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Roble Odilonjose TCC
Roble Odilonjose TCC
.
R571f
2331 FEF/799
CAMPINAS
1995
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
-'
FACULDADE DE EDUCAÇAO FISICA
Monografia apresentada
para a obtenção do título
de licenciado em
Educação Física.
CAMPINAS
1995
TCCjUNICAMP Ã!&.
R571f V"
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO Pág.01
CONCLUSÕES Pág.33
I
abordagem e tratamento de tais valores, além de outros aspectos culturais,
como importantes componentes do campo de conhecimento da Educação
Física. No entanto, parece-nos marcante que os aspectos biológicos do
movimento humano receberam historicamente uma atenção maior na formação
acadêmica em Educação Física que a reservada a aspectos de outra ordem. Não
obstante a validade dos estudos com base nas ciências biológicas, é preciso
entender a Educação Física, sobretudo a escolar, como uma ciência muito
próxima dos fenômenos humanos.
Nesse estudo estaremos utilizando um referencial vindo das
ciências humanas. Realizaremos uma discussão com base no estudo da cultura.
Mais especificamente, estaremos trazendo conceitos da Antropologia Social,
que nos ajudem na compreensão e interpretação acerca das representações
sociais e valores culturais envolvidos com a prática corporal.
Uma vez expostas nossas convicções sobre quais são os valores
que suscitam as representações sociais sobre práticas corporais, representações
2
expressos pelos alunos através de suas expectativas e representações, recebem
atualmente por parte da formação acadêmica em Educação Física.
Acreditamos assim, ser possível enxergar uma atuação mais
contextualizada do professor de Educação Física, a partir de uma compreensão
das representações sacias que habitam o imaginário de seus alunos e compõem
os símbolos culturais vigentes. Os valores expressos pelas representações dos
alunos devem, ou deveriam, ser do conhecimento do professor, pois cabe a
este, organizar conteúdos de aula que lide de maneira consciente e adequada
com tais valores, fornecendo ao aluno, condições de reavaliar sua relação com
os conceitos de corpo e práticas corporais de sua sociedade.
Enfun, é possível afirmar que tais valores constituem-se,
consequentemente, como aspectos fundamentais do objeto de estudo da
Educação Físic~. Sua abordagem pela formação acadêmica se faz necessária
portanto, não somente pela proposta de uma visão antropológica para se somar
a tantas outras, mas pela carência que tal área possui de se aproximar
definitivamente do movimento humano como um fenômeno de características e
3
I -NOÇÕES DE CORPO E CULTURA
4
indivíduos de nossa sociedade é, portanto, compor, inevitavelmente, uma
relação entre os significados culturais que definem as representações desses
indivíduos e as ações dos mesmos.
As diversas ordens do pensamento são sempre carregadas de
símbolos que guiam as pessoas e lhes fornecem pistas para sua atuação em seu
grupo social. Segundo GEERTZ (1989, p.l85):
5
comportamento dos alunos e serão, certamente, os condicionantes da prática
em Educação Física.
O valor atribuído às práticas corporais alcançou em nossa cultura
uma difusão muito ampla. Praticamente toda pessoa confere à atividade física
detenninados valores positivos, praticando-a ou não. Mais que simplesmente
fornecedoras de um caráter pragmático individual, as práticas corporais
constituem-se atualmente em um estilo de vida. Esse estilo, que confere à
pessoa adjetivos que a projetam positivamente em seu meio, impõe hábitos que
alteram substancialmente o dia-a-dia do indivíduo. Mesmo aqueles que não se
empenham de fato em uma prática sistematizada, podem de alguma maneira se
relacionar com esse universo através dos produtos de consumo que se referem
a esse universo. Pela mesma orientação, é esperado que uma pessoa ao
enfrentar uma prática corporal, tente se comportar de acordo com os padrões
estabelecidos pela sociedade para esse universo, urna vez que tais padrões são
suficientemente conhecidos e bastante considerados.
Não pretendemos aqui enveredar pela discussão dos aspectos de
consumo que penneiam as práticas corporais, mas sublinhar a importância que
tal universo alcança em nossa cultura, gerando representações e expectativas,
modelando ações e comportamentos.
6
2- AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PRÁTICAS CORPORAIS
7
obviamente) como importantes símbolos do que caracterizam nossa cultura
atual como um todo.
Concluiu-se no citado estudo que as expectativas dos
consumidores de práticas corporais eram animadas por quatro grandes valores
que, em conjunto compunham uma "rede de sociabilização". São eles: a saúde,
a beleza, o convívio social e a ocupação do tempo disponível (ROBLE,
MOREIRA & DAOLIO, 1995).
Cada um desses valores expressa alguns dos fatores essenciais do
pensamento do brasileiro acerca do corpo e das práticas corporais. Os
conceitos de saúde e beleza expressam um padrão cultural de corpo "saudável"
e "belo" que parece ser atrelado a deteminados hábitos de vida, entre os quais a
prática de exercícios físicos ou de esporte. A ocupação do tempo disponível e o
convívio social, por sua vez, revelam os significados que conferem às
atividades físicas um status social em nossa cultura.
CARDOSO (1995, p.l75), revela também nesse sentido, uma
noção de corporeidade que pode ser entendida à partir de determinados valores
de nossa cultura, alguns semelhantes ao que apontamos: o valor estético (o
belo), o valor homeostático (funcional), o valor interativo (a comunicação) e o
valor sexual (o sensual).Tais valores parecem definir modelos de atuação das
pessoas frente a seu meio social. Dessa forma, os padrões corporais de beleza
aparecem como possivelmente condicionados pelos valores estéticos de nossa
cultura, assim como o papel sexual do corpo assume elevada importância na
personalidade das pessoas uma vez que a sociedade confere especial atenção
ao tema. Por sua vez, a importância que parece receber o valor funcional do
8
corpo em nossa cultura pode, inclusive, atribuir ao corpo um caráter
instrumentalizado onde este é visto através de suas potencialidades de trabalho.
A comunicação aparece também como uma importante característica de nossa
sociedade o que, indubitavelmente, altera os comportamentos sociais das
pessoas frente às suas necesssidades de trasmitir suas idéias, se relacionar com
suas crenças e com seu grupo social através de seu corpo.
9
3 -AS PRÁTICAS CORPORAIS NA ESCOLA
10
Nesse sentido, o professor fica submetido à seguinte realidade: se
sua proposta não se relaciona com os valores dos alunos, baseando-se
unicamente nos preceitos de obrigatoriedade escolar, é provavel que o desânino
se instaure e os anseios dos alunos se restrinjam às práticas que de alguma
forma venham a suprir suas expectativas como, por exemplo o "racha" no fmal
da aula ou determinados momentos da aula onde eles possam agir livremente,
expressando seus desejos. Um grande número de professores, frente a essa
realidade, lançam mão de uma espécie de barganha, onde o aluno é obrigado a
suportar a "aula" para poder disputar o "racha" no final da mesma, ou ter um
momento onde ele conduza a atividade da maneira que ele deseja. Não raro,
esse desejo nada mais representa senão os significados culturais que fomentam
suas expectativas frente às práticas corporais, expectativas essas que ele não
sacia no desenvolvimento normal da aula devido ao caráter anacrônico e
determinista que o professor conferiu à mesma.
O ponto chave nesta questão é, portanto, a inadequação do
tratamento conferido à aula por parte do professor que, ao desconhecer as
representações sociais que habitam os anseios de seus alunos, fica escravizado
a conteúdos descontextualizados ao dia-a-dia do aluno, ultapassados frente ao
conjunto de informações que esse vislumbra.
Para nós, a função da Educação Física escolar é a de ensinar o
aluno a conhecer e se relacionar com o universo do movimento humano
expresso por sua cultura, como alguns autores já sugenmm (BETTI, 92;
COLETIVO DE AUTORES, 1992; DAOLIO, 1993; DAOLIO, 1995). Nesse
sentido, toma-se inconcebível um profissional que detenha somente referencial
11
técnico, adequar-se a wn profícuo processo educativo. O que tratamos aqui por
educação é a capacidade de entender, integrar-se e transformar a própria
cultura, a partir da reflexão, elemento indispensável para wna profícua prática
educativa.
No entanto, para que wn professor possua wna atuação que vise a
contextualização e propicie a reflexão, é preciso que tenha além de
competência técnica e pedagógica, a compreensão dos significados culturais
que constituem seu campo de atuação.
Parece que a estrutura dos cursos de graduação em Educação
Física não tem conseguido dar conta dessa tarefa. Dividindo-se em wna
quantidade exagerada de disciplinas, o currículo em Educação Física, ao invés
de conferir à área wna multidisciplinaridade e ao profissional, wn discurso
pluralista, gera especializações teóricas, culminando com a falta de
aplicabilidade dos conhecimentos transmitidos aos alunos.
Acreditamos ser preciso, portanto wna reavaliação da estrutura de
formação acadêmica em Educação Física. É nesse sentido que prosseguiremos
nossas análises, reservando atenção agora à formação profissional, através das
propostas curriculares da USP, UNESP (Rio Claro) e UNICAMP.
12
4 - FORMAÇÃO ACADÊMICA EM EDUCAÇÃO FÍSICA - ANÁliSE DAS
PROPOSTAS CURRICULARES DE USP, UNESP (RIO CLARO) E UN!CAMP
13
sejam úteis não só para a licenciatura mas para o conhecimento científico em
Educação Física como um todo.
Observando-se as propostas curriculares das três universidades, a
divisão entre licenciatura e bacharelado parece não ter conferido uma
reformulação do curriculo da licenciatura, visando uma maior atenção às
expectativas dos alunos. O que parece ser o principal motor para a mudança
refere-se a uma adequação de um novo profissional ao mercado de trabalho, o
bacharel em Educação Física, que se ocuparia de um espaço próprio da
Educação Física que está sendo apropriado por outras áreas do conhecimento.
OLIVEIRA (1986), ao discorrer sobre a proposta curricular, que hoje já se
estabeleceu na Universidade de São Paulo, preocupa-se com interferências e
indefiniçoes com a Medicina e a Fisioterapia em área não-escolar e afirma:
Outro dado que podemos abordar neste estudo, que nos revela
uma importante característica social do que vem acontecendo com a Educação
Física e como isto está se fazendo sentir em termos de formação profissional, é
14
o baixo interesse dos ingressantes em trabalharem na escola como aponta o
estudo a seguir organizado por OLIVEIRA (1986, p, 6):
15
FIG. 01:
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16
Nesta pesquisa, os ingressantes em Educação Física, ao serem
questionados sobre seu interesse de vir a atuar como professores de 1o ou 2°
grau, poderiam responder a pergunta dizendo sim ou não.
O gráfico (fig.Ol) esboça as respostas de alunos da Escola de
Educação Física da USP, ingressantes nos anos de 1981 a 1984. O que
podemos observar pelos seus dados é que o número de respostas não sempre
foi superior ao de respostas sim. Também é possível observar que a difença
entre as respostas aumentou ao longo dos anos da pesquisa, sendo que em 1981
(1 o ano da pesquisa) a diferença era de 6,98 pontos percentuais e em 1984
17
FIG. 02:
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LEGENDA
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18
Nesse segundo estudo o autor esboça um gráfico (fig.02) que se
refere às respostas obtidas para a mesma pergunta, agora realizada em
instituições diferentes a saber: UNESP (1985), UNIMEP (1986), Sorocaba
(1985), Santo André (1986), Guarulhos (1986) e UNICAMP (1986), além de
retomar os dados da USP (1984 e 1986). Também neste caso é possível
detectar o baixo interesse pelo magistério nas faculdades de Educação Física da
UNESP, de Sorocaba e da UNICAMP nos anos da pesquisa. A faculdade da
UNIMEP apresentou valores praticamente iguais entre respostas sim e não
para a citada pergunta (diferença de apenas 1,74 pontos percentuais). Já as
faculdades de Santo André e Guarulhos apresentaram um maior índice de
respostas sim (com uma diferença relativa de 33.98 e 26.39 pontos percentuais
respectivamente). Dessa forma o autor conclui que os cursos de graduação em
Educação Física ínflam-se de alunos que de antemão não pretendem assumir o
compromisso com a Educação Física escolar (OLIVEIRA, 1986, p.8)
Este estudo revela que o desinteresse pela atuação profissional em
escolas não só é muito alto, como parece que tende a aumentar (é preciso
observar que tal estudo não é atual o que não nos permite traçar convicções
maiores). Este fato confirma a tendência de se procurar novos horizontes para a
Educação Física. Parece que universidade, mercado e aluno estão envolvidos
em um processo de novas conquistas, com promessas de novos empregos e,
talvez, melhores remunerações.
A miséria do sistema educacional brasileiro não é de fato
estimuladora para jovens que, representantes de uma minoria privilegiada,
alcançam o sonho universitário. No entanto, a formação acadêmica deve
19
preocupar-se, sobretudo, em melhorar o nível de ensino, pois este deve ser seu
melhor argumento para valorizar a atuação profissional e combater o descaso.
O aluno que optar pela licenciatura deve ser não um romãntico predestinado à
pobreza, mas uma pessoa com condições de alterar significativamente o quadro
social através de sua condição de indivíduo que reflete, transformando seu
ambiente, além de exercer sua capacidade profissional que propicia a reflexão,
através do processo educacional. Portanto a criação do bacharelado em
Educação Física não deve ser, e não estamos afirmando que seja, um bote
salva-vidas para a Educação Física brasileira. Mas deve ser tão relevado e
avaliado quanto a licenciatura; nem mais, nem menos.
A separação entre licenciatura e bacharelado parece não ter
alterado a estrutura da licenciatira. Nem sequer na Escola de Educação Física
da USP onde houve a separação entre os cursos de Educação Física e Esporte,
a divisão das disciplinas se alterou substancialmente. Ainda é possível
observar, como antes, um amplo predomínio das disciplinas de natureza
biológica, mesmo na licenciatura.
Além da predominãncia das disciplinas biológicas, a estrutura
curticular apresenta outra característica marcante; a fragmentação do
conhecimento. Um número consideravelmente grande de disciplinas é
oferecido, oriundas de áreas diversas do conhecimento. Na maioria dos casos
existem inclusive disciplinas que são oferecidas em outros institutos como
Anatomia, Fisiologia e Bioquímica que são oferecidas por institutos de
Biologia, disciplinas pedagógicas que são oferecidas por institutos de Educação
e disciplinas de Estatística que são pertinentes aos institutos de Ciências
20
Exatas. Neste sentido, como aponta TOJAL (1989, p.68), "( ... )a fragmentação
do conhecimento compromete a formação". Um espaço voltado à reflexão da
estrutura cultural que determina a corporeidade, fica reservada, na maioria das
vezes, a uma pequena lacuna correspondente às disciplinas das ciências
humanas.
Os conhecimentos de Anatomia, Fisiologia ou Bioquímica, entre
outros dessa natureza, são bastante sólidos e interessa à qualquer pessoa bem
informada. Conhecer aspectos biológicos de nosso corpo e seu funcionamento
orgânico saudável não deve ser privilégio somente dos profissionais da saúde.
No entanto, daí a se pressupor que tais conhecimentos são fundamentais para a
aplicação da Educação Física escolar, existe uma distância razoável.
Toma-se irônica a revolta de se ter uma fatia de seu mercado de
trabalho apropriado por profissionais da saúde, uma vez que a formação
profissional nos sucumbe a isto. A estrutura do curso de Educação Física
mudou, dividindo-se, mas as disciplinas de natureza biológica continuam sendo
muito valorizadas. No entanto, não são abordadas de forma que nos
caracterizem como profissionais da saúde, como médicos ou fisioterapeutas.
Tal realidade toma-se especialmente contestável na formação do
professor de escola, que não tem como função promover o condicionamento
físico de seus alunos. Mesmo o seu papel de ensinar o aluno a como atuar de
maneira equilibrada e adequada em uma prática corporal fora da escola deve se
basear mais na reflexão sobre o que a sociedade incita ao aluno a fazer para se
21
desejáveis ao profissional da Educação Física, mas isso nos parece muito mais
uma competência de ordem técnica, do que oriunda de estudos da estrutura
biológica, cada vez mais minuciosos, como vem propondo a grade curricular e
as ementas das disciplinas.
A seguir iremos expor as grades curriculares dos cursos de
Educação Física da USP, UNESP (Rio Claro) e UNICAMP, para que
possamos ampliar nossas reflexões no sentido em que estamos desenvolvendo.
No caso da UNICAMP, essas grades se referem ao núcleo
comum, o que representa um conjunto de disciplinas consideradas básicas para
a formação profissional em licenciatura ou bacharelado, somadas às disciplinas
específicas da opção por licenciatura. Na UNESP apresentamos o quadro de
formação geral e específica para a licenciatura. E no caso da USP
apresentamos a grade do bacharelado em Educação Física (uma vez que este é
pré-requisito para a licenciatura) e o curriculo específico da licenciatura.
Os curriculos estão organizados a seguir nas tabelas 1, 2 e 3:
22
TABELA 01:
• Currículo Pleno
Núcleo Comum 40 C11.r4o:
Diuiplin44 Eletiv44
20 créditos dentre:
Qualquer disciplina oferecida pela UNICAMP
23
Licenciatura em Educação Fisica:
Diuiplina$ Eletiva$
lO créditos dentre:
Qualquer disciplina oferecida pela UNICAMP
24
TABELA 02:
25
A:"lrCifund:uncnto de Conhccinu:nlus 20°/o
l .ir!:'llriulura
l1 Pr;'~:i\·a de En.~ino -
lO Tr.1b:llho de Fvm~atura
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Musculaç;Jo
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4 Nutri\·ào c Ati,·idauc Física - X
Ln:roduç:1o ;\ Fisiol(lgÍô'l Expcrimculal B;isic.l X
Gi i:i!stic~ c D:uv,;a Acru bica - X
Din:1mica Social Oô\ Atividade Física -
!. E~tlld v s Av:lltÇóldus em Educ;:,·ào Fisica lnfautil - X
; .. 31ÓfÍ:l ,:a Fducnç~(l Bra:;ikira: Nov:Js AbtHdagcus X
Ti:H:i j10iim :\crolx'ctico X
t~ O\'il t\J~lfO!>Oiollia
d:1 Corporci..Ja,h: X
..; ,',,:p,Jstas. ~1oddliS c Estilvs de l:usino r111 Etl uca~·;io Fisil·a X
!:,hl.::J.,:.h> Espcl·ial X
., :\S[:l"'.·to ..; P~icoprdagógicos do Esporte hcobt - X
26
TABELA 03:
27
São Disciplinas específicas do Curso de Li-
enciatura em Educação Física:
• Introdução aos Estudos da Educação
• Psicologia da Educação
• Estrutura e Funcionamento do Ensino de 1° e
2° Graus
• Didática
• Desenvolvimento Curricular em Educação
Física
• Processo Ensino-Aprendizagem em Educa-
ção Física
• Dimensões Filosóficas da Educação Física
Escolar
• Dimensões Antropológicas da Educação Fí-
sica Escolar
• Dimensões Históricas da Educação Física Es-
colar
• Dimensões Sociológicas e Políticas da Edu-
cacão Física Escolar
• Dimensões Econômicas e Administrativas da
Educação Física Escolar
• Medidas e Avaliação da Educação Física Es-
colar
• Educação Física na Pré-EsCola
• Educação Física no 12 Grau
• Educação Física no 2° Grau
• Educação Física Escolar Adaptada
• Prática de EnsiJ:lQ em Educação Física
28
Observando-se as tabelas I, 2 e 3 é possível confinnar nossas
expectativas acerca do predomínio das disciplinas de ordem biológica, Elas
representam a maioria do curso não só no número de disciplinas oferecidas,
como também na carga horária reservada a elas. A distribuição das disciplinas
básicas parece tentar abordar basicamente três ramos: o conhecimento
biológico do homem, o conhecimento de sua sociedade e o conhecimento
técnico específico. As disciplinas específicas da licenciatura se baseiam
principamente em aspectos pedagógicos e psicológicos, muitos desses tendo
aparecido também na formação básica.
O objetivo do presente trabalho é justamente realizar uma
discussão que tente observar, através das propostas curriculares dessas três
universidades paulistas, como estudos referentes aos significados culturais
estão, provavelmente, sendo pouco considerados na formação acadêmica em
Educação Física. Para isso, com base nas tabelas que apresentamos, referentes
às grades curriculares do curso de licenciatura em Educação Física dessas
universidades, iremos supor que somente as disciplinas concernentes à área de
humanas podem possuir tal função. Isto já restringe as possibilidades
consideravelmente, pois podemos observar que:
I -No caso da UNESP (Rio Claro) um máximo de 25 o/o do curso
(supondo que o aluno opte pelas disciplinas da área de humanidades em seus
créditos optativos) trata a Educação Física com um referencial humano.
2 - No caso da UNICAMP o valor é de aproximadamente 20%.
No entanto, se observarmos a quantidade de créditos fornecidos a essas
disciplinas sua contribuição cai para aproximadamente 17%.
29
3 -Finalmente no caso da USP, a quantidade de disciplinas que se
intitulam relacionadas à Educacação Física em uma abordagem de natureza
humana é de aproximadamente 17%.
Esses valores são, ao nosso ver, insuficientes para compor uma
formação com condições de se ater aos significados culturais das práticas
corporais próprios do meio em que o profissional da Educação Física irá atuar.
As interpretações do professor dificilmente vislumbrarão as representações
sociais presentes nos cotidianos de seus alunos e que, inevitavelmente, alteram
o ambiente das aulas. Resta ainda observar que esses valores representam o
número máximo de disciplinas que supomos poder lidar com tais questões,
ainda que saibamos que o simples fato de uma disciplina se caracterizar como
da área de humanas, não garante que seu conteúdo irá se ater às questões
culturais.
Ainda no tocante à distribuição das disciplinas por área do
conhecimento, é evidente a sobrecarga da área biológica, não só em quantidade
mas na expressão do discurso, como em BARROS (1995, p.75), que apresenta
um quadro de percentagens, fazendo referência à divisão do conhecimento
dentro da estrutura curricular da UNESP (Rio Claro):
minimu 00"/u
.; Cv·'·-· .; ..
i '··'•'-'-····'-·'• .
,~ ... o Filc..;0íico
J, ............................
7'X
" Al~.:ndcr o intcre~sc dn aluno, uiticar
; (_\wi~..:,imcnto da SucicJ;~dt.• ....................... 7% c pmjctur o mcrc;~Uo de trabalho
l Cü:::;ccimc:-::u do Sei Humano .................. 2ó%
' '-',:;J•:.c.~i::J.::n~r; TCC!1kO ............................. 60%
·-·---------· -------------------
Fonte: Revista Motriz- junbo de 1995, p.75.
30
Neste quadro aparece uma interessante classificação que pode dar
indícios sobre as concepções que se fazem presentes na formação acadêmica.
Disciplinas pertinentes à área das ciências biológicas ou da psicologia são
classificadas como de "Conhecimento do ser humano", enquanto que as que se
referem às disciplinas das ciências humanas são tratadas como de
"Conhecimento da sociedade". O homem aparece portanto como algo diferente
de sua sociedade, de sua cultura.
Ainda sobre os dados desse quadro, observamos que apenas 7%
da formação geral corresponde ao "conhecimento da sociedade". Como é
possível então, um licenciado possuir "(... ) um profundo conhecimento das
funções sociais da escola, sua história, problemas e perspectivas na sociedade
brasileira( ... )"? Como propõe o autor (BARROS, 1995, p.71).
Nessa estrutura, parece existir uma procura por certo pluralismo
de conhecimentos. Há uma distribuição dos conteúdos entre aspectos
biológicos, psicológicos, técnicos, pedagógicos, filosóficos, históricos, sociais,
antropológicos e outros. Tal preocupação, no caso da licenciatura, se manifesta
no receio que certos autores possuem em que a Educação Física se configure
somente como um instrumento da Educação, o que não justificaria sua posição
no ensino superior (OLIVEIRA, 1986, p.l9-20).
É possível considerar, no entanto que esta estrutura se refira mais
a paradigmas de aptidão física e valores higiênicos do que a processos
educacionais e sociais ou a um discurso eclético, fruto de uma inevitável
interdisciplinaridade. O número de disciplinas de referencial biológico é
superior ao de disciplinas de ordem humana e o enfoque dado aos temas da
31
área, na maioria das vezes acaba sendo próprio de um profissional da saúde,
tomando-se difícil urna capacitação para lidar com questões sociais presentes
no cotidiano de sua atuação. A visão que o professor possuirá de seu trabalho
provavelmente estará mais atrelada ao caráter biológico ou higiênico e,
portanto, seus esforços serão no sentido da promoção destes.
De urna maneira mais conclusiva, podemos dizer que, o que essas
grades nos apresentam é um conjunto exagerado de disciplinas, oriundas de
diversas áreas do conhecimento, com pequena relação entre os assuntos e
carregada de aspectos psico-biológicos. Esta variedade exacerbada vem a
contribuir para um grave problema da área, que merece muita atenção: a
dificuldade de definição do objeto de estudo da Educação Física. É nesse
sentido que afirma LOVISOLO (I 992, p.39):
32
cuidado é para que haja, obviamente, um conhecimento científico próprio da
Educação Física.
Em nossa opinião, os estudos dos significados culturais que
carregam as práticas corporais, constituem-se como um objeto de estudo
próprio e extremamente relevante à area da Educação Física. Através de
estudos dessa ordem o professor pode encontrar infonnações muito pertinentes
à sua realidade, o que lhe permite mapear o sentido conferido pelo seu grupo de
alunos e pela sociedade como um todo acerca dos temas da Educação Física.
Assim sendo, tal referencial não pode ser deixado em segundo plano na
formação profissional em Educação Física. Como aponta LARAIA (1993.
p.70):
33
CONCLUSÕES
34
Os tratamentos conferidos pelos alunos a determinadas atividades
propostas podem estar distantes de urna reflexão sobre ela, baseando-se, por
exemplo, em preconceitos ou condutas que se preocupem em não se desviar do
padrão de comportamento incentivado pelo grupo. A condição consciente do
professor acerca desses valores e de sua expressão na ação e representação do
aluno, pode contribuir portanto para um tratamento mais reflexivo dos temas
envolvidos com a aula, propiciando ao grupo e ao indivíduo possibilidades de
reavaliação de seus conceitos e condutas.
Isso posto, resta-nos saber que importãncia a formação acadêmica
em Educação Física reserva ao tratamento de assuntos dessa ordem. Deve, ou
deveria ser, de domínio do professor urna análise de tal realidade a fun que seja
possível urna intervenção consciente na prática educativa. Pensamos que tal
referência! possa estar presente em disciplinas do ramo das ciências humanas
devido à própria natureza das questões envolvidas. No entanto, vale ressalvar
que o fato de urna disciplina fazer parte do ramo das humanas, não garante que
ela abordará assuntos pertinentes às representações sociais em aulas de
Educação Física.
O que pudemos observar nas propostas curriculares das citadas
universidades foi um predomínio das disciplinas de natureza biológica, com
uma carga horária bastante superior que a reservada para disciplinas da área de
humanas. Isto nos leva a crer que o profissional terá urna formação que se
atenha mais a questões técnicas ou relacionadas com o universo do
conhecimento biológico.
35
Não obstante a validade da formação técnica e dos conceitos de
biologia humana, pensamos que o licenciado poderia estar recebendo uma
formação mais pertinente ao seu universo de trabalho que é a escola. Isso
provavehnente lhe aproximaria mais do fenômeno humano, fornecendo-lhe
condições de uma atuação possivelmente menos anacrônica e mais consciente.
Este trabalho será ampliado futuramente pois faz parte de uma
pesquisa, sob o mesmo título, para o Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação Científica do CNPq.
36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
37
LARAIA, R. B. Cultura: um conceito antropológico. 2° ed. Rio de Janeiro,
Zahar, 1993.
38