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Um Quarto Com Vista - E. M. Forster
Um Quarto Com Vista - E. M. Forster
FORSTER
tradução:
Marcelo Pen
prefácio:
Luiz Ruffato
Copyright © The Provost and Scholars of King’s College,
Cambridge, 1908, 1978
Copyright da tradução e do prefácio © 2006 by
Editora Globo S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida – em qualquer
meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação etc. – nem apropriada ou estocada em sistema de
bancos de dados, sem a expressa autorização da editora.
Título original:
A room with a view
Os ares de Florença
Luiz Ruffato
E. M. Forster dedicou Um quarto com vista a H. O. M.
PARTE 1
1
A pensão Bertolini
“A signora não podia ter feito isso”, disse a senhorita Bartlett, “não
mesmo. Ela nos prometeu quartos contíguos com vista para o sul,
mas aqui temos os quartos da parte norte, distantes um do outro e
que dão para o pátio. Oh, Lucy!”
“E uma cockney, ainda por cima!”, disse Lucy, que ficou ainda
mais entristecida com o inesperado sotaque da signora. “É como se
estivéssemos em Londres.” Ela olhou para as duas fileiras de
cidadãos ingleses sentados à mesa; para a fileira de garrafas
brancas de água e de garrafas vermelhas de vinho que se
interpunham entre os ingleses; para os retratos da falecida rainha e
do poeta laureado, metidos em caixilhos rebuscados, que pendiam
atrás dos ingleses; para o aviso da Igreja Anglicana (Rev. Cuthbert,
M. A., Oxon), que era a única outra decoração na parede.
“Charlotte, você não sente, também, que é como se estivéssemos
em Londres? É difícil acreditar que todo o resto está bem aqui, do
lado de fora. Suponho que seja por estarmos tão cansadas.”
“Esta carne decerto foi usada na sopa”, declarou a senhorita
Bartlett, abaixando o garfo.
“Eu queria ver o Arno. Os quartos que a signora nos prometeu
na carta teriam vista para o Arno. A signora não podia mesmo ter
feito isso. Ah, é vergonhoso!”
“Para mim, qualquer cantinho serve”, a senhorita Bartlett
continuou. “Mas não é nada bom não ter uma vista.”
Lucy achou que podia ter soado egoísta: “Charlotte, não me
entenda mal. Claro que você também deve avistar o Arno. Foi o que
quis dizer. O quarto vago na frente...”.
“É todo seu”, afirmou a senhorita Bartlett, cujas despesas de
viagem em parte foram pagas pela mãe de Lucy, pequena gentileza
a que fez várias alusões sutis.
“Não, não. Ele tem de ser seu.”
“Eu insisto. Sua mãe nunca me perdoaria, Lucy.”
“É a mim que ela nunca perdoaria.”
As vozes das duas ficaram mais animadas e — a bem da
verdade — um pouquinho irritadiças. Ambas estavam cansadas e,
sob a capa do altruísmo, altercavam-se. Alguns de seus vizinhos
trocaram olhares e um deles — uma das pessoas mal-educadas
com quem se costuma deparar em viagens — debruçou-se sobre a
mesa e de fato intrometeu-se na discussão das amigas. Ele
declarou:
“Eu tenho uma vista, eu tenho uma vista”.
A senhorita Bartlett assustou-se. Em geral, numa pensão, as
pessoas costumam observar os outros durante um dia ou dois antes
de aproximar-se e, com freqüência, só descobrem que eles
“servem” depois de eles terem partido. Por isso, sabia que o intruso
era mal-educado, antes mesmo de relancear os olhos para ele. Era
um senhor idoso, corpulento, com um rosto claro e barbeado e olhos
grandes. Havia algo de infantil naquele olhar, embora não fosse a
infantilidade da decrepitude. A senhora Bartlett não parou para
cogitar exatamente o que era, pois seu olhar recaiu nas roupas do
homem. Elas não lhe agradaram. Ele provavelmente estava
procurando travar amizade com as duas antes que elas estivessem
ao corrente da situação. Por isso, a senhorita Bartlett assumiu uma
expressão de perplexidade quando ele falou, e então volveu:
“Uma vista? Ah, uma vista! Que maravilhoso é ter uma vista!”.
“Este é meu filho, George”, informou o velho. “O quarto dele
também tem vista.”
“Ah”, exclamou a senhorita Bartlett, impedindo Lucy de falar.
“O que quero dizer”, ele continuou, “é que podem ficar com
nossos quartos, e nós ficamos com os seus. Faremos uma troca.”
Os turistas mais bem-postos mostraram-se chocados com a
sugestão e se compadeceram das recém-chegadas. A senhorita
Bartlett, em resposta, abriu a boca o mínimo possível, e disse:
“Muitíssimo obrigada; está fora de cogitação”.
“Por quê?”, perguntou o velho, com os dois punhos sobre a
mesa.
“Porque está fora de cogitação, obrigada.”
“Veja, não gostamos de pegar...”, Lucy começou.
Sua prima mais uma vez a fez calar.
“Mas por quê?”, ele persistiu. “Mulheres gostam de admirar
a paisagem, os homens não.” Ele bateu os punhos como uma
criança travessa, virou-se para o filho e rogou: “George,
convença-as!”.
“É tão óbvio que elas devem ficar com os quartos”, disse o
filho. “Não há nada mais a dizer.”
Ele não olhou para as mulheres quando falou, e sua voz
soou confusa e acabrunhada. Lucy sentiu-se igualmente
confusa, mas percebeu que estavam no limiar do que se
chamava de “uma cena e tanto”, e teve a estranha impressão
de que, sempre que esses turistas mal-educados falavam, a
polêmica se ampliava e aprofundava, a ponto de referir-se, não
a quartos e vistas, mas a, bem, a algo bem diferente, cuja
existência lhe era desconhecida. Agora o velho atacava a
senhorita Bartlett com modos quase violentos: por que ela não
se mudava? Que possível objeção teria? Podiam desocupar os
quartos em meia hora.
A senhorita Bartlett, embora versada nas delicadezas da
conversação, era inútil diante da brutalidade. Era impossível
esnobar alguém tão grosseiro. Seu rosto avermelhou-se de
desgosto. Ela olhou em torno como se dissesse: “Serão todos
vocês assim?”.
E duas velhinhas, que estavam sentadas mais adiante, na
mesa, com xales pendendo do encosto de suas cadeiras,
retribuíram o olhar, indicando com clareza que “Não somos;
somos corteses”.
“Continue a jantar, querida”, ela disse a Lucy, e começou a
mexer de novo na carne anteriormente desprezada.
Lucy resmungou que aqueles dois pareciam ser uma gente
muito estranha.
“Continue a jantar, querida. Esta pensão é um malogro.
Amanhã sairemos daqui.”
Quarto capítulo
A volta
Medieval
Tunbridge Wells,
Setembro.
Querida Lucia,
Creia-me,
Sua ansiosa e devotada prima,
Charlotte.
Beauchamp Mansions, S. W.
Querida Charlotte,
Cordialmente,
L. M. Honeychurh
O desastre interno
Ele ficou surpreso. Não tinha nada a dizer. Não estava nem mesmo
aborrecido; apenas ficou de pé ali, com um copo de uísque na mão,
procurando pensar o que a teria levado a tomar tal decisão.
Ela resolvera contar-lhe pouco antes de irem dormir, a hora em
que, de acordo com o hábito burguês, sempre servia as bebidas
para os homens. Freddy e o senhor Floyd sem dúvida se
recolheriam com seus copos, enquanto Cecil invariavelmente ficava
um pouco mais, sorvendo a sua bebida enquanto ela trancava o
aparador.
“Perdoe-me por isso”, ela disse; “refleti cuidadosamente sobre
tudo. Somos muito diferentes. Devo pedir que me desobrigue do
compromisso e procure esquecer que alguma vez houve essa
garota tola.”
Era um discurso adequado, mas ela estava mais zangada do
que arrependida, o que transparecia em sua voz.
“Diferentes... como... como...”
“Não tive uma boa educação, para começar”, ela continuou,
ainda de joelhos defronte ao aparador. “Minha viagem italiana
ocorreu tarde demais e já estou esquecendo tudo o que aprendi ali.
Nunca serei capaz de conversar com seus amigos ou me portar
como sua esposa.”
“Não a entendo. Não está sendo você mesma. Está cansada,
Lucy.”
“Cansada?”, ela retorquiu, de súbito inflamada. “É tão típico
de você. Sempre pensa que as mulheres não querem dizer o que
dizem.”
“Bem, sua voz soou cansada, como se algo a estivesse
preocupando.”
“E se estiver? Isso não impede que eu perceba a verdade. Não
posso casar-me com você. Um dia ainda irá me agradecer por dizer
isso.”
“Você teve aquela dor de cabeça forte ontem... tudo bem”, pois
ela havia soltado uma exclamação indignada. “Vejo que é muito
mais do que dores de cabeça. Mas me dê um momento”, fechou os
olhos. “Deve desculpar-me por dizer coisas estúpidas, mas meu
cérebro está aos pedaços. Parte dele ainda se encontra há três
minutos, quando estava certo de que você me amava, e a outra
parte... é difícil... Receio acabar dizendo a coisa errada.”
Ocorreu-lhe que ele não estava reagindo tão mal, e sua irritação
cresceu. Ela mais uma vez ansiava por uma altercação, não por
uma conversa. Para precipitar a crise, acusou:
“Há dias em que a gente vê as coisas com clareza, e este é um
deles. Há sempre um momento de ruptura, e acontece que é hoje.
Se quiser saber, uma coisa muito boba me fez falar com você...
Quando se recusou a jogar tênis com Freddy.”
“Mas eu nunca jogo tênis”, protestou Cecil, dolorosamente
atônito. “Nunca consegui jogar. Não entendo aonde está querendo
chegar.”
“Você joga bem o bastante para ser o quarto jogador. Achei que
foi uma atitude abominavelmente egoísta da sua parte.”
“Não, não sei... Bem, esqueça o tênis. Por que não podia... não
podia ter me avisado que havia algo errado? Até falou de nosso
casamento durante o almoço... Pelo menos, deixou que eu falasse.”
“Sabia que não iria entender”, retrucou Lucy, bastante
aborrecida. “Devia saber que haveria explicações horríveis. Claro
que não é o tênis... Foi apenas a última gota de tudo que estive
sentindo durante semanas. Decerto foi melhor não falar até ter
certeza”, ela estendeu-se sobre esse ponto. “Muitas vezes antes me
perguntei se servia para ser sua esposa... por exemplo, em Londres;
e você, serve para ser meu marido? Não creio. Não gosta de Freddy
nem de minha mãe. Sempre houve muitas razões contra nosso
enlace, Cecil, mas todos nossos amigos pareciam satisfeitos, e nós
estávamos tão ocupados, e não parecia bom tratar disso até... bem,
até que tudo chegasse a um termo. Como hoje. Posso ver com
clareza. Devia falar. É tudo.”
“Não posso achar que você esteja certa”, disse Cecil,
gentilmente. “Não sei por que, mas, embora tudo o que esteja me
dizendo pareça verdadeiro, sinto que não está sendo justa comigo.
É horrível demais.”
“De que adianta fazer uma cena?”
“De nada. Mas com certeza tenho o direito de ouvir um pouco
mais.”
Ele abaixou o copo e abriu a janela. De onde ela estava
ajoelhada, chacoalhando as chaves, podia ver uma nesga de
escuridão,
e, espreitando-a, como se esta pudesse revelar-lhe o “pouco mais”,
o rosto comprido e pensativo de Cecil.
“Não abra a janela; e é melhor fechar a cortina também; Freddy
ou outra pessoa pode estar do lado de fora.” Ele obedeceu.
“Realmente acho que devemos ir para a cama, se não se importa.
Eu apenas acabarei dizendo coisas que me deixarão infeliz depois.
Como disse, é horrível demais, e de nada adianta falar.”
Mas, para Cecil, agora que estava prestes a perdê-la, ela lhe
parecia a cada momento mais desejável. Olhou para ela, em vez de
através dela, pela primeira vez desde que ficaram noivos. De uma
tela de Leonardo, ela se convertera numa mulher de carne e osso,
com mistérios e força próprios, e qualidades que até mesmo eludem
a arte. Sua mente recuperou-se do choque e, num rompante de
genuína devoção, gritou:
“Mas eu a amo, e realmente achava que me amava também!”
“Eu não o amei”, ela confessou. “Pensei que sim, no começo.
Sinto muito ter de recusá-lo esta última vez também.”
Ele começou a andar de um lado para outro do quarto, e ela
ficou cada vez mais embaraçada diante de seu comportamento
probo. Supusera que ele apenas agiria de maneira mesquinha. Teria
sido mais fácil. Por uma ironia cruel, estava evocando tudo o que
havia de melhor no comportamento do rapaz.
“É evidente que você não me ama. E ouso dizer que está certa.
Mas doeria um pouco menos se soubesse a razão.”
“Porque”, uma frase ocorreu-lhe, e ela a aceitou, “você não é do
tipo que se presta a conhecer ninguém na intimidade.”
Um brilho de horror transfigurou-lhe os olhos.
“Não quis dizer exatamente isso. Mas você fez questão de
interrogar-me, embora eu lhe implorasse que não, e tive de dizer
algo.
É isso, mais ou menos. Quando éramos apenas conhecidos, você
me deixava ser eu mesma, mas agora está sempre me protegendo”,
a voz subiu. “Não permitirei que me protejam. Decidirei por mim
mesma o que é elegante e correto. Defender-me é um insulto. Não
confia que eu encare a verdade, ou devo apenas recebê-la de
segunda mão, através de você? Um lugar para a mulher! Você
despreza minha mãe (sei que sim) porque ela é convencional e se
preocupa com a sobremesa, mas, ah, céus!”, ela levantou-se. “É
você quem é convencional, pois pode entender de coisas belas,
mas não sabe como usá-las; e esconde-se atrás da arte, dos livros
e da música, onde tentará me ocultar também. Não deixarei que me
sufoquem, nem mesmo em nome da música mais gloriosa, pois as
pessoas são mais gloriosas, e você mantém-me longe delas. É por
isso que estou rompendo o noivado. Não há problema quando você
se ocupa das coisas, mas quando se aproxima das pessoas...”, ela
interrompeu-se.
Houve uma pausa. Então Cecil declarou, com grande emoção:
“É verdade”.
“Verdade, no geral”, ela corrigiu, tomada por um sentimento de
vaga vergonha.
“É verdade, cada palavra. É uma revelação. É... eu.”
“De todo modo, estas são minhas razões para não ser sua
esposa.”
Ele repetiu: “O tipo que não se presta a conhecer ninguém na
intimidade. É verdade. Fracassei desde o dia em que nos tornamos
noivos. Comportei-me como um moleque com Beebe e com seu
irmão. Você é ainda maior do que eu imaginava”, ela recuou um
passo. “Não a importunarei mais. Você é boa demais para mim.
Nunca me esquecerei de sua sagacidade; e, minha querida, só
posso culpá-la por isso: podia ter me avisado no início, antes que
sentisse que seria incapaz de casar-se comigo, dando assim uma
chance para que eu progredisse. Nunca a conheci de fato até esta
noite. Apenas a usei como esteio a minhas noções tolas do que uma
mulher deve ser. Mas esta noite você é uma pessoa diferente: novos
pensamentos... até mesmo uma nova voz...”
“Que quer dizer com nova voz?”, ela indagou, tomada por uma
raiva incontrolável.
“Quero dizer que parece haver uma pessoa falando através de
você.”
Então Lucy perdeu o equilíbrio. Gritou: “Se acha que estou
apaixonada por outra pessoa, está muito enganado”.
“Claro que não penso isso. Você não é desse tipo, Lucy.”
“Ah, sim, você acha. É a velha idéia, a idéia que atrasou o
progresso da Europa... Quero dizer, a idéia de que as mulheres
estão sempre pensando nos homens. Se uma moça terminar o
noivado, todos dizem: ‘Ah, ela tem outra pessoa em mente; ela
aguarda a afeição de outro’. É ofensivo, brutal! Como se uma moça
não pudesse terminar para ser livre.”
Ele respondeu, reverente: “Eu podia ter dito isso antes. Nunca
mais o direi. Você me ensinou a ver melhor”.
Ela começou a corar e fingiu examinar as janelas.
“Claro que não há hipótese de haver ‘outra pessoa’ nisso,
nenhuma ‘traição’ nem nenhuma dessa bobagem nauseante. Peço
perdão, com toda humildade, se minhas palavras sugeriram isso. Só
quis dizer que há uma força em você que me era desconhecida até
agora.”
“Tudo bem, Cecil, está certo. Não se desculpe. Foi um erro
meu.”
“É uma disputa de ideais, o seu e o meu... Ideais puros e
abstratos, e o seu é o mais nobre. Estou atado a noções velhas e
perversas, e durante esse tempo todo você foi apenas esplêndida e
nova”, a voz falseou. “Na verdade, preciso agradecer-lhe pelo que
fez... Por me mostrar quem sou. Solenemente, agradeço-lhe por me
mostrar uma mulher de verdade. Aperta minha mão?”
“Claro que sim”, disse Lucy, torcendo a cortina com a outra mão.
“Boa noite, Cecil. Adeus. Está tudo bem. Eu sinto por isso. Muito
obrigada por sua consideração.”
“Deixe-me acender sua vela, sim?”
Eles dirigiram-se ao saguão.
“Obrigado. Boa noite de novo. Deus a abençoe, Lucy!”
“Até logo, Cecil.”
Ela observou-o correr para cima, enquanto as sombras dos
balaústres deslizavam por seu rosto como o bater de asas. No
patamar, ele estacou, firme em seu senso de renúncia, e deitou-lhe
um olhar de memorável beleza. A despeito de toda a sua cultura, no
fundo Cecil era um asceta, e nada em seu amor combinava mais
com ele do que a perda do próprio amor.
Ela nunca se casaria. No tumulto de sua alma, isso permaneceu
inabalável. Cecil acreditava nela. Havia de se tornar uma daquelas
mulheres a quem ela louvara com tanta eloqüência, que se
interessavam apenas pela liberdade e não pelos homens; devia
esquecer que George a amava, que George estivera pensando
através dela e obtivera para ela sua libertação honrosa, que George
partira — como era mesmo? — para a escuridão.
Ela apagou a lâmpada.
De nada valia pensar, nem, aliás, sentir. Ela desistiu de tentar
entender-se, e aliou-se ao vasto exército dos ignorantes, que não
seguiam nem o coração nem o cérebro, que marchavam a seu
destino por meio de deixas teatrais. Esses exércitos estão cheios de
gente agradável e pia. Mas caíram diante do único inimigo que
importa — o inimigo interno. Haviam pecado contra a paixão e a
verdade, e inócua será sua luta pela virtude. Com o passar dos
anos, estarão condenados. Sua graça e sua piedade mostrarão
rachaduras, a eloqüência tornar-se-á cinismo, sua abnegação,
hipocrisia; sentirão e produzirão mal-estar aonde quer que forem.
Pecaram contra Eros e contra Palas Atena, e não pela intervenção
divina, mas pelo curso ordinário da natureza, essas deidades
amigas serão vingadas.
Lucy aliou-se a esse exército quando fingiu para George que
não o amava e fingiu para Cecil que não amava ninguém. A noite a
acolheu, como acolhera a senhorita Bartlett trinta anos antes.
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