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CURSO BÁSICO DE

CAPACITAÇÃO TEOLÓGICA
ÍNDICE:

INTRODUÇÃO -------------------------------------------------------------------- 02
TEOLOGIA - DOUTRINA DE DEUS ---------------------------------------- 03
CRISTOLOGIA - DOUTRINA DE CRISTO --------------------------------14
PARACLETOLOGIA - DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO ---------- 20
BIBLIOLOGIA - DOUTRINA DA BÍBLIA ----------------------------------- 32
ANGELOLOGIA - DOUTRINA DOS ANJOS ----------------------------- 39
ANTROPOLOGIA - DOUTRINA DO HOMEM --------------------------- 43
HAMARTIOLOGIA - DOUTRINA DO PECADO ------------------------- 47
SOTERIOLOGIA - DOUTRINA DA SALVAÇÃO ------------------------- 51
ECLESIOLOGIA - DOUTRINA DA IGREJA ------------------------------ 56
ESCATOLOGIA - DOUTRINA DAS ÚLTIMAS COISAS -------------- 64
HOMILÉTICA - A ARTE DE PREGAR ----------------------------------------- 78
HERMENÊUTICA - A ARTE DE INTERPRETAR O TEXTO ----------- 82

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INTRODUÇÃO

Colocamos à sua disposição um curso básico de capacitação em teologia.


É algo simples e resumido. O objetivo é facilitar a vida tanto obreiros da seara
do Senhor como dos demais membros da igreja do Senhor, que ainda não
tiveram a oportunidade ou mesmo condições de fazer um curso mais amplo
de teologia.
Este curso de teologia é composto de 12 matérias teológicas, com o
objetivo de trazer ate você o munimo de conhecimento teologico que um
crsitão deve ter, destacando a sua importância para o crescimento espiritual,
intelectual e bíblico de todos os estudantes em geral da Bíblia Sagrada.
Os conceitos técnicos e basilares da teologia cristã são encontrados nos
melhores manuais de teologia. Portanto, não há como fazer invenções
teológicas.
Destas 12 matérias teológicas, dez são de teologia sistemática: Teologia,
Cristologia, Paracletologia, Bibliologia, Angelologia, Antropologia,
Hamartiologia, Soteriologia, Eclesiologia e Escatologia; duas fazem parte da
teologia exegética: Homilética e Hermenêutica.

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TEOLOGIA — A DOUTRINA DE DEUS

INTRODUÇÃO
A doutrina que estuda sobre Deus chama-se “teologia”. O termo teologia,
segundo seus aspectos etimológicos, é composto de duas palavras gregas:
theos, que significa Deus e logos, que significa “ciência” ou “tratado”. A
teologia estuda o seguinte sobre Deus: sua personalidade, seus atributos
naturais e morais, sua existência, sua eternidade, sua santidade, sua
misericórdia, sua graça, seu amor, sua espiritualidade, sua imutabilidade, seus
nomes, sua retidão, sua providência, sua paternidade, a Trindade e tudo mais
que a teologia pode nos revelar acerca de Deus. Embora não encontremos nas
Escrituras Sagradas a palavra “teologia”, ela é bíblica em seu caráter.
Vejamos:
CLASSIFICAÇÃO DA TEOLOGIA
A teologia é envolvida com Deus, o homem e a religião e por isso tem
várias divisões. A teologia está classificada em cinco principais ramos:
TEOLOGIA EXEGÉTICA: Este ramo da teologia procura descobrir o
verdadeiro significado das Escrituras, mostrando a arte de interpretar as
línguas originais em que foi escrita a Bíblia, decifrando as dificuldades de
interpretação, como no caso a hermenêutica sagrada.
TEOLOGIA HISTÓRICA: Este ramo da teologia traça a história do
desenvolvimento da interpretação doutrinária, envolvendo o estudo da história
da Igreja, como por exemplo, a história do cristianismo.
TEOLOGIA DOGMÁTICA: Este ramo da teologia estuda as verdades
fundamentais da fé como se nos apresenta nos credos da Igreja, como por
exemplo a teologia calvinista, luterana e outras mais.
TEOLOGIA BÍBLICA: Este ramo da teologia traça o progresso da
verdade, através dos diversos livros da Bíblia e descreve a maneira de cada
escritor apresentar as doutrinas importantes como por exemplo a teologia do
Antigo Testamento, teologia do Novo Testamento, teologia do Pentateuco etc.
TEOLOGIA SISTEMÁTICA: Neste ramo de estudo da teologia, os
ensinos bíblicos concernentes a Deus e aos homens são agrupados em tópicos
de acordo com um sistema definido por matérias e distribuído em disciplinas
autônomas, como por exemplo:

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Teologia (doutrina de Deus), Cristologia (doutrina de Cristo), Paracletologia
(doutrina do Espírito Santo), Bibliologia (doutrina da Bíblia), Angelologia
(doutrina dos anjos), Antropologia (doutrina do homem), Hamartiologia
(doutrina do pecado), Soteriologia (doutrina da salvação), Eclesiologia
(doutrina da igreja) e Escatologia (doutrina das últimas coisas). De acordo
com o teólogo anglicano William Henry Thomas: “A teologia é a expressão
técnica da revelação de Deus. Faz parte da teologia examinar todos os fatos
espirituais da revelação, calcular o seu valor e arranjá-los em um corpo de
ensinamentos”. Vejamos:

I. ORIGEM DO TERMO “TEOLOGIA”


O termo “teologia” foi usado pela primeira vez por Platão no diálogo “A
república”, para referir-se à compreensão da natureza divina de forma
racional, em oposição à compreensão literária própria da poesia, tal como era
conduzida pelos seus conterrâneos. Mais tarde, Aristóteles empregou o termo
em numerosas ocasiões, com dois significados:
(1) teologia como o ramo fundamental da filosofia, também chamada
“filosofia primeira” ou “ciência dos primeiros princípios”, mais tarde
chamada de metafísica por seus seguidores; e
(2) teologia como denominação do pensamento mitológico imediatamente
anterior à filosofia. O teólogo protestante suíço Karl Barth definiu a teologia
como um “falar a partir de Deus”.
II. A IMPORTÂNCIA DA TEOLOGIA
A teologia, o estudo de Deus, já foi classificada no passado como a “rainha
das matérias universitárias”, por pesquisar e estudar sobre o maior de todos os
mistérios do Universo — Deus. E, também, por ser um dos mais antigos
cursos universitários da história. Aliás, as primeiras universidades da Europa
ofereciam basicamente três cursos: teologia, filosofia e direito. Hoje, com a
extrema secularização das universidades, o curso de teologia sofre toda a
discriminação da comunidade científica, por sua associação com a religião e
pelo fato de ir contra todos os argumentos e teorias científicas acerca da
origem do homem e do Universo, como a teoria da Evolução, teoria do Big
Bang e tantas outras teorias.

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Eles previam que o povo perderia o interesse pela religião e,
consequentemente, Deus seria tirado da pauta. Todavia apesar do
materialismo das pessoas, elas resolveram querer Deus e também a
prosperidade econômica. Portanto Deus nunca saiu e nem jamais sairá da
mente humana. Ele sempre será o assunto principal do mundo. Os maiores
conflitos hoje ao redor do planeta ainda são por questões religiosas. As
previsões teóricas dos sábios deste mundo fracassaram e a teologia voltou a
ficar em evidência. Os teólogos estão cada vez mais se tornando fonte de
consulta para os problemas existenciais da vida humana. O próprio MEC
(Ministério da Educação e Cultura) passou a reconhecer o curso de bacharel
em teologia como um curso de nível superior. Hoje, os teólogos estão sendo
convidados pelos populares programas de auditório na televisão e programas
de debate nas rádios, nas redes sociais e nos demais meios de comunicação
para responder questões de moralidade, ética e fé. Daí a necessidade de cada
cristão, ou obreiro da seara do Mestre, ter pelo menos um conhecimento
básico de teologia.
III. O OBJETIVO PRINCIPAL DA TEOLOGIA
O principal objetivo da teologia é fazer o homem entender o maior mistério
do Universo — Deus. A pergunta que Pilatos fez a Jesus é uma pergunta que
não se cala: “Que é a verdade?” (Jo 18.38). Tanto filósofos como teólogos
tentam explicar Deus. Para o filósofo grego Platão: “Ele é o começo, meio e
fim de todas as coisas. É a metade ou a razão suprema; a causa eficiente de
todas as coisas; eterno, imutável, onisciente, onipotente. Tudo permeia e tudo
controla. É justo, santo, sábio e bom; o absolutamente perfeito, começo de
toda a verdade, a fonte de toda a lei e justiça, a origem de toda a ordem e
beleza e, especialmente, a causa de todo o bem”. Essa descrição foi aceita por
muitos teólogos.
Para o grande teólogo cristão Anselmo de Cantuária, o pai da Escolástica,
“Deus é o princípio e o fim de todas as coisas; ele existe antes, durante e
depois de todas as coisas, pois ele criou tudo, mantém tudo e permanecerá
eterno e imutável depois que todas as coisas tiverem seu fim. Em tudo se pode
notar Deus, pois em cada criatura está uma inscrição de seu Criador. Ele criou
todas as coisas existentes às nossas realidades sensíveis e também aquelas
que nossa limitação sensitiva não é capaz de perceber, mas somente sofrer
suas consequências. Tu estás inteiro por toda a parte e a tua eternidade é
inteira e imperecível. Tu estás de tal maneira fora do espaço que não há em ti
nem meio, nem metade, nem parte alguma. Tu és misericordioso porque és
sumamente bom; és sumamente bom porque és sumamente justo, deve-se
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admitir que és verdadeiramente misericordioso porque és sumamente justo.
Portanto, tu és justo conforme a tua natureza, ó Deus justo e benigno, tanto ao
castigar como ao perdoar. Tu não és apenas aquilo de que não é possível
pensar nada maior, mas és, também, tão grande que superas a nossa
possibilidade de pensar-te”. Já dizia o profeta Isaías: “Verdadeiramente, tu és
o Deus que te ocultas, o Deus de Israel, o Salvador” (Is 45.15).
Em Is 57.15, o próprio Deus dá a definição de si mesmo, dizendo: “Porque
assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade e cujo nome é Santo:
Em um alto e santo lugar habito e também com o contrito e abatido de
espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e para vivificar o coração dos
contritos”. Aqui Deus revela a sua transcendência e a sua imanência. Ele é um
Deus que transcende a tudo e está acima de tudo, porém, é um Deus imanente,
o qual está bem perto de sua criação e mora também dentro do coração das
pessoas contritas.
IV.A EXISTÊNCIA DE DEUS
A existência de Deus é uma verdade fundamental das Escrituras, que não
tecem argumentos para afirmá-la ou comprová-la. A Bíblia já inicia
apresentando a realidade da existência de Deus, dizendo: “No princípio,
criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1). Deus não precisa que o homem creia
que ele existe para poder existir. Independente do homem crer ou não crer na
existência de Deus — ele existe! Nossa principal base para crer na realidade
de Deus se encontra nas páginas da Bíblia Sagrada. A Bíblia, portanto, não se
destina ao ateu, que nega a existência de Deus, nem ao agnóstico, que nega a
possibilidade de crer ou não na existência de Deus, nem para o incrédulo,
que rejeita a revelação de Deus. Definir exatamente quem é Deus não é algo
que pode ser feito meramente por palavras. Se não houvesse uma revelação,
acima de tudo, do próprio Deus ao homem, nunca iríamos compreendê-lo.
Acreditando ou não na existência de Deus, o homem necessita do Senhor para
compreender a si mesmo. Eis a questão que definirá o nosso destino eterno. A
definição básica que os dicionários bíblicos dão sobre Deus é esta: “Deus é
um ser existente por si mesmo, infinito, supremo, criador e conservador do
Universo”.

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Teorias sobre a existência de Deus
Existem várias teorias a respeito do que o homem pensa sobre a existência
de Deus, e se difundiram através da história, existindo até hoje adeptos destas
teorias.
ATEÍSMO: O ateísmo se define hoje como um movimento humanista
radical que nega a existência de Deus. O ateu nega o conceito de Deus por
não ser capaz de descobrir no Universo material a existência de Deus.
Porque Deus sendo Espírito não pertence à categoria da matéria e, portanto,
não pode ser descoberto por investigações meramente naturais ou humanas.
Entretanto a Bíblia mostra que o Universo material proclama a glória de Deus
(Sl 19.1). A crença na existência de Deus é universal. Nunca existiram povos
ateus. Ficou provado, tanto pela história como pela arqueologia, que “nunca se
encontrou tribo ou nação que não tenha alguma noção de um ser supremo, um
Deus que através de suas religiões procuram se aproximar dele e agradar-lhe
por meio de sacrifícios, às vezes até de sangue”. O moralista e historiador
grego Plutarco (45-125 d.C.) costumava dizer o seguinte: “É possível
encontrar cidades sem muralhas, sem ginásios, sem leis, sem moedas, sem
cultura literária, mas um povo sem Deus, sem orações, sem juramentos, sem
ritos religiosos, sem sacrifícios jamais foi encontrado”.
POLITEÍSMO: O politeísmo é conhecido como “culto de muitos deuses”.
Era característico das religiões antigas, mas até hoje é praticado entre muitos
povos e nações, principalmente na Índia, onde se acredita que existam treze
milhões de deuses. Baseia-se o politeísmo na ideia de que o Universo é
governado não só por uma força, mas sim por muitas forças, de maneira que
há um deus na água, um deus no fogo, um deus em cada animal, um deus nos
pássaros, nas montanhas etc. O apóstolo Paulo descreve como surgiu o
politeísmo, dizendo: “E mudaram a glória do Deus incorruptível em
semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e
de répteis” (Rm 1.23). A Palavra de Deus derruba totalmente esta teoria,
dizendo: “Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos, e em
todos” (Ef 4.6).
PANTEÍSMO: O panteísmo é proveniente de duas palavras gregas, que
significam “tudo é Deus”. É um sistema de pensamento que confunde Deus
com a natureza e o identifica com o Universo, árvores, pedras, terra, água etc.
O apóstolo Paulo também descreve como surgiu o panteísmo, dizendo: “pois
mudaram a verdade de Deus em mentira e honraram e serviram mais a criatura
do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém!” (Rm 1.25).

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A Bíblia afirma que: “Os céus manifestam a glória de Deus e o firmamento
anuncia a obra das suas mãos” (Sl 19.1). Portanto, a natureza apenas expressa
a glória do Criador!
DEÍSMO: O deísmo admite que haja um Deus pessoal que criou o mundo,
mas insiste que, depois da criação, Deus abandonou o mundo e entregou para
ser governado pelas leis naturais. A Bíblia condena totalmente esta teoria,
dizendo: “Exaltado está o SENHOR, acima de todas as nações, e a sua glória,
sobre os céus. Quem é como o SENHOR, nosso Deus, que habita nas alturas;
que se curva para ver o que está nos céus e na terra; que do pó levanta o
pequeno e, do monturo, ergue o necessitado, para o fazer assentar com os
príncipes, sim, com os príncipes do seu povo; que faz com que a mulher
estéril habite em família e seja alegre mãe de filhos? Louvai ao SENHOR!”
(Sl 113.4-9). Este texto revela a transcendência e imanência de Deus. Como
transcendente, Deus é excelso e está acima de tudo! Porém como imanente, ele
se inclina para observar a sua criação e interfere no dia a dia das pessoas,
exaltando o humilde, fazendo até a mulher estéril ser alegre mãe de filhos!
AGNOSTICISMO: O vocábulo “agnosticismo”, proveniente de um termo
grego, tem o sentido de “não conhecer”. Esse sistema de ensino tem por
objetivo negar a capacidade humana de conhecer a Deus. “A mente finita não
pode alcançar o infinito”, afirma o agnóstico. A Bíblia refuta totalmente esta
teoria, dizendo: “Conheçamos e prossigamos em conhecer o SENHOR: como
a alva, será a sua saída; e ele a nós virá como a chuva, como chuva serôdia
que rega a terra” (Os 6.3). Portanto, o conhecimento de Deus é progressivo!
MONOTEÍSMO: O monoteísmo é a crença de que existe um só Deus que
criou todas as coisas e sustenta pela sua Palavra todo o Universo (Hb 1.1-3). O
“monoteísmo” é o oposto do “politeísmo” e defende o “culto verdadeiro de
adoração a um só Deus”. O monoteísmo é defendido pelo judaísmo e pelas
duas maiores religiões do planeta, cristianismo e islamismo. A Bíblia apoia
claramente esta doutrina, dizendo: “Todavia, para nós há um só Deus, o Pai,
de quem é tudo e para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo
qual são todas as coisas, e nós por ele” (1Co 8.6). O próprio Deus confirma
esta doutrina, dizendo: “Olhai para mim e sereis salvos, vós, todos os termos
da terra; porque eu sou Deus, e não há outro” (Is 45.22).
V. OS ATRIBUTOS DE DEUS
Os atributos de Deus são aquelas características essenciais permanentes e
distintivas que podem ser afirmadas a respeito de seu ser. Seus atributos são
suas perfeições inseparáveis de sua natureza e que condicionam seu caráter.
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Os teólogos têm feito muitas tentativas para classificar os atributos de Deus
em atributos naturais e atributos morais. Os atributos naturais de Deus são
todos aqueles que pertencem à sua existência como Espírito infinito e racional.
Enquanto que os atributos morais de Deus são aqueles atributos adicionais que
lhe pertencem como Espírito infinito e justo.

Os atributos naturais de Deus


Os atributos naturais de Deus são: eternidade, imutabilidade, onisciência,
onipotência e onipresença.
ETERNIDADE: A eternidade de Deus é a duração infinita sem começo e
sem fim. Deus não teve princípio e não terá fim (Jó 36.26). Ele conhece os
acontecimentos presentes. Contudo o passado, presente e futuro são
igualmente conhecidos para ele. Para nós os acontecimentos ocorrem um a um.
Mas Deus vê todos os acontecimentos como um todo ligado, como se fosse
um único acontecimento. Moisés escreveu sobre a eternidade de Deus,
dizendo: “Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o
mundo, sim, de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Sl 90.2).
IMUTABILIDADE: A imutabilidade de Deus não admite a possibilidade
de mudança e nem sombra de variação. Na qualidade de ser infinito,
absoluto, independente e eterno, Deus está acima de possibilidades de
mudanças e variações. O apóstolo Tiago escreveu sobre a imutabilidade de
Deus, dizendo: “Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo
do Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação” (Tg
1.17). O Senhor também falou de sua imutabilidade através do profeta
Malaquias, dizendo: “Porque, eu, o SENHOR, não mudo; por isso, vós, ó
filhos de Jacó, não sois consumidos” (Ml 3.6).
ONISCIÊNCIA: A onisciência de Deus é um termo teológico que se
refere ao conhecimento e sabedoria infinitos de Deus e sua capacidade de
conhecer perfeitamente todas as coisas. Calvino definiu a onisciência como
“Aquele atributo mediante o qual Deus conhece a si mesmo e a todas as outras
coisas em um só e simplicíssimo ato eterno”. Davi escreveu sobre a
onisciência de Deus, dizendo: “Tu conheces o meu assentar e o meu levantar;
de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar e o meu deitar; e
conheces todos os meus caminhos. Sem que haja uma palavra na minha
língua, eis que, ó SENHOR, tudo conheces. Tu me cercaste em volta e puseste
sobre mim a tua mão. Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta, que
não a posso atingir” (Sl 139.2-6).

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ONIPOTÊNCIA: A onipotência de Deus é um termo teológico que se
refere ao poder ilimitado de Deus. Davi também escreveu sobre a onipotência
de Deus, dizendo: “Grande é o SENHOR e muito digno de louvor; e a sua
grandeza, inescrutável” (Sl 145.3). O próprio Deus revelou para Abraão a sua
onipotência, dizendo: “Eu sou o Deus Todo-Poderoso” (Gn 17.1). Jesus
também revelou a onipotência de Deus, dizendo: “Mas a Deus tudo é
possível” (Mt 19.26).
ONIPRESENÇA: A onipresença de Deus é um termo teológico que se
refere à natureza ilimitada de Deus ou à sua capacidade de estar em todos os
lugares ao mesmo tempo. Davi também escreveu sobre a onipresença de Deus,
dizendo: “Para onde me irei do teu Espírito ou para onde fugirei da tua face?
Se subir ao céu, tu aí estás; se fizer no Seol a minha cama, eis que tu ali estás
também; se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, até ali a
tua mão me guiará e a tua destra me susterá. Se disser: decerto que as trevas
me encobrirão; então, a noite será luz à roda de mim. Nem ainda as trevas me
escondem de ti; mas a noite resplandece como o dia; as trevas e a luz são para
ti a mesma coisa”
(Sl 139.7-12). O escritor da carta aos Hebreus também escreveu sobre a
onipresença de Deus, dizendo: “E não há criatura alguma encoberta diante
dele; antes, todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com quem
temos de tratar” (Hb 4.13).

Os atributos morais de Deus


Os atributos morais de Deus são: santidade, retidão, justiça, amor,
misericórdia e graça.
SANTIDADE: A santidade de Deus é seu atributo mais exaltado e
destacado, pois expressa a majestade de sua natureza e caráter moral. A
santidade de Deus poderia se chamar também de “atributo moral enfático de
Deus”. A Bíblia descreve como Deus é incomparável em santidade, dizendo:
“Não há santo como o SENHOR; porque não há outro além de ti; e Rocha não
há, nenhuma, como o nosso Deus” (1Sm 2.3). Os seres viventes proclamam
dia e noite a santidade de Deus, dizendo: “Santo, Santo, Santo é o Senhor
Deus, o Todo-Poderoso, aquele que era, que é e que há de vir” (Ap 4.8). Os
serafins também fazem isso, dizendo: “Santo, Santo, Santo é o SENHOR dos
Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (Is 6.3).
RETIDÃO: A retidão de Deus é a imposição de leis e exigências retas,
podendo ser chamada de “santidade legislativa”. Nesse atributo vemos

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revelado o empenho de Deus pela santidade que sempre o impele a fazer e a
exigir o que é reto (Sl 145.17; 116.5). Todos os requisitos exigidos por Deus
aos homens são absolutamente retos em seu caráter. Davi escreveu sobre a
retidão de Deus, dizendo: “Bom e reto é o SENHOR; pelo que ensinará o
caminho aos pecadores” (Sl 25.8).
JUSTIÇA: A justiça de Deus é a execução das penalidades impostas por
suas leis; essa pode ser chamada de “santidade judicial”. Nesse atributo
vemos revelado seu ódio contra o pecado, uma indignação tal que, livre de
toda paixão ou capricho, sempre o impele a ser justo e a exigir o que é justo
(Sf 3.5; Dt 32.4). Todos os tratos de Deus com os homens se baseiam na
justiça absoluta. A Bíblia fala da retidão e justiça de Deus, dizendo: “Ele
mesmo julgará o mundo com justiça; julgará os povos com retidão” (Sl 9.8).
AMOR: O amor é aquele atributo de Deus pelo qual ele se inclina a buscar
os melhores interesses de suas criaturas (Jo 3.16; Mt 5.44-45). O cristianismo
é realmente a única religião que exibe o ser supremo como amor (1Jo 4.8). Os
deuses dos pagãos são irascíveis e odiosos, que necessitam ser constantemente
apaziguados. Não é assim o nosso Deus. Seu amor, qual ponte, transpõe o
abismo do tempo. Permanece firme sob as mais pesadas pressões. As
pressões e o peso do pecado do homem não têm quebrado a ponte do amor,
que se reflete na longanimidade de Deus. Paulo escreveu sobre a
demonstração prática do amor de Deus pelos pecadores, dizendo: “Mas Deus
prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós, sendo nós
ainda pecadores” (Rm 5.8).
MISERICÓRDIA: A misericórdia de Deus é aquele princípio e
qualidade que descreve sua disposição e ação em relação aos pecaminosos e
sofredores, sustando penalidades merecidas e aliviando os angustiados. A
Bíblia fala da eternidade da misericórdia de Deus, dizendo: “Mas a
misericórdia do SENHOR é de eternidade a eternidade, sobre aqueles que o
temem, e a sua justiça, sobre os filhos dos filhos” (Sl 103.17). Com base
nisso, o profeta Jeremias descreve a infinita misericórdia do Senhor, dizendo:
“As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos;
porque as suas misericórdias não têm fim. Novas são cada manhã; grande é a
tua fidelidade” (Lm 3.22-23).
GRAÇA: A graça de Deus é seu favor não merecido, contrário ao
merecimento, mediante o qual a penalidade merecida e consequente é
suspensa e todas as bênçãos positivas são concedidas ao crente
arrependido. O salmista Davi descreveu tão bem a plenitude da graça de Deus,

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dizendo: “Mas tu, Senhor, és um Deus cheio de compaixão, e piedoso, e
sofredor, e grande em benignidade e em verdade”
(Sl 86.15). O apóstolo Paulo também escreveu sobre a extensão da graça de
Deus, dizendo: “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação
a todos os homens” (Tt 2.11).
VI. A SANTÍSSIMA TRINDADE
A Bíblia afirma, de forma categórica, em suas páginas: “Há um só Deus”
(1Co 8.6; Ef 4.6). Entretanto, esse Deus único se manifesta em três pessoas
divinas: O Deus Pai, o Deus Filho e o Deus Espírito Santo (Mt 28.19). A
palavra “Trindade” não se encontra na Bíblia, mas foi primeiramente
empregada por Tertuliano, um dos mais importantes teólogos do período
Patrístico, para descrever o que as Escrituras ensinam sobre a natureza do
Deus trino. A Bíblia afirma que o único Deus verdadeiro existe como uma
Trindade: O Pai, o Filho e o Espírito Santo. Estas três pessoas, que formam
uma única divindade, são distinguíveis uma da outra na mesma natureza, na
mesma essência, e se relacionam entre si numa comunhão ininterrupta. A
Trindade é uma comunhão eterna que já existia muito antes de todas as coisas,
portanto, não é uma invenção de Tertuliano; ele apenas usou pela primeira vez
o termo “Trindade”.
A doutrina da Trindade existe para descrever a plenitude da divindade, que
se fundamenta na tríplice manifestação de Deus, nos eventos narrados no
Antigo e Novo Testamento. Desde a criação observamos alguns verbos e
pronomes que se referem a mais de uma pessoa: (1) na criação do homem:
“Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” (Gn
1.26); (2) na confusão das línguas: “Eia, desçamos e confundamos ali a sua
língua, para que não entenda um a língua do outro” (Gn 11.7); (3) na visão de
Isaías, quando do seu chamamento, lemos que Deus perguntou: “A quem
enviarei, e quem há de ir por nós?” Estas citações no Antigo Testamento
definem mais de uma pessoa na Trindade presente em ação.
No Novo Testamento, a doutrina da Trindade é claramente explícita nas
seguintes ocasiões: (1) a tríplice manifestação divina é evidenciada por
ocasião do batismo de Jesus (Mt 3.16-17); (2) pela menção das Três Pessoas
da Trindade na grande ordenança de Jesus acerca do batismo dos salvos
(Mt 28.19); (3) na referência das Três Pessoas da Trindade na bênção
apostólica (2Co 13.13) e (4) pela menção das Três Pessoas divinas nos
ensinos de Cristo e Paulo em várias outras passagens do Novo Testamento,
que revelam claramente a doutrina da Trindade.

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A santíssima Trindade não é três deuses como ensina a teoria conhecida
como “triteísmo”. A Trindade não é três manifestações de uma só pessoa
como ensina a teoria conhecida como “sabelianismo”. A Trindade também
não é três elementos essenciais de um Deus como ensina a teoria conhecida
como “swedenborgianismo”. Entretanto qual é a teoria correta que define a
Trindade? O Credo Atanasiano define muito bem a santíssima Trindade
dizendo: “Adoramos um só Deus em Trindade e uma Trindade em unidade,
não confundindo as pessoas e nem dividindo a substância”. A Trindade,
portanto, são três pessoas eternamente “interconstituídas”, inter-relacionadas,
“interexistentes” e inseparáveis dentro de um único ser e de uma única
substância ou essência.
Em 1Co 12.4-6, Paulo distingue de forma clara as três pessoas da Trindade,
dizendo: “Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há
diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de
operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos”.
Em Ef 4.4-6, Paulo ainda reforça o argumento, dizendo: “Há um só corpo e
um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa
vocação; um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos,
o qual é sobre todos, e por todos, e em todos”.

CONCLUSÃO
Em Jo 17.3, o Senhor Jesus Cristo nos deu o resumo de toda a teologia
cristã, dizendo: “E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus
verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste”.

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CRISTOLOGIA — A DOUTRINA DE CRISTO

INTRODUÇÃO
A cristologia é uma disciplina da teologia sistemática que estuda acerca da
pessoa e obra de Cristo. O termo “cristologia”, é uma associação do nome
messiânico de Jesus em grego, que é “Cristo”, o “Ungido”, com o sufixo
logia, que é “estudo”, “doutrina” ou “ensino”. Portanto, cristologia é o estudo,
a doutrina ou o ensino acerca de Cristo. Esta matéria teológica se reveste de
grande importância, pelo fato de estudar sobre o fundador do cristianismo, a
maior religião do planeta. Jesus Cristo possui uma relação tão vital com o
cristianismo que nenhum outro fundador de religião possui. Todas as demais
religiões são de profetas e mestres mortos. O cristianismo, porém, é a única
religião que o seu fundador vive para sempre. Vamos resumir esta matéria tão
extensa em oito principais ensinos acerca de Cristo: I) A pessoa de Jesus
Cristo; II) A humanidade de Jesus Cristo; III) A divindade de Jesus Cristo;
IV) O caráter de Jesus Cristo; V) A obra de Jesus Cristo; VI) O significado
da morte de Jesus Cristo; VII) A ressurreição de Jesus Cristo e VIII) A
ascensão de Jesus Cristo. Vejamos:
I. A PESSOA DE JESUS CRISTO
Jesus Cristo é o centro e âmago da história do mundo. A própria história do
mundo se divide entre antes e depois de Cristo. Como definiu muito bem o
teólogo Bancroft: “A pessoa de Jesus Cristo não somente está firmemente
engastada na história humana e gravada nas páginas abertas das Escrituras
Sagradas, mas também é experimentalmente materializada nas vidas de
milhões de crentes e entrelaçada no tecido de toda a civilização digna desse
nome”. Por mais que os historiadores e pensadores do presente século
queiram classificar Jesus Cristo como um simples fundador de religião como
Maomé, Buda, Confúcio, Zoroastro e tantos outros, jamais conseguirão
ofuscar o brilho e a influência da obra de Cristo no coração de milhares e
milhares de pessoas através da história e nos dias atuais. Quanto mais tentam
sepultar o cristianismo, mais vigoroso e glorioso ele ressurge em todo o
mundo. Nisto concordo com as palavras de outro grande teólogo: “O
cristianismo não pode ser comparado com outros cultos, como também Jesus
Cristo não pode ser comparado com outras pessoas. Cristo é o incomparável;
ele está acima dos homens como os céus estão acima da terra. Da mesma
forma, o cristianismo é incomparável. Acha-se em plano tão afastado do nível

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das religiões humanas, quanto está o Ocidente afastado do Oriente”
(Neighbor).
II. A HUMANIDADE DE JESUS CRISTO
Jesus Cristo é homem verdadeiro e Deus verdadeiro. A encarnação do
Verbo é, sem dúvida, um dos grandes mistérios do cristianismo (Jo 1.14). Para
o teólogo Bushnell: “Cristo pertence à raça e dela participa, nascido de
mulher, vivendo dentro da linhagem humana, sujeito às condições humanas e
fazendo parte integral da história do mundo”. Cristo não foi 50% homem e
nem 50% Deus. Ele é 100% homem e 100% Deus. Jesus Cristo tornou-se
homem através de uma concepção sobrenatural, como bem já definia o Credo
dos Apóstolos: “Nasceu do Espírito Santo e da virgem Maria”. Desta maneira
as Escrituras confirmam, dizendo: “Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi
assim: Estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem,
achou-se ter concebido do Espírito Santo” (Mt 1.18). E Paulo resume este
assunto, dizendo: “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho,
nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gl 4.4).
III. A DIVINDADE DE JESUS CRISTO
Jesus Cristo possuía duas naturezas: a divina e a humana. “A união da
divindade com a humanidade era essencial à constituição da pessoa de Cristo.
Segue-se, portanto, que Cristo é o Deus-Homem”, assim definiu Pendleton.
Ainda de acordo com o teólogo Bancroft: “Para quem aceita a doutrina bíblica
da Trindade, evidentemente não há necessidade de argumentos para provar a
divindade de Cristo, pois a aceitação de uma abrange a outra: Se Cristo é a
segunda pessoa da Trindade, é da mesma essência do Pai e do Espírito Santo,
possuindo igual poder e glória. Em Deus Pai vemos a fonte da divindade; em
Jesus Cristo, a divindade a transbordar; na corrente está toda a perfeição da
fonte. O Pai é a fonte da glória; Jesus Cristo, o Filho, é o resplendor dessa
glória.”
A Bíblia afirma que Jesus Cristo é “o resplendor da sua glória, e a expressa
imagem da sua pessoa” (Hb 1.3). Portanto, Cristo é a expressão exata da
natureza e da essência da divindade. O apóstolo Paulo apresenta Jesus Cristo
como o próprio Deus, dizendo: “Aguardando a bem-aventurada esperança e o
aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo” (Tt 2.13).
Pedro também apresenta Jesus Cristo como o próprio Deus, dizendo: “Simão
Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que conosco alcançaram fé
igualmente preciosa pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo”
(2Pe 1.1). O apóstolo João chama a Jesus Cristo de verdadeiro Deus, dizendo:
15
“E sabemos que já o Filho de Deus é vindo e nos deu entendimento para
conhecermos o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em
seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1Jo 5.20).
IV. O CARÁTER DE JESUS CRISTO
O estudo sobre o caráter de Jesus Cristo se reveste de grande importância
pelo fato de colocar em relevo tudo aquilo que ele afirmou ser, além de elevar
a sua ética bem acima de todos os demais homens que já pisaram nesta terra. A
ética e a moral de Cristo eram tão elevadas que até os pensadores ímpios a
reconheceram.
Pecaut, um célebre infiel francês, reconheceu a pureza moral do caráter de
Jesus Cristo, dizendo: “O caráter moral de Cristo elevou-se
incomparavelmente acima de qualquer outro grande homem da antiguidade.
Nenhum outro foi tão meigo, tão humilde e tão bondoso como ele. Em
Espírito, ele viveu na casa de seu Pai celestial. Sua vida moral está totalmente
impregnada de Deus.” Portanto, o caráter puro e santo de Jesus Cristo
demonstrado nos Evangelhos apenas confirmam a sua superioridade ética e
moral bem acima dos demais fundadores de religião.
De acordo com o grande estudioso cristão Neighbor: “A ética do
cristianismo é incomparavelmente superior à ética das demais religiões.” A
Bíblia comprova o caráter puro de Jesus Cristo, dizendo: “Porque nos
convinha tal sumo sacerdote, santo, inocente, imaculado, separado dos
pecadores e feito mais sublime do que os céus” (Hb 7.26). O apóstolo Pedro,
que conviveu por três anos e meio com Jesus Cristo, deu o seu testemunho do
caráter puro e santo de Jesus, dizendo: “Porque para isto sois chamados, pois
também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as
suas pisadas, o qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano, o
qual, quando o injuriavam, não injuriava e, quando padecia, não ameaçava,
mas entregava-se àquele que julga justamente, levando ele mesmo em seu
corpo os nossos pecados sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados,
pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados. Porque
éreis como ovelhas desgarradas; mas, agora, tendes voltado ao Pastor e Bispo
da vossa alma” (1Pe 2.21-25).

16
V. A OBRA DE JESUS CRISTO
Por obra de Jesus Cristo entendemos tudo aquilo que ele realizou para o
nosso bem mediante a sua morte e ressurreição. Não se pode mensurar nem
avaliar o tamanho da obra de Cristo em favor da humanidade. “Todas as
bênçãos que Deus tem para o homem encontram-se em Jesus Cristo e são
dadas por meio dele” (A. Lindsay Glegg).
A obra de Jesus Cristo se define por tudo aquilo que ele conquistou para
nós como legado perpétuo: a vida eterna, a paz eterna e a alegria eterna (Jo
3.16; 14.27; 16.22). “As realizações de Cristo ultrapassam as suas promessas”
(Nehemiah Rogers). A salvação, a redenção, a remissão, a justificação, a
expiação, a regeneração, a reconciliação, a santificação e o perdão são obras
que somente Jesus Cristo tinha condições de realizar em favor da humanidade
pecadora. Martinho Lutero, o grande reformador, assim definiu a obra de
Jesus Cristo: “Em sua vida, Cristo foi um exemplo edificante, que nos traçou
normas salutares de conduta; em sua morte, um sacrifício propiciatório pelos
nossos pecados; em sua ressurreição, um conquistador; em sua ascensão, um
rei; em sua intercessão, um sumo sacerdote.”
A obra principal de Jesus foi clara e objetivamente definida por ele mesmo:
“Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Lc
19.10). Existe obra maior do que esta? Esta foi e continua sendo a principal
missão de Jesus Cristo em favor do homem.
VI. A MORTE DE JESUS CRISTO
O cristianismo é uma religião redentora. Daí o fato da morte de Jesus
Cristo ter o primeiro lugar em sua mensagem evangélica. Dessa forma, o
cristianismo assume uma posição sem paralelo entre todas as religiões do
mundo. Somente o sangue de Jesus Cristo, que pelo Espírito eterno se
ofereceu a si mesmo sem mancha a Deus, pode purificar a nossa consciência
de obras mortas a fim de servirmos ao Deus vivo. “A encarnação tinha em
vista a expiação. Cristo encarnou-se a fim de poder fazer expiação e
propiciação. Nasceu para morrer. Manifestou-se para tirar os pecados.
Encarnou-se a fim de que, ao assumir natureza semelhante à nossa, oferecesse
sua vida como sacrifício pelos pecados dos homens. A encarnação foi da parte
de Deus uma declaração do seu propósito de promover salvação para o
mundo. Essa salvação só podia ser provida pelo sangue expiador de Cristo”
(Bancroft). O apóstolo Paulo resumiu todo o conteúdo do evangelho no
seguinte credo: “Também vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho

17
anunciado, o qual também recebestes e no qual também permaneceis; pelo
qual também sois salvos, se o retiverdes tal como vo-lo tenho anunciado, se
não é que crestes em vão. Porque primeiramente vos entreguei o que também
recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que
foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1Co
15.1-4).
Reconhecendo ainda o grande valor da morte de Jesus Cristo, Paulo escreveu,
dizendo: “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este
crucificado” (1Co 2.2).
VII. A RESSURREIÇÃO DE JESUS CRISTO
A ressurreição de Jesus Cristo é a coluna mestra que sustenta o edifício da
fé cristã. A ressurreição de Cristo é um dos fatos mais bem comprovados da
história humana. É sustentado e apoiado por provas corroborativas e infalíveis,
como bem poucos fatos históricos. A ressurreição de Jesus Cristo é
comprovada pelo sepulcro vazio e pelas aparições pessoais do Senhor
ressurreto para dezenas e centenas de pessoas de uma só vez. Como bem
atestou o doutor Lucas, ao investigar o fato como um legítimo médico legista,
dizendo: “aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com
muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias e
falando do que respeita ao Reino de Deus” (At 1.3). A morte e ressurreição
do Senhor Jesus Cristo são dois pilares que sustentam o cristianismo e o
coloca infinitamente bem acima de todas as demais religiões do planeta. A
ressurreição de Jesus Cristo é a comprovação de que tudo aquilo que ele falou
é verdadeiro. É a prova cabal de que Jesus é o Deus vivo e verdadeiro, “o qual
por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa justificação” (Rm
4.25). A ressurreição de Jesus Cristo lavou a alma de seus discípulos
acanhados pela sua morte e pelos inimigos que acusavam seu Senhor e Mestre
de apenas mais um embusteiro (Jo 20.19). O antes medroso Pedro podia dizer
com autoridade: “Varões israelitas, escutai estas palavras: A Jesus Nazareno,
varão aprovado por Deus entre vós com maravilhas, prodígios e sinais, que
Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem sabeis; a este que
vos foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, tomando-o
vós, o crucificastes e matastes pelas mãos de injustos; ao qual Deus
ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido
por ela” (At 2.22-24). O apóstolo Paulo declara que a nossa crença na
ressurreição de Jesus Cristo é fator determinante para a nossa salvação,
dizendo: “Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração,
creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Rm 10.9).

18
VIII. A ASCENSÃO DE JESUS CRISTO
A ascensão visível de Jesus Cristo em corpo ressurreto aos céus é a prova
mais contundente de que ele havia descido lá do alto, mediante a sua
encarnação e agora retornava para o céu reassumindo a glória que ele já
possuía muito antes da fundação do mundo (Jo 17.5,13,24). A ascensão de
Jesus Cristo foi um “até breve” do rei que retornará da mesma forma visível
com que foi assunto ao céu. “E, quando dizia isto, vendo-o eles, foi elevado às
alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos. E, estando com os
olhos fitos no céu, enquanto ele subia, eis que junto deles se puseram dois
varões vestidos de branco, os quais lhes disseram: Varões galileus, por que
estais olhando para o céu? Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no
céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir” (At 1.9- 11).

CONCLUSÃO
O pensador cristão Thomas Brooks assim concluiu o que pensa acerca de
Jesus Cristo: “Cristo é admirável, Cristo é muito admirável, Cristo é o mais
admirável, Cristo é sempre admirável, Cristo é totalmente admirável”. E o
grande e cristocêntrico apóstolo Paulo disse: “Porque dele, e por ele, e para
ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!” (Rm 11.36).

19
PARACLETOLOGIA — A DOUTRINA DO
ESPÍRITO SANTO

INTRODUÇÃO
A disciplina teológica que estuda sobre o Espírito Santo é
“paracletologia”, termo extraído do vocábulo grego parakletos e traduzido
por “advogado”, termo este utilizado por Jesus para se referir a vinda do
“Consolador” (Jo 14.26), que significa “Alguém chamado para o lado de
outro para o ajudar” ou “Alguém que aparece em defesa de outra pessoa”,
como faz um advogado que aparece ao lado de alguém para defendê-lo perante
um tribunal. Este termo foi o mesmo utilizado para referir-se a Cristo como
“Advogado” (1Jo 2.1), confirmando a expressão grega de Jo 14.16, cujo
termo utilizado para “outro consolador” é allos parakletos, que significa
“outro do mesmo tipo” ou “outro da mesma espécie” e não heteros, que
significa “outro”, porém, de espécie diferente. Noutras palavras, o Espírito
Santo continuaria fazendo exatamente o que Cristo faria se continuasse aqui
na terra. Aliás, Cristo continua presente conosco todos os dias, por meio do
Espírito Santo que nos foi enviado (Mt 28.20; Fp 1.19). O vocábulo
parakletos, utilizado por Jesus para se referir ao Espírito Santo, pode ser
traduzido ainda como: consolador, fortalecedor, conselheiro, socorro,
advogado, companheiro, intercessor, ajudador, aliado e amigo (Rm 8.26). A
matéria teológica que estuda sobre o Espírito Santo é também conhecida como
“pneumatologia”, que provém do vocábulo grego pneuma, que significa
“vento” ou “espírito”.
Prefiro, entretanto, o termo “paracletologia”. Vejamos:
I. DISPENSAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO
Vivemos na dispensação do Espírito Santo. O dia de Pentecostes marcou
para sempre a descida do Espírito Santo para habitar com a Igreja. O Espírito
Santo veio para morar dentro de cada crente. O nosso corpo é templo do
Espírito Santo. O Espírito Santo habitando dentro de cada crente é o próprio
Deus morando em nosso coração. O domínio que prevalece nesta dispensação
é o domínio do Espírito Santo. O Espírito Santo é o comandante da Igreja.
Cristo, sendo a cabeça da Igreja, ele orienta a sua Igreja, através do Espírito
Santo que habita conosco. Foi o próprio Jesus Cristo quem disse em Jo 14.16-
17: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique

20
convosco para sempre, o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber,
porque não o vê, nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita
convosco e estará em vós”. Portanto, o Espírito Santo é o guia da Igreja nesta
dispensação. Até mesmo quando Cristo se dirige à sua Igreja na terra, ele o faz
através do Espírito Santo. Ao enviar as sete cartas para as sete igrejas da
Ásia, no livro do Apocalipse, na introdução de cada carta é Jesus Cristo
quem se identifica como o remetente (Ap 2.1,8,12,18; 3.1,7,14). Porém quem
assina cada carta no final é o Espírito Santo (Ap 2.7,11,17,29; 3.6,13,22).
II. A OBRA DO ESPÍRITO SANTO NA HISTÓRIA BÍBLICA
A obra do Espírito Santo pode ser vista e percebida através de toda a
história bíblica. Em cada manifestação das obras de Deus registradas na Bíblia
percebemos a Trindade santa trabalhando para o bem da criação. De acordo
com alguns teólogos, o Pai é o autor, o Filho é o executor e o Espírito Santo é
o ativador de cada obra iniciada. Em todos os momentos da história, desde a
criação dos céus e da terra em Gênesis, até o estabelecimento do novo céu e
da nova terra, em Apocalipse, percebemos o trabalhar e o mover do Espírito
Santo através dos líderes do povo, sacerdotes, juízes, libertadores e profetas
na antiga aliança, como também através de Jesus e dos seus santos apóstolos
no estabelecimento da nova aliança e na inauguração da Igreja no dia de
Pentecostes. A Bíblia já inicia mostrando o Espírito Santo trabalhando para
dar forma à terra, dizendo: “E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas
sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas”
(Gn 1.2). Da criação até Cristo, o Espírito Santo atuava de forma esporádica
através dos homens que Deus levantava para liderar o seu povo (Nm 11.24-
29; Jz 3.10; 6.34; 11.29; 13.25; 1Sm 10.6; 16.13; 2Cr 15.1; 20.14; Is 61.1; Mq
3.8 etc.).
Do nascimento de Cristo até Pentecostes, o Espírito Santo atuou por meio do
ministério glorioso de Cristo. Tudo o que Jesus fez por ocasião de seu
ministério terreno, foi orientado pela atuação do Espírito Santo (Mt 3.16-17;
Lc 4.1; 4.14; 4.18-19). De Pentecostes até o arrebatamento da Igreja, o
Espírito Santo habita na Igreja, a qual é o corpo de Cristo. Neste período, o
Espírito Santo habita individualmente em cada crente, fazendo do nosso corpo
o santuário onde Deus habita (1Co 3.16-17; 6.19-20).

21
III. A OBRA DO ESPÍRITO SANTO NA IGREJA PRIMITIVA
A marcha triunfal da Igreja na terra está no poder do Espírito Santo. A
Igreja primitiva era uma igreja triunfante porque caminhava no poder do
Espírito Santo. Basta ler os 28 capítulos do livro de Atos dos Apóstolos e
constatar esta verdade. Igreja que caminha no poder do Espírito Santo é uma
igreja avivada. A igreja, porém, que não tem o poder do Espírito é uma igreja
fria. Existe uma grande diferença entre a Igreja avivada e a igreja fria, por isso
Paulo já havia advertido a igreja de Tessalônica, dizendo: “Não extingais o
Espírito” (1Ts 5.19). Infelizmente, aquilo que Paulo temia aconteceu. Após o
primeiro século de avivamento apostólico, a Igreja já não tinha mais a chama
do Espírito ardendo em seu coração e começou o período das discussões
teológicas colocando em dúvida a divindade de Cristo, rebatidas pelos
apologistas do segundo século. Em seguida veio o período da Patrística, onde
a filosofia influenciou profundamente a teologia cristã, o conhecimento da
letra apagou o brilho do Espírito, dando início à Igreja romana, ascensão do
papado e tantas outras coisas mais que a doce voz do Espírito foi silenciada
por quase mil anos, entre o início do catolicismo romano, no século quinto, até
o alvorecer da Reforma protestante, nos séculos 15 e 16.
IV. O SILÊNCIO DO ESPÍRITO SANTO
O período mais angustiante para a Igreja nesta dispensação, foi o silêncio
do Espírito Santo entre os anos 500 d.C. (início do paganismo na Igreja) a
1500 d.C. (início da grande Reforma). A Igreja tornou-se ritualística e entrou
numa fase sombria da sua história. Com a conversão de Constantino, o
primeiro imperador romano cristão, houve uma tentativa tanto política como
religiosa de cristianizar o mundo pagão. Entretanto se o paganismo foi
cristianizado, o cristianismo também foi paganizado, com a ascensão da Igreja
romana como “matriz” da cristandade católica. Além disso, uma das piores
mentiras que o inimigo vendeu para a Igreja e boa parte dos primeiros pais da
Igreja compraram, foi a chamada “teoria cessacionista”, aquela que afirma que
os dons espirituais e a operação sobrenatural do Espírito Santo, com a
evidência das línguas faladas no dia de Pentecostes, haviam cessado com o
fim do período apostólico. Essa desastrosa teoria causou mais estrago
espiritual à Igreja no decorrer desses séculos de silêncio do Espírito Santo do
que a maldita teoria da Evolução de Charles Darwin. Quantos séculos
perdidos se passaram desde o período Patrístico até a Reforma protestante,
seguida pelos avivamentos da Inglaterra, pelos grandes despertamentos nos
Estados Unidos e pelo avivamento da rua Azuza, no limiar do século 20?

22
V. ATUAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO NA HISTÓRIA DA IGREJA
Para alguns, durante a Reforma protestante no século 16, pelo esforço de
homens como Martinho Lutero, o trabalho do Espírito Santo reviveu após mil
anos de silêncio. Porém a própria Reforma só não surtiu mais efeito, porque
muitos líderes da Reforma ainda defendiam essa desastrosa teoria
cessacionista. Mais adiante, por meio de grandes avivalistas como Jonathan
Edwards, John Wesley, George Whitefield, Charles Finney e Dwight Moody a
grande atuação do Espírito Santo começou a reaparecer. Deus estava
amadurecendo o mundo para um grande avivamento. E, por volta do ano
1900, o mundo todo começou a receber de novo o Espírito Santo com as
mesmas evidências ocorridas no dia de Pentecostes (At 2.1-4). Precisamente
no ano de 1906, mais uma vez, à exemplo do que aconteceu no dia de
Pentecostes, o avivamento não começou no meio de pessoas intelectuais, mas
sim no meio de 120 pessoas simples que aguardavam ansiosamente a
promessa do Pai. E assim foi também no Pentecostes da rua Azuza. O Espírito
Santo voltou a descer sobre pessoas simples e humildes, até discriminadas da
sociedade, como foi o caso do pastor afro-americano Wiliam Seymour, que
liderou através do Espírito Santo o grande avivamento do começo do século
20. Foi desse grande avivamento que resultou o Movimento Pentecostal que se
espalhou rapidamente como um fogo por todo o mundo. O Espírito Santo
continua agindo e guiando a Igreja do Senhor na terra, convencendo o mundo,
do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.7-11). Ele é simplesmente o glorioso
Espírito Santo que nos adestra para a batalha e está preparando a noiva de
Cristo para o seu encontro com o Senhor Jesus Cristo (Ap 22.17).
VI. OS DONS ESPIRITUAIS
O Espírito Santo continua distribuindo os dons espirituais para a sua amada
Igreja ainda hoje
(1Co 12.7-11). A palavra “dom”, vem do grego charisma no singular e
charismata no plural. Os dons são talentos e habilidades dadas por Deus à sua
Igreja com o objetivo de servir melhor aos santos. Os dons espirituais podem
ser classificados em três grupos: Os dons de revelação, os dons de poder e os
dons vocais. Os dons de revelação servem para a orientação espiritual da
Igreja e do ministério na sua tomada de decisões. Os dons de poder servem
para a manifestação do poder de Deus na Igreja através de sinais, prodígios e
maravilhas e os dons vocais servem para comunicar os desígnios de Deus para
a Igreja no sentido de exortar, edificar e consolar o povo através da
elocução, que é a ação de anunciar o pensamento por meio de palavras.

23
Vejamos:

1. OS DONS DE REVELAÇÃO:
1. Os dons de revelação são: A palavra de sabedoria, a palavra do conhecimento
e o discernimento de espíritos (1Co 12.7-10). Esses dons buscam a
orientação divina para a Igreja do Senhor na terra!
2. Os dons de revelação têm a finalidade de capacitar pessoas escolhidas por
Deus para transmitir ao povo uma sabedoria superior à sabedoria humana, um
conhecimento superior e um entendimento superior do mundo espiritual (Jr
33.3).
3. A palavra da sabedoria se manifestava com intensidade na vida de Salomão
(1Rs 3.28). A palavra do conhecimento e o discernimento de espíritos se
manifestavam de forma intensa nos ministérios dos profetas Eliseu e Daniel
(2Rs 6.8-23; Dn 1.17; 2.19-22).
4. O Deus da Bíblia é o Deus das grandes revelações. Em Dn 2.19-22, a Palavra
de Deus afirma que: “Então, foi revelado o segredo a Daniel numa visão de
noite; e Daniel louvou o Deus do céu. Falou Daniel e disse: Seja bendito o
nome de Deus para todo o sempre, porque dele é a sabedoria e a força; ele
muda os tempos e as horas; ele remove os reis e estabelece os reis; ele dá
sabedoria aos sábios e ciência aos inteligentes. Ele revela o profundo e o
escondido e conhece o que está em trevas; e com ele mora a luz”.

2. OS DONS DE PODER:
1. Os dons de poder são dons sobrenaturais pelos quais o poder de Deus se
manifesta, a fim de transmitir uma resposta miraculosa através de uma
intervenção, até mesmo na natureza física.
2. Todos esses dons espirituais são distribuídos às pessoas pelo Espírito Santo,
de acordo com sua própria vontade, para benefício e crescimento da Igreja,
o corpo de Cristo (1Co 12.11).
3. Os dons de poder são: O dom da fé, os dons de curar e o dom de operação de
maravilhas. Os dons de poder se manifestavam de forma intensa na vida de
Moisés, Elias, Eliseu, Jesus, os apóstolos, Pedro, Filipe e Paulo.
4. Em Rm 15.19, Paulo menciona a operação destes dons de poder no seu
ministério, dizendo: “pelo poder dos sinais e prodígios, na virtude do Espírito
de Deus; de maneira que, desde Jerusalém e arredores até ao Ilírico, tenho
pregado o evangelho de Jesus Cristo”.

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3. OS DONS VOCAIS:
1. Os dons vocais ou dons de expressão são os dons do Espírito Santo
manifestados através de expressões vocais ou orais, que são: O dom de
profecia, o dom de interpretação de línguas e o dom de variedade de línguas.
2. Estes três dons transmitidos através da língua, são os dons da comunicação
divina para edificação pessoal do portador do dom e para edificação e
exortação espiritual da Igreja.
3. Em 1Co 14.1, Paulo aconselhou os crentes buscarem com zelo os dons
espirituais, dando um destaque especial ao dom de profecia, dizendo: “Segui o
amor e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de
profetizar”.
4. Em At 19.6, Lucas revela a operação dos dons vocais em Éfeso, dizendo: “E,
impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam
línguas e profetizavam”.
VII. OS DONS MINISTERIAIS
O Espírito Santo também é responsável por distribuir os dons ministeriais
para a sua Igreja
(At 20.28). Em Ef 4.11, o apóstolo Paulo afirma que: “E ele mesmo deu uns
para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para
pastores e doutores”. Vejamos:

1. APÓSTOLOS
O apóstolo é um enviado especial, que representa a pessoa que o envia. Em
Lc 6.13, Jesus “chamou a si os seus discípulos, e escolheu doze deles, a quem
também deu o nome de apóstolos”. O equivalente no aramaico que Jesus
utilizou para “apóstolo” é shaliah, que significa “alguém que recebeu a
comissão e autoridade explícitas daquele que o enviou, mas sem capacidade de
transferir seus atributos para outro”. Cada apóstolo teve uma chamada
explícita, individual e intransferível.

2. PROFETAS
Em At 13.1, Lucas escreve que: “Havia na igreja de Antioquia profetas e
mestres: Barnabé, Simeão, por sobrenome Níger, Lúcio de Cirene, Manaém,
colaço de Herodes, o tetrarca, e Saulo”. Portanto, mesmo não havendo tanta
intensidade de profetas quanto havia na antiga aliança, havia também profetas
de Deus na nova aliança. Entretanto, os profetas da nova aliança, profetizam
através do dom de profecia (1Co 12.10). O profeta maior já veio e, nestes

25
últimos dias, Deus nos fala através dele — O seu Filho Jesus Cristo (Hb 1.1).
Os verdadeiros profetas do Senhor comunicam a palavra de Deus pela
inspiração do Espírito Santo (2Pe 1.21).

3. EVANGELISTAS
O evangelista é o mensageiro de boas-novas. O evangelista exerce o
ministério itinerante, levando a mensagem do evangelho de Cristo a todas as
nações (At 1.8). Em At 21.8, a Bíblia destaca a visita que Paulo fez a casa de
Filipe, o evangelista. E, em At 8.4-40, a Palavra de Deus destaca a notoriedade
do ministério itinerante deste grande evangelista chamado Filipe. Em 2Tm
4.5, Paulo recomendou a Timóteo, dizendo: “Faze o trabalho de um
evangelista”. Timóteo era pastor da igreja de Éfeso e Paulo o aconselhou a
realizar também o trabalho de um evangelista. Em nossos dias, temos muitos
pastores polivalentes, que pastoreiam, ensinam, pregam e ainda exercem um
ministério evangelístico (2Tm 1.11).

4. PASTORES
O pastor é o homem que apascenta as ovelhas. Quis Deus, na sua graça,
que o seu povo fosse chamado de ovelhas e os seus líderes de pastores (Nm
27.15-17). Deus é o pastor maior do seu povo, pois no
Sl 100.3, o salmista disse: “Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele, e não nós,
que nos fez povo seu e ovelhas do seu pasto”. Aleluia! Os pastores foram
levantados por Deus, para pastorearem o rebanho do Senhor. Em At 20.28, a
Palavra de Deus afirma: “Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre que
o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus,
que ele resgatou com seu próprio sangue”. Em Hb 13.20, a Bíblia afirma que
Jesus Cristo é o “grande Pastor das ovelhas”, pelo sangue da eterna aliança.
Portanto, os pastores devem cuidar bem do rebanho de Deus, pois hão de
prestar contas das ovelhas de Cristo (Hb 13.17).

5. MESTRES OU DOUTORES
Os mestres são conhecidos como os doutores da palavra. São aqueles que
conseguem sistematizar a doutrina cristã e revelar um conhecimento mais
profundo da Palavra de Deus. Em 2Tm 1.11, o próprio Paulo afirma que, foi
designado por Cristo “pregador, apóstolo e mestre”. Paulo conseguiu, por
meio da
revelação divina, sistematizar toda a doutrina do evangelho de Cristo (Gl
1.11-12). Em 2Pe 3.15, o próprio Pedro, o líder do colégio apostólico,

26
reconheceu a grande sabedoria de Paulo, dizendo: “… e tende por salvação a
longanimidade de nosso Senhor, como também o nosso amado irmão Paulo
vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada”. Em At 13.1, a Palavra de
Deus afirma que: “Na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e
doutores”. Jesus Cristo é o Mestre por excelência. Ele é o Mestre dos mestres.
Em Jo 13.13, ele mesmo disse: “Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis
bem, porque eu o sou”. Jesus Cristo é o Mestre único e inconfundível (Mt
23.8).

6. SOCORRO
Em 1Co 12.28, o apóstolo Paulo acrescenta mais alguns dons ministeriais
em uma outra lista, dizendo: “E a uns pôs Deus na igreja, primeiramente,
apóstolos, em segundo lugar, profetas, em terceiro, doutores, depois, milagres,
depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas”. Os
“operadores de milagres e dons de curar” podem ser uma referência aos
evangelistas (At 8.5-8; Ef 4.11); e, a “variedade de línguas” nesta lista de
dons ministeriais pode se referir ao ministério de profetas (1Co 14.29-31;
Ef 4.11). Neste caso, as novidades em relação a lista de Ef 4.11 seriam apenas
duas: socorros e governos. O ministério de socorro é dado para os que
possuem o dom de ajudar as pessoas, realizando grandes obras sociais e
assistenciais (Rm 12.8; At 4.36-37; 1Tm 6.17-19; Lc 8.1-3; Fm 22; 3Jo 5-8).

7. GOVERNO
O dom ministerial de “governos” é concedido pelo Espírito Santo aos que
ele capacita para presidir e exercer com prudência os cargos que envolvem a
administração eclesiástica. Em Rm 12.8, Paulo também se refere a este dom,
dizendo: “O que preside, com cuidado”. Neste cargo estão incluídos os
pastores presidentes de igrejas e convenções, bem como bispos e
supervisores de um aglomerado de igrejas filiadas a um setor ou campo
eclesiástico (Fp 1.1; 1Tm 3.1-7; Tt 1.5-9).
VIII. O FRUTO DO ESPÍRITO SANTO
O fruto do Espírito Santo é constituído daquelas virtudes cristãs que devem
ser cultivadas e praticadas por todas as pessoas que foram regeneradas, ao
nascerem do Espírito e não da carne (Jo 3.5-6). O fruto do Espírito é
formado por nove gomos importantes. Através do fruto do Espírito, podemos
compreender ainda mais sobre o caráter do Espírito Santo. Vejamos:

27
1. AMOR
O primeiro gomo do fruto do Espírito Santo é o amor. O amor é a maior e
mais sublime de todas as virtudes cristãs (1Co 13.13). A Trindade santa
demonstra através das Escrituras um amor incomensurável em favor dos
homens. O Pai amou o mundo de uma maneira inexplicável (Jo 3.16). O amor
do Filho supera todas as dimensões imagináveis e excede a toda a
compreensão humana (Ef 3.18-19). O amor do Espírito Santo é tão grande por
nós que ele chega a ter ciúmes e um zelo profundo por nossa vida
(Rm 15.30; Tg 4.5).

2. ALEGRIA OU GOZO
O segundo gomo do fruto do Espírito Santo é a alegria. A alegria pode ser
definida como um estado emocional de júbilo, contentamento e prazer moral.
Como fruto do Espírito, a alegria é a manifestação do gozo do Espírito Santo,
mesmo em face das tribulações da vida presente (1Ts 1.6).

3. PAZ
O terceiro gomo do fruto do Espírito Santo é a paz. A paz pode ser definida
como a tranquilidade da alma e o bem-estar em todas as áreas da vida. A
palavra hebraica para “paz” é shalom, que é sinônimo de harmonia, plenitude
e firmeza. É a sensação de tranquilidade e harmonia no relacionamento com
Deus e com os homens (Rm 5.1; 12.18; Tg 3.18).

4. LONGANIMIDADE
O quarto gomo do fruto Espírito Santo é a longanimidade. A
longanimidade pode ser definida como a capacidade de suportar com
paciência a afronta ou ofensa recebida. O próprio Deus é constantemente
exaltado e adorado por sua longanimidade para com todos nós (Êx 34.6).
Longânimo é uma pessoa que demora ficar irada, alguém que tarda em irar-se
(Tg 1.19).

5. BENIGNIDADE
O quinto gomo do fruto do Espírito Santo é a benignidade. A benignidade
pode ser definida como a qualidade que uma pessoa possui de ser
misericordioso e benevolente. A santíssima Trindade possui em abundância
todos os gomos do fruto do Espírito, e servem de modelo para todos nós
seguirmos. Uma das coisas mais louvadas e exaltadas na Bíblia é a
benignidade do nosso Deus. Todos os 26 versículos do Salmo 136 exaltam a

28
benignidade do Senhor para com o seu povo (Sl 136.1-26).

6. BONDADE
O sexto gomo do fruto do Espírito Santo é a bondade. A bondade pode ser
definida como a qualidade de uma pessoa boa e clemente. O próprio Espírito
Santo é chamado na Bíblia de “bom Espírito”
(Sl 143.10). Existem pelo menos sete virtudes da divindade muito
correlacionadas entre si, que são: a benignidade, a bondade, a longanimidade,
a fidelidade, a misericórdia, a beneficência e a clemência (Êx 34.6; 9.17; Sl
103.8; Is 63.7).
7. FIDELIDADE OU FÉ
O sétimo gomo do fruto do Espírito Santo é a fidelidade. A “fidelidade” é
definida como a lealdade de uma pessoa a outra. A fidelidade é marcada por
uma lealdade constante e inabalável a alguém com quem estamos unidos por
promessa, compromisso, fidedignidade e honestidade (Sl 101.6). Deus é
conhecido nas Escrituras pela sua fidelidade (Sl 100.5). Na Almeida Revista e
Corrigida, este gomo do fruto do Espírito é mencionado como fé. Além da fé
salvadora, da fé comum e da fé como dom, existe a fé como fruto do Espírito,
que está associada a confiança, fidelidade e lealdade incondicional a Deus!

8. MANSIDÃO
O oitavo gomo do fruto do Espírito Santo é a mansidão. A mansidão pode
ser definida como a brandura de gênio, índole pacífica e a serenidade que uma
pessoa possui (Sl 37.11). O nosso querido Salvador Jesus Cristo possuía este
fruto com muita intensidade, pois ele mesmo disse: “Aprendei de mim, que
sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para a vossa alma”
(Mt 11.29).

9.TEMPERANÇA
O nono gomo do fruto do Espírito Santo é a temperança. A temperança
pode ser definida como a qualidade ou virtude de quem é moderado, sensato e
equilibrado (Pv 19.11). Na Versão Almeida Revista e Atualizada, o nono
fruto do Espírito aparece como “domínio próprio”. Quem tem temperança
possui domínio próprio. Ter temperança, é ser temperante, equilibrado e que
domina o seu próprio ímpeto. O Senhor Jesus Cristo nos deu uma aula de
temperança e equilíbrio diante das mais terríveis dificuldades enfrentadas no
seu ministério (Lc 9.51-56; 23.28; 23.34 etc.).

29
IX. A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO
O Espírito Santo é a terceira pessoa da santíssima Trindade (Mt 28.19).
Esta definição foi dada pelo próprio Jesus ao citar o Espírito Santo como uma
pessoa coexistente com o Pai e com o Filho. O Espírito Santo não é uma
energia cósmica ou uma força impessoal como muitas seitas ensinam. Através
das Escrituras, aprendemos que o Espírito Santo é representado como um
agente pessoal, a realizar atos que só podem ser atribuídos a uma pessoa.
Portanto o Espírito Santo não é um mero poder ou influência iluminadora,
como alguns ensinam, mas sim uma pessoa dotada de inteligência, vontade e
emoções que somente alguém dotado de personalidade pode ter e sentir.

CARACTERÍSTICAS PESSOAIS DO ESPÍRITO SANTO


Ao se referir ao Espírito Santo, Jesus usou pronomes de tratamento que só
podem ser aplicados a uma pessoa. Em Jo 16.13, Jesus disse: “Mas, quando
vier aquele Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade, porque
não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o
que há de vir”. O Senhor Jesus Cristo usou aqui o pronome de tratamento
masculino “ELE”.
1. Como pessoa, o Espírito Santo fala (2Sm 23.2; Ap 2.29). Como pessoa, o
Espírito Santo se entristece (Ef 4.30).
2. Como pessoa, o Espírito Santo se alegra (At 13.52; Rm 14.17). Como pessoa,
o Espírito Santo possui vontade (1Co 12.11).
3. Como pessoa, o Espírito Santo guia e ensina (Jo 14.26; Rm 8.14). Como
pessoa, o Espírito Santo intercede e geme (Rm 8.26).
4. Como pessoa, o Espírito Santo chama e envia outras pessoas (At 13.1-4)
Como pessoa, o Espírito Santo tem amor (Rm 15.30; Gl 5.22; Cl 1.8).
5. Como pessoa, o Espírito Santo possui inteligência e habilidade (Êx 31.2).
Como pessoa, o Espírito Santo investiga e revela as coisas (1Co 2.10-11).
6. Como pessoa, o Espírito Santo ajuda e convence outras pessoas (Rm 8.26; Jo
16.7-11). Como pessoa, o Espírito Santo tem até ciúme de nós (Tg 4.5). O
Espírito Santo pode ser representado por vários símbolos, que ilustram
verdades espirituais acerca de sua pessoa gloriosa, como: AZEITE (1Sm
16.13), ÁGUA (Is 44.3), VENTO (Jo 3.8), FOGO (1Ts 5.19), ORVALHO (Os
14.5), RIO
(Jo 7.37-38), VINHO (Ef 5.18), VESTES (Jz 6.34), POMBA (Mt 3.16-17)
etc. O Espírito Santo não
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é uma pomba, nem o vento, nem o fogo e nem a água; ele é a terceira pessoa
da santíssima Trindade (Mt 28.19; 2Co 13.13).
X. O ESPÍRITO SANTO É DEUS
O Espírito Santo possui atributos que só uma pessoa pode ter. O Espírito
Santo possui os mesmos atributos divinos que a pessoa do Pai e a pessoa do
Filho possuem. Como a terceira pessoa da santíssima Trindade, o Espírito
Santo faz parte da divindade, sendo coigual, coeterno e da mesma substância
do Pai e do Filho (Mt 28.19; 2Co 13.13). A Trindade não é uma composição
de três deuses, mas sim uma única divindade que subsiste em três pessoas
(1Co 12.4-6). Uma é a pessoa do Pai, outra é a pessoa do Filho e outra é a
pessoa do Espírito Santo (Ef 4.4-6). Porém, estas três pessoas divinas, formam
uma única divindade, que é também chamada de único Deus e único Senhor
(Dt 6.4; Ef 4.4-6). Sendo Deus, o Espírito Santo é onipotente, onipresente e
onisciente (Sl 139.7-12; Is 40.13-18; 1Co 2.10-11). O Espírito Santo é Criador
(Sl 104.30). O Espírito Santo é eterno (Hb 9.14). O Espírito Santo é Senhor
(2Co 3.17). O Espírito Santo é Deus (At 5.3-4). Portanto, o Espírito Santo
possui os mesmos atributos de Deus Pai e de Deus Filho.

O Espírito Santo é o nosso amigo pessoal


O Espírito Santo é o nosso fiel amigo e companheiro e esteve presente em
todos os grandes momentos da história humana, mesmo quando os homens o
ignoraram, o que por si só revela sua natureza mansa e pacífica. Como nosso
amigo pessoal, o Espírito Santo mora em nós (Jo 14.17). O nosso corpo é o
templo do Espírito Santo (1Co 3.16; 6.19-20). O Espírito Santo não veio
passar férias conosco e nem muito menos passar alguns dias conosco; ele veio
morar para sempre conosco (Jo 14.16). Como nosso amigo pessoal, o Espírito
Santo nos ajuda em nossas fraquezas, nos ensina a orar e ainda intercede por
nós com gemidos inexprimíveis (Rm 8.26).

CONCLUSÃO
“O dia de Pentecostes marcou o raiar de um novo dia nas relações entre o
Espírito Santo e a humanidade. Ele veio para habitar na Igreja. Todo o
trabalho eficaz que a Igreja tem feito é realizado no poder do Espírito Santo. A
incredulidade, a dúvida e a crítica podem atacá-la, mas não podem derrotá-la.
A Igreja, o verdadeiro corpo de Cristo, habitado pelo Santo Espírito de Deus, é
tão indestrutível como o trono de Deus” (E. H. Bancroft).

31
BIBLIOLOGIA — A DOUTRINA DA BÍBLIA

INTRODUÇÃO
Bibliologia é a doutrina que estuda a Bíblia sob seus aspectos e
observações gerais. Sua leitura, seu estudo, sua estrutura, sua divisão em
livros, capítulos e versículos, sua classificação, suas particularidades, seu
tema central, sua tradução, sua preservação, sua história, sua cronologia, sua
formação, sua autoridade como livro divino, sua autenticidade como Palavra
de Deus, sua infalibilidade, sua integridade e sua veracidade. A verdadeira
teologia é extraída da Bíblia. Por ser uma matéria de grande vastidão, a
bibliologia não pode ser comentada em todos os seus aspectos em pouco
espaço; entretanto vamos aprender um pouco sobre o livro de ouro da teologia
cristã. Vejamos:
I. TERMO E ORIGEM DA BIBLIOLOGIA
O termo “bibliologia” vem da palavra grega biblos, que os gregos davam à
uma folha de papiro preparada para a escrita. Um rolo de papiro de tamanho
pequeno era chamado de biblion; vários destes rolos juntos eram chamados
de “bíblia”. E desta palavra “bíblia”, surgiram os derivados: bibliologia,
bibliografia, biblioteca e bibliófilo. O vocábulo “Bíblia”, foi empregado pela
primeira vez por volta do ano 400 d.C., por João Crisóstomo, patriarca de
Constantinopla e conhecido pregador de sua época chamado de “Boca de
ouro”. A bibliologia é matéria de grande importância dentro da teologia, é
como um carro chefe que puxa as demais matérias. A mãe da teologia é a
Bíblia, pois todas as verdades teológicas são extraídas deste livro divino. O
próprio Deus, que é o Pai da teologia, é revelado na bibliologia como o autor
da Bíblia.
II. A BÍBLIA COMO UM LIVRO
A Bíblia é um livro antigo quanto à sua formação, mas é um livro moderno
quanto à sua mensagem. Os livros antigos tinham a forma de rolos. E a Bíblia
foi originalmente escrita na forma de rolos. A palavra “Bíblia” significa
“coleção de pequenos livros” e “livro por excelência”. A Bíblia é o livro
mais lido, mais traduzido, mais editado, mais pesquisado, mais conhecido,
mais valioso, mais ensinado, mais proclamado, mais exaltado e mais amado
do mundo. A Bíblia é um livro tão forte e poderoso que foi citada tanto por
Jesus (Mt 4.1-11), como também pelo próprio diabo (Mt 4.6). “A Bíblia é o
mapa do viajante, o cajado do peregrino, a bússola do navegante, a espada
32
do soldado e o guia do cristão. Por meio dela o paraíso é restaurado, os céus
são abertos e as portas do inferno são cerradas. Cristo é o seu assunto, nosso
bem é o seu propósito e a glória de Deus o seu fim”. “Lâmpada para os meus
pés é a tua palavra e luz, para o meu caminho” (Sl 119.105).
III. MATERIAL GRÁFICO EMPREGADO NA BÍBLIA
ORIGINALMENTE
A princípio, o material gráfico empregado na Bíblia foi o “papiro”. O
papiro era uma planta aquática que crescia junto aos rios, lagos e banhados no
Oriente, cuja entrecasca servia para escrever. As tiras extraídas do papiro
eram colocadas umas às outras até formarem um rolo de qualquer extensão. O
papiro é conhecido em algumas versões da Bíblia como “juncos” (Êx 2.3; Jó
8.11). É da palavra “papiro” que se deriva a palavra “papel”, inventado
pelos chineses no século 2. O uso do papiro, porém, como material gráfico,
existe desde o ano 3000 a.C. Com o passar do tempo surgiu um material
gráfico melhor que o papiro, conhecido como “pergaminho”, feito de peles de
animais curtida e polida. Seu uso vem desde os primórdios da Era Cristã. O
pergaminho é mencionado na Bíblia em 2Tm 4.13; antigamente cada livro da
Bíblia era um “rolo de pergaminho” ou um “rolo de papiro”. Jesus leu na
sinagoga de Nazaré provavelmente em um “rolo de pergaminho” do profeta
Isaías. E ainda hoje, devido aos ritos tradicionais, os rolos sagrados das
Escrituras hebraicas continuam sendo lidos e usados nas sinagogas judaicas.
IV. O AUTOR DA BÍBLIA
Deus é o próprio autor da Bíblia, o intérprete é o Espírito Santo e o tema
central e coração da Bíblia é o Senhor Jesus Cristo. Tudo o que o homem quer
saber e precisa saber espiritualmente de Deus, sua redenção, conduta cristã e
felicidade eterna, está revelado na Bíblia. Deus não tem outra revelação
escrita além da Bíblia. Tudo o que Deus tem para o homem está na Bíblia.
Jesus é a Palavra viva que está no céu dos céus, enquanto que a Bíblia é a
Palavra viva que está na terra. A expressão “Assim diz o Senhor” aparece
cerca de três mil vezes nas Escrituras, autenticando a Bíblia como a
inconfundível, infalível e inspirada Palavra de Deus. A palavra Yahweh, o
nome sagrado de Deus, aparece quase sete mil vezes nas Escrituras (6.855),
confirmando que a Bíblia é mesmo o livro de Deus. “A Bíblia contém a mente
de Deus, o estado do homem, a ruína dos impenitentes e a eterna felicidade
dos crentes. Suas doutrinas são santas, seus preceitos são justos, suas
histórias verdadeiras e suas decisões imutáveis. Leia a Bíblia para ser sábio,
creia nela para estar seguro e pratique-a para ser santo. Ela contém luz para

33
dirigi-lo, alimento para sustentá-lo, consolo para animá-lo e armadura para
defendê-lo”.
V. NOMES CANÔNICOS DA BÍBLIA
A Bíblia, a inspirada Palavra de Deus, dá a si mesma diversos nomes. Seus
nomes inspirados encontrados em suas páginas sagradas são os seguintes:
1. ESCRITURAS (Mt 21.42);
2. SAGRADAS ESCRITURAS (Rm 1.2);
3. LIVRO DO SENHOR (Is 34.16);
4. A PALAVRA DE DEUS (Hb 4.12);
5. OS ORÁCULOS DE DEUS (Rm 3.2);
6. LIVRO DA LEI (2Cr 34.15).
Além desses nomes canônicos, a Palavra de Deus também é: pão que
alimenta, lâmpada que ilumina, luz que dissipa as trevas, escudo que protege,
vara que corrige, martelo que esmiúça a pedra, fogo que queima o pecado,
semente que produz, água que limpa, espada que combate o mal, espelho que
revela nossa verdadeira imagem, candeia que brilha em lugar escuro e mel
que traz doçura para a nossa alma.
VI. TEMA CENTRAL DA BÍBLIA
Cristo é o centro e coração da Bíblia. O Antigo Testamento descreve uma
nação. O Novo Testamento descreve um homem. O Antigo Testamento
descreve Deus nutrindo a nação de Israel, para que o Novo Testamento
descrevesse e desse ao mundo o homem que mudou a história da humanidade.
Cristo é o centro e âmago da Bíblia, centro e âmago da história, centro e
âmago de nossa vida. Em cada livro da Bíblia, do Gênesis ao Apocalipse,
Cristo está presente, direta e indiretamente, através de suas aparições e
nomes diferentes. O Antigo Testamento prepara o cenário do aparecimento de
Cristo, enquanto que o Novo Testamento descreve como foi este
aparecimento. Todo o Antigo Testamento fala de sua “preparação”, os
Evangelhos falam de sua “manifestação”, o livro de Atos dos Apóstolos fala
de sua “propagação”, as Epístolas falam da “explanação” de sua mensagem,
enquanto que o Apocalipse fala da “consumação” de sua obra.

34
VII. A ESTRUTURA E CLASSIFICAÇÃO DOS LIVROS DA BÍBLIA
A Bíblia divide-se em duas partes principais: Antigo e Novo Testamento. O
Antigo Testamento foi escrito antes do nascimento de Cristo e o Novo
Testamento depois da morte de Cristo. A Bíblia tem ao todo 66 livros, 1.189
capítulos, 31.173 versículos, 773.692 palavras e 3.566.480 letras (de acordo
com o tipo de tradução). Os 66 livros da Bíblia podem ser classificados por
assuntos na seguinte ordem: LEI, HISTÓRIA, POESIA, PROFECIA,
EVANGELHOS, HISTÓRIA DA IGREJA PRIMITIVA E APOCALIPSE.

Antigo Testamento
1. LEI — São os primeiros cinco livros da Bíblia, conhecidos como
“Pentateuco” e chamados pelos judeus de Torah, reconhecidos pela maioria de
judeus e cristãos como sendo de autoria do grande legislador hebreu Moisés:
Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
2. HISTÓRIA — Ao todo são 12: Josué, Juízes, Rute, 1Samuel, 2Samuel,
1Reis, 2Reis, 1Crônicas, 2Crônicas, Esdras, Neemias e Ester.
3. POESIA — Ao todo são cinco: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e
Cantares de Salomão. Representam a categoria dos livros poéticos ou
devocionais da Bíblia, contendo o seguinte: “um drama poético” (livro de
Jó); “poesias líricas” (livro de Salmos); “didática poética” (livro de
Provérbios); “idílios poéticos” (livro de Cantares de Salomão); “didática
filosófica” (livro de Eclesiastes).
4. PROFECIA — Ao todo são 17: Isaías, Jeremias, Lamentações de
Jeremias, Ezequiel, Daniel, Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias,
Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. Correspondem aos
livros que levam o nome dos respectivos profetas literários. Durante três
séculos, a sequência dos profetas clássicos hebreus constitui um fenômeno
totalmente ímpar na história. O profeta é sempre um gênio da linguagem, cujo
ritmo e simbolismo desafiam o mais brilhante tradutor a alcançar um
inimitável original. Estão subdivididos em dois grupos:
PROFETAS MAIORES — São Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel.
PROFETAS MENORES — São Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias,
Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. O termo
empregado para maiores ou menores não se refere ao mérito ou notoriedade
do profeta, mas ao tamanho do livro e a extensão do respectivo ministério.

35
Novo Testamento
1. EVANGELHOS — São quatro os Evangelhos: Mateus, Marcos, Lucas
e João. Contêm a biografia do Senhor Jesus Cristo e a descrição de seu
glorioso ministério terreno, cuja vida, obra e seus ensinamentos formam o
alicerce do cristianismo. É nos Evangelhos que resplandece a cultura moral e
espiritual do cristianismo, condensado nos ensinamentos do Mestre dos
mestres — Jesus Cristo — a pessoa mais pura que já pisou nesta terra.
2. HISTÓRIA DA IGREJA PRIMITIVA — É o livro de Atos dos
Apóstolos, narrado por Lucas, onde é descrito um resumo do início do
cristianismo pós-ressurreição e ascensão de Jesus Cristo ao céu, com a
descida do Espírito Santo no dia da festa judaica de Pentecostes, culminando
com o início triunfal da maior sociedade cosmopolita do mundo — a Igreja
cristã.
3. EPÍSTOLAS APOSTÓLICAS — São cerca de 21 Epístolas
apostólicas endereçadas aos primitivos cristãos e igrejas espalhadas pelo vasto
Império Romano. Contém o desenvolvimento sistemático dos ensinamentos
de Cristo, naquilo que podemos denominar de teologia apostólica, teologia
paulina, teologia petrina, teologia joanina etc. As epístolas apostólicas
podem ser subdivididas em dois grupos:
EPÍSTOLAS PAULINAS — São ao todo 13: Romanos, 1Coríntios, 2Coríntios,
Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1Tessalonicenses, 2Tessalonicenses,
1Timóteo, 2Timóteo, Tito e Filemom. Escritas por Paulo (Saulo de Tarso),
que veio a tornar-se no maior teólogo do cristianismo e o grande mentor
intelectual da fé cristã por todo o mundo;
EPÍSTOLAS GERAIS — Ao todo são oito: Hebreus, Tiago, 1Pedro, 2Pedro,
1João, 2João, 3João e Judas. Escritas por Tiago, Pedro, João e Judas, à
exceção da Epístola aos Hebreus, cujo autor é desconhecido até hoje.
4. PROFECIA — O livro do Apocalipse — É o último livro da Bíblia
onde, numa linguagem excessivamente figurativa, enigmática e simbólica,
João recebe na ilha de Patmos (no mar Egeu) a grande revelação do fim do
mundo, descrevendo em vivas cores a vinda pessoal de Cristo à terra para
estabelecer o seu governo universal e proferir a grande sentença do famoso
juízo final, havendo em seguida uma fusão do reino terreno com o reino
celestial e eterno.

36
VIII. O CÂNON DA BÍBLIA
Cânon, ou Escrituras Canônicas, é a coleção completa dos livros
divinamente inspirados por Deus que constituem a Bíblia. Cânon é uma
palavra grega que significa “vara reta de medir”. Assim como uma régua
serve de regra para medir, no sentido religioso tem o significado de “regra
escrita de fé e prática”. E realmente para nós, povo de Deus, a Bíblia é nossa
regra de fé e prática que serve para medir a nossa conduta cristã. O termo
“cânon”, foi empregado primeiramente por Orígenes (185-254 d.C.),
professor da escola teológica de Alexandria, para diferenciar os livros
canônicos dos livros “apócrifos”.

1. O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO


O cânon do Antigo Testamento, como temos hoje, ficou completo desde o
tempo de Esdras em 445
a.C. A divisão dos livros no cânon hebraico é diferente da nossa. Jesus citou a
divisão do cânon hebraico em Lc 24.44 (Lei de Moisés, Profetas e Salmos). O
cânon hebraico consiste em 24 livros e não 39 livros como em nossa Bíblia.
Isso porque alguns livros são divididos em dois, em nossa Bíblia, como nos
casos de Samuel, Reis e Crônicas, os quais, na Bíblia hebraica formam um só
volume. Esdras e Neemias são também um só volume. Os Profetas Menores,
que são 12 em nossa Bíblia (Oseias a Malaquias), na Bíblia hebraica são um só
volume. A nossa divisão do Antigo Testamento em 39 livros vem da
Septuaginta, através da Vulgata Latina. A diferença da divisão do cânon
hebraico, da divisão do cânon de nossa Bíblia, não altera a veracidade das
Escrituras Sagradas; o mais importante é que não foi alterada a mensagem. O
cânon do Antigo Testamento foi formado num espaço de mais ou menos 1046
anos. Moisés escreveu as primeiras palavras do Pentateuco, por volta do ano
1491 a.C. e Esdras escreveu as últimas palavras do Antigo Testamento por
volta do ano 445 a.C. O último escritor do Antigo Testamento foi Malaquias,
porém Esdras, na qualidade de sacerdote e escriba, foi o encarregado de
completar e organizar o cânon Sagrado.

2. O CÂNON DO NOVO TESTAMENTO


Os 27 livros canônicos do Novo Testamento foram aqueles que vieram a
ser reconhecidos pelas igrejas como escritos genuínos e autênticos e de
autoria apostólica. Já nos dias dos apóstolos e sob a supervisão deles
começaram a ser feitas coleções de seus escritos para as igrejas, as quais
eram colocadas ao lado das Escrituras canônicas do Antigo Testamento, tendo

37
a mesma autenticidade como a inspirada Palavra de Deus (2Pe 3.15-16). Os
livros do Novo Testamento que primeiro apareceram foram: Mateus, Tiago e
Hebreus, na Palestina; João, Gálatas, Efésios, Colossenses, 1 e 2Timóteo,
Filemom, 1 e 2Pedro, 1, 2 e 3João, Judas e Apocalipse, na Ásia Menor; 1 e
2Coríntios, Filipenses, 1 e 2Tessalonicenses e Lucas, na Grécia; Tito em
Creta; Marcos, Romanos e Atos, em Roma. Enquanto o cânon do Antigo
Testamento levou 1046 anos (1491-455 a.C.) para ser formado, o cânon do
Novo Testamento levou apenas 96 anos para ser concluído. Somando os 1046
anos gastos para completar o cânon do Antigo Testamento, com os 96 anos
gastos para completar o cânon do Novo Testamento, dá um total de 1142 anos,
que foi o tempo gasto para completar a formação do cânon dos dois
Testamentos.
Porém somando os 1142 anos mais os 400 anos do período interbíblico, dá um
total de 1542 anos. Portanto, os 66 livros canônicos de nossas Bíblias foram
escritos por cerca de 40 homens inspirados por Deus, dos mais variados tipos
de funções e profissões. Alguns eram príncipes, legisladores, estadistas,
profetas, chefes de Estado, generais, reis, poetas, sacerdotes, pecuaristas,
funcionários públicos, médicos, eruditos, teólogos etc., em um período de
cerca de 16 séculos. Em 2Tm 3.16-17, Paulo escreve que: “Toda Escritura
divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir,
para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente instruído para toda boa obra”.

CONCLUSÃO
O que diferencia a Bíblia dos demais livros é a sua inspiração divina
(2Tm 3.16; 2Pe 1.21). Em Hb 4.12, o escritor sagrado escreve: “Porque a
palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do
que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do
espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e
intenções do coração”. Que as Escrituras são de origem divina é assunto
resolvido. Quem tem o Espírito Santo, deposita toda confiança na Bíblia
como a Palavra de Deus, sem exigir provas e argumentos. Concordo assim
com as palavras de Napoleão Bonaparte, grande imperador francês, quando
disse: “A Bíblia não é um simples livro, senão uma criatura vivente, dotada
de uma força que vence a todos quanto se lhe opõem”.

38
ANGELOLOGIA — A DOUTRINA DOS ANJOS

INTRODUÇÃO
A angelologia é a matéria teológica que estuda sobre os anjos. A
importância da nossa crença sobre a pessoa e ações dos anjos consiste,
primeiro, no fato de que eles, confirmados na obediência a Deus, terem sido
designados como espíritos ministradores em benefício dos que hão de
herdar a vida eterna (Hb 1.14). Depois porque todos eles, até os que caíram
com Satanás no princípio, terão papel decisivo nos eventos e terão lugar no
futuro. Os anjos são protagonistas de grandes eventos nas Escrituras no
cumprimento de suas funções e atividades, em submissão e obediência ao
Deus Todo-Poderoso
(Sl 103.20). Do Gênesis ao Apocalipse, as atividades angelicais são tão
intensas que os anjos são citados cerca de 300 vezes nas páginas da Bíblia.
Vejamos:
I. OS ANJOS SÃO CRIATURAS DE DEUS
Os anjos são seres celestiais que foram criados do nada pelo poder de
Deus. Eles foram criados perfeitos para habitarem eternamente nos céus. O
Deus Todo-Poderoso, o Criador do Universo, mediante a sua palavra foram
feitos os céus e todo seu exército (Sl 33.6), as coisas invisíveis que estão
nos céus, as visíveis que estão na terra, tudo foi criado pelo Senhor Jesus
Cristo (Cl 1.16). Não sabemos com exatidão a época em que os anjos foram
criados, porém, temos conhecimento de que eles existem há muito tempo. Os
judeus acreditavam que os anjos eram seres eternos e incorpóreos, dotados de
grande luminosidade e pureza. Nunca ficavam doentes, nunca morriam, não
comiam nem dormiam, nem tampouco estavam sujeitos aos infortúnios que
afligem os seres humanos. Deus rege o Universo com poder absoluto, e, os
anjos, a serviço de Deus, agem em obediência à Palavra do Senhor (Sl
103.20-21).
II. OS ANJOS SÃO CRIATURAS SUPERIORES AOS HOMENS
Apesar dos anjos serem celestiais, perfeitos, puros, poderosos, eternos, eles
reconhecem que são criaturas e não admitem ser adorados pelo homem,
porque somente Deus é digno de ser adorado
(Ap 19.10). Embora na Bíblia sejam descritos como varões, os anjos, na
realidade não têm sexo e não propagam a sua espécie (Lc 20.34-35) e não

39
podem gerar (Lc 20.36). Os anjos são espíritos, diferentes dos homens, não
estando limitados às condições naturais e físicas. Os anjos não possuem um
corpo carnal material com forma humana, mas um corpo espiritual, que é
acompanhado de luz e de glória celestial (1Co 15.44). O aspecto do anjo que
anunciou a ressurreição de Jesus Cristo era como um relâmpago (Mt 28.3). Os
anjos aparecem e desaparecem quando querem e se movimentam com uma
velocidade incalculável. Porém apesar dos anjos serem puramente espíritos,
eles têm o poder de assumir a forma de corpos humanos, para se tornarem
visíveis aos sentidos do homem a quem Deus quer revelar propósitos
específicos (Gn 19.1-3). Os anjos não estão sujeitos à morte, são imortais,
foram criados num estado perfeito para viverem eternamente (Lc 20.34-36). O
anjo que apareceu no sepulcro de Jesus, tinha um aspecto como de um
mancebo, embora tenha existência há milhares de anos (Mc 16.5). Sobre a sua
quantidade, a Bíblia diz que são milhares de milhares e milhões de milhões
(Dn 7.10; Mt 26.53; Lc 2.13; Hb 12.22).
III. A CLASSIFICAÇÃO DOS ANJOS
Quanto à sua classificação, existem várias graduações de autoridade entre
os anjos correspondentes às suas diferentes funções no céu. Alguns anjos
desempenham funções de grande responsabilidade junto ao trono de Deus,
cooperando na administração divina. Outros são encarregados de serviços na
administração de Deus quanto ao atendimento aos homens no mundo inteiro,
servindo a favor daqueles que hão de herdar a salvação (Hb 1.14; Dn 3.28; Gn
19.16).

1. ARCANJOS
Miguel é mencionado como arcanjo, o anjo principal. Ele aparece como o
anjo protetor da nação israelita (Dn 12.1). O nome “Miguel” significa “Quem
é semelhante a Deus?” Desde que Satanás desejou ser semelhante a Deus, o
arcanjo Miguel, cujo nome lhe traz a honra de defender a glória que pertence
unicamente ao Senhor, é sempre citado em confronto com o diabo. Talvez o
fato de ser designado por Deus para cuidar da expulsão de Satanás do céu,
Miguel sempre aparece em peleja contra o inimigo de Deus e defendendo a
Israel, o povo escolhido de Deus (Ap 12.7-10; Dn 12.1). De acordo com a
Bíblia, Miguel é um dos primeiros príncipes (Dn 10.13), o que sugere a
existência de outros príncipes de destaque no céu. A maneira pela qual
Gabriel é mencionado, também indica que ele é de uma classe muito
elevada. Ele está diante da presença de Deus e a ele são confiadas as
mensagens de mais elevada importância com relação ao Reino de Deus (Jd 9;

40
Ap 12.7; 1Ts 4.16; Dn 8.16; 9.21; 12.1; Lc 1.19).
Gabriel foi o portador da mensagem a Zacarias sobre o nascimento de João
Batista, o precursor de Jesus (Lc 1.11-19); foi também quem trouxe a
grandiosa mensagem para a virgem Maria de que ela haveria de dar à luz o
Filho de Deus (Lc 1.26-35).

2. QUERUBINS
Os querubins pertencem também a uma classe elevada de anjos. Eles
ocupam uma função muito especial e de grande responsabilidade na
administração divina, junto ao trono de Deus. A Bíblia afirma que Deus está
entronizado entre os querubins (Sl 99.1). Deus habita entre querubins (Is
37.16; 2Rs 19.15) e eles são chamados de “querubins da glória” (Hb 9.5).
Os querubins são anjos relacionados também com os propósitos redentores
de Deus para o homem. Eles são descritos como tendo rostos de leão, de
homem, de boi e de águia; isto sugere que representam uma perfeição de
criaturas: força de leão, inteligência de homem, rapidez de águia e serviço
semelhante ao que o boi presta (Ap 4.6-8). Em
Gn 3.24, provavelmente foi a primeira vez que vieram querubins à terra para
proteger o acesso à árvore da vida no jardim do Éden. A grande importância
dos querubins no conceito divino se observa no fato de que Deus ordenou que
fossem feitos dois querubins de ouro numa só peça para fazerem parte do
propiciatório que ficava acima da arca da aliança (Êx 25.19), o lugar mais
sagrado do culto divino no Antigo Testamento. Deus também mandou que
fossem bordados querubins em obra-prima sobre o véu (Êx 26.31), bem como
nas cortinas do tabernáculo (Êx 26.1).

3. SERAFINS
Os serafins, outra classe angelical, são mencionados apenas em Isaías (Is
6.1-6). Pouco se sabe a respeito deles. Segundo alguns estudiosos do assunto,
eles constituem a ordem mais elevada de anjos e a característica que os
distingue é um ardente amor para com Deus. A palavra “serafins” significa
“ardentes”. O nome deles indica uma alta patente. Os serafins têm três pares
de asas, com duas voam, com duas cobrem o rosto, em reverência diante de
Deus e com duas cobrem os pés, para que as suas próprias obras não
apareçam. Eles sempre clamam uns aos outros, dizendo: “Santo, Santo, Santo,
é o Senhor dos Exércitos.”

41
4. PRINCIPADOS E POTESTADES
Os principados e potestades que a Bíblia menciona são classificações de
governos e domínios. A Bíblia parece ensinar que cada nação tem seu anjo
protetor, o qual se interessa pelo bem-estar da mesma, conhecido como anjo
das nações. Um “principado” é um pequeno estado independente, cujo
soberano tem o título de príncipe. Já a “potestade”, é a própria autoridade
constituída. É aquele que tem o poder para exercer certas funções. A Bíblia
faz referência a dois tipos de potestades: As do céu e as da terra.
Os principados e potestades da terra têm domínio sobre os homens; Paulo
recomenda submissão total, reconhecendo que essas potestades foram
constituídas por Deus (Rm 13.1-4). Ou seja, são os governos humanos
constituídos pelo próprio Deus. Em relação aos principados e potestades do
céu, (anjos com autoridade e poder), Paulo ordena que coloquemos a
armadura espiritual e entremos em luta contra os principados e potestades do
mal (Ef 6.10-17). Ou seja, são dominadores invisíveis e hostes infernais da
maldade que se opõem aos governos humanos estabelecidos nas nações,
manipulando-os para fazerem o mal e são inimigos mortais da Igreja do
Senhor Jesus Cristo na terra. A felicidade da Igreja é saber que Cristo está
assentado à direita de Deus “acima de todo principado, e poder, e potestade, e
domínio, e de todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no
vindouro” (Ef 1.20-21). O profeta Daniel faz referência a eles. Havia um
príncipe angelical sobre os persas (Dn 10.13). Havia também um príncipe
angelical sobre o governo da Grécia (Dn 10.20). Os judeus estavam sob a
autoridade do principado do arcanjo Miguel (Dn 10.21; 12.1). Era tempo de
os judeus regressarem do cativeiro e Daniel se dedicou a orar e jejuar pela sua
volta. Depois de três semanas, um anjo apareceu-lhe e deu como razão da
demora o fato de que o príncipe, ou anjo da Pérsia, havia se oposto à volta dos
judeus. O anjo lhe disse que a sua petição para o regresso dos judeus, não
tinha quem a apoiasse a não ser Miguel, o príncipe da nação hebraica. O
príncipe dos gregos também não estava inclinado a favorecer a volta dos
judeus. Entretanto Miguel estava pelejando com aquele mensageiro celestial,
provavelmente Gabriel, para que os judeus retornassem do cativeiro
babilônico. A palavra do Novo Testamento para “principados” pode referir-
se a esses príncipes angélicos das nações; o termo é usado tanto para os anjos
bons como para os maus
(Dn 9.1-2; 10.13,20-21; Ef 3.10; 6.12; Cl 2.15).

42
Na antiga aliança, Israel vivia sob o principado de Miguel, o arcanjo.
Entretanto na nova aliança, a Igreja vive sob o governo e principado do
próprio Senhor Jesus Cristo (Ef 1.22-23; 3.10). Glórias a Deus!

CONCLUSÃO
Tanto na antiga como na nova aliança, os anjos foram personagens
importantes e continuam sendo “espíritos ministradores, enviados para servir
a favor daqueles que hão de herdar a salvação?”
(Hb 1.14). Do Gênesis ao Apocalipse, os anjos de Deus atuam em favor do seu
povo eleito. Agradeçamos ao nosso bondoso Deus pela existência dos anjos
eleitos e valorosos em poder, os quais nos ajudam e nos acompanham no
nosso dia a dia, livrando-nos do mal e nos guardando em todos os nossos
caminhos! (Sl 34.7; 91.11).

ANTROPOLOGIA BÍBLICA — A DOUTRINA


DO HOMEM

INTRODUÇÃO
A ciência que estuda o homem como um todo chama-se antropologia. Esta
palavra vem do grego anthropos que significa “homem” e logia significa
“estudo” ou “ciência”. A união destes dois termos forma a palavra
“antropologia” — A doutrina do homem. Existe a antropologia biológica, que
estuda os aspectos genéticos e biológicos do homem; a antropologia social,
que estuda as organizações sociais e instituições políticas do homem; a
antropologia cultural, que estuda os sistemas simbólicos, comportamentos e
religiosidade do homem; a antropologia teológica, que estuda o ser humano a
partir de uma visão bíblica e teológica. O termo “homem”, proveniente do
latim homine, é aplicado ao ser humano como um todo, sendo um mamífero
bípede, dotado de capacidade de raciocinar e se expressar de modo articulado.
O homem foi criado por Deus de uma maneira especial, pois, ao criar os
animais e as plantas, Deus apenas ordenou a palavra, dizendo: “Haja…” (Gn
1.3,6,11,14,20,24). Porém ao criar o homem, Deus disse: “Façamos o homem
à nossa imagem, conforme a nossa semelhança…” (Gn 1.26). Portanto, a
criação do homem foi pontual e especial. Vejamos:

43
I. A COROA DA CRIAÇÃO DE DEUS
O homem é a coroa da criação de Deus. O homem foi feito à imagem e
semelhança de Deus (Gn 1.26- 27). O homem foi formado do pó da terra (Gn
2.7). Dizer que o homem veio do macaco é uma blasfêmia contra o próprio
Deus, pois o homem foi feito à imagem de Deus e não à imagem do macaco. É
muito melhor crer na Palavra de Deus, que é a verdade (Jo 17.17), do que
crer na mentira da teoria da Evolução de Charles Darwin. O homem é
tricotômico, ou seja, é composto de três elementos: espírito, alma e corpo
(1Ts 5.23). O espírito é o elemento espiritual do homem. A alma é o elemento
intelectual do homem e o corpo é o elemento material do homem. Isso faz do
homem um ser espiritual, racional e material. Com o espírito, o homem adora a
Deus. Com a alma, o homem crê e obedece a Deus; com o corpo, o homem
serve e faz a obra de Deus.
II. O HOMEM MATERIAL
Deus criou o homem com um lado material e um lado espiritual. O homem
material corresponde ao corpo humano criado por Deus para que o homem
pudesse se comunicar com o mundo material. A ciência ainda não criou uma
máquina que tenha um mecanismo tão perfeito como o corpo humano, que
possui uma dimensão gigantesca em vários dos seus aspectos. Calcula-se que
o cérebro humano é composto por cerca de nove milhões de células nervosas
e todo o corpo humano é formado por cerca de um trilhão de células. O valor
físico do homem não tem preço. Alguém foi calcular o valor físico do corpo
humano e descobriu que ultrapassava seis milhões de dólares, caso fossem
vendidos todos os elementos químicos que compõem o corpo humano. “O
homem não tem preço; é o que existe de mais valioso no Universo”; é o que
dizem os filósofos. Se o corpo material do homem vale tanto assim, imagine o
seu valor espiritual e intelectual? É simplesmente incalculável.
III. O HOMEM RACIONAL E ESPIRITUAL
O homem racional e espiritual corresponde a alma e o espírito que Deus
formou no homem para diferenciar os seres humanos dos animais irracionais,
além de se comunicarem com o seu Criador e com os céus. Para se comunicar
com Deus, que é Espírito, o homem precisa adorá-lo em espírito e em
verdade (Jo 4.23-24). Jesus Cristo exaltou o grande valor espiritual do homem,
dizendo: “Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a
sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma?” (Mt 16.26). O
raciocínio de Jesus é que uma alma salva vale mais do que o mundo inteiro

44
perdido. Nenhum valor monetário no mundo seria capaz de pagar o resgate da
alma humana, porque “nenhum deles, de modo algum, pode remir a seu irmão
ou dar a Deus o resgate dele (pois a redenção da sua alma é caríssima, e seus
recursos se esgotariam antes)” (Sl 49.7-8). Nem toda a prata e o ouro deste
mundo serviria para pagar o valor da alma humana (1Pe 1.18). Só o
precioso sangue de Jesus Cristo (1Pe 1.19; 1Co 6.20). A “alma” e o “espírito”
são parecidos na maneira pela qual são usados na vida espiritual do crente.
Eles são diferentes em sua identidade. De acordo com alguns estudiosos a
“alma” é a visão horizontal do homem com o mundo e o “espírito” é a visão
vertical do homem com Deus. A alma e o espírito se referem à parte imaterial
do homem, mas somente o “espírito” se refere à caminhada do homem com
Deus. Entretanto a “alma” se refere à caminhada do homem fazendo incursões
tanto no mundo material quanto no mundo espiritual. A alma se comunica
com o mundo material através do corpo e se comunica também com o mundo
espiritual por meio do espírito. A vontade de Deus é que haja harmonia
espiritual nos três elementos que constituem o homem: espírito, alma e corpo
(1Ts 5.23).
IV. O PECADO DO HOMEM
O apóstolo Paulo descreve como o pecado entrou no mundo dizendo: “Pelo
que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte,
assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos
pecaram” (Rm 5.12). No Sl 14.2-3, o salmista descreve a situação dos
homens extraviados dos caminhos de Deus dizendo: “O SENHOR olhou
desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse
entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos e juntamente se fizeram
imundos; não há quem faça o bem, não há sequer um”. No Areópago de
Atenas, Paulo descreveu um breve resumo da história da humanidade, e o
propósito de Deus para o homem: “O Deus que fez o mundo e tudo que nele
há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de
homens. Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que
necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, a
respiração e todas as coisas; e de um só fez toda a geração dos homens para
habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados
e os limites da sua habitação, para que buscassem ao Senhor, se, porventura,
tateando, o pudessem achar, ainda que não está longe de cada um de nós;
porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como também alguns dos
vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração. Sendo nós, pois,
geração de Deus, não havemos de cuidar que a divindade seja semelhante ao

45
ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens.
Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos
os homens, em todo lugar, que se arrependam, porquanto tem determinado um
dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do varão que destinou;
e disso deu certeza a todos, ressuscitando-
o dos mortos” (At 17.24-31). Neste discurso, feito no Areópago de Atenas,
Paulo revelou para os gregos
o verdadeiro Deus Criador dos céus e da terra e o Deus redentor da
humanidade, dando uma verdadeira aula de antropologia teológica para os
filósofos estoicos e epicureus que ali se encontravam!
V. O DIA EM QUE DEUS VIROU HOMEM
A maior alegria do ser humano é saber que, um dia, Deus se fez carne e
habitou entre nós (Jo 1.14).
Quando Jesus Cristo se encarnou, ele passou a possuir a verdadeira natureza
física humana, pois foi feito “em semelhança de homens”. Deus criou o
homem à sua imagem e semelhança (Gn 1.26), para que o homem se parecesse
com ele. Porém ao se tornar carne e habitar entre nós, Deus se fez semelhante
aos homens (Fp 2.7), para se parecer conosco e, depois, nos transformar na
“imagem do seu Filho”
(Rm 8.29). Por ocasião da encarnação, Jesus Cristo trocou sua vida
independente pela vida dependente, sua soberania pela subordinação. Vivendo
uma existência humana, ele se limitou aos meios e métodos pelos quais o
poder divino é obtido e exercido pelo homem. Jesus Cristo foi tentado e,
assim, sujeito às limitações morais essenciais da natureza humana, ainda que
separado do pecado. Ao vencer o pecado, o mundo, o diabo e a própria morte,
Jesus Cristo foi o único homem perfeito que já pisou nesta terra!
(Hb 2.14-18).
VI. A SALVAÇÃO DO HOMEM
O propósito de Deus virar “homem” foi justamente para conhecer de perto
o sofrimento humano e providenciar a salvação do homem (Jo 3.16; Hb 5.8-9).
O alvo de Deus não é salvar apenas alguns homens. O propósito maior de
Deus é salvar a todos os homens. O apóstolo Paulo afirma que: “A graça de
Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tt 2.11). A
nossa alegria se torna maior ainda ao saber que Deus “que quer que todos os
homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade. Porque há um só
Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem”
(1Tm 2.4-5).

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Jesus Cristo é o Homem Deus, ou o Deus Homem, que está diante do Pai
advogando a causa de todos os homens (1Jo 2.1-2).

CONCLUSÃO
O homem é o ser mais valioso que existe na face da terra! Deus não avalia
o homem pelo seu patrimônio, mas sim pelo seu caráter! “Mas o nobre projeta
coisas nobres e, pela nobreza, está em pé” (Is 32.8).

HAMARTIOLOGIA — A DOUTRINA DO
PECADO

INTRODUÇÃO
A doutrina que estuda o pecado chama-se “hamartiologia”. Este termo vem
da palavra grega hamartia, que significa “transgressão”, “pecado”, ou “errar
o alvo” e logia, que significa “estudo” ou “doutrina”.
Portanto, hamartiologia é a doutrina que estuda o pecado e suas
consequências. No Antigo Testamento, o pecado é visto como uma
transgressão direta à Lei de Deus, caracterizado por um erro moral do homem
que o torna culpado diante de Deus. Já no Novo Testamento, o pecado é um
mal impregnado na própria natureza pecaminosa do homem que o mantém
cativo até que ele encontre a libertação em Cristo Jesus. O Senhor Jesus Cristo
declara que o pecado nasce no próprio coração humano (Mc 7.21-23). Já o
apóstolo Paulo afirma que o pecado é algo genético que herdamos de nosso
primeiro ancestral Adão (Rm 5.12- 19); o apóstolo Tiago afirma que o
pecado nasce pela própria cobiça do ser humano (Tg 1.13-15).
Podemos resumir este estudo da hamartiologia em três pontos principais: 1) A
origem do pecado; 2) As consequências do pecado do homem e 3) A solução
de Deus para o pecado do homem. Vejamos:
I. A ORIGEM DO PECADO
Toda a criação de Deus é importante. Porém Deus escolheu o homem de
um modo especial, formando- o à sua imagem e semelhança (Gn 1.26-28).
Deus criou os seres angelicais, com graus distintos de responsabilidade e
autoridade. Deus deu a um querubim uma grande formosura e sabedoria
esplêndida (Ez 28.12-17). Lúcifer atuava como um dos primeiros-ministros de
Deus, tinha grande poder, perfeita formosura e esplêndida sabedoria, mas
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também tinha livre-arbítrio. Lúcifer ficou tão deslumbrado com o poder e a
formosura de Deus, que disse: “serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14.14).
Com isso, encabeçou uma rebelião jamais vista em toda a história, com o
propósito de estabelecer um reino espúrio, juntamente com os anjos que lhe
acompanharam nesta rebelião (Ap 12.4-9). Devido esta rebelião, Lúcifer,
agora chamado Satanás, recebeu o juízo de Deus e a expulsão dos céus. A
queda de Lúcifer é o marco da origem do pecado no Universo e de todos os
males que acompanham este ato de rebelião ao Criador.
Algum tempo depois desta rebelião, Deus fez outra criação, a qual também
concedeu livre-arbítrio: o homem. Ao criar o homem, Deus mostrou o seu
cuidado especial, com um jardim de delícias para a sua nova criação habitar.
Satanás, observando isso, ficou com ira e ciúmes e partiu para atacar e
perturbar a nova criação de Deus, o homem. Deus estabeleceu um
relacionamento de companheirismo e comunhão com Adão e Eva, no jardim
do Éden, mediante o amor. A fim de Adão e Eva continuarem esse
relacionamento com Deus, teriam apenas de passar na prova de obediência
total a vontade divina
(Gn 2.16-17). Porém neste caso, falharam em sua prova (Gn 3.1-8). A queda
do homem é o momento histórico que explica a origem do pecado no mundo
em que vivemos.
De acordo com o apóstolo Paulo “Pelo que, como por um homem entrou o
pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a
todos os homens, por isso que todos pecaram”
(Rm 5.12). Edward Oakes assim definiu esta entrada do pecado no mundo:
“Em função do pecado nascemos num mundo onde a rebelião contra Deus
tomou espaço e nos arrasta como uma correnteza.” A nossa natureza
pecaminosa é uma inclinação negativa, que herdamos de Adão, para a prática
do mal orientado contra Deus.
II. AS CONSEQUÊNCIAS DO PECADO DO HOMEM
Como consequência do pecado do homem a morte, tanto física como
espiritual, passou a reinar no homem. A imagem de Deus foi maculada e a
natureza humana foi corrompida por inteiro, trazendo a culpa judicial sobre
toda a humanidade e o rompimento da comunhão entre Deus e o homem (Rm
3.10-18,23).
O pecado ainda trouxe como consequência a depravação humana, a culpa e
a própria incapacidade do homem de se libertar sozinho do mal que o
escraviza. O apóstolo Paulo explica isto ao dizer: “Porque o que faço, não o
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aprovo, pois o que quero, isso não faço; mas o que aborreço… De maneira
que, agora, já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim.
Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e,
com efeito, o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem.
Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço. Ora, se
eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim”
(Rm 7.15,17-20).
O apóstolo Paulo ainda retrata em vivas cores a guerra que o pecado trava
dentro de nós, dizendo: “Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha
contra a lei do meu entendimento e me prende debaixo da lei do pecado que
está nos meus membros” (Rm 7.23).
Reconhecendo a total depravação humana, o apóstolo Paulo
desesperadamente grita por socorro e libertação, dizendo: “Miserável homem
que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7.24). Então Paulo
respira aliviado afirmando: “Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso
Senhor. Assim que eu mesmo, com o entendimento, sirvo à lei de Deus, mas,
com a carne, à lei do pecado” (Rm 7.25). Jesus Cristo é o único que pode
libertar o homem do pecado! Tal fato fazia Paulo, assim como todos nós,
respirar aliviado!
III. A SOLUÇÃO DE DEUS PARA O PECADO DO HOMEM
Deus havia previsto a possibilidade do pecado e idealizado um meio para
resgatar o homem. E foi assim que Deus desceu no jardim do Éden naquela
tarde sombria e, como autêntico missionário, proclamou a primeira mensagem
evangelística, conhecida pelos teólogos como “protoevangelho”: “E porei
inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta te
ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15). Esta é a primeira
referência indireta à Cristo na Bíblia, relacionada à derrota de Satanás, o autor
do pecado. Esta sentença divina dada à “antiga serpente”, que se chama diabo
e Satanás (Ap 20.2), são as boas-novas de vitória sobre o fracasso do homem.
Naquele momento, Deus estava anunciando Cristo a todos os descendentes
de Adão que haveria de nascer no decorrer dos séculos. “Mas, vindo a
plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido
sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a
adoção de filhos” (Gl 4.4-5).
Somente Jesus Cristo pode libertar o homem de sua total depravação, pois:
“Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já
passaram; eis que tudo se fez novo” (2Co 5.17).
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Entretanto, apesar de receber uma nova natureza, o crente ainda continua com
sua antiga natureza pecaminosa, porém, controlada pelo Espírito Santo (Rm
8.13-16).
Em 1Jo 2.1-2, o apóstolo João nos apresenta o advogado universal dos
pecadores, dizendo: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo para que não
pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus
Cristo, o Justo. E ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente
pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”. Segundo o famoso
teólogo da cruz John Stott: “A propiciação enfoca a ira de Deus a qual foi
aplacada pela cruz; a redenção centraliza-se na má situação dos pecadores da
qual foram resgatados pela cruz”.
Em Ap 1.5, a Bíblia afirma que Jesus Cristo é “Àquele que nos ama, e em
seu sangue nos lavou dos nossos pecados”. Ainda segundo John Stott: “O
amor divino triunfou sobre a ira divina mediante o divino autossacrifício. A
cruz foi um ato simultâneo de castigo e anistia, severidade e graça, justiça e
misericórdia”.
Em Ap 22.14, João descreve a felicidade dos pecadores redimidos,
dizendo: “Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue
do Cordeiro, para que tenham direito à árvore da vida e possam entrar na
cidade pelas portas”.

CONCLUSÃO
A expiação era o único meio de satisfazer a justiça divina contra o pecado.
“No pensamento paulino o homem é alienado de Deus pelo pecado e Deus é
alienado do homem pela ira. É na morte substitutiva de Cristo que o pecado é
vencido e a ira desviada, de modo que Deus possa olhar para o homem sem
desprazer e o homem olhar para Deus sem temor. O pecado é expiado, e
Deus propiciado” (John Stott).

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SOTERIOLOGIA — A DOUTRINA DA
SALVAÇÃO

INTRODUÇÃO
Soteriologia é a doutrina que estuda a salvação. A palavra “soteriologia”
vem do grego soterios, que significa “salvação” e logia, que significa
“estudo” ou “doutrina”. A soteriologia — doutrina da salvação, é o antídoto
da hamartiologia — a doutrina do pecado. A hamartiologia estuda o pecado e
a queda do homem; a soteriologia, porém, estuda a redenção e ressurreição
espiritual do homem morto em seus delitos e pecados. A Bíblia chama esta
salvação de “tão grande” (Hb 2.3), lembrando a mesma expressão do grande
amor de Deus pelo pecador, em Jo 3.16, quando aparece a expressão “de tal
maneira”, ou seja, não há como mensurar o grandioso amor de Deus, como
também não há como mensurar esta “tão grande salvação”. Cada religião
oferece um tipo diferente de salvação e possui sua própria soteriologia.
Algumas dão ênfase ao relacionamento do homem em unidade com Deus,
outras dão ênfase ao aprimoramento do conhecimento humano como forma de
se obter a salvação. Porém, para o cristianismo, só há salvação em Jesus
Cristo. O próprio nome “Jesus” significa “salvação”. “E em nenhum outro
há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado
entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4.12). A palavra
“salvação”, significa “livrar-se”, “escapar”, “ser tirado de um perigo”.
Existem basicamente dois tipos de salvação: 1) A salvação comum e 2) A
salvação eterna. A salvação comum é quando somos salvos de um perigo
qualquer, salvos de um acidente, salvos de um assalto ou de outra
adversidade qualquer; a salvação é também sinônimo de livramento. Já a
salvação eterna é quando aceitamos a Jesus Cristo como o nosso Salvador e
perseveramos nesta salvação até o fim, para obtermos a vida eterna (At 16.31;
Rm 10.9-10; Mt 24.13). Vamos aprender soteriologia em 10 principais atos
que resultam na salvação do homem.
I. O AMOR DE DEUS
O primeiro ato da salvação é o amor ativo de Deus em favor da
humanidade: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho
unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna” (Jo 3.16). A salvação humana só é possível porque Deus nos amou de

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maneira inexplicável. As palavras “de tal maneira” indicam intensidade. Seu
amor era tão intenso, sua pressão foi tão grande, que rompeu fatalmente os
“diques” da divindade e se derramou em superabundante plenitude sobre uma
raça perdida e arruinada. O amor de Deus não ficou resumido a meras
palavras. Ele tomou uma atitude: “Mas Deus prova o seu amor para conosco
em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8).
II. A EXPIAÇÃO
O segundo ato da salvação foi a expiação. Sem expiação não haveria
salvação. A “expiação” é o meio pelo qual Deus providencia a reparação do
pecado humano através de um ato redentor. O amor de Deus o levou a realizar
o segundo ato da salvação: “Deu o seu Filho unigênito” (Jo 3.16). “A alma
que pecar, essa morrerá” (Ez 18.4). Essa seria a sentença de toda a
humanidade se Deus não houvesse providenciado a expiação do pecado. A
expiação foi o primeiro ato redentor de Deus após o pecado: “E fez o
SENHOR Deus a Adão e a sua mulher túnicas de peles e os vestiu” (Gn 3.21).
O sangue derramado daquele animal propiciou as vestes redentoras de Adão e
Eva; assim o sangue derramado pelo Cordeiro, morto desde a fundação do
mundo, propiciou as vestes redentoras de todos os pecadores redimidos
(Ap 13.8; 22.14). “Sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9.22).
Moisés escreveu que: “É o sangue que fará expiação pela alma” (Lv 17.11).
Sem expiação, nenhuma alma se salvaria. O pecado do homem clama por
expiação e reparação da culpa. Isso acontecia por meio da morte vicária de um
substituto em lugar do homem. Portanto a morte de Jesus Cristo, o Cordeiro de
Deus que tira o pecado do mundo, foi:
1) Expiatória — O pecado foi expiado (Jo 1.29).
2) Voluntária — Por um ato espontâneo de amor (Jo 15.13).
3) Vicária — Em favor de outras pessoas (1Pe 3.18).
4) Propiciatória — O pecado foi coberto (1Jo 4.10).
5) Sacrificial — Oferecido em holocausto pelos nossos pecados (Is 53.6-7; 1Co
5.7).
6) Substitutiva — Em lugar de miseráveis pecadores (Rm 5.8).
7) Redentora — O preço foi pago pelo seu próprio sangue (Ef 1.7).

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III. A GRAÇA
O terceiro ato da salvação é a graça de Deus. A graça é um favor
imerecido. A graça exclui qualquer mérito humano. A graça é o ato
espontâneo de Deus em favor do pecador. Após amar o mundo de tal maneira
e providenciar a redenção humana, através da morte expiatória de seu Filho
Jesus Cristo, Deus decidiu qual a extensão desta tão grandiosa graça. Esta
graça seria apenas para alguns, ou para a humanidade inteira? Então ele
respondeu, dizendo: “para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha
a vida eterna” (Jo 3.16). Não é apenas para alguns, é para todo o que crê.
“Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os
homens” (Tt 2.11). Paulo escreveu, dizendo: “Porque pela graça sois salvos,
por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus” (Ef 2.8). A salvação
não é obra dos homens; é graça de Deus!
IV. A FÉ
O quarto ato da salvação do homem é a fé. Ora, se a graça de Deus se
manifestou trazendo salvação a todos os homens, por que todos os homens
não são salvos? A resposta é a seguinte: a graça de Deus é suficiente para
todos, porém, só é eficiente para os que creem! Observe que a expressão
bíblica diz: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé…” (Ef 2.8). O
segredo está nesta expressão: “por meio da fé”. A única coisa que condena o
homem é não crer. Veja o que disse o próprio Jesus: “Quem crer e for
batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Mc 16.16). Para que
o homem se beneficie da graça divina manifestada a todos os homens, é
preciso crer, pois a salvação é pela graça, “mediante a fé”. O apóstolo Paulo
ainda escreve, dizendo: “Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e,
em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo. Visto
que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para
a salvação” (Rm 10.9-10).
V. O ARREPENDIMENTO
O quinto ato da salvação do homem é o arrependimento. O
arrependimento se dá no interior do homem, quando ele sente um profundo
remorso e tristeza pelo mal que praticou e reconhece o seu pecado. Esse foi o
primeiro passo que o filho pródigo deu para se levantar, quando se expressou:
“Pai, pequei contra o céu e perante ti e já não sou digno de ser chamado teu
filho” (Lc 15.21). A primeira pregação do Novo Testamento é esta:
“Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus” (Mt 3.2). Jesus aprovou
esta mensagem inicial do Evangelho e passou também a pregar, dizendo:
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“Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus” (Mt 4.17).
VI. A CONVERSÃO
O sexto ato da salvação do homem é a conversão. Enquanto o
arrependimento é uma mudança de posição no interior do homem, a conversão
é uma tomada de decisão em seu interior. Ou seja: no arrependimento, o
homem apenas reconhece o seu pecado e deseja a mudança; na conversão,
porém, o homem toma uma atitude para mudar aquela situação em que se
encontra. Ele decide se levantar e mudar de vida, aceitando a Cristo e
entregando sua vida a ele. A conversão vem sempre acompanhada do
arrependimento; por isso, o apóstolo Pedro disse: “Arrependei-vos, pois, e
convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham, assim,
os tempos do refrigério pela presença do Senhor” (At 3.19).
VII. A RECONCILIAÇÃO
O sétimo ato da salvação do homem é a reconciliação. Após a sua
conversão, acontece a reconciliação do homem com Deus. A reconciliação se
dá quando dois inimigos fazem as pazes. O pecado tornou o homem inimigo
de Deus; quando o homem, porém, se converte ao Senhor, a paz é
restabelecida e o homem se reconcilia com Deus (Ef 2.12-16). A Palavra de
Deus nos aconselha, dizendo: “Une-te, pois, a Deus, e tem paz, e, assim, te
sobrevirá o bem” (Jó 22.21). E Paulo escreve em 2Co 5.18-19: “E tudo isso
provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo e nos
deu o ministério da reconciliação, isto é, Deus estava em Cristo reconciliando
consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados, e pôs em nós a
palavra da reconciliação”.
VIII. A REGENERAÇÃO
A regeneração é o oitavo ato da salvação do homem. A regeneração é um
ato divino pelo qual o homem recebe uma nova vida. É a transformação
operada na natureza humana. A regeneração é sinônimo de novo nascimento.
Na regeneração, a natureza pecaminosa do homem é transformada e o homem
se torna participante da natureza divina. O novo nascimento é a entrada do
homem no Reino de Deus. Em
Jo 3.3, Jesus disse a Nicodemos: “Na verdade, na verdade te digo que aquele
que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus”. A regeneração é um
ato realizado pelo próprio Espírito Santo: “Não pelas obras de justiça que
houvéssemos feito, mas, segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem
da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (Tt 3.5). O apóstolo

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Pedro conclui, dizendo: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus
Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma
viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1Pe
1.3).
IX. A JUSTIFICAÇÃO
O nono ato da salvação do homem é a justificação. A justificação é o ato
pelo qual os seres humanos pecadores são judicialmente declarados justos
diante do Deus santo. Esta justificação, porém, é um ato exclusivo da graça de
Deus, pelo qual ele imputa à pessoa que crê em Jesus a justiça de Cristo e a
declara isenta de culpa diante de Deus. Na justificação, Deus trata o homem
arrependido de acordo com o mérito de seu mediador Jesus Cristo. “Sendo
justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo
Jesus” (Rm 3.24). E, em 1Co 1.30, Paulo confirma esta verdade: “Mas vós
sois dele, em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e
justiça, e santificação, e redenção”. O raciocínio da justificação se resume
ainda no seguinte texto sagrado: “Àquele que não conheceu pecado, o fez
pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2Co 5.21). A
justificação do pecador, além de o tornar quite e isento de culpa perante o
tribunal divino, traz paz judicial perante o supremo juiz do Universo: “Sendo,
pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo”
(Rm 5.1).
X. A SANTIFICAÇÃO
O décimo ato da salvação do homem é a santificação. Se na justificação o
homem é declarado justo diante de um Deus santo, na santificação, o homem é
declarado santo pelo próprio Deus santo. A santificação é a separação do
pecado. Quando um vaso do tabernáculo era utilizado para o serviço sagrado,
ele era santificado e declarado um vaso santo. Da mesma forma acontece com
o crente salvo. Quando o cristão renuncia o pecado e se entrega ao Senhor, ele
se torna santo para o seu Senhor. Paulo explica todo o processo da santificação
do pecador, dizendo: “E é o que alguns têm sido, mas haveis sido lavados,
mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor
Jesus e pelo Espírito do nosso Deus” (1Co 6.11). A santificação não é
automática; ela é gradual, progressiva e pode ser aperfeiçoada: “Ora, amados,
pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e
do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus” (2Co 7.1). A
busca pela santificação deve ser um alvo atingido por nós: “De sorte que, se
alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e idôneo

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para uso do Senhor e preparado para toda boa obra” (2Tm 2.21). A
santificação é a condição indispensável para vermos ao Senhor (Hb 12.14;
1Ts 3.13; 5.23). A santificação é o alvo final para alcançarmos a vida eterna
(Rm 6.22).

CONCLUSÃO
A salvação da nossa alma é grandiosa e jamais deve ser negligenciada.
Precisamos ensinar mais ao nosso povo as doutrinas elementares da salvação,
as quais estão ficando esquecidas em detrimento de outras doutrinas.
“Portanto, convém-nos atentar, com mais diligência, para as coisas que já
temos ouvido, para que, em tempo algum, nos desviemos delas” (Hb 2.1).

ECLESIOLOGIA — A DOUTRINA DA IGREJA

INTRODUÇÃO
A palavra “igreja” é traduzida do termo grego eklesia, que significa
“chamados para fora”. Esta palavra, eklesia, é que deu origem ao termo
“eclesiologia”, que é o estudo ou doutrina da igreja. A Igreja é de fato um
organismo vivo composto por todos aqueles que são “chamados para fora”,
dentre todas as nações, tribos, povos e línguas, para constituírem o povo eleito
de Deus na face da terra. Em 1Tm 3.15, o apóstolo Paulo escreve ao pastor
Timóteo como o obreiro deve proceder na Casa de Deus; ao mesmo tempo
revela o papel que o povo de Deus deve exercer perante a sociedade, como
Igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade. Paulo nos oferece três
designações para povo de Deus nesta passagem bíblica: 1) Igreja do Deus
vivo; 2) Coluna; 3) Baluarte da verdade. A eclesiologia também estuda a
Igreja como organização e como organismo. Como organização, a Igreja
possui o seu sistema de governo e modelo de administração eclesiástica;
como organismo, a Igreja obedece às ordenanças de Cristo, cumpre a sua
missão na terra, adorando a Deus em espírito e em verdade, aguardando a
vinda do Senhor Jesus Cristo (Ef 2.20-22; Mt 28.19; Mc 16.15-16; 1Co
11.23-31; Jo 4.23-24; Tt 2.13-14). Vejamos:
I. IGREJA DO DEUS VIVO
A Igreja é o corpo místico de Cristo, no qual ele é a cabeça viva e os
crentes regenerados são os seus membros. O conjunto dos salvos que fazem
parte da Igreja do Deus vivo possui várias designações na Bíblia. A primeira
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vez que a palavra “igreja” aparece na Bíblia está em Mt 16.18, pronunciada
pelos lábios do próprio Senhor Jesus Cristo. Ali, ele disse com autoridade:
“Edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra
ela”. A igreja é de Jesus Cristo e foi por ele edificada. A igreja é lugar de
oração incessante a Deus (At 12.5). A igreja é lugar de homens capacitados
por Deus (At 13.1). A igreja é lugar de servir ao Senhor, o lugar onde Deus
fala e chama as pessoas para fazerem a sua obra (At 13.2). A igreja é lugar de
se testemunhar das grandezas de Deus (At 14.27). A igreja é lugar de se
receber bem os servos de Deus (At 15.4). A igreja é lugar de paz (At 9.31).

Nomes dados à Igreja nas Escrituras


1. Em Mt 5.13, a Igreja é chamada de “o sal da terra”. Em Mt 5.14, a Igreja é
chamada de “a luz do mundo”.
2. Em Jo 10.16, a Igreja é chamada de “aprisco”. Em At 5.14, a Igreja é chamada
de “multidão de crentes”.
3. Em At 11.26, a Igreja é chamada de “cristãos”. Em At 20.28, a Igreja é
chamada de “rebanho” e “igreja de Deus”.
4. Em Rm 8.29, a Igreja é chamada de “imagem de seu Filho”. Em Rm 8.29, a
Igreja é também chamada de “irmãos”.
5. Em 1Co 3.9, a Igreja é chamada de “lavoura de Deus e edifício de Deus”. Em
1Co 3.16, a Igreja é chamada de “santuário de Deus”.
6. Em 2Co 11.2, a Igreja é chamada de “virgem pura”. Em Gl 6.16, a Igreja é
chamada de “Israel de Deus”.
7. Em Ef 1.23, a Igreja é chamada de “corpo de Cristo”. Em Ef 2.19, a Igreja é
chamada de “família de Deus”.
8. Em Ef 2.21, a Igreja é chamada de “edifício bem-ajustado e templo santo do
Senhor”. Em Ef 2.22, a Igreja é chamada de “morada de Deus no Espírito”.
9. Em Fp 2.15, a Igreja é chamada de “luzeiros do mundo”. Em Cl 1.2, a Igreja é
chamada de “santos e irmãos fiéis em Cristo”.
10. Em 1Ts 1.4, a Igreja é chamada de “amados de Deus”. Em 2Ts 2.13, a Igreja é
chamada de “irmãos amados do Senhor”.
11. Em 1Tm 3.15, a Igreja é chamada de: “casa de Deus”; “igreja do Deus vivo”;
“coluna e baluarte da verdade”. Em 2Tm 2.20, a Igreja é chamada de “grande
casa”.
12. Em Tt 2.14, a Igreja é chamada de “povo especial, zeloso de boas obras”. Em

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Hb 4.9, a Igreja é chamada de “povo de Deus”.
13. Em Tg 1.18, a Igreja é chamada de “primícias das suas criaturas”. Em 1Pe 1.2,
a Igreja é chamada de “eleitos segundo a presciência de Deus Pai”.
14. Em 1Pe 2.9, a Igreja é chamada de “geração eleita, sacerdócio real, nação
santa e povo de propriedade exclusiva de Deus”. Em 2Pe 3.1, a Igreja é
chamada de “amados”.
15. Em 1Jo 3.1, a Igreja é chamada de “filhos de Deus”. Em Jd 1, a Igreja é
chamada de “amados em Deus Pai e guardados em Jesus Cristo”.
16. Em Ap 1.6, a Igreja é chamada de “reis e sacerdotes para Deus”. Em Ap 1.20,
a Igreja é chamada de “castiçal de ouro”.
17. Em Ap 19.7, a Igreja é chamada de “noiva ataviada”. Em Ap 21.9, a Igreja é
chamada de “esposa do Cordeiro”.
18. Em Ap 22.17, a Igreja aparece ao lado do Espírito Santo como a noiva que
anseia e aguarda a vinda do noivo amado Jesus Cristo.
II. A IGREJA COMO COLUNA
A segunda designação que Paulo dá a igreja do Senhor neste texto sagrado
é “coluna”. Uma coluna é, na verdade, um pilar ou um capitel que serve para
dar sustentação a uma casa ou um edifício. A Igreja é a coluna mestra que
ainda dá sustentação ao mundo em que vivemos. No dia em que a Igreja deixar
de ser coluna, este mundo irá se desmoronar por completo. A Igreja é a coluna
que sustenta a verdade de Deus neste mundo.
1. O mundo moderno ensina que o homem veio do macaco. Porém a Igreja
continua sustentando a verdade que o homem foi feito à imagem e semelhança
de Deus (Gn 1.26-27).
2. O mundo ensina que o Universo surgiu através da explosão de uma célula por
uma obra do acaso. A Igreja, porém, continua sustentando a verdade que, no
princípio, criou Deus os céus e a terra
(Gn 1.1).
3. O mundo moderno tem jogado a ética e a moral na lata de lixo. A Igreja,
entretanto, é a coluna que ainda mantém a reserva moral que existe neste
mundo (Fp 2.15).
4. O mundo moderno ensina que o homossexualismo é algo normal, uma simples
opção sexual. A Igreja, entretanto, continua sustentando a verdade que o
homossexualismo é um pecado abominável diante de Deus (Rm 1.25-27).
5. O mundo afirma que não existe verdade absoluta e que toda a verdade é

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relativa. Porém a Igreja do Deus vivo continua sustentando que Cristo é a
verdade absoluta que liberta o homem da ignorância espiritual (Jo 8.32; 14.6).
III. BALUARTE DA VERDADE
A terceira designação que Paulo dá a Igreja neste texto sagrado é “baluarte
da verdade”. O baluarte é definido como uma construção alta, sustentada por
uma forte muralha. É uma espécie de fortaleza ou torre forte. A Igreja do
Senhor é este baluarte forte, edificada por Deus, para que as portas do inferno
jamais prevaleçam contra ela (Mt 16.18). O baluarte é aquilo que serve de
defesa para uma cidade. A Igreja é o baluarte de Deus, que defende a verdade
do evangelho de Cristo neste mundo. O próprio Senhor é chamado de baluarte
em várias passagens bíblicas (2Sm 22.2-3; Sl 18.2; 91.2; 94.22).
1. A Igreja do Deus vivo é um baluarte indestrutível. O Inimigo pelejou de todas
as formas, através da história, para tentar destruir este baluarte da verdade
chamado igreja, mas não conseguiu. Levantou trincheiras, fez tudo o que
pode; usou o Império Romano, usou os seus impiedosos imperadores, usou o
regime de ferro nos países comunistas, mas não conseguiu. Impérios se
levantaram e caíram; regimes totalitários de governo se levantaram e caíram.
A Igreja do Deus vivo, porém, continua marchando de forma triunfal (2Co
2.14).
2. Em 2Co 10.4-5, o apóstolo Paulo afirma que: “Porque as armas da nossa
milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das
fortalezas; destruindo os conselhos e toda altivez que se levanta contra o
conhecimento de Deus, e levando cativo todo entendimento à obediência de
Cristo”.
3. Os imperadores romanos fizeram tudo o que estava ao alcance deles para
destruir a nova fé cristã. Queimaram crentes e manuscritos bíblicos em todo o
vasto império. Apesar de todo esforço dos imperadores pagãos em tentar
varrer a Igreja da face da terra, em menos de três séculos, o cristianismo veio a
se tornar a religião oficial do Império Romano. O mesmo império que deu o
veredito da crucificação de Cristo através de Pilatos, o seu representante legal,
menos de três séculos depois seus imperadores, começando por Constantino,
estavam se submetendo ao senhorio de Jesus Cristo, o homem que eles haviam
crucificado. Glórias a Deus!

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IV. AS DUAS GRANDES ORDENANÇAS DA IGREJA
O Senhor Jesus Cristo deixou duas importantes ordenanças para a sua
Igreja: O batismo (Mc 16.16) e a santa Ceia (Lc 22.19-20; 1Co 11.23-34). O
cristianismo não é uma religião ritualista; a essência do cristianismo é o
contato direto do homem com Deus por meio de Jesus Cristo, o nosso
mediador, e do Espírito Santo, o nosso intercessor (1Tm 2.5; Rm 8.26).
Portanto não há uma ordem dogmática e inflexível, antes permitindo à Igreja,
em todos os tempos e países, a liberdade de adotar o método que lhe seja mais
adequado, para a expressão de sua vida. Não obstante, há duas cerimônias que
são essenciais, por serem divinamente ordenadas, a saber: O batismo nas
águas e a Ceia do Senhor. Em razão de seu caráter sagrado, elas às vezes são
descritas como sacramentos, oriundas do termo latino sacramentum,
literalmente “coisas sagradas”, ou juramentos consagrados por um rito
sagrado. Também são mencionadas como ordenanças porque foram
“ordenadas” pelo próprio Senhor Jesus. O batismo nas águas é o ritual de
ingresso do novo convertido na Igreja cristã e simboliza o começo da vida
espiritual. Já a santa Ceia tem o propósito de servir de recordação dos
sofrimentos do Senhor Jesus Cristo em nosso favor.

1. O BATISMO
A palavra “batismo” é transliterada do grego baptimos e significa “imergir
ou mergulhar na água”. Essa interpretação é confirmada por eruditos da língua
grega e pelos historiadores da Igreja. O modo bíblico e original é a “imersão”,
o qual corresponde ao significado simbólico do batismo: morte, sepultamento
e ressurreição (Rm 6.3-4). O apóstolo Paulo explica isso, dizendo: “De sorte
que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo
ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em
novidade de vida” (Rm 6.4). O batismo nas águas, em si “não tem poder para
salvar”; as pessoas são batizadas não para serem salvas, mas porque já são
salvas. Não podemos dizer que o rito seja absolutamente essencial para a
salvação. Mas podemos dizer que o rito seja essencial para a integral
obediência aos mandamentos de Cristo (Mt 28.19; Mc 16.15-16).

2. A SANTA CEIA
A santa Ceia é uma celebração em memória da morte sacrificial e
expiatória de Jesus Cristo para remissão dos nossos pecados. O Salvador sabia
como é curta a memória humana. E, por consideração à nossa fraqueza e
inclinação ao esquecimento, estabeleceu a santa Ceia como um culto memorial

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de sua morte redentora. Nela tomamos do pão partido, simbolizando o seu
corpo que foi ferido por nós e do fruto esmagado da videira, símbolo de seu
sangue derramado por nossos pecados (Mt 26.26-28). É uma lembrança dos
sofrimentos do Senhor, a qual nos apresenta com muita nitidez o Calvário e
sua cruz. A Ceia, porém, contempla não só o passado, mas também o futuro. É
uma comemoração e uma profecia, a qual demonstra a morte do Senhor até
que ele venha (1Co 11.23-31). O batismo sugere a fé em Cristo; Já a santa
Ceia sugere a comunhão com Cristo. O batismo é administrado somente uma
vez, porque só pode haver apenas um começo da vida espiritual; já a santa
Ceia é ministrada frequentemente, ensinando que a vida espiritual deve ser
alimentada constantemente pela nossa comunhão com Cristo (1Co 10.16).
V. SISTEMAS DE GOVERNO DA IGREJA
A Igreja foi fundada, não como instituição autoritária para compelir o
mundo a viver a doutrina de Cristo, mas apenas como instituição que dá
testemunho de Cristo, para apresentá-lo ao povo. Cristo, não a Igreja, é o
poder transformador da vida humana. Todavia a Igreja foi fundada nos dias do
Império Romano, tomando gradualmente uma forma de governo semelhante
ao do mundo político em que existia, vindo a tornar-se vasta organização
autocrática governada de cima. O sistema do governo eclesiástico da Igreja foi
estabelecido pelo próprio Senhor Jesus Cristo, o supremo pastor e bispo das
nossas almas (1Pe 2.25). Foi ele mesmo quem estabeleceu na Igreja “uns
para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros
para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra
do ministério, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à
unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida
da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos
inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos
homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente” (Ef 4.11-14). Entretanto
ainda existem também os cargos locais de presbíteros, diáconos e auxiliares
do ministério (Tt 1.5-9; 1Tm 3.8-13; 1Co 16.16). Cristo
governa e orienta a Igreja através do Espírito Santo (Jo 16.13; At 16.6-10; Fp
1.19); o Espírito Santo, por sua vez, dirige a Igreja de Cristo através do
ministério eclesiástico (At 15.28; 20.28). Entretanto a multiforme graça de
Deus (1Pe 4.10) permite a diversidade e multiplicidade de operações, também
a autonomia eclesiástica. Por isso, existem três principais formas de
governo eclesiástico em nossos dias.

61
1. SISTEMA EPISCOPAL
A forma episcopal de governo eclesiástico é normalmente considerada a
mais antiga. O próprio título é derivado da palavra grega episkopos, que
significa “supervisor”. A tradução mais frequente desse termo é “bispo” ou
“superintendente”. Os que apoiam esta forma se dividem em dois grupos:
1) Os que acreditam que Cristo, como a cabeça da Igreja, tenha confiado o
controle de sua Igreja na terra a uma ordem de oficiais chamados “bispos”,
que seriam sucessores dos apóstolos, como por exemplo o catolicismo, o qual
defende que o Papa, o bispo maior da Igreja Católica, seria o sucessor da
cadeira de São Pedro, o líder do colégio apostólico.
2) Os que também acreditam que Cristo é o supremo cabeça da Igreja
defendem a escolha divina de um líder como superintendente, bispo ou pastor
presidente, não necessariamente como sucessores dos apóstolos, mas para
presidir e supervisionar uma determinada denominação em âmbito mundial,
nacional, estadual, regional ou municipal, como por exemplo a Assembleia de
Deus, Igreja Quadrangular, Deus é Amor etc.

2. SISTEMA PRESBITERIANO
Este sistema de governo eclesiástico é formado pelo presbitério de uma
igreja ou um conselho de anciãos. A forma presbiteriana de constituição
eclesiástica deriva seu nome do cargo e função bíblica de “presbíteros”
(presbítero ou ancião). Este sistema de governo tem um controle menos
centralizado que o modelo episcopal: confia na liderança de representação.
Cristo é reconhecido como a cabeça da Igreja (em última análise) e os
escolhidos (usualmente por eleição) para ser seus representantes diante da
Igreja lideram nas atividades normais da vida cristã (adoração, doutrina,
administração etc.).

3. SISTEMA CONGREGACIONAL
A terceira forma de governo eclesiástico é o sistema congregacional.
Conforme sugere o nome, seu enfoque da autoridade recai sobre o corpo
local de crentes. Entre os três tipos principais de constituição
eclesiástica, o sistema congregacional é o que mais controla e coloca nas mãos
dos leigos a escolha dos líderes e que mais se aproxima da democracia. Este
sistema é muito utilizado nas igrejas batistas, cuja igreja local possui
autonomia para escolher o líder, e também em algumas Assembleias de Deus,
que adotam o sistema eleitoral para os membros escolherem o seu pastor por

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meio do voto dos obreiros ou também dos membros. Entretanto, para muitos
líderes cristãos, o que predomina na igreja deve ser a teocracia — governo de
Deus, e não a democracia — governo do povo. Pois quem deve escolher os
líderes é Deus, e não o povo (At 20.28; 1Co 12.28; Ef 4.11).
VI. A MISSÃO DA IGREJA
A missão primordial da Igreja é cumprir a Grande Comissão entregue pelo
Senhor Jesus Cristo após a sua ressurreição vitoriosa (Mt 28.18-20; Mc 16.15-
20; At 1.8). A missão principal da Igreja na terra é a evangelização de todos
os povos, tribos, línguas e nações. Estas são as três passagens bíblicas
básicas que descrevem a Grande Comissão ordenada por Jesus:
1. “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc
16.15);
2. “Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do
Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19);
3. “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-
eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos
confins da terra” (At 1.8).
O Senhor Jesus Cristo só ordenou a Grande Comissão aos seus discípulos
após a sua ressurreição. Ele deixou para fazer isso somente após receber todo
o poder e autoridade nos céus e na terra (Mt 28.18-20). A ressurreição de
Jesus Cristo reafirmou a sua vitória sobre a morte, o inferno e sobre Satanás,
quando humilhou publicamente e expôs ao desprezo todo o principado,
protestante e domínio de Satanás
(Cl 2.15; Hb 2.14; Ap 1.18). Como um general vitorioso o Senhor Jesus Cristo
ressuscita e comissiona os seus discípulos delegando a eles o poder e a
autoridade necessária para conquistarem o mundo. A Grande Comissão
entregue pelo Senhor Jesus Cristo resume-se nestas três ordens imperativas
dadas aos seus discípulos: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda
criatura” (Mc 16.15). “Ensinai todas as nações” (Mt 28.19). “Ser-me-eis
testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e ATÉ
AOS CONFINS DA TERRA” (At 1.8).

CONCLUSÃO
O historiador John Lea afirma em um de seus livros que um rei francês,
certa feita, sugeriu à sua corte que iniciasse uma nova onda de perseguição
contra os cristãos em seus domínios. Um general conselheiro, porém,

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replicou sabiamente a proposta real com estas palavras: “Majestade, a Igreja
de Deus é uma bigorna que já destruiu muitos martelos”. O Espírito Santo é
aquele que adestra a Igreja de Deus para a batalha! Em Is 59.19, o profeta
Isaías escreve que: “Vindo o inimigo como uma corrente de águas, o Espírito
do SENHOR arvorará contra ele a sua bandeira”. Segundo o grande teólogo
Bancroft: “O dia de Pentecostes marcou o raiar de um novo dia nas relações
entre o Espírito Santo e a humanidade.
Ele veio para habitar na Igreja. Todo o trabalho eficaz que a Igreja tem feito
está sendo realizado no poder do Espírito Santo. A incredulidade, a dúvida e
a crítica podem atacá-la, mas não podem derrotá-la. A igreja, o verdadeiro
corpo de Cristo, habitado pelo Santo Espírito de Deus, é tão indestrutível
como o trono de Deus”.

ESCATOLOGIA — A DOUTRINA DAS ÚLTIMAS


COISAS

INTRODUÇÃO
A escatologia é a doutrina que estuda os últimos acontecimentos relacionados
entre Deus e os homens.
O termo “escatologia”, vem do vocábulo grego eschatos, que significa
“últimos” e logia, que provém também do grego e significa “estudo” ou
“tratado”. Portanto, escatologia é a doutrina que estuda todo o plano profético
de Deus para o futuro da humanidade. Nestes últimos dias o Espírito Santo
tem despertado uma consciência escatológica em cada um daqueles que amam
e aguardam a vinda do Senhor Jesus Cristo. Há uma variada divergência
hermenêutica no meio protestante, com várias linhas de interpretação
escatológica. A escatologia bíblica é sem dúvida a matéria mais enigmática e
especulativa da teologia sistemática. Os debates são importantes para o
aprofundamento do estudo profético e das várias correntes de interpretação
do livro do Apocalipse. Existem três principais escolas escatológicas: A
amilenista a pós-milenista e a pré-milenista.
1. O amilenismo defende que o milênio ocuparia todo o período intermediário
entre o primeiro e o segundo advento de Cristo e não um tempo literal de mil
anos. Entendem que o milênio consiste em um reinado espiritual de Cristo, que
começou quando Satanás foi amarrado por ocasião da primeira vinda de
Cristo.

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2. O pós-milenismo defende que haverá neste mundo um glorioso reinado de
Cristo, em seguida à sua volta. Esse reinado, do qual os crentes participarão,
ocorrerá à medida que mais e mais nações e povos vierem se submeter ao
senhorio de Cristo. Visto os números na literatura apocalíptica terem, por
muitas vezes, um sentido simbólico, os mil anos seriam qualquer período de
tempo, antes da volta de Cristo, quando o evangelho triunfar sobre o mundo
inteiro.
3. O pré-milenismo defende que o milênio será um tempo literal de mil anos
que acontecerá no período de transição entre esta era e o estado eterno,
contando a partir da segunda vinda de Cristo em glória. Satanás será solto e
em seguida lançado em definitivo no lago de fogo e enxofre (Ap 20.1-10). Em
seguida acontecerá o Juízo Final (Ap 20.11-15) e o estabelecimento dos novos
céus e da nova terra (Ap 21). Esse ponto de vista retrocede até o século 2º
d.C.
Entretanto o crente, salvo na pessoa bendita de Jesus Cristo, não deve se
preocupar com essa ou aquela corrente de interpretação especulativa da
escatologia, pois o próprio Jesus advertiu aos seus discípulos que não se
preocupassem com assuntos escatológicos que o Pai reservou para a sua
exclusiva autoridade, mas sim em evangelizar o mundo (At 1.6-8). A única
coisa que Jesus mais advertiu e pediu foi a perseverança e vigilância
constante dos salvos que aguardam a vinda do Filho do Homem — o amado
noivo da Igreja (Mt 24.13-14; 25.1-13). A posição do salvo em Cristo deve
ser esta: “Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória
do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo, o qual se deu a si mesmo por
nós, para nos remir de toda iniquidade e purificar para si um povo seu
especial, zeloso de boas obras” (Tt 2.13-14). Vamos resumir este estudo
escatológico em 12 principais assuntos: (I) o arrebatamento da Igreja; (II) o
tribunal de Cristo; (III) as bodas do Cordeiro; (IV) a grande tribulação; (V) o
anticristo; (VI) a segunda vinda de Cristo em glória; (VII) a batalha do
Armagedom;
(VIII) o milênio; (IX) o Juízo Final; (X) a eternidade com Deus; (XI) novos
céus e nova terra e (XII) a perfeição da nova Jerusalém. Vejamos:
I. O ARREBATAMENTO DA IGREJA
O arrebatamento da Igreja sempre foi ilustrado desde o Antigo Testamento
através de tipos e símbolos proféticos. Do Gênesis ao Apocalipse, a Bíblia
fala da vinda do Senhor Jesus Cristo, o evento escatológico mais aguardado
pela Igreja no momento. Em relação ao arrebatamento da Igreja, existem

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também três escolas de interpretação: (1) pré-tribulacionista; (2)
mesotribulacionista e (3) pós- tribulacionista. O pré-tribulacionismo defende o
arrebatamento da Igreja antes da grande tribulação; o mesotribulacionismo
defende o arrebatamento da Igreja no meio da grande tribulação e o pós-
tribulacionismo defende o arrebatamento da Igreja ao final da grande
tribulação. Para os que acreditam no pré-tribulacionismo, escola escatológica
que defende a vinda do Senhor Jesus Cristo antes da grande tribulação, a vinda
de Cristo se dará em duas fases distintas. Vejamos:

1ª FASE 2ª FASE
Virá somente para a Igreja Virá para julgar as nações
Virá até as nuvens Pisará os pés no monte das Oliveiras
Virá como ladrão de noite Todo o olho o verá
Virá como noivo Virá como Rei dos reis
Virá para os seus santos Virá com os seus santos
Virá secretamente Virá publicamente

O arrebatamento é descrito na Bíblia como o rapto e assalto repentino da


Igreja. É por isso que a vinda de Cristo para a Igreja é descrita como a vinda
do ladrão de noite. O arrebatamento da Igreja será o “sequestro” santo de
todas as pessoas lavadas e redimidas pelo sangue do Cordeiro. O apóstolo
Paulo esclarece isso em 1Ts 5.2,4 dizendo: “Porque vós mesmos sabeis muito
bem que o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite. Mas vós, irmãos, já não
estais em trevas, para que aquele Dia vos surpreenda como um ladrão”.
A palavra “arrebatados” é traduzido do verbo grego harpazo, que significa
“tirar ou arrancar com força”; o vocábulo latino raptare, que significa também
“arrebatar”, é que deu origem a palavra portuguesa “raptar”. Assim como um
ladrão assalta, rapta e sequestra numa rapidez incrível, assim o Senhor Jesus
raptará a sua Igreja na incrível rapidez do “abrir e piscar de olhos” (1Co
15.52). Conforme Jesus ensinou: “Então, estando dois no campo, será levado
um, e deixado o outro” (Mt 24.40). Talvez o objetivo do Senhor em arrebatar a
sua Igreja com tanta rapidez, é não dar tempo algum para o inimigo arquitetar
qualquer plano de ação no reino espiritual para prejudicar este evento iminente
e glorioso que deverá acontecer a qualquer tempo. No Antigo Testamento
houve dois casos de arrebatamento que, com certeza, Deus operou para
simbolizar o tipo da Igreja que será arrebatada ao encontro do Senhor nos
ares. O primeiro arrebatamento da história foi o de Enoque (Gn 5.22-24).
Enoque representa a Igreja que anda com Deus na terra e será transladada pelo
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Senhor (Hb 11.5). O segundo caso de arrebatamento no Antigo Testamento foi
o de Elias (2Rs 2.11). Elias representa a Igreja fiel que subsiste de pé perante
o Senhor, no meio de uma geração idólatra e pecaminosa e será levada, de
forma repentina e sobrenatural, da terra para o céu (1Ts 4.16).
II. O TRIBUNAL DE CRISTO
A Igreja, como noiva de Cristo após o arrebatamento, passará pelo
“tribunal de Cristo” para receber os atavios, que serão simbolizados pelos
galardões (1Co 3.12-15; 4.5; 2Co 5.10). As nossas obras serão avaliadas pelo
“crivo divino”, se aquilo que fizemos para o Senhor aqui na terra foi
qualificado como: ouro, prata e pedras preciosas ou foi desqualificado como
madeira, feno e palha. A palavra grega utilizada por Paulo para “tribunal” é
bema, utilizada para designar o palco ou pódio dos juízes nos Jogos
Olímpicos. Os competidores premiados, ao receber suas coroas, não se
julgavam a si mesmos melhores, nem aos outros melhores do que eles. No
tribunal de Cristo, os cristãos premiados não se julgarão melhores do que
ninguém e nem aos outros melhores do que eles. A avaliação das obras será
feita pelo perfeito crivo divino. Lá não haverá suspeita de jurados no critério
de avaliação das obras. Nos Jogos Olímpicos modernos, apenas três níveis de
classificação na prova conseguem subir ao pódio e receber o prêmio: o
primeiro lugar recebe a medalha de ouro, o segundo lugar recebe a medalha
de prata e o terceiro lugar recebe a medalha de bronze. No tribunal de Cristo,
apenas três níveis de classificação receberão o galardão: primeiro lugar, a
medalha de ouro; segundo lugar, a medalha de prata e o terceiro lugar, a
medalha de pedras preciosas.
III. AS BODAS DO CORDEIRO
“Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória, porque vindas são
as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou” (Ap 19.7). Conforme o
texto acima, as bodas do Cordeiro serão após o tribunal de Cristo. Porque a
expressão “já a sua esposa se aprontou”, mostra que a Igreja já se apresentará
alegre com os seus galardões, para comemoração de uma grande festa no céu.
Você já imaginou os salvos chegados de todas as partes da terra e de todos os
tempos e se saudarem mutuamente? Conheceremos os santos do Antigo e
Novo Testamento e reencontraremos com aqueles que antes foram estar com o
Senhor. “Para que comais e bebais à minha mesa no meu Reino e vos
assenteis sobre tronos, julgando as doze tribos de Israel”, é o que disse o
Senhor Jesus Cristo (Lc 22.30). As bodas do Cordeiro seguir-se-ão logo após
o arrebatamento da Igreja e ao tribunal de Cristo (Ap 19.7-8; 2Ts 2.1). A

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Igreja é chamada de noiva (Mt 25.6; 2Co 11.2); as bodas do Cordeiro serão a
festa de casamento da Igreja com Cristo, união esta que nunca se acabará. “E
assim estaremos sempre com o Senhor” (1Ts 4.17).
IV. A GRANDE TRIBULAÇÃO
O profeta Daniel descreveu este período dizendo: “E, naquele tempo, se
levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta pelos filhos do teu povo,
e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até
àquele tempo; mas, naquele tempo, livrar-se-á o teu povo, todo aquele que se
achar escrito no livro” (Dn 12.1). O Senhor Jesus Cristo também falou deste
período terrível: “Porque haverá, então, grande aflição, como nunca houve
desde o princípio do mundo até agora, nem tampouco haverá jamais” (Mt
24.21). “É tempo de angústia para Jacó” (Jr 30.7), é um dia de trevas (Am
5.18), “o dia da vingança do nosso Deus” (Is 61.2), é “o grande Dia da sua
ira” (Ap 6.17). A palavra “tribulação” literalmente significa “comprimir com
força”, como se pisa as uvas no lagar, ou como a cana-de-açúcar no moinho.
Em Is 13.11, o Senhor Deus afirma: “E visitarei sobre o mundo a maldade e,
sobre os ímpios, a sua iniquidade; e farei cessar a arrogância dos atrevidos e
abaterei a soberba dos tiranos”. O tempo de duração da grande tribulação é de
sete anos. Porém dos sete anos, os piores serão os últimos três anos e meio. A
primeira metade da grande tribulação corresponde ao que é descrito do
capítulo 6 ao 13 do livro de Apocalipse; se refere à implantação do reino do
anticristo. Vai começar a operar no mundo uma “trindade satânica”, formada
pelo dragão (o diabo), sendo o “antiDeus”, a besta que subiu do mar sendo o
anticristo e a besta que subiu da terra sendo o “antiEspírito Santo” —
conhecido também como falso profeta (Ap 12.7-18; 13.1-18). O apóstolo
Paulo teve a revelação das duas bestas: O anticristo e o falso profeta. Em 2Ts
2.3-6, Paulo se refere ao anticristo; em 2Ts 2.7-12, Paulo refere-se ao falso
profeta. Não está dito que o anticristo fará milagres (a primeira besta), mas o
falso profeta (a segunda besta) sim
(Ap 13.12-14). No capítulo 13 de Apocalipse é apresentado duas bestas: a que
subiu do mar (Ap 13.1- 10), que é o anticristo e a que subiu da terra (Ap
13.11-18), que é o falso profeta. A expressão: “Quem poderá batalhar contra
ela?” (Ap 13.4), mostra que o poder do anticristo será um poder POLÍTICO E
BÉLICO, e, portanto, um “chefe político” que comandará um bloco de dez
nações, que são representadas pelos seus “dez chifres”. Ainda conforme Ap
13.13 a expressão: “até fogo fazia descer do céu”, mostra mais o aspecto
religioso e, portanto, um “chefe religioso” que vai liderar uma falsa igreja
mundial, representada pela “grande meretriz”, cujo nome profético é

68
“Mistério, a Grande Babilônia, a Mãe das Prostituições e Abominações da
Terra” (Ap 17.5). Será uma “igreja ecumênica” associada a todas as religiões
místicas da terra, comandadas pelo falso profeta. O apóstolo Paulo teve a
revelação das duas bestas; o apóstolo João, porém, teve a visão das duas
bestas.
V. A MANIFESTAÇÃO DO ANTICRISTO
A Bíblia Sagrada diz que a manifestação do anticristo “é segundo a eficácia
de Satanás, com todo o poder, e sinais, e prodígios de mentira” (2Ts 2.9). O
anticristo será um homem personificando o diabo, porém, apresentado como
se fosse Deus. Será um grande demagogo. A Bíblia dá vários nomes a este
personagem. Vejamos alguns: “o homem da iniquidade” ou “homem do
pecado” (2Ts 2.3), “o iníquo”, “a besta”, “falso profeta”, “anticristo” etc. O
anticristo será recebido ao aparecer como a solução dos problemas e crises
sociais, econômicas e políticas que afetam o mundo inteiro. A humanidade
achará que nele estará a solução dos seus problemas, quando na verdade estará
entrando em um problema muito mais sério. “Quando disserem: Há paz e
segurança, então, lhes sobrevirá repentina destruição” (1Ts 5.3).
Porque “sobre a asa das abominações virá o assolador” (Dn 9.27). O anticristo
surgirá da área do antigo Império Romano. Em Dn 9.26, o profeta Daniel
escreve que o seu povo (isto é, o povo de onde procede o anticristo) destruiria
a cidade de Jerusalém; esse povo foi o romano, conforme bem documenta a
história no ano 70 d.C. O anticristo firmará um acordo de sete anos com
Israel, e na metade destes sete anos, o acordo será quebrado: “Na metade da
semana fará cessar o sacrifício” (Dn 9.27). Todos nós conhecemos o zelo que
os filhos de Israel têm pela lei cerimonial do templo e por isso, ao perceber
que o anticristo é contra sua religião, Israel romperá a aliança feita de sete
anos com o anticristo, descobrindo que ele é um falso messias. Com isso, o
anticristo iniciará uma perseguição feroz contra o povo de Israel.
VI. A BATALHA DO ARMAGEDOM
Conforme Ap 16.13-14 — espíritos demoníacos incitarão as nações que,
por ordem da besta e do falso profeta, concentrarão seus exércitos em Israel.
A essa altura todos já estarão plenamente conscientizados que o Senhor Jesus
está para descer e implantar o seu reino milenar. Os judeus lutarão
desesperadamente. Será grande o morticínio em Israel (Zc 13.8). A capital,
Jerusalém, será tomada e invadida mais uma vez, com requintes de
perversidade, vandalismo e abuso contra a população, especialmente mulheres
(Zc 14.2). Quando Jerusalém estiver cercada de todos os lados pelas nações

69
confederadas, sob a liderança do anticristo e os judeus estiverem perdendo a
esperança de serem salvos, eles clamarão a Deus (Is 64.1-12) e, nesse
momento, Jesus descerá visivelmente com os seus santos (a Igreja que fora
arrebatada e os anjos). Todos verão isso (Ap 1.7; Jd 14). Então se dará a tão
sonhada “CONVERSÃO NACIONAL DE ISRAEL”. Será derramado neste
momento o Espírito de graça e súplica, e os judeus chorarão muito
reconhecendo finalmente Jesus, como Messias e Salvador de suas vidas:
“Olharão para mim, a quem traspassaram” (Zc 12.10). “E assim todo o
Israel será salvo”
(Rm 11.26). Enquanto isso, todas as nações estão reunidas no vale de Josafá,
ou “vale de Jezreel” na grande planície do Armagedom, para a batalha no Dia
do Deus Todo-Poderoso (Jl 3.1-2; Ap 16.14-16). Este vale é um lugar onde já
houve grandes batalhas históricas no passado de Israel. Os estrategistas
concluirão que o poderio BÉLICO E ARMAMENTISTA combinado dos
exércitos do mundo inteiro destruirá Israel e o próprio Deus. A loucura do
homem, causada pelos espíritos imundos saídos da boca do dragão, da besta e
do falso profeta (Ap 16.13; 13.4), levará o homem a esse ponto de batalhar
contra Deus. Seu alvo principal é Jerusalém. O grosso das tropas ficará em
Armagedom, ao norte de Israel e parte das tropas em Edom, ao sul de Israel
(Is 34.5-8; 63.1-6).
VII. A SEGUNDA VINDA DE CRISTO EM GLÓRIA
A segunda vinda de Cristo em glória se dará no final da grande tribulação
para destruir o anticristo com o “sopro de sua boca” e implantar o seu reino
milenar na terra após derrotar o anticristo, o falso profeta e seus aliados na
batalha do Armagedom (Ap 19.11-16; 1.7; 20.1-6; Zc 14.1-4 etc.). A Bíblia
fala mais da segunda vinda de Cristo, do que qualquer outro assunto em suas
páginas. Existem cerca de 400 profecias que se cumpriram por ocasião da
primeira vinda de Cristo. Segundo alguns estudiosos, porém, existem cerca de
1800 profecias que falam da segunda vinda de Cristo. Portanto, a segunda
vinda de Cristo é a maior promessa das Escrituras (Tt 2.13). Televisões e
rádios do mundo inteiro terão seus repórteres concentrados na batalha do
Armagedom dando notícias via satélite para o mundo inteiro sobre a grande
guerra, quando então serão interrompidas com o aparecimento pessoal de
Cristo montado em um cavalo branco com os seus milhares de santos (Jd 14;
Mt 24.29-31; Ap 19.11-16). Esta poderá ser a manchete das televisões do
mundo inteiro: “INTERROMPEMOS NOSSA PROGRAMAÇÃO PARA
TRANSMITIR VIA SATÉLITE PARA TODOS OS PAÍSES DO MUNDO O
APARECIMENTO PESSOAL DE JESUS CRISTO COM MILHARES DE

70
ANJOS VINDO EM DIREÇÃO À TERRA DESCENDO DAS NUVENS E
PISANDO NO MONTE DAS OLIVEIRAS, EM JERUSALÉM, NO
ORIENTE MÉDIO”. Que momento glorioso será esse!
No momento que Jesus tocar o monte das Oliveiras, este se dividirá ao
meio, produzindo um grande vale (Zc 14.4). Certamente toda área de
Jerusalém e cercanias se tornarão em planície, ficando Jerusalém num
planalto, uma vez que da fonte que brotar em Jerusalém, águas correrão para o
mar Morto e o mar Mediterrâneo igualmente (Ez 47.8-12). O mar Morto onde
atualmente não há vida, se transformará em um viveiro de peixes. A batalha do
Armagedom se tornará bastante renhida a ponto das vestes de Jesus ficarem
“salpicadas de sangue” (Ap 19.13; Zc 14.3). E, então, o Senhor Jesus Cristo
destruirá o anticristo e o falso profeta pelo sopro de sua boca e os aniquilará
pelo esplendor de sua vinda (2Ts 2.8; Ap 19.15), lançando a besta e o falso
profeta vivos no lago de fogo que arde com enxofre (Ap 19.20). E todos os
aliados da besta e do falso profeta com seus exércitos foram mortos e seus
corpos estendidos sobre a terra servindo de alimentos para as aves de rapina
(Ap 19.17-18,21). Certamente que serão tantos mortos nesta batalha que não
haverá cemitério que dê para enterrar tanta gente. Segundo Ap 9.16, somente
o exército aliado do anticristo era de duzentos milhões de cavaleiros.
Realmente é impossível enterrar
tanta gente (Ez 39.17-20). Israel levará sete meses para enterrar os mortos e
purificar a terra (Ez 39.11- 12).
VIII. O MILÊNIO
O milênio é o maravilhoso reinado de Cristo na terra por mil anos (Ap
20.1-6). O termo “milenar” ou “milênio” corresponde ao seu período de
duração que é de mil anos. Será o último período de oportunidade para a raça
humana. Como já aprendemos, existem correntes de teólogos que acham
difícil Jesus vir novamente à terra para reinar durante mil anos. Isso é puro
raciocínio humano. Ora, muito mais difícil seria ele vir para ser humilhado,
morrer e sofrer como homem por nossos pecados, levando sobre si a nossa
maldição, pois isso ele já fez (Gl 3.13). Por muito mais motivo ele virá para
reger as nações com vara de ferro, como Rei dos reis e Senhor dos senhores
(Ap 19.15; Sl 2.7-12; Is 11.1-10 etc.). Esta época áurea é ansiosamente
aguardada pelo povo israelita (Lc 2.38; At 1.6-7). Jesus não lhes tirou esta
esperança, apenas não revelou o tempo. Existem milhares de promessas a
respeito deste Reino glorioso (Zc 14.9-21; Mq 4.8-13; Is 11.1-13; Dn 2.44-
45; At 15.16; Is 60.1; 66.20; Lc 2.25-38; Ap 20.1-6 etc.).
Este período é também chamado de “consolação de Israel”, “tempo de
71
grandeza e glória para Israel”, “redenção de Israel”, “reino prometido a Davi”.
O milênio será a resposta às milhões de orações do povo de Deus através dos
tempos: “VENHA O TEU REINO” (Mt 6.9-13).
O milênio terá o seu início no final da grande tribulação com a consequente
prisão de Satanás (Ap 20.1-2) e terminará quando se completarem os mil anos
que Cristo reinará na terra com os seus santos (Ap 20.4-6), culminando com a
soltura de Satanás (Ap 20.7) e sua consequente destruição
definitiva (Ap 20.10). No milênio ocorrerá os seguintes fatos: 1º) Governo
universal do Filho de Deus (Sl 2.6-9); 2º) Jerusalém, a capital mundial (Is
62.1-3); 3º) Israel como cabeça das nações (Zc 14.16-17); 4º) Ausência do
mal (Is 65.25; Ap 20.1-3); 5º) A redenção da natureza (Rm 8.21); 6º) Ausência
de enfermidades, pragas, miséria e fome (Jr 33.6-7; Zc 9.1; Is 65.19-22); 7º)
Inigualável prosperidade e riquezas (Is 60.16-17); 8º) Muita fartura e
abundância (Sl 72.16; Is 61.7-8); 9º) Aumento da qualidade de vida; pessoas
terão a idade das árvores (Is 65.20-22); 10º) Será o último período de
oportunidade da raça humana (Zc 14.16-17); 11º) A Igreja estará glorificada
com Cristo na Jerusalém celeste (Hb 12.22- 24; Ap 21.9-10); 12º). O templo
milenar será construído (Ez 47.1); 13º) Os judeus possuirão toda a Terra
Prometida (Am 9.14-15); 14º) A Jerusalém celeste estacionará acima da
Jerusalém terrena (Is 4.5); 15º) Toda a terra se encherá da glória e do
conhecimento do Senhor Jesus (Is 11.9-10) e 16º) O conhecimento de Deus
será universal (Mq 4.1-2).
IX. O JUÍZO FINAL
“E vi um grande trono branco e o que estava assentado sobre ele, de cuja
presença fugiu a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. E vi os
mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono” (Ap 20.11-12).
Nessa ocasião, os ímpios falecidos de todas as épocas ressuscitarão com
seus corpos literais e imortais, porém, carregados de pecados (Mt 10.28; Ap
20.15). Este julgamento não acontece nem no céu, nem na terra, mas em
algum lugar entre as duas esferas. O trono de julgamento é grande! É de
vastíssimas dimensões, enchendo o campo inteiro de nossa visão; expulsa da
vista todos outros elementos como céu e terra. Ameaça e deixa a mente
atônita.
Trata-se de um infinito julgamento, diante do qual está o que é finito: o
pobre humano, morto, mas carregado de pecado. O trono é branco!
Resplandece de pureza e santidade, o que exige justiça! Castigo! Julgamento!
Purificação! Retribuição! Tudo isso descreve uma cena fora da história

72
humana. É o Juízo Final!
João escreve, dizendo: “E abriram-se os livros” (Ap 20.12). A palavra
“livros” está no plural, indicando a variedade de livros que serão abertos no
julgamento dos mortos. Tudo vai ser revelado neste dia. O arquivo divino não
falha. Veja os livros que serão abertos:
1º: LIVRO DOS ATOS DOS HOMENS (Ap 20.12). O homem comete
pecado por palavras, por pensamentos e por obras; tudo isso está registrado
neste livro (Ec 12.14; Mt 12.36).
2º: LIVRO DA CONSCIÊNCIA (Rm 2.15; 9.1). Este livro será usado
para julgar as pessoas que nunca ouviram falar do evangelho. Talvez o leitor já
fez esta pergunta: como Deus julgará àqueles que nunca ouviram falar de
Cristo? O critério será o livro da consciência. Pois, “mostram a obra da lei
escrita no seu coração, testificando juntamente a sua consciência e os seus
pensamentos, quer acusando- os, quer defendendo-os” (Rm 2.15). Todos os
seres humanos possuem a lei da consciência em seu coração lhe dando a noção
do que é certo e errado.
3º: LIVRO DA MEMÓRIA (Lc 16.25). Este livro trará à memória de
todos os indivíduos o que eles praticaram nesta vida, fazendo com que eles
reconheçam a justiça do julgamento que estão sendo submetidos (Rm 2.2).
4º: LIVRO DO EVANGELHO (Jo 12.48; Rm 2.16). Este livro será usado
contra aqueles que tiveram a oportunidade de ouvir o evangelho e não o
aceitaram. Seu julgamento será de conformidade com o conhecimento que
chegaram a ter do evangelho anunciado pelos pregadores.
5º: LIVRO DA LEI (Rm 2.12). Este livro será usado contra aqueles que
tiveram o conhecimento da lei de Deus e não a obedeceram. Em Mt 23.15,
Jesus chegou a dizer que os fariseus estavam ensinando os seus prosélitos a
serem duas vezes filhos do inferno, por conhecerem a lei e não a
obedecerem.
6º: LIVRO DA NATUREZA (Sl 19.1-4). Este livro também será usado
contra aqueles que alegarem nunca terem o conhecimento de Deus. “Porque as
suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder
como a sua divindade, se entendem e claramente se veem pelas coisas que
estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis” (Rm 1.20).
7º: LIVRO DA VIDA (Ap 20.12). Neste livro estará o nome dos salvos de
todas as épocas. Em

73
Lc 10.19-20, Jesus disse aos seus discípulos: “Eis que vos dou poder para
pisar serpentes, e escorpiões, e toda a força do Inimigo, e nada vos fará dano
algum. Mas não vos alegreis porque se vos sujeitem os espíritos; alegrai-vos,
antes, por estar o vosso nome escrito nos céus”. Em Fp 4.3, o apóstolo Paulo
demonstrou não ter nenhuma dúvida que os nomes dos crentes fiéis estavam
escritos no livro da vida. As pessoas que participarão deste julgamento são
aqueles que foram fiéis a Deus durante o reino milenar de Cristo e não
acompanharam Satanás na sua última revolta; estarão diante do trono branco e
com os seus nomes escritos no livro da vida. Estarão os ímpios falecidos de
todas as épocas sendo julgados e também aqueles que seguiram Satanás, no
final do milênio e durante a rebelião, estarão ali para receber a sentença
final. “E aquele que não foi achado escrito no Livro da Vida foi lançado no
lago de fogo” (Ap 20.15). Conforme Ap 20.11-15, os incrédulos serão
lançados no lago de fogo (inferno), depois do julgamento do grande trono
branco e permanecerão ali por toda a eternidade. É a própria escolha do
indivíduo que lhe traz esse castigo eterno. “Sem dúvida a maior dor sofrida
pelas pessoas no inferno é que elas estão excluídas eternamente da presença de
Deus. Se alegria arrebatadora é encontrada na presença de Deus (Sl 16.11),
pavor total é encontrado na sua ausência”. Toda pessoa deve decidir se
passará a eternidade no céu ou no inferno. A escolha a ser feita é entre a vida
eterna ou o castigo e desprezo eterno (Mt 25.46). O homem deve fazer a
escolha certa hoje; naquele dia não haverá mais escolha (Hb 9.27)!
X. A ETERNIDADE COM DEUS
Nosso Senhor Jesus Cristo, que é o “Pai da eternidade” (Is 9.6), dará
gratuitamente aos seus servos uma eternidade feliz. Todas as coisas terão sido
restauradas. “O qual convém que o céu contenha até aos tempos da
restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos
profetas, desde o princípio” (At 3.21). A Igreja, em estado de glória e
felicidade eterna, governará a terra sob Cristo. “Mas os santos do Altíssimo
receberão o reino e possuirão o reino para todo o sempre e de eternidade em
eternidade” (Dn 7.18). “E o reino, e o domínio, e a majestade dos reinos
debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu
reino será um reino eterno, e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão”
(Dn 7.28). À medida que a eternidade for “passando”, conheceremos mais e
mais da sabedoria e do poder insondáveis de Deus. “Mas, como está escrito:
As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração
do homem são as que Deus preparou para os que o amam” (1Co 2.9). Se
Jesus, quando veio aqui, revelasse os grandes segredos que nos intrigam

74
hoje, a nossa mente não alcançaria. Ele mesmo disse: “Naquele dia nada, me
perguntareis” (Jo 16.23). Jesus afirmou isso, porque a própria eternidade nos
revelará tudo o que a nossa mente interroga nesta vida. Não será necessário
perguntarmos a ele nada, tudo será esclarecido perfeitamente. O céu é um
lugar preparado para um povo preparado com programa apropriado para
ambos.
XI. NOVOS CÉUS E NOVA TERRA
O apóstolo Pedro já havia manifestado o sonho de todas as pessoas
salvas, dizendo: “Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus
e nova terra, em que habita a justiça” (2Pe 3.13). Porém, o apóstolo João viu
ao vivo e a cores este novo céu e esta nova terra e escreveu, dizendo: “Vi
novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o
mar já não existe” (Ap 21.1). O apóstolo Pedro havia descrito como se daria
o processo da criação do novo céu e da nova terra, dizendo: “Mas os céus e
a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como tesouro e se
guardam para o fogo, até o Dia do Juízo e da perdição dos homens ímpios”
(2Pe 3.7). Em 2Pe 3.10, Pedro ainda escreveu, dizendo: “Mas o Dia do
Senhor virá como o ladrão de noite, no qual os céus passarão com grande
estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra e as obras que nela há
se queimarão” (2Pe 3.10-12). Somente obras humanas serão consumidas (Hb
12.26-29). O mesmo Deus que preservou a sarça de se consumir (Êx 3.2) e
tornou imunes ao fogo os três jovens hebreus (Dn 3.25), também pode
preservar o povo salvo saído do milênio e tudo mais que ele quiser, durante
esta expurgação dos céus e da terra: “E ponho as minhas palavras na tua boca
e te cubro com a sombra da minha mão, para plantar os céus, e para fundar a
terra, e para dizer a Sião: Tu és o meu povo” (Is 51.16). Devido Deus ter
criado a terra com elementos na sua maioria compostos de gases como
oxigênio e hidrogênio, dois gases altamente inflamáveis! É somente Deus
detonar uma centelha de sua parte para que os céus e a terra sejam
renovados. São indiscutíveis as possibilidades de serem dissolvidos os céus,
de se desfazerem abrasados os elementos e de vir a existir um novo céu e
uma nova terra conforme o apóstolo Pedro escreveu (2Pe 3.10-13). Em que
sentido serão novos? A resposta é que não serão trazidos novamente à
existência, mas renovados, assim indicando existência prévia. Através das
Escrituras é ensinada a reconstituição do mundo material, mediante a qual este
passará da escravidão e da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de
Deus (Rm 8.21).

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XII. A PERFEIÇÃO E A GRANDEZA DA NOVA JERUSALÉM (Ap
22.1- 5)
A Bíblia descreve a “Jerusalém lá de cima” como sendo “nossa mãe” (Gl
4.26). O apóstolo João escreve, dizendo: “E eu, João, vi a Santa Cidade, a
nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa
ataviada para o seu marido” (Ap 21.2). “E a cidade não necessita de sol nem
de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado, e
o Cordeiro é a sua lâmpada” (Ap 21.23; 22.5). O apóstolo Paulo também
escreveu: “Mas a nossa cidade está nos céus”
(Fp 3.20). Entre os habitantes da cidade celeste estará em lugar de destaque a
Igreja; de fato, o título que será dado à esta cidade santa é “a noiva, a esposa
do Cordeiro” e haverá outros dentre os redimidos lá, especialmente os santos
do Antigo Testamento. Isso fica subentendido pelos nomes das doze tribos de
Israel, incorporados nas portas da cidade (Ap 21.12). Os doze apóstolos
representarão a Igreja
(Ap 21.14). Os principais habitantes da nova Jerusalém serão homens
redimidos e anjos santos e eleitos (1Tm 5.21; Hb 12.22-24). A grandeza da
cidade assegura lugar para todos. O livro do Apocalipse descreve as sete
perfeições da nova Jerusalém (Ap 22.1-5). Vejamos:
1) SANTIDADE PERFEITA — “Nunca mais haverá maldição”. A nova
Jerusalém será um ambiente de perfeições. Lá a bênção será perfeita e
completa.
2) GOVERNO PERFEITO — “Estará o trono de Deus e do Cordeiro”.
Quando visitamos a nossa capital Federal, ficamos encantados com o suntuoso
e moderno palácio da Alvorada em Brasília, ou mesmo a famosa Casa Branca
em Washington (EUA), onde fica o presidente da República. Imagine a
perfeição do palácio celestial onde fica o Deus Todo-Poderoso e a perfeição
absoluta do seu governo!
3) SERVIÇO PERFEITO — “Os seus servos o servirão”. Nenhuma
empresa multinacional que exista neste mundo, por mais avançado que seja o
serviço que oferecem, pode se comparar com o serviço perfeito que os salvos
prestarão ao Senhor Deus na nova Jerusalém. O céu não é um lugar para
monotonia; o céu será um lugar de muito serviço, pois o Pai trabalha (Is 64.4),
os anjos trabalham intensamente (Hb 1.14) e nós também trabalharemos
intensamente (Ap 22.3). De acordo com as dimensões da cidade (Ap 21.16), a
nova Jerusalém tem de altura o que tem de largura. Pressupondo que Deus
distribua os andares de sua grande metrópole como faria um arquiteto em um

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edifício, a cidade teria mais de 600 mil andares, um espaço amplo para o
entra e sai de bilhões de pessoas. Portanto, haverá muito serviço na cidade.
4) VISÃO PERFEITA — “Contemplarão a sua face”. Servimos um Deus
tão elevado em maravilhas que, para vê-las, será preciso uma eternidade. Ele é
um Deus tão belo, que a sua beleza aumenta mais e mais à medida que nos
aproximamos dele e contemplamos a sua face (Sl 96.9).
5) IDENTIFICAÇÃO PERFEITA — “E nas suas frontes estará o nome
deles”. O céu é um lugar perfeito, de pessoas aperfeiçoadas pelo nosso
perfeito Senhor. Ninguém precisará ficar perguntando quem é quem, pois
identificaremos facilmente as pessoas. Saberemos quem é Abraão, Isaque,
Jacó, Davi etc., sem precisar perguntar (Mt 8.11).
6) ILUMINAÇÃO PERFEITA — “Porque o Senhor Deus brilhará sobre
eles”. A nova Jerusalém será uma cidade dourada e eternamente iluminada.
Nunca iremos sofrer apagão ou queda de energia. A nova Jerusalém se dá ao
luxo de não precisar sequer da luz do sol ou da lua, quanto menos de luz
elétrica, pois a glória de Deus a iluminará eternamente (Is 60.19).
7) INTERAÇÃO PERFEITA — “E reinarão pelos séculos dos séculos”. Você
será você em sua melhor forma para sempre e desfrutará da companhia de
todas as outras pessoas em seu estado perfeito! Teremos muitas tarefas no céu.
Deus deu responsabilidades para Adão e Eva, antes do pecado, ordenando que
eles dominassem sobre todas as coisas debaixo do céu (Gn 1.26-28). E Jesus
falou que aqueles que forem fiéis dominarão até sobre dez cidades (Lc 19.17).
O Senhor Deus poderá escolher povoar um novo planeta e eleger algum fiel
para reinar sobre uma determinada região habitada do seu imenso Universo.
Quem sabe?

CONCLUSÃO
A escatologia bíblica é um assunto muito profundo e extenso, sendo
impossível tratar todos os temas escatológicos em apenas um sermão. Um
estudo mais aprofundado deste assunto pode ser pesquisado neste próprio livro
na parte de “Sermões escatológicos” e no meu livro: “Escatologia bíblica —
Um tratado sobre o fim do mundo”.

77
HOMILÉTICA — A ARTE DE PREGAR

INTRODUÇÃO
O termo “homilética”, é oriundo da palavra grega homiletike, e significa “o
ensino em tom familiar”.
O verbo grego homileo significa “conversar”; daí resultou o termo “homilia”.
Uma homilia é também uma “pregação”, ou “conversação”. Existe a
homilética secular e a homilética evangélica. A homilética secular é a ciência
que estuda a preparação de discursos. Pode ser um discurso: político, forense
ou acadêmico. A homilética evangélica, porém, é a ciência que ensina os
princípios da pregação e da oratória cristã. Por isso, o pregador é também
chamado de “orador”. Os três elementos-chave da homilética são: oratória,
eloquência e retórica. Oratória é a arte de falar em público. Eloquência é a arte
natural de expressar com fervor a palavra. Retórica é o estudo teórico e prático
das regras de aperfeiçoamento da pregação. Ninguém na história foi tão
perfeito na arte de pregar como Jesus Cristo. Ele usou todos os recursos
oferecidos pela homilética para alcançar os seus ouvintes. Ele utilizou-se da
oratória, da eloquência e da retórica como mais ninguém usou tão bem na
história. Vejamos:
I. JESUS CRISTO — O MAIOR PREGADOR DA HISTÓRIA
Jesus foi o maior pregador itinerante que o mundo já conheceu. A pregação
é a forma mais expressiva de disseminar o evangelho de Cristo e ocupou
lugar central no ministério terreno de Jesus. Seu púlpito era quase sempre
improvisado: Um monte, a popa de um barco, o alto de uma pedra, a casa de
amigos, ou mesmo o púlpito de uma sinagoga. Não tinha um lugar fixo ou
uma sede. Ele ia de vila em vila, de aldeia em aldeia e de cidade em cidade
(Mt 9.35). Seu estilo eletrizante arrastava após si multidões para ouvir seus
sermões cheios de graça e autoridade divina (Lc 4.22) a ponto dos próprios
oponentes se renderem a ele, dizendo: “Nunca homem algum falou assim
como este homem” (Jo 7.46).
II. A SENSIBILIDADE DO PREGADOR
O pregador precisa ter a sensibilidade espiritual para entender o que Deus
quer transmitir naquele momento aos seus ouvintes e observar o tipo de
público que ele estará se dirigindo. Jesus observava tudo isto. Quando ele se
dirigia ao povo da zona rural, Cristo utilizava uma linguagem que os
moradores do campo bem entendiam. Ele falava de semeador, agricultor,
78
sementes, plantações etc. (Mt 13.1-32).
Quando Jesus se dirigia ao público da zona urbana, Ele falava de festividades
sociais, negociação de talentos, juros bancários, administração de negócios
etc. (Mt 25.1-27; Lc 16.1-13).
III. A PREGAÇÃO PRECISA TER GRAÇA E UNÇÃO
Além do conhecimento, a pregação precisa ser acompanhada com graça e
unção (At 6.10). Uma pregação sem graça parece um mero discurso. Em Lc
4.22, a Bíblia menciona a graça na pregação de Jesus: “E todos lhe davam
testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que saíam da sua
boca”.
Paulo também deixava de lado seu conhecimento filosófico e pregava com
unção, dizendo: “A minha palavra e a minha pregação não consistiram em
palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito
e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas
no poder de Deus” (1Co 2.4-5).
IV. O PREGADOR PRECISA SER AUTÊNTICO EM SUA PREGAÇÃO
O pregador precisa ter: equilíbrio, humildade, autenticidade e otimismo.
Equilíbrio, para dominar suas emoções, promovendo uma harmonia entre
razão e emoção. Humildade, para não se ensoberbecer com os elogios que
recebe, nem se empolgar com o seu brilhantismo em algumas apresentações.
Autenticidade, para ser sincero, íntegro e autêntico em sua mensagem.
Otimismo, para produzir confiança nas pessoas através da mensagem de Deus.
O pregador precisa pregar palavras agradáveis aos seus ouvintes, porém, sem
omitir a verdade.
Salomão revela isso, dizendo: “Procurou o Pregador achar palavras
agradáveis; e o escrito é a retidão, palavras de verdade. As palavras dos sábios
são como aguilhões e como pregos bem fixados pelos mestres das
congregações, que nos foram dadas pelo único Pastor” (Ec 12.10-11).
O pregador não precisa inventar nada. Ele deve pregar a palavra pura sem
mistura. O profeta Jeremias deixou isso bem claro dizendo: “O profeta que
teve um sonho, que conte o sonho; e aquele em quem está a minha palavra,
que fale a minha palavra, com verdade. Que tem a palha com o trigo? — diz o
SENHOR” (Jr 23.28).

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V. CRISTO DEVE SER O PRINCIPAL CONTEÚDO DA NOSSA
PREGAÇÃO
O pregador precisa exaltar Cristo na sua pregação. No Sl 45.1-2, o salmista
revela esta verdade, dizendo: “O meu coração ferve com palavras boas; falo
do que tenho feito no tocante ao rei; a minha língua é a pena de um destro
escritor. Tu és mais formoso do que os filhos dos homens; a graça se derramou
em teus lábios; por isso, Deus te abençoou para sempre”.
Para um pregador ser bem-sucedido, ele não precisa abusar da
intelectualidade humana e nem pregar a mensagem de Deus por conveniência
do auditório. O pregador precisa deixar o Espírito Santo fluir na sua
pregação e priorizar Cristo em sua mensagem. É exatamente isso que Paulo
quis nos ensinar dizendo: “E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-
vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de
sabedoria. Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este
crucificado. E eu estive convosco em fraqueza, e em temor, e em grande
tremor. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em palavras
persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do Espírito e de
poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas
no poder de Deus” (1Co 2.1-5). Esse é o tipo de pregação que Deus se agrada!
Jesus Cristo era o conteúdo principal da pregação de Pedro e dos demais
apóstolos. Além do sermão pentecostal e cristológico que Pedro pregou no dia
de Pentecostes (At 2.14-36), ele já introduziu o seu sermão na casa de
Cornélio exaltando a Cristo, dizendo: “A palavra que ele enviou aos filhos de
Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo (este é o Senhor de todos)” (At
10.36).
VI. OS TIPOS DE SERMÕES
Existem quatro principais tipos de sermões: (1) sermão temático; (2)
sermão textual; (3) sermão expositivo e (4) sermão biográfico. Vejamos:

1. SERMÃO TEMÁTICO
O sermão temático é aquele que o pregador apresenta a mensagem a partir
de um tema específico e desenvolve todo o sermão em torno daquele tema
escolhido. Exemplo: Você pode escolher como tema o amor e pregar todo o
sermão falando do amor.

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2. SERMÃO TEXTUAL
O sermão textual é aquele que o pregador faz a apresentação da mensagem
a partir de vários pontos extraídos de um texto escolhido da Bíblia. Exemplo:
1Co 13.13, fala das três maiores virtudes do cristianismo: amor, fé e
esperança. Você pode falar destes três pontos do texto.

3. SERMÃO EXPOSITIVO
O sermão expositivo é aquele que o pregador apresenta a mensagem
fazendo uma exposição de todo um capítulo ou de todo um livro da Bíblia.
Existem livros da Bíblia que não dão para fazer uma exposição pela metade.
Exemplo: Você pode fazer uma exposição de todo o livro de Atos dos
Apóstolos apresentando o progresso e avanço da Igreja primitiva no período
apostólico em seus 28 capítulos.

4. SERMÃO BIOGRÁFICO
O sermão biográfico é aquele que o pregador desenvolve a sua mensagem a
partir de um personagem escolhido da Bíblia. Exemplo: Abraão, Moisés, Davi
etc.
VII. O PREPARO INTELECTUAL E DEVOCIONAL DO PREGADOR
O pregador precisa investir no seu conhecimento. Em 1Tm 4.13, Paulo
aconselhou a Timóteo, dizendo: “Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu
vá”. O pregador precisa gostar de ler, em primeiro lugar, a Bíblia e em
segundo lugar, outros bons livros que servirão de ferramenta para o seu
crescimento intelectual.
O pregador precisa cuidar de sua vida devocional. Em At 6.4, os apóstolos
nos deixaram este exemplo, dizendo: “Mas nós perseveraremos na oração e
no ministério da palavra”.
Em Js 1.8, há muitos séculos, Deus já havia dado um conselho para um
grande líder: “Não se aparte da tua boca o livro desta Lei; antes, medita nele
dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme tudo quanto nele está
escrito; porque, então, farás prosperar o teu caminho e, então, prudentemente
te conduzirás”.

CONCLUSÃO
Na história da cristandade, é impossível citar grandes nomes da oratória
sacra, sem mencionar João Crisóstomo, apelidado de “Boca de ouro”,

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Jerônimo Savonarola, Martinho Lutero, John Calvino, Jonathan Edwards,
John Wesley, Dwight Moody, George Whitefield, Charles Finney e tantos
outros oradores da história e da atualidade, cujo espaço não permite citar. Ao
contrário dos oradores seculares, que dependem apenas do preparo intelectual
e das técnicas da retórica para serem bem-sucedidos, os oradores sacros
dependem da unção do Espírito Santo para serem bem-sucedidos em sua
oratória. Foi assim que Davi, além de rei, general, poeta, músico, foi um
grande orador, quando disse: “O Espírito do SENHOR falou por mim, e a sua
palavra esteve em minha boca” (2Sm 23.2).

HERMENÊUTICA — A ARTE DE
INTERPRETAR O TEXTO

INTRODUÇÃO
Da mesma forma que existe a homilética secular e a homilética evangélica,
existe também a hermenêutica secular e a hermenêutica bíblica. A palavra
“hermenêutica” é oriunda da palavra grega hermenevein, que significa
“interpretar”. Portanto, a hermenêutica é a arte de interpretar textos. Uma das
coisas que um jurista mais utiliza para interpretar os textos da lei é, sem
dúvida, a hermenêutica jurídica. Porém no caso do pregador, o que ele mais
utiliza para interpretar os textos sagrados é a hermenêutica bíblica. Um bom
hermeneuta da Bíblia tem tudo para se tornar um bom pregador. Um bom
hermeneuta jurídico consegue interpretar bem o texto legal de um código
jurídico; da mesma forma, um bom hermeneuta bíblico consegue interpretar
corretamente o texto da Bíblia. A hermenêutica bíblica faz parte da teologia
exegética, a qual trata da reta inteligência na interpretação das Escrituras
Sagradas. Uma das primeiras ciências que o pregador deve conhecer é
certamente a hermenêutica. Muitas heresias surgem em nossos dias,
justamente, por falta de interpretação correta dos textos sagrados. O bom
pregador deve conhecer melhor os princípios e regras da hermenêutica
bíblica, para não ir além do que está escrito (1Co 4.6). Podemos resumir este
estudo de hermenêutica em cinco principais pontos que o pregador precisa
conhecer na arte de interpretar a Bíblia. Vejamos:

82
I. A BÍBLIA EXPLICA ELA MESMA
Não existe interpretação particular da Bíblia. Qualquer pregador ou líder
religioso que interpretar um texto bíblico sem observar esta regra fundamental
pode ser declarado como herege. Em 2Pe 1.20, o apóstolo Pedro deixou esta
regra bem clara, dizendo: “Sabendo primeiramente isto: que nenhuma
profecia da Escritura é de particular interpretação”. Ninguém pode criar ou
formular uma doutrina em cima de uma interpretação equivocada do texto
sagrado. Não adianta o homem dizer: “Eu acho, eu penso, ou afirmo que seja
assim”. Em Pv 21.30, o sábio Salomão escreveu que: “Não há sabedoria, nem
inteligência, nem conselho contra o SENHOR”. A Palavra do Senhor é
perfeita e restaura a alma (Sl 19.7). Não há nenhuma necessidade de
acréscimo ou diminuição do texto sagrado (Ap 22.18-19). Em Pv 30.5-6,
Salomão ainda escreve: “Toda palavra de Deus é pura; escudo é para os que
confiam nele. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda, e
sejas achado mentiroso”. No Sl 119.140, O salmista se expressa, dizendo: “A
tua palavra é muito pura; por isso, o teu servo a ama”. Aleluia!
II. NÃO SE PODE INTERPRETAR UM TEXTO BÍBLICO DE FORMA
ISOLADA
O primeiro a quebrar esta regra foi o próprio diabo, ao querer induzir Jesus
a cometer um erro, numa interpretação isolada do texto bíblico do Sl 91.11-12.
Esta regra básica da hermenêutica diz o seguinte: “Texto fora do contexto gera
pretexto”. Porém Jesus citou o contexto, dizendo: “Não tentareis o SENHOR,
vosso Deus” (Dt 6.16). Se você ler de forma isolada a primeira frase dos
versículos bíblicos de Sl 14.1; 53.1, vai pensar que a Bíblia nega a existência
de Deus; entretanto, ao observar o contexto, você vai perceber que, somente
um homem louco e corrompido pode negar a existência de Deus. Ninguém
pode se utilizar de uma frase isolada da Bíblia para beneficiar ou justificar
uma teoria errada. Em 2Co 4.2, Paulo diz: “Antes, rejeitamos as coisas que,
por vergonha, se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando a
palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo homem, na
presença de Deus, pela manifestação da verdade”. No Sl 119.144, o salmista
também escreveu, dizendo: “A justiça dos teus testemunhos é eterna; dá-me
inteligência, e viverei”. Precisamos pedir inteligência ao Senhor para
interpretar corretamente a sua Palavra.

83
III. É PRECISO CONHECER AS FIGURAS DE LINGUAGEM DO
TEXTO SAGRADO
A Bíblia possui várias figuras de linguagem e diferentes estilos literários
que podem ser difíceis de compreender. É preciso observar se o texto pode ser
interpretado de forma literal, simbólica ou figurativa. A interpretação é literal
quando o texto é direto, claro, objetivo e sem enigmas. Exemplo: “Permaneça
o amor fraternal” (Hb 13.1). A interpretação pode ser simbólica, quando o
texto utiliza um símbolo poético ou profético para expressar uma verdade
moral ou espiritual. Exemplo de um texto com simbologia poética: “Porque,
com alegria, saireis e, em paz, sereis guiados; os montes e os outeiros
exclamarão de prazer perante a vossa face, e todas as árvores do campo
baterão palmas” (Is 55.12).
Exemplo de um texto com simbologia profética: “Aprendei, pois, esta parábola
da figueira: quando já os seus ramos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis
que está próximo o verão” (Mt 24.32). A interpretação pode ser figurativa
quando o texto utiliza uma figura do cotidiano para ensinar lições espirituais.
Exemplo: “Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade vos digo que eu sou a
porta das ovelhas” (Jo 10.7). Além destas três principais formas de
interpretação do texto bíblico, é preciso observar as figuras de linguagem
gramatical. As principais figuras de linguagem gramatical são as seguintes:
1) HIPÉRBOLE, se dá quando o texto se utiliza de um exagero
deliberado para produzir um efeito maior. Exemplo: “Estou com uma fome de
leão” ou o que Jesus disse em Mt 23.24: “Coais um mosquito e engolis um
camelo”;
2) METÁFORA, se dá quando no texto sagrado há semelhança entre
duas coisas que se aplicam ao mesmo tempo. Exemplo: “Eu sou a videira, vós,
as varas” (Jo 15.5);
3) PARÁBOLAS, se dá quando o texto sagrado apresenta uma história
baseada no cotidiano das pessoas com o objetivo de ensinar uma verdade
moral ou espiritual. Exemplos: parábola do semeador, parábola das dez
virgens, parábola dos dez talentos etc.;
4) ANTROPOMORFISMO, se dá quando o texto sagrado descreve
coisas inanimadas dotadas de características humanas. Exemplo de
antropomorfismo aplicado a coisas inanimadas: “Os rios batam palmas;
regozijem-se também as montanhas” (Sl 98.8). Exemplo de antropomorfismo
aplicado a Deus: “E o SENHOR cheirou o suave cheiro” (Gn 8.21);

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“Arrependeu-se o SENHOR” (Gn 6.6); “Eis que a mão do SENHOR não está
encolhida, para que não possa salvar; nem o seu ouvido, agravado, para não
poder ouvir” (Is 59.1) etc.
5) ENIGMA, quando é preciso decifrar com base na revelação divina, ou
relacionado com algo já existente. A linguagem enigmática era muito utilizada
pelos sábios orientais. Exemplos: A rainha de Sabá veio provar Salomão com
alguns enigmas (1Rs 10.1). Sansão usou um enigma associado a algo já
existente: O leão e o mel (Jz 14.12-14,18).
6) FÁBULA, quando aparecem seres irracionais e inanimados falando. A
fábula é uma lenda ou uma história fictícia. O apóstolo Paulo previu uma
época em que as pessoas iriam preferir acreditar em fábulas do que na
doutrina da verdade (2Tm 4.3-4). Paulo já havia advertido ao jovem pregador
Timóteo, dizendo: “Nem se deem a fábulas ou a genealogias intermináveis,
que mais produzem questões do que edificação de Deus, que consiste na fé;
assim o faço agora” (1Tm 1.4). A mesma advertência Paulo deu a Tito,
dizendo: “Não dando ouvidos às fábulas judaicas” (Tt 1.14). Hoje em dia, o
que tem de pregadores pregando fábulas judaicas no púlpito não é brincadeira!
7) IRONIA, quando a expressão revela o contrário do que se está
pensando ou sentindo. Exemplo: O rei Acabe quase obrigou Micaías a
profetizar o que ele gostaria de ouvir acerca da guerra contra a Síria em
Ramote-Gileade; então, o profeta lhe respondeu de forma irônica: “Sobe e
serás próspero, porque o SENHOR a entregará na mão do rei” (1Rs 22.15).
8) ALEGORIA, quando o pensamento do texto apresenta um objeto para
dar ideia a outro. O apóstolo Paulo utilizou uma linguagem alegórica para
ensinar a diferença entre a lei e a graça, dizendo: “O que se entende por
alegoria; porque estes são os dois concertos: um, do monte Sinai, gerando
filhos para a servidão, que é Agar” (Gl 4.24). Na alegoria de Paulo, Agar
representava a lei dada no monte Sinai, a qual deixa o homem ainda debaixo
da escravidão. Porém Sara representa a graça, a qual deixa o homem livre (Gl
4.21-31). Como Paulo bem explicou, é apenas uma alegoria!
9) PARADOXO, quando uma coisa parece contrária ao que é comum,
mas acaba tendo uma relação. Exemplo: Em Mt 16.6, Jesus disse aos seus
discípulos: “E Jesus disse-lhes: Adverti e acautelai-vos do fermento dos
fariseus e saduceus”. É algo que parece contrário ao que é comum, porém, há
uma relação em comum nesta advertência de Jesus. Pois o fermento dos
fariseus e dos saduceus são suas doutrinas corrompidas e de conteúdo
alterado. Ou seja, Jesus não está condenando o uso do fermento comum, mas
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sim, o fermento da maldade, da malícia e da hipocrisia (1Co 5.8).
IV. É PRECISO APLICAR A EXEGESE DE FORMA CORRETA
A palavra “exegese” vem do grego ekegeomai, que significa “arranco do
texto”. A exegese é a aplicação das próprias regras estabelecidas pela
hermenêutica. Assim como a prudência é a aplicação prática da sabedoria, a
exegese é a aplicação prática da hermenêutica. É a prática da hermenêutica
sagrada que busca a real interpretação dos textos que formam o Antigo e o
Novo Testamento, valendo-se do conhecimento das línguas originais
(hebraico, aramaico e grego), da confrontação dos diversos textos bíblicos e
das técnicas aplicadas na linguística e na filosofia. A exegese é o estudo
rigoroso de um texto, a partir de regras e conceitos metodológicos, pelos quais
se busca alcançar o melhor sentido daquilo que está escrito. Quando aplicado
ao estudo da Bíblia especificamente, denominamos de “exegese bíblica”. A
exegese apresenta cinco principais bases de interpretação do texto sagrado:
EXEGESE ESTRUTURAL — Doutrina que sustenta estar o significado
do texto bíblico além do processo de composição e das intenções do autor.
Neste método é levado em conta as estruturas e padrões do pensamento
humano. Deve-se conhecer a etimologia das palavras, o desenvolvimento
histórico de seu significado e o seu uso pelo autor sagrado do texto bíblico
em análise.
EXEGESE GRAMÁTICO-HISTÓRICA — Princípio de interpretação
bíblica que leva em conta apenas a sintaxe e o contexto histórico no qual foi
composta a Palavra de Deus. O intérprete deve conhecer os princípios
gramaticais da língua na qual o texto foi escrito, a fim de interpretá-lo do
modo correto como foi escrito. Tendo as análises lexicais, morfológicas e
sintáticas do texto sido feitas, é preciso partir para análises de contexto e
história a fim de que se tenha uma boa compreensão do texto e de seu
significado primeiro e, com os passos anteriores bem dados, o intérprete tem
condições de extrair a teologia do texto, bem como sua aplicação às
necessidades pessoais dele, em primeiro lugar e às dos ouvintes. O que o texto
tem com a minha vida? Ou com os grandes desafios atuais?
EXEGESE TEOLÓGICA — Princípio de interpretação bíblica que toma
por parâmetro as doutrinas sistematizadas pelos doutores da Igreja. Neste
caso, a Bíblia é submetida à doutrina. Mas como esta nem sempre se encontra
isenta de interpretações particulares e tradições meramente humanas, corre-se
o risco de se valorizar mais a forma que o conteúdo. O correto é submeter à
teologia dogmática dos doutrinadores cristãos ao crivo da infalibilidade da
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Palavra de Deus e não o contrário. Em direito, se recorre muito às opiniões
dos doutrinadores jurídicos para uma melhor interpretação dos textos legais;
na teologia, a opinião dos eminentes mestres e doutrinadores bíblicos também
é muito importante, porém, suas linhas de interpretação não são infalíveis. A
Bíblia é sua própria intérprete, diz o princípio hermenêutico. A Bíblia deve
ser o próprio recurso primordial para entender ela mesma. Uma
interpretação particular que entra em choque com o ensino total da Bíblia
deve ser totalmente rechaçada e rejeitada. Uma interpretação submetida ao
ponto de vista central da Bíblia é a maneira mais correta de expor aos ouvintes
a Palavra de Deus.
EXEGESE TEXTUAL E CONTEXTUAL — Princípio de interpretação
em que o texto bíblico é focalizado como um todo e o significado dependente
do contexto para uma correta compreensão. O contexto é o que vem antes e
depois do texto. Segundo esta corrente de interpretação, é preciso manter em
mente a inclinação do pensamento de todo o texto sagrado, para se obter uma
visão real do que o texto está realmente querendo dizer. Há textos da Bíblia
cujo conteúdo já exprime o pensamento central da teologia cristã.
EXEGESE CONTEXTUAL BÍBLICA E CONTEXTUAL
HISTÓRICA — Princípio de interpretação em que o contexto bíblico realiza-
se na própria Bíblia. O contexto histórico leva em consideração a época em
que o autor escreveu. Em alguns casos a própria Bíblia oferece o contexto
histórico, mas
noutros, é preciso recorrer a livros que abordem questões culturais e históricas.
Portanto, a exegese é a aplicação dos princípios e regras estabelecidos pela
hermenêutica. Estas regras técnicas de interpretação são importantes;
entretanto, é preciso buscar o auxílio do Espírito Santo que perscruta todas
as coisas, até mesmo as profundezas de Deus, para uma interpretação mais
correta do texto sagrado (1Co 2.10-11).
V. É PRECISO ESTUDAR A BÍBLIA DE FORMA DEVOCIONAL
O cristão precisa estudar as Escrituras de forma devocional, dedicando-se à
oração, e pedindo a orientação do Espírito Santo para uma compreensão
melhor do texto sagrado. No Sl 119.97, o salmista disse: “Oh! Quanto amo a
tua lei! É a minha meditação em todo o dia!” A melhor maneira de se entender
um livro é conversando com o seu autor. Deus é o autor da Bíblia, Jesus Cristo
é o seu tema central e o Espírito Santo é o inspirador dos escritores sagrados.
O próprio Senhor Jesus Cristo prometeu que poderíamos contar com o auxílio
do Espírito da verdade no entendimento da sua Palavra (Jo 16.12-13).

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“Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo
conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, forem outra vez envolvidos
nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro.
Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça do que,
conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado” (2Pe
2.20-21).

CONCLUSÃO
Conhecendo as regras de interpretação correta do texto sagrado, o obreiro
pode se apresentar diante de Deus aprovado, não tendo do que se
envergonhar, manejando bem a palavra da verdade (2Tm 2.15). Pois, o nosso
Deus “o qual nos fez também capazes de ser ministros dum Novo Testamento,
não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata, e o Espírito vivifica” (2Co
3.6).

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