Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE GEOLOGIA
CARACTERIZAÇÃO SEDIMENTOLÓGICA E
ESTRATIGRÁFICA DE TESTEMUNHOS DA FORMAÇÃO
SERGI, CAMPO DOM JOÃO, BACIA DO RECÔNCAVO,
BAHIA, BRASIL
Salvador
2012
REBECA SANTOS DE ALMEIDA NASCIMENTO
CARACTERIZAÇÃO SEDIMENTOLÓGICA E
ESTRATIGRÁFICA DE TESTEMUNHOS DA FORMAÇÃO
SERGI, CAMPO DOM JOÃO, BACIA DO RECÔNCAVO,
BAHIA, BRASIL
Salvador
2012
TERMO DE APROVAÇÃO
CARACTERIZAÇÃO SEDIMENTOLÓGICA E
ESTRATIGRÁFICA DE TESTEMUNHOS DA FORMAÇÃO
SERGI, CAMPO DOM JOÃO, BACIA DO RECÔNCAVO,
BAHIA, BRASIL
Trabalho Final de Graduação aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Geologia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:
________________________________________________________________
1° Examinador - Carlson de Matos Maia Leite
Doutor em Geologia pela Universidade Federal da Bahia
IGEO - UFBA/PETROBRAS
________________________________________________________________
2° Examinador - Michael Holz
Doutor em Geociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
IGEO - UFBA
________________________________________________________________
3° Examinadora - Valterlene de Oliveira
Mestra em Geologia e Geofísica Marinha pela Universidade Federal Fluminense
PETROBRAS
Que esta etapa em nossas vidas é estressante, de noites mal dormidas e por aí vai,
todos já sabem. Porém os sentimentos de ter conhecido um curso tão maravilhoso e de ter
concluído mais uma etapa de nossas vidas são maiores.
Antes de tudo, devo agradecer a Deus pela vida, pelas oportunidades, pelas conquistas,
pelas derrotas e perdas ao longo desses quatro anos e meio de curso que fizeram e fazem com
que eu cresça e aprenda mais.
Agradeço ao Flávio pela disposição e dedicação em me orientar, bem como pelas
correções sugeridas no meu trabalho. Ao Carlson, pela co-orientação, dúvidas esclarecidas e
sugestões dadas.
Devo agradecer à Petrobras, empresa que concedeu seu espaço físico e material para
ser possível a realização deste trabalho e por ser tão prestativa! E o que seria de uma empresa
sem seus funcionários? Desta forma, sou muito grata ao pessoal do Laboratório de
Sedimentologia e Estratigrafia que ajudaram no meu trabalho de forma direta ou indireta:
Clau, Iguatemi, Adilson, Miriam, Edson Gomes, Paulo Milhomem, Soninha, Edson Medeiros,
Rodrigo e a ao gerente do setor de Sedimentologia e Estratigrafia, Márcio, por autorizar os
dados internos para eu fazer o trabalho e a todos os outros que me acolheram tão bem. E aos
que não fazem parte do Laboratório, mas devem ser agradecidos:, Iarinha, Aline, Ioná, Lene e
Cris, do setor de Avaliação e Acompanhamento Geológico de Poço, pelo carinho.
Muito obrigada ao programa ANP/PRH-08 pela bolsa de estudo nas pessoas de Sato e
Cícero.
Agradecimentos vão para a UFBA/IGEO pela minha formação que, apesar de todos os
problemas inerentes a qualquer instituição pública (pelo menos no Brasil), levarei seu nome
com muito orgulho. Professores maravilhosos que constituem a sustentação do IGEO devem
ser citados e são responsáveis em boa parte pelo conhecimento que adquiri até o momento,
por desvendar a Geologia de forma apaixonante e/ou pelo carinho e amizade adquiridos: a
Osmário, pelos primeiros conhecimentos adquiridos, Moacyr Moura, Michael Holz, André
Netto, Simone, Ângela, Telésforo, Olívia, Flávio Sampaio, Roberto Rosa e ao grande mestre
Haroldo Sá. Aos funcionários do IGEO, em especial a Mércia, André, Boçal, Aldacy,
Evandro.
Agradeço aos colegas geológicos que enfrentaram momentos difíceis e de gastações,
pelas parcerias em trabalhos e grupos de estudos e que me ajudaram de alguma forma:
Cabeça, Pri, Vitinho, Alexandre (pela ajuda na descrição de testemunhos), Laurinha (ajuda
nos testemunhos, abstract e críticas construtivas), Lucas, Cipri, Bia, Bruno Emo, Bruno Ovo,
Acácio, Marcelinho, Anibal, Carolzinha, Chapa, Ramonstro, Fabi, MV, Eula.
À minha mãe pelo apoio prestado ao longo do curso, cuidando de meus bebês durante
meus muitos momentos de ausência (campos, congressos, encontros, simpósios etc.) e
preparando minhas marmitas.
Aos meus bebês, Fofinha, Pimentinha e Dengosa (in memoriam) que, mesmo podendo
não ter consciência, foram cruciais nos momentos de estresses e tristezas. Com a fidelidade,
amor incondicional e festa ao me verem chegar em casa, iluminaram e iluminam meu dia-a-
dia!
Ao meu amigo, companheiro, namorado, Peu, por todo seu amor, carinho, paciência,
dedicação. A você dedico todo meu amor!
A todos que de alguma forma contribuíram para este trabalho e minha mente falha
esqueceu de citar, meu “muito obrigada”!
"Contra o positivismo, que para perante os
fenômenos e diz: 'Há apenas fatos', eu digo:
'Ao contrário, fatos é o que não há, há apenas
interpretações'." (Nietzsche)
RESUMO
The Recôncavo Basin is part of the rifte intracontinental system, named Recôncavo-Tucano-
Jatobá, and envolved during the lower Cretaceous. It is located in central eastern state of
Bahia and has an area of 11.500 km2. The basin architecture shows a oriented NE-SW half-
graben. The tectonic evolution happened in three phases: pre-rifte, syn-rifte and post-rifte.
The Sergi Formation, focus of this monograph, was deposited in pre-rifte phase, Upper
Jurassic, and consists of fine-grained to conglomeratic sandstones deposited by fluvial-
aeolian-lacustrine systems. The main object of this study has been to analyze 243 meters of
Sergi Formation’s cores samples from Dom João Field, south of Recôncavo Basin, to identify
its textural and genetic characteristics, depositional sequences and reservoir aspects. As a
result of the description, 13 lithofacies has been identified, which allow us to establish five
facies associations with genetic character: fluvial-lacustrine, ephemeral fluvial, perennial
braided fluvial, aeolian sand sheets and aeolian dunes. The described cores samples were
associated with three depositional sequences of the Sergi Formation, proposed by others
authors: the sequence III, that occurs in the upper portion, characterized by ephemeral fluvial
deposits; the sequence II, that consists of perennial braided fluvial deposits; and the sequence
I, positioned at the base of Sergi Formation, comprises of fluvial-lacustrine, ephemeral fluvial
and aeolian deposits. Significant intervals were visually verified with good permo-porosity,
confirming the reservoir potential of the entire unit.
Foto 4.1: Arenito argiloso com estratificação plano-paralela difusa devido a processos de
fluidização. ............................................................................................................................... 65
Foto 4.2: Arenito argiloso avermelhado com intercalações de arenito amarelado. .................. 65
Foto 4.3: Conjunto de testemunhos mostrando a transição entre os arenitos argilosos
avermelhados, que ocorrem na base do poço, com arenitos amarelados de granulometria
levemente maior, ambos da associação de fácies flúvio-lacustre. ............................................ 66
Foto 4.4: Litofácies Ama exibindo grânulos dispersos. ........................................................... 68
Foto 4.5: Litofácies Ama exibindo coloração castanho escuro devido a saturação de óleo..... 68
Foto 4.6: Litofácies Ama apresentando maior nível de argilosidade........................................68
Foto 4.7: Litofácies Ama exibindo textura mosqueada.............................................................68
Foto 4.8: Litofácies Afd apresentando alta argilosidade...........................................................69
Foto 4.9: Na litofácies Afd muitas vezes a estrutura primária da rocha torna-se difusa...........69
Foto 4.10: Arenito com estratificação cruzada de baixo ângulo (litofácies Axb).....................69
Foto 4.11: Litofácies Axb com alto nível de argilosidade e com porções fluidizadas.................69
Foto 4.12: Arenito com estratificação cruzada tabular (litofácies Axt) com presença de
intraclastos de argila.....................................................................................................................71
Foto 4.13: Arenito com estratificação cruzada indefinida e incipiente (Axi) evidenciada por
níveis alinhados ricos em argila...................................................................................................71
Foto 4.14: Litofácies Ali com lâminas de concentrações de material carbonático e argila........71
Foto 4.15: Litofácies Axa. Notar relação de truncamento de estratos em evidência..................71
Foto 4.16: Litofácies App com níveis ricos em argila....................................................................72
Foto 4.17: Arenito argiloso exibindo estratificação cruzada cavalgante na base (Arp)............72
Foto 4.18: Lamito (Lli) exibindo fissilidade incipiente, fraturas preenchidas por calcita e
planos espelhados de falhas (slickensides).............................................................................................73
Foto 4.19: Concreções calcíticas em torno de 5 cm na litofácies Ama..........................................73
Foto 4.20: Desenvolvimento de paleossolo incipiente muito comum na associação de fácies
fluvial efêmero...............................................................................................................................73
Foto 4.21: Arenito com estratificação cruzada acanalada (Axa), com evidente truncamento em
destaque.....................................................................................................................................76
Foto 4.22: Grânulos alinhados segundo os planos de estratificação (litofácies Axa)....................76
Foto 4.23: Litofácies Ama com alta argilosidade......................................................................................76
Foto 4.24: Arenito maciço saturado em óleo.................................................................................76
Foto 4.25: Litofácies Axb-E com arenito saturado em óleo............................................................79
Foto 4.26: Arenito exibindo estratificação cruzada tabular (Axt-E).........................................81
Foto 4.27: Litofácies Axt-E com níveis de saturação de óleo..............................................................81
Foto 4.28: Litofácies Axt-E exibindo lentes com grãos mais grossos alternados com grãos
mais finos...............................................................................................................................................81
Foto 4.29: Arenito com aspecto maciço da litofácies Ama-E...................................................81
Foto 4.30: Conjunto de testemunhos que mostra a transição, linha vermelha, entre a sequência
III (caixas 5 e 6) e a sequência II (caixas 7 e 8)........................................................................84
Foto 4.31: Conjunto de testemunhos que mostra a transição, linha vermelha, entre a sequência
II (caixa 1) e a sequência I (caixas 2 e 3)..................................................................................85
LISTA DE TABELAS
Tabela 4.1: Principais características e processos genéticos das 13 litofácies descritas nos
testemunhos da Formação Sergi no Campo Dom João. ........................................................... 62
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
Segundo Magnavita et al. (2005), a Bacia do Recôncavo faz parte do sistema de riftes
intracontinentais Recôncavo-Tucano-Jatobá (Figura 1.1) formado através de campos de
tensões responsáveis pela ruptura do supercontinente Gondwana durante o Eocretáceo e que
promoveu a abertura do Oceano Atlântico Sul.
Localizada no centro-leste do Estado da Bahia, a Bacia do Recôncavo ocupa uma área
com cerca de 11500km2 e sua orientação geral segue o trend NE-SW. Seus limites são
representados, a norte e noroeste, pelo Alto de Aporá; pelo sistema de falhas da Barra, a sul;
pelo sistema de falhas de Salvador, a leste; e, a oeste, pela Falha de Maragogipe (Figura 1.2)
(MILHOMEM et al., 2003; SILVA et al., 2007).
Figura 1.1: Localização do sistema de riftes intracontinentais Recôncavo-Tucano-Jatobá. Fonte: Dias Filho (2002,
apud Oliveira 2005).
17
Figura 1.2: Limites e orientação geral NE-SW da Bacia do Recôncavo. Fonte: Santos (1998, apud Oliveira 2005).
1.1. Objetivos
A monografia que aqui se segue tem como objetivo geral descrever testemunhos da
Formação Sergi amostrados em um poço no Campo Dom João, a fim de identificar suas
características genéticas, sequências deposicionais e aspectos de reservatório.
1.2. Justificativas
Desta forma, este estudo contribuirá com informações acerca das características de
reservatório da Formação Sergi no Campo em questão. Além disso, se insere em projetos
internos à Petrobras, que visa atualizar o seu banco de dados segundo os procedimentos e
metodologias atuais.
O método de trabalho empregado para a realização desta monografia pode ser dividido
em três partes, que consistem na pesquisa bibliográfica, aquisição de dados e tratamento de
dados.
Compreendeu uma etapa na qual os dados adquiridos na fase anterior foram integrados
e interpretados. As litofácies sedimentares foram individualizadas levando em consideração
suas características quanto à geometria, composição, granulometria e estruturas sedimentares.
Em seguida, foi proposta uma associação de fácies, que compreende um agrupamento
de fácies relacionadas geneticamente, sendo possível interpretar o ambiente de sedimentação.
Sendo assim, cada fácies dentro da associação representa um determinado processo
deposicional (ETCHEBEHERE & SAAD, 2003).
Por fim, foi feita a elaboração da monografia.
A Bacia do Recôncavo localiza-se no Estado da Bahia e ocupa uma área com cerca de
11.500km2, seguindo um trend na direção NE-SW. Seus limites são representados, a norte e
noroeste, pelo Alto de Aporá; pelo sistema de falhas da Barra, a sul; pelo sistema de falhas de
Salvador, a leste; e, a oeste, pela Falha de Maragogipe (SILVA et al., 2007; MILHOMEM et
al., 2003).
A arquitetura básica da Bacia do Recôncavo é de semigráben (Figura 2.1), resultante
dos esforços distensionais sobre um embasamento pré-cambriano heterogêneo, com borda
falhada (sistema de falhas de Salvador), a sudeste, e flexural, a oeste (PEDREIRA et al.,
2003; MILHOMEM et al., 2003; MAGNAVITA et al., 2005; SILVA et al., 2007).
23
Figura 2.1: Seção esquemática na direção NW-SE da Bacia do Recôncavo, ilustrando a morfologia de meio gráben
com as bordas flexural (oeste) e falhada (leste) e mergulho preferencial das camadas para sudeste. Fonte:
Milhomem et al. (2003).
Figura 2.2: Domínios estruturais do embasamento em torno do sistema de riftes Recôncavo-Tucano-Jatobá. Fonte:
Modificado de Magnavita (1992, 1996, apud Santos, 2011).
24
2.1.1. Estratigrafia
Estratigrafia do Paleozoico
Como pode ser observado na carta estratigráfica (Figura 2.3) proposta por Caixeta et
al. (1994), os sedimentos paleozoicos estão agrupados nos membros Pedrão (inferior) e
Cazumba (superior) e são pertencentes à Formação Afligidos. Apesar de haver uma carta
estratigráfica mais recente (proposta por Silva et al., 2007), adotou-se neste trabalho a de
Caixeta et al. (1994) por uma questão de melhor visualização do empilhamento estratigráfico.
Além do mais, na seção estudada (pré-rifte) não houve modificações.
De acordo com Caixeta et al. (1994), Milhomem et al. (2003) e Silva et al. (2007), o
Membro Pedrão é constituído por arenitos com granulometria fina a muito fina, coloração
cinza-claro a bege, apresentando feições que sugerem retrabalhamento por ondas, intercalados
a siltitos, laminitos algais e evaporitos (anidrita e halita). O Membro Cazumba, por sua vez,
compreende pelitos e lamitos avermelhados de origem lacustre, com nódulos de anidrita na
base.
Segundo Aguiar & Mato (1990, apud Silva et al., 2007), as associações faciológicas
que compreendem as unidades paleozoicas foram depositadas sob condições de bacia
intracratônica e clima árido. Evidenciam uma tendência regressiva com transição de
sedimentação marinha rasa (Membro Pedrão) a lacustre (Membro Cazumba).
Estratigrafia do Mesozoico
Figura 2.3: Carta estratigráfica proposta para a Bacia do Recôncavo com destaque para o intervalo que compreende
a Formação Sergi. Fonte: Caixeta et al. (1994, apud OLIVEIRA, 2005).
O início da fase sin-rifte está marcado por uma importante mudança climática, de
árido para úmido (CAIXETA et al., 1994), com o desenvolvimento de um lago profundo
(SILVA et al., 2007). Compreende as formações Candeias, Maracangalha, Marfim, Pojuca,
Taquipe, São Sebastião e Salvador, como pode ser visto na carta estratigráfica anteriormente
apresentada (Figura 2.3).
Segundo Magnavita et al. (2005), esta fase compreendeu dois sistemas progradantes,
sendo o principal flúvio-deltaico-lacustre, longitudinal a oblíquo, oriundo da Bacia do
Tucano, o qual depositou folhelhos prodeltaicos e arenitos turbidíticos. O secundário
compreendeu leques conglomeráticos provenientes da erosão da borda falhada, a leste, sendo
transversal à Bacia.
27
Segundo Magnavita et al. (2005), a fase pós-rifte é representada por depósitos aluviais
de conglomerados, arenitos e, subordinadamente, folhelhos e calcários que compõem a
Formação Marizal. Sua deposição ocorreu numa depressão do tipo sinéclise, quando houve
uma subsidência térmica pós-rifte. Uma discordância angular separa esta fase da anterior (sin-
rifte).
Estratigrafia do Cenozoico
Nordeste (MILANI, 1985, apud OLIVEIRA, 2005). Esta configuração estrutural pode ser
visualizada no mapa simplificado apresentado na Figura 2.4.
Figura 2.4: (a) Mapa simplificado do arcabouço estrutural da Bacia do Recôncavo com as principais estruturas
rúpteis associadas; (b) Seções geológicas esquemáticas; (c) Seção ao longo do strike da Falha de Salvador. Fonte:
Destro et al. (2003, apud Santos, 2011).
30
Figura 2.5: Mapa geológico esquemático ilustrando a distribuição de sedimentos pré, sin e pós-rifte aflorantes nas
bacias do Recôncavo, Tucano e Jatobá. Fonte: Magnavita (1992, apud Magnavita et al., 2005).
O estágio rifte se caracteriza por uma evolução da bacia, onde houve o falhamento da
crosta em decorrência dos esforços distensivos que ali atuavam. A passagem do estágio pré-
rifte para o rifte é objeto de discussão entre diversos autores. Entretanto, neste trabalho será
adotada a proposta de Caixeta et al. (1994), que sugere o limite entre as Formações Água
Grande e Candeias.
32
Figura 2.6: Paleogeografia pré-rifte da Bacia do Recôncavo, mostrando a direção da fonte de sedimentos do Grupo
Brotas (formações Aliança e Sergi) a sudoeste. Fonte: Modificado de Medeiros e Ponte (1981, apud Magnavita et
al., 2005).
Figura 2.7: Paleogeografia sin-rifte da Bacia do Recôncavo, notando-se a argilocinese na Formação Maracangalha,
onde a sobrecarga de sedimentos sobrepostos a ela promoveu a geração de diápiros. Observar que a fonte de
sedimentos está na borda nordeste. Fonte: Medeiros e Ponte (1981, apud Magnavita et al., 2005).
Posteriormente, uma queda do nível do lago controlada pela tectônica e clima deu
origem ao cânion de Taquipe (Figura 2.8), que se localiza na porção oeste das bacias do
Recôncavo e Tucano Sul (BUENO, 1987, apud MAGNAVITA et al., 2005). Isto favoreceu a
deposição lacustre com fluxos gravitacionais representados pela Formação Taquipe. Neste
contexto ainda prevaleciam os sistemas deltaicos relacionados à Formação Pojuca (SILVA et
al., 2007), fato pelo qual os sedimentos desta formação recobrem concordantemente a
sequência da Formação Taquipe (CAIXETA et al., 1994).
Figura 2.8: Paleogeografia da Bacia do Recôncavo durante a deposição da Formação Taquipe. Fonte: Figueiredo et
al. (1994, apud Magnavita et al., 2005).
34
Dois terços do campo estão imersos nas águas da Baía de Todos os Santos, sendo dividido em
Dom João Mar e Dom João Terra. As acumulações presentes nesse campo são rasas, situadas
entre 160 e 375 metros de profundidade. Na extremidade norte do campo, a Formação Sergi
possui espessura de 280 metros e, na porção sul, 460 metros (GHIGNONE, 1978).
Estruturalmente, o Campo de Dom João possui forma de um horst dirigido para
N10°E. As principais falhas limitantes possuem rejeitos entre 100 e 500 metros e o mergulho
da Formação Sergi não ultrapassa 5° para NE (GHIGNONE, 1978).
Figura 2.9: Campos de produção de óleo e gás da Bacia do Recôncavo. Em destaque está o Campo de Dom João.
Fonte: Petrobras (apud Gontijo, 2011).
37
A Formação Sergi no Campo Dom João, bem como em outras áreas da Bacia do
Recôncavo e demais bacias sedimentares onde ocorre, é constituída, predominantemente, por
sedimentos oriundos de sistemas fluviais e, subordinadamente, eólicos (NETTO et al., 1982,
apud OLIVEIRA, 2005). Sendo assim, este capítulo abordará uma síntese dos aspectos
teóricos relacionados aos sistemas fluviais e eólicos. A interação entre ambos ocorre
principalmente em planícies aluviais submetidas a clima árido/semiárido, havendo
predominância de um sistema em determinados estágios evolutivos (CORTEZ, 1996).
Os rios são os principais agentes geológicos que atuam na superfície da Terra (PRESS
et al., 2006) e os seus depósitos são bastante representativos no registro estratigráfico,
constituindo importantes reservatórios de petróleo e água, além de depósitos de placeres.
A erosão fluvial se dá por dois principais processos, que são a incisão e migração
lateral. A incisão consiste na erosão vertical do substrato, promovendo um aprofundamento
do canal e pode estar associada a um progressivo aumento da descarga devido a mudanças
climáticas ou a um rebaixamento do perfil de equilíbrio (natureza alocíclica). Pode estar
associada também ao deslocamento de canais fluviais decorrentes de processos
hidrodinâmicos e geomorfológicos internos à planície aluvial (natureza autocíclica). A
migração lateral ocorre em canais com alta sinuosidade, onde o banco externo do meandro
(vide item 3.1.3.3.) sofre contínua erosão.
38
Fluxo de detritos
Carga de fundo
O transporte por carga de fundo, principal na dinâmica fluvial, ocorre por correntes
trativas, onde os grãos transportam-se individualmente ao longo do leito do rio através de
arrasto e rolamento (grãos maiores) e saltação (grãos menores).
As formas de leito são desenvolvidas através do transporte de areia que, mantendo-se a
profundidade da lâmina d’água constante, são controladas pela granulometria e pela
velocidade de fluxo. As marcas onduladas (ripples) são formas de leito com altura máxima de
5 cm que podem ocorrer somente em areias com diâmetros menores que 0,7 mm, sendo
normalmente restritas a fluxos de baixa velocidade (BRIDGE, 2006). O aumento progressivo
da velocidade do fluxo proporciona formação de dunas, sendo que a passagem entre estas
duas formas de leito é abrupta e ambas possuem estrutura interna do tipo estratificação
cruzada (PRESS et al., 2006). As dunas podem ser bidimensionais, quando possuem linha de
crista reta, e tridimensionais, quando há desenvolvimento de linha de crista sinuosa. Estratos
de leito plano e antidunas são formas de leito criadas quando o fluxo atinge valor crítico,
sendo facilmente destruídas por mudanças nos padrões de turbulência e, portanto, dificilmente
preservadas.
39
Carga de suspensão
Figura 3.1: Perfil de equilíbrio de sistemas fluviais, que corresponde ao nível de base estratigráfico em sucessões
aluviais. Fonte: Modificado de Dalrymple (1998, apud SCHERER, 2004).
Figura 3.2: Modelo hipotético destacando a criação de espaço e acomodação resultante de uma subida do perfil de
equilíbrio. Fonte: Modificado de Dalrymple (1998, apud SCHERER, 2004).
Figura 3.3: Padrões básicos de canais fluviais. Fonte: Modificado de Miall (1977, apud SCHERER, 2004).
São caracterizados por uma rede interconectada de canais separados por áreas de
planície de inundação e possuem geometria em fita. Os canais são dominados por carga de
suspensão, apresentando-se profundos, estreitos e com moderada a baixa sinuosidade. Suas
margens são, geralmente, coesas e vegetadas, ocasionando alta estabilidade aos canais, o que
reduz a migração lateral (SCHERER, 2004, 2008).
Os rios entrelaçados são representados por canais interligados separados por barras
arenosas e/ou cascalhosas longitudinais e transversais que migram de acordo com o fluxo. Os
depósitos de planície de inundação são restritos. Constituem rios de carga de fundo com
geometria em lençol, onde o preenchimento é complexo e bastante diversificado.
Ainda de acordo com o autor acima citado, o padrão entrelaçado tende a se formar em
áreas com maiores declividades, caracterizando-se por altas velocidades da corrente, alto
suprimento sedimentar e alta variabilidade de descarga, além de baixa sinuosidade. As formas
de leito dominantes nesse padrão são marcas onduladas e dunas, sendo que as sequências
depositadas exibem uma granodecrescência ascendente pouco desenvolvida.
A sedimentação nos canais entrelaçados é, principalmente, ao longo de barras
longitudinais e transversais. Os sedimentos geralmente são compostos por areia de
granulometria média a grossa e cascalho, sendo que argila e silte são raramente preservados
dentro desses sistemas. O contato basal e superior com outras fácies é frequentemente abrupto
(BROWN & FISHER, 1976).
Segundo Coleman (1969), os tipos de estratificações em depósitos aluviais de canais
entrelaçados são muito variáveis e complexos. São destacadas, portanto, três principais tipos:
i) estratificação cruzada de grande porte formada pela migração de formas de leito maiores,
tais como dunas; ii) estratificação cruzada de pequeno porte originada pela migração de
formas de leito menores, tais como as marcas onduladas (“ripples”); iii) estratificação
horizontal composta por lâminas tabulares, que pode estar associada ao regime de fluxo
superior, onde há uma rápida migração e agradação de formas de leito menores.
Os rios entrelaçados ocorrem com mais frequência em regiões árticas e alpinas, pois
possuem elevada precipitação e cabeceiras íngremes. Todavia, eles também ocorrem em
climas árido e Mediterrâneo, sujeitos a chuvas torrenciais, e em algumas regiões tropicais
onde há chuvas de monções (GRAY & HARDING, 2007).
44
Rios efêmeros
Os rios efêmeros merecem atenção especial, pois arenitos formados sob tais condições
constituem os principais reservatórios em muitos campos de óleo e gás (NORTH &
TAYLOR, 1996).
Os rios efêmeros são característicos de regiões áridas e semiáridas associados a
inundações rápidas e momentâneas, o que ocorre geralmente após tempestade sem haver
qualquer escoamento superficial (BENITO et al., 2003, apud SCHERER, 2008). Os depósitos
de canais fluviais efêmeros são pouco espessos em comparação com os depósitos de canais
perenes, sendo que apresentam várias classes granulométricas.
Nos estágios finais da inundação, sob o regime de fluxo inferior, onde ocorre uma
rápida desaceleração da corrente, desenvolvem-se dunas e marcas onduladas como formas de
leito. Desta forma, um evento de inundação tende a depositar sequências que apresentam
granodecrescência ascendente e estruturas em direção ao topo da sucessão (SCHERER,
2008).
De acordo com Giannini et al. (2008), as acumulações de areia podem ser divididas,
segundo as suas morfologias, em dois tipos básicos: campos de dunas (dune fields) e lençóis
45
de areia (sand sheets), sendo o primeiro subdividido em dunas e interdunas. Existem, ainda,
as marcas onduladas que constituem formas de leito em escalas centimétricas que podem se
desenvolver em lençóis de areia, interdunas e dunas. O desenvolvimento dessas formas está
relacionado a alguns fatores, tais como regime de vento, taxa de acumulação de areia e
tamanho de grãos (LANCASTER, 1988, apud SCHERER, 2004).
Dunas eólicas
dos grãos, cobertura vegetal e suprimento de sedimentos. De acordo com Scherer (2004) e
Lancaster (2005), existem quatro tipos principais: crescente, linear, estrela e parabólica.
As dunas crescentes, dominantes quando a vegetação está ausente, apresentam
assimetria bem definida com uma superfície de barlavento com mergulho suave (<12°) e uma
acentuada inclinação da face frontal. Podem ser isoladas (ou barcanas), quando o suprimento
sedimentar é pequeno, ou podem coalescer lateralmente quando há aumento do suprimento
sedimentar, formando as barcanóides. As dunas lineares são simétricas e formam-se em áreas
de regimes de vento bimodais ou amplamente unimodais, apresentando tanto cristas retas
quanto sinuosas e espaçamento regular. As dunas estrelas, geralmente estacionárias, são
simétricas e possuem uma forma piramidal com cristas agudas sinuosas ou retas irradiando de
um pico central e várias faces de avalanche. Estas dunas ocorrem sob regimes de ventos
multidirecionais ou complexos. As dunas parabólicas são caracterizadas pela forma em “U”
ou “V”, vinculadas a sistemas parcialmente estabilizados pela vegetação.
A classificação morfodinâmica tem como base o posicionamento das formas de leito
em relação ao vetor médio dos ventos de uma determinada área. Hunter et al. (1983, apud
SCHERER, 2004) sugerem três tipos principais: longitudinais, oblíquas e transversais. As
dunas longitudinais são aquelas que apresentam cristas paralelas ao vetor médio dos ventos,
enquanto que as transversais possuem linha orientada ortogonalmente ao mesmo vetor. As
dunas oblíquas são as que apresentam a linha de crista orientada entre 15° e 75° em relação ao
vetor médio dos ventos.
Interdunas
As áreas de interdunas são zonas entre dunas eólicas ou draas que apresentam
extensão e geometria variadas, onde atuam processos eólicos, predominantemente erosivos, e
processos não eólicos, dominantemente deposicionais (GIANNINI et al., 2008).
De acordo com Wilson (1971, apud SCHERER, 2004), a extensão das interdunas
depende da saturação de areia do sistema, sendo classificadas em zonas subsaturadas,
metassaturadas e supersaturadas, conforme pode ser visto na Figura 3.4. As zonas
subsaturadas são áreas onde o fluxo de areia é inferior ao valor crítico necessário para o
embrionamento das formas de leito. As zonas metassaturadas consistem de áreas com uma
cobertura incompleta de areia (dunas eólicas espaçadas entre si), caracterizadas por amplas
regiões de interduna plana. As zonas saturadas são marcadas por uma total cobertura de areia
47
Figura 3.4: Variações das zonas interdunas de acordo com o nível de saturação de areia, sendo classificadas em
zonas subsaturadas, metassaturadas e saturadas. Fonte: Wilson (1971, apud SCHERER, 2004).
Os lençóis de areia consistem em áreas cobertas por areia onde não há superimposição
de dunas com faces de avalanche (GIANNINI et al., 2008). Kocurek & Nielson (1986, apud
SCHERER, 2004) sugerem alguns fatores capazes de desenvolver lençóis de areia em
detrimento de dunas eólicas, sendo eles: i) granulação grossa (areia grossa a cascalho),
dificultando a geração de dunas eólicas; ii) cimentação superficial; iii) nível do lençol freático
elevado; iv) inundações periódicas que limitam o tempo disponível para a formação de dunas;
e v) cobertura vegetal.
Figura 3.5: Classificação do tipo de estratificação de marcas onduladas eólicas de acordo com o ângulo de
cavalgamento relativo a inclinação do dorso da forma de leito e a presença ou ausência de laminações cruzadas.
Fonte: Hubin (1977, apud SCHERER, 2004).
O vento apresenta pouca capacidade de erosão primária das rochas, visto que consiste
em um fluido de baixa viscosidade. Entretanto, ele consegue remover e transportar uma
grande quantidade de material inconsolidado, principalmente em clima árido por causa da
ausência de vegetação e baixa umidade do solo (SCHERER, 2004).
Abrasão
Figura 3.6: Quatro estágios do desenvolvimento de um ventifacto. O clasto torna-se um ventifacto entre o estágio A
e B. Fonte: Scherer (2004).
Deflação
Figura 3.7: Três estágios de desenvolvimento de um pavimento de deflação. A) Deflação inicial dos sedimentos
arenosos; B) concentração dos clastos à medida que ocorre a deflação; C) término da deflação em decorrência do
recobrimento do substrato por clastos. Fonte: Scherer (2004).
Figura 3.8: Tipos de transporte eólico, compreendendo saltação, rolamento e suspensão. Fonte: Modificado de Silva
(2009).
51
Saltação (saltation)
Os grãos de tamanho areia muito fina a fina são transportados principalmente por
saltação, no qual descrevem uma trajetória parabólica. Quando a tensão de cisalhamento do
vento alcança um valor crítico, alguns grãos começam a mover-se para frente e se chocam
com outros grãos que se encontram imóveis. O impacto proporciona que os grãos sejam
arremessados para cima, onde penetram em espaços com velocidades maiores, perfazendo um
caminho parabólico. Ao caírem, chocam-se com outras partículas, sendo que as que possuem
granulometria semelhante ampliam o processo de saltação (SCHERER, 2004).
Suspensão (suspension)
Os sedimentos transportados pelo vento podem ser depositados nas dunas através de
três principais mecanismos: cavalgamento de marcas onduladas, queda de grãos e fluxo de
grãos (fluxo de escorregamento).
52
Figura 3.9: Representação esquemática de acumulação eólica. A acumulação acontece quando o balanço é positivo,
ou seja, o volume de sedimentos que entra (Qi) em uma área é maior que o volume que sai da mesma área (Qo).
Fonte: Kocurek e Havholm (1993, apud OLIVEIRA, 2005).
Os sistemas eólicos secos são aqueles caracterizados pelo nível do lençol freático e sua
franja de capilaridade abaixo da superfície de deposição. A sedimentação é regida por fatores
aerodinâmicos e todo o sedimento no substrato é disponibilizado para transporte eólico.
A transformação de planícies interdunas em depressões interdunas é necessária para
que ocorra acumulação neste tipo de sistema eólico, uma vez que a acumulação se inicia sob
uma condição de saturação de areia marcada pelo cavalgamento de dunas eólicas (SCHERER,
2004; GIANNINI et al., 2008).
Para que as condições de saturação de superfície deposicional sejam alcançadas e
ocorra acumulação em um sistema eólico seco, é necessário que haja um decréscimo na taxa
de transporte e/ou um decréscimo na concentração com o tempo (KOCUREK & HAVHOLM,
1993). O espaço de acumulação e a preservação de sedimentos em sistemas eólicos secos são
controlados pela subsidência da bacia (Figura 3.10).
Figura 3.10: Representação esquemática dos principais elementos que controlam a acumulação e preservação de
sedimentos em sistemas eólicos secos. Fonte: Kocurek & Havholm (1993, apud OLIVEIRA, 2005).
Os sistemas eólicos úmidos são caracterizados pelo nível do lençol freático e sua
franja de capilaridade na superfície de deposição ou próximos dela (até poucos metros). Em
consequência disto, os processos sedimentares (deposição, bypass e erosão) ao longo do
substrato são controlados não somente pelos fatores aerodinâmicos, como também pelo
conteúdo de água do substrato (KOCUREK & HAVHOLM, 1993).
O espaço de acumulação e a preservação de sedimentos nestes sistemas são
controlados pela taxa de subsidência e nível do lençol freático (Figura 3.11), sendo este
influenciado por fatores alocíclicos, tais como mudanças climáticas, variações do nível do
55
mar e subsidência da bacia. A transição de um sistema eólico úmido para seco se dá pelo
incremento de sedimentos (Figura 3.12) (SCHERER, 2004). No registro geológico, os
sistemas eólicos úmidos são reconhecidos pela presença de depósitos interdunas intercalados
com estratos cruzados de dunas.
Figura 3.11: Representação esquemática dos principais elementos que controlam a acumulação e preservação de
sedimentos em sistemas eólicos úmidos. Fonte: Kocurek & Havholm (1993, apud OLIVEIRA, 2005).
Os sistemas eólicos estabilizados são aqueles nos quais algum fator (ou fatores)
periódico ou contínuo estabiliza o substrato enquanto o sistema permanece ativo. Dentre esses
fatores, podem ser citados a vegetação, umidade do substrato, cimentação, filmes de lama e
depósitos residuais de cascalho (lags). Para que a acumulação neste tipo de sistema seja
efetiva, é necessário que os processos de estabilização sejam contínuos ou repetitivos
(KOCUREK & HAVHOLM, 1993).
Figura 3.12: Transição entre sistemas eólicos úmidos e secos, marcada por um aumento na disponibilidade de areia.
Fonte: Kocurek & Havholm (1993, apud SCHERER, 2004).
Figura 3.13: Representação esquemática dos conceitos de acumulação, espaço de acumulação e espaço de
preservação. Fonte: Kocurek & Havholm (1993, apud OLIVEIRA, 2005).
uma modificação na velocidade do vento. Sendo assim, produzirá uma textura de lâminas
internamente bem selecionadas com granulometria diferente típica da face frontal das dunas.
Outra textura que pode ser encontrada em depósitos eólicos é a gradação inversa que,
junto com outros critérios, é usada para identificar depósitos eólicos. Esta textura pode ocorrer
nas lâminas de fluxo de grãos pelo choque de partículas devido à ação da pressão dispersiva e
nas marcas onduladas. Neste último caso, ela ocorre através da concentração de material fino
(silte e areia muito fina) nas calhas e material mais grosso (areia fina a média) nas cristas das
marcas onduladas, sendo chamada de pin stripe lamination (Figura 3.14) (FRYBERGER &
SCHENK, 1988).
Nas intercalações dos processos fluviais e eólicos é possível a ocorrência de areia bem
selecionada, de origem eólica, recobrindo lamitos no topo de ciclos granodecrescentes
ascendentes, de origem fluvial, e sotoposta ao contato erosional que marca o início de um
novo ciclo fluvial (MORAES & GABAGLIA, 1986).
Figura 3.14: Seção esquemática de marcas onduladas mostrando a concentração de grãos mais grossos (areia fina a
média) na crista e grãos mais finos (silte e areia muito fina) na calha. Este efeito produz a gradação inversa comum
nessas formas de leito. Fonte: Fryberger & Schenk (1988, apud OLIVEIRA, 2005).
Parâmetros estruturais
Figura 3.15: Estruturas sedimentares em depósitos eólicos: A) laminação transladante cavalgante, sendo que a seta
está indicando o sentido do fluxo do vento; B) estratificação cruzada marcada pela alternância de lâminas de queda
de grãos e fluxo de grãos, sendo o sentido do fluxo da esquerda para direita. Em ambas, o corte é paralelo ao fluxo.
Fonte: Silva (2009).
FREQUÊNCIA
LITOFÁCIES DESCRIÇÃO PROCESSO SEDIMENTAR
(%)
Arenito acastanhado a tons acinzentados e esverdeados, médio a
grosso, subordinadamente fino, mal selecionado, semifriável a friável,
Ama 37,0 Rápida desaceleração do fluxo em condições subaquáticas.
por vezes com concentrações calcíferas, bioturbado, argiloso e
maciço.
Arenito acinzentado com tons esverdeados e avermelhados, fino a
Afd médio, por vezes grosso, mal a bem selecionado, semifriável, argiloso 19,0 Fluidização de depósitos subaquáticos.
e com concentrações calcíferas, fluidizado.
62
FREQUÊNCIA
LITOFÁCIES DESCRIÇÃO PROCESSO SEDIMENTAR
(%)
Arenito esverdeado a arroxeado, médio a grosso, mal selecionado,
Migração de formas de leito subaquosas sob regime de fluxo
Axi semifriável, argiloso, com estratificação cruzada indefinida e incipiente 0,3
inferior.
evidente por níveis ricos de argila.
Arenito esverdeado a avermelhado, muito fino a fino, bem Deposição de formas de leito plano sob regime de fluxo
App 0,2
selecionado, semifriável, argiloso, com laminação plano-paralela. superior.
63
64
Interpretação
Foto 4.1: Arenito argiloso com estratificação Foto 4.2: Arenito argiloso avermelhado com
plano-paralela difusa devido a processos de intercalações de arenito amarelado.
fluidização.
66
Foto 4.3: Conjunto de testemunhos mostrando a transição entre os arenitos argilosos avermelhados, que ocorrem na
base do poço, com arenitos amarelados de granulometria levemente maior, ambos da associação de fácies flúvio-
lacustre.
Esta associação de fácies possui a maior ocorrência nos testemunhos descritos e perfaz
um total de 76%. Compreende as litofácies Ama, Afd, Axb, Axt, Axi, Ali, Axa, App, Arp e
Lli dispostas em ordem decrescente de ocorrência.
Os arenitos maciços (Ama) ocorrem com maior frequência e possuem granulometria
variando de fina a grossa e são, predominantemente, mal selecionados, sendo comum a
presença de grânulos dispersos (Foto 4.4). A coloração varia de castanho escuro (Foto 4.5) a
claro (quando há indícios de óleo) e a tons acinzentados (Foto 4.6) e esverdeados (quando
apresentam argilosidade alta). Nos intervalos iniciais do testemunho (primeiros 23 metros), a
litofácies Ama intercala-se com a Axb com espessuras mínimas e máximas em torno de 3,4
67
Foto 4.4: Litofácies Ama exibindo grânulos Foto 4.5: Litofácies Ama exibindo coloração
dispersos. castanho escuro devido a saturação de óleo
Foto 4.6: Litofácies Ama apresentando maior Foto 4.7: Litofácies Ama exibindo textura
nível de argilosidade. mosqueada.
69
Foto 4.8: Litofácies Afd apresentando alta Foto 4.9: Na litofácies Afd muitas vezes a
argilosidade. estrutura primária da rocha torna-se difusa.
Foto 4.10: Arenito com estratificação cruzada Foto 4.11: Litofácies Axb com alto nível de
de baixo ângulo (litofácies Axb). argilosidade e com porções fluidizadas.
70
Foto 4.12: Arenito com estratificação cruzada Foto 4.13: Arenito com estratificação cruzada
tabular (litofácies Axt) com presença de indefinida e incipiente (Axi) evidenciada por
intraclastos de argila. níveis alinhados ricos em argila.
Foto 4.14: Litofácies Ali com lâminas de Foto 4.15: Litofácies Axa. Notar relação de
concentrações de material carbonático e argila. truncamento de estratos em evidência.
72
Foto 4.16: Litofácies App com níveis ricos em Foto 4.17: Arenito argiloso exibindo
argila. estratificação cruzada cavalgante na base (Arp).
Foto 4.20: Desenvolvimento de paleossolo incipiente muito comum na associação de fácies fluvial efêmero.
74
Interpretação
a gênese efêmera é a ocorrência de fácies eólicas associadas aos depósitos fluviais, o que
indica exposições subaéreas em condições de aridização.
Foto 4.21: Arenito com estratificação cruzada Foto 4.22: Grânulos alinhados segundo os
acanalada (Axa), com evidente truncamento em planos de estratificação (litofácies Axa).
destaque.
Foto 4.23: Litofácies Ama com alta Foto 4.24: Arenito maciço saturado em óleo.
argilosidade.
77
Interpretação
Figura 4.1: Imagem do Anasete mostrando os ciclos granodecrescentes ascendentes pouco desenvolvidos dos
arenitos com estratificação cruzada acanalada (Axa) da associação de fácies fluvial entrelaçado perene.
79
Interpretação
Como já foi discutido no item 3.2.5 deste trabalho, é comum a ocorrência de depósitos
eólicos e fluviais associados. Diferenciá-los, à vezes, é difícil, principalmente em amostras
testemunhos. Algumas características, quando analisadas em conjunto, ajudam a distinguir
pacotes eólicos dos fluviais, dentre as quais se destacam: i) granulometria; ii) selecionamento;
80
Este grupo representa 7% dos testemunhos descritos e é composto pelas litofácies Axt-
E e Ama-E. Os pacotes com estratificação cruzada tabular (Foto 4.26) são compostos por
arenitos amarelados, acastanhados e marrom avermelhados, finos a médios, bem
selecionados, cujos grãos apresentam-se subarredondados. Por vezes, registra-se a presença de
concentrações calcíferas dispersas. Ocorrem associados aos depósitos fluviais efêmeros
(litofácies Axb e Ama), sendo que o pacote mais significativo possui espessura de 15 metros.
Possuem baixa argilosidade e há intervalos saturados com óleo, supostamente com boas
condições permo-porosas (Foto 4.27). Localmente, verificam-se lentes (0,5 a 2,0 cm)
compostas por grãos mais grossos (Foto 4.28), dando um indicativo de que ali atuaram
processos de queda de grãos.
Dentro dos pacotes dos arenitos da litofácies Axt-E ocorrem arenitos esverdeados e
avermelhados, finos a médios, bem selecionados, com aspecto maciço arranjados em pacotes
pouco espessos (em torno de 40 cm) que constituem as litofácies Ama-E (Foto 4.29). Quando
em contato com a litofácies Afd da associação de fácies fluvial efêmero apresenta alta
argilosidade, tanto concentrada em níveis como em forma de intraclastos.
81
Foto 4.26: Arenito exibindo estratificação Foto 4.27: Litofácies Axt-E com níveis de
cruzada tabular (Axt-E). saturação de óleo.
Foto 4.28: Litofácies Axt-E exibindo lentes com Foto 4.29: Arenito com aspecto maciço da
grãos mais grossos alternados com grãos mais litofácies Ama-E.
finos.
82
Interpretação
Dunas eólicas são formas de leito de grande porte e os depósitos da litofácies Axt-E
possuem estratos cruzados em alto ângulo (em torno de 30°). Esta organização interna,
alinhada aos aspectos texturais apresentados, sugerem uma associação de fácies de dunas
eólicas.
A migração de dunas eólicas resulta em estratificações cruzadas acanaladas e
tabulares, sendo evidentes nos testemunhos. Os pacotes maciços, intercalados aos
estratificados, podem ser resultado de processos pós-deposicionais ocasionados pela expulsão
da água dos poros dos sedimentos ainda inconsolidados. A ocorrência de lentes de fluxos e
queda de grãos evidenciada pela presença de grãos mais grossos arranjados em níveis
centimétricos, fortalece a ideia de que as litofácies Axt-E e Ama-E são registros de dunas
eólicas.
Figura 4.2: Imagem do Anasete mostrando o intervalo compreendido pela Sequência II, cujos contatos superior e
inferior são abruptos marcados, principalmente, pelo aumento da granulometria e organização interna.
84
Foto 4.30: Conjunto de testemunhos que mostra a transição, linha vermelha, entre a sequência III (caixas 5 e 6) e a
sequência II (caixas 7 e 8).
85
Foto 4.31: Conjunto de testemunhos que mostra a transição, linha vermelha, entre a sequência II (caixa 1) e a
sequência I (caixas 2 e 3).
86
CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
CAIXETA, J. M.; BUENO, J. V.; MAGNAVITA, L. P.; FEIJÓ, F. J. Bacias do Recôncavo, Tucano
e Jatobá. Boletim de Geociências da Petrobras, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p.163-172,
jan./mar. 1994.
FRYBERGER, S. G.; SCHENK, C. J. Pin Stripe Lamination: a distinctive feature of modern and
ancient eolian sediments. Sedimentary Geology, Amsterdam, v. 55, p. 1-15, 1988.
GRAY, D.; HARDING, J. S. Braided River ecology: a literature review of physical habitats and
aquatic invertebrate communities. New Zealand: Science & Technical Publishing, 2007.
Disponível em: <http://www.doc.govt.nz/upload/documents/science-and-
technical/sfc279entire.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2012.
88
LANCASTER, N. Aeolian erosion, transport and deposition. In: SELLEY, R. C.; ROBIN, L.;
COCKS, M.; PLIMER, I. R. (Eds.). Encyclopedia of Geology. Oxford: Elsevier, 2005. p.
612-627
PRESS, F.; SIEVER, R.; GROTZINGER, J.; JORDAN, T. H. Para entender a Terra. 4 ed. Porto
Alegre: Bookman, 2006.
SCHERER, C. M. S.; LAVINA, E. L. C.; FILHO, D. C. D.; OLIVEIRA, F. M.; BONGIOLO, D. E.;
AGUIAR, E. D. Evolução estratigráfica da sucessão flúvio-eólica-lacustre da Formação Sergi,
Bacia do Recôncavo, Brazil. In: Congresso Brasileiro de P&D em Petróleo e Gás, 3, 2005,
Salvador. Anais...Salvador: [s.n.], 2005. 5p.
SILVA, O. B.; CAIXETA, J. M.; MILHOMEM, P. S.; KOSIN, M. D. Bacia do Recôncavo. Boletim
de Geociências da Petrobras – cartas estratigráficas, Rio de Janeiro, v. 15, n. 2, p. 423-
431, maio/nov. 2007.
WALKER, R. G.; CANT, G. J. Sandy Fluvial Systems. In: WALKER, R. G. (Ed.). Facies Model. 2
ed. Toronto: Geoscience Canada Reprint Series, 1984. p. 71-89.
90