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Alex Branco Fraga

Yara Maria de Carvalho


Ivan Marcelo Gomes

AS PRÁTICAS CORPORAIS
NO CAMPO DA SAÚDE

P ráticas Corporais no Campo da Saúde é uma coletânea de


oito textos escritos sob encomenda para o I Seminário
Internacional de mesmo nome realizado entre os dias 12 e 13
de novembro na Escola de Educação Física (Esef ) da Univer-
sidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto
Alegre. O evento compõe o conjunto de atividades acadêmi-
co-investigativas previstas no projeto de pesquisa interinsti-
tucional Políticas de formação em educação física e saúde coletiva:
atividade física/práticas corporais no SUS, apresentado pela
UFRGS; pela Universidade de São Paulo (USP) e pela Uni-
versidade Federal do Espírito Santo (Ufes) por ocasião do
Edital n.o 24/2010 (Pró-Ensino na Saúde), lançado pela Ca-
pes em parceria com a Secretaria de Gestão do Trabalho e da
Educação na Saúde do Ministério da Saúde.1
Esta iniciativa de investigação interinstitucional agre-
ga três grupos de pesquisa vinculados a Programas de Pós-

1 A intenção dessa iniciativa intersetorial foi fomentar “a produção de


pesquisas científicas e tecnológicas e a formação de mestres, doutores e estágio
pós-doutoral na área do Ensino na Saúde” (Brasil, 2010, p. 1) em sete áreas
temáticas prioritárias, das quais duas nos mobilizaram de modo especial: cur-
rículo e processo ensino-aprendizagem na graduação e pós-graduação em saú-
de e formação e desenvolvimento docente na saúde. Maiores informações
sobre o projeto podem ser consultadas no artigo “Políticas de formação em
educação física e saúde coletiva” (Fraga, Carvalho e Gomes, 2012), do qual
nos valemos de alguns trechos para a composição deste texto.

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-Graduação em Educação Física das universidades acima cita-
das: Educação Física & Saúde Coletiva & Filosofia, vinculado à
USP; Políticas de Formação em Educação Física e Saúde (Polifes),
vinculado à UFRGS; Laboratório de Estudos em Educação Físi-
ca (Lesef ), vinculado à Ufes. O tema articulador do projeto
está centrado nas políticas de formação em educação física e
saúde coletiva, cujo foco inicial foi o Programa de Educação
pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde). As investigações
empreendidas têm o propósito de acompanhar e analisar os
processos de composição e articulação entre ensino, serviço e
comunidade com vistas a constituir uma rede de saberes e prá-
ticas que responda aos desafios da formação em saúde com-
prometida com a defesa e consolidação do SUS.
Tal opção também nos motivou a estruturar uma rede
de parcerias que pudesse articular e potencializar a discussão
em torno das competências e habilidades de licenciados e ba-
charéis em educação física para a atuação profissional em saúde.
Uma questão extremamente complexa, pois além de a atuação
na área ainda estar sustentada em pressupostos teóricos tradi-
cionalmente distantes dos princípios do SUS, tal como acon-
tece em boa parte dos cursos das demais áreas da saúde, a for-
mação específica está demarcada pela disputa em torno das
atribuições e limitações da atuação de licenciados “fora da es-
cola” (Atenção Básica em Saúde ou Atenção Primária em Saúde)
e dos bacharéis em programas educacionais “dentro da escola”
(Programa Saúde na Escola). Essas discussões têm alimentado
a produção, no âmbito da graduação e da pós-graduação, dos
grupos de pesquisa envolvidos neste projeto.
A crítica ao modelo hospitalocêntrico de atendimento à
saúde e à formação centrada em conteúdos estanques e pouco
conectada aos serviços, além das críticas ao predomínio da
racionalidade biomédica na educação física, são os pontos de
convergência desses três grupos, e que permitiram articular a
construção de um projeto de pesquisa interinstitucional com
o objetivo de problematizar políticas de formação voltadas à

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capacitação e sensibilização de estudantes para atuação em
educação física e saúde coletiva, além de analisar a implemen-
tação de uma “figura conceitual” cada vez mais presente no
cenário do SUS: práticas corporais.
O conceito práticas corporais está diretamente vinculado
à crítica contemporânea relativa às práticas de saúde e tem
sido apresentado como um contraponto à discussão e interven-
ção centrada na atividade física. As políticas públicas de saúde,
em especial a Política Nacional de Promoção à Saúde (PNPS)
(Brasil, 2006a) e a Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares (PNPIC) no SUS (Brasil, 2006b), sistema-
tizaram a preocupação do poder público em atender as necessi-
dades de saúde da população para além dos programas e inicia-
tivas que focam na prática de atividade física. Contudo, espe-
cificamente na PNPS (2006a), práticas corporais está ao lado
da atividade física, ambos aparecem conectados por uma barra
(práticas corporais/atividade física) ao longo de todo o texto.
Em que pese a menção mais direta na PNPS, práticas
corporais é um termo que não tem a mesma tradição e reco-
nhecimento do que atividade física, mesmo no interior do cam-
po de produção de conhecimento, formação e intervenção de-
nominado educação física.
No âmbito acadêmico, em um artigo de revisão, Lazzaroti
Filho e colegas (2010) analisaram 260 artigos científicos e 17
teses/dissertações que se valiam do termo. Os autores indicam
que o termo práticas corporais começa a ser mencionado na li-
teratura específica da educação física a partir 1995 e seu uso se
intensifica nesta área a partir de 2000, de modo mais forte na
área da educação física escolar. Os pesquisadores que o utilizam
são aqueles que, predominantemente, desenvolvem suas pesqui-
sas em interface com área das humanidades; na maioria dos
documentos não há uma preocupação em defini-lo conceitual-
mente, apresenta vários significados/sentidos, mas convergem
em um ponto: o termo se constituiu na área a partir do con-
traste com o conceito de atividade física e já tem “potencialidade

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para ser estruturado como conceito, necessitando, porém, de
maior estabilidade e de um certo nível de consenso dentre a
comunidade acadêmica” (Lazzarotti Filho et al., 2010, p. 25).
Um dos primeiros textos a discutir/distinguir ambos os
termos de maneira mais explícita no campo da saúde foi pu-
blicado na Revista Brasileira de Saúde da Família, sob o título
“Promoção da saúde, práticas corporais e atenção básica”, es-
crito por Yara Maria de Carvalho (2006). Aí a autora procura
demarcar “as principais diferenças conceituais entre atividade
física, exercício físico, educação física, lazer e recreação, muitas
vezes usados como sinônimos; e relacionar as práticas com a
Promoção da Saúde, especialmente no tempo e espaço da aten-
ção básica” (Carvalho, 2006, p. 35). Mais recentemente, o
Glossário Temático de Promoção da Saúde explicita uma defini-
ção para práticas corporais: “expressões individuais ou coleti-
vas do movimento corporal, advindo do conhecimento e da
experiência em torno do jogo, da dança, do esporte, da luta, da
ginástica, construídas de modo sistemático (na escola) ou não
sistemático (tempo livre/lazer)” (Brasil, 2012, p. 28).
O aporte desta nomenclatura vinculada à educação física
e mais afeita aos princípios da promoção da saúde pode ser
considerado um reflexo do processo de integração deste nú-
cleo de saberes e práticas ao campo da saúde, que se tornou
mais intenso especialmente após a publicação da Resolução
n.o 218, de 6 de março de 1997, do Conselho Nacional de
Saúde, que relaciona a educação física como uma das quatorze
subáreas da saúde. Esta visibilidade foi conquistada em fun-
ção do atendimento aos princípios do SUS, sobretudo no que
se refere ao acolhimento, à integralidade e ao cuidado e aten-
ção à saúde, e se espera da educação física, articulada com as
demais profissões da saúde, a capacidade de reinventar uma
saúde mais digna e condizente com as necessidades dos indi-
víduos e coletivos.
Nesta perspectiva, as práticas corporais têm potencial para
intervir no processo saúde-doença de modo mais articulado

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com os princípios do SUS, podem compor de modo mais amplo
com estratégias de cuidado pertinentes ao contexto da atenção
básica em saúde. Entretanto, a discussão ainda foi pouco ex-
plorada e a literatura sobre o tema, como vimos acima, ainda é
escassa. Há pouca referência sistematizada em livro2 que
disponibilize informação e conhecimento relativos à origem
desse conceito e, menos ainda, sobre a sistematização de co-
nhecimento a ser desenvolvido nos cursos de graduação e de
pós-graduação correlatos a fim de permear e implicar de modo
mais intenso o cotidiano dos serviços públicos de saúde.
Nesse sentido, nos propusemos a realizar um “seminá-
rio-livro” com o objetivo de disponibilizar aos profissionais de
saúde e às instituições de ensino das quatorze subáreas da saúde
material audiovisual/bibliográfico3 produzido a partir dos de-
bates e textos decorrentes. É uma produção que tem potencial
para subsidiar discussões sobre formação, intervenção e pesquisa
no âmbito da graduação, da especialização e da pós-graduação
na interface entre educação física e saúde coletiva, tendo como
ponto de confluência a discussão sobre práticas corporais no
contexto da saúde.
Os oito textos desta obra estão divididos em quatro par-
tes, seguindo a lógica de organização dos debates no seminá-
rio, ou seja, dois palestrantes/escritores para cada uma das qua-
tro mesas. São estudiosos da Educação Física e da Saúde Co-
letiva que têm em comum as ciências humanas e sociais como
fundamento teórico-conceitual e metodológico para o desen-
volvimento de suas ideias e investigações. As mesas foram com-
postas a partir de eixos temáticos diretamente relacionados ao

2 Um das interessantes obras publicadas exclusivamente sobre o tema


é a coletânea Práticas corporais, organizada por Ana Márcia Silva & Iara
Damiani (2005).
3 Durante o evento houve transmissão on-line ao vivo de cada uma das
mesas. As falas e debates foram posteriormente editados em material
audiovisual, disponíveis on-line nos sítios dos grupos de pesquisa que partici-
pam do projeto.

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escopo do projeto de pesquisa interinstitucional que deu ori-
gem ao “seminário-livro”: 1) POLÍTICAS DA VIDA E PEDAGOGIAS
DO CORPO; 2) PERSPECTIVAS DE PESQUISA EM SAÚDE; 3) PRÁTICAS
CORPORAIS E SUS; 4) EDUCAÇÃO FÍSICA & SAÚDE COLETIVA.
A primeira mesa foi composta pelos professores Selvino
Assmann, da Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil),
e Rui Machado Gomes, da Universidade de Coimbra (Portu-
gal). A segunda mesa contou com a professora Denise Gastaldo,
da Universidade de Toronto (Canadá), e o professor Eduardo
Passos, da Universidade Federal Fluminense (Brasil). Para a
terceira mesa foram convidados os professores Tadeu João Ribei-
ro Baptista, da Universidade Federal de Goiás (Brasil), e Luis
Fernando Bilibio, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos e
do Grupo Hospitalar Conceição (Brasil). Para finalizar o even-
to, participaram da última mesa os professores Valter Bracht,
da Universidade Federal do Espírito Santo (Brasil), e Alcindo
Ferla, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil).
Essa subdivisão de temas e a posterior escolha dos
debatedores/autores não foram aleatórias, elas traduzem a pre-
ocupação dos grupos envolvidos no projeto em situar e apro-
fundar o tema das práticas corporais em um “mapa vivo” —
que o tempo todo se modifica e se reinventa — buscando
resgatar, de um lado, a história dos conceitos, das políticas e
das pedagogias, e de outro, as decorrências no âmbito das
metodologias de pesquisa, da formação profissional e do cam-
po de atuação. Assim, cada fala foi concebida; posteriormente,
cada capítulo foi definido; e o livro, por fim, ganhou forma.
No capítulo “Por uma política da vida a partir da relação
entre corpo e vida” Selvino Assmann, a partir da filosofia, apre-
senta uma série de reflexões sobre os conceitos de corpo e vida.
O autor situa, através de uma visão panorâmica, as políticas do
corpo na história ocidental indicando que na contempora-
neidade existem sinais de crítica ao dualismo no qual se fun-
damentaram tais políticas; além de indícios de que os exercí-
cios espirituais estão sendo substituídos por exercícios físicos.

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Na sequencia o autor discute o conceito de vida a partir, prin-
cipalmente, de Friedrich Nietzsche, Hannah Arendt e de
Michel Foucault, embora Giorgio Agamben e Roberto Esposito
também sejam apresentados como importantes representantes
desse debate na atualidade. Após essa trajetória conceitual,
Assmann nos convida para uma reflexão final sobre as políti-
cas da vida, mesmo reconhecendo a impossibilidade de defini-
ção sobre o que é a vida, a partir de uma sofisticada elaboração
em torno do conceito de biopolítica envolvendo as perspectivas
de Michel Foucault e Giorgio Agamben. Ao final, Assmann,
na companhia de Agamben, enfatiza a importância que o con-
ceito de potência tem para pensarmos uma nova política da
vida e, assim, uma nova ética para a política da saúde.
Em “A política da vida e a saúde”, Rui Machado Gomes
apresenta uma visão crítica panorâmica da corporeidade con-
temporânea sustentada, de um lado, na recusa ao pensamento
utilitário dominante (“exercitação do corpo na melhoria da
saúde das populações”) e, por outro, no elogio ao “inutilitaris-
mo” propulsor de novas formas de existência (“experiências
que envolvam dispêndio de vida, exposição ao risco e noma-
dismo”). O texto tem cinco grandes seções, por meio das quais
discute o corpo objetivo da ciência em oposição ao corpo sub-
jetivo ficcional das artes; o corpo como lugar de inscrição de
discursos, a noção de risco como ordenadora da relação dos
sujeitos com seu próprio corpo, as formas de governo dos cor-
pos baseadas no controle voluntário que cada um exerce sobre
si mesmo (autogoverno) e, por fim, o corpo como lugar de
“inculcação” de novas (e conflitantes) subjetividades, nas quais
não há espaço para “uma essência ontológica”. Gomes vale-se
de autores clássicos como Mauss, Jameson, Le Breton, Lipo-
vetsky e Giddens para sustentar seus argumentos, mas pre-
pondera a abordagem biopolítica de cunho foucaultiano em
sua análise sobre as práticas corporais contemporâneas.
Denise Gastaldo, Lilian Magalhães & Christine Carrasco,
autoras do capítulo “Mapas Corporais Narrados: um método

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para documentar trajetórias de saúde, resiliência, adoecimento
e sofrimento”, discutem o método que desenvolveram para pes-
quisar como os trabalhadores latino-americanos “in-documen-
tados” no Canadá pensam suas próprias vidas e identidades. As
autoras apresentam experiências que inspiraram a criação do
método e suas premissas ontoepistemológicas. Valendo-se da
experiência de projeto de pesquisa desenhado especificamente
para tratar desta temática, discutem possibilidades de uso, de-
safios que se impõem e cuidados éticos a serem observados na
utilização do método “mapas corporais narrados” especialmente
para estudos relacionados aos determinantes sociais de saúde.
No capítulo “Pistas do método da cartografia na pesqui-
sa em saúde: o problema do método e a aposta no comum”,
Eduardo Passos convoca o leitor para uma pergunta de natu-
reza metodológica acerca do modo de fazer ou de estar entre
os territórios identitários do saber, a fim de acessarmos o que
ele denomina de “plano comum de forças”, que se constituem
entre os diferentes domínios do conhecimento. Diante do cam-
po denominado saúde coletiva/saúde pública, Passos enfatiza
a necessidade de estarmos atentos ao método de forma a privi-
legiar, também na pesquisa, o caráter coletivo e o caminhar
participativo, tal qual a aposta democratizante do Sistema Único
de Saúde (SUS). Para tanto, o autor propõe uma “transversão
metodológica” a fim de garantir a sintonia entre o processo de
produção da pesquisa e seu objeto — a produção de saúde —
inspirado, entre outros autores, por Deleuze & Guattari, es-
pecialmente a obra Mil platôs, de 1995.
Em “Esquecimento ativo e práticas corporais em saúde”,
Luiz Fernando Silva Bilibio, provocativamente, pergunta se as
práticas corporais vêm sendo significadas na direção da afir-
mação da vida. Relata uma experiência de cuidado em saúde
mental com pessoas que fazem uso abusivo-prejudicial de ál-
cool e outras drogas, para então instigar o debate a respeito das
práticas corporais a partir de um “conceito-ferramenta” —
esquecimento ativo —, de Friedrich Nietzsche (1844-1900),

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que problematiza a relação entre moral, conhecimento e vida.
Inicialmente o autor faz uma breve contextualização a respei-
to das drogas no campo da saúde mental. Em seguida, inspira-
do em um “caso-pensamento”, Bilibio leva o leitor ao cotidia-
no do trabalho em saúde com objetivo de colocá-lo diante dos
dilemas e desafios da atenção em saúde e, ao mesmo tempo,
sensibilizá-lo para a possibilidade de reconfigurar as práticas
corporais na produção do cuidado em saúde.
No capítulo “Práticas Corporais e SUS: tensões teóricas
e práticas”, Jéssica Martinez e colaboradores4 da Faculdade de
Educação Física da Universidade Federal de Goiás (UFG)
analisam como os confrontos aparecem nos marcos legais e nos
documentos oficiais orientadores das políticas públicas de saúde
que pautam as “práticas corporais/atividade física” no âmbito
do governo federal e buscam dialogar com o processo de for-
mação do curso de bacharelado em Educação Física da UFG,
em especial com as atividades relacionadas ao ensino, ao está-
gio e às atividades de extensão desenvolvidas nas redes municipal
e estadual de saúde daquele estado. A partir de consultas no
portal do Ministério da Saúde e das publicações da Secretaria
de Vigilância em Saúde os autores identificaram oito documen-
tos que citam as práticas corporais e/ou atividade física que
foram detalhadamente analisados a fim de subsidiar os argu-
mentos para a sistematização do texto.
“Educação Física & Saúde Coletiva: reflexões pedagógi-
cas” foi o título escolhido por Valter Bracht para traçar uma
série de reflexões sobre o tema da saúde relacionado à educa-
ção física como prática pedagógica e que envolve as práticas
corporais no âmbito da instituição educacional. Inicialmente,
o autor situa o leitor sobre a herança (em relação à saúde)
recebida pela educação física escolar, tradicionalmente mais
centrada nos pressupostos fisiológicos do que pedagógicos. A

4 Juliana Alves Carneiro, Mário Hebling Campos, Priscilla de Cesaro


Antunes, Ricardo Lira de Rezende Neves e Tadeu João Ribeiro Baptista.

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partir daí, Bracht mostra que um novo discurso sobre a saúde
começou a ser construído no campo da educação física a partir
da década de 1980, o qual enfatiza o tema da saúde como
uma questão pedagógica e que, ao mesmo tempo, advoga a
necessidade de ampliação da noção de saúde. É em torno desse
novo discurso que o autor foca suas análises alertando para os
riscos envolvidos na ampliação generalizada desse conceito, pois
poderia obscurecer as fronteiras entre o que são (ou não são)
ações relativas à saúde. Nessa direção, Bracht aponta como di-
ferentes propostas contemporâneas dessa área tratam a temáti-
ca em questão e lança indagações sobre a ênfase no trabalho
conceitual identificado nessas abordagens.
No capítulo “Educação Física & Saúde Coletiva: o que
pode a ideia da integralidade na produção de mudanças no traba-
lho e na educação dos profissionais?”, Alcindo Ferla e colabora-
dores5 propõem uma reflexão acerca das contribuições da saúde
coletiva, como campo interdisciplinar de saberes e práticas,
para a formação em educação física. Ao longo do texto percor-
rem alguns caminhos que partem de uma análise sobre a educa-
ção das profissões da saúde, que têm sido feitas por uma rede
acadêmico-científica envolvida em projetos de cooperação e
pesquisas com gestores do Sistema Único de Saúde (SUS),
chegando aos Estágios e Vivências na Realidade do SUS (VER-
-SUS) e outros “casos” da educação física no campo da saúde.
O objetivo é apresentar as possibilidades em saúde coletiva no
sentido de contribuir com as análises sobre o sistema de saúde,
em particular na organização do trabalho, tendo em vista a cres-
cente incorporação de profissionais de educação física no SUS.
São oito textos que compõem, juntamente com o mate-
rial audiovisual, os produtos que marcaram o primeiro semi-
nário de uma série de três previstos6 a serem realizados dentro

5 Alessandra Xavier Bueno e Rogério Silva de Souza.


6 O II Seminário acontecerá em Vitória, na Universidade Federal do
Espírito Santo, nos dias 5 e 6 de novembro de 2013 e a terceira edição será em
São Paulo, em 2014, data a confirmar.

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do período de vigência do projeto de pesquisa interinstitucional
que os grupos de pesquisa da UFRGS; da USP e da Ufes vêm
desenvolvendo desde novembro de 2010. Acreditamos que
esta primeira “leva” tem potencial para alavancar, e quem sabe
até mesmo subsidiar, as discussões sobre formação, interven-
ção e pesquisa no âmbito da graduação e da pós-graduação no
que se refere às práticas corporais no campo da saúde.

Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde
(PNPS). Brasília: Secretaria de Vigilância em Saúde, 2006a.
—. Política nacional de práticas integrativas e complementares no SUS –
PNPIC-SUS. Departamento de Atenção Básica, Secretaria de
Atenção à Saúde, Ministério da Saúde. Brasília: Ministério da
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