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REVISÃO | REVIEW 281

O ensino da saúde coletiva no Brasil: uma


revisão integrativa
Teaching public health in Brazil: an integrative review

João Agostinho Neto1, Patricia Soares Cavalcante1, José Damião da Silva Filho1, Francisco
Diogenes dos Santos2, Ana Maria Peixoto Cabral Maia1, Adriana Rocha Simião1

DOI: 10.1590/0103-11042022E624

RESUMO O ensino da saúde coletiva no Brasil contribui para o desenvolvimento técnico-científico


do campo, transcendendo a mera abordagem de programas de saúde de forma fragmentada. Assim,
objetivou-se neste estudo compreender a operacionalização do ensino em saúde coletiva, na graduação e
pós-graduação stricto sensu, no Brasil. Trata-se de uma revisão integrativa de literatura a partir da busca
nas bases de dados PubMed, Scopus, PsycINFO, Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências
da Saúde (Lilacs), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Centro Latino-Americano e do Caribe
de Informação em Ciências da Saúde (Bireme). Foram analisados 21 artigos por título, autor, ano, carac-
terização e/ou objetivo, metodologia e principais resultados. Conclui-se que a institucionalização de
cursos de pós-graduação no campo da saúde coletiva seguiu o movimento educacional da universidade
e a Reforma Sanitária Brasileira, ao passo que cursos de graduação só ocorreram na última década. O
marco constitucional de 1988 define o ordenamento de recursos humanos para a formação profissional
no e para o sistema de saúde no País.

PALAVRAS-CHAVE Educação superior. Educação de pós-graduação. Saúde coletiva.

ABSTRACT The teaching of public health in Brazil contributes to the technical-scientific development of
the field, transcending the mere approach of health programs in a fragmented way. Thus, the objective of this
study was to understand the operationalization of teaching in public health, in the stricto sensu undergradu-
ate and graduate programs, in Brazil. This is an integrative literature review based on a search in PubMed,
SCOPUS, PsycINFO, Latin American and Caribbean Health Sciences (LILACS), Scientific Electronic Library
Online (SciELO) databases, and the Latin American and Caribbean Center on Health Sciences Information
(BIREME). Twenty-one articles were analyzed by title, author, year, characterization and/or objective,
methodology, and main results. It is concluded that the institutionalization of graduate courses in the field
of public health followed the educational movement of the university and the Brazilian Health Reform, while
undergraduate courses only took place in the last decade. The 1988 constitutional framework defines the
ordering of human resources for professional training in and for the country’s health system.

KEYWORDS College education. Graduate education. Collective health.

1 UniversidadeFederal do
Ceará (UFC) – Fortaleza
(CE), Brasil.
anamariacabral@yahoo.
com.br

2 Universidade Federal do

Ceará (UFC) – Sobral (CE),


Brasil.

Este é um artigo publicado em acesso aberto (Open Access) sob a licença Creative
Commons Attribution, que permite uso, distribuição e reprodução em qualquer
meio, sem restrições, desde que o trabalho original seja corretamente citado. SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 46, N. Especial 6, P. 281-297, Dez 2022
282 Agostinho Neto J, Cavalcante PS, Silva Filho JD, Santos FD, Maia AMPC, Simião AR

Introdução desenvolvimento técnico-científico do campo,


no aditamento de estudos, métodos e técni-
A saúde coletiva tem sua base histórica na me- cas que subsidiem políticas de saúde, práticas
dicina social da França, Inglaterra e Alemanha, profissionais e serviços do sistema de saúde7.
configurando-se como campo científico e um Os cursos de pós-graduação no campo da
âmbito de práticas de caráter interdisciplinar saúde coletiva foram os espaços tradicionais
no Brasil1. Saúde coletiva é um termo espe- consolidados e reconhecidos nacional e inter-
cificamente brasileiro, que emergiu desde nacionalmente para o ensino e a qualificação
1979 influenciado pelos preceitos da Reforma dos sujeitos5. Os cursos no âmbito da saúde
Sanitária Brasileira (RSB), constituindo con- coletiva apresentam-se em modalidades lato
ceito, configuração, movimento político e sensu (residências e especializações), stricto
científico no País2. sensu (mestrados e doutorados) e com amplifi-
Enquanto configuração do campo, durante cações para a conformação do tipo graduação.
seu percurso, a saúde coletiva ganhou três Um total de 97 programas e 136 cursos de
dimensões concorrenciais, intra e interdimen- pós-graduação em saúde coletiva foram ava-
sões: epidemiológica; das ciências sociais e liados e reconhecidos pela Coordenação de
humanas; do planejamento, políticas e gestão Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
dos serviços de saúde2. A concorrência e os (Capes) no último quadriênio 2013-2016.
tensionamentos no campo acontecem pela Desse total, os programas de pós-graduação
busca e domínio do monopólio de seus capitais, apresentaram-se como mestrado acadêmico
cuja posse garante vantagens específicas no (16), doutorado acadêmico (3), mestrado e
jogo de poder3. doutorado acadêmico (36), mestrado profis-
Como campo científico e no âmbito de suas sional (39) e mestrado e doutorado profissio-
práticas, a saúde coletiva não possui susten- nal (3). Para os cursos, os referenciais foram
tação para o modelo biomédico hegemônico, para mestrado acadêmico (52), doutorado
substancialmente presente nas formações de acadêmico (39), mestrado profissional (42)
profissionais de saúde4; uma vez que sua cons- e doutorado profissional (3).
tituição se encontra na interseção das ciências Quanto à graduação, os cursos acontecem
da saúde e das ciências sociais, de natureza na forma de bacharelado e com variadas
epistemológica distinta e produção de conhe- nomenclaturas. Foi encontrado um total de
cimento aplicável por diversos sujeitos, mas 24 cursos, com registro no Ministério da
direcionada a um pensar-fazer-ser práxico5. Educação (MEC) e distribuídos pelas cinco
Nesse sentido, houve um processo de re- regiões do País8. A discussão do ensino da
orientação da formação dos profissionais saúde coletiva na graduação é uma temática
do campo, com a aprovação das Diretrizes que remonta à proposta da RSB, uma vez que
Curriculares Nacionais (DCN) para os cursos o campo já possui aporte científico, histórico,
de graduação, favorecendo maiores compro- conceitual, teórico, epistemológico, metodo-
missos da universidade com o Sistema Único de lógico, técnico e operacional suficiente para
Saúde (SUS), estando mais voltado ao processo sustentar um processo de profissionalização
saúde-doença-cuidado como significado para para além do sanitarismo4,5.
a compreensão da saúde como direito de ser6. Em vista disso, o ensino da saúde coleti-
Desse modo, o perfil para qualificação pro- va objetiva garantir aos sujeitos envolvidos
fissional deve envolver um ensino generalista, nos processos formativos aportes teóricos,
humanista, crítico-reflexivo e apto a práticas metodológicos e tecnologias fundamentais
para o exercício no âmbito do campo e suas ao exercício profissional, trazendo para os
dimensões4, estando o ensino da saúde cole- espaços de ensino-aprendizagem a identifi-
tiva com a incumbência de contribuir para o cação e a problematização da realidade social,

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por meio de suas dimensões fundantes, e como a concepção do ensino em Saúde Coletiva no
campo de saberes e práticas sobre os processos Brasil?’; ‘Qual a caracterização do ensino em
saúde-doença-cuidado. Saúde Coletiva no Brasil?’, ‘Quais as perspecti-
Enquanto a saúde pública é usualmente vas e desafios do ensino em Saúde Coletiva no
relacionada com o serviço público, a saúde Brasil?’. Tais perguntas buscam transcender
coletiva faz alusão ao movimento sanitário a mera abordagem de programas de saúde de
brasileiro e à saúde enquanto direito garantido forma fragmentada.
pela Constituição Federalde 1988. Um estudo Para seleção dos estudos, foram utilizados
abordando uma nomenclatura genuinamente os seguintes critérios de inclusão: artigos ori-
brasileira, visando compreender a operacio- ginais de trabalhos que abordassem a opera-
nalização do ensino na saúde coletiva, trans- cionalização do ensino em saúde coletiva no
cendendo a mera abordagem de programas de Brasil – conceito, caracterização, perspecti-
saúde de forma fragmentada, faz-se relevante vas e desafios; trabalhos cujos objetivos se
pela necessidade do conteúdo em discussão reportassem à operacionalização do ensino
para o campo e do movimento. em saúde coletiva no Brasil; e trabalhos sobre
O objetivo do estudo é, portanto, compre- percepções quanto à evolução do ensino em
ender a operacionalização do ensino em saúde saúde coletiva. O levantamento bibliográfi-
coletiva, na graduação e pós-graduação stricto co compreendeu trabalhos publicados nos
sensu, no Brasil, destacando sua concepção, idiomas português e inglês, sem delimitação
caracterização, perspectivas e desafios. temporal dos artigos.
Foram excluídos: trabalhos duplicados, disser-
tações, trabalhos de conclusão de curso – disser-
Material e métodos tações, monografias, teses –; editorais, relatos de
experiência, resumos de seminários, congressos;
Trata-se de uma revisão integrativa da literatu- documentos, artigos de opinião e aqueles não
ra sobre operacionalização do ensino em saúde encontrados na íntegra. A busca da literatura e a
coletiva, na graduação e pós-graduação stricto seleção das publicações foram realizadas por, no
sensu, no Brasil. Esse tipo de revisão busca a mínimo, dois revisores, de forma independente,
sistematização do conhecimento científico dis- nas seguintes bases de dados: PubMed, Scopus,
ponível na literatura, de modo que aproxima o PsycINFO, Literatura Latino-americana e do
pesquisador do problema que deseja apreciar, Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), Scientific
possibilitando conhecer, ao longo do tempo, Electronic Library Online (SciELO) e Centro
a evolução do tema e visualizar novas opor- Latino-Americano e do Caribe de Informação
tunidades, lacunas e questões de pesquisa9. em Ciências da Saúde (Bireme).
Para construção desta revisão, seis etapas Os descritores utilizados para busca foram
foram seguidas, a saber: I) elaboração da per- selecionados a partir do vocabulário estrutura-
gunta norteadora da pesquisa; II) busca ou do Descritores em Ciências da Saúde (DeCS),
amostragem na literatura, com estabeleci- em português, inglês: ‘educação superior’,
mento de critérios de inclusão/exclusão dos ‘educação de pós-graduação’ e ‘saúde coleti-
artigos; III) coleta de dados; IV) análise crítica va’, ‘college education’, ‘graduate education’,
dos estudos incluídos na revisão integrativa; ‘collective health’. Tais descritores foram com-
V) interpretação dos resultados; e VI) apre- binados por meio dos operadores booleanos
sentação da revisão integrativa10. (AND e OR).
O estudo partiu da seguinte questão gera- A coleta de dados se deu entre os meses
dora: ‘Como é a operacionalização do ensino de julho e agosto de 2021, com auxílio de
em Saúde Coletiva no Brasil?’. E, para atingir uma planilha do Excel®, com as seguintes
seu objetivo, as questões norteadoras: ‘Qual informações: título do artigo, autores, ano,

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caracterização ou objetivo do estudo, contexto, está apresentada no diagrama (figura 1), com a
metodologia e principais resultados do estudo. descrição das etapas de busca e o quantitativo
A sistematização da seleção das publicações de publicações em cada base de dados.

Figura 1. Descrição da recuperação e seleção de estudos

PubMed Scopus Lilacs Bireme PsycINFO SciELO


Identificação
N=45 N=157 N=03 N=17 N=34 N=36
N= 292
Elegibilidade

Título e resumo em aproximação com o tema em inglês ou português, com acesso


aberto, texto completo ou relevância científica.
N=63
Seleção

Estudos excluídos por Estudos excluídos por não


não envolver o ensino da Estudos excluídos conter o texto completo em
saúde coletiva no Brasil por duplicidade consonância com a temática.
N=04 N=09 N=29
Incluídos

Total de estudos incluídos na revisão integrativa


N=21

Fonte: elaboração própria.

Realizou-se, inicialmente, a leitura dos a exploração do conteúdo, bem como o tra-


títulos e dos resumos de todas as 292 publi- tamento dos resultados encontrados e sua
cações encontradas pelos revisores de forma interpretação. Além disso, foi efetuada nessa
independente. Após essa etapa, foram excluí- etapa a organização das informações, além da
das 229 publicações de acordo com os critérios sistematização das ideias iniciais a partir da
de inclusão e exclusão. Posteriormente, foi leitura ‘flutuante’ dos resultados, enfatizando
feita a leitura, na íntegra, das 63 publicações, elementos principais, a fim de identificar as
atentando novamente para os critérios de categorias possíveis para análise. Na segunda
inclusão e exclusão. Dessa forma, foram se- etapa, que constitui a codificação, a classi-
lecionadas 21 publicações para compor esta ficação e a agregação dos resultados, além
revisão integrativa. da elaboração das categorias empíricas, foi
As publicações incluídas foram então realizada a exploração do conteúdo; emer-
examinadas de acordo com análise de con- gindo as seguintes categorias: Concepção
teúdo temática. Na pré-análise, foi realizada do ensino em Saúde Coletiva no Brasil: do

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O ensino da saúde coletiva no Brasil: uma revisão integrativa 285

Campo aos programas de pós-graduação; Resultados


Caracterização do ensino em Saúde Coletiva
no âmbito da graduação; Caracterização do Foram selecionados 21 artigos de um total de
ensino em Saúde Coletiva na Pós-Graduação 292. Os dados bibliométricos estão sumariza-
stricto sensu; Perspectivas e Desafios para o dos no quadro 1.
ensino em Saúde Coletiva.

Quadro 1. Caracterização dos estudos em relação aos títulos, autores, ano de publicação e principais resultados

Título Autores e Ano Objetivo Principais resultados


Team-Based Silva Junior GB et al. Descrever uma experiência bem-sucedida de TBL em O aprendizado baseado em equipe (TBL) foi aplicado
Learning: (2017)10 um programa de pós-graduação em saúde coletiva em uma turma com 22 alunos da disciplina ‘Pesquisa
Successful Quantitativa em Saúde’ do programa de pós-gradu-
Experience in ação em saúde coletiva (Mestrado) da Universidade
a Public Health de Fortaleza, Brasil, em 2016. A disciplina foi estru-
Graduate Program turada em 8 aulas, abordando temas de pesquisa
quantitativa.
Estudantes Castellanos MEP et al. Caracterizar o perfil dos alunos ingressantes em Trata-se de uma investigação exploratória, com
de graduação (2013)11 cursos de graduação em saúde coletiva ofertados em emprego de abordagem metodológica quantitativa,
em Saúde universidades federais dos estados do Acre, Bahia, baseada em dados primários obtidos através da
Coletiva: perfil Minas Gerais, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro e aplicação de um questionário semiestruturado aos
sociodemográfico Rio Grande do Norte alunos matriculados no primeiro semestre de 2010,
e motivações nos cursos de graduação em saúde coletiva de insti-
tuições públicas de ensino.
Formação em Guimarães DA, Silva Refletir sobre alternativas em relação à graduação Trata-se de uma discussão conceitual sobre o que
ciências da saúde: ES. (2010)12 nas ciências da saúde e analisar de que maneira esta compreendemos por formação e sua relação com o
diálogos em formação se inscreve no contexto do ensino superior ensino superior no Brasil com vistas à discussão da
Saúde Coletiva e formação em saúde, especificamente com o enfoque
a educação para a da saúde coletiva.
cidadania.
Formação Corrêa GT, Ribeiro Analisar os currículos dos programas de pós-gradua- Foram selecionados os cursos cadastrados na seção
pedagógica na VMB. (2013)13 ção stricto sensu em saúde coletiva, a fim de identifi- ‘Relação de Cursos Recomendados e Reconhecidos’
pós-graduação car disciplinas/práticas de formação pedagógica que possuíam caderno de indicadores disponíveis.
stricto sensu em Foi definido como disciplinas/práticas de formação
Saúde Coletiva pedagógica aquelas que explicitamente apresenta-
vam como objetivo formar o pós-graduando para o
exercício da docência.
Objetivos edu- Mamede W, Abbad Identificar o perfil dos objetivos educacionais, a fim A análise documental orientada pela taxonomia de
cacionais de um GS. (2018)14 de avaliar sua adequação teórica ao referencial dos Bloom e sua consistência com as metas da política de
mestrado profis- mestrados profissionais em Saúde Coletiva flexibilização da pós-graduação, bem como na pro-
sional em Saúde dução de material útil à análise de outros programas
Coletiva: avaliação semelhantes e à reflexão sobre os mestrados profis-
conforme a taxo- sionais em geral.
nomia de Bloom
A questão curri- Nunes ED et al. Situar as linhagens teóricas da análise dos currículos, A metodologia documental/bibliográfica, utilizando
cular para o plano (2010)15 a fim de estabelecer um quadro de referência teórico- pesquisas já sistematizadas, em especial as que
de formação em -conceitual para o estudo dos currículos da saúde datam de 1960-1979, e de levantamentos nos ban-
Saúde Coletiva: coletiva nos cursos de pós-graduação stricto sensu. cos de dados Lilacs, Medline, Sociological Abstracts
aspectos teóricos (1980-2000), totalizando 21 documentos que rela-
tam experiências de ensino em saúde.

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Quadro 1. (cont.)

Título Autores e Ano Objetivo Principais resultados


Produção científica Barros AJD. (2006)16 Descrever o processo de avaliação dos cursos de A avaliação da pós-graduação é realizada levando
em Saúde Coletiva: pós-graduação do País pela Capes e discutir alguns em conta a estrutura do programa, corpo docente e
perfil dos perió- aspectos relevantes para a área da saúde coletiva, em discente, atividades de pesquisa e formação, teses e
dicos e avaliação especial no que se refere à valorização da produção dissertações e produção intelectual. A avaliação dos
pela CAPES científica. programas dar-se a num ciclo trienal.
Pós-Graduação Novaes HM D et Revisão da literatura e análise documental sobre a Diálogo comum entre as políticas de saúde e educa-
senso estrito em al.(2018)17 pós-graduação em saúde coletiva no Brasil no perío- ção no Brasil tomando como referência a Constituição
Saúde Coletiva e o do de 1990-2017. de 1988 e sua interface com a pós-graduação senso
Sistema Único de estrito no período de 1990-2017, em particular a
Saúde Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PGSC) e o SUS,
utilizando o modelo de análise das políticas ‘coliga-
ções de causa ou interesse’ de Paul Sabatier.
Relação teoria- Hortale VA et al. Análise das semelhanças e diferenças na relação Foram analisados 48 documentos que ofereciam
prática nos cursos (2017)18 teoria e prática no Mestrado Acadêmico (MA) e às Instituições de Ensino Superior (IES) orientações
de mestrado Mestrado Profissionalizante (MP) em saúde coletiva. sobre a organização de cursos de mestrado, oriundos
acadêmico e pro- e selecionados de 77 Programas de saúde coletiva
fissional na área da em funcionamento entre 2002 e 2012, além de dez
Saúde Coletiva entrevistas com informantes-chave da área de avalia-
ção da Capes.
Trajetórias Ribeiro ML, Cunha MI. Compreender, a partir das trajetórias de formação de Foi utilizada a análise de conteúdo em 16 depoi-
da docência (2010)19 professores em programa de PGSC, se esse espaço mentos, dentre alunos, ex-alunos e professores dos
universitária em corresponde a um lugar de formação que tem a programas de pós-graduação stricto sensu em saúde
um programa de docência como meta. coletiva de uma universidade brasileira, produzidos
pós-graduação em por entrevistas semiestruturada. Além do uso de
Saúde Coletiva documentos legais que tratam da formação do pro-
fessor universitário no Brasil; os projetos pedagógicos
dos Programas e Cursos, seus currículos e as revistas
publicadas pelo Programa. A abordagem de pesquisa
foi com base no estudo de caso de natureza quali-
tativa.
A pós-graduação Nunes ED et al. Análise das trajetórias históricas do Campo da saúde Levantamento de informações pertinentes à pós-
em Saúde Coletiva (2010)20 coletiva com ênfase para o ensino da pós-graduação -graduação no Brasil com a inclusão de dados gerais
no Brasil: trajetória como prática de saúde e da saúde coletiva no Brasil. sobre a área da saúde, melhor contextualizando a
pós-graduação em saúde coletiva.
Desafios do Ensino Costa HOG, Rangel Caracterizar o campo da saúde coletiva e as tentati- Situa a emergência do campo e os desafios que se
da Saúde Coletiva ML. (1997)21 vas de institucionalização de saberes e práticas que colocam para a incorporação do seu ensino na gra-
na graduação dos definem esse campo. duação dos profissionais de saúde, desde a década
profissionais de de 80, e discute as perspectivas do ensino da saúde
saúde coletiva na Graduação a partir do enfoque sobre o
processo de trabalho em saúde e do fortalecimento
de práticas desenvolvidas em parceria entre universi-
dade, serviços de saúde e comunidade.
Graduação em Bosi MLM, Paim JS Artigo de opinião que discute os subsídios importan- O texto faz uma discussão sobre a necessidade da
Saúde Coletiva: (2009)22 tes na construção do ensino da saúde coletiva formação de profissionais da saúde coletiva e que
subsídios para um esses sejam atores estratégicos dentro do SUS. Um
debate Necessário profissional que não se sobreponha aos demais
integrantes da equipe, mas que ele se associe aos
trabalhadores de forma orgânica.
Graduação em Lorena AG. et al. Realizar um levantamento nacional dos egressos da Realizado uma investigação analítica descritiva, por
Saúde Coletiva (2016)23 graduação em saúde coletiva no Brasil. Identificando meio de um estudo longitudinal de seguimento. Foi
no Brasil: onde e analisando as áreas de atuação, atividades desen- enviado, via e-mail, aos egressos de universidades
estão atuando os volvidas, faixa salarial, vínculo empregatício e outros que oferecem o curso de pós-graduação em saúde
egressos dessa aspectos relacionados ao mercado de trabalho do coletiva um questionário contendo informações
formação? bacharel em saúde coletiva. sobre a graduação, local de trabalho e sobre a pós-
-graduação.

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O ensino da saúde coletiva no Brasil: uma revisão integrativa 287

Quadro 1. (cont.)

Título Autores e Ano Objetivo Principais resultados


Ensino de pós-gra- Barata RB, Santos RV. Breve histórico do desenvolvimento da pós-graduação O estudo faz uma análise dos programas e cursos de
duação em Saúde (2013)24 na área e o retrato atual dos programas. Discute um saúde coletiva atuantes no Brasil credenciados pela
Coletiva: situação conjunto de desafios que o Campo como um todo Capes, destacando o tipo de curso (mestrado ou
atual e desafios do tem a enfrentar para prosseguir em seu crescimento. doutorado acadêmico/ profissional), unidade da fede-
futuro ração e região onde é localizado o curso, segundo tipo
de instituição promotora e nota obtida pelo programa
de pós-graduação. Também traz uma discussão sobre
o futuro da pós-graduação senso estrito no século
XXI, no que se refere às desigualdades regionais, a
expansão das atividades para outros cenários que não
apenas as instituições de ensino superior, assim como
a interlocução internacional para uma excelência
nacional.
O ensino da Saúde Gonçalves FG, Car- Analisar se as ementas de saúde coletiva do novo Estudo qualitativo em duas etapas: análise documen-
Coletiva na Uni- valho BG, Trelha CS. currículo contemplam a formação de competências tal das ementas e de conteúdo de entrevistas com
versidade Estadual (2012)25 previstas nas diretrizes curriculares, bem como avaliar graduando no último semestre do curso, que já havia
de Londrina: da a percepção dos estudantes sobre sua formação para cumprido o estágio obrigatório em saúde coletiva. A
análise documental atuar na atenção básica. análise dos planos foi alocada em eixos de acordo em
à percepção dos subcampos da saúde coletiva.
estudantes
Graduação em Saú- Bosi MLM, Paim JS Problematizar a saúde coletiva como âmbito de pro- Análise da trajetória da formulação dos cursos de saú-
de Coletiva: limites (2010)5 fissionalização, sistematizando alguns fundamentos de coletiva e, mais recentemente, sua emergência nas
e possibilidades teóricos, sociais e ético-políticos de uma formação em IES brasileiras a partir de projetos de cursos de gradu-
como estratégia de nível de graduação. ação e pós-graduação, lato e stricto sensu, e políticas
formação profis- de inclusão social e à expansão do ensino superior.
sional
O campo da Saúde Osmo A, Schraiber LB. Compreender a saúde coletiva e o que a define como Realizou-se uma recuperação de natureza teórica das
Coletiva no Brasil: (2015)26 conhecimento e atuação na sociedade. considerações históricas e epistemológicas desenvol-
definições e deba- vidas por pesquisadores dedicados a caracterizá-la
tes em sua consti- como campo científico e social. Com base na produ-
tuição. ção bibliográfica, foi realizada uma breve caracteriza-
ção da emergência da saúde coletiva.
Pós-graduação em Nunes, ED. (2005)27 Abordar a constituição do campo da saúde coletiva Foram trazidas informações sobre a situação dos cur-
Saúde Coletiva no no Brasil em três aspectos: origens da saúde coletiva, sos de pós-graduação e da estrutura curricular, consi-
Brasil: histórico e aspectos históricos da saúde no Brasil, a saúde coleti- derando a saúde coletiva como um campo, dentro da
perspectivas va como prática pedagógica e perspectivas do campo. concepção dada a essa noção por Pierre Bourdieu.
Saúde Coletiva: Paim JS, Almeida Filho Analisar os principais elementos de discurso dos mo- Trata-se de ensaio que apresenta um estudo explora-
uma “nova saúde N. (1998)28 vimentos ideológicos que historicamente construíram tório da retórica paradigmática da saúde.
pública” ou campo o campo social da saúde, particularmente na segunda
aberto a novos metade do século XX.
paradigmas?
Graduação em Paim JS, Pinto ICM. Analisar, criticamente, a construção da saúde coletiva Trata-se de ensaio que apresenta um estudo explora-
Saúde Coletiva: (2013)4 enquanto campo científico e âmbito de práticas e suas tório da saúde coletiva enquanto campo científico e
conquistas e passos relações com a constituição de sujeitos transformado- âmbito de práticas e suas relações.
para além do sani- res, comprometidos com a RSB e com a consolidação
tarismo do SUS.
Fonte: elaboração própria.

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288 Agostinho Neto J, Cavalcante PS, Silva Filho JD, Santos FD, Maia AMPC, Simião AR

Discussão social e da saúde pública, a partir do final dos


anos 1960, ao lado de uma insatisfação com
A análise dos artigos selecionados, guiada pela as explicações teórico-conceituais sobre o
concepção teórica eleita por este estudo, per- processo saúde-doença-cuidado, uma dete-
mitiu delimitar quatro categorias empíricas, rioração das condições de saúde de parte da
que correspondem ao objeto do ensino em população brasileira e um modelo público de
saúde coletiva destacado em cada estudo. As cuidados à saúde precarizado21.
categorias permitiram delinear e refletir sobre Após o longo período que se estendeu pelos
a concepção do ensino em saúde coletiva no anos 1950 e 1960 no Brasil, com o projeto pre-
Brasil, caracterização do ensino em saúde ventivista e da medicina social, assumiu-se que
coletiva no âmbito da graduação e da pós- a formação de recursos humanos para a área da
-graduação stricto sensu e asperspectivas e saúde pública deveria voltar-se não somente
os desafios para o ensino em saúde coletiva. para a capacitação de técnicos, especialistas
e residentes, mas adensar essa formação em
níveis acadêmicos que levassem à obtenção
Concepção do ensino em de títulos de mestre e doutor, voltados para
Saúde Coletiva no Brasil: pesquisa e docência. Ressalta-se que, nesse
momento, vivia-se, de um lado, o impacto da
do campo aos programas de Reforma Universitária de 1968 e, de outro, toda
pós-graduação a crítica que se estabelece ao modelo médico
hegemônico, assim como se discutiam as di-
O campo científico da saúde coletiva, ainda ferenças entre medicina preventiva, medicina
em construção, encontra-se na interseção das social e saúde pública28.
ciências da saúde e das ciências sociais, com De acordo com Nunes28, o final dos anos
uma natureza epistemológica diferenciada 1970 foi marcado pelo agravamento da crise
e uma prática política distinta. Os conheci- econômica; e, ante os problemas de saúde,
mentos nele produzidos podem ser aplicados lançaram-se, em nível internacional, o projeto
por diferentes sujeitos, existindo também um da atenção primária e, em nível nacional, a
corpo básico que dá identidade ao “pensar” necessidade de uma tomada de posição diante
e ao “fazer” em saúde coletiva, inspirado em do problema sanitário, quando apareceram
um conjunto de valores (“ser”)5. dois importantes espaços de resistência e
No campo da saúde coletiva, o fenômeno análise crítica da situação: o Centro Brasileiro
saúde-doença-cuidado é compreendido como de Estudos de Saúde (Cebes), criado em 1976,
um processo social, analisando-se as práticas e a Associação Brasileira de Saúde Coletiva
de saúde na sua articulação com as outras (Abrasco), em 1979.
práticas sociais, em que se procura compre- Pela análise dos movimentos reformistas,
ender as formas com que a sociedade identi- é permitido constatar que estes provocaram
fica suas necessidades e problemas de saúde, mudanças no sistema de saúde no Brasil, com
buscando os seus porquês e se organizando algumas repercussões nos modelos de ensino
para enfrentá-los28. nos cursos superiores na área da saúde, como
A saúde coletiva, com nomenclatura ge- as atividades extramuro, impulsionadas pela
nuinamente brasileira, então emergiu sob a perspectiva da Atenção Primária à Saúde, pro-
proposta de possibilitar, desenvolver e for- posta pela Conferência de Alma-Ata (1978)22.
malizar a ideia de um amplo campo envol- Em 1981, o MEC elaborou uma publicação
vendo preocupações teóricas, técnicas, sociais em que apelava às universidades a aceitarem
e políticas que acompanharam a trajetória o desafio da proposta, o que exigiria modifica-
da medicina preventiva e social, da medicina ções conceituais, estruturais e metodológicas

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O ensino da saúde coletiva no Brasil: uma revisão integrativa 289

profundas, contrariando o clássico conceito formação interdisciplinar, obtida por meio


ensino-pesquisa-extensão, na busca de novas de sólida incorporação dos saberes da saúde
relações universidade-prestadores de serviços. coletiva,
Em 1987, a portaria interministerial do ministé-
rio da educação e ministério do planejamento Que o qualifique como um ‘ator estratégico’
definia que qualquer serviço do sistema de saúde apto a atuar em um sistema de saúde que
seria formalmente reconhecido pela universidade adquire caráter cada vez mais extenso, com-
como local de ensino, e não só o hospital-escola. plexo e especializado, portanto, desafiador em
As atividades docentes extramuro deveriam ser termos de políticas sociais comprometidas com
de natureza curricular, obrigatória para todos os a participação e o bem-estar social12(1658).
alunos do curso regular22.
Na década de 1980, também ocorreu um fato As primeiras propostas de um ensino de
que seria marcante para a história da saúde pós-graduação no Brasil foram marcadas por
coletiva: a realização da VIII Conferência movimentos que ressaltam a necessidade de
Nacional de Saúde, que problematizou e rede- que ensino e pesquisa fossem realizados no
finiu a saúde, considerando-a como resultado mesmo ambiente e se complementassem. O
das condições de existência de uma sociedade Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova
determinada, como direito de todos e dever apareceu como destaque na história da edu-
do Estado. Em 1988, a Constituição Federal cação brasileira, foi quando um grupo de in-
estabeleceu o SUS como nova formulação po- telectuais, escritores e educadores lançaram
lítica e organizacional para o reordenamento a universidade como ideário do movimento21.
dos serviços e ações de saúde, norteada por As políticas públicas em saúde e em educa-
três princípios (a universalidade, a equidade ção no Brasil obedecem a trajetórias históricas
e a integralidade), que seria regulamentada distintas, com a Constituição de 1988 como
pela Lei nº 8.080, de 1990, estabelecendo a um marco e um contexto político em comum.
descentralização político-administrativa como Na saúde, o destaque é para a criação do SUS,
forma de efetivar a implantação do sistema28. política de caráter nacional, que modificou o
A Constituição de 1988 então definiu o acesso da população brasileira à saúde como
ordenamento de recursos humanos, sendo a direito de todos e dever do Estado. Na edu-
formação do profissional de saúde uma área cação, o texto é semelhante e apresenta-se
cheia de desafios na implementação do SUS. Os como um direito de todos, dever do Estado
profissionais, principalmente da atenção pri- e da família, devendo diminuir o analfabetis-
mária, pautada na Estratégia Saúde da Família, mo e garantir o acesso à educação, nos níveis
são formados para atuar na assistência indivi- fundamental, médio e superior18.
dual, curativa e especializada, diferentemente Há consenso de que não foi dada prioridade à
da visão de promoção e prevenção que trabalha política de educação no País, com impactos ex-
a saúde coletiva26. pressivos no ensino da graduação e pós-gradu-
A proposta de criação de cursos de gradu- ação. Em 2013, a proporção da população entre
ação em saúde coletiva é tributária da cons- 18 e 29 anos com ensino médio completo era de
trução do campo da saúde coletiva no Brasil e 48% nas regiões Norte e Nordeste, e entre 60%
da sua vinculação ao projeto da RSB, em que e 65% nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste.
prevaleceu a ideia de que um investimento Essa foi a população que pôde se candidatar
nessa formação profissional constituiria uma ao ensino superior, e ela não acompanhou a
estratégia importante para a proposta defen- expansão da oferta de vagas desse nível18.
dida pelo projeto5. O ensino superior brasileiro apresenta uma
Uma justificativa importante é a de que taxa bruta de matrícula baixa, o que afeta o de-
o SUS necessita de um profissional com senvolvimento social. Por outro lado, valoriza-se o

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290 Agostinho Neto J, Cavalcante PS, Silva Filho JD, Santos FD, Maia AMPC, Simião AR

grande investimento feito, a partir dos anos 1960, pela Associação Brasileira de Ensino Médico
na criação das universidades federais em todos (Abem), uma proposta de conteúdo programá-
os estados, com vocação para ensino, pesquisa e tico mínimo para o ensino da saúde coletiva,
extensão, o que foi acompanhado pela criação de centrado nos seus três núcleos estruturantes.
um sistema de pós-graduação em todas as áreas Esta foi elaborada a partir da constatação da
de conhecimento18. diversidade de conteúdos programáticos e de
O parecer Newton Sucupira (Parecer nº metodologias de ensino e da heterogeneidade
977/65, Conselho Federal de Educação) e da bibliografia utilizada nessa área. No entanto,
a Reforma Universitária de 1968, ainda no apesar da sua incorporação e avaliação por
regime militar instituído em 1964, foram movi- alguns departamentos de medicina preventiva
mentos que sistematizaram a institucionaliza- e social, não se dispõe de estudos avaliativos,
ção do sistema de pós-graduação stricto sensu seja na área médica, seja nas demais áreas30.
no Brasil. O Parecer Newton Sucupira cons- No Brasil, o processo de implantação de
tituiu as bases do modelo de pós-graduação cursos de graduação em saúde coletiva tem
brasileiro, definindo e caracterizando os cursos avançado. Logo, o debate não é recente,
em nível de mestrado e doutorado, estabele- tendo se iniciado há cerca de duas décadas,
cidas as distinções entre pós-graduação lato e se “estruturou mais sistematicamente, nos
e stricto sensu, lançadas as bases do mestrado meios acadêmicos, com uma série de ofici-
e doutorado profissionais e reforçada a ideia nas, mesas redondas e encontros dedicados ao
de que a pós-graduação stricto sensu é parte tema, realizados nos últimos dez anos”12(1658).
essencial da finalidade da universidade18. Atualmente, há cursos abertos em todas as
A formação profissional em saúde coletiva regiões do País. Portanto, saímos de uma
já vem sendo discutida no Brasil há alguns fase de discussões nacionais em torno de sua
anos. Essa proposta já é firmada em vários possível abertura, para uma fase de análise,
países, principalmente no continente europeu avaliação e direcionamento das experiências
e norte-americano. No Brasil, alguns subsídios por ele inauguradas12.
são importantes na construção dessa proposta Definida inicialmente com a ideia de uma
de ensino, tais como as experiências interna- graduação em saúde pública, foi desde 2002
cionais de cursos e as orientações contidas em que a sistemática de discussão e implemen-
instrumento da Organização Pan-Americana tação dessa modalidade de ensino foi inten-
da Saúde (Opas) associada a diretrizes curri- sificada no País, embora distintas iniciativas
culares de cursos de graduação23. relacionadas com o ensino da saúde pública em
nível de graduação já se encontrem efetivadas
em muitos países, ressaltando a tomada de
Caracterização do ensino decisões e as relações de poder na conforma-
em Saúde Coletiva no ção de uma identidade em um dado momento
histórico5.
âmbito da graduação O Programa de Apoio a Planos de
Reestruturação e Expansão das Universidades
O saber-fazer-ser práxico preconizado pelo Federais (Reuni), implementado por meio
campo da saúde coletiva se produziu e re- do Decreto nº 6.096/2007, impulsionou esse
produziu na pós-graduação no Brasil e se processo nas universidades públicas federais.
estende, mais recentemente, do ponto de vista Nos dois anos seguintes à publicação desse
pedagógico e técnico, a uma estruturação de decreto, foram abertos cerca de dez cursos
graduação específica5. em instituições de ensino federal no País12.
No que se refere à graduação, surgiu, na A partir de 2008, foram oferecidos em
década de 1980, estimulada pela Abrasco e universidades de todo o Brasil os cursos de

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O ensino da saúde coletiva no Brasil: uma revisão integrativa 291

graduação no campo da saúde coletiva24. Corrêa e Ribeiro14 buscaram avaliar a


Adeptos da graduação em saúde coletiva en- formação pedagógica dos mestrados e dou-
contraram um solo favorável à sua criação, torados acadêmicos em saúde coletiva. Entre
embora, reitere-se, não tenha sido o Reuni a os 37 programas avaliados, 24 (64,86%) apre-
inspiração da proposta que a antecede histori- sentaram disciplinas/práticas de formação
camente, mas, certamente, foi o catalisador de pedagógica. Além disso, aproximadamente
suas bases institucional e material de implan- 61% dos mestrados e 38% dos doutorados
tação. Ao se defender a figura do bacharel em apresentam disciplinas/práticas de formação
saúde coletiva, um elemento importante é que pedagógica, sendo que há uma tendência de
já não mais se coloca a clássica questão: quem formação técnica-instrumental, o que vai de
formará os formadores? – uma vez que a conso- encontro à história do campo da saúde cole-
lidação do ensino em saúde coletiva no âmbito tiva, uma vez que a construção desta se deu
da pós-graduação no País já aconteceu28. na tentativa de superação de um modelo de
O profissional que atua no campo da saúde sistema de saúde com enfoque essencialmente
coletiva enfrenta algumas dificuldades em biomédico, tecnicista e prescritor, baseado
relação ao mercado de trabalho. O estudo de em uma lógica capitalista-mercadológica,
Lorena et al.24 mostrou que 57,6% dos egres- com uma compreensão restrita do processo
sos de graduação em saúde coletiva não estão saúde-doença-cuidado.
atuando na sua área de formação. Um dos pro- A pós-graduação stricto sensu é considerada
blemas encontrados foi a abertura do mercado o programa mais bem-sucedido na educação
de trabalho e a dedicação exclusiva da pós- brasileira. Desde seu início, foi formulada
-graduação. Outro fator que leva o profissional com o propósito específico de contribuir
a não seguir na área é a possibilidade de ter para o desenvolvimento nacional por meio
oportunidade mais promissora em outras áreas. da formação de docentes e pesquisadores com
competências para a pesquisa. As medidas
que contribuíram para esse propósito foram a
Caracterização do ensino articulação do MEC, por meio da Capes, com o
em Saúde Coletiva na Pós- Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq (criado
em 1951, atualmente Conselho Nacional de
Graduação stricto sensu Desenvolvimento Científico e Tecnológico),
outras instâncias de financiamento e as
A configuração do campo da saúde coletiva na universidades18.
pós-graduação não sofreu grandes alterações Para dar sustentação ao aperfeiçoamento
em sua estrutura na última década, com des- desses arranjos ao longo do tempo, criaram-se
crição de pequenas variações nos seus três os Planos Nacionais de Pós-Graduação (PNPG),
núcleos disciplinares principais: epidemiolo- além das avaliações regulares, realizadas pela
gia; ciências sociais e humanas; e planejamento Capes, com atribuição de notas para os progra-
e políticas de saúde2. mas. Ressalta-se que os mais bem avaliados e
Quanto à expansão, diversos programas de que se destacam na pesquisa são apoiados com
pós-graduação adotaram estratégias inovado- um volume maior de recursos e representam um
ras para fazê-la, ressaltando-se a criação do capital social importante para as universidades. O
Fórum Nacional de Coordenadores de Pós- crescimento, quantitativo e qualitativo, da produ-
graduação em Saúde Coletiva, com o apoio da ção científica brasileira publicada em periódicos
Abrasco, e com o papel decisivo desempenhado científicos também é resultado dessa política18.
pela Rede Nacional de Pós-Graduação stricto Para o ensino da pós-graduação em saúde
sensu, além das especializações e residências coletiva, é possível considerar que estiveram
como cursos lato sensu31. presentes as condições necessárias para sua

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292 Agostinho Neto J, Cavalcante PS, Silva Filho JD, Santos FD, Maia AMPC, Simião AR

implementação enquanto política pública, Sendo que a saúde coletiva obteve posição
uma vez que apresentaram objetivos claros e de destaque na criação de MP, com volume
consistentes nos seus PNPG, uma teoria causal importante de formados na região Nordeste,
para a mudança (formar professores e pesqui- por meio de MP em rede e aqueles coordena-
sadores), estrutura legal estável e compromis- dos pela Fundação Oswaldo Cruz18.
sada com o diálogo entre os órgãos oficiais e os Do ponto de vista da finalidade, a tendên-
programas; e coordenadores responsáveis pela cia mais evidente que diferencia o Mestrado
implementação da proposta; apoio político do Acadêmico (MA) e o MP é que o primeiro visa
executivo, legislativo e das universidades18. à formação de docentes e pesquisadores ao
Enquanto campo da saúde coletiva, abre-se passo que o segundo visa à gestão dos serviços
então espaço para uma prática discursiva, de saúde, à avaliação e ao desenvolvimento
comunicativa e horizontalizada (não hierar- de tecnologias7. Hortale et al.19, analisando as
quizada em termos metodológicos e teóricos) bases legais e epistemológicas das propostas
entre os saberes disciplinares, por meio de uma de MP em saúde coletiva, verificam que, na
proposta de transdisciplinaridade do esforço sua execução, tais modalidades não partem
cooperativo entre distintos saberes21. da prática dos agentes a serem formados pelo
Ribeiro e Cunha20, analisando trajetórias de curso como cenário para construir novos
docência em um programa de pós-graduação conhecimentos e tecnologias, mas tendem
em saúde coletiva, identificaram que as moti- a reproduzir o modelo hegemônico de for-
vações dos sujeitos para buscar o curso foram: mação acadêmica, não rompendo com o ciclo
o desejo de se iniciarem como docentes do construído de isolamento da universidade com
ensino superior, a necessidade de ampliarem os serviços e sistemas de saúde.
os conhecimentos em pesquisa e a precisão de De acordo com Paim29, estudos e reflexões
aprofundarem e atualizarem os conhecimentos sobre as tentativas de introduzir mudanças na
no campo da saúde coletiva. O interesse emerge, formação dos profissionais de saúde apontam
sobretudo, naqueles que já são docentes do sempre o dilema dessas propostas para se ins-
ensino superior em instituições da rede privada. titucionalizar e redirecionar, de fato, o pro-
No entanto, ainda que nos PNPG estives- cesso de formação dos profissionais. Ainda
se referido como objetivo o impacto social segundo esse autor, nas décadas de 1970-1980,
de forma cada vez mais explícita, não houve houve uma significativa produção teórica da
uma mudança no arcabouço nuclear da pós- medicina social relacionada com os cursos
-graduação stricto sensu da saúde coletiva, de pós-graduação, em uma estreita relação
especificamente como resposta a uma das suas com os movimentos sociais presentes na con-
principais políticas públicas organicamente juntura. De todo modo, a maior expressão do
entrelaçada: o SUS18. É a criação, regulamen- desenvolvimento da saúde coletiva limitou-
tação e instituição progressiva dos Mestrados -se à pós-graduação por meio dos cursos de
Profissionalizantes (MP) que sinalizam mais mestrado, da especialização em saúde pública
claramente a direção de uma formação de e dos programas de residência em medicina
recursos humanos específica para o mundo preventiva e social.
do trabalho nos serviços e sistema de saúde7.
Santos et al.7 consideram como Perspectivas e desafios para o ensino
em Saúde Coletiva
aquela demanda por profissionais altamente
qualificados e o reconhecimento do isolamento A restrição do ensino em saúde coletiva nas
da universidade com o mundo produtivo, ao práticas do SUS favoreceu questionamen-
mesmo tempo que, uma reivindicação para tos sobre o lugar deste, com todos os seus
aproximar esses dois segmentos. agentes constituintes: o ensino superior na

SAÚDE DEBATE | RIO DE JANEIRO, V. 46, N. Especial 6, P. 281-297, Dez 2022


O ensino da saúde coletiva no Brasil: uma revisão integrativa 293

universidade, a formação dos professores e teoricamente fundamentados, é um importante


a interpelação dos cursos de pós-graduação passo, pois permite orientar a prática pedagógi-
stricto sensu. Esse conjunto constitui espaço ca segundo pressupostos teóricos claros, iden-
privilegiado para a pesquisa e para o aprofun- tificar pontos de chegada e analisar resultados,
damento dos saberes específicos do campo, avaliando sua eficácia e efetividade15.
mas a consolidação dos saberes da prática A análise da atual conjuntura indica que a
educativa fica em segundo plano, uma vez incorporação de saberes e práticas do campo
que há uma tendência a reproduzir modelos da saúde coletiva no processo de graduação dos
históricos, muitas vezes distantes da realidade profissionais constitui um enorme desafio na
dos alunos e que se apresenta como desafio medida em que o projeto neoliberal se difunde
ainda maior na universidade20. e se fortalece. Desse modo, deve-se fortalecer
As mudanças na formação e na atuação pro- a possibilidade de ampliação dos espaços do
fissional devem ser estruturadas com vistas a projeto contra-hegemônico, tanto ao nível das
uma aproximação entre a atuação profissional universidades quanto nos serviços de saúde e
e a atenção integral e humanizada à população na sociedade civil22.
brasileira. Para isso, faz-se necessário pensar No âmbito das universidades, no que se
na articulação entre os cursos específicos da refere à graduação, trata-se de obter a adesão
saúde e os que fazem a interface saúde – ciências dos docentes a novas formas/metodologias
humanas32. Uma reflexão acerca da incorpo- que permitam aos alunos a apropriação do
ração de uma perspectiva transdisciplinar nas conhecimento e o desenvolvimento de novas
ciências da saúde e de uma formação para a habilidades, de modo a poder refletir o seu
cidadania à medida que diversas áreas do conhe- lugar na sociedade a partir do seu lugar no
cimento podem ter como ponto de convergência trabalho, aprendendo um fazer crítico e cria-
o enfoque na saúde coletiva, buscando um rom- tivo. A necessidade de imprimir uma nova
pimento com a lógica de produção capitalista lógica ao processo de ensino/aprendizagem,
que incorpora os processos saúde-adoecimento na perspectiva da inserção da saúde coletiva
ao rol das mercadorias13. no processo de formação dos profissionais de
Pensar o processo de formação universitária saúde, implica enfrentar a rigidez dos modelos
de profissionais de saúde passa necessariamen- praticados e redesenhar a estrutura curricular
te pelo que consideramos como compromissos e modelos pedagógicos, em todos os âmbitos22.
de uma educação para a cidadania e que se A fim de atender a essas posturas, sugere-se
expressam pelo atendimento aos princípios uma pauta de ação que atenda à qualificação
estabelecidos no SUS33 e às demandas da popu- das necessidades sociais em saúde, não apenas
lação, bem como pela atuação profissional mar- como carências, mas como ideais, projetos
cadamente distinta da tradicional atuação em de vir a ser; pensar os meios e as atividades
saúde com um perfil de profissional liberal13. necessárias para atender a tais necessidades;
Nessa perspectiva, os MP surgiram como instaurar novas relações técnicas e sociais,
consequência da política de flexibilização da como os processos de distritalização, muni-
pós-graduação brasileira e com a finalidade cipalização, educação etc.; investir política
de qualificar o sistema de saúde, por meio do e tecnicamente nos espaços institucionais,
empoderamento científico de suas equipes redefinindo as práticas de saúde coletiva22.
de trabalho15. Para Nunes, Nascimento e Barros16, ao for-
Segundo Freire34, torna-se importante ter-se matar um currículo, deve-se apoiá-lo em um
na realidade concreta extra-escolar como re- quadro de referência e determinar as caracte-
ferencial para a seleção, o desenvolvimento e rísticas que particularizam os conteúdos e as
a aplicação de conteúdos. Sendo assim, para a metodologias das áreas, classicamente deno-
construção adequada de objetivos educacionais minadas de ciências sociais, epidemiologia e

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294 Agostinho Neto J, Cavalcante PS, Silva Filho JD, Santos FD, Maia AMPC, Simião AR

planejamento. Além disso, torna-se necessário precarização do vínculo empregatício e pela


estabelecer materiais de referência que subsi- abertura do mercado de trabalho, levando a
diem a inclusão de novos campos e parâmetros optar por seguir nos cursos de pós-graduação.
para os cursos de graduação e pós-graduação
em saúde coletiva.
Silva Júnior et al.11, aplicando um método Considerações finais
ativo de ensino-aprendizagem em um progra-
ma de pós-graduação stricto sensu em saúde O campo técnico-científico da saúde coletiva no
coletiva, observaram que estratégias pedagó- Brasil possui no seu âmbito de práticas um caráter
gicas baseadas no construtivismo, centradas interdisciplinar, estando o seu ensino com a in-
no aluno e de responsabilidade individual cumbência de contribuir para o desenvolvimento
estimulam a aplicação dos conhecimentos na deste e de práticas para o sistema de saúde.
prática profissional, auxiliam no planejamento A formação e a qualificação profissional no
de investigações em contexto regional e contri- campo devem conter um caráter de reorienta-
buem para o desenvolvimento de projetos de ção para aplicação das suas dimensões basilares,
dissertação; uma vez que métodos tradicionais na interface entre saúde e ciências humanas
de ensino e aprendizagem não obedecem às e sociais, assim como o compromisso com a
realidades contextuais e necessidades atuais universidade e com o SUS. No âmbito da saúde
da sociedade moderna. coletiva, as modalidades lato sensu (residências
A saúde coletiva se fundamenta na interdis- e especializações), stricto sensu (mestrados e
ciplinaridade como possibilidade de constru- doutorados) e, mais recentemente, o bacha-
ção de um conhecimento ampliado da saúde, relado são as formas de qualificação no Brasil.
no qual continuam presentes os desafios de tra- A institucionalização de cursos de pós-
balhar com as dimensões qualitativas e quan- -graduação seguiu o movimento educacional
titativas, sincrônicas e diacrônicas, objetivas da universidade e a RSB, encontrando-se
e subjetivas. Assim, não existe a possibilidade hoje consolidada. O formato mais recente
de uma única formulação teórica e metodoló- são cursos e programas de mestrado e dou-
gica quando espaço, tempo e pessoa não são torado profissionalizantes que emergem com
simplesmente variáveis, mas constituem parte uma proposta de formação específica para as
integrante de processos históricos e sociais22. demandas, necessidades e carências do SUS.
A institucionalização da saúde coletiva A criação de cursos de graduação tem seu
como campo na graduação em algumas uni- debate iniciado com a RSB, no entanto, só
versidades permanece sendo um desafio. Há ocorreu efetivação enquanto bacharelado na
algumas discussões que ainda não foram re- última década. Independentemente da dis-
solvidas, que vão desde o modelo formador até cussão sobre uma proposta em formato de
o título emitido ao profissional e a atuação no graduação em saúde coletiva, há uma concor-
mercado. O Brasil é pioneiro entre os países dância a respeito da importância na forma-
em desenvolvimento a apostar na graduação ção de profissionais voltados a um trabalho
em saúde coletiva. Para esse propósito, há a interdisciplinar.
necessidade de garantir condições mínimas O marco constitucional de 1988 definiu o
para subsidiar a implantação dessa proposta no ordenamento de recursos humanos para a
que se refere à garantia de recursos por parte formação profissional no e para o sistema de
do estado e até a construção de uma proposta saúde no País, mas ainda é um movimento
nacional para expansão do ensino superior23. cheio de desafios e contradições, assim como
Segundo o estudo de Lorena et al.24, os superar o isolamento da pesquisa em saúde
egressos da graduação em saúde coletiva coletiva no entorno dos muros acadêmicos,
têm dificuldade de seguir na área devido à do ensino tradicional e que concilie elementos

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O ensino da saúde coletiva no Brasil: uma revisão integrativa 295

do modelo biomédico com conhecimentos contribuíram igualmente para a adequação da


advindo das ciências humanas e sociais, proposta do artigo, produção e análise dos
com alvo no coletivo e excluindo o modelo dados, discussão dos resultados, redação do
individualista. texto, da revisão e da aprovação da versão
final do manuscrito. Santos FD (0000-0002-
0849-5525)* contribuiu para a adequação da
Colaboradores proposta metodológica, produção e análise dos
dados, discussão dos resultados, redação do
Agostinho Neto J (0000-0002-0164-8269)* texto, da revisão e da aprovação da versão final
concebeu o artigo e coordenou sua produção; do manuscrito. Maia AMPC (0000-0001-5205-
contribuiu para produção e análise dos dados, 2417)* e Simião AR (0000-0001-9565-5525)*,
discussão dos resultados, redação do texto, contribuíram igualmente para a produção e
da revisão e da aprovação da versão final do análise dos dados, discussão dos resultados,
manuscrito. Cavalcante PS (0000-0003-1949- redação do texto, da revisão e da aprovação
9684)* e Silva Filho JD (0000-0002-0931-3711)* da versão final do manuscrito. s

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