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1.

Introdução

O designer de jóias, além de projetar os produtos com a função de atender às


crescentes demandas exigidas pelo mercado, precisa atentar para outro ponto
importante da produção destes acessórios: a ergonomia. Mas o que é ergonomia?
De acordo com a ABERGO (Associação Brasileira de Ergonomia), obtém-se a
seguinte definição:

“(...) disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres


humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados
e métodos a projetos a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho global
do sistema.” (ABERGO, 2000)

Ou seja, a ergonomia destina-se ao estudo da relação que ocorre entre o ser


humano e um determinado ambiente onde o mesmo está inserido, a fim de obter
resultados e soluções que possam trazer melhorias ao seu bem estar físico e
mental. No âmbito da moda, podemos compreender essa disciplina como sendo
uma parte indispensável no processo de produção e sobretudo de aceitação de um
determinado produto de moda no mercado, visto que o usuário, como receptor final
desse sistema, conhece seus próprios desejos e necessidades a respeito daquilo
que ele gostaria de usar.

De acordo com Campos (2011 apud CERATTI, 2013) o designer precisa ser,
diante do mercado competitivo atual, “criativo, inovador, e sempre buscar o
diferencial” e isso pode abranger não somente a parte estética, mas também as
questões ergonômicas do produto, sobretudo se levarmos em consideração a
autonomia que o usuário tem de escolher um produto específico por este se
encaixar melhor dentro das suas necessidades pessoais.

Dentro deste contexto, optamos por fazer no presente trabalho, uma análise
ergonômica dos fechos de pulseiras (semi-jóias), visto que os acessórios de moda
também englobam uma grande quantidade de problemas relacionados à ergonomia,
principalmente pelo fato de muitos usuários priorizarem apenas estética no ato da
compra, deixando de fora questões importantes, como conforto e usabilidade.
Portanto, observando e apontando as dificuldades encontradas pelas usuárias, será
possível obter uma solução para os problemas mais frequentes referentes ao
manuseio destes objetos, que muitas vezes são descartados rapidamente por suas
elas devido às condições inadequadas de uso – pequenos demais, grandes demais,
material corrosivo, escorregadios, etc. – acarretando consequentemente na rejeição
permanente do produto.

Análise Ergonômica

Bonsiepe (1978) divide os produtos em classes de acordo com a sua zona de


proximidade com o usuário. As jóias, por serem produtos que “revestem ou estão no
corpo do usuário” classificam-se como sendo parte integrante da classe 1, junto com
relógios, luvas, óculos, chapéus, e etc. De acordo com o autor, os produtos de
classe 1 “são produtos de maior proximidade em relação ao usuário, constituindo-se
em contato ativo através dos órgãos ativos e sensoriais.” (BONSIEPE, 1978).

Levando em consideração a divisão de classes apresentada por Bonsiepe


(1978), e a proximidade do usuário com o produto em questão, é importante
observar que a fabricação e o uso inadequado de jóias podem causar os mais
diversos tipos de reações no(a) usuário(a), desde alergias leves ou até mesmo
graves atritos com a pele. A fim de observar esse processo por diferentes ângulos,
foram escolhidas para os testes de aptidão deste trabalho 4 pulseiras diferentes, de
tamanhos e modelos diferentes, com fechos diferentes:

Pulseira 01:
Materiais: Borracha e metal;
Cor: verde;
Tipo de fecho: Pressão;

Pulseira 02:
Materiais: Metal, miçangas de plástico;
Cor: Cores variadas
Tipo de fecho: Lagosta.
Pulseira 03:
Materiais: Metal;
Cor: Dourada;
Tipo de fecho: Fecho

Pulseira 04:
Materiais: Metal;
Cor: Prateada:
Tipo de fecho: Fecho lagosta.

Pulseira 05:
Material: Metal
Cor: Prateada
Tipo de fecho: Fecho Bóia.

Coleta de Dados

Foram realizados testes de aptidão com dois grupos distintos, cada um com
10 participantes: sendo um com jovens entre 14 e 25 anos e o outro com idosas
entre 52 e 86 anos, a fim de ser realizada uma comparação das dificuldades
encontradas pelas entrevistadas de ambos os grupos. Abaixo, seguem as análises
dos dados:

Análise dos Dados / Problematização Ergonômica

Em todos os testes de aptidão foram encontradas diversas dificuldades por


parte das participantes. Alguns fechos eram de manuseio muito complicado,
pequenos e muitas vezes propensos a se soltarem, fazendo a pulseira cair do pulso.
Abaixo, seguem os resultados mais detalhados:

Resultados Grupo A (Grupo de Jovens):

Pulseira 01
Participantes 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Fácil X x x X x x x x x x
Regular
Difícil
Popular x x x x x

Pulseira 02
Participantes 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Fácil X x x X x x x x x x
Regular
Difícil
Popular x x x x x

Pulseira 03
Participantes 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Fácil X x x X x x
Regular X X x
Difícil x
Popular
Pulseira 04
Participantes 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Fácil x
Regular X
Difícil x x X x X x x X
Popular X X x

Pulseira 05
Participantes 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Fácil
Regular X
Difícil X x x X X x x x x
Popular X x x X X X x x x

De todas as pulseiras que foram utilizadas pelo grupo de jovens, apenas as


pulseiras 01 (fecho de pressão) e 02 (fecho lagosta) foram consideradas por todas
as participantes como sendo de fácil manuseio. As pulseiras 03, 04 e 05 formaram
opiniões mais divididas, sendo que as pulseiras 04 e 05 foram consideradas pela
maior parte das participantes como sendo de difícil manuseio. Ambas possuíam,
respectivamente, os fechos lagosta e boia. Com relação ao uso frequente das
pulseiras, a que foi classificada como sendo de uso mais popular foi pulseira 05.

Das 10 entrevistadas do grupo de jovens, todas afirmaram precisar de ajuda para


poder fechar as pulseiras corretamente.

Observações e comentários feitos pelas participantes:

 Tamanho da unha, curta ou grande demais, pode vir a dificultar seu


manuseio;

 O tamanho dos fechos também, por serem pequenos demais, atrapalham


muito, fazendo com que as usuárias percam muito tempo tentando encaixar;

 Assim, o auxílio de uma segunda pessoa é necessário, acarretando em


dificuldades para o ajudante.
Resultados Grupo B (Grupo de Idosas):

Pulseira 01
Participantes 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Fácil X x X x x x x x
Regular X x
Difícil
Popular x x x x

Pulseira 02
Participantes 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Fácil X x x x x x
Regular x x x
Difícil X
Popular x x x x

Pulseira 03
Participantes 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Fácil x x x x x
Regular X X x x x
Difícil
Popular x x

Pulseira 04
Participantes 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Fácil
Regular X
Difícil x X x x x x x x x
Popular x X x x x
Pulseira 05
Participantes 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10
Fácil
Regular
Difícil X x X x x x x x x x
Popular X x x x x x

Com relação ao grupo de idosas, foi observado que as pulseiras 04 (com


fecho Lagosta) e 05 (com fecho Bóia) causaram as maiores dificuldades no que
concerne ao manuseio. As outras 03 pulseiras apresentaram resultados
equilibrados, sendo classificada pela maioria das participantes como sendo de
manuseio fácil ou regular.

Observações e comentários feitos pelas participantes:

 Uma das participantes evita usar por sentir alergia;

 Preferência da maioria por pulseira com argola, sem fecho e esteticamente


pelas maiores;

 Houve a sugestão de usar no pulso contrário a mão predominante, para ser


melhor de colocar;

 Houve a unânime opinião sobre a maior facilidade de prender as pulseiras de


pressão e com fechos maiores;

 Houve uma grande queixa quanto à dependência de um ajudante. Deste


modo, muitas usam somente em eventualidades;

Resultados

Após o término dos testes de aptidão e a conclusão das análises, foi possível chegar
aos seguintes resultados com relação ao grupo A (jovens):

Fecho de Fácil Manuseio: Pulseira 01 (fecho de pressão)


Fecho de difícil manuseio: Pulseira 04 (fecho lagosta)

Com relação ao grupo B (idosas), obtivemos o seguintes resultados:

Fechos de fácil manuseio: Pulseiras 01 e 03 (fecho de pressão e fecho ....)

Fechos de difícil manuseio: Pulseiras 02 e 04 (fecho lagosta)

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