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NITERÓI, RJ
2020
RAPHAEL DUARTE REIS
Trabalho de Conclusão de
Curso apresentado ao curso de
Licenciatura em Educação
Física da Universidade Federal
Fluminense, como requisito
parcial para obtenção do Grau
de Licenciado.
Orientadora:
Prof.ª Drª Claudia March Frota de Souza
Coorientador:
Elizandra Garcia da Silva
NITERÓI, RJ
2020
DEDICATÓRIA
Agradeço a todos e todas aquelas que me apoiaram e fizeram parte nesse processo.
Com toda certeza, eu não teria conseguido chegar até aqui sem vocês do meu lado.
Não teria como eu deixar de citar meu filho Eros nesse primeiro momento. Cada
dificuldade, cada tropeço e falha, sempre foi a primeira pessoa a quem remetia
meus pensamentos. A certeza que tenho é que esse trabalho não existiria caso você
não existisse. Espiritualmente eu sei que você nunca saiu do meu lado, nem por um
segundo.
À minha família agradeço por todo amor e apoio que me prestaram. Filho de
Professor, vi em meu pai as alegrias e tristezas dessa profissão. Minha mãe, dona
de casa, sempre esteve do meu lado me incentivando a cada curto passo que dei.
Aos meus irmãos, cada abraço representa um desabafo pelas angústias,
rapidamente amenizadas pelo amor, carinho e companheirismo que temos um pelos
outros.
Aos meus amigos, que jamais saíram do lado, e nos momentos mais difíceis,
sempre estenderam a mão e ofereceram seus ombros para cada lágrima, que não
foram poucas. Agradeço também, aos amigos que conheci através da UFF, e que
deram um sentido mais descontraído e interessante para que essa longa e exaustiva
caminhada. Destaco aqui também os amigos e colegas do Movimento Estudantil –
ExNEEF que me ajudaram a ampliar minhas visões frente à Educação Física e a
sociedade como um todo. Jamais me esquecerei dos Encontros Nacionais e
Regionais que participei com vocês.
Por último, e não menos importante, às minhas orientadoras Claudia March e
Elizandra Garcia, que desde o início deste trabalho até o último dia de escrita,
acreditaram no meu potencial – até mais do que eu mesmo em muitos momentos.
São pessoas incríveis, maravilhosas e que pretendo trabalhar muito com vocês. E a
UFF que me proporcionou uma experiência inesquecível de vida.
RESUMO
1. INTRODUÇÃO
2. ABORDAGENS ACERCA DA FORMAÇÃO EM EF E O PROCESSO
HISTÓRICO DA SAÚDE NO BRASIL
2.1 CURRÍCULOS DE FORMAÇÃO EM EF E SUAS EXPRESSÕES NO
TEMA SAÚDE AMPLIADA
2.2 OS CONCEITOS DE SAÚDE E A HISTÓRIA DAS POLÍTICAS
PÚBLICAS NO BRASIL
2.3.1.1 DO BACHARELADO
2.3.1.2 DA LICENCIATURA
2.3.3.1 DO BACHARELADO
2.3.3.2 DA LICENCIATURA
3. CONCLUSÃO
REFERENCIAS
LISTA DE ABREVIATURAS
No início, por toda Europa, existiam escolas divididas entre as maiores, para
os filhos da classe trabalhadora, e as menores, pra ricos e de classe média. Nelas,
as atividades curriculares eram distintas, pois os filhos das classes superiores
devem ir mais longe, enquanto as crianças das classes mais baixas devem se
adequar a vida do trabalho braçal. Portanto, nas escolas maiores, metade do tempo
era dedicado a atividades manuais, enquanto nas menores as crianças deveriam
estudar mais. Como Soares expõe o lado da Educação física escolar
A autora ainda aprofunda sua análise que, inclusive, são tão perceptíveis
não só no campo de trabalho da Educação Física, mas na sua formação de
professores. O tecnicismo dos movimentos e a sua domesticação, um modelo de
corpo (que prática atividade física, saudável), a esportivização das práticas com
todas as suas regras e normas, acompanhada do falso discurso de igualdade para
vencer – no jogo e na vida, foram abraçadas pela Educação Física no sentido de
“educar” principalmente a classe trabalhadora (SOARES, 1994).
Para que fosse efetivamente capaz de preparar os jovens, bem como o seu
exército, era necessário selecionar as elites condutoras, ou seja, seu foco é na “(…)
‘colaboração no processo de seleção natural’, eliminando os fracos e premiando os
fortes, no sentido da ‘depuração da raça’ como coloca Ghiraldelli Junior (1994, p. 18).
Assim, a ginástica e o desporto eram usados para eliminar os incapacitados, além
de buscar a coragem, a vitalidade, o heroísmo, a disciplina exacerbada, visando a
formação do “cidadão-soldado”.
Portanto, nesse modelo militarista a relação da Educação Física e a saúde
permanece restrita ao corpo físico, porém com um grau acentuado de autoritarismo.
A técnica e a repetição viram os principais pilares do movimento, e valências físicas
(força, agilidade, resistência, velocidade…) tidas como principais parâmetros
avaliativos, passíveis de exclusão ou exaltação. Como Ghiraldelli Junior (1994)
esclarece, não se resume apenas a prática militar de preparo físico, mas uma
concepção que tem como objetivo “elevar a Nação” para servir e defender a Pátria.
Nesse sentido, devemos compreender que a Educação Física tem sim suas
propriedades exclusivas da nossa área. A nossa independência necessita que de
fato reconheçamos nas nossas práticas educativas os costumes, as classes sociais,
a política, a ética, a estética, ou seja, o contexto existencial mais amplo que envolve
tanto o professor, quanto o estudante/aluno (MEDINA, 2007).
Sob essa lógica, é necessário buscarmos novos modelos culturais e lutar por
novos padrões de vida, onde a preocupação com o ser humano, a permanente
crítica social, a sensibilidade às formas de repressão nos quais estamos sujeitos
estejam inclusas, e que ajude as pessoas a compreender seus determinismos e a
superar seus condicionamentos. Ou seja, que façamos nosso papel de ajudá-las a
serem mais livres e humanas.
Vivemos numa sociedade de consumo, por tanto, o valor do lucro acaba por
desviar a nossa busca pelos valores de vida mais expressivos. Como Medina (2007)
nos esclarece, a moda enquanto fenômeno social, produz tendências
comportamentais de uso ou prática de certos hábitos. Ela é explorada ao máximo
pela sua potencialidade de consumo e lucro. Portanto, cuidar, moldar, curtir o corpo
é tornado em moda pelo mercado que quer vender tudo como mercadoria
(…) É por meio desse tipo de relação que, segundo me parece, é possível
analisar parte da falência dessa disciplina como proposta de real valor:
aquela educação física compreendida como disciplina que se utiliza do
corpo, por meio de seus movimentos, para desenvolver um processo
educativo que contribua para o crescimento de todas as dimensões
humanas (MEDINA, 2007, p. 34).
Não cabe analisar todas elas uma por uma, pois nem todas elas possuem
uma preocupação de fato com a saúde em específico. Contudo, a abordagem da
saúde renovada busca um novo trato da EF dentro dessa área. Ela considera a vida
e os desafios cotidianos do homem, e o estado saudável de forma dinâmica, porém,
centra essas questões no indivíduo, construído de forma singular (DARIDO,
RODRIGUES E NETO, 2007).
1 ANJOS, T. C., DUARTE A.C.G.O. A Educação Física e a Estratégia de Saúde da Família: formação e
atuação profissional. Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 19, 2009.
O currículo de uma faculdade de Educação Física deveria servir como
referencial básico para a formação do futuro profissional, incluindo as
disciplinas fundamentais consideradas de forma dinâmica e flexível. Isso
significaria um currículo aberto às constantes transformações e à evolução
do conhecimento científico e pedagógico voltado para a arte e a ciência do
movimento humano (2007, p. 87).
Como desafio para a EF, que já possui em seu passado uma aproximação
com o modelo curativo, de relação causa e efeito entre saúde e doença, numa visão
que prioriza os aspectos biológicos do corpo, a formação se torna essencial para
que os profissionais estejam atentos ao tipo de abordagem na qual irão se basear
nas suas práticas. De modo geral, Ceccim e Bilibio faz um resgate histórico sobre a
EF e a sua identidade, onde o seu reconhecimento evidencia ideias até hoje
enraizadas na nossa formação:
Esses são alguns dos estudos que corroboram pra essa hipótese de que na
grande maioria das Universidades, sendo públicas ou particulares, possuem em
seus cursos de EF, seja na modalidade da licenciatura ou bacharelado, um
distanciamento do que é proposto enquanto conhecimentos da saúde coletiva, com
poucos exemplos de tentativas de aproximação de maneira crítica. Além disso,
faltam também artifícios maiores para que ao menos dê a oportunidade dos
graduandos de conhecerem esses espaços através projetos e programas de estágio.
Este presente estudo também busca extrair de determinados currículos,
conteúdos que nos permitam identificar suas intencionalidades frente ao papel social
da educação. De forma geral, os Projetos Político-Pedagógicos (PPP) apresentam
uma intenção, uma estratégia em determinada direção, tendo também o seu papel
de realizar uma reflexão sobre a relação do homem com o mundo. Logo, o PPP
expressa a sua ideia de sociedade, contribui para a construção ou manutenção de
um modelo, que pode estar baseado no desenvolvimento humano ou não
(COLETIVO DE AUTORES, 1992).
1.2 Os conceitos de saúde e a história das políticas públicas no Brasil
(...) o perfil muda para uma mesma população de acordo com o momento
histórico. Ainda assim, as diferentes formações sociais apresentam perfis
patológicos que, a nível geral, distinguem-se conforme o modo particular de
combinar-se o desenvolvimento das forças produtivas e as relações sociais
de produção. Finalmente, é possível comprovar que o processo patológico
dos grupos sociais de uma mesma sociedade se apresenta diverso quanto
ao tipo de doença e sua frequência. (LAURELL, 1982, p. 9)
A relação entre saúde e doença, que varia de acordo com a história, reflete
ainda as respostas aos problemas do ser humano, que são interpretados não só
pelos avanços da sociedade, mas também pelo seu impacto na produção, como já
afirmado. Almeida e Gomes (2014) explicam que a concepção hegemônica de saúde
faz parte do sistema capitalista, necessita de condições adequadas da sua força de
trabalho, e através dela delimita condições normais e patológicas. E Laurell
aprofunda essa análise com foco no processo saúde-doença e os interesses
envolvidos:
Isso serviu para reproduzir uma lógica de desigualdade social, pois nem
sempre os profissionais que necessitavam de mais serviços eram os que tinham a
suas demandas atendidas. E por outro lado, não se poderia contar com os serviços
públicos, já que o MESP ofertava serviços de forma estratégica, com o objetivo de
cuidar do controle e prevenção de doenças transmissíveis. Além disso, ainda
restavam a caridade e o assistencialismo de hospitais e profissionais da saúde
(BAPTISTA, 2007).
Após o fim da segunda guerra mundial, no meado dos anos 40 o Brasil se
apresentava em profunda crise política e econômica. Nas décadas seguintes então,
a agricultura, principal fonte econômica do país, foi dando lugar a um processo de
industrialização, com consequente urbanização e ampliação do contingente de
operários e operárias, e consequente aumento da demanda por serviços de saúde
(BAPTISTA, 2007).
Dessa forma, a expansão rápida e progressiva dos serviços de saúde, dos
hospitais, das tecnologias mais complexas de diagnóstico e terapêutica, assim como
a crescente especialização do trabalho em saúde e da formação dos trabalhadores
de saúde não foi acompanhada do acesso do conjunto da população aos serviços
de saúde, resultando em um encarecimento da assistência em saúde e torna o
hospital como seu centro de atendimento. Surgem então cada vez mais convênios-
empresa, na tentativa de solucionar a grande demanda que crescia (BAPTISTA,
2007). Essa nova configuração constitui um importante ponto para a implementação
das políticas neoliberais no âmbito da saúde na atualidade (BERTOLOZZI; GRECO,
1996).
O cenário Pós-Guerra fez com que países europeus elaborassem os
Estados de bem-estar social, voltados para a recuperação econômica, a construção
de Estados fortes, compromissados com a democracia e a justiça social.
Preocupados com emprego e serviços sociais universais (saúde, habitação,
transporte, educação, por exemplo) e assistência aos que estão à margem do
sistema produtivo, num sentido de obter resultados expressivos, econômica e
socialmente (BAPTISTA, 2007).
Contudo, o Brasil em uma tentativa de elaborar políticas que alavancassem
a situação do país, apontou uma correlação entre pobreza-doença-
subdesenvolvimento, e levou, dos anos 50 e início de 60, ao começo de discussões
sobre o direito a saúde e a proteção social, num sentido de garantir o crescimento
socioeconômico do país, principalmente a partir de um grupo chamado de
“sanitaristas-desenvolvimentistas”, que alertavam sobre o estado do qual o país
apresentava (BAPTISTA, 2007).
A partir dos anos 50, a estrutura hospitalar privada ganhou corpo, e já
indicava a criação das empresas médicas como seu foco. Essa parte do setor
pressionava o Estado em busca da privatização desses serviços, principalmente no
âmbito do seu financiamento estatal. As empresas tinham o interesse de lucrar sobre
as atividades assistenciais oferecidas pela previdência, e que faziam parte
majoritariamente dos serviços fornecidos pelos próprios IAP. Essa situação se
perdurou até os meados dos anos 60 (BRAVO, 2006).
Embora houvesse esse movimento, na prática a lógica de organização do
setor ainda distanciava as políticas de saúde pública e aquelas ofertadas pelo
sistema previdenciário, onde a primeira ainda correspondia ao controle e prevenção
de doenças transmissíveis e o segundo restrito aos contribuintes e dependentes,
com ênfase em uma medicina curativa, voltado apenas para a reinserção do
trabalhador ao sistema produtivo (BAPTISTA, 2007).
No que diz respeito ao aspecto político, Bertolozzi e Greco (1996) ressaltam
sobre a divisão do Ministério da Saúde em 1953, que antes ocupava espaço com a
pasta da Educação nos governos anteriores. No entanto, a saúde ficou com um
terço do orçamento destinado ao antigo MESP, com uma estrutura fragilizada, o que
representa uma menor ação dentro do setor por parte do Estado.
Como Bertolozzi e Greco (1996) apontam bem, o interesse do Estado de
manter essa estratificação social que se firmava era resultado do crescimento
industrial, onde a força de trabalho precisava estar em condições de produção,
assim como a sua reintegração rápida. Paralelamente a isso, cresce o setor
farmacêutico, o que contribuiu também para uma progressão da medicina curativa,
em detrimento dos serviços preventivos.
O Estado, sob políticas desenvolvimentistas, passou a se preocupar com o
setor da saúde, visto o potencial econômico e a mobilização de recursos que
apresentava (indústria farmacêutica e de equipamentos, a construção de hospitais e
ambulatórios). Nos meados dos anos 60, paralelamente ao golpe militar, estabelece
então a expansão e consolidação do complexo médico-empresarial (BAPTISTA,
2007).
É importante mencionar sobre a III Conferência Nacional de Saúde (CNS),
em 1963, onde diversos trabalhadores da área buscaram discutir pela primeira vez
um plano nacional de saúde pública sob um modelo tripartite entre União, Estados e
Municípios. A 1ª e a 2ª, datadas em 1941 e 1950 respectivamente, CNS focaram em
discutir sobre elementos mais específicos, como estratégias no combate às doenças
transmissíveis e a legislação quanto à limpeza e higiene no trabalho (BERTOLOZZI;
GRECO, 1996).
A partir de 1964 então, o Estado buscou valorizar a assistência médica, o
setor privado e ampliação do sistema previdenciário, incluindo outras parcelas da
população. Em 1966, o governo militar se encarrega de unir os IAP, criando o
Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Isso significava melhor distribuição
dos benefícios, no entanto acabou causando certa insatisfação de uma parcela dos
contribuintes dos IAP, principalmente os trabalhadores que pagavam valores mais
altos (BAPTISTA, 2007). Sobre isso, Bravo complementa
Foi nesse momento que o INPS passou a ter o terceiro orçamento da nação,
ocupando o espaço primordial da prestação da assistência médica.
Paradoxalmente a esse quadro, houve no INPS, um déficit orçamentário por
conta das inúmeras fraudes que ocorreram na compra de serviços privados
de assistência à saúde mascarando, de fato, o volume de unidades de
serviço. Ainda nesse momento, ocorreu a expansão da cobertura da
assistência médica aos trabalhadores rurais, empregados domésticos,
autônomos e para os casos de acidentes de trabalho. (BERTOLOZZI;
GRECO, 1996, p. 388)
Dessa forma, dos meados para os fins dos anos 70, com o objetivo de
equilibrar suas relações com a sociedade civil, o Estado se volta para as políticas
sociais, apaziguando as pressões e insatisfações populares. No entanto, essa era
uma estratégia reformista do Estado, que visava manter a supremacia social da
burguesia, e suas consequências políticas, econômicas e sociais (BRAVO, 2006).
Com essas pressões, algumas ações acabaram sendo postas em prática, em
1974, como a criação do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social (FAS), que
buscava financiar programas sociais; a formação do Conselho de Desenvolvimento
Social (CDS), que organizava as ações do Estado nas áreas sociais; a implementa
do Plano de Pronta Ação (PPA), onde se buscava expandir a cobertura do
atendimento em saúde e já sinalizando sua possível universalização (BAPTISTA,
2007).
Outro ponto importante discutido pela CNS e incorporado pelo Estado foi a
necessidade de expansão dos serviços para a zona rural e regiões nordestinas. Sob
péssimas condições de saúde e saneamento, o governo não possuía políticas
efetivas no combate a epidemias, o que foi externado pelo próprio Conselho. Dessa
forma, em 1976 foram criados o Programa de Interiorização das ações de Saúde e
Saneamento (PIASS) e o Programa Nacional de Nutrição e Alimentação (PRONAM)
(BERTOLOZZI; GRECO, 1996).
Com o fim do regime militar autoritário em 1985, o Brasil viveu longos anos
de reestruturação em busca de um Estado de modelo democrático. Como em
diversos setores, a saúde passava por um momento de reformulação, e através do
movimento sanitarista, buscava uma forma de organização que de fato
correspondesse às demandas da sociedade.
4 MINAYO, M.C.S., A saúde em estado de choque. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1992.
Dentro dos encaminhamentos, o relatório propôs a criação do Sistema Único
de Saúde (SUS), sob as diretrizes da universalidade, integralidade das ações e a
participação comunitária, a atualização do conceito de saúde, como direito do
cidadão e dever do Estado. Isso acabou pressionando o momento político no qual se
encontrava o período da Nova República, e as propostas da VIII CNS acabaram não
sendo atendidas de imediato (BERTOLOZZI; GRECO, 1996).
Sob essa perspectiva que o SUS se torna importante para todas as áreas
específicas da saúde, com o sentido de não olhar somente para a doença, mas
primeiramente olhar para o indivíduo e suas condições de vida. E para que isso
aconteça em campo, a formação dos profissionais deve ser adequada aos
parâmetros do sistema.
[…] estar qualificado para analisar criticamente a realidade social, para nela
intervir acadêmica e profissionalmente por meio das diferentes
manifestações e expressões do movimento humano, visando à formação, a
ampliação e o enriquecimento cultural das pessoas, para aumentar as
possibilidades de adoção de um estilo de vida fisicamente ativo e saudável,
atuando na escola nos campos da prevenção e da promoção da saúde, da
formação cultural, da educação e reeducação motora, do lazer e da gestão
de projetos educacionais relacionados às atividades físicas, recreativas e
esportivas. Em síntese, atua no sentido de proporcionar o desenvolvimento
integral (físico, ético-moral, cognitivo, motor, social e mental) dos indivíduos,
o domínio de conhecimentos e habilidades relevantes para a adoção de um
estilo de vida ativo (manutenção da saúde/prevenção primária), a recreação
e o lazer, entre outros. (UERJ-b, 2014, p. 20)
Sendo assim, o PP concorda que torna papel do professor de EF contribuir
para o pleno desenvolvimento humano, considerando sua função social no
entendimento do movimento e expressões dos indivíduos. Todavia, sobre o perfil
profissional do graduado, os objetivos da licenciatura pouco contextualizam o
ambiente escolar como seu campo de trabalho específico. Se observarmos alguns
trechos, veremos a parte pedagógica da EF escolar aparece em segundo plano,
como
Essa leitura, ao ser desassociada desses fatores, contribui por esse projeto
de sociedade que privilegia classes mais ricas, em detrimento das mais pobres. E
assim, o debate sobre a promoção da saúde, mesmo que dentro da escola, deve
buscar essas perspectivas também, e não só as comportamentais. Isso também se
encontra no debate sobre “formação cultural” e “lazer”, que aparecem
descontextualizadas, sem um aprofundamento maior, deixando aquém das
interpretações sobre os temas.
Em seguida, o PP novamente deixa em aberto essas interpretações. Não há
uma busca real sobre um entendimento contextual da sociedade capitalista. Assim,
afirma que é necessário
O PP, sob essa lógica, demonstra uma postura “neutra” sobre a visão de
mundo e a prática profissional. Ao não elaborar previamente uma visão própria e
uma proposta revolucionária da sociedade, ela deixa aquém dessa interpretação.
Sendo assim, ela converge para um projeto hegemônico que já está posto, restando
ao profissional associar sua própria visão (já influenciada historicamente pelo
sistema capitalista) às suas práticas e intervenções. A Universidade torna-se então
uma instituição reprodutora da lógica hegemônica capitalista.
Essa ideia de uma relação de causa e efeito entre a saúde e a doença nos
leva a práticas que não dão conta por si só de solucionar esses “agravos”. Além
disso, a atividade física, que é importante para o tratamento de algumas doenças,
acaba por se resumir somente a isso. Assim, fica restrita à prescrição de exercícios,
atuando de forma isolada, desconsiderando todo o contexto sociopolítico-econômico
que também atinge essas populações.
ALMEIDA, E. F. de. Formação para saúde: análise dos cursos de Educação Física
de Feira de Santana-BA. 103 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Programa de
Pós-Graduação em Educação, Universidade Estadual de Feira de Santana, Feira de
Santana, 2018.
BOSI, Alfredo. Plural, mas não caótico. In: BOSI, Alfredo. Cultura brasileira: temas
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BRAVO M.I.S. Política de saúde no Brasil. In: MOTA A.E.; BRAVO; M.I.S.; UCHOA R.;
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WHO. Declaração de Alma Ata sobre Cuidados Primários: World Health Organization;
1978.