotskista que planejava assassinar Stalin.
Sokolnikov: Em 1935, Tivel veio até mim e me
informou que ele estava ligado ao grupo terrorista
Zaks-Gladnev. Tivel pediu instruções para outras
atividades deste grupo...
O Presidente: Contra a vida de quem esse grupo se
preparava para atentar?
Sokolnikov: Tivel me disse, então, que eles tinham
instruções para preparar um ato terrorista contra
Stalin... Eu estava pessoalmente ligado a Tivel, ele
estava pessoalmente ligado ao grupo Zaks-
Gladnyev. Se o próprio Tivel era um membro do
grupo, eu não sei6.

Na verdade, há muito mais. Zaks-Gladnev, que tinha sido editor de


Leningradskaya Pravda, enquanto Zinoviev chefiava o Partido em
Leningrado, era cunhado do próprio Zinoviev. Victor Serge escreveu sobre
o encontro com Zinoviev, ocorrido em 1927, no apartamento de Zaks após a
fracassada manifestação trotskista contra a liderança do Partido – Bukharin
e Stalin na época – e o protesto suicida de Adolf Yoffe (Yoffe era um
trotskista dedicado), em que eles planejaram uma oposição clandestina.

Desde que Sokolnikov e Piatakov discutiram sobre Tivel durante


seu testemunho de julgamento, eles, sem dúvida, também o mencionaram e,
possivelmente em maior extensão, durante os interrogatórios investigativos
pré-julgamento7. Quando eles o nomearam em júri, Tivel não só ainda
estava vivo – ele ainda nem havia sido preso, embora tivesse sido,
evidentemente, expulso do Partido em agosto de 1936. Talvez seu nome
tenha vindo à tona em conexão com o julgamento de Zinoviev-Kamenev,
realizado no mesmo mês. O nome de Tivel foi mencionado por Yezhov no
confronto cara a cara entre Bukharin e Kulikov, um dos acusadores de
Bukharin, em dezembro de 19368.

De acordo com Getty, a reabilitação de Tivel foi resultado de


apelos de sua viúva, que queria ter removida a mancha de “filho de um
inimigo do povo” sobre seu filho. Da pouca documentação que foi
disponibilizada até agora, fica claro que, apesar de sua reabilitação, havia
uma boa quantidade de evidências implicando Tivel na rede de
conspirações denunciada ao final da década de 1930. Isso é ainda mais
evidentemente verdadeiro nos casos de bolcheviques muito mais
proeminentes, cujos exemplos são citados por Khrushchev em seu Discurso.

POSTYSHEV

Em seu discurso, Khrushchev afirmou que, na Plenária de


fevereiro-março de 1937, “muitos membros” do Comitê Central
“questionaram a retidão” das “repressões em massa”, e que “Postyshev
expressou mais habilmente essas dúvidas”. Essa afirmação não pôde ser
verificada até que a seção correspondente da transcrição daquela Plenária
fosse publicada em meados de 19959.

A declaração acaba sendo uma mentira deliberada. Na verdade,


nem Pavel Postyshev, nem um único outro membro questionaram as
repressões.
Mas, a mentira de Khrushchev é muito maior que isso. Postyshev
era culpado de repressões maciças. Stalin chamou as ações de Postyshev de
“um massacre... fuzilamento” de membros inocentes do Partido em sua
área. Esta foi a razão pela qual Postyshev foi removido de seu posto no
Partido, removido enquanto candidato a membro do Politburo, expulso do
Comitê Central, depois do Partido e, então, preso, julgado e executado (Veja
nossa análise mais detalhada do que Khrushchev disse sobre Postyshev, e as
evidências que reunimos, no Capítulo III).

Até hoje, o governo russo continua a proibir a publicação ou


mesmo o acesso ao caso de Postyshev10. Sem acesso aos materiais
investigativos como as declarações e confissões feitas pelo próprio
Postyshev, por aqueles que o acusaram e aqueles a quem ele acusou, bem
como a transcrição de seu julgamento, não podemos ter um relato completo
do que realmente aconteceu. Esse é o caso de todas as figuras que
Khrushchev alegou terem sido executadas apesar de inocentes.

Portanto, não podemos saber toda a história, seja no caso de


Postyshev ou de qualquer um dos outros. O que podemos fazer é comparar
os relatórios de reabilitação que foram publicados agora com o que
sabemos, a partir de outras fontes que se tornaram públicas, sobre
Postyshev.

A seção do Relatório Pospelov sobre a reabilitação de Postyshev é


muito menor até mesmo do que o breve relatório de reabilitação e é
totalmente tirada dele, com a adição de um ataque pessoal a Stalin11.
Khrushchev certamente viu esses relatórios, uma vez que todos foram
enviados para os membros do Presidium. Alguns são assinados por eles e,
alguns mais, são até mesmo endereçados pessoalmente a Khrushchev12.
Aqui, vamos nos concentrar no relatório de reabilitação mais detalhado.

Uma coisa imediatamente se torna evidente: o relatório de


reabilitação de Postyshev13 não diz nada sobre seu envolvimento em
execuções extrajudiciais massivas de membros do Partido, sobre as quais
temos uma grande quantidade de documentação. Levantar essa questão não
teria induzido simpatia por Postyshev, nem hostilidade contra Stalin.
É significativo que nada sobre isso seja discorrido no relatório,
uma vez que, para realmente eximir Postyshev, as execuções teriam que ser
incluídas. Qualquer revisão de boa-fé do caso de Postyshev teria,
naturalmente, que reexaminar a questão do assassinato em massa! Se foi
incluída, Khrushchev pode simplesmente ter desconsiderado essa
informação. Mas, isso teria deixado um rastro de papel. Um dos adversários
políticos de Khrushchev, como Molotov ou Kaganovich, poderia querer ler
o relatório de reabilitação e visto através das mentiras.

O próprio Khrushchev estava presente na Plenária de janeiro de


1938 do Comitê Central, na qual Postyshev foi criticado e expulso do CC
por conta da repressão. Khrushchev certamente sabia tudo a repeito do que
Postyshev tinha feito e as razões para ter sido expulso do CC. Sem dúvidas,
ele mesmo votou a favor disso.

Pelas evidências, fica claro que tanto o Relatório Pospelov quanto


o relatório de reabilitação foram forjados. Eles foram um conluio para
fornecer uma desculpa a fim de declarar Postyshev inocente, ao invés de ser
uma tentativa genuína de revisar seu caso. Khrushchev certamente sabia
disso. Ninguém se atreveria a fazer isso sem a ordem de Khrushchev.

É notável que, no caso da reabilitação de Postyshev, bem como na


maioria, ou na totalidade, dos outros, aqueles membros do Presidium que
estiveram no Politburo em 1938 – Molotov, Kaganovich, Mikoyan e
Voroshilov – deveriam saber disso, assim como Khrushchev sabia14.

É bem possível que Postyshev tenha sido julgado apenas por um,
ou um número limitado, de crimes capitais – por exemplo, por estar
envolvido em uma conspiração trotskista. Nos EUA, também é comum um
réu não ser julgado consecutivamente por cada delito capital. É provável
que Postyshev nunca tenha sido julgado por outros crimes desse tipo –
afinal, uma pessoa só pode ser executada uma vez.

Mas, nesse caso, a fim de “reabilitá-lo completamente”, tudo o


que seria necessário era revogar a condenação no crime pelo qual foi
sentenciado. Se essa condenação pudesse ser anulada, ele, então, seria
“inocente”, ou seja, sua única condenação havia sido anulada. Parece que
foi isso que aconteceu. É provavelmente o caso de muitos, se não todos,
aqueles que foram “reabilitados” pelos relatórios utilizados pelo Relatório
Pospelov.

O relatório confirma que Postyshev confessou tanto a participação


em uma conspiração Trotskista-Direitista quanto na espionagem para a
Polônia, mas alguns daqueles que Postyshev citou como cúmplices ou
falharam em nomeá-lo em suas próprias confissões, ou nomearam
Postyshev como um dos alvos de suas próprias conspirações15.

Parte do material desse relatório foi escrita de uma forma muito


estranha.

Popov confessou que ele, Balitskii e Iakir “tentaram usar


Postyshev em seus planos antissoviéticos, mas não foram
bem-sucedidos”. Isso é interessante! Se Postyshev fosse
“inocente”, ele teria relatado tais tentativas de recrutá-lo
para uma conspiração. Se ele tivesse feito, esse fato
certamente teria sido notado a seu favor. Mas, se não há
provas de que ele fez isso, como ele pode ser “inocente”?

Iona Iakir, um dos comandantes militares julgados e


executados no caso Tukhachevskii, foi citado por
Postyshev como um de seus co-conspiradores, mas ele
“não nomeou Postyshev em nenhuma de suas
confissões”. Iakir foi especificamente perguntado sobre
Postyshev? Se não, o fato de não mencionar Postyshev
pode não ter significância. Por que esse detalhe não está
incluído no relatório?

“Kossior S. V., no início da investigação, nomeou


Postyshev como um dos participantes da conspiração
militar na Ucrânia, depois, retratou essa confissão e,
mais tarde, reafirmou-a”. Isso dificilmente exime
Postyshev. Uma confissão não prova culpa mais do que
sua retirada a refuta.

“No arquivo do caso Kossior, há uma declaração de N.


K. Antipov na qual ele afirma a existência de relações
pessoais muito anormais entre Kossior e Postyshev, e
que Postyshev não era um membro do centro geral de
organizações contrarrevolucionárias na Ucrânia”.

Depois de março de 1937, Postyshev foi transferido da


Ucrânia para o posto de secretário do Oblast em
Kuibyshev. O fato de não estar na liderança das
conspirações ucranianas não prova “inocência” em
qualquer coisa.

“Na investigação preliminar, Postyshev confessou que


realizou seus contatos de espionagem com a inteligência
japonesa através de B. N. Melnikov e B. I. Kozlovskii,
membros da divisão oriental do Comissariado do Povo
para Assuntos Estrangeiros da URSS. Como uma
verificação estabeleceu, embora B. N. Melnikov admitir
culpa no contato com a inteligência japonesa, ele não
deu nenhuma confissão sobre Postyshev e B. I.
Kozlovskii nem sequer foi preso. Dessa forma,
as”confissões” de Postyshev, sobre suas atividades
contrarrevolucionárias na Ucrânia e conexões com a
inteligência japonesa, não eram confirmadas e, como
ficou comprovado no presente momento, foram
falsificadas pelos órgãos do NKVD”.

Pelo contrário: se Postyshev confessou ser um agente a serviço


dos japoneses, nomeou Melnikov e o próprio Melnikov confessou ser um
agente japonês, isso tende a confirmar, ao invés de refutar, a culpa de
Postyshev, independente de Melnikov ter ou não dado o nome de
Postyshev!

Fomos informados que o investigador, P. I. Tserpento, confessou


ao NKVD que uma transcrição específica do interrogatório tinha sido
escrita por ele e por um outro interrogador, Vizel, sob as instruções de G. N.
Lulov – presumivelmente seu superior – e que Lulov tinha, evidentemente,
advertido Postyshev para confirmar seu conteúdo. Fomos informados de
que o próprio Tserpento estava envolvido na falsificação de casos e
confessou ter colaborado na falsificação de um único interrogatório de
Postyshev. No entanto, o conteúdo desse interrogatório em específico não é
indicado e somos especialmente informados de que há apenas um único
interrogatório em questão aqui.

A declaração final do relatório de reabilitação de Postyshev diz


apenas:
O Ministério Público considera possível instituir
um protesto contra a sentença proferida a
Postyshev pelo Soviete Militar da Suprema Corte
da URSS, com o objeto de encerrar seu caso e
estabelecer uma reabilitação póstuma. Pedimos sua
aquiescência.

Essa nota de reabilitação (zapiska), é datada de 19 de maio de


1955. Dois meses depois, em 18 de julho de 1955, no relatório de
reabilitação de Ukhanov, está escrito:
Foi estabelecido, por um processo de verificação,
que a investigação do caso de Ukhanov foi
realizada pelos antigos agentes do NKVD da
URSS, Lulov e Tserpento, que mais tarde foram
expostos como criminosos que tinham
escamoteado uma forma para trabalhar nos órgãos
da Segurança do Estado e que foram condenados a
ao fuzilamento por uma série de crimes, incluindo
falsificação de investigações.
Do processo criminal de Lulov, fica claro que este
provém de um meio socialmente estrangeiro: o
irmão de Lulov, Mendel, era um grande capitalista
que vivia na Palestina. No arquivo de caso de
Lulov, está sua nota a Zinoviev, na qual expressa
aprovação por um dos discursos de Zinoviev. A
partir do arquivo do caso de Tserpento, resta
patente que, em 1934, ele participou de um grupo
trotskista contrarrevolucionário na Universidade de
Saratov.
Naquela época, Tserpento foi recrutado como
agente-observador, não público, pelos órgãos do
NKVD. Em 1937, Tserpento foi transferido para
uma posição governamental no aparato central do
NKVD da URSS.
Nas confissões de Tserpento e Lulov, estão
contidos muitos fatos que testemunham que, ao
interrogar pessoas presas, eles as forçavam a
nomear pessoas inocentes, em particular, a fazer
falsas acusações contra os principais militantes do
Partido e dos Sovietes. Na falsificação de casos
criminais, Tserpento e Lulov não pararam de forçar
falso testemunho em relação a certos líderes do
governo e do Partido. Desta forma, Tserpento e
Lulov falsificaram muitos casos investigativos,
incluindo o caso contra Postyshev, agora póstuma
e completamente reabilitado, dentre outras
pessoas16.

Lulov e Tserpento, em suma, foram acusados de serem apoiadores


dos Direitistas (Lulov – Zinoviev) e de Trotsky (Tserpento),
respectivamente. O que isso significa sobre Postyshev veremos abaixo.
Mas, também confirma a existência de conspirações trotskistas, algo que o
Relatório Pospelov negou menos de nove meses depois.

O relatório Ukhanov continua citando ipsis literis uma declaração


do interrogatório do braço direito de Yezhov no NKVD, Mikhail Frinovskii.
Nela, Frinovskii detalha como Yezhov dirigiu fabricações massivas de
confissões com a ajuda de tortura, a fim de encobrir sua própria liderança
em uma conspiração antigoverno direitista-trotskista, iniciada por ele
próprio. Muitas vezes citado seletivamente, esse documento só foi
publicado recentemente na Rússia (fevereiro de 2006)17.

Tudo isso nos diz algumas coisas importantes:

Um interrogatório de Postyshev foi formulado pelos


interrogadores antes que Postyshev fosse julgado e
executado.

Frinovskii, braço direito de Yezhov, é citado descrevendo


um método de falsificação de confissões e incriminação
de pessoas inocentes que é muito semelhante aos
supostamente usados por Lulov e Tserpento contra
Postyshev.

Isso significa que o caso de Postyshev foi revisado sob o


comando de Beria, após ele substituir Yezhov ao final de
novembro de 1938, mas evidentemente antes de
Postyshev ser julgado e executado em 26 de fevereiro de
193918. Seu interrogador, Tserpento, e o comandante
dele, Lulov, foram julgados e executados por falsificação
de casos, então, isso também ocorreu sob Beria.

A questão da repressão massiva dos líderes partidários


nem sequer surgiu no relatório de reabilitação de
Postyshev. No entanto, Postyshev foi “completamente
reabilitado” dois meses após o relatório original de
reabilitação.

Em suas próprias confissões, alguns dos implicados por


Postyshev, por sua vez ou nomearam-no (ex: Kossior) ou
não o nomearam, mas também não necessariamente o
eximiram (ex: Iakir, Antipov, Melnikov).

Alguns dos que confessaram conspirar contra Postyshev


confirmaram, pela mesma lógica, a existência de
conspirações.

Se Postyshev realmente estivesse em uma conspiração,


isso não teria sido conhecido para além de um número
muito restrito de pessoas. Assim, o fato de que outros
conspiradores confessaram conspirar contra Postyshev
não o dirime de culpa.

CONCLUSÃO

Só há uma teoria que pode explicar todas essas questões: o


relatório de reabilitação sobre Postyshev é uma fraude. Nenhuma das
acusações importantes feitas contra Postyshev foram realmente investigadas
e, então, ele não foi realmente inocentado de nenhuma delas. O objetivo do
relatório não era verificar se Postyshev era realmente culpado ou não. Era
fornecer à falsa pesquisa de Khrushchev um expediente para justificar sua
tentativa de culpar a Stalin pela execução de Postyshev.

O Relatório Pospelov, que se baseia nesses relatórios de


reabilitação, também é uma fraude. Sua passagem sobre Postyshev é muito
menos detalhada, culpa Stalin mais diretamente e foi claramente elaborado
para a polêmica não analises.

KOSAREV

Temos um relatório de reabilitação sobre Alexandr Kosarev19.


Mas, não há uma seção dedicada a ele no Relatório Pospelov; nem na
minuta do Discurso de Pospelov e Aristov20 ou no rascunho das
incorporações de Khrushchev21. Portanto, foi adicionado pelo próprio
Khrushchev e constitui a melhor evidência possível de que Khrushchev
trabalhou não apenas a partir do Relatório Pospelov e do rascunho de
Pospelov-Aristov, mas a partir dos próprios relatórios de reabilitação.

Sabemos muito menos sobre o destino de Kosarev do que sobre o


de Postyshev, mas só porque as autoridades russas não liberaram
informações a respeito. O relatório de reabilitação sobre Kosarev, datado de
4 de agosto de 1954, estabelece a sua apreensão por Beria em de 28 de
novembro de 1938, por conta de um entrevero pessoal. No início, Kosarev
se recusou a confessar qualquer atividade de traição, mas teria sido
espancado até assinar, em 5 de dezembro, uma confissão falsa, na qual
admitiu fazer parte da conspiração trotskista-direitista para derrubar o
governo soviético.

Tudo é culpa de Beria, que se dizia odiar Kosarev por conta de


este tê-lo desprezado por distorcer a história do Partido Bolchevique na
Geórgia e por oprimir velhos bolcheviques georgianos. Beria aproveitou sua
primeira oportunidade como chefe do NKVD para prender Kosarev e sua
esposa. Quando Kosarev se recusou a “confessar”, Beria o espancou e lhe
arrancou uma confissão falsa.

Beria supostamente ordenou Bogdan Kobulov, um de seus homens


de confiança, e o principal investigador, Lev Shvartsman, a baterem em
Valentina Pikina, uma ex-colega de trabalho de Kosarev no Komsomol,
embora Pikina ainda se recusasse a acusar falsamente Kosarev. Nos é dito
que Kosarev confessou em seu julgamento apenas porque Beria e Kobulov
lhe garantiram que, ao fazê-lo, sua vida seria poupada. Beria então se
recusou a passar a apelação de Kosarev ao tribunal e Kosarev foi fuzilado.
Em 1953, Khrushchev já havia assassinado Beria e sete de seus
associados mais próximos, incluindo Kobulov. O investigador Shvartsman,
que, junto com a viúva de Kosarev, forneceu praticamente todas as
informações do relatório de reabilitação, seria executado sob Khrushchev
em 1955. Assim, o relatório conta uma “história de terror” praticado por
Beria semelhante a muitas outras que Khrushchev estava espalhando. Diz-
se que Beria fez tudo isso por vingança, sem qualquer motivo político.

Isso, em si, é suspeito, já que sabemos por outros documentos que


havia acusações políticas contra Kosarev. Esses são brevemente revisados a
seguir (#24) e em um pouco mais de detalhes no corpo deste estudo. O
relatório de reabilitação nem sequer menciona esses documentos, muito
menos tenta refutá-los.

Rogovin cita um relato no qual, em março de 1938, Kosarev se


encontrou com um ex-líder do Komsomol de Leningrado chamado Sergei
Utkin, que havia denunciado que o NKVD havia forçado-o a fazer falsas
acusações. Kosarev então denunciou Utkin para Yezhov e Utkin foi enviado
para um campo por 16 anos. Uma relação estreita entre Kosarev e Yezhov
também é atestada por Anatoly Babulin, um sobrinho de Yezhov cuja
declaração foi publicada recentemente.

De acordo com Rogovin, que baseou sua sumarização a partir de


publicações da era Gorbachev, Kosarev foi realmente preso logo após uma
Plenária do Comitê Central do Komsomol, que se reuniu de 19 a 22 de
novembro de 1938 e na qual a maioria do Politburo do Partido compareceu
e discursou: Stalin, Molotov, Kaganovich, Andreev, Zhdanov, Malenkov e
Shkiriatov. Kosarev e outros haviam dispensado e perseguido uma certa
Mishakova, uma instrutora do Comitê Central do Komsomol, que havia
denunciado várias figuras do Komsomol da Chuvashiia.

As memórias de Akakii Mgeladze, um ex-Komsomol e, mais


tarde, líder do Partido da Georgia, foram publicadas em 2001. Elas foram
escritas na década de 1960 e dizem respeito às suas reuniões com Stalin.
Mgeladze lembrou que, por volta de 1950, ele havia perguntado a Stalin
sobre Kosarev, que ele tinha em alta estima. Mgeladze disse a Stalin que
não podia acreditar nas acusações contra Kosarev e que se perguntava se
um erro havia sido cometido.
Stalin ouviu calmamente, e respondeu a Mgeladze que todos
cometeram erros, incluindo ele mesmo (Stalin). Mas, continuou Stalin, o
Politburo tinha discutido o caso Kosarev duas vezes e tinha designado
Andreev e Zhdanov para verificar as acusações contra ele e averiguar os
relatórios do NKVD. Mgeladze, então, afirma que ele mesmo leu a
transcrição desse Pleno do Komsomol, incluindo os discursos de Andreev e
Zhdanov, e o relatório de Shkiriatov e os considerou totalmente
convincentes no tocante às provas contra Kosarev.

Obviamente, houve sérias acusações políticas feitas contra


Kosarev. Elas provavelmente incluíram envolvimento com Yezhov, que
também confessou ser o chefe de uma conspiração trotskista-direitista. A
transcrição do Plenário do Komsomol, relatórios de investigação do NKVD
e provavelmente muitas outras evidências também existiam na época de
Khrushchev, bem como provavelmente ainda existem. Porém, nunca foram
abertas aos pesquisadores.

Em suas memórias, publicadas após ser deposto em 1964,


Khrushchev menciona Kosarev, Mishakova e as acusações contra aquele.
Ele não diz nada sobre qualquer “vingança” de Beria22. No entanto, o
relatório de Rudenko, de agosto de 1954, não faz menção a qualquer um
desses assuntos e a culpa de tudo é jogada sobre o desejo de Beria por
vingança!

Seja qual for a verdade, podemos ter certeza de que não é essa. E
esse é o relatório de reabilitação em que Khrushchev baseou seu discurso.

RUDZUTAK

Ian Rudzutak foi preso em maio de 1937, ao mesmo tempo que


Tukhachevsky e os outros líderes militares, e foi acusado de estar envolvido
na conspiração destes23. Quando Stalin falou com a Sessão expandida do
Soviete Militar sobre a conspiração trotskista-direitista de Tukhachevsky,
ele nomeou Rudzutak como uma das 13 pessoas até então identificadas24.

O relatório de reabilitação, datado de 24 de dezembro de 1955,


não diz nada sobre isso25. Somos informados que Rudzutak confirmou
“atividade antissoviética” em sua confissão preliminar, mas que essa
declaração de confissão são “contraditórias, não concretas (ou seja, não são
específicas) e pouco convincentes” e que, em julgamento, Rudzutak as
retratou, dizendo que eram “imaginadas”. Nada é dito sobre o seu
envolvimento com a conspiração militar.

A curta seção correspondente a Rudzutak no Relatório Pospelov26


baseia-se inteiramente neste relatório de reabilitação, acrescentando que
“uma verificação meticulosa, realizada em 1955, determinou que o caso
contra Rudzutak foi falsificado e que ele foi condenado com base em
materiais caluniosos”. Como mostraremos abaixo, isso é falso. O relatório
de reabilitação sobre Rudzutak é uma tentativa ocultar as coisas.

Muitos réus inculparam Rudzutak. O relatório de reabilitação


dispensa isso de várias maneiras:

Alguns (Magalif, Eikhe e outros) nomearam Rudzutak


em suas confissões, mas, mais tarde, retrataram-nas. O
fato de uma confissão ser retratada não torna essa
retratação mais “verdadeira” do que a confissão original.

Alguns (Alksnis, German, “e outros militantes dos


Sovietes e do Partido de nacionalidade letã”) nomearam
Rudzutak, mas sua investigação foi realizada “com as
mais graves violações da legalidade” e assim seus
testemunhos foram retirados.

O relatório de reabilitação sobre Iakov Alksnis27 não foi


preparado até três semanas depois. Ele diz que Alksnis
confessou e confirmou sua confissão em seu julgamento,
mas diz que o fez porque tinha sido torturado, embora
nenhum detalhe, como nomes de investigadores –
torturadores etc., seja dado em apoio a essa declaração.

Alguns (Chubar, Knorin, Gamarnik e Bauman) já


haviam sido declarados inocentes, “consequentemente,
eles não poderiam ter laços antissoviéticos com
Rudzutak”.
De acordo com o relatório de reabilitação sobre Chubar
(p. 251-2). Ele confessou ter participado de uma
conspiração Direitista-Trotskista e foi nomeado por
vários outros, como Antipov, ele mesmo foi nomeado
por Rykov. Chubar também confessou espionagem para
a Alemanha e também confessou completamente durante
o julgamento, um ponto que documentamos no corpo
deste livro.

As confissões de Bukharin e Rykov afirmaram apenas


que Rudzutak era um “direitista” e simpatizava com eles,
mas tinha medo de dizer isso abertamente.

As confissões de Krestinsky, Rozengolts, Grinko,


Postnikov, Antipov, Zhukov e outros são “extremamente
contraditórias e sem concretude”, e “portanto, não
podem ser aceitas como prova da culpa de Rudzutak”.

Aqui há algumas técnicas retóricas usadas que devemos observar.

O fato de uma confissão ser retratada não significa que a


retratação seja “verdadeira” e a confissão “falsa”. Neste
caso, simplesmente não sabemos qual, se alguma, das
afirmações é verdadeira.

Tampouco sabemos se Rudzutak retratou todas as suas


confissões ou apenas uma parte delas. Sabemos que, em
outros casos, como o do Tenente General Rychagov e do
ex-chefe do NKVD, Iagoda, os réus admitiram conspirar
para derrubar o governo e, também, atividades de
sabotagem, mas negaram, vigorosamente, alegações de
que tinham espionado para a Alemanha28. Bukharin
também confessou certos crimes graves e específicos,
mas negou outros firmemente.

Chubar e os outros três homens foram “reabilitados”, o


que geralmente significa que suas condenações foram
anuladas por razões processuais. Não é a mesma coisa
que uma constatação de “inocência”, embora tenham, de
fato, sido aceitas como tal.

Não há base para descartar as confissões usando como


base as “contradições”. Espera-se que confissões de
muitos réus diferentes tenham “contradições” entre elas.
Isso está longe de significar que são inúteis como
evidência. Pelo contrário: confissões idênticas de pessoas
diferentes seriam altamente suspeitas.

Rudzutak é nomeado por Grinko e Rozengolts, e muitas vezes por


Krestinskii, na transcrição do julgamento “Bukharin” de março de 1938. O
relatório de reabilitação simplesmente ignora esse testemunho.

Em confissões recentemente publicadas, Rozengolts é citado pelo


próprio Yezhov e por seu associado e parente, A. M. Tamarin, envolvendo-
se com o próprio Yezhov em sua conspiração direitista. Esse fato tende a
adicionar credibilidade à incriminação de Rozengolts, Rudzutak e outros
também.

Rudzutak também é nomeado na confissão de Rukhimovich de 8


de fevereiro de 1938 (Lubianka 2, No. 290). Não há dúvida de que Yezhov
e seus homens estavam fabricando confissões e forçando os réus a assiná-
las por meio da tortura, como confirma a declaração de Frinovskii
recentemente publicada. Há depoimentos de testemunhas oculares que
confirmam que Rukhimovich foi espancado (Lubianka 2, p. 656-7), embora
não por um dos homens de Yezhov, muitos dos quais, mais tarde, foram
punidos por fabricar confissões29. No entanto, o fato de alguém ter sido
espancado não significa que suas declarações ou confissões sejam
verdadeiras ou falsas.

KABAKOV

Não há nenhum relatório de reabilitação sobre Ivan Kabakov, que


simplesmente foi incluído na lista de 36 pessoas, junto a Eikhe e
Evdokimov, bem como não há também qualquer tentativa de confrontar as
acusações contra ele. Dos materiais agora disponíveis para nós (nº 19), e,
por suposto, disponíveis conjuntamente a vários outros para Khrushchev em
1956, existem vários testemunhos contra Kabakov.

Rykov e Zubarev, ambos réus no julgamento “Bukharin” de março


de 1938, nomearam Kabakov como um conspirador. Ninguém alega que
esses réus estavam sujeitos a torturas ou ameaças de qualquer tipo. Esse
conhecido testemunho é simplesmente ignorado pelo Relatório Pospelov e
por Khrushchev. O engenheiro de mineração estadunidense, John
Littlepage, expressou sua convicção de que Kabakov devia estar envolvido
em algum tipo de sabotagem. O estudioso americano John Harris teve
acesso e cita a partir do delo de Kabakov, ou seja, o seu arquivo
investigativo. Harris não cita nenhuma indicação de que as confissões de
Kabakov não eram genuínas.

EIKHE

Robert I. Eikhe foi a primeira pessoa que Khrushchev citou como


injustamente reprimida por Stalin. Deixamos o caso de Eikhe por último
porque ele revela mais do que os outros.

Nossa seção sobre ele (Nº 16) detalha o que sabemos sobre sua
prisão e julgamento. Da mesma forma com que acontece com outros réus,
nem os soviéticos, tampouco os russos, liberaram o arquivo investigativo e
as informações do julgamento para os pesquisadores. Mas, o que é claro e
patente, é que o próprio Eikhe estava envolvido em repressões em larga
escala de pessoas inocentes, em consonância com o NKVD. Ele
provavelmente foi punido por isso, dentre outras ofensas. O fato de ter
trabalhado tão próximo a Yezhov nessas repressões levaria qualquer
investigador a se perguntar se os dois estavam conspirativamente ligados –
embora não possamos ter certeza sem maiores evidências.

No final da seção de seu discurso sobre Eikhe, Khrushchev diz:


Foi definitivamente estabelecido agora que o caso
de Eikhe foi fabricado; ele foi postumamente
reabilitado.

Essa declaração é falsa. Khrushchev fez seu discurso em 25 de


fevereiro de 1956. De acordo com os materiais de reabilitação, Eikhe não
foi reabilitado até 6 de março. Embora Khrushchev dedique mais espaço a
Eikhe do que a qualquer outro oficial do Partido reprimido, não havia
relatório de reabilitação sobre Eikhe. Ele foi um dos 36 militantes do
Partido recomendados para a reabilitação em massa no dia 2 de março de
195630. Esse documento é apenas uma lista; não há detalhes sobre qualquer
indivíduo em específico.

A parte principal, e a única seção substantiva, do Discurso de


Khrushchev dedicada a Eikhe consiste de uma longa citação de sua carta a
Stalin, do dia 27 de outubro de 1939. Sem dúvidas, essa é uma das seções
mais emocionalmente carregadas do Discurso. Eikhe protesta
veementemente pela sua inocência, conta como foi torturado para assinar
confissões de crimes, os quais nunca cometeu, e afirma pessoal e
repetidamente sua lealdade ao Partido e a Stalin.

A impressão que resta é a de um comunista totalmente dedicado a


caminho da morte sob acusações falsas. É um testemunho condenatório.
Uma vez que o texto completo foi finalmente publicado, em 2002, também
podemos dizer o seguinte: como lido por Khrushchev, a carta foi fortemente
falsificada por omissões significativas.

As partes da “carta a Stalin”, escrita por Eikhe em 27 de outubro


de 1939 e publicada no Relatório Pospelov, nem sempre são as mesmas que
Khrushchev citou em seu Discurso. Ambos os documentos contêm elipses
significativas do texto completo, que aparentemente seria a carta original.
Eu digo “aparentemente” porque o texto publicado é reconhecido por seus
editores como uma cópia.

Não há identificadores de arquivamento ao final do documento,


apenas a nota de que o original está no “arquivo investigativo do processo
de Eikhe”. Tal processo também não tem identificadores de arquivamento.
Isso significa que o governo russo não quer que os pesquisadores saibam
onde estão os materiais investigativos sobre Eikhe – se, de fato, eles ainda
existirem.

Mesmo os compiladores e editores do volume oficial do Discurso


Secreto não obtiveram permissão para ver o arquivo original da carta ou o
arquivo original do processo de Eikhe31! Não sabemos por quê, mas um
estudo das seções da carta de Eikhe que não estão incluídas nem no
Relatório Pospelov e tampouco no Discurso de Khrushchev sugere algumas
possíveis respostas32.

Uma tradução do texto completo da carta de Eikhe é anexada a


este Capítulo. Foi destacado, de modo deixar claro, quais seções são citadas
no Discurso de Khrushchev, quais estão no Relatório Pospelov e quais são
citadas em ambas. E, mais importante para nossos propósitos, as seções
omitidas tanto do Discurso quanto do Relatório Pospelov estão destacadas.

Resta imediatamente patente que não teria sido útil para os


propósitos de Khrushchev tornar público o texto completo dessa carta.

Eikhe refere-se a uma carta que escreveu ao “Comissário


L. P. Beria” – o que significa que ele a escreveu muito
depois de sua prisão, que ocorreu em 29 de abril de
1938. Beria não se tornou comissário até o final de
novembro de 1938, substituindo Yezhov.

Eikhe diz que o “Comissário Kobulov” concordou que


ele não poderia ter inventado todas as histórias de
atividade de traição às quais ele havia confessado.
Kobulov foi um dos sete homens da KGB que foram
assassinados judicialmente, em dezembro de 1953, por
terem sido próximos de Beria. Esta passagem tenderia a
fazer Kobulov, e, portanto, Beria, aparentarem ser
homens responsáveis. Destarte, Khrushchev não poderia
permitir que esse trecho se tornasse público.

A carta de Eikhe revela que ele foi acusado de


conspiração por muitos outros oficiais do Partido. Ele
chama todas essas acusações de “provocações” e dá
várias explicações para elas. Isso naturalmente sugere
que sua prisão foi justificada. Uma pessoa nomeada
como co-conspiradora por muitos outros conspiradores
pode, de fato, ser culpada. Qualquer um concluiria que
todo o arquivo investigativo deve ser examinado para
determinar se Eikhe estava dizendo a verdade ou não. Tal
analise teria mostrado que era Khrushchev quem não
estava dizendo a verdade.

Eikhe culpa dois investigadores do NKVD por torturá-lo,


são eles: Ushakov e Nikolaev-Zhurid. Sabemos algo
sobre as atividades desses dois homens. Eles agiram sob
as ordens de Yezhov e foram presos, julgados e
executados por fabricar confissões e torturar presos.
Tanto Ushakov quanto Nikolaev [Zhurid] eram tão
intimamente associados a Yezhov que foram julgados e
executados virtualmente ao mesmo tempo33.

As prisões e investigações relativas à homens do NKVD


que torturavam prisioneiros e fabricavam confissões
foram realizadas por Beria. Khrushchev tinha sido a
figura principal no assassinato judicial de Beria, em
1953, e nunca perdeu a chance de culpá-lo por qualquer
coisa que pudesse. Uma vez que, em seu discurso,
Khrushchev, tenta culpar Beria pela situação de Eikhe –
e por muito mais que Beria não fez – não seria do
interesse de Khrushchev liberar o texto da carta de
Eikhe.

Da mesma forma, a carta de Eikhe deixa claro que algum


tipo de procedimento investigativo adequado, ou seja,
judicial, estava em andamento à época. Ele tinha sido
autorizado a escrever para Beria, que agora era o chefe
do NKVD (Comissário do Povo para Assuntos Internos).
O investigador Kobulov, um dos homens de Beria, havia
expressado algum grau de acordo com suas profissões de
inocência ou, pelo menos, estava tentando descobrir o
que era verdade e o que não era. E, fica claro, que Eikhe
tinha sido autorizado a escrever essa carta para Stalin, a
qual Khrushchev sugere ter sido entregue ao seu
destinatário.

Tudo isso implica Beria e Stalin estarem tentando


realizar uma investigação séria, separando erros e
acertos. Isso é o que o público de Khrushchev esperaria,
no mínimo, de Stalin, mas que vai diretamente contra
todo o propósito do Discurso, que era afirmar que Stalin
e Beria não agiram com responsabilidade.

Eikhe deixa claro que conspirações existiam e nomeia


vários membros proeminentes do CC como participantes
dessas conspirações ou falsos acusadores dele próprio.
Todo o sentido do Discurso de Khrushchev é lançar
dúvidas sobre a existência de quaisquer conspirações.

* Eikhe afirma que tanto Evdokimov quanto Frinovskii o


citaram como envolvido em atividades conspiratórias
com Yezhov. Eikhe culpa Yezhov e Ushakov por tê-lo
espancado para obter confissões falsas. Eikhe alegou que
não tinha laços conspiratórios com Yezhov, embora
Frinovskii tivesse afirmado que sim.

Eikhe chama Yezhov de “contrarrevolucionário preso e


exposto”, levantando a questão da própria conspiração
de Yezhov. Este foi um fato revelado recentemente
quando da publicação de, respectivamente, uma
declaração de confissão de Yezhov e uma de Frinovskii
(fevereiro de 2006).

Não há razão para duvidar que Eikhe tenha sido espancado pelos
homens de Yezhov para a obtenção de confissões falsas, pois Frinovskii e
Yezhov admitem ter feito precisamente isso com diversas pessoas. Mas,
neste caso, esse fato não necessariamente sugere inocência por parte de
Eikhe. Quando questionado por Beria, Frinovskii admite que ele e Yezhov
fabricaram casos contra seus próprios homens, e os mataram também, a fim
de evitar qualquer chance destes “se voltarem” contra eles.

Reproduzir toda a carta de Eikhe – para não dizer todo o arquivo


de investigação de Eikhe – teria turvado as águas consideravelmente.
Levantaria a questão da conspiração de Yezhov, uma história que teria
interferido no objetivo de colocar toda a culpa sobre Stalin. Teria
introduzido os nomes de muitos outros membros do Partido, revelando que
todos esses casos tinham que ser examinados antes que as confissões
genuínas pudessem ser separadas das falsas.

Teria introduzido Evdokimov, nomeado por Frinovskii e


Yezhov como um co-conspirador próximo a eles. Mas, o
nome de Evdokimov está na lista de “reabilitação” de 2
de março de 1956 assim como o de Eikhe!

Eikhe também nomeia os membros do CC, Pramnek,


Pakhomov, Mezhlauk e Kossior. Ele diz que Pramnek e
Pakhomov implicaram-no falsamente.

Uma negação de culpa, como é a carta de Eikhe a Stalin, não é


mais crível do que uma admissão de culpa. No entanto, as únicas
informações exculpatórias citadas por Khrushchev ou pelo Relatório
Pospelov foram os trechos cuidadosamente selecionados da carta de Eikhe.

Quando o texto completo desta carta é colocado lado a lado com a


informação sobre o papel de Eikhe nas repressões em massa, a conclusão é
inevitável: Pospelov e Khrushchev fizeram o possível para encobrir
qualquer evidência que tendia a sugerir a culpa de Eikhe. Ao fazer isso, eles
evitaram qualquer investigação séria sobre o caso e, por extensão, sobre a
conspiração de Yezhov.

Eikhe também afirma que Stalin havia dito que todos os membros
do CC tinham permissão para “se familiarizar com os arquivos especiais do
Politburo”. O que exatamente estava nestes osobye papki provavelmente
não era claro para os membros do CC de 1956. Mas, eles teriam se
perguntado se eles próprios continuavam a ter tal permissão!

Se os membros do CC acreditassem que podiam fazê-lo, tornaria


impossível a Khrushchev negá-los o direito de revisar os materiais de
investigação sobre essas ou outras pessoas. E, podemos estar confiantes de
que eles não tinham esse direito porque mesmo membros do Politburo,
como Molotov e Kaganovich, não tinham visto esses materiais
investigativos. Presumivelmente, isso se deu porque Khrushchev lhes negou
o acesso. Ao contrário, seria impossível imaginar como Khrushchev e seus
partidários conseguiriam se safar em relação a várias das falsas acusações
que fizeram contra o “grupo anti-partido” em 1957.

Em suma: a carta de Eikhe em sua totalidade era muito


prejudicial para o caso de Khrushchev. Seu conteúdo tende a absolver tanto
Stalin quanto Beria e confirmar a existência de uma grave conspiração
entre, pelo menos, alguns membros do CC e, provavelmente, entre outros.
Khrushchev só poderia citá-la se ele tivesse a certeza de antemão que
ninguém além de seus próprios partidários a veriam.

***

Nossa analise desses três relatórios de reabilitação nos leva a


algumas conclusões, que são importantes para o nosso estudo do Discurso
de Khrushchev.

Os relatórios ignoram uma grande quantidade de


evidências contra as pessoas “reabilitadas”.

Eles não submetem nenhuma das evidências a uma


análise minuciosa. Quaisquer contradições entre
diferentes confissões são consideradas suficientes para
descartar todas elas.

Até que todos os materiais investigativos sejam


disponibilizados aos pesquisadores, não podemos saber
exatamente o que aconteceu. Para nossos propósitos
atuais, isso não é necessário. O que podemos dizer é o
seguinte:

Os relatórios de reabilitação não


estabelecem a inocência das pessoas
“reabilitadas”.

Esses relatórios não tentaram


determinar a verdade, mas fornecer
uma base documental para declarar as
pessoas “inocentes”.
Temos o que Khrushchev tinha; o que
Pospelov tinha; e o que Rudenko
relatou a eles. A conclusão inevitável
de nossa análise desse material é que
Khrushchev havia instruído Rudenko
para “produzir” documentos,
recobertos com tanto viés de
plausibilidade quanto fosse
necessário, que declarassem a
inocência doo acusado.

Quando justapostas ao que mais


sabemos sobre as acusações contra os
réus os relatórios de reabilitação de
Postyshev, Kosarev e Rudzutak não
conseguem enfrentar o escrutínio. Tal
conclusão é consistente com o fato de
que Khrushchev mentiu em muitos
outros casos durante seu Discurso,
como podemos provar agora.

CARTA DE EIKHE A STALIN DE 27 DE OUTUBRO DE


1939

Texto de: Doklad Khrushchev o Kulte Lichnosti na XX Sezde


KPSS. Dokumenty Ed. K. Aimermakher et al. Moscou: ROSSPEN, 2002,
pp 225-228.

Negrito – Discurso Secreto de Khrushchev.

Itálico – Relatório Pospelov.

Negrito Itálico – tanto Relatório Pospelov quanto Discurso


Secreto.

Texto normal – omitido de ambos.

27 de outubro de 1939
Classificado

Ao secretário do CC do VKP(b) J. V. Stalin

Em 25 de dezembro deste ano, eu fui informado que a


investigação de meu caso tinha sido concluída e me foi dado acesso aos
materiais dessa investigação. Eu fui considerado culpado de apenas um
centésimo dos crimes pelos quais fui acusado, eu não teria ousado enviar
a você essa declaração pré-execução; entretanto, eu não sou culpado nem
sequer de uma dessas coisas pelas quais eu fui acusado e meu coração
está limpo até mesmo da sombra da infâmia. Eu nunca, em minha vida,
lhe disse uma única palavra falsa e, agora, vendo meus dois pés na cova,
eu também não estou mentindo. Todo meu caso é um típico exemplo de
provocação, calúnia e violação das bases elementares da legalidade
revolucionária. Eu percebi, ao princípio de setembro ou outubro de 1937,
que algum tipo de provocação suja estava começando a ser organizada
contra mim. Nos transcritos oficiais de um interrogatório de pessoas que
foram acusadas, enviado da região de Krasnoyarsk no curso de intercâmbio
com outras regiões, incluindo o NKVD de Novosibirsk (no transcrito do
acusado Shirshov ou Orlov) o seguinte questionamento, claramente
provocativo, foi escrito: “Você não ouviu falar sobre a conexão de Eikhe
com as organizações conspiratórias?” e a resposta: “A pessoa que me
recrutou me disse que, quando jovem, já era membro de uma organização
contrarrevolucionária e você vai descobrir sobre isso mais tarde”.

Esse truque provocativo tolo me pareceu tão estúpido e


desajeitado que eu nem mesmo considerei necessário informar ao CC do
PCUS e nem a você sobre ele. Mas, se eu fosse um inimigo, eu realmente
poderia ter usado essa provocação estúpida para construir um ótimo
acobertamento para mim mesmo. Só muito depois de minha prisão que
ficou claro o que essa provocação significava no meu próprio caso e eu
escrevi ao comissário Beria sobre isso.

A segunda fonte dessas provocações é a prisão de Novosibirsk


onde, uma vez que não há isolamento, inimigos que foram expostos e que
foram presos sob minha ordem continuaram juntos e fizeram planos para
me contradizer e abertamente concordaram que “agora nós devemos
incriminar aqueles nos incriminavam”. De acordo com Gorbach, chefe do
escritório do NKVD, isso foi dito por Vanian, cuja prisão eu ativamente
busquei no Comissariado do Transportes. As confissões que fazem parte do
meu arquivo não são apenas absurdas, mas contém uma série de casos de
calúnia contra o Comitê Central do Partido Comunista de Toda a União
(Bolchevique) e contra o Conselho de Comissários do Povo porque as
corretas resoluções Comitê Central do Partido Comunista de Toda a
União (Bolchevique) e do Conselho de Comissários do Povo, as quais não
foram feitas por minha iniciativa e nem tinham minha participação, são
apresentadas como atos hostis de organizações contrarrevolucionárias
feitos por minha sugestão. Esse é o caso com as confissões de Printsev,
Liashneko Neliubin, Levits e outros. Além disso, durante a investigação,
houve plena oportunidade de se estabelecer a natureza provocadora desta
calúnia sob a luz de documentos e fatos.

Tudo isso fica mais claro através das confissões sobre a minha
alegada sabotagem na construção de kolkhozes, especificamente que, em
conferências regionais e Plenárias do Comitê Regional do VKP(b), eu
defendi a criação de kolkhozes gigantescos. Todos esses meus discursos
foram transcritos e publicados, mas nenhum único fato concreto ou
nenhuma única passagem é citada contra mim na acusação. E ninguém
jamais será capaz de provar isso, pois eu promovi a linha do Partido com
determinação e impiedosamente durante todo tempo em que trabalhei na
Sibéria. Os kolkhozes na Sibéria Ocidental eram fortes e, quando
comparado a outras regiões produtoras de grãos da União Soviética, eram
os melhores kolkhozes.

Você e o CC do VKP(b) sabem como Syrtsov e seus quadros que


permaneceram na Sibéria batalharam contra mim. Eles formaram, em 1930,
um grupo que o CC do VKP(b) esmagou e condenou como sendo uma
gangue inescrupulosa e, ainda assim, sou acusado de apoiar esse grupo e de
estar na liderança dele após a partida de Syrtsov da Sibéria. Especialmente
impressionante é o material sobre meu envolvimento na fundação de uma
organização contrarrevolucionária nacionalista. letã na Sibéria. Um dos
meus principais acusadores é o lituano, não letão (pelo que eu sei, uma vez
que não consigo ler nem falar letão), Turlo, que veio trabalhar na Sibéria,
em 1935. Mas, a confissão de Turlo sobre a existência de uma organização
contrarrevolucionária nacionalista tem início em 1924 (isso é muito
importante se alguém observar sob quais métodos provocativos foi
conduzida a investigação de meu caso). Além disso, Turlo nem mesmo diz
de quem ele ouvia, desde de 1924, sobre a organização
contrarrevolucionária nacionalista letã. De acordo com os transcritos de
Turlo, ele é lituano e ingressou na organização contrarrevolucionária
nacionalista letã com o objetivo de separar sua terra natal do território da
URSS unindo-o a Letônia. Nas confissões de Trulo e Tredzen, é dito que
um jornal letão na Sibéria elogiou a burguesia letã, mas não dá uma única
citação nem identifica uma única publicação. Eu devo falar separadamente
sobre as acusações a respeito de relações com o cônsul alemão e de
espionagem.

As confissões sobre banquetes na casa do cônsul e minha suposta


corrupção moral de ativistas do Partido são dadas pelo acusado Vaganov,
que chegou à Sibéria em 1932 ou 1933. Elas começariam em 1923 (este é o
resultado do mesmo tipo de provocação que nas confissões de Turlo), toda a
descrição de locupletação em banquetes, corrupção moral etc., novamente é
feita sem a indicação de qualquer um de quem ele ouvira isso. A verdade é
a seguinte: quando eu era presidente do comitê executivo da área e não
havia representante do Comissariado de Relações Exteriores, eu participava
de recepções na casa do cônsul duas vezes por ano (no dia da ratificação da
Constituição de Weimar e no dia em que o Tratado de Rapallo foi assinado).
Mas eu fiz isso por recomendação do Comissário de Relações Exteriores.
Eu sequer hospedei banquetes em retribuição e a inadequação e incorreção
de tal comportamento foi até indicada para mim. Nunca fui caçar com o
cônsul e não permiti corrupção moral dos ativistas. A governanta que
morava conosco, os trabalhadores da seção econômica do comitê executivo
da área e os motoristas que dirigiram comigo no meu automóvel podem
confirmar a precisão das minhas palavras. A inadequação dessas acusações
também é óbvia pelo fato de que, se eu fosse um espião alemão, então a
inteligência alemã teria sido obrigada a proibir categoricamente qualquer
associação pública minha com o cônsul, a fim de manter meu disfarce. Mas
eu nunca fui um contrarrevolucionário ou um espião. Todo espião,
naturalmente, deve se esforçar para se familiarizar com as decisões e
diretrizes mais secretas. Você já disse aos membros do Comitê Central
muitas vezes na minha presença que cada membro da CC tem o direito de
se familiarizar com os arquivos especiais [“osobye papki” – GF] do
Comissariado do Povo, mas eu nunca consultei os arquivos especiais e
Poskrebyshev pode confirmar isso.

Em suas próprias confissões, Gailit, ex-comandante do Distrito


Militar da Sibéria, confirma as provocações sobre minha espionagem, e eu
sou forçado a descrever a você como essas confissões foram fabricadas.

Em maio de 1938, o Major Ushakov leu para mim um excerto da


confissões de Gailit, no qual, em um dia de folga, Gailit meu viu
caminhando ao lado do Cônsul alemão e ele, Gailit, entendeu que eu estava
transmitindo informações secretas para o cônsul. Quando eu apontei para
Ushakov que a partir de 1935 tanto um comissário quanto um agente de
inteligência NKVD me acompanhavam, eles tentaram acrescentar que eu
tinha escapado deles de carro. Mas quando ficou claro para eles que eu não
sei dirigir, eles me deixaram em paz. Agora, no meu arquivo do caso, uma
transcrição de Gailit foi inserida da qual essa parte foi extirpada

Pramnek confessou que estabeleceu laços contrarrevolucionários


comigo durante a Plenária do CC de janeiro de 1938. Isso é uma mentira
descarada. Eu nunca falei com Pramnek sobre qualquer coisa, e durante a
Plenária do CC do VKP(b) de janeiro, depois que ele terminou seu relato,
bem ali em frente à tribuna em um grupo de secretários de Comitês
Regionais que demandaram ser dado tempo para que eles pudessem vir para
o PCA decidir um série de questões, aconteceu a seguinte conversação.
Pramnek me perguntou quando ele poderia vir para o PCA e eu dei a ele um
apontamento para o próximo dia depois das 24 horas, mas ele não veio.
Pramnek mentiu que eu estava doente, pode ser verificado através dos
secretários e do comissário do NKVD que, a partir de 11 de janeiro, o dia
que eu saí do hospital, eu estava no comissariado todos os dias até às 3-4
horas da manhã. A natureza monstruosa dessa calúnia também se faz clara
pelo fato que um conspirador experiente como eu destemidamente
estabeleci contato com as ideias de Mezhlauk um mês após a prisão de
Mezhlauk.

N. I. Pakhomov confessa que mesmo na época do plenário do CC


PCUS(b) de junho de 1937, ele e Pramnek discutiam como fazer uso de
mim como Comissário da Agricultura para a organização
contrarrevolucionária. Só soube da minha proposta de nomeação com você
no final do plenário de outubro de 1937 e após o fim do plenário lembro
que nem todos os deputados do Comissariado do Povo sabiam dessa
proposta. Como é possível acreditar no tipo de calúnia provocativa que está
nas confissões de Pakhomov e Pramnek?

Evdokimov disse que ele descobriu sobre minha participação na


conspiração em agosto de 1938 e que Yezhov disse-lhe que estava tomando
medidas para preservar minha vida.

Em junho de 1938, Ushakov infligiu a mim um cruel tormento


para que eu confessasse uma tentativa de assassinar Yezhov, essa confissão
foi formulada por Nikolaev com conhecimento de Yezhov. Poderia Yezhov
ter agido dessa forma se houvesse uma única palavra de verdade no que
Evdokimov disse?

Eu estava na dacha de Yezhov junto com Evdokimov, mas Yezhov


nunca me chamou de amigo ou de apoiador e não me abraçou. Malenkov e
Poskrebyshev, que também estavam lá, podem confirmar isso.

Em sua confissão, Frinovsky abre mais uma fonte de provocações


em meu caso. Ele confessa que em abril de 1937, supostamente, descobriu
sobre minha participação em uma conspiração organizada por Yezhov, e
que Mironov (chefe do NKVD em Novosibirsk), na época, tinha perguntado
a Yezhov em uma carta, se ele, Mironov, “poderia conversar a respeito com
Eikhe” em relação à conspiração, ou seja, como um participante da
organização conspiratória. Mironov só chegou à Sibéria no final de março
de 1937 e, sem qualquer material, já havia recebido as sanções preliminares
de Yezhov, sobre contra quem conduzir uma provocação. Qualquer um
pode entender que o que Frinovskii confessa não é uma tentativa de me
proteger, mas sim a organização de uma provocação contra mim. Acima,
nas confissões de Turlo e Vaganov, enfatizei o ano a partir do qual se
iniciam essas confissões, independentemente da inadequação. Deveria ter
sido apontado por Ushakov, que era o investigador chefe de meu caso, que
as falsas confissões retiradas de mim à pancadas eram contraditas por
aquelas da Sibéria, sendo que minhas confissões estavam sendo
transmitidas por telefone para Novosibirsk.
Isso foi feito com cinismo flagrante e, na minha presença, o
Tenente Prokofiev ordenou uma chamada telefônica para Novosibirsk.
Agora eu cheguei à parte mais vergonhosa de minha vida e ao meu mais
verdadeiramente grave crime contra o Partido e contra você. Esta é a
minha confissão de atividade contrarrevolucionária. O Comissário
Kobulov me disse que ninguém poderia simplesmente inventar tudo isso e
eu realmente não poderia ter inventado. Eis o que aconteceu: Não sendo
capaz de suportar as torturas a que fui submetido por Ushakov e Nikolaev
– especialmente pelo último, que utilizou o conhecimento que minha
vértebra quebrada não tinha se curado completamente e me causou
profunda dor – eu fui forçado a acusar a mim mesmo e a outros.

A maior parte da minha confissão foi sugerida ou ditada por


Ushakov e o restante é a minha reconstrução de materiais do NKVD da
Sibéria Ocidental, pelos quais assumo toda a responsabilidade. Se
algumas partes da história que Ushakov fabricou e que eu assinei não
casavam bem, eu era obrigado a assinar outra variação. A mesma coisa
foi feita a Rukhimovich, que a princípio estava designado como membro
da rede reserva e cujo nome foi, mais tarde, removido sem que eu fosse
informado; o mesmo também foi feito com o líder da rede reserva,
supostamente criada por Bukharin em 1935. A princípio, eu escrevi meu
nome e, depois, fui instruído a inserir V. I. Mezhlauk. Houve outros
incidentes similares.

Devo tecer um comentário sobre lenda provocatória da traição do


Partido Social-Democrata da Letônia em 1918. Essa lenda foi inventada
inteiramente por Ushakov e Nikolaev. Nunca houve, entre os Soc Dem
Letões, uma tendência favorável à separação da Rússia e eu e toda uma
geração de trabalhadores de minha idade fomos educados na literatura russa
e pelas publicações legais e clandestinas dos Bolcheviques. A questão de
um corpo do estado soviético separado, tal qual uma república soc. Letã,
parece tão estranha para mim como para muitos outros, tanto que no
primeiro Congresso dos Sovietes, em Riga, eu tomei posição contrária a
isso e eu não estava sozinho. A decisão relativa ao estabelecimento de uma
República Soviética só foi levada em conta após o anúncio de que que essa
era a decisão do CC do Partido Comunista Russo (b).
Eu trabalhei apenas por cerca de duas semanas na Letônia
soviética e no final de novembro de 1918 eu saí para fazer trabalho de
provisão na Ucrânia e estava lá até o colapso do poder soviético na Letônia.
Riga caiu porque estava de fato quase cercada pelos Brancos. Na Estônia os
Brancos foram vitoriosos e ocuparam Balk. Os Brancos também tomaram
Vilno e Mitava e avançaram para Dvinsk. Nessa conexão, já havia sido
proposto evacuar Riga, em março de 1919, mas a cidade resistiu até 15 de
maio de 1919.

Eu nunca estive em nenhuma reunião contrarrevolucionária, nem


com Kossior, nem com Mezhlauk. Essas reuniões indicadas em minha
confissão se deram na presença de uma série de outras pessoas que também
podem ser interrogadas. Minha confissão de laços contrarrevolucionários
com Yezhov é o ponto mais sombrio de minha consciência. Eu dei essa
falsa confissão quando o investigador tinha me reduzido ao ponto de perder
a consciência me interrogar por 16 horas. Quando ele disse, como um
ultimato, que eu deveria escolher entre dois caminhos (um era uma caneta
e o outro era um bastão de borracha), então, acreditando que eles tinham
me levado para uma nova prisão com o objetivo de atirar em mim, mais
uma vez demonstrei a maior das covardias e cedi confissões caluniosas. Eu
não me importava com os crimes que imputava a mim mesmo, desde que
me fuzilassem o mais cedo possível. Mas, me sujeitar novamente aos
espancamentos por aquele contrarrevolucionário preso e exposto que é
Yezhov – o qual me condenou, eu, que jamais fiz nada criminoso – era algo
além de minhas forças.

Essa é a verdade sobre meu caso e sobre mim. Cada passo da


minha vida e trabalho podem ser verificados e ninguém jamais encontrará
nada que não seja dedicação ao Partido e a você.

Eu estou pedindo e implorando para que você examine meu caso


mais uma vez, não com o propósito de me poupar, mas para desmascarar
a provocação vil que, tal como uma cobra, se enroscou em muitas
pessoas, em parte também por conta de minha covardia e calúnias
criminosas. Eu nunca traí você ou o Partido. Sei que pereço perante ao
vil trabalho de base dos inimigos do Partido e do povo, que fabricaram a
provocação contra mim. Meu sonho continua sendo o desejo de morrer
pelo Partido e por você.
Eikhe

A declaração genuína está localizada nos arquivos investigativos


de Eikhe.

“REABILITAÇÕES POR LISTAS”

MEMORANDO DE I. A. SERVO E R. A. RUDENKO AO CC


DO PCUS RELATIVO À REVISÃO DOS CASOS E A REABILITAÇÃO
DOS MEMBROS E CANDIDATOS MEMBROS DO CC DO VKP(b)
ESCOLHIDOS NO 17º CONGRESSO DO VKP(b)

2 de março de 1956

CC PCUS

Tendo revisto os casos daqueles membros e candidatos membros


do CC do VKP(b), eleitos no 17º Congresso e que foram condenados, o
Comitê para Segurança do Estado [KGB] do Conselho de Ministros da
URSS e a Procuradoria da URSS determinaram que a maioria desses casos
foram falsificados pelos órgãos investigativos e que as então chamadas
confissões de culpa dos presos foram obtidas como resultado de sérios
espancamentos e provocações.

Tendo relatado isso, acreditamos ser expediente propor que o


Soviete Militar do Supremo Tribunal da URSS revise e reabilite
postumamente as pessoas condenadas ilegalmente listadas abaixo:

1. Kossior Stanislav Vikentevich – ex-vice-presidente do


Conselho de Comissários do Povo da URSS, membro do PCUS desde 1907.

2. Eikhe Robert Indrikovich – ex-Comissário do Povo para


Agricultura da URSS, membro do PCUS desde 1905.

3. Bubnov Andrei Sergevich – ex-Comissário do Povo para


Educação da RSFSR [a República russa], membro do PCUS desde 1903.

4. Evdokimov Efim Georgievich – ex-secretário do Comitê


Regional do Partido de Azov-Mar Negro, membro do PCUS desde 1918
...

6. Kabakov Ivan Dmitrievich – ex-secretário do Comitê de oblast


do Partido de Sverdlovsk, membro do PCUS desde 1918

...

14. Rukhimovich Moisei Lvocich – ex-Comissário do Povo para a


Defesa da Indústria da RSFSR. membro do PCUS desde 1913.

...

Os casos relativos às acusações dos outros membros e candidatos


a membro do CC do VKP(b), membros da Comissão de Controle do
Partido, do Controle do Soviete, e da Comissão Central de Revisão, que
foram eleitos no 17º Congresso do Partido, também serão revisados e
reportados ao CC do PCUS.

Nós requisitamos uma decisão.

Presidente do Comitê de Segurança do Estado do Conselho de


Ministros da URSS

I. Serov

Procurador Geral da URSS

R. Rudenko

O decreto de reabilitação do Presidium do CC PCUS seguiu sem


atrasos:

5 de março de 1956

No. 3. II.54 Relativo às Reabilitações Póstumas dos membros


do CC do VKP(b) condenados ilegalmente, que foram eleitos no 17º
Congresso do Partido.

Para confirmar a proposta do Presidente do Comitê de Segurança


do Estado do Conselho de Ministros da URSS, camarada Serov, e do
Procurador Geral da URSS, camarada Rudenko, relativos à revisão dos
casos e reabilitações póstumas dos membros do CC VKP(b) e candidatos
membros do CC VKP(b) condenados ilegalmente, eleitos no 17º Congresso
do Partido: Kossior S. V., Eikhe R. I., Bubnov A. S., Evdokimov E. G., ...,
Kabakov I. D., ..., Rukhimovich M.

1. Reabilitatsiia Kak Eto Bylo. Dokumenty Prezidiuma Ts


KPSS I Drugie Materialy. V 3-x tomakh. T. 1. Mart 1953
– Fevral’ 1956 gg. (Reabilitação. Como aconteceu.
Documentos do Presidium do CC do PCUS e Outros
Materiais. Em 3 volumes. Volume 1. março de 1953 a
fevereiro de 1956.) Moscou: MDF, 2000. A partir de
agoraRKEB 1. O Relatório Pospelov está nas pp. 317-
348; online no Link
[alexanderyakovlev.org/almanah/inside/almanah-
doc/55752].↩

2. RKEB 1, p. 322-3. Ver J. Arch Getty, “Trotsky in Exile:


The Founding of the Fourth International”, Soviet
Studies 38, No. 1 (janeiro de 1986), p. 28 e notas 18-21,
p. 34; Pierre Broué, “Trotsky et le bloc des oppositions
de 1932”, Cahiers Léon Trotsky 5 (janeiro-março de
1980), pp. 5-37↩

3. Naumov, V. V. “K istorii sekretnogo doklada N. S.


Khrushcheva na XX s"ezd KPSS”, Novaia i Noveishaia
Istoriia No. 4 (1996); também no Link
[web.archive.org/web/20131008052101/vivovoco.rsl.ru/
VV/PAPERS/HISTORY/ANTIST]; Rogovin, Vadim.
“Prilozhenie I: Iz istorii razoblacheniia stalinskikh
prestupleniy”. Partiia rasstreliannykh. Também no Link
[web.archive.org/web/20130517100247/web.mit.edu/peo
ple/fjk/Rogovin/volume5/pi]. Rogovin repete, de forma
inocente, a conveniente versão de Khrushchev a respeito
dos eventos. Naumov é um pouco mais crítico dos
relatos das memórias de Khrushchev e Mikoyan, mas
nunca questiona a validade do processo em si,
começando com os relatórios de reabilitação.↩

4. Getty, J. Arch e Oleg V. Naumov, The Road to Terro.


Stalin and the Self-Destruction of the Bolsheviks, 1932-
1939. New Haven: Yale University Press, 1999, p. 5;
Tivel é discutido na pp. 1-5.↩

5. Getty & Naumov, 182, p.1.↩

6. Relatório de Processos Judiciais do Caso do Centro


Trotskista Antissoviético. Verbartim Report. Moscou:
Comissariado do Povo para Justiça da URSS, 1937,
pp. 162-3165.↩

7. Sabemos que esses interrogatórios pré-julgamento


existem porque uma seção muito curta de um
interrogatório de Sokolnikov foi publicada em 1991, em
Reabilitatsiia: Politicheskii Protsessy 30-x – 50-x Gg.
((Moscou, 1991), pp. 228-9).↩

8. “Stenogramma ochnykh stavki v TsK VKP(b). Goda de


Dekabr, 1936”. Voprosy Istorii. Nº 3, 2002, pp. 3-31, na
P. 6.↩

9. Em Voprosy Istorii, 5/6, 1995. Essa citação de Postyshev,


a qual Khrushchev se refere de forma desonesta, está na
p. 4.↩

10. Uma razão para isso é a aprovação de uma estranha lei


de acordo com a qual os parentes mais próximos dos
julgados e executados devem dar sua permissão antes
que tais materiais possam ser tornados públicos. O filho
de Postyshev, Leonid, um notável economista, deu
algumas entrevistas em que relembra calorosamente seu
pai e toma como certo que ele era inocente.

As reabilitações foram vantajosas para as famílias dos


“reabilitados”, uma vez que havia várias maneiras
formais e informais pelas quais os familiares dos
executados por traição sofriam discriminação. Parece
que, na maioria dos casos, foram os membros das
famílias que pediram a reabilitação de seus parentes
executados, embora no caso de Postyshev, Khrushchev
possa ter ele mesmo iniciado o processo.↩

11. RKEB 1, p. 325.↩

12. Assinado por membros do Presidium: pp. 203, 207, 217,


220, 227, 229, 231, 233, 236, 237, 251, 260, 261, 263.
Endereçado a Khrushchev: p. 192, em alguns casos, os
relatórios não foram especificamente endereçados a
Khrushchev, mas as anotações sobre eles deixam claro
que foram diretamente para ele. Veja as versões p. 188,
191, 208, 233, 236, 237, 251, 264. Alguns foram
enviados primeiro para Malenkov, ou Bulganin, ou as
deles são as cópias que foram encontradas nos arquivos e
impressas.↩

13. RKEB 1, p. 218-220. Datado de 19 de maio de 1955.↩

14. Além dos membros do Presidium já mencionados


(Khrushchev, Bulganin, Molotov, Kaganovich, Mikoyan)
a única outra pessoa que era um membro do CC antes de
1939 e em 1956 era Shvernik, um aliado próximo de
Khrushchev. O Marechal Semion Budionniy foi
candidato em 1934, 1939 e 1956; e A. P. Zaveniagin foi
candidato em 1934, evidentemente em 1939 também, e
1956. Bulganin foi candidato em 1934.↩

15. Sabemos, por uma carta do juiz Ulrikh a Stalin em 16 de


março de 1939, que Postyshev estava entre aqueles que
confessaram no julgamento. Ulrikh é citado no Link
[web.archive.org/web/20110131012743/stalin.memo.ru/i
mages/intro1]. Veja o fac-símile da carta original no Link
[web.archive.org/web/20110131012958/stalin.memo.ru/i
mages/ulrih-39.jpg], ou uma cópia de mais fácil leitura
pode ser encontrada online no Link [ulrih-39.jpg]↩

16. RKEB 1, p. 233-4. Todo o relatório de reabilitação de


Postyshev está disponível no Link
[postyshevrehab.html]↩

17. RKEB 1, p. 234. O texto russo da declaração de


Frinovskii está no Link [frinovskyru], o texto em inglês
pode ser visto no Link [frinovskyeng]↩

18. Tserpento é citado dizendo que suas declarações


poderiam ser facilmente verificadas ligando para
Postyshev e Bubnov – outro preso – e conversando com
eles (RKEB 1, p. 219). É possível também que Postyshev
já tivesse sido executado e Tserpento simplesmente não
sabia disso.↩

19. RKEB 1, p. 166-168↩

20. “Proekt doklada ‘O kul’te lichnosti I ego


postledstviiakh’, predstavlenniy P. N. Pospelovym I A.
B. Aristovym. 18 fevralia 1956 g”. N. S. Doklad
Khrushcheva O Kul’te Lichnosti Stalina na XX S"ezde
KPSS. Dokumenty. Ed K. Aimermakher et al. Moscou:
ROSSPEN, 2002, pp. 120-133; também em RKEB 1,
p. 353-364.↩

21. “Dopolneniia N. S. Khrushcheva k proektu doklada ‘O


kul’te lichnosti i ego posledstviiakh’”. Doklad
Khrushcheva, pp. 134-150; também em RKEB 1, p. 365-
379.↩

22. Khrushchev, N. S. Vremia, Liudy, Vlast’ (Tempo,


Pessoas, Poder). Moscou: ‘Moskovskie Novosti’, 1999.
I, Ch. 11, p. 119. Disponível no Link
[20080524054512].↩
23. Rudzutak e Tukhachevsky foram nomeados na mesma
resolução, em 24 de maio de 1937, do Politburo,
acusando-os de participação em uma conspiração
antissoviética trotskista-direitista e de espionagem para a
Alemanha e foram expulsos pelo Pleno do Comitê
Central em 25-26 de maio de 1937 (Lubianka 2, Nos. 86
e 87, p.190).↩

24. O Discurso de Stalin está em Istochnik No.3, 1994;


Lubianka 2, Nº. 92, pp. 202-209 e é reimpresso
amplamente, por exemplo, no link
[grachev62.narod.ru/stalin/t14/t14_48].↩

25. RKEB 1, p. 294-5.↩

26. RKEB 1, p. 328-329.↩

27. RKEB 1, p. 300-1, 14 de janeiro de 1956.↩

28. Para Rychagov verRKEB 1, p. 165. Para Iagoda, veja sua


declaração final no julgamento de Março de 1938
“Bukharin” Moscou; Texto em inglês no The Great
Purge Trial. Editado, e com notas, por Robert C. Tucker
e Stephen F. Cohen. Com uma introdução. por Robert C.
Tucker. Nova York: Grosser & Dunlap, 1965, p. 675.
Texto em russo pode ser encontrado no Link
[magister.msk.ru/library/trotsky/trotlsud].↩

29. O relato das testemunhas oculares diz que Rukhimovich


foi espancado por Meshik, posteriormente um associado
de Beria e executado com outros em dezembro de 1953.
O relatório de reabilitação sobre Rudzutak nomeia
Iartsev como o fabricante de uma das confissões de
Rudzutak e observa que Iartsev foi, mais tarde,
executado por tais falsificações (p. 295). Iartsev foi preso
em junho de 1939 e executado junto com Yezhov e
muitos dos homens da NKVD de Yezhov – já sob o
comando de Beria. Isso significaria que a acusação
contra Meshik e, portanto, contra Beria, é falsa. Veja
Nikita Petrov e K. V. Skorkin, Kto rukovodil NKVD
1934-1941. Spravochnik (Moscou, 1999). Disponível no
Link [memo.ru/history/nkvd/kto/biogr/gb572].↩

30. Reabilitatsia. Kak Eto Bylo. Fevral, 1956 – Nachalo 80-


kh godov. Ed. Artisov et al. Moscou Materik, 2003,
pp. 16-18. A partir de agoraRKEB 2. Veja pp. 18-19 para
a resolução do Presidium sobre reabilitá-los.↩

31. “Pismo R. I. Intravenosa Eikhe Stalinu” [Carta de R. I.


Eikhe para J. V. Stalin], Doklad Khrushcheva, p. 225-
229.↩

32. As observações a seguir não pretendem ser um estudo


abrangente deste muito importante documento muito
importante.↩

33. Petrov e Skorkin, op.cit, disponível no Link


[memo.ru/history/nkvd/kto/biogr/gb355]. Tanto
Nikolaev como Ushakov estão na mesma “lista” de 16 de
janeiro de 1940, assim como Yezhov; ver “Stalinskie
rasstrelnye spiski” [Listas de Fuzilamento de Stalin]
disponíveis no Link [20080523192219] e
subsequentes.↩
CONCLUSÃO: O LEGADO DURADOURO DA
FRAUDE DE KHRUSHCHEV
Por décadas, assumiu-se que Khrushchev atacou Stalin pelas
razões expostas no “Discurso Secreto”. Mas, agora que nós já
estabelecemos a falsidade que as acusações, ou “revelações”, contra Stalin
presentes no Discurso de Khrushchev, a questão retorna com ainda mais
força: O que realmente estava acontecendo?

POR QUE KHRUSHCHEV ATACOU STALIN?

Por que Khrushchev atacou Stalin? Quais eram seus reais


motivos? As razões que ele declara não podem ser verdadeiras. As
“revelações” que Khrushchev fez são falsas e ele sabia disso (na maioria
dos casos), ou não se importava.

Khrushchev tinha algum tipo de motivação real, mas foi


precisamente sobre isso que ele se manteve em silêncio em seu discurso no
20º Congresso do Partido e, assim, pelo resto de sua vida. Em outras
palavras, “atrás” do “Discurso Secreto”, conhecido pelo mundo, existe um
segundo e verdadeiro “discurso secreto” – um que permaneceu “secreto”,
não entregue. Minha proposta neste ensaio é levantar essa questão em vez
de respondê-la. Eu simplesmente irei mencionar algumas possibilidades e
áreas para futuras investigações, algumas óbvias, outras nem tanto.

Ao deslocar toda a culpa para Stalin e ao iniciar as “reabilitações”,


Khrushchev certamente queria prevenir qualquer pessoa de rastrear seu
papel nas repressões em massa injustificadas durante a década de 1930. Ele
provavelmente previu que as “reabilitações” o fariam popular entre a elite
do Partido, independentemente se aqueles “reabilitados” fossem culpados
ou não. Deslocar a culpa para o morto Stalin enquanto vindicava aqueles
reprimidos e – tão importante quanto, suas famílias – teria mitigado a
animosidade que muitos ainda guardavam em relação a sua imagem, até
mesmo em Moscou e na Ucrânia, onde sua reputação com arquiteto de
repressão em massa era bem merecida e amplamente conhecida.
O discurso Khrushchev até agora tem sido aceito pelo valor de
face. A pesquisa publicada aqui prova que é um erro fazê-lo. O que nos
deixa com uma série de questões. Por que Khrushchev fez esse discurso?
Por que ele foi tão longe – pesquisas falsas, supressão de documentos
genuínos, – e por que fez tais sacrifícios políticos para entregar um discurso
que foi, para todos os propósitos, nada além de falsificações?

O Partido Comunista da China veio com uma resposta. Eles


acreditavam que Khrushchev e seus aliados queriam guiar a URSS por um
caminho político agudamente diferente daquele que eles acreditavam que
foi trilhado durante Stalin. Nós aludimos brevemente a algumas medidas
políticas e econômicas instituídas sob Khrushchev que a dirigência do PCC
viu como um abandono dos princípios básicos do Marxismo-Leninismo.

Deve haver alguma verdade nessa teoria. As bases para tais ideias
já existiam na URSS. As origens de tais políticas, agora identificadas com
Khrushchev e seus epígonos, como Brezhnev e o resto, residem
imediatamente no período pós-Stalin, muito antes de Khrushchev dominar a
dirigência soviética. De fato, muitas delas podem ser rastreadas para o final
da década de 1940 e início dos anos 1950, o período do “Stalin tardio”.

É difícil determinar em que medida o próprio Stalin apoiava ou


opunha-se a essas políticas. Em seus últimos anos, ele estava cada vez
menos ativo politicamente. Parece que Stalin, taciturnamente, tentou
trilhar um caminho diferente para o comunismo, como visto em seu último
livro Problemas Econômicos do Socialismo na URSS (1952), por exemplo,
e durante o 19º Congresso do Partido, em outubro de 1952. Depois,
Mikoyan escreveu que as visões tardias de Stalin eram “um incrível desvio
esquerdista”1. Mas, imediatamente após a morte de Stalin toda a “liderança
coletiva” concordou em retirar todas as menções ao livro de Stalin e
começou a abandonar o novo sistema de governança do Partido.

Khrushchev usou seu ataque a Stalin e Beria como uma arma


contra os outros na “liderança coletiva”, especialmente Malenkov, Molotov
e Kaganovich. No entanto, este caminho estava repleto de riscos. Como
poderia saber que eles não o acusaram igualmente, ou até mais? Parte da
razão para isso deve ter sido a capacidade possibilidade de Khrushchev em
confiar em aliados, como Pospelov, que o ajudou a “expurgar” os arquivos
documentais relativos à sua própria participação na repressão em massa.

Khrushchev também pode ter percebido que, com Beria fora da


jogada, ele sozinho tinha um “programa”: um plano e a iniciativa de levá-lo
a cabo. Nós podemos ver em retrospectiva que outros membros do
Presidium foram incrivelmente passivos durante esse período. Talvez eles
sempre tenham dependido de Stalin para tomar a iniciativa, para fazer
decisões importantes. Ou talvez essa aparente passividade tenha escondido
uma disputa política confinada ao corpo dirigente.

O historiador Iuri Zhukov estabeleceu uma terceira teoria. Em sua


visão, o objetivo de Khrushchev era decisivamente fechar a porta das
reformas democráticas, as quais Stalin estava associado e cujos antigos
aliados de Stalin no Presidium (até outubro de 1952 chamado de Politburo),
especialmente Malenkov, ainda estavam tentando promover. Essas reformas
visavam remover do Partido o controle sobre a política, a economia e a
cultura e colocá-lo nas mãos dos Sovietes eleitos. Isso teria sido
virtualmente uma “perestroika”, ou “reestruturação”, mas dentro dos limites
do socialismo, em oposição à completa restauração do capitalismo
conduzida pela “perestroika” posterior de Gorbachev.

Zhukov detalha uma série de momentos de disputa entre Stalin e


seus aliados, que queriam remover o Partido das engrenagens do poder, e o
resto do Politburo, que firmemente se opunha a isso. Em maio de 1953,
brevemente após a morte de Stalin, o braço executivo do governo soviético,
o Conselho (Soviete) de Ministros, aprovou resoluções privando figuras
importantes do Partido de seus “envelopes”, ou pagamento extra,
reduzindo suas rendas um nível ou dois em comparação às figuras
governativas correspondentes. De acordo com Zhukov, Malenkov
promoveu esta reforma. Ela é consistente com o projeto de deslocar o poder
para o governo dos Sovietes e reduzir o papel do Partido, tirando-o da
condução do país, da economia e da cultura. Significantemente, essa
reforma foi feita antes da repressão ilegal de Lavrenti Beria que, nós agora
sabemos, apoiara este mesmo projeto.

Ao final de junho de 1953 Beria foi reprimido, sendo por prisão e


isolamento ou por assassinato imediato. Em agosto, Khrushchev conseguiu
– nós não sabemos como – restabelecer os “envelopes” de bônus especial
para os funcionários de alto escalão e até mesmo conseguiu o reembolso
dos três meses em que não foram pagos. Três semanas depois, bem no fim
da Plenária do Comitê Central, o posto de Primeiro Secretário do Partido foi
restabelecido (desde 1934 ele era chamado de “Secretário Geral”) e
Khrushchev foi eleito para ocupá-lo. É difícil não ver isso como
recompensa de nomenklatura do Partido para os esforços de “seu
presentante”.

Zhukov conclui:
É minha firme convicção que o verdadeiro
significado do 20º Congresso reside, precisamente,
no retorno do aparato do Partido ao poder. Foi a
necessidade de esconder esse fato... que
demandava distrair a atenção dos eventos
contemporâneos e concentrá-la no passado com a
ajuda do “Relatório Secreto” [Discurso Secreto –
G. F.]2

As duas primeiras explicações, a anti-revisionista, ou “chinesa”, e


a da “disputa de poder”, certamente contém elementos de verdade. Em
minha visão, entretanto, a teoria de Zhukov melhor leva em conta os fatos à
disposição ao passo que também se mantém consistente com os conteúdos
do Discurso Secreto e o fato de que, como nós descobrimos, ele é
virtualmente falso em seu todo.

Stalin e seus apoiadores tinham defendido um plano de


democratização da URSS através de pleitos eleitorais. O plano deles parece
ter sido mover o lócus do poder da URSS para longe das dirigências do
Partido, como Khrushchev, em direção de representantes eleitos. Fazer isso
também teria dado as fundações para restaurar o Partido como uma
organização de pessoas dedicadas à luta pelo comunismo, em vez de suas
próprias carreiras ou ganhos pessoais3. Khrushchev parece ter tido o apoio
dos Primeiros Secretários do Partido, que estavam determinados a sabotar
este projeto e perpetuar suas próprias posições de privilégio.

Khrushchev seguiu políticas, tanto internas quanto externas, que


observadores contemporâneos reconhecem como sendo uma ruptura
acentuada daquelas associadas à dirigência de Stalin. De fato, mudanças
políticas similares – não idênticas a aquelas iniciadas ou defendidas
posteriormente por Khrushchev, mas amplamente congruente a elas –
começaram imediatamente após a morte de Stalin, quando Khrushchev
ainda era apenas mais um membro, e não o mais importante, do Presidium o
Comitê Central4. Entre as “reformas” mais frequentemente citadas que
eram diretamente contrárias às políticas duradouras de Stalin temos:

Um deslocamento em direção às reformas orientadas ao


“mercado”;

Um deslocamento concomitante para longe da indústria


pesada e da manufatura de meios de produção, em
direção a produção de bens de consumo;

Na política internacional: uma mudança do conceito


tradicional do Marxismo-Leninismo de que a guerra
contra o imperialismo era inevitável enquanto existir
imperialismo, para evasão a qualquer custo de qualquer
embate militar com o imperialismo;

Falta de ênfase da classe trabalhadora como vanguarda


da revolução social, a fim enfatizar a construção de
alianças com outras classes;

Um nova noção de que o capitalismo pode ser derrubado


sem uma revolução, através da “competição pacífica” e
por meios parlamentares;

Um abandono dos planos de Stalin de se avançar em


direção à próxima etapa do socialismo e em direção ao
verdadeiro comunismo.

Khrushchev não poderia ter tomado o poder, nem seu “Discurso


Secreto” ser concebido, pesquisado, entregue e fazer sucesso que fez, sem
mudanças profundas na sociedade soviética e no Partido Comunista da
União Soviética5.

A CONSPIRAÇÃO DE KHRUSHCHEV?
Em outros lugares, Zhukov argumenta que foram os Primeiros
Secretários, liderados por Robert Eikhe, que aparentemente iniciaram as
repressões em massa de 1937-19386. Khrushchev, um desses poderosos
Primeiros Secretários, estava fortemente envolvido nas repressões de larga
escala, incluindo a execução de milhares de pessoas.

Muitos desses Primeiros Secretários posteriormente foram


julgados e executados. Alguns deles, como Kabakov, foram acusados de
fazer parte de uma conspiração. Outros, como Postyshev, foram acusados,
pelo menos inicialmente, de repressão em massa e injustificada contra
membros do Partido. Eikhe também parece cair neste grupo. Posteriormente
muitos desses homens também foram acusados de fazer parte de várias
conspirações. Khrushchev foi um dos únicos Primeiros Secretários que
durante os anos de 1937-1938 não apenas escapou de tais acusações, mas
também foi promovido.

Poderia Khrushchev ter sido parte de uma dessas conspirações,


mas ter sido um dos membros de alto escalão que não foi detectado? Nós
não podemos provar nem refutar essa hipótese. Mas, isso explicaria todas as
evidências que nós temos agora.

O Discurso de Khrushchev foi descrito como visando a


reabilitação de Bukharin. Algumas das figuras do Julgamento de Moscou
“Bukharin” de 1938. Então, seria lógico incluir Bukharin [nas
reabilitações], mas isso não foi feito. O próprio Khrushchev escreveu que
queria a reabilitação de Bukharin, mas não o fez por causa da oposição por
parte de alguns dirigentes comunistas estrangeiros. Mikoyan escreveu que
os documentos já estavam assinados, mas que o próprio Khrushchev os
renegou7.

De todas as figuras nos três grandes Julgamentos de Moscou, por


que Khrushchev queria reabilitar especificamente Bukharin? Ele devia ter
alguma lealdade para com Bukharin maior do que os outros. Talvez esta
lealdade fosse apenas às ideias de Bukharin. Mas, essa não é a única
explicação possível.

Desde os dias de Khrushchev, mas especialmente desde as


reabilitações formais sob Gorbachev, a “inocência” Bukharin tem sido dada
como certa. Em um recém publicado artigo, Vladimir L. Bobrov e eu
mostramos que não há razões para pensar que isso é verdade8. As evidência
que temos – apenas uma pequena fração das evidências que o governo
soviético tinha na década de 1930 – esmagadoramente sugere que Bukharin
estava de fato em uma ampla conspiração. Em outro estudo publicado
recentemente em russo9, nós demonstramos que o decreto de reabilitação
de Bukharin, da era Gorbachev, pela Plenária do Supremo Tribunal
Soviético, emitida em 4 de fevereiro de 1988, contém falsificações
deliberadas.

De acordo com essa teoria, Bukharin disse a verdade em sua


confissão no Julgamento de Moscou de março de 1938. Mas, nós sabemos
que Bukharin não disse toda a verdade. Getty sugere que Bukharin não
confessou até que depois que Tukhachevsky ter feito a dele, e o aprisionado
Bukharin poderia razoavelmente saber sobre isso – foi nessa época que ele
deu o nome de Tukhachevsky.

Existem evidências de que Bukharin sabia de outros conspiradores


os quais entregou. Frinovsky alegou que o próprio Yezhov era um desses10.
Isso parece ser crível à luz das evidências que agora temos a nossa
disposição a respeito de Yezhov. Poderia Khrushchev também ser ou não
um desses conhecidos de Bukharin? Se ele o fosse, ele teria sido um
conspirador extremamente bem colocado, e portanto mantido sob muito
segredo.

Pelo que nós podemos dizer agora, Khrushchev “reprimiu” um


grande número de pessoas – talvez mais que qualquer outro indivíduo além
de Yezhov e seus homens, com a possível exceção de Robert Eikhe. Talvez
tenha sido porque ele foi Primeiro Secretário de Moscou (cidade e
província) até janeiro de 1938, e, depois disso, Primeiro Secretário na
Ucrânia. Essas são duas grandes áreas. Dadas as conspirações nas bases do
Partido, ou a suspeita delas, seria lógico que fossem fortes em Moscou,
enquanto que a Ucrânia sempre teve sua parcela de oposição nacionalista.

Frinovsky afirmou categoricamente que ele e Yezhov


“reprimiram” – torturaram, fabricaram falsas confissões, e assassinaram
judicialmente – um grande número de pessoas a fim de parecerem mais
leais que todos os outros e, dessa forma, acobertar suas próprias atividades
conspiratórias. Essa confissão de Frinovsky não é apenas factível; é a única
explicação que faz algum sentido. O próprio Yezhov citou o motivo
adicional de disseminar a insatisfação com o sistema soviético, a fim de
facilitar rebeliões em caso de invasão estrangeira11.

Aparentemente Postyshev e Eikhe, dois Primeiros Secretário que


reprimiram muitas pessoas inocentes, agiram com motivos semelhantes, e
nós sabemos que Eikhe, pelo menos, trabalhou próximo a Yezhov. Outros
Primeiros Secretários não poderia ter agido da mesma forma?
Especificamente, Khrushchev talvez não pudesse ter organizado
incriminações massivas, julgamentos de exceção e execuções, para
acobertar sua própria participação na atividade clandestina?

Explicações alternativas são: (1) centenas de milhares de pessoas


eram de fato culpadas de conspiração; ou (2) essas pessoas foram
massacradas devido à “paranoia de Stalin” – ou seja, queria matar todo
mundo que talvez pudesse ser um perigo em algum momento do futuro.
Mas, nós sabemos que foi Khrushchev, não Stalin e o Politburo, quem
tomou a iniciativa de exigir limites maiores no número de pessoas a serem
reprimidas. E ninguém nunca alegou que Khrushchev estava “paranoico”.

Anticomunistas, Trotskistas, e adeptos do paradigma “totalitário”


normalmente adotam a explicação da “paranoia”, mesmo que essa
interpretação de fato não explique coisa alguma, mas, ao contrário, serve
como uma desculpa para a própria ausência de explicação. E nós sabemos
agora que não foi esse o caso. Não foi Stalin, mas sim os membros do CC –
e, especificamente, os Primeiros Secretários – os responsáveis por iniciar as
repressões em massa e execuções.

Frinovsky firmou explicitamente que Bukharin sabia da


participação de Yezhov em uma conspiração “trotskista-direitista”, mas se
recusou a nomeá-lo em sua confissão e durante julgamento. Frinovsky alega
isso porque Yezhov tinha dito a Bukharin que poupá-lo-iam em troca de seu
silêncio. Isso é possível – embora seja uma explicação que não faz jus a
Bukharin, que era, afinal, um bolchevique veterano dos dias sangrentos da
revolução de outubro de 1917 em Moscou.
Revolucionários clandestinos algumas vezes preferem a execução
a ter que delatar seus camaradas. Por que não pensar que Bukharin talvez
não tenha dado o nome de Yezhov justamente por esse motivo? Nós
sabemos que Bukharin, de fato, não disse “toda a verdade” em nenhuma de
suas declarações anteriores ao julgamento. E por que não – a menos que
ainda não estivesse totalmente desarmado e permanecesse na luta contra
Stalin? Suas declarações humilhantes sobre “amar” Stalin “sabiamente12”
são embaraçosas de se ler. Elas não poderiam ser sinceras, e Stalin
acreditava nelas tanto quanto acreditamos hoje.

Nós vimos que Bukharin apenas delatou Tukhachevsky depois de


saber que ele tinha sido preso e já havia confessado. Se Bukharin, por
qualquer motivo, foi para execução sem nomear Yezhov como sendo um
co-conspiradores – como Frinovsky afirmou posteriormente – por que ele
também não teria protegido outros co-conspiradores?

Não podemos saber por certo se Khrushchev era um desses


conspiradores escondidos, nem se Bukharin sabia sobre ele. Mas, sabemos
que conspiradores antigoverno continuaram a existir na URSS após 1937-
3813 e que alguns deles estavam em altas posições. Sabemos também que
Khrushchev permaneceu leal a Bukharin mesmo muito tempo após sua
morte.

A hipótese de que Khrushchev talvez tenha sido um membro


secreto de um dos ramos de uma conspiração trotskista-direitista bastante
abrangente é reforçada pelo fato de que ele certamente estava envolvido em
uma série de outras conspirações que já conhecemos.

Em 5 de março de 1953, com Stalin ainda vivo, os


antigos membros do Politburo se reuniram e aboliram o
Presidium ampliado, que fora aprovado no 19º
Congresso do Partido no outubro anterior. Isso foi
virtualmente um coup d’etat dentro do Partido, sequer
votado ou discutido pelo Presidium ou Comitê Central.

Khrushchev foi a força motriz da conspiração para


“reprimir” – prender, talvez assassinar – Lavrentii Beria.
Nós sabemos que esta prisão não foi premeditada porque
foi publicado o rascunho do discurso de Malenkov para a
reunião do Presidium na qual ocorreu a prisão (ou
assassinato). O rascunho pede apenas pela remoção de
Beria da chefia combinada do MVD-MGB e da Vice-
Presidência do Conselho de Ministros, e sugere que
Beria fosse nomeado no Ministro da Indústria do
Petróleo.

Uma vez que Khrushchev foi capaz de negar a outros


membros do Presidium o acesso aos documentos
estudados por no Relatório Pospelov e comissões de
reabilitação, ele tinha que articular uma outra
conspiração de pessoas que lhe davam acesso a essas
informações, mas que negavam a outros.

Essa conspiração tinha que incluir Pospelov, que escreveu o


Relatório. Tinha que incluir Rudenko também porque ele assinou a maioria
dos relatórios de reabilitação. Pesquisas sobre como a comissão Pospelov e
comissão de reabilitação foram preparadas ainda precisam ser feitas.
Presumivelmente, os outros membros das comissão de reabilitação, além
dos pesquisadores e arquivistas que localizaram os documentos para os
relatórios e para Pospelov, juraram silêncio ou de fato também faziam parte
da conspiração.

Sabemos os nomes e um pouco sobre algumas pessoas que,


supostamente, revisaram os materiais de investigação. Por exemplo, nós
sabemos que um certo Boris Viktorov foi um dos juristas envolvidos nas
reabilitações. Viktorov escreveu pelo menos um artigo sobre seu trabalho,
está no Pravda de 29 de abril de 1988, o propósito era reafirmar a inocência
do Marechal Tukhachevsky e de outros comandantes militares condenados
junto dele em 11 de junho de 1937. Em 1990, Viktorov publicou um livro
clamando dar mais detalhes sobre muitas outras repressões.

Sua contribuição é certamente um acobertamento desonesto.


Viktorov afirma a inocência de Tukhachevsky, mas consegue demonstrá-
la. Ele cita um documento constado e ignora algumas evidências
condenatórias que ele próprio certamente viu e que não eram públicas no
período em que ele escreveu, mas que agora temos acesso. Então, Viktorov
foi pelo menos parte da conspiração para fornecer a Khrushchev as falsas
evidências da inocência daqueles que foram discutidos no Discurso Secreto.

Entre os estudiosos, é de consenso geral que Khrushchev após


tomar o poder, revisitou os arquivos e muitos documentos foram removidos
e, sem dúvidas, destruídos14. Esses mesmos acadêmicos concordam que
tais documentos provavelmente tinham relação com o papel do próprio
Khrushchev nas repressões em massa ao final da década de 1930. Agora
que sabemos que Khrushchev falsificou virtualmente todas as declarações
de seu discurso Secreto, e que os relatórios de reabilitação e o relatório
Pospelov também foram pesadamente falsificados, parece provável que
Khrushchev tenha removido outros documentos.

Esse é um trabalho muito grande, e teria sido necessário muitos


arquivistas, que deveriam ser supervisionados. Parece ser um trabalho
muito grande para a supervisão de apenas Rudenko e Pospelov. Um grande
número de pesquisadores e oficiais, incluindo, é claro, oficiais do Partido
leais a Khrushchev, mas ainda desconhecidos a nós, tinham que estar
envolvidos. Naturalmente essas pessoas saberiam qual evidência
Khrushchev estava escondendo ou destruindo.

ALEKSANDR S. SHCHERBAKOV

Em janeiro de 1938, Khrushchev foi removido do posto de


Primeiro Secretário do Partido do oblast e da cidade de Moscou e enviado
para ser Primeiro Secretário da Ucrânia. Alexsandr Sergeevich
Shcherbakov o substituiu em Moscou.

Em suas memórias, Khrushchev mostra ódio real contra


Shcherbakov, embora que as razões citadas sejam vagas. A recente
biografia de Shcherbakov, feita por A. N. Ponomarev e publicada pelo
Arquivo Central de Moscou, examina em alguns detalhes a hostilidade de
Khrushchev. De acordo com este estudo, o ódio de Khrushchev por
Shcherbakov pode ser rastreado à recusa deste último em permitir que
Khrushchev inflasse os números das colheitas, contando em duplicata os
grãos de sementes como sendo grãos de colheita15.
Mais ameaçador para Khrushchev foi o papel de Shcherbakov no
processo de apelação de 90% dos recursos dos membros do Partido
expulsos por Khrushchev em 1937-38, – período no qual Khrushchev
dirigia o Oblast de Moscou e os Comitês da Cidade – apenas do ano de
1937 foram reintegrados mais de 12.000 membros. O que Ponomarev não
deixa dito é fato de grande parte desses membros terem sido executados, os
apelos foram trazidos por seus familiares16.

Khrushchev era, naturalmente, um membro da troika que decidia


sobre essas repressões maciças, embora às vezes ele fosse representado por
um deputado. Todos os outros membros da troika de Moscou foram
executados por responsabilidade em repressões ilegais. É lógico concluir
que o próprio Khrushchev se sentiu extremamente vulnerável. Poucos, se
algum, outros Primeiro Secretário (Khrushchev estava na Ucrânia por 1939)
foram responsáveis por tantas expulsões e execuções – tantas “repressões”
– quanto Khrushchev foi.

Ponomarev cita também outras evidências da frieza de


Shcherbakov em relação a Khrushchev. No 18º Congresso do Partido, em
1939, Shcherbakov deu um relatório no qual ele não mencionava seu
antecessor Khrushchev uma única vez sequer. Georgii Popov, segundo
secretário sob Khrushchev e Shcherbakov, elogiou Khrushchev em seu
discurso – fato que destacou o silêncio de Shcherbakov17.

Usando o testemunho da família de Shcherbakov, bem como


evidências dos arquivos de Moscou, Ponomarev refuta uma série de
acusações que Khrushchev faz a respeito de Shcherbakov – por exemplo, a
alegação de que Shcherbakov era um alcoólatra convicto18. Ponomarev
detalha a falsidade de Khrushchev no trato à família de Shcherbakov após
sua morte. Khrushchev era amigável com eles enquanto Stalin ainda vivia.
Mas, uma vez no poder, Khrushchev privou-os da sua dacha e cancelou
todos os memoriais a Shcherbakov.

Certamente Khrushchev era uma cobra; para usar a linguagem que


ele próprio usou contra um Shcherbakov já morto: ele tinha um “caráter
venenoso, como de uma serpente”19. Anastas Mikoyan, embora um aliado
político próximo, denunciou a grande deslealdade de desonestidade que
Khrushchev reserva as pessoas, e também sua desonestidade ao contar fatos
históricos20. Mas, por que Khrushchev era tão vingativo com Shcherbakov
e sua família? Por que ele odiava tanto Shcherbakov?

Em suas memórias, Khrushchev não menciona que, em 1937,


Shcherbakov tinha sido fundamental para desmascarar A. V. Snegov como
sendo um conspirador. Khrushchev, posteriormente, se tornaria muito
amigável com Snegov, libertando-o de um campo de trabalho e dando-lhe
um cargo importante, Khrushchev consultou Snegov e o citou em seu
Discurso Secreto. De acordo com o genro de Khrushchev, Alexi Adzhubei,
Snegov se tornou amigo e confidente de Khrushchev21.

Por que Khrushchev teria sido tão parcial com Sengov a ponto de
em 1954 pessoalmente interceder por ele tirando-o de um campo de
trabalho e, então, promovê-lo e favorecê-lo tanto? Um bom palpite poder
uma amizade de longa data entre Khrushchev e Snegov, de antes mesmo da
prisão de Snegov. Talvez Khrushchev tenha gerido as coisas de forma tal
que Snegov escapou da execução mesmo com tantas evidências contra ele e
e o fato de estar na “Categoria Um”.

Dada a possível proximidade entre Khrushchev e Snegov, a


condenação de Snegov por envolvimento em uma conspiração, todo o
trabalho realizado por Khrushchev em “resgatar” e favorecer Snegov – que
nunca foi um membro de alto-escalão do Partido e certamente nunca foi
uma pessoa poderosa – não é lógico supor que Snegov sabia algo sobre
Khrushchev? É claro, Khrushchev poderia ter matado Snegov, sem dúvida.
Mas, se eles fossem velhos camaradas, faria sentido Khrushchev fazer o que
ele fez em honra a Snegov.

Acadêmicos contemporâneos estabeleceram que Khrushchev se


apressou para encobrir as evidências de seu papel nas repressões. Durante a
era Stalin, muitos dirigentes do Partido e agentes do NKVD foram julgados
e até mesmo executados por tais abusos. Segue-se que Khrushchev teria
vivido por muitos anos com medo de que se tornasse conhecido o seu papel
nas massivas e injustificáveis repressões. Seu medo teria sido ainda maior
se, como suspeitamos, ele estivesse envolvido em algum tipo de
conspiração trotskista-direitista e tivesse simplesmente evitado ser
descoberto.

Shcherbakov não estava apenas em posição de saber sobre o papel


de Khrushchev nas repressões melhor que qualquer outro22, mas ele
também era influente o suficiente para sua palavra pesar sobre Stalin e o
Politburo. Em maio de 1941, Shcherbakov foi um dos secretários do Comitê
Central, uma posição mais poderosa que a de Khrushchev. Shcherbakov
morreu em maio de 1945 aos 44 anos de idade. Ele sofreu um ataque do
coração em 10 de dezembro de 1944, e desde dessa data convalescia em sua
casa. No dia 9 de maio de 1945 permitiram que ele levantasse da cama e
para ir Moscou se alegrar com a árdua vitória sobre a Alemanha Nazista.
Essa viagem ocasionou a um ataque final do coração que o levou à morte
em 10 de maio.

Por que os doutores de Shcherbakov deixaram um homem com


tais condições sair da cama, quando o melhor tratamento é o completo
descanso23? Um dos médicos de Shcherbakov, Etinger confessou ao
investigador, M. T. Likhchev, ter feito “feito tudo para encurtar a vida de
Shcherbakov”, pois considerava que Shcherbakov era um antissemita24.
Sendo questionado por Abakumov, Ministro da Segurança de Estado (chefe
da MGB), Etinger retirou sua confissão, mas depois a repetiu. Não muito
depois, ele morreu na prisão.

Isso foi parte do que depois se tornou “A Trama dos Médicos”,


um esquema muito obscuro com elementos que certamente foram
fabricados. A confissão de Etinger talvez tenha sido forçada e ele talvez
tenha sido inocente de causar a morte de Shcherbakov por negligência.
Ainda, mesmo os médicos na “Trama dos médicos” que realmente tinham
tratado de Andrei Zhdanov em 1948 concordaram que foram muito
negligentes e, ao fazerem isso, causaram sua morte. Eles não só deixaram o
paciente levantar da cama e caminhar; eles chamaram uma cardiologista
ECG e, quando ele reportou que Zhdanov teve um ataque cardíaco,
disseram que ela estava errada e se recusaram a acreditar ou, até mesmo,
deixá-la incluir sua descoberta no relatório sobre a saúde de Zhdanov. Que
“erro”! De fato, o comportamento deles preenche todos os requisitos de
uma “conspiração” – entretanto, se a conspiração era matar dirigentes do
Partido, como veio posteriormente na acusação, ou simplesmente
“encobrir” outra, é uma coisa longe de ser clara.

Além disso, houve histórias desse tipo de coisa. No Julgamento de


Moscou de Bukharin de março de 1938, Rykov e outros dois doutores
médicos, Pletnev e Levin, tinham confessado uma conspiração para
provocar a morte de Maxim Gorki, escritor; Valerian V. Kuibyshev,
membro do Politburo; e Vyaceslav menzhinsky, chefe da OGPU e de quem
Iagoda era o segundo em comando e queria fora do caminho o mais rápido
possível. Agora, nós temos a confirmação dessas acusações a partir de
interrogatórios pré-julgamento, anteriormente não publicados, de Yagoda,
bem como pelas várias “acareações face a face”, ou ochnye stavki, entre
Yagoda e os médicos Levin e Pletnev, e também entre Kriuchkov e Levin.

Agora, também temos dois interrogatórios pré-julgamento de Avel


Yenukidze. Eles, de modo geral, confirmam a confissão de Iagoda. O Dr.
Levin até mesmo admitiu ter feito contato direto com Yenukidze. Este autor
fez um estudo sobre a “reabilitação” do Dr. Pletnev e a então chamada
“pesquisa” que a baseou. Esse estudo conclui que a “reabilitação” de
Pletnev também foi falsificada. Pletnev admitiu culpa e nunca retraiu sua
confissão25.

Em junho de 1957, um dos réus no “Julgamento de Bukharin”,


Akbal Ikramov, foi “reabilitado”. A única evidência citada para dizer que
Ikramov teria sido erroneamente acusado foi o fato de duas pessoas que o
acusaram, incluindo Bukharin, também acusaram outros que já haviam sido
declarados “reabilitados”26. Não foi feita qualquer alegação de que
Ikramov, que confessou em julgamento, nem de qualquer um dos que o
acusaram tenham agido compulsoriamente.

Por dezembro de 1957, muitos outros réus tiveram “reabilitações”


similares. Embora o restante dos réus não terem sido reabilitados até 1988,
sob Gorbachev, por pura formalidade. Em uma convenção nacional de
historiadores, ocorrida em 1962, Pospelov foi perguntado sobre o que
deveria ser dito sobre os acusados nas escolas. Ele replicou que “nem
Bukharin, nem Rykov, é claro, foram terroristas27”. Entretanto, Pospelov
também recusou os historiadores que indagaram por acesso às evidências
documentais que eles pediam!

Bukharin tinha confessado ser um terrorista, mas nada referente à


espionagem, apenas através de seus co-conspiradores, enquanto Rykov
tinha se recusado a admitir que foi um espião, mas concordou que tinha
tentado derrubar o governo. Por efeito, então, Pospelov fez, em 1962, de
maneira explícita o que Khrushchev anteriormente tinha apenas implicado:
a alegação – falsa, como agora podemos provar – de que os Julgamentos de
Moscou foram uma fraude, um falso testemunho.

Em seu Discurso Secreto, Khrushchev declarou que a “Trama dos


médicos” foi uma fabricação. Mas, ele mentiu completamente sobre isso.
Ele alegou que fora falsificada por Beria quando, de fato, foi a investigação
de Beria que descobriu que era uma farsa em primeiro lugar. Ele também
culpou a Dra. Timashuk por iniciar a “Trama”. Mas, ela não tinha nada a
ver com isso. Todas as evidências primárias que temos atestam esses fatos.

Em todo caso, a morte de Shcherbakov não poderia ser que não


bem-vinda a Khrushchev. Muito do que Khrushchev alegou ter revelado
sobre os anos de Stalin foi provado falso de tal modo que seria imprudente
simplesmente “acreditar” nele nesse caso. À luz das evidências que nós
temos relativas à “Trama dos Médicos”, alegada nos Julgamentos de
Moscou de 1938, seria um erro excluir a possibilidade de que, pelo menos,
algumas das “Tramas dos Médicos”, do pós-guerra, talvez tenham alguma
base na realidade.

Finalmente, há um reconhecido mistério sobre o porquê de o


tratamento médico não ter sido chamado para o Stalin gravemente doente
até um dia, ou mais, depois de descoberto que ele teve um derrame.
Quaisquer que sejam os detalhes, Khrushchev estava envolvido.

IMPLICAÇÕES: A INFLUÊNCIA NA SOCIEDADE


SOVIÉTICA.

Deixando de lado as motivações pessoais de Khrushchev, de


grande interesse e importância são as implicações que foram sugeridas pelo
Discurso para a sociedade soviética e para a política.
O fato que o “Discurso Secreto” não é apenas falso em alguns
pontos, mas sim composto de falsidades do início ao fim, requer um ajuste
profundo de nossas estruturas históricas e políticas.

O fato de que a pesquisa e a comissão de “reabilitação”, que


proveram Khrushchev com as informações usadas em seu discurso, a
Comissão Pospelov, não conduziram uma pesquisa honesta teve implicação
para quaisquer e todas as outras comissões de investigação histórica que
foram montadas sob Khrushchev e que respondiam a ele.

Por exemplo, muitas comissões de “reabilitação” foram


estabelecidas sob Khrushchev para “estudar” os casos individuais,
majoritariamente os de comunistas que tinham sido condenados e
executados, ou aprisionados no GULAG por longos períodos. Em quase
todos os casos que conhecemos, essas comissões exculpavam os acusados e
os declararam “reabilitados” – inocentes, para todos os propósitos práticos.
Os então “reabilitados” eram declarados como sendo “vítimas da repressão
stalinista”.

Entretanto, poucos eram os casos em que havia qualquer evidência


suficiente para estabelecer a inocência das pessoas “reabilitadas”. Ao
contrário: em alguns caos, há boas razões para acreditar que as pessoas
“reabilitadas” talvez não fossem inocentes de fato.

Por exemplo, na Plenária de junho de 1957 do Comitê Central –


qual Khrushchev e seus apoiadores expeliram os “stalinistas” Malenkov,
Molotov, e Kaganovich por terem tramado para remover Khrushchev do
posto de Primeiro Secretário – Marechal Zhukov leu uma carta falsificada
do Komandarm (General) Iona Yakir. Yakir foi julgado e executado junto
do Marechal Tukahchevskii, em 1937, por tramar um coup d’etat com os
alemães e a oposição dentro da URSS.

A citação de Marechal Zhukov é a seguinte:


Em 29 de junho de 1937, véspera de sua própria
morte, ele [Yakir – GF] escreveu uma carta para
Stalin, na qual disse: “Querido, camarada Stalin!
Ouso dirigir-me assim porque eu disse tudo e me
considero um guerreiro honrado, dedicado ao
Partido, ao Estado e ao povo, que fui durante
muitos anos. Toda a minha vida consciente se
passou em trabalho altruísta e honrado aos olhos
do Partido e de seus líderes. Eu morro com
palavras de amor a você, ao Partido, ao país e com
uma fé fervorosa na vitória do comunismo”.
Nessa declaração nós encontramos a seguinte
resolução: “Em meu arquivo. St. Um canalha e
prostituto. Stalin. Uma descrição precisa. Molotov.
Para um vilão, porco e p***, há apenas uma
punição – a pena de morte. Kaganovich.

Molotov, Malenkov, Kaganovich. 1957. Moscou, 1998 p. 59.

Este texto foi falsificado pela omissão da parte da carta em que


Yakir confirma sua culpa e se arrepende. Aqui está o texto do “Relatório
Shvernik” do caso de Tukhachevsky, dado a Khrushchev em 1964,
brevemente após seu afastamento, mas não publicado até 1994. As
sentenças omitidas na leitura de Zhukov estão em negrito:
Querido, camarada Stalin! Ouso dirigir-me assim
porque eu disse tudo e me considero, mais uma
vez, um guerreiro honrado, dedicado ao Partido, ao
Estado e ao povo, que fui durante muitos anos.
Toda a minha vida consciente se passou em
trabalho altruísta e honrado aos olhos do Partido e
de seus líderes. – então eu cai em um pesadelo,
no irreparável horror da traição... A
investigação está finalizada. Foi apresentado a
mim o indiciamento por traição ao Estado, eu
admiti minha culpa, eu me arrependi
completamente. Eu tenho fé ilimitada na justiça
e na correção da decisão do tribunal e governo.
Agora cada uma das minhas palavras é honesta,
eu morro com palavras de amor à você, ao Partido,
ao país e com uma fé fervorosa na vitória do
comunismo.
Na declaração de Yakir nós encontramos a
seguinte resolução: “Em meu arquivo. St”. “Um
canalha e postituto. I. St[alin]”. “Uma descrição
precisa K. Voroshilov”. “Molotov”. “Para um
vilão, porco e p***, há apenas uma punição – a
pena de morte. Kaganovich28”.

Além de erros relativamente inconsequentes nas considerações de


Zhukov – a carta de Yakir foi escrita em 9 de junho de 1937, não 29 de
junho – essa é uma importante falsificação. Nessa carta Yakir confirma
repetidamente sua culpa. Voroshilov, assim como Stalin, Molotov e
Kaganovich, escreveu na carta e é um detalhe omitido por Zhukov. Em
1957, Voroshilov recuou da trama para remover Khrushchev. Esse último,
embora criticar severamente o velho Marechal, o poupou-o da punição que
os outros tiveram. Essa mesma carta falsificada foi lida durante o 22º
Congresso do Partido, em novembro de 1961, por Alexander Shelepin29.

Em 1957, nenhum dos acusados – Malenkov, Molotov, e


Kaganovich – reclamaram sobre a falsificação da carta de Yakir por
Zhukov. Portanto, nós devemos assumir que eles não tinham acesso a ela,
apesar deles próprios serem membros do Presidium. É possível que o
próprio Zhukov não soubesse que estava lendo uma um documento
falsificado, mas os pesquisadores de Khrushchev tinham que saber – eles
que forneceram o texto! Eles não ousariam fazer isso pelas costas de
Khrushchev. Portanto, Khrushchev também sabia30.

(Nós devemos notar também que há uma elipse na versão da carta


de Yakir, publicada em 1997 – as reticências, em russo troetochie – depois
da palavra “traição”. Alguma coisa ainda é omitida da carta de Yakir,
portanto, o texto genuíno e completo ainda está sendo negado a nós pelo
governo russo.)

Portanto, nenhuma das decisões de “reabilitação”, pelas quais um


grande número de comunistas reprimidos foram declarados inocentes,
podem ser tomadas pelo valor de face. Sendo assim, o mesmo também vale
para os outros documentos criados para uso de Khrushchev.

Um conjunto de tais documentos é conhecido como os relatórios


do “Coronel Pavlov”. Um trabalho recente de Oleg Khlevniuk os chama de
“principal fonte do nosso conhecimento sobre a escala das repressões31”.
Eles proveram as fontes principais para estimar o número de pessoas
“reprimidas” durante a década de 193032. Mas, uma vez que eles foram
preparados para Khrushchev, nós não podemos assumir que foram
produzidos de maneira honesta. Talvez fosse do interesse de Khrushchev
exagerar – ou, por outra razão, minimizar – o número de pessoas
executadas? Ou, talvez Pavlov, assim como Pospelov, pensou que devesse
fazer um ou outro? Dada a natureza fraudulenta dos estudos feitos por
Khrushchev, nós não podemos mais simplesmente assumir que os relatórios
do “Coronel Pavlov” são precisos.

Em termos acadêmicos, quase todas as pesquisas sobre os anos de


Stalin, publicadas durante o último meio século, dependem pesadamente de
publicações soviéticas da era Khrushchev33. Isso também inclui muitos ou
a maioria das fontes não emigrantes citadas em numerosos trabalhos por
Robert Conquest, tais como “The Great Terror”, a famosa biografia de
Bukharin por Stephen Cohen34, e muitos outros trabalhos. Cohen desenha
sua evidência para seu capítulo final, sobre a década de 1930, a partir de
fontes da era Khrushchev e do próprio “Discurso Secreto”, como resultado,
quase todas as afirmações de fatos nesse Capítulo se mostraram falsas. Tal
tipo de trabalho não pode ser aceito a menos e que as declarações feitas
possam ser verificadas independentemente.

Isso também vale para os supostos documentos de “fontes


primarias”. Khrushchev e outros fizeram citações desonestas de tais fontes.
A menos, e até, que acadêmicos possam ver os originais e a totalidade de
seus textos, é invalido assumir que Khrushchev, ou livro, ou artigo, ou
orador da era Khrushchev citaram honestamente essas fontes35.

IMPLICAÇÕES POLÍTICAS

O “Discurso Secreto” lançou o movimento comunista mundial em


uma crise. Mas, a alegação foi que todo o dano causado era necessário,
profilático. Uma parte maligna do passado, amplamente desconhecida aos
comunistas do mundo, e até mesmo aos da URSS, teve que ser exposta, um
câncer potencialmente fatal no corpo do comunismo mundial tinha que ser
impiedosamente extirpado, para que o movimento pudesse se corrigir e
mais uma vez avançar em direção ao seu objetivo final.

Nos anos que se seguiram, tornou-se mais e mais evidente que a


URSS não estava se movendo em direção a uma sociedade sem classes,
mas, ao invés, na direção oposta. Ainda assim, aqueles que se mantiveram
com o movimento liderado pelos soviéticos o fizeram porque ainda
mantinham o ideal original. Milhões de pessoas ao redor do mundo
esperaram e acreditaram que um movimento que podia arcar com tão
pesadas baixas, que podia admitir tais crimes cometidos em seu nome, que
expunha-os implacavelmente – como Khrushchev clamou ter feito – talvez
tivesse a integridade e a fortuna de se corrigir e avançar, com quaisquer que
fossem os zig zags políticos, em direção a um futuro comunista. Essa figura
não é mais sustentável.

Khrushchev não estava tentando “corrigir o rumo do navio do


comunismo”. Uma destruição total da verdade, como é o “Discurso
Secreto”, é incompatível com o marxismo, ou com motivos idealistas de
qualquer tipo. Nada positivo, democrático ou libertador pode ser construído
sobre a base de uma falsidade. Em vez de reviver o movimento comunista e
o Partido Bolchevique, desviado do seu verdadeiro curso através de graves
erros, Khrushchev estava matando-os.

O próprio Khrushchev é “revelado” não como um honesto


comunista, mas, ao contrário, com um líder político buscando por vantagens
pessoais enquanto se esconde atrás de uma personalidade oficial de
idealismo e probidade, um tipo familiar nos países capitalistas. Levando em
conta o assassinato de Beria e os homens executados como parte da
“Gangue de Beria”, em 1953, Khrushchev parece ainda pior – um gangster
político. Khrushchev de fato era culpado dos tipos de crimes que ele
deliberada e falsamente atribuiu a Stalin no “Discurso Secreto”.

A natureza fraudulenta do Discurso de Khrushchev nos força a


rever nossa visão daqueles “stalinistas” que tentaram e falharam em depor
Khrushchev em 1957 e que foram dispensados e, finalmente, expelidos do
Partido. Com todos os seus pecados e falhas, as entrevistas dos velhos
Molotov e Kaganovich (como relatadas por Felix Chuev) revelam homens
dedicados até o fim a Lenin, Stalin e o ideal do comunismo e que muitas
vezes comentaram incisivamente sobre os desenvolvimentos capitalistas ao
final da URSS. Molotov previu a derrubada do socialismo pelas forças
capitalistas de dentro do Partido, já em seus 80, 90 anos, ele buscou se
reintegrar a ele.

No entanto, a aceitação dos principais contornos do ataque de


Khrushchev a Stalin sugere que eles tinham suas próprias dúvidas sobre
algumas políticas seguidas durante o período de Stalin. A um certo grau ou
outro, eles compartilhavam a visão política de Khrushchev. Além disso, eles
não sabiam os detalhes das repressões da década de 1930 e anos
subsequentes, estavam totalmente despreparados para refutar qualquer coisa
que Khrushchev e seus apoiadores dissessem o assunto – até que fosse tarde
demais.

Talvez o único passo positivo dado pela dirigência soviética após


Stalin foi criticar, e parcialmente desmontar, o nojento “culto a
personalidade” que eles mesmos construído ao redor da figura de Stalin.
Mesmo nisso Khrushchev não merece créditos. Ele tinha se oposto às
tentativas ainda mais anteriores de Malenkov criticar o “culto” – durante os
dias da morte de Stalin. E Malenkov teve a honestidade de culpar, não
Stalin, mas aqueles ao redor dele, ele próprio inclusive, por terem sido tão
fracos para parar o “culto”, ao qual Stalin finalmente se acostumou, mas
nunca endossou e via com desgosto.

O próprio Khrushchev não perdeu tempo e tentou construir ao


redor de si um “culto” ainda maior que aquele em torno de Stalin. Ele foi
criticado por fazer isso até mesmo pelos seus apoiadores em 1956 e 1957, e
seu auto engrandecimento e arrogância foram umas das principais
acusações feitas pela dirigência do Presidium que o destituiu em outubro de
196436.

A natureza fraudulenta do Discurso de Khrushchev demanda que


nós repensemos os anos de Stalin e o próprio Stalin. Despojado tanto do
“culto” idólatra ao seu redor e calúnias de Khrushchev a figura de Stalin e a
forma das políticas que ele tentou colocar em prática, reafirmam-se como a
questão central, o maior ponto de interrogação na história soviética e do
Comintern. Os sucessos e fracassos de Stalin não devem ser apenas
reestudados; eles ainda precisam ser descobertos e conhecidos.

TROTSKY

A natureza do Discurso também demanda uma reconsideração de


Trotsky e do trotskismo. Em sua essência, as denúncias de Khrushchev
sobre Stalin contidas no “Discurso Secreto” ecoaram a anterior
demonização de Stalin feita por Trotsky. Mas, em 1956 o trotskismo era
uma força marginal, seu líder assassinado era geralmente dispensado com
um fracasso megalomaníaco.

O discurso de Khrushchev deu nova vida para as caricaturas quase


mortas que Trotsky fez sobre Stalin. Comunistas e anticomunistas
começaram igualmente a ver Trotsky como um “profeta”. Não tinha ele dito
coisas muito similares as que Khrushchev acabara de “revelar” como
verdades? Eles tiraram a poeira dos trabalhos pouco lidos de Trotsky. A
reputação de Trotsky e de seus apoiadores escalonaram. Que o “Discurso
Secreto” constituiu uma “reabilitação” não confessada de Trotsky foi
reconhecido por sua viúva, Sedova, que um dia após o Relatório solicitou
ao Presidium do 20º Congresso do Partido a reabilitação total para seu
falecido marido e seu filho37. Mas, agora, não mais “confirmado” pelo
testemunho de Khrushchev, o retrato altamente partisan de Trotsky sobre
Stalin e da sociedade ou políticas soviéticas durante seu tempo deve ser
revisado com um olhar crítico.

DEBILIDADES NÃO RESOLVIDAS DO SISTEMA


SOVIÉTICO DE SOCIALISMO

É fácil e, claro, justificado criticar Khrushchev. Ele escolheu


minar o PCUS e o movimento comunista internacional ao deliberadamente
mentir sobre Stalin e história soviética. Qualquer seja nossa conclusão sobre
as condições históricas que produziram Khrushchev e sua era, ainda pode
absolvê-lo da responsabilidade de seus atos.

Mas, Khrushchev não poderia ser promovido ao


Politburo/Presidium se seus conceitos de socialismo fossem diferentes
daqueles compartilhados pela maioria da dirigência do Partido. A ascensão
de Khrushchev é sem dúvida parcialmente explicada por sua extraordinária
energia e iniciativa, qualidades que o resto dos membros do Presidium
mostravam pouco. Mas, ele não seria triunfante se fosse visto por Stalin e
pelo resto do alto-escalão do Partido como sendo um direitista, ou mal
comunista. O conceito do que se queria dizer por “socialismo”, no Partido
Bolchevique, evoluiu desde a revolução.
Malenkov, Molotov e Kaganovich as figuras importantes
associadas a Stalin por décadas aquiesceram, embora a contra gosto, ao
Discurso Secreto de Khrushchev. Está claro que eles próprios não tinham
acesso aos documentos preparados por Khrushchev e seus aliados. Seis
comentários à época e depois mostram que eles não suspeitavam que o que
Khrushchev dizia era falso. Além disso, eles aceitaram as implicações
políticas do relatório.

Se Malenkov tivesse conseguido de alguma forma se defender de


Khrushchev e manter a dirigência do PCUS, o “Discurso Secreto” nunca
seria divulgado, e a história do movimento comunista e, portanto, grande
parte da história do mundo poderia ter se desenvolvido de forma muito
diferente. Da mesma forma, muitas pessoas raciocinam que a União
Soviética poderia muito bem ainda existir se Iuri Andropov tivesse o tempo
normal a cargo como seu dirigente e Mikhail Gorbachev nunca tivesse
assumido o cargo. Mas, o “papel do indivíduo na história” não concede
escolha ilimitada nem mesmo aos líderes mais fortes. O URSS de
Andropov estava em crise tanto quanto a de Gorbachev – ou como estava a
URSS em 1953.

Khrushchev foi capaz de tomar o poder, entregou a bomba do


“Discurso Secreto” com todas as suas fabricações, e então “fez ele pegar”:
para vencer sobre o alto-escalão soviético, e entre a maior parte e da
população soviética e – embora não sem grandes perdas – a maioria dos
comunistas ao redor do mundo. Esses fatos demandam explicações. E as
raízes desse resultado tem que ser procuradas nos períodos anteriores da
história soviética, o período da dirigência de Stalin, e do de Lenin antes
dele, e em muitas condições que levaram à Revolução Russa e a vitória
Bolchevique.

Há raízes históricas e ideológicas no Discurso de Khrushchev, e


essas também devem ser procuradas na história soviética. Stalin tentou
fortemente aplicar a análise de Lenin das condições que ele encontrou na
Rússia e no movimento comunista mundial. Lenin tentou aplicar as
intuições de Marx e Engels. Lenin tentou achar as respostas para os
problemas críticos da construção do socialismo na Rússia nos trabalhos dos
fundadores do comunismo moderno.
Stalin, nunca clamou nenhuma inovação para si mesmo, tentou
seguir a guia de Lenin o mais próximo que pode. Enquanto isso Trotsky e
Bukharin, bem como outros oposicionistas, também encontram suporte para
suas propostas políticas no trabalho de Lenin. E Khrushchev, como seus
epígonos até e incluindo Gorbachev, citaram os trabalhos de Lenin para
justificar, e dar uma abertura Leninista ou de “esquerda” para todas as
escolhas políticas.

Portanto, alguma coisa nos trabalhos de Lenin, e naqueles dos


grandes professores de Lenin, Marx e Engels, facilitaram os erro que seu
honesto sucessor Stalin cometeu honestamente, e que seu desonesto
sucessor, Khrushchev, foi capaz de usar como cobertura para sua própria
traição.

Mas, este é um tema para uma futura pesquisa e um diferente


livro.

Janeiro de 2005 – fevereiro de 2007. Revisado em Dezembro de


2010.

1. Neveroiatno levatskii zagib. Mikoyan, Tak Bylo, Ch46:


“Nas vésperas e durante o 19º Congresso do Partido: Os
Últimos dias de Stalin↩

2. IU. N. Zhukov, “Krutoi povorot... nazad” (uma


reviravolta... para trás), XX Sezd Materialy konferentsii k
40-letiu XX sezda KPSS. Gorbashev-Fond, 22 fevvralia
1996 goda.. Moscou: abril 85, 1996, pp 31-39; quote on
p.39. Essa foi a única apresentação para a qual
Gorbachev respondeu pessoalmente em aguda
discordância. Em: Link
[gorby.ru/activity/conference/show_553/view_24755/].↩

3. Eu esbocei essa hipótese em alguma extensão em “Stalin


and the Struggle for Democratic Reform”, Cultural
Logic 2005. Disponível no Link
[clogic.eserver.org/2005/2005.html]↩
4. De fato pode-se dizer que o “degelo pós-Stalin”
começou ainda durante a vida de Stalin, pelo menos no
que se refere a cultura. Essa ideia é desenvolvida pelo
historiador Vadim Kozhinov, no Capítulo 8 de Rossia:
Vek XX (1939-1964) Moscou: EKSMO/Algoritm 2005)
“Sobre o então chamado”degelo”, pp. 309-344.↩

5. Antes de 1952 o nome do Partido era Partido Comunista


da União(Bolcheviques)↩

6. Eu sumarizei brevemente e discuti a teoria de Zhukov,


citando todos os livros e artigos relevante, na série de
duas partes “Stalin and the Struggle for Democratic
Reform”, Cultural Logic 2005. Disponível no Link
[clogic.eserver.org/2005/2005.html].↩

7. Khrushchev, N. S., Vremia, Liudi, Vlast. Vospominania


(Tempo, pessoas, poder: Memórias). Moscou, 199, Livro
2, Parte 3, p 192. Anastas Mikoyan, Tak Bylo “Como
foi”. Moscou: Vagrius, 1999. Capítulo 49, “Khrushchev
u Vlasti” (Khrushchev no poder), versão impressa,
p. 611.↩

8. Grover Furr e Vladimir L. Bobrov, “Nikolai Bkhurain’s


First Statement of Confession in the Lubianka” Cultural
Logic 2007 em Link
[clogic.eserver.org/2007/Furr_Brobov.pdf]. Este artigo
foi publicado primeiramente em russo no jornal histórico
Klio 1 (36), 2005, 38-52. Eu coloquei a versão em russo
no Link [furrnbobrov_bukharin_klio07.pdf]↩

9. “Reabilitasionnoe moshnichestvo”, em Grover Furr e


Vladimir Brobov, 1937. Pravosudie Stalina.
Obzhalovaniiu ne podlezhit! Moscou: EKSMO, 2010.
Glava 2, 64-84.↩

10. Lubianka 3, p 47↩


11. Veja a interrogação de confissão de Yezhov em 4 de
agosto de 1939 no “Stalinski pitomets” – Nikolai Yezhov
de Nikita Petrov e Marl Jansen, Moscou: ROSSPEN,
2008, pp 367-379↩

12. Carta a Stalin de 10 de dezembro de 1937, foi publicada


em dois grandes jornais históricos russos no mesmo ano.
Para a passagem citada veja “Poslednoe psimo”, Rodina
2, 1993, p 52 col. 2; “‘Prosti menia, Koba...’
Neizvestnoe pismo N. Bukharina, Istochnik 0, 1993, p. 23
col.. Está traduzida no Road to Terror, pp. 556 f, de
Getty e Naumov, passagem citada na página 557↩

13. Por exemplo, veja Griogry Tokaev, Comrad X. Londres:


Harvil Press, 1956↩

14. Zhukov “Zhupel Stalina... Chast’ 3”. Komsomolskaia


Pravda Nov. 12 2002; Nikita Petrov, Pervyi predsedatel’
KGB Ivan Serov. Moscou: Materik, 2005, pp. 157-162;
Mark IUnge e R. Binner, kak terror stal “Bal’shim”.
Sekretnyi prikaz nº 00447 i tekhnologiia eto ispolneniia.
Moscou: AIRO-XX, 2003, p. 16. Por conveniência,
repeti essas referências na minha discussão sobre Nº. 28,
o “Telegrama relativo à tortura”.↩

15. A. N. Ponomarev. Aleksandr Shchebakov, Stranitsy


biografi M:Izd. Glavarkhiva Moskvy, 2004, p. 49.↩

16. Ponomarev dá especificamente o exemplo de decisões


apeladas da “troika” do NKVD e ouvidas em abril de
1939. Dos 690 protestos, os juízes revisaram 130 em
abril de 1939 e reintegraram todos, menos 14 – cerca de
90%.↩

17. Ponomarev, pp. 51-2. Popov não foi poupado da ira de


Khrushchev nos anos posteriores e escreveu sobre
Khrushchev em termos fortemente negativos em suas
memórias. Veja Taranov, “Partiinii gubernator Moskvy
Georgii Popov. Izd. Glavarkhiva Moskvy, 2004.↩

18. Khrushchev, N. S. Vremia, vremia. Liudy, liudy. Vlast’.


Kn. 2. Chast’ III, p. 41.↩

19. Estas são as palavras que Khrushchev usa para descrever


Shcherbakov em op.cit, p. 39.↩

20. Ponomarev, p. 207 n. 32, citando Mikoyan, Tak Bylo. Eu


verifiquei essas citações com a versão digital das
memórias de Mikoyan.↩

21. Shcherbakov discute confissões contra Snegov em uma


carta a Zhdanov de 18 de junho de 1937. Veja Nº. 206,
p. 363 em Sovetskoe Rukovodstvo. Perepiska, perepiska.
1928-1941. Moscou: ROSSPEN, 1999. Adzhubei,
Krushenie Illiuzii (Moscou: Interbuk, 1991), pp. 162-
167.

Após a expulsão de Khrushchev, Snegov foi de fato


centralizado pelo Partido por espalhar ideias trotskistas.
Veja RKEB 2, Seção 6, Nº. 23, pp. 521-525.↩

22. Como Primeiro Secretário na Ucrânia, Khrushchev havia


realizado uma repressão em massa, tal qual em Moscou.
Mas, permaneceu por 12 anos, até 1949. Ele teve tempo
de sobra para cobrir seus rastros por lá e deixar o Partido
ucraniano em mãos seguras.↩

23. Ponomarev, p. 275 e p. 277 n. 20, afirma que os médicos


“não se opuseram” a Shcherbakov fazer a viagem que o
matou. Ou seja, Ponomarev levanta e, assim, reconhece
que a decisão dos médicos foi inconsequente, se não,
criminosa. Mas, ele não a persegue.↩

24. IA. IA. Etinger, Eto nevozmozhno zabyt. Vospominaniia.


Moscou: Ves’ Mir, 2001, p. 87. Disponível para a
consulta online no Link [sakharov-center.ru].
A carta de Riumin para Stalin, datada de 2 de julho de
1951 e da qual esses detalhes provêm, em última análise,
está impressa e na tradução de Jonathan Brent e Vladimir
P. Naumov, Stalin’s Last Crime: The Plot Against Jewish
Doctors, 1948-1953. Harper Collins, 2003, pp. 115-118.
O livro em si não é confiável. Mas, os documentos
podem muito bem ser genuínos, como eles partem de
Naumov que, como um arquivista proeminente,
certamente poderia ter acesso a eles. Ele nunca
disponibilizou os originais em russo. Ponomarev
examina as acusações de antissemitismo contra
Shcherbakov e conclui que todas são falsas; veja p. 212-
3; 218 ff.; 227-8.↩

25. Os materiais dos interrogatórios de Iagoda e


confrontações presenciais estão em Genrikh Iagoda.
Narkom vnutrennikhdel SSSR, General’niy komissar
gosudarstvennoi bezopasnosti. Sbornik dokumentov.
Kazan, 1997, pp. 218-223. A primeira das duas
transcrições dos interrogatórios de Yenukidze, a de 30 de
maio de 1937, também é publicada aqui (pp. 508-517).
Neles, o investigador do NKVD refere-se a um
interrogatório anterior de Yenukidze, datado de 27 de
abril de 1937, que agora foi publicado em Lubianka 2
No. 60, pp. 144-156. Essa última publicação, do fundo
Yakovlev, tem um status semioficial e, portanto,
confirma a natureza genuína da primeira publicação.
Sobre os contatos entre Levin e Yenukidze veja ibid,
p. 222.↩

26. RKEB 2, p. 135.↩

27. Vsesoiuznoe soveshchanie o merakh uluchsheniia


podgotovki nauchno-pedagogicheskikh kadrov po
istoricheskim naukam, 18-21 dekabria 1962 g. Moscou:
Nauka, 1964, p. 298. Iuri Felshtinskii, um conhecido
estudioso trotskista russo, afirma que Pospelov disse que
isso “resumiu os resultados oficiais das pesquisas
secretas realizadas pelos órgãos apropriados do Comitê
Central do PCUS”. Veja IU. G. Fel’shtinskii, Razgovory
s Bukharinym. Kommentarii k vospominaniem A.M.
Larinoi (Bukharinoi ‘Nezabyvaemoe’ prelozheniami. Izd.
Gumanitarnoi literatury, 1993, p. 92. Não há razão para
pensar que isso é verdade, uma vez que todo o contexto
da declaração de Pospelov é o seguinte: “Posso afirmar
que é suficiente estudar cuidadosamente os documentos
do 22º Congresso do Partido para dizer que nem
Bukharin, nem Rykov, é claro, foram espiões ou
terroristas”. Sabemos que fabricações absolutas foram
declaradas como fatos durante o 22º Congresso do
Partido – a leitura equivocada, feita por Shelepin, à carta
de Iona Iakir, discutida abaixo, é um exemplo – então
não há razão para pensar que Pospelov estava dizendo a
verdade aqui.↩

28. RKEB 2 (2003), 688; Voenno-Istoricheskii Arkhiv,


Vypusk 1. Moscou, 1997, p. 194. Também em Voennye
Arkhivy Rossi No. 1, 1993, p. 50. Essa foi a primeira
publicação do “Relatório Shvernik”. Mas, esse diário,
cujo único volume está cercado de mistério, é muito
difícil de encontrar. Evidentemente nunca houve outro
volume, e esse, embora datado de 1993, talvez não tenha
sido publicado até o ano seguinte.↩

29. No 22º Congresso do Partido, em 1961, durante o qual


Khrushchev e seus partidários conduziram um ataque
ainda mais virulento a Stalin do que o feito em 1956,
Alexander Shelepin repetiu essa mesma distorção, lendo
em voz alta a carta de Iakir enquanto omitia as partes em
que este confirmava sua culpa (Sokolov, B. V. Mikhail
Tukhachevskii. Zhizn’ I Smert’ ‘Krasnogo Marshala’.
Smolensk, 1999; também no Link [sokolov/09]; Leskov,
Valentin. Stalin i Zagovor Tukhachevskogo. Moscou:
Veche, 2003, n. 171 p. 461. A transcrição real do
Discurso de Shelepin para o 22º Congresso do PCUS
está impressa no Pravda de 27 de outubro de 1961. A
citação equivocada de Shelepin da carta de Iakir está na
p. 10, cols 3-4. Também está na transcrição oficial:
XXII’s"ezd Kommunisticheskoi Partii Sovetskogo Soiuza.
17-31 oktiabria 1961 goda. Stenograficheskii otchiot.
Moscou: Gos. O Izd. Politicheskoi Literatury, 1962, p.
399-409.↩

30. Matthew Lenoe também conclui que Khrushchev


manteve documentos importantes em segredo de
Molotov e outros. Veja The Kirov Murder and Soviet
History(New Haven: Yale U. P. 2010) 592. Estou
preparando uma revisão detalhada para esse livro
extremamente falho.↩

31. The History of the Gulag. Yale University Press,2004,


p. 287.↩

32. Eles são a fonte principal no, agora famoso, artigo de


Getty, Rittersporn e Zemskov, “Victims of the Soviet
Penal System in the Pre-war Years: A First approach on
the Basis of Archival Evidence”, AHR outubro de 1993,
1017-1049.↩

33. Estudantes cuidadosos há muito questionam o valor


histórico de algumas dessas obras, como as de Roi
Medvedev Let History Judge (título russo: K sudu
istorii) ou Alexander Solzhenitsyn The GULAG
Archipelago.↩

34. Bukharin and the Bolshevik Revolution(1973).↩

35. Um artigo meu e de Vladimir Bobrov prova, citando


documentos, anteriormente secretos, dos arquivos
soviéticos, que cada declaração feita por Cohen no
capítulo final de sua biografia de Bukharin é falsa. Todas
as declarações foram baseadas em fontes da era
Khrushchev, com alguns rumores de emigrados
adicionados. Veja “V krivoi zerkale «antistalinskoi
paradigvy»” em 1937. Pravosudie Stalin. Obzhalovaniiu
ne podlezhit’. (Moscou: Eksmo 2010) 195-333. Uma
versão em inglês deste artigo está no prelo para aparecer
na edição de 2010 da Cultural Logic, e deve ser
publicada em 2011.↩

36. A transcrição do Plenário de Outubro de 1964 em que


Khrushchev foi removido foi publicada em Istoricheskii
Arkhiv 1, 1993, pp. 3-19.↩

37. Doklad Khrushcheva, p. 610. Coloquei um fac-símile da


carta de Sedova na web pelo Link [sedovaltr022856].↩
APÊNDICE
O CULTO

Khrushchev:
Camaradas! No relatório do Comitê Central do Partido no 20º Congresso, em uma série de discursos
dos delegados ao Congresso, como também durante a Plenária e as sessões do CC/PCUS [Comitê
Central do Partido Comunista da União Soviética] anteriores, muito foi dito sobre o culto ao indivíduo
e sobre suas consequências prejudiciais.
Após a morte de Stalin, o Comitê Central do Partido começou a implementar uma política de explicar,
de forma concisa e consistente, que é inadmissível e estranho ao espírito do marxismo-leninismo
elevar uma pessoa, a ponto de transformá-la em um super-homem possuidor características
sobrenaturais, semelhantes a aquelas de um deus. Tal homem que supostamente sabe de tudo, vê tudo,
pensa por todos, pode fazer qualquer coisa e é infalível em seu comportamento.
Tal crença sobre um homem, e especificamente sobre Stalin, foi cultivada entre nós por muitos anos.
O objetivo do presente discurso não é uma avaliação minuciosa da vida e da atividade de Stalin. A
respeito dos méritos de Stalin um número suficiente de livros, panfletos e estudos já foi escrito durante
sua vida. O papel de Stalin na preparação e execução da Revolução Socialista, na Guerra Civil e na
luta pela construção do socialismo em nosso país, é universalmente conhecido. Todo mundo sabe bem
disso.
No momento, estamos preocupados com uma questão de imensa importância para o Partido, agora e
para o futuro – a maneira com a qual gradualmente tem crescido o culto à pessoa de Stalin, o culto que
se tornou, em um certo estágio específico, a fonte de toda uma série de perversões extremamente sérias
e graves dos princípios partidários, da democracia partidária e da legalidade revolucionária.

A OPOSIÇÃO DE STALIN AO CULTO

Junho de 1926
Eu devo dizer com toda a minha consciência, que eu não mereço nem metade das lisonjas que têm sido
ditas sobre mim. Eu sou, ao que parece, um herói da revolução de Outubro, o líder do Partido
Comunista da União Soviética, o líder da Internacional Comunista, um cavaleiro lendário e tudo mais.
Isso é um absurdo, camaradas, e um exagero um tanto desnecessário. Esse é o tipo de coisa usualmente
escrito no túmulo de um revolucionário que partiu. Mas eu ainda não tenho a intenção de morrer (...)
Eu realmente fui, e ainda sou, um dos alunos dos trabalhadores da vanguarda das oficinas ferroviárias
de Tbilisi.

J. V. Stalin: Works Volume 8; Moscou; 1954 p. 182

Outubro de 1927
E o que é Stalin? Stalin é apenas uma figura menor.

J. V. Stalin: Works Volume 10; Moscou; 1954 p. 177

Dezembro de 1929:
Suas congratulações e felicitações eu coloco ao crédito do grande Partido da classe trabalhadora, que
me sustentou e me criou à sua imagem e semelhança. E como eu dou o mérito ao nosso glorioso
Partido Leninista, eu faço questão de oferecer a vocês meus agradecimentos bolcheviques.

J. V. Stalin: Works Volume 12; Moscou; 1955 p. 146

Abril de 1930:
Há alguns que pensam que o artigo “Tonto com o Sucesso” foi resultado de uma iniciativa pessoal de
Stalin. Isso é, claro, sem sentido. Não é correto que a iniciativa pessoal seja tomada por alguém,
independente de quem seja, é para isso que temos um Comitê Central”.

J. V. Stalin: Works Volume 12; Moscou; 1955 p. 218

Agosto de 1930:
Vocês falam de sua “devoção” a mim. Talvez esta frase venha acidentalmente. Talvez... Mas se isso
não for uma frase casual, eu os aconselho a descartar o “princípio” de devoção às pessoas. Não é a
maneira Bolchevique. Seja devoto à classe trabalhadora, seu Partido, e seu Estado.

Isso é uma coisa boa e útil. Mas não a confunda com devoção às pessoas, essa ninharia vã e inútil de
intelectuais de mente fraca.
“Carta ao Camarada Shtunovsky”. Works Volume 13; Moscou; 1955 p. 20

Dezembro de 1931:
Quanto a mim mesmo, eu sou apenas um pupilo de Lenin, e o objetivo de minha vida é ser um pupilo
digno dele (...)
O marxismo não nega o papel realizado por indivíduos excepcionais ou que a história é feita por
pessoas. Mas(...) grandes pessoas valem alguma coisa apenas na medida em que são capazes de
compreender corretamente essas condições e compreender como mudá-las. Se elas falharem em
entender essas condições e quiserem alterá-las de acordo com as sugestões de sua imaginação, elas vão
se encontrar na situação de Don Quixote (...)
Indivíduos não podem decidir. Decisões de indivíduos são sempre, ou quase sempre, decisões
unilaterais (...) Em todo corpo coletivo, há pessoas cuja opinião deve ser levada em conta (...) A partir
das experiências de três revoluções, nós sabemos que de 100 decisões feitas individualmente, sem
serem testadas e corrigidas coletivamente, aproximadamente 90 são unilaterais (...)
Nunca, sob qualquer circunstância, nossos trabalhadores tolerariam o poder nas mãos de uma única
pessoa. Conosco, personagens da maior autoridade são reduzidos a não-entidades, tornam-se meras
cifras assim que as massas dos trabalhadores perdem a confiança neles.

J. V. Stalin: Works Volume 13; Moscou; 1955 p. 107-8, 109, 113

Fevereiro de 1933:
Eu recebi sua carta, me concedendo sua segunda Ordem como recompensa pelo meu trabalho.
Eu agradeço muito por suas calorosas palavras e por sua camaradagem. Eu sei do que você está
privando-se em meu favor e aprecio seus sentimentos.
Ainda assim, eu não posso aceitar a sua segunda Ordem. Eu não posso e não devo aceitá-la, não apenas
porque ela só pode pertencer a você, já que você a ganhou sozinho, mas também porque eu tenho sido
amplamente recompensado pela atenção e respeito dos camaradas e, consequentemente, não tenho
direito de lhe roubar.
Ordens não são instituídas para aqueles que são bem conhecidos, mas principalmente para pessoas
heroicas que são pouco conhecidas e que precisam ser levadas ao conhecimento de todos.
Além disso, eu preciso dizer a você que eu já tenho duas Ordens. Isso é mais do que qualquer um
precisa, eu garanto a você.

J. V. Stalin: Works Volume 13; Moscou; 1955 p. 241

Maio de 1933:
Robins: Eu considero uma grande honra ter a oportunidade de lhe fazer uma visita.
Stalin: Não há nada de extraordinário nisso. Você está exagerando.
Robins: O que me é mais curioso é que por toda a Rússia sempre ouvi os nomes Lenin-Stalin, Lenin-
Stalin, Lenin-Stalin ligados um ao outro.
Stalin: Isso, também, é um exagero. Como eu posso ser comparado a Lenin?

J. V. Stalin: Works Volume 13; Moscou; 1955 p. 267

Fevereiro de 1938:
Eu sou absolutamente contra a publicação de “Histórias da Infância de Stalin”.
O livro é abundante em inexatidões nos fatos, em alterações, em exageros e em elogios não
merecidos(...)
Mas (...) o principal é o fato de que o livro tem a tendência de gravar na mente das crianças soviéticas
(e pessoas no geral) o culto à personalidade de líderes, de heróis infalíveis. Isso é perigoso e
prejudicial. A teoria dos “heróis” e a “multidão” não é Bolchevique, mas Social-Revolucionária (...)
Eu sugiro que queimemos esse livro.

J. V. Stalin: Works Volume 13; Moscou; 1955 p. 327


Fevereiro de 1946:
O ouvido também dói com o som dos ditirambos em homenagem a Stalin – é simplesmente
constrangedor de ler.

“Resposta ao Camarada Razin”: Works Volume 16

DIÁRIO DE DIMITROV

Dimitrov: [propõe um brinde com um elogio generoso a Stalin, terminando com as palavras] Não pode
haver nenhuma fala sobre Lenin sem ligá-lo a Stalin!
Stalin: Eu respeito muito o Camarada Dimitrov. Nós somos amigos e vamos permanecer amigos. Mas
eu devo discordar dele. Aqui ele se expressou de uma maneira não marxista. O que a vitória da causa
requer são as corretas condições e então os líderes sempre serão encontrados. (p. 66; 7 de novembro de
1937)
Dimitrov: (...) Este é um trabalho coletivo com o Cam[arada] Man[uilsky] como editor chefe.
Stalin [a respeito da passagem do apelo elogiando Stalin, especialmente:
“Vida longa a Stalin.
Stalin significa paz!
Stalin significa comunismo!
Stalin é nossa vitória!“]: Manuisky é um bajulador!
Ele era um trotskista! Nós o criticamos por permanecer quieto e não se pronunciar quando os expurgos
dos trotskistas estavam acontecendo, e agora ele começou a bajular!
Tem algo de suspeito aqui.
Aquele artigo dele no Pravda – “Stalin e o Movimento Comunista Mundial” – é nocivo e provocativo.
J. V.[Stalin] não permitirá que “sob a bandeira de Marx-Engels-Lenin-Stalin” permaneça em pauta,
mas, ao invés, simplesmente “Marx-Engels-Lenin”

pp. 104-105, 26 de abril de 1939

Stalin se recusa a permitir uma exibição sobre ele, em homenagem ao seu 55º aniversário, Dezembro de
1934:
(...) em uma carta da Sociedade dos Velhos Bolcheviques da União, na qual foi proposta a condução de
uma campanha dedicada ao seu 55º aniversário, ele escreveu a seguinte resolução: “Eu me oponho,
uma vez que tais empreendimentos levam ao fortalecimento do”culto a personalidade”, o qual é nocivo
e incompatível com o espírito de nosso Partido.

Rogovin, 1937, Capítulo 14, citando Voprosy Istori KPSS. No. 3, 1990, p3 104.

Stalin criticou o dramaturgo Afinogenov por usar o termo “Vozhd” (líder) ao se referir a ele:
Tendo lido, em 1933, o manuscrito da peça A mentira por A. N. Afinofenov, Stalin escreveu uma
extensa carta para o dramaturgo, nas notas ele destacou: “P.S. A sua insistência no ’ líder’ (vozhd) não
é produtiva. É equivocada, e até mesmo indecente. Não é uma questão de ‘um líder’, mas do líder
coletivo – o CC do Partido. I. St[alin]”. Era o que Stalin achava sobre. Um dos heróis da peça, o
assistente Comissário Riadovoy enquanto discutia com o ex-oposicionista Nakatov afirmou
emocionadamente: “Eu falo de nosso Comitê Central. Eu falo do líder que nos guia, que rasgou
desmascarou diversos líderes bem formados que tinham possibilidades ilimitadas e ainda assim se
mostraram falidos. Eu falo da pessoa cuja força é a confiança inquebrável como granito de centenas de
milhões de pessoas. Seu nome na língua dos homens de todo o mundo soa como um símbolo de força
da causa bolchevique. E esse líder é incontestável(...)”. Stalin editou e corrigiu esse discurso com suas
próprias mãos, fazendo essa correção chave: “Eu falo de nosso Comitê Central, que nos guia, tendo
desmascarado muitos líderes bem formados que tinham possibilidades ilimitadas e ainda assim se
mostraram falidos. Eu falo do Comitê Central do partido comunista da terra dos Sovietes, cuja força é
composta da confiança dura como granito de centenas de milhões. Sua bandeira na língua dos homens
de todo o mundo soa como um símbolo de força da causa bolchevique. E esse líder coletivo é
incontestável”(...)
Em 27 de janeiro de 1937, tendo visto um cena do filme “O Grande cidadão” (o tema desse filme,
dirigido por F. M. Ermler, se assemelha a história do assassinato do S. M. Kirov), Stalin escreveu uma
carta para B. Z. Shumyatsky, diretor da cinematografia soviética, na qual ele deu a seguinte, bem
conhecida, diretiva: “Você deve excluir qualquer menção de Stalin. Ao invés, Stalin deve substituí-lo
por CC do Partido”. (Surovaia drama naroda. Uchenye i publitsisty o prirode stalinizma Sost IU. P.
Senokosov. Moscou: Politizdat, 1989).
Em 1936 foi publicado um rascunho bibliográfico da vida de Sergo Ordzhonikidze compilado por M.
D. Orakhelashvili. Stalin leu esse livro e deixou muitas anotações em suas páginas. No rascunho, por
exemplo, a crise de julho de 1917 é recontada assim: “Neste difícil período para os proletários, quando
muitos vacilavam em frente do perigo que se aproximava, o camarada Stalin se manteve firme no seu
posto de direção do CC e da organização do Partido em Petrogrado. [Lenin está escondido – L. M.].
Cam. Ordzhonikidze estava constantemente com ele, guiando um embate energético e de todo o
coração pelas bandeiras Leninistas do Partido”. Essas palavras foram sublinhadas por Stalin, no fim da
página escreveu com uma caneta vermelha: “E quanto ao CC? E o Partido?” Em outra passagem, o VI
Congresso do POSDR (verão de 1917) debateu como Lenin, exilado em Razliv, “deu diretrizes sobre
as questões que estavam na agenda do Congresso. Para que recebessem as diretivas de Lenin, cam.
Ordzhonikidze, sob ordens de Stalin, foi duas vezes ao esconderijo de Lenin”. Stalin mais uma vez
colocou a questão: “E o CC – onde está?”

L. Maksimenkov, em Almanakh ‘Vostok’ 12 (24), Dezembro de 2004. Também citado em Ilulia Ivanova, The Dreaming Doors.

Stalin recusa a medalha de Herói da União Soviética, Maio de 1945:


No dia depois da parada, por ordem do Presidium do Soviete Supremo da URSS, J. V. Stalin foi
condecorado com o título de herói da União Soviética. Malenkov tomou a iniciativa nesse caso, mas
Stalin recusou esta homenagem e até mesmo falou de maneira áspera com Kalinin, que tinha assinado
a ordem: “Eu”, ele disse “não tomei parte em ações militares, não realizei feitos heroicos; sou apenas
um dirigente”.

V. F Aççiunev, “Chronicle of a family’: Alliluev – Stalin Moscou, 1995, p. 195.

Outros relatos confirmam isso:


(...) Uma conversa que ocorreu sobre a condecoração de Stalin a Herói da União Soviética depois da
guerra. Stalin disse que não se enquadrava nos critérios de herói da União Soviética, que era reservado
para demonstrações pessoais de coragem.
“Eu não demonstrei tal coragem” – disse Stalin. E ele não aceitou a Estrela. Apenas o desenharam com
essa estrela nos retratos. Quando ele morreu, o chefe da seção de condecorações deu-lhe a Estrela
Dourada de Herói da União Soviética. Eles deixaram numa almofada e carregaram-na no funeral.
Stalin despojava apenas uma pequena estrela: Herói do Trabalho Socialista – adicionou Molotov.

Felix Chuev, p. 140; Conversations with Molotov. From the Diary of F. Chuev Moscou, 1994, p 254.

Khrushchev citou “Herói vs massas” – exatamente o que Stalin tinha escrito:


Ao passo que atribuía grande importância ao papel dos líderes e organizadores das massas, Lenin
também estigmatizava toda a manifestação do culto ao indivíduo, combateu inexoravelmente a as
visões sobre um “herói” e sobre uma “multidão” posições estranhas ao marxismo e rebateu todos os
esforços para opor um “herói” às massas e ao povo

Veja as citações de Stalin acima.

A TENTATIVA DE MALENKOV CHAMAR UMA PLENÁRIA DO CC RELATIVA AO


CULTO, ABRIL DE 1953

Zhukov, Tainy Kremilia. 617-621, em Abril de 1953 Malenkov queria chamar uma sessão extraordinária
do Comitê Central para discutir o culto à personalidade de Stalin. Nas páginas 618-9 Zhukov cita o rascunho do
discurso e rascunho de resolução de Malenkov.
Guiado por estas considerações de princípio, o Presidium do CC do PCUS submete ao Plenário do CC
do PCUS o seguinte projeto de resolução para sua consideração:
“O Comitê Central do PCUS considera que, em nossas propagandas impressa e oral, existe uma
situação anormal que se expressa na dispersão de nossos propagandistas em um compreendimento não
marxista do papel do indivíduo na história e na propagação do culto à personalidade individual.
[É bem sabido que o Camarada Stalin condenava firmemente tal culto do indivíduo e o chamava de
erro Socialista-Revolucionário] Nessa conexão, o Comitê Central do PCUS considera obrigatório
condenar e pôr um fim definitivo às tendências não marxistas, essencialmente Socialistas-
Revolucionárias, que flui do culto ao indivíduo, diminuindo o significado e o papel da linha política
traçada pelo Partido, diminuindo a significância e o papel da consolidada, monolítica e unida liderança
coletiva do Partido e governo”.
Muitos dos presentes sabiam que o Camarada Stalin geralmente falava nesse espírito e firmemente
condenava a compreensão não marxista, Socialista-Revolucionária, do papel do indivíduo na história.
Zhukov, Taini Kremilia, pp. 618-9; as sentenças entre chaves são citadas como parte do mesmo rascunho de resolução em M. P. Odesski, DM
eldman. “Cult of the Individual (Materiais para Hiper-referênica)”, em Osvobaditelnoe Driz benie v rossi, 2003 (Universidade Saratov) disponível no
Link [sgu.ru/file/nodes/9873/09.pdf].

De acordo com esses dois acadêmicos, estes comentários são das notas de Pospelov na discussão do
Presidium de 10 de março de 1953, menos de uma semana após a morte de Stalin (5 de março).

Malenkov não foi autorizado a chamar um Plenário do CC, embora não seja conhecido quem votou a
favor e contra. Zhukov acredita que Khrushchev era mais provavelmente contrário.

PLENÁRIA DE JULHO DE 1953 – BERIA ATACADO POR SUPOSTAMENTE SE OPOR AO


“CULTO”

Na Plenária do Comitê Central de julho de 1953, Mikoyan, posteriormente um importante aliado de


Khrushchev, atacou Beria culpando-o por ter começado a atacar o culto a Stalin:
Outra questão são suas duas caras [se refere a Beria]. Nos primeiros dias [após a morte de Stalin – GF]
ele falou pesadamente sobre o culto à personalidade. Nós entendemos que houve excessos neste
assunto mesmo durante a vida de Camarada Stalin. Camarada Stalin nos criticava a fundo. O fato que
eles tenham criado um culto em torno de mim, dizia Camarada Stalin, os SR fizeram isso. Nós não
pudemos corrigir isso na época, então isso continuou. Nós devemos abordar essa questão do indivíduo
de um modo marxista. Mas Beria fala pesadamente. Se mostrou que queria destruir o culto ao
Camarada Stalin e criar o seu próprio.

Lavrenti Beria 1953, p. 168

Andreev (p. 207) também culpa Beria por levantar a questão do “culto”, alegando que isso simplesmente
não era um problema. Kaganovich o mesmo(ibid p. 283)

Claramente todos eles sabiam que foi Malenkov que tinha iniciado isso!

Em março de 1953, Maksimenkov também discutiu o ataque de Malenkov ao “culto à personalidade”,


como uma “autocrítica”, uma vez que o próprio Malenkov estava engajado nisso. Na crítica desonesta levada a
Beria durante a Plenária do Comitê Central de julho de 1953 dedicada a atacá-lo, Andreev culpou Beria por
levantar a questão do “culto”!

QUEM FOMENTAVA O CULTO?

Roy Medvedev pontuou:


A primeira publicação de 1934 do Pravda trouxe um enorme artigo de duas páginas feito por Radek,
tecendo elogios orgíacos a Stalin. O ex-trotskista, que tinha guiado a oposição a Stalin por muitos
anos, agora o chamava de “melhor pupilo de Lenin, o modelo do Partido Leninista, osso de seu osso,
sangue de seu sangue” (...) ele é “perspicaz como Lenin”, e assim por diante. Este parece ter sido o
primeiro grande artigo na imprensa que era especificamente devotado a adulação de Stalin e foi
rapidamente reimpresso como um panfleto com 225.000 cópias, um grande número para a época”.

R. A. Medvedev:Let History Judge: The origins and Consequences of Stalinism Londres; 1972; p. 148. Citado de Bland, pp. 8-9. O artigo de Radek
foi publicado como um panfleto de 32 páginas: Zochi sotsialisticheskogo obshchestva (Arquiteto da sociedade socialista) Moscou: Partinoe
izdatelstvo 1934

BUKHARIN: Eu me lembro de tal incidente. Seguindo as instruções de Kliment Efremovich


[Voroshilov] eu escrevi um artigo sobre o Exército Vermelho. Voroshilov, Stalin, e outros foram
discutidos nele. Quando Stalin disse, “O que você está escrevendo aí?” Alguém relatou: “Como ele
poderia não escrever algo do tipo?” Eu explico todas essas coisas bem simplesmente. Eu sabia que não
havia razão para criar um culto a Stalin, mas até o que me dizia respeito, isso era expediente.
SOSNOVSKY: E no meu caso você pensou que isso era essencial.
BUKHARIN: Pela simples razão de que você é um ex-oposicionista. Eu não vejo nada de errado nisso.

Voposy Istor No. 3, 2002, p. 238.

KHRUSHCHEV E MIKOYAN

O próprio Khrushchev foi um dos maiores culpados por construir o “culto” (Bland, p. 9-11)
Foi Khrushchev que introduziu o termo “vozhd” (líder, correspondente a palavra alemã führer). Na
Conferência do Partido de Moscou em janeiro de 1932, Khrushchev terminou seu discurso dizendo:

Os bolcheviques de Moscou, reunidos em torno do Comité Central Leninista como nunca


antes, e em torno do vozhd de nosso Partido, Camarada Stalin, estão alegres e marchando
confidentemente em direção a novas vitórias nas batalhas pelo socialismo, pela revolução
proletária mundial

Rabochaia Moskva, 26 de janeiro de 1932, citado em: L. Pistrak The Grand Taxtician; Khrushchev Rise to Power, Londres; 1961 p. 159.

No 17º Congresso do Partido, em janeiro de 1934, foi Khrushchev, e apenas Khrushchev, quem chamou
Stalin “vozhd dos gênios”: “nashego genealnogo voxhdia tovarishcha Stalina”.

XVII Sezd Vsesoiuznoi Kommunisticheskoi Partii (B); p 145, citado em,: L. Pistrak. Ibid;
p. 160.
Transcrito do discurso de Khrushchev no Link [hrono.ru/dokum/1934vkpb17/6_4]

Em agosto de 1936, durante o julgamento da traição de Lev Kamenev e Grigori Zinoviev, Khrushchev
em sua posição de Primeiro Secretário de Moscou disse:
Miseráveis pigmeus! Eles levantaram suas mãos contra o maior de todos os homens, (...) nosso sábio
vozhd, Camarada Stalin! (...) Foi tu, Camarada Stalin que brandiu a grande bandeira do marxismo-
leninismo sobre o mundo todo e levado a diante. Nós asseguramos-te, Camarada Stalin que a
organização bolchevique de Moscou – fiel apoiadora do Comitê Central Staliniano – irá aumentar a
vigilância staliniana ainda mais, vamos extirpar os remanescentes trotskitas-zinovievistas, e fechar
ainda mais ao entorno do Comitê Central Staliniano e do grande Stalin as fileira dos bolcheviques do
Partido.

Pravda. 23 de agosto de 1936, citado em: L. Pistrak: ibid; p. 162. o discurso todo está impresso em N. G. Tomilina, ed. Nikita Sergeevich
Khrushchev. Dva Tsveta crenemi. Dokumenty iz lichnogo fonda N. S. Khrushchev Tom 1 (Moscou: Mezhdeunarodnyi Fond Demokraia, 2009),
pp. 440-456.).

No Oitavo Congresso dos Sovietes de Toda União em 1936, foi novamente Khrushchev que propôs que a
nova Constituição Soviética, antes do Congresso de aprovação, deveria ser chamada “Constituição Stalinista”
porque:
(...) foi escrita do começo ao fim pelo próprio Camarada Stalin.

Pravda. 30 de novembro de 1936, citado em L. Pistrak: ibid; p. 161).

Tem que ser notado que Vyacheslav Molotov, então Primeiro Ministro, e Andrei Zhdanov, Secretário do
Partido em Leningrado na época, não mencionaram nenhum papel especial de Stalin na escrita da Constituição.

No mesmo discurso Khrushchev cunha o termo “Stalinismo”:


Nossa constituição é o marxismo-leninismo-stalinismo que conquistou um sexto do globo.

idem

O discurso de Khrushchev em Moscou para uma audiência de 200.000 durante o Julgamento da traição
de Georgi Piatakov (23) e Karl Radek. em janeiro de 1937, teve um viés similar:
Por levantar suas mãos contra Camarada Stalin eles as levantaram contra tudo de melhor que a
humanidade possui. Stalin é esperança; ele é expectativa; ele é o farol que guia toda a humanidade
progressista. Stalin é nossa bandeira! Stalin é a nossa vontade! Stalin é nossa vitória!

Pravda, 31 de janeiro de 1937, citado em: L. Pistrak: ibd; p. 162. O discurso inteiro em Tomilina ed.Nikita Sergeevich Khrushchev T. 1 pp.465-8;
essa exata passagem está no topo da página 467.

Stalin foi descrito por Khrushchev, em março de 1939, como:


(...) nosso grande gênio, nosso amado Stalin, (...)

Visti VTsVK, 3 março de 1939, citado em L. Pistrak, ibid; p.164.

No 18º Congresso do Partido, em março de 1939, como:


(...) o maior gênio da humanidade, professor e vozhd, que nos guia em direção ao comunismo, nosso
caro Stalin.

XVII Sezd Vsesoiuznoi Kommunisticheskoi Parti (b), p174, citado em: L. Pistrak: ibid, p.164.

E em maio de 1945 como:


(...) grande Marechal da Vitória.

Pravda Ukrainy, 13 de maio de 1945, citado em: citado em: L. Pistrak; ibid; p. 164.

MIKOYAN

Na ocasião da celebração do quinquagésimo aniversário de Stalin em dezembro de 1929, Anastas


Mikoyan acompanhou suas congratulações com a demanda:
(...) que nós, ao irmos de encontro com a digna demanda das massas, comecemos finalmente a
trabalhar em sua biografia e torná-la disponível para o Partido e a todos os trabalhadores de nosso país.

Ivestia 21 de dezembro de 19329, citado em L. Pistrak; ibid, p.164.

Dez anos depois, no sexagésimo aniversário de Stalin em dezembro de 1939, Mikoyan ainda urgia pela
criação de uma
(..) biografia científica [de Stalin].

Pravda, 21 de dezembro de 1939, citado em: L. Pistrak: ibid;p.158.

Suspeitas de Stalin sobre o culto – Tumoimen, Feuchtwanger (Bland, p. 12)

Que o próprio Stalin não estava alheio ao fato que revisionistas escondidos eram a principal força por trás
do “culto à personalidade” foi relatado pelo revisionista finlandês, Tuominen em 1935, descreve que ele [Stalin],
ao ser informado sobre espaços proeminentes dedicados para bustos dele na principal galeria de arte de Moscou, a
Tretyakov, Stalin exclamou:
Isso é absoluta sabotagem!

A. Tuominen: op. cit; p. 164 Bland 12-13 (fm Tuominen) – Bill Bland “The Cult of the individual”, Link [mltranslations.org/Britain/StalinBB].
Bland coletou muitas mais evidências da oposição de Stalin ao “culto”.

O escritor alemão, Leon Feuchtwanger (p. 24), em 1936 confirma que Stalin suspeitava que o “culto à
personalidade” era promovido por “sabotadores” com o objetivo de desaboná-lo:
É manifestamente enfadonho a Stalin ser louvado como ele é, e de tempos em tempos faz piada disso.
(...) De todos os homens que eu conheço que tem poder, Stalin é o mais despretensioso. Eu falei
francamente com ele sobre o culto vulgar e excessivo feito a ele, e ele respondeu com igual sinceridade
(...) Ele pensa que é possível que “sabotadores” talvez estejam por trás disso em uma tentativa de
desaboná-lo.

L. Feuchtwanger: Moscou 1937; Londres; 1937; p. 93-5.

Stalin se recusou ao estabelecimento de uma Ordem de Stalin, que foi proposta primeiro em 1945 por
cinco membros do Politburo, e de novo no seu 70 aniversário em 1949. Foi estabelecida um ano após sua morte:
No Politburo do CC do VKP(b)
Nós apresentamos para consideração do Politburo a seguinte resolução:

1. Premiar cam. Stalin com a ordem da “Vitória”;

2. Premiar cam. Stalin o título de “Herói da União Soviética”;

3. Estabelecer uma Ordem de Stalin;

4. Erguer um Aro da Vitória de Stalin na autoestrada Moscou-Minsk na entrada de Moscou; > >
Nós propomos que os correspondentes decretos sejam levados para a XII sessão do Soviete
Supremo > > 22. VI. 45. > > V. Molotov. > > L. Beria. > > G. Malenkov. > > K. Voroshilov. > >
A. Mikoyan. > >>>V. A. Durov, Orden Stalina Stalin ne utverdil”, Rodina No.4, 2005.
Disponível online no Link [durovorden.pdf]

As últimas duas propostas não foram levadas. Escrito a lápis no canto esquerdo “Meu arquivo. J. Stalin”.

STALIN REJEITOU RENOMEAR MOSCOU EM SUA HOMENAGEM

Em 1937-38 foi feita uma proposta de se renomear Moscou para “Stalinodar” (Presente de Stalin).
Entretanto, essa renomeação nunca aconteceu. M. I. Kalinin informou ao Presidium da Soviete
Supremo da URSS e RSFSR que J. V. Stalin expressou sua categórica oposição a esta proposta (...)

Moscou manteve-se Moscou. > >>>B. A. Starkov,“Kak Moskva chut ne stala Stalinodarom”. Izvestiia
TsK KPSS. 1990, No 12, pp. 126-127. No Link [stalinodar].

O “TESTAMENTO” DE LENIN
Em dezembro de 1922, através de uma carta ao Congresso do Partido, Vladimir Ilyich escreveu:
“Depois de assumir o cargo de Secretário Geral, o camarada Stalin acumulou em suas mãos um poder
imensurável e não tenho certeza se ele será sempre capaz de usar esse poder com os cuidados
necessários”.
[...]
Esta carta – um documento político de tremenda importância, conhecido na história do Partido como o
“Testamento” de Lenin – foi distribuída entre os delegados ao 20º Congresso do Partido. Vocês a leram
e, sem dúvida, vão lê-la novamente mais de uma vez. Vocês podem refletir sobre as palavras simples
de Lenin, nas quais é dada expressão à ansiedade de Vladimir Ilyich no que diz respeito ao Partido, ao
povo, ao Estado e à direção futura da política partidária.
Vladimir Ilyich disse:

Stalin é excessivamente rude e este defeito, que pode ser livremente tolerado em nosso
meio e em contatos entre nós comunistas, torna-se um defeito que não pode ser tolerado
em quem ocupa o cargo de Secretário Geral. Por causa disso, proponho que os camaradas
considerem o método pelo qual Stalin seria removido desta posição e pelo qual outro
homem seria selecionado para ela, um homem que, acima de tudo, difira-se de Stalin em
apenas uma qualidade, ou seja, maior tolerância, maior lealdade, maior bondade e atitude
mais atenciosa em relação aos camaradas, um temperamento menos caprichoso etc.

Este documento de Lenin se fez conhecido aos delegados do 13º Congresso do Partido, que discutiram
a questão da transferência de Stalin do posto de Secretário Geral. Os delegados declararam-se a favor
de manter Stalin, esperando que ele respondesse às observações críticas de Vladimir Ilyich e fosse
capaz de superar os defeitos que causaram em Lenin séria ansiedade.
Camaradas! O Congresso do Partido deve se familiarizar com dois novos documentos, que confirmam
o caráter de Stalin como já descrito por Vladimir Ilyich Lenin em seu “testamento”. Estes documentos
são uma carta de Nadezhda Konstantinovna Krupskaya para [Lev B.] Kamenev, na época chefe do
Gabinete Político, e uma carta pessoal de Vladimir Ilyich Lenin a Stalin.
Agora lerei estes documentos:

LEV BORISOVICH!

Por causa de uma pequena carta que eu havia escrito com palavras ditadas por Vladimir
Ilyich, e com permissão dos médicos, ontem Stalin bravejou uma explosão
extraordinariamente rude dirigida a mim. Este não é meu primeiro dia no Partido. Durante
todos esses 30 anos, nunca ouvi de nenhum camarada uma palavra grosseira. Os negócios
do Partido e de Ilyich não são menos caros para mim do que para Stalin. Eu preciso, no
momento, do máximo de autocontrole. O que se pode e o que não se pode discutir com
Ilyich eu sei melhor do que qualquer médico porque eu sei aquilo que o deixa nervoso e
aquilo que não, em qualquer caso, eu sei melhor do que Stalin. Estou voltando-me para
você e para Grigorii [E. Zinoviev] como camaradas muito mais próximos de V. I., e peço
que me protejam de interferências rudes à minha vida privada e de invectivos e ameaças
vis. Não tenho dúvidas de qual será a decisão unânime da Comissão de Controle, com a
qual Stalin acha adequado me ameaçar; no entanto, eu não tenho nem a força nem o tempo
para perder nesta briga tola. E eu sou uma pessoa viva e meus nervos estão tensos ao
máximo.

N. KRUPSKAYA
Nadezhda Konstantinovna escreveu esta carta em 23 de dezembro de 1922. Após dois meses e meio,
em março de 1923, Vladimir Ilyich Lenin enviou a Stalin a seguinte carta:

AO CAMARADA STALIN:

CÓPIAS PARA: KAMENEV E ZINOVIEV

Caro camarada Stalin!

Ao telefone, você se permitiu ter um rompante de grosseria a minha esposa e fazer uma
reprimenda rude contra ela.

Apesar de ela ter lhe dito que concordou em esquecer o que foi dito, Zinoviev e Kamenev
souberam do assunto. Eu não tenho intenção de esquecer tão facilmente o que está sendo
feito contra mim; e eu não preciso enfatizar aqui que considero como dirigido contra mim
o que está sendo feito contra minha esposa. Peço-lhe, portanto, que pondere
cuidadosamente se concorda em retratar suas palavrase se desculpar ou se prefere a
ruptura das relações entre nós.

SINCERAMENTE: LENIN

5 DE MARÇO DE 1923

(Comoção no salão.)
Camaradas! Não vou comentar esses documentos. Eles falam eloquentemente por si mesmos. Uma vez
que Stalin pôde se comportar desta maneira ainda durante a vida de Lenin, pôde se comportar dessa
forma em direção a Nadezhda Konstantinovna Krupskaya – que o Partido conhece bem e valoriza-a
altamente como uma amiga leal de Lenin e como uma lutadora ativa da causa do Partido desde sua
criação – podemos facilmente imaginar como Stalin tratava outras pessoas. Essas características
negativas se desenvolveram de forma constante e, nos últimos anos, adquiriram um caráter
absolutamente insuportável.

TROTSKY NEGA QUE LENIN TENHA ESCRITO UM “TESTAMENTO”, 1925


Em muitas partes de seu livro, Eastman diz que o Comitê Central escondeu do Partido uma série de
documentos excepcionalmente importantes escritos por Lenin no último período de sua vida (cartas
sobre a questão nacional, o então chamado “testamento”, e outros); não pode haver outro nome para
isso que calúnia contra o Comitê Central de nosso Partido. Do que Eastman disse talvez esteja inferido
que Vladimir Ilyich queria que essas cartas, que tinham o caráter de conselho sobre organização
interna, fossem para a imprensa. Na verdade, isso é uma absoluta mentira (...) Ele continua sem dizer
que todas as cartas e propostas (...) foram levadas ao conhecimento dos delegados do 12º e 13º
Congresso, e sempre, é claro, exerceram a devida influência sobre as decisões do Partido; e se nem
todas essas cartas foram publicadas, é porque o autor não tinha a intenção de fazê-lo. Vladimir Ilyich
Não deixou nenhum “testamento”, o caráter de sua atitude para com o Partido bem como o
caráter do próprio Partido, impedia qualquer possibilidade de tal “testamento”. O que é
geralmente referido como um “testamento” na imprensa imigrante, burguesa estrangeira e
Menchevique (de uma maneira distorcida para além de qualquer reconhecimento) é uma das
cartas de Vladimir Ilyich contendo conselhos sobre assuntos organizacionais. O 13º Congresso do
Partido prestou atenção cuidadosa a esta carta, como a todas as outras, e tirou dela conclusões
apropriadas para as condições e circunstâncias da época. Todo o falatório sobre ocultação ou
violação de um “testamento” é uma invenção maliciosa e é dirigido totalmente contra os
verdadeiros desejos de Vladimir Ilyich e os interesses do Partido fundado por ele.

L. D. Concerning Eastman’s Book: Since Lenin Died em Bolshevik 16; 1 de setembro de 1925; p 68, tradução e ênfases por GF. C.f. o texto em
Trotsky, Leon “Two Statements ‘By Trotsky’“. The Challenge of the Left Opposition (1923-25), p. 3101.

Em dezembro de 1922 a Plenária do Comitê Central tomou a decisão de confiar a Stalin a


Responsabilidade de isolar Lenin:
DECISÃO DA PLENÁRIA DO COMITÊ CENTRAL DO PARTIDO COMUNISTA RUSSO
(Bolchevique)
18 de dezembro de 1922
No caso da requisição do c(amarada) Lenin sobre a decisão da Plenária sobre a questão de comércio
estrangeiro, com a concordância de Stalin e dos médicos, comunicar a ele [Lenin] o texto com a adição
de que tanto a resolução quanto a formação da comissão foram tomadas unanimemente.
Sob nenhuma circunstância transmitir [a Lenin] o relatório do c(amarada) Yaroslavsky e mantê-lo
pronto para transmitir quando permitidos pelos doutores, em concordância com c(amarada) Stalin.
Confiar a c(amarada) Stalin a responsabilidade do isolamento de Vladimir Ilyich no que diz respeito
tanto a contatos pessoais com militantes quanto às correspondências.
Izvestia TsK KPSS No. 12, 1989, p.191. Também no Link [hrono.ru/libris/stalin/16-62].

De acordo com Volkogonov (e outros):


Na manhã de 24 de dezembro (de 1922), Stalin, Kamenev e Bukharin discutiram a situação. Eles não
tinham o direito de forçar seu líder [Lenin] a ficar em silêncio. Mas cuidado, prevenção, o máximo
possível, eram essenciais. Uma decisão foi tomada:

1. Vladimir Ilyich tem o direito de ditar diariamente por 5-10 minutos, mas isso não deve ser na
forma de correspondência, e Vladimir Ilyich não deve esperar respostas para essas notas. Não
são permitidas reuniões.

2. Nem amigos, nem pessoas domésticas podem comunicar a Vladimir Ilyich nada da vida
política, de modo que não a apresentem materiais para consideração e excitação.. >
>>>Volkogonov, Dimitri. Stalin. Vol. I.M., 1992, Ch. 2, par. 156; citado no Link
[militera.lib.ru/bio/volkogonov_dv/02]

STALIN RESPONDE LENIN A RESPEITO DE KRUPSKAYA


7 de março de 1923
Camarada Lenin!
Cerca de cinco semanas atrás eu tive uma conversa com a cam. N. Konst. [Nadezhda Konstantinovna –
nome e patronímico de Krupskaya], que considero não apenas sua esposa, mas também minha velha
camarada de Partido, e disse a ela (ao telefone) aproximadamente o seguinte:
“Os doutores nos proibiram de dar a Ilyich informações políticas, e consideram esse regimento o mais
importante meio para tratá-lo. Enquanto você, N. K., como se mostrou, está violando esse regime. Não
podemos brincar com a vida de Ilyich” etc.
Minhas explicações a N. K. confirmaram que não há nada nisso senão mal-entendidos vazios que, de
fato, não poderiam haver.
Entretanto, se você considera que eu deva “retirar” as palavras acima que eu disse, para manter nosso
“relacionamento” eu posso retirá-las. Mas eu não entendo qual é o problema aqui, qual é minha “falta”,
o que é precisamente esperado de mim.

ibid, p. 193. Também no Link [hrono.ru/libris/stalin/16-47] Eu fiz um fac-símile da carta original escrita à mão por Stalin, em março de 1923,
disponível no Link [staltolenin03071923.jpg].

De acordo com a irmã de Lenin, a carta de Stalin não foi entregue a ele porque sua saúde estava ficando
pior, Lenin nunca soube que Stalin tinha a escrito:
“(...) e então Lenin nunca soube de sua carta, na qual Stalin se desculpa”.

M. Ulianova. Izvestia TsK KPPS No. 12, 1989, p.195.

De acordo com M. Volodicheva, uma das secretárias de Lenin durante o fim de sua doença, quando
recebeu a carta de Lenin, Stalin agiu da seguinte maneira:
Eu entreguei a carta a ele pessoalmente. Eu rapidamente pedi a Stalin que escrevesse uma carta a
Vladimir Ilyich, por ele estar esperando uma resposta e estar chateado. Stalin leu a carta enquanto de
pé, bem ali, em minha presença. Sua face se manteve calma. Ele estava em silêncio um tempo, embora
pouco, e então disse as seguintes palavras, pronunciando claramente cada palavra, pausando entre elas:
“Não é Lenin, mas sua doença que está falando. Eu não sou um médico, eu sou um político. Eu sou
Stalin. Se minha esposa, que é membro do Partido, agisse erroneamente e fosse centralizada, eu não
consideraria certo me interferir nesse assunto. E Krupskaya é membro do Partido. Mas, uma vez que
Vladimir Ilyich insiste, eu estou preparado para me desculpar com Krupskaya pela rudeza.

M. Volodicheva, citada por A. Bek, Moskovskie Novost 23 de abril de 1989.

Em uma de suas conversas com Felix Chuev L. M. Kaganovich tocou no assunto das relações mútuas
entre Stalin e Lenin:
Bem, nos tempo de Lenin havia coisas que eram muito desagradáveis. A respeito da carta de Lenin,
Stalin uma vez me disse: “Mas o que eu poderia fazer nessa situação? O Politburo me designou para
ter certeza que ele [Lenin] não estava sobrecarregado, que as ordens dos médicos estavam sendo
cumpridas, não dar a ele nenhum artigo, não dar a ele nenhum jornal, e o que eu poderia fazer – violar
a decisão do Politburo? Eu simplesmente não podia fazer isso. E eles me atacaram”. Ele me disse isso
pessoalmente com grande amargura, grande amargura. Com tão profunda amargura.
Chuev, F. Tak govoril Kaganovich Moscou, 1992, p. 191. Também em Felix I. Chuev, Kaganovich, Shepilov Moscou: OLMA-PRESS, 2001, p. 263.
Para a carta de Maria Ilyichn Ulianova, publicada em Ivestia TsK KPSS No. 12, 1989, pp 195-199, Veja Link [ulianova].

Outra assistente de Lenin, Lidia Fotieva, observa:


Nadezhda Konstantinovna nem sempre se conduziu da forma que deveria. Ela pode ter dito demais
para Vladimir Ilyich. Ela estava acostumada a compartilhar tudo com ele, mesmo em momentos em
que ela não deveria ter feito isso... Por exemplo, por que ela disse a Vladimir Ilyich que Stalin tinha
sido rude com ela ao telefone?

L. O. Fotieva. Citado em A. Bek, “K istorii poslednikh leninskikh dokumentov. Iz arkhiva pisatelia, besedovavshego v lichnymi sekretariami Lenina
de 1967”. Moskovskie Novosti No. 17 de abril de 1989, pp. 8-9.

Citado por A. Bek, Moskovskie Novosti 23 de abril de 1989

Lenin pediu para Stalin dar-lhe veneno sob demanda:


No sábado 17 de março c. Ulyanova (N. K.) comunicou-me de maneira muito conspirativa a requisição
de Lenin a Stalin, que eu, Stalin, deveria assumir o dever de obter e entregar a V. L. Ilyich uma
quantidade de cianeto de sódio. Nessa conversa comigo N. K. disse, entre outras coisas, que “V. L.
Ilyich está sofrendo de uma dor inimaginável”, que “é impensável continuar vivendo dessa maneira”, e
ela teimosamente insistiu que eu “não recusasse a requisição de Ilyich”. A vista da especial insistência
de N. K. e do fato que V. Ilyich demandou minha concordância (durante essa conversa, V. I. chamou
N. K. duas vezes para ir vê-lo, demandando com grande emoção o consentimento de Stalin), eu
considerei impossível de recusar e respondi: “Eu peço que V. Ilyich se acalme e esteja seguro que,
quando for necessário, eu vou concretizar a sua demanda sem hesitar”. V. Ilyich de fato se acalmou.
Entretanto, eu devo declarar que eu não tenho a força para concretizar a requisição de V. Ilyich, e eu
sou forçado a rejeitar esse pedido, independentemente do quão humanitário e necessário isso talvez
seja. Assim eu vou informar à reunião dos membros do Politburo do CC.
J. Stalin.
Observação: A nota está em um formulário oficial do Secretário do Comité Central do PCR(b), J. V.
Stalin, e é datada de 21 de março de 1923. Na parte superior da folha estão as assinaturas daqueles que
a leram: G. Zinoviev, V. Molotov. N. Bukharin, L Kamenev, L. Trotsky, M. Tomsky. O último
considerou essencial expressar sua opinião: “Lido. Eu considero correta a ‘indecisão’ de St. nós
devemos discutir isso estritamente entre os membros do Politburo. Sem Secretários (me refiro as
técnicos)”.

Dimitri Volkogonov, Stalin edição russa, vol. 2, entre as páginas 384 e 386. Eu coloquei um fac-símile do documento original no Link
[stalinleninpoison23.pdf].

“COLETIVIDADE” NO TRABALHO

Em vários pontos de seu discurso, Khrushchev reclama sobre a falta de coletividade e violação da
liderança coletiva.
Precisamos refletir sobre este assunto de modo sério e analisá-lo corretamente para que possamos
impedir qualquer possibilidade de repetição, em qualquer forma, do que ocorreu durante a vida de
Stalin, que absolutamente não tolerava coletividade na dirigência e no trabalho e que praticou violência
brutal, não apenas com tudo o que se opunha a ele, mas também com o que parecia, ao seu caráter
caprichoso e despótico, ser contrário aos seus conceitos.
Stalin agiu não através da persuasão, explicação e cooperação paciente com as pessoas, mas através da
imposição de seus conceitos e exigência de submissão absoluta à sua opinião. Quem se opunha a esses
conceitos ou tentava provar seu ponto de vista e a correção de sua posição estava condenado à remoção
da liderança coletiva e à subsequente aniquilação moral e física.
[...]
Na prática, Stalin ignorou as normas da vida interna partidária e pisoteou os princípios leninistas de
coletividade na liderança do Partido.

Marechal Zhukov:
Depois da morte de J. V. Stalin surgiu a história de como ele geralmente tomava as decisões militares e
estratégicas de modo unilateral. Isso de fato não é o caso. Eu já disse acima que se eu reportasse
questões ao Comandante Supremo, conhecendo seus métodos, ele as levaria em consideração. Eu sei
de casos quando ele se virou contra suas próprias opiniões anteriores e mudou decisões que tinha
tomado anteriormente.

Zhukov G. K.. Vospominania i razmyshlenia V. 2 tt. Moscou: OLMA-PRESS. 2002, p 163 também no Link
[militera.lib.ru/memo/russian/zhukov1/17].
A propósito, eu fui convencido durante a guerra, J. V.Stalin não era o tipo de homem diante do qual
não se pudesse fazer perguntas incisivas e com quem não se pudesse discutir, e mesmo defender seu
ponto de vista. Se alguém diz diferente [e. g. Khrushchev-GF] então eu digo a você diretamente – suas
afirmações não são confiáveis”.

ibd, p229. Também no Link [militera.lib.ru/memo/russian/zhukov1/09].

Zhukov, mais uma vez:


Seu estilo de trabalho, como regra, era profissional. Todo mundo poderia expressar sua própria opinião
sem ficar nervoso. O Comandante Supremo tratava todo mundo da mesma maneira – estrita e
oficialmente. Ele sabia como escutar atentamente quando você reportava a ele com conhecimento do
seu tópico. Ele próprio era lacônico, e não gostava de verbosidade nos outros.

ibid, p. 338, também no Link [militera.lib.ru/memo/russian/zhukov1/11].

Anastas Mikoyan:
Eu devo dizer que cada um de nós tinha total capacidade de nos expressar e defender nossa opinião ou
proposta. Nós discutimos francamente as questões mais complicadas e contestadas (por mim mesmo,
eu posso dizer neste ponto com total responsabilidade), e encontramos na parte de Stalin, na maioria
dos casos, entendimento, atitude razoável e paciente mesmo quando nossas declarações eram
obviamente desagradáveis a ele.
Ele também era atencioso com as propostas dos generais. Stalin ouvia cuidadosamente o que era dito a
ele e ao conselho, ouvia com interesse às discordâncias, inteligentemente extraindo delas aquele
pedaço de verdade que o ajudava, mais tarde, a formular sua decisão final, mais apropriada, as quais
nasciam desse jeito, como resultado da discussão coletiva. Mais que isso: comumente acontecia que,
convencido por nossa evidência, Stalin mudava seu próprio ponto de vista preliminar em uma ou outra
questão.

Mikoyan, Tak bylo Moscou: Vagrius, 1999. Chapter 37, p. 464.

(..)a atmosfera amigável do trabalho de gestão não diminuiu o papel de Stalin. Ao contrário, nós quase
sempre atribuímos nossas próprias propostas, formalizadas sob a assinatura de Stalin, inteiramente a
Stalin, sem revelar que o autor não era Stalin, mas outro camarada. E ele [Stalin] assinava, algumas
vezes fazendo complementos, as vezes não, às vezes sem nem mesmo ler, uma vez que ele confiava
em nós”.

ibid, Capítulo 41.

Benediktov, alto oficial de longa data da agricultura:


Contrário ao ponto de vista amplamente estabelecido, todas as questões naqueles anos, incluindo as
que envolviam a transferência de altos dirigentes do Partido, Estado, e figuras militares, eram
decididas coletivamente no Politburo. Nas sessões do Politburo argumentação e discussões geralmente
eram deflagradas, opiniões diferentes, às vezes contraditórias, naturalmente, eram expressas dentro do
quadro de trabalho de diretivas do partido. Não havia unanimidade quieta e sem tribulações – Stalin e
seus colegas não poderiam tolerar isso. Estou embasado ao dizer isso porque eu estava presente muitas
vezes nas sessões do Politburo. Sim, como regra o ponto de vista de Stalin saia no topo. Mas isso
ocorria porque ele era mais objetivo, pensava os problemas de uma maneira mais completa, via além e
mais a fundo que os outros.

I. A. Benediktov, “O Staline i Khurhscheve”, Molodaia Guardia No. 4, 1989. No Link


[web.archive.org/web/20090101193956/stalinism.newmail.ru/benedikt].

Marechal Shtemenko:
General do exército S. M. Shtemenko que era associado próximo por seu trabalho com Stalin durante
os anos de guerra escreve: “Eu devo dizer que Stalin não decidia, e em geral não gostava de decidir
unilateralmente questões militares importantes. Ele entendia bem a necessidade do trabalho coletivo
neste campo complexo. Ele reconhecia as autoridades neste ou naquele problema militar, levava as
suas opiniões em consideração, e dava a cada homem o que lhe cabia. Em dezembro de 1943, depois
da Conferência de Teerã, quando nós precisamos trabalhar em planos para ações militares futuras, o
relatório na sessão conjunta do Politburo do CC do VKP(b), o Supremo Comitê de Defesa e o Estado
Maior a respeito do curso da guerra no front e seu futuro curso foi feita por A. M. Vasilevskii e A. I.
Antonov, enquanto N. A. Voznesenskii reportou a questão da economia de guerra, e J.V. Stalin assumiu
a análise de problemas de caráter internacional.

S. M. Shtemenko, The General Staff During the War Years Livro 2. Moscou, 1981, p 275. Citado de B. Solovev e V. Sukhdeev, Polkovodets Stalin
M. 2003. No Link [militera.lib.ru/research/suhodeev_vv/04].

Dmitri Shepilov:
Stalin aparentava estar muito bem e por alguma razão estava muito alegre. Ele brincou, riu, e foi muito
democrático.

Shepilov tinha me dito que era difícil liderar o Pravda.


Claro que era difícil. Eu pensava, talvez devêssemos
nomear dois editores?
Aqui todo mundo começou a discordar:

Não, haverá uma direção dual (...) não haverá ordem,


ninguém vai saber a quem responder.
-[Stalin:] Bem, eu vejo que as pessoas não me apoiam. Onde o povo vai, para lá eu vou também.

Neprimknuvsshi M. 2001, pp236-237. Também no Link [pseudology.org/shepilovDT/11].

O próprio Khrushchev admitiu essa qualidade em Stalin:


Eu mantive-me na minha opinião. E aqui estava algo interessante (que também era característica de
Stalin): esse homem em um rompante de raiva, poderia fazer muito dano. Mas quando você
demonstrava a ele que você estava certo e se você apresentasse bons fatos, ele entenderia no final que
[você] era um homem defendendo uma causa útil, e te apoiaria (...) Sim, houve casos que você poderia
discordar firmemente e se fosse convencido que você estava certo, então ele cederia seu próprio ponto
de vista e tomaria o ponto de vista do interlocutor. É claro que isso é uma qualidade positiva.

Mas então Khrushchev adiciona:


Mas, infelizmente, você podia contar nos dedos o número de vezes que isso aconteceu.

Khrushchev, N. S. Vrenia Liud, Vlast. Livro 2, Parte 3. Moscou: Moskovie novosti, 1999, Capítulo 3, pp. 43-4 (edição russa). Também no Link
[hronos.km.ru/libris/lib_h/hrush34].

(Khrushchev evidentemente se esqueceu que ele tinha acabado de chamar esta qualidade de Stalin como
sendo uma “característica”)

De fato, foi Khrushchev que se recusou a liderar coletivamente e foi removido em 1964 em grande parte
por causa disso.
[Do discurso de Suslov] Cam. Khrushchev, tendo concentrado em suas mãos os postos de Primeiro
Secretário do CC do Partido e de Presidente do Conselho de Ministros, nem sempre usou corretamente
os direitos e obrigações confiados a ele. Rompendo com os princípios Leninistas de coletividade na
liderança, ele começou a se esforçar para decidir unilateralmente as mais importantes questões do
Partido e do trabalho do Estado, começou a negligenciar as opiniões coletivas do Partido e diligências
do governo, parou de considerar as visões e conselhos de seus camaradas. Mais recentemente ele
decidiu até mesmo as mais importantes questões de uma maneira essencialmente individual,
grosseiramente insistindo em sua própria subjetividade, geralmente com ponto de vista completamente
incorreto. Ele acredita não ter erros, apropriou para si a reivindicação monopolística da verdade. Para
todos os camaradas que expressaram suas opiniões e fizeram observações desagradáveis ao cam.
Khrushchev, ele arrogantemente deu todo o tipo de apelidos humilhantes e insultantes, que rebaixaram
a suas dignidades pessoais (...) Como resultado do comportamento incorreto de cam. Khrushchev o
Presidium do CC se tornou menos e menos um órgão de discussão coletiva e tomada de decisões
coletivas. Liderança coletiva de fato se tornou impossível.
Se tornou mais e mais claro que cam. Khrushchev está forçando uma exaltação de sua própria
personalidade e ignorando o Presidium e CC do PCUS. Essas ações incorretas do cam. Khrushchev
podem ser interpretadas com um esforço para avançar um culto de sua própria personalidade (...)

“Kak snimali N. S. Khrushcheva” Istorischeski Arkhiv No. 1, 1993, pp. 7-10.

AS QUATRO TENTATIVAS DE STALIN DE RESIGNAR AO POSTO DE PRIMEIRO


SECRETÁRIO DO PARTIDO

19 DE AGOSTO DE 1924
À Plenária do CC PCR.
Um ano e meio de trabalho no Politburo com os camaradas Zinoviev e Kamenev, depois da
aposentadoria e então morte de Lenin, fizeram perfeitamente claro a mim a impossibilidade de trabalho
político honesto e sincero com esses camaradas dentro da estrutura de um pequeno coletivo. Em vista
disso, solicito ser considerado como tendo renunciado ao Politburo do CC.
Eu solicito uma licença médica de aproximadamente dois meses.
Ao expirar esse período eu solicito ser enviado a região de Turukhansk ou para o oblast de Irkutsk, ou
algum lugar no estrangeiro em um tipo de trabalho que atraia pouca atenção.
Eu peço à Plenária [do CC – GF] decidir todas essas questões em minhas ausências e sem explicações
à minha parte porque considero danoso ao nosso trabalho dar explicações para além das observações
que eu já fiz no primeiro parágrafo dessa carta.
Eu peço ao camarada Kuibyshev para distribuir cópias dessa carta para os membros do CC.
Saudações comunistas, J. Stalin.

19. VIII. 24
Rodina 1994. No7. C. 72-73.

27 DE DEZEMBRO DE 1926
À Plenária do CC (ao cam. Rykov). Eu peço que eu seja dispensado do posto de SecGen [Secretário
Geral] do CC. Eu declaro que eu não posso mais trabalhar nessa posição, eu não tenho mais a força
para trabalhar nessa posição. J. Stalin.
27.XII.26

19 DE DEZEMBRO DE 1927

Fragmento do transcrito da Plenária do CC:


Stalin: Camaradas! Por três anos eu tenho pedido ao CC que me libere das obrigações de Secretário
Geral do CC. Em todas as vezes a Plenária se recusou. Eu admito que até recentemente existiam
condições tais que o Partido necessitava de mim nesse posto como uma pessoa mais ou menos severa,
alguém que agisse como um certo tipo de antídoto aos perigos impostos pela Oposição. Eu admito que
existiu essa necessidade, a despeito da bem conhecida carta do camarada Lenin, de me manter no posto
de Secretário Geral. Mas essas condições não existem mais. Elas se foram, uma vez que a Oposição
está, agora, esmagada. Parece que a Oposição nunca antes sofreu tal derrota, visto que eles não foram
apenas esmagados, mas foram expulsos do Partido. Segue que agora não mais existem bases que
poderiam ser consideradas corretas quando a Plenária se recusou a honrar minha solicitação e me
liberar dos deveres de Secretário Geral.
Enquanto vocês têm a diretiva do camarada Lenin, a qual somos obrigados a considerar e que é, em
minha opinião, necessária ser colocada em prática. Eu admito que o Partido foi compelido a
desconsiderar essa diretiva até recentemente, compelido pelas bem conhecidas condições de
desenvolvimento intra-Partido. Mas eu repito que essas condições agora já se foram e é tempo, em
minha visão, de tomar a diretiva de camarada Lenin para a direção. Portanto, eu solicito que a Plenária
me libere do posto de Secretário Geral do CC. Eu asseguro a vocês, camaradas, que o Partido só pode
ganhar ao fazer isso.
Dogadov: Voto sem discussão.
Voroshilov: Eu proponho que nós rejeitemos o anúncio que acabamos de ouvir.
Rykov: Nós vamos votar sem discussão (...) Nós votamos agora na proposta de Stalin que ele seja
liberado da Secretaria Geral. Quem é por essa proposta? Quem é contra? Quem se abstém? Um.
A proposta do camarada Stalin é rejeitada com uma abstenção.
Stalin: Então eu introduzi outra proposta. Talvez o CC considere expediente abolir a posição de
SecGen. Na história de nosso Partido houveram tempos em que tal posto não existiu.
Voroshilov: Tínhamos Lenin conosco.
Stalin: Não tínhamos posto de SecGen antes do 10º Congresso.
Voz: Até o 11º Congresso.
Stalin: Sim, parece que até o 11º Congresso nós não tínhamos essa posição. Isso foi antes de Lenin
parar de trabalhar. Se Lenin concluiu que era necessário colocar para frente a questão de se fundar a
posição de SecGen, então eu suponho que foi solicitado pelas circunstâncias especiais que apareceram
para nós antes do 10º Congresso, quando uma Oposição mais ou menos forte e bem organizada foi
fundada dentro do Partido. Mas agora não temos mais essa condição no Partido porque a oposição foi
esmagada homem a homem. Portanto, nós podemos prosseguir com a abolição dessa posição. Muitas
pessoas associam a concepção de algum tipo de direitos especiais do SecGen com essa posição. Eu
devo dizer pela minha experiência, e camaradas vão confirmar isso, que não deveria haver nenhum
direito especial distinguindo o SecGen dos direitos dos outros membros do Secretariado.
Voz: E os deveres?
Stalin: E não há mais deveres que os outros membros do Secretariado têm. Eu vejo deste modo: Existe
o Politburo, o mais alto órgão do CC; existe o Secretariado, o órgão executivo constituído de 5
pessoas, e todos esses cinco membros do Secretariado são iguais. Essa é a maneira com a qual o
trabalho foi realizado na prática, e o SecGen não tem nenhum direito ou obrigação especiais. O
resultado, portanto, é que essa posição de SecGen, no sentido de direitos especiais, nunca existiu entre
nós na prática, houve apenas um colegiado, chamado Secretariado do CC. Eu não sei por que nós ainda
precisamos manter essa posição morta. Eu nem mesmo mencionei o fato de que essa posição, chamada
SecGen, ocasionou uma série de distorções em alguns lugares. Ao mesmo tempo que não carrega
nenhum direito especial ou deveres associados, a posição de SecGen, em alguns lugares está havendo
distorções, e há agora, em todos os oblasts um embate por essa posição entre camaradas que chamam a
si mesmo secretários, por exemplo, nos CCs nacionais. Uns poucos SecGen se desenvolveram, e com
eles foram associados direitos especiais em certas localidades. Por que isso é necessário?
Shmidt: Nós podemos dispensá-lo nessas localidades.
Stalin: Eu acho que o Partido se beneficiaria se abríssemos mão do posto de SecGen, e isso me daria a
chance de me libertar desse posto. Seria tudo mais fácil de fazer, uma vez que, de acordo com a
constituição, do Partido não há posto de SecGen.
Rykov: Eu proponho não dar ao camarada Stalin a possibilidade de ser liberado desta posição. A
respeito dos SecGens nos oblasts e órgãos locais, isso deveria ser mudado, mas sem mudar a situação
do CC. A posição de Secretário Geral foi criada por proposta de Vladimir Ilyich. Em todo o tempo,
durante a vida de Vladimir Ilyich e depois, essa posição tem se justificado política e completamente,
tanto nos sentidos organizacionais quanto políticos. Na criação desse órgão e na nomeação de
camarada Stalin ao posto de SecGen, toda a Oposição também tomou parte, todos aqueles que nós
agora expelimos do Partido. É assim que foi, completamente e sem dúvida, para todos no Partido (se a
posição de SecGen era necessária e quem deveria ser o Secretário Geral). Pelo qual foi exaurida, em
minha opinião, ambas as questões do “testamento” (pare esse ponto já decidimos) e exaurida pela
Oposição ao mesmo tempo que também foi decidido por nós. Todo o Partido sabe disso. O que mudou
agora depois do 15º Congresso e por que é necessário deixar de lado a posição de SecGen?
Stalin: A Oposição foi esmagada.
(Uma longa discussão se seguiu, depois da qual:)
Vozes: Correto! Votemos!
Rykov: Há uma proposta para votar.
Vozes: Sim, sim!
Rykov: Nós estamos votando! Quem é pela proposta do camarada Stalin de se abolir o posto de
Secretário Geral? Quem é contra? Quem se abstém? Ninguém.
Stalin: Camaradas, durante a primeira votação sobre me libertar dos deveres de secretário eu não votei,
eu esqueci de votar. Eu peço que meu voto seja contado como “Contra”.
Vozes de um assento: Isso não é tão importante.

Citado de G. Cherniavski “Prizhok iz partinykh dzhunglei” Kaskad (Baltmore, MD), online no Link [kackad].

16 DE OUTUBRO DE 1952

Nas memórias de Akaki Mgeladze nós lemos:


(...) Na primeira Plenária do CC do PCUS chamada depois do XIX Congresso do Partido (Eu fui eleito
membro do CC e tomei parte no trabalho dessa Plenária), Stalin realmente apresentou a questão que
ele deveria ser liberado ou do posto de Secretário Geral do CC do PCUS, ou do posto de Presidente do
Conselho de Ministros da URSS. Ele fez referência a sua idade, sobrecarga, disse que outros quadros
surgiram e que ali haviam pessoas para substituí-lo, por exemplo, N. I. Bulganin poderia ser apontado
como Presidente do Conselho de Ministro, mas os membros do CC não concederam essa solicitação,
todos insistiram que o camarada Stalin permanecesse em ambas as posições.

A. I. Mgeladze Stalin. Kakim ia ego znal. Strannity nedavnogo proshlog N. pl. 2001, p. 118. Também veja o Capítulo IX, em que discutimos o
discurso de Stalin para essa Plenária pelas memórias de L. N. Efremov.

Khrushchev:
Stalin agiu não através da persuasão, explicação e cooperação paciente com as pessoas, mas através da
imposição de seus conceitos e exigência de submissão absoluta à sua opinião. Quem se opunha a esses
conceitos ou tentava provar seu ponto de vista e a correção de sua posição estava condenado à remoção
da liderança coletiva e à subsequente aniquilação moral e física.

AS REPRESSÕES EM MASSA, DE MODO GERAL

Khrushchev:
Foi precisamente durante esse período (1935-1937-1938) que nasceu a prática de repressão em massa
através do aparato governamental, primeiro contra os inimigos do leninismo – trotskistas, Zinovievitas,
Bukharinistas, há muito tempo derrotados politicamente pelo partido – e, posteriormente, também
contra muitos comunistas honestos(...)

Khrushchev matou mais que outros:

Da entrevista de V. P. Pronin, Presidente do Soviete de Moscou em 1939-45, de Voenno-Istoricheski


Zhurnal No. 10, 1991.
Pergunta: E Khrushchev? Quais memórias sobre ele permanecem com você?
Resposta: (...) Ele ativamente apoiou as repressões. Uma espada de Dâmocles estava pendurada sobre
sua cabeça. Em 1920 Khrushchev tinha votado pela posição Trotskista. E portanto, obviamente, ele
temia as consequências, e ele mesmo “batalhou” com zelo especial contra o descuido, perda de
consciência política, cegueira política etc. Khrushchev sancionou a repressão em larga escala de
muitos militantes do Partido e do Soviete. Sob ele, quase todos os 23 secretários dos raikoms da cidade
foram presos. E quase todos os secretários dos raikoms da província [oblast] [de Moscou]. Todos os
secretários do Comitê de Moscou e do Comitê da cidade de Moscou do Partido foram reprimidos:
Katsenelenbogen, Margolin, Kogan, Korty. Todos os administradores de seções, incluindo o próprio
assistente de Khrushchev. Em 1938, mesmo depois que estava na Ucrânia, Khrushchev insistiu, no
Politburo, pela repressão do segundo nível da direção no Comitê de Cidade do Partido de Moscou.
Nós, na época jovens militantes [do Partido], estávamos atônitos. Como poderia Khrushchev nos
instruir sobre “conscientização”, se todo mundo em volta dele se tornava inimigo do povo? Ele foi o
único no Comitê de Moscou que permaneceu ileso.
Pergunta: Você acredita que a escala das repressões em Moscou foram “contribuição” pessoal de
Khrushchev?
Resposta: Em um grau significativo. Depois do outono de 1938, com a chegada de Shcherbakov à
direção do Comitê de Cidade [Moscou], nenhum militante do Soviete de Moscou, Comitê de Moscou,
Comitê de Cidade de Moscou ou Comitês regionais foram reprimidos. Eu sei que em julho de 1940,
quando surgiu a questão de remover Shcherbakov do posto por causa do trabalho insuficiente das
fábricas de aviação, eles também o acusaram de muito raramente, e mesmo de forma muito relutante,
concordar com repressões. Ao contrário, na minha presença em uma reunião dos secretários do Comitê
de Cidade e com a moção de Shcherbakov, o chefe da seção investigativa do NKVD foi expulso do
Partido por prisões infundadas.

Citado em Vladimir Alliluev, Khrinika odnoi smi: Alliluevy, Stalin Moscou, Molodaya gvardia, 2002, p 172.

Khrushchev promoveu repressão:


Nós devemos aniquilar todos esses canalhas. Ao aniquilar um, dois, dúzias, nós fazemos o trabalho
para milhões. Portanto nossa mão não deve tremer, nós devemos caminhar pelos corpos dos inimigos
em benefício do povo.

Khrushchev, 14 de agosto de 1937. Vadim Kozhinov, Russia 20 Century. 1939-1964 Cap. 8, no Link [hrono.ru/libris/lib_k/kozhin20v11]. Mark Iuge
e S. A. Kokin declaram que Khrushchev fez essa observação em uma Plenária do Soviete da Cidade De Moscou; “Cherez trupy vraga na blago
naroda.. T.1 Moscou: ROSSPEN 2010, p.13

O historiador Yuri Zhukov alega que ele viu o documento no qual Khrushchev pede permissão para
elevar à “Categoria Um” 20.000 – um número, sem nomes.
Yuri Nikolaevich, nós temos Zoria Leonidovna Serebriakova na fila. “Por que você, quando avalia
Stalin, não toma em consideração a ‘lista a serem fuzilados’, na qual são documentadas, pela ponta de
seu próprio lápis, as milhares de pessoas que foram enviadas para a morte?”
Zoria Leonidovna, e como alguém leva em consideração essas listas, não haviam nem mesmo nomes,
mas simplesmente as palavras: “Permita-me fuzilar 20000 pessoas”. E a assinatura: “Khrushchev,
Nikita Sergeevich”. Vou te dizer onde está esse documento.

Komsomolskaya Pravda 3 de dezembro de 2002.

(...) Metade da primeira colheita aconteceu na província [oblast] de Moscou, indubitávelmente a maior
do país. Na troika formada aqui, estava, como especificado, o Primeiro Secretário do obkom de
Moscou do Partido, N. S. Khrushchev. Próximo ao seu nome e assinatura nós sempre encontramos o
nome e assinatura de Redens, chefe da UNKVD para o oblast de Moscou e parente de N. Alliluyeva,
segunda esposa de Stalin. Hoje Redens é colocado nas listas de vítimas da “obstinação de Stalin”. E
aqui está o que Khrushchev e Redens representavam (...) bem, é melhor se eu citar as solicitações deles
ao Politburo: “Fuzilar: 2000 kulaks, 6500 criminosos e exilar: 5869 kulaks e 26936 criminosos”. E este
foi apenas um dos golpes da foice.

Zhukov, Komsomolskaya Pravda 19 de novembro de 2002.


Khrushchev pediu autorização para reprimir muitas pessoas em Moscou, incluindo matar milhares.
CC VKP(b) – ao camarada Stalin J. V.
Eu reporto que nós contamos um total de 41305 elementos criminosos e kulaks que serviram suas
penas e depois se estabeleceram na cidade e província de Moscou.
Dos quais temos 33436 elementos criminosos. Materiais disponíveis nos legitimam para pôr 6500
criminosos na Categoria Um [a ser fuzilado – GF], e 26396 na Categoria 2 [a ser exilado – GF]. Desse
número, para propósitos de orientação, na cidade de Moscou são 1500 na Categoria 1 e 5272 na
Categoria 2.
Nós calculamos que são 7569 kulaks, que serviram suas sentenças e se assentaram na cidade e
província de Moscou. Materiais à mão nos dão base para pôr 2000 desse grupo na Categoria Um e
5869 na Categoria Dois.
Nós solicitamos que uma comissão seja confirmada, consistindo dos camaradas Redens, chefe da
UNKVD para o oblast de Moscou; Maslov, assistente procurador do oblast de Moscou, e Khrushchev,
N. S. – Secretário do Comitê de Moscou e Comitê de Cidade de Moscou, com o direito, quando
necessário, de ser substituído por A. A. Volkov – segundo secretário do Comitê de Cidade de Moscou.
Secretário do C[omite] de M[oscou] do VKP(b) – (N. Khrushchev). 10 de julho de 1937

Trud 4 de junho de 1992, republicado em Molotov, Malenkov, Kaganovich. 1957 p. 747, n. 22

Getty (Excess, 127) cita a solicitação de Khrushchev para colocar 41000 pessoas em ambas as categorias:
Em Moscou, o Primeiro Secretário Nikita Khrushchev sabia que precisava reprimir exatamente 41805
kulaks e criminosos. Quase todas as submissões das quarenta províncias e repúblicas, respondendo ao
telegrama de Stalin, que tinha os números exatos.

[Nota: por Zhukov, totalizam 41305; Getty escreve 41805. Devem ser do mesmo documento citado
acima, então Getty copiou errado – GF]

De acordo com Getty, depois das conferências em Moscou, foi amplamente expandida a categoria de
pessoas sujeitas a essa repressão e “os números almejados submetidos anteriormente pelas autoridades locais
foram revistos, a maioria geralmente reduzida”. (p. 128) Ou seja, o “centro” – Stalin e o Politburo – tentaram
limitar essas repressões.

O amplo trabalho de Taubman (876 pp.) Khrushchev: The Man and His Era (NY Norton, 2003), nem
sequer menciona a repressão em Moscou, embora elas fossem em maior número que em qualquer outra região.

Para a repressão ucraniana, dirigida pessoalmente por Khrushchev, aqui está o que ele diz:
Ainda assim, o mesmo Khrushchev presidiu os expurgos, que aparentemente se aceleraram após sua
chegada. Em 1938 sozinho, 106.119 foram dadas como presas; entre 1938 e 1940 o total foi 165.565.
De acordo com Molotov, dificilmente objetivo, mas extremamente bem informado, Khrushchev
“enviou 54.000 pessoas para o outro mundo enquanto membro da troika [ucraniana]”. Os discursos de
Khrushchev gotejavam veneno e pelo menos um caso veio à tona em que ele rabiscou “Prenda” no
topo de um documento que condenou um alto funcionário do Komsomol ucraniano.

Taubman, p. 116.

A seguinte nota é um exemplo da reclamação de Khrushchev a Stalin sobre “Moscou” – isto é, Stalin e o
Politburo terem reduzindo o número de pessoas reprimidas:
Caro Iosif Vissarionovich! A Ucrânia envia [pede para] 17000-1800 [pessoas a serem] reprimidos todo
o mês. E Moscou confirma não mais que 2000-3000. Eu solicito que você tome medidas imediatas.
Seu dedicado, N. Khrushchev.

Citado de Kosolapov Slovo Tovarishchu Stalinu M: Eksmo, 2002m p. 355. Embora esta nota seja amplamente citada, eu não fui capaz de achar um
marcador de documento para essa declaração.

O apontamento de Khrushchev para Primeiro Secretário do CC do Partido Comunista da Ucrânia


trouxe um incremento qualitativo na repressão, testemunhos dos quais nós encontramos em um
fragmento de seu discurso no 14º Congresso do Partido Comunista da República [Ucrânia – T]. “Nós
vamos fazer tudo”, ele disse, “para completar com honra as tarefas e comandos do CC do VKP(b) e do
camarada Stalin – fazer a Ucrânia um forte impenetrável para os inimigos [do povo – GF]”.
(...) Em seu discurso no 20º Congresso do Partido N. S. Khrushchev deliberadamente evitou qualquer
menção aos eventos na Ucrânia e citou fatos a respeito das repressões em outras regiões. Mas como
dizem, “Você não pode esconder uma agulha num saco”. Nós devemos considerar puramente objetiva
a avaliação de seu papel em organizar as repressões em massa na Ucrânia dado, por exemplo, que no
discurso do Comissário do Povo para Assuntos Interno da república [Ucrânia], Uspensky, no 14º
Congresso do VKP(b): “Eu, como muitos camaradas aqui”, disse o comissário, “devemos conhecer
que a derrota dos inimigos do povo, na Ucrânia, começou de verdade apenas poucos meses atrás,
quando nós recebemos para lidera-nos este Bolchevique experiente, pupilo e camarada em armas do
grande Stalin, Nikita Sergeevich Khrushchev”.

S. Kuzmin “K repressiam prichasten. Strikhi k politicheskomu portretu N. S. Khrushchev”. Vozrozhdenie Nadezhdy No. 2, 1997. No Link
[web.archive.org/web/20080506101728/memory.irkutsk.ru/pub/fr2], também disponível em N. F. Bugai Narody ukrainy v ‘Osoboi papke’ Stalina.
Moscou: Nakau, 2006, pp. 252-3.

Mais detalhes sobre o grande número de pessoas “reprimidas” por Khrushchev em Moscou, 1936-37:
N. S. Khrushchev, trabalhando como Primeiro Secretário do CM [Comitê de Moscou] e CCM [Comitê
de Cidade de Moscou] do VKP(b), em 1936-1937, e a partir de 1937 como Primeiro Secretário do CC
do VKP(b), pessoalmente deu seu consentimento para a prisão de um número significativo de
militantes do Partido e dos Sovietes. Nos arquivos da KGB há materiais documentais que atestam a
participação de Khrushchev na realização de opressões massivas em Moscou, no oblast de Moscou e
na Ucrânia, durante os anos pré-guerra. De modo privado, ele pessoalmente enviou documentos com
propostas para pender militantes dirigentes do Soviete de Moscou e do Comitê do Partido do Oblast de
Moscou. Ao todo, durante 1936-1937, 55.741 pessoas foram reprimidas pelos órgãos do NKVD de
Moscou e do oblast de Moscou.
A partir de janeiro de 1938, Khrushchev chefiou a organização do Partido da Ucrânia. Em 1938,
106.119 pessoas foram presas na Ucrânia. As repressões não pararam nos anos seguintes. Em 1939,
cerca de 12.000 pessoas foram presas, e em 1940 – cerca de 50.000 pessoas. Ao todo, durante os anos
de 1939-1940, 167.565 pessoas foram presas na Ucrânia.
A NKVD explicou que o aumento nas repressões na Ucrânia em 1938, em conexão com a chegada de
Khrushchev, se deu pelo crescimento especial e repentino da atividade contrarrevolucionária da
clandestinidade trotskista de direta. Khrushchev pessoalmente sancionou a repressão de muitas
centenas de pessoas que eram suspeitas de organizar atentados terroristas [= tentativas de assassinato]
contra ele próprio.
No verão de 1938, com a sanção de Khrushchev, um grande grupo de militantes dirigentes do Partido,
do Soviete e da economia foram presos, entre eles o vice-presidente do Conselho de Comissários do
Povo da RSS ucraniana, ministros de governo [narkomy], ministros assistentes, secretários dos
Comitês do Partido dos oblasts. Todos foram sentenciados a execução ou a longas penas nas prisões.
De acordo com as listas enviadas pelo NKVD da URSS ao Politburo, apenas em 1938 foi dada
permissão para repressão de 2.140 pessoas do Partido da república e de quadros dos Sovietes.

“Massavye repressi opravdany byt ne mogut” Istochink No. 1, 1995, 126-7; Reabiitatsia. Kak eto bylo III (Moscou, 2004), 146-7.

Khrushchev, 1 de fevereiro de 1956:


Pergunta do cam. Khrushchev [para Rodos]: Diga-nos em relação aos cams. Postyshev e Kossior, você
os declarou inimigos.
Cam. Khrushchev: Os culpados são superiores, elementos semi-criminosos foram trazidos para liderar
essas investigações. Stalin deve ser culpado.
Aristov: Camarada Khrushchev, nós temos a coragem de dizer a verdade?
Aristov: Eikhe se recusou a confessar até o fim, o fuzilaram mesmo assim.
Cam. Khrushchev: Yezhov, possivelmente, era inocente, um homem honesto.
Cam. Mikoyan: O Decreto sobre a luta contra o terror foi tomado me primeiro de dezembro de 1934.
[...]
Cam Khrushchev: Yagoda, em todas a possibilidade, era um homem inocente []

RKEB 1 308-9, p.308-9.

“INIMIGO DO POVO”

Khrushchev:
Stalin deu origem ao conceito de “inimigo do povo”. Este termo tornou automaticamente desnecessária
a comprovação dos erros ideológicos de um homem ou homens envolvidos em uma controvérsia; este
termo possibilitou o uso da repressão mais cruel, violando todas as normas da legalidade
revolucionária, contra qualquer um que, de alguma forma, discordasse de Stalin, contra aqueles que
eram apenas suspeitos de intenção hostil, contra aqueles que tinham más reputações. Esse conceito de
“inimigo do povo” realmente eliminou a possibilidade de qualquer tipo de disputa ideológica ou de
tornar conhecidas as opiniões de alguém nessa ou naquela questão, mesmo as de caráter prático. Em
essência, e de fato, a única prova de culpa utilizada, a despeito de todas as normas da ciência jurídica
vigente, era a “confissão” do próprio acusado; e, como uma sondagem subsequente provou, essas
“confissões” foram adquiridas através de pressões físicas contra os acusados. Isso levou a violações
flagrantes da legalidade revolucionária e ao fato de que muitas pessoas totalmente inocentes, que no
passado haviam defendido a linha partidária, se tornaram vítimas.
No que diz respeito às pessoas que, em seu tempo, se opuseram à linha partidária, devemos afirmar
que muitas vezes não havia razões suficientemente sérias para a aniquilação física. A fórmula “inimigo
do povo” foi introduzida com o propósito específico de aniquilar fisicamente esses indivíduos.

Jean-Paul Marat usou o termo “Pennemi du people” na primeira edição do seu jornal L’ami du Peuple de
1793. > >>>Veja: Link [ennemi]

Também é o nome de uma peça famosa de Ibsen.

Maxim Gorky, na história “Khersones Tavricheski”, 1897.


(...) e na conspiração eu não vou agir contra a comunidade, nem contra qualquer cidadão que não tenha
sido declarado inimigo do povo.

Texto no Link [web.archive.org/web/20130404052236/archaeology.ru/ONLINE/Gorki/gorky]. S. Lifishits, “Preslovuty Doklad Khrushcheva”,


disponível no Link [m-sk.newmail.ru/pub/1] (acessado em 5 de julho de 2004) dá a impressão da citação como Gorky, M Sobranie sochienni V 30-ti
t 23, p 266.

USO POR LENIN:

Lenin “A campanha por terra e o plano do Iskra”, 1903:


O apoio contínuo dos trabalhadores às demandas de Zemstvo deve se consistir não em acordos
baseados em relação às condições em que os representantes do Zemstvo podem em nome do povo, mas
sim mirar em atingir um golpe nos inimigos do povo.

Disponível Link [marxists.org/russkij/lenin/works/9-19].

Lenin, “O começo da revolução na Rússia”, 1905:


Nós, sociais-democratas, podemos e devemos proceder independentemente dos revolucionários da
democracia burguesa, garantindo a independência de classe do proletariado, mas nós devemos ir de
mão dadas a eles durante o levante, enquanto se desfere um golpe direto ao Tsarismo, se opondo ao
exército, atacando as Bastilhas do amaldiçoado inimigo de todo o povo russo.

No Link [marxists.org/russkij/lenin/1905/01/12a].

Lenin, 9 de maio de 1918:


Declarar como inimigo do povo todos os proprietários de grãos que tenham excedentes e não os trazem
aos pontos de exportação e também todos os suprimentos de grãos que são inteiramente usados para a
destilação; leva-los ao tribunal revolucionário e submetê-los, de agora em diante, às sentenças de não
menos que 10 anos, expropriação de todas propriedades e exilá-los de suas comunidades [obshchina]
para sempre, e, em adição, forçar os destiladores a fazerem trabalho social.

Lenin, Complete Works v. 36, p. 318 (edição russa). Citado no Link [kursach.com/biblio/0010024/103_1] O decreto foi aprovado com mudanças
menores. Dekrety SOvestkoi vlasti Ed. GD. Obichina et al. T.2: 17 marta -10 iulia 1918 g. Moscou: Gospolitizdat, 1959, p. 265.

Decreto do Comitê Executivo Central e do Soviete dos Comissários do Povo, de 7 de agosto de 1932:
(...) Pessoas que infringem propriedade social devem ser consideradas inimigas do povo, em visão
disso, uma luta determinada contra os saqueadores das possessões sociais é o primeiro dever dos
órgãos do poder soviético.

Tragedia Sovestkoi Derevni. Kollektivizatsia I raskulachivanie. Dokumenty I matreialy. 1 27-1939. Tom 3. Konet 1930-1933 Moscou ROSSPEN,
2001. E também na página da Wikisource russa: Link [tinyurl.com/law-of-aug-7-32].

USO DO TERMO POR KHRUSHCHEV:

3. Inimigos do povo conseguiram causar muito dano na área


da atribuição dos quadros. O Soviete Militar estabeleceu
como tarefa principal arrancar completamente os
remanescentes dos elementos hostis através do estudo
cuidadoso de cada comandante e militante político no
momento da promoção, e para promover corajosamente
quadros verificados, devotados e emergentes(...)
Citado por Volkogonov, Stalin Vol. 1, Cap. 7, na nota 608. Para todo o texto e contexto, veja abaixo, sob “Comandantes assassinados”.

Trotskistas, Bukharinistas, nacionalistas burgueses e outros diabólicos inimigos do povo, subornadores


da restauração do capitalismo, fizeram tentativas desesperadas de destruir por dentro a unidade
leninistas das fileiras do Partido – eles quebraram suas cabeças nesta unidade.

Citado por IU. V. Emelianov. Khrushchev. Smutian v Kremle Moscou Veche, 2005, p. 32.

“CONVENCENDO E EDUCANDO”

Khrushchev:
Stalin era caraterizado por um modo completamente diferente de se relacionar com as pessoas. Os
traços de Lenin – trabalho paciente com as pessoas, instruções teimosas e meticulosas, a habilidade de
induzir as pessoas a segui-lo sem uso da coação, mas, ao contrário, através da influência ideológica
sobre eles de todo o coletivo – eram inteiramente estranhos a Stalin. Ele descartou o maneira leninista
de conversar e educar, ele abandonou o método de disputa ideológica e adotou a violência
administrativa, repressões em massa e terror.

Veja abaixo.

ZINOVIEV E KAMENEV

Khrushchev:
Em seu “testamento”, Lenin advertiu que “o episódio de outubro envolvendo Zinoviev e Kamenev não
tinha sido um acidente”. Mas Lenin não colocava a questão de prendê-los e, certamente, nem a de
executá-los.

Stalin para Kaganovich, sobre os testemunhos do “Julgamento dos 16” Zinoviev-Kamenev, agosto de
1936
(...) Segundo. Das confissões de Reingold, está claro que Kamenev, por meio de sua esposa Glebova,
estava sondando o embaixador francês [Harve] Alphand a respeito das possíveis relações do governo
francês com um futuro “governo” do bloco trotskita-zinovievista. Eu penso que Kamenev também
sondou os embaixadores inglês, alemão e estadunidense. Isso quer dizer que Kamenev deve ter
revelado a esses estrangeiros os planos da conspiração e dos assassinatos de líderes do Partido
bolchevique. Isso também quer dizer que Kamenev já tinha revelado a eles esses planos, ou, senão, os
estrangeiros não teriam concordado em discutir com eles sobre o futuro “governo” trotskista-
zinovievista. Essa é a tentativa de Zinoviev e seus amigos de formar um bloco direto com os governos
burgueses contra o governo soviético. Isso explica o segredo dos bem conhecidos obituários pré-
prontos dos correspondentes estadunidenses. Obviamente, Glebova está bem-informada sobre todos
esses materiais sórdidos. Nós devemos trazer Glebova para Moscou e submetê-la a uma série de
interrogatórios meticulosos. Ela talvez revele muitas coisas interessantes.

Stalin i Kaganovich, Perepiska 1931-1936 gg [Corrspondencia Stalin-Kaganovich] (edição russa), No. 763, pp 642-3.

Confissão de D. M. Dimitriev, a respeito deste evento:


Eu lembro dos seguintes casos:

1. O caso de Tatiana KAMENEVA: Ela era a esposa de L. B.


KAMENEV. Nós tínhamos a informação que Tatiana
KAMENEVA, sob instruções de L. E. KAMENEV,
encontrou o embaixador francês em Moscou, ALFAND,
com a proposta de marcar uma reunião com L. B.
KAMENEV, para discussões contrarrevolucionárias a
respeito da ajuda do governo francês para a
clandestinidade trotskista dentro da URSS.
Eu e CHERTOK interrogamos Tatiana KAMENEVA “desviando” da acusação, tornando possível
evitar que ela testemunhasse sobre este fato durante a investigação.
Lubianka 2, Doc. 356, p. 586 “L. E. Kamenev” é um erro tipográfico para L. B. Kamenev. A Kameneva referida aqui é a mesma pessoa que a
Glebova na citação anterior.

TROTSKISTAS

Khrushchev:
Ou, vamos tomar o exemplo dos trotskistas. Atualmente, após um período histórico suficientemente
longo, podemos falar com total calma sobre a luta contra os trotskistas, e podemos analisar este
assunto com objetividade suficiente. Afinal, em torno de Trotsky havia pessoas cuja origem não pode,
de forma alguma, ser rastreada à sociedade burguesa. Uma parte destes pertencia à intelligentsia do
Partido e uma certa parte foi recrutada entre os trabalhadores. Podemos nomear muitos indivíduos que,
em seu tempo, se juntaram aos trotskistas; no entanto, esses mesmos indivíduos participaram
ativamente do movimento operário antes da Revolução, durante a própria Revolução Socialista de
Outubro, e na consolidação da vitória desta maior das revoluções. Muitos deles romperam com o
trotskismo e voltaram às posições leninistas. Era necessário aniquilar essas pessoas?

Stalin sobre os Trotskistas, na Plenária do CC de fevereiro-março 1937, 3 de março:

5. Deve ser explicado, para nossos camaradas de Partido,


que os trotskistas, que representaram os elementos ativos
nos diversionistas, na sabotagem e no trabalho de
espionagem para os serviços de inteligência estrangeiros,
há muito tempo já cessaram de ser uma tendência na
classe trabalhadora, que eles já cessaram de servir
qualquer ideia compatível com os interesses da classe
trabalhadora, eles já se tornaram uma gangue de
sabotadores, diversionistas, espiões, assassinos, sem
princípios e ideais, trabalhando para os serviços de
inteligência estrangeira.
Deve ser explicado que o esforço contra o trotskismo contemporâneo, os métodos antigos, os métodos
de discussão, não devem mais ser usados, mas novos métodos, métodos para esmagá-los e arrancá-los
pela raiz.

J. V. Stalin Mastering Bolshvism. NY: Workers Kibrary Publishers, 1937, pp. 26-7, citado de Link [MB37].

Discurso de conclusão da Plenária de Stalin em 5 de março:


Mas aqui está a questão – como realizar, na prática, a tarefa de esmagar e arrancar os agentes do
Trotskismo germano-japonês. Isso quer dizer que nós devemos atacar e arrancar não apenas os reais
trotskistas, mas também aqueles que vacilaram por algum tempo em direção ao trotskismo; não apenas
aqueles que eram realmente agentes trotskistas por sabotagem, mas também aqueles que uma vez
passaram por uma rua que algum trotskista ou outro havia passado? De qualquer forma, tais vozes
foram ouvidas aqui no plenário. Podemos considerar correta essa interpretação da resolução? Não, não
podemos considerá-la correta.
Nessa questão, como em todas as outras, devemos ter uma abordagem individual e diferenciada. Vocês
não devem medir todo mundo pela mesma régua. Uma abordagem tão abrangente só pode prejudicar a
causa da luta contra os reais sabotadores e espiões trotskistas.
Entre nossos responsáveis camaradas há um certo números de ex-trotskistas, que deixaram o
trotskismo há muito tempo, e agora lutam contra o trotskismo, não de modo pior, mas melhor que
muitos de nossos respeitados camaradas que nunca pensaram em vacilar em direção ao trotskismo.
Seria tolice maldizer tais camaradas agora.
Entre nossos camaradas também há aqueles que sempre se levantaram ideologicamente contra o
trotskismo, mas apesar disso mantiveram contatos pessoais com indivíduos trotskistas, os quais não
tardaram em liquidar assim que a verdadeira face do trotskismo se tornou clara a eles. Isso, claro, não é
uma coisa boa eles não terem rompido, de uma vez, suas conexões amistosas pessoais com tais
indivíduos, mas tardiamente. Mas seria tolo apontar tais camaradas junto com os trotskistas.

Ibid, pp. 43-4.

Lembre-se das palavras do próprio Khrushchev – exatamente o que Stalin defendeu na Plenária de fev-
mar de 1937:
Depois de tudo, ao redor de Trotsky estavam pessoas cuja origem não pode, de maneira nenhuma, ser
traçada à sociedade burguesa. Parte deles pertenciam à intelligentsia do Partido e uma certa parte foi
recrutada de entre os trabalhadores. Nós podemos nomear muitos indivíduos que, em seu tempo,
ingressaram aos trotskistas; entretanto, esses mesmos indivíduos tomaram parte ativa no movimento
dos trabalhadores antes da Revolução, durante a Revolução Socialista de Outubro em si e na
consolidação da vitória dessa a maior das revoluções. Muitos romperam com o trotskismo e retornaram
às posições leninistas.

p. 9; veja acima.

Mais adiante no “Discurso Secreto”, em uma passagem conveniente de ser considerada aqui, Khrushchev
retornou à questão dos Trotskistas na URSS da década de 1930.
Nós devemos relembrar que em 1927, na véspera do 15º Congresso do Partido, apenas 4.000 votos
foram dados para a oposição Trotskista-Zinovievista, enquanto houveram 724.000 pela linha do
Partido. O trotskismo foi completamente desarmado durante os 10 anos que se passaram entre o 15º
Congresso do Partido e a Plenária do Comitê Central de fevereiro-março; muitos ex-trotskistas
mudaram suas antigas posições e trabalharam em vários setores da construção do socialismo. Está
claro que, na situação da vitória socialista, não existem bases para o terro em massa no país.

Stalin, na Plenária do Comitê Central de fevereiro-março de 1937:


Lembrem-se da última discussão sobre trotskismo em nosso Partido, em 1927 (...) De 854.000
membros do Partido, 730.000 membros votaram na época. Entre esses, 724.000 membros do Partido
votaram pelos Bolcheviques, pelo Comitê Central do Partido, contra os trotskistas, e 4.000 membros
do Partido, ou cerca de um e meio por cento, votaram pelos trotskistas, enquanto 2.600 membros do
Partido se abstiveram (...) Adicione a esse fato que muitos desse número ficaram desiludidos com o
trotskismo e o deixaram, e vocês podem conceber a insignificância das forças trotskistas.

J. V. Stalin, Mastering Bolshevism NY: Workers Libray Publishgers, 1937, pp 59-60. No Link [MB37].

Khrushchev talvez tenha copiado essa passagem do próprio discurso de Stalin!

Sudoplatov sobre a culpa dos trotskistas:


Nos interesses da conjuntura política, os ativistas de Trotsky e seus apoiadores no exterior, na década
de 1930, foram ditos como apenas propaganda. Mas não é assim. Os trotskistas também estavam
envolvidos em ações. Fazendo uso do suporte de pessoas com laços com a inteligência militar alemã [a
‘Abwehr’] eles organizaram uma revolta contra o governo republicano de Barcelona em 1937. Dos
círculos trotskistas no serviço especial de inteligência alemã e francesa, chegaram informações
“indicativas” relativas às ações do Partidos Comunistas em apoio à União Soviética. A respeito das
conexões com os líderes da revolta trotskista em Barcelona em 1937 nós fomos informados por
Schulze-Boysen (...) Após sua prisão a Gestapo o acusou de transmitir essa informação para nós, e esse
fato apareceu em sua sentença de morte pelo tribunal hitlerista.
Nosso denotado em Paris, Vasilevsky, indicado em 1940 para o posto de plenipotenciário do Comitê
Executivo da Comintern, nos relatou a respeito de outros exemplos do uso por parte da Abwehr de
laços com os trotskistas para rastrear dirigentes do Partido Comunista da França que estavam se
escondendo em 1941.

Tradução para o inglês de Gen. Sudopladov, The inteligence Service and the Kremilin Moscou 1996, p. 58.

O parágrafo relevante do tribunal militar nazista, comprovando a contenda de Sudopladov:


Anfang 1938, während des Spanienkries, erfährt der Angeklagte dienstlich, daB unter Mitwirkung des
deutschen Geheimdienstes im Gebiet von Barcelona ein Austand gegen die dortige rote Regierung
vorbereitet werde. Diese Nachricht wurde von ihm gemeinsam mit der von Pöllnitz der
sowjeliussischen Botschaft in Paris zugeleitet.

Tradução para o Português:


No início de 1938, durante a Guerra Civil Espanhola, o acusado soube, em suas capacidades oficiais,
que uma rebelião contra o governo vermelho local estava sendo preparada na área de Barcelona com a
ajuda do Serviço Secreto Alemão. Essa informação, junto com a de von Pöllnitz, foram transmitidas
por ele à Embaixada Soviética em Paris.

“Pöllnitz” era Gisella von Pöllnbitz, recém recrutada para o anel de espionagem soviético Antinazista “Orquestra Vermelha” (Rote Kapelle), que
trabalhou para a United Press e que “colocou o relatório pela caixa de correios da embaixada soviética”. Shareen Blair Brysac, Resisting Hitler:
Mildred Harnack and the Red Orchestra. Oxford University Press, 200, p. 237

Haase, N. Das Reichkriegsgericht und der Widerstand gegn nationalsozialistische Herrschaft Berlin, 1993, S. 105. Veja também Grover Furr
“Evidence of Leon Trotsky’s Collaboration with Germany and Japan” Cultural Logic 2009. Em Link [clogic.eserver.org/2009/Furr.pdf].

STALIN NEGLIGENCIOU O PARTIDO


Khrushchev:
Foi uma situação normal quando se passaram mais de 13 anos, durante os quais nosso Partido e nosso
país passaram por tantos eventos importantes, entre os 18º e 19º Congressos do Partido?

“Na plenária do CC de fevereiro (1947) A[andrei] Zhdanov falou sobre a decisão de convocar o 19º
Congresso do VKP(b) ao final de 1947 ou, alternativamente, durante 1948. Além disso, no interesse de
se animar a vida interna do Partido, ele propôs adotar uma ordem simplificada para a convocação de
conferências do Partido, realizando-as todo ano com a renovação compulsória dos membros da
Plenária do CC não menos que um sexto.

Pyzhikov, A. V. “Leningradskaia gruppa: Put vo vlasti (1946-1949)”. Svobodnaia Mysl 3, 2001, p. 96

Khrushchev:
Deve ser suficiente mencionar que durante todos os anos da Guerra Patriótica não ocorreu uma única
Plenária do Comitê Central. É verdade que houve uma tentativa de convocar uma Plenária do Comitê
Central em outubro de 1941, quando os membros de todo o país foram chamados para Moscou. Eles
esperaram por dois dias pela abertura do pleno, mas em vão. Stalin não queria se encontrar nem falar
com os membros do Comitê Central. Este fato mostra como Stalin estava desmoralizado nos primeiros
meses da guerra e como ele tratava os membros do Comitê Central.

Nota de Boris Nikolaevsky à edição original New Leader do Discurso Secreto.


Se alguém confiar nas fontes oficiais soviéticas, essa declaração de Khrushchev não poderia ser
verdade: de acordo com a coleção, The Communist Party of Soviet Union in the Resolutions and
Decisions of Congress, Conferences and Central Committee Plenums (publicado pelo instituto Marx-
Engels-Lenin-Stalin do Comitê Central do Partido, em 1954), uma plenária do Comitê Central foi
realizada durante a guerra (27 de janeiro de 1944), quando foi decidido dar às várias Repúblicas da
União o direito de ter seus próprios ministros do exterior e também foi decidido substituir a
Internacional pelo novo Hino Nacional Soviético.

Nikolaevsky continua e adiciona: “Mas é provável que Khrushchev esteja correto, que não houve
plenária do Comitê Central em 1944 e uma fraude foi perpetrada, a plenária foi anunciada como ocorrida embora
nunca tenha”. (nota 10)

Mas Nikolaevsky estava errado. Foi Khrushchev, não Stalin, que “perpetrou uma fraude”.

Edição russa de 1989 do Discurso de Khrushchev, nota 8:


Por um decreto do Politburo do CC do VKP(b) de 2 de outubro de 1941, foi dada a notícia da
convocação de uma Plenária do CC do VKP(b) em 10 de outubro de 1941, com a pauta: “1. A situação
militar do país. 2. Trabalho do Partido e do Estado para a defesa do país”. Por um decreto do Politburo
do CC do VKP(b) de 9 de outubro de 1941, a convocação dessa Plenária foi retirada “em vista do
recém declarado estado de emergência nas frontes e na inconveniência de se convocar dos fronts os
camaradas dirigentes”. Durante os anos de guerra houve apenas uma Plenária do CC, que se realizou
em 27 de janeiro de 1944.

As decisões da Plenária do CC de janeiro de 1944 são descritas em um livro-texto soviético de 1985. Veja
P. N. Bobylev et al., Velikaia Otechestvennaia Voina Voprosy i Otvety Moscou: Politzdat, 1985, no Link
[voyna0833]

REFERÊNCIA A “UMA COMISSÃO SOBRE O CONTROLE DO PRESIDIUM DO COMITÊ


CENTRAL”; A FABRICAÇÃO DE MATERIAIS DURANTE AS REPRESSÕES

Khrushchev:
A comissão se familiarizou com uma grande quantidade de materiais presentes nos arquivos do NKVD
e com outros documentos e, assim, estabeleceu muitos fatos relativos à fabricação de casos contra
comunistas, falsas acusações, abusos gritantes da legalidade socialista, os quais resultaram na morte de
pessoas inocentes. Tornou-se evidente que muitos militantes do Partido, da economia e dos Sovietes,
taxados como “inimigos” em 1937-1938, na verdade, nunca foram inimigos, espiões, sabotadores etc.,
mas sempre foram comunistas honestos; eles eram apenas tão estigmatizados e, muitas vezes, não mais
capazes de suportar torturas bárbaras, que se acusaram (por ordem dos juízes investigativos –
falsificadores) por todos os tipos de crimes graves e improváveis.
[...]
Foi determinado que dos 139 membros e candidatos do Comitê Central do Partido, eleitos no 17º
Congresso, 98 pessoas, ou seja, 70%, foram presas e fuziladas (principalmente em 1937-1938).
(Indignação no salão)... O mesmo destino reuniu não apenas os membros do Comitê Central, mas
também a maioria dos delegados ao 17º Congresso do Partido. De 1.966 delegados com direito a voto
ou voz, 1.108 pessoas foram presas sob acusação de crimes antirrevolucionários, ou seja,
decididamente mais do que a maioria.

Veja sobre isso em Yezhov na p. .

Khrushchev:
Na noite de 1º de dezembro de 1934, por iniciativa de Stalin (sem a aprovação do Gabinete Político –
que foi dada dois dias depois, casualmente)...

A edição crítica de 1989 do texto russo do Discurso de Khrushchev (ed. Ayermakher, K., ed. Doklad N.
S. Khrushcheva o Kuilte Lichnosti Stalina na XX sezde KPSSS. Dokumenty Moscou: ROSSSPEN 2002) declara em
n. 11:
Isso diz respeito ao decreto de primeiro de dezembro de 1934 do Comitê Central Executivo da União
Soviética, “Sobre o método correto de lidar com casos relativos à preparação ou cometimento de atos
terroristas”, que foi mais tarde chamada de “a Lei de primeiro de dezembro de 1934” e foi mantida até
1956. O decreto em questão não foi introduzido através da ratificação por uma sessão do Comitê
Central Executivo da URSS, como demandava a Constituição Soviética.

Reprodução da cópia original dos documentos Volkogov no Link [12_01_34_law.pdf].

Khrushchev:
Deve-se afirmar que até hoje as circunstâncias em torno do assassinato de Kirov escondem muitas
coisas que são inexplicáveis e misteriosas e exigem um exame mais cuidadoso. Há razões para
suspeitar que o assassino de Kirov, Nikolaev, foi assistido por alguém dentre as pessoas cujo dever era
justamente proteger Kirov. Um mês e meio antes do assassinato, Nikolaev foi preso por conta de
comportamento suspeito, mas ele foi solto e nem sequer revistado. É uma circunstância
extraordinariamente suspeita a morte do chequista designado para proteger Kirov, enquanto estava
sendo trazido para um interrogatório, no dia 2 de dezembro de 1934, ele morreu em um “acidente” de
carro, no qual nenhum outro ocupante do veículo se feriu. Após o assassinato de Kirov, os principais
funcionários do NKVD de Leningrado receberam sentenças muito leves, mas em 1937 foram
fuzilados. Podemos assumir que foram fuzilados para cobrir os rastros dos organizadores da morte de
Kirov.

Sudoplatov:
Não existe nenhum documento ou evidência que suportam a teoria da participação de Stalin ou do
aparato do NKVD no assassinato de Kirov (...) Kirov não era uma alternativa a Stalin. Ele era um dos
mais convictos stalinistas. A versão de Khrushchev foi posteriormente aprovada e usada por
Gorbachev como parte de sua campanha antistalin.

Razveda i Kreml Moscou, 1996, pp. 60-61.

Alla Kirilina:
(...) Hoje, sob as condições do “tudo é permitido” e os então chamados artigos de pluralismo, aparecem
aqueles autores que não se preocupam com a procura por documentos e não são sobrecarregados pelo
esforço de chegar a um entendimento objetivo do que aconteceu em primeiro de dezembro de 1934.
Seus objetivos principais são declarar, mais uma vez, que “Stalin matou Kirov”, embora eles não terem
evidências nem primárias, nem secundárias, para essa declaração, mas, ao invés, fazem amplo uso de
mitos, lendas e rumores.

Neizvestniy Kirov Moscou, 2001, p. 304. Na p. 335 desse trabalho Kirilia revela que Trotsky foi a origem dos rumores de que Stalin teria matado
Kirov. Isso implica Khrushchev e Pospelov copiando o discurso de Trotsky.

Arch Getty:
Sobre Kirov, e sem uma ordem particular:

1. Através dos anos, houve três, e talvez quatro,


investigações “de alto nível [blue ribbon]” sobre a morte
de Kirov. Cada uma foi comissionada pelo Secretário
Geral do Politburo e cada uma, à verdadeira moda
soviética, se iniciou com uma conclusão já formulada.
Stalin queria fixar na conta de Zinoviev e Trotsky;
Khrushchev e Gorbachev queriam fixar na conta de Stalin
e todos eles escolheram a dedo seus investigadores de
acordo com seus objetivos. Tendo sido capaz de me
familiarizar com os materiais de arquivo para esses
esforços, está claro que nenhuma das três investigações
produziram as conclusões desejadas. Em particular, os
esforços da era Khrushchev e Gorbachev envolveram uma
combinação massiva de arquivos e entrevistas e falharam
em concluir que Stalin estava por trás do assassinato. Os
esforços de Stalin concluíram, é claro, que a oposição fez
aquilo e foi a base para os julgamentos de Moscou. Mas,
além das incríveis confissões do acusado, não havia
nenhuma evidência para apoiar esta conclusão tomada a
priori.
Na lista de discussão russa H-RUSSIA, 24 de agosto de 2000. Veja: Link [tinyurl.com/hjput].

Khrushchev:
As repressões em massa cresceram tremendamente a partir do final de 1936 após um telegrama de
Stalin e [Andrei] Zhdanov, de Sochi datado em 25 de setembro de 1936, ter sido enviado a
Kaganovich, Molotov e outros membros do Politburo. O conteúdo do telegrama foi o seguinte:

Consideramos absolutamente necessário e urgente que o camarada Yezhov seja nomeado


para o cargo de Comissário do Povo para Assuntos Internos. Iagoda provou ser incapaz de
desmascarar o bloco Trotskista-Zinovievista. A OGPU está quatro anos atrasada neste
assunto. Isso é percebido por todos os militantes do partido e pela maioria dos
representantes do NKVD.

Esta formulação stalinista, de que o “NKVD está quatro anos atrasado” na aplicação da repressão em
massa e que há necessidade de “recuperar” o trabalho negligenciado diretamente, empurrou os agentes
do NKVD para o caminho das prisões em massa e execuções.

Aqui está o texto completo do telegrama, do qual Khrushchev leu apenas um pequeno fragmento no
“Discurso Secreto”.
CC do VKP(b). Moscou.
Aos camaradas Kaganovich, Molotov, e outros membros do Politburo.
Primeiro. Nós consideramos absolutamente essencial e urgente que o cam. Yezhov seja apontado para
o posto de Comissário do Povo para Assuntos Internos. Yagoda claramente não se mostrou à altura de
sua posição na questão de expor o bloco Trotskista-zinovievista. A OGPU estava quatro anos atrasada
nessa questão. Todos os militantes do Partido e a maioria dos representantes de oblast do NKVD
dizem isso. Agranov pode permanecer como deputado de Yezhov no NKVD.
Segundo. Nós consideramos essencial e urgente que Rykov seja removido do posto de Comissário do
Povo para Comunicações e Yagoda seja apontado para o posto de Comissário do Povo para
Comunicações. Nós acreditamos que essa questão não requer explicação, uma vez que está claro como
está.
Terceiro. Nós consideramos absolutamente urgente que Lobov seja removido e o cam. Ivanov,
secretário do Comitê da região Norte, seja apontado para o posto de Comissário do Povo para Indústria
Madeireira. Ivanov conhece a silvicultura, ele é um homem eficiente. Lobov como Comissário do
Povo não está à altura do trabalho e todo ano falha nele. Nós propomos deixar Lobov como primeiro
assistente de Ivanov como Comissário do Povo para a Indústria Madeireira.
Quarto. A respeito à CCP (Comissão de Controle do Partido), Yezhov pode continuar como presidente
do CCP ao mesmo tempo que dedica nove décimos do seu tempo para o NKVD, e Yakovlev pode ser
promovido para primeiro assistente de Yezhov na CCP.
Quinto. Yezhov está em concordância com essas propostas.
Stalin, Zhdanov.
No. 44. 25/IX.36

Stalin i Kaganovich. Perepiska 1931-1936 gg. Moscou: ROSSPEN, 2001, No. 827, pp. 682-3. Também no Link
[hrono.ru/dokum/193_dok/19360925stal] e Link [alexanderyakovlev.org/almanah/inside/almanah-doc/56532].
Uma tradução levemente diferente está na edição em inglês do livro: Stalin-Kaganovich Correspondence. Ed. R. W. Davies, Oleg V. Khlevniuk, e E.
A. Ress. New Haven, CT: Yale University Press, 2003, pp. 359-60.
Thurston:
Ao que os quatro anos se referiam? Escritores ocidentais geralmente respondem que a frase significava
o Riutin Memorandum. Mas em dezembro de 1936, Yezhov mencionou, mais uma vez, em um
discurso à Plenária do Comitê Central, “a formação, ao final de 1932, de um bloco zinovievista-
trotskista nas bases do terror”.

n. 83, p. 244. A essa passagem cita-se um documento de arquivo. A


transcrição parcial da Plenária do CC de dezembro de 1936 em VI
1/95, pp. 5-6 menciona aqueles mesmos pontos, mas sem a palavra
“bloco” e sem a citação direta, p. 35.

Jansen & Petrov:


Os “quatro anos” se referiam à formação, em 1932, de um bloco trotskista-zinovievista, que foi
descoberto não antes de junho-julho de 1936...

p. 54.

Khrushchev:
O discurso de Stalin na Plenária do Comitê Central de Fevereiro-Março de 1937, “Deficiências do
trabalho partidário e métodos para a liquidação dos trotskistas e de outros ‘duas faces’”, possuía uma
tentativa de justificar teórica e politicamente o terror em massa sob o pretexto de que a luta de classes
supostamente dever-se-ia aguçar à medida que avançávamos em direção ao socialismo. Stalin afirmou
que tanto a história quanto Lenin lhe ensinaram isso.

Lenin dizendo algo parecido ao que Stalin disse:


A aniquilação das classes é uma questão de longa, dura e obstinada luta de classes, que depois de
derrubar o poder do capital, depois de esmagar o Estado burguês, depois de estabelecer a ditadura do
proletariado, não desaparece (como imaginam os filisteus do velho socialismo e da velha social-
democracia), mas muda sua forma, se torna, em muitos aspectos, ainda mais feroz.

Lenin, V. I. “Privet vergerskim rabochin. 27 mia 1919 g” Complete Works (Russo: Polnoe Sobranie Sochinenii, v. 38, o. 387. Stalin citou essa
passagem em seu discurso de abril de 1929 “Sobre os desvios de direita no Partido Bolchevique”. No Link [hrono.info/libris/stalin/12-9.php].

Na Plenária do CC do VKP(b) de fevereiro-março de 1937, Stalin fez o relatório com o título citado por
Khrushchev. Mas não há nada no relatório alegando que a luta de classe deve-se aguçar “conforme marchamos em
frente em direção ao socialismo”.

Relativo a essa distorção feita por Khrushchev em seu relatório secreto, Richard Kosolapov escreve:
Na realidade a tese supracitada, infindavelmente repetida como “Stalinista”, não está nem no relatório
de Stalin nem no seu discurso de conclusão. É verdade que Stalin apontou a necessidade de “destruir e
deixar de lado a teoria podre de que, com cada avanço que fazemos, a luta de classes necessariamente
morreria mais e mais, e que, na proporção que alcancemos sucesso, os inimigos de classe se tornarão
mais e mais dóceis”. Stalin também enfatizou que “enquanto uma ponta da luta de classes tem suas
operações dentro das fronteiras da URSS, suas outras partes se espalham pelas fronteiras dos estados
burgueses que nos rodeiam”. Mas ele nunca estabeleceu nenhuma “teoria de aguçamento” na segunda
metade da década de 1930, isso foi quando, na URSS, a predominância absoluta das formas socialista
da economia tinha sido garantida e a Constituição do vitorioso socialismo tinha sido aprovada”...

R. K. Kosolapov, “Uverenno torit tropy v budushchee. Doklad O reshniiakh XX i XXII sedov KPSS po voprosu ‘O kulte lichnosti i ego
posledstviakhj’” (2003). No Link [web.archive.org/web/20120130203757/cea.ru/~shenin/news/news20].

Ponto 7 no relatório de Stalin de 3 de março de 1937, e publicado no Pravda em 29 de março de 1937.

7. Nós devemos destruir e deixar de lado a teoria podre de


que, com cada avanço que fazemos, a luta de classes
necessariamente morreria mais e mais, e que, na
proporção que alcancemos sucesso, os inimigos de classe
se tornarão mais e mais dóceis.
Isso não é apenas uma teoria podre, mas perigosa por acalmar as pessoas, dirigi-las para uma
armadilha e tornar possível que os inimigos de classes se reagrupem para um embate contra o governo
soviético.
Ao contrário, o quão adiante nós avançamos, maior o sucesso que nós alcançamos, maior será a fúria
dos remanescentes da quebrada classe dos exploradores, o quão cedo recorrerão ao aguçamento do
embate, mas eles irão tentar prejudicar o Estado soviético e mais irão agarrar-se nos meios mais
desesperados de luta, como a última saída de pessoas condenadas.
Deve se ter em mente que os remanescentes das classes destruída, na URSS, não estão sozinhos. Eles
têm o apoio direto dos nossos inimigos além das fronteiras da URSS. Seria um erro pensar que a esfera
da luta de classes está limitada à URSS. Enquanto uma ponta da luta de classes tem suas operações
dentro das fronteiras da URSS, suas outras partes se espalham pelas fronteiras dos estados burgueses
que nos rodeiam. Os remanescentes das classes quebradas não podem deixar de estar cientes disso. E
precisamente porque estão, eles irão continuar seus assaltos desesperados no futuro.
Isso é o que a História nos ensina. Isso é o que o leninismo nos ensina.
Nós devemos nos lembrar de tudo isso e estar em guarda.

Joseph Stalin, Mastering Bolshevism NY: Workers Library Pubs, 1937, pp.1-40. Link [MB37].

A proposta de educação política feita por Stalin para cada alto oficial do Partido escolher um substituto
para si próprio:
A tarefa é elevar o nível ideológico e vigor político daqueles quadros dirigentes e introduzir entre eles
novas forças aguardando promoção e, então, expandir as fileiras de nossas forças dirigentes.
O que isso requer?
Primeiro e mais importante, nós devemos fazer a proposta para nossos dirigentes do Partido,
começando com os secretários das unidades do Partido até os secretários das organizações regionais e
dos Partidos das repúblicas, selecionar, durante um período definido, dois indivíduos, dois funcionários
do Partido, cada um capaz de atuar como seus vices efetivos.
A questão talvez seja feita: onde vamos conseguir dois vices para cada um, se nós não temos tais
pessoas, nenhum militante que corresponda a esses requisitos? Isso é incorreto, camaradas. Nós temos
dezenas de milhares de pessoas capazes e talentosas. Só é preciso conhecê-las e promovê-las a tempo
para que não permaneçam por muito tempo nos postos antigos e comecem a apodrecer. Procurem e
vocês encontrarão.
Mais além, cursos do Partido de quatro meses devem ser estabelecidos em cada centro regional para
dar treinamento aos secretários das unidades do Partido e reequipá-los. Os secretários de todas as
organizações (unidades) primárias do Partido devem ser enviados para esses cursos e, então, quando
eles finalizarem e retornarem para casa, seus vices e membros mais capazes das organizações
primárias do Partido devem ser enviados a esses cursos.
Mais além, para reequipar politicamente os primeiros secretários das organizações dos distritos, cursos
de Leninismo de oito meses devem ser estabelecidos na URSS, em, digamos, dez dos mais importantes
centros.
Os primeiros secretários das organizações regionais e distritais do Partido devem ser enviados para
esses cursos, e então, quando, eles terminarem e retornarem para casa, seus vices e os membros mais
capazes das organizações distritais e regionais serão enviados para lá.
Mais além, cursos de seis meses para o estudo da história e política do Partido, sob o Comitê Central
do Partido Comunista da União Soviética, devem ser estabelecidos para alcançar o reequipamento
ideológico e melhoramento político dos secretários das organizações do Partido das cidades. Os
primeiro e segundo secretários das organizações do Partido das cidades devem ser enviados a esses
cursos e, então, quando eles finalizarem e retornarem para casa os mais capazes membros das
organizações de cidade do Partido devem ser enviados para lá.
Finalmente, deve ser estabelecida uma conferência de seis meses sobre as questões de política interna e
internacional, sob o Comitê Central do PCUS.
Os primeiros secretários das organizações divisionais e provinciais e o Comitês Centrais dos Partidos
Comunistas nacionais devem ser enviados para lá. Aqueles camaradas devem prover não um, mas uma
série de pessoas realmente capazes de substituírem as diligências do Comitê Central de nosso Partido.
Isso precisa e deve ser implementado.

Joseph Stalin, Mastering Bolshevism NY: Workers Library Pubs, 1937, pp.36-38. Link [MB37].

Stalin também fez outro discurso na Plenária do CC de fevereiro-março. Foi o discurso de conclusão, em
5 de março.
Mas aqui está a questão: como realizar na prática a tarefa de esmagar e arrancar os agentes germano-
japoneses do Trotskismo. Isso significa que nós devemos atacar e arrancar não apenas os reais
trotskistas, mas também aqueles que vacilaram por algum tempo em direção ao trotskismo; não apenas
aqueles que eram realmente agentes trotskistas por sabotagem, mas também aqueles que uma vez
passaram por uma rua que algum trotskista ou outro havia passado? De qualquer forma, essa voz foi
ouvida aqui no plenário. Podemos considerar correta essa interpretação da resolução? Não, não
podemos considerá-lo correto.
Nessa questão, como em todas as outras, devem ter uma abordagem individual e diferenciada.
Vocês não devem medir todo mundo pela mesma régua. Uma abordagem tão abrangente só pode
prejudicar a causa da luta contra os reais sabotadores e espiões trotskistas.
Entre nossos responsáveis camaradas há um certo números de ex-trotskistas que deixaram o trotskismo
há muito tempo, e agora lutam contra o trotskismo não pior, mas melhor que muitos de nossos
respeitados camaradas que nunca pensaram em vacilar em direção ao trotskismo. Seria tolice vilanizar
tais camaradas agora.
Entre nossos camaradas também há aqueles que sempre se levantaram ideologicamente contra o
trotskismo, mas apesar disso mantiveram contatos pessoais com indivíduos trotskistas, que eles não
tardaram em liquidar assim que a verdadeira face do trotskismo se tornou clara para eles. Isso, claro,
não é uma coisa boa, que eles não romperam suas amizades pessoais com indivíduos de uma vez, mas
tardiamente. Mas seria tolo apontar tais camaradas junto com os trotskistas.

Mais adiante, no mesmo relatório, Stalin faz o mesmo ponto novamente, argumentando explicitamente
contra uma aproximação em massa (pp. 58-9):

7. Finalmente, ainda outra questão. Eu tenho em vista a


questão da atitude burocrática e sem coração de alguns de
nossos camaradas de Partido para com o destino de
membros individuais do Partido, para com a questão de
expulsar membros do Partido ou sobre a questão de
restauração do direito a filiação ao Partido daqueles que
foram expulsos.
O fato é que alguns dos nossos dirigentes do Partido sofrem da falta de atenção ao povo, aos membros
do Partido, aos trabalhadores. Além disso, eles não estudam os membros do Partido, não sabem o que
está próximo de seus corações e como eles estão crescendo, não conhecem os militantes de um modo
geral. Ele tem, portanto, uma aproximação não individual aos membros do Partido, aos militantes do
Partido. E justamente porque eles não têm uma aproximação individual quando avaliam os membros
do Partido e os militantes do partido, eles usualmente agem randomicamente, ou elogiando-os
indiscriminadamente, sem medida, ou esmagando-os, também indiscriminadamente, e sem medida,
expulsando milhares e dezenas de milhares do Partido.
Tais diligências, em geral, pensam em dezenas de milhares, não se preocupam com as “unidades”, com
os membros individuais do Partido, conformam-se com fato que nosso partido possuí 2.000.000 em
força, e que dezenas de milhares de pessoas expulsas não mudam nada na posição de nosso Partido.
Mas, apenas pessoas que, em essência, são profundamente anti-Partido podem ter essas aproximações
para com os membros do Partido.

Joseph Stalin, Mastering Bolshevism NY: Workers Library Pubs, 1937, pp.40-63. No Link [MB37]. Note que a data nessa edição está errada, 3 de
março, não 5 de março, mas está corretamente nomeada como “Concluding Speech”.
Relatório de Stalin da comissão de investigação de Bukharin e Rykov, 27 de fevereiro de 1937 (Veja Getty & Naumov, 409-11; Texto russo em
Voprosy Istori 1/94, 12-13).

Getty e Naumov sobre esse discurso:


Era um pouco incomum, para o próprio Stalin, fazer esse tipo de discurso; essa é a primeira e única vez
na história do Partido que ele o fez. Esse texto era verdadeiramente um transcrito escondido; nunca foi
publicado com nenhuma das versões do relatório estenográfico e nunca foi transferido para os arquivos
do Partido com outros materiais da plenária(...) O transcrito dessa decisão ambígua e contraditória
sobre Bukharin nunca encontrou seu caminho para o relatório estenográfico pesadamente editado e de
circulação limitada, o qual mostra a Plenária começando a partir de 27 de fevereiro – quatro dias
depois de realmente ter começado” (411)

Em seu estudo pioneiro de fontes de arquivo, o historiador Yuri Zhukov cita a resolução não publicada da
Plenária do CC de fevereiro-março de 1937 e comenta sobre.
Tão longe de uma “caça às bruxas” como estavam as palavras finais de Stalin, estava também a
resolução baseada no relatório de Stalin. Os participantes da Plenária votaram a favor disso
unanimemente e sem nenhum comentário, como tinha-se tornado comum nos anos anteriores. As
palavras “atividades de traição e espionagem-sabotagem de fascistas trotskistas” foram mencionadas
apenas uma vez e apenas no preâmbulo. Elas serviram apenas de pretexto para a apresentação de
graves deficiências no trabalho das organizações do Partido e de seus dirigentes. A resolução
especificava o seguinte:

1. As organizações do Partido foram levadas pela atividade econômica e recuaram na atividade de


liderança político-partidária, “subordinaram-se a si próprias e apagaram os órgãos locais do
Comissariado do Povo para a Agricultura, substituindo-os por eles mesmo, e se transformaram
em chefes econômicos estreitos”.

2. “Nossos dirigentes do Partido se afastaram do trabalho político-partidário e se aproximaram de


campanhas econômicas e, especialmente, agrícolas, desse modo, transferindo gradualmente a
base principal de seu trabalho da cidade para o oblast. Eles começaram a olhar para as cidades
com sua classe trabalhadora, não como sua força de liderança política e cultural do oblast, mas
como um dos vários setores do oblast”.

3. “Nossos dirigentes do Partido começaram a perder o tato para o trabalho ideológico, para o
trabalho na educação político-partidária das massas partidárias e não partidárias”.

4. “Eles também começam a perder o tato para crítica às nossas deficiências e a autocrítica dos
dirigentes do Partido (...)”.

5. “Eles também começaram a recuar na responsabilidade direta com as massas dos membros do
Partido (...) assumiram a responsabilidade de substituir a eleição pela cooptação (...) deste modo
temos um centralismo burocrático como resultado”.

6. No trabalho dos quadros, no qual a resolução também se foca, “é necessário lidar com os
militantes não de uma maneira formal e burocrática, mas de acordo com a real situação, isto é,
em primeiro lugar, do ponto de vista político (se eles são politicamente confiáveis) e, em
segundo lugar, do ponto de vista de suas tarefas(se eles estão adequados para as tarefas as quais
foram designados.

7. Dirigentes das organizações do Partido “sofrem de falta de atenção necessária às pessoas, aos
membros do Partido, aos trabalhadores (...) Como resultado dessa relação desalmada com as
pessoas, são criadas artificialmente insatisfação e hostilidade entre membros e militantes do
Partido, em uma parte da organização”.

8. Finalmente, a resolução menciona que, apesar de sua falta de instrução, os dirigentes do Partido
não desejam aumentar seu nível educacional, estudar e recapacitar-se. > > Naturalmente, a
resolução ecoa com a demanda pela remoção imediata das reais deficiências no trabalho do
Partido. Dos pontos um ao oito destaca-se, condenar a prática da usurpação e apagamento dos
órgãos locais; para retornar imediata e exclusivamente para o trabalho político-partidário e
transferir tudo acima para a cidade; dar mais atenção à imprensa. Dos pontos nove a quatorze
destaca-se, rejeitar decisivamente “a prática de tornar as Plenárias dos Comitês de oblast,
Comitês regionais, conferências do Partido, atividade da cidade etc. em meios para desfiles e
manifestações e de elogios vociferantes aos dirigentes do Partido”; restaurar a prestação de
contas dos órgãos do Partido às Plenárias, parar a prática de cooptação nas organizações do
Partido. Nos pontos quinze a dezoito uma nova aproximação fundamental ao trabalho dos
quadros é discutida, e nos pontos dezenove até vinte e cinco, as instruções e capacitação dos
dirigentes do Partido. > >>>Yuri Zhukov, Inoi Stalin. Politicheskie reformy v SSSR v 1933-1937
gg. Moscou Vagrius, 2003, pp. 360-363 e notas na p. 506, referentes aos arquivos em RGASPI
F.17 Op. 2 D. 612 Vyp. III L. 49 ob.-50.

Khrushchev:
Na Plenária do Comitê Central de Fevereiro-Março de 1937, muitos membros questionaram a retidão
do rumo estabelecido para as repressões em massa sob o pretexto de combater os “duas faces”.
Camarada Postyshev expressou mais habilmente essas dúvidas. Ele disse:

Filosofei que os severos anos de luta passaram. Membros do partido que perderam suas
forças ou se esgotaram ou se juntaram ao campo do inimigo; elementos saudáveis têm
lutado pelo partido. Aqueles foram os anos de industrialização e coletivização. Eu nunca
pensei que fosse possível que, após a passagem desse período severo, Karpov e pessoas
como ele se encontrariam no campo do inimigo. (Karpov era um militante do Comitê
Central ucraniano e que Postyshev conhecia bem.) E agora, de acordo com o testemunho,
parece que ele foi recrutado pelos trotskistas em 1934. Eu pessoalmente não acredito que
em 1934 um membro honesto do Partido, que havia trilhado o longo caminho da luta
implacável contra os inimigos partidários e pelo socialismo, estaria agora no campo dos
inimigos. Eu não acredito nisso... Não posso imaginar como seria possível viajar com o
Partido durante os anos difíceis e depois, em 1934, juntar-se aos trotskistas. É uma coisa
estranha...

Khrushchev séria e deliberadamente distorce o que Postyshev realmente disse em seu discurso para a
Plenária do CC de fevereiro-março. O texto dos comentários de Postyshev agora está publicado em Vosprosy
Istorii Ns 5-6, 1995, pp. 3-8. Esta parte está na página 4:
Agora eu vou refletir sobre meus erros no Comitê do Partido do oblast de Kiev. Como é que não notei
pessoalmente as pessoas que se sentaram muito perto de mim, por que não pude notá-los, já que
trabalhei com eles por um período bastante longo?
(...) Aqui está Karpov. Confiei muito nele. Karpov estava no trabalho partidário continuamente por dez
anos. Levei-o comigo para a Ucrânia porque ele era um velho militante ucraniano, falava ucraniano,
conhecia a Ucrânia, tinha vivido a vida toda na Ucrânia e nascido na Ucrânia. E não apenas eu, mas
muitos camaradas, sabíamos que ele era uma pessoa decente.
O que me desviou? Em 1923-24, Karpov lutou contra os trotskistas em frente aos meus olhos. Ele
também os enfrentou em Kiev. (...) Eu filosofei sobre essa questão: os anos de luta severa tinham
passado, nos quais houve desenvolvimentos tais que as pessoas ou sucumbiram ou permaneceram
firmes em seus pés ou se juntaram ao campo do inimigo – os anos de industrialização e
coletivização, houve uma luta feroz entre o Partido e os inimigos neste período. Eu nunca imaginei
que após essa era severa ter passado alguém iria, então, para o campo do inimigo. E agora parece que,
a partir de 1934, ele caiu nas mãos dos inimigos e tinha se tornado um deles. Claro que alguém pode
acreditar ou não nisso. Eu pessoalmente penso que seria terrivelmente difícil que, após todos esses
anos, uma pessoa que percorreu a longa estrada da luta implacável contra os inimigos do Partido
e pelo socialismo estaria, agora, no campo dos inimigos. É muito difícil acreditar nisso. (Molotov:
é difícil acreditar que ele só tenha se tornado um inimigo em 1934? Mais provavelmente ele se tornou
um inimigo ainda mais cedo.) Claro, mais cedo. Eu não posso imaginar como poderia ser possível
percorrer com o Partido durante os anos de dificuldade e então, em 1934, juntar-se aos
trotskistas. É uma coisa estranha. Havia algum tipo de verme dentro dele esse tempo todo. Quando o
verme apareceu – se em 1936 ou 1934, ou 1930, é difícil dizer, mas obviamente havia algum tipo de
verme lá, algo que fez algum tipo de trabalho nele, de modo que finalmente caiu no meio da manada
de inimigos.

As palavras citadas por Khrushchev no seu “Discurso Secreto” estão em negrito. O texto completo do discurso de Postyshev do texto de Voprosy
Istorii No. 5, 1995, está no Link [postyshevspmar0437.pdf].
O discurso severo de Khrushchev está em VI N. 8 1995, pp19-25. Está disponível no Link [Khrushchevspmar0537.pdf].

Postyshev foi o mais severo nas expulsões em massa e foi expulso por causa disso na Plenária do CC de
janeiro de 1938. Getty & Naumov discutem por extenso nas páginas 498-512. Getty cita extensivamente como
Postyshev foi repreendido severamente nesta Plenária por repressão excessiva.

Análise de Zhukov:
Na Plenária de janeiro de 1938 o discurso principal foi feito por Malenkov. Ele disse que os primeiros
secretários não estavam nem emitindo as listas de condenados pelas “troikas”, mas apenas duas linhas
com uma indicação dos números daqueles que foram condenados. Ele abertamente acusou o Primeiro
Secretário do Partido do obkom de Kuibyshev, P. P. Postysehv: “você aprisionou todo o aparato do
Partido e Soviete do oblast!” Ao qual Postyshev respondeu, no mesmo estilo: “Eu prendi, eu prendo, e
eu vou prender até aniquilar todos os inimigos e espiões!” Mas ele estava perigosamente sozinho: duas
horas depois dessa polêmica ele foi demonstrativamente dispensado de seu posto de candidato a
membro do Politburo e nenhum dos membros da Plenária levantou-se para defendê-lo.

Komsomolskaya Pravda 19 de nov. de 2002.

O documento confirmando a expulsão e prisão de Postyshev está impresso em Getty & Naumov, pp 514-
6. Khrushchev foi um daqueles que falou fortemente contra Postyshev (G&N 512). Para o apontamento de
Khrushchev em se substituir Postyshev como um candidato a membro do Politburo veja Stalinskoe Politiniuro
p. 167

Excerto de Rogovin, da Plenária do CC de janeiro de 1938, sobre Postyshev:


Sobre o caráter do discurso de Postyshev, qual foi de fato convertido em seu interrogatório, o seguinte
fragmento do transcrito dará uma ideia:

Postyshev: Os dirigentes de lá (o oblast de Kuybyshev), tanto do Soviete como do Partido,


eram inimigos, começando pela direção do oblast e terminando com as dos raions

Mikoyan: Todo mundo?


Postyshev: Como você pode estar surpreso? (...) Eu fiz as contas e vem à tona que os
inimigos estiveram por aqui por 12 anos. No que tange ao Soviete, a mesma direção
inimiga estava presente. Lá eles estavam e selecionaram seus quadros. Por exemplo, em
nosso Comitê executivo do oblast tínhamos os mais obstinados inimigos desde os
operários técnicos, inimigos que confessavam sua atividade de sabotagem e
comportavam-se com insolência, a começar pelo presidente do Comitê executivo oblast,
com seu assistente, consultores, secretários – todos eram inimigos. Absolutamente todas
as seções do Comitê executivo do oblast estavam assoladas com inimigos. (...) Agora,
tome os presidentes dos Comitês executivos dos raions – todos eram inimigos. Sessenta
presidentes dos raiipolkoms – todos inimigos. A maioria esmagadora dos segundos
secretários – não estou nem falando dos primeiros secretários – eram inimigos, e não
apenas inimigos, mas havia também muitos espiões entre eles: poloneses, letões, eles
selecionavam todo tipo de suíno obstinado [died-in-the-wool](...)

Bulganin: Havia pelo menos algumas pessoas honestas lá (...) Se mostrou que não havia
uma única pessoa honesta.

Postyshev: Eu estou falando sobre a direção, as cabeças. Do corpo dirigente, dos


secretários dos Comitês de raion, os presidentes dos raiispolkom, não havia quase nenhum
homem honesto. E como você pode estar surpreso?

Molotov: Você não está exagerando, Camarada Postyshev?

Postyshev: Não, eu não estou exagerando. Aqui, tome o Comitê executivo do oblast.
Pessoas estão na prisão. Nós temos materiais investigativos e eles confessaram, eles
próprios confessaram seu trabalho inimigo e de espionagem.

Molotov: Nós devemos verificar esses materiais.

Mikoyan: Acontece que há inimigos abaixo, em cada Comitê de raion.

Beria: É possível que todos os membros das plenárias dos Comitês de raion fossem
inimigos?

Kaganovich: Não há base para dizer que todos eram vigaristas.

Stalin avaliou os métodos de Postyshev da seguinte forma: “Isso é um massacre da organização. Eles
são bem leves consigo mesmos, mas eles fuzilam todo mundo nas organizações de raion. (...) isso
significa incitar as massas partidárias contra o CC, não pode ser entendido de outra forma”.

Rogvin, Pariia rastreliannykh Cap. 2, Seção III: “A Plenária de Janeiro: O caso de Postyshev”. No Link [trst.narod.ru/rogovin/t5/iii]. Texto mais
completo em Stalinskoe Politiburo v 30-e gody, pp. 161-4. Veja o texto dessa seção de Postyshev no Link [postyshev0138.pdf].

De acordo com o historiador russo, escritor e figura militar, Vladimir Karpov, Postyshev confirmou sua
confissão a Molotov:
Em minhas conversações com Molotov em sua dacha nós falamos sobre as repressões. Uma vez eu
perguntei:

É possível que você nunca tenha tido nenhuma dúvida?


Afinal, eles estavam prendendo pessoas que você
conhecia bem, pelo trabalho que eles fizeram antes
mesmo da revolução e, também, durante a Guerra Civil.

Dúvidas surgiam, uma vez eu falei com Stalin sobre isso,


e ele me respondeu: “Vá ao Lubianka e cheque isso por si,
leve Voroshilov com você”. Voroshilov estava no
escritório. Nós dois saímos de imediato. Aqueles eram os
exatos dias que eu tinha dúvidas frescas sobre a prisão de
Postyshev. Nos dirigimos a Yezhov. Ele ordenou que o
arquivo de Postyshev fosse trazido. Nós olhamos os
transcritos dos interrogatórios. Postyshev admitiu sua
culpa. Eu disse a Yezhov: “Eu quero conversar
pessoalmente com Postyshev”. Ele foi trazido. Estava
pálido, tinha perdido peso, e em geral parecia depressivo.
Eu perguntei a ele: “Suas confissões foram escritas de
maneira precisa nos transcritos do interrogatório?” Ele
respondeu: “Elas foram escritas corretamente”. Eu
perguntei de novo: “Isso quer dizer que você admite sua
culpa?” Ele estava quieto e de alguma forma respondeu,
relutante: “Uma vez que eu a assinei, isso quer dizer que
eu admito, o que é dito (...)” Foi assim. Como nós
poderíamos não acreditar, quando o próprio homem disse
isso?
Karpov, Vldimir Vasilevich. Marschl Zhukov, ego soratnikii i protivniki v goty voiny I mira. Livro 1. Capítulo 6, “O caso Tukhachevsky”. No Link
[militera.lib.ru/bio/karpov/06].

Carta de Andreev para Stalin, de 31 de janeiro de 1938, sobre as repressões arbitrárias e extrajudiciais de
Postyshev:

2. Desde agosto, cerca de 3.000 membros foram expulsos do


Partido, uma parte significante foi expulsa sem quaisquer
bases como “inimigos do povo” ou seus confederados. Na
Plenária do Comitê do oblast os secretários dos comitês
de raion trouxeram fatos à luz, quando Postyshev se
tornou arbitrário e demandava a expulsão e prisão de um
membro honesto do Partido ou pela mais leve crítica nas
reuniões da direção do Comitê do oblast [i.e. o próprio
Postyshev] ou mesmo sem nenhuma base de fato. Em
geral, todo esse tom veio do Comitê de oblast.

3. Uma vez que todos esses assuntos parecem ser uma


provocação, nós tínhamos que prender alguns dos mais
suspeitos, diversionistas fanáticos dos Comitês de oblast e
cidade, o ex-segundo secretário Filimonov, os militantes
do obkom Sirotinski, Alakin, Fomenko e outros. Bem nos
primeiros interrogatórios, eles todos confessaram que
eram membros de uma organização trotskista-direitista até
o presente. Ao entorno de Postyshev e aproveitando de
sua total confidência, eles desenvolveram suas tarefas
desorganizativas e provocativas para dissolver os
organismos partidários e expulsar, em massa, membros do
Partido. Nós também tínhamos que prender Pashkovski,
assistente de Postyshev. Ele confessou que tinha
escondido o fato de ter sido um Social-Revolucionário no
passado, em 1933 tinha sido recrutado para a organização
trotskista-direitista em Kiev e, obviamente, era um espião
polonês. Ele foi um daqueles mais ativos no círculo de
Postyshev, no que diz respeito à desorganização e
arbitrariedades em Kuybyshev. Nós estamos desvendando
ainda mais a questão, a fim de desmascarar essa gangue.

4. A Plenária do Comitê do oblast não se reuniu uma vez


sequer desde as eleições de junho, o Comitê do oblast
proibiu diretamente que se realizassem as plenárias dos
Comitês de raion de Kuybyshev, também não havia
ativistas.
Sovetskoe rukovodstvo. Perepiska. 1928 – 1941. ed. A. V. Koshonkin et al., Moscou: ROSSPEN, 1999, p. 387. Texto completo no Link
[andreevrepostyshev0138.pdf].

EIKHE

Khrushchev:
O Comitê Central considera absolutamente necessário informar ao Congresso de muitos desses “casos”
fabricados contra os membros do Comitê Central do Partido eleitos no 17º Partido Congresso. Um
exemplo de provocação vil, de falsificação odiosa e de violação criminosa da legalidade revolucionária
é o caso do ex-candidato ao Politburo do Comitê Central, um dos mais proeminentes militantes do
Partido e do governo soviético, camarada Eikhe, membro do Partido desde 1905.

A carta de Eikhe a Stalin, de 27 de outubro de 1939: seleções no relatório Pospelov, disponível no Link
[alexanderyakovlev.org/almanah/inside/almanah-doc/55752]. Publicada por completo em Ayermakher, K., ed. Docklad N. S. Khrushcheva o Kulte
Lichnisti Stalina na XX sezde KPSS. Dokumenty. Moscou: ROSSPEN 2002, pp. 225-229.

Agora nós temos uma declaração de abril de 1939 feita por Frinovsky, mão direita de Yezhov, na qual ele
discorre sobre o envolvimento de Yezhov e Evdokimov na conspiração direitista. Nessa conexão ele menciona
Eikhe.

Evdokimov menciona Eikhe a Frinovsky, em 1935:


Em 1935, durante uma de nossas reuniões Evdokimov, em seu apartamento, me contou sobre uma
série de pessoas que tinham sido convidadas para trabalhar com ele em Piatgorsk. Ele deu os nomes de
Pivovarov e um grande número de Chekistas [agentes da Cheka]: Boiar, Diatkin e Shatsky. Aqui ele
também me contou sobre suas conexões com Khatevich, o elogiando como alguém que conhecia bem
a área rural; com Eikhe e sobre uma parte do grupo de Leningrado(...)

Lubianka 3, p. 40.

Depois de uma sessão da Plenária [do Comitê Central de outubro de 1937], ao anoitecer, Evdokimov,
eu e Yezhov estávamos na dacha de Yezhov. Quando nós chegamos lá, Eikhe já estava, mas Eikhe não
teve qualquer conversação conosco. O que aconteceu com Eikhe antes de nossas chegadas – Yezhov
não me disse. Depois do jantar Eikhe foi embora, nós permanecemos e conversamos até quase de
manhã.

Lubianka 3, p. 44.

Yuri Zhukov:
Foi em 29 de junho [de 1937 – GF], a Plenária já tinha sido concluída quando uma nota chegou ao
Politburo através do Primeiro Secretário do Comitê do oblast de Novosibirsk, R. I. Eikhe, na qual ele
requisitava que o Politburo lhe concedesse a ele poderes extraordinários com base temporária, em seu
território. Ele escreveu que no oblast de Novosibirsk tinha sido descoberta uma forte organização
contrarrevolucionária antissoviética que os órgãos do NKVD não tiveram sucesso em liquidar
completamente. Era necessário, ele disse, a criação de uma “troika” com a seguinte composição: o
Primeiro Secretário do obkom do Partido [i.e. O próprio Eikhe – GF] o procurador do oblast e o chefe
da diretoria de oblast do NKVD, com os poderes de tomar decisões operacionais referentes ao exílio
de elementos antissoviéticos e executar sentenças de morte para as pessoas mais perigosas desse grupo.
Isto é, de fato um tribunal militar de campo, sem defesa, sem testemunhas, com o direito de execução
imediata das sentenças. O requerimento de Eikhe foi racionalizado pelo fato que, à face de tão
poderosa organização contrarrevolucionária, eleições para o Soviete Supremo poderiam trazer um
resultado político indesejável.

Yuri Zhukov Stalin, Inoi Vzgliad. Beseda s avtorom knigi ‘Inoi Stalin’. Nash sovremennik 2004, No. 12 Texto no Link [nash-sovremennik.ru/p.php?
y=2004&n=12&id=4].
Zhukov desenvolveu essas ideias primeiramente na agora famosa série Zupel Stalina “O Espantalho de Stalin” no Komsomolskaya Pravda em
novembro de 2002. Esse assunto é coberto no artigo de 16 de novembro de 2002.
Essa série está agora completamente disponível na internet; por exemplo, no Link [x-libri].

Zhukov mais uma vez:


Bem, Yezhov foi de bom grado a sua primeira Reunião com Stalin: era sua indicação em abril de 1938
“simultaneamente” como Comissário do Povo para Transporte de Água. O segundo aviso foi em
agosto: por quatro horas Stalin e Molotov tentaram convencer Yezhov a concordar com a candidatura
de L. P. Beria para ser seu primeiro assistente [para esse decreto veja Lubianka 2, p. 545-GF]. E o
terceiro e último ato desse longo processo foi em 23 de novembro. Yezhov foi novamente convocado
por Stalin, onde Molotov e Voroshilov já estavam presentes. Eu segurei em minhas mãos o documento
que Yezhov escreveu, obviamente ditado por eles. Foi escrito em três páginas, todas de diferentes
tamanhos, isto é, eles pegaram as primeiras folhas de papel que puderam encontrar e as impeliram a
Yezhov, para que assim ele não pudesse parar de escrever. A seguinte justificativa para sua dispensa foi
alcançada: obviamente, ele resistiu, protestou. Mas era necessário de alguma forma tirar dele a decisão
de sair “de acordo com sua própria vontade”. Portanto foi escrito um rascunho de um decreto, que soa
como uma garantia: “Manter o camarada Yezhov nas posições de Secretário do CC do VKP(b),
Presidente da Comissão de Controle do Partido e Comissário do Povo para o Transporte de Água”.
Finalmente o anúncio foi escrito e assinado: “N. Yezhov”. Com isso começou o fim da
“Yezhovshchina”. O Politburo enviou in loco telegramas com o texto direto: Parem as repressões,
dissolvam as “troikas”. Tendo tomado a iniciativa, o grupo de Stalin já tinha, ao final de 1938,
alcançado a promulgação dos primeiros processos judiciais contra militantes do NKVD acusados de
falsificação e fabricação de casos, que julgaram, exilaram e executaram milhares de pessoas por quase
um ano inteiro. Foi dessa forma que eles conseguiram parar o Grande Terror.

KP 20 de nov. de 2002.

Jansen & Petrov, p.91:


Considerando as objeções levantadas por Yezhov, na época da conferência de Moscou de julho de
1937 pelo Chefe do NKVD da Sibéria ocidental, Mironov, contra o Primeiro Secretário, Robert Eikhe.
Mironov relatou a Yezhov – de acordo com seu testemunho após sua prisão – que Eikhe “interferiu nos
assuntos do NKVD”. Ele ordenou aos chefes dos braço das cidades do NKVD de Kuzbass prisão
de membros do Partido, embora na maioria dos casos não houvessem evidências. Mironov,
apesar de sua difícil posição: ou ele teria que liberar partes dos prisioneiros e chocar-se com
Eikhe ou os órgãos do NKVD eram forçados a “criar casos fictícios”. Quando Mironov sugeriu
instruir oralmente os órgãos do NKVD, no que diz respeito a cumprirem apenas as ordens que fossem
aprovadas por ele, Yezhov respondeu: “Eikhe sabe o que está fazendo. Ele é responsável pela
organização do Partido; é inútil lutar contra ele. É melhor você relatar para mim os pontos discutíveis
que surgirem, e eu irei resolvê-los (...) Obedeça às ordens de Eikhe e não tensione sua relação com
ele”. Mironov adicionou que era hábito de Eikhe “aparecer subitamente nos aparatos do NKVD,
comparecer a interrogatórios, interferir em investigação e então exercer pressão nesta ou naquela
direção, assim confundindo a investigação”.

Mas Yezhov manteve sua opinião38 [n. 38, p237, é para documentos de arquivos não mais disponíveis:
38. IBD [fm. nota anterior – “TsA FSB, f. 3-os, op. 4, d. 6, 1. 61”] Arquivo de investigação do caso de
Frinovsky, N-15301, t. 7, ll. 36-37]
p. 107:
Dirigentes regionais do Partido temiam que os inimigos de classe pudessem tomar vantagem da
liberdade oferecida nas eleições. Na plenária de junho de 1937 o líder do governo cazaque, U. D.
Isaev, alertou: “Nós iremos nos chocar com uma situação de direta luta de classes. Mesmo agora,
mulás, trotskistas e cada tipo de outro elemento contrarrevolucionário estão se preparando para as
eleições”108. Na Plenária de outubro de 1937, o dirigente do Partido de Moscou, A. I. Ugarov, mais
uma vez apontou para intensificar as declarações de atividade hostil. Por agora, entretanto, seu colega
siberiano ocidental, R. I. Eikhe, foi capaz de estabelecer que, ao contrário, graças ao esmagamento das
bases contrarrevolucionárias organizadas a situação tinha melhorado muito. Stalin concordou: “As
pessoas estão felizes de terem se livrado dos sabotadores”109. Por questões de segurança, durante o
mesmo mês foi decidido banir eleições abertas e introduzir candidaturas únicas.
[ambas as notas de rodapé 108 e 109 são dos documentos de arquivo não mais disponíveis: “108:
RTsHhIDNI, f. 17, op. 2, d. 617, l. 167. 109: Idem, d. 626, ll. 40-41, 62”.]

YEZHOV

Embora isso quebre, de alguma forma, a ordem do original, é conveniente examinar o que Khrushchev
disse sobre Yezhov, uma vez que está intimamente relacionado com Eikhe.

Khrushchev:
Estamos justamente acusando Yezhov pelas práticas degeneradas de 1937. Mas temos que responder a
estas perguntas: Yezhov poderia ter prendido Kossior, por exemplo, sem o conhecimento de Stalin?
Houve um debate ou uma decisão do Politburo sobre isso? Não, não houve, da mesma forma que não
houve nada disso em relação a outros casos desse tipo. Yezhov poderia ter decidido assuntos tão
importantes como o destino de figuras tão eminentes do Partido? Não, seria uma demonstração de
ingenuidade considerar isso como trabalho de Yezhov sozinho. Está claro que essas questões foram
decididas por Stalin e que Yezhov não poderia ter feito isso sem ordens e sem sanção dele.

Declaração de Frinovsky de 11 de abril de 1939:


Antes da prisão de Bukharin e Rykov, Yezhov, conversando abertamente comigo, começou a falar
sobre os planos para o trabalho dos Chekistas, em conexão com a atual situação e as eminentes prisões
de Bukharin e Rykov. Yezhov disse que isso seria uma grande perda para a direita, depois disso,
independentemente de nossos próprios desejos, medidas em larga escala poderiam ser tomadas contra
os quadros da direita sob as instruções do Comitê Central e que em conexão com isso a sua e a minha
tarefa principal deveriam ser direcionar a investigação de tal forma, o quão possível fosse, a preservar
os quadros direitistas. Então ele destacou seu plano para essa questão. Basicamente seu plano consistia
no seguinte: “Nós devemos por nossos próprios homens, no principal, no aparato do departamento
Político Secreto (SPo) e selecionar como investigadores aqueles que podem estar completamente
ligados a nós ou em cujos registros há algum tipo de pecado e eles saberiam que eles tinham esses
pecados em seus registros e, por causa desses pecados, podemos mantê-los completamente em nossas
mãos. Nós mesmos devemos conectá-los à investigação e dirigi-los”. “E isso consiste no seguinte”,
disse Yezhov, “não escrever tudo que a pessoa presa disser, mas o investigador deve trazer todos os
contornos, os rascunhos ao chefe do departamento, e em relação a aqueles presos que no passado
ocuparam um cargo importante e aqueles que ocupam uma posição de direção na organização dos
direitistas, é necessário anotar essas pessoas em uma lista especial e reportar a ele cada vez. Seria
bom”, disse Yezhov, “levar ao aparato pessoas que já tenham ligação com a organização. Aqui, por
exemplo, Evdokimov falou a você sobre pessoas, e eu conheço algumas delas. Seria necessário, em
primeiro lugar, atraí-los para o aparato central. Em geral, seria preciso nos familiarizarmos com
pessoas capacitadas e, do ponto de vista profissional, entre aqueles que já trabalham no aparato central,
para, de alguma, forma trazê-los para próximo a nós e então recrutá-los porque sem essas pessoas será
impossível que nós arranjemos nosso trabalho, e é necessário, de alguma forma, mostrar ao Comitê
Central algum trabalho”.
Ao realizar essa sugestão de Yezhov nós escolhemos um curso firme na preservação dos quadros de
Yagoda nos cargos de direção no NKVD. É essencial mencionar que nós só conseguimos fazer isso
com dificuldades, uma vez que em vários órgãos locais [do NKVD] havia materiais que ligavam essas
pessoas às suas participações nas conspirações e no trabalho antissoviético de modo geral.

Lubianka 3, p. 42.

Depois da Plenária do Comitê Central de outubro de 1937 eu e Evdokimov nos encontramos pela
primeira vez na dacha de Yezhov. Na época, Evdokimov começou a conversa. Virando-se para Yezhov
ele perguntou: “Qual a questão com você? Você prometeu endireitar a posição de Yagoda e, ao invés, o
caso está ficando cada vez mais sério e agora está se aproximando de nós. Obviamente você está
dirigindo porcamente esse caso”. Yezhov estava quieto, a princípio, e então começou a declarar que
“realmente, a situação é difícil, então agora nós vamos tomar medidas para reduzir o escopo das
operações, mas obviamente, nós temos que lidar com o chefe dos direitistas”. Evdokimov praguejou,
cuspiu e disse: “Você não pode me colocar no NKVD? Eu serei capaz de ajudar mais que o resto”.
Yezhov disse: “Isso seria bom, mas o Comitê Central dificilmente concordará em transferi-lo para o
NKVD. Penso que a situação não seja completamente desesperançosa, mas você precisa ter uma
conversa com Dagin, você tem influência sob ele, é necessário para ele desenvolver as tarefas no
departamento de operações, e nós precisamos estar preparados para realizar atos terroristas”. – p. 43

Lubianka 3, p. 42.

(...) E aqui Evdokimov e Yezhov, juntos, falaram sobre as possíveis limitações da operação, mas, como
foi considerado impossível, eles concordaram em desviar o golpe de seus próprios quadros e tentar
direcioná-lo contra quadros honestos que estavam dedicados ao Comitê Central. Essa foi a instrução de
Yezhov.

ibid., p. 44.

Após a prisão dos membros do centro de direitistas, Yezhov e Evdokimov, em essência, se tornaram o
centro e o organizaram:

1. preservar da destruição, o quão for possível, quadros


antissoviéticos da direita. 2) a direção dos golpes contra
quadros honestos do Partido que eram dedicados ao
Comitê Central do VKP(b); 3) preservação dos quadros
rebeldes no Cáucaso Norte e em outros krais e oblasts da
URSS, com o plano de usá-los em tempo de complicações
internacionais; 4) uma reforçada preparação de atentados
terroristas contra dirigentes do Partido e do Governo; 5) a
tomada do poder pelos direitistas, com Yezhov como
chefe.
ibid., p. 45.

TRABALHO INVESTIGATIVO
O aparato investigativo, em todos os departamentos do NKVD, estava divididos entre “investigadores-
quebra ossos”, “quebra ossos” e investigadores “ordinários”.
[Nota: Jansen & Petrov traduziram essa palavra kololshchiki, como “açougueiros [butchers]”.
“Gangster [Thug]” seria um equivalente mais moderno, significa alguém cujo trabalho é espancar
pessoas. – GF]
O que esses grupos representavam e quem eram eles?
“Investigadores-quebra ossos” eram basicamente escolhidos dentre os conspiradores ou pessoas que
eram comprometidas. Eles tinham recursos não supervisionados para espancar pessoas presas e em um
período muito curto de tempo obtinham “confissões” e sabiam escrever transcritos de maneira elegante
e de acordo com a gramática.
A essa categoria pertenciam: Nikolaev, Agas, Ushakov, Listengurt, Evgenev, Zhuoakhin, Minaev,
Davydov, Altman, Geiman, Livin, Leplvsky, Karelin, Kerzon, Iamnitsky e outros.
Uma vez que a quantidade daqueles presos que confessavam sob tais métodos crescia diariamente,
havia então uma grande necessidade de investigadores que sabiam compor interrogatórios, os então
chamados “investigadores-quebra ossos” começaram, cada um por si, a criar grupos de “quebra ossos”.
O grupo dos “quebra ossos” consistia de militantes técnicos. Esses homens não conheciam evidências
relativas ao suspeito, mas eram enviados para Lefortovo [prisão em Moscou], convocavam os acusados
e começavam a espancá-lo. Os espancamentos continuavam até o momento em que o acusado
concordava em dar uma confissão.
O grupo restante de investigadores tomavam conta dos interrogatórios daqueles acusados de crimes
menos sérios e eram deixados por si só, sem a liderança de ninguém.
O ulterior processo de investigação era o seguinte: o investigador conduzia o interrogatório e, ao invés
de um transcrito, juntava notas. Depois de vários desses interrogatórios, um rascunho de transcrito era
arranjado pelo investigador. O rascunho ia para “correção” do chefe do departamento apropriado, e
dele, ainda não assinado, ia para a revisão do ex-Comissário do Povo Yezhov e, em casos raros, para
mim. Yezhov olhava o transcrito, fazia alterações e adições. Na maioria dos casos, aqueles presos não
concordavam com as edições do transcrito e declararam que não tinham dito aquilo durante a
investigação e se recusavam a assinar.
Então os investigadores rememoravam os presos sobre os “quebra ossos” e as pessoas sob investigação
assinavam o transcrito. Yezhov produzia a “correção” e “edição” dos transcritos, na maioria dos casos
sem nunca ter visto com seus olhos a pessoas presas, e se ele os via, era apenas durante uma inspeção
momentânea das celas ou salas de investigação.
Com tais métodos, os investigadores forneciam os nomes.
Na minha opinião, eu falaria a verdade se declarasse que, em geral, era bem comum as confissões
serem dadas pelos investigadores e não por aqueles que eram investigados.
A direção do Comissariado do Povo, isto é, eu e Yezhov, sabíamos disso? Sabíamos.
Como nós reagimos? Falando honestamente – nós não reagimos e Yezhov até mesmo encorajava isso.
Ninguém se importava em investigar a qual dos acusados tinha-se aplicado pressão física. E, uma vez
que a maioria das pessoas que estava empregando esses métodos eram eles próprios inimigos do povo
e conspiradores, acusações falsas também aconteciam, implicamos falsas acusações, prendemos e
fuzilamos pessoas inocentes que foram caluniadas como sendo inimigos do povo, tanto por aqueles
que estavam presos, quanto por inimigos do povo entre os investigadores. Investigações reais
desapareceram.

ibid., p. 45-6.

A PREPARAÇÃO PARA O JULGAMENTO DE RYKOV, BUKHARIN, KRESTINSKY, YAGODA E


OUTROS

Participante ativo nas investigações, em geral, Yezhov manteve-se afastado da preparação deste
julgamento. Antes do julgamento, Yezhov não participou da acareação face a face dos suspeitos,
interrogatórios e refinamento. Ele conversou por um longo tempo com Yagoda e essas conversas
tratavam, principalmente, de garantir que Yagoda não fosse fuzilado.
Yezhov, muitas vezes, teve conversas com Bukharin e Rykov, também para acalmá-los e assegurá-los
que sob nenhuma circunstância seriam fuzilados (...) Aqui, Yezhov inquestionavelmente foi governado
pela necessidade de encobrir seus próprios laços com os líderes da direita presos, que estavam indo a
julgamento público.

ibid., p. 47-8.

ILUDINDO O PARTIDO E O GOVERNO

Quando Yezhov chegou no NKVD, em todas as reuniões, em conversas com os agentes operacionais,
ele criticou acertadamente a mente estreita e institucional e o isolamento pelo Partido, enfatizou que
ele deveria introduzir lentamente um espírito partidário nos agentes, que ele não escondia nem nunca
esconderia nada, nem do partido nem de Stalin. Na verdade, ele estava enganando o partido tanto em
assuntos sérios quanto nas coisas pequenas. Yezhov teve todas essas conversas com o propósito de
colocar para dormir qualquer senso de vigilância dos agentes honestos do NKVD.

ibid., p. 49. Todos disponíveis no Link [frinovskyeng].

Interrogatório de Yezhov de 26 de abril de 1939:


RESPOSTA: Eu devo admitir, embora eu tenha dado uma confissão confiável sobre meu trabalho de
espionagem em interesse da Polônia, eu de fato escondi dos investigadores meus laços de espionagem
com os alemães.

p. 52.
Tendo discutido a situação atual com EGOROV, nós chegamos à conclusão de que o Partido e as
massas populares estavam indo com a direção do VKP(b) e o solo para o coup golpe não tinha sido
preparado.
Portanto, nós decidimos que era necessário remover STALIN e MOLOTOV, sob a bandeira de algum
tipo de organização antissoviética ou outra, com o propósito de criar as condições para a minha ulterior
ascensão ao poder. Depois disso, uma vez que eu tivesse assumido uma posição de maior poder, teria
sido criada a possibilidade de futuras mudanças mais decisivas nas políticas do Partido e do governo
soviético, em conformidade com os interesses da Alemanha.
Eu pedi a EGOROV transmitir aos alemães, por intermédio de KÖSTRING, nossos planos e pedi a
opinião dos círculos governamentais na Alemanha.
PERGUNTA: Que tipo de resposta você recebeu?
RESPOSTA: Pouco depois, das palavras de KÖSTRING, EGOROV relatou a mim que os círculos de
governo na Alemanha concordaram com a nossa sugestão.
PERGUNTA: Ao que você se comprometeu a fim de realizar seus planos traidores?
RESPOSTA: Eu decidi organizar uma conspiração no NKVD e atrai a ela pessoas através das quais eu
seria capaz de realizar nossos atentados terroristas contra direções do Partido e do governo.
Pergunta: Foi somente após a conversa com EGOROV que você decidiu formar uma organização
conspiratória no NKVD?
RESPOSTA: Não. De fato, a questão se deu dessa forma. Muito antes dessa conversa com EGOROV,
na época da minha nomeação para Comissário de Assuntos Interno, eu trouxe comigo, para o NKVD,
um grupo de agentes que eram intimamente ligados a mim através de atividade contrarrevolucionária.
Dessa forma, minha confissão, em que trato da organização de uma conspiração, deve ser entendida
apenas no sentido de que – em conexão com minha conversa com GAMMERSHTEIN e com o
estabelecimento de contato entre mim e os conspiradores militares – tornou-se necessário desenvolvê-
la mais amplamente, para acelerar, dentro da NKDV a configuração da organização conspiratória.

p. 64.

No que diz respeito a EVDOKIMOV e FRINOVSKY, este foi completamente introduzido, por mim,
aos detalhes da conspiração e sabia de absolutamente tudo, incluindo minhas ligações com os grupos
de conspiradores militares no Exército Vermelho e nos círculos militares na Alemanha.

p. 65.

(...)Eu informei KÖSTRING sobre as futuras prisões dentre os militares e declarei a ele que estava
além das minhas capacidades impedir tais prisões. Em particular, relatei sobre a prisão de EGOROV,
que poderia causar o colapso de toda a conspiração. KÖSTRING estava muito chateado por essa
situação. Ele colocou a mim, rispidamente, a questão de se nesse momento não era essencial tentar
algum tipo de medida para a tomada do poder ou seríamos esmagados um de cada vez. – p. 67
RESPOSTA: Pessoalmente, eu não me encontrei mais com KOSTRING. Depois disso, nossas
comunicações eram realizadas através de KHOZIAINOV.
PERGUNTA: KHOZIAINOV sabia sobre os atentados terroristas, que vocês estavam preparando
contra as direções do Partido e do governo?
RESPOSTA: Sim, ele sabia. A respeito delas, KHOZIAINOV tinha sido informado não somente por
mim, mas pela inteligência alemã, já que durante o primeiro encontro depois do estabelecimento de
contato entre nós, KHOZIAINOV transmitiu a mim uma diretiva dos alemães: acelerar o mais rápido
possível a realização dos atentados terroristas.
Além disso, KHOZIAINOV transmitiu a mim as diretivas da inteligência alemã que, em conexão com
minha dispensa do trabalho no NKVD e a nomeação de BERIA para Comissário do Povo para
Assuntos Internos, considerou essencial efetuar o assassinato de alguns membros do Politburo e, dessa
forma, provocar uma nova diretoria no NKVD[i.e., a dispensa de Beria -GF]
Neste mesmo período, dentro do NKVD, iniciaram-se as prisões dos participantes ativos da
conspiração que eu encabeçava, e, então, nós chegamos à conclusão de que era necessário organizar
um atentado para 7 de novembro de 1938.
PERGUNTA: Quem é “nós”?
RESPOSTA: Eu – YEZHOV, FRINOVSKY, DAGIN e EVDOKIMOV.

p. 67.

(...)Em uma das reuniões, em meu escritório no Comissariado para a Água, comuniquei a LAZEBNY
que havia materiais comprometedores sobre ele no NKVD, que ameaçavam prendê-lo e condená-lo.
Eu disse a LAZENBNY: “Não há saída para você, você está condenado, mas você pode salvar um
grupo grande de pessoas ao se sacrificar”. Durante o interrogatório correspondente de LAZEBNY, eu
lhe informei que o assassinato de STALIN salvaria a situação no país, LAZEBNY me deu seu
consentimento.

p. 69. Original no Link [ezhov042639eng].


Base para o indiciamento de Yezhov: Jansen & Petrov, p.108 ff.
Legalidade não era uma preocupação para o NKVD de Yezhov. Em janeiro de 1939 depois de sua
queda, uma comissão constituída por Andreev, Beria e Malenkov acusou Yezhov de praticar métodos
ilegais de investigação: “Da maneira mais flagrante, os métodos de investigação foram distorcidos,
espancamentos em massa foram indiscriminadamente aplicados aos prisioneiros, a fim de extrair falsos
testemunhos e ‘confissões’. Em vinte e quatro horas um investigador geralmente conseguia dúzias de
confissões, e os investigadores mantinham-se uns aos outros informados sobre os testemunhos obtidos
para que fatos correspondentes, circunstâncias ou nomes pudessem ser sugeridos a outros prisioneiros.
Como resultado, esse tipo de investigação muito geralmente levava à calúnia organizada de pessoas
totalmente inocentes. Muito comumente confissões eram obtidas por meios de ‘provocação direta’;
prisioneiros eram persuadidos em troca da promessa de liberdade, a darem falsos testemunhos sobre
suas ‘atividades de espionagem’ a fim de ajudar o Partido e o governo a ‘desacreditar Estados
estrangeiros’”. De acordo com Andreev et al., “a direção do NKVD, na pessoa do camarada Yezhov,
não apenas não interrompeu tais arbitrariedades e excessos nas prisões e na condução de investigações,
mas muitas vezes eles mesmos encorajaram isso”. Toda a oposição foi suprimida112.
[Nota 112: p. 241 é do documento de arquivo não mais disponível “112. TsA FSB, f. 3-os, op. 6, d. 1, ll
1-2”]

p. 108.

O funcionamento das troikas foi agudamente criticado. Andreev et al. relatou que tinha havido
“deslizes graves” no trabalho, bem como no então chamado Grande Colégio [bolshaia kollegiiia], onde
geralmente, durante uma única sessão à tarde, de 600 a 2.000 casos eram examinados (Eles estavam se
referindo ao exame dos álbuns de operações nacionais, em Moscou; antes de serem assinados pelo
Comissário do Povo para Assuntos Internos e pelo Procurador, os álbuns eram examinados por uma
série de chefes de departamentos do aparato central do NKVD). O trabalho das troikas regionais, de
fato, não era controlado pelo NKVD de forma alguma. Aproximadamente 200.000 pessoas foram
sentenciadas a dois anos pelas então chamada troikas milicianas, “cuja existência não era legal”. O
Quadro Especial do NKVD “não se reuniu em sua forma prevista em lei nem mesmo uma vez”113.
Como um executivo do setor operacional do NKVD de Tyumen atestaria posteriormente, prisões eram,
em geral, feitas de modo arbitrário – pessoas eram presas por pertencerem a grupos que não existiam
verdadeiramente – e a troika estava devidamente alinhada com o grupo operacional:
“Em reunião alguma da troika os crimes dos réus foram examinados. Em alguns dias, durante uma
hora, eu reportei à troika casos envolvendo 50-60 pessoas”. Em uma entrevista posterior, o executivo
de Tyumen deu considerações mais detalhadas sobre como o grupo operacional executava as sentenças
de “primeira categoria” das troikas. Tais sentenças à morte eram executadas no porão, em uma sala
especial de paredes cobertas, com um tiro atrás da cabeça, seguido por um segundo tiro na têmpora. Os
corpos eram então levados ao cemitério, fora da cidade. Em Tobolsk, para a qual as pessoas envolvidas
foram transferidas em 1938, eles executavam e enterravam na própria prisão; por falta de espaço os
corpos eram empilhados114. O assistente chefe da administração policial de Saratov deu um
testemunho similar: “A instrução básica era produzir quantos casos fossem possíveis, formulá-los o
mais rápido possível, com o máximo de simplicidade na investigação. Para a cota de casos, [o chefe do
NKVD] demandava [a inclusão de] todos aqueles sentenciados e todos aqueles que foram pegos,
mesmo que, no momento de sua apreensão, não tivessem cometido nenhum tipo de crime concreto115.
Depois de preso o vice de Yezhov, Frinovsky explicou que os principais investigadores do NKVD
tinham sido “açougueiros” [Sledovatelikololshchiki], selecionados principalmente entre “conspiradores
e pessoas comprometidas”. “Sem acompanhamento, eles aplicavam espancamentos aos prisioneiros,
obtinham”testemunhos” no tempo mais curto possível”. Com o aval de Yezhov, era o investigador, ao
invés do prisioneiro, que determinava o testemunho. Mais tarde, os protocolos eram “editados” por
Yezhov e Frinovsky, geralmente sem verem os prisioneiros ou só de passagem. De acordo com
Ribovski, Yezhov encorajava o uso da força física durante os interrogatórios: ele pessoalmente instruía
os investigadores a usarem “métodos de influência física” se os resultados fossem insatisfatórios.
Algumas vezes durante os interrogatórios ele estava bêbado116
Como um dos investigadores explicou posteriormente se alguém fosse preso sob ordens de Yezhov, ele
era convencido de sua culpa com antecedência, mesmo se todas as evidências estivessem faltando.
Eles “tentaram obter uma confissão daqueles indivíduos usando todos os meios possíveis”117. Já
preso, o ex-vice chefe do NKVD de Moscou, A. P. Radzivilovski, citou Yezhov dizendo que se a
evidência estava faltando, dever-se-ia “arrancar a pancadas o testemunho [dos prisioneiros]”. De
acordo com Radzivilovski, os testemunhos “via de regra, eram obtidos como resultado da tortura dos
prisioneiros, a qual era amplamente praticada tanto no aparato central do NKVD como no
provincial”118.
Depois de sua prisão, tanto o chefe da prisão investigativa de Lefortovo de Moscou quanto o seu vice
testemunharam que Yezhov tinha participado pessoalmente do espancamento de prisioneiros durante
interrogatórios119. Seu vice, Frinovsky, tinha feito o mesmo120. Shepilov recorda como Khrushchev,
após a morte de Stalin, disse a seus colegas que um dia, durante uma visita ao escritório de Yezhov no
Comitê Central viu manchas de sangue coagulado na gola e nos punhos da blusa de Yezhov. Quando
questionado sobre o ocorrido, Yezhov respondeu com algum tom de êxtase, que devia se orgulhar das
manchas porque o era o sangue dos inimigos da revolução121.
[Notas estão na p. 241:

113. Ibid., ll. 2-3. [toda FSB, f. 3-os,op. 6, d 1, ll. 1-2]

114. Goldberg, “Slovo i delo po-sovetski”.

115. Hagenloh, “Socially Harmful Elements”, p. 301

116. TsA FSB, Archival investigation case of Frinovsky, N-


15301, t.2, ll 35-35.

117. B. A. Starkov, “Narkom Ezhov”, em J. A. Gety e T. T.


Manning, eds., Stalinist Terror: New Perspectives.

118. “M. N. Tukhachevsky I voenno-fashistskii


zagovr,”Voenno-istoricheskii arkhiv”, no. 2 (Moscou
1998): 3-80, esp. pp. 55-56.

119. Ibdid., p. 50; veja também, V. Shentaliskii, “Okhota v


revzapovednike”, Novyi mir 1998, no. 12: 170-96, esp. P.
180.

120. Papkov, Staliniskii terror v Sibiri, p. 269;

121. D. Shepilov, “Vosponimaniia”, Voprsy istorii 1998, no. 4:


3-25, esp, p. 6 [NB: Essa passagem nas memórias de
Shepilov em formato de livro estão em, neprimlnuvshiy,
M. Vagrius 2001, p. 43 – GF]
p. 109-110.

STALIN CULPOU YEZHOV

Jansen & Petrov, p. 210:


Alguns meses após a queda de Yezhov que Stalin explicou para o designer de aviões A. Yakovlev:
Yezhov era um canalha! Ele arruinou nosso melhores quadros. Ele estava moralmente degenerado. Se
convocava ele ao Comissariado do Povo e avisavam que ele tinha saído para o Comitê Central.
Chamava-se ele no Comitê Central e era dito que ele saiu para alguma tarefa. Então, enviava-se
alguém para a cada dele, acontece que eles estava largado na cama, bêbado. Ele arruinou a vida de
muitas pessoas inocentes. Foi por isso que tivemos que fuzila-lo.

Das memórias de Yakovlev:

[Stalin] Bem, com está Balandin?

[Yakovlev] Ele está trabalhando, camarada Stalin, como


se nada tivesse acontecido.

Sim, eles o prenderam por nada.


Evidentemente Stalin leu o espanto em minhas feições – como poderia uma pessoa inocente ser
aprisionada? – e sem nenhuma pergunta de minha parte ele disse;

Sim, aconteceu dessa maneira. Um homem sensível, um


que trabalhava duro, é invejado e eles minam-no. E se, em
adição, ele é audaz, fala por si – isso evoca inquietação e
atrai para si a atenção de Chekistas suspeitos, que não
entendem seus próprios trabalhos, mas que se dispõem a
fazer uso de todos os tipos de boatos e fofocas (...)
Yakovlev, A. S. The Purpose of Life, Moscou, Ch 20.
Jansen & Petrov:
Porque ele especialmente se referia a 1938, Stalin sugeriu, em sua opinião, que, diferentemente de
1937, o terror tinha saído de controle e colocou em perigo a estabilidade do país43. Ao fim de sua
vida, Stalin disse ao seu guarda costas que “o bêbado Yezhov” tinha sido recomendado para o NKVD
por Malenkov: “Enquanto num estado de intoxicação, ele assinou listas, para a prisão de pessoas
geralmente inocentes, que eram empurradas a ele”44.
Em entrevistas na década de 1970, Molotov ponderou por linhas similares. De acordo com ele, Yezhov
desfrutava de boa reputação, até que ele “se degenerou moralmente”. Stalin ordenou “reforçar a
pressão” e Yezhov “recebeu instruções fortes”. Ele “começou a cortar de acordo com o plano”, mas ele
“fez demais”: “Para-lo era impossível”. Extremamente seletivo em suas memórias, Molotov deu a
impressão que Yezhov tinha, por inciativa própria, fixado as cotas e por isso foi fuzilado. Ele não
concorda que Yezhov tenha apenas realizado instruções de Stalin: “É absurdo dizer que Stalin não
sabia sobre, mas, claro, também é incorreto dizer que ele foi responsável por tudo”45. Outro ex-
adjunto de Stalin, que justificou os expurgos, foi Kaganovich. Havia sabotagem e tudo isso, ele admite,
e “então era impossível ir contra a opinião pública”. Yezhov apenas “fez demais”; ele até “organizou
competições para ver quem poderia desmascarar mais inimigos do povo”. Como resultado, “muitas
pessoas inocentes pereceram e ninguém irá justificar isso”.46.
[nr. 42-46, p261:

42. A. Yakovlev, Tselzhizni, 2d ed. Mosocu, 1970, p. 509


43 Referência a 1938 em A. Yakovlev,Tselzhizni: ZApiski aviakistruktora, 2d ed. Moscou, 1966, p. 179

44. TRsKhIDNI, f. 558, op. 4, d. 672, ç. 10


45 F. Chuev, Sto sorok besed s Molotovym Moscou, 1991, pp. 398-400, 402, 438.

46. F. Chuev, Tak govoril Kaganovich Moscou, 1992, p89.]

RUDZUTAK

Khrushchev:
O camarada Rudzutak, candidato-membro do Politburo, membro do Partido desde 1905, que passou 10
anos em um campo de trabalho forçado tsarista, retirou completamente durante o julgamento a
confissão que foi forçada a ele... Após uma análise cuidadosa do caso, em 1955, foi estabelecido que a
acusação contra Rudzutak era falsa e que se baseava em materiais caluniosos.
Rudzutak foi reabilitado postumamente.

As prisões de Rudzutak e Tukhachevsky foram ordenadas na mesma resolução de 24 de maio de 1937


pelo Politburo.
No. 136

Resolução do Politburo relativa a Rudzutak e Tukhachevsky.


24 de maio de 1937

309. Sobre Rudzutak e Tukhachevsky.


Deliberado por voto dos membros e candidatos membros do CC VKP(b) a seguinte resolução:
O CC VKP(b) tinha recebido informação que expõe o membro do CC VKP(b), Rudzutak, e o
candidato a membro do CC VKP(b), Tukhachevsky, na participação de um bloco conspiratório
antissoviético trotskista-direitista e na participação de espionagem contra a URSS em favorecimento
da Alemanha fascista. Em conexão a isso o Politburo do CC VKP(b) apresenta para o voto dos
membros e candidatos a membros do CC VKP(b) uma resolução relativa à expulsão do Partido de
Rudzutak e Tukhachevsky e a entrega de seus casos para o Comissariado do Povo para Assuntos
Internos.

Stalinskoe Politburo v 30-e gody. Ed. O. V. Khelevniuk et al. Moscou: AIRO-XX, 1995, p.156.

Stalin citou o nome de Rudzutak no discurso da Sessão Expandida do Conselho Militar adjunta ao
Comissariado do Povo para a Defesa de 2 de junho de 1937:
Trotsky, Rykov, Bukharin – esses são, por assim dizer, a liderança política. A eles eu também adiciono
Rudzutak, que também colocou-se na cabeça e trabalhou meticulosamente, confundiu tudo, mas por
fim acabou por ser um espião alemão; Karakhan; Yenukidze.
[...]
Vamos continuar. Eu enumerei 13 pessoas, e repito seus nomes: Trotsky, Rykov, Bukharin, Yenukidze,
Karakhan, Rudzutak, Yagoda, Tukhachevsky, Yakir, Uborevich, Kork, Eideman, Gamarnik.
[...]
Bukharin. Não temos evidências de que ele próprio tenha informado [os alemães], mas tinha laços
muito íntimos com Yenukidze, Karakhan e Rudzutak, esses aconselhavam-no (...)
[...]
Rudzutak. Eu já falei que ele não admite ser um espião, mas nós temos todas as evidências. Nós
sabemos aquele para quem deu suas informações. Há uma certa experiente agente de inteligência na
Alemanha, em Berlim. Quando um de vocês visitar Berlin, Josephina Genzi, talvez algum de vocês a
conheça. Ela é uma mulher bonita. Uma experiente agente de inteligência. Ela recrutou Karakhan.
Recrutou por meio de encontros sexuais [literal: “pelo lado feminino” – GF]. Ela recrutou Yenukidze.
Ela ajudou a recrutar Tukhachevsky. E ela tem Rudzutak em suas mãos.
[...]
Esse é o núcleo, e o que isso mostra? Algum desses homens votou por Trotsky? Rudzutak nunca
voltou por Trotsky e ainda assim se tornou um agente secreto.
[...]
Aqui está o valor da perspectiva de “quem votou em quem”.

Rudzutak é citado muitas vezes pelos réus durante o Julgamento “de Bukharin” de março de 1938,
diversas vezes apenas por Krestinsky. De acordo com Krestinsky, Rudzutak foi uma das figuras centrais da
conspiração antigoverno.
KRESTINSKY: Eu soube por Piatakov, que me disse em fevereiro de 1935 sobre uma organização que
tinha sido formada, a qual unia os Direitistas, Trotskistas e militares; com o objetivo de preparar um
golpe militar. Eu também sabia que a liderança central incluía Rykov, Bukharin, Rudzutak e Yagoda
dos direitistas; Tukhachevsky e Garminik dos militares e Piatakov dos trotskistas. (...)
No início de 1935, Piatakov me informou que um acordo foi feito, nomeando a composição do centro
sobre o qual falei ontem e disse que Rozengolts e eu, por mais que não nos juntássemos a este centro,
deveríamos trabalhar sob sua direção, principalmente em relação ao planejamento e ao preparo do
futuro aparato governamental. Se apresentava uma espécie de divisão do trabalho. Nos foi dito que
estaríamos trabalhando com Rudzutak dos direitistas e com Tukhachevsky. Minha impressão era que
apenas Rudzutak fora citado, porém Rozengolts teve ativa participação e subsequentemente ele me
contou sobre suas reuniões com Rykov. De modo geral eram Rykov e Rudzutak dos direitistas e
Tukhachevsky do grupo militar. Eu não possuía o conhecimento das conexões com Tukhachevsky e
Rozengolts, sabendo nada deles; mas, como parte da divisão do trabalho, ele assumiu principalmente
as relações com os direitistas, embora fosse eu quem normalmente visitava Rudzutak, e ao que
constava a Tukhachevsky era principalmente eu, mas também ele.

Report of Court Proceedings in the Case of Aint-Soviet “Bolc of Rights and Trotskyites” Heard Before the Military Collegium of the Supreme Court
of the U.S.S.R Moscow, March 2-13, 1938... Verbatim Report Moscou: Comissariado do Povo para a Justiça da URSS, 1938, pp. 184; 279-80.

Rudzutak é citado nesse julgamento muitas vezes por Rozengolts, que é citado por Yezhov:
Pergunta: O que você empreendeu para concluir a tarefa dos alemães?
Resposta: Eu prometi a Kandelaki meu apoio e deveras negociei com Rozengolts sobre a conveniência
de se concluir algo sobre tal arranjo. Como resultado o Comissariado do Povo para Comércio Exterior
tomou uma decisão favorável ao acordo.

“Os transcritos do Interrogatório do Prisioneiro Yezhov Nikolai Ivanovich of April 26 1939”, Lubianka l Stalin i NKVD – NKGB – GUKR
“SMERSH”. 1939 – mart 1946 Moscou, 2006, pp. 63-4. Tradução no Link [ezhov042639eng].

Isso também confirma sua associação com os conspiradores militares de Tukhachevsky, os mesmos que
Rudzutak foi acusado de estar envolvido. Rozengolts foi citado muitas vezes por Tamarin como o principal
conspirador direitista, e como a pessoa que o recrutou pessoalmente em um recém-publicado interrogatório-
confissão.

Rudzutak foi citado por Rukhimovich durante sua confissão, em 31 de janeiro de 1938:
Pergunta: O que você sabia sobre as atividades dessa organização letã?
Resposta: Eu já confessei que foi BAUMAN e MEZHLAUK que mantiveram contato com os letões.
Portanto são eles que devem dar os detalhes sobre as pessoas e as atividades dessa organização. Tudo
que eu sei é que RUDZUTAK e ALKSNIS encabeçavam a operação. A organização estava firmemente
ligada com os serviços de inteligência letão e alemão, e possuía muitos quadros contrarrevolucionários.
Especialmente as unidades armadas da organização militar letã seriam usadas no plano do “golpe
palaciano”.

Lubianka 3, No. 209, p. 484.

ROZENBLIUM

Khrushchev:
A forma pela qual os antigos agentes do NKVD fabricavam vários “centros antissoviéticos” e “blocos”
fictícios com a ajuda de métodos provocativos é vista a partir da confissão do camarada Rozenblium,
membro do partido desde 1906, que foi preso em 1937 pelo NKVD de Leningrado.
Em 1955, durante a apuração do caso Komarov, Rozenblium revelou o seguinte fato: Quando foi preso
em 1937, ele foi submetido a uma terrível tortura durante a qual foi ordenado a confessar informações
falsas sobre si mesmo e sobre outras pessoas. Ele foi então levado para o escritório de Zakovskii, que
lhe ofereceu liberdade com a condição de que fizesse, perante o tribunal, uma confissão falsa sobre
“sabotagem, espionagem e diversionismo para um centro terrorista em Leningrado”, fabricada em
1937 pelo NKVD (Movimento no salão). Com um cinismo inacreditável, Zakovskii contou sobre o vil
“mecanismo” para a criação astuta de “tramas antissoviéticas” forjadas.

Para ilustrar-me isso – afirmou Rozenblium – Zakovskii me deu muitas variações


possíveis da organização deste centro e das suas ramificações. Depois que detalhou a
organização a mim, Zakovskii disse que o NKVD prepararia o caso para este centro,
observando que o julgamento seria público. Antes do julgamento deveriam ser trazidos 4
ou 5 membros deste centro: Chudov, Ugarov, Smorodin, Pozern, Shaposhnikova (esposa
de Chudov) e outros, juntamente com 2 ou 3 membros dos ramos deste centro...

... O caso do centro de Leningrado tinha que ser construído solidamente e, por isso,
testemunhas eram necessárias.

A origem social (é claro, no passado) e a posição partidária da testemunha iriam


desempenhar mais do que uma pequena função.

“Você, você mesmo” – disse Zakovskii – “não precisará inventar nada. O NKVD
preparará para você um esboço para cada ramo do centro; você terá que estudá-lo
cuidadosamente e lembrar bem de todas as perguntas e respostas que o Tribunal pode
fazer. Este caso estará pronto em quatro ou cinco meses, ou talvez meio ano. Durante todo
esse tempo você se preparará para que não comprometa a investigação nem a si mesmo.
Seu futuro dependerá de como o julgamento se desenrolar e de seus resultados. Se você
começar a mentir e testemunhar falsamente, culpe a si mesmo. Se você conseguir suportar
isso, você vai salvar sua cabeça e nós vamos alimentá-lo e vesti-lo aos custo do Governo
até a sua morte”.

Esta é a forma das coisas vis que foram, então, praticadas. (Movimento no salão.)

Para todo o método de confissões extraídas por meio do espancamento de pessoas, tanto inocentes quanto
culpadas, veja a Seção 16, acima, sobre Yezhov e citações das declarações de Frinovsky.

Jansen e Petrov citam Yezhov como o mandante do fuzilamento de Zakovskii em agosto de 1938 para
tira-lo do caminho, o impedindo de testemunhar contra.
Frinovsky retornou a Moscou em 25 de agosto, pouco após a nomeação de Beria e foi convocado
diretamente ao NKVD e permaneceu com Yezhov por mais de uma hora. Depois de preso
testemunhou: “Eu nunca tinha visto Yezhov tão depressivo. ‘As coisas estão apodrecids’ ele disse,
abordando diretamente a questão de Beria ter sido encaminhado contrariamente à sua vontade”. Em
27-28 de agosto, Frinovsky encontrou-se com Evdokimov, que insistiu que antes da chegada de Beria
ele deveria tomar conta de qualquer caso (neodelki) não finalizado que pudesse comprometê-los. Ele
disse a Frinovsky “Cheque se Zakovskii e todos os homens de Yagoda foram executados porque as
investigações desses casos talvez sejam reiniciadas após a chegada de Beria e talvez eles se virem
contra nós”. Frinovsky então confirmou que o grupo de Chekistas, incluindo Zakovskii e Mironov,
tinha sido fuzilado em 26-27 de agosto (na verdade eles foram fuzilados em 29 de agosto).

Jansen & Petrov, p. 151. Esse é o mesmo documento que o da declaração de Frinovsky publicado recentemente (2006) e o qual eu coloquei na
internet no Link [frinovskyeng].

Zakovskii era parte da conspiração de Yezhov, junto com Frinovsky e outros.


Zakovskii foi explicitamente culpabilizado no telegrama de 10 de janeiro de 1939 de Stalin, pela tortura
de pessoas “como a regra”. Veja abaixo a discussão para esse documento e a referência a Zakovskii. Khrushchev
tinha este telegrama posto que o citou. Mas ele não citou a parte envolvendo Zakovskii, sem dúvidas porque teria
minado a insinuação de que Zakovskii estava agindo em acordo com os desejos de Stalin.

KABAKOV

Khrushchev:
Ainda mais ampla foi as falsificações de casos praticadas nas províncias. A sede do NKVD do Oblast
de Sverdlov “descobriu” a chamado “equipe de insurreição dos Urais” – um órgão do bloco de
direitistas, trotskistas, Socialistas-Revolucionários, líderes da igreja – cujo chefe supostamente era o
Secretário do Comitê do Partido do Oblast de Sverdlov e membro do Comitê Central do Partido
Comunista da União (Bolcheviques), Kabakov, que era membro do Partido desde 1914. Os materiais
investigativos da época mostram que em quase todos os krais, oblasts [províncias] e repúblicas
supostamente existiam “organizações e centros trotskista-direitistas de espionagem e sabotagem” e que
os chefes dessas organizações, como uma regra – sem motivo conhecido – eram Primeiros Secretários
dos Comitês de Oblast ou dos Partidos Comunistas das Repúblicas, ou dos Comitês Centrais.

Dos materiais de reabilitação de Mirzoian, 1955:


Posteriormente Mirzoian confessou que em 1933, enquanto ele estava nos Urais, ele supostamente
mantinha contato com um dos líderes dos direitistas – Kabakov – e continuou suas atividades
contrarrevolucionárias, e, em 1933-1938, sob as ordens de Rykov e Bukharin, ele supostamente
encabeçou a clandestinidade trotskista-direitista no Cazaquistão.

RKEB 1 No. 52, p. 280.

Kabakov foi dispensado tanto do CC quanto do Partido por uma resolução emitida pelo CC em 17-19 de
maio de 1937 e aceita em 29 de junho de 1937.

Kabakov aparece no relatório de Yezhov para a Plenária do CC de junho de 1937, sobre a natureza
difundida da conspiração:
Nesse relatório Yezhov esboçou uma entramada conspiração contra Stalin. Aparentemente já em 1933,
por iniciativa de vários grupos oposicionistas, uma união “Centro dos Centros” tinha sido criada com
Rykov, Tomsky e Bukharin representando os direitistas, SR’s e Mencheviques; Yenukidze ao lado dos
conspiradores do Exército Vermelho e NKVD; Kamenev e Sokolnikov pelos zinovievitas; e Piatakov
pelos trotskistas. A principal tarefa do “Centro dos Centros” ou “Centro Unido” tinha sido a derrubada
do poder soviético e restauração do capitalismo na URSS. Supostamente os conspiradores militares,
liderados por Tukhachevsky, bem como Yagoda e seu pessoal no NKVD, eram subordinados do
Centro. A inovação no esquema de Yezhov era que nas direções de cada república ou província
também haviam conspiradores. Ele menciona os dirigentes regionais do partido, Sheboldaev, de Kursk,
Razumov, de Irkutsk, Kabakov, de Sverdlovsk e Rumiantsev, de Smolensk – todos eles membros do
Comitê Central, os quais já haviam sido presos antes da Plenária104.

104. Tsa FSB, F. 3, op. 4, d. 20, ll. 117-22.


Jansen & Petrov, p. 75 & 233.

Kabakov foi citado, em uma nota ao Politburo assinada por Stoliar, Secretário de Obkom, chefe de uma
organização contrarrevolucionária nos Urais.
Com base nas evidências em mãos no obkom e as confissões de 5 militantes presos do aparato
especialmente designado pelo CCP [Comissão de Controle do Partido – GF] para esse oblast, o
plenipotenciário do CCP, Bukharin [nota: não é o Bukharin “famoso”] e o secretário do colégio do
Partido, Nosov, foram expostos como inimigos do povo, sendo participantes ativos da organização
contrarrevolucionária encabeçada nos Urais por Kabakov.

Lubianka 2, No. 276, 7 de janeiro de 1938.

Kabakov foi delatado por Zubarev, um dos réus do Julgamento “de Bukharin” em março de 1938, como
um membro desde 1929, de uma conspiração direitista nos Urais. Rykov um dos principais réus junto com
Bukharin também citou Kabakov como um importante membro da conspiração direitista.
ZUBAREV:(...) Quando eu consenti ele me disse de uma vez que eu não seria o único a trabalhar nos
Urais, que lá já havia um membro ativo muito influente da organização contrarrevolucionária e que era
diretamente conectado com o Centro Unido através de Rykov. Ele mencionou Kabakov.
ZUBAREV: Rykov referiu A. P. Smirnov e afirmou que ele tinha ouvido deste último que eu era um
membro ativo da organização dos direitistas. Eu descrevi a ele a situação geral dos Urais, o estado de
nossa organização e disse-lhe que já ao final de 1929, em dezembro, Kabakov e eu tínhamos
organizado um grupo regional que coordenava todo o trabalho. Eu informei quem pertencia a esse
grupo: Kabakov, eu, Sovetnikov e outros. Eu disse sobre o trabalho que eu havia realizado sob as
instruções de Smirnov e de Rykov, transmitidas por Kabakov.
RYKOV: (...) havia uma série de membros de nossa organização em vários lugares, como foi
enumerado, incluindo pessoas como Kabakov, secretário (...)

1938 Trial pp. 139; 160.

Kabakov é citado no Relatório Pospelov, Seção II.


A UNKVD do oblast de Sverdlovsk ́” descobriu” a então chamada “equipe de rebelião do Ural” – um
órgão do bloco dos direitistas, trotskistas, SRs e fiéis ortodoxos e a agência do ROVS [uma
organização militar de russos branco emigrados – GF], liderada pelo secretário do obkom de
Sverdlovsk, Kabakov, membro do CC do VKP(b) desde 1914. Essa equipe supostamente coordenava
200 subgrupos formados por linhas militares, 15 organizações rebeldes, e 56 grupos.

RKEB 1 p. 323; Doklad Khrushcheva p. 192.

John D. Littlepage discute a sabotagem nos Urais (Veja Capítulos 9, 10 e 25 para sabotagem em geral).
Sobre Kabakov especificamente (p. 99):
Pareceu-me claro na época que a seleção dessa comissão e sua conduta na Kalata eram diretamente
rastreáveis de volta ao alto comando comunista em Sverdlovsk, cujos membros devem ser acusados ou
de negligência criminosa ou de participação ativa nos eventos ocorridos naquelas minas. /100/
Entretanto, o secretário chefe do Partido Comunista nos Urais, um homem chamado Kabakoff, tinha
ocupado esse posto desde 1922, durante o período de grande atividade no desenvolvimento das minas
e indústrias dos Urais. Por alguma razão, que nunca me foi clara, ele sempre comandou com a
confiança absoluta do Kremlin e era considerado tão poderoso que era privadamente descrito como
“Vice-rei bolchevique dos Urais”.
Se os arquivos desse homem fossem examinados, não haveria nada que justificasse a reputação que ele
aparentava ter. Sob seu longo comando, a área dos Urais, que é uma das mais ricas regiões mineiras da
Rússia e a qual foi dada capital quase ilimitado para exploração, nunca produziu nada parecido com o
que deveria ter sido feito.
(...) Na época, eu disse a alguns de meus conhecidos russos que me parecia haver muito mais coisas
acontecendo nos Urais do que havia sido revelado e que isso vinha de algum lugar do alto.
Todos esses incidentes se tornaram mais claros, até onde eu tinha conhecimento, depois do julgamento
da conspiração, em janeiro de 1937, quando Pyatakoff, junto com muitos outros de seus associados,
confessaram na corte aberta que tinham engajado em organizar sabotagem em minas, linhas
ferroviárias e outras empresas industriais, desde o começo de 1931. Poucas semanas depois desse
julgamento terminar e Pyatakoff ser sentenciado ao fuzilamento, o Secretário chefe do Partido nos
Urais, Kabakoff, que tinha sido associado íntimo de Pyatakoff, foi preso sob as acusações de
cumplicidade na mesma conspiração.

Littlepage, Demaree Bess. In Search of Soviet Gold NY: Harcourt, Brace & Co. 1938 (1937).

John R. Harris teve acesso aos arquivos de investigação de Kabakov. Ele declara:
Como Kabakov colocou, “muitos dirigentes do Partido estavam imperceptivelmente envolvidos na
camarilha, [por meio de presentes ilegais] de modo que dentro de um ano ou dois, quando eles
entenderam a natureza criminosa daquilo estavam envolvidos, eles já estavam em dívida conosco”.

The Great Urals: regionalism and the evolution of the Soviet system. Ithaca: Cornell U. P. 1999, p. 163.

KOSSIOR; 22. CHUBAR; 23. POSTYSHEV; 24. KOSAREV

Khrushchev:
Muitos milhares de comunistas honestos e inocentes morreram como resultado da falsificação
monstruosa de tais “casos”, como resultado da ratificação de todos os tipos de “confissões” caluniosas
e como resultado da prática de se forçar acusações contra si mesmo e outros. Da mesma forma, foram
fabricados os “casos” contra eminentes e militantes do Partido e do Estado – Kossior, Chubar,
Postyshev, Kosarev e outros.

KOSSIOR E CHUBAR
O recém-publicado interrogatório-confissão de Yezhov, de 26 de abril de 1939, cita tanto Kossior quanto
Chubar entre aqueles que “visitaram” o agente de inteligência alemã, Norden, que por sua vez recrutou Yezhov:
Do grande número de pessoas que NORDEN consultou, eu especificamente me lembro de
GAMAENIK, YAKIR, HUBAR, PETROVSKY, KORSIOR, VEINBERG e METALIKOV. Norden
também me consultou.

Interrogatório-confissão de Yezhov de 26 de abril de 1939, disponível no Link [ezhov042639eng].

De acordo com os materiais de reabilitação de Postyshev, encaminhados para Khrushchev, Kossior


implicou Postyshev então contradisse sua confissão, mas depois a reafirmou novamente.

Kossior implicou-o; então voltou atrás; então reiterou. Em sua própria confissão Postyshev implica
Kossior, bem como Yakir, Chubar e outros.
Kossior S. V., no início da investigação, nomeou Postyshev entre a série de participantes da
conspiração militar na Ucrânia. Então retratou sua confissão, mas confirmou-as de novo
subsequentemente. Nos arquivos de Kossior há uma declaração de Antipov N. K., na qual ele afirma
que houve relações íntimas completamente anormais entre Kossior e Postyshev e que Postyshev não
estava no centro geral das organizações contrarrevolucionárias da Ucrânia. Nessa situação, as
confissões de Kossior dão sérias margens para duvidar da sua confiabilidade.

RKEB 1, p. 219 – Reabilitação de Postyshev.

Postyshev implicou Kossior:


Postyshev confessou que era culpado de, desde 1934, ser um membro de uma organização
contrarrevolucionária trotskista-direitista na Ucrânia e, junto com Kossior e outros participantes da
organização, ele realizou sabotagem e atividades subversivas.
Postyshev também confessou que também era culpado de desde 1920 ser um agente da inteligência
japonesa, para qual ele deu informação constituída de segredos de estado da URSS até o dia em que foi
preso.
Na investigação preliminar e no julgamento Postyshev disse que era culpado. Entretanto os fatos
estabelecidos nas transcrições do interrogatório de Postyshev não foram confirmados durante o
processo de verificação.
Nas “confissões” de Postyshev é declarado que ele estava pessoalmente ligado, em sua tarefa
contrarrevolucionária, a Baltsky V. A., Kossior S. V., Yakir I. E., Chubar V. Ya., Popov N. N.,
Musulbas I. A. e outros participantes da organização antissoviética da Ucrânia.

RKEB 1, p. 1218.

Nos documentos recuperados de Chubar:


As acusações sobre Chubar fazer parte de uma organização trotskista-direitista, foram baseadas nas
confissões indiretas dos detentos, Antipov, Kossior, Pramnek, Sukhomlin, Postyshev, Boldyrev e
outros, os quais, ao identificá-lo como membro da organização contrarrevolucionária referenciam
também, Rykov, Grinko, Bubnov e outras pessoas que não mencionam Chubar em seus depoimentos.

RKEB 1, p. 215.

As acusações sobre Sukhomlin ser membro de uma organização trotskista-direitista e cooperar com a
inteligência japonesa são baseadas nas confissões dos presos, Tiagnibeda, Marchak, Shumiatsky,
Ermolenko e outros os quais referenciam Kossior, Postyshev, Yakir e ademais.

RKEB 1, p. 252.

Chubar foi implicado na conspiração trotskista-direitista por Antipov, Kossior, Pramnek, Sukhomlin,
Postyshev, Boldyrev e outros.

Kaganovich, entrevistado por Felix Chuev:


A situação geral e opinião pública era tal que não era possível. Eu defendi Kossior e Chubar, mas
quando me foi mostrado todo o livro de anotações escrito por Chubar, suas confissões escritas de seu
próprio punho, eu gritei [lit. “abri minhas mãos”, como sinal de inquietação]

Chuev, Tak govaril Kaganovich, p. 68-9.


Molotov disse a Chuev que ele próprio estava presente quanto Antipov, amigo de Chubar, acusou-o.
Chubar negou raivosamente e ficou muito nervoso com Antipov. Molotov conhecia os dois muito bem (Chuev,
Molotov: Poluderzhavnyi Vlastelin pp. 486-7).

De acordo com o Relatório Pospelov, preparado para Khrushchev, Kossior foi preso em 3 de maio de
1938 – isto é, por Yezhov, muito antes da chegada de Beria à NKVD – e submeteram-no tanto a tortura (sem
detalhes informados) quanto a interrogatórios prolongados, de até 14 horas diretas. Dos 54 interrogatórios de
Kossior, apenas 4 foram documentados. Isso é consistente com a nova e reveladora declaração de Frinovsky.
No. 139
16 de junho de 1938

60. Relativo ao Camarada Chubar V. YA.

61. Em visão dos fatos que as confissões de Kossior, Eikhe,


Tr. Chubar e, além disso, as confissões de Rudzutak e
Antipov, jogam suspeitas sobre V. YA. Chubar, o
Politburo do CC considera impossível que ele permaneça
como membro do Politburo do CC e Vice Presidente do
Conselho de Comissários do Povo da RSS e considera
dar-lhe trabalho apenas nas províncias, a título probatório.

62. Decidir a questão do trabalho concreto do cam. Chubar no


curso dos próximos dois dias.
Stalinskoe Politbiuro v 30-e gody, p. 167 (ênfases adicionadas, GF).

A confissão de Dmitriev:
LIUSHKOV disse-me que LEPLEVSKY veio à Ucrânia e ressaltou de modo alarmante sobre a
erradicação do pessoal de BALITSKY. Ele prendeu uma série de militantes dirigentes do NKVD
ucraniana e os acusou de realizar atividades contrarrevolucionárias sob as ordens de BALITSKY e de
ao mesmo tempo em conluio com uma série de conspiradores, que supostamente deveriam agir sob
suas instruções. LEPLEVSKY realizou o combate aos direitistas de tal maneira, que, por todos os
meios, ele sempre protegia de qualquer exposição a liderança da organização.
Nesse caso a pessoa em questão era KOSSIOR S. V. Ele, de acordo com as palavras de LIUSHKOV,
estava de fato em comando das tarefas operacionais no NKVD ucraniana(...)
Uma vez eu tive a impressão de que BALITSKY e LEPLEVSKY estavam em guerra um contra o
outro e que eram inimigos pessoais. LEPLEVSKY disse-me que tudo era apenas um espetáculo e que,
na verdade, ele e BALITSKY estavam na mesma clandestinidade contrarrevolucionária, liderada por
KOSSIOR, que era um dos mais clandestinos dos direitistas na Ucrânia.

Lubianka 2, No. 356, pp. 577-602. em 590-1 (ênfases adicionadas, GF).

KOSAREV

Kosarev foi citado por Babulin, neto ainda vivo de Yezhov, colega conspirador e testemunha da
“degeneração moral” de Yezhov e sua esposa Evgenya, como alguém que os visitava frequentemente junto com
outros conspiradores como Piatakov:
Resposta. YEZHOV e sua esposa, Evgenya Solomonovsna, tinham um amplo círculo de conhecidos
com os quais tinham relações amigáveis e simplesmente aceitavam-nos em sua casa. O mais frequentes
convidado na casa de YEZHOV era PIATAKOV, o ex-diretor do Banco Estatal da URSS, Mariasin,
ex-gerente da seção estrangeira do Banco Estatal, SVANIDZE ex representante de comércio na
Inglaterra, BOGOLOMOV, o editor de Peasant Gazette, URITSKY Semion, KOLTSOV Mikhail,
KOSAREV A. V., RYZHOV e sua esposa, Ziniaida GLIKINA e Ziniaida KORIMAN.

Babulin, p. 75. no Link [babulinru].

Ao que parece, ao interpretar essa mesma confissão de Babulin, e mais outros materiais de arquivos, não
mais disponíveis aos pesquisadores, que Jansen e Petrov tomaram por hipótese algum tipo de relação similar entre
as esposas de Kosarev e Yezhov.
Viktor Babulin adicionou Aleksandr Kosarev e um aluno da Academia Industrial, Nikolai
Baryshnikov, ao seu círculo pessoal. 27 O ex dirigente do Komsomol, Kosarev (que tinha sido editor
chefe da obra “URSS em Construção”, de Evgenya) tinha sido preso em 28 de novembro de 1938 e
fuzilado no dia 23 de fevereiro do ano seguinte. Foi detido por participar de uma suposta conspiração
do Komsomol, contudo, não há evidências que seu caso estivesse, de qualquer forma, relacionado com
o de Yezhov

Jansen & Petrov, p. 185.

Rogovin:
A Plenária [do CC do Komsomol] dispensou Kosarev de sua posição, bem como outros 4 secretários
do CC do Komsomol, devido a “comportamento insensível, escuso, e hostil para com militantes
honestos do Komsomol, que tentaram expor as fraquezas do trabalho do CC do Komsomol, e, por
vingarem-se contra um dos melhores militantes do Komsomol (o caso da camarada Mishakova).

Rogovin, Partiya rasstrelyannykh. Cap. 26 no Link [trst.narod.ru/rogovin/t5/xxxvi].

De acordo com Akaki Mgeladze, Stalin. Kakim Ya Ego Znal N.p. (Tbilisi?), 2001, Mgeladze,
posteriormente Primeiro Secretário do Partido da Geórgia, mas figura dirigente do Komsomol na década de 1930,
discutiu sobre Kosarev com Stalin em 1947 (p. 165). Durante essa discussão Stalin disse a ele:
... A questão de Kosarev foi discutida duas vezes no Politburo. Zhdanov e Andreev estavam destacados
para verificar a evidência. Eles confirmaram que as declarações de Mishakova e outros correspondiam
com a realidade, e os materiais angariados pelo NKVD não davam motivos para dúvidas.

Mgeladze, que claramente acreditava que Kosarev era ou inteiramente inocente e foi acusado por Beria
por motivos pessoais ou tinha simplesmente cometido alguns erros, respondeu:
Eu li o transcrito da Plenária do Comitê Central do VLKSM [abreviação para Komsomol, “União
Comunista Leninista Soviética da Juventude” – GF], no qual Kosarev foi removido. Nos discursos
tanto de Zhdanov quanto Andreev, e no relatório de Shkiriatov, tudo foi tão minucioso que não é
possível duvidar de qualquer coisa.

De acordo com Mgeladze, Stalin tomou parte para explicar que todo mundo comete erros, e muitos erros
foram cometidos em 1937. Mas Stalin não considera esse o caso de Kosarev (p. 172).

AS LISTAS

Veja citações no texto do Capítulo IV.

AS RESOLUÇÕES DA PLENÁRIA DO COMITÊ CENTRAL, JANEIRO DE 1938

Khrushchev:
As resoluções da Plenária do Comitê Central do Partido Comunista da União (Bolcheviques) de
janeiro de 1938 trouxeram alguma medida de melhoria às organizações partidárias. No entanto, a
repressão generalizada também existiu em 1938.

Getty e Naumov:
Então, as depredações massivas ao Partido eram alocadas (não sem alguma justificativa) em ex-
secretários do Partido que, em maioria, já haviam sido removidos.

p. 496.

Nos meses que seguiram [a Plenária de janeiro de 1938], cessaram-se as expulsões em massa do
Partido, muitos membros expulsos foram readmitidos e o recrutamento de novos membros começou
pela primeira vez desde 1933.

p. 497.

Robert Thurston:
Vyshinsky “questionou todo o curso do terror”. (109) “sem a aprovação do SecGen [Stalin], a
procuradoria nunca tomaria os passos que tomou para protestar e reprimir o terror”.
A descrição de Chuianov demonstra que o NKVD tinha estado fora de controle em nível regional, se não
nacional. (...), Mas toda a evidência agregada sugere que o terror tinha duas trilhas: em uma, Stalin pessoalmente
empurrou para frente os eventos, arranjou os tribunais espetáculos e demandou, de maneira confusa, que centenas
de milhares de pessoas fossem presas em 1937. No outro caso, a polícia fabricou casos, torturou pessoas não
visadas pelas diretivas de Stalin e se tornou um poder por si mesma”. (112; veja Cap 4 passim. Ênfases
adicionadas) > >>>Veja também Zhukov, Tainy Kremilia Cap. 2; Getty & Naumov 501-2; Insistência de Postyshev
para expulsões massivas, Tainy pp. 50-51. Para o relato de Malenkov veja: Tainy pp 48-9. Veja o decreto
(postanovlenie) “Ob oshibakakh”....

Benediktov:
Stalin, sem dúvida alguma, sabia sobre os caprichos e ilegalidades que aconteceram durante o curso
das repressões, se arrependeu e tomou medidas concretas na direção de corrigir os excessos que
aconteceram e liberar as pessoas honestas que haviam sido aprisionadas. Eu menciono isto pelo fato de
que naqueles dias nós tínhamos pouca tolerância com caluniadores e delatores. Muitos deles depois de
serem descobertos eram hospedados nos mesmos campos para os quais tinham enviado suas vítimas. O
paradoxo é que alguns deles, liberados durante o “degelo” de Khrushchev, começaram a gritar sobre a
ilegalidades stalinistas mais que qualquer um e até mesmo tiveram a audácia de publicar suas
memórias sobre tais ilegalidades! (...)
Em 1938 a Plenária do CC VKP(b) em janeiro abertamente admitiu essas ilegalidades cometidas
contra honestos comunistas e pessoas de fora do Partido e, ao seu fim, adotou uma resolução especial,
que, a propósito, foi publicada em todos os jornais centrais. Tão aberta foi, que em todo o país ocorreu
a discussão no 18º Congresso do Partido em 1939 a respeito dos danos causados pelas repressões
infundadas. Logo após a Plenária do CC de janeiro de 1938, milhares de pessoas ilegalmente
reprimidas, incluindo dirigentes militares proeminentes, começaram a retornar de seus locais de
aprisionamento. Todos eles estavam oficialmente reabilitados e Stalin se desculpou pessoalmente a
alguns deles.

Y. A. Benediktov, “O Staline I Khrushcheve”, Molodaia Gvardiia No. 4, 1998, 12-65; citado em rksmb. ru/print,php?143, Benediktov foi ministro
ou Primeiro Deputado do Ministro da Agricultura de 1938 a 1953 (Link [hrono.ru/biograf/benediktov]).

Lev Balayan:
De todo modo em 1938 adotaram seis resoluções do CC do VKP(b) relativas às violações da
legalidade socialista. Além daquelas discutidas acima, elas foram (...) [as seis são, então, enumeradas].
As “troikas” e “dvoikas” ligadas à NKVD foram abolidas por ordem do Comissário do Povo para
Assuntos Internos (L. P. Beria), em 26 de novembro de 1938.

Balayan, Stalin i Khrushchev, 28-9/237. Todos menos o primeiro (28 de março) estão em Lubianka 2. A data da abolição das troikas foi em 17 de
nov. de 1938 por “Obarestakh(...)”.

Em primeiro de fevereiro de 1938 o Procurador da URSS A. YA. Vyshinsky relatou a J. V. Stalin e V.


M. Molotov que a Procuradoria Geral Militar tinha ouvido, sobre os pedidos do secretário do Obkom
de Vologodsky fatos a respeito dos crimes especialmente perigosos cometidos por uma série de
empregados da UNKVD de Vologodsky. Foi estabelecido que falsificadores de casos criminais
compilaram transcritos fabricados de interrogatório das pessoas acusadas, que supostamente tinham
confessado à comissão os mais sérios crimes de Estado (...) Os casos fabricados, dessa forma, foram
entregues às mãos da troika ligada a UNKVD do oblast de Vologodsky e mais de 100 pessoas foram
fuziladas. (...) Durante os interrogatórios foram cometidas atrocidades, todos os tipos de tortura foram
aplicados aos interrogados. Chegou ao ponto que durante os interrogatórios feitos por esses indivíduos
quatro das pessoas sob interrogação foram assassinadas.
Os relatos acima denunciam que os mais sérios crimes contra a legalidade socialista foram processados
em sessões fechadas do Tribunal Militar do Distrito Militar de Leningrado, na presença de um pequeno
grupo de militantes operadores da diretoria do NKVD e da procuradoria de Vologodsky. Os acusados
Valsov, Lebedev e Roskuriakov, como iniciadores e organizadores dos ultrajantes crimes supracitados
foram condenados à pena capital – fuzilamento, e outros sete de seus colaboradores foram
sentenciados a longas penas de prisão. (L. Mlechin, Smert’ Stalina, p. 215). Por todo o país existiram
11.842 tipos tais quais Vlasovs, Lebedevs e Roskuriakovs, canalhas miseráveis que, mesmo no período
dos perdões displicentes da era Gorbachev, quase todos da infame Comissão Yakovlev, não foram
considerados passíveis de reabilitação (I. Rashkovets “Nesudebnye Organy”, in Ras´rava. Prkurskie
sd’by, p. 317). São precisamente os escrúpulos de tais adulteradores de casos criminais, acusados de
conduzir prisões em massa sem fundamentação alguma e a aplicação de métodos ilegais de
investigação (i.e. tortura – L. B.). Os mesmos que, mesmo meio século depois os pedidos de
reabilitação por decreto da Corte Suprema da URRS em 16 de Janeiro de 1989 seriam recusado – É
sobre eles que recai a responsabilidade dos próprios “milhares e milhares de pessoas inocentes
reprimidas” que Khrushchev, e seu legatário e pupilo Gorbachev generosamente permitiram que fosse
atribuído ao falecido J. V. Stalin.

Balayan, Stalin i Khrushchev, Ch. 2, no Link [20130426065250]. Balayan se refere à coleção Rasprava. Prokorskie sd’by (Moscou; Iuridicheskaia
literature, 1990), p. 314 para a dissolução das “troikas” e dá a data incorreta, 26 de novembro de 1938. De fato, o decreto é datado de 17 novembro
de 1938
A carta de Vyshinsky para Stalin está em Sovetskoe Rukovodstvo: Perepiska 1928-1939. M, 199,
No. 239, pp. 398-400 e está online no Link [vyshinsky_stalinfeb0139].

Jansen & Petrov, sobre Uspensky sobre as direções de Yezhov para falsificação massiva de casos:
... a noção de que os chefes regionais do NKVD se opuseram silenciosamente aos planos de Yezhov e
que Yezhov forçou-os a conduzir operações em massa sob a ameaça de prisão é contradita pelo
testemunho de outro participante da conferência, o chefe do NKVD de Orenburg A. I. Uspensky (dada
durante investigação em abril de 1939). Em suas palavras, eles “tentaram superar uns aos outros com
relatórios sobre gigantescos números de pessoas presas”. Uspensky está, claro, incorreto ao falar sobre
“pessoas presas”, uma vez que a conferência lidou com cotas de futuras prisões em cada região. De
acordo com o depoente, as instruções de Yezhov se resumiam em “Bater, destruir sem distinção,” e ele
cita Yezhov ao dizer que, com a destruição de inimigos, “um certo número de pessoas inocentes
acabaria sendo aniquilado também”, mas isso era “inevitável”15. Duas outras fontes oferecem uma
redação similar: Yezhov anunciou que “se durante essa operação um excedente de mil pessoas fosse
fuzilado isso não seria uma grande questão”.
Durante a conferência, Yezhov e Frinovskii conversaram com cada um dos chefes do NKVD
presentes, descrevendo as metas para prisão e execução apresentadas por eles e dando instruções para
as medidas necessárias em vista da preparação e condução da operação. Mironov informou Yezhov
sobre um “bloco trotskista-direitista” que tinha sido descoberto dentro da liderança da Sibéria
Ocidental. Quando ele chamou de não convincente as provas contra alguns daqueles presos, Yezhov
respondeu: “Por que você não os prende? Não complicaremos a situação, aprisione-os, e então lide
com isso depois, eliminando aqueles contra os quais não há provas. Aja com mais ousadia, eu já te
disse isso repetidamente”. Ele adicionou que, em certos casos, com o aceite de Mironov, chefes de
departamento também poderiam aplicar “métodos físicos de influência”16. Quando Uspensky
perguntou a Yezhov o que fazer com os prisioneiros mais velhos que setenta anos, ele ordenou que
fossem fuzilados.

Jansen & Petrov, p. 84-85.

Yezhov aprovou a atividade daqueles chefes do NKVD que citaram números “astronômicos” de
pessoas reprimidas, como, por exemplo, o chefe do NKVD da Sibéria Ocidental, denunciando o
número de 55000 pessoas presas, Dmitriev da província de Sverdlovsk – 40000, Berman, da
Bielorrússia – 6000, Uspensky de Orenburg – 40000, Liushkov, do Oriente Distante – 70000, Redens,
da província de Moscou, 50000*. Cada chefe do NKVD ucraniano citaram um número entre 30000 e
40000 pessoas reprimidas. Tendo ouvido os números, Yezhov em seu relatório final elogiou aqueles
que tinham “superado” e anunciou que, sem dúvida, excessos ocorreram aqui e ali, como em
Kuibyshev, onde, sob instruções de Postyshev, Zhuravlev tinha transplantado todos os membros do
Partido ativos na província. Mas ele imediatamente afirma que “em tal operação de larga escala, erros
são cometidos”.
* Redens era da “troika” de Moscou, junto do próprio Khrushchev.

ibid. p, 131.

Uspensky estava atônito e alarmado por sua conversa de mesa de bar. Durante a viagem Yezhov bebeu
ininterruptamente, ostentando a Uspensky que ele tinha o Politburo “em suas mãos” e que poderia
literalmente fazer qualquer coisa, prender qualquer um, incluindo membros do Politburo.

ibid. p, 133.

“GANGUE DE BERIA”

Khrushchev:
Enquanto isso, a gangue de Beria, que dirigia os órgãos de segurança do Estado, se superou em provar
a culpa do preso e a verdade dos materiais que falsificou.

Thurston, p. 118:
Khrushchev então sugeriu que a tortura policial continuou livremente, e até mesmo aumentou sob
Beria. Porque parte do propósito de Khrushchev no discurso era mostrar seu arqui-inimigos e
oponentes políticos após a morte de Stalin sob a pior luz possível, essa alegação não pode ser tomada
como afirmação definitiva.
A imagem negativa de Beria(...) tinha erroneamente sobrescrito a evidência de primeira mão do que
aconteceu quando ele substituiu Yezhov. Boris Menshagin, um advogado de defesa em Smolensk,
comentou que Beria “de cara, demonstrou liberalismo estonteante”. As prisões “caíram praticamente a
nada” como o interno, Alexander Weissberg coloca. (...) uma política nova e muito melhorada estava
estabelecida. /119/ Repressão política declinou agudamente em 1939-41. (...)
Nas prisões e campos, ao final de 1938, os internos retomaram direitos permitidos sob Yagoda, mas
perdidos com Yezhov, ter livros e jogar xadrez e outros jogos (...) Investigadores agora usavam o termo
“vy [pronome russo:]”, mais polido, no lugar do condescendente familiar “ty”. (...) a tortura, mais uma
vez, se tornou a exceção, contrário à afirmativa de Khrushchev (...) prisioneiros como R. V. Ivanov-
Razumnik, Maria Yoffe e Abdurakman Avtorkhanov, entre outros, relataram que os métodos físicos,
onde eram mantidos, cessaram quando Beria assumiu o controle da polícia.
Sob Beria, um expurgo varreu o NKVD, removendo a maioria dos tenentes de Yezhov e muitos dos
escalões mais baixos também.

De acordo com o relatório Pospelov, as prisões caíram muito, mais de 90%, entre 1939 e 1940
comparado com 1937 e 1938

Ano *1935** *1936** *1937**

Apr eensões 114.456 88.873 918.671


Dos
quais foram
exe cutados

&
1.229 &
1.118 &
353.074 &
328.618 &
2.601 &
1.863

Disponível no Link [alexanderyakovlev.org/almanah/inside/almanah-doc/55752]; publicado em


muitos lugares, incluindo Doklad Khrushcheva, p. 185.

Em 1939 e 1940 as execuções atingiram bem menos de 1% do nível de 1937 e 1938. Beria tomou a
chefia do NKVD em dezembro de 1938, então esse processo corresponde precisamente com o período de Beria no
comando.

“TELEGRAMA RELATIVO À TORTURA”

Khrushchev:
Quando a onda de prisões em massa começou a recuar em 1939 e os líderes dos organismos locais do
Partido começaram a acusar os agentes do NKVD de usarem métodos de pressão física contra os
presos, em 10 de janeiro de 1939 Stalin enviou um telegrama codificado para os secretários dos
comitês de oblasts e krais, para os Comitês Centrais dos Partidos Comunistas das Repúblicas, para os
Comissários do Povo para Assuntos Internos e para os chefes das organizações NKVD. Este telegrama
dizia:

O CC do VKP(b) explica que o uso de pressão física na prática do NKVD é permitida


desde 1937, em consonância com uma permissão do CC do VKP(b)... É bem sabido que
todos os serviços de inteligência burgueses usam pressão física contra representantes do
socialismo proletário e nas formas mais vergonhosas.

Surge a questão do porquê o serviço de inteligência socialista é obrigado a ser humano em


relação a agentes inveterados da burguesia e inimigos implacáveis da classe trabalhadora e
fazendeiros coletivos. O CC do VKP(b) considera completamente correto e procedente o
método da pressão física, que deve ser necessariamente continuado no futuro em casos
excepcionais relacionados a inimigos do povo manifestos e impenitentes.

Stálin então sancionou, em nome do Comitê Central do Partido Comunista da União (Bolcheviques), a
violação mais brutal da legalidade socialista, tortura e opressão, que levaram, como vimos, à
difamação e autoacusação de pessoas inocentes.

Getty sobre o original desse telegrama, ou um similar.


No curso dessa pesquisa nós encontramos a famosa diretiva de Stalin em 1939, sobre “métodos
físicos” de interrogatório, mencionado por Khrushchev em seu Discurso Secreto de 1956 (Veja I. V.
Kurilov, N. N. Mikailov e V. P. Naumov, eds, Reabititatsia: Politcheskie Protsessy 30-50-kh godov
[Moscou, 1991], 40). Está no TsA FSB, f. 100, op.1, por. 6, ll. 1-2 (segunda série). Datado de 27 de
julho (não 10 de julho [esse é um erro para 10 de janeiro – GF] de acordo com Khrushchev), é
um telegrama de Stalin para os secretários do Partido de todas as regiões. Refere-se a uma diretiva de
1937 do Comitê Central ainda não encontrada, autorizando métodos físicos em circunstâncias
excepcionais. Interessantemente, o telegrama de 1939 foi escrito após a queda de N. I. Yezhov e em
uma passagem não citada por Khrushchev, acusa os homens de Yezhov de tortura excessiva,
“convertendo a exceção em uma regra”.

Getty, “Excesses Are Not Permitted”. The Russian Review 61 (Janeiro de 2002): 113-38, na página 114, n. 45.
Eu coloquei uma fotocópia do único texto conhecido do “Telegrama de Tortura de 10 de janeiro de 1939” no Link [ShT_10_01_39.pdf].

TEXTO COMPLETO DO “TELEGRAMA RELATIVO À TORTURA”

Negrito – partes citadas por Khrushchev.

Itálico – seções omitidas por Khrushchev que provam sua intenção de enganar a audiência.

POR CÓDIGO CC VKP(b).

AOS SECRETÁRIOS DE OBLAST E COMITÊS REGIONAIS O PARTIDO, CCS DOS PARTIDOS


COMUNISTAS NACIONAIS, COMISSÁRIO DO POVO PARA ASSUNTOS INTERNOS, CHEFES DE
DIRETORIA DA NKVD.

O CC do VKP descobriu ao entrevistar os empregados das diretorias do NKVD e Comitês regionais do


Partido, que foram acusados de usar pressão física contra pessoas que tinham sido presas, como ato criminoso. O
CC do VKP(b) explica que o uso de pressão física na prática do NKVD é permitida desde 1937, em
consonância com uma permissão do CC do VKP(b). Ao mesmo tempo foi afirmado que pressão física é
permitida em casos excepcionais e, ainda por cima, apenas em relação a inimigos do povo mais ostensivos que,
tomando vantagem dos métodos humanos de interrogatório, teimosamente recusaram a entregar seus co-
conspiradores; que se recusam a confessar por meses; e que buscam retardar a descoberta de conspiradores que
ainda estão restam aos montes; e assim continuam seu embate contra o poder soviético mesmo da prisão. A
experiência mostrou que essas políticas produziram resultados por acelerarem grandemente a exposição dos
inimigos do povo. É verdade que subsequentemente na prática o método da pressão física foi manchado pela
escória Zakovsky, Litvin, Uspensky e outros porque eles tornaram essa exceção em uma regra e empregaram-na
contra pessoas honestas que foram acidentalmente presas. Por esses abusos eles foram devidamente punidos. Mas
isso não invalida o método em si, na medida que empregados na prática corretamente. É bem sabido que todos
os serviços de inteligência burgueses usam pressão física contra representantes do socialismo proletário e
nas formas mais vergonhosas. Surge a questão do porquê o serviço de inteligência socialista é obrigado a ser
humano em relação a agentes inveterados da burguesia e inimigos implacáveis da classe trabalhadora e
fazendeiros coletivos. O CC do VKP(b) considera completamente correto e procedente o método da pressão
física, que deve ser necessariamente continuado no futuro em casos excepcionais relacionados a inimigos do
povo manifestos e impenitentes. O CC do VKP demanda que os secretários de oblast e e Comitês regionais [e]
dos CCs do Parido comunista nacional [evidentemente um erro de impressão para Partidos – GF] – agirem de
acordo com esse esclarecimento quando checarem os empregados do NKVD.

SECRETÁRIO DO CC DO VKP(b) I. STALIN [digitado, não assinado – GF]

[Datada à mão – GF] 10/I.-39 g. 15 hrs.

Adicionalmente, impresso em duas copias 8.II.1956 g2.

A questão de tal telegrama foi discutida na Plenária do CC de junho de 1957, mais de um ano após o
“Discurso Secreto” de Khrushchev. A discussão completa é um mistério, pois não há referências ao documento
(acima) agora identificado como “telegrama relativo à tortura”. Ao invés disso, dois outros documentos diferentes
foram levados em pauta. A cópia do Obkom do Daguestão (Comitê de oblast) do Partido, a qual Aristov se refere,
não é a mesma cópia do documento transcrito acima. Toda essa discussão nunca foi satisfatoriamente resolvida.
Kaganovich: Se eu não estou enganado, parece que lembro que um documento como esse foi
oficialmente enviado aos obkoms [comitês de oblast ou de província] do Partido. Vamos procurá-lo.
Khrushchev: Um telegrama como esse realmente foi enviado. Mas eu estou falando de outro
documento. (...)
Kaganovich: (...) Tem um documento que foi enviado a todos os obkoms do Partido.
Vozes: Esse é outro documento, nós todos conhecemos.
Khrushchev: Mas o original está destruído?
Molotov: O telegrama sobre uso de medidas de ação física contra os espiões e congêneres, sobre o qual
estamos falando, foi enviado para todos os membros do Comitê Central e todos os obkoms.
Malin: O original não está no arquivo do Comitê Central, foi destruído. O telegrama existe em cópias
enviadas para os obkoms.
Aristov: Nós o encontramos em apenas um Obkom do Partido, no Daguestão.

Molotov, Malenkov, Kaganovich, 1957. Stenogramma yunskogo plenuma TsK KPSS I drugie dokumenty. Ed. A. N. Yakovlev, N. Kovaleva, A.
Korotkov, et al. Moscou: MDF, 1998, pp. 121-2.

Tanto Yuri Zhukov (Zhupel Stalina, Parte 3. Komsomolskaia Pravda, 12 de nov. de 2002) como Mark
Junge e Rolf Binner (Kak Terror Stal Bolshim Moscou, 2003, p. 16, n. 14) atestam o fato que Khrushchev
aparentemente teria destruído mais documentos que qualquer outro. Benediktov também ouviu sobre essa
destruição.

Benediktov:
Pessoas competentes me relataram que Khrushchev deu ordem para destruir uma série de documentos
importantes relacionados às repressões das décadas de 1930 e 1940. Em primeiro lugar, é claro, ele
queria esconder sua própria participação nas ilegalidades em Moscou e na Ucrânia, que ao agir em
conluio com o Centro, condenou muitas pessoas inocentes. Ao mesmo tempo, foram destruídos
documentos de outros tipos, documentos que indiscutivelmente provavam que eram justificadas as
ações repressivas intentadas ao final da década de 1930 contra alguns dos mais proeminentes membros
do Partido e figuras militares. É uma tática compreensível: tendo se blindado, ele tentou transferir toda
a culpa das ilegalidades a Stalin e aos “Stalinistas”, dos quais Khrushchev esperava a ameaça
fundamental ao seu próprio poder.

Molodaya Guardiya No. 4, 1989, citado no Link [rksmb.ru/print.php?143].

RODOS TORTUROU CHUBAR E KOSSIOR POR ORDEM DE BERIA

Khrushchev:
Não faz muito tempo – apenas alguns dias antes do presente Congresso – chamamos uma sessão do
Comitê Central do Presidium e interrogamos o juiz investigativo, Rodos, que em seu tempo investigou
e interrogou Kossior, Chubar e Kosarev. Ele era uma pessoa vil, com o cérebro de um pássaro, moral e
completamente degenerado. Era esse homem que estava decidindo o destino de militantes
proeminentes do Partido; ele conduzia os julgamentos levando em consideração as questões políticas
associadas porque, tendo estabelecido os “crimes”, ele fornecia materiais a partir dos quais importantes
implicações políticas poderiam ser tiradas.
Surge a questão de se um homem com tal intelecto poderia, sozinho, fazer uma investigação que
provasse a culpa de pessoas como Kossior e outros. Não, ele não poderia ter feito isso sem as diretrizes
adequadas. Na sessão do Presidium do Comitê Central, ele nos disse: “Me disseram que Kossior e
Chubar eram inimigos do povo e por isso eu, como juiz investigativo, tinha que fazê-los confessar que
eram inimigos”.
(Indignação no salão)
Ele só poderia fazer isso por meio de longas torturas, o que fez, recebendo instruções detalhadas de
Beria. Devemos dizer que na sessão do Presidium do Comitê Central ele cinicamente declarou: “Eu
pensei que estava executando as ordens do Partido”. Dessa forma, as ordens de Stalin, relativas ao uso
de métodos de pressão física contra os presos, foram realizadas na prática.
Esses, e muitos outros fatos, mostram que todas as normas de solução correta dos problemas foram
invalidadas e tudo dependia da vontade de um homem.

Os interrogatórios, confissões e arquivo de caso de Rodos nunca foram tornados públicos aos
pesquisadores. Como notamos no texto, Rodos e outro ex-agentes do NKVD parecem terem sido feitos de bode
expiatório. Se de fato eles seguiram as diretivas do CC, como o “telegrama relativo à tortura” acima estabelece,
então eles não quebraram nenhuma regra, mesmo se espancaram ou, de outro modo, torturaram alguns réus.
STALIN NÃO OUVIU OS AVISOS SOBRE A GUERRA

Khrushchev:
O poder acumulado nas mãos de uma pessoa, Stalin, levou a sérias consequências durante a Grande
Guerra Patriótica... Durante e após a guerra, Stalin apresentou a tese de que a tragédia que nossa nação
experimentou na primeira parte do conflito foi resultado do ataque “inesperado” dos alemães contra a
União Soviética. ...Stalin não tomou nenhuma atitude em relação a esses avisos. Além disso, Stalin
ordenou que não fosse dada credibilidade a informações desse tipo, a fim de não provocar o início das
operações militares... tudo foi ignorado: avisos de certos comandantes do Exército, declarações de
desertores do exército inimigo, e até mesmo a hostilidade aberta do inimigo. Seria este um exemplo do
grau de alerta do chefe do Partido e do Estado neste momento histórico particularmente significativo?

Marechal Golovanov:
Nós normalmente alocamos toda a responsabilidade do ataque repentino de Hitler ao nosso país, que
era inesperado à época, à J. V. Stalin, já que ele era o chefe de Estado, embora S. K. Timoshenko,
Comissário do Povo para Defesa, e G. K. Zhukov, Chefe do Estado-Maior Geral, bem como uma série
de outros camaradas, que também possuíram responsabilidade direta, porém ela não recai sobre
nenhum deles. É tão coerente quanto atribuir a ambos as decisões estratégicas que tiveram desfechos
de importância mundial, ou até mesmo vindicar a eles o mérito daqueles que perduraram nas linhas de
frente, ou em outros postos, ou até mesmo da guerra como um todo e tratá-los como os responsáveis
pelo seu desfecho. Isso seria simplesmente lógico. A histórica vitória da Segunda Guerra Mundial foi
do país, do partido e do exército. Todos liderados por Stalin.

Andrew Kazantsev, em Nakanune 22 de junho de 2005, no Link [nakanune.ru/articles/22_ijunja__dva_blickriga].

Vadim Kozhinov:
Mas, ao analisar friamente, tanto os erros de cálculo de Stalin quanto os de Roosevelt têm explicações
completamente convincentes. As comunicações dos serviços de inteligência são sempre contraditórias,
a um grau maior ou menor, porque elas derivam da mais variadas, e, em geral deliberadamente
desinformadas, fontes. Não muito tempo atrás, foi publicada uma coleção de documentos intitulada
“Hitler’s Secrets on Stalin’s Table. Intelligence and Counterintelligence on the Preparation of German
Aggression against the USSR. March-June 1941”. Esse trabalho deixa claro que durante esse período
Stalin recebeu inteligência extremamente variada, incluindo desinformação, particularmente,
informação de acordo com a qual a Alemanha (como Stalin também acreditava) pretendia ocupar a
Inglaterra antes de invadir a URSS. Um dos líderes da inteligência naquela época, General P. A.
Sudoplatov, depois comentou: “A informação de três fontes confiáveis (minhas ênfases – V. K.) de
dentro da Alemanha mereceram atenção especial, [que] a liderança da Wehrmacht decisivamente
protestou contra qualquer guerra de duas frentes”.
A falta de confiabilidade da informação de inteligência sobre a invasão alemã também foi causada
pelas discordâncias que elas possuíam em relação à data do início da guerra. “Eles especificaram 14 e
15 de maio, 20 e 21 de maio, 15 e, pelo menos, 22 de junho (...) Uma vez que o primeiro período de
maio já tinha se passado, Stalin (...) finalmente veio a acreditar que a Alemanha não invadiria a URSS
em 1941(...)”.
A partir da década de 1960 em diante muitos autores escreveram, com grande indignação, por
exemplo, que ninguém acreditou na informação que chegou uma semana antes do início da guerra, a
qual foi obtida pelo espião Richard Sorge, que posteriormente se tornou famoso, e deu a data precisa
da invasão alemã – 22 de junho. Entretanto era impossível acreditar cegamente nisso após uma série de
datas imprecisas terem sido comunicadas através das fontes consideradas “confiáveis” (a propósito, o
próprio Sorge, num primeiro momento, reportou que a invasão aconteceria em maio). E “analistas’’
contemporâneos, sabendo – assim como o resto do mundo – que a guerra começou precisamente em 22
de junho ficam então rechaçando Stalin porque ele teria negligenciado a informação precisa de Sorge,
enviada em 15 de junho, me aparentam, na melhor das hipóteses, serem ingênuos (...)”.

Vadim Kozhinov, Rossia. Vek XX (1939-1964). Upyt bespristrastnogo issledovaniya Moscou: Algoritm, 1999, pp. 73-4 (Seu capítulo 2 é intitulado
“Sundennes and Lack of Preparation”). Também no Link [hrono.ru/libris/lib_k/kozhin20v03].

No “Discurso Secreto”, Khrushchev disse:


Isso dizia respeito, infelizmente, não apenas aos tanques, artilharia e aviões. Na eclosão da guerra nós
não tínhamos nem mesmo os números suficientes de fuzis para armar e mobilizar as reservas. Eu
lembro que naqueles dias telefonei de Kiev para o Camarada Malenkov, e disse a ele; “O povo se
voluntariou para o novo Exército e demandam aramas. Você precisa nos enviar armas”.
Malenkov me respondeu, “Nós não podemos te enviar armas. Estamos enviando todos os nossos fuzis
para Leningrado e vocês terão que ser armar por si próprios”.

Doklad Khrushcheva, p. 26.


De acordo com o Marechal Vasilevsky o que realmente aconteceu foi um pouco diferente.
Em conclusão, o Supremo Comandante disse que ele tomaria todas medidas para fortalecer o Front
Sudoeste, mas ao mesmo tempo pediu que contassem mais consigo mesmos nessa questão.

Seria irrazoável pensar – ele disse – que nós daremos a


vocês tudo preparado. Aprendam vocês mesmos, a suprir
e reabastecer. Criem seções de suplementos com cada
exército, preparem várias fábricas para a produção de
fuzis e metralhadoras, puxem todas as cordas que vocês
precisarem puxar e vocês verão que podem criar uma
grande ação para o própro front ucraniano. Essa é a forma
com que Leningrado está agindo no presente momento,
usando suas próprias bases de maquinário de manufaturas,
eles são, em grande medida, bem-sucedidos, já tiveram
algum sucesso. A Ucrânia pode fazer o mesmo.
Leningrado já arranjou a produção de RSs. Essa é uma
arma muito efetiva como uma caça minas, que
literalmente esmaga o inimigo. Por que não fazem isso
vocês mesmo?
Kirponos e Khrushchev responderam:

Camarada Stalin, nós colocaremos todas as suas ordens


em prática. Infelizmente não estamos familiarizados com
os detalhes da fabricação dos RSs. Nós requisitamos que
você ordene o envio de um exemplar de um RS com
diagramas e nós iremos organizar a construção aqui. – A
reposta seguiu:

Seu pessoal já tem os diagramas e vocês têm exemplares


há um longo tempo. Sua falta de atenção nessa questão
séria é uma falha. Bom. Eu vou lhes enviar uma bateria de
RS, desenhos e instruções para manufatura. Tudo de
melhor, desejo-lhes sucesso.
Marechal A. M. Vasilevsky, Delo vsei zhinzn (O trabalho de minha vida). 3ª ed. Moscou, Politzdat 1978, Capítulo 11. Citado do russo no Link
[web.archive.org/web/20101216093216/victory.mil.ru/lib/books/memo/vasilevsky/11].

Como Vadim Kozhinov pontua,


Khrushchev, que em 1956 estava se esforçando para descreditar Malenkov, seu competidor na luta pelo
poder supremo, inconscientemente descreditou a si mesmo. Em 22 de junho ele já era “chefe supremo”
em Kiev e sobre toda a Ucrânia por 3 anos e meio, desde janeiro de 1938 (que, a propósito, tinha uma
fronteira em comum com a Alemanha desde 1939!), mas, se mostra que, nem mesmo se deu ao
trabalho de se munir de fuzis! Então Khrushchev ou não prestou atenção nas “evidências eloquentes”
que ele citou em 1956, ou então ele não fez nada de modo efetivo a partir dessas “evidências” (pelo
fato de que o Primeiro Secretário do CC da Ucrânia e membro do Politburo poderia preparar esses
fuzis a tempo (...))

Kozhinov, V. V., Rossia. Vek XX (1939-1964) Capítulo 2, p. 50; também no Link [hrono.ru/libris/lib_k/kozhin20v03].
O plano de desinformação do Exército alemão para espalhar falsos rumores aos dirigentes soviéticos, assinado por Keitel, foi posto em prática em 15
de fevereiro de 1941. Está online no Link [germandisinfo] (em russo apenas).

Marechal Meretskov, 1968


Eu devo dizer alguma outra coisa. Visto que no começo da guerra, por mais que Inglaterra e EUA se
tornaram nossos aliados na coalisão antihitler, a maioria das pessoas que tentam analisar criticamente
as decisões feitas na época pelo nosso governo as avaliam apenas no nível da guerra germano-
soviética, e assim cometem um erro. A situação na primavera de 1941 era extremamente complicada.
Na época nós não podíamos ter certeza de que uma coalizão antissoviética de países capitalistas não
iria se levantar, incluindo, digamos, Alemanha, Japão, Inglaterra e EUA. Hitler decidiu em 1940 contra
uma invasão à Inglaterra. Por quê? Ele não tinha força? Ele decidiu lidar com a Inglaterra depois? Ou
estava, talvez, ocorrendo negociações secretas sobre um front unido antissoviético? Seria uma
negligência criminosa não ponderar todas as possibilidades, afinal o bem-estar da URSS dependia da
seleção correta de posicionamento político. Onde estarão as linhas de frente? Onde nossas forças
deverão ser concentradas? Apenas na fronteira ocidental? Ou uma guerra na fronteira sul também é
possível? E qual será a situação do extremo oriente? Essa multiplicidade de caminhos de possível ação,
junto com a falta de garantia firme que o caminho correto seria imediatamente escolhido em um dado
caso, criaram uma situação duplamente complicada.

K. A. Meretskov, Na sluzhde narodu (Ao Serviço do Povo) Moscou: Politzdat, 1968.

Marechal Zhukov:
Tenho refletido há um longo tempo sobre tudo isso, aqui estão minhas conclusões. Parece-me que a
questão da defesa do país em seus esboços básicos e mais amplos e direções, foi realizada
corretamente. Durante um período de muitos anos, em termos econômicos e sociais, tudo, ou quase
tudo, que era possível foi feito. Em relação o período entre 1939 até meados de 1941; durante esse
período esforços especiais, que demandaram toda nossa força e recursos, foram feitos pelo povo e
Partido para fortalecer nossa defesa.

G. K. Zhukov, Vospominania i razmyshleniya (Reminiscências e Pensamentos). Vol. 1, Cap. 9 Moscou, 2002.

Os marechais, Vasilevsky e Zhukov, discordam na questão de que se Stalin deveria ter ordenado todas
aso tropas a tomar posições ao longo da fronteira. Comentando o artigo de Vasilevsky em 1965, Zhukov escreveu:
Eu acho que a União Soviética teria sido esmagada se nós tivéssemos alocado todas as nossas forças na
fronteira. Foi bom que isso não tenha acontecido, e caso nossas forças principais tivessem sido
esmagadas na área da fronteira do Estado, então os exércitos hitleristas teriam a possibilidade de
conduzir a guerra com mais sucesso, e Moscou e Leningrado teriam sido tomadas em 1941. G.
Zhukov, 12 de dezembro de 1965.

Shaptalov, B. Ispytanya voiny (Os Julgamentos da Guerra) Moscou: AST, 2002. Edição russa no Link [militera.lib.ru/research/shaptalov/02]. A
mesma passagem, com uma citação maior do MS não publicado de Vasilevsky é achado em Gorkov, Iu. A. Kremlin. Stavka. General Staff Tver
1995, Capítulo 4, p. 68. Edição russa no Link [militera.lib.ru/research/gorkov2/04].

EVIDÊNCIA DA TRAIÇÃO PELO GEN. DMITRI PAVLOV

Khrushchev não cita explicitamente o nome do General Dmitri Pavlov, executado em julho de 1941, por
abandono de dever ao não preparar o front bielorrussa para a invasão de Hitler.

Há uma base sólida de evidências agora, dos antigos arquivos soviéticos, que Pavlov foi de fato culpado e
um membro de uma conspiração militar. Nós omitimos esses materiais aqui. Alguns deles e as referências a isso
estão contidas na edição original em russo deste livro (p. 368).

CARTA DE VORONTSOV

Khrushchev:
Devemos afirmar que informações desse tipo, relativas à ameaça da invasão armada alemã ao território
soviético, vinham também de nossas próprias fontes militares e diplomáticas; no entanto, devido a
liderança estar condicionada contra tais informações, tais dados foram enviados com receio e avaliados
com reserva.
Assim, por exemplo, as informações enviadas de Berlim em 6 de maio de 1941 pelo attaché militar
soviético, capitão Vorontsov, afirmavam: “Cidadão soviético Bozer... comunicou ao vice attaché naval
que, de acordo com uma declaração de certo oficial alemão do Quartel General de Hitler, a Alemanha
está preparando-se para invadir a URSS, em 14 de maio, através da Finlândia, países bálticos e
Letônia. Ao mesmo tempo Moscou e Leningrado serão pesadamente bombardeadas e paraquedistas
pousaram nas cidades de fronteira.”...

Em Voenno-Istoricheskiy Zhurnal No. 2, 1992, pp. 39-40 nós temos o texto completo da declaração do
Capitão Vorontsov. Está contida em uma carta de 6 de maio de 1941 do Almirante Kuznetsov a Stalin, a parte
crucial, omitida por Khrushchev, está em negrito:
Secreto
6 Maio de 1941
No. 48582cc
CC VKP(b)
Cam. STALIN J. V.
Attaché naval em Berlin, Capitão de primeiro grau Vorontsov relata: o cidadão soviético Bozer
(nacionalidade judia, ex-cidadão lituano) comunicou ao vice attaché naval que, de acordo com uma
declaração de certo oficial alemão do Quartel General de Hitler, a Alemanha está preparando-se para
invadir a URSS, em 14 de maio, através da Finlândia, países bálticos e Letônia. Ao mesmo tempo
Moscou e Leningrado serão pesadamente bombardeadas e paraquedistas pousaram nas cidades de
fronteira.
Nossas tentativas de esclarecer as fontes primárias dessa informação e amplificá-las ainda não
foi bem-sucedida, uma vez que Bozer se recusou a fazê-lo. O trabalho com ele e a verificação da
informação continuam.
Eu acredito que essa informação é falsa, especialmente direcionada através desse canal com o
objetivo de chegar até nosso governo para verem como a URSS reagiria a isso.
Almirante KUZNETSOV.

SOLDADO ALEMÃO

Khrushchev:
O próximo fato também é conhecido: Na véspera da invasão pelo exército hitlerista ao território da
União Soviética, um certo cidadão alemão cruzou nossa fronteira e afirmou que os exércitos alemães
haviam recebido ordens para iniciar a ofensiva contra a União Soviética na noite de 22 de junho, às 3
horas. Stalin foi informado sobre isso imediatamente, mas até mesmo este aviso foi ignorado.

O soldado, Alfred Liskow:


Muitas pessoas sabem que na noite de 22 de junho de 1941, um soldado alemão fugiu para o nosso
lado da fronteira e reportou sobre a iminente invasão das forças alemãs. No início do período da
perestroika, tornou-se moda afirmar que esse desertor foi rapidamente executado como sendo um
provocador. Por exemplo, aqui está o que é afirmado sobre essa questão em uma biografia de Stalin
publicada em Nova York em 1990:

Um soldado alemão e ex-comunista bravamente cruzou a fronteira para reportar a hora


precisa do ataque. Stalin ordenou que fosse fuzilado imediatamente por desinformação.

Zhores e Roi Medvedev, Neizvestniy Stalin. Ed russa. Moscou 2002, pp. 309-10.

Isso é completamente falso. É uma notícia de Lewis Jonathan, Whitehead Philip. Stalin. A Time for
Judgement Nova York 1990, p. 121, citado por Zhores e Roi Medvedev. A edição em inglês desse livro The
Unknown Stalin (Woodstock e Nova York: The Overlook Press, 2004), refuta completamente esse conto de
Khrushchev na páginas 240-1.

A história de Khrushchev também é falsa.

Nós podemos fazer melhor que citar em alguma extensão o estudo revelador de Igor Pykhalov Velikaya
Obolganyay Voina [‘A grande guerra caluniada’] Moscou, 2005. Capítulo 9: “O destino de um desertor”.
Muitas pessoas sabem que na noite de 22 de junho de 1941 um soldado alemão fugiu para o nosso lado
da fronteira e nos informou sobre a iminente invasão das forças alemãs. No início do período da
perestroika, tornou-se moda afirmar que esse desertor foi rapidamente executado como sendo um
provocador. Por exemplo, aqui está o que é afirmado sobre essa questão em uma biografia de Stalin
publicada em Nova York em 1990:

Um soldado alemão e ex-comunista bravamente cruzou a fronteira para reportar a hora


precisa do ataque. Stalin ordenou que fosse fuzilado imediatamente por desinformação.

Mas foi realmente assim? Vamos tentar esclarecer o destino desse homem. O soldado de exército
alemão Alfred Liskow foi detido em 21 de junho de 1941 às 2100 horas por uma unidade de comando
de Sokalsk da 90ª unidade de fronteira. Às 3:10 da noite de 22 de junho a UNKVD do oblast de Lvov
transmitiu por telefone para a NKGB da RSS ucraniana uma mensagem com o seguinte conteúdo:

O cabo alemão que cruzou a fronteira na região de Sokal declarou o seguinte: Seu nome é
Liskow Alfred Germanovich, 30 anos de idade, um trabalhador, carpinteiro em uma
fábrica de móveis na cidade de Kohlberg (Bavaria), onde deixou sua esposa, bebê, mãe e
pai.

O cabo serviu no 221º regimento de sapadores da 15º divisão. O regimento estava situado
na vila de Tselenzh, 5 km ao norte de Sokal. Ele foi destacado dos reservistas para o
exército em 1939.
Ele se considera um comunista, é um membro da União de Soldados Vermelhos da Linha
de Frente, e diz que a vida é muito difícil para os trabalhadores na Alemanha.

Por volta do anoitecer seu comandante de companhia, Ten. Schulz, disse-lhes que naquela
noite, logo após o treinamento da artilharia, eles iriam iniciar a travessia do Bug em
jangadas, barcos, e pontões.

Como apoiador do poder soviético, uma vez que ele soube sobre, decidiu fugir para e nos
contar.

Mais detalhes sobre esse evento são providos em um relatório dos comandantes da 90ª unidade de
fronteira, Major M. C. Bychkovsky:

27 de junho às 21000 na área do comando de Sokalsk, um soldado que fugiu do exército


alemão foi detido, Liskow Alfred. Uma vez que não havia tradutor na estação de
comando, eu ordenei ao comandante da área, Cap. Bershadsky, que levasse o soldado de
caminhão para a equipe da unidade na cidade de Vladimir.

Às 00:30 de 22 de junho de 1941 o soldado chegou na cidade de Vladimir-Volynsk.


Através de um intérprete, aproximadamente às 01:00 da noite, Liskow disse que ao
amanhecer do dia 22 de junho os alemães deveriam cruzar a fronteira. Eu imediatamente
reportei isso ao oficial responsável pelo estado-maior do exército Brigadeiro Comissário
Maslowsky. Ao mesmo tempo, eu reportei pessoalmente por telefone ao comandante do 5º
exército, Major-General Potapov, que considerou meu relato com suspeitas e não prestou
atenção a ele. Eu pessoalmente não estava firmemente convencido da veracidade do relato
do soldado Liskow, mas ao mesmo tempo eu chamei os comandantes das zonas e ordenei
a ele que reforçassem a guarda nas fronteiras do Estado, que colocassem postos de escuta
especiais no rio Bug, e no caso houvesse a travessia alemã, que abrissem fogo e os
destruíssem. Ao mesmo tempo, eu ordenei que se qualquer coisa suspeita fosse notada
(qualquer tipo de movimento na margem oposta) que me reportassem pessoalmente de
imediato. Eu permaneci o tempo todo no QG do Estado Maior.

À 01:00 de 22 de junho os comandantes das zonas reportaram a mim que nada de suspeito
foi notado do lado oposto do rio, tudo estava calmo. Em vista do fato que o tradutor de
nossa unidade não era muito habilidoso eu convoquei da cidade um professor de língua
alemã, que tinha excelente conhecimento da língua alemã e Liskow repetiu a mesma
coisa, isto é, que os alemães estavam se preparando para invadir a URSS no amanhecer de
22 de junho de 1941. Ele se denominava um comunista e declarou que veio a nós em sua
própria iniciativa especialmente para nos alertar. Enquanto o interrogatório do soldado
ainda não terminava, eu ouvi altos disparos de artilharia da direção de Ustilug (o primeiro
centro de comando). Eu entendi que eram os alemães que tinham aberto fogo em nosso
território, o soldado sobre interrogatório confirmou. Eu imediatamente tentei chamar o
comandante por telefone, mas a conexão tinha sido destruída.

É perfeitamente compreensível que a propaganda soviética tentasse, para seus próprios propósitos,
fazer uso da façanha de Liskow. Aqui está o que é dito sobre nas memórias do Major-General Burtsev,
que chefiava a seção (a partir de agosto de 1944 chamado de divisão) de propaganda especial do
Diretor de Política Principal do Exército Vermelho:

Já em 27 de junho o primeiro folheto do antifascista alemão Alfred Liskow foi escrito.


Arriscando tomar fogo de ambas as margens, ele atravessou o Bug a nado para alertar
nossos guardas de fronteira sobre a invasão iminente na URSS. Liskow o fez assim que no
222º regimento da 75º divisão, o qual ele serviu, leu a ordem de invasão. Nós, é claro, não
poderíamos perder a chance de falar com esse primeiro desertor. Logo Liskow foi trazido
para Moscou. Um alemão alto “com quilate da classe trabalhadora” que atuava como
médico de campo, parecia simpático e confiável.

“Eu sou de uma família da classe trabalhadora da cidade de Kohlberg”, ele disse. “Meus
pais e eu odiamos Hitler e seu regime. Para nós a URSS é uma país amigo e nós não
desejamos lutar contra o povo soviético. Na Alemanha há muitas famílias da classe
trabalhadora assim. Eles não querem guerra com vocês”.

Sua história foi publicada no Pravda e foi ela que serviu como folheto inicial, impresso
com seu retrato, para informar aos soldados alemães que havia oponentes da guerra e do
hitlerismo dentro da Wehrmacht, amigos da União Soviética.

Muitos participantes da guerra se lembram dos materiais de agitação nos quais o nome de Liskow
apareceu. Por exemplo, o escritor de Leningrado Dimitry Scheglov:

28 de junho (...) Nos jornais colados em parede, pessoas liam o anúncio: “O soldado
alemão, Alfred Liskow, não desejando lutar contra o povo soviético, desertou para o nosso
lado”.
Alfred Liskow tinha endereçado aos soldados alemães um chamado para derrubar o
regime de Hitler.

E em uma segunda folha estava a declaração de Liskow e um retrato: “Entre os soldados


alemães reina estado de depressão”.

Infelizmente eu ainda não sou capaz de traçar o destino posterior de Alfred Liskow. M. I. Burtsev
escreve:

Depois disso A. Liskow pereceu, mantendo-se até seu último suspiro, leal à causa de
combater o fascismo.

Contudo mesmo que Liskow tenha sido reprimido posteriormente, isso não aconteceu durante os
primeiros dias da guerra.

O capítulo completo de Pykhalov pode ser consultado (em russo) no Link


[web.archive.org/web/20070324023428/militera.lib.ru/research/pyhalov_i/09].

Em suas memórias, Khrushchev repete a história da deserção do soldado alemão para alertar os
soviéticos, mas ele não repete a alegação de que os alertas do soldado teriam sido ignorados. Assim, como quase
tudo nas memórias auto apologéticas, de Khrushchev, sua versão é incorreta, ou por design (i.e., uma mentira
deliberada), ou por falha de memória. De qualquer modo Khrushchev não estava presente e não tinha
conhecimento direto desse evento.
Um soldado fugiu para nós das áreas avançadas. Ele foi interrogado e todos os detalhes dados por ele e
nos quais sua história é baseada, foram descritos de maneira lógica e pareciam confiáveis. Ele disse
que a invasão se iniciaria no dia seguinte, às três da manhã. Primeiro, por que ele disse
especificamente na manhã seguinte? O soldado disse que eles tinham recebido provisões secas para
três dias. E por que às 3 da manhã? Porque em tais situações os alemães sempre escolhiam uma hora
cedo. Eu não me lembro se ele disse que os soldados foram informados sobre as três horas da manhã
ou se eles tinham ouvido através do “rádio do soldado”, que sempre sabia da hora do ataque com muita
precisão. O que sobrou para fazermos?

Memórias de Khrushchev: Vremya, Liudi, Vlast Vol. 1, Parte 2, p. 299.


O artigo apresentando Liskow, com uma fotografia dele do Pravda de 27 de junho de 1941, p. 2 pode ser consultado no Link
[liskowpravda062741.pdf].

COMANDANTES ASSASSINADOS

Khrushchev:
Consequências muito graves, especialmente referentes ao início da guerra, se seguiram à aniquilação
de muitos comandantes militares e militantes políticos, realizada por Stalin durante 1937-1941, por
causa de desconfiança e por meio de acusações caluniosas. Durante esses anos, foram instituídas
repressões contra certas partes dos quadros militares, começando literalmente no nível de comandante
de companhia e de batalhão e estendendo-se aos centros militares mais altos; durante este tempo, o
quadro de líderes que tinham adquirido experiência militar na Espanha e no Extremo Oriente foi quase
completamente liquidado.

Sem dúvidas Khrushchev está aludindo à Conspiração Militar e o então chamado “Caso Tukhachevsky”.
Ele não os menciona explicitamente e evita completamente qualquer questão sobre culpa ou inocência. Há uma
grande gama de evidências de que Tukhachevsky e outros oficiais de alta patente julgados e executados estavam
de fato conspirando com os alemães e japoneses e com as forças direitistas na Oposição para derrubar o governo
soviético.

Khrushchev os reabilitaria não muito depois. É revelador que em 1957, e novamente em 1961, versões
deturpadas da carta de Komandarm Iona Iakir a Stalin de 9 de junho de 1937, foram usadas pelos aliados de
Khrushchev para manchar Stalin e aqueles que o apoiavam. O texto real da carta de Yakir torna claro que ele
próprio é culpado.

Nada disso quer dizer que todos os comandantes militares que foram aprisionados, espancados,
torturados e executados eram culpados. Yezhov e seus capangas com certeza incriminaram uma boa parcela desses,
como fizeram a outras centenas de milhares de pessoas.

Marechal Konev conversando com o escritor Konstantin Simonov, em 1965:


Retratar essa questão como se esses dez, doze, cinco ou sete homens não tivessem sido mortos em 37-
38, estariam liderando o exército no começo da guerra e assim a guerra seria diferente – é um exagero.

Konstantin Simonov, Glazmi chekovka moego pokoleniya (Pelos Olhos de um Homem de minha geração). Moscou: Novosti, 1988, 393.

Respondendo a questão dos homens que foram mortos, como eles lutariam contra os alemães, e quanto
tempo tomaria a derrota dos alemães se esses homens estivessem vivos – todas essas questões,
infelizmente, são especulações. Assim permanece inegável o fato de que os homens que continuaram,
que maturaram durante a guerra e lideraram os exércitos, foram precisamente eles que venceram a
guerra, nas posições que eles gradualmente chegaram a ocupar.

Idem, p. 401.

O próprio Khrushchev foi diretamente responsável por “erradicar” a maioria dos comandantes do Distrito
Militar de Kiev (Ucrânia). Volkogonov cita uma diretiva de Khrushchev, datada de março de 1938. A versão longa
da edição em russo está traduzida abaixo; uma versão mais curta é dada na versão em inglês, Dimitry A.
Volkogonov, Stalin: Triumph and Tragedy (NY: Grove Weidenfeld, 1991), p. 329.
Decreto do Soviete Militar do Distrito Militar de Kiev, relativo à Situação dos Quadros de Comando,
Comando Operacional e Estado Maior Político do Distrito.

1. Como resultado do grande trabalho realizado para limpeza


de elementos hostis e a promoção consequente de
comandantes, militantes políticos e comandantes
operacionais nas forças do Exército Vermelho,
inquestionavelmente dedicados ao trabalho do Partido de
Lenin – Stalin, os quadros (...) estão firmemente
consolidados ao redor de nosso Partido [e] ao redor do
dirigente dos povos, de camarada Stalin, e garantem a
firmeza política e sucesso no trabalho de elevar o poder
militar das unidades do Exército Vermelho (...)

2. Os inimigos do povo [vragi naroda – aqui Khrushchev


está utilizando exatamente o mesmo termo que ele usou
para criticar Stalin de ter “inventado” , o qual Stalin
virtualmente nunca usou – GF] tiveram sucesso em causar
severos danos nas áreas de colocação de quadros. O
Conselho Militar define como sua principal tarefa extirpar
até o fim os remanescentes dos elementos hostis,
estudando profundamente todos os comandantes,
comandantes operacionais [e] militantes políticos após sua
promoção, promovendo corajosamente quadros
comprovados, dedicados e em desenvolvimento (...)
O comandante das forças do Distrito Militar de Kiev, Comandante de Exército de segundo escalão
Timoshenko; Membro do Conselho Militar, Comandante de Corpo, Smirnov; Membro do Conselho
militar, Secretário do CC do Partido Comunista da Ucrânia, Khrushchev.
Posteriormente Timoshenko, Smirnov e Khrushchev reportaram a “extirpação impiedosa e total dos
elementos trotskistas-bukharinistas e burgueses”, em 28 de março de 1938 foi efetivada a seguinte
substituição do pessoal dirigente do Distrito:
Por patente:
Comandantes de Corpo substituídos 9 9
Comandantes de Divisão 25 24
Comandantes de Brigada 9 5
Comandantes de Batalhão 137 87
Chefe do estado-maior de corpos 9 b
Chefe do estado-maior de divisão 25 18
Chefe do estado-maior de áreas fortificadas 4 3
Chefe do estado-maior de batalhões 135 78
Chefe de seções do estado-maior do Distrito 24 19
Volkogonov, Stalin Vol. 1, Cap, 7 na nota 608.

“DESMORALIZAÇÃO” DE STALIN AO COMEÇO DA GUERRA

Khrushchev:
Seria incorreto esquecer que, após o primeiro desastre severo e a derrota no front, Stalin pensou que
era o fim. Em um de seus discursos naqueles dias, ele disse: “Tudo o que Lenin criou, perdemos para
sempre”.
Depois disso, Stalin por muito tempo não dirigiu as operações militares e deixou de fazer qualquer
coisa.

O diário para 21-28 de junho de 1941, foi publicado em Istorichesky Arkhiv No. 2, 1996, pp. 51-54. Eles foram reproduzidos no Link
[hrono.ru/libris/stalin/16-13].

Marechal Zhukov:
É propagandeado que nos primeiros dias da guerra Stalin supostamente estava tão perturbado que não
podia nem mesmo dar um discurso pelo rádio e cedeu sua apresentação para Molotov. Essa narrativa
não corresponde a realidade. É claro que durante as primeiras horas, J. V. Stalin se chocou. Mas ele
rapidamente retornou ao normal e trabalhou com grande energia, embora seja verdade que ele mostrou
um nervosismo excessivo que frequentemente dificultava nosso trabalho.

G. K. Zhukov, Vosponimaiya i razmyshleniya (Reminiscências e Pensamentos). Vol. 1, Cap. 9. Moscou, 2002, citado do russo no Link
[militera.lib.ru/memo/russian/zhukov1/10].
No seu muito útil livro, Velikaya Obolgannaya Voina Igor V. Pykhalov dedica o capítulo 10, um capítulo todo, para essa questão. Está online, em
russo, no Link [pyhalov_i/10].

Roi Medvedev:
Stalin não foi ao escritório do Kremlin no domingo; entretanto, a afirmativa feita pelos biógrafos
Radzinsky e Volkogonov, de que esse foi o dia que Stalin fugiu e se fechou em sua dacha dificilmente
corresponde com o que realmente aconteceu. Ambos os autores basearam suas conclusões de forma
bastante incerta no fato de que não há entradas no livro de visitantes do escritório do Kremlin para 29 e
30 de junho. Mas de acordo com Marechal Zhukov, “em 29 [de junho] Stalin veio duas vezes para o
Stavka no Comissariado para Defesa e em ambas as ocasiões foi mordaz sobre a situação estratégica
que se desenrolava no oeste”. Em 30 de junho, na dacha, Stalin convocou uma reunião do Politburo na
qual foi decido formar o Comitê de Defesa do Estado (GKO).

Roi e Zhores Medvedev, The Unknown Stalin (Woodstock & New York: Overlook Press, 2004), pp. 242-3.

Em relação ao que ocorreu durante os dias 29 e 30 de junho de 1941, quando os registros de visitantes ao
escritório de Stalin não indicam que houve visitas, nós devemos nos virar para o trabalho KPSS v vezoliutsiyakh i
reshniyakh sezdov, konferentsy I Plenumov TsK (O PCUS em suas resoluções de congressos, conferencias e
Plenárias do Comitê Central), vol 6 (Moscou Politizdat, 1971), p19.
29 de junho de 1941, isto é, uma semana após o início da invasão, foi emitida a Diretiva do Conselho
de Comissários do Povo da URSS e do Comitê Central do VKP(b) às organizações do Soviete e do
Partido dos oblasts perto da fronte.
Em regiões ocupadas pelo inimigo, formem unidades partisans e grupos diversionistas para lutar
contra as unidades do exército inimigo, para incitar a guerrilhapartisan em todos os lugares;
explodindo pontes, incendiando estoques etc. Em áreas ocupadas, criar condições insuportáveis para o
inimigo e para todos aqueles que colaboram com ele, procurando-os e destruindo-os em cada passo,
destruindo todos os seus empreendimentos.

Citado por V. V. Kvachkov, Spetsnaz Rossy Moscou: Voennaya literatura, 2004, no Link [militera.lib.ru/science/kvachkov_vv/02]. O documento
completo é citado no Link [battlefield.ru/documents/87-orders-and-reports/314-order-to-soviet-organizations-frontline-1941] [Apenas em russo].

Em 20 de junho de 1941 foi tomada a decisão de formar o Comitê de Defesa do Estado, chefiado por
Stalin.
Decreto do Presidium do Soviete Supremo da URSS, o Conselho dos Comissários do Povo da URSS e
Comitê Central do VKP(b) de 30 junho de 1941:
Em vista da situação extraordinária que surgiu e em interesse da rápida mobilização de todas as forças
dos povos da URSS para organizar a resistência ao inimigo, que traiçoeiramente invadiu nossa pátria
mãe, o Decreto do Presidium do Soviete Supremo da URSS do Comitê Central do VKP(b) e do
Conselho dos Comissários do Povo da URSS determinou que é necessário:

Estabelecer o Comitê de Defesa do Estado com os seguintes membros:


cam. Stalin J. V. (Presidente)

cam. Molotov V. M. (deputado presidente)

cam. Voroshilov K. E.

cam. Malenkov G. M.

cam. Beria L. P.

Concentrar a totalidade do poder do Estado nas mãos do Comitê de Defesa do Estado.

Obrigar todos os cidadãos e todos os órgãos do Partido, Soviete, União da Juventude Comunista
e militares a executar as decisões e medidas tomadas pelo Comitê de Defesa do Estado. > >
Presidente do Presidium do Soviete Supremo da URSS, M. I. KALININ. > > Presidente do
Conselho de Comissários do Povo e Secretário do CC do VKP(b), J. V. STALIN. > > Moscou.
Kremlin. 30 de junho de 1941 > >>>No Link [hrono.info/libris/stalin/15-21].

Volkogonov:
Não, Stalin não sofreu grande choque nos primeiros dias da guerra.

Stalin Vol. 2, Cap. 8, ditado do russo no Link [militera.lib.ru/bio/volkogonov_dv/08].

De acordo com Pavel Sudoplatov, em suas memórias:


Em vários livros, e em particular nas memórias de Khrushchev, nós lemos sobre o pânico que se
apoderou de Stalin nos primeiros dias da guerra. De minha parte não posso afirmar que observei nada
nesse sentido (...) As notas publicadas de visitantes do Kremlin [ao escritório de Stalin – GF] provam
que ele recebeu regularmente as pessoas, acompanhou diretamente a situação conforme ela piorava dia
após dia.

Razvedka i Kreml. Zapiski nazhelatelnogo svidetelia Moscou, 1996, pp 159-60.

STALIN, UM MAL COMANDANTE

Khrushchev:
Stalin estava muito longe de entender a situação real que se desenvolvia no front. Isso era natural
porque, durante toda a Guerra Patriótica, ele nunca visitou qualquer seção do front ou de qualquer
cidade libertada, exceto por um passeio curto na estrada de Mozhaisk durante estabilização no front. A
este incidente foram dedicadas muitas obras literárias, cheias de fantasias de todos os tipos e inúmeras
pinturas.
Simultaneamente, Stalin estava interferindo em operações e emitindo ordens que não levavam em
consideração a situação real de uma determinada seção do front e que não podiam ajudar, e que
resultavam em enormes perdas de pessoal.

Marechal Zhukov:
Ao dirigir a luta militar como um todo, J. V. Stalin foi provido pela sua inteligência natural,
experiência de dirigente político, riqueza de intuição [e] amplo conhecimento. Ele sabia como
encontrar a ligação principal em uma situação estratégica e, agarrando-a, encontrar o caminho para se
opor ao inimigo, para a realização bem-sucedida dessa ou daquela operação militar. Sem dúvidas ele
foi um Comandante Supremo respeitável (...)
Além disso, na garantia de operações, na criação de reservas estratégicas, na organização da produção
de tecnológica militar e ,em geral, na criação de tudo essencial para travar a guerra, o Comandante
Supremo, digo isso diretamente, mostrou-se um organizador esplêndido. E seria injusto se não fosse
dado a ele o que lhe é devido.

Zhukov, Memoirs and Reflections, Cap 11, ditado do russo no Link [militera.lib.ru/memo/russian/zhukov1/11].

Marechal Vasilevsky:
Eu também tive boas relações com N. S. Khrushchev nos primeiros anos do pós-guerra. Mas elas
mudaram subitamente depois que eu me recusei a apoiar suas afirmações de que J. V. Stalin não era
capaz de entender questões estratégicas-operacionais e, que em sua posição de Comandante Supremo
dirigiu os movimentos dos exércitos de maneira desqualificada. Até hoje eu não entendo como ele
pode ter dito isso. Tendo sido membro do Politburo do CC do Partido e membro do Sovietes Militares
de uma série de frontes, N. S. Khrushchev não poderia ser ignorante de como era a autoridade da
Stavka e de Stalin, na questão de dirigir as ações militares. Nem poderia ter sido ignorante ao fato que
os comandantes das frontes e exércitos reportavam ao Stavka e a Stalin com grande respeito e o
valorizavam por sua competência excepcional na liderança de lutas militares.

Marechal A. M. Vasilevskuy, Delo vsei zhizni (O trabalho de minha vida), 3ª ed, Moscou, Politzdat 1978, Cap 11, citado do russo no Link
[victory.mil.ru/lib/book/memo/vasilevsky/16].

Almirante N. G. Kuznetsov coloca dessa maneira:


Durante os anos de guerra Marechal G. K. Zhukov se reuniu com o Comandante Supremo mais do que
qualquer um, para tratar de questões militares, e ninguém pode dar uma melhor caracterização que ele,
Zhukov o chamou de “um comandante supremo respeitável”. Até onde eu saiba, todos os comandantes
militares que viram e se reuniram com Stalin são da mesma opinião, até onde eu saiba.

N. G. Kuznetsov, citado de suas memórias, em russo no Link [victory.mil.ru/lib/book/memo/kuznetsov_ng3/01], também em Voenno-Istorichesky


Zhurnal, 4 (1993), p. 51.

Marechal Golovanov:
O papel específico da pessoa de Stalin no decorrer da guerra foi muito prezado, tanto entre os
comandantes do Exército Vermelho quanto entre os soldados e oficiais. Isso é um fato indiscutível (...)
Eu fui afortunado por trabalhar com um grande homem, um dos maiores, para quem nada era mais
importante que os interesses do Estado e do povo, que viveu sua vida toda não por si, mas esforçou-se
para fazer do nosso Estado o mais progressista e poderoso do mundo. E eu digo isso, eu que também
passei pelo ano de 1937!

Felix Chuev, “Nespisochnyi marshal” (Um marechal extraordinário) citado do russo no Link [pseudology.org/Chuev/Golovanov_01].

A respeito de Stalin supostamente ter tomado todas as decisões sozinho, ao invés de seu general
Marechal Bagramian, que Khrushchev se refere como alguém que estava presente e que poderia confirmar o que
ele dissesse, porém escreveu o seguinte:
Ciente do poder imenso e vontade de ferro de Stalin, eu estava impressionado com sua maneira de
dirigir. Ele poderia simplesmente dar o comando: “Envie os Corpos” – ponto. Mas Stalin com grande
tato e paciência, tentava guiar a quem iria que executar a ordem até chegar à conclusão de que esse era
um passo essencial. Mais tarde eu mesmo como comandante de front tive a oportunidade de falar com
o Comandante Supremo com bastante frequência, e fiquei convencido de que ele sabia como ouvir
atenciosamente a opinião de seus subordinados. Se o oficial encarregado mantivesse firmemente sua
posição e estabelecesse argumentos sólidos em defesa de seu ponto, Stalin quase sempre concedia.

I. Kh. Bagramian. Tak nachinalas voina, Kiev: Politizdat Ukrainy, 1977. Online no Link [militera.lib.ru/memo/russian/bagramyan1/index]. Essa
citação exata está na parte 4, “Krushenie mifa”. Capítulo 2: “Otkhod otkodu rozn”, p. 404. Online no Link
[militera.lib.ru/memo/russian/bagramyan1/04].

KHARKOV, 1942

Khrushchev:
Permitir-me-ei, a respeito disso, trazer à tona um fato característico que ilustra a maneira com a qual
Stalin dirigiu as operações nos fronts. Está presente neste Congresso o Marechal Bagramian, que já foi
o chefe de operações na sede do front sudoeste e que pode corroborar o que eu vou dizer a vocês.
Quando, em 1942, se desenvolveu uma situação excepcionalmente grave para o nosso Exército na
região de Kharkov... E qual foi o resultado disso? O pior que esperávamos. Os alemães cercaram
nossos bolsões de exército e, consequentemente, perdemos centenas de milhares de nossos soldados.
Esse é o “gênio” militar de Stalin; isto foi o que nos custou.

De acordo com Sergei Konstantinov:


Não foram apenas muitas pessoas comuns que ficaram estupefatas e irritadas pela desestalinização de
Khrushchev. Como deve ter sido para os comandantes militares de alta patente, que conheciam todos
os lados fortes e fracos de Stalin, sentados no salão da sessão do 20º Congresso ouvirem as mentiras
descaradas de Khrushchev, sobre Stalin usar apenas um globo terrestre para desenvolver planos de
operações militares? Khrushchev contou uma mentira óbvia atribuir exclusivamente sobre Stalin toda a
responsabilidade da catástrofe do Exército Vermelho de Kharkov em 1942 Alexander Vasilevsky,
Georgy Zhukov [e] Sergei Shtemenko contam em suas memórias fatos comprovados pelas ultimas
publicações de arquivos, sobre como o peso principal da responsabilidade dessa catástrofe deveria cair
sobre Khrushchev, Semion Timoshenko, comandante do front sudoeste, e Ivan Bagramian, membro do
Conselho Militar daquele front. A maioria dos altos dirigentes militares que passaram pela guerra com
Stalin, sem dúvidas foram críticos e contra a desestalinização que Khrushchev realizou, em primeiro
lugar, porque Nikita Sergeevich deturpou descaradamente fatos históricos. Além disso, alguns desses
comandantes militares nutriam os mais calorosos sentimentos em relação Stalin, simplesmente por sua
pessoa. O Marechal Chefe da aviação Alexandre Golovanov contou ao escritor Felix Chuev sobre o
seguinte episódio. Uma vez Khrushchev pediu ao Marechal Rokossovsky para escrever um artigo
sobre Stalin no espírito do 20º Congresso. Como respost, Khrushchev ouviu: “Nikita Sergeevich, para
mim camarada Stalin é um santo”. Em outra ocasião Rokossovsky e Golovanov, se recusaram a fazer
um brinde com Khrushchev em um banquete ou outro.

Sergei Konstantinov “Shokovaya terapia Nikity Khruhshceva” Nazavisimaya Gazeta 14 de fevereiro de 2001. No Link [ng.ru/style/2001-02-
14/16_therapy].

De acordo com Samsonov, Zhukov discordou das considerações de Khrushchev:


A respeito dessa situação o Marechal da União Soviética Zhukov, escreveu que J. V. Stalin confiou nos
relatos do Soviete Militar do Front Sudoeste que relatou que a ofensiva deveria ser continuada,
rejeitando os planos do Estado Maior.
“A história atual sobre os sinais de alarmismo que supostamente vieram ao Stavka (Quartel General)
pelos Sovietes Militares das frontes sul e sudoeste, não corroboram os fatos. Eu posso atestar isso
porque eu pessoalmente estava presente nas conversas com o Comandante Supremo”.

Samsonov, A. M. Stalingradskaya Bitva, 4 izd. isp. i dop. (A Batalha de Stalingrado, 4ª edição corrigida e ampliada) Moscou, 1ano errado, Cap. 2,
na nota 50, citado do russo no Link [militera.lib.ru/h/samsonov1/02].

Em suas memórias Zhukov parcialmente culpa Stalin. No Link


[militera.lib.ru/memo/russian/zhukov1/15] (Entretanto, Zhukov estava com raiva de Stalin – Stalin o rebaixou por
roubar despojos de guerra alemães. Veja Voennoe Arkhivy Rossy, 1993, pp. 175 ff. Confissão de Zhukov: p. 241-
44. Khrushchev sabia disso e anulou tudo, sem dúvidas, para ter Zhukov ao seu lado.

O Short History of the Great Patriotic War carrega esta versão, na qual culpa o comando do fronte, não
Stalin ou o GKO:
A principal razão para o fracasso da operação de Kharkov foi que o comando a direção sudoeste
avaliou incorretamente a situação e quando as forças do front sudoeste caíram em uma posição
complexa, falharam em parar a ofensiva em tempo. E mais, eles pediram que o Estado Maior
permitisse que continuassem a ofensiva. A decisão tomada em 19 de maio para cessar a ofensiva veio
tarde demais. O comando do front sudoeste não tomou medidas necessárias para proteger os flancos
dos grupos de choque, foram incompetentes ao estudar o oponente e, em parte, subestimaram a sua
habilidade de manobra durante o a batalha. O generalato no front subestimou as forças inimigas em
30%.

Velikaya Otechestvennaia Voina. Kratakaya istoriya. Moscou: Voenizdat, 1970, 164-5.

Isso é consistente com a carta de Stalin de 26 de junho de 1942, citada por muitas fontes, incluindo a
biografia de Timoshenko de Portugalsky et alli, e na qual culpa não apenas Bagramian, mas também Timoshenko
e... Khrushchev!
O primeiro a ir foi Bagramian. Ele foi removido pelo Stavka do posto que detinha, por falhar em
cumprir seus deveres e “ser insatisfatório ao Stavka, sendo um simples portador de informações”. “E
mais”, comentou Stalin, “Camarada Bagramian foi incapaz de aprender a lição daquela catástrofe que
se desenrolou no front sudoeste. No curso de umas três semanas, graças a sua falta de cuidado, a fronte
sudoeste não apenas perdeu a operação de Kharkov, que já tinha sido bem-sucedida, mas também
entregou ao inimigos 18-20 divisões”. Tendo anunciado que Bagramian estava sendo nomeado a chefe
do Estado Maior do 28º Exército e, então, recebendo uma chance de redenção, o Comandante Supremo
sublinhou firmemente: “É de ser entendido que isso não é simplesmente um caso de Bagramian. A
questão é também quanto aos erros de todos os membros do Soviete Militar e acima de tudo dos
camaradas Timoshenko e Khrushchev. Se nós tivéssemos anunciado ao país a completa extensão
dessas catástrofes – com a perda de 18-20 divisões sofridas no front e das quais continuariam a sofrer –
então eu temo que ele [o país] iria pesadamente sobre vocês. Portanto vocês devem considerar os erros
que cometeram e tomar as medidas necessárias para que eles não aconteçam no futuro”.

Portugalsky, R. M., et. al. Marechal S. K. Timoshenko, M. 1994, Cap 5, da versão russa no Link [militera.lib.ru/bio/domank/05]. A mesma carta de
Stalin é também citada por Beshanov, 1942 god – uchebnyi (O ‘ano de aprendizagem’, 1942), Minsk: Kharvest, 2003. Capítulo 14: “Como
Bagramian Sozinho Condenou Dois Frontes”, no Link [militera.lib.ru/research/beshanov_vv/14].

Volkogonov:
N. S. Khrushchev dedicou uma seção inteira de seu discurso no 20º Congresso do Partido aos eventos
em Kharkov, numa época que ele [Khrushchev] tinha sido um membro do Conselho Militar do front
sudoeste. De acordo com Khrushchev, ele telefonou do front para Stalin, que estava na dacha.
Entretanto, Malenkov foi ao telefone. Khrushchev insistiu em falar pessoalmente com Stalin. Mas o
Comandante Supremo, que estava “apenas a alguns passos do telefone” [essa é uma citação do
Discurso Secreto de Khrushchev – GF], não foi ao telefone e, por Malenkov, instruiu Khrushchev a
falar com Malenkov. Depois de emitir a ordem para parar a ofensiva – como ele disse aos delegados do
20º Congresso – Stalin disse “deixe tudo da maneira que está!” Em outras palavras, Khrushchev
inconfundivelmente declarou que foi especificamente Stalin o culpado pela catástrofe em Kharkov.
G. K. Zhukov estabelece outra versão, propondo que a responsabilidade pelo desastre deve recair
também sobre os comandantes do Conselho Militar dos fronts sul e sudoeste. Em seu livro Memoirs
and Reflections Zhukov escreve que antes de chegar à fronte o perigo foi considerado pelo Estado
Maior. Em 18 de maio o Estado Maior mais uma vez falou interromper a ofensiva em Kharkov. (...)
Perto do anoitecer de 18 de maio ocorreu uma conversa sobre esse tema entre os membros do
Conselho Militar da fronte, N. S. Khrushchev expressou as mesmas visões que o comando da fronte
sudoeste: o perigo de um ataque inimigo em Kramator foi seriamente exagerado, e não há fundamento
para parar a operação. Confiando nos relatórios do Conselho Militar da fronte sudoeste de que era
essencial continuar com a ofensiva, o Comandante Supremo rejeitou a posição do Estado Maior. A
história existente, sobre os sinais de alarme que supostamente chegaram ao Stavka vindo dos Sovietes
Militares das frontes sul e sudoeste, não se conformam aos fatos. Eu posso atestar isso porque eu
estava pessoalmente presente durante as conversas com o Comandante Supremo.
Eu penso que nesse caso o Marechal [Zhukov] estava mais próximo da verdade. N. S. Khrushchev
relatando suas memórias pessoais no relatório, depois de passados muitos anos, uma reação tardia ao
desastre que ele havia tido quando já tinha se tornado patente a todos que uma catástrofe estava se
formando. O marechal Zhukov enfatizou repetidamente que a decisão do Comandante Supremo foi
baseada nos relatórios de Timoshenko e Khrushchev. Seria uma coisa caso tivesse sido simplesmente
esquecimento da parte de Khrushchev. Mas se isso é uma tentativa de criar para sim um álibi histórico
depois do fato – é outra coisa completamente.

Volkogonov, Stalin, Vol. 2, Cap. 8, citado do russo no Link [militera.lib.ru/bio/volkogonov_dv/08].

STALIN PLANEJAVA OPERAÇÕES MILITARES EM UM GLOBO

Khrushchev:
Liguei para Vasilevsky e implorei-lhe: “Alexander Mikhailovich, pegue um mapa” – Vasilevsky está
presente aqui – “e mostre ao camarada Stalin a situação que se desenvolveu”. Devemos notar que
Stalin planejava as operações em um globo terrestre (Animação no salão). Sim, camaradas, ele
costumava pegar o globo e desenhar a linha de frente nele. Eu disse ao camarada Vasilevsky: “Mostre-
lhe a situação em um mapa...”

Marechal Meretskov:
Em alguns de nossos livros nós encontramos a narrativa que J. V. Stalin determinava operações
militares a partir de um globo terrestre. Eu nunca li nada tão ignorante!

K. A. Meretskov, Na sluzhbe narodu (Ao Serviço do Povo) Moscou: Politizdat, 1968, citado do russo no Link
[militera.lib.ru/memo/russian/meretskov/29].

Solovev e Sukhodeev, citando General Gribkov:


A mentira sobre o “globo” também é refutada pelos documentos operacionais. O General do exército,
A. I. Gribkov que trabalhou durante os anos de guerra no diretório operacional do Estado Maior,
testifica: “N. S. Khrushchev ao desmascarar o culto à personalidade ao redor de J. V. Stalin, afirmou
que aparentemente Stalin dirigia as frontes a partir de um globo terrestre. É claro que isso é uma
mentira. Os arquivos militares contêm mapas de várias escalas com notas escritas pelo punho do
Comandante Supremo”.

B. Solovev e V. Sukhodeev, Stalin the Military Leader. Moscou, 2003, citado do russo no Link [militera.lib.ru/research/solovyov_suhodeev/01].

A refutação da calúnia de Khrushchev sobre a questão do “globo” também pode ser encontrada no
livro On the Eve do almirante N. G. Kuznetsov. “É completamente falsa a afirmativa maliciosa de que,
supostamente ele [Stalin] avaliava as situações e tomava decisões com o uso de um globo terrestre. Eu
poderia citar muitos exemplos de como Stalin, verificando a posições das frontes com os líderes
militares, sabia quando era necessário, até mesmo a posição de cada batalhão”. No livro de K. S.
Moskalenko In the Southwestern Direction: “Quando Nikolai Fiodorovich [Vatutin, comandante de
front] contou sobre sua conversa com o Comandante Supremo eu não pude esconder minha admiração
pela precisão com a qual Stalin analisava as atividades militares e, sem nem perceber, disse:”Quais
mapas o Comandante Supremo usa para seguir nossas atividades, se ele vê mais fundo que nós
vemos?” Nikolai Fiodorovich sorriu e respondeu: “Mapas de escala 1:2000 e 1:5000 para as frontes e
1:100000 para cada exército. O principal – e é por isso que ele é o Comandante Supremo – são suas
sugestões, corrigindo nossos erros (...)”.
Mas o Marechal da Força Aérea Novikov deu a melhor resposta a Khrushchev: “Qual é a validade da
declaração de Khrushchev, na qual, nos tempos da guerra, Stalin planejava operações e dirigia-as, em
muito, através de um globo terrestre em seu escritório? Essa afirmação do autor do discurso
[Khrushchev – GF] evocou, naquela época, um protesto bastante amplo, embora silencioso,
especialmente entre o pessoal militar e entre veteranos comuns”.

Balayan, Stalin i Khrushchev, Cap. 22: “Polkovedets Iosif Stalin”, no Link [20071025174551].

Molotov:
Haviam mapas em todas as paredes do foyer. Khrushchev disse que ele dirigia por um globo terrestre –
ao contrário ele amava muito os mapas geográficos.

Chuev, F. Molotov Poluderzhvnyi Vlastelin, p. 361.

Marechal Zhukov:
A história disseminada de que o Comandante Supremo estudava a situação e tomava decisões usando
um globo terrestre não está de acordo com a realidade (...) Ele entendia o uso de mapas operacionais e
como representavam as situações.

G. K. Zhukov, Vospominaiya i razmyshleniya. Vol. 1, Cap 9. Moscou, 2002, do russo no Link [militera.lib.ru/memo/russian/zhukov1/11].

STALIN REBAIXOU ZHUKOV

Khrushchev:
Stalin estava muito interessado em avaliar o camarada Zhukov como um líder militar. Ele pediu muitas
vezes a minha opinião sobre Zhukov. Eu disse-lhe então: “Eu conheço Zhukov há muito tempo, ele é
um bom general e um bom líder militar”.
Após a guerra, Stalin começou a contar todo tipo de bobagem sobre Zhukov, entre outras a seguinte:
“Você elogiou Zhukov, mas ele não merece. Diz-se que antes de cada operação no front, Zhukov
costumava se comportar da seguinte forma: ele geralmente pegava um punhado de terra, cheirava-a e
dizia:”Podemos começar o ataque”, ou o oposto, “A operação planejada não pode ser realizada.’” Eu
disse na época: “Camarada Stalin, não sei quem inventou isso, mas não é verdade”.
É possível que o próprio Stalin tenha inventado essas coisas com o propósito de minimizar o papel e os
talentos militares do Marechal Zhukov.

De acordo com o próprio Zhukov, Stalin nunca o insultou:


G. K. Zhukov enfatizava repetidamente que “Em momento algum Stalin disse uma única palavra ruim
sobre mim”, e que “se alguém tentasse me insultar em sua presença, Stalin arrancaria sua cabeça em
meu favor”.

B. Solovev e V. Sukhodeev. Polkovodets Stalin (Stalin, o General). Moscou, Eksom, 2003, Cap. 1, citado do russo no Link
[militera.lib.ru/research/solovyov_suhodeev/01].

De fato, Zhukov foi rebaixado em 1948. Isso se deu porque ele foi declarado culpado, e confessou sua
culpa ao privar o governo soviético de grandes somas, por manter ilegalmente para si, grandes quantidades de
tesouros alemães saqueados. Esse fato não parece ser amplamente conhecido até mesmo na Rússia, embora os
documentos relevantes tenham sido publicados quinze anos atrás [1993 – NT]. Eu coloquei esses documentos
online no Link [zhukovtheft4648var93.pdf].

As citações a seguir dão alguma ideia do crime de Zhukov e do porquê Stalin o rebaixou.
Ultra Secreto
O CONSELHO DE MINISTRO DA URSS
Ao camarada STALIN J. V.
(...) Durante a noite de 8-9 de janeiro deste ano uma busca secreta foi conduzida na dacha de Zhukov,
localizada na vila de Rublevo, perto de Moscou.
Como resultado dessa busca, foi descobertos que dois quartos dacha tinham sido convertidos em
depósitos nos que armazenavam grande quantidade de bens de valor e objetos de todos os tipos.
Por exemplo:
Tecidos de lã, seda, brocado, veludo e outros materiais – ao todo, mais de 4000 metros;
Peles – zibelina, macaco, raposa, pele de foca, Astrakhan [lã fina] – total de 323 peles;
Pelúcia da melhor qualidade – 35 peles;
Valiosos carpetes e tapetes de Gobelina de Potsdam e outros palácios e casas alemãs, em tamanho
muito grande – 44 peças ao todo, algumas das quais assentadas ou penduradas em vários quartos, e o
resto no depósito.
Especialmente digno de nota é um tapete de grande tamanho colocado em um dos quartos da dacha;
Valiosas pinturas de paisagens clássicas de grandes dimensões em molduras artísticas – 55 unidades ao
todo, penduradas em vários quartos da dacha e uma parte das quais permanecia no depósito;
Serviços de mesa e chá muito caros (porcelana com decoração artística, cristal) – 7 baús grandes;
Conjuntos de mesa e talheres de chá de prata – 2 baús;
Acordeões com rica decoração artística – 8 unidades;
Rifles de caça exclusivos da empresa Gotland – Gotland e outros – 20 unidades ao todo.
Estas posses são mantidas em 51 baús e malas e em pilhas.
Além disso, em todos os quartos da dacha, nas janelas, escadas, mesas e mesas de cabeceira são
colocadas, ao entorno, grandes quantidades de vasos de bronze e porcelana e estatuetas de trabalho
artístico e todos os tipos de bugigangas e quinquilharias de origem estrangeira.
Chamo a atenção para a declaração dos agentes que realizaram busca, que a dacha de Zhukov é
essencialmente uma loja de antiguidades ou um museu, com várias obras de arte valiosas penduradas
em todo o interior (...)
Existem tantas pinturas valiosas que nunca poderiam ser adequadas para um apartamento, mas
deveriam ser transferidas para o fundo estatal e instaladas num museu.
Mais de vinte tapetes grandes cobrem o chão de quase todos os quartos.
Todos os objetos, começando com a mobília, carpetes, vasos, decoração, até as cortinas das janelas,
são estrangeiros, principalmente alemães. Literalmente não há uma única coisa de origem soviética na
dacha (...)
Não há um único livro soviético na dacha, mas por outro lado nas estantes de livros há uma grande
quantidade de livros, encadernações lindas com relevo dourado, todas, sem exceção, na língua alemã.
Quando você entra em casa é difícil imaginar que não seja na Alemanha, mas sim próximo a Moscou
(...)
Acompanhando essa carta há fotografias de alguns bens, roupas e itens que nós descobrimos no
apartamento e dacha de Zhukov.
ABAKUMOV
10 de janeiro de 1948

Voennye Arkhivy Rossii (1993), pp. 189-191; também no URL acima.

NACIONALIDADES DEPORTADAS

Khrushchev:
Camaradas, vamos pegar outros fatos. A União Soviética é justamente considerada como um modelo
de Estado multinacional porque, na prática, garantimos a igualdade e a amizade de todas as nações que
vivem em nossa grande Pátria.
Ainda mais monstruosos foram os atos cujo percurso foi Stalin e que são grosseiras violações dos
princípios leninistas básicos da política de nacionalidades do Estado soviético. Referimo-nos às
deportações em massa de seus lugares nativos de nacionalidades inteiras, juntamente com todos os
comunistas e militantes do Komsomol sem qualquer exceção; esta ação de deportação não foi ditada
por quaisquer considerações militares...
Não só um marxista-leninista, mas também nenhum homem de bom senso, pode compreender como é
possível tornar nações inteiras responsáveis pela atividade inimiga, incluindo mulheres, crianças,
idosos, comunistas e militantes do komsomols; usar a repressão em massa contra eles; e expô-los à
miséria e sofrimento pelos atos hostis de pessoas individuais ou de grupos de pessoas.

Pykhalov, sobre as exceções às deportações:


De acordo com o senso comum todos os tártaros da Criméia, incluindo aqueles que lutaram
honrosamente no Exército Vermelho e nas frontes partisans, foram deportados sem exceção. Na
realidade esse não é o caso. “Aqueles que tomaram parte da clandestinidade na Criméia, agindo na
retaguarda do inimigo, foram aceitos com o status de ‘colono especial’, como também os membros de
suas famílias. A família de S. S. Useinov, que tinha estado em Simferopol durante o período da
ocupação da Crimeia e era membro de um grupo patriótico clandestino desde dezembro de 1942 até
março de 1943, quando, então foi preso pelos hitleristas e fuzilado. Aos membros de sua família foi
permitido que permanecessem vivendo em Simferopol”.
(...) Tártaros da Crimeia veteranos do front aplicaram imediatamente um pedido para que seus parentes
fossem isentos do status de “colono especial”. Tais aplicações foram enviadas pelo comandante do
segundo esquadrão aéreo do primeiro batalhão de caças da Escola de Alto Oficiais de Combate Aéreo,
Capitão E. U. Chalbash, Major das forças blindadas, Kh. Chalbash, e muitos outros (...) Pedidos dessa
natureza eram garantidos em parte, especificamente, a família de E. Chalbash teve permissão para
viver no oblast de Kherson.

I. Pykhalov, Vremya Stalina: Fakty protiv mifov. Leningrado, 2001, p. 84, citando N. Bugai, L. Beria – I. Stalin: “Soglasno Vashemu Ukazaniyu”
Moscou: AIRO-XX, 1995, pp. 156-7..

Relatório nacionalista checheno de uma rebelião armada pro-germânica e antissoviética em fevereiro de


1943, quando a penetração alemã em direção ao Cáucaso estava em seu pico, da Radio Svoboda (Radio
Liberdade), 23 de fev de 2000:
Aqui eu gostaria de adicionar um fato histórico desconhecido que ainda foi abordado. Os chechenos
sempre, e permanentemente, lutaram pela sua liberdade e autodeterminação, e em fevereiro de 1943
deflagrou uma rebelião nas montanhas, sob a liderança do advogado Merbek Sheripov e de um escritor
famoso Khasan Irailov. Tomando vantagem do fato que os alemães estavam lutando contra os russos,
os chechenos tentaram separar-se da URSS por meio da luta armada e declarar sua independência. O
objetivo final era a união com os povos do Cáucaso para viverem livres em uma confederação
independentemente do império soviético.

No Link [web.archive.org/web/20010305211926/svoboda.org/programs/LL/2000/ll.022300-3.shtml].
Bandeira da “liberdade” de grupo nacionalista do Cáucaso, com uma suástica nazista: Link [stalinism.narod.ru/foto/chech_1.jpg]..

Baixas entre os chechenos deportados durante a deportação:


A Operação Chechevitsa começou em 23 de fevereiro [de 1944] e foi concluída em algum momento
durante a terceira semana de março. Registros do NKVD atestam 180 comboios de trens, carregando
493.269 nacionais chechenos, ingushes, e membros de outras nacionalidades. Cinquenta pessoas foram
mortas no curso da operação e 1272 morreram na jornada.

Bugai e Gomov, Russian Studies in History, vol. 41, no. 2, Inverno 2002, p. 56. Isso é 0,26%¨daqueles deportados, entorno de 2,5 mortes para cada
1000 pessoas.

CASO DE LENINGRADO

Khrushchev:
Após o fim da Guerra Patriótica, a nação soviética enfatizou com orgulho as magníficas vitórias
obtidas através de grandes sacrifícios e de esforços tremendos. O país, então, viveu um período de
entusiasmo político.
E foi precisamente nessa época que nasceu o chamado “Caso de Leningrado”. Como já provamos, esse
caso foi fabricado. Entre aqueles que inocentemente perderam suas vidas incluíam-se os camaradas
Voznesensky, Kuznetsov, Rodionov, Popkov, e outros...
Como é que essas pessoas foram taxadas como inimigas do povo e liquidadas?
Fatos provam que o “Caso de Leningrado” também foi resultado da obstinação de Stalin contra os
quadros do Partido.

Carta de Beria ao Presidium de 25 de junho de 1953, acusando Riumin de falsificar o Caso de


Leningrado:
RIUMIN pessoalmente tomou parte na falsificação dos materiais investigativos dos então chamados
casos do “Centro de espionagem no Comitê Judeu Antifascista”, supostamente encabeçado por
LOZOVSKY MIKHOELS, FEFER e outros, e no “Caso de Leningrado” enquanto durou, como é
sabido foram presos e condenados os dirigentes e militantes do Partido e Soviete da cidade de
Leningrado, KUZNETSOV, POPKOV, KAPUSTIN e outros. Em novembro de 1950 RIUMIN sob
ordens de ABAKUMOV, foi designado à investigação do caso do professor ETINGER, que fora
apreendido. Sabendo que ETINGER tinha sido um dos doutores que tratou A. S. SHCHERBAKOV
como médico, RIUMIN adotou meios ilegais de investigação e forçou ETINGER a dar confissões
imaginárias sobre o tratamento incorreto que supostamente levou à morte de A. S. SHCHERBAKOV.

Lavrenty Beria. 1953. Stenogramma iulskogo plenuma TsK KPSS I drugie dokumenty Moscou, 1999, pp. 64-66.

Tendo culpado a “obstinação” de Stalin pelas prisões, condenações e execuções do “Caso de


Leningrado”, Khrushchev alegou, em junho de 1957, que Stalin tinha sido contra as prisões de Voznesensky e dos
outros acusados!
Khrushchev: Malenkov, você sabe – e Molotov, Mikoyan, Saburov, Pervykhin também sabem(...) os
camaradas que citei sabem que Stalin era contra as prisões de Voznesensky e Kuznetsov. Ele era
contra as prisões, e aquelas bestas jesuítas, Beria e Malenkov, influenciaram Stalin e instigaram as
prisões e execuções de Voznesensky, Kuznetsov [e] Popkov. Malenkov, suas mãos estão sujas de
sangue, sua consciência, suja. Você é uma pessoa mesquinha.
Malenkov: Você está me caluniando.
Khrushchev: Stalin disse em minha presença, e outros também ouviram, por que Voznesensky não foi
nomeado para um posto no Banco do Estado, por que não houve moções para esse efeito? Mas Beria e
Malenkov apresentaram o caso para Stalin, que Voznesensky, Kuznetsov, Popov e outros eram
criminosos. Por quê? Porque em algum momento Stalin, merecidamente ou não, promoveu Kuznetsov
ao invés de Malenkov, e queria tornar Voznesensky Presidente do Soviete de Ministros. Foi por isso
que suas cabeças rolaram.

Malenkov, Molotov, Kaganovich. 1957. Stenogramma iunskogo plenuma TsK KPSS I drugie dokumenty Moscou, 1998, pp. 201-2, ênfases
adicionadas – GF.

O CASO MINGRELIANO

Khrushchev:
Instrutivo da mesma forma é o caso da organização nacionalista mingreliana, que supostamente existia
na Geórgia. Como se sabe, resoluções do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética
foram tomadas a respeito deste caso em novembro de 1951 e em março de 1952. Essas resoluções
foram feitas sem discussão prévia junto ao Politburo. Stalin as ditou pessoalmente. Elas faziam sérias
acusações contra muitos comunistas leais. Com base em documentos falsificados, foi provado que na
Geórgia existia uma organização supostamente nacionalista, cujo objetivo era a liquidação do poder
soviético naquela república, recebendo ajuda das potências imperialistas.

Nas notas da edição crítica dos decretos do Politburo, sobre suborno na Georgia e “o grupo anti-Partido
de Baramia” de 9 de novembro de 1951, nós lemos:
Nos transcritos originais das sessões do PB [Politburo] há uma cópia do decreto escrito por
Poskrebyshev [Secretário pessoal de Stalin – GF] e também uma cópia digitalizada de um rascunho
com correções de Stalin (...)

Segue uma série de correções de Stalin ao decreto. Outra nota na mesma edição crítica relativas ao
decreto do Politburo sobre a situação do Partido Comunista da Georgia, de 27 de março de 1952:
Nos transcritos originais da sessão do PB, Stalin escreveu no título do rascunho do decreto. O decreto
resultou da sessão do Politburo de 25 março e 27 de março de 1952. (ênfases adicionadas, GF)

Esses textos e o contexto relevante são do trabalho Politbiuro TsK VKP(b) i Soviet Ministrov SSSR 1945-1953. Ed. Khlevniuk, O. V. et al. Moscou;
ROSSPEN, 2002, pp. 351 e 354. Essas páginas e o contexto relevante (texto dos decretos) estão agora em [mingrelianres.pdf].

Boris Skolov, em Rossiiskaya Gazeta 10 de abril de 2003:


Em 10 de abril de 1953 foi anunciado o decreto do CC do PCUS “Sobre a violação das leis soviéticas
por ex-ministros da segurança do Estado da URSS e da RSS da Geórgia”. Esse decreto anulou o
decreto anterior do CC de 9 de novembro de 1951 e 27 de março de 1952 relativos à existência de uma
organização mingreliana nacionalista na Geórgia. Os dirigentes georgianos que tinham sido presos
anteriormente foram libertados. Entretanto, logo depois, muitos deles foram presos novamente sobre as
acusações de ligações com Beria.

Nota de Boris Nikolaevsky a edição New Leader:

51. “A declaração de Khrushchev sobre a ‘conspiração


mingreliana’ explica os expurgos na Geórgia em 1952.
Apesar de implicar uma encenação de Beria e Abakumov
no ‘Caso Mingreliano’, assim como no ‘caso de
Leningrado’, sendo então uma distorção deliberada. Foi
precisamente em novembro de 1951 que S. D. Ignatiev,
um dos mais mordazes inimigos de Beria,tinha sido
indicado como Ministro da Segurança do Estado; o ‘Caso
Mingreliano’ foi, portanto, inventado como um golpe
contra Beria. Isso e os expurgos que se seguiram na
Geórgia (em abril, setembro e novembro de 1952)
minaram a posição de Beria e abriram caminho para
uma”segunda Yezhovshchina’, que começou depois do 19º
Congresso do Partido de novembro de 1952, com os
presos na ‘Trama dos Médicos’“.

De acordo com Khrushchev, Ignatiev estava entre os ouvintes do discurso:


Presente como delegado neste Congresso está o ex-Ministro da Defesa do Estado, Camarada Ignatiev.
(p. 38)

Ignatiev foi removido pelo Presidium, do qual Khrushchev era membro, por má conduta inadmissível na
condução do Caso Mingreliano, Trama dos Médicos e outros eventos.

Veja o relatório de Beria (em russo) no Link [mingrelianaff.pdf].

IUGOSLÁVIA

Khrushchev:
A plenária de julho do Comitê Central estudou detalhadamente as razões para o desenvolvimento do
conflito com a Iugoslávia. Foi um papel vergonhoso que Stalin desempenhou aqui. O “caso Iugoslavo”
não continha problemas que não poderiam ter sido resolvidos através de discussões partidárias entre
camaradas. Não houve base significativa para a escalada deste “caso”; era completamente possível ter
evitado a ruptura das relações com aquele país. Isso não significa, no entanto, que os líderes iugoslavos
não cometeram erros ou não apresentaram deficiências. Mas esses erros e deficiências foram
ampliados de forma monstruosa por Stalin, o que resultou em uma ruptura de relações com um país
amigo.

Em julho de 1953 Khrushchev e outros membros do Presidium atacaram Beria por tentar restaurar
relações com a Iugoslávia – isto é, eles não queriam relações de uma potência comunista com outra.
Molotov: Eu acredito, camaradas, que esse fato – camarada Malenkov leu o rascunho da carta ao
“camarada Rankovic”, para o “camarada Tito” – com esse fato, o traidor [Beria – GF] foi encontrado
em flagrante. Ele escreveu a eles de sua própria mão e não queria que o Presidium discutisse essa
questão. Que tipo de homem é esse?
Verdade, nós trocamos embaixadores.
Malenkov: E nós queríamos uma normalização das relações.
Molotov: Nós queríamos uma normalização das relações, (...) nós decidimos que era necessário
estabelecer com a Iugoslávia o mesmo tipo de relação que tínhamos com outros governos burgueses
(...) E o que é esse tipo de coisa: “E faço uso dessa oportunidade para transmitir a você camarada
Rankovic, a calorosa saudação do camarada Beria, e para informar o camarada Tito que seria
esplêndido se ele compartilhasse desse ponto de vista (...)” etc. etc. Que tipo de coisa é essa?
(...)
Ele talvez teria encontrado apoio entre os capitalistas estrangeiros – Titos, Rankoviches, esses são
agentes capitalistas, ele aprendeu com eles. Ele veio diretamente deles para nós.
(...)
Mas não é claro o que isso significa, essa tentativa de Beria de chegar em um acordo com Rankovich e
Tito, que se portaram como inimigos da União Soviética? Não está claro que esta carta, escrita por
Beria, em segredo do presente governo, foi ainda mais uma tentativa flagrante de golpear as costas do
governo soviético e prestar serviço direto ao campo imperialista? Esse fato sozinho deveria ser
suficiente para concluir que Beria é um agente do campo estrangeiro, agente da classe inimiga.

Lavrenti Beria 1953. Stenogramma iulskogo plenuma TsK KPSS I drugie dokumenty Moscou, 1999. pp. 103-4; 246.

A TRAMA DOS MÉDICOS

Khrushchev:
Lembremo-nos também da “Trama dos Médicos Conspiradores” (Animação no salão). Na verdade,
não houve “Trama” a não ser da declaração da médica Timashuk, que provavelmente foi influenciada,
ou ordenada, por alguém (afinal, ela era uma colaboradora não oficial dos órgãos de segurança do
Estado) a escrever para Stalin uma carta na qual declara que os médicos estavam aplicando métodos de
tratamento supostamente inapropriados.
Tal carta foi suficiente para fazer Stalin chegar à conclusão imediata de que existiam médicos
conspiradores dentro da União Soviética. Ele emitiu ordens para prender um grupo de eminentes
especialistas médicos soviéticos. Ele pessoalmente emitiu conselhos a respeito da condução da
investigação e da metodologia de interrogatório das pessoas apreendidas. Disse que o acadêmico
Vinogradov deveria ser acorrentado, outro deveria ser espancado. Presente neste Congresso, como
delegado, está o ex-ministro da Segurança do Estado, camarada Ignatiev. Stalin disse-lhe bruscamente:
“Se você não conseguir confissões dos médicos, vamos encurtá-lo por uma cabeça”.
Stalin pessoalmente chamou o juiz investigativo, deu-lhe instruções, aconselhou-o sobre quais métodos
investigativos deveriam ser usados; esses métodos eram simples – bater, bater e bater mais uma vez.
Pouco depois da apreensão dos médicos, nós, membros do Politburo, recebemos protocolos com as
confissões de culpa destes médicos. Após distribuir esses protocolos, Stalin nos disse: “Vocês são
cegos como gatinhos jovens, o que vai acontecer sem mim? O país vai perecer porque vocês não
sabem reconhecer os inimigos”.
A Trama foi apresentada de modo que ninguém pudesse verificar os fatos que basearam a investigação.
Não havia possibilidade de tentar verificar esses fatos por meio do contato com aqueles que
confessaram culpa.
Achamos, no entanto, que o caso dos médicos presos era questionável. Conhecíamos pessoalmente
algumas dessas pessoas porque já tínhamos sido tratados por eles.
Quando examinamos essa “Trama”, após a morte de Stalin, descobrimos que foi fabricada do início ao
fim.
Essa “Trama” ignominiosa foi criada por Stalin; ele, no entanto, não teve tempo para finalizá-la (da
forma com a qual havia concebido), e, por isso, os médicos ainda estão vivos. Agora, todos foram
reabilitados; eles estão trabalhando nos mesmos lugares de antes; tratam os indivíduos importantes sem
excluir membros do Governo; eles possuem nossa total confiança; e eles executam seus deveres com
honestidade, do modo que faziam antes.
Ao organizar os vários casos sujos e vergonhosos, um papel muito básico foi desempenhado pelo
inimigo raivoso do nosso Partido, um agente de um serviço de inteligência estrangeiro – Beria, que
havia roubado a confiança de Stalin.

As cartas da Dra. Timashuk foram todas publicadas desde o fim da URSS3. Suas cartas, entretanto, não
tinham nada a ver com o caso da “Trama dos Médicos”. Suas cartas diziam respeito apenas aos tratamentos, ou
maus tratos, do membro do Politburo Andrei Zhdanov, em 1948, que ela testemunhou.

Na realidade, foi Beria – provavelmente por sugestão de Stalin – quem pôs fim às armações da “Trama
dos Médicos”.

Trechos da nota de Beria ao Presidium, em primeiro de abril de 1953:


O ex-Ministro da Segurança do Estado [= MGB, GF] da URSS, cam. IGNATEV não cumpriu as
obrigações de sua posição, não garantiu o controle necessário sobre a investigação, foi ao socorro de
RIUMIN e outros poucos agentes da MGB que, tirando vantagem disso, torturaram brutalmente as
pessoas presas e falsificaram impunemente materiais investigativos.
(...)

4. Para revisar a questão da responsabilidade do ex-Ministro


da Segurança do Estado da URSS, cam. IGNATEV, S. D.,
o Ministro de Assuntos Internos da URSS tomou medidas
para prevenir que no futuro se repitam tais violações da lei
soviética no trabalho dos órgãos do MVD.

Excerto da decisão do Presidium de 3 de abril de 1953, sobre o caso da Trama dos Médicos:

3. Propor ao ex-Ministro da Segurança do Estado da URSS,


cam. Ignatiev S. D. que traga uma explicação ao
Presidium do CC do PCUS a respeito das mais cruas
violações das leis soviéticas e falsificação de materiais
investigativos no Ministério da Segurança do Estado.
Lavrenti Beria. 1953. pp, 21-25.

De acordo com Zhores Medvedev, dissidente soviético, deve ter sido o próprio Stalin quem colocou um
fim à perseguição da imprensa aos “médicos-sabotadores”:
Nós podemos assumir que Stalin chamou o Pravda no anoitecer de 27 de fevereiro ou na manhã de 28
de fevereiro e arranjou para cessarem os materiais antijudaicos e todos os outros artigos tratando da
“Trama dos Médicos”. (...) Na União Soviética na época havia apenas uma pessoa que era capaz, com
um único telefonema ao editor do Pravda, ou ao Departamento de Agitprop do CC PCUS, de mudar a
política oficial. Apenas Stalin poderia fazer isso (...)

Medvedev posteriormente enfatiza o seguinte ponto:


O antissemitismo de Stalin, sobre o qual alguém deve ter lido em quase todas suas biografias, não era
religioso, não era étnico, nem cultural [bytovym = baseado no estilo de vida – GF]. Era político e se
expressava no antissionismo, não no ódio aos judeus [iiudofobii]

ZH. A. Medvedev. Stalin i Evreiskaia problema. Novyi analiz. Moscou: Pravda cheloveka, 2003, pp. 216-7.

De modo claro e simples Medvedev confirma que Stalin não era antissemita, uma vez que a oposição ao
sionismo é comum entre judeus religiosos e não religiosos, inclusive em Israel.

Svetlana Alliluyeva:
“A Trama dos Médicos” aconteceu durante o último inverno da vida dele. Posteriormente, Valentina
Vasilevna me disse que o pai [Stalin] tinha estado muito entristecido pelo desenrolar dos eventos. Ela
ouviu como isso era discutido na mesa, durante as refeições. Ela servia na mesa, como sempre. O pai
disse que não acreditava na “desonra” deles, que isso não podia ser – afinal – a “prova” era apenas as
acusações da Dra. Timashuk.

Twenty Letters to a Friend, carta 18.

BERIA

Khrushchev:
Ao organizar os vários casos sujos e vergonhosos, um papel muito básico foi desempenhado pelo
inimigo raivoso do nosso Partido, um agente de um serviço de inteligência estrangeiro – Beria, que
havia roubado a confiança de Stalin.

Mikoyan, na Plenária do CC de 1953:


Nós não temos evidências diretas de que ele era um espião [ou] recebeu diretivas de governos
estrangeiros (...)

Lavrenti Beria. 1953. Stenogramma iulskogo plenuma TsK KPSS I drugie dokumenty Ed. Naumov, V. IU. Sigachev. Moscou: Mezhdunarodnyi Fond
‘Demokratiya’, 1999, p. 174.

Khrushchev:
Beria mostrou-se mais claramente como um provocador e agente dos imperialistas na discussão da
questão da Alemanha, quando ele colocou a questão de renunciar à construção do socialismo na RDA
e ceder ao ocidente. Isso quer dizer ceder 18 milhões de alemães para o julgo dos imperialistas
americanos. Ele disse: “Nós devemos criar uma Alemanha democrática neutra”.
O tribunal tinha estabelecido que o início dos crimes de traição de L. P. Beria e estabelecimento de
laços com os serviços de inteligência estrangeiros advêm do período da Guerra Civil, quando em 1917,
L. P. Beria, estando em Baku, cometeu traição quando aceitou uma posição como agente secreto na
inteligência do governo contrarrevolucionário de Mussavat, no Azerbaijão, que agia sob controle dos
órgãos de inteligência inglesa.
Em ativa luta contra o movimento revolucionário dos trabalhadores de Baku, em 1919, quando Beria
se tornou agente secreto na inteligência do governo contrarrevolucionário de Mussavat no Azerbaijão,
ele estabeleceu laços com um serviço de inteligência estrangeiro, e depois apoiou e estendeu suas
conexões criminais secretas com serviços de inteligência estrangeiros até o momento de sua exposição
e prisão(...)

Lavrenti Beria, pp. 238; 388; 390.

Kaganovich:
Eu vou dizer o seguinte. Eles nunca nos deram muitos documentos estabelecendo que Beria estava
conectado às potências imperialistas, ou que era um espião, e por aí vai. Nem eu, nem Molotov vimos
tais documentos.
Eu [Chuev] perguntei a Molotov: “Ele era espião?” Molotov disse: “Um agente, não necessariamente
um espião”.
“Eu perguntei a Molotov” – disse Kaganovich – “vocês tinham algum tipo de documento relativo às
acusações de que Beria seria um agente do imperialismo?” Ele responde: “Não havia nenhum. Eles
não nos deram tal documento e ele não existia”. E assim foi. Eles disseram no julgamento que havia
[tais] documentos.

Chuev. F. Tak govoril Kaganovich. Ispoved Stalinkogo apostola. Moscou: “Otecchestvo”, 1992, p. 66. O mesmo texto em Chuev, Kaganovich.
Shepilov. Moscou: OLMA-Press, 2001, pp. 83-4.

Molotov concordou, como disse a Chuev:


Até hoje eles discutem sobre Beria: era um agente da inteligência estrangeira, ou não?

Eu acredito que ele não era – disse Molotov.


Chuev, Molotov: Poluderzhavniy Vlastelin. Moscou: OLMA-Press, 2000, p. 409.

Ainda mais impactante é o rascunho do discurso de Malenkov na sessão do Presidium em que Beria foi
enfim preso ou morto, na qual Malenkov tinha planejado propor o seguinte:

a. MDV – dar esse posto para (Kr[uglov]) e CC. (...)

b. Dispensar [Beria] do posto de deputado [Presidente] do


Conselho de Ministro, e apontá-lo como min[istro] da
ind[ustria] do petrol[eo].
Lavrenti Beria, p. 70.

Entretanto, mais cedo, nesse rascunho de discurso, Malenkov se refere a “vragi” – inimigos – tentando
usar a MVD. Isso denota muita hostilidade em direção a Beria.

Aparentemente o que realmente incomodava os outros membros do Presidium (ou alguns deles, incluindo
Malenkov e Khrushchev) era que a MDV estava supervisionando as atividades dos membros do Presidium e
outros dirigentes do Partido. Isso significava que o governo soviético estava acima do Partido, e os dirigentes do
Partido deveriam responder à lei. Algo similar seria o FBI investigar líderes de alto escalão do governo nos EUA.
A prisão [de Beria] aconteceu na sessão da Plenária do Comitê Central de 26 de junho de 1953 [Nota:
isso é um erro; foi, supostamente, em uma sessão do Presidium do CC – GF], a despeito do fato de que
nenhuma acusação concreta ter sido levada contra Beria. Seus oponentes entendiam isso. A princípio,
mesmo Khrushchev falou apenas sobre “detê-lo” em interesse de futuras investigações. “Eu disse para
‘detê-lo’ porque nós não tínhamos acusações criminais diretas contra ele [Beria]. Eu acredito que ele
tenha sido um agente Musavatista, como disse Kaminsky. Mas ninguém nunca verificou isso”. Foi
proposto apenas removê-lo do posto que detinha. Molotov estava, supostamente, contra isso, ele tinha
medo de deixar Beria em liberdade: “Beria é muito perigoso e eu acredito que nós devemos tomar
mediadas mais extremas”.

n. 16:“Seus camaradas de Presidium o prenderam


preventivamente. Eles temiam-no muito. De fato,
nenhuma”Trama de Beria”, sobre a qual muito foi dito
posteriormente, jamais existiu. Eles pensaram nisso de
forma que pudessem explicar, de alguma forma, para as
massas o porquê de terem prendido o mais confiável
pupilo de Stalin”. Entrevista com M. Smirtiukov,
Kommersant-Vlast [um jornal de negócios], 2 de agosto
de

2000.
Piotr Vagner, em Arkhiv. No. 20, 2002, no Link [history.machaon.ru/all/number_14/analiti4/vagner_print/index]; Artigo de Smirtiukov no Link
[kommersant.ru/doc/16455].

KAMINSKY ACUSA BERIA DE TRABALHAR COM O MUSSAVAT

Khrushchev:
Havia sinais de que Beria era inimigo do Partido? Sim, havia. Já em 1937, em uma Plenária do Comitê
Central, o ex-Comissário do Povo para a Saúde, Kaminsky, disse que Beria trabalhou para o serviço de
inteligência Mussavat. Mas, o Plenário do Comitê Central mal tinha sido concluído quando Kaminsky
foi preso e depois fuzilado. Stalin examinou a declaração de Kaminsky? Não, porque Stalin acreditava
em Beria e isso foi o suficiente para ele.

Carta de Pavlunovsky, de junho de 1937, atestando o fato de que Beria tinha realizado trabalho
clandestino, entre os nacionalistas, para o Partido Bolchevique:
Ao Secretário do CC VKP(b), cam. Stalin, a respeito do cam. Beria. Em 1926, eu fui indicado para a
Transcaucásia como Presidente do GPU Trasnc. Antes de minha saída para Tíflis, cam. Dzerzhinsky,
Presidente do OGPU, me convidou e informou-me em detalhes sobre a situação na Transcaucásia.
Então, me informaram que um de meus ajudantes na Transcaucásia, cam. Beria tinha trabalhado para a
contrainteligência de Mussavat durante o regime do mesmo. Eu não deveria permitir que essa situação
me confundisse de alguma forma ou me enviesasse contra o cam. Beria, como cam. Beria tinha
trabalhado no serviço de contrainteligência, com o conhecimento de camaradas transcaucasianos
responsáveis e ele, Dzerzhinsky e cam. Sergo Ordzhonikidze sabiam sobre isso. Após minha chegada
em Tíflis, em torno de 2 meses depois, fui ver o cam. Sergo e ele me disse tudo que cam. Dzerzhinsky
tinha me informado sobre cam. Beria.
Cam. Sergo Ordzhonikidze me informou que, de fato, cam. Beria tinha trabalhado na
contrainteligência de Mussavat, que realizou essa tarefa após ser designado por militantes do Partido, e
que ele, cam. Ordzhonikidze, cam. Kirov, cam. Mikoyan e cam. Nazaretian estavam bem-informados
sobre isso. Por essa razão eu deveria me relacionar com cam. Beria com total confiança e que ele,
Sergo Ordzhonikidze, confiava completamente no cam. Beria.
No decorrer de dois anos de trabalho na Transcaucásia, o cam. Ordzhonikidze me disse várias vezes
que ele valorizava muito cam. Beria como um militante em formação e que o cam. Beria se tornaria
um militante leal e que ele tinha informado cam. Stalin dessa avaliação sobre o cam. Beria.
No curso dos meus dois anos de trabalho na Transcaucásia eu sabia que cam. Sergo valorizava e
apoiava o cam. Beria. Dois anos atrás, o cam. Sergo me disse, por alguma razão, “você sabe que os
direitistas e outros lixos estão tentando, num embate contra cam. Beria, usar o fato dele ter trabalhado
na contrainteligência do Mussavat, mas eles não conseguiram ser bem sucedidos no final”.
Eu perguntei ao cam. Sergo se cam. Stalin estava ciente disso. Cam. Sergo Ordzhonikidze respondeu
que isso era sabido por cam. Stalin e que ele tinha falado com cam. Stalin sobre isso.
25 de junho de 1937 Candidato ao CC VKP(b) Pavlunovsky.

Aleksei Toptygin, Lavrenti Beria. Moscou: Iauza, EKSMO, 2005, pp. 11-12.

Na própria autobiografia de Partido de Beria, inclui-se passagens sobre esse trabalho clandestino entre os
nacionalistas.
De fevereiro de 1919 até abril de 1920, enquanto eu era presidia a célula comunista de trabalhadores
técnicos, sob a direção de camaradas seniores, realizei várias tarefas da área do Comitê e lidava com
outras células como instrutor. No outono daquele mesmo ano 1919, entrei no serviço da
contrainteligência do Partido “Gummet”, onde trabalhei junto com o camarada Mussevi. Por volta de
março de 1920, depois do assassinato do cam. Mussevi, eu deixei a tarefa na contrainteligência e
trabalhei na alfândega de Baku.

Beria: Konets Kariery. Ed. V. F. Nekrasov. Moscou: Politizdat, 1991, pp. 320-5, na página 323. Toda a autobiografia de Beria está online no Link
[beriaautobiog.pdf].

Zalessky, Imperiya Stalina:


Em abril-maio de 1920, Beria era plenipotenciário da seção de registros do Fronte Cáucaso, anexado
ao Conselho Militar Revolucionário do 11º Exército e, então, foi despachado para trabalho clandestino
na Georgia. Em junho de 1920 ele foi preso, mas foi liberado por demanda do representante soviético
plenipotenciário, S. M. Kirov e foi enviado ao Azerbaijão.

No Link [hrono.ru/biograf/bio_b/beria_lp].

Beria para Ordzhonikidze, carta de 2 de março de 1933.


Caro Sergo!
(...) IV. Levan Gogoberidze está repousando em Sukhumi. De acordo com o que cam. Lakova e uma
série de outros camaradas dizem, cam. Gogoberidze está dizendo as coisas mais vis sobre mim e sobre
a nova direção da Transcaucásia, de modo geral. Em particular, sobre minha tarefa anterior na
contrainteligência do Mussavat, ele está afirmando que o partido supostamente não sabia e não sabe
sobre isso.
Mas você sabe muito bem que eu fui enviado pelo Partido para dentro do serviço de inteligência de
Mussavat e que essa questão foi acordada pelo CC do VKP(b) em 1920, na sua presença e nas dos
cams. Stasova, Kaminsky, Mirza Davud Guseinov, Harimanov, Sarkis, Rukhull, Akhundov, Buniat-
Zade e outros. (Em 1925, eu entreguei-lhe a nota oficial da decisão do VKP(b), na qual eu fui
completamente reabilitado, isto é, o fato do meu trabalho na contrainteligência com o consentimento
do Partido, foi confirmada pelas declarações dos cams. Mirza Davud Guseinov, Kasum Ismailov e
outros) Cam. Datiko, que lhe entregará essa carta, vai te contar os detalhes.
Comprimentos,
Lavrenti Beria
2 de março de 1933

Em Sovestkoe Rukovodstov. Perepiska. 1928-1941. Moscou: ROSSPEN 2001. No. 204. Carta está online no Link [beriatoordzhon33.pdf].

Até mesmo Khrushchev admite em suas memórias, escritas no fim da década de 1960:
(...) Nós não tínhamos acusações criminais diretas contra ele [Beria]. Eu acredito que ele tenha sido um
agente Musavatista, como disse Kaminsky. Mas ninguém nunca verificou isso (...)

Vremya. Liudi. Vlast. (Vospominaniya) Vol. 2, Cap. 3. Moscou: Moscovskie Novosti, 1999. Capítulo “Posle smerti Stalina”, p. 168. Também em
edição online no Link [hrono.ru/libris/lib_h/hrush48].

KARTVELISHVILI (LAVRENTIEV)

Khrushchev:
As longas e hostis relações entre Kartvelishvili e Beria eram amplamente conhecidas; datam da época
em que o camarada Sergo [Ordzhonikidze] estava ativo no Transcaucaso; Kartvelishvili era o
assistente mais próximo de Sergo. Essa relação hostil impeliu Beria a fabricar um “caso” contra
Kartvelishvili. É característico que, neste “caso”, Kartvelishvili tenha sido acusado de cometer um ato
terrorista contra Beria.

Beria descobriu um grupo direitista clandestino na Geórgia, incluindo Lavrentiev-Kartvelishvili.


20 de julho de 1937
No. 1716/s
Caro Koba!
A investigação sobre questões dos contrarrevolucionários na Geórgia está se desenvolvendo ainda
mais, descobrindo novos participantes nos mais vis crimes contra o Partido e poder soviético. As
prisões de G. Mgaloblishivili, L. Lavrentiev (Kartvelishvili), Sh. Eliava (...) ilumina o trabalho de
traição que realizam como membros de uma organização contrarrevolucionária de direita. (...) No
centro contrarrevolucionário direitista transcaucasiano estão:
Da Georgia: Eliava Sh., Orakhelashvili M., Lavrentiev L. e Yenukidze A.

Lubianka: Stalin IGUGB NKVD. 1937-1938. Dokumenty. Moscou: Materik, 2004. No. 142, p. 252. Daqui em diante: Lubianka 2.

SERGEEV estava conectado à MUKLEVICH e STRELKOV no trabalho de espionagem diversionista


em Moscou e à LAVRENTEV, DERIBAS, KRUTOV, KOSSIOR, na região do Extremo Oriente.

Lubianka 2, No. 196, p. 347 de 11 de set. de 1937 (documento Liushkov).

LIU-KU-SEN declarou que houve uma reunião no apartamento de LAVRENTEV, na qual eles
distribuíram portfólios de ministros, etc.

Lubianka 2, No. 207, p. 370 de 19 de set. de 1937 (documento Liushkov).

O ex-procurador regional, CHERNIN, preso em Khabarovsk, admitiu sua participação na trama, com
ligações com LAVRENTIEV, KRUTOV e outros ativos conspiradores.

Lubianka 2, No. 309, p. 507 de 29 de mar de 1938 (documento Liushkov).

O nome de Kartvelishvili foi citado por Yakovlev (também por Kabakov e muitos outros):
Além disso, por meio de VAREIKIS-BAUMAN nós fomos conectados ao grupo de direitistas em
Moscou – KAMINSKY, BUBNOV; (...) na periferia, com militantes dirigentes do oblast e das
organizações regionais do Partido – direitistas e trotskistas que lideravam organizações antissoviéticas,
AHEBOLDAEV, KHATAEVICH, KABAKOV, IVANOV, LAVRENTIEV, SHUBRIKOV, PTUKHA,
KRINITSKY.

Lubianka 2, No. 226, p. 392. De 15-18 de out de 1937.

O arquivo de reabilitação de Kartvelishvili culpa Beria por tudo. Mesmo se Kartvelishvili tenha sido
incriminado, embora não seja esse o caso, a maioria dos documentos contra ele são de Liushkov ou, no caso da
confissão de Yakovlev, não têm nada a ver com Beria.

KEDROV

Khrushchev:
Aqui está o que o velho comunista, camarada Kedrov, escreveu ao Comitê Central através do camarada
Andreev (camarada Andreev era, então, um secretário do CC): “Estou chamando por sua ajuda de uma
célula sombria da prisão de Lefortovsky. Deixe meu grito de horror alcançar seus ouvidos; não
permaneça surdo, leve-me sob sua proteção; por favor, ajude a remover o pesadelo dos interrogatórios
e mostre que tudo isso é um erro”.
“Eu sofro inocentemente”...
O velho bolchevique, camarada Kedrov, foi considerado inocente pelo Soviete Militar. A pesar disso,
ele foi fuzilado por ordem de Beria.

Kedrov realmente foi fuzilado, mas por ordem do Procurador Chefe, não de Beria:
Em 17 de outubro de 1941, uma decisão do NKVD da URSS foi tomada a respeito da necessidade de
se executar, por fuzilamento, 25 prisioneiros, de acordo com a diretiva dos “órgãos de direção da
URSS”. Ela foi assinada pelo chefe da seção investigativa para assuntos especialmente importantes do
NKVD da URSS, L. V. Vlodzimirskii, e confirmada pelo Assistente Comissário do Povo para
Assuntos Internos da URSS, B. Kobulov e com o consentimento do Procurador da URSS, V. Bochkov.
Com base nessa decisão, Beria assinou, em 18 de outubro de 1941, a ordem para fuzilar as pessoas
indicadas.

Organy gosudarstvesnoi bezopanosti SSSR v Veliloi Otechestvennoi Voine T.2. Nachalo, Kn.2. 1-sentiabria – 31 dekabria 1941 goda. Moscou:Rus,
2000. No. 617, p. 215, n.1.

A “Sentença”, implicando procedimento jurídico:


Ao Tenente Sênior da Segurança do Estado, cam. Seminikhin D. E. Ao receber o presente [documento]
você está instruído a proceder para a cidade de Kuibyshev e realizar a sentença – a mais alta medida
de punição (fuzilamento) em relação aos seguintes prisioneiros (...)
[Ênfase adicionada, GF]

idem, pp. 215-216.

Declaração da conclusão do Procurador (ou, talvez, uma parte dela) no caso de Kedrov (reimpressa por
Prudnikov p. 368):
Os prisioneiros condenados Afonsky, Kedrov I. M. e Shilkin, reiteraram em totalidade suas confissões
sobre Kedrov M. S., tanto na investigação preliminar quanto em julgamento.
Em relação ao supracitado Kedrov Mikhail Sergeevich, nascido em 1878, vivendo em Moscou, de
nacionalidade russa, cidadão da URSS, alto nível de instrução, ex-proprietário de terras, membro do
Partido Bolchevique, um pensionista antes de sua prisão, é acusado:
De ser participante em uma organização antissoviética, compartilhar das ideias contrarrevolucionárias
dos direitistas e, repetidamente, conduzir conversas antissoviéticas e provocativas.
De engajar em comportamento de traição na frota do norte durante o período de 1918, em interesses
dos imperialistas britânicos – isto é, cometendo crimes estipulados pelos artigos 58-1a, 58-10, e 58-11
do Código Criminal da Federação Russa.
Considerando encerradas as investigações preliminares do caso de Kedrov M. S. e provadas as
acusações contra ele, conforme estabelecido por uma ordem especial dos órgãos diretivos da União da
RSS. -
Propor:
Que Kedrov Mikhail Sergeevich, nascido em 1878 – seja fuzilado.
(assinado) Vlodzimirsky.

Sukhomlinov, A. V. Kto vy, Lavrenti Beria? Moscou: Detektiv-Press 2003, p. 216. Reimpresso em Prudnikova, Elena. Beria Prestupleniya, Kotorykh
ne bylo. Spb: Neva, 2005, p. 386. Sukhomlinov acredita que a assinatura de Vlodzimirsk no fac-símile é forjada, enquanto Prudnikova aceita sua
genuinidade.

O relatório sobre M. S. Kedrov está anexado a uma das “Listas de fuzilamento de Stalin”, de 28 de março
de 1941:
Um ativo participante de uma organização antissoviética disfarçada como a sociedade “Associação dos
Nortistas” em Moscou.
Tinha relações com o dirigente de uma organização zinovievista-trotskista, G. Safarov e aprovou seus
métodos contrarrevolucionários no combate contra os poderes Soviéticos e do Partido.
KEDROV é suspeito de colaboração sigilosa com a polícia tzarista [“Okhrana”] com base nos
seguintes fatos:
Em 1912, depois dele ter sido preso várias vezes pela Okhrana, viajou sob circunstâncias suspeitas,
para a Suíça onde estabeleceu laços com a organização menchevique e em 1914 recebeu o direito de
retornar para Rússia como sendo “politicamente confiável.
KEDROV estava intimamente conectado com um dirigente da organização conspiratória no NKVD e
agente ativo da inteligência alemã, ARTUZOV (condenado a morte), que o recomendou para trabalhar
nos órgãos da Cheka-OGPU.
O irmão da esposa de KEDROV – MAIZEL – que viveu todo esse tempo na América, fez contato com
KEDROV em várias visitas à URSS.
MAIZEL é conhecido do NKVD da URSS como sendo um agente da inteligência americana.
Adicionalmente foi concluído que em 191, KEDROV comandando d front norte, sob ofensiva das
forças britânicas, deixou Arkhangelsk a sua própria sorte, desorganizando a ação militar e
vulnerabilizando o front para a invasão do inimigo.
Seu trabalho hostil é exposto pelas confissões de SHILKIN P. P., ex-militante do Comissariado do
Povo para Água, AFONSKY V. A. ((condenado a morte), ex-comandante de companhia, SAFAROV
G. I. (sob prisão, investigação sendo conduzida pelo NKVD), pelas acareações face-a-face com
SAFAROV e AFONSKY e pelas confissões da testemunha, TGUNOVA V. I., e por documentos
oficiais sobre os trabalhos de traição de KEDROV no front norte.

No Link [web.archive.org/web/20120201054513/stalin.memo.ru/spravki/13-184].

Mas, quaisquer que sejam os fatos sobre a culpa ou inocência de Kedrov, ele foi executado por uma
ordem assinada pelo Procurador soviético.

O IRMÃO DE ORDZHONIKIDZE

Khrushchev:
Beria também lidou cruelmente com a família do camarada Ordzhonikidze. Por quê? Porque
Ordzhonikidze tentou impedir que Beria concretizasse seus planos vergonhosos. Beria tinha varrido de
seu caminho todas as pessoas que poderiam interferir com ele. Ordzhonikidze sempre foi um oponente
de Beria, como este tinha dito a Stalin. Em vez de examinar o caso e tomar as medidas apropriadas,
Stalin permitiu a liquidação do irmão de Ordzhonikidze e levou -o a um tal estado que foi forçado a
atirar em si mesmo.

Sergo Beria:
Eu conhecia bem Papulia Ordzhonikidze porque vivíamos na mesma casa. Ele sempre ocupou postos
proeminentes, mas era mais conhecido como farrista, caçador, realmente um bom vivant. Ele nunca
chamou seu irmão Sergo de algo além de, me desculpem, um merda. Passava o dia xingando o
socialismo.
Sergo estava ciente do comportamento turbulento de Papulia. Ele ressentia-o e quando veio para
Tbilisi, fez um escarcéu ao ficar conosco. Talvez, do ponto de vista de hoje, Papulia poderia ser
considerado um “democrata”, mas na época abusar da ordem social existente não era algo perdoável,
mesmo sendo irmão de um dos que estavam dirigindo e encabeçando aquela ordem social (...)

Raul Chilachava, Syn Lavrentya Beria raskazyvaet... Kiev, KITS Inko-press

Mesmo o estudo ferozmente anticomunista feito por Khlevniuk exonera Beria:


Valiko (Ivan) Ordzhonikidze trabalhou como inspetor orçamentário do departamento financeiro do
Soviete de Tbilisi. No começo de novembro de 1936 um de seus colegas apresentou uma declaração ao
Comitê do Partido, acusando Ivan Konstantinovich de insistir na inocência de Papulia Ordzhonikidze e
negou que este fraterniza-se com trotskistas. O Comitê do Partido do Soviete de Tbilisi fez uma
denúncia. Valiko foi chamando “ao carpete” e não apenas confirmou tudo escrito na declaração como
adicionou: “Papulia Ordzhonikidze não poderia ir contra seu irmão, Camarada Sergo Ordzhonikidze,
nem o líder de nossa nação, Camarada Stalin, que ele conhecia pessoalmente (...) é impossível
acreditar em tais acusações contra Papulia Ordzhonikidze – elas todas não são verdades”. Aos
membros do Comitê do Partido, Valiko protestou: “Vocês podem ter certeza da inocência não apenas
de meu irmão, mas de todos os que serão libertados em breve”. Por tal impertinência eles expeliram-no
do grupo de simpatizantes do Partido e o despediram.
Então Sergo se envolveu no caso. Em meados de dezembro ele telefonou para Beria e pediu por ajuda.
Beria mostrou preocupação notável dessa vez: ele falou com o acusado e procurou por uma explicação
do presidente do Soviete de Tbilisi. Sergo recebeu um pacote dentro de uma semana, no qual contia
uma carta explanatória de Beria. Beria escreveu: “Caro Camarada Sergo! Depois de seu telefonema eu
rapidamente convoquei Valiko; ele contou-me a história de sua dispensa e confirmou
aproximadamente o que é exposto na explicação em anexo do presidente do Soviete de Tbilisi,
Camarada Nioradze. Hoje ele foi readmitido em seu trabalho. Sinceramente, L. Beria.

Khelvniuk, Oleg. In Stalin’s shadow. The career of ‘Sergo’ Ordzhonikidze. (Armonk, London: M. E. Sharp, 1995), p. 108. A edição russa desse livro,
Stalin i Ordzhonikidze. Konflikty v Politbiuro v 30-e gody (Moscou: Izd “Rossia Molodaya”, 1993) não é idêntica a tradução para o inglês.

STALIN, BIOGRAFIA BREVE

Khrushchev:
Camaradas, o culto ao indivíduo adquiriu um tamanho tão monstruoso principalmente porque o
próprio Stalin, usando todos os métodos concebíveis, apoiou a glorificação de si. Isso é sustentado por
inúmeros fatos. Um dos exemplos mais característicos da autoglorificação de Stalin e de sua falta de
modéstia elementar é a edição de sua Biografia Breve, publicada em 1948.
Este livro é uma expressão da mais dissoluta bajulação, um exemplo de como transformar um homem
em um deus, em um sábio infalível e no “maior líder, sublime estrategista de todos os tempos e
nações”. Finalmente, nenhuma outra palavra poderia ser encontrada para elevar Stalin até os céus.
Não precisamos dar aqui os exemplos da adulação repugnante que preenche esse livro. Tudo o que
precisamos acrescentar é que todos foram aprovados e editados pessoalmente por Stalin e alguns deles
adicionados ao texto do rascunho do livro em sua própria caligrafia.
O que Stalin considerou essencial escrever nesse livro? Ele queria esfriar o ardor dos bajuladores que
estavam compondo sua biografia breve? Não! Ele marcou os exatos lugares onde achava que o louvor
aos seus serviços era insuficiente. Aqui estão alguns exemplos caracterizando a atividade de Stalin,
adicionados pela própria sua própria mão:

Nessa luta contra os céticos e capituladores, os trotskistas, zinovievitas, bukharinistas e


kamenevitas, aquele núcleo da liderança do Partido foi, após a morte de Lenin,
definitivamente consolidado... aquele que defendeu a grande bandeira de Lenin, reuniu o
Partido sob as instruções de Lenin, e trouxe o povo soviético para a o longo caminho da
industrialização do país e da coletivização da economia rural. O líder desse núcleo e a
força norteadora do Partido e do Estado foi o camarada Stalin [(1) – veja abaixo para
discussão, GF].

Assim escreve o próprio Stalin! Então ele acrescenta:

Embora ter realizado sua tarefa de líder do Partido e do povo, com habilidade consumada;
e desfrutado do apoio, sem reservas, de todo o povo soviético, Stalin nunca permitiu que
seu trabalho fosse marcado pelo menor indício de vaidade, presunção ou auto adulação
[(2) – veja abaixo para discussão, GF].

Onde e quando teria um líder elogiado tanto a si mesmo? Isso é digno de um líder do tipo marxista-
leninista? Não.
Foi precisamente contra isso que Marx e Engels tomaram uma posição tão forte. Algo que também
sempre fortemente condenado por Vladimir Ilyich Lenin.
No rascunho do texto de seu livro, apareceu a seguinte frase: “Stalin é o Lenin de hoje”.
Para Stalin, essa frase parecia ser muito fraca, então, em sua própria caligrafia ele a mudou para:
“Stalin é o digno continuador do trabalho de Lenin, ou, como se diz em nosso Partido, Stalin é o Lenin
de hoje” [(3) – veja abaixo para discussão, GF].
Vocês vêm como é bem-dito, não pela nação, mas pelo próprio Stalin.
No rascunho desse livro, é possível enumerar muitas considerações auto adulatórias escritas pela mão
de Stalin. De forma especialmente generosa, ele se dota de elogios relativos ao seu gênio militar, ao
seu talento para a estratégia.
Citarei mais uma inserção feita por Stalin, a respeito da sua genialidade militar. “A avançada ciência
da guerra soviética alcançou um desenvolvimento mais profundo”, ele escreve, “nas mãos do camarada
Stalin. O camarada Stalin elaborou a teoria dos fatores permanentemente operacionais que decidem a
questão das guerras, da defesa ativa e das leis de contraofensiva e ofensiva, da cooperação de todos os
serviços e armas nas escaramuças de hoje, do papel de grandes massas de tanques e forças aéreas na
guerra moderna e da artilharia como o mais formidável dos serviços armados. Nos vários estágios da
guerra, a genialidade de Stalin encontrou as soluções corretas, que levavam em conta todas as
circunstâncias da situação” [(4) – veja abaixo para discussão, GF].
E, além disso, escreve Stalin:

A maestria militar de Stalin foi exibida tanto na defesa quanto no ataque. A genialidade do
camarada Stalin permitiu-lhe adivinhar os planos do inimigo e derrotá-los. As batalhas em
que o camarada Stalin dirigiu os exércitos soviéticos são exemplos brilhantes de
habilidade militar operacional [(5) – veja abaixo para discussão, GF].
Foi dessa forma que Stalin foi elogiado como estrategista. Quem fez isso? O próprio Stalin, não em seu
papel de estrategista, mas no papel de autor-editor, um dos principais criadores de sua biografia auto
adulatória. Tais, camaradas, são os fatos. Deveríamos dizer, fatos vergonhosos.

V. A. Belianov, editor de Stalin, destaca:


Seus apoiadores [de Stalin] poderiam até mesmo achar confirmação da modéstia do Vozhd, uma vez
que ele riscou numerosas frases elogiando-o, que foram incluídas pelos compiladores servis (como
“sob a liderança de Stalin”, “gênio”, etc.)

Nas muitas alterações de Stalin está inclusa a adição de um parágrafo destacando a importância do papel
das mulheres:
Um dos grandes serviços de Stalin é o fato de que, nesse período, o período do desenvolvimento da
industrialização e da coletivização, quando era essencial mobilizar todas as nossas forças trabalhistas
para cumprir grandes tarefas, ele deu total atenção à questão das mulheres, a questão da posição da
mulher, do trabalho feminino, do muito importante papel das mulheres, operarias e fazendeiras tanto
na vida econômica quanto na vida político-social da sociedade e, tendo levantado essa questão à
necessária importância, deu a ela uma resolução correta.

Izvestiya TsK KPSS No. 9, 19900, pp. 113 -129. Online no Link [grachev62.narod.ru/stalin/t16/t16_17].

A conclusão de Maksimenkov:
Contradizendo à tese de Khrushchev que nesses dois exemplos fica óbvia a redução significativa das
expressões de “culto” feita pelo próprio Stalin, e a exaltação dos dogmas Leninistas. Todas as
formulações sobre “os ensinamentos de Stalin” foram removidas. Em um rascunho da biografia de
Lenin, preparada em 1950 em acordo com diretivas de Stalin, o próprio Vozhd sistematicamente
reduziu o estilo de informação conectada com a descrição do paralelo “Lenin-Stalin”. (...) Por razões
compreensíveis, N. S. Khrushchev, P. N. Pospelov, M. A. Suslov, L. F. Ilyichev e outros ideólogos do
“degelo” não citam, nas suas próprias declarações públicas e artigos, exemplos dessas correções [por
Stalin]. O presente autor não está ciente de nenhuma menção dessas fontes primárias durante os anos
da perestroika.

Leonid Maksimenkov. “Kult. Zametki o Slovakh-simvolkh v sovetskoi politichesoi kulture” (Culto. Destaques sobre palavras-símbolos na cultura
política soviética). Svobodnaya Myls 10 (1993). Também no Link [web.archive.org/web/20100929205132/situation.ru/app/j_art_677].

Excerto das notas de Mochalov sobre as considerações de Stalin:


Há vários erros. O teor é péssimo, Socialista-Revolucionário. Eu sou dito como possuidor de vários
tipos de conhecimento, incluindo algum tipo de conhecimento de fatores constantes da guerra. Parece
que eu tenho conhecimento sobre comunismo, enquanto Lenin, veja, fala apenas de socialismo e não
diz nada sobre comunismo. E eu, veja, falo sobre comunismo. Além disso, é como se eu tivesse
conhecimentos sobre a industrialização do país, sobre a coletivização da agricultura e assim por diante
etc. De fato, é a Lenin que devem ser atribuídas as conquistas de colocar a questão da industrialização
do nosso país, bem como aquelas relativa à questão da coletivização da agricultura, etc.
Há muitos elogios nesta biografia, exaltação do papel do indivíduo. O que é deixado para o leitor fazer
após ler essas biografias? Ficar de joelhos e me louvar (...)
Aqui, sobre Baku, é escrito que, supostamente, antes da minha chegada os Bolcheviques não tinham
feito nada e tudo que eu tive que fazer foi chegar e subitamente tudo mudou de uma vez. Acredite
nisso ou não! Na realidade, como foi? Nós tínhamos que formar nossos quadros. Nós de fato
formamos quadros Bolcheviques em Baku. Eu listei o nome dessas pessoas no espaço correspondente.
O mesmo sobre outro período – pessoas como Dzerzhinsky, Frunze, Kuibyshev, viveram e militaram,
mas nada é escrito sobre eles, estão ausentes (...)
Isso tem a ver com o período da Segunda Guerra Mundial. Foi necessário pegar pessoas capazes,
reuni-las, forjá-las. Tais pessoas se reuniram entorno do comando principal do Exército Vermelho.
Em nenhum lugar é dito que eu sou um pupilo de Lenin (...) De fato eu me considerava, e ainda me
considero, um pupilo de Lenin. Eu disse isso claramente na bem conhecida conversa com Ludwig (...)
Eu sou um pupilo de Lenin, Lenin me ensinou, não o contrário. Ele pavimentou a estrada e nós
procedemos sobre essa estrada.

Richard Kosolapov, Slovo tovarishch Stalinu. Moscou: EKSMO-Algoritm, 2002, pp. 470-472.

Em todos os outros lugares, Kosolapov reconta uma história – possivelmente apócrifa, embora seja
atestada por muitos outros – sobre o desdém de Stalin por sua própria “imagem”:
Supostamente Joseph Vissarionovich teve uma conversa com seu filho Vasili, na qual, enfurecido com
a arrogância de seus filhos, ele proferiu o seguinte: “Você acha que você é STALIN? Você achaque eu
sou Stalin? ELE é Stalin – ali!” ele disse, apontando para o retrato pomposo.
Discurso no 122º Aniversário de nascimento de Stalin, Solnce truda No. 3 (2003), pp. 3-4. No Link [cprf.info/analytics/10828.shtml].

Autores não stalinistas como Yuri Bogomolov, correspondente do Izvestia, cita histórias similares:
Um rumor se espalhou sobre uma conversa entre papa Iosif e seu filho Vasia. “Você acha que é Stalin?
Você acha que eu sou Stalin? AQUELE é Stalin!”. Disse o Chefe, enquanto finaliza sua lição de moral
apontando parar um retrato.

Stalin i TV, agora no Link [web.archive.org/web/20050224073133/politcom.ru:80/2003/pvz74].

O “CURSO BREVE”

Khrushchev:
E, quando o próprio Stalin afirma ter escrito O Curso Curto da História do Partido Comunista de Toda
a União (Bolcheviques), pede-se, pelo menos, espanto. Pode um marxista-leninista escrever assim
sobre si mesmo, louvando-se às alturas?

Molotov:
Chuev: Eu tinha ouvido a assertiva que foi Yaroslavsky que escreveu O Curso Breve (...)
Molotov: Isso é impossível. Mas não foi escrito por Stalin. E ele nunca disse que foi ele que tinha
escrito. Ele leu para nós o único capítulo dele – o filosófico.

Chuev, Molotov: Poluderzhavnyi Vlastelin, 302.

Na verdade, como apontado por Roi Medvedev, o papel de Stalin na preparação do livro texto foi muito
mais significativo. No capítulo de título “Stalin – o principal autor do Curso Breve”, Medvedev nota:
Stalin (...) editou e escreveu muitas páginas desse Curso Breve. É de Stalin não apenas o plano geral do
livro, mas também os títulos de cada capítulo e parágrafos dentro desses capítulos. Ele escreveu todas
as seções e páginas desses livros relacionados à teoria (...)
Já em 28 de novembro de 1938, Fiodor Samoilov, diretor do museu do Estado da Revolução (...)
escreveu uma carta para A. N. Poskrebyshev, chefe da equipe secretariada de Stalin:

Ao CC do VKP(b), cam. Poskrebyshev. Em conexão com a necessária exposição do Curso


Breve da História do VKP(b) no Museu da Revolução da URSS, nós devemos nos virar
para o camarada Stalin com um pedido para permitir-nos receber algumas páginas,
escritas ou corrigidas por ele, do Curso Breve, ou margem de páginas corrigidas pelas
mãos do Camarada Stalin. Se não é possível receber os originais dos materiais indicados,
então o museu não poderia ser fornecido com as fotocopias? A exposição desses materiais
seria extremamente valiosa e de interesse para os visitantes do Museu”. Poskrebyshev
mostrou essa carta a Stalin poucos dias depois, e este escreveu sua resposta diretamente
para o Museu da Revolução: “Cam. Samoilov. Eu não imaginaria que na sua velha idade
você se incomodaria com tais ninharias. Se o livro já foi publicado em milhões de cópias,
por que você quer os manuscritos? Saudações. 6 de dezembro de 1938. J. Stalin”. Essa
carta com a resolução de Stalin foi tirada dos arquivos ao final de 1955 em preparação
para o XX Congresso do PCUS. Com base nesse documento N. S. Khrushchev
virtualmente culpa Stalin de plágio. O Curso Breve, Khrushchev afirma ter sido escrito
por um coletivo de autores e na Breve Biografia de Stalin, publicada em 1948, pelas
próprias mãos de Stalin, foi inserida a frase “o livro História do VKP(b). Curso Breve foi
escrito pelo camarada Stalin e aprovado pela Comissão do CC do VKP(b)”. “Como
podem ver, – exclamou N. S. Khrushchev à sessão fechada do Congresso em seu relatório
secreto – isso constitui uma conversão de um trabalho criado por um coletivo ao um livro
escrito por Stalin.

Nesse caso, N. S. Khrushchev estava errado. Como é sabido, nem todos os manuscritos foram
queimados. Uma parte dos datilografados do Curso Breve, com correções e inserções de todos os tipos
feitas por Stalin, foi mantida e esses materiais foram publicados em 2002-2003 no jornal Voprosy
Istory.

R. A. Medvedev, Liudi i Knigi. Chto chital Stalin? Moscou: Prava cheloveka, 2005, pp. 216-217.

Khrushchev:
É fato que o próprio Stalin, em 2 de julho de 1951, assinou uma resolução do Conselho de Ministros da
URSS para a construção de um monumento impressionante à sua imagem no Canal Volga-Don; em 4
de setembro do mesmo ano, ele emitiu uma ordem disponibilizando 33 toneladas de cobre para a
construção desse monumento imponente.
A resolução do Politburo de 16 de fevereiro de 1951:
A presidência nas sessões do Presidium do Soviete de Ministros da URSS e o Bureau do Presidium do
Soviete de Ministros da URSS devem ser atribuídas por turnos aos Vice-Presidentes do Presidium do
Soviete de Ministros da URSS, camaradas Bulganin, Beria e Malenkov, a quem [também] são
designados os deveres relativos a tomar decisões sobre questões atuais.
Decretos e anúncios do Conselho de Ministros da URSS serão emitidos sob a assinatura do Presidente
do Soviete de Ministros da URSS, camarada Stalin. J. V.

Y. Zhukov, Tainy Kremilya. Stalin, Molotov, Beria, Malenkov Moscou: Terra-Knizhnyi Klub, 2000, pp. 544-5. O Original desse documento: Link
[web.archive.org/web/20080605214650/rusarchives.ru/evants/exhibitions/stalin_exb/29.shtml].
Os carimbos de borracha com a assinatura de Stalin usados para assinar documentos em seu nome: Link
[web.archive.org/web/20121221083822/rusarchives.ru/evants/exhibitions/stalin_exb/31.shtml].

MEMBROS DO POLITBURO COMENTANDO, EM 1953, SOBRE A INATIVIDADE POLÍTICA DE


STALIN DURANTE O PERÍODO FINAL DE SUA VIDA

Khrushchev:
Nós todos respeitamos o camarada Stalin. Mas os anos cobraram seu preço. Durante os tempos
recentes camarada Stalin não leu artigos ou recebeu pessoas porque sua saúde estava fraca.

Lavrenti Beria, p. 236.

Kaganovich:
Deve ser dito francamente que nos dias de Stalin, nós vivíamos mais calmamente, uma vez que
tínhamos sua direção política geral, embora que, durante os tempos recentes, camarada Stalin, como
tem sido dito precisamente, não trabalhou muito ativamente nem tomou parte nas tarefas do Politburo.

Lavrenti Beria, p. 274.

Voroshilov:
Junto com o resto de nós, ele sabia que, como resultado de seu trabalho duro, durante os últimos ele
geralmente se encontrava doente(...)

Lavrenti Beria, p. 334.

Mikoyan:
A princípio, camarada Stalin tomou parte ativa na formação desses órgãos, mas durante os últimos dois
anos ele parou de tomar interesse por eles.

Lavrenti Beria, p. 170.

O PALÁCIO DOS SOVIETES

Khrushchev:
Ao mesmo tempo, Stalin deu provas de sua falta de respeito pela memória de Lenin. Não é
coincidência que – apesar da decisão, tomada há mais de 30 anos, de se construir um Palácio dos
Sovietes como um monumento a Vladimir Ilyich – tal palácio não foi terminado, sua construção
sempre foi adiada e permitiu-se que o projeto caducasse.

“Devorets Sovetov” (Palácio dos Sovietes) de Maksim Volchenkov:


Apesar do início tempestuoso da construção, a realização do projeto teve que ser congelada. Para além
disso, a carcaça metálica do Palácio dos Sovietes foi desmanchada durante a guerra: a capital precisava
de metal para os materiais de defesa contra a Alemanha fascista. Depois da vitória eles não
ressuscitaram a construção, embora a ideia da estrutura dessa grandiosa concepção nunca tenha
deixado Stalin até o momento de sua morte. O Vozhd queria destacar, com essa construção, a
superioridade do sistema soviético sobre a estrutura dos estados capitalistas. “Nós vencemos a guerra e
somos reconhecidos através do mundo como os grandes vencedores. Nós devemos nos preparar para a
chegada dos turistas estrangeiros em nossas cidades. O que irão pensar se eles passarem por Moscou e
não verem nenhum arranha-céus? Quando eles nos comparam às capitais capitalistas, isso talvez nos
seja detrimental”.
Os recursos designados para a construção do Palácio dos Sovietes foram usados para a reconstrução do
Estado após aquela severa guerra. Em adição, a “Guerra Fria” tinha começado e muitos recursos eram
necessários para construir a bomba atômica. Qual era o sentido de uma construção grandiosa se o
inimigo que tinha armas atômicas, pudesse varrer todo o país da face da terra? Quem poderia então,
admirar a obra prima da arquitetura soviética? Estava claro que a realização dessa concepção
magnífica foi postergada por tempo indefinido. A despeito do que, a diretoria da construção do Palácio
dos Sovietes, anexada ao Soviete dos Ministros, permaneceu existindo por muitos anos. Depois foi
designada para a construção de outros edifícios de vários andares, usando a experiência do design do
Palácio dos Sovietes, que foi angariada com os anos. Uns poucos anos se passaram e a diretoria iria
priorizar a construção da torre de televisão em Ostankino.
(...) [Volchenkov cita o ataque de Khrushchev a Stalin em seu Discurso Secreto.] Apesar do duro
criticismo de Khrushchev ao velho projeto e a seus organizadores, o novo concurso não produziu nada
melhor e o país nunca viu esse edifício nem durante a época de Khrushchev nem depois.

Maksim Volchenkov. “Dvoretes Sovetov”, no Link [web.archive.org/web/20211128143601/4ygeca.com/dv_sovetov].

O PRÊMIO LENIN

Khrushchev:
Não podemos deixar de recordar a resolução do governo soviético de 14 de agosto de 1925,relativa à
“criação do Prêmio Lenin para o trabalho pedagógico”. Essa resolução foi publicada na imprensa, mas
até hoje não há Prêmios Lenin. Isso, também, deve ser corrigido.
Nas notas à edição crítica do Discurso de Khrushchev, os editores não dizem nada sobre qualquer
conexão entre o cancelamento do Prêmio Lenin e o estabelecimento do Prêmio Stalin.

O Prêmio Lenin laureava as conquistas excepcionais nos campos da ciência, tecnologia, literatura, arte
e arquitetura. Eles foram estabelecidos em 1925 e não foram dados entre 1935 e 1957. De Novembro
[1955] a março de 1956 a questão de se renovar o Prêmio Lenin foi discutida no Presidium e no
Secretariado do Comitê Central do PCUS. De 1958 até 1990 o prêmio laureou anualmente, no
aniversário de Lenin.

Doklad Khrushcheva, p. 161, n. 89.

A ideia de se estabelecer premiações nos campos da literatura parece ter sido sugerida primeiramente por
Gorky. Tendo lido o discurso de Stalin para Plenária Unificada do CC e para a Comissão Central de Controle do
VKP(b) (7-12 de janeiro de 1933), o escritor respondeu com uma carta entusiasmada.
16 de janeiro de 1933

Caro Iosef Vissarionovich!


O acúmulo de materiais para os primeiros quatro volumes da obra História de Guerra Civil foram
concluídos por esse secretariado.
Agora é essencial que o grupo editorial principal confirme os materiais dos autores que foram
mencionados para retrabalho e exorto-te a este respeito. Os autores devem submeter seus manuscritos
até 31 de março. E lhe imploro que avalie essa questão! Eu tenho a impressão de que o grupo editorial
principal está sabotando esse esforço.
Eu li seu poderoso e sábio discurso à Plenária com um sentimento de mais profunda satisfação e
entusiasmo. Eu estou completamente certo de que tal brado poderoso irá ressoar por toda parte no
mundo da classe trabalhadora. Sob sua forma serena e poderosamente forjada reside, como um trovão
retumbante, que parece que exprimiu suas palavras todo o fervor da construção dos anos passados. Eu
sei que você não precisa de nenhuma palavra de elogio, mas penso que eu tenho o direito de lhe dizer a
verdade. Você é um grande homem, um verdadeiro líder e o proletariado da União Soviética é
afortunado que à sua frente está um segundo Ilyich, pela força de sua lógica e por sua energia
inesgotável. Eu aperto sua mão com firmeza, querido e respeitado camarada.

A. Peshkov

Do lado reverso do papel, estão duas notas escritas pela mão de Gorky, sendo que, entre outras coisas,
está escrito na segunda delas:
Aleksei Tolstoy tem em mente um concurso de Toda a União sobre comédia – Eu, desse modo, anexei
o rascunho da resolução sobre esse concurso.
Entre nossos escritores há uma forte sensação de energia renovada e há o desejo de trabalhar
seriamente, portanto o concurso produz bons resultados. Mas para um concurso de Toda a União sete
premiações são muito pouco, nós devemos aumentar o número para pelo menos quinze, e aumentar o
montante do primeiro prêmio para – o diabo com eles! – e dar ao prêmio o nome de Stalin (ênfases
adicionadas, GF), pois de fato este plano vem de você.
Em adição: por que apenas comédia? O Drama também deveria ser incluído (...)
Perdoe-me por lhe entediar.
A. P.

Em 3 de fevereiro de 1933, Stalin respondeu a Gorky:


Caro Aleksei Maksimovich!
Eu recebi sua carta de 16 de janeiro de 1933. Obrigado por suas palavras calorosas e pelo seu “elogio”.
Não importa como as pessoas possam se gabar, ninguém é indiferente a “elogios”.
Compreensivelmente, eu, como sou uma pessoa, não sou exceção (...)

3. Nós vamos terminar os planos para o concurso de


comédia em breve. Não vamos recusar Tolstoy. Nós
garantimos tudo de acordo com suas demandas. Relativo
a “dar ao prêmio o nome de Stalin”, eu protesto
fortemente, (o mais fortemente!) (ênfases adicionadas,
GF)
Saudações! Eu aperto sua mão.
J. Stalin.
P.S. Cuide de sua saúde.

Soima, Vasilii. Zapreshchennyi Stalin. Moscou: OLMA-Press, 2005, pp. 20-21.


Este volume está online no Link [web.archive.org/web/20091125221603/zapravdu.ru/content/view/79/51/].
Essa passagem está na segunda “página” do livro online, no Link [web.archive.org/web/20090817124500/zapravdu.ru/content/view/79/51/1/1]

Em 21 de dezembro de 1939, o Pravda publicou um decreto do Conselho de Comissários do Povo da


URSS a respeito do estabelecimento de premiações e recompensas em nome de Stalin. O decreto, emitido sob a
assinatura do Presidente da CCP, Molotov e do gerente de negócios, Khlomov, diz o seguinte (ênfases adicionadas,
GF):
Em comemoração ao sexagésimo aniversário do camarada Iosif Vissarionovich Stalin, o Conselho dos
Comissários do Povo da União das RSS decreta:
I. Estabelecer 16 premiações em nome de Stalin (de 100.000 rublos cada), a serem laureadas a cada
ano aos ativistas da ciências e arte, pelo trabalho excepcional nos seguintes campos:

1. ciências físico-matemáticas;

2. ciências técnicas;

3. ciências químicas;

4. ciências agrícolas;

5. ciências médicas;

6. ciências filosóficas;

7. ciências econômicas;

8. ciências histórico-filológicas;

9. ciências jurídicas;

10. música;

11. pintura;

12. escultura;

13. arquitetura;
14. artes teatrais;

15. cinematografia;

II. Estabelecer o Prêmio Stalin, a ser laureado todo ano pela


melhor descoberta:
Dez primeiros prêmios de 100 mil rublos cada,
Vinte segundos prêmios de 50 mil rublos cada,
Trinta terceiros prêmios de 25 mil rublos cada.
III, Estabelecer o Prêmio Stalin, a ser laureado todo ano por conquistas excepcionais no campo do
conhecimento militar:
Três primeiros prêmios de 100 mil rublos cada,
Cinco segundos prêmios de 50 mil rublos cada,
Dez terceiros prêmios de 25 mil rublos cada.
Presidente do Conselho de Comissários do Povo da União das RSS V. Molotov
Gerente de negócios do Conselho de Comissários do Povo da União das RSS M. Khlomov

20 de dezembro de 1939
Moscou, Kremlin.

“Premii bez prenii”, Kommersant”-Den’gi, 7 de fevereiro de 2005. No Link [kommersant.ru/doc/544976].

Então, ainda foi emitido um outro decreto, no qual a questão dos prêmios Stalin recebeu uma elaboração
posterior:
Em adição ao decreto do CCP da União das RSS de 20 de dezembro de 1939 (...) o CCP da União das
RSS decreta:
Um – para poesia,
Um – para prosa,
Um – para dramaturgia,
Um – para literatura crítica,
Presidente do Conselho de Comissários do Povo da URSS
V. Molotov.
Gerente de negócios do Conselho de Comissários do Povo da URSS
M. Khlomov.
1º de fevereiro de 1940
Moscou, Kremlin.

De 1930 até 1991 a mais alta recompensa da URSS foi a Ordem de Lenin, não de Stalin. A Ordem de
Stalin foi de fato proposta, mas, como nós vimos na seção 1 acima, Stalin se opôs resolutamente a ela e foi bem-
sucedido, nunca foi instituída.
A respeito do Estabelecimento de duas novas Ordens da União das RSS: “A Ordem de Lenin” e “A
Estrela Vermelha”.
O decreto do Presidium do Comitê Executivo Central da URSS [o mais alto órgão do Estado sob a
constituição de 1924 – GF] de 6 de abril de 1930:

1. Estabelecer duas novas Ordens da União das RSS:


“A Ordem de Lenin” e “A Estrela Vermelha”.
O Estatuto da Ordem “Ordem de Lenin”.
O decreto do Presidium do Comitê Central Executivo da União das RSS de 5 de maio de 1930
O Presidium do Comitê Central Executivo da União das RSS (...) decreta:
Confirma do estatuto da ordem “A Ordem de Lenin”, abaixo (...)

Texto no Link [glory.rin.ru/cgi-bin/article.pl?id=99].


Khrushchev:
Além disso, ao revisar esse projeto [“sobre elevar os preços desses produtos, a fim de criar incentivos
materiais para os trabalhadores dos kolkhozes, MTS [estação máquina-trator] e sovkhozes ao
desenvolvimento da pecuária”] Stalin propôs que os impostos pagos pelos kolkhozes e pelos
trabalhadores dos kolkhozes deveriam ser acrescidos em 40 bilhões de rublos; segundo ele, os
camponeses estavam bem e o trabalhadores dos kolkhozes precisariam vender apenas mais um frango
para pagar esse imposto integralmente.
Imagine o que isso significava. Certamente, 40 bilhões de rublos é uma soma que os trabalhadores dos
kolkhozes não recebiam pela venda de todos os seus produtos Governo. Em 1952, por exemplo, os
kolkhozes e os trabalhadores dos kolkhozes receberam 26.280 milhões de rublos tudo entregue e
vendido ao Estado.
A posição de Stalin, então, se suporta em algum tipo de dado? Claro que não. Nesses casos, fatos e
números não lhe interessavam.

Khrushchev, na Plenária do CC de julho de 1953:


Khrushchev: Desafortunadamente, quando houve uma terceira variante [a uma proposta de aumento de
impostos] ele propôs, verdade seja dita, elevar as taxas sobre os kolkhozes e kolkhozniks para 40
bilhões, mas a renda total é apenas 42 bilhões.
Mikoyan: Aumentar o imposto atual de 15 bilhões para 40 bilhões.
Khrushchev: Não, aumentar os impostos em mais 40 bilhões. Do que já é, eu não sei como.
Mikoyan: Isso seria impossível.

Lavrenti Beria, p. 171. Essa mesma história se repete no segundo rascunho da mesma reunião na p. 313, mas as palavras de Mikoyan são elaboradas
de forma a difamar Beria.

Malenkov posteriormente menciona o mesmo número, mas deixa claro que ele não tinha ouvido isso
antes da Plenária.
No decorrer do trabalho da atual Plenária, vocês, camaradas, aprenderam o seguinte fato. Junto com as
questões de se melhorar a criação de animais, em fevereiro deste ano, o camarada Stalin
insistentemente propôs aumentar os impostos do campo em 40 bilhões de rublos. Nós todos, claro,
entendemos a gritante injustiça e perigo de tal medida (...)

Ibid, p. 351. Note que Khrushchev tinha dito que Stalin mencionou isso como “um aparte” ou “uma possibilidade” (poputno). Malenkov tornou isso
em uma proposta “insistente”.

Em suas memórias, Mikoyan não repete essa história de “40 bilhões de rublos” no relato desse evento.
Ele disse que foi Khrushchev que ouviu Stalin propor um imposto adicional ao campesinato.

Mikoyan também falha em citar a cifra dos “40 bilhões de rublos”. “Uma galinha extra” por família
camponesa não produziria uma soma grande, muito menos essa cifra colossal – embora Mikoyan admita nunca ter
ouvido Stalin dizer isso! Evidentemente não foi Khrushchev, mas “outros membros do CC” que ouviram a
consideração sobre “uma galinha extra”.

É interessante que Mikoyan é muito cuidadoso ao declarar o que ele próprio ouvia de Stalin e deixa claro
que ele não ouviu nada disso por si próprio. Isso pode ser interpretado como significando que ele não acreditava
nisso necessariamente, especialmente a cifra de Khrushchev.
Como sempre no entardecer, quando os outros membros do Presidium também estavam na presença de
Stalin, Malenkov colocou a essência da questão para testar a reação de Stalin. Eu não estava presente.
Khrushchev disse posteriormente que Stalin ficou nervoso e disse que nós estamos renovando o
programa de Rykov e Frumkin, que o campesinato estava engordando enquanto a classe trabalhadora
vivia cada vez mais pobremente. Outros membros do CC me disseram que Stalin falou sobre esse
assunto na Plenária de outubro de 1952 e que criticou duramente a ideia de se aumentar os preços de
compra sobre a carne e produtos do dia a dia. Eles disseram que ele parecia muito mesquinho, andava
para frente e para trás e, como ele usualmente fazia, resmungou e disse sobre mim: “Um novo Frumkin
apareceu!” Mas de verdade, eu não ouvi isso. Então eu o ouvi dizer que precisamos ainda de um novo
imposto sobre o campesinato. Ele disse: “O que é isso para um camponês. Eles vão dar uma galinha
extra – isso é tudo”.
E, nessa mesma discussão, Khrushchev ouviu sobre a proposta de Stalin de taxar um imposto
adicional sobre campesinato e ficou chateado, dizendo que se fosse para nós aumentarmos os
impostos sobre os camponeses então nós precisaríamos incluir pessoas como Malenkov, Beria e
Zverev (o chefe do Ministério das Finanças) na comissão. Stalin concordou com isso. Depois de um
tempo nós de fato nos reunimos em nossa nova composição. A comissão descobriu que tanto Beria
como Malenkov consideravam impossível realizar a diretiva de Stalin. Isso foi explicado, é claro, em
conversas privadas. Eles delegaram a Zverev fazer as considerações e explicações. Em geral, eles
elaboram esse assunto o tanto quanto puderam. Todo mundo considerou serem impraticáveis as
sugestões de Stalin referentes aos novos impostos sobre o campesinato sem qualquer aumento nos
preços de compras. (Ênfases adicionadas, GF)

Tak Bylo (Memórias de Mikoyan), Capítulo 46, p. 578.

STALIN INSULTOU POSTYSHEV

Khrushchev:
Em um de seus discursos, Stalin expressou insatisfação a Postyshev e perguntou-lhe: “O que você é
realmente?
Postyshev respondeu claramente: “Eu sou um bolchevique, camarada Stalin, um bolchevique”.
Inicialmente, essa afirmação foi considerada como falta de respeito com Stalin; mais tarde foi
considerado como um ato prejudicial e, consequentemente, resultou na aniquilação de Postyshev e sua
taxação como “inimigo do povo”, sem qualquer razão.

Khrushchev é a única fonte para essa suposta declaração de Stalin. Essa citação nunca foi localizada em
lugar algum. Ninguém jamais clamou que Stalin disse isso. Estando tal citação, de fato, em um discurso, deveria
quase certamente ter sido encontrado muito antes. Nós discutimos essa questão no texto.

“DESORGANIZAÇÃO” DO TRABALHO DO POLITBURO

Khrushchev:
A importância do Gabinete Político do Comitê Central foi reduzida e a organização do trabalho
desfeita através da criação de várias comissões – os chamados “quintetos”, “sextetos”, “septetos” e
“eneatetos” internos ao Politburo. Aqui está, por exemplo, uma resolução do Gabinete Político de 3 de
outubro de 1946:

Proposta de Stalin:

A Comissão de Relações Exteriores do Gabinete Político (Sexteto) deve preocupar-se


futuramente, em adição das relações exteriores, também com questões de construção interna e
política doméstica.

O Sexteto deve adicionar à sua lista o Presidente da Comissão Estadual de Planejamento


Econômico da URSS, camarada Voznesensky, e deve ser conhecido como um septeto.
Assinado: Secretário do Comitê Central, J. Stalin.

Que terminologia de um jogador de cartas! (Risos no salão.) É evidente que a criação, dentro do
Gabinete Político, desse tipo de comissões – “quintetos”, “sextetos”, “septetos” e “eneatetos” – iria
contra o princípio da liderança coletiva. Como resultado, alguns membros do Politburo foram
afastados da participação nas questões mais importantes do Estado.

Edvard Radzinsky autor da extremamente hostil biografia de Stalin:


Depois da morte de Stalin Nikita Khrushchev, em seu famoso relato sobre o culto à personalidade,
ficou indignado com o fato de Stalin “diminuiu o papel do Politburo ao criar certos”Sextetos”,
“quintetos”, dentro do CC, aos quais eram dados poderes especiais. (...) “Que terminologia de um
jogador de cartas!” – fumegou Khrushchev. Mas ele, endereçando-se à geração pós-Lenin do Partido,
não sabia (ou fingiu nada saber), que estava ameaçando uma das mais antigas tradições do Partido.
“Troikas,”quintetos” e outras “estruturas estreitas” criadas pelo Vozhd dentro dos grupos dirigentes e
sabido apenas pelos participantes e pelo próprio Vozhd, tinham aparecido nos dias de Lenin.

Radzinsky, Stalin. Capitulo 4. Edição Russa, Stalin. Moscou: Vagrius, 1997, está online no Link [militera.lib.ru/bio/radzinsky_es1/02].

STALIN SUSPEITAVA QUE VOROSHILOV ERA UM “AGENTE INGLÊS”


Por causa de sua extrema desconfiança, Stalin também flertou com a absurda e ridícula suspeita de que
Voroshilov seria um agente inglês. (Risos no salão.) É verdade, um agente inglês.

Memórias de Khrushchev:
Stalin até mesmo disse a poucos de nós [“um círculo estreito” v uzkom krugu, GF] que ele suspeitava
que Voroshilov foi um agente inglês. É claro, estupidez improvável.

Khrushchev, N. S. Vremya. Liudi. Vlast. Kn. 2. Chast 3. Moscou: Moskovskie novosti, 1999, pp. 128-129. Online no Link
[hrono.ru/libris/lib_h/hrush45].

Não há outras fontes para essa história. Nenhum dos colegas de Khrushchev nesse “círculo estreito”
jamais confirmou.

ANDREEV; 59. MOLOTOV; 60. MIKOYAN

ANDREEV

Khrushchev:
Por decisão unilateral, Stalin também separou outro homem do trabalho do Politburo – Andrei
Andreyevich Andreev. Esse foi um dos atos mais desenfreados de obstinação.

Efremov:
Nas novas listas daqueles eleitos, todos são membros do velho Politburo – exceto o camarada A. A.
Andreev, que, como todo mundo sabe, agora está completamente surdo e então não pode trabalhar.

“’C ChI Ruki Vruchim Estafetu Nashego Velikogo Dela? Neopublikovannia rech I. V. Stalina na Plenume Tsentralnogo Komiteta KPSS. 16
Oktobria 1952 goda (po zapisi L. N Efremova)” Sovestskaya Rossia. 13 ianvariia 200 g, p. 6. Fassimilar online no Link [stalinoct1652.pdf]. Também
no Link [prometej.info/solnce/st03].

Konstantin Simonov:
Eu me lembro apenas da resposta de Stalin sobre Andreev, que não estava incluído entre os membros e
candidatos do Presidium do CC – que ele tinha se retirado das atividades e, para propósitos práticos,
não poderia mais trabalhar ativamente.

Simonov, Glazami cheloveka pokolenya [“Pelos Olhos de um Homem da Minha geração], 1988, p. 246.

MOLOTOV; MIKOYAN

Khrushchev:
Consideremos o primeiro Pleno do Comitê Central após o 19º Congresso do Partido, quando Stalin, em
sua palestra, taxou Viacheslav Mikhailovich Molotov e Anastas Ivanovich Mikoyan ao sugerir que
esses velhos militantes do nosso Partido eram culpados de algumas acusações infundadas. Não é
descartado que, se Stalin tivesse permanecido no comando por mais alguns meses, os camaradas
Molotov e Mikoyan provavelmente não teriam feito nenhum discurso nesse Congresso.

Efremov:
É necessário abordar o comportamento incorreto por parte de algumas figuras políticas proeminentes,
se nós estivermos falando de união em nossos casos. Eu tenho em mente os camaradas Molotov e
Mikoyan.
Camarada Molotov – o mais dedicado da nossa causa. Se convocado, eu não duvido que, sem alguma
hesitação, daria sua vida pelo Partido, mas não podemos ignoras seus atos indignos. Camarada
Molotov como nosso Ministro de Assuntos Exteriores, ao beber um pouco a mais de licor em uma
missão diplomática, deu ao embaixador britânico autorização para publicar jornais e revistas burgueses
em nosso país. Por quê? Sob quais bases ele tinha concordado com tal coisa? Não é claro que a
burguesia é nosso inimigo de classe, e disseminar a imprensa burguesa entre o povo soviético não
poderia fazer nada além de nos prejudicar. Esse passo em falso, se nós autorizássemos, seria
prejudicial,uma influência negativa nas mentes e na visão de mundo do povo soviético, levaria a um
enfraquecimento da nossa ideologia comunista. Esse foi o primeiro erro político do camarada V. I.
Molotov.
E o sobre a oferta que Molotov fez de dar a Crimeia aos judeus soviéticos? Esse é um erro brutal do
camarada Molotov. Por que ele teria que fazer isso? Como isso poderia ser permitido? Com que base o
camarada Molotov fez esta oferta? Nós temos a República Judaica Autônoma. Não é o suficiente?
Deixemos essa República ser desenvolvida. E o camarada Molotov não será um defensor de
reivindicações ilegais de judeus sobre nossa Criméia soviética. Esse foi o segundo erro do camarada V.
I. Molotov! Camarada Molotov não se conduziu como se espera de um membro do Politburo. E
rejeitamos categoricamente suas ofertas fantasiosas.
Camarada Molotov tem tamanho e profundo respeito por sua esposa que assim que o Politburo toma
uma decisão nessa ou naquela questão política importante, rapidamente se fazia conhecido à camarada
Zhemchuzhina. Parecia como algum tipo de teia invisível unindo o Politburo à esposa de Molotov,
Zhemchuzhina, e seus amigos. E ela estava envolta de amigos que não poderiam ser confiáveis.
Claramente, tal comportamento por um membro do Politburo, não é permissível.
Agora, a respeito do camarada Mikoyan. Ele, vejam bem, é categoricamente contrário ao aumento dos
impostos agrícolas sobre os camponeses. Quem é ele, nosso Anastas Mikoyan? O que não está claro a
ele? Os camponeses são nossos deficitários. Nós temos uma aliança prioritária com os camponeses.
Nós temos garantido a terra aos Kolkhozes para a eternidade. Eles devem pagar a dívida devida ao
Estado. Portanto eu não concordo com a posição do camarada Mikoyan.

Veja referências anteriores na subseção de “Andreev”.

Memórias de Khrushchev:
E na Plenária Stalin em seu discurso, atacou Molotov e Mikoyan “pela cabeça”, colocou a honestidade
de ambos em cheque. Em seu discurso insinuou má-fé política por parte deles, suspeitando de algum
tipo de desonestidade política. Ora, ora!

Khrushchev, N. S. Vremya. Liudi. Vlast. Kn. 2. Chast 3. Capítulo “19º Congresso do Partido Comunista de nosso País”. Online no Link
[hrono.ru/libris/lib_h/hrush41].

D. T. Shepilov, uma das poucas testemunhas da Plenária que deixou escritas suas considerações do que
aconteceu, disse:
Stalin na Plenária do CC, sem nenhum fundamento, expressou desconfiança política de Molotov,
acusou-o de “capitulação para o imperialismo americano” e propôs não apontar Molotov para a equipe
do Bureau do Presidium do CC. Isso foi feito. V. Molotov aceitou aquilo sem uma única palavra de
protesto.
De pé no podium, Stalin, com uma expressão de suspeita, falou como Molotov estava intimidado pelo
imperialismo americano, que, quando estava nos EUA, enviou telegramas em pânico, que tal dirigente
não merece nossa confiança, que não poderia estar na direção do núcleo do Partido. No mesmo tom,
Stalin expressou desconfiança política de A. Mikoyan e K. Voroshilov.
(...) Molotov sentou imóvel atrás da mesa do Presidium. Ele permaneceu em silêncio e nenhum
músculo se moveu em sua face. Pelo vidro do seu pince-nez, encarou diretamente o salão e apenas
raramente movia os três dedos de sua mão direita na toalha de mesa, como se amassando um pedaço de
pão. A. Mikoyan estava muito nervoso. Fez um discurso fraco e desordenado. Ele também,
defendendo-se dessas acusações fantásticas, não deixou de denunciar Molotov, que, como disse, tinha
tido amizade com Voznesensky, um terrível criminoso.

Shepilov, Dimitry T. Neprimknuvsky Moscou: Vagrius, 2001, p. 19; p. 229. Online no Link [pseudology.org/ShepilovDT/11].

EXPANSÃO DO PRESIDIUM

Khrushchev:
Stalin, evidentemente, tinha planos para acabar com os antigos membros do Gabinete Político. Ele
frequentemente afirmava que os membros do Gabinete Político deveriam ser substituídos por novos.
Sua proposta, feita após o 19º Congresso, relativa à eleição de 25 pessoas ao Presidium do Comitê
Central, visava a remoção dos antigos membros do Politburo e a instituição de pessoas menos
experientes para que o louvassem de todas as maneiras possíveis.
Podemos assumir que isso também era um projeto para a futura aniquilação dos antigos membros do
Politburo e, dessa forma, um disfarce para todos os atos vergonhosos de Stalin, atos que estamos
considerando agora.

Notas de Efremov:
Sim, realizamos o Congresso do nosso partido. Correu muito bem e muitos de vocês podem pensar que
entre nós existe plena harmonia e unidade. Mas nós não tínhamos essa harmonia e união de
pensamento. Algumas pessoas discordavam das nossas decisões.
Eles disseram, por que nós aumentamos significativamente o número de membros do Comitê Central?
Mas não é claro que nós precisamos de novas forças dentro do CC? Nós, velhos, vamos morrer, mas
nós devemos pensar em quem, para quais mãos deveremos passar o bastão de nossa grande construção.
Quem levará isso adiante? Para isso nós precisamos de pessoas jovens, dedicadas e lideranças
políticas. E o que significa formar um dirigente de estado dedicado e devotado? Toma dez, não, quinze
anos para educar um dirigente de Estado.
Mas não é suficiente apenas desejar isso. Formar ideologicamente, de forma firme, um ativista do
Estado só pode ser feito através da prática, no trabalho diário, em levar a linha geral do Partido, na
superação de toda a sorte de oposição dos elementos oportunistas hostis que estão se esforçando para
retardar e interromper a tarefa da construção do socialismo. E nós devemos ter ativistas políticos de
experiência leninista, formados pelo Partido na luta para derrotar as tentativas hostis e conquistar
sucesso completo na realização de nossos grandes objetivos.
Não está claro que nós devemos elevar o papel de nosso Partido e seus Comitês? Nós podemos nos
esquecer de melhorar o trabalho do Partido entre as massas, como Lenin nos ensinou? Tudo isso
precisa de um fluxo de juventude, forças novas no CC, a equipe geral do nosso Partido. Isso é o que
nós temos feito, seguindo as instruções de Lenin. Esse é o porquê nós devemos expandir o número de
membros do CC. E o partido em si tem que crescer um pouco.
É perguntada a questão de por que nós aliviamos algumas das mais proeminentes figuras do Partido e
do Estado a partir de seus importantes postos como ministros. O que pode ser dito sobre essa questão?
Nós substituímos os camaradas Molotov, Kaganovich. Voroshilov e outros e os substituiremos por
novos militantes. Por quê? Com qual fundamento? O trabalho de um ministro – é duro, trabalho de
camponês. Demanda grande força, conhecimento concreto e boa saúde. Esse é o porquê de nós
aliviarmos alguns camaradas merecedores dos postos que ocupavam e apontarmos em seus lugares
novos, mais qualificados, militantes, que tomam iniciativa. Eles são jovens, cheios de energia e força.
Nós devemos apoiá-los em seu importante trabalho.

Veja referências anteriores.

1. Os editores trotskistas deste volume colocaram marcas de citações em volta do nome de Trotsky
para indicar que ele escreveu e assinou esses documentos mesmo embora eles não expressassem
seu verdadeiro pensamentos. Os editores não parecem perceber que isso faz Trotsky parecer o
tipo de auto promotor sem princípios que seus oponentes políticos o acusavam de ser.↩

2. Minha tradução; aquela feita por Mark Kramer na lista H-HOAC de 27 de fevereiro de 2005, no
Link [tinyurl.com/bqp6j], e amplamente impressa – por exemplo, no Marxist Internet Archive –
essa versão é imprecisa.↩

3. “‘Tselbyla spasti zhiznbolnogo’. Pisma Lidy Timashuk v svoiu zashchitu” “O Objetivo era
salvar a vida do paciente. Cartas de Lidya Timashuk em sua própria defesa”) Istochnik 1997,
No.1, pp. 3-16↩
BIBLIOGRAFIA
Muitas fontes primárias e secundárias foram consultadas
na preparação deste livro. A maioria está disponível
apenas em russo, até a data da publicação desse volume
[2007] poucas fontes estavam disponíveis em inglês. Esse
é um dos motivos para a referência de muitas fontes
primárias e secundárias. Todas as traduções são do autor, a
menos que destacadas no texto.
Incluir o texto completo de muitas fontes primárias, o
texto completo do Discurso de Khrushchev e toda a
bibliografia adicionaria muito ao valor final do livro.
Então:

O texto do Discurso de Khrushchev, na tradução usa pelo


autor, está disponível no link:
msuweb.montclair.edu/~furrg/research/kl/speech.html.

Para conveniência dos leitores interessados o autor


disponibilizou muitas dessa fontes raras em seu site. Os URLs
para essas fontes primárias, bem como a bibliografia completa,
está disponível em:
msuweb.montclair.edu/~furrg/research/kl/bibliography.html.

Editor da versão original

Nota da edição brasileira:

Disponibilizamos todos os URLs na próxima Seção e, a fim facilitar o


acesso às fontes, QR Codes que direcionam para um lista de hiperlinks
organizados na mesma ordem que estão neste livro. Optamos por separar os
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um design limpo e agradável ao leitor.

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publicação desta edição (novembro de 2022). Usamos o Internet Archive para
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26. web.archive.org/web/20030902084226/stalin.memo.ru/spiski/p
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28. memo.ru/history/vkvs/images/intro1.htm []
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29. web.archive.org/web/20080523192219/stalin.memo.ru/spiski/p
g12117.htm

30. sgu.ru/file/nodes/9873/09.pdf []
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31. https://tinyurl.com/5ac38hjw

32. sb.by/article.php?articleID=4039

33. web.archive.org/web/20110808162933/mosoblproc.ru/history/
prokurors/7/ []
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34. memo.ru/memory/donskoe/d39.htm []
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35. mosoblproc.ru/history/prokurors/8/ []
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36. mos.memo.ru/shot-63.htm []{#mos.memo.ru/shot-63


label=“mos.memo.ru/shot-63”}
37. https://tinyurl.com/3jp2ekwb []
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s/exhibitions/stalin_sp.shtml
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vants/exhibitions/stalin_sp.shtml”}

38. hrono.ru/libris/lib_s/beria1.php []{#hrono.ru/libris/lib_s/beria1


label=“hrono.ru/libris/lib_s/beria1”}

39. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/germandisinfo.html

40. web.archive.org/web/20071215232455/redstar.ru/2001/06/16_
06/4_01.html []
{#web.archive.org/web/20071215232455/redstar.ru/2001/06/1
6_06/4_01
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41. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/liskowpravda062741.p
df

42. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/ezhov042639eng.html

43. hrono.ru/statii/2001/rkka_repr.html []
{#hrono.ru/statii/2001/rkka_repr
label=“hrono.ru/statii/2001/rkka_repr”}

44. https://tinyurl.com/2p94dau9 []
{#militera.lib.ru/research/pyhalov_i/02
label=“militera.lib.ru/research/pyhalov_i/02”}

45. hrono.ru/libris/stalin/16-13.html []{#hrono.ru/libris/stalin/16-


13 label=“hrono.ru/libris/stalin/16-13”}

46. https://tinyurl.com/mr3hwbhw []{#pyhalov_i/10


label=“pyhalov_i/10”}

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munarka/Chapt10.htm []
{#web.archive.org/web/20110501095955/memo.ru/memory/co
mmunarka/Chapt10
label=“web.archive.org/web/20110501095955/memo.ru/memo
ry/communarka/Chapt10”}

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{#memo.ru/history/NKVD/kto/biogr/gb42
label=“memo.ru/history/NKVD/kto/biogr/gb42”}

55. https://tinyurl.com/m637x8hr []
{#web.archive.org/web/20110305090913/vif2ne.ru/nvz/forum/
archive/238/238967
label=“web.archive.org/web/20110305090913/vif2ne.ru/nvz/fo
rum/archive/238/238967”}

56. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/bobrov-ordzhon08.html

57. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/bobrov-
ordzhon08eng.html

58. web.archive.org/web/20090518193322/situation.ru/app/j_artp_
677.htm []
{#web.archive.org/web/20090518193322/situation.ru/app/j_art
p_677
label=“web.archive.org/web/20090518193322/situation.ru/app
/j_artp_677”}

59. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/stalinsigstamps51.jpg

60. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/istarkh197.pdf

61. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/stalinoct1652.pdf
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{#grachev62.narod.ru/stalin/t18/t18_262
label=“grachev62.narod.ru/stalin/t18/t18_262”}

63. https://tinyurl.com/3xysxfu9 []
{#elefantmuller.users.photofile.ru/photo/elefantmuller/291117
2/xlarge/115411211.jpg
label=“elefantmuller.users.photofile.ru/photo/elefantmuller/29
11172/xlarge/115411211.jpg”}

64. https://tinyurl.com/3usjhukr []{#foto-


fleet.users.photofile.ru/photo/fotto-
fleet/9517224/xlarge/115411831.jpg label=“foto-
fleet.users.photofile.ru/photo/fotto-
fleet/9517224/xlarge/115411831.jpg”}

65. ihst.ru/projects/sohist/document/an/181.htm []
{#ihst.ru/projects/sohist/document/an/181
label=“ihst.ru/projects/sohist/document/an/181”}

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web.ru/feb/sholokh/critics/nos/nos-486- label=“feb-
web.ru/feb/sholokh/critics/nos/nos-486-”}

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{#hrono.ru/biograf/andreev_aa
label=“hrono.ru/biograf/andreev_aa”}

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{#people.cohums.ohio-
state.edu/grimsley1/h582/2001/Chomsky.htm
label=“people.cohums.ohio-
state.edu/grimsley1/h582/2001/Chomsky.htm”}

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{#web.archive.org/web/20131008052101/vivovoco.rsl.ru/VV/
PAPERS/HISTORY/ANTIST
label=“web.archive.org/web/20131008052101/vivovoco.rsl.ru/
VV/PAPERS/HISTORY/ANTIST”}
70. https://tinyurl.com/yc5338f3 []
{#web.archive.org/web/20130517100247/web.mit.edu/people/
fjk/Rogovin/volume5/pi
label=“web.archive.org/web/20130517100247/web.mit.edu/pe
ople/fjk/Rogovin/volume5/pi”}

71. web.archive.org/web/20110131012743/stalin.memo.ru/images/
intro1.htm []
{#web.archive.org/web/20110131012743/stalin.memo.ru/imag
es/intro1
label=“web.archive.org/web/20110131012743/stalin.memo.ru/
images/intro1”}

72. web.archive.org/web/20110131012958/stalin.memo.ru/images/
ulrih-39.jpg []
{#web.archive.org/web/20110131012958/stalin.memo.ru/imag
es/ulrih-39.jpg
label=“web.archive.org/web/20110131012958/stalin.memo.ru/
images/ulrih-39.jpg”}

73. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/ulrih-39.jpg

74. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/postyshevrehab.html

75. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/frinovskyru.html

76. https://tinyurl.com/ukv7kznf

77. grachev62.narod.ru/stalin/t14/t14_48.htm []
{#grachev62.narod.ru/stalin/t14/t14_48
label=“grachev62.narod.ru/stalin/t14/t14_48”}

78. magister.msk.ru/library/trotsky/trotlsud.htm []
{#magister.msk.ru/library/trotsky/trotlsud
label=“magister.msk.ru/library/trotsky/trotlsud”}

79. memo.ru/history/nkvd/kto/biogr/gb572.htm []
{#memo.ru/history/nkvd/kto/biogr/gb572
label=“memo.ru/history/nkvd/kto/biogr/gb572”}

80. memo.ru/history/nkvd/kto/biogr/gb355.htm []
{#memo.ru/history/nkvd/kto/biogr/gb355
label=“memo.ru/history/nkvd/kto/biogr/gb355”}

81. gorby.ru/activity/conference/show_553/view_24755/ []
{#gorby.ru/activity/conference/show_553/view_24755/
label=“gorby.ru/activity/conference/show_553/view_24755/”}

82. clogic.eserver.org/2005/2005.html []
{#clogic.eserver.org/2005/2005.html
label=“clogic.eserver.org/2005/2005.html”}

83. clogic.eserver.org/2007/Furr_Brobov.pdf []
{#clogic.eserver.org/2007/Furr_Brobov.pdf
label=“clogic.eserver.org/2007/Furr_Brobov.pdf”}

84. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/furrnbobrov_bukharin_
klio07.pdf

85. sakharov-center.ru/asfcd/auth/auth_pages.xtmpl?
Key=10153&page=78&print=yes

86. militera.lib.ru/bio/sokolov/09.html []{#sokolov/09


label=“sokolov/09”}

87. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/sedovaltr022856.jpg

88. hrono.ru/dokum/1934vkpb17/6_4.php []
{#hrono.ru/dokum/1934vkpb17/6_4
label=“hrono.ru/dokum/1934vkpb17/6_4”}

89. mltranslations.org/Britain/StalinBB.htm []
{#mltranslations.org/Britain/StalinBB
label=“mltranslations.org/Britain/StalinBB”}

90. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/durovorden.pdf

91. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/stalinodar.pdf

92. hrono.ru/libris/stalin/16-62.html []{#hrono.ru/libris/stalin/16-


62 label=“hrono.ru/libris/stalin/16-62”}

93. hrono.ru/libris/stalin/16-47.html []{#hrono.ru/libris/stalin/16-


47 label=“hrono.ru/libris/stalin/16-47”}
94. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/staltolenin03071923.jp
g

95. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/ulianova.html

96. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/stalinleninpoison23.pdf

97. militera.lib.ru/memo/russian/zhukov1/17.html []
{#militera.lib.ru/memo/russian/zhukov1/17
label=“militera.lib.ru/memo/russian/zhukov1/17”}

98. militera.lib.ru/memo/russian/zhukov1/09.html []
{#militera.lib.ru/memo/russian/zhukov1/09
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99. militera.lib.ru/memo/russian/zhukov1/11.html []
{#militera.lib.ru/memo/russian/zhukov1/11
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100. web.archive.org/web/20090101193956/stalinism.newmail.ru/b
enedikt.htm []
{#web.archive.org/web/20090101193956/stalinism.newmail.ru
/benedikt
label=“web.archive.org/web/20090101193956/stalinism.newm
ail.ru/benedikt”}

101. militera.lib.ru/research/suhodeev_vv/04.html []
{#militera.lib.ru/research/suhodeev_vv/04
label=“militera.lib.ru/research/suhodeev_vv/04”}

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{#pseudology.org/shepilovDT/11
label=“pseudology.org/shepilovDT/11”}

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{#hronos.km.ru/libris/lib_h/hrush34
label=“hronos.km.ru/libris/lib_h/hrush34”}

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105. hrono.ru/libris/lib_k/kozhin20v11.php []
{#hrono.ru/libris/lib_k/kozhin20v11
label=“hrono.ru/libris/lib_k/kozhin20v11”}

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{#web.archive.org/web/20080506101728/memory.irkutsk.ru/p
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label=“web.archive.org/web/20080506101728/memory.irkutsk
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{#web.archive.org/web/20130404052236/archaeology.ru/ONL
INE/Gorki/gorky
label=“web.archive.org/web/20130404052236/archaeology.ru/
ONLINE/Gorki/gorky”}

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label=“m-sk.newmail.ru/pub/1”}

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label=“marxists.org/russkij/lenin/works/9-19”}

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{#marxists.org/russkij/lenin/1905/01/12a
label=“marxists.org/russkij/lenin/1905/01/12a”}

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{#kursach.com/biblio/0010024/103_1
label=“kursach.com/biblio/0010024/103_1”}

113. tinyurl.com/law-of-aug-7-32 []{#tinyurl.com/law-of-aug-7-32


label=“tinyurl.com/law-of-aug-7-32”}

114. tinyurl.com/hjput []{#tinyurl.com/hjput


label=“tinyurl.com/hjput”}
115. hrono.ru/dokum/193_dok/19360925stal.html []
{#hrono.ru/dokum/193_dok/19360925stal
label=“hrono.ru/dokum/193_dok/19360925stal”}

116. alexanderyakovlev.org/almanah/inside/almanah-doc/56532 []
{#alexanderyakovlev.org/almanah/inside/almanah-doc/56532
label=“alexanderyakovlev.org/almanah/inside/almanah-
doc/56532”}

117. hrono.info/libris/stalin/12-9.php []{#hrono.info/libris/stalin/12-


9.php label=“hrono.info/libris/stalin/12-9.php”}

118. web.archive.org/web/20120130203757/cea.ru/~shenin/news/ne
ws20.htm []
{#web.archive.org/web/20120130203757/cea.ru/~shenin/news
/news20
label=“web.archive.org/web/20120130203757/cea.ru/~shenin/
news/news20”}

119. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/postyshevspmar0437.p
df

120. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/Khrushchevspmar0537.
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label=“trst.narod.ru/rogovin/t5/iii”}

122. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/postyshev0138.pdf

123. militera.lib.ru/bio/karpov/06.html []
{#militera.lib.ru/bio/karpov/06
label=“militera.lib.ru/bio/karpov/06”}

124. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/andreevrepostyshev013
8.pdf

125. nash-sovremennik.ru/p.php?y=2004&n=12&id=4 []{#nash-


sovremennik.ru/p.php?y=2004&n=12&id=4 label=“nash-
sovremennik.ru/p.php?y=2004&n=12&id=4”}

126. x-libri.ru/elib/smi__958/00000001.htm
127. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/babulinru.html

128. trst.narod.ru/rogovin/t5/xxxvi.htm []
{#trst.narod.ru/rogovin/t5/xxxvi
label=“trst.narod.ru/rogovin/t5/xxxvi”}

129. hrono.ru/biograf/benediktov.html []
{#hrono.ru/biograf/benediktov
label=“hrono.ru/biograf/benediktov”}

130. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/vyshinsky_stalinfeb013
9.html

131. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/ShT_10_01_39.pdf

132. tinyurl.com/bqp6j []{#tinyurl.com/bqp6j


label=“tinyurl.com/bqp6j”}

133. rksmb.ru/print.php?143 []{#rksmb.ru/print.php?143


label=“rksmb.ru/print.php?143”}

134. nakanune.ru/articles/22_ijunja__dva_blickriga []
{#nakanune.ru/articles/22_ijunja__dva_blickriga
label=“nakanune.ru/articles/22_ijunja__dva_blickriga”}

135. hrono.ru/libris/lib_k/kozhin20v03.php []
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label=“hrono.ru/libris/lib_k/kozhin20v03”}

136. https://tinyurl.com/2p8r7z2w []
{#web.archive.org/web/20101216093216/victory.mil.ru/lib/bo
oks/memo/vasilevsky/11
label=“web.archive.org/web/20101216093216/victory.mil.ru/li
b/books/memo/vasilevsky/11”}

137. militera.lib.ru/research/shaptalov/02.html []
{#militera.lib.ru/research/shaptalov/02
label=“militera.lib.ru/research/shaptalov/02”}

138. militera.lib.ru/research/gorkov2/04.html []
{#militera.lib.ru/research/gorkov2/04
label=“militera.lib.ru/research/gorkov2/04”}
139. https://tinyurl.com/4yax6vt6 []
{#web.archive.org/web/20070324023428/militera.lib.ru/resear
ch/pyhalov_i/09
label=“web.archive.org/web/20070324023428/militera.lib.ru/r
esearch/pyhalov_i/09”}

140. militera.lib.ru/memo/russian/zhukov1/10.html []
{#militera.lib.ru/memo/russian/zhukov1/10
label=“militera.lib.ru/memo/russian/zhukov1/10”}

141. militera.lib.ru/science/kvachkov_vv/02.html []
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142. https://tinyurl.com/35m5dytz []{#battlefield.ru/documents/87-


orders-and-reports/314-order-to-soviet-organizations-frontline-
1941 label=“battlefield.ru/documents/87-orders-and-
reports/314-order-to-soviet-organizations-frontline-1941”}

143. hrono.info/libris/stalin/15-21.php []
{#hrono.info/libris/stalin/15-21
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144. militera.lib.ru/bio/volkogonov_dv/08.html []
{#militera.lib.ru/bio/volkogonov_dv/08
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145. victory.mil.ru/lib/book/memo/vasilevsky/16.html []
{#victory.mil.ru/lib/book/memo/vasilevsky/16
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146. victory.mil.ru/lib/book/memo/kuznetsov_ng3/01.html []
{#victory.mil.ru/lib/book/memo/kuznetsov_ng3/01
label=“victory.mil.ru/lib/book/memo/kuznetsov_ng3/01”}

147. pseudology.org/Chuev/Golovanov_01.htm []
{#pseudology.org/Chuev/Golovanov_01
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148. militera.lib.ru/memo/russian/bagramyan1/index.html []
{#militera.lib.ru/memo/russian/bagramyan1/index
label=“militera.lib.ru/memo/russian/bagramyan1/index”}
149. militera.lib.ru/memo/russian/bagramyan1/04.html []
{#militera.lib.ru/memo/russian/bagramyan1/04
label=“militera.lib.ru/memo/russian/bagramyan1/04”}

150. ng.ru/style/2001-02-14/16_therapy.html []{#ng.ru/style/2001-


02-14/16_therapy label=“ng.ru/style/2001-02-14/16_therapy”}

151. militera.lib.ru/h/samsonov1/02.html []
{#militera.lib.ru/h/samsonov1/02
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152. militera.lib.ru/memo/russian/zhukov1/15.html []
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153. militera.lib.ru/bio/domank/05.html []
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label=“militera.lib.ru/bio/domank/05”}

154. militera.lib.ru/research/beshanov_vv/14.html []
{#militera.lib.ru/research/beshanov_vv/14
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155. militera.lib.ru/memo/russian/meretskov/29.html []
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156. militera.lib.ru/research/solovyov_suhodeev/01.html []
{#militera.lib.ru/research/solovyov_suhodeev/01
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{#web.archive.org/web/20010305211926/svoboda.org/progra
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label=“web.archive.org/web/20010305211926/svoboda.org/pr
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159. stalinism.narod.ru/foto/chech_1.jpg []
{#stalinism.narod.ru/foto/chech_1.jpg
label=“stalinism.narod.ru/foto/chech_1.jpg”}

160. history.machaon.ru/all/number_14/analiti4/vagner_print/index.
html []
{#history.machaon.ru/all/number_14/analiti4/vagner_print/ind
ex
label=“history.machaon.ru/all/number_14/analiti4/vagner_prin
t/index”}

161. kommersant.ru/doc/16455 []{#kommersant.ru/doc/16455


label=“kommersant.ru/doc/16455”}

162. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/beriaautobiog.pdf

163. hrono.ru/biograf/bio_b/beria_lp.php []
{#hrono.ru/biograf/bio_b/beria_lp
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164. msuweb.montclair.edu/~furrg/research/beriatoordzhon33.pdf

165. hrono.ru/libris/lib_h/hrush48.php []
{#hrono.ru/libris/lib_h/hrush48
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166. web.archive.org/web/20120201054513/stalin.memo.ru/spravki
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{#web.archive.org/web/20120201054513/stalin.memo.ru/spra
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167. grachev62.narod.ru/stalin/t16/t16_17.htm []
{#grachev62.narod.ru/stalin/t16/t16_17
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168. web.archive.org/web/20100929205132/situation.ru/app/j_art_6
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{#web.archive.org/web/20100929205132/situation.ru/app/j_art
_677
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169. cprf.info/analytics/10828.shtml []
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170. web.archive.org/web/20050224073133/politcom.ru:80/2003/p
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/pvz74
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171. https://tinyurl.com/bdhunytt []
{#web.archive.org/web/20080605214650/rusarchives.ru/evant
s/exhibitions/stalin_exb/29.shtml
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{#web.archive.org/web/20121221083822/rusarchives.ru/evant
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173. web.archive.org/web/20211128143601/4ygeca.com/dv_soveto
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{#web.archive.org/web/20211128143601/4ygeca.com/dv_sove
tov
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_sovetov”}

174. web.archive.org/web/20091125221603/zapravdu.ru/content/vi
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{#web.archive.org/web/20091125221603/zapravdu.ru/content/
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175. web.archive.org/web/20090817124500/zapravdu.ru/content/vi
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{#web.archive.org/web/20090817124500/zapravdu.ru/content/
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176. kommersant.ru/doc/544976 []{#kommersant.ru/doc/544976


label=“kommersant.ru/doc/544976”}

177. glory.rin.ru/cgi-bin/article.pl?id=99 []{#glory.rin.ru/cgi-


bin/article.pl?id=99 label=“glory.rin.ru/cgi-bin/article.pl?
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178. militera.lib.ru/bio/radzinsky_es1/02.html []
{#militera.lib.ru/bio/radzinsky_es1/02
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179. hrono.ru/libris/lib_h/hrush45.php []
{#hrono.ru/libris/lib_h/hrush45
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180. prometej.info/solnce/st03.htm []{#prometej.info/solnce/st03


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181. hrono.ru/libris/lib_h/hrush41.html []
{#hrono.ru/libris/lib_h/hrush41
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182. pseudology.org/ShepilovDT/11.htm []
{#pseudology.org/ShepilovDT/11
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