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Mestrado Profissional em Saúde Coletiva

Mestrado Profissional em Saúde Coletiva:


uma modalidade de formação para o
sistema de saúde brasileiro
Professional Master’s degree in Public Health: an educational modality for Brazilian health system

Eduarda Ângela Pessoa CesseI Maria Amélia de Sousa Mascena VerasII

Resumo Abstract
O mestrado profissional (MP) é uma inovação educacional que en- The Professional Master’s Degree (PMD) is an educational inno-
tra na agenda da pós-graduação brasileira a partir dos anos 90 do vation that enters the Brazilian post-graduation system in the 90s
século passado, quando a ideia de incentivá-los nas áreas aplica- when the idea of encouraging them in the applied areas starts to
das passa a ser discutida na esfera da Capes. Este artigo discute be discussed in the realm of Coordination of Improvement of Higher
algumas características do MP na saúde coletiva, por meio de um Education Personnel (Capes). This article discusses some features
breve histórico de sua institucionalização no país, buscando des- of the PMD in public health through a brief history of its institutionali-
tacar a importância dessa modalidade de formação pós-graduada zation in the country, seeking to highlight the importance of postgra-
para área e suas potencialidades para a gestão do SUS. Por fim, duate training modality for the area and its potential for the Brazilian
o artigo elenca alguns desafios postos para o desenvolvimento do National Health System (SUS) management. Finally, the article lists
mestrado profissional como forma de subsidiar o debate em torno some challenges to the development of professional master’s de-
do seu aperfeiçoamento. gree as a way to subsidize the debate on its improvement.

Palavras-chaves: Pós-Graduação, Mestrado Profissional, Saúde Keywords: Post graduation, Professional Master’s Degree, Public
Coletiva. Health.

II
Maria Amélia de Sousa Mascena Veras (maria.veras@gmail.com) é médica,
I
Eduarda Ângela Pessoa Cesse (educesse@uol.com.br) é dentista, doutora doutora em Medicina Preventiva pela USP, coordenadora do Programa de Pós-
em Ciências da Saúde pelo Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães – CPqAM/ -graduação em Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas da Santa
Fiocruz-PE, docente-pesquisadora da Fiocruz-PE e Coordenadora Adjunta de Casa de São Paulo e Coordenadora do Fórum de Coordenadores de Pós-gra-
Área da Saúde Coletiva para Mestrado Profissional – Capes duação em Saúde Coletiva – Abrasco

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Introdução participação efetiva na formulação do capítulo da


saúde na Constituição Brasileira de 1988 e na

A
saúde coletiva é definida como um campo construção do Sistema Único de Saúde (SUS).
de produção de conhecimentos voltados Esse contingente de docentes e pesquisadores
para a compreensão da saúde e para a formados também contribuiu para um importan-
explicação de seus determinantes sociais, mas te crescimento da produção científica da área,
também como um campo de práticas direciona- acompanhada da consolidação de vários periódi-
das para a prevenção e o cuidado a agravos e cos publicados no país, com crescente reconheci-
doenças, tomando por objeto, sobretudo, os gru- mento internacional nos últimos 10 anos4.
pos sociais, portanto, a coletividade.18 É sabido, porém, que grande parte dos
Para Almeida Filho1 a constituição e consoli- egressos dos cursos de mestrado e doutorado
dação desse campo requer a formação de sujeitos acadêmicos, particularmente na saúde coletiva,
capazes de produzir conhecimentos e tecnologias, é formada por técnicos, muitas vezes já inseridos
bem como formular e implementar políticas e prá- no sistema de saúde, e interessados em adquirir
ticas que tomem como objeto condições, estilos e conhecimentos para aplicar nos respectivos es-
modos de vida de distintos grupos populacionais. paços profissionais. Segundo Goldbaum9 essa si-
O pensamento crítico que deu início ao sur- tuação tem causado distorções, uma vez que os
gimento desse campo se desenvolveu no âmbito mestrados e doutorados acadêmicos investem
acadêmico desde meados dos anos 70 do século na formação para docência aliada à formação pa-
passado, em espaços pedagógicos conquistados ra realizar ou conduzir pesquisas, não de cunho
nos cursos de graduação da área da saúde, e prin- operacional, característica mais voltada para as
cipalmente nos programas de pós-graduação17. pesquisas conduzidas nos serviços de saúde.
No entanto, os profissionais que almejavam Para Teixeira3 o desenvolvimento dos mes-
aperfeiçoar-se para o exercício profissional e não trados profissionais em saúde coletiva constitui
para a prática acadêmica, contavam apenas com uma oportunidade para reflexão acerca da situa-
os programas de residências médica em medici- ção atual e das tendências da própria área, en-
na preventiva e/ou social e as especializações em quanto campo de saber e práticas. Portanto, é
saúde pública e/ou em áreas de gestão e adminis- uma modalidade de formação de pessoal que
tração de serviços de saúde, em especial, na área detém um significado estratégico para a qualifi-
hospitalar. Esses programas permitiram a forma- cação dos sujeitos que atuam na gestão e ope-
ção de um grande número de profissionais capaci- racionalização das políticas e práticas de saúde
tados a responder às necessidades dos serviços em consonância com os princípios e diretrizes da
de saúde do país, em suas diferentes regiões9. reforma sanitária no nosso país. Essa caracterís-
Quanto à formação stricto sensu, o sistema tica não implica afirmar que não há produção de
brasileiro de pós-graduação, por meio dos progra- conhecimento no MP, mas sim que a natureza do
mas de mestrado acadêmico e doutorado ofereci- conhecimento produzido esteja voltado para a so-
dos por instituições de ensino superior e centros lução de problemas práticos, de caráter mais tec-
de pesquisa na área da saúde, tem contribuído nológico do que científico. Dessa forma, o MP po-
com a formação de um expressivo contingente de contribuir para diminuir a distância entre a uni-
de docentes e pesquisadores, que tiveram uma versidade e os setores produtivos da sociedade2.

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A regulamentação dessa modalidade de for- espaço acompanhando a necessidade de fortale-


mação tem início com a Portaria no 47, de outubro cimento dos quadros para o SUS, e já correspon-
de 19955, no mesmo momento em que a Capes dem a 43% dos programas existentes no país4.
lança o documento “Programa de Flexibilização do Portanto, o MP surge para responder à ne-
Modelo de Pós-graduação Senso Estrito em Nível cessidade de formação de profissionais pós-gra-
de Mestrado”7. Na atualidade, os mestrados profis- duados aptos a elaborar novas técnicas e proces-
sionais já correspondem a 15% do total de progra- sos de trabalho, muito focados em respostas às
mas de pós-graduação stricto sensu no país, com questões e problemas postos pelo trabalho, di-
maior número de programas nas áreas interdiscipli- ferindo da formação acadêmica, que visa, prefe-
nar, ensino, administração e saúde coletiva3. rencialmente, aprofundar conhecimentos ou téc-
Esse crescimento, em tão curto espaço de nicas no campo da produção de conhecimento.
tempo, pode ser explicado, em grande parte, pela Esta modalidade de formação pós-gradua-
indução do MEC (Ministério da Educação). No en- da não poderia encontrar campo mais adequado
tanto, somam-se a esta o reconhecimento da sua para ser absorvida do que a saúde coletiva do
propriedade, como indicador de inserção social, e Brasil, no século XX. Diante do desafio de avan-
o incremento da demanda, tanto no setor privado çarmos da concepção para a implementação de
quanto no setor público, que buscam qualificar um sistema de saúde com as características e di-
seus quadros. mensões do SUS, são necessários profissionais
Esse movimento acompanha as profundas qualificados para responder adequadamente, de
transformações socioeconômicas e tecnológicas forma criativa e cientificamente alicerçada nos
que têm demandado profissionais com perfis de desafios que estão postos.
especialização distintos dos tradicionais e que ne-
cessitam de uma formação com características di-
ferentes das até então disponíveis no sistema de Marco regulatório
pós-graduação do país, dadas a constante diversi- As características dos cursos de mestrado
ficação e a complexidade das qualificações profis- e doutorado no Brasil foram definidas e fixadas
sionais requeridas para a implementação das polí- pelo Parecer n° 977/658, do Conselho Federal de
ticas de saúde10. Tais diferenças estão expressas Educação, conhecido como Parecer Sucupira, ba-
na orientação dos currículos, na composição do seadas no modelo norte-americano de formação
corpo docente e discente, bem como nas formas pós-graduada. Este parecer, além de responder à
de financiamento e novos arranjos institucionais12. necessidade de implantar e desenvolver cursos
Entre 1995, quando a Portaria no 47 foi pu- de pós-graduação no país, traz a distinção entre a
blicada, e os dias atuais, o debate tem avançado pós-graduação stricto sensu e a lato sensu.
e em algumas áreas já se vislumbra uma substi- No parecer, os cursos de especialização e
tuição gradativa dos mestrados acadêmicos pela aperfeiçoamento têm objetivo técnico-profissio-
modalidade profissional. Apesar deste movimen- nal específico sem abranger o campo total do
to não ser consensual, não restam dúvidas so- saber em que se insere a especialidade. São
bre a necessidade de fortalecer a oferta de MP cursos destinados ao treinamento nas partes de
em todas as áreas. No campo da saúde coletiva, que se compõe um ramo profissional ou cien-
os mestrados profissionais vêm garantido o seu tífico. Já a pós-graduação stricto sensu confere

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grau acadêmico, que deverá ser atestado de 806, que dispõe sobre os mestrados profissio-
uma alta competência científica em determina- nais e apresenta como um de seus principais ob-
do ramo do conhecimento. jetivos “promover o conhecimento científico por
Outras distinções entre a pós-graduação meio da prática no meio profissional” e a Porta-
stricto e lato sensu apontadas no mesmo docu- ria Normativa nº17, de 200916 que “dispõe sobre
mento são: a pós-graduação stricto sensu é de o MP no âmbito da Capes”. O MP também pas-
natureza acadêmica e de pesquisa, e mesmo sa a ter presença nos Planos Nacionais de Pós-
atuando em setores profissionais tem objetivo -Graduação, em especial o PNPG 2005-201014 e
essencialmente científico, enquanto a especiali- o PNPG 2011-202015, que trazem importantes
zação, normalmente, tem sentido eminentemen- reflexões sobre a pós-graduação no Brasil e, tam-
te prático-profissional; a primeira confere grau bém, sobre a formação profissional e que servem
acadêmico e a segunda concede certificado. de referência aos vários setores da sociedade vi-
A Capes identifica que o desenvolvimento sando ao desenvolvimento da ciência, tecnologia
da pós-graduação no Brasil estabeleceu o mes- e inovação do nosso país.
trado como o primeiro degrau para a qualificação A Portaria Normativa no 17 torna-se um mar-
acadêmico-científica necessária à carreira uni- co na institucionalização dos programas de mes-
versitária, bem como para assegurar também trado profissional, uma vez que, a partir desta,
a formação de pessoal de alta qualificação pa- a Capes regulamenta a sua oferta e os define
ra atuar nas áreas profissionais, nos institutos como modalidade de formação que confere títu-
tecnológicos e nos laboratórios industriais. Es- lo com validade nacional, com idênticos graus e
ta situação dominou até os anos setenta, mas prerrogativas, inclusive para o exercício da docên-
não se mantém diante da intensidade, urgência cia, do título de mestre conferido pelos demais
e variedade das demandas que a sociedade, ho- programas de pós-graduação stricto sensu. Esta
je, faz ao sistema universitário. O novo contex- portaria estabelece, ainda, os processos de sub-
to, caracterizado entre outros, pela exigência de missão e de avaliação dos programas de mes-
ampliação de conhecimento, melhoria do padrão trado profissional, e inova ao estabelecer que os
de desempenho e a abertura do mercado, requer proponentes de um curso de MP podem ser uni-
uma transferência mais rápida dos conhecimen- versidades, instituições de ensino e centros de
tos gerados na universidade para a sociedade13. pesquisa, públicos e privados, inclusive sob a for-
É nesse contexto que no início dos anos ma de consórcios.
90 toma corpo a discussão sobre a realização Ao definir os objetivos do MP a Capes evi-
de mestrados profissionais, particularmente nas dencia a sua especificidade, qual seja: “capacitar
áreas aplicadas. Em 1995, essa modalidade é profissionais qualificados para o exercício da práti-
finalmente reconhecida pela Portaria no 47, já ca profissional avançada e transformadora de pro-
mencionada. A oferta de MP inclui em seus ob- cedimentos, visando a atender demandas sociais,
jetivos a inovação na orientação curricular, na organizacionais ou profissionais e do mercado de
composição do corpo docente e discente, no fi- trabalho; transferir conhecimento para a socieda-
nanciamento e nas parcerias institucionais. de, atendendo às demandas específicas e de ar-
Outros instrumentos normativos se se- ranjos produtivos com vistas ao desenvolvimento
guem, entre os quais se destacam a Portaria no nacional, regional ou local; promover a articulação

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integrada da formação profissional com entidades ante algumas características que os fazem a op-
demandantes de naturezas diversas, visando a ção de formação para profissionais aptos a en-
melhorar a eficácia e a eficiência das organizações frentar estrategicamente os desafios do campo
públicas e privadas por meio da solução de proble- da saúde coletiva. Algumas características são
mas e geração e aplicação de processos de inova- desafiadoras do ponto de vista operacional, bem
ção apropriados; contribuir para agregar competiti- como em função de algumas práticas já estabe-
vidade e aumentar a produtividade em empresas, lecidas que requerem uma mudança na forma de
organizações públicas e privadas”16. execução dos programas já existentes e daque-
les a serem propostos. Hortale18 chama a aten-
ção para o fato de essa modalidade, apesar de
Desafios postos para a consolidação do mestrado ter cerca de 20 anos de estabelecimento, ainda
profissional na saúde coletiva não ter alcançado um consenso quanto à sua na-
Na atualidade, os mestrados profissionais tureza, aos seus produtos e ao seu impacto na
têm o reconhecimento da comunidade científica, sociedade brasileira.
e o Conselho Técnico Científico da Educação Su- Os desafios atuais que têm sido discutidos
perior – CTC-ES, em sua 148a reunião, realizada incluem: as características pedagógicas do MP,
em agosto 2013, cria o cargo de Coordenador a necessidade de aperfeiçoar os mecanismos de
Adjunto de Área para MP, além de uma agenda avaliação, os mecanismos e fontes de financia-
para o desenvolvimento de programas profissio- mento e a existência de assimetrias regionais.
nais em todas às áreas de conhecimento. Do ponto de vista pedagógico e em consonân-
A formatação e implantação dos cursos de cia com os seus objetivos, a proposta do MP deve
MP na área de saúde coletiva têm sido acompa- se diferenciar do mestrado acadêmico, no qual tem
nhadas por um contínuo debate, que não só não prevalecido o recorte disciplinar, privilegiando a cons-
representou obstáculo à sua franca expansão, tituição de áreas temáticas, com especificação mais
mas, ao contrário, tem servido para aperfeiçoar clara dos problemas e práticas envolvidos em recor-
de modo contínuo esta modalidade de formação. tes específicos, como é o caso da gestão de siste-
A Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Cole- mas de saúde, epidemiologia em serviços de saúde
tiva) tem tido papel relevante, ao assegurar es- e vigilância sanitária, entre outros17.
paço nos seus principais eventos para que o de- As características do seu corpo discente, for-
bate sobre o MP tenha continuidade, fundamen- mado por profissionais que estejam inseridos em
talmente por meio e no âmbito do Fórum de Pós- atividades dos serviços, exigem flexibilidade na
-Graduação em Saúde Coletiva, que em reuniões constituição das suas atividades acadêmicas, sen-
plenárias com o conjunto de coordenadores de do recomendável pensar em atividades de ensino
programas de pós-graduação da área, tem se de- a distância, em combinação com as presenciais.
bruçado sobre refinar os instrumentos de avalia- Os trabalhos de conclusão dos MP devem
ção, de tal forma que as especificidades da área ser distintos dos tradicionais para que haja coe-
estejam contempladas. rência com a sua proposta e abordagens peda-
Apesar dos avanços alcançados por meio gógicas. Neste sentido os produtos finais podem
da regulamentação, torna-se necessária a conso- ser estudos de sínteses que subsidiem a formula-
lidação dos programas de mestrado profissional ção de políticas e projetos, bem como textos que

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contenham os resultados da elaboração e expe- Fórum de Coordenadores de Pós-graduação em


rimentação de instrumentos de trabalho, tecnolo- Saúde Coletiva propôs agrupar a produção técni-
gias leves, a serem incorporadas à gestão, pro- ca oriunda dos programas de pós-graduação em
moção ou prevenção de riscos e agravos, ou estu- 4 eixos: produção de material bibliográfico com
dos de caso no âmbito das organizações de saúde foco técnico-instrucional, produtos técnicos de
cujos resultados contribuam para a introdução de natureza instrumental, disseminação do conheci-
inovações gerenciais, organizativas e operacionais mento e serviços técnicos especializados. A defi-
no processo de produção das ações e serviços. nição destes eixos levou em consideração alguns
Nesse sentido, apesar da Portaria no 17 nor- critérios, tais como, abrangência, complexidade
matizar diversas possibilidades de produto final (esforço intelectual), aplicabilidade social e eco-
para o MP, ainda é um desafio para os progra- nômica e impacto. Esta é uma das contribuições
mas e alunos fomentarem suas dissertações de que visa a aperfeiçoar o processo de avaliação e
forma diferente da tradicional, além de que me- que se encontra em debate no momento.
canismos mais efetivos de indução, bem como Quanto aos mecanismos de financiamento,
espaços de divulgação que privilegiem formatos os primeiros cursos de mestrado profissional fo-
diversificados, precisam ser incentivados. ram propostos e avaliados considerando a exis-
Quanto ao corpo docente, a formação na tência de um demandante, instituição/organiza-
modalidade profissional exige que este seja alta- ção que era responsável por financiar as ativida-
mente qualificado, o que pode ser demonstrado des, visto que, com exceção dos mestrados pro-
pela produção intelectual constituída por publi- fissionais em rede, que são programas induzidos
cações específicas, produção artística ou produ- e de interesse do país, a exemplo do PROFMAT
ção técnico-científica, ou ainda por reconhecida (matemática), o PROFLETRAS (letras), o PROFIS
experiência profissional, mesmo na ausência de (fisica), o PROFHIST (história), o PROFARTES (ar-
titulação acadêmica, quando for o caso2. Hartz e tes), o PROFIAP (administração pública), para os
Nunes10 destacam que, por se tratar de um mes- quais a Capes prevê formas de participação fi-
trado com perspectiva multidisciplinar, consubs- nanceira, os demais não recebem bolsas ou in-
tanciada na articulação de diferentes campos de centivos do órgão federal.
conhecimento, deve-se contar com a participação Outro desafio é a expansão do MP, para re-
de professores com formação e experiência de giões do país nas quais ainda existem um nú-
trabalho a elas relacionadas. mero de programas profissionais muito reduzi-
O desafio a essa questão está na excessi- dos, como nas regiões Norte, Nordeste e Cen-
va valorização da produção científica tradicional. tro-Oeste. As assimetrias existentes no sistema
Nesse contexto, há a necessidade de aprofundar de pós-graduação brasileiro não são exclusivida-
normas específicas e critérios adequados de ava- de do MP e têm sido apontadas desde o PNPG
liação. Para programas cuja vocação é uma pro- 2005-201014 e ainda persistem e são reforça-
dução de conhecimento de natureza aplicada, é das no PNPG 2011-202015. Notadamente, as
vital a formação de parcerias com o setor extra- mesorregiões metropolitanas de São Paulo e do
-acadêmico, de modo que assegure não só a Rio de Janeiro apresentam indicadores destaca-
produção de novas tecnologias, mas a sua apli- dos das demais e têm alta oferta de programas
cação. Com base nas avaliações anteriores, o de pós-graduação. Para reverter esse quadro,

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torna-se oportuno levar em consideração o es- país. Portanto, existe a urgência pela formação ca-
tabelecimento de relações com parceiros para a da vez mais expressiva de sujeitos comprometidos
definição de projetos sustentáveis cuja complexi- com os princípios e valores da reforma sanitária
dade irá exigir a ação sinérgica de vários órgãos. brasileira e para o aperfeiçoamento do SUS.
Portanto, nessas circunstancias e com es-
sas características, entende-se que o MP consti-
tui-se numa modalidade de formação pós-gradu-
ada de quadros para o desempenho de funções
estratégicas, com habilidades e capacidade de Referências bibliográficas
diagnosticar, definir e conduzir politicas de inter- 1. Almeida Filho N. Intersetorialidade, transdisciplinaridade
venção sobre a saúde. Goldbaum9 reforça que e saúde coletiva: atualizando um debate em aberto. Rev de
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de conhecimentos e formular projetos voltados a mendados e Reconhecidos [acesso em 16 ago 2014]. Dis-
responder aos problemas identificados na área ponível em: http://conteudoweb.capes.gov.br/conteudoweb/
de atuação e avaliar o impacto dessas interven- ProjetoRelacaoCursosServlet?acao=pesquisarAreaAvaliacao#

ções aplicadas. 4. Capes. Documento de Área 2013 da Saúde Coletiva [do-


cumento na internet] [acesso em 14 ago 2014]. Disponí-
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conhecimento, melhores padrões de desempe-
ad/avaliacaotrienal/Docs_de_area/Saude_Coletiva_doc_
nho e a abertura do mercado, busca-se um pro- area_e_comiss%C3%A3o_att08deoutubro.pdf
fissional que tenha sido formado para a transfe- 5. Capes. Portaria n° 47, de 17 de outubro de 1995. Deter-
rência mais rápida dos conhecimentos adquiridos mina a implantação na Capes de procedimentos apropriados
na academia para a sociedade. A necessidade à recomendação, acompanhamento e avaliação de cursos
de integração ensino-serviço vem sendo discuti- de mestrado dirigidos à formação profissional [portaria na
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da há algum tempo, como forma de superação
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dos modelos tradicionais de formação na área de
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desafios, percebe-se a necessidade de quadros viewFile/86/82
cada vez mais capazes de enfrentar problemas e 8. Conselho Federal de Educação. Parecer no 977 CES, de
encontrar saídas criativas, ante as grandes diver- 3 de dezembro de 1965 [parecer na internet]. Define os
sidades regionais socioeconômicas e culturais do cursos de Pós-Graduacão [parecer na internet]. [acesso em

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