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Normando P. Barbosa
Universidade Federal da Paraíba
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All content following this page was uploaded by Normando P. Barbosa on 14 April 2015.
1
A terra ainda hoje abriga quase um terço da humanidade [2] e em paises
asiáticos, africanos e do oriente médio existem ainda muitíssimas urbes construídas
quase que inteiramente com esse material. Inúmeras cidades do interior do Iran são um
verdadeiro tributo à terra crua como material de construção (Figura 3).
No Brasil, muitas construções com terra foram feitas antes do aparecimento dos
materiais industrializados, e representam ainda um notável patrimônio, sobretudo em
cidades no que tiveram seu apogeu nos tempos coloniais como Mariana, Ouro Preto e
tantas outras (Figura 4).
2
Com a revolução industrial, no século dezessete, começaram a aparecer os
materiais de construção que hoje são implicitamente conhecidos como materiais de
construção convencionais, ou industrializados. Bilhões e bilhões de dólares são gastos
em publicidade que tem conseguido incutir nas pessoas a idéia de consumi-los (Figura
5). Embora muitas vezes a construção industrializada apresente sofrível desempenho
do ponto de vista do conforto interior, as pessoas preferem-na porque a propaganda
está a lhes dizer que ela é que é boa. Ter a casa feita com tijolos cozidos, cerâmicas,
aço, concreto, passou a ser símbolo de modernidade e sinal de status!
3
Figura 6 - Casas de terra no Nordeste brasileiro: símbolo de tecnologia perdida
4
Em abril de 2004 foi noticiado na imprensa que modificações genéticas foram
observadas em plantas sensíveis às mudanças ambientas em pleno Parque Ibirapuera,
em São Paulo, megalópole já sufocada pela poluição, tanto industrial quanto social.
5
Figura 9 – Aumento da temperatura media da Terra com o aumento da concentração de
CO2 na atmosfera (de [4])
6
Figura 11- Desequilíbrios atmosféricos causando catástrofes
Consumo de energia
Compare-se agora estes níveis de energia com aqueles exigidos para uma
construção de tijolos de barro cru, sem cozimento, tão usado pelas civilizações egípcias
e mesmo no Brasil colonial, ou com os de uma construção feita com colmos de bambu
(Figura 13), ofertados pela própria Natureza, cuja energia para sua produção foi
unicamente a fornecida do astro rei!
7
Figura 12 – Fabricação de aço, forno de fábrica de cimento portland
Geração de resíduos
8
Figura 14 – Resíduos gerados na fabricação de cerâmica vermelha
Erro!
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vegetação local, e, tendo em vista o volume de lenha consumido nas olarias, vê-se que
elas estão contribuindo para o triste fenômeno da desertificação constatado no interior
nordestino (Figura 16).
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Figura 17 - Mão de obra especializada para aplicação dos materiais convencionais
Custo elevado
Muitos dos materiais industrializados são hoje em dia fabricados por cartéis
globalizados que combinam, impõem e aumentam continuamente preços aos
consumidores. Assim, as industrias do cimento, do aço, do aluminio, das tintas, adotam
mecanismos que conduzam ao lucro maximo, pouco importando se considerável
parcela da população local não pode adquiri-los. Os precos nem sempre estão ligados
ao custo, mas sim a quanto de lucro podem gerar. Assim, as fábricas preferem vender
menos a maior preço que vender mais a menor preço, indiferentemente ao meio onde
estão inseridas. Contrariamente, pequenos produtores de materiais de construção
locais não conseguem repassar muitas vezes sequer seus custos de produção aos
preços! Está-se, pois, em um sistema tentacular que suga injustamente o fruto do
trabalho das pessoas e contribui para a absurda transferência de renda da maioria da
população para os gigantescos grupos industriais e financeiros, sob os quais nem os
governos centrais têm mais controle. São eles que ditam as regras, iludindo
perversamente as populações com a manipulada idéia de liberdade de mercado.
Tudo isto traz como conseqüência a crescente favelizacao das cidades (Figura
18), sobretudo nos hoje hipocritamente chamados países emergentes, para esconder
sua real condição de sub-desenvolvidos, alguns deles condenados a esta eterna
condição. Como os materiais de construção industrializados custam caro, as
populações excluidas por um sistema econômico que favorece alguns em detrimentos
da imensa maioria procuram se abrigar de qualquer forma, como se vê na Figura 19.
Essas más condições de habitação e falta de infraestrutura básica conduzem a
gravíssimos problemas de saúde pública. A OMS calcula que na América Latina há 24
milhões de infectados com a doença de Chagas, provocada pelo protozoário
Tripanosoma Cruzi , mal que se transmite pelo sangue causa lesões cardíacas e cujo
vetor é o inseto conhecido como Barbeiro, no Brasil Vinchuca, na Argentina e Chile
Pitos, na Colômbia, Chipos, na Venezuela. Ele encontra abrigo nos orifícios e vazios
das paredes dessas sub-habitações e continua sendo uma realidade (Figura 20). No
entanto, ao contrário da AIDS que ataca sem perdão pobres e ricos, como o mal de
11
Chagas afeta às pessoas sem dinheiro, pouca ou nenhuma importância é dada à
doença que, perfeitamente evitável, continua a minar a precária saúde dos deserdados
povos latino-americanos.
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Não bastasse essa gritante falta de moradias para grande parcela da população
mundial, parte significativa das que existem têm sido continuamente destruidas pela
ação de governos dominados pelo ódio, como é o caso do instaldo no Estado de Israel,
que bombardeia sem cessar as residências dos Palestinos, aumentando-lhes o deficit
habitacional. Armas com as últimas tecnologias são empregadas nessa destruição das
moradias de um povo que, numa gritante desigualdade, defende-se quase sempre com
as ancestrais pedras!
A insensatez não tem fim e bilhões e bilhões de dólares têm sido gastos para
demolição de casas, muitas delas centenárias, em países invadidos como o Iraque e o
Afeganistão. O dinheiro gasto para destruir e tomar a antiga Mesopotânia já seria
suficiente para eliminar praticamente toda a carência de moradia no chamado terceiro
mundo. Bombas moderníssimas têm sido usada na destruição de casas (Figura 22),
hospitais, prédios públicos muitos dos quais, verdadeiros patrimônios arquitetônicos da
humanidade, construidos com materiais tradicionais, como a terra.
Se por um lado quase dois bilhões de seres humanos têm necessidade de uma
casa digna, algumas centenas de milhares de pessoas, que certamente fazem parte de
cúpula que dirige propositada e egoisticamente o mundo atual, têm suas habitações
fora de qualquer realidade relativa ao discernimento do espírito humano. Possuem
casas que de tão grandes (Figura 23) são impossíveis de terem seus cômodos visitados
pelo proprietário ao longo de sua ilusória existência. Assim, não é de admirar que
nesse mundo injusto no qual uns são mais iguais do que os outros, surjam os Bin Laden
e as bombas humanas, rotulados de terroristas porque golpeiam os que representam a
injustiça, ao passo que a matança oficial é justificada em nome liberdade. Que
liberdade? A de escolherem entre Coca Cola e Pepsi Cola? A de serem pobres, e de
serem explorados ? E a liberdade do direito a casa? Esta continua a não existir! Na
realidade o terrorismo está sendo alimentado pela ganância de parcela da população
que detém as riquezas mundiais e não querem reparti-las. Sem o menor discernimento,
tornam-se eles próprios os terroristas oficiais, mas alguns, de tão néscios, são
incapazes de se reconhecer como tal (Figura 24).
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Figura 23 - Casas milionárias: desafio ao bom senso humano
14
contam-se já muitas publicações sobre esses materiais e essas tecnologias, se bem
que mereçam ainda muito mais difusão e penetração nos bitolados meios universitários
em todo o mundo. No domínio da construção com terra (Figura 25) eventos
interessantes e publicações de nível já mostram que ela merece seu lugar entre os
materiais de construção. O mesmo pode-se dizer do bambu, outro fatástico material.
Tudo isto levou o Prof. Minke, da Universidade de Kassel, Alemanha, a citar que:
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Associação Brasileira de Materiais e Tecnologias Não-Convencionais na década de 90.
Conferências nacionais e internacionais já foram organizadas no sentido de incentivar a
difusão da pesquisa com esses materiais.
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Algumas delas são:
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Considerações finais
18
Na Figura 28 vê-se agora a associação do bambu, um dos materiais não
convencionais de maior potencial, com materiais industrializados como concreto, tijolos
cerâmicos, cobertura metálica, argamassa de cimento portland. À esquerda tem-se uma
construção rural construida no Equador, à direita protótipo de casa construída em
Maceió, onde já foi criado o Instituto do Bambu, com apoio do SEBRAE, Alagoas. Nota-
se então que passos estão sendo dados na direção correta, sendo necessária sua
divulgação e disseminação.
Figura 29 – Nova geração que espera viver na Terra sem problemas ambientais
19
Referências
1- Salvadori, M (1990) – Perché gli edifici stano in piedi. Ed. Fabbri, Etas SPA, Milano,
Itália.
4 – Time-Life (1995) – Ciência e Natureza, Tempo e Clima, Abril Livros, São Paulo
8 –Fathi, H (1973) – Construindo com o povo. Ed. Brasileira Ed. Forense Universitária,
Rio de Janeiro, 1982.
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