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http://tilz.tearfund.org/Portugues Maio 2006 Direitos humanos

Direitos iguais injustiça na nossa sociedade. O sistema


legal freqüentemente trata as pessoas de
maneira diferente, de acordo com o seu
status social ou sexo. A Bíblia mostra uma
Acesso à justiça no Peru outra maneira de ver a vida. Deus dá o
mesmo valor e a mesma atenção a todas
Ruth Alvarado e Alfonso Wieland as pessoas: homens, mulheres e crianças,
de todas as raças e grupos sociais. Esta
A Paz y Esperanza (Paz e Esperança) é uma organização cristã do Peru que igualdade e respeito pelas diferenças
promove a justiça social através da defesa dos direitos humanos de indivíduos e deveriam ser a base de todas as relações
sociais.
comunidades marginalizadas ou sem acesso à justiça.
Os sistemas e a desigualdade
A Paz e Esperança acredita que todas as ■ falta de conhecimento sobre os direitos
Entretanto, a experiência das pessoas
pessoas têm o mesmo valor, já que todos humanos
no mundo é muito diferente e freqüente-
foram criados à imagem de Deus, e isto ■ falta de conhecimento sobre como usar
deve ser defendido e promovido. Assim, mente desigual. A situação dos povos
estes direitos dentro do sistema indígenas do Peru é especialmente difícil,
todas as pessoas deveriam ter direitos
■ falta de compreensão da língua oficial pois eles sofrem discriminação racial e
iguais, embora, muitas vezes, esta não
seja a realidade para as pessoas pobres. ■ medo e falta de confiança no sistema social constante por parte do sistema legal
O acesso à justiça através do sistema legal judiciário. e do Estado.
formal pode ser difícil para as pessoas A pobreza não é o único obstáculo da As crianças freqüentemente têm pouco
pobres por muitos motivos: igualdade. Há muitos exemplos de acesso à justiça. Não há funcionários
■ falta de recursos financeiros treinados suficientes para investigar os
crimes de abuso infantil ou centros de
■ corrupção NOTA AOS LEITORES A Passo a Passo é lida na África, Europa e
América do Sul. A língua portuguesa muda de um continente para o outro. assistência ou recursos suficientes para
■ burocracia Alguns artigos podem estar escritos em um estilo diferente do português
que você fala. Esperamos que isto não venha a mudar a sua apreciação ajudar as crianças em risco.
pela Passo a Passo.
■ isolamento geográfico A discriminação sexual também pode ser
NB Escrevemos “AIDS/SIDA”, porque alguns de nossos leitores
■ educação e alfabetização limitadas conhecem a doença como “AIDS”, enquanto outros a chamam de “SIDA”.
vista, por exemplo, no comportamento

Leia nesta edição


3 Abordagens baseadas nos direitos
4 Restaurando a esperança
6 Declaração dos Direitos Humanos
das Nações Unidas
7 Cartas
8 O uso do teatro no trabalho de
defesa de direitos comunitário
10 Trabalhando com a deficiência
11 Agentes da defesa de direitos
12 Empoderando as mulheres na Índia
13 Estudo bíblico
14 Recursos
Foto Peter Clark

15 Small World Theatre


16 Uma vida transformada
Passo a Passo
ISSN 1353 9868
A Passo a Passo é uma publicação trimestral que Justiça para todos
procura aproximar pessoas em todo o mundo
envolvidas na área de saúde e desenvolvimento. A O trabalho da Paz e Esperança baseia-se
Tearfund, responsável pela publicação da Passo a no conceito bíblico de justiça. Para nós, isto
Passo, espera que esta revista estimule novas idéias
consiste em tornar os direitos humanos
e traga entusiasmo a estas pessoas. A revista é uma
maneira de encorajar os cristãos de todas as nações possíveis para todos, assim como restaurar
em seu trabalho conjunto na busca da melhoria das a boa relação entre Deus, seu povo e a
nossas comunidades. criação. Acreditamos que a justiça bíblica
A Passo a Passo é gratuita para aqueles que exige a defesa dos pobres, já que eles
promovem saúde e desenvolvimento. É publicada em
inglês, francês, português e espanhol. Donativos são
estão em desvantagem e, freqüentemente,
bem-vindos. indefesos na sociedade. Trabalhar em prol
Os leitores são convidados a contribuir com suas da justiça consiste em criar uma sociedade
opiniões, artigos, cartas e fotografias. que incentive os direitos e as responsabili-
Editora: Isabel Carter dades de todas as pessoas.
PO Box 200, Bridgnorth, Shropshire,
WV16 4WQ, Reino Unido A Paz e Esperança procura mudar as
Tel: +44 1746 768750 instituições e os sistemas legais que se
Fax: +44 1746 764594 opõem aos direitos humanos. Desta forma,
E-mail: footsteps@tearfund.org ela espera melhorar a administração da
Foto Peter Clark

Website: http://tilz.tearfund.org/Portugues
justiça no Peru.
Subeditora: Rachel Blackman, Maggie Sandilands
Editora – Línguas estrangeiras: Sheila Melot É importante que a justiça seja defendida e
Administradoras: Judy Mondon, Sarah Carter Deus dá o mesmo valor a todas as pessoas: promovida nacionalmente através da
Comitê Editorial: Ann Ashworth, Simon Batchelor, homens e mulheres de todas as raças, idades e criação ou reforma de leis. Porém, preci-
Paul Dean, Richard Franceys, Mark Greenwood, grupos sociais. samos ir além disso: as leis devem ser
Martin Jennings, Ted Lankester, Simon Larkin, realmente respeitadas na prática, caso
Donald Mavunduse, Sandra Michie, Mary Morgan,
Nigel Poole, Naomi Sosa
negativo da polícia e das pessoas dentro contrário elas são inúteis. A Paz e
Design: Wingfinger Graphics, Leeds do sistema legal ao lidarem com as Esperança também ajuda a educar as
Tradução: L Bustamante, S Dale-Pimentil, mulheres que procuram a sua ajuda. Esta comunidades quanto aos seus direitos. Nós
H Gambôa, L Gray, M Machado, P Mandavela, desigualdade entre os sexos reflete-se em as empoderamos (encorajamos) para que
C Murray, N Ngueffo, J Perry, G van der Stoel, toda a sociedade, pois a nossa cultura sejam capazes de agir e desafiar os sistemas
L Weiss
geralmente tolera a violência doméstica. e as práticas injustas no Estado e para fazer
RELAÇÃO DE ENDEREÇOS: Escreva, dando uma
breve informação sobre o trabalho que você faz e Não devemos fechar os olhos para esta lobby (pressão) em prol dos seus direitos.
informando o idioma preferido para: injustiça. No nosso trabalho de defesa de direitos,
Footsteps Mailing List, PO Box 200, Bridgnorth,
Shropshire, WV16 4WQ, Reino Unido.
A Paz e Esperança oferece apoio legal, usamos campanhas públicas, educação e
E-mail: footsteps@tearfund.org pastoral e psicológico às vítimas da pesquisa. Trabalhamos através de redes,
Mudança de endereço: Ao informar uma mudança violência dentro da família, especialmente com os meios de comunicação e fazendo
de endereço, favor fornecer o número de referência mulheres e crianças. lobby (pressão) diretamente entre as
mencionado na etiqueta.
Direitos autorais © Tearfund 2006. Todos os direitos
reservados. É permitida a reprodução do texto da ESTUDO DE CASO A história de Rosa
Passo a Passo para fins de treinamento, desde que
os materiais sejam distribuídos gratuitamente e que Em muitas regiões do Peru, as crianças que nascem fora do casamento podem ficar sem sobrenome,
a Tearfund Reino Unido seja mencionada como sua se o pai negar a paternidade. Isto causa sérios problemas mais tarde, dificultando a matrícula da
fonte. Para qualquer outra utilização, por favor, entre
em contato com footsteps@tearfund.org para obter
criança na escola ou o seu acesso ao dinheiro que o pai deveria prover (providenciar) por lei. Além
permissão por escrito. disso, quando estas crianças se tornam maiores de idade, elas não podem fazer a carteira (bilhete) de
As opiniões e os pontos de vista expressos nas identidade e, assim, ficam excluídas dos direitos e das responsabilidades dos cidadãos.
cartas e artigos não refletem necessariamente o
Uma das pessoas que a Paz e Esperança ajudou é Rosa Ayala. Ela é uma mãe solteira, de 38 anos,
ponto de vista da Editora ou da Tearfund. As infor-
mações técnicas fornecidas na Passo a Passo são que mora na região de Alto Mayo, no Peru. Ela processou o pai do seu filho mais novo, para
verificadas minuciosamente, mas não podemos que ele pudesse ter o sobrenome do pai. Rosa recebeu apoio legal, espiritual e emocional da
aceitar responsabilidade no caso de ocorrerem Paz e Esperança. Com a permissão de Rosa, a Paz e Esperança usou o caso para conscientizar
problemas.
(consciencializar) as pessoas sobre esta questão através dos meios de comunicação locais.
A Tearfund é uma organização cristã evangélica
que se dedica ao trabalho de desenvolvimento e No final, Rosa ganhou a causa. Seu filho, Pedro, agora possui o sobrenome do pai e status legal. O
assistência através de grupos associados, a fim caso serviu como um novo exemplo legal na região de Alto Mayo, por ser a primeira a ser ganha sem
de levar ajuda e esperança às comunidades em a necessidade do teste de DNA. Rosa disse numa entrevista: “Os advogados que eu contratei não
dificuldades no mundo.
fizeram nada. O meu ex-marido falou com eles e subornou-os. Depois disso, os advogados ficaram
Tearfund, 100 Church Road, Teddington,
do lado dele. Quando eu fui à Paz e Esperança, eu sabia que as pessoas tinham direitos, mas eu não
Middlesex, TW11 8QE, Reino Unido.
Tel: +44 20 8977 9144 sabia como reinvidicá-los. Foi muito difícil para mim me expor na frente dos meios de comunicação,
Publicado pela Tearfund, uma companhia limitada, falar sobre a minha situação e contar coisas da minha vida particular para os outros. Agora, eu
registrada na Inglaterra sob o No.994339 agradeço a Deus por tudo.’
Organização sem fins lucrativos sob o No.265464.

2 PASSO A PASSO 66
defesa de direitos

autoridades. Educamos pessoas de assegurando que o sistema legal preste


dentro do sistema judiciário e social sobre contas e seja acessível para todos.
questões de direitos humanos.
Alfonso Wieland é o Diretor Executivo
A Paz e Esperança também oferece da Paz e Esperança.
assistência legal gratuita para pessoas
Asociacion Paz y Esperanza
ou comunidades vítimas de abuso dos
Jr. Hermilio Valdizan 681
direitos humanos, para assegurar que
Jesus Maria, Lima
tenham uma representação legal de boa
Peru
qualidade.
Email: awieland@pazyesperanza.org
Procuramos aumentar o acesso à
justiça dentro das comunidades pobres, Ruth Alvarado é uma advogada que trabalha com

Foto Peter Clark


aumentando seu acesso às informações, a Paz e Esperança. Ela é a Diretora da parceira da
proporcionando-lhes uma oportunidade Tearfund, Agape.
para serem ouvidas no governo local e Email: ministerioagape@speedy.com.pe

Abordagens baseadas outras pessoas e o direito à educação.


As organizações cristãs precisam estar
totalmente conscientes dos direitos

nos direitos humanos, mas com uma perspectiva


especificamente cristã. Mesmo quando
lhes é pedido que aceitem a injustiça e a
Muitas organizações agora usam “abordagens baseadas nos direitos” para o desen- violação dos direitos contra si próprios, os
volvimento. Estas abordagens exigem que as instituições e as pessoas no poder cristãos e a igreja podem comprometer-se
a buscar a justiça e defender os direitos das
prestem contas quanto às suas responsabilidades às pessoas com menos poder. outras pessoas de forma ativa. Esta é uma
As abordagens baseadas nos direitos são diferentes das abordagens “baseadas nas motivação baseada no amor, e não na lei
necessidades” ou no “bem-estar”, as quais deixam as pessoas dependentes das (Christopher Wright, Human Rights: A Study
in Biblical Themes, Grove Booklet No 31 on
agências de desenvolvimento. Elas usam abordagens participativas e de empodera-
ethics, 1979).
mento (encorajamento) e começam com o reconhecimento das violações dos direitos
Paul Stephenson é o Diretor de Crianças em
humanos, ao invés de se concentrarem nas necessidades humanas.
Desenvolvimento, da World Vision International.
Seu endereço é: PO Box 9716, Federal Way,
Descobrindo quais são os direitos Há cada vez mais ministérios governa- WA 98063, EUA
Os direitos humanos acordados inter- mentais usando a estrutura dos direitos E-mail: paul_stephenson@wvi.org
nacionalmente são acordos legalmente infantis para orientar as suas próprias
vinculativos entre os Estados, que estabe- políticas e prática e monitorizar o bem-estar
infantil. Na Colômbia, por exemplo, o ESTUDO DE CASO
lecem os seus deveres e as suas obrigações
para com os seus cidadãos. Eles oferecem Ministério do Bem-Estar Social baseia suas
Jessica, de 14 anos, explicou como ela
uma base legal sólida para o trabalho de políticas e seus programas na CDC e exige a
aprendeu sobre os seus direitos quando fazia
defesa de direitos internacional e nacional e prestação de contas por parte das ONGs na
parte de uma Rede Infantil da Colômbia. Ela
uma estrutura prática para o planejamento defesa dos direitos infantis.
vive numa comunidade deslocada devido
de programas. As abordagens baseadas Os direitos infantis são úteis para propor- ao conflito civil. Entretanto, ela reconhece
nos direitos fortalecem a capacidade dos cionar justiça, serviços e proteção às que ela própria e outras crianças podem
grupos vulneráveis de lidarem com as causas crianças. Eles oferecem uma base comum fazer lobby (pressão) para que o governo
fundamentais da pobreza e exigirem os para que as ONGs, igrejas e autoridades se concentre nos seus direitos à educação,
recursos civis, políticos, sociais e financeiros governamentais trabalhem juntas para saúde, proteção e paz. Jessica e alguns
para satisfazerem as suas necessidades e melhorar a vida das crianças. amigos fizeram uma passeata em Bogotá
viverem com dignidade. Estes recursos são para protestar sobre alguns destes problemas
reconhecidos como direitos humanos pelos Motivação cristã e foram entrevistados por um canal de
tratados internacionais. Muitas organizações cristãs trabalham televisão local. Este talvez seja um pequeno
Devido à sua vulnerabilidade e falta de em ambientes difíceis – situações em que passo inicial, mas as crianças agora se
poder, as crianças possuem os seus próprios ocorrem abusos dos direitos humanos sentem empoderadas e respeitadas. Elas têm
direitos, os quais estão dispostos na diariamente, tais como: a liberdade de esperança de poderem mudar as coisas para
Convenção sobre os Direitos da Criança religião, o direito de participar no processo o benefício da sua comunidade.
(CDC) www.unhchr.ch/html/menu3/b/k2crc.htm. político, a liberdade de se reunir com

PASSO A PASSO 66 3
direitos humanos

Restaurando a
esperança Baliesima Kadukima Albert

Editorial
A Violência Baseada no Gênero (VBG) é a violência, sexual ou não, que ocorre devido às
A Bíblia diz que Deus criou todos os desigualdades entre os géneros. Ela é reconhecida como um abuso dos direitos humanos.
As mulheres e as meninas são as principais vítimas, pois a violência baseada no gênero
homens e mulheres com o mesmo
está enraizada nas relações do poder tradicionalmente desiguais na sociedade, embora
valor e que devemos amar ao próximo
os meninos e os homens também sejam alvos da violência sexual. Ela é especialmente
como a nós mesmos. A Declaração
comum durante o conflito armado, onde é freqüentemente usada de propósito como
dos Direitos Humanos das Nações
arma de guerra, e em situações pós-conflito.
Unidas diz que todas as pessoas têm
direitos iguais, não importando o sexo, A violência baseada no gênero é uma violação do direito da mulher à igualdade e à
raça, nacionalidade, religião, política, segurança pessoal e prejudica o que já foi alcançado nos Objetivos de Desenvolvimento
opiniões ou status social. No entanto, do Milênio quanto à igualdade entre os sexos e o empoderamento da mulher.
quando olhamos para o nosso mundo
hoje, vemos injustiça, discriminação,
violência e sofrimento, causados pelo Há quase dez anos, há conflito entre os possui oito dioceses na RDC. Ela procura
facto de as pessoas não respeitarem diferentes grupos armados da República servir a Deus, contribuindo na luta contra
os direitos dos outros.
Democrática do Congo (RDC), o que o VIH e a SIDA e tentando restaurar a
deixou cicatrizes profundas na sociedade. esperança entre as pessoas que tanto sofrem
É fácil ficar zangado e triste com a Aproximadamente 3,5 milhões de pessoas ao longo do conflito. A PEAC acha que, para
injustiça do mundo, mas é mais difícil já morreram como resultado do conflito, que a igreja seja uma fonte de esperança em
encontrar soluções práticas para grandes grupos de pessoas foram deslocadas que as pessoas possam confiar, devemos
o problema. Nesta edição, vemos e há pobreza e subnutrição. O problema mostrar o amor de Deus de maneira
algumas maneiras através das quais de violação e violência sexual ocorre por prática. Por exemplo, a PEAC trabalha com
as pessoas estão a lidar com os toda parte, o que também contribuiu para a mulheres que foram violadas.
problemas nas suas comunidades e rápida propagação do VIH (HIV). Os efeitos Algumas das actividades que a PEAC
defendendo os seus direitos. tanto da violência quanto do VIH e da SIDA organiza são:
Os que mais sofrem são geralmente (AIDS) não são apenas físicos, mas também
psicológicos e sociais. Consciencializacão Consciencializar as
as pessoas pobres e marginalizadas, mulheres sobre questões relativas a violação
as quais talvez não tenham acesso La Province de l’Église Anglicane du Congo e incentivá-las a fazerem denúncias. Muitas
aos sistemas judiciários formais. – PEAC (a Igreja Anglicana do Congo)
As relações de poder desiguais da
sociedade fazem com que mulheres
e crianças por todo o mundo não
desfrutem nem mesmo dos seus
direitos humanos básicos de igualdade
e segurança pessoal.
Deus pede-nos que nos manifestemos
pelos direitos dos pobres e oprimidos.
Espero que esta edição desafie e
incentive os leitores a trabalharem
juntos para reconhecer e lidar com a
injustiça.
Espero que gostem da nova aparência
da Passo a Passo. As futuras edições
examinarão a renovação urbana e a
reconciliação.
Foto Marcus Perkins Tearfund

Maggie Sandilands
Subeditora

Os homens e a mulheres devem ser capazes de viver e trabalhar juntos sem a ameaça da violência.

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direitos humanos

mulheres receiam manifestar-se, porque Fazendo progresso


têm medo da rejeição social e de que os A PEAC encontrou muitas dificuldades
seus maridos as abandonem. As meninas, no seu trabalho, especialmente a discrimi-
geralmente incentivadas pelos seus pais, nação social enfrentada pelas mulheres que
preferem manter-se em silêncio por medo foram violadas. Os maridos frequentemente
de, em consequência, não encontrarem rejeitam as mulheres como se a culpa tivesse
um marido. É importante consciencializar sido delas. Num país em que os homens
os homens e a geração mais velha, para armados podem fazer o que quiserem e
que punam os violadores e não rejeitem as onde o sistema judiciário é corrupto, muitos
mulheres violadas. agressores nunca são punidos por violar. É
Assistência médica Ajudar as mulheres importante aumentar a consciencialização
a obterem assistência médica para evitar dos problemas e mobilizar as comunidades
doenças transmitidas sexualmente, inclusive para evitar estas agressões, condenar os
o VIH e a SIDA. É importante tomar agressores e cuidar das mulheres que
medicamentos antiretrovirais dentro de sofreram violência. As mulheres também
três dias após a violação, para que ele seja precisam de ser ensinadas a defenderem os

Foto Marcus Perkins Tearfund


o mais eficaz possível. Entretanto, o medo seus direitos no que diz respeito à violência
do estigma faz com que muitas mulheres sexual.
hesitem em apresentarem-se. Há também o Apesar destes problemas, a maioria das
problema de fazer com que as mulheres das mulheres com quem trabalhamos encontram
regiões rurais recebam assistência a tempo. alívio e consolo no aconselhamento. Elas
Oração e aconselhamento São oferecidas valorizam o apoio e a oportunidade para
Em situações de emergência, as mulheres e as
sessões regulares de oração e aconselha- expressarem as suas preocupações e encon-
crianças são especialmente vulneráveis.
mento com conselheiras treinadas. É tram paz e esperança para viverem de
importante que as conselheiras sejam maneira positiva.
mulheres, pois muitas mulheres que foram
violadas acham mais fácil compartilhar os Baliesima Kadukima Albert é a Coordenadora do Programa PO Box 25586, Kampala, Uganda
seus sentimentos e conversar com outras de Saúde e VIH (HIV) e SIDA (AIDS) da Igreja Anglicana do E-mail: baliesima@yahoo.com
mulheres. Congo (PEAC), Beni, República Democrática do Congo.

Actividades de geração de recursos


O treinamento prático em várias atividades Reduzindo o risco de violência sexual em emergências
de geração de recursos pode dar à mulher
uma nova motivação e auto-confiança para ■ Projete e escolha os locais para os campos ■ Inclua as mulheres nos processos de tomada
ajudá-la a superar o seu trauma. de refugiados ou pessoas deslocadas após de decisões sobre saúde, saneamento, saúde
consultá-los para aumentar a segurança física. reprodutiva e distribuição de alimentos no
■ Assegure-se de que os pontos de abasteci- campo.
ESTUDOS DE CASOS mento público de água, as latrinas e outras ■ Assegure-se de que as comunidades estejam
instalações (escolas, postos de saúde) sejam informadas sobre os serviços disponíveis para
Uma menina que nos procurou era
colocados em áreas seguras, a uma distância os sobreviventes da violência, tais como a
uma estudante de 18 anos, que havia
dos abrigos das pessoas que possa ser assistência médica de emergência. Identifique
sido violada por um vizinho. Ela só se
percorrida facilmente a pé. aquelas pessoas que estão especialmente em
apresentou vários meses mais tarde,
■ Sempre que possível, ajude cada família a ter risco, tais como órfãos e lares chefiados por
quando este homem morreu de SIDA
a sua própria latrina e forneça ferramentas e mulheres solteiras.
(AIDS). Infelizmente, o teste dela também
materiais para isto. ■ Identifique, treine e auxilie pessoas da
deu positivo para o VIH (HIV). Quando ela
■ As instalações sanitárias públicas para comunidade como agentes de apoio para
veio a nós, ela tinha tendências suicidas
homens e mulheres devem ser separadas, prevenir, reconhecer e responder à violência
e achava que não valia nada. Porém,
especialmente para banho. baseada no gênero e oferecer apoio
o aconselhamento regular ajudou-a a
emocional, informações, encaminhamento e
recuperar a confiança e a esperança. ■ Assegure-se de que haja funcionárias de
defesa de direitos.
Um outro caso foi o de uma professora saúde, segurança e intérpretes mulheres.
■ Ensine as mulheres sobre os seus direitos,
de 35 anos que tinha sido violada por ■ Inclua as mulheres na distribuição de abrigo,
tais como o status de refugiado.
um grupo de homens quando voltava alimentos e outras provisões.
do mercado. Por vergonha e medo da ■ Crie grupos de apoio para os sobreviventes
■ Forneça roupas e pacotes sanitários para as
discriminação social, ela decidiu sair de da violência baseada no gênero e as suas
meninas e mulheres.
casa e voltar a morar com os pais. Porém, famílias.
■ Forneça fornos que usem pouco combustível
após as sessões de aconselhamento
para diminuir a necessidade de lenha, pois as
juntamente com o marido, eles decidiram Adaptado de Protecting the Future: HIV Prevention,
mulheres se tornam mais vulneráveis quando Care and Support Among Displaced and War-Affected
continuar a viver juntos.
saem para procurar lenha. Populations, IRC, Kumarian Press, 2003.

PASSO A PASSO 66 5
direitos humanos

A Declaração dos Direitos


Humanos das Nações Unidas
A Declaração Universal dos Direitos Humanos declara que todas as pessoas têm
os mesmos direitos iguais e inalienáveis, sem distinção alguma de sexo, raça,
nacionalidade, religião, política, opiniões ou status social.

A Declaração diz que o reconhecimento se torne realidade, todos – indivíduos,


e a compreensão destes direitos é a igrejas, comunidades e governos – têm
base das boas relações entre as pessoas, a responsabilidade de defender estes
comunidades e nações. Isto promove paz, direitos e estas liberdades para os outros.

Foto Jim Loring Tearfund


a justiça, a liberdade e o progresso social A Declaração foi assinada por todos os
para todos. A falta de respeito para com
estados membros da Nações Unidas, em
estes direitos resulta em sofrimento e
10 de dezembro de 1948. A Declaração não
injustiça.
é um documento legal, mas é um acordo
Direitos e responsabilidades internacional comum sobre quais são os Muitas pessoas não têm acesso à justiça.
direitos fundamentais de todas as pessoas.
A Declaração diz que todas as pessoas
Ao assinarem a Declaração, os governos Estes grupos usam uma variedade de
têm direito a viverem numa sociedade
comprometeram-se a governar com justiça métodos, tais como reportagens nos
que torne efetivos estes direitos e estas
e compaixão e a tratar seus cidadãos de meios de comunicação internacional,
liberdades. Para fazer com que isto
acordo com estes princípios básicos. petições e demonstrações públicas,
todos eles com o objetivo de condenar
Os direitos humanos e a lei o comportamento dos governos,
A Declaração A Declaração em si não é legalmente conscientizar as pessoas sobre o mal que
vinculativa. Desde então foram escritos foi feito e promover a mudança.
A liberdade e a igualdade formam a base e os
acordos internacionais das Nações
objetivos destes direitos. Em poucas palavras, A autora, Caroline Musgrave, é Oficial de Relações
Unidas, que transformam os princípios
eles dizem que: com Doadores Institucionais da Tearfund.
da Declaração em lei internacional. Há
■ Todos os seres humanos nascem livres e Seu endereço é:
grupos específicos que monitorizam a
iguais em dignidade e em direitos. 100 Church Road
forma como estes acordos são colocados
■ Todo indivíduo tem direito à vida, à Teddington
em prática.
TW11 8QE
liberdade e à segurança pessoal.
Em âmbito regional, a União Africana, Reino Unido
■ Ninguém será mantido em escravatura ou a Organização dos Estados Americanos Website: www.tearfund.org
submetido à tortura. e o Conselho da Europa transformaram
■ Todos são iguais perante a lei, têm direito os princípios dos direitos humanos em
à igual proteção da lei e têm direito a que acordos regionais legalmente vinculativos. WEBSITES ÚTEIS
a sua causa seja eqüitativa e publicamente Cada acordo possui um tribunal associado
julgada por um tribunal independente e a ele para causas judiciais, mas somente se A Declaração completa
imparcial. o país tiver assinado o acordo apropriado www.un.org/Overview/rights.html

■ Todo indivíduo tem direito à liberdade de primeiro. Mesmo assim, uma pessoa que Instituto Mundial de Informações Legais
expressão, crenças e opiniões. coloca uma causa na justiça só pode apelar www.worldlii.org

■ Toda pessoa tem o direito de tomar parte


neste tribunal depois de ter passado Corte Interamericana de Direitos
na vida cultural da sociedade e no governo
primeiro pelo sistema legal do seu próprio Humanos
democrático do seu país.
país. Se uma pessoa sofrer abusos dos www.corteidh.or.cr
direitos humanos, ela deve procurar
■ A partir da idade núbil, o homem e a mulher Amnesty International
orientação com advogados ou ONGs
têm o direito de casar e de constituir www.amnesty.org
confiáveis da área dos direitos humanos
família, mas somente com o livre e pleno Human Rights Watch
no seu próprio país.
consentimento dos futuros esposos. www.humanrightswatch.org
■ O casamento, a maternidade e todas as Conscientização Convenção Européia dos Direitos
crianças têm direito à proteção da sociedade. Foram formados grupos de defesa de Humanos
■ Toda pessoa tem direito a um nível de vida direitos internacionais e nacionais para www.echr.coe.int/echr
adequado, à educação, a trabalhar por um fazer lobby (pressão) publicamente em Comissão Africana dos Direitos Humanos
salário justo e à propriedade. prol da mudança, caso os governos www.achpr.org
abusem os direitos humanos dos cidadãos.

6 PASSO A PASSO 66
Cartas Notícias ■ Opiniões ■ Informações
Por favor, escreva para: The Editor, Footsteps, PO Box 200, Bridgnorth, Shropshire, WV16 4WQ, Reino Unido E-mail: footsteps@tearfund.org

Aprendizagem participativa sobre OMS declara a tuberculose uma questão de emergência na África
o VIH (HIV) e a SIDA (AIDS)
É essencial que se use uma abordagem A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a tuberculose como uma questão de emergência
participativa para a introdução e o em África. O número de novos casos de tuberculose a cada ano, em muitos países africanos,
desenvolvimento de competência nas quadruplicou desde 1990, devido principalmente à sua ligação com o VIH e a SIDA, a pobreza e os
várias questões relativas ao VIH (HIV) e sistemas de saúde precários. A doença está a matar mais de meio milhão de pessoas na África a
da SIDA (AIDS). cada ano. Por todo o mundo, a tuberculose é responsável por dois milhões de mortes por ano. Para
Como se costuma dizer em relação à alcançar os alvos do Objectivo de Desenvolvimento do Milênio, de reduzir as mortes causadas pela
aprendizagem: tuberculose, será necessária uma ação urgente.
Eu ouço … Eu esqueço. “É trágico que esta doença não esteja sob controle, pois eu sou uma prova viva de que a tuberculose
Eu vejo … Eu lembro. pode ser tratada e curada com eficácia” disse o vencedor do prêmio Nobel, Arcebispo Desmond Tutu,
Eu experimento … Eu sei fazer. que, assim como o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, sobreviveu à doença. “O problema é
Precisamos criar e facilitar experiências enorme, e as autoridades médicas não podem superá-lo sozinhas. Elas precisam de ajuda.” A falta
de aprendizagem que possam ser de verbas dificulta a luta contra a epidemia, porém, somente com mais recursos financeiros não será
aplicadas na prática por indivíduos e possível resolver o problema da tuberculose. É necessário que haja também um esforço dedicado
comunidades para lidar com questões para fortalecer os sistemas de saúde.
de prevenção do VIH, apoio, tratamento Sam Ajibola (em Johannesburg) E-mail: ajibolas@afro.who.int
e vida positiva. Elas devem estar ligadas
Patrick Bertrand (francophone media) E-mail: p.bertrand@noos.fr
à realização do que as pessoas mais
querem e valorizam na vida: os seus
objectivos e sonhos.
A Bridges of Hope é um pacote útil, que pessoas conheçam outras pessoas com veículos velhas ou para reciclá-las e
oferece uma variedade de técnicas VIH e SIDA, estes ainda são vistos como usá-las de alguma outra maneira?
de aprendizagem participativa e motivo de zombaria e vergonha para Este é um problema para os nossos
actividades de treinamento. Para obter a pessoa doente e a sua família. Nosso funcionários que trabalham em regiões
mais informações, consulte o website povo agora entende a importância de remotas, por motivos de saúde e
www.bridgesofhope.info se quebrar o “silêncio” em relação ao segurança.
Peter Labouchere VIH e à SIDA. Não falar sobre a SIDA é
Mike Webb
HIV and AIDS Training Consultant mais perigoso do que viver com o VIH.
Tearfund
Box 131 Os pais agora explicam ao filhos sobre
Victoria Falls 100 Church Road
os danos causados pelo VIH e como ele
Zimbábue Teddington
pode ser evitado. TW11 8QE
E-mail: peterl@mweb.co.zw Entretanto, o número de pessoas que Reino Unido
vivem com o VIH e a SIDA continua a
Quebrando o silêncio em relação subir, apesar do número cada vez maior Criação de térmitas (cupins)!
ao VIH (HIV) e à SIDA (AIDS) de campanhas para educar as pessoas. Ficamos a saber que os criadores de
Na República Democrática do Congo Embora sejam realizadas conferências galinhas usam térmitas para alimentar as
(RDC), muitas pessoas já morreram por sobre a SIDA, o vírus continua a poucas galinhas que têm. Seria possível
causa do VIH e da SIDA, porém estes propagar-se. Por quê? A Passo a Passo 60 usar térmitas como alimento para um
termos raramente são mencionados. salientou a diferença entre a facilitação aviário grande? Para isto talvez fosse
Muitas pessoas no nosso país achavam e o ensino tradicional. A RDC precisa de necessário criar térmitas! Algum leitor já
que a SIDA era um mito ou uma doença mais facilitadores bons, que ajudem as usou grandes quantidades de térmitas
misteriosa que as pessoas relutavam pessoas a serem “proprietárias” destas como alimento para galinhas desta
em mencionar. Ao invés disso, elas informações e a mudarem a sua atitude maneira? Como poderíamos fazer isto?
referiam-se ao VIH e à SIDA como a
e o seu comportamento. Ficaríamos muito gratos por qualquer
malária da África Oriental, veneno, o prego
Jean-Pierre Ndaribitse Kajangwa sugestão.
enferrujado ou “ka kidudu” (micróbio).
Diocese Goma/North Kivu Christian and Heidi Meyer
Felizmente, as pessoas aqui agora
República Democrática do Congo Centre Apostolique de Formation
reconhecem que o VIH e a SIDA não são
01 BP 550
apenas um mito, mas sim uma doença
Baterias de veículos Ouagadougou 01
que leva à morte. Entretanto, elas ainda
Burquina Faso
estam reluctantes em falar abertamente Os leitores teriam alguma sugestão
sobre isto. Embora a maioria das para a eliminação segura de baterias de E-mail: c.h.meyer@gmx.net

PASSO A PASSO 66 7
defesa de direitos

O uso do teatro no trabalho de


defesa de direitos comunitário

1
Escolha o
problema
Escolha um problema de direitos humanos
em que você queira se concentrar. Este
deve ser um problema geral, conhecido do
grupo ou da comunidade. Decida quem,
na comunidade, sofre abuso e quem é o
reponsável. Por exemplo, um problema
poderia ser a violência doméstica, em que o
marido bate na mulher.
Mostre uma cena de uma possível situação
de abuso. Esta não deve ser de um caso
específico, mas deve mostrar o que
acontece em geral.

2 3
Enfatize (Acentue) Incentive a O facilitador também pode desafiar os
espectadores a pensarem além da sua
a injustiça participação própria experiência com perguntas como
“Será que isto tinha realmente de ser
Despois desta cena, mostre uma outra, Agora, diga que os espectadores podem assim?”, “Será que será sempre assim?”
em que a pessoa que comete o abuso fazer perguntas para qualquer personagem
Os atores devem responder como se
continua vivendo sua vida como se não da peça. O facilitador pergunta aos
fossem os personagens que estão
houvesse nada de errado. O objetivo disto espectadores com que personagem eles
representando. Antes da peça, eles devem
é que os espectadores sintam a injustiça querem falar e incentiva-os a fazerem
pensar cuidadosamente sobre os seus
da situação. Quanto mais zangadas as perguntas tais como:
personagens. Por que eles fariam o que
pessoas ficarem, mais elas vão querer ■ Por que você agiu desta maneira? fazem e o que eles poderiam achar da
participar e tentar mudar as coisas.
■ O que você acha do outro personagem? situação?
■ Por que você não se manifestou? Este processo permite que a comunidade
O papel do facilitador é muito importante. comece a discutir os problemas em
Ele deve repetir cada pergunta dos conjunto e reconhecer as atitudes por trás
espectadores para ter certeza do que eles deles.
quiseram dizer e de que todos ouviram.

8 PASSO A PASSO 66
defesa de direitos

4
Praticando a
defesa de direitos
Os espectadores podem se dividir em
pequenos grupos para discutir como
poderiam resolver o problema. Depois, eles
compartilham as suas idéias com os outros
grupos.
Uma outra técnica é incentivar voluntários situação. Um voluntário entre os espectadores Os atores devem reagir à participação dos
entre os espectadores a participarem da peça, ou um outro ator pode assumir este papel. espectadores da mesma maneira como os
assumindo o papel de um dos personagens, O facilitador precisa: seus personagens reagiriam num dia ruim.
conversando com os personagens e Por exemplo, eles poderiam virar as costas e
■ explicar a tarefa e convidar as pessoas para
convencendo-os a mudar. O facilitador ir embora, não escutar ou ficar zangados.
entrarem no palco
deve explicar que a peça será mostrada Desta forma, a comunidade pode explorar
novamente, e que se, em qualquer momento, ■ parar a ação, se ela não estiver indo a lugar
diferentes maneiras de abordar o problema
os espectadores quiserem mudar o que está algum ou se as coisas ficarem violentas
e tentar fazer algo de positivo. Eles podem
acontecendo, eles devem levantar a mão e ■ fazer um resumo do que foi aprendido em tentar entrar em acordo sobre uma maneira
gritar “pare”. Talvez os espectadores queiram cada etapa, perguntando à audiência coisas realista de defender direitos na situação.
que um novo personagem, tal como um como “O que eles fizeram? Isto funcionou?”
amigo, um parente ou a polícia, intervenha na

O autor, Joy Borman, é um consultor freelance de Teatro para o Desenvolvi-


mento, com experiência de trabalho com uma variedade de grupos, inclusive
igrejas, pessoas internalmente deslocadas e pessoas com deficiências.
E-mail: drama@inspiredbyjoy.co.uk

Fotos de Alex Mavrocordatos, Centre for the Arts in Development 5


Communications.

Resumindo o que foi aprendido


O facilitador deve terminar a sessão de forma positiva, agradecendo
aos atores e espectadores. Ele deve resumir o que foi aprendido e dar
sugestões práticas quanto ao que funcionou e ao que não funcionou.
Por exemplo, a dramatização de papéis poderia ter mostrado que, ao se
lidar com o conflito, é melhor conversar com uma pessoa quando ela não
estiver embriagada ou zangada, e pode ser útil ter outra pessoa presente.

PASSO A PASSO 66 9
deficiência

Trabalhando com
a deficiência
Há cerca de 20 milhões de pessoas A cada ano, milhares de pessoas danificam
com deficiência, que precisam de as costas e são feridas em conflitos ou por
minas terrestres. Uma em cada 400 pessoas
cadeiras de rodas nos países de baixa
por todo o mundo tem paralisia cerebral.
renda. A maioria das cadeiras de rodas Muitas destas pessoas precisam de uma
disponíveis são doações de instituições cadeira de rodas.
de caridades do ocidente e podem não
Desenho apropriado
ser adequadas para os caminhos e trilhas
A Motivation é uma organização do Reino
irregulares. Elas geralmente são modelos
Unido, que ajuda a fornecer cadeiras de

Foto David Constantine Motivation


antigos e são passadas de pessoa para rodas adequadas e baratas para pessoas
pessoa. Como estas cadeiras são feitas com deficiência por todo o mundo. No
para as pessoas bem alimentadas do início, ela trabalhava com organizações
ocidente, elas, muitas vezes, são de de pessoas com deficiência locais, abrindo
oficinas, onde os habitantes locais
tamanho e formato errados, o que pode
podiam fazer e reparar seu equipamento.
causar acidentes sérios. Entretanto, o seu novo modelo de cadeira As cadeiras de rodas dão independência às
de rodas agora é produzido em massa pessoas com deficiência como Kithsiri Perera.
A Organização Mundial da Saúde calcula na China e montado no local por todo o
que a expectativa de vida média de uma mundo. Isto torna a produção de cadeiras que ela passe pela maioria das trilhas e
pessoa de um país de baixa renda, que mais barata, e elas podem ser adaptadas campos irregulares. A Motivation criou um
perde o uso das pernas, é apenas de no local, de acordo com o tamanho e as curso de treinamento de curta duração
dois a três anos. As cadeiras de rodas necessidades de cada pessoa. A cadeira para a montagem das cadeiras, a fim de
inadequadas e a falta de mobilidade tem um desenho simples e as suas peças adaptá-las para as pessoas locais – cada
podem causar úlceras de pressão, que são feitas de materiais comuns. Assim, ela cadeira geralmente leva quatro horas para
podem se infectar. Se a pessoa não tiver custa pouco, e a manutenção e os reparos montar e ajustar.
acesso a antibióticos, ela pode morrer por podem ser feitos facilmente no local. A
causa destas infecções. maneira como foi desenhada permite Voltando a ser independente
Até agora, a Motivation já ajudou a
ESTUDO DE CASO Uma vida melhor
distribuir 22.000 cadeiras de rodas. David
Constantine, um dos fundadores da
Kithsiri Perera tem 37 anos e vive em Pokunuwita, Sri Lanka, com a mãe e duas irmãs. Ele Motivation, explica, “Damos às pessoas
costumava ter uma banca de peixes, que estava a ir muito bem, até que, depois de um acidente independência e controle sobre as suas
três anos atrás, ele não pôde mais caminhar. Depois de 18 meses no hospital, ele voltou para casa. próprias vidas”.
Mas ele não podia sair de casa porque não tinha uma cadeira de rodas. Motivation
Alguns dos outros comerciantes do mercado de Kithsiri juntaram as suas economias para comprar Brockley Academy, Brockley Lane
uma cadeira para ele, mas era uma cadeira velha e sem acento: apenas uma corda entrelaçada na Backwell, Bristol
armação. Embora a cadeira o ajudasse a locomover-se de uma parte da casa para outra, ele não BS48 4AQ
Reino Unido
podia andar com ela por caminhos lamacentos.
E-mail: info@motivation.org.uk
“Na maioria dos dias, eu não fazia nada,” diz ele. “Eu só ficava sentado ou deitado. Fazia 18 meses
Website: www.motivation.org.uk
que eu não saía de casa. Às vezes, eu achava que a minha vida não tinha sentido. Mas eu queria
encontrar uma maneira de trabalhar de novo. Antes do acidente, eu tinha uma banca de peixes,
que tinha pertencido ao meu pai e ao meu avô. Ela estava indo muito bem e eu tinha uma vida boa.
Eu tinha tudo que queria. E agora eu quero a minha vida de volta.” Este artigo foi adaptado, com autorização, de
um artigo de Alexandra Frean, © The Times,
O sonho de Kithsiri Perera de ter uma vida melhor agora parece que pode ser alcançado. A Londres, 26 de Julho de 2005.
Motivation deu-lhe uma nova cadeira, de três rodas, projetada para ser usada no terreno irregular Não é permitido copiar, fotocopiar, reproduzir
das regiões rurais. Ele está a fazer grande progresso, recuperando a sua auto-confiança e mobili- ou usar os direitos eletrónicos sem a permissão
dade e diz, “Eu vejo pessoas ativas e isto faz-me pensar no quanto eu gostaria de ser como elas e prévia do proprietário dos direitos autorais.
voltar a ter a minha banca. Este é o meu plano.” www.timesonline.co.uk

10 PASSO A PASSO 66
defesa de direitos

Agentes da defesa de direitos


Muitas pessoas que sofrem injustiça sentem-se incapazes de fazer alguma coisa. O treinamento que tiveram proporcionou-
Elas podem ter medo de sofrer ainda mais injustiça, elas podem ser pobres e -lhes a compreensão e a confiança
necessárias para se manifestarem e
achar que não são importantes ou podem não compreender os seus direitos. O
desafiarem a injustiça nos tribunais.
departamento de defesa de direitos da Igreja Kale Heywet, na Etiópia, têm treinado
líderes de igrejas como agentes da defesa de direito para auxiliar as pessoas, Um exemplo de defesa
quando elas sofrem injustiça. de direitos na prática
Um dos agentes, Endale Ero, encontrou
Por quatro anos, os agentes receberam A base fundamental do treinamento é duas meninas a chorar. Quando ele
treinamento por um mês a cada ano. O a citação bíblica de Provérbios 31:8-9. perguntou qual era o problema, elas
treinamento é feito por seis advogados, “Erga a voz em favor dos que não contaram que haviam se candidatado a
os quais são todos líderes eclesiásticos podem defender-se, seja o defensor de cargos no governo local e tinham sido
da Igreja Kale Heywet e de outras igrejas todos os desamparados. Erga a voz e entrevistadas e aceites. Porém, quando se
evangélicas. Os cursos cobrem: julgue com justiça; defenda os direitos apresentaram para trabalhar, descobriram
■ a constituição etíope dos pobres e dos necessitados.” que os cargos haviam sido dados para
■ introdução ao direito Quarenta e seis pessoas graduaram-se outras pessoas. Endale pediu permissão
em 2005. O diploma é reconhecido pelo para falar em nome delas. Ele levou o
■ direitos humanos
governo. Na verdade, duas pessoas que caso para o tribunal e ganhou a causa
■ um estudo detalhado das leis relativas fizeram o curso já receberam ofertas de para elas. Elas não só ganharam os
ao comércio, às finanças públicas, ao empregos de volta, mas também foram
emprego do governo, embora a igreja
trabalho, à sociedade civil e ao direito indenizadas.
esteja relutante em perder pessoas com
penal
estas habilidades. Os agentes, proveni- Negussie Zewdie
■ direito sharia (pois mais de 30% da entes de todas as partes do país, Advocacy Department, Kale Heywet Church
população é muçulmana) formaram redes locais e nacionais para PO Box 5829
■ cursos de apoio em inglês e se auxiliarem mutuamente. Alguns Addis Ababa
matemática. gostariam de se tornar agentes da defesa Etiópia
de direitos de tempo integral. E-mail: negsen@ethionet.et

Cartaz com A parceira da Tearfund da Etiópia, Kale Heywet Church, têm apoiado o trabalho
um desafio na área da água e do saneamento na Etiópia por muitos anos. Eles possuem
uma equipe de educadores da saúde, que trabalham com comunidades,
sobre a consciencializando as pessoas sobre a higiene, o saneamento e o desenvolvi-
questão do mento da capacidade. São eleitos Comitês de Água e Saneamento, e os educa-
dores ensinam os membros destes sobre higiene e gestão. Muitos destes
gênero comitês, agora, estão bem organizados e são eficazes. Entretanto, mudar
as atitudes é um processo lento. O Departamento de Água, Saneamento
e Irrigação produziu materiais educacionais em amárico sobre tópicos
básicos, tais como lavar as mãos e o saneamento, para ajudar o trabalho
dos comitês.
Um dos seus projetos mais recentes foi muito controverso: um cartaz
de pessoas a buscar água de várias maneiras diferentes. Nada de mais,
até que se olha melhor e se vê que todas as figuras são de homens! Addise
Amado, Coordenador de Desenvolvimento e Educação Comunitária, foi
quem teve a idéia para o cartaz. Ele diz “Sabemos que as pessoas se
preocupam especialmente com a imagem dos homens carregando água
nas costas, mas precisamos de mudar as atitudes sobre o gênero, para
que os homens tenham um papel mais ativo no que diz respeito a buscar
água para a família.”
EKHC WATSAN Programme, PO Box 5829, Addis Ababa, Etiópia
E-mail: saraelon@yahoo.com

PASSO A PASSO 66 11
desenvolvimento comunitário

Grupos de auto-
Há também mulheres individuais
procurando mudar, aprendendo novas
habilidades. Tulsi Ben, de 35 anos, de
Ghotvaln, na região rural de Gujarat,

ajuda: empoderando era uma trabalhadora migrante que


mal ganhava dinheiro suficiente para
alimentar a família. Com a ajuda da

as mulheres EFICOR, ela plantou 17 romãzeiras nas


terras devolutas ao redor da sua casa.
Apesar de ser criticada pelos vizinhos
Kuki Rokhum e de não ter nenhum retorno inicial, ela
trabalhou arduamente. Para regar as
mudas das árvores, ela buscava água de
A constituição indiana confere direitos iguais aos homens e às mulheres. um lago a meio quilômetro de distância
Porém, a realidade é que a vida das mulheres ainda é moldada por costumes e da sua casa. Hoje, ela vende as frutas
no mercado local. Ela não só é capaz de
tradições que as prejudicam. As filhas são menos valorizada do que os filhos.
arcar com as suas despesas diárias, como
As meninas são ensinadas a acreditarem que são menos importantes do que os também pode pagar a educação das
meninos. O número de mulheres que morrem no parto está entre os mais altos duas filhas.
do mundo, e mais de 40% das mulheres não sabem ler e escrever. Atualmente,
Liderança
as mulheres compõem apenas 6% do Parlamento Indiano.
As mulheres também estão sendo
Entretanto, embora as condições sociais estão contentes em ter um moinho incentivadas a assumir cargos de
continuem a prejudicar as mulheres, de arroz no povoado e estão muito liderança. A parceira da EFICOR, SEBA,
estão ocorrendo mudanças até mesmo orgulhosos do seu grupo de auto-ajuda. trabalha na região rural de Chattisgarh
nas regiões rurais da Índia. As mulheres (Índia Central). A Sra. Sonmati pertence
Estas mulheres não só se envolveram ao grupo de auto-ajuda de Kaikagarh.
aceitaram o desafio e suas vidas estão com o comércio, mas também se
sendo transformadas. Como membro do grupo, ela freqüentou
alfabetizaram, freqüentando aulas de alguns programas de treinamento. Sua
alfabetização. Elas agora se sentem autoconfiança aumentou à medida que
Melhorias comunitárias
confiantes para lidar com comerciantes ela interagia com homens e mulheres
As mulheres que sobreviveram o ciclone que, antes, poderiam tê-las enganado. fora de casa. Ela ficou sabendo de
Orissa, de 1999, não só se recuperaram Os grupos de auto-ajuda da região outras mulheres em cargos de liderança.
do desastre, mas também estão se também se juntaram para formar
estabelecendo em empreendimentos federações e, agora, estão estudando
fortes e melhorando sua situação a possibilidade de começar negócios
financeira. A parceira da Tearfund, maiores.
EFICOR, trabalhou com as mulheres
das regiões litorâneas afetadas e
formou vários grupos de auto-ajuda
para mulheres. Um destes grupos,
chamado Basanti Durga, do povoado
de Jamunaka, recebeu um empréstimo
de 150.000 rúpias do State Bank of
India. Elas investiram 60.000 rúpias
na produção de arroz e usaram o
restante para comprar uma máquina de
descascar arroz. Todas as 17 membros
do grupo trabalham ativamente no
processo inteiro de preparação do arroz
para a venda. Os habitantes do povoado
Foto Geoff Crawford Tearfund

As mulheres aceitaram
o desafio, e suas
vidas estão sendo
transformadas As mulheres da Índia estão trabalhando juntas para melhorar sua situação financeira.

12 PASSO A PASSO 66
desenvolvimento comunitário

Estudo Homens, mulheres e Deus


bíblico É fácil deixar que nossas próprias idéias e pressuposições
culturais influenciem a nossa compreensão dos textos bíblicos.
Por exemplo, a idéia de que os homens são chamados para
liderar a igreja e as mulheres, somente para segui-la dominou a
maneira de pensar sobre os sexos por séculos, apesar do grande
número de mulheres líderes que Paulo saudou no último capítulo
de Romanos. Apesar também do fato de que ele se refere a Febe,
que levou a epístola a Roma, como ministra. Ele usa exatamente
a mesma palavra em grego para ela (diaconisa) que usa para
descrever o seu próprio ministério e o ministério de Timóteo.
Não nos ajuda que os tradutores tenham, com freqüência,
enfraquecido o significado desta palavra usando simplesmente
serva, no caso de Febe.
Precisamos de ajuda da Bíblia para compreender os planos de
Foto Richard Hanson Tearfund

Deus para todas os aspectos da nossa vida, inclusive o relacio-


namento sexual. Por todo o mundo, as mulheres são muito
vulneráveis à violência sexual. Tanto o estupro (a violação) quanto
a agressão acontecem em grade escala hoje em dia. Mesmo dentro
do casamento, pode haver violência, muitas vezes, justificada
por alguns cristãos mal orientados, que acham que as esposas
devem se submeter aos maridos, inclusive no relacionamento
Isto a motivou, e o seu potencial sexual. São Paulo, entretanto, tinha idéias muito diferentes.
oculto começou a vir à tona. Com sua
Leia 1 Coríntios 7:2-7
autoconfiança renovada e incentivo
Esta passagem desafia as nossas atitudes para com o relaciona-
dos outros membros do grupo, ela
mento sexual entre um homem e uma mulher. Em primeiro
se candidatou nas Eleições locais do
lugar, Paulo coloca-a firmemente dentro do compromisso do
Panchayat. Agora, ela é a Sarpanch
casamento. Depois, o casamento é sempre entre um homem e
(Chefe) do povoado e se tornou uma
uma mulher. Estas duas provisões já protegem as mulheres.
inspiração para as outras mulheres do
povoado e arredores. Porém a parte mais radical é quando Paulo fala sobre sexo entre
o marido e a mulher. A mulher não tem autoridade sobre o seu
Através do trabalho da EFICOR e dos próprio corpo, mas sim o marido – nada que cause surpresa até
seus parceiros nas regiões rurais por agora. O que causa surpresa é a próxima frase. O marido não tem
toda a Índia, as mulheres estão sendo autoridade sobre o seu próprio corpo, mas sim a mulher. Isto é
empoderadas. Não só suas vidas estão realmente surpreendente. Esta é a única passagem em que Paulo
sendo transformadas, mas suas filhas usa realmente a palavra autoridade dentro do relacionamento do
e outras mulheres agora têm mais casamento, e ela deve ser totalmente mútua. Os maridos e as
oportunidades de melhorar sua vida, mulheres devem tratar os corpos uns dos outros com respeito
num país em que as mulheres ainda e consideração. Se este ensinamento bíblico fosse seguido no
são marginalizadas e muitos bebês do relacionamento sexual por todo o mundo, seria o fim de tanta
sexo feminino continuam a ser mortos miséria humana, violência sexual e epidemias relativas ao sexo.
mesmo antes de nascer.
■ O que esta passagem nos diz sobre a opinião de Deus sobre
A autora, Kuki (Lalbiakhlui) Rokhum, é uma parceira as pessoas terem mais de um parceiro sexual?
da Interserve que trabalha com a EFICOR como ■ Por que esta visão bíblica protege as mulheres?
Coordenadora de Relações com Doadores.
■ O que acontece com a idéia da desigualdade entre os sexos
Seu endereço é:
nesta passagem?
EFICOR, 308 Mahatta Tower
A escritora, Dra.
B Block Community Centre ■ Quais são os princípios fundamentais de Paulo no
Elaine Storkey, é
Janakpuri relacionamento sexual entre marido e mulher?
a Presitente do
New Delhi – 110 058 Reino Unido da ■ O que impede que a igreja por todo o mundo coloque em
Índia Tearfund prática esta visão para os homens e as mulheres?
E-mail: eficorhq@vsnl.com
Website: www.eficor.org

PASSO A PASSO 66 13
Recursos Livros ■ Boletins ■ Materiais de treinamento

Created in God’s Image S Sharmila e a melhor prática. O


1 Anna Nagar livro cobre mais de 60
Este é um manual para as igrejas, que trata Aravind Eye Care System tópicos, cada um com
da consciencialização sobre questões de Madurai – 625 020 informações e suges-
gênero e desenvolvimento da liderança, Tamil Nadu tões de atividades
produzido pela World Alliance of Reformed Índia
para a sala de aula,
Churches para ajudar as mulheres e os E-mail: eyesite@aravind.org inclusive jogos de
homens a trabalharem Website: www.laico.org/v2020resource/ perguntas, questões
juntos com igualdade homepage.htm
para debate e drama.
de parceria na igreja,
na comunidade e na Edição suaíle de LEISA A LETTER TO PEARL
sociedade mais ampla. (Livro de nível 2)
A Mambo LEISA é uma nova versão suaíle
Ele é um guia útil para Uma história con-
de uma revista sobre agricultura sustentável,
facilitar encontros de vincente sobre a vida
que já vem sendo publicada há muito tempo.
treinamento, com um de jovens adoles-
Para obter mais informações, entre em
livro de exercícios para centes a lidarem com
contacto com:
os participantes. os seus relaciona-
KIOF
World Alliance of Reformed Churches PO Box 34792 mentos, sexualidade
PO Box 2100 Nairobi e necessidade de se
150 Route de Ferney Quênia manterem a salvo do
1211 Gèneve 2 VIH (HIV) e da SIDA
E-mail para John Njoroge ou Damaries Muikali
Suíça (AIDS).
Munyao para: kiof@iconnect.co.ke
E-mail: warc@warc.ch
Website: www.warc.ch BREAKING THE SILENCE
Macmillan Education (Livro de nível 2)
Website para a saúde dos olhos A Macmillan Education criou uma variedade Uma jovem professora, que está a morrer
de materiais educacionais de apoio para de SIDA (AIDS) percebe que deve quebrar
A Vision 2020 e-resource é uma coleção
professores, inclusive um guia do professor e o silêncio e conta aos alunos sobre a sua
on-line de recursos para programas de
uma série de livros de níveis diferentes para doença, avisando-os sobre os perigos do VIH
saúde dos olhos ao redor do mundo. Ela
alunos com diferentes capacidades de leitura. (HIV) e da SIDA (AIDS). Porém os parentes
compartilha ferramentas úteis, que ajudam
a avaliar, planejar, implementar e gerir TEACHING ABOUT HIV AND AIDS dela queimam as cartas para manter o
programas de alta qualidade, eficientes e Um livro muito prático para ajudar os silêncio. Será que a Srta. Chabi conseguirá
sustentáveis de saúde dos olhos no mundo professores a ensinarem sobre o VIH (HIV) e dar a sua última aula? Uma história intensa
em desenvolvimento. a SIDA (AIDS). Ele traz informações claras e sobre a vergonha e o silêncio em relação ao
precisas e ações para incentivar a reflexão VIH (HIV) e à SIDA (AIDS).

Publicações da Tearfund

Reduzindo o risco de desastres reconhecer situações de possível risco e idéias baratas para incentivar a limpeza das
as suas vulnerabilidades nestas situações, mãos, manter os alimentos em segurança,
em nossas comunidades
planejando o que fazer para lidar com elas. fornecer água potável e manter uma boa
Os desastres saúde. Ele traz orientação sobre como
afetam milhões de Incentivando a boa higiene melhorar o abastecimento de água e
pessoas a cada e o saneamento construir diferentes tipos de latrinas, assim
ano, causando como estudos bíblicos referentes à higiene,
Este novo guia PILARES ajuda as
danos à vida, à comunidades a reduzirem a doença e a à água e ao saneamento. Assim como em
propriedade e infecção causadas pelo mau saneamento, todos os guias PILARES, a aprendizagem
sustento. Muitos más práticas de ocorre através da discussão em pequenos
desastres podem higiene e água suja. grupos, a qual pode levar à mudança de
ser evitados ou O guia tem por atitudes e prática.
tornados menos objectivo aumentar Estes recursos podem ser obtidos através de:
destrutivos através a compreensão Tearfund Resources Development
da redução dos sobre os factos PO Box 200
riscos para as pessoas. Este livro ROOTS básicos relativos Bridgnorth
examina um método para se realizar isto, à boa higiene. Shropshire
chamado Avaliação Participativa do Risco Ele está repleto WV16 4WQ
de Desastres. Este processo consiste em de informações Reino Unido
se trabalhar com os habitantes locais para práticas sobre E-mail: roots@tearfund.org

14 PASSO A PASSO 66
desenvolvimento comunitário

Os livros (há mais


nove) custam £2 libras
Small World Theatre
esterlinas cada ($3,66 O Small World Theatre é uma instituição de beneficência educacional, que usa
dólares americanos,
as artes dramáticas no desenvolvimento comunitário, na defesa de direitos e na
€2,96 euros).
consciencialização das pessoas. Eles treinam grupos teatrais locais em métodos
Eles podem ser
obtidos nos participativos de teatro e trabalham com as comunidades para debaterem
distribuidores dos questões de governação, direitos e meio ambiente.
livros Macmillan por
todo o mundo. O uso de métodos participativos de teatro faz com que as peças sejam inter-
Macmillan Distribution Ltd activas, criadas com a participação da comunidade e baseadas nas tradições
Houndmills culturais.
Basingstoke
RG21 6XS
Reino Unido Usando as situações locais O ato de falar já é
E-mail: mdl@macmillan.co.uk Podem-se dramatizar situações e
Website: www.macmillan-africa.com opiniões locais específicas. Também um empoderamento
podem ser usados provérbios,
histórias, jogos ou danças popu-
por si próprio
WEBSITES ÚTEIS lares. Isto ajuda a fortalecer o
senso de propriedade e ajuda a Envolvimento dos
A Human Rights School ajuda as pessoas a sustentar qualquer ação social espectadores
participarem da promoção e da proteção dos que possa resultar do evento.
O processo foi repetido em outras
direitos locais e compartilharem informações. Facilitar estes processos participativos favelas, até que 300 pessoas haviam
Este website traz módulos sobre diferentes pode ser difícil, mesmo para atores contribuído com esta pesquisa sobre
questões de direitos humanos, os quais experientes. Nem sempre é fácil os motivos pelos quais as mulheres
incentivam a discussão e a ação. Há também expressar as idéias em palavras, e, das comunidades pobres não haviam
uma página de Temas e Questões (Themes muitas vezes, é difícil para as pessoas votado nas eleições anteriores. Foi
and Issues) com informações adicionais e compartilharem os seus pensamentos escrita uma peça, com base nas questões
links para outras organizações que trabalham em público. O ato de falar já é um que as pessoas haviam salientado na
com os direitos humanos. empoderamento por si próprio. pesquisa, e esta foi desempenhada.
www.hrschool.org
Direitos dos eleitores Os actores incentivaram os espectadores
A UNIFEM é o fundo de desenvolvimento da comunidade a reagir às questões
das Nações Unidas para a mulher. Ela na Tanzânia
levantadas na peça. Eles usaram
oferece ajuda financeira e técnica para novos O Small World Theatre treinou um uma abordagem participativa para
programas e estratégias para incentivar o grupo de atores tanzanianos para incentivar os espectadores a resolverem
empoderamento das mulheres e a igualdade que realizassem uma pesquisa e, os seus próprios problemas. Muitas
entre os géneros e melhorar os direitos então dramatizassem uma peça, vezes, o debate continuava por tanto
humanos das mulheres. que informasse as pessoas sobre tempo, que era difícil para os actores
www.unifem.org os seus direitos e incentivasse-as a irem embora. Cada vez que a peça era
votarem nas eleições parlamentares desempenhada, o roteiro era adaptado
O Fundo de População das Nações Unidas
da Tanzânia em 2000. Foi mostrado para refletir as informações e as atitudes
(UNFPA) promove o direito de cada mulher,
aos actores como usar marionetes expressas na peça anterior. Na última
homem e criança de usufruir uma vida de
realistas de mulheres de tamanho apreesntação da peça, aparecia uma
saúde e oportunidades iguais. natural para fazer uma pesquisa
www.unfpa.org/gender
grande marionete do Sr. Democracia,
nas comunidades locais. Quando como um tipo de presidente da reunião.
A Child Rights Information Network (CRIN) as pessoas se juntavam ao redor da Ele foi usado para compartilhar
é uma rede mundial que compartilha marionete, os actores faziam perguntas informações sobre questões práticas,
informações sobre a Convenção dos Direitos sobre a marionete, tais como o seu tais como onde e quando votar.
da Criança e os direitos infantis. nome, idade, status civil e situação,
a fim de criar uma história para ela. O autor, Bill Hamblett, é o Diretor de
www.crin.org
Depois, eles faziam perguntas às Artes do Small World Theatre.
O seguinte website traz uma lista de pessoas sobre a marionete, tais como PO Box 45
centenas de livros sobre as mulheres e o no que ela trabalhava, se ela havia Cardigan
desenvolvimento, de 60 editoras por todo votado nas últimas eleições, por que SA43 1WT
o mundo. ela havia votado e o que havia feito Reino Unido
www.womenink.org com que ela votasse, até se criar uma E-mail: info@smallworld.org.uk
idéia imaginária desta “mulher”. Website: www.smallworld.org.uk

PASSO A PASSO 66 15
desenvolvimento comunitário

Foto Robert Slocombe Tearfund


Transformação
através da coragem
e da parceria
Agnes (segunda à direita) tem uma nova vida
graças ao trabalho com outras pessoas.

A muitas viúvas e órfãos da África são negados os seus direitos a herdarem Eles construíram as paredes de tijolos
propriedades ou terras, as quais freqüentemente vão para os irmãos do marido ou e usaram as habilidades de carpintaria
existentes dentro do grupo. Agnes usou
outros parentes do sexo masculino, deixando a família desabrigada e destituída. o dinheiro que havia ganhado com a
venda das sementes para comprar portas
Agnes nasceu na província de Makamba, terras do pai dela e não deixaram nada
e janelas para a casa nova.
em Burundi. Seus pais eram agricultores para as crianças.
e levavam uma vida pacífica com os Em 2005, Agnes começou atividades
Desesperada e sem ter para onde ir,
nove filhos até 1994, quando a violência de geração de recursos para sustentar
Agnes procurou ajuda. Um vizinho
chegou à sua província. Acreditando a família. Depois, ela alugou mais
ofereceu-lhes uma casa velha em ruínas
que suas vidas estavam em perigo, a terras e contratou outras pessoas para
ao lado da sua fazenda. Agnes fez
família fugiu com o que podia carregar trabalhar nelas. Ela continua a servir
um telhado para a casa com folhas de
para o país vizinho, a Tanzânia. Outras a sua comunidade, participando de
bananeira, e a família viveu ali durante forma activa na campanha contra o VIH
milhares de pessoas também fugiram dois anos, lutando para sobreviver, com (HIV) e a SIDA (AIDS). Agnes também
de Burundi e foram viver em campos de a ajuda da bondade dos vizinhos. é uma das líderes do pedido de crédito
refugiados. Porém, a família deixou os
O governo de Makamba forneceu bancário, com o fim de aumentar a sua
campos devido à superlotação e ao risco
algumas terras pantanosas para o produtividade.
constante de doença. Por cinco anos, eles
cultivo, como parte do projeto de Agnes agora tem 21 anos e leva uma
mudaram-se de um lugar para outro,
segurança alimentar da Tearfund. As vida que nunca imaginou ser possível.
tentando ganhar a vida, até que o pai de
pessoas foram incentivadas a formar Ela era uma menina, que havia sido
Agnes morreu. A mãe decidiu voltar para
associações agrícolas, em que elas deixada desamparada e vulnerável,
Burundi, onde achava que teria alguma
pudessem trabalhar juntas e ajudarem- com a responsabilidade pelo bem-estar
ajuda dos parentes.
se mutuamente. Em 2003, Agnes entrou dos irmãos. Ela agora tem um imóvel,
Porém, em 1999, a mãe de Agnes morreu para um destes grupos e começou a um pedaço de terra e uma posição
repentinamente. Agnes e os irmãos mais cultivar. O grupo ofereceu-lhe ajuda, reconhecida dentro da comunidade. Tudo
novos foram forçados a encontrar um orientação, sementes e ferramentas. isto é o resultado do trabalho árduo em
novo lugar para morar. Ela procurou a Agora, ela faz parte de uma rede positiva parceria com outras pessoas.
ajuda dos tios, mas eles recusaram-se a e incentivadora. O grupo ajudou Agnes
acolhê-los ou protegê-los. Eles tiraram as e a sua família a construir uma casa.
QUESTÕES PARA DISCUSSÃO

■ Como Agnes perdeu os seus direitos


de herança?
■ Quais foram os factores principais que a
ajudaram a reconstruir a sua vida?
■ Que oportunidades há na nossa
comunidade para as pessoas que
perderam os seus direitos de herança?
Foto Geoff Crawford Tearfund

O autor, Benoit Barutwanayo, trabalha para a Tearfund


como Coordenador de Área para Makamba.
E-mail: burundi-cm@tearfund.org

Publicado pela: Tearfund Editora: Dra. Isabel Carter E-mail: footsteps@tearfund.org


100 Church, Teddington, TW11 8QE, Reino Unido PO Box 200, Bridgnorth, Shropshire, http://tilz.tearfund.org/Portugues
Instituição Beneficente resgistrada no. 265464 WV16 4WQ, Reino Unido

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