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O caminho religioso na

Primavera Árabe Síria

Jesner Esequiel
Copyright © 2015 Bibotalk Produções

Direção Editorial:
RODRIGO BIBO DE AQUINO

Revisão Ortográfica:
JOAQUIM AVELINO JÚNIOR

Capa:
MARCELO NAKASSE www.behance.net/marcelonakasse

Diagramação:
JOSUÉ OLIVEIRA, BIBO E JP

Esse e-book é uma iniciativa do site Bibotalk. Deve ser referenciado da seguinte forma:
ESEQUIEL, Jesner: O caminho religioso na primavera Árabe Síria. Joinville: BTBooks, 2015. E-
book.

Sobre o autor: Jesner Esequiel é formado em teologia pela Universidade Presbiteriana


Mackenzie, membro da Igreja Presbiteriana do Brasil e colunista do blog Achando Graça.

www.bibotalk.com.br
btbooks@bibotalk.com
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pelas inúmeras conquistas que Ele tem me concedido, segundo sua soberana
vontade, não segundo meus méritos. A minha companheira Danielle Esteves por apoiar meus
estudos e horas de dedicação à pesquisa.
A Dra. Suzana Ramos Coutinho pelos conselhos e orientações e a BTBooks pelo esforço realizado
para que esse ebook fosse publicada.
PREFÁCIO
“Futebol, política e religião não se discutem” diz a lei escrita na consciência coletiva do brasileiro.
Uma lei que, não por último, poderia ser derivada da ideia kantiana de que o ser humano é
autônomo e, por esta razão, não necessita de uma autoridade superior que lhe dite regras. Basta
que você aja conforme a lei inscrita em seus corações: “faça ao outro aquilo que você quer que ele
faça a você mesmo”, e Deus se torna desnecessário, ou para não ser assim tão radical e “ateu”,
Deus só diz respeito à sua vida pessoal, não à sua vida pública!
Esta máxima filosófica representou, nos últimos três séculos, no ocidente, um corte profundo na
forma com que a religião se relaciona com a vida pública. Cada vez mais juristas, políticos e filósofos
negam que argumentos religiosos possam ter alguma utilidade no discurso público. Jürgen
Habermas acusa que os cidadãos religiosos estão em desvantagem em relação aos cidadãos não
religiosos, pois os primeiros precisam traduzir seus argumentos religiosos em argumentos filosóficos
e lógicos para que possam ser aceitos no debate político. E se esta separação simplesmente não
existisse em nossa cultura? E se nos fosse possível usar de nossa argumentação cristã no espaço
público, sem que alguém achasse isto insano ou descabido, como seriam os debates?
Jesner Esequiel nos apresenta a uma sociedade marcada por uma cultura em que a religião
simplesmente não existe como uma realidade à parte ou ao lado de tantas outras. A sociedade síria,
assim como a grande maioria das sociedades orientais desde o Oriente Médio até à China, não
conhece em sua língua o termo religião. Primeiro porque o termo foi cunhado por ocidentais, por
pessoas de influências cristã e iluminista, que buscavam descrever um âmbito isolado da vida do ser
humano: sua relação com Deus (ou deuses) ou o além. Sociólogos e antropólogos tentam em vão
buscar palavras em árabe, chinês, japonês ou hindi para traduzir religião, mas não encontram um
termo simétrico. O que encontram são palavras que descrevem um conjunto de ensinos (zong e jiao
em chinês) ou um código moral (dharma em hindi/sânscrito) ou ainda um ensino para a vida (torah
em hebraico). “Religião” representa para a mentalidade oriental algo que perpassa, envolve e
impregna toda a vida, suas ações, seus pensamentos, até os prazeres, e não por último sua
esperança.
Para nós ocidentais, religião é algo bem definido: um credo ou texto sagrado, uma casta
sacerdotal, um templo/lugar sagrado e os ritos. O objetivo disto tudo é alguma salvação para além
desta vida, que implica em alguma moralidade de grupo neste mundo. Para a mente oriental,
embora também lá estes elementos estejam presentes, o ritual, o texto, o lugar e o sacerdote se
confundem com o café da manhã, o jornal, o mercado e o político, respectivamente! Basta notar
como a população apoiou massivamente os monges budistas de Myanmar nos protestos de 2007
contra a ditadura militar de seu país na Revolução Açafrão, como ficou conhecida na mídia por
causa da cor “açafrão” das vestes dos monges que foram às ruas em protesto.
Compreender que para as culturas orientais religião não pode ser separada de vida pública nos
auxilia a compreender tanto o surgimento de um Estado Islâmico quanto a fazer uma avaliação da
forma com que o ocidente impõe suas políticas e conceitos aos povos orientais. Também nos auxilia
a refletir de que forma é possível viver a nossa própria fé cristã em um estado laico e secularizado.
Queremos realmente voltar para antes da reforma protestante, em que Roma definia o certo e o
errado? Ou queremos apenas mudar o centro das decisões da “cidade eterna” para Wittenberg ou
Genebra? Queremos realmente manter a separação entre religião e vida pública como dois
conceitos estanques, com medo de um Estado Islâmico ou, na melhor das hipóteses, de um estado
“Malafaia-Feliciano”, ou queremos buscar meios pelos quais religião(ões) e vida pública se
reconciliem e busquem caminhos que promovam o bem de todos?
A leitura do profundo estudo sócio-político, cultural e religioso da Síria proposto por Jesner
Esequiel pode nos dar ótimas pistas e apontar caminhos (e não atalhos) que nos levem a uma
resposta à premente pergunta acerca do papel da religião e da nossa fé cristã, inclusive, na
sociedade e na política.

Alexander Stahlhoefer
INTRODUÇÃO
Em meados de 2010, o mundo árabe transformou-se a partir de diversas revoltas populares, trazendo
a queda rápida de diversos líderes políticos. Este momento ficou conhecido como a Primavera Árabe.
Porém, esta constante luta pelo poder não ocorreu como o planejado na Síria, causando assim a
maior guerra civil do século XXI, deixando cidades devastadas, abrigos com falta de comida e
saneamento pelo elevado número de refugiados, além da morte de milhares de civis, rebeldes e
militares.
Vemos que a religião parece ser um fator que ao mesmo tempo une e separa as pessoas de um
mesmo país, não havendo uma divisão clara entre a sociedade e sua crença, sendo tudo parte do
indivíduo como um todo. Dessa forma, grupos religiosos minoritários na Síria estão em constante
conflito com o grupo sunita, que é maioria nesse país, mas por causa de algumas manobras
estratégicas dos franceses e dos alauítas, perdem o poder militar, deixando um país inteiro nas
mãos de uma minoria, causando um enorme desconforto político e militar.
Nosso intuito é analisar como a religião pode ter influenciado o início da Primavera Árabe na Síria
e como o poder foi entregue a apenas um grupo. Seria possível, a partir disto, encontrar traços
religiosos em cada trincheira ou casa abandonada que agora é um campo de guerra ou a religião
torna-se apenas um amuleto para os combatentes?
1. O SURGIMENTO DO ISLAMISMO
Para que a nossa compreensão seja feita da forma mais adequada possível, precisamos adentrar os
primórdios da história muçulmana, pois de outra forma deixaríamos para trás um vasto campo social
e cultural sem a devida análise. Sendo assim, precisamos entender a origem do islamismo e seu
primeiro cisma, pois é por meio deste fato histórico que temos em pleno século XXI uma guerra
supostamente apoiada por vertentes de uma mesma religião, mas que divergem em certos pontos,
ou seja, falaremos dos sunitas e alauítas sírios.
No fim do século VI, surge um novo movimento religioso que foi capaz de influenciar grande parte
da cultura árabe. Tudo se inicia mais especificamente na cidade de Meca, que nessa época abrangia
diversas religiões politeístas; além disto, duas das maiores religiões desse período estavam em
constante conflito, o cristianismo e o judaísmo.
Analisando a estrutura familiar dessa cidade, vemos que muitos ainda viviam em tribos nômades,
que aos poucos foram sendo influenciadas pelo cristianismo, tendo assim uma transição da
sociedade beduína para a sociedade urbana. Outro ponto significativo para aquela sociedade está
ligado ao monasticismo, que levou diversos monges e eremitas cristãos para o deserto da Arábia,
buscando o isolamento do mundo.
Dentro de uma das tribos que possuíam o controle de Meca, conhecida como coraixita, nasce
Muhammad, aproximadamente no ano de 570 d.C. A tradição relata que o seu pai morreu antes de
ele nascer e que sua mãe também veio a falecer quando ele era ainda muito jovem, por esse
motivo, foi levado para viver com seus avós que possuíam muitos bens, mas foi rejeitado e
encaminhado para os cuidados de seu tio, que também possuía uma condição financeira elevada,
mas não quis ficar com ele por muito tempo, deixando o menino aos cuidados de outro tio, que
futuramente teria um papel fundamental no cisma, a única diferença era que esse tio, chamado
Abu Talib, era pobre e criou Muhammad conforme suas possibilidades.
Há apenas um relato sobrenatural na adolescência de Muhammad, em que ele afirma ter visto
um ser celestial que abriu seu estômago, mexeu em suas entranhas e logo em seguida costurou
(ALCORÃO, Sura 94:1), porém o restante de sua juventude não teve destaque algum, nem para si,
nem para a comunidade que o cercava.
Com seu amadurecimento, por volta dos 25 anos de idade, seu tio o leva para trabalhar como
condutor de camelos para Khadidja, que era uma mulher rica, 15 anos mais velha que Muhammad,
viúva de um mercador e descendente de uma renomada família da época. Eles se casam e devido à
situação abastada de sua esposa, Muhammad pôde desfrutar de uma vida com lazer, tranquilidade.
Desta forma, suas funções ficaram reduzidas à administração de uma loja familiar no mercado e
mais algumas poucas tarefas.
Apenas com 40 anos de idade Muhammad tem sua segunda visitação celestial que, dessa vez, foi
decisiva para o início do islamismo. Influenciado pelos monges e eremitas cristãos, ele tinha o
hábito de todos os anos retirar-se para as cavernas a fim de meditar. Em uma de suas idas para o
deserto, segundo a tradição islâmica, o anjo Gabriel aparece e pede para que ele lesse um
pergaminho, mas como Muhammad não sabia ler, o anjo lhe disse:
Lê, em nome do teu Senhor Que criou; Criou o homem de algo que se agarra. Lê, que o teu Senhor é Generosíssimo, Que
ensinou através do álamo, Ensinou ao homem o que este não sabia.(ALCORÃO, 1994, 96:1 ao 5)

Desta forma, Muhammad recebe de Alá as escrituras sagradas, sem o intermédio do homem; por
isso, a tradição afirma que não há outros autores no Corão, apenas o próprio Alá, sendo Muhammad
o responsável pela escrita inspirada. A palavra árabe Curan significa “ler”, ou “ler alto” e deriva o
nome do livro sagrado do Islã. Após este encontro, ele se autodenomina profeta, porém isso é um
fato desconhecido para a tradição árabe, pois até o momento não havia outra pessoa que usasse
esse título em Meca. Inicialmente, ele não revela seu encontro místico para muitos, apenas para
alguns familiares mais próximos e amigos.
Os primeiros convertidos ao islamismo foram os próprios membros de sua família, porém muitos
outros o consideravam um herege ou um pagão. Temendo que Muhammad estivesse buscando
tomar o poder da cidade de Meca, muitos o perseguem e após a morte do tio de sua esposa essa
perseguição aumenta. Nesse tempo, surge o que a tradição denomina como “versos satânicos” e
uma fase de queda, pois Muhammad tenta apaziguar seus familiares acrescentando elementos
religiosos sincréticos ao islamismo, aceitando assim a oração às três filhas de Deus: Al-Lat, Al-Uzza e
Manat. Fica explicado pela tradição que esse foi um momento único de fraqueza que ele sofreu,
ouvindo o próprio Satanás e sucumbindo à tentação de agradar aos demais (ALCORÃO, Sura 53:19),
mas isto não durou por muito tempo.
Após esse evento, ele retoma suas ideias iniciais e decide fugir para a cidade de Medina, no ano
de 622 d.C., pois nessa cidade ele já possuía muitos seguidores e seria protegido contra a crescente
perseguição. Esta emigração fica conhecida em árabe como Hijra, ou seja, “rompimento” ou
“partida”, mas para a tradição, esse evento não foi uma fuga, mas sim uma transição, assim como o
personagem Abraão no livro do Gênesis.
Na cidade de Medina, em pouco tempo, Muhammad consegue torna-se um grande líder religioso
e político. Essa conquista foi baseada no poder militar, sendo assim, seus seguidores assaltam as
caravanas que pertenciam às famílias de Meca, para conseguirem sustentar-se financeiramente,
tudo isto visando ao controle de sua cidade natal, Meca.
Historicamente é nesse momento que surge o termo árabe “Jihad” que mais à frente ganha o
significado de “guerra santa”. A força militar de seu grupo foi tão bem sucedida que em pouco
tempo eles conseguiram tomar controle de Meca.
Muhammad morre em 632 d.C. tendo mais da metade da população de sua época convertida ao
islamismo. Porém, com a morte de seu maior líder, os mulçumanos ficam sem um rumo específico,
surgindo assim as primeiras divisões dentro do grupo, o que possibilitou que dentro de uma mesma
religião que segue o mesmo livro, haja, agora, grupos separatistas, os quais se consideram os únicos
seguidores fiéis de Alá, tendo os demais como hereges e apóstatas.
Segundo (IBRAHIM, 2002), “a religião do Islã é a aceitação e obediência aos ensinamentos de
Deus que Ele revelou ao Seu último profeta, Muhammad”. Além disto, o autor cita em seu livro que
as crenças básicas são: crença em Deus, nos anjos, nos livros revelados por Deus, nos profetas e
mensageiros de Deus, no dia do juízo final e em Al-Qadar.1

1 Predestinação Divina
2. O CISMA NO ISLAMISMO
Após a morte de Muhammad, seus sucessores recebem o nome de “califas”, que são responsáveis
pela liderança dos demais. Inicialmente, existiram quatro califas, sendo os três primeiros ou
parentes do profeta ou alguns dos primeiros convertidos, porém o quarto califa, chamado Ali, era o
mais próximo sanguineamente de Muhammad, por dois motivos: primeiro porque ele era seu primo,
filho de Abu Talib, tio responsável pelo sustendo de Muhammad; segundo porque era casado com
uma das filhas de Muhammad, chamada Fátima, tornando-se assim seu genro.
O cisma ocorre na época de Ali, que possuía uma liderança cercada por controvérsias e disputas.
Deste modo, em pouco tempo, grupos contrários a ele tramaram sua morte e o assassinaram. Este
evento culminou na separação entre os membros muçulmanos, pois um grupo acreditava que Ali
devia ser o sucessor de Muhammad, por ser o parente mais próximo, ou seja, o califa de maior
poder; este grupo ficou conhecido como o partido de Ali, hoje, os conhecemos por xiitas (Shiat Ali).
O outro extremo desse cisma foi conhecido por não reconhecer Ali como o sucessor legítimo de
Muhammad; para eles, o califa deveria ser o indivíduo que de fato mantivesse o poder. Foi deste
grupo que surgiram os sunitas.
O califado teve sede em Damasco por algum tempo depois da morte de Ali, mas depois se instalou
em Bagdá, permanecendo por 500 anos. Após este longo período, o califado passou para um sultão
turco de Istambul que, após sua morte em 1924, não deixou outro em seu lugar. Assim, desde
então, não há o califado no mundo árabe até os dias de hoje.
Deste modo, podemos observar que a principal divisão no mundo muçulmano não foi por
questões teológicas ou ideológicas, mas sim por desacordo sobre quem deveria ser o líder.
3. DIFUSÃO DO ISLÃ
O islamismo começa a espalhar-se ao redor do mundo árabe. Com o declínio do império persa e
bizantino há um vácuo que é rapidamente preenchido pelos conquistadores árabes, que possuíam
em sua origem uma pré-disposição à luta religiosa (Jihad) e o domínio de novas terras. Partindo do
Norte da África, eles atravessaram pelo estreito de Gibraltar e chegaram à Europa, até Poitiers na
França, onde sofrem uma investida e têm seu avanço controlado.
Durante séculos os árabes dominaram uma parte do sul da península Ibérica. Além disto, vemos
que a influência muçulmana no Norte da África foi de uma grandeza inimaginável aos primeiros
seguidores de Muhammad, sendo até hoje o local que mais possui o predomínio dessa religião.
Exatamente nessa área, está localizada a Síria, onde alguns grupos do cisma instalaram-se, como os
sunitas e alauítas.
Os sunitas foram descritos anteriormente e possuem uma vasta história documentada, sendo um
dos maiores ramos do Islã. Porém, o segundo grupo é quase desconhecido por muitos, sendo um
ramo do xiismo e praticamente não aceito por ambos os lados; são eles os alauítas. Estes têm sua
origem datada por volta do século IX, tendo como maior expoente Mohammad ben Nusseir. Eles
seguem alguns costumes diferentes dos sunitas, pois suas mulheres não utilizam o véu, eles
aceitam o consumo de álcool, acreditam na reencarnação e não fazem a peregrinação até Meca.
Ademias, temos uma interpretação teológica conflitante, pois para os alauítas Muhammad é apenas
um véu que esconde a essência encarnada por Ali, por isso podemos dizer que eles são um ramo dos
xiitas.
Outro elemento que está ligado ao sincretismo é a celebração das festas muçulmanas e também
das cristãs. “A minoria é tida por herética e mesmo como não muçulmana por diversas correntes
sunitas” (ARAÚJO, 2012).
Vemos, então, que o sincretismo faz parte da cultura alauíta, sendo isto uma das maiores
divergências entre eles e os xiitas. Devido aos motivos descritos acima, os alauítas são discriminados
pelas outras vertentes do islamismo e, como são minoria, têm que encontrar um meio para sua
sobrevivência.
4. O CRESCIMENTO ALAUÍTA E A LUTA PELO PODER
Após o advento da Primeira Guerra Mundial, os países aliados vencedores dividiram entre si as
províncias árabes do império Otomano, cada um de acordo com suas necessidades. A Grã-Bretanha
ficou com o sul, que era boa parte da Palestina e a França com o norte, dominando assim a Síria e o
Líbano.
Antes de 1920, data do início do domínio francês, os alauítas não possuíam esse nome, que lhes
fora imposto pelos próprios franceses. Eles eram até então conhecidos como “Nusayris”, nome dado
por causa do criador desse ramo do Islã, chamado Ibn Nusayr, além de ser um grupo que possuía um
local geográfico bem definido dentro da Síria (Figura 1).

Figura 1: A divisão da Síria em 1922 (Oxford University Press, 1943)

O que a França mais temia dentro de seu mandato (1920-1946) era uma revolta por parte dos
muçulmanos nacionalistas, que em sua grande maioria eram sunitas, que ameaçam os grupos
minoritários da Síria, sendo eles os cristãos, drusos, ismaelitas e alauítas. Por este motivo, a França
sempre cultivou um relacionamento amigável com esses grupos, principalmente com os drusos e
alauítas que possuíam certa liberdade concedida pela França.
Durante o mandato francês, houve diversas divisões regionais dentro da Síria, tornando assim o
regionalismo cada vez mais forte, causando separações religiosas. À vista disto, mesmo após a saída
da França em 1946, o maior obstáculo para o crescimento da Síria era o regionalismo extremo de
certos grupos.
Em 1921, a França recrutou muitos alauítas para o seu exército, conhecido inicialmente como
“Troupes Spéciales du Levant”, que posteriormente tornou-se o exército sírio e libanês. Esta divisão
era estratégica, pois a França não queria que nenhum grupo ficasse muito forte com medo de
perder o controle sobre as áreas nas quais possuía o domínio.
A população alauíta refletia apenas 12% da população da Síria, sendo que a maioria vivia em
condições de miséria. Para conseguirem seu sustendo, foi necessário que muitos escondessem sua
religião, ou trabalhassem para os sunitas ou cristãos donos de terras, porém com o salário baixo,
não era possível ter uma vida digna, como os sunitas que moravam na área urbana estavam mais
habituados.
O fator econômico fez com que muitos alauítas vissem no exército sua salvação, por isso o grande
número de alistados. Já os sunitas, ao contrário, desencorajavam seus jovens a servirem o exército,
pois não queriam apoiar a França, que era diretamente a força opositora ao crescente nacionalismo
da época. Este exército era formado em grande parte pelos habitantes de áreas rurais, pois estes
grupos estavam distantes da sociedade urbana da época, que possuía um pensamento ideológico
contrário à França. Eles tinham como principal função deter as possíveis rebeliões e tumultos, por
esse motivo, foram mal vistos pela maioria sunita, pois existiam diversos batalhões formados, em
sua grande parte, por alauítas, sendo que os sunitas quase não eram representados nessa área.
Por causa desta divisão religiosa, não foi possível unir em um único setor representantes de cada
grupo religioso. Por este motivo, os sunitas sírios ficaram inicialmente com a maior parte dos
setores políticos. Um repórter relata a situação do exército sírio em 1949, dizendo que “todas as
unidades que teriam alguma importância estavam sob o comando de pessoas que possuíam sua
origem vinda de minorias religiosas” (DAM, 2011, tradução do autor). Vemos que isto não era um
fator isolado, mas algo claro para todos.
Ao contrário dos alauítas, que viam na Academia Militar de Homs um lugar para quem deseja
crescer e mostrar seu talento, as famílias sunitas diziam que lá era apenas mais um local para
pessoas preguiçosas e/ou rebeldes. Como Patrick Seale relata em seu livro “Asad of Syria: The
Struggle for the Middle East”:
[...] Esse foi o erro histórico que levou as famílias, os mercadores e a classe dos donos de terras que eles faziam parte:
escarneceram do exército como uma profissão, eles permitiram serem capturados pela classe inimiga, que passou a
dominar o próprio Estado. (SEALE, 1989, p.18, tradução do autor)

Após a independência da Síria, houve uma crescente luta para reduzir os benefícios concedidos
aos grupos minoritários pela França; sendo assim, os drusos e alauítas foram os maiores
prejudicados, pois perderam sua autonomia e foram integrados à Síria, terminando assim o sonho
que muitos tinham de formar um “Estado Alauíta”. Todavia, com isto, os próprios alauítas
começaram a crescer politicamente, fato que não havia ocorrido até o momento.
O grupo nacionalista sírio era constituído pela maioria sunita, ignorando assim as minorias,
considerando os cristãos e todos os muçulmanos não sunitas como “árabes imperfeitos”. Neste
contexto surge o partido Baath, que possuía uma ideologia diferente, pois ele lutava por um
nacionalismo diferente do qual os sunitas buscavam, sendo desse modo mais agradável às minorias,
já que elas não eram excluídas.
O partido Baath foi criado em 1946, “logo após as tropas francesas terem deixado a Síria, por dois
estudiosos, Aflaq e Bitar que publicaram o jornal chamado Al-Baath” (FILDIS, 2012, p.2, tradução do
autor). No ano de 1947, houve o “Congresso Baath” que possuía em sua grande parte membros
alauítas. A ideologia deste partido era de cunho socialista, seguindo dois pensadores da época. Um
deles foi Zaki Arsuzi, um intelectual alauíta de grande influência no meio político e social, cujos
pensamentos eram baseados em outro pensador chamado Dr. Wahid al-Ghanim, um socialista,
também alauíta, que culpava a elite dominadora da época pelo grande nível da pobreza.
Dentro do exército existia um grande número de sunitas com altas patentes, liderando os
alauítas que, mesmo sendo maioria, não eram bem representados no alto escalão. Porém, houve
uma constante briga pelo poder entre os próprios sunitas, causando assim perdas e divisões
prejudiciais a esse grupo. Os alauítas, ao contrário, eram unidos e foram crescendo dentro das altas
posições no exército conforme o tempo passava, tendo agora uma forte representatividade no
controle militar.
Posto isto, dentro da esfera social, os alauítas mesmo sendo a minoria começam a dominar a
área política e militar, tendo como ponto de virada de jogo a década de 1960, aproximadamente.
Muitos sunitas declararam que essa conquista pelo poder foi “ilegítima, opressiva e anti-islâmica.
Segundo alguns sunitas, o regime alauíta do partido Baath conseguiu seu poder graças à força
militar, impondo medidas e restringindo o ensino religioso” (FILDIS, 2012, p.2, tradução do autor).
Com o passar dos anos e o crescimento do partido Baath e das forças militares, a consolidação do
poder alauíta foi aumentando, mas o ponto alto desta conquista e o maior passo dado foi em 1970,
com a eleição do oficial das forças aéreas Hafez al-Assad, também alauíta. O que muitos não tinham
a menor ideia do que poderia acontecer na Síria torna-se realidade. Destarte, vemos que “a minoria
pode dominar a maioria se eles forem politicamente, militarmente ou economicamente superiores”
(WEULERSSE, 1940, p.77), descrevendo o quadro alauíta sírio.
5. A RELIGIÃO COMO MODO DE VIDA
Ainda que a contextualização seja relevante para o desenvolvimento desse artigo, nosso objetivo
não está na análise minuciosa de cada fato histórico que tenha envolvido a dinastia da família
Assad, pois seria necessária uma análise muito maior e possivelmente fugiria de nosso foco
religioso. Até agora, cobrimos a história religiosa, social e cultural do islamismo, observando apenas
as duas vertentes mais poderosas da Síria e como elas se desenvolveram dentro desse contexto
militar.
Podemos observar que para o mundo mulçumano desde suas origens não há uma distinção entre
o Estado e a religião, sendo a vida do fiel ligada em todos os aspectos aos ensinos religiosos. Se
observarmos até mesmo o conceito da palavra religião, veremos uma diferença relevante entre a
cultura ocidental, observando diretamente o cristianismo, pois a palavra tem sua etimologia vinda
do latim “religare”, que traz a ideia de religar o homem a Deus.
Se olharmos a etimologia da palavra religião, no contexto árabe, encontraremos um sentido
muito mais amplo, pois o termo “Dīn” remonta a todos os âmbitos da vida, não apenas ao sentido
religioso de ligar o homem a Deus. Como (WADUD, 2006 p. 92) afirma: “O Islã é Dīn, um modo
completo de viver”. Sendo assim, cada aspecto dessa disputa pelo poder político e militar possui em
si diversos traços religiosos que estão entrelaçados no cotidiano de cada cidadão. Não fosse pela
questão religiosa, a distinção entre alauítas e sunitas estaria fora do âmbito de nossa discussão.
Vemos que o poder militar e político dado aos alauítas em 1970, especificamente a Hafez al-Assad
continua até os dias de hoje, assegurando com “mão de ferro” todos as possíveis tentativas de
retomada do poder. Porém, com sua morte e o advento da “Primavera Árabe”, seu filho Bashar al-
Assad assume o poder do país e tem em suas mãos um grande desafio.
6. PRIMAVERA ÁRABE SÍRIA
Em alguns países do mundo árabe desencadeiam-se uma série de revoltas populares contra os
presidentes, pedindo que eles saiam do poder por serem ditadores que não estão preocupados com a
condição de seu povo. O início de tudo deu-se em dezembro de 2010, quando um jovem tunisiano,
desempregado, ateou fogo em seu próprio corpo como forma de protesto contra a situação de seu
país.
Os resultados desse movimento popular foram surpreendentes, pois em poucos dias muitos
presidentes desistiram ou foram capturados e assassinados, como no caso do presidente da Tunísia,
Zine el-Abdine Ben Ali, que estava no poder desde 1987, mas fugiu para a Arábia Saudita em apenas
dez dias após as manifestações começarem. O mesmo ocorreu com o presidente do Egito, Hosni
Mubarak, que em 18 dias renunciou ao poder no qual havia estado por mais de 30 anos.
Na Líbia, o ditador Muamar Kadafi estava no poder desde 1969, totalizando 42 anos de domínio,
porém neste caso não houve acordo e em apenas dois meses ele foi capturado e assassinado pelos
rebeldes. O último ditador a cair foi Ali Abdullah Saleh, presidente do Iêmen que, após meses sendo
perseguido e até mesmo ficando gravemente ferido por causa de um ataque a uma mesquita, decide
renunciar.
Na Síria, a história parecia ser diferente para o atual presidente Bashar al-Assad, pois em uma
entrevista concedida ao Wall Street Journal de 31 de janeiro de 2011 ele, em resposta às crescentes
revoltas no Egito, diz:
Você precisa mudar seu ponto de vista e perguntar: por que a Síria é estável embora tenhamos condições mais difíceis? O
Egito tem sido apoiado financeiramente pelos Estados Unidos, enquanto nós estamos sob embargo da maioria dos países
do mundo. [...] Apesar de tudo isso, nosso povo não se revolta. Não se trata apenas de necessidades ou reformas. Trata-se
de ideologia, de crenças, a causa que você está defendendo. Há uma grande diferença entre defender uma causa e um
vazio ideológico. (Bashar Al-Assad, 2011)

É possível notar que ele estava totalmente enganado, pois logo em seguida o povo, influenciado
pelo sucesso rápido com que os países árabes ao redor conseguiram alterar seus cenários políticos,
começou a pedir o fim das detenções arbitrárias, do abuso militar, “liberdade de imprensa, a
abolição do artigo 8º da Constituição − que afirma que o Partido Baath “dirige o Estado e a
sociedade” − e a suspensão do Estado de emergência, em vigor desde que o Baath tomou o poder
em 1963” (SEALE, 2011). Desta forma, vemos que a ideia da Primavera Árabe alcançar a Síria estava
fora de cogitação para Bashar.
O conflito fica mais complexo quando uma dúzia de crianças é presa por pichações hostis ao
regime, em Dara, cidade muçulmana de maioria sunita. Logo, uma constante insatisfação cresce na
população, levando muitos às ruas para protestar contra a ditadura de Bashar, que por sua vez
começa a temer uma rebelião contra seu governo, conforme já havia ocorrido em alguns países
vizinhos. Para que isso não ocorresse, Bashar coloca seu exército nas ruas, mas o que parecia
apenas uma forma de contenção se torna um massacre, pois em março de 2011, membros do
exército abrem fogo contra civis, causando as primeiras baixas dessa guerra, gerando uma revolta
generalizada, repercutindo em jornais de todo o mundo (Figura 2).
Figura 2: Tropas Sírias abrem fogo contra manifestantes em diversas cidades.

Diversos fatores contribuíram para o início dessa guerra, mas ao olharmos para a religião, vemos
que ela em momento algum é desvinculada, pois permeia a vida dos habitantes sírios. Portanto,
necessitamos de uma análise com o olhar voltado à crença desse povo e os campos que ela toca,
não pretendendo abordar todas as questões referentes a essa guerra, pois está fora de nosso
alcance, visto que o confronto civil sírio ainda é um acontecimento histórico recente e em
progresso, podendo os lados do poder sofrerem alterações a qualquer instante, porém a religião está
firmada há muitos anos, trazendo em si uma base mais sólida para caminharmos.
Observamos que com o início do confronto, surge um grupo opositor à ditatura, que se
autonomeia de “Free Syrian Army” ou FSA. Esse grupo é formado por desertores do exército sírio,
juntos de civis, que assumem a luta armada. A dificuldade em analisar este grupo está no fato de
ele não ser homogêneo, sendo que nem mesmo as crenças religiosas são compartilhadas por todos
os indivíduos, pelo contrário, cada área geográfica traz consigo uma perspectiva diferente de sua
religião. Segundo Slim:
O Free Syrian Army surgiu nas ruas sírias como a última esperança para uma liderança de oposição. Mas ainda continua
como uma coleção de pequenos grupos do que um exército em si. Falta comando e estrutura. (SLIM, 2012, p. 5, tradução
do autor)

Sabemos que os rebeldes, em sua maioria, são de origem sunita (SLIM, 2012), pois fazem parte
dos civis e das regiões onde a religião predomina, mas a forma como eles seguem os preceitos de
sua crença muda de acordo com o local onde vivem. No documentário intitulado “The Islamic
State”, realizado em agosto de 2014 pela Vice News, vemos um grupo sunita que se consideram
moderado e acusa aqueles que são extremistas. Porém, mas o que significa ser moderado ou
extremista na Síria?
Com o avanço da guerra e a falta de um ideal universal entre os combatentes do FSA2, muitos
grupos extremistas, além de lutarem contra o ditador, também querem implementar a Sharia, ou
seja, um conjunto de leis islâmicas baseadas no Corão, mas até mesmo essas leis estão sujeitas a
interpretações, sendo aplicadas de acordo com o líder religioso do local e sua visão e ensino dessa
doutrina islâmica. Por este motivo, muitos grupos são considerados extremistas ou moderados. Tudo
tem ligação direta com a forma que eles aplicam as leis islâmicas, não como seguem suas vidas, pois
até mesmo os moderados e extremistas compartilham diversas doutrinas.
A lei islâmica que influencia diretamente a vida de outros grupos minoritários na Síria está
diretamente ligada ao modo como certos grupos rebeldes tratam essas religiões, que em sua grande
parte são formadas por cristãos e curdos. Dentro da “sharia” existe a doutrina de convivência com
não convertidos, que devem pagar um imposto determinado aos muçulmanos que controlam a
região, caso queiram continuar morando ali. O não pagamento dessa taxa, conhecida em árabe
como “jizya” pode ocasionar a perda de bens, agressões e até mesmo a morte. Temos relatos e
notícias de diversas cidades, predominantemente cristãs, que foram massacradas por grupos
extremistas do FSA, sem ao menos terem a possibilidade do pagamento dessa taxa, sendo
decapitadas, servindo de alimento aos cachorros (FAGGE, 2012). Por isto, dizemos que a
interpretação é relativa, já que está ligada a diversos critérios hermenêuticos que podem ser
opostos.
Os grupos considerados moderados interpretam a “sharia” de forma diferente e apenas atacam
os não convertidos caso eles tenham atacado primeiro, caso contrário, ambos os grupos
permanecem no mesmo local. Alguns grupos moderados chegam a criticar os extremistas por suas
atitudes, como no documentário citado anteriormente (Vice News), pois acreditam que a luta é
contra um inimigo maior, o ditador Bashar Al-Assad, não contra uma religião ou outra. Temos
diversas entrevistas postadas no YouTube nas quais líderes relatam esse mesmo discurso.3 4 Muitos
líderes possuem um discurso moderado, mas atitudes extremistas, como no caso do líder Omar
Gharba, que aparece em um vídeo divulgado na rede declarando ser moderado e, após isto, vemos a
imagem dele quebrando uma estátua católica.5
Os cristãos, por sua vez, são considerados minoria nesse processo e sua grande parte apoia a
ditadura de Bashar Al-Assad por sentir-se mais segura, já que ele não ameaça a integridade das
minorias religiosas de seu país. Por causa do medo e da grande ameaça dos extremistas islâmicos,
muitos cristãos decidem se armar e lutar para defender seus templos e famílias, criando assim
milícias contra os rebeldes do FSA. Essas milícias não têm ligação com o grupo rebelde do FSA,
mesmo que moderado, pelo contrário, elas defendem a bandeira cristã e assumem a luta armada na
tentativa de impedir o avanço das tropas rebeldes e assim proteger suas casas e continuarem com
sua liberdade religiosa.6 7
O exército de Bashar é formado em sua grande parte por alauítas, isto desde o início de sua
criação com o apoio da França, porém nem todos os alauítas conservadores gostam de Bashar, pelo
fato de ele ter se casado com uma sunita que havia crescido em Londres. Mas com o crescimento da
guerra, vemos que é muito difícil um alauíta falar mal do governo, sendo que estaria falando mal de
seu protetor direto (BOWEN, 2012). Temos relatos de que até “mesmo aqueles que não são alauítas
tentam imitar o sotaque que eles possuem na hora de dar ordens aos seus liderados, para que
possam ser mais respeitados e valorizados” (BOWEN, 2012, tradução do autor).
Dentro deste caos religioso e social, notamos que a tecnologia nos possibilita uma compreensão
mais real do que ocorre no “campo de batalha” que na verdade é onde muitos deles moram. A
internet está repleta de vídeos gravados por ambos os lados dessa guerra, tanto dos rebeldes do FSA
como do exército de Bashar. São horas e mais horas registrando o conflito de forma violenta e
parcial, tendo cada grupo apoiando sua causa. Além disto, percebemos que esses vídeos são
amadores, registrados pelos próprios membros de cada exército, câmeras de segurança ou
moradores.
Algo característico de todo combate está no uso da palavra “allahu akbar” que em árabe significa
Deus é grande. Estes dizeres são repetidos de forma constante por ambos os lados, tanto pelos
alauítas como pelos sunitas, não importando o momento pelo qual eles estejam passando. Notamos
que tanto nas vitórias, quando eles acertam o inimigo ou conseguem algum avanço, como na morte
de seus companheiros ou quando são feridos, estas palavras não param de ser pronunciadas a todo
o instante, nunca blasfemando contra sua própria fé.

2 Free Syrian Army

3 Christians join to the FSA, to fight for freedom and democracy <http://youtu.be/SRZxPU7JVB0>

4 Christians Fighting with the Free Syrian Army <http://youtu.be/JrLyV79pgAE>

5 Meet the "Moderate Free Syrian Army": 2012 Interview with Statue-Smashing FSA Cleric <http://youtu.be/-RrmbSsfwVM>

6 CNN - Christian militia standing behind Assad <http://youtu.be/FQIrSR6tKJg>

7 "Sutoro":Christian Autonomist Fighters of Syria <http://youtu.be/DLYd8yLuQlk>


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devido à falta de segurança e ao iminente risco de prisões e sequestros, poucos estudos podem ser
realizados diretamente desse campo, o que dificulta nossa compreensão sobre essa realidade,
porém, com o auxílio da internet, temos um vasto material publicado todos os dias, que vêm
diretamente de ativistas, militares e moradores que estão inseridos dentro da Primavera Árabe e
desejam que todos saibam o que está ocorrendo dentro de seu país. Vemos que esse fator foi
fundamental para que pudéssemos buscar uma compreensão maior dessa guerra civil que já é a
mais violenta do século XXI, mesmo que esteja localizada em apenas um único país.
Podemos observar que o campo religioso sírio é plural e ao mesmo tempo exclusivista, pois temos
grupos que religiosos que se unem para lutar, ao mesmo tempo que em outra localidade esses
grupos batalham entre si. Vemos que a religião não é apenas um acessório, mas um estilo de vida,
que define quem você é, a que grupo você pertence e em casos extremos, se você merece ou não
continuar vivendo, seja pelo lado rebelde do FSA ou pela minoria cristã e dos curdos; deste modo, a
guerra nunca tem uma trégua.
Concluímos que os dois maiores grupos, ou seja, o FSA e o exército sírio, fazem parte da maioria
religiosa, assumida desde o começo do estabelecimento do país, os alauítas e sunitas, e que essa
guerra pelo poder não foi devido apenas à Primavera Árabe, mas graças a diversos outros fatores
aqui abordados. Porém, no campo de batalha, ambos os grupos pedem a proteção de Deus, trazendo
para si sua bênção, mas o incompreensível é que em meio a tiros e morteiros, o Deus de ambos os
lados parece ser o mesmo.
BIBLIOGRAFIA
1. GAARDER, J; HELLERN, V; NOTAKER, H. O Livro das Religiões. São Paulo: Cia. das Letras. 1989.

2. IBRAHIM, I.A. Algumas Crenças Islâmicas Básicas. IN: IBRAHIM, I.A. Um breve guia ilustrado para compreender o Islã. Houston:
Darussalam. 2002.

3. RODRIGUES, Manuel Augusto. O Mundo Árabe e Islâmico. Nação e Defesa, Lisboa, n. 14 1980.

4. SURESH , Gnana Pragash. Entendendo o Islã. 2010. Disponível em: <http://www.fsspx.com.br/exe2/wp-


content/uploads/2010/11/FSSPX-entendendo-isla.pdf>. Acesso em: 27 set. 2014.

5. ARAÚJO, Cecília. Alauítas: a minoria síria que mata por temer ser aniquilada. Veja. São Paulo, 2012. Disponível em:
<http://veja.abril.com.br/noticia/mundo/alauitas-a-minoria-siria-que-mata-por-temer-ser-aniquilada> Acesso em: 18 out. 2014.

6. DAM, Nikolaos Van. The Struggle for Power in Syria: Politics and Society under Asad and the Baath Party, 4th ed. (I.B. Tauris, 2011),
28.

7. SEALE, Patrick. Asad of Syria: The Struggle for the Middle East. Univ ersity of California Press, 1 989.

8. WEULERSSE, Jacques. Le pays des Alaouites. Arrault, v1. 1940.

9. FILDIS, Ayse Tekdal. Roots of Alawite-Sunni Rivalry in Syria. Middle East Policy Council. 19(2) 2012.

10. ALKAN, Necati. Divide and rule: the creation of the alawi state after World War I. Goethe-Institut - Fikrun wa Fann, November 2013.

11. KAPLAN, Robert D. Syria: Identity Crisis. The Atlantic. 2011.

12. WADUD, Amina. Inside the Gender Jihad. Oneworld Publications, 2006.

13. Alcorão Sagrado. Centro Cultural Beneficente Árabe Islâmico de Foz do Iguaçu, 1994.

14. SLIM, Randa, Unite Syria’s opposition first. Project on Middle East Political Science. February 23, 2012.

15. FAGGE, Nick. Syria rebels 'beheaded a Christian and fed him to the dogs' as fears grow over Islamist atrocities. Disponível em:
<http://www.dailymail.co.uk/news/article-2255103/Syria-rebels-beheaded-Christian-fed-dogs-fears-grow-Islamist-
atrocities.html#ixzz3JpjoJO5X> Acesso em: 22 nov. 2014.

16. BOWEN, Jeremy. The Arab Uprisings: The People Want the Fall of the Regime. Simon & Schuster UK. July 18, 2013.

17. SEALE, Patrick. Os dilemas da dinastia de Al-Assad. Le Monde diplomatique. 2011. Disponível em:
<http://www.diplomatique.org.br/artigo.php?id=937> Acesso em: 22 nov. 2014.

18. The Wall Street Journal. Interview With Syrian President Bashar al-Assad. Janeiro de 2011. Disponível em:
<http://online.wsj.com/articles/SB10001424052748703833204576114712441122894> Acesso em: 23 nov. 2014.
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